Filosofia Da Linguagem e Da Logica
Filosofia Da Linguagem e Da Logica
Filosofia Da Linguagem e Da Logica
Diretoria 2015-2016
Marcelo Carvalho (UNIFESP)
Adriano N. Brito (UNISINOS)
Alberto Ribeiro Gonalves de Barros (USP)
Antnio Carlos dos Santos (UFS)
Andr da Silva Porto (UFG)
Ernani Pinheiro Chaves (UFPA)
Maria Isabel de Magalhes Papaterra Limongi (UPFR)
Marcelo Pimenta Marques (UFMG)
Edgar da Rocha Marques (UERJ)
Lia Levy (UFRGS)
Diretoria 2013-2014
Marcelo Carvalho (UNIFESP)
Adriano N. Brito (UNISINOS)
Ethel Rocha (UFRJ)
Gabriel Pancera (UFMG)
Hlder Carvalho (UFPI)
Lia Levy (UFRGS)
rico Andrade (UFPE)
Delamar V. Dutra (UFSC)
Equipe de Produo
Daniela Gonalves
Fernando Lopes de Aquino
Capa
Cristiano Freitas
Bibliografia
ISBN 978-85-88072-41-1
1. Lgica 2. Linguagem 3. Wittgenstein. I. Carvalho, Marcelo
II. Braida, Celso III. Salles, Joo Carlos IV. Coniglio, Marcelo
Estevan V. Srie
CDD 100
COLEO ANPOF XVI ENCONTRO
Linguagem e Pensamento
Cid Rodrigo Loureno Barbosa Leite 242
Introduo
1
Entre outros elementos, sabemos que o filsofo projetou a casa de sua irm em um estilo
modernista, que criou um prmio de poesia e que, alm disso, mantinha uma intensa relao
com a msica, para a qual parecia especialmente capacitado.
Carvalho, M.; Braida, C.; Salles, J. C.; Coniglio, M. E. Filosofia da Linguagem e da Lgica.
Coleo XVI Encontro ANPOF: ANPOF, p. 10-23, 2015.
A esttica e o olhar Sub Specie Aeterni na filosofia do jovem Wittgenstein
11
Edimar Inocncio Brgido
12
A esttica e o olhar Sub Specie Aeterni na filosofia do jovem Wittgenstein
13
Edimar Inocncio Brgido
14
A esttica e o olhar Sub Specie Aeterni na filosofia do jovem Wittgenstein
15
Edimar Inocncio Brgido
16
A esttica e o olhar Sub Specie Aeterni na filosofia do jovem Wittgenstein
8
Para usar um termo kantiano, o ponto de vista esttico no considera o objeto luz dos
conceitos do entendimento em ligao com as formas puras da intuio, com vista ao seu
agrupamento em classes ou categorias.
17
Edimar Inocncio Brgido
9
Em outros diversos momentos Wittgenstein retoma a relao entre arte e milagre, podemos
citar, por exemplo, Cultura e Valor, onde escreve: Os milagres da natureza. Poderia dizer-se:
a arte mostra-nos os milagres da natureza. Baseia-se no conceito de milagres da natureza (O
desabrochar da flor. Que tem ele de maravilhoso?) Dizemos: olha, ela j est a desabrochar!
(WITTGENSTEIN, 1980, p. 87).
10
Quando h uma espcie de adequao que favorece o prprio objeto e causa prazer a quem
assim desfruta dele, seja ao observar uma pintura, ao ler um poema ou a ouvir uma sinfonia,
isso tem relao com a forma que o sujeito se desprende do uso ou de relaes puramente
funcionais com o objeto.
18
A esttica e o olhar Sub Specie Aeterni na filosofia do jovem Wittgenstein
19
Edimar Inocncio Brgido
20
A esttica e o olhar Sub Specie Aeterni na filosofia do jovem Wittgenstein
11
No que diz respeito relao existente entre Wittgenstein e a religio, alm dos elementos
j apresentados, considerados relevantes para este estudo, no pretendemos aprofundar
a discusso. Apenas, destacamos que, conforme assegura Wittgenstein, sua relao com a
religio sofreu uma significativa transformao. De acordo com Monk (1995, p. 60), sua
atitude anteriormente insolente perante a religio modificara-se depois de assistir pea Die
krezelscheiber[Os que se firmam pela cruz], do dramaturgo e romancista austraco Ludwig
Anzengruber. uma pea medocre, mas uma das personagens expressa a ideia de que, no
importa o que pudesse acontecer com o mundo, nada de ruim aconteceria com ele, pois era
independente do destino e das circunstncias. Essa idiaestica tocou Wittgenstein profun-
damente e ele comentou com Malcon que, pela primeira vez, via a possibilidade da religio.
21
Edimar Inocncio Brgido
22
A esttica e o olhar Sub Specie Aeterni na filosofia do jovem Wittgenstein
Referncias
23
O solipsismo do Tractatus Logico-Philosophicus
como resultado de sua lgica
1
TLP, 1
Carvalho, M.; Braida, C.; Salles, J. C.; Coniglio, M. E. Filosofia da Linguagem e da Lgica.
Coleo XVI Encontro ANPOF: ANPOF, p. 24-34, 2015.
O solipsismo do Tractatus Logico-Philosophicus como resultado de sua lgica
25
Bruno Senoski do Prado
26
O solipsismo do Tractatus Logico-Philosophicus como resultado de sua lgica
8
TLP 4.0311
9
HINTIKKA, Jaakko. HINTIKKA, Merrill B. Uma investigao sobre Wittgenstein. Campinas:
Papirus Editora, 1994. p.27.
27
Bruno Senoski do Prado
28
O solipsismo do Tractatus Logico-Philosophicus como resultado de sua lgica
29
Bruno Senoski do Prado
Para explicar essa noo, ele utiliza a metfora do olho que v o mun-
do, mas no v a si mesmo.
30
O solipsismo do Tractatus Logico-Philosophicus como resultado de sua lgica
20
Cf. HACKER, Peter. M. S. Insight and Ilusion: Wittgenstein on Philosophy and the Metaphysics of
Experience. Oxford: Clarendon Press, 1972. p.70.
21
Cf. ANSCOMBE, G. E. M. An introduction to Wittgensteins Tractatus: themes in the philoso-
phy of Wittgenstein. London: Hutchinson, 1971. (Wittgenstein studies). p. 166.
22
BLACK, Max. A Companion Wittgensteins Tractatus. Cambridge: Cambridge University
Press, 1971. p . 308.
31
Bruno Senoski do Prado
diferena entre o que pode ser dito, e o que deve apenas ser mostrado.
Dessa forma, Wittgenstein usaria a complexidade da questo do solip-
sismo apenas com um fim didtico, com o objetivo de exemplificar o
que pode ser ocorrer quando no se entende a distino, que um das
mais importantes feita no TLP. Portanto, para Black essa questo le-
vantada no TLP no possui nenhum contedo significativo relevante,
pois usada apenas como exemplo para se entender a obra.
Outra interpretao dessa questo, feita por H. O. Mounce. O
estudioso em questo no concorda com o posicionamento de Black,
pois afirma que a discusso acerca do solipsismo no TLP no pode ter
sido usada meramente como um exemplo. Para justificar isso, afirma
que Wittgenstein, destaca conceitos no livro e, para Mounce, caso esses
conceitos fossem apenas uma mera ilustrao, conforme afirmou Bla-
ck, isso no ocorreria. Conceitos importantes, como os de: vida, limites
do mundo, mundo, sujeito e at mesmo a analogia do olho e do campo
visual, que so citados e utilizados por Wittgenstein quando trata so-
bre o solipsismo, tambm so usados pelo autor em proposies pos-
teriores, e esto no centro do pensamento chamado Mstico do autor
do Tractatus. Para discordar de Black, Mounce usa o seguinte aforismo:
23
TLP 6.4311
32
O solipsismo do Tractatus Logico-Philosophicus como resultado de sua lgica
Referncias
33
Bruno Senoski do Prado
34
Russell, Wittgenstein e o atomismo lgico
Carvalho, M.; Braida, C.; Salles, J. C.; Coniglio, M. E. Filosofia da Linguagem e da Lgica.
Coleo XVI Encontro ANPOF: ANPOF, p. 35-43, 2015.
Murilo Garcia de Matos Amaral
36
Russell, Wittgenstein e o atomismo lgico
5
PLA, p. 117.
6
PLA, p. 122.
7
I think it is very important to remove out of ones instincts any disposition to believe that
the real is the permanent. PLA, p. 116.
37
Murilo Garcia de Matos Amaral
8
Livingston (2001), p. 33.
38
Russell, Wittgenstein e o atomismo lgico
9
Pears (1985), p. xi.
10
Do you take your starting-point That there are many things as a postulate which is to be
carried along all through, or has to be proved afterwards? PLA, 14.
39
Murilo Garcia de Matos Amaral
PLA, 14.
11
Russell diz que um princpio muito caro sua filosofia inspirado pela Navalha de Occam.
12
Russell entende que se uma hiptese se apresenta mais simples e compreensvel do que
outras, evitando clausulas ad hoc e demandando menos explicaes sobre outros aspectos
do corpo de uma teoria filosfica, ento esta hiptese deve ser adotada em detrimento das
demais. PLA, p. 53.
40
Russell, Wittgenstein e o atomismo lgico
i) Toda proposio tem uma anlise final que revela que a pro-
posio uma funo de verdade das proposies elementares
(3.25, 4.221, 4.51, 5);
ii) Estas proposies elementares afirmam a existncia de esta-
dos de coisas (3.25, 4.21);
iii) Proposies elementares so mutuamente independentes, ou
seja, uma proposio elementar pode ser verdadeira ou falsa in-
dependentemente da verdade ou falsidade das outras proposi-
es elementares (4.211);
iv) Proposies elementares so smbolos simples ou nomes
em ligao imediata (4.221);
v) Os nomes se referem a coisas totalmente desprovidas de com-
plexidade, ou seja, se referem aos objetos (2.02, 3.22);
vi) Os estados de coisas so combinaes de objetos (2.01).13
41
Murilo Garcia de Matos Amaral
(i) ~I ~F (ii) ~S ~I
F I
I S
O argumento vlido; porm, Livingston (2001) aponta que no
imediatamente claro que as suas premissas sejam verdadeiras. Ele
questiona: Por que deveria ser o caso que a no-existncia de objetos
simples faria o sentido de uma proposio depender da verdade de
uma outra proposio?14 Ou seja, por que ~S ~I? A resposta
que, se no houvesse objetos simples, ento nomes poderiam se referir
a complexos. Mas se um nome se referisse a um complexo, isto poderia
equivaler assero de que os constituintes de um complexo esto re-
lacionados de certa maneira. Esta assero poderia ser tanto verdadei-
ra, quanto falsa (chamemos esta assero de n). Portanto, neste caso,
se a proposio que contm n tivesse um sentido, isso dependeria do
valor de verdade de n. Isso quer dizer que Se o mundo no tivesse
substncia, ter ou no ter sentido uma proposio dependeria de ser
ou no verdadeira uma outra proposio.15
O argumento enfim se completa quando consideramos o aforis-
mo 3.23: O postulado da possibilidade dos sinais simples o postu-
lado do carter determinado do sentido.16 Ora, se as partes da pro-
posio so tomadas como complexas, no podemos evitar que estes
complexos sejam tambm compostos por partes complexas e assim por
diante. Ou seja, incorremos em regresso ao infinito. Por isso, devemos
admitir, a priori, que h nomes e que h objetos. Admitimos, portanto,
que h nomes e objetos. Agora, o que podemos dizer sobre a estru-
tura da realidade? A realidade composta por objetos? No Tractatus,
a realidade no a mera coleo de todos os objetos. Na verdade, a
realidade a existncia e inexistncia de estados de coisas17; ou seja, a
14
Livingston (2001), p. 35.
15
TLP, 2.0211.
16
TLP, 3.23.
17
TLP, 2.06.
42
Russell, Wittgenstein e o atomismo lgico
Consideraes finais
Referncias
LIVINGSTON, Paul. Russellian and Wittgensteinian Atomism,in Philosophical
Investigations, 24: 3054, 2001.
PEARS, David. Introduction to B. Russell,The Philosophy of Logical Atomism,
Chicago: Open Court, 1985.
PROOPS, Ian, Wittgensteins Logical Atomism,The Stanford Encyclopedia of
Philosophy(Summer 2013 Edition), Edward N. Zalta(ed.), URL = <http://plato.
stanford.edu/archives/sum2013/entries/wittgenstein-atomism/>.
RUSSELL, Bertrand. The Philosophy of Logical Atomism, London and New York:
Routledge, 2010.
WITTGENSTEIN, Ludwig. Tractatus Logico-philosophicus, Trad. de Luiz Hen-
rique dos Santos. So Paulo: EDUSP, 2008.
43
Wittgenstein: O Tractatus e a possibilidade
das Cincias Sociais
Introduo
O Tractatus Logico-Philosophicus
1
No presente artigo, utilizar-se- para os aforismos do Tractatus citados a conveno usual
sobre citaes de dita obra: a referncia ser TLP seguida do nmero do respectivo aforismo.
Carvalho, M.; Braida, C.; Salles, J. C.; Coniglio, M. E. Filosofia da Linguagem e da Lgica.
Coleo XVI Encontro ANPOF: ANPOF, p. 44-55, 2015.
Wittgenstein: O Tractatus e a possibilidade das Cincias Sociais
45
Jonathan Elizondo Orozco
em outros estados de coisas). Tatsachen seriam os estados de coisas existentes, sejam com-
plexos ou atmicos. E, finalmente, Sachlagen seriam situaes de coisas que no precisam ser
nem atmicas nem existentes (so possveis). Concordamos com essa distino, pois lemos
no livro: Mesmo que o mundo [Welt] seja infinitamente complexo, de tal modo que cada
fato [Tatsache] consista em infinitamente muitos fatos atmicos [Sachverhalten], e que cada
fato atmico seja composto por infinitamente muitos objetos [Gegenstnden], ainda assim ter
que haver objetos e fatos atmicos. TLP, 4.2211.
4
Vale lembrar a analogia de David Pears sobre a tarefa wittgensteiniana nesta primeira etapa:
Ele dividiu a tarefa em duas fases. Em primeiro lugar, trabalhou a partir da parede da bo-
lha do discurso factual ordinrio, dirigindo para seu centro as proposies elementares. A
seguir, recorrendo a frmulas lgicas, operou centrifugamente at o limite de expanso da
bolha. PEARS, 1971, p. 59.
5
Segue-se a exposio de DallAgnol em DALLAGNOL,1995, pp. 32-33.
46
Wittgenstein: O Tractatus e a possibilidade das Cincias Sociais
6
DallAgnol resume as relaes que podem ocorrer entre dizer e mostrar:
-O dizer sempre mostra (no h dizer que no mostre).
-O que se mostra no pode ser dito;
-Pode-se mostrar sem dizer, por exemplo, as tautologias, as pseudoproposies ticas e a ao;
-finalmente, a tentativa de dizer o que s pode ser mostrado produz contra-sensos.
DALLAGNOL, 1995, p. 64.
47
Jonathan Elizondo Orozco
48
Wittgenstein: O Tractatus e a possibilidade das Cincias Sociais
49
Jonathan Elizondo Orozco
50
Wittgenstein: O Tractatus e a possibilidade das Cincias Sociais
51
Jonathan Elizondo Orozco
52
Wittgenstein: O Tractatus e a possibilidade das Cincias Sociais
12
Parece plausvel afirmar que com o giro epistemolgico que Wittgenstein deu nas Investi-
gaes Filosficas, a rigorosidade que achamos no Tractatus abandonada. Podemos, ento,
falar COM SENTIDO sobre questes valorativas, sempre que sejam respeitadas as regras
gramaticais do respetivo jogo-de-linguagem. Vide o pargrafo 23 das Investigaes.
53
Jonathan Elizondo Orozco
Concluso
Max Weber dividiu a pesquisa das cincias sociais em trs etapas:
a primeira consiste na escolha do tema. Escolha que implica juzos de va-
lor. A segunda na qual se d a atividade cientfica per se: nesta se pesqui-
sa sobre fatos sociais. E a terceira, que a aplicao do resultado da pes-
quisa a situaes concretas, a qual tambm implica escolhas valorativas.
O Tractatus Logico-Philosophicus, mostra, dentro do vis da dis-
tino entre dizer (fatos) e mostrar (valores), que o saber cientfico deve
ocupar-se daquilo que ocorre ou no no mundo, ou seja, de estados de
coisas, pois estes podem ser representados figurativamente. Podem ser
ditos. Os valores escapam a essa representao, e somente podem ser
mostrados.
O marco delineado exposto no Tractatus enquadra perfeitamente
na proposta weberiana, pois o primeiro e o terceiro momento implicam
coisas que s podem ser mostradas, e o segundo coisas que podem se
ditas. O conhecimento gerado no segundo momento da proposta we-
beriana implicaria saberes cientficos stricto sensu, os quais tratam sobre
descries de fatos na realidade social. O resultado ser uma cincia so-
cial descritiva com um corpo de proposies isenta de valoraes.
Referncias
54
Wittgenstein: O Tractatus e a possibilidade das Cincias Sociais
55
A intencionalidade nos pargrafos 20 a 38
das Observaes Filosficas de Wittgenstein
1
Da editora Loyola, 2005.
Carvalho, M.; Braida, C.; Salles, J. C.; Coniglio, M. E. Filosofia da Linguagem e da Lgica.
Coleo XVI Encontro ANPOF: ANPOF, p. 56-61, 2015.
A intencionalidade nos pargrafos 20 a 38 das
Observaes Filosficas de Wittgenstein
57
Marcio Rodrigo Mello
58
A intencionalidade nos pargrafos 20 a 38 das
Observaes Filosficas de Wittgenstein
59
Marcio Rodrigo Mello
Referncias
60
A intencionalidade nos pargrafos 20 a 38 das
Observaes Filosficas de Wittgenstein
61
A teoria do nmero cardinal nas Philosophische
Bemerkungen de Wittgenstein em oposio
teoria fregiana: contrastes e consequncias
Anderson Luis Nakano
FAPESP
1
WITTGENSTEIN, L. (1964). Philosophische Bemerkungen. Frankfurt: Suhrkamp. Doravante
citada como PhBm, seguido do captulo e do pargrafo da obra. Traduo nossa das citaes.
2
WITTGENSTEIN, L. (2004). Tractatus logico-philosophicus. So Paulo: Editora Edusp.
Carvalho, M.; Braida, C.; Salles, J. C.; Coniglio, M. E. Filosofia da Linguagem e da Lgica.
Coleo XVI Encontro ANPOF: ANPOF, p. 62-68, 2015.
A teoria do nmero cardinal nas Philosophische Bemerkungen de Wittgenstein em
oposio teoria fregiana: contrastes e consequncias
3
WITTGENSTEIN, L. (1999). Wiener Ausgabe. Wien/New York: Springer Verlag. Volume 1,
citado doravante como WAi, p. 8. O segundo volume ser citado ao longo deste trabalho
como WAii.
4
Teoria de Frege tal como vista por Wittgenstein, desconsiderando alguns aspectos que lhe
pareciam equvocos manifestos como, p. ex., a ideia de que nmeros so objetos lgicos.
63
Anderson Luis Nakano
64
A teoria do nmero cardinal nas Philosophische Bemerkungen de Wittgenstein em
oposio teoria fregiana: contrastes e consequncias
9
H passagens nos manuscritos em que este vnculo caracterizado de modo ainda mais
forte. Cf., em particular, a observao da pgina 234 do WAii segundo a qual uma crtica da
teoria fregiana do nmero cardinal deve comear com uma crtica dos conceitos conceito e
objeto.
10
Cf. PhBm, IX-93b: Begriff und Gegenstand, das ist aber Prdicat und Subjekt. Und wir ha-
ben gerade gesagt, das Subjekt-Prdikat nicht eine logische Form ist.
11
Cf. PhBm, XI-115e-f: Man kann natrlich die Subjekt-Prdikat- oder was dasselbe ist die Ar-
gument-Funktion-Form als eine Norm der Darstellung auffassen und dann ist es allerdings
wichtig und charakteristisch, da sich in jedem Fall wenn wir Zahlen anwenden die Zahl als
Eigenschaft eines Prdikates darstellen lt. Nur mssen wir uns darber im klaren sein,
da wir es nun nicht mit Gegenstnden und Begriffen zu tun haben, als den Ergebnissen
einer Zerlegung, sondern mit Normen, in die wir den Satz gepret haben. Und es hat freilich
eine Bedeutung da er sich auf diese Norm hat bringen lassen. Aber das In-eine-Norm-Pres-
sen ist das Gegenteil einer Analyse. Wie man, um den natrlichen Wuchs des Apfelbaums
zu studieren nicht den Spalierbaum anschaut, auer um zu sehen, wie sich dieser Baum
unter diesem Zwang verhlt. / Da man das Zusammentreffen von Gerichtsverhandlungen
mit Mondesfinsternissen zhlen kann, sagt allerdings, da wir einen Begriff der logischen
Form haben, aber es zeigt natrlich nicht da wir im Besitze einer logischen Analyse dieser
Vorgnge sind.
65
Anderson Luis Nakano
66
A teoria do nmero cardinal nas Philosophische Bemerkungen de Wittgenstein em
oposio teoria fregiana: contrastes e consequncias
() = aR Rb (x)aRx xR Rb aR Rx xRb
Def.,
67
Anderson Luis Nakano
() = () ( = a = b = c = d) Def.
Mas, uma vez que se recusa que o sinal de identidade possa ser uma
funo proposicional legtima, esta estratgia j deixa de ser vlida e, por
conseguinte, a atribuio numrica no , tambm neste caso, contraria-
mente ao que acreditava Frege uma assero sobre um conceito genuno.
15
PhBm, X-102b.
68
Por que Cores so Relevantes para a Filosofia
da Lgica?
Resumo
Cores e sua organizao perculiar ensinam ao jovem Wittgens-
tein que a lgica deveria ser muito mais sofisticada que sua lgica
tractariana baseada na poderosa, mas restrita noo de tautolo-
gia admitiria. Aqui no se trata, primariamente, de uma questo
acerca da natureza das cores, sobre sua subjetividade ou objetivi-
dade, mas sim de sua lgica, ou seja, do estatuto prprio de suas
excluses e complementariedades. Como operar com a mtua
excluso de cores? um erro lgico considerar todas as conse-
quncias lgicas como tautologias e todas as excluses como
contradies. Isto s poderia ser justificado por um romntico (e
desencaminhador) ideal de anlise completa. A organizao das
cores representa o primeiro grave desafio imposto filosofia do
Tractatus, sobretudo sua imagem de lgica. Nenhuma noo de
um necessrio material aceita ali, com o efeito que toda neces-
sidade deveria ser uma necessidade tautolgica. Entretanto, qual
o estatuto de uma proposio como: se um ponto do campo
visual azul, logo no vermelho? Isto uma tautologia? Witt-
genstein em 1929 mostra uma compreensvel insegurana ao tra-
tar deste tipo de proposio como um certo tipo de tautologia.
Isto acompanha o seu tratamento de a vermelho e a azul
como um certo tipo de contradio. Para quele que s tem um
martelo, todo problema parece um prego. A partir de 1929, rapi-
damente, Wittgenstein comeca a chamar este tipo de proposio
de regra. Regras que deveriam ser adicionadas ao sistema tracta-
Carvalho, M.; Braida, C.; Salles, J. C.; Coniglio, M. E. Filosofia da Linguagem e da Lgica.
Coleo XVI Encontro ANPOF: ANPOF, p. 69-80, 2015.
Marcos Antonio da Silva Filho
Introduction
70
Por que Cores so Relevantes para a Filosofia da Lgica?
71
Marcos Antonio da Silva Filho
72
Por que Cores so Relevantes para a Filosofia da Lgica?
73
Marcos Antonio da Silva Filho
74
Por que Cores so Relevantes para a Filosofia da Lgica?
75
Marcos Antonio da Silva Filho
A vermelho e A azul
A vermelho A azul
A tem 4 metros de
A tem 3 metros de A tem 4 metros
comprimento e tem 3
comprimento de comprimento
metros de comprimento
Agora so 28C Agora so 29C
Agora so 28C and
(o mesmo para graus (o mesmo para
29C
de volume, dureza, graus de volume,
(o mesmo para graus de
etc.) dureza, etc.)
volume, dureza, etc.)
T F F
F T F
F F F
76
Por que Cores so Relevantes para a Filosofia da Lgica?
77
Marcos Antonio da Silva Filho
p q
T F
F T
F F
p q
T T
T F
F T
p q
T F
F T
78
Por que Cores so Relevantes para a Filosofia da Lgica?
podem ser nem verdadeiras juntas e nem falsas juntas. Neste caso, ns
podemos definir a contradio como a combinao de contrariedade e
sub-contrariedade.
Uma outra questo natural para ser respondida neste contexto
a seguinte: Estas restries de verofuncionalidade tm a ver somente
com lgica proposicional? Wittgenstein discutindo a objeo de Ram-
sey em algumas entradas do Nachlass aponta:
if f(x) says that x is in a certain place, then f(a).f(b) is a
contradiction. But what do I call f(a).f(b) a contradiction when
p.~p is the form of the contradiction? Des it mean that the
signs f(a).f(b) are not a proposition in the sense that ffaa isnt?
Our difficulty is that we have, nonetheless, the feeling that here
there is a sense, even if a degenerate one (Ramsey) MS1122
Concluso
Apesar de que em 1929 Wittgenstein parea manter seu projeto
tractariano de completo anlise da linguagem e de lev-la at uma base
atmica, o acento no comeo de sua fase intermediria, deve ser posto
na procura de uma maior expressividade de sistemas notacionais para
capturar a multiplicidade do fenmeno3. Ns podemos perder a deci-
dibilidade das tabelas de verdade, mas no a expressividade em res-
peito a vrias diferentes multiplicidades lgicas (e.g. cores, temperatu-
ra, som, altura, comprimento...)4. O corte normativo na fase tractariana
2
Traduo de M. Engelmann (2012, p.273)
3
Para outras discusses sobre problemas fenomenolgicos neste periodo recomendo forte-
mente Prado Neto, 2004.
4
Isto pode ser encontrado por todo o captulo VIII de PB, onde Wittgenstein retorna ao
6.3751 reavaliando sua sada tractariana em termos de diversos sistemas com o
mesmo tipo de excluso encontrada no sistema de cores.
79
Marcos Antonio da Silva Filho
Referncias
BRANDOM, Robert. Between Saying and Doing: Towards an Analytic Pragma-
tism. Oxford University Press Inc., New York, 2008.
ENGELMANN, Mauro. Wittgensteins Philosophical Development: Phenomenol-
ogy, Grammar, Method and the Antropological View. Hampshire: Palgrave Mac-
millan, 2013.
PRADO NETO, Bento. Fenomenologia em Wittgenstein: tempo, cor e figurao.
Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2003.
RAMSEY, Frank (1923). Resenha ao Tractatus Logico-philosophicus de Wit-
tgenstein. Traduzido por Marcos Silva. Philsophos, GOINIA, V.17, N. 2, P.
263-288, JUL./DEZ. 2012.
SALLES, Joo Carlos. A Gramtica das Cores em Wittgenstein. Vol. 35. Campi-
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VON WRIGHT, Georg Henrik. On Colour: a logic-philosophical Fantasy. In
Six Essays in Philosophical Logic. Acta Philosophica Fennica. Vol. 60, Helsinki,
1996. (pp. 9-16).
