A Província
A Província
A Província
PROVINC A
ESTUDO
SOBRE
ADESCENTRALISAO NO BRAZIL
POR
TAVARES BASTOS
PREFACIO
14 de agosto.
PARTE PRIlVIEIR
CENTRALISAO E FEDERAO
CAPITULO I
A OBRA DA CE "TRALISAAO
I De la Centra!isation; p. 18.
2 De lCI drnoc-ratie en Amriq!w; cap. \'.
CENTRALISAO E FEDERAO 5
I Garrctl.-Pl'ologo do Cato.
e
CENTR~LISAO E FEDERAO
CAPITULO II
1 Em 'i me 'ma a Hungria uma anLiquis ima federao dos selJS comi
tatos, cidades e partes adllcxre, com ~ssembleas proprias c, administra-
cs indcpendentcs da diet~ <J ministerjo do reino do Santo- E :evo. (R lLC
dcs Del/..); Mondes, l' de junho do 1:168; p. 543-51!l: al'ligo do r. Lal'cleyc. \
CENTRALISAXO E FEDERAO 17
panha, onde as provincias recordam com orgulho os
seus fros de reinos, pede um governo federal como
expresso fiel da liberdade restaurada.
Resta, sem duvida, a Frana no campo adverso; e
este s exemplo agorenta a alegria do espectaculo
que tantos povos offerecem. Mas a Frana acaso
fiel aos seus primeiros amores, tradio desse poder
illimitado de que so representantes historicos Ri-
ehelieu e Napoleo? Li, iam buscar tristes conselhos
os inspiradores e os adept03 da monarchia centralisa-
da; mas, ns o esperamos, ella agora que vai for-
necer-TIOS, neste e outros assumptos, o meio seguro
de determinar o curso das idas novas. r
r
C \PITULO IH
('2) Nous u'hsiLons pa dire que le u[rage uni."erseL n'acquerra son iu-
d' pcudanceque par une rl'ormeradica!e de nolre organisutlou admini -tralive.
CommenL esperer La liberl des leclion , lorqu'uno arme do fonctionnaires,
d'agens do 10uLe nature, q':li vivent par lo gouvernomen!, qui altendon! de lui
leur a\'ancemenL, la l'compense dv leur ,,-':Ie, qui esperonl eL craignenl loul
du pouvoir central, enserl'e le pays eulier? lJn moI Lanc par ce maiLre loul-
puissaul esl, du !lau! en bas o la hil'archie, commo le commandomenl d'un
c!lef paul' les lroupes Les mieux di cipline.<. Ou uo le couLrle pas, on ne Le
discute pa ; on L'oxcule. El, ou lour, queiJe iufluence puissanle ce corps
de foucLionnaires n'exerce-li] pas SUl' les populalion ICeI lat de cho es est
non seulemrr.lla ngalion de L'indpendancc du suffrage uniycrseL, mais aussi
un obslncle 11 In formalio 1 de nos mooU!'" publiques. Jamais on peupLc libre
ne pourr,1 vivl'e avec une pal'eille ol'gani'a ion, jamais I'opinion publiqufI ne
circulern aycc aqsez ele forcu pour tl'C Ic vl'ilable motom eles destino~ du
pnys. Libel'l el aelmini tmtion lai 's6c In eliscl'lion du pouvoir sonl des
lenDe conLraclicloire. L'ui loi.ro n nou' pr0!onte l'exemple cl'aucun peuple
ou In libel'l ail Hauri sous un tell'gime. li. Ga!os: ncv. eles deux mondes.
1 cp!. 186 ; p. 136.
