DISSERTAÇÃO - Sanitarismo e Planejamento Urbano
DISSERTAÇÃO - Sanitarismo e Planejamento Urbano
DISSERTAÇÃO - Sanitarismo e Planejamento Urbano
CENTRO DE TECNOLOGIA
SANITARISMO E
PLANEJAMENTO URBANO:
DISSERTAO DE MESTRADO
REA DE CONCENTRAO:
FORMA URBANA E HABITAO
ORIENTADORA:
PROF. Dr. ANGELA FERREIRA
rea de concentrao:
Forma Urbana e Habitao
Orientadora:
Angela Lucia de A. Ferreira
Natal/RN
2003
SANITARISMO E PLANEJAMENTO URBANO:
A trajetria das propostas urbansticas para Natal entre 1935 e 1969
BANCA EXAMINADORA
_________________________________
Angela Lucia de Arajo Ferreira
_________________________________
Angela Souza
_________________________________
Maria Dulce Picano Bentes Sobrinha
Eric Hobsbawm
AGRADECIMENTOS
Ao final de cada etapa cumprida, o melhor poder olhar para trs e ver que as
dificuldades no importa a dimenso ou a intensidade , vo se diluindo em meio ao
xito de mais uma conquista, tornando-se ofuscadas pelo sentimento de misso cumprida.
O que fica marcado na memria, certamente, so os bons momentos vividos ao longo do
caminho percorrido e, particularmente, todas aquelas pessoas que participaram direta ou
indiretamente da concretizao desse objetivo. So muitos os agradecimentos, no apenas
pelas contribuies tericas e conceituais de importncia imensurvel , mas por cada
palavra de encorajamento e apoio, por cada momento de alegria e descontrao, pelos
gestos de carinho e mesmo pela companhia despretenciosa. Por isso, sintam-se todos parte
dessa vitria.
Primeiramente, agradeo a Deus, luz que me ilumina o caminho e me ajuda a
viver, fora maior que permanece ao meu lado, segurando a minha mo e, muitas vezes,
me carregando nos braos pelos caminhos da vida.
A todos aqueles que fizeram e fazem parte do Grupo de Pesquisa Histria da
Cidade e do Urbanismo, cujo trabalho de levantamento exaustivo nos arquivos e nas fontes
de dados consistiram na principal base de dados para a realizao desta dissertao. Aos
atuais bolsistas Kaliane, Jnior, Hlio e Aline, em especial a Alenuska, anjo da guarda de
todos ns, sempre com um sorriso no rosto e pronta a ajudar. Aos pesquisadores George,
pela importante contribuio nos encaminhamentos do trabalho e Anna Rachel, por estar
sempre alerta s novas informaes, partilhando-as prontamente, e, sobretudo, pela
companhia maravilhosa ao longo dos anos da pesquisa e pela eterna amizade.
coordenadora, professora, orientadora e amiga, Angela Ferreira, que, dentre incontveis
contribuies, a principal responsvel por me introduzir e me conduzir pelos caminhos
do conhecimento e da academia; obrigada pela pacincia, pelos ensinamentos e pela sua
amizade.
minha famlia, instituio maior e mais slida da minha vida, gestora do meu
carter e dos meus princpios, e principal incentivadora. Ao meu pai, Altemiles, minha
me, Dulciana e ao meu irmo, Andr, agradeo pela companhia, pelo amor, pelo apoio
muitas vezes silenciado e, sobretudo, pelo exemplo. Em especial minha mainha
querida, fortaleza que me transmite ao mesmo tempo a garra e a serenidade, impulsionando
e encorajando a superao dos obstculos e permanecendo ao meu lado em todos os
momentos, vibrando comigo a cada vitria.
Ao meu namorado, Leandro, presena to especial na minha vida, por participar
intensamente, mesmo distncia, das hesitaes e dos xitos, pelo incentivo incondicional
em todos os momentos, pelo amor, carinho e pelos inmeros momentos felizes que
passamos, blsamo na hora da dificuldade.
s minhas vrias famlias. Aos Carvalho Lopes Dantas, minhas avs, meus tios,
primos e agregados, por me mostrarem a cada dia exemplos de vida e o valor da nossa
unio. Em particular s minhas avs Maria e Zefinha, aos tios Denise e Tuta, e aos primos
Joo Lus e Isabel, pelo lugar que ocupam na minha vida desde sempre. Aos Gurgel Leite,
pelo apoio e pela acolhida maravilhosa, proporcionando-me desfrutar de importantes e
inesquecveis momentos. Aos Ponte Dias, famlia escolhida, pela amizade e pelo carinho
com que me acolheram.
s minhas scias maravilhosas, e, sobretudo, amigas do peito, Ticiana e Aninha,
pela alegria e alto astral constante, amenizando os ossos do ofcio e tornando o meu dia-
a-dia, certamente, mais feliz. Em especial a Tici, pelo apoio e pela ajuda na minha
ausncia.
A todos os colegas e professores do mestrado, pelas contribuies tericas e lies
de vida que me foram passadas. Em especial a Alex, companheiro nessa luta, pela ajuda e
solicitude nos momentos de maior necessidade, e aos professores Maria Cristina de Morais
e Marcelo Tinoco, amigos e orientadores do estgio docente, que proporcionaram e
coordenaram a minha primeira experincia em sala de aula.
s professoras Dinah Tinoco e Dulce Bentes, pelas importantes contribuies
sugeridas na avaliao do projeto de pesquisa e na banca de qualificao, e pelo incentivo
dado ao trabalho.
Ao CNPq, pela concesso de bolsa nos dois anos do Mestrado.
Enfim, a todos aqueles que amenizaram, de alguma forma, as angstias e dvidas
que surgiram ao longo dessa trajetria, o meu muito obrigada.
RESUMO
Lista de Figuras 07
Lista de Quadros 10
Lista de Siglas 11
INTRODUO 13
PARTE I 31
Do Urbanismo ao Planejamento Urbano: aspectos terico-conceituais
PARTE II 72
Urbanismo e Planejamento Urbano em trs momentos da urbanizao de Natal
ANEXOS 244
Anexo 01 Modelo de ficha para a coleta de dados empricos nos jornais locais 245
LISTA DE FIGURAS
Figura 26: Vista area Lagoa Manoel Felipe e Quartel do Exrcito, dcada de 130
1940
Figura 39: Vila Ferroviria planta utilizada pelo Escritrio Saturnino de Brito 162
Figura 49: Abastecimento dgua dos bairros de Morro Branco e Nova 214
Descoberta
LISTA DE QUADROS
LISTA DE SIGLAS
1
Como afirma Le Goff (1990, p. 14), essa crise desencadeou-se a partir de inmeros acontecimentos
ocorridos ao longo do sculo XX, pois, apesar da revoluo tecnolgica e cientfica, intensificaram-se
tambm as guerras, as fomes, os holocaustos que, pensava-se, faziam parte do passado, aliados agora
capacidade de auto-destruio, aos problemas ecolgicos em escala mundial etc., decepcionando
sobremaneira a sociedade contempornea e estimulando a revalorizao do que j foi realizado pelos seus
antecedentes.
2
Associao Nacional de Ps-Graduao e Pesquisa em Planejamento Urbano e Regional.
INTRODUO 15
produo do Escritrio Saturnino de Brito que, fundado por ele em 1920, atuou em mais
de cem cidades em todas as regies do Brasil sob a presidncia de Saturnino de Brito
Filho, continuador da obra do pai aps o seu falecimento em 1929.
Em Natal, o Escritrio permaneceu por mais de trinta anos, projetando,
executando e administrando as obras de saneamento, e assumindo, por vezes, a
responsabilidade de gerenciar o crescimento fsico da cidade. Essa atuao, que teve incio
com a elaborao do Plano Geral de Obras na segunda metade da dcada de 1930
conhecido e amplamente mencionado pela historiografia local , teve a sua continuidade
assegurada ao longo das dcadas de 1940, 1950 e 1960, fato que no foi levado em
considerao pelos autores que abordaram esse perodo da histria de Natal. Entretanto,
registre-se os estudos desenvolvidos pelo Grupo de Pesquisa Histria da Cidade e do
Urbanismo,3 os quais foram sistematizados no livro Uma cidade s e bela: a trajetria do
saneamento em Natal (1850 1969), em vias de publicao, que retoma o processo
histrico de constituio urbana da cidade a partir das aes higienizadoras e saneadoras
do final do sculo XIX at a dcada de 1960. As anlises contidas nesse livro sugerem
que, ao passo que na dcada de 1930, com a elaborao do Plano Geral de Obras, o
Escritrio detinha o poder de antecipar e orientar o crescimento fsico da cidade,
projetando-o em funo da melhor soluo do seu saneamento, a partir da dcada de 1940,
Natal passou a apresentar uma crescente urbanizao e inmeros problemas urbanos4, o
que, dentre outros fatores, o levou a participar do processo de legitimao do
planejamento urbano como instrumento de ao do Estado sobre as cidades. Cabe
destacar, entretanto, que, embora se reconhea a relevncia dessa obra no sentido de
iniciar essa discusso, observa-se que algumas questes no foram suficientemente
contempladas, instigando o aprofundamento tanto das anlises sobre a atuao do
Escritrio em Natal, entre 1935 e 1969, como do prprio processo de urbanizao da
cidade nesse perodo. Entre as vrias questes levantadas a partir do citado trabalho,
3
Mais informaes acerca do trabalho desenvolvido pelo Grupo de Pesquisa Histria da Cidade e do
Urbanismo sero fornecidas no item a seguir, Dos caminhos percorridos.
4
Cabe ressaltar, aqui, que esses problemas urbanos nem sempre refletem as suas caractersticas essenciais,
mas so formulados a partir das necessidades estratgicas do poder pblico e da ideologia das elites
dominantes, como se ver ao longo deste trabalho.
INTRODUO 17
algumas citadas a seguir nortearam tanto o estudo realizado, cujos resultados so aqui
apresentados, como a prpria estrutura desta dissertao.
1. De que forma o Escritrio Saturnino de Brito, continuador do iderio
sanitarista de Saturnino de Brito, apreendeu e incorporou, em sua atuao em Natal, os
novos conceitos e prticas urbansticas que emergiram no pas, a partir da dcada de 1930,
e os traduziram em seus projetos e obras ao longo de sua trajetria de mais de trinta anos
nesta cidade?
2. Como o Escritrio se comportou frente ao novo contexto marcado pelas altas
taxas de crescimento demogrfico e de rpida expanso da cidade, pela consolidao dos
problemas urbanos e pela emergncia de novos agentes que se firmaram no processo de
produo e gerenciamento do solo urbano?
3. De que maneira a institucionalizao do planejamento na esfera administrativa
estadual, na dcada de 1960, influenciou a atuao do Escritrio Saturnino de Brito?
Essas indagaes suscitaram a definio de alguns pressupostos iniciais de suma
importncia para o encaminhamento da discusso que este trabalho se prope a realizar.
Na historiografia brasileira, encontram-se opinies divergentes acerca da idia de
transio do urbanismo para o planejamento urbano. Tais divergncias remetem-se tanto a
aspectos temporais como locais. Contudo, de acordo com alguns autores que se mostram
concordantes, no Brasil cuja maior influncia no campo das anlises das questes
urbanas veio da Frana , pode-se observar que as duas terminologias, juntamente com os
princpios e os modos de interveno imbricados, marcam, de uma forma geral, dois
momentos distintos. Um primeiro momento, entre fins do sculo XIX e incio do sculo
XX, foi marcado pelas intervenes urbansticas que, inicialmente pontuais, passam a
planos mais complexos. A partir de meados do sculo XX, identifica-se um segundo
momento, quando alguns elementos conjunturais fizeram emergir e se consolidar como
papel do Governo o planejamento urbano, incorporando novas questes na teoria e na
prtica relativas ao espao urbano. Neste quadro, a atuao do Escritrio Saturnino de
Brito em Natal sugere a contnua atualizao, ao longo dos anos, s teorias e s prticas de
interveno sobre o espao urbano, perpassando o urbanismo e o planejamento urbano,
sem se desvincular, todavia, dos princpios sanitaristas que orientaram a sua criao e a
INTRODUO 18
sua trajetria nas vrias cidades brasileiras.5 O Plano Geral de Obras, elaborado entre 1935
e 1939 pode ser citado como marco de uma mudana de postura do Escritrio, ao aliar os
princpios sanitaristas a novos elementos do nascente movimento modernista em
arquitetura e urbanismo, incorporando projetos arquitetnicos de estilo moderno e uma
proposta de expanso para a cidade, que primava pela criao de um bairro residencial
baseado nos conceitos de unidade de vizinhana e na trama de Radburn (MIRANDA,
1999) desenvolvida nos Estados Unidos em 1929.
As conseqncias da instalao das bases norte-americana e brasileiras em Natal
durante a II Guerra Mundial, materializaram-se inicialmente em um intenso crescimento
populacional e de atividades urbanas que, a partir da segunda metade da dcada de 1940,
exacerbaram a carncia de infra-estrutura e fizeram emergir os chamados problemas
urbanos. Nesse momento, a implantao e os servios de saneamento atravessaram uma
grave crise, em funo, dentre outros fatores, da ineficcia dos instrumentos urbansticos
existentes, que relegavam o crescimento da cidade ao dos produtores privados do solo,
culminando em uma ocupao acelerada e desordenada. No sentido de ordenar e gerenciar
a expanso urbana e, assim assegurar a eficcia das redes de gua e de esgotos, o
Escritrio sugeriu ao Governo Estadual a criao, em 1952, do Departamento de
Saneamento do Estado (DSE), rgo autrquico, que, alm da ampliao dos servios para
o interior do Rio Grande do Norte, ficaria responsvel pela anlise e aprovao dos
projetos para novos loteamentos e arruamentos da cidade, perfilando a atividade de
planejador urbano.
No entanto, na medida em que o planejamento, em sua vertente econmica, se
firma como tcnica de administrao pblica, institucionaliza-se na estrutura
administrativa local e delineia os rumos do planejamento urbano, a problemtica urbana
passa a ser interpretada e tratada a partir da perspectiva de um progresso econmico e,
mais especificamente, de preparao para a almejada industrializao. Nesse processo, o
saneamento conforme era visto pelo urbanismo sanitarista perde o seu lugar central
como orientador e norteador das aes pblicas destinadas ao espao fsico da cidade, fato
que limitou sobremaneira os propsitos e as atividades do Escritrio Saturnino de Brito.
5
Cabe ressaltar aqui que, embora se reconhea neste trabalho a relevncia da atuao do Escritrio
Saturnino de Brito em mais de cem cidades brasileiras, o objeto de estudo da pesquisa se concentra no
INTRODUO 19
sero destacados: o contexto histrico, as formas de interveno sobre o espao fsico das
cidades, as instituies e instrumentos que viabilizavam e norteavam essas aes, e o lugar
e a participao do Escritrio na produo e no gerenciamento do espao urbano. A fim de
contemplar as anlises propostas, a Parte II contar com trs captulos: Primeiro
Momento: As idias urbansticas orientando o crescimento da cidade (1935 1939)
(Captulo 3), Segundo Momento: Os problemas urbanos definindo as aes sobre a
cidade (1940 1960) (Captulo 4) e Terceiro Momento: A institucionalizao do
planejamento visando o desenvolvimento urbano (1961 -1969) (Captulo 4).
6
Sistematizados no livro Uma Cidade S e Bela: a trajetria do saneamento de Natal (1850 1969),
citado anteriormente.
INTRODUO 21
Para dar conta dessas anlises, contou-se com algumas tcnicas e instrumentos de
pesquisa, cujo inventrio e sistematizao podem contribuir para o embasamento e
operacionalizao de futuros estudos no mbito da histria urbana e urbanstica acerca da
cidade de Natal, bem como apontar para a importncia das fontes e dos acervos utilizados
para a reconstituio histrica no s do processo de configurao urbana, mas da prpria
evoluo da cidade com relao aos aspectos polticos, econmicos, sociais e culturais,
prestando-se, portanto, para o desenvolvimento de inmeros temas e objetos de estudo.
Cabe ressaltar que grande parte das informaes utilizadas neste trabalho foram
coletadas e sistematizadas pelo Grupo de Pesquisa Histria da Cidade e do Urbanismo,
que dispe, atualmente, de um vasto acervo que conta com publicaes, documentos
oficiais, fotografias, mapoteca, registro de entrevistas, alm de um banco de dados
informatizado (programa Word Access) contendo as informaes levantadas na pesquisa
emprica nos jornais locais alm de imagens e mapas digitalizados. Observa-se que, ao
mesmo tempo em que os estudos realizados e os dados obtidos pelo Grupo de Pesquisa
possibilitaram a elaborao desta dissertao, as anlises aqui desenvolvidas e a coleta de
material indito alimentaro o acervo documental e as pesquisas do Grupo, a partir da
descoberta de novas fontes e da indicao de caminhos para novas investigaes.
Reviso bibliogrfica
Essa etapa contou com um levantamento bibliogrfico cujo principal objetivo foi
fundamentar teoricamente o trabalho. Realizou-se um apanhado em meio produo da
historiografia urbana brasileira com enfoque nas definies, nos princpios e nas prticas
urbansticas que se desenvolveram ao longo do perodo em estudo no Brasil, no sentido de
compreender as definies de urbanismo e de planejamento urbano, e ainda, identificar a
passagem do primeiro para o segundo, a fim de nortear a periodizao proposta neste
trabalho e contribuir na elaborao da anlise de cada momento.
Como urbanismo, tomando por base a definio estabelecida por Adauto Cardoso
(1997), entende-se
... um saber com pretenses cientficas que emergiu no final do sculo XIX,
tendo como objeto a cidade como uma totalidade, que sistematizou e a
organizou num corpo nico e numa interveno sistemtica e coordenada de
INTRODUO 23
Pesquisa documental
Material cartogrfico
Jornais locais
Quadro 2: Relao dos assuntos e dos respectivos sub-assuntos que orientam a coleta de dados
empricos
ASSUNTO SUB-ASSUNTO
Governo Municipal Obras; Prefeito; Relatos; Legislao; Finanas.
Governo Federal
Pesquisa de campo
Neste captulo, como o prprio nome sugere, sero abordadas as diversas teorias e
prticas urbansticas que se desenrolaram ao longo do perodo em estudo, ou seja, entre as
dcadas de 1930 e 1970. No desenvolvimento do estudo, foram identificados, a partir da
releitura de trabalhos j realizados pela historiografia urbana brasileira, trs momentos que
pontuam essa trajetria, por introduzirem novas formas de abordagem e novas solues
para os problemas da cidade. Em cada momento, sero analisados os contextos histricos,
as influncias e as formas de interveno sobre o espao urbano, pretendendo-se, assim,
ilustrar e ajudar a compreender a transio entre o urbanismo e o planejamento urbano no
Brasil.
No entanto, antes de trazer a discusso terica acerca da evoluo/transio do
urbanismo para o planejamento urbano, cabe discutir, brevemente, o momento de gnese
desses campos disciplinares como cincias modernas para entender seus fundamentos,
pressupostos, objetos e definies.
PARTE I
Do Urbanismo Sanitarista ao Planejamento Urbano: aspectos terico conceituais
TEORIA E PRTICA URBANSTICA NO BRASIL (1930 1970) 34
soluo dos problemas oriundos da nova, diversa e complexa realidade que se formou
naquele momento. Se havia preocupaes sistematizadas, inclusive em tratados, com a
configurao e o desenho das cidades, anteriormente elaborados preocupaes que se
materializavam, via de regra, em conjuntos de normas de composio arquitetnica, de
cunho essencialmente esttico, funcional e construtivo , no se pode confundi-las com
essa nova disciplina, oriunda do conjunto de transformaes sociais, polticas, econmicas,
mas tambm da ruptura epistemolgica que seria a base formativa da cincia (social)
moderna.
Como afirmou Gaston Bardet, um dos principais nomes do urbanismo moderno
francs no sculo XX e que atuou no Brasil no ps-segunda guerra:
O aparecimento do urbanismo entre as cincias, e dos urbanistas entre os
pesquisadores, foi, portanto a conseqncia de novos problemas colocados por
fenmenos cuja amplitude quase no conhecamos exemplo na histria.
necessrio no confundir as grandes realizaes da Arte Urbana, que resolveu
magistralmente problemas que no eram nem da mesma escala, nem da mesma
complexidade, nem da mesma substncia que os nossos, com as solues do
Urbanismo [...] (BARDET, 1990, p.09).
7
BENVOLO, L. Orgenes de la Urbanistica Moderna. Buenos Aires: Ed. Tenke, 1967.
PARTE I
Do Urbanismo Sanitarista ao Planejamento Urbano: aspectos terico conceituais
TEORIA E PRTICA URBANSTICA NO BRASIL (1930 1970) 35
Dentre essas teorias, destacam-se as elaboradas por Arturo Soria y Mata8 (1882),
Camilo Sitte9 (1898), Ebenezer Howard10 (1898) e Patrick Geddes11 (1910) considerados
8
Soria y Mata acreditava que a raiz dos males do mundo encontrava-se na forma das cidades, e pensava,
contudo, que a forma era produto natural da funo. Prope assim, uma Ciudad Lineal, composta por uma s
rua de 500 metros de largura, onde se localizavam os servios e a infra-estrutura, e cujos extremos poderiam
ser Cdis e So Petesburgo, ou Pequim e Bruxelas (RAMN, 1977).
9
Stdtebau, de Camilo Sitte, considerada por Choay (1985, p. 290), a primeira teoria significativa de
urbanismo publicada aps a Teora de Cerd, afastando-se do aspecto da comodidade para [...] situar-se
unicamente ao nvel da beleza. Tratava-se de [...] descobrir as leis de construo do belo objeto urbano,
definindo [...] as estruturas especficas que conferem a uma paisagem construda tridimensional suas
qualidades visuais e cenestsicas (CHOAY, 1985, p. 292).
10
Ebenezer Howard, em Tomorrow, a peaceful path to real reform, publicado em 1898, apresentava uma
viso abrangente da cidade e do urbanismo, apontando para a cidade-jardim como um modelo diferente de
PARTE I
Do Urbanismo Sanitarista ao Planejamento Urbano: aspectos terico conceituais
TEORIA E PRTICA URBANSTICA NO BRASIL (1930 1970) 36
[...] os primeiros a merecer o ttulo de urbanistas (RAMON, 1977, p. 10). Essas teorias
apresentam trs conjuntos de traos comuns: autodenominam-se discurso cientfico,
afirmando a sua [...] autonomia de um domnio prprio no vasto territrio, em
emergncia, das cincias humanas; opem duas imagens de cidade uma negativa e
outra positiva; e, por fim, relatam uma histria em que o heri o construtor (CHOAY,
1985, p. 266).
Franoise Choay (1996), retomando o surgimento do neologismo urbanismo na
obra paradigmtica de Cerd Teora general de la urbanizacin (1867),12 considera que,
desde a sua criao, a palavra serviu para designar dois procedimentos diferentes:
De um lado, urbanismo designa uma disciplina nova que se declara autnoma e
se quer cincia da concepo das cidades. Ela postula a possibilidade de um
domnio completo do fato urbano e elaborou, para este fim, teorias
classificveis em duas correntes: uma, dita progressista, visa ao progresso e
produtividade; a outra, dita culturalista, centra-se em objetivos humanistas. No
entanto, a despeito de suas diferenas, as teorias dessas duas correntes se
fundem sobre um procedimento idntico: anlise crtica da cidade existente e
elaborao a contrario de um modelo de cidade que poderia ser construda e
reproduzida ex nihilo. [...].
De outro lado, e ao mesmo tempo, urbanismo designa tambm um outro
procedimento, pragmtico e sem pretenso cientfica. Este j no visa,
sobretudo transformar a sociedade, mas procura, mais modestamente,
regularizar e organizar, com o mximo de eficcia, o crescimento e movimento
dos fluxos demogrficos, assim como a mutao da escala dos equipamentos e
das construes induzidas pela Revoluo Industrial (CHOAY, 1996, p. 10-11).
organizao social, econmica e territorial, que implicaria em um novo ambiente residencial, com baixa
densidade e dotado de grandes espaos verdes.
11
Patrick Geddes, em sua Cidades em evoluo, realiza uma exposio sistemtica de teorias sobre a cidade e
seus problemas, originando uma nova maneira de formul-los, sob enfoque essencialmente poltico
(RAMON, 1977). Assim, a contribuio de Geddes ao urbanismo foi embas-lo com firmeza no estudo da
realidade, trazendo a anlise detalhada das formas de assentamento dos sistemas econmicos locais em
relao s potencialidades e limitaes do meio ambiente. Essa postura o conduziu a abandonar os limites
convencionais da cidade e considerar, tambm, a regio natural (HALL, 1995). Amplia, assim o objeto
espacial do urbanismo desde a cidade ao mbito do territrio em que ela se insere, configurando o que hoje se
chama planejamento territorial e regional (DE LCIO, 1993).
12
Cerd no utilizou a palavra urbanismo, mas sim urbanizacin, dando-lhe dois significados precisos: um
que fala do processo social de produo do urbano e outro que j delimitava claramente o escopo, a
abrangncia e a cincia do que viria a ser chamado de urbanismo no incio do sculo XX. Nela, o
urbanismo designa, de um lado um grupo de construes postas em relao e em comunicao tais que os
habitantes possam se encontrar, se ajudar, se defender [...], ao mesmo tempo em que consiste em um
conjunto de conhecimentos, de princpios imutveis e de regras fixas que permitem organizar
cientificamente as construes dos homens (CHOAY, 1985, P. 267). Sua teoria atribui ao urbanismo a
associao do repouso e do movimento dos seres humanos isto , dos edifcios e das vias de comunicao.
Ressalta a, a estreita relao com a arquitetura, como campos indissociveis. Pretendendo dar um carter
cientfico nova cincia, recorre histria e biologia no diagnstico da cidade reduo do urbano ao
biolgico cidade como um corpo enfermo.
PARTE I
Do Urbanismo Sanitarista ao Planejamento Urbano: aspectos terico conceituais
TEORIA E PRTICA URBANSTICA NO BRASIL (1930 1970) 37
Vale salientar que justamente nessa atividade prtica que reside a ascenso da
profisso do arquiteto, visto que, principalmente no urbanismo, essa categoria profissional
era a detentora do instrumento fundamental que permitiria visualizar o plano: o desenho.
Pois, se o urbanismo se pretendia cientfico, prevendo e estabelecendo o futuro da cidade,
o desenho seria o melhor meio mais eficiente para faz-lo, na medida em que permitiria a
um pblico leigo visualizar, antecipando a imagem urbana do futuro.
O termo planejamento, por sua vez, surge tambm em fins do sculo XIX e incio
do sculo XX, mais associado s prticas urbansticas desenvolvidas nos pases anglo-
saxes, e incorporando, de incio, um plano regulador e o regulamento da edificao, ou
seja, um instrumento grfico de ordenao espacial da expanso urbana e da estrutura
viria; e outro escrito, estabelecendo normatizaes para a edificao (DE LUCIO, 1993).
Entre 1875 e 1910 salen a la luz en Alemania una serie de tratados sobre la
ciudad y el planeamiento urbano que suponen la cristalizacin y primera
formulacin ordenada y rigorosa dos principios racionalizadores de la ciudad
industrial; los trabajos de Baumeister (1876), Stbben (1890) o Eberstadt
(1910), [...], estabelecen la primera aproximacin cientifista de la disciplina, al
analisar los fenmenos urbanos y sus relaciones y proponer metodos
coordinados de intervencin y tcnicas concretas (DE LUCIO, 1993, p. 81).
PARTE I
Do Urbanismo Sanitarista ao Planejamento Urbano: aspectos terico conceituais
TEORIA E PRTICA URBANSTICA NO BRASIL (1930 1970) 38
13
MANNHEIM, K. Libertad Y Planificacin. Mxico: Fondo de Cultura, 1942.
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Essa elitizao das reas centrais era reforada pela imposio de inmeras
restries e regulamentaes, a partir da implementao dos cdigos de postura e as
conseqentes normatizaes do espao construdo. Dentro dos princpios higienistas e
visando salubridade das edificaes e do espao urbano, indicava-se as dimenses tanto
dos ambientes como das aberturas das habitaes, segregando os moradores que no
podiam arcar com as mesmas e forando-os a se deslocar para as periferias da cidade. A
materializao dessas prescries, a cargo das Comisses de Melhoramentos, aliadas s
obras de retificao do sistema virio, implicava em demolies, alargamento e correes
de alinhamento, ocasionando a substituio gradual de casas de baixo padro por prdios
de luxo, geralmente verticalizados.
Dessa forma, a realizao dos planos de melhoramentos e a efetivao das obras
neles apontadas consolidou a atividade do engenheiro, acarretando uma ampliao no
mercado da construo civil e, conseqentemente, um incremento no processo de
urbanizao de inmeras cidades.
De incio restritos ao mbito da administrao municipal, medida que se
difundiam por vrias cidades e mobilizavam um grande volume de capital, atingindo maior
ressonncia por todo o pas, os planos de melhoramentos urbanos passaram,
PARTE I
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14
Novaes foi prefeito de Vitria em duas ocasies (1916-1920 e em 1945) e, dentre sua vasta obra, vale citar
os planos elaborados para Vitria (1917 e 1931) e para Natal (1924), todos influenciados pelo esforo da
tradio do urbanismo sanitarista em pensar a cidade de forma abrangente, global (Ferreira et al., 2003a);
Sampaio atuou durante muitos anos em So Paulo, mas foi em Salvador onde elaborou um importante plano
de ampliao e modernizao das redes do saneamento da cidade em 1905 (Fernandes, Sampaio e Gomes,
1999).
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Do Urbanismo Sanitarista ao Planejamento Urbano: aspectos terico conceituais
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PARTE I
Do Urbanismo Sanitarista ao Planejamento Urbano: aspectos terico conceituais
TEORIA E PRTICA URBANSTICA NO BRASIL (1930 1970) 45
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Moderna (CIAM) realizado em 1933, quando se disseminou a separao rgida das funes
bsicas do viver urbano trabalho, habitao, lazer e circulao.
Embora os urbanistas modernistas perseguissem o zoneamento funcional e o
considerassem como principal promotor do ordenamento da cidade, observa-se que a
defesa da separao de usos emergiu antes, fortemente influenciada, de incio, pelos
princpios higienistas, justificando-se em nome da higiene e da ordem e recorrendo a
imagens e metforas da cidade como [...] um organismo doente, carente da regenerao
a ser propiciada pela interveno revitalizadora (e salvadora) do saber urbanstico, capaz
de adaptar o espao urbano era da mquina (SOUZA, 2002, p. 254).
Apesar das inmeras crticas fundamentadas no seu carter segregador e
funcionalista, pretenciosamente neutro e tecnocrtico desvinculado dos reais
problemas sociais e promotor de um ideal de progresso e harmonia sociais a serem
alcanados a partir da reestruturao do espao urbano, o zoneamento consiste no principal
legado do urbanismo modernista que permanece at a atualidade ainda que suavizado
(SOUZA, 2002, p. 254).
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Definido por Franoise Choay.
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O autor faz uma ressalva de que, se o planejamento se desvincular de uma anlise crtica da realidade, ser
[...] simples pesquisa aplicada grosseiramente manipulada (SOUZA, 2002, p. 96).
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Este captulo traz uma breve abordagem acerca da atuao do Escritrio Saturnino
de Brito (ESB), com nfase nos princpios e na ideologia que nortearam as propostas
elaboradas e implementadas ao longo de sua trajetria, remontando, para tanto, sua
fundao, pelo engenheiro Saturnino de Brito.
Essa abordagem tem por maior finalidade permitir a compreenso das
contribuies do Escritrio para a formao e consolidao do urbanismo no Brasil, alm
de possibilitar o entendimento da sua posio e da sua postura adotada em meio ao
processo de transio do urbanismo para o planejamento urbano. Pretende-se ainda, a partir
deste captulo, fundamentar a anlise da atuao do Escritrio Saturnino de Brito em Natal,
entre 1935 e 1969, perpassando pelos vrios momentos do processo de urbanizao da
cidade que sero estudados na Parte II deste trabalho.
Cabe ressaltar que, em virtude da ausncia de estudos e pesquisas destinadas
trajetria profissional do Escritrio, s suas propostas e obras idealizadas e concretizadas,
recorreu-se, para a elaborao deste captulo, a publicaes e artigos de Saturnino de Brito
Filho como diretor do Escritrio , nos meios tcnicos de divulgao, como a Revista do
Clube de Engenharia e congressos especializados.
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Assim, deve-se considerar que, para alm da funo tcnica, as obras vinculadas
s redes do saneamento materializaram, de certa forma, o sentido de moderno, de
progresso e de civilidade. Projetadas para ocupar lugares significativos da cidade,
introduzindo novas visualidades e mesmo novos marcos urbanos em meio configurao
da cidade tradicional, as estruturas de apoio do aparato tcnico do saneamento tornaram
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visvel o que a princpio estava invisvel, tornaram palpvel e presente no cotidiano parte
das fabulaes do imaginrio moderno.
O urbanismo sanitarista
brasileiro que muitos afirmam, j
nasceu moderno tem, na figura do
engenheiro Saturnino de Brito
(Figura 01) o seu maior expoente. A
grande ressonncia e influncia de
suas obras e idias (concretizadas em
dezenas de cidades brasileiras desde
fins do sculo XIX) possibilitaram a
criao de uma morfologia urbana
original cujo elemento norteador e de
maior destaque era o saneamento.17
17
Ao longo de sua trajetria profissional, entre os anos de 1887 e 1929, quando do seu falecimento,
Saturnino de Brito desempenhou as mais diversas atividades, desde estudos para estradas de ferro at projetos
de saneamento responsveis pelo seu renome. Sua contribuio para o desenvolvimento da engenharia
sanitria no Brasil fez-se tambm por intermdio da participao em inmeros eventos cientficos, nacionais
e internacionais, divulgando suas tcnicas e seus procedimentos projetuais. As diretrizes de trabalho e
administrao, bem como os relatrios completos de suas realizaes, encontram-se em suas Obras
Completas. Composta por vinte e trs volumes, a coleo foi publicada entre os anos de 1942 e 1943, por
iniciativa do engenheiro Loureno Baeta Neves, a partir de um projeto apresentado Cmara de Deputados
(ALVARENGA, 1979). Cabe destacar que parte dos seus escritos tericos e tcnicos j haviam sido editados
em francs e permanecem ainda inditos em lngua portuguesa, como o importante Notes sur le Trac
Sanitaire des Villes (Paris, 1916), tese apresentada Association Gnrale des Hygienistes et Techniciens
Municipaux de France, etc., da qual Brito era membro de honra (FERREIRA et al, 2003).
18
A Teoria dos Meios, como explicita o prprio Saturnino de Brito, compunha-se das [...] relaes
recprocas entre os seres vivos e os modificadores mesolgicos (BRASIL, 1943a, p. 32).
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19
BRASIL. Ministrio da Educao e Sade. Instituto Nacional do Livro. (Org.). Notes sur l Trace
Sanitaire ds Villes. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1944. (Obras Completas de Saturnino de Brito, v.
20).
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O traado regular definido pela presena marcante dos canais a cu aberto, com
passeios, passadios e avenidas arborizadas, ensejaram a criao de uma nova cidade
pautada, sobretudo, em um moderno uso do espao pblico. Os aparatos tcnicos do
saneamento antes ocultos e despercebidos alaram, de forma inovadora, concreta e,
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20
Alguns de seus contemporneos tambm trouxeram importantes contribuies para o campo da engenharia
sanitria brasileira. Theodoro Sampaio, com sua atuao em So Paulo e, principalmente, com a proposta de
ampliao da rede de abastecimento dgua e criao da rede de esgotos de Salvador, em 1905, foi um dos
que reforaram a construo de uma paisagem urbana particular consubstanciada por meio da tcnica e do
saneamento. J Henrique de Novaes, cuja atuao incluiu cidades como Vitria, So Paulo, Rio de Janeiro,
Juiz de Fora, Fortaleza e Natal era propagador do iderio de Saturnino de Brito, concebendo os equipamentos
sanitrios, em seus projetos especialmente os reservatrios de gua como marcos, atribuindo-lhes uma
[...] situao de destaque, tanto mais quanto convenientemente desenhadas so as obras de aformoseamento
urbano (NOVAES, 1924, p.1).
21
Os planos diretores, os cdigos de obras, as leis relativas ao meio ambiente etc. da atualidade trazem muito
do que foi proposto por Saturnino no incio do sculo XX.
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A legislao que props de modo pioneiro para a cidade de Santos, que serviu
como base para as demais propostas urbansticas por ele desenvolvidas, trazia, inclusive,
sugestes de procedimentos administrativos que viabilizassem a concretizao de seus
princpios, reforando a importncia do papel do Estado na efetivao das leis e no papel
de indutor da realizao dos planos gerais e de expanso em todas as cidades. Saturnino de
Brito concedia ao poder pblico, portanto, o direito de desapropriao de prdios ou zonas
edificadas para sanear; de demolio e modificao das ruas de acordo com a eficincia
das redes de gua e de esgotos, reservando espaos para praas ou parques e loteando e
vendendo os terrenos a edificar. Dessa forma, modificava os instrumentos legais existentes
em funo do saneamento, [...] dando-lhe uma latitude antes desconhecida como
necessria (BRASIL, 1944b, p. 188).
Em sua publicao Le Trace Sanitaire des Villes22, Saturnino de Brito expunha
as prescries com relao ao traado de novos bairros, especificando:
Em cada talvegue se traar uma viela, ou rua, ou avenida, retificando e
canalizando o curso. As outras ruas sero retas ou curvas, de direo normal s
curvas de nvel para o mais fcil esgotamento das guas de chuva e de esgotos
das habitaes. As ruas para o trnsito fcil sero estudadas transversalmente a
estas ltimas procurando o declive estipulado para o movimento de autos e
carroas. Os quarteires sero alongados com comprimentos mximos de 250
metros e largura de 60 a 80 metros, porque os lotes daro frente apenas para as
ruas normais s curvas de nvel. Os lotes sero de largura mnima de 12 metros
e comprimentos de 30 a 40 metros. Separando os quarteires alongados podero
ser traadas vielas para pedestres. As vielas tero larguras de 3,5 a 5,0 metros,
as ruas de 9 a 15 metros, com caladas para pedestres de 1,5 e 3,0 m
respectivamente, e as avenidas com duas faixas de trnsito desde 18 at 40
metros (SAMPAIO, 1952, p.13).
22
Esse trabalho de Saturnino de Brito foi publicado pela primeira vez pela Impriemerie Choix, em Paris, no
ano de 1916. At hoje no foi traduzido para o portugus, e se encontra reproduzido no volume 20
dedicado ao Urbanismo das Obras Completas de Saturnino de Brito, publicadas em 1943 pela Imprensa
Nacional, conforme j citado.
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23
Os ndices referentes distribuio do espao pblico em planos de loteamentos ou de arruamentos foram
institudos pela Lei Federal n 6766 de 1979 que determinava um mnimo de 35% de reas pblicas. Esses
ndices s foram consolidados em Natal com o Plano Diretor de 1984 (Lei n 3.175/84) que, utilizando como
base a citada Lei Federal, ampliou para 40% o percentual total mnimo destinado a reas pblicas (20% - vias
de circulao; 15% - reas verdes; 5% - usos institucionais) (FERREIRA et. al, 2003a).
24
Essa prescrio, em Natal, foi determinante para a realizao das propostas do Escritrio Saturnino de
Brito incorporadas no Plano Geral de Obras (1935 a 1939), que considerou a adequao dos projetos s
peculiaridades ambientais da cidade. A preocupao com os horizontes naturais consiste em uma
importante diretriz do Plano Diretor da cidade de Natal (Lei complementar n 7, de 5 de Agosto de 1994),
determinando o controle de gabarito nas reas circundantes ao Parque das Dunas e ao litoral.
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25
O arquiteto austraco Camillo Sitte, que muito influenciou as formulaes tericas e as realizaes prticas
de Brito, autor de uma das obras fundamentais da vertente culturalista do urbanismo moderno: A
Construo de Cidades segundo seus Princpios Artsticos (1889; a edio brasileira de 1992).
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Alm dos procedimentos, foi mantida boa parte do corpo tcnico do Escritrio,
que incorporava importantes nomes da engenharia sanitria nacional, como Geraldo
Sampaio, Povoa de Brito, Francisco de Gouveia Moura, Henrique Batista, Floro Dria, Rui
Buarque, e Jos Fernal. Alm dos consultores Miguel Presgrave, Loureno Baeta Neves e
A. C. de Frana Meireles.
O acerto da incomparvel norma deixada por Saturnino de Brito e a
competncia e exemplar conduta deste pessoal tcnico conjugaram-se reta
viso das nossas administraes pblicas e das populaes em geral, para se
consubstanciarem nas numerosas realizaes de trabalho sob bases meramente
tcnicas que levamos a termo (ESCRITRIO..., [19--]).
26
A partir dos documentos at agora catalogados, no possvel identificar em quais cidades o Escritrio
elaborou planos gerais e de expanso, indicando a anlise dos projetos e propostas para outras cidades do
Brasil a serem desenvolvidas em futuros trabalhos.
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Figura 04: Mapa que ilustra as cidades em que o Escritrio atuou. Fonte: ESCRITRIO... [19--].
27
Cabe destacar que esses servios foram apenas os que Floro Dria estava envolvido. Certamente, muitas
outras cidades e estados foram contemplados pela atuao do Escritrio entre as dcadas de 1960 e 1970.
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28
Essa entidade, criada em 1949 no Rio de Janeiro, reunia associaes nacionais de engenheiros de 25 pases,
sendo 21 latino-americanos, visando, sobretudo, a promoo do intercmbio de conhecimentos na rea da
engenharia, promovendo conferncias, congressos e encontros anuais. Em 1976, Brito Filho coordenou a
XIV Conveno da UPADI, que ocorria simultaneamente ao VII Congresso Pan-Americano de Ensino da
Engenharia e II Exposio de Engenharia e Indstria, que tinham como tema A Engenharia e o
Desenvolvimento Integrado nos Pases da Amrica (REVISTA DO CLUBE DE ENGENHARIA, 1976).
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somente das cidades brasileiras, mas do prprio pas, tendo como eixo as tcnicas do
saneamento e as diretrizes da sade pblica. Vinculando estritamente a higiene educao,
fez da metfora do corpo nacional sua justificativa. Em um pas de cidades insalubres e
povo doente, afirmava-se, o urbanismo sanitarista seria o meio para a introduo de
melhoramentos da qualidade de vida da populao. Assim, ao discursar sobre A
Higiotcnica e o Urbanismo, Brito Filho (1941) retomou os preceitos e reafirmou o lugar e
a importncia da abordagem abrangente sobre a cidade que marcara as formulaes do
urbanismo sanitarista, a qual estava filialmente ligado. Comeando pelo ttulo, que
recupera o tema da parte inicial do texto sobre os Esgotos da Cidade de Saturnino de
Brito29, essa reafirmao passou pelo vnculo estrito dos planos de urbanismo s
necessidades tcnicas das redes de saneamento, pela querela com os resultados da
evoluo pasteuriana que mudara o foco da atuao mdica do ambiente para o
indivduo , pela relao entre o chamado organismo-cidade e o organismo-indivduo ou
mesmo pelo reconhecimento da obra de seu pai como um conjunto de experincias
formativas do urbanismo no Brasil.
A atuao multifacetada de Brito Filho possibilitou a publicao de incontveis
artigos referentes no s engenharia sanitria em especial, mas estendendo-se, por vezes,
a assuntos mais abrangentes; ao mesmo tempo, permitiu a circulao do engenheiro por
diversos meios profissionais, alargando sua alada de ao e promovendo o Escritrio
Saturnino de Brito em mbito nacional e internacional. Proporcionou ainda a atualizao
de Brito Filho em meio s discusses contemporneas acerca no s da engenharia, mas
dos campos afins e dos aspectos tcnicos e culturais em geral. Como exemplo, pode-se
citar o artigo intitulado Novidades eletrnicas na operao dos servios tcnicos (BRITO
FILHO, 1956), onde discute e defende a utilizao do computador na otimizao de
inmeros servios a cargo da engenharia, a partir da programao de mquinas e do
clculo de problemas complexos, publicado na Revista do Clube de Engenharia, em 1956.
Essa atualizao refletiu-se no apenas na produo terica do engenheiro, mas
tambm nos seus procedimentos tcnico-projetuais e o caso de Natal exemplar ,
introduzindo, ao longo dos anos, inovaes tcnicas e elementos da arquitetura e do
29
A primeira parte desse texto intitula-se Os problemas da higiotecnia e contemporneo aos trabalhos de
Brito em Santos, na primeira dcada do sculo XX; foi republicado nas Obras Completas de Saturnino de
Brito (1943, p.13-36).
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urbanismo moderno em suas propostas, sem perder, no entanto, o mote sanitarista como
eixo central de suas intervenes. Esse mote sanitarista e o carter reto impressos desde a
fundao do Escritrio continuaram a determinar a racionalidade e a eficincia tcnica das
obras, assim como os procedimentos administrativos caractersticos desde as primeiras
obras de Saturnino de Brito. O sistema de administrao contratada30 em detrimento dos
contratos por empreitada que se disseminavam pelo Brasil e que dispunham de uma maior
flexibilidade e conseqente aceitao por parte das administraes pblicas continuava
estabelecido nos decretos contratuais que, ressalte-se, eram redigidos pelo prprio
Escritrio, permanecendo inerente e intacto ao longo da atuao daquela instituio,
independente dos interesses polticos e econmicos locais que gradativamente se
consolidavam no contexto poltico nacional. Reafirma-se, ento, a f positiva na
neutralidade do saber tcnico posta em prtica em suas atuaes ao longo do pas e gestes
politicamente imparciais que certamente corroboraram a sua permanncia em inmeras
cidades brasileiras e em Natal, em particular, onde atuou durante mais de 30 anos,
perpassando por vrios contextos polticos e econmicos.
Floro Dria que dedicou 51 anos de vida profissional ao Escritrio Saturnino de
Brito, desempenhando a posio de Preposto em vrias cidades do Brasil, e chegando a
ocupar o cargo de Inspetor regional do Escritrio, assim resume a personalidade de
Saturnino de Brito Filho:
1) No aparentava ser o que era: um dos maiores engenheiros sanitaristas da
Amrica do Sul e alhures, reconhecido pelas maiores autoridades no assunto e
congressos internacionais. Elemento de destaque na Confederao Sul-
Americana de Engenheiros. Sua vida inteiramente dedicada Engenharia.
2) Continuador obrigatrio da grande obra iniciada pelo seu pai e patrono do
Escritrio Saturnino de Brito.
3) Foi um grande chefe que soube sempre apoiar integralmente os prepostos do
ESB, nos diversos estados do pas, dando-lhes cobertura na hora precisa,
sempre pronto a nos ouvir nos casos difceis que se apresentavam; chegando-se
sempre a um bom resultado. Possua conhecimentos jurdicos para discutir com
os elementos mais abalizados em matria de Direito, e grande cultura geral.
30
Em entrevista realizada em 09 de abril de 2001, o engenheiro Marcelo Adeodato, preposto do Escritrio
Saturnino de Brito em Natal durante a dcada de 60, afirmou que, pelo sistema de administrao contratada,
cabia ao Escritrio Saturnino de Brito a contratao e remunerao do pessoal tcnico, operrios e materiais
para os servios de estudos e projetos. Ao governo, alm das outras despesas com estudos, medies,
indenizaes, pessoal administrativo, caberia o pagamento ao Escritrio da quantia equivalente a 10% do
valor total dos servios incluindo a arrecadao proveniente.
PARTE I
Do Urbanismo Sanitarista ao Planejamento Urbano: aspectos terico conceituais
ESCRITRIO SATURNINO DE BRITO 69
Por outro lado, aponta para alguns aspectos controvertidos do seu chefe, assim o
definindo:
1) Na realidade, no era bom administrador. Era vaidoso, desconhecido,
vingativo e frio.
2) Aquecessvel aos que no contrariassem os seus pontos de vista. CAUIRA,
com aqueles que trabalhavam elevando cada dia o conceito do Escritrio.31
3) Mo aberta como relaes pblicas, para aqueles que futuramente pudessem
trazer-lhe vantagens, principalmente se fossem estrangeiros (DRIA, [1976?],
p.205 - 206).
31
Floro Dria enuncia inmeras situaes em que insinua uma certo lado mesquinho de Brito Filho,
principalmente com relao aos funcionrios do ESB.
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Figura 05: Bairro Cidade Nova, 1904. Fonte: FERREIRA et.al (2003).
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Figura 06: Plano Geral de Obras de Saneamento de Natal - Blueprint, 1924. Fonte: Acervo HIDROESB.
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Figura 07: Plano Geral Sistematizao de Natal, 1929. Fonte: DANTAS (1998).
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32
Por toda a dcada, a administrao do Rio Grande do Norte passou por seis interventorias, sendo quatro
delas at o ano de 1933.
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33
Como visto no captulo 02, o engenheiro Saturnino de Brito, falecido em 1929, considerado expoente
mximo da vertente do urbanismo sanitarista pela sua atuao em inmeras cidades do Brasil, realizando
obras de saneamento e abastecimento dgua. O seu legado sanitarista foi continuado pelo Escritrio de
Engenharia Civil e Sanitria, fundado em 1920, o qual, aps o seu falecimento, sob a direo de Saturnino de
Brito Filho, passou a se denominar Escritrio Saturnino de Brito, conservando, alm do iderio, os princpios
contratuais e administrativos e o quadro de funcionrios.
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34
Essa estimativa baseava-se na taxa mdia de crescimento registrada nos anos anteriores, contudo, em
virtude do aumento demogrfico ocasionado pela II Guerra Mundial, ficou aqum dos nmeros verificados j
em 1943, que indicavam uma populao de 85.000 habitantes (MELO, 1993), conforme ser visto adiante.
35
A proposta de construo de um parque na Lagoa Manoel Felipe j havia sido elaborada pelo Engenheiro
Henrique de Novaes, em 1924, e incorporada no Plano Geral de Sistematizao, em 1929.
PARTE II
Urbanismo e Planejamento Urbano em trs momentos da urbanizao de Natal
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Contudo, previu alterar o plano de 1929 na zona dos cmoros, entre as Rocas e
36
a costa, assim como na zona das estradas de ferro37. Na primeira, foram propostos um
Bairro Residencial e o aeroporto, que seria conectado aos aeroportos martimo e terrestre.
Com relao zona das estradas de ferro, o projeto de Palumbo previa uma avenida
litornea38 e uma outra avenida que abrigava o coletor geral da rede de esgoto, e era
destinada tambm ao trfego.
