Caio Fabio - Uma Graça Que Poucos Desejam PDF
Caio Fabio - Uma Graça Que Poucos Desejam PDF
Caio Fabio - Uma Graça Que Poucos Desejam PDF
Caio Fbio
EscritonaHolanda,em1986,duranteoCongressodeEvangelizao
Mundial,patrocinadoporBillyGraham.
DEDICATRIA
Aosquenodeixaramoabusomataragenerosidadeeacapacidadededarcomamor
ealegria!
UMAGRAAQUEPOUCOSDESEJAM
Ns aprendemos desde cedo que a graa favor imerecido. algo que est
para alm das posses de nossas virtudes. Justamente por essa razo a graa
de graa.
Alm da graa de sofrer, h ainda uma outra graa indesejvel alis, bem
poucos a vm como graa, como privilgio, como favor imerecido. Trata-se da
graa de contribuir.
O que nos levou a recomendar a Tito que, como comeou, assim tambm
complete esta graa entre vs (II Cor. 8:6).
Alis, nada se podia esperar de uma igreja que se julgava madura como a
de Corinto crendo que estava superabundando em f, teologia, sabedoria e
servio social seno algo, no mnimo, semelhante conscincia dos irmos
macednios. Por essa razo Paulo lhes diz: Assim tambm abundeis nesta
graa (II Cor. 8:7). De fato, o que se define de modo irrefutvel neste intrito
do apstolo questo da contribuio, que ofertar para a obra do Senhor
um favor que nenhum de ns merece. graa.
Mas quantos querem essa graa? Voc a quer? Voc deseja a bno de
contribuir? De devolver o que de Deus na direo da causa de Deus?
Neste ponto creio que pode ser imensamente til continuarmos a estudar
os princpios de contribuio que aparecem em II Corntios 8 e 9. Aprenda-os,
e certamente sua dimenso de espiritualidade incluir uma rea at agora mais
compreendida como profana do que como zona da graa. Mas quem que
conhece qualquer coisa que a ns nos venha que no seja pura e
simplesmente graa?
PRIMEIRO PRINCPIO
H pessoas e igrejas que esto esperando ficar ricas para ento comearem a
investir em misses, interna e externamente. H outros que desculpam sua
falta de interesse na graa de contribuir alegando a situao financeira do pas.
H tambm alguns que s se movem na direo da contribuio se ouvirem a
mais espetacular de todas as histrias de necessidade e carncia. Eis a
tentao da maioria das misses: exagerar no espetculo da misria a fim de
obter ajuda.
Vindo, porm uma viva pobre depositou ali duas pequenas moedas
correspondentes a um quadrante.
SEGUNDO PRINCPIO
Se assim , fica claro que a alegria de poder dar o que mais nos faz
genuinamente humanos. Nesse caso o exacerbado desejo de ter o que mais
nos desumaniza. Estranhamente, quanto mais (algum) se d, mais (algum)
se tem em essncia planificada (Joo 12:25).
TERCEIRO PRINCPIO
Tamanha foi a grandeza humana do gesto dos macednios que eles deram na
medida de suas posses e mesmo acima delas se mostraram voluntrios (3b).
Dar na medida das posses um bom comeo. Mas ainda melhor dar acima
delas. Quem d o dzimo d apenas na medida de suas possibilidades. Mas o
Novo Testamento nos convida a suplantarmos a velha medida decimal. Somos
exortados a deixarmos o ordinrio e a penetrarmos na porta dimensional da
generosidade extra-ordinria. Afinal, o ordinrio at os pagos conseguem
realizar, mas o extra-ordinrio, somente os filhos do Pai de extra-ordinrio amor
esto aptos a realizar (Mt. 5:43-48). Por isso que eu digo sempre que o
dzimo apenas um bom ponto de partida, mas um limitadssimo ponto de
chegada.
