E BOOK Cafeina
E BOOK Cafeina
E BOOK Cafeina
ISBN 978-85-60064-45-8
ISBN 978-85-60064-51-9 (e-book)
PREFCIO ...............................................................................................................................................................7
CAPTULO 1
A CAFENA NO AMBIENTE ............................................................................................................................11
Cassiana C. Montagner, Cristiane Vidal, Fernando F. Sodr, Igor C. Pescara e Wilson F. Jardim
Consumo de cafena ........................................................................................................................................... 12
A excreo da cafena consumida................................................................................................................ 13
A presena de cafena em guas superficiais ........................................................................................ 15
Ecotoxicidade da cafena ................................................................................................................................. 15
A presena de cafena em gua de abastecimento pblico............................................................. 15
A cafena como indicador qumico ............................................................................................................... 17
Legislao ............................................................................................................................................................... 18
CAPTULO 2
A ANLISE DE CAFENA NAS AMOSTRAS COLETADAS NO BRASIL ............................................25
Cristiane Vidal, Maria C. Canela, Camila R. O. Nunes, Marco T. Grassi,
Kelly C. Machado e Wilson F. Jardim
Panorama nacional ............................................................................................................................................. 26
Trabalho de coleta e no laboratrio ............................................................................................................ 26
Aspectos gerais da anlise ...................................................................................................................... 26
Padronizao do procedimento de coleta e extrao ................................................................. 28
CAPTULO 3
O ABASTECIMENTO DE GUA EM CAPITAIS DA REGIO SUL........................................................33
Marco T. Grassi, Kelly C. Machado, Andreia N. Fernandes
Dados gerais das capitais da regio Sul................................................................................................... 34
Mananciais de abastecimento de gua nas capitais da regio Sul ............................................. 35
Curitiba ............................................................................................................................................................. 35
Florianpolis ................................................................................................................................................... 35
Porto Alegre.................................................................................................................................................... 37
Abastecimento de gua nas capitais da regio Sul ETA ................................................................ 37
Curitiba ............................................................................................................................................................. 37
Florianpolis ................................................................................................................................................... 37
Porto Alegre.................................................................................................................................................... 38
CAPTULO 4
O ABASTECIMENTO DE GUA EM CAPITAIS DA REGIO SUDESTE .............................................41
Igor C. Pescara, Camila R. O. Nunes, Maria C. Canela, Wilson F. Jardim
Dados demogrficos e econmicos das capitais da regio Sudeste ........................................... 42
Mananciais de abastecimento de gua nas capitais da regio Sudeste .................................. 43
So Paulo ......................................................................................................................................................... 43
Rio de Janeiro ................................................................................................................................................ 43
Belo Horizonte ............................................................................................................................................... 44
Vitria ................................................................................................................................................................ 45
Estaes de tratamento de gua nas capitais da regio Sudeste ............................................... 46
So Paulo ......................................................................................................................................................... 46
Rio de Janeiro ................................................................................................................................................ 46
Belo Horizonte ............................................................................................................................................... 47
Vitria ................................................................................................................................................................ 47
CAPTULO 5
O ABASTECIMENTO DE GUA EM CAPITAIS DA REGIO CENTRO-OESTE ................................51
Fernando F. Sodr, Fernanda V. de Almeida, Joyce S. Santana, Marco T. Grassi e Kelly C. Machado
Dados demogrficos e econmicos das capitais da regio Centro-Oeste ................................ 52
Mananciais de abastecimento de gua nas capitais da regio Centro-Oeste ........................ 53
Braslia .............................................................................................................................................................. 53
Goinia .............................................................................................................................................................. 53
Cuiab ............................................................................................................................................................... 54
Campo Grande ............................................................................................................................................... 55
Estaes de tratamento de gua das capitais da regio Centro-Oeste .................................... 55
Braslia .............................................................................................................................................................. 55
Goinia .............................................................................................................................................................. 56
Cuiab .............................................................................................................................................................. 56
Campo Grande ............................................................................................................................................. 56
CAPTULO 6
O ABASTECIMENTO DE GUA EM CAPITAIS DA REGIO NORDESTE..........................................61
Ktia M. Bichinho, Teresa C. B. Saldanha, Flaviana J. R. Severo, Maria M. L. M. Lcio,
Maria C. Canela, Camila R. O. Nunes, Gilson L. da Silva, Marta M. M. B. Duarte, Valdinete L. da Silva
Dados demogrficos e econmicos das capitais da regio Nordeste ......................................... 62
Mananciais de abastecimento de gua nas capitais da regio Nordeste ................................ 64
Recife ................................................................................................................................................................. 64
Fortaleza .......................................................................................................................................................... 64
Salvador ........................................................................................................................................................... 66
Natal .................................................................................................................................................................. 66
So Lus ............................................................................................................................................................ 68
Joo Pessoa .................................................................................................................................................... 68
Teresina ............................................................................................................................................................ 69
Estaes de tratamento de gua nas capitais da regio Nordeste ............................................. 70
Recife ................................................................................................................................................................. 70
Fortaleza .......................................................................................................................................................... 70
Salvador ........................................................................................................................................................... 70
Natal ................................................................................................................................................................. 71
So Lus ............................................................................................................................................................ 71
Joo Pessoa .................................................................................................................................................... 72
Teresina ............................................................................................................................................................ 72
CAPTULO 7
O ABASTECIMENTO DE GUA EM CAPITAIS DA REGIO NORTE ..................................................75
Fernanda V. de Almeida, Fernando F. Sodr, Maria C. Canela, Wilson F. Jardim
Dados demogrficos e econmicos das capitais da regio Norte ................................................ 76
Mananciais de abastecimento de gua nas capitais da regio Norte ........................................ 76
Manaus ............................................................................................................................................................. 76
Belm................................................................................................................................................................. 77
Palmas .............................................................................................................................................................. 78
Porto Velho ..................................................................................................................................................... 78
Estaes de tratamento de gua nas capitais da regio Norte ................................................... 79
Manaus ............................................................................................................................................................. 79
Belm................................................................................................................................................................. 79
Palmas .............................................................................................................................................................. 79
Porto Velho ..................................................................................................................................................... 80
CAPTULO 8
AVALIANDO OS RESULTADOS OBTIDOS.................................................................................................83
Fernando F. Sodr, Maria C. Canela, Cristiane Vidal, Wilson F. Jardim,
Ktia M. Bichinho e Marco T. Grassi
CAPTULO 9
FINALIZANDO ....................................................................................................................................................95
Wilson de Figueiredo Jardim
CAFENA EM GUAS DE ABASTECIMENTO PBLICO NO BRASIL
Instituto Nacional de Cincias e Tecnologias Analticas Avanadas (INCTAA) 7
Prefcio
Estamos no final do vero de 2014. Um vero atpico, seco e muito quente. Bastou que o clima alterasse
um pouco em relao ao usual para que o fantasma do desabastecimento de gua tratada mostrasse
sua face. Cremos saber, agora, o quanto ele assustador. No entanto, o alerta, amplamente divulgado por
todo tipo de mdia ser, provavelmente, esquecido em breve, medida que o clima volte normalidade
e os reservatrios estejam novamente cheios, apesar de o evento mostrar claramente que as populaes
dos grandes centros urbanos esto sob ameaa permanente de racionamento e que a quantidade de
gua tratada, o que todo mundo sabe mas finge ignorar, limitada.
Porm, mais preocupante ainda que h outros fantasmas escondidos na gua tratada distribuda
nossa populao. Esses no mostram a cara com facilidade, pois no se associam quantidade de gua
disponvel, mas sim sua qualidade. So fantasmas que somente podem ser vistos com as lentes da
cincia e, em particular, com aquelas da moderna Qumica Analtica. Alguns foram identificados h muito
tempo, mas outros so novos e foram reconhecidos somente mais recentemente. Esses fantasmas,
alguns to assustadores como o do desabastecimento, so denominados contaminantes emergentes e
constituem uma classe de compostos qumicos que esto presentes na gua que nos servida, mesmo
a tratada de acordo com as normas mais rigorosas atualmente existentes. Eles esto presentes devido
s atividades humanas e sua quantidade reflete a intensidade com as quais essas atividades so
exercidas nos locais prximos aos pontos de captao da gua para tratamento e consumo humano.
O nmero dessas substncias muito grande e, recentemente, algumas delas tm mostrado efeitos
preocupantes associados sua toxidez e atividade estrognica.
Este livro apresenta os resultados de mais de quatro anos de pesquisa dedicados a ampliar e aprofundar
nosso conhecimento sobre essas substncias aqui no Brasil e mostra que nossos sistemas de tratamento
precisam ser repensados e aperfeioados, para que possam lidar com essa classe de substncias. Alm
de apresentar os resultados quantitativos em relao cafena, ele serve de referncia para estudos
semelhantes, mostrando a importncia de se elaborarem aes de planejamento estratgico, que
devem preceder o incio dos trabalhos, e a necessidade de padronizar e validar procedimentos para
que os resultados analticos possam ter significado. Ou seja, a experincia adquirida neste estudo est
disponibilizada para uso em estudos semelhantes que exijam esse mesmo grau de planejamento. Alm
8 CAFENA EM GUAS DE ABASTECIMENTO PBLICO NO BRASIL
Instituto Nacional de Cincias e Tecnologias Analticas Avanadas (INCTAA)
disso, o livro no apresenta os dados simplesmente, mas os contextualiza, agregando a cada resultado
informaes demogrficas, socioeconmicas, dos mananciais de captao e dos sistemas de tratamento
de gua da regio a que eles se referem.
O livro foi escrito para que tanto o grande pblico como aquele especializado possam se valer das
informaes nele contidas. Do grande pblico se espera, alm de que permanea alerta, sensibilizao
para a existncia do problema, reflexo sobre ele e que contribua, com sua participao como cidado
esclarecido, nos assuntos relativos qualidade da gua que bebe e que seus filhos iro beber. Do
pblico especializado, aes de poltica pblica efetivas para que o problema seja atacado e resolvido.
A divulgao parcial dos resultados contidos neste livro gerou impactos e inmeras reportagens nos
mais diversos tipos de mdia e requerimentos muito bem-vindos do Mistrio Pblico de vrios estados
e cidades onde a pesquisa foi realizada. O estudo feito abrangente no que se refere incluso dos
centros mais populosos do pas, interessando diretamente a mais de 40 milhes de brasileiros que
vivem nessas capitais das regies Sul, Sudeste, Centro-Oeste, Nordeste e Norte.
O Instituto Nacional de Cincias e Tecnologias Analticas Avanadas (INCTAA), apoiado por CNPq, FAPESP
e CAPES, decidiu em sua primeira reunio geral ocorrida em outubro de 2011 que iria se dedicar ao tema
dos contaminantes emergentes e estender para todo o pas o estudo, que vinha sendo desenvolvido de
forma localizada pelos seus pesquisadores do Instituto de Qumica da UNICAMP. Assim, demonstrou a
importncia da atuao em rede e da juno de especialidades do corpo de pesquisadores do INCTAA.
Assim, tambm, cumpriu uma das suas premissas bsicas, que atender demandas reais da sociedade
brasileira, mesmo aquelas que precisam ser identificadas pelos prprios cientistas que as atendem.
Este livro, que consolida os resultados dessa ao, constitui o melhor produto gerado pelo INCTAA para
a sociedade brasileira.
