Resumo Livro Perrenoud

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Revista HISTEDBR On-line Resenha

Resenha do livro:
PERRENOUD, Philippe. 10 Novas Competncias para Ensinar: convite viagem.
Trad. Patrcia Chittoni Ramos. Porto Alegre: Artmed, 2000. 192 p.

Por: Aderlan Silverio1

Em seu livro, Perrenoud situa de forma analtica e discursiva a especializao dos


professores contemporneos entre a deciso na incerteza e a ao na urgncia. Prope
ento um inventrio das competncias necessrias para delinear a docncia.
Embora o autor reconhea a impossibilidade de um inventrio definitivo de
competncias, argumenta que a discusso genebrina de 1996 foi suficiente para definir 10
grandes famlias, a saber: Organizar e dirigir situaes de aprendizagem; administrar a
progresso das aprendizagens; conceber e fazer evoluir os dispositivos de diferenciao;
envolver os alunos em suas aprendizagens e em seu trabalho; trabalhar em equipe;
participar da administrao da escola; informar e envolver os pais; utilizar novas
tecnologias; enfrentar os deveres e os dilemas ticos da profisso; administrar sua prpria
formao contnua. (PERRENOUD, 2000, p. 14)
O autor entende competncia como capacidade de mobilizar diversos recursos
cognitivos para enfrentar um tipo de situaes.(Idem, p. 15) O pensamento situado,
intuitivamente, prev que os professores desenvolvem esquemas de pensamento
prprios.
Tratando da primeira competncia, organizar e dirigir situaes de aprendizagem,
prope que na aula magistral o professor no domina as situaes de aprendizado, pois as
mltiplas vivncias dos alunos esto fora do contexto abordade.
Citando Bourdieu (1996, apud cit PERRENOUD, 2000, p. 24) o autor lembra que
apenas os herdeiros dispe de atributos culturais para aprender na perspectiva magistral.
A competncia citada acentua a vontade de conceber situaes didticas timas,
principalmente partindo de consideraes acerca de alunos que no aprendem em situaes
magistrais.
Ao organizar e dirigir situaes de aprendizagem o professor dispende energias
para criar novas e eficazes situaes de aprendizagem, encaradas contemporaneamente
como amplas, abertas, carregadas de sentido e regulao (PERRENOUD, 2000, p. 26),
mobilizando portanto outras competncias especficas, a saber: Conhecer [...]os contedos
a serem ensinados e sua traduo em objetivos de aprendizagem; trabalhar a partir das
representaes dos alunos; trabalhar a partir dos erros e dos obstculos aprendizagem;
construir e planejar dispositivos e sequncias didticas; envolver os alunos em atividades
de pesquisa, em projetos de conhecimento.
Para o autor dominar o contedo no o suficiente para bem ensin-lo, preciso
tambm que o professor seja capaz de reconstru-lo em situaes complexas. Para tanto os
professores precisam transitar entre os contedos, os objetivos e as situaes, por meio da
transposio didtica.
No possvel livrar-se das concepes prvias dos alunos, as mesmas fazem parte
do corpo explicativo do indivduo. Por isso trabalhar as representaes dos alunos
uma forma de dar-lhes direito em sala de aula.
Atentando-se a Bachelard, o autor lembra dos obstculos pedaggicos e de como os
professores tendem a esquecer-se de como aprenderam e que os alunos no tm
dificuldades porque querem. Seria tambm til para esta competncia que os professores

Revista HISTEDBR On-line, Campinas, n 63, p. 382-386, jun2015 ISSN: 1676-2584 382
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analisassem a histria da cincia e percebessem que esta tambm encontra-se em


