Memoria Popular. Teoria, Politica, Metodo
Memoria Popular. Teoria, Politica, Metodo
Memoria Popular. Teoria, Politica, Metodo
Este ensaio, escrito por Richard Johnson e Graham Dawson, foi baseado no trabalho
coletivo, em 1979 e 1980, do Popular Memory Group (Grupo de Memria Popular) no
Centre for Contemporary Cultural Studies da Universidade de Birmingham (Inglaterra). O
Grupo naquela poca era composto por Michael Bommes, Gary Clarke, Graham Dawson,
Jacob Eichler, Thomas Fock, Richard Johnson, Cim Meyer, Rebecca ORourke, Rita
Pakleppa, Hans-Erich Poser, Morten Skov-Carlsen, Anne Turley e Patrick Wright. Extraido
(ou transcrito?) com a permisso de R. Johnson et al. (eds.), Making Histories: Studies in
History-writing and Politics, Londres, Hutchinson, 1982.
Neste artigo exploramos uma abordagem para a escrita da histria que envolve
aqueles que esto se tornando historiadores do presente tambm. importante enfatizar a
palavra explorar. No temos um projeto completo sobre memria popular para relatar.
Resumimos e desenvolvemos discusses com a inteno de um esclarecimento inicial.
Estas discusses tinham trs pontos principais de partida. Primeiro, estvamos interessados
nos limites e contradies da histria acadmica que tentou estabelecer elos com polticas
populares socialistas ou feministas. Nosso exemplo principal aqui foi a histria oral, uma
prtica que parecia estar mais prxima de nossas prprias preocupaes. Segundo, fomos
atrados por projetos que se movimentavam na direo indicada por estas crticas iniciais.
Estes incluam experincias com autobiografia popular e com histria de comunidades,
mas tambm alguns desdobramentos crticos com base em estudos culturais ou na
historiografia acadmica. Terceiro, tentamos [...] relacionar problemas da escrita da
histria com debates mais abstratos que sugeriam possveis esclarecimentos.
*
Popular Memory Group.Popular Memory: theory, politics, method, em PERKS, Robert
& THOMSON, Alistair. THE ORAL HISTORY READER, New York: Routledge, 1998,
captulo 7, pp. 75-86. Traduo: Helen Hughes e Yara Aun Khoury; publicao:
FENELON, Da Ribeiro; MACIEL, Laura Antunes; ALMEIDA, Paulo Roberto de e
KHOURY,Yara Aun. (orgs.). Muitas memrias, outras histrias. So Paulo, Olho Dgua,
2004, pp. 282-295.
O que queremos dizer, ento, quando falamos em memria popular? Damos as
nossas prprias respostas provisrias na primeira parte deste ensaio. Definimos memria
popular primeiro como um objeto de estudo mas tambm, em segundo lugar, como uma
dimenso da prtica poltica. Observaremos, ento, na segunda parte, alguns dos recursos
para um projeto dessa natureza, mas esboaremos tambm seus limites e dificuldades [...]
O primeiro passo para definir memria popular ampliar o que entendemos por
escrita da histria (e, portanto, o que est envolvido no comentrio historiogrfico). [...]
para ampliar a idia de produo histrica bem alm dos limites da escrita da histria
acadmica. Devemos incluir todas as maneiras pelas quais um sentido do passado
construdo em nossa sociedade. Isto no toma, necessariamente, uma forma escrita ou
literria. Muito menos se enquadra em padres acadmicos de conhecimento ou em
cnones de veracidade. A histria acadmica tem um lugar especial dentro de um processo
muito maior. Chamaremos isto de a produo social da memria. Nesta produo
coletiva, todos participam, embora de maneira desigual. Todo mundo, neste sentido, um
historiador. Como argumenta Jean Chesneaux, a histria profissionalizada tem tentado se
apropriar de um conjunto muito mais geral de relaes e necessidades: a relao coletiva e
contraditria da nossa sociedade com o seu passado e a necessidade coletiva de liderana
para construir o futuro.1 J notamos uma tenso semelhante no trabalho de Christopher
Hill: o reconhecimento de um processo social maior no qual ns mesmos somos moldados
pelo passado mas ao mesmo tempo estamos sempre re-trabalhando esse passado que nos
molda.2 O primeiro problema na busca da memria popular de especificar o ns na
formulao de Hill, ou nossa sociedade na de Chesneaux. Quais so as maneiras pelas
quais a memria social produzida? Que prticas so relevantes, especialmente fora
daquelas da escrita profissional da histria?