Celio Pasquini
Coordenador do INCTAA
10 CAFENA EM GUAS DE ABASTECIMENTO PBLICO NO BRASIL
Instituto Nacional de Cincias e Tecnologias Analticas Avanadas (INCTAA)
CAFENA EM GUAS DE ABASTECIMENTO PBLICO NO BRASIL
Instituto Nacional de Cincias e Tecnologias Analticas Avanadas (INCTAA) 11
01
A cafena no ambiente
CASSIANA C. MONTAGNER1, CRISTIANE VIDAL1, FERNANDO F. SODR2,
IGOR C. PESCARA1 E WILSON F. JARDIM1
1
Laboratrio de Qumica Ambiental, Universidade Estadual de Campinas
2
Grupo de Automao, Quimiometria e Qumica Ambiental, Universidade de Braslia
12 CAFENA EM GUAS DE ABASTECIMENTO PBLICO NO BRASIL
Instituto Nacional de Cincias e Tecnologias Analticas Avanadas (INCTAA)
sua presena na biota e em corpos dgua pode fazendo com que concentraes significativas do
trazer informaes valiosas sobre a sade composto apaream no esgoto sanitrio bruto. A
ambiental. Estudos realizados demonstraram que Figura 1 mostra as possveis vias de transporte de
o consumo de cafena em quantidades especficas cafena a partir do seu descarte em sistemas de
pode contribuir para a sade tanto de seres esgotamento sanitrio.
humanos quanto de animais, como melhora no
humor, no estado de alerta, desempenho fsico, A rota representa o enriquecimento do esgoto
velocidade de processamento de informaes, bruto com cafena a partir da urina, alm da
entre outros (Heckman et al., 2010). Contudo, o contribuio do descarte de bebidas, alimentos
consumo elevado de cafena pode desenvolver e/ou medicamentos em pias, ralos e vasos
efeitos negativos sade de adultos e crianas, sanitrios. Os servios de esgotamento sanitrio
afetando o sono, provocando dores de cabea, so representados pelas rotas e , sendo que
problemas cardacos, ansiedade, nusea, entre a primeira corresponde canalizao do esgoto
outros (Nawrot et al., 2003). Tambm so at estaes de tratamento de esgoto (ETE). A
apontadas como grupos de risco em relao ao terceira rota indica o servio de afastamento do
consumo de cafena as mulheres em perodo frtil, esgoto bruto da populao que, invariavelmente,
gestantes e aquelas em perodo de amamentao. culmina com seu descarte em sistemas de guas
Estudos indicam que o consumo de cafena pode superficiais, sejam eles continentais ou costeiros.
diminuir a fertilidade, provocar reduo no ganho O descarte clandestino do esgoto, ou seja, aquele
de massa corprea do feto e contribuir para o que no realizado de maneira adequada pela
aborto espontneo (Heckman et al., 2010). Quando concessionria responsvel pelo servio de
consumida pela mulher durante a amamentao, esgotos, tambm contemplado na rota .
a cafena pode ser encontrada no leite, o que pode
provocar efeitos adversos no recm-nascido. Os nveis de concentrao de cafena no esgoto
bruto variam em funo de inmeros aspectos,
A quantidade de cafena necessria para produzir tais como padro de consumo, temperatura, poca
um efeito adverso varia de indivduo para indivduo, do ano, nmero de habitantes atendidos, extenso
pois est relacionada com a massa corprea e a e capacidade da rede de esgotamento sanitrio.
sensibilidade do indivduo para cafena. A agncia Por exemplo, concentraes mdias de mais de
reguladora de alimentos e medicamentos dos 200 g L-1 foram determinadas no esgoto bruto de
Estados Unidos (FDA) considera como seguro um Berlim, na Alemanha (Heberer et al., 2002). Outro
consumo de at 400 mg de cafena por dia para estudo realizado naquele pas revelou que, dentre
adultos. A agncia de sade do Canad sugere um inmeros contaminantes associados aos padres
consumo dirio de at 450 mg para adultos, 300 de consumo da populao, a cafena foi dominante
mg para gestantes e 85 mg para adolescentes nas amostras de esgoto investigadas, atingindo
(Heckman et al., 2010). Apesar de raros, existem concentraes de at 55 g L-1 (Weigel et al., 2004).
casos de mortes atribudas overdose de cafena, Concentraes na faixa de microgramas por litro
sendo que a dose fatal no foi completamente tambm foram encontradas em inmeros pases,
elucidada, mas alguns pesquisadores sugerem como Canad (Viglino et al., 2008), Coria do Sul
aproximadamente 10 g por dia (Heckman et al., (Choi et al., 2008), Espanha (Pedrouzo et al., 2007),
2010; Holmgren et al., 2004; Kerrigan; Lindsey, Estados Unidos (Swartz et al., 2006) e Sucia
2005). (Bendz et al., 2005; Paxus; Schrder, 1996). No
Brasil, a cafena foi encontrada no esgoto bruto do
municpio de Campinas, SP, em nveis de mais de
290 g L-1 (Sodr et al., 2010).
A excreo da cafena consumida
Em ETE (estaes de tratamento de esgoto)
Aps o consumo, a cafena rapidamente convencionais, os mtodos de tratamento no
absorvida e metabolizada, atingindo um pico na foram projetados para a remoo completa de
corrente sangunea aps 1 a 2 horas. A excreo substncias decorrentes do padro de consumo
ocorre em at 48 horas principalmente pela adotado nas grandes cidades. Mesmo assim,
urina, sendo que de 1 a 5% da cafena no inmeros trabalhos tm demonstrado bons ndices
metabolizada (Nawrot et al., 2003). Grandes de remoo de cafena em ETE convencionais. Na
quantidades de alimentos, tais como ch e caf, cidade de Berlim, ndices de remoo superiores
podem ser descartados sem serem consumidos, a 99% foram reportados, considerando-se a
14 CAFENA EM GUAS DE ABASTECIMENTO PBLICO NO BRASIL
Instituto Nacional de Cincias e Tecnologias Analticas Avanadas (INCTAA)
(rota ). Contaminantes presentes no lodo de e mxima de 753,5 g L-1, ou seja, uma variao
esgoto aplicado ao solo podem ento surgir em de cerca de seis ordens de grandeza.
guas naturais por meio do escoamento superficial
(rota ) ou da lixiviao (rota ).
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24 CAFENA EM GUAS DE ABASTECIMENTO PBLICO NO BRASIL
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CAFENA EM GUAS DE ABASTECIMENTO PBLICO NO BRASIL
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02
A anlise de cafena
nas amostras
coletadas no Brasil
CRISTIANE VIDAL1, MARIA C. CANELA2, CAMILA R. O. NUNES2, MARCO T. GRASSI3,
KELLY C. MACHADO3 E WILSON F. JARDIM1
1
Laboratrio de Qumica Ambiental, Universidade Estadual de Campinas
2
Grupo de Pesquisa em Qumica Ambiental, Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro
3
Grupo de Qumica Ambiental, Universidade Federal do Paran
26 CAFENA EM GUAS DE ABASTECIMENTO PBLICO NO BRASIL
Instituto Nacional de Cincias e Tecnologias Analticas Avanadas (INCTAA)
Figura 1: Identificao das capitais, o grupo responsvel e o nmero de amostras coletadas: (a) 1 campanha e
(b) 2 campanha
28 CAFENA EM GUAS DE ABASTECIMENTO PBLICO NO BRASIL
Instituto Nacional de Cincias e Tecnologias Analticas Avanadas (INCTAA)
contendo um material com afinidade com o 1. Fez-se a limpeza do material de coleta com
analito. A espectrometria de massas uma soluo de detergente alcalino (Extran) e
tcnica bastante sensvel, com identificao das gua ultrapura, alm de tratamento trmico
substncias baseada na razo entre a massa e a a 400 oC para os materiais no volumtricos;
carga (m/z) de cada substncia aps ocorrer uma
ionizao e no padro de fragmentao de cada 2. Foram tomados cuidados fundamentais para
molcula, que guarda sua identidade. evitar contaminaes, principalmente por
materiais plsticos;
PADRONIZAO DO PROCEDIMENTO DE
3. A coleta da gua tratada foi feita no cavalete
COLETA E EXTRAO
(hidrmetro), antes de ter contato com a
caixa dgua. Quando no era possvel a
Antes de iniciar a coleta, todos os grupos receberam
amostragem no cavalete, a gua tratada era
um protocolo de coleta e pr-tratamento das coletada em torneira que estivesse ligada
amostras elaborado pelo Laboratrio de Qumica diretamente ao cavalete (Figura 3a e b).
Ambiental (LQA) da UNICAMP, para uniformizao
do procedimento at as amostras chegarem ao 4. Aps a circulao da gua por alguns minutos,
destino, onde elas seriam processadas. Abaixo, fez-se uma ambientao do frasco de vidro
encontra-se um resumo dos principais itens mbar de coleta, com capacidade de 1 litro, e
apresentados no protocolo de coleta e que foram em seguida foram feitas coletas de 200 mL a
cumpridos por todos os grupos: cada 2 horas, realizando-se, assim, uma coleta
CAFENA EM GUAS DE ABASTECIMENTO PBLICO NO BRASIL
Instituto Nacional de Cincias e Tecnologias Analticas Avanadas (INCTAA) 29
de amostra composta, com volume final de o eluato foi seco com o auxlio de nitrognio e a
1.000 mL. As alquotas durante a coleta e amostra seca foi redissolvida em uma soluo
ao final foram acondicionadas em ambiente gua:metanol (70:30 v:v), contendo quantidade
refrigerado a 4 oC at o momento da extrao. conhecida de cafena marcada (deuterada).
Essa ps-fortificao com cafena deuterada foi
Aps a coleta, em cada ponto amostral iniciou-se empregada para verificar possveis interferncias
o processo de preparo de amostras. Para na determinao do analito, causadas por
determinar a concentrao de cafena nas guas outros compostos presentes na amostra. Essa
de abastecimento das capitais, utilizou-se a SPE interferncia conhecida como efeito de matriz,
(cartucho Oasis HLB 500 mg), em que as etapas e para minimizar ou eliminar esse efeito foram
de condicionamento (2 x 3 mL de metanol e utilizadas diferentes diluies da amostra, usando
2 x 3 mL de gua ultrapura) e extrao foram sempre a cafena deuterada de concentrao
realizadas em campo. A extrao foi feita em conhecida como controle. Finalmente, o volume
at 24 horas aps a coleta da amostra, portanto, final de cada amostra foi ajustado no frasco coletor
muitas vezes na prpria capital onde foi coletada (Figura 5a).
(Figura 3c e d).
A anlise instrumental foi conduzida utilizando
Depois da extrao, os cartuchos ainda midos eram o LC-MS/MS da Figura 5b, seguindo o mtodo
embalados, mantidos sob refrigerao e enviados desenvolvido por Sodr et al., 2010. A quantificao
ao laboratrio (Laboratrio de Qumica Ambiental, por espectrometria de massas foi realizada atravs
Instituto de Qumica, UNICAMP, Campinas-SP) para do monitoramento de reaes mltiplas (MRM),
a sequncia do preparo de amostra (Figura 4). que significa monitorar as transies de m/z de
Os estudos realizados para avaliar as perdas ons moleculares a ons filhos, que guardam a
durante o envio e armazenamento dos cartuchos identidade da molcula. Para confirmar a presena
demonstraram a validade desse procedimento. A de cafena em uma amostra, as transies m/z
eluio da cafena foi feita com 5 mL de metanol 195,1 138,1; 195,1 110 e 195,1 69
seguida de 2,5 mL de acetonitrila. Posteriormente, foram monitoradas (cromatograma da Figura 5c).
