O Menino Teresa

Fazer download em docx, pdf ou txt
Fazer download em docx, pdf ou txt
Você está na página 1de 18

O Menino Teresa

Texto: Marcelo Romagnoli

Musicas: Tata Fernandes

CENA 1

(A cena inicia com todos os personagens Teresas e os outros cantando


Vira revirar)

MSICA: VIRA REVIRAR

VIRA BICHO, ARCO-RIS, REMOINHO, MATAGAL,

VIRA AGUA, PARARAIO, TEMPESTADE, VENDAVAL,

NA CABEA CABE O MUNDO, CABE AT O QUE NO ,

LONGE COISA INVENTADA, ESSA ESTRADA VAI DAR P...

VIRA, REVIRAR TERESA (REPETE).

(No final da msica vo tirando os adereos de cubos e montando o quarto


de Teresa. Todos saem. Fica na cama Jandira e Teresa entra com uma caixa
e tira um dirio secreto).

TERESA: o meu dirio. Psiuu... Querido dirio, hoje meu aniversrio. Vai
ter bolo, brigadeiro, velinha e parabns. No interessa se de menino ou
menina, aniversrio todo ano tem. E esse ano eu tenho um plano, um plano
de menina... Depois eu conto pra voc, por enquanto segredo. Psiuu!
Assinado Teresa, menina.

(Jandira cria vida)

JANDIRA: Essa Teresa.

MSICA: FILHA DAS FLORES

(Essa coreografia deve contar a afeio, afinidade e carinho das duas e o


final a amizade com guerrinha de travesseiro e sempre muito segredo).

FILHA DAS FLORES OFERTADAS PRA RAINHA DO MAR

DA NATUREZA PRINCESA TERESA

CHEGANDO DEVAGARINHO COM SEUS OLHINHOS DE FAROL

ILUMINANDO O CAMINHO DA LUA E DO SOL (REPETE)

JANDIRA: Eu sei disso tudo porque eu sou a boneca dela, Jandira. A gente
se entende muito bem, mas isso tambm segredo.
TERESA: Esse negcio de segredo uma coisa muito engraada,
principalmente segredo que as pessoas anunciam por a.

JANDIRA: Os da Teresa ela no anuncia no, ela guarda bem guardadinho


no dirio dela. E somente eu e ela ficamos sabendo.

TERESA: Segredo gosta mesmo de ser descoberto.

IRMO: Vem, Teresa. T na hora de cantar parabns. Anda logo Teresa. Vem
soprar as velinhas e dar pro seu irmozinho querido o primeiro pedao de
bolo.

(Cena do aniversrio de Teresa. Todos se divertem brincando. Teresa se


afasta dos convidados da festa e vai para um canto com sua boneca. Abre
sua mochila).

TERESA: (tirando as coisas da mochila) Cantil de gua no pode faltar


nunca, vela se ficar escuro, fsforo, lanchinho, lupa, grande viso...

JANDIRA: Quando Teresa completou 8 anos, logo depois do parabns, ela


resolveu descobrir um segredo e para isso no arrumou um plano: uma
expedio rumo ao quarto dos meninos.

TERESA: J hora de acabar com esse mistrio.

JANDIRA: Ela queria saber como que a vida dos meninos.

TERESA: Imagina viver sem saber o que um menino esconde num quarto
(gesto de negao).

JANDIRA: que essa coisa de viver s menina ou s menino nunca agradou


Teresa. (Observa a porta, suspense).

TERESA: Com 8 anos eu j posso fazer um decreto, n?

JANDIRA: Decreto uma lei!

TERESA: Qualquer pessoa pode fazer um decreto para sua vida. Porque
todo mundo dono de si mesmo.

JANDIRA: Menos eu que sou boneca. O decreto de Teresa assim:

TERESA: assim : hoje, s sete horas da noite, mais ou menos, no dia que
fiz oito anos, decreto que: sou independente, mais ou menos, n, para
dormir, acordar, comer e... Armar expedies.

