Caio Fabio - Uma Graça Que Poucos Desejam PDF

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UMAGRAAQUEPOUCOSDESEJAM

Caio Fbio

EscritonaHolanda,em1986,duranteoCongressodeEvangelizao
Mundial,patrocinadoporBillyGraham.
DEDICATRIA

Aosquenodeixaramoabusomataragenerosidadeeacapacidadededarcomamor
ealegria!
UMAGRAAQUEPOUCOSDESEJAM

Ns aprendemos desde cedo que a graa favor imerecido. algo que est
para alm das posses de nossas virtudes. Justamente por essa razo a graa
de graa.

No entanto, na nossa idia do que seja graa, enquadram-se apenas as felizes,


fceis saborosas e carismticas manifestaes das bnos de Deus sobre
ns (Ef. 1:3). Nunca pensamos em graa como privilgio de sofrer.

Todavia, tambm esta dimenso est presente na teologia do conceito de


graa:

Por que vos foi concedida a graa de padecerdes por Cristo, e no


somente crerdes nele... (Fp. 1:29).

Sem dvida tal conceito no tem nada de convidativo e empolgante em si


mesmo. Nosso mundo , a cada dia mais, patrocinador da idia do no-
sofrimento. Somos a sociedade do analgsico. A anestesia psicolgica,
existencial e social a nossa maior medicina. Especialmente para aqueles que
apesar de viverem no terceiro mundo, mantm o status e o padro do primeiro.

Alm da graa de sofrer, h ainda uma outra graa indesejvel alis, bem
poucos a vm como graa, como privilgio, como favor imerecido. Trata-se da
graa de contribuir.

Percebe-se a contribuio como graa, mais do que qualquer outra ocasio,


quando Paulo faz conhecer a igreja de Corinto a atitude generosa e prdiga de
amor que permeara o gesto da igreja da Macednia, quando se solidarizou
com a comunidade crist da Judia que passava um gravssimo perodo de
pobreza e fome enviando-lhe ainda que sem condies ideais para tal oferta
de amor.

Os irmos da Macednia no se sentiam dignos de contribuir, de participar da


obra de Deus. Por isso, pediam que essa possibilidade lhes fosse criada, ainda
que numa expresso de graa, de favor imerecido.

Paulo diz aos corntios:

Tambm irmos, vos fazemos conhecer a graa de Deus, concedida as


igrejas da Macednia; por que no meio de muita prova e tribulao
manifestaram abundncia de alegria, e a profunda pobreza deles
superabundou em grande riqueza da sua generosidade (II Cor. 8:1 e 2).

O apstolo prossegue dizendo que era to grande a conscincia que


tomava os irmos macednios de que contribuir era um favor imerecido, que
eles suplicaram com muitos rogos a graa de participarem da assistncia aos
santos (II Cor. 8:4).

O gesto macednio inspirou Paulo a enviar Tito a Corinto a fim de


promover a mesma compreenso, desencadeadora da mesma atitude:

O que nos levou a recomendar a Tito que, como comeou, assim tambm
complete esta graa entre vs (II Cor. 8:6).

Alis, nada se podia esperar de uma igreja que se julgava madura como a
de Corinto crendo que estava superabundando em f, teologia, sabedoria e
servio social seno algo, no mnimo, semelhante conscincia dos irmos
macednios. Por essa razo Paulo lhes diz: Assim tambm abundeis nesta
graa (II Cor. 8:7). De fato, o que se define de modo irrefutvel neste intrito
do apstolo questo da contribuio, que ofertar para a obra do Senhor
um favor que nenhum de ns merece. graa.

Eu no mereo contribuir. Voc tambm no. Nenhum dinheiro ganho


com ambguas motivaes santo. Nosso dinheiro no em si mesmo puro,
to somente pelo fato de que no estamos na lista dos sonegadores (ou
estamos?), ou por termos nossos compromissos pagos em dia. Os tesouros
desse mundo so metafsica e motivacionalmente tesouros da injustia (Lc.
16:9). E as motivaes que na grande maioria das vezes determinam nossa
relao com o lucro no so de todo santas (I Tim. 6:10a).

Por isso, nossa contribuio uma concesso de Deus. A santidade


absoluta de Deus, se praticada sobre ns, no nos permitiria nem contribuir;
mas na sua graa, Ele santifica nosso dinheiro, quando a grande motivao
que nos leva a adquiri-lo poder viver com dignidade e promover a causa do
reino de Deus. Se no for essa a propulso secreta de nossos coraes, a
nossa contribuio no passar de uma abominao. De uma atitude
semelhante a aquela que norteou a oferta de Caim (Gn. 4:1-7; Jd. 11).

Nossa oferta ao Senhor no de fato uma oferta de Deus. , antes de


tudo, uma oferta de Deus a ns. Quem oferta a Deus, oferta a si mesmo, na
medida em que dar, antes de ser uma graa de ns a outros, uma graa de
Deus a ns. Se algum se comove a dar, humilde e alegremente, porque j
foi tocado pela graa de Deus (Rm. 7:18; Fp. 2:13).

Mas quantos querem essa graa? Voc a quer? Voc deseja a bno de
contribuir? De devolver o que de Deus na direo da causa de Deus?

A maioria das pessoas que eu conheo contribui ainda com medo de


Deus. Ou ento o faz na estreita medida do dzimo. Por que Malaquias chama
de ladro aquele que no contribui, ento resolve quitar seu carn do Reino
(Ml. 3: 8 e 9). Todavia, essas pessoas fazem isso com o mesmo sentido de
obrigatoriedade com o qual pagam a conta de luz, a gua ou aluguel do
apartamento. No lhes move o corao o temor do Senhor. No se sentem
comovidos pela graa. No percebem que no teriam direito a meter a mo no
bolso para dar a to santa causa.
Voc deseja a graa de contribuir?

Quem apenas d o dzimo ou se deixa motivar a contribuir pelos mesmos


sentimentos daqueles que liquidam uma conta para no terem o nome no
S.P.C., ainda no passou da Velha Aliana para a Nova, ainda no pensa
como cristo, mas raciocina com legalista judeu.

O Novo Testamento vai alm do Velho Testamento tambm na questo


do dar. Em Cristo, o dzimo no a mensalidade dos crentes na sociedade
religiosa da igreja ou no filantropo clube da f. No novo testamento, o dzimo
uma quantia de referncia mnima para estabelecer o piso de nossas
contribuies, entendidas no como cobrana, mas como graa, como
privilgio.

Depois que eu entendi isso, resolvi s agradecer as ofertas que alguns


amigos endeream a mim como pessoa. Mesmo assim, eu sei que antes de
estarem dando a mim e para meu sustento pessoal, eles esto dando ao
Senhor. Fao isso somente nesse caso, e por questo de estrita educao.
Quanto ao mais, se algum deseja contribuir com a misso que presido com
qualquer outra causa crist, no posso agradecer. Tenho apenas que estimul-
lo a continuar a crescer na causa de Deus. Minha gratido tem que se dirigir a
Deus. Minha alegria, no entanto, se direciona aos irmos que entenderam a
graa de contribuir.

Neste ponto creio que pode ser imensamente til continuarmos a estudar
os princpios de contribuio que aparecem em II Corntios 8 e 9. Aprenda-os,
e certamente sua dimenso de espiritualidade incluir uma rea at agora mais
compreendida como profana do que como zona da graa. Mas quem que
conhece qualquer coisa que a ns nos venha que no seja pura e
simplesmente graa?

PRIMEIRO PRINCPIO

A boa situao financeira no deve ser pr-requisito para algum


contribuir.

A igreja da Macednia resolveu comear a contribuir numa hora em que


qualquer economista chamaria de momento de loucura ou de euforia
irresponsvel.

Na realidade, se havia uma igreja necessitando pedir oferta era a Macednia.


Eles eram quase to pobres quanto aqueles aos quais resolveram ajudar:
Porque em meio de muita tribulao, manifestaram abundncia de alegria, e a
profunda pobreza deles superabundou em grande riqueza da sua
generosidade (II Cor. 8:2).

H pessoas e igrejas que esto esperando ficar ricas para ento comearem a
investir em misses, interna e externamente. H outros que desculpam sua
falta de interesse na graa de contribuir alegando a situao financeira do pas.
H tambm alguns que s se movem na direo da contribuio se ouvirem a
mais espetacular de todas as histrias de necessidade e carncia. Eis a
tentao da maioria das misses: exagerar no espetculo da misria a fim de
obter ajuda.

A ns que estamos envolvidos em trabalhos e projetos que sobrevivem


pela f na proviso de Deus atravs da conscincia dos irmos
quebrantados, fica cada vez mais claro que quanto mais rica uma pessoa
se torna, menos ela d, proporcionalmente ao que possui e ao que
poderia.

A contra partida tambm verdadeira: em geral, quanto mais pobre a pessoa


, mais desproporcionalmente superior a sua pobreza a sua oferta.

Isso acontece porque na maioria das vezes a riqueza material inversamente


proporcional riqueza da graa no corao. Os que menos tm mais
dependem dos favores divinos:

A profunda pobreza superabundou em grande riqueza de generosidade (II


Cor. 8:2b).

A alguns tal afirmao pode parecer excessivamente forte, ainda que eu no


tenha dito que sempre assim que acontece, mas que na maioria das vezes
dessa forma que as coisas se desenvolvem no corao humano. Mas para
aqueles que possam ter alguma dvida, vale reler o que Jesus disse ao
comparar ricos e pobres no ato de ofertar:

Assentado diante do gazofilcio, observava Jesus como o povo lanava


ali o dinheiro. Ora, muitos ricos depositavam grandes quantias.

Vindo, porm uma viva pobre depositou ali duas pequenas moedas
correspondentes a um quadrante.

E, Jesus, chamando seus discpulos, disse-lhes: Em verdade vos digo que


esta viva pobre depositou no gazofilcio mais do que o fizeram todos os
ofertantes. Porque todos eles ofertaram do que lhe sobrava; ela, porm,
da sua pobreza deu tudo quanto possua, todo o seu sustento. (Marcos
12:41-44).

Note como as grandes quantias dos ricos s eram consideradas grandes


em relao s pequenas quantias dos pobres. Todavia, os ricos davam de sua
sobra, os pobres de seu sustento.
No entanto, entre ns, a situao ainda pior do que a daquele dia
quando Jesus se assentou diante do gazofilcio para avaliar essas
despropores. No meio deles, os ricos pelo menos davam grandes quantias,
ao passo que, entre ns, pouqussimos so os que do alguma coisa, e h
daqueles que quando fazem ainda tentam administrar seu prprio investimento.

As ddivas do tempo da riqueza so bvias e ordinrias, mas as


ddivas do tempo da pobreza so extraordinrias expresses de f e
amor.

Voltando ao enunciado de nosso primeiro princpio, devo dizer-lhes: no


espere pagar todas as contas, ficar rico, bem empregado ou formado no curso
universitrio para comear a contribuir. Faa-o a partir de hoje, ainda que as
circunstncias no sejam favorveis. Somente os que cantam como
Habacuque um hino na tormenta podem contribuir mesmo em meio
escassez:

Ainda que a figueira no floresce, nem he h fruto na vide; o produto da


oliveira mente, e os campos no produzem mantimento, e as ovelhas forem
arrebatadas do aprisco e nos currais no h gado, todavia eu me alegro no
Senhor, exulto no Deus da minha salvao (Habacuque 3:17 e 18).

Eu creio que a hora ideal para se investir em misses justamente no tempo


da adversidade. Quando isso acontece grande a graa a ns concedida, e
muito maior ainda o fruto desse dadivoso amor. Digo isso, no porque eu
procure o donativo, mas o que realmente me interessa o fruto que aumente o
vosso crdito (Fp. 4:17).

SEGUNDO PRINCPIO

Alegria, generosidade, voluntariedade e boa-vontade so motivaes


indispensveis a quem quer contribuir.

S se alegra em contribuir quem entende tal possibilidade como graa, ou seja,


favor imerecido. Somente os que tm acesso ao extraordinrio-imerecido que
o vem como objeto de alegria indizvel. Na realidade trata-se de algo alm da
alegria ordinria. De fato uma abundncia de alegria (2b). uma alegria
extravagante e extra-vasante. Esta motivao tamanha que desencadeia
espao emocional no qual cabe o desejo da bondade. O espao que a grande
alegria faz surgir para os bons desejos a generosidade.

Gene-rosidade bem que poderia vir da raiz de gene, de smem da vida e


da procriao. Mas tambm poderia vir de genero-sidade, ou seja, de
pureza de gnero, de humanidade essencial, de verdadeiramente gente,
humano...

No consultei nenhum dicionrio etimolgico (afinal, estou escrevendo essas


linhas num hotel em Amsterd), mas o sentido da palavra generosidade,
parece encurralar-se nos dois becos etimolgicos acima sugeridos.

Se assim , fica claro que a alegria de poder dar o que mais nos faz
genuinamente humanos. Nesse caso o exacerbado desejo de ter o que mais
nos desumaniza. Estranhamente, quanto mais (algum) se d, mais (algum)
se tem em essncia planificada (Joo 12:25).

Da o apstolo mencionar a grande riqueza de sua generosidade (2c). Era


uma riqueza humana.

O passo seguinte desencadeado pela germinao da alegria e da


generosidade. Ambas fazem surgir a voluntariedade. Vem luz assim a raiz
mais profunda do desejo automtico e espontneo de dirigir a vontade na
direo da vida do semelhante. Isso porque s existe voluntariedade se o
sentimento de dirige a outros, por que a auto-voluntariedade nada mais que
educado egosmo. A voluntariedade tem de ser, portanto, canalizada para fora
do mbito pessoal daquele que a sente. E mais ainda, a voluntariedade um
exerccio da vontade para alm das possibilidades ordinrias, cmodas e
imediatas:

Porque eles... na medida de suas posses e mesmo acima delas, se mostraram


voluntrios... (3).