til distinguir as principais maneiras pelas quais se produz um senso do passado:
atravs de representaes pblicas e atravs da memria privada (a qual, porm, tambm
pode ser coletiva e compartilhada). A primeira maneira envolve um teatro pblico de
histria, um palco pblico e uma audincia pblica para a encenao de dramas sobre
2
nossa histria ou herana, a estria, tradies e o legado do povo britnico. Este palco
pblico ocupado por muitos atores que, muitas vezes, falam a partir de scripts
contraditrios, mas denominaremos coletivamente os elementos que constituem esta
esfera histrica pblica e controlam o acesso aos meios de publicao de o aparato
histrico. Chamaremos os produtos destes mecanismos no conjunto de suas relaes e
combinaes conjuntas em qualquer momento de o campo das representaes pblicas da
histria. Pensando sobre as maneiras como estas representaes afetam concepes
individuais ou grupos do passado, podemos falar em memria dominante. Este termo
aponta para o poder e a universalidade das representaes histricas, suas conexes com
instituies dominantes e o papel que jogam para obter consenso e construir alianas nos
processos de polticas formais. Mas no queremos insinuar que concepes do passado que
se tornam dominantes no campo das representaes pblicas so monoliticamente
instaladas ou tem credibilidade em todo lugar. Nem todas as representaes que alcanam
domnio pblico so dominantes. O campo atravessado por construes do passado
que muitas vezes esto em guerra entre si. A memria dominante produzida no
transcorrer dessas lutas e sempre est exposta a contestao. Queremos insistir, entretanto,
que existem processos reais de dominao no campo histrico. Certas representaes
conseguem centralidade e se vangloriam enormemente; outras so marginalizadas, ou
excludas ou reformuladas. Mas os critrios de sucesso aqui no so os da verdade:
representaes dominantes podem ser aquelas que so as mais ideolgicas, as que mais
obviamente correspondem aos esteretipos homogeneizados do mito.
[...] os vrios lugares e instituies no trabalham em harmonia. Para fazer com que
eles cantem, embora no em harmonia, mas pelo menos com dissonncia mnima,
implica trabalho rduo e interveno ativa. Por vezes consegue-se isso pelo controle
direto (censura, por exemplo) e por violento rearranjo ou obliterao de campos
inteiros da histria pblica. Mais comumente, hoje, no ocidente capitalista, as
interseces entre os debates polticos formais e os meios de comunicao pblicos so,
talvez, o campo crucial. Certamente ideologias polticas envolvem uma viso do
passado, presente e futuro. Quanto vale o acadmico solitrio, enfrentando poderes
como estes, produzindo (tambm atravs de canais comerciais), mil ou duas mil cpias
da mais recente monografia?!
3
H uma segunda forma de olhar a produo social da memria que chama a ateno
para outros processos diferentes. O conhecimento do passado e do presente tambm
produzido no transcorrer da vida cotidiana. Existe um senso comum do passado que,
embora possa no ter consistncia nem fora de explicao, contm no obstante,
elementos de senso comum. Este conhecimento pode circular, geralmente sem
amplificao, nas conversas do dia-a-dia e em comparaes e narrativas pessoais. Pode at
ser registrado em algumas formas culturais privadas: cartas, dirios, lbuns de fotografia e
colees de coisas associadas ao passado. Pode estar impregnado em anedotas que
adquirem a fora e a generalidade do mito. Se isto histria, histria sob extremas
presses e privaes. Geralmente esta histria mantida num nvel de lembrana privada.
No s no registrada como tambm de fato silenciada. No lhe dada a oportunidade
de falar. Num certo mbito, o Movimento de Mulheres entende bem o processo de
silenciamento e est trazendo mais claramente tona a histria oculta dos sentimentos,
pensamentos e aes das mulheres. A histria feminista desafia a distino especfica entre
pblico/privado que silencia ou marginaliza o sentido do passado vivido pelas mulheres.
Mas processos semelhantes de dominao operam em relao a experincias
especificamente da classe trabalhadora, pois a maioria das pessoas da classe trabalhadora
tambm est privada do acesso aos meios de publicidade e tambm no est acostumada ao
hbito masculino de classe mdia de atribuir um sentido universal ou histrico a uma
experincia extremamente parcial. Mas estamos apenas comeando a compreender as
dimenses de classe da dominao cultural, em parte pela transferncia de insights
feministas. Isto tambm no s uma questo de posies de classe ou de gnero. At
mesmo um historiador de classe mdia articulado, observando a memria dominante dos
eventos que ele prprio vivenciou, pode tambm ser (quase) silenciado desta maneira.
Um exemplo significativo a dificuldade que escritores da New Left tm de falar
coerentemente sobre a Segunda Guerra Mundial:
No nos permitido hoje falar sobre nossas memrias da guerra e nem nos
sentimos impelidos a faz-lo. uma rea de reticncia geral: um assunto que no se
menciona entre amigos mais jovens e talvez de leve gozao entre aqueles que tm
opinies radicais. Tudo isto entendido. E a gente entende tambm porque assim.
