Diálogos Das Ciências Humanas Com A Nutrição
Diálogos Das Ciências Humanas Com A Nutrição
Diálogos Das Ciências Humanas Com A Nutrição
CANESQUI, AM., and GARCIA, RWD., orgs. Antropologia e nutrio: um dilogo possvel
[online]. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 2005. 306 p. Antropologia e Sade collection. ISBN 85-
7541-055-5. Available from SciELO Books <http://books.scielo.org>.
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Parte IV
Nos seis cursos de graduao e m nutrio mais antigos no Brasil que fazem
parte desta etapa do estudo (USP, UniRio, Uerj, UFRJ, U F B A , U F P E e UFF),
essas disciplinas so ministradas por professores tanto pertencentes aos prprios
cursos c o m o a departamentos de cincias sociais e humanas.
O ensino de disciplinas especficas de sociologia (geral e aplicada) esteve
presente e m cinco cursos, sendo que apenas u m associava contedos sociolgi-
cos aos da economia, intitulando-se cincias sociais e econmicas da nutrio.
Trs cursos ensinavam disciplinas de antropologia social e de psicologia social,
enquanto que economia e geografia econmica constavam e m dois cursos.
Os contedos de sociologia, sempre de natureza introdutria, pouco se
articulavam c o m u m a leitura sociolgica das questes relativas nutrio e
alimentao, centrando-se apenas na especificidade da sociologia (seu objeto, ob-
jetividade, totalidade), nas correntes clssicas do pensamento sociolgico (Marx,
Weber e Durkheim), c o m reduzida incorporao de autores contemporneos ou
de outras correntes de pensamento. A conceituao bsica se dirigia a tpicos
como estrutura social e sistema de estratificao social; mudana social; ideologia
e sistemas de valores; teoria da ao social; interao e socializao, burocratizao
e organizao social, indivduo e sociedade, entre outros.
Apenas alguns cursos inseriam contedos de sociologia aplicada nutri-
o, fazendo interlocuo interdisciplinar da sociologia c o m a nutrio ou sade
pblica, o que se dava conforme as clientelas dos cursos. Nesse caso, as relaes
estabeleciam-se tanto pela associao entre sade e sociedade, debatendo temas
como polticas e instituies de sade, as conjunturas e condies de sade, quan-
to pela articulao entre nutrio e sociedade, quando se discutiam alimentao/
nutrio como componentes das polticas sociais governamentais, o problema da
fome no Brasil e as suas conseqncias, os padres de alimentao, a estrutura
agrria, a produo e o consumo de alimentos e suas transformaes e conseqn-
cias, de acordo c o m o processo de industrializao.
Residualmente, outros contedos, designados de sociologia aplicada, eram
discutidos, tais c o m o os movimentos sociais; gnero e famlia e a condio da
mulher; raa e etnia; excluso social e pobreza; relaes entre Estado e sociedade;
violncia. Refletiam processos sociais recentes da sociedade brasileira, com baixa
adaptao dos contedos s questes especficas da nutrio, tratando de proble-
mas sociais sob o ngulo da sociologia da interveno.
Apenas u m curso de sociologia aplicada nutrio demonstrou preferncia
por organizar grupos de alunos para realizar trabalhos de campo e m bairros perif-
ricos, sem prender-se exclusivamente s questes da nutrio/alimentao, mas a
um conjunto de problemas sociais, vigentes nos centros urbanos, como os meninos
de rua; ambulantes; asilos hospitalares; refeitrios populares, entre outros.
Reportando-se s experincias de ensino das cincias sociais nos cursos de
graduao de nutrio, Adorno (1995:141) referiu-se perspectiva de "transposi-
o de mundos" ou ao "contato entre m u n d o s " - o outro, enfim - , medida que
introduziu, nos anos de 1987 e 1989, atividades de campo que julgou adaptadas
para alunos de cursos de graduao, dado o seu perfil etrio e ritmo. So ativida-
des que estimulam u m olhar sobre o 'sentido das coisas', o deslocamento para as
experincias distantes do seu universo, em que se desenrolam contatos, conver-
sas que muitas vezes incluem a comida, o alimento, perseguidas pelas tcnicas de
nutrio. Trata-se de uma aproximao com a perspectiva antropolgica.
Os cursos de antropologia social, ministrados por apenas trs dos progra-
mas examinados, introduziram trabalhos de campo, envolvendo pequenos proje-
tos de pesquisa ou observaes, o que implica ir ao encontro do 'outro' nos seus
espaos e contextos, uma experincia que quer ser transformadora. Os funda-
mentos tericos e metodolgicos da antropologia - juntamente com a discusso
sobre os hbitos alimentares, as relaes entre comida e simbolismo; o corpo,
sade e doena; dietas alimentares, cultura e sade; relao entre gnero e alimen-
tao, destacando o papel feminino na proviso da alimentao - compem a
reflexo antropolgica da alimentao, completada em alguns programas pela dis-
cusso das relaes entre nutrio e sociedade (desigualdades sociais na alimenta-
o; os contextos socioeconmicos e culturais da alimentao cotidiana, as mu-
danas nos padres de consumo).
Das disciplinas profissionalizantes c o m interface c o m as cincias sociais
e humanas (nutrio e m sade pblica e educao nutricional), esta ltima a
que faz maior interlocuo c o m a antropologia. Embora elas no tenham sido
objetos de anlise, o contedo de u m programa de educao nutricional obtido
foi considerado para se ter u m exemplo dessa interlocuo, ficando a sugesto
de u m a anlise mais detalhada para pesquisas futuras. O programa estudado
enfocou as prticas educativas dos nutricionistas dirigidas clnica, sade
pblica e coletividade, fazendo interlocuo com a abordagem
socioantropolgica da alimentao, e m especial, para compreender as implica-
es de vrios fatores dessa natureza que afetam as prticas alimentares, ao lado
das especificidades de classe. Aps reflexes introdutrias dessa natureza, eles
se c o n c e n t r a r a m na e d u c a o alimentar, n o s seus f u n d a m e n t o s , teorias e
m e t o d o l o g i a s de i n t e r v e n e s u t i l i z a d a s , e l u c i d a n d o a i n d a a h i s t r i a da
institucionalizao dessas prticas educativas no Brasil.
A o lado dos programas de ensino preocupados c o m a interveno do
nutricionista, dois cursos destinavam-se ao desenvolvimento de comunidade, vi-
sando a instrumentalizar os alunos para planejar e executar intervenes sociais,
mediante a participao social e o desenvolvimento da cidadania.
Apenas dois programas se referiram aos contedos de natureza econmica
e geografia econmica, introduzindo conceitos econmicos sobre produo/
circulao e consumo de alimentos; especificidades da produo alimentar no
Brasil e da estrutura agrria e caractersticas da populao.
Trs programas de ensino de psicologia apresentaram os fundamentos
conceituais de suas diferentes abordagens (teoria gestalt; psicanlise; cognitivismo;
cultura e personalidade) ao lado da discusso dos distrbios comportamentais
alimentares, tais c o m o anorexia, bulimia e obesidade, abordados basicamente, do
ponto de vista do indivduo, como problemas psicolgicos.
CONCLUSO
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS