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Unidade I
1 O QUE ECONOMIA, AFINAL?.......................................................................................................................1
2 FOI SEMPRE ASSIM? ...................................................................................................................................... 18
2.1 Nos dias de hoje.................................................................................................................................... 18
2.2 H muito tempo ................................................................................................................................... 25
Unidade II
3 UMA NOVA TICA PARA O CAPITALISMO.............................................................................................. 37
4 A REVOLUO INDUSTRIAL ........................................................................................................................ 48
Unidade III
5 A CRISE DO SCULO XIX ............................................................................................................................... 64
5.1 O que so estruturas de mercado? ............................................................................................... 64
5.2 O que aconteceu ao nal do sculo XIX? ................................................................................... 68
6 A CRISE DE 1929 ............................................................................................................................................. 79
Unidade IV
7 A CRISE DOS ANOS 1970 ............................................................................................................................. 95
7.1 O discurso globalizador....................................................................................................................100
8 O QUE AINDA H PARA DISCUTIR? ........................................................................................................111
8.1 As fronteiras de possibilidade de produo..............................................................................111
8.2 Crescimento versus desenvolvimento........................................................................................ 116
8.3 Estado mnimo versus welfare state...........................................................................................120
ECONOMIA E NEGCIOS
Unidade I
1 O QUE ECONOMIA, AFINAL?
Em outubro de 2008, o mundo foi atingido pela notcia de que uma nova crise econmica assolava
o planeta, com consequncias to trgicas quanto as da quebra da bolsa americana, em 1929. Segundo
Judensnaider (2009), Delm Netto, em palestra proferida na Universidade Paulista, opinou que
estaramos vivendo mais uma das tantas crises da histria do capitalismo: O mundo no vai acabar,
nas suas palavras. Do ponto de vista da economia de mercado, isso absolutamente correto. Ainda de
acordo com a autora,
Que mundo econmico esse e como o instrumental terico da economia nos permite conhec-lo
e nele operar?
Vejamos, inicialmente, do que trata a economia. uma palavra derivada do grego oikosnomos (oikos =
casa; nomos = lei) e representa a administrao de uma casa, entendida como um patrimnio particular,
uma empresa ou um Estado. Dessa forma, a cincia econmica estuda as relaes entre famlias, empresas
e governo para compreender os fenmenos que norteiam o funcionamento do mundo em que vivemos.
A preocupao central dessa cincia social a anlise da produo de bens e da distribuio da renda,
dado o problema da escassez de recursos e as necessidades ilimitadas dos indivduos.
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Unidade I
Como ilustrao, listamos a seguir alguns problemas econmicos que a cincia econmica est
preocupada em explicar:
como a taxa de cmbio interfere na vida das empresas e do cidado comum?
o que ocorre com a renda da populao diante de um anncio do governo sobre uma elevao
nas taxas de juros?
por que o preo da gasolina sobe quando um determinado pas no tem capacidade suciente
para produzi-la?
por que a renda da regio Norte-Nordeste de nosso pas tende a ser menos concentrada do que a
renda da regio Sul-Sudeste?
por que o PIB de um pas cresce conforme a sociedade consome maior quantidade de mercadorias?
quais so os fatores explicativos da subida dos preos dos chocolates na proximidade da Pscoa?
por que um governo que gasta mais do que arrecada tem diculdades de nanciar seus dcits?
qual a importncia para a vida de cada um dos brasileiros quando um pas vende uma empresa
estatal ao capital internacional?
o que signica inao?
o que desemprego?
Aparentemente, cada uma dessas questes em nada impacta nossa vida individual. No entanto,
pensemos na seguinte situao: em um determinado perodo, em alguma manchete de jornal impresso ou
pelos telejornais, anunciada a seguinte informao: o balano de pagamentos do ano de 2010 apresentou
supervit de zilhes de reais, e esse supervit proveniente dos saldos positivos da balana comercial,
demonstrando que as exportaes da economia do pas em questo foram maiores que suas importaes.
Mas, o que supervit? Balano de pagamentos? Balana comercial? Exportaes? Importaes?
No exemplo proposto, as exportaes foram maiores do que as importaes. Por qu? Assim, de
primeira, no conseguiremos chegar a uma resposta certa, mas, analisando dados da realidade concreta,
poderamos responder nossa pergunta utilizando os seguintes argumentos:
1) as exportaes desse pas foram maiores em 2010, pois nesse ano as empresas nacionais produziram
uma quantidade maior de mercadorias do que no ano anterior;
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ECONOMIA E NEGCIOS
2) as exportaes desse pas foram maiores em 2010, pois nesse ano o consumo por parte dos seus
habitantes foi menor; assim, uma forma de se desfazer dos estoques de mercadorias produzidas
foi exportar;
3) as exportaes desse pas foram maiores em 2010, pois nesse ano o governo adotou medidas que
favoreceram as exportaes, desvalorizando a taxa de cmbio, por exemplo.
Observamos que, para apenas uma pergunta, elaboramos trs possveis respostas que somente
podero ser efetivamente consideradas como certas e verdadeiras depois de analisados os nmeros da
realidade concreta.
Vejamos outro exemplo. A gura 1 a seguir mostra-nos a pegada ecolgica que deixamos na Terra.
Valor ideal
Regio / Pas --
1
Disponvel: http://assets.wwf.org.br/img/original/mapa.jpg. Acesso em 4 de novembro de 2010.
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Unidade I
O que a gura nos mostra? Ela revela que, quanto maior o crescimento do pas, maior a pegada
ecolgica. Ela indica que, no caso dos pases em desenvolvimento, a pegada ecolgica menor. Para
que possamos, ento, concluir algo a respeito dos dados apresentados, podemos levantar algumas
hipteses:
Novamente, podemos ter trs possveis respostas que, somente a partir da utilizao do positivismo
e no do lado normativo da economia, sero efetivamente consideradas como corretas se observada a
realidade, ainda que esses dados devessem ser analisados a partir de determinadas percepes a respeito
do que signicam qualidade de vida e sustentabilidade. Mais: provavelmente, teremos que diferenciar
crescimento de desenvolvimento econmico. sobre isso, tambm, que trata a economia. Utilizando a
contribuio de um renomado economista, Samuelson (1979, p. 3), chegaramos ao seguinte conceito:
Talvez, a partir desse conceito, seja difcil pensar em como os problemas econmicos afetam o
nosso cotidiano. Vamos, ento, partir para uma anlise que nos tome, indivduos, como base. Pense,
primeiramente, em sua renda. Se voc trabalha, ou seja, se participa de alguma atividade produtiva,
recebe um salrio que chamaremos de renda. Esse seu salrio, seja ele qual for, ser distribudo entre
todas as suas necessidades de consumo. Salrio a sua renda, e suas categorias de consumo dizem
respeito s suas despesas; portanto, estamos descrevendo seu oramento particular.
Vamos supor que sua renda seja destinada ao pagamento de contas de luz, gua, telefone, alimentao,
moradia, transporte, lazer, vesturio etc. Aps alocar sua renda entre todas essas categorias de despesa,
ainda pode ter sobrado uma parcela que voc poupar para consumo futuro.
Mas, agora, voc est cursando uma universidade e as mensalidades sero incorporadas a essa cesta
de consumo, ou seja, o valor das mensalidades concorrer por uma parcela de sua renda, assim como
concorre o quanto voc gasta com alimentos, moradia, transporte, lazer etc. Nesse caso, voc introduziu
mais uma categoria de gasto para uma mesma renda. Sem pensar muito, para que consiga dar conta
de efetuar todos os seus pagamentos, voc dever distribuir cada parcela de sua renda para cada um
de seus gastos. Esse simples exemplo j ilustra uma parte do conceito dado por Samuelson, ou seja, a
economia estuda o emprego de recursos escassos entre usos alternativos, com o m de obter
os melhores resultados.