QUARTO PRINCPIO
Inicialmente nossas ofertas devem ser extenso de nosso culto racional. Ora, o
culto racional a entrega das mltiplas dimenses da vida no altar de Deus
como resposta humana s muitas misericrdias divinas que nos alcanaram
(Rm. 12:1-3). Por isso, corpo, mente e esprito devem se entregar a Deus na
integrao do culto-uno, na liturgia no esquizofrenizada da vida. Nesse
sacerdcio onde o homem o oficiante e a oferta ao mesmo tempo, todas as
dimenses da vida devem se subordinar a Deus num ato de racional e
consciente desejo.
As contribuies devem vir a reboque dessas aes. Devem vir no rebojo
desses movimentos, como conseqncia de to grandes decises e
percepes.
Quem sabe que pode e deve contribuir com a mesma alegria com o qual
confessa sua f, estuda sua Bblia, exerce discernimento, providencia socorros
e manifesta amor, j atingiu aquele nvel que se pode chamar de
espiritualmente maduro.
Paulo diz que a prtica sem o querer ao sem compulso. Mas diz
tambm que o querer sem ao emocionalismo volitivo e sem eficcia. A
combinao que Paulo acha sadia e promotora de compromisso, anda em
crculo:
QUINTO PRINCPIO
A contribuio tem que ter fins, meios e motivos.
Traduzindo este princpio, ele fica assim: quando contribuo, necessito ter fins
dignos, meios justos e razes corretas, pois as razes determinam os fins e os
fins pr-existem nos meios; ou seja, eu nunca tenho objetivos (fins) melhores
que minhas razes (motivos); e meus objetivos, se so bons, sempre
determinam os melhores meios de eu poder realiz-los.
Alguns, rebatendo o que eu disse acima, afirmam que o inferno est cheio de
boas intenes. Todavia, eu penso que a escritura nos d margem para
afirmar que o inferno est mais cheio pelas motivaes ruins e omisses frias
do que pelos fatos (Motivaes: Mt. 5: 21 e 22; 23: 27 Omisses: Mt. 25: 31-
46). Paulo prossegue essa considerao ao afirmar que a melhor realizao da
vida pode ser gerada pela pior motivao:
Alguns proclamam a Cristo por inveja e porfia, outros porm o fazem de boa
vontade... (Fp. 1:15).
claro que aqueles que produzem fatos bons, mas sem motivaes boas
recebero apenas os aplausos dos superficiais observadores humanos, que
julgam somente a aparncia e no o corao (Mt. 6: 2, 5, 16; 7: 15-23; Jo. 2:
23-25; I Sm. 16:7).
A motivao tem que ser o amor sincero. O apstolo assim fala porque sabe
que o amor pode ser apenas uma representao de fraternalismo de palavra,
mas sem conseqncia prticas (Rm. 12:9).
No importa o quanto voc beija as pessoas ou lhes diz que as ama em nome
do Senhor, ou os chama de meu amado. O que realmente importa o que o
amor motiva a ser feito concretamente pelas pessoas (I Jo. 3: 17 e 18). A
genuna motivao de amor torna os sentimentos em aes. Todavia, o mesmo
no se d com as aes. A bblia ensina que a toda boa motivao
corresponde a uma boa ao (correndo-se o risco de que outros a manejam
para o mal), mas que a nem todas as boas aes corresponde o amor como
motivao (I Cor. 13:3).
O que nos levou a recomendar Tito que, como comeou, assim tambm
complete essa graa em vs (II Cor. 8:6).
E no somente isto, mas foi () eleito pelas igrejas para ser nosso
companheiro no desempenho desta graa desta generosa ddiva
administrada por ns, pois o que nos preocupa procedermos honestamente
(II Cor. 8:16-21).
SEXTO PRINCPIO
A contribuio s efetiva mediante diligncia, presteza e zelo.