A B
C D
Figura 3: Coleta de gua de abastecimento em cavalete e aparato utilizado nas capitais para a extrao
30 CAFENA EM GUAS DE ABASTECIMENTO PBLICO NO BRASIL
Instituto Nacional de Cincias e Tecnologias Analticas Avanadas (INCTAA)
Figura 4: Etapas de preparo de amostra aps recebimento dos cartuchos na Unicamp. Da esquerda para a
direita: secagem do cartucho, eluio, secagem do eluato com N2 e etapa final no frasco coletor antes da anlise
instrumental
A B
Figura 5: (a) Amostras prontas para a quantificao; (b) instrumento utilizado (LC-MS/MS); e (c) cromatograma
tpico da cafena
CAFENA EM GUAS DE ABASTECIMENTO PBLICO NO BRASIL
Instituto Nacional de Cincias e Tecnologias Analticas Avanadas (INCTAA) 31
03
O abastecimento de gua
em capitais da regio Sul
MARCO T. GRASSI1, KELLY C. MACHADO1, ANDREIA N. FERNANDES2
1
Grupo de Qumica Ambiental, Departamento de Qumica, Universidade Federal do Paran
2
Instituto de Qumica, Universidade Federal do Rio Grande do Sul
34 CAFENA EM GUAS DE ABASTECIMENTO PBLICO NO BRASIL
Instituto Nacional de Cincias e Tecnologias Analticas Avanadas (INCTAA)
A presena de cafena nas guas de abastecimento constitudo por uma parte continental e por uma
nas trs capitais da regio Sul, Curitiba, Florianpolis parte insular, sendo banhada pelo oceano Atlntico.
e Porto Alegre, foi avaliada neste trabalho. A seguir Com uma populao de aproximadamente 422
so apresentadas algumas caractersticas de cada mil habitantes, o municpio se destaca como
capital ou regio metropolitana. polo comercial e prestador de servios, bem
como centro poltico-administrativo do estado de
Santa Catarina. Entretanto, no setor turstico
que Florianpolis mais tem se destacado nos
Dados gerais das capitais da ltimos anos, transformando-se em importante
polo turstico do Brasil e Mercosul (IBGE, 2010a;
regio Sul SMHSA, 2011). Florianpolis possui uma geografia
resultante do contraste entre plancies litorneas
Os dados demogrficos de Curitiba, Florianpolis e elevaes montanhosas, gerando paisagens
e Porto Alegre esto apresentados na Tabela 1. naturais bastante diversificadas. O clima da
capital catarinense classificado como subtropical
Curitiba, PR, est localizada na poro leste do mido, com veres quentes e invernos amenos,
estado e a cidade polo de um conjunto de apresentando temperatura mdia anual em torno
26 municpios que compem a Regio Metropolitana de 20 C (SMHSA, 2011).
de Curitiba (RMC). tambm o municpio mais
populoso do sul do pas, com mais de 1,7 milho de Porto Alegre, RS, a capital mais meridional do
habitantes (IPPUC, 2007; IBGE, 2010a). O municpio Brasil e tem hoje uma populao que j ultrapassa
de Curitiba est localizado a uma altitude mdia 1,4 milho de habitantes (IBGE, 2010a). O centro
de 934 metros acima do nvel do mar, no Primeiro urbano do municpio situa-se a aproximadamente
Planalto Paranaense. Com clima tipicamente 10 m acima do nvel do mar, ocupando uma regio
temperado (ou subtropical), a temperatura mdia de plancie, sendo contornada ao longo de 70 km
anual na capital fica em torno de 16,5 C. O clima pelo lago Guaba. Ao sul, Porto Alegre circundada
mido e as chuvas, em geral, so bem distribudas por morros que ocupam 65% de sua rea territorial
durante o ano. A leste de Curitiba est a Serra do Mar, e contribuem para que a cidade conserve ainda
uma das principais reservas florestais do Paran, 30% de seu territrio como rea rural. O clima de
onde nascem afluentes da bacia hidrogrfica do Porto Alegre classificado como subtropical mido,
rio Igua, que a maior sub-bacia do rio Paran, tendo como caracterstica marcante a grande
principal rio do estado (IPPUC, 2007). O rio Igua, variabilidade. A presena da grande massa de
juntamente com suas sub-bacias e afluentes, como gua do lago Guaba contribui para elevar as taxas
o rio Ira e o rio Passana, formam um complexo de umidade atmosfrica e modificar as condies
hdrico que responsvel pelo abastecimento de climticas locais, com a formao de microclimas.
gua para a populao de Curitiba e grande parte O contnuo processo de ocupao da superfcie do
da RMC (Andreoli et al., 1999). terreno por edificaes e calamento tambm gera
microclimas especficos, observando-se at 4 C de
A capital do estado de Santa Catarina, Florianpolis, variao trmica nas diferentes regies da cidade,
uma das trs ilhas capitais do Brasil. Est que tem uma temperatura anual mdia de cerca
localizada no centro-leste do estado e seu territrio de 20 oC (Penter et al., 2008).
Ingleses e So Joo do Rio Vermelho. Para isso, Os distritos administrativos de Sede Ilha, Sede
conta com uma estao de tratamento de gua Continente, Santo Antnio de Lisboa e parte norte
(ETA Costa Norte) com capacidade para 300 L s-1. do Ribeiro da Ilha so abastecidos pelo SIF, que
A captao realizada no aqufero Ingleses/Rio capta gua do rio Vargem do Brao, localizado no
Vermelho (vazo mxima de captao: 393 L s-1) municpio de Santo Amaro da Imperatriz, e do rio
por meio de 19 poos artesianos localizados nas Cubato do Sul, que se situa nos municpios de
regies do Stio de Capivari, Distrito dos Ingleses Santo Amaro da Imperatriz e guas Mornas, a cerca
e Distrito de So Joo do Rio Vermelho, todos ao de 30 km da capital. Esse sistema est interligado
norte da ilha. Como o norte da ilha de Florianpolis ETA Jos Pedro Horstmann, localizada no Morro
uma regio balneria, a vazo de captao dos dos Quadros, municpio de Palhoa. Nos meses de
poos varivel e sazonal. No inverno, a vazo alta temporada, o SIF usado como alternativa de
mdia de captao de 111 L s-1, atendendo a reforo aos outros dois sistemas, o SCN e o SCLS.
aproximadamente 64 mil habitantes. Entretanto, O SIF responsvel pelo abastecimento de parte
a vazo de captao chega no vero a 300 L s-1, de Florianpolis e tambm de alguns municpios
para atender aproximadamente 130 mil pessoas da regio metropolitana, como Santo Amaro da
(SMHSA, 2011). Imperatriz, Palhoa, So Jos e Biguau, atendendo
diariamente, assim, cerca de 600 mil pessoas.
O Sistema Costa Leste-Sul tambm conta com uma Contudo, esse nmero pode ser maior nos meses
estao de tratamento de gua, a ETA Lagoa do de alta temporada (SMHSA, 2011; CASAN, 2012).
Peri, com capacidade de tratamento de 200 L s-1
e que atende as seguintes localidades: Barra da As coletas em Florianpolis foram realizadas em
Lagoa, Lagoa da Conceio, Campeche, Armao, um ponto abastecido pelo sistema SIF, uma vez
Aores, Matadeiro e Ribeiro da Ilha. O principal que esse sistema responde pelo abastecimento
manancial de captao desse sistema a Lagoa de 63% da populao da capital catarinense,
do Peri (vazo mxima de captao de 200 L s-1), sendo tambm responsvel por atender quatro
mas na alta temporada tambm h captao municpios da regio metropolitana.
de gua do Aqufero Campeche (vazo extrada:
148 L s-1). A populao atendida pelo sistema SCLS Na Tabela 3 apresentado um resumo dos sistemas
de aproximadamente 100 mil pessoas no inverno, de abastecimento de gua de Florianpolis e regio
podendo chegar a 115 mil pessoas no vero. metropolitana.
04
O abastecimento de
gua em capitais da
regio Sudeste
IGOR C. PESCARA1, CAMILA R.O.NUNES2, MARIA C. CANELA2, WILSON F. JARDIM1
1
Laboratrio de Qumica Ambiental, Universidade Estadual de Campinas
2
Grupo de Pesquisa em Qumica Ambiental, Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro
42 CAFENA EM GUAS DE ABASTECIMENTO PBLICO NO BRASIL
Instituto Nacional de Cincias e Tecnologias Analticas Avanadas (INCTAA)
A regio Sudeste, por ser a mais populosa do pas, municpios atendidos com rede de gua tratada e
teve todas as suas capitais avaliadas quanto est acima da mdia nacional de coleta de esgoto
presena de cafena na gua tratada e tambm (44,0%), apesar de possuir menos da metade dos
em alguns mananciais de gua bruta. A seguir domiclios atendidos (49,2%), sendo que 58,7%
algumas caractersticas de cada capital ou rea dos municpios tratam o esgoto coletado.
metropolitana de cada regio.
Grande Belo Horizonte, como chamada a Regio
Metropolitana de Belo Horizonte, est em terceiro
lugar em aglomerao urbana (Tabela 1), logo
Dados demogrficos e econmicos depois das RMRJ e RMSP. Sua economia est
das capitais da regio Sudeste concentrada no comrcio e servios, principalmente
na capital, e a regio possui indstrias metalrgica,
As caractersticas gerais dessas capitais esto automobilstica, petroqumica e alimentcia, alm
apresentadas na Tabela 1. da forte contribuio da indstria extrativista de
mineral, que contribui para o PIB metropolitano,
A Regio Metropolitana de So Paulo (RMSP) devido presena do quadriltero ferrfero. O PIB
composta por 39 municpios, a qual corresponde a por habitante na cidade de Belo Horizonte de R$
aproximadamente 50% da populao do estado de 21.748,00 (IBGE, 2010b). O estado de Minas Gerais
SP (IBGE 2012; 2010a). Dos municpios paulistas, est entre os que possuem maior porcentagem de
quase todos possuem rede de gua tratada e domiclios com rede coletora de esgoto (68,9%),
coleta de esgoto, no entanto 78,5% dos municpios porm, quanto porcentagem de municpios com
trata o esgoto coletado (IBGE, 2010c). A economia tratamento de esgoto, est abaixo da mdia
da RMSP baseada principalmente na prestao nacional, com 22,7%.
de servios e na indstria e corresponde a mais
da metade do PIB do estado de SP (IBGE, 2008), A Regio Metropolitana de Vitria a menor da
sendo que a capital detm R$ 39.450,00/hab. regio Sudeste, com apenas sete municpios e
(IBGE, 2010b) a preos correntes. com a menor densidade demogrfica, apesar
de concentrar mais da metade da populao
A RMRJ composta por 19 municpios, sendo do estado do Esprito Santo. Sua economia est
a segunda maior rea metropolitana do Brasil, baseada na indstria e na atividade porturia
concentrando 70% da fora econmica do estado, (Rosseti Jr.; Schimiguel, 2011), possuindo o maior
a qual est baseada na indstria (refinarias PIB por habitante entre as capitais brasileiras (R$
de petrleo, indstria naval, petroqumica, 76.721,66/hab.). O Esprito Santo o nico estado
metalrgicas etc.) e vem crescendo no setor de da regio Sudeste que possui menos da mdia
servios e negcios. A cidade do Rio de Janeiro nacional de domiclios atendidos com rede coletora
possui um PIB de R$ 30.088,24/hab., tendo o de esgoto (28,3%). Por outro lado, o segundo em
sexto melhor PIB entre as capitais (IBGE, 2010b). nmero de municpios do pas (97,4%) atendidos
O estado do Rio de Janeiro possui todos os por esse servio, s ficando atrs de So Paulo.