A planta topogrfica da cidade, elaborada pelo engenheiro Henrique de Novaes,
em 1924, foi a principal base utilizada, retificando-se apenas alguns pontos em que havia
discrepncia quanto aos nivelamentos. Ainda acerca dos projetos de Henrique de Novaes, o
Escritrio Saturnino de Brito (1935, p. 24) ponderou que [...] as obras no foram
executadas e hoje a cidade conta com 60 km de ruas, estando a previso futura de 1924 j
praticamente atingida pela populao presente. A latitude previsora tem forosamente de
ser outra, exigindo imperiosamente novos estudos. Apesar de considerar as anlises e as
propostas de Novaes, enveredou-se os projetos por outros caminhos, dando continuidade
proposta para a Lagoa Manoel Felipe, a localizao do bairro residencial na chamada zona
dos cmoros (onde o plano de Novaes havia sugerido e esboado um bairro operrio e o
plano de Palumbo um bairro-jardim), a concepo de uma avenida do saneamento para
abrigar os coletores e o aproveitamento do coreto da Praa Leo XII como estao
elevatria.
Com relao aos servios existentes, constatou-se que em 1935 a situao do
abastecimento dgua em Natal era crtica, disponibilizando gua apenas uma ou duas
horas por dia, com fraca presso, o que no permitia totalizar o volume mnimo para
36
O termo zona dos cmoros se refere ao terreno dunar situado nas proximidades do Forte dos Reis
Magos, atualmente, de propriedade do Exrcito.
37
Nas proximidades da atual comunidade do Passo da Ptria, situada s margens do rio Potengi.
38
Cuja construo foi adiada por tempo indeterminado, por necessitar do aterro e de um cais.
PARTE II
Urbanismo e Planejamento Urbano em trs momentos da urbanizao de Natal
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39
Que seriam, respectivamente, no bairro de Petrpolis e parte do bairro da Ribeira.
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PRIMEIRO MOMENTO 92
Com relao aos esgotos, o maior problema registrado era o destino das guas
residuais das habitaes, que eram levadas a fossas absorventes, cujo desempenho foi
assim descrito:
Na zona alta de areia se mantinham em enganadora serventia, contaminando o
subsolo, e na zona baixa, onde o lenol dgua est a pouco mais de um metro
da superfcie, obrigavam os proprietrios a uma multiplicao do numero de
fossas, quintais havendo que no mais permitiam a construo de novos
elementos. Por toda a parte situaes que atentavam contra a sade pblica, sem
respeito ou obedincia aos ditames da higiene (ESCRITRIO...,1939, p. 10).
40
Fazendo-se a da analogia entre as redes de gua e de esgotos na cidade, e o sistema circulatrio no
organismo humano.
PARTE II
Urbanismo e Planejamento Urbano em trs momentos da urbanizao de Natal
PRIMEIRO MOMENTO 93
Nessa perspectiva,
foram retomados os
princpios que marcaram a
obra de Saturnino de Brito
para o qual a questo do
saneamento no se restringia
apenas ao aspecto sanitrio,
mas se ampliava para toda a
organizao do espao fsico,
articulando as vrias partes
da cidade e pensando a
reforma, expanso e
embelezamento do espao
urbano em funo da
racionalidade das redes de
gua e esgotos, chegando-se
concepo do Plano Geral
de Obras (Figura 09), que,
resumidamente, constou de:
Figura 09: Plano Geral de Obras, 1936.
Fonte: ESCRITRIO... (1939).
PARTE II
Urbanismo e Planejamento Urbano em trs momentos da urbanizao de Natal
PRIMEIRO MOMENTO 94
41
Cabe destacar que a ideologia e os princpios polticos de Getlio Vargas eram assegurados por Raphael
Fernandes, no Rio Grande do Norte e em Natal, fator que levava o Governador a manter estreitos vnculos
com o Presidente da Repblica, constituindo-se a sua gesto na mais duradoura do perodo intervencionista
no Brasil (1935 1943).
42
Colaborao esta imprescindvel, se observada a queda sofrida pela produo do algodo a partir de 1936,
fato que levou o Governo do Estado a recorrer a emprstimos e financiamentos pblicos, intermediados pelo
Governo Federal.
43
Das propostas indicadas, concretizaram-se apenas a rede de gua e parte dos esgotos sanitrios e o Edifcio
Sede da Repartio de Saneamento de Natal (RSN). O restante dos projetos excluindo-se os referentes aos
Melhoramentos Urbanos e a respectiva ampliao das redes foram implementados ao longo das dcadas
de 1940, 1950 e 1960, durante a permanncia do Escritrio Saturnino de Brito em Natal, gerindo e
administrando os servios de saneamento da cidade.
PARTE II
Urbanismo e Planejamento Urbano em trs momentos da urbanizao de Natal
PRIMEIRO MOMENTO 95
Abastecimento dgua
O projeto para a rede de abastecimento dgua foi orientado por inmeros critrios
tcnicos e urbansticos estabelecidos desde a fundao do Escritrio. Respeitando,
sobretudo, as condies ambientais locais, as propostas privilegiaram os aspectos da
economia, da exeqibilidade e aplicabilidade, da funcionalidade e eficincia, alm da
racionalidade tcnica caracterstica da obra de Saturnino de Brito. Propunha-se ainda, uma
legislao especfica de modo a assegurar o pleno funcionamento das redes aps a sua
implementao.
Dentro das preocupaes ambientais, o Escritrio procurou adaptar as solues
para o abastecimento dgua de Natal s suas condies geolgicas, apontando para a
riqueza do aqfero subterrneo e orientando os projetos para captao das guas profundas
do tabuleiro, que dispensava despesas onerosas com a construo de longas adutoras,
tratamento qumico e filtrao, culminando
a) no aprecivel barateamento da obra calculada em quantia superior a Mil
Contos;
b) no seu mais curto tempo de execuo;
c) na qualidade do lquido que excelente;
d) na ampliao gradativa do nmero de poos proporo que a cidade for se
desenvolvendo. (RIO GRANDE DO NORTE, 1936, p. 33).
44
O Escritrio, dando continuidade sua atuao em Natal, props, entre as dcadas de 1950 e 1960, a
captao na Lagoa do Jiqui, elaborando o projeto completo para a sua incorporao no abastecimento dgua
da cidade. Os documentos encontram-se atualmente no Laboratrio Hidrotcnico Saturnino de Brito, no Rio
de Janeiro.
PARTE II
Urbanismo e Planejamento Urbano em trs momentos da urbanizao de Natal
PRIMEIRO MOMENTO 96
margens da Lagoa Manoel Felipe, foi possvel adotar manilhas de barro nas canalizaes
de conexo, fator que baixou o custo do capital dispensado na obra.
Em suma, o projeto previu um volume de captao dgua capaz de atender a uma
populao superior a 200.000 habitantes, apontando como mananciais a serem explorados:
as dunas, a lagoa Manoel Felipe, a lagoa Nova, Petrpolis e Baldo, e ainda prevendo para o
futuro a captao de guas superficiais nas lagoas do Jiqui e de Extremoz e a ampliao
dos servios nas dunas e na lagoa Nova. Na Lagoa Manoel Felipe, em especial, cuja
topografia e conjunto de Lago se prestam admiravelmente para a construo de parque,
realizao sempre indicada em servios dessa natureza (ESCRITRIO..., 1939, p. 40), foi
pensado, juntamente com as obras que envolviam a perfurao de nove poos tubulares e a
construo das casas de poos e de bomba, o projeto urbanstico para um parque urbano,
incorporando os anseios j mencionados no Plano Geral de Obras de Saneamento de Natal,
de Henrique de Novaes e no Plano Geral de Sistematizao de Natal, de Palumbo e
OGrady.
Em meio aos elementos componentes do sistema de abastecimento dgua que
compreendia a captao, o armazenamento e o tratamento da gua nos reservatrios, a rede
de distribuio, as ligaes prediais e, nos bairros de baixa renda, chafarizes , destacam-se
os reservatrios como principal elemento de destaque na paisagem da cidade, ressaltando a
importncia dos servios de saneamento em meio configurao urbana.
Reservatrios
PARTE II
Urbanismo e Planejamento Urbano em trs momentos da urbanizao de Natal
PRIMEIRO MOMENTO 97
45
Esse reservatrio existe at a atualidade, embora desativado, e localiza-se na esquina da Av. Deodoro com
a Manoel Dantas.
PARTE II
Urbanismo e Planejamento Urbano em trs momentos da urbanizao de Natal
PRIMEIRO MOMENTO 98
46
Este reservatrio situava-se logo aps a subida da ladeira do Sol (em frente ao Novotel). Uma das unidades
ruiu e desabou na dcada de 70. A outra unidade foi transferida para dar lugar duplicao daquela via, no
ano de 1982, quando tambm foi construda uma praa sobre o terreno do R.2, que perdura at hoje.
Atualmente, o reservatrio encontra-se naquela mesma via, em frente ao Tribunal de Contas da Unio.
PARTE II
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PRIMEIRO MOMENTO 99
47
O R3 encontra-se no terreno ocupado hoje pela Companhia de guas e Esgotos do Rio Grande do Norte
(CAERN), ainda em funcionamento. Ao longo dos anos, foi acrescido de ampliaes e novos equipamentos,
visando aumentar a sua capacidade. Em contrapartida, teve a sua rea bastante reduzida, tendo-se em vista
que na proposta do Escritrio se estendia at a Av. Alexandrino de Alencar.
PARTE II
Urbanismo e Planejamento Urbano em trs momentos da urbanizao de Natal
PRIMEIRO MOMENTO 100
No intuito de atender
zona alta de Petrpolis, foi
indicada e efetivada a
construo de uma caixa em
torre de forma cilndrica e em
concreto armado48. A caixa,
que veio substituir uma antiga
j existente no local, (tida pelo
Escritrio Saturnino de Brito
como de ordinria construo),
era em concreto armado com
Figura 13: Caixa em Torre situada em Petrpolis.
acabamento externo em p de Fonte: ESCRITRIO... (1939).
granito e mica.
48
Essa caixa dgua situa-se ao lado do Tribunal de Contas da Unio, na atual Av. Getlio Vargas. Encontra-
se presentemente desativada, e em condies precrias de manuteno. Cabe ressaltar que nesse mesmo
terreno existe outra caixa em torre, construda ainda sob a responsabilidade do Escritrio Saturnino de Brito,
na dcada de 1960.
PARTE II
Urbanismo e Planejamento Urbano em trs momentos da urbanizao de Natal
PRIMEIRO MOMENTO 101
Esgotamento Sanitrio
49
Cabe destacar que, poca, em outras cidades do pas j eram construdos os reservatrios elevados, as
grandes caixas dgua em torre, de caractersticas modernas, como os exemplos de Luiz Nunes e Oscar
Niemeyer.
50
Em conferncia pronunciada na cidade de Natal, e registrada pela Revista Municipal de Engenharia do Rio
de Janeiro RJ, em janeiro de 1938.
PARTE II
Urbanismo e Planejamento Urbano em trs momentos da urbanizao de Natal
PRIMEIRO MOMENTO 102
alvitre de emitir esses despejos para descarreg-los in natura no Oceano (BRITO FILHO,
1938, p. 74).51
No entanto, em face do programa de urbanizao e conseqentemente utilizao
das praias que emergiu em meados da dcada de 1930 e se consolidaria com os projetos
do Escritrio Saturnino de Brito52, o engenheiro colocava que no mais poderia ser
mantido o mesmo ponto de descarga, sendo necessrio prolongar o emissrio mais de
1.500 metros, para fazer a descarga prxima ao Forte dos Reis Magos (BRITO FILHO,
1938, p. 74). Alm disso, o custo dos materiais que seriam empreendidos na emisso dos
esgotos, bem mais onerosos na segunda metade da dcada de 1930, resultava em um
agravante para essa soluo.
Aps o levantamento do capital necessrio para a efetivao do lanamento in
natura dos efluentes nas proximidades do Forte, em comparao aos gastos com a
depurao dos esgotos no Baldo, concluiu-se que, pela vantagem econmica apresentada,
dever-se-ia adotar a segunda opo. Alm disso, a alternativa estava de acordo com os
ensinamentos de Saturnino de Brito, assim transcritos por Brito Filho (1938, p. 75): Todas
as vezes que se verifiquem ou prevejam condies prejudiciais, recorrer-se- depurao
(Figuras 14 -15).
51
Os estudos de Henrique de Novaes realizados em 1924 previam o lanamento dos esgotos in natura no
local dos recifes, entre a Praia do Meio e a barra do Potengi, proposta que, para Brito Filho, era justificada na
poca em que foi elaborada.
52
Na medida em que o projeto do Escritrio previa a remodelao de toda a rea litornea, situando o bairro
residencial e o novo aeroporto para a cidade de Natal naquela rea.
PARTE II
Urbanismo e Planejamento Urbano em trs momentos da urbanizao de Natal
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PARTE II
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PRIMEIRO MOMENTO 105
Alm de sua principal funo de dar leito aos coletores gerais o Escritrio
afirmava, em seu relatrio de 1939, que as avenidas tambm possuam importante funo
urbanstica, embelezando a cidade, limitando higienicamente a orla do Tabuleiro, com a
destruio de numerosos casebres que ali existiam e foram derribados. Tambm coube s
avenidas melhorar o acesso cidade de Natal, articulando o seu comrcio ao interior do
estado pela estrada de automveis do Serid, sendo fcil para a desviar todo o trfego de
caminhes que se faz pelo centro da cidade (ESCRITRIO..., 1939, p. 21). A abertura
das avenidas, nos trechos construdos, representou um servio de vulto, pelo movimento
de terras, escavaes em piarra e canga e pelo cubo dos muros de arrimo e obras de arte,
construdas com pedra grantica (ESCRITRIO..., 1939, p. 22).
