Dossie Ditadura
Dossie Ditadura
Dossie Ditadura
Sumário
Este livro conta a tragédia de centenas de pessoas, que pereceram em confronto com o regime po-
lítico autoritário, instalado no Brasil após o golpe militar de março-abril de 1964.
Não se trata de figuras de ficção, sem corpo e sem alma; não estamos, aqui, diante de simples dados
estatísticos. Trata-se de homens e mulheres com uma identidade própria e inconfundível, cujas vidas
foram brutalmente ceifadas. Homens e mulheres que, como todos nós, tiveram infância e adolescência,
riram, choraram, brincaram, amaram, sentiram ódio e indignação, pavores e alegrias. Pessoas que não
voltam mais, e cujas personalidades, únicas e irreprodutíveis, vão aos poucos se apagando no coração dos
parentes e amigos, antes que estes, por sua vez, desapareçam do mundo dos vivos.
Este Dossiê foi composto para preservar a sua memória.
Lendo qualquer de suas páginas, temos vontade de baixar a cabeça e chorar; ou, então, de rezar e
meditar sobre o mistério da Vida e da Morte.
Mas dentro de cada um de nós a consciência ética se revolta e não admite que a leitura destes resu-
mos biográficos provoque apenas reações emocionais. Queremos compreender, temos de compreender.
Como foi possível tanta estupidez, tanta frieza na maldade? Por que razão tudo isso aconteceu entre nós
durante anos, sob o olhar indiferente da maioria esmagadora da população? É decente virar as costas para
essa fase ignominiosa da História brasileira, sem se importar com a identificação e a punição dos man-
dantes, financiadores e executantes de todos os crimes aqui descritos?
Para compreender o clima de brutalidade que se instalou no Brasil, com maior intensidade a partir
de 1964, é preciso enxergar o fundo da cena política. Ele é sempre o mesmo, em todas as épocas de
nossa História. Por trás do proscênio, protocolar e enganoso, divisamos a ação constante de um poder
truculento, ao mesmo tempo temido e admirado pelo povo. A brutalidade dos governantes é vista como
um fato inevitável e, por isso mesmo, até certo ponto normal. Mas a revolta dos governados, esta é,
desde logo, estigmatizada como manifestação de alarmante desordem.
As origens desse sistema de violência oficial e da sua generalizada aceitação pela consciência popular
remontam, obviamente, aos vários séculos de extermínio sistemático de indígenas e de escravização de
africanos e afrodescendentes.
O apresamento de índios para servirem como mão-de-obra escrava dos colonizadores brancos, in-
clusive dos altos funcionários nomeados pela Coroa portuguesa, aqui estabelecidos como proprietários
rurais, perdurou até a época pombalina, no final do século XVIII. No Norte do Brasil, o pretexto para
tal prática era grosseiro: faziam-se entradas para resgatar índios que teriam sido mantidos como escravos,
após uma guerra tribal. O falso resgate justificava, aos olhos do governo colonial e da Igreja, o estabele-
cimento de um novo cativeiro, doravante em proveito dos brancos. Mas quando a expedição oficial era
recebida no sertão com hostilidade, não se hesitava em dizimar tribos inteiras.
Quanto à enorme população negra escravizada durante quase quatro séculos, a brutalidade perma-
nente constituía um regime normal de vida.
As punições faziam-se à vista de todos, nos pelourinhos, geralmente pelo açoite. Era freqüente apli-
car aos infelizes, até as vésperas da abolição, 200 ou 300 chibatadas, quando o Código Criminal do
Império as limitava ao máximo de 50 por dia. Mas em casos de faltas consideradas graves, os patrões não
hesitavam em infligir mutilações: dedos decepados, todos os dentes quebrados, seios furados. A Câmara
Municipal de Mariana, em Minas Gerais, por exemplo, autorizou em provimento de 1755 que fosse
seccionado um dos tendões de aquiles dos negros fugidos recapturados, de modo que eles continuassem
a trabalhar, sem poderem mais se evadir.
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As correntes de esquerda e direita imediatamente escolheram o seu próprio rumo ideológico. Para
a direita, a escolha recaiu na nação, na raça ou na tradição. Para a esquerda, o caminho salvador era a
revolução.
Desde o final do século XVIII, com a independência dos Estados Unidos e a liquidação do Ancien
Régime na França, o termo “revolução” passou a significar, no vocabulário político moderno, a renova-
ção completa e subitânea das estruturas sociopolíticas de um país, realizada por meio da violência. Esta,
como disse Karl Marx, “é a parteira de toda sociedade velha, que traz uma nova em suas entranhas” (O
Capital, livro primeiro, v. II, parte sétima, cap. XXIV). Nessa visão da História, o uso da força bruta
seria sempre legitimado pela justiça intrínseca dos fins almejados. Nem se haveria de temer, com isso,
nenhuma violação dos direitos humanos, pois estes nada mais seriam do que “preconceitos burgueses”.
Pois bem, ao chegarmos à segunda metade do século XX, o conflito ideológico estendeu-se a todos
os continentes, sob a forma de um confronto decisivo entre as hostes do comunismo e as do assim cha-
mado mundo livre.
Os intelectuais orgânicos do sistema capitalista, experimentados na arte da propaganda comer-
cial, perceberam, sem tardar, a importância da arma ideológica. O mote, por eles repetido à exaus-
tão nos quatro cantos do mundo, passou a ser o combate de vida ou morte contra o comunismo,
pois ele punha em xeque os valores morais e espirituais do Ocidente. Obtinha-se, com isso, não só
o concurso ativo das organizações religiosas para essa nova cruzada ou guerra santa, como também
a passividade complacente das massas miseráveis, totalmente indiferentes à defesa dos interesses
materiais da classe rica.
Faltava, porém, conseguir a adesão do estamento militar, que monopolizava o uso da força armada
e não tinha, a rigor, nenhuma razão particular para defender o capitalismo. O discurso utilizado para
tanto foi outro: invocou-se – em estilo repassado de temor e indignação, conforme as circunstâncias – a
defesa da pátria contra o inimigo externo e o traidor interno.
Os grandes empresários, para os quais o capital nunca teve nacionalidade, aderiram com entusias-
mo a esse discurso patriótico, e ofereceram generosa contribuição pecuniária à obra de salvação nacional.
Entre 1969 e 1979, um grupo de banqueiros e homens de negócio radicados em São Paulo, alguns deles
representantes de empresas multinacionais, foram recrutados pelo então ministro da Fazenda, Antônio
Delfim Neto, para financiar a montagem da chamada “Operação Bandeirante”, banco de ensaio dos
futuros DOI-CODI (veja-se, a esse respeito, Elio Gaspari, A Ditadura Escancarada, p. 60 e ss.).
Na verdade, a guerra contra o perigo comunista já havia sido lançada com êxito pelo governo Ge-
túlio Vargas, desde a rebelião militar de 1935. Ensaiaram-se, então, algumas formas de repressão brutal,
depois retomadas pelos sucessivos governos militares a partir do golpe de 1964. Nas Memórias do Cárce-
re (terceira parte, cap. 12), Graciliano Ramos refere o modo como foi recebido, na colônia correcional,
o grupo de presos de que ele fazia parte. Acordados no meio da noite com o grito de “formatura geral”,
os prisioneiros ouviram atônitos, de um jovem meganha, a seguinte advertência: “Aqui não há direito.
Escutem. Nenhum direito. Quem foi grande esqueça-se disto. Aqui não há grandes. Tudo igual. Os que
tem protetores ficam lá fora. Atenção! Vocês não vem corrigir-se, estão ouvindo? Não vem corrigir-se;
vem morrer”.
O episódio prenunciou, de modo sinistro, o que veio a ocorrer um quarto de século depois, nas
masmorras do regime autoritário instalado em abril de 1964.
De todo esse drama, podemos e devemos extrair duas conclusões, uma para os mortos e outra para
os vivos.
Quanto aos que se foram, importa dizer que todos eles morreram no bom combate, pois deram
suas vidas pela reumanização da nossa sociedade. O seu sacrifício extremo contribuiu, decisivamente,
para pôr a nu o caráter ignominioso do regime militar. Nesse sentido, não devem ser inscritos no rol dos
vencidos, mas dos vencedores.
Já para todos nós que sobrevivemos e, sobretudo, para os jovens de hoje, a lição a tirar do drama dos
combatentes, cuja memória se procura conservar neste Dossiê, é que a atividade política representa a
suprema dimensão da vida ética.
Tocar nos corpos para machucá-los e matar. Tal foi a infeliz, pecaminosa e brutal função de funcio-
nários do Estado em nossa pátria brasileira após o golpe militar de 1964.
Tocar nos corpos para destruí-los psicologicamente e humanamente. Tal foi a tarefa ignominiosa
de alguns profissionais da Medicina e de grupos militares e paramilitares durante 16 anos em nosso país.
Tarefa que acabamos exportando ao Chile, Uruguai e Argentina. Ensinamos outros a destruir e a matar.
Lentamente e sem piedade. Sem ética nem humanismo.
Macular pessoas e identidades. Perseguir líderes políticos e estudantis. Homens e mulheres, em
sua maioria jovens. É destas dores que trata este livro. É desta triste história que nos falam estas páginas
marcadas de sangue e dor.
Vejo o próprio Cristo crucificado nestas páginas e suas sete chagas de novo abertas diante de nossos
olhos. Nossa missão humana e cristã ainda não terminou, pois ainda existem corpos na cruz. Existem
pessoas injustamente torturadas em novos antros de tortura. Os impérios do poder especializaram-se
nas armas e nos métodos. Dos pregos, correias e espinhos que mataram Jesus em Jerusalém, passou-se
às fitas de aço, fios elétricos forjando cruzes maiores e mais pesadas. Com a inteligência do demônio e a
vontade deliberada de fazer o mal.
Em documento publicado pelo Comitê Brasileiro pela Anistia, secção do Rio Grande do Sul, sob
os auspícios da Assembléia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul, em 1984, tínhamos já uma lista
incompleta de 339 mortos ou desaparecidos sob o domínio da macabra Ideologia da Segurança Nacio-
nal, fiel suporte das ditaduras militares latino-americanas.
Hoje temos em mãos documento mais longo, fruto de séria pesquisa dos próprios familiares nestes
últimos dez anos. Fatos novos surgiram. Documentos e valas foram abertos e revelados com muita luta
e muito empenho. Também com muita dor e muito sofrimento.
Vejo, com o olhar da fé, nestes que morreram assassinados, também surgir a esperança na ressurrei-
ção. Deles e de toda a nossa gente brasileira. Pois, como dizia santamente nosso amigo e mártir, monse-
nhor Oscar Arnulfo Romero y Gadamez, arcebispo assassinado pelas mesmas forças da repressão em El
Salvador: “Se me matarem ressuscitarei no povo Salvadorenho”.
Sim, para os que crêem e têm fé, a certeza da morte nos entristece, mas a promessa da imortali-
dade nos consola e reanima. A certeza de que Deus Pai não suporta ver seus filhos amados na cruz nos
confirma a ressurreição como o grande gesto vitorioso diante de todos os poderes da morte, do mal e da
mentira. Pois, como diz o Apóstolo Paulo: “Realmente está escrito: Por tua causa somos entregues à morte
todo o dia, fomos tidos em conta de ovelhas destinadas ao matadouro. Mas, em tudo isso vencemos por Aquele
que nos amou”. (Rm 8,36-37).
Ainda há muito o que fazer para que toda a verdade venha à tona.
Ainda há muito que fazer para que nossa juventude jamais se esqueça destes tempos duros e injustos.
Ainda há muito por esclarecer para que a verdade nos liberte e para que não tenhamos “aquele”
Brasil nunca mais.
Há ainda muito amor e compaixão em nossos corações capazes de vencer toda dor e todo sofrimen-
to que nos infligiram.
Existem ainda muitos ombros amigos junto aos familiares dos mortos e desaparecidos que torna-
ram palpável e possível a esperança. E que afastaram o desânimo e o medo nas horas difíceis.
Ombros largos como os do grande senador Teotônio Vilela até ombros femininos e corajosos como
os da impecável prefeita Luiza Erundina de Sousa.
1 A medalha foi instituída como uma resposta ao Comando Regional do Leste, antigo I Exército, que, ao comemorar o
25º aniversário do golpe militar de 1964, homenageou com a Medalha do Pacificador vários conhecidos integrantes do
aparato repressivo dos anos 1960 e 1970.
No Brasil, a radiografia dos atingidos pela repressão política durante a ditadura militar1 (1964-1985)
não está concluída. Ainda observamos uma lacuna entre passado e presente, marcada pela ocultação dos
acontecimentos, a negação ao direito à verdade e à justiça, limitando a ação reparadora e impedindo
a articulação e transmissão da herança e da memória desses anos de violência. Podemos dizer, porém,
que cerca de 50 mil pessoas foram presas somente nos primeiros meses de ditadura; há pelo menos 426
mortos e desaparecidos políticos no Brasil (incluindo 30 no exterior); um número desconhecido de
mortos em manifestações públicas; 7.367 indiciados e 10.034 atingidos na fase de inquérito, em 707
processos na Justiça Militar por crimes contra a segurança nacional; 4 condenações à pena de morte;
130 banidos; 4.862 cassados; 6.592 militares atingidos; milhares de exilados; e centenas de campo-
neses assassinados; e, até o momento, 24.560 vítimas de perseguições por motivos políticos foram
anistiados (TELES, J. A., 2005)2.
Visando resgatar as memórias e histórias dos mortos e desaparecidos políticos, diversos grupos de
familiares e militantes de defesa dos direitos humanos organizados em diferentes estados brasileiros têm
trazido ao conhecimento da sociedade acontecimentos silenciados sobre a repressão política durante a
ditadura militar brasileira.
A ditadura instaurada com o golpe de 1964 desde o início cometeu atrocidades e violações aos
direitos humanos. Depôs o governo legitimamente eleito pelo voto popular e revogou seus atos em
prol da reforma agrária e do controle da remessa de lucros obtidos pelas empresas estrangeiras em ter-
ritório nacional. Milhares de pessoas foram presas, torturadas e tiveram seus direitos civis e políticos
cassados por defenderem posições ideológicas diferentes das do governo. Outras tantas conseguiram
escapar para o exílio.
Os fundamentos da Doutrina de Segurança Nacional aniquilaram o estado de direito. De acordo
com essa doutrina, o principal inimigo estava dentro do próprio país e deveria ser procurado entre o
povo. Para defender o estado de segurança, justificava-se a violação aos direitos humanos e constitu-
cionais. A censura à imprensa impedia que a maioria tivesse acesso às informações. Enquanto isso, nos
bastidores do governo, aos poucos se revestia de importância o Serviço Nacional de Informações (SNI),
criado em 13 de junho de 1964 com o objetivo de produzir e operar informações conforme os interesses
da ditadura e de seus aliados.
O Poder Executivo passou a ter prerrogativas extraordinárias com o advento do Ato Institucional
nº 5 (AI-5), em 13 de dezembro de 1968, e partes do ato foram incorporadas ao texto constitucional.
A expansão do SNI e o crescente protesto popular tiveram como conseqüência o recrudescimento da
repressão política. Em 1969 foi criada, em São Paulo, a Operação Bandeirante, chamada de “Oban”, um
aparato repressivo centralizado composto por integrantes das Forças Armadas, Polícia Política Estadual,
Polícia Militar, Departamento da Polícia Federal, entre outros. A Oban serviu de modelo para a implan-
tação, em escala nacional, de um organismo oficial: os Centros de Operações de Defesa Interna-Desta-
camentos de Operações e Informações, mais conhecidos como “DOI-CODI”. Complementando essas
1 Utilizamos a nomenclatura mais conhecida, embora diversos historiadores tenham adotado o termo ditadura civil-militar
para destacar a participação ativa de civis na articulação do golpe de Estado de 1964 e na manutenção da ditadura que se
seguiu.
2 De acordo com o Ministério da Justiça, 60.347 pedidos de anistia ou indenizações em função de perseguições durante a
ditadura foram apresentados à Comissão de Anistia. Desde sua criação, em 2001, foram deferidos 24.560 casos e rejeitados
12.710 pedidos. Ver Balanço da Comissão de Anistia 2007. Brasília, DF: Ministério da Justiça, Comissão de Anistia, 2008.
Disponível em <www.mj.gov.br>.
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José Ferreira de Almeida é o primeiro morto oficial assassinado no período da “distensão política”.
Sua morte foi divulgada em julho de 1975 como “suicídio”. A opinião pública, entretanto, somente se
mobilizou com o caso de Vladimir Herzog, jornalista assassinado sob tortura em 25 de outubro daquele
ano, cuja morte também foi divulgada como “suicídio”. Sua família e o Sindicato dos Jornalistas de São
Paulo contestaram a versão oficial de que Herzog teria se suicidado, o que desencadeou um movimento
de protesto com repercussão internacional. Nessa ocasião, iniciaram-se articulações para constituir um
movimento em favor da anistia para os presos políticos.
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período da ditadura; a contagem do tempo para fins previdenciários para os que foram impedidos de
trabalhar por motivos políticos; retorno ao curso escolar interrompido ou reconhecimento de diploma
obtido no exterior.
Restavam pendências, por isso foi criada no Congresso Nacional uma comissão para elaborar uma
legislação que pudesse dar conta de todas as reivindicações. O projeto foi finalmente aprovado em no-
vembro de 2002, transformando-se na lei 10.559. A Comissão de Anistia do Ministério da Justiça reu-
niu todos os processos de anistia em âmbito federal, porém não foi capaz de estabelecer um critério claro
para a ordem de votação dos processos e de valores a serem pagos, e tem sido alvo de diversas críticas.
Mesmo assim, a lei obriga o Estado a promover a reparação de maneira a abranger o maior contingente
possível, incluindo não apenas os ex-presos políticos, mas também exilados e perseguidos políticos da
ditadura.
Tradicionalmente, a anistia é um ato do poder público visando extinguir todas as conseqüências da
punição aos que foram acusados de crimes políticos. A anistia não poderia ser recíproca, tendo em vista
que não podemos pressupor lícito ao autor de delitos declarar uma auto-anistia, sem julgamento. En-
tendemos que os crimes contra a humanidade, como a tortura e o desaparecimento forçado, de acordo
com o que estabelece o Direito Internacional de Direitos Humanos, são imprescritíveis e não passíveis
de anistia. Assim, a anistia deveria alcançar todas as pessoas que lutaram por seus projetos políticos ou re-
sistiram à ditadura em diferentes formas de luta. No Brasil, contudo, permaneceram impunes os crimes
da ditadura. Após tantos anos de redemocratização, a impunidade inspira e alimenta a tortura praticada
nas delegacias e presídios do país, direcionada, preferencialmente, contra os miseráveis, e repercute no
crescente aumento da violência urbana e no campo.
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explicadas pela reitoria. Badan Palhares foi substituído por José Eduardo Bueno Zappa, e o médico-
legista Carlos Delmonte foi encaminhado pela Secretaria da Segurança Pública para o DML/Unicamp.
As respostas dadas por intermédio da Procuradoria Geral da Unicamp foram evasivas e contraditórias.
Em abril de 1997, os familiares receberam cópias do relatório “Projeto Perus”, assinado pelo Dr.
Zappa, e do ofício do Dr. Carlos Belmonte. Tanto o relatório (primeiro documento oficial do DML/
Unicamp a respeito das ossadas) quanto o ofício do médico-legista da Secretaria de Segurança foram
evasivos e dedicados a elogiar o Departamento de Medicina Legal da universidade.
Foi criada, em fevereiro de 1998, uma Comissão Especial para sugerir as providências necessárias
à conclusão dos trabalhos de identificação dos presos políticos enterrados na Vala de Perus, presidida
pelo médico-legista Dr. Antenor Chicarino e composta por familiares e representantes da Secretaria da
Cultura e da Justiça do Estado de São Paulo. A comissão, após realizar vistoria nas dependências do
DML/Unicamp, constatou a precariedade do acondicionamento das ossadas e o comprometimento
das investigações, pois os esqueletos estavam em sacos abertos e sem identificação, jogados no chão sujo
de lama, em razão da inundação que atingiu o prédio, e com pesados móveis sobre os mesmos. Diante
dessa situação, a comissão indicou a transferência das ossadas para o Instituto Oscar Freire, do Depar-
tamento de Medicina Legal da USP, com a participação de perito internacional como observador, e que
tal transferência só fosse realizada após minuciosa averiguação da real situação das ossadas, quando se
estabeleceria um prazo para o término das investigações.
O relatório da comissão especial contendo as propostas ora mencionadas foi entregue aos secretários
de Justiça e de Segurança Pública em abril de 1998, mas não houve resposta alguma das autoridades. Em
março de 1999, membros da comissão extinta realizaram uma reunião com o então secretário de Segu-
rança Pública do Estado de São Paulo, Marco Vinícius Petroluzzi, que se comprometeu a pronunciar-se
a respeito das soluções propostas em abril de 1998.
Em 31 de março de 1999, a família de Flávio Carvalho Molina, militante do Molipo, assassi-
nado em 7 de novembro de 1971 em São Paulo, propôs Medida Cautelar Incidental com pedido de
concessão de liminar para a produção de prova, a fim de instruir a Ação de Ressarcimento de Danos
proposta em 1992: “[…] no sentido de determinar a imediata perícia – exame de DNA nas ossadas
que restam na Unicamp – […] mais precisamente as que receberam os números 240 e 57 […]”, para
realizar a identificação de seus supostos restos mortais. A ação solicitava que, caso a Unicamp não
pudesse realizar tal prova pericial, as ossadas deveriam ser transferidas para um local seguro, onde
fosse possível fazer o exame necessário.
Em setembro de 1999, o Ministério Público Federal (MPF) instaurou o inquérito civil 06/99 para
apurar o encaminhamento dado às investigações sobre os restos mortais de Flávio Carvalho Molina e das
ossadas da Vala de Perus, na Unicamp. O MPF, atendendo a uma solicitação do Grupo Tortura Nunca
Mais/Rio de Janeiro (GTNM/RJ), iniciou a apuração porque a universidade, responsável pelas pesquisas
desde 1990, não apresentou nenhum relatório conclusivo das mesmas.
Após a realização de diversas diligências e atendendo ao pedido dos familiares, o MPF constatou
que não seria mais possível continuar os trabalhos na Unicamp. Em novembro de 2000, a Secretaria de
Segurança Pública do Estado de São Paulo indicou o Dr. Daniel Munhoz, professor da USP e médico-
legista do IML/SP, como responsável pelos trabalhos de identificação das ossadas. Promoveu-se, então,
em janeiro de 2001, a transferência dos documentos relativos à Vala de Perus em poder da Unicamp,
como também das sete ossadas suspeitas de pertencerem a Flávio Carvalho Molina, Hiroaki Torigoe e
Luiz José da Cunha para o IML/SP. Além dessas ossadas, foi transferida também uma outra, do Cemi-
tério de Xambioá, supostamente pertencente a Francisco Chaves, que não possui material de familiares
para confronto do DNA. No fim de maio de 2001, as ossadas restantes foram transferidas para as gavetas
do Columbário do Cemitério do Araçá, em São Paulo, para serem classificadas.
Depois da realização de diversas reuniões semestrais com a equipe da Universidade de São
Paulo e do IML, constatou-se que ela procedeu com demasiada informalidade os procedimentos
de encaminhamento do material ósseo visando à extração do DNA e à realização dos exames de
identificação em outras universidades e países. Tanto a universidade quanto a Secretaria de Segu-
rança Pública não conseguiram adquirir tecnologia suficiente para a realização desses exames e não
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não se distingue um esqueleto completo. Apesar disso, vários crânios e outros ossos foram retirados e
acondicionados em 17 sacos plásticos para serem examinados.
Em março de 1993, a equipe encerrou o trabalho pela falta de financiamento e impossibilidade
de sustentá-lo com apenas três pessoas. As ossadas catalogadas foram guardadas no Hospital Geral de
Bonsucesso. O local da vala continuou resguardado – no futuro, pretende-se construir naquele lugar
um memorial em homenagem aos militantes e pessoas enterrados ali. Os nomes dos presos políticos
sepultados nessa vala são: Ramires Maranhão do Vale e Vitorino Alves Moitinho, ambos considerados
desaparecidos; José Bartolomeu Rodrigues da Costa, José Silton Pinheiro, Ranúsia Alves Rodrigues,
Almir Custódio de Lima, Getúlio de Oliveira Cabral, José Gomes Teixeira, José Raimundo da Costa,
Lourdes Maria Wanderley Pontes, Wilton Ferreira, Mário de Souza Prata e Luís Guilhardini. Outros
dois militantes foram sepultados em valas comuns no Rio de Janeiro: no Cemitério de Cacuia está Seve-
rino Viana Colou e no de Santa Cruz, Roberto Cieto.
No Cemitério de Santo Amaro, no Recife (PE), os despojos dos mortos da “Chacina da Chácara
São Bento” também foram enterrados em uma vala clandestina. Em 1973, o delegado da polícia paulista
Sérgio Paranhos Fleury matou militantes da VPR em um suposto tiroteio ocorrido naquela chácara,
delatados pelo agente policial conhecido como Cabo Anselmo. As pesquisas realizadas pela CEMDP,
instituída pela lei 9.140/95, comprovaram que todos foram presos e torturados antes de serem levados
para a chácara São Bento. Não foi possível realizar as investigações nessa vala, pois as ossadas não foram
separadas em sacos plásticos, o que tornou inviável os trabalhos de identificação. Estão enterrados na
vala do Cemitério de Santo Amaro os seguintes presos políticos assassinados: Eudaldo Gomes da Silva,
Evaldo Luís Ferreira de Souza, Jarbas Pereira Marques, Pauline Reichtul e Soledad Barret Viedma. José
Manoel da Silva, também vítima da chacina, teve seus restos mortais resgatados pela sua esposa, antes
que fossem transferido para a vala clandestina, mas apenas em março de 1995 ela pôde enterrá-lo em
sua cidade natal.
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um médico foi cassado. Naquela ocasião, porém, o Conselho Federal de Medicina (CFM) não confir-
mou a cassação alegando problemas formais no julgamento. Em 1979, o presidente-general João Batista
Figueiredo baixou o decreto-lei 6.681, excluindo os médicos militares da ação disciplinar dos CRMs. A
aplicação do decreto gerou controvérsias judiciais.
Em 1988, por meio das denúncias da ex-presa política Inês Etienne Romeu e com o apoio do
Grupo Tortura Nunca Mais/RJ, foi possível a cassação do registro profissional do psiquiatra Amílcar
Lobo, que auxiliou as equipes de torturadores no DOI-CODI/RJ, entre 1970 e 1974. No ano seguinte,
sua punição foi confirmada pelo CFM. Em 1992, os médicos psicanalistas Leão Cabernite e Ernesto
La Porta foram cassados pelo Cremerj por acobertarem as atividades de Amílcar Lobo. Leão Cabernite
foi o analista didata de Lobo e processado por omissão, conivência, cumplicidade e respaldo às práticas
exercidas por ele. Em 1994, contudo, as cassações desses dois médicos foram revistas pelo CFM: Leão
Cabernite foi suspenso por 30 dias e La Porta teve seu processo arquivado em 1999.
Em 1993, o GTNM/RJ denunciou ao Cremerj José Lino Coutinho de França Neto, o Dr. Cou-
tinho, que atuou em um quartel da Ilha das Flores (RJ), em 1969, acompanhando sessões de tortura
a fim de determinar o limite de resistência dos presos políticos. Seu registro de médico foi cassado em
março de 1999. Finalmente, em 15 de setembro de 2007, a cassação do Dr. Coutinho foi referendada
pelo CFM.
Em 2000, foi cassado pelo Cremerj o médico Rubens Pedro Macuco Janini, responsável por assinar
o laudo falso que encobriu o assassinato sob tortura de Chael Charles Schreier, militante da VPR, em
novembro de 1969, Marilene Vilas-Boas Pinto, militante do MR-8, morta em abril de 1971, e Luiz
Guilhardini, dirigente do PCdoB, assassinado em janeiro de 1973, entre outros. Macuco Janini notabi-
lizou-se também por assinar o laudo do cadete Márcio Lapoente, vítima de tortura em treinamento na
Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), em Resende, Rio de Janeiro, em 1990.
O médico-legista Roberto Blanco dos Santos, nome que consta do processo no Cremerj, foi nome-
ado delegado da 19ª Delegacia de Polícia (Tijuca), em 1994. Em novembro desse ano, foi denunciado
como autor das torturas sofridas por vários moradores do morro do Borel, durante a “Operação Rio”.
Apesar de denunciado, ele continuou no cargo.
O médico e coronel-de-brigada Ricardo Agnese Fayad foi cassado pelo Cremerj em 1994, por ter
auxiliado torturadores quando trabalhou no DOI-CODI/RJ, entre 1970 e 1974. Em 1996, um tribu-
nal regional de Brasília permitiu que ele continuasse a exercer a profissão. O caso ganhou notoriedade
em 1998, por ocasião de sua nomeação ao cargo de subdiretor de saúde do Exército, quando já havia
obtido a patente de general-de-brigada. Os Conselhos Federal e Regionais de Medicina do país pediram
seu afastamento ao então presidente Fernando Henrique Cardoso. A nomeação foi revogada, mas Fayad
conseguiu um cargo de assessoria no Ministério do Exército. Em 2002, o STJ anulou a sentença de 1996
e manteve sua cassação.
Em decorrência das pesquisas da Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos e
dos Grupos Tortura Nunca Mais, foram encontrados vários laudos de necropsia e fotografias de perícias
de local que mostram claramente as torturas sofridas pelos militantes assassinados. Os documentos des-
mentem as versões oficiais de que esses militantes teriam sido mortos em tiroteios, atropelamentos ou
cometeram suicídio. Essas versões, entretanto, foram confirmadas nos laudos de necropsia realizados por
médicos-legistas que omitiram as marcas de torturas.
Embora os médicos-legistas assinalassem “não” no quesito nº 4 – que pergunta se a morte foi pro-
duzida por torturas ou por outro meio degradante e cruel – ou “prejudicado”, quando queriam indicar
estarem impossibilitados de responderem se houve tortura, muitas vezes descreviam em detalhes os
ferimentos sofridos. Contudo, por meio das fotos de necropsia e perícia de local, foi possível refazer os
laudos e compará-las com as descrições realizadas à época. Desse modo, foram levados adiante os proces-
sos éticos contra médicos-legistas que não descreviam como os corpos estavam realmente, ou negavam
a ocorrência de tortura. As versões policiais foram desmentidas também com a descoberta de novos
documentos e os depoimentos registrados durante os trabalhos de investigação da CEMDP.
Em 1990, iniciaram-se nos Conselhos Regionais de Medicina do Rio de Janeiro e de São Paulo pro-
cessos para apurar a responsabilidade dos médicos-legistas que assinaram laudos falsos de presos políticos
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de iniciativa do Poder Executivo e coordenada pelo Ministério da Justiça, composta por membros dos
poderes Legislativo e Judiciário e representantes da sociedade civil. Essa comissão estudaria caso a caso as
mortes e os desaparecimentos ocorridos durante o período de 1964 a 1985. Propunha-se resgatar como,
onde, e em que circunstâncias ocorreram as mortes e os desaparecimentos forçados, e quem foram os
responsáveis. Por solicitação da Comissão de Representação Externa, as Forças Armadas, via Ministério
da Justiça, entregaram um relatório sobre os mortos e desaparecidos políticos, e, apesar da grande reper-
cussão a respeito dos relatórios, o presidente Itamar Franco não respondeu à proposta dos familiares e
demais entidades.
Em outubro de 1993, os familiares de mortos e desaparecidos políticos, com o apoio do GTNM/
RJ, iniciaram uma vigília em frente à Câmara Municipal do Rio de Janeiro. O objetivo do protesto era
pressionar o presidente Itamar Franco para que ele enviasse à Câmara dos Deputados o projeto do mi-
nistro da Justiça, Maurício Corrêa, que previa a criação da comissão para apurar os crimes da repressão
política cometidos durante a vigência da LSN do regime de exceção, e a responsabilização dos envolvidos
nesses crimes. Simultaneamente, familiares de Brasília, Porto Alegre e Recife anunciaram seu apoio à
vigília, sem que conseguissem resultado algum.
No encontro realizado em São Paulo, em maio de 1994, os familiares lançaram uma “Carta Com-
promisso” aos candidatos à Presidência da República, insistindo na proposta apresentada ao presidente
Itamar Franco. Em agosto daquele ano, para lembrar os 15 anos da Lei de Anistia, a Comissão de Fami-
liares organizou um ato de entrega da carta aos representantes dos principais candidatos à Presidência.
Em abril de 1995, o secretário-geral da Anistia Internacional, Pierre Sané, cobrou do presidente
Fernando Henrique Cardoso uma resolução para a questão dos desaparecidos políticos no Brasil. Em
maio do mesmo ano, em Washington, a irmã de Pedro Alexandrino de Oliveira, desaparecido na Guer-
rilha do Araguaia, cobrou novamente de Fernando Henrique, em uma cerimônia pública, uma solução
para o problema. Com a pressão dos familiares, da Anistia Internacional, da Human Rights Watch,
da Federação de Familiares de Desaparecidos da América Latina (Fedefam), das entidades nacionais
defensoras dos Direitos Humanos, da Comissão Permanente de Direitos Humanos da Câmara Federal,
o ministro da Justiça, Nelson Jobim, marcou uma audiência durante a Semana Mundial do Preso Desa-
parecido. Na reunião, os familiares apresentaram sua proposta de criação de uma comissão especial para
discutir cada caso denunciado no livro Dossiê dos Mortos e Desaparecidos Políticos a Partir de 1964.
O chefe de gabinete do Ministério da Justiça, José Gregori, foi encarregado de elaborar um projeto
de lei a ser enviado ao Congresso Nacional. A imprensa noticiou, então, que somente os desaparecidos
seriam contemplados pelo projeto de lei. Por intermédio do secretário da Justiça de São Paulo, Belisário
dos Santos Jr., os familiares reuniram-se com José Gregori, quando ele se comprometeu a incluir no
projeto de lei um artigo permitindo a inclusão de novos nomes, após a apreciação da comissão especial
a ser criada pela lei.
Em julho de 1995, a Rede Globo de Televisão finalmente transmitiu o programa “Globo Repórter”
sobre a Vala de Perus realizado pelo jornalista Caco Barcellos em 1990, e anunciou também o projeto de
lei do governo a ser apresentado ao Congresso Nacional, em agosto. Em 28 de agosto do mesmo ano, os
familiares compareceram à sessão solene na Câmara Federal para homenagear os mortos e desaparecidos
e lembrar que a anistia não excluía o direito à verdade. Procuraram as lideranças de todos os partidos
políticos para reivindicar um debate sobre o projeto do governo no Congresso, possibilitando, dessa
forma, a inclusão de emendas. No entanto, o governo apresentou seu projeto para votação em caráter de
urgência urgentíssima e, em 4 dezembro de 1995, o presidente Fernando Henrique assinou a lei 9.140, a
Lei dos Mortos e Desaparecidos Políticos, sem nenhuma emenda.
As principais críticas apontadas pelos familiares à lei foram:
1. Eximiu o Estado da obrigação de identificar e responsabilizar os agentes que estiveram ilegal-
mente envolvidos com as práticas de tortura, morte e desaparecimento de opositores ao regime ditatorial,
pois a impunidade relacionada aos crimes cometidos no passado em nome do Estado é um passaporte
para a impunidade no presente.
2. Não responsabilizou o Estado pela apuração das circunstâncias de mortes e desaparecimentos,
cabendo aos familiares o ônus da comprovação das denúncias apresentadas. Os atestados emitidos sobre
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4. Outra não poderia ser a conclusão, uma vez que o substrato da responsabilidade do Estado declarada
pela Lei diz com a confissão de que houve prisões ilegais por agentes públicos naquele período e por aquelas
razões, não se justificando, assim, que se restrinjam as conseqüências jurídicas de tal reconhecimento ape-
nas aos casos de pessoas mortas quando já encarceradas.
5. Presentes as mesmas razões políticas e jurídicas não pode haver soluções diferentes. Por isto, também
fazem jus à indenização da Lei os familiares das pessoas que, detidas ou passíveis de o serem, em vez de
regularmente encaminhadas ao cárcere pelos agentes públicos, viram-se sumariamente executadas.
A Associação Americana de Juristas enviou à CEMDP parecer de autoria de Lenio Luiz Streck,
procurador de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, no qual apresentou outros aspectos dessa inter-
pretação:
[…] Melhor dizendo, vingasse a tese, estar-se-ia a admitir que o Estado só agiu à margem do Direito
dentro das prisões. E, conseqüentemente, a contrário sensu, fora das dependências policiais, ou (sic) asse-
melhadas, teria agido de acordo com a lei. É este, enfim, exatamente o ponto nodal da controvérsia, por-
que a contradição principal não reside na exegese, simplista, do alcance da expressão “ou assemelhadas”
do art. 4º da lei, mas, sim, no alcance da lei em relação à atuação do Estado fora ou dentro dos limites do
Estado de Direito. Frise-se, ademais, que, quando o Estado reconhece como mortas pessoas desaparecidas
em razão da participação em atividades políticas, não faz a restrição/exigência de que a morte tenha
ocorrido nas dependências policiais ou assemelhadas. […]
O laudo necroscópico de Carlos Marighella e o levantamento pericial da época, examinados pelo
legista Nelson Massini, evidenciavam que a cena de sua morte havia sido montada e que os agentes da
repressão política executaram Marighella na rua, colocando, depois, seu corpo em um carro para apa-
rentar o tiroteio que não houve.
O laudo e as fotos originais da autópsia de Carlos Lamarca foram entregues pela Polícia Federal
ao Ministério da Justiça. Seus restos mortais foram examinados pelo legista Nelson Massini, pelo perito
criminal Celso Nenevê e pelo IML de Brasília. O exame das fotos e a leitura do “Relatório Pajussara”,
onde está descrita a operação montada para seu assassinato, comprovaram que Lamarca foi executado
sem chances de defesa. A orientação da operação, segundo o relatório assinado pelo então major Nilton
de Albuquerque Cerqueira, era:
[…] localizar, identificar, capturar ou destruir o bando terrorista que atuana região de Brotas de Ma-
caúbas. Para isso:
1. Numa 1ª fase, intensificará a busca de informes.
2. Numa 2ª fase, após localizar e identificar o bando terrorista, isolará e investirá a área de treinamento
para capturá-lo ou destruí-lo. [...]8
José Campos Barreto acompanhava Lamarca e, segundo o “Relatório Pajussara”, reagiu ao cerco
policial-militar com pedradas, sendo abatido enquanto corria. O deferimento dos processos de Lamarca
e Marighella na CEMDP, em 11 de setembro de 1996, causou uma forte reação de alguns militares, mas
eles não obtiveram a alteração da decisão.
A responsabilização do Estado pela morte de Zuzu Angel deu-se em 25 de março de 1998, após a ava-
liação do pedido de reconsideração de seu processo. O testemunho do advogado Marcos Pires, que afirma
ter visto o carro de Zuzu ser abalroado por outro na saída do túnel Dois Irmãos, no Rio de Janeiro, em 14
de abril de 1976, fez com que o relator do processo procurasse especialistas em perícias relacionadas com
acidentes de trânsito para elaborar um novo laudo sobre o suposto acidente de carro. O novo parecer con-
cluiu que a dinâmica do acidente descrita no laudo oficial era inverossímil e considerou, como evidência
de que ela não estava adormecida no momento da colisão, a fratura do perônio direito descrita no laudo
necroscópico. As provas indiciárias apresentadas no processo de Zuzu Angel indicaram que ela estava na
esfera de domínio dos autores do crime, os quais, deliberadamente, provocaram o acidente fatal.
Após diversas tentativas de ampliar a Lei dos Mortos e Desaparecidos, estendendo-a a todos os mor-
tos e desaparecidos políticos do período compreendido entre 1964 e 1985, os familiares conquistaram
duas outras leis, que corrigiram essas deficiências. Nova lei editada, de nº 10.536, de 15 de agosto de
8 Relatório “Operação Pajussara”, 1971, Ministério do Exército/VI Exército/6ª Região Militar/Quartel General-2ª seção.
Protocolado no SD/SAF em 6/3/75, sob nº 249, p. 47.
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semestre de 2005 Suzana K. Lisbôa, representante dos familiares na CEMDP, afastou-se da comissão.
No seu entendimento, o governo esvaziou o poder de investigação da CEMDP ao criar, no fim de 2003,
a Comissão Interministerial encarregada de localizar os restos mortais dos combatentes da Guerrilha
do Araguaia. Segundo a Comissão de Familiares, o governo não cumpriu a promessa de abrir todos os
arquivos da ditadura, especialmente os arquivos militares e os da Polícia Federal, de esclarecer as circuns-
tâncias das mortes e desaparecimentos, e de proceder à localização de seus restos mortais e à identificação
dos responsáveis por esses crimes. A Comissão de Familiares denunciou o governo por não esclarecer o
episódio ocorrido na Base Aérea de Salvador, onde documentos do período militar foram queimados.
Meses depois, assumiu como representante dos familiares, com o apoio de alguns Grupos Tortura
Nunca Mais, Diva Santana, presidente do GTNM da Bahia.
Em setembro de 2006, outro passo importante e necessário foi dado pela Secretaria Especial de
Direitos Humanos (SEDH) ao formar um Banco de Dados de DNA, quando coletou amostras de 75
parentes consangüíneos de 51 mortos e desaparecidos políticos brasileiros.
Em 29 de agosto de 2007, a SEDH lançou um relatório sobre o trabalho de mais de 11 anos da
CEMDP, publicado no livro Direito à Memória e à Verdade. A importância do livro reside no fato de
estabelecer o reconhecimento da responsabilidade do Estado pelos assassinatos cometidos pela repressão
política durante a ditadura mediante os indícios e provas fornecidos pelos familiares e depoimentos,
documentos e perícias feitas que corroboraram as denúncias. Esse registro oficial deixou claro que não
podem coexistir versões conflitantes sobre as mortes. O lançamento do livro foi acompanhado de uma
reunião histórica do presidente Lula com os familiares, que desde 1974, por diversas vezes, tentaram se
reunir com o presidente da República para indagá-lo sobre a localização de seus parentes e exigir verdade
e justiça.
O livro tem o sentido de complementar a indenização pecuniária estabelecida pela lei 9.140/95 e
avançar na reparação ética e política. Representou grande vitória para os familiares de mortos e desapa-
recidos políticos, para os defensores dos direitos humanos e para todos os que desejam ver resgatada a
memória do período ditatorial e avançar na construção da democracia no Brasil. O livro, enfim, em vez
de virar essa página, contribui para imprimi-la na história do país.
O trabalho da CEMDP permitiu um avanço no resgate da verdade e representa um marco na his-
tória brasileira, mas cumpriu apenas parte do que estabelece o direito à verdade disposto na Resolução nº
66 da ONU, de 200511. A resolução reconhece de modo inequívoco o direito das vítimas de violações de
direitos humanos e de seus familiares de conhecer a verdade desses fatos de maneira detalhada, a identi-
dade dos autores dos crimes, além do direito de obter seus restos mortais. Destaca, também, as relações
mútuas entre o direito à verdade e o direito de acesso à justiça. O livro Direito à Memória e à Verdade,
além de ser o mais importante registro histórico oficial sobre os que morreram na luta contra a ditadura,
é um instrumento para a continuidade dessa luta.
Na primeira fase de funcionamento da CEMDP, alguns dos casos citados no Dossiê foram rejei-
tados, porque muitos os consideraram sem enquadramento legal. Com a ampliação dos critérios de
abrangência criados pelas duas leis posteriores, quase todos foram aprovados. Entre os casos reconheci-
dos pela CEMDP e não mencionados no Dossiê, há pessoas cuja militância já se conhecia, mas das quais
não havia evidências suficientes para incluí-las no mesmo, como os militantes Victor Carlos Ramos,
Boanerges de Souza Massa e Pedro Domiense de Oliveira. Surgiram também casos de antigos militantes
do PCB, como Alberto Aleixo, Divo Fernandes de Oliveira e Neide Alves, dos quais não havia muitas
informações por ocasião da publicação do Dossiê, em 1995 e 1996.
Restaram ainda casos indeferidos, que podem ser revistos se novas provas forem apresentadas. Este
é o caso de Miriam Lopes Verbena e Luiz Andrade de Sá e Benevides, militantes mortos em um acidente
de carro, e o do padre João Bosco Penido Burnier, cujo processo foi indeferido ainda na primeira fase
dos trabalhos da CEMDP. Há também alguns nomes sobre os quais não temos certeza, tais como o caso
do dirigente da VAR-Palmares conhecido como Baiano, desaparecido desde 1973, que pode se chamar
José Carlos Costa. Há ainda Wilton Ferreira, morto no Rio de Janeiro, sobre quem pouco se conhece.
11 Ver o site: <http://ap.ohchr.org/documents/S/CHR/resolutions/E-CN_4-RES-2005-66.doc>.
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Serra das Andorinhas, DNER e fazenda Brasil–Espanha – não foram encontrados esqueletos. A ossada
encontrada em Xambioá ficou sob a investigação da Polícia Civil de Brasília. Muitos anos depois, em
2003, a SEDH levou amostras da ossada a Buenos Aires para exame e o resultado comparativo com a
amostra de sangue dos familiares foi negativo.
Os trabalhos iniciais de busca da CEMDP, porém, comprovaram a possibilidade de se encontrar os
restos mortais de guerrilheiros na região do rio Araguaia, caso as Forças Armadas forneçam as informa-
ções sobre os combates e os locais onde estão enterrados.
Em 6 de março de 2001, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA divulgou seu
Relatório de Admissibilidade sobre a petição dos familiares e passou a analisar seu mérito. Para evitar
uma possível condenação na Corte Interamericana de Direitos Humanos, o governo terá de procurar
e identificar ossadas na área do conflito e, principalmente, investigar os militares que participaram do
combate aos guerrilheiros.
O MPF iniciou um inquérito civil público para apurar o encaminhamento das investigações das
ossadas da vala clandestina do Cemitério de Perus, na Unicamp desde 1999, e dos demais restos mortais
depositados ali, em função da universidade não ter apresentado relatório conclusivo sobre as pesquisas.
Em janeiro de 2001, o Instituto Médico Legal e a Universidade de São Paulo assumiram as investigações
das ossadas como decorrência das negociações efetuadas com a abertura do inquérito civil nº 6/99. Em
agosto daquele ano, Dr. Daniel Munhoz, médico-legista responsável pela investigação, apresentou o
primeiro relatório de avaliação do estado das ossadas, indicando os caminhos que seriam adotados para
a continuidade dos trabalhos.
Uma ossada de um homem idoso, cujas características indicam ser de um guerrilheiro desaparecido
na Guerrilha do Araguaia, encontrada em 1991, estava guardada com as do Cemitério de Perus. Assim,
o Ministério Público iniciou três inquéritos para investigar essa ossada e a possibilidade de encontrar
outros restos mortais de guerrilheiros. Os procuradores Marlon Alberto Weichert, Guilherme Shelb,
Felício Pontes Jr. e Ubiratan Gazetta iniciaram os inquéritos em São Paulo, Brasília e Pará. O Minis-
tério Público assumiu a responsabilidade, que de fato é do Estado – seus poderes, órgãos e agentes –,
de investigar as circunstâncias dos assassinatos decorrentes da ação estatal. Foi a primeira vez no Brasil
que o poder público assumiu essas investigações na sua plenitude, fortalecendo as bases institucionais e
políticas da democracia.
De 2 a 23 de julho de 2001, a Comissão de Familiares participou da viagem de investigação pro-
movida pelo Ministério Público ao Sudeste do Pará. Nessa investigação, o MPF colheu 50 depoimentos
de moradores das cidades de Marabá, São Domingos do Araguaia, Palestina, Brejo Grande, São Geraldo
e Xambioá. Os depoimentos de moradores e de colaboradores do Exército ajudaram a elucidar algumas
das circunstâncias das mortes dos guerrilheiros desaparecidos e forneceram indícios da localização de
seus restos mortais.
Muitos moradores da região de São Domingos e, sobretudo, de Palestina testemunharam sobre a
violência executada pelas Forças Armadas entre 1972 e 1974. Quase a totalidade da população mascu-
lina foi presa e torturada, muitos perderam suas terras e a criação de animais e não receberam nenhuma
reparação material ou moral em função dos danos sofridos. Em 1973, muitos foram presos e suas casas e
plantações queimadas para impedir que os camponeses colaborassem com os guerrilheiros, oferecendo-
lhes comida e abrigo. Os primeiros a serem presos durante essa fase da guerrilha foram os comerciantes
das cidades, depois, os moradores mais distantes dos vilarejos. A população passou fome, pois até as
árvores frutíferas e parte da floresta foram destruídas pelos militares e madeireiras.
Os relatos mencionaram a prisão de diversos guerrilheiros12. Eles foram vistos vivos por guias do
Exército ou moradores nas duas principais bases militares – Bacaba e Xambioá. Alguns foram presos
12 Os guerrilheiros Piauí (Antônio de Pádua Costa), José Vieira (morador), Edinho (Hélio Luiz Navarro de Magalhães),
Duda (Luis René Silveira da Silva), Rosinha (Maria Célia Corrêa), Nunes (Divino Ferreira de Souza), Beto (Lúcio Petit da
Silva), Valdir (Uirassu de Assis Batista), Simão (Cilon da Cunha Brun), Josias (Tobias Pereira Júnior), Walkíria Afonso
Costa, Áurea (Áurea Eliza Pereira Valadão), Antônio (Antônio Ferreira Pinto), Batista (morador que ainda não havia sido
citado, cujo nome completo não se conhece), João Araguaia (Dermeval da Silva Pereira), Dina (Dinalva Oliveira Pereira),
Pedro Carretel (morador da região), Fátima (Helenira Rezende de Souza Nazareth), Mariadina (Dinaelza Soares Santana
Coqueiro) e Osvaldão (Osvaldo Orlando da Costa, que foi levado morto à base de Xambioá).
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O governo brasileiro continuou a interpor recursos e embargos para impedir sua execução, argu-
mentando que a sentença da juíza Solange Salgado estabeleceu exigências que foram além do pedido dos
familiares na petição inicial de 1982, qual seja: “indicar as sepulturas, de modo que possam ser lavrados os
competentes atestados de óbitos; o traslado dos corpos e o fornecimento do ‘relatório oficial do Ministério da
Guerra datado de 5 de janeiro de 1975’”.
Os familiares e entidades de defesa dos direitos humanos protestaram contra a decisão do gover-
no em “Carta Aberta ao Presidente Lula”, após duas tentativas de sensibilizá-lo em encontros com o
advogado-geral da União e o ministro da Justiça. Na carta, registraram que consideram inadmissível o
argumento do insucesso das buscas realizadas na região da guerrilha como um fator para não fornecer
informações aos familiares, pois elas foram realizadas fundamentalmente pelos familiares e sem a parti-
cipação das Forças Armadas, que, ao contrário, as sabotaram, como atesta a operação “Anjo da Guarda”.
Além disso, reputaram como esvaziamento das funções da CEMDP a formação de uma outra comissão
governamental para investigar os fatos relativos à Guerrilha do Araguaia, exigindo que:
[…] o Governo respeite e valorize a Comissão Especial da Lei 9.140, de 4/12/1995, recentemente
empossada, presidida por Luís Francisco Carvalho Filho e com representação do Ministério Público,
da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, das Forças Armadas e dos familiares e
entidades que lutam por esta questão, que dê a ela poderes para investigar, conforme descrito na Carta
Compromisso, e que seja esse o fórum legítimo para levar adiante todos os procedimentos cabíveis.
Por fim, relembraram os compromissos assumidos pelo candidato Luiz Inácio Lula da Silva durante
a campanha eleitoral de 1994, em carta entregue pela Comissão de Familiares, quando se comprometeu
a “[…] abrir irrestritamente os arquivos da repressão política existentes sob sua jurisdição”. Mais uma vez,
os familiares reivindicaram o direito à verdade e à justiça, estabelecido pelo Direito Internacional de
Direitos Humanos16.
O governo federal instituiu a Comissão Interministerial por meio do decreto 4.850, de 2 de outubro
de 2003, cuja finalidade era obter informações que levassem à efetiva localização dos restos mortais dos
desaparecidos da Guerrilha do Araguaia, no prazo de 180 dias. Além disso, continuou a não responder ao
questionamento dos familiares e aos reiterados pedidos de audiência encaminhados ao presidente Lula.
A Comissão Interministerial não cumpriu com seus objetivos e nem tornou públicos os dados e cir-
cunstâncias das investigações citadas. Em seu relatório final, a comissão recomendou ao governo federal
a utilização do instituto da “restauração de autos” do direito processual civil, considerando como dado a
destruição dos documentos militares. Recomendou também que fosse desclassificado o sigilo de qualquer
documento público relativo à Guerrilha do Araguaia e a revisão da legislação sobre o acesso à informação
e aos documentos públicos. Recomendou ao Ministério da Defesa que mantenha instância permanen-
temente aberta para a oitiva de seus membros, com o fim de fornecer dados sobre a localização e identi-
ficação dos restos mortais dos guerrilheiros. Por fim, a comissão sugeriu ao presidente da República que
determinasse às Forças Armadas a realização de nova e “rigorosa investigação” sobre a guerrilha.
Para os familiares, essa foi mais uma iniciativa visando protelar o cumprimento da sentença e aco-
bertar os crimes da ditadura. Somente em 28 de março de 2007, a comissão encerrou seus trabalhos com
a divulgação de um relatório, no qual alegou ter realizado investigações internas em função do fato das
Forças Armadas afirmarem não possuírem mais os documentos relacionados à Guerrilha do Araguaia,
pois eles teriam sido destruídos. A comissão resguardou o sigilo das informações e da identificação das
pessoas que se dispusessem a testemunhar. Obtiveram apenas relatórios com a localização genérica dos
sepultamentos. Duas expedições foram organizadas em agosto de 2004 para realizar buscas dos restos
mortais dos guerrilheiros. Em dezembro de 2006, outra viagem foi realizada, desta vez sem a participa-
ção de familiares, e novamente não se encontrou indícios de sepultamentos clandestinos.
Em dezembro de 2004, o desembargador Souza Prudente, relator da matéria do Tribunal Regional
Federal da 1ª Região, rejeitou o recurso do governo contra a abertura imediata dos arquivos da Guer-
rilha do Araguaia. Ele manteve a sentença da juíza Solange Salgado, obrigando o Estado a divulgar os
documentos existentes. Ele propôs também a realização de uma audiência que contaria com a presença
dos ministros da Defesa, da Justiça e da Secretaria Especial dos Direitos Humanos e de representantes
16 Ver a íntegra da “Carta Aberta” no site: <www.desaparecidospoliticos.org.br>.
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treinamento ao presente caso e aos instrumentos internacionais de direitos humanos”. A última sugestão é
para o Brasil “tipificar em seu ordenamento interno” o crime de desaparecimento forçado.
Caso as sugestões não sejam acatadas, o caso Araguaia será encaminhado à Corte Interamericana de
Direitos Humanos para julgamento. [...]
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A denúncia da tortura e dos torturadores
As denúncias dos que praticaram tortura e das circunstâncias em que se deram são parte do trabalho
de recuperação da memória histórica sobre os mortos e desaparecidos políticos. A luta contra a impu-
nidade aprofunda e fortalece a democracia e estabelece o reconhecimento público da dor das vítimas da
ditadura. É parte fundamental do trabalho de luto tão necessário aos familiares e à sociedade. Diversas
tentativas para esclarecer as mortes e a localização dos restos mortais dos desaparecidos foram efetuadas
pelos familiares e entidades ligadas a essa luta, tais como audiências com todos os ministros da Justiça,
a partir de 1974; ações judiciais de responsabilização da União Federal; ações de retificação de registros
de óbito e habeas data.
Em alguns casos, a ação judicial obteve como resultado a responsabilização da União pelo desapare-
cimento ou morte dos ativistas políticos, como nos casos de Mário Alves, desaparecido em 14 de janeiro
de 1970; Vladimir Herzog, assassinado em 25 de outubro de 1975; e Manoel Fiel Filho, morto em 17
de janeiro de 1976. Outros casos, porém, continuam tramitando na Justiça, como o de Rubens Beirodt
Paiva, cujas famílias aguardam o desfecho das ações judiciais. Os familiares de Mário Alves, por exemplo,
obtiveram o reconhecimento de sua morte na Justiça, mas seus restos mortais nunca foram entregues.
Os familiares têm enviado sistematicamente reivindicações às autoridades constituídas para não
nomear torturadores para cargos de confiança. Os torturadores não foram punidos e muitos ainda se
mantêm na ativa, exercendo suas atividades livremente. Nos arquivos do DEOPS/SP, as gavetas de
“Colaboradores” encontravam-se vazias, quando a Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos
Políticos teve acesso a elas em 1992.
O acesso à documentação de órgãos da repressão política, como os DEOPS e outros, no respaldo e
apoio técnico às atrocidades cometidas contra a esquerda revolucionária e os oposicionistas da ditadura,
tem permitido a recuperação parcial da história. Nesses documentos está registrada parte importante da
história das violências cometidas com o carimbo oficial. Mas os principais arquivos da repressão política,
aqueles custodiados pelos diferentes órgãos militares de informação, tais como CISA, Cenimar, CIE e
DOI-CODI, ainda são considerados confidenciais ou sigilosos.
Em 1985, a então deputada federal Bete Mendes denunciou como seu torturador o coronel Carlos
Alberto Brilhante Ustra, quando ele ocupava o cargo de adido militar na embaixada brasileira no Uru-
guai. O fato teve grande repercussão na imprensa, mas nenhum desdobramento na Justiça.
Desde o período da ditadura, várias listas e dossiês de torturadores têm sido organizados e enviados
à imprensa e às autoridades municipais, estaduais e federais, visando ao expurgo de torturadores do ser-
viço público, como no caso de Airton Sotto Maior Quaresma, coronel da PM que, em 1991, assumiu
o comando do Regimento da Polícia Montada da PM/RJ. Roberto Felipe de Araújo Porto foi indicado
em 1993 para a Superintendência da Polícia Federal de Pernambuco e afastado graças às denúncias de
familiares e dos GTNM do Rio de Janeiro e de Pernambuco. Amaury Aparecido Galdino, indicado em
1993 para a Superintendência da Polícia Federal de Brasília, também foi afastado, após denúncia públi-
ca. Dalmo Lúcio Muniz Cyrillo, coronel da reserva do Exército, recebeu o Grau de Cavaleiro da Ordem
do Mérito das Forças Armadas em junho de 1993, apesar das diversas denúncias divulgadas sobre ele.
Outras denúncias foram divulgadas sobre Ailton Guimarães Jorge, ex-capitão do Exército, ligado ao
jogo do bicho e a grupos de extermínio. Outro exemplo, ainda, é o de Paulo César Amêndola de Souza,
coronel da PM, que se tornou Superintendente da Guarda Municipal do Rio de Janeiro, em 1995. Neste
mesmo ano, Edgar Fuques, envolvido no seqüestro dos uruguaios Lilian Celiberti e Universinho Dias,
foi nomeado Secretário de Segurança Pública do Estado do Ceará pelo governador Tasso Jereissati. Ape-
sar da denúncia de familiares e entidades de defesa dos direitos humanos, ele permaneceu no cargo.
