Ouro Recuperação-Capitulo - 04 PDF
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OURO DISSOVILDO
Lino Rodrigues de Freitas - CVRD
Renato de Souza Costa - CVRD
1. INTRODUO
O presente captulo trata da recuperao do ouro unicamente a partir de solues obtidas por
meio de cianetao de minrios ou concentrados aurferos. Isso porque a solubilizao do
ouro por meio de outros solventes, tais como tiouria, cloretos, tiossulfato e outros, embora
tecnicamente vivel, at o momento no encontrou aplicaes de vulto em escala industrial.
A concentrao de ouro em solues cianetadas pode variar dentro de uma faixa bastante
extensa, fato que influencia em muito o(s) processo(s) de recuperao. Atualmente, os
dois principais processos utilizados na indstria so:
- adsoro do ouro em carvo ativado para tratamento de polpas obtidas na etapa de
cianetao, sem separao slido/lquido;
- precipitao com p de zinco para tratamento de solues clarificadas.
A precipitao com zinco era o mtodo preferido at os anos 70, poca em que os processos
a base de carvo ativado tiveram grande impulso. Entretanto, h casos em que deve-se
ainda optar pela precipitao com zinco, tais como (Marsden e House, 1993):
- no tratamento de minrios com alto teor de prata;
- minrios contendo materiais que interferem com a adsoro em carvo (alto teor de
argilas ou matria orgnica);
- no aproveitamento de pequenos corpos minerais, para os quais no se justificam os
investimentos com eluio e regenerao, alm do alto custo do carvo ativado.
&& C APTULO 4
Tabela 1
Empresas dos EUA que empregavam o processo Merrill-Crowe em 1990
(Gupta e Mukherjee, 1990)
Figura 2 - Mecanismo do processo de cementao de ouro com zinco (Marsden e House, 1993)
- a mesma soluo deve passar por uma etapa de deaerao, de forma a conter <1 ppm de
oxignio dissolvido antes da cementao. Isso ocorre mediante aplicao de vcuo -
funo da temperatura e da altitude - em geral, de cerca -1 atm ao nvel do mar e 25oC;
- deve ser adicionada uma quantidade adequada de sal de Pb, na faixa de 3 a 14 g por m3
de soluo tratada;
- o p de zinco deve ter granulometria adequada, funo do equipamento de filtrao
disponvel. Um valor tpico de distribuio granulomtrica de p de zinco disponvel
comercialmente 80% passante em 10 mm;
- a faixa de pH ideal de 10,5 a 11,5, controlado mediante a adio de cal hidratada;
- a concentrao de cianeto livre do licor clarificado deve ser mantida na faixa de 150 a
300 mg/L (Adamson, 1972; Yannopoulus, 1991). Altas concentraes de CN- afetam os
potenciais redox das reaes [2] e [3], enquanto valores muito baixos de cianeto livre
favorecem a formao de Zn(OH)2.
Tabela 2
Efeito da presena de ons em soluo na cementao com zinco
de solues diludas de ouro (Marsden e House, 1993)
O uso do alumnio para a precipitao de ouro a partir de solues cianetadas foi inicialmente
proposto e patenteado por Moldenhauer no final do sculo XIX (Marsden e House, 1993).
Entretanto, esse processo teve at hoje poucas aplicaes industriais, possivelmente devido
ao menor custo associado ao processo com zinco em p. Atualmente o uso de cementao
com alumnio limita-se ao processamento de minrios de prata contendo As e Sb (Gupta e
Mukherjee, 1990).
R ECUPERAO DO OURO D ISSOVILDO '!
O pH no processo de cementao com Al deve ser mantido acima de 12, a fim de evitar
a hidrlise dos ons aluminato (AlO2-), segundo a reao abaixo, pois o hidrxido formado
tende a recobrir a s partculas de alumnio, comprometendo o processo:
AlO2- + 2H2O = Al(OH)3 + OH- (12)
Claramente, o equilbrio da reao (12) deslocado para a esquerda para altas
concentraes de ons hidroxila.