4
assim, em parte, porque Chapman Pincher e outros como ele tm se apoderado,
incontestavelmente, de todos os bens morais daquele perodo; tm transformado a
guerra em grandes filmes de Hollywood, em edies de bolso fantasmagricas e em
tdio televisivo; tm atribudo todo o valor daquele momento s virtudes da Direita
autoritria que agora, supostamente, a herdeira e guardi dos interesses da atual nao.
Andando no meu jardim, ou cozinhando em frente ao fogo, eu reflito sobre
como tudo isso aconteceu. Minhas memrias sobre essa guerra so muito diferentes.3
Isto seguido de uma passagem positivamente asseguradora, que um texto clssico
para o estudo da memria popular dos anos 40; mas a luta intensa, a vitria apertada e o
quase-silenciamento de uma voz to forte e masculina, mostrando sua domesticao, so
muito reveladores.
Este tipo de resgate tornou-se a misso das correntes radicais e democrticas da
histria oral, da autobiografia popular e da publicao comunitria. Estas tentativas de
criar uma memria popular socialista ou democrtica sero vistas posteriormente nesta
argumentao. Primeiro queremos afirmar que o estudo da memria popular no pode se
limitar somente a este nvel. Este necessariamente um estudo relacional. Deve-se incluir
tanto a representao histrica dominante no mbito pblico quanto procurar ampliar ou
generalizar experincias subordinadas ou privadas. Como todas as disputas, deve ter dois
lados. Nos estudos concretos, memrias privadas no podem ser facilmente desvinculadas
dos efeitos dos discursos histricos dominantes. Muitas vezes so estes que suprem os
prprios termos atravs dos quais uma histria privada pensada. Memrias do passado
so, como todas as formas de senso comum, construes singularmente complexas
parecendo um tipo de geologia, sedimentao seletiva de vestgios do passado. Como
Gramsci colocou, ao escrever sobre a necessidade da conscincia histrica para polticas
comunistas, o problema conhecer-se a si mesmo como produto de um processo
histrico at o momento, que colocou em cada um uma infinidade de marcas, sem deixar
um inventrio. Da mesma forma os discursos pblicos alimentam-se dos registros
originais de eventos ao longo das transaes dirias e se apropriam do conhecimento
prtico dos agentes histricos. por estes motivos que o estudo da memria popular
implica dois conjuntos de relaes. Implica a relao entre memria dominante e formas a
ela opostas em todo o mbito pblico (inclusive o acadmico). Implica tambm a relao
5
destes discursos pblicos em sua dinmica contempornea com o sentido mais privatizado
do passado que gerado no interior de uma cultura vivida.
[...] As prticas polticas da histria nos parecem ser mais problemticas at mesmo numa
perspectiva marxista. Este especificamente o caso quando a histria definida como o
estudo do passado. Consideramos isto como sendo uma das caractersticas chaves da
histria profissional e at mesmo das ideologias histricas. Certamente profundamente
problemtico do ponto de vista da memria popular. A memria , por definio, um
termo que chama a nossa ateno no para o passado, mas para a relao passado-presente.
porque o passado tem esta existncia ativa no presente que to importante
politicamente. Como o passado morto, acabado, ou somente subsumido no presente
muito menos importante. Este argumento pode ser clareado se compararmos algumas
abordagens com o significado poltico da histria. [...]
A construo de tradies certamente uma maneira pela qual o argumento histrico
opera como uma fora poltica embora arrisque um certo conservadorismo; da mesma
maneira qualquer anlise adequada das relaes contemporneas de fora poltica deve ser
tanto histrica na forma quanto resgatar pocas histricas mais ou menos distantes.
Tambm deve tentar compreender os limites e possibilidades mais amplos de uma poca
em termos de uma histria mais longa das estruturas capitalistas e patriarcais. O que
devemos insistir, tambm, que toda atividade poltica intrnsecamente um processo de
argumentao e de definio histrica, que todos os programas polticos envolvem tanto
alguma construo do passado quanto do futuro, e que estes processos se desenvolvem
diariamente, escapando, muitas vezes, s preocupaes de historiadores, especialmente em
termos de perodo. Dominao poltica envolve definio histrica. A luta constante pela
hegemonia tem um interesse substancial na histria e particularmente na memria popular.
A relao entre histria e poltica, como a relao entre passado e presente , portanto,
intrnseca: trata-se de polticas da histria e de dimenses histricas da poltica. [...]
A formao de uma memria popular socialista, feminista e anti-racista
particularmente importante hoje, tanto por razes gerais quanto especficas. Geralmente,
6
como discutia Gramsci, um sentido de histria deve ser um elemento constitutivo de uma
cultura popular socialista forte. uma das formas pelas quais um grupo social orgnico
adquire conhecimento do contexto maior de suas lutas coletivas e se torna capaz de exercer
um papel mais amplamente transformador na sociedade. Mais importante, talvez, a forma
pela qual nos tornamos auto-conscientes da formao de nossas crenas de senso comum,
aquelas de que nos apropriamos dentro do nosso meio social e cultural imediato. Estas
crenas tem uma histria e tambm so produzidas em determinados processos. O
importante resgatar seu inventrio, no como faz o folclorista que quer preservar
maneiras antiquadas e pitorescas para a modernidade, mas para que, conhecendo suas
origens e tendncias, estas possam ser conscientemente adotadas, rejeitadas ou
modificadas.4 Assim, uma historiografia popular, especialmente a histria das formas mais
comuns de conscincia, um aspecto necessrio na luta por um mundo melhor.