A indicação para cargos públicos de pessoas ligadas aos aparelhos de repressão política, no entanto,
permanece uma prática constante. Fernando Henrique Cardoso indicou Armando Avólio Filho como
adido militar para a embaixada brasileira na Inglaterra e Ricardo Agnese Fayad para a Assessoria Especial
de Saúde do Departamento de Serviços do Ministério do Exército. Após forte campanha, os dois foram
afastados de seus cargos. Em junho de 1999, Fernando Henrique nomeou o delegado João Batista Cam-
pelo para a direção da Polícia Federal, mas o depoimento do ex-padre José Antônio Monteiro, torturado
47
Em novembro de 2006, as testemunhas de acusação foram ouvidas durante a primeira audiência
do processo. O réu não compareceu. As testemunhas indicadas por ele foram ouvidas nos respectivos
estados onde residem.
Em 9 de outubro de 2008, o juiz proferiu uma sentença que declarou o coronel Ustra torturador,
quando era comandante do DOI-CODI/SP, ao reconhecer sua responsabilidade pelo uso de violência
contra a família Almeida Teles. Ao definir o DOI-CODI como “casa dos horrores”, tomou decisão his-
tórica e inédita no Brasil.
A Justiça de São Paulo, em 4 de abril de 2008, acolheu outra ação cível declaratória contra o coronel
reformado do Exército Brilhante Ustra – acusado por várias testemunhas de ser o principal responsável
pela morte do jornalista e militante do POC, Luiz Eduardo da Rocha Merlino. A ação tem como autoras
sua ex-companheira, Angela Mendes de Almeida, e sua irmã, Regina Merlino Dias de Almeida. Infe-
lizmente, em 13 de maio de 2008, o desembargador Luiz Antônio de Godoy, da 2ª Câmara de Direito
Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, concedeu efeito suspensivo no processo. Os advogados da
família, Fábio Konder Comparato e Aníbal Castro de Sousa – os mesmos da família Almeida Teles –,
recorreram da decisão.
Em 2007, o jurista Fábio Konder Comparato encaminhou uma representação ao MPF de São
Paulo para que fossem adotadas medidas visando à aplicação do dever de regresso pelo Estado brasileiro
diante dos causadores dos danos que geraram o pagamento das indenizações previstas na lei 9.140/95.
Na representação, Comparato afirmou que “[…] ação de regresso contra o agente causador do dano é um
dever do Estado”. Segundo ele, apesar do elevado gasto com indenizações pagas pela União e por vários
estados da federação como forma de reparar os danos causados a cidadãos brasileiros pelo estado dita-
torial, nenhuma ação regressiva foi “intentada contra os agentes ou funcionários causadores dos danos assim
ressarcidos com dinheiro público”.
A representação associada à publicação do livro Direito à Memória e à Verdade foram decisivos para
que, em 14 de maio de 2008, o MPF ajuizasse ação civil pública contra a União e os dois ex-comandan-
tes do DOI-CODI do II Exército, em São Paulo, no período de 1970 a 1976, os militares reformados
Carlos Alberto Brilhante Ustra e Audir Santos Maciel.
Na ação, o MPF busca aplicar no Brasil conceitos já pacíficos no âmbito da ONU e da OEA em
relação a autores de crimes contra a humanidade. A ação foi distribuída à 8ª Vara Federal Cível de São
Paulo, sob o número 2008.61.00.011414-5. Nela, os seis procuradores e procuradoras da República que
assinam a petição requereram:
1. O reconhecimento do dever das Forças Armadas de revelar o nome de todas as vítimas do
DOI-CODI de São Paulo (não apenas de homicídio e desaparecimento, uma vez que o órgão deteve
mais de 7 mil cidadãos), circunstâncias de suas prisões e demais atos de violência que sofreram, bem
como tornar públicos todos os documentos relacionados ao funcionamento do órgão;
2. A declaração de que Ustra e Maciel comandaram um centro de prisões ilegais, torturas, homi-
cídios e desaparecimentos forçados no DOI-CODI de São Paulo;
3. Que Ustra e Maciel sejam obrigados a reembolsar à União os custos das indenizações pagas na
forma da lei 9.140/95 (Lei dos Mortos e Desaparecidos Políticos) às famílias das 64 vítimas daquele
destacamento durante a gestão dos demandados;
4. Que ambos sejam condenados a não mais exercerem qualquer função pública.
Por enquanto, as únicas pessoas físicas demandadas na ação são Ustra e Maciel, em virtude de
ambos terem figurado no topo da cadeia hierárquica, comandantes do órgão repressor, permitindo sua
identificação imediata.
Além disso, o comandante do II Exército no período, Ednardo D’Avilla Mello, e o subcomandante
do DOI, capitão Dalmo Cyrillo, que poderiam figurar na ação de regresso, já morreram. A ação é cível
e não implica em condenação penal.
Para os procuradores da República Eugênia Augusta Gonzaga Fávero, Marlon Alberto Weichert,
Adriana da Silva Fernandes, Luciana da Costa Pinto, Sérgio Gardenghi Suiama e Luiz Fernando Gaspar
Costa, que assinam a ação, “a mera passagem institucional de um governo de exceção para um democrático
49
se pronunciaram contrários ao parecer. Em 20 de novembro, a principal autoridade da ONU sobre
tortura, Manfred Nowak, criticou o parecer da AGU e pediu investigação dos crimes cometidos pela
repressão política no país. No início de 2009, a ONU enviará um questionário ao governo brasileiro
cobrando uma posição sobre a questão da tortura durante a ditadura militar.
Há sete anos, a ONU vem sugerindo ao Brasil acabar com a Lei de Anistia, mas o governo tem
ignorado suas sugestões. Em 2001, o Comitê contra a Tortura da ONU sugeriu o mesmo ao governo
brasileiro. O Brasil não conseguirá lidar com seus problemas em relação à tortura e superar a impunida-
de caso não se ocupe com o seu passado. Em 2008, o comitê apelou para que o Brasil abandone a Lei
de Anistia. De acordo com Nowak,
Os crimes de tortura não prescrevem. Há jurisprudência suficiente que mostra que leis de anistia não
devem ser usadas para impedir investigações. É obrigação do Estado investigar tortura e levar os respon-
sáveis à Justiça. Isso sem limitações. […] A tortura é tão grave que nenhuma lei de anistia deve ser usada
para impedir investigações.21
A impunidade constituiu-se na pior herança da ditadura e contabilizou a maior dívida da democra-
cia. O interesse público em saber o que aconteceu no nosso passado recente remete à dimensão política
dessas ações judiciais, que exigem o funcionamento das instituições brasileiras. Recuperar os fatos é o
caminho que busca a superação enfrentando a história e a memória.
21 Manfred Nowak também investiga as situações de tortura no Iraque, no Afeganistão e na prisão norte-americana de
Guantánamo, em Cuba.
22 Ver o site: <http://www.oas.org/juridico/spanish/tratados/a-60.htm>.
51
e da responsabilidade individual, assim como da verdade global, a análise das estruturas da repressão ilegal
e o contexto em que essas violações aos direitos humanos ocorreram. Contudo, sua contribuição principal
seria, possivelmente, o acolhimento dessas narrativas por parte da sociedade brasileira.
Espera-se, ainda, no Brasil restabelecer a verdade dos fatos, o reconhecimento dos danos causados
e um processo de reparação simbólica e material, o que contribuiria para o fortalecimento do Estado
Democrático de Direito. As Comissões de Verdade surgiram inspiradas no Direito Internacional de
Direitos Humanos e na Justiça de Transição, mas muitas vezes têm sido insuficientes para solucionar
os problemas políticos, jurídicos, éticos e de saúde derivados das experiências-limite tais como tortura,
desaparições forçadas e execuções sumárias. Essas comissões, porém, instauraram processos nos quais os
Estados assumiram, pela primeira vez, a busca de uma solução para as mais graves violações de direitos
humanos. As experiências das Comissões de Verdade na Argentina, Guatemala, Peru25, El Salvador e
África do Sul, cujas violações de direitos humanos tiveram grande repercussão internacional, fizeram
surgir expectativas em todo mundo.
Em todas as experiências de instalação de comissões, houve o descumprimento das suas recomenda-
ções por parte dos Estados. A experiência sul-africana demonstra que, mesmo quando há modificações
institucionais e legislativas significativas, com a instalação da Comissão de Verdade, a investigação dos
fatos pode não estar garantida.
Na África do Sul, no fim do apartheid foi negociada uma solução de compromisso, na forma de
uma Comissão de Verdade, com um formato bastante singular. A Comissão de Verdade e Reconciliação
(CVR) foi criada, em 1995, para investigar os casos mais graves de violação aos direitos humanos ocor-
ridos entre 1960 e 1994. Era composta de três comitês: o Comitê de Violações de Direitos Humanos, o
Comitê de Anistia e o Comitê de Reparações e Reabilitação. Para receber a anistia, era preciso solicitá-la
e preencher os seguintes critérios: motivação política, esclarecer a verdade completa sobre o incidente, e
provar que suas ações tinham sido proporcionais ao objetivo perseguido. Os que cumprissem tais crité-
rios estariam livres de acusações criminais e da ação civil. O risco de quem não se apresentasse era o de
ver seu nome implicado por outros, o que podia resultar em processo criminal.
O Comitê de Anistia recebeu mais de 7 mil pedidos. A maioria vinha de pessoas que cumpriam pe-
nas de prisão por crimes comuns. Outros não contaram toda a verdade e responsabilizaram pessoas que
já haviam morrido. Além disso, o governo tinha recursos limitados para investigar e processar. As poucas
ações criminais ocorreram em um sistema judicial não reformado, resultando em poucas condenações.
Poucos preencheram as condições do acordo e tiveram disposição de revelar toda a verdade. No fim,
menos de 17% do total de solicitantes recebeu a anistia. Os investigadores que trabalharam nesses casos
afirmaram que a maioria só revelou a “verdade” suficiente, sem expor o funcionamento das instituições
de violência estatal do apartheid. Cerca de 10% das vítimas que se apresentaram prestaram testemunho
em audiências públicas, transmitidas pela televisão para todo o país.
Apesar das limitações apontadas, as Comissões de Verdade são importantes instrumentos para efe-
tivar a aplicação do Direito Internacional de Direitos Humanos. Este atribui aos Estados a obrigação de
garantir o direito à justiça, em sua concepção mais ampla e integral, incluindo a investigação dos fatos,
a identificação e a sanção dos responsáveis, a reparação dos atingidos, o direito à verdade e a organização
do aparato estatal de forma a assegurar a vigência dos direitos humanos.
Para que a Comissão de Verdade atinja os seus objetivos, é fundamental unir à sua atuação mudan-
ças legislativas, a utilização da justiça nacional e dos instrumentos internacionais de defesa dos direitos
humanos, que determinam a investigação, o julgamento e a sanção dos responsáveis por crimes contra
a humanidade em qualquer tempo.
Em busca da verdade e da justiça, a Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos
apresenta neste livro um relato resumido dos dados coletados sobre as circunstâncias das mortes de opo-
sitores da ditadura para ajudar as novas gerações a compreender esse período da história do país.
25 No Peru, a Comissão de Verdade e Reconciliação (CVR) publicou um relatório, em 2003, sobre os mais de 69 mil
mortos no conflito interno que atingiu o país nas duas últimas décadas. Ainda hoje, os familiares das vítimas exigem
justiça e a entrega dos restos mortais de centenas de desaparecidos. Segundo a CVR, entre 1980 e 2000, ocorreram 3.355
desaparecimentos forçados no Peru.
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1 9 6 3
Rebelião de marinheiros em março de 1964 contra a ordem de prisão de seus líderes, que haviam programado ato em favor
da encampação das refinarias estrangeiras.
Nasceu em 5 de março de 1918, em Guarabira (PB), filho de João Pedro Teixeira e Ma-
ria Francisca da Conceição. Morto em 2 de abril de 1962.
Era casado com Elizabeth Altina Teixeira e tinham 11 filhos.
João Pedro Teixeira morava no engenho Galiléia, no interior de Pernambuco, e foi uma
das maiores lideranças camponesas do país e um dos fundadores das Ligas Camponesas. Em
depoimento prestado por Francisco de Assis Lemos de Souza, no Cartório Salinet, 4º Ofício
de Notas, de Londrina (PR), temos o seguinte relato:
No dia 2 de abril de 1962, João Pedro Teixeira, vice-presidente da Liga Camponesa de
Sapé, foi assassinado com tiros de fuzil, na estrada, entre Café do Vento e Sapé. Os man-
dantes do crime foram: Aguinaldo Veloso Borges [usineiro], Pedro Ramos Coutinho e
Antônio José Tavere, vulgo “Antônio Vítor”, conforme concluiu a pronúncia do Juiz
Walter Rabelo, em 27 de março de 1963. Os executores foram os pistoleiros Cabo Antô-
nio Alexandre da Silva, vulgo “Gago”, soldado Francisco Pedro da Silva, vulgo “Chiqui-
nho”, “Nobreza” ou “Chicão”, e o vaqueiro Arnaud Nunes Bezerra, vulgo “Arnaud
Claudino”, também pronunciados pelo Juiz Walter Rabelo, da Comarca de Sapé.
Sua morte teve grande repercussão nacional e internacional. O cineasta Eduardo Cou-
tinho, um dos membros do CPC da UNE, havia iniciado a filmagem do documentário
Cabra Marcado para Morrer, sobre o assassinato de João Pedro Teixeira, antes do golpe mi-
litar de 1964, mas só o pôde concluir muitos anos depois. Em 1981, Coutinho encontrou-
se novamente com aqueles camponeses-atores, mostrou-lhes as filmagens e retomou o pro-
jeto, enfocando também o reencontro com a viúva Elizabeth e as dificuldades para a reali-
zação do filme. Em 1984, a obra foi lançada em circuito comercial, transformando-se em
um clássico do cinema nacional.
Em depoimento escrito e encaminhado à CEMDP, o jornalista e professor da UFPB,
Jório de Lira Machado, que, em 1962, como repórter do jornal Correio da Paraíba, fez a co-
bertura do assassinato de João Pedro, de quem era amigo, afirma:
Os trabalhadores do campo ergueram um monumento a João Pedro Teixeira no local
onde tombara, com a seguinte inscrição “Aqui tombou João Pedro Teixeira, mártir da
Reforma Agrária”. No dia 01/04/1964 o monumento foi destruído por policiais e por
capangas dos latifundiários. Os grandes proprietários de terra da Paraíba realizaram,
assim, o primeiro ato comemorativo do Golpe Militar de 64.
Não há dúvida de que o assassinato de João Pedro Teixeira se deu pelos mesmos motivos
que determinaram o golpe militar de 64.
Eliane Martins
Foi apurado apenas que tinha 3 meses de idade quando foi metralhada nos braços de sua
mãe. Estavam se dirigindo ao ambulatório da empresa onde Eliane seria vacinada. Seu caso
não foi apresentado para a apreciação da CEMDP.
Gilson Miranda
Nada conseguimos apurar a seu respeito, consta apenas o seu nome na lista oficial dos
mortos, publicada pela Polícia Militar (MG) à época. Seu caso não foi apresentado para a
apreciação da CEMDP.
Revista O Cruzeiro
Cidadão é agredido por policial durante as manifestações contra o golpe no Recife, em abril de 1964.
Documentos consultados:
Estudante da Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil.
www.desaparecidospoliticos.
Morto em 1° de abril de 1964, quando organizava, junto com outros companheiros org.br
seus, a resistência ao golpe militar. A arma que conduzia disparou, matando-o com um Dossiê dos Mortos e
Desaparecidos Políticos a Partir
tiro no estômago. Vários estudantes que, em 1° de abril de 1964, ocuparam o CACO – de 1964. São Paulo: Imprensa
Centro Acadêmico da Faculdade Nacional de Direito – para resistirem ao golpe militar, Oficial do Estado, 1996.
Arquivos do IEVE/SP.
foram testemunhas do acidente que vitimou Antônio Carlos.
Nasceu em Minas Gerais, em 1898, filho de Roberto Soares Ferreira e Anna Soares de
Almeida. Morto em 4 de abril de 1964.
Augusto Soares da Cunha e seu pai, Otávio Soares Ferreira da Cunha, estão entre as pri-
meiras vítimas da ditadura instaurada em 1964. Otávio morreu depois de ter sofrido um
atentado, três dias antes, em ação que resultou na morte de Augusto, em 1º de abril de 1964,
além de ter deixado o outro filho, Wilson Soares da Cunha, gravemente ferido. Eles foram
vítimas de três fazendeiros – Wander Campos, Maurílio Avelino de Oliveira e Lindolfo Ro-
drigues Coelho –, que agiam em nome do Estado. Na versão de um dos assassinos (Wander
Campos), Otávio e o filho foram mortos por terem descumprido uma ordem de prisão exe-
cutada pelo coronel da PM Pedro Ferreira dos Santos e pelo delegado Paulo Reis.
Em Minas Gerais, em 1964, na cidade de Governador Valadares, os fazendeiros latifundiá-
rios haviam radicalizado a luta contra os trabalhadores rurais. Organizaram-se, armados, cer-
caram a casa de Francisco Raimundo da Paixão, o Chicão, líder dos trabalhadores do campo e
presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Lavoura de Governador Valadares, conhecido na-
cionalmente por sua mobilização na defesa da reforma agrária. No cerco, os latifundiários me-
tralharam sua casa e houve troca de tiros, o que resultou na morte de um dos fazendeiros, genro
do coronel Altino Machado. No dia do golpe, os fazendeiros, com o apoio efetivo dos militares,
aproveitaram para se mobilizar para a desforra. Assim, foram mortos Otávio e seu filho, Augusto.
No voto do caso na CEMDP, o relator Nilmário Miranda afirmou:
Segundo o processo nº 35.679, do STM, no dia 1º/04/1964, o tenente coronel delegado
de Polícia na cidade de Governador Valadares declarou que: [...] devido à falta de ele-
mentos no destacamento policial convocou Maurílio Avelino de Oliveira, Lindolfo Ro-
drigues Coelho e Wander Campos, todos reservistas, para prestarem serviços localizando
e interceptando elementos comunistas e conduzindo-os à Delegacia em virtude do “Esta-
As mortes
Ivan e Jonas foram mortos a tiros em manifestação de rua contra o golpe, em 1º de abril
de 1964, no Recife (PE), conforme denúncia do livro O Caso eu Conto como o Caso Foi, de
Paulo Cavalcanti.
Nasceu em 1899, filha de João Carneiro e Helena Elias Carneiro. Morta em 1º de abril
de 1964.
Labibe Elias Abduch estava com 65 anos, era casada com Jorge Nicolau Abduch e tinha
três filhos. Foi morta a tiros por agentes da repressão, em frente ao Clube Militar, no Rio de
Janeiro, durante manifestação contra o golpe de 1964. A revista O Cruzeiro, em edição extra
de 10 de abril de 1964, traz a seguinte descrição:
[...] 14 horas. É o sangue. A multidão tenta mais uma vez invadir e depredar o Clube
Militar. Um carro da PM posta-se diante do Clube. O povo presente vaia os soldados.
Mais tarde, choque do Exército [...] dispersam os agitadores, que voltam a recarga, pou-
co depois. Repelidos a bala, deixam em campo, feridos, vários manifestantes: entre eles
Labib Carneiro Habibude e Ari Oliveira Mendes Cunha, que morreram às 22h no
Pronto Socorro do Hospital Souza Aguiar.
Seu corpo entrou no IML em 2 de abril de 1964, com a guia 38, de onde foi retirado e
sepultado pela família. De acordo com o legista Nelson Caparelli, a causa mortis foi “[...] feri-
mento transfixante do tórax, por projétil de arma de fogo, hemorragia interna”. Foram apresenta-
dos dois requerimentos à CEMDP sobre o caso. Na primeira votação, a do requerimento
299/96, o relator, João Grandino Rodas, considerou que não estava comprovada a militância
política de Labibe e que sua morte não se deu em “dependência policial ou assemelhada”,
portanto não considerava possível o enquadramento do caso na tipificação da lei 9.140/95,
votando pelo indeferimento do pedido.
Os conselheiros Nilmário Miranda e Suzana Keniger Lisbôa apresentaram voto pela
aprovação do requerimento e Luís Francisco Carvalho Filho pediu vistas ao caso.
Na reunião de 7 de agosto de 1997, Luís Francisco Carvalho Filho apresentou seu voto,
sustentando que “[...] não há nos autos informações precisas sobre o envolvimento em manifesta-
ção pública nem sobre as circunstâncias da morte da vítima [...]”, e acompanhou o voto do rela-
tor pelo indeferimento. O processo foi indeferido por unanimidade por não responder aos Documentos consultados:
quesitos “participação, ou acusação de participação em atividades políticas”, e de não ter falecido www.desaparecidospoliticos.
org.br
em “dependência policial ou assemelhada”.
Dossiê dos Mortos e
Com a lei 10.875/2004, que aumentou a abrangência da lei 9.140/95 incluindo os mor- Desaparecidos Políticos a Partir
tos em manifestação pública, o relator do segundo requerimento (055/02), coronel João Batis- de 1964. São Paulo: Imprensa
Oficial do Estado, 1996.
ta Fagundes, declarou: “[...] pouco importa se o tiro foi ou não desfechado contra a vítima. E nem Arquivos do IEVE/SP.
mesmo discutir a autoria do disparo. O certo é que ela morreu em decorrência do tiro disparado em Casos 299/96 e 055/02,
manifestação pública”. O caso foi aprovado por unanimidade, em 7 de outubro de 2004. na CEMDP.
Nasceu em 23 de abril de 1898, filho de José Pinto Martins e Emília Barcellos Quin-
tanilla, na cidade de Campos (RJ). Morto em 11 de abril de 1964. Militante do Partido
Socialista Brasileiro (PSB).
Fez seus estudos no Colégio Salesiano Santa Rosa, em Niterói (RJ). Mais tarde, con-
cluiu o curso complementar no Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro. Formou-se em Far-
José de Souza
Nasceu em 1931, filho de Alcides de Souza e Nair Barbosa de Souza. Morto em 17 de
abril de 1964.
Mecânico e ferroviário, José era membro do Sindicato dos Ferroviários do Rio de Janeiro.
Foi preso em 8 de abril de 1964 para averiguações sobre suas atividades no Sindicato. Em
17 de abril, às 5 horas, foi divulgada nota oficial na qual se dizia que José havia se suicidado
atirando-se pela janela do terceiro andar do prédio da Polícia Central do Rio de Janeiro.
O corpo de José entrou no IML no mesmo dia de sua morte, com a guia 30, da 5ª DP
com a seguinte informação: “[...] atirou-se da janela da sala do Serviço de Atividades Anti-De-
mocráticas do DOPS” [sic].
A necropsia foi feita por Vicente Fernandes Lopes e Elias Freitas, que confirmaram a
versão de suicídio, com esmagamento do crânio. Seu corpo foi retirado por seu primo, Edson
Campos, sendo enterrado pela família, em 18 de abril de 1964.
Segundo Márcio Moreira Alves, em Torturas e Torturados, foi a 18 de abril que surgiu a
primeira notícia concreta sobre a morte do operário José de Souza.
Artigo do jornal O Estado de S. Paulo, de 13 de maio de 1970, encontrado no arquivo do
DEOPS/SP, apresenta uma lista dos brasileiros assassinados pela ditadura militar em que
consta o seu nome.
Em depoimento à Comissão de Direitos Humanos e Assistência Judiciária da Seção do
Estado do Rio de Janeiro da OAB, em 4 de dezembro de 1995, anexado ao processo da
CEMDP, José Ferreira, que tambeem esteve preso no DOPS, relata:
[...] foi preso por volta do dia 3 de abril de 1964 nas dependências do DOPS na rua da
Relação, ficando guardado ate o dia 3 de maio do mesmo ano; que no período que ficou Documentos consultados:
preso no DOPS viu chegar as suas dependências José de Souza por volta do dia 8 de www.desaparecidospoliticos.
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abril; [...] quando os presos iam prestar depoimento voltavam normalmente desmaia-
Dossiê dos Mortos e
dos; [...] afirma ainda o depoente que no dia 17 de abril todos que ali se encontravam Desaparecidos Políticos a Partir
foram acordados por agentes da repressão que alertavam ao fato de José de Souza encon- de 1964. São Paulo: Imprensa
Oficial do Estado, 1996.
trar-se morto no pátio do DOPS.
Arquivos do IEVE/SP.
O relator do caso na CEMDP, general Oswaldo Pereira Gomes, confirmou a morte por Caso 078/96, na CEMDP.
suicídio e votou pelo deferimento, “[...] pois José de Souza encontrava-se em poder do Estado e os ALVES, Márcio Moreira. Torturas e
agentes não tomaram as mais elementares cautelas que a situação exigia”. Torturados. 2. ed. Rio de Janeiro:
Idade Nova, 1967, p. 35.
O caso 078/96 na CEMDP foi aprovado por unanimidade, em 29 de fevereiro de 1996.
Carlos Schirmer
As mortes
Pedro Inácio foi preso pelos órgãos de segurança em 8 de maio de 1964 e levado para o
15º Regimento de Infantaria do Exército, em João Pessoa (PB), onde ficou detido até setem-
bro de 1964.
Francisco de Assis Lemos de Souza, engenheiro agrônomo, professor da Universidade
Estadual de Londrina (PR), declarou, em documento público, que se encontrava preso em
agosto de 1964, no quartel do 15º Regimento de Infantaria, em João Pessoa, respondendo a
IPM sobre o Grupo dos Onze, sob a chefia do major José Benedito Montenegro de Magalhães
Cordeiro. Na cela encontravam-se outros presos políticos, dentre os quais Pedro Inácio Araú-
jo, conhecido como Pedro Fazendeiro. Em determinado dia, um sargento avisou a Pedro Iná-
cio que juntasse seus pertences, pois iria ser colocado em liberdade. Outro preso, Antônio
Fernandes, deu algum dinheiro a Pedro, recomendando-lhe que tomasse um táxi imediata-
mente, porque se tornou comum soltar os presos para depois capturá-los novamente, transfe-
rindo-os para outros quartéis.
Dois dias depois, os jornais publicaram fotos de dois cadáveres, encontrados à margem
da estrada Caruaru–Campina Grande, insinuando que se tratava de “desconhecidos ou bandi-
dos”. Franscisco de Assis testemunhou: “[...] Tanto eu quanto Antônio Fernandes suspeitamos
tratar-se de Pedro Inácio e João Alfredo devido à semelhança física como, também, aos calções que
as vítimas vestiam que eram semelhantes aos que usavam na prisão”.
Mais tarde, Francisco tomou conhecimento do desaparecimento de Pedro Inácio e João
Alfredo Dias (conhecido como Nego Fubá) pela esposa do primeiro, Maria Júlia de Araújo.
Outra declaração, também registrada em cartório, de Antônio Augusto de Arroxelas Ma-
cedo, vereador em João Pessoa, à época do golpe militar, informa que conheceu Pedro Inácio
e ficou com ele na prisão.
Em 10 de setembro de 1964, o jornal Correio da Paraíba publicou a manchete “Esquadrão
da Morte Executa Mais Dois”. A matéria denunciava que foram encontrados dois corpos na
Rodovia BR-10, que liga Campina Grande a Caruaru. Os dois mortos teriam sido enforcados.
Não teria sido possível a identificação em razão do avançado estado de putrefação.
Márcio Moreira Alves, no livro Torturas e Torturados, denunciou o desaparecimento e
publicou a carta da esposa de Pedro, Maria Júlia de Araújo, de 7 de outubro de 1964, a qual
reproduzimos:
Exmo. Sr. Redator do Correio da Manhã, Saúde (etc.).
Peço a V. Excelência que se digne a publicar neste conceituado jornal o que segue:
O meu esposo, Pedro Inácio de Araújo, conhecido por Pedro Fazendeiro, como delegado
das Ligas Camponesas da Paraíba nunca foi comunista somente porque lutava em be-
nefício dos camponeses sofredores nas Usinas, nos engenhos e latifúndios. Porque somos
agricultores também, por isso dr. Redator meu esposo foi preso no dia 8 de maio pelo
Exército. O Grupamento de Engenharia libertou ele no dia 16 de junho por não
[ter]curpa [sic] formada não houve prizão [sic] preventiva, porém os inquéritos a esta
altura passou a responsabilidade do major Cordeiro do 15 R.I. e este prorrogou a deten-
são [sic] dele por mais 20 dias e depois mais 20; e assim sucedeu até 7 de setembro.
Quando fui visitar ele no dia 10 do mesmo mês de setembro fui informada no quartel
que ele havia sido sorto [sic] há 3 dias e o resultado é que procurei ele em todos os quar-
téis: de Natal, Recife, João Pessoa, não tendo notícia de espécie nem uma [sic] toda
apreensiva com o desaparecimento misterioso. Passo muita fome com meus cinco filhos
menores que choram o desaparecimento do pai. O comentário do povo é que ele foi as-
sassinado. Confio em Deus, nas autoridades superiores e em V. Excia. E no dinamismo
deste grande e combativo jornal que o desaparecimento de meu esposo chegará até aos
ouvidos do sr. Presidente da República e do Ministro da Guerra.
Antecipadamente agradeço a Vossa Excia. Com meu protesto de estima e considerações,
subscrevo-me Maria Júlia de Araújo.
Documentos consultados:
Em 1979, com a promulgação da Lei de Anistia, as denúncias apareceram com mais
www.desaparecidospoliticos. detalhes. O jornal O Momento publicou, em 13 de outubro de 1979, que Pedro Inácio de
org.br Araújo (Pedro Fazendeiro) e João Alfredo Dias (Nego Fubá) depois de libertados em 7 de se-
Dossiê dos Mortos e
Desaparecidos Políticos a Partir tembro de 1964, foram recapturados pela polícia e assassinados. Seus corpos foram jogados à
de 1964. São Paulo: Imprensa beira de uma estrada.
Oficial do Estado, 1996.
Arquivos do IEVE/SP.
Os nomes de Pedro Inácio de Araújo e de João Alfredo Dias constam do anexo I da lei
ALVES, Márcio Moreira. Torturas e 9.140/95. Considerados desaparecidos políticos, a responsabilidade do Estado por suas mor-
Torturados. 2. ed. Rio de Janeiro: tes foi reconhecida automaticamente por ocasião da publicação da lei.
Idade Nova, 1967, p. 221-222.
Casos 133/96 e 170/96, de João
A história da vida de João Pedro e Elizabeth Teixeira, João Alfredo e outros campo-
Alfredo Dias, e 135/96, de Pedro neses aparece no documentário Cabra Marcado Para Morrer, de 1984, dirigido por Eduar-
Inácio de Araújo, na CEMDP.
do Coutinho.
Nasceu em Nazaré (BA), em 3 de janeiro de 1929, filho de Lydio José Roque e Lygia
Violeta Tavares Roque. Desaparecido em 15 de novembro de 1964. Militante do Partido
Comunista Brasileiro (PCB).
A primeira prisão de Israel aconteceu anos antes do golpe de 1964, no dia 31 de julho de
1953, quando trabalhava no Jornal O Momento, órgão do PCB na Bahia.
Em 15 de novembro de 1964, Israel foi detido por um policial baiano em frente à Central
do Brasil, no Rio de Janeiro (RJ), o mesmo que o prendera tempos antes em Salvador (BA),
sendo conduzido a uma delegacia que funcionava na estação. Seu irmão Peres, que estava jun-
to, tentou impedir a prisão, mas não conseguiu. Passou então a procurá-lo em diversas delega-
cias do Rio de Janeiro e de Salvador, mas sem sucesso. Depois disso, nunca mais foi visto.
Na CEMDP, o relator, general Oswaldo Pereira Gomes, registrou a certeza da militância
política de Israel no PCB da Bahia, motivo que o levara a ser preso na década de 1950, mas
pediu o indeferimento do caso alegando não haver provas da última prisão.
O conselheiro Nilmário Miranda pediu vistas ao caso e realizou diligência para reunir
provas a favor do pedido da família de Israel. No Arquivo Público do Rio de Janeiro, onde
estão os arquivos do extinto DEOPS/RJ, encontrou quatro documentos referentes a ele des-
crevendo sua militância política até 1958, como dirigente do Comitê Municipal do PCB de
Salvador.
Para Nilmário Miranda, os documentos demonstraram que Israel continuou trabalhan-
do no jornal O Momento e militando no PCB, e que era vigiado pela polícia política. Levou
em consideração também as declarações de algumas pessoas, entre elas a professora Sônia de
Alencar Serra, da UFBA, que serviram para comprovar a militância de Israel no PCB depois
de 1953.
A CEMDP considerou insuficientes os indícios apresentados pelo requerente e propôs
algumas diligências, que foram realizadas por Nilmário Miranda. Ele transcreve em seu rela-
tório informações prestadas pela Sra. Alba Regina:
[...] procurei um amigo na Marinha [...] o comandante Clemente José Monteiro Filho.
Ele informou-me que o nome de Israel Tavares Roque não constava da lista de presos em
poder da Marinha, Exército ou Aeronáutica, nem no DOPS/RJ.
Que, no entanto, a polícia política da Bahia comunicou aos órgãos de segurança no Rio
que iria fazer operação no Rio para prender Israel Tavares Roque.
E, ao final, Nilmário Miranda pede o “reconhecimento como desaparecido político, uma vez
que não houve nenhuma [ilegível] de comunicação da prisão de Israel Tavares Roque, nem o gover-
no da Bahia respondeu aos apelos desta Comissão”.
Nasceu em 21 de julho de 1918, natural de Santa Maria (RS), filho de Vicente de Paula
Dornelles e Celina Cândida Dornelles. Morto em 28 de dezembro de 1964. Militante do
Partido Trabalhista Brasileiro (PTB).
Era sindicalista ferroviário, casou-se com Marieta da Silva Dornelles e teve dois filhos,
Volnei e Vilnei.
Onofre exerceu a profissão de ferroviário durante 26 anos e era funcionário da Viação
Férrea do Estado do Rio Grande do Sul. Foi presidente da União dos Ferroviários Gaú-
chos e, devido a sua atuação sindical, teve seus direitos políticos cassados pelo AI-1, em 9
de abril de 1964.
Após o golpe militar, entre abril e outubro daquele ano, esteve preso em vários quartéis
de Santa Maria, entre eles o 7º Regimento de Infantaria e Batalhão de Carros de Combate
Leves. Em decorrência das torturas sofridas e das condições de prisão, sua saúde ficou seria-
mente abalada. Após pressão de seus companheiros de prisão, foi libertado em outubro, vindo
a morrer na Santa Casa da cidade, no dia 28 de dezembro.
A viúva de Onofre e seus filhos requereram ao ministro da Justiça e ao presidente da
CEMDP a revisão do valor da pensão recebida. Seus companheiros de prisão, o conceituado
advogado gaúcho Adelmo Simas Genro, pai do ministro da Justiça Tarso Genro, e Izidoro
Lima Garcia, atestaram a veracidade dos fatos relatados no requerimento encaminhado tam-
bém à Comissão de Indenização dos Presos Políticos do Rio Grande do Sul. Este pedido foi
negado, assim como o de Adelmo, pois Onofre permaneceu sob a guarda de agentes e órgãos
federais e não estaduais, como era exigência prevista na lei estadual 11.042/97.
Na CEMDP, o mérito do requerimento (070/02) não foi analisado, sendo encaminhado
à Comissão de Anistia em 28 de janeiro de 2003.
No entendimento da Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos, com
a ampliação de prazos e da abrangência da lei 9.140/95 que ocorreu entre 2002 e 2004, quan-
do se passou a considerar os casos de pessoas que tenham falecido em virtude de repressão Documentos consultados:
policial em manifestações públicas ou em conflitos armados, ou em decorrência de suicídio, Requerimento apresentado à
Comissão de Indenização dos
não restou dúvida quanto à necessidade de se reconhecer a responsabilidade do Estado na Presos Políticos do Rio Grande
morte de Onofre para fins de indenização. do Sul.
1 9 6 5
Iconographia
Guerrilheiros liderados pelo coronel Jefferson Cardim de Alencar Osório tomaram a cidade de Três Passos (RS), em 25 de março de 1965,
mas foram detidos pelo Exército três dias depois, no Paraná.
Leopoldo Chiapetti
1 9 6 6
José Sabino
Militância política desconhecida. Morto em 19 de maio de 1966.
O corpo de José Sabino entrou no IML/RJ na data de sua morte com a guia 3 do Hos-
1. O jornal “Última Nasceu em Quixeramobim (CE) em 17 de outubro de 1928, filho de Francisco Pa-
Hora”, do Rio de Janeiro, rente e Amélia Nobre Parente. Morto em 19 ou 20 de maio de 1966.
publicou na edição de
25 de maio de 1966 a Segundo o relato feito por sua filha Sara Cavalcante à Associação 64/68 – Anistia, do
manchete de primeira Ceará, em 12 de novembro de 2003:
página “Preso Político No dia 17 de maio de 1966, o senhor José Nobre Parente, ferroviário, casado, pai
se Matou nas Grades do
Xadrez”, e na página 2 a
de três filhas, saiu para trabalhar e não mais retornou, segundo sua esposa, a senho-
matéria “Preso Político ra Francisca Cavalcanti Parente. Nesse mesmo dia, por volta das 15 horas, parou
Suicida-se no Xadrez”. um jeep em frente à sua casa, um homem desceu e avisou da prisão do senhor José
No dia 1 de junho, o Nobre Parente. Vários ferroviários foram presos nesse dia. Estavam acontecendo aci-
mesmo jornal publicou
a notícia “Rede Cearense
dentes com trens de carga no estado do Ceará e justamente no dia anterior, mais
Manda Espancar Repórter precisamente no dia 17 de maio, um trem que estava indo de Fortaleza para o mu-
de UH”. nicípio de Aurora foi desencarrilhado, causando um acidente que ocasionou essas
prisões. Essa informação foi obtida através de uma pequena nota no Jornal do Brasil
daquela época, onde diz que o ferroviário aqui citado cometeu suicídio por entregar
todos os outros companheiros. No dia 18 de maio pela manhã, dona Francisca, um
cunhado e o sogro foram visitá-lo no xadrez da Secretaria de Segurança Pública do
Estado. Foram entregues à sua esposa seus pertences, que eram: um anel, a aliança,
o relógio e o cinto. Ao conversar com o marido, dona Francisca conta que ele estava
apavorado e fez-lhe um pedido: “Aconteça o que acontecer não se separe de nossas
filhas e que tirassem ele dali, pois ele não iria suportar o que estava acontecendo”.
No dia 19 de maio pela manhã, quando dona Francisca foi visitá-lo, acompanhada
de uma cunhada, o delegado pediu que esperasse o carcereiro verificar se estava tudo
bem. Foi quando o rapaz veio gritando dizendo que o homem estava morto.
No velório tinha policial disfarçado para impedir qualquer manifestação. Quando
chegou o atestado de óbito do IML, foi entregue ao irmão do morto, o senhor Valfre-
do, que, ao ler que a causa da morte foi fratura no crânio e não asfixia mecânica
como haviam dito na Secretaria de Segurança, fez um discurso. Rapidamente os
policiais detiveram o senhor Valfredo e outros irmãos e cunhados do morto e toma-
ram o documento. Os parentes do senhor José Nobre Parente prestaram depoimento.
Mas nada foi provado. Se ele era ou não envolvido com comunistas, só se sabe que a
imprensa entrevistou a viúva e que o repórter Edmundo Maia, que fez a matéria,
foi espancado em plena praça pública de Fortaleza [Última Hora, 25 de maio e 1º
de junho de 19661].
Dona Francisca só recebeu um seguro de vida e a pensão pelo INSS. De acordo com
documentos, a RFFSA nunca pagou os direitos da viúva. Isto é o pouco que sabemos
da morte de nosso pai.
Dados retirados da certidão de óbito, emitida pelo Cartório Cysne, dão como data
Documentos consultados da morte 20 de maio de 1966 e que a mesma se deu por “asfixia mecânica por constrição
Informações fornecidas pela do pescoço, enforcamento”, sendo assinado pelo legista Edson Lopes.
Comissão Especial de Anistia
Wanda Sidou do Ceará. A Comissão Especial de Anistia Wanda Sidou, instituída pela lei 13.202 de 2002 do
Associação 64/68 – Anistia – estado do Ceará, reconheceu a prisão, tortura e morte do ferroviário acusado de subversi-
Ceará. vo, concedendo à viúva a indenização prevista em lei.
Nasceu a 15 de março de 1936, em Belém (PA). Filho de Etelvina Soares dos Santos.
Morto entre 13 e 20 de agosto de 1966. Era militante do Movimento Revolucionário 26 de
Março (MR-26).
Cursou o primário no Grupo Escolar Paulino de Brito. Depois foi para o Instituto Lauro
Sodré, onde fez o curso de aprendizagem industrial, estudou e trabalhou em uma oficina
mecânica. Aos 17 anos de idade foi para o Rio de Janeiro (RJ) e, em 1955, ingressou no Exér-
cito. Era um estudioso e amante da música erudita.
Em 25 de agosto de 1963, foi transferido do Rio de Janeiro para o Mato Grosso como
represália à sua participação na vida política do país e, em abril de 1964, teve sua prisão decre-
tada. Passou a viver na clandestinidade.
Foi preso no dia 11 de março de 1966, em frente ao Auditório Araújo Viana, em Porto
Alegre (RS), por dois militares à paisana: sargento Carlos Otto Bock e Nilton Aguiadas, da 6ª
Companhia da Polícia do Exército (PE), por ordem do comandante dessa guarnição, capitão
Darci Gomes Prange. Foi conduzido em um táxi à PE, onde foi submetido a torturas pelo
tenente Glênio Carvalho Sousa. Também participaram do espancamento o 1º tenente Nunes
e o 2º sargento Pedroso. Mais tarde, os mesmos militares o entregaram ao DOPS com a reco-
mendação de que só poderia ser solto por ordem do major Renato da PE.
No DOPS, Manoel foi torturado pelos delegados Itamar Fernandes de Souza e José
Morsch, entre outros.
Segundo depoimentos das testemunhas ouvidas no inquérito instaurado para esclare-
cimento da prisão, tortura e morte do sargento Manoel Raimundo, sua via crucis pelos
órgãos de repressão foi a seguinte: até o dia 19 de março esteve detido no DOPS; em se-
guida, foi transferido para a ilha-presídio existente no rio Guaíba; em 13 de agosto, foi
recambiado para o DOPS. Depois dessa data, não se soube de Manoel Raimundo. O
advogado carioca Marcelo Alencar impetrou habeas corpus a favor do sargento junto ao
STM, mas as autoridades informaram à Corte que ele não se encontrava preso e que não
tinham notícias dele. O corpo de Manoel Raimundo Soares foi encontrado por um pes-
cador em 24 de agosto de 1966, em estado de putrefação, com os membros atados às
costas por macegas, boiando no rio Jacuí, nas proximidades de Porto Alegre, e este inci-
dente ficou conhecido como “Caso das mãos amarradas”.
No inquérito aberto, várias testemunhas contradisseram a nota oficial divulgada à
época, que dava conta da soltura de Manoel Raimundo em 13 de agosto. O estudante de
agronomia Luís Renato Pires de Almeida, preso na mesma época e desaparecido mais
tarde na Bolívia, afirmou que Manoel Raimundo estava em uma das celas do DOPS gaú-
cho na noite de 13 de agosto e nos dias seguintes; informação confirmada pelo depoimen-
to do ex-guarda-civil Gabriel Albuquerque Filho.
O inquérito arrolou como acusados da prisão, tortura e morte de Manoel Raimundo
as seguintes pessoas: o guarda-civil Bolony Godói Pereira, os tenentes Luiz Otávio Lopes
Cabral e Rui Alberto Duarte, os sargentos Milton Ferrarezi, Hugo Kretschoer, Nilo Vaz de
Oliveira (vulgo Jaguarão), Ênio Cardoso da Silva, Theobaldo Eugênio Berhens, Itamar de
Mattos Bones, Eloir Behs, Volnei da Cunha, Ênio Castilho lbañes, Tenente Nunes, comis-
sários Correia Lima, Ribeiro e Régis, os delegados José Morsch, Itamar Fernandes de Souza
e Renato, tenente-coronel Luís Carlos Mena Barreto e o major Átila Rohrsetzer.
Sua necropsia, feita no IML/RS em 25 de outubro de 1966, pelos médicos Fleury C.
Guedes e Antônio F. de Castro, confirma que houve lesões no corpo de Manoel Raimun-
do e provavelmente houve violência, indicando que Manoel faleceu entre 13 e 20 de
agosto de 1966.
1 9 6 7
Guerrilheiros presos na serra de Caparaó, na divisa dos estados do Espírito Santo e de Minas Gerais, abril de 1967.
Lucindo Costa
Nasceu em 29 de maio de 1919, em Laranjeira (SE), filho de Pedro Costa e Maria Gra-
cinda. Morto em 26 de julho de 1967.
Era casado com Elizabeth Baader Costa.
Foi preso em Centenário do Sul (PR) e transferido para a prisão provisória de Curitiba
(PR), logo após o golpe de 1964, permanecendo recluso por cerca de um mês, conforme cópia
de sua ficha no DOPS.
Em 24 de julho de 1967, Lucindo viajou de Mafra (SC) para Curitiba e seus familiares
não tiveram mais notícias dele. Pouco depois, uma pessoa não identificada foi até sua casa e
1 9 6 8
Nasceu em 24 de fevereiro de 1950, em Belém (PA), filho de João dos Santos e Maria de
Belém Lima Souto. Estudante secundarista morto em 28 de março de 1968.
Edson era filho de uma família pobre que foi para o Rio de Janeiro buscar melhores
condições de vida. Matriculou-se no Instituto Cooperativo de Ensino, instalado no local
conhecido como Calabouço. Conforme entrevistas concedidas à revista Fatos e Fotos por
integrantes da Força Unida dos Estudantes do Calabouço (FUEC), Edson não chegou a ser
um líder estudantil.
Nos dias que antecederam seu assassinato, os estudantes andavam agitados, promovendo
manifestações quase diárias contra as instalações da escola e do restaurante em um barracão
improvisado a 300 metros do terreno original. O restaurante funcionava perto do aeroporto
do centro, mas, em 1967, o governo demoliu o prédio antigo para dar lugar ao trevo que or-
denou o trânsito do Aterro para a avenida Perimetral. Naquela quinta-feira, 28 de março, es-
tava programada mais uma passeata. Os policiais militares invadiram o local e começaram a
atirar nos estudantes, que estavam armados apenas com paus e pedras. Edson segurava uma
bandeja quando começou a correria e foi atingido por um tiro no peito, disparado no restau-
rante lotado. A bala varou o coração e alojou-se na espinha, provocando morte imediata.
Conforme a versão de testemunhas ouvidas na Comissão de Inquérito instaurada para inves-
tigar o assassinato, citada no livro do jornalista Zuenir Ventura, 1968: o Ano Que Não Termi-
nou, Edson Luiz fora atingido pelo aspirante da PM Aloísio Raposo.
Seus colegas não permitiram que o corpo fosse levado ao IML, conduzindo-o para a
Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro. Depois de demoradas negociações, a necropsia
foi feita na própria Assembléia pelos médicos Nilo Ramos de Assis e Ivan Nogueira Bas-
tos, na presença do secretário de Saúde do estado. Seu corpo foi velado no local durante
toda a noite. Os protestos contra a morte de Edson Luiz mobilizaram milhares de estu-
dantes, intelectuais, artistas e trabalhadores. Durante a madrugada, a Assembléia trans-
formou-se em local de peregrinação. Os artistas de teatro suspenderam os espetáculos e
convocaram o público para o velório. Populares fizeram fila diante do caixão enquanto
alguns estudantes discursavam. O óbito, de nº 16.982, teve como declarante o estudante
Mário Peixoto de Souza. O registro de ocorrência 917, da 3ª DP, informou que, no tiro-
teio ocorrido no restaurante Calabouço, outras seis pessoas ficaram feridas, sendo atendi-
das no Hospital Souza Aguiar. Outras três pessoas foram feridas na Praça Floriano, em
decorrência da violência de policiais civis e militares, durante o velório de Edson Luiz e
também foram atendidos no Hospital Souza Aguiar.
A “sexta-feira sangrenta”
As mortes
Morta a tiros pela polícia em 21 de junho de 1968, quando ocorreu a repressão às mani-
festações de rua realizadas naquele dia. Durante o cerco aos estudantes entre a rua México e
Santa Luzia, Maria Ângela foi atingida na fronte e levada para o QG da PM, onde morreu.
Não foi apresentado requerimento à CEMDP.
Nasceu em 5 de julho de 1952, no Rio de Janeiro (RJ), filho de Hércules Lembo e Aris-
totelina da Silva Lembo. Morto em 1º de julho de 1968.
O comerciário Fernando da Silva Lembo foi baleado pela PM do Rio de Janeiro, atingido
na cabeça quando participava de uma manifestação estudantil, em 21 de junho. Levado para
o Hospital Miguel Couto, permaneceu em estado de coma e faleceu em 1º de julho.
O corpo entrou no IML/RJ no mesmo dia com a guia 105 do Hospital Souza Aguiar. O
legista Alves de Menezes definiu como causa mortis: “[…] ferida penetrante no crânio com destrui-
ção parcial do cérebro”. Foi enterrado por seus familiares no cemitério de Marui, em Niterói (RJ).
[Na CEMDP, seguindo o parecer do relator, tenente-coronel João Batista Fagundes, o
caso foi acolhido de acordo com o texto da lei 10.875/2004, “[…] que contempla todas as ví-
timas da violência política, ainda que não fossem participantes ativos das manifestações de rua”. O
caso (043/02) foi aprovado por unanimidade, em 7 de outubro de 2004.
Nascido em 6 de março de 1950, no Rio de Janeiro (RJ), filho de Manoel Alves Ferreira
e Maria Madalena Rodrigues Ferreira. Morto em 5 de agosto de 1968.
Estudante universitário e comerciário.
Manoel foi ferido na cabeça por duas balas, em 21 de junho de 1968, ao participar de
passeata estudantil na avenida Rio Branco, esquina da rua Sete de Setembro. Foi socorrido no
Hospital Souza Aguiar, onde foi operado. Transferido para a Casa de Saúde Santa Luzia e,
posteriormente, para o Hospital Samaritano, faleceu após novas cirurgias.
O corpo entrou no IML/RJ pela guia 85, da 10ª DP. O óbito 92.932 foi assinado pelo
médico Rubens Pedro Macuco Janini, tendo como declarante Francisco de Souza Almeida.
Foi enterrado pela família no Cemitério de Inhaúma (RJ).
Manoel trabalhava em uma loja chamada 5ª Avenida, no centro da cidade, onde ocorria
a passeata. Ao ver uma pessoa tombar na manifestação, correu ao seu encontro, tentando so-
correr o ferido, quando recebeu os tiros que o levaram à morte.
Na Justiça, foi reconhecida a responsabilidade civil do Estado, que concedeu a indeniza-
ção requerida, conforme documentos anexados na CEMDP.
O presidente da CEMDP, Miguel Reale Jr., solicitou nova diligência para melhor análise
do caso. O relator, João Grandino Rodas, votou pelo indeferimento do pedido por não ter
elementos suficientes para comprovar a militância política e a morte em “dependência policial
Documentos consultados:
www.desaparecidospoliticos.
ou assemelhada”.
org.br Luís Francisco Carvalho Filho requereu a retirada do caso para vistas, mas, em reunião de
Dossiê dos Mortos e 7 de agosto de 1997, acompanhou o voto do relator. A Comissão votou por 5 a 2 pelo inde-
Desaparecidos Políticos a Partir
de 1964. São Paulo: Imprensa ferimento do pedido, sendo vencidos Suzana Keniger Lisbôa e Nilmário Miranda.
Oficial, 1996. O caso foi novamente protocolado em 2002, tendo como relator o tenente-coronel João
Arquivos do IEVE/SP.
Batista Fagundes. O relator destacou que, com o advento da lei 10.875, que aumentou a
Casos 319/96, 043/02 e 046/02,
na CEMDP. abrangência de casos contemplados, acolhendo aqueles que faleceram em virtude de repressão
VENTURA, Zuenir. 1968: o ano que policial em manifestações públicas, o pedido de seus familiares deveria ser deferido, o que se
não terminou. op cit., p. 133-142.
deu por unanimidade, em 3 de março de 2005.
José Guimarães*
Nasceu em 4 de junho de 1948, em São Paulo, filho de Alberto Carlos Barreto Guima-
rães e Magdalena Topolovsk. Morto em 3 de outubro de 1968.
Era estudante secundarista do Colégio Marina Cintra, em São Paulo. Anteriormente,
havia estudado no Colégio Mackenzie.
Morto por membros do CCC e do DEOPS paulista, no conflito entre estudantes da Univer-
sidade Mackenzie e da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP, na rua Maria Antônia.
Na manhã desse dia, membros do CCC e do DEOPS deflagraram um conflito entre
estudantes das duas universidades, que durou até o início do dia seguinte. Entre as barricadas
erguidas na rua, o confronto deu-se em meio a pedras, coquetéis molotov e rojões utilizados
pelos estudantes contra carabinas e metralhadoras do CCC e dos policiais. Como saldo da
*No Dossiê dos Mortos e
Desaparecidos Políticos a chamada “Batalha da Maria Antônia”, restou o prédio da USP incendiado, muitos feridos e a
partir de 1964, publicado morte de José Guimarães. No dia seguinte, sexta-feira, a passeata de protesto, com cerca de 4
em 1996, o nome de José mil manifestantes, queimou carros e apedrejou o Citibank.
Guimarães estava grafado José foi morto por um membro do CCC e alcagüete policial de nome Osni Ricardo.
erroneamente como José
Carlos Guimarães. Entre os policiais, foram reconhecidos o delegado Raul Nogueira de Lima, vulgo Raul Careca,
Em 23 de outubro, Luís Carlos Augusto e Cloves Dias Amorim foram mortos ao serem
baleados por policiais que procuravam dispersar manifestantes que protestavam contra o as-
sassinato do estudante de medicina Luís Paulo da Cruz Nunes, no dia anterior, em uma pas-
seata no bairro de Vila Isabel.
A imprensa registrou a violência da repressão policial. O Correio da Manhã, de 24 de
outubro, publicou a seguinte notícia: “Repressão mata mais dois. Um escriturário e um operário
foram mortos ontem à tarde na Avenida Presidente Vargas quando a Polícia Militar dissolveu uma
passeata com rajadas de metralhadora e tiros de calibre 38 e 45”. O Globo, do mesmo dia, regis-
trou: “O comerciário fora à rua ver a luta e um tiro o atingiu, enquanto o operário morreu na rua,
As mortes
Nasceu em 29 de janeiro de 1947, em São Paulo, filha de Trajano Xavier Ferreira e He-
lena Elias Xavier Ferreira. Morta em 8 de novembro de 1968.
Era estudante universitária e militante da Ação Libertadora Nacional (ALN).
Foi sepultada por sua família no Cemitério do Araçá, São Paulo (SP).
Nascido em 4 de junho de 1943, em São Paulo (SP), filho de João Abi-Eçab e Beatriz
Abi-Eçab. Morto em 8 de novembro de 1968. Era militante da Ação Libertadora Nacional
(ALN).
João Antônio e Catarina eram estudantes de Filosofia na Faculdade de Filosofia, Ciências
e Letras da USP e casaram-se em maio de 1968. Militavam no movimento estudantil. João
participou da Comissão de Estruturação de Entidades no XVIII Congresso da UEE de São
Paulo, realizado em Piracicaba, de 4 a 9 de setembro de 1965. Participou também do Diretó-
rio Acadêmico da sua faculdade, em 1966. Em 1967, esteve detido no DOPS/SP, quando foi
indiciado por “terrorismo” e solto por meio de habeas corpus.
Em função da falta de informações à época, o Dossiê dos Mortos e Desaparecidos Políticos a
Partir de 1964 publicou a versão policial que atribuiu a morte do casal à explosão do veículo
em que viajavam, em conseqüência da detonação de explosivos que transportavam, em 8 de
novembro de 1968, às 19 horas, no km 69 da BR-116, próximo a Vassouras (RJ).
A versão divulgada na imprensa foi a de que eles dois foram vítimas de um acidente
de automóvel: “[…] chocaram-se contra a traseira de um caminhão que transportava pessoas
em sua caçamba”. No veículo em que estavam, teria sido encontrada uma mala com arma-
mentos e munição.
No boletim de ocorrência, que registrou o suposto acidente, consta:
Foi dado ciência à Polícia às 20h de 08/11/68. Três policiais se dirigiram ao local cons-
tatando que na altura do km 69 da BR116, o VW 349884-SP dirigido por seu proprie-
tário João Antônio dos Santos Abi-Eçab, tendo como passageira sua esposa Catarina
Helena Xavier Pereira (nome de solteira), havia colidido com a traseira do caminhão de
Jornal Repórter
Centenas de estudantes foram presos no XXX Congresso da UNE, realizado em Ibiúna em outubro de 1968. Destes, 23 tornaram-se mortos ou desaparecidos
políticos.
Na manhã de 2 de outubro de 1968, por meio da Exército e dez ônibus. O congresso foi organizado
imprensa, o Brasil tomou conhecimento da denúncia clandestinamente, o que não evitou a prisão maciça.
do capitão pára-quedista Sérgio Ribeiro Miranda de Entre os estudantes, em torno de 200 eram mulheres.
Carvalho sobre o caso Para-Sar – uma unidade especial As três construções do sítio – o chiqueiro, o estábulo
de busca e salvamento da Aeronáutica. O brigadeiro e o galpão – foram utilizadas durante o congresso. Os
João Paulo Burnier, que respondia pela chefia de Gabi- estudantes construíram um “Plenário” aproveitando
nete do ministro da Aeronáutica, pretendia usar a uni- a topografia do terreno, que tinha degraus que ser-
dade Para-Sar para seqüestrar 40 políticos e lançá-los viam de arquibancada, coberta com lona. Além disso,
de avião no oceano Atlântico. Planejava causar a morte cerca de 20 barracas, uma enfermaria com médicos e
de milhares de pessoas com a explosão de um gasôme- enfermeiras, cozinha e banheiros improvisados foram
tro na avenida Brasil e a destruição da represa de Ribei- organizados.
rão das Lajes, ambas no Rio de Janeiro. A responsabi- Os representantes mais expressivos do movimen-
lidade pelos atentados seria atribuída aos comunistas. to estudantil foram presos no congresso, entre eles
Nesse mesmo dia, os estudantes da Universidade Vladimir Palmeira, Luis Travassos, José Dirceu, Jean-
Mackenzie e da Faculdade de Filosofia, Ciências e Le- Marc van der Weid, Franklin Martins e Marcos Me-
tras da Universidade de São Paulo começaram a cha- deiros, e muitos, a partir daquele momento, iniciaram
mada “batalha da rua Maria Antônia”. O conflito ini- sua militância clandestina ou foram obrigados a exilar-
ciou-se com o ataque de estudantes do Mackenzie se. Todos foram presos e fichados e, nos anos seguin-
contra a atividade de arrecadação de fundos para o tes, as fotos tiradas pela polícia nessa ocasião serviram
XXX Congresso da UNE. Com a participação do para identificar militantes procurados ou presos. Desse
CCC no ataque, foram trocados tiros, bombas, rojões total, são conhecidos 23 nomes de estudantes presen-
e coquetéis molotov durante todo o dia até a manhã tes ao congresso assassinados pela repressão política.
seguinte, deixando o prédio da USP incendiado, mui- São eles: Antônio de Pádua Costa, Antônio dos Três
tos feridos e um morto: o secundarista José Guima- Reis Oliveira, Aylton Adalberto Mortati, Bérgson
rães. A passeata de protesto pelo seu assassinato reuniu Gurjão Farias, Chael Charles Schreier, Eduardo Collier
cerca de 800 estudantes e percorreu o centro de São Filho, Fernando Borges de Paula Ferreira, Gildo Ma-
Paulo. Durante as manifestações públicas daquele ano, cedo Lacerda, Helenira Rezende de Souza Nazareth,
pelo menos 11 pessoas foram assassinadas. Era o perío- Ivan Mota Dias, Jaime Petit da Silva, José Carlos No-
do de descenso da luta política que antecedeu o AI-5. vais da Mata Machado, José Maurílio Patrício, José
Na madrugada de 12 de outubro, a polícia inva- Roberto Arantes de Almeida, José Wilson Lessa Sabag,
diu o sítio Murundu, nas imediações de Ibiúna (SP), Lauriberto José Reyes, Luiz Eduardo da Rocha Merli-
e prendeu cerca de 920 estudantes, pondo fim ao no, Márcio Beck Machado, Maria Augusta Thomas,
XXX Congresso da UNE que ali se realizava. Todos Ranúsia Alves Rodrigues, Ruy Carlos Vieira Berbet,
foram levados a São Paulo em cinco caminhões do Tito de Alencar Lima e Umberto Câmara Neto.