CENTRALISA{O E FEDERO 29
humanidade? A ambio vulgar de impertinente do-
minio, o ciume da prerogativa da realez;a, o interesse
dynastico, o vehemente proposito de transmittir in-
tacto o :6.dei-commisso mona1'chico, nada cedendo s
idas novas sino quanto b::tste para melhor rosistir-
lhos, podem afinal trazer a um choque perigoso a
nao e a cora. Oommmmada prudoncia, favorecida
por causas extraorc1inarias, poder pl'oscrastinar o
momento decisivo; mas jamais foi pel'mittido a uma
familia do reis transmittir com o throno a sabedoria,
essa virtude que se volatllisJ. na succ sso. Um dia
estla a tempestade; a pyramide invertida va em
pedaos. ~
Vemos os espritos aflictos em busca de um ponto
de apoio no espa.o: quanto a ns, no ha out.ro; a
autono~11ia dn, Provineia. Votai uma lei eleitoral aper-
feioada, supprimi o recrutamento, a guarda nacio-
nal, a policia despotica, restabelecei a independencia
da magistratmu, restaurai as bases do codigo cio pro-
cesso, tornai o. sen<1do temporario, dispensai o conse-
lho de estado, cOl'l'igi ou <1boli o poder moch.rador ; -
muito tereis feito, muitissimo, pela liberdade do povo
o pela honra da nossa p:1tria: mas no tereis ainda
rosol vido este problema capi tal, eq nuleo de q uasi
todos os povos modernos: limitar o poder executivo
cL.ntral s <1.ltl1S fnnces polticas smentc. Deixai-
lhe o exel'ccio das attribuies quo tem, d()ixai a ca-
pital concentrai' os negocios locaes, consenti que
possa estender-se por toda, a parte
o braco-
o(}jg'antes-
co (lo Estr rl.\l, tutor do mnnieipi n (l. da provincia; e
30 PARTE PRIMEIRA
CAPITULO IV
OBJECO
1 De la Cenlralisatioll, p, 77.
._\. 'PROV. 5
34 PARTE PRUmIRA
CAPITULO V
, Ohio o i\fichigan.
CENTRALISAO E FEDERAO 45
;;overuaool" pela a sembla (O Fedel"aLisla, C<lp. 47\: ella que eleGia tamIJem
CE:\TRALISA10 E FEDERA'O 4.7
somma de intelligencia, ordem e deciso. E' isto' que todo povo livre deva
de ser. Stuart-MiIl, On liberty ; cap. V.
I IJistoil'e des Etats-Unis, pelo Sr. Laboulaye ; vol. 3", lio 18' sobre (\
constituio.
I Programma do Cenlro Liberal; maio de J869.
60 PARTE PRIMEIRA
CAPITULO VI
fUra a elgellcia injusta, por COll'traria aos interesses do povo do Canad que
'CIos Estado's-Unidos importa livros baratissimos.
I Tem as assemblas coloniaes a faculdade de reFormarem as respec-
I E. May.
2 R'V1/.e des dellx mon.d.as, l' de maro de 1866_
'72 PARTE 1'IU.\lElltA
o ACTO ADDICIONAL
I V. os casos de te genero referidos nos SiSi (>12 a 515 da obra cilada do vis-
conde de Urllgllay.
INSJ:LTUIE1:l PROVINCIAES 93
Este espirito delirante de uma reaco que no re-
cuava siquer diante do infinitamente pequeno, tocou
ao zenith quando os decretos de 1850 concentraram
no poder executivo o direito de autorisar a incorpo-
rao das sociedades anonymas.
E mais long-e que seus antecessores devra de ir
o g-abinete de 16 de julho. Seus deleg'ados suspendem
leis sallccionadas e promulg-adas. Uma circular de
1868 determina aos presidp,ntes que no sallccionem
lei alguma creando novas comarcas, e lhe declara
que o g-ovemo no prover de juizes as que no
obstante se crearem. A reaco afronta a legalidade,
desafia as provincias.
Grande servio pudra prestar um ministerio libe-
ral, esclarecendo a intellig-encia das reformas de 1834.
Longe de ainda admittir duvidas em certos assnmptos,
como sejam alguns dos que devia estudar a commisso
parlamentar proposta em 1861, -cumpria-lhe instruir
os pre identes sobre a verdadeira doutrina em muitos
elos pontos litigiosos. A exemplo da regencia que
expedra instr~ces para a execuo do acto addi-
cional, porque no se havia remover da mesma frma
duvidas suscitadas pelo espirito de partido? Para isso
no fra mister lei; hoje a tarefa da lei muito maior
e differpnte: alargar as bases do acto addicional, ou
completaI-o.
Instruces bastavam para reivindicar a ba dou-
trina dentro dos limites do direito vigente. Ahi est
a razoavel jurisprudencia admittida em muitos casos
pelo pl'oprio autor da lei reaccionaria, o visconde de
94 PARTE SEGUNDA
I Capo 11.
2 lac~ auxiliares.
1::' anliga a i<.la de projeclo de constitui;'io da as-
scmbla constituinte creava em rada dislriclo um sub-pr~sidcnte. No da
admini trao provincial (1826), Feij instituia em cada villa a mesma au-
toridade, ()J'opo:lta, cm lista triplicc. pelas ('amaras municipaes ao prcsidenle.
Vergueil'O, no da, municipalidades (do me,IllO anno), dava-lhe o nome de
intcndentc municipal, igualmente aprescntado pelas camaras, mas em lista
quadl'upla. O pl'ojecto da camara temporaria para as reformas constitucionaes
(1831) dia no 12: cc Nos municipios haver um intendente que ser nelles
o mcsmo quc o presidente nas provincias. Todos estes projeclos, por('ID,
eram antel iorcs ao aclo addicional. Depois delle, crearam algumas provincias
pl'cl'oilo5 com aUl'ibuies mai' amplas que as simplcsmente aclministralivas:
vde o capo V, SI 2.