WITTGENSTEIN, Ludwig. Philosophische Bemerkungen. Werkausgabe Band 2.
Frankfurt am Main: Suhrkamp, 1984.
___________. Some Remarks on Logical Form. Proceedings of the Aristotelian
Society, Supplementary Volumes, Vol. 9, Knowledge, Experience and Real-
ism (1929), pp. 162-171 Published by: Blackwell Publishing on behalf of The
Aristotelian Society.
___________. Tractatus Logico-philosophicus. Tagebcher 1914-16. Philoso-
phische Untersuchungen. Werkausgabe Band 1. Frankfurt am Main: Suhr-
kamp, 1984.
___________. Wiener Ausgabe, Band I. Wien: Springer, 1994.
80
A morfologia do uso de uma expresso esttica
e filosofia no pensamento de Wittgenstein
Nuno Ribeiro
UFSCar/FAPESP*
* Este trabalho foi realizado no decurso de uma pesquisa de ps-doutorado com o apoio finan-
ceiro da FAPESP (2012/12102-0), no mbito do projeto temtico Wittgenstein em Transio
(2012/50005-6).
Carvalho, M.; Braida, C.; Salles, J. C.; Coniglio, M. E. Filosofia da Linguagem e da Lgica.
Coleo XVI Encontro ANPOF: ANPOF, p. 81-94, 2015.
Nuno Ribeiro
82
A morfologia do uso de uma expresso
esttica e filosofia no pensamento de Wittgenstein
4
Eine Sprache erfinden, knnte heien, auf Grund von Naturgesetzen (oder in bereinstim-
mung mit ihnen) eine Vorrichtung zu bestimmtem Zweck erfinden; es hat aber auch den
andern Sinn, dem analog, in welchem wir von der Erfindung eines Spiels reden. /Ich sage
hier etwas ber die Grammatik des Wortes Sprache aus, indem ich sie mit der Grammatik
des Wortes erfinden in Verbindung bringe.
5
Ich glaube meine Stellung zur Philosophie dadurch zusammengefat zu haben indem ich
sage: Philosophie drfte man eigentlich nur dichten.
6
A philosophical problem is deep in the way that a poem or a face or a piece of music is
deep.
83
Nuno Ribeiro
7
Sobre a relao da filosofia wittgensteiniania com o pensamento goethiano, assim como as
questes relativas s leituras que Wittgenstein ter realizado das obras de Goethe, remete-
mos para a seguinte referncia bibliogrfica: SCHULTE, 1990.
8
A respeito da leitura de A Decadncia do Ocidente Esboo de uma Morfologia da Histria Uni-
versal de Oswald Spengler encontramos nos dirios publicados sob o ttulo de Movimentos
de Pensamento a seguinte indicao datada de 6 de Maio de 1930: Estou lendo a Decadncia
etc.de Spengler & encontro apesar de muitos detalhes irresponsveis, muitos pensamentos
importantes e significativos. Muitas coisas, talvez a maioria ocupam-se inteiramente com o
que eu prprio muitas vezes tenho pensado. A possibilidade de uma grande nmero de sis-
temas fechados que uma vez que tenham sido examinados como se um fosse a continuao
do outro. (Wittgenstein, 2003, p.24: Lese Spengler Untergang etc. & finde trotz des vielen
Unverantwortlichen im Einzelnen, viele wirkliche, bedeutende Gedanken. Vieles, vielleicht
das Meiste beruhrt sich ganz mit dem was ich selbst oft gedacht habe. Die Moglichkeit der
ab einer Mehrzahl abgeschlossener Systeme welche wenn man sie einmal hat ausschauen als
sei das eine die Fortsetzung des Anderen.)
9
Man suche nichts hinter den Phnomenen; sie selbst sind die Lehre. (Goethe.).
84
A morfologia do uso de uma expresso
esttica e filosofia no pensamento de Wittgenstein
85
Nuno Ribeiro
14
Was aber tut eine begriffliche Untersuchung? Ist sie eine der Naturgeschichte der mensch-
lichen Begriffe? Nun, Naturgeschichte beschreibt, sagen wir, Pflanzen und Tiere. Aber
knnte es nicht sein, da Pflanzen in allen Einzelheiten beschrieben worden wren, und nun
erst jemand daherkme, der Analogien in ihrem Baue sieht, die man frher nicht gesehen
hatte? Da er also eine neue Ordnung in diesen Beschreibungen herstellt. Er sagt z.B.: Ver-
gleiche nicht diesen Teil mit diesem; sondern vielmehr mit jenem! (Goethe wollte so etwas
tun.) Und dabei spricht er nicht notwendigerweise von Abstammung; dennoch aber knnte
die neue Anordnung auch der wissenschaftlichen Untersuchung eine neue Richtung geben.
Er sagt Sieh es so an! und das kann nun verschiedenerlei Vorteile und Folge haben.
86
A morfologia do uso de uma expresso
esttica e filosofia no pensamento de Wittgenstein
15
Der Begriff der bersichtlichen Darstellung ist fr uns von grundlegender Bedeutung.
Er bezeichnet unsere Darstellungsfrom, die Art, wie wir die Dinge sehen. (Eine Art der
Weltanschauung, wie sie scheinbar fr unsere Zeit typisch ist. Spengler.)/ Diese bersicht-
liche Darstellung vermittelt das Verstndnis, welche eben darin besteht, da wir die Zu-
sammenhnge sehen. Daher die Wichtigkeit des Findens von Zwischengleidern./ Ein hypo-
tetisches Zwischengleid aber soll in diesem Falle nichts tun, als die Aufmerksamkeit auf die
nlichkeit, den Zusammenhang, der Tatsachen lenken.
16
Es ist eine Hauptquelle unseres Unverstndnisses, da wir den Gebrauch unserer Wrter
nicht bersehen. Unserer Grammatik fehlt es an bersichtlichkeit. Die bersichtliche Dar-
stellung vermittelt das Verstndnis, welches eben darin besteht, da wir die Zusammenhn-
ge sehen. Daher die Wichtigkeit des Findens und des Erfindens von Zwischengliedern.
87
Nuno Ribeiro
17
A respeito do carter inefvel da esttica no Tractatus Logico-Philosophicus veja-se a propo-
sio 6.421, onde, a propsito da comparao entre esttica e tica, Wittgenstein alude
impossibilidade de pr a esttica assim como a tica em palavras, querendo com isto
significar a incapacidade de se produzir proposies estticas com sentido. Cf.: WITTGEN-
STEIN, 1961, p.146.
18
Wissenschaftliche Fragen knnen mich interessieren, aber nie wirklich fesseln. Das tun fr
mich nur begriffliche & sthetische Fragen. Die Lsung wissenschaftlicher Probleme ist mir, im
Grunde, gleichgltig; jener andern Fragen aber nicht.
88
A morfologia do uso de uma expresso
esttica e filosofia no pensamento de Wittgenstein
89
Nuno Ribeiro
90
A morfologia do uso de uma expresso
esttica e filosofia no pensamento de Wittgenstein
23
A respeito da temtica do anti-essencialismo na esttica remetemos para um captulo de
livro, da autoria de Terry Diffey, intitulado Wittgenstein, Anti-essentialism and the Defi-
nition of Art, publicado no livro Wittgenstein, Aesthetics and Philosophy, editado por Peter
Lewis, com a seguinte referncia bibliogrfica: DIFFEY, 2004.
24
The subject (Aesthetics) is very big and entirely misunderstood as far as I can see. The use of
such a word as beautiful is even more apt to be misunderstood if you look at the linguistic
form of sentences in which it occurs than most other words. Beautiful [and good R] is an
adjective, so you are inclined to say: This has a certain quality, that of being beautiful.
91
Nuno Ribeiro
25
Platos talk of looking for the essence of things was very like talk of looking for the ingredi-
ents in a mixture, as though qualities were ingredients of things. But to speak of a mixture,
say of red and green colors, is not like speaking of a mixture of a paint which has red and
green paints as ingredients.
26
Para uma elucidao do desenvolvimento das diversas verses das Investigaes Filosficas,
assim como da sucessiva reestruturao dessa obra, remetemos para a edio crtico-genti-
ca de Joachim Schulte, com a seguinte referncia bibliogrfica: WITTGENSTEIN, 2001.
92
A morfologia do uso de uma expresso
esttica e filosofia no pensamento de Wittgenstein
Referncias
27
Die Philosophie zeigt die irrefhrenden Analogien im Gebrauch unsrer Sprache auf.
93
Nuno Ribeiro
94
Uma imagem da linguagem humana:
os pargrafos 1-65 das Investigaes
filosficas e suas possveis interlocues
I.
Dos diferentes aspectos que ajudam a caracterizar as Investiga-
es filosficas como uma obra particularmente notvel, um deles, em
especial, o dilogo ininterrupto que atravessa o texto e a sua capaci-
dade de debater uma sucesso de elementos que atingem diretamente
algumas de nossas principais concepes filosficas sobre lgica, lin-
guagem, conhecimento, entre outros.
No se trata aqui de discutir pontualmente os problemas que se
desdobram dessa caracterstica1, mas de indicar que este dilogo, alm
de intrinsecamente ligado a um exerccio de reflexo e crtica, afasta-se
diligentemente de concepes tradicionais sobre o funcionamento da
1
Algumas destas caractersticas so explicitadas pelo prprio Wittgenstein em seu prefcio,
mostrando quo complexo a organizao do texto a partir dessa opo formal e como isso
problematiza a delimitao de temas: Redigi todos esses pensamentos como anotaes, em
breves pargrafos. s vezes como longos encadeamentos sobre o mesmo objeto, s vezes sal-
tando em rpida alternncia de um domnio para outro. Era minha inteno desde o incio
resumir tudo isso num livro cuja forma foi objeto de representaes diferentes em diferentes
pocas. Mas parecia-me essencial que os pensamentos devessem a progredir de um objeto a
outro numa sequncia natural e sem lacunas. Aps vrias tentativas fracassadas para conden-
sar meus resultados num todo assim concebido, compreendi que nunca conseguiria isso, e que
as melhores coisas que poderia escrever permaneceriam como anotaes filosficas; que meus
pensamentos logo se paralisavam, quando tentava, contra sua tendncia natural, for-lo em
uma direo (Wittgenstein, Prefcio).
Carvalho, M.; Braida, C.; Salles, J. C.; Coniglio, M. E. Filosofia da Linguagem e da Lgica.
Coleo XVI Encontro ANPOF: ANPOF, p. 95-108, 2015.
Fernando Lopes Aquino
2
Segundo Monk: Em 31 de julho de 1935, ele (Wittgenstein) escreveu a Schlick descrevendo
o livro como um documento que mostra o modo como eu acho que a questo toda deve-
ria ser tratada. Uma vez que na poca ele estava planejando abandonar completamente a
filosofia e ir viver como trabalhador braal na Rssia, possvel que o livro represente uma
tentativa de expor os resultados de seus sete anos de trabalho filosfico de uma maneira que
permitisse a algum aproveit-los (1995. p.312).
3
J formulado em um texto anterior, redigido para substituir um curso que Wittgenstein de-
veria ministrar no ano letivo de 1933-4. Wittgenstein tambm ditou esse texto para alguns
de seus alunos mais prximos, que depois de datilograf-lo foi distribudo aos demais. Por
ter suas folhas entre capas azuis, o texto ficou conhecido como The blue book. Monk faz o
seguinte resumo dessa obra, particularmente importante para o objeto dessa pesquisa: sob
muitos aspectos, O livro azul pode ser considerado um prottipo pioneiro de exposies
subsequentes da filosofia madura de Wittgenstein. Como todas as demais tentativas futuras
de organizar sua obra de forma coerente, o livro comea referindo-se a uma das grandes
fontes de desorientao filosfica, a saber, a tendncia de buscarmos coisas que correspon-
dam a substantivos. Por isso perguntamos: O que tempo?, O que significado?, O que
conhecimento?, O que pensamento?, O que so nmeros? etc., na expectativa de conse-
guir responder essas perguntas nomeando alguma coisa. A tcnica dos jogos de linguagem foi
concebida para romper o domnio dessa tendncia (1995. p.305).
96
Uma imagem da linguagem humana: os pargrafos 1-65
das Investigaes filosficas e suas possveis interlocues
I therefore decided to start all over again and not to let my thoughts be
guided by anything but themselves. I found it difficult the first day or
two but then it became easy. And so Im writing now a new version and
I hope Im not wrong in saying that its somewhat better than the last.4
4
To Moore, 20-11-1936. In McGuinnes, Brian. Wittgenstein in Cambridge: Letters and Docu-
ments, 1911-1951. 4th ed. Cambridge. 2008. p.257.
97
Fernando Lopes Aquino
I.I
98
Uma imagem da linguagem humana: os pargrafos 1-65
das Investigaes filosficas e suas possveis interlocues
99
Fernando Lopes Aquino
5
Veja, por exemplo, que a imagem agostiniana da linguagem supe claramente uma distino
entre linguagem e mundo e que, consequentemente, os tipos de relaes que poderia haver
entre ambos algo que s se pe a partir dessa imagem e no antes.
100
Uma imagem da linguagem humana: os pargrafos 1-65
das Investigaes filosficas e suas possveis interlocues
Por isso mesmo o destaque deve ser dado sobre o modo como
alguns elementos so compartilhados, ou ainda, o partilhar disso que
pode ser considerado uma determinada imagem da essncia da lin-
guagem humana, que uma vez cristalizada tende a se repetir ininter-
ruptamente. A contraposio a esta imagem, no caso das Investiga-
es, no seria tanto a proposta de caminhos alternativos para a soluo
de problemas que mesma concepo levanta, mas o reposicionamento
em relao a isto que se coloca como fundamento, raiz ou neces-
sidade que nos impe problemas, a verdadeira descoberta a que
me torna capaz de romper com o filosofar, quando quiser (IF 133).
Como sugere o 103, h um ideal instalado definitivamente em
nossos pensamentos e dele no podemos nos afastar, como se a lin-
guagem inevitavelmente nos fornecesse um modo de conceber o mun-
do, culos assentados sobre o nariz, e o que vemos, vemos atravs
deles. Por isso, mais do que ajustar as lentes (rever certas teorias),
seria imprescindvel tentar retirar estes culos, ou ao menos colocar
em questo o modo como as palavras so usadas quando se pretende,
por exemplo, encontrar atravs delas algo de essencial.
I.II
101
Fernando Lopes Aquino
102
Uma imagem da linguagem humana: os pargrafos 1-65
das Investigaes filosficas e suas possveis interlocues
103
Fernando Lopes Aquino
8
Notemos, por exemplo, o primeiro jogo de linguagem: Pense agora no seguinte emprego
da linguagem: mando algum fazer compras. Dou-lhe um pedao de papel, no qual esto
os signos: cinco mas vermelhas. Ele leva o papel ao negociante; este abre o caixote sobre
o qual encontram-se o signo mas; depois, procura numa tabela a palavra vermelho e
encontra na frente desta um modelo da cor; a seguir, enucia a srie dos nmeros cardinais
suponho que a saiba de cor at a palavra cinco e para cada numeral tira da caixa uma
ma da cor do modelo (IF1).
104
Uma imagem da linguagem humana: os pargrafos 1-65
das Investigaes filosficas e suas possveis interlocues
105
Fernando Lopes Aquino
106
Uma imagem da linguagem humana: os pargrafos 1-65
das Investigaes filosficas e suas possveis interlocues
107
Fernando Lopes Aquino
III. Bibliografia
108
Da possibilidade de fazer descries
de atos e estados anmicos
1
Trata-se de resultados de pesquisa que integra o PRONEX Filosofia e Cincia (CNPq/FAPESB).
Carvalho, M.; Braida, C.; Salles, J. C.; Coniglio, M. E. Filosofia da Linguagem e da Lgica.
Coleo XVI Encontro ANPOF: ANPOF, p. 109-125, 2015.
Wagner Teles de Oliveira
2
WITTGENSTEIN, Ludwig. MS 169, p. 69v. (As passagens dos Manuskripte (MS) e dos Ty-
poskripte (TS) de Wittgenstein tem como referncia o Wittgenstein Nachlass: The Bergen
Electronic Edition).
3
A esse respeito, h um captulo bastante esclarecedor de Joachim Schulte. Cf. Classifications
of Psychological Concepts. In: SCHULTE, Joachim. Experience and Expression, p. 24-36.
4
Segundo Schulte, verdade que as observaes de Wittgenstein sobre filosofia da psico-
logia produzem a impresso de que so desordenadas, o que no seno efeito de no
terem sido revisadas. No entanto, no se trata de uma coleo de consideraes aleatrias
sobre um objeto indefinido. (SCHULTE, Joachim. Experience and Expression, p. 34).
110
Da possibilidade de fazer descries de atos e estados anmicos
I.
111
Wagner Teles de Oliveira
112
Da possibilidade de fazer descries de atos e estados anmicos
por exemplo, usar uma tabela que fizesse corresponder nomes a qua-
dros coloridos. E que a natureza mental da imagem no seja essencial
quer dizer, dentre outras coisas, que a definio ostensiva no funcio-
na como se os objetos existissem previamente num cenrio mental e
pudssemos batiz-los, conferindo-lhes um nome. Por outro lado, con-
sider-la essencial significa conceber a reflexo como preparao das
aes, como se houvesse um hiato entre a enunciao de uma ordem
e a ao que a cumpre, no qual se situaria a interpretao da ordem.
E no que no possa haver um tal hiato entre a ordem e o seu cum-
primento, que ele s tem sentido em situaes bastante excepcionais.
Se, em vez de exceo, ele fosse a regra, ento o processo de execuo
da ordem imagine uma mancha vermelha incluiria, como condio
preparatria, imaginar uma mancha vermelha que servisse de modelo
para a mancha vermelha que nos pediram para imaginar.8
O ponto de vista, segundo o qual a compreenso lingstica no
poderia prescindir do mecanismo de associao pelo qual se realizaria
o significado, tem como concluso incontornvel a idia de que aquilo
que se acrescenta aos signos inertes e sem o que eles no se transfor-
mariam em proposies articuladas deve no s possuir propriedades
diferentes das dos signos como deve ser de natureza imaterial.9 Parece-
-nos ser essa a perspectiva que ganha corpo a partir da idia de que o
pensamento o sentido da proposio, sem o qual ela no passaria de
algo inteiramente inerte e trivial. Seja como for, o sentido da proposi-
o no pode corresponder ao acrscimo de signos inorgnicos, como
se a significao dependesse de um ato desmaterializado de um sujei-
to. Enfim, ao substituir processos anmicos por processos situados no
exterior, como a tabela com amostras de cor, ou o falar para si mesmo
pelo falar em voz alta ou por escrever, Wittgenstein desmonta o mo-
delo de significado que consiste em compreend-lo como resultado da
8
WITTGENSTEIN, Ludwig. The Blue and The Brown Books, p. 3.
9
WITTGENSTEIN, Ludwig. The Blue and The Brown Books, p. 4: Frege ridiculed the for-
malist conception of mathematics by saying that the formalists confused the unimportant
thing, the sign, with the important, the meaning. Surely, one wishes to say, mathematics
does not treat of dashes on a bit of paper. Freges idea could be expressed thus: the propo-
sitions of mathematics, if they were just complexes of dashes, would be dead and utterly
uninteresting, whereas they obviously have a kind of life. And the same, of course, could be
said of any proposition: Without a sense, or without the thought, a proposition would be an
utterly dead and trivial thing.
113
Wagner Teles de Oliveira
114
Da possibilidade de fazer descries de atos e estados anmicos
pode-se dizer, seja o que for que acompanhe a enunciao de uma pro-
posio, isto deve significar no mais do que um outro signo. De acordo
com esse esprito, a recomendao wittgensteiniana de substituio da
pergunta pelo significado pela pergunta pelo uso tem como um de seus
principais efeitos evitar a identificao do significado de uma palavra
com o objeto ao qual essa mesma palavra vincula-se nos jogos de lingua-
gem. Uma tal identificao compreenderia a fonte de enganos encerrada
pela concepo mentalista do significado: procurar pelo uso, como se
ele fosse um objeto correlato ao signo.11 Do ponto de vista dessa concep-
o de significado, o carter peculiar do pensamento seria atribudo aos
processos mentais que o engendram. Uma vez que esses processos se
mantm ocultos, porque concebveis somente na mente, ento o pensa-
mento e os estados psicolgicos apresentar-se-iam como tendo natureza
enigmtica. Para Wittgenstein, tudo se passa como se no fossemos ca-
pazes de captar as causas situadas na mente e das quais o pensamento e
os estados psquicos no seriam mais do que um efeito, mas, na verdade,
a pretenso de captar os mecanismos que supostamente engendrariam
o pensamento mais um resultado das confuses conceituais, cuja fonte
seria a concepo dos estados psquicos como coisas para quais deve-
mos ter um nome. Aqui, as observaes de Wittgenstein, mais do que
erigir uma perspectiva diametralmente oposta a essa, compreendem a
relativizao dessa perspectiva. Em poucas palavras, tal relativizao,
sobre a qual tanto insistimos, nesse caso, consiste em compreender a
questo como um tpico resultado de uma confuso gramatical por opo-
sio ao que se traduziria como um problema cientfico, reiterando a
diferena entre filosofia e cincia. Nada nos impediria de trat-la ma-
neira cientfica. Assim, por exemplo, poder-se-ia ter, como resultado de
investigaes psicolgicas, a construo de um modelo de mente capaz
de desvendar eventuais laos causais entre o pensamento e os mecanis-
mos psquicos que o engendram. Os problemas que a aplicao de um
tal modelo estaria em condies de levantar so, todos eles, problemas
psicolgicos, na mesma medida em que o mtodo em questo aque-
le mesmo das cincias naturais.12 Desta forma, compreender a questo
como uma caracterstica confuso gramatical significa, dentre outras
coisas, faz-la prescindir de explicaes causais.
11
WITTGENSTEIN, Ludwig. The Blue and The Brown Books, p. 5.
12
WITTGENSTEIN, Ludwig. The Blue and The Brown Books, p. 6.
115
Wagner Teles de Oliveira
13
STROUD, Barry, Mind, Meaning, and Practice, p. 304.
116
Da possibilidade de fazer descries de atos e estados anmicos
117
Wagner Teles de Oliveira
14
WITTGENSTEIN, Ludwig. TS 229, 1751.
118
Da possibilidade de fazer descries de atos e estados anmicos
119
Wagner Teles de Oliveira
120
Da possibilidade de fazer descries de atos e estados anmicos
20
Cf. WITTGENSTEIN, Ludwig. Philosophical Investigations, 50.
121
Wagner Teles de Oliveira
122
Da possibilidade de fazer descries de atos e estados anmicos
123
Wagner Teles de Oliveira
comum, por sua vez, parece ser sinal de que ambos os procedimen-
tos consistem na aplicao dos conceitos de descrio e de exatido,
em certa medida, caractersticos dos enunciados sobre objetos, e com
base nos quais construda a concepo de linguagem como reduzi-
da ao trabalho de descrio. A associao entre os conceitos psquicos
e as manifestaes naturais dos estados da alma, compreendida por
Wittgenstein como essencial relao dos conceitos psicolgicos com
os estados e atos da alma, permite que a anlise wittgensteiniana da
gramtica das sensaes destine um lugar no domnio do significa-
tivo s expresses psicolgicas que no significa a subtrao do que
tais expresses tm de peculiar. Por outro lado, isto parece ser tudo o
que uma linguagem subordinada ao modelo referencialista, de acordo
com a prpria anlise wittgensteiniana, mostra-se incapaz de fazer, de
modo que haver uma conseqncia comum entre o procedimento que
consiste em situar o ponto de determinao dos conceitos psquicos na
conscincia e o que consiste em negar a existncia de uma referncia
para esses mesmos conceitos significa que ambos pretendem, cada um
sua maneira, compreender a vida anmica com base na analogia com
o mundo fsico. verdade que, enquanto construo de gramticas
das sensaes, ambos fracassam por razes diferentes, mas tambm
verdade que, se o que se desenvolve a partir da gnese dos dois proce-
dimentos no coincide, por outro lado, disso no decorre que a gnese
no seja comum.
Referncias
124
Da possibilidade de fazer descries de atos e estados anmicos
STROUD, B. Mind, Meaning, and Practice. In: SLUGA, Hans & STERN,
David. The Cambridge Companion to Wittgenstein. Cambridge University Press,
1996, p. 442-476.
TUGEDNHAT, Ernest. Lies Introdutrias Filosofia Analtica da Linguagem.
Iju: Editora Uniju, 2006.
WITTGENSTEIN, Ludwig. Wittgenstein Nachlass: The Bergen Electronic Edi-
tion, Oxford: Oxford University Press, 2000.
WITTGENSTEIN, Ludwig. Philosophical Investigations. Oxford: Basil Bla-
ckwell, 1999.
WITTGENSTEIN, Ludwig. The Blue and The Brown Books. Oxford: Basil Black-
well, 1998.
125
Necessidade e pragmtica no
segundo Wittgenstein
Carvalho, M.; Braida, C.; Salles, J. C.; Coniglio, M. E. Filosofia da Linguagem e da Lgica.
Coleo XVI Encontro ANPOF: ANPOF, p. 126-131, 2015.
Necessidade e pragmtica no segundo Wittgenstein
1
O realismo que aqui apresentamos corresponde descrio fornecida por Hans Hahn em
seu Logic, Mathematic and Knowledge of Nature. (In: AYER, Alfred (Ed.). Logical Positivism.
Green Wood Press, 1978.). No pretendemos, com isso, descrever a posio de Frege e, desse
modo, estamos desinteressados na eventual fidelidade da descrio que de resto acredita-
mos equivocar-se em alguns aspectos. Importa, contudo, compreender o adversrio do con-
vencionalista a fim de melhor esclarecer suas opes tericas.
127
Andr de Jesus Nascimento
128
Necessidade e pragmtica no segundo Wittgenstein
129
Andr de Jesus Nascimento
130
Necessidade e pragmtica no segundo Wittgenstein
131
Wittgenstein e o idealismo kantiano
Marcelo Carvalho
Universidade Federal de So Paulo
1.
A Revoluo Copernicana que, segundo Kant, se situa na base
de seu projeto crtico, ocupa um lugar bastante singular na filosofia
dos dois ltimos sculos. Para alm de qualquer crtica direta ao idea-
lismo e filosofia transcendental, a suposio de que a experincia no
ingnua ou passiva provou ser bastante persuasiva e influente.1
Isso se torna claro quando descrevemos inverso promovida pela
Revoluo Copernicana a partir da explicitao de duas alternati-
vas excludentes apresentadas por Kant: de um lado a suposio de
que temos uma experincia passiva e pura (no sentido especfico de
que no contaminada pelo sujeito que conhece ou por qualquer
coisa equivalente a uma teoria ou, como se dir depois, viso de
mundo). Segundo esta perspectiva, o sujeito que conhece tem contato
direto com o mundo como ele em si. Do outro lado est a alternati-
va oposta, de que de alguma maneira o sujeito no passivo, e que
aquilo que se nos apresenta como nossa experincia o resultado de
algum tipo de construo transcendental, anterior possibilidade de
qualquer experincia.2 A suposio de uma objetividade pura e forte,
1
I. Kant, Crtica da Razo Pura, B xii-xxi.
2
O termo transcendental se refere aqui s condies pressupostas totalidade de nossa
(qualquer que seja a amplitude atribuda a este termo) experincia.