Esses dados mostram que apesar de quase todos mananciais e municpios atendidos se encontram
os municpios do estado possurem rede coletora, resumidos na Tabela 2. Esse sistema integrado,
esta no chega nem a 30% dos domiclios. Desses chamado de Sistema Adutor Metropolitano (SAM),
municpios, 69,2% possui tratamento de esgoto, produz 67 mil litros de gua por segundo (SABESP,
ndice bastante acima da mdia nacional (28,5%) 2013). Neste trabalho foram realizadas coletas
(IBGE, 2010c). em pontos abastecidos pelos sistemas Cantareira,
Guarapiranga, Rio Claro e Baixo Cotia. Os trs
primeiros sistemas foram selecionados por atender
um grande nmero de usurios, j o sistema Baixo
Mananciais de abastecimento de Cotia foi contemplado devido ao histrico da baixa
gua nas capitais da regio Sudeste qualidade do manancial (SABESP, 2013; CETESB,
2011).
SO PAULO
RIO DE JANEIRO
A Regio Metropolitana de So Paulo abastecida
por oito sistemas produtores de gua (Cantareira, A Regio Metropolitana do Rio de Janeiro possui
Guarapiranga, Alto Tiet, Rio Claro, Rio Grande, trs sistemas produtores de gua integrados:
Alto Cotia, Baixo Cotia, Ribeiro da Estiva), cujos Acari, Guandu e Ribeiro das Lajes e um sistema
contaminao por esgoto, apresentando afluentes abastecem a RMSP. A ETA Guara (Figura 1) a
com IQA de ruim e pssimo (ANA, 2012). estao responsvel pela maior produo de gua
tratada da regio, a qual lana mo do sistema
Em Vitria, foram coletadas trs amostras, sendo Cantareira para produzir at 33 m3 s-1. A Tabela 6
duas vindas do sistema do rio Jucu, porm de ETA traz um resumo das informaes sobre sete ETA
diferentes, e outra do sistema do rio Santa Maria. que abastecem a RMSP, as quais empregam
tratamento convencional completo, que seguem
as etapas de pr-clorao, pr-alcalinizao,
coagulao, floculao, decantao, filtrao, ps-
Estaes de tratamento de gua alcalinizao, desinfeco e fluoretao.
nas capitais da regio Sudeste
RIO DE JANEIRO
SO PAULO
Na Regio Metropolitana do Rio de Janeiro, a
A Companhia de Saneamento Bsico de So CEDAE (Companhia Estadual de gua e Esgoto)
Paulo SABESP a empresa responsvel pelas responsvel pelo tratamento e distribuio da gua
28 estaes de tratamento de gua (ETA) que tratada. A CEDAE possui sob sua responsabilidade
a maior estao de tratamento de gua do mundo da capital (63%), seguida pelo sistema da Bacia
em produo contnua, com capacidade para gerar de Paraopeba (24%) (Tabela 8). As ETA realizam
43 m3 s-1 e atender 9 milhes de habitantes. A tratamento convencional, sendo que a ETA Catarina
ETA Guandu distribui gua para grande parte da apenas realiza filtrao e desinfeco com cloro
baixada fluminense e a cidade do Rio de Janeiro e distribui gua apenas para alguns bairros de
(Figura 2), estando localizada em Nova Iguau e cidades da RMBH.
sendo abastecida pela juno das guas do ribeiro
das Lajes e dos rios Pira e Paraba do Sul. VITRIA
Figura 2: Estao de tratamento de gua do Guandu Sistema Guandu Nova Iguau, RJ (CEDAE, 2010)
IBGE. Censo IBGE 2010. Instituto Brasileiro de Geografia IBGE. rea territorial oficial. Instituto Brasileiro de
e Estatstica, 2010a. Disponvel em: http://www.ibge. Geografia e Estatstica, 2013.Disponvel em: http://
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JANURIO, G. F.; FERREIRA FILHO, S. S. Planejamento e
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shtm., acessado em setembro de 2013. setembro de 2013.
50 CAFENA EM GUAS DE ABASTECIMENTO PBLICO NO BRASIL
Instituto Nacional de Cincias e Tecnologias Analticas Avanadas (INCTAA)
CAFENA EM GUAS DE ABASTECIMENTO PBLICO NO BRASIL
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05
O abastecimento de gua
em capitais da regio
Centro-Oeste
FERNANDO F. SODR1, FERNANDA V. DE ALMEIDA1, JOYCE S. SANTANA1,
MARCO T. GRASSI2 E KELLY C. MACHADO2
1
Grupo de Automao, Quimiometria e Qumica Ambiental, Universidade de Braslia
2
Grupo de Qumica Ambiental, Universidade Federal do Paran
52 CAFENA EM GUAS DE ABASTECIMENTO PBLICO NO BRASIL
Instituto Nacional de Cincias e Tecnologias Analticas Avanadas (INCTAA)
A regio Centro-Oeste a segunda maior regio do Goinia a capital do estado de Gois e possui a
Brasil, ocupando uma rea de mais de 1,6 milho maior densidade demogrfica dentre os estados da
de quilmetros quadrados do territrio nacional. regio. Localiza-se no centro do estado, ocupando
dividida em trs estados (Mato Grosso, Mato uma rea de 733 km2, que corresponde a 0,22%
Grosso do Sul e Gois), alm do Distrito Federal, da rea territorial do estado (IBGE, 2011). Com
local onde fica a capital do pas, Braslia. Apesar uma populao de 1,3 milho de habitantes, a
da grande rea, a regio menos populosa do segunda capital mais populosa da regio, ficando
Brasil, caracterizando-se pela presena de algumas atrs somente de Braslia. Goinia tambm se situa
concentraes urbanas, notadamente nas capitais no Planalto Central a uma altitude entre 150 e 850
das unidades federativas, assim como grandes metros , possuindo clima e vegetao similares aos
vazios populacionais. encontrados em Braslia.
os invernos so mais secos e com temperaturas 11.700 L s-1 (CAESB, 2013). O sistema integrado
amenas (os perodos de seca vo de abril a do rio Descoberto responsvel por atender cerca
setembro) (guas Guariroba, 2008). de 60% da populao do Distrito Federal, ou seja,
mais de 1,5 milho de habitantes. Grande parte
de Braslia, entretanto, abastecida pelo sistema
integrado do Torto/Santa Maria. A Tabela 2 traz um
Mananciais de abastecimento resumo das informaes pertinentes aos sistemas
de abastecimento de gua do Distrito Federal.
de gua nas capitais da Neste trabalho, cinco pontos amostrais foram
regio Centro-Oeste utilizados de forma a cobrir diferentes sistemas
de abastecimento. Trs amostras foram obtidas
BRASLIA em pontos abastecidos pelo sistema Descoberto
e duas em locais atendidos pelo sistema Torto/
Trs das mais importantes bacias hidrogrficas Santa Maria. Convm mencionar, entretanto, que os
do Brasil possuem nascentes inseridas no Distrito sistemas de produo de gua no Distrito Federal
Federal. O rio Descoberto, um dos principais so integrados, o que pode resultar na mistura
mananciais utilizados para produo de gua para de guas provenientes de diferentes sistemas
consumo humano, desagua na bacia do Paran. Os produtores.
corpos de gua do Preto e do Maranho desaguam
nas bacias do So Francisco e do Tocantins/ GOINIA
Araguaia, respectivamente.
A regio metropolitana de Goinia est dividida em
O fornecimento de gua populao do dois grandes sistemas de abastecimento de gua,
Distrito Federal realizado pela Companhia de o sistema Joo Leite e o sistema Meia Ponte, com
Saneamento Ambiental do Distrito Federal, a seus respectivos mananciais. Os dois sistemas
CAESB, que conta, atualmente, com cinco sistemas tm propores e capacidades equivalentes,
produtores (Descoberto, Torto/Santa Maria, fornecendo gua para cerca de 99% da populao
Sobradinho/Planaltina, So Sebastio e Brazlndia), de Goinia. A responsabilidade pelo abastecimento
representando uma disponibilidade hdrica de at de gua potvel, bem como a coleta e tratamento
Atualmente, o sistema Joo Leite, tambm Os pontos amostrais nessa capital foram
denominado sistema produtor Mauro Borges selecionados de forma a cobrir no apenas
Teixeira, est sofrendo importante alterao, regies mais populosas, mas tambm regies
principalmente com as obras da barragem de jusante da rea mais densamente urbanizada.
regularizao instalada no ribeiro Joo Leite. A Em funo do elevado nmero de ETA, optou-se
perspectiva que esse sistema abastea no futuro por realizar amostragem de guas em trs
cerca de 70% da cidade de Goinia, liberando localidades distintas, embora o nmero de
o sistema Meia Ponte para abastecer outros habitantes indicasse, a princpio, a necessidade de
municpios. estabelecer apenas dois pontos amostrais. Duas
GOIS. Obras do Sistema Joo Leite entram na reta MELO, M. S.; SOARES, A. K. Integrao dos sistemas Joo
final. Governo de Gois, Secretaria de Estado da Leite e Meia Ponte: uma anlise do abastecimento
Casa Civil. 2013. Disponvel em: <http://www.casacivil. de gua na regio metropolitana de Goinia. In:
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de 2013. 145-172.
IBGE. Sinopse do Censo Demogrfico 2010. Instituto SANEAGO. Memria SANEAGO. Saneamento de Gias.
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60 CAFENA EM GUAS DE ABASTECIMENTO PBLICO NO BRASIL
Instituto Nacional de Cincias e Tecnologias Analticas Avanadas (INCTAA)
CAFENA EM GUAS DE ABASTECIMENTO PBLICO NO BRASIL
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06
O abastecimento de
gua em capitais da
regio Nordeste
KTIA M. BICHINHO1, TERESA C. B. SALDANHA1, FLAVIANA J. R. SEVERO1,
MARIA M. L. M. LCIO1, MARIA C. CANELA2, CAMILA R. O. NUNES2,
GILSON L. DA SILVA3, MARTA M. M. B. DUARTE3, VALDINETE L. DA SILVA3
1
Laboratrio de Estudos em Qumica Ambiental, Universidade Federal da Paraba
2
Grupo de Pesquisa em Qumica Ambiental, Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro
3
Laboratrio de Engenharia Ambiental e da Qualidade, Universidade Federal de Pernambuco
62 CAFENA EM GUAS DE ABASTECIMENTO PBLICO NO BRASIL
Instituto Nacional de Cincias e Tecnologias Analticas Avanadas (INCTAA)
A Regio Integrada de Desenvolvimento da Grande Duas Unas, rio Capibaribe e rio Vrzea do
Teresina (RIDEGT) compe-se de 14 municpios Una (captaes construdas em situaes de
e a conurbao inclui o municpio de Timon, que emergncia) e atende 36% da demanda da RMR.
pertence ao estado do Maranho. Distante cerca O sistema Botafogo contribui com 17% do volume
de 350 km do litoral, a RIDEGT localiza-se s distribudo e tem como principal reservatrio
margens do rio Parnaba e pertence Regio a barragem Botafogo, represa do rio Catuc. A
Hidrogrfica Parnaba (ANA, 2010a). Capital do parte norte de Recife, bem como Olinda e Paulista
estado do Piau, Teresina gera um PIB por habitante so abastecidas pelo sistema Alto do Cu, que
de R$ 12.940,64, no se destacando em atividades representa 10% do volume de gua distribudo
agropecurias e industriais. Tem o setor de servios na RMR, sendo importantes os rios Utinga e
como o principal eixo da economia, incluindo as Pitanga (vazo de 700 L s -1),os rios Paratibe
atividades de administrao, sade, educao (250 L s-1), e Beberibe (450 L s-1) e o sistema de
e seguridade social (IBGE, 2010a). Possui rea poos Cruz de Rebouas, localizado em Igarassu.
territorial que se destaca, cerca de 1.392 km2, O sistema Gurja/Suape produz em torno de
possibilitando oportunidades de crescimento para 9% do volume de gua distribudo e utiliza as
as principais atividades econmicas: agropecurias, guas do rio Gurja, que so regularizadas
industriais e de servios. O atendimento total de pela represa localizada no rio Sicupema, alm
gua para o municpio de 91,1%, enquanto o de contribuies dos rios Utinga, Bita e Ipojuca
ndice de atendimento urbano de esgoto de (COMPESA, 2013). O aqufero Beberibe aflora
apenas 17,0%. nos estados de Pernambuco e Paraba, sendo
explorado na RMR para abastecimento pblico e
industrial (ANA, 2013). As guas da RMR sofrem
impactos do lanamento de esgotos domsticos,
Mananciais de abastecimento de pois a carga orgnica indica que a Bacia Litornea
gua nas capitais da Pernambuco a mais crtica de toda a Regio
regio Nordeste Hidrogrfica do Atlntico Norte Oriental. O resumo
das informaes referentes aos sistemas de
O clima da regio Nordeste predominantemente abastecimento de gua da RMR est apresentado
semirido, condio que confere regime na Tabela 2.
intermitente aos cursos dgua superficiais. Assim,
h um nmero significativo de reservatrios de O sistema integrado Alto do Cu/Caixa dgua foi
regularizao para fins de abastecimento pblico, escolhido para se avaliar a qualidade da gua
como ocorre nos estados do Cear e da Paraba. de abastecimento por ser o principal manancial
Por outro lado, significativa a contribuio de abastecimento da zona norte da Regio
dos mananciais subterrneos para suprir as Metropolitana de Recife, atendendo cerca de
demandas, sendo exemplos importantes o 0,37 milho de habitantes (COMPESA, 2013).
aqufero Barreiras, para a RMN, e tanto o aqufero
Itapecuru quanto o Barreiras, para a RMGSL (ANA, FORTALEZA
2007; ANA, 2013).