INSTITUIES PROVIN.ClA.ES 107
tervir nos negocios mUlllcIpaes, seria a derradeira
conquista do imperialismo.
Mas, dizem, os p.residentes no teem agentes subor-
dinados que os auxiliem nos nego.cios gemes O.u prQ-
vinciaef). Em nosso intendel', exagerada e inexacta
esta affirmao.
D'entre os assumptos propriamente geraes, cita-se,
como exemplo justificativo, o re,crutamento. Mas no
s te.m feito at hoje este barbaro servi~o por meio
da policia ou de commissarios especiaes? e no deve
elle desaparecer em .bl'eve deante da condeJ;nn~WO
universal?
Os servios de caracter geral nas provincias ~e~pl
todos elles chefes proprios, administrao particular,
sujeita aos presidentes; a fazenda, o exerclto, as ca-
pitanias de portos, a guaJ'da nacional, as obras pu-
blicas, ete., todos esses ramos da administra ,o, os
dirigem agentes subordinados ao presidente da pro-
vincia. No so, pois, os negocios geraes que care-
cem de um novo intermediario. S6 a preoccupao do
systema francez, s um falso amor da symetria, como
noton-o J. J. Rocha condemnando em 1858 o pro-
jecto da commisso presidida pelo Sr. Uruguay, s a
falta de plena consciencia das nossas instituies na-
cionaes, explicam esse plagio dos sub-prefeitos de
Frana.
Quanto aos negocios provinciaes, cumpre advertir
que, si taes agentes fossem mister, s as assemblas
podel'am creal-os. No suppomos, porm, que a expe
l'iencia recoinmeude a CJ'cao de.um agente" aclminis-
108 PARTE SEGUNDA
CAPITULO n.
A A.SSEMBLA.
A PROVo 15
114 PARTE 'EGUNDA
r.-Senados promnCUtes.
1 Odilon Darrot, obra cilada; Prevo t Parado I, La Fmnce noltvellc, Liv. 11,
capo 2.-Segundo o Sr. llchard, a cujas opinies j nos ~rerc)'imos (Parte
I, capo H), cada conselho geral de departamento teria, no uma, mas varias
commisse permanentes, quer durante a e se do conselho. quer na sua
au encia, a saber: commisso de obra publicas, de impo ie , de tomada
de contas, de e tabelecimentos de caridade, de prises, de alubridade, da~
commulias, de cuIlo' e in truco publica, c objectos di\'cl""ps e extraor-
dinarios.
INSTITUIES PROVI CIAES 119 .
lII. - Eleio. .
CAPITULO III
o PRESIDENTE
I Parte l. capo H.
2 Parte l, cap. VI.
INSTITUIES PROVINCIAES 123
~, na phrase de Cromwell, casa para aluga?'; por isso
que nas monarchias constitucionaes o ministerio
commisso do parlamento, que de facto o noma.
A experiencia das possesses inglezas assaz pa-
tenta a incompatibilidade de uma assembla po-
pular com um administrador imperial. Antes de
adoptado o principio do governo responsavel, diz
Erskine May; quaesquer que fossem as fluctuaes
da opinio na legislatura ou na colonia, qualquer
que fosse a impopularidade das medidas ou das
pessoas incumbidas de propol-as, continuavam estas
a dirigirem os conselhos da colonia Acontecia
ento que OS conselheiros (ou secretarios) do gover-
nador seguiam uma politica, a assembla outra. Me-
didas elaboradas pelo poder executivo eram rejeitadas
pela assembla; medidas votadas pela assembla eram
repellidas pelo conselho ou recebiam o vto do g'o-
vernador... o ha.vIa em taes casos meios con8-
titucionaes para restabelecer a confiana e boa in-
telligencia entre os poderes contendores. Frequentes
dissolues das assemblas exasperavam o partido
popular, e g'eralmente redundavam em seu final
triumpho. Tornou-se chronica a hostilidade entre a
assembla e os funccionarios permanentes que ca-
hissem em impopulal,idade .... Instituies represen-
tativas em colliso com um poder irresponsavel,
ameaavam anarchia: estava assim provada a incom-
patibilidade de dous antagonicos principios de go-
verno.
