Reformas Educacionais

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 12

REFORMAS EDUCACIONAIS

As quatro dcadas que a historiografia convencionou chamar de Primeira Repblica


no Brasil as de 1890, 1900, 1910 e 1920 testemunharam uma movimentao importante
no campo educacional. Nas trs primeiras, colocaram-se os ingredientes que iriam
temperar a retrica de uma interveno poltica que na ltima delas teve a chance de se
manifestar de forma mais organizada, e em mbito nacional. Entre esses ingredientes
figurava a associao entre educao e trabalho, que se apresentou com uma dupla face: a
necessidade de educar o indivduo para uma sociedade livre, no escravista, e de alterar a
feio negativa de que se revestia a atividade laboral.
O Brasil da Primeira Repblica era um pas com uma populao em crescimento que
somava 17 milhes de habitantes em 1900 e aumentaria cerca de dez vezes at o ano 2000.
O que mais contribuiu para o crescimento acelerado da populao brasileira at meados do
sculo XX foram fatores externos: o trfico de escravos africanos at 1850, e a forte
imigrao entre 1870 e 1960. Portugueses, italianos, espanhis, alemes e japoneses foram
os grupos mais numerosos, que, atrados pela lavoura cafeeira do Sudeste, e pelas reas de
colonizao do Sul do pas, viram na terra brasileira a possibilidade de reconstruo de
suas vidas.
O Brasil do incio da Repblica era um pas eminentemente rural (60% da populao),
recm-sado de um longo perodo de escravido (mais de trs sculos at a abolio da
escravatura em 1888), com taxas de analfabetismo da ordem de 75% da populao. O
cenrio de analfabetismo era homogneo, com ndices muito prximos do Norte ao Sul do
pas, excetuando-se a cidade do Rio de Janeiro, onde a taxa rondava os 45%. Embora fosse
majoritariamente rural, o Brasil j tomava contato com a acelerao urbana e,
simultaneamente, com a precariedade do investimento escolar. Demandava-se qualificao
para o trabalho industrial e urbano, mas tambm para os que iriam para a lavoura. Era
preciso definir como se realizaria o trabalho no mundo rural, at ento associado ao
escravo, mas agora tarefa de trabalhadores livres. Estes foram os pontos fortes que
justificaram as propostas de reforma e de investimento em educao na Primeira
Repblica.
Em todo o pas surgiram na poca educadores que, com seus experimentos empricos,
constituram um verdadeiro laboratrio de reformas, ideias e projetos, inspirados em sua
grande maioria em modelos estrangeiros. Mobilizaram-se ento os cientistas da
pedagogia, empunhando a bandeira da educao como meio de superar os obstculos que
impediam o pas de avanar. As questes da educao e da sade foram identificadas como
cruciais, e prova disso foi o ministrio criado ao final do perodo, em 1930, para enfrent-
las: o Ministrio dos Negcios Interiores da Educao e Sade.
Alguns dos efeitos da avaliao sobre o despreparo da populao para a convivncia em
sociedade livre foram traduzidos em iniciativas de educao moral, orientao de higiene e
saneamento. Fazia parte do projeto de valorizar a atividade produtiva a ideia de que era
preciso educar os indivduos moralmente, preparando-os para a disciplina do trabalho e
modelando seu comportamento para o respeito s leis e aos cdigos de conduta. Trabalho e
moralidade, moralidade pelo trabalho, higiene corporal e mental, disciplina e respeito
hierarquia compuseram o ideal de construo da nao republicana a ser perseguido. A
distncia entre o ideal e as manifestaes de despreparo e aglutinamento da populao em
espaos inadequados, desprotegidos, inspitos, serviu de combustvel a propostas de
reformas educativas movidas pelo sentido de urgncia, nem sempre a melhor companheira
do desempenho educacional.
Os que habitavam o mais baixo degrau da hierarquia eram exatamente os menos
protegidos de toda sorte de preconceitos, atendimento ou ateno do poder pblico. O
Brasil entrou no sculo XX como uma sociedade altamente estratificada, governada por
uma pequena elite, em sua maioria branca. As idias de que o trabalho conformaria
mentalidades ordeiras e mais disciplinadas, e de que a fixao no solo evitaria convulses
urbanas, sustentaram o ideal republicano que transpareceu nos programas de reformas
ento propostos.