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ECONOMIA E NEGCIOS
Nesse exemplo bastante simples que vale tambm para a nossa realidade e a de mais uma
grande quantidade de brasileiros , o emprego de recursos escassos ilustrado por nossa renda,
e os usos alternativos, pela nossa cesta de consumo ou por tudo aquilo em que gastamos nossa
renda.
Pensemos agora no mais do ponto de vista individual, mas, sim, dos limites de uma famlia,
formada por pai, me e lhos, ou seja, uma unidade familial. Essa famlia precisa ser mantida: vestir-se,
alimentar-se, morar, locomover-se. Ela tem, conjuntamente, uma cesta de consumo que deve ser
atendida por meio de uma renda, a renda familiar, j que em nosso exemplo cada um dos membros da
famlia participa de alguma atividade produtiva. Portanto, a renda familiar deve dar conta de responder
a toda e qualquer categoria de gastos da famlia. Cada entrada de dinheiro ser chamada de renda; cada
sada de dinheiro, quer dizer, os pagamentos efetuados pela famlia, ser denominada despesa. Eis aqui
ento o oramento familiar.
Vamos transferir o foco para as dimenses de uma empresa. Ela pode produzir mercadorias e vend-las
diretamente aos seus consumidores. Segundo Ferguson (1983), vrios livros-texto conceituam produo
como a criao de utilidades, em que utilidade signica a capacidade de um bem ou servio satisfazer
a uma necessidade humana. Partindo da noo de que as empresas so agentes maximizadores de
resultados, a Teoria da Firma procura estudar e responder a como as empresas combinam a utilizao
dos fatores de produo necessrios criao de coisas teis e o quanto gastam para produzir bens e
servios.
Diante disso, pode-se pensar apenas no caso de uma empresa comercial, comprando mercadorias
produzidas por outras empresas e vendendo diretamente aos consumidores, ou ainda uma prestadora
de algum servio. Quando uma empresa produz certa mercadoria mesas, por exemplo ela necessita
de meios de produo, dos bens necessrios execuo de sua atividade produtiva. Para produzir
determinada mercadoria, necessita comprar meios de produo e pagar por essa aquisio. Em nosso
exemplo simples da produo de mesas, essa empresa hipottica precisa adquirir frmica, madeira, ferro,
parafusos, colante, alm de dispor de uma grande quantidade de mquinas e ferramentas. Tambm
precisa contratar pessoas para trabalhar.
Quando essa empresa adquire os meios de produo, ela tem um custo com a produo. Esse custo
ser dado pela multiplicao de duas variveis: o preo de cada uma das mercadorias que adquire e as
quantidades das mercadorias adquiridas. Portanto, ela tem um custo de produo, uma despesa com
sua produo.
Imaginando que as empresas no produzem mercadorias para satisfazer suas prprias necessidades
de consumo, essa empresa empreender todos os seus esforos para vender sua produo. Quando
essa empresa vende o que produz, recebe uma quantidade de dinheiro proveniente da venda. A
essa quantidade de dinheiro daremos o nome de receita de vendas, que nada mais ser do que a
multiplicao de duas variveis: o preo da mercadoria e a quantidade de mercadorias vendidas.
Ento, quando mencionamos as receitas e as despesas empresariais, estamos falando do oramento
empresarial.
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Unidade I
De forma ntida, estamos tratando de trocas. Empresas produzindo mercadorias para consumo da
sociedade em troca de recursos monetrios, no caso a serem aplicados novamente na produo
de mais mercadorias, e assim por diante. Por outro lado, temos as pessoas trabalhando para empresas,
indivduos que, em troca de sua fora de trabalho, recebem salrio na forma de dinheiro e cujo destino
o consumo de mais mercadorias.
Por obrigaes, deve prover bens pblicos como energia, transporte e saneamento bsico. Deve
construir escolas, estradas, hospitais, pagar aposentadorias e penses, alm de uma srie de obrigaes
sobre as quais no nos estenderemos neste momento. Ainda, o governo legisla a respeito de questes
trabalhistas ou contratuais e tambm arrecada recursos da populao na forma de impostos. Portanto,
o governo, por meio de sua arrecadao, aufere uma receita. Para prover bens pblicos sociedade,
esse governo tambm tem custos com tal proviso, ou seja, ele gasta e tem despesa com sua atividade.
Tratamos, ento, do oramento do governo, oramento do setor pblico, representado por suas receitas
e despesas.
Da mesma forma que um indivduo procura organizar da melhor maneira possvel seu oramento
particular, as famlias tambm o fazem, assim como as empresas. Com o governo no ser diferente: ele
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ECONOMIA E NEGCIOS
procurar alocar da melhor forma seus recursos disponveis diante da grande quantidade de itens de
gasto que tem sua frente.
Salvo algumas excees, no podemos armar que nossa famlia tradicional adquire tudo aquilo de
que tem vontade. O mesmo ocorre com as empresas e com os governos. Por que no podemos armar
isso? Pelo simples fato da escassez. Qual escassez? A escassez de recursos necessrios para a aquisio de
todas as mercadorias disponveis ao consumo. Segundo Samuelson (1979), a cincia econmica existe
para dar conta de responder a um grande problema: o da escassez de recursos frente a uma grande
quantidade de mercadorias e diante da ilimitada necessidade de consumo dos indivduos. Portanto, o
conito surge da seguinte forma:
A quais recursos estamos nos referindo? Aos recursos produtivos, tambm denominados fatores
de produo. Esses elementos, indispensveis ao processo produtivo de bens materiais, sero
chamados de terra, trabalho, capital, tecnologia e capacidade empresarial.
Por terra, entendem-se as terras destinadas agricultura e pecuria, ou seja, terras cultivveis,
orestas, minas e outros produtos provenientes da utilizao do solo.
Por capital, entende-se o capital nanceiro, ou seja, o dinheiro necessrio para dar impulso a
qualquer empreendimento industrial, comercial ou de qualquer outro tipo. Tambm consideramos
como capital as mquinas, os equipamentos e as instalaes. Assim, o capital assume duas formas:
a monetria e a fsica.
Por capacidade empresarial, entendem-se as habilidades e aes empresariais, quer dizer, os frutos
do empreendedorismo dos empresrios ou daquelas pessoas disponveis a empreender um novo
investimento ou aptas a abrir uma empresa.
Cada fator de produo tem uma remunerao diferente em termos de denominao, conforme
podemos ver na gura 2.
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Unidade I
Terra
Aluguel
Trabalho
Salrio
Capital
Juros
Tecnologia
Direito de propriedade
Capacidade empresarial
Lucros
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ECONOMIA E NEGCIOS
J temos, ento, condies de armar que a renda de uma sociedade limitada diante da quantidade
de categorias de consumo que ela enfrenta. Ademais, as empresas sempre procuram criar mercadorias
novas que chamem a ateno de novos consumidores, criando novos hbitos de consumo ou produzindo,
de forma diferente, antigas mercadorias.
Ento, estamos diante de um dilema. Como, anal, administrar os recursos escassos de forma a
atender s necessidades ilimitadas? Quer dizer, estamos perguntando como responder s seguintes
questes:
Como produzir?
Essas trs perguntas bsicas, que, primeira vista, so bastante simples, nos remetem s noes
de recursos escassos e necessidades ilimitadas. Ento, podemos dizer que o problema econmico
fundamental origina-se da escassez de recursos, objeto de investigao da cincia econmica.
Vejamos. Se as empresas precisam produzir mercadorias como uma forma de remunerar o capital que
investido e isso passa pela venda das mercadorias produzidas , e se os consumidores precisam, dada
sua renda escassa ou limitada, alocar de forma eciente as suas categorias de despesas, ento resta s
empresas produzir mercadorias que so procuradas. Todos os recursos necessrios para a produo so
escassos, assim como o so os recursos que as famlias tm para dar conta de todas as suas necessidades.