Introduo
O processo de cementao com zinco apresenta duas grandes desvantagens: o licor rico
deve ser clarificado e o processo no eficiente para o tratamento de solues muito
diludas em ouro. Ambas essas dificuldades so contornadas por meio do processo de
adsoro em carvo ativado. Na realidade, a capacidade de diversas espcies de carvo,
em especial carvo ativado, em adsorver ouro e outros metais preciosos era conhecida h
muito tempo, porm a inexistncia de uma forma eficaz e barata de remover o ouro adsorvido
- at meados do sculo XX isso era feito mediante queima do carvo - era um impecilho
para a aplicao industrial dos processos a base de carvo ativado.
De toda forma, importante salientar que, apesar dos progressos tecnolgicos decorrentes
desses estudos, o fato que efetivamente suscitou uma maior quantidade de empresas a
adotar os processos a base de carvo ativado foi a escalada dos preos do ouro ao final da
dcada de 70. Essa escalada teve como consequncia, tambm, um grande aumento na
capacidade instalada de produo de ouro no mundo, que passou de 1340 t/ano em 1973
para 1730 t/ano em 1987 e 2470 t/ano em 1997 (Michel, 2000).
R ECUPERAO DO OURO D ISSOVILDO '#
Carvo ativado uma denominao genrica dada a uma grande quantidade de materiais
carbonosos amorfos com elevada superfcie especfica (de at 1200 m2/g), devido altssima
quantidade de poros em sua estrutura. Em funo disso, carvo ativado um material
utilizado em uma grande variedade de processos de separao de gases e lquidos, tanto
inorgnicos como orgnicos.
Os materiais mais comumente utilizados para fabricar carvo ativado so madeira, turfa,
casca de cco, carvo betuminoso, antracito, coque de petrleo e sementes de frutas. A
matria-prima empregada influencia na aplicao final do carvo ativado. Assim, carves
ativados produzidos a partir de madeira so utilizados em aplicaes de descolorao
("bleaching") de tecidos, enquanto aqueles feitos com casca de cco so mais usados para
adsoro de gases ou na metalurgia do ouro (Marsden e House, 1993).
A reao (13) ocorre tambm durante a etapa de reativao de carvo ativado nas usinas
de ouro e a mesma catalisada pela presena de Fe, Cu e carbonatos alcalinos (Marsden
e House, 1993).
O carvo ativado possui uma estrutura similar grafita, porm muito menos ordenada. Estudos
com difrao de raios-X demonstraram que essa estrutura compreende (Van Vliet, 1986):
a) pequenas regies de cristalitos elementares com 9-12 de altura e 20-23 de largura,
compostas de planos quase paralelos de tomos de carbono orientados de forma hexagonal;
b) uma rede com pouca orientao e em ligao cruzada ("cross-linked") de hexgonos de
carbono, rede essa mais pronunciada no caso de carves ativados produzidos a partir de
materiais com maior teor de oxignio.
Alm da alta superfcie especfica, as caractersticas qumicas dos carves ativados impactam
suas propriedades adsortivas. Embora tais caractersticas ainda no tenham sido
completamente explicadas, acredita-se que os principais fatores que afetam as propriedades
de adsoro do carvo ativado so (Van Vliet, 1986; Marsden e House, 1993):
a) defeitos (discordncias ou cantos vivos) na estrutura microcristalina, causando a formao
de cargas eltricas localizadas. Isso facilita a adsoro de espcies polarizadas;
b) a presena de elementos quimicamente ligados, tais como oxignio e hidrognio,
provenientes da matria-prima carbonosa ou do gs usado durante a ativao;
c) a presena de materiais inorgnicos, oriundos, por exemplo, das cinzas da matria-
prima carbonosa. Tais materiais podem tanto melhorar como dificultar as propriedades
adsortivas do carvo.
Os principais fatores que afetam a adsoro de ouro em carvo ativado a partir de solues
cianetadas so:
o tipo da matria-prima carbonosa utilizada (mencionado anteriormente);
granulometria. Embora a distribuio granulomtrica de um carvo no impacte muito
sua superfcie especfica (devido elevada porosidade interna), ela tem grande influncia
sobre o comprimento mdio dos poros. Assim, quanto menor a granulometria do carvo
ativado, maior a taxa de adsoro do ouro, conforme ilustrado na Figura 4.