A atmosfera forjada nas dcadas de 1890 e 1900 deu origem a iniciativas de cunho poltico
organizacional as reformas educacionais que se espalharam pelo pas nas dcadas de
1910 e 1920 , e a um projeto de natureza cvica de que foi exemplo a Associao
Brasileira de Educao (ABE), criada no Rio de Janeiro em 1924. A expresso cunhada por
Jorge Nagle, entusiasmo pela educao, traduz a adeso coletiva bandeira da educao
ento empunhada. J a expresso otimismo pedaggico se refere ao poder da educao
especializada, moldada segundo avanos cientficos do campo pedaggico e voltada para a
formao de um homem novo para uma sociedade nova. O carter cvico prevaleceria neste
tipo de abordagem.
O conjunto de reformas educacionais promovidas em muitos dos estados da Federao,
assim como a disseminao dos ideais propagados pela ABE, fortaleceu a crena de que a
Primeira Repblica protagonizou uma revoluo no campo da educao pblica no pas.
Os movimentos de reforma, iniciados em 1890, alguns de mbito federal, outros de mbito
estadual, ajudam a compreender a intensa mobilizao ento ocorrida.

AS DCADAS DE 1890 E 1900


Reforma Benjamin Constant (1890) Militar e poltico, Benjamin Constant foi
professor de matemtica, fundador da Repblica e o primeiro ministro da Guerra do regime
inaugurado em 15 de novembro de 1889. Ao ser criada a Secretaria de Estado dos
Negcios da Instruo Pblica, Correios de Telgrafos, em 19 de abril de 1890, coube-lhe
chefi-la. Promover a instruo e viabilizar a comunicao no recente territrio republicano
eram os desafios da nova pasta. Como republicano convicto, Benjamin Constant defendia o
ensino leigo e livre em todos os graus, sendo o primrio, gratuito. O ensino primrio no
deveria ser apenas preparatrio, mas uma ponte para a ascenso ao ensino superior. Pelo
projeto da reforma que pretendia executar, maior ateno deveria ser dada ao ensino
cientfico em contraponto orientao literria, que, em sua avaliao, prevalecia na rede
de ensino impedindo o avano da educao no pas. Os estados brasileiros eram desiguais
educacionalmente. Prevalecia a desregulamentao educacional iniciada na Constituio de
1823. As escolas pblicas existentes nas cidades eram frequentadas pelos filhos das
famlias de classe mdia. Os ricos no enviavam os filhos s escolas pblicas, valendo-se
ora de preceptores, geralmente estrangeiros, ora de escolas privadas.
A Reforma Benjamin Constant, instituda pelo Decreto n 981, de 8 de novembro de 1890,
teve como particularidade a montagem de uma diretriz educacional que abrangia todos os
nveis de ensino. O nvel secundrio foi o mais atingido, e o Ginsio Nacional at 1889
Imperial Colgio de Pedro II, e a partir de 1911 novamente Colgio Pedro II foi o mais
afetado pelas alteraes previstas pelo novo arranjo. Durante o Imprio, qualquer estudante
que pretendesse o certificado de concluso do ensino secundrio, condio necessria ao
ingresso no ensino superior, deveria requer-lo ao Colgio Pedro II, no Rio de Janeiro.
Restavam s provncias os exames parcelados preparatrios, que eram feitos em geral nas
prprias faculdades de ensino superior. Antes mesmo da promulgao da Constituio de
1891, Benjamin Constant estabeleceu o Ginsio Nacional como modelo e padro do ensino
secundrio a ser ministrado em todo o pas e instituiu a obrigatoriedade dos exames de
madureza, que ofereceriam aos alunos o certificado de concluso do ensino secundrio,
permitindo-lhes candidatarem-se ao ensino superior. Segundo o decreto, quando os estados
tivessem organizado estabelecimentos de ensino secundrio segundo o plano do Ginsio
Nacional, seus exames de madureza dariam o mesmo direito matrcula nos cursos
superiores. A reforma lembrada tambm por ter estabelecido o processo educativo sob o
modelo seriado e por ter ampliado o currculo das escolas brasileiras, incentivando o
enciclopedismo. Inspirado pelo positivismo de Augusto Comte, Benjamin Constant se
bateu pela substituio do ensino acadmico por um conjunto mais amplo de ensinamentos,
com a incluso de disciplinas cientficas, rompendo drasticamente com a tradio do
currculo clssico jesutico. A reforma, submetida ao Congresso Nacional, ficou por nove
anos sujeita aos adiamentos e alteraes que modificaram substancialmente o plano
original.