JANDIRA: Com um decreto deste em mos, ningum vai poder te impedir.

TERESA: No mesmo. que... Desde que eu nasci, eu tenho certeza que


sou menina, voc tambm Jandira? que quando a gente nasce parece
tudo igual. Comea beb, e de roupa ningum sabe s menino beb ou
menina beb. Depois vira criana, eu desconfio que a que muda. Um vira
menino e outro vira menina. Cada um com um sexo.
JANDIRA: Sexo tem dois no mundo inteiro. O feminino o das meninas e o
masculino o dos meninos.

TERESA: Acontece que hoje eu resolvi virar menino. S hoje. Pra descobrir o
que eles escondem, porque menino esconde muitas coisas. O que eles no
sabem que eu Teresa, a maior descobridora de coisas da terra. E tenho
aqui comigo tudo que eu preciso. O mais importante (suspense): o mapa do
quarto dos meninos...tcharammm... Vai encarar?

JANDIRA: J encarei. Sou sua companheira desde sempre.

TERESA: Sensacional Jandira, era tudo que eu esperava de uma boneca


fofucha. Em frente!

TERESA e JANDIRA: A caminho do quarto dos meninos.


CENA 2

MSICA: SEMPRE EM FRENTE

SEMPRE EM FRENTE

VAI VAI VAI

VOU VOU VOU

SEMPRE EM FRENTE

PARA O QUARTO DOS MENINOS EU VOU (REPETE)

ESCADA, CORREDOR, QUINTALZINHO E CAVERNA

PONTE, ABISMO, LODO, COLOSSAL

SOBE E DESCE, VIRA E SEGUE, PRA, CORRE E PULA

SEMPRE EM FRENTE (3X)

EU VOU

TERESA: Vamos Jandira! Atravessar a pinguela das almas penadas...quase


apavorante.

JANDIRA: Medo a gente s sente quando pensa...

(Em todas as cenas de sonho, a representao ser feita em telo com


imagens relacionadas. A pinguela pode ser feita com duas cordas: uma na
mo como cabo de guerra, e a outra no cho equilibrando. Elas esto com
muito medo).

TERESA: No olha para baixo, Jandira. O que a gente no v NO EXISTE e


pinguela moleza quando se tem coragem.

JANDIRA: Nossa, foi difcil e foi delcia! Pena que l em casa no tem uma
pinguela dessas.

TERESA: Pena? Vamos correr que pode aparecer uma alma penada.

JANDIRA: Uma alma penada, penando na pinguela.

TERESA: Psiu, ali, uma alma, uma alma penada. (Correm).


CENA 3

TERESA: E a porta continua l, achando que a gente nunca vai chegar. Vai
Jandira, faz alguma coisa, pega o mapa. (olhando para a porta). J vou a, j
vou a;... J pensei em um jeito de te abrir... Vai ficar me olhando? Vou te
abrir! (Teresa puxa e cai um brigadeiro). Ah! Isso um brigadeiro!

JANDIRA: Nossa! Nem percebi.

TERESA: Coisa de menino, disfara, disfara e s faz o que quer.

JANDIRA: E menina no?

TERESA: Lgico que no, ns meninas acompanhamos. Logo, no assunto


doce: menino disfara e menina acompanha.

JANDIRA: Bom... Voc pode me dar uma metade desse brigadeiro.

TERESA: Ai Jandira, o mundo j est to dividido no ? Come esse, eu


pego outro.

JANDIRA: Obrigada! (comem)

TERESA: Nossa! Agora vai ser muito fcil: tem uma curva de soslaio, tem
um barranco a noroeste e atravessar a caverna do Boco.

(Elas do gritos de medo)

JANDIRA: Caverna do Boco, aqui vamos ns!

(Caverna abre e fecha a boca. Outros atores entram em cena. A caverna


ser feita com tecido transparente).

JANDIRA: Escura, torta e pelo jeito, muito fria.