Carvalho, M.; Braida, C.; Salles, J. C.; Coniglio, M. E. Filosofia da Linguagem e da Lgica.
Coleo XVI Encontro ANPOF: ANPOF, p. 132-148, 2015.
Wittgenstein e o idealismo kantiano
3
O argumento aqui apresentado parte da leitura de um texto de Rubens Rodrigues Torres
Filho e da descrio por ele apresentada da herana kantiana (R. R. Torres Filho, A virtus
dormitiva de Kant, in: Ensaios de Filosofia Ilustrada).
4
Cf. W. V. Humboldt, On Language; F. Nietzsche, Verdade e Mentira no sentido extramoral
e Curso de Retrica.
133
Marcelo Carvalho
134
Wittgenstein e o idealismo kantiano
2.
7
Kant, Crtica da Razo Pura, A367-380.
8
Cf. Strawson, The bounds of sense, p. 15.
9
H. E. Allison, Kants Transcendental Idealism.
10
Sobre este tema, cf. tambm M. Carvalho, Teoria e experincia.
11
D. K. Naugle Worldview, chap. 6.
12
Wittgenstein, Culture and Value, p. 15; Cf. e.g. D. Davidson, Inquires into Truth and Interpreta-
tion, p. 188.
135
Marcelo Carvalho
13
L. Wittgenstein, Investigaes Filosficas, pargrafo 115; as demais citaes de pargrafos das
Investigaes Filosficas sero apresentadas no corpo do texto de acordo com o critrio utiliza-
do aqui.
14
Por Perodo Intermedirio entende-se aqui a produo de Wittgenstein entre seu retorno a
Cambridge, em 1929, e o ditado do Brown Book, em 1934, utilizado como base para a primeira
verso do incio das Investigaes Filosficas, de 1936.
136
Wittgenstein e o idealismo kantiano
3.
137
Marcelo Carvalho
15
Kleist, poeta contemporneo do fim da vida de Kant, em uma carta de 1801, em que compara
o intelecto a culos coloridos que nunca tiramos, e, ento, nunca poderamos diferenciar o
que vemos e o que estaria sendo acrescentado por esta forma de ver. De maneira anloga,
nunca poderamos estar certos de que realmente Verdade o que chamamos de Verdade,
ou se apenas parece s-lo para ns, e, ento, todo nosso esforo em busca da verdade se
revela em vo.
138
Wittgenstein e o idealismo kantiano
4.
139
Marcelo Carvalho
140
Wittgenstein e o idealismo kantiano
5.
141
Marcelo Carvalho
142
Wittgenstein e o idealismo kantiano
22
Cf. Philosophical Investigations, 198-201, 341-2.
143
Marcelo Carvalho
desta expresso dado pelo uso que se faz dele, ento no se pode
distinguir, sem mais, regra e seguir regra (significado e uso). No-
vamente, o que encontramos a rejeio da suposio de que o uso
vem depois do significado do qual seria derivado. No mesmo sen-
tido em que significado uso, a regra seu uso, e a conexo entre
uma regra e nossas aes interna, lgica, e no causal.
Para restringir nossas referncias a uma das passagens mais cita-
das do livro, o 201 diz:
144
Wittgenstein e o idealismo kantiano
6.
145
Marcelo Carvalho
posio de que haja uma experincia pura, quanto a de que haja uma
construo transcendental da experincia. A linguagem parte de uma
prtica em um dado contexto. O que um fato para ns depende de
nossas aes anteriores, e se situa no contexto de nossas aes presen-
tes. Ns podemos at mesmo descrever esse contexto de prticas com-
partilhadas como um sistema ou como alguma coisa que se assemelha
a um esquema conceitual. Mas ela no pode, no final das contas, por
ser a prpria prtica, se apresentar como uma pressuposio transcen-
dental s nossas aes e descries no se trata, aqui, de dar mais um
passo para trs. No final das contas tudo o que ns podemos dizer
que ns apenas fazemos dessa maneira [PU, 1].
Essa concepo sobre uma prtica que cuida de si prpria certa-
mente no de fcil24 assimilao e exigiria uma apresentao muito
mais cuidadosa. Mas a preocupao aqui no apresentar essa descrio
detalhada de concepes de Wittgenstein sobre uso e prtica, mas tentar
encontrar uma perspectiva wittgensteiniana da filosofia contempornea
e, para alm disso, esboar de maneira preliminar uma concepo que
poderia ser apresentada, de maneira breve, como um perspectivismo
wittgensteiniano, dissociado, entretanto, de qualquer relativismo.25
Referncias
24
Cf. D. Sterns remarks about the temptation of creating something like a theory of practice;
cf. Stern, Wittgensteins Philosophical Investigation, chap. 6.1 and The Practical Turn, p. 185.
25
Cf. Santos, L. H. L., p. 453: Para o segundo Wittgenstein, a nica sada recusar que o
contato entre linguagem e mundo seja um confronto entre a linguagem como um sistema
estruturado e um mundo estruturado (...). Em outras palavras, recusar que, no produto do
contato entre linguagem e mundo, se possam decantar dois plos, a contribuio da lin-
guagem e a contribuio do mundo, a forma da representao e o contedo representado
dois plos que, embora essencialmente correlacionados, ainda assim seriam discernveis.
Sem essa recusa, no haveria como evitar que a forma da representao fosse projetada no
representado como sendo sua estrutura essencial, no haveria como evitar a alternativa:
essencialismo ou relativismo.
146
Wittgenstein e o idealismo kantiano
147
Marcelo Carvalho
148
O contextualismo de Wittgenstein
envolve um ceticismo semntico?
1
KRIPKE: 1982, p. viii.
Carvalho, M.; Braida, C.; Salles, J. C.; Coniglio, M. E. Filosofia da Linguagem e da Lgica.
Coleo XVI Encontro ANPOF: ANPOF, p. 149-159, 2015.
Vinicius de Faria dos Santos
I. O problema
2
O paradoxo talvez o problema central das Investigaes Filosficas. Mesmo que haja quem
dispute as concluses aludindo linguagem privada e s filosofias da mente, da matemtica
e da lgica que Wittgenstein extrai de seu problema, podemos com efeito considerar o proble-
ma ele mesmo como uma importante contribuio filosofia. Ele [i.e., o paradoxo ctico] pode
ser considerado como uma nova forma de ceticismo filosfico. KRIPKE: 1982, p.7.
150
O contextualismo de Wittgenstein envolve um ceticismo semntico?
3
STERN: 2004, p. 3.
4
KRIPKE: 1982, p. 5, grifo meu.
151
Vinicius de Faria dos Santos
5
Cf. SIQUEIRA: 2009, p. 184.
6
Eis a razo porque Kripke reiteradas vezes afirma que apresentar o argumento [e, por con-
sequncia, a tese] as its struck me, arrogando-se tarefa depuratria da concluso e so-
luo do paradoxo ctico-semntico. Cf. KRIPKE: 1982, pp. viii, ix, 2, 5. (...) Hei de admitir
que estou expressando a concepo de Wittgenstein na forma mais simples do que o mesmo
normalmente se permitiria. (KRIPKE: 1982. p. 69).
7
Uma soluo ctica de um problema filosfico ctico comea (...) pela concesso de que as
asseres negativas do ctico so irrespondveis. (KRIPKE: 1982, p.66)
8
Idem.
9
STERN: 2004, p. 22.
10
KRIPKE: 1982, p. 69.
152
O contextualismo de Wittgenstein envolve um ceticismo semntico?
153
Vinicius de Faria dos Santos
154
O contextualismo de Wittgenstein envolve um ceticismo semntico?
155
Vinicius de Faria dos Santos
22
STERN: 2004, p. 10.
23
Acrescido a isso, o prof. David Stern observa que tambm caracterstico do uso feito por
Wittgenstein desse esquema de argumento que todos os trs estgios sigam um ao outro de
forma bastante rpida. Nos 1-3 e 46-48, cada um dos estgios do argumento apresen-
tado de forma bastante explcita; em vrios outros casos o argumento apenas esboado, e
o Estgio 3 pode ser deixado como exerccio para o leitor. Na medida em que no visa re-
solver problemas filosficos, mas desfaz-los ou dissolv-los, Wittgenstein frequentemente
apresenta os elementos para uma resposta maneira do Estgio 3 imediatamente antes de
apresentar o Estgio 2. A finalidade da resposta no Estgio 3 no articular uma resposta
filosfica questo proto-filosfica com a qual iniciamos, mas nos levar a abandonar a ques-
to. (STERN: 2004, p. 11).
24
Cf. STERN: 2004, p. 24.
156
O contextualismo de Wittgenstein envolve um ceticismo semntico?
157
Vinicius de Faria dos Santos
III. Concluso
Referncias
158
O contextualismo de Wittgenstein envolve um ceticismo semntico?
159
Wittgenstein e a prtica de seguir regras
1
As referncias aos escritos de Wittgenstein sero feitos no corpo do texto conforme as abre-
viaes indicadas no final.
Carvalho, M.; Braida, C.; Salles, J. C.; Coniglio, M. E. Filosofia da Linguagem e da Lgica.
Coleo XVI Encontro ANPOF: ANPOF, p. 160-173, 2015.
Wittgenstein e a prtica de seguir regras
161
Antonio Ianni Segatto
5
McDOWELL, J. Wittgenstein on following a rule. In: Mind, value, and
reality. Cambridge, Mass.: Harvard University Press, 1998, p. 243.
162
Wittgenstein e a prtica de seguir regras
163
Antonio Ianni Segatto
tes a mim tanto quanto evidente para mim nomear uma certa cor de
azul. E isso no sentido de que sei imediatamente, isto , sem hesitar
nem duvidar, aplicar a palavra azul para caracterizar um certo obje-
to. As Observaes sobre os fundamentos da matemtica esclarecem que ter
um determinado conceito da regra, saber qual seu sentido, implica
saber o que fazer em cada caso por oposio a um saber que conteria
todos os casos , e que desse tipo de evidncia que se trata:
Como ele deve saber que cor escolher quando escuta verme-
lho? Muito simples: ele deve pegar a cor cuja imagem lhe
ocorre ao ouvir a palavra. Mas como ele deve saber que cor
tem a imagem que lhe ocorre? preciso um outro critrio para
isso? (H certamente um procedimento: escolher a cor que ocor-
re a algum ao ouvir a palavra....).
Vermelho significa a cor que me ocorre ao ouvir a palavra ver-
melho seria uma definio. No uma explicao da essncia da
designao por meio de uma palavra. (PU 239)
164
Wittgenstein e a prtica de seguir regras
165
Antonio Ianni Segatto
Ela no , pois, exterior relao entre a regra e sua aplicao, nem algo
que j est institudo antes do exerccio efetivo da aplicao. Trata-se,
em suma, do produto da reiterao de um modo de agir especfico.
Isso significa que faz parte da definio de regra no apenas o pr-
prio sentido da regra, aquilo que ela prescreve, mas tambm um cer-
to modo de agir em sua aplicao. Por um lado, aplicaes corretas da
regra so aplicaes corretas porque o que se fez em todas elas foi a
mesma coisa, nada mais do que aquilo que a regra prescreve. Mas, por
outro lado, o que se fez foi a mesma coisa porque em todas as aplicaes
procedeu-se do mesmo modo. A identificao da regra e de seus casos
de aplicao correta se faz nesse crculo virtuoso. Em uma passagem dos
manuscritos, Wittgenstein assinala essa reciprocidade: Aja do mesmo
modo. Mas, ao dizer isso, devo apontar para a regra. Ele j deve, pois,
ter aprendido a aplicar. Pois, do contrrio, o que significa para ele sua
expresso? (Wittgenstein Z 305; 2000 MS 136, p. 125b; TS 233a, p. 63).
O que permite a identificao de uma formulao qualquer, a expresso,
como formulao de uma determinada regra no apenas a discrimi-
nao do que a regra prescreve que se deve agir de tal e tal maneira ,
mas tambm a discriminao do modo como se deve aplic-la.
A partir dessas colocaes, possvel ler a seo 240 como uma
transio entre as duas sees comentadas e as ltimas sees do bloco
das Investigaes sobre seguir uma regra:
166
Wittgenstein e a prtica de seguir regras
Para que se possa dizer que, ao seguir uma regra, ao dizer que de-
terminado objeto possui uma certa cor, ao determinar o comprimento
de uma barra etc. preciso no apenas agir do mesmo modo, como
foi visto, mas tambm que haja um certo acordo entre aqueles que apli-
cam a regra, aqueles que atribuem uma cor a um objeto ou determinam
o comprimento de uma barra etc. Isso significa que, alm da concordn-
cia (bereinstimmung) entre uma regra e suas aplicaes deve haver um
acordo (bereinstimmung) entre aqueles que aplicam a regra. E faz parte
do arcabouo a partir do qual se pode jogar um jogo de linguagem
mas no faz parte do prprio jogo, note-se bem que exista esse acordo
e que nenhuma controvrsia surja a cada aplicao da regra.
No entanto, parece que esse acordo no tem um papel apenas
na determinao das condies de sentido de nossas proposies, ju-
zos etc., mas tambm decide o que efetivamente verdadeiro ou falso.
contra essa suspeita que se dirige a seo 241:
167
Antonio Ianni Segatto
Como fica claro pela leitura das duas passagens, acordo nas de-
finies condio necessria, mas no suficiente, para que haja o en-
tendimento por meio da linguagem, isto , para que meros sinais gr-
ficos sejam reconhecidos como palavras com significado, para que um
padro qualquer seja reconhecido como o padro de uma determinada
unidade de medida ou, como j disse, para que uma formulao qual-
quer seja como formulao de uma determinada regra. preciso que
168
Wittgenstein e a prtica de seguir regras
7
PRADO, B. Erro, iluso, loucura: ensaios. So Paulo: Ed. 34, 2004, p. 84-5.
8
FLOYD, J. The fact of judgement: the Kantian response to Humean condition. In: MAL-
PAS, J. (ed.). From Kant to Davidson: philosophy and the idea of the transcendental. London: Rou-
tledge, 2003, p. 31-2.
169
Antonio Ianni Segatto
9
Sobre essa interdependncia no caso de Kant, cf. LONGUENESSE,B. Kant et le pouvoir de
juger. Paris: Presses Universitaires de France, 1993.
10
Colin McGinn coloca, a nosso ver, corretamente, a questo nos seguintes termos: se obe-
decer uma regra particular aplicar o respectivo sinal de um certo modo ao longo do tem-
po, ento a mesma regra consiste precisamente na coincidncia de tal prtica temporalmente
estendida. No como se o significado fosse inerentemente independente da prtica, de
tal forma que as pessoas pudessem divergir radicalmente em suas prticas e, ainda assim,
concordar em seus significados; antes, o acordo sobre o significado entre pessoas depende
essencialmente do acordo sobre a prtica (McGINN, C. Wittgenstein on meaning. Oxford:
Basil Blackwell, 1987, p. 54).
170
Wittgenstein e a prtica de seguir regras
171
Antonio Ianni Segatto
Referncias
11
CAVELL, S. The claim of reason: Wittgenstein, skepticism, morality, and tragedy. Oxford: Oxford
University Press, 1999, p. 122.
172
Wittgenstein e a prtica de seguir regras
173
A estrutura da sentena no pode
ser a estrutura da proposio
Vasileios Tsompanidis
UNISINOS
1
Por uma questo de simplicidade expositiva, eu deixo de mencionar aqui algumas reformas
na teoria de King 2007; 2009, em que nenhuma delas faz uma diferena significativa para o
argumento deste artigo. King 2013a segue a mesma estratgia.
Carvalho, M.; Braida, C.; Salles, J. C.; Coniglio, M. E. Filosofia da Linguagem e da Lgica.
Coleo XVI Encontro ANPOF: ANPOF, p. 174-186, 2015.
A estrutura da sentena no pode ser a estrutura da proposio
Figura 1: RD
175
Vasileios Tsompanidis
exemplo, ela nos oferece uma ferramenta precisa de explicar por que
a proposio expressa pela sentena em ingls Dara swims seria di-
ferente da proposio (digamos, qD) expressa pela sentena swims
Dara, se tal sentena fosse possvel: somente a relao R de pD pode
apropriadamente codificar a instanciao da propriedade ser uma na-
dadora habitual por parte de Dara. Os mesmos itens mundanos ocorrem
na proposio q, mas eles no esto relacionados da mesma maneira.
A tese (Espelhamento) tambm oferece suporte a uma estrutura
neo- Russelliana ao revelar que a sentena em ingls (I) apresentada
abaixo, quando enunciada por Dara, tem a mesma estrutura sinttica,
e portanto envolve a mesma relao R, que (D).
(I) I swim
As sentenas (D) e (I), quando ditas por Dara, codificam a instan-
ciao da mesma propriedade pelo mesmo objeto, exatamente da mes-
ma maneira. Portanto elas podem, assim como elas o fazem, expressar
a mesma proposio.
176
A estrutura da sentena no pode ser a estrutura da proposio
177
Vasileios Tsompanidis
Figura 2: RNT
178
A estrutura da sentena no pode ser a estrutura da proposio
Figura 3: RD*
179
Vasileios Tsompanidis
(9)
was-3s DEF:ART-MASC:NOM Giannis:NOM
(10) O
DEF:ART-MASC:NOM Clark Kent was-3s DEF:ART-
MASC:NOM Superman
O grego moderno tambm torna possvel o uso comum de no-
mes prprios que divergem significativamente dos paradigmas em
ingls e italiano. Por exemplo, quando nomes prprios aparecem sem
um determinante, como em (11) e (13) abaixo, sua interpretao se-
mntica preferida muito diferente de (12) e (14), que so as sentenas
correspondentes em ingls com a mesma forma superficial.
180
A estrutura da sentena no pode ser a estrutura da proposio
(11) ,
had-1s Giannis:ACC, got-1s Giannis:ACC
I had (been married to) a Giannis, then I got another Giannis
(12) I had Giannis, I got Giannis
(13)
Became-3s George Papandreou
He/she/it became George Papandreou-like
(14) He became George Papandreou
Examplos (9-13) mostram que simples nomes prprios em grego
moderno simpesmente no funcionam da mesma maneira que simples
nomes prrpios em ingls, italiano ou francs. Portanto, at mesmo
assumir a hiptese DE como um ponto de partida metodolgico no
ser forte o suficiente para dar conta de todas as diferenas sintticas
entre o ingls e o grego moderno, como King precisa. Por exemplo, a
proposio que um falante de ingls cr e expressa por meio de (5) no
ser a mesma proposio que aquela que minha me cr e que ela po-
deria unicamente expressar por meio de (9), e King enfrenta o mesmo
problema diante de (D) e (NT).
181
Vasileios Tsompanidis
4. Mais contra-exemplos
182
A estrutura da sentena no pode ser a estrutura da proposio
7
Cada uma dessas lnguas tem uma gramtica ou regras de produo diferente, e portanto
poderia ser o caso que ao nvel sinttico, idealmente FL, algumas delas so mais similares ao
ingls do que ao grego. At que isso seja demonstrado, no entanto, todos os exemplos acima
servem como contra-exemplos a anlise que King oferece para (D).
183
Vasileios Tsompanidis
184
A estrutura da sentena no pode ser a estrutura da proposio
8
Como mencionamos anteriormente, King no pretende manter tais tradues acuradas,
tal como a traduo para o alemo de (15) por meio de (16) (King 2007:98), assim como a
traduo de Michael swims para o alemo Michael schwimmt (King 2013a). Disso concluo
que King no quer endossar qualquer coisa to radical quanto a tese da no-tradutibilidade
de Quine.
185
Vasileios Tsompanidis
sam proposies distintas, como ele faz em King 2013a contra objees
que so superficialmente similares s minhas.
Desde o comeo, minha objeo tem sido uma objeo terica:
proposies simples e bsicas que contm pessoas nomeadas instan-
ciando propriedades deveriam estar disponveis para um sujeito em
normal funcionamento com atitudes proposicionais normais, no im-
portando qual lngua ele fale. Aquele mesmo sujeito deveria tambm
estar apto a expressar a mesma proposio sobre ele mesmo ao substi-
tuir I por seu nome prprio, ou outros nomes prprios que designam
ele mesmo. Mas de acordo com a teoria de King, falantes do grego
implausivelmente e inexplicavelmente no podem fazer quaisquer
dessas duas coisas. Dada tal considerao terica, eu sugiro que King
desista da tese do espelhamento.
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(ed) New Essays on Reference (volume title is provisional)
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King, J. 2009: Questions of Unity. Proceedings of the Aristotelian Society, 109,
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OMeara, C. and Bohnemeyer, J. 2008: Complex landscape terms in Seri. Lan-
guage Sciences, 30, 316-339.
186
A metfora como caso de borda entre
Semntica e Pragmtica
Introduo
Pense em quantas coisas diferentes designamos com o termo
metfora. Atente s notrias diferenas que h entre sentenas me-
tafricas1 como Joo um porco e Discusso guerra poderiam
ambas ser chamadas de smiles abreviados? E o que dizer das dife-
renas entre Julieta o sol e Nenhum homem uma ilha me-
receriam ambas o rtulo de falsidades patentes ou absurdos lgicos?
Tampouco se deve afirmar que Sally um bloco de gelo e Ele vai me
comer vivo sejam, igualmente, predicaes semanticamente imperti-
nentes. E, ainda: se encontramos facilmente uma parfrase para Ele
estava de cabea quente, o mesmo no se aplica metfora filosfica
Denomino ideias as plidas imagens dessas impresses (...) (HUME,
2000, I, I, I, p.7).
No presente trabalho, focar-me-ei em um tipo peculiar de
metafora, cujas marcas fundamentais certamente no podem ser es-
tendidas a todos os demais tipos de metfora. As metforas a que me
refiro so: a) no parafraseveis; b) no fundadas em similaridade; c)
de uso incontornvel. Zelando pela clareza de minha exposio, res-
tringir-me-ei tambm a casos in praesentia de ocorrncia das mesmas,
1
Isto , tomadas como metafricas em grande parte dos contextos em que ocorrem nossas prticas
lingusticas.
Carvalho, M.; Braida, C.; Salles, J. C.; Coniglio, M. E. Filosofia da Linguagem e da Lgica.
Coleo XVI Encontro ANPOF: ANPOF, p. 187-204, 2015.
Diogo de Frana Gurgel
nos quais sua forma S P fica explcita2. Quando afirmo que tal tipo
de metfora no parafrasevel, afirmo que no se pode encontrar ne-
nhum predicado R, literal, que substitua satisfatoriamente P, e afirmo
tambm que a conjuno comparativa como no pode ser acrescen-
tada sentena original sem mitigar a fora de sua assero. No que
diz respeito a no serem fundadas em similaridade, fao minhas as pa-
lavras de tericos da metfora como Max Black e John Searle: tudo se-
melhante a tudo em alguma medida. Semelhanca predicado vcuo e
mais acertado afirmar que a metfora cria a similaridade (BLACK,
2011, p.72) do que o oposto disso. E, no caso das metaforas em questo,
como veremos, mostra-se tarefa inglria o estabelecimento de simila-
ridades entre os referentes dos termos. Quanto ao uso incontornvel
ou necessrio de certas metforas, o que tenho em mente so, sobretu-
do, ocorrncias de metforas em textos filosficos e tericos em geral.
Em textos de filosofia da linguagem, por exemplo, uma boa ocasiao
para a proliferacao de metaforas se apresenta quando os filosofos se
veem obrigados a tecer explicacoes acerca da relaco linguagem-mun-
do3. Outra conjuntura argumentativa em que metforas pululam se
d quando se quer descrever e definir a natureza de nossas faculda-
des mentais. Recordemos de Descartes afirmando que Intuio luz
natural4. Em textos cientficos as metforas incontornveis tambm
so frequentes. O que seria da descrio do sistema circulatrio feita
por William Harvey sem a metfora Corao bomba hidrulica?
Os exemplos que apresentei so casos de definio de conceitos
e isso bem a propsito. No tipo de metafora in praesentia que propo-
nho considerarmos, o termo que funciona como S termo geral. Quero
mostrar que tais metaforas, no seu ato de transgresso das regras de
2
Emprego a forma aristotlica para evidenciar o verbo de cpula e para travar dilogo com
toda uma corrente de tericos que faz o exame da metfora nesses moldes.
3
De acordo com Clive Cazeaux, em Metaphor and Continental Philosophy, explanations of how
knowledge fits the world are invariably metaphorical, for example, talk of knowledge mir-
roring the world, knowledge as a construction, correspondence and coherence theories of
truth, receiving sensory impressions or sense-data. (CAZEAUX, 2007, p.134)
4
O comprometimento ontolgico parece ser grande quando Descartes toma como sinonimos
luz natural e faculdade de conhecer dada a nos por Deus (DESCARTES, 2002, 1, XXX;
DESCARTES, 1930, III, 12, pp.86-87). A metafora da luz que nos foi concedida por natureza e
sistematicamente coerente com a visao de mundo em que o Deus veraz figura como criador.
Note-se que a mesma metafora da luz e tambem usada para falar de Deus em pessoa: ado-
rar a incomparavel beleza dessa imensa luz (DESCARTES, 1930, III, 41, p.98).
188
A metfora como caso de borda entre Semntica e Pragmtica
189
Diogo de Frana Gurgel
190
A metfora como caso de borda entre Semntica e Pragmtica
autores que negam que a metafora possa ser uma operao peculiar do
dizer, ele um dos mais contundentes e razoveis.
I.
191
Diogo de Frana Gurgel
192
A metfora como caso de borda entre Semntica e Pragmtica
8
Wittgenstein admite ter sido, ele mesmo, vitima de um enfeiticamento pelas vias de nossa
linguagem, ao deixar-se levar pela conviccao de que a logica, como essencia do pensamen-
to, representa uma ordem, e na verdade a ordem a priori do mundo, isto e, a ordem das
possibilidades que deve ser comum ao mundo e ao pensamento. Esta ordem, porem, ao
que parece, deve ser altamente simples. Esta antes de toda experiencia; deve-se estender
atraves da totalidade da experiencia; nenhuma perturbacao e nenhuma incerteza empiricas
devem afeta-la. Deve ser do mais puro cristal. Este cristal, porem, nao aparece como uma
abstracao, mas como uma coisa concreta e mesmo como a mais concreta, como que a mais
dura. (Tractatus Logico-Philosophicus, n. 5.5563.) (WITTGENSTEIN, 2006, 97).
193
Diogo de Frana Gurgel
194
A metfora como caso de borda entre Semntica e Pragmtica
9
Como distinto do estudo sobre a compreenso de sentenas.