A voluntariedade a atitude primitiva e inicial da vontade em concepo. Por


isso o prximo passo a transformao da tendncia em comportamento:

Porque, se h boa vontade, ser aceita conforme o que o homem tem, e no


segundo o que ele no tem (12).

A boa vontade j a voluntariedade transformada em ao concreta. Nesse


ponto a pessoa j passou da compaixo, da inclinao e do desejo abstrato e
j meteu a mo no bolso e deu; j tirou o talo de cheque e o assinou; j disps
seus bens na direo de outros de maneira concreta, historivel e tangvel.

TERCEIRO PRINCPIO

A contribuio deve ser extra-ordinria e no ordinria.


Dar o que se tm sobrando, ou o que no nos faz falta, ou o que no nos cria
limitaes no ainda o dar conforme se requer no Novo Testamento.

Paulo diz: A profunda pobreza deles superabundou em grande riqueza (2b).

Tamanha foi a grandeza humana do gesto dos macednios que eles deram na
medida de suas posses e mesmo acima delas se mostraram voluntrios (3b).

Dar na medida das posses um bom comeo. Mas ainda melhor dar acima
delas. Quem d o dzimo d apenas na medida de suas possibilidades. Mas o
Novo Testamento nos convida a suplantarmos a velha medida decimal. Somos
exortados a deixarmos o ordinrio e a penetrarmos na porta dimensional da
generosidade extra-ordinria. Afinal, o ordinrio at os pagos conseguem
realizar, mas o extra-ordinrio, somente os filhos do Pai de extra-ordinrio amor
esto aptos a realizar (Mt. 5:43-48). Por isso que eu digo sempre que o
dzimo apenas um bom ponto de partida, mas um limitadssimo ponto de
chegada.

A advertncia de Paulo no sentido de que cresamos em generosidade, para


que no nos transformemos em avaros escondidos nas limitadas fronteiras do
dzimo que jamais se transforma em grandeza acima do bvio.

Conheo pessoas que at seu dizimo dado regularmente sistematicamente


dado com fiel avareza. No obstante haver esses casos h tambm queridos
irmos que esto se preparando para dia a dia aumentarem o tamanho do seu
corao, na expresso de uma generosidade cada vez maior. A ddiva desses
irmos expresso de generosidade, e no de avareza (9:5).

QUARTO PRINCPIO

A contribuio deve ser uma extenso do compromisso que se tem com o


louvor a Deus, com a maturidade espiritual e com a propagao do Reino
de Deus.

Inicialmente nossas ofertas devem ser extenso de nosso culto racional. Ora, o
culto racional a entrega das mltiplas dimenses da vida no altar de Deus
como resposta humana s muitas misericrdias divinas que nos alcanaram
(Rm. 12:1-3). Por isso, corpo, mente e esprito devem se entregar a Deus na
integrao do culto-uno, na liturgia no esquizofrenizada da vida. Nesse
sacerdcio onde o homem o oficiante e a oferta ao mesmo tempo, todas as
dimenses da vida devem se subordinar a Deus num ato de racional e
consciente desejo.
As contribuies devem vir a reboque dessas aes. Devem vir no rebojo
desses movimentos, como conseqncia de to grandes decises e
percepes.

Foi assim que os macednios fizeram:

No somente fizeram como ns espervamos, mas deram-se a si mesmos


primeiro ao Senhor, depois a ns, pela vontade de Deus (8:5).

Alis, tambm nesta mesma perspectiva litrgica que Paulo alude s


contribuies que recebera para sua manuteno pessoal:

Recebi tudo, e tenho abundncia, estou suprido, desde que Epafrodito me


passou s mos o que me veio de vossa parte, como aroma suave, como
sacrifcio aceitvel e aprazvel a Deus (Fp. 4:18).

Quem no considera a ddiva devolvida como privilgio e como liturgia


semelhante gratido manifestada nos muitos altares do Velho Testamento,
ainda no compreende significao do dar.

exatamente quando essa percepo teolgica j nos impregnou que


comeamos a penetrar num nvel de maior maturidade espiritual. At esse
momento a vida estava dividida em sacro e profano, religioso ou secular,
espiritual ou material, litrgico ou mundano. Mas quando se consegue olhar
para o dinheiro e consagra-lo a Deus com gratido, dando-o aos homens ou s
causas de Deus realizadas por homens de Deus e pela igreja, ento a vida
passa a ser uma s, e as dicotomias departamentalizadoras da existncia
acabam. Compreender isso em si mesmo um sinal de maturidade espiritual.

Veja como na mente de Paulo a contribuio uma graa espiritual:

Como, porm, em tudo manifestais superabundncia, tanto na f e na palavra,


como no saber e em todo cuidado e em nosso amor para convosco assim
tambm abundeis nesta graa (8:7).

Quem sabe que pode e deve contribuir com a mesma alegria com o qual
confessa sua f, estuda sua Bblia, exerce discernimento, providencia socorros
e manifesta amor, j atingiu aquele nvel que se pode chamar de
espiritualmente maduro.

A verdadeira maturidade desenvolve uma atitude santificadora e


liturgizadora de todas as coisas que lhe vm s mos.

Essa maturidade mantm vontade e ao andando juntas, de modo que


uma alimenta a outra. E quando a vontade alimenta a ao e a ao estimula a
vontade, nasce algo que se pode chamar de compromisso.

Veja como na mente de Paulo esse era o fenmeno promotor do compromisso


e da responsabilidade de levar as coisas a seu termo, a sua cabal realizao:
E nisto dou a minha opinio; pois a vs outros que desde o ano passado
principiastes, no s a prtica, mas tambm o querer, convm isto:

Completai agora a obra comeada, para que, assim como revelastes


prontido no querer, assim as leveis a termo, segundo as vossas
posses. (8:10 e 11).

Paulo diz que a prtica sem o querer ao sem compulso. Mas diz
tambm que o querer sem ao emocionalismo volitivo e sem eficcia. A
combinao que Paulo acha sadia e promotora de compromisso, anda em
crculo:

Este o ciclo do compromisso contnuo com a manuteno financeira do Reino


de Deus: quanto mais eu quero dar, mais eu posso e devo dar, pois quanto
mais eu dou, mais desejo dar e, sobretudo, mais me mantenho comprometido e
bem motivado a dar.

No posso ter certeza, mas me parece que tal princpio se enraza no


somente no psiquismo individual, mas tambm no inconsciente coletivo da
comunidade crist que comea a pratic-lo. Talvez seja tambm por essa
razo que a maioria dos irmos e das igrejas dos Estados Unidos quando
tomam um compromisso de suporte financeiro o mantm at o fim.

QUINTO PRINCPIO
A contribuio tem que ter fins, meios e motivos.

Traduzindo este princpio, ele fica assim: quando contribuo, necessito ter fins
dignos, meios justos e razes corretas, pois as razes determinam os fins e os
fins pr-existem nos meios; ou seja, eu nunca tenho objetivos (fins) melhores
que minhas razes (motivos); e meus objetivos, se so bons, sempre
determinam os melhores meios de eu poder realiz-los.

Assim que Paulo inicia determinando o objetivo ou o fim da contribuio: a


assistncia aos santos (4c). Os literalistas, cujo costume engessar a Palavra
de Deus, determinam logo que a nica finalidade digna de contribuio a
assistncia aos santos. Todavia, no Novo Testamento, o princpio que deve
nortear a prtica da contribuio, bem como seu endereo, tudo aquilo que
promove a justia, a misericrdia e a f (Mt. 23:23). Tudo aquilo que feito
aos santos, pelos santos e com os santos finalidade que certamente
promover a justia, a misericrdia e a f. Enderece a sua contribuio para
onde voc encontrar essa finalidade (Fp 4: 15 e 16). claro que h coisas
intermedirias e que merecem o nosso investimento, pois sem elas no se
alcanam os objetivos desejados. A partir desse ponto deve ficar claro que todo
mandamento bblico que depender de apoio material e financeiro deve ser
objeto de nossa ajuda concreta e monetria (Mt. 28:18 a 20; I Cor.9:14).

H ocasies quando para se fazer misses necessrio que se tenha coisas,


mquinas, equipamentos e sistemas.* Todas essas necessidades conquanto
materiais e frias, so parte do fim em si mesmo. claro que o melhor
investimento aquele que se faz de imediato em pessoas, seja ajudando a
alcan-las, seja sustentando aqueles que mais especificamente as alcanam
(II Cor.11:13 e 20). Esse era o caso da irm Febe, que era diaconisa de uma
igreja, em Cencria, a 15Km de Corinto. Paulo diz que aquela irm fora durante
muito tempo patrocinadora do seu ministrio e de muitos outros irmos
(Rm.16:1 e 2 onde se l protetora, no grego patrocinadora).

Mas como nossos fins so determinados pelas nossas motivaes e razes,


ento o apstolo outra vez enfatiza a questo motivacional j mencionada no
princpio n 2. Nunca demais falar sobre a pureza das intenes secretas que
nos fazem agir. Paulo, alis, concentrava toda a sua noo da profundidade do
juzo de Deus no tanto em fatos, mas nas sigilosas e encobertas motivaes
humanas, escondidas nas dobras profundas dos enganosos coraes de todos
ns (I Cor. 4:5; Rm. 2:15 e 16; Jr. 17:9). Isso porque o apstolo sabia que fatos
bons podem ser produzidos por motivaes ms e egostas, mas tambm
sabia que, s vezes, fatos que se tornaram maus foram gerados por
motivaes boas que foram conduzidas por outros para fins indesejados (Joo
12:5 e 6).

Se voc tem dificuldade em aceitar isso, pense no seguinte: os fundadores de


algumas igrejas histricas, que foram homens de lmpidas e cristalinas
motivaes, possivelmente se contorcessem de agonia ao observar aquilo no
que suas misses se converteram mais adiante. Ou melhor: no se pode
condenar um homem pela morte de um outro ao meter-lhe uma faca na barriga,
na expectativa de improvisar-lhe uma operao de apendicite no deserto, onde
no havia recursos ou socorro. Nesse caso o fato foi a morte, mas a motivao
era a vida.

Alguns, rebatendo o que eu disse acima, afirmam que o inferno est cheio de
boas intenes. Todavia, eu penso que a escritura nos d margem para
afirmar que o inferno est mais cheio pelas motivaes ruins e omisses frias
do que pelos fatos (Motivaes: Mt. 5: 21 e 22; 23: 27 Omisses: Mt. 25: 31-
46). Paulo prossegue essa considerao ao afirmar que a melhor realizao da
vida pode ser gerada pela pior motivao:

Alguns proclamam a Cristo por inveja e porfia, outros porm o fazem de boa
vontade... (Fp. 1:15).

claro que aqueles que produzem fatos bons, mas sem motivaes boas
recebero apenas os aplausos dos superficiais observadores humanos, que
julgam somente a aparncia e no o corao (Mt. 6: 2, 5, 16; 7: 15-23; Jo. 2:
23-25; I Sm. 16:7).

Compreendendo a importncia fundamental das motivaes em todos os


campos da vida, Paulo reafirma:

No vos falo na forma de mandamento, mas para provar pela diligncia de


outros, a sinceridade do vosso amor (II Cor. 8:8).

A motivao tem que ser o amor sincero. O apstolo assim fala porque sabe
que o amor pode ser apenas uma representao de fraternalismo de palavra,
mas sem conseqncia prticas (Rm. 12:9).

No importa o quanto voc beija as pessoas ou lhes diz que as ama em nome
do Senhor, ou os chama de meu amado. O que realmente importa o que o
amor motiva a ser feito concretamente pelas pessoas (I Jo. 3: 17 e 18). A
genuna motivao de amor torna os sentimentos em aes. Todavia, o mesmo
no se d com as aes. A bblia ensina que a toda boa motivao
corresponde a uma boa ao (correndo-se o risco de que outros a manejam
para o mal), mas que a nem todas as boas aes corresponde o amor como
motivao (I Cor. 13:3).

por essa razo que afirmamos que os fins nunca so essencialmente


melhores do que as motivaes claro que olhando com os olhos de Deus.
Nesse caso, os fins alm de no justificarem os meios, tambm no justificam
as motivaes. Mas por falar em meios passemos a eles. Lembre-se que ns
anunciamos no incio deste 5 princpio que os fins pr-existem nos meios.
claro. Alis, os fins pr-existem tanto nos meios como nas motivaes.
Somente na vida dos hipcritas que os fins inexistem nas motivaes e
mascaram os meios.

Na questo das contribuies dos cristos os meios so igualmente


importantes. Nos dias de Paulo os meios no eram a tesouraria oficial da
igreja, nem uma Misso especializada em Evangelizao ou Ao Social, mas
homens honestos e respeitados. Era atravs deles que os recursos eram
manejados dos ofertantes aos necessitados.

No caso especfico de nossas consideraes o apstolo diz:

O que nos levou a recomendar Tito que, como comeou, assim tambm
complete essa graa em vs (II Cor. 8:6).

Outra vez ele diz:

Deus () ps no corao de Tito () solicitude por amor de vs; porque


atendeu ao nosso apelo e mostrando-se cuidadoso, partiu voluntariamente
para vs outros

E no somente isto, mas foi () eleito pelas igrejas para ser nosso
companheiro no desempenho desta graa desta generosa ddiva
administrada por ns, pois o que nos preocupa procedermos honestamente
(II Cor. 8:16-21).

Hoje em dia os mediadores das contribuies so em geral as igrejas e as


misses. No entanto, o que nos preocupa no so os mecanismos de
administrao dos recursos, desde que sejam eficientes e econmicos. O que
nos preocupa como a Paulo preocupava a questo da honestidade na
aplicao. Os fins pr-existem nos meios, logo, se os meios no forem
totalmente honestos por que os fins no so to honestos assim.