J. Cardoso
O Ato Institucional nº 5
1 9 6 9
Presos políticos banidos em troca do embaixador norte-americano Charles Burke Elbrick embarcam para o México, setembro de 1969.
Na foto estão 13 dos 15 presos libertados.
Nasceu em 5 de janeiro de 1940, em Angra dos Reis (RJ), filho de José de Carvalho Filho
e Anna Braz de Carvalho. Morto em 28 de janeiro de 1969. Era dirigente da Ação Libertado-
ra Nacional (ALN).
Era desenhista mecânico.
Foi assassinado com vários tiros desfechados pelas costas em sua casa na capital paulista
por policiais do DOPS/SP, chefiados pelo delegado Raul Nogueira de Lima, vulgo Raul Care-
ca, o mesmo policial que, em outubro de 1968, matou a tiros o estudante do Colégio Marina
Cintra, José Guimarães.
Na requisição de exame do IML/SP consta que “[...] a vítima estava sendo procurada pelo
DOPS, travou tiroteio com policiais, sendo abatido a tiros na Rua Fortunato, 291”. Os legistas
Erasmo M. de Castro de Tolosa e Orlando Brandão, que fizeram o laudo confirmando a ver-
são oficial, apontaram como causa da morte “hemorragia interna traumática”.
O historiador Jacob Gorender, no livro Combate nas Trevas, descreve a morte de Marqui-
to, como era conhecido. Em 28 de janeiro, depois de ir a sucessivos pontos onde deveria en-
contrar um companheiro, resolveu procurá-lo em sua residência. Ao abrir a porta do aparta-
mento, defrontou-se com a polícia atirando. Marquito fora vítima da onda de prisões que
atingiu muitos militantes da VPR naquele mês.
Onofre Pinto, dirigente da VPR desaparecido em 1974, esteve preso na mesma épo-
ca. Foi banido do Brasil após sua libertação e de mais 14 prisioneiros trocados pelo em-
baixador norte-americano, em setembro de 1969. Ao desembarcar na Cidade do México,
em 7 de setembro, denunciou o ocorrido a Marco Antônio em depoimento ao semanário
italiano L’Expresso.
Marco Antônio, militante ligado a Carlos Marighella, participou de treinamento de
guerrilha em Cuba e comandava o chamado “grupo de fogo” do Agrupamento Comunista de
São Paulo, que deu origem à ALN. Foi um dos acusados pela execução do capitão do Exérci-
to norte-americano Charles Rodney Chandler, agente da CIA, em 12 de outubro de 1968,
executado pela ALN e VPR. Foi um dos organizadores da manifestação de protesto do 1º de
maio de 1968, na Praça da Sé, em São Paulo.
O depoimento de seu irmão, João Pedro Braz de Carvalho, aponta inconsistências na
versão do agente do DOPS/SP:
[...] no dia 1º de fevereiro de 1969, no Instituto Médico Legal de São Paulo, estava
aguardando a liberação do corpo do meu irmão Marcos Antônio Braz de Carvalho [...]
Nascido em Caruaru (PE), em 1930. Filho de Ulisses Viana Colou e Maria Belarmina da
Conceição. Morto em 24 de maio de 1969. Militante do Comando de Libertação Nacional
(Colina).
O sargento Severino, ex-presidente da Associação de Cabos e Sargentos da PM do Estado
da Guanabara, foi preso e morreu em uma cela da 1ª Companhia da Polícia do Exército no
Rio de Janeiro. De acordo com o IPM 1.478, realizado pelo quartel-general da 1ª Divisão de
Infantaria, ele estava preso e foi encontrado morto por volta das 11h35min de 24 de maio de
1969, enforcado com a própria calça, presa em uma das barras da cela. Assinaram o laudo
pericial do local de morte os legistas Euler Moreira de Moraes e Erivaldo Lima dos Santos. No
laudo consta que: “Em ambas pernas, na altura da canela, apresentava ferida contusa e escoriações
generalizadas pelo tronco. Nas nádegas apresentava hematomas de forma irregular”.
De acordo com o boletim de março de 1974 da Anistia Internacional e o livro Oposição
no Brasil, Hoje, de Marcos Freire, é falsa a versão oficial de que Severino teria se suicidado ao
se enforcar em sua cela. Em declarações prestadas à época, em auditorias militares, os presos
políticos Antônio Pereira Mattos, Ângelo Pezzuti da Silva e Afonso Celso Lana Leite denun-
ciaram as torturas sofridas por Severino na Vila Militar.
Nascido em 4 de março de 1945, em Niterói (RJ), filho de José Bastos Pimenta e Maria
do Carmo Silveira Pimenta. Morto em 27 de junho de 1969. Dirigente do Movimento Revo-
lucionário 8 de Outubro (MR-8).
Estudou no Colégio Salesiano Santa Rosa, em Niterói, e estava cursando o 3º ano de
Engenharia na Universidade do Estado da Guanabara, hoje UFRJ. Estudou inglês no Institu-
to Brasil-Estados Unidos e trabalhou como professor.
De acordo com o historiador Jacob Gorender, o MR-8, formado pela Dissidência Estu-
dantil do PCB de Niterói na sua primeira fase, começou a se esfacelar quando foi preso um
dos dirigentes responsáveis pela área de guerrilha rural, no oeste do Paraná, em abril de 1969,
gerando uma seqüência de prisões. Em 27 de junho de 1969, o apartamento de Reinaldo
Silveira Pimenta foi invadido por agentes da polícia política. Em circunstâncias não esclareci-
das, Reinaldo caiu pela janela do apartamento. Foi encaminhado ao Hospital Miguel Couto,
morrendo poucas horas depois. O corpo de Reinaldo entrou no IML/RJ pela guia 13 da 14ª
DP como desconhecido: “[...] morto ao cair na área interna do prédio”.
Nasceu em 1º de outubro de 1945, em São Paulo, filho de Tolstoi de Paula e Célia Borges
de Paula Ferreira. Morto em 29 de julho de 1969. Militante da Vanguarda Armada Revolu-
cionária Palmares (VAR-Palmares).
Líder estudantil na Universidade de São Paulo, onde cursava Ciências Sociais, era conhe-
cido como Fernando Ruivo. Foi um dos principais ativistas da DISP (Dissidência Estudantil
do PCB/SP), uma articulação de militantes comunistas que, no fim de 1968, se dispersou –
seus integrantes ingressaram na ALN e na VPR. Em seguida, no Congresso em Mongaguá
(SP), em 1º de julho de 1969, militantes da VPR uniram-se aos do Colina e criaram a VAR-
Palmares.
A Carta Mensal nº 6, encontrada no arquivo do DOPS/SP, de 31 de março de 1970, re-
ferente à comemoração do sexto aniversário “do esforço do Governo em recuperar econômica,
social e moralmente o nosso País”, informa que “[...] após tiroteio no ‘Largo da Banana’, no dia
29/7/69 [...] perdeu a vida Fernando Borges de Paula Ferreira e saiu gravemente ferido João Do-
mingos [sic] da Silva, ambos pertencentes a ALN [sic]”. Ainda segundo o documento, pela do-
cumentação do carro foram iniciadas investigações sobre o proprietário, que acarretaram em
diversas prisões de militantes da ALN.
Fernando Ruivo participou de várias ações armadas e tomou parte na maior ação promo-
vida pela VAR-Palmares: a expropriação de 2,6 milhões de dólares do cofre da residência do
irmão de Ana Capriglione, em Santa Teresa, Rio de Janeiro, em 18 de julho de 1969. Ana era
amante de Adhemar de Barros e depositária das propinas guardadas pelo ex-governador de
São Paulo.
Assinaram o laudo de necropsia de Fernando os médicos legistas Pérsio R. Carneiro e
Antônio Valentini, que descrevem ferimentos contusos, irregulares, sendo dois na região pa-
rietal direita e dois na região parietal esquerda, com fraturas, mas sem sinais de hemorragia ou
lesões do encéfalo. Além disso, descrevem um ferimento perfuro-contuso produzido por pro-
jétil de arma de fogo, alojado junto à articulação da sétima costela com o corpo vertebral “[...]
que penetrando ao nível do ferimento descrito [...] transfixou a parede torácica, se dirigindo para
baixo, para trás e para a esquerda, transfixou o lobo superior do pulmão direito”, sendo a morte
causada por hemorragia interna.
Alguns aspectos chamam a atenção no laudo citado: seu corpo entrou no IML despido.
Apesar de ter morrido em tiroteio, foi atingido por um único tiro no sentido de baixo para
cima. Fernando já estaria caído, quando foi ferido? Outro aspecto que chama a atenção são os
ferimentos nos lados esquerdo e direito do crânio. Se o ferimento fosse causado pela queda,
decorrente do impacto do projétil, provavelmente, ele ocorreria apenas do lado que chocou-se
com o solo e não em ambos os lados.
As mortes
Nasceu em 25 de outubro de 1943, em São Paulo (SP), filho de Wilson José Sabbag e
Maria Lessa Sabbag. Morto em 3 de setembro de 1969. Militante da Ação Libertadora Nacio-
nal (ALN).
José Wilson Lessa Sabag era estudante do 5º ano de Direito da PUC/SP. Era casado com
Maria Tereza de Lucca Sabbag, com quem teve uma filha. Produziu algumas filmagens sobre
o movimento estudantil de 1967 e 1968. Foi preso no XXX Congresso da UNE, em Ibiúna,
As mortes
Roberto Cietto
Nasceu a 15 de agosto de 1933 em Sítio Novo, em Santa Cruz (RN), filho de Sebastião
Gomes da Silva e Izabel Gomes da Silva. Desaparecido em 29 de setembro de 1969. Dirigen-
te da Ação Libertadora Nacional (ALN).
Era metalúrgico e casado com Ilda Gomes Martins da Silva, com quem teve quatro filhos.
De uma família humilde e pequena, Virgílio e seus parentes vagaram por várias partes do
país depois de deixarem o Rio Grande do Norte. No Pará, a família trabalhou em um grande
Nasceu em João Pessoa (PB), em 14 de outubro de 1946, filho de Francisco Xavier Bor-
ges de Souza e Eulina Borges de Souza. Morto em 10 de outubro de 1969. Militante do Par-
tido Comunista Brasileiro (PCB).
Vice-presidente da UEE da Paraíba e presidente do Diretório Acadêmico da Faculdade
de Medicina da UFPB. Foi preso pela primeira vez por sua participação no XXX Congresso
da UNE, em Ibiúna, em outubro de 1968. Nessa época, era militante da Ação Popular (AP).
Teve seus direitos de estudante cassados por dois anos em razão da aplicação do decreto 477.
Já como integrante do PCB, sua segunda prisão ocorreu no início de 1969, quando ficou
no 1º Grupamento de Engenharia da Construção, na Paraíba. Depois, foi preso pelo DOPS
de Recife (PE), onde permaneceu por três meses. Ao sair, foi informado que estava marcado
para morrer e que isso só não ocorreria se passasse a auxiliar a repressão. João Roberto não
aceitou a proposta e, em 7 de outubro de 1969, foi seqüestrado por integrantes do CCC e do
Cenimar. Familiares e vizinhos assistiram à sua prisão. A família procurou imediatamente as
autoridades para saber seu paradeiro, mas não obteve nenhuma informação.
Três dias depois, sua morte foi noticiada pela rádio local. Em nota oficial, a Secretaria de
Segurança Pública de Pernambuco afirmou, à época, que João Roberto teria morrido em
conseqüência de afogamento no açude Olho D’Água, no município de Catolé do Rocha, no
sertão da Paraíba.
A família procurou o corpo no IML local. Os agentes do Estado, no entanto, não que-
riam permitir o acesso ao corpo, chegando a noticiar que ele já havia sido enterrado. Após
interferências políticas, seu corpo foi liberado. O corpo de João Roberto apresentava inúmeros
ferimentos, unhas perfuradas, queimaduras de cigarros, hematomas, olhos extremamente in-
chados. Além disso, João Roberto sabia nadar muito bem, pois havia sido criado em Cabede-
Eremias Delizoicov
Nasceu em 27 de março de 1951, em São Paulo, filho de Jorge Delizoicov e Liubov Gra-
dinar Delizoicov. Morto em 16 de outubro de 1969. Militante da Vanguarda Popular Revo-
lucionária (VPR).
Demétrio Delizoicov Neto, irmão de Eremias, escreveu um testemunho sobre sua vida:
Eremias viveu toda a sua infância e boa parte da sua curta adolescência na Mooca.
Completou o curso primário, em 1961, no Grupo Escolar Pandiá Calógeras e o ginasial,
em 1965, no Colégio Estadual M.M.D.C. Neste mesmo colégio iniciou, em 1966, o
curso clássico. Em 1967 foi aprovado no exame de seleção da Escola Técnica Federal de
São Paulo e cursou, simultaneamente com o clássico, o curso de mecânica.
Sensível e criativo, destinava suas horas de lazer ao esporte e à música. Tocava violão
várias horas por dia. Estudou música clássica e, a partir de 66, imbuído de um “espírito
nacionalista”, começou a expressar seus sentimentos interpretando músicas nacionais,
notadamente aquelas enquadradas como Bossa Nova.
Tentou, com um colega pianista e outro baterista, formar um trio.
Como esportista, em 1962 disputou o Torneio Paulista de Judô, tendo tirado a primeira
colocação na sua categoria. Treinou natação durante 65 e 66 e participou de algumas
competições. Em 1967, integrou a equipe de remadores do Corinthians e começou a
treinar capoeira.
Organizava seus horários de tal modo a, paralelamente, auxiliar o pai nas atividades do
comércio.
Iniciou a leitura das obras de Aluísio de Azevedo, Jorge Amado e Graciliano Ramos. Fi-
cou particularmente sensibilizado com as poesias de Augusto dos Anjos e passou a questio-
nar a realidade brasileira ao ler Geopolítica da Fome, de Josué de Castro. Em 1967, no
Colégio Estadual M.M.D.C., articulou-se com outros colegas para formar uma chapa
que disputaria as eleições para o grêmio estudantil, iniciando sua militância política.
Ficou conhecendo detalhes do acordo MEC-USAID e engajou-se no movimento estu-
dantil contra tal acordo. Passou a interagir com estudantes de outras escolas secundárias
Carlos Marighella
Nasceu em 23 de setembro de 1946, na cidade de São Paulo (SP), filho de Ire Schreier e
Emília Brickmann Schreier. Morto em 22 de novembro de 1969. Militante da Vanguarda
Armada Revolucionária Palmares (VAR-Palmares).
Era estudante do 5º ano da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de Misericór-
dia de São Paulo e membro da Comissão Executiva da UEE de São Paulo. Após a decretação
do Ato Institucional nº 5, passou a atuar na clandestinidade. Ligou-se à Dissidência Estudan-
til do PCB/SP (DISP), trabalhando junto às bases operárias e participando da redação e dis-
tribuição do jornal Luta Operária. Posteriormente, como militante da VAR-Palmares, partici-
pou de sua direção regional.
Foi preso em 21 de novembro de 1969 na casa em que morava, na rua Aquidabã, 1.053,
em Lins de Vasconcelos, Rio de Janeiro (RJ), junto com Antônio Roberto Espinosa, um dos
comandantes da VAR-Palmares, e sua companheira, Maria Auxiliadora Lara Barcelos. Segun-
do os testemunhos de Espinosa, de Maria Auxiliadora e de alguns soldados que serviam no
Quartel da 1ª Companhia da Polícia do Exército, na Vila Militar do Rio de Janeiro, Chael foi
o mais torturado entre os três presos. Foi visto pela última vez por seus amigos com o pênis
dilacerado e o corpo ensopado do sangue que vertia de vários ferimentos, entre eles um pro-
fundo corte na cabeça. Além de Espinosa e Maria Auxiliadora, o preso político Ângelo Pezzu-
ti da Silva denunciou, em juízo, as torturas sofridas por Chael.
A equipe responsável pela prisão era chefiada pelo comissário Brito e composta pelo
inspetor Vasconcelos e mais 11 policiais dirigidos pelo detetive Antero. Presos, os três
foram imediatamente levados ao quartel da PE, onde ficaram sob a responsabilidade do
capitão João Luís. Até esse momento, Chael não apresentava nenhum ferimento, confor-
me declarações dos próprios policiais que o prenderam, transcritas nos jornais cariocas
que circularam no dia seguinte.
Chael foi torturado por uma equipe de oficiais e suboficiais do CIE e da 2ª Seção da
Companhia da PE comandada pelo capitão Celso Lauria e, ainda, o capitão João Luiz de
Souza Fernandes, ambos do CIE, segundo denúncia de Espinosa e Maria Auxiliadora na Au-
ditoria Militar. Eles descreveram também os chutes e pontapés que Chael levou do capitão
Airton Guimarães Jorge, que mais tarde foi acusado de ser banqueiro do jogo do bicho e de
fazer parte de grupos de extermínio no Espírito Santo. Em abril de 2007, o capitão Guimarães
foi preso pela Operação Furacão promovida pela Polícia Federal. Participaram também da
equipe que torturou os três presos os sargentos Paulo Roberto de Andrade e Atílio Rossoni,
além do cabo Edson Antônio Mendonça.
Por ocasião do seqüestro do embaixador suíço, Maria Auxiliadora foi banida do país, em
14 de janeiro de 1971, em troca do embaixador junto com 69 presos políticos. Ficou profun-
damente marcada pelas torturas sofridas e se matou, atirando-se nos trilhos de um trem na
Alemanha, em 1976.
Outro importante depoimento sobre o caso de Chael é o do coronel Carlos Luiz Helvé-
cio da Silveira Leite, publicado no jornal O Estado de S. Paulo, em 24 de fevereiro de 1988.
Conforme declarou na entrevista, ele estava de plantão quando recebeu a comunicação da
Vila Militar de que o universitário paulista havia falecido naquela dependência durante o in-
terrogatório. O coronel, que fora membro do CIE, declarou que o oficial por ele enviado para
esclarecer os fatos lhe disse: “Fiquei encabulado de ver o corpo despido e o número de equimoses e
sevícias que o cadáver apresentava”.
De acordo com declarações do diretor-médico do HCE, general de brigada Galeno de
Penha Franco: “Chael deu entrada no hospital já morto, sendo que o envio do corpo foi apenas
uma formalidade, uma vez que provinha de uma unidade militar”.
A repressão política e a
formação dos DOI-CODI
CEDEM/Fundo ASMOB
o recrudescimento da repressão política. Foi criada,
em 1969, a Operação Bandeirante (Oban), finan-
ciada por multinacionais como Ultra, Ford, General
Motors e outras. Contava com integrantes do Exérci- Capa do Bolettino Informativo della Resistenza Brasiliana, editado em
to, Marinha, Aeronáutica, Polícia Política Estadual, Roma no início dos anos 1970, faz referência à Operação Bandeirante e
Polícia Militar, Departamento da Polícia Federal, à criação do CODI.
entre outros. A eficiência de seus métodos de com-
bate às oposições fez com que servisse de modelo A preocupação com esse controle se estabeleceu
para a implantação, em escala nacional, dos Desta- desde o início, ainda que não tenha se constituído de
camentos de Operações e Informações-Centros de forma planejada nos primeiros anos. O grande número
Operações de Defesa Interna, mais conhecidos de oposicionistas mortos ou desaparecidos, cuja com-
como DOI-CODI. Em julho de 1970, Orlando posição é formada na sua maioria por lideranças políti-
Geisel, o ministro do Exército, definiu que o Exérci- cas ou quadros da luta armada, indica a seletividade e
to seria, entre as Forças Armadas, o que assumiria o centralização da repressão política brasileira. Embora
comando das atividades de segurança, e dois meses houvesse divergências e disputas nos altos escalões das
depois criou, oficialmente, os DOI-CODI (GASPA- Forças Armadas e na chamada “comunidade de infor-
RI, 2002b). Estabelecido em praticamente todos os mação”, predominou a capacidade efetiva do regime de
estados da federação, em São Paulo as suas instala- impor a hierarquia e a unidade institucional.
ções estavam localizadas na rua Tutóia, onde ainda A morte de alguns e o desaparecimento de outros
hoje funciona o 36° Distrito Policial. eram parte de uma política, cuja intenção era ocultar a
Em 1969, foi editada nova Lei de Segurança Na- realidade da tortura institucionalizada no país e, ao
cional (decreto-lei 898), muito mais severa, que insti- mesmo tempo, forjar casos exemplares que se tornas-
tuiu a pena de morte para os opositores políticos, sem uma permanente ameaça a todos. Desde 1969,
criando um mecanismo que buscava legitimar a estra- cresceu o número de mortos, ao passo que, em 1974,
tégia de eliminar as lideranças políticas e os membros ano em que se inicia a distensão política do governo do
dos grupos envolvidos na luta armada. Entretanto, general Ernesto Geisel (1974-1979), só houve casos de
ainda que o regime tenha condenado alguns presos “desaparecimentos”. Neste momento, procurou-se
políticos à pena de morte, esta não chegou a ser efetiva- construir a imagem de Geisel como a de um modera-
mente aplicada para matar “legalmente” os dissidentes. do. Esta foi a forma encontrada para lidar com os pro-
Esse aparato se formou em decorrência da constante blemas de legitimidade enfrentados pela ditadura, em
necessidade da ditadura de buscar sua institucionaliza- grande medida relacionados ao aumento das denún-
ção, pela aplicação seletiva do poder coercitivo sobre a cias de violações aos direitos humanos e ao início do
sociedade civil (ALVES, 1984). declínio do “milagre econômico”.
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Embarque para a Argélia dos 40 presos políticos banidos em troca do embaixador alemão Ehrenfried von Holleben, em junho de 1970.
Dorival Ferreira
Nasceu em 22 de janeiro de 1938, em Belo Horizonte (MG), filho caçula de Jayme Fer-
reira de Brito e Amélia Guimarães de Brito. Morto em 18 de abril de 1970. Dirigente da
Vanguarda Popular Revolucionária (VPR).
Passou parte de sua infância vivendo no que ele costumava chamar de “paraíso”, uma
estação experimental de fruticultura, sob a direção de seu pai, então secretário de Agricultura
do estado do Maranhão.
Joelson Crispim
Norberto Nehring
Nasceu em 20 de setembro de 1940, em São Paulo (SP). Era o filho mais velho de Walter
Nehring e Nice Monteiro Carneiro Nehring. Morto em 24 de abril de 1970. Militante da
Ação Libertadora Nacional (ALN).
Era economista e professor da Universidade de São Paulo. Maria Lygia Quartim de Mo-
rais, sua esposa, escreveu uma pequena biografia a seu respeito:
Norberto ficou órfão de pai muito cedo, mal chegara aos 4 anos. Foi criado, assim como
seus dois irmãos menores, pela mãe e pelos avós maternos. Durante toda sua primeira
infância costumava permanecer por longas temporadas na praia do Guarujá, com os
avós maternos, numa casa gostosa à beira-mar. Os avós paternos também moravam no
Guarujá, donos de uma farmácia e de um belo chalé de madeira onde D. Ernestina
cultivava orquídeas. Norberto desde cedo aprendeu a cuidar das orquídeas e até hoje
muitas delas florescem na casa de sua filha. Permaneceu até o fim um apaixonado pelo
mar e pela natureza.
Uma pessoa marcante na sua adolescência foi um vizinho, judeu-comunista e em-
presário, Simão, que lhe revelou as atrocidades nazistas e o despertou para a causa
do socialismo. Norberto sempre foi interessado e aplicado. Estudou nas boas escolas
públicas da época. Terminando o ginásio, optou por um curso técnico de química
industrial no Mackenzie que lhe possibilitasse trabalhar enquanto seguiria os estu-
dos universitários à noite.
Norberto foi meu primeiro namorado, aos 16 anos. Juntos começamos a participar da
vida intelectual nos primeiros anos da década dos sessenta, com os festivais da MPB –
com Caetano e Gil –, com as peças do Teatro de Arena, o João Sebastião Bar, sem se
dizer da casa de meus pais onde, em torno de meu irmão mais velho, reuniam-se diver-
sos tipos de rebeldes – da turma “beatnik” constituída por Jorge Mautner, Aguilar e
Artur, ao poeta “maldito” Roberto Piva. Mais tarde, quando meu irmão ingressou no
curso de Filosofia da USP, era ainda na casa de meus pais que se reunia, com outros
tantos jovens intelectuais de esquerda da “Maria Antônia”, para ler O Capital. Foi a
partir daí que desenvolvemos nosso projeto universitário na USP.
Em 1963 começa nossa vida adulta: Norberto já trabalhava, entramos ambos na USP
(ele, Economia, e eu, Ciências Sociais) e nos casamos. Em janeiro de 1964 nasceu Mar-
ta, que Norberto queria que se chamasse Clio, em homenagem à musa da História,
Kleió. Cléo Maria é o nome de nossa neta, nascida a 4 de maio de 1994.
Mas 1964 também trouxe tristezas: o golpe militar de 1º de abril. Fazíamos parte dos
entusiastas das reformas de base, da modernização democrática. Éramos uma geração
altamente politizada. Tínhamos ingressado no PCB assim que entramos na faculdade.
Filiei-me primeiro, o que era fácil, na medida em que a esmagadora maioria dos meus
colegas já pertenciam ao PCB. Na Faculdade de Economia (então localizada perto da
Filosofia, na rua [Dr.] Vila Nova) as coisas eram bem mais complicadas: a esmagadora
Roberto Macarini
Nasceu em 15 de julho de 1950, em São Paulo (SP), filho de Dolorato Antônio Macari-
ni e Hermínia Juliano Macarini. Morto em 28 de abril de 1970. Militante da Vanguarda Po-
pular Revolucionária (VPR).
Roberto trabalhava como bancário e estudava quando foi preso em 27 de abril de 1970,
um dia antes de sua morte. Profundamente debilitado em conseqüência das torturas, no dia
seguinte fez com que seus carrascos o levassem a um suposto encontro com companheiros.
Chegando ao Viaduto do Chá, atirou-se de cima do mesmo, segundo a versão oficial.
Um relatório produzido pelo Comitê de Solidariedade aos Presos Políticos do Brasil, em
fevereiro de 1973, uma articulação dos presos políticos de São Paulo, denunciou a morte de
diversos presos à CNBB. O documento foi apreendido pelo DOPS em poder de Ronaldo
Mouth Queiroz, quando de sua prisão e morte. De acordo com a denúncia:
Roberto foi preso pelo 1º DOI/SP [sic], e torturado pela equipe C, dirigida pelo capitão
do Exército Homero César Machado e os seguintes algozes: escrivão de polícia Gaeta
(agora alcunhado Mangabeira), funcionário do Departamento de Polícia Federal de
alcunha Alemão, tenente da Aeronáutica que participou do IPM da Frente Universitá-
Olavo Hansen
Nasceu em 14 de dezembro de 1937, em São Paulo, capital, filho de Harald Hansen e
Borborema Hansen. Morto em 9 de maio de 1970. Dirigente do Partido Operário Revolu-
cionário Trotskista (PORT).
Olavo fez o primário em Guarulhos (SP) e continuou os estudos no Ginásio Dona Leo-
nor Mendes de Barros, em São Bernardo do Campo (SP), onde residia com seus familiares.
Em 1954, sua família mudou-se para Mauá (SP) e Olavo fez o científico (atual ensino médio)
no Colégio Américo Brasiliense, em Santo André (SP). Ingressou na Escola Politécnica da
USP, onde freqüentou até o 2º ano do curso de Engenharia de Minas. Muito estudioso, nun-
ca deixou de trabalhar para custear seus estudos. Foi office-boy em várias empresas, trabalhou
em bancas de jornal e montou a primeira escola de datilografia de Mauá.
Associou-se ao Grêmio Politécnico, vindo a participar do movimento estudantil, e in-
gressou no PORT no fim de 1961, por meio de Tullo Vigevani. Foi membro da União Nacio-
nal dos Estudantes, em São Paulo, participando das principais campanhas da entidade. Pouco
depois, o partido decidiu pela “proletarização”, quando foi trabalhar na Massari S.A., uma
fábrica de carrocerias no bairro de Vila Maria, em São Paulo. Olavo, que usava o codinome de
Alfredo, e também apelidado de Totó, filiou-se ao Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo e
deu início à sua militância no movimento operário.
Abandonou o curso para dedicar-se integralmente ao trabalho sindical e político. O Sin-
dicato dos Metalúrgicos estava sob intervenção do governo e Olavo tornou-se membro ativo
da oposição sindical. Por diversas vezes foi preso, mas permaneceu na militância política.
Em seu prontuário, encontrado nos arquivos do antigo DOPS/SP, lê-se:
– preso em 7 de março de 1963 por distribuir panfletos sobre Cuba; – em 1º de novembro
de 1964 participou de assembléia do Sindicato dos Metalúrgicos, ocasião em que formu-
lou apelo para se lutar pelas liberdades democráticas e sindicais; – preso no dia 7 de no-
vembro de 1964 por suas atividades nas recentes assembléias do Sindicato dos Metalúr-
Nascida a 25 de maio de 1943, em Cachoeira do Sul (RS), filha de Oscar da Silva e Odi-
la Gomes da Silva. Morta em 17 de maio de 1970. Militante da Vanguarda Popular Revolu-
cionária (VPR).
Sua família mudou-se para Canoas (RS), onde fez seus estudos até o segundo grau (atual
ensino médio) e trabalhou no escritório da fábrica Michelletto, iniciando sua participação no
movimento operário como sócia do Sindicato dos Metalúrgicos. Em seguida, por meio de um
advogado do Sindicato, entrou em contato com a VPR.
Ela era uma moça baixinha, magra, muito alegre, entusiasmada pela luta. Em setembro
de 1969 esteve em Cachoeira do Sul (RS), despedindo-se de sua família, quando disse à sua
irmã Clélia que ia para São Paulo para se engajar na luta contra a ditadura.
Foi assassinada junto com Antônio dos Três Reis Oliveira, em São Paulo, em 17 de maio
de 1970, quando sua casa foi invadida por agentes dos órgãos de segurança. Seus pais foram
Nasceu em 15 de agosto de 1929, em Três Passos (RS), filho de Antônio Vieira dos San-
tos e Malvina Soares dos Santos. Morto em 25 de junho de 1970.
Era agricultor, casado com Constância dos Santos.
Participou da guerrilha deflagrada pelo Movimento Nacionalista Revolucionário (MNR)
na cidade de Três Passos, no Rio Grande do Sul, comandada pelo coronel Jefferson Cardim de
Alencar Osório, em março de 1965, que resultou na sua prisão.
Segundo denúncia de seu irmão, Alberi Vieira dos Santos, que também foi assassinado
em 1979, Silvano foi preso no Batalhão de Fronteiras, vindo a morrer 15 dias depois, vitima-
Nasceu em 5 de setembro de 1913, em São Paulo (SP), filho de Joaquim Baptista Ferrei-
ra Sobrinho e Cleonice Câmara Ferreira. Morto em 23 de outubro de 1970. Comandante da
Ação Libertadora Nacional (ALN).
Toledo, codinome de Câmara Ferreira, era jornalista e dedicou sua vida à militância polí-
tica. Ingressou no Partido Comunista em 1933. Foi diretor de diversos jornais do partido e,
em 1937, na ocasião do golpe de Getúlio Vargas, passou a atuar de forma clandestina, concen-
trando seu trabalho fundamentalmente no setor ferroviário. Esteve por vários anos preso,
tendo sido torturado pelo DOPS paulista durante o Estado Novo. Sua prisão deu-se na gráfi-
ca do partido, onde trabalhava. Dessa época, teve como seqüela das torturas a inexistência de
unhas nas mãos.
Em 1946, elegeu-se vereador em Jaboticabal, cidade do interior de São Paulo, além de
trabalhar nos Diários Associados de São Paulo e ser diretor do jornal diário Hoje. No ano se-
guinte, com a cassação do registro eleitoral do PCB, perdeu seu mandato. Em 1948, viajou
Nasceu em 28 de maio de 1949, em Porto Alegre (RS), filho de Arcy Cattani da Rosa e
Maria Corina Abreu Lima da Rosa. Morto em 28 de outubro de 1970.
Não há referências sobre sua militância em alguma organização político-partidária. Era
estudante de Engenharia na UFRGS.
Seu nome consta no Dossiê dos Mortos e Desaparecidos Políticos a Partir de 1964 como
tendo sido morto sob tortura em novembro de 1970, no Rio Grande do Sul, conforme de-
núncia da Anistia Internacional, em seu boletim de março de 1974.
Quando houve a discussão do caso na CEMDP, inicialmente, foi apresentado um voto
pelo indeferimento por falta de provas. Assim, a conselheira Suzana Keniger Lisbôa pediu vistas.
Após a realização de diligências, encontrou-se a certidão da 1ª Auditoria da 3ª CJM –
Justiça Militar Federal, em que consta que Ary foi condenado a seis meses de prisão em 28 de
agosto de 1969; recolhido à prisão, suicidou-se em 28 de outubro de 1970. A CEMDP loca-
lizou no STM a Apelação 38.749 à 1ª Auditoria da 3ª CJM e o inquérito sobre o suposto
suicídio. O relato impressiona não só pelo motivo da condenação, mas pelo teor do laudo
médico anterior à prisão.
Ary foi preso em 9 de janeiro de 1969, com Paulo Walter Radke, militante do Partido
Operário Comunista (POC), durante uma manifestação de estudantes da UFRGS que distri-
buíam um manifesto contra a falta de vagas, conclamando os estudantes a participarem da
eleição do DCE-Livre e em apoio ao Movimento Universidade Crítica. A diretora da Facul-
dade, Belchis Maria Smith Santana, chamou o DOPS, que prendeu Ary e outro estudante, os
quais foram condenados a seis meses de prisão, em 20 de março de 1969.
Conforme o parecer da relatora Suzana K. Lisbôa na CEMDP, o pai de Ary “[…] contrá-
rio às idéias do filho e tendo em vista as dificuldades ocasionadas no relacionamento familiar, optou
por interná-lo em um hospital psiquiátrico, na tentativa de demovê-lo de suas idéias esquerdistas,
como se pode apurar na cópia da ficha médica arquivada no Sanatório São José […]”.
Como prova de que teria se suicidado por ser “doente mental”, conforme conclusão do
procurador da Justiça Militar, César Tadeu Mazzini Canarim, foi anexado ao IPM cópia de fi-
cha médica arquivada no Sanatório São José, em que o médico psiquiatra José A. Godoy Gavio-
li diagnosticara reação esquizoparanóide, afirmando que em função de sua inadequação ao am-
biente familiar Ary tivera abalos psíquicos. Transcrevemos abaixo trecho do relatório médico:
Paciente vem em tratamento desde maio do ano passado, quando apresentou uma reação
esquizofreniforme, com idéias de conteúdo paranóide. Sentia-se desadaptado no am-
biente sócio-familiar com idéias de referência e de que não era benquisto pelos que o
cercavam. Em junho de 68 abandonou os estudos na faculdade como decorrência de seu
baixo rendimento intelectual, conseqüência esta do estado emocional de então. Passou a
relacionar-se mal com as pessoas de suas relações, quase interiorizando-se. […] Passou a
apresentar idéias reformistas, principalmente de natureza materialista, identificando-se
com os princípios esquerdistas, socialismo ou mesmo comunismo. Deixou crescer a barba
e cabelo como “um protesto ao mundo capitalista”.
Foi atendido em domicílio, já que se negava a sair de casa para entrevistas no consultório
e a abordagem para sua hospitalização naquela oportunidade tornou-se impraticável.
Atualmente recidivam alguns aspectos do quadro acima relatado, embora em menor
intensidade e tendo em vista ter realmente se envolvido em política estudantil de esquer-
da, onde procurava, dentro de sua psicopatologia esquizoparanóide, pôr em prática cer-
tos aspectos quase delirantes das concepções que morbidamente defende, sugerimos a
baixa, que foi aceita pelo paciente.
O encarregado do IPM, capitão Watson Ramalho Garro, apresentou um relatório no
qual informa:
Yoshitane Fujimori
As mortes
Nasceu em 28 de agosto de 1945, em Campo Belo (MG), filho de Alberto Collen Leite
e Maria Aparecida Leite. Morto em 8 de dezembro de 1970. Dirigente da Ação Libertadora
Nacional (ALN).
Era casado com Denise Crispim, que estava grávida quando foi presa. Ela saiu do país
logo após ser libertada e teve sua filha Eduarda na Itália, onde se exilou. Eduardo Leite, conhe-
cido como Bacuri, fez seus estudos em São Paulo (SP), para onde sua família se mudou, tor-
nando-se técnico em telefonia. Muito jovem, começou sua militância política, integrando-se
à Política Operária (Polop). Em 1967, foi incorporado ao Exército, servindo na 7ª Compa-
nhia de Guarda e, posteriormente, no Hospital do Exército, no bairro do Cambuci, na capital
paulista.
Em 1968, vinculou-se à Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), da qual se retirou
para fundar a Resistência Democrática (Rede), uma pequena organização revolucionária clan-
destina e, posteriormente, em abril de 1969, com outros componentes dessa organização,
ingressou na Ação Libertadora Nacional (ALN). Bacuri havia participado de diversas ações
armadas e foi protagonista em dois seqüestros de diplomatas.
O assassinato de Eduardo Leite é um dos mais terríveis dos que se tem notícia, pois as
torturas a ele infligidas duraram 109 dias consecutivos, deixando-o completamente mutilado.
Bacuri foi preso em 21 de agosto de 1970, na cidade do Rio de Janeiro, pelo delegado
Sérgio P. Fleury e sua equipe, quando chegava a sua casa. Foi levado para uma residência par-
ticular utilizada como cárcere, em São Conrado. Também se encontrava preso nesse local
Ottoni Guimarães Fernandes Júnior, que denunciou a prisão e as torturas de Bacuri em de-
poimento prestado à época na Justiça Militar. Foi levado ao Cenimar/RJ e ao DOI-CODI/RJ,
onde foi visto pela ex-presa política Cecília Coimbra, já quase sem poder se locomover.
Nasceu em 26 de junho de 1945, em Porto Alegre (RS), filho de João Adelino de Olivei-
ra e Julieta Pedroso de Oliveira. Desaparecido em dezembro de 1970. Militante da Vanguarda
Popular Revolucionária (VPR).
Trabalhava como corretor de imóveis.
Foi preso em 10 de dezembro de 1970 por integrantes do CISA, sob o comando do capi-
tão Barroso, e levado para a Polícia do Exército, à rua Barão de Mesquita, Rio de Janeiro (RJ).
Celso foi torturado na PE do Rio de Janeiro pelos tenentes Hulk, Teles e James, todos do
Exército. Entre 24 e 25 de dezembro, Celso foi acareado, na própria PE, com o preso político
Sinfrônio Mesa Netto, quando este constatou as torturas a que Celso estava sendo submetido.
Em 10 de agosto de 1971, o deputado federal do MDB, Oscar Pedroso Horta, encami-
nhou uma representação ao CDDPH requerendo a investigação sobre o desaparecimento de
Celso Gilberto de Oliveira. Contudo, o caso foi arquivado por unanimidade na reunião do
Conselho, de 25 de outubro de 1972.
No arquivo do DOPS/RJ, em 1992, foram encontrados documentos que confirmam
sua prisão. O documento do Comitê de Solidariedade aos Presos Políticos intitulado “Aos
Bispos do Brasil”, de fevereiro de 1973, denúncia elaborada pelos presos políticos de São
Paulo, encontrado no DOPS/SP, assevera sua prisão, tortura e desaparecimento, além de
citar os nomes de alguns dos responsáveis, já mencionados. Em um documento do CISA,
de 6 de outubro de 1971, informação 160, consta seu nome, ao lado do codinome Alan,
como preso em uma relação de militantes da VAR-Palmares e da VPR. Em sua ficha do
DOPS/RJ, Celso consta também como preso.
O relatório do Ministério do Exército, encaminhado ao ministro da Justiça Maurício
Corrêa em 1993, afirma:
[…] fora preso pelo CISA em 09/12/70 e entregue ao DOI-CODI/I Ex no dia
11/12/70. Foi interrogado em 29/12/70, quando admitiu o seu envolvimento no
seqüestro do embaixador da Suíça no Brasil. Na madrugada de 29/30 de dezembro
de 1970, conduziu as equipes de diversos órgãos de segurança ao local onde dizia
manterem o seqüestrado mas, comprovada a farsa, empreendeu fuga conseguindo
evadir-se, fato confirmado pelo relatório da Operação Petrópolis de responsabilidade
do DOI-CODI/I Ex.
O relatório do Ministério da Marinha tem versão um pouco diferente para a data de prisão:
DEZ/70, teria sido preso em 10/12/70, por Oficial da Aeronáutica e levado para o
Quartel da PE, na Guanabara, no dia 18/12/70; a partir daquela data não se soube
mais do seu paradeiro. Pertencia à VPR e participou do seqüestro do embaixador suíço.
O relatório do Ministério da Aeronáutica tem a mesma versão da data de prisão do Exército:
Documentos consultados:
Militante da VPR. Participou do seqüestro do embaixador suíço Giovanni Enrico Bu- www.desaparecidospoliticos.
cher, em 07/12/70, do qual resultou o assassinato do agente da Polícia Federal, Hélio org.br
Carvalho de Araújo. Enquanto o referido diplomata permanecia em cativeiro, foi detido Dossiê dos Mortos e
Desaparecidos Políticos a Partir
por uma equipe do então CISA e encaminhado ao DOI/I Ex, em 11 dez. 70. de 1964. São Paulo: Imprensa
Apesar das informações nos documentos oficiais, a morte de Celso nunca foi assumi- Oficial, 1996.
da pelos órgãos de segurança. Seu nome consta na lista de desaparecidos políticos, anexo Arquivos do IEVE/SP.
Caso 014/96, na CEMDP.
I, da lei 9.140/95.
1 9 7 1
Os 70 presos políticos banidos em troca do embaixador suíço Giovanni Enrico Bucher embarcam para o Chile, janeiro de 1971.
Camponês em Canindé (CE), filho de Antônio Paz Ferino e Francisca Fernandes Paz.
Era casado com Maria Eudes Ramos, com quem teve dois filhos.
Raimundo foi morto em 2 de janeiro de 1971, quando contava 60 anos de idade. Poli-
ciais comandados por Cídio Martins, do DOPS/CE, cercaram sua casa e o mataram com dois
tiros de revólver, durante um conflito de terras na região de Canindé. A certidão de óbito de
Raimundo apresenta como causa mortis “parada cardíaca”. O policial Cídio Martins foi mor-
to a golpes de foice.
O conflito ganhou tamanha proporção, que ocupou páginas inteiras dos jornais do
Ceará durante vários dias. O Correio do Ceará, de 4 de janeiro de 1971, descreveu o início
do confronto:
A questão chegou a vir para Fortaleza, onde foi instaurado um inquérito na Polícia
Federal, além do já existente na Justiça, pois houve denúncias de ambas as partes de
que o problema envolvia subversão, já que o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de
Canindé, do qual Pio é um dos diretores, havia também interferido no assunto.
Em 1970, a juíza de Canindé determinou o despejo dos moradores da Japuara,
inclusive Francisco Nogueira Barros, o Pio, que por intermédio de seu advogado,
Lindolfo Monteiro, também advogado do Sindicato, recorreu e conseguiu a suspen-
são da execução da sentença. Pio, assim fortalecido, continuou a administrar a fa-
zenda e deu ordem para que todos os agricultores ali residentes [cerca de 20 famí-
lias] pescassem no açude da propriedade.
O jornal continuou a cobertura sobre o conflito em matéria do mesmo dia intitulada
“Quatro Mortos e Seis Feridos na Tragédia de Canindé”:
O recrutamento de 80 homens, mediante a promessa de pagamento de dez cruzeiros a
cada um, com a incumbência de destruir cercas, destelhar casas de agricultores para
consumar o despejo de seus ocupantes e arrombar um açude onde todos pescavam na
Fazenda Japuara, em Canindé, resultou em verdadeira carnificina, com o trágico saldo
de quatro mortos, seis feridos e intrigas que, nesses casos, se perpetuarão.
O jornal O Povo, também do dia 4, informou:
Referimo-nos ao conflito de Japuara, localidade à margem da rodovia BR-020, distante
15 quilômetros de Canindé, onde morreram alvejados a bala e atingidos nos golpes de
foice, machado, facão e pauladas o Delegado Civil deste município Cídio Martins,
(também era agente de Polícia, lotado no DOPS), o soldado da Polícia Militar, Jorge
Paulo de Freitas, o carregador Joaquim Rodrigues, conhecido por Joaquim Piau e o
agricultor Raimundo Nonato da Paz, vulgo Nonato [sic] 21. Ontem, pela manhã, após
Nasceu em 20 de janeiro de 1951, no Rio de Janeiro (RJ), filho de Aldo Leão de Souza e
Therezinha Barros Câmara de Souza. Morto em 7 de janeiro de 1971. Militante da Ação Li-
bertadora Nacional (ALN).
Aldo concluiu o ginásio (atual ensino fundamental) no Colégio Santo Inácio e fez o cur-
so científico (ensino médio) no Colégio Mallet Soares, no Rio de Janeiro. Após a morte de sua
mãe, em 1962, foi criado pela avó, Mercedes de Paiva Barros Câmara. Iniciou sua militância
na ALN muito jovem e chegou ao comando regional da organização no Rio de Janeiro.
Foi preso em 6 de janeiro de 1971 por agentes do DOI-CODI de Belo Horizonte (MG).
Testemunhas de sua prisão, Marcos Nonato da Fonseca e Manoel José Nunes Mendes de
Abreu, assassinados posteriormente, relataram, à época, o ocorrido. Os três fugiam à persegui-
ção dos órgãos de segurança em Belo Horizonte quando Aldo caiu ao tentar pular de um
prédio para outro, foi preso e morto no dia seguinte.
Nos dias em que terminavam as tensas negociações para a libertação dos 70 presos
políticos em troca do embaixador suíço Giovani Enrico Bucher, seqüestrado no Rio de
Janeiro em 7 dezembro de 1970, os jornais estamparam notas sobre sua prisão. O jornal
Estado de Minas, de 8 de janeiro de 1971, noticiou o assalto ao Banco Nacional de Minas
Gerais, ocorrido no dia 6, que teria sido realizado por cinco pessoas, militantes da ALN,
relatando a prisão de duas, a morte de uma e a fuga de outras duas. Esclarecia que “Em
benefício das investigações, os nomes são mantidos em sigilo, sabendo-se, entretanto, que o as-
salto interessava a área da subversão”, mas informava que o morto seria Fernando Araújo
Bacelar, que caíra do terceiro andar de um prédio ao tentar fugir. Com a queda, teria
quebrado a bacia e morrido no Hospital Militar, onde havia chegado semiconsciente, di-
zendo, com muito esforço, chamar-se Haroldo.
O desaparecimento
Antônio Joaquim de Souza Machado e Carlos Alberto Soares de Freitas – Beto, para a
família, e Bruno, o codinome da clandestinidade – foram presos pelo DOI-CODI/RJ, na rua
Farme de Amoedo, altura do número 135, na pensão em que moravam, em 15 de fevereiro
de 1971. Na mesma data e local, foi preso Sérgio Emanuel Dias Campos, sobrevivente desse
episódio. Em abril de 1996, Sérgio encaminhou a seguinte declaração escrita, anexada ao caso
na CEMDP:
Na noite do dia 14 de fevereiro de 1971, por volta das 20 horas, juntamente com Rosa-
lina Santa Cruz e seu companheiro, […] encontrei-me com Antônio Joaquim Macha-
do, […] próximo à Rua Farme de Amoedo […]. Percebi que Antônio encontrava-se
tenso, sentindo-se ameaçado e que por questões de segurança não me colocou as razões
[…]. Foi a última vez que estive com Antônio Joaquim.
Na manhã do dia 15 de fevereiro de 1971, por volta das 9:00 horas, encontrei-me com
Carlos Alberto Soares de Freitas, na Rua Farme de Amoedo, 135, Ipanema.
Neste encontro ele me revelou que Antônio Joaquim Machado por estar sem lugar para
ficar, havia dormido na noite anterior (14 para 15 de fevereiro) neste local. Carlos Al-
berto ainda revelou que havia escondido suas anotações de contatos com os militantes da
VAR-Palmares da sua área de trabalho no Norte em uma fresta de uma cômoda exis-
tente no quarto. Combinamos que em qualquer situação de ameaça a sua pessoa ou
prisão, eu deveria destruí-los.
Nesta ocasião, marcamos um encontro por volta das 18:00 horas daquele mesmo
dia […].
Saímos juntos de ônibus, eu com destino ao centro da cidade, tendo Carlos Alberto
descido na Avenida N. S. Copacabana quase esquina da Av. Princesa Isabel. Foi a
última vez que estive com ele.
As mortes
A nota oficial sobre a morte dos dois militantes foi transcrita de um recorte de jornal sem
nome, datado de 23 de março de 1971, anexado ao processo, com o título “Terroristas Morrem
no Rio em Tiroteio”:
Hoje, dia 22 de março de 1971, cerca das 11 horas, na esquina da rua Cupertino com a
Avenida Suburbana, uma equipe de agentes de Segurança em operação encontrou-se com
elementos subversivos, os quais, recebendo ordem de prisão, reagiram à mesma, travando-
Nasceu em 8 de julho de 1948, no Rio de Janeiro (RJ), filha de Feliciano Pinto e Avelina
Villas Boas Pinto. Morta em 3 de abril de 1971. Militante do Movimento Revolucionário 8
de Outubro (MR-8).
Era estudante de Psicologia na Universidade Santa Úrsula, tendo cursado até o 2º ano,
quando, em 1969, por sua participação no movimento estudantil, foi obrigada a viver na
clandestinidade. Inicialmente, militou na Ação Libertadora Nacional (ALN) e, posteriormen-
te, ligou-se ao MR-8.
As mortes
Marilena e Mário foram feridos em tiroteio e presos em 2 de abril de 1971, na rua Ni-
quelândia, 23, em Campo Grande, no Rio de Janeiro (RJ).
Marilena, mesmo ferida e sem receber cuidados médicos, foi conduzida às celas de
tortura do DOI-CODI/RJ, tendo sido assassinada algumas horas após seu ingresso na-
quele departamento.
Como testemunho da morte de Marilena sob torturas, há o depoimento da presa políti-
ca Inês Etienne Romeu, que foi informada da sua morte quando esteve no Hospital Geral do
Exército do Rio de Janeiro para tratamento. Lá, Inês ouviu de um médico o relato da noite em
que estava de plantão e Marilena chegou para atendimento médico, mas já estava morta.
Marilena foi levada para o centro clandestino de tortura do CIE, em Petrópolis (RJ), co-
nhecido como Casa da Morte, conforme relatório de prisão de Inês Etienne Romeu divulgado
em 1981. A pedido da Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos, Inês
ratificou a denúncia, em abril de 1997:
A pedido, confirmo integralmente o meu depoimento de próprio punho, sobre fatos ocor-
ridos na casa em Petrópolis (RJ), onde fiquei presa de 08/05 a 11/08 de 1971. Esse de-
poimento é parte integrante do Caso n.º MJ-7252/81 do CDDPH, do Ministério da
Justiça. Nesse depoimento está registrado que “Dr. Pepe” contou ainda que Marilena
Villas Boas Pinto estivera naquela casa e que fora, como Carlos Alberto Soares Freiras,
Nasceu em Muriaé (MG), em 15 de julho de 1943, filho de Ely José de Carvalho e Esther
Campos de Carvalho. Morto em 7 de abril de 1971. Dirigente do Movimento Revolucioná-
rio Tiradentes (MRT).
Casou-se com Pedrina José de Carvalho, com quem teve dois filhos.
Nos anos 1950, seus pais se mudaram para São Paulo em busca de melhores condições
de vida. Ele e seus irmãos foram trabalhar no ABCD paulista no início da instalação das in-
dústrias metalúrgicas e automobilísticas. Ainda adolescente, aprendeu com o irmão mais ve-
lho o ofício de torneiro-mecânico e desde então passou a trabalhar nas indústrias da região,
como Villares e Toyota.
Em 1963, começou a atuar no Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo
e Diadema, participando de greves. Ingressou no PCdoB e, após o golpe de 1964, mudou-se
com a família para o Rio de Janeiro (RJ), onde passou a trabalhar como motorista de táxi. Em
1967, começou a militar na Ala Vermelha, uma dissidência do PCdoB, voltando para São
Paulo (SP). Em 1969, desligou-se da Ala Vermelha e, com outros companheiros, fundou o
MRT em outubro daquele ano.
Devanir era acusado de participação em ações armadas que resultaram em mortes de
policiais e teria realizado treinamento de guerrilha na China. Ele e Eduardo Collen Leite, o
Bacuri, dirigente da Rede (Resistência Democrática), participaram com a VPR do seqüestro
do cônsul-geral do Japão em São Paulo (SP), Nobuo Okuchi, em março de 1970, quando
cinco prisioneiros políticos e três crianças foram trocados pelo diplomata.
Documento do Serviço de Informação do DOPS/SP informa que em “[…] 5/4/71 -
11h00 - 9:50 hs o terrorista Devanir José de Camargo [sic], ocupando o Volks, cor azul, chapa
Nasceu em São Paulo (SP), em 17 de abril de 1949, filho de Abílio Clemente e Maria
Helena Corrêa. Desaparecido em 10 de abril de 1971. Militante da Ação Popular (AP).
Estudou na Escola Estadual Fernão Dias Paes, na cidade de São Paulo. Quando desapa-
receu, cursava o 4º ano de Ciências Sociais da Unesp e era ativista do movimento estudantil,
em Rio Claro (SP). Desapareceu quando estava com um amigo na praia de José Menino, em
Santos (SP). Naquele ano, foi o homenageado especial dos formandos do seu curso.
No processo analisado pela CEMDP está anexado um relato de Maria Amélia de Almei-
da Teles, da Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos, informando ter
encontrado no Arquivo Público do Estado de São Paulo, entre os documentos do extinto
DOPS/SP, uma ficha escolar de Abílio Clemente Filho da época em que cursava o colegial, na
Escola Estadual Fernão Dias Paes, no bairro de Pinheiros, em São Paulo. De acordo com os
registros policiais, essa ficha teria sido encontrada na residência de Ishiro Nagami, militante
da ALN morto juntamente com Sérgio Corrêa, em 4 de setembro de 1969, em conseqüência
da explosão do carro em que ambos trafegavam na rua da Consolação, na capital paulista.
Joana D’Arc Contijo relatou a Maria Amélia, ambas presas no DOI-CODI/SP à época,
que chegou a denunciar ter ouvido gritos de um homem jovem durante toda a noite, na mes-
Nasceu a 11 de janeiro de 1946, em Salvador (BA), filho de Norman Angel Jones e Zu-
leika Angel Jones. Desaparecido em 14 de maio de 1971. Dirigente do Movimento Revolu-
cionário 8 de Outubro (MR-8).
Era estudante de Economia da UFRJ, atuou no movimento estudantil e trabalhou como
professor. Em agosto de 1968, casou-se com Sônia Maria Moraes Angel Jones, também assas-
sinada pela repressão política, em 1973.
Stuart ou Tuti, como era chamado, foi criado no Rio de Janeiro (RJ). No quarto que
dividia com as irmãs Ana Cristina e Hildegard funcionava um improvisado ateliê de alta cos-
tura de sua mãe, a estilista Zuzu Angel. Freqüentou bons colégios, fez diversos cursos e prati-
cou vários esportes: tênis, natação, capoeira, remo, levantamento de peso. Foi sócio do Caiça-
ra, um clube do bairro de Ipanema.
Em janeiro de 1979, o preso político Alex Polari de Alverga escreveu um emocionado
testemunho sobre Paulo, como Stuart era conhecido entre os militantes do MR-8. Para ele,
Stuart possuía como característica:
[…] uma calma aparente, um autocontrole adquirido que raramente deixava transpa-
recer a sua tensão interior. Era uma figura serena e, vez por outra, um jeito dos lábios ou
de olhar revelava uma amargura fugaz. Contida, a afetividade aflorava através de uma
delicadeza muito grande dos gestos, um sorriso límpido e, ao mesmo tempo, grave. Ape-
sar de um certo formalismo que existia em nossa relação, dispersa por encontros apressa-
dos, era fácil perceber firmeza e desprendimento naquela postura meio tímida, incapaz
de proferir afirmações ou fazer profissões de fé desnecessárias.
Stuart participou da Dissidência Estudantil do PCB da Guanabara, que depois passou a
se denominar MR-8. Integrou a direção da organização em meados de 1969. Em abril de
1971, Carlos Lamarca, o guerrilheiro mais procurado naquele momento, havia trocado a
militância na VPR pela do MR-8 e Stuart era um dos que sabiam onde ele estava escondido.
Foi preso na Vila Isabel, próximo à avenida 28 de Setembro, zona norte do Rio de Janei-
ro, em 14 de maio de 1971, por volta das 9 horas, por agentes do CISA, para onde foi levado
e torturado. Alex Polari foi testemunha das torturas a que Stuart foi submetido até a morte,
narradas em carta dirigida a Zuzu Angel, em maio de 1972:
Em um momento retiraram o capuz e pude vê-lo sendo espancado depois de descido do
pau-de-arara. Antes, à tarde, ouvi durante muito tempo um alvoroço no pátio do CISA.
Havia barulho de carros sendo ligados, acelerações, gritos, e uma tosse constante de en-
gasgo e que pude notar que se sucedia sempre às acelerações. Consegui com muito esforço
olhar pela janela que ficava a uns dois metros do chão e me deparei com algo difícil de
esquecer: junto a um sem-número de torturadores, oficiais e soldados, Stuart, já com a
pele semi-esfolada, era arrastado de um lado para outro do pátio, amarrado a uma
viatura e de quando em quando obrigado, com a boca quase colada a uma descarga
aberta, a aspirar gases tóxicos que eram expelidos.
Zuzu Angel procurou o filho por todos os meios possíveis, interpelou autoridades brasi-
leiras e internacionais, concedeu entrevistas e denunciou seu assassinato. Em função da busca e
mobilização, o jornal O Globo, de 28 de setembro de 1971, em artigo intitulado “A Atuação de
Cada um no Terrorismo” procurou desinformar a respeito do seu paradeiro, publicando a seguinte
informação: “Uma carta de Ângelo Pezutti e Maria do Carmo Guimarães de Brito para o Coman-
do Nacional da VPR informa que ele [Stuart] deixou o País rumo ao Chile, saindo de São Paulo”.
Todos os principais jornais estrangeiros registraram o fato. Em 15 de setembro de 1971,
durante o lançamento de uma coleção de inverno de Zuzu Angel em Nova York (EUA), cujos
motivos das roupas eram tanques, quepes, canhões e luto, a notícia do desaparecimento de
Stuart espalhou-se pelo mundo.