'& C APTULO 4
Figura 4 - Taxa de adsoro de ouro em funo da granulometria do carvo (Marsden e House, 1993)
Figura 5 - Efeito da velocidade de agitao sobre a taxa de adsoro de ouro (Fleming e Nicol, 1984)
Figura 6 - Efeitos do pH e da concentrao de cianeto livre sobre a adsoro de cobre em carvo ativado
(Fleming e Nicol, 1984)
Prtica Industrial
Figura 7 - Fluxograma geral dos processos de produo de ouro via carvo ativado (Yannopoulos, 1991)
R ECUPERAO DO O URO D ISSOVILDO !
A forma mais comum de contornar esses problemas submeter os lotes de carvo a uma
operao de atrio, normalmente realizada em gua com polpa a 10-20% de slidos,
durante 1-2 horas, seguida de peneiramento em uma malha um pouco acima da abertura
da peneira empregada no circuito de adsoro. A polpa passante no peneiramento, contendo
usualmente de 1 a 3% em relao massa inicial de carvo descartada, enquanto o
material retido na peneira est pronto para uso.
ouro do carvo aumenta no sentido inverso. A polpa flui por gravidade de forma contnua,
sendo que o transbordo de cada tanque possui uma peneira de forma a reter as partculas
de carvo. A transferncia de carvo feita em bateladas - em perodos variando de 12 a
48 horas - por meio de um sistema de transporte pneumtico ("air lifts") ou por bombas de
rotor recuado, direcionando a polpa para a parte superior de peneiras, em geral com abertura
de 0,8 mm (20 mesh). Tais peneiras retm as partculas de carvo e permitem a passagem
da polpa mais fina. Essa operao de grande importncia, pois o manuseio e transporte
incorreto do carvo entre estgios, com consequente gerao de finos, a causa principal
de perda de ouro em um circuito de adsoro.
Periodicamente o carvo eludo passa por uma etapa de regenerao trmica antes de
retornar ao circuito de adsoro. No caso de minrio com altos teores de carbonatos, a
regenerao trmica deve ser precedida por uma etapa de lavagem cida do carvo (em
geral com HCl diludo), pois tais carbonatos tendem a fixar-se nos poros do carvo,
prejudicando a adsoro do ouro. A lavagem cida complementada com uma lavagem
com soda custica para neutralizar a superfcie das partculas de carvo.
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O processo CIP hoje uma tecnologia madura e bem estabelecida. O desenho e configurao
de circuitos CIP tm sido objeto de um grande nmero de estudos baseados em modelos
empricos ou semi-empricos do processo de adsoro de ouro em carvo. Os perfis de
concentrao de ouro em soluo e o carregamento do carvo dependem de vrios fatores,
tais como o nmero de estgios de adsoro, a concentrao de ouro no licor proveniente
da cianetao e o tempo de residncia da polpa por estgio. Alguns valores tpicos
encontrados na indstria so (Laxen, 1984):
- concentrao de carvo ativado em cada estgio: 10 a 30 g/L de polpa;
- carregamento mximo: 5 a 20 kg Au por tonelada de carvo.
No caso da Companhia Vale do Rio Doce, suas duas principais usinas hoje em operao,
Igarap Bahia e Fazenda Brasileiro, utilizam processos de adsoro CIP para a recuperao
do ouro contido em solues provenientes de lixiviao em pilhas e cianetao convencional
(Ramos 1998; Victorasso, 1998).
Outro processo largamente empregado nos dias de hoje o CIL ("carbon-in-leach"). Trata-
se de uma modificao do processo CIP na qual as operaes de lixiviao e adsoro
ocorrem simultaneamente em um mesmo tanque. Como consequncia, os cianocomplexos
de ouro e outros metais preciosos migram para a superfcie do carvo ativado, onde so
adsorvidos. Como resultado dessa migrao, a transferncia de massa nesse tipo de sistema
elevada, fazendo com que o equilbrio da reao de cianetao seja continuamente
deslocado na direo dos produtos, acelerando a cintica de lixiviao (Dahya e King,
1983). Como no processo CIP, a polpa proveniente da cianetao desloca-se em contra
corrente em relao ao carvo ativado. As etapas de dessoro e produo do ouro so
semelhantes s do processo CIP.
Por esses motivos, o uso do processo CIL somente se justifica no caso dos chamados
minrios "preg-robbing", ou naqueles em que a cintica de cianetao rpida.