Sabemos de uma entidade religiosa estrangeira cuja administrao dos


recursos contabilmente impecvel, mas filosfica e teologicamente
corrompida, pois aplica o dinheiro do povo de Deus em aes da indstria
armamentista, a fim de ter mais recursos para pregar o evangelho.

No importa se h honestidade contbil nos meios, mas, sobretudo se h


honestidade filosfica e teolgica nos meios. nesse ponto que reside o cerne
da questo.

* Note nos evangelhos como sem o barquinho no


se teria feito o ministrio em volta do mar da Galilia
com a mesma objetividade com que se fez. O barco
encurtou o caminho e economizou tempo. O barco
foi, portanto, um equipamento fundamental na
evangelizao na Galilia.

SEXTO PRINCPIO
A contribuio s efetiva mediante diligncia, presteza e zelo.

justamente neste ponto que ns, latino-americanos, mais falhamos. Isso


porque em geral somos o oposto: relaxados, descansados e negligentes.
Quando digo isso falo de mim mesmo. Incluo-me entre aqueles que se
esquecem de compromissos, demoram a responder ou a tomar decises
fundamentais e so remissos e negligentes em assuntos que de ns requerem
zelo.

Talvez seja por estas razes, mais do que por nossa pobreza, que a igreja
brasileira e seus crentes ainda no entraram no rol das comunidades
evanglicas verdadeiramente missionrias. tambm por essa razo que h
pastores passando fome, igrejas sem recursos financeiros e misses nativas
(quando digo nativas, no me refiro as que trabalham com ndios que em
geral so estrangeiras mas s misses brasileiras) indo mngua em seus
malogrados projetos, boicotados pelo esquecimento, pela falta de
perseverana e pelo descaso da maioria dos contribuintes.

Por isso Paulo cobra dos corntios inicialmente uma atitude de diligncia, a fim
de tornarem sua contribuio efetiva. Ele diz que fala nas contribuies a fim
de provar pela diligncia de outros os outros aos quais ele se refere eram
os macednios a sinceridade dos objetivos e motivaes dos irmos de
Corinto (II Cor.8:8).

Sem diligncia por parte dos contribuintes as igrejas e misses brasileiras


jamais tero recursos suficientes para fazerem misses interna e
externamente. Diligncia diz respeito a fazer o que tem que ser feito e no
tempo certo. andar na direo prtica da execuo das coisas necessrias.
no ser romntico e sonhador, falante e estimulador, mas efetivo, prtico e
concreto em suas aes.

Nesse ponto entra a segunda palavra chave do 6 princpio: presteza.

Agora Paulo inverte as perspectivas e diz aos corntios que os elogiara junto
aos macednios pela presteza com a qual eles certamente cooperariam com a
Misso Judia 57:*

Por que bem conheo a vossa presteza, da qual me glorio junto aos
macednios, dizendo que a Acaia est preparada desde o ano passado (II
Cor.9:2a).

A est outra palavra que precisa se transformar em disciplina na minha vida e


nas aes de todos ns: presteza.

Presteza a capacidade de fazer rpido, mas, antes disso, a virtude de ter as


coisas j preparadas antes.
No caso dos irmos da Acaia, Paulo diz que um ano antes eles j tinham
comeado a ajuntar o projeto Misso Judia 57. A lio que nos deve alcanar
no sentido de darmos prioridade as nossas contribuies, a fim de as termos
preparadas e separadas para os devidos fins. No entanto, s se consegue isso
com uma terceira atitude: zelo.

As duas palavras anteriores (diligncia e presteza) no so necessariamente


religiosas e devocionais. Os empresrios bem sucedidos tm diligncia e
presteza, mas no tem que ser crentes para desenvolverem essas virtudes.
Elas esto mais associadas responsabilidade e disciplina do que
religiosidade.

No entanto, a palavra zelo quase que exclusivamente usada no ambiente da


f. Ela tem um certo toque de devocionalidade, de culto a Deus.

Nos dias de Jesus e de Paulo a palavra zelo era melhor entendida do que
hoje. At o ano 74 D.C., com a queda da Massada, havia um grupo judeu
chamado os zelotes. Foram assim chamados porque eram religiosos ultra-
radicais e que no suportavam a dominao Romana sobre os judeus.
Tamanha era a ofensa que aquela sujeio lhes causava que eles resolveram,
apesar de poucos e fracos, que enfrentariam a superpotncia romana at que
lograssem a vitria e a libertao de Israel.

Seu zelo era tamanho que vendo que no poderiam vencer os romanos e
percebendo-se sem opes seno a rendio, resolveram suicidar-se no alto
da fortaleza de Massada, ao sul da Judia, antes que os opressores pudessem
sequer estender as mos sobre eles.

Por isso a palavra zelo, para Paulo estava intimamente associada ao


movimento radical dos zelotes dos seus dias.* Nesse caso zelo levar at as
ltimas conseqncias um compromisso, um princpio, uma convico.
Especialmente uma convico de f e que implica em obedincia ao Senhor.

A comparao com os zelotes pode ser demasiadamente forte, mas de fato o


que nos falta zelo na vida e tambm nos nossos compromissos de
contribuio.

Paulo assim diz dos irmos da Acaia:

o vosso zelo (nas contribuies) tem estimulado a muitssimos (II Cor. 9:2b).

sempre assim: zelo gera zelo em progresso geomtrica, at que


muitssimos so influenciados por esse santo vrus da coerncia.

* apenas um ttulo criado para contextualizar a


misso aos irmos da Judia.
STIMO PRINCPIO

A contribuio tem que ser feita ainda que ela signifique um auto-
empobrecimento.

Uma das freqentes afirmaes que ouvimos de homens abastados (como j


dissemos, proporcionalmente ao que possuem eles, so em geral os que
menos do) a de que no devem ser to generosos a fim de no
empobrecerem pelas muitas doaes.

claro que numa sociedade classista e de grandes disparidades sociais, no


mximo se pode esperar que haja uma reviravolta econmica de modo a
produzir um novo perfil social, onde no haja hiatos econmicos, marcados
pela indignidade da intransponibilidade social de uma classe para a outra.

Nesse caso considerando-se uma sociedade como a nossa: semi-


funcionalista, classista, injusta e de riquezas polarizadas o menos ruim que
pode haver para os pobres a presena de ricos generosos. Assim sendo no
se tem uma cura substancial da sociedade, mas se tem uma assistncia
menos ruim que a fome total e a misria absoluta. Nesse caso a afirmao dos
ricos generosos de que no podem empobrecer para poderem continuar
doando tem uma certa fundamentao lgica.

Todos ns sabemos que o ideal de Deus para a sociedade a igualdade


(igualdade, no igualitarismo). Todavia, nossa sociedade ocidental,
empobrecida para milhes e afortunada para apenas alguns milhares a
realidade concreta e inolvidvel que se nos depara. Da os ricos generosos
afirmarem como no intrito desse princpio n 7 que mencionei. Nesse caso
eles funcionariam, socialmente falando, como uns reservatrios de gua do
deserto, minando gotas dgua em meio a centenas de outros reservatrios
que no deixaram vazar nada aos peregrinos sedentos no deserto.

No entanto, apesar do realismo desses irmos o Novo Testamento segue seu


caminho de anncio da vontade boa, perfeita e agradvel de Deus. Justamente
por essa razo os custos do Reino de Deus no so abaixados diante do
realismo social dos ricos.

Paulo introduz seu novo princpio afirmando que a base teolgica para sua
convico de que a contribuio pode significar at mesmo um auto-
empobrecimento vinha da sua f e compreenso de que o mais bsico e
fundamental gesto de Deus na direo do homem cado manifestando seu
interesse de redimi-lo de sua misria e de ala-lo a um novo piso de dignidade
e restaurao espiritual era a encarnao, com sua conseqente implicao
de auto-empobrecimento:
pois conheceis a graa de nosso Senhor Jesus Cristo, que, sendo rico, se fez
pobre por amor de vs, para que pela sua pobreza vos tornsseis ricos (II
Cor.8:9).

E bvio que Paulo est apelando para trs implicaes fundamentais,


decorrentes da compreenso do fato da encarnao:

1. A encarnao, com o conseqente despojamento divino, foi


pura obra de graa. Com isso Paulo tenta nos dizer que quem recebeu a
graa deve agir com graa. Esse o princpio que subjaz em todo o Novo
Testamento. (Mt. 5:44 e 45; 18:23-35, com nfase especial para o assim
tambm vosso Pai Celeste vos far...; Lc. 7:47; Cl. 3:13b; Ef. 5:1 e 2; I Jo.
3: 16).

2. A graa significou no apenas um favor imerecido mas um


auto-empobrecimento por parte DAQUELE que praticou a bondade. Afinal
foi ele quem teve o prejuzo inicial com to grande gesto, pois sendo
rico, ficou pobre.

3. A riqueza que a ns nos foi outorgada pela graa, no foi


material, porm espiritual. Deus se fez gente para que nos tornssemos
ricos, mas ricos da sua graa (Tg. 2:5-7).

Esse ltimo ponto elimina a idia de que a riqueza material sinal de bno.
Como algum j disse, se assim fosse seria sinal de que Deus estava
abenoando muito a Mfia. Ao contrrio, a riqueza antes de ser bno, uma
enorme e perigosa responsabilidade. Se voc tem dvida disso leia os
seguintes textos:

Melhor o pouco havendo o temor do Senhor, do que grande tesouro,


onde h inquietao (Pv. 15:16).

Melhor o pouco havendo justia, do que grandes rendimentos com


injustia (Pv. 16:8).

Trabalhar por adquirir tesouro com lngua falsa vaidade e lao mortal
(Pv. 21:6).

Duas cousas te peo; no mas negues antes que eu morra:

Afasta de mim a falsidade e a mentira; no me ds nem a pobreza nem a


riqueza: d-me o po que me for necessrio, para no suceder que,
estando eu farto, te negue e diga: Quem o Senhor? Ou que,
empobrecido, no venha a furtar, e profane o nome de Deus (Pv. 30:7-9).
No acumuleis para vs outros tesouros sobre a terra, onde a traa e a
ferrugem corroem e onde ladres escavam e roubam, mas ajuntai para
vs outros tesouros no cu onde traa nem ferrugem corroem e onde
ladres no escavam nem roubam, porque, porque onde est o teu
tesouro, a esta tambm o teu corao (Mt. 6:19-21).

Ento Jesus, olhando ao redor, disse aos seus discpulos: Quo


dificilmente entraro no reino de Deus os que tm riquezas! (Mc. 10:23).

Ai de vs, os ricos! Porque tendes a vossa consolao (Lc. 6:24).

Ora, os que querem ficar ricos caem em tentao e cilada, e em muitas


concupiscncias insensatas e perniciosas, as quais afogam os homens na
runa e perdio (I Tim. 6:9).

A riqueza pode vir a ser uma bno. Note, eu disse pode, no disse
uma bno. Alis, ela uma grande ameaa que pode vir a ser uma grande
bno. Todavia, a riqueza s bno quando ela decorre de algumas
motivaes e aes especficas e quando ela se dirige a algumas situaes
concretas:

Vejamos ento quando que a riqueza pode ser uma bno:

- Quando o recurso foi adquirido sem engano e malogro: Balana


enganosa abominao para o Senhor, mas o peso justo o seu prazer
(Pv. 11:1).

- Quando no se ps a confiana no poder do dinheiro: Quem confia


nas suas riquezas cair, mas os justos reverdecero como a folhagem
(Pv. 11:28).

- Quando a riqueza foi um fruto da humildade e da singeleza: Melhor


o que se estimula em pouco, e faz o seu trabalho, do que o vanglorioso
que tem falta de po (Pv. 12:9).
- Quando a marca do progresso foi o trabalho diligente e motivado
pela sobrevivncia: O que lavra a sua terra ser farto de po, mas o
que corre atrs de cousas vs falto de senso (Pv. 12:11). Os planos do
diligente tendem abundncia, mas a pressa excessiva, pobreza (Pv.
21:5).

- Quando os lbios pronunciaram palavras construtivas e as mos


se moveram com presteza: Cada um se farta de bem pelo fruto da sua
boca, e o que as mos do homem fizerem ser-lhe- retribudo (Pv. 12:14).

- Quando a riqueza no foi o fruto da esperteza e da boa vida: Os


bens que facilmente se ganham, esses diminuem, mas o que ajunta
fora do trabalho ter aumento (Pv.13:11).

- Quando a arrogncia no dominou o corao: O pobre fala com


splicas, porm o rico responde com durezas (Pv. 18:23).

- Quando a mentira no foi o instrumento da riqueza: Trabalhar por


adquirir tesouro com lngua falsa vaidade e lao mortal (Pv. 21:6).

- Quando no se ficou rico por se fazer vista grossa ao roubo: O


que tem parte com o ladro aborrece a sua prpria alma, ouve as
maldies, e nada denuncia (Pv. 29:24).

- Quando a riqueza e a prosperidade no advierem de conluios


polticos malignos e promotores de dependncias: ... Muitos buscam
o favor do que governa, mas para o homem a justia vem do Senhor (PV.
29:26).

- Quando a riqueza no vem da opresso e da sonegao dos


direitos do prximo: Eis que o salrio dos trabalhadores que ceifaram
os vossos campos e que por vs foi retido com fraude est clamando; e
os clamores dos ceifeiros penetraram at os ouvidos do Senhor dos
exrcitos (Tg. 5:4).
Situaes concretas: Vejamos agora em que direo deve andar o
homem rico para que sua riqueza se converta de ameaa em beno:

- Sua riqueza deve ser descartvel: Ouvindo-o Jesus, disse-lhe: Uma


coisa ainda te falta: Vende tudo o que tens, d-o aos pobres, e ters um
tesouro nos cus, depois vem e segue-me (Lc. 18:22).