Nasceu em 29 de outubro de 1942, em Passa Quatro (MG), filho de Lucas de Souza Dias
e Nair Mota Dias. Desaparecido em 15 de maio de 1971. Dirigente da Vanguarda Popular
Revolucionária (VPR).
Tinha apenas um irmão. Era estudioso, comunicativo, carinhoso, gostava de música e
tocava violino. Estudou História na UFF, em Niterói (RJ), e trabalhou como professor de
cursinho pré-vestibular. Atuou no movimento estudantil. Não pôde concluir o curso, pois,
em dezembro de 1968, pela sua participação no XXX Congresso da UNE – que teve lugar em
Ibiúna (SP), em outubro daquele ano –, teve sua prisão preventiva decretada, passando a viver
na clandestinidade.
Durante o período em que viveu clandestino no Rio de Janeiro, fazia traduções e morava
em um quarto alugado, em uma rua perto da Central do Brasil. Entre 1968 e 1971, enviou
notícias regularmente para a família por cartas ou telefonemas, sem nunca deixar o endereço.
Sua prisão ocorreu em 15 de maio de 1971, por agentes do CISA e, apesar de ter sido
levado imediatamente à Base Aérea do Aeroporto do Galeão, foi dado como foragido pelos
órgãos de repressão política. O ex-preso político Alex Polari de Alverga testemunhou ter ouvi-
do pelo serviço de alto-falantes do CISA o anúncio da “queda do Comandante Cabanas, da
VPR”, codinome utilizado por Ivan, quando chegou preso à Base Aérea. Nessa época, Ivan
fazia parte da direção nacional da organização.
A única notícia que a família recebeu sobre Ivan foi um telefonema anônimo informando
sua prisão. Inúmeros contatos foram feitos buscando alguma notícia ou informações sobre seu
paradeiro. Prontamente, seus pais dirigiram-se ao Rio de Janeiro para tentar visitá-lo ou loca-
lizá-lo em alguma dependência policial: foram ao DOI-CODI, ao I Exército, à Aeronáutica,
ao DOPS, ao Exército, em São Paulo e em Belo Horizonte. Um habeas corpus, requerido em
22 de junho, foi negado. Buscaram solidariedade na Igreja Presbiteriana, na Igreja Católica,
Dênis Casemiro
Nasceu em 8 de maio de 1930, em Timbaúba dos Mocós (PE), filho de Antônio Joaquim
da Silva e Maria Joana Conceição. Desaparecido em 31 de maio de 1971, no Rio de Janeiro
(RJ). Dirigente da Vanguarda Armada Revolucionária-Palmares (VAR-Palmares).
Era lavrador e sapateiro. Negro de origem camponesa e filho de família pobre, começou a
trabalhar aos 12 anos de idade como assalariado agrícola e, em seguida, como operário da in-
dústria de calçados. Em 1951, casou-se com Paulina Borges da Silva, com quem teve sete filhos.
Militante político do PCB desde 1952, foi preso em Timbaúba, em 28 de outubro de
1954, acusado de “atividade subversiva”. Liberado no dia seguinte, não conseguiu mais ar-
rumar trabalho na cidade, transferindo-se para a capital do estado, onde continuou como
sapateiro e tornou-se delegado do Sindicato dos Sapateiros do Recife (PE). Nessa época,
começou a estudar e completou a primeira série ginasial (atual ensino fundamental). Em
razão de sua intensa atividade política, Mariano foi novamente preso, em 5 de maio de
1956, permanecendo um mês sob interrogatório. Em 1959, foi preso com sua mulher, e
ambos foram libertados três dias depois.
Em 1961, já desligado da atividade de sapateiro, foi eleito secretário do Sindicato Rural
de Timbaúba. Tornou-se membro das Ligas Camponesas e, em 1963, integrou o Conselho
Nacional da organização. Pouco depois, foi eleito para o Secretariado Nacional e transferido
para o Rio de Janeiro para dar assistência política ao movimento, sendo um dos responsáveis
pela implantação das Ligas nos estados do Piauí, Maranhão, Rio de Janeiro e da Bahia. Em
meados de 1963, após nova reestruturação do secretariado, deslocou-se para Brasília, quando
assumiu a secretaria da organização. Na capital, participou ativamente do apoio ao movimen-
to dos sargentos, que teve como um dos seus pontos altos o dia 12 de setembro de 1963,
quando centenas de sargentos do Exército, da Marinha e da Aeronáutica ocuparam durante a
madrugada importantes centros administrativos de Brasília em protesto contra a recusa do
STF em reconhecer o direito de elegibilidade dos sargentos a cargos do Poder Legislativo.
Após o golpe de 1964, passou a ser duramente perseguido. Militou no PCdoB. Em de-
corrência de sucessivas prisões de integrantes desta organização, mudou-se com a família para
Goiás, trabalhou na agricultura e voltou à militância no movimento camponês. Em 1966, foi
decretada sua prisão preventiva e, desde então, passou a viver na clandestinidade. Transferiu-se
para o Rio de Janeiro, deixando a família. Em 1967, ingressou na AP antes de integrar-se à
VAR-Palmares, da qual se tornou um dos dirigentes e passou a ser conhecido como Loyola. Foi
designado para dar assistência à regional do Nordeste e reeditou o jornal Ligas, na tentativa de
reorganizar as Ligas Camponesas.
Em 1970, foi novamente indiciado em Inquérito Policial Militar (IPM) instaurado em
Brasília. Em setembro desse ano, a esposa e os filhos encontraram-se pela última vez com
Mariano. Seu irmão, o ex-preso político Arlindo Felipe da Silva, esteve com Mariano pela
última vez em 20 de abril de 1971, no Recife, quando procurou restabelecer contato. Logo
após, a família recebeu informações de que ele fora preso na rodoviária, em 1º de maio de
1971, no Recife.
No livro Brasil: Nunca Mais consta que o órgão responsável pela sua prisão foi o
DOI-CODI/SP. Posteriormente, foi transferido para a Casa da Morte, centro clandestino de
torturas do CIE, localizado em Petrópolis (RJ), onde foi visto por Inês Etienne Romeu. Em
sua denúncia, divulgada em janeiro de 1981 no jornal O Pasquim, Inês afirmou ter visto e
falado várias vezes com Mariano, que se identificou, tendo-lhe relatado que ali chegara em 2
de maio, proveniente de Recife, onde foi preso e permaneceu por 24 horas.
Inês relatou ter tido contato com Mariano até 31 de maio, quando, durante a madrugada,
ouviu uma movimentação estranha e percebeu que ele estava sendo removido. No dia seguinte,
O desaparecimento do casal
Djalma Maranhão
Nasceu em 27 de novembro de 1915 em Natal (RN), filho de Luiz Ignácio de Albuquer-
que Maranhão e Maria Salomé Carvalho Maranhão. Morto em 30 de julho de 1971.
Casado com Dária de Souza Maranhão, com quem teve um filho, Marcos Maranhão.
Seu irmão Luiz Ignácio Maranhão Filho, ex-deputado estadual do Rio Grande do Norte
e membro do Comitê Central do PCB, é desaparecido político desde abril de 1974.
Sua militância política tem início na década de 1930 quando se filiou ao PCB, desen-
volvendo ação política no sul do país. Retornando a Natal em pleno Estado Novo, fundou
um jornal e um clube de futebol. Com a redemocratização em 1945, Djalma Maranhão
divergiu da direção regional do partido, acabando por ser expulso de seus quadros e pas-
sando a fazer parte do PSP. Em 1954, foi eleito deputado estadual com mandato até 1956,
quando foi nomeado prefeito da cidade de Natal pelo governador Dinarte Mariz. Em
1958, renunciou à prefeitura e candidatou-se a deputado federal pela legenda da UDN,
conquistando a primeira suplência. De 21 de julho a 3 de novembro de 1960 assumiu a
cadeira de deputado federal. Em 1960, foi eleito prefeito de Natal pelo PTN, assumindo
a prefeitura no ano seguinte.
Sua administração representou um grande avanço no setor educacional com ênfase
na alfabetização de milhares de natalenses por meio da campanha “De Pé no Chão Tam-
bém se Aprende a Ler”, inspirada no método Paulo Freire. A passagem de Djalma pela
prefeitura foi assinalada por inúmeras obras: Palácio dos Esportes, Estação Rodoviária,
Galeria de Arte, Concha Acústica. Apoiou e estimulou as manifestações culturais da cida-
de de Natal, promovendo eventos e envolvendo a população em diversas práticas artísti-
cas. Com o golpe militar de 1964, foi deposto, preso e teve seu mandato cassado. Levado
Documentos consultados:
para Recife (PE), foi posteriormente transferido para a ilha de Fernando de Noronha, lá www.desaparecidospoliticos.
ficando confinado até o fim de 1964. Em seguida, Djalma seguiu para o exílio no Uru- org.br
guai. Neste período, foi julgado e condenado à revelia a 18 anos de prisão. www.dhnet.org.br
Em 30 de julho de 1971, vítima de uma parada cardíaca, faleceu no exílio em Mon- Dossiê dos Mortos e
Desaparecidos Políticos a Partir
tevidéu. Seu corpo foi sepultado no Cemitério do Alecrim. de 1964. São Paulo: Imprensa
Seu nome consta do Dossiê dos Mortos e Desaparecidos a Partir de 1964 no item “Mor- Oficial, 1996.
Arquivos do IEVE/SP.
tes no Exílio”.
Nasceu em 2 de abril de 1944, em Sumé (PB), filho de Leôncio Samuel Pereira e Judite
Joventina Pereira. Desaparecido em 5 de agosto de 1971. Militante do Partido Comunista
Brasileiro (PCB).
Segundo o relator do caso na CEMDP, Nilmário Miranda,
[…] Francisco das Chagas Pereira foi sargento da PM da Paraíba, tendo posteriormen-
te trabalhado no Banco do Nordeste do Brasil e por último foi admitido, através de
concurso público, na Embratel do Estado do Rio de Janeiro. Em agosto de 1971, ocorreu
um atentado contra as instalações da Embratel e Francisco das Chagas Pereira passou a
ser o principal suspeito. Segundo testemunhas, todas as diligências feitas para apurar a
autoria do atentado o tinham como alvo principal. […] Desde então, Francisco das
Chagas desapareceu.
Registros nos arquivos do DPF, confirmados pelo diretor do DPF, delegado Vicente
Chelotti, em ofício nº 05/96 – GAB/DPF, encaminhado a CEMDP, informam:
[…] até a data de 27/2/96, os seguintes dados: Sargento da PM/PB. Deixando a Corpo-
ração em 1964/65, residindo em local ignorado do Estado do Ceará, após a baixa mili-
tar; ex-funcionário da Embratel, no antigo Estado da Guanabara, suspeito de distribuir,
naquela empresa, material impresso de cunho subversivo e contrário à administração da
mesma; tornou-se o maior suspeito de ter ateado fogo, em 6 de agosto de 1971, em mate-
rial de expediente da Embratel. […] Fugiu do pessoal da segurança interna da empresa,
que fez busca em sua residência e nada mais encontrou. Depois disso jamais voltou a
trabalhar, deixando de freqüentar as aulas na Faculdade Brasileira de Ciências Jurídicas.
No seu voto, o relator destacou: “Consta ainda dos autos que o último contato que fez com
a família foi através de carta, onde pediu para que fossem queimadas todas as suas correspondências
temendo a ação da repressão militar contra si e seus familiares”. E concluiu que “[…] a documen-
Iara Iavelberg
Nasceu em 7 de maio de 1944, em São Paulo (SP), filha de David Iavelberg e Eva
Iavelberg. Morta em 20 de agosto de 1971. Militante do Movimento Revolucionário 8 de
Outubro (MR-8).
Psicóloga e professora universitária, integrou a Polop, a VAR-Palmares e a VPR, tendo
ingressado no MR-8 em abril de 1971. Nascida em uma família judia do bairro do Ipiranga,
em São Paulo, Iara sempre se interessou por áreas da vida cultural. Estudou na Escola Israe-
lita do Cambuci e casou-se com 16 anos. Ingressou no curso de Psicologia da FFCL da USP,
em 1963, e atuou no movimento estudantil. Em 1968, trabalhava como professora-assis-
tente na mesma faculdade.
Sua vida foi retratada em livro por Judith L. Patarra e, parcialmente, no filme dirigido por
Sérgio Rezende sobre Carlos Lamarca, baseado em livro de Emiliano José e Oldack Miranda.
Nesses trabalhos, a versão oficial de suicídio divulgada pelos órgãos de segurança foi aceita
como verdadeira. As circunstâncias em que morreu são cercadas de dúvidas.
Nasceu em 4 de junho de 1931, em Joaquim Nabuco (PE), filho de José Luiz de Carva-
lho e Marina Soares de Carvalho. Morto em 22 de agosto de 1971. Dirigente do Partido
Comunista Revolucionário (PCR).
Era casado e teve três filhos: Zóia, Margarete e Luiz.
Iniciou sua militância política aos 15 anos de idade no PCB. Operário, conhecido como
Capivara, teve participação destacada nas lutas da categoria têxtil da região metropolitana do
Recife (PE). Foi preso pela primeira vez em 1958 por liderar uma greve têxtil. Na zona cana-
vieira, porém, foi onde mais atuou, criando Ligas Camponesas e sindicatos, mobilizando e
organizando os camponeses e assalariados rurais.
Esteve em Cuba em 1961, para tomar contato com o trabalho iniciado com a Revolução
Cubana de 1959. Ao retornar, desligou-se do PCB por divergências políticas e ingressou no
PCdoB. Antes do golpe de 1964, participou de invasão na região canavieira com o objetivo
de reivindicar terras para os camponeses.
Após o golpe, passou a atuar na clandestinidade, ainda na zona canavieira de Pernambu-
co, nos municípios de Jaboatão, São Lourenço da Mata, Moreno, Vitória e Sirinhaém.
Em dezembro de 1966, ao voltar da China, onde fez curso de capacitação político-mili-
tar, em função de discordâncias em relação à orientação do PCdoB, ajudou a fundar o PCR,
junto com Manoel Lisbôa e Ricardo Zarattini. Atuou como dirigente do PCR na zona cana-
vieira de Pernambuco até ser preso, em 27 de janeiro de 1970. Esteve preso no Recife e em
São Paulo, resistindo às torturas. Foi condenado a dois anos de prisão e cumpria pena na Casa
de Detenção de Recife. Na véspera de ser libertado, foi morto em decorrência de envenena-
mento e espancamento a pauladas. Um prisioneiro enviou carta anônima ao comandante do
IV Exército denunciando o caso:
[…] o crime feito contra o preso político Capivara […] na maior covardia por três cri-
minosos perversos. Todos os presos estão revoltados porque não foi tomada nenhuma pro-
vidência aqui. Os criminosos estão todos contentes. O cabeça é Dercílio de Brito, outro é
Odilon Marculino e o terceiro é Severino Caboclo. Mais de dez presos viram, mas não
querem dizer com medo de morrer. Não boto meu nome para depor, para não morrer
também. Se vossa excelência der garantia, me apresento para provar na vista de todos três.
Testemunhas denunciaram os assassinos, mas os inquéritos não indiciaram os autores e
os mandantes do crime. A imprensa divulgou versões mentirosas, conforme a matéria “Cora-
ção Trai Capivara a dois Meses da Liberdade”, publicada no Diário da Noite, de 24 de agosto de
As mortes
Luiz Antônio foi morto na Fazenda Buriti, em Brotas de Macaúba, quando morreu tam-
bém Otoniel Campos Barreto.
Estas mortes foram decorrentes da Operação Pajussara, organizada após o assassinato de
Iara Iavelberg, cujo objetivo era o de “capturar ou destruir” Lamarca e seu grupo. Esta opera-
ção, organizada pelo major Nilton de Albuquerque Cerqueira, chefe da 2ª Seção do Estado-
Maior da 6ª Região Militar e comandante do DOI de Salvador (BA), foi mantida em sigilo
até a morte de Otoniel e Luiz Antônio. Dela participaram 215 integrantes da Marinha, da
Aeronáutica, dos Fuzileiros Navais, das polícias políticas, em especial o DOPS/SP, da PF, da
PM/BA, do CODI/6, do 19º BC, conforme descreve o relatório feito pelo IV Exército. Todos
atuaram à paisana. A Cia. de Mineração Boquira forneceu avião, carros e funcionários para
que a ação pudesse ser mantida em segredo. A empresa Transminas também colaborou.
O relatório oficial da Operação Pajussara não descreveu os embates ocorridos na Fazenda
Buriti, limitando-se a informar que, na madrugada daquele dia, os agentes cercaram e inves-
tiram contra o local onde acreditavam estar Lamarca. Afirmaram apenas que a operação “[…]
redundou nas mortes de Luiz Antônio Santa Bárbara, “Merenda”, Otoniel Campos Barreto, bem
como ferimentos e prisão de Olderico Campos Barreto”. É esclarecedor, contudo, quando descre-
ve as características da ocupação do local feita pelas Forças Armadas, mostrando que a Fazen-
Carlos Lamarca
As mortes
Nasceu em 1º de janeiro de 1949, em Rossio do Sul (Tejo, Portugal), filho de José Perei-
ra de Abreu e Dulce Souza Mendes de Abreu. Morto em 23 de setembro de 1971. Militante
da Ação Libertadora Nacional (ALN).
Estudou Engenharia na Escola Politécnica da USP, onde se engajou no movimento estu-
dantil e, depois, na militância clandestina.
Manuel foi sepultado pela família no Cemitério de Vila Formosa, em São Paulo (SP), em
26 de setembro de 1971.
A emboscada
Félix Escobar*
Nasceu em 22 de março de 1923, em Miracema (RJ). Filho de José Escobar e Emília
Gomes Escobar. Desaparecido em outubro de 1971. Militante do Movimento Revolucioná-
rio 8 de Outubro (MR-8).
Félix foi comerciário, pedreiro, servente de obras, instalador de persianas e também te-
soureiro do Sindicato dos Empregados no Comércio em Duque de Caxias e São João do
Meriti. Chegou a Duque de Caxias (RJ) em 1942. Casado, pela primeira vez, com Raymunda
Cardoso Escobar, teve seis filhos.
Participou da campanha “O Petróleo é Nosso” nos anos 1950 e pertenceu à diretoria
do Sindicato dos Empregados no Comércio do Rio de Janeiro. Foi militante do PCB. Em
1962, ajudou a criar o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Duque de Caxias (RJ). Nes-
sa ocasião, atuou na organização de camponeses nos distritos de Capivari, Xerém e São
Lourenço, quando foram mobilizados mais de mil camponeses e obtiveram uma disputa-
da vitória pela terra ao conseguirem sustar uma ação de despejo determinada por grileiros
e pela Fábrica Nacional de Motores.
Com o golpe de 1964, o movimento dos camponeses dispersou-se em decorrência da
prisão de importantes lideranças e militantes do PCB. Félix ficou preso durante 12 dias, foi
processado e, ao ser libertado, passou a viver na clandestinidade.
Posteriormente, ligou-se ao MR-8. No fim de 1970, durante 15 dias, a rua onde Félix
morava permaneceu ocupada por dezenas de agentes policiais armados. Sua casa foi cercada,
invadida e vasculhada, quando agentes espancaram um dos seus filhos de 5 anos com o obje-
tivo de obter informações sobre um suposto esconderijo de armas do pai. Por essa ocasião,
Félix estava vivendo em Feira de Santana (BA), mas acabou sendo preso na casa de um com-
panheiro, João Joaquim Santana, entre setembro e outubro de 1971, em Nova Iguaçu (RJ).
Na época, um de seus filhos, que servia o Exército como recruta, foi torturado junto com
outros irmãos no DOI-CODI/RJ.
O ex-preso político César Queiroz Benjamim afirma que viu Félix sendo conduzido por
agentes do DOI-CODI/RJ na PE da Vila Militar do Rio de Janeiro.
Em entrevista ao jornalista Antônio Henrique Lago para o jornal Folha de S.Paulo, publi-
cada em 28 de janeiro de 1979, um general, que não quis se identificar, assumiu a morte de
Félix e de mais 11 presos considerados desaparecidos. Hoje, sabe-se que se tratava de Adyr
*No Dossiê dos Mortos e
Desaparecidos Políticos a Fiúza de Castro, o qual foi criador e primeiro chefe do CIE, chefe do DOI-CODI do I Exér-
partir de 1964, publicado cito, comandante da PM/RJ e da VI Região Militar.
em 1996, o nome de No livro Desaparecidos Políticos, consta o depoimento do preso político Nilson Venâncio
Félix Escobar estava
grafado erroneamente
sobre a prisão de Félix:
como Félix Escobar Quando eu estava preso na Bahia, soube por intermédio de José Carlos Moreira, preso
Sobrinho. na mesma circunstância, que teria saído no jornal o atropelamento de uma pessoa de
Nasceu em 5 de abril de 1943, em Cabrália (SP), filho de Olívio Oliveira e Maria das
Neves Temafela Oliveira. Morto em 5 de novembro de 1971. Militante do Movimento de
Libertação Popular (Molipo).
Estudante de Ciências Sociais na USP, era conhecido pelos companheiros como Chi-
co Dialético. Foi militante da Dissidência Comunista de São Paulo até 1968 e, no ano
seguinte, integrou-se à ALN. Segundo o livro Direito à Memória e à Verdade, em 3 de se-
tembro de 1969, escapou da perseguição policial que culminou com a morte de José
Wilson Lessa Sabag. Em seguida, decidiu refugiar-se em Cuba, onde realizou treinamento
de guerrilha. No início de 1971, os militantes do Molipo, uma dissidência da ALN, co-
meçaram a retornar clandestinamente ao Brasil. Chico também voltou, já integrando o
Molipo, sendo assassinado em novembro do mesmo ano.
Francisco e uma companheira, Maria Augusta Thomaz, que se tornou desaparecida
política em 1973, foram surpreendidos em uma lanchonete localizada na rua Turiassu, no
bairro da Pompéia, em São Paulo (SP). Assim que foram reconhecidos, iniciou-se uma
intensa perseguição policial, na qual Chico foi ferido gravemente. Maria Augusta conse-
guiu fugir. Francisco, embora ferido, teria tentado escapar dos policiais, entre eles o dele-
gado do DOI-CODI/SP Antônio Vilela, mas foi atingido pelas costas por uma rajada de
metralhadora. Em documento encontrado no arquivo do DOPS/SP (doc. 30-Z-165-
118), ao lado de um xérox de identidade de nome Dario Marcondes, o nome falso utiliza-
do por Chico, está anotado a máquina o nome, filiação e data de nascimento de Francisco
José de Oliveira. Sua certidão de óbito, no entanto, foi feita em nome de Dario Marcon-
des, demonstrando a clara intenção dos órgãos de repressão de manter escondida a sua
verdadeira identidade. Sepultado como indigente no Cemitério D. Bosco, no bairro de
Perus, na cidade de São Paulo (SP), seus restos mortais foram colocados na vala clandes-
tina de Perus, descoberta em 1990, e ainda aguardam identificação.
Segundo os relatórios dos ministérios da Aeronáutica e da Marinha, “[…] no dia
5/11/71, em São Paulo (SP), ao encontrar-se com outro terrorista, agentes de segurança tenta-
ram realizar a sua prisão, reagindo a tiros, sendo morto”.
Até então, acreditava-se que Chico fora morto no local, alvejado por uma rajada de
metralhadora nas costas, mesmo ferido, quando tentava fugir. O exame da documentação
sobre o caso na CEMDP indicou que a morte não ocorreu durante o tiroteio.
O laudo de necropsia, assinado pelos médicos legistas Mário Nelson Matte e José
Henrique da Fonseca, descreve vários tiros, entre eles o que certamente imobilizou Fran-
cisco: o projétil penetrou na região lombar, linha média, contornou a coluna, lesou alças
intestinais delgadas e alojou-se na parede anterior do abdômen, na altura do umbigo.
A relatora Suzana Keniger Lisbôa destacou em seu voto que o laudo se refere a outros
seis tiros, sendo digno de nota um tiro dado quando Chico estava imobilizado: o projétil
que penetrou no ângulo nasogeniano esquerdo lesou a língua, desceu pela coluna cervical,
passou por trás da clavícula esquerda e se exteriorizou na região axilar direita. O laudo,
porém, não descreve edemas e escoriações no rosto, queixo e olho direito e pescoço, visí-
veis na foto do IML/SP, evidentes lesões produzidas por tortura.
A requisição de exame ao IML, marcada com um T em vermelho e registrada como
homicídio, foi feita em nome de Dario Marcondes, apesar de Chico ter sido fichado e fo-
tografado, conforme requisição encontrada no DOPS/SP, na qual a data e o horário regis-
trados foram 5 de novembro, 16 horas. No verso da requisição, no entanto, a data de
entrada no necrotério é do dia 4 de novembro, 20 horas. Seu corpo, portanto, teria dado
Nasceu em 5 de julho de 1954, em Feira de Santana (BA), filha de Tibúrcio Alves Cunha
Filho e Esmeraldina Carvalho Cunha. Morta em 14 de novembro de 1971. Militante do
Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8).
Nilda freqüentava o curso secundário e era bancária, quando passou a militar no MR-8.
Morava com Jaileno Sampaio em um apartamento, onde abrigaram Iara Iavelberg, a compa-
nheira de Carlos Lamarca, durante sua estada em Salvador (BA).
Segundo a requerente na CEMDP, Leônia Alves Cunha, sua irmã, “[…] Nilda foi detida
e levada para o quartel do Barbalho na madrugada de 19 para 20 de agosto de 1971, posterior-
mente transferida para a Base Aérea de Salvador, em regime incomunicável”.
Sua prisão ocorreu por ocasião do cerco policial montado no prédio onde morava para
capturar Iara Iavelberg. Conforme o relatório da Operação Pajussara, o cerco era parte dessa
operação, desencadeada para “capturar ou eliminar” Carlos Lamarca, comandada pelo major
Nilton de Albuquerque Cerqueira, chefe da 2ª Seção do Estado-Maior da 6ª Região Militar e
comandante do DOI-CODI de Salvador.
Nilda foi liberada no início de novembro, quase dois meses depois, profundamente de-
bilitada em conseqüência das torturas e morreu no dia 14 do mesmo mês, com sintomas de
cegueira e asfixia.
No livro Lamarca, o Capitão da Guerrilha, publicado em 1980, já constava a denúncia de
sua prisão e morte:
– Você já ouviu falar de Fleury?
Nilda empalideceu, perdia o controle diante daquele homem corpuloso.
– Olha, minha filha, você vai cantar na minha mão, porque passarinhos mais velhos já
cantaram. Não é você que vai ficar calada.
Dos que foram presos no apartamento do Edifício Santa Terezinha, apenas Nilda Cunha
e Jaileno Sampaio ficaram no Quartel do Barbalho. Ela, aos 17 anos, ele, com 18.
– Mas eu não sei quem é o senhor…
– Eu matei Marighella.
Ela entendeu e foi perdendo o controle. Ele completava:
– Vou acabar com essa sua beleza – e alisava o rosto dela.
Ali estava começando o suplício de Nilda. Eram ameaças seguidas, principalmente as do
Major Nilton de Albuquerque Cerqueira. Ele já se tornara temido, e odiado, pelos presos
políticos. Ela ouvia gritos dos torturados, do próprio Jaileno, seu companheiro, e se ater-
rorizava com aquela ameaça de violência sexual num lugar deserto. Naquele mesmo dia
vendaram-lhe os olhos e ela se viu numa sala diferente quando pôde abri-los. Bem junto
dela estava um cadáver de mulher; era Iara, com uma mancha roxa no peito, e a obri-
garam a tocar naquele corpo frio. […]
Dona Esmeraldina Carvalho Cunha, 49 anos [assassinada em outubro de 1972], logo
que soube da prisão da filha caçula, revirou a Bahia. Ia atrás de advogado, do coman-
dante da 6ª Região Militar, general Argus Lima, e do juiz de menores. Um dia acabou
sabendo que a menina estava incomunicável. Só na Base Aérea, dias depois, encontrou-
se com Nilda, imprestável, sem nenhum controle.
Nasceu em 22 de outubro de 1939, em Bonito (PE), filho de Maria das Dores de Paulo.
Morto em 5 de dezembro de 1971. Dirigente da Ação Libertadora Nacional (ALN).
A versão oficial diz que foi morto em tiroteio no bairro do Sumaré, em São Paulo (SP).
Estava com sua companheira, Linda Tayah de Melo. Grávida, ela foi levada e teve seu filho na
prisão, após o assassinato do pai.
Era sargento radiotelegrafista do Exército, formado pela Escola de Sargentos das
Armas, sendo cassado após o golpe de 1964. Trabalhou como funcionário da Sunab até
fevereiro de 1969.
Luiz Hirata
As missas na Catedral da Sé
O isolamento das famílias dos mortos e desapare- nifestação dos religiosos que as celebraram contra as
cidos políticos e o cerceamento de qualquer informa- torturas e as prisões.
ção não impediram os mais variados atos de resistência Durante o governo Geisel, além da ofensiva con-
ao medo imposto pela ditadura. A reação ao arbítrio tra o PCB, a repressão política voltou-se para o que
fez-se de modo contundente quando os familiares e restara do PCdoB, assassinando dirigentes do partido
amigos de Luiz Eduardo da Rocha Merlino – dirigente na “Chacina da Lapa”, em dezembro de 1976. Seu ob-
do POC assassinado sob tortura em 19 de julho de jetivo era eliminar qualquer ameaça à realização da
1971 – realizaram em sua homenagem a missa de 30º transição política controlada.
dia na Catedral da Sé, em São Paulo, com a presença Entre 1978 a 1980, buscou-se encaminhar a luta
de centenas de jornalistas, seus colegas de profissão, pela “anistia ampla, geral e irrestrita” junto com a reor-
em 28 de agosto daquele ano. ganização de movimentos sociais, tais como o movi-
Os protestos impulsionados pelo assassinato do mento estudantil, o movimento contra o custo de
estudante da USP Alexandre Vannucchi Leme, mili- vida, o movimento feminista, o movimento sindical e
tante da ALN, em março de 1973, e a atitude corajo- o apoio às greves dos metalúrgicos do ABC. Em 30 de
sa de seus familiares, que exigiram investigações, tor- outubro de 1979, o operário Santo Dias da Silva foi
naram possível a articulação de setores da Igreja e do executado com um tiro à queima-roupa, disparado
incipiente movimento estudantil, que se reorganizava pelo soldado da PM Herculano Leonel em frente à fá-
em São Paulo. D. Paulo Evaristo Arns realizou uma brica Sylvania, em São Paulo, quando tentava impedir
missa em sua homenagem, na Catedral da Sé, com a que alguns policiais militares continuassem agredindo
presença de 3 mil pessoas, apesar da intensa repressão outro metalúrgico. Santo Dias era líder da Oposição
policial. A repercussão de sua morte fez com que se- Sindical, da Pastoral Operária da Zona Sul, das Co-
tores da sociedade civil ocupassem espaços institucio- munidades de Base de Vila Remo e representante ope-
nais antes sufocados pela repressão política e pela rário na CNBB. Sua morte comoveu o país e, no dia
“cultura do medo”. seguinte, compareceram cerca de 30 mil pessoas às
A sociedade civil começava a reagir e cumpriu um exéquias. Novamente, uma missa de corpo presente
importante papel quando ocorreu o assassinato do jor- foi celebrada por D. Paulo, na Catedral da Sé, com a
nalista Vladimir Herzog, em 25 de outubro de 1975. presença de mais de 10 mil pessoas.
O Sindicato dos Jornalistas de São Paulo e o movi- Essas missas impulsionaram e alimentaram a
mento estudantil em ascensão organizaram, com D. luta pela redemocratização do país. Sua radicalização
Paulo, uma missa ecumênica na Catedral da Sé, com oscilou entre a capacidade do movimento pela anistia
cerca de 8 mil pessoas. Essa missa se tornou um marco em assimilar as derrotas e capitalizar a parcela de vi-
da resistência à ditadura. tória que representou a anistia parcial de agosto de
Em seguida, em janeiro de 1976, foi morto o 1979. A luta por Verdade e Justiça, simbolizada nas
operário Manoel Fiel Filho. Pelo sétimo dia da mor- missas, porém, após a anistia de 1979 e a reorganiza-
te de Manoel, foram celebradas três missas e uma ção dos partidos políticos, ficou restrita aos familiares
delas contou com mais de 400 pessoas. Houve ma- de mortos e desaparecidos políticos.
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Arquivo pessoal
Iconographia
Cartazes distribuídos pelas forças de repressão nos anos 1970 estampam fotos de guerrilheiros. O da esquerda foi distribuído na região
do Araguaia e o da direita nas principais cidades do país.
Nasceu em 16 de dezembro de 1947, em Regente Feijó (SP), filho de Ruy Thales Jac-
coud Berbert e Ottília Vieira Berbert. Desapareceu em 2 de janeiro de 1972. Militante do
Movimento de Libertação Popular (Molipo).
Ruy Carlos era estudante do curso de Letras da USP e residia no CRUSP. Militante do
movimento estudantil, participou do XXX Congresso da UNE, quando foi preso, em outu-
bro de 1968.
Havia poucas informações a respeito do desaparecimento de Ruy. Sua morte e as de mais
outros 11 desaparecidos foram confirmadas pelo general Adyr Fiúza de Castro, quando decla-
rações suas foram publicadas em off em matéria do jornalista Antônio Henrique Lago na Fo-
lha de S.Paulo, em 28 de janeiro de 1979. Fiúza de Castro foi criador e primeiro chefe do CIE,
chefe do DOI-CODI do I Exército, comandante da PM/RJ e da VI Região Militar.
Em meados de junho de 1991, Hamilton Pereira, membro da Comissão Pastoral da
Terra e ex-militante da ALN, entregou o atestado de óbito de João Silvino Lopes, datado de 2
de janeiro de 1972, no qual consta seu suicídio, em Natividade (TO, na época estado de
Goiás), à Comissão de Investigação das Ossadas de Perus (261/90), criada pela então prefeita
de São Paulo, Luiza Erundina, para acompanhar a identificação das 1.049 ossadas encontra-
das na vala clandestina do Cemitério D. Bosco, em Perus, na cidade de São Paulo. Havia a
probabilidade de João ser um militante desaparecido. Esse nome não constava na lista dos
desaparecidos políticos. Caso fosse um nome falso, seriam necessárias mais informações para
identificá-lo.
Em janeiro de 1992, quando a Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Polí-
ticos teve acesso aos arquivos do DOPS/SP, encontrou uma relação de nomes, elaborada a
pedido do delegado Romeu Tuma, intitulada: “Retorno de Exilados”. Nessa relação, consta o
nome de Ruy Carlos Vieira Berbert com as seguintes observações: preso em Natividade, sui-
cidou-se na Delegacia de Polícia, em 2 de janeiro de 1972. Concluiu-se, então, que João Silvi-
no Lopes era o nome falso de Ruy Carlos. A Comissão de Familiares solicitou ajuda à Comis-
são de Representação Externa da Câmara Federal, responsável pela questão dos desaparecidos
políticos, para investigar a verdadeira identidade do morto em Natividade.
Organizou-se uma caravana integrada pelo presidente da Comissão de Representa-
ção, o deputado federal Nilmário Miranda (PT-MG), pelo deputado federal Roberto
Valadão (PMDB-ES), por Idibal Piveta, advogado da família de Ruy Carlos e represen-
tante da OAB/SP, por Hamilton Pereira, da CPT/GO, e por Suzana Keniger Lisbôa, da
Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos.
Hiroaki Torigoe
Nasceu em 2 de dezembro de 1944, em Lins (SP), filho de Hiroshi Torigoe e Tomiko Tori-
goe. Morto em 5 de janeiro de 1972. Dirigente do Movimento de Libertação Popular (Molipo).
Cursava o 4° ano da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, quando
ingressou na clandestinidade como militante da ALN.
De acordo com um documento de um informante do DOPS/SP, inicialmente Torigoe
não pertencia ao “Grupo da Ilha”, como era chamado o Molipo, uma dissidência de militan-
tes da ALN que realizavam treinamento de guerrilha em Cuba:
Os primeiros a chegar a São Paulo conseguiram contato com a ALN, mas não fizeram a
fusão, continuando dissidentes. Conseguiram aliciar para o grupo Hiroaki Torigoe, e ele
mora em um aparelho com Rita […] em uma casa de fundos, possivelmente no Cambu-
ci, mais perto da Aclimação, em São Paulo.
Sua prisão deu-se na rua Albuquerque Lins, bairro de Santa Cecília, em São Paulo, por
uma equipe chefiada pelo delegado Otávio Gonçalves Moreira Jr., vulgo Otavinho, em 5 de
janeiro de 1972, sendo levado para o DOI-CODI, órgão chefiado pelo então major Carlos
Alberto Brilhante Ustra e pelo, à época, capitão Dalmo Lúcio Muniz Cirillo.
Segundo o documento elaborado pelo Comitê de Solidariedade aos Presos Políticos
do Brasil intitulado “Aos Bispos do Brasil”, de fevereiro de 1973, encontrado nos arquivos
do DOPS/SP:
Ferido, foi levado para o DOI/SP onde foi intensamente torturado pela chamada equi-
pe B, chefiada pelo capitão Ronaldo, “tenente” Pedro Ramiro, capitão Castilho, capitão
Ubirajara e o carcereiro Maurício, vulgo “Lungaretti” do DPF.
A nota oficial à imprensa, publicada no jornal A Gazeta, de 20 de janeiro de 1972, anun-
ciou sua morte como a de mais um “terrorista” que morria ao ser levado ao hospital, ferido em
conseqüência de tiroteio. Outros recortes de jornais, sem nome e data, anexados aos autos do
caso na CEMDP, reproduzem as mesmas informações.
Sua foto identificada com o nome correto foi estampada em milhares de cartazes espalha-
dos pela repressão política, com o título: “Terroristas Procurados”.
O laudo de necropsia assinado pelos legistas Isaac Abramovitc e Abeylard Queiroz Orsini
informa a existência de dez ferimentos produzidos por arma de fogo e confirma a versão ofi-
cial. A foto do corpo mostra apenas a cabeça e parte do tórax de Torigoe, que apresenta diver-
sas lesões e escoriações, além de um dos braços quebrado, evidenciando as torturas a que fora
submetido. Segundo o laudo, o corpo de Torigoe teria dado entrada no IML despido. A re-
quisição de exame necroscópico, identificada com nome falso de Massashiro Nakamura, apre-
senta anotação feita à mão de seu nome verdadeiro.
Torigoe foi enterrado como indigente com o nome falso em 7 de janeiro de 1972, na rua
15, sepultura 65, no Cemitério D. Bosco, em Perus, na cidade de São Paulo. Seu irmão, que
fez o reconhecimento fotográfico no DOPS em 20 de janeiro de 1972, contou oito tiros,
sendo três na face e cinco no tórax. Seu atestado de óbito, também registrado com nome falso,
teve como declarante o PM Miguel Fernandes Zaninello. Em 8 de novembro de 1972, foi
retificado por determinação judicial.
A dor da família de Torigoe foi narrada pelo jornalista Caco Barcellos no programa Globo
Repórter, da TV Globo, sobre a vala clandestina de Perus. Gravado em setembro de 1990,
quando Caco Barcellos encontrou a vala, o programa foi exibido apenas em 1995.
Em 1990, pelo exame dos livros do cemitério, constatou-se que seus restos mortais,
exumados em 1976, foram reinumados na mesma sepultura. Os peritos da Unicamp reali-
zaram a exumação dos restos mortais encontrados no local. Um deles não possuía o crânio
e, somente em 2004, após tentativas de identificação das três ossadas encontradas, os peritos
da USP/IML concluíram que nenhuma correspondia à de Torigoe.
Nasceu em 24 de agosto de 1943, em Araxá (MG), filho de Luiz Gomes Filho e Maria
José de Assis Gomes. Morto em 9 de janeiro de 1972. Militante do Movimento de Libertação
Nacional (Molipo).
Estudava Física na USP. Militante do movimento estudantil, em junho de 1965, partici-
pou da chamada “Greve do Fogão” contra o aumento de preço das refeições servidas aos estu-
dantes no restaurante do CRUSP e a favor de melhorias na alimentação. Participou também
da ocupação do Bloco F do CRUSP, em 1967, o conjunto residencial da USP, que tinha cerca
de 1.200 universitários na época, e da invasão da Reitoria da universidade, em 1968. Após a
decretação do AI-5, o CRUSP foi ocupado pelo Exército, pela Aeronáutica e pela Força Pú-
blica com tanques blindados, em 17 de dezembro de 1968, e muitos estudantes foram presos.
Jeová foi expulso da universidade. Foi um dos articuladores e dirigentes da Dissidência Estu-
dantil do PCB/SP. Em 1968, passou a militar na ALN e, após a edição do AI-5, atuou de
forma clandestina em Brasília (DF) e Goiás.
Foi preso em Goiás (atual estado de Tocantins), em 12 de novembro de 1969. Levado
para a Oban (posteriormente reorganizada como DOI-CODI), em São Paulo, as torturas a
que foi submetido lhe causaram fraturas nas duas pernas.
Foi banido do país, com mais 39 presos políticos, em troca do embaixador alemão Von
Holleben, seqüestrado em junho de 1970 pela ALN e pela VPR. Foi levado para a Argélia em
13 de junho do mesmo ano e, posteriormente, para Cuba, onde participou de treinamento
de guerrilha.
Ao retornar clandestinamente ao Brasil, em 1971, radicou-se em Guaraí (TO, na época es-
tado de Goiás). Em 9 de janeiro de 1972, Jeová foi localizado em um campo de futebol e morto.
No jornal O Estado de S. Paulo, de 13 de janeiro de 1972, foi publicada uma matéria com
o título “Líder Terrorista Morto em Goiás”, que reproduz o comunicado dos órgãos de seguran-
ça intitulado “Outro Terrorista Banido Morre Reagindo à Prisão no Interior Goiano”:
Algumas equipes de segurança deslocaram-se de Brasília para o interior de Goiás no
encalço de um grupo terrorista empenhado na implantação da guerrilha rural, ao longo
da Belém–Brasília.
Pelos dados existentes, o referido bando era chefiado por um elemento de grande pericu-
losidade, chegado de Cuba nos meados de 1971, onde fora preparado e incumbido de,
Nasceu em 9 de agosto de 1949, no Rio de Janeiro (RJ), filho de João Baptista Xavier
Pereira e Zilda Xavier Pereira. Morto em 20 de janeiro de 1972. Militante da Ação Libertado-
ra Nacional (ALN).
Participou do movimento estudantil secundarista e foi diretor do Grêmio do Colé-
gio Pedro II, no Rio, em 1968, com Luiz Afonso de Almeida, Aldo de Sá Brito e Marcos
Nonato da Fonseca – estes dois últimos também assassinados pela ditadura instaurada
em 1964.
Conheceu desde cedo a perseguição e a repressão que atingiu sua família com o golpe de
Estado de 1964 e ingressou, ainda muito jovem, no PCB. Era irmão de Iuri Xavier Pereira,
assassinado pela repressão política em 14 de junho de 1972.
No PCB, alinhou-se com aqueles que defendiam a luta armada contra a ditadura, unin-
do-se ao grupo liderado por Carlos Marighella, e ingressou na ALN.
Participou de curso de guerrilha em Cuba e a foto de seu rosto apareceu em diversos
cartazes distribuídos pelo país, com o título “Terroristas Procurados”. Tornou-se chefe de um
Grupo Tático Armado da ALN, empreendendo intensa atividade política. Passou a viver na
clandestinidade e respondeu à revelia a alguns processos na Justiça Militar.
Gelson Reicher
Nasceu em 20 de fevereiro de 1949, em São Paulo (SP), filho de Berel Reizel Reicher
e Blima Reicher. Morto em 20 de janeiro de 1972. Militante da Ação Libertadora Nacio-
nal (ALN).
Era estudante do 5º ano de Medicina na USP e diretor do Centro Acadêmico Osvaldo
Cruz. Foi professor em cursos pré-vestibulares e participou de pesquisas científicas. Atuou no
teatro universitário. Escreveu poesias e peças de teatro, compondo músicas para as encenações,
muitas delas dirigidas por ele. Na ALN, juntamente com Iuri Xavier Pereira, foi responsável
pela criação dos jornais 1º de Maio, Ação e O Guerrilheiro.
De família judia e único filho homem de Berel e Blima, deixou tamanha saudade que seu
quarto, quase dez anos depois de sua morte, ainda era mantido exatamente como deixara
desde a última vez que ali estivera.
As mortes
A versão oficial de suas mortes divulgada pela imprensa foi, conforme O Estado de S.
Paulo, de 22 de março de 1972, a seguinte:
O volks de placa CK 4848 corre pela Avenida República do Líbano. Em um cruzamen-
to, o motorista não respeita o sinal vermelho e quase atropela uma senhora que leva uma
criança no colo. Pouco depois, o cabo Silas Bispo Feche, da PM, que participa de uma
patrulha, manda o carro parar. Quando o volks pára, saem do carro o motorista e seu
acompanhante atirando contra o cabo e seus companheiros; os policiais também atiram.
Depois de alguns minutos três pessoas estão mortas, uma outra ferida. Os mortos são o
cabo da Polícia Militar e os ocupantes do volks, terroristas Alex de Paula Xavier Pereira
e Gelson Reicher.
A nota informou os nomes falsos usados por Alex e Gelson junto aos verdadeiros e, graças
a essa informação, os familiares de Alex puderam encontrar seus restos mortais, em 1979,
enterrado como indigente com o nome de João Maria de Freitas, no Cemitério D. Bosco, em
Perus, na cidade de São Paulo. Ao mesmo tempo em que assumiram a morte dos dois mili-
tantes e suas verdadeiras identidades por nota oficial, seus corpos foram enterrados com os
nomes falsos.
Os restos mortais de Alex foram trasladados para o Rio de Janeiro, em 18 de outubro de
1980, após a ação de retificação dos registros de óbito, junto com os de seu irmão, Iuri.
Até a abertura dos arquivos do DOPS/SP, em 1992, o único questionamento que os
familiares faziam à versão oficial era quanto ao fato de que, mesmo conhecendo a identida-
de de Alex, os órgãos de segurança enterraram-no com nome falso, para impedir o acesso ao
seu corpo. Mas fotos dos corpos de Alex e Gelson foram encontradas nos arquivos do
DOPS/SP e indicavam prováveis escoriações e hematomas. A Comissão de Familiares de
Mortos e Desaparecidos Políticos, mesmo sem poder contar com boas condições técnicas,
reproduziu as fotos, que foram enviadas ao médico legista Nelson Massini, para a realização
de um parecer.
Nos arquivos do DOPS/SP descobriu-se também o depoimento de um militante da ALN
que, preso, indicara os possíveis locais de encontro com Alex. Esse fato derrubava a idéia de que
o ocorrido foi um encontro casual, indicando que o volks teria sido seguido desde o bairro de
Moema até a avenida República do Líbano, local próximo ao quartel do II Exército, onde teria
acontecido o tiroteio, ou onde, provavelmente, se montou o “teatro” para forjar um tiroteio.
A análise das fotos e do laudo necroscópico assinado por Isaac Abramovitc e Abeylard
Queiroz Orsini comprovou que a versão oficial não se sustenta. O novo laudo, elaborado pelo
legista Nelson Massini, em 6 de março de 1996, atesta que Alex fora morto sob torturas. Nas
suas conclusões, Massini afirmou:
Podemos concluir, com absoluta convicção, que o Sr. Alex de Paula Xavier Pereira esteve
dominado por seus agressores que produziram lesões vitais e não mortais anteriores àque-
las fatais, e assim submetido a um caso de tortura.
Gelson foi enterrado no Cemitério D. Bosco, sob o nome falso de Emiliano Sessa, mas
sua família conseguiu, logo após sua morte, retirar o corpo.
Vários depoimentos demonstraram que o envio de corpos, a necropsia e a liberação
dos mesmos obedeciam a um ritual próprio, envolvendo geralmente o mesmo grupo de
pessoas. O que ocorria nas necropsias noturnas não tinha o testemunho de ninguém.
O corpo do militante Gelson Reicher, por exemplo, enviado com nome falso pelos ór-
gãos de repressão, tinha o nome verdadeiro escrito à mão na requisição de exame. A autópsia
foi feita por Isaac Abramovitc, amigo da família de Gelson, que o conhecia desde criança.
Abramovitc encontrava-se diariamente com Gelson na garagem do prédio onde moraram.
Mesmo assim, emitiu laudo e atestado de óbito com o nome falso, permitindo que o corpo
fosse enterrado como indigente em Perus. Em seu depoimento na referida CPI, ele alegou não
Nasceu em 24 de janeiro de 1948, em Ouro Preto (MG), filho de José Ovídio Fortes e
Alice Pereira Fortes. Morto em 28 de janeiro de 1972. Dirigente da Ação Libertadora Nacio-
nal (ALN).
Gostava de literatura, cinema e teatro. Participava intensamente das atividades culturais
de sua cidade, escreveu em jornais, promoveu jograis, criou e difundiu peças teatrais. Era co-
laborador assíduo do Jornal de Outro Preto e da Voz do GLTA (Grêmio Literário Tristão de
Athayde, criado em 1938).
Atuou na União Colegial Ouropretense e na Escola Técnica Federal. Ingressou na Escola
de Metalurgia, mas não chegou a concluir o curso. Em 1963, passou a militar no PCB. Logo
após o golpe de abril de 1964, passou a viver na clandestinidade, inicialmente em Belo Hori-
zonte e em Contagem (MG), onde integrou o Comitê Municipal do PCB. Tornou-se um dos
dirigentes da Corrente/MG e atuou junto aos metalúrgicos assessorando as comissões de fá-
brica da Belgo-Mineira, da Mannesman, da Mafersa e da RCA. Desempenhou papel impor-
tante nas greves dos metalúrgicos de 1968. Em 9 de abril de 1969, chegou a ser ferido em um
confronto com policiais, mas conseguiu escapar. A partir desse episódio, em que foram presos
alguns militantes da Corrente, passou a viver no Rio de Janeiro, já como militante da ALN.
Hélcio, mesmo na clandestinidade, não deixou de se comunicar com a família. Escrevia
cartas em que expressava a sua saudade e as razões que o levaram a optar pela luta armada. A
última vez que se comunicou com a família foi por meio de um telegrama, no Natal de 1971.
Preso em 22 de janeiro de 1972, no Rio de Janeiro, e transferido para o DOI-CODI/SP,
foi morto sob torturas no dia 28.
A versão oficial distribuída à imprensa, que consta na requisição de exame ao IML/SP,
informava que, “[…] após travar violento tiroteio com os agentes dos órgãos de segurança, foi feri-
do e, em conseqüência, veio a falecer”. O jornal Estado de Minas, de 1º de fevereiro de 1972,
descreveu a versão policial sobre sua morte:
[…] Hélcio Pereira Fortes, morreu sexta-feira em São Paulo, na avenida dos Bandeiran-
tes ao tentar fugir, aproveitando-se de tiroteio entre agentes de segurança e outro terroris-
ta com o qual Hélcio tinha um encontro marcado.
No sábado anterior, dia 23 de janeiro, Hélcio Pereira Fortes […] conseguiu escapar à
perseguição policial na Guanabara, quando tentou manter contato com uma terrorista
na Tijuca. Fugindo para São Paulo, foi preso dia 26, na Estação Rodoviária por agentes
de segurança da Guanabara e de S. Paulo, que acompanhavam seus passos desde o Rio.
Os legistas Isaac Abramovitc e Lenilso Tabosa Pessoa definiram como causa da morte
“anemia aguda traumática”.
Nos arquivos do DOPS/SP, foram localizados depoimentos prestados por Hélcio, com-
provando sua prisão.
No documento elaborado pelo Comitê de Solidariedade aos Presos Políticos do Brasil em
fevereiro de 1973, com o título “Aos Bispos do Brasil”, encontramos:
Preso, não se sabe se no Rio ou em S. Paulo, entre 22 e 26 de janeiro de 1972. Hélcio
esteve enclausurado no DOI/SP sendo que inúmeros presos políticos atestam a sua presen-
ça naquele destacamento. Submetido a dolorosas torturas, pelas equipes policiais, Hélcio
veio a sucumbir no dia 28 de janeiro. No dia 1º de fevereiro, os órgãos de repressão, atra-
vés dos jornais, publicaram uma nota oficial onde informavam que Hélcio havia sido
morto em tiroteio numa tentativa de fuga. Era por demais óbvio que ele não podia sequer
caminhar, em decorrência das torturas. Seu corpo foi visto ao ser retirado do DOI.
Em documento encontrado no antigo DOPS/PR, lê-se:
Encaminhamento 087/72-CO/DR/PR - origem CIE/ADF - morto em São Paulo ao
tentar fugir da prisão.
Nasceu em 29 de agosto de 1941, em São Paulo (SP), filha de Edmundo Dias de Olivei-
ra e Felícia Mardini de Oliveira. Desaparecida em 30 de janeiro de 1972. Militante da Ação
Libertadora Nacional (ALN).
Iniciou seus estudos no Grupo Estadual Pereira Barreto, onde concluiu o primário. Cur-
sou o ginásio e o clássico (atual ensino médio) na Escola Estadual Presidente Roosevelt e no
Colégio Santa Marcelina, respectivamente. Estudava piano e fez curso de pintura na Funda-
ção Alvares Penteado. Falava inglês e dominava também o espanhol e o francês. Trabalhou
como secretária bilíngüe na empresa Swift.
Em 1965, iniciou o curso de Ciências Sociais na FFCL da USP e foi morar no CRUSP.
Em 1967, passou a trabalhar no cursinho do Grêmio da Faculdade de Filosofia e casou-se com
José Luiz Del Royo, também militante da ALN, de quem se separou posteriormente. No
primeiro semestre daquele ano, trancou sua matrícula no 3º ano do curso.
Em 1968, viajou para Cuba, onde realizou treinamento de guerrilha. No fim de
1969, voltou clandestinamente ao Brasil e, em junho de 1970, se transferiu para a cidade
do Rio de Janeiro.
Ísis figurou em seis processos, nos quais foi julgada à revelia. Foi acusada de ter assal-
tado o Hospital da Ordem Terceira da Penitência, no Rio de Janeiro; de ter depredado
dois postos de gasolina onde se encontravam cartazes de militantes políticos procurados
pela polícia; de ter participado do assalto à agência do Bradesco da rua Miguel Lemos, no
qual foi ferida sem gravidade. Em três processos, foi absolvida e os demais foram arquiva-
dos por insuficiência de provas.
Em sua homenagem, a praça em frente à casa onde Ísis passou parte de sua vida, no Alto
da Lapa, em São Paulo, desde 11 de setembro de 1997, tem o seu nome. As cidades do Rio
de Janeiro e Recife (PE) também a homenagearam dando o seu nome a ruas nos bairros Re-
creio dos Bandeirantes e Macaxeira, respectivamente.
O desaparecimento
Em 30 de janeiro de 1972, Paulo César Massa e Ísis Dias de Oliveira foram presos e
levados para o DOI-CODI/RJ. Eram companheiros de militância e viviam clandestinos
na mesma casa. Desde esse dia, Ísis não compareceu aos encontros marcados com os
companheiros. Em 2 de fevereiro, três dias após a prisão, agentes do DOPS/RJ estiveram
na casa dos pais de Paulo, a pretexto de buscarem uma metralhadora, e levaram roupas de
baixo dele, o que para sua mãe foi um forte indício de sua prisão. Desde então, seus pais
iniciaram a busca por informações sobre seu paradeiro, mas só souberam de sua prisão
por meio de Robson Gracie, um vizinho que também esteve preso no DOI-CODI/RJ,
entre fevereiro e maio de 1972.
O chefe do grupo policial que foi à casa dos pais de Paulo César deu um cartão com o
nome de Otávio K. Filho, que depois descobriram tratar-se de um nome falso. Os policiais, ao
saírem do apartamento dos pais de Paulo César, foram ao apartamento de Robson Gracie e o
prenderam, com mais quatro pessoas – sua esposa, seu cunhado, a empregada e um irmão.
Em 28 de março de 1972, a televisão mostrou um retrato de Paulo Massa dando-o como
procurado pelos órgãos de repressão. No dia seguinte, o jornal Última Hora divulgou a mesma
informação.
Desde então, as famílias de Paulo e Ísis não obtiveram qualquer informação oficial sobre
a prisão ou a morte dos dois militantes. Seus nomes constam da lista de desaparecidos políti-
cos do anexo I, da lei 9.140/95.
Íris Amaral
Arno Preis
Nasceu em São Carlos (SP), em 2 de março de 1945, filho de José Reyes Daza Jr. e Rosa
Castralho Reyes. Morto em 27 de fevereiro de 1972. Militante do Movimento de Libertação
Popular (Molipo).
Estudante da Escola Politécnica da USP e integrante da direção executiva da UNE, em
1968. Era morador do CRUSP e gostava de polemizar sobre questões culturais, participando
dos debates sobre a militância política, o Tropicalismo e a criação artística. Ajudou a organizar
o Congresso da UNE, em Ibiúna (SP), em outubro de 1968, sendo preso e libertado no dia
seguinte para ir ao enterro do pai em sua cidade natal. Era militante da Dissidência Estudan-
til do PCB/SP até a formação da ALN.
Era acusado de participar do seqüestro de um avião Boeing da Varig durante o trajeto
Buenos Aires–Santiago, com mais oito militantes da ALN, desviando-o para Cuba, em 4 de
novembro de 1969. O fato foi divulgado na imprensa da época. Em Cuba, realizou treinamen-
to de guerrilha e, em 1971, retornou ao Brasil clandestinamente como militante do Molipo.
As mortes
A nota policial sobre a morte dos dois militantes foi publicada no jornal Folha de
S.Paulo, em 29 de fevereiro de 1972:
Dois terroristas, um dos quais natural do Chile, ao dispararem metralhadora e re-
vólver contra agentes dos órgãos de repressão, acabaram por atingir e matar o sr.
Napoleão Felipe Biscaldi, de 61 anos de idade, no cerco realizado domingo na rua
Serra de Botucatu, bairro do Tatuapé.
Outros jornais, como o Jornal do Brasil, publicaram notas semelhantes.
O laudo necroscópico de Lauriberto, emitido em 29 de fevereiro de 1972, afirma que
ele faleceu às 17 horas, de 27 de fevereiro de 1972, e dá como causa da morte “[…] lesões
traumáticas crânio encefálicas”. A requisição de exame feita pelo DOPS/SP ao IML/SP
informou: “Após travar tiroteio com os agentes dos órgãos de segurança, foi ferido e, em conse-
qüência veio a falecer”. O horário indicado de entrada no necrotério foi 18h30min.
No exame necroscópico de Lauriberto, consta a descrição de quatro tiros: um no
ombro esquerdo, um na coxa direita e dois na cabeça: um no olho esquerdo e outro na
porção média da região frontal. No laudo de Alexander, constam também quatro tiros:
orifício de entrada na porção média do lábio inferior e saída no submento à direita;
orifício de entrada na porção superior da região frontal e saída na região occipital;
entrada na face ântero-lateral esquerda do pescoço e o projétil transfixou o tórax e o
lobo superior do pulmão esquerdo, transfixou o omoplata esquerdo e saiu pela região
escapular esquerda; entrada na face anterior do terço médio do antebraço direito e o
projétil alojou-se no cotovelo.
Ao examinar os documentos e algumas contradições entre as informações divulgadas
nos jornais da época, o relator do caso (270/96) na CEMDP, Nilmário Miranda, passou
a considerar a hipótese de execução, solicitando um levantamento mais detalhado aos fa-
miliares.