dificuldades com conceitos elementares.
Para Perrenoud aprender reestruturar seu sistema de compreenso de mundo.
(Idem, p. 30) Trabalhar os obstculos aprendizagem de maneira clssica seria abordar
aqueles problemas que a pedagogia reconhece e privilegia.
Nesse caso, os alunos apropriam-se do problema, criam e superam obstculos,
constroem hipteses e experincias. No coletivo isso leva ao choque de representaes,
precisando o pensamento e reconhecendo o alheio.
A construo de dispositivos e sequncias didticas vista pelo autor como uma
competncia derivada de uma progresso no contrato didtico interno sala. Cada
disciplina suporta uma srie de parmetros para orientar situaes e projetos orientadores
na construo de dispositivos e sequncias didticas.
Ao aderir ao processo construtivista, o autor indica a importncia de conceber
situaes que estimulem o conflito cognitivo entre alunos ou a mente de cada um. Alerta
ainda para o risco de os projetos tornarem-se fins em si mesmos.
Para desenvolver a capacidade de envolver os alunos em atividades de pesquisa,
em projetos de conhecimento, prope que os alunos precisam aceitar a tarefa. Para tanto,
preciso envolv-os em uma atividade de uma certa importncia e de uma certa durao.
A dinmica de uma pesquisa intelectual, emocional e relacional. Cabe ao
professor ento garantir a memria coletiva, evidenciando os momentos fortes, tendo em
vista que a consecuo da tarefa depende da execuo de um contrato moral bastante
fludo, uma vez que a maior parte dos saberes tratados na escola no pode ser justificada
pelo utilitarismo, de forma que o projeto de conhecimento no pode se sustentar seno por
uma busca desinteressada pelo conhecimento.
A tarefa de deixar o conhecimento apaixonante no apenas uma competncia, mas
participa da identidade e do projeto pessoal do professor. A paixo do professor pelo
conhecimento contagiante.
A segunda classe de competncias denominada administrar a progresso das
aprendizagens formada pelas caractersticas estratgicas, no sentido dado por Tardif,
que seguem: Conceber e administrar situaes-problema ajustadas ao nvel e s
possibilidades dos alunos; adquirir uma viso longitudinal dos objetivos do ensino;
observar e avaliar os alunos em situaes de aprendizagem, de acordo com uma abordagem
formativa ; faa balanos peridicos de competncias e tome decises de progresso.
A terceira gama de competncias analisadas por Perrenoud denominada
conceber e fazer evoluir os dispositivos de diferenciao, vista como uma
competncia global e sistmica, sendo dividida nas seguintes capacidades: Administrar a
heterogeneidade no mbito de uma turma; abrir, ampliar a gesto de classe para um espao
mais vasto; fornecer apoio integrado, trabalhar com alunos portadores de dificuldades;
desenvolver a cooperao entre os alunos e certas formas simples de ensino mtuo.
A quarta classe de competncias abordada se denomina envolver os alunos em
suas aprendizagens e em seu trabalho, de ordem didtica, epistemolgica e relacional.
Para desenvolv-la o autor lembra que o ensino obrigatrio e que por muito tempo a
interferncia na vontade de aprender pareceu impraticvel pedagogia. Os programas
escolares so produzidos supondo que os alunos possuem o desejo de aprender.
O quinto grupo de competncias abordado foi definido como trabalhar em
equipe caracterizado como uma necessidade prpria da evoluo do ofcio e pode ser
dividido em trs grandes competncias: Saber trabalhar eficazmente; saber discernir os
problemas que requerem um cooperao; saber perceber, analisar e combater resistncias e
impasses ligados cooperao...(PERRENOUD, 2000, p. 82)
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A sexta classe de competncias foi intitulada participar da administrao da


escola e pode ser reduzida s seguintes capacidades:
Elaborar, negociar um projeto da instituio.
Administrar os recursos da escola.
Coordenar, dirigir uma escola com todos os seus parceiros...
Organizar e fazer evoluir, no mbito da escola, a participao dos alunos.
(Idem, p. 95)

O captulo 7 do livro contm a anlise sobre o grupo de competncias denominado


informar e envolver os pais, contm o pressuposto de que os parceiros devem
compreender que o dilogo no dura, a no ser que cada um entenda o ponto de vista do
outro, cabendo aos professores o desenvolvimento e a manuteno do dilogo e estando a
escola obrigada a tratar com todos os pais e alunos conforme sua diversidade.
Antes de ser uma competncia, o dilogo com os pais uma questo de identidade
e profissionalismo. Os principais componentes dessa competncia global so:
Dirigir reunies de informao e de debate; fazer entrevistas e envolver os pais na
construo dos saberes.
O oitavo grupo de competncias abordado intitulado: Utilizar Novas
Tecnologias. Para o autor a escola no pode ignorar o que ocorre no mundo, que assiste
emergncia de novas maneiras de se comunicar, trabalhar, decidir e pensar. A busca
confessionria pela converso digital apontada como fator de ceticismo justificado
quanto s novas tecnologias.
O autor argumenta, baseado em Patrick Mendelsohn, que tais questes podem
tambm ser vistas em termos de anlise rigorosa e aborda quatro aspectos prticos do
problema que se referem a competncias exigveis: utilizar editores de textos; explorar as
potencialidades didticas dos programas em relao aos objetivos do ensino; comunicar-se
distncia por meio da telemtica; utilizar as ferramentas multimdia no ensino.
O nono captulo do livro dedicado ao grupo de competncias dito enfrentar os
deveres e os dilemas ticos da profisso. Para o autor seria absurdo exigir dos
professores virtudes educacionais infinitamente maiores do que as fornecidas pela
sociedade. A brutalidade, a violncia e a desigualdade so expostas diariamente aos alunos,
fornecendo as condies propcias para ironizar as palavras idealistas dos professores e
pais.
A escola deve enfrentar abertamente as contradies entre os valores que apregoa e
os costumes. Citando Bourdieu (1993, apud cit PERRENOUD, 2000, p. 143), o autor
lembra que o contraste jamais foi to grande entre a misria do mundo e o que poderia ser
feito com as tecnologias, os conhecimentos, os meios intelectuais e materiais de que
dispomos. A misria e a opulncia convivem to insolentemente quanto na Idade
Mdia.
Perrenoud questiona ainda: Como ensinar uma sociedade que tem vergonha de si?
E como no ensin-la? Sem aceit-la nem justific-la? A misria debilitou a
solidariedade e a violncia invadiu a escola. A crise econmica erodiu o contrato social,
tornando cada indivduo um potencial inimigo.
O autor recorre ao que Imbert et al chamam de Lei, como interdito da violncia
(PERRENOUD, p. 144), cabe ento ao professor o papel da redescoberta do contrato social
de Rousseau, construindo a Lei a partir do zero, reinventando regras e princpios de
civilizao. Se a violncia o verdadeiro problema, ento preciso coloc-la no mago
da pedagogia, conforme Pain (Idem, p. 145).