- Sua riqueza deve se converter juntamente com seu corao:


Entrementes, Zaqueu se levantou e disse ao Senhor: Senhor, resolvo dar
as pobres a metade dos meus bens; e, se nalguma coisa tenho
defraudado algum, restituo quatro vezes mais. Ento Jesus lhe disse:
Hoje houve salvao nessa casa, pois que tambm este filho de
Abrao (Lc. 19:8 e 9).

- A riqueza deve se tornar uma ferramenta de expanso do Reino de


Deus: E eu vos recomendo: das riquezas de origem inqua fazei amigos,
para que, quando estas vos faltares, esses amigos lhes recebam nos
tabernculos eternos. Quem fiel no pouco, tambm fiel no muito, e
quem injusto no pouco, tambm injusto no muito.
Se pois, no vos tornastes fiis na aplicao das riquezas de origem
injusta, quem vos confiar a verdadeira riqueza? (Lc. 16:9-11).

- A riqueza deve ser vivenciada com um corao quebrantado e


sumamente generoso: Exorta os ricos do presente sculo que no
sejam orgulhosos, nem depositem a sua esperana na instabilidade da
riqueza, mas em Deus que tudo nos proporciona ricamente para nosso
aprazimento, que pratiquem o bem, sejam ricos de boas obras, generosos
em dar e prontos a repartir... (I Tm. 6:17 e 18).

- O homem rico deve estar disposto a repartir o que possui, sabendo


que a nica riqueza que d segurana aquela que est reservada no
cu: ... que acumulem para si mesmos tesouros, slido fundamento para
o futuro fim de se apoderarem da verdadeira vida (I Tm. 6:19).

- A atitude de auto-empobrecimento de Jesus deve se converter no


exemplo e no referencial da generosidade dos ricos: Pois conheceis a
graa de nosso Senhor Jesus Cristo, que, sendo rico, se fez pobre por
amor de vs, para que pela sua pobreza vos tornsseis ricos (II Cor. 8:9).
Neste ponto, vem-me mente o exemplo de Barnab. Possivelmente aquele
irmo tivesse boa condio financeira. Todavia, quando o Reino de Deus o
tocou, seu corao assumiu uma atitude de extremo auto-despojamento em
favor da misso da igreja. Vendeu seu campo e levou seu dinheiro aos lderes
da comunidade (Atos 4:36 e 37).

Vale lembrar que quando Paulo escreveu que a contribuio pode significar at
mesmo um auto-empobrecimento, a situao scio-econmica de seus dias
era muito semelhante quela que hoje nos rodeia no terceiro mundo. As
discrepncias sociais estavam mais que presentes: elas saltavam aos olhos.
Os escravos eram considerados sub-homens em submisso total aos seus
donos. A riqueza tambm era rara e se constitua em privilgio de poucos.
Aqueles que a alcanavam mantinham-na com unhas e dentes para no perde-
la. Diante disso voc pode imaginar que impacto negativo e radical essa
palavra do apstolo poderia ter entre os eventuais ricos que lessem a sua
carta.

No entanto, todos ns sabemos que no contexto da carta fala-se muito que


todos eram pobres. Porque ento Paulo estaria falando de auto-
empobrecimento?

Por trs possveis razes:

1. Para mostrar que mesmo os pobres podem agir com graa de


um dadivoso e despreendido amor que os mova a contribuir.

2. Para que os possveis ricos encubados no disfarce de sua


piedade fossem conduzidos a uma concreta confrontao com a vontade
de Deus. Isso por que Paulo sabia que uns se dizem ricos sem ter nada,
outros se dizem pobres sendo mui ricos (Pv. 13:7).

3. Alm do mais, a carta escrita aos corntios, e entre eles a


pobreza no era a grande realidade. Sendo Corinto uma cidade situada
no istmo do Poliponeso, separando o mar Egeu do Adritico, numa
pequena faixa de terra, tornou-se um dos maiores pontos de comrcio do
mundo.

Por isso, conquanto em cornto houvesse pobres (I Cor. 11:21), o nvel geral da
igreja era economicamente elevado: o tesoureiro da cidade era membro da
igreja (Rm. 16:23 II Tim. 4:20), o padro de vida de certos irmos humilhava
os mais pobres (I Cor. 11:22) e havia membros das igrejas que eram scios em
comrcios e indstrias locais (I Cor. 6:1 e 4). A prosperidade era uma das
marcas daqueles crentes (I Cor. 16:2), a ponto de que alguns deles corriam o
risco de pensar que Paulo s se aproximava deles no intuito de obter alguma
oferta (II Cor. 12:14). Sim, a igreja de Cornto era uma igreja rica, e como tal,
desenvolveu todos os psiquimos dos abastados:

- Idia de que toda aproximao visa explorao (II Cor. 12:17 e 28).
- Falta de viso das necessidades do Reino de Deus e de seus obreiros (I
Cor. 9:6-12).

- Uma economia, em relao ao Reino, incompatvel com suas aes e


gastos pessoais (I Cor. 9:7-10).

- Uma falta de noo de que o trabalho e a ministrao espiritual valem


incomparavelmente mais do que o bem material (I Cor. 9:11).

Paulo fala de auto-empobrecimento para que os ricos ocultos se revelassem;


porque ele j no estava falando da pobre igreja da Macednia, porm j
voltara sua mira para a prspera igreja de Cornto, seus particulares
destinatrios.

Portanto, o que deve ficar em nossa mente que o princpio da contribuio


o princpio da opo de Deus pelo auto-despojamento, assumindo uma
cidadania empobrecida, a fim de tornar outros ricos.

No toa que Paulo pensa na encarnao, vida, morte e ressurreio do


Senhor Jesus como sendo o paradigma absoluto para os sentimentos do
cristo:

Tende em vs o mesmo sentimento que houve tambm em Cristo


Jesus, pois Ele, subsistindo em forma de Deus, no julgou como
usurpao o ser igual a Deus, antes a si mesmo se esvaziou, assumindo
a forma de servo, tornando-se em semelhana dos homens; e,
reconhecido em figura humana, a si mesmo se humilhou, tornando-se
obediente at a morte, e morte de cruz (Fp. 2:5-9).

A vida de Jesus o centro de tudo na f crist. Por isso, qualquer perspectiva


de cristianismo que no projete seu foco de projeto e de processo de vida na
direo de Jesus e sua maneira humana de ser Deus, no cristo, outro
evangelho, manipulao do nome de Cristo, adaptando-o aos aspectos
legalistas ou pecaminosos de certas culturas e ideologias (Gl. 2:14).

H lugares do planeta Terra onde esse meu livreto seria considerado mrbido e
hertico. Nesses lugares quem rico estimulado pela f crist a ficar mais
rico ainda. Por causa disso, essa afirmao de que o princpio da contribuio
pode desembocar in extremis - no auto-empobrecimento, pode parecer
mrbida e exagerada.

Mas se voc um dos que se encontram chocados com essa possibilidade,


deixe-me dizer-lhe trs coisas:

1. No pode haver dvida de que o que Paulo tentava nos


comunicar era exatamente isso, pelo fato que ele usa o exemplo da
encarnao de Jesus para justificar os seus apelos dos contextos
antecedentes e imediatos da narrativa, ambos falando em dinheiro e
contribuio.
2. claro que esse princpio no a regra geral para a vida, mas
uma predisposio que precisa ser implantada no fundo do nosso
corao, como faceta da Cruz do discipulado da nossa vida.

3. Esse princpio deve ser exercido somente em amor e com


profundo bom senso, afim de que os inescrupulosos no tirem proveito da
nossa predisposio. Trata-se, portanto do ltimo gesto de quem
contribui.

OITAVO PRINCPIO

A contribuio deve ser o resultado da compreenso de que no ciclo


da solidariedade toda abundncia dada para suprir a pobreza.

Eu disse, encerrando o princpio antecedente, que a atitude de auto-


empobrecimento s seria admissvel se voluntria, exercida em amor e bom
senso, para a mais justa das causas, sem constrangimento e como o ltimo
gesto do contribuinte, ou seja, uma ao in extremis.

A prova disso est nesse novo estgio paulino acerca dos princpios de
contribuio.

Diz o apstolo:

Por que no para que os outros tenham alvio, e vs, sobrecarga, mas para
que haja igualdade, suprindo a vossa abundncia no presente a falta daqueles,
de modo que a abundncia daqueles venha suprir a vossa falta, e assim haja
igualdade, como est escrito: o que muito colheu, no teve demais, e o que
pouco, no teve falta (II Cor. 8:13-15).

O apstolo inicia dizendo que a poltica de Deus no dar alvio para uns e
sobrecarga para outros. Sobre-carga peso para alm do suportvel. A poltica
de Deus a poltica da igualdade proporcional. No do igualitarismo utpico e
fardado.

Ah! Nesse momento alguns respiram fundo e aliviados. J estavam


ficando preocupados com o que fariam aps ler este livreto. Mas se voc
chegou at aqui, saiba que houve alguns que o fecharam e o puseram de lado
na introduo, antes que se complicassem ainda mais na presena de Deus
pelo que passariam a saber. Mas de fato, no h razo para o alvio e para que
se diga um: ainda bem que no era como pensei no princpio n7.

Note quando Paulo diz que no para que alguns tenham alvio, e vs,
sobrecarga, ele prossegue dizendo: mas para que haja igualdade.
Pense bem: Deus no suporta as disparidades, as injustias e as
sobrecargas. Deus ama a igualdade proporcional. Mas se assim, ento
raciocine que Deus no quer ver a balana pesar mais para nenhum dos lados.
No entanto, como as coisas esto agora, pode no estar pesando pra voc,
mas talvez esteja pesando imensamente para outros.

Assim como Deus no quer que voc d sua contribuio


desajuizadamente a ponto de ficar padecendo necessidade ao menos que
ele lhe fale ao corao conforme demonstramos no princpio anterior , Ele
tambm no deseja que voc permanea aliviado enquanto irmos seus vivem
em tremenda sobrecarga.

O plano de Deus que a igreja ensine aos principados e potestades nos


lugares celestiais no apenas as coisas convencionalmente associadas
espiritualidade vertical, mas que ela tambm ensine ao mundo e aos
principados espirituais a sabedoria da justia social, manifestada dentro da
prpria igreja.

Diante disso, pense nas seguintes realidades:

- Como fica diante de Deus o fato de que na igreja uns tem demais e
outros tm de menos?

- Como fica a realidade de que os que tm de-mais, tm muito mais do


que precisam; e os que tm de-menos, tm muito menos do que
necessitam?

- Como fica a constatao de que sempre sobra dinheiro para os crentes


da classe mdia e alta usufrurem maravilhosos privilgios, ainda que com
elevados gastos, enquanto, na mesma poca, a freqente queixa deles
que no lhes sobra recursos para investir no Reino de Deus?

- Como fica diante de Deus o fato de que os negcios de certos irmos


prosperam cada vez mais, ao passo que a obra missionria dentro do
Brasil vai a mingua ao lado desses irmos to abastados?

Ningum pode obrigar ningum a contribuir. A poltica do Reino de Deus a


igualdade proporcional promotora da justia, no do igualitarismo.

Somente o Esprito Santo pode constranger uma pessoa a investir no


Reino. Mas tambm somente a pessoa humana pode se fechar para esse
constrangimento do Esprito.

Meu irmo, voc pode fazer o que voc quiser com os seus bens. No
entanto, saiba que o plano de Deus que se voc tem o dom de aumentar
seus bens, o Senhor lhe concedeu essa possibilidade para que voc possa
praticar a poltica do Reino de Deus: a justia da igualdade proporcional.

H irmos pobres e misses pobres lutando para sobreviver com menos


do que aquilo que voc aplica no suprfluo total.
Se voc que ainda me l algum que hoje tem bens, ento oua o
Esprito de Cristo lhe dizer:

A vossa abundncia no presente (deve suprir) a falta daqueles, de modo


que a abundncia daqueles (que hoje nada tem), um dia venha a suprir a vossa
(eventual) falta, e assim haja igualdade.

No faz muito tempo que um dos nossos mais fortes mantenedores teve
alguns problemas financeiros, de modo que foi a obra de Deus que veio a
socorr-lo. Essa a melhor forma de fazer poupana: investindo no Reino de
Deus.

Voc deve ter percebido que desde o incio venho afirmando que Deus
no o Deus do igualitarismo fardado e absolutista. O igualitarismo no deu
certo em nenhum lugar do mundo. Em Cuba, no tempo do Che, o projeto
gerou ociosidade, improdutividade e injustia: pois alguns trabalhavam muito e
outros recebiam a mesma medida. O prprio Fidel Castro est reconhecendo
isso agora.

Na Unio Sovitica o mesmo se deu. O lder Mikhail Gorbachev disse no


seu discurso de 6 horas seguidas no incio de 86, que o igualitarismo est
obsoleto, e que ele s gerou burocracia, funcionalismo, parasitismo, corrupo
(porque os ambiciosos arranjaram maneiras de ganhar mais do que o nvel
institudo, atravs dos mercados negros de quase tudo na Unio Sovitica) e
esclerosamento funcional.

No era preciso esperar tanto para saber que isso era inevitvel e no
daria certo. Bastava que se tivesse crido na poltica econmica do Reino de
Deus: igualdade proporcional, praticada com a conscincia de que a fronteira
da liberdade de ter vai at onde o ter no implica no empobrecer do meu
prximo.