Nos ltimos anos o processo de lixiviao em pilhas tem sido extensivamente empregado
no processamento de minrios de baixo teor para os quais a aplicao do processo de
cianetao/adsoro no seria econmica. A recuperao do ouro a partir da soluo rica
proveniente da lixiviao em pilhas pode ser feita pelo processo Merrill-Crowe ou pelo
processo CIC ("carbon-in-column"). Esse ltimo apresenta menor custo operacional, requer
menor investimento e mais eficiente do que o processo Merrill-Crowe para o
processamento de solues diludas, razo pela qual hoje a opo preferida pela indstria
(Dahya e King, 1983).
O sistema em leito fixo apresenta como vantagem o fato de requerer uma menor quantidade
de carvo em relao a um dado volume de soluo a tratar. Entretanto, apresenta as
seguintes desvantagens em relao ao sistema de leito fluidizado (Dahya e King, 1983;
Marsden e House, 1993):
a soluo rica deve ser clarificada antes da adsoro;
nem todo o leito percolado, devido formao de caminhos preferenciais;
a transferncia de massa mais efetiva no sistema de leito fluidizado.
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Figura 9 - Representao esquemtica de um sistema de adsoro CIC tipo leito fluidizado mltiplo em
cascata (Marsden e House, 1993)
Eluio
Pelo fato do carvo ativado ser um material com alta capacidade de adsoro, a dessoro
do ouro nele adsorvido no tarefa simples. Como mencionado anteriormente, o chamado
processo Zadra, desenvolvido pelo U.S. Bureau of Mines para a dessoro dos metais
preciosos por meio de lavagem com soluo NaOH/NaCN a alta temperatura, promoveu
grande impulso para os processos industriais a base de carvo ativado. Posteriormente
foram desenvolvidas alternativas permitindo obter um tempo de eluio bem inferior ao do
processo Zadra, impulsionando ainda mais essa tecnologia (Yannopoulus, 1991).
pelo leito de carvo no interior da coluna; no deve ser confundida com o volume necessrio
para encharcar as partculas de carvo, o qual equivalente ao volume de vazios do leito.
Todas as tcnicas de eluio so baseadas na transferncia de massa de um composto
solvel de ouro, transferncia essa promovida por meio de um gradiente de concentrao
e de altas temperaturas. Atualmente os sistemas de eluio utilizados na indstria do ouro
podem ser agrupados em 5 categorias (Yannopoulus, 1991):
Zadra atmosfrico;
Zadra sob presso;
Zadra com uso de solventes orgnicos;
precondicionamento com cianeto e eluio com gua deionizada (processo AARL);
processo Micron Research.
No mtodo Zadra sob presso, tambm desenvolvido no U.S. Bureau of Mines, a eluio
feita com uso de uma soluo 0,1% NaCN/1% NaOH na faixa 120-140oC e de 3 a 5 atm de
presso. Com isso, o ciclo de eluio reduzido para 8-14 horas, propiciando tambm uma
reduo do consumo de reagentes e o tamanho da coluna de eluio. As principais desvantagens
so o alto investimento (a coluna de eluio deve ser de ao inoxidvel) e o alto custo
operacional, este ltimo devido aos ciclos de aquecimento e resfriamento do eluente.
O processo Zadra com solventes orgnicos preconiza o emprego de uma soluo com
20% de lcool (etanol ou metanol), 0,1% NaCN e 1% NaOH aquecida a 95oC. A eluio
ocorre presso atmosfrica, mas com o uso do solvente orgnico o ciclo de eluio
reduzido para 6-12 horas, o que tambm permite diminuir o porte da coluna de eluio.
Os principais inconvenientes dessa variante so o risco de incndios e exploses associado
ao uso do solvente orgnico e o maior custo operacional devido perda do lcool por
volatizao. Em contrapartida, o carvo eludo por meio dessa tcnica pode ser utilizado
mais vezes sem regenerao trmica. Alternativas ao emprego de lcoois envolvem o
uso de outros solventes orgnicos no inflamveis - acetonitrila, glicis - porm de custo
mais elevado.