TERESA: Deve ter bichos destes de pelo grosso l dentro, morcego de asa
dura e lesma de corpo mole.

JANDIRA: Pela minha curta, mas profunda experincia, eu deduzo que esse
a o Boco.

TERESA e JANDIRA: Oh, abriu, fechou, abriu, fechou, abriu, fechou.

JANDIRA: A gente vai ter de ser rpida feito vento

TERESA: Quando forma furaco... Abriu!

(Entram na caverna)
CENA 4

JANDIRA: voc est com tanto medo assim?

TERESA: No. To numa boa curtindo o passeio.

JANDIRA: Ah, ? Ento porque t esmagando a minha mo?

TERESA: Eu no to segurando sua mo.

JANDIRA: No?

TERESA: Brincadeirinha fofucha (ri).

JANDIRA: Brincadeira sem graa!

TERESA e JANDIRA: Tchau Senhor Eco eco eco. (imitando-o).

BOCO: Tchau Teresa.

JANDIRA: Nunca imaginei, no meu destino de boneca, que eu fosse


conhecer o Boco.

TERESA: Destino assim, uma surpresa atrs da outra. Anda Jandira, pega
o mapa, veja o que tem no nosso futuro.

JANDIRA: Bom, agora o mapa mostra umas linhas, uns desenhos, umas
setas e um monte de nmeros.

TERESA: Sei, agora tenta decifrar.

JANDIRA: Hum. As setas tm umas pontas. Os nmeros... Nossa, quantos


nmeros!

TERESA: Vai Jandira! Ataca pelo desenho!

JANDIRA: Desenhos de nada, tudo seco, areia, tudo branco sem mato, sem
nada... Mas tem um caminho!

TERESA: Pedra, areia, branco, secura... Deserto!

JANDIRA: Nossa, que esperta voc ! Eu queria tanto ter neurnio...

TERESA: Melhor a gente nem entrar nesse assunto. Vamos Jandira, anda...
O nosso futuro um deserto. Vem Jandira, vem aqui... Cuidado.

JANDIRA: Quem vai na frente?

TERESA: Vai voc! Eu deixo... Que fofucha que eu sou no ? Vai com
cuidado. Vai Jandira, por ali...

TERESA: (Jandira se adianta). Espera, espera. No porque eu deixei voc


ir na frente, que voc vai sair correndo assim. Pode parar, estou cansada.
(senta). Vamos parar para tomar gua que eu estou cansada. Enquanto eu
tomo esta gua, voc podia dar uma olhada a... (mostra o binculo). Veja a
onde est o fim. Calma a, o fim no para baixo. O fim para frente. Toma
um pouquinho de gua aqui, enquanto eu vejo.

JANDIRA: Nossa, tem muita coisa a...

TERESA: Chega Jandira! Tambm deixa um pouco de gua para mim...


Seno a gente no chega. Mas j estamos quase chegando hein! Vai, antes
que a gente derreta!

TERESA (l): Entrada permitida somente para pessoas do sexo masculino.

JANDIRA: Isso coisa de segredo.

(Chegam em frente a porta do quarto e entram)


CENA 5

TERESA: De to escuro no se v nada. No que eu tenha medo, mas as


vezes a gente treme... Nossa, como a gente treme n? Mas a gente treme
por outra coisa... Por exemplo, tem gente que treme de frio!

MSICA: TEM GENTE QUE TREME

TEM GENTE QUE TREME DE FRIO

TEM GENTE QUE TREME DE DOR

TEM GENTE QUE TREME DE FEBRE

TEM GENTE QUE TREME, QUE TREME DE AMOR

TEM GENTE QUE TREME DE MEDO, QUE NEM VARA VERDE, TAQUARA,
BAMBU...

TEM GENTE QUE TREME S DE PENSAR EM BICHO PAPO, PITBULL...

JANDIRA: Geladeira treme...

TERESA: Shiu! At o Sanso, o cachorro pitbull do meu primo Gilmar treme.