Mais particularmente, a formao de uma memria popular socialista uma
necessidade urgente para os anos 1980 na Gr Bretanha. Parte do problema que vestgios
de uma memria politizada como esta em geral projeta, como um todo, uma histria de
ps-guerra de desiluso e declnio. Em particular, existe um sentimento de perda e de
alienao no que diz respeito ao Partido Trabalhista (Labour Party). Mas o problema
mais profundo do que isto (o qual, a renovao socialista, dentro e fora do Patrido
Trabalhista parece estar, ainda hoje, tentando diminuir). Ento quais sero as formas de
uma nova memria popular socialista? Um restabelecimento do Trabalhismo do passado
no seria suficiente; e nem ajudaria a traar as lutas somente dos setores masculinos,
trabalhadores profissionais brancos da classe trabalhadora, que tem formulado, at hoje, as
principais questes da histria do trabalho. Precisamos de formas de memria popular
socialista que nos falem da situao e das lutas de mulheres e sobre a convergente e muitas
vezes antagnica histria dos negros, incluindo os negros ingleses de hoje. A memria
popular socialista hoje tem que ser um empreendimento construdo de maneira nova;
nenhum mero resgate ou re-criao ser vlido. Pois nesse caso descobriremos que a mera
nostalgia reproduz o conservadorismo.
RECURSOS E DIFICULTADES
Recursos
7
Os recursos para um projeto como este so amplos mas tambm, significativamente, muito
desorganizados; isto , sistematicamente desorganizados, e no apenas carecendo de
organizao. Isto tem muito a ver com as diversas origens sociais de diferentes tipos de
recursos e as imensas dificuldades para se combinarem. Entre os recursos, muitos tm sido
criados nas ltimas duas dcadas, a partir do trabalho crtico de especialistasespecialmente
em nosso campo, historiadores, socilogos, filsofos, etc., insatisfeitos com os limites e as
ideologias da sua disciplina profissional Os estudos culturais tem se desenvolvido nestas
lnhas, mas pertencem a um campo muito mais amplo de trabalho intelectual radical e
feminista onde at bem pouco tempo, muita nfase era dada ao esclarecimento e
desenvolvimento terico. Mas tem havido, tambm, importantes rupturas fora dos crculos
acadmicos, ou numa tensa relao com eles. Esses recursos vinculam-se mais
comumente, educao de adultos (especialmente o WEA) ou ao ensino nas escolas ou a
formas de ao comunitria ps-1968. O objetivo principal destas tendncias tem sido
democratizar as relaes de autoria; no caso de histria, amenizar ou remover
completamente a distncia entre historiador e o que Ken Worpole tem chamado a
constituio originria. Os produtos caractersticos deste movimento tm sido
autobiografias populares, histrias orais, histrias de comunidades e outras formas de
escrita popular. Mas tem desenvolvido tambm uma crtica caracterstica da prtica
acadmica que enfatiza a no acessibilidade at mesmo da histria social de esquerda, em
termos de linguagem e preo, e a absoro de autores e leitores no produto final (livro ou
jornal) em vez de mostrar o processo pelo qual produzido e distribudo. Em parte por
causa da nfase que dada linguagem e de seu compromisso com a fala comum,
ativistas da histria oral ou da autobiografia popular muitas vezes criticam profundamente
as formas dominantes de teoria. Esta diviso, em nossa opinio, a maior fonte de
desorganizao. As tenses entre ativistas e acadmicos extremos, entre as tendncias
histricas radicais so explosivas, a ponto de, muitas vezes, serem bastante destrutivas.
So muitas vezes qualitativamente menos produtivas do que encontros diretos entre classes,
nos quais trabalhadores interrogam diretamente radicais acadmicos. Mesmo assim
comeam a ser feitas algumas conexes teis entre crticos acadmicos e ativistas
comunitrios (que nem sempre so pessoas diferentes); quando ambos os lados so
suficientemente pacientes comea a haver um dilogo til. Alguma coisa nesse sentido
8
pode ser vista nas pginas do History Workshop Journal, como no volume da 13
Conferncia do History Workshop e especialmente nos escritos de alguns autores cuja
experincia vai desde uma fase amadora at a profissional. 5 Em geral History
Workshop (como jornal e como movimento) tem se distinguido por seu esforo em
manter juntos esses dois grupos pouco amistosos, com outros sob a bandeira socialista
ou da histria do povo. Neste sentido History Workshop o que mais se assemelha a um
aparelho histrico alternativo, especialmente se sua recm-formada federao colocada
ao lado das mais antigas Federation of Worker Writers e Community Publishers. 6 A seguir
queremos simplesmente mencionar alguns desdobramentos dentro e fora do movimento
History Workshop que nos parecem j apontar em direo ao estudo da memria popular.