Talvez seja por estas razes, mais do que por nossa pobreza, que a igreja
brasileira e seus crentes ainda no entraram no rol das comunidades
evanglicas verdadeiramente missionrias. tambm por essa razo que h
pastores passando fome, igrejas sem recursos financeiros e misses nativas
(quando digo nativas, no me refiro as que trabalham com ndios que em
geral so estrangeiras mas s misses brasileiras) indo mngua em seus
malogrados projetos, boicotados pelo esquecimento, pela falta de
perseverana e pelo descaso da maioria dos contribuintes.
Por isso Paulo cobra dos corntios inicialmente uma atitude de diligncia, a fim
de tornarem sua contribuio efetiva. Ele diz que fala nas contribuies a fim
de provar pela diligncia de outros os outros aos quais ele se refere eram
os macednios a sinceridade dos objetivos e motivaes dos irmos de
Corinto (II Cor.8:8).
Agora Paulo inverte as perspectivas e diz aos corntios que os elogiara junto
aos macednios pela presteza com a qual eles certamente cooperariam com a
Misso Judia 57:*
Por que bem conheo a vossa presteza, da qual me glorio junto aos
macednios, dizendo que a Acaia est preparada desde o ano passado (II
Cor.9:2a).
Nos dias de Jesus e de Paulo a palavra zelo era melhor entendida do que
hoje. At o ano 74 D.C., com a queda da Massada, havia um grupo judeu
chamado os zelotes. Foram assim chamados porque eram religiosos ultra-
radicais e que no suportavam a dominao Romana sobre os judeus.
Tamanha era a ofensa que aquela sujeio lhes causava que eles resolveram,
apesar de poucos e fracos, que enfrentariam a superpotncia romana at que
lograssem a vitria e a libertao de Israel.
Seu zelo era tamanho que vendo que no poderiam vencer os romanos e
percebendo-se sem opes seno a rendio, resolveram suicidar-se no alto
da fortaleza de Massada, ao sul da Judia, antes que os opressores pudessem
sequer estender as mos sobre eles.
o vosso zelo (nas contribuies) tem estimulado a muitssimos (II Cor. 9:2b).
A contribuio tem que ser feita ainda que ela signifique um auto-
empobrecimento.
Paulo introduz seu novo princpio afirmando que a base teolgica para sua
convico de que a contribuio pode significar at mesmo um auto-
empobrecimento vinha da sua f e compreenso de que o mais bsico e
fundamental gesto de Deus na direo do homem cado manifestando seu
interesse de redimi-lo de sua misria e de ala-lo a um novo piso de dignidade
e restaurao espiritual era a encarnao, com sua conseqente implicao
de auto-empobrecimento:
pois conheceis a graa de nosso Senhor Jesus Cristo, que, sendo rico, se fez
pobre por amor de vs, para que pela sua pobreza vos tornsseis ricos (II
Cor.8:9).
Esse ltimo ponto elimina a idia de que a riqueza material sinal de bno.
Como algum j disse, se assim fosse seria sinal de que Deus estava
abenoando muito a Mfia. Ao contrrio, a riqueza antes de ser bno, uma
enorme e perigosa responsabilidade. Se voc tem dvida disso leia os
seguintes textos:
Trabalhar por adquirir tesouro com lngua falsa vaidade e lao mortal
(Pv. 21:6).
A riqueza pode vir a ser uma bno. Note, eu disse pode, no disse
uma bno. Alis, ela uma grande ameaa que pode vir a ser uma grande
bno. Todavia, a riqueza s bno quando ela decorre de algumas
motivaes e aes especficas e quando ela se dirige a algumas situaes
concretas:
Vale lembrar que quando Paulo escreveu que a contribuio pode significar at
mesmo um auto-empobrecimento, a situao scio-econmica de seus dias
era muito semelhante quela que hoje nos rodeia no terceiro mundo. As
discrepncias sociais estavam mais que presentes: elas saltavam aos olhos.
Os escravos eram considerados sub-homens em submisso total aos seus
donos. A riqueza tambm era rara e se constitua em privilgio de poucos.