Logo, no assunto medo: todo mundo igual, menino, menina, bicho ou
coisa. Teresa em frente! Jandira, atrs!(suspense) Nossa, o quarto dos
meninos, coragem viver assim sem luz. Ningum v nada. Est escuro, feito
chocolate.

MSICA: ESCURO

ESCURO, ESCURO, ESCURO FEITO CHOCOLATE

ESCURO, ESCURO, ESCURO FEITO CHOCOLATE

EU NO BREU, EU NO BREU...

(Teresa tropea e bate a canela)

TERESA: ai, ai, ai carambola... A minha canela!


CENA 6

MSICA: CADA PEDACINHO

CADA PEDACINHO DA GENTE TO IMPORTANTE

BASTA BATER A CANELA PRA CHORAR BASTANTE

JANDIRA: Pronto, passou, passou... (dando beijinhos)

TERESA: Excelentssima dona lanterna, como que vai esta luz? Muito
prazer, o meu nome Teresa, a caneluda. E esta aqui Jandira, minha
boneca. Ser que a senhora, que menina tambm, poderia se esforar um
pouco mais e se no for incomodar muito, poderia iluminar com mais fora
este quartinho? (pega a lanterna)

TERESA: Pelo sovaco do bodum, esse mesmo o quarto dos meninos.


Senhoras e Senhores! Eu, Teresa, a maior descobridora de coisas da terra,
vou mostrar aqui na frente de todo mundo, como que a vida dos
meninos.

JANDIRA: E eu estou aqui s de enfeite?

TERESA: ah no Jandira, voc a melhor ajudante, que a maior


encontradora de coisas poderia ter!

TERESA: (v um ba). Hum, disfara, disfara. Passa reto. Vem c, vem...


Carambola, um ba! No abre! Menino assim, esconde tudo muito bem
escondido, amarra tudo muito bem amarrado e tranca tudo muito bem
trancado.

(O quarto est cheio de brinquedos de menino: bola de futebol, chuteira,


pipa, bon. Teresa v um ba e tenta abri-lo, mas no consegue).

TERESA: No abre, porque menino esconde tudo?

JANDIRA: Igual menina.

TERESA: Logo, no assunto o que meu, meu menino e menina so


iguais.

JANDIRA: O que ser que eles guardam a?

TERESA: Vai ver que um pote de chul, porque s menino que tem
chul. Ou ser um adubo de pelo? Meu tio Orlando tem um monte de cabelo
aqui no queixo...

JANDIRA: Teresa, pelo na cabea cabelo, pelo no rosto barba e pelo no


queixo cavanhaque.
TERESA: Ah... Mas a minha me lisa que nem tomate. Agora o meu pai,
quando ele era vivo, parecia uma vassoura. Meu pai tinha aqui oh: (vai
mostrando partes do corpo) Pelo, aqui: pelo, aqui: pelo, e uns pelos aqui
que quando a gente ia dar uns beijinhos no rosto dele fazia cosquinha. No
dava nem pra ver a pele dele, de tanto pelo. O meu pai, nossa, era uma
vassoura de pelos. S pode ser ento um adubo de pelos que os meninos
comem escondidos. Logo, no assunto pelo e chul, meninos so demais, e
meninas so de menos.

JANDIRA: Como vamos abrir esse ba?

TERESA: Usarei tcnicas orientais para abrir isso aqui. (tenta mas no
consegue). Jud, jiu-jtsu, karat, hai ki do... J sei o que eu vou fazer. (abre
um dicionrio). Hum...letra D: debochar, decapitar, decidir, declarar,
dentadura, defender, desistir. Pronto, vou decidir.