A RMF, composta por 15 municpios, abastecida por
RECIFE trs sistemas integrados, Gavio, Acarape do Meio
Gavio e Pacajus-Horizonte e Chorozinho, alm de
A RMR estende-se por 14 municpios, abastecidos
sistemas isolados (Tabela 3). O sistema integrado
por seis sistemas principais, atingindo um total
Gavio (SIN Gavio) o principal, responsvel pelo
de 2,79 milhes de pessoas (IBGE, 2010a; SNIS
2011). O sistema Pirapama o maior da RMR, abastecimento de gua de 93% da populao da
com uma produo de 5,3 m 3 s -1. Localiza-se RMF. Os audes Gavio (32 hm3), Riacho (45 hm3),
no Cabo de Santo Agostinho, sendo a barragem Pacoti (380 hm3), Pacajus (240 hm3), Aracoiaba
Pirapama, represa do rio Pirapama, o principal (170 hm3) e Castanho (6.700 hm3) e o canal do
reservatrio. O sistema Tapacur integrado Trabalhador/rio Jaguaribe (6 hm3) so os principais
e utiliza os reservatrios rio Tapacur, na mananciais superficiais desse sistema, no qual
barragem Tapacur (sistema de trs represas operam de forma interligada, com gesto de
localizadas em So Loureno da Mata), rio oferta e demanda feita pela Companhia de Gesto
CAFENA EM GUAS DE ABASTECIMENTO PBLICO NO BRASIL
Instituto Nacional de Cincias e Tecnologias Analticas Avanadas (INCTAA) 65
de Recursos Hdricos do Estado do Cear (ANA, txtil, alimentcia, qumica e farmacutica, entre
2010a; ANA, 2010b; COGERH, 2013). A qualidade outras, alm de problemas associados ao manejo
das guas desses mananciais, que pertencem de resduos slidos (ANA, 2012).
bacia hidrogrfica metropolitana, sofre impacto,
principalmente por lanamento de esgotos, Em Fortaleza foram realizadas coletas em pontos
estimado entre 31 e 60 t DBO dirias, acrescido abastecidos pelo sistema integrado Gavio, cuja
de atividades industriais potencialmente poluidoras capacidade de produo atende a grande maioria
como matadouros, curtumes, indstria de bebidas, da populao da RMF (CAGECE, 2013; SNIS, 2011).
66 CAFENA EM GUAS DE ABASTECIMENTO PBLICO NO BRASIL
Instituto Nacional de Cincias e Tecnologias Analticas Avanadas (INCTAA)
(lagosta e camaro) e txteis, responsvel pelo As coletas realizadas em Natal foram feitas em
impacto de efluentes contendo poluentes orgnicos locais da zona norte e da zona sul da cidade,
e inorgnicos (ANA, 2012). As guas subterrneas contemplando pontos abastecidos pelos sistemas
sofrem devido carncia de tratamento de esgotos, integrado lagoa do Extremoz e isolado lagoa do
responsvel pela contaminao microbiolgica e Jiqui, respectivamente, ambos complementados
por nitratos (ANA, 2007). por aportes de guas subterrneas.
68 CAFENA EM GUAS DE ABASTECIMENTO PBLICO NO BRASIL
Instituto Nacional de Cincias e Tecnologias Analticas Avanadas (INCTAA)
A Grande So Lus formada por cinco municpios Na RMJP, cerca de 84% da populao atendida
e seus principais mananciais superficiais so o rio abastecida a partir dos reservatrios rio Gramame
Itapecuru, o aude Batat (localizado no Parque e rio Mamuaba (barragem Gramame-Mamuaba),
Estadual do Bacanga) e o rio Peptal. Na mesma aude Mars e pequena contribuio de guas
proporo em importncia, as guas subterrneas subterrneas, os quais compem um nico sistema
dos aquferos Itapecuru e Barreiras suprem o integrado que abastece os municpios de Bayeux,
abastecimento de 57% da populao da regio
Cabedelo, Joo Pessoa (capital do estado) e Santa
metropolitana (Tabela 6). O servio de esgotamento
Rita. O municpio de Pedras de Fogo abastecido
sanitrio no satisfatrio, o que acarreta uma
pela barragem do Mato (represamento do rio
carga orgnica remanescente estimada em 38 t
DBO dirias (IBGE, 2010c) sobre as guas da Gramame), Cruz do Esprito Santo tem captao de
regio metropolitana. Alm disso, o manejo de gua no riacho das Flores, Mamanguape depende
resduos slidos agrava a situao, pois estimado das guas do riacho da Pedra (principal) e do aude
que a RMGSL contribui com 32% dos resduos Jangada (29% da gua bruta captada), enquanto
slidos de toda a Regio Hidrogrfica do Atlntico que em Rio Tinto, a gua captada no rio Vermelho
Nordeste Ocidental. Esto tambm apontados os complementada por sistemas de poos tubulares,
impactos gerados por atividades industriais como os quais correspondem a 25% do abastecimento
metalurgia, de leos vegetais, sabes, cervejarias, do municpio (Tabela 7). Os principais impactos
laticnios, carnes e derivados, curtumes, mveis e sobre a qualidade das guas metropolitanas
produtos cermicos, com especial destaque para esto associados aos baixos ndices de coleta de
o processamento da bauxita e minrio de ferro, esgotos, em mdia de 28% (SNIS, 2011), cultura
atividades que se desenvolvem prximo aos portos de cana-de-acar e de abacaxi, s indstrias
de Itaqui e Ponta da Madeira. A populao da
sucroalcooleiras, de bebidas, cermica, txtil, alm
Ilha de So Lus, capital do estado do Maranho,
das atividades do porto de Cabedelo, o que resulta
abastecida pelos sistemas: integrado ITALUS
em uma carga orgnica remanescente em torno
(responsvel por 42% do abastecimento de gua),
isolado rio Pimenta/aude Batat/poos (8%) e de 30 t DBO dirias (IBGE, 2008).
isolado poos (49%), conforme Tabela 6.
As coletas em Joo Pessoa foram realizadas em
Em So Lus, as coletas foram realizadas em pontos distribudos geograficamente na cidade,
pontos abastecidos pelos sistemas integrado abastecidos pelo sistema integrado rio Gramame/
ITALUS e isolados rio Pimenta, aude Batat e rio Mamuaba, aude Mars e poos, que atendem
poos, que abastecem cerca de 860 mil pessoas cerca de 820 mil habitantes da RMJP (CAGEPA,
(CAEMA, 2013; SNIS, 2011). 2013; SNIS, 2011).
abastecimento de gua da RMS, que alm de sistemas de poos operados pelo Servio de gua
atender a populao da capital e oito municpios, e Esgoto (SAAE-RN). A RMN possui trs estaes
tambm atende as indstrias instaladas no de tratamento de gua convencionais, conforme
Centro Industrial de Aratu e Polo Petroqumico apresentado na Tabela 12.
de Camaari. A ETA Principal realiza a captao
principalmente nos reservatrios Pedra do Cavalo, SO LUS
Joanes II e Santa Helena e sua gua tratada
distribuda para Salvador, Lauro de Freitas, Simes A Companhia de Saneamento Ambiental do
Filho/CIA Sul e Recncavo Sul. A ETA Bolandeira Maranho (CAEMA) responsvel pelo
realiza a captao em Joanes I, Ipitanga I, II e III, abastecimento de gua da RMGSL, exceto para
abastecendo a cidade de Salvador. As informaes os municpios de Pao de Lumiar e Raposa
esto resumidas na Tabela 11. (poos), atendidos pelo Servio de gua e Esgoto
do Estado (SAAE-MA). O sistema produtor da
NATAL cidade de So Lus composto por duas ETA
convencionais (ITALUS e Sacavm), duas ETA
A Companhia de guas e Esgotos (CAERN) de fluxo ascendente (Olho Dgua e Cururuca),
responsvel pelo abastecimento de gua da alm de 312 poos tubulares dispostos em trs
capital do estado do Rio Grande Norte e de parte baterias: Pacincia I e Pacincia II e outro isolado.
significativa dos municpios da RMN, com exceo As informaes resumidas sobre as ETA da RMGSL
de Cear-Mirim e Extremoz, abastecidas por esto mostradas na Tabela 13.
Referncias
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74 CAFENA EM GUAS DE ABASTECIMENTO PBLICO NO BRASIL
Instituto Nacional de Cincias e Tecnologias Analticas Avanadas (INCTAA)
CAFENA EM GUAS DE ABASTECIMENTO PBLICO NO BRASIL
Instituto Nacional de Cincias e Tecnologias Analticas Avanadas (INCTAA) 75
07
O abastecimento de
gua em capitais da
regio Norte
FERNANDA V. DE ALMEIDA1, FERNANDO F. SODR1, MARIA C. CANELA2, WILSON F. JARDIM3
1
Grupo de Automao, Quimiometria e Qumica Ambiental, Universidade de Braslia
2
Grupo de Pesquisa em Qumica Ambiental, Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro
3
Laboratrio de Qumica Ambiental, Universidade Estadual de Campinas
76 CAFENA EM GUAS DE ABASTECIMENTO PBLICO NO BRASIL
Instituto Nacional de Cincias e Tecnologias Analticas Avanadas (INCTAA)
A regio Norte a maior regio do Brasil em termos Belm est localizada ao nordeste do estado
territoriais, j que ocupa uma rea de mais de do Par, a 120 km da costa e 160 km da linha
3,8 milhes de quilmetros quadrados, cerca de do Equador, ocupando uma rea de cerca de
48% do territrio nacional. Engloba os estados do 1.060 km 2, correspondente a 0,09% da rea
Acre, Amap, Amazonas, Par, Rondnia, Roraima e territorial do estado. Com uma populao de
Tocantins. Possui algumas concentraes urbanas, aproximadamente 1,4 milho de habitantes, a
como as cidades de Manaus, Belm e Porto Velho, segunda capital mais populosa da regio Norte
mas caracteriza-se por apresentar a menor (IBGE, 2011).
densidade populacional do pas, com cerca de 3,8
Palmas, a mais nova capital estadual do pas,
habitantes por quilmetro quadrado.
est localizada no centro geogrfico do estado
do Tocantins, ocupando uma rea de 2,2 mil km2,
o que corresponde a 0,80% da rea territorial do
estado. Com uma populao de aproximadamente
Dados demogrficos e econmicos 230 mil habitantes, a stima e ltima capital
das capitais da regio Norte mais populosa da regio Norte (IBGE, 2011).