Aqueles que a alcanavam mantinham-na com unhas e dentes para no perde-
la. Diante disso voc pode imaginar que impacto negativo e radical essa
palavra do apstolo poderia ter entre os eventuais ricos que lessem a sua
carta.
Por isso, conquanto em cornto houvesse pobres (I Cor. 11:21), o nvel geral da
igreja era economicamente elevado: o tesoureiro da cidade era membro da
igreja (Rm. 16:23 II Tim. 4:20), o padro de vida de certos irmos humilhava
os mais pobres (I Cor. 11:22) e havia membros das igrejas que eram scios em
comrcios e indstrias locais (I Cor. 6:1 e 4). A prosperidade era uma das
marcas daqueles crentes (I Cor. 16:2), a ponto de que alguns deles corriam o
risco de pensar que Paulo s se aproximava deles no intuito de obter alguma
oferta (II Cor. 12:14). Sim, a igreja de Cornto era uma igreja rica, e como tal,
desenvolveu todos os psiquimos dos abastados:
- Idia de que toda aproximao visa explorao (II Cor. 12:17 e 28).
- Falta de viso das necessidades do Reino de Deus e de seus obreiros (I
Cor. 9:6-12).
H lugares do planeta Terra onde esse meu livreto seria considerado mrbido e
hertico. Nesses lugares quem rico estimulado pela f crist a ficar mais
rico ainda. Por causa disso, essa afirmao de que o princpio da contribuio
pode desembocar in extremis - no auto-empobrecimento, pode parecer
mrbida e exagerada.
OITAVO PRINCPIO
A prova disso est nesse novo estgio paulino acerca dos princpios de
contribuio.
Diz o apstolo:
Por que no para que os outros tenham alvio, e vs, sobrecarga, mas para
que haja igualdade, suprindo a vossa abundncia no presente a falta daqueles,
de modo que a abundncia daqueles venha suprir a vossa falta, e assim haja
igualdade, como est escrito: o que muito colheu, no teve demais, e o que
pouco, no teve falta (II Cor. 8:13-15).
O apstolo inicia dizendo que a poltica de Deus no dar alvio para uns e
sobrecarga para outros. Sobre-carga peso para alm do suportvel. A poltica
de Deus a poltica da igualdade proporcional. No do igualitarismo utpico e
fardado.
Note quando Paulo diz que no para que alguns tenham alvio, e vs,
sobrecarga, ele prossegue dizendo: mas para que haja igualdade.
Pense bem: Deus no suporta as disparidades, as injustias e as
sobrecargas. Deus ama a igualdade proporcional. Mas se assim, ento
raciocine que Deus no quer ver a balana pesar mais para nenhum dos lados.
No entanto, como as coisas esto agora, pode no estar pesando pra voc,
mas talvez esteja pesando imensamente para outros.
- Como fica diante de Deus o fato de que na igreja uns tem demais e
outros tm de menos?
Meu irmo, voc pode fazer o que voc quiser com os seus bens. No
entanto, saiba que o plano de Deus que se voc tem o dom de aumentar
seus bens, o Senhor lhe concedeu essa possibilidade para que voc possa
praticar a poltica do Reino de Deus: a justia da igualdade proporcional.
No faz muito tempo que um dos nossos mais fortes mantenedores teve
alguns problemas financeiros, de modo que foi a obra de Deus que veio a
socorr-lo. Essa a melhor forma de fazer poupana: investindo no Reino de
Deus.
Voc deve ter percebido que desde o incio venho afirmando que Deus
no o Deus do igualitarismo fardado e absolutista. O igualitarismo no deu
certo em nenhum lugar do mundo. Em Cuba, no tempo do Che, o projeto
gerou ociosidade, improdutividade e injustia: pois alguns trabalhavam muito e
outros recebiam a mesma medida. O prprio Fidel Castro est reconhecendo
isso agora.