MSICA: A SOLUO

NANANA TCHUTCHUTCHU (2X)

A SOLUO EXISTE SE A GENTE INSISTE (2X)

O QUE QUE ISSO, O QUE QUE H

LOGO AGORA QUE IA ROLAR

S PORQUE BATEU NA TRAVE DESISTIU DE TENTAR

PENSE BEM (TO PENSANDO)

S ENCONTRA QUEM PROCURA (TO PROCURANDO)

A CHAVE O FIM DA FECHADURA (3X)

TERESA: A soluo existe se a gente insiste. Dignssimo ba, no foi fcil


chegar aqui, e no ser sua caladice que me far desistir de descobrir como
a vida dos meninos. A chave o fim da fechadura (abre o ba, cheio de
poeira). Nossa, acho que ningum abria esse ba h pelo menos uns 137
anos. Nossa, carambola, fuii!

JANDIRA: Teresaaa!

TERESA: Nossa, isso aqui deve ter barata, mosquito, ratazana, poeira,
porco e p, muito p.

JANDIRA: Amigo que amigo, sempre vai junto. Teresaa!

TERESA: Ainda bem que voc veio junto, Jandira fofucha. Nossa, t cheio de
p mesmo. Uau, olha s isso Jandira, olha isso! Um bon! Nossa, um
bonzo. Bon s serve pra cabea, que nem meia pro p, culos pro rosto,
anel pro dedo e relgio pro pulso. Os meninos usam bon, chapu, gorro pra
esconder. As meninas no, as meninas tm orgulho no cabelo, elAs
preferem desesconder e enfeitar. O bon, n, s serve pra esconder e mais
nada. Logo, mesmo o que no serve para nada, serve para os meninos.
Teresa: vestir!

(Teresa comea a se masculinizar)


CENA 7

MSICA: BON

O COMEO NA CABEA

BON

L COM L, TR COM TR

NA CABEA BON

BO BO BO BON

TERESA: Isso de ser menino comea na cabea. Esse bon t me dando


cada ideia... (anda e tropea em um carrinho). Calma a, tem algum
roncando aqui... To ouvindo. Nossa, um gigante! E coitado, t dormindo.
Tambm n, pra guarda-roupa no precisa viver acordado. Olha s quanta
gaveta. Acho que essa gaveta de menino deve guardar a pressa. Se pressa
t aqui, essa aqui deve guardar a preguia... (boceja). Essa aqui ento deve
ser a das reclamaes (gritos de briga). Nossa, e essa aqui hein? T
emperrada, no abre. Hora de colocar em prtica os benefcios do tato.

JANDIRA: De conhecido existem cinco sentidos. A audio separada por


duas orelhas. A viso que dos olhos. O olfato que cheira. O paladar que
mora na boca. E o tato que espalhado principalmente pelas mos.

TERESA: Acho que achei. No nem grande, nem pequeno, liso, mole.
uma cueca! Nossa, que coisa engraada que cueca . Parece um coador de,
de... (faz barulho de pum com a boca), s que com dois buracos. Tem essa
parte de trs aqui que igual a calcinha, que serve para segurar a
bundinha. E tem essa parte da frente que serve para, para, guardar o
pintinho. (ri). Ai, que coisa esquisita que a cueca. O elstico grosso,
parece estilingue, o pano fino e bege! Tem cor mais sem graa que o
bege?

JANDIRA: uma cor sem personalidade

TERESA: No decidido como o marrom, nem ausente como o branco.

JANDIRA: Pra mim, cor de burro quando foge bege!

TERESA: Acho que essa cueca antiga, mas d para usar. Teresa: vestir!

MSICA: CUECA

NO SOU BERMUDA, NEM CALA COMPRIDA,

NO APAREO, MAS SEMPRE VOU


A MINHA SINA VIVER ESCONDIDA

O QUE SER, O QUE SER QUE EU SOU?

DE GROSSO ELASTICO, E PANO FINO

PERTO DA PELE VIVO MUITO BEM

SOU PEA NTIMA DO MASCULINO

VELHO OU MENINO, TODO HOMEM TEM

TITIBIRIBA NECA

O QUE SER, O QUE SER QUE EU SOU

TITIBIRIBA NECA

MUITO PRAZER, EU SOU UMA CUECA.