Estaes elevatrias
PARTE II
Urbanismo e Planejamento Urbano em trs momentos da urbanizao de Natal
PRIMEIRO MOMENTO 106
53
Um fato que bem ilustra esse processo de racionalizao arquitetnica por que passaram as propostas de
Saturnino de Brito e do Escritrio a comparao entre uma estao elevatria localizada na cidade de Joo
Pessoa PB, datada da dcada de 1910, e os projetos executados em Natal. notria a simplificao
incorporada aos elementos da fachada, os quais apresentam-se quase que totalmente destitudos de adornos e
ornamentos.
PARTE II
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PRIMEIRO MOMENTO 107
O Plano de Melhoramentos
54
Registre-se, aqui, uma outra forma de interpretao da justificativa para a elaborao do Plano Geral de
Obras. De acordo com Dulce Bentes Sobrinha (2001), as propostas contidas no plano de melhoramentos
podem-se inserir em uma perspectiva de preparao da cidade para a ecloso de uma possvel segunda
Guerra Mundial, no sentido de confirmar a posio estratgica de Natal na rota do sistema aerovirio
nacional e internacional, e ampliar a sua importncia em meio s conexes entre a Europa, a frica e as
PARTE II
Urbanismo e Planejamento Urbano em trs momentos da urbanizao de Natal
PRIMEIRO MOMENTO 108
Amricas. Nessa perspectiva, seriam essenciais equipamentos como o Grande Hotel e o aeroporto projetos
englobados no plano do Escritrio Saturnino de Brito.
55
Essa postura de Brito Filho pode ser discutida tanto a partir da anlise de suas propostas como das
informaes obtidas na entrevista (realizada em 9 de abril de 2001) com o engenheiro civil Lus Marcelo
Gomes Adeodato.
PARTE II
Urbanismo e Planejamento Urbano em trs momentos da urbanizao de Natal
PRIMEIRO MOMENTO 109
56
A anlise deste exemplar baseou-se em estudos anteriores realizados pelo grupo de pesquisa, como Ferreira
et. al. 2000 e Dantas, 2000.
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Figura 19: Edifcio Sede da Repartio de Saneamento. Fonte: FERREIRA et.al. (2003a).
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PRIMEIRO MOMENTO 111
Figura 20: Estao de Ferro Central do RN. Fonte: FERREIRA et.al (2003a).
PARTE II
Urbanismo e Planejamento Urbano em trs momentos da urbanizao de Natal
PRIMEIRO MOMENTO 112
57
Projeto esse que provavelmente nem chegou a ser finalizado em virtude dos escassos recursos financeiros
destinados execuo das propostas. A exigidade dos recursos s permitiu a construo das redes de gua e
de esgotos, os referidos equipamentos sanitrios e o Edifcio da Repartio de Saneamento, ficando as outras
propostas para um outro momento. Embora o Escritrio tenha permanecido em Natal at fins da dcada de
1960, os projetos contidos no plano de melhoramentos no foram executados, e, sequer mencionados.
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Urbanismo e Planejamento Urbano em trs momentos da urbanizao de Natal
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PARTE II
Urbanismo e Planejamento Urbano em trs momentos da urbanizao de Natal
PRIMEIRO MOMENTO 114
Grande Hotel
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PRIMEIRO MOMENTO 115
O Plano de Expanso
PARTE II
Urbanismo e Planejamento Urbano em trs momentos da urbanizao de Natal
PRIMEIRO MOMENTO 116
da sua movimentao em direo ao rio Potengi, o que levava ao aterramento do seu leito e
dificultava o acesso dos navios ao porto.58
A proposta do bairro enquadrava-se nos princpios de Saturnino de Brito,
refletindo as preocupaes sanitaristas, econmico-administrativas e estticas que o
engenheiro unia em suas propostas. Constituindo para Sampaio (1952) um exemplo
significativo de concretizao dos princpios urbansticos de Saturnino de Brito, a proposta
determinava a ocupao de uma rea com 450.000 metros quadrados e ruas de 9 metros
que culminavam em pequenas praas e vielas pelos fundos dos lotes, as quais permitiam
a colocao das
canalizaes e a
serventia cmoda das
residncias, alm de
facilitar a circulao de
pedestres sem que fosse
preciso atravessar ruas de
trfego de veculos. As
faixas extremas,
marcadas em xadrez na
planta, foram reservadas
para o pequeno comrcio,
e, na zona central, foram
localizados os parques,
jardins, a escola e os
campos de esporte
(Figura 23).
58
Questo de suma importncia para a economia da cidade, tendo em vista que a maior parte da arrecadao
de rendas se devia ao movimento do Porto importaes e exportaes - naquele momento.
PARTE II
Urbanismo e Planejamento Urbano em trs momentos da urbanizao de Natal
PRIMEIRO MOMENTO 117
59
Essa vinculao foi sugerida, primeiramente, pelo arquiteto Joo Maurcio de Miranda, ao analisar a
evoluo urbana de Natal entre 1599 e 1979 (MIRANDA, 1999).
60
Clarence Stein e Henry Wright, assim como Lewis Mumford, faziam parte da Regional Planning American
Association (RPAA), e defendiam uma linha de pensamento que tinha no seu escopo a preocupao social,
associando o planejamento urbano a polticas habitacionais.
61
J mencionado anteriormente no trabalho.
62
Aos autores dos conceitos de unidade de vizinhana, afirma-se que mais interessavam as questes sociais e
a organizao funcional da cidade (dimenso quantitativa e extenso da unidade habitacional, o
posicionamento e distribuio dos equipamentos e percursos), do que propriamente as referncias dos
traados aos espaos e forma urbana (LAMAS, 1992).
PARTE II
Urbanismo e Planejamento Urbano em trs momentos da urbanizao de Natal
PRIMEIRO MOMENTO 118
Em Radburn, clara a subordinao a este ideal por parte dos seus pensadores e
concretizadores, de tal forma que Clarence Stein utiliza-se do conceito de unidade de
vizinhana, definindo-a como sendo uma
[...] rea residencial que deve fornecer locais de habitao para uma populao
que tem geralmente necessidade de uma escola elementar. A sua superfcie
depende da densidade utilizada. [...] A unidade de vizinhana deve ser
delimitada por todos os lados por vias suficientemente largas para permitir ao
trnsito passar pela unidade sem a atravessar. Deve incluir um sistema de
pequenos parques reas recreativas. Deve ser arranhado com um sistema
espacial de vias destinadas a facilitar a circulao no interior, desencorajando o
trnsito de passagem. (STEIN63 apud LAMAS, 1992, p. 317).
63
STEIN, Clarence. Toward new towns for America.
PARTE II
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PRIMEIRO MOMENTO 119
64
Os interesses particulares, na viso do Escritrio Saturnino de Brito, eram os responsveis por tornar a
cidade insalubre e desordenada.
PARTE II
Urbanismo e Planejamento Urbano em trs momentos da urbanizao de Natal
PRIMEIRO MOMENTO 120
construtivos racionais convivia com uma arquitetura de cunho historicista, por exemplo;
em que a luta pelo moderno em arquitetura encontrou mais um campo de legitimao,
ou, pelo menos, de disputa, nas reformas urbanas lideradas pelos epgonos do chamado
urbanismo sanitarista no Brasil (FERREIRA et al, 2003b).
A partir da elaborao do Plano Geral de Obras, a chamada maquinaria urbana
conformou e definiu o desenho da cidade, submetendo a sua estrutura urbana e o seu
crescimento futuro racionalidade do sistema de saneamento. Os elementos dessa
maquinaria no permaneciam escondidos na cidade subterrnea; foram pensados
tambm como partes do espao urbano que o configuravam e o embelezavam, quer nos
parques e locais de lazer em torno dos reservatrios e lagoas de captao, quer na
arquitetura dos edifcios de apoio ou na defesa enftica da necessidade de grandes reas
permeveis para renovao do aqfero subterrneo, isto , na defesa de grandes zonas
verdes, tanto no espao pblico (parques urbanos) como no espao privado (equilbrio da
relao lote-edifcio) (FERREIRA et al., 2003c).
Nesse sentido, visando destacar cada equipamento ligado ao saneamento, o plano
incorporou alguns elementos do debate contemporneo da arquitetura e do urbanismo
modernistas e o traduziu nos projetos e obras, mantendo submetida adequao dessas
renovaes aos condicionantes tcnicos dos sistemas, fosse para valoriz-los na
configurao do espao, como no caso do edifcio sede da Repartio de Saneamento de
Natal marco pioneiro da arquitetura modernista na paisagem urbana da cidade fosse
para otimizar a soluo tcnica, como na adoo da unidade de vizinhana para o novo
bairro residencial, cujas ruas em cul-de-sac se adequavam melhor a um sistema de
esgotamento semelhante ao que se conhece hoje como condominial (FERREIRA et al.,
2003a). Essa postura marcaria um momento de renovao dos procedimentos do Escritrio
Saturnino de Brito, inovando nos aspectos arquitetnicos e urbansticos.
Cabe ainda afirmar que, ao recuperar os projetos anteriores e incorporar as suas
diversas, e por vezes confrontantes, ideologias e princpios, ao mesmo tempo em que
focalizou a questo ambiental como central no projeto, o Plano Geral de Obras contribuiu
sobremaneira para a fomentar a discusso do papel do planejamento urbano e da relao
entre os interesses pblicos e privados na construo do espao urbano temtica
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65
Em mbito local, como se ver posteriormente, apesar do acelerado crescimento, e das suas conseqncias
para a configurao do espao fsico da cidade, incentivando, inclusive o surgimento de um mercado de
terras, o planejamento urbano tardou a se institucionalizar definitivamente na esfera administrativa local e
estadual o que, certamente, contribuiu para uma expanso desordenada e desprovida de infra-estrutura,
marcada pelos interesses lucrativos por parte da iniciativa privada, e pelo paternalismo do poder pblico para
com esse setor de atividades, e, sobretudo, para o agravamento dos problemas urbanos.
PARTE II
Urbanismo e Planejamento Urbano em trs momentos da urbanizao de Natal
SEGUNDO MOMENTO 128
(QUANTOS..., 1942, p. 12), Natal possua 54.000 habitantes, nmero que chegou, no
censo de 1950, a 103.215 habitantes ou seja, um crescimento de quase 100% em uma
dcada.
PARTE II
Urbanismo e Planejamento Urbano em trs momentos da urbanizao de Natal
SEGUNDO MOMENTO 129
o acelerado aumento de preo dos aluguis, mostram o outro lado da febre das
construes que havia tomado a cidade nos anos 1940 (FERREIRA, 1996).
Nessa conjuntura, marcada pela emergncia da construo civil, pelo crescimento
e diversificao do comrcio frente aos novos hbitos de consumo e pelo incremento das
atividades de lazer, consolidavam-se, cada vez mais, as atividades eminentemente urbanas.
Assim, aliado criao de novos empregos, ao aumento dos salrios, melhoria da
qualidade de vida de parte da populao, e, sobretudo acumulao de capital nas mos de
comerciantes e proprietrios rurais, esse contexto de transformaes fsicas, econmicas,
sociais e culturais por que passava a cidade ressaltou o setor imobilirio como
investimento lucrativo, para onde convergiam os capitais provenientes do comrcio e do
setor agrrio.66
Alm disso, o grande nmero de imigrantes que procuravam por hospedagem em
penses, hotis e, sobretudo, por casas para alugar contrapondo-se precria oferta de
infra-estrutura e de moradia contriburam no s para impulsionar a construo de
habitaes confirmando o retorno financeiro que seria obtido com o mercado imobilirio
, como para inflacionar os preos cobrados pela locao de imveis, negligenciando a Lei
do Inquilinato (Lei de Arrendamentos Urbanos, 1942) que congelava o valor dos aluguis.
Desse modo, contrariando um cenrio nacional ento caracterizado pela retrao
do mercado imobilirio e pela crise no setor da construo fatores acarretados,
respectivamente, pela referida Lei de Arrendamentos Urbanos e pelo alto custo dos
materiais de construo , em Natal, observa-se um crescimento significativo do setor da
construo civil, bem como de empresas e comrcios ligados a essa atividade.
Oportunamente, o aumento dos preos dos materiais de construo foi incorporado ao
valor dos imveis, refletindo-se em uma alta inflao tanto na compra como na locao dos
mesmos, e aumentando ainda mais os lucros dos investidores.