A histria oral a evocao e registro de memrias individuais do passado parece
ser a primeira vista, a que mais se aproxima da perspectiva da memria popular, ou de um
aspecto dela. De fato, o termo histria oral abrange uma grande rea de prticas conectadas
entre si de maneira tnue, por uma metodologia comum. O que mais nos interessa na
histria oral que, muitas vezes, o lugar onde a tenso entre objetivos histricos e
polticos concorrentes mais aparente: entre procedimentos profissionais e entusiasmo
amador, entre histria oral como recriao, como recreao e como poltica, entre cnones
de objetividade e um interesse, mais pontual, pela subjetividade e pelas formas culturais.
Mais tarde, queremos ilustrar estas tenses observando os primeiros trabalhos do
historiador oral e social Paul Thompson.7
Ao enfocar uma parte do nosso argumento no trabalho de Thompson, no queremos
insinuar que no existem modelos alternativos. Outras abordagens de histria oral so, de
fato, muito mais prximas das nossas inquietaes. Poderamos citar, por exemplo, a
crtica da histria oral, em suas formas mais empricas, que se encontra no trabalho de
Luisa Passerini.8 Sua procura dos princpios estruturadores da memria e do esquecimento,
sua preocupao com representao, ideologia e desejos subconscientes, seu enfoque sobre
subjetividade como a rea de atividade simblica que inclui o aspecto cognitivo, cultural
e psicolgico9 e sua compreenso da subjetividade como um campo de luta poltica, tudo
isso torna seu trabalho muito prximo das tradies britnicas de estudos culturais,
especialmente naquilo em que tm sido influenciados pelo feminismo. Sua avaliao
crtica da histria oral nos parece muito mais radical do que sua discrio s vezes pode
9
sugerir. Concordamos plenamente com sua crtica aos debates ingleses por no fazerem a
devida coneo da histria oral como mtodo com questes mais gerais e tericas. 10 Os
primrdios de sua anlise das memrias populares do fascismo italiano em Turin marcam
um grande avano sobre quase todo o pensamento referido ao significado cultural e poltico
(em oposio ao simplesmente concreto) dos textos de histria oral.
Embora j comece a aparecer uma disposio mais auto-reflexiva na Inglaterra, a
energia se encontra, sobretudo, numa prtica mais difundida de histria popular, muitas
vezes forjada nas tradies da histria social e do trabalho. Este o caso, por exemplo, do
trabalho nico e formidvel sobre memrias evocadas de participantes Blood of Spain, de
Ronald Fraser.11 As lies deste livro para a prtica futura repousam mais na maneira
como escrito do que em quaisquer prescries auto-conscientes do autor, um velho
praticante da histria oral ou da sociologia qualitativa. O que achamos interessante em
Blood of Spain foi um dado uso de lembranas orais na forma como, de alguma maneira,
foram inicialmente evocadas: no como fatos abstratos sobre o passado, mas como
estria, como sentimento e pensamento lembrado, como relato pessoal. O livro inteiro
tecido a partir de estrias e anlises retrospectivas, s vezes citadas, s vezes parafraseadas,
agrupadas em torno da cronologia da guerra civil espanhola ou das questes cruciais que
foram debatidas e literalmente combatidas no seu percurso. Existe um sentido pelo qual os
entrevistados de Fraser realmente escrevem Blood of Spain, provendo o autor da forma
celular de um trabalho mais amplo: inmeras narrativas pessoais midas, a partir das quais
tecida uma estria mais ampla, de propores hericas e complicao quase infinita.