Isso signica que a sociedade, como um todo, deve ser capaz de organizar um sistema que assegure
a produo de bens e servios sucientes para a sua sobrevivncia. Mais: a sociedade deve ser capaz
de ordenar os frutos de sua produo para permitir no s a continuidade da produo, mas tambm
a distribuio do resultado da produo de forma equitativa entre todos os seus membros. Como a
procura por recursos para a produo signica a distribuio dos prprios frutos da produo, a tarefa
monumental. Assim, a resoluo dos problemas relacionados produo e distribuio da produo
traduzida no problema econmico fundamental, que gera as trs questes anteriormente apresentadas:
o que e quanto produzir? Como produzir? Para quem produzir?
Para Nogami e Passos (2003), a questo referente ao que e quanto produzir diz respeito a quais
mercadorias devem ser produzidas pelas empresas de um pas e em quais quantidades. Responder a
esse questionamento signica conhecer o tipo de mercadoria que procurada por uma coletividade e
as quantidades dessa mercadoria que so (ou sero) consumidas. mais importante produzir alimentos
ou investir em produo energtica?
A questo referente ao como produzir diz respeito mobilizao de esforos, ou seja, a qual tcnica
de produo utilizar na produo de determinadas mercadorias. Responder a esse questionamento
signica conhecer as tecnologias disponveis: cada mercadoria possui uma tcnica de produo
diferenciada das demais. Umas necessitam de maior quantidade de matria-prima; outras, de maior
quantidade de mquinas e equipamentos; outras demandam grande quantidade de mo de obra em
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Unidade I
seu processo de produo. Imaginemos, por exemplo, a diferena entre os processos de produo de
automveis e daquele po francs que compramos na padaria mais prxima de nossa casa. Devem
ser diferentes. So diferentes. Uma utiliza grande quantidade de rob e tecnologia, enquanto a
outra mais intensiva na utilizao de mo de obra, trabalho. Anal, quanto usar de cada recurso
disponvel, de forma a obter o mximo, evitar desperdcios e ter garantida a sustentabilidade da
produo? Deve-se preferir usar mo de obra intensiva ou prefervel usar mquinas para aumentar
a produtividade? (Besanko e Braeutigam, 2004).
A questo referente ao para quem produzir diz respeito s opes polticas que, necessariamente,
devem ser feitas. A quem priorizar? A qual segmento da sociedade devemos atender? De todas
as demandas feitas por uma sociedade, qual deve ser prioritria e qual deve ser postergada?
Quem precisa de mais servios de sade: a populao dos centros urbanos ou da periferia?
Devemos construir escolas de primeiro ou de segundo grau? Quais so, afinal, as necessidades
mais prioritrias e a quem devemos atender primeiro? Dessa forma, o como produzir diz respeito
alocao de esforos: no basta que homens e mulheres sejam postos a trabalhar; eles devem
trabalhar nos lugares certos a fim de produzir os bens e servios de que a sociedade necessite.
Assim, alm de assegurarem uma quantidade suficientemente grande de esforo social, as
instituies econmicas da sociedade devem garantir uma alocao vivel desse esforo social.
Dessa forma, a pergunta referente ao para quem produzir diz respeito distribuio do produto
(Nogami e Passos, 2003).
Nem sempre a sociedade obtm xito na alocao adequada de seus esforos. Ela pode produzir
carros a mais ou a menos ou dedicar suas necessidades/energias produo de artigos de luxo,
enquanto uma grande quantidade de pessoas necessita de alimentos. Esses fracassos podem afetar o
problema da produo de modo to srio quanto o fracasso em mobilizar uma quantidade adequada de
esforos, pois uma sociedade vivel deve produzir no apenas bens, mas os bens certos. No somente
deve produzir, mas produzir da maneira correta. No s atender s necessidades, mas atender quelas
mais urgentes e socialmente prioritrias. O ato de produzir, em si e por si mesmo, no responde aos
requisitos para a sobrevivncia. Alm disso, a sociedade deve distribuir esses bens para que o processo de
produo possa ter continuidade. Em outras palavras, se uma sociedade quiser assegurar seu constante
reaproveitamento material, dever distribuir sua produo de modo a manter no s a capacidade, mas
tambm a disposio de se continuar trabalhando.
Assim, reencontramos o foco da investigao econmica dirigido ao estudo das instituies humanas
dedicadas produo e distribuio de riqueza. disso que se ocupa a cincia econmica. Por meio de
suas teorias, ela conjuga ideias e denies do objeto a ser investigado, estabelece as condies em que
cada uma dessas teorias se sustenta para, a partir de argumentos, dar respostas sobre o comportamento
dos objetos de investigao, ou seja, para construir hipteses sobre o funcionamento da realidade
concreta.
Agora, estamos mais habilitados a ilustrar o campo de observao dessa cincia. Ela:
estuda as atividades econmicas que envolvem o emprego de moeda e a troca entre indivduos,
empresas e governo;
10
ECONOMIA E NEGCIOS
observa o comportamento das empresas, que produzem de modo eciente, reduzindo custos para
obter lucros;
Falta entendermos, nalmente, como essa disciplina se desenvolveu ao longo do tempo e como
confundida com o seu prprio objeto, quer dizer, o ambiente econmico caracterizado pela economia
de mercado.
Em primeiro lugar, quando as cincias econmicas passam a existir como rea especca do
conhecimento e do saber? geralmente aceito pelos economistas que a economia ganha corpo e
musculatura com o advento da Revoluo Industrial e com o desenvolvimento dos mecanismos
de mercado de formao de preo e alocao dos recursos de produo. Seu estatuto de cincia
estabelecido j no sculo XIX e, desde ento, economistas debatem incansavelmente sobre seu objeto
de estudo, sua metodologia, seu campo de atuao e seus limites, o que s demonstra a vitalidade e a
energia desse corpus cientco.
Em segundo lugar, os atos econmicos precedem a existncia da economia como cincia. Do ponto
de vista antropolgico, o ser humano vem estabelecendo relaes de troca com seu grupo e com a
natureza desde sempre, assim o fazendo, em parte, para garantir as condies materiais necessrias sua
sobrevivncia. Havia, em perodo anterior ao sculo XVIII (data que marca o nascimento da economia),
atividade econmica, e sobre ela foram escritas obras e realizados estudos. Por que, ento, entender que
a economia investiga uma determinada forma de organizao econmica, qual seja, aquela que resulta
das relaes existentes no mercado?
Uma resposta possvel que, apenas a partir do nascimento da economia de mercado tornou-se
possvel falar em atos econmicos com interesses e objetivos essencialmente econmicos; as relaes
sociais passaram a ser explicadas em funo de um sistema econmico organizado. Antes disso, seriam
as relaes sociais as variveis explicativas das formas de produo material. Do ponto de vista histrico
Heilbroner (1987, p. 27) arma que
Antes da economia de mercado, o chefe de famlia prov sua prole porque isso o que a
sociedade espera dele. As trocas se realizam no para o lucro, mas para a sobrevivncia material. O
governo distribui a riqueza para os cidados, porque esse o seu papel. apenas com o advento
do capitalismo que os fatores de produo (mo de obra, terra, conhecimento tcnico, capacidade
empresarial e dinheiro, entre outros) no apenas se dirigem ao mercado, mas fazem mesmo parte
dele.