195
Diogo de Frana Gurgel
10
Paul Grice, em Studies in the Way of Words, toma a metfora como um caso de infracao da
primeira maxima da Qualidade, a saber, nao diga o que voce acredita ser falso. Em uma
passagem demasiadamente sumaria para um tema tao controverso, ele diz: Examples like
You are the cream in my coffee characteristically involve categorial falsity, so the contradic-
tory of what the speaker has made as if to say will, strictly speaking, be altruism; so it cannot
be that such a speaker is trying to get across. The most likely supposition is that the speaker
is attributing to his audience some feature or features in respect of which the audience re-
sembles (more or less fancifully) the mentioned substance. (GRICE, 1991, p.34)
11
Isto e, Benvolio sempre pode rejeitar a comparacao entre Julieta e o sol que faz Romeu, bra-
dando: Isso e absurdo!. Ja a reciproca nao e verdadeira: Se Romeu insistisse na afirmaao
de que Julieta e efetivamente o sol, configurar-se-ia um caso de incompetencia linguistica e,
quia, de uma perturbacao mental a se observar. Ou seja, se Romeu esta em plenas posses de
suas faculdades mentais e conhece razoavelmente a lingua inglesa, ele nao acredita realmen-
te que Julieta e o sol.
196
A metfora como caso de borda entre Semntica e Pragmtica
II.
197
Diogo de Frana Gurgel
198
A metfora como caso de borda entre Semntica e Pragmtica
to: podemos nos focar nos verbos de acao, como faz Wittgenstein nas
Investigacoes Filosofica (WITTGENSTEIN, 2006, 23)12. E, falar em jogos
de linguagem exige admitirmos a inexistncia de critrios que perpas-
sem todos os jogos, o que acarreta a inexistncia de uma concepo for-
te de literalidade o que em um jogo fundamento indubitvel, em
outro pode ser regra dubitvel (WITTGENSTEIN, 1972, 96).
Ao nos valermos dos mtodos de investigao gramatical desen-
volvidos por Wittgenstein, encontramos um modo de abordar o tema
da metafora por uma perspectiva do discurso (do jogo de linguagem)
afastando-nos das abordagens limitadas ao nvel da palavra desviada
ou ao nvel da predicao impertinente e esse um fator decisivo. A
metafora aparece como lance no jogo de linguagem (WITTGENSTEIN,
2006, 49) antecedida e sucedida por outros lances e pode se mostrar
recurso discursivo (e conversacional) de mudana de registro semntico.
O quadro se completa se resgatarmos o interacionismo de Ri-
chards e Black, to atacado por Searle, na medida em que ele nos per-
mita investigar o tipo de metafora que nos interessa aqui: o que se
pode querer dizer quando se emprega expresses como transao
entre contextos (RICHARDS, 1936, p.94) ou dois pensamentos con-
comitantemente ativos13 para falar de metaforas?
Se considerarmos que metaforas podem ser recursos discursivos
que estabelecem transaes entre jogos de linguagem (e aqui a prepo-
sio deve ser devidamente enfatizada) e que a concomitncia de pen-
samentos no seno concomitncia de dois sistemas normativos dis-
tintos em uma mesma sentena, temos o seguinte: a metafora se mostra
recurso de transferncia de regras de uso dos signos de um sistema
descritivo para outro. O lance de linguagem metafrico comea em
um jogo de linguagem e termina em outro (ou em outro nvel do mes-
mo jogo). Ocorre nesse tipo de metafora o que Nelson Goodman certa
feita denominou erro categorial calculado (GOODMAN, 1976, p.73).
E o clculo consiste nisso: Eu lhe apresento propositalmente o termo
S, numa acepo que lhe familiar, mas aplico a ele um predicado P,
12
Refiro-me aqui a uma acepo do conceito de jogo de linguagem que abarca prticas lin-
gusticas complexas, como contar uma piada ou celebrar uma missa e no estou trabalhando
com outras acepes tambm presentes na obra. No tenho em mente, por exemplo, jogos de
linguagem forjados, os quais funcionam como objetos de comparao.
13
dois pensamentos diferentes concomitantemente ativos operando em uma palavra ou fra-
se, cujo sentido e a resultante de sua interacao (RICHARDS, 1936, p.93).
199
Diogo de Frana Gurgel
200
A metfora como caso de borda entre Semntica e Pragmtica
Concluso
15
Proposies gramaticais, de acordo com Wittgenstein, so proposies que apresentam a
forma de sentenas empricas, mas que atuam como fundamentos, como regras de testa-
gem de jogos de linguagem. Uma vez explicitadas, tais proposies expressam convices,
mostrando-se indubitavelmente verdadeiras. Do mesmo modo, sua negao no incorre em
simples falsidade, mas em proferimento sem sentido.
201
Diogo de Frana Gurgel
202
A metfora como caso de borda entre Semntica e Pragmtica
Referncias
203
Diogo de Frana Gurgel
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_______. On Certainty. Trad. Denis Paul e G.E. Anscombe. New York: Harper
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204
A metfora entre as fronteiras da
semntica e da pragmtica
Daniel Schiochett
Universidade Federal de Santa Catarina
Carvalho, M.; Braida, C.; Salles, J. C.; Coniglio, M. E. Filosofia da Linguagem e da Lgica.
Coleo XVI Encontro ANPOF: ANPOF, p. 205-219, 2015.
Daniel Schiochett
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A metfora entre as fronteiras da semntica e da pragmtica
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Daniel Schiochett
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A metfora entre as fronteiras da semntica e da pragmtica
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Daniel Schiochett
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A metfora entre as fronteiras da semntica e da pragmtica
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Daniel Schiochett
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A metfora entre as fronteiras da semntica e da pragmtica
Borrando fronteiras:
flexibilidade semntica e conceitos ad hoc
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Daniel Schiochett
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A metfora entre as fronteiras da semntica e da pragmtica
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Daniel Schiochett
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A metfora entre as fronteiras da semntica e da pragmtica
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Daniel Schiochett
218
A metfora entre as fronteiras da semntica e da pragmtica
Referncias
219
Dois nveis de aquisio da linguagem:
o ensino e a definio das palavras
Carvalho, M.; Braida, C.; Salles, J. C.; Coniglio, M. E. Filosofia da Linguagem e da Lgica.
Coleo XVI Encontro ANPOF: ANPOF, p. 220-229, 2015.
Dois nveis de aquisio da linguagem: o ensino e a definio das palavras
221
Tatiane Boechat Abraham Zunino
que cada um a v dentro de uma perspectiva tal que ela possa pare-
cer diferente do que ocorre, e na qual podemos nos relacionar com ela
acompanhando uma destas perspectivas, por exemplo, a partir de sua
forma, de sua cor, de sua espessura, etc; sentado na ltima fileira no
vejo a forma caneta, mas a cor, o que significa que nos comportamos
de maneira diversa em relao ao mesmo, isto pertence a um modo de
comportar-se, a uma praxis, e no a uma relao lgica de identidade.
Pode-se entender, ento, que o mesmo se d como apreenso mtua,
j que no exclui alterao e, em geral, tampouco diferena, o que se d
um comportamento em relao ao mesmo pois, nesse processo, cada
um v justamente esse mesmo de maneira diversa.
Um jogo de linguagem sempre o contexto de um comportar-se.
Wittgenstein trata do uso lingustico que fazemos de nossos conceitos
sob a pressuposio de que para compreend-los preciso voltar-se
para a linguagem ou jogos de linguagem, lugar onde eles se manifes-
tam de forma articulada com o contexto de jogo. Voltar-se para a lin-
guagem significa, antes de qualquer coisa, indicar as perturbaes que
as palavras causam em nosso pensamento. Por exemplo, como uma
palavra pode significar coisas distintas? Como o discurso que pronun-
ciamos no atinge nosso ouvinte em igual teor significativo das pala-
vras utilizadas por ns? Ou seja, como pode ocorrer o engano entre o
falante e o ouvinte ao se usar uma mesma palavra? J que, aparente-
mente, uma palavra tem seu significado fixo e determinado. Como
possvel a uma palavra abarcar tudo o que se pretende significar com
ela? Como uma nica palavra pode significar algo to complexo quan-
to uma vivncia singular? De modo geral, como possvel comportar-
-se de igual maneira em relao a algo?
A identidade da coisa consigo mesma no relevante para esta
investigao, na medida em que, no suficiente para tratar do com-
portamento em relao ao mesmo. O conceito expe uma identidade
que ocorre na coisa, dela com ela mesma, no entanto, essa identidade
somente aparece na definio do conceito e no em seu uso. Isso im-
porta a Wittgenstein, pensar como algo pode ser tomado dentro de
uma identidade por mim e por voc, mas que, porm, ao compreen-
d-lo, o fao numa determinada perspectiva ou emprego algo em um
sentido que pode ser diferente do seu. Quando dizemos que muitos se
222
Dois nveis de aquisio da linguagem: o ensino e a definio das palavras
II
223
Tatiane Boechat Abraham Zunino
224
Dois nveis de aquisio da linguagem: o ensino e a definio das palavras
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Tatiane Boechat Abraham Zunino
4
Cf. WITTGENSTEIN 2009, 6.
226
Dois nveis de aquisio da linguagem: o ensino e a definio das palavras
5
Como bem lembra Baker e Hacker, os conceitos de potencialidade, habilidade e de poder fo-
ram centrais para algumas filosofias como as de Aristteles e as da escolstica medieval, mas
foram negligenciados por alguns filsofos, salvo algumas excees, ao longo dos sculos que
vieram. Eles retornam cena filosfica estimulados por Wittgenstein e Ryle nos anos 60 e 70.
Cf. HACKER P.M.S. e BAKER G.P, 2005, p.375.
227
Tatiane Boechat Abraham Zunino
6
Cf. WITTGENSTEIN 2009, 33, 35.
228
Dois nveis de aquisio da linguagem: o ensino e a definio das palavras
Referncias
BAKER, G.P.; HACKER, P.M.S. Wittgenstein: Understanding and Meaning -
an Analytical Commentary on the Philosophical Investigations/ Essays.Ox-
ford: Blackwell, 2005. v. 1/2, parte 1/2.
BARBOSA FILHO, B. Os modos da significao: sobre a noo de significao nas In-
vestigaes Filosficas de Wittgenstein. 1972. 244 p. Tese (Doutorado em Filosofia)
Departamento de Filosofia da Universidade de Louvain: Blgica, 1972.
WITTGENSTEIN, L. Philosophical Investigations. Trad. G.E.M. Anscombe,
P.M.S. Hacker, Joachim Schulte. Ed. bilngue. Oxford: Basil Blackwell, 2009.
229
La actualidad de la distincion entre analiticos
y continentales para la praxis filosofica: una
reflexion a partir de la situacion de la filosofia
analitica en la academia filosofica chilena
Resumen
La filosofia analitica, como interes y disciplina distintiva de una
tradicion filosofica, se ha introducido muy recientemente en el
ambito academico filosofico chileno, y latinoamericano. Su
irrupcion esta caracterizada desde la situacion especial de que en
nuestro pais ha existido, por largo tiempo, la hegemonia de una
unica mirada de lo que se ha entendido por filosofia (que obede-
ce a razones historicas que han configurado la institucionalizacion
de la filosofia en las universidades chilenas). A proposito de
ultimos esfuerzos por construir o repensar lo que pueda ser la
historia de la filosofia en Chile, y a proposito de recientes re-
flexiones acerca de la identidad de la filosofia analitica, en este
trabajo se reflexionara, brevemente, acerca de su situacion local
especial, de su historia, sus aportes y su actualidad. La intencion
aqui no es hacer su apologia, sino mas bien aportar al debate
local acerca de la identidad e historia de la filosofia en Chile, y
luego as tambin en Amrica Latina.
230 M.; Braida, C.; Salles, J. C.; Coniglio, M. E. Filosofia da Linguagem e da Lgica.
Carvalho,
Coleo XVI Encontro ANPOF: ANPOF, p. 230-241, 2015.
La actualidad de la distincion entre analiticos y continentales para la praxis
filosofica: una reflexion a partir de la situacion de la filosofia...
231
Rodrigo Lpez Orellana
232
La actualidad de la distincion entre analiticos y continentales para la praxis
filosofica: una reflexion a partir de la situacion de la filosofia...
233
Rodrigo Lpez Orellana
1
Aludo al concepto usado por Gadamer para referirse a la ciencia y sus consecuencias para la moder-
nidad bajo el termino que lleva por titulo su articulo El hecho de la ciencia, que aparece en el libro
La Herencia de Europa, ensayos.
234
La actualidad de la distincion entre analiticos y continentales para la praxis
filosofica: una reflexion a partir de la situacion de la filosofia...
235
Rodrigo Lpez Orellana
[] son tiempos difciles los que vivimos y los que viviremos. Por-
que una cosa est clara: la filosofa analtica se est afirmando por
doquier: en Alemania, en Italia, en toda Europa. Dira que se trata
de una verdadera y efectiva ocupacin de las universidades por
parte de los filsofos analticos. Europa parece haberse hecho nor-
teamericana, por lo menos la Norteamrica que conoc a comien-
zos de los aos setenta. Es una paradoja. Mientras que nosotros
aqu somos, o parecemos ser, pasado, en Estados Unidos, por el
contrario, es la filosofa analtica la que est pasando de moda3.
2
Entrevista de la periodista Donatella di Cesare del Corriere della Sera (7 de febrero de
2000). Traduccin: Douglas A.: http://www.eluniversal.com/verbigracia/memoria/N90
3
Entrevista de Donatella di Cesare, del Corriere della Sera, 7 de febrero de 2000.
236
La actualidad de la distincion entre analiticos y continentales para la praxis
filosofica: una reflexion a partir de la situacion de la filosofia...
4
Francisco Pereira. Entrevista grabada en audio, realizada el 21 de junio de 2012.
5
Jose Tomas Alvarado. Entrevista grabada en audio, realizada el 20 de junio de 2012.
237
Rodrigo Lpez Orellana
238
La actualidad de la distincion entre analiticos y continentales para la praxis
filosofica: una reflexion a partir de la situacion de la filosofia...
239
Rodrigo Lpez Orellana
Con este caso que nos cuenta Giannini, podemos ver que la dis-
tincin entre analticos y continentales est, hasta hoy, instalada en la
academia filosfica chilena. Si la filosofa analtica, a la manera de Glock,
quiere dar cuenta de su identidad, tampoco en Chile puede escapar a
esa multidimensin mencionada por Orellana Benado. El quehacer del
filsofo analtico en chile tendr que dar cuenta de su complicado espa-
cio institucional, al igual que en EEUU o Europa. Pareciera que esto est
anclado a la identidad de la filosofa analtica desde sus comienzos. Y si
alguien tiene la pretensin de hacer una justa Historia de la filosofa en
Chile (o en Amrica Latina), tendr que dar cuenta de ello.
7
Humberto Giannini. Entrevista grabada en audio, realizada el 22 de junio de 2012.
240
La actualidad de la distincion entre analiticos y continentales para la praxis
filosofica: una reflexion a partir de la situacion de la filosofia...
Referencias
DAgostini, Franca (2000): Analticos y Continentales. Gua de la filosofa de los
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tinentali. Guida alla filosofia degli ultimi trentanni. Raffaello Cortina Editore. Mi-
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Orellana Benado, M. E. (1999): Identidad, filosofa y tradiciones, prlogo
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Orellana Benado, M. E. (2010): Tradiciones y concepciones de la filosofa,
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Frankfurt/M., 2000.
Scruton, Roger (1999): Filosofa moderna. Una introduccin sinptica. Ed. Cuatro
Vientos. Santiago de Chile.
241
Linguagem e pensamento
I.
Carvalho, M.; Braida, C.; Salles, J. C.; Coniglio, M. E. Filosofia da Linguagem e da Lgica.
Coleo XVI Encontro ANPOF: ANPOF, p. 242-249, 2015.
Linguagem e pensamento
II.
243
Cid Rodrigo Loureno Barbosa Leite
244
Linguagem e pensamento
III.
Falvamos da linguagem enquanto potica do dizer e passamos
para a questo do princpio, temos tambm em aberto a palavra de
Parmnides.
Por que h simplesmente o ente e no antes o nada? A pergunta
fundamental da metafsica, antes mesmo de nos perguntar, nos diz
algo. Isto que ela diz precisa aparecer junto, ou at mesmo antes, da
questo. Ela coloca diante de ns, na nossa cara: h simplesmente o
ente. Encarar o ente pressupe seu aparecimento defronte de ns. Para
sarmos dos termos tcnicos filosficos e tentarmos visualizar me-
lhor o que queremos entender, podemos dizer, ao invs de ente, as
coisas. Elas, as coisas, esto postas diante de ns. Estar diante de ns
significa: as coisas aparecem e perduram em seu aparecer como e en-
quanto coisas. O espanto da apario e vigncia das coisas enquanto
coisas para ns homens tem, sua primeira formulao, num poema. O
poema data do sculo VI a. C. e seu autor Parmnides.
Na exortao para que se oua a palavra duas vias se mostram:
o que , e no para no ser; e o que no , e precisa por isso, no ser.
O aparecimento do que como e enquanto , eis o espanto primeiro da
filosofia. O que aparece enquanto , e neste aparecer mostra-se tanto
que como no poderia no ser. A partir da algo mais espantoso se
245
Cid Rodrigo Loureno Barbosa Leite
246
Linguagem e pensamento
debruarmos pois ela j se deu. o olhar para este fazer-se coisa das
coisas, ou, para a realidade em seu realizando-se, que a pergunta sobre
a gerao das coisas tem seu lugar.
IV.
247
Cid Rodrigo Loureno Barbosa Leite
Referncias
ARISTTELES. Metafsica II. Texto grego com traduo ao lado a cura de Gio-
vanni Reale. Trad. Marcelo Perine. Ed. 2a Loyola: So Paulo, 2005.
HEIDEGGER, M. A caminho da linguagem. Trad. Marcia S Cavalcante Schu-
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So Francisco, 2011.
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mento de Filosofia, UFRJ. Rio de Janeiro, s/d.
Bibliografia Geral
248
Linguagem e pensamento
______. Que quer dizer pensar? In: Ensaios e Conferncias. Trad. Emmanuel
Carneiro Leo; Gilvan Fogel; Marcia S Cavalcante Schuback. 5a ed. Petrpo-
lis, RJ: Vozes; Bragana Paulista, SP: Editora Universitria So Francisco, 2008.
______. Ser e Tempo. Trad. revisada e apresentao de Marcia S Cavalcante
Schuback; posfcio de Emmanuel Carneiro Leo. 5a ed. Petrpolis, RJ: Vozes;
Bragana Paulista, SP: Editora Universitria So Francisco, 2011.
249
Linguagem, mtodo e realidade:
algumas consideraes ontolgicas
Carvalho, M.; Braida, C.; Salles, J. C.; Coniglio, M. E. Filosofia da Linguagem e da Lgica.
Coleo XVI Encontro ANPOF: ANPOF, p. 250-260, 2015.
Linguagem, mtodo e realidade: algumas consideraes ontolgicas
1
Entende-se por clculo um sistema de convenes ou regras de um determinado tipo. Tais
regras so relacionadas a elementos - os chamados smbolos - sobre a natureza e relaes das
quais nada mais assumido alm de que so distribudos por classes. Qualquer srie finita
desses smbolos chamada uma expresso. (traduo nossa)
251
Vanice Ribeiro da Silva
2
Em consequncia da no sistemtica e logicamente imperfeita estrutura das linguagens na-
turais de palavras (tais como o alemo ou o latim), a condio de suas regras formais de
formao e transformao seriam to complicadas que isso seria dificilmente praticvel. (tra-
duo nossa)
3
[] at aqueles lgicos modernos, os quais concordam conosco em nossa opinio de que a
lgica est preocupada com sentenas, esto em grande parte ainda convencidos de que a
lgica est igualmente
4
Consideram que, em contraste s regras da sintaxe, as regras da lgica so no-formais.
Nas pginas que seguem, em oposio a esse ponto de vista, a perspectiva de que a lgica,
tambm, est preocupada com o tratamento formal de sentenas ser apresentada e desen-
volvida. (traduo nossa)
252
Linguagem, mtodo e realidade: algumas consideraes ontolgicas
And the same difficulty would arise in the case of the artificial
word- languages (such as Esperanto); for, even though they
avoid certain logical imperfections which characterize the na-
tural word-languages, they must, of necessity, be still very com-
plicated from the logical point of view owing to the fact that they
are conversational languages, and hence still dependent upon
natural languages.5
5
E a mesma dificuldade surgiria no caso das linguagens artificiais de palavras (como o espe-
ranto); pois ainda que elas evitem certas imperfeies lgicas que caracterizam as lingua-
gens naturais de palavras, elas devem, por necessidade, ser ainda muito complicadas do
ponto de vista lgico devido ao fato de que elas so linguagens de conversao e portanto
ainda dependentes das linguagens naturais. (traduo nossa)
253
Vanice Ribeiro da Silva
6
O mtodo sinttico que ser desenvolvido nas prximas pginas no somente provar ser
til na anlise lgica de teorias cientficas ajudar tambm na anlise lgica das linguagens
de palavras. Ainda que aqui [...] estejamos lidando com linguagens simblicas, os conceitos
sintticos e regras no em detalhe, mas em suas propriedades gerais pode ser aplicado
anlise das incrivelmente complicadas linguagens de palavras. (traduo nossa)
7
por uma sintaxe lgica da linguagem, significamos uma teoria formal das formas lingusti-
cas da linguagem a condio sistemtica das regras formais que as governam junto com o
desenvolvimento das consequncias que seguem dessas regras. (traduo nossa)
8
A opinio predominante de que sintaxe e lgica, apesar de alguns pontos de contato entre
elas, so fundamentalmente teorias de um tipo diferente. A sintaxe de uma linguagem pre-
tende estipular regras conforme as estruturas lingusticas (as sentenas, por exemplo) que
so construidas das estruturas lingusticas (tais como as palavras ou partes de palavras). A
principal tarefa da lgica, por outro lado, formular regras de acordo com determinados ju-
zos que devem ser inferidos de outros juzos; em outras palavras, de acordo com concluses
que devem ser tiradas das premissas. (traduo nossa)
254
Linguagem, mtodo e realidade: algumas consideraes ontolgicas
9
Uma teoria, uma regra, uma definio ou algo similar chamada formal quando nenhuma
referncia feita ao significado dos smbolos (por exemplo, as palavras) ou ao sentido das
expresses (por exemplo, as sentenas), mas simplesmente e exclusivamente aos tipos e or-
dens dos smbolos das quais concluses podem ser tiradas das premissas. (traduo nossa)
255
Vanice Ribeiro da Silva
256
Linguagem, mtodo e realidade: algumas consideraes ontolgicas
10
a sintaxe de uma linguagem ou de qualquer outro clculo, est relacionada, em geral, s estru-
turas de ordens seriais possveis (de um tipo definido) de elementos quaisquer. (traduo nossa)
257
Vanice Ribeiro da Silva
258
Linguagem, mtodo e realidade: algumas consideraes ontolgicas
259
Vanice Ribeiro da Silva
Referncias
260
A centralidade da linguagem
na filosofia sistemtico-estrutural
de Lorenz Puntel
Introduo
Carvalho, M.; Braida, C.; Salles, J. C.; Coniglio, M. E. Filosofia da Linguagem e da Lgica.
Coleo XVI Encontro ANPOF: ANPOF, p. 261-269, 2015.
Ednilson Gomes Matias
262
A centralidade da linguagem na filosofia
sistemtico-estrutural de Lorenz Puntel
263
Ednilson Gomes Matias
264
A centralidade da linguagem na filosofia
sistemtico-estrutural de Lorenz Puntel
2
Para o significado (ou valor semntico) do predicado h duas interpretaes: de acordo
com a primeira, interpretao extensional, o valor semntico de um predicado consiste
no conjunto de objetos aos quais tal predicado se aplica; conforme a segunda, interpretao
intencional, o valor semntico de uma expresso identificado com o atributo (pro-
priedades e relaes).
265
Ednilson Gomes Matias
De acordo com Puntel (cf. 2011, p. 160), este objeto real, sujeito
da sentena, no passa de uma outra expresso da categoria de subs-
tncia prpria da ontologia tradicional. A substncia designa algo
(substrato) a respeito do qual podem ser predicadas (atribudas) pro-
priedades e/ou relaes, ou seja, suas determinaes. Mas esse algo
(substrato) no pode ser predicado de outra coisa (outro substrato).
No entanto, se a substncia for abstrada de todas as suas determinaes
(seus atributos: propriedades e/ou relaes), restar apenas um substra-
to indeterminado. Esse substrato indeterminado vazio de sentido e,
consequentemente, ininteligvel. Portanto, a categoria de substncia e,
consequentemente, a ontologia da substncia, devem ser rejeitadas.
Puntel (cf. 2011, p. 160) sustenta que semntica e ontologia
constituem os dois lados de uma mesma medalha e, portanto, a se-
mntica composicional [...] pressupe ou implica uma ontologia de
substncia. Devido s suas implicaes relativas ontologia de subs-
tncia, a semntica composicional inadequada para fins tericos. A
partir disso, surge a necessidade de se formular uma semntica alter-
nativa, que no implique nem pressuponha a categoria da substn-
cia. Esta nova semntica deve abandonar as sentenas com a forma
de sujeito-predicado e, portanto, deve ser embasada em outro princ-
pio semntico, a saber, o princpio do contexto (PCT)3, segundo o qual:
somente no contexto de uma sentena as expresses lingusticas pos-
suem valor semntico (PUNTEL, 2008, p. 266). Uma vez que a nova
semntica proposta por Puntel se baseia nesse princpio do contexto,
ela pode ser denominada semntica contextual.
Para negar a ontologia da substncia preciso que as sentenas
semanticamente aceitveis na linguagem filosfica no possuam nem
sujeito nem predicado4. A essas sentenas, Puntel (cf. 2008, p. 18) deu o
nome de sentenas primas. Uma vez que toda sentena terica expres-
sa uma proposio, sentenas primas expressam proposies primas.
De modo mais exato, uma proposio prima o expressum do verbo
que ocorre na sentena prima. O sujeito da sentena (o termo singular)
266
A centralidade da linguagem na filosofia
sistemtico-estrutural de Lorenz Puntel
267
Ednilson Gomes Matias
Consideraes Finais
268
A centralidade da linguagem na filosofia
sistemtico-estrutural de Lorenz Puntel
Referncias
269
As diferentes noes de analiticidade
no pensamento de Quine*
Introduo
* Gostaria de agradecer a FAPESP que financia a pesquisa da qual este trabalho parte integrante.
Carvalho, M.; Braida, C.; Salles, J. C.; Coniglio, M. E. Filosofia da Linguagem e da Lgica.
Coleo XVI Encontro ANPOF: ANPOF, p. 270-280, 2015.
As diferentes noes de analiticidade no pensamento de Quine
Analiticidade ininteligvel!
271
Leonardo Gomes de Soutello Videira
guma forma contido no sujeito solteiro. Quine nos mostra que o po-
der explicativo desse tipo de exemplo baixo, pois apenas metfora e
no possvel aplic-la a todos os casos que consideramos enunciados
analticos. Apenas os enunciados do tipo S P e os redutveis a estes
estariam contemplados. Enunciados do tipo eu sou ou no sou filho
da Laura estariam de fora. Alm disso, Quine requer uma explicao
mais detalhada do que significa estar contido.
A outra forma que Kant define analiticidade afirmando que
enunciados analticos so aqueles que quando negados nos levariam
a contradies1 (190-1 B). Por exemplo, solteiros so solteiros, que
possui uma forma anloga a Fx Fx. Ambas as sentenas quando
negadas, transformam-se em contradies da forma Fx Fx, o que
perfeitamente inteligvel e coerente2. No entanto, essa explicao no
serviria para diversas outras sentenas que cotidianamente ns con-
sideramos analticas como solteiros so homens no-casados, pois
estas tem a forma Fx Gx, que quando negada, Fx Gx, no leva
a uma clara contradio. O problema com este tipo de sentena leva-
-nos ento a outro tipo de explicao.