Blood of Spain histria atravs de autobiografia composta, a recriao da experincia na
forma de mil pontos de vista parciais e em guerra.12
Mas pode-se argir que o desenvolvimento mais significativo tem sido o crescimento
da histria comunitria, da autobiografia popular e da escrita da classe trabalhadora em
geral, onde os termos de autoria mudaram completamente. Em um certo sentido, todos
estes textos e projetos so evidncias das formas de memria popular; so todos eles sobre
a relao do passado com o presente, com uma tnue conscincia de sua historicidade, ou
no. Alguns projetos, entretanto, tm enfocado especificamente estes temas: a seqncia
cronologicamente-ordenada de relatos de trabalho em Working Lives de Centreprise, que
faz parte do Peoples Autobiography of Hackney, um exemplo13; o trabalho de Durham
10
Strong Words Collective, especialmente Hello Are You Working? (sobre desemprego) e But
the World Goes on the Same (sobre o passado e o presente nas aldeias mineiras) outro. 14
O trabalho de Durham especialmente organizado em torno de contrastes entre ontem e
agora, muitas vezes vistos atravs de comparaes inter-geracionais. Como dizem os
editores:
O passado exerce uma presena poderosa sobre as vidas das pessoas no County
Durham. Os montes das minas j desapareceram mas ainda so lembrados, como
tambm lembrada a dureza da vida sob os antigos donos do carvo e as batalhas
polticas que enfrentaram contra eles. Enquanto refletem, as pessoas tentam separar as
coisas nas suas mentes como eram as coisas naquela poca? De que maneira so
diferentes hoje? Por que?15
Diferentes destes dois projetos, so os projetos politicamente localizados, projetos
culturalmente sensveis histria e memria que vm sendo desenvolvidos no interior do
Movimento das Mulheres contemporneo. J h um forte dilogo passado-presente
acontecendo dentro do feminismo contemporneo. [...] Muita histria feminista tambm se
aproveita de materiais orais, s vezes usando-os de formas inovadoras. 16 As autobiografias
evocadas por Jean McCrindle e Sheila Rowbotham e publicadas como Dutiful Daughters,
so moldadas pelo feminismo das editoras e por uma distintiva poltica de publicao. O
objetivo tornar mais pblica e mais compartilhada a opresso feminina privada, e assim
desafiar as definies masculinas dominantes e o silenciamento das mulheres. 17 Trabalhos
como este continuam uma longa tradio feminista de escrever sobre o passado e o presente
atravs da forma autobiogrfica. Podemos tambm notar nesta coleo, no trabalho de
Durham, em What Went Wrong? De Jeremy Seabrook e em outros lugares o incio de um
interesse por uma memria popular especificamente socialista. interessante que tanto
Dutiful Daughters quanto What Went Wrong? tenham sido temas das publicaes
coletivas no History Workshop 14.18
Nem todas as prticas e debates relevantes pertencem quilo que geralmente se
pensaria como trabalho histrico. De fato, existe um verdadeiro perigo de que a
Histria, que muitas vezes uma Musa tirnica, possa se fechar em torno de
preocupaes de modo muito estreito. Esta uma razo pela qual categorias mais amplas
a escrita negra, ou de mulheres, ou da classe trabalhadora por exemplo so s vezes
11
preferveis. Ainda assim, h limitaes que no ajudam: o compromisso, por exemplo, com
a palavra impressa e a tendncia de negligenciar outras prticas, inclusive a crtica da
memria dominante nos meios de comunicao. aqui que debates sobre memria
popular que emergem de uma tradio nacional e terica completamente diferente so to
importantes, especialmente os debates na Frana envolvendo a concepo de memria
popular cunhada por Michel Foucault.19 Debates franceses enfocam questes como a
representao da histria no cinema e em torno de polticas histricas do estado francs
por exemplo a promoo da histria popular e resgate de arquivos pelo Ministrio da
Cultura durante o Heritage Year oficial de 1979.20 Outra voz francesa importante para ns
tem sido Pasts and Presents: What is History For? de Jean Chesneaux, um ataque militante
e, s vezes selvagemente iconoclasta, da histria acadmica francesa, incluindo a histria
social acadmica escrita por marxistas.
Uma importncia dos debates franceses que estes tm direcionado a ateno para a
possibilidade de uma prtica cultural radical de cunho histrico fora da escrita de livros de
histria.21 importante notar desdobramentos deste tipo em filmes, em teatro comunitrio,
em dramas televisivos e em trabalhos radicais de museu. O filme Song of the Shirt, a srie
de TV Days of Hope, a adaptao para televiso de Testament of Youth de Vera Brittain e o
forte trabalho histrico de grupos radicais de teatro como: 7:84 Red Ladder e The
Monstrous Regiment so exemplos de fazer histria muitas vezes com um interesse
popular real, mas geralmente negligenciado por historiadores. Inovaes nesta rea so
intrnsecas memria popular tanto como estudo, quanto como prtica poltica.
Certamente deveriam receber tanto interesse e apoio dos historiadores socialistas e
feministas quanto o mais recente volume histrico ou o ltimo exemplar de o jornal.
Dificuldades e contradies
Quais so, ento, algumas das dificuldades na realizao do potencial destes recursos? A
histria oral e a autobiografia popular, afinal das contas, j existem h algum tempo,
gerando, inicialmente, verdadeiro interesse. Por que, ento, os efeitos polticos tm sido
bastante pobres? Quais so os bloqueios e inibies que ainda existem?
Existem, talvez, quatro principais reas de dificuldade. Muitas vezes estas tm a ver
com as tenses que existem entre a provenincia acadmica ou profissional de novas
12
prticas e suas adaptaes s polticas populares. Resumiremos brevemente aqui as quatro
reas de dificuldade. [...]