No era preciso esperar tanto para saber que isso era inevitvel e no
daria certo. Bastava que se tivesse crido na poltica econmica do Reino de
Deus: igualdade proporcional, praticada com a conscincia de que a fronteira
da liberdade de ter vai at onde o ter no implica no empobrecer do meu
prximo.
Diante disso fica claro que o cristo no pode nortear sua filosofia de
administrao dos recursos por nenhum dos dois esquemas econmicos que
dividem este mundo. Ambos so corrompidos.
no teve de-mais,
ALELUIA!
Paulo diz que o tratamento que Deus deu a Israel no deserto, quando o
po era o mesmo e para todos, sem que a ningum sobejasse e ningum dele
ficasse privado, era o critrio ltimo para nortear a viso econmica dos
crentes, da igreja e da sociedade como um todo:
Mas no de-mais;
Mas no de-menos.
NONO PRINCPIO
As contribuies para a obra de Deus devem ser criteriosamente
administradas e abertas a auditorias crists.
Voc deve ter notado que no oitavo princpio nossa reflexo saiu do mbito
estritamente eclesistico e aambarcou o que ns poderamos chamar rpidas
consideraes sobre a filosofia da poltica econmica do Reino de Deus.
Talvez apesar de termos sido exguos e excessivamente simples alguns
tenham achado que samos muito de nossa proposio inicial. possvel que
sim. No entanto, creio que s estaremos aptos para entender certas realidades
especficas, com seus mecanismos peculiares e aparentemente no
necessitados de explicaes, se tivermos compreendido alguns aspectos
gerais e mais amplos de uma realidade maior, que tanto introjeta pequenas
maquetes suas nas pequenas sociedades (no nosso caso, a igreja a pequena
sociedade), quanto realimenta sua prpria mega-estrutura da micro-instrutura
sobre a qual ela influi.
evitando assim que algum nos acuse em face desta generosa ddiva
administrada por ns, pois o que nos preocupa procedermos
honestamente, no somente perante o Senhor, como tambm diante dos
homens (II Cor. 8:18-21).
Esse o padro para o ministrio cristo, seja ele de que tamanho for. Do
servio individual grande organizao missionria, assim que se deve
proceder.
Isso porque, como disse Paulo, no basta haver honestidade, tem que
haver transparncia, ou seja, a administrao da igreja ou da misso tem que
estar aberta verificao dos cristos. E no somente aberta, mas exposta e
preocupada em expor-se.
Isso nos preocupa imensamente, inclusive pelo fato de que h hoje no pas
uma enorme quantidade de novas e independentes igrejas, quase todas elas
estruturadas a partir do modelo coronelista, de imensa autonomia para o pastor
e grande isolamento para o povo. o pinochesamento da estrutura eclesial (I
Pd. 5:1-3).
Se quisermos ser uma santa e forte igreja de Cristo no Brasil, se quisermos ser
respeitados intocveis lderes nacionais nesta gerao, se quisermos nos
tornar uma das maiores agncias de misses e missionrios do mundo, ento
necessitamos reverter o processo de administrao autnoma, para um
processo participativo, afim de que o diabo no alcance vantagem sobre ns.
O apstolo diz que ele queria ministrar a graa daquele fundo missionrio (10),
incumbindo outros de administrarem de modo direto os recursos (16, 18, 22,
24). No entanto, ele mesmo est de olho, ainda que no to diretamente, no
destino do dinheiro. Por isso, ele se chama tambm administrador, mas no
sentido de um ad-ministrador, ou seja, de algum que ministra de fora,
delegativamente, porm de modo responsvel.
Que Deus nos ajude a achar tais homens para que os tenhamos ao nosso
lado na Igreja ou na Misso.