TERESA: Pronto, j estou quase parecendo um menino. Porque neste


assunto tem diferena. Menino de cueca, menina de calcinha. Menino
pode fazer xixi de p, menina, sentadinha.

JANDIRA: Ser que voc consegue andar com isso?

TERESA: No sei, acho que assim. (tropea em um carrinho no cho).


Acho que eu pisei onde no devia... Um carrinho Hot Wells super velocidade.
Coitado, acho que vai ter que ir para a oficina, fazer um reforma geral.
Nossa, como menino se diverte com isso?

JANDIRA; A diverso no depende do brinquedo, depende da vontade de


ser feliz.

TERESA: Olha que pensamento bom Jandira. Logo, no assunto diverso,


menina e menino empatam. Ah, cansei. (cai sentada em um livro)

JANDIRA: Que aconteceu Teresa? Machucou?

TERESA: Ai que duro. Acho que achei um livro de menino.

JANDIRA: Vamos ler ento?

TERESA: Deixa que eu leio. (gagueja). No meio da floresta...

JANDIRA: No meio da floresta vivia um tatu

TERESA: Ah, livro de estria.

JANDIRA: Quando amanhecia, ele se mexia.

TERESA: Rimou, vai ver poesia.

JANDIRA: Olhava o sol e as nuvens no cu.


TERESA: No. astronomia.

JANDIRA: Ento o pequeno tatu pensava no tamanho do mundo.

TERESA: No. geografia

JANDIRA: E pensava no buraco escuro que vivia.

TERESA: Ser filosofia?

JANDIRA: Respirava fundo, sacudia a cabea de tatu e dizia: Qual Deus me


inventou?.

TERESA: Claro! Religio. Que maravilha, um livro sobre tudo!

TERESA e JANDIRA: Nossa!!


CENA 8

MSICA: ASSUNTO

NOSSA, COMO TEM ASSUNTO (VARIAS VEZES)

BLABLABLA NANANANA

JANDIRA: Como tem assunto!

TERESA: E eu pensando que era s futebol. Mas livro muito til, Jandira.
Porque livro explica o que existe, que nem o meu amigo dicionrio. E tem
livro que inventa o que no existe. Logo, no assunto livro, livre.

JANDIRA: Menino e menina podem ler o que quiserem. Teresa, voc tinha
razo, menino tem muito segredo escondido. E agora, que tal a gente
continuar a descobrir mais segredos?

TERESA: Eu topo. Deixa eu ver o que tem aqui embaixo da cama. Jandira!
Voc no vai acreditar o que eu achei aqui.

JANDIRA: O que? Me conta!

TERESA: (pegando uma bola): Uma bola!

JANDIRA: Redonda pra rolar, de couro pra durar e forte pra chutar!

TERESA: Esse jogo eu sei, bola branca, campo verde.

JANDIRA: E cu azul!

(As duas comeam a formar um time)

TERESA: Um time para c, outro para l. E quem surge no meio desse


bando de pernas de pau? Quem? Quem? O craque Teresa!

(Jandira apita. Coreografia de jogo de futebol. No primeiro chute, a sandlia


de Teresa sai).

MUSICA: BOLA

ESSA BOLA T ME DANDO BOLA (4X)

O SOL, A LUZ, A TERRA, O OLHO, TUDO BOLA

ESSA BOLA T ME DANDO BOLA

A BOLA PULA, A BOLA QUICA, A BOLA ROLA

ESSA BOLA T ME DANDO BOLA (REPETE REFRO)


GOL, GOL, GOL, GOL

ESSA BOLA T ME DANDO BOLA

TERESA: Jogar futebol de sandlia o mesmo que comer pastel de laranja.

JANDIRA: O que?

TERESA: Voc no entendeu? No combina!

JANDIRA (mostrando uma chuteira): Ser isso que voc procura?

TERESA: Jandira, uma chuteira! Hoje mesmo o meu dia de sorte. Vou
provar pra ver. meu nmero!