O que fazer, ento, com os atos econmicos anteriores s sociedades capitalistas, ou que nelas
no estejam inseridos? Normalmente so transferidos, como objeto de estudo, para os antroplogos
econmicos, embora essa transio no ocorra de forma tranquila, nem para os economistas tampouco
para os antroplogos. Digamos ento que, para ns desta disciplina, basta no confundirmos a economia
(cincia) com o prprio sistema de mercado. No h relao de sinonmia entre as duas. Economia (ou
tem a pretenso de ser) a cincia que investiga como fatores escassos de produo so alocados para a
produo de bens e servios que se destinam a saciar necessidades ilimitadas2. Economia de mercado, por
outro lado, a maneira pela qual nas sociedades capitalistas a reproduo material das sociedades
passou a se processar, por meio de instituies orientadas exclusivamente para objetivos econmicos,
como os mercados (Cerqueira, 2001). Nestes, o padro implica a existncia de trocas que produzam
preos, ou seja, trocas realizadas como resultado de barganha, de uma negociao, em que cada parte
livre para buscar sua vantagem e no tem que se submeter, por exemplo, a preos preestabelecidos
por algum agente regulador externo (ibidem, p. 400). Portanto, compreenderemos que, na economia
de mercado,
Em nossa opinio, a economia surge como cincia no apenas porque a estrutura econmica passa
a ser a de mercado (quer dizer, porque nalmente h o que se investigar), mas porque as condies
do pensamento cientco daquele momento permitem que ela, como um saber, se organize de forma
sistemtica e autnoma, e porque, quele momento (e, de forma hegemnica, at os dias de hoje), o
que se h para investigar so justamente as relaes que se estabelecem no mercado. Isso quer dizer
2
Embora essa seja tambm uma expresso que emana da suposio de um sistema capitalista, j que se necessitaria
da escassez para atribuio de valor. Assim, o capitalismo seria um sistema de criao de desejos e produo de necessidades,
fundando-se no consumo e no desperdcio, bem como em processos de destruio planejada (Silveira, 2007, p. 6).
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ECONOMIA E NEGCIOS
que, embora isso acrescente diculdade investigao econmica, h que se considerar, porm, que
o sistema de mercado foi historicamente construdo, no sendo uma entidade acima do tempo e
do espao (Silveira, 2007, p. 8). Da mesma forma, os pressupostos comportamentais de racionalidade
econmica (autointeresse e propenso para o lucro) no so naturais, mas socialmente construdos.
Para reetir
EXERCCIOS
Cada habitante da Grande SP tem at 201 mil litros de gua por ano, menos de um dcimo
dos 2,5 milhes de litros usados como referncia pela Organizao Mundial da Sade para
regies autossustentveis. O Cear tem 2,2 milhes de litros/ano; a Paraba, 1,3 milho de
litros/ano e o Rio de Janeiro, 2,18 milhes de litros/ano. Embora haja, hoje, um relativo
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Unidade I
equilbrio entre oferta e demanda, trata-se de uma equao frgil, pois uma seca prolongada
levar falta de gua, avalia o superintendente de produo da Regio Metropolitana da
Sabesp, Hlio Castro: bastante preocupante a situao por causa da baixa disponibilidade.
J trazemos de outra bacia [do Piracicaba] 50% da gua. No tem jeito, dois anos de seca
j afetariam [o abastecimento]. Para ele, caso no haja problemas, o sistema atual deve
suportar at dez anos. Mas, at l, teremos disputa pela gua com outras regies. Teremos
percalos polticos a enfrentar, diz o superintendente. Castro fala em poltica, porque j em
2014 a Grande SP ter pela frente uma disputa com a regio de Campinas pela gua que
importada da bacia do Piracicaba, pois a outorga (espcie de acordo que divide a gua do
Piracicaba) ser renovada e a regio de Campinas j convive com escassez que afeta seu
crescimento econmico3.
I. H sempre mais recursos do que necessidades econmicas a serem satisfeitas por uma
coletividade.
II. As necessidades humanas so ilimitadas e incapazes de serem atendidas com os poucos recursos
comparativos disponveis pela sociedade para a gerao de bens e servios.
III. H sempre menos recursos disponveis do que os necessrios para o atendimento a alguns, mas
no todos, tipos de necessidades humanas.
2) Por que os diamantes so mais caros do que a gua ou mesmo o ar, absolutamente
imprescindveis para a vida? A explicao que tem sido dada que os diamantes existem em
muito menor quantidade e, portanto, sua oferta bem menor do que a procura, em relao
aos outros dois bens. Na verdade, em vrias partes do planeta, preciso pagar para obter
ar de boa qualidade e prprio para a respirao, como ocorre, por exemplo, na Cidade do
3
Disponvel em: http://www.nossasaopaulo.org.br/portal/node/2675. Acesso em: 15 de fevereiro de 2010.
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ECONOMIA E NEGCIOS
Mxico, que conta com cerca de 19 milhes de habitantes e mais de 3 milhes de veculos,
gerando poeira e chumbo.
De acordo com o texto, podemos caracterizar que a preocupao fundamental da economia aqui
mencionada relacionada com:
c) a ideia de que a capacidade humana de desejar bens ou servios usualmente supera a quantidade
de recursos disponveis para a sua produo, o que denominado escassez;
b) apenas natureza;
d) sociedade industrial;
4) Muitos classicam a economia como sendo uma cincia preocupada, fundamentalmente, com a
Lei da Escassez: h sempre pouco para muitos. Esses pensadores admitem que:
5) Um estudo de uma entidade britnica, divulgado nessa segunda-feira, defende que a nica forma
de controlar o aquecimento global que os pases ricos interrompam seu crescimento econmico.
A tese, defendida pela Fundao Nova Economia (NEF, na sigla em ingls), de que, mesmo com
expanso econmica reduzida, no ser possvel atingir a meta de aquecimento global abaixo dos
2oC, como almejado pela comunidade internacional. No relatrio Crescimento, tal no possvel
porque as naes ricas precisam de uma nova direo econmica. Andrew Simms, diretor da NEF,
explica que o crescimento econmico incessante est consumindo a biosfera do planeta alm de
seus limites. Em sua viso, o custo dessa expanso aparece no comprometimento da segurana
alimentar global, nas mudanas drsticas do clima, na instabilidade econmica e nas ameaas ao
bem-estar social. Por isso, o mundo precisa de uma nova economia que respeite o oramento
ambiental, diz o estudo. No h um banco central global do meio ambiente para nos salvar se
formos falncia ecolgica, conclui4.
A armativa I est incorreta porque no h mais recursos do que necessidades; ainda, h sempre
menos recursos, sejam l quais forem as necessidades, o que torna a III incorreta. Dessa forma, apenas
a II est correta.
4
Disponvel em http://noticias.uol.com.br/bbc/2010/01/25/so-estagnacao-economica-pode-reduzir-aquecimento-
global-diz-estudo.jhtm. Acesso em 15 de fevereiro de 2010.
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ECONOMIA E NEGCIOS
2. c) a ideia de que a capacidade humana de desejar bens ou servios usualmente supera a quantidade
de recursos disponveis para a sua produo, o que denominado escassez.
O texto faz referncia justamente questo da escassez de diferentes produtos (da gua, do ar ou
do diamante), em diversas situaes e em regies diferentes.
A escassez fsica dos recursos diz respeito natureza, enquanto a capacidade de produzir bens se
refere natureza humana.
Tramita na Cmara o Projeto de Lei Complementar (PLP) 24/7, que prev a reduo da alquota
mxima do Imposto sobre Servios de Qualquer Natureza (ISS) incidente sobre servios de
transporte coletivo de passageiros.
Pela proposta, apresentada pelo deputado Srgio Brito (PDT-BA), a alquota ser reduzida de 5%
para 2% sobre o servio referente ao transporte pblico municipal.
O autor lembra que a alta tributao contribui para a elevao do preo das passagens. O valor
das tarifas de transporte urbano no Brasil impede o acesso de muitos brasileiros ao servio,
disse.
5
Disponvel em: http://www.direito2.com.br/acam/2007/jul/25/proposta-a-reducao-do-iss-para-transporte-coleti
vo. Acesso em: 1 de novembro de 2010.
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Unidade I
De acordo com estudo da Associao Nacional de Transportes Pblicos e do Ministrio das Cidades,
cerca de 35% da populao desloca-se a p, muitas vezes por no ter condies para pagar o
transporte. Alm disso, acrescenta o parlamentar, outro estudo mostra que as famlias com renda
de at cinco salrios mnimos chegam a comprometer at 22% de seus ganhos com transporte
coletivo.
Enquanto cada brasileiro produz em mdia 920 gramas de lixo slido por dia, a quantidade de lixo
reciclvel que recuperada, seja na coleta seletiva seja por catadores, chega apenas a 2,8 kg por
ano, por habitante.
um volume baixo em relao ao que produzido porque, na verdade, a coleta seletiva atinge um
percentual s do volume produzido, armou em entrevista o secretrio nacional de Saneamento
Ambiental, Leodegar Tiscoski.