Tenho certeza de que este foi o princpio mais difcil para eu escrever, pelo
simples fato de que esta foi rea menos organizada de meu ministrio. Deus
nos guardou, mas no nos poupou de dissabores. Por isso, enquanto exponho
esses princpios estou assinando meu compromisso pblico de manter as
contas da misso que presido sob peridicas auditorias feitas por firmas de
auditoria escolhidas pela nossa assemblia anual.
Que o Senhor nos ajude a continuarmos levando a bom termo nossa inteno.
DCIMO PRINCPIO
Enviei os irmos (Tito e Silvano), para que nosso louvor a vosso respeito,
neste particular, no se desminta, afim de que, como venho dizendo,
estivsseis preparados, para que, caso os macednios vo comigo e vos
encontrem desapercebidos no fiquemos ns envergonhados (para no dizer
vs) quanto a essa confiana. Portanto julguei conveniente recomendar aos
irmos que me precedessem entre vs, e preparassem de antemo a vossa
ddiva j anunciada, para que esteja pronta como expresso de generosidade,
no de avareza (II Cor. 9:3-5).
1. O elogio:
2. O temor:
3. A imaturidade:
Ora, aquele que possuir recursos deste mundo e vir a seu irmo
padecer necessidade e fechar-lhe o seu corao, como pode permanecer
nele o amor de Deus? (I Jo. 3:17).
Veja como a seqncia proposta em I Joo 3:17, seja para ou bem, est
presente no texto de Lucas 10:30-35, acima transcrito:
I. A seqncia do mal:
Minha orao neste momento no sentido de que daqui em diante Deus nos
amadurea como aos macednios a fim de que, menos tendo pouco,
socorramos os que tm menos.
Talvez seja este o princpio que mais alegria gera naquele que l o seu
enunciado. No entanto, ele no funciona isolado. Tudo o que expusemos at
aqui na forma de princpios, acontece na estrutura de funcionamento
semelhante de uma engrenagem.
Outra coisa que necessitamos ter em mente que a promessa que Deus faz
de prosperidade aos generosos, no porque Seu divino corao tenha sofrido
uma forte comoo ante to grandes gestos de bondade humana. As
promessas de Deus a ns so pura e simplesmente graa.
Alm disso, tal realidade fica mais do que clara, pois o que Deus promete fazer
abenoando e trazendo prosperidade aos dadivosos acontece numa
perspectiva de total contraposio aos princpios e regras econmicas de
multiplicao de recursos. A ideologia econmica capitalista funciona a partir
da idia de que quem tem, mais ter, ou seja, dinheiro faz dinheiro, num
interminvel ciclo. Mas a promessa de prosperidade que Deus faz em sua
palavra aos dadivosos contraria em muito o princpio capitalista. No enunciado
divino, a coisa fica mais ou menos assim: quem muito d, muito ter, pois
quem d aos homens com a alegria de quem devolve Deus, receber de
Deus muito mais do que aquilo que aos homens deu.
E isto afirmo: Aquele que semeia pouco, pouco tambm ceifar, e o que
semeia com fartura, com abundncia tambm ceifar. Cada um contribua
segundo tiver proposto no corao, no com tristeza ou por necessidade;
porque Deus ama quem d com alegria. Deus pode faz-los abundar em toda
graa, a fim de que, tendo sempre, em tudo, ampla suficincia, superabundeis
em toda boa obra, como est escrito: Distribuiu, deu aos pobres, a sua justia
permanece para sempre.
Ora, aquele que d semente ao que semeia, e po para alimento, tambm
suprir e aumentar a vossa sementeira, e multiplicar os frutos da vossa
justia; enriquecendo-vos em tudo para toda a generosidade, a qual faz que
por nosso intermdio sejam tributadas graas a Deus (II Cor. 9: 6 a 11).
Seno vejamos:
1. A criao:
Que lindo!
Assim a Palavra de Deus nos ensina que a maneira como Deus pode
abenoar-nos, a partir de nossas contribuies, to estranha e sobrenatural
como a exploso da semente que se torna frondosa e frutfera rvore.