Com a febre das construes, a paisagem urbana de Natal se transformava
rapidamente, incorporando novas, luxuosas e modernas edificaes, alm das vilas
militares. O Escritrio Saturnino de Brito referiu-se ao desenvolvimento da cidade,
expondo em relatrio elaborado em 1952:
66
De acordo com Ferreira (1996) tal fato deve-se ausncia de indstrias no Estado e na capital, atividade
que s teria incio por volta das dcadas de 1970 e 1980.
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SEGUNDO MOMENTO 131
ilustra a ausncia, por parte do poder pblico, de aes efetivas no intuito de orientar,
fiscalizar e controlar a produo privada do solo urbano em Natal, alm de demonstrar
claramente a intensificao do mercado imobilirio evidenciada, principalmente, pela
intensa produo de habitaes.
A paisagem, por ela prpria, independente dos elementos da tradio, est
merecendo os cuidados e as defesas administrativas contra a mar da avidez
humana.
Se no existir uma barreira real, intransponvel e segura, no haver trecho de
paisagem, valorizando a viso da cidade do Natal, que resista ao desejo material
de transform-la em lotes-de-casas. Ou perspectiva deformada pelas
construes que interceptam o horizonte, cercando-nos com os muros cinzentos
dos edifcios incaractersticos e modernos. [...]
[...]
Um passeio pela cidade do Natal evidenciar uma cidade cujas paisagens
circunsjacentes esto desaparecendo. [...]
A Praa Carlos Gomes, com aquele restinho de mata do Baldo, deve ser
defendida logo. Amanh pode aparecer um camarada muito rico e transforma
aquele monumento natural em casas para alugar (CASCUDO, 1946, p. 3).
PARTE II
Urbanismo e Planejamento Urbano em trs momentos da urbanizao de Natal
SEGUNDO MOMENTO 132
PARTE II
Urbanismo e Planejamento Urbano em trs momentos da urbanizao de Natal
SEGUNDO MOMENTO 133
Entretanto, o sistema era ainda sub-utilizado e apenas parte das edificaes havia
realizado as ligaes. Tal fato demonstra, por um lado, a ignorncia, por parte da
populao local, da real necessidade e das contribuies que o saneamento poderia trazer
para a melhoria das condies de vida, ao mesmo tempo em que ilustra o alto custo das
obras e a precariedade da mo-de-obra local evidenciada pela incapacidade de realizao
das obras necessrias ligao. Com relao a esse aspecto, a Repartio de Saneamento
tratou de instruir tecnicamente alguns funcionrios, a fim de capacit-los a execuo de tal
67
Vale ressaltar que a Repartio coexistia com a Comisso de Saneamento de Natal (CSN), que, por sua
vez, adquirira uma responsabilidade mais tcnico-executora, conforme visto no captulo 03. A empresa
responsvel, tanto pela Repartio, como pela Comisso de Saneamento era contratada por um prazo mximo
de quatro anos. Esse contrato foi sendo renovado ao longo das administraes, consolidando a permanncia
do Escritrio Saturnino de Brito at 1969.
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SEGUNDO MOMENTO 135
bairros pobres da cidade, cuja populao no tinha condies de custear a taxa de ligao
imposta pelo Governo, o abastecimento continuava a ser feito por meio de chafarizes, em
um nmero total de oito. J as instalaes domiciliares de esgotos, no apresentavam um
ndice satisfatrio de ampliao. Somente 338 prdios68, em toda a cidade, no ano de 1940,
possuam a ligao (RIO GRANDE DO NORTE, 1941, p.68).
Em relatrio apresentado ao Presidente da Repblica Getlio Vargas, o ento
Interventor Federal no Rio Grande do Norte, Raphael Fernandes Gurjo, apresentou alguns
trabalhos desenvolvidos na prpria capital visando baratear os novos servios de
saneamento. Fez referncia aos servios de manuteno e substituio das redes, incluindo
a produo de material e peas utilizados nas obras locais. As tarefas executadas e os
produtos fabricados, sob a responsabilidade da Repartio de Saneamento de Natal, foram
assim listados no relatrio:
MOLDAGEM: [...] peas de concreto para extenso da rede sanitria, estacas
de cimento armado, tampas de concreto, tubos e outras peas.
CARPINTARIA: [...] caixas para moldes, chafarizes de madeira, caixas de
madeira, escadas, cruzetas, armrios, etc.
FERRARIA: [...] peas de ferro batido necessrias aos servios, como sejam:
portes e grades de ferro, abraadeiras, cantoneiras, caixas de ferro e outras
peas.
SERRALAHARIA: [...] turbinas para os poos profundos, mancais, eixos e uma
grande variedade de peas. [...] tem tambm como encargo fazer todo o reparo,
montagem e conservao dos vrios aparelhos, mquinas e motores da
Repartio.
FUNDIO DE BRONZE: [...] Fabrica turbinas, buchas e mancais para as
bombas dos poos profundos [...].
FUNDIO DE FERRO: Fabricou centenas de peas de vrios tamanhos,
caixas para fundio, tampas, discos, flanges, etc. (RIO GRANDE DO NORTE,
1941, p.69-70).
68
Vale ressaltar que os dados estatsticos de 1934 j registravam um nmero de 4539 casas em Natal.
69
As informaes coletadas at o presente momento no confirmam a concretizao dessa vila. No entanto,
Saladino Rocha (em entrevista realizada no dia 08 de novembro de 2001) menciona que a preocupao com a
acomodao dos funcionrios do saneamento era evidente, havendo casas isoladas destinadas a motoristas e a
outros funcionrios da Repartio.
PARTE II
Urbanismo e Planejamento Urbano em trs momentos da urbanizao de Natal
SEGUNDO MOMENTO 136
A proposta da vila fazia parte de um projeto mais abrangente que visava promover
a aquisio de casa prpria por parte dos servidores pblicos. No entanto, o Governo do
Estado s deu passos mais decisivos para a concretizao dessa proposta em 1946,
autorizando, a partir do Decreto n 655, de 13 de dezembro, a doao de um terreno situado
rua Amaro Barreto, no bairro do Alecrim, Caixa de Aposentadoria e Penses dos
Servios Pblicos do Estado (CAP). Nesse terreno deveria ser construda a referida vila
operria, priorizando, com 50% das casas, os funcionrios da Repartio de Saneamento.
A situao favorvel e as potencialidades dos servios de saneamento, naquele
momento, foram corroboradas por um relatrio elaborado pelos americanos em 1941,
citado por Protsio de Melo (1993, p.29), no qual afirmava que a cidade era
adequadamente servida por um sistema moderno de saneamento. O plano que supria
Natal poca, capaz de atender a uma populao de 50 mil habitantes, era usado por
apenas 7 mil pessoas, fato justificado pelo alto custo da ligao (MELO, 1993, p.29). No
entanto, essas boas condies do servio de saneamento iriam mudar bruscamente, a partir
de 1942, com a instalao das bases area e terrestre, brasileiras e norte-americanas, em
Natal durante o perodo da II Guerra Mundial.
PARTE II
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para a falta de continuidade da ampliao e manuteno dos servios, tendo em vista que
devido vultuosidade de recursos mobilizados, impossibilitou a concesso de emprstimos
para a importao do material necessrio.
Alm disso, o avanado crescimento da cidade fugia ao controle do poder pblico
que sequer dispunha de uma legislao especfica que regulamentasse o uso e a ocupao
do solo , aumentando a incidncia dos interesses privados na configurao urbana de
Natal, fato que alm de contrariar sobremaneira os princpios do Escritrio Saturnino de
Brito acentuava a sua impossibilidade de ao e interveno no espao urbano da cidade,
permanecendo restrito prestao no momento ineficaz dos servios de gua e esgotos.
Em artigo publicado em peridico local, a Repartio de Saneamento tentou se justificar
pelas precrias condies em que se encontravam os referidos servios:
A Repartio de Saneamento de Natal acaba de divulgar uma nota sobre as
dificuldades do abastecimento dgua, esclarecendo aspectos que para o pblico
parecem s vezes indicativos de uma possvel falta de organizao, quando em
verdade expressam apenas um reflexo dos terrveis embaraos da hora em que
vivemos [...]. Ela procura levar ao conhecimento de todos as foras inalienveis,
irremovveis, que foraram a circunstncia em que nos encontramos [...]. Da
podemos apreciar as imensas dificuldades surgidas, tanto mais quanto a
ampliao dos trabalhos verificou-se na mesma poca em que ficamos na
impossibilidade de adquirirmos novos materiais para concertos ou reformas [...].
Estamos vivendo uma hora em que todas as atividades repontam sacrifcios e
abnegao em benefcio do bem estar coletivo, [...] ou em benefcio ainda, [...],
dos altos interesses nacionais. [...] uma economia no consumo dgua [...]
constitui um meio, um modo louvvel, de contribuir em beneficio dos interesses
nacionais e do bem estar coletivo (EM TORNO..., 1943, p. 03).
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No relatrio de 1952, o Escritrio relembrou que as solicitaes feitas ao Governo do Estado em janeiro de
1945 se repetiram em setembro de 1946, dezembro de 1949 e agosto de 1950.
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legislao que regia a sua contratao. Isso porque o prazo contratual de quatro anos era
articulado de forma que o ltimo ano de cada contrato coincidia com o primeiro ano de
uma nova administrao estadual, permitindo uma avaliao dos servios por parte do
novo Governador.71 Assim, sempre ao trmino dos prazos contratuais, o Governo do
Estado emitia novos decretos concedendo licena para sua nova contratao. Esse sistema
possibilitou, no Rio Grande do Norte, uma continuidade dos projetos e das obras de
saneamento sob a responsabilidade do Escritrio, apesar das mudanas polticas ocorridas
aps 1945, com o fim do Estado Novo. O Decreto-lei n 749, de 24 de novembro de 1947,
por exemplo, re-autorizou a contratao do Escritrio para dirigir e administrar a
Repartio de Saneamento de Natal, mantendo as mesmas atribuies citadas em contratos
anteriores (FERREIRA et al, 2003a).
Frente demanda elevada e precariedade na oferta de servios e equipamentos
urbanos, props-se a elaborao de projetos para ampliao das redes de abastecimento
dgua e de esgotos e as conseqentes desapropriaes de terrenos na cidade para
implantao de novas instalaes. Assim, em 1951, no Governo de Jernimo Dix-Sept
Rosado Maia, o Escritrio Saturnino de Brito foi autorizado a elaborar propostas relativas
2 etapa do saneamento de Natal, ampliando seu raio de ao, nesse momento, aos
municpios de Mossor e Caic. A aprovao dos planos, o emprstimo para realizao
dos servios e o incio das obras foram efetivados durante o Governo de Slvio Piza
Pedroza, depois que esse assumiu a administrao do Estado, em 12 de julho desse mesmo
ano, em virtude da morte de Dix-Sept Rosado. Cabe destacar que, de acordo com Santos
(2002), essa se tratou da maior operao de emprstimo j realizada com o Banco do
Brasil, revelando a importncia dessas obras s populaes dos municpios envolvidos.
Iniciou-se, em abril de 1952, a construo dos projetos de saneamento referentes
2 etapa, dando-se prioridade execuo dos servios de abastecimento dgua, com uma
verba disponvel de Cr$ 12.700.000,00. A no realizao de obras de esgotamento sanitrio
foi assim justificada pelo escritrio: No que se refere aos esgotos fcil ver que dentro do
limite referido quase nada se torna possvel fazer, cabendo assim ao futuro expandir tal
servio (ESCRITRIO..., 1952, p.05). Em virtude dessas imposies, registram-se apenas
algumas breves ampliaes da rede de esgotos ao longo da dcada de 50, como a
71
Segundo o engenheiro civil Luiz Marcelo Gomes Adeodato, em entrevista concedida no dia 9 de abril de
2001.
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Urbanismo e Planejamento Urbano em trs momentos da urbanizao de Natal
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construo do coletor C.1 do distrito D.9 (Figura 27), na Av. Marechal Hermes da
Fonseca, e outras ampliaes da rede de esgotos existente.
Nas propostas de extenso das redes, foram incorporadas duas outras zonas da
cidade72: a Zona 4, correspondente ao Alecrim (da Av. Alexandrino de Alencar at os
limites da Cidade Alta) e s Quintas; e a Zona 5 (Figura 28), parte do atual bairro de Lagoa
Nova, as quais deveriam contar com os reservatrios elevados R4T (Figura 29) e R5T,
respectivamente. Foi indicada tambm a construo de extenses para a Zona 3, na Av.
Presidente Sarmento, 10 de Novembro; o D.10 na rua Areia Preta, Trairi, entre outras; para
a zona R.2T (torre Figura 30), em algumas ruas do alto Juru, e para a Zona R.2,
seriam executadas as redes dos bairros das Rocas e Av. Circular (ESCRITRIO..., 1952,
p.20 -21).
72
O projeto de 1939 previa trs zonas para a cidade: Zona 1 (Ribeira), Zona 2 (Rocas e Santos Reis) e, por
fim, Zona 3 (Cidade Alta, Petrpolis, Tirol e Passo da Ptria).
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Figura 28: Abastecimento dgua de Natal, reviso, 1952. Fonte: FERREIRA et.al. (2003a).