C APTULO 4
Atmosfrica Zadra/ 80% acetonitrila 20-40% acetonitrila 25-70 1,0 8-14 1500-6000
orgnico em H2O 10 g/L NaCN
2 g/L NaOH
Atmosfrica Micron 20-50 g/L NaCN 60-80% metanol 60-80 1,0 8-80 3000-10000
Research 50-100g/L NaOH em gua
R ECUPERAO DO O URO D ISSOVILDO
* - mxima concentrao de ouro em soluo para eluir carvo com carregamento de 4000-5000 g/t Au
C APTULO 4
Por esse motivo, a temperatura de reativao no deve ultrapassar 750oC, assim como o
tempo de residncia no forno no deve ser prolongado. De toda forma, uma pequena parcela
de reao entre o vapor d'gua e o carvo desejvel, caso contrrio as capacidades adsortivas
do carvo no so restauradas (Yannopoulus, 1991; Dahya e King, 1983).
Aps a reativao o carvo deve ser resfriado - ao ar ou por meio de resfriamento brusco
em gua - peneirado em 0,8 mm (20 mesh) para retirada de finos, seguido de
acondicionamento em gua antes de ser novamente usado na dessoro.
O uso de resinas de troca inica para a recuperao de ouro a partir de solues cianetadas
tem sido objeto de pesquisas desde o final da dcada de 40. Os primeiros estudos foram
realizados nos EUA, frica do Sul, Romnia e na antiga URSS, onde ocorreu a primeira
utilizao industrial dessa tecnologia - usina de Muruntau, Ukbekisto. Tem-se notcia
tambm de outras usinas na antiga URSS onde foram empregados processos a base de
resinas de troca inica (Marsden e House, 1993). No mundo ocidental, na usina de Golden
Jubilee, frica do Sul, em 1988, parece ter havido a 1a aplicao industrial de vulto dessa
tecnologia (Fleming, 1989).
ltimos anos para incorporar s resinas de base fraca grupos funcionais com valores de
pKa (constante de dissociao da resina) mais elevados. Um exemplo a citar nesse sentido
a resina de base fraca Aurix desenvolvida pelo Mintek e comercializada pela Henkel,
capaz de extrair ouro de solues cianetadas em pH de at 10.
Tabela 4
Vantagens e desvantagens da tecnologia de adsoro de ouro a
base de resinas em relao aos processos com carvo ativado
Vantagens Desvantagens
resinas apresentam melhor cin- as partculas de resina so
tica de adsoro e maior capa- meno-res do que as de carvo,
cidade de carregamento de Au do dificul-tando sua separao da
que carvo ativado polpa
resinas so eludas a presso resinas possuem menor resis-
atmosfrica e temperatura inferior tncia abraso do que carvo
a 60oC ativado
resinas no requerem reativao resinas apresentam menor densi-
trmica dade do que carvo, com
os tanques de adsoro podem tendn-cia a flutuar na superfcie
operar com maior quantidade de dos tanques de adsoro
resina do que aqueles com carvo
resinas apresentam maior custo
resinas so menos afetadas por de fabricao em relao a
produtos orgnicos (reagentes de carvo ativado
flotao, leo lubrificante etc...)
resinas podem tambm extrair
metais bsicos, gerando efluen-tes
com muito menos CN-
A eluio de resinas de base fraca facilmente obtida por meio do tratamento da resina
carregada com uma soluo diluda de NaOH, conforme ilustrado na reao a seguir:
.NR2HAu(CN)2 + OH- .NR2 + Au(CN)2- + H2O (19)
A taxa de eluio aumenta com a basicidade do eluente at um valor timo prximo a 0,5
M de OH-. A eluio rpida e pode ser realizada temperatura ambiente, sendo possvel
reduzir o carregamento de ouro na resina de cerca de 1800 g/t Au para valores inferiores
a 10 g/t Au em menos de uma hora (Marsden e House, 1993).
