Patrimonio Natural - Leca Do Balio - Matosinhos

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1

O Mosteiro de Leça do Balio

= Contributo para o estudo do seu Património

Histórico,

Cultural e Natural =

Margarida Rebelo,
Universidade Portucalense,
1996
2

INTRODUÇÃO

Um trabalho do estudo do Património Natural, para além da dedicação individual, é também

fruto de generosas colaborações oferecidas ao autor e que fazemos questão de mencionar,

como forma de agradecimento.


Em primeiro lugar o nosso sincero reconhecimento vai para o Sr. Dr. Gonçalves Guimarães,

que, na sua qualidade de orientador, sempre nos dispensou a maior atenção e disponibilidade.

Aos docentes da Universidade Portucalense, particularmente àqueles com quem convivemos

durante estes últimos quatro anos, que sempre se mostraram disponíveis e nos apoiaram.
Aos nossos colegas de curso, com quem trocamos ideias e nos forneceram pistas de pesquiza e

aos colegas da G. Tournier, SA, nomeadamente à Maria Teresa Monteiro e à Drª Cláudia

Machado que sempre se prontificaram em colaborar, de algum modo, com o nosso

compromisso académico.
Os nossos agradecimentos também ao Dr. Silvestre do A.D.P. pela orientação que nos

proporcionou. Na disponibilidade e tempo que nos dispensaram um muito obrigado aos Sr.s

Dr.s Raúl Ramos Pinto, Paula Pacheco e Pedro Gradim (Pe). No apoio informático e
tratamento de imagens ao Engº Francisco Magalhães e ao Engº João P. Ferreira. Do mesmo

modo, em particular ao Concelho de Gestão da G.T.O. - G. Tournier, SA. e a todos aqueles

que aqui não mencionamos.


Por último ao Sr. Dr. Joel Cleto do G.H.A.C.M.M. o nosso sincero agradecimento pelo
interesse demonstrado neste nosso estudo.
3

ESBOÇO HISTÓRICO
4

1. CARACTERIZAÇÃO, ORIGENS E EVOLUÇÃO

1.1. Espaço Físico e Localização Geográfica

O primitivo mosteiro de S. Salvador de Leça implantou-se, cerca do século X, "num


valle do rio Leça, muito à margem esquerda d'este (...) este mosteiro demora no logar do

Souto (largo e rua), (...) este logar pertencia ao de Recarei"1. O espaço, aqui referido, tem
sido descrito das mais variadas formas. Uma prespectiva romancista ao século XIV, da autoria

de Arnaldo Gama, situa o monumento, visto de "uma alta colina, que abraçava, de sul a
poente, um extenso e dilatado vale, dividido em campinas verdejantes e franjadas por copado

arvoredo, por entre as quais se deslizava em caprichosos meandros a apressada corrente de

um pequeno rio"2. Já um outro autor refere-se à paisagem e ao edíficio como "uma imprevista

aparição de um cenário de alguma página das «Lendas e Narrativas», do velho e evocativo

Herculano"3; Foto 1.
Geograficamente, este mosteiro, insere-se nas terras da Maia, gozando de localização

estratégica com o Atlântico a Oeste, o rio Leça a Este, o Minho a Norte e o rio Douro a Sul.
Este posicionamento beneficiava o desenvolvimento da comunidade: a agricultura era tanto

mais excelente quanto mais as características geomorfológicas o eram; os solos férteis e a

abundância da água ajudavam a favorecer a policultura, enquanto que os rios4 tinham

funções de fronteiras naturais, facilitando a implementação dos Mosteiros e a vida destes.


No século XVIII, o couto e Mosteiro de Leça do Balio estava ligado ao então julgado de

Bouças; Mapa 1. Fazia fronteira com Paranhos, Águas Santas, Milheirós, Nogueira, Vermoim,

1 DC - Portugaliae Monumenta Historica, documento 192, extrahído do Liv.º Preto da Sé de Coimbra in


FARIA, F. Fernando Godinho de - Monografia do Concelho de Bouças, s/l, 1899, p. 248.
2 GAMA, Arnaldo - O Balio de Leça, Lello & Irmão - Editores, Col. Biblioteca Iniciação Literária, nº 26, Porto,
s/d, p. 11.
3 DINONÍSIO, Sant'Anna - in Guia de Portugal IV, Entre-Douro e Minho, I. Douro Litoral. Ed. Fundação
Calouste Gulbenkian, Lisboa, s/d, p. 439.
4 A presença da água é importante para qualquer comunidade. A construção de mosteiros junto aos rios permitia
uma melhor manutenção, a vários níveis, indespensável ao seu quotidiano. Para além da rega dos campos,
podiam-se também construir reservas de peixes, moinhos, etc.
5

Barca , Moreira e Santa Cruz do Bispo, freguesias do concelho da Maia5, extinguindo-se a

contiguidade com Ramalde em 21 de Novembro de 1895, ficando ainda ligada ao Porto


através da Amieira.

Actualmente, pertence ao Distrito do Porto e é uma das freguesias do Concelho de

Matosinhos. Fica a cerca de 8 km da sede do Distrito e a 10 do Concelho6; Mapa 1;3, Planta 1.

As coordenadas para Leça do Balio do Instituto Português de Cartografia e Cadastro de

Santa Maria da Feira, são as seguintes:

Localidade Ordem Altitudes Datum Lx Datum 73

Catassol 3ª N1=111.060 M= -40399.380 -403395.187


(Pilar s/ Construção)
N2=91.460 P=172505.340 172504.052

Moreira 3ª N1=104.970 M= -43359.800 -43355.506


(Cruz da Torre da
Igreja -Base) N2=73.450 P=175230.110 175228.774

Em termos paisagísticos, destacam-se as Quintas do Mosteiro ou Paços dos Balios, a


Norte e a Nascente, a Quinta do Souto a Sul, a Junta de Freguesia a Ocidente, o cemitério, um

pequeno arvoredo e a Fábrica de cerveja. Já mais a Noroeste, encontram-se as ruínas de uma

pequena fábrica de curtumes que ardeu há aproximadamente 8 ou 9 anos7.

As Quintas praticamente envolvem o monumento. A primeira, com quintal e um terreno de 6


ha, começa na cabeceira do edifício com o quintal e prolonga-se para Norte, ao longo do rio

até à Fábrica de Tecidos Lionesa. A segunda, estende-se pela encosta Sul, é atravessada por

uma Nova Via de circulação que desvia o trânsito do Mosteiro e é limitada pela Rua D. Frei
Cristóvão de Cernache a Oriente e pela Rua Santos Lessa, a Norte. Esta é a antiga estrada

5 TEDIM, José Manuel - Obras e Artistas no Concelho da Maia do Século XVIII (Subsídios para o seu estudo)
in Revista de Ciências Históricas da Universidade Portucalense, Porto, 1986, Vol. I, pp. 289-320.
6 GUIA DE PORTUGAL, FUNDAÇÃO CALOUSTE GULBENKIAN, ENTRE DOURO E MINHO, I
LITORAL DOURO, 2ª Edição, Vol. IV, [s/d], p. 437.
7 À casa e espaço, com aspecto de abandonado, chamam actualmente "Os Balios".
6

principal, que vai da Ponte da Pedra até aos Bombeiros Voluntários desta freguesia, passando

pelo cruzeiro e pela igreja matríz; Planta 2.


O artificialismo dos espaços urbanos, como o que se vai desenvolvendo na encosta de

Santana, a passagem de uma das vias de circulação do Norte mais movimentadas (Via Norte)

a Ocidente e de outra a Sul para desviar o trânsito do Mosteiro, bem como a indústria que o
rodeia, alteraram completamente o cenário medieval que a memória histórica nos transmite;

Planta 3.

1.2. Espaço Social

À reconquista do Porto, pelo Conde Vímara Peres, e ao repovoamento da região Entre

Douro e Minho, em 868, seguiu-se uma nova organização no Norte de Portugal. Os condes
que apoiavam Afonso III, nomeadamente portucalenses, procediam a acções de presúria e

repovoamento que deram origem a Condados8 e Julgados, entre outras divisões


administrativas. Estes novos centros de autoridade régia e militar e, a própria geografia do
espaço minhoto, permitiram a fixação desses homens, assim como a expansão de domínios

senhoriais9.

Estes homens, recebiam do rei o direito de exercer o poder nestas terras, podiam ser

magnates ou infações, bispos ou abades, consoante as circunstâncias. Eram variáveis as


condições de cedência e de poder e o caso que mais interessa é o de a um nobre de alta

categoria ter sido confiada temporariamente uma pequena área. Referimos o conmissus do

Refojos de Leça nas mãos de Arias Mendes e seu irmão Guterre10.

8 Os condados em Portugal, eram entidades políticas, mais extensas que as dioceses, que as terras e julgados em
que se subdividiam, in HISTÓRIA DE PORTUGAL, Dir. de José Mattoso, Circulo de Leitores, Lda e Autores,
Lisboa, 1992, Vol. I, p. 469.
9 Ibidem, O.c., p. 466.
10 O significado do termo comes, que surge nos documentos Galegos e Portugueses do século IX e X, significa
que se trata de pessoa com "proximidade ou intimidade com o soberano"; responsáveis de mandationes e
conmissa.O.c., pp. 468-469.
7

A alteração estrutural que se verificou, inclusivamente com as guerras, terá acabado

por beneficiar quem detinha o poder militar e senhorial, passando a exercê-lo "por conta
própria". Independentemente dos condes, os infações passaram a presidir tribunais regionais,

como parece ter acontecido com os senhores das famílias da Maia, no início do século XI.

Ligada ao repovoamento e à restruturação da vida civil, religiosa e cultural, esta


"primitiva" nobreza corroborou activamente para a nova fisionomia do Entre Douro e Minho,

durante o final do século X e início do século XI11.


O regime senhorial, à medida que foi crescendo, tendeu à estratificação da sociedade.

Surgiram as "categorias" sociais, os fundamentos da ideologia das "três ordens", as questões


de linhagem e hereditariedade e a nobreza dividida em três categorias distintas, mas

hierarquicamente sobrepostas: magnates, infações e cavaleiros.12

O generalizar do exercício de poderes, por parte de chefes guerreiros e de senhores

com possessões e a própria estratificação, ir-se-ía reflectir a vários níveis, nomeadamente nos
aspectos económicos e sociais13. Embora se tenha tratado de um processo moroso, as

inquirições de 1220 demonstram que o domínio da exploração da terra, para qualquer

proprietário da época, significava também o domínio dos homens que dela viviam, sendo

muitas vezes estes afastados da acção directa do poder central e unindo-se aos senhores
privilegiados e aos seus interesses14.

No entanto, não foram só os delegados régios asturianos e depois leoneses que

impuseram uma certa organização às comunidades humanas do território português. O clero


monástico e diocesano também contribuiu para isso, independentemente da instabilidade

episcopal15. Com as incursões de Almançor, a partir de 978, alguns monges da região de

Coimbra deslocaram-se para as terras mais pacíficas e já organizadas de Entre Douro e Minho.

11 Ibidem, O.c., p. 473


12 Ibidem, O.c., p. 548; BARROS, João de - Geographia d'entre Douro e Minho e Tràs-os-Montes [ms 1549];
BPMP, Porto, 1919.
13 Ibidem, O.c., p. 504
14 TRINDADE, Maria José Lagos - A propriedade das Ordens Militares nas Inquirições Gerais de 1220 , in
Sep. "Do Tempo e da História" IV, [1971], s/l, p. 132.
15 Os bispos de Braga e Dume emigraram respectivamente para Lugo e Mondoñedo. Ibidem, O.c., p. 472
8

Assim, até ao término do século XII, a concentração dos mosteiros portugueses

verificou-se principalmente nesta última região (Mapa 4 e 5), embora as primeiras fundações
se tenham situado nas margens do rio Ave, a norte do Tâmega e na Terra de Santa Maria16.
Daqui se observa que as próprias características geográficas desta área tiveram extrema

importância: terras fortemente acidentadas, mas protegidas pela barreira natural das altitudes
das serras17- Peneda, Laboreiro, Gerês, Cabreira, Marão, Montemuro e Gralheira;

interfluviais, entrecortadas por cursos de água, de caudais abundantes, forte pluviosidade. As

condições climatéricas e o relevo permitiram a espontaneidade e diversificação da vegetação,

a concentração e a dispersão demográfica e a implantação de estradas e caminhos (Mapa 6).


Surgiram polos de domínio: castelos, solares, cidades e povoações "poderosas" com estruturas

feudais, como os mosteiros. Estes, detentores de poder regional equiparado aos castelos e

solares, embora com função religiosa e simbólica marcaram as gentes e as paisagens18.

São exemplos da iniciativa das famílias condais portucalenses, o de Guimarães, o mais


antigo, Lavra, Azevedo, Sanguedo e Avintes. Por outro lado, os mosteiros de Moreira, Cête,

Rio Tinto e Leça parecem resultar mais de uma política de casamentos19.


São notórios os factores que contribuiram para o aparecimento destes mosteiros foram

diversos20. Parece-nos no entanto, que a região em que se inseriu o primitivo cenóbio de S.

Salvador de Leça - Entre Douro e Minho, mais concretamente num espaço semi-rural, muito

influenciou o surgimento de "figuras de nome" e homens ricos que através da política de

16 MATTOSO, José - O.c., p. 472


17 TRINDADE, Maria - O.c., p.129
18 MATTOSO, José, O.c., vol. II, p.166
19 MATTOSO, José - Le Monachisme ibérique et Cluny, Les monastères du diocèse de Porto de l'an mille à
1200, Publications Universitaires de Louvain, Louvain, 1968, p. 81, A partir daqui, sempre que nos referirmos a
esta Obra citamo-la apenas da seguinte forma "MATTOSO, José - Le Monachisme ibérique et Cluny ...";
PALMEIRÃO, Cristina Maria Gomes da Costa - Uma contenda entre D. Aldonça Rodrigues, Abadessa do
Mosteiro de Rio Tinto e Fernão Pressado, Vassalo do Rei, in «Revista de Ciências Históricas» da Universidade
Portucalense Infante D. Henrique, vol. X, Porto, 1995, p. 128.
20 MATTOSO, José - Religião e Cultura na Idade Média Portuguesa, INCM, Lisboa, 198. A partir daqui,
sempre que nos referirmos a esta Obra citamo-la apenas da seguinte forma "MATTOSO, José - Religião e
Cultura..." ;
9

casamentos se misturavam com as velhas famílias condais, dando origem a extensas

possessões e padroados21.

1.3. Origens

Da nobreza do século X, estabelecida em terras perto do Douro e na região de Coimbra


durante o reinado de Afonso III, sobressaem como alguns dos principais repovoadores:

Mumadona Dias, filha de Diogo Fernandes22, como fundadora do mosteiro de Guimarães; S.


Rosendo na Galiza e Norte de Portugal, com fim de restaurar a vida monástica. Segundo José

Mattoso, há ainda a considerar mais algumas famílias nomeadamente a de Froila Eneguiz e


Dona Trastina «Trastalo» sua esposa - que possuiam bens nas terras da Maia.

Uma neta destes, Dona Unisco Mendes contrai matrimónio com Trutesendo Osoredes,

homem rico da região e patrono do mosteiro de Leça23 e aparece como padroeira, em 1021, na

doação ao Mosteiro da Vacariça. Embora, esta família seja a mais referida, é a doação Famula
de Deos Vigilia de "18 de Março do anno de 1003", em que diz: "cuja Basilica está fundada

no logar de Recaredi, debaixo do monte Costoias, território do Porto, junto da corrente do

rio Leça (...) e lhe doamos a nossa herdade, que temos em Recaredi ... e damos tudo aos
Presbyteros, Frades, e Freiras, que ahi perseverarem em vida sancta"24 que melhor nos

indica a existência do primitivo cenóbio já no século X; Planta 1.

Um outro documento, DC 228, remete-nos para uma quezília entre D. Oseredo

Tructesindes, filho de Dona Unisco Mendes, Padroeira de Leça e Vermoim, e Ranimiro,

21 PALMEIRÃO, Cristina - O.c., p. 128


22 Este homem foi um dos mais importantes nobres no Portugal do século X, in MATTOSO, José - A Nobreza
Medieval Portuguesa, Imprensa Universitária nº 19, Editorial Estampa, Lisboa, 1987, 2ª Edição, p. 174. A partir
daqui, sempre que nos referirmos a esta Obra citamo-la apenas da seguinte forma "MATTOSO, José - A Nobreza
Medieval Portuguesa..."
23 MATTOSO, José - A Nobreza Medieval Portuguesa, - O. c. pp. 257-262.
24DC 192 in BARBOZA, António do Carmo Velho de - Memória Historica do Mosteiro de Leça, chamada do
Balio, Porto, 1852, p. 2. ; MATTOSO, José - Le Monachisme ibérique et Cluny, O.c. p. 12. O Lugar de
Recaredi; Recarei de Baixo e Recarei de Cima, situa-se entre a antiga estrada Porto Póvoa, depois do Padrão e a
actual Efacec. Em relação à expressão "Famula de Deos Vigilia" reporta-se a um famiiliar do Mosteiro, que não
sendo forçosamente um religioso professo, mantinha confraternidade com os religiosos e governava o mosteiro
como Prelado e Padroeiro. Poderemos considerar o caso de D. Oseredo Tructesindes que não sendo Monge
professo foi Prelado de Leça, in CARNEIRO, José Augusto - Resenha Historica e Archeologica do Mosteiro de
Lessa do Bailio, Porto, 1899, p. 43
10

procurador de Flaviano. Aqui se confirma a existência de frades e freiras no ano de 101625, já

mencionados na doação de 1003, DC 192.


Mas, o documento mais citado é o DC 248 - doação de Dona Unisco Mendes, seu

filho Oseredo e sua filha Patrina do Mosteiro de Leça ao da Vacariça, no ano de 1021. Não

obstante a ausência de documento explícito, António do Carmo Velho de Barboza arrisca


mesmo a dizer que aquele já estava eregido em 900 ou foi fundado nesse ano, no que autores

mais recentes estão de acordo26.


Enquadrado nos Mosteiros de Herdeiros, tinha grandes encargos com os padroeiros

que ali vinham: comer, receber contribuições, dotes, pitanças, etc, fazendo com que se
ressentisse economicamente. Terá sido no sentido de resolver estes problemas que, Dona

Unisco e seus filhos, tiraram o padroado dos Mosteiros de Leça, Vermoim, Anta e seus

anexos, aos seus descendentes e os doaram ao Mosteiro da Vacariça27.

No entanto, com a vinda em 1094 do Conde D. Raimundo, senhor de toda a Galiza e


sua esposa Dona Urraca a Coimbra, o Mosteiro da Vacariça foi doado por estes à Sé daquela

cidade, por esta se encontrar em situação de pobreza. A doação incluia todas as suas

pertenças, eclesiásticas e locais, levando o Mosteiro de Leça a ficar unido àquele Cabido,

embora conservando a sua comunidade28. Esta dependência administrativa e religiosa não terá
facilitado a vida dos monges de Leça, dado que os Hospitaleiros o recebem em ruínas e sem

monges.

25 BARBOZA, António - O. c. p. 3; MATTOSO, José - Le Monachisme ibérique et Cluny, - O. c. p. 12


26 Ibidem
27 Segundo o Elucidário de Viterbo, Mosteiro de Herdeiros significa uma construção "Junto de uma pequena
igreja ou Oratorio se fabricam casas, e aposentos, em que viviam os fundadores com as suas familias, e depois
d'elles succediam n'esta herança seus parentes, e herdeiros, com condição, que déssem certas esmolas, e
agazalhos aos pobres, e peregrinos, e aos Monges, Sacerdotes, e devotas, que viessem n'aquelle logar, a que
mais bem chamariamos antes Morgado, ou Capella, que Mosteiro" in BARBOZA, António - O. c., p. 12
28 Ibidem, p. 25
11

1.4. Evolução Administrativa, Religiosa e Militar

1.4.1. A Administração

O primitivo cenóbio de S. Salvador de Leça, terá então surgido nos princípios da


nacionalidade portuguesa por vontade de uma abastada família das Terras da Maia.

Inicialmente de pequena comunidade, as rendas de que usufruia eram escassas29. Ao transitar


para o mosteiro da Vacariça ficou incluido nos bens eclesiásticos, não vindo a sua situação a

melhorar.
Cerca de um século depois, é entregue à Ordem dos cavaleiros de S. João de

Jerusalém, ficando estes seus proprietários até ao primeiro quartel do século XIX, altura em

que foram extintas as Ordens Religiosas em Portugal.

Deste resumo não transparece toda uma série de acontecimentos que se detalham
adiante e referentes à Administração do mosteiro.

De tipologia duplices ou dobrados30, como menciona o documento de 1003, DC 192,

parece ter pertencido à Ordem de S. Bento, pelo menos a partir de 1021 data em que passou a

cumprir a regra da Vacariça31.

No entanto, em 1016 continuava ainda a ser governado por um dos padroeiros - D.

Osoredo, independentemente da doação feita ao Abade Tudegildo (ou Tudeildo) da Vacariça

e respectivo mosteiro. Pensa-se que, devido à irrupção dos Árabes às terras de Coimbra, este
Abade não veio logo para Leça, pelo que D. Osoredo o continuou a governar. Só num

documento de 1040 é que aparece este Abade como Prelado de Leça.

Cinco anos depois, o Monge Frei Pedro e o Presbytero Randulfo fizeram a sua

profissão nas mãos do Abbade Tudegildo32, altura em que aquele Prelado, "senhor de Leça,

29 Ibidem, p. 19.
30 Chamavam-se assim por albergarem freiras e frades. Ibidem, O. c., p. 12.
31 Ibidem, O. c., p. 19
32 Livro Preto, doc. nº 3, p. 80, in BARBOZA, António - Ibidem, O. c., p. 21
12

Vermoim33, e Anta fez prazo ou doação d'esses Mosteiros e suas pertenças, cuja maior parte

nomêa, a Florite, ou Florido, Prior da Vacariça, tratando dos Prelados de Leça, e tambem a
Pedro, e Randulfo"34.
José Mattoso, sobre este assunto, remete-nos para o documento DC 342, considerando-

o um pacto da Regula Communis, específico, que se encontra na "sobrevivência do


monaquismo frutuosiano em portugal durante a reconquista"35.