A Fregeana: Essa explicao amplamente considerada na lite-
ratura como fregeana, embora no esteja explicita em Frege (e parti-
cularmente me parece incompatvel com o que Frege considera que
seja analiticidade em Sobre o sentido e a referncia). Um enunciado
seria analtico se for uma verdade lgica ou se seus componentes ex-
tra-lgicos forem reinterpretados de uma maneira que a sentena seja
transformada em uma verdade lgica3.
Contra essa explicao, Quine argumenta contra a noo de si-
nonmia. Ele questiona a legitimidade de nossa traduo de Fx por
Gx no modelo acima. Uma resposta simples e padro seria justi-
fic-la pela equivalncia de significados entre os termos, porm ele
acredita que a noo de significado to obscura quanto a noo de
1
Note que este tipo de explicao nos permite dizer que sentenas de outros tipos que no
S P so analticas, pois (eu sou ou no sou filho da Laura) uma contradio. Isso nos
permite dizer que Kant no conseguiu tirar a noo da obscuridade, visto que h um duplo
padro para ela.
2
Quine deixa claro neste artigo que ele no v problema algum com a noo de verdade lgica.
3
Dentro do ttulo fregeana esto as explicaes que usam o advrbio necessariamente, as
que se baseiam na intersubstutibilidade salva veritate e todas as outras que se deparam o o
problema da mera co-extensividade dos termos a e b.
272
As diferentes noes de analiticidade no pensamento de Quine
273
Leonardo Gomes de Soutello Videira
274
As diferentes noes de analiticidade no pensamento de Quine
275
Leonardo Gomes de Soutello Videira
WO, p. 56-7.
11
276
As diferentes noes de analiticidade no pensamento de Quine
12
The analytic and the synthetic, p. 64-5.
277
Leonardo Gomes de Soutello Videira
13
RR, p. 79.
14
PT, p. 53.
15
Idem. p. 54.
278
As diferentes noes de analiticidade no pensamento de Quine
Consideraes finais
16 PT, p. 16.
279
Leonardo Gomes de Soutello Videira
Referncias
280
Internismo e externismo semntico
Introduo
Carvalho, M.; Braida, C.; Salles, J. C.; Coniglio, M. E. Filosofia da Linguagem e da Lgica.
Coleo XVI Encontro ANPOF: ANPOF, p. 281-297, 2015.
Bruno Fernandes de Oliveira
1. Externismo semntico
O externismo uma teoria semntica focada nos problemas ori-
ginados da questo da referncia e significado dos termos lingusticos
1
Cut the pie any way you like, meanings Just aint in the head!
282
Internismo e externismo semntico
283
Bruno Fernandes de Oliveira
3
importante destacar a diferena entre intenso e inteno. Em filosofia da linguagem
e semntica utiliza-se o conceito intenso para referenciar um objeto. No entanto, o conceito
intenso pode ser o significado cognitivo de uma expresso lingustica. neste sentido que
usaremos o conceito de intenso, como o significado cognitivo de uma expresso lingustica.
J o conceito de inteno um termo filosfico que vem do conceito de intencionalidade.
284
Internismo e externismo semntico
285
Bruno Fernandes de Oliveira
286
Internismo e externismo semntico
287
Bruno Fernandes de Oliveira
288
Internismo e externismo semntico
4. Searle e o significado
289
Bruno Fernandes de Oliveira
6
No a minha inteno neste artigo tratar prontamente do naturalismo biolgico de Searle,
pois corremos o risco de estender demais o trabalho. Vamos apresentar de forma singular, po-
rm cuidadosa, o problema do naturalismo biolgico para o filsofo estadunidense, e entender
a importncia do mesmo para a compreenso da teoria do significado internista de Searle.
290
Internismo e externismo semntico
7
Para uma melhor compreenso, vide o captulo 1, O que h de errado com a filosofia da
mente, da obra A redescoberta da mente (1997) de John Searle.
291
Bruno Fernandes de Oliveira
8
O termo atos de fala iniciou com os filsofos John Austin e Paul Grice. Posteriormente, Searle
deu uma nova caracterstica teoria dos atos de fala. J em relao do falar estar relacionado
com o modo de agir, podemos afirmar que uma herana da filosofia de Wittgenstein.
292
Internismo e externismo semntico
293
Bruno Fernandes de Oliveira
5. Searle e a intencionalidade
294
Internismo e externismo semntico
9
Para Putnam, os estados psicolgicos do terrqueo e do seu gmeo podem ter diferentes
condies de satisfao e contedos intencionais, ou seja, seus contedos podem ser dife-
rentes, j que ambos esto em uma relao causal externa diferente do outro, a saber, uma
relao causal externa acerca de H2O e o seu gmeo uma relao acerca de XYZ.
295
Bruno Fernandes de Oliveira
Referncias
296
Internismo e externismo semntico
SEARLE, J.R. Actos de Habla: ensayo de filosofia del lenguaje. Barcelona: Planeta-
-Agostini, 1994.
_____. Expresso e significado: estudos da teoria dos atos de fala. Trad. Ana Ceclia
G. A. de Camargo / Ana Luiza Marcondes Garcia. So Paulo: Martins Fontes,
1995.
_____Intencionalidade. Trad. Julio Fischer / Toms Rosa Bueno. So Paulo:
Martins Fontes, 2002.
_____. A Redescoberta da Mente. Trad. Eduardo Pereira e Ferreira So Paulo:
Martins Fontes,1997.
297
O contextualismo relevantista
de David K Lewis
1. Introduo
Carvalho, M.; Braida, C.; Salles, J. C.; Coniglio, M. E. Filosofia da Linguagem e da Lgica.
Coleo XVI Encontro ANPOF: ANPOF, p. 298-312, 2015.
O contextualismo relevantista de David K Lewis
299
Luis Fernando dos Santos Souza
4. Contexto-Dependncia
300
O contextualismo relevantista de David K Lewis
nos clara, ou mais sutis, como no caso dos adjetivos. Vejamos o caso do
adjetivo grande. Digamos que algum profere as seguintes sentenas:
A agulha grande.
&
O avio grande.
3 O termo justificao est sendo empregado aqui no sentido tradicional. Ou seja, como
sinnimo de razes disponveis para o sujeito epistmico, ao crer que P. Lewis est criticando,
portanto, as teorias internalistas da justificao epistmica.
301
Luis Fernando dos Santos Souza
4
Na nota de nmero 2 do Elusive Knowledge Lewis deixa claro que se entendermos o termo
justificao como aquilo que transforma a crena verdadeira em conhecimento, sem consi-
derar que ela envolva argumentos que sejam suportados por razes, no haver problemas
em utilizar o termo. Para todos os efeitos, tenhamos claro que quando Lewis falar em justi-
ficao o que ele tem em mente que nossa crena verdadeira possui um justificador, mas
fica em aberto a questo do que seja tal justificador. Devido s inclinaes externalistas de
Lewis podemos pensar justificador em termos de procedimentos confiveis de gerao e
manuteno da crena de S de que P.
5
Casos lotricos e o problema de Gettier exploram exatamente esta fragilidade.
302
O contextualismo relevantista de David K Lewis
303
Luis Fernando dos Santos Souza
6
Aqui j temos elementos tericos para afirmar que para Lewis o elemento sensvel ao contex-
to na atribuio de conhecimento no a justificao, como j dissemos anteriormente, mas o
prprio domnio das alternativas relevantes que se reconfigura a partir do prprio contexto
de atribuio.
7
Uma onomatopeia para um pedido de silncio. Geralmente vem acompanhado pelo gesto
caracterstico: o dedo indicador em riste tocando a boca.
304
O contextualismo relevantista de David K Lewis
305
Luis Fernando dos Santos Souza
9
A expectativa gerada pela regra da semelhana e sua consequente no efetivao chega a ser
frustrante. Essa a confisso que o professor Jonathan Kvanvig faz no blog Certain Doubts.
Seu post de 4 de abril de 2008 intitulado Frustrao com Elusive Knowledge. A regra da se-
melhana, segundo Kvanvig, altamente dependente da noo de salincia/relevncia, mas,
diz ele, no fao ideia do que Lewis quer dizer com isso. Levantemos duas hipteses acerca
do que Lewis tem em mente ao falar de salincia/relevncia: (i) salincia uma caracterstica
psicolgica, isto , saliente aquilo que notado/percebido pelo sujeito e (ii) salincia algo
que est ligado ao caso, uma caracterstica intrnseca do caso. Se salincia entendida
como (i) ento tal noo parece ser desencaminhadora uma vez que em certos casos de Get-
tier (como o caso do relgio quebrado), o que torna a crena de S acidental alheio a S, ou
seja, o anulador do conhecimento de S no saliente, neste sentido. Contudo, a realidade
uma possibilidade que no pode ser propriamente ignorada pela evidncia de S. Portanto,
o fato do relgio estar quebrado, embora no saliente para S, uma possibilidade que no
pode ser propriamente ignorada. Isso nos leva a compreenso da salincia/relevncia como
apresentada em (ii). Se entendermos salincia como algo relacionado ao fato, algo que lhe
seja peculiar, ento parece totalmente arbitrrio excluir as possibilidades cticas, j que tais
hipteses so salientemente semelhantes ao fato em questo.
306
O contextualismo relevantista de David K Lewis
307
Luis Fernando dos Santos Souza
308
O contextualismo relevantista de David K Lewis
Consideraes Finais
309
Luis Fernando dos Santos Souza
conceito de conhecimento, tal como analisado por Lewis, pode ser atri-
budo at mesmo em contextos de baixos padres epistmicos sem que
tenhamos de assumir, de antemo, a irrelevncia das hipteses cticas.
Se o preo a ser pago pela manuteno do nosso conhecimento ordinrio
for a recusa ad hoc das hipteses cticas a teoria deste filsofo estaria em
uma situao pouco confortvel. Essa desconfiana acerca da possvel
impreciso dos conceitos bsicos da teoria das alternativas relevantes e
o modo aparentemente arbitrrio com o qual os relevantistas excluem as
alternativas cticas o que ainda mantm vivo e acirrado o debate.
Referncias
questo que em contextos ordinrios HC pode ser propriamente ignorado (j que a evidncia
de S no elimina HC), ou seja, em tais contextos HC uma alternativa irrelevante. Assim, em
contextos ordinrios S deveria saber ~HC. Mas para que S saiba ~HC ele deve crer que ~HC.
Sendo assim, ao crer ~HC S passa a dar ateno a tal alternativa e, com isso, ela deixa de ser ir-
relevante. ~HC parece ser um tipo de alternativa que no pode ser propriamente ignorado em
qualquer contexto se o PF for vlido como Lewis sustenta. Esse possvel problema explicado
por Lewis a partir da seguinte estratgia. Segundo este filsofo h uma mudana de contexto
no meio do argumento que faz uso do PF. Quando dizemos em situaes cotidianas que S sabe
que P estamos utilizando um padro, mas ao inserirmos HC o padro modificado no meio
do argumento o que d a impresso de que o princpio invlido. Mas, afirma Lewis, se o pa-
dro fosse mantido, ento S poderia vir a saber que ~HC em contextos ordinrios. Como isso
ocorreria sem que S (em tais contextos) cresse que ~HC, ou seja, que desse a devida ateno a
HC o que Lewis deveria explicar. Segundo a regra da ateno aquela possibilidade que no
pode ser ignorada no pode ser propriamente ignorada.
310
O contextualismo relevantista de David K Lewis
DRETSKE, Fred. Epistemic operators. in: The Journal of Philosophy 67: p 1007
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STINE, Gail. Dretske on Knowing the Logical Consequences. In: Journal of Phi-
losophy 68: p. 296-299. 1971.
311
Luis Fernando dos Santos Souza
312
Propriedades naturais e mundos possveis
1. Introduo
1
Pode soar estranho um autor da tradio da filosofia analtica oferecer um sistema metafsi-
co. Isso parece ser contrrio as origens da filosofia analtica em que o uso da anlise con-
ceitual se opunha a qualquer tentativa de se executar uma filosofia sistemtica. Sabe-se, no
foi esse o objetivo inicial, nem principal, do trabalho do Lewis. Ele mesmo afirma e comenta-
dores confirmam que a unidade de seus trabalhos publicados resultaram involuntariamente
na emergncia de uma filosofia sistemtica, no sentido de que, solues para problema em
uma determinada rea esto ligados com respostas a problemas de outras reas.
Carvalho, M.; Braida, C.; Salles, J. C.; Coniglio, M. E. Filosofia da Linguagem e da Lgica.
Coleo XVI Encontro ANPOF: ANPOF, p. 313-326, 2015.
Renato Mendes Rocha
2
Interessante notar que esse um dos mais antigos problemas filosficos e que teve a sua
discusso avanada durante o sculo XX.
314
Propriedades naturais e mundos possveis
2. Ontologia e propriedades
Murcho (2012) apresenta a ontologia como uma disciplina da
metafsica que tem como objetivo ser uma teoria das categorias. Um
exemplo de teoria das categorias seria aquela apresentada por Lowe
(2002, p. 16) que divide as entidades em dois tipos: particulares e uni-
versais. Para ele, universais podem ser propriedades ou relaes, en-
quanto os particulares podem ser abstratos ou concretos e os particu-
lares concretos podem ser coisas ou eventos.
3
Dois exemplos: i) Dummett (1991, p. 12) defende uma anlise bottom-up a respeito da cen-
tenria disputa metafsica entre realismo e antirrealismo. Segundo ele preciso primeiro
considerar as discordncias entre os modelos semnticos das duas posies em disputa an-
tes de avaliar a imagem/panorama [picture] da teoria como um todo (metafsica); ii) Imaguire
(2011) ao apresentar diferentes abordagens ontolgicas sobre mundos possveis.
4
Um exemplo de teoria bottom-up a filosofia do atomismo lgico de Russell.
315
Renato Mendes Rocha
5
Interessante notar que o correlato semntico da noo de propriedades a de predicados.
Mas, por enquanto estamos a discutir metafsica e no semntica. As noes so semelhantes
mas no so equivalentes. Por exemplo, podemos dizer que h mais propriedades no mundo
do que predicados em uma linguagem natural.
6
Dependendo da teoria, diferentes entidades cientficas podem ocupar o lugar de particu-
lares: partculas subatmicas, objetos macroscpicos, apenas um feixe de propriedades, o
substrato nu (bare particular), pontos no espaotempo.
316
Propriedades naturais e mundos possveis
7
A respeito da relao entre propriedades e predicados, considerando que pontos no espao-
tempo so particulares e portanto podem ser portadores de propriedades; e que as lingua-
gens naturais sejam finitamente formadas (R2) e por outro lado que o espaotempo seja in-
finito (R3), a cada objeto localizado no espaotempo podemos atribuir infinitas propriedades
externas, estabelecendo relaes entre esse objeto e outros pontos no espaotempo. Assim,
parece haver mais propriedades (no mundo) que predicados (na linguagem).
317
Renato Mendes Rocha
318
Propriedades naturais e mundos possveis
11
A class of this kind, whose parts are in this way representative of the whole, is what I mean
by a natural class. Essa e as seguintes tradues so minha autoria.
12
Natural properties would be the ones whose sharing makes for resemblance, and the ones
relevant to causal powers.
319
Renato Mendes Rocha
320
Propriedades naturais e mundos possveis
321
Renato Mendes Rocha
3. Mosaico humeano
13
Among worlds that conform to the actual laws of nature, no two differ without differing
physically; any two such worlds that are exactly alike physically are duplicates. (LEWIS,
1983, p. 363)
14
Among worlds where no natural properties alien to our world are instantiated, no two
differ without differing physically; any two such worlds that are exactly alike physically are
duplicates. (LEWIS, 1983, p. 364)
322
Propriedades naturais e mundos possveis
323
Renato Mendes Rocha
324
Propriedades naturais e mundos possveis
Concluso
Referncias
325
Renato Mendes Rocha
326
Non-deterministic algebras and
algebraization of logics
1. Introduction
Carvalho, M.; Braida, C.; Salles, J. C.; Coniglio, M. E. Filosofia da Linguagem e da Lgica.
Coleo XVI Encontro ANPOF: ANPOF, p. 327-346, 2015.
Ana Claudia de Jesus Golzio; Marcelo Esteban Coniglio
328
Non-deterministic algebras and algebraization of logics
329
Ana Claudia de Jesus Golzio; Marcelo Esteban Coniglio
330
Non-deterministic algebras and algebraization of logics
3
Introduced by W. Carnielli and J. Marcos in [11], and thereafter studied in detail in [10].
331
Ana Claudia de Jesus Golzio; Marcelo Esteban Coniglio
A5 t tI I f fI
t D5 D5 D5 D5 D5
tI D5 D5 D5 D5 D5
I D5 D5 D5 D5 D5
f D5 D5 D5 F F
fI D5 D5 D5 F F
A5 t tI I F fI
t D5 D5 D5 F F
tI D5 D5 D5 F F
I D5 D5 D5 F F
f F F F F F
fI F F F F F
A5 t tI I f fI
t D5 D5 D5 F F
tI D5 D5 D5 F F
I D5 D5 D5 F F
f D5 D5 D5 D5 D5
fI D5 D5 D5 D5 D5
A5
T F
tI F
I D5
F D5
fI D5
A5
T D5
tI F
I F
F D5
fI F
332
Non-deterministic algebras and algebraization of logics
A3 t I f
t D3 D3 D3
I D3 D3 D3
f D3 D3 {f }
A3 t I f
t D3 D3 {f }
I D3 D3 {f }
f {f } {f } {f }
A3 t I f
t D3 D3 {f }
I D3 D3 {f }
f D3 D3 D3
A3
t {f }
I D3
f D3
A3
t A3
I {f }
f A3
333
Ana Claudia de Jesus Golzio; Marcelo Esteban Coniglio
A3 t tI I f f I
t D3 D3 D3 D3 D3
tI D3 D3 D3 D3 D3
I D3 D3 D3 D3 D3
f D3 D3 D3 F F
f I D3 D3 D3 F F
A3 t tI I f f I
t D3 D3 D3 F F
tI D3 D3 D3 F F
I D3 D3 D3 F F
f F F F F F
f I F F F F F
A3 t tI I f f I
t D3 D3 D3 F F
tI D3 D3 D3 F F
I D3 D3 D3 F F
f D3 D3 D3 D3 D3
f I D3 D3 D3 D3 D3
A3
t F
tI F
I D3
f D3
f I D3
334
Non-deterministic algebras and algebraization of logics
A3
t {t, I, f }
tI {t, I, f }
I F
f {t, I, f }
f I {t, I, f }
Clearly M3 induces a ND-algebra A3 = A'3, s'3 over such that
'3 = O3.
Definition 9 (Homomorphism of ND-algebras):LetA=A, s
and B = B, s' be two ND-algebras over a signature .A homomor-
phism h: A B of ND-algebras over is a function h: AB such that
for all n 0, c n and a1, ... , an A,
h[cA(a1, ... , an)] cB(h(a1), , h(an)).
In particular, h(cA) = cB, if c 0.4
335
Ana Claudia de Jesus Golzio; Marcelo Esteban Coniglio
The proof of this fact is easy: it is enough to show that the usual
composition of functions produces a homomorphism and that the iden-
tity maps produce the identity homomorphisms.
336
Non-deterministic algebras and algebraization of logics
337
Ana Claudia de Jesus Golzio; Marcelo Esteban Coniglio
338
Non-deterministic algebras and algebraization of logics
5. Products of ND-Algebras.
339
Ana Claudia de Jesus Golzio; Marcelo Esteban Coniglio
340
Non-deterministic algebras and algebraization of logics
341
Ana Claudia de Jesus Golzio; Marcelo Esteban Coniglio
342
Non-deterministic algebras and algebraization of logics
for all a cA(a1 ..., an) there is b cA(b1 ..., bn) such that aqb;
for all b cA(b1 ..., bn) there is a cA(a1 ..., an) such that bqa.
343
Ana Claudia de Jesus Golzio; Marcelo Esteban Coniglio
Final considerations
The study of the usual logical matrices and Nmatrices, but mainly
the fundamental tools of universal algebra, enabled the development
of the first original results in what we call non-deterministic universal
algebra.
In this theory, non-deterministic algebraic structures called ND-
-algebras were introduced, whose non-deterministic operations pro-
duce non-empty sets of values, rather than individual values. Several
notions and basic constructions from universal algebra were adapted
to the non-deterministic framework.
Concerning the next steps, we will focus our efforts in the metho-
dology from Abstract Algebraic Logic (AAL, in short), inaugurated by W.
344
Non-deterministic algebras and algebraization of logics
Blok and D. Pigozzi (see [7], [8], [6]), extending techniques involving
usual matrices for the more general context of Nmatrices. Thus, many
of the known results in the literature on the application of the theory
of logic matrices (most of these results can be found in [14] and [20])
could be applied to other logics that do not have a characterization by
finite matrices.
Acknowedgements:
This project was sponsored by FAPESP, Brazil. The second au-
thor was also supported by a research grant from CNPq (Brazil).
References
345
Ana Claudia de Jesus Golzio; Marcelo Esteban Coniglio
346
Completude algbrica da lgica do
quantificador muitos
1. Introduo
Carvalho, M.; Braida, C.; Salles, J. C.; Coniglio, M. E. Filosofia da Linguagem e da Lgica.
Coleo XVI Encontro ANPOF: ANPOF, p. 347-351, 2015.
Luiz Henrique da Cruz Silvestrini; Hrcules de Araujo Feitosa
Camila Augusta Vaine
2. A lgica do muito
348
Completude algbrica da lgica do quantificador muitos
4. A adequao de ()
De modo semelhante demonstrao da adequao para
349
Luiz Henrique da Cruz Silvestrini; Hrcules de Araujo Feitosa
Camila Augusta Vaine
350
Completude algbrica da lgica do quantificador muitos
completa.
Demonstrao: Verificamos quando M /F semissimples, ou seja, de
fato temos que toda lgebra mondica do muito semissimples.
5. Consideraes Finais
Referncias
351
Composio e identidade so equivalentes?
Introduo
Carvalho, M.; Braida, C.; Salles, J. C.; Coniglio, M. E. Filosofia da Linguagem e da Lgica.
Coleo XVI Encontro ANPOF: ANPOF, p. 352-359, 2015.
Composio e identidade so equivalentes?
Motivaes
353
Rhamon de Oliveira Nunes
354
Composio e identidade so equivalentes?
Formulaes
355
Rhamon de Oliveira Nunes
Crticas
356
Composio e identidade so equivalentes?
357
Rhamon de Oliveira Nunes
Concluso
358
Composio e identidade so equivalentes?
Referncias
359
Ficcionalismo e aplicabilidade da matemtica
Carvalho, M.; Braida, C.; Salles, J. C.; Coniglio, M. E. Filosofia da Linguagem e da Lgica.
Coleo XVI Encontro ANPOF: ANPOF, p. 360-369, 2015.
Ficcionalismo e aplicabilidade da matemtica
II
361
Aline da Silva Dias
lhor sucedida nessa tarefa foi aquela que afirma que possvel conhe-
cer aqueles objetos abstratos, ainda que no haja nenhum contato com
eles. Os defensores de tal concepo se apoiam em um argumento ins-
pirado por alguns dos escritos de Quine (2010; 2010b; 1981) e tambm
de Putnam (1971; 1985; 1995), que ficou conhecido como argumento
da indispensabilidade Quine-Putnam.
Esse argumento pode ser apresentado como se segue:
362
Ficcionalismo e aplicabilidade da matemtica
fia uma parte contnua da cincia, sendo que ambas partilham dos
mesmos objetivos e do mesmo mtodo (emprico), que , de acordo
com Quine, o melhor modo de descrever a realidade. Como afirma
Colyvan:
363
Aline da Silva Dias
III
O ficcionalismo matemtico a concepo que sustenta que,
como o platonismo sugere, as proposies e teorias matemticas se
propem a se referir objetos matemticos abstratos. Contudo, no h
objetos matemticos abstratos. Logo, as proposies e teorias matem-
ticas so falsas (BALAGUER, 2013). De acordo com isso, enunciados
como 2 um nmero primo so semelhantes a enunciados ficcionais
enunciados do tipo Harry Potter um bruxo e so, portanto,
falsos. Assim como Harry Potter um bruxo falso por Harry Pot-
ter no existir, enunciados matemticos so falsos porque no existem
364
Ficcionalismo e aplicabilidade da matemtica
365
Aline da Silva Dias
IV
Uma maneira de fazer isso seguindo o segundo dos caminhos
indicados anteriormente. Ou seja, defender que a matemtica indis-
pensvel, mas que isso no implica na existncia de qualquer entidade.
Para os ficcionalistas que seguem por essa via, no h nenhum com-
promisso ontolgico em admitir a indispensabilidade da matemtica.
2
Contudo, preciso ter em mente o que Colyvan aponta: Field no advoga fazer cincia
sem matemtica; ele advoga simplesmente que a cincia pode ser feita sem matemtica
(COLYVAN, 2011, p. 6).
3
No entrarei em detalhes aqui a respeito do projeto de nominalizao empreendido por
Hartry Field, pois este no faz parte do escopo deste trabalho.
4
Mark Balaguer procura oferecer um caminho para nominalizar a mecnica quntica em seu
artigo Towards a Nominalization of Quantum Mechanics (1996).
366
Ficcionalismo e aplicabilidade da matemtica
5
Balaguer chama isso de realismo nominalstico, que , para ele, um tipo de realismo cien-
tfico que aceita como verdadeiro tudo o que as teorias empricas afirmam sobre o mundo
fsico (BALAGUER, 1996, p. 303).
367
Aline da Silva Dias
() pode muito bem ser que (a) ocorra um conjunto de fatos pu-
ramente fsicos do tipo exigido aqui, i.e., o tipo necessrio para
tornar a cincia emprica verdadeira, mas (b) no haja tal coisa
como objetos abstratos e, assim, que no ocorra um conjunto de
fatos puramente platonistas do tipo exigido para a verdade da
cincia emprica. Em outras palavras, pode ser que o contedo
nominalista da cincia emprica seja correto, mesmo que seu con-
tedo platonista seja ficcional. (BALAGUER, 2009)
368
Ficcionalismo e aplicabilidade da matemtica
Referncias
BALAGUER, M. Realism and Anti-realism in Mathematics. In: IRVINE, A.;
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369
Grafos Existenciais e Deduo Natural:
Uma Anlise Comparativa de Sistemas
Lgicos Para o Clculo Proposicional
Introduo
1
Em virtude dos trabalhos pioneiros de Jay Zeman (1964) e Don Roberts (1973), seguidos por
Sun-Joo Shin (2002), A. V. Pietarinen (2006), Frithjof Dau (2008) e John Sowa (2011).
Carvalho, M.; Braida, C.; Salles, J. C.; Coniglio, M. E. Filosofia da Linguagem e da Lgica.
Coleo XVI Encontro ANPOF: ANPOF, p. 370-383, 2015.
Grafos Existenciais e Deduo Natural: Uma Anlise Comparativa
de Sistemas Lgicos Para o Clculo Proposicional
1. Deduo Natural
Os sistemas de deduo natural foram desenvolvidos h exatos
80 anos, independentemente por Stanisaw Jakowski (1906-1965) e
Gerhard Gentzen (1909-1945)2, e tornaram-se dispositivos essenciais
na teoria da prova e tambm no ensino de lgica. Apresentaremos
aqui apenas o mtodo de deduo natural para clculo proposicional
clssico, conforme desenvolvido por Gentzen, em razo do recorte
escolhido para comparao com os GEs de Peirce.