Constituio da Repblica dos Estados Unidos do Brasil (24 de fevereiro de 1891) O
texto constitucional, em oposio tradio do ensino religioso, determinava que ser
leigo o ensino ministrado nos estabelecimentos pblicos (Art. 72, 6).
Reforma Epitcio Pessoa (1901) Ministro da Justia e Negcios Interiores do governo
Campos Sales pasta que a partir de 1892 passou a abranger os servios de educao e
sade pblica , Epitcio Pessoa promoveu em 1901 uma reforma do ensino que
propiciaria a concretizao do idealismo de Benjamin Constant, corrigindo e adaptando a
reforma deste s realidades regionais. A educao nacional deveria priorizar a formao
secundria, visando a consolidar a estrutura seriada do modelo educacional. At aquele
momento, o ensino era desvinculado da frequncia obrigatria, prevalecendo na prtica os
exames preparatrios, que davam aos alunos a oportunidade de acesso ao conhecimento
pela via seriada ou atravs de estudos individualizados e orientados fora das escolas. Tal
proposio criava uma contraditria possibilidade de aquisio de conhecimento, com ou
sem escola, o que acabou enfraquecendo o prprio esprito reformador proposto, ora
afirmando o valor da instituio escolar, ora negando-o pelo mesmo princpio. Epitcio
Pessoa reinstituiu o exame de madureza por considerar incua a Reforma Benjamin
Constant, de to modificada que foi pelo Congresso Nacional. Estendeu tambm o
privilgio da equiparao ao Ginsio Nacional no mais apenas aos liceus, mas a qualquer
instituio de ensino secundrio, estadual, municipal ou particular. O exame de madureza
foi mantido sob o argumento de elevar a qualidade de ensino.

A DCADA DE 1910
Reforma Rivadvia Correia (1911) Ministro da Justia do governo Hermes da
Fonseca, Rivadvia Correia foi o responsvel pela Lei Orgnica do Ensino Superior e
Fundamental, aprovada pelo Decreto n 8.659, de 5 de abril de 1911, que revogou
formalmente a reforma anterior, de Epitcio Pessoa. A nova lei eliminou o exame de
madureza e a equiparao dos estabelecimentos de ensino secundrio ao Colgio Pedro II.
Por ela, o Estado retirou toda e qualquer interferncia no setor educacional. Ficou
estabelecido um ensino completamente livre, e foi abolido o reconhecimento oficial de
certificados dos cursos secundrios das escolas equiparadas. Foram tambm abolidos os
certificados de concluso do Colgio Pedro II, expedidos por quase um sculo, e extintos
os exames preparatrios parcelados feitos junto s faculdades, que de certa maneira
atestavam os estudos secundrios. Dali em diante, no seria mais preciso comprovar
estudos secundrios. As faculdades interessadas em receber alunos promoveriam o exame
de admisso. A Reforma Rivadvia Correia ficou marcada na historiografia da educao
como aquela que resultou em desregulamentao excessiva, propiciando o caos na
educao nacional com a omisso completa do Estado em sua conduo.
Reforma Carlos Maximiliano (1915) Ministro da Justia do governo Venceslau Brs,
Carlos Maximiliano promoveu em 1915 mais uma reforma educacional que voltou atrs
em decises tomadas pela Reforma Rivadvia Correia e estabeleceu outros tantos
encaminhamentos. Os pontos mais importantes desta reforma podem ser assim
sintetizados: a) foram restaurados os certificados de concluso do curso secundrio
expedidos pelo Colgio Pedro II do Rio de Janeiro, reconhecidos pelo governo federal; b)
foi reinstituda a possvel equiparao de outros estabelecimentos de ensino ao Colgio
Pedro II, desde que fossem estabelecimentos pblicos estaduais; c) foram reinstitudos os
exames preparatrios parcelados, pelos quais os estudantes no matriculados em escolas
oficiais poderiam obter certificados de estudos secundrios reconhecidos pela Unio; d) foi
mantida da reforma anterior apenas a eliminao dos privilgios escolares. Alm de possuir
um certificado de concluso reconhecido pela Unio ou um certificado de aprovao nos
exames preparatrios, para entrar no curso superior o aluno teria que prestar tambm um
exame vestibular. A Reforma Carlos Maximiliano, portanto, reoficializou o ensino,
restabelecendo a interferncia do Estado eliminada pela reforma anterior.