Embora a regio Norte seja formada por sete Porto Velho o municpio mais populoso do estado
estados, apenas quatro foram includos neste de Rondnia e possui como regio metropolitana
estudo: Amazonas, Par, Tocantins e Rondnia apenas mais uma cidade, que est a 20 km, chamada
[Porto Velho e Palmas foram amostrados apenas Candeias do Jamari, com aproximadamente 17 mil
na primeira campanha]. As caractersticas gerais habitantes. Economicamente, a cidade detm o
quarto PIB da regio Norte e atualmente a capital
das capitais das unidades federativas da regio
que mais cresce economicamente no pas (IBGE,
Norte includas neste trabalho esto apresentadas
2012). O PIB de Porto Velho de R$ 17.636,36 per
na Tabela 1.
capita, sendo a economia baseada principalmente
em servios (83,8%), seguida por agropecuria e
Manaus a capital e a maior cidade do Amazonas,
indstria (IBGE, 2012).
com uma rea de mais de 11 mil km 2 e uma
populao de 1,8 milho de habitantes. Localiza-se
no corao da floresta amaznica, maior floresta
tropical do mundo, na confluncia dos rios Negro
Mananciais de abastecimento de
e Solimes, formadores do rio Amazonas. Possui
a maior regio metropolitana da regio Norte do gua nas capitais da regio Norte
pas e a 10 do Brasil. A capital encontra-se sob
clima tropical mido, com elevada umidade relativa MANAUS
durante o ano e aumento de chuvas no vero. Por
Manaus ser prxima linha do Equador, o calor Informaes sobre coleta e distribuio de gua
constante, sendo praticamente inexistentes os dias para consumo humano em Manaus so incipientes,
de frio durante o inverno. Isso ocorre em funo uma vez que o prprio atlas de abastecimento
da proximidade com a floresta mida, que evita urbano de gua elaborado pela ANA no apresenta
extremos de calor . informaes detalhadas sobre a situao das ETA na
cidade. Atualmente, os servios de abastecimento do Ismael, responsvel por atender grande parte da
de gua e gerenciamento de esgoto em Manaus populao de Manaus. Um terceiro ponto amostral
esto sob a responsabilidade da concessionria foi estabelecido junto ao Sistema Mauazinho,
Manaus Ambiental. Para efeito deste livro, tambm localizado jusante do centro da capital. Manaus
sero consideradas informaes disponibilizadas tambm possui sistemas isolados para produo
pela prpria concessionria, assim como outras de gua, mas com volume de produo bastante
informaes complementares disponibilizadas na reduzido em comparao aos demais sistemas.
home page do Instituto Trata Brasil (Pinto, 2012).
BELM
O rio Negro o principal manancial de gua em
Manaus. Atualmente, dois sistemas captam gua A maior parte da populao da regio metropolitana
bruta desse manancial para produo de gua para de Belm abastecida pelo manancial do Utinga,
consumo humano. O complexo de produo da formado por dois lagos naturais, o gua Preta
Ponta do Ismael, situado na margem esquerda do e o Bolonha. Esses lagos so alimentados
rio Negro e na zona oeste da cidade, o principal principalmente pelas guas do rio Guam e por
sistema produtor de gua, contando com duas algumas nascentes (Tabela 3). O restante da
estaes de tratamento. O sistema Mauazinho populao, cerca de 25%, atendida pela gua
responsvel pelo abastecimento do Distrito de poos artesianos que constituem os sistemas
Industrial de Manaus e de outras reas prximas integrados. A Companhia de Saneamento do
s suas instalaes (Tabela 2). Neste trabalho, dois Par COSANPA, empresa responsvel pela
pontos amostrais foram estabelecidos na rede de captao, distribuio e tratamento das guas
distribuio de gua atendida pelo Sistema Ponta da regio metropolitana de Belm, considera o
manancial subterrneo como reserva estratgica O nico ponto amostral foi localizado na regio
para complemento da produo de gua tratada central da cidade, que recebe gua da maior
e distribuda (COSANPA, 2011). estao de tratamento (ETA 6) e que atende cerca
de 65% da populao.
Os pontos amostrais foram concentrados no
Sistema Integrado Bolonha-Utinga que atende
cerca de 75% da populao. Os pontos amostrais PORTO VELHO
foram concentrados nas ETA So Brs e Bolonha,
as duas maiores ETA em funcionamento em Belm. O principal manancial de abastecimento de Porto
Velho o rio Madeira, contribuindo com 80% da
PALMAS gua captada (captao Santo Antnio), uma
vez que ampliaes de captao nesse rio esto
O maior sistema de abastecimento de gua sendo feitas para desativar a captao no igarap
do municpio de Palmas est integrado ETA Bate Estaca, devido s restries quantitativas
6, denominado Sistema de Abastecimento de e qualitativas desse corpo aqutico (Tabela 5).
gua (SAA). Outros sistemas menores tambm O igarap Bate Estaca contribui com 150 L s-1
atuam complementando a vazo necessria ao na captao total que abastece as duas ETA
abastecimento do municpio. O SAA abastece
da cidade. Na capital de Rondnia tambm h
parte do Plano Diretor de Palmas (regio central)
abastecimento de gua subterrnea, embora em
e a regio sul, incluindo os municpios de Aureny,
Taquaralto e Taquary (PALMAS, 2013a). Atualmente menor quantidade que no restante do estado (ANA,
o sistema de abastecimento de Palmas atende 99% 2010). Neste trabalho, a coleta em Porto Velho foi
da populao urbana, atravs de sete sistemas realizada apenas na primeira campanha, em dois
produtores, sendo cinco na sede municipal e dois pontos abastecidos pela maior ETA da cidade, que
nos distritos de Buritirana e Taquarussu (Tabela 4). recebe gua dos dois mananciais citados acima.
08
Avaliando os
resultados obtidos
FERNANDO F. SODR1, MARIA C. CANELA2, CRISTIANE VIDAL3,
WILSON F. JARDIM3, KTIA M. BICHINHO4 E MARCO T. GRASSI5
1
Grupo de Automao, Quimiometria e Qumica Ambiental, Universidade de Braslia
2
Grupo de Pesquisa em Qumica Ambiental, Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro
3
Laboratrio de Qumica Ambiental, Universidade Estadual de Campinas
4
Laboratrio de Estudos em Qumica Ambiental, Universidade Federal da Paraba
5
Grupo de Qumica Ambiental, Universidade Federal do Paran
84 CAFENA EM GUAS DE ABASTECIMENTO PBLICO NO BRASIL
Instituto Nacional de Cincias e Tecnologias Analticas Avanadas (INCTAA)
Apesar de a cafena ser comprovadamente uma livro so nada mais que um reflexo do cenrio de
substncia indicadora da contaminao fecal de saneamento no Brasil.
guas superficiais, sua ocorrncia em amostras
de gua para consumo humano ainda pouco Neste estudo, 61 pontos amostrais foram
explorada na literatura. Isso ocorre, dentre outros estabelecidos em 22 capitais brasileiras incluindo
aspectos, em funo da expectativa de que os Braslia, a capital do Distrito Federal. Justamente
nveis de concentrao nessas amostras sejam na capital do pas onde foi estabelecido o maior
bastante reduzidos. Entretanto, essa considerao nmero de pontos amostrais. Os cinco pontos
deve ser verdadeira apenas em estudos realizados amostrais localizados em Braslia refletem o
em pases ou regies que possuem servios de elevado nmero de sistemas produtores de
saneamento que priorizam o tratamento eficiente gua para consumo humano, conforme visto no
e no o descarte do esgoto bruto nos mananciais captulo 7. Em outras capitais, como So Paulo
de gua. (SP) e Rio de Janeiro (RJ), o critrio para seleo
dos pontos amostrais se baseou, majoritariamente,
Segundo o mais recente Relatrio de Diagnstico no nmero total de habitantes e na distribuio
dos Servios de gua e Esgoto do SNIS (Sistema geogrfica. Nessas capitais foram obtidas quatro
Nacional de Informao sobre Saneamento), a amostras representativas. As cidades de Fortaleza
mdia nacional de tratamento do esgoto gerado (CE) e Recife (PE) tambm contriburam com quatro
[entende-se por volume de esgoto gerado o volume pontos amostrais, seguidas de Porto Alegre (RS),
de gua consumida, segundo a SNIS] de apenas Curitiba (PR), Belo Horizonte (MG), Vitria (ES),
37,5%, destacando-se a regio Centro-Oeste, Cuiab (MT), Manaus (AM), Belm (PA) e Salvador
com uma mdia de 44% (SNIS, 2013). Segundo o (BA), com trs pontos amostrais cada; Goinia (GO),
relatrio do SNIS, as capitais que possuem maior Campo Grande (MS), Porto Velho (RO), Natal (RN),
ndice de tratamento de esgotos so: Salvador, So Lus (MA), Joo Pessoa (PB) e Teresina (PI),
com 97,4%, seguida de Curitiba, 87,2% e Braslia, com dois pontos cada e, finalmente, Florianpolis
65,6%. No caso de Braslia, a CAESB/DF divulgou (SC) e Palmas (TO), que contriburam com apenas
que 100% do volume de esgoto coletado foi um ponto amostral.
tratado. Porm o consumo mdio dirio per capita
de gua nesta capital foi de 187,0 L, enquanto que
Amostras de gua para consumo humano foram
o volume dirio per capita de esgoto coletado e
coletadas durante duas campanhas amostrais
tratado foi de 129 L, ou seja, 31% menor que o
realizadas entre julho e setembro de 2011 e
consumo de gua.
2012, ambas durante o perodo de inverno.
Muitos estudos mostram que existem variaes
No h dvidas de que o investimento em
sazonais importantes relacionadas aos nveis
tratamento de esgotos reduz os gastos com o
de concentrao de contaminantes emergentes
tratamento da gua para abastecimento pblico,
em guas superficiais brasileiras (Locatelli et al.,
pois os mananciais utilizados para captao de
2011; Montagner; Jardim, 2011). Entretanto, at o
gua estaro com qualidade melhor que aqueles
momento, nenhum estudo levantou evidncias com
que recebem descargas de esgoto bruto. O
relao a possveis efeitos sazonais em amostras
Relatrio de Conjuntura dos Recursos Hdricos de
de gua para consumo humano.
2013, disponvel no site da Agncia Nacional de
guas (ANA, 2013), mostra que reas urbanas
possuem maior incidncia de guas com ndices Os nveis de cafena nas amostras provenientes
de Qualidade da gua (IQA) considerados pssimos das duas campanhas amostrais so mostrados
e ruins. Nesses casos, so guas que necessitam na Tabela 1. Os pontos amostrais de cada capital
de tratamentos mais avanados para poderem ser so identificados com a sigla do respectivo estado,
destinadas ao abastecimento pblico. Segundo o seguida de um nmero. Tambm possvel
relatrio, dentre os 2.001 pontos monitorados, observar que as amostras esto agrupadas por
148 deles localizam-se em reas urbanas, sendo regio. Porto Velho e Palmas foram investigadas
que os percentuais de pontos amostrais que apenas na primeira campanha amostral, enquanto
apresentaram IQA ruim e pssimo foram de 32% e que Campo Grande, Manaus, Belm, So Lus,
12%, respectivamente. Por outro lado, mananciais Teresina e Salvador forneceram amostras somente
localizados nos rios Tiet e Paraba do Sul, por durante a segunda campanha amostral. As demais
exemplo, apresentaram melhores resultados entre capitais foram estudadas nos dois perodos de
2001 e 2011, devido justamente ao aumento amostragem, sendo que em So Paulo e no Rio de
de investimentos em coleta e tratamento de Janeiro houve alterao de pontos amostrais entre
esgotos. Assim, os resultados mostrados neste a primeira e a segunda campanha.