Em 4 de junho de 1997, dois integrantes da Comissão de Familiares de Mortos e
Desaparecidos Políticos estiveram no local do crime, para colher informações sobre o
episódio com os moradores e relataram:
Fomos a uma borracharia onde trabalha Adalberto Barreiro, que na época dos fatos
tinha 12 anos de idade e estava em casa assistindo televisão. Era um domingo quan-
do ele ouviu um barulho continuado de tiro. Morava à rua Tijuco Preto, paralela à
Serra de Botucatu. Curioso, correu pelos fundos da casa até a rua [Serra de] Botu-
catu. Lá, viu um jovem que tentava correr, mancando e segurando a perna, quando
passou um Opala branco com policiais armados de metralhadora, com metade do
corpo para fora do carro, atirando. Primeiro, atingiram Napoleão Felipe Biscaldi
– um funcionário público aposentado antigo morador da [Serra de] Botucatu, que
atravessava a rua; depois balearam o rapaz que mancava. O rapaz aparentemente
foi morto na hora. Os policiais o jogaram no porta-malas do carro. As ruas estavam
Nasceu em 28 de setembro de 1942, em João Pessoa (PB), filho de José Estácio Corrêa
de Sá e Benevides e Jerusa Andrade de Sá e Benevides. Morto em 8 de março de 1972, em
Caruaru (PE). Dirigente do Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR).
Sua família mudou-se para o Rio de Janeiro, onde estudou Ciências Sociais na UFRJ até
1969. Era funcionário do Banco do Estado da Guanabara.
No início de 1970, depois de uma seqüência de prisões de militantes do PCBR ocorridas
no Rio de Janeiro, Luís Alberto e outros se deslocaram para o Nordeste.
O suposto acidente
*No Dossiê dos Mortos e Segundo investigações feitas por Iara Xavier Pereira para instruir o processo da família na
Desaparecidos Políticos a
partir de 1964, publicado CEMDP, Luís Alberto estaria adquirindo documentos para viver na clandestinidade, uma vez
em 1996, o nome de que estava sendo processado e perseguido pela ditadura. Logo depois de se casar com Míriam
Luís Alberto Andrade Lopes Verbena, foi à cidade de Cachoeirinha (PE), em 24 de fevereiro de 1972, e solicitou à
de Sá e Benevides estava Junta de Serviço Militar (JSM) o certificado de alistamento militar com o seu novo nome:
grafado erroneamente
como Luís Andrade de José Carlos Rodrigues. Fez a solicitação e deveria voltar novamente para retirar o documento
Sá e Benevides. em 8 de março daquele ano.
O seqüestro de Ezequias
A chacina de Quintino
Wilton Ferreira
Nasceu no Rio de Janeiro, filho de Maria Ferreira Dias, segundo dados policiais. Mor-
to em 29 de março de 1972. Militante da Vanguarda Armada Revolucionária Palmares
(VAR-Palmares).
As mortes
A prisão e morte dos quatro militantes ficou conhecida como Chacina de Quintino,
quando a casa em que moravam foi invadida por agentes do DOI-CODI/RJ. A porta da casa,
na avenida Suburbana, 8988, no Rio de Janeiro, foi arrombada pela explosão de uma granada,
por onde os policiais entraram, atirando a esmo. Antônio Marcos foi ferido e, mesmo assim,
começou ali mesmo a ser torturado.
O corpo de Antônio chegou ao IML/RJ como desconhecido, pela guia 3 do DOPS/RJ.
A necropsia foi feita pelos legistas Valdecir Tagliari e Eduardo Bruno. As fotos e o laudo de
perícia de local (1.884/72) e a ocorrência 264/72, feitos pelo Instituto Carlos Éboli (RJ),
mostram seu corpo baleado.
O corpo foi retirado por seu pai, em 10 de abril de 1972, por pressão de alguns setores
da Igreja, em função de seu tio ser um influente padre no Rio de Janeiro, e entregue à família
em caixão lacrado, onde só aparecia o rosto. A família foi ameaçada para evitar que abrissem
o caixão ou denunciassem as condições em que o corpo havia sido entregue. O enterro foi
realizado no Cemitério São Francisco Xavier, em 11 de abril de 1972, e teve a presença de
policiais que continuaram a fazer ameaças.
Lígia foi morta por policiais do DOI-CODI/RJ, entre 29 de março e 30 de abril de
1972, depois de rendida. A família, que morava em São Paulo, só tomou conhecimento da
morte de Lígia pela televisão. Pouco antes disso, policiais estiveram na casa de seus familiares
buscando informações.
O corpo de Lígia chegou ao IML/RJ em 30 de março de 1972, como pessoa desco-
nhecida. A necropsia, assinada pelos mesmos legistas que realizaram o laudo de Antônio
Marcos, confirma a versão oficial de tiroteio e determina como causa da morte “[…] feri-
da penetrante de crânio com hemorragia das meninges e destruição parcial do encéfalo”. Fotos
e laudo de perícia de local, feitas pelo Instituto de Criminalística Carlos Éboli (RJ), mos-
tram o corpo de Lígia baleado.
A estudante foi reconhecida pelo seu irmão, o médico Francisco, em 7 de abril, que per-
cebeu escoriações e manchas escuras nas costas e nas regiões laterais do corpo, além dos tiros na
cabeça e no braço. Lígia Maria foi sepultada por seus familiares em São Paulo.
O relatório do Ministério da Aeronáutica, encaminhado ao ministro da Justiça em 1993,
refere-se a Lígia e informa que
[…] em 29/03/72, quando do “estouro” de “aparelho” da VAR-Palmares, no Rio de
Janeiro, resistiu à bala à ordem de prisão, sendo ferida e falecendo posteriormente. Assas-
sinada na residência de um companheiro por agente do DOI-CODI, juntamente com
dois outros companheiros, na Av. Suburbana 8988, casa 72, Quintino, Rio.
O corpo de Maria Regina chegou ao IML/RJ, considerada pessoa desconhecida, vindo
da avenida Suburbana, bairro de Quintino, e teria sido “[…] morta em tiroteio”. Chegou a ser
encaminhada ao Hospital Central do Exército. Sua necropsia, datada de 30 de março de 1972
e assinada pelos mesmos legistas que assinaram as de Antônio e Lígia, confirma a versão ofi-
cial. Fotos e laudo da perícia de local, feitos pelo Instituto de Criminalística Carlos Éboli (RJ),
mostram o corpo de Maria Regina baleado.
Maria Regina teria sido identificada nesse mesmo dia, pela ficha do Instituto Félix Pache-
co (RJ). O laudo atesta que a morte foi causada por “[…] feridas transfixantes de crânio e tórax
com destruição parcial do encéfalo, lesão da artéria aorta, hemorragia interna e conseqüente ane-
Nasceu em São Paulo (SP), em 14 de outubro de 1948, filho de Cezário Nogueira Cabral
e Maria Tereza Nogueira Cabral. Morto em 12 de abril de 1972. Militante da Ação Liberta-
dora Nacional (ALN).
Estudante de Medicina na USP, foi presidente do Centro Acadêmico Osvaldo Cruz. Era
uma liderança muito querida entre os estudantes, participou da tradicional encenação teatral
A emboscada
Enquanto Ana Maria, Iuri, Marcos Nonato e Antônio Carlos Bicalho Lana almoçavam
no Restaurante Varella, o proprietário do estabelecimento, Manoel Henrique de Oliveira, te-
lefonou para o DOI-CODI/SP, avisando da presença de algumas pessoas que tinham suas
fotos afixadas em cartazes de “Procurados”, produzidos na época pelos órgãos de segurança.
Os agentes do DOI-CODI, assim que se certificaram da presença dos quatro, montaram
uma emboscada em torno do restaurante, mobilizando um grande contingente de policiais.
Segundo o relato de Antônio Carlos Bicalho Lana (assassinado em 1973), o único sobre-
vivente da emboscada, eles foram vítimas de um intenso tiroteio levado a efeito por dezenas
de policiais. Os tiros vinham de todos os lados, com exceção do lado onde estava estacionado
o carro dos guerrilheiros, junto à calçada, em frente a um muro. Ao abaixar-se para abrir a
porta do carro para os demais, protegido pelo muro, Lana recebeu tiros no braço, na perna e
no pé direito. Tentou usar a metralhadora, única arma de que dispunha o grupo, mas ela tra-
vou. Ao sair correndo pela rua, viu Ana Maria, Iuri e Marcos correndo em outra direção. Fu-
gindo dali, Lana soube da morte dos outros companheiros pelos jornais.
A versão oficial distribuída à imprensa na noite de 14 de junho de 1972 e publicada nos
jornais do dia seguinte, informou que houve um cerco montado pelos agentes de segurança
quando conseguiram localizar, na esquina das ruas Antunes Maciel e Mooca, quatro militan-
tes da ALN. Os jornais referiram-se a ferimentos em uma menina, um transeunte e dois
agentes policiais, sem identificá-los, conforme relatam os jornais O Globo, Jornal de Tarde e
Jornal do Brasil, de 15 de junho.
Não há dados e perícias que possam comprovar a morte em tiroteio, tais como fotos,
relação de armas utilizadas, exame de corpo de delito nem dos militantes, nem dos policiais
ou transeuntes feridos citados na versão oficial. Por outro lado, contrariamente ao alegado à
época, os corpos não foram levados para o necrotério, mas sim para as dependências do
DOI-CODI do II Exército, onde foram vistos pelo preso político Francisco Carlos de Andra-
de, conforme seu depoimento de 26 de março de 1996:
Fui preso no dia 27 de novembro de 1971 por um grupo de militares subordinados ao
II Exército, que atuavam clandestinamente com o nome de Operação Bandeirantes
[DOI-CODI] e usavam como sede a delegacia de polícia situada na rua Tutóia, em
São Paulo. Fiquei detido nessa delegacia até novembro de 1972, sendo então transferido
para a Casa de Detenção de São Paulo. Numa data que não posso precisar ao certo do
ano de 1972, devido às condições que nos impunham os carcereiros, vi no pátio dessa
delegacia três corpos estendidos no chão. Reconheci, de imediato, tratar-se de Iuri Xavier
Pereira e Ana Maria Nacinovic Corrêa; o terceiro corpo não reconheci. Minha certeza
de que se tratava de Iuri e Ana vem de que os conheci muito bem durante meu período
de militância na ALN, organização na qual os dois também militavam. Tempos depois,
vim a saber que o terceiro corpo estendido naquela delegacia era de um terceiro compa-
nheiro que não havia conhecido e que se chamava Marcos Nonato da Fonseca.
Desaparecidos no DOI-CODI/RJ
Nasceu em 16 de fevereiro de 1945, em Juiz de Fora (MG), filho de Othon Ribeiro Bas-
tos e Maria do Carmo Costa Bastos. Desaparecido em 11 de julho de 1972. Militante do
Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8).
Cursou 1º e 2º graus (atuais ensino fundamental e médio) no Colégio Militar do Rio de
Janeiro (RJ). Seu pai era general de divisão da ativa do Exército à data do seu desaparecimen-
to. Ingressou na Faculdade de Engenharia da UFRJ, concluindo o curso em 1970.
Trabalhava como engenheiro hidráulico no Departamento Nacional de Obras Contra a
Seca (DNOCS). Em função de sua militância política, estava vivendo como clandestino no
país e respondia a vários processos na Justiça Militar por ser integrante do MR-8.
O desaparecimento
Paulo Costa Ribeiro Bastos e Sérgio Landulfo Furtado foram presos em 11 de julho de
1972, no bairro da Urca, no Rio de Janeiro, por agentes do DOI-CODI/RJ, para onde foram
levados, sendo transferidos posteriormente para o CISA.
De acordo com o livro Desaparecidos Políticos, no início da manhã do dia 11, um rigoro-
so aparato policial militar foi montado na Urca, bairro da cidade do Rio de Janeiro. Os dois
teriam sido surpreendidos no apartamento onde se encontravam. Ainda segundo o livro, ou-
tra versão informava que Sérgio e Paulo teriam percebido o cerco e tentaram escapar como
passageiros de um ônibus. Os policiais bloquearam a única saída do bairro, revistando todos
os veículos e, em um deles, prenderam os dois.
No dia da prisão, Sérgio telefonara à mãe, para cumprimentá-la pelo Dia das Mães. Em
24 de julho, seus pais receberam um telefonema, em Salvador, informando que o filho havia
sido preso no Rio de Janeiro. Imediatamente, constituíram como advogado Augusto Sussekind,
no Rio de Janeiro, que fez representação junto ao STM, mas não obtiveram informações sobre
o paradeiro de Sérgio. Estiveram com o general Adyr Fiúza de Castro, então Chefe do
DOI-CODI do I Exército, que negou a prisão do filho. Escreveram ao presidente Emílio Gar-
rastazu Médici e, tempos depois, ao ministro da Justiça de Ernesto Geisel, Armando Falcão.
Denúncias sobre a prisão e desaparecimento dos dois militantes foram feitas em diversas
auditorias militares pelos presos políticos Paulo Roberto Jabour, Nelson Rodrigues Filho e
Manoel Henrique Ferreira.
No “Auto de Qualificação e Interrogatório” consta depoimento prestado por Manoel Hen-
rique Ferreira na 2ª auditoria da Aeronáutica, em 20 de março de 1973, no qual denunciou a
prisão de “Sérgio Landulfo Furtado e Paulo Roberto Ribeiro Bastos [o nome correto é Paulo
Costa Ribeiro Bastos], no dia 11 de junho de 1972 [a data é 11 de julho]”.
Em 1978, o ministro e general Rodrigo Otávio Jordão requereu ao STM que investigas-
se o desaparecimento de Paulo e Sérgio, mas nada foi apurado.
O livro Desaparecidos Políticos transcreve o depoimento do preso político Paulo Roberto
Jabour, feito em 20 de fevereiro de 1979, quando ainda se encontrava no Presídio Milton Dias
Ferreira, no Rio de Janeiro, relatando que:
Militantes como eu do MR-8, Sérgio e Paulo encontravam-se no Rio de Janeiro em julho
de 1972 […]. Fazendo parte do mesmo organismo encontramo-nos os três no bairro de
Ipanema, por volta das 17h do dia 3 de julho de 1972. Depois nos separamos, vim a ser
preso (em condições desconhecidas) às 19:30h do mesmo dia, já no bairro de Botafogo.
Conhecendo o Paulo de longa data, pois havíamos cursado juntos a Escola Nacional de
Engenharia do Rio, este, ao não conseguir estabelecer o contato combinado no dia, ini-
ciou uma série de telefonemas para um amigo comum, com vistas a que meus familiares,
assim avisados da minha prisão, procurassem localizar-me. Estes contatos telefônicos
prolongaram-se por toda a semana, mais precisamente até o dia 10 de julho (sem que até
aquele dia houvesse qualquer notícia a respeito do meu paradeiro). A partir deste dia,
Nasceu em 19 de janeiro de 1948, em Porto União (SC), filho de Eurico Siqueira Lisbôa
e Clélia Tejera Lisbôa. Desaparecido em 2 setembro de 1972. Militante da Ação Libertadora
Nacional (ALN).
Luiz Eurico foi o mais velho de sete irmãos. Morou em diversas cidades catarinenses,
além da sua terra natal: Caçador, Tubarão, Itajaí e Florianópolis. Em 1957, a família mudou-
se para o Rio Grande do Sul. Em Caxias do Sul, estudou no Colégio Santa Terezinha e no
Colégio Nossa Senhora do Carmo.
Quando ocorreu o golpe de Estado de 1964, cursava o clássico (atual ensino médio) na
Escola Cristóvão de Mendonça, em Caxias. Então com 15 anos, escreveu e assinou um mani-
festo contra a ditadura, que saiu a distribuir de porta em porta. Acuado pelas conseqüências,
ameaçado por um professor-policial, mudou-se para Porto Alegre, ingressando no Colégio
Estadual Júlio de Castilhos – o Julinho –, onde começou sua militância política organizada,
participando da JEC.
Foi membro da direção estadual do PCB, integrou a Dissidência Estudantil do Rio
Grande do Sul e a direção regional da VAR-Palmares até tornar-se militante da ALN, em
1969. Após a edição do AI-5, criou o Movimento 21 de Abril, buscando manter a organização
do movimento estudantil de forma clandestina. Em Santa Maria (RS), começou a cursar a
faculdade de Economia, na UFSM.
Porto Alegre registrou grandes manifestações de secundaristas nos anos 1967 e 1968. A
militância ativa e a participação destacada de Luiz Eurico chamaram a atenção dos órgãos de
segurança, que passaram a prendê-lo preventivamente a cada anúncio de manifestação a ser
realizada. Era um dos diretores da UGES (União Gaúcha dos Estudantes Secundários), enti-
dade que ainda não havia sido fechada pela ditadura.
Em maio de 1968, foi preso dentro do Colégio Estadual Júlio de Castilhos, com Cláudio
Antônio Weyne Gutierrez, também diretor da UGES, por policiais do DOPS chamados pela
direção da escola, quando tentavam entregar um abaixo-assinado pela reabertura do Grêmio
Estudantil. O grêmio havia sido fechado, em meio à intensa agitação provocada pela tentativa
da direção de cobrar uma taxa – e ao mesmo tempo em que era determinada a proibição do
uso de minissaias e cabelos compridos. Os estudantes instalaram o grêmio em uma barraca,
em frente à escola, concentrando os alunos em assembléias permanentes de onde saíam fre-
qüentes passeatas.
Luiz Eurico e Cláudio foram levados ao DOPS, onde ficaram por cerca de três semanas,
incomunicáveis, em cela fechada, mal ventilada, sem direito a banho ou sol, cercados de bara-
Nasceu em 12 de julho de 1943, no Recife (PE), filho de Pedro Francisco dos Santos e
Helena Pereira dos Santos. Desaparecido em 20 de setembro de 1972. Militante do Partido
Comunista do Brasil (PCdoB). Integrou o Destacamento C da Guerrilha do Araguaia.
Começou a trabalhar aos 13 anos de idade. Em 1964, mudou-se com a família para São
Paulo (SP) e, nesse mesmo ano, concluiu o curso científico (atual ensino médio) no Colégio
de Aplicação da USP. Trabalhava no Banco Intercontinental do Brasil. Em 1965, passou a
viver na clandestinidade em razão da perseguição política.
Em 1968, o DOPS, ao procurar Miguel, interrogou sua mãe, ocasião em que o delegado
Wanderico mostrou-lhe fotocópias de documentos de Miguel que teriam sido enviadas pela
CIA, dizendo que Miguel estivera na China. Em diversas ocasiões, a casa de sua mãe foi inva-
dida pela polícia política.
As primeiras informações sobre as perseguições políticas sofridas por Miguel são de 21 de
novembro de 1968, quando o jornal Folha de S.Paulo publicou a seguinte informação na
matéria “China Prepara Brasileiros para Fazerem Guerrilha em Nosso País”:
[…] foram vistos quando entravam ou saíam da China Comunista e é provável que a
CIA (Serviço de Inteligência dos EUA) tenha colaborado com as autoridades brasileiras
para sua identificação. O DOPS tem a fotografia de todos eles […].
Após realizar treinamento de guerrilha na China, em 1966, voltou ao Brasil clandestina-
mente, indo morar na região Norte/Centro-Oeste do país. Residiu inicialmente em Praia
Chata, Norte de Goiás, às margens do rio Tocantins e, posteriormente, no sul do Pará, na
localidade de Pau Preto, integrando o Destacamento C da Guerrilha do Araguaia. Entre os
guerrilheiros, Miguel era conhecido como Cazuza.
As mortes e desaparecimentos
O Relatório Arroyo, escrito pelo dirigente do PCdoB Ângelo Arroyo, que conseguiu es-
capar ao cerco militar à região em 1974, descreve as mortes:
Como estivessem sem alimento, Vítor resolveu ir à roça de um tal de Rodrigues, apanhar
mandioca. Os companheiros disseram que lá não tinha mais mandioca. Vítor, porém,
insistiu. Quando se aproximavam da roça viram rastros de soldados. Então Vítor deci-
diu que os quatro deveriam esconder-se na capoeira, próxima à estrada, certamente para
ver se os soldados passavam e depois então ir apanhar mandioca. Acontece que, no mo-
mento exato em que os soldados passavam pelo local onde eles estavam, um dos compa-
nheiros fez um ruído acidental. Os soldados imediatamente metralharam os quatro.
Dois morreram logo: Vítor e Zé Francisco. Antônio foi gravemente ferido e levado para
São Geraldo, onde foi torturado e assassinado. Escapou a companheira Dina, que sofreu
um arranhão de bala no pescoço.
O Relatório da Manobra Araguaia, de 30 de outubro de 1972, assinado pelo comandan-
te da 3ª Brigada de Infantaria, general Antônio Bandeira, confirma a morte dos três comba-
tentes. O que também é confirmado no Relatório da Operação Sucuri, de maio de 1974.
No processo movido pelos familiares dos mortos e desaparecidos da Guerrilha do Ara-
guaia, na 1ª Vara da Justiça Federal, o médico e ex-guerrilheiro Dower Morais Cavalcanti ci-
tou ao juiz os nomes de João Carlos Haas Sobrinho, José Toledo de Oliveira, Ciro Flávio Sa-
lazar Oliveira, Francisco Chaves e Antônio Carlos Monteiro Teixeira, como guerrilheiros
mortos durante a segunda campanha, em fins de 1972. Dower, enquanto ainda estava preso
no Pará, após reconhecer essas pessoas em um álbum de fotografias, foi chamado pelo general
Antônio Bandeira para ir pessoalmente à Base Militar de Xambioá identificar os guerrilheiros:
“[…] Quando eu cheguei lá, porém, os corpos já haviam sido enterrados em uma vala comum, no
cemitério de Xambioá”. Ele afirmou ainda ao juiz que o Exército tinha em sua posse vários
objetos de uso pessoal e documentos dos guerrilheiros, como, por exemplo, o diário de cam-
panha de João Carlos Haas Sobrinho, sua carta-testamento aos familiares e uma carta de
Francisco Chaves à Comissão Militar da guerrilha.
Segundo depoimento de Regilena Carvalho Leão Aquino no mesmo processo, esses
guerrilheiros teriam sido mortos, segundo relato do general Bandeira feito a ela quando se
encontrava presa em Brasília (DF).
Luzinete, camponesa da região, em depoimento prestado à CEMDP em julho de 1996,
informou a localização de uma cova na Reserva Indígena dos Sororós, onde estariam enterra-
dos Antônio Carlos e um outro guerrilheiro. Esse local fica às margens da estrada, perto de São
Raimundo (PA). A EAAF encontrou no local restos incompletos e danificados de esqueletos,
não sendo possível identificá-los.
Os desaparecimentos
No Relatório Arroyo, escrito pelo dirigente do PCdoB Ângelo Arroyo, que escapou ao
cerco militar à região em 1974, a morte de Ciro Flávio Salazar Oliveira, João Carlos Haas
Sobrinho e Manoel José Nurchis é narrada pelos sobreviventes ao ataque:
Ouviu-se uma rajada. Juca [João Carlos] e Flávio [Ciro Flávio] caíram mortos. Raul
[Antônio Teodoro de Castro] foi ferido no braço, escapando juntamente com Walk
[Walkíria Afonso Costa]. Gil [Manoel José] ainda se aproximou de Juca tentando
reanimá-lo. Ocorreram novos disparos. Depois não se soube mais de Gil. Deve ter mor-
rido. Raul e Walk, que não conheciam bem a região, vagaram durante dois meses pela
mata até que se encontraram novamente com os companheiros do destacamento B.
[30/9/72]
O corpo de João Carlos, crivado de balas, foi exibido à população de Xambioá, em
Goiás (atual Tocantins), com a perna direita quebrada e a barriga cortada e costurada.
Foto de João Carlos em situação semelhante à descrita por moradores de Xambioá foi
mostrada à então presa política e ex-guerrilheira, Criméia Alice Schmidt de Almeida, no
PIC em Brasília (DF), em 1973, pelo general Antônio Bandeira. Este confirmou a morte
de João Carlos e disse que seu corpo foi exposto à população, com o objetivo de atemo-
rizá-la. A população passou o dia velando o corpo do médico, apesar da proibição de
fazê-lo. E segundo informações dos moradores de Xambioá, foi enterrado no cemitério
da cidade.
O informe denominado “Ações mais Importantes Realizadas pelas Peças de Manobra”, do
Relatório da Manobra Araguaia, produzido em 30 de outubro de 1972 e assinado pelo co-
mandante da 3ª Brigada de Infantaria, general Bandeira, onde consta um balanço da II Cam-
panha de combate à guerrilha, traz:
Da FT 6º BC – ação de patrulhamento, em 30 Set. 72, executada na R dos Crentes, por
1 GC, teve como resultado a morte dos seguintes terroristas:
João Carlos Haas Sobrinho “Juca” (membro da Comissão Militar)
Ciro Flávio Salazar de Oliveira “Flávio” (Dst B – Grupo Castanhal do Alexandre)
José Manoel Nurchis “Gil” (China Com) – (Dst B – Grupo Castanhal do Alexandre).
O Relatório da Operação Sucuri, de maio de 1974, também confirma suas mortes.
Em declarações feitas na Justiça Militar, a presa política Elza de Lima Monnerat denun-
ciou o assassinato de João Carlos.
De acordo com o livro Direito à Memória e à Verdade, na certidão fornecida pela Abin em
resposta à solicitação de informações sobre Ciro Flávio feita pela SEDH, “[...] consta que em
março de 1975 seu nome integrou uma relação nominal elaborada pelo SNI de mortos e desapare-
cidos na Guerrilha do Araguaia. Nesta lista aparece como ‘morto em 1971’”. Informação errada,
tendo em vista que a repressão à guerrilha se iniciou em abril de 1972.
Antônio Benetazzo
Nasceu em 8 de agosto de 1945, em Salvador (BA), filho de João Viveiros Reis e Helena
Cavalcante Reis. Morto em 30 de outubro de 1972. Militante do Movimento de Libertação
Popular (Molipo).
Era estudante do 5° ano de Engenharia Mecânica da Universidade Mackenzie, em São
Paulo (SP). Saiu do país após a ocorrência de uma seqüência de prisões de militantes da orga-
nização no fim do ano, quando também foi preso seu sobrinho, Manoel Cyrillo de Oliveira
Neto, envolvido no seqüestro do embaixador norte-americano, Charles Burke Elbrick, em
setembro de 1969. Viajou para Cuba, onde fez treinamento de guerrilha, retornando ao país
clandestinamente em 1971, como militante do Molipo.
A versão oficial apresentada na requisição de exame necroscópico ao IML dizia que “[…]
após travar tiroteio com agentes dos órgãos de segurança, foi ferido e em conseqüência, veio a falecer”.
Sua morte foi amplamente divulgada pela imprensa, porque Natanael de Moura Girar-
di, que estava junto com João Carlos, conseguiu fugir e os órgãos de segurança pretendiam
alertar os hospitais e clínicas sobre a possibilidade de seu companheiro buscar socorro, já
que estava ferido. Segundo o que se apurou com seus companheiros, João Carlos e Natana-
el de Moura Girardi (ambos do Molipo) tinham perdido, havia dois dias, o contato com
Antônio Benetazzo, preso em 28 de outubro. Na busca por notícias, foram à casa de Rubens
Carlos Costa, onde Benetazzo havia sido preso. Os agentes do DOI-CODI/SP encontravam-
se instalados na casa vizinha para controlar o fluxo de pessoas nas imediações. Natanael con-
seguiu escapar do cerco, mas João Carlos foi ferido e preso.
Em depoimento prestado por seu irmão José Trajano Paternostro Reis, em 19 de março
de 1996, temos:
Nasceu em 13 de janeiro de 1946, no Rio de Janeiro (RJ), filho de José Augusto da Fon-
seca e Nathayl Machado da Fonseca. Morto em 29 de dezembro de 1972. Dirigente do Par-
tido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR).
Casado com Sandra Maria de Araújo Fonseca, teve dois filhos. Fernando concluiu o 2º
grau (atual ensino médio) no Colégio Pedro II, e estudava Economia na UFRJ. Trabalhava no
Banco do Brasil, sendo demitido por abandono do emprego quando, no início de 1970, de-
pois de uma seqüência de prisões de militantes do PCBR ocorridas no Rio de Janeiro, Fernan-
do e outros se deslocaram para o Nordeste.
Militou na organização Corrente antes de ingressar no PCBR, no qual chegou a ser
membro da direção nacional.
Era um dos responsáveis pela imprensa do partido, publicando o jornal O Avante. Foi
obrigado a fugir para Maceió (AL) com sua esposa e o filho André. Nesse período, Sandra
estava grávida de sua filha Fernanda, que nasceu depois da morte do pai.
Nasceu no sítio Pium de Cima, em São José de Mipibu (RN), em 31 de maio de 1949,
filho de Milton Gomes Pinheiro e Severina Gomes de Lima. Morto em 29 de dezembro de
1972. Militante do Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR).
Sua mãe faleceu logo em seguida ao seu nascimento, em decorrência de complicações pós-
parto, tendo sido criado por uma tia paterna, Maria Gomes Pinheiro, conhecida como Tia Lira.
Silton viveu até os 6 anos de idade no sítio onde nasceu. Depois, transferiu-se para a ci-
dade de Monte Alegre (RN), na qual ficou até completar 10 anos. A partir daí radicou-se na
capital do Rio Grande do Norte, Natal, onde fez o curso primário no Instituto Sagrada Famí-
lia e concluiu o ginasial no Colégio Santo Antônio, dos Irmãos Maristas, em 1966. Iniciou o
curso clássico (atual ensino médio) no Colégio Estadual Padre Miguelinho, finalizando-o no
Atheneu Norteriograndense.
Em 1964, iniciou sua militância política no movimento estudantil, sendo eleito presiden-
te do Diretório Marista de Natal, que logo depois do golpe de Estado passou a ser denominado
“Grêmio Marista de Natal”. Em 1970, ingressou na Faculdade de Pedagogia da UFRN. Nesse
mesmo ano, passou a militar no PCBR. Em função da perseguição política movida pela dita-
dura, em 1972 passou a viver na clandestinidade. Silton mudou-se para Recife (PE) e, poste-
riormente, para o Rio de Janeiro, onde continuou sua atividade política no partido.
Sua família, que continuava morando no interior, só veio a saber de sua morte mais de
um mês depois, informada por amigos.
Nasceu em 31 de maio de 1943, em Olinda (PE), filha de Antônio Araújo Neves e Tere-
za Wanderley Neves. Morta em 29 de dezembro de 1972. Militante do Partido Comunista
Brasileiro Revolucionário (PCBR).
As prisões e mortes
Nasceu em 10 de maio de 1929, em Rio Formoso (PE), filho de Félix Pereira da Silva e
Caetana Maria da Conceição. Desaparecido provavelmente em 1972. Militante do Partido
Comunista Revolucionário (PCR), conhecido como Procópio.
Casou-se em 1951, em sua terra natal, com Maria Júlia Pereira e tiveram dez filhos: Elias
Felix, Ananias Felix, David Felix, Noemia Maria, Daniel Felix, Eliude Maria, Elenilda Maria,
Maria José, Eliam Maria, Oziel Felix.
Desde 1963, Amaro participava do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Barreiros,
presidido pelo conhecido líder Júlio Santana, o primeiro sindicato a ser organizado na região
e reconhecido pelo Ministério do Trabalho.
Amaro atuava com os trabalhadores rurais do canavial e da Usina Central de Barreiros
(PE). Ali foi funcionário durante 29 anos e exerceu as funções de apontador e ferreiro do supri-
mento agrícola. Trabalhou também no Engenho Soledade e no Engenho Tibiri, em Barreiros.
O requerimento dos seus familiares foi apresentado à Comissão de Anistia do Ministério
da Justiça em 2 de janeiro de 2003, pelos advogados Flavia Coutinho Wanderley de Almeida
e Lenísia Leite Sobeslavsky, com escritório no Recife. Ali recebeu o numero 2003.01.19201 e
tramitou na 1ª Câmara da referida Comissão, sendo posteriormente encaminhado à CEMDP,
protocolado sob o nº 105/03.
Na petição à Comissão de Anistia, declararam os procuradores da família que:
Em 16 de março de 1964, foi o Sr. Amaro covardemente preso, acusado de exercer ati-
vidades subversivas no município de Barreiros/PE, onde residia no Engenho. Teve sua
residência invadida e vasculhada pelos agentes policiais, na presença de seus filhos meno-
res e de sua esposa, na época grávida, que duramente violentada pelos policiais, ocasio-
nou o aborto de seu filho. Sem qualquer tipo de ajuda pelos agentes e estando o Sr.
Amaro impedido de ajudá-la por encontrar-se gravemente ferido e algemado, permane-
ceu sangrando e com muita dor, estendida no chão. Nessa ocasião, as autoridades poli-
ciais, buscando eximir-se de suas responsabilidades, saíram imediatamente, levando o
Sr. Amaro para a delegacia da cidade, logo em seguida o remeteram para o Recife, devi-
José de Oliveira
Manifestação
de familiares
de mortos e
desparecidos
políticos, 31 de
outubro de 1986.
A Guerrilha do Araguaia
No Sudeste do Pará, em abril de 1972, teve iní- ralizada. A região foi bombardeada com napalm e as
cio a repressão aos militantes do PCdoB que organi- plantações e árvores frutíferas, incendiadas. Jarbas Pas-
zavam as bases do que ficaria conhecido como a sarinho, coronel da reserva e por duas vezes ministro da
“Guerrilha do Araguaia”. Desde 1966, os guerrilhei- ditadura, definiu a guerrilha como uma “guerra suja”.
ros começaram a instalar-se na região, uma área de Para ele, havia um forte motivo para manter o silêncio
cerca de 6.500 km2, com aproximadamente 20 mil a respeito, pois a “[…] divulgação disso, na medida, por
habitantes. O governo ditatorial utilizou homens do exemplo, em que uma guerrilha de Xambioá durasse um
Exército, da Marinha e da Aeronáutica, da Polícia Fe- ano para ser combatida, ela poderia, pelo noticiário feito
deral e das Polícias Militares do Pará, Goiás e Mara- a respeito dela, induzir a ações semelhantes. A grande
nhão para combatê-los. Foram mobilizados cerca de massa desconheceu pura e simplesmente o assunto e sobre
7 mil militares para reprimir três destacamentos ela não se fez o efeito multiplicador da propaganda”.
constituídos por 73 guerrilheiros. Após duas derrotas Os fatos que envolveram o combate à Guerrilha
das tropas regulares, as Forças Armadas iniciaram a do Araguaia foram totalmente censurados e estiveram
terceira campanha, em outubro de 1973, depois de ausentes dos noticiários da imprensa entre setembro
um ano recolhendo informações na região. Passaram de 1972 e julho de 1978. A guerrilha foi derrotada no
a utilizar homens dos serviços de informação treina- fim de 1974, mas somente quando acabou a censura
dos para o combate na selva em ação conjunta com as prévia, em 1978, a imprensa alternativa passou a resga-
tropas. Nessa fase, as Forças Armadas executaram to- tar sua história. Todos os guerrilheiros, com exceção de
dos os prisioneiros. Alguns corpos foram decapitados Maria Lúcia Petit – cujos restos mortais foram identi-
e enterrados em bases militares. Foram assassinados ficados em 1996 –, embora tenham sido reconhecidos
59 guerrilheiros e pelo menos 17 moradores da re- pela União como mortos em 1995, com a Lei dos De-
gião, sem que nenhuma comunicação fosse enviada saparecidos, são ainda hoje desaparecidos políticos, uma
aos seus familiares. vez que seus corpos permanecem em locais ignorados.
Os governos dos generais Garrastazu Médici e Er- Por muito tempo, as únicas informações existentes
nesto Geisel decidiram extirpar da História não apenas sobre os desaparecidos da Guerrilha do Araguaia foram
os corpos dos guerrilheiros e sua memória, mas o pró- as do relatório do dirigente Ângelo Arroyo, que conse-
prio acontecimento. Utilizaram na selva os procedi- guiu sair da região do conflito em janeiro de 1974. Ar-
mentos do combate à guerrilha urbana. Nas cidades, royo, todavia, foi assassinado junto com os dirigentes do
entretanto, houve preocupação em poupar a popula- PCdoB Pedro Pomar e João Batista Franco Drummond,
ção. No Pará, ao contrário, grande parte da população quando houve a operação conhecida como “Massacre da
foi aprisionada, tendo sido criados verdadeiros “cam- Lapa”, em dezembro de 1976 (ver capítulo referente ao
pos de concentração”, com a utilização de tortura gene- ano de 1976).
Fotomontagem/Fernando B. Simões
Panfleto em francês denuncia a vinculação entre o “milagre econômico brasileiro” e as
violências da ditadura. Ao lado, um dos slogans do “milagre”.
1 9 7 3
Luiz Ghilardini
Nasceu em 1º de junho de 1920, em Santos (SP), filho de Gino Ghilardini e Ercília Ghico.
Morto em 4 de janeiro de 1973. Dirigente do Partido Comunista do Brasil (PCdoB).
Exerceu as profissões de operário naval, ferreiro e, posteriormente, jornalista. Era casado
com Orandina Ghilardini e juntos adotaram um filho de nome Gino. Em 1945, ainda na
cidade de Santos, entrou para o PCB. Atuava com os portuários.
Em 1953, foi para o Rio de Janeiro (RJ), tornando-se membro do Comitê Regional dos
Marítimos, importante organismo partidário na época.
Em 1962, alinhou-se com o grupo que deu origem ao PCdoB. Em 1966, foi eleito mem-
bro de seu Comitê Central. Nesse ano, vivendo na clandestinidade, teve seus direitos políticos
suspensos em 23 de maio.
Preso e morto logo após a sua prisão. Seu cadáver foi encontrado no cruzamento entre as
ruas Guapimirim e Turvânia, no Rio de Janeiro, conforme versão policial publicada no jornal
O Dia, de 6 de janeiro de 1973, em que se lê:
Os agentes chegaram então a outro “aparelho”, este localizado na Rua Guararema, 62,
em Turiaçu, que era chefiado por Luiz Ghilardini, o “Gustavo”, que se evadira anterior-
mente. Preso, afinal, apontou outra célula, situada na Rua Guapimirim, chefiada por
Lincoln Bicalho Roque, o “Mário” e prontificou-se a penetrar no “aparelho” para facilitar
a sua prisão. Quando o carro trafegava por Vila Valqueire, “Gustavo” pediu para reduzir
a velocidade, pois estavam próximos ao “aparelho”. Ao pedir para parar o carro e descer,
agrediu o motorista e saltou, saindo correndo pela calçada. O carro desgovernou-se e
chocou-se no meio-fio da calçada. Os agentes usaram as armas. O terrorista morreu.
Sua esposa testemunhou, em depoimento ao GTNM/RJ, que, em 4 de janeiro de 1973,
sua casa, na rua Guararema, 62, no Rio de Janeiro, foi invadida por 13 homens armados, que
ali mesmo começaram as torturas. Ela, seu filho de 8 anos e Luiz Ghilardini foram colocados
em cômodos separados e espancados. Foram levados encapuzados, em viaturas diferentes,
para um local que presume fosse o DOI-CODI/RJ. Seu filho assistiu ao pai ser torturado,
ao mesmo tempo em que também sofreu sevícias.
Segundo seu depoimento, a última vez que viu o marido ele estava de costas, tinha as
mãos amarradas com uma borracha e os braços roxos.
Em depoimento ao GTNM/RJ, seu filho confirmou o relato da mãe e acrescentou:
[…] nós fomos levados para uma prisão que não sei onde era, só sei que ficava no subso-
lo. Chegando lá me tiraram de perto de minha mãe e ainda encapuzado fui levado a
uma sala, chegando lá, começaram a fazer perguntas. Perguntavam se o meu pai viaja-
va e o que ele fazia e eu, muito assustado, nada respondia, mas eu ouvia meu pai ali
perto gemendo, eu escutava, mas não podia fazer nada. Só sei que sentia muito medo.
Pauline Reichstul
Nasceu, em 18 de julho de 1947, em Praga (antiga Checoslováquia), filha de Selman
Reichstul e Ethel Reichstul, judeus poloneses. Morta em 8 de janeiro de 1973. Militante da
Vanguarda Popular Revolucionária (VPR).
Seus pais eram sobreviventes da Segunda Guerra Mundial. Casaram-se depois da guerra
e viveram na Checoslováquia, onde Pauline nasceu. Quando ainda tinha 18 meses, a família
mudou-se para Paris, onde viveram até 1955, migrando depois para o Brasil.
Pauline estudou no Instituto Pasteur, em São Paulo (SP). Com 18 anos, viveu por um
ano e meio em Israel, onde trabalhou e estudou.
As prisões e mortes
Entre 8 e 9 de janeiro de 1973, foram mortos pelos órgãos de segurança seis integrantes
da VPR, no Massacre da Chácara São Bento. O Dossiê dos Mortos e Desaparecidos Políticos a
Partir de 1964 contestou a versão oficial, afirmando que eles foram presos e mortos sob tortu-
ra pela equipe do delegado do DOPS/SP, Sérgio Fleury.
Conforme mencionado, cinco dos seis militantes teriam morrido em um tiroteio em 8
de janeiro de 1973, na Chácara São Bento, município de Paulista (PE), sendo eles: Eudaldo,
Jarbas, José Manoel, Pauline e Soledad. Evaldo Luiz, teria conseguido fugir ao cerco e morrido
em tiroteio em Chã de Mirueira, na cidade de Paulista, sítio próximo à Chácara São Bento,
onde teria sido localizado em 9 de janeiro.
A conexão entre os dois pretensos tiroteios não é apenas factual. Todo o episódio que
envolve os seis militantes mortos e a prisão de outras pessoas no Recife, à época, fazem parte
do caso de desmonte da organização VPR no Nordeste, comandada pelos DOI-CODI/SP e
DOPS/SP.
No comando da própria organização, no Recife, estava o Cabo Anselmo, cuja atuação
como agente policial infiltrado1 era controlada pelo delegado do DOPS/SP Sérgio Fleury.
1. Sobre a infiltração Anselmo já havia sido denunciado em 1971 pela ALN, após a prisão e morte de militantes
do Cabo Anselmo ver dessa organização em decorrência de contatos realizados com ele. Inês Etienne Romeu, mili-
também os casos de José tante da VPR, presa pelo DOI-CODI/RJ em maio de 1971, também o denunciou. Contudo,
Maria Ferreira Araújo,
Edson Neves Quaresma a direção da VPR, que se encontrava no exterior, não acreditou nas denúncias. Outras organi-
e Yoshitane Fujimori zações de esquerda já suspeitavam de que Anselmo fosse um agente duplo desde as manifesta-
(1970), de Aluísio ções dos marinheiros no início de 1964.
Palhano Pedreira Ferreira Em entrevista ao jornalista Octávio Ribeiro, o Pena Branca, publicada na revista IstoÉ
e José Raimundo da
Costa (1971) e de Edgard de 28 de março de 1984, cujo título é “O Anjo da Morte”, e no livro Por Que Eu Traí:
Aquino Duarte (1973). Confissões de Cabo Anselmo, de autoria do mesmo jornalista, Anselmo relatou a sua atua-
Nasceu em 25 de maio de 1945, em São José do Calçado (ES), filho de José Sarmento
Roque e de Maria Augusta Bicalho Roque. Morto em 13 de março de 1973. Dirigente do
Partido Comunista do Brasil (PCdoB).
Cursou o primário no Grupo Escolar Bodart Júnior, de Rio Novo do Sul (ES), e o giná-
sio no Colégio Estadual do Espírito Santo, em Vitória (ES), onde se formou em primeiro
lugar. Cursou o 2º grau (atual ensino médio) no Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro (RJ).
Foi aprovado para todas as faculdades de Medicina do Estado do Rio de Janeiro, chegan-
do a cursar um ano na Faculdade de Medicina da antiga Universidade do Brasil (hoje UFRJ).
Após um ano, trancou a matrícula, passando a cursar Sociologia na mesma universidade.
Formou-se sociólogo em 1967, quando foi contratado como professor do Instituto de
Filosofia e Ciências Sociais da UFRJ. Foi compulsoriamente aposentado em abril de 1968, em
decorrência de suas atividades políticas. Tornou-se militante do PCdoB, com outros dirigen-
tes comunistas, após curta militância no PCBR, de cuja fundação participou em abril do
mesmo ano, no Rio de Janeiro.
Álvaro Caldas escreveu um relato sobre Lincoln no livro Tirando o Capuz:
Nasceu em São Carlos (SP), em 2 de maio de 1947, filho de Masahares Okama e Yocico
Okama. Morto em 15 de março de 1973. Militante da Ação Libertadora Nacional (ALN).
Era operário metalúrgico.
Apesar de ferido na emboscada, tentou a fuga, tendo sido abatido poucos metros adiante
do local onde tombaram seus companheiros.
Os relatórios do Ministério da Aeronáutica e do Ministério da Marinha, encaminha-
dos ao ministro da Justiça em 1993, apresentam a mesma versão descrita no caso de
Francisco Emanoel.
Foi enterrado por seus familiares no Cemitério de Mauá (SP).
As mortes
Arnaldo Cardoso Rocha, Francisco Emanoel Penteado e Francisco Seiko Okama foram
assassinados em 15 de março de 1973, em São Paulo (SP). Segundo a versão oficial divulgada
em 16 de março de 1973 nos jornais Folha da Tarde, Jornal da Tarde, Folha de S.Paulo e O
Estado de S. Paulo, pouco antes das 14h30min, os três militantes teriam sido localizados na rua
Caquito, no bairro da Penha, por um carro que patrulhava a zona leste. Ao receberem voz de
prisão, teriam reagido a tiros. Dois deles teriam morrido no local, em frente ao número 247, e
um conseguido fugir, mas foi morto perto do local, ao enfrentar a tiros outro grupo de agentes.
A mesma versão consta das requisições de exame necroscópico encaminhadas pelo
DOPS/SP ao IML/SP e nos laudos necroscópicos assinados pelos legistas Isaac Abramovitc e
Orlando Brandão.
As reais circunstâncias dessas mortes não foram restabelecidas, mas a versão oficial foi
questionada na década de 1980, quando Iara Xavier Pereira e Suzana K. Lisbôa estiveram na
rua Caquito em busca de informações. Conversando com alguns moradores da rua, souberam
que dois meninos teriam assistido ao ocorrido e conseguiram localizar um deles, que relatou
em detalhes o que vira ao se deparar com o tiroteio enquanto andava de bicicleta com um
amigo. Segundo ele, “[…] um rapaz moreno corria rua abaixo e, após cambalear, dobrara as
pernas e caíra de bruços, quase em sua frente”. Talvez o pavor o tenha feito guardar muitos de-
talhes da cena, fundamentais para que se concluísse que a pessoa que vira cair era Arnaldo
Cardoso Rocha, visto que um dos militantes era nissei e Penteado era louro. Ao tombar, foi
imediatamente colocado no banco traseiro de um Volkswagen verde, ao lado de uma mulher
com uma mecha de cabelos brancos, uma agente não identificada, mas que, segundo um
testemunho, havia participado de outras operações de agentes do DOI-CODI/SP.
O laudo de necropsia de Arnaldo descreve sete tiros, dos quais dois provavelmente corres-
pondem aos que o fizeram tombar junto à testemunha: um no terço inferior da coxa direita,
Nasceu em 18 de dezembro de 1947, em São Paulo (SP), filho de Álvaro D’Ávila Quei-
roz e Elza Mouth Queiroz. Morto em 6 de abril de 1973. Militante da Ação Libertadora
Nacional (ALN).
Ronaldo começou a trabalhar aos 13 anos de idade, quando fiscalizava propagandas de
rádio para uma empresa. Ao entrar no curso de Geologia da Universidade de São Paulo, co-
meçou a dar aulas em cursinhos pré-vestibulares e, logo depois, passou a trabalhar na USP.
Dotado de extremo bom humor, adotou o pseudônimo de Mc Coes, e com ele publicava
jornais de humor, tanto no colegial como na universidade, quando suas piadas passaram a ter
caráter político. Foi presidente do Diretório Central dos Estudantes da USP durante a gestão
de 1970-1971. Participou de vários comícios-relâmpagos em praça pública contra a ditadura,
sendo, depois, obrigado a viver na clandestinidade, quando passou a adotar o pseudônimo
“Papa”. Estava ligado à ALN desde 1969. Trabalhou para manter a articulação entre os dire-
tórios e centros acadêmicos na universidade, preparando publicações, organizando campa-
nhas, apresentações artísticas e a recepção dos calouros. Ronaldo, mais conhecido como Quei-
roz, era o responsável pelo trabalho da ALN no movimento estudantil.
Queiroz foi fuzilado em 6 de abril de 1973, na avenida Angélica, em São Paulo, por
agentes do DOI-CODI/SP, que não chegaram a dar-lhe voz de prisão, baleando-o à queima-
roupa, assim que o reconheceram. A versão oficial publicada no Jornal do Brasil, no dia seguin-
te, foi de que Queiroz teria resistido à prisão, sendo morto em conseqüência de um tiroteio.
A necropsia feita pelos legistas Isaac Abramovitc e Orlando Brandão no IML/SP, em 11
de abril de 1973, confirmou a versão oficial de morte em tiroteio. O cadáver deu entrada no
necrotério às 8 horas em 6 de abril de 1973, mas a requisição do IML/SP registrou que o
óbito ocorreu às 7h45min, prazo impossível para se fazer o traslado do cadáver. O laudo ne-
croscópico descreveu duas lesões provocadas por arma de fogo: uma “[…] na face anterior do
hemitórax esquerdo, seis centímetros abaixo, um centímetro para dentro do mamilo esquerdo: o
projétil transfixou”, a outra lesão ocorreu “[…] no mento um centímetro abaixo da mucosa do
lábio inferior […]”, e o projétil “[…] alojou-se na massa encefálica do hemisfério direito”.
Ofício do II Exército encaminhado ao diretor do DOPS/SP, em 26 de abril de 1973,
informou que Queiroz
[…] no dia 6 de abril de 1973, às 7h40, aproximadamente, foi localizado na esquina
da Av. Angélica. Ao ser dada voz de prisão, o mesmo sacou de um revólver calibre 38,
Merival Araújo
Nasceu em 16 de janeiro de 1943, em São Paulo (SP), filho de Octávio Meneses Macha-
do e Edena Beck Machado. Desaparecido em 17 de maio de 1973. Militante do Movimento
de Libertação Popular (Molipo).
Nascida em 14 de novembro de 1947, em Leme (SP), filha de Aniz Thomaz e Olga Mi-
chael Thomaz. Desaparecida em 17 de maio de 1973. Militante do Movimento de Libertação
Popular (Molipo).
Foi estudante do Instituto Sedes Sapientiæ, da PUC/SP. Foi indiciada por sua parti-
cipação no XXX Congresso da UNE, em Ibiúna (SP), quando foi presa em outubro de
1968. Em 14 de janeiro de 1970, foi expedido mandado de prisão contra Maria Augusta,
pela 2ª Auditoria da 2ª Região Militar. Após o assassinato de seu namorado, José Wilson
Lessa Sabag, em setembro de 1969, passou a viver na clandestinidade. Segundo o livro
Direito à Memória e à Verdade, teria participado do seqüestro de um avião Boeing da Varig
durante o trajeto Buenos Aires–Santiago, com mais oito militantes da ALN, desviando-o
para Cuba em 4 de novembro de 1969. Em Cuba, realizou treinamento de guerrilha e, no
início de 1971, retornou ao Brasil clandestinamente como militante do Molipo, indo
morar no interior de Goiás.
Foi condenada, como revel, a cumprir pena de 17 anos de prisão, em 29 de setembro de
1972. Em outro processo, também julgado à revelia, foi condenada a cinco anos de reclusão.
Em 27 de agosto de 1976, depois de três anos de seu assassinato, foi absolvida pelo STM por
falta de provas em outro processo.
As mortes
Márcio e Maria Augusta foram mortos em maio de 1973, em uma fazenda situada
entre as cidades de Rio Verde e Jataí, em Goiás.
Em 1980, jornalistas descobriram a localização da sepultura do casal baseando-se em
depoimentos que afirmavam que eles haviam sido enterrados na Fazenda Rio Doce, em
Rio Verde, a cerca de 240 quilômetros de Goiânia, por ocasião dos assassinatos. O fazen-
deiro Sebastião Cabral e seu empregado foram encarregados de enterrar os corpos de
Márcio e Maria Augusta, esfacelados por tiros. Os policiais lhes recomendaram que o se-
pultamento fosse feito a “[…] pelo menos 200 metros do asfalto”.
Ao saberem das investigações sobre o caso e antes que a descoberta viesse a público,
três homens foram à fazenda e exumaram os restos mortais, deixando nas covas abertas
apenas alguns dentes e pequenos ossos.
No Boletim Informativo do Ministério do Exército de janeiro de 1976, os nomes de
Márcio e Maria Augusta foram retirados da lista de procurados por serem considerados
mortos, mas as mortes não foram assumidas publicamente.
Em 1992, após a abertura dos arquivos do extinto DOPS/SP, a Comissão de Familia-
res de Mortos e Desaparecidos Políticos descobriu um documento intitulado “Retorno de
Nasceu em 1950, em Caicó (RN), filho de Luís Fernandes da Costa e Francisca Jandira
Torres Fernandes da Costa. Morto em 28 de maio de 1973.
Gerardo era poeta e jornalista. Durante o período em que residiu em Itu (SP), participou
do jornal Bidu, gazeta poética e política que mobilizava a juventude daquela cidade do interior
paulista. Depois, passou a morar em Sorocaba (SP), onde prestou exame vestibular na univer-
sidade local, tendo estudado até o 5º ano do curso de Medicina. Como estudante universitá-
rio, engajou-se no movimento estudantil, sendo eleito presidente do Diretório Central dos
Estudantes da Universidade de Sorocaba. Era amigo de Alexandre Vannucchi Leme, estudan-
te de Geologia na USP assassinado pelo DOI-CODI/SP em 17 de março de 1973.
Segundo a versão oficial registrada no laudo de necropsia, em que seu nome aparece
grafado como Geraldo, teria se suicidado atirando-se do Viaduto do Chá, localizado no centro
de São Paulo. A causa da morte foi atribuída a traumatismo cranioencefálico. Paradoxalmen-
te, o laudo oficial não registrou nenhuma outra fratura ou mesmo escoriações, prováveis em
alguém que teria caído de uma altura razoável. O laudo foi assinado por Otávio D’Andréia,
legista responsável por diversos laudos falsos de morte de prisioneiros políticos, a exemplo de
Luiz Eurico Tejera Lisbôa, morto sob tortura em 1972, na cidade de São Paulo.
Gerardo teria sido enterrado no cemitério de Perus (SP) com o nome de Geraldo. Em 27
de outubro de 1977 foi exumado e, em seguida, reinumado na sepultura 537, quadra 08,
gleba 02 do mesmo cemitério.
Gerardo Magela não constava da relação de mortos e desaparecidos políticos do Brasil e
seus familiares não foram localizados.
As informações foram colhidas pela Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Documentos consultados:
Políticos na documentação encontrada nos arquivos do extinto DOPS/SP e confirmadas pelo www.dhnet.org.br
Centro de Direitos Humanos e Memória Popular de Alagoas (CDHMP). Arquivos do IEVE/SP.
Nasceu em 17 de agosto de 1944, em São João do Sabugi (RN), filho de Zoé Lucas de
Brito e Maria Celeste de Brito. Morto em 28 de junho de 1973. Militante da Ação Liberta-
dora Nacional (ALN).
Fez o curso primário no Grupo Escolar Senador José Bernardo, em São João do Sabugi,
cidade em que morou até 1958. Em 1959, mudou-se para Caicó (RN), onde conclui o curso
ginasial no Ginásio Diocesano Seridoense, em 1962. Zoé completou o segundo grau (atual
ensino médio) na cidade de Recife (PE), ingressando posteriormente no curso de Geografia
na Universidade Federal de Pernambuco. Nessa época, participou do movimento estudantil,
na capital pernambucana.
Inicialmente, foi militante do Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR) e, a
partir de dezembro de 1969, da Ação Libertadora Nacional, condição na qual foi preso em 31
de março de 1970. Permaneceu detido durante sete meses, percorrendo diversas prisões: 2ª
Companhia de Guarda, Forte de Cinco Pontas e Casa de Detenção do Recife.
Antes de ser preso, Zoé era professor de Geografia, exercendo a profissão em escola par-
ticular. Depois de libertado, ficou alguns meses no Recife, mas, diante do cerco e das ameaças
policiais, viajou para São Paulo. Nesta cidade passou a trabalhar como corretor de imóveis.
Seu corpo foi encontrado dilacerado sobre os trilhos da estação de trem Ipiranga, em São
Paulo, em 28 de junho de 1973. As circunstâncias de sua morte continuam obscuras.
A testemunha que comunicou ao seu irmão o falecimento de Zoé não se identificou.
Atualmente, seus familiares buscam elementos de prova com o objetivo de obter o reco-
nhecimento da responsabilidade da União pelo assassinato de Zoé Lucas de Brito Filho.
Estas informações foram fornecidas pelo Centro de Direitos Humanos e Memória Popu-
lar de Alagoas (CDHMP).
Seu nome não constava do Dossiê dos Mortos e Desaparecidos Políticos a Partir de 1964 e Documentos consultados:
www.dhnet.org.br
nenhum requerimento sobre seu caso foi encaminhado para a apreciação da CEMDP.
Nasceu em 22 de fevereiro de 1941, em Bom Jardim (PE), filho de José Geraldo Duarte
e Francisca Maria Duarte. Desaparecido em junho de 1973.
Após terminar o 2° grau (atual ensino médio), Edgar ingressou na Marinha, tendo reali-
zado vários cursos e chegado a cabo do Corpo de Fuzileiros Navais.
Participou, em 1964, da Associação de Marinheiros e Fuzileiros Navais do Brasil,
opondo-se ao golpe de Estado. Em conseqüência de sua destacada atuação na famosa revol-
ta dos marinheiros ocorrida em março daquele ano, em junho foi obrigado a exilar-se no
México. Mais tarde viajou para Cuba. Retornou ao Brasil em outubro de 1968 e viveu clan-
Nasceu em 12 de julho de 1913, em Pedro Afonso (GO, hoje TO), filho de Teófilo
de Souza e Maria Joaquina de Jesus. Desaparecido em 7 de junho de 1973. Militante do
Partido Revolucionário dos Trabalhadores (PRT).
Em 1949, com outros camponeses de Pedro Afonso, mudou-se para a região de terras
devolutas e férteis ao norte da Colônia Agrícola Nacional de Goiás (CANG), atualmen-
te município de Ceres (GO), próxima ao rio Tocantins, em Goiás (atual divisa com o es-
tado do Tocantins), fundada em 1941. Em 1951, grileiros tentaram tomar as terras dos
camponeses dessa região, que não aceitaram as tentativas de expulsá-los. Articulou-se,
então, um movimento de resistência que marcou a história da luta pela reforma agrária no
país, mais conhecido como a revolta popular de Trombas e Formoso. Em virtude do grau
de mobilização e conscientização, vários círculos acadêmicos e políticos pontuam que ali
havia um território liberado, face ao grau de organização política, econômica e social dos
camponeses que lutaram para garantir suas terras.
Porfírio era uma das principais lideranças desse movimento em Trombas enquanto
em Formoso, inicialmente, se destacou o camponês José Firmino. Em 1954, no auge dos
confrontos, militantes do Partido Comunista Brasileiro (PCB) sediados na CANG dirigi-
ram-se à região para ajudar a organizar o movimento. Algumas fontes sinalizam contatos
de Porfírio com o PCB anteriores à sua ida à região, mas, por volta de 1956, ele já era um
militante e também a expressão política maior dessa luta, secundado pelos históricos qua-
dros do PCB enviados à região: José Ribeiro, Dirce Machado, Geraldo Marques e João
Soares. O movimento, por meio da Associação dos Trabalhadores e Lavradores Agrícolas
de Formoso e Trombas, manteve-se organizado e, a partir de 1956, foram criados os
“Conselhos de Córregos”, que facilitaram e dinamizaram as atividades do movimento em
toda a área. Os conflitos armados e políticos para o equacionamento da questão fundiária
duraram até 1961, quando foi selado um acordo com o governador Mauro Borges, que
distribuiu cerca de 20 mil títulos de propriedade.