Assim, nesta mesma data, o Abade Tudegildo deixa36 aqueles mosteiros a Frei Pedro,
ao Presbytero Electo, ao Presbytero Randulfo, ao Abade Tudiulfo, ao Presbytero Arias e a

Lueido. E definiu sucessões: após a sua morte governaria como patrono aqueles mosteiros o
Presbytero Randulfo e a este sucederia o Presbytero Electo. A doação foi também assinada

por duas mulheres37, o Abade Gomes e Gonçalo Rauparici, Maiorinus38 do Rei D.

Fernando39.

Em 1091, o Prior da Vacariça - Presbytero Zoleima firma um outro pacto, ou prazo,


com o seu Preposito do Mosteiro Leça - Presbytero Gutino. Neste, o primeiro concede ao

segundo metade das rendas de Leça, para que possa fazer algumas obras, continuando, no

entanto, na sua dependência 40.

Ao passar para a alçada da Sé e Cabido de Coimbra, em 13 de Novembro de 1094,


como provam as assinaturas dos homens de Coimbra na doação de "bens situados em Recarei

em 1095", feita pelo "Presbytero Gonçalo, filho d'Arão" a Leça, mencionando "que é para

d'algum modo remediar a inopia, e socorrer os Clerigos, que moram n'esse logar, pela
instituição canónica, segundo o arbitrio do Bispo"41, Velho Barboza é da opinião de que não

33 Mosteiro feminino, Ibidem, O. c., p. 19.


34 Livro Preto, pag. 78 v., in BARBOZA, António - Ibidem, O. c., p. 21
35 MATTOSO, José - Religião e Cultura na Idade Média Portuguesa...p. 14
36 No mesmo dia da profissão do Monge Frei Pedro e o Presbytero Randulfo, Setembro de 1045 in BARBOZA,
António - O. c., p. 21.
37 Talvez freiras da Vacariça, de Leça ou de Vermoim, dado tratar-se de um Mosteiro feminino, Ibidem, O. c., p.
19.
38 Juiz supremo do rei. Ibidem, O. c., p. 19.
39 Ibidem, O. c., p. 21
40 Livro Preto pag. 84.v., Ibidem, O. c., p. 22.
41 Livro Preto p. 78, Ibidem, O. c., p. 26.
13

haviam monges nessa altura em Leça, mas apenas Clérigos, sendo o Bispo que os fazia

guardar a regra do patriarca deste autor - S. Bento e que só em 1103 terá surgido um novo
Abade, em Leça - Roderigo - e, como tal, novamente monges42.
Durante o segundo decénio do século XII, o Mosteiro terá passado a reger-se pelos

canônes da Ordem Religiosa de S. João de Jerusalém, que chegada a Portugal se foi instalar na
primitiva casa-mãe de Leça - Mosteiro de S. Salvador, onde permaneceu até ao século XIX43.

A nível jurisdicional, em 1140 recebeu carta de couto e privilégios, já através da

Ordem do Hospital, a quem D. Afonso I a outorgou44.

No entanto, durante toda a Idade Média, os conflitos entre regiões vizinhas eram
frequentes. Os procuradores do Porto, no reinado de D. João I, queixavam-se a este rei das

usurpações dos senhores da urbe45. Tal como acontecia com muitos outros coutos, também o
de Leça necessitava de um foral que definisse com clareza a pauta fiscal a aplicar nas terras,

sem que ferisse a sua imunidade de couto. Nessse sentido, mais tarde, D. Manuel outorgou o
Foral do Couto de Leça da Ordem de Sam Johã dado per Inquiriçooes, em Évora, a 3 de

Junho de 1519 46.

Segundo o numeramento de Henrique da Motta de 1527, feito a pedido de D. João III,

o Mosteiro de Nossa Senhora de Leça e Couto que tem o cível pertencia ao julgado da Maia,
tal como as freguesias de: "Perafita, Lavra, Gatões, S. Thiago do dito Couto, S. Mamede do

dito Couto, Santa Cruz da Maia e S. Miguel de Palmeira"47.

Esta terra, à semelhança de muitas outras, travou uma luta pela sua independência
administrativa e jurisdicional, principalmente com os concelhos limítrofes, nomeadamente

42 BARBOZA, António - Ibidem, O. c., p. 26


43 Sobre a problemática da entrada desta Ordem em Portugal veja-se "Algumas achegas para o estudo das
origens da Ordem de S. João do Hospital de Jerusalém, depois chamada de Malta, em Portugal" da autoria de
Ruy de Azevedo, in Revista Portuguesa de História, Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Instituto
de Estudos Históricos Dr. António de Vasconcelos, Coimbra, 1949, Tomo IV, pp 317-327.
44 DMP, Régios, I, ref. 24 e doc. 260
45 MARTINS, Alcina Manuela de Oliveira - O couto de Entre-os-Rios e o seu foral manuelino, in separata da
«Revista Poligrafia» do Centro de Estudos D. Domingos de Pinho Brandão, nº 4, s/l, 1995, p. 149
46 FELGUEIRAS, Guilherme - Monografia de Matosinhos, [Santo Amaro de Oeiras, 1955-1957], p. 106.
47 Informação retirada de uma certidão da Torre do Tombo pelo Dr. Ricardo Jorge [1899], para os seus trabalhos
- Origem e Desenvolvimento da População do Porto e Demographia e Higgiene in FARIA, F. Fernando
Godinho de - O. c., pp. 5; 6.
14

com o Porto48. Exemplo disso são as Actas de Vereação da Câmara de Leça onde se lê que a

Câmara do Porto solicita ao governo, que este couto "seja obrigado a obedecer-lhe, visto ter
jurisdicção sobre este e outros julgados"49. Ao que a Câmara de Leça responde : "em sessão
de 1 de Julho de 1825 que este couto de Leça do Balio é diverso e inteiramente separado da

cidade do Porto, e pertence à sagrada religião de Malta, no qual ha um juiz ordinario que
conhece de todo o civel e orphãos, camara com todas as suas atribuições, vereadores,

procurador, escrivão e meirinho, afilador, louvados ajuramentados, depositario do direito do

sello, capitão-mor das ordenanças da baliagem (...) cujas justiças se governam com toda a

independencia da Ill.ma camara do Porto, em vista dos privilégios que os Snrs. Reis lhe
concederam em 6-12-1638"50.

Durante dois séculos, até 1836, data em que foi incorporada na Câmara de Bouças, o

couto de Leça do Balio pertenceu ao extenso concelho da Maia, era Julgado e teve Câmara

Municipal, conforme citação supra. Estavam-lhe atribuídas três freguesias: Leça, S. Mamede
de Infesta ou Ermida e Custoias; Planta 1. Os Paços do Concelho e a sala de audiências

situavam-se no lugar do Souto51.

Em termos de domínio religioso, segundo as memórias paroquiais, em 1758 Santa

Maria de Lessa era igreja matriz, tendo adstritas as freguesias atrás mencionadas, Sam Miguel
de Barrejros e Sam Faustino de Guejfães na Maya e no Porto as igrejas do Salvador de

Godim, Sam Martinho de Aldoar e Santa Crestina de Cornes. A administração espiritual era

desde longa data da responsabilidade dos Menistros da Sagrada Religiam de Sam Joam
Ajerusalem, não dependendo portanto de nenhuma Diocese, Bispo ou Arcebispo.

48 MORENO, Humberto Carlos Baquero - Os Municípios Portugueses nos séculos XII a XVI. Estudo de
História, Lisboa, Edições Presença, 1986
49 FARIA, F. Fernando - O. c., pp. 265
50 Actas das Vereações da Câmara Municipal do Concelho de Leça do Balio. Ibidem, O. c., p. 265-266,
51 Até 1836, data em que dissolveram os pequenos concelhos nos grandes, segundo a Lei de 1 de Janeiro de
1831 e os Decretos de 3 de Outubro de 1833 e de 21 de Março de 1835 in FARIA, F. Fernando - O. c., p. 265.;
Memórias Paroquiais, 1758, in FELGUEIRAS, Guilherme - O. c., p. 790
15

Nesta data, quem usufruia da isenção destas, bem como de todas as Comendas no

Distrito do Porto, ero o Prelado, Provizor e Vigário Geral da Ordem de Malta - Doutor
António de Souza Perejra.

O padre Joaquim Fernandes da Silva em 1850 estava à frente da igreja matriz,

sucedendo o Abade António do Carmo Velho Barbosa52. Em 1859 foi eleito vogal eclesiástico
António dos Santos Lessa, que em 1875 passou a exercer o de Vigário da vara ou Arcypreste,

Abade de Leça do Balio53. Em 1899 era sede da Vigaría do 1º Distrito da Maia, tendo a cargo
um vasto território, 19 freguesias, em termos de fiscalização do registo paroquial54.

Em termos de oráculos, inicialmente o seu padroeiro foi S. Salvador,55 em 1336 com a


fundação da actual igreja terá mudado. Em 1642 era já a Senhora da Encarnação ou Santa

Maria de Leça e cerca de 1741 surge a Senhora da Assumpção até pelo menos 1758, como

referem as memórias paroquiais56.

A partir de 1769 encabeçou-se a acta de cada visitação como "Igreja e Collegiada de


Santa Maria de Leça do Balio"57 designação porque foi conhecida até pelo menos 1899.
Com o decreto de Joaquim António de Aguiar, de 28 de Maio de 1834, extinguiram-se

as ordens religiosas. No caso de Leça, a igreja ficou para o público como matriz, os passaes58

e o paço, incluidos nos bens nacionais, foram vendidos a particulares.

52 Trata-se do autor da obra "Memória Historica do Mosteiro de Leça ..." , por nós várias vezes citada in FARIA,
F. Fernando - O. c., p. 269.
53 Ibidem, O. c., p. 268, (vid. nota 1).
54 O registo paroquial foi começado a organizar em 1860, embora a legislação de 1863 o tenha aperfeiçoado,
Ibidem, O. c., p. 270.
55 Em 1035 era assim referido; Livro Preto, p. 94 v, in BARBOZA, António - O. c., p. 8.
56 Ibidem, O. c., p. 9. O fundador da actual igreja foi o Prior Frei D. Estevão Vasques Pimentel, que Arnaldo
Gama enalteceu no seu romance "o Balio de Leça".
57 Livro dos Capítulos do Arquivo Parochial in FARIA, F. Fernando Godinho de - O. c., p. 253.
58 Ibidem, O. c., p. 254
16

1.4.2. Os Religiosos Cavaleiros do Hospital de S. João de Jerusalém

Desde o século IX que se faziam peregrinações à Cidade Santa de Jerusalém, cidade

dos três credos. Com vista a recolher cristãos, judeus ou muçulmanos, pagadores de

promessas, surgiu naquela cidade da Palestina, uma casa religiosa - igreja e mosteiro, sobre a
regra de S. Bento, em 104859.

As origens da Ordem que estes cavaleiros formaram, e embora não pareça ter usado o

secretismo que a sua congénere - Ordem dos Templários - criticava, são controversas60. Não
obstante a informação da edificação da suposta casa primitiva, a referência seguinte é já de

1104, data em que terá sido edificado um Hospital que em breve se arruinou. Supõe-se que em

sua substituição, tenham sido edificados dois mosteiros: um feminino e outro masculino. O

primeiro invocava Sancta Maria Magdalena e o segundo Sancta Maria a Latina.


O Mosteiro "cabeça" da Ordem Beneditina, do Monte Cassino em Itália, terá mandado

religiosos para os povoar e dirigir, tendo ainda a função outrora da responsabilidade do

Hospital arruinado - tratar os enfermos. Por necessidades específicas da medicina, surgiram

dois Hospitais nas terras de Sancta Maria a Latina. O dos homens, teve como primeira
invocação S. João - o Esmoler e, S. João Baptista, posteriormente. Por indicação do Abade de

Sancta Maria, Gerardo d'Auvergne61 - Carmelita, foi nomeado Regente ou Enfermeiro-mor

do novo Hospital de homens. Com a sua chefia, os monges beneditinos, embuidos do espírito
de cruzada, pegavam nas armas para defenderem os peregrinos dos salteadores62, começando

assim a actividade militar em simultâneo à hospitaleira e religiosa.

O apoio e protecção dos Príncipes Cruzados, permitiu a Gerardo e seus homens irem-

-se libertando do Prelado do Mosteiro, a que estavam sujeitos. Também a confirmação da

59 FONSECA, José - O. c., p. 32


60 Assim o demonstra a confrontação, por nós feita, da obra de António do Carmo Velho de Barboza de 1852
com a de José Salgado Fonseca, em 1991, ambas aqui citadas. O que podemos verificar é que o primeiro autor
cita a fonte, enquanto que o segundo a este propósito não a menciona.
61 Também aparece mencionado como Gérard de Martigues.
62 BARBOZA, António - O. c., p. 27
17

Ordem, através da Bula do Papa Pascoal II, de 15 de Fevereiro de 1113, acabou com essa

sujeição, tomando-os sobre a protecção da Santa Sé Apostólica. Trata-se da primeira Bula que
os monges cavaleiros de Jerusalém obtiveram e, face a esta, organizaram-se na Ordem

Regular, Soberana, Militar e Hospitalária de S. João de Jerusalém, que seguiu a regra de

Sancto Agostinho63.
Independente de quais tenham sido as suas origens, o Papa que a institucionalizou

reconhecia o mérito dos monges, considerando-a de "casa de Deus", isentando-a de

pagamentos à igreja e concedendo-lhe vários privilégios64.

A "categoria" que substituiu a de Regente ou Reitor, que Frei Gerardo usava, foi a de
Mestre do Hospital. O primeiro homem a usar este título foi Raymundo do Pui (ou Raymond

de Puy)65 francês, que sucedeu o beatificado Gerardo. As respectivas classes, eram Cavaleiros
da Justiça66 e Capelães67; conventuais e de obediência, que por sua vez ainda se sub-

dividiam. O "cargo" de Grão-Mestre68, surgiu pela primeira vez em 1310 na pessoa do


Mestre Folco de Villareto.

À medida que a Ordem cresceu, organizou-se em Lingoas, Línguas ou Províncias.

Cada uma destas, detinha um determinado número de Reinos, onde era presidida por um

Chefe, normalmente designado de Piller da Lingoa de tal. Em 1467, a Ordem tinha então oito
Lingoas: Provença, Alvernia, França, Itália, Espanha, Alemanha, Inglaterra e Castela. Nesta

última, inseria-se o Reino de Castela, Leão e Portugal, cujo Chefe, ou Piller, tomava a

designação de Gran-Chanceller. As Lingoas, ou Províncias, dividiam-se ainda em Priorados,

63 Ibidem, O. c., pp. 28;29


64 FONSECA, José - O Mosteiro de Leça do Balio - Cinco Depoimentos ..., p. 32
65 Apelidavam-no também de "Servo dos Pobres de Cristo e Guardião do Hospital de São João de Jerusalém"
in CAMPO BELLO, Conde de (D. Henrique) - A Sobrena Militar Ordem de Malta e a sua acção em Portugal,
Porto, 1931, p. 19
66 Para ascender a cavaleiro da justiça "era preciso, que o pretendente tivesse os seus quatro avós de nobreza
qualificada, isto é, fôro de Fidalgo, brazão d'armas, rendas sufficientes" in BARBOZA, António - O. c., p. 30.
67 Eram "aquelles que deviam ser de familias decentes, e nobres, podiam ser Cardeaes, ainda que membros de
uma ordem militar" . Ibidem
68 O Grão-Mestre "era tractado pelos seus Cavalleiros com o tractamento de Eminência; e pelos seculares,
seus vassallos, por Alteza". Ibidem
18

onde o Prior ou Grão-Prior69 detinham as patentes máximas, como, no caso português, o

Priorado do Crato. Logo de seguida, em termos de hierarquia, o cargo mais significativo no


nosso país era o do Baliado de Leça. Aos Balios70 seguiam-se os Comendadores, cargos
adquiridos por antiguidade ou prestação de serviços71.

Extinto o Império dos latinos na Palestina em 1187, os Cavaleiros de S. João foram


expulsos de Jerusalém por Saladino. Deslocaram-se para o Norte da Palestina, indo sediar-se

em S. João de Acre em 1194 e até 1291, onde se destacou o Grão-Comendador D. Frei Garcia

Martins de Leça, que morreu em 1300. Com a tomada do Chipre, aí permaneceram até 1306,

seguindo então para Rodes, nome pelo qual a Ordem passou a designar-se. Mas, o ataque dos
turcos de Soleiman, em 1522, obrigou-os a abandonar essas terras. Em 1530, o Imperador

Carlos V doou-lhes as ilhas de Malta, Gozo, Comino e Tripoli, na Barberia, "como perpétuo

feudo nobre, livre e franco", onde se fixaram. A congregação tomou então o nome de S. João

de Malta. Aqui, os monges cavaleiros desenvolveram acções contra os turcos, controlavam o


Mediterrâneo Oriental e o Norte de África. Generalizou-se o nome de Ordem de Malta, usado

até aos dias de hoje72.


Embora possuisse a maior parte dos bens em França, onde se encontrava o "Grande-

-Hospitalário", o "Magister" ou "Grão-Mestre" e onde organizava encontros como o de S.


João d'Isle e do Templo, em Paris, com uma actuação activa na sociedade73, a(s) Revolução

69 Tratava-se de um cargo de "grande importancia, honra, distincção, privilegios, e rendas: entre nós havia o
Priorado do Crato" BARBOZA, António - Ibidem, O. c., p. 32
70 Balio ou Bailio era sinónimo de: "senhor, principe, heroe, nobre (...) alguém em dinhidade, principado ou
senhorio (...) Na religião de Malta havia Balios conventuaes e capitulares: estes assistiam nos capitulos dad
ordem da sua respectiva nação: eram grão-cruzes, e tinham titulo de Senhoria: aquelles eram os primeiros, e
principaes conselheiros da dita ordem. Em Portugal chamaram-se «Balios» os perceptores ou commendadores
das primeiras, e principaes commendas". in CARNEIRO, José Augusto - O. c., p. 79. Bailio ou Balio é um
"magistrado a que os nobres de uma provinvia confiavam a defesa dos seus bens; comendador, nas antigas
Ordens" in 6ª edição do Dicionário da Lingua Portuguesa da Porto Editora, Porto, 1991, p. 199.
71 BARBOZA, António - O. c., p. 33
72 Ibidem; CABEÇA, Custódio - Malta e os Grão=Mestres Portugueses da Ordem de S. João de Jerusalém,
separata da Revista de História e de Arte «Armas e Troféus», Centro Tip. Colonial, Lisboa, 1936, p. 3-5. A partir
daqui sempre que referirmos esta obra, citamo-la apenas da seguinte forma "CABEÇA, Custódio - Malta e os
Grão=Mestres Portugueses da Ordem de S. João de Jerusalém..."; FONSECA, José - O Mosteiro de Leça do
Balio - Cinco Depoimentos..., p. 33
73 Desta Ordem saíram 9 Santos, 2 Papas, 4 cardeais, 2 Marechais de batalha para o exército francês, diplomatas
marinheiros, etc.
19

Francesa não a poupou, retirou-lhe as possessões que ali possuiam, tal como veio a acontecer

em outros países, onde se deram as revoluções liberais. Além disso, em 1798, Bonaparte, não
respeitando a neutralidade desta organização nos conflitos europeus, tomou a Ilha de Malta na

sua viagem para o Egipto, obrigando os cavaleiros maltezes a dispersaram-se.

Sobre a data de entrada dos Cavaleiros Hospitalários no nosso país, as opiniões , são
muitas e controversas74. Segundo o registo de Leça75, a data mais provável situa-se entre 1112
e 1116, data do documento em que a Condessa D. Thereza, viuva do conde D. Henrique doa

Leça ao Spital76, sendo Leça do Balio a primeira residência, Cabeça e Casa Conventual da

Ordem de S. João de Jerusalém em Portugal77.