Apesar do baixo ndice de coleta seletiva, o secretrio disse que a quantidade de lixo produzido pode
ser considerada boa. S que nos pases desenvolvidos, esses volumes tendem a diminuir, uma vez
que j existe uma poltica de reduo da produo de lixo, (...) porque h uma reduo na produo
e h uma seleo prvia desse lixo, do que no vai para o aterro, mas para a reciclagem.
No mundo em que vivemos, estamos acostumados a ter nossa disposio vrios produtos e servios
que atendem s nossas necessidades cada vez mais diversas. Faz parte do nosso cotidiano, portanto, a
existncia de vrias alternativas e, mais importante, de vrias alternativas para cada uma das espcies de
produto ou servio que consumimos. Temos escolhas, em suma. Ainda, entendemos essa situao como
absolutamente normal e de tal forma, que sequer nos questionamos a respeito de como as empresas
fazem para produzir, distribuir e vender tanta variedade.
As empresas usam o termo SKU para designar a unidade de manuteno de estoque, quer dizer, para
identicar cada um dos diferentes itens do estoque que, do ponto de vista da logstica, ca associado a
um cdigo de identicao. S para que voc tenha uma ideia: em artigo publicado em 6 de agosto de
2010, um site7 dedicado aos negcios de hipermercados armou que
6
Disponvel em: http://www.empreendedor.com.br/content/quantidade-de-lixo-recicl%C3%A1vel-recuperado-no
-brasil-ainda-%C3%A9-pequena-diz-secret%C3%A1rio. Acesso em: 1 de novembro de 2010.
7
Disponvel em: http://www.elojas.com.pt/artigos/o-que-e-o-sku-de-um-produto. Acesso em: 1 de novembro de
2010.
18
ECONOMIA E NEGCIOS
Por denio, trocaremos a palavra produto pelo termo bem. Mas, tambm por denio, quando
utilizamos a palavra bem, estaremos nos referindo a servios. Portanto, do processo de produo nasce
um produto chamado bem, que ser por ns identicado como bem ou servio. Enquanto os bens
representaro algo material, os servios representaro o intangvel. Precisaremos agora efetuar algumas
distines.
Os bens so divididos entre livres e econmicos. Por bens livres, entendemos aqueles que so
consumidos sem requerer qualquer contraprestao como pagamento por sua utilizao. Vamos
exemplicar: o ar que respiramos, o sol que nos aquece, a chuva que irriga nossas plantaes, o vento
que movimenta as nuvens. Enm, h uma innidade de bens que so livres e que, de alguma forma, nos
auxiliam na produo de determinadas mercadorias, bem como na manuteno da vida das pessoas. Com
esses bens no nos preocuparemos, justamente pelo motivo de no requererem a contraprestao por
seu pagamento. Outro motivo para no nos preocuparmos diz respeito ao fato de que existem poucos
bens ainda possveis de serem considerados livres. Como arma Schwarz (2009, p. 43), a globalidade
dos recursos naturais j h muito deixou de ser formada por bens livres ou gratuitos, dado terem vindo
a assumir, ao longo do tempo, o estatuto de mercadorias8.
J os bens econmicos sero alvo de especial ateno, pois requerem contraprestao de pagamento
por sua utilizao, e so divididos nas seguintes categorias: de consumo, intermedirios e de capital.
Os bens de consumo podem ser classicados como durveis e no durveis. Um aparelho televisor, por
exemplo, categorizado como bem de consumo durvel, assim como um automvel ou um computador.
Sero considerados bens de consumo no durvel aqueles que se destroem enquanto so utilizados, ou
seja, quando o consumo leva sua destruio: o caso de alimentos, roupas, calados, canetas etc.
Os bens de consumo durveis ou no durveis atendem diretamente s necessidades de consumo da
sociedade, pois j esto prontos para isso.
Os bens intermedirios, por sua vez, sero transformados em bens de consumo por meio do processo
de produo. So exemplos as matrias-primas utilizadas nas mais diferentes produes de mercadorias.
Para fazer um po francs, torna-se necessria a utilizao de meios de produo, de matrias-primas
e de bens intermedirios. Por exemplo, a farinha, que, juntamente com outros ingredientes e bens
intermedirios, ser transformada em po. Dessa forma, os bens intermedirios so utilizados para
satisfazer indiretamente s necessidades de consumo da sociedade, pois passaro por um processo de
transformao at chegarem categoria de bens de consumo, durveis ou no durveis.
Finalmente, temos os bens de capital. So mquinas e equipamentos utilizados para produzir outros
bens e que tambm atendem indiretamente s necessidades da sociedade.
8
Disponvel em: http://www.scielo.oces.mctes.pt/pdf/egg/v14n3/v14n3a04.pdf. Acesso em: 1 de novembro de
2010.
19
Unidade I
Agora, como decidir qual quantidade de avies ou de sapatos deve ser produzida? S de avies e
de sapatos vive uma sociedade? Sabemos que no. Ento, como isso resolvido? A resoluo desse
problema passa pela organizao da atividade econmica. Antes de explicarmos como a atividade
econmica organizada, nos lembremos das relaes entre a produo de mercadorias e o seu
consumo.
Vejamos, ento, na gura 3 a seguir, o modelo esquemtico do uxo circular da renda que representa
o funcionamento de uma economia de mercado.
9
Disponvel em: http://www.mises.org.br/images/articles/2008/Novembro%2008/gure1.jpg. Acesso em: 1 de
novembro de 2010.
20
ECONOMIA E NEGCIOS
Esse fluxo circular de renda, ainda que de maneira bastante simplificada, representa o
funcionamento de uma economia de mercado. Para Hubbard e OBrien (2009, p. 106), nosso
modelo:
(...) deixa de fora o importante papel do governo na compra de bens das empresas e
na realizao de pagamentos, como os de Seguridade Social ou seguro-desemprego,
para as famlias. A gura tambm deixa de fora os papis exercidos pelos bancos, pelos
mercados de aes e de ttulos de dvida, e por outras partes do sistema nanceiro, de
ajudar o uxo de fundos dos credores para os muturios. Ainda a gura no mostra
que alguns bens e servios comprados so produzidos em pases estrangeiros e que
alguns bens e servios produzidos por empresas domsticas so vendidos para famlias
estrangeiras.
Outra questo de vital importncia: nosso modelo pressupe uma economia a dois setores, ou seja,
considerando somente o relacionamento de empresas e famlias. Essa uma simplicao que deve ser
levada em considerao, j que, conforme arma Schwarz (2009, p. 41), a economia deve ser vista como
um sistema aberto
Estudemos, portanto, nosso modelo simplicado. As empresas destinam bens e servios s famlias.
Dessa forma, as empresas so representadas por todos os produtores ou vendedores de mercadorias, e
as famlias representam os consumidores de mercadorias.
Como consomem os bens e servios que so destinados pelas empresas, as famlias tambm destinam
algo a estas ltimas. Nesse caso, elas geram as receitas das empresas. As receitas representam as formas
de pagamento dos bens e servios que so efetuados pelas famlias.
Para que as empresas produzam bens e servios que sero destinados s famlias, necessitam
empregar fatores de produo. Elas precisam, ento, adquirir terra, trabalho, capital, tecnologia e
capacidade empresarial, recursos esses que so providos pelas famlias. Estas destinam fatores de
produo s empresas e como estas precisam remunerar a utilizao desses fatores de produo,
tambm h a contrapartida: as empresas fazem a remunerao dos fatores de produo que foram
destinados s famlias. O total dessa remunerao denominado renda.
21
Unidade I
Empresas destinam bens e servios para o consumo das famlias Famlias geram
receitas s empresas provenientes do consumo de bens e servios Famlias destinam
fatores de produo s empresas Empresas geram receitas s famlias provenientes
da utilizao de fatores de produo
Voltemos ao uxo circular da renda anteriormente apresentado. Vejamos que, na linha interna deste,
h o destino de bens e servios das empresas s famlias, ao mesmo tempo em que existe tambm o
destino de fatores de produo das famlias s empresas. A essa linha interna chamaremos uxo real ou
uxo de bens e servios, conforme ali indicado.