Na fase inicial da luta, faleceu sua primeira esposa, Rosa Amélia de Faria, após um
ataque da polícia e de jagunços que incendiaram seu barracão. Rosa teve um ataque car-
díaco fulminante, deixando órfãos seus seis filhos. Ele então escreveu ao governador um
bilhete com os seguintes dizeres: “Excelência, daqui por diante ninguém abusa mais de
mim”. E foi buscar o rifle.
Sua segunda esposa foi Dorina Pinto da Silva, com quem teve mais 12 filhos.
Ajudou a criar a Associação dos Trabalhadores Camponeses de Goiânia, em 1962, e
participou do Congresso dos Camponeses de Goiânia, nesse mesmo ano, e do de Belo
Horizonte, em 1963.
Foi eleito, em 1962, deputado estadual pela coligação PTB-PSB, sendo o segundo
mais votado no estado, com 4.663 votos. Seu mandato foi cassado pelo AI-1, em 9 de
abril de 1964.
Depois do golpe militar de 1964, José Porfírio voltou à região de Trombas e Formoso
para tentar organizar alguma resistência armada, mas não obteve sucesso. Seus companheiros
opuseram-se à iniciativa por entenderem que seria um ato isolado, à medida que, frustrando
as expectativas, Mauro Borges também aderiu ao golpe em Goiás e não havia sinais de resis-
tência em curso no restante do país. Fugiu em seguida com alguns companheiros em uma
Nasceu em 3 de setembro de 1923, em São Lourenço da Mata (PE), filho de José Aleixo
da Silva e Clausina Maria da Conceição. Morto em 29 de agosto de 1973. Militante do Par-
tido Comunista Revolucionário (PCR).
Era líder camponês do sertão pernambucano, um dos organizadores das Ligas Campone-
sas. Atuou em São Lourenço, Ribeirão, Cabo e toda a região da Zona da Mata Sul.
Freqüentador das rodas de coco e animador das quadrilhas de São João da região, canta-
das pelos negros, orgulho de sua etnia e cultura. Era conhecido pela alcunha de “Ventania”.
Preso em 1969, tão logo saiu da prisão voltou à militância política junto aos trabalhado-
res rurais de sua terra. Era um dos responsáveis pelo trabalho rural vinculado ao Partido Co-
munista Revolucionário.
Seqüestrado em 16 de agosto de 1973, foi torturado até a morte no Quartel General do
IV Exército no Recife. A sua morte, segundo os militares, teria ocorrido durante um tiroteio,
ao reagir à prisão, no município de Ribeirão, no interior de Pernambuco.
Isabel Simplícia da Conceição, em seu depoimento sobre seu companheiro, anexado ao
caso encaminhado à CEMDP, descreveu a prisão:
Estava em minha casa, embora deitada em nosso quarto, quando alguns homens dizen-
do ser amigos de Ventania, [o] convidaram para descer o morro indo em direção a um
carro. Ainda ouvi quando um dos homens, pois eram quatro ou cinco, não sei se um fi-
cou no carro, disse para ele, vista a camisa Ventania e vamos descer, passa aí na frente.
O carro estava escondido embaixo de uma árvore, da janela vi eles entrando, era um
carro grande e verde, mais escuro que a cana. Deu para ver o carro sim, a casa ficava
num alto e dava para ver os homens de costas, eles estavam vestidos de roupas simples, só
que um tinha essas botas de soldado. Foi tudo muito rápido, botaram Manoel no carro
e saíram logo, e nunca mais soube dele vivo.
Os companheiros me disseram que uns dias depois saiu no jornal que aconteceu uns tiros
em Ribeirão e que Ventania tinha morrido. Na conversa com os companheiros soube que
os tiros tinham sido trocados com um sargento do Exército, achei estranho, pois Ventania
não andava armado. Foi quando comecei a colocar as coisas na minha cabeça, tudo es-
tava muito estranho e comecei a me lembrar que o carro verde parecia uma Veraneio do
Exército, era muito verde, diferente do verde da cana. […]
Manoel já tinha sido preso outras vezes, em 1969, quando fazia dois anos que a gente
tinha casado. […] Acho que mataram ele porque ele era muito bom, era das Ligas Cam-
ponesas. Levaram Manoel não sei para onde […].
O depoimento de José Laurêncio da Silva, vizinho do casal, traz mais informações sobre
o que ocorreu:
Na época em que conheci o casal eles moravam em Joaquim Nabuco, na localidade
Soturno de Cima, vivendo em perfeita tranqüilidade, embora Manoel participasse de
reuniões das Ligas Camponesas […].
Estava em casa quando Isabel veio me contar que uns homens haviam levado Ventania,
não fiquei surpreso, pois ele já tinha sido preso em 1969, quando fazia dois anos de ca-
sado, só não podia pensar que desta vez ele não iria mais voltar. Era por volta das 10h
da manhã do final de agosto, não estou certo se foi 27 ou 29, mas o ano eu sei, foi em
1973, quando Isabel chegou assustada na minha casa perguntando o que eu achava,
contou toda a história e eu fiquei sem saber o que dizer por um momento. Alguns dias
depois veio a notícia da morte dele pelo jornal, não acreditei, é claro, vi logo que era
mentira, ele não andava armado, e sempre morou em Joaquim Nabuco.
Na vida da gente sempre acontecem absurdos, mas esse aí não deu para esquecer, porque
fui logo vendo que foi tudo armado, para esconder a verdade, que ele não tinha supor-
tado a tortura e depois deram uns tiros nele para despistar.
Prisão e morte
Manoel Lisboa de Moura foi preso em 16 de agosto de 1973 por agentes do DOI-CODI
do IV Exército, no Recife, conforme documento encontrado nos arquivos do DOPS/SP inti-
Nasceu em 28 de maio de 1947, em Campina Grande (PB), filho de Roberto Alves Câ-
mara e Mariluce de Sá Leitão Câmara. Desaparecido em 8 de outubro de 1973. Militante da
Ação Popular Marxista-Leninista (APML).
Em 1967, Umberto esteve entre os candidatos excedentes ao curso de Medicina, na Uni-
versidade Federal de Pernambuco. E assumiu a liderança local e regional da luta por vagas para
os excedentes. No fim do ano, candidatou-se à presidência da União Estadual dos Estudantes
de Pernambuco. Depois, presidiu o diretório acadêmico de sua faculdade e foi membro do
DCE da UFPE, que hoje tem o seu nome.
Em 1968, foi escolhido o representante de seu estado na chapa de Jean Marc Van der
Weid para a diretoria da UNE. Foi preso em outubro do mesmo ano, durante o XXX Con-
gresso da UNE em Ibiúna, São Paulo.
Em fevereiro de 1969, foi eleito um dos vice-presidentes da UNE, perante o conselho da
entidade. Era constantemente ameaçado pelos órgãos de repressão política e também pela
organização paramilitar Comando de Caça aos Comunistas (CCC).
Em 1972, ainda como militante do movimento estudantil, participou da tentativa de
organizar as comemorações do cinqüentenário da Semana de Arte Moderna, frustradas em
vários estados brasileiros por causa da intensa repressão promovida pelos órgãos de segurança,
que efetuaram diversas prisões, impedindo a realização dessa atividade cultural nos principais
estados do país.
No fim de 1972, já havia sido submetido a processos na Justiça Militar. Alinhou-se com
Paulo Wright e outros, quando houve a cisão da AP, recusando-se a ingressar no PCdoB.
Manteve-se militante da chamada APML.
Umberto foi preso em 8 de outubro de 1973 pelo DOI-CODI, no Rio de Janeiro, depois
de ter encontrado em uma viagem de ônibus, quando regressava do Nordeste, seu companhei-
ro de organização, José Carlos da Mata Machado. Acertaram um encontro no Rio de Janeiro,
em um trecho da praia de Botafogo. O contato foi breve, mas marcaram um outro para aque-
le mesmo dia. Pretendiam tirar a limpo a suspeita de que estavam sendo seguidos. Zé Carlos
Camponês, natural do estado do Pará, tinha 35 anos quando foi assassinado pelas Forças
Armadas, em sua roça. Desaparecido em 14 de outubro de 1973. Integrante do Destacamen- *No Dossiê dos Mortos
e Desaparecidos Políticos
to A – Helenira Resende, da Guerrilha do Araguaia. a partir de 1964,
Foi barqueiro, vaqueiro, tropeiro, castanheiro e lavrador. Vivia com a mulher e três filhos publicado em 1996,
como posseiro, no município de São João do Araguaia, quando foi ameaçado de expulsão e o nome de Antônio
morte por grileiros e intimado a abandonar o local. Resistiu, aderindo à Guerrilha do Ara- Alfredo de Lima estava
grafado erroneamente
guaia. Dizia: “Posseiro que se entrega a grileiro vira andarilho no mundo, sempre com seus bagu- como Antônio Alfredo
lhos nas costas, sem ter onde cair morto”. Campos.
As mortes e os desaparecimentos
Almir Custódio de Lima, Ramires Maranhão do Valle, Ranúsia Alves Rodrigues e Vito-
rino Alves Moitinho foram mortos em 27 de outubro de 1973. Os quatro foram presos em
circunstâncias até hoje desconhecidas e levados para a praça da Sentinela, em Jacarepaguá, Rio
de Janeiro, onde foram carbonizados dentro de um carro.
Documento do I Exército, de 1º de novembro de 1973, encontrado no arquivo do
DOPS/RJ, informa que em 8 de outubro de 1973 foram entregues ao DOI-CODI do I
Exército, por agente do DOPS/GB, documentos que haviam chegado mediante um in-
formante. Este marcou com Almir Custódio de Lima um encontro em 14 de outubro.
Nesse dia, Almir encontrou-se com o informante e, a partir daí, foi possível descobrir o
endereço de seu trabalho e o de seus contatos – Ramires e Vanúsia. O documento informa
ainda que, em 27 de outubro pela manhã, decidiu prender os três, entretanto, apenas
Ranúsia foi encontrada e detida.
De acordo com o documento citado, o DOI-CODI do I Exército foi informado que no
dia 27 haveria um encontro dos militantes do PCBR em Jacarepaguá e Ranúsia foi levada ao
local. Os militantes do PCBR perceberam a presença de “elementos suspeitos” e tentaram fugir
acionando suas armas. Segundo o documento:
Nessa troca de tiros morreram Ramirez Maranhão do Vale […], Almir Custódio de
Lima […] e Ranúsia Alves de Oliveira [sic]. Como o carro começou a pegar fogo, não
foi possível retirar os elementos que estavam em seu interior, embora tenha sido possível
constatar que “Rogério” [codinome de militante da ALN que iria ao encontro e não
compareceu] não se encontrava ali e, ao que parece, o terceiro elemento (reconhecimen-
to fotográfico) era Vitório Alves Moutinho [sic].
O documento de informação do Ministério da Aeronáutica (575), de 22 de novembro
de 1973, encontrado no arquivo do antigo DOPS/SP, afirma:
Dia 27 de outubro de 1973, em tiroteio com elementos dos órgãos de segurança da
Guanabara, foram mortos os seguintes militantes do PCBR: Ranúsia Alves Rodrigues,
Ramirez Maranhão do Vale, Almir Custódio de Lima e Vitorino Alves Moitinho.
Esses documentos contradizem, portanto, a versão oficial da época, apresentada para a
imprensa e publicada no jornal O Globo, de 29 de outubro de 1973, cujo título foi “Metralha-
dos Dois Casais em Jacarepaguá”, onde se lê;
Dois casais morreram metralhados e carbonizados no interior de Volksvagem (chapa GB
AA 6960) na Praça Combate, [sic] em Jacarepaguá. As autoridades da 32ª DP, juris-
dição onde ocorreu o fato, na madrugada de domingo, nada informaram a respeito. Os
corpos foram removidos do local para o Instituto Médico Legal, com guia expedida pelo
DOPS, sem que até o momento tenham sido identificados ou reclamados por parentes.
O mesmo ocorre na matéria “Quem Matou Quem?”, da revista Veja, de 7 de novembro
de 1973. A reportagem afirmou que, antes de acontecer o tiroteio, um homem avisou os casais
de namorados que ali se encontravam que se afastassem, porque a barra iria pesar. A revista
informou ainda que, apesar da quantidade de carros (oito ou nove) que chegaram ao mesmo
tempo no local e participaram do tiroteio, os moradores não ouviram gemidos, só tiros, o
estrondo e a movimentação acelerada de vários carros.
Somente em 17 de novembro de 1973, tanto em O Globo quanto no Jornal do Brasil,
respectivamente, sob os títulos “Terroristas Morrem em Tiroteio com as Forças de Segurança” e
Nasceu em 20 de março de 1946, no Rio de Janeiro (RJ), filho de Edgard Godói da Mata
Machado e Yedda Novaes da Mata Machado. Morto em 28 de outubro de 1973. Dirigente da
Ação Popular Marxista-Leninista (APML).
Era estudante, casado com Maria Madalena Prata Novaes, com quem teve um filho,
Dorival.
No texto escrito por seu irmão Bernardo em outubro de 1993, por ocasião dos 20 anos
da morte de José Carlos, temos um pouco de sua vida:
José Carlos freqüentou o curso primário no Grupo Escolar Barão do Rio Branco, o gina-
sial no Colégio Estadual de Minas Gerais, onde fez o curso clássico. Durante a adolescên-
cia fundou, junto com amigos do bairro Funcionários, o Youth Clube, grupo de jovens
Mortes
A versão oficial foi dada pela Secretaria de Segurança Pública de Pernambuco, por in-
termédio da Delegacia de Segurança Social, em portaria de 29 de outubro de 1973. Além de
encobrir os assassinatos sob tortura de Gildo e José Carlos, alegando que teriam sido baleados
na esquina da avenida Caxangá com a rua general Polidoro, no Recife, tentou encobrir a pri-
são e o posterior desaparecimento de Paulo Stuart Wright em setembro, quando se referiu ao
Antônio [codinome de Paulo], que teria conseguido fugir.
Em Salvador, além de Gildo e Mariluce, foram presos outros militantes e, entre esses, o
jornalista Oldack de Miranda. Todos foram levados à sede da Superintendência da PF, em Sal-
vador. No dia seguinte, o superintendente da PF, coronel Luís Arthur de Carvalho, separou os
homens das mulheres e, a partir desse dia, Mariluce não viu mais o marido, e somente soube
de sua morte em 1º de novembro de 1973, por meio de um oficial do Exército.
Oldack de Miranda declarou que no dia seguinte à sua prisão foi transferido, com Gildo,
para o Quartel do Barbalho. Dois dias depois, Gildo foi retirado da cela. Tinha feridas nos pés
e mal conseguia andar. Dias depois, durante um interrogatório, soube pelos militares que eles
haviam matado José Carlos da Mata Machado e Gildo Macedo Lacerda.
O assassinato dos dois militantes foi denunciado na Justiça Militar, conforme declarações
prestadas por Otto José Mattos Filgueiras e Antônio Norival, sobre Gildo, e Maria Madalena
Prata Soares, Otto José Mattos Filgueiras e Gildázio Westin Cosenza, referentes a José Carlos.
Carlúcio de Souza Júnior e as demais testemunhas declararam na Secretaria de Justiça do
Estado de Pernambuco, em 6 de novembro de 1995, que presenciaram a morte de José Carlos
e Gildo Lacerda:
Fui levado encapuzado para as dependências do DOI-CODI […] Quando lá me encon-
trava, assisti quando chegaram vários companheiros, algemados, encapuzados; lembra-
se que teve conhecimento que Mata Machado e Gildo se encontravam permanentemente
na sala de interrogatórios e que, alguns dias depois da chegada deles, não conseguiu
dormir com os gritos que vinham dessa sala de interrogatório; […] Veio a saber que seus
companheiros Mata Machado e Gildo estavam mortos.
Custódio Feitoza Amorim afirmou que foi preso e conduzido às dependências do quartel
do IV Exército; que foi interrogado sob tortura e que estudantes que foram presos posterior-
mente afirmaram que Mata Machado também estava sendo torturado, o que possivelmente o
levaria à morte, pois suas condições eram muito precárias.
O seqüestro e os desaparecimentos
Os desaparecimentos
Segundo o Relatório Arroyo, escrito pelo dirigente do PCdoB Ângelo Arroyo, que escapou
do cerco militar à região da Guerrilha do Araguaia em 1974:
[…] no dia 28 ou 29 de novembro, o grupo dirigido pelo Simão [Cilon da Cunha
Brun] (8 companheiros) acampou nas cabeceiras da grota do Nascimento. Neste mesmo
local, o Destacamento B já havia acampado meses atrás. Ferreira [Antônio Guilherme
Ribas] ficou na guarda, Jaime foi catar babaçu, Chico [Adriano Fonseca Filho] e To-
ninho [camponês da região] foram procurar jabuti numa gameleira próxima. Chico
recebeu um tiro, caindo morto. Eram 17 horas. Em seguida, ouviram-se mais seis tiros.
O grupo levantou acampamento imediatamente, deixando, no entanto, as mochilas, as
panelas, os bornais. O Doca [Daniel Callado] deixou o revólver, que estava consertando
no momento da saída. Jaime e Ferreira ficaram desligados do grupo e desde então estão
desaparecidos.
A respeito de Jaime, o relatório do Ministério do Exército, encaminhado ao ministro da
Justiça Maurício Corrêa, em 1993, diz que “[…] existe registro de sua morte em 22 de dezembro
de 1973”, sem especificar as circunstâncias e o local de sepultamento. De acordo com o relatório
do Ministério da Marinha do mesmo ano, ele foi “[…] morto em 22 de dezembro de 1973”.
Nas fichas entregues anonimamente por um militar ao jornal O Globo, em 1996,
consta a seguinte informação sobre Jaime: “[…] morto em 22 Dez 73, pela Eqp Z11, na
Grota do Cajá”.
Em depoimento ao MPF, em 2001, o ex-guia do Exército, Sinézio Martins Ribeiro,
afirmou:
Josias entregou um local na mata que era ponto de encontro dos guerrilheiros, caso se
perdessem após algum tiroteio com o Exército; que quem levou os guias ao local foi o
próprio Josias; que ao se aproximar do local ele apontou com o dedo e voltou; que nesse
instante o Jaime atirou dois tiros e errou e que não atirou mais porque a bala engasgou
na arma; que a seguir a equipe atirou muito que a mata ficou cheia de fumaça; que
quando abaixou a fumaça, Piauí foi de rastro e pediu aos outros para darem tiros com-
Nasceu em 2 de março de 1949, em Ouro Preto (MG), filho de Adolfo Bicalho Lana e
Adalgisa Gomes de Lana. Morto em 30 de novembro de 1973. Dirigente da Ação Libertado-
ra Nacional (ALN).
Cursou o primário no Grupo Escolar D. Pedro II e o ginasial na Escola Municipal
Marília de Dirceu, em Ouro Preto, onde iniciou o científico (atual ensino médio), não
concluído.
Começou a atuar no movimento estudantil na década de 1960, com um grupo de mili-
tantes formado por secundaristas, universitários e operários. Depois de ingressar na Corrente,
transferiu-se para Belo Horizonte (MG).
No início de 1969, diante das prisões, torturas e assassinatos de seus companheiros, An-
tônio Carlos deslocou-se para o Rio de Janeiro e tornou-se militante da ALN. Viajou para
Cuba, onde realizou treinamento de guerrilha, e retornou clandestinamente ao Brasil. Foi
para o Ceará e, mais tarde, para São Paulo, já como dirigente da ALN.
Em 14 de junho de 1972, escapou ferido com três tiros de uma emboscada organizada
pelo DOI-CODI/SP no restaurante Varella, na Mooca, quando morreram Iuri Xavier Pereira,
Marcos Nonato da Fonseca e Ana Maria Nacinovic Corrêa.
Prisão e morte
Antônio Carlos e Sônia Maria foram presos em novembro de 1973, no Posto Rodo-
viário, no Canal 1, em Santos (SP). Antônio Carlos foi agredido por vários policiais tendo
recebido uma coronhada de fuzil na boca, segundo testemunhas. De acordo com a versão
oficial divulgada em 1º de dezembro de 1973, pelos jornais Folha de S.Paulo e O Globo,
eles teriam morrido em um tiroteio com os órgãos de segurança no bairro de Santo Ama-
ro. A seguir, o relato do pai de Sônia, o tenente-coronel da reserva do Exército brasileiro
e professor de matemática, João Luiz de Morais, um exemplo da luta dos familiares de
mortos e desaparecidos políticos no Brasil:
Sônia Maria Lopes de Moraes, minha filha, teve seu nome mudado, após o seu ca-
samento com Stuart Edgar Angel Jones, para Sônia Maria de Moraes Angel Jones.
Ambos foram torturados e assassinados por agentes da repressão política, ele em 1971
e ela em 1973. Minha filha foi morta nas dependências do Exército Brasileiro, en-
quanto seu marido Stuart Edgar Angel Jones foi morto nas dependências da Aero-
náutica do Brasil. Tenho conhecimento de que, nas dependências do DOI-CODI do
I Exército, minha filha foi torturada durante 48 horas, culminando essas torturas
com a introdução de um cassetete da Polícia do Exército em seus órgãos genitais, que
provocou hemorragia interna.
Após estas torturas, minha filha foi conduzida para as dependências do DOI-CODI do
II Exército, local em que novas torturas lhe foram aplicadas, inclusive com arrancamen-
to de seus seios. Seu corpo ficou mutilado de tal forma, a ponto de um general em São
Paulo ter ficado tão revoltado, tendo arrancado suas insígnias e as atirado sobre a mesa
do Comandante do II Exército, tendo sido punido por esse ato. Procedi a várias investi-
gações em São Paulo, visando à aferição desses fatos, inclusive tentando manter contato,
porém sem êxito, com esse general, tendo tido notícia de que o mesmo sofrera derrame
cerebral, estava passando mal e de que sua família se opunha a qualquer contato e a
qualquer referência aos fatos relativos a Sônia Maria.
As informações sobre as torturas, o estupro, o arrancamento dos seios de Sônia Maria e
os tiros, me foram prestadas pessoalmente pelo coronel Canrobert Lopes da Costa e pelo
advogado José Luiz Sobral. Minha filha, em sua militância política, utilizava o nome
de Esmeralda Siqueira Aguiar. Em 1° de dezembro de 1973, ao ler o jornal O Globo vi
uma notícia sobre Esmeralda Siqueira Aguiar. Viajei imediatamente em companhia de
minha mulher Cléa, de minha cunhada Edy, de minha outra filha, Ângela, e de meu
O seqüestro
Nasceu em 3 de novembro de 1947, em Beira Rio, município de Nova Venécia (ES), fi-
lho de Sebastião José de Lima e Lusia D’Assumpção de Lima. Desaparecido em 20 de dezem-
bro de 1973. Militante do Partido Comunista do Brasil (PCdoB). Integrante do Destacamen-
to A – Helenira Resende, da Guerrilha do Araguaia.
Era operário e ferreiro. Em 1970, foi viver na localidade de Chega com Jeito, próximo a
Brejo Grande, perto do rio Araguaia, no Sudeste do Pará, com objetivo de participar do
movimento guerrilheiro, trabalhando como ferreiro, consertando armas.
Nasceu em 25 de setembro de 1931, em Cruz Alta (RS), filho de Francisco Alves Rodri-
gues e Otília Mendes Rodrigues. Desaparecido em 25 de dezembro de 1973. Dirigente do
Partido Comunista do Brasil (PCdoB). Integrou a Comissão Militar da Guerrilha do Ara-
guaia e foi comandante do Destacamento C.
Militante comunista desde o início da década de 1960, participou da organização do
PCdoB em 1962.
Era economista, mas, em decorrência das perseguições políticas, não pôde exercer por
muito tempo a profissão. Paulo era membro do Comitê Central do PCdoB e, segundo docu-
mentos dos órgãos de segurança, teria realizado treinamento de guerrilha na China junto com
outros militantes. Foi um dos primeiros a chegar à região de Caiano, no Sudeste do Pará.
Tempos depois de assumir o comando do Destacamento C, Paulo integrou-se ao Destaca-
mento da Guarda da Comissão Militar.
Em artigo intitulado “Cabeças Cortadas do Povo da Mata”, publicado no jornal Movimen-
to, de 9 a 15 de julho de 1979, há o seguinte depoimento:
Que eu vi de vista, eles cortaram a cabeça do Osvaldão, do Joaquinzão e do Dr. Paulo, que
era desses “papa-mickey” também. Teve outras que eles cortaram mas que eu não vi. Eu não conto
porque eu não vi. Esses eu vi.
“Papa-mickey” era o código militar para indicar o “povo da mata” (P e M), como eram
conhecidos os guerrilheiros.
Tanto o jornal O Estado de S. Paulo, de 10 de outubro de 1982, quanto as fichas entre-
gues anonimamente ao jornal O Globo em 1996, fazem referência à morte de Paulo Henrique
Milhomes e Paulo Mendes Milhomes, respectivamente, mas pesquisas da Comissão de Fami-
liares de Mortos e Desaparecidos Políticos e outras notícias de jornais confirmam tratar-se de
Paulo Mendes Rodrigues.
O Relatório Arroyo, escrito pelo dirigente do PCdoB Ângelo Arroyo, que escapou do cerco
militar à região da Guerrilha do Araguaia em 1974, descreveu o massacre do Natal de 1973:
Quando já estavam a mais ou menos um quilômetro do acampamento, às 11 hs e 25 da
manhã (25/12/73), ouviram cerrado tiroteio. Encontraram-se logo depois com Áurea
[Áurea Elisa Pereira Valadão] e Peri [Pedro Alexandrino de Oliveira], que vinham
10. Mais informações
apanhá-los para o acampamento. Os dois afirmaram que o tiroteio tinha sido no rumo sobre essa sentença
do acampamento. Cinco minutos depois do tiroteio, dois helicópteros e um avião come- podem ser vistas na
çaram a sobrevoar a área onde houvera o tiroteio, e continuaram durante todo o dia Introdução deste livro.
Joaquinzão
Desaparecido em 1973.
Camponês. Morto em combate na Guerrilha do Araguaia.
Pouco se sabe a seu respeito. Em depoimento prestado ao jornal Movimento, publicado
no artigo intitulado “Cabeças Cortadas do Povo da Mata”, de 9 a 15 de julho de 1979, um guia
do Exército afirmou:
Vi cortar a cabeça de Joaquinzão. Esse era um moço forte. Foi uma morte muito feia.
Eu achava tudo muito feio e tinha pena, mas não podia falar nada porque eles fazia
[sic] fogo quando topava com a trilha deles. Fazia fogo. Quem escapava, escapava,
quem morria, morria. Não era dizer que só fazia fogo de pontaria. Era emparelhar com
os paus e aí ia roçando tudo o que era mato. Aí o Joaquinzão estava nesse dia com a
turma de 5 parceiros, 5 “papa-mickey”. Teve 5 minutos de fogo. Quando terminou nós
fomos chegando pra lá, se arrastando na folha, aí nós enxergamos ele. Aí o sargento disse:
“Esse aí é que é o Joaquinzão”. E mostrou o retrato pra todo mundo, pros soldados, pros
mateiros e pro guia. Aí procurou por mim, se eu conhecia. Eu disse: “Não senhor, não
conhecia”. Ele disse: “É, você conhece, você está ‘punindo’ por eles”. “Não senhor, não
conhecia”. Aí ele parou de conversar e foi tirando a faca pra cortar a cabeça do Joaquin-
zão. Tirou a cabeça, botou num saco de estopa e de tardezinha o “sapão” [helicóptero]
veio pegar. Eles botavam a cabeça dentro de uma caixa e aí subia com ela para o “sapão”,
que levava para o comando em Xambioá. Não sei o que eles faziam com ela. […]
Que eu vi de vista, eles cortaram a cabeça do Osvaldão, do Joaquinzão e do Dr. Paulo,
que era desses “papa-mickey” também. Teve outras que eles cortaram, mas que eu não vi.
Eu não conto porque eu não vi. Esses eu vi.
Em 2001, Valdemar Cruz Moura declarou em depoimento prestado ao MPF, que:
[…] no dia 18 de junho de 1973 o seu pai, Joaquim de Souza Moura, conhecido por
Joaquinzão, saiu para trabalhar, como de costume, e não mais retornou para a sua casa;
que a partir desse dia nunca mais viu o seu pai; que a família por muito tempo procurou
em saber o que tinha acontecido; que não conheceu nenhum guerrilheiro, nem nunca
foram na sua casa; que o Exército chegou a ir várias vezes em sua casa, para fazer inda-
gações sobre o “pessoal da mata”, mas o seu pai sempre respondia que não os conhecia;
Nasceu em 4 de novembro de 1914, em São Paulo (SP), filho de Tomás Benedito Mou-
ra Camargo e Maria da Penha Amaral Vilaça. Desaparecido provavelmente em 1º de dezem-
bro de 1973. Dirigente da organização Marx, Mao, Marighella e Guevara (M3G).
Era jornalista. Ingressou no Partido Comunista Brasileiro (PCB) em 1944. A partir de
1946, passou a trabalhar no Sindicato dos Armadores, no Rio de Janeiro e, em 1952, trabalhou
como jornalista n’A Tribuna Gaúcha, órgão de imprensa do PCB, em Porto Alegre (RS).
Entre 1951 e 1953, esteve envolvido na Revolta de Porecatu, importante momento da
luta pela reforma agrária no Brasil, marcado por choques armados e cidades ocupadas no
Sudoeste do Paraná.
Com o golpe de Estado de 1964, refugiou-se no Uruguai. Voltou para o Brasil em 1967.
Acompanhou Carlos Marighella, quando ocorreu a cisão com o PCB, constituindo o Agru-
pamento Comunista de São Paulo e, em seguida, ingressando na ALN.
Mais tarde, em razão de divergências com Marighella, desligou-se da ALN. Em abril de
1969, Edmur foi para Porto Alegre (RS), onde organizou o grupo clandestino M3G e mante-
ve contatos com a VAR-Palmares.
Foi preso e banido do país, em janeiro de 1971, após o seqüestro do embaixador suíço no
Brasil, Giovanni Enrico Bucher, quando 70 presos políticos foram trocados pelo diplomata.
Foi para o Chile com os demais banidos, onde permaneceu até o golpe que derrubou Salvador
Allende, em setembro de 1973. Refugiou-se na Argentina, de onde tentou voltar ao Brasil. E,
desde então, não foi mais visto.
A denúncia de seu desaparecimento foi registrada pela Comissão Nacional sobre o Desa-
parecimento de Pessoas (CONADEP), na Argentina, cuja declaração de número 6.009 não
foi formalizada posteriormente e apenas registra que Edmur teria sido seqüestrado em 1º de
dezembro de 1973.
No relatório do Ministério da Marinha encaminhado ao ministro da Justiça, Maurí-
cio Corrêa, em 1993, há a seguinte informação a seu respeito: “Jun./75, preso por autori-
dades brasileiras e argentinas quando seu avião fez pouso em Buenos Aires, em viagem do
Chile para o Uruguai”.
Matéria divulgada em 24 de julho de 2007 pelo Correio Braziliense, referindo-se a docu-
mentos produzidos pelo serviço de informações do Itamaraty, afirma que o desaparecimento
de Edmur ocorreu em 1971, conforme o texto a seguir:
O episódio do desaparecimento de Edmur Péricles Camargo é um exemplo da persegui-
ção política e cooperação sistemática internacional iniciada pela ditadura brasileira.
[…] Em junho de 1971, Péricles Camargo deixou Santiago do Chile com destino a
1 9 7 4
Reprodução
Nasceu a 3 de maio de 1941, em Jacobina (BA), filho de Pedro Piauhy Dourado e Anita
Lima Piauhy Dourado. Desaparecido em 2 de janeiro de 1974. Militante do Partido Comu-
nista do Brasil (PCdoB). Integrante do Destacamento A – Helenira Rezende, da Guerrilha do
Araguaia.
Fez curso primário e ginasial em Barreiras (BA), na Escola de Dona Jovinha e no Colégio
Padre Vieira, respectivamente. Foi para Salvador (BA), onde fez o curso científico (atual ensi-
no médio) nos colégios Bahia e Ipiranga.
Funcionário da Petrobras, trabalhou na Refinaria Landulfo Alves em Mataripe (BA). Fi-
liou-se ao Sindicato dos Petroleiros e desenvolveu intensa atividade sindical.
Com o golpe militar de 1964, foi preso e demitido do emprego. Por algum tempo, tra-
balhou como motorista de táxi, passando a atuar no eixo Rio–São Paulo. Sempre visitava seus
pais em Barreiras.
Após o golpe, passou a viver na clandestinidade, viajou para a China em 1966, onde rea-
lizou treinamento de guerrilha. Voltou ao Brasil e morou em várias cidades de Goiás, teve uma
farmácia em Augustinópolis, atual estado de Tocantins. Posteriormente, foi residir na locali-
dade de Metade, no Sudeste do Pará, próximo ao rio Araguaia, onde era conhecido como
Nelito. Aí conheceu Jana Moroni Barroso (desaparecida em 8 de fevereiro de 1974), com
quem se casou em 1971.
Pedro Carretel
Os desaparecimentos
Nelito foi morto em combate em 2 de janeiro de 1974 e, nessa ocasião, Pedro Carre-
tel foi preso.
No mesmo ano, agentes do DOPS de Salvador invadiram a casa dos irmãos de Nelson,
apoderando-se de uma carta em que os seus companheiros de guerrilha informavam sua mor-
te, procurando assim não deixar qualquer prova da existência de combates na região da Guer-
rilha do Araguaia. Seu irmão, José Lima Piauhy Dourado, também é um dos guerrilheiros
desaparecidos na guerrilha, em 24 de janeiro de 1974.
Sua mãe veio a falecer nesse mesmo ano, 1974, ao saber da morte de seus filhos.
O Relatório Arroyo, escrito por Ângelo Arroyo, dirigente do PCdoB que escapou do cerco
militar à região da Guerrilha do Araguaia em 1974, descreveu a morte de Nelito e o desapare-
cimento de Carretel:
Dia 30 pela manhã, os cinco grupos tomaram seus destinos… No dia 2 de janeiro, ou-
viu-se ruído de metralhadora para o rumo em que seguia Nelito [Nelson Lima Piauhy
Dourado]… No dia 18, J. [Ângelo Arroyo], Zezim e Edinho [Hélio Luiz Navarro de
Magalhães] encontraram Duda [Luiz René Silveira e Silva], do grupo do Nelito. Ele
contou que os tiros do dia 2 tinham sido sobre o grupo em que ele estava. Disse que,
depois do almoço desse dia, Nelito e Duda estavam juntos e que Cristina [Jana Moroni
Barroso] e Rosa [Maria Célia Corrêa] haviam se afastado por um momento. Carretel
estava na guarda. Na véspera, Duda e Carretel tinham ido à casa de um morador. A
casa estava vazia. Quando se retiravam viram que vinham chegando os soldados. Avi-
saram Nelito. Imediatamente afastaram-se do local. Mas caminharam em trechos de
estrada, deixando rastros. Dia 2, Nelito tinha ido a uma capoeira apanhar alguma
coisa para comer. Trouxe pepinos e abóbora numa lata grande que lá encontrara. A lata
fez muito barulho na marcha de volta. Às 13h30min ouviram-se rajadas. Os tiros fo-
ram dados sobre Carretel, que saiu correndo. Nelito não quis sair logo. Entrincheirou-se,
talvez pensando nas duas companheiras. Mas os soldados se aproximavam. Então ele
correu junto com Duda, mas foi atingido. Assim mesmo, ainda se levantou e correu mais
uns vinte metros. Foi novamente atingido e caiu morto. Duda conseguiu escapar. Não
sabe o que houve com as duas companheiras, nem com Carretel.
O relatório do Ministério da Marinha, encaminhado ao ministro da Justiça, Maurício
Corrêa, em 1993, diz que Nelson foi “morto em 02 Jan. 74” e nos arquivos do antigo DOPS/
SP foi encontrado um pedido de busca do SNI, datado de 26 de janeiro de 1967, referente ao
seu provável retorno ao país procedente da China.
Em depoimento prestado por Joana Almeida Vieira a Criméia Schmidt de Almeida e à
equipe de reportagem da revista Manchete, em 1993, ela afirmou que Pedro Carretel se encon-
trava preso com ela, no centro de torturas de Bacaba, localidade às margens da Transamazôni-
ca onde havia também um campo de concentração das Forças Armadas, e tornou-se, segundo
moradores da região, um cemitério clandestino. Segundo ela ouviu dos militares, ele foi leva-
do para Brasília e, desde então, está desaparecido. Conforme relato de Joana, as expressões
“levado para Brasília” ou “viajar” era um código para dizer que a pessoa seria levada para a
mata para ser executada.
As fichas entregues anonimamente por um militar ao jornal O Globo, em 1996, dizem
“que Pedro Carretel foi ferido no choque em que caiu ‘Nelito’. Apareceu ‘estropiado’ em 06 Jan. 74
e foi entregue à força por moradores locais”.
Em depoimento prestado ao MPF em 2001, Luiz Martins dos Santos e Zulmira Pereira
Neres, moradores da região de São Domingos do Araguaia (PA), declararam que:
[…] a comida foi acabando porque as casas dos lavradores que davam comida, munição
e remédio ao povo da mata foram queimadas; que, devido à escassez de alimentos, Ne-
Nasceu em 9 de dezembro de 1949, em Boa Nova (BA), filho de Arnóbio Santos Co-
queiro e Elza Pereira Coqueiro. Desaparecido em 17 de janeiro de 1974. Militante do Partido
Comunista do Brasil (PCdoB). Integrante do Destacamento B da Guerrilha do Araguaia.
Fez o 1° e 2° graus no Instituto Regis Pacheco, em Jequié (BA). Cursou até o 3° ano de Eco-
nomia na UFBA, em Salvador. Era membro do DCE e professor de História em cursinhos pré-
vestibulares. Participou também de um grupo de estudos de literatura com duas futuras guer-
rilheiras: Dinaelza Soares Santana Coqueiro (desaparecida em 8 de abril de 1974), com quem
se casou, e Luzia Reis Ribeiro, presa na Guerrilha do Araguaia e uma das poucas sobreviventes.
Com Dinaelza foi viver em fevereiro de 1971 na localidade de Gameleira, no Sudeste do
Pará, próxima ao rio Araguaia.
O Relatório Arroyo, escrito por Ângelo Arroyo, dirigente do PCdoB que escapou do cerco
militar à região da Guerrilha do Araguaia em 1974, diz:
Dinaelza e Vandick haviam ficado perto do local onde houvera o tiroteio em 17/12
contra Antônio Teodoro e Elmo, para encontrá-los e deveriam retornar no dia 28/12
num local bem próximo de onde houvera o tiroteio do dia 25/12, segundo informações
de Osvaldão. No entanto, Antônio e Elmo já haviam se encontrado com Arroyo em outro
Documentos consultados: local. Desde esta data estão desaparecidos.
www.desaparecidospoliticos. O relatório do Ministério Marinha encaminhado ao ministro da Justiça, Maurício Cor-
org.br
Dossiê dos Mortos e
rêa, em 1993, afirma que foi “morto em 17/01/74”.
Desaparecidos Políticos a Partir Nas fichas entregues anonimamente por um militar ao jornal O Globo em 1996, há a
de 1964, op. cit. informação de que foi “[…] morto em 17 Jan. 74, pela equipe C 11”.
Arquivos do IEVE/SP.
O nome de Vandick consta da lista de desaparecidos políticos do anexo I, da lei 9.140/95.
Caso 046/96, na CEMDP.
Ação Cível contra a União na Na CEMDP, seu caso foi protocolado com o número 046/96.
1ª Vara da Justiça Federal - Em sua homenagem, a cidade de Campinas (SP) deu seu nome a uma rua situada na Vila
I 108/83.
Esperança.
Nasceu a 23 de julho de 1947, no Rio de Janeiro (RJ), filha de Luiz Durval Cordeiro e
Celeste de Almeida Cordeiro. Desaparecida em janeiro de 1974. Militante do Partido Comu-
nista do Brasil (PCdoB). Integrante do Destacamento B da Guerrilha do Araguaia.
Estudante de geografia da Universidade Federal Fluminense, de onde foi excluída pelo
decreto 477.
Deslocou-se para uma região próxima ao rio Araguaia, localizada no Sudeste do Pará, em
1971, com seu marido Elmo Corrêa (desaparecido 14 de maio de 1974), indo morar às margens
do rio Gameleira. Ingressou no Destacamento B da guerrilha, onde era conhecida como Lia.
Em depoimento registrado pela caravana de familiares que esteve na região em 1980, José
Ferreira Sobrinho, o Zé Veinho, lavrador de idade avançada, declarou:
[…] toda quinta-feira tinha que viajar 3 léguas para assistir a reunião deles (do Exér-
cito). E aquilo era sem apelo. Se não fosse, tinha que explicar o motivo que não fui. Se
não fosse, daí a pouco chegava 4 a 5 soldados. Lá nessas reuniões tinha o retrato do pes-
soal. O que eles iam pegando, iam tirando do mapa. Só vi presa a Lia [Telma Regina],
que se entregou lá no Macário e foi presa. Aí o Macário mandou chamar o Zé Olímpio.
Ela dormiu no barraco do Zé Olímpio, que era uma pessoa deles, do Exército. Ela tava
sozinha. Disse que tava com um revólver 38 e um facão. Parece que o marido dela era
chamado Lourival, esse dizem que tinham matado ele lá no Carrapicho. Isso foi no fi-
nal. Ela falou que ‘tavam’ as duas. A Valquíria mais ela. Depois a Polícia foi para ela
achar a outra. Ela não achou. Depois eu soube que pegaram essa outra… O Amadeu,
um negro, morador, ajudou-as. Foi preso e muito espancado. Perguntaram para ele se ele
queria apanhar ou morrer. Ele disse que preferia morrer. Deram logo um tapa na cara
dele. Ele estava com os olhos inchados, os dedos furados […]
A Lia não sabia que tinham matado o marido dela. Quando ela foi presa, o Zé Olímpio
trouxe ela para a base de Xambioá.
Segundo o relatório do Ministério da Marinha, encaminhado ao ministro da Justiça,
Maurício Corrêa, em 1993, “foi morta em janeiro de 1974”.
Em depoimento ao Ministério Público Federal, de 5 de março de 2004, o ex-soldado
Raimundo Antônio Pereira de Melo afirmou que:
[…] viu a tortura de três colonos, os quais foram açoitados com cipó de mororó por terem
fornecido comida para as guerrilheiras Lia e Dina [Dinalva Oliveira Teixeira]; que a
tortura dos colonos durou aproximadamente cinco dias; que após esse período, os PQDs
Nasceu em 5 de abril de 1952, em Fortaleza (CE), filho de Dario Saraiva Leão e Hil-
da Quaresma Saraiva Leão. Desaparecido em 15 de fevereiro de 1974. Militante do Par-
tido Comunista do Brasil (PCdoB). Integrante da guarda da comissão militar da Guerri-
lha do Araguaia.
A prisão e o desaparecimento
Em um sábado de Carnaval, Fernando saiu por volta das 15h30min da casa do irmão,
o advogado Marcelo de Santa Cruz Oliveira, no bairro do Catete, no Rio de Janeiro, para
se encontrar com um companheiro, Eduardo, que morava em Copacabana. O encontro
estava marcado para as 16 horas de 23 de fevereiro de 1974. Disse onde ia e deixou uma
advertência: se não voltasse até as 18 horas, teria sido preso. Amigos de infância, ambos
foram presos juntos por agentes do DOI-CODI/RJ. Em seguida, o apartamento de Eduar-
do foi invadido pelos órgãos de segurança. Há indícios de que tenham sido transferidos para
o DOI-CODI/SP, onde ficaram à disposição do CIE.
Em 14 de março de 1974, buscando saber do paradeiro de Fernando e Eduardo, as duas
famílias foram ao DOI-CODI/SP, cujo carcereiro de plantão, conhecido como Marechal,
confirmou que os dois jovens estavam presos ali, só podendo receber visitas no domingo, dia
17. Foram deixados, então, para eles, objetos de uso pessoal. No domingo, foram atendidas
por um senhor que se dizia chefe de serviço do dia e atendia pelo nome de Dr. Homero. Os
objetos deixados em 14 de março foram devolvidos pelo Dr. Homero, com a justificativa de
que se tratava de um equívoco, pois os dois não estavam presos ali, conforme o relato das mães
de Eduardo e Fernando, Risoleta Meira Collier e Elzita Santos de Santa Cruz Oliveira, na
carta enviada ao chefe do Gabinete Civil da Presidência da República, general Golbery do
Couto e Silva, de 27 de maio de 1974.
A família e os advogados Marcelo de Santa Cruz Oliveira e Modesto da Silveira recorre-
ram ao STM, fizeram em vão dois pedidos de habeas corpus para Fernando. Apelaram a várias
autoridades nacionais e internacionais pedindo que fosse assegurado o direito de defesa aos
dois militantes e nada conseguiram.
Na Câmara Federal, o deputado do MDB pernambucano Fernando Lyra transcreveu
nos anais as correspondências em favor de Fernando e Eduardo. Em 29 de junho de 1974,
foi publicada uma nota oficial do MDB, no jornal Diário de Brasília, indagando do governo
o destino de 11 presos políticos desaparecidos, entre os quais figuravam os nomes de Fer-
nando e Eduardo.
Em 7 de agosto de 1974, com outros familiares, foram recebidas em Brasília (DF) por
Golbery, que prometeu em 25 dias dar uma resposta sobre o paradeiro dos 22 desaparecidos
listados apresentados a ele, o que não ocorreu.
A resposta que o general Golbery prometeu veio seis meses depois, em 6 de fevereiro de
1975, quando o ministro da Justiça, Armando Falcão, em um pronunciamento transmitido
em rede pela televisão, respondeu aos familiares dos desaparecidos políticos. A versão oficial
apresentada foi a de que os desaparecidos encontravam-se foragidos e não teriam sido presos
por nenhuma instituição governamental.
Revoltada com a resposta dada pelo ministro da Justiça, a mãe de Fernando escreveu a
seguinte carta:
Exmo. Sr. Ministro Armando Falcão
Ministério da Justiça - Brasília, Distrito Federal.
Olinda, Pernambuco, 7 de fevereiro de 1975.
Sou mãe de Fernando Augusto de Santa Cruz Oliveira e fui surpreendida com a Nota
Oficial do Ministério da Justiça, divulgada em 6 de fevereiro pela imprensa falada e
escrita, em que são prestadas informações sobre 27 pessoas dadas como desaparecidas com
os respectivos registros constantes dos órgãos de segurança.
José Roman
Nasceu em 1º de outubro de 1904, em Jaú (SP), filho dos espanhóis Manoel Roman e
Trenida Gonzalez. Desaparecido em 19 de março de 1974. Militante do Partido Comunista
Brasileiro (PCB).
Era metalúrgico e, desde 1950, participava do sindicato e das lutas da categoria com sua
esposa, Lídia Pratavieira Roman. Tinham dois filhos. Também trabalhou como corretor de
imóveis.
Em 1952, mudou-se com a família para o Rio de Janeiro, onde, entre outras ativida-
des partidárias, atuava como motorista do PCB. Em 1966, a família voltou para São
Paulo e José continuou exercendo suas atividades partidárias, inclusive a de motorista do
partido, até seu desaparecimento em 1974, quando foi buscar David Capistrano da Costa
em Uruguaiana (RS).
Nasceu em 12 de junho de 1943, em Luiz Corrêa (PI), filho de João Lino da Costa e
Maria Jardilina da Costa. Desaparecido em março de 1974. Militante do Partido Comunista
do Brasil (PCdoB). Vice-comandante do Destacamento A – Helenira Rezende, da Guerrilha
do Araguaia.
Estudante de astronomia do Departamento de Física da UFRJ, foi eleito membro da
diretoria do diretório acadêmico do Instituto de Física e do Conselho do Dormitório do Alo-
jamento do Fundão. Foi preso em 12 de outubro de 1968, durante o XXX Congresso da
UNE, em Ibiúna (SP). Mais tarde, mudou-se para o Sudeste do Pará, na região do rio Ara-
guaia, uma localidade denominada “Metade”. Era conhecido como Piauí.
Com seu jeito alegre e brincalhão, rapidamente conquistou a simpatia dos vizinhos e
companheiros. Com seu espírito prático e capacidade de direção, assumiu o comando do
Destacamento A – Helenira Rezende, após a morte de André Grabois.
As execuções e os desaparecimentos
Nasceu em 16 de agosto de 1919, em Água Preta, à época distrito de Palmares (PE), filho
de Sebastião Massena Melo e Olímpia Melo Maciel. Desaparecido em 3 de abril de 1974.
Dirigente do Partido Comunista Brasileiro (PCB).
Filho de pai carpinteiro e mãe costureira, começou a se interessar por política na adoles-
cência, entre 1932 e 1933, no Rio de Janeiro (RJ), quando trabalhava como operário tecelão
da Fábrica de Tecidos Nova América. Posteriormente, tornou-se operário metalúrgico. Antes,
trabalhou como balconista em um pequeno armazém na Baixada Fluminense.
Preso em razão de suas atividades políticas durante a ditadura do Estado Novo de Getúlio
Vargas, ficou no presídio de Fernando de Noronha, onde conviveu com Agildo Barata e Car-
los Marighella.
Em 1947, foi eleito vereador no antigo Distrito Federal. Seu mandato foi extinto e cas-
sado quando o PCB foi considerado ilegal, em 1948. Ainda em 1947, casou-se com Ecila
Francisca Massena Melo, com quem teve três filhos. As perseguições políticas o levaram a
voltar para Pernambuco, onde viveu até 1950.
De volta ao Rio de Janeiro, trabalhou como soldador e passou a atuar no Sindicato dos
Metalúrgicos da Guanabara. Em 1962, foi eleito deputado estadual pelo antigo estado da
Guanabara, pela legenda do Partido Social Trabalhista (PST). Após o golpe de Estado de
1964, teve novamente seu mandato cassado, de acordo com o art. 10 do AI-1, de 9 de abril
daquele ano. Além disso, teve seus direitos políticos suspensos por dez anos.
Preso em casa no dia 1º de julho de 1970 por agentes da 2ª Auditoria da Marinha, sob a
acusação de estar reorganizando o PCB, foi muito torturado. Sua família também foi presa e
levada para a ilha das Flores, e sua casa foi saqueada. Chegou a ser transferido para a ilha das
Cobras. Foi libertado após dois anos e sete meses de reclusão, em fevereiro de 1973. Em 20 de
setembro de 1978, ocorreu o julgamento de mais de 60 pessoas, pelo Conselho Permanente
de Justiça da 2ª Auditoria da Marinha no Rio de Janeiro, acusadas de pertencer ao Partido
Comunista Brasileiro. Destas, oito eram desaparecidas e foram absolvidas, inclusive Massena.
Segundo o jornal Folha de S.Paulo, de 7 de junho de 1966, foi condenado a cinco anos de
reclusão no chamado “Processo das Cadernetas de Prestes”.
Prisão e desaparecimento
De acordo com o Relatório Arroyo, documento escrito pelo dirigente Ângelo Arroyo
que escapou do cerco militar à região da guerrilha em 1974:
Dia 14 [de janeiro de 1974], acamparam próximo a uma capoeira abandonada e
onde a casa do morador havia sido queimada pelo Exército. Ao amanhecer do dia 14,
dois companheiros foram ver se conseguiam alguma mandioca… Às 9h30, quando
estavam preparando uma refeição, ouviram um barulho estranho na mata. Ficaram
de sobreaviso, com as armas na mão. Viram então os soldados que vinham seguindo o
rastro e passaram a uns dez metros de onde os companheiros se encontravam. Os sol-
dados atiraram, ouviram-se várias rajadas. J. [Ângelo Arroyo], Zezim e Edinho
[Hélio Luiz Navarro de Magalhães] escaparam por um lado. Não se sabe se os outros
três – Piauí [Antônio de Pádua Costa], Beto [Lúcio Petit da Silva] e Antônio [An-
tônio Ferreira Pinto] – também escaparam.
Provavelmente tenham de fato escapado, porque os relatos posteriormente obtidos
pelo MPF fazem referências à prisão de Antônio, Lúcio e Uirassu, em 21 de abril de
1974.
Dos relatórios dos ministérios militares já citados, somente o da Marinha faz referên-
cia sobre Lúcio Petit da Silva e afirma que foi morto em março de 1974, nada constando
sobre os demais.
Em depoimento prestado ao MPF em julho de 2001, Margarida Ferreira Félix afirmou:
[…] no dia 21 de abril de 1974, os três últimos guerrilheiros foram presos na casa do
Manezinho das Duas, quando eles vieram pedir um pouco de sal; que os guerrilheiros
eram o Beto [Lúcio Petit da Silva], Antônio [Antônio Ferreira Pinto] e Valdir [Ui-
rassu de Assis Batista]; que os soldados do Exército enganaram os guerrilheiros, simu-
lando que estavam pousando o helicóptero na casa da declarante, mas na verdade uma
equipe de soldados foi para a casa do Manezinho das Duas, e lá prenderam os três; que
o marido da declarante ajudou a embarcar os três guerrilheiros vivos em um helicóp-
tero do Exército.
Seu marido, o ex-guia do Exército Antônio Félix da Silva, complementa:
[…] em abril de 1974, poucos militares ainda andavam na mata; que os militares
achavam que apenas três ou quatro guerrilheiros ainda estavam vivos; que os militares
pousaram em uma clareira perto de sua casa e foram a pé até a casa de Manezinho das
Duas e se esconderam em um bananal próximo da casa; que no dia seguinte, pela
manhã, o declarante foi até a casa do Manezinho das Duas, conforme determinação
dos militares; que lá chegando, por volta das 7 horas da manhã, do dia 21/04/1974,
o declarante viu Antônio, Valdir e Beto sentados em um banco na sala da casa, com os
pulsos amarrados para trás com uma corda fina, parecendo ser de nylon; que o decla-
rante viu um militar se comunicando pelo rádio; que, por volta das 9 horas da ma-
nhã, chegou o helicóptero que levou os militares e os três prisioneiros; que o declarante
apenas percebeu que Valdir estava ferido, parecendo ser um lecho [ferida de leishma-
niose] na batata de sua perna, que atingia metade da mesma, tendo dificuldade para
andar até o helicóptero.
Conforme depoimento prestado ao MPF por Adalgisa Moraes da Silva, os três guerri-
lheiros foram levados presos para a base militar de Bacaba, localizada próxima a São Domin-
gos do Araguaia (PA), às margens da Transamazônica, onde foi construído um centro de
torturas e um campo de concentração das Forças Armadas, e que se tornou, também, segun-
Nasceu em 12 de janeiro de 1942, em São Paulo (SP), filha de Majer Kucinski e de Ester
Kucinski. Desaparecida em 22 de abril de 1974. Militante da Ação Libertadora Nacional (ALN).
Filha de judeus vindos da Polônia, estudou em São Paulo, no Ginásio Estadual Octávio
Mendes e, posteriormente, na Universidade de São Paulo, onde se bacharelou em química em
1967. Tornou-se professora no Instituto de Química da USP. Obteve Doutorado em Filosofia
também na USP em 1972. Casou-se com o físico Wilson Silva, militante da ALN, em 11 de
julho de 1970.
Wilson Silva
Nasceu em 21 de abril de 1942, em Taubaté (SP), filho de João Silva e Lygia Vilaça Silva.
Desaparecido em 22 de abril de 1974. Militante da Ação Libertadora Nacional (ALN).
Interessou-se por política quando ainda era estudante secundarista na Escola Estadual
Monteiro Lobato. Em 1961, saiu de Taubaté para estudar na capital paulista. Físico formado
pela USP, especializado em processamento de dados, trabalhava na empresa Servix, em São
Paulo. Em 1966, organizou com Bernardo Kucinski, seu colega do curso de física e irmão de
Ana Rosa, uma exposição sobre os 30 anos da Guerra Civil Espanhola na USP, no prédio da
rua Maria Antônia. Militou na Polop entre 1967 e 1969, quando se ligou à ALN, com atua-
ção política no setor operário. Era conhecido pelo codinome Rodrigues.
O desaparecimento do casal
Em 22 de abril de 1974, Wilson saiu do escritório da empresa Servix com Osmar Miran-
da Dias, seu colega de trabalho, para fazer um serviço no centro da cidade. Por volta do meio-
dia, Wilson disse ao colega que voltaria para o escritório na parte da tarde, mas iria almoçar
com sua esposa em um restaurante perto da Praça da República. Despediu-se e partiu ao seu
encontro. Nunca mais foi visto.
Nasceu em 27 de abril de 1938, em Passa Quatro (MG), filho de José Orlando da Costa
e Rita Orlando dos Santos. Desaparecido em abril de 1974. Militante do Partido Comunista
do Brasil (PCdoB). Comandante do Destacamento B da Guerrilha do Araguaia.
Entre 1952 e 1954 morou na cidade de São Paulo, estudando na Escola Técnica, onde fez
o Curso Industrial Básico de Cerâmica, o que lhe assegurou a condição de artífice em cerâmica.
Mudou-se para o Rio de Janeiro (RJ), matriculando-se na Escola Técnica Federal, onde
se formou como Técnico de Construção de Máquinas e Motores, em 1958.
Como atleta, vinculou-se ao Botafogo de Futebol e Regatas, competindo como lutador
de boxe e de arremesso de dardo.
Tornou-se oficial da reserva do Exército, após servir no CPOR (RJ).
Viajou para a Checoslováquia, tendo estudado até o 3º ano de Engenharia de Minas em
Praga, onde se tornou amigo de Gilberto Olímpio Maria, desaparecido durante a guerrilha,
em 25 de dezembro 1973.
Em sua homenagem, o escritor checo Cytrian Ekwensi escreveu, em 1962, o livro
O Homem Que Parou a Cidade (Lidéz mesta). O guerrilheiro só contou esse segredo à sua
irmã Irene Orlando, que recebeu o livro com uma dedicatória. A popularidade de Osval-
dão, segundo o livro, devia-se a seu carisma e, principalmente, à sua aparência física, que
acabou despertando a atenção dos moradores de Praga. Ele era um negro de 1,98 m de
altura, que calçava sapatos número 46.
Essa popularidade é confirmada pela professora do Departamento de Política Científica e
Tecnológica da Unicamp, Sandra Negrães Brisolla, que conheceu o guerrilheiro em Praga. Em
6 de setembro de 1995, ela contou sobre a vida do militante do PCdoB para o jornal Correio
Popular, de Campinas:
Osvaldão era um líder. Aliava um bom humor contagiante com uma bondade infinita.
Andava permanentemente rodeado de jovens estudantes e participou da organização de
um dos centros acadêmicos da Universidade de Praga – disse Sandra.
Para dar um exemplo da curiosidade que Osvaldão despertava, ela lembrou algo que lhe
dissera o próprio guerrilheiro.
– Quando cheguei em Praga, os meninos passavam saliva no dedo e esfregavam meu
braço, para ver se a cor da minha pele saía. Nunca tinham visto um negro – contou.
Sandra disse também que era grande o sucesso do guerrilheiro entre as mulheres.
– Ele era bonito, chegou até a participar de filmes na Checoslováquia.