CAFENA EM GUAS DE ABASTECIMENTO PBLICO NO BRASIL
Instituto Nacional de Cincias e Tecnologias Analticas Avanadas (INCTAA) 85
1 campanha 2 campanha
Regio Sul
Porto Alegre RS-1 Bairro Paternon 236 1342
RS-2 Bairro Protsio Alves 139 2769
RS-3 Bairro Bela Vista 122 2659
Curitiba PR-1 Bairro Cajuru 8,0 167
PR-2 Bairro Rebouas 6,1 157
PR-3 Bairro Cidade Industrial 4,2 25
Florianpolis SC-1 Sistema de guas da Grande 3,9 19
Florianpolis
Regio Sudeste
So Paulo SP-1 Sistema Guarapiranga 348 198
SP-2 Sistema Cantareira 42 84
SP-3 Sistema Rio Grande n.c. 38
SP-4 Sistema Rio Claro 13 n.c.
Rio de Janeiro RJ-1 Centro 4,0 26
RJ-2 Zona Sul 3,8 36
RJ-3 Zona Norte 14 n.c.
RJ-4 Zona Oeste 5,9 n.c.
Belo Horizonte MG-1 Bairro Santo Antonio 85 599
MG-2 Bairro Buritis 6,9 8,0
MG-3 Bairro Savassi 3,5 11
Vitria ES-1 Bairro Bento Ferreira 5,1 267
ES-2 Cariacica 6,2 157
ES-3 Bairro So Pedro 3,0 165
Regio Centro-Oeste
Braslia DF-1 Asa Norte 8,0 38
DF-2 Asa Sul 8,0 11
DF-3 guas Claras 13 32
DF-4 Ceilndia 10 29
DF-5 Lago Sul 8,0 11
Goinia GO-1 Setor Sul 4,0 70
GO-2 Jardim Planalto 11 41
Cuiab MT-1 Bairro Quilombo 6,5 27
MT-2 Jardim das Amricas 4,7 9,0
MT-3 Bairro Coophema 5,3 629
Campo Grande MS-1 Parque Residencial Rita Vieira n.c. 1793
MS-2 Bairro Vilas Boas n.c. 6,0
n.c.: amostra no coletada; LD: Limite de deteco
86 CAFENA EM GUAS DE ABASTECIMENTO PBLICO NO BRASIL
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Tabela 1: Continuao.
1 campanha 2 campanha
Regio Norte
Manaus AM-1 Bairro da Paz n.c. 8,0
AM-2 Bairro Adrianpolis n.c. 11
AM-3 Distrito Industrial n.c. 35
Belm PA-1 Bairro Nazar n.c. 51
PA-2 Bairro Cidade Velha n.c. 61
PA-3 Bairro Guama n.c. 133
Porto Velho RO-1 Bairro Centro 4,5 n.c.
RO-2 Bairro Centro 1,8 n.c.
Palmas TO-1 Plano Diretor Sul 12 n.c.
Regio Nordeste
Recife PE-1 Bairro Alto do Cu 3,3 8,0
PE-2 Bairro Ouro Preto, Olinda 4,0 4,0
PE-3 Bairro Casa Caiada 8,0 <LD
PE-4 Bairro Dois Irmos 7,0 2,0
Fortaleza CE-1 Municpio de Eusbio <LD 5,0
CE-2 Bairro Pici <LD <LD
CE-3 Bairro Meireles <LD <LD
CE-4 Bairro Benfica <LD 2,0
Salvador BA-1 Bairro Costa Azul n.c. 7,0
BA-2 Bairro Itapu n.c. 34
BA-3 Bairro Ondina n.c. 8,0
Natal RN-1 Bairro Ponta Negra 11 8,0
RN-2 Bairro Pajuara 4,0 98
So Lus MA-1 Conjunto Bequimo n.c. 4,0
MA-2 Bairro Camboa n.c. 12
Joo Pessoa PB-1 Bairro Castelo Branco 2,0 5,0
PB-2 Bairro Jardim Planalto 3,8 74
Teresina PI-1 Bairro So Joo n.c. 196
PI-2 Bairro Centro n.c. 180
n.c.: amostra no coletada; LD: Limite de deteco
cidade de Campinas (SP) e detectaram cafena nveis de concentrao dobravam durante os fins
em todas as amostras investigadas. Frequncias de semana. Locatelli (2011) observou variaes
de deteco de 100% tambm foram observadas semanais e dirias relacionadas presena de
neste estudo na comparao dos resultados antibiticos em guas superficiais utilizadas para
obtidos nas diferentes regies do pas. Cafena foi produo de gua para consumo humano.
encontrada em todas as amostras das regies Sul,
Sudeste, Centro-Oeste e Norte. Na regio Nordeste, De acordo com os dados mostrados na Tabela 1, a
a cafena foi detectada em 77% das amostras. Isso concentrao de cafena nas amostras variou entre
se deveu baixa frequncia de deteco observada 1,8 ng L-1 (RO-2) e 2769 ng L-1 (RS-2). importante
nas amostras de Recife (87%) e, notadamente, mencionar, entretanto, que a distribuio das
Fortaleza (25%). concentraes nas amostras no foi uniforme. A
Figura 1 mostra a distribuio da concentrao
Os nveis de concentrao de cafena apresentaram de cafena nas amostras investigadas. Apenas 4%
grande variao, tanto entre capitais quanto entre das amostras apresentaram nveis superiores a
as diferentes campanhas amostrais. Observou-se 1000 ng L-1. Em 16% dos casos, a concentrao de
um aumento nos nveis de concentrao entre cafena variou entre 100 e 1000 ng L-1. No entanto,
a primeira e a segunda campanha em 81% na maioria das amostras investigadas, ou seja, em
das amostras. Em alguns casos, o aumento foi cerca de 60% delas, a concentrao de cafena no
incipiente, permanecendo na mesma faixa de ultrapassou 20 ng L-1.
magnitude, enquanto que em alguns pontos
amostrais observou-se variao de at duas A concentrao mdia de cafena determinada
ordens de grandeza. Esse comportamento similar em cada capital mostrada na Figura 2. Os
ao comumente observado em amostras de guas valores mostrados nessa figura foram calculados
superficiais, nas quais os nveis de contaminantes levando-se em considerao as concentraes
emergentes em uma mesma regio podem se individuais determinadas em todos os pontos
apresentar dentro de at trs ordens de grandeza amostrais de uma mesma capital nas duas
(Vethaak et al., 2005; Montagner; Jardim, 2011). campanhas amostrais. A barra de erro que
acompanha cada uma das colunas indica a
Variaes tambm podem ocorrer por aspectos variabilidade dos resultados representada pelo
sazonais ou ainda em funo do uso do solo em intervalo de confiana a 95% de confiabilidade.
uma determinada bacia hidrogrfica. Mesmo importante mencionar que, devido s diferenas
assim, para alguns pontos amostrais, o aumento de concentrao de cafena na gua das capitais,
observado foi extremamente elevado como, por os valores so comparados em escala logartmica.
exemplo, no ponto amostral MT-3, no qual o nvel
de cafena aumentou mais de 100 vezes entre as Observa-se, na Figura 2, que duas capitais
duas campanhas amostrais. Em duas situaes, apresentaram nveis mdios de concentrao
o aumento observado foi de cerca de 50 vezes, significativamente superiores quando comparados
enquanto que, na maioria dos casos, o aumento aos resultados das outras capitais. Porto Alegre
foi inferior a dez vezes. importante destacar, apresentou a maior concentrao de cafena na
entretanto, que, por se tratar de uma substncia gua para consumo humano, com um valor mdio
presente em nosso dia a dia, so esperadas de 1.211 ng L-1. Os valores mnimo e mximo
variaes na concentrao de cafena no apenas determinados nas guas dessa capital foram
sazonais, mas tambm semanais ou mesmo 122 ng L-1 e 2.769 ng L-1, respectivamente, em
dirias, em funo do seu padro intermitente um total de seis amostras coletadas nas duas
de consumo. campanhas amostrais. Campo Grande apresentou
concentrao mdia de 900 ng L-1 de cafena
Nenhum estudo at o momento investigou a em suas guas. Porm importante mencionar
variabilidade semanal ou diria de contaminantes que apenas duas amostras foram coletadas
emergentes na gua para consumo humano, nessa capital, ambas na segunda campanha.
embora alguns estudos j tenham sido realizados Os valores determinados foram de 6,0 ng L-1
no Brasil com amostras diretamente relacionadas (MS-1) e 1.793 ng L-1 (MS-2). A constatao de
origem da cafena na gua para consumo humano. concentraes to diferentes em duas amostras
Feitosa (2013) investigou a ocorrncia de duas coletadas em diferentes pontos amostrais da
drogas de abuso em amostras de esgoto bruto em cidade evidencia que um dos sistemas produtores
todos os dias de uma semana e observou que os de gua para consumo humano dessa capital
88 CAFENA EM GUAS DE ABASTECIMENTO PBLICO NO BRASIL
Instituto Nacional de Cincias e Tecnologias Analticas Avanadas (INCTAA)
Figura 1: Histograma de distribuio das amostras em funo dos nveis de concentrao de cafena
Figura 2: Concentrao mdia de cafena determinada em 21 capitais estaduais e na capital federal; barras
indicam intervalo de confiana a 95% de significncia calculada com base em valores de desvio padro (n > 2) ou
desvio mdio (n = 2)
a contaminao direta das fontes de gua e primeira a concentrao de cafena nesse ponto
no como forma de avaliao da situao dos amostral no destoou dos demais.
servios de gua e esgoto. Rabiet et al. (2006), por
exemplo, investigaram a presena de cafena como Na capital do Esprito Santo foram coletadas seis
indicadora de contaminao fecal em amostras amostras nas duas campanhas amostrais, levando
de gua coletadas em poos que, sabidamente, a um valor mdio de 101 ng L-1. Interessante notar
apresentavam contaminao direta por esgoto. que assim como no ponto MT-3 em todos os pontos
Em alguns pontos amostrais, a concentrao amostrais de Vitria a concentrao de cafena na
de cafena variou entre 1,5 e 23 ng L-1 . No gua para consumo humano foi, sistematicamente,
estudo de Rabiet et al., a concentrao mais mais elevada na segunda campanha amostral,
elevada observada pelos autores cerca de 1.000 variando entre 157 e 267 ng L-1. Durante a primeira
vezes menor que as concentraes mximas campanha, ao contrrio, a concentrao mxima
determinadas nas amostras de Porto Alegre e determinada no ultrapassou 6,2 ng L-1.
Campo Grande.