A DCADA DE 1920
Reforma Sampaio Dria em So Paulo (1920) Antnio Sampaio Dria assumiu a
Diretoria da Instruo Pblica do Estado de So Paulo em 1920. A situao do ensino
primrio era ento extremamente deficitria, quadro que se agravava ano a ano com o
aumento da populao em idade escolar. O atendimento mnimo de uma demanda
crescente implicava que se duplicasse a rede de escolas existentes. No havia qualquer
chance de financiamento em tamanha proporo. Como realizar os princpios democrticos
com um ndice de analfabetismo e ignorncia na extenso do que se apresentava no estado?
De que forma consolidar a participao poltica com um povo que no sabe ler, nem
escrever, no conhece as operaes aritmticas mais simples? As perguntas que se fazia
Sampaio Dria inspiraram uma reforma que passou historiografia da educao como um
desastre pedaggico. A reforma consistia na reorganizao do ensino primrio de forma
que a obrigatoriedade escolar no mais comeasse aos sete anos, e sim aos nove. Em sua
concepo, concentrado em um perodo curto, o ensino poderia se estender a todos e ser
assim democratizado. O dilema formulado situava-se entre manuteno do privilgio de
alguns com a situao anterior, e a ampliao para todos do direito ao mnimo. O projeto
consistia em reconduzir a educao segundo novos mtodos de ensino: alfabetizar em
massa as crianas do estado em um curso primrio reduzido a dois anos de durao e a
duas horas e meia de aulas dirias. Com tais medidas acreditava-se no aumento do nmero
de vagas e na acelerao do processo de alfabetizao e de escolarizao pblica.
Reforma Carneiro Leo no Rio de Janeiro (1922-1926) Antnio Arruda Carneiro Leo,
intelectual e autor de vrios livros no campo da educao, conduziu duas experincias de
reforma educacional, uma no Rio de Janeiro e outra em Pernambuco. Desde a primeira
delas, a dualidade do sistema educacional uma escola bsica fraca, destinada s classes
populares e sob a responsabilidade dos municpios e dos estados, e um ensino secundrio e
superior destinado s elites, patrocinado pelo governo federal foi um dos alvos de sua
crtica. Assim tambm, a orientao literria e terica do ensino. A sociedade urbano-
industrial exigia novo tipo de formao no bacharelesca, mais voltada para o processo de
industrializao e de urbanizao que se acelerava no incio do sculo XX. Educao moral
e cvica, educao profissionalizante e orientao sob critrios cientficos formavam o trip
sobre o qual a educao deveria ser conduzida. Educao para o trabalho em suas distintas
dimenses: trabalho agrcola, comercial e industrial. Era preciso organizar a educao
popular, com foco na educao fsica, em trabalhos manuais e na formao dos
professores.