Estes so, em verdade, principios diametralmente
124 PARTE SEGUNDA
lei, clamava o pre idente da assembla, corre o perigo de ser baldada. Este
estranho facto robu~tece a minha antiga convico de que'as esperanas gera-
das pelo acto addicionalllo podcm scr realisada completamente, ino quan-
do o delegado do poder executivo na provincia estive)' em perfeita harmonia
com a respectiva as embl~a. Em vo s~ quiz abi consignar o dogma do go-
vemo da provincia pela provincia na orbita do interesses puramente provin-
ciaes: a actual organisao admini trativa, que no poder ser duradoura,
inutilisa to salutar dogma. (Di curso proferido pelo Sr Cons. Carro, pre-
sidente da assembla de S. Paulo, ao encerraI-a em julho de 1869.)
1 Om projecto do Sr. ministro do imperio (1869) transfere a assemblas
chamadas municipaes, compostas de membros no electivos, importantes
attribuies 'das assemblas provinciae . Mais longe ia um d 'pulado que
em 1859 lembrava a divi o do imperio em pequenas circunscripcs igl.laes,
meramente administrativas, como os deparlamento de Frana.
126 PARTE SEGUNDA
1 V. Parto I, capo V.
L STITUIES PROVINCIAES 141
CAPITULO IV.
A UU 'lCIPALIDADE.
1 Caps. V e VII.
152 PARTE SEGUNDA
1 Para a liherdade que ellas pem ao alcance do povo, lio a ir. li-
luies muoicipae. o mesmo que para a seiencia as escolas primarias,
Tocquevine.
INSTITUIES PROVINCIAES 153
tragos, a ruina do poder legislativo provincial. E
quem promulgou as leis restricbvas que subsistem no
Rio de Janeiro, onde tem elles governado quasi sem
irtterrupo ? I Ahi, de facto, no existe poder muni-
cipal, comquanto em nenhuma parte do imperio se
incontre mais espirito municipal. desta provincia
a lei que prohibe s camaras, sem prvia approvao,
executarem obra superior a 500nOOO! isto por ven-
tura exigencia do acto addicional?
PROVo 20
154 PARTE SEGUNDA
CAPITULO V
A POLICIA
I Capo I, Silo.
INSTITUIES PROVINCIAES 175
smente lhe compete deliberar e nunca executar. )
essa lei, que alterava a org'anisa6 munici paI da
do lo de outubro de 1828, j aparecia uma entidade
policial differente das do codigo do processo.
No mesmo anno, por decreto de 4 de junho, creou
tambem a provincia do Cear prefeitos que tornou
verdadeiras autoridades de policia. Extinguindo as
juntas de paz, transferia as suas attribuies aos jui-
zes de direito. Regulava tambem o modo de se leg'e-
rem os juizes parochiaes, pela seguinte frma: os
votantes os nomeariam em listas 'ipliees; dellas
escolheria o presidente os juizes que devessem servir
em cada legislatura.
Mais decisiva foi a lei de Pernambuco de 14 de
abril de 1836, a que j nos referimos . .Esta reduziu
o juiz de paz quillo que hoje, tirando-lhe as attri-
buies policiaes e criminaes, que transferia aos pre-
feitos e sub-prefeitos, e supprimindo toda a jurisdiO
que no fosse relativa a conciliaes, eleies e jul-
g'amento das causas civeis at 50$000.
Ainda mais: conferia aos prefeitos as faculdades,
que, por virtude de um decreto de 1833, aos juizes de
direito pertenciam como chefes de policia das suas
comarcas; medida, que outra lei de 19 de abril
de 1838 restringiu, dispondo que as attribuies de
prender os delinquentes e formar corjJO de delicto
pertenceriam aos juizes do crime cumulativamente
com O!' prefeitos. Tambem encarreg'ava-os da exe-'
cuo das sentenas crimes, que alis competia aos
176 PARTE SEGUNDA
1 50bl'e ocioso havia uma di posio coercitiva, de que, egundo a
pessoas; contemp0l'aneas, tirou-so muito proveito f'ol'l1ecendo-se . lavoul'a
braos at ento inuteis, c dis olvcndo-se coitos pcrigosos para a segul'an\a
ela' lucaliclades. Eis o texto do art. 12 7" da lei: Obrigar aos ociosos a
contratarem-se dentro de um prazo razoavel a fim de cor,seguil-em meios de
subsistencia sem prejuizo da sociedade, pena de serem presos C processados
como desobedientes.
INSTITUIES PROVI CLAES 179
CAPITULO VI.
CAPITULO VII.
A JUSTIA.
A PROVo 26
202 PARTE ;SEGUNDA
1 Cap, v, Si 2.
, Parle I,cap. v ; p. 53 a 60.