Liberdade e justia tm que andar juntas! Liberdade sem justia se


converte imediatamente em libertinagem do ego e orgia econmica da
sociedade. E justia sem liberdade injustia mascarada pelo igualitarismo que
ora premia os ociosos, ora suprime os direitos do homem.

A justia a fronteira da liberdade e liberdade o mago da justia.

Diante disso fica claro que o cristo no pode nortear sua filosofia de
administrao dos recursos por nenhum dos dois esquemas econmicos que
dividem este mundo. Ambos so corrompidos.

No capitalismo que apregoa a liberdade, falta a viso de que a liberdade


no pode acontecer s custas dos outros, especialmente dos pobres a da
matria-prima do 3 mundo. J o comunismo que apregoa a justia, peca por
suprimir as liberdades e no recompensar de modo justo logicamente para
ser justo no pode ser exacerbado o trabalho e o esforo dos que mais se
afadigam. Alm disso, peca tambm por no dar ao homem direito voz.
estranho: no primeiro sistema os lderes fecham os ouvidos para no ouvirem
os clamores. No segundo, eles fecham as bocas das pessoas para que elas
no falem. Em ambos o silncio a lei.

A bblia foge desse maniquesmo das ideologias econmicas


contemporneas e ensina um caminho diverso, solitrio, justo e santo: o
caminho da poltica econmica do Reino de Deus.

O que muito colheu,

no teve de-mais,

o que pouco colheu,

no teve falta! (II Cor. 8:15; Ex. 16:19)

Ante to sublime conceito de administrao dos bens e perante to elevado


conceito de justia scio econmica, o nosso corao s poderia dizer o mais
alto de todos os brados de aleluia:

ALELUIA!

Paulo diz que o tratamento que Deus deu a Israel no deserto, quando o
po era o mesmo e para todos, sem que a ningum sobejasse e ningum dele
ficasse privado, era o critrio ltimo para nortear a viso econmica dos
crentes, da igreja e da sociedade como um todo:

Quem precisa de mais pode ter mais,

Mas no de-mais;

Quem necessita de menos pode ter menos,

Mas no de-menos.

Se assim pensssemos, outra seria a fisionomia social da igreja, outra seria


nossa influncia na sociedade, e outra seria a situao das misses no Brasil e
no mundo.

No adianta que essas verdades estejam escritas na bblia. Elas precisam


ser encarnadas num projeto histrico concreto o mais rapidamente possvel. E
o lugar onde isso precisa comear a ser vivenciado na igreja. Desse modo a
igreja ser a sociedade alternativa e no a sociedade paralela quela maior e
circundante, e a qual Deus s se refere como injustia.

NONO PRINCPIO
As contribuies para a obra de Deus devem ser criteriosamente
administradas e abertas a auditorias crists.

Voc deve ter notado que no oitavo princpio nossa reflexo saiu do mbito
estritamente eclesistico e aambarcou o que ns poderamos chamar rpidas
consideraes sobre a filosofia da poltica econmica do Reino de Deus.
Talvez apesar de termos sido exguos e excessivamente simples alguns
tenham achado que samos muito de nossa proposio inicial. possvel que
sim. No entanto, creio que s estaremos aptos para entender certas realidades
especficas, com seus mecanismos peculiares e aparentemente no
necessitados de explicaes, se tivermos compreendido alguns aspectos
gerais e mais amplos de uma realidade maior, que tanto introjeta pequenas
maquetes suas nas pequenas sociedades (no nosso caso, a igreja a pequena
sociedade), quanto realimenta sua prpria mega-estrutura da micro-instrutura
sobre a qual ela influi.

Trocando em midos: vale estudar a sociedade secular e seus fenmenos


(sociologia), por que ela muitas vezes (infelizmente) tem delineado o perfil
sociolgico da igreja. Isso parte do que o Novo Testamento chama de
mundanismo. Alm disso, a igreja quando se torna um pequeno modelo
interno, tanto econmica, quanto social e administrativamente falando do
mundo que acerca, passa a alimentar juntamente com dezenas de outras
pequenas sociedades o monstro da injustia que cruelmente tira sua energia
dessas milhares de clulas sociais diminutas.

Isto posto e explicado, voltemos s consideraes especficas a respeito do


nosso tema propriamente dito:

As contribuies para a obra de Deus devem ser criteriosamente


administradas, e abertas a auditorias crists.

A preocupao de Paulo com este aspecto do processo da contribuio


simplesmente extraordinria. Ele diz que Tito estava incumbido de levar a
oferta dos macednios Judia (II Cor. 8:16-18), como tambm de apanhar a
oferta dos corntios (II Cor. 9:2-5) e dar a ela o mesmo justo destino. Todavia,
ao afirmar isso, nos faz uma das mais belas lies sobre a cautela de um
homem de Deus na administrao dos recursos da obra do Senhor:

E com ele (Tito) enviamos o irmo cujo louvor no evangelho est


espalhado por todas as igrejas. E no s isso, mas foi tambm eleito
pelas igrejas pra ser nosso companheiro no desempenho desta graa
ministrada por ns, para a glria do prprio Senhor, e para mostrar a
nossa boa vontade;

evitando assim que algum nos acuse em face desta generosa ddiva
administrada por ns, pois o que nos preocupa procedermos
honestamente, no somente perante o Senhor, como tambm diante dos
homens (II Cor. 8:18-21).
Esse o padro para o ministrio cristo, seja ele de que tamanho for. Do
servio individual grande organizao missionria, assim que se deve
proceder.

Paulo diz que no basta que o obreiro, o pastor, o conselho da igreja ou a


misso tenham conscincia de que a ddiva foi honestamente administrada.
Sua preocupao no era somente com a sua conscincia diante de Deus. Ele
temia tambm a calnia ou a suspeita dos homens (8:21).

Creio que a observncia deste princpio no pode mais ser adiada no


Brasil. Desde os ministrios pessoais, passando pelas igrejas e indo s
misses, esse deve ser o esprito e a preocupao.

Quando escrevo estas pginas (durante o congresso Amsterdam 86),


incluo-me entre os faltosos. No tanto diante de Deus pois Ele sabe que
apesar que nossas inerentes e essenciais imperfeies, temos tentado andar
com a conscincia limpa diante dEle tambm nesta rea mas, sobretudo,
diante dos homens.

Isso porque, como disse Paulo, no basta haver honestidade, tem que
haver transparncia, ou seja, a administrao da igreja ou da misso tem que
estar aberta verificao dos cristos. E no somente aberta, mas exposta e
preocupada em expor-se.

Meu compromisso pessoal com Deus, comigo mesmo, e com meus


irmos que de hoje em diante no somente continuarei a ser honesto na
administrao das ddivas recebidas, como tambm manterei as contas
de nossa misso abertas e publicadas anualmente para todos os
interessados.

Assim diz uma das afirmaes do Congresso Amsterdam 86, assumida


publicamente por mim e por dez mil outros evangelistas:

Ns seremos fiis despenseiros de tudo o que Deus nos der, prestaremos


contas das finanas do nosso ministrio outros, e seremos honestos na
divulgao das nossas estatsticas (10 afirmao).

Quantas vezes j li o princpio de II Corntios 8: 16:21 sem sentir nenhuma


comoo! Talvez por ingenuidade, por excesso de latinidade ou por extremo
individualismo prprio de ns protestantes preocupados apenas com nossa
conscincia individual diante de Deus. No entanto, nesses dias aqui em
Amsterdam senti-me perturbado com as palavras de Paulo:

Pois o que nos preocupa procedermos honestamente, no s perante o


Senhor, como tambm diante dos homens (II Cor. 8:21).

Minha perturbao no foi causada apenas em funo do meu reconhecimento


de que preciso ser mais transparente nessa rea. Preocupo-me tambm com
o fato de que alm de tudo estamos debaixo de outra ameaa no Brasil: a de
termos nos acostumado aos sculos de governos colonialistas auto-centrados
e monrquicos e, posteriormente, com os muitos perodos ditatoriais de nossa
histria, quando o povo nunca tem ou teve acesso aos exames srios das
contas do pas, atravs de seus representantes. Se existe a possibilidade de se
ver a questo com as lentes da sociologia, ento talvez se explique a
quantidade enorme de pastores e denominaes que parecem repetir em nvel
estrutural e econmico a mesma poltica caudilhesca de fora da igreja. Trata-se
de um eclesiasticismo militarizado. Nestes regimes eclesiais o povo tambm
no tem acesso s contas da igreja.

Isso nos preocupa imensamente, inclusive pelo fato de que h hoje no pas
uma enorme quantidade de novas e independentes igrejas, quase todas elas
estruturadas a partir do modelo coronelista, de imensa autonomia para o pastor
e grande isolamento para o povo. o pinochesamento da estrutura eclesial (I
Pd. 5:1-3).

Se quisermos ser uma santa e forte igreja de Cristo no Brasil, se quisermos ser
respeitados intocveis lderes nacionais nesta gerao, se quisermos nos
tornar uma das maiores agncias de misses e missionrios do mundo, ento
necessitamos reverter o processo de administrao autnoma, para um
processo participativo, afim de que o diabo no alcance vantagem sobre ns.

Para que isso no acontea mister que observemos as instituies que o


apstolo d nestes nove versculos de II Cor. 8:16 a 24:

1. preciso que o lder espiritual seja o ministrador dos


recursos, mas no o nico administrador deles.

Paulo diz que o manuseio daquele fundo missionrio era um desempenho de


ministrao de graa (19). Nesse sentido, o lder espiritual deve participar do
processo de motivao do povo, e tambm do direcionamento ministerial do
recurso para a viso da necessidade.

2. preciso que o lder espiritual passe a outros a


administrao imediata dos recursos, mas necessrio que ele seja
o ad-ministrador dos administradores.

O apstolo diz que ele queria ministrar a graa daquele fundo missionrio (10),
incumbindo outros de administrarem de modo direto os recursos (16, 18, 22,
24). No entanto, ele mesmo est de olho, ainda que no to diretamente, no
destino do dinheiro. Por isso, ele se chama tambm administrador, mas no
sentido de um ad-ministrador, ou seja, de algum que ministra de fora,
delegativamente, porm de modo responsvel.

Ah! Como me custou aprender isso!

3. preciso que os homens incumbidos da administrao


estejam acima de toda suspeita.

interessante observar os termos de expresses que Paulo usa para


descrever esses administradores. Eles so descritos como homens (24 no
sentido da dignidade, no do sexo), companheiros e cooperadores (23),
pessoas zelosas e experimentadas (22), de imensa solicitude (16), de corao
voluntrio (17b), e de mente cuidadosa (17a). Alm disso, eram pessoas de
vida e condutas j louvadas pelas igrejas (18).

Que Deus nos ajude a achar tais homens para que os tenhamos ao nosso
lado na Igreja ou na Misso.

4. preciso que a escolha seja democrtica.

Isso no sentido de que o povo da igreja ou a assemblia da misso devem


eleger os incumbidos pela administrao dos recursos. Paulo diz que no
apenas bastou que o seu administrador fosse louvado pelas igrejas, mas foi
necessrio que ele tivesse sido eleito pelas comunidades ou assemblias para
o desempenho daquela funo (19).

Tenho certeza de que este foi o princpio mais difcil para eu escrever, pelo
simples fato de que esta foi rea menos organizada de meu ministrio. Deus
nos guardou, mas no nos poupou de dissabores. Por isso, enquanto exponho
esses princpios estou assinando meu compromisso pblico de manter as
contas da misso que presido sob peridicas auditorias feitas por firmas de
auditoria escolhidas pela nossa assemblia anual.

Nas igrejas histricas isso acontece normalmente, mas nas igrejas


independentes ou nas nossas misses ainda tupiniquins, tais critrios nem
sempre vem sendo usados.

Que o Senhor nos ajude a continuarmos levando a bom termo nossa inteno.

DCIMO PRINCPIO

O esprito de contribuio deve estar alerta em todos os crentes afim de


que no haja necessitados despercebido.

Nesse ponto de nossa exposio, nos confrontamos com os olhos, a


sensibilidade e as mos do Corpo de Cristo: os olhos vem (I Cor. 12:21a), o
corao sente misericrdia (Rom. 12:8c) e as mos agem em socorro do
necessitado (I Cor. 12:21b, 28c socorros). Tudo isso na perspectiva geral da
contribuio como um ministrio de todos os crentes. verdade que h
pessoas dotadas de especial capacidade de ver, sentir e agir na direo do
socorro ao necessitado (Rm 12:8b). A essa capacitao o Novo Testamento
chama dom de contribuio. Trata-se daquela pessoa em cujas mos os dons
se multiplicam justamente a fim de que sejam liberalmente distribudos por
esse cristo ungido com o carisma da contribuio especial.
No nosso contexto histrico de II Cor. 8 e 9, Paulo tenta desenvolver na
comunidade de Corinto, como um todo, essa hipersensibilidade contributiva.
Por isso ele outra vez evoca aos corntios que ficassem de sobreaviso, e assim
no se vissem surpreendidos com a sbita chegada de Paulo, possivelmente
acompanhado por irmos da Macednia. Essa precauo do apstolo tem por
fim poupar constrangimento ou vergonha aos seus destinatrios, caso a
comitiva apostlica chegasse e no encontrasse a contribuio da igreja j
separada aps generosa participao de todos:

Enviei os irmos (Tito e Silvano), para que nosso louvor a vosso respeito,
neste particular, no se desminta, afim de que, como venho dizendo,
estivsseis preparados, para que, caso os macednios vo comigo e vos
encontrem desapercebidos no fiquemos ns envergonhados (para no dizer
vs) quanto a essa confiana. Portanto julguei conveniente recomendar aos
irmos que me precedessem entre vs, e preparassem de antemo a vossa
ddiva j anunciada, para que esteja pronta como expresso de generosidade,
no de avareza (II Cor. 9:3-5).