Por sua militância política, foi obrigado a viver na clandestinidade logo depois do golpe
de Estado de 1964. Foi dos primeiros a chegar à região próxima ao rio Araguaia, por volta
de 1966. Passou a viver na mata como garimpeiro e “mariscador” (caçador). Conhecia muito
bem a área da guerrilha e as terras em volta. Em 1969, fixou sua residência em uma posse que
adquiriu às margens do rio Gameleira, onde mais tarde outros companheiros se juntaram a
ele. Era muito querido e respeitado tanto pela população como pelos guerrilheiros.
Contam-se a seu respeito inúmeras histórias como a de que, estando de passagem em
casa de uma família camponesa, encontrou a mulher desesperada porque não tinha dinheiro
para comprar comida para seus filhos. Era uma casa pobre. Osvaldo perguntou-lhe se queria
vender o cachorro. A mulher, sem alternativa, disse que sim. Tanto ela como Osvaldo sabiam
o que significava a perda do cão: mais fome, pois na região, sem cachorro e arma, é difícil
conseguir caça. Osvaldão pagou-lhe o preço do cão e, a seguir, disse-lhe: guarde-o para mim
que eu não poderei levá-lo para casa agora.
Sobre ele surgiram inúmeras lendas a respeito de sua bondade, força, coragem e sua pontaria.
Foi comandante do Destacamento B e, ao lado de Dina (Dinalva Monteiro Teixeira),
tornou-se o mais conhecido guerrilheiro entre a população.
Nasceu em 1° de julho de 1937, em Parintins (AM), filho de Togo Meirelles e Maria Garcia
Meirelles. Desaparecido em 7 de maio de 1974. Dirigente da Ação Libertadora Nacional (ALN).
Foi casado com Míriam Marreiro Meirelles, com quem teve dois filhos, Larissa e Togo.
Chegou ao Rio de Janeiro em 1958, onde participou do movimento estudantil na UBES
e, depois, na UNE. Paralelamente à sua atividade como jornalista, participou e acompanhou
nos diversos estados do país o CPC da UNE. Em 1961, participou da Cadeia da Legalidade
em favor da posse do então vice-presidente da República, João Goulart, após a renúncia de
Jânio Quadros.
Sua militância política começou no PCB e prosseguiu na ALN.
Quando Brasil e União Soviética estabeleceram relações diplomáticas, Thomaz Meirelles
solicitou uma bolsa de estudos para continuar sua formação universitária. Foi para Moscou
em 1962, onde cursou Filosofia na Universidade de Moscou Lomonosov.
Retornou ao Brasil em 13 de novembro de 1969. Com poucos meses no Brasil, foi obri-
gado a viver na clandestinidade. Preso em 18 de dezembro de 1970 quando transitava pela rua
da Alfândega (Rio de Janeiro), foi levado para o DOI-CODI, onde foi torturado. Posterior-
mente, foi condenado a três anos e seis meses de prisão. Mais tarde, a sentença foi ao STM,
que reduziu sua pena para um ano de detenção. Cumpriu a condenação por suas atividades
políticas na ALN e por ter estado na União Soviética. Libertado em 17 de novembro de 1972,
mais uma vez foi obrigado a viver na clandestinidade. Com as sucessivas quedas da direção da
ALN, Thomaz assumiu a direção da organização.
Foi preso pela segunda vez em 7 de maio de 1974, no bairro do Leblon (Rio de Janeiro)
e a partir dessa data nunca mais visto. Após o seu desaparecimento, foi julgado à revelia na 2ª
Auditoria Militar de São Paulo e condenado à pena de dois anos de prisão.
Nasceu em 16 de abril de 1946, no Rio de Janeiro, filho de Edgar Corrêa e Irene Creder Cor-
rêa. Desaparecido em 14 de maio de 1974. Militante do Partido Comunista do Brasil (PCdoB).
Estudante da Escola de Medicina e Cirurgia no Rio de Janeiro, onde cursou até o 3° ano.
Participou do movimento estudantil.
Era casado com Telma Regina Cordeiro Corrêa, desaparecida em janeiro de 1974, e jun-
tos foram para uma região próxima do rio Araguaia, em fins de 1971. Sua irmã, Maria Célia
Corrêa, também se tornou desaparecida na Guerrilha do Araguaia, em março de 1974.
Foi visto pela última vez por seus companheiros em 25 de dezembro de 1973, segundo
o Relatório Arroyo, documento escrito pelo dirigente Ângelo Arroyo, que escapou do cerco
militar à região da guerrilha em 1974.
O relatório do Ministério da Marinha encaminhado ao ministro da Justiça, Maurício
Corrêa, em 1993, afirma que Elmo “[…] foi morto em 14 de maio de 1974”, sem esclarecer os
detalhes de sua morte. Os demais relatórios militares fazem referência a sua atuação na Guer-
rilha do Araguaia, sem apresentar qualquer esclarecimento.
Pouco se sabe sobre o seu desaparecimento. É citado como morto e com o nome de Louri-
val na reportagem de Fernando Portela publicada no Jornal da Tarde, em 13 de janeiro de 1979.
José Ferreira Sobrinho, lavrador de idade avançada, conhecido como Zé Veinho, declarou Documentos consultados:
www.desaparecidospoliticos.
aos familiares, que realizaram uma caravana à região da guerrilha em 1980, que: org.br
Parece que o marido dela [Telma Regina Cordeiro] era chamado Lourival, esse dizem Dossiê dos Mortos e
que tinham matado ele lá no Carrapicho. Isso foi no final. Desaparecidos Políticos a Partir
de 1964, op. cit.
Seus pais, incansáveis batalhadores pelo esclarecimento das mortes de seus filhos e nora, Arquivos do IEVE/SP.
faleceram sem o conseguir. Caso 040/96, da CEMDP.
Seu nome consta da lista de desaparecidos políticos do anexo I, da lei 9.140/95. Na Ação Cível contra a União na
CEMDP, seu caso foi protocolado com o número 040/96. 1ª Vara da Justiça Federal -
I 108/83.
Em sua homenagem, as cidades de São Paulo e Campinas deram seu nome a ruas si- Inquéritos civis públicos MPF/DF
tuadas nos bairros Cidade Ademar e Vila Esperança, respectivamente. No Rio de Janeiro, 05/2001, MPF/PA 01/2001 e
MPF/SP 03/2001.
também há uma rua com seu nome.
Nasceu a 4 de outubro de 1941, em São Luís (MA), filho de Mário da Silva Soares e de
Alice Frazão Soares. Desaparecido em 27 de maio de 1974. Militante do Partido Comunista
do Brasil (PCdoB).
Era o quinto de sete irmãos. Nascido em São Luís, viveu no Rio de Janeiro com sua fa-
mília até os cinco anos de idade, quando retornaram ao Maranhão. Lá, estudou no Colégio
de Aplicação Gilberto Costa e no Liceu Maranhense. Iniciou o curso de engenharia na Uni-
versidade Federal de Pernambuco, em 1961, e logo começou a participar da JUC.
Após o golpe de Estado de 1964, foi determinada a mudança da faculdade de engenharia
para o Engenho do Meio, local sem restaurante, sem biblioteca e mal servido por transportes.
Ruy, eleito representante discente junto à Congregação, foi um dos líderes da resistência à mu-
dança. Preso ao sair da faculdade, foi mantido incomunicável e submetido à tortura, em 1965.
Como bolsista na Harvard University, participou de um seminário sobre Economia do
Desenvolvimento. Em julho de 1965, na Assembléia das Nações Unidas em Nova York, pro-
nunciou-se sobre as torturas no Brasil.
Nasceu em 6 de abril de 1950, em Monte Belo (MG), filha de José Pereira e Odila Men-
des Pereira. Desaparecida em 13 de junho de 1974. Militante do Partido Comunista do Brasil
(PCdoB). Integrante do destacamento C da Guerrilha do Araguaia.
Sua família morava na Fazenda da Lagoa, município de Monte Belo, onde seu pai era
administrador. Áurea Eliza, muito cedo, foi para o internato estudar.
Afetiva e risonha, manteve sempre um bom relacionamento com a família durante sua
infância e adolescência.
Aluna aplicada, estudou dos 6 aos 14 anos de idade no Colégio Nossa Senhora das Gra-
ças, em Areado (MG), onde concluiu o curso ginasial.
Segundo depoimento de uma colega, Áurea Eliza exercia grande liderança no colégio,
mantendo boas relações com as colegas, participando das atividades escolares, sendo brilhante
aluna em matemática.
Mudou-se em 1964 para o Rio de Janeiro (RJ) para cursar o 2° grau no Colégio Brasilei-
ro, em São Cristóvão, morando com sua irmã Iara, com quem tinha laços muito estreitos e
afetuosos. Em 1967, aos 17 anos, prestou vestibular para ingressar no Instituto de Física da
UFRJ, onde pretendia estudar física nuclear. Por não ter ainda 18 anos, precisou de uma au-
torização especial de seu pai para que pudesse fazer o curso.
Participou intensamente do movimento estudantil durante o período de 1967 a 1970.
Foi membro do diretório acadêmico de sua escola, com Antônio de Pádua Costa e Arildo
Valadão, ambos desaparecidos na Guerrilha do Araguaia, o primeiro, em março de 1974 e,
Arildo, em 24 de novembro de 1973.
Áurea Eliza casou-se com Arildo Valadão em 6 de fevereiro de 1970, em um cartório do
Rio de Janeiro e, no dia seguinte, na Basílica de Aparecida do Norte, no interior de São Paulo.
Mudou-se com Arildo e Antônio de Pádua para uma região próxima ao rio Araguaia, no
segundo semestre de 1970, indo morar na região de Caianos, onde passou a trabalhar como
professora e era conhecida como Eliza. Ingressou no destacamento C das Forças Guerrilheiras
do Araguaia, cujo comandante era Paulo Mendes Rodrigues.
Durante o período em que viveu no Rio de Janeiro, Áurea correspondia-se regularmente
com seus pais. Depois, quando as perseguições foram constantes, seus familiares deixaram de
receber notícias.
Seus pais faleceram sem que nenhuma notícia lhes fosse dada sobre seu paradeiro.
No início de 1974, Áurea foi vista viva e em bom estado de saúde no 23° Batalhão de
Infantaria da Selva pelo preso Amaro Lins, que prestou declarações no 4° Cartório de Notas
de Belém (PA). Amaro relatou também que ouviu um policial dizer-lhe que arrumasse suas
coisas, pois iria viajar (“viajar” era o termo utilizado pelos militares para designar execução).
Nasceu em 16 de outubro de 1940, em São Gonçalo (RJ), filho de Consueto Ribeiro Callado
e América Ribeiro Callado. Desaparecido em 28 de junho de 1974. Militante do Partido
Comunista do Brasil (PCdoB). Integrante do destacamento C da Guerrilha do Araguaia.
Daniel fez o curso de ajustador no SENAI e, aos 16 anos de idade, começou a trabalhar
na Hime e, posteriormente, na Cacren. Abandonou o emprego em 6 de abril de 1964, em
conseqüências das perseguições políticas, passando a morar em vários locais da região Centro-
Oeste do país. Mais tarde, foi viver na região do rio Araguaia, no Sudeste do Pará.
José Lavecchia
Nasceu em 25 de maio de 1919, em São Paulo, filho de Leo Lavecchia e Felícia Ma-
theu. Desaparecido em 13 de julho de 1974. Militante da Vanguarda Popular Revolucio-
nária (VPR).
Exerceu a profissão de sapateiro, era militante do PCB. Em função de divergências sobre
a orientação do partido em relação à luta armada, ingressou na VPR. Morava no sítio compra-
do pela VPR no Vale do Ribeira (região Sul do estado de São Paulo), onde cumpria o papel
de manter uma fachada para esconder a área de treinamento do agrupamento. Após a desco-
berta da área pelos órgãos de segurança, deslocou-se pela mata com outros guerrilheiros, até
ser preso, dias depois.
Foi preso em 7 de maio de 1970, durante o cerco militar à área de treinamento de guer-
rilha da VPR e a seu líder, Carlos Lamarca, no Vale da Ribeira. Banido do território nacional
em 15 de junho do mesmo ano, por ocasião do seqüestro do embaixador da Alemanha no
Brasil, Ludwig Von Holleben, viajou para a Argélia com outros 39 presos políticos. Dirigiu-se
depois para Cuba, onde realizou treinamento de guerrilha. Mais tarde, mudou-se para o Chi-
le, mas teve de se refugiar na Argentina após o golpe de Estado que depôs Salvador Allende.
Ao tentar retornar ao Brasil clandestinamente, Lavecchia desapareceu, em julho de 1974,
na fronteira da Argentina com o Brasil, com outros banidos.
O relatório do Ministério do Exército encaminhado ao ministro da Justiça, em 1993,
diz que “[…] em 12 de outubro de 1973, constou de uma relação de brasileiros que se encontra-
vam no Chile e solicitaram asilo na Embaixada da Argentina, viajando para aquele país onde
passaram a residir”.
Onofre Pinto
Nasceu em 18 de janeiro de 1944, em São Paulo (SP), filho de Feliciano Ramos e Santi-
na Silva Ramos. Desaparecido em 13 de julho de 1974. Militante da Vanguarda Popular Re-
volucionária (VPR).
Era escultor. Iniciou sua participação política em 1964. Acusado de pertencer à Polop, foi
preso em dezembro de 1967, tendo sua prisão decretada em agosto de 1971, no processo
A emboscada
Jane Vanini
Nasceu em 8 de setembro de 1945, em Cáceres (MT), filha de José Vanini Filho e Antô-
nia Maciel Vanini. Desaparecida em 6 de dezembro de 1974, no Chile. Militante do Movi-
miento de Izquierda Revolucionaria (MIR).
Estudou no Colégio Imaculada Conceição, em Cáceres, até 1966, quando se mudou
para São Paulo (SP), tornando-se estudante de Ciências Sociais na Universidade de São Paulo.
Trabalhou na loja Mappin e na Editora Abril, onde conheceu seu marido, Sérgio Capozzi. Em
1969, passou a militar na ALN com Sérgio. Nesse mesmo ano, ele foi detido e Jane foi con-
denada à revelia a cinco anos de prisão.
Em abril de 1970, após uma seqüência de prisões de militantes da ALN, o casal foi iden-
tificado pela repressão política. Colegas da Editora Abril ajudaram Capozzi a fugir quando
agentes da Oban (posteriormente reorganizada como DOI-CODI) tentaram prendê-lo no
trabalho. Passaram a viver na clandestinidade; depois, refugiaram-se no Uruguai e, posterior-
mente, na Argentina e em Cuba, onde Jane realizou treinamento de guerrilha e trabalhou na
Rádio Havana. Tornou-se membro da dissidência da ALN, o Molipo.
Em setembro de 1971, o casal retornou ao Brasil e fixou-se na região do rio Lages, entre
Araguaína e Vanderlândia, atual estado de Tocantins. A prisão de Carlos Eduardo Pires Fleury,
em dezembro de 1971, porém, obrigou Jane a partir para o Chile pouco antes do Natal do
mesmo ano, na tentativa de fazer contatos com a organização. Sem condições de retornar ao
Brasil, integrou-se ao MIR. Trabalhou como secretária no periódico da organização, chamado
Punto Final, até 11 de setembro de 1973, dia do golpe que derrubou o presidente Salvador
Allende. Tornou-se companheira do jornalista e dirigente do MIR José Carrasco Tapia, o Pepe.
Usando no Chile os codinomes de Adélia, Miny Ana Honorato, Gabriela Pereira, Carmen
Montoya ou Tereza Motta, Jane Vanini pôde testemunhar os preparativos que antecederam o
golpe. Esses fatos foram relatados nas cartas que escrevia periodicamente à sua irmã, Dulce
Ana Vanini, carinhosamente chamada de Madrinha. Após o golpe, decidiu ficar no Chile e
passou a atuar na clandestinidade, indo morar em Concepción, 500 quilômetros ao sul da
capital Santiago.
Às 12 horas de 6 de dezembro de 1974, a dez quadras da casa onde morava com Jane,
José Carrasco Tapia foi detido e conduzido à Base Naval de Talcahuano. À noite, após procu-
rá-lo e consultar militantes do MIR sobre as possibilidades de resgatá-lo, Jane voltou à sua casa
disposta a tentar o resgate de Carrasco das mãos da DINA (Direção de Inteligência Nacional),
embora os companheiros tivessem descartado essa hipótese e houvessem chegado a trancá-la
no banheiro de um dos aparelhos da organização, percebendo sua determinação, ela fugiu do
local. À noite, Pepe disse aos torturadores o endereço de sua casa, certo de que Jane não mais
estivesse lá, conforme o combinado. A clandestinidade impunha regras rígidas de segurança e,
após determinado horário, o não comparecimento a um encontro significava que aquela pes-
Batista
Camponês, desaparecido em 1974, na Guerrilha do Araguaia.
Pouco se sabia a seu respeito até julho de 2001, quando o MPF esteve na região para
ouvir depoimentos de moradores. Em um desses depoimentos, o ex-guia do Exército Sinézio
Martins Ribeiro afirmou que:
[…] soube pelos guias Domingos e Manoelzinho Araújo que a Áurea [Áurea Eliza Pe-
reira Valadão] e o Batista foram presos na casa da dona Petronilha; que a dona Petro-
nilha falou para os soldados que eles iam a sua casa comer todas as tardes; que o Exérci-
to mandou os dois guias acima citados para ficarem vigiando dentro da casa de dona
Petronilha, escondidos no quarto, aguardando a chegada dos guerrilheiros; que quando
a Áurea e o Batista chegaram ao anoitecer foram presos; que os dois não atiraram, pois
não tinham mais munições; que os presos foram levados para a casa do Arlindo, onde o
Exército já estava esperando; que os dois foram levados para Xambioá; que Batista era
morador que aderiu à guerrilha; que o depoente não chegou a ver a Áurea viva em
Xambioá, apenas o Batista; que o depoente chegou a conversar com o Batista a quem
deu conselhos para que obedecesse os militares; que o Batista não seguiu seus conselhos,
parece que ele era meio preguiçoso; que depois o Batista desapareceu; que ele não pergun-
tou pela Áurea nem pelo Batista; que a mulher do Batista foi presa, levada para a base
de São Raimundo, onde passou a ser cozinheira; que o depoente perguntou se ela recebia
salário e ela respondeu que não sabia mas que os soldados disseram que quando termi-
nasse a guerra eles a levariam para junto da família dela no Maranhão; que a filha do
casal, de aproximadamente 7 anos, também ficava na base; que acha que a mulher se
chamava Raimunda; que depois não a viu mais na base.
CEDEM/Fundo ASMOB
de 1966 e dezembro de 1967, em Londres. Presidido
por Jean-Paul Sartre, contou com a participação de di-
versos intelectuais. A segunda versão do tribunal foi
convocada pelo jurista e senador italiano Lélio Basso,
do Partido Socialista Independente, a pedido de brasi-
leiros exilados no Chile, no fim de 1971. Inicialmente
pensado para julgar os crimes da ditadura brasileira, o
tribunal ocorreu em três sessões entre 1974 e 1976, em
Roma e Bruxelas, e tratou também de outros países da
América Latina.
Composto por juristas, professores, escritores e Panfletos divulgam a
personalidades de renome, o tribunal era independen- realização do Tribunal
Bertrand Russel II em
te de governos e buscou legitimidade na autoridade Roma, em 1974.
moral e na consciência pública dos povos para garantir
o respeito aos direitos humanos. Denúncias de tortu-
ras, assassinatos e desaparecimentos forçados, ocorri-
dos no Brasil, foram divulgadas no Tribunal Bertrand
Russell II, entre 30 de março e 5 de abril de 1974, em
Roma. A boa receptividade da mídia foi fundamental
para que a opinião pública se infomasse e tomasse po-
sição a respeito. Estima-se que mais de dez emissoras
de televisão e cerca de 180 jornalistas italianos e es-
trangeiros acompanharam as sessões.
O relatório do juiz italiano Salvatore Senese apre- testemunhos, o júri considerou comprovado que o
sentou um quadro do direito e da legislação no Brasil governo brasileiro era responsável por graves viola-
a partir do golpe militar. Miguel Arraes fez o ato de ções dos direitos humanos. O relatório do antropó-
acusação ao governo brasileiro que, além de instaurar logo Ettore Biocca descreveu as torturas e divulgou
o terror entre seus opositores, atingiu o povo, privan- as listas dos mais de mil atingidos, dos torturadores
do-o da liberdade e implementando uma política eco- e dos locais onde ocorriam as violências. Mencio-
nômica responsável pelo agravamento das desigualda- nou também as violações anteriores ao golpe e a
des sociais. Vários ex-presos políticos testemunharam, ação do Esquadrão da Morte.
tais como Dulce Maia, Fernando Gabeira, Carmela O tribunal sentenciou que a amplitude das viola-
Pezzuti e Rolando Frati. Presente ao tribunal, Denise ções aos direitos humanos verificadas no Brasil confi-
Crispim – esposa de Eduardo Collen Leite e irmã de guravam crimes contra a humanidade. O encontro
Joelson Crispim, ambos assassinados em 1970 – pediu contribuiu, por meio dos dados colhidos, para a elabo-
que seu depoimento fosse lido. Muitos levaram mate- ração de dossiês utilizados na divulgação de denúncias
riais e informações sobre as condições carcerárias no e incentivou a formação de comitês de solidariedade
Brasil, listas de atingidos, de torturadores e de centros ao Brasil.
de tortura. As duas sessões seguintes analisaram o papel das
As testemunhas e o júri enfatizaram as viola- multinacionais na instauração e manutenção das dita-
ções aos direitos humanos, explicitando que o uso duras latino-americanas, destacando o direito à auto-
da tortura era sistemático e havia se tornado política determinação dos povos e a necessidade de se construir
de Estado no Brasil. Destacaram as perseguições às a Paz com Justiça. Ainda na segunda sessão, em Bruxe-
famílias dos dissidentes, inclusive às crianças. Anali- las, o tribunal condenou o governo brasileiro pelo cri-
sando a documentação apresentada, a legislação e os me de genocídio (ROLLEMBERG, 1999).
1 9 7 5
Iconographia
Ato ecumênico pela morte de Vladimir Herzog na catedral da Sé, em São Paulo, outubro de 1975.
Elson Costa
Nasceu em 26 de agosto de 1913, em Prata (MG), filho de João Soares da Costa e Maria
Novaes Costa. Desaparecido em 15 de janeiro de 19751. Dirigente do Partido Comunista
Brasileiro (PCB).
Era casado com Aglaé de Souza Costa.
Iniciou sua vida política no Partido Comunista Brasileiro (PCB), em Uberlândia (MG),
onde liderou uma greve de caminhoneiros. Trabalhou na divulgação do jornal A Classe Ope-
rária. Foi membro do Comitê Central, atuou em Belo Horizonte (MG), Niterói (RJ), Rio de
Janeiro (RJ), Campo Grande (MT), Recife (PE), Curitiba (PR) e, finalmente, em São Paulo
(SP). Conheceu os países socialistas do Leste Europeu na década de 1960.
Com o golpe de 1964, teve seus direitos políticos cassados e passou a atuar na clandesti-
nidade com outro nome. Em 1966, foi condenado a dois anos de reclusão pela Justiça Militar
no processo referente às cadernetas de Luís Carlos Prestes. Cumpriu a pena em Curitiba e,
quando foi solto, voltou à clandestinidade com o nome de Manoel de Sousa Gomes.
No Rio de Janeiro, integrava a direção do PCB do antigo estado da Guanabara, onde foi
preso em 1970. Apesar de muito torturado, sobreviveu e permaneceu mais de dois anos preso,
cumprindo pena no Paraná. Libertado em 1973, voltou à clandestinidade, em São Paulo. No
Comitê Central atuava no setor de agitação e propaganda do PCB, trabalhando na produção
e distribuição do jornal Voz Operária.
Na manhã de 15 de janeiro de 1975, Elson foi preso no bar ao lado de sua casa, onde fora
tomar café. Alguns vizinhos tentaram protestar contra a ordem de prisão dada por seis ho-
mens, pois, para eles, quem estava sendo preso era o aposentado Manoel de Sousa Gomes que
vivia na rua Timbiras, 199, bairro de Santo Amaro, em São Paulo.
Em 7 de fevereiro do mesmo ano, sua esposa enviou telegrama ao ministro da Justiça e,
no dia 18 daquele mês, escreveu ao presidente Ernesto Geisel solicitando informações sobre o
paradeiro de Elson. Em seguida, no dia 1º de março, foi publicada no jornal O Estado de S.
Paulo uma nota assinada por sua esposa, descrevendo como ocorreu o seu desaparecimento.
No Pedido de Busca nº 79-E/2-75, do II Exército, datado de 7 de abril de 1975, encon-
trado nos arquivos do antigo DOPS/PR, lê-se “[…] no dia 15 jan. 75 o 11º DP registrou a
ocorrência sobre ‘Manoel de Sousa Gomes’, conforme BO nº 315/75, cópia anexa [não foi encon- 1. Há versões conflitantes
trada a referida cópia]”. Mais adiante, o documento afirma: sobre a data de seu
desaparecimento nos
Na possibilidade de vir a ser preso em função das prisões já efetuadas pelos Órgãos de documentos encontrados.
Segurança Interna, evadiu-se de sua residência, às pressas, sendo levado por elementos do Esta data é a fornecida
partido, conforme testemunhas. […] pela esposa.
Nestor Vera
Nasceu em 4 de agosto de 1939, em Salvador (BA), filho de Mário Rocha e Maria Ana-
thália. Desaparecido em junho de 1975. Militante do Movimento de Libertação Popular
(Molipo).
Fez seus primeiros estudos na cidade de Amargosa (BA) e o secundário no Colégio dos
Irmãos Maristas, em Salvador. De 1952 a 1957, estudou no Seminário de Aracaju (SE). Em
1959, como funcionário do Banco do Brasil, morou em Alagoinhas (BA), onde também le-
cionava português e latim no Colégio Santíssimo Sacramento e na Escola Normal.
Em 1962, mudou-se para São Paulo (SP) e continuava trabalhando no Banco do Brasil,
além de lecionar em escolas do ABC. Estudou direito na Faculdade do Largo de São Francis-
co (USP) sendo colega de Arno Preis (assassinado em 15 de fevereiro de 1972). Foi diretor da
Casa do Estudante, localizada na Avenida São João, que servia de moradia para os alunos da
sua faculdade. Estava no último ano do curso quando foi preso pelo DOPS/SP e torturado,
em janeiro de 1969. Nessa época, era militante da ALN e acusado de participar de um grupo
tático armado dessa organização.
Foi banido do Brasil em setembro de 1969 quando ocorreu o seqüestro do embaixador
norte- americano, Charles Burke Elbrick, quando outros 14 presos políticos foram trocados
pelo diplomata indo para o México.
Alberto Aleixo
Vladimir Herzog
Os desaparecidos e a Operação
Condor no Brasil
Reprodução
A partir da repercussão desse fato, no final de
2007, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, o
general-de-divisão da reserva do Exército, Agnaldo Página do jornal Movimento, de janeiro de 1979, traz matéria sobre uma das
del Nero Augusto, admitiu a participação do Brasil ações da Operação Condor, o seqüestro dos uruguaios Universindo Diaz e Lilian
Celiberti em Porto Alegre.
na Operação Condor: “A gente não matava. Prendia e
entregava. Não há crime nisso”. Em janeiro de 2008, o No Brasil, o primeiro caso de prisão de estran-
coronel reformado do Exército Jarbas Passarinho, fez geiros que obteve repercussão foi o do seqüestro dos
uma declaração cínica à Folha de S. Paulo: “Nós pren- uruguaios Lílian Celiberti e Universindo Diaz, com
díamos e mandávamos de volta. Se soubesse que, man- seus dois filhos menores, organizado pelo DOPS/RS.
dando para a Argentina, a pessoa ia ser morta, tenho a Este fato foi amplamente denunciado pela imprensa
convicção de que o governo não mandaria”. brasileira, o que possivelmente lhes garantiu a vida.
Desde 1999, há uma ação na justiça argentina Há informações de pelo menos nove argentinos desa-
para julgar o ex-ditador Jorge Rafael Videla e mais 18 parecidos no Brasil: Antonio Luciano Pregoni (1973),
ex-militares que colaboraram no desaparecimento de Enrique Ernesto Ruggia (1974), Norberto Armando
pessoas durante a Operação Condor. Atualmente exis- Habegger (1978), Lorenzo Ismael Viñas (1980), Ho-
tem 34 implicados na ação, dos quais 27 se encon- racio Domingo Campiglia (1980), Mónica Susana
tram processados. Entre eles, dez cumprem prisão Pinus de Binstock (1980), José Oscar Adur (1980),
preventiva. No total são 17 detidos e muitos dos im- Liliana Ines Goldemberg (1980) e Eduardo Gonzalo
plicados já estão presos por sua participação em fatos Escabosa (1980).
relacionados a outras ações que investigam crimes de As pesquisas da Comissão de Familiares de Mor-
terrorismo de Estado. Este é o primeiro julgamento tos e Desaparecidos Políticos apuraram que pelo me-
realizado na Argentina sobre a Operação Condor e Vi- nos oito brasileiros desapareceram na Argentina de-
dela pode vir a ser condenado. No Chile, o principal pois de 1975. São eles: Francisco Tenório Cerqueira
responsável pela Condor, Manuel Contreras, foi o Júnior (1976), Jorge Alberto Basso (1976)5, Sérgio
primeiro condenado. No Uruguai, em dezembro de Fernando Tula Silberberg (1976), Maria Regina Mar-
2007, o ex-ditador Gregorio Álvarez, que governou condes Pinto de Espinosa (1976), Sidney Fix Mar-
de 1981 a 1985, foi condenado e preso pelo desapa- ques dos Santos (1976), Walter Kenneth Nelson
recimento forçado de 20 pessoas que foram detidas Fleury (1976)6, Roberto Rascado Rodriguez (1977) e
na Argentina e transferidas para o Uruguai. Luiz Renato do Lago Faria (1980).
en lucha contra la
Dictadura Militar, que se nalista Rubens Valente, da Folha de S.Paulo, encon-
realizou em 12 de abril trou os familiares de Sabat Nuet. Finalmente, os res-
de 1970.
tos mortais que se presumia serem seus puderam ser
exumados em 1º de abril de 2008, com o auxílio do
Levantamento realizado pela Embaixada do MPF/SP e da CEMDP/SEDH, e foram enfim iden-
Brasil na Argentina, em conjunto com o Arquivo Na- tificados em 28 de agosto do mesmo ano.
cional de Memória da Argentina, apurou ainda a Outros casos merecem investigação e não cons-
existência de cinco casos de desaparecidos na Argen- tam da lista oficial do governo brasileiro, como o do
tina, filhos de pai ou mãe brasileiros, nascidos na Ar- cidadão francês Jean-Henri Raya Ribard, residente na
gentina ou no Uruguai. São eles: Marcos Basílio Aro- Argentina, que chegou ao Rio de Janeiro em 21 de
cena da Silva Guimarães, Ary Cabrera Prates, Davi novembro de 1973 e desapareceu. De acordo com as
Eduardo Chab Tarab Baabur, Roberto Adolfo Val informações dos arquivos da CONADEP, Jean-Hen-
Cazorla (seqüestrados em 1976 ) e Juvelino Andrés ri teria viajado para o Brasil com o argentino Antonio
Carneiro da Fontoura Gularte (que desapareceu em Luciano Pregoni e mais uma pessoa, provavelmente
dezembro de 1977)7. um brasileiro chamado Antonio Graciani. Depois
Após as declarações de um ex-policial uruguaio, dessa viagem, todos desapareceram.
que alega ter vigiado o ex-presidente João Goulart
por muitos anos e auxiliado na operação em que ele 1 O último golpe militar na Argentina deu-se em 24 de março
morreu envenenado em 1976, na Argentina, a Co- de 1976.
2 Em 25 de maio de 2000, o então advogado-geral da União,
missão de Familiares o incluiu na lista dos mortos sob Gilmar Mendes, divulgou a resposta do Ministério da Defesa
responsabilidade do Estado durante a ditadura. ao pedido de abertura dos arquivos sobre a Condor. “O
Antes da Operação Condor, o Brasil já mantinha Exército não encontrou nada a respeito do referido plano”,
respondeu o comandante do Exército, Gleuber Vieira.
colaboração ativa com as ditaduras de outros países 3 Sabe-se, também, que era grande a preocupação da repressão
da América Latina. Sabe-se que pelo menos seis bra- brasileira com a Junta de Coordenação Revolucionária,
sileiros morreram ou desapareceram no Chile, entre idealizada em 1972 pelos grupos MIR (Movimiento de
1973 e 1974: Nilton Rosa da Silva (1973), Luis Car- Izquierda Revolucionaria, do Chile), Tupamaros (Uruguai),
ERP (Ejército Revolucionário del Pueblo, Argentina) e
los de Almeida (1973), Nelson Souza Kohl (1973), MR-8 (Movimento Revolucionário 8 de Outubro) do Brasil
Túlio Roberto Cardoso Quintiliano (1973), Wânio (QUADRAT, 2006).
José de Matos (1973) e Jane Vanini (1974). Ao me- 4 Os brasileiros que tiveram pedido de prisão decretada são:
Octávio de Medeiros, ex-ministro do Serviço Nacional
nos um brasileiro desapareceu na Bolívia, em outu- de Informações (SNI), os generais Euclydes de Oliveira
bro de 1970: Luiz Renato Pires de Almeida. Figueiredo Filho (irmão do ex-presidente Figueiredo),
Além disso, em colaboração com as forças mili- Henrique Domingues e Antônio Bandeira (ex-comandante
do III Exército), os coronéis Carlos Alberto Ponzi e
tares e policiais da Argentina, dois ativistas políticos Luís Macksen de Castro; Agnello de Araújo Britto (ex-
desapareceram em janeiro de 1974: João Batista Rita, superintendente da Polícia Federal do Rio de Janeiro),
do M3G, e Joaquim Pires Cerveira, da FLN. Outro Edmundo Murgel (ex-secretário de Segurança do Rio de
grupo, liderado por Onofre Pinto (VPR), vindo da Janeiro), general João Leivas Job (ex-secretário de Segurança
do Rio Grande do Sul), Átila Rohrsetzer (ex-diretor da
Argentina, desapareceu no Brasil, em julho de 1974, Divisão Central de Informação) e o ex-delegado gaúcho
com a colaboração da repressão argentina, na Opera- Marco Aurélio da Silva Reis.
ção Juriti. Era composto por Daniel José de Carva- 5 Nascido na Argentina, filho de mãe brasileira, era
naturalizado brasileiro e morou no Brasil até 1971, quando
lho, Joel José de Carvalho, José Lavechia, Victor Car- fugiu para a Argentina em decorrência das perseguições
los Ramos e o argentino Enrique Ernesto Ruggia. políticas.
Edmur Péricles Camargo, dirigente do M3G, desa- 6 Walter também possuía cidadania britânica.
7 Há dois casos em que não foi possível apurar a filiação:
pareceu provavelmente em dezembro de 1973 em Francisco Edgardo Candia Correa e Juan Mariano Zaremba
Buenos Aires, Argentina. Rios.
1 9 7 6
Reprodução
OB
CEDEM/Fundo ASM
Nasceu em 12 de setembro de 1944, no Rio de Janeiro (RJ), filha de Alexandre Alves dos
Santos e Nair Alves dos Santos. Morta em 7 de janeiro de 1976. Militante do Partido Comu-
nista Brasileiro (PCB).
A família de Neide conviveu 21 longos anos com a versão policial de que ela se suicidara
ao atear fogo ao corpo. Ela deixou uma filha, na época com 14 anos de idade.
No início de 1975, Neide atuava no setor de propaganda do PCB, próxima ao ex-depu-
tado potiguar Hiram de Lima Pereira (desaparecido em 15 de janeiro daquele ano), quando a
repressão política comandava a “Operação Radar”, uma grande ofensiva do Exército, iniciada
em 1973, para dizimar a direção do PCB1.
Documentos oficiais confirmam que foi presa em 6 de fevereiro de 1975 e encaminhada
para o DOI-CODI/SP e, depois, para o DOPS/RJ. No DOPS/RJ foi identificada e fotogra-
fada em 21 de fevereiro de 1975. Ao ser solta, procurou seus familiares que moravam no Rio
de Janeiro. Tinha sinais de tortura por todo o corpo. Foi internada em um hospital e depois
voltou a trabalhar em São Paulo, quando teria sido novamente presa.
O último contato mantido com os familiares foi no Natal de 1975. Em 8 de janeiro de
1976, a família ficou sabendo que ela havia morrido. De acordo com a versão apresentada pela
polícia, Neide teria ateado fogo ao próprio corpo, em praça pública, e foi encaminhada por
duas pessoas não identificadas ao Hospital do Tatuapé.
O laudo necroscópico foi assinado pelo legista Pérsio José Ribeiro Carneiro, médico que
assinou outros laudos de militantes assassinados pelos órgãos da repressão política.
Ao contrário de outras vítimas do período, o seu nome não aparecia em nenhuma das
listas ou dossiês de mortos e desaparecidos da ditadura efetuados pelos familiares.
O relator Paulo Gustavo Gonet Branco, representante do Ministério Público na CEMDP
na época, indeferiu o pedido da família por considerar que “[…] a morte por ateamento de fogo,
em si mesma, em praça pública […] não preenche os requisitos da lei”.
Luís Francisco Carvalho Filho pediu vistas para analisar o caso. A partir daí começou a 1. Ver detalhes sobre
ser esclarecido mais um dos crimes cometidos pela ditadura. Em seu voto pelo deferimento do a “Operação Radar”
nos casos “Mais três
caso, Carvalho Filho chama a atenção para duas particularidades. A versão de suicídio por dirigentes do PCB
fogo, tão incomum, e o contexto político da época – a morte de Neide aconteceu alguns dias assassinados” (Luiz
antes do desfecho oficial da chamada crise Herzog, quando houve a morte de Manoel Fiel Fi- Ignácio Maranhão, João
Massena Melo e Walter
lho – autorizavam pelo menos uma desconfiança: “Não estaríamos diante de uma espécie de de Souza Ribeiro, de
‘incidente’ ou de ‘acidente’ ocorrido no interior dos órgãos de repressão de São Paulo, dissimulado 1974) e de Elson Costa
com sucesso para, por exemplo, evitar uma provável e severa reação presidencial?”. (1975).
Nasceu em 20 de janeiro de 1940, em São Paulo, filho de Cherubim Marques dos Santos
e Suzana Olga Fix Marques dos Santos. Desaparecido em 15 de fevereiro de 1976, na Argen-
tina. Dirigente do PORT – Partido Operário Revolucionário (Trotskista).
Era casado com a argentina Leonor Elvira Cristalli, com quem teve uma filha, nasci-
da no Uruguai.
Neto de imigrantes franceses e alemães, Sidney concluiu o curso secundário no Colégio
Mackenzie. Apreciava literatura e escrevia poemas. Prestou vestibular para geologia na USP e
foi aprovado entre os primeiros colocados, em 1959, merecendo, por isso, uma bolsa de estu-
dos da Petrobras. Nessa época, começou a militar no PORT. Dois anos após o início do curso,
abandonou os estudos para dedicar-se integralmente à militância, ganhando o codinome de
Eduardo Farias. Quando passou a viver na Argentina, era conhecido como Lalo.
Em 21 de abril de 1961, foi detido com Virgínia Maestri pelo DOPS/SP, “pichando vias
públicas no centro da cidade”. No mesmo ano, seria preso novamente pelo DOPS, por sua
participação na organização da greve geral de 13 de dezembro, deflagrada pela transformação
do “abono de Natal” em lei, ou seja, pelo 13° salário. Foi indiciado como um dos “mentores
da greve” em inquérito policial de abril de 1962.
Entre meados de 1961 e 1962, Sidney foi o responsável pela organização do partido no
Rio de Janeiro, onde passou a residir. Chegou a trabalhar nos estaleiros da Ishikawagima, mas
por poucos meses, sendo logo demitido por sua atividade política e sindical. Tornou-se um
“militante profissional” e o principal dirigente do partido no Rio de Janeiro.
Atuou em várias frentes. Participou da organização do Comitê de Defesa da Revolução
Cubana, entidade responsável por manifestações de rua, pichações, atos comemorativos e cam-
panhas de solidariedade a Cuba. Durante a “crise dos mísseis”, em novembro de 1962, os
trotskistas do PORT defenderam a manutenção dos mísseis soviéticos em Cuba, como também
a defesa do “Estado operário cubano”. Sidney tomou parte dos congressos estadual e nacional
de solidariedade a Cuba, este último realizado em Niterói (RJ), quando apresentou uma tese.
Manteve ligações com os movimentos de trabalhadores rurais e camponeses em regiões
como Cachoeirinha Pequena, Magé, Tarietá e Angra dos Reis, no Rio de Janeiro, onde houve
numerosos levantes de posseiros e confrontos com proprietários de terras. Publicou artigos no
jornal do PORT, o Frente Operária, assinando “S. Marques” (Sidney Marques) e dando cober-
tura a temas relacionados a esses movimentos.
Era o responsável pelos contatos com os representantes do movimento dos sargentos,
estabelecendo articulações no eixo Rio–São Paulo–Brasília.
Outro meio de trabalho importante foi a Frente de Mobilização Popular (FMP),
entidade criada em 1962 e integrada por representantes de diversas organizações políticas,
estudantis, sindicais, femininas e camponesas, que exigia reformas de base e mudanças na
política econômica.
Massafumi Yoshinaga
Nasceu em 22 de janeiro de 1949, em Paraguaçu Paulista (SP), filho de Kiyomatsu Yoshi-
naga e Mitsuki Yoshinaga. Suicidou-se em 7 de junho de 1976. Militante da Vanguarda Po-
pular Revolucionária (VPR).
Participou do movimento estudantil a partir de 1966, quando foi eleito para uma das
vice-presidências da UPES. Em 1968, dirigiu o jornal Avante, do colégio secundarista Brasílio
Machado, onde estudava. Logo após, iniciou os contatos com a VPR e atuou na área de trei-
namento de guerrilha no Vale do Ribeira (SP), com Carlos Lamarca, José Lavecchia e Yoshi-
tane Fujimori, os três assassinados pela ditadura entre 1970 e 1974. Dois guerrilheiros foram
retirados da área, Massafumi e Celso Lungaretti. Este último foi preso em abril de 1970 e
Massafumi teria se apresentado aos órgãos da repressão em julho, quando era perseguido pelos
militares, que o confundiam com outro nissei muito procurado, Yoshitame Fujimori.
Ao ser preso, os agentes de segurança o obrigaram a uma retratação pública de suas posi-
ções políticas, fato amplamente divulgado pela imprensa na época. A entrevista concedida à
TV Tupi, em 2 de julho de 1970, foi dada na presença do coronel Danilo de Sá da Cunha e
Melo, secretário de Segurança Pública; de Danton Avelino, comandante-geral da Polícia Mi-
litar de São Paulo, e Leonardo Lombardo, diretor de Relações Públicas da Secretaria de Segu-
rança. Esses casos de “arrependimento”, termo utilizado nas notas oficiais dos órgãos de segu-
rança, foram na verdade resultado de intensas torturas.
Libertado pouco tempo depois, Massafumi passou a apresentar distúrbios psicológicos.
Dizia repetidamente que a Oban (reorganizada como DOI-CODI em julho de 1970) iria
matá-lo. Diante disso, em 1973, começou um tratamento psiquiátrico e chegou a ser interna-
Nasceu em 11 de maio de 1920, em Dom Silvério (MG), filho de José Eugênio e Mar-
colina de Souza Machado. Militante do Partido Comunista Brasileiro (PCB). Morto em 29
de setembro de 1976, em São Paulo.
Era casado e tinha três filhos.
Ângelo Arroyo
Nasceu em 6 de novembro de 1928, em São Paulo (SP), filho de Ângelo Arroyo e
Encarnação Pardito. Morto em 16 de dezembro de 1976. Dirigente do Partido Comunis-
ta do Brasil (PCdoB).
Era casado e tinha dois filhos. Operário metalúrgico, ingressou no Partido Comunis-
ta Brasileiro (PCB) em 1945. No ano seguinte, foi eleito membro do Comitê Regional de
São Paulo e secretário do Comitê Distrital da Mooca. Foi ativista do movimento sindical
paulista, tornando-se um dos líderes do Sindicato dos Metalúrgicos na década de 1950.
Participou das greves e das manifestações de rua de 1952 e 1953, em São Paulo, sendo
Nasceu em 28 de maio de 1942, na fazenda das Posses, em Varginha (MG), filho de João
Batista Drummond e Zilah de Carvalho Drummond. Morto em 16 de dezembro de
1976. Dirigente do Partido Comunista do Brasil (PCdoB).
Era casado com Maria Esther Cristelli Drummond e tiveram duas filhas, Rosamaria e
Sílvia. Cursou o 1° grau (atual ensino fundamental) no Ginásio Salesiano Dom Bosco, de
Cachoeira do Campo (MG), e o 2° grau (atual ensino médio) no Colégio Loyola, em Belo
Horizonte (MG). Em 1961, ingressou no curso de Economia da FACE/UFMG, concluído
em 1966. Exerceu a presidência do diretório acadêmico daquela faculdade no período de
1964-1965 e foi um dos principais organizadores dos 27° e 28° congressos da UNE.
Além de sua militância na política estudantil, participou, desde 1963, do movimento
camponês no Sul de Minas e das campanhas eleitorais, com o líder operário Dazinho. Foi
A “Chacina da Lapa”
Os agentes do DOI-CODI/SP cercaram a casa na rua Pio XI (bairro da Lapa, São Paulo),
em 16 de dezembro de 1976, na operação conhecida como “Chacina da Lapa”. Segundo os
vizinhos, em nenhum momento houve troca de tiros, mas sim uma fuzilaria que partia apenas
do lado de fora, onde estavam os agentes da repressão política.
Pedro Pomar, Ângelo Arroyo e outros dirigentes do PCdoB reuniram-se durante dois
dias (14 e 15 de dezembro de 1976) na casa. O Exército obteve informações sobre a reunião
com o militante Manoel Jover Teles (posteriormente considerado pelo PCdoB o delator da
reunião), e montou a operação com o objetivo de desmantelar o partido.
Nasceu em 4 de abril de 1954, em Vedia, província de Buenos Aires. Filho de Adolfo Val,
argentino, e Ginesa Cazorla de Val, nascida em São Paulo, Brasil. Estudante da Faculdade de
Ciências Exatas. Era militante da Juventude Universitária Peronista da Universidade de La
Plata (montonero).
De acordo com as informações dos arquivos da EAAF, estudava no curso de química da
Universidade de La Plata. Foi seqüestrado em 22 de dezembro de 1976 por forças conjuntas,
por volta das 13 horas, em uma casa localizada na rua 32, nº 390, no Departamento 3, cidade
de La Plata. Com ele, foram seqüestrados Félix Escobar, estudante de ciências econômicas,
Domingo Roque Alconada Moreira (Pironio), estudante de direito, e Delmiro Segundo Villa-
gra, estudante de ciências veterinárias (todos desaparecidos). Há testemunhas que afirmam ter
visto Alconada nos CCDs 1 e 60 e nas Comisarías 5ª e 8ª.
A denúncia de seu desaparecimento, feita pelos irmãos e pelo pai, foi registrada pela Co-
missão Nacional sobre o Desaparecimento de Pessoas (CONADEP), na Argentina, com o
número 4.135.
Na denúncia feita na CONADEP sobre o caso de Alconada, uma testemunha afirmou
que Roberto Val foi muito torturado e golpeado nas costas.
De acordo com as informações da EAAF, Piqui Mardonés afirmou, em entrevista de 16
de julho de 2007, que ele foi visto no CCD La Cacha por um companheiro que não deu um
testemunho oficial, mas lhe disse pessoalmente.
O CCD La Cacha estava localizado entre as ruas 191, 196, 47 e 52 (vias da estrada de
ferro Belgrano), contígua à Penitenciária de Olmos, nas antigas instalações da Radio Provin-
cia, na localidade de Lisandro Olmos, em La Plata, província de Buenos Aires. Operou
como CCD de 1976 a 1978, período em que por lá passaram aproximadamente 158 presos
e 14 mulheres grávidas. Dentro da ex-Unidade Penitenciária 8, o Cárcere de Olmos, existia
um hospital destinado aos detidos e aos que ali trabalhavam. Durante os anos 1974 e 1975,
foram detidas neste lugar uma dezena de presas políticas que se encontravam à disposição
do Poder Executivo (PEN). Muitas estavam grávidas e, até meados de 1975, eram traslada-
das para dar à luz na maternidade do Policlínico de La Plata. A partir de então se criou uma
sala de partos para evitar o traslado das grávidas, o que foi justificado por “questões de
Zelmo Bosa
Nasceu em 26 de julho de 1937, em Ronda Alta (RS), filho de Eduardo Bosa e Helena
Bosa. Desaparecido em 1976.
Seu caso não foi denunciado pela Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos
Políticos em função de não ter chegado à mesma qualquer denúncia.
Na CEMDP, conforme o livro Direito à Memória e à Verdade, o relator, coronel João
Batista Fagundes, baseou-se em informações colhidas junto à Comissão Especial criada no
Rio Grande do Sul para reparar as vítimas de repressão política daquele estado.
De acordo com declaração de Maria de Fátima Bosa, filha de Zelmo, seu pai foi morto
pela repressão política da ditadura, provavelmente em 1976, sendo considerado desaparecido.
Foram anexados ao caso diversos testemunhos ouvidos durante as investigações realizadas no
Rio Grande do Sul.
Segundo os vários depoimentos, ficou evidenciado que o agricultor Zelmo Bosa desenvol-
veu intensa atividade política nas décadas de 1960 e 1970, no município de Trindade do Sul,
que na época fazia parte do município de Nonoai, onde chegou a ser vereador. Teria participa-
do de ocupações de terras e pertenceria ao chamado Grupo dos Onze, de inspiração brizolista.
Ainda segundo o livro Direito à Memória e à Verdade, João Maria Antunes testemunhou
que “[…] em 1964 ou 1965 alguns brigadianos chefiados pelo cabo João estiveram na casa de
Zelmo e o prenderam […]”.
O livro traz também o depoimento de Cleto dos Santos, líder do PTB em Nonoai em
1964, que acrescentou:
Zelmo Bosa, em certo momento, esteve ligado ao sargento Alberi, que era ligado ao coro-
nel Jefferson Cardim, rumando para o Paraná ou para o Mato Grosso. Existiam vários
boatos acerca do desaparecimento de Zelmo Bosa, sendo que diziam também que o
mesmo teria sido assassinado por policiais no lugar denominado Cascata do Lobo. Zel-
mo Bosa vinha a Nonoai escondido, quando visitava a sua família e seus parentes.
Declarou também que, com o vereador João Maria Antunes, tentou localizar Zelmo
Bosa em delegacias e no IML, sem sucesso.
O coronel João Batista Fagundes, afirmou em seu voto:
Não consta no caso prova documental ou pericial que permita concluir pelo desapareci-
mento. […]
Diante dos diversos depoimentos constantes dos autos, fica positivado que Zelmo Bosa foi
um homem de intensa atividade política e que seu desaparecimento, a partir de 1976,
está diretamente relacionado com as atividades que vinha desenvolvendo.
O relator pediu o deferimento do caso quando a conselheira Suzana Keniger Lisbôa re-
quereu vista aos autos e sugeriu a realização de diligências junto ao Ministério da Previdência
Social, visando saber se alguém recebia benefício em nome do desaparecido. As diligências
foram feitas, a resposta foi negativa quanto ao beneficio da Previdência e o caso voltou à apre- Documentos consultados:
ciação, quando foi deferido por unanimidade, em 19 de dezembro de 2005. Caso 067/02, na CEMDP.
1 9 7 7
1 9 7 9
Familiares e manifestantes nas galerias da Câmara dos Deputados, em Brasília, durante a votação da Lei de Anistia, 22 de agosto de 1979.
1977
Mecânico, foi morto em janeiro de 1977. Era irmão de Silvano Soares dos Santos (mor-
to em 25 de junho de 1970) e Alberi Vieira dos Santos. Alberi foi assassinado em 1979. Seu
nome constou do Dossiê dos Mortos e Desaparecidos Políticos a Partir de 1964 até a confirmação
de sua atuação como agente policial infiltrado, sendo o responsável por levar Onofre Pinto,
Joel e Daniel José de Carvalho, José Lavecchia, Gilberto Faria de Lima (Zorro) e Vitor Carlos
Ramos, todos militantes da VPR, além do argentino Enrique Ernesto Ruggia, a uma embos-
cada preparada em Medianeira (PR), em julho de 1974. Desde então, todos se tornaram de-
saparecidos políticos. Documentos consultados:
Apareceu morto na região de Foz do Iguaçu, Paraná. Seu corpo estava completamente www.desaparecidospoliticos.
org.br
mutilado, apresentando sinais evidentes de tortura, além dos olhos vazados e castração.
Dossiê dos Mortos e
Segundo o advogado Décio Freitas, José teria sido morto por agentes de segurança, no Desaparecidos Políticos a Partir
Norte do Estado do Paraná. de 1964, op. cit.
Seu caso não foi apresentado à CEMDP. Arquivos do IEVE/SP.
Carmem Jacomini
6. O CCD Pozo de
Banfield, em Lomas de
Juvelino Andrés Carneiro da Fontoura Gularte
Zamora, era um dos
lugares para onde a polícia
da província de Buenos
Aires levava as mulheres
Nasceu em 4 de fevereiro de 1943, no Uruguai. Era filho do brasileiro Juvelino Carnei-
grávidas. Vinculava-se ao ro da Fontoura e de Ramona Eulogia Gularte, que era filha de brasileiros. Desaparecido em
Primeiro Corpo do Exército 30 de dezembro de 1977. Militante do PCR (Partido Comunista Revolucionário).
e seus responsáveis foram os
comandantes do Regimento
Tinha 34 anos de idade e era estudante de psicologia. De acordo com as informações
de Infantaria Mecanizada. dos arquivos da EAAF, foi seqüestrado com sua esposa, Carolina Barrientos Sagastibelza e
Sobreviventes indicam que, o uruguaio Carlos Federico Cabezudo Perez, em 30 de dezembro de 1977, às 2 horas da
entre os agentes da repressão
desse CCD, estavam o madrugada, na rua Avelino Diaz, 1744, em Buenos Aires. Tinha uma lesão cerebral que o
oficial médico Jorge Bergez, obrigava a seguir tratamento, sem o qual sofria de perda de memória e ficava propenso à
o comissário-geral Miguel depressão.
Etchecolatz, o general Otto
Paladino e Aníbal Gordon. Na Argentina, a denúncia sobre o seu caso foi registrada na Comissão Nacional sobre
Em 1986, o edifício deixou o Desaparecimento de Pessoas (CONADEP) e protocolada com o número 5.625.
de ser da polícia e hoje Segundo os testemunhos de Adriana Chamorro e Otilio Corro Gularte, esteve nos
faz parte da Secretaria
de Direitos Humanos de CCDs Pozos de Banfield6 e Quilmes, nos quais passaram um grupo de 21 uruguaios, entre
Buenos Aires e é elemento eles Gularte. Esteve em Pozo de Quilmes entre 1º de abril e 20 de maio de 1978. De acordo
probatório em ações com a EAAF, teria permanecido no CCD até 16 de maio, quando grande número de uru-
judiciais.
guaios foi “trasladado”, o que significava que seriam assassinados.
7. Estão relacionadas a essa Os presos uruguaios do Pozo de Banfield eram levados ao Pozo de Quilmes, onde eram
ação judicial a Causa nº interrogados e torturados por militares uruguaios. O agrupamento Abuelas de Plaza de
27, que tramita no Juzgado
Federal nº 3 de La Plata Mayo informa que Gularte esteve em Pozo de Quilmes ou La Brigada de Investigaciones
(juiz Arnaldo Corazza), de Quilmes, que contava com dois edifícios separados: um chalé na esquina das ruas Alison
intitulada “Gustavino, Diana Bell e Garibaldi, onde funcionavam os departamentos judiciais, e, na rua Garibaldi, ficava
Estela sobre denúncia de
desaparecimento forçado a segunda edificação, na qual se encontravam os calabouços e as salas de tortura. Esse CCD
de pessoas (Brigada tinha conexões com outros, entre eles o Pozo de Banfield, e teve relevância na Operação
de Investigaciones de Condor. Funcionou entre 1975 e 1979 com diferentes funções de acordo com o período:
Quilmes)”, iniciada em
fevereiro de 2006; e a tortura, passagem prévia para o “traslado” ou a legalização da prisão. Estiveram presos nesse
Causa nº 40, que tramita CCD, aproximadamente, 278 pessoas, sendo que 80 estão desaparecidos. Por ali passaram
no mesmo Juzgado Federal
nº 3 de La Plata, Secretaria
pelo menos sete mulheres grávidas.
Especial, chamada “Von Seu caso está sendo investigado no âmbito da ação judicial conhecida como “Causa
Wernich, Cristian Federico Camps” (causa nº 1 da Secretaría Especial del Juzgado Federal nº 3 de La Plata)7, uma “me-
sobre privação ilegal da
libertade e torturas”, de gacausa” que nos anos 1980 investigou a atuação da Polícia da Província durante a ditadura.
2006. Iniciou-se pelo decreto 280/84 do Poder Executivo Nacional. Em 1987, ao sancionar-se a
lei de Obediência Devida, ficou paralisada, quando já estavam condenados os ex-chefes de
polícia Ramon Camps (25 anos) e Ovidio Pablo Riccheri (14 anos); o ex-diretor de investi-
Documentos consultados: gações Miguel Etchecolatz (23 anos); o ex-médico policial Jorge Bergés (6 anos) e o ex-cabo
Arquivos do EAAF/Buenos Aires, Norberto Cozzani (4 anos). Em março de 2004, com a nulidade a lei de Obediência Devida
Argentina.
Arquivo Nacional da Memória,
no Congresso, a Câmara Federal de Buenos Aires decidiu reabrir o expediente. A megacausa
Argentina. ficou nas mãos do juiz federal de La Plata Arnaldo Corazza, que, em setembro de 2004,
www.abuelas.org.ar/maternidades/ ordenou a detenção dos condenados. Houve desdobramentos e seguem as investigações
quilmes
http://www.angelfire.com/ak/josebea/ sobre outros processados.
aparecio.html Em sua homenagem, seu nome está inscrito no monumento do Parque da Memória,
http://www.memoriaabierta.org.ar/
em Buenos Aires, Argentina.
1979
Sylvio de Vasconcellos
Nasceu em 14 de outubro de 1916, em Belo Horizonte (MG), filho de Salomão Vascon-
cellos e Branca de Vasconcellos. Morto em 14 de março de 1979, no exílio, nos Estados Unidos.
Era casado com Gertrudes Vasconcellos, com quem tinha três filhas.
Em 1944, formou-se em arquitetura pela UFMG, e quatro anos depois ingressou na
mesma escola, onde concluiu, em 1952, o curso de Urbanismo.
Em 1953, passou a professor catedrático, mediante concurso, apresentando uma tese
sobre a arquitetura residencial de Ouro Preto (MG), tema sobre o qual possuía grandes conhe-
cimentos, pois, desde 1939, ocupava a direção do setor mineiro do Serviço de Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional.
Arquiteto, historiador, crítico de arte e de futebol, professor universitário, desenhista,
escritor, Sylvio de Vasconcellos escreveu sobre arquitetura brasileira e arte colonial. Teve arti-
gos publicados em diversas revistas e livros. Foi também cronista do jornal Estado de Minas,
para o qual escreveu durante anos seguidos.