Ruy de Azevedo confrontando uma série de documentos da Diplomática e obras

impressas, diz-nos que o mais antigo e fidedigno para comprovar a entrada destes cavaleiros

em Portugal, é por certo o que Erdman78 menciona como existente no Mosteiro de Santa Cruz

de Coimbra, datado de 1132. Este documento reporta-se a uma doação de Zalama Godins aos
frades crúzios, onde o testador refere que os cónegos compraram os bens doados por aquele ao

74 Não se sabe se vieram a chamado do Conde D. Henrique ou de D. Afonso Henriques ou ainda se por
iniciativa da própria Ordem, no sentido de ajudarem os lusitanos contra os serracenos, como era princípio desta -
combater os infieis. Outros autores inclinam-se para o facto de muitos fidalgos terem ficado ligados à Ordem
quando se alistaram nas Cruzadas, in CAMPO BELLO, Conde de (D. Henrique) - O. c., pp. 22-23. Mas, são
diversos os autores que consideram "obscura" a entrada desta Ordem em Portugal: Gama Barros, Erdmann e o
reeditor da obra de Gama Barros - Prof. Torquato Soares, Pinho Leal, etc., in AZEVEDO, Ruy - Algumas
achegas para o estudo das origens da ordem de S. João do Hospital, depois chamada de Malta, em Portugal
Revista Portuguesa de História, Tomo IV, da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Coimbra, 1949,
p. 322 (nota 15 e 16); Viterbo, Herculano e Gama Barros são da opinião de que estes cavaleiros entraram em
Portugal nos fins do reinado de D. Teresa, sem o comprovarem; Anastácio Figueiredo na Nova Malta dá
explicações controversas; o medievalista Rui de Azevedo, documentando, situa as datas entre 1122 e 1140, in
SERRÃO, Joel - Dicionário da História de Portugal, Livraria Figueirinhas/Porto, 1989, Vol. III, p. 225. Mais
recentemente, José Manuel Salgado Fonseca refere que a data mais provável é entre 1122 e 1130, in "O
Mosteiro de Leça do Balio - Cinco Depoimentos" (policopiado), Porto, 1991, p. 35.
75 Este Registo foi mandado organizar por Frei Diogo de Mello Pereira, Balio de Leça, em meados do século
XVII. Segundo as doações feitas à Ordem do Hospital, ali existentes, a interpretação de F. Faria é de que a
doação de Leça aos cavaleiros do Hospital, por parte de D. Teresa, foi entre 1112 e 1118 in FARIA, F. Fernando
Godinho de - O. c., p. 253; Já António do Carmo Velho Barboza, citando a mesma fonte, diz ter sido entre
1112 e 1116.
76 BARBOZA, António - O. c., p. 34; Notas do Arquivo Nacional Torre do Tombo "A.D. 1112-1128 (governo
de D. Teresa), A Condessa D. Teresa Afonso, mulher do Conde D. Henrique, faz doação do mosteiro de Leça à
ordem do Hospital. A.N.T.T. - Livro dos Herdamentos de Leça, fl. 5, n. 11, fl. 9, n. 1 e fl. 16 n. 254, Obs.: -
Texto perdido. C f. Documentos Medievais Portugueses. Documentos régios, vol. I, T. II, pgs 519." in
FONSECA, José - O. c., p. 103.
77 CAMPO BELLO, Conde de (D. Henrique) - O. c., p. 24
78 ERDMAN, Papsturkuden, e Idea de Cruzada em Portugal, p. 95, in AZEVEDO, Ruy - O. c, pp. 317-327
20

Iherosolimitano ospitali, o que vem comprovar a existência desta ordem em Portugal, há

algum tempo, por naquela altura já possuir bens de raiz79. Em relação ao Registo de Leça,
este mesmo autor, é da opinião de que a interpretação paleográfica do documento do acordo

entre o Bispo D. Hugo do Porto e o Prior Martinho do Mosteiro de Leça, feita no sumário

daquele documento, não está correcta. O facto de o sumário mencionar Spital não se deve
interpretar que a ordem interveio na assinatura do acordo80.
Mais recentemente, Salgado Fonseca considerou como ponto assente as datas que

medeiam entre 1122 e 1130, sem mais explicações.

Em nosso parecer, esta opinião não será descabida se nos basearmos nos seguintes
factos: em 1021 o Mosteiro de Leça foi doado ao da Vacariça ainda por um dos padroeiros da

Maia - Dona Unisco Mendes; o governo de Dona Teresa vai de 1112 a 1128; o documento de

Erdman e as observações deste são de 1132; em 1140 D. Afonso renova previlégios ao Couto

de Leça da Ordem do Hospital e que comprovado está ter sido Leça a primeira casa-mãe. No
entanto, já quando da tomada de Évora em 1116, D. Afonso Henriques construiu o Hospital

para doar a esta Ordem81, o que não confirma a opinião anterior.

Em todo o caso, tal como referia o Conde de Campo Bello82 na sua obra, sobre esta

Ordem, a polémica da data da sua entrada em Portugal contínua diversificada, por enquanto,
parece-nos mais correcto considerar apenas o início do século XII, ou seja, entre 1112 a 1130.

Em termos de actividade militar, estes cavaleiros davam apoio aos monarcas, nas lutas

contra o inimigo, tal como as outras ordens. D. Afonso Henriques e muitos outros reis83,
retribuiam-lhes os serviços prestados com vilas e lugares, isenções e privilégios84. A título de

79 Ibidem, O. c, p. 323
80 Ibidem, O. c., p. 324
81 CARNEIRO, José Augusto - O. c., p. 89
82 Cavaleiro de Honra e Devoção da Soberana e Militar Ordem de Malta.
83 A.N.T.T. - Gaveta 6, m. único, n. 29, renovação da carta de couto de Leça e privilégios que D. Afonso
concedera à Ordem do Hospital, em 30 de Março de 1140 in FONSECA, José - O. c., p. 103; os "Privilegios
concedidos e confirmados por el-rei D. João 5º aos cavalleiros da ordem de S. João do Hospital de Jerusalem
de Malta, em 3 de dezembro de 1728" in CARNEIRO, José Augusto - O. c., pp. 89-96.
84 Nas Cartas dos reis D. Afonso Henriques e D. Sancho I; Bulas de Leão X e Benedicto XIII e Ordenações,
Livro 2º Título 25, "As pessoas privilegiadas são todas aquelas que possuem os ditos bens ou se ocupam no
serviço, ou beneficio da Religião, como caseiros, lavradores, serviçaes, vassallos, soldados, e quaesquer
pessoas, por qualquer nome chamadas, ou pagam foros, ou dizimos á mesma Religião; porém, d'estas, só
21

exemplo, refiram-se algumas datas de Cartas de Couto e Confirmação de Privilégios que o

nosso primeiro rei lhes outorgou; a seguir à tomada de Évora, em 1116, receberam em
"agradecimento" o hospital85 que este rei fundou naquela cidade. Em 1128, 1132 e 1139 foram
também várias as doações. Nesta última data, como recompensa da luta contra os mouros em

Santarém, receberam uma das igrejas de São João de Alporão86. Já em 1147, era a igreja de

S. Brás em Lisboa que lhes era doada.

Curiosa é a oferta de três mil marcos em oiro, de D. Afonso Henriques ao Grão Mestre

da Ordem para sustento de enfermos na casa de Jerusalém, tal era o seu reconhecimento e

confiança87.
Mas, não eram apenas ofertas régias que os freires do Hospital recebiam; aquando da

sua chegada a Portugal, também uma série de famílias particulares abastadas o faziam. Veja-

se as doações de: "Sarrazeno ou Sarrazino Osores, Senhor de Entre Douro e Tâmega, a de

Paio Paes, a de Diogo Tructozendis e a de Paio Daz e de sua mulher Maria Paes, (...)"88.
Estas dádivas, por certo, deviam-se ao ingresso de elementos das famílias nobres na

Sagrada Milícia, "nem de outro modo se poderia cabalmente explicar a considerável

influência exercida na Ordem, a ponto de ser eleito Grão Mestre, no princípio do século XIII,

D. Afonso de Portugal, filho de D. Afonso Henriques"89.


Era norma de os cavaleiros prestarem juramento e fidelidade ao rei da nação em que se

instalavam, obrigando-se desde logo a ajudá-lo nas campanhas e a defender as terras que este

lhes confiava, o que fazia com que o rei sentisse protegidas as suas terras, ao mesmo tempo

aquellas, que se occupam no beneficio da Religiâo a maior parte cada anno, ou moram dentro dos casaes, ou
herdades d'ella, gosam inteiramente do foro Ecclesiastico, e privilegios a ellas concedidos, ainda que leigos, ou
dispensados, que se estendem tambem a todos os seus subjugados, e servos" in CARNEIRO, José Augusto - O.
c., p. 89.
85 Chamado de São Joaninho ou São Joãosinho, aonde mais tarde surgiu o primeiro Convento das Religiosas
Maltezas em Portugal, antes se fixarem em Estremoz. O. c.
86 Uma antiga mesquita muçulmana, in CARNEIRO, José Augusto - O. c., p. 89; José Manuel Salgado - O. c., p.
35 diz que a doação foi em 1147 (?) tal como a de S. Bráz em Lisboa - este refere o ano de 1148 e José Augusto
Carneiro um ano antes (?!) Não cabendo no nosso estudo o aprofundar desta questão, deixamo-la em aberto.
87 CAMPO BELLO, Conde de (D. Henrique) - O. c., pp. 25; 27
88 Ibidem, O. c., p. 25
89 Ibidem, O. c., p. 24; CABEÇA, Custódio - O. c., p. 4
22

que a Ordem ía ganhando poder material e prestígio 90. Dos cavaleiros que governavam a

Ordem - Priores do Hesprital, no tempo do rei D. Afonso Henriques, ressalta D. Frey Ayres
que, em 1157, recebeu daquele alguns desses privilégios91.
Os castelos da Sertã e de Cernache do Bonjardim foram doados em 1174 e 1182 por

D. Sancho I à Ordem. Em 1194 faz-lhes nova doação, desta vez as terras de Guidintesta, perto
do Tejo, onde a Ordem construiu o castelo de Belver para aí funcionar a sua administração e

governo, independentemente de Leça ser a Sede e Casa Capitular92.

O aparecimento de comunidades monásticas com fortes domínios fundiários e

organização senhorial, deu origem a poderosas abadias, onde vivia um elevado número de
monges93. Segundo as inquirições de 1220, mandadas efectuar por D. Afonso II, a Ordem de

S. João do Hospital era a que possuia mais casais, sendo esta a unidade de mediada

considerada. Num total de 8930 casais inquiridos, situados em 29 terras de institutos

religiosos, 793 pertenciam a Ordens Militares, dos quais 620 eram dos Hospitaleiros,
seguindo-se os Templários com 143 casais94.

Em 1224 passavam para os seus domínios as comendadorias de castelos e vilas de

Algozo, Penas Roias e Mogadouro, em Trás-os-Montes, doadas por D. Sancho II. Este mesmo

rei, em 1232, entrega-lhes as vastas terras da Flor da Rosa, no Crato, para onde seria
transferida a Sede da Ordem95.

D. Dinis, à semelhança dos seus antecessores, doa-lhes, em 1297, os padroados de

Aguiar, Fontes, Guarda, Marialva e Sernancelhe e a Covilhã, em 1305.


Assim, o vasto território de possessões da Ordem do Hospital e depois de Malta,

estendia-se pelos vários bispados de Norte a Sul do país, sendo geralmente padroados de

90 CAMPO BELLO, Conde de (D. Henrique) - O. c., p. 27


91 CARNEIRO, José Augusto - O. c., p. 81; FONSECA, José - O. c., p. 34
92 FONSECA, José - O. c., p. 35
93MATTOSO, José - O. c., vol. II, p. 183
94 TRINDADE, Maria José Lagos - O. c., pp. 126-127
95 História de Portugal, Dir Damião Peres, Edições Barcelos, , vol. IV, 1932, p. 533
23

templos e comendadorias. Nos de maior dimensão, encontrava-se o de Leça e o de Arcos de

Valdavez96.
Entre os muitos "feitos" que os cavaleiros prestaram à monarquia portuguesa, podemos

distinguir o de 1340, no tempo do Grão-Mestre Ville Neuve, em que D. Frei Álvaro

Gonçalves Pereira97 acompanhou o rei D. Afonso IV à Batalha do Salado. Na sequência desta


campanha a Ordem deixou de usar o título de Priorado de Portugal98 e conquistou o de
Priorado do Crato, desligando-se assim da subordinação ao Grão-Comendador de Castela99.
Com os "partidarismos" do casamento de D. Fernando e D. Leonor no Mosteiro de

Leça do Balio, a Ordem ganhou prestígio, mas breve o perdeu. D. Frei Álvaro Gonçalves
Pereira morre em 1382 e o seu sucessor tem o mesmo fim, em Aljubarrota, mas pelo lado

castelhano.

D. João I passa a contar só com as outras Ordens Militares, deixando a do Hospital

numa situação de "estrangeira", ao não a convocar para participar na acção de Ceuta.


Será só mais tarde, com a tomada de Arzila, que reconquistam a simpatia régia, na

pessoa de D. Afonso V. Daqui em diante, o prestígio da Ordem foi sendo recuperado: D. João

II torna-se afilhado do Prior do Crato - D. Vasco de Ataíde; D. Manuel e D. João III casam no

mosteiro da Flor da Rosa. Estes acontecimentos contribuiram para que o Priorado do Crato,
no século XVI, fosse considerado um dos mais prestigiados benefícios de Portugal. Também

as doações do Foral de Couto100 de Leça por D. Manuel, em 1519, a das Ilhas de Malta em

1530 pelo Imperador Carlos V e a recuperação do título de Balio para Leça, em 1571101
comprovam essa mesma retoma do prestígio que outrora possuiam.

96 FONSECA, José - O. c., p. 36


97 Pai de D. Nuno Álvares Pereira, companheiro e sobrinho do Balio de Leça - Frei Estevão Vasques Pimentel in
GAMA, Arnaldo - O. c. p. 14
98 Esta designação devia-se ao facto da Ordem ter sido instalada em Portugal por favor régio, in FONSECA, José
- O. c., p. 36
99 CARNEIRO, José Augusto - O. c., p. 81; FONSECA, José - O. c., p. 36
100 FELGUEIRAS, Guilherme - Monografia de Matosinhos, [Santo Amaro de Oeiras, 1955-1957], p.740
101 FONSECA, José - O. c., p.. 39
24

Muitos foram os homens que por esta Ordem passaram. Só de Grão-Priores contam-se

trinta e cinco102, a maioria dos quais eram famosos varões. Em termos de famílias régias
ligadas à Ordem de Malta, os infantes foram os que mais usaram o título de Grão-Prior, entre

eles: D. Francisco, D. Pedro, D. João, D. Miguel, D. Luiz e seu filho D. António.

Inicialmente, possuiam o cargo por dez anos sucessivos, dando-lhes no reino as honras de
Conde, entre outras103.
Em 1640, o Priorado do Crato dependia do Grão-Prior de Castela, pelo que houve

dificuldades em nomear um novo prior para o Crato. Castela não aceitava os que eram

nomeados por Portugal e vice-versa. Não obstante esta controvérsia, o português Frei Lopo
Lima, foi nomeado em Malta, vindo a governar na regência de D. Pedro II, a quem sucedeu o

infante D. Francisco104.

Em 1645, o mesmo Balio - Frei Lopo de Lima - era reconhecido por D. João IV, que o

nomeia Governador de Salvaterra do Extremo e posteriormente da Guerra do Sertão em


Pernambuco. Mas este tinha em vista o cargo de Grão-Prior do Crato, pelo que recusou,

argumentando uma ida a Malta ajudar seu irmão Frei Diogo105.

Em 1758, o Senhor de tudo o que pertencia a Leça, de Donataria, a Freguesia, o Couto,

as Comendas de Oliveira do Hospital e Oleiros, o domínio do espiritual e do temporal, era o


Balio Fr. Dom Rajmundo de Souza da Silva106.

Em 1790, D. Maria I, confirmando as Letras Apostólicas do Papa Pio VI de 1789,

ordenou que a administração do Grão-Priorado do Crato fosse incorporada definitivamente na


Casa do Infantado. Em termos de bens materiais, o priorado tinha cinco baliados: Leça,

102 Ver Lista de CARNEIRO, Augusto - O. c.


103 Ibidem
104 Ibidem, O. c., p. 98
105 Frei Diogo de Mello Pereira, participou activamente na restauração de 1640, em compensação o rei D. João
IV nomeou-o capitão-mor de Barcelos por Alvará de 29 de Maio de 1641 e a 9 de Janeiro de 1659 recebeu a
patente de Mestre de Campo General da provincia de Entre Douro e Minho, por se ocupar da defesa da nação.
Ibidem, O. c., p. 98
106 Memórias Paroquiais de Leça do Balio, 1758, (Tomo XX, nº 82, págs. 601 a 634) in FELGUEIRAS,
Guilherme - O. c., p.791
25

Lango, Acre e os de Negro Ponto. Os poderes espirituais passaram para a Santa Sé107. A partir

daqui, dá-se a separação entre o Grão-Priorado (desde D. Luís) e a Ordem de Malta.


No período conturbado do liberalismo em Portugal108 houve iniciativas para a extinção
das comendas desta Ordem, no sentido de angariar dinheiro para a Caixa da Junta dos Juros

dos Reaes Empréstimos. Esta iniciativa foi revogada pela legislação de Janeiro de 1830 que
fazia entregar as comendas à Ordem de S. João. Mas, pelo decreto de 30 de Julho de 1832, a

Junta dos Juros passou a administrar todas as comendas da Ordem de S. João de Jerusalém,

sendo abolidas Ordens Militares, Mosteiros e Conventos religiosos109.

Na primeira centúria do nosso século, um cavaleiro da casa, resumia assim a Ordem


dos primitivos Cavaleiros de Jerusalém, de S. João do Hospital, de Rhodes e, finalmente, de

Malta: "(...) lançando um olhar retrospectivo para essa época de fé, de ideal e de valentia,

ninguém por mais calmo e reflectivo que seja, pode deixar de vibrar intensamente ao

recordar a corajem daquela falange, pequena em número mas grande na heroicidade, que
conseguiu sempre manter em respeito o poderio enorme dos infieis. A prosperidade da

Ordem de São João só declinou quando se levantaram contra ela os estados europeus,

pagando-lhe com negra ingratidão os relevantes e assinalados serviços prestados em prol do

cristianismo e da civilização ocidental"110.


Contudo, o mérito não se extinguiu. Em 1931 a Ordem de Malta era considerada uma

potência soberana, "atestam-no os seus diplomatas acreditados junto de vários governos e

confirmam-no as atenções, as honras e os privilégios de que em muitos países gozam os seus


membros (...), onde estão estabelecidas Assembleias ou Associações de cavaleiros"111. Hoje, é
reconhecida como um Estado sem território, sendo o Papa a nomear os grandes-balios.

Oficialmente, possui o palácio do Grão-Mestre em Roma e, em Veneza, dispõe de um

priorado. Reserva-se ao direito da nomeação de soberanos em vários países e a participar em

107 "O priorado de Portugal comprehendia 18 leguas de comprido, 9 de largo, e 56 de circunferência, com 13
villas, ...". Ibidem, O. c., p. 83.
108 Mais concretamente com a constituição de 1822.Ibidem, O. c., p. 87
109 Ibidem, O. c., p. 88
110 CAMPO BELLO, Conde de (D. Henrique) - O. c., pp. 10; 11
111 Ibidem
26

cerimónias oficiais. É disso exemplo a cerimónia das Comemorações do VIII Centenário da

Bula «Manifestis Probatum», realizada em 1979, onde estiveram presentes altas


individualidades, nomeadamente uma delegação da Ordem de Malta112, por se tratar da única
Ordem de Cavalaria que se manteve ao longo dos séculos com personalidade canónica e

jurídica na actualidade do direito internacional.


Assim, esta Ordem "Sagrada, Soberana e Nobilíssima, há mais de oito séculos que

(..) espalha profusa e generosamente o bem e a caridade, socorrendo necessitados, tratando

doentes, albergando miseráveis e minorando desgraças"113. No século passado eram exímios

em termos de formação de oficiais da marinha. Actualmente, à semelhança de quando surgiu,


continua a apoiar acções de peregrinação cristã e beneficiência humanitária, em países mais

necessitados. Faz-se nota à organização e apoio de peregrinação a Fátima, onde são

reconhecidos como "irmãos" de Malta114.

1.5. Alterações Arquitectónicas, Conservação e Restauros

O Património Construído que compõe o actual conjunto do Mosteiro de Santa Maria


de Leça do Balio - Igreja e Quinta - é o que resta de um período que medeia entre o século X

e os nossos dias. Encontram-se ali exemplos de correntes arquitectónicas diferentes, românico,

gótico, renascentista e maneirista, ao mesmo tempo que predomina a arquitectura dos monges

guerreiros.
Em relação às alterações arquitectónicas que se foram verificando, melhor que as

nossas palavras são as imagens que conseguimos reunir e que se juntam. Em relação a datas

112 Entre eles encontrava-se o Embaixador da Ordem nas Ilhas Maurícias - Conde Hervé de Fontmichel, o Balio
Grão Cruz de Obediência - Conde Geraud Marie Michel de Pierredon, in NORONHA, (D.) Marcus de (Subserra)
- A Ordem Soberana de Malta e as Comemorações do VIII Centenário da Bula «Manifestis Probatum», Lisboa,
1983, pp. 7-12.
113 CAMPO BELLO, Conde de (D. Henrique) - O. c., p. 9
114 FONSECA, José - O. c.
27

concretas de alterações e construções, fazemos apenas breves conjunturas, dado não ser

nosso objectivo o estudo arquitectónico do edifício e essa vertente já se encontra tratada115.


Contudo, feito um breve inventário, no que respeita à data da construção do primitivo

templo, não chegamos a nenhuma data em concreto. A orientação que nos pareceu mais

fidedigna foi a do documento mais antigo, de 1003, onde se pode lêr que "no século X era um
pequeno ermitério ou cenóbio. Que os tempos eram difíceis e de recolhimento"116 - o que

parece comprovar que nesta altura já existia o primeiro edifício e era habitado - donde se

presume que tenha sido construído senão antes, pelo menos, durante o século X.