Diferentemente dos sistemas axiomticos da tradio de Frege-
-Russell-Whitehead, a deduo natural no usa, de modo geral, axiomas,
mas regras de inferncias para a demonstrao de teoremas. Essas re-
gras consistem em instrues de manipulao de smbolos lgicos que
permitem passar de uma sentena a outra, acompanhando o raciocnio
passo a passo, das premissas concluso. Trata-se de um mtodo que
possibilita, de acordo com seus autores, analisar o raciocnio dedutivo de
uma forma mais natural e intuitiva (PRAWITZ, 1965, p.7).
Em Investigaes Sobre Deduo Lgica3 (1934-1935), Gent-
zen afirma que a motivao para a criao do clculo de deduo
natural, em contraste com o mtodo axiomtico de prova, foi [...] criar
um sistema formal que seja o mais prximo do raciocnio real [...].
(GENTZEN, 1969, p. 68). De fato, a deduo natural, sobretudo suas
tcnicas de clculo contemporneas, parece mais fcil de ser mane-
2
Tais sistemas foram propostos por Jan ukasiewicz (18781956) em 1926. As descobertas de
Jakowski foram publicadas em 1934 em Sobre as Regras de Suposio na Lgica Forma
(On the Rules of Suppositions in Formal Logic, in Studia Logica 1, 1934 pp. 532) (cf. PRA-
WITZ, 1965).
3
Untersuchungen ber das logische Schlieen, publicado originalmente em Mathematische
Zeitschrift em duas partes, em 1934 e 1935.
371
Jos Renato Salatiel
[I] [E]2
**
(A) A
B B A
A
Quadro 1: Regras de inferncias diretas de Gentzen para lgica clssica.
* Os parnteses indicam que a sentena uma suposio.
** Essa regra de dupla negao rejeitada na lgica intuicionista.
372
Grafos Existenciais e Deduo Natural: Uma Anlise Comparativa
de Sistemas Lgicos Para o Clculo Proposicional
1 1
1 1 Q R E Q R E
P I P I Q I R I
2 PQ P R I PQ P R I
P (Q R) (P Q) (P R) (P Q) (P R)E1
(P Q) (P R) I2
[P (Q R)] [(P Q) (P R)]
373
Jos Renato Salatiel
374
Grafos Existenciais e Deduo Natural: Uma Anlise Comparativa
de Sistemas Lgicos Para o Clculo Proposicional
375
Jos Renato Salatiel
PQ
(P Q)
PQ
Figura 6
(P Q) (Q P)
PQ
Figura 7
376
Grafos Existenciais e Deduo Natural: Uma Anlise Comparativa
de Sistemas Lgicos Para o Clculo Proposicional
3i: Um duplo corte pode ser inse- 3e: Um duplo corte pode ser
rido em qualquer lugar. apagado em qualquer lugar.
Quadro 2: Regras de inferncias do sistema Alfa dos GEs de Peirce.
4
Uma das principais queixas em relao aos Grafos Existenciais refere-se justamente a even-
tuais dificuldades de leitura dos grafos, surgidas mediante a adoo desse mtodo de leitura
tradicional sugerida por Peirce, chamada por ele de endoporutica (Ms. 650, pp. 18-19 apud.
ROBERTS, 1973, p. 39, n. 13. Shin (2002) sugere outros mtodos de leitura, mas para os pro-
psitos deste artigo ser suficiente o citado anteriormente.
377
Jos Renato Salatiel
(P Q) (P R), P Q R
1. 2i
2. 2e
3. 2e
4. 3e
5. 3e
378
Grafos Existenciais e Deduo Natural: Uma Anlise Comparativa
de Sistemas Lgicos Para o Clculo Proposicional
379
Jos Renato Salatiel
1. - 3i
2. - 1i
3. - 2i
4. - 2i
5. - 2e
6. - 2e
380
Grafos Existenciais e Deduo Natural: Uma Anlise Comparativa
de Sistemas Lgicos Para o Clculo Proposicional
Concluses
381
Jos Renato Salatiel
Referncias
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York and Oxford: Oxford University Press, 1996.
DAU, Frithjof. Mathematical logic with diagrams: based on the Existential
Graphs of Peirce. TU Dresden, Germany, January 23, 2008. Disponvel em:
http://www.dr-dau.net/publications.shtml.
GENTZEN, Gerhard. The collected papers of Gerhard Gentzen. M. E. Szabo
(ed.). North-Holland Publishing Company: Amsterdan-London, 1969.
JAKOWSKI, Stanislaw. On the rules of suppositions in formal logic, in Stu-
dia Logica 1, 1934, pp. 5-32. Disponvel em: http://www.logik.ch/daten/jasko-
wski.pdf.
PEIRCE, Charles Sanders. Collected papers. 8 vols. Charles Hartshorne,
Paul Heiss e Arthur Burks (eds.). Cambridge: Harvard University Press, 1931-
1958. [Citado como CP, seguido do volume e do nmero do pargrafo.]
PIETARINEN, A.V. Signs of logic: peircean themes on the philosophy of lan-
guage, games, and communication. Dordrecht: Springer, 2006.
PRAWITZ, Dad. Natural deduction: a proof theoretical study. Stockholm:
6
A estrita identificao entre ambos os signos nos GEs e as propriedades de cada um deles
dentro deste sistema, entretanto, exige maiores esclarecimentos, que sero tambm deixados
para a prxima pesquisa.
382
Grafos Existenciais e Deduo Natural: Uma Anlise Comparativa
de Sistemas Lgicos Para o Clculo Proposicional
383
O Paradoxo do Mentiroso e Lacunas
de Valores de Verdade
1. O Paradoxo do Mentiroso
Carvalho, M.; Braida, C.; Salles, J. C.; Coniglio, M. E. Filosofia da Linguagem e da Lgica.
Coleo XVI Encontro ANPOF: ANPOF, p. 384-402, 2015.
O Paradoxo do Mentiroso e Lacunas de Valores de Verdade
385
Ederson Safra Melo
2
Na teoria da verdade de Tarski, enquanto a condio de adequao material colocada para
salvaguardar a intuio expressa pela mxima aristotlica, as condies de correo formal
so postas para garantir preciso e evitar paradoxos semnticos como o do Mentiroso. Na
prxima seo, vamos evidenciar as condies de correo formal colocadas por Tarski para
evitar o Mentiroso.
3
Cf. HECK, 2012.
386
O Paradoxo do Mentiroso e Lacunas de Valores de Verdade
(T) .
Terceiro excludo (TE):
Introduo da conjuno (+): Se e , en-
to
Princpio da disjuno (-): Se e , ento
TE
Hiptese
2; (T)
3; Def.
2,4; +
Hiptese
6; Def.
7; (T)
6,8; +
1- 9; -
387
Ederson Safra Melo
2. A abordagem tarskiana:
Mentiroso e fechamento semntico
388
O Paradoxo do Mentiroso e Lacunas de Valores de Verdade
8
Cf. TARSKI, 2007, [1969], p.217.
9
A anlise das antinomias mencionadas mostra que os conceitos semnticos simplesmente
no tm lugar na linguagem qual eles se relacionam, que a linguagem que contm sua
prpria semntica, e na qual valem as leis usuais da lgica, inevitavelmente deve ser incon-
sistente (TARSKI, 2007 [1936], p.150).
10
Cf. TARSKI, 2007, [1944], p.168-169.
389
Ederson Safra Melo
390
O Paradoxo do Mentiroso e Lacunas de Valores de Verdade
hierarquia de linguagens L0, L1, L2, L3, ..., em que o predicado verdade
de cada Ln s estar disponvel na linguagem seguinte Ln+1. Nessa hie-
rarquia, haveria diferentes predicados verdade subscritos com o n-
vel da sentena sendo determinado gramaticalmente pelos diferentes
tipos de ndices subscritos. Todavia, Kripke destaca que nossa lngua
contm apenas uma palavra verdade e no uma sequncia de expres-
ses distintas, verdaden.
Kripke reconhece que Tarski no responderia essa objeo justa-
mente por ter dispensado as lnguas naturais como um todo. Porm,
Kripke ([1975], p. 695) considera uma resposta contra a sua objeo de
um suposto defensor de posio tarskiana que poderia replicar dizen-
do que a noo de verdade sistematicamente ambgua: seu nvel
em uma ocorrncia particular determinado pelo contexto de profe-
rimento e pelas intenes do falante. Se imaginarmos que a palavra
verdadeiro em uma determinada lngua ambgua, com predicados
subscritos representando seus diferentes possveis significados, ento
podemos tomar o significado de um predicado como um caso de ho-
monmia. Nessa viso, efetivamente o portugus, ou qualquer outra
lngua natural, conteria infinitamente muitos predicados verdade1,
verdade2,... com diferentes significados. Aqui, maneira de Tarski,
o nvel de qualquer sentena seria determinado gramaticalmente pelo
predicado que ela contm. Um proferimento pode ento ser atribudo
a uma sentena com base no predicado subscrito que o falante preten-
de estar usando.
Na perspectiva de Kripke, essa proposta de inspirao ortodoxa
no seria vivel, j que no possvel que um falante implicitamente
correlacione o predicado-verdade usado a um nvel apropriado. Isso
assim devido ao fato de que, em diversas circunstncias, o nvel que se
deve atribuir ao predicado verdade usado no proferimento de uma de-
terminada sentena depende de fatos que o falante pode no conhecer.
Tomemos o mesmo exemplo usado por Kripke para defender essa ideia:
391
Ederson Safra Melo
Desse modo, por exemplo, Nixon poderia ter dito: Dean um menti-
roso ou Haldeman disse a verdade quando disse que Dean mentiu.
O nvel desses proferimentos pode ainda depender dos enunciados de
Dean, e assim por diante. Com esse exemplo, Kripke evidencia que
se o falante obrigado a atribuir de antemo um nvel a (1), ele pode
no estar seguro acerca de quo alto deve ser o nvel de sua atribuio.
Assim, se o falante, ignorando o nvel dos proferimentos de Nixon,
escolhe um nvel muito baixo, o seu proferimento de (1) falha em seu
propsito. Com base nisso, Kripke argumenta que o nvel de (1) no
depende apenas de sua forma e, tambm, no poderia ser atribudo
antecipadamente pelo falante, e sim que o seu nvel depende de fatos
empricos relativos aos proferimentos de Nixon. Nas palavras de Kri-
pke, isso significa que, em algum sentido, deve se permitir que um
enunciado encontre seu prprio nvel, alto o suficiente para dizer o que
se prope a dizer. No deve ter um nvel intrnseco fixado antecipada-
mente, como na hierarquia de Tarski (KRIPKE, [1975], p. 696).
Kripke destaca que h outra situao que ainda mais difcil de
acomodar dentro dos limites da abordagem tarskiana. Em determina-
das circunstncias, logicamente impossvel atribuir consistentemente
nveis s sentenas relevantes. Novamente com os exemplos de Kri-
pke, suponhamos a circunstncia na qual Dean afirma (1) enquanto
que Nixon, por sua vez, afirma (2):
392
O Paradoxo do Mentiroso e Lacunas de Valores de Verdade
15
Kripke usa a expresso abordagem ortodoxa para se remeter ao tratamento tarskiano.
16
Na prxima seo vamos fazer um esboo da abordagem kripkeana.
17
Cf. MELO, 2014, para as intuies subjacentes a teoria de Kripke.
393
Ederson Safra Melo
18
Cf. KRIPKE, [1975], p. 701.
394
O Paradoxo do Mentiroso e Lacunas de Valores de Verdade
Com base nas intuies expostas acima, (N) nunca ser chamada
de verdadeira. Mas, nosso suposto aprendiz no pode expressar isto
dizendo (N) no verdadeira. Essa afirmao entraria diretamente
em conflito com a estipulao de que se deve negar que uma senten-
a verdadeira precisamente sob a circunstncia em que se negaria a
prpria sentena (KRIPKE [1975], p. 701). Como se percebe, a noo
de sentena fundada exprime a relao de dependncia semntica: o
status da afirmao de que uma sentena verdadeira depende
do status prvio (SP) de Para tentar deixar mais claro, considere
o narrador de verdade como sendo: . Temos que
para afirmar que (N) verdadeira isto , precisamos
do SP N, ou seja, . O mesmo ocorre com o Mentiro-
so : tem como SP
que, por seu turno, tem como SP , isto ,
. Temos, portanto, que a sentena do narrador de verdade e a senten-
a do Mentiroso so infundadas. Mas, ento, qual a diferena entre
esses dois tipos de sentenas? A resposta para essa pergunta no to
direta. Para respondermos isso, vamos precisar da noo de ponto fixo
na abordagem de Kripke.
395
Ederson Safra Melo
396
O Paradoxo do Mentiroso e Lacunas de Valores de Verdade
21
Kripke define outros pontos fixos, diferentes do minimal, como o ponto fixo maximal e o
ponto fixo intrnseco. No faremos consideraes desses outros pontos fixos, na medida em
que isso sairia do escopo deste texto.
Para uma apresentao das provas da existncia dos pontos fixos, ver HECK, R. Kripkes Theory
of Truth, disponvel em: http://www.frege.org/phil1890d/pdf/KripkesTheoryOfTruth.pdf
397
Ederson Safra Melo
22
Para uma ampla discusso sobre o problema da vingana, ver JC BEALL. Revenge of the Liar:
New Essays on the Paradox. Oxford University, Press. 2007.
23
Cf. BEALL e GLANZBERG, 2014, p. 21.
24
Somes (1999, p164) oferece um exemplo bem elucidativo. O autor estabelece as convenes
lingusticas do termo smidget explorando a ideia de predicados parciais.
398
O Paradoxo do Mentiroso e Lacunas de Valores de Verdade
6. Consideraes finais
Como apontamos, ao excluir as linguagens semanticamente fe-
chadas, Tarski formula uma hierarquia de linguagens estratificada em
que o predicado-verdade de cada linguagem estar disponvel apenas
em outra linguagem mais rica. Todavia, como vimos atravs dos argu-
mentos de Kripke, essa estratgia produz alguns resultados que no se
adequam a algumas intuies de uso do termo verdadeiro em lnguas
naturais. Diferentemente da abordagem de Tarski, a proposta de Kri-
pke usa apenas um predicado-verdade que cresce at alcanar o ponto
fixo, e no vrios predicados desse tipo dispostos em uma hierarquia
de linguagens. Outra caracterstica bastante atraente na abordagem de
Kripke fato dela garante importantes intuies, na medida em que
se aproxima das lnguas naturais que, como sabemos, so semantica-
mente fechadas. Como vimos, Kripke salvaguarda importantes intui-
es de uso do predicado verdadeiro ao admitir lacunas de valores
de verdade. Alm disso, outros fenmenos, diferentes do Mentiroso,
motivam o carter gap das lnguas naturais.
Diante disso, podemos nos perguntar se a semntica para lin-
guagens formais deve levar em conta intuies de uso do predicado
verdadeiro. Talvez algum poderia responder que no, alegando que
podemos ter objetivos puramente formais. O problema agora est em
entender a expresso puramente formal. Vamos conceder, por um
momento, como muitos autores defendem, que Tarski tinha objetivos
25
Para motivaes de lacunas de valores de verdade, ver Blamey, S. Partial Logic. Handbook
of Philosophical Logic Volume III. Reidel 1986, pp. 275- 285.
399
Ederson Safra Melo
400
O Paradoxo do Mentiroso e Lacunas de Valores de Verdade
Referncias
401
Ederson Safra Melo
402
O Paradoxo do Mentiroso Uma comparao
de hierarquias semnticas
Carvalho, M.; Braida, C.; Salles, J. C.; Coniglio, M. E. Filosofia da Linguagem e da Lgica.
Coleo XVI Encontro ANPOF: ANPOF, p. 403-420, 2015.
Guilherme Arajo Cardoso
1
Estou ignorando a distino entre enunciados, sentenas e proposies. A princpio, senten-
as no dizem nada (so sons ou smbolos concatenados), apenas o uso de uma sentena em
uma circunstncia determinada diz algo, refere-se a algo e passvel de uma atribuio de
valor verdade. Seguindo Kripke (1975), adoto a estratgia de me manter neutro sobre tais
distines, adotando as sentenas como relata legtimos da relao de referir e como portado-
res de verdade (truth bearers). Nenhum dos resultados aqui mencionados so alterados pela
possvel ilegitimidade dessa posio, j que podemos facilmente interpretar as expresses
uma sentena verdadeira e refere-se a si mesma como aquilo que dito por
verdadeiro e aquilo que dito por refere-se a si mesmo.
404
O Paradoxo do Mentiroso Uma comparao de hierarquias semnticas
referido pelo indexical esta. (3), por outro lado, nomeia diretamente a
sentena
(3) uma sentena autorreferencial, que, por sua vez, afirma que (3)
autorreferencial, ou seja, (3) diz de si mesma que autorreferencial.
Poderia parecer que a autorreferncia depende sempre,
enquanto fenmeno das linguagens naturais, de coisas extrnsecas
sentena ela mesma, sejam circunstncias empricas favorveis ou
mesmo certo uso das expresses ou escolha de nomes. possvel
mostrar, entretanto, que a autorreferncia pode ser obtida mesmo em
linguagens estritamente formais cuja interpretao fixada de maneira
estvel e onde termos indexicais no ocorrem. Este o significado de
um importante resultado destacado por Carnap2 como passo essencial
na derivao dos teoremas de incompletude de Gdel e o teorema da
indefinibilidade de Tarski, o Lema Diagonal.
Lema Diagonal: Seja uma teoria de primeira ordem clssica
que representa todas as funes recursivas e () uma frmula de
em que apenas a varivel ocorre livre. Existe, ento, uma sentena
de , tal que: .
No convm detalhar a prova do Lema neste texto, mas podemos
ver claramente que ele uma contraparte formal da autorreferncia.
Para qualquer frmula da linguagem, teremos uma sentena
que materialmente equivalente sentena que diz de que ela
, ou seja, em certo sentido, como se dissesse de si mesma
que ela .
Algumas observaes so necessrias. Em primeiro lugar, por
uma teoria de primeira ordem clssica entendo qualquer extenso da
Lgica de Primeira Ordem com Identidade ( ), onde temos,
para toda sentena da linguagem de : i) Princpio da Bivalncia
(PB) ou . ii) Princpio do Terceiro Excludo
(PTE) . iii) Princpio de No-Contradio (PNC)
. Uma teoria dita inconsistente se ela no
obedece tal princpio, ou seja, se ela inclui contradies verdadeiras.
iv) Princpio de Exploso (PE)
2
A essncia do procedimento utilizado no Lema Diagonal foi explorada tanto por Tarski,
quanto por Gdel em seus importantes resultados metalgicos de limitao. Foi Carnap,
entretanto, no The Logical Syntax of Language (1934), quem caracterizou o lema na maneira
como irei introduzir aqui.
405
Guilherme Arajo Cardoso
406
O Paradoxo do Mentiroso Uma comparao de hierarquias semnticas
Considerando as frmulas , ,
, e , vemos
que a existncia das sentenas em uma linguagem
que inclui tais frmulas e representa as funes recursivas garantida
pelo Lema Diagonal Forte (resultam de diagonalizarmos sobre tais
frmulas). Intuitivamente, entretanto, tais sentenas no se comportam
de acordo com nossas expectativas clssicas. Supor que
verdadeira nos levaria a admitir que no verdadeira (admitir
5
4
Ou seja, o seguinte esquema de teoremas
, para todos os , onde e so frmulas da linguagem idnticas
exceto pela substituio em ambas, respectivamente, de por e por .
5
Algumas abordagens no-clssicas distinguem falsa de no verdadeira. Para os
meus propsitos tal distino irrelevante, como dito na nota 4.
407
Guilherme Arajo Cardoso
Pois
6
. Um modo mais direto de explicitar a prova
disso utilizando o PTE, porm essa consequncia vale mesmo em lgica minimal, pois
depende apenas das regras de introduo e eliminao dos conectivos sentenciais ( ,
, , ), tratando como : Primeiro provamos (ou seja,
) por , assumindo como hiptese e derivando da . Agora obtemos
(de e , por ).
408
O Paradoxo do Mentiroso Uma comparao de hierarquias semnticas
Esquema :
7
Note que , para alguma sentena , independente de
ser interpretado como predicado verdade, desde que represente as funes recursivas
(de acordo com o Lema Diagonal).
8
o predicado verdade da linguagem de , portanto, uma frmula da
linguagem de sobre a qual podemos diagonalizar.
409
Guilherme Arajo Cardoso
410
O Paradoxo do Mentiroso Uma comparao de hierarquias semnticas
Negao:
i) verdadeira sse falsa.
ii) falsa sse verdadeira.
iii) De outro modo, indefinida (no tem valor de verdade).
Disjuno:
i) verdadeira sse verdadeira ou
verdadeira.
ii) falsa sse e so ambas falsas.
iii) De outro modo, indefinida (no tem valor de
verdade).
Quantificador Universal:
i) verdadeira sse
verdadeira, para todo objeto do domnio .
11
411
Guilherme Arajo Cardoso
Capture:
Release:
412
O Paradoxo do Mentiroso Uma comparao de hierarquias semnticas
12
reflexiva em sse para todo . antissimtrica em sse,
todo caso em que e , temos que . transitiva em sse,
quando e , ento temos .
413
Guilherme Arajo Cardoso
13
Tambm podemos provar o fato mais geral, que vale mesmo quando no enumervel,
mas vamos nos restringir verso mais fraca, pela economia de complexidades tcnicas.
14
um ordinal sucessor sse ou existe um ordinal , tal que,
. De outro modo, um ordinal limite. Exemplos de ordinais limite so:
, etc.
15
Irei apenas expor o argumento informal.
414
O Paradoxo do Mentiroso Uma comparao de hierarquias semnticas
16
A rigor, o conjunto de todos os ordinais enumerveis no ele mesmo enumervel, e a classe
de todos os ordinais no um conjunto, uma classe prpria, pois se fosse um conjunto, se-
ria ela mesma um ordinal e pertenceria a si mesma. Entretanto, todo ordinal bem ordenado
por , o que implica (entre outras coisas) que irreflexiva neste conjunto, portanto, no
pode pertencer a si mesmo. Uma prova deste fato pode ser encontrada em Hrbacek e Jech
(1999).
17
Uma enumerao de um conjunto uma funo sobrejetora dos naturais neste conjunto.
Note que se um conjunto enumerado por uma funo , todos os seus subconjuntos
so enumerados por partes de .
415
Guilherme Arajo Cardoso
416
O Paradoxo do Mentiroso Uma comparao de hierarquias semnticas
417
Guilherme Arajo Cardoso
418
O Paradoxo do Mentiroso Uma comparao de hierarquias semnticas
Referncias
419
Guilherme Arajo Cardoso
420
Por detrs do roblema das Redues
Introduo
Carvalho, M.; Braida, C.; Salles, J. C.; Coniglio, M. E. Filosofia da Linguagem e da Lgica.
Coleo XVI Encontro ANPOF: ANPOF, p. 421-450, 2015.
Antonio Marmo da Cunha Oliveira
O prprio pluralismo lgico, todavia, que no se desenvolveu sem reaes, tambm objeto de
estudo dos lgicos e j levantou muitas questes e teses importantes a investigar. De plano,
colocou em causa a tese do absolutismo lgico, segunda a qual deve existir provavelmente no
mais que uma lgica certa. No h argumentos cabais contra ou a favor da viso absolutista ou da
sua rival, a relativista. Alm disso, h vises intermedirias, como a tese da primazia da lgica
bivalente sobre as demais, ou seja, de que as demais lgicas so construdas de algum modo a
partir dela, ou a tese da proeminncia da lgica clssica, isto , dentre todas esta seria a mais
importante. Aqui no julgaremos o mrito dessas teses objetivando resolver as controvrsias em
que se inscrevem. Muito mais modestamente, queremos mostrar que certos modos de abordar
tais questes no so adequados sequer para as discutir, tampouco podem resolvlas como
alguns pretendem. Mostraremos que certos argumentos oferecidos no tm a fora que seus
proponentes imaginam, notadamente como os de Roman Suszko.
Por outras palavras, o presente trabalho procura salutarmente criticar algumas ideias duvidosas,
mas cada vez mais repetidas nos meios lgicos, que supostamente teriam suporte em um tipo de
procedimento para comparar duas ou mais lgicas. Mais especificamente, queremos
desmistificar a ideia de que, por meio de discutvel artificio, j se teria provado que toda lgica
no fundo bivalente e clssica. No atacamos as teses do absolutismo, da primazia ou da
proeminncia da lgica clssica em si, mas sim a noo de que tudo se reduz a questes
instrumentais. Na seo 1 trataremos do pano de fundo mais geral da nossa discusso, que a
relao entre os aparatos ditos instrumentais e as discusses doutrinrias assim na construo
como na comparao dos sistemas lgicos. Nas sees 2 e 3 apresentamos, de modo mais
especfico, algumas consideraes sobre os instrumentais concernidos, nomeadamente a
concepo e classificao dos valores alticos e, bem assim, os mtodos comparativos lgicos.
No pretendemos evidentemente elaborar uma lista exaustiva dos sistemas lgicos e dos
recursos para sua comparao, mas apenas os poucos que nos parecem mais relevantes. Nas
sees 4 e 5 analisamos a articulao tentativa dos argumentos de Suszko contra as lgicas
multivalentes. Das sees 3 a 5, alis, mostramos passo a passo como o uso de instrumentais
desconsiderando as questes doutrinrias no engendra resultados fiveis. Aps estas anlises,
colocamos, na seo 6, o contexto histrico da questo, inclusive apresentando desenvolvimentos
ulteriores divergindo da Tese de Suszko. Ao contrrio de outros trabalhos a abordar os mesmos
temas, aqui preferimos explicaes mais simples para, sobretudo, clarificar ao invs de
obscurecer os pontos, atravs de uma linguagem mais acessvel.
Many such books, excellent as they often are in their expositions of the technical and
systematic aspects of logic, deal comparatively sketchily, and often rather misleadingly, with
the relations between the formal systems they expound and the logical features of ordinary
discourse. As a result of this omission, the true character of formal logic itself is apt to be left
obscure.
422 3
Por detrs do roblema das Redues
I have more than once heard philosophical arguments in which a technical result-sometimes
mathematically garbled, sometimes technically sound-has been cited as if it directly led to a
philosophical conclusion without the necessity of other premisses. It is not even always clear
whether or not the proponent regards his argument as enthymematic. Yet when the argument
is interesting, it is as often the suppressed philosophical premisses as it is the mathematical
result, which ought to be the focus of the dispute. And, of course, readers should take care not
to be cowed by complicated-sounding symbolic argument in the manner of the legendary
Diderot.
Logical investigations can obviously be a useful tool for philosophy. They must, however, be
informed by a sensitivity to the philosophical significance of the formalism and by a
generous admixture of common sense, as well as a thorough understanding both of the
basic concepts and of the technical details of the formal material used. It should not be
supposed that the formalism can grind out philosophical results in a manner beyond the
capacity of ordinary philosophical reasoning. There is no mathematical substitute for
philosophy.