Na linha externa, h a gerao de receitas, por parte das famlias, s empresas, ao mesmo tempo em
que h a gerao, por parte das empresas, de rendas s famlias. Esses movimentos so chamados de
uxo monetrio ou, simplicadamente, uxo de dinheiro.
Percebemos, ento, que o uxo monetrio complementa o uxo real, sendo vlido tambm o
contrrio. Nesse uxo circular da renda, apresentamos o relacionamento monetrio e real entre
empresas e famlias, considerando as empresas como produtoras e/ou vendedoras e as famlias como
consumidoras. Mas temos que pensar tambm de outra forma.
As empresas, para produzirem suas mercadorias, necessitam, muitas vezes, adquirir bens
intermedirios ou de capital de outras empresas. Portanto, as empresas, alm de serem vendedoras,
tambm so compradoras, empreendendo ento um relacionamento entre os uxos monetrios e
reais entre as prprias empresas. s famlias, vale outro raciocnio, pois elas tambm destinam fatores
de produo a outras famlias, empreendendo relao tanto monetria quanto real entre si. No uxo
circular da renda, portanto, temos relacionamento empresa-famlia, empresa-empresa, famlia-empresa
e famlia-famlia.
No caso da livre iniciativa, nenhum agente econmico empresas como produtoras ou vendedoras
de mercadorias ou famlias como fornecedoras de fatores de produo e consumidores de mercadorias
preocupa-se em desempenhar o papel de gerenciar o bom funcionamento do sistema de preos.
Ocupam-se, isso sim, em resolver, isoladamente, seus prprios negcios e sobreviver apenas no ambiente
concorrencial imposto pelos mercados, tanto na venda e compra de produtos nais, como na dos fatores
de produo.
um jogo econmico, baseado em sinais dados por preos formados nos diversos mercados.
Trata-se, no fundo, de um agir egosta que, no conjunto, resolve inconscientemente os problemas
bsicos da coletividade. H uma espcie de mo invisvel agindo sobre os mercados, operando como um
coordenador das atividades econmicas e sociais.
A ao conjunta dos indivduos e das empresas permite que centenas de milhares de mercadorias
sejam produzidas como um uxo constante, mais ou menos voluntariamente, sem uma direo central.
A livre iniciativa ajuda a responder ao problema econmico fundamental: o que e quanto produzir?
Como produzir? Para quem produzir?
O que e quanto produzir decidido pela procura dos consumidores no mercado, ou seja, so
os consumidores quem do sinais de mercado s empresas do que elas precisam produzir. Assim, o
agente principal nesse processo o consumidor, pois sua atuao determinar quais produtos sero
produzidos.
J a questo de como produzir determinada pela concorrncia entre os produtores e pelo emprego
do mtodo de fabricao mais eciente ou mais barato, e o produtor mais eciente derrotar o produtor
mais ineciente.
Por m, a questo para quem produzir ser respondida pela oferta e demanda no mercado de fatores
de produo, ou seja, pelo montante de renda individual.
Voltemos ao uxo circular da renda anteriormente apresentado. A livre iniciativa opera conforme
demonstrado pelo uxo, ou seja, as famlias do sinais de mercado s empresas do que elas necessitam
consumir e, portanto, sinalizam o que elas devem produzir. Para tanto, as empresas tambm do sinais
de mercado de que necessrio empregar fatores de produo (terra, trabalho, capital, tecnologia e
capacidade empresarial) e em quais quantidades.
Dos sinais de mercado, do que produzir e do quanto empregar de fatores de produo, temos a
determinao dos preos das mercadorias e dos fatores de produo. Portanto, a livre iniciativa tambm
pode ser chamada de sistema de preos, ou seja, o uxo circular da renda (ou o sistema de preos)
coordena as decises de milhes de unidades econmicas.
23
Unidade I
Ento, alm de o fluxo circular da renda demonstrar os fluxos monetrio e real, tambm
evidencia a existncia de um mercado de bens e de fatores. Sempre que as empresas destinam bens
e servios s famlias, estamos trabalhando com um mercado de bens, em que sero estabelecidos
os preos das mercadorias transacionadas, bem como suas quantidades. E sempre que as famlias
destinam fatores de produo s empresas, estamos trabalhando com um mercado de fatores de
produo, no qual so estabelecidos os preos de tais fatores, bem como as quantidades utilizadas
pelas empresas.
Qual o papel do Estado nesse modelo? No que diz respeito presena, dadas as imperfeies
apresentadas pelo sistema de preos da livre iniciativa, ele surge para regulamentar essas atividades.
Com relao aos elementos de uma economia capitalista, esse sistema caracteriza-se por uma
organizao econmica baseada na propriedade privada dos meios de produo, isto , dos bens de
produo ou de capital. Reunir elementos de uma economia capitalista signica aglutinar os elementos
que compem o capitalismo, sistema de capital que se valoriza, que so os seguintes:
capital;
existncia da moeda.
Revisando o que foi apresentado anteriormente, vivemos numa sociedade baseada nas trocas, as
quais se do por meio do mercado. Nessa sociedade, o agente busca individualmente solucionar o seu
problema econmico por meio das trocas. Para isso, ele racionalmente d em troca sociedade no
mercado o que detm, recebendo em troca tambm no mercado o que necessita e no detm. Ou
seja, nessa sociedade, para Smith (1983, p. 50),
Portanto, nessa sociedade, de forma anrquica anal, cada agente cuida de si , emerge o bem-estar
coletivo. Uma vez que cada um cuida de si, vemos que a competio um fator inerente e determinante
numa economia de mercado: todos os agentes se movimentam pelo interesse prprio, fazendo escolhas
racionais no intuito de obter mais poder de mercado que os demais agentes e, com isso, minimizar as
suas restries na busca da maximizao do seu benefcio individual.
24
ECONOMIA E NEGCIOS
A pergunta a ser respondida, agora, : qual o tipo de sistema da maior parte das economias nos dias
de hoje? Dizemos que elas so mistas e que combinam caractersticas das economias de mercado e das
centralizadas. Para Hubbard e OBrien (2009, p. 66),
Assim estava organizada a sociedade durante o feudalismo, uma estrutura que iria sofrer abalos
contnuos at se degradar totalmente, num processo que levaria alguns sculos para se completar. Do
perodo ureo do feudalismo, a imagem mais lembrada a do feudo, grande propriedade trabalhada por
camponeses que aram no apenas a terra arrendada, mas tambm a do senhor. Nesse sistema, o castelo
10
Disponvel em: http://www.ejournal.unam.mx/pde/pde128/PDE12807.pdf. Acesso em 1 de novembro de 2010.
25
Unidade I
ocupa um lugar de destaque: nele que mora o senhor e sua famlia. O feudo, unidade autossuciente,
o espao em que ocorrem as relaes de vassalagem entre o servo e o seu senhor.
No sistema feudal, o servo no um escravo: no pode ser vendido ou ter sua famlia desmembrada;
ele faz parte da propriedade e s se transfere se a terra for vendida. O servo muda de senhor, mas no
de terra, portanto, no pode ser expulso nem dela escapar. A esse respeito, nos diz Huberman (1986, p.
10) que
O senhor do feudo, como o servo, no possua a terra, mas era, ele prprio, arrendatrio
de outro senhor, mais acima na escala. O servo, aldeo ou cidado arrendava sua
terra do senhor do feudo que, por sua vez, arrendava a terra de um conde, que j a
arrendara de um duque, que, por seu lado, a arrendara do rei. E, s vezes, ia ainda
mais alm, e um rei arrendava a terra a um outro rei! A relao de vassalagem,
inclusive, transferida hereditariamente, de pai para lho: o lho ser servo daquele
a quem seu pai e seu av tambm foram servos.