Neste trecho trs realidades bsicas saltam aos olhos:

1. O elogio:

Paulo vinha elogiando a comunidade de Corinto em alguns aspectos. E


certamente criou-se uma superexpectativa por parte dos macednios com
respeito resposta positiva dos irmos corntios tambm na rea
financeira (9:3).

2. O temor:

Apesar de falar bem, e esperar melhor dos irmos de Cornto, o apstolo


temia as conseqncias que poderiam advir de uma possvel negligncia
deles naquele particular (3b- 4). Alm disso, Paulo antev os efeitos
negativos que poderiam surgir caso essa sua suspeita se efetivasse
negativamente:

- Vergonha para o apstolo: para que... no fiquemos envergonhados


(4a,b).

- Vergonha para a igreja: para no dizer vs (4c).

- Decepo para os macednios: Tal preocupao no se declara, se l


somente nas entrelinhas e no esprito da precauo assumido pelo
apstolo-pastor. Isso porque ele sabia como o mau exemplo corntio
poderia repercutir mal entre os macednios, a ponto de arrefecer-lhes os
nimos de contribuio e generosidade futuras.

3. A imaturidade:

De fato a cautela do apstolo seria completamente dispensvel se os


irmos de Cornto j estivessem no nvel do que ns poderamos chamar
de igreja amadurecida. Na realidade, eles ainda eram meninos em Cristo
(I Cor. 3:1 e 2). Por essa mesma razo a preocupao de Paulo era
pertinente.

Sendo essas razes histricas pelas quais possivelmente o apstolo


antecipou sua prpria caravana de recolhimento de ofertas uma outra, fica
claro que o interesse dele era ensinar aos irmos o fato de que no deve ser
necessrio que as contribuies aconteam apenas como resultados de
constantes avisos, lembretes e comitivas de constrangimento. Na realidade, o
apstolo julgava desnecessrio que assim se fizesse (9:1). Mas como a igreja
ainda no estava capacitada e amadurecida, ento fazia-se necessrio por
precauo, que houvesse a carta de lembrana (9:3). E II Corntios entre outras
coisas uma carta-lembrete, to comum entre ns hoje em dia quando da
inteno de acorda os irmos esquecidos da graa de contribuir.

Sempre que crentes s contribuem aps vrios lembretes pastorais,


insistentes e perturbadoras correspondncias, sinal de sua imaturidade
espiritual. O alvo bblico que as contribuies estejam sempre preparadas
(9:3c). No entanto, para que isso acontea, mister que a mente de cada
cristo se converta da mentalidade de recepo para a atitude de doao.

Especialmente entre ns do 3 mundo ainda predomina esse complexo


de carncia, esse sentimento de receptores no de promotores. Mas hora de
convertermos nossa mentalidade. hora de nos curarmos da doena da
sanguessuga, do parasitismo missionrio, da verminose que nos incha e nos
impede de crescer.

Sim! Chegou a hora de aliarmos a mais atenta viso das necessidades


humanas e da obra de Deus, o mais misericordioso corao e mais ampla e
generosa mo. Alis, este o princpio bblico:

Ora, aquele que possuir recursos deste mundo e vir a seu irmo
padecer necessidade e fechar-lhe o seu corao, como pode permanecer
nele o amor de Deus? (I Jo. 3:17).

Trs so as palavras chaves desse processo da contribuio que se


afirma como sinal concreto da presena do amor de Deus no corao do Cristo
e que tem sua desembocadura na vida prtica e horizontal:

1. Possuir: uma aluso aos bens materiais, ao dinheiro ou ao


poder que qualquer cristo tenha de influir materialmente sobre a
realidade.

2. Vir: Esta a palavra que caracteriza a percepo imediata da


necessidade ou a informao de que a necessidade existe de maneira
concreta na vida dos irmos ou da obra de Deus.

3. Fechar: o termo definidor de culpa dos crentes que tm


recursos, sabem de necessidades tanto na vida de irmos, como no
cotidiano da obra de Deus e tornam-se alheios, indiferentes, ausentes e
apticos. O oposto positivo dessa atitude o abrir do corao.

Quem fecha o corao para o amor de Deus, fecha tambm o bolso;


quem abre o corao para o amor de Deus abre tambm o bolso. E ainda:
quem ama a Deus tem uma resposta devocional ao amor de Deus na
forma de um dadivoso amor aos irmos. E esse amor atento (v),
solidrio (percebe as necessidades) e prtico (socorre de modo
concreto).

O resto logorria fanfarrista e de um falso e abominvel fraternalismo


esotrico e abstrato:

Filhinhos, no amemos de palavra, nem de lngua, mas de fato e de verdade


(I Jo. 3:18).

esse o percurso da misericrdia que se transforma em histria real de


bondade perceptvel e tangvel:

Jesus prosseguiu, dizendo: Certo homem descia de Jerusalm para


Jeric, e veio a cair em mos de salteadores, os quais, depois de tudo lhe
roubarem e lhe causarem muitos ferimentos, retiraram-se deixando-o
semi-morto. Casualmente descia um sacerdote por aquele mesmo
caminho e, vendo-o, passou de largo. Semelhantemente um levita descia
por aquele lugar e, vendo-o, tambm passou de largo.

Certo samaritano, que seguia seu caminho, passou-lhe perto e, vendo-o,


compadeceu-se dele. E, chegando-se, pensou-lhe os ferimentos,
aplicando-lhes leo e vinho, e, colocando-o sobre seu prprio animal,
levou-o para uma hospedaria e tratou dele. No dia seguinte tirou dois
denrios e os entregou ao hospedeiro, dizendo: Cuida deste homem e, se
alguma coisa gastares a mais, eu te indenizarei quando voltar. (Lucas
10:30-35).

Veja como a seqncia proposta em I Joo 3:17, seja para ou bem, est
presente no texto de Lucas 10:30-35, acima transcrito:

I. A seqncia do mal:

1. O sacerdote e o levita possuam algum recurso: no se fazia


aquela viagem de mos vazias ou sem um po e um cantil de gua fria
(Lc 10:31-32). Especialmente em se tratando de to eminentes pessoas,
social e religiosamente falando, como os implicados nesta parte da
histria.

2. O sacerdote e o levita viram o homem cado: Vendo-o (Lc.


10:31b,32b).

3. O sacerdote e o levita fecharam o corao: passaram de


largo (Lc 10:31 e 32c).
II. A seqncia do bem.

1. O samaritano possua recursos: leo, vinho, um animal, e


dinheiro (34 e 35a).

2. O samaritano viu o homem cado: passou perto e, vendo-


o... (Lc.10:33).

3. O samaritano abriu o seu corao: se compadeceu dele


(Lc. 10:33b). S que esta compaixo se transformou numa ao de
enfrentamento direto, concreto e especfico da situao (34-36).

O que deve ficar em ns desde o dcimo princpio de Cor. 8 e 9 que tanto os


indivduos cidados do Reino de Deus como a igreja, devem ter seus olhos
abertos, seus recursos disponveis e seu corao escancarado em
misericrdia, a fim de antecipar-se sempre aos clamores mais agudos dos
necessitados: sejam homens, sejam igrejas menores, sejam misses
moribundas.

Minha orao neste momento no sentido de que daqui em diante Deus nos
amadurea como aos macednios a fim de que, menos tendo pouco,
socorramos os que tm menos.

Ainda somos distrados com os corntios, mas tempo de nos sensibilizarmos


para as necessidades do Reino de Deus.

Esta mais uma graa de contribuir!

DCIMO PRIMEIRO PRINCPIO

A contribuio alegre e voluntria desencadeadora de um ciclo de


bnos.

Talvez seja este o princpio que mais alegria gera naquele que l o seu
enunciado. No entanto, ele no funciona isolado. Tudo o que expusemos at
aqui na forma de princpios, acontece na estrutura de funcionamento
semelhante de uma engrenagem.

Pleitear o cumprimento deste enunciado sem ter em mente um


compromisso firmado com tudo o que antes j se disse um grande engano e
que redundar num terrvel malogro.
Isso por que no necessrio que se seja crente para que os nossos
recursos sociais e econmicos aumentem. Jesus bem sabia disso (Lc 12:16-
21).

Quando o Novo Testamento faz promessas ao homem generoso, no faz


um negcio com a generosidade.

No podemos nos esquecer de que contribuir uma concesso de Deus a ns,


uma graa favor imerecido e no uma ddiva nossa a Deus.

Outra coisa que necessitamos ter em mente que a promessa que Deus faz
de prosperidade aos generosos, no porque Seu divino corao tenha sofrido
uma forte comoo ante to grandes gestos de bondade humana. As
promessas de Deus a ns so pura e simplesmente graa.

Alm disso, tal realidade fica mais do que clara, pois o que Deus promete fazer
abenoando e trazendo prosperidade aos dadivosos acontece numa
perspectiva de total contraposio aos princpios e regras econmicas de
multiplicao de recursos. A ideologia econmica capitalista funciona a partir
da idia de que quem tem, mais ter, ou seja, dinheiro faz dinheiro, num
interminvel ciclo. Mas a promessa de prosperidade que Deus faz em sua
palavra aos dadivosos contraria em muito o princpio capitalista. No enunciado
divino, a coisa fica mais ou menos assim: quem muito d, muito ter, pois
quem d aos homens com a alegria de quem devolve Deus, receber de
Deus muito mais do que aquilo que aos homens deu.

Veja o texto de Paulo como traduz inigualavelmente esse princpio:

E isto afirmo: Aquele que semeia pouco, pouco tambm ceifar, e o que
semeia com fartura, com abundncia tambm ceifar. Cada um contribua
segundo tiver proposto no corao, no com tristeza ou por necessidade;
porque Deus ama quem d com alegria. Deus pode faz-los abundar em toda
graa, a fim de que, tendo sempre, em tudo, ampla suficincia, superabundeis
em toda boa obra, como est escrito: Distribuiu, deu aos pobres, a sua justia
permanece para sempre.
Ora, aquele que d semente ao que semeia, e po para alimento, tambm
suprir e aumentar a vossa sementeira, e multiplicar os frutos da vossa
justia; enriquecendo-vos em tudo para toda a generosidade, a qual faz que
por nosso intermdio sejam tributadas graas a Deus (II Cor. 9: 6 a 11).

Vale arrumar um pouco mais homileticamente esta passagem transcrita.

Seno vejamos:

I. Os exemplos ilustrativos da bno da prosperidade:

1. A criao:

Ora aquele que d semente ao que semeia... tambm suprir e


aumentar a vossa sementeira... (9:10a).
Nesse primeiro exemplo Paulo pensa no fato de que a prosperidade
material algo to estranho e sobrenatural como a criao da vida. o
princpio da criao da semente, projeto do Criador no qual a maquete da
rvore est reduzida ao nvel microscpico.

Que lindo!

Assim a Palavra de Deus nos ensina que a maneira como Deus pode
abenoar-nos, a partir de nossas contribuies, to estranha e sobrenatural
como a exploso da semente que se torna frondosa e frutfera rvore.

um milagre semelhante. o mesmo Deus que est agindo. No se deve


esperar dEle seno alguma coisa do mesmo tipo.

2. A semeadura:

No primeiro exemplo, alude-se ao milagre da vida. Deus quem d


semente ao semeador. obra de Deus.

Mas j no segundo exemplo, a referncia especfica ao trabalho penoso,


perseverante, resoluto e, por vezes, sacrificial, do agricultor:

Aquele que semeia pouco, pouco tambm ceifar, e o que semeia com
fartura, com abundncia tambm ceifar (9:6).

Nesse caso vincula-se a bno que advm da contribuio


proporcionalidade do investimento feito com alegria:

Cada um contribua segundo tiver proposto no corao, no com tristeza


ou por necessidade; porque Deus ama quem d com alegria (9:7).

O tamanho da contribuio no metido em nmero, mas em proporo


ao que se ganha em alegria. um investimento. uma ao resolvida e
assumida, consciente e planejada. Isso to claro que Paulo usa as palavras
pouco e fartura para caracterizar o investimento consciente de cada um.

O contribuinte precisa se ver como um agricultor fazendo uma semeadura,


tenha ela o tamanho que tiver.

A fronteira da semeadura sempre do tamanho da alegria de quem d.


Quem d por obrigao ou por necessidade, d pouco, quem d com alegria e
sentimento de privilgio, esse d muito.

II. A graa de dar gera uma graa em resposta:

S se percebe esse fato quando se faz acoplagem de duas frases separadas


nos versos 8 e 11:

tendo sempre, em tudo, ampla suficincia, superabundeis em toda boa


obra... enriquecendo-vos em tudo para toda generosidade.
Trata-se de um ciclo:

E assim comea tudo de novo, sem fim, sem parar jamais, com ampla
suficincia, superabundando em boas obras, sendo de novo enriquecidos e
assim praticando inimitvel generosidade, tendo sempre... No o dzimo, mas
a dzima peridica da graa que gera graa, deixando a medida do dzimo
pequena demais.

Deus nos d, por sua graa, meios concretos de contribuir. Em seguida


Ele nos faz a concesso para contribuir. O s sentirmos tal desejo j
tambm graa. O desejo se transforma em ao. A ao identifica
necessidades. As necessidades so supridas por nossas ofertas. Nossas
ofertas santificadas geram aes de graas naqueles que as receberam.
Essas aes de graa transformam-se em intenes de misericrdia no
corao de Deus que, reverte, ento, o processo sobre ns.

III. Os sub-princpios que desencadeiam o grande princpio do


ciclo de bnos.

1. Alegria:

Por que Deus ama quem d com alegria (9:7).

A alegria de dar aquilo que transforma um custoso e constrangido


sacrifcio em liturgia celebrativa da graa divina.

Sem alegria a oferenda sacrificiosa estpida tentativa de agradar a Deus


com aquilo que ele mais abomina: o mecanismo religioso.