Depois disso, várias foram as alterações e reedificações que o templo sofreu117. Na

transicção do século X para o século XI consta ter estado abandonado, devido à instabilidade

provocada pelos assaltos dos árabes e dos normandos. Um pacto ou prazo, de 1091, entre o

Prepósito de Leça - Presbytero Gutino - e o Prior da Vacariça, é concedido, ao primeiro,

metade das rendas de Leça "(...) para que disponha delas no edifício do dito Mosteiro orne a
Igreja, e eleve .. os altares"118, dando a entender que a igreja estava a precisar de obras.
Assim, terá existido uma primeira igreja durante aproximadamente 200 anos,

presumivelmente de gosto moçárabe, mas que segundo o parecer da arqueologia, até ao


115 São vários os autores que analisaram a arquitectura, referimos apenas alguns: MONTEIRO, Manuel - Igrejas
Medievas do Porto, Porto, 1954; CHICÓ, Mário Tavares - A Arquitectura Gótica em Portugal, Livros
Horizonte, Lisboa, 1981; DIAS, Pedro, O gótico, in História da Arte em Portugal, Publicações Alfa, Lisboa,
1986, vol. IV; FONSECA, José Manuel Salgado - O. c.,; HISTÓRIA DA ARTE PORTUGUESA, da Pré-História
ao «Modo» Gótico, Dir. de Paulo Pereira, Circulo de Leitores, Lisboa, 1995, Vol. I, pp. 387-389.
116 Sobre esta problemática já nos reportamos nas "Origens do Mosteiro". No entanto, não nos parece inoportuno
referir que na sala do Capítulo considerada, até ao monento, como a construção mais antiga que persiste - ou seja,
a sala que se encontra ao fundo do que resta do Claustro - na Quinta do Mosteiro - se encontra, na parede lateral
esquerda, uma inscripção com os seguintes números "8 XXVII", protegida com uma placa de acrílico para não se
apagar. A interpretação desta deixamo-la para os técnicos da epígrafia, sem deixarmos de observar que a mesma
pedra pode ter sido aproveitada na reedificação do século XII.
117 Independentemente das alterações por que passou o Mosteiro de Leça do Balio, o Postal intitulado "Leça do
Bailio - Egreja de Santa Maria de Leça" nº 70 - Editor Alberto Ferreira - P. Batalha - Porto, catalogado com a
data de 1905 (selos), que encontramos no Fundo Postal da B.P.M.P. não corresponde à realidade. Trata-se da
Igreja de Santa Clara a Velha, em Coimbra; Doc. 1. No sentido de "alerta" a futuros investigadores, parece-nos
importante deixar aqui esta nota e anexar a reprodução desse mesmo Postal, tanto mais que a pessoa que o enviou
a outrém fê-lo convicta de que se tratava da Igreja de Santa Maria de Leça. MATOS, Marina de Morais Freitas
de - Catálogo dos Postais Ilustrados Antigos: Região Norte, Biblioteca Pública Municipal do Porto, Porto, 1988,
p. 136; DIAS, Pedro, O gótico, in História da Arte em Portugal, Publicações Alfa, Lisboa, 1986, vol. IV, pp. 40-
41.
118 Livro Preto, p. 84 v. Segundo a Regra de S. Bento (Cap. 63), só os Abades desta Regra é que podiam
"elevar" os altares, ou seja colocar relíquias, como o fez e foram sendo transladadas para a actual igreja, in
BARBOZA, António - O. c., pp. 22-25.
28

momento, ainda não se encontraram vestígios que o confirmem e uma segunda igreja, ou

primeira reedificação, feita pelo Abade Gutino em 1091. Os vestígios românicos que restam
nalgumas estruturas, nomeadamente na janela geminada do Claustro e nas salas térreas dos

Paços dos Balios, indicam serem desta última construção119; Foto 2 e 3.

A grande alteração arquitectónica - na dimensão e no estilo - parece ter-se verificado


apenas na primeira parte do século XIV120, quando foi mandada eregir esta igreja-fortaleza;
Foto 4. Embora esta tipologia de igrejas não difira muito das monacais121 - já ali se

encontrava uma Ordem Militar - o edifício foi já construido com função dupla, religiosa e

militar, como abordaremos na Iconografia. O Balio e Cavaleiro da Ordem Fr. Estevão


Vasques Pimentel, foi o encomendante que, segundo as Memórias Paroquiais, para além do

mais, tinha em vista criar um monumento para enterrar os Balios da Ordem122.

Entre 1598 e 1644, realizaram-se obras a mando do Balio Fr. Luiz Alvares de Távora.

Estas realizaram-se essencialmente nos Paços da Baliagem, onde mandou contruir o andar
superior, com varandas, pátio e escadas123

Em 1810, sabe-se que foram efectuadas outras obras. Neste caso na igreja e da

responsabilidade do Balio Fr. Manuel de Almeida e Vasconcelos124.

Na planta que se segue e que datamos do período que medeia entre 1844 e 1849,
pode-se perspectivar toda uma série de alterações: construções, demolições e reedificações

que se efectuaram, ao longo dos tempos, até ao período referido; Planta 4.

119 Em relação às estruturas mais antigas que se observam na planta de 1844, continua a dúvida se são obra
Beneditina e por isso da primitiva construção ou obra dos Hospitalários depois de para ali terem ido entre 1112 e
1118, in BARBOZA, António - O. c., p.36
120 O Balio Frei Estevão Vasques Pimentel sucedeu D. Fr. Garcia Martins em 1360, pelo que a obra terá sido
mandada construir entre esta data e a data de conclusão - Maio de 1336, in FELGUEIRAS, Guilherme - O. c., p.
794; BARBOZA, António - O. c., p. 9
121 CHICÓ, Mário T. - O. c., p. 115
122 Memórias Paroquiais (1758) in FELGUEIRAS, Guilherme - O. c., p. 794
123 No corrimão das escadas está um brasão semi-apagado sobre a Cruz de Malta. Segundo Velho Barboza o
facto de estar apagado deve ter sido por causa das instruções do rei D. José I que, mandou apagar as armas da
família dos Tavoras in BARBOZA, António - O. c., p. 41. Ao fundo do mesmo corrimão, num colunelo de
granito, encontra-se o brasão dos Coelhos - que ali viveram em quinhentos.
124 Os encarregados das obras eram irmãos deste Balio - Fr. José de Almeida, da Ordem de S. Bernardo e Fr.
José de Santa Rosa e Vasconcelos ex-General da Congregação Beneditina in BARBOZA, António - O. c., p. 25
29

Contudo, passados poucos anos, através da reprodução das imagens impressas em

1849-59, 1852 e 1886 verifica-se que já tinha havido algumas alterações em relação à planta
que atrás apresentamos; Fotos 5 e 6, Gravuras 1 a 4.

No início do século XX, uma carta de Henrique Kendall, datada de 30 de Janeiro de

1904, demonstra que o estado de conservação deste Mosteiro era preocupante. Como se pode
ler, na reprodução da mesma, quando diz "já conheço de há muito a necessidade de

reconstruir o templo de Leça do Balio. Já disso me ocupei quando era deputado por

Bouças"125; Doc. 2.

Foi precisamente na continuidade de intervenções políticas como esta, que na primeira


metade do nosso século, o Estado Português se deu conta da situação de abandono em que os

nossos monumentos se encontravam e das perdas culturais que decorriam e que decorreram,

particularmente nos séculos XVII e XVIII . A partir de 1926/29 procede a uma série de

intervenções, polémicas ou não, no sentido de remediar e ou corrigir as raízes de alguns dos


monumentos que permaneciam, tendo sido o Mosteiro de Leça do Balio um dos

contemplados.

As fases dos trabalhos, o antes e depois, das intervenções de demolição de edifícios e

restauros podem-se observar126 na reprodução das fotografias nºs 7 à 46 e nas plantas nº 5 a 7.


Praticamente no mesmo período em que decorreram os trabalhos da D.G.E.M.N. na

igreja, Ezequiel de Campos encetou uma série de obras de restauro e de novas construções,

com a orientação dos técnicos daquela Instituição. As salas térreas, mais antigas,
encontravam-se a servir de estábulos. As construções maneiristas que dão continuidade aos

Paços pela Nascente e se prolongam para Sul são da sua iniciativa127 ; Foto 47. O
reconhecimento desta iniciativa e investimento, por parte da D.G.E.M.N., encontra-se na

125 Doc. Avulsos «Reservados» da B.P.M.P.Veja-se a reprodução desta carta no Doc. 1.


126 SILVA, Henrique Gomes da - Boletim nº1 da D.G.E.M.N., I a VI, Porto, 1935-36, pp. 5-31
127 Segundo informação verbal de um dos seus bisnetos, o custo das obras foi suportado na totalidade por
Ezequiel de Campos. Com a preocupação de homem culto e interessado na cultura do seu país, obteve apenas o
parecer técnico para os restauros e novas construções, no sentido de não desfigurar o conjunto arquitetónico. Os
novos edifícios construídos, à maneira antiga, são: o que se destina à habitação dos caseiros, com estábulos na
sobre-loja, o silo à semelhança da antiga Tulha e o edifício da lavoura, contíguo à eira.
30

reprodução da Lâmina de Bronze, de Fr. Estevão Vasques Pimentel, que lhe ofereceram e está

colocada numa das salas térreas ao lado da arcada do Claustro. A Quinta do Mosteiro
conserva assim, a casa que "prolongava" a igreja - os Paços dos Balios - com algumas

estruturas antigas, como as salas térreas, nomeadamente a do capítulo e o claustro; Planta 9.

As restantes construções, como já referimos e podemos observar na planta que se segue, são
recentes.
Actualmente e ao abrigo da Lei do Mecenato Cultural, a Igreja e a Torre estão sobre a

"protecção" de um acordo assinado, em Outubro de 1993, entre a Unicer e o IPPAR. As

acções previstas são a recuperação das portas exteriores, a reabilitação das coberturas da igreja
e da torre, a recuperação das caixilharias e pavimentos da torre, a electrificação e iluminação

do interior da igreja, a substituição das bancadas da igreja e obras de conservação anuais128.

1.6. Toponímia

"Os topónimos são como que o bilhete de identidade de um lugar: trazem notícias

sobre quem lhe deu o nome, quando e porquê129".

Dos designados povos clássicos, os que mais paragem fizeram por terras portuguesas

parecem ter sido os Gregos, em detrimento dos Celtas e Fenícios. Pelo menos, os nomes de

terras e lugares assim no-lo indicam. Na freguesia de Leça do Balio sobressaem como

128 O contrato de mecenato prevê um investimento de 37 mil contos. Teve início em 29.10.1993 e o seu término
em 31.12.1997, podendo ser renovado automáticamente, desde que não haja rescizão de nenhuma das partes,
com aviso prévio de 60 dias, in Documento manuscrito que recebemos da UNICER; Imprensa Escrita: Vida
Económica de 30/10/1993, p. 12; Vida Económica de 6/11/1993, p. 13; Jornal de Matosinhos de 5/11/1993, p.
9; A Capital de 30/10/1993, p. 5; O Público de 30/10/1993, p. 55; O Primeiro de Janeiro de 30/10/1993, p. 9;
Jornal de Notícias de 30/10/1993, p. 9; O Comércio do Porto de 30/10/1993, p. 33; o Correio da Manhã de
30/10/1993, p. 32; O Dia de 30/1071993, p. 12; O Jornal de Notícias de 29/10/1993, p. 8; O Correio da Manhã
de 29/10/1993, p. 35; O Diário Económico de 25/10/1993, p. 7; O público de 24/10/1993, p. 62.
129 GUIMARÃES, J. A. Gonçalves - Gaia e Vila Nova na Idade Média, Arqueologia de uma área ribeirinha,
Universidade Portucalense, Série Monografias, Porto, 1995, p. 87.
31

exemplo: "Balecas, Keirão, Jabbada, Leça, Mogos, Mortorio, Recarei, ou Necaredi, Amieira,

em outro tempo Angelanes" 130.


Embora alguns destes topónimos não se consigam identificar com a actualidade,

passamos a analisar estes nomes de Leça, tratados num breve dicionário pelo Abade Velho

Barboza, já várias vezes citado, que nos dão ideia das prováveis origens dos nomes, do seu
significado e por vezes nos ajudam a identificar lugares que mudaram de nome:

Angelanes - ou Amieira, mencionado num documento131 de 1021, deriva do grego

Armentalis, coisa própria ou pertencente a rebanhos, perto das bouças da Beleca ou


Balecas, ou Bouça das Cabras. Hoje é o Lugar da Amieira.

Balecas - Blecas, Bleche, Bleches que significa Balatus ou seja balido das cabras,

ovelhas, etc. É o nome de uma das bouças ao lado do regato do Keirão que desagua
no rio Leça e fica na mesma freguesia. Deriva ainda do grego Be, cabra e do Echo

balido. A pronúncia deve ser Belecas.

Keirão - ou Keirãos, parece derivar do grego cheiron, cheirons que significa peior,
inferior. Como é o nome de um regato que vai da Ponte da Pedra à igreja de Santa

Maria, supõe-se querer dizer que é mais pequeno que o Leça, onde desagua. Nasce

no lugar de Lamas junto à Quinta da Cotama na freguesia de Águas Sanctas. Passa


pelo lugar de Angelanes ou Amieira.

Iabbada - ou Jabbada, é o nome de dois campos na margem direita do rio Leça, a

seguir à Ponte da Pedra, deriva do grego Iabbada que significa Platéa do Theatro.
Como em frente ficava um lugar designado de Bomjardim que terminava no

130CARNEIRO, José Augusto - O. c., p. 71


131 Doação de Dona Unisco Mendes, e seus filhos, ao Dom Abade da Vaccariça, Thodeogildo, dos Mosteiros de
Leça, e Vermoim, Documento nº 1 da mesma obra. Ibidem, p. 72.
32

Cruzeiro132 do terreiro da igreja. Isto leva-nos a deduzir que a beleza de tais campos

era tal que os Gregos lhe chamaram de Bonjardim.

Leça - Nos documentos latinos mais antigos, aparece escrito Leza "e mesmo em uma

Bulla do Papa Leão 10º do anno de 1515 vem ora Leça, ora Leza (viD. Nov. Malt.,
part. 3º, pag. 101) e em nehum documento antigo, quer latino, quer portuguez, tenho

encontrado Lessa; o - z - dos Gregos era substituido pelos nossos antigos pelo - ç -"

. De qualquer forma, persiste a dúvida se é um nome de origem grega ou fenícia,

"isto pelas seguintes razões: Ptholomeo, no capitulo 6º da Segunda Taboa da


Europa, nomeia uma cidade dos povos Acetanos, ou Lacetanos, com o nome de Leça

e varios Codices d'este antigo Geographo escrevem este nome, em grego, de dous

modos; uns escrevem Lissa, outros Leza, e Leza é também o nome de varias cidades

..."133. Na bibliografia consultada aparece "Leça" e "Lessa" parecendo-nos a primeira


forma a mais correcta, dada a evolução da língua e o facto de ser a mais utilizada

pelos autores contemporâneos.

Mogos - do grego Moyos = labor, aerumna = trabalho, desastre, calamidade. Nome


que davam a um campo da mata da Baliagem, próximo do rio e da igreja de Leça.

Moggos surge ainda em grego como significado de "aquelle que tem a voz grosseira,

rude" e no português medieval Mogos quer dizer Marcos No entanto, segundo o


autor a que nos referimos no inicio deste ponto, as terras de Leça não estavam

divididas e como tal não era necessário marcá-las.

Mortorios - deriva do grego Myrtos = murta, e de Orros = monte, Orius = Temporão.


Dando origem ao nome Monte da Murta. Em 1852 este era um campo chamado

132 Entenda-se que o cruzeiro estava situado no terreiro e não aonde se encontra hoje.
133 Ibidem, O. c., p. 80
33

Mortorios, que pertenceu à Baliagem de Leça. Hipoteticamente terá sido, noutros

tempos, um monte plantado de murta temporã134.

Necaredi - ou Recarém. Três lugares desta freguesia, designados em meados do

século XIX como: Requerém, Requarem e Recarei. Nos documentos mais antigos
mencionam Necaredi "do grego Nekadessim, ablat. do plur. Jonico de Nekas, que

significa - cadaverum acervus - isto é, montão de cadaveres" Se relacionarmos

Necaredi com a palavra Mogos = desastre, que é também o nome de um dos

campos, podemos tentar interpretar que contíguo ao lugar de Necaredi, no campo de


Mogos, houve uma batalha que resultou em calamidade135.

Na ausência da memória escrita, a toponímia, a paleografia e a iconografia cobrem

determinadas falhas. O Lugar do Souto, o Lugar da Amieira, a Devesa da Ordem, a Rua da


Lameira, a Rua do Pinheiro Manso, o nome dos Montes e das Matas são alguns dos topónimos

que encontramos e que nos remetem para a cobertura vegetal doutros tempos. Já os nomes

doutras Ruas são em memória dos Cavaleiros da Ordem que por ali passaram ; Rua de D. Frei

Cristóvão de Cernache, Rua de Frei Diogo Melo Pereira, Rua de D. Frei Álvaro Pinto e Rua
de D. Frei Jerónimo de Brito e Melo e que fazem parte da história desta terra; Planta 1 e 2.

134 Ibidem, O. c., p. 82-83. Diz-se temporã a árvore que floresce e dá frutos antes da época habitual e os
próprios frutos também assim se designam.
135Ibidem
34

PATRIMÓNIO NATURAL E TRANSFORMAÇÃO


35

1. HISTÓRIA E PROBLEMÁTICA

Aliada às artes, à arquitectura: civil, religiosa ou militar, à pintura e à escultura,

podemos encontrar a história das paisagens, da flora e da fauna. A historiografia do Mosteiro

de Leça do Balio fornece-nos resquícios memoriais que poderemos considerar, actualmente, a


História do seu Património Natural.

Não obstante a maioria das obras consultadas tenderem para a vertente arquitectónica

e/ou arqueológica, encontramos descrições de percursos e de observações mais atentas, que


nos transportam para as paisagens de outras épocas. Mas, encontramos também, "homens" que

se interessaram pela natureza e como tal se preocuparam em deixar registado o espaço natural

ou semi-natural do seu tempo e alterações a que assistiram136.

Ainda em 1954 o vale de Leça do Balio era visto como "uma cenografia medieval tão
sugestiva (...), num dos arredores do Porto, que oferece aos olhos surpresos a Igreja de

Santa Maria de leça. (...) perfila-se ao fundo suave dum pequenino vale entre pinceladas

escuras de pinhal e verdejâncias de terras de écloga por onde se escoam, em direcção ao

mar, as águas leves e os múrmurios ainda mais leves do poético rio de que tira o nome"137.
Compreender e falar de Património Natural nem sempre é fácil. No entanto, se

tivermos em conta a riqueza e as surpresas que a Natureza nos reserva: as paisagens, as formas

de vida da flora e da fauna, os seus segredos e tudo o que permite à vida humana - é
estimulante e compensador .
A Natureza resulta de um processo moroso. Antecede o homem da pré-história,

permitiu e facilitou a sua sobrevivência e sedentarização. É imprescindível ao homem. Como

tal, ela é um dos bens Patrimoniais mais antigos que a Humanidade possui. Mas, embora
"grandiosa" não é imensa. É mutável e recupera, mas até quando?! Importa, por isso, respeitá-

-la, preservá-la e protegê-la, para ser usufruída.

136 Refira-se o caso mais recente de Ezequiel de Campos.


137 MONTEIRO, Manuel - O. c., p. 7
36

Há longa data que, no nosso país, não existem praticamente florestas virgens e

natureza selvagem ou no seu estado de pureza original, já que a intervenção humana foi
tornando a Natureza em semi-Natureza. A que permanece natural tranformou-se num acto de

cultura e de respeito humano essenciais138.

A partir da época clássica, os mercadores introduziram entre nós plantas exóticas,


cedros, romãzeiras e figueiras. Por outro lado, o desenvolvimento da agricultura e a

domesticação de animais levaram ao abatimento de árvores e ao empobrecimento dos solos.

Surgiram matagais ou "maquis" transformando a paisagem, que se tem vindo a degradar e a

destruir em termos de ambiente natural139.


A flora e a fauna naturais têm características próprias. Perante o crescimento de áreas

industriais e urbanas, geralmente, extinguem-se por não se adaptarem aos novos ambientes ou,

por, pura e simplesmente, serem destruidas.

Segundo estudos recentes, sabe-se que até ao século XVIII a floresta forneceu
produtos essenciais para o consumo e para a organização económica do nosso país. Pelo

menos a partir do pós-glaciar da Europa, surgiram ecossistemas essencialmente florestais que

passaram a controlar o meio ambiente. As matas naturais eram heterogéneas: pela variedade,

composição florística, horizontalidade e diversificação das características locais. Actualmente,


as matas resultam já de um planeamento, ou não, secular e forte intervenção humana140.
O território português, aquando da delimitação de fronteiras, foi consideravelmente

alterado em termos de paisagens naturais, devido à invasão morfológica das terras nas lutas da
reconquista141. A organização e a fixação dos povos, junto de pântanos com parcelas

arroteadas e nas matas mais baixas, levou a uma reorganização da paisagem e das gentes,

principalmente no Noroeste Atlântico, contribuindo para isso, em grande parte, o surgimento

138 PACHECO, Helder - Portugal - Património Cultural (1), o ambiente dos homens, Areal Editores, Porto,
[1985], p. 27; PORTUGAL NATURAL , Edideco Editores, Lda, Lisboa, 1995
139 ATLAS GEOGRÁFICO in Grande enciclopédia Portuguesa e Brasileira, Edit. Enciclopédia, Limitada,
Lisboa/Rio de janeiro, 1991, pp. 68-69
140 VARETA, Nicole-Devy - Para uma geografia histórica da floresta portuguesa, As Matas Medievais e a
«Coutada Velha» do Rei, in revista da faculdade de letras-Geografia, I Série, vol. I, Porto, 1985, p. 47-67
141 RIBEIRO, Orlando - Povoamento, in Dicionário de História Portuguesa, Tomo IV, p. 470
37

dos mosteiros na Alta Idade Média. O espaço agrícola expandiu-se, o cultivo das florestas e a

pastorícia passou a situar-se nas vertentes superiores dos cumes das colinas e das serras. Os
soutos de carvalho e/ou castanheiros representando parcelas de floresta «natural» que foram

preservados, asseguravam reservas de madeira ao proprietário (...) que mais pareciam

jardins", onde o gado bovino e caprino não entrava, excepto os porcos na altura da bolota142.
Os matos localizavam-se mais próximo das habitações e do terreno agrícola, dada a sua

aplicação na adubagem dos campos, no fornecimento de lenha e de alimento para o gado143.


Com o crescimento da população "nortenha" e, mais propriamente a partir do século

XII, a procura de madeira e da lenha intensificou-se. Surgiram as actividades artesanais,


nomeadamente a naval, bem como um maior consumo das populações e dos próprios animais,

pelo que, os baldios se foram devastando e as florestas afastando do litoral. Um "outro

reflexo da diminuição da oferta encontra-se na obrigação de plantar árvores nos

emprazamentos do século XIII"144. Embora os mosteiros fossem um dos maiores


consumidores de madeira, nas quintas e nas construções, também eram os que mais protegiam

e conservavam as suas matas e florestas145.