O primeiro conjunto de dificuldades de carter epistemolgico. Surgem das
maneiras pelas quais objetos histricos so definidos. Giram em torno do empiricismo da
prtica histrica ortodoxa. No so puramente assuntos tcnicos para os filsofos julgarem.
O empiricismo do historiador uma dificuldade real. Bloqueia o progresso poltico. Por
isso to importante retornar novamente a estas questes, mostrando os efeitos polticos
desta postura persistentemente emprica.
O segundo conjunto de dificuldades deriva inicialmente da forma pela qual a matria
prima da histria oral ou da autobiografia popular surge originalmente: testemunho
individual, narrativa ou autobiografia. Isso coloca, de forma muito aguda, o problema do
sujeito individual e seu contexto social mais amplo. Em que sentido o testemunho
individual evidncia para mudanas sociais maiores? Como estas mudanas podem ser
entendidas, no como algo que foge da ao humana, mas tambm como o produto do
trabalho humano, que inclui esta personalidade individual? Esta dificuldade implcita ao
mtodo de histria oral e da forma autobriogrfica. Reflete-se tambm em tipos de divises
mais amplas: histria, autobriografia, fico ( com sua particular verdade experiencial).
Esses lazeres, por sua vez, envolvem hierarquias de significados. O testemunho oral-
histrico ou o autobigrafo, a no ser que seja considerada uma personagem com poder
pblico excepcional, fala s por si mesmo; o historiador que, como o professor em Lucky
Jim, fala literalmente pela Histria. Alguma soluo para este problema persistente,
alguma forma de pensar a sociedade de indivduos, seria um recurso adicional importante.
J nos referimos ao terceiro conjunto de dificuldades: a tendncia de identificar o
passado como o objeto da histria. Este fator de senso comum histrico geralmente no
questionado tem resultados extremamente paradoxais quando aplicado histria oral ou
autobiografia popular. De fato, mostra-nos que esta definio no pode ser mantida sem a
despolitizao radical da prtica da pesquisa. O que interessante nas formas de
testemunho histrico oral ou autobiogrfico e que, como fatos, no so simplesmente
jias do passado, mas a maneira integral pela qual memrias populares so construdas e
reconstrudas como parte de uma conscincia contempornea. Nesta seo observaremos
13
algumas das maneiras caractersticas pelas quais um sentido do passado tem se constitudo
em memrias privadas.
O quarto conjunto de dificuldades mais fundamental. Tem a ver no s com os
evidentes bloqueios intelectuais e tericos , mas tambm com as relaes sociais que estas
inibies expressam. Na histria oral e em prticas similares o problema epistemolgico
como os historiadores utilizaro suas fontes tambm um problema de relaes
humanas. A prtica da pesquisa de fato obedece (e pode, at mesmo, aprofundar na prtica)
divises sociais que tambm so relaes de poder e desigualdade. O poder cultural que
est em jogo aqui, claro, e no o poder econmico ou a coero poltica. Mesmo assim, a
pesquisa certamente pode construir um tipo de relao econmica (um equilibrio de
benefcios econmicos e culturais) que espoliativa onde os retornos so deploravelmente
desiguais. De um lado existe o historiador que se especializa na produo de explicaes
e interpretaes e que se constitui na mais ativa e pensante parte do processo. De outro
lado, est a sua fonte que, neste caso, um ser humano vivo que colocado no processo
com o intuito de produzir informao. O entrevistado com certeza est sujeito ao poder
profissional do entrevistador que pode tomar a iniciativa de procur-lo e question-lo.
Claro, o problema pode ser resolvido retoricamente ou ao nvel de relaes pessoais: o
historiador pode afirmar ter sentado aos ps de um testemunho da classe operria e ter
aprendido tudo o que sabe nessa postura improvvel e desconfortvel. , portanto, ele que
produz o relato final, ele que prov a interpretao dominante, ele que julga o que verdade
ou inverdade, confivel ou inautntico. o nome dele que aparece na capa da sua
monografia e sua carreira acadmica que promovida pela publicao. ele que recebe
uma parte dos direitos autorais e quase todo o capital cultural envolvido na autoria. Seu
amor prprio que aqui satisfeito como criador. Sua reputao profissional entre seus
pares realada em caso de sucesso. Em tudo isto, no melhor dos casos, os primeiros
construtores de relatos histricos as fontes ficam intocadas, inalteradas pelo processo
todo, exceto naquilo que entregaram o relato. No participam, ou s o fazem
indiretamente, no trabalho educacional que produz o relato final. Talvez nunca cheguem a
ler o livro do qual foram co-autores, nem a compreend-lo totalmente se o forem ler.