2. Boas obras:

Superabundeis em toda boa obra (9:8b).

No adianta apenas dar. preciso investir responsavelmente e em coisas


que gerem obras boas e no obras ms. Com isso no estamos ensinando
ningum administrar a sua contribuio, mas a dar de maneira consciente,
inteligente e responsvel, a fim de que suas ofertas no estejam construindo o
mal e sim o bem.

3. Distribuio:
Distribuiu, deu aos pobres... (9:9).
Esta citao do Salmo 112:9 nos transmite a idia de que a justia de
quem d aos pobres a realidade de que, quem deu, sabia que dar aos pobres
uma questo de justia e no de esmola.

Quem d com esta conscincia acionou um dos sub-princpios que


desencadeiam o enunciado maior deste captulo. Por isso que se diz: A sua
justia permanece para sempre (9:9b). Quem distribui com justia, justificado
pela graa que faz justo o homem que, apesar de injusto diante do referencial
absoluto da santidade divina, pratica a justia relativa a sua condio de
pessoa cada.

IV. As grandes promessas e bnos aos que se moveram


pela graa da contribuio:

As promessas de que o homem generoso seria bem sucedido permeiam a


escritura desde o Velho Testamento. Alis, o Velho testamento at mais
enftico nesta proposio do que o Novo Testamento.

Dentre os muitos textos que asseveram que a atitude dadivosa redunda em


prosperidade, eis os seguintes:

A quem d liberalmente ainda se lhe acrescenta mais e mais; ao que


lhe retm mais do que justo, ser-lhe- em pura perda (Pv. 11:24).

A alma generosa prosperar, e quem d a beber ser dessedentado


(Pv. 11:25).

Quem se compadece do pobre ao Senhor empresta, e este lhe paga


seu benefcio (Pv. 19:17).

O profeta Isaas talvez seja o mais rico na afirmao potica daquilo que
advm ao ser humano que solta as ligaduras da impiedade, desfaz as ataduras
da servido, deixa livres os oprimidos, despedaa todo jugo, reparte o po com
o faminto, recolhe em casa os pobres desabrigados e que quando v algum
nu o veste e no se esconde do seu semelhante:

Ento romper a tua luz como a alva, a tua cura brotar sem detena, a tua
justia ir adiante de ti e a glria do Senhor ser a tua retaguarda;
ento clamars, e o Senhor te responder, gritars por socorro, e Ele dir: Eis-
me aqui. Se tirares do meio de ti o jugo, o dedo que ameaa, o falar injurioso;
se abrires a tua alma ao faminto e fartares a alma aflita, ento a tua luz nascer
nas trevas, e a tua escurido ser como o meio-dia.
O Senhor te guiar continuamente, fartar tua alma at em lugares ridos, e
fortificar os teus ossos; sers como um jardim regado, e como um manancial,
cujas guas jamais faltam.

Os teus filhos edificaram as antigas runas; levantars os fundamentos de


muitas geraes, e sers chamado reparador de brechas, e restaurador
de veredas para que o pas se torne habitvel. (Isaas 58: 8-12).
No entanto, nossa ateno prioritria no se volta para o que a bblia como um
todo diz a respeito das bnos da contribuio e da entrega abnegada e
dadivosa. Nossa ateno especfica est focada no texto de II Cor. 8 e 9. Pois
bem, ento prossigamos estudando nosso texto, a fim de descobrirmos quais
so as promessas de bnos aos que se deixarem tocar pela graa de
contribuir. Essas promessas bem se evidenciam mediante cinco expresses
que aparecem no nosso texto:

1. Tendo sempre (9:8). Essa expresso denota a prosperidade


na perspectiva da continuidade e da ininterruptibilidade do processo das
bnos.

2. Ampla suficincia (9:8). Trata-se de uma referncia a


satisfatoriedade da bno. Ela plena.

3. Suprir (9:10). Alude ao reabastecimento daquele que deu, e


que diminuiu seu recurso, porm suprindo o de outro.

4. Aumentar (9:10). Neste caso, Deus no somente d


sempre, com ampla suficincia, suprindo o necessrio, mas Ele aumenta
o recurso.

5. Multiplicar (9:10). A promessa que Deus multiplicar o


fruto da justia. No contexto antecedente dar aos pobres (9:9). Neste
caso, o fruto da justia a bno da graa divina na forma de
prosperidade material. No se trata apenas de ter sempre, com
suficincia, realimentadamente e com adio, mas, sobretudo, com
multiplicao dos frutos da justia na forma de prosperidade. A prova
disso a continuao do texto: Enriquecendo-vos em tudo para toda
generosidade... (9:11).

Concluindo, devemos deixar claro, outra vez, que a bno de Deus no uma
recompensa, um prmio aos dadivosos. Pelo menos, no no sentido de dbito.

Mesmo que o nosso dar desembocasse em pobreza real e irreversvel,


ainda assim deveramos ser movidos a faz-lo.

Jamais devemos nos esquecer da pergunta de Paulo aos romanos:

Ou quem primeiro lhe deu a ele para que lhe venha ser restitudo? (Rm.
11:35a).

No somos donos de nada. Tudo de Deus. E quem se sente dono dos


bens daqui jamais receber os bens dalm. Por isso contribuir mera
devoluo ao legtimo dono de tudo. com-tribuir: ou seja, juntamente com os
outros (com), pagar tributo (tribuir).

Bendita seja a graa de Deus, nosso Pai, que nos encontra em nossa
pobreza e misria e nos enriquece com amor, afim de que mesmo na pobreza
sejamos generosos, e na prosperidade sejamos a encarnao da bondade
divina na direo dos desfavorecidos e tambm das grandes causas
missionrias, no projeto da propagao do evangelho a todas as naes.

Quem se moveu tocado pela graa de dar, pela mesma graa ser tocado
outra vez e assim sempre ter. E assim sempre dar. E assim... ser. Amm!

DCIMO SEGUNDO PRINCPIO

A contribuio gera um processo de um louvor que se retro-alimenta


indefinidamente.

Todos os movimentos da graa divina so movimentos de retro-alimentao:

Bem-aventurados os misericordiosos, por que alcanaro a misericrdia


(Mt.5:7).

Pois ao que tem, se lhe dar, e ter em abundncia (Mt. 25:29a).

Talvez a afirmao mais forte de que graa gera graa esteja no texto de
Efsios 1:6. Literalmente, o apstolo diz que recebemos graa gratuita. Com
isso ele est querendo ensinar que antes de recebermos a graa, j a prpria
graa nos preparava para isso. Nesse caso, diramos que h uma graa de
preparao que nos habilita para a graa de recepo:

nos predestinou para ele, para a adoo de filhos... para o louvor da


glria de sua graa, que ele nos concedeu gratuitamente no amado.

E a bendita redundncia de uma graa gratuita.

Paulo entendia esse princpio de que a virtude gera virtude, num efeito
cascata, tambm em relao ao louvor e as aes de graa:

Por que o servio desta assistncia no s supre a necessidade dos santos,


mas tambm redunda em muitas graas a Deus, visto como, na prova desta
ministrao, glorificam a Deus pela obedincia da vossa confisso quanto ao
evangelho de Cristo, e pela liberalidade com que contribus para eles e para
todos enquanto oram eles a vosso favor, com grande afeto, em virtude da
superabundante da graa de Deus que h em vs (II Cor. 9:12-14).

Para o meu sabor pessoal este um dos trechos mais belos de todo o Novo
Testamento. No tanto pela sua confeco literria, ou pela profundidade
teolgica, mas, sobretudo, pela sua singeleza e simplicidade prtica.
Paulo diz que a graa de dar desencadeia um processo de virtudes
incomparveis. Dar uma das mais profundas formas de edificar no somente
o aspecto social e econmico do outro, mas, antes disso, de edificar-lhe a
alma.

Quem recebe com gratido e reage ddiva recebida conforme ensina a


palavra de Deus, transformar-se- numa bno incomparvel para aquele
irmo que o socorreu.

Inicialmente Paulo diz que a ddiva promove um bem que est para alm
da assistncia imediata aos santos: redunda em muitas aes de graas
(9:12). Essas aes de graas significam uma excepcional manifestao de
glria ao nome de Deus pelos filhos que Ele tem, e cujos coraes so
parecidos com o do Pai-generoso: Visto como, na prova desta ministrao,
glorificam Deus... (9:13a). A glorificao do nome de Deus, feita por aqueles
que foram o objeto da contribuio, se baseia fundamentalmente em duas
atitudes que os crentes dadivosos revelaram e historificaram enquanto
contribuam:

1. Demonstrao prtica de seu compromisso real com as


demandas do evangelho:

Glorificavam a Deus pela obedincia da vossa confisso quanto ao evangelho


de Cristo (9-13b). Para os receptores agradecidos, o gesto dos irmos
contribuintes era a suprema manifestao da orto-praxia. A confisso deles
ortodoxia transformara-se em fato.

Que bela e tremenda lio! No importa quanto minha doutrina e confisso


estejam corretas, mas sim, o quanto eu as encarno.

A ortodoxia s tem valor nos compndios doutrinrios.

Na vida o que vale a orto-praxia. Jesus disse que deveramos ser orto-
prticos e no ortodoxos. Os fariseus eram orto-doxos, mas no eram orto-
prticos (Mt. 23:3).

Parafraseando Tiago, diramos:

Tu tens doutrina e eu tenho vida; mostra-me essa tua doutrina de compndio


teolgico, porm desencarnada e livresca, e eu, com minha vida, te mostrarei
em que doutrinas creio. (Tg. 2:18).

Se a f vem pelo ouvir a palavra de Deus (Rom. 10:17), no entanto, ela se


mantm pelo fazer a vontade de Deus (Rm.1:5b).

Foi Jesus quem disse que a doutrina no pra ser apenas aceita
intelectualmente e discutida teologicamente. A doutrina tem que ser encarnada:

Se algum quiser fazer a vontade Dele (o Pai), conhecer a respeito da


doutrina, se ela de Deus, ou se falo por mim mesmo (Joo 7:17).
Na mente do Senhor o desejo do encarnar o Verbo (a doutrina) o que nos d
acesso ao conhecimento da palavra.

Neste sentido, a teologia explica apenas uma conduta j assumida como


compromisso com o mnimo que j se sabe da vontade de Deus.

Isto posto, Paulo diz aos corntios, que o gesto contributivo deles era uma
encarnao orto-prtica do evangelho que eles confessavam. Primeiro vem o
verbo, depois a encarnao. Mas a encarnao que explica o verbo na
Histria.

2. Demonstrao prtica a respeito da grandeza e dilatamento


dos seus coraes:

Glorificam a Deus pela... liberalidade com que contribus para eles e para
todos... (9:3b).

O tamanho de um corao medido pelo tamanho de sua liberalidade


material. Esse o critrio mximo. No h outra referncia. Pode-se orar como
ningum, falar eu te amo como poucos, sorrir constantemente, tratar
cordialmente, etc... Todavia, o critrio mximo com o qual a bblia avalia a
grandeza de um corao humano, mediante a capacidade de dar. Ainda que
o que se d seja o pouco-tudo-que-se-tem (Mc. 12:41-44). Mas esse o
critrio. O resto decorrncia. a maquiagem do corao, mas no o seu
aspecto verdadeiro.

Prosseguindo, Paulo diz que a contribuio no somente gera aes de


graa e glria ao nome de Deus pelas expresses de coerncia e liberalidade
de seus filhos dadivosos, mas tambm cria, nos receptores do benefcio
material, uma intensssima atitude de orao intercessora a favor dos irmos
benfeitores. O apstolo afirma: eles oram a vosso favor... (9:14).

Como dissemos inicialmente trata-se de um efeito cascata: contribuir


desencadeia gratido, glria ao nome de Deus e oraes. Quando algum
angustiado e atribulado pede a Deus que o socorra. Mas quando Deus resolve
o problema da aflio de algum, mediante mos humanas alis, aquelas
que Ele mais usa ento, esse que foi o alvo do livramento de Deus, passa a
orar a Deus em favor daquele que foi a resposta de Deus para o socorro das
suas angustiantes necessidades.

Na necessidade, ora-se a Deus. Na gratido, ora-se a Deus a favor


daquele a quem Deus usou para socorrer-nos. E no nos esqueamos jamais
de que as mos e os recursos com os quais Deus conta para resolver
situaes de aflio e necessidade humana na histria dos homens so os
nossos recursos, sejam eles de afeto, aes, brados, roupas, afagos, ou
dinheiro (Mt. 25:31-46).

Que coisa linda!


So justamente as oraes dos agradecidos pelas nossas generosas
aes que liberam a fora da graa a nosso favor outra vez.

As aes de socorro libertam oraes de gratido no peito dos irmos e


essas oraes liberam a graa de Deus sobre aqueles cujas contribuies j
tinham sido promovidas pela graa. E no somente isso, mas o ciclo prossegue
gerando mais uma virtude: o afeto.

Paulo diz:

Oram eles a vosso favor, com grande afeto... (II Cor. 9:14b).

H trs ocasies na bblia nas quais se menciona como que o afeto


e o amor nascem nos coraes:

1. Quando se encobre uma transgresso para no prejudicar o


outro:
O que encobre a transgresso adquire amor, mas o que traz o assunto
baila, separa os melhores amigos (Pv. 17:9).

2. Quando se arrisca a vida, a sade ou a integridade em favor de


algum:
Assim, querendo-vos muito, estvamos prontos a oferecer-vos... a nossa
prpria vida, por isso que vos tornastes muito amados de ns (I Tss. 2:8).

3. Quando se objeto de grande socorro financeiro: Oram eles a


vosso favor, com grande afeto (II Cor. 9:14b).