Reforma Loureno Filho no Cear (1922) Por solicitao do presidente do Cear
Justiniano Serpa, e por indicao do governo de So Paulo, onde respondia pela ctedra de
psicologia e pedagogia na Escola Normal de Piracicaba, o educador paulista Loureno
Filho chegou ao Cear em 1922 para assumir o cargo no comissionado de diretor de
Instruo Pblica. Sua misso era reformar o ensino estadual, que ento se encontrava em
situao de extrema precariedade, com professores semianalfabetos, falta de escolas e uma
taxa de analfabetismo na casa dos 80%. Seu primeiro esforo foi levar a educao ao meio
rural. Selecionou cem escolas e aplicou nelas o mtodo das escolas das cidades. Promoveu
a reforma do curso normal com vistas formao de professores e adotou procedimentos
como a inspeo escolar, o recenseamento escolar e a aplicao de mtodos de avaliao
com testes de inteligncia. Uma de suas maiores preocupaes era que os alunos tivessem
oportunidades iguais em todos os pontos do pas. Para tanto, era preciso unificar mtodos
de ensino e de avaliao, e no pessoas. Era fundamental o aprimoramento tcnico com
princpios racionais e cientficos. A psicologia fundamentaria o desenvolvimento dos
mtodos de ensino. O movimento dos testes medida, escala mtrica, inteligncia , com
provas breves e objetivas, aplicao de questionrios, recursos de psicotcnica para
orientao profissional, foi a estratgia utilizada. Os testes ABC verificao da
maturidade necessria para a aprendizagem da escrita e da leitura ficaram sempre
associados ao educador na historiografia da educao. Pedagogia com tcnica resume bem
o sentido impresso nas iniciativas de Loureno Filho. Os crticos da reforma levantam a
tese de que, embora impactante pelas inovaes propostas, a reforma realizada no Cear
em pouco tempo foi perdendo fora por no estar em sintonia com demandas da prpria
comunidade escolar, e por ser fruto de uma deciso poltica sem o envolvimento da
sociedade.
Reforma Rocha Vaz (1925) O professor Rocha Vaz, da Faculdade de Medicina do Rio de
Janeiro, deu nome a uma reforma educacional que foi levada a efeito na gesto de Joo
Lus Alves no Ministrio da Justia e Negcios Interiores, no governo Artur Bernardes.
Esta foi a ltima reforma a afetar o ensino secundrio na Primeira Repblica. Suas marcas
foram, alm da criao da disciplina de educao moral e cvica, a continuidade do Colgio
Pedro II e sua equiparao apenas aos estabelecimentos de ensino secundrio estaduais. A
reforma instituiu juntas examinadoras nos colgios particulares para exames de validade
igual aos do Colgio Pedro II ou de estabelecimentos equiparados. Foram abolidos os
exames preparatrios parcelados. Em seu lugar, seria instituda a obrigatoriedade de um
curso ginasial de seis anos de durao, seriado, e de frequncia obrigatria. O intuito do
ministro era promover uma seriao mais racional das matrias e organizar o ensino com
programas e horrios mais convenientes. A frequncia a uma srie dependeria da
aprovao na srie anterior. A inteno era realar o aspecto formativo do ensino
secundrio, o que foi neutralizado por um conjunto de medidas tomadas pelo Congresso
Nacional. Consequentemente, a reforma no foi totalmente aplicada. Em 1929 ainda
existiam escolas com exames preparatrios, sem currculo definido. Seu efeito mais forte
foi a moralizao do ensino.
Reforma Gis Calmon na Bahia (1925) Francisco Marques de Gis Calmon foi
governador da Bahia entre 1924 e 1928. Fez um governo considerado inovador e
incorporou sua administrao jovens com formao acadmica. Ansio Teixeira ocupou o
cargo de diretor geral do Ensino, e Nestor Duarte, o de diretor da Administrao. A
reforma que promoveu foi definida pela Lei n 1.846, de 14 de agosto de 1925, que
dispunha com detalhes sobre os princpios da gratuidade e da obrigatoriedade do ensino e
deixava claro que o ensino no estado da Bahia teria como objetivo a educao fsica,
intelectual e moral do indivduo de modo a formar homens aptos para a vida em sociedade.
Inqurito sobre Educao Pblica em So Paulo (1926) De autoria de Fernando de
Azevedo, o Inqurito sobre Educao Pblica em So Paulo resultou em uma avaliao dos
problemas fundamentais do ensino de todos os graus e tipos, e serviu de base para uma
campanha nacional em favor de uma nova poltica de educao e da criao de
universidades no pas. Trs sees compunham o relatrio. A primeira era dedicada ao
ensino primrio e normal; a segunda, ao ensino tcnico e profissional, e a ltima, ao ensino
secundrio e superior. Cada uma das sees tratava conjugadamente dos nveis ali
contemplados. O inqurito, encomendado pelo jornal O Estado de So Paulo, revelou um
quadro sombrio da educao brasileira. A ausncia de diretrizes culturais, sociolgicas ou
cientficas no ensino primrio e normal, a inexistncia de articulao entre a prtica
educacional e as modernas teorias educacionais, a inrcia ou resistncia a mudanas do
corpo docente diante de renovaes necessrias, pedaggicas e metodolgicas, foram os
pontos de maior destaque na publicao que resultou do inqurito, A educao na
encruzilhada. A tradio uniformizadora predominante na conduo educacional foi
considerada piv da crise que se abatia sobre o campo educacional brasileiro. O relatrio
salientava a urgncia de uma reforma no ensino normal, em geral mais afeito a
formalidades do que a contedos. O ponto considerado alto na investigao foi a percepo
de uma expectativa generalizada de que algo mais profundo deveria ser feito pela
renovao educacional no pas. Muitos especialistas consideram o inqurito um passo
essencial para o que se configurou como Movimento dos Pioneiros da Educao Nova, que
teve no Manifesto de 1932 sua expresso documental mais famosa.