O feudo tem suas prprias regras e leis, que devem ser rigorosamente obedecidas. O senhor feudal
quem decide sobre casamentos, litgios e conitos. Em algumas regies da Europa, o senhor feudal
tem o direito da primeira noite, ou seja, desvirginar a noiva que more em sua propriedade, ou que ser
esposa de algum que more nas suas terras. Longe de ser mero capricho, esse direito consagra o seu
papel de senhor absoluto e tambm a continuidade da vassalagem por meio da suspeita em relao
paternidade dos lhos do servo11.
A pergunta que ocorre naturalmente : como, dessa organizao econmica, poderia surgir
posteriormente algo como o sistema de mercado? Foram vrios os fatores que, com o tempo, criaram
rachaduras e ssuras irreversveis no sistema feudal. Um deles foram as Cruzadas, expedies crists
armadas em direo ao Oriente cujo objetivo era a reconquista da Terra Santa. Os cruzados precisavam
de provises e, ao longo do seu percurso, foram organizados entrepostos comerciais e feiras. Alis, aos
poucos, as Cruzadas deixavam de ter apenas um signicado religioso para se transformar em verdadeiras
expedies de saque e explorao das cidades comerciais orientais. Ao longo dos sculos, cada vez mais
esse comrcio iria resultar no estabelecimento de grandes feiras e, em torno delas, cidades surgiriam.
Nesse sentido, acrescenta Huberman (ibidem, p. 32):
11
Sugerimos um lme que retrata bem essa relao de vassalagem, apesar de algumas imprecises histricas:
Corao Valente (Braveheart), em que so relatadas as lutas e os conitos na Esccia do sculo XIII.
26
ECONOMIA E NEGCIOS
Os senhores feudais, donos das terras onde se realizavam as feiras, recebiam comisses pelos
negcios l efetuados: as atividades comerciais eram bem-vindas, porque traziam lucro e prosperidade.
O crescimento dessas atividades tambm faria surgir a gura dos trocadores de dinheiro, responsveis
pela troca e pelo cmbio entre as vrias unidades monetrias. Aos poucos, a economia sem mercado
transformava-se em economia de vrios mercados, j se distanciando do sistema autossuciente dos
feudos. Devagar, cindia-se a estrutura feudal de imobilidade social: surgiam comerciantes e banqueiros,
crescia a populao urbana, livre das amarras da vassalagem e da relao visceral com a terra. Essa
populao exerceria presso por leis menos arbitrrias do que as do senhor feudal, porque precisava de
liberdade para se mover, comerciar, vender e comprar. Da mesma forma, o campons se distanciava do
senhor feudal, j que seu excedente agora podia ser negociado e transformado em dinheiro. O senhor
feudal que no compreendia essa nova realidade era forado a conviver com a revolta de trabalhadores
nas suas terras. A riqueza agora no signicava a propriedade possuda, mas o dinheiro amealhado.
Alis, a percepo de que a terra seria tambm mercadoria passvel de ser vendida daria o golpe de
morte no sistema feudal.
As guildas acabariam por se desintegrar ao longo do tempo, e o justo preo seria substitudo pelo de
mercado, mas, quele momento, a existncia das corporaes era o que permitia o exerccio da atividade
artesanal, a sobrevivncia dos artesos nos centros urbanos e a regulao de uma atividade que se
distanciava, pouco a pouco, das tradies e dos costumes feudais.
Outro fator de fundamental peso no processo de deteriorao do sistema feudal foi o surgimento
das naes. Se o senhor feudal j no dava conta de proteger a populao (seu poder havia diminudo
com a perda de terras, servos e com os gastos de expedies ao Oriente), era necessrio que algum
tomasse para si a tarefa de funcionar como poder central. Quem o far ser o rei, aliado das cidades
na luta contra os senhores feudais. Ser ele quem arregimentar um exrcito profissional e tratar
de arm-lo e trein-lo. Impostos so institudos e passam a ser recolhidos, e esse montante servir
ao rei para o exerccio do seu poder, mesmo que a partir de determinado momento esse seja um
poder subtrado das prprias cidades e dos comerciantes. Com isso, de acordo com Huberman
(idem, p. 86),
O rei serve de smbolo para a unidade nacional, e as naes passam a lutar por seus territrios e
pela formao de sua identidade: lngua, moeda e legislao nacionais, conquistas estas que passam
a ser guiadas e conduzidas pela unidade central de poder. Ser o rei tambm o responsvel pelo
empreendimento ultramarino, de descoberta, povoamento e explorao do Novo Mundo, que fornecer
a matria-prima, depois, para as indstrias nascentes, e que consumir as mercadorias produzidas nas
metrpoles.
Falta agora uma nova tica, um conjunto de valores morais que possam nortear e conduzir
os agentes em direo ao trabalho, acumulao do capital, ao lucro. o que discutiremos a
seguir.
Voc sabia?
12
Disponvel em: http://www.uncp.edu/home/rwb/rembrandt_nightwatch. Acesso em: 29/12/2010.
13
Disponvel em: http://www.biol.unlp.edu.ar/images/anatomia/anatomia-rembrandt.jpg. Acesso em: 29/12/2010.
14
Disponvel em: http://www.abcgallery.com/R/rembrandt/rembrandt121.html. Acesso em: 29/12/2010.
28
ECONOMIA E NEGCIOS
EXERCCIOS
tudo aquilo que tem utilidade, com ou sem valor econmico. O ar, por exemplo, um bem livre,
mas o minrio de ferro um bem econmico, porque escasso e depende do trabalho humano
para ser obtido. Os bens econmicos se dividem em cinco grupos principais. So eles: bens de
capital ou de produo (mquinas e equipamentos); bens de consumo (brinquedos, um par de
sapatos aqueles que podem ser comprados pelas pessoas depois de um processo de produo ou
industrializao); bens de consumo durvel (mquina de lavar roupa, imvel que s so trocados
aps perodos longos de uso); bens de consumo semidurvel (carro, roupa os que precisam ser
trocados periodicamente); bens de consumo no durvel (alimentos)15.
Consideremos agora que as necessidades humanas fundamentais estejam muito bem representadas
pelas necessidades biolgicas, como dormir, respirar etc. Nesse sentido, podemos admitir que as
necessidades humanas fundamentais:
15
Dicionrio de Economia da Universidade de Braslia. Disponvel em: http://e-groups.unb.br/face/eco/inteco/
paginas/dicionariob.html. Acesso em 15 de fevereiro de 2010.
29
Unidade I
III. Podem ser, muitas vezes, resolvidas com a prpria disponibilidade de bens livres, na natureza.
Jamaraqu uma das comunidades tradicionais estabelecidas ao longo do rio Tapajs, no interior
do Par, e vive um novo processo extrativista. primeira vista, um visitante, dos muitos que
comeam a descobrir o turismo ecolgico na selva amaznica, pode ter a sensao de que ali o
tempo parou. No vilarejo, no h qualquer meio de comunicao que no seja o rdio, o cho
de terra e as casas so feitas de madeira, s vezes com teto de sap. So 20 famlias que vivem
no lugar, um total de 94 pessoas. Chamados de ribeirinhos ou caboclos, eles so descendentes
dos primeiros migrantes que chegaram Floresta de Tapajs para a extrao da borracha, que,
no m do sculo XIX e no incio do sculo XX, era uma das principais atividades econmicas do
pas. Um pouco mais distante da vila, em meio oresta, Donildo Lopes dos Santos continua o
rito praticado por seus antepassados h mais de cem anos. Corta a seringueira com uma tcnica
aprendida com os pais, tomando cuidado para no fazer cortes profundos demais na rvore.
Se a gente erra, a seringa pode levar mais de um ano pra se recuperar, explica. Embora seja
uma atividade tpica da regio, repleta de imensos seringais, a extrao do ltex vinha perdendo
importncia na comunidade e em toda a regio. O baixo preo da borracha e a concorrncia de
grandes produtores de So Paulo prejudicaram os trabalhadores que no conseguiam viabilizar
sua produo, j que o processo rudimentar no permitia concorrer em condies de igualdade,
alm de a borracha obtida no ter um alto valor agregado16.