$ C APTULO 4
A eluio de resinas de base forte mais difcil do que as de base fraca, pois sua ligao
com cianocomplexo de ouro bastante forte. Tal eluio pode ser feita mediante reao
com um cido mineral, ou seja, deslocando o equilbrio da reao [16] no sentido dos
reagentes. Essa reao, entretanto, requer uma grande quantidade do nion X-, alm de
apresentar cintica muito lenta (Fleming, 1998). A alternativa disponvel a eluio com
substncias contendo complexos tais como tiocianato e cianeto, que competem com o
cianocomplexo de ouro pelos stios de adsoro na resina. Outra alternativa tambm
comumente empregada para esse tipo de resina a eluio com tiouria em meio cido,
cuja principal reao mostrada a seguir:
Esse mtodo apresenta como vantagens o fato que a reao [20] irreversvel e que a
eluio converte a resina diretamente para a forma bissulfato, no sendo necessria
regener-la. Entretanto, o principal inconveniente que os demais cianocomplexos
coextrados durante a adsoro no so seletivamente eludos, sendo necessrio adotar
procedimentos de eluio estagiados. Apesar disso, esse mtodo empregado nas usinas
da antiga URSS, onde um ou mais estgios de eluio com cido so empregados para
remover Zn, Ni e CN- livre, antes da eluio de Au, Ag e Cu com tiouria (Fleming, 1998).
Na usina de Golden Jubilee, frica do Sul, em cuja operao inicial eram processadas
6000 t/ms de minrio contendo 1-2 g/t Au, foi tomada a deciso de converter o circuito de
adsoro de CIP para RIP. Tal deciso foi devida elevada quantidade de matria orgnica
no minrio, resultando em baixa adsoro de ouro no carvo. Testes preliminares em
escala de laboratrio e piloto indicaram carregamento de ouro em uma resina aninica de
base forte muito superior ao obtido com carvo, conforme indicado na Tabela 5. O processo
utilizado envolve 4 estgios de adsoro RIP, com tempo de reteno de cerca de 30
minutos por estgio e eluio da resina carregada com soluo de cianeto de zinco.
Tabela 5
Comparao de alguns indicadores de processo em campanha piloto
com o minrio de Golden Jubilee (Paul, 1990)
RIP CIP
Carregamento de Au, g/t 8245 2390
[Au] no efluente lquido, mg/L 0,010 0,025
Concentrao de adsorvente, g/L polpa 8 24
Outro exemplo em que um processo a base de carvo ativado foi substitudo por um de
resinas a usina de Penjom, na Malsia. O processo inicialmente instalado em Penjom,
em 1998, envolvia concentrao gravtica para a recuperao do ouro livre e um circuito
CIL para processamento de minrio fino, no qual o ouro ocorre em associao com sulfetos.
Entretanto, a presena de at 1,5% de matria orgnica no minrio causou srios problemas
de "preg-robbing", tornando invivel a operao no circuito CIL. Foram testadas diversas
alternativas tecnolgicas, dentre as quais o uso de resinas propiciou os melhores resultados.
Knelson e Falcon. O concentrado das espirais sofre uma cianetao intensiva em tambor
rotativo, seguida de adsoro em carvo (colunas), dessoro e eletrlise, seguida de
fuso; o rejeito da jigagem retorna para a alimentao do moinho. O concentrado dos
concentradores Knelson e Falcon alimenta mesas concentradoras, cujo concentrado vai
direto para a fuso; o rejeito do concentrador Falcon retorna para a descarga do moinho.
No circuito hidrometalrgico o OF dos ciclones passa por uma etapa de condicionamento
em querosene - para depresso de sulfetos - e segue para um cicuito de cianetao RIL.
A resina carregada proveniente dos tanques RIL dessorvida em coluna. A soluo rica
da dessoro alimenta um circuito de eletrlise e fuso e a soluo esgotada da eletrlise
retorna para a etapa de dessoro da resina.
A resina utilizada a Dowex Minix, uma resina aninica de base forte desenvolvida pelo
Mintek, frica do Sul e manufaturada pela Dow Chemical, que, aps regenerao, apresenta
um teor residual de 50 g/t Au. Em 2000 a mina de Penjom, hoje a maior produtora de ouro
da Malsia, processou 600 mil toneladas de minrio, com uma produo de cerca de 2,8
toneladas de ouro (Lewis, 2000; Anon., 2001).