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Feldman (1996) aponta que, no caso de So Paulo, com a criao do Departamento de Urbanismo na esfera
municipal em 1947, so introduzidas novas prticas que consolidam o seu perfil normativo e estruturam o
novo saber restrito ao corpo tcnico do setor. Os planos passam a englobar alguns aspectos peculiares
prtica urbanstica norte-americana das dcadas de 1920 e 1930 que encontram em Anhaia Mello o seu
principal propugnador no s em So Paulo como no Brasil.
74
Os loteamentos eram aprovados e legalizados, porm no cumpriam normas ou regulamentaes
urbansticas especficas, e, na maioria das vezes no dispunham de um projeto de desenho urbano
(FERREIRA, 1996), o que foi confirmado pelo arquiteto Moacir Gomes, em entrevista realizada em
08/08/2003.
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75
Por intermdio de seu representante em Natal, o engenheiro Floro da Costa Dria, que passara a dirigir a
Comisso de Saneamento de Natal a partir de 2 de maio de 1952, e, posteriormente, assumiu a Repartio de
Saneamento de Natal, substituindo o engenheiro Carlos Kock de Carvalho (DRIA, [1976?]).
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Como resposta s crticas, o DSE fez publicar uma circular justificando a situao
dos servios de gua e esgotos, na qual atestava uma taxa de eficincia 99% satisfatria, o
que foi, novamente, criticado pelos veculos de comunicao locais:
Pelo que diz o boletim, a eficcia do servio do DSE de 99%, se
considerarmos o total de casas abastecidas (8.880), e o de casas que ficaram
sem gua 89 em mdia, diariamente.
No queremos, absolutamente, duvidar da palavra do chefe do DSE, que, apesar
de engenheiro, apresentou-se com uma dialtica de advogado (WANDERLEY,
1953, p. 08).
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entanto, que em Natal, apesar da crise enfrentada pelo Escritrio Saturnino de Brito a partir
da II Guerra Mundial, as obras construdas correspondem a grande parte da rede existente
na atualidade, confirmando a importncia da permanncia daquela instituio na cidade e
no Estado, promovendo, ainda que em condies limitadas, a implantao desses servios
com qualidade e segurana.
Entretanto, a consolidao do mercado imobilirio na cidade76 contrariando o
contexto de agravamento dos problemas econmicos e sociais intensificada com o incio
do processo de fragmentao de grandes glebas e com o surgimento de um mercado de
terras e da intensa ocupao e valorizao do solo em Natal, coloca em xeque o controle e
a gesto do espao urbano e dos servios pblicos, pensados e desejados pelo Escritrio
por meio do DSE. Situao agravada tanto pelo aumento do poder do setor imobilirio na
ordenao fsica da cidade e na forma de definio do parcelamento e da trama viria,
como pela rapidez com que inmeros loteamentos foram projetados e registrados ao longo
das dcadas de 1950 e 1960.
H de se considerar, porm, que o DSE, embora limitado em sua atuao sobre o
gerenciamento da expanso urbana de Natal, trazia, em sua constituio, as preocupaes
ambientais, sociais e urbansticas que nortearam e fundamentaram o urbanismo sanitarista
desenvolvido por Saturnino de Brito no incio do sculo XX promotor de grandes obras e
inmeras modificaes que modernizaram o espao fsico de vrias cidades brasileiras.
Certamente, se dotado do devido poder de fiscalizao e interveno sobre a produo do
espao urbano de Natal, ao se inspirar na prtica sanitarista que norteou toda a sua atuao,
o Escritrio seria capaz de idealizar uma ocupao mais ordenada e menos prejudicial ao
equilbrio ambiental, alm de menos agressiva aos interesses pblicos e da sociedade em
geral.
No entanto, dentro desse contexto de emergncia do urbano e de consolidao do
planejamento, o saneamento vai perdendo paulatinamente, ao longo desse momento, o
76
Isso se d devido, entre outros fatores, transferncia de capital, tanto o agrrio-exportador quanto
comercial urbano, acumulado durante o perodo da guerra para o mercado e promoo do solo urbano. Essa
sucesso de fatos consolida-se a partir de 1946, quando comearam a ser registrados, nos cartrios de ofcio,
os primeiros loteamentos privados, tanto dentro do permetro urbano quanto nas reas suburbana e rural,
acentuando-se nas dcadas de 50 e 60. Nesse perodo (de 1946 a 1969), registraram-se 87,8% do total dos
222 parcelamentos realizados no municpio de Natal e inscritos no Registro de Imveis, ocupando uma
superfcie de 3.952,4 ha (71,3% da extenso parcelada at 1989) e em torno de 35% da rea atual edificvel
(FERREIRA, 1996, p.142).
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Anseios de industrializao
77
Em 1909, Garibaldi Dantas escrevera um artigo em que expunha suas perspectivas para Natal, aps
transcorridos 50 anos, prevendo, dentre outros aspectos, a consolidao da industrializao.
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Incentivo ao turismo
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Nesse momento, Ponta Negra j era apontada como um grande atrativo paisagstico, sendo alvo de
melhoramentos e da introduo de infra-estrutura bsica, como, por exemplo, luz eltrica. Registrou-se ainda,
na imprensa local, a necessidade de um plano urbanstico para aquela praia, no entanto, at o presente estgio
da pesquisa, a efetivao desta interveno no foi confirmada.
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Obras de infra-estrutura
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79
Em 1957, j eram 55 (cinqenta e cinco) ruas pavimentadas e 34 (trinta e quatro) estradas de barro abertas,
alm de um supervit nas condies oramentrias municipais.
80
Inteno que seria concretizada na dcada de 1960.
81
A urbanizao da rea que hoje compreende o bairro de Santos Reis e a comunidades de Braslia Teimosa
e do Vietn um anseio reincidente desde o incio do sculo. O reconhecimento dos atributos fsicos e
paisagsticos do lugar, alm da sua proximidade ao centro da cidade, corroboraram, por parte do poder
pblico, inmeras tentativas de ocupao ordenada e planejada. Desde a proposta de um Bairro Operrio
de Henrique de Novaes (1924), do Bairro Jardim de Giacomo Palumbo (1929), do Bairro Residencial do
Escritrio Saturnino de Brito (1935), passando pelas iniciativas de Djalma Maranho e pela tentativa de
reurbanizao no Plano Serette (1968 como se ver adiante). No entanto, em virtude da no efetivao das
propostas, o crescimento do bairro se deu desprovido de uma diretriz norteadora, revelia das preocupaes
do poder pblico.
82
Cabe ressaltar que o procurador da proprietria, desportista Joo Cludio Machado a quem foi prestada
homenagem com a atribuio do seu nome ao estdio, prometeu uma doao do terreno, caso as obras fossem
iniciadas imediatamente.
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A ampliao da rede eltrica de Natal foi intensificada em fins da dcada de 1950 e incio dos anos 1960,
quando se conseguiu, atravs da Operao Nordeste efetivada pelo Governador do Estado Dinarte Mariz e
concluda por Aluzio Alves trazer para a cidade energia proveniente da hidreltrica de Paulo Afonso.
Antes disso, somente a iluminao era eltrica, e os demais equipamentos funcionavam base do gs.
84
Essa tendncia de industrializao, no entanto, contrariando as pretenses polticas, s veio ter incio na
dcada de 1980.
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Programa habitacional
O dficit habitacional foi uma temtica bastante recorrente nas dcadas de 1940,
1950 e 1960, principalmente pelo alto crescimento demogrfico por que passaram as
cidades brasileiras, ocasionado em grande parte pelo processo de desruralizao da
economia e pela consolidao do urbano que atraa uma grande demanda de populao
operria para as cidades. Para alguns autores, como Cavalcanti (1978), a nfase dada a esse
problema consistia muito mais em uma estratgia governamental que tinha objetivos
alheios carncia de moradias em si, atuando, sim, no sentido de promover e impulsionar
o mercado da construo civil, a partir do investimento e da absoro de mo-de-obra
nesse setor.
Em Natal, esse problema fora exacerbado pelo intenso crescimento demogrfico
ocorrido durante a II Guerra Mundial, e pelo movimento migratrio de escoamento rural
provocado pelos perodos de estiagem ocorridos no Nordeste ao longo da dcada de 1950,
agravando mais ainda a situao da capital potiguar. No entanto, o processo de urbanizao
no acompanhou esse contingente de novos habitantes, de modo que se tornaram ainda
mais evidentes as carncias de infra-estrutura e, sobretudo, de habitaes.
De incio, as aes no sentido de dotar a cidade de moradia restringiam-se ainda a
alguns rgos isolados, como a Fundao da Casa Popular e as Caixas de Aposentadoria e
Penso, e Institutos de Previdncia.85
A Fundao da Casa Popular faz saber aos interessados, que continuam abertas,
na Prefeitura Municipal de Natal, [...] as inscries para venda de casas
populares do conjunto residencial construdo no Bairro das Quintas [...]. As
casas so em nmero de 74, todas dotadas de sala, dois quartos, cozinha,
banheiro, lavanderia e varanda, e possuindo ainda gua encanada e instalao
eltrica [...]. As casas sero entregues aos candidatos classificados, sem
necessidade de qualquer pagamento a ttulo de sinal ou entrada inicial, sendo as
mdicas prestaes mensais calculadas de acordo com a idade do interessado
[...] (FUNDAO..., 1948, p. 08).
85
Somente a partir da dcada de 1960, com a criao do BNH em 1964, a habitao passou a ocupar o cerne
da poltica urbana (CAVALCANTI, 1978).
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Figura 39: Vila Ferroviria planta utilizada pelo Escritrio Saturnino de Brito.
Fonte: FERREIRA et.al. (2003a)
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ter a sua localizao adequada, a fim de que a cidade possa crescer amanh
com um plano de urbanizao.
[...]
A capacidade da cidade satlite est prevista para uns trinta mil habitantes.
Sero construdas cerca de mil e quinhentas casas, inicialmente. Para isso o
Governador assinar acordo com a Fundao da Casa Popular (PRIMEIROS...,
1957, p. 06).
86
O incentivo verticalizao por parte da produo habitacional verifica-se, em Natal, a partir da
construo de inmeros edifcios residenciais que, de incio, apresentavam-se com apenas trs ou quatro
pavimentos, e, gradativamente foram atingindo padres mais altos, como o edifcio de doze andares
construdo pela empresa Santa Lcia, na r. Princesa Isabel, dotado de garagem subterrnea e com setenta
apartamentos de trs tipos e tamanhos diversos.
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Ferreira (1996) coloca que, entre 1946 e 1969, registraram-se 87,8% do total dos 222 parcelamentos
realizados no municpio de Natal e inscritos no Registro de Imveis que compreendiam 71,3% da rea
parcelada at 1989.
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Outro loteamento promovido pelo poder pblico foi o chamado Monte Carlos,
situado nas imediaes de Santos Reis, cujo anncio ressaltava a proximidade ao centro
urbano de Natal, e as facilidades advindas dessa localizao, alm da implantao
privilegiada, entre a cidade e o oceano:
[...] o novo loteamento que a Prefeitura acaba de abrir no aprazvel bairro de
Monte Carlos, prximo a Circular, vem solucionar o problema daqueles que,
falta de maiores recursos ainda no puderam possuir um terreno em local to
promissor como o que vem anunciado pela edilidade.
Este loteamento consta de cerca de cem terrenos bem situados, com duas
modalidades de aquisio, sendo uma vista, por vinte e um contos em mdia e
outra em forma de dez prestaes mensais, mediante uma entrada.
O novo loteamento localiza-se em rea de rpida valorizao, com vantagem de
ficar entre o mar e Petrpolis, com transporte perto a dez minutos da cidade
(MONTE..., 1957, p. 08).
88
Em entrevista realizada no dia 08/08/2003, o arquiteto Moacir Gomes da Costa afirmou que a proposta
urbanstica para o bairro da Praia do Forte restringiu-se elaborao do projeto para um centro esportivo e de
lazer.
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89
A atuao desse rgo, de acordo com a imprensa local, deveria ser pautada no iderio de Cidade-Jardim
propugnado por Ebenezer Howard, incorporando as questes sociais imbricadas na concepo da unidade de
vizinhana, na descentralizao urbana, no direito habitao, na existncia de espaos verdes etc.
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[...] o novo cdigo surge tambm para reparar uma das maiores deficincias de
nossa Prefeitura: as construes sem licena. De agora em diante, [...] no se
poder mais construir em Natal, sem licena. Sem alvar de permisso da
edilidade e notificar a construo a mesma ser paralisada. [...] Com essa
exigncia, outros a acompanharo, como por exemplo, a construo s poder
ocupar 60% da rea do terreno; no tocante s vilas populares, apenas seis casas
os podem construir conjugadas, duas a duas. S assim [...]acabaremos com
verdadeiros cortios que criminosamente se levantam, em nossa terra
(SALVO..., 1955, p. 01).
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90
Que ser mencionado posteriormente no trabalho.
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