INSTITUIOES PROVINCIAES 203
querque) propunha em 1832, antes da lei das refor-
mas, um projecto que confirma esta apreciao. Com-
pete, dizia no art. 5., compete aos juizes de facto e
de direito nas provincias julgar definitivamente as
causas, quer civeis, quer criminaes, intentadas dentro
da provincia, e em que no fr compromettido o in-
teresse o'eral da nao ... Uma lei econo?nica p?'o1)incial
marcar os districtos dos juizes de direito da primei-
ra instancia, e a (?'1na do p?'ocesso, tanto civel como
criminal, para essas causas smente.
Era o idea.l norte-americano, que o illustre brazilei-
1'0 propunha-se. Tanto no fizeram, todavia, as leis
provinciaes a que nos referimos; foram. no obstante,
a pedra de escandalo. Atroaram os ares declamaes
contra a anarchia e pomposos elogios das instituies
uniformes.
Honra, porm, ao representante de Pernambuco,
Luiz Cavalcanti, que soube resistir a essa paixo
centl'alisadora, fonte principal dos nossos males poli-
ticos! Membro da commisso das assemblas provin-
ciaes, lavrou, a 20 de agosto de 1836, um parecer di-
gno de nota I. Depois de affirmar o principio - que
competia s assembla~ pl'ovinciaes revogar as leis
geraes nos objectos que passaram a ser provinciaes ,
e considerando desta natureza os pontos de organi-
sao da justia e policia reg'ulados pela lei pernam-
bucana de 14 de abril de 1836, Luiz Cavalcanti con-
cluia que as mesmasassembIas poderiam alterar os
1 Esta faculdade abrange tambem a demisso: art. U, seco 2, cl. 2'da ronsl. ;
Paschal, Annotated consl.ituton, 11. 183, p. 178.
. ! Um illustre escriptor da escola monarchica. o Sr. Prevost Paradol, depois
de mostrar que a independencia requisito essencial da magistratura pa1'3 o
papel que desempenha no Estado. Rxpe uma combinao analoga da Del-
. gica, refutando concludentemente o actual systema francez, qlle no Brazil se
imitou: La France Nou'velle, livro 11, capo VIL
Nos cantes d3. Suissa parece prevalecer a id6a da eleio dos juizes pelas
assemblas legislativas. Repellindo o pl'ncipio da nomeao directa pelo
povo, um illustre suisso prope -que todos os juizes pel'manentes sejam
eleitos pelo Grande Conselho federal: La democratie s1.l1$se. por J. Dubs, ex-
presidente da Confederao; 1868.
Segundo o projecto de constituio de Pou o-Alegre :1832), eram as as-
semblas provinciaes que em lista triplice propunbam ao imperadol' os juizes
que devessem servil' nas relaes.
INSTITUIES PROVINCIAES 211
1 Capo Y, 2.
A PROVo 28
21 PARTE EGU~DA
t, I'RO\Oo 29
INTERESSES PROVINCIAES 221
CAPITULO I.
INSTRUC0 PUBLICA.
tade da despeza de lodo o eslado com este servio. Ella atLingill a 2.~Ov.OGO
dollarsem 1868,selldod 'laeoorrnequantia 1,597,000 ciollar.. applicados a sala-
rios de prufessores e empregado-, c 640.000 a novos palacio' de e cola, re-
paros, etc. New-York, que lias mant.m 2,500 professoras e professores das
escola publica. gasta, portanto, crca de 3 doIlal' por habitante. Na mesma
proporo, devl'a a instruco da cidade do Rio de Janeiro, qual se desU-
oam cl'ca de 350 rontos, consumir 2.400, tanto CJuanto de'pedfl acluat
mcnte o imperio inteiro.
2 Si na provincia do Hio de Janeiro, q\le d spende 433 contos cllm todo o
servio da in 'truciio (oramento de 1869), e que e diz ler um milho
240 PARTE TERCEIRA
CA.PITULO Ir.
EMANCIPAiO.
1 Capo VI. SI 6.
INTERESSES PROVINCIAES 267
escravo: dous estados havia (Mississippi e Carolina
i\leridional), onde a populao escrava era superior
livre; c no inferior em algun. Ora, na opitlio
do Sr. Souza Franco, em todo o Brazil haver 4 ho-
mens livres para 1 escravo, sendo, porm, a propor-
co de 3 : 1 no littoral do sul, de 6: 1 no centro do
impel'io, e d 7: 1 no norte. Em provincia alguma,
nem no Rio de .Janeiro, ha igualdade; em outras a
populao escrava mui inferior livre; em algumas
quasi llLllla. Este facto, que alis urgentissimo
averiguar por um censo completo, no s dissiparia
exagerados receios, como plenamente justificaria a
lDedida, em que insistimos, da abolio immediata e
simultanea nas provincias de insig'nificante trabalho
escravo.