C APTULO 4
Embora a tcnica de extrao por solvente seja a base de um mtodo analtico para a
determinao de ouro em solues diludas, at hoje no se tem conhecimento de uso
desse processo para a recuperao de ouro em escala industrial. Os solventes empregados
em extrao lquido-lquido apresentam algumas vantagens em relao a carvo ativado e
resinas, entre as quais ressaltam-se a rpida cintica de adsoro e o alto carregamento
de ouro. Tais vantagens permitiriam, em tese, diminuir o tamanho dos equipamentos utilizados
nas etapas de adsoro, alm de reduzir o inventrio de ouro no processo. Entretanto, a
grande desvantagem e que certamente vem sendo um obstculo aplicao industrial da
extrao por solvente, que esse mtodo s pode ser utilizado em solues clarificadas (e
no em polpas), impactando o custo global do processo.
Os mecanismos de extrao por solvente de interesse para a extrao de ouro podem ser
agrupados em 2 categorias:
extrao por troca inica, atravs do qual o cianocomplexo de ouro combina-se com a
molcula do extratante, de forma similar descrita anteriormente para resinas de troca
inica. Extratantes cujos grupos funcionais so tambm aminas - primrias, secundrias,
tercirias ou quaternrias - com propriedades semelhantes s resinas, enquadram-se
nessa categoria;
extrao por solvatao de ons, no qual as molculas do extratante substituem as guas de
solvatao dos ons metlicos em soluo, tornando-os solveis na fase orgnica. teres (ex.:
dibutil-carbitol), cetonas (ex.: metil-isobutil-cetona) e alguns compostos organofosforados (ex.:
tributil-fosfato) so exemplos de substncias com as quais ocorre essa modalidade. A literatura
(Mooiman e Miller, 1986; Marsden e House, 1993) menciona que o mecanismo de adsoro
envolve a formao de um composto do tipo Mn+[Au(CN)2-]n, no qual M representa o grupo
funcional do extratante. Trata-se, portanto, de um mecanismo similar ao que ocorre com a
adsoro de ouro em carvo ativado.
C APTULO 4
So mostrados na Tabela 6 alguns solventes orgnicos com potencial para a extrao de ouro
a partir de solues cianetadas, sendo alguns aspectos dessas extraes discutidos a seguir.
Tabela 6
Solventes orgnicos de interesse para a extrao
de ouro (Marsden e House, 1993)
Tipo Nome Frmula Densida-de
(kg/L)
Cetonas Metil-isobutil-cetona (MIBK) (CH 3) 2CHCH 2COCH 3 0,801
Di-isobutil-cetona (DIBK) [(CH 3)2CHCH 2]2C=O 0,806
Polifosfatos Tri-butil-fosfato (TBP) (C 4H 9O) 3P=O 0,972
Di-n-butil-butil-fosfonato (DBBP) (C4H 9O) 2P-O-(C4H 9O) 0,995
|
H
teres Dibutil-carbitol (DBC) (C 4H 9OCH 2CH 2) 2O 0,885
Aminas Tri-decil-amina H(CH2)13NH2
Tri-octil-amina [H(CH2)8]3N 0,809
Aminas
Uma grande variedade de aminas capaz de extrair ouro a paritr de solues cianetadas.
De maneira semelhante s resinas, tanto aminas de base fraca como de base forte podem
ser utilizadas, com boa performance. As quaternrias so as mais seletivas para o ouro,
porm a etapa de reextrao mais difcil com esse tipo de amina. Aminas tercirias, tais
como tri-decil-amina e tri-octil-amina so as que apresentam maior potencial para uso em
sistemas de extrao de ouro e prata, principalmente pelo fato de terem maior afinidade
por complexos aninicos monovalentes, tal como Au(CN)2-, do que pelos complexos
polivalentes dos outros metais, como, por exemplo, Cu(CN)32-(Marsden e House, 1993).
teres
Dibutil carbitol (DBC) pode ser usado para separar ouro durante o refino de metais do
grupo da platina - PGM (Thomas et al., 1984). A seletividade desse solvente em relao
ao ouro bem maior do que a dos outros metais preciosos. Entretanto, a solubilidade do
DBC em gua elevada, da ordem de 3 g/L, tornando-se um inconveniente para o uso
desse processo, devido a alta perda de solvente.
Polifosfatos
Au(CN)2- > Ag(CN)2- Zn(CN)42- > Ni(CN)42- > Cu(CN)43- > Fe(CN)63- > Fe(CN)64-
Cetonas
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