2. A semeadura:
Aquele que semeia pouco, pouco tambm ceifar, e o que semeia com
fartura, com abundncia tambm ceifar (9:6).
E assim comea tudo de novo, sem fim, sem parar jamais, com ampla
suficincia, superabundando em boas obras, sendo de novo enriquecidos e
assim praticando inimitvel generosidade, tendo sempre... No o dzimo, mas
a dzima peridica da graa que gera graa, deixando a medida do dzimo
pequena demais.
1. Alegria:
2. Boas obras:
3. Distribuio:
Distribuiu, deu aos pobres... (9:9).
Esta citao do Salmo 112:9 nos transmite a idia de que a justia de
quem d aos pobres a realidade de que, quem deu, sabia que dar aos pobres
uma questo de justia e no de esmola.
O profeta Isaas talvez seja o mais rico na afirmao potica daquilo que
advm ao ser humano que solta as ligaduras da impiedade, desfaz as ataduras
da servido, deixa livres os oprimidos, despedaa todo jugo, reparte o po com
o faminto, recolhe em casa os pobres desabrigados e que quando v algum
nu o veste e no se esconde do seu semelhante:
Ento romper a tua luz como a alva, a tua cura brotar sem detena, a tua
justia ir adiante de ti e a glria do Senhor ser a tua retaguarda;
ento clamars, e o Senhor te responder, gritars por socorro, e Ele dir: Eis-
me aqui. Se tirares do meio de ti o jugo, o dedo que ameaa, o falar injurioso;
se abrires a tua alma ao faminto e fartares a alma aflita, ento a tua luz nascer
nas trevas, e a tua escurido ser como o meio-dia.
O Senhor te guiar continuamente, fartar tua alma at em lugares ridos, e
fortificar os teus ossos; sers como um jardim regado, e como um manancial,
cujas guas jamais faltam.
Concluindo, devemos deixar claro, outra vez, que a bno de Deus no uma
recompensa, um prmio aos dadivosos. Pelo menos, no no sentido de dbito.
Ou quem primeiro lhe deu a ele para que lhe venha ser restitudo? (Rm.
11:35a).
Bendita seja a graa de Deus, nosso Pai, que nos encontra em nossa
pobreza e misria e nos enriquece com amor, afim de que mesmo na pobreza
sejamos generosos, e na prosperidade sejamos a encarnao da bondade
divina na direo dos desfavorecidos e tambm das grandes causas
missionrias, no projeto da propagao do evangelho a todas as naes.
Quem se moveu tocado pela graa de dar, pela mesma graa ser tocado
outra vez e assim sempre ter. E assim sempre dar. E assim... ser. Amm!
Talvez a afirmao mais forte de que graa gera graa esteja no texto de
Efsios 1:6. Literalmente, o apstolo diz que recebemos graa gratuita. Com
isso ele est querendo ensinar que antes de recebermos a graa, j a prpria
graa nos preparava para isso. Nesse caso, diramos que h uma graa de
preparao que nos habilita para a graa de recepo:
Paulo entendia esse princpio de que a virtude gera virtude, num efeito
cascata, tambm em relao ao louvor e as aes de graa:
Para o meu sabor pessoal este um dos trechos mais belos de todo o Novo
Testamento. No tanto pela sua confeco literria, ou pela profundidade
teolgica, mas, sobretudo, pela sua singeleza e simplicidade prtica.
Paulo diz que a graa de dar desencadeia um processo de virtudes
incomparveis. Dar uma das mais profundas formas de edificar no somente
o aspecto social e econmico do outro, mas, antes disso, de edificar-lhe a
alma.