Nas capitais Belm, Curitiba, Goinia e Natal,
Cinco capitais estaduais apresentaram concentrao as concentraes mdias de cafena na gua
mdia de cafena na faixa entre 100 e 200 ng L-1. para consumo humano foram de 82, 61, 31
Em Teresina, uma concentrao de 188 ng L-1 foi e 30 ng L-1, respectivamente. Em todas essas
obtida a partir de valores individuais referentes capitais, concentraes mais elevadas foram
s duas amostras coletadas durante a segunda determinadas na segunda campanha amostral,
campanha. Nessa capital,foi observada a menor com exceo de Belm, onde no foram coletadas
variao entre as concentraes determinadas amostras durante a primeira campanha amostral,
nos diferentes pontos amostrais, conforme pode impossibilitando a comparao.
ser visto na Tabela 1. A capital paulista apresentou
concentrao mdia de 121 ng L-1, seguida de Belo As demais capitais apresentaram concentraes
Horizonte (119 ng L-1), Cuiab (114 ng L-1) e Vitria mdias de cafena inferiores a 21 ng L-1. Nesse
(101 ng L-1). Em So Paulo, a concentrao mdia caso, convm destacar os baixos nveis mdios
foi obtida a partir de seis concentraes individuais, determinados em So Lus (8,0 ng L-1), Recife
as quais apresentaram um valor mnimo de (5,0 ng L-1), Fortaleza (4,0 ng L-1) e Porto Velho
13 ng L-1 e mximo de 348 ng L-1. Embora as (3,0 ng L-1). De uma maneira geral, possvel
concentraes mdias determinadas em So observar, com base nas informaes na Tabela 1 e
Paulo e Belo Horizonte sejam bastante prximas, da Figura 2, que os nveis mais elevados de cafena
na capital mineira, valores de at 599 ng L-1 foram determinados nas capitais continentais,
foram determinados em amostras de gua para em detrimento das capitais localizadas no litoral
consumo humano. A amostra mais impactada de atlntico. Dentre as dez capitais que apresentaram
Belo Horizonte corresponde justamente gua as maiores concentraes de cafena em sua
captada no Rio das Velhas, ponto de captao gua destinada ao abastecimento pblico, nove
mais impactado pela urbanizao, sugerindo que localizam-se no interior do pas. Com exceo
a concentrao de cafena na gua tratada esteja de Vitria, todas as demais capitais litorneas
diretamente relacionada com a presena de esgoto investigadas neste trabalho apresentaram nveis
domstico. mdios inferiores a 30 ng L-1.
Em Cuiab foi observada a maior diferena de A grande maioria dos estudos realizados em pases
concentrao dentro do conjunto de valores para como Estados Unidos, Canad, Frana e Espanha
uma capital. Dentre as seis amostras coletadas busca determinar os nveis de cafena na gua
durante as duas campanhas amostrais, cinco para consumo humano como forma de avaliar sua
apresentaram-se na faixa entre 4,7 e 27 ng L-1, taxa de remoo durante o tratamento de gua
enquanto que uma das amostras apresentou ou, ainda, a eficincia de etapas especficas de
concentrao de 629 ng L-1. A amostra coletada remoo (Stackelberg et al., 2004; 2007; Hua et al.,
no ponto MT-3 localiza-se jusante do centro 2006; Gibs et al., 2007; Viglino et al., 2008; Togola;
da capital, o que poderia explicar a presena de Budzinski, 2008; Huerta-Fontela et al., 2008;
quantidades elevadas de cafena no manancial Boleda et al., 2010; Mompelat et al., 2011). Nesses
de gua utilizado para captao. Entretanto, trabalhos, a concentrao mxima de cafena na
esse valor diferenciado foi observado apenas gua produzida aps diversos tipos de tratamento
na segunda campanha amostral, sendo que na no ultrapassou 120 ng L-1.
90 CAFENA EM GUAS DE ABASTECIMENTO PBLICO NO BRASIL
Instituto Nacional de Cincias e Tecnologias Analticas Avanadas (INCTAA)
Na China, Leung et al. (2013) investigaram a box-whiskers atribudo a cada uma das cinco
presena de 11 produtos farmacuticos na gua regies brasileiras.
para consumo humano distribuda nas 13 cidades
mais populosas do pas e verificaram que a possvel observar que as amostras provenientes
cafena foi a substncia mais frequentemente da regio Sul apresentaram a maior variabilidade
detectada (88%), apresentando concentrao dos resultados, assim como valores mdios e
mediana de 24 ng L-1. Observaram tambm que medianos mais elevados em comparao com as
apenas algumas amostras da cidade de Hangzhou demais regies. Conforme mostrado anteriormente,
apresentaram nveis acima de 400 ng L-1 (mximo nessa regio foram determinados os valores mais
elevados de cafena na gua para consumo
de 564 ng L-1).
humano, provenientes de Porto Alegre (Figura 4).
interessante notar que h uma diferena marcante
As Figuras 3 e 4 mostram a variao nos nveis
entre os valores mdios e medianos determinados,
de cafena nas amostras de diferentes regies
sendo que a mdia, representada pelo crculo
investigadas. Os resultados so mostrados em
preenchido, significativamente maior que a
escala logartmica e em grficos box-whiskers, nos
mediana. Isso ocorre em funo da distribuio
quais possvel identificar, alm da variabilidade desuniforme dos dados experimentais obtidos,
dos dados, os valores mdios, medianos, mximos nos quais valores bastante elevados, em menor
e mnimos. Para efeito de construo dos grficos, prevalncia, exercem grande peso para o aumento
foram consideradas apenas as amostras que da mdia aritmtica. Esse comportamento tambm
apresentaram resultado numrico. Ou seja, as foi observado para as amostras das demais regies
amostras em que a cafena no foi detectada no investigadas. De uma maneira geral, os valores
foram includas na construo dos grficos. Na mdios foram trs a quatro vezes maiores que
Figura 3 tambm possvel observar a distribuio os medianos para todas as regies do pas, com
dos dados experimentais ao lado de cada grfico exceo da regio Centro-Oeste, na qual a mdia
Figura 3: Distribuio de cafena nas amostras de gua tratada coletadas em diferentes regies brasileiras;
nos grficos box-whiskers, esquerda, as linhas horizontais da caixa representam 25, 50 (mediana) e 75% dos
valores, as barras de erro indicam 10 e 90%, o crculo preenchido representa o valor mdio e os traos horizontais
correspondem aos valores mximo e mnimo; direita do grfico mostrada a distribuio de todos os dados
experimentais.
CAFENA EM GUAS DE ABASTECIMENTO PBLICO NO BRASIL
Instituto Nacional de Cincias e Tecnologias Analticas Avanadas (INCTAA) 91
foi 12 vezes maior que a mediana. Isso se deveu Peru (2) e Uruguai (1), assim como trs amostras
aos elevados valores determinados nos pontos coletadas em cidades do Japo. Encontraram
amostrais MT-3 e MS-1. cafena em todas as amostras provenientes
da Espanha, as quais apresentaram mdia de
Os nveis globais de cafena na gua para consumo 50 ng L-1 e mediana de 24 ng L-1. A concentrao
humano foram investigados por Boleda et al. mais elevada encontrada nessas amostras foi
(2011) juntamente com a concentrao de de 392 ng L-1. Considerando o universo amostral
outras 26 drogas de abuso. Os autores coletaram formado pelas amostras oriundas das demais
50 amostras em 43 cidades da Espanha, 15 cidades da Europa, Japo e Amrica Latina,
amostras em grandes cidades da ustria (1), verificaram uma frequncia de deteco de 81%,
Frana (4), Alemanha (3), Islndia (2), Eslovquia sendo que a mdia calculada para as amostras
(1), Sua (2) e Reino Unido (2), nove amostras da Amrica Latina (38 ng L-1) foi a maior em
em pases da Amrica Latina, a saber, Argentina comparao s calculadas para Japo (33 ng L-1)
(1), Brasil (1), Chile (2), Colmbia (1), Panam (1), e Europa (7 ng L-1).
Figura 4: Faixa mdia de concentrao de cafena encontrada na gua das capitais brasileiras estudadas e as
instituies responsveis pelas coletas
92 CAFENA EM GUAS DE ABASTECIMENTO PBLICO NO BRASIL
Instituto Nacional de Cincias e Tecnologias Analticas Avanadas (INCTAA)
09
Finalizando
WILSON DE FIGUEIREDO JARDIM1
Este um trabalho pioneiro no Brasil, voltado para providas de processos sofisticados, o que est
a investigao da presena de contaminantes longe de ser a realidade brasileira.
emergentes na gua de abastecimento na maioria
das capitais brasileiras. Um trabalho dessa Na impossibilidade de se analisar um nmero
envergadura somente se concretizou devido muito grande de compostos, optou-se por usar a
ao esforo conjunto de inmeras instituies cafena como indicador da qualidade das guas
de ensino e pesquisa do pas participantes do coletadas nas capitais selecionadas. Como j dito,
Instituto Nacional de Cincias e Tecnologias os valores de cafena encontrados na gua servida
Analticas Avanadas (INCTAA). Ao abranger cerca populao no so motivo de preocupao
de 40 milhes de pessoas que so servidas pelas quanto sade pblica, pois esto numa faixa
produtoras de gua que abastecem essas capitas, de mil a 10 mil vezes menor do encontrado numa
o projeto abarca tambm um compromisso social nica xcara de caf. O importante saber que a
imensurvel, revelando aspectos ainda pouco cafena que encontrada na gua da rede vem do
explorados no campo da sade pblica e da esgoto sanitrio lanado no manancial e, assim
exposio ambiental. sendo, quando se detecta cafena, a possibilidade
de se encontrar uma srie de outros compostos
O tema Contaminantes Emergentes tem chamado como drogas lcitas e ilcitas, produtos de higiene
a ateno de inmeros pases, alm de ter sido pessoal, hormnios, frmacos e outros muito
apontado pela Organizao Mundial da Sade grande.
(OMS) como um problema real que demanda aes
O fator mais preocupante deste estudo foi mostrar
imediatas no conhecimento das fontes de emisso
que as concentraes de cafena encontradas nas
e controle ambiental dessas substncias. Para os
amostras de gua de abastecimento de algumas
legisladores e tomadores de deciso, acostumados
capitais chegam a ser mil vezes superiores quelas
a trabalhar com compostos individuais, fica a
encontradas em capitais populosas na Europa
rdua tarefa de traar estratgias de como agir
e EUA. Considerando que devido s mudanas
para controlar cerca de mil substncias que se
climticas existe a previso de que a oferta de
enquadram hoje na definio de contaminante
gua seja prejudicada, esse cenrio pode se
emergente.
tornar ainda mais preocupante, pois tenderia a
aumentar o impacto associado ao lanamento de
Os resultados apresentados neste trabalho
esgoto nos corpos aquticos e, indiretamente, a
mostram apenas uma parte da realidade sobre exposio humana.
a gua de abastecimento ofertada populao
em grande parte das capitais brasileiras. Falar da No entanto, h que se considerar um aspecto
qualidade das guas de abastecimento sem falar importante frente ao quadro aqui apresentado,
na qualidade dos mananciais seria mostrar apenas uma vez que as amostras foram coletadas em
a metade da triste realidade que o Brasil apresenta apenas uma poca do ciclo hidrolgico, quase
no tocante ao saneamento bsico. Embora faa sempre coincidindo com o pior cenrio esperado.
parte de um seleto grupo, estando entre as 10 Assim, no se pode excluir a possibilidade de
maiores economias mundiais, o saneamento no que essa radiografia instantnea aqui mostrada
nosso pas nos coloca mais numa posio de no corresponda realidade ao longo do ano. O
extrema pobreza. O lanamento de esgoto sanitrio fato que um trabalho mais sistemtico sobre
in natura nos rios e lagos por dcadas tornaram esse tema mostra-se necessrio e, levando-se
nossos mananciais vulnerveis e contaminados. em considerao as dificuldades logsticas de
Soma-se a isso a degradao que veio associada pessoal capacitado e a extensa rea do Brasil,
ocupao urbana desordenada e o adensamento muito certamente seria necessria a participao
populacional em reas de proteo de mananciais. de outros segmentos governamentais, como a
Captar gua de pssima qualidade para abastecer Agncia Nacional de guas (Ministrio do Meio
a populao exige estaes de tratamento de gua Ambiente) e o Ministrio da Sade.