A tradio, segundo Heilbroner (2008, p. 27), uma modalidade de organizao social em que produo
e distribuio se baseiam em procedimentos criados no passado distante, raticados por um longo processo
de tentativas e erros histricos, e mantidos pelas foras poderosas dos costumes e das crenas.
16
Disponvel em: http://www.revistaforum.com.br/sitenal/EdicaoNoticiaIntegra.asp?id_artigo=5384. Acesso em:
15 de fevereiro de 2010.
30
ECONOMIA E NEGCIOS
I Apenas sociedades primitivas adotam a tradio como forma de conduzir a vida econmica.
III Uma sociedade que siga o caminho da tradio na conduo da vida econmica pode se
desenvolver de forma to rpida e em to grande escala quanto outras sociedades que no sigam
esse caminho.
17
Formao de sucessores no rural brasileiro. Disponvel em: http://www.cchla.ufpb.br/saeculum/saeculum04_05_
art15_ribeiro.pdf. Acesso em: 15 de fevereiro de 2010.
31
Unidade I
De um ponto de vista geral, originalmente a agricultura sob o feudalismo obedecia a uma lgica
interna prpria, na qual, portanto, a servido era trao fundamental da coero. Concretamente,
o senhor feudal dividia suas terras em duas partes. O domnio era a parte de suas terras, em geral
de ampla extenso, onde, sob sua tutela ou de seus agentes, os servos trabalhavam os dias de
ddiva, horas de trabalho para o senhor, a corveia. Essas terras diretas do senhor abrigavam as
suas habitaes, as construes que se destinavam explorao agrcola, as ocinas e as casas
dos servos que trabalhavam diretamente apenas para ele. As parcelas formavam a outra parte
das terras do feudo, que eram divididas e concedidas aos camponeses. Estes, por sua vez, cavam
obrigados a entregar tributos exigidos sobre a produo de sua parcela e, alm disso, prestar
dias de trabalho pessoal (corveia) para a explorao do domnio direto do senhor. Em geral, essa
jornada de trabalho gratuito era a cesso de renda em trabalho para o senhor feudal. Alm disso,
estavam os servos camponeses obrigados a utilizar o moinho ou o forno senhorial, pelos quais
tambm pagavam em espcie. Assim, a frao da produo entregue pela cesso da terra e pelo
uso do moinho eram rendas em produto transferidas dos camponeses ao senhor feudal. Portanto,
duas formas de renda da terra aparecem no feudalismo: no incio, era mais forte a presena da
renda em trabalho, que, em funo das lutas dos camponeses contra a corveia, foi diminuindo em
vrios lugares, aumentando a participao da renda em produto18.
b) posse senhorial da terra; pequenas propriedades camponesas; trabalho servil; baixa produtividade
e acumulao de excedentes nas cidades;
18
Disponvel em: http://www.fch.usp.br/dg/gesp/baixar/livro_aviovaldo.pdf. Acesso em 17 de fevereiro de 2010.
32
ECONOMIA E NEGCIOS
c) posse servil da terra; grandes propriedades senhoriais; trabalho assalariado; baixa produtividade
e gerao de excedente para o comrcio;
d) posse senhorial da terra; grandes propriedades senhoriais; trabalho servil; baixa produtividade
e acumulao senhorial do excedente;
e) posse senhorial da terra; pequenas propriedades senhoriais; trabalho servil; alta produtividade
e acumulao senhorial do excedente.
6) Um sistema econmico pode ser denido como a forma poltica, social e econmica pela qual est
organizada uma sociedade. um particular sistema de organizao da produo, distribuio e
consumo de todos os bens e servios que as pessoas utilizam buscando uma melhoria no padro
de vida e bem-estar. Sobre o funcionamento de uma economia capitalista economia de mercado
indique a alternativa correta.
d) Numa economia de mercado, da mesma forma que nas economias centralizadas, os meios de
produo so considerados como pertencentes a todo o povo, isto , propriedade coletiva.
Assinale a alternativa correta sobre a denominao da renda que os proprietrios de recursos ganham
ao fornecer tais recursos s empresas:
b) O agente tipo famlia recebe aluguel na qualidade de proprietrio da terra e de seus recursos,
e salrio na qualidade de trabalhador.
d) O agente tipo famlia recebe lucros como proprietrio da terra e seus recursos, e aluguel na
qualidade de trabalhador.
e) O agente tipo famlia recebe aluguel na qualidade de proprietrio da terra e seus recursos, e
salrio na qualidade de proprietrio de empresas.
A armativa I est incorreta porque h necessidades que podem ser satisfeitas com bens livres. A II
est incorreta porque h necessidades que dependem, para sua satisfao, de bens econmicos. Assim,
a III est correta: necessidades podem ser satisfeitas por bens livres ou bens econmicos.
5. d) posse senhorial da terra; grandes propriedades senhoriais; trabalho servil; baixa produtividade
e acumulao senhorial do excedente;
34
ECONOMIA E NEGCIOS
Conforme o texto-base, possvel identicar a posse senhorial da terra (de propriedade do senhor
feudal), a existncia de grandes feudos e a utilizao do trabalho servil. Nesta forma de organizao, a
produtividade baixa e o excedente pertence ao senhor feudal.
7. b) O agente tipo famlia recebe aluguel na qualidade de proprietrio da terra e de seus recursos, e
salrio na qualidade de trabalhador.
A alternativa A est incorreta, pois as famlias recebem rendas por destinar fatores de produo
s empresas. A alternativa C tambm est incorreta, pois quem recebe aluguel so os proprietrios
de terras. A alternativa D indica que as famlias recebem lucros e tambm est incorreta. Da
mesma forma, a E tambm est incorreta, pois os proprietrios de empresas recebem lucros e no
salrios.
Gilmar Cardinot e o irmo, Gilberto, formam a quinta gerao dos Cardinot em Nova
Friburgo. Quando o primeiro membro da famlia chegou da Sua, no sculo XIX, trouxe
com ele uma tradio: o amor pelo campo. O trabalho na lavoura uma herana que
vem da Europa. Tudo feito em parceria entre os irmos, que tambm recebem a ajuda
de um primo. Para eles, a unio no trabalho sinal de prosperidade. O terreno de 14
hectares fica na localidade que leva o nome da famlia sua, Cardinot, na zona rural
de Nova Friburgo. Em torno de 10 produtos so cultivados no local, principalmente
hortalias. Neste perodo, chegam a colher mais de 900 ps de brcolis por dia. E com
tanto trabalho, a ajuda da famlia essencial para contornar um problema: a dificuldade
de encontrar mo de obra.
19
Disponvel em: http://intertvonline.globo.com/rj/noticias.php?id=9644. Acesso em: 1 de novembro de 2010.
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Unidade I
O governo cubano anunciou a demisso de 500 mil servidores pblicos, o equivalente a 10% da
fora de trabalho total da ilha. Ao mesmo tempo, sero reduzidas as restries iniciativa privada,
justamente para absorver toda essa turma de barnabs. Segundo Havana, o objetivo da medida
tornar a economia mais eciente uma semana depois de Fidel Castro ter declarado que o
modelo cubano no funciona mais nem para Cuba.
Enquanto isso, a Venezuela de Hugo Chvez, discpulo mais el de Fidel, continua estatizando
avidamente o pas. E o Brasil de Lula e Dilma aposta cada vez mais no Estado como agente
econmico. Como a revolucionria Cuba est mostrando, e a Venezuela chavista j sabe bem,
esse modelo tem flego curto, porque os recursos que deveriam ser investidos em infraestrutura
so drenados para custear a gigantesca mquina pblica. Sem esses investimentos, no possvel
sustentar o crescimento econmico no longo prazo.
20
Disponvel em: http://blogs.estadao.com.br/marcos-guterman/o-que-cuba-tem-a-ensinar/. Acesso em: 1 de
novembro de 2010.
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