Vale observar que nas trs situaes atitude de generosidade que tanto faz
nascer o amor em ns por outros como em outros por ns.

Em geral os ricos no so objetos de oraes positivas. Quando so


objetos de orao, tornam-se quase sempre, alvos de oraes-negativas.
Explicando: normalmente ningum ora a favor dos ricos porque sempre se
supe que eles no necessitam de oraes a seu favor porque nada lhes falta.
No entanto, quando se ora a Deus mencionando-os no sentido de que Deus
lhes quebrante e abra o corao; ou seja, trata-se de uma orao negativa, na
medida que ela uma intercesso no sentido de que o pecado da
insensibilidade ou da indiferena lhes seja banido dos coraes.

Mas quando pessoas oram grata e positivamente a favor dos que tm


posses, foi porque eles se tornaram generosos e manifestadores da graa de
Deus a favor dos menos favorecidos. So justamente esses necessitados feitos
objeto da justia dos que tm mais recursos, aqueles que tero justas e muitas
razes para orarem afetuosamente a favor deles.

Sim! A graa gera graa!

Tudo comea com graa. Tudo acontece na graa. Tudo se transforma


em graa outra vez.
a lei de Lavoisier aumentada e feita teologia positiva: na graa tudo se
cria, nada se perde, tudo se transforma.

Por essa razo Paulo diz que os crentes pobres da Judia eram gratos
em virtude da superabundante graa de Deus que havia naqueles irmos
dadivosos (II Cor. 9:14b).

Esse o processo de um louvor que se retro-alimenta indefinidamente.

DCIMO TERCEIRO PRINCPIO

A contribuio financeira a resposta material compreenso de


que se recebeu o dom inefvel: Jesus.

A coisa mais admirvel que se encontra na teologia crist a sua


capacidade de unificar a existncia, devocionalizando-a, liturgizando-a e
sacramentalizando-a:

Seja o mundo seja a vida, seja a morte, sejam as coisas presentes, sejam
as coisas futuras, tudo vosso, e vs de Cristo, e Cristo de Deus (I Cor.
3:22).

Em Cristo, acabam-se as dicotomias, os dualismos, as separaes, as


departamentalizaes e os seccionamentos. A vida se unifica e tudo tem que
apontar na direo da glria de Deus.

No acontecimento da transfigurao de Cristo as declaraes feitas acima


se tornam geografia, corpo e histria. Note como o rosto se transfigurou e as
vestes resplandeceram de brancura (Lc. 9:29). At o nevoeiro da montanha se
tornou luminoso e pleno da glria de Deus (Mt. 17.5). Tudo isso se deu num
alto monte (Mt 17:1b). Provavelmente o Hermom, pelo fato de que no
contexto antecedente, Jesus aparece no extremo norte do pas indo para
Cesaria de Felipe, cidade erigida no sop daquele monte (Mt. 16:13). O belo,
no entanto como observou Francis Schaeffer que o Novo Testamento diz:
Seis dias depois, tomou Jesus consigo a Pedro, Tiago e Joo e levou-os a
ss, parte, a um alto monte. Foi transfigurado diante deles... (Mc. 9:2). Aps
aquela manifestao da Avant Premire do Reino de Deus (Mc. 9:1), o texto
prossegue dizendo: No dia seguinte desceram eles do monte... (Lc 9:37).

Introduzimos essa narrativa compilada da transfigurao de Jesus apenas


para demonstrar que afirmei no intrito: a coisa mais admirvel da f crist
sua capacidade de unificar a existncia. Seno vejamos:
1. A geografia pode ser santificada: Foi para as bandas de
Cesaria de Felipe (Mt. 16:13).

Diga-se de passagem que aquela era uma das regies mais idolatradas
do pas, desde os tempos anteriores ocupao israelita. E continuou sendo
at a ocupao romana, quando cidade foi dedicada ao divino Csar. Ali
havia, nos dias de Jesus, toda a estrutura gentlica dos romanos e tambm
altares com nichos a deuses pagos. Mas a na geografia da profanao e
da idolatria que Deus resolveu fazer uma Catedral de olivais e pedras lisas e
brancas, a ponto de Pedro chamar o lugar de monte santo (II Pedro 1:18).

2. Os fenmenos naturais podem ser glorificados: Uma


nuvem luminosa os envolveu (Mt. 17:5).

Ora, o Hermom sempre foi conhecido pela sua capacidade de condensar


nevoeiros, pela sua grande altitude (2.300 metros). Por isso, ele foi, , e
sempre ser uma das maiores bnos de Deus para Israel,
pluviometricamente falando; Pois so seus degelos que engrossam as guas
do Jordo, como tambm o seu orvalho que molha soprado pelos ventos do
norte toda a regio da Judia, bem menos densa de orvalho noturno (Sl.
133:3). Nesse caso, Deus no fez surgir do nada uma nuvem. Ele apenas
glorificou as que ali havia. Os fenmenos naturais podem ser cheios da glria
do Senhor (Sl. 29).

3. A histria pode e deve ser o espao da glria de Deus:


Seis dias depois... levou-os... a um alto monte. Foi transfigurado... No dia
seguinte desceram do monte (Mt. 9:2; Lc. 9:37).

Existe um tempo antes da transfigurao, existe um tempo durante a


transfigurao, e existe um tempo depois da transfigurao. A transfigurao
foi histrica e, portanto, capaz de santificar a Histria e o calendrio da vida
humana.

4. O fsico pode ser glorificado: O seu rosto resplandecia como


o sol (Mt. 17:12).

Acabam-se aqui as heresias gnsticas e as dicotomias entre material e


espiritual, entre fsico e abstrato. A glria daqui em diante tem cara e tem
corpo. Jesus deu fisionomia a Shekin de Deus. O corpo pode ser a catedral
da glria (I Cor. 6:19).

5. O cultural pode ser glorificado: As suas vestes tornaram-se


brancas como a luz (Mt. 17:2).

O roupo judaico foi santificado juntamente com tudo mais. Com isso
deve terminar a santificao de certas modas sub-culturais e a profanao de
outras. Eu sei, e disso estou persuadido no Senhor Jesus, que nenhuma coisa
de si mesma impura, salvo para aquele que assim a considera; para esse
impuro (Rm. 14:14). Todas as coisas so puras para os puros; todavia, para
os impuros e descrentes, nada puro. Porque, tanto a mente quanto a
conscincia deles esto corrompidas (Tito 1:15).

Bem. Talvez voc pergunte: o que isso tudo tem a ver com a nossa
proposio inicial? Qual a ligao entre esse arrazoado acerca de
transfigurao de Cristo e a afirmao de que contribuio financeira a
resposta material compreenso de que se recebeu dom inefvel? Eu quero
iniciar a resposta com uma pergunta: E se no roupo glorificado de Jesus
houvesse uma nota de cem cruzados e um cheque de mil cruzados
desculpando a defasagem histrica e o anacronismo econmico eles ficariam
tambm resplandescentes e transfigurados juntamente com o monte (II Pd.
1:18), o dia (Mc. 9:2, Lc 9:37), a geografia (Mt. 16:13), o corpo (Mt. 17:2) e os
elementos culturais (Mt. 17:2b)?

A resposta bvia. claro que sim!

Fiz to longa introduo a este ltimo princpio apenas para tentar fazer
voc compreender definitivamente que os seus bens materiais podem, devem
e precisam ser glorificados com a glria de Deus. por causa disso que Paulo
associa a questo da contribuio ao tema dos temas e graa das graas: a
salvao em Jesus.

Aps discutir e expor princpios de contribuio, o apstolo conclui


dizendo:

Graas a Deus pelo dom inefvel (II Cor. 9:15).

Por que Paulo termina assim as suas reflexes? Simplesmente porque o


assunto que lhe tomara bastante tempo de exposio (Em nossa bblia so
dois captulos), era algo santo e puro. E por essa mesma razo, lhe trazia
mente a mais santa de todas as reflexes e o mais belo de todos os temas: a
graa salvadora de Deus em Jesus Cristo, o dom inefvel.

No entanto, alm de afirmar por interferncia que os bens materiais,


quando usados com as boas motivaes do amor e da alegria, tornam-se
santificados a ponto de se poder associ-los ao que de mais santo h na vida,
Paulo tambm nos chama a ateno para outra ligao que h entre as
contribuies e Cristo.

Ora, se o apstolo aps chamar o gesto de contribuir de graa de Deus a


ns (II Cor. 8:1,4), e de graa nossa outros (II Cor. 8:7), e de graa de outros
ns (II Cor 9:12 e 14), o conecta graa salvadora de Deus e ao dom
inefvel, ento porque o ato de contribuir a resposta e a confisso
econmica que fazemos da nossa compreenso teolgica daquilo que
recebemos por f; um testemunho da nossa alegria da salvao e
admoestao da obedincia da nossa confisso quanto ao evangelho de
Cristo (II Cor. 9:13b). Por esta razo, contribuir no deve ser apenas uma
banal opo que alguns cristos fazem, mas uma resposta concreta e
mensurvel de nossa f em Cristo e em sua Palavra. Contribuio profisso
de f.
Contribuir o tomar da cruz do discipulado econmico dAquele que nos
convida a segui-lo, ensinando-os que, se necessrio for, sendo ricos,
devemos nos tornar pobres, para que outros se tornem ricos (II Cor. 8:9). E
mais, que mesmo sendo pobres, devemos nos fazer mais pobres ainda, a fim
de participarmos da graa de contribuir (II Cor. 8:2).

Quem recebeu o dom inefvel demonstra esse recebimento


manifestando uma nova atitude diante do dinheiro. Foi assim com Zaqueu. Em
nenhum momento Jesus afirmou sua salvao at que houvesse a converso
da atitude de Zaqueu diante dos bens materiais. A ento Jesus disse: Hoje
entrou salvao nesta casa... (Lc. 19:9). Por outro lado, a no percepo da
grandeza do dom inefvel desemboca numa opo velada e, tantas vezes, at
educada de opo pelo dinheiro. Foi o caso do jovem abastado e religioso, mas
que no descobriu em Jesus o dom dos dons, a ddiva das ddivas, capaz de
faz-lo considerar os bens materiais como refugo. Por isso, ele se retirou da
presena de Jesus entristecido (Lc. 18:22 e 23). No toa que Jesus
compara a descoberta do reino a um achado que provoca a venda de tudo o
que se possui para se ter acesso a essa riqueza (Mt 13:44). No tambm
casual que Jesus tenha colocado o dinheiro como notoriamente perigoso no
que tangia a afastar as pessoas da porta do reino (Lc. 18:24 e 25). Com tantas
advertncias, o Novo Testamento no pretende deixar-nos neurticos e
transformar-nos em ascetas. Pelo contrrio, somos estimulados a viver a vida
com alegria e cosmoviso do nosso privilgio universal como herdeiros de
Deus (I Co. 3:22; II Co 4:15 a ). O prprio Paulo nos diz que Deus nos
proporciona certos confortos para o nosso aprazimento (ITim. 6:17 b).
Todavia, todas essas coisas devem estar debaixo do senhorio absoluto do
Senhor, e a maior prova de que esto, no a quantidade de oraes e de
abstratas consagraes que algum possa fazer de seus bens ou de sua conta
bancria nos domingos de culto, no altar da igreja. Essas contribuies
mgicas, abstratas, esotricas e sem conseqncias na vida real, na forma de
generosidade, liberalidade, distribuio e graa, nada tem de relao com o
senhorio de Cristo sobre nossos bens.

O senhorio de Cristo sobre os seus bens no apenas orar pedindo ao


Senhor que santifique o dinheiro com o qual se vai comprar um colar de
prolas para o seu uso pessoal. O senhorio de Cristo se traduz na
compreenso de que aquele colar de prolas que adornar o seu pescoo em
eventuais momentos, pode significar um indispensvel recurso para sustentar
missionrios, socorrer necessitados ou deflagrar um processo evangelstico
que salvar centenas de pessoas.

Chega de esoterismo de pseudo-consagraes dos nossos bens. Daqui


para frente que fique claro para voc que os seus bens materiais tm quem se
converter numa resposta concreta de sua compreenso da graa divina. Use
de maneira to linda, generosa, liberal e santa os seus recursos materiais
poucos ou muitos de tal maneira que voc possa dizer:

Graas a Deus, pelo dom inefvel.


Se a sua maneira de ser gracioso e dadivoso lembrar a voc e a outros a
graa e a bondade de Deus, ento saiba, voc comeou, tambm na rea
financeira e econmica, a ser um discpulo de Jesus Cristo. E assim, muitos
glorificaro a Deus pela obedincia da sua confisso quanto ao evangelho de
Cristo e pela liberalidade com que voc contribui para eles e para todos,
enquanto oram eles a seu favor, com grande afeto, em virtude da
superabundante graa de Deus que h em voc.

Se isso acontecer na sua vida, na minha vida e na igreja brasileira, ento


graas a Deus pelo dom inefvel. Jesus no ter morrido em vo e seu
exemplo de graa e auto-empobrecimento no ter ficado sepultado e sem
ressurreio. Pelo contrrio, ter-se- tornado uma especial graa em nossa
vida, provocando um srio discipulado econmico e uma extraordinria
ressurreio de liberdade e alegria de doar.

Que Deus nos tire a mesquinhez e a mediocridade e nos conduza


genero-sidade, ao gnero humano, plenitude da estatura de Cristo,
imagem de Deus tambm nas nossas dadivosas contribuies.

Tenho-vos mostrado em tudo que trabalhando assim, mister socorrer


aos necessitados, e recordar as palavras do prprio Senhor Jesus: Mais
bem aventurado dar que receber (Atos 20:35).

Quem so os poucos que desejam a graa de contribuir?

Voc um deles?

Caio Fbio

Julho de 1986

Holanda

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