Foi a partir desta centúria que se começou a notar uma maior devastação de árvores no

Noroeste português; "privatizaram-se" os bosques e desarborizaram-se as colinas, embora nas


zonas menos povoadas (como no espaço da serra do Barroso à serra do Marão) ainda se

encontrassem grandes manchas de arborização, comprovadas pelas inquirições de 1258,

quando se fixaram tributos sobre a caça grossa (gamos, cervos, javalis e ursos). Isto
principalmente no Alto Minho, onde o rei caçava146.

142 VARETA, Nicole-Devy - Para uma geografia histórica da floresta portuguesa, As Matas Medievais e a
«Coutada Velha» do Rei..., na p. 50 remete-nos para uma nota sobre a privatização dos bosques já segundo o
Código Visigótico, que previa "multas e indemnizações" aos proprietários, caso se verificassem fogos
prepositados ou devastação não planeadas, cita (G. Barros, IX, p. 22-27), refere ainda que C. Higounet não
entende esta atitude como lei de protecção às florestas mas sim aos interesses particulares que irão "perdurar
nas propriedades dos mosteiros nortenhos" (p. 378 deste último autor).
143 Matos é (...) lande arbustiva, espontânea ou cultivada - VARETA, Nicole-Devy - O. c., p. 50.
144 Sobre este assunto, cf ALMEIDA, C. A. Ferreira de - Arquitectura Românica de Entre Douro e Minho, Tese
de doutoramento, policopiada, Porto, 1978, p. 78-80.
145 VARETA, Nicole-Devy - O. c., p. 50
146 Ibidem, p. 51
38

Face ao resultado das estratégias da reconquista, da degradação silvopastoril, dos

interesses económicos de excesso de exploração da floresta - a caça, a lenha, a madeira e o


carvão, e mais tarde do estímulo da construção naval147 ao longo da costa - que os nossos
monarcas tomaram iniciativas de protecção à floresta148 e respectiva fauna. Veja-se a carta

régia de D. Afonso V 149 que proibe o abatimento de espécies da fauna natural: "que nenhuua
pessoa de quallquer estado e condiçam que seia nom seia ousada que mate em nenhuua parte

e luguar das ditas comarquas damtre Doyro e Minho e Tralos Montes assy nas nossas terras

como dos outros gramdes fidalgos nenhuua porco nem porca nem outra veacom com nenhuua

armadilha nem çepo nem rredea nem beesta nem coussa que sse nomear150. Sendo também
fixados as penas, castigos e multas a quem tais ordens não cumprisse "por cada vez que lhe

prouado for pague polla primeyra mill reais pera o que o acusar e pella segumda pague dous

mill o quall sera acusado e demandado presemte o corregedor da comarqua ou juyz da terra

a qual penna seraa pera o que o acusar como dito he".


Esta carta torna-se ainda pertinente, por ser um tipo de documento habitual para as

coutadas reais151, predominantes a Sul do rio Douro152. Contudo, a situação continuou


preocupante, dado que a "legislação" real, na grande maioria, era apenas aplicada às matas do

rei "ficando as vastíssimas áreas destinadas à Venatória (...) bem como às áreas também
coutadas das instituições religiosas, das ordens militares e da nobreza, as quais no seu

conjunto ocupavam a maior área do país"153. Por outro lado, no século XV, a procura de

"derivados" da floresta e a própria caça, intensificou-se ainda mais. Agora, as coutadas reais

147 No século XIV, devido à política de expansão, observou-se em Portugal o declíneo da floresta, tendo como
causa principal o desiquilibrio entre a oferta e a procura das madeiras nacionais e a difícil regeneração das
florestas, in VARETA, Nicole-Devy -O. c., p. 67.
148 A História Florestal, Aquícola e Cinegética de C. M. L. Baeta das Neves é exemplo dessa preocupação
régia, trata-se de uma obra composta de documentos régios transcritos e abrange o período de 1208 a 1521.
149 Viveu entre 1432 e 1481, foi o nosso 13º rei e o 3º da dinastia de Avis, era muito "querido" de quase todas as
cidades e vilas (...) e muitos fidalgos da Beira e de Entre Douro e Minho in Joel Serrão - O. c., vol. I, p. 42.
150 A.N./T.T. Além Douro, Lº 4, fls 60-60 v. in NEVES, C. M. L. Baeta - História Florestal, Aquícola e
Cinegética, Lisboa, 1982, Vol. II, pp. 142-143
151 NEVES, C. M. L. Baeta - Alguns dos Principais aspectos da Política Florestal em Portugal até ao século
XVII, sep. dos Boletins do Instituto dos produtos Florestais, Edição do IPF, Lisboa, 1980, p. 1
152 Sobre este assunto, cf VARETA, Nicole-Devy - O. c., p. 61
153 NEVES, C. M. L. Baeta - Alguns dos Principais aspectos da Política Florestal em Portugal até ao século
XVII ..., p. 1
39

estavam ameaçadas. As protegidas eram apenas as dos coutos da igreja, que se impôs à carta

régia que liberalizou "os cortes em todas as matas" 154.


Ainda para dar resolução a estes problemas, se bem que em simultâneo numa

perspectiva económica, também os documentos foralengos referiam protecção à fauna e à

flora e no século XVI/XVII era criado o cargo de Monteiro Mor155. São ainda de notar os
castigos: físicos, prisões e deportações para África, como nos mostra o documento

"«Costumes e foros de Alfaiates» (1188-1230) - «Qui pino taiare inforquelo»! "156.


De uma forma geral, constata-se assim que os proprietários de mais superfícies

arborizadas eram os mosteiros, como já referimos, sendo também eles os que mais
preservavam o Património Natural157; até porque, a sensibilidade e o nível de conhecimento

que supostamente possuiam - medicina, iconografia, arte, a própria religião e terras por onde

muito viajavam, principalmente os monges cavaleiros das ordens - assim lhes permitia

proceder158.

Senão, vejamos o que nos diz o Index Histórico e Diplomático do Cartório de Leça, da

autoria de Frei Manuel de Almeida e Vasconcelos: "Dos Passaes da Igreja, e que cautela seja

154 Os mosteiros possuiam guardas (mateiros) a quem pagavam para guardar as matas e soutos in VARETA,
Nicole-Devy - Para uma geografia histórica da floresta portuguesa, do Declíneo das Matas Medievais à
Política Florestal do Renascimento (séc. XV e XVI) in Revista da Faculdade de Letras-Geografia, I Série, vol. II,
Porto, 1986, pp. 5-37.
155 Este, dependia hierarquicamente do rei, contituindo a Montaria Real , equivalente ao Serviços Florestais de
hoje. Ibidem, O. c. , pp. 4-5.
156 Ibidem, O. c. , p. 4; 5. O "Regimento de Monteyro mor do reyno de Portugal" foi criado em 20 de Março de
1605 segundo este autor mas Nicole Devy-Vareta (vol. II, p. 34) menciona a data de 1494 (?), no domínio
Filipino, em 1598 D. Filipe I de Portugal, actualizava a legislação sobre estes, aliás continuaram a política de
plantação de árvores, preocupação constante dos reis de Espanha. Em 1821 a Montaria real foi extinta e
substituida posteriormente pela Administração Geral das Matas e Pinhais do Reino (1836). Nicole Devy-Vareta
(vol. II, p. 29) remete-nos ainda para outras medidas; as Leis Extravagantes (1546) e a Lei das Árvores (1565).

157Nos emprazamentos do século XIII, de Entre Douro e Minho, há notícia de se recomendarem as plantações
de árvores, in Nicole-Devy - Para uma geografia histórica da floresta portuguesa, do Declíneo das Matas
Medievais à Política Florestal do Renascimento (séc. XV e XVI) ...,O.c. p. 36

158 Os primeiros inventários florestais portugueses foram empreendidos pelos grandes mosteiros, tal como o de
Alcobaça em 1530, que proconizou a reflorestação nos pinhais litorais degradados pelos cortes e o fogo" in
VARETA, Nicole-Devy - Para uma geografia histórica da floresta portuguesa, do Declíneo das Matas
Medievais à Política Florestal do Renascimento (séc. XV e XVI)... O.c. p. 37
40

preciza na sua conservação, e revindicação"159. Da extensa propriedade da Ordem de Malta,

nas cercanias do Mosteiro de Leça do Balio, fazia parte a Devesa, ou seja, os campos das
várzeas e a mata do Baliado. Pelo que nos é dado a saber pelo autor do Index supra-citado,

estas terras, em 1814, estavam danificadas em mais de metade: "reduzida a pinhal, e com tojo

tal alto, q. excedia a altura de hum homem a cavalo, tendo por isso suffocado, e extincto todo
o arvoredo de castanho e carvalho: eu via com disgosto, q.do aqui entrei, o estrago da peça

mais nobre, que a Ordem tem em Portugal, e q. se viesse reduzir a pinhal e mato bravo huma

mata, q. ainda na p.te q. se conserva m.to mal tratada, excederá ao valor de cem mil

cruzados, se houvesse de pôr-se a corte. Tem gdª com ordennado annual de doze mil reis e
hum piqueno campo". Face ao exposto, Frei Vasconcelos considerou a situação preocupante

sendo necessário tomar medidas drásticas.

No entanto, na organização interna da Ordem, nem sempre os interesses eram comuns,

como se observa no 13º parágrafo do mesmo Index. Frei Manuel de Almeida e Vasconcelos
consulta a documentação do Cartório onde encontra recomendações oficiais do Comendador

e, posteriormente Balio, - Fr. Manuel Guedes de Magalhães, quando da sua visita geral a este

mosteiro em 1776, onde se lê: "ordenamos q. não se deixem nascer pinheiros em os Lugares,

q. saõ mui proprios p.ª Carvalhos, e q. sempre os produzirão optimos; p.r q. crescendo os
pinheiros m.to mais depressa q. os Carvalhos, e multiplicando-se p.r si infinitam.te

assombraõ logo tudo, e em lugar de Mata de Carvalhos, não haverá em breves annos senaõ

pinheiral, com grd.e prejuizo da dª Matta que deve conservar-se, como foi sempre"160.
Face a esta "legislação", foi instituido internamente que "se não désse mais lenha aos

parrochos, e mercieyras (como he costume) senão de pinheiro, pois até ali se lhe dava de

carvalho, e o resto, q. se tirasse p.ª a caza, e vendesse, assim como o tojo, deixando contudo

alguns pinheiros para madeiras de taboas, e pª hir dando pelos annos adiante a's obrg.es da

159Das janelas a Nascente e a Norte do Paço dos Balios era possível ver a maior parte dos campos dos passais
do Baliado, com cerca de meia légua de circuito, com antigos carvalhos e alguns pinheiros. Das janelas a
Nascente sobressaiam o pomar que se prolongava até ao rio Leça - Memórias Paroquiais, 1758, in
FELGUEIRAS, Guilherme - O.c. p.800; Index Histórico e Diplomático do Cartorio de Leça (1814) in CAMPOS,
Ezequiel de - "A Deveza da Ordem" Gazeta das Aldeias, nº 2099 de 16 de Novembro de 1946, p. 890.
160 Ibidem, O.c. p. 890
41

caza (...)". O dinheiro da venda da madeira foi utilizado para mandar: cavar, valar, limpar e

semear bolota e castanha, em cerca de um quinto da mata161.


Também no Resumo do Rendimento Liquido do Baliado se encontram expressas

recomendações: "nunca se permitirá aos vend.os ou sejão da Massa ou dos Passáes, a

liberd.e de trazerem Bois, Bestas, ou outros gados no Matto, q. he o q. a perde p.r lhe roerem
todos os renovos e crescenças. Aos cultivadores dos Passáes, se lhe pode francar estrume em

abunandcia pelo m.to q. há, mas sempre com a condição de deixarem as árvores novas menos

pinheiros, por se prohibir a sua creação na Vizita G.ral de 1766 a fl. 109; tãobem se não

deve promitir, q. com o mato levem terra, como custumão"162.


Até aqui, e apesar de já existirem preocupações como a que acabamos de referir, a

vivência do homem limitava-se a uma forma de vida comunitária que, de certa forma, permitia

a manutenção dos espaços primitivos, havendo como que um "contraponto lógico" das acções

do homem face à natureza.


Principalmente a partir do século XIX, as consequências da Indústria e da urbanização

desmesurada alteraram o equilibrio até então existente. Deu-se uma intensificação da

exploração dos recursos naturais, passando a reflectir-se automaticamente no meio ambiente.

As grandes mudanças políticas, o desordenamento do território e respectivo crescimento das


sociedades, traduzem-se em "novas" paisagens.

Uma das rupturas deu-se com a venda dos Bens Nacionais, como aconteceu à

Comenda de Malta ou Baliagem de Leça. Vinte e oito anos depois da conclusão do Index
Histórico, mais precisamente em 28 de Novembro de 1842, esta foi vendida em Praça

Pública, em Lisboa, na Junta de Crédito Público.

A situação da flora e da fauna na Devesa, nesta data e segundo a escritura dos

compradores, indica que poucas árvores havia, devido aos animais as danificarem, quando
estavam a "rebentar".

161 Ibidem, O.c. p. 891


162 Ibidem,
42

Contudo, os novos proprietários tentaram recuperar o perdido, mandando então fechar

a parte da estrada de S. Sebastião, no sentido do gado não entrar na Devesa; plantar 102
carvalhos e 700 castanheiros163, proteger dos caseiros as plantações, através de valados e,
finalmente, fazer a poda às árvores que existiam164; Planta 10.

Contudo, três anos depois, em 1845 segundo Velho de Barboza, o largo caminho entre
o cruzeiro e a igreja, designado então de Souto por ali haver muitos carvalhos e castanheiros,

tinha apenas 4 "corcomidos" carvalhos e 2 castanheiros velhos. Um destes, em 1852, ainda ali

se encontrava; Planta 1. O desaparecimento do "frondoso arvoredo" deveu-se à Junta da

Paróquia, que vendeu a madeira nesse mesmo ano, para mandar construir no mesmo lugar
uma pequena residência para o Páraco. O Souto ficou sem castanheiros, tal como a Quinta do

mesmo nome e a Devesa da Ordem, sem Carvalhos165.


Em 1923, os tempos mudaram. Algumas das terras de lavradio, cerca de 13 ha da

antiga mata166 e o Paço da Baliagem ou dos Balios167, foram adquiridos por Ezequiel de

Campos168, para onde foi viver; Foto 48. Segundo o seu testemunho, a Devesa estava
praticamente desarborizada, "árvores grandes, antigas, tinha somente 4 carvalhos, 3

sobreiros, 3 pinheiros mansos, e 6 eucaliptos. Um platano mediano. No alto um duzia de

pinheiros novos, e a Nordeste uma duzia e meia de pinheiros medianos. Nenhum


castanheiro169". O estado de devastação era tal, que da estrada Santos Lessa, ao meio da mata,

onde havia uma cancela através de todo o terreno, viam-se os carros de bois e a gente passar

na estrada de S. Tiago para S. Sebastião; Planta 10. Da parte mais alta, via-se perfeitamente a
torre de Leça do Balio afastada, de tão despido que estava o terreno.

163 Destes alguns foram plantados ao longo da margem do rio Leça.


164 CAMPOS, Ezequiel de - "A Deveza da Ordem" in Gazeta das Aldeias, nº 2099 de 16 de Novembro de 1946,
p. 891. É de salientar que muita da informação referida por nós com indicação na Bibliografia de Ezequiel de
Campos contempla as notas manuscritas de complemento e correcções do autor.
165 Ibidem, O.c. p. 891
166 A Puente do Mosteiro.
167 Memórias Paroquiais, 1758, in FELGUEIRAS, Guilherme - O.c., p.799; CAMPOS, Ezequiel de - O.c. p. 891
168 Professor Engenheiro e docente da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto.
169 CAMPOS, Ezequiel de - O.c. p. 891.
43

Tal como o vizinho de Ezequiel de Campos dissera, "a Devesa da Ordem é o frascal

da freguesia - sitio onde toda a gente vae buscar lenha seca ... e verde170; de Devesa já só
tinha o nome. Embora houvesse muitos carvalhos novos - semeados pelos gaios - e pequenos

pinheiros - semeados pelo vento, estas árvores não podiam medrar: os bois e as vacas, as

cabras e as ovelhas comia-nas ainda em rebentos. Por outro lado, os gigueiros, os vendedores
de varas e cacetes, etc, cortavam-nas sem qualquer critério de selecção.

Foram precisos 23 anos de persistência, contra todos os problemas inerentes aos

hábitos adquiridos, para que a mata se recobrisse de arvoredo. Agora diferente nalgumas

espécies, mas com 12 mil árvores a crescer. Estava-se em 1946. Aqueles 12 ha tinham-se
tornado numa "selva fechada de árvores novas"171. Para além das árvores que foram plantadas
junto ao corrego e às pequenas linhas de água, como os amieiros, os choupos, os freixos e os

salgueiros e, junto à estrada Santos Lessa - os cedros, as robíneas e os plátanos - outras foram

distribuidas por parcelas de terreno a que melhor se adaptariam. Esses talhões tiveram um
nome, atribuido pelo autor desta "obra de arquitectura paisagística", que identifica as

espécies, como podemos observar na legenda da fig. 9172; Planta 10.

Perante esta informação específica do Mosteiro de Leça do Balio e de uma forma geral

na documentação encontrada, podemos observar que: quer sobre a iniciativa régia, dos
Mosteiros, dos Monteiros Mores e de Engenheiros Sivicultores, "as florestas, a pesca nas

águas interiores, a silvo-pastorícia, a caça e o aproveitamento dos baldios e incultos pela

Silvicultura foram sempre objecto de cuidados técnicos"173. Por vezes, de forma escassa ou

Pouco eficaz, mas tendo, por certo, em vista a defesa deste Património, independentemente de

outros interesses simultâneos e inerentes à evolução das sociedades174.

170 O Sr. Moreira, na primeira conversa, in CAMPOS, Ezequiel de - O.c. p. 894


171 CAMPOS, Ezequiel de - "A Deveza da Ordem" Gazeta das Aldeias, nº 2100 de 1 de Dezembro de 1946, p.
932.
172 Ibidem
173 VARETA, Nicole-Devy - Para uma geografia histórica da floresta portuguesa, do Declíneo das Matas
Medievais à Política Florestal do Renascimento (séc. XV e XVI)..., O.c. p. 11
174 Para os dias de hoje, vejam-se os filmes "Portugal Natural" do Instituto de Protecção à Natureza, que nos
parece ser o mais recente ponto de situação.
44

Cada vez mais, nos dias de hoje, a questão dos ecossistemas florestais é uma

preocupação constante, na vertente ecológica e a nível económico. Principalmente no Verão,


os fogos devastam extensas áreas de matas, que dificilmente serão recuperadas. Nas

reflorestadas, plantam-se árvores de rápido crescimento e como tal mais produtivas em

termos económicos, em detrimento das árvores de madeira nobre. A propósito desta


problemática, referia recentemente, um Ex-Embaixador de Portugal nos Estados Unidos, que

"a importância da floresta na economia atinge tais proporcões que, a partir de Outubro

último, o Banco Mundial passou a utilizar uma nova metodologia para a avaliação de

riqueza de cada país, tomando mais em conta o valor dos recursos naturais, incluindo
florestas"175. A mesma fonte diz ainda que entre os anos 80 e 90 do nosso século foram
eliminados 16,9 milhões de hectares de área florestal, tendo-se atingido médias de consumo

de papel na ordem de 45 quilos por pessoa/ano, 150 quilos per capita no primeiro Mundo e 10

nos países em via de desenvolvimento. Tendo em conta esta panorâmica, apresentam-se de


seguida alguns dados em quadros e gráficos em que se pode observar a tendência da redução

das florestas em Portugal, em áreas e em mono-espécies, com especial relevo para o distrito

em que se insere o nosso estudo - o Porto.

175 BASTOS, João Pereira - "O papel da floresta e a floresta do papel" in Vida económica, nº 620 de 5 de
Janeiro de 1996, p. 13.
45
46
47
48

A actualidade, limítrofe ao Mosteiro de Leça do Balio, será abordada nos pontos


seguintes, tendo em conta os vários aspectos relacionados com o que é hoje o seu Património

Natural. Graças às capacidades de recuperação da natureza, podemos ainda encontrar algumas

espécies, que passamos a enumerar, descrever e classificar. Optamos por fazer uma simples

divisão das espécies, tanto na flora como na fauna, para uma melhor compreensão e
facilidade de escrita.
49

2. ANÁLISE GEOMORFOLÓGICA

O estudo do espaço geomorfológico de Leça do Balio baseou-se fundamentalmente na

carta geológica do Porto, onde se insere o Concelho de Matosinhos e no respectivo Plano

Director Municipal.
A sua situação geográfica faz com que esta região sofra influências diversas. Insere-se

na Província do Douro Litoral, o Oceano Atlântico encontra-se a Ocidente, confronta em

maior extensão com o Cocelho da Maia a Nascente, tendo a Sul a cidade do Porto, da qual faz

parte a nível distrital176.


Em em termos geomorfológicos, pode-se considerar como mais característico a zona

do pequeno vale delineado pelo rio Leça, onde se encontra o mosteiro. Os montes do Araújo e

Padrão da Légua, a Puente e o do Santeiro a Nascente, têm vindo a ser substituidos pela

urbanização.
Na extensão cartografada onde se inclui, sobressaem como acidentes principais: a Sul

"(...) o Monte da Virgem, espigão granítico com 230m de cota, modelado, no decursos do

Plio-Plistocénico, a Nordeste encontra-se a colina de São Miguel o Anjo, cuja a altitude

atinge os 256m, e o Outeiro de Espinhanço com 253m"177.


A existência de bancadas quartzíticas178 permitiu que o relevo se desenhasse; ora em
sucessivas e pequenas cristas, ora em alinhamento de colinas que parecem descer até ao

mar179. Na freguesia de S. Mamede de Infesta, que faz fronteira com o espaço em análise,

surge a cota mais elevada do concelho de Matosinhos - 115m, encontrando-se os acidentes

tectónicos mais marcantes junto ao sinuoso rio Leça, com sulcos bem definidos que

vincadamente marcam morros e encostas; Mapa 7.