Um exemplo deste tipo de uso filosoficamente pouco consciente de meios tcnicos a j muito
conhecida tese de Suszko que discutiremos a partir da quarta seo.
Nesta seo oferecemos alguns subsdios para entender que o bom uso pelos lgicos de
instrumentos e conceitos tcnicos, seja na construo, aplicao ou comparao de sistemas
lgicos, ou em outra tarefa afim, no cego, nem arbitrrio ou aleatrio, e menos ainda
filosoficamente neutro. Comeamos por explicar que a construo do pluralismo lgico se deveu
diferentes vises sobre alguns temas filosficos relevantes. Depois de brevemente pincelar as
divergentes vises filosficas subjacentes s diferentes lgicas propostas, colocamos ademais a
impossibilidade de cancelar tais divergncias por meio da pura e simples troca de alguns
instrumentos tcnicos por outros.
1.2UmParadoxo/ProblemaqueDividiuosLgicos
Deveras, embora reconhecido como o instaurador da lgica clssica bivalente, talvez ter sido o
prprio Aristteles quem primeiro reconheceu um limite s suas contribuies para a lgica no
problema dos futuros contingentes, outrossim chamado de problema da batalha naval, que se acha
na sua obra Da Interpretao. O problema est associado ao princpio do terceiro excludo, uma
das trs leis bsicas do pensamento. Muito se discute acerca de qual seria a exegese correta do
texto referido, porm, vale observar que posteriormente houve (1) quem tentasse diretamente
resolver o problema e (2) quem se dedicou a examinar as suas consequncias gerais mais
graves, ou seja, buscaram saber at que ponto tal problema colocava a prpria lgica aristotlica
4 423
Antonio Marmo da Cunha Oliveira
em xeque. Em todo caso, ambas reaes inevitavelmente requereram muitas discusses acerca
de quais deveriam ser os princpios da lgica como disciplina. Assim, historicamente houve
muitos lgicos e filsofos (i.) que, inobstante esse problema, procurassem desenvolver os
princpios do Organon, donde veio tradio da lgica clssica, e (ii.) tambm outros que, a partir
do mesmo problema, procurassem desenvolver ao menos uma dentre duas linhas de respostas, a
saber: [a] ou recorrendo noo de modalidades, donde vieram as lgicas modais, [b] ou
abandonando o chamado binarismo em favor do desenvolvimento das lgicas multivalentes.
Alm dessas, outra vertente lgica, representada notadamente pelo intuicionismo, chegou
mesmo a propor a abolio do princpio do terceiro excludo e a partir disso refazer a lgica
tradicional.
Para entender os fundamentos das lgicas multivalentes, ou seja, para se ter uma ideia geral do
que significou o desenvolvimento destas, podemos, em poucas linhas, recolocar o problema da
batalha naval como um paradoxo. Considere as asseres:
1.1. Hiptese. .
Ora, embora seja defensvel que as proposies a, b e c acima de fato se excluam, (1.1) no um
resultado possvel na forma da lgica clssica. 1 Isso se mostra pelas valoraes respectivas:
Suponha que a disjuno exclusiva seja dada pela diferena em mdulo e que tenhamos para o
caso mencionado o seguinte: 1, 1, com o sinal denotando a valorao da
frmula. ogo, , donde se conclui que . as, se , ento , apesar de
termos inicialmente suposto que . Eis o que podemos chamar provisoriamente de paradoxo
das inequivalncias.2
Podese arguir, do ponto de vista das lgicas multivalentes, que o paradoxo da equivalncia
acima e o problema dos futuros contingentes de Aristteles sejam um mesmo tema para
pesquisa, porm descritos de formas algo diferentes. So paradoxos ou problemas relativos a
julgamentos aparentemente conflitantes sobre as mesmas proposies, ou sobre proposies
equivalentes. Como bem a propsito comenta (Deleuze, 1969):
Le bon sens est l'affirmation que, en toutes choses, il y a un sens dterminable; mais le
paradoxe est l'affirmation des deux sens la fois.
424 5
Por detrs do roblema das Redues
1.2. Hiptese.
Deveras, tanto no dia anterior ao sismo quanto no seguinte, julgarseia vlida a equivalncia em
(1.2). No entanto, a 31 de outubro no se podia julgar nem falsa nem verdadeira p, isto , tratava
se de uma proposio indeterminada, enquanto q, a 2 de novembro, teria de ser ou falsa ou
verdadeira.
Qui, nenhuma das lgicas na literatura tenha logrado plenamente justificar como se podem
atribuir diferentes valores alticos a uma mesma assero ou a asseres intuitivamente tidas
como equivalentes, como no caso de (1.2). Mas, o esforo para resolver o paradoxo criou uma
riqueza para os lgicos. Entre tantas lgicas, as multivalentes oferecem meios de descrever e
possivelmente afrontar o problema/ paradoxo acima ou definindo as valoraes das proposies
e frmulas como aplicaes multivaloradas (ou conjuntos de valores ao invs de somente valores
individuais), ou a ampliando o nmero de valores alticos para alm de dois, e bem assim
diversas formas de reinterpretar os conectivos proposicionais. Estas permitem reconhecer mais
de um tipo de implicao, de conjuno (normasT), disjuno (conormasT), equivalncia, etc., e
assim mostram a relatividade dos conceitos de tautologia e contradio e das relaes de
consequncia.
1.3.(Im)PossibilidadedeReconciliaoentreDiferentesLgicas
Aqui esposamos a tese de que as diversas reaes ao problema da batalha naval ou paradoxo das
inequivalncias, medida que refletem vises filosficas to distintas, ainda que sejam
comparveis, no podem coalescer. Destarte, os sistemas lgicos forjados a partir delas no
podem por meios naturais ser reduzidos uns aos outros, ou seja, no h meios seguros para os
identificar totalmente ou, sem prejuzos, igualar. Alis, as referidas diferenas filosficas j se
manifestam na construo dos meios que os lgicos empregam, mesmo no caso de conceitos
emprestados matemtica.
Para exemplificar tais afirmaes, vejamse os conceitos que explicamos na seo subsequente:
nela j se observa que a existncia de funes caractersticas no exclui a de conjuntos difusos ou
de funes de pertinncia. Ou seja, ambas coexistem (notadamente na matemtica) e no faz
sentido querer justificar a excluso de uma ou outra (com base pretensa em argumentos
matemticos). Mas, h outra questo a colocar: o que, afinal de contas, significaria uma proposta
tal que definisse uma funo caracterstica para determinar um conjunto difuso? Ou ainda, qual
o sentido de querer tratar todo conjunto difuso como ordinrio? No seria isso minimamente
algo estranho? Diremos aqui que filosoficamente esse tipo de proposta no faria sentido e no
tem como prosperar, porque apenas um modo para desentender as coisas, i.e., um meio para
distorcer os fundamentos e preocupaes filosficos da lgica difusa por um prisma inadequado.
De um modo geral, h que se levar em conta um ponto fulcral sobre as lgicas: o de que elas no
so desprovidas de significado. Ou seja, no pode haver um tipo de lgica puramente abstrata, ou
to austeramente formal a ponto de ser nointerpretada. De fato, podem existir sistemas
formais no interpretados em diversos campos de estudo, como, por exemplo, a geometria pura
por contraste com a geometria fsica (isto , fisicamente interpretada), ou os sistemas de clculo
6
425
Antonio Marmo da Cunha Oliveira
aritmtico, porm tais sistemas puros no se qualificam como sistemas lgicos. S se pode falar
de um sistema como uma lgica, se, a partir de algum momento, se desenvolve sua interpretao
semntica para este, envolvendo conceitos como significado e verdade de proposies, as
relaes de inconsistncia e consequncia, etc. Assim, um sistema lgico deve portar uma
estrutura de inferncia e raciocnio, mas de modo a sistematizar algumas intuies informais
iniciais. Tais intuies devem, sempre que possvel, enunciarse ou ser enunciveis na forma de
alguns princpios lgicos que podemos chamar de pressistmicos. Esses princpios
pressistmicos fazem parte da doutrina lgica que norteia a construo das ferramentas que os
podem sistematizar.
Pois bem, dadas as consideraes acima, podemos agora dizer em que sentido dois sistemas ou
duas famlias de sistema se diferenciam, pois, certamente, algumas diferenas podem gerar num
conflito real entre dois ou mais sistemas lgicos, enquanto outras tantas apenas aparentemente
conflitam. As primeiras correspondem aos aspectos doutrinrios das lgicas e as ltimas aos
instrumentais por elas utilizados.
Por outro lado, quando dois ou mais sistemas se baseiam em ferramentas conceituais diferentes
ou descrevem procedimentos diferentes para empreender uma tarefa, diremos que estes diferem
apenas com relao aos seus instrumentais. Diferenas instrumentais representam diferentes
abordagens relativas somente a assuntos prticos, ou seja, s coisas a fazer e no entre teses
diferentes. Donde no se pode afirmar que uma tese, verdadeira de acordo com um sistema, seja
falsa de acordo com outro simplesmente por conta das diferenas instrumentais entre eles. Mas,
o contrrio pode frequentemente acontecer, isto , uma discusso limitada s instrumentalidades
pode mascarar um conflito entre teses subjacentes.
Em suma, por esse prisma, os conflitos doutrinrios so reais, mas os conflitos entre
instrumentais so aparentes. Assim, quando diferentes lgicas parecem confrontarse,
precisamos de indagar se o que est em jogo um conflito doutrinrio ou uma diferena de
instrumental. No caso dos conflitos doutrinrios, plausvel discutir qual doutrina certa, se
supusermos que deva haver pelo menos uma seta. No caso de diferenas instrumentais, j no
far sentido esse tipo de discusso: a o que se deve avaliar qual opo se mostra mais eficaz
para atingir os propsitos que se tm em mente. Exames mais prximos dos sistemas lgicos
revelam que, medida que os sistemas discordam apenas no seu instrumental e no nas suas
doutrinas, sempre possvel encarlos como fragmentos de um mesmo sistema mais inclusivo.
Por outro lado, o choque doutrinrio no se poder resolver pelo caminho inverso, ou seja, no
pelas similaridades ou redues instrumentais que este necessariamente se pode diluir.
Conforme explica (Kripke, 1976):
Of course, an argument, once it is stated, can be refuted only after a detailed examination
of it. It is not sufficient to dismiss the methodology as insane or counterintuitive, even
though my plea is that commonsense considerations ought to guide technical work more
than they do.
Enfim, com isso queremos dizer que uma mesma doutrina pode promover a harmonizao entre
diferentes instrumentais, mas a tentativa de usar instrumentais para dissolver conflitos
doutrinrios no tem slida perspectiva. Um exemplo disso ser o caso que analisaremos na
Seo 4.
426 7
Por detrs do roblema das Redues
Na seo subsequente tentaremos, ainda que parcialmente, apresentar aspectos filosficos dos sistemas
multivalentes, mostrando que ideia de haver trs ou mais valores alticos no um mero artefato ou
fico tcnica para efetuar clculos, mas tem fundamento e significado profundos.
O tema da terceira seo abrange minimamente dois aspectos da comparao entre lgicas que a
localizam dentro dos debates filosficos: (i.) saber as motivaes para a comparar duas ou mais
lgicas, e (ii.) saber como as comparar de modo seguro, ou seja, sem mascarar as diferenas ou
semelhanas entre elas. Parecenos que a maior parte dos problemas relativos a (ii.) comeam j
pela falta de conscincia relativa a (i.). A exposio na segunda e na terceira sees preparam o
terreno para a discusso na quarta e na quinta.
2.1EntreVerdadeeFalsidadehmaiscoisas
Antes de passarmos aos mtodos de comparao que nos concernem, convm abordar a noo de
valores altico e as noes a eles subjacentes, usualmente pouco explanadas. Para tentar definir o
que sejam verdade e falsidade, sempre se pode tomar qualquer uma dessas como noo
primitiva. Isto no garante que no se definam outras noes mais a partir delas. Ao contrrio,
em princpio nada obsta que se possa pensar em uma noo mais fraca ou aparentada de
verdade, como a de verossimilhana. Tampouco a oposio entre falsidade e verdade impede que
a cada uma delas se associe um conjunto de muitos valores alticos e no apenas um. Para a parte
instrumental, alis, possvel propor regras de formao dos valores alticos. O mais importante
ser, todavia, depois organizlos adequadamente na forma da doutrina que os norteia. Enfim, h
muitos modos de formular e responder as questes filosficas atinentes e de implementar tais
respostas no formato de sistemas de valores alticos.
Dentre muitas hipteses diferentes a cogitar, parecenos razovel primeiro comear por aquela
segundo a qual a verdade um caso mais forte ou particular de verossimilhana. Por essa mesma
maneira relacionamos as noes de falsidade e inverossimilhana. Se aceitarmos essa viso,
ento temos de ser capazes de capturar no nosso instrumental no apenas a verossimilhana e a
inverossimilhana, mas tambm falar das proposies que no so verossmeis, mas tampouco
inverossmeis.
2.2FormaoeClassificaodosValores
Assim como nas lgicas multimodais so necessrias as regras de formao dos vrios
operadores modais, tambm nas lgicas multivalentes os valores alticos devem ser dados por
427
8
Antonio Marmo da Cunha Oliveira
2.1. 2
a. Para cada proposio p, ; ; tal que 1,0;
b. ; ; ; ; ;
c. Seja C um conectivo binrio: ; ; ; ; ; ; .
p 1; 1; 1 1; 1; 0 1; 0; 0 0; 0; 0 0; 0; 1 0; 1; 1
p 0; 0; 0 0; 0; 1 0; 1; 1 1; 1; 1 1; 1; 0 1; 0; 0
Assim, os princpios para formao dos valores alticos podem variar, ainda que a doutrina
subjacente seja a mesma. Mas, a classificao dos valores faz parte dos prprios princpios meta
lgicos e no pode ser descaracterizada salvo se no for compreendida corretamente.
3 Vide (Jaskowski, 1936). Outra alternativa pensar que a lgica em tela seja equipada com produtos
de conectivos binrios, como, por exemplo, ; .
4 Cf. (Scott, 1974): Is not the division of statement types into the designated and undesignated [sic] just
a truth valuation?
428 9
Por detrs do roblema das Redues
bivaalentes. Como o argumentam mos no comeeo dessa seo, essa viso no bastari ria para descrrever
as relaes de oposio
o entrre verossimillhana e inverossimilhan
na. Na verdaade, valores anti
designados e no odesignados no so neceessariamentee o mesmo.
2.2. Esquem
ma A.
2.3Observa
esFinaisdestaSeo
A maneira de definir a valora ao das prop posies e f rmulas e bem m assim os cconectivos lgicos
resu es doutrinrrias. Consideerando especcificamente oo caso das lgicas
ulta diretameente das op
multtivalentes, su o bivalente no se limitam
uas principais diferenas filosficas com a tradi
cren
na de quan ntos podem ser os valorres alticos, mas, igualm mente, envollvem concep pes
diferrentes de op
peraes lgiicas. Conform
me explica (M McGee, 1996 6), a tradioo bivalente busca
b
5 Oss valores anti-designados s o geralmentee indicados peelo sinal da subtrao e os ddesignados peelo da
adio no comeoo dos trabalhoss, mas depois essa notao pode ser omittida.
6 En ntre os quaiss, (Sesmat, 1951), (Blanch ch, 1953), (B Bziau, 2012 2b), (Dale & Bziau, 201 12) e
(Wlenski, 2009)..
10
429
Antonio Marmo da Cunha Oliveira
formular operaes lgicas que produziro resultados invariantes com relao aos valores dados
a constituintes de uma frmula. J as lgicas multivalentes tendem a buscar funes de
agregao, ou seja, que preservam cotas mximas e mnimas e respeitam a monotonicidade7.
Pensemos em um conjunto U e sobre a questo (doutrinria primeiramente) do que significa um
elemento pertencer a U (ou a um subconjunto seu). Dizemos usualmente que um subconjunto
ordinrio A de um conjunto U se determina por uma funo indicadora ou caracterstica A :
2.3. x 1 se x A
A
0 se x A
Desafortunadamente, no poderemos mais estendernos sobre este tpico, razo pela qual,
recomendamos para uma ulterior discusso a leitura de (Bziau, 2012a) e (Bziau, 2010), entre
outros. Na prxima seo explicamos as razes pela qual os meios para comparao entre lgicas
devem respeitar e reconhecer ao menos as relaes esquematizadas no hexgono acima.
3.1DoMtododasSupresses
Vrios mtodos conhecidos e imaginveis h para comparar lgicas, como, por exemplo, alguns
se baseiam em tradues possveis, feitas segundo regras que relacionam enunciados de uma
linguagem a outra. Todos tm suas vantagens e limitaes, e tampouco se descartam possveis
equivalncias entre dois ou mais deles. Mas, na presente Seo esquematizamos, do modo bem
simples, apenas alguns deles. Deveras, as comparaes bemsucedidas tomam alguns dentre tais
procedimentos, mas no todos, aplicandoos segundo certos pressupostos e no cega ou
livremente. Geralmente possvel interpretar a comparao entre lgicas como uma construo
7 Cf. (Beliakov, Pradera, & Calvo, 2007).
8 Com base em tal noo que se diz que forma que subconjuntos ordinrios so casos especiais de
conjuntos difusos.
9 Obviamente, para um mesmo conceito difuso, diferentes funes de pertinncia podem ser
consideradas e escolher uma ou outra depende de contexto.
430 11
Por detrs do roblema das Redues
(tentativa) de hierarquias, embora, do nosso ponto de vista, tal construo possivelmente seja
muito mais o resultado de uma investigao do que propriamente um caminho a percorrer.
Aqui mais nos interessam os meios que permitem a comparao entre lgicas tanto de valncias
iguais quanto diferentes. O modo mais evidente de comparar dois ou mais sistemas lgicos
consiste em cotejar tautologias (isto , frmulas bemformadas que sempre tomam um valor
designado num sistema) e/ou contradies (aquelas que sempre tomam um valor antidesignado
no mesmo sistema). Se todas as tautologias em um sistema X so tautologias em outro Y, h que
se afirmar que X est Tcontido em Y, isto , contido por tautologias. Alternativamente, podemos
tambm cogitar se Y Ccontm X (quer dizer, contmno por contradies). Ou ento, os sistemas
so disjuntos. A chamada continnciaT (alternativamente, continnciaC), todavia, no indica
como se pode obter um sistema a partir de outro. Outros procedimentos comparativos, por outro
lado, como os que envolvem supresses, compresses e/ou expanses, precisamente buscam
engendrar sistemas lgicos a partir da modificao de outros e podem ser relacionados
continnciaT.
3.1. Exemplo: A supresso abaixo descrita, aplicada a um sistema tetravalente I* com vistas
ao sistema K3 de Kleene.
Para a compreenso do exemplo em tela e dos demais posteriores, damos as tabelas de K3:
Sistema K3 de Kleene
p p p\q
T I1 F T I1 F T I1 F T I1 F
T F T T I1 F T T T T I1 F T I1 F
I1 I1 I1 I1 I1 F T I1 I1 T I1 I1 I1 I1 I1
F T F F F F T I1 F T T T F I1 T
Sistema tetravalente I*
p p p\q pq
T I1 I2 F T I1 I2 F T I1 I2 F T I1 I2 F
+T F +T T I1 I2 F T T T T T I1 I2 F T I1 I2 F
I1 I1 I1 I1 I1 I2 F T I1 I1 I1 T I1 I2 I1 F I1 I1 I1
I2 I1 I2 I2 I2 I2 F T I1 I2 I2 T I1 I1 I1 I2 I1 I1 I1
F T F F F F F T I1 I2 F T T T T F I1 I1 T
431
12
Antonio Marmo da Cunha Oliveira
De resto, podese afirmar que a continnciaS por supresses) fora a continnciaT (por
tautologias) reversa. Por exemplo, o fato de que 3 Scontm C2 implica que 3 est Tcontido
em C2. Tal fato previsvel: se para algumas tabelas de verdade uma frmula toma um valor
altico designado sempre, ento deve continuar a tomar o mesmo valor nas tabelas aps a
supresso.
3.2CompresseseIdentificaes
O mtodo de comparao por supresses tem, entretanto, significantes limitaes.
Primeiramente, vale observar, que esse mtodo no garante que sempre a tabela resultante ser
uma tabela de um dos sistemas em comparao, ou seja, podese, por ele, concluir que os
sistemas no guardam uma relao de continncia entre si. Outro fato notvel que a
continnciaT reversa, nomeadamente, o fato de que X est Tcontido em Y, no acarreta a
continnciaS, ou seja, que X Scontm Y. Podese ver por um exemplo, que no ser o caso:
3.2. Exemplo: Existe na literatura uma famlia de sistemas , referida como Variante da
Sequncia Padro Sn. As tautologias do sistema so todas tautologias de K3, ou seja,
Tcontido em K3. as, no Scontm K3, como se v prontamente pelas tabelas
envolvidas.
p p pq
T I1 I2 F T I1 I2 F T I1 I2 F T I1 I2 F
+T F +T T I1 I2 F T T T T T I1 I2 F T I1 I2 F
I1 I2 I1 I1 I1 I2 F T I1 I1 I1 T I1 I2 I2 F I1 I1 I2
I2 I1 I2 I2 I2 I2 F T I1 I2 I2 T I1 I1 I1 I2 I1 I1 I1
F T F F F F F T I1 I2 F T T T T F I2 I1 T
H outro meio, porm, pelo qual poderamos buscar obter tabelas de um sistema X a partir de
outro Y, tentando identificar os valores de Y com os de X. Esse mtodo o das compresses
naturais ou identificaes e aplicase no diretamente s tabelas, mas primeiro a conjuntos de
valores alticos, para depois proceder construo de tabelas. Esse mtodo diferenciase do das
compresses inaturais do modo que explicamos a seguir.
Quando se define uma relao entre um conjunto de valores alticos maior e outro menor, ambos
novazios, na forma descrita mais adiante, dizse que se comprime uma lgica em outra, como,
por exemplo, a compresso de uma lgica tetravalente em uma bivalente. As compresses podem
432 13
Por detrs do roblema das Redues
ser facilmente descritas usandose de uma lngua natural, sem necessidade de linguagem tcnica
mais rebuscada, como no exemplo abaixo:
Na forma compresso descrita acima, basta substituir nas tabelas de as ocorrncias do valor
I2 por I1 e as tabelas resultantes sero todas de K3. A compresso exemplificada natural.
inobservncia de qualquer uma das condies acima, a compresso resultar inatural. Quando
possvel comprimir naturalmente um sistema X em outro Y, dizse que X Icontm Y (ou seja,
diremos que um sistema X contm outro Y na forma da compresso efetuada por certas
identificaes de valores alticos, possivelmente colapsando vrios valores de X no processo). Por
outro lado, se a compresso no for natural, ento no se pode afirmar que um sistema contenha
outro. Alis, pelas compresses naturais todas as tautologias e contradies do sistema pr
comprimido devem incluirse sempre entre aquelas do sistema comprimido. Esclarecemos tais
colocaes com o auxlio de mais exemplos.
p p p\q p p p\q
1 2 3 1 2 3 1 0 1 0
+1 3 +1 1 2 3 1 1 1 +1 0 +1 1 1 0 0
+2 3 +2 2 2 3 1 2 2 0 1 0 1 0 0 1
3 1 3 3 3 3 1 2 3
14
433
Antonio Marmo da Cunha Oliveira
Sem nos alongarmos mais, os exemplos acima atingem um ponto nevrlgico: o procedimento das
compresses inaturais no sempre adequado nem muito seguro para a Lgica, porque, num
sentido mais amplo, um procedimento trivializante, quer dizer, por meio de tais compresses
qualquer resultado se pode engendrar.
J as compresses naturais nos permitem seguramente verificar se um sistema contm outro por
identificaes e possuem limites para sua aplicao que respeitam a fundamentao filosfica
dos sistemas.
De modo geral, h que se observar que nenhuma lgica multivalente, que, como as trivalentes
que consideramos, contenha um valor v=v, pode Iconter o sistema bivalente clssico C2, visto
que v no se pode identificar com F, nem tampouco com T. De um modo mais geral, um valor no
designado e noantidesignado no se pode naturalmente identificar com valores designados ou
antidesignados. Em rpidas pinceladas apontamos ademais: a aplicao de compresses
inaturais no acarreta a continnciaT reversa. A continnciaI, obtida por compresses
naturais, acarreta a continnciaT reversa, mas a continnciaT no acarreta a continnciaI
reversa. Por fim, a continnciaS no acarreta a continnciaI, nem a continnciaI acarreta a
continnciaS.
3.3Expanses
Na subseo anterior restou claro que supresso e compresso so mtodos comparativos muito
distintos, embora ambos engendrem sistemas menores a partir de maiores. O outro lado no
menos importante da questo conseguir o inverso, ou seja, engendrar sistemas maiores a partir
de menores.
3.6. Definio. Seja X um sistema e Y uma extenso de X: dizse que um sistema Y uma
expanso de X se as seguintes condies so satisfeitas:
a. Existe uma multifuno dos valores de X para os de Y, (mas dos valores de Y
para os de X uma funo, mais precisamente uma sobrejeo) que respeita as
regras de naturalidade em (3.4);
b. Trocandose cada valor de uma tabela de Y pelo seu correspondente em X, a
tabela resultante simplificada ser uma tabela de X.
Nem toda extenso de um sistema uma expanso do mesmo. Se Y expande X nesse sentido,
ento se pode supor, do mesmo modo, que exista um caminho de volta, por exemplo, uma
compresso natural que aplicada a Y engendre X.
434
15
Por detrs do roblema das Redues
4.1.ResumodaArguiodeSuszko
Em seu artigo de 1977, The Fregean Axiom and the Polish Mathematical Logic in the 1920s,
Roman Suszko esboa em 4 pginas o que constituiria sua viso contra a ideia de lgicas
multivalentes. O texto tem um tom um tanto panfletrio, a comear pela acusao inicial que
chega mesmo a enunciar como sua principal tese:
Aps o qu, busca substanciar tal acusao por meio de vrias afirmaes, a maioria das quais
muito sintticas, mas remissivas a obras da literatura. Ainda que haja uma pletora de ideias e
conceitos na narrativa que se segue em (Suszko, 1977), podemos reconhecer em linhas gerais
cinco tipos de argumentos gerais do referido artigo que condensamos de um modo que mais nos
parece claro:
Como veremos a seguir, nenhum dos tipos de argumento acima suficientemente desenvolvido
no texto em comento. Apesar dos tons at subjetivos do discurso de Suszko, possvel extrair
dele uma tese mais tratvel que a seguinte:
In short, every logic is (logically) twovalued. This general statement can be easily
exemplified in case of ukasiewicz's threevalued sentential logic, 3.
As reaes tal tese desde ento tm sido tantas, to variadas e to complexas, que, no espao de
um artigo, impossvel resenhar a maioria delas. H at mesmo alguma simpatia ou tolerncia da
parte de alguns autores que seriamente tentaram melhorar a arguio apresentada, ou que ainda
enxergaram nela vrios tpicos a aprofundar, notadamente nos seus aspectos ditos matemticos.