Reforma Francisco Campos e Mrio Casassanta em Minas Gerais (1927) No governo
estadual de Antnio Carlos Ribeiro de Andrada, Francisco Campos assumiu em 1926 a
Secretaria de Interior. Data de sua gesto a mais importante reforma educacional do estado,
que contou com o inspetor geral de Instruo Pblica Mrio Casassanta. A reforma
realizada em 1927 avanou muitos pontos em relao anterior, de 1925. Francisco
Campos orientou e concentrou esforos no ensino pblico, particularmente na formao e
na qualificao de professores e na reestruturao do Curso Normal. Foram pontos de
destaque a vinda de professores estrangeiros, a ida de professores mineiros ao estrangeiro,
a criao de cursos de aperfeioamento e a utilizao intensa da Revista do Ensino, que
teve sua edio fortalecida, como instrumento de orientao e canal de comunicao com
os professores de toda a rede de escolas pblicas dos municpios. Recm-empossado na
Direo de Instruo Pblica, em outubro de 1926 Francisco Campos convocou os
professores a participar de um congresso onde seria sistematizada a viso dos professores
do estado a respeito da educao, e onde o secretrio procuraria cooptar o corpo docente
para a conduo das alteraes que pretendia com a reforma de 1927. A reforma tratou de
todos os itens essenciais reestruturao do ensino primrio, desde o estabelecimento de
disciplinas, definio de horrios, preparao dos professores, at orientaes de
cumprimento disciplinar e de formao moral e cvica.
Reforma do Distrito Federal (1928) A reforma educacional do Distrito Federal
conduzida por Fernando de Azevedo foi considerada uma das mais radicais levadas a cabo
no Brasil. Incluiu um grande plano de construes escolares, entre as quais a dos edifcios
na rua Mariz e Barros destinados antiga Escola Normal, depois Instituto de Educao. O
Decreto n 328, de 23 de janeiro de 1928, previa instituio do ensino tcnico profissional,
do ensino primrio e do ensino normal. O objetivo preconizado por Azevedo era preparar
geraes para a vida social de seu tempo. Previa-se tambm a criao de conselhos
escolares com ligao com o mundo da produo.
Reforma Carneiro Leo em Pernambuco (1928-1930) A segunda reforma conduzida por
Carneiro Leo foi feita quando assumiu a Secretaria do Interior, Justia e Educao de
Pernambuco, no governo de Estcio Coimbra. A reforma estava sintonizada com os
princpios defendidos pela Associao Brasileira de Educao. Carneiro Leo criou a
Diretoria Tcnica de Educao, rgo incumbido de dirigir e orientar a poltica educacional
do estado. A crise de 1929, a deposio de Washington Lus e, consequentemente, de
Estcio Coimbra em 1930 provocaram, contudo, sua exonerao e a interrupo da
reforma.
A Revoluo de 1930 iria redesenhar a poltica nacional. Data desse ano a criao do
Ministrio da Educao e Sade, cujo primeiro titular foi Francisco Campos. As
perspectivas continuavam, porm, preocupantes: em 1930, a taxa de matrcula nas escolas
correspondia a 30% da populao em idade escolar.

Helena Bomeny
FONTES: BOMENY, H. Novos; CARVALHO, M. Escola; CARVALHO, M.
Reformas (p. 225-251); GOMES, A. Inveno; GOMES, A. Repblica; NAGLE, J.
Educao; STEPAN, N. Hora (p.46).

Você também pode gostar