Inicialmente Paulo diz que a ddiva promove um bem que est para alm
da assistncia imediata aos santos: redunda em muitas aes de graas
(9:12). Essas aes de graas significam uma excepcional manifestao de
glria ao nome de Deus pelos filhos que Ele tem, e cujos coraes so
parecidos com o do Pai-generoso: Visto como, na prova desta ministrao,
glorificam Deus... (9:13a). A glorificao do nome de Deus, feita por aqueles
que foram o objeto da contribuio, se baseia fundamentalmente em duas
atitudes que os crentes dadivosos revelaram e historificaram enquanto
contribuam:
Na vida o que vale a orto-praxia. Jesus disse que deveramos ser orto-
prticos e no ortodoxos. Os fariseus eram orto-doxos, mas no eram orto-
prticos (Mt. 23:3).
Foi Jesus quem disse que a doutrina no pra ser apenas aceita
intelectualmente e discutida teologicamente. A doutrina tem que ser encarnada:
Isto posto, Paulo diz aos corntios, que o gesto contributivo deles era uma
encarnao orto-prtica do evangelho que eles confessavam. Primeiro vem o
verbo, depois a encarnao. Mas a encarnao que explica o verbo na
Histria.
Glorificam a Deus pela... liberalidade com que contribus para eles e para
todos... (9:3b).
Paulo diz:
Oram eles a vosso favor, com grande afeto... (II Cor. 9:14b).
Vale observar que nas trs situaes atitude de generosidade que tanto faz
nascer o amor em ns por outros como em outros por ns.
Por essa razo Paulo diz que os crentes pobres da Judia eram gratos
em virtude da superabundante graa de Deus que havia naqueles irmos
dadivosos (II Cor. 9:14b).
Seja o mundo seja a vida, seja a morte, sejam as coisas presentes, sejam
as coisas futuras, tudo vosso, e vs de Cristo, e Cristo de Deus (I Cor.
3:22).
Diga-se de passagem que aquela era uma das regies mais idolatradas
do pas, desde os tempos anteriores ocupao israelita. E continuou sendo
at a ocupao romana, quando cidade foi dedicada ao divino Csar. Ali
havia, nos dias de Jesus, toda a estrutura gentlica dos romanos e tambm
altares com nichos a deuses pagos. Mas a na geografia da profanao e
da idolatria que Deus resolveu fazer uma Catedral de olivais e pedras lisas e
brancas, a ponto de Pedro chamar o lugar de monte santo (II Pedro 1:18).
O roupo judaico foi santificado juntamente com tudo mais. Com isso
deve terminar a santificao de certas modas sub-culturais e a profanao de
outras. Eu sei, e disso estou persuadido no Senhor Jesus, que nenhuma coisa
de si mesma impura, salvo para aquele que assim a considera; para esse
impuro (Rm. 14:14). Todas as coisas so puras para os puros; todavia, para
os impuros e descrentes, nada puro. Porque, tanto a mente quanto a
conscincia deles esto corrompidas (Tito 1:15).
Bem. Talvez voc pergunte: o que isso tudo tem a ver com a nossa
proposio inicial? Qual a ligao entre esse arrazoado acerca de
transfigurao de Cristo e a afirmao de que contribuio financeira a
resposta material compreenso de que se recebeu dom inefvel? Eu quero
iniciar a resposta com uma pergunta: E se no roupo glorificado de Jesus
houvesse uma nota de cem cruzados e um cheque de mil cruzados
desculpando a defasagem histrica e o anacronismo econmico eles ficariam
tambm resplandescentes e transfigurados juntamente com o monte (II Pd.
1:18), o dia (Mc. 9:2, Lc 9:37), a geografia (Mt. 16:13), o corpo (Mt. 17:2) e os
elementos culturais (Mt. 17:2b)?
Fiz to longa introduo a este ltimo princpio apenas para tentar fazer
voc compreender definitivamente que os seus bens materiais podem, devem
e precisam ser glorificados com a glria de Deus. por causa disso que Paulo
associa a questo da contribuio ao tema dos temas e graa das graas: a
salvao em Jesus.
Voc um deles?
Caio Fbio
Julho de 1986
Holanda