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O autor lembra ainda que a escola tem parte na gerao da violncia simblica,
exercendo com suas regras grande presso sobre os jovens, enunciada no princpio da
escolaridade obrigatria, por exemplo.
Na escola a violncia simblica aceita pacificamente e chega ao cmulo da
dominao, conforme Bourdieu e Passeron (1970, apud cit PERRENOUD, p. 146).
O papel dos anos iniciais na ecologia da violncia fundamental, preciso
aprender a negociar em tempos de paz, para que os alunos precocemente marginalizados
no se vejam em situaes ainda piores ao chegar em um ambiente menos protegido como
o das nossas escolas de anos finais do ensino fundamental.
A luta contra a discriminao; a participao na criao de regras da vida comum
referentes disciplina na escola, s sanes e apreciao da conduta; a anlise da relao
pedaggica, da autoridade e da comunicao em aula; o desenvolvimento do senso de
responsabilidade, a solidariedade e o sentimento de justia so tambm apontados como
fatores decisivos para o desenvolvimento de competncias destinadas valorizao tica
na escola.
O autor reflete ainda sobre os dilemas ticos de quem se prope a trabalhar onde a
sociedade se desfaz, acompanhado a denominao de Pierre Lascoumes (PERRENOUD,
2000, p. 154), e manifesta o possvel ridculo de postular grandes princpios em tal
situao.
O ltimo captulo da obra versa sobre a administrao da prpria formao
contnua, competncia que condiciona o desenvolvimento das demais. Para o autor as
competncias conservam-se pelo exerccio constante, sendo que a formao contnua
uma forma de conservar as competncias relegadas ao esquecimento.
Alm disso a formao continuada vista de um ponto de vista progressista na
prpria pedagogia, demandando uma renovao, um desenvolvimento de competncias
adquiridas em formao inicial e, eventualmente, a construo de novas competncias.
(PERRENOUD, 2000, p. 158) A competncia em administrar a prpria formao contnua
pode ser resumida em cinco componentes:
Saber explicar as prprias prticas.
Estabelecer seu prprio balano de competncias e seu programa pessoal
de formao contnua.
Negociar um projeto de formao comum com os colegas...
Envolver-se em tarefas em escala de uma ordem de ensino ou do sistema
educativo.
Acolher a formao dos colegas e participar dela. (Idem, p. 158)

O autor conclui seu texto com o questionamento: A caminho de uma nova


profisso?
Analisando o prprio trabalho, argumenta que seu referencial expressa um
compromisso entre lgicas diferentes e que, sendo construdo de forma institucional e
coletiva, perde em coerncia tanto quanto ganha em representatividade.
Sua proposta foi de fazer uma leitura possvel, pessoal mas coerente, do referencial
genebrino que possui a virtude oferecer uma linguagem comum sobre a realidade do ofcio,
procurando sem ser exaustivo aprender o movimento da profisso que, encaminhado
para a reflexo, se torna uma profisso integral, autnoma e responsvel. (Idem, p. 175)
A discordncia sobre as competncias pode esconder outra, sobre o ofcio e sua
evoluo, sendo que podem ocorrer duas posies profissionais, uma caracterizada como
conservadora, que procura lanar um vu sobre as competncias, argumentando pelo
Todo mundo faz isso, ao passo que a parte inovadora busca uma mudana para a
profissionalizao apoiando-se em um conjunto de competncias.
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Perrenoud argumenta que a profissionalizao uma aventura coletiva, composta


pelas opes pessoais, carecendo para seu avano de investimento social, polticas, atitudes
e projetos individuais e coletivos que explicitem a importncia de tal tarefa.
O mais seguro sinal de profissionalizao de um ofcio a responsabilidade pela
prpria formao contnua, tanto quanto a instalao de dispositivos que permitem a
prestao de contas a seus pares e a uma hierarquia.
O autor conclui afirmando que as construes dos referenciais de competncias so
meios para os profissionais construrem uma identidade coletiva.

1 MBA Filsofo, Mestrando do Programa de Ps-Graduao em Educao em Cincias e em


Matemtica da UFPR

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