176 PDM, Matosinhos, 1992, p. 13; MATOSINHOS - Monografia do concelho (1), Edição da C.M.M.,
Matosinhos, 1995.
177 Carta Geológica de Portugal, escala de 1/50.000, Notícia Explicativa da folha 9-C - Porto por COSTA, J.
Carríngton e TEIXEIRA, Carlos, Serviços Geológicos de Portugal, Lisboa, 1957, p. 6
178 Intercaladas em xistos e grauvaques.
179 Ibidem
50

3. GEOLOGIA

A compreensão da actual Geologia só é possivel recuando no tempo, dado o elevado

número de alterações que se foram efctuando. Entre outros factores, ressaltam o recuo dos

oceânos, a intervenção humana e os próprios elementos abióticos.


O território continental português, em termos geológicos enquadra-se no Maciço

Hespérico. "A Península Ibérica é, em grande parte, constituida por um retalho da cadeia

hercínica, arrasada, e marginada, a nordeste e a sueste, por trechos da cadeia alpina. Bacias

de abatimento, preenchidas por materiais geológicos recentes, completam este arranjo


estrutural de conjunto no qual se inclui o território continental português"180. As mais antigas
rochas existentes em Portugal são anteriores ao Paleozóico e contam mais de 1000 milhões de

anos181; Mapa 3, "de idade variável, algumas destas formações encontam-se associadas a

outras séries, nomeadamente a grauvaques, dando origem ao complexo xisto-grauváquico,


bastante representado entre o rio Tejo e a Serra de Estrela, na parte média e superior do vale

do Douro, e em particular a sul deste rio, onde contacta com os terrenos de orla"182.
Em termos estruturais, Leça do Balio é formada por terrenos de facies florestal, de

natureza diversa. Noutros tempos, no inverno, havia terrenos que ficavam inundados, o que
prejudicava a agricultura, por não possuir solos permeáveis. São fundamentalmente dois os

complexos rochosos: os xistos grauváquicos ante-ordovício e séries metamórficas derivadas e

os do pós-complexo xisto grauváquico, ante-vestefalino e provavelmente ante silúrico,


predominando o primeiro183; Mapa 8.

Representa-se de seguida um quadro que com o tipo de rochas, períodos, grupos e

designação a que pertencem:

180 MEDEIROS, Carlos Alberto - "Geografia de Portugal. Ambiente Natural e Ocupação Humana ; Uma
Introdução", 2ª edição, Imprensa Universitária, Ed. Estampa, Lisboa, 1991, p. 29
181 ATLAS DE PORTUGAL, Selecções do Reader's Digest , Cartas do Instituto Geográfico e Cadastral,
Lisboa,1988, p. 42
182 ARROTEIA, Jorge Cravalho - O.c., p. 11
183 CAMPOS, Ezequiel de - "A Deveza da Ordem" Gazeta das Aldeias, nº 2099..., O.c., p. 891; Carta
Geológica de Portugal, escala de 1/50.000..., O.c. p. 6; MATOSINHOS - Monografia do concelho (1), Edição da
C.M.M., Matosinhos, 1995.
51

Geologia de Leça do Balio

Período Denominação Grupo(s) Observações


30 a 40 metros
Plio-Plistocénico Depósitos de Praias Antigas e de Q3
(rio Leça)
Terraços Fluviais (areias e argilas).
12 a 20 metros
Qa4
(rio Leça)
Complexo xisto-grauváquico Migmatitos, gneisses, micaxistos, xistos ---- Predominam.
ante-Ordoviciano e séries luzentes, etc.
metamórficas derivadas.

Pós-Complexo xisto grauvá- Granito alcalino de grão médio a Rochas Só na periferia.


quico, ante-vestefalino e grosseiro leucocrata de duas micas. Eruptivas
provavelmente ante silúrico.
(Granito do Porto)
Fonte: Carta Geológica de Portugal, Folha 9-C.

Quanto aos terraços do rio Leça, localizam-se em Ermesinde, Leça do Balio e Santa

Cruz do Bispo.
As rochas xisto-grauváquivas, foram-se alterando devido ao granito do Porto, dando

origem aos xistos luzentes, micaxistos e gneisses que compõem grande parte desta região. O

granito alcalino, referido no quadro supra, predomina na região do Porto fazendo contraste

com os xistos metamórficos. Esta cidade está praticamente suportada por este, servindo ainda
para intensa exploração de pedra de construção184.

À semelhança do que acontece com outras ciências, também a Geologia recorre à

informação de fosseis vegetais e animais para fazer datações. No presente caso, não temos
referência de que existam. No entanto, não muito longe, encontraram-se os de Valdeão e os de

Ermesinde, sobre os quais nos chega a indicação de "rica fauna de insectos (...) os vegetais

compreendem muitas espécies"185.

184 Ibidem, O. c., p. 23


185 Carta Geológica de Portugal, escala de 1/50.000, Notícia Explicativa da folha 9-C ...,, O.c. p. 13
52

Recursos Minerais - São sobretudo de citar as explorações de caulino, dado que se

situam na própria freguesia e em localidades limítrofes, de Sul a Oeste. Considerado de


origem supergénica, devido a escacear consoante a profundidade, resultou da alteração do

granito pela caulinização do feldspato. Extrai-se lavando o granito caulinizado, decanta-se e

purifica-se. Como referência, a produção186 deste recurso mineral em 1954 foi de 25.732 ton,
no ano seguinte 27.788 ton e, em 1956, 33.382 toneladas187.
Outros são os recursos nas redondezas: o carvão com camadas estefanianas em

Ermesinde, Valdeão e Montezelo; a antimonite, noutros tempos, em Alfena e, finalmete as

pedreiras que são várias na região do Porto, nomeadamente em Águas Santas, Santa Cruz do
Bispo, São Gens, e Custoias no Concelho de Matosinhos, Canidelo no Concelho de Vila

Nova de Gaia e da Areosa e Contumil no Porto

A nível de espécies de interesse mineralógico salientam-se as seguintes: nas rochas

metamórficas, predominam minerais tipo estaurolite, granadas e mais raramente a distena;


nas pegmáticas, insere-se o quartzo das micas e o feldspato microclina, o rútilo e o berilo da

turmalina. São ainda de assinalar os granitos de São Gens188.

4. HIDROLOGIA

A freguesia de Leça do Balio é banhada pelo Rio Leça que nasce perto de Ermesinde e

na Serra da Monte Corbeda189, tem a sua foz dentro do concelho - no Oceâno Atlântico junto

ao Porto de Leixões; Mapa 3.

186 Informação da Circunscrição Mineira do Norte, in Carta Geológica de Portugal, escala de 1/50.000, Notícia
Explicativa da folha 9-C ..., p. 27
187 A produção/exploração do caulino no concelho terminou em 1995 devido a terem-se esgotado os recursos
naturais. Contactamos o Instituto Geológico e Mineiro do Porto e Lisboa que nos informou não terem dados
publicados quanto à produção do último ano de exploração. Contactamos ainda a empresa Anglo-Portuguesa de
Caulinos de Viana, Lda, em Viana do Castelo, que nos informou não nos poder fornecer esses dados por questões
burocráticas.
188 Ibidem, O.c., p. 28
189 Memórias Paroquiais, 1758, in FELGUEIRAS, Guilherme - O.c., p. 806
53

Segundo a memória histórica "não ha Lagoa selebre, nem fontes, cahinda que as

detodas sam excelentes agoas, contudo a de Santejro debaixo, e a das quelhas em Recarem de
Sima saô melhores, mais leves"190.
Antes da construção do caminho de ferro, que lhe cortou a bacia de captação, existia

um corgo ou corrego - o Ribejro das avefsas ou Regueirão191, na Devesa da Ordem, que

"levava sempre água no inverno. E havia um pequeno triangulo de lameiro, ou prado. Tem

algumas minas de água perene"192.


Nas Quintas, encontram-se poços de onde se retira a água a motor para a rega dos

campos e dos jardins193; Planta 9.

Como já referimos, os rios tiveram um papel imprescindível para o desenvolvimento

das comunidades ao longo dos tempos. Os povos castrejos, os Romanos e a sedentarização

dos povos cristãos em toda a época medieval, tinham como ponto de referência os percursos

de água mais próximos para a sua fixação. O primitivo mosteiro de S. Salvador de Leça não
foi excepção, sendo também ele uma das "capelas" a "coroar" o rio Leça.

Há quatro séculos um homem "apaixonado" pelo rio da sua terra, versava-o assim:

«Oh rio de Leça, Corres por areias


Como corres manso! E bosques sombrios;
Se eu tiver descanso, Não te turvam rios
Em ti se começa! Nem fontes alheias.

190 bidem, O.c. p. 805


191 Este ribeiro juntava-se ao keirão ou quejroñs, por nós ja referido na Toponímia e iam desaguar ao rio Leça. O
Regueirão foi extinto - Memórias Paroquiais, 1758, in FELGUEIRAS, Guilherme - O.c. p. 806
192 CAMPOS, Ezequiel de - "A Deveza da Ordem" Gazeta das Aldeias, nº 2099..., O.c. p. 891
193 A Quinta do Mosteiro tem dois poços e a Quinta do Souto tem um. O terreno de 6 ha, da primeira, arrendado
no Verão cobre-se de milho, é regado com o que resta da água do rio Leça retirada com um tractor!
54

Desces dum penedo Quando o mar não soa


Tosco e decomposto. E pensam mil velas,
A ti mostra o rosto Em ti faz capelas
A manhã mui ledo Com que se coroa.

A aurora em nascendo, Sempre sossegados


Quando estás mais liso, Vão teus movimentos;
Com alegre riso Não te alteram ventos
Em ti se está vendo. Nem tempos mudados.»

Até há cerca de 20 ou 30 anos, a montante do mosteiro, ainda se encontravam áreas de


laser nas praias fluviais, para onde corriam os "domingueiros". A água corria límpida e

serena194. Principalmente a jusante encontravam-se moinhos, de que hoje restam pequenos


vestígios e ao longo do seu percurso viam-se lavadeiras que contracenavam com a vasta flora

espontânea; Foto 49.


Visto hoje, chega a ser difícil comprender a diferença. Comparando com as fontes

escritas, algumas espécies vegetais sobreviveram, mas agora da fauna sobressaem as

ratazanas.

O rio, que outrora contribuiu para a salobridade destas terras, morreu. O seu leito
transporta actualmente "aquilo" que contribui para um dos problemas com que as sociedades

modernas se debatem - as doenças195; Foto 50 e 51.

Segundo informação verbal do Departamento do Ambiente e dos Serviços


Municipalizados Águas e Saneamento de uma das Câmaras dos dois concelhos envolvidos:

Matosinhos e Maia - está em elaboração um projecto de despoluição deste rio que será posto

em prática muito brevemente196.

194 Memórias Paroquiais, 1758, in FELGUEIRAS, Guilherme - O.c. p. 807


195 "A água contaminada é já a causa de oito em dez doenças nos países em desenvolvimento.. - " CONNOR
Steve (Correspondente de ciência para o «Sunday Times»), "Guerras da Água" in Vida Económica, nº 620 de 5
de Janeiro de 1996, p. 30
196 Informação Verbal - apenas nos confirmaram que a obra do Projecto foi adjudicada à Empresa Soares da
Costa.
55

5. CLIMA

Portugal Continental tem influências externas que determinam, em grande parte, o seu

clima. Como regulador da atmosfera, tem ao longo de toda a faixa Litoral o Oceano
Atlântico, o Mediterrânico e África, a Sul e a parte Continental inserida no bloco

Penínsular197.
Outros factores a considerar, em paralelo, serão: a especificidade da rede hidrográfica,

do tipo de solos, do relevo, do revestimento vegetal, as culturas e a própria ocupação humana.


No caso do clima do Concelho de Matosinhos, este apresenta características gerais

costeiras: é temperado, tem condições de salubridade, excepto nas encostas mal isoladas

voltadas a Norte e em pequenas áreas de terrenos baixos e alagadiços. A zona litoral é mais
afectada pelos ventos de noroeste no Verão e do sudoeste no Inverno, o que não será o caso de

Leça do Balio que se encontra precisamente em situação oposta. Osindicadores climatéri-

cos, para o Concelho, são:

- temperatura média anual entre os 12,5 oC e 15 oC .


- pluviosidade média anual entre os 1000 mm e 1200 mm198

Os períodos de insolação têm uma duração elevada, oscilando entre 2500 e 2600

horas/ano de exposição solar, equivalentes à média de 7 horas/dia, à excepção das zonas


interiores e de maior altitude, pela existência de maior nebulosidade. A radiação solar

apresenta valores entre 145 e 150 kcal/cm2 que, conjugada com a insolação, contribui para as

boas condições do Concelho como local de veraneio. A humidade do ar é normalmente


elevada devido à proximidade do Oceano, situando-se os valores médios anuais entre os 80 e

197 ARROTEIA, Jorge de Carvalho - O. c. pp 16-23


198 A precipitação igual ou superior a 1mm ocorre entre 70 a 100/dias/ano.
56

85%. O vento predomina fundamentalmente do quadrante Oeste, seguindo-se o do Leste e do

Norte, depois o do Sudoeste e do Noroeste e, por último, o do Sul e do Sueste199.


Leça do Balio encontra-se a muito poucos kilómetros do Atlântico, situada num

pequeno vale. O monte de Custoias serve de barreira e faz com que as influências marítimas

não sejam tão directas, pelo que é natural que os valores referidos para o concelho sejam aqui
ligeiramente diferentes, devido à já interioridade desta freguesia.

Estas características, geográficas, morfológicas e o relevo contribuem para a riqueza

dos solos e ainda podemos encontrar em Leça do Balio espaços agrícolas significativamente

produtivos. Convivem com a indústria e a urbanização, principalmente no vale do Mosteiro,


junto ao rio.

6. FLORA E FAUNA NATURAL

6.1. Flora Natural

Tendo em conta o estádio de semi-natureza em que os espaços verdes e respectivos


ecossistemas se foram tranformando, a flora encontrada é na sua grande maioria resultado de

reflorestações. Incluem a flora natural local e a flora aclimatada que por isso, passou a fazer

parte do património natural da região.


Na abordagem que se faz de seguida à flora, no que respeita principalmente às árvores

e arbustos, tenta-se tipificar apenas as espécies que se conhecem como naturais da região,

embora tenham sido na grande maioria plantadas. Por outro lado, encontram-se subdivididas

em três grandes grupos:


- árvores e arbustos,

- flores silvestres,

- fetos, musgos e fungos, líquens e algas.

199 PDM, pp 17;18


57

Dentro destes, as plantas identificam-se também quanto a: classe, ordem, família,


género, espécie, nome científico e nome vulgar, por vezes têm sudivisões. Podem ainda ser

endémicas ou aclimatadas. Para uma melhor compreensão das plantas que existem em Leça

do Balio, seguiremos uma ordenação por grupos, identificando, sempre que possível, a
família e o nome científico, bem como as características desses grupos.

6.1.1. Árvores e Arbustos

A vegetação reflecte sempre as influências geográficas e climáticas da região em que

se insere. No caso português, o contraste cruciforme e a diferença entre o Atlântico e o

Mediterrâneo, leva a que as nossas árvores e arbustos sejam um misto200. O carvalho-roble e o


castanheiro, por exemplo, dão-se mais no Norte, pois as suas características fazem com que
resistam ao frio e às chuvas fortes.

A maioria das árvores e arbustos divide-se em dois grandes grupos: resinosas e

folhosas. Possuem folhas normalmente largas e as sementes são protegidas por uma espécie de
estojo que no conjunto, formam o fruto; como é o caso do carvalho, do castanheiro e da

macieira. Nas resinosas, encontram-se as coníferas, ou seja, as que possuem cones ou pinhas e

em que as folhas por norma são estreitas, potiagudas e tipo agulha, como, por exemplo, os

pinheiros, os cedros, os ciprestes, os abetos, etc. Nas folhosas temos entre outras o carvalho e
o castanheiro201.

As árvores e arbustos são plantas de caule lenhoso e perene. De uma forma geral, as

árvores têm apenas um caule principal designado por tronco, ao contrário dos arbustos cujo

caule é ramificado, praticamente a partir do solo. A altura dos arbustos ronda os cinco metros
no máximo e é uma das formas de os identificar, dado que as espécies inferiores a um metro

200RIBEIRO, Orlando - Portugal o Mediterrâneo e o Atlântico, Colecção "Nova Universidade", Ed. Livraria Sá
da Costa, 5ª Ed., Lisboa, 1987
201 CHINERY, Michael - O.c.,p. 295
58

de altura são consideradas flores silvestres. Quanto à folhagem, ela pode ser perene ou caduca.

No primeiro caso, incluem-se as coníferas, por regra e, no segundo, estão as angioespérmicas.


Estas distinguem-se pela folha larga, já que as outras são sempre aciculares. Os arbustos e as

árvores de folhagem persistente predominam habitualmente em terras frias, embora também

se encontrem na região mediterrânica dadas as características das folhas: duras e protegidas


por uma substância cerosa que não deixa perder a água202.
Na maior parte dos casos, as flores e as pinhas, surgem no grupo das angioespérmicas.

Em termos de reprodução e florescência, são excepção as aclamídeas, devido ao facto de não

possuirem nem cálice nem corola e os óvulos não se encontrarem nos ovários - inserem-se
no grupo das gimnospérmicas. Aqui o pólen é transportado pelo vento, das flores masculinas

para as femininas. As sementes desenvolvem-se na flor desta última e nunca são totalmente

absorvidas pelo fruto, como acontece nas angiospérmicas. Refira-se ainda que, neste caso, as

flores podem ser unissexuais ou hermafroditas. Os óvulos encontram-se em ovários fechados.


Não obstante algumas das formas que acabámos de referir e que podem ajudar a

identificar as árvores e os arbustos, devemos ainda ter em conta o ecossistema em que se

inserem. No caso, por exemplo, das angioespérmicas, a forma mais eficaz de se identificarem

é através da flor, embora esta seja sazonal. Já em relação às coníferas, será através das pinhas
que as poderemos reconhecer.

Outra forma de identificação é a folha. As margens podem ser inteiras, ou seja sem

recortes, mas por norma são serradas e denteadas ou, em muitos casos, lobadas. As
compostas, têm folíolos específicos.

Os frutos, podem ser secos ou carnudos. Um dos frutos secos mais comuns é a noz,

enquanto que um dos mais carnudos é a baga. A noz tem uma única semente e pericarpo

coriáceo; a baga tem várias sementes e o pericarpo suculento. A camada exterior do pericarpo
dos frutos é uma película, quer fina, quer bastante grossa, como a da laranja. As drupas, ou

frutos de caroço, têm uma camada interior lenhosa que envolve uma só semente; a camada

202 Ibidem
59

externa do fruto é normalmente carnuda. A noz também é uma baga, mas a camada externa do

pericarpo é coriácea. Às maçãs e às pêras dá-se o nome genérico de pomos; aqui a parte
carnuda e comestível provém da parte superior do pedúnculo, que se tornou tumefacto e

envolveu as sementes203.

Feita esta breve abordagem à forma, identificação e características de um dos grupos da


flora - as árvores e arbustos, abordam-se de seguida alguns casos específicos que, como é

natural, são árvores que ainda se encontram na área em estudo ou que, nalguns casos, temos

informação de ali terem vivido e se extinguiram, mas que fazem parte da História do

Património Natural do Mosteiro de Leça do Balio.

O Castanheiro - Nos finais do século passado, ainda se falava das matas de

castanheiros e carvalhos em Leça do Balio, "dos passaes faziam parte as grandes varzeas á

beira rio, hojeda família Albino Ribeiro da Silva e uma bella matta cerrada de carvalhos e
castanheiros, onde pinheiros não tinham o direito de crescer., conforme rezam os Livros das

Visitações, mas cuja significação desconhecemos. Hoje essa Devesa da ordem, nome porque

é conhecida, está reduzida a meia e duzia de pinheiros e matto, cortada a meio por uma

estrada municipal"204.
Como nos percebemos pela citação supra e pela grande maioria das que encontramos,

os castanheiros são as árvores mais relevantes. A própria toponímia de Leça "no lugar do

souto", "a quinta do souto"205, etc, são exemplos da existência desta espécie de flora, ao
longo dos tempos, nesta terra. O que de certa forma não admira, se tivermos em conta as

condições climatéricas deste vale, tratando-se de uma das caducifólias que predominam no

Norte do país, por possuirem condições de adaptação aos frios invernos. Não sendo endémica

203 Ibidem
204 FARIA, F. Fernando Godinho de - O.c. p. 254
205 A propósito da toponímia ligada ao castanheiro veja-se VIEIRA, José António Bastos Neiva - Topominia de
Portugal Continental ligada ao castanheiro, in Actas do encontro sobre soutos e castinçais /Conservação
Sivicultura e utilização), Castelo de Vide, Portalegre e Marvão, Novembro de 1987; Portugaliae Monumenta
Historica, documento 192, extrahído do Liv.º preto da Sé de Coimbra, in FARIA, F. Fernando Godinho de -
O.c. p. 248
60

de Portugal, mas de provável origem Euroasiática, a "expansão para ocidente acompanhou

o histórico caminhar dos povos de antanho nessa direcção"206.


O castanheiro, Castanea sativa, Miller, ao longo dos tempos tem vindo a

desempenhar um papel extremamente importante para as sociedades, principalmente a nível

económico e alimentar207. A utilização da castanha, por exemplo, recua ao paleolítico, sendo


durante longos séculos um dos frutos com que se fazia o pão e se alimentavam os animais.

Mais tarde, no século XVI, foi substituida pela batata. Por outro lado, os espaços de plantio

desta árvore, proporcionam condições específicas a determinadas espécies de animais

características dos ecossistemas Soutos.