JANDIRA: Se o Gilmar tivesse aqui eu ia pedir pra ele te ajudar a calar a


chuteira, porque ele s usa isso.

TERESA (tentando dar o n): que eu nunca aprendi a gostar de n, e


por isso que eu adoro sandlia.

JANDIRA: Se eu fosse cientista eu inventava um sapato bem largo que j


vinha com n dado.

TERESA: Mas eu aprendi a insistir, e a gente sempre d um jeito quando


quer. Quer ver? (d o n) Perfeito!

JANDIRA: Menino gosta mais de chuteira, sapato, tnis...

TERESA: Vai ver porque o p de menino mais duro que o de menina.

JANDIRA: , mas o p de menino tambm tem cinco dedos.

TERESA e JANDIRA: Que nem o de menina.

TERESA: Tem o dedo, o dedinho e aqueles trs outros no meio, que nem
na mo. A minha tia Sara usa chuteira, e no menino, certo? E o meu
padrinho Osmar usa sandlia e no menina. Logo, no assunto p, cada um
usa o que quiser.

(Elas escutam barulho e se escondem. Irmo entra falando no celular.)

IRMO: Voc no vai acreditar. Ontem eu vi a novela das 8! Tava irada,


cara. Eu ganhei um tnis novo da minha me, mas est apertando. Meus
ps esto me matando! (sai).
CENA 9

JANDIRA: Essa foi por pouco...

TERESA: J pensou se ele pega a gente aqui? Eu no ia ser mais a maior


descobridora de coisas de menino. Mas agora precisamos continuar
procurado, vamos...

JANDIRA: Incrvel como menino consegue fazer tanta baguna e chamar


de baguna organizada.

TERESA: O dono deste quarto deve ser um cabea de vento! (pega uma
pipa).

MSICA: PIPA

EMPINAR, VOAR NO AR EU VOU.

VOU VOU VOU VOOAR (2X)

PIPA, CAFIFA, PANDORGA, QUADRADO, ARRAIA, PAPAGAIO,

PIPA, CAFIFA, PADORGA, QUADRADO, ARRAIA.

(Comea a trovejar)

TERESA: Mania de chuva escurecer. Mania tem na menina e no menino. A


minha de descobrir segredos, e dos meninos eu acho que j entendi. Sabe
Jandira, eu descobri que cada um o que , e pronto. Agora, hora de
voltar a ser Teresa (tira os adereos). Foi legal, agora tchau. Primeiro,
Senhor Bon, depois dona cueca, e por fim a chuteira. Vamos embora
Jandira, foi legal, agora tchau.

(voltam ao quarto de Teresa).

TERESA: Madames e madamas. Desde que eu nasci que eu no descobria


tanta coisa. Menino diferente, isso eu j desconfiava. Tudo que a gente
no sabe, ou esqueceu, est escondido em algum lugar. Em um
pensamento, em um quarto ou dirio, at na saudade, s procurar. Logo,
no assunto descoberta, no importa quem, menino ou menina, um dia
descobre tambm. Misso cumprida, Jandira.

JANDIRA: Que delcia de aventura.

TERESA: Agora eu vou querer descobrir como a vida do Sanso, o


cachorro pitbull do Gilmar, meu primo. muito fcil descobrir quando se
quer, porque imagina ser uma menina sem nunca saber o que usar uma
cueca. Se menina, menino, bicho ou coisa, tudo importante. Amanh ns
temos outra expedio, eu vou virar bicho.
JANDIRA: E eu?

TERESA: Voc vem comigo.

MSICA: VIRA REVIRAR

VIRA BICHO, ARCO-RIS, REMOINHO, MATAGAL,

VIRA AGUA, PARARAIO, TEMPESTADE, VENDAVAL,

NA CABEA CABE O MUNDO, CABE AT O QUE NO ,

LONGE COISA INVENTADA, ESSA ESTRADA VAI DAR P...

VIRA, REVIRAR TERESA (REPETE).

Você também pode gostar