Estas poderiam, por si mesma;~, entrar resoluta-
mente nas operaes da emancipao. Em vez de m-
dica. consig'naes no oramento ordinario, contra-
hissem um emprestimo, ou emprestimos periodicos,
que em poucos annos resgatassem todo. os seus es-
cravos. Jo sopol'taria a do Amazonas, por exemplo.
uma divida de 300 contos, su:fficiente para a imme-
diata alforria de todos os seus 584 captivos, incluidos .
velhos e Grianas sem valor? Os juros de tal empres-
timo no so onerosos para o mazonas, cuja receita
dbra em oito annos, e demais pouco excederiam
consignao que j vta para resg'ates annuaes. O
mesmo dizemos quanto a outras em identicas condi-
es.
A consequencia de tal medida o parlamento pro-
268 PARTE TERCEIRA
I V. o pal'agl'apho anterior.
270 PARTE TEROEIRA
1 V. o Capo VI, ~ 5.
2 P. 180.
INTERESSES PROVINCIAES 271
CAPITULO lU
ASSOCIAES
A PROVo 37
INTERESSRS PROVINCIAES 291
CAPITULO IV
L\IillIGRAO
CAPITULO V.
oBR A S PU B L! C A S.
1 Capo UI.
INTERESSES PROVINClA.ES 309
no tem o direto de regular a frma e a vida das
companhias. Assim, diante dos principios absolutos,
no seria legitimo conceder s assemblas a faculdade
que recusamos a quaesquer autoridade~ do Estado:
mas, entretanto, si a prvia autorisao precisa, con-
cebe-se aca o que ociedades que funccionam em uma
provincia, organisadas para effectuarem servio pro
vincial, dependam do.placet imperial? A lei que isto
exig producto da febre reaccionaria que tantli.S ve-
zes temos a signalado.
Copiando a mencionada consulta, o aviso de 4 de ja-
neiro de 1860 a sentou, como principios inconcussos,
duutrinas manifestamente illegaes.
No pd m as assemblas, segundo e11e, conceder
privilegio sobre navegao de rio que, percorrendo ter-
ritorio de duas proviucias, seja todavia aproveitavel
no de uma dellas smente; nem quando a navegao
da costa martima se possa estender do rio; nem, em
geral, sob're a navegao a vapo1'jh6vial. Est escripto,
e o commentario desta ultima h,ypothese patenta o
preconceito do conselho de estado: uma lei de 1833,
diz ol1e, attrilmra o servio da navegao a vapor ao
governo geral. Pde essa lei prevalecer apezar de
anterior ao acto addicional? Basta similhante propo-
siO para o leitor avaliar si exagerado nosso jluzO
sobre o empenho do conselho de estado em restaurar
no Beazil a monarchia centralisada. Dispen. a argu-
mentos a invcao de uma lei ordillaria para o fim de
restl'ingir uma lei constitucional posterior. Era, entre-
tanto, expressa outra lei mais antiga, a de 29 de agos-
310 PARTE TERCEIRA
...
326 PARTE TERCEIRA
r
INTERESSES PROVINCIAES 327
do telegral'ho electrico: e alis, para a maxima ener-
gia d poder concentrado, no ha mais util auxiliar,
como o no ha para a defeza do Estado e paTa a unidade
moral da patria. Apenas uma curta linha percol'l'e o li-
toral do Rio de Janeiro at Campos, outra crta o valle
do Pal'ahyba, e uma tel'ceiTa, ainda no definitivamente
concluida, deye ligar o Sul capital do imperio. Todo
o orte do Bni.zil debalde esperou o tclegrapho nacio-
nal, e agol'a fl'ma votos pelo exito da empreza a quem
afinal, aepois d crueis hesita.es l concedeu-se a linha
co teira. J muito fizljmQs, em verdade: depois de la-
boriosi simos estudos, entr mos no periodo dos pro-
jectos; um para a linha transatiantica, duas vez~s con-
cedida ao mesmo emprezario. outro para a linha cos-
teira. Lancemos, entretanto, os olhos para a ar-
ta telegraphica de um pequeno Estado e~ropeu,
Portugal, que nisto nos d lies. Tres n;J:l kilometros
de linhas electricas possuia o reino em lS8: o ha
cidade alguma, no ha villa importante, que no te-
n'ha a sua estao telegraphica. Demais, a rde por-
tugueza est ligada g-rande rde emopa, e por ella
aos cabos transatlanticos e indicos. E tem Portugal o
seu territorio repartido em provincias distantes, em
l'egies quasi independentes? ~ente Portugal, como
n' " este embarao das incommensuraveis distancias,
tantos portos sem defeza, tanta dilliculdade nas com-
municaes interiores?