No nosso país, pessupõe-se que esta caducifólia exista desde a era Terciária, embora

se encontrem mais vestígios no Quartenário. Coabita normalmente com ulmeiros e carvalhos,

tendo como cultura simultânea o centeio e, em algumas regiões, o trigo.

Inserida no grupo de árvores e arbustos, tem um crescimento lento e uma vida longa.
Distingue-se das suas congéneres pelas grandes dimensões, cerca de 30 metros de altura208. De
tronco recto e largas copas arredondadas, cujo diâmetro varia entre 6 e 8 metros, a maturidade

dá-se com 70 ou 80 anos, altura em que começa o seu lento envelhecimento, já que podemos

encontrar árvores destas milenárias209.

A distribuição geográfica ocorre por quase todo o país, com excepção dos solos

calcários. A incidência dá-se em Trás-os-Montes e Beiras, ou seja, em zonas montanhosas

206 BELIZ, J. Malato - As sociedades vegetais e origem do castanheiro em Portugal, in Actas do encontro sobre
soutos e castinçais /Conservação Sivicultura e utilização), Castelo de Vide, Portalegre e Marvão, Novembro de
1987, p. 3
207 Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, Liv. 6, p. 164; SERRA Mário Cameira - O Castanheiro e
castanha na Tradição e na Cultura, in actas do encontro sobre soutos e castinçais (Conservação Sivicultura e
Utilização), Castelo de Vide, Portalegre e Marvão, Novembro de 1987, pp. 6-7
208 CHINERY, Michael - O.c., p. 320
209 Vários são os exemplares notáveis classificados de interesse público pela sua longevidade de vida. Decreto-
Lei nº 28.468 de 15 de Fevereiro de 1938; FRANÇA, António Carlo LLoyd Massiotti - Castanheiros notáveis, in
actas do encontro sobre soutos e castinçais (Conservação Sivicultura e utilização), Castelo de Vide, Portalegre
e Marvão, Novembro 1987, p. 1; O da Arrifana na Guarda é considerado um dos mais idosos com 1193 anos, o
de Gebelim, no distrito de Bragança, em 1946 contava já quatro séculos de existência, tal como o de Pero Moço
na Guarda em 1971, in FRANÇA, António Carlo LLoyd Massiotti - Castanheiros notáveis, in actas do encontro
sobre soutos e castinçais, O.c. p. 1; O Mel e o Castanheiro - Quercos, Associação Nacional de Conservação da
Natureza, Cadernos Quercos - Série C-nº1, 1991, s/p.
61

pouco elevadas (600 a 800 metros de altitude) e vales entre montanhas. Leça do Balio era um

exemplo dessa ocorrência. Arnaldo Gama reportando-se ao século XIV, descreve o percurso
de dois famosos cavaleiros da Ordem de S. João de Jerusalém: D. Frei Estevão Vasconcelos

Pimentel e D. Frei Álvaro Gonçalves Pereira210, do Porto até Leça. Ao avistarem o "castelo"

da Balia de Leça, "os dois palmeiros (...) ficaram por alguns minutos a olhar como que
embelezados", dando-nos uma imagem do "espesso souto de carvalhos e castanheiros, que

cingia de poente a nascente as muralhas do castelo do baliado, entre as quais e as abas do

arvoredo mediava uma vasta clareira, sobre a qual apenas se copava aqui e ali uma

árvore"211 diferente.
O livro de Prazos da Baliagem nº 48, confirma, num prazo datado 1797, a existência

de várias árvores na mata da Devesa da Ordem "o campo chamado da Fontiella terra

lavradia com hua devesa de carvalhos e castanho em hua chave que faz aparte do Poente

caparte do Nascente e Sul tem outra Devesa de carvalhos e amieiros com hum grande
castanhal que tudo está dividido por paredes valos e ribeiro e Amedio junto principiando a

medição no canto ao Ponte e sul asima da cancella da Devesa e correndo para baixo (...) o

campo da Devesa do cistal (a bouça do cistal) carvalhos, sobreiros e pinheiros ..."212.

Quando Ezequiel de Campos chega a Leça do Balio, teve o cuidado de descrever a


geomorfologia do espaço que encontrou. A determinada altura diz que há um corrego ou

ribeiro, chamado de Rigueirão, antes de lá passar o caminho de ferro e que "da estrada de

Santos Leça, ao meio da mata, onde há uma cancela, atravez de todo o terreno, na extensão
de 460 metros". Isto permite-nos identificar o espaço atrás mencionado no livro de prazos,

como precaução, aos erros paleográficos ou interpretação diplomática que de forma

involuntária pudéssemos estar a cometer.

210 Pai de D. Nuno Álvares Pereira in GAMA, Arnaldo - O.c. p. 13-2


211 Ibidem
212 Trata-se de um prazo feito pelo Balio de Lessa Frey Joaquim de Brito a Custodio Narcizo dos Santos da Rua
das Taipas do lugar e Vila de Matosinhos in Arquivo Distrital do Porto - Cartório da Comenda de Leça do
Convento de Santa Maria da Baliagem de Leça, Livro de Vedorias nº 48 [1816, 1818, 1828], Prazos da
Baliage nº 43, Baliagem 40, pp. 1; 16; 17
62

Por outro lado, informa-nos da quantidade de árvores plantadas por João Luis da

Rosa213, entre 1842 e 1846, na Devesa da Ordem. O número de castanheiros foi de 952.
A minúcia que teve ao registar todas as fases do processo de silvicultura a que se

propôs, permite-nos quase que saber quantas árvores existiam, quando nasceram, como

cresceram e como morreram; formas de as semear, plantar e proteger durante o crescimento!


No caso dos castanheiros, plantou as seguintes espécies: Castanea sativa, Miller, Shiba-Gouri

(castanheiros do Japão), Aesculus Hippocastaneum, L.214 e o número de pés, que pensamos


oportuno referir, são os que se seguem:

- entre 1934-35 foram 96


- entre 1939-40 foram 62
- no dia de Natal de 1939 foi plantado pelo autor referido e respectivas

netas um castanheiro no Souto

- no dia 1 de Janeiro de 1940 outro, pelas mesmas pessoas


- entre 1940-41 foram plantados 37
- 1941-42 foram plantadas várias árvores
- 1942-43 foram plantadas 46 nogueiras e castanheiros

- 1945-46 foram 61 castanheiros, 19 dos quais crenata.

Ao fim de 26 anos, poucos sobreviviam; de castanheiros contavam-se apenas 10215.

Hoje, encontra-se um ou outro ao longo dos campos, nas quintas do Souto e do Mosteiro, num

213 Comprou o Baliado de Leça em 28 de Novembro de 1842, quando da venda do Bens Nacionais in CAMPOS,
Ezequiel de - "A Deveza da Ordem" Gazeta das Aldeias, nº 2104, Porto, 16 de Fevereiro de 1947, p.86
214 Sementes encontradas em Lamego, em França e na Alemanha. As castanhas eram semeadas em caixotes,
quando nasciam os castanheiros (ao fim de 1 ano) eram mudados para o viveiro aonde permaneciam 3 anos até
serem plantados no talhão destes, ou noutros locais Outra forma era quando as castanhas estavam secas metiam-
nas em água corrente ou renovada por 24 horas, depois eram metidas em petróleo e de seguida eram semeadas a
5 cm de profundidade em terra arejada, remexida, cobrindo-a com estrume, cal ou ferrugem para as proteger das
aves e dos ratos. Segundo o Professor Engenheiro Ezequiel de Campos, esta última forma de sementeira era uma
recomendação de Joaquim Pedro Fragoso de Sequeira in Memórias Económicas da Academia real de Ciências de
Lisboa - "Memória sobre as Azinheiras, Sovereiras e Carvalhos da província do Além-Tejo", Tomo II, 1790, p.
364.; CAMPOS, Ezequiel de - "A Deveza da Ordem" Gazeta das Aldeias, nº 2103, Porto, 16 de Janeiro de 1947,
p. 52

215 CAMPOS, Ezequiel de - "A Deveza da Ordem" Gazeta das Aldeias, nº 2103, O.c., pp 52-54
63

pequeno monte subjacente à Junta de Freguesia e na margem esquerda do rio Leça; Foto 52 e

53.
Em termos de vestígios de utilidade da madeira destas árvores, encontram-se no

tecto216 da igreja e dos Paços da Baliagem e em alguns portais, largas traves de madeira de

castanho e carvalho; Foto 54.


Apesar da diversa legislação217 específica para este tipo de flora, observa-se através
dos dados fornecidos pela Direcção Geral das Florestas, a forte desarborização desta espécie

no nosso país: em 1987, calculava-se que Portugal continental tinha ainda uma área de 30.000

ha; em 1992, tinha já sido reduzida consideravelmente; Gráfico 2. Para o Distrito do Porto, os
valores deste último levantamento referem que a área de florestação de castanheiros não

atinge 1 000 ha; Gráfico 3 e 4, Quadro 2.

O Carvalho - Tal como o castanheiro e porque coabitam, o carvalho encontra-se mais


a norte do rio Douro, em regiões como Trás-os-Montes, Peneda e Gerês, embora apareça nas

terras de entre Douro e Tejo e no Sul do país218. As condições do solo influenciam as

variedades desta, consoante o solo é mais ou menos húmido. Assim, temos o carvalhal negral

(Quercus robus), o carvalhal caducifólio a marcercente (Quercus pyrenaica), o marcercente


(Quercus fagínea), o marcercente a perenifólio (Quercus suber), o marcercente com domínio

do Quercus rotundifólia e, nas matas perenes, devido à secura, o Quercus coccifer219.

Geralmente, trata-se de uma árvore de 25 a 50 metros de tronco grosso, folhas


alongadas, penetiboladas e ampla copa. A esperança de vida é longa, entre quinhentos a mil

anos220.

216 MAGALHÃES, Luis de - Egreja de Leça do Balio in A Arte e a Natureza em Portugal, Direcção de F. Brut,
Cunha Morais, Editor Emílio Biel & Cª, Porto, 1903, Vol. II, p. 25
217 FRANÇA, António Carlo LLoyd Massiotti - Castanheiros notáveis, O.c. p. 1
218 REBELO, Margarida Pereira; PALMEIRÂO, Mário José Ferreira - Lamego e a sua Padronádiga Natural,
trabalho apresentado à disciplina de Património Natural do 3º Ano de Ciências Históricas da Universidade
Portucalense, (policopiado), Porto, 1995, p. 75.
219 CORREIA, Clara Pinto; CIDADÃO, António José - Portugal Animal; Circ. de Leitores, Publicação Dom
Quixote, 1991, p.11
220 FABIÃO, A. Manuel D. - Árvores e Florestas, Colecção Euroagro, Publicações Europa-América, 1987, p.
153
64

À semelhança do castanheiro, também ele produz uma madeira de referência em

qualidade, bom gosto e alto valor económico muito utilizada na marcenaria e na tanoaria.
Trata-se de uma árvore caducifólia de crescimento lento, o que, de certa forma, tem

contribuido para o seu desaparecimento e substituição, por questões económicas, por espécies

de rápido crescimento como o pinheiro mas, principalmente, pelo eucalipto.


Na área em estudo, ainda "há um século, a torre ameada desta fortaleza que foi

mosteiro, emergia de carvalhos e castanheiros. Ao sítio chamavam "o Souto"" 221. Na

realidade, já em 1845 só havia quatro carvalhos no Souto222.

À semelhança de outras árvores, também os carvalhos foram protegidos por Ezequiel


de Campos, quando chegou aos Paços da Baliagem. Os pequenos carvalhos que apareciam na

mata, foram podados e defendidos dos animais e das pessoas. Foram criados muitos mais nos

viveiros, que passou a plantar todos os anos. No entanto, a natureza tem as suas normas e as

primeiras sementeiras foram goradas pela actividade da fauna local, nomeadamente os gaios e
os ratos que comiam as bolotas semeadas no viveiro da horta. A estratégia sivícula teve que

ser alterada, passaram a ser semeados em caixotes que eram colocados fora do alcance dos

animais e passados dois anos é, que eram plantados na mata. Não obstante os aspectos

negativos - é caso para dizer que "a natureza semeia direito por linhas tortas", - os mesmos
gaios que não deixavam crescer os pequenos carvalhos no viveiro também os semeavam

quando transportavam as bolotas no bico e eles apreciam espontâneos onde a mão humana os

não tinha semeado. Neste caso, eram recolhidos do local da mata onde surgiam
espontaneamente e plantados em locais mais apropriados conforme a planificação feita por

Ezequiel de Campos. Assim, passados alguns anos, dado ser uma árvore de crescimento lento,

havia diversas variedades de carvalhos, em feitios e folhas. Encontravam-se entre eles os

Quercus Robur, L.; Q. pedunculata, Ehrh que apareciam na mata, o carvalho vermelho

221 PACHECO, Helder - O Grande Porto, Novos Guias de Portugal, Editorial Presença, Lisboa, 1986, p. 148.

222 Foram vendidos para realizar dinheiro para construir a casa do páraco in CAMPOS, Ezequiel de - "A
Deveza da Ordem" Gazeta das Aldeias, nº 2099..., O.c., p. 891
65

(Quercus rubros L.) que não crescia muito; embora fosse plantado desde 1923, em 1947 não

havia nenhum com 12 anos porque os invasores não lhes tinham dado tempo223.
Hoje, numa pequena réstea da mata, na parte sobranceira à Junta de Freguesia, apenas

encontramos alguns exemplares que nos parecem puros; Foto 55. Perto do rio e no monte a

Noroeste da igreja, vêm-se alguns "carrascos224" que por vezes se confundem com os
verdadeiros carvalhos; Foto 56.

A comparar com as citações que temos vindo a referir poderemos dizer que o carvalho

se encontra praticamente extinto nesta área. Contudo, os dados fornecidos pela Direcção de

Florestas para o país e particularmente para o Distrito do Porto, dão ainda, com referência a
1992, a existência de alguns hectares desta espécie arbórea, ao contrário do que acontece com

o castanheiro; Gráfico 4 e Quadro 2.

Sobreiros e Azinheiras - Em relação a estas duas espécies de flora, sabemos que


também foi experimentada a sua reprodução na mata da Devesa. O sobreiro (Quercus Suber,

L.) crescia bem, tal como o carvalho vermelho, mas era cortado por lenhadores furtivos e

outros, rebentava de novo mas passados oito anos era cortado novamente; sobreviviam

apenas os que cresciam tortos. A azinheira (Quercus Ilex, L.) foi experimentada com sementes
de Évora. Cresciam em bastante número, mas não chegavam a adultas porque eram

derrubadas e levados pelos caceteiros225. Tanto em relação a uma como outra árvore,

actualmente não encontramos vestígios de sobrevivência.

O Amieiro - Espontâneo no território português, facilmente predomina junto aos rios,

ribeiros e lagos, independentemente da altitude. Razão pela qual fomos encontrar vários

223 CAMPOS, Ezequiel de - "A Deveza da Ordem" Gazeta das Aldeias, nº 2102 de 1 de Janeiro de 1947, p. 6
224 Pelo menos na Beira Alta e Trás-os-Montes é vulgar designarem-se assim as árvores que, são parecidas com
os carvalhos, por secura ou outra razão que altere as condições dos seus ecossistemas naturais.
225 CAMPOS, Ezequiel de - "A Deveza da Ordem" Gazeta das Aldeias, nº 2102 de 1 de Janeiro de 1947, pp.
6;24
66

exemplares nas margens do rio Leça; Foto 57. De copa larga ou piramidal possui rebentos

verdes e pegajosos. As folhas são ovais e, quando nascem, acastanhadas.


Esta árvore (Alnus glutinosa) faz parte da família das Betuláceas e é uma das 120

espécies do hemisfério Norte. Distinguem-se pelos amentilhos masculinos e femininos, estes

últimos presentes todo ano. A madeira é usada em pasta de papel, calçado, brinquedos, etc,
devido à facilidade com que se trabalha, embora seja muito resistente à água. Plantam-se

ainda para ajudar a assorear e fertilizar os campos. Já o amieiro-cinzento (A. incana), embora

muito parecido, dá-se em solos secos. É vulgar ser empregue em recuperação de lixeiras e

outras áreas semelhantes226.

O Salgueiro - Uma das formas de o distinguir do amieiro é através das folhas - as

deste são simples mas não denteadas - e dos amentilhos femininos e masculinos. Os

primeiros no salgueiro-cabra (Salix caprea) são cinzentos e agudos, no amieiros são redondos
e rosados; já os amentilhos masculinos no amieiro são longos e verdes ou amarelados e no

salgueiro mais parecem uma flor de macieira amarela. Por outro lado pertencem a famílias

diferentes, embora do mesmo grupo. O salgueiro encontra-se nas cerca de 300 espécies de

Salicáceas tal como os álamos.


Distribui-se por toda a Europa e no Nordeste da Ásia em florestas húmidas junto a rios

e ribeiros, com uma altura de 16 metros227, nalguns casos. Confunde-se facilmente com

outras espécies como a bétula, o vidoeiro e o próprio amieiro, pelo que é necessário reparar no
brilho das folhas deste.

Nas margens do rio Leça, encontramos entre outras espécies o amieiro e o salgueiro;

Foto 58 e 59. As cascas dos troncos dos salgueiros eram utilizadas nas redes dos pescadores

em Matosinhos. Nas redondilhas do poeta e Conde de Matosinhos - Francisco de Sá de


Meneses, humanista do século XVI, encontram-se evocações à fauna e da flora do "seu" rio

Leça:

226 CHINERY, Michael - O.c., p. 316


227 CHINERY, Michael - O.c., p. 313
67

«(...)
Corres por areias Logrem teus salgueiros

E bosques sombrios; Mil tempos serenos!

Não te turvam rios Nunca sejam menos

Nem fontes alheias Os teus Amieiros»

Os salgueiros-chorões, muito diferentes do salix-caprea, são mais comuns nos climas


tropicais, sendo originários do Oriente. No entanto, ultimamente, estas árvores decoram os

mais diversos jardins, lagos, parques urbanos e avenidas. Os ramos chegam a tocar no chão, as

folhas são delgadas mas vastas; têm um tom verde-claro.

Aos salgueiros é vulgar chamar-se vimeiro, devido à utilização do vime na cestaria


artesanal. Coabitam nos mesmos ecossistemas, mas são diferentes; os vimeiros na maioria são

arbustos228.

O Ulmeiro - As variedades desta árvore são basicamente três: Ulmeiro-de-folhas-lisas


(Ulmus carpinifolia), Olmo-escocês (Ulmus glabra) e o Olmo-inglês ou Ulmeiro da Inglaterra

(Ulmus procera). Não obstante as diferenças que possam existir, todos eles se podem

encontrar por toda a Europa, predominando o primeiro que aí é espontâneo. O olmo-inglês,


endémico do país que lhe dá o nome, é o que mais prolifera em Portugal, de forma natural. A

altura é de cerca de 35 metros, copa larga, ramos estreitos e muito repartidos, saiem do tronco

castanho-escuro ou cinzento. Os frutos do ulmeiro são "sâmaras estéreis" que resultam de uma

flor vermelho-escuro pouco vulgar; invulgar também é a forma de se reproduzir, através dos
rebentos das raízes. Não obstante ser uma árvore atacada por fungos e insectos, é frequente

228 PORTUGAL NATURAL, O. c., p. 64


68

verem-se várias seguidas, como nos dizia já em seiscentos Francisco de Sá de Meneses229

ainda sobre o rio Leça:

(...)

«Olmos abraçados
Tenhas sempre de heras;

Sempre a Primavera

Alegre teus prados!»

Hoje ainda é possível encontrar exemplares junto às margens do rio; Foto(s) 57 e 60.

Para além da imponente presença que possui, dado o aspecto morfológico, a casca

interior do ulmeiro tem propriedades medicinais. Já a madeira, de côr castanho-avermelhada é

dura, espessa e não parte facilmente. Usa-se, no fabrico de caixões, mobiliário, pontes e
estacarias230.

Choupos - São árvores de crescimento rápido, ultrapassam os 30 metros de altura, não

gostam de sombra e alastram-se rapidamente. As folhas são largas, ao contrário dos salgueiros
e dos vimeiros. Nas espécies mais encontradas em Portugal e de que são espontâneas, o

choupo-comum, choupo-negro, choupo-branco e choupo-cinzento (Populus canescens),

respectivas degenerações ou cruzamento com outras árvores. Em Leça do Balio, pelo menos
no tempo de Ezequiel de Campos, foram plantados: o vulgar, o branco e do Canadá. Pelas

características de cada um deles, o que identificamos no local, é mais provável ser o negro ou

vulgar - Choupo-tremedor (Populus tremula). Este tem porte médio, copa larga e aberta e não

em forma de coluna como o branco. Os amentilhos femeninos têm no início uma cor violeta.

229 ANDRADE, Francisco Miranda de - O Poeta e Conde de Matosinhos Francisco de Sá de Meneses,


B.C.C.M.P., nº 25, 1981, p. 5; B.C.C.M.P., nº 26, 1982, p. 75
230 CHINERY, Michael - O.c., p. 322
69

O tronco é acinzentado e aparece nas margens dos rios e ribeiros231 como no caso presente,

junto ao rio Leça; Foto 57, 61 e 62.

Sabugueiro - Da família das Caprifoliáceas fomos encontrar o sabugueiro (Sambucus

nigra), não em grande quantidade e disperso. É uma planta entre a árvore e o arbusto,
embora a altura ronde os 10 metros, muito ramificado. As flores pequeninas e agrupadas em

cimeiras de 10 a 20 cm de diâmetro, exalam um perfume inconfundível. A bagas são inúmeras

em cada ramo e têm côr preta, quando maduras. Este fruto é muito aproveitado para geleias,

compotas e para a preparação dos vinhos232, principalmente nas zonas de transicção das
beiras.

No concelho de Tarouca, mais propriamente em Dalvares, faz-se a festa da flor do

Sabugueiro, muito divulgada por todo o país, devido ao significado e importância que esta

espécie de flora espontânea tem para a região.