16 435
Antonio Marmo da Cunha Oliveira
4.2..DaSusten
ntaoIniccial
Esmmiucemos um pouco mais a arguio d de Suszko. Prrimeiramente e, o que ele ch
chama de axioma
freguueano se trrata de um princpio
p filossfico assentte na distino entre senntido e refer
ncia
(Freege F. L., 1892 2a), ou aindaa entre conceeito e objeto (Frege F. L., 1892b), e quue Suszko enu uncia
assimm:
The sem
mantical assummption that aall true (and,
d, similarly, alll false) senteences describe the
same, i.e.., have a comm
mon referent
t (BEDEUTUN NG) is called the Fregean Ax Axiom.
Porm, nem sequ uer usa essaa frmula maais adiante paara quaisqueer fins demonnstrativos. Suuszko
enteende que a partir desse
e princpio fiilosfico que se constroem
m tanto os pprprios siste
emas
lgiccos quanto ass suas linguagens e a sua interpretao algbrica, ssem explicar em mais deta alhes
porqque no se pode
p rejeitar o princpio fregeano, neem construir diferentes siistemas lgiccos e
lgebras. Ou sejaa, no fundo ap penas defendee que os estu udos e conceittos lgicos no devam afa astar
se m
muito do esstudo da lg gebra booleaana. Tacitam mente, suas posies meesmo exclue em a
posssibilidade dee que os lgicos justifiq quem suas teses
t ermos que nno passem pela
em te
consstruo de lggebras, como o notadamentte fez Aristteeles e outros mais.
Por outro lado, aduz sua pre eleo o argu umento de que a valorao o lgica e a vaalorao algbrica
so funes muito diferentess, pois, na forrma do penssamento freggeano, a primmeira relacion na as
asseeres suaa verdade ou
u falsidade e a segundaa referentes para estas.. No h muitos
arguumentos de por
p que os vaalores algbrricos possam e dois, mas o s valores al
m ser mais de ticos
omo obviouslly, any multip
no, alm de deeclaraes co plication of log
gical values iss a mad idea (sic).
Outrrossim, no eexamina a posssibilidade dee que se posssa ter outros tipos de valooraes para alm
das aaltica e algbrica10.
Assim, Suszko immputa a ukkasiewicz terr usado na verdade valo oraes algbricas para uma
lgebra adequad da sobre um conjunto de trs elementtos (como {0
0, , 1}), e, dde novo em outra
o
passsagem, diz quue 0, , 1 soo valores algbricos e quee no so os valores altiicos tpicos d de 3,
mas apenas representam refe erentes admisssveis em 3 3. Enfim, por aafirmaes reepetitivas, Su uszko
acussa ukasiewiccz de no entender os co nceitos da l gica bivalentte e no ter ccriado novo v valor
altiico para alm
m dos usuais verdadeiro e falso. Susszko chega mesmo a recorrrer a argume entos
ad hominem, imp putando problemas de perrsonalidade aa ukasiewicz z:
Because of ukasiewiicz unusual ppersonality, th he possibility and creative freedom werre his
dearest intellectual
i id
dols. But, how
w could he confuse
c the trruth and falsi
sity with wha
at the
sentencees describe?
4.3..DaProdu
uoTentativadaPro
ova
Depo ois de elencaados os argummentos acim ma, o prximoo passo que se esperaria
s na constru o de
Suszzko seria uma demonstrao da propoosio (4.1). Todavia, a prova que aprresenta no v versa
exattamente sobrre esta, mas d defende algo ligeiramentee diferente: a de que someente podemo os ter
o sistema 3 se trata de u
certeeza de que o e podemos aa ele atribuir uma
uma lgica dee fato porque
semntica bivaleente, nomeadamente o cllculo sentenciial com identiidade. a cavvalo disso, po orm,
que Suszko alegaa j estarem d disponveis n na literatura o
os meios parra viabilizar eessa convers o de
10 (F Frege F. L., 1892a), aliss, reconhece que alm do os valores alticos das assseres, elass tm
diferrentes valores cognitivos, como no caso ddas diferenass entre as iguaaldades 1=1 e sin cos
1.
17
436
Por detrs do roblema das Redues
sistemas. Tambm fica subentendido, mas no desenvolvido, que o tratamento bivalente dado a
3 deva ser extensivo ao exame de outros sistemas, convertendoos preferencialmente em
lgicas clssicas.
Assim, a proposio que Suszko tenta demonstrar podemos enunciar em (4.2) com o esboo de
demonstrao extrado do seu prprio texto:
O clculo sentencial com identidade, apresentado em (Bloom & Suszko, 1972) sintaticamente o
clculo proposicional clssico com dois operadores de equivalncia: um operador primitivo ,
tambm dito de identidade, e outro definido usualmente como a conjuno de duas
implicaes materiais. A leitura deste outro artigo, porm, revela que todos seus axiomas so
tautologias clssicas, de forma que o primitivo no tem propriedades interessantes
excepcionais, tpico ao qual retornaremos mais adiante.
Os esforos para melhorar ou entender mais claramente a arguio descrita acima no pararam e
se espalharam na literatura. Um exemplo disto so as formulaes da chamada Reduo de
Suszko, a tcnica pela qual teria sido possivel converter 3 ao clculo bivalente clssico (com
identidade). Uma apresentao simplificada de tal reduo se encontra em (Malinowski, 1993a):
4.3. Reduo de Suszko. Seja A uma lgebra similar a uma linguagem proposicional L e Ds
um conjunto novazio de valores designados, ento uma matriz M um par (A, Ds). Se
adotarmos alguma definio pela qual valoraes so funes (homomorfismos) das
linguagens s matrizes, ento, diremos que uma frmula toma um valor altico 1, ou
seja, 1 se uma dada funo , mas se , ento . O
procedimento assim descrito a chamada reduo de Suszko.
As demais tentativas de demonstrar a tese mais geral de Suszko (4.1) que se encontram na
literatura conjugam da tcnica acima chamada Reduo de Wjcicki, comumente enunciada
assim:
4.4. Reduo de Wjcicki. Toda lgica tarskiana , nvalente, para algum ||.
Eis o relatrio da polmica. Exaremos agora nosso parecer: o pleito de Suszko no merece
acolhimento. Obviamente, a questo no pode ser dirimida por meio de falcias ad hominem,
como Suszko era um grande matemtico ou ukasiewicz era muito criativo mas no tinha
talento para lgica, tampouco por diferentes tipos de fundamentalismos como a filosofia de
Frege a que se deve seguir ou sempre se fez assim, no h que se fazer de modo diferente. O
que se h de examinar a validade da sua arguio e a pertinncia ou relevncia dos meios
propostos e concluses pretendidas. Isto pressupe que devemos perguntar a respeito da
11 Consultar, entre outros, (Caleiro, et ali, 2003) para mais detalhes.
18
437
Antonio Marmo da Cunha Oliveira
5. CONTRAEXPOSIO
5.1.PreliminaresdestaSeo
Sistema 3
p p p\q
T I F T I F T I F T I F
T F T T I F T T T T I F T I F
I I I I I F T I I T I I I I I
F T F F F F T I F T T T F I T
p\q
T I F T I F
T T I F T I F
I T T I I T I
F T T T F I T
As linhas e colunas sombreadas nas tabelas acima indicam primeiramente diferenas entre as
tabelas de 3 e as da lgica bivalente clssica (C2).
5.2.DaProposioacercade3
O que significa a proposio (4.2) ou, mais precisamente, a alegao de que o sistema 3 seria na
verdade o clculo sentencial com identidade (SCI), uma variante de C2? Ou o que (Suszko, 1977)
quer dizer ao afirmar que SCI uma semntica para 3? No contexto referido, tais afirmaes
querem simplesmente dizer que SCI caracteriza 3, ou seja, que tais sistemas so Tequivalentes
(e possivelmente Cequivalentes). sabido que no o caso.
Primeiramente, em (Bloom & Suszko, 1972) encontramos a formulao de SCI que inclui, entre
outros, os axiomas TFA e a regra modus ponens de SCI, pelos quais vemos que C2 Tcontido e C
contido em SCI, pois toda frmula que em C2 tautologia e toda que nele contradio tambm o
so em SCI. (Embora no fique claro se os proponentes de SCI pretendiam que este tivesse
19
438
Por detrs do roblema das Redues
tautologias diferentes C2, ou que C2 e SCI clculos se caracterizassem.) Assim, de qualquer modo,
qualquer sistema caracterizado por SCI ao menos Tconter C2.
Todavia, fato que C2 Tcontm 3, mas 3 no Tcontm C2. De um modo geral, observando as
tabelas dadas anteriormente, podemos evocar exemplos disso:
Assim, claramente no o caso que 3 Tcontenha C2, donde SCI no caracteriza 3 e, assim, a
proposio (4.2) no verdadeira. Logo, o argumento de Suszko no bom, mas pode ainda ser
vlido ou invlido.
5.3.DaMetodologiadasRedues
O que significa reduzir uma lgica trivalente, como por exemplo 3, a outra bivalente, como C2
ou SCI? Se aplicada a Reduo de Suszko a 3 o que se obtm ser mesmo C2 ou SCI? Trs
hipteses razoveis podemos aventar inicialmente para responder essas duas questes, (A) e (B)
principalmente para a primeira e (C) para a ltima:
Sobre a hiptese (A): De fato, possvel obter C2 a partir de 3, por meio de supresses,
conforme as tabelas acima indicam: basta que as clulas sombreadas sejam suprimidas que as
tabelas resultantes sero as de C2. Como era esperado, temos que 3 Scontm C2, e C2 Tcontm
e Ccontm 3. Se considerarmos o mtodo de supresses seguro, dado que a concluso de
Suszko falsa, seu argumento invlido. Mas, aqui h que se ter em conta tambm questes de
relevncia: a continnciaS no acarreta que C2 caracterize 3. Outrossim dado que a
continnciaT no acarreta a continnciaS, e dado que as supresses aplicadas a sistemas
multivalentes no necessariamente engendram C2, conforme vimos na Seo 3, no haveria
garantias de que pudssemos extrapolar esse resultado para todas as lgicas multivalentes T
contidas em C2.
Sobre a hiptese (B): A reduo de Suszko como vimos na seo anterior no , todavia, um
mtodo de supresses. Claramente, tal reduo na verdade um esquema geral de compresso
na seguinte forma:
20
439
Antonio Marmo da Cunha Oliveira
5.2. CompressoEsquema B.
a. Todo valor no designado vai a T.
b. Todo valor designado vai a F.
De (5.2) acima no se seguiria que, por exemplo, uma lgica como 3 seria reduzvel a um
sistema bivalente em que as tautologias de 3 fossem contradies, como no caso do exemplo de
B3 para F2 exposto na seo 2 deste trabalho. Compresses inaturais no provam que um
sistema esteja contido ou equivalha a outro.
Neste caso poderamos dizer que o argumento de Suszko vlido apenas no sentido de que
aporta uma concluso falsa por um mtodo inseguro, o das compresses inaturais. Tampouco
um argumento til e permite engendrar at mesmos resultados contraditrios.
Sobre a hiptese (C): Finalmente, por via das dvidas, porm, poderamos indagar se, apesar
dos problemas supramencionados, de fato a Reduo de Suszko pode a partir de 3 engendrar
SCI ou at C2. Ou ser que no esse o resultado que se obtm? Ora, se tal reduo produz
mesmo o resultado pretendido, podemos a supor que 3 seja uma expanso de SCI ou C2. O nico
modo de averiguar tal suposio procedendo como descrito na seo 3, o que consiste pelo
menos em substituir nas tabelas de 3 o valor I por F, conforme sugere a Reduo de Suszko, e
ver que tabelas resultam disso.
Efetuando tais substituies, obtemos as seguintes tabelas para a negao e os conectivos fracos:
Sistema Sz2
p p p\q
T F F T F F T F F T F F
T F T T F F T T T T F F T F F
F F F F F F T F F T F F F F F
F T F F F F T F F T T T F F T
Acima as colunas e a linha sombreadas indicam onde fizemos as substituies de I por F e as
caixas marcam as clulas com resultados inusitados. Todavia, pronto se v que, se tendo assim
procedido, o que obtivemos no so tabelas de C2, nem de SCI (que, alis, tem as mesmas tabelas
que C2 para os conectivos em comento). Eis que, nas tabelas resultantes, o valor altico F tem um
comportamento nada clssico, podendo as linhas e as colunas por ele encabeadas dar mais de
um resultado. Este sistema no C2, nem SCI, mas outro que aqui chamamos de Sz2, que tem em
relao ao C2 uma diferena fundamental: um tipo de lgica proposto notadamente por
(Zawirski, 1935) e que (Rescher, 1962) batizou de quaseverofuncional. Simplificando as tabelas
acima, vemos mais claramente essa propriedade de Sz2:
Alis, esses resultados no surpreendem, pois, sabese, pelo menos desde a dcada de 1960, que
todo sistema proposicional quaseverofuncional com dois valores tem uma expanso fortemente
caracterstica verofuncional com mais de dois valores. Porm, isto no serve para validar os
argumentos de Suszko.
440
21
Por detrs do roblema das Redues
5.4.ConsequnciasMaisGerais
Uma lgica cujo operador de consequncia Tarski dita tarskiana. Entendese da que
operadores de consequncia imprimam suas propriedades s suas lgicas respectivas. Pois bem,
o que tradicionalmente se considera em lgica como um sistema vivel de modo geral um
sistema que ortodoxo no sentido acima. Fcil ver que o operador de consequncia de C2
guarda as propriedades da idempotncia, da reflexividade e da monotonicidade, e sabese,
ademais, que este coalesce com a implicao material. Porm, muito comumente tambm se
imagina que um sistema ortodoxo seja sempre uma variante de C2, notadamente um subsistema
(fragmento) deste, ou seja, h de estar Tcontido em C2. Ora, de nenhum modo se questiona que
muitos dos sistemas na literatura tenham essa propriedade. Sem embargo, isto no inevitvel.
Por exemplo, considere as tabelas a seguir para a negao, disjuno e implicao de um sistema
trivalente que aqui chamaremos de T3:
Sistema T3
p p pq
T I F T I F
+T F T T T T T I I
I I I T T T T T T
F T F T T F T T T
Claramente o sistema T3 no trivial: muitas de suas frmulas no sero tautologias, tais como
.. As tabelas de verdade de e so normais, no sentido que concordam com as
bivalentes clssicas quando se consideram apenas os Ts e os Fs. Mas, o mais interessante so as
propriedades da implicao:
22
441
Antonio Marmo da Cunha Oliveira
Em suma, a proposio (4.1) significa que toda lgica (tarskiana) se caracteriza por um modelo
bivalente. Suszko prope que todo sistema pode ser equipado com uma relao de consequncia
de Tarski, se j no a tiver, donde, por tal engenhosidade, se mostraria sua natureza bivalente e
principalmente clssica. Ou seja, na verdade (4.1) e (4.2) seguem o esteretipo de que todo
sistema lgico vivel tem, por algum modo, de ser uma variante de C2. Mostramos que tal no
procede por um exemplo de sistema trivalente que no caracteriza C2, nem subsistema seu,
ainda que guarde com este suas propriedades principais. Agora, devemos voltar observao de
que existe mais de um tipo de operador de consequncia.
442
23
Por detrs do roblema das Redues
Para concluir a presente seo: no verdade que SCI (ou C2) caracterize 3. A Reduo de
Suszko no serve para provar a proposio (4.2), nem a proposio (4.1), porque uma
compresso inatural. Alis, a aplicao de tal reduo a 3 no engendra o sistema SCI, mas outro
sistema, Sz2, que quaseverofuncional. No verdade que sistema equipado com uma relao
de consequncia tarskiana seja sempre um fragmento ou variante de C2, como exemplificado por
T3. Definir uma relao de consequncia tarskiana para um sistema multivalente apenas uma
dentre muitas possibilidades de o entender e tal no anula seu cariz multivalente.
6. RETROSPECTOS E SUPLEMENTARES
6.1.BreveHistrico
Consideramse textos seminais da lgica multivalente no seu formato atual os artigos de Hugh
MacColl, nomeadamente a partir de (MacColl, 1877) at (MacColl, 1908), e (Pierce, 1902).
Frequentemente e com razo tambm se incluem na lista supra os trabalhos capitais de Ian
ukasiewicz e Nikolai Vasilv a partir de 1910. As apresentaes mais influentes, todavia, so
(Rosser & Turquette, 1952), (Zinov'ev, 1963), (Ackermann, 1967) e, sobretudo, (Rescher, 1969)12. O
desenvolvimento de tais lgicas nunca se desacelerou desde ento, inclusive com a apario de
um grande ramo multivalente, a lgica difusa, instaurada por (Zadeh, 1965).
O pleito de (Suszko, 1977), pela sua radicalidade declarada, tinha evidentemente pretenses de
mudar o curso dos estudos lgicos. No entanto, seu impacto dos anos 1980 em diante foi quase
zero, os praticantes de lgica multivalente em geral o tendo ignorado simplesmente. Isto porque,
do ponto de vista destes, as anlises que Suszko faz das lgicas multivalentes tm problemas de
compreenso (que vimos anteriormente) e no so originais. Deveras, suas reaes lgica
multivalente tm precedentes vrios muito anteriores na literatura, pelo menos desde o
surgimento das lgicas multivalentes, ainda que o seu artigo em comento tenha sido muito
referido ultimamente: nas Atas do Congresso de Filosofia Cientfica de Paris de 1935 j lemos
respostas dos proponentes dos sistemas multivalentes a muitos dos argumentos e dvidas que,
entre outros, (Suszko, 1977) e (Scott, 1974) repetem muitos anos mais tarde. O que parece que
os adversrios da lgica multivalente no a criticam com base nas obras dos lgicos que a
praticam, mas numa interpretao ou em inferncias que imputam a estas. Na seo 2 deste
trabalho esperamos ter afastado j algumas dessas confuses.
A dcada de 1970 foi talvez o ltimo perodo em que se produziram as reaes mais fortes s
lgicas noclssicas, com outras tentativas de as reduzir lgica clssica, considerando apenas
as questes instrumentais. Podemos citar outro exemplo clebre: em (Priest, 1976) e (Priest, 1977)
existe uma tentativa de negar a existncia das lgicas modais, alegando que se trata to somente
de usar a lgica clssica como metalgica, tendo a prpria lgica clssica como lgicaobjeto (o
operador de necessidade na metalgica seria to somente ao operador de consequncia da
lgicaobjeto incorporado linguagem da metalgica). Assim, Suszko e Priest estariam afinados
num movimento de reao, que o ltimo abandonou posteriormente.
6.2.AlgunsResultadosContra
Contra a ideia de que toda lgica tem uma semntica bivalente j se tinham, antes da dcada de
1970, as demonstraes dos teoremas de (Gdel, 1933) para a lgica intuicionista e (Dugundji,
12 Para apresentaes posteriores, ver (Gabbay & Woods, 2007), (Grandy, 2002), (Grim, Mar, &
Denis, 1998), (Malinowski, 2002), (Minari, 2003), (Mundici, 2011), e (Reghis & Roventa, 1998).
24
443
Antonio Marmo da Cunha Oliveira
1940) para as lgicas modais de Lewis, segundo os quais tais lgicas no podem ser
caracterizadas por matrizes finitas, e, portanto, tampouco o sero por matrizes bivalentes.
Os protestos de Suszko no apenas foram desprezados aps a dcada de 1970, mas em 1997 se
provou um teorema em sentido contrrio ideia de reduzir 3 a uma lgica com menos valores,
o qual enunciamos abaixo, conforme consta em (Nguyen & Walker, 2006):
O significado do teorema supra que o clculo trivalente 3 no fundo uma lgica infinito
valente, contra da alegao de Suzko. A prova do teorema feita pelos prprios autores encontra
se em (Gehrke, Walker, & Walker, 1997), mas longa demais e complexa para caber no presente
trabalho, apesar de interessante, e fundamentase no argumento de que duas ou mais frmulas
logicamente equivalem em 3 se, e somente se, equivalem na lgica proposicional difusa.13
Todavia, podemos prover argumentos alternativos mais simples. Para tanto, suporemos que 3 e
a lgica difusa tenham as mesmas variveis proposicionais e os conectivos definidos do mesmo
modo, apenas diferindo quanto aos conjuntos de valores, ou seja, para a primeira o conjunto
finito 0, , 1 e para a ltima os reais no intervalo 0,1. Eis que ento os fatos muito simples
abaixo nos levaro s mesmas concluses de Gehrke e dos Walkers:
Para convenincia do leitor, podemos expandir o segundo ponto: para mostrar que 3 T
contida na lgica difusa, como assevera (6.3), preciso que se enunciem os axiomas de 3.
Usemos a seguinte axiomtica:
13 Mai Gehrke e o casal Walker esto na verdade interessados em questes algbricas relacionadas
lgica difusa, enquanto aqui nos interessam mais os temas lgicos.
25
444
Por detrs do roblema das Redues
O Teorema de Gehrke e Walkers auxilia as perquisies na lgica difusa, pois basta testar as
hipteses para o caso trivalente em 3 para obter os resultados para o caso infinitovalente
difuso. Mas, tambm revela uma dimenso mais interessante: a de que os valores 0, e 1 so
representantes das suas classes, o que corresponde mais claramente s intuies filosficas que
motivaram a construo das lgicas multivalentes. Por outro ngulo, diremos que o resultado
referido coerente com a intuio de que ao admitirmos um terceiro valor altico podemos
admitir a existncia de infinitos valores alticos.
6.3.Remates
445
26
Antonio Marmo da Cunha Oliveira
Nos seus Esboos Pirrnicos14, Sexto Emprico explica que, depois de perquirir algum tema
filosfico, sempre h ao menos trs posies possveis dentre as quais se adota uma: ou se cr ter
acesso ou ser possvel aceder verdade (que ele chama de posio dogmtica), ou se afirma
que nunca se acede verdade (posio acadmica), ou ento se declara que ainda estamos
investigando o tema (posio ctica). Entre filsofos dogmticos, ou seja, que adotam a
primeira posio, curiosamente, ele coloca Aristteles e os Estoicos que desenvolveram as razes
da tradio clssica da lgica.
De fato, tal no ser mero acaso: a lgica clssica bivalente, ou seja, que trabalha com no mais
que dois valores e sempre do ponto de vista verofuncional, espelha perfeitamente a posio de
que se pode chegar verdade. Nela as proposies so ou falsas ou verdadeiras e qualquer
conexo entre elas (isto , qualquer operao que se efetue com elas) dar um resultado ou falso
ou verdadeiro. discutvel se tal lgica pudesse, do modo mais adequado, auxiliar s trs
posies dialogarem entre si. No que um filsofo ctico ou um acadmico no a utilizassem
como instrumento de trabalho, mas a necessidade de modelar as trs posies demanda mais.
Vejamos o caso das intuies daqueles que questionam o chamado paradoxo da implicao
material, a saber, a ideia de que a falsidade do antecedente acarreta a verdade da implicao. As
tabelas abaixo representam duas alternativas para redefinir a implicao sem o referido
paradoxo:
(no-paradoxal)
Alternativa 1 Alternativa 2
p\q T F T F
T T F T F
F I I {T, F} {T, F}
No caso da alternativa 1, admitese a existncia de um terceiro valor altico, I, mas cada clula
apresenta um e apenas um valor altico na entrada e na sada. A esta abordagem se pode chamar
de (vero) funcional. No caso da alternativa 2, h a possibilidade de aparecer numa mesma clula
um ou dois valores alticos: dizse que esta abordagem quaseverofuncional, cujos detalhes
esto bem explicados em (Rescher, 1962). Na verdade, a intuio filosfica subjacente a mesma
em ambas alternativas, elas diferem apenas como modos de implementar tal intuio. Ora, a
rejeio ao paradoxo da implicao material deve ser um ponto caro a debater assim para os
filsofos (que Sexto Emprico chamou de) acadmicos como para os cticos, embora antagonize
com os (por ele chamados de) dogmticos.
Outro paradoxo que interessa ao debate entre as trs posies o das inequivalncias, referido
na Seo 1. Por exemplo, podemos definir as seguintes noequivalncia:
446
14 Dentre as muitas tradues feitas para uma lngua moderna, recomendamos a francesa feita por
Claude Huart, ou seja, (Empiricus, 1725), cujo ttulo ficou, todavia, como Hipteses Pirrnicas.
Por detrs do roblema das Redues
01. 1 sse 1
02. 1 sse 0,05
03. 1 sse
...
No ser difcil ver que em se supondo apenas dois valores as definies acima coalescem.
Porm, em se admitindo infinitos valores, possvel modelar a intuio de que duas ou mais
proposies podem ser noequivalentes em mais de um sentido. E tal intuio capital para a
discusso do paradoxo das inequivalncias.
Assim, diremos, de um modo mais amplo, que se, por um lado, as lgicas multivalentes tm sua
origem motivada pelo problema da batalha naval, sua aplicao, por outro, revelase til tambm
para o exame de muitas outras questes pontuais ou at mais gerais. Pode mesmo auxiliar a
escrutinar e comparar as trs grandes posies relativas verdade supramencionadas, com uma
facilidade de que no dispe a lgica bivalente. Ora, mas se tais lgicas tm motivaes e
utilidade filosficas amplas e mltiplas, qual seria o sentido de reduzir tais instrumentos a um
s? Ser essa reduo mesmo vivel diante do fato de que as posies em debate no so
redutveis umas s outras?
Neste sentido, o problema com a interpretao tentativa das lgicas multivalentes empreendida
Suszko que sua preleo incorre justamente naquilo que (Kripke, 1976) e (Strawson, 1952)
criticaram: ele elabora seus instrumentais mas no de modo suficientemente sensvel s
questes filosficas subjacentes e, por isso mesmo, os resultados (que imagina ter alcanado) so
ou desconcertantes ou equivocados. Ainda que ele brevemente aluda filosofia de Frege, no
levanta o montante de informao necessrio para desenvolver suas objees de modo objetivo,
e nem sequer organiza direito os poucos dados de que dispe. Em resumo, evadese de discutir as
questes nos termos em que estas se colocam.
Isso tudo dito, as comparaes entre lgicas podem ser ou proveitosas ou incuas para os
debates filosficos, dependendo dos meios que se empregam. Preferivelmente, os principais
meios para comparao devem vir de mtodos desenvolvidos pela prpria lgica, embora os
recursos oriundos de outras disciplinas tambm se possam usar ancilarmente s intuies
filosficas. Mas, o mais importante que os resultados esclaream as semelhanas e diferenas
entre os sistemas lgicos, e no as mascarem, nem desenhem um resultado distorcido.
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Roque Pires Vercesi
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Sobre a quase-verdade de Newton da Costa e a teoria
pragmtica de Peirce
O pragmatismo de Peirce
453
Roque Pires Vercesi
454
Sobre a quase-verdade de Newton da Costa e a teoria
pragmtica de Peirce
Peirce (1934, v. 2, p. 624) apresenta-nos exemplos destas trs for-
mas de argumento:
1. Deduo
Regra - Todos os feijes deste pacote so brancos
Caso - Estes feijes so deste pacote
2. Induo
Caso - Estes feijes so deste pacote
Resultado - Estes feijes so brancos
3. Hiptese
Regra - Todos os feijes deste pacote so brancos
Resultado - Estes feijes so brancos
455
Roque Pires Vercesi
456
Sobre a quase-verdade de Newton da Costa e a teoria
pragmtica de Peirce
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Roque Pires Vercesi
Consideraes finais
Referncias
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Sobre a quase-verdade de Newton da Costa e a teoria
pragmtica de Peirce
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