Por dezenas de milhar se contam as linhas dos Es-
tados-Unidos: 73,000 milhas e 5,000 estaes. A Gr-
Bl' ,tanna vai generalisar o telegrapho de srte, que
"
1
INTERESSES PROVINCIAES 329
lhas usanas, as estl'eitas idas fogem diante da inva- .
so das duas grandes foras contemporaneas, a loco-
motiva e o teleg-rapho, como ha de o Brazil esquecer
que um dos maiores erros da administrao imperial
tem sido protelar, sino obstar, transformao dos
seus meios. materiaes de existencia? Como ha de
relevar essa politica original, que estuda, discute.
protela, e volve a estudar, a discutir, a protelar infin-
dos projectos interrados em incommensuravel papela-
da? .Pse o actual regimen a sua responsabilidada Pf'-
rante a historia, e abandone de uma vez os tristes habi '
tose os expedientes da inercia. .
. Fosse embora de reaco poltica, muito perdoar-se-
ia ao presente reinado, si, abolido o trafico, houvesse
logo emprehendido a obra da emancipao, creado uma
corrente de immigrantes, construido grande.s vias de
trfl,nsporte, fundado por toda a parte escolas, prepal'a-
do, em surp.ma, o caminho da liberdade; a exaltao da
democracia.
Houve em Frana um governo, em cujo perlOdo as
letras, as sciencias, a filosophia, a eloquencia, a
poesia, brilharam com um novo lustre na terra de
Voltaire e Mirabeau. Os enthusiastas do rei davam-lhe
o invejavel,cognome de Napoleo da paz. Pois bem!
no este ou aquelle facto politico, mas um grande erro
social, precipitou-o de repente. Esse erro fra o esque-
cimento dos interesses do povo, a mt3squinhez da ins-
truco, as incriyeis_ hesitaes na construco da
rde dos caminhos de ferro, o atrazo do commercio, a
debilidade das industrias, falsas noces economicas
A !'ROV. 4.2
330 PARTE TERCETH
r
INTERESSES PROVINClAE'S 331
CAPITULO VI
RECEITA E DESPEZA
,.
INTERESSES PROVINCIAES 3S5
s deRses estados, ew-Yrk, gastra 40,000 contos
em 1862, sendo a sua divida cerca de 60,000. I a
Suissa, no Canad, na Australia, as d0spezas das
localidades so, da mesma srte, to grandes como
as da administrao geral.
Djr-se-ha que a elevao dos oramentos no signi-
fica gel'ulmente grar:de prosperidade? Assim toda a
vez que o producto do imposto s no converte em
novos agentes de riqueza, mas em exercitos e arma-
mentos, ou em constl'Ucces de luxo. Que mais efficaz
agente de produco, por '01, do que a escola, o cami-
nho de ferro, o canal,-orgulho da Unio Americana?
Demais, nos paizes largamente tributados o sys-
tema livre de governo, com. a responsabilid~de do
funccinario electivo perante o povo contribuinte,
offerece a mais solida garantia de ~elo administrtvo.
Si o imposto se vota livromenL para servios do in-
teresse immediato da localidade, e de que e1la juiz
soberano,. S('ID dependencia da tutela governamental;
si para o abuso da autoridade executiva la a repres-
so dos tribunacs, alm da revogao do mandato
nas el ies pel'lodica. j ento mui provavel que a
elova0 dos 'oramentos correspon~a a neces~idades
geralmente reconhecidas, e produza vantagens apre-
ciadas. pelo povo de cada localidade.
E' por isso unicamente, pela realidade do selfgo-
ve1'n?nent, pela sua administrao descentralisada ou
federal, que os Estados-Uildos, a Inglaterra.e as
Colonias britanicas no duvidam tributar-se em som-
mas enormes. las fra razoavel espe~'ar o mesmo de
336 PARTE TEROEIRA
gm'aes.
J. . . . "
teria j tributada por lei geral, de que tam bem no occuparemos ll).