Como arquiteto, realizou inúmeros projetos de casas e prédios residenciais, da capela do
Colégio Isabela Hendrix, da sede do Instituto Cultural Brasil-Estados Unidos, do prédio do
DCE da UFMG, do monumento a Aleijadinho, erguido em frente à Reitoria da UFMG, no
campus universitário da Pampulha.
Benedito Gonçalves
Guido Leão
Operário metalúrgico, morto em setembro de 1979, em Betim (MG), quando reali- Documentos consultados:
zava um piquete de greve em frente à Fiat Automóveis. www.desaparecidospoliticos.
org.br
Tentando fugir de uma investida da cavalaria da PM, armada de sabres, Guido foi Dossiê dos Mortos e
atropelado por um carro da polícia, morrendo em seguida. Desaparecidos Políticos a Partir
de 1964, op. cit.
Em sua homenagem, a cidade de Belo Horizonte (MG) deu o seu nome a uma rua Arquivos do IEVE/SP.
no bairro Serra Verde. DUARTE, Betinho. Rua Viva: o
Desenho da Utopia, op. cit.
Seu caso não foi apresentado à CEMDP, pois não foi possível localizar seus familiares.
O prof. Goffredo da Silva Telles Jr., um dos autores da “Carta aos Brasileiros”, discursa na tribuna do largo de São Francisco, 1977.
Manifestação estudantil em frente à Faculdade de Direto do Largo de São Francisco, São Paulo, abril de 1977.
Centro Sérgio
anistia ampla, geral e irrestrita era uma bandeira para a
sociedade e não apenas para as mulheres que já haviam
Buarque de
tomado a dianteira e se encontravam organizadas nos
movimentos femininos pela anistia. Estava mais do
Holanda/FPA
que na hora de agregar tantos outros grupos que aspi-
ravam às liberdades democráticas.
Ainda eram tempos de ditadura e toda essa movi- Cartazes do Comitê
mentação pela anistia exigia coragem e despojamento. Brasileiro pela Anistia,
final dos anos 1970.
A criação dos Comitês Brasileiros pela Anistia
(CBA) possibilitou a articulação desses vários grupos,
fortalecendo as ações políticas que se fizeram cada vez
mais freqüentes em 1978 e 1979.
No Rio de Janeiro, o CBA foi criado em fevereiro As principais conclusões do Congresso foram:
de 1978. Nessa ocasião, os presos políticos entraram 1. Promover uma campanha nacional para es-
em greve de fome exigindo o fim do isolamento de clarecer a situação dos mortos e desaparecidos, res-
dois presos políticos de Itamaracá (Pernambuco): Car- salvando que a lista apresentada até aquele momento
los Alberto Azevedo e Rholin Cavalcanti, e o movi- estava incompleta (havia, então, uma lista com 389
mento grevista foi vitorioso. nomes de mortos e desaparecidos políticos).
Em São Paulo, o Comitê Brasileiro pela Anistia 2. Publicar um dossiê com todas as denúncias
foi criado em maio de 1978. As reuniões ocorreram no trazidas ao Congresso.
Instituto Sedes Sapientiæ, com o apoio imprescindível 3. Rejeitar a Lei de Segurança Nacional e qual-
da Madre Cristina, e no Teatro Ruth Escobar, por ini- quer reforma nela.
ciativa dessa atriz. Foram realizadas também reuniões 4. Realizar jornadas nacionais pela anistia; con-
em casas de intelectuais e nos escritórios de advogados. cluí-las com uma semana nacional pela anistia que
A participação de familiares de presos políticos, profis- teria o 18 de abril como Dia Nacional de Luta pela
sionais liberais, artistas, estudantes e advogados de pre- Anistia.
sos políticos estava garantida em todas as reuniões. 5. Incentivar e criar condições para a implanta-
Na Bahia, as reuniões do CBA ocorreram ini- ção de núcleos setoriais e populares pela anistia.
cialmente na Associação de Sociólogos do Estado da 6. Denunciar coletivamente todas as violências
Bahia. e perseguições e solidarizar-se com todos os atingidos.
O primeiro encontro nacional dos movimentos 7. Homenagear os mortos pela repressão.
de Anistia deu-se em 1978, em Salvador (BA). Ali 8. Criar um organismo nacional, que coorde-
puderam redigir a Carta de Salvador, na qual as 17 nasse os movimentos pela anistia.
organizações presentes pugnavam por anistia ampla, 9. Elaborar um jornal pela anistia.
geral e irrestrita a todos os perseguidos e presos polí- 10. Dar assistência a todos os presos políticos e
ticos. Reivindicavam a “eliminação dos atos e leis de seus familiares.
exceção, o estabelecimento de leis e mecanismos de livre
representação e participação popular, fim radical e abso- Fontes consultadas:
luto das torturas, bem como a responsabilização crimi- Jornal Brasil Mulher, nº 14, novembro de 1978.
nal dos que a praticam”. MAUÉS, Flamarion; ABRAMO, Zilah W. (Org.). Pela
Democracia, contra o Arbítrio: a Oposição Democrática,
A Carta de Salvador convocou o 1º Congresso do Golpe de 1964 à Campanha das Diretas Já. São Paulo:
Nacional de Anistia, que ocorreu em novembro de Fundação Perseu Abramo, 2006. (Depoimentos de vários
1978, no Tuca, teatro da PUC/SP. ativistas da Anistia).
1 9 8 0
1 9 8 5
Passeata de mães e familiares de mortos e desaparecidos políticos no Centro de São Paulo (SP), em 22 de agosto de 1980.
1980
1982
1983
Nasceu em 5 de agosto de 1943 em Alagoa Grande (PB). Morta por um jagunço a man-
do de latifundiários da região, em 12 de agosto de 1983.
Filha mais nova de uma família de nove irmãos, trabalhadora rural, rendeira, presidente
do Sindicato de Trabalhadores Rurais de Alagoa Grande (PB), primeira mulher a ocupar um
cargo desse tipo no estado, foi uma das fundadoras do Centro de Educação e Cultura do
Trabalhador Rural, cuja finalidade é, até hoje, contribuir no processo de construção de um
modelo de desenvolvimento rural e urbano sustentável a partir do fortalecimento da agricul-
tura familiar.
Destacou-se pela defesa dos direitos dos trabalhadores sem terra, pelo registro em cartei-
ra dos trabalhadores, pela jornada de trabalho de oito horas, pelo 13° salário e férias, entre
outros direitos.
Em sua gestão de 12 anos foram movidas mais de 600 ações trabalhistas contra os usinei-
ros e senhores de engenho da região. Com o surgimento do Plano Nacional de Reforma
Agrária, os latifundiários intensificaram a violência no campo. Sua atuação no sindicato en-
trou em choque, portanto, com os fortes interesses econômicos do proprietário da maior
1985
Cláudia Linhares
Raimundo, Santa Isabel, Caçador, Oito Barracas e
na reserva dos índios Suruí. Seguiram para o ponto
final da viagem: Boa Vista. Antes passaram por Vila
Nova, local que o guerrilheiro Paulo Rodrigues aju- Escavação realizada em terras dos índios Suruís durante uma das
caravanas à região do Araguaia.
dou a fundar.
Ao retornarem, os familiares foram ao Con-
gresso Nacional, onde divulgaram uma nota rela- tando a viagem, protestaram contra as violências
cometidas pela repressão durante a guerrilha e soli-
citaram informações ao governo. Sua repercussão
foi muito limitada. A viagem indicou, porém, a ne-
cessidade de realizar uma pesquisa criteriosa. Os
testemunhos e as informações colhidos transforma-
ram-se em provas importantes na ação ordinária
iniciada pelos familiares em 1982, exigindo seu di-
reito à verdade e à localização dos restos mortais
dos guerrilheiros. Em 1991, 1993, 1996, 2001,
2004 e 2007, novas caravanas ocorreram, algumas
com ampla divulgação na mídia.
Marcelo Vigneron
Esse projeto de cremação dos cadáveres de indigen-
tes, do qual só se tem notícia por intermédio da me-
mória dos sepultadores, foi abandonado em 1976. As
Escavações na Vala de Perus, no Cemitério D. Bosco, em São Paulo,
ossadas exumadas das quadras 1 e 2, em 1975, foram setembro de 1990.
amontoadas no velório do cemitério e, em 1976, en-
terradas em uma vala clandestina.
A família dos irmãos Iuri e Alex de Paula Xavier terrado como Nelson Bueno. Esses dados levaram
Pereira, militantes da ALN assassinados em 1972, outros familiares a iniciarem suas buscas em cemité-
após diversas tentativas para encontrar seus restos rios com base nos nomes falsos utilizados por seus
mortais em cemitérios da cidade de São Paulo, desco- parentes na clandestinidade.
briu que Iuri estava enterrado no Cemitério de Perus, Em julho de 1979, a família de Flávio Carvalho
quando ocorreu o enterro de um tio seu nesse mesmo Molina, militante do Molipo assassinado em 7 de
cemitério em dezembro de 1973. Passado algum novembro de 1971, soube de sua morte mediante
tempo, a família mostrou ao administrador do cemi- documentos anexados a um processo na 2ª Audito-
tério uma notícia de jornal onde estava relatada a ria da Marinha, sem, no entanto, jamais ter recebido
morte de Alex e indicava o nome falso utilizado por alguma comunicação a esse respeito, mesmo que in-
ele durante a clandestinidade – João Maria de Freitas. formal. Na documentação, a Auditoria é informada
Assim, o administrador encontrou nos livros de regis- da morte de Flávio, cujo corpo havia sido enterrado
tro do cemitério uma pessoa enterrada com aquele como indigente no Cemitério Dom Bosco, em Pe-
nome. Essa descoberta despertou para o uso que os rus, com o nome falso de Álvaro Lopes Peralta. Seus
órgãos de repressão faziam das falsas identidades no familiares tentaram exumar seus restos mortais,
sepultamento de militantes políticos assassinados. quando descobriram que os mesmos já haviam sido
Em junho de 1979, a irmã de Iuri e Alex, Iara exumados em 1975 e reinumados em uma vala co-
Xavier Pereira, relatou essas informações aos fami- mum. Naquela ocasião, nada pôde ser feito em ra-
liares de mortos e desaparecidos políticos reunidos zão da repressão política vigente no país.
no III Encontro Nacional dos Movimentos de Anis- Em 1990, o repórter Caco Barcellos, investigan-
tia, no Rio de Janeiro. Imediatamente, alguns fami- do a violência policial em São Paulo, redescobre a
liares foram ao Cemitério de Perus e localizaram vala clandestina. Tal acontecimento alcançou grande
outros militantes mortos enterrados sob identidade repercussão na imprensa de todo o país, levando à
falsa, como Gelson Reicher, enterrado com o nome instauração da CPI sobre a Vala de Perus, em setem-
de Emiliano Sessa, e Luís Eurico Tejera Lisbôa, en- bro de 1990, na Câmara Municipal de São Paulo.
727
Divino Ferreira de Souza (Nunes) Desaparecido - 1973 Desaparecidos no Brasil 472
Divo Fernandes D’Oliveira Desaparecido - 1964/65 Caso novo 90
Djalma Maranhão Morto - 1971 Mortes no Exílio 263
Dorival Ferreira Morto - 1970 Mortes Oficiais 184
Durvalino Porfírio de Souza Desaparecido - 1973 Desaparecidos no Brasil 445
Edgar Aquino Duarte Desaparecido - 1973 Desaparecidos no Brasil 441
Edmur Péricles Camargo (Gauchão) Desaparecido - 1973 Desaparecidos no Brasil 524
Edson Luiz Lima Souto Morto - 1968 Mortes Oficiais 113
Edson Neves Quaresma Morto - 1970 Mortes Oficiais 209
Edu Barreto Leite Morto - 1964 Mortes Oficiais 73
Eduardo Antônio da Fonseca Morto - 1971 Mortes Oficiais 282
Eduardo Collen Leite (Bacuri) Morto - 1970 Mortes Oficiais 212
Eduardo Collier Filho Desaparecido - 1974 Desaparecidos no Brasil 539
Eduardo Gonzalo Escabosa Morto - 1980 Caso novo 711
Eiraldo Palha Freire Morto - 1970 Mortes Oficiais 200
Eliane Martins Morta - 1963 Caso novo 59
Elmo Corrêa (Lourival) Desaparecido - 1974 Desaparecidos no Brasil 575
Elson Costa Desaparecido - 1975 Desaparecidos no Brasil 607
Elvaristo Alves da Silva Morto - 1965 Caso novo 93
Emmanuel Bezerra dos Santos Morto - 1973 Mortes Oficiais 458
Enrique Ernesto Ruggia Desaparecido - 1974 Desaparecidos no Brasil 584
Epaminondas Gomes de Oliveira Morto - 1971 Caso novo 268
Eremias Delizoicov Morto - 1969 Mortes Oficiais 155
Esmeraldina Carvalho Cunha Morta - 1972 Caso novo 382
Eudaldo Gomes da Silva Morto - 1973 Mortes Oficiais 410
Evaldo Luiz Ferreira de Souza Morto - 1973 Mortes Oficiais 411
Ezequias Bezerra da Rocha Desaparecido - 1972 Desaparecidos no Brasil 333
Feliciano Eugênio Neto Morto - 1976 Caso novo 659
Félix Escobar Desaparecido - 1971 Desaparecidos no Brasil 284
Fernando Augusto da Fonseca Morto - 1972 Mortes Oficiais 391
Fernando Augusto de Santa Cruz Oliveira Desaparecido - 1974 Desaparecidos no Brasil 539
Fernando Borges de Paula Ferreira Morto - 1969 Mortes Oficiais 143
Fernando da Silva Lembo Morto - 1968 Mortes Oficiais 117
Flávio Carvalho Molina Morto - 1971 Mortes Oficiais 289
Francisco das Chagas Pereira Desaparecido - 1971 Caso novo 266
Francisco Emanoel Penteado Morto - 1973 Mortes Oficiais 424
Francisco José de Oliveira Morto - 1971 Mortes Oficiais 288
Francisco Manoel Chaves Desaparecido - 1972 Desaparecidos no Brasil 373
Francisco Seiko Okama Morto - 1973 Mortes Oficiais 425
Francisco Tenório Júnior Desaparecido - 1976 Desaparecidos no Exterior - Argentina 641
Frederico Eduardo Mayr Morto - 1972 Mortes Oficiais 323
Gastone Lúcia Carvalho Beltrão Morta - 1972 Mortes Oficiais 310
Gelson Reicher. Morto - 1972 Mortes Oficiais 307
Geraldo Bernardo da Silva Morto - 1969 Caso novo 142
Geraldo da Rocha Gualberto Morto - 1963 Caso novo 59
Gerardo Magela Fernandes Torres da Costa Morto - 1973 Caso novo 439
Gerosina Silva Pereira Morta - 1978 Mortes no Exílio 690
Gerson Theodoro de Oliveira Morto - 1971 Mortes Oficiais 235
Getúlio de Oliveira Cabral Morto - 1972 Mortes Oficiais 391
Gilberto Olímpio Maria (Pedro) Desaparecido - 1973 Desaparecidos no Brasil 513
Gildo Macedo Lacerda Morto - 1973 Mortes Oficiais 484
Gilson Miranda Morto - 1963 Caso novo 59
Grenaldo de Jesus da Silva Morto - 1972 Mortes Oficiais 346
Guido Leão Morto - 1979 Mortes Oficiais 693
Guilherme Gomes Lund (Luiz) Desaparecido - 1973 Desaparecidos no Brasil 514
Gustavo Buarque Schiller Morto - 1985 Caso novo 716
729
Joel José de Carvalho Desaparecido - 1974 Desaparecidos no Brasil 585
Joel Vasconcelos Santos Desaparecido - 1971 Desaparecidos no Brasil 263
Joelson Crispim Morto - 1970 Mortes Oficiais 187
Jonas José Albuquerque Barros Morto - 1964 Mortes Oficiais 66
Jorge Alberto Basso Desaparecido - 1976 Desaparecidos no Exterior - Argentina 651
Jorge Aprígio de Paula Morto - 1968 Mortes Oficiais 115
Jorge Leal Gonçalves Pereira Desaparecido - 1970 Desaparecidos no Brasil 204
Jorge Oscar Adur (Padre) Desaparecido - 1980 Desaparecidos no Brasil 709
José Bartolomeu Rodrigues de Souza Morto - 1972 Mortes Oficiais 392
José Campos Barreto (Zequinha) Morto - 1971 Mortes Oficiais 279
José Carlos da Costa Desaparecido - 1973 Caso novo 506
José Carlos Novaes da Mata Machado Morto - 1973 Mortes Oficiais 485
José Dalmo Guimarães Lins Morto - 1971 Caso novo 231
José de Lima Piauhy Dourado Desaparecido - 1974 Desaparecidos no Brasil 534
José de Oliveira Desaparecido - 1972 Caso novo 402
José de Souza Morto - 1964 Mortes Oficiais 75
José Ferreira de Almeida Morto - 1975 Mortes Oficiais 616
José Gomes Teixeira Morto - 1971 Mortes Oficiais 254
José Guimarães Morto - 1968 Mortes Oficiais 118
José Huberto Bronca (Fogoió, Ruivo, Zeca) Desaparecido - 1974 Desaparecidos no Brasil 544
José Idésio Brianezi Morto - 1970 Mortes Oficiais 185
José Inocêncio Barreto Morto - 1972 Mortes Oficiais 381
José Isabel do Nascimento Morto - 1963 Caso novo 59
José Júlio de Araújo Morto - 1972 Mortes Oficiais 364
José Lavecchia Desaparecido - 1974 Desaparecidos no Brasil 585
José Manoel da Silva Morto - 1973 Mortes Oficiais 412
José Maria Ferreira Araújo (Araribóia) Desaparecido - 1970 Desaparecidos no Brasil 202
José Maurílio Patrício (Manoel) Desaparecido - 1974 Desaparecidos no Brasil 596
José Maximino de Andrade Netto Morto - 1975 Outras Mortes 618
José Mendes de Sá Roriz Morto - 1973 Mortes Oficiais 420
José Milton Barbosa Morto - 1971 Mortes Oficiais 292
José Montenegro de Lima (Magrão) Desaparecido - 1975 Desaparecidos no Brasil 622
José Nobre Parente Morto - 1966 Caso novo 100
José Porfírio de Souza Desaparecido - 1973 Desaparecidos no Brasil 444
José Raimundo da Costa Morto - 1971 Mortes Oficiais 265
José Roberto Arantes de Almeida Morto - 1971 Mortes Oficiais 286
José Roberto Spiegner Morto - 1970 Mortes Oficiais 179
José Roman Desaparecido - 1974 Desaparecidos no Brasil 547
José Sabino Morto - 1966 Mortes Oficiais 99
José Silton Pinheiro Morto - 1972 Mortes Oficiais 392
José Soares dos Santos Morto - 1977 Mortes Oficiais 683
José Toledo de Oliveira (Vitor) Desaparecido - 1972 Desaparecidos no Brasil 373
José Wilson Lessa Sabbag Morto - 1969 Mortes Oficiais 146
Juan Antônio Carrasco Forrastal Morto - 1972 Caso novo 383
Juarez Guimarães de Brito Morto - 1970 Mortes Oficiais 186
Juarez Rodrigues Coelho Desaparecido - 1972 Caso novo 362
Juvelino Andrés Carneiro da Fontoura Gularte Desaparecido - 1977 Caso novo 686
Kleber Lemos da Silva (Kelé, Carlito) Desaparecido - 1972 Desaparecidos no Brasil 356
Labibe Elias Abduch Morta - 1964 Mortes Oficiais 69
Lauriberto José Reyes Morto - 1972 Mortes Oficiais 326
Leopoldo Chiapetti Morto - 1965 Caso novo 94
Líbero Giancarlo Castiglia (Joca) Desaparecido - 1973 Desaparecidos no Brasil 520
Lígia Maria Salgado Nóbrega Morta - 1972 Mortes Oficiais 336
Liliana Ines Goldenberg Morta - 1980 Caso novo 712
Lincoln Bicalho Roque Morto - 1973 Mortes Oficiais 421
Lincoln Cordeiro Oest Morto - 1972 Mortes Oficiais 390
731
Mário de Souza Prata Morto - 1971 Mortes Oficiais 237
Massafumi Yoshinaga Desaparecido - 1976 Caso novo 655
Maurício Grabois (Velho Mário) Desaparecido - 1973 Desaparecidos no Brasil 514
Maurício Guilherme da Silveira Morto - 1971 Mortes Oficiais 235
Merival Araújo Morto - 1973 Mortes Oficiais 435
Miguel Pereira dos Santos (Cazuza) Desaparecido - 1972 Desaparecidos no Brasil 371
Miguel Sabat Nuet Desaparecido - 1973 Caso novo 498
Milton Soares de Castro Morto - 1967 Mortes Oficiais 107
Míriam Lopes Verbena Morto - 1972 Mortes Oficiais 330
Mônica Suzana Pinus de Binstock Desaparecida - 1980 Caso novo 704
Napoleão Felipe Biscaldi Morto - 1972 Caso novo 327
Nativo Natividade de Oliveira Morto - 1985 Mortes Oficiais 717
Neide Alves dos Santos Morto - 1976 Caso novo 635
Nelson de Souza Kohl Desaparecido - 1973 Desaparecidos no Exterior - Chile 465
Nelson José de Almeida Morto - 1969 Mortes Oficiais 136
Nelson Lima Piauhy Dourado (Nelito) Desaparecido - 1974 Desaparecidos no Brasil 529
Nestor Vera Desaparecido - 1975 Desaparecidos no Brasil 613
Newton Eduardo de Oliveira Morto - 1964 Outras Mortes 85
Nilda Carvalho Cunha Morto - 1971 Mortes Oficiais 291
Nilton Rosa da Silva (Bonito) Morto - 1973 Mortes no Exílio 439
Norberto Armando Habegger Desaparecido - 1978 Desaparecidos no Brasil 688
Norberto Nehring Morto - 1970 Mortes Oficiais 189
Odijas Carvalho de Souza Morto - 1971 Mortes Oficiais 230
Olavo Hansen Morto - 1970 Mortes Oficiais 192
Onofre Ilha Dornelles Morto - 1964 Caso novo 89
Onofre Pinto Desaparecido - 1974 Desaparecidos no Brasil 586
Orlando Bomfim Júnior Desaparecido - 1975 Desaparecidos no Brasil 624
Orlando Momente (Landinho) Desaparecido - 1974 Desaparecidos no Brasil 602
Ornalino Cândido da Silva Morto - 1968 Mortes Oficiais 116
Orocílio Martins Gonçalves Morto - 1979 Mortes Oficiais 692
Osvaldo Orlando da Costa (Osvaldão) Desaparecido - 1974 Desaparecidos no Brasil 572
Otávio Soares Ferreira da Cunha Morto - 1964 Caso novo 64
Otoniel Campos Barreto Morto - 1971 Mortes Oficiais 274
Paschoal Souza Lima Morto - 1964 Caso novo 63
Pauline Reichstul Morta - 1973 Mortes Oficiais 412
Paulo César Botelho Massa Desaparecido - 1972 Desaparecidos no Brasil 314
Paulo Costa Ribeiro Bastos Desaparecido - 1972 Desaparecidos no Brasil 357
Paulo de Tarso Celestino da Silva Desaparecido - 1971 Desaparecidos no Brasil 257
Paulo Guerra Tavares Morto - 1972 Caso novo 345
Paulo Mendes Rodrigues Desaparecido - 1973 Desaparecidos no Brasil 517
Paulo Roberto Pereira Marques (Amauri) Desaparecido - 1973 Desaparecidos no Brasil 522
Paulo Stuart Wrigth Desaparecido - 1973 Desaparecidos no Brasil 456
Paulo Torres Gonçalves Desaparecido - 1969 Caso novo 135
Pedro Alexandrino de Oliveira Filho (Peri) Desaparecido - 1974 Desaparecidos no Brasil 589
Pedro Carretel Desaparecido - 1974 Desaparecidos no Brasil 529
Pedro Domiense de Oliveira Morto - 1964 Caso novo 77
Pedro Inácio de Araújo (Pedro Fazendeiro) Desaparecido - 1964 Desaparecidos no Brasil 86
Pedro Jerônimo de Sousa Morto - 1975 Mortes Oficiais 621
Pedro Ventura Felipe de Araújo Pomar Morto - 1976 Mortes Oficiais 671
Péricles Gusmão Régis Morto - 1964 Caso novo 81
Raimundo Eduardo da Silva Morto - 1971 Mortes Oficiais 220
Raimundo Ferreira Lima Morto - 1980 Mortes Oficiais 708
Raimundo Gonçalves Figueiredo Morto - 1971 Mortes Oficiais 244
Raimundo Nonato Paz (Nicolau 21) Morto - 1971 Mortes Oficiais 219
Ramires Maranhão do Valle Desaparecido - 1973 Desaparecidos no Brasil 480
Ranúsia Alves Rodrigues Morta - 1973 Mortes Oficiais 481
ABC Região das cidades de Santo André, São Bernardo do Campo e São Caetano do Sul (SP)
ABI Associação Brasileira de Imprensa
Abin Agência Brasileira de Inteligência
ACA Associação Cristã de Acadêmicos
ACNUR Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados
AI Ato Institucional
ALN Ação Libertadora Nacional
AMES/RJ Associação Municipal dos Estudantes Secundaristas/RJ
ANL Aliança Nacional Libertadora
AP Ação Popular
APML Ação Popular Marxista-Leninista
APRA Aliança Popular Revolucionária Americana
Arena Aliança Renovadora Nacional
BBC British Broadcasting Corporation (emissora de rádio e TV inglesa)
BC Batalhão de Caçadores
Bda Inf. Brigada de Infantaria
BIM Batalhão de Infantaria Motorizada
BIS Batalhão de Infantaria da Selva
BM/RS Brigada Militar/RS
BNM Brasil Nunca Mais
BO Boletim de Ocorrência
BPE Batalhão da Polícia do Exército
BPM Batalhão da Polícia Militar
CAAP Centro Acadêmico Afonso Pena
CACO Centro Acadêmico Cândido de Oliveira
CAM-DEP Câmara dos Deputados
Camde Campanha da Mulher pela Democracia
CAOC Centro Acadêmico Osvaldo Cruz
CBA Comitê Brasileiro pela Anistia
CBS Comitê Brasileiro de Solidariedade
CBV Companhia Brasileira de Vagões
CC Comitê Central
CCC Comando de Caça aos Comunistas
CCD Centro de Detención Clandestino (Argentina)
CCPL Cooperativa Central dos Produtores de Leite
CDDPH Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana
CDHMP Centro de Direitos Humanos e Memória Popular
CEF Caixa Econômica Federal
CELS Centro de Estudios Legales y Sociales
CEMDP Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos
Cemig Centrais Elétricas de Minas Gerais
Cenimar Centro de Informações da Marinha
Cepal Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe
CGI Comissão Geral de Investigações
CGT Comando Geral dos Trabalhadores
CIA Central Intelligence Agency (Estados Unidos da América)
CIDH Comissão Interamericana de Direitos Humanos
CIE Centro de Informações do Exército
CIEM Centro Integrado de Ensino Médio
CIEx Centro de Informações do Exterior (Ministério de Exterior)
Cimi Conselho Indigenista Missionário
Ciop Centro Integrado de Operações
CISA Centro de Informações de Segurança da Aeronáutica
CJM Circunscrição da Justiça Militar
CJP Comissão Justiça e Paz
CM Comissão Militar
CMP Comando Militar do Planalto
CNBB Conferência Nacional dos Bispos do Brasil
CNEC Campanha Nacional de Escolas da Comunidade
735
GTNM Grupo Tortura Nunca Mais
HCE Hospital Central do Exército
HDB/DF Hospital Distrital de Base/DF
HGE Hospital Geral do Exército
IAPC Instituto de Aposentadorias e Pensões dos Comerciários
IAPETC Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Empregados em Transporte e Cargas
IBAD Instituto Brasileiro de Ação Democrática
ICE/RJ Instituto de Carlos Eboli/RJ
IEVE/SP Instituto de Estudos sobre a Violência do Estado/SP
IFP Instituto Félix Pacheco
IML Instituto Médico Legal
INCRA Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária
IPES Instituto de Pesquisa e Estudos Sociais
IPM Inquérito Policial Militar
IPT Instituto de Polícia Técnica
JEC Juventude Estudantil Católica
JSM Junta do Serviço Militar
JUC Juventude Universitária Católica
LBA Legião Brasileira de Assistência
LSN Lei de Segurança Nacional
M3G Marx, Mao, Marighella e Guevara
MAR Movimento de Ação Revolucionária
MASP Museu de Arte de São Paulo
MDB Movimento Democrático Brasileiro
MEB Movimento de Educação de Base
MEC Ministério da Educação e Cultura
MIR Movimiento de Izquierda Revolucionario (Chile)
MNR Movimento Nacionalista Revolucionário
Molipo Movimento de Libertação Popular
MPF Ministério Público Federal
MR-8 Movimento Revolucionário 8 de Outubro
MR-26 Movimento Revolucionário 26 de Março
MRE Ministério de Relações Exteriores
MRT Movimento Revolucionário dos Trabalhadores
MTR Movimento Trabalhista Renovador
NML Núcleo Marxista-Leninista
OAB Ordem dos Advogados do Brasil
Oban Operação Bandeirante
OEA Organização dos Estados Americanos
OIT Organização Internacional do Trabalho
OLAS Organização Latino-Americana de Solidariedade
OLP Organização de Libertação da Palestina
ONU Organização das Nações Unidas
PB Pedido de Busca
PCB Partido Comunista Brasileiro
PCBR Partido Comunista Brasileiro Revolucionário
PCdoB Partido Comunista do Brasil
PCR Partido Comunista Revolucionário
PCUS Partido Comunista da União Soviética
PE Polícia do Exército
PECDH Programa Especial de Cidadania e Direitos Humanos
PF Polícia Federal
PG Prisioneiros de Guerra
PIC Pelotão de Investigações Criminais (do Exército)
PM Polícia Militar
PMDB Partido do Movimento Democrático Brasileiro
POC Partido Operário Comunista
Polop Política Operária
Port Partido Operário Revolucionário (Trotskista)
PPS Problemas da Paz e do Socialismo
Pqds Pára-Quedistas
Procon Fundação de Proteção e Defesa do Consumidor
PRT Partido Revolucionário dos Trabalhadores
PSB Partido Socialista Brasileiro
PSD Partido Social Democrático
PSP Partido Social Progressista
PST Partido Social Trabalhista
PT Partido dos Trabalhadores
739
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741
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Documentos militares
Arquivo do antigo DOPS/SP. Doc. 50-Z-9-40916.
Arquivo do antigo DOPS/SP. Doc. do II Exército. Dados pessoais de Cilon da Cunha Brun e fotografia de rosto. Informa que o
mesmo fez treinamento de guerrilha na região de Marabá, residindo em um “aparelho” em Gameleira.
Boletins Informativos do Exército.
Cenimar. Doc. nº 0189, 23/7/1970.
Cenimar. Doc. n° 0396, 13/7/70.
Cenimar. Doc. n° 1369, 21/12/70.
CIEx. Doc. nº 638.
CISA. Inf. n° 160, 6/10/71.
CISA. Doc. n° 407, 2/7/71.
Departamento de Polícia Federal. Centro de Informações. Inf. n° 4.276/72, 29/12/72.
Doc. dos Fuzileiros Navais. Carta de instrução nº 01/72. Assinada pelo comandante Uriburu.
DOI-CODI, I Exército. Interrogatório n° 63, 15/3/71, p. 42.1808 -3.
DOI-CODI, I Exército. Interrogatório n° 65, 19/3/71, p. 42.808 -5.
DOPS/PB. Prontuário de Armando Teixeira Frutuosos.
DOPS/PB. Prontuário de Eduardo Collier Filho.
DOPS/PB. Prontuário de Hiram de Lima Pereira.
DOPS/PB. Prontuário de Honestino Monteiro Guimarães.
DOPS/PB. Prontuário de Humberto Albuquerque Câmara Neto.
DOPS/PB. Prontuário de Isis Dias de Oliveira.
DOPS/PE. Comunicado n° 112.
DOPS/PE. Prontuário de Fernando Augusto Valente da Fonseca.
DOPS/PE. Prontuário de Getúlio D’Oliveira Cabral.
DOPS/PE. Prontuário de José Bartolomeu Rodrigues de Souza.
DOPS/PE. Prontuário de José Silton Pinheiro.
DOPS/PE. Prontuário de Ranúsia Alves Rodrigues.
DOPS/PR. Encaminhamento n° 087/72, CO/DR/PR. Origem CIE/ADF.
DOPS/PR. Informações da Cia. PE sobre José Idésio Brianesi.
DOPS/PR. Prontuário de Valdir Sales Sabóia.
DOPS/RJ. Doc.nº 203/187, 16/9/74.
DOPS/RJ. Prontuário de Ivan Mota Dias.
DOPS/RJ. Prontuário de José Raimundo da Costa.
DOPS/RJ. Prontuário de Lincoln Bicalho Roque.
DOPS/RJ. Prontuário de Mário de Souza Prata.
DOPS/RJ. Registro nº 681/72, 9/6/72. Aditamento ao registro n° 207/72. Sindicância n° 15/72.
DOPS/SP. Doc. n° 30-Z-162-37.
DOPS/SP. Doc. n° 30-Z-165-118.
DOPS/SP. Doc. n° 52-Z-38-270.
DOPS/SP. Doc. nos 15 662 a 15 664. Pasta 30-Z-160.
DOPS/SP. Doc. da Secretaria Estadual dos Negócios da Segurança Pública/Polícia Civil de SP. Divisão de Informações CPI,
DOPS, s/d.
DOPS/SP. Doc. s/n°, 4/11/75.
DOPS/SP. Doc. s/n°, 28/4/76.
DOPS/SP. Doc. “Confidencial” sobre Manuel Fiel Filho.
DOPS/SP. Ficha de Aldo de Sá Brito de Souza Neto.
DOPS/SP. Ficha de Ana Rosa Kucinski Silva.
DOPS/SP. Ficha de Fernando Santa Cruz Oliveira.
DOPS/SP. Ficha de Joaquim Câmara Ferreira.
DOPS/SP. Prontuário de João Massena Melo. Polícia Militar do Estado da Guanabara. Serviço de Informações do Estado
Maior da PM/2, 17/3/71.
DOPS/SP. Prontuário de Olavo Hansen.
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CASO Emperrado. Veja, São Paulo, 11/2/1987.
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CASTRO, Moacir Werneck de. Um etranho depoimento. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 31/5/1986.
CASTRO, Tamar. Seu filho está sendo morto agora. Folha de S.Paulo, São Paulo, 2/9/1979.
CHILE Fornece Pista de Desaparecidos. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 7/6/1993.
COMISSÃO Acha nos Arquivos do DOPS Foto de Sônia Jones. O Globo, Rio de Janeiro, p. 8, 19/3/1992.
COMISSÃO Acha Ossada no Pará. O Globo, Rio de Janeiro, p. 2, 2/2/1993.
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CORAÇÃO Trai Capivara a Dois Meses da Liberdade. Diário da Noite, 24/8/1971.
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DENUNCIAN la Desaparición de un Exiliado Brasileño. Noticias, Argentina, 9/12/ 1973.
DESAPARECIDOS: Familiares Aguardam Sentença. O São Paulo, São Paulo, 18-24/10/1985.
DESAPARECIDOS: uma Tragédia Brasileira. Reportagem de Hélio Contreiras, Kátia Pompeu, Fábio Antônio (RJ), Elsie Rotem-
berg (SP), Antenor Barreto (BA). Manchete, Rio de Janeiro, n. 1905, 22/10/1988.
DESAPARECIÓ un Exiliado. El Mundo, Argentina, 11/12/1973.
DESARTICULADO o Comitê Central: mortos chefes do Partido Comunista. O Dia, 6/1/1973.
DIAS, Etevaldo; BRASILIENSE, Ronaldo. Família de Grabois quer que Exército devolva corpo. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro,
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EU, Capitão Ramiro, Interroguei Herzog. IstoÉ?Senhor, n. 1173, p. 20-27, 25/3/1992.
EXÉRCITO Atacou Igreja após Vencer a Luta no Araguaia. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 23/3/1992. 1° caderno, p. 4.
EXÉRCITO Confirma Ação Anti-Guerrilha no Araguaia. O Globo, Rio de Janeiro, 19/12/1992.
EXÉRCITO Registrou Mortes de Guerrilheiros. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, p. 18, 7/6/1992.
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FOLHA de S.Paulo. Capa, 1ºcaderno, p. 14-15. Inteligência militar: documentos secretos indicam que militares enterraram cor-
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Exército diz que mantém termos de nota anterior. Da Sucursal de Brasília, DF; Guerrilha no Araguaia ocorreu de 1972 a
1974. Da redação; No Planalto: ofício de general injeta eletricidade numa atmosfera já carregada. Artigo de Josias de Souza;
Inteligência, um erro de origem. Artigo de Eliane Cantanhêde. São Paulo, 19/8/2001.
FOLHA de S.Paulo. Coronel diz que corpos foram queimados. Artigo de Victor Ramos. São Paulo, p. A5, 7/3/2004.
FOLHA de S.Paulo. Localização dos corpos poderá demorar muito. Artigo de José Eduardo Rondon. São Paulo, p. A5,
7/3/2004.
FOLHA de S.Paulo. Regime militar: Em depoimento, ex-soldado diz que antes de ir para combate tropa aprendia técnicas de
tortura em Marabá. Ex-militar confirma que guerrilheiros foram executados. Artigo de José Eduardo Rondon. São Paulo,
p. A6, 7/3/2004.
FOLHA de S.Paulo. Tenente-coronel diz que troca de covas visava evitar peregrinação. Exército transferiu os corpos de guerrilhei-
ros do Araguaia”. Artigo de Andréa Michael. São Paulo, p. A4, 7/3/2004.
GAMA, Rinaldo. Eu vi os corpos queimados. Veja, São Paulo, Ed. Abril, n. 1309, p. 16-28, 3/10/1993.
GAROTO Procura Foto do Pai no Arquivo do DOPS. Folha de S.Paulo, São Paulo, 21/1/1992. 1° caderno p. 4.
GODOY, Marcelo. General admite que Brasil prendeu estrangeiros na Operação Condor. O Estado de S. Paulo, São Paulo,
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GOMIDE, Raphael. UNE é debatida em ato para Édson Luiz. Folha de S. Paulo, São Paulo, 29/3/2008.
GREENWOOD, Leonard. U.N. Probing Alleged Kidnaping of Brazilians. The Times, s/d.
745
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POLÍCIA Efetua Mais Prisões de Comunistas e Prossegue à Procura dos que Escaparam. A Província do Pará, Belém, s/d.
POLÍCIA Especula Mas Nada Sabe Ainda sobre os Casais Executados em Jacarepaguá. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro,
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POLÍCIA Mata Estudante a Tiros e Ataca Hospital das Clínicas. Correio da Manhã, Rio de Janeiro, 23/10/1968.
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PORTELA, Fernando. Guerra de guerrilhas: carta da guerrilha. Jornal da Tarde, São Paulo, p.14-15, 17/1/1979.
PORTELA, Fernando. Guerra de guerrilhas: era um mau momento para a luta”. Jornal da Tarde, São Paulo, p. 11, 18/1/1979.
PORTELA, Fernando. Guerra de guerrilhas: ficou o medo. Jornal da Tarde, São Paulo, p. 1-3, 20/1/1979.
PORTELA, Fernando. Guerra de guerrilhas: guerrilheiro. Jornal da Tarde, São Paulo, p. 12-14, 16/1/1979.
PORTELA, Fernando. Guerra de guerrilhas: quando cheguei, o negócio fervia. Jornal da Tarde, São Paulo, p. 14, 30, 15/1/1979.
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SUICÍDIO do Funcionário Que Era Interrogado no IPM. O Globo, Rio de Janeiro,18/8/1964.
TERRORISTA Assassino Foi Morto ao Resistir à Prisão. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 4/6/1971.
TERRORISTA Assassino Foi Morto ao Resistir à Prisão. O Globo, Rio de Janeiro, 4/6/1971.
TERRORISTA é Morto em Tiroteio na Guanabara. Jornal da Tarde, São Paulo, 18/4/1972.
TERRORISTA Morre em Pernambuco. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 1/7/1971.
TERRORISTAS Reage à Prisão e é Morto a Tiros na Rua. O Globo, Rio de Janeiro, 22/3/1973.
TERRORISTAS Morrem em Quintino. Correio da Manhã, 6/4/1972.
TERRORISTAS Morrem em Tiroteio com as Forças de Segurança”. O Globo, Rio de Janeiro, 17/11/1973
TERRORISTAS Morrem em Tiroteio: Quintino”. Correio da Manhã, 6/4/1972.
TERRORISTAS São Mortos em Tiroteio, Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 17/11/1973.
Tortura em Julgamento. Afinal, 21/5/85, ano I, n. 38, p. 4-21.
TRF Apoia Pretensões de Familiares de Desaparecidos. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, p. 5, 18/8/1993.
TRF Determina Abertura de Arquivo sobre Guerrilha. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 18/8/1993, p. 11.
TRF manda abrir arquivos da guerrilha do Araguaia. O Globo, Rio de Janeiro, 18/8/1993.
Audiovisual
GLOBO Repórter: Vala clandestina de Perus. Apresentação Caco Barcellos. TV Globo, 1995 (gravado em setembro de 1990).
Sítios na internet
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www.cptnac.com.br/?system=news&action=read&id=1499&eid=167
www.derechos.org/nizkor/arg/doc/nicolaides.html
www.desaparecidos.org
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www.desaparecidos.org/arg/victimas/listas/fadu-uba.html
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www.desaparecidos.org/GrupoF/des/d.htm
www.desaparecidos.org/notas/2007/09/homenaje-a-losdetenidosdesapa.html
www.desaparecidospoliticos.org.br
www.dhnet.com.br
www.fpa.org.br
www.juristas.com.br
www.madres.org
www.madresfundadoras.org.ar
www.memoriaabierta.org.ar
www.mj.gov.br
www.nodo50.org/foroporlamemoria
www.nuncamas.org
www.nuncamas.org/juicios/argentin/capital/1ercpo/ resoluc/1ercpo_27abr04.htm
www.oas.org
www.ohchr.org
www.pasquim.com.br
www.pontodevista.jor.br
www.puntofinal.cl/651/Janevanini.htm
www.purochile.org/rettig42.htm
www.pvp.org.uy/oliveracondor.htm
www.rrojasdatabank.org/condor2.htm
www.terra.cl/actualidad/ index.cfm?id_cat=302&id_ reg=1047657
www.villagrimaldicorp.cl
www-old.unlp.edu.ar/
749
óbito de que trata o art. 3º, contado o prazo de cento e somente no efeito devolutivo.
vinte dias, a partir da ciência da decisão deferitória. Art. 15 As despesas decorrentes da aplicação desta Lei cor-
Art. 8º A Comissão Especial, no prazo de cento e vinte rerão à conta de dotações consignadas no orçamento da
dias de sua instalação, mediante solicitação expressa de União pela Lei Orçamentária.
qualquer das pessoas mencionadas no art. 3º, e concluindo Art. 16 Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
pela existência de indícios suficientes, poderá diligenciar
no sentido da localização dos restos mortais do desapare- Brasilia, 4 de dezembro de 1995, 174º da Independência e
cido. 107º da República.
Art. 9º Para os fins previstos nos arts. 4º e 7º, a Comissão
Especial poderá solicitar: FERNANDO HENRIQUE CARDOSO
I – documentos de qualquer órgão público; Nelson A. Jobim
II – a realização de perícias;
III – a colaboração de testemunhas; e Anexo 1
IV – a intermediação do Ministério das Relações Exteriores
para a obtenção de informações junto a governos e a I - Nomes de Pessoas Desaparecidas (com a época do
entidades estrangeiras. desaparecimento)
Art. 10º A indenização prevista nesta Lei é deferida às pes- 1 - Adriano Fonseca Filho, brasileiro, solteiro, nascido em
soas abaixo indicadas, na seguinte ordem: 18 de dezembro de 1945 em Ponte Nova, Minas Gerais,
I – ao cônjuge; filho de Adriano Fonseca e Zely Eustáquio Fonseca. (1973)
II – ao companheiro ou companheira, definidos pela Lei - 2 - Aluisio Palhano Pedreira Ferreira, brasileiro, casado,
nº 8.971, de 29 de dezembro de 1994; nascido em 5 de setembro de 1922 em Pirujuí, filho de
III – aos descendentes; Henrique Palhano Pedreira Ferreira e Henise Palhano
IV – aos ascendentes; Pedreira Ferreira. (1971) - 3 - Ana Rosa Kucinski Silva,
V – aos colaterais, até o quarto grau. brasileira, casada, nascida em 12 de janeiro de 1942 em
§ 1º O pedido de indenização poderá ser formulado até São Paulo - SP, filha de Majer Kucinski e Ester Kucinski.
cento e vinte dias a contar da publicação desta Lei. (1974) - 4 - André Grabois, brasileiro, nascido em 3 de
No caso de reconhecimento pela Comissão Espe- julho de 1946 no Rio de Janeiro - RJ, filho de Maurício
cial, o prazo se conta da data do reconhecimento. Grabois e de Alzira da Costa Reis. (1973) - 5 - Antonio
§ 2º Havendo acordo entre as pessoas nominadas no caput Alfredo Campos, brasileiro, casado. (1973) - 6 - Antônio
deste artigo, a indenização poderá ser requerida inde- Carlos Monteiro Teixeira, brasileiro, casado, nascido em
pendentemente da ordem nele prevista. 22 de agosto de 1944 em Ilhéus - BA, filho de Gessori da
§ 3º Reconhecida a morte, nos termos da alínea b do inciso Silva Teixeira e de Maria Luiza Monteiro Teixeira. (1972)
I do Art. 4º, poderão as pessoas mencionadas no caput, - 7 - Antonio de Padua Costa, brasileiro, solteiro, nascido
na mesma ordem e condições, requerer à Comissão Es- em 12 de junho de 1943 no Piauí, filho de João Lino da
pecial a indenização. Costa e de Maria Jardililna da Costa. (1974) - 8 - Antonio
Art. 11 A indenização, a título reparatório, consistirá no dos Treis Reis de Oliveira, brasileiro, solteiro, nascido em
pagamento de valor único igual a R$ 3.000,00 (três mil 19 de novembro de 1948 em Tiros - MG, filho de Argum
reais) multiplicado pelo número de anos correspondentes de Oliveira e de Gláucia Maria de Oliveira. (1970) - 9 -
à expectativa de sobrevivência do desaparecido levando-se Antonio Guilherme Ribeiro Ribas, brasileiro, solteiro,
em consideração a idade à época do desaparecimento e os nascido em 20 de setembro de 1946 em São Paulo - SP,
critérios e valores traduzidos na tabela constante do Anexo filho de Walter Pinto Ribas e de Benedita de Araújo Ribas.
II desta Lei. (1973) - 10 - Antônio Joaquim de Souza Machado,
§ 1º Em nenhuma hipótese o valor da indenização será brasileiro, solteiro, nascido em 13 de setembro de 1939 em
inferior a R$ 100.000,00 (cem mil reais). Papagaios - MG, filho de Joaquim Maria de Souza Machado
§ 2º A indenização será concedida mediante decreto do e de Maria de Oliveira Campos, morador do Rio de Janeiro.
Presidente da República, após parecer favorável da Co- (1971) - 11 - Antonio Teodoro de Castro, brasileiro,
missão Especial criada por esta Lei. solteiro, nascido em 12 de abril de 1945 em Itapipoca -
CE, filho de Raimundo de Castro Sobrinho e de Benedita
Art. 12 No caso de localização, com vida, de pessoa de- Pinto de Castro. (1973) - 12 - Arildo Valadão, brasileiro,
saparecida, ou de existência de provas contrárias às apre- casado, nascido em 28 de dezembro de 1948 em Itaici -
sentadas, serão revogados os respectivos atos decorrentes ES, filho de Altivo Valadão de Andrade e de Helena
da aplicação desta Lei, não cabendo ação regressiva para o Almochidice Valadão. (1973) - 13 - Armando Teixeira
ressarcimento do pagamento já efetuado, salvo na hipótese Frutuoso, brasileiro, casado, nascido em 20 de maio de
de comprovada má-fé. 1921 na cidade do Rio de Janeiro - RJ, filho de Anibal
Art. 13 Finda a apreciação dos requerimentos, a Comissão Teixeira Frutuoso e de Maria da Glória Frutuoso. (1975) -
Especial elaborará relatório circunstanciado, que encami- 14 - Áurea Eliza Pereira, brasileira, casada, nascida em 6 de
nhará, para publicação, ao Presidente da República, e en- abril de 1950 em Monte Belo - MG, filha de José Pereira e
cerrará seus trabalhos. de Odila Mendes Pereira. (1974) - 15 - Aylton Adalberto
Parágrafo único. Enquanto durarem seus trabalhos, a Co- Mortati, brasileiro, solteiro, nascido em 13 de janeiro de
missão Especial deverá apresentar trimestralmente re- 1946 em Catanduva - SP, filho de Umberto Mortati e de
latórios de avaliação. Carmem Sobrinho Martins. (1971) - 16 - Bergson Gurjão
Art. 14 Nas ações judiciais indenizatórias fundadas em Farias, brasileiro, solteiro, nascido em 17 de maio de 1947
fatos decorrentes da situação política mencionada no art. em Fortaleza - CE, filho de Gessiner Farias e de Luiza
1º, os recursos das sentenças condenatórias serão recebidos Gurjão Farias. (1972) - 17 - Caiuby Alves de Castro,
751
1941 em São Leopoldo - RS, filho de Idelfonso Haas e de Maranhão e de Maria Salmé Maranhão. (1974) - 86 - Luiz
Ilma Haas. (1972) - 62 - João Gualberto Calatrone, Almeida Araújo, brasileiro, nascido, em 27 de agosto de
brasileiro, nascido em 7 de janeiro de 1951 em Nova 1943 em Anadia - AL, filho de João Rodrigues de Araújo e
Venecia - ES, filho de Clotildio Calatrone e de Osoria de Maria José Mendes de Almeida. (1971) - 87 - Luiz Renê
Calatrone. (1974) - 63 - João Leonardo da Silva Rocha, Silveira e Silva, brasileiro, solteiro, nascido em 15 de julho
brasileiro, nascido em Salvador - BA, filho de Mario Rocha de 1951 no Rio de Janeiro - RJ, filho de René de Oliveira
e de Maria Natalia da Silva Rocha. (1974) - 64 - João e Silva e de Lufita Silveira e Silva. (1974) - 88 - Luiz Vieira
Massena Melo, brasileiro, casado, nascido em 18 de agosto de Almeida, brasileiro, casado, com um filho, morava em
de 1919 em Palmares – PE, filho de Sebastião Massena Bacaba. (1973) - 89 - Luíza Augusta Garlippe, brasileira,
Melo e de Olímpia Melo Maciel. (1974) - 65 - Joaquim solteira, nascida em 16 de outubro de 1941 em Araraquara
Pires Cerveira, brasileiro, casado, nascido em 14 de - SP, filha de Armando Garlippe e de Durvalina Santomo.
dezembro de 1923, em Santa Maria - RS, filho de Marcelo (1974) - 90 - Manoel Alexandrino, brasileiro, nascido na
Pires e de Auricela Goulart Cerveira. (1973) - 66 - Joel José Paraíba, morava no Engenho de Maraú. (1974) - 91 -
de Carvalho, brasileiro, solteiro, nascido em 13 de julho de Manuel José Nurchis, brasileiro, nascido em 19 de
1948 em Muriaé - MG, filho de Ely José de Carvalho e de dezembro de 1940 em São Paulo - SP, filho de José
Esther José de Carvalho. (1974) - 67 - Joel Vasconcelos Francisco Nurchis e de Rosalina Carvalho Nurchis. (1972)
Santos, brasileiro, solteiro, nascido em 9 de agosto de 1949 - 92 - Márcio Beck Machado, brasileiro, nascido em 14 de
em Nazaré - BA, filho de João Vicente Vasconcelos Santos dezembro de 1943 em São Paulo - SP, filho de Otávio
e de Elza Joana dos Santos. (1973) - 68 - Jorge Leal Menezes Machado e de Edria Beck Machado. (1973) - 93
Gonçalves Pereira, brasileiro, nascido em 25 de dezembro - Marco Antônio Dias Batista, brasileiro, solteiro, nascido
de 1938 em Salvador - BA, filho de Enéas Gonçalves em 7 de agosto de 1954 em Sorocaba - SP, filho de
Pereira e de Rosa Leal Gonçalves Pereira. (1970) - 69 - Waldomiro Dias Batista e de Maria de Campos Batista.
Jorge Oscar Adur (padre), argentino, nascido em Nogoya, (1970) - 94 - Marcos José de Lima, brasileiro, nascido no
província de Entrerios. (1978) - 70 - José Huberto Bronca, Espírito Santo, ferreiro. (1973) - 95 - Maria Augusta
brasileiro, nascido em 8 de setembro de 1934 em Porto Thomaz, brasileira, solteira, nascida em 14 de novembro
Alegre - RS, filho de Huberto Atteo Branco e de Ermelinda de 1947 em Leme - SP, filha de Aniz Thomaz e de Olga
Mazaferro Bronca. (1974) - 71 - José Lavechia, brasileiro, Michael Thomaz. (1973) - 96 - Maria Célia Corrêa,
nascido em 25 de maio de 1919 em São Paulo - SP, filho de brasileira, nascida em 30 de abril de 1945 no Rio de Janeiro
Leo Lavechia e de Felicia Mateus Lavechia. (1974) - 72 - - RJ, filha de Edgar Corrêa e de Irene Corrêa. (1974) - 97
José Lima Piauhy Dourado, brasileiro, nascido em 24 de - Maria Lúcia Petit da Silva, brasileira, solteira, nascida em
março de 1946 em Barreiras – BA, filho de Pedro Piauhy 20 de março de 1950 em Agudos - SP, filha de José
Dourado e de Anita Lima Piauhy Dourado. (1974) - 73 - Bernardino da Silva Júnior e de Julieta Petit da Silva.
José Maria Ferreira Araújo, brasileiro, casado, nascido em (1972) - 98 - Mariano Joaquim da Silva, brasileiro, casado,
6 de junho de 1941 no Ceará, filho de José Alexandre de nascido em 2 de maio de 1930 em Timbaúba - PE, filho de
Araújo e de Maria da Conceição Ferreira de Araújo. (1970) Antonio Joaquim da Silva e de Maria Joana Conceição.
- 74 - José Maurílio Patrício, brasileiro, nascido em 1943 (1970) - 99 - Mário Alves de Souza Vieira, brasileiro,
em Santa Tereza - ES, filho de Joaquim Patrício e de Isaura casado, nascido em 14 de fevereiro de 1923 em Santa Fé -
de Souza Patrício. (1974) - 75 - José Montenegro de Lima, BA, filho de Romualdo Leal Vieira e de Julieta Alves de
brasileiro, solteiro, nascido em 1948 no Ceará. (1975) - 76 Souza Vieira. (1970) - 100 - Maurício Grabois, brasileiro,
- José Porfirio de Souza, brasileiro, casado, nascido em 27 casado, nascido em 2 de outubro de 1912 em Salvador -
de julho de 1912 em Pedro Afonso - GO. (1973) - 77 - BA, filho de Agostim Grabois e de Dora Grabois. (1973)
José Roman, brasileiro, nascido em 4 de outubro de 1926 - 101 - Miguel Pereira dos Santos, brasileiro, nascido em
em São Paulo - SP. (1974) - 78 - José Toledo de Oliveira, 12 de julho de 1943, em Recife - PE, filho de Pedro
brasileiro, nascido em 17 de julho de 1941 em Uberlândia Francisco dos Santos e Helena Pereira dos Santos. (1972)
- MG, filho de José Sebastião de Oliveira e de Adaide de - 102 - Nelson de Lima Piauhy Dourado, brasileiro,
Toledo de Oliveira. (1972) - 79 - Kleber Lemos da Silva, nascido em 3 de maio de 1941 em Jacobina - BA, filho de
brasileiro, nascido em 21 de maio de 1942 no Rio de Pedro Piauhy Dourado e Anita Lima Piauhy Dourado.
Janeiro - RJ, filho de Norival Euphrosino da Silva e de (1974) - 103 - Nestor Veras, brasileiro, nascido em 19 de
Karitza Lemos da Silva. (1972) - 80 - Libero Giancarlo maio de 1915 em Ribeirão Preto - SP, filho de Manoel
Castiglia, italiano, nascido em 4 de julho de 1944 em Veras e Pilar Velasques. (1975) - 104 - Noberto Armando
Cozenza, filho de Luigi Castiglia e de Elena Gibertini Habeger, argentino, jornalista, passaporte com nome de
Castiglia. (1973) - 81 - Lourival de Moura Paulino, Hector Estevan Cuello. (1978) - 105 - Onofre Pinto,
brasileiro, nascido em Xambioá - PA, filho de Joaquim brasileiro, nascido em 26 de janeiro de 1937 em Jacupiranga
Moura Cambino e de Jardilina Santos Moura. (1974) - 82 - SP, filho de Júlio Rosário e Maria Pinto Rosário. (1974)
- Lucia Maria de Souza, brasileira, solteira, nascida em 22 - 106 - Orlando da Silva Rosa Bonfim Júnior, brasileiro,
de junho de 1944 em São Gonçalo - RJ, filha de José casado, nascido em 14 de janeiro de 1915 em Santa Tereza
Augusto de Souza e de Jovina Ferreira. (1973) - 83 - Lucio - ES, filho de Orlando da Silva Rosa Bonfim e Maria
Petit da Silva, brasileiro, nascido em 1º de dezembro de Gasparini Bonfim. (1974) - 107 - Orlando Momente,
1941 em Piratininga - SP, filho de José Bernardino da Silva brasileiro, casado, nascido em 10 de outubro de 1933 em
Júnior e de Julieta Petit da Silva. (1973) - 84 - Luís Eurico Rio Claro - SP, filho de Álvaro Momente e Antonia Rivelino
Tejera Lisbôa, brasileiro, casado, nascido em 29 de janeiro Momente. (1973) - 108 - Osvaldo Orlando da Costa,
de 1948 em Porto União - SC, filho de Eurico Siqueira brasileiro, nascido em 27 de abril de 1938 em Passa Quatro
Lisbôa e de Clélia Tejera Lisbôa. (1972) - 85 - Luís Inácio - MG, filho de José Orlando da Costa e Rita Orlando dos
Maranhão Filho, brasileiro, casado, nascido em 25 de Santos. (1974) - 109 - Paulo César Botelho Massa,
janeiro de 1921 em Natal - RN, filho de Luís Inácio brasileiro, solteiro, nascido em 5 de outubro de 1945 no
1966
João Pedro Teixeira Manoel Raimundo Soares (o caso das mãos amarradas)
morto em 2 de abril de 1962 morto entre 13 e 20 de agosto de 1966
(Reprodução) (Reprodução)
1968
Eremias Delizoicov
morto em 16/10/1969 (DOPS/RJ)
1970
Antônio Sérgio de Mattos Manuel José Nunes Mendes Eduardo Antônio da Fonseca
morto em 23/09/1971 de Abreu morto em 23/09/1971
(IML/SP) morto em 23/09/1971 (DOPS/SP) (IML/SP)
Luiz Hirata
morto em 20/12/1971 (DOPS/SP)
Wilton Ferreira
morto em 29/03/1972 (DOPS/RJ)
Luíz Ghilardini
morto em 05/01/1973 (IML/RJ)
Merival Araújo
morto 14/05/1973
(ICCE/RJ)
Ângelo Arroyo
morto em 16/12/1976 (DOPS/SP)