Exageramos deliberadamente este caso, para destacar de modo polmico. Mas no
descrevemos uma situao atpica para os tipos mais profissionalizados da prtica de
14
histria oral. A questo quais so os efeitos mais amplos de tais divises sociais? So
transformveis? At que ponto, localmente, frgilmente, j foram transformados? E quais
so as dificuldades e oportunidades envolvidas em futuras transformaes? H muita coisa
a arriscar aqui. Estamos discutindo uma forma particular de relao de classe (entre
pessoas da classe trabalhadora e setores da classe mdia profissional) e como esta pode ser
transformada em uma aliana mais igual. Uma aliana que pode ter um papel crucial na
histria de polticas de esquerda e que certamente central para o futuro do socialismo e do
feminismo hoje. [...]
NOTAS
15
1
J. Chesneaux, Pasts and Futures or What is History For?, London, Thames & Hudson, 1978, especialmente pp. 1 e 11.
2
C. Hill, Change and Continuity in Seventeenth Century England, London, Weidenfield & Nicolson, 1974, p. 284.
3
E.P. Thompson, Writing by Candlelight, London, Merlin, 1980, pp. 130-131.
4
Q. Hoare e G. Nowell-Smith (editores e tradutores), Selections from the Prison Notebooks of Antonio Gramsci, London,
Lawrence & Wishart, 1971, passim mas especialmente pp. 324-325.
5
Ver especialmente o debate entre K. Worpole, J. White e S. Yeo em R. Samuel (ed.), Peoples History and Socialist
Theory, London, Routledge & Kegan Paul, 1981, pp. 22-48.
6
O FWWCP foi fundado em 1976 e reune umas vinte ou mais oficinas e iniciativas de editoras locais de escritores da
classe trabalhadora no pas. Para um relato til da histria do History Workshop ver R. Samuel, History Workshop,
1966-80 em Samuel, Peoples History, pp. 410-417.
7
[Ver pp. 221-227 e 231-234 do artigo original eds.]
8
L. Passerini, Work ideology and consensus under Italian fascism, History Workshop Journal, 1979, no. 8, pp. 82-108;
L. Passerini, On the use and abuse of oral history (mimeografia traduzida de L. Passdrini (ed.), Storia Orale: Vita
Quotidiana e Cultura Materiale delli Classe Subalterne, Torino, Rosenberg & Sellier, 1978. Agradecemos autora por
ter nos enviado uma cpia deste texto. Ver tambm seu texto de tomada de posio apresentado no History Workshop,
13: Oral history and peoples culture (mimeo, nov.-dez. 1979).
9
Passerini, Italian fascism, p. 83.
10
Passerini, Use and abuse, p. 7-8.
11 R. Fraser, Blood of Spain: The Experience of Civil War 1936-39, London, Allem Lane, 1979. Ver tambm R. Fraser,
Work: Twenty Personal Accounts, 2 vols., Harmondsworth, Penguin, 1967.
1
12
Agradecemos a Bill Schwarz por compartilhar suas respostas com este livro.
1 3
A peoples autobriography of Hackney, Working Lives, 2 vols., Hackney WEA e Centreprise, n.d. Para Centreprise em
geral ver K. Worpole, Local Publishing and Local Culture: An Account of the Centreprise Publishing Project 1972-77,
London, Centreprise, 1977 e Centreprise Report, dezembro 1978.
1 4
K. Artmstrong e H. Beynon (eds.), Hello, Are you Working? Memories of the Thirties in the North East of England,
Durham, Strong Words, 1977; Strong Words Collective, But the World Goes on the Same: Changing Times in Durham Pit
Villages, Curham, Strong Words, 1979. Agradecemos a Rebecca ORourke por ter nos apresentado ao trabalho desta
coletiva.
15
Strong Words, But the World Goes on the Same, pg. 7.
1 6
Por exemplo, o uso de material autobiogrfico em J. Liddington e J. Norris, One Hand Tied Behind Us, London, Virago,
1978.
17
J. McCrindle e S. Rowbotham (eds.), Dutiful Daughters, Harmondsworth, Penguin, 1979.
1 8
J. Seabrook, What Went Wrong? Working People and the Ideals of the Labour Movement, London, Gollancz, 1978.
1 9
M. Foucault, Interview, em Edinburgh 77 Magazine (originalmente publicado em francs em Cahiers du Cinma,
1974). Ver tambm Radical Philosophy, 1975, n. 16.
2 0
P. Hoyau, Heritage year or the society of conservation, Les Rvoltes Logiques (Paris), 1980, no. 12, p. 70-77. Ver
tambm a reportagem sobre Cahiers du Forum Histoire em Les Rvoltes Logiques, 1979-80, n. 11, p. 104, um grupo
com interesses e objetivos parecidos aos nossos.
2 1
Da o debate na Inglaterra sobre prticas radicais de filmagem e drama histrico. Ver, por exemplo, C.MacCabe,
Memory, phantasy, identity: Days of Hope and the politics of the past, Edinburgh 77 Magazine; K. Tribe, History and
the production of memories, Screen, 1977-8, vol. XVII, n. 4; C. McArthur, Television and History, London, British Film
Institute, 1978.