No lhe escapa nem o debatido ponto do juizo fiscal pam impostos
provinclaes Jart. 4,), assumpto em qu reconhece a semlJla'
o dire'ilo de pl'efer ir!3m um dos dous juizos, o commllm ou o da fazenda
nacional, limitada competencia qua ali' lhes fm conte tada outr'ora,
Assim, e conforme e exprime o autor dos E s/1ldos pt'alicos no 290,
no podem ellas creal' juizes no os, proprios eu, pal'a a al'l'eeadao
judicial dos impostos, nem decretar uma ordem nova de processo
para essa arrecadao, Entretanto, esse me mo autor que diz: "No obsta
o acto addicional', antes lhe ci isso conforme, a crue, todas as vezes que ha
alguma cousa de local, de peculiar no imposto provincial e necessidade de
providencia especial, ainda mesmo para a arrecadao judicial, po' am as
assemblas provinciaes dar em suas leis es as providencias, para as quae ,
por serem especiae,; e tocaes, el'ia a as 'embla geral impropria e incompe-
tente. Ora, esta justameute a razo que peJa nossa parte invocamos para
reconhccer a~ assemblas a mais lata oompetencia a tal respeito, podendo
al crear' juiz privativo e processo espccialissimo, como cada uma melhor
ntender. Demais, seguudo j advertimos (Parte lI, capo VII, 1.0), ao poder
legislativo provincial pertence organi 'ai' lodas as justia locaes ou de pri_
meira in lancia.
INTERESSES PROVINCIAES 33g-
1 t.ap. v.
340 !ARTE TERCEIRA
da criao.
352 PAR~E TERCEIRA
equipamento, 129:384$.
6. o Inspectol'es de sade publica, 5:600$.
7. Instituto de educandas do Par, 2:000l).
0
CAPITULO VII
2' Sl 2), pode o congresso conferil; a nomeao para empregos secunda rios
ou s ao pre idente, ou aos tribunaes de justia, ou aos cbefes das repar-
ties"
t ( Nenhum partido jamais remover inteiramente as restrices Ida lei de
18G7), e deixar o pt"Ovimento dos empregos inteira e exclusivamente ao ar-
btrio do presidente. O verdadeiro mal procede do demasiado padroado
exercido pelo' exeeutivo, e das illl1uoucia' corruptoras por tanto tempo
abertamente empregada Rm diri"ir as eleios por meio desse padroado fede-
ral. O mal s se poderia extinguir, e as eleies pre idenciaes s e tornariam
paciHcas e pura com uma refo["ma organica, que conferi -o a o colha dos
funccionarios federaes a quem a constituies dos estados a teem geral-
mente conferido, - ao povo. Si o tempo tem demonstrado que o principio
democratico da electividado pOde SOl' deixado sabedoria da e"colha popu-
lar, porque no se applicaria a mosma regl'U a muita classes de emprrgados
federaes? Pasr.hal, AnllotaleC! Const'itnlion; n. 184.
A PROVo 40
INTERESSES PROVINClAES 387
CAPITULO VIII
CONCLUSO
1 V, o Appendice.
CONCLUSO 401
(P. 400)
RECEITA
Amazonas . 91:103~
Par . 4.077:218~
Maranho. . . . . . . . . . . . . 2.791:334~
Piauhy . 207:065~
Cear . 2.815:446~
Rio Grande do Norte . 591:718~
Parahyba .. 706:741~
Pernambuco 13.935:056~
Alagas . 756:989~
Sergipe . 364:547~
Bahia . 9.584:943~
35.922:26~
408 . ENDIC.J
DESPHZA
1l.504:636~
Total. 29,579:60~
414 APPENDIOE
Em resumo:
Satisfaz o Norte, na parte que lhe compete, a todos os en-
cargos da unio.
Paga as despezas da administrao geral nas suas pro-
vincias.
Paga ('s ;:ervios que lhes interessam, vapores e estradas
de fenu.
Paga, alm da que nellas se effectua, a quota relativa da
despeza com o exercito e a armada.
Pl:ga a quta igualmente da representao nacional o da
administrao cen traI.
Paga os tributos legados pelas guerras do . 'ul, sotfre o pa-
pel-moeda, atura a divida pblica.... Ainda mais: remette
ao Rio de Janeiro saldos liquidos, algnns milhares de
contos.
Deve acaso, por c6.mulo de males, soportar a centralisao?
No sobejamente pesada a llnio pelos seus onus financei-
ros? Ha de seI-o ainda, perpetuamente, por sua organisao
interna. '?
IN'DICE
PREFACIO, .. , , , , . . . V
PARTE PRIMEIRA
CENTRALISAO E FEDERA-
PARTE SEGUI DA
PARTE TERCEJRA
INTERESSE,' PIWVINClt\.ES
CONCLU O , 395
ERRATAS
Pug. 197, linhas 14-15 : 7'eO I 'lts c,'iillillal (}lU \ez de ,'eo"as do jJ;'OC8SS0 Cj'iJll-
>1al. ,
16-17 : pI'oierto da p,'nressu de ..elm'1il1l em ,ez de 111'O;8e10 de
"'CfOJ'iJIO.
248. 6-7: as prov;IINas em vez d(' das PI'(}fIillCias.
255, 13 : pOl' 1Itilidade '{I7thliNl em vez do pOl' bem da mOI'alicla-
de fJlblica.