O Loureiro - Por certo uma das árvores mais clássicas. É vista, quer nas coroas dos

imperadores romanos, quer às portas das tabernas rurais a informar que "há vinho". Em Leça

do Balio fomos encontrá-lo no quintal dos Paços do Balio e numa mata em que predominam
pinheiros e eucaliptos, a Nordeste do mosteiro. O loureiro (Laurus nobilis) é ainda conhecido

pelo seu uso na culinária, pelo sabor e pelo perfume e utiliza-se também na decoração de

espaços. Embora, no território Português seja espontâneo, é nativo da região mediterrânica.


Inclui-se nas laureáceas, tem folhas de textura rija e coreácea, com nervuras. A copa em

espiral tem um verde bem definido, tal como as flores e os frutos que mal se notam no meio

de outras espécies arbóreas.

Esta árvore atinge uma dimensão e anos de vida que não sabemos precisar, mas pelo
que observamos num exemplar do jardim do Centro de Saúde de Aníbal Cunha, no Porto, que

231 CHINERY, Michael - O.c., p. 312; PORTUGAL NATURAL - O.c., p. 65; FOREY, Pamela - O.c., p. 36
232 CHINERY, Michael - O.c., p. 350
70

nos parece ter uma centena de anos, dado que não é de crescimento rápido e possui um tronco

de diâmetro superior a 1,5 m e uma altura entre os 12 e os 15 m233.

Robínia - falsa-acácia ou acácia-bastarda (Robínia pseudoacacia). Tem porte médio e

folha caduca. Os ramos têm espinhos e as flores são brancas e aromáticas, em cachos

pendentes parecidos com as vagens das ervilhas-de-cheiro.


Importada da América do Norte, em meados do século XVII, encontra-se em várias

regiões de Portugal, principalmente a Norte do Tejo. Na região em estudo, localiza-se junto ao

rio e no que resta da Devesa da Ordem, tal como no início do nosso século234; Foto 59 e 61.

Mimosa - ou Acácia-dealbada (Acacia dealbata, Link). Quem não a conhece! Flor

globular amarela, porte médio, fruto de vagem ervilheira e folha caduca. Insere-se no grupo

das caducifólias e na família das leguminosas, tal como a robínia e outras plantas de

exploração agrícola. Devido ao azoto que possue, utiliza-se para fertilizar os solos, bem como
para fixar os arenosos e as dunas. Pelas suas características torna-se inconfundível235.

Encontra-se na Antiga Mata da Devesa e nas bermas da Via Norte.

Freixo - Uma das características desta árvore é anunciar a Primavera, uma vez que é
uma das primeiras árvores a florir. Tal como a oliveira e o zambujeiro que se incluem na

família das oleáceas, mas, ao contrário daquelas, é uma caducifólia. Tem um perfil triangular

e conhecem-se pelo menos três variedades: Freixo-europeu (Fraxinus excelsior), Freixo-do-

-maná (Fraxinus ornus) e o Freixo-comum. Todas de porte mediano e folha caduca.


Florescem em Abril-Maio e frutificam em Outubro-Novembro. A flor do Freixo-europeu é

violeta e aparece em grupos de pétalas antes das folhas; a do freixo-do-maná é branco-creme

233 Esta árvore foi observada por nós, in loco, em 29 de Agosto de 1996.
234 FOREY, Pamela - O.c., p. 90; PORTUGAL NATURAL - O. c. p. 74; CAMPOS, Ezequiel de - "A Deveza da
Ordem" Gazeta das Aldeias, nº 2103..., O.c., p. 52
235 CAMPOS, Ezequiel de - "A Deveza da Ordem" Gazeta das Aldeias, nº 2103..., O.c., p. 52; FOREY, Pamela
- O.c., p. 91.
71

com pétalas aromáticas e surge em simultâneo às folhas. Este último tipo de freixo é oriundo

dos bosques e matagais mediterrânicos, encontrando-se aclimatado em parques e jardins.


Trata-se de uma árvore realmente útil, quer pela qualidade da madeira e da lenha, quer

pelos efeitos decorativos e propriedades medicinais das folhas; diuréticas e anti-reumáticas 236.

Encontram-se nas margens do rio Leça exemplares do frixo europeu; Foto 63.

O Pinheiro - Esta árvore subdivide-se em várias espécies. O pinheiro negral (Pinus

nigra) é uma delas; árvore alta - pode atingir os 35 metros de altura - tem coroa de ramos na
copa. Os cones femininos maduros são significativamente menores que os do pinheiro-bravo,

medindo entre 5 e 8 cm de comprimento. Quase sem haste, mantêm-se na árvore mesmo

depois das sementes se terem espalhado. As suas folhas com um comprimento entre 10 e 15

cm , crescem aos pares e envolvem de forma densa os ramos que apresentam uma cor verde
escura. A floração (cones) verifica-se entre os meses de Maio e Junho237; Foto(s) 47, 57 e 64.
Este pinheiro é normalmente plantado em zonas litorais e em solos calcários, servindo

como sebe de protecção climatérica.

O pinheiro-silvestre ou casquinha (Pinus sylvestris) é o mais vulgar dos pinheiros


europeus, crescendo preferencialmente em regiões montanhosas. No caso português, surge nas

serras de Nogueira, Coroa, Padrela, Marão e Gerês. É uma árvore de porte médio, embora

possa atingir os 40 metros de altura. A copa encontra-se bastante afastada do chão; os cones
femininos maduros medem entre 2 e 8 cm de comprimento e têm cor cinzento-acastanhado.

As folhas têm entre 3 e 10 cm de comprimento, de cor verde-azulada e retorcidas, são

revestidos com alguns ramos. A floração ocorre no Verão238.


O pinheiro-de-cembra ou pinheiro-montanhês (Pinus cembra), é natural dos Alpes e
dos Cárpatos e é invulgar em Portugal. Contudo, em algumas regiões europeias, é plantado

com o objectivo de servir como árvore de ornamento ou para a produção de madeira. A copa

236 FOREY, Pamela - O.c., p.82; CHINERY, Michael - História Natural de Portugal e da Europa, Ed. Verbo,
Lisboa/São Paulo, Janeiro de 1990, p.352; PORTUGAL NATURAL, O.c., p. 66
237 FOREY, Pamela - O.c., p.107; CHINERY, Michael - O.c., p.299
238 FOREY, Pamela - O.c., p.108; CHINERY, Michael - O.c., p.300
72

tem uma forma piramidal que atinge cerca de 25 metros de altura, não obstante os seus ramos

inferiores quase tocarem no chão. As folhas têm entre 5 e 8 cm de comprimento, são verde
escuras na parte superior e esbranquiçadas na inferior, crescem em grupos de cinco e cobrem

muito densamente os ramos. A sua floração dá-se entre os meses de Maio e Junho239. Cones

femininos maduros, de cor castanho-violácea e com 8 cm aproximadamente de comprimento,


caiem inteiros. As sementes - comestíveis -, são libertadas depois da pinha cair e apodrecer.

Em relação ao pinheiro-bravo ou marítimo (Pinus Pinaster, Solander, P. marítima, de

Candole), este possui folhas que variam entre os 10 e 20 cm de comprimento, de cor verde-

esbranquiçada, com floração entre Maio e Junho240. Esta espécie teve como principal
incentivador D. Dinis. Rapidamente se difundiu, espalhando-se pelo Noroeste português e

outras regiões, graças ao seu rápido crescimento e poder de propagação. Desde então, tem

vindo a substituir várias espécies, nomeadamente o castanheiro e o carvalho, sendo em 1992 a

árvore que mais área ocupava no país e, particularmente no distrito em análise - o Porto,
seguido-se-lhe o eucalipto; Gráfico3 e Quadro 4.

Em Leça do Balio, quando da reflorestação da mata da Devesa, feita por Ezequiel de

Campos, foram plantadas as seguintes espécies: Pinus Pinaster, Solander, P. marítima, de

Candole, P. silvestris, C. Bauhin, de Riga ou do Gerez, insignis e Strobus; Planta 10.


Tal como aconteceu com os eucaliptos, foram necessários cuidados especiais nas

sementeiras e plantações dos pinheiros, devido a ser semeado no meio dos tojos que naquela

altura eram cultivados. Quando procediam à roça deste último, os pinheiros pequeninos eram
arrancados. Foram criadas novas formas de plantação e sementeira, como o covacho, para

minimizar as perdas. Esta forma consistia em semear quatro a oito pinhões em cada uma das

pequenas covas alinhadas, cobrindo-as de seguida com terra miuda e solta. Eram ainda

colocadas pedras e espinheiros em cada cova, como forma de protecção. Para que
sobrevivessem ainda em mais quantidade, ao sacho do tojo, foram criados "prémios

239 FOREY, Pamela - O.c., p.109; Ibidem


240 FOREY, Pamela - O.c., p.106; PORTUGAL NATURAL - O.c., pp. 78-80; HISTÓRIA NATURAL,..., Vol. 8,
pp. 40-44
73

pecuniários por pinheirinho não roçado". Com estas medidas, conseguiu-se que cerca de

1934 o pinhal estivesse quase feito241.


Os mais cobiçados eram os das espécies Insignis e o Strobus e, por isso, roubados para

árvores do Natal. Dos primeiros, em 1947, só existiam quatro242.

O Eucalipto - Esta árvore, de implantação recente, tem a sua origem na Tasmânia e

terá chegado à Europa durante o século XIX. A altura máxima é de 50 metros, mantêm as

folhas durante todo o ano e emana um cheiro agradável. As flores são de um branco-

amarelado e dão frutos em forma de cápsula que por sua vez, libertam um número
incalculável de sementes.

Devido à forma como se alastra rapidamente, tem sido plantado, tanto em Portugal

como pelo resto da Europa, para a obtenção de matéria-prima utilizada na produção de pasta

de papel.
Em Leça do Balio ainda se encontra em grande quantidade, principalmente nasbermas

da Via Norte. Um dos seus impulsionadores nesta área, reconhecendo a sua inexperiencia

silvícola, foi Ezequiel de Campos, "levou tempo - alguns anos - a saber (...) aprendemos

praticando e pagando nós próprios as lições" e, reforça a sua constactação ao dizer que: "hoje
fariamos de outra maneira. Naquele tempo, por ainda haver grande falta de lenha causada

pelo destroço da guerra de 1914-18, destinamos quase a terça parte do terreno a eucaliptos

(..) assim haveria lenha e madeira de eucalipto num quarto de século"243.

A descaracterização da floresta natural no nosso país deve-se, em parte, à grande

proliferação desta árvore. Possuidora de extensas raizes invade os solos e desgasta-os,

substituindo outras espécies, de crescimento mais lento244; Foto 65 e 66.

Não obstante, é uma árvore que carece de cuidados especiais; humanos e naturais,
“Oh Sílvio! Toma conta. Olha que a Maria de Loundos deixou cair a giga, e quebrou vinte

241 CAMPOS, Ezequiel de - A Deveza da Ordem Gazeta das Aldeias, nº 2102..., O.c., pp. 5-6
242 Ibidem, p. 6
243 CAMPOS, Ezequiel de - A Deveza da Ordem Gazeta das Aldeias, nº 2100..., O.c., p. 932
244 PORTUGAL NATURAL - O.c., p. 43
74

vasos: quantos levava! - Está na mão dum homem!... Palavras acabadas, ao fechar da porta,

deixou cair a giga, do ombro ao chão, e quebraram-se quase todos os vasos, (...) as primeiras
sementeiras de eucaliptos fizemo-las no chão. Notamos, porém que morriam bastantes na

plantação por terem perdido as raízes no arranque descudidado. Por isto passamos a fazer a

sementeira em caixotes; depois a transplantação de cada arvorezinha para o seu vaso; e, por
fim, a plantação do vaso para a cova no terreno. (...) Dispõem-se em lugar de rega fácil e

onde não sejam assaltados pelas galinhas e outras aves”245.


O início das plantações desta árvore, feitas por Ezequiel de Campos na mata do

Mosteiro, foi em 30 de Agosto de 1923. Os primeiros a serem plantados, em 25 de Outubro de


1923, foram os que nasceram espontâneos na horta e os últimos da primeira étapa foram

plantados em 20 de Maio de 1924. Em Fevereiro de 1924, haviam já 2.211 eucaliptos, a

crescer em pleno246.

As espécies eram várias, embora predominasse o globulus, por ser o que melhor se
adaptou. Havia também o E. amygdalina, o citriodora, o longifolia, o marginata, o robusta e

o rostrata. O espaço entre eles era de 2,5 por 2,5 metros, quase sempre; outros havia que

distavam 2 a 3 metros. Daqui resultavam cerca de 2.500 árvores por hectar e nas de intervalo

de 2 metros; nas de 2,5, cerca de 1.600 e nas de 3 à volta de 1.111247.


Apesar de todos os cuidados, por secura, encharcamento, geada ou destruição das

pessoas, morriam muitos eucaliptos. Durante vários anos foram feitas replantações de

eucaliptos e nas falhas do chão plantaram pinhões que na maioria não se deram. Contudo, ao
fim de 16 anos de silvicultura persistente, existiam então 1.573 eucaliptos com diametro

superior a 18 centímetros; 976 com diâmetro de 18 a 25 centímetros e 597 com o diâmetro de

25 centímetros ou superior. Em 1940, isto traduzia-se em cerca de 1.500 toneladas de madeira

e lenha de eucalipto, que a mata do Mosteiro produzia248; Planta 10.

245 CAMPOS, Ezequiel de - "A Deveza da Ordem" Gazeta das Aldeias, nº 2100..., O.c., pp. 932-933
246 Ibidem
247 Ibidem
248 CAMPOS, Ezequiel de - "A Deveza da Ordem" Gazeta das Aldeias, nº 2102..., O.c. p. 4
75

Observa-se assim que, se de início esta árvore foi plantada para drenagem de terrenos

pantanosos, acabou por, mais tarde, ser utilizada para outros fins, nomeadamente económicos.
De tal forma que, em muitos casos, veio a tomar conta de solos agrícolas, se bem que, por

outro lado, o perfume que emana tem levado ao seu aparecimento em zonas poluidas249;

Foto(s) 67 e 68.
Em relação aos arbustos, o que mais proliferava era o tojo. Há setenta anos atrás tinha

inclusivé exploração económica, como nos diz Ezequiel de Campos "a Devesa da Ordem

também produz muito tojo para estrume. Assim está dividida em duas partes: uma para gasto

da quinta; outra para venda. Cada parte em três folhas. Então, em cada ano, roça-se duas
folhas. O mato tem tido sempre compradores - 15 a 20 parcelas anuais"250 . Temos assim
mais um exemplo de exploração económica do património natural, já que, geralmente, o tojo

(Ulex europaeus) é uma planta espontânea nos matos e matagais portugueses, tal como o

carrasco, a carvalhiça, as madressilva, as giestas e as urzes; Foto 69.


Existem duas designações vulgares: tojo-arnal ou tojo-bravo. Pode crescer de forma

rectilínea e atingir três metros, ou de forma rasteira, que é a mais habitual. Se quando as

folhas nascem são parecidas com o famoso trevo da sorte, quando adultas são grossos

espinhos, onde não se pode tocar sem protecção. A flor, amarela, semelhante na forma aos
"sapatinhos" das orquídeas embora mais miúda, pode aparecer no Inverno, sendo mais

habitual na Primavera e, locais há em que persiste todo o ano. Insere-se na numerosa família

das leguminosas (Leguminosae), que são cerca de sete mil, como tal, possui frutos em vagem
e raízes com nódulos, que ajudam a fixar o azoto, fertelizando o solo - uma das razões por que

era cultivado na Devesa da Ordem, onde ainda restam alguns exemplares.

Serve também para as camas do gado, é um bom combustível e origina excelentes

remos251.

249 FOREY, Pamela - O.c., p.66; CHINERY, Michael - O.c., p.346; PORTUGAL NATURAL, ..., pp. 76-77;
HISTÓRIA NATURAL - O.c., Vol. 8, p. 62
250 CAMPOS, Ezequiel de - "A Deveza da Ordem" Gazeta das Aldeias, nº 2105..., O.c., p. 133
251 CHINERY, Michael - O.c.,p. 334; PORTUGAL NATURAL - O.c., pp. 44;100
76

A título de síntese e no seguimento do que foi referido no início deste ponto, muitas

destas árvores são o resultado de um processo de florestação e reflorestação, entre 1842 e


1966. Deve-se, fundamentalmente a dois homens: João Luis da Rosa e Ezequiel de Campos.

O primeiro, comprador do Baliado quando da venda dos Bens Nacionais, plantou nos

primeiros quatro anos 1.128 árvores; o segundo, passados oitenta anos, iniciou um trabalho de
plantação de pelo menos 8.000 árvores diversas, excluindo os pinheiros, nas 26 quadras entre

1923 e 1949. Nestas não está incluida "a sementeira anual de pinheiros pelo vento (...) e de

carvalhos pelos gaios", a título de exemplo "para semear bersim no prado, debaixo das

nogueiras, por meados de Setembro de 1946, arrancamos lá 57 carvalhos nascidiços, quase


todos apenas de um ano (que logo plantamos)".

6.1.2. Flores Silvestres

Entende-se por flor silvestre, uma flor completa e composta por: um cálice formado

por sépalas, de cor verde; uma carola composta por várias pétalas coloridas; pelos estames que

produzem o polén e pelo pistilo, simples ou composto. Este poderá dar origem ao fruto que
dará a semente. As flores dispõem-se em inflorescências e podem ser solitárias ou grupadas;

no caso de serem solitárias, surge apenas uma flor na ponta do pedúnculo e nas grupadas já se

encontram várias flores.

As sementes só se desenvolvem após a fecundação, quando o polén se deposita sobre o

estigma (parte superior do carpelo). Existem ainda flores masculinas e femininas, caso tenham

só estames ou só carpelos. Dá-se o nome de "polinização" ao transporte do polén da antera ao

estigma; entre os portadores de pólen refiram-se o vento e os insectos.


As flores silvestres produzem uma enorme diversidade de frutos. A fisionomia é-nos

dada pelas cápsulas das mais variadas formas, que abrem de modos diferentes para expelir as

sementes. Assim, podemos ter os folículos, as vagens, os aquénios e as bagas.


77

Para além das flores e dos frutos, também as folhas são uma forma de identificar as

plantas. Podem-se distinguir pelas suas suas margens: inteiras, denteadas ou lombadas.
As plantas fanerogâmicas dividem-se em dicotiledóneas e monocotiledóneas. Cada

um destes grandes grupos subdivide-se ainda em muitas famílias, cuja terminologia desta é

geralmente em ácea. Nas aproximadamente 2000 espécies que compõem a primeira divisão,
encontra-se a família das ranunculáceas, onde se encontram as plantas herbáceas das regiões

temperadas do Norte, das quais são endémicas em Portugal as: A. trifólia, A.coronária e A.

palmata252. De uma forma geral as flores silvestres são perenes, há no entanto as anuais que

não excedem um ano de vida e as bienais que não passam de dois anos253. Como a diversidade
de famílias e espécies é imensa, referiremos apenas algumas que identificamos na região254,
tendo em conta a época do ano.

Dedaleira (Digitalis purpurea) - É uma planta espontânea no nosso país. Caule alto,
viçoso e solitário. A flor tipo bienal - só aparece ao segundo ano de vida - é inspiradora para

quem a observa, assemelhando-se a campaínhas de cor rosa púrpura e florescem entre Junho e

Setembro. Por proporcionar determinadas brincadeiras com as flores, tipo estalinhos, em

algumas regiões é conhecida como batitestas. Gosta dos solos ácidos, de espaços com
sombra/luz; cresce nos campos, caminhos, orlas das matas e sebes. Faz parte de uma grande

família - Escrofulariáceas (Scrophulariaceae) com aproximadamente três mil espécies, em

que as europeias são todas herbáceas; Foto 70.


Em termos de utilidade prática, da dedaleira extrai-se a digitalina usada para tónicos

cardíacos255.

Botão-de-ouro (Ranunculus acris) - É uma planta da família das dicotiledóneas


ranunculáceas, que se dá em terrenos ricos em húmus. Confunde-se com o Ranúnculo-

252 CHINERY, Michael - O.c.,p. 212


253 CHINERY, Michael - O.c.,p. 211
254 A área a que nos referimos é nos arredores do Mosteiro de Leça do Balio, ou seja, ruas e quintas que o
delimitam e não apenas o espaço de "área protegida" do monumento classificado.
255 CHINERY, Michael - O.c.,p. 259; PORTUGAL NATURAL - O.c., p. 96
78

bolboso (ranunculus bulbosus), que predomina em todo o país e distinguem-se principalmente

pela altura - este mede cerca de 50 cm, enquanto que o primeiro, variando consoante o local,
chega a atingir 1 m. O caule é piloso e com bastantes folhas. Floresce entre Abril e Outubro,

dando flores "lustrosas" amarelo-vivo e de pétalas sobrepostas. O fruto é constituido por

vários "aquénios" semi-redondos, de pericarpo liso, com um pequeno gancho256.

Urze ou Queiró (Calluna vulgaris) - São plantas típicas das nossas matas, tal como a

Carrasca (Erica tetralix) e compo. As cores das flores variam entre os rosas e roxos ou branco,

surgindo entre Julho e Setembro. São pequenos arbustos lenhosos e rasteiros que medeiam
entre quinze e oitenta centímetros. Os ramos de flores compostos de várias pernadas

contorcidas, provocam um tilintar tal como a queiró (Erica cinerea) com menos braços e mais

direitos, tendo esta uma flor em forma de urna e folhas com pelos ásperos. Tanto uma como

outra proliferam nas charnecas de Portugal e Europa Ocidental. A urze-branca e a urze-das-


-vassouras são as que possuem flores brancas.

Além da originalidade da paisagem que todas juntas formam, quando estão floridas,

são espécies muito ricas para a alimentação de gado de pasto, lenha e carvão e fazem parte

das plantas escolhidas pelas abelhas para a polinização. O mel de urze é muito famoso257. Em
Leça do Balio encontram-se nos montes junto da Via Norte, no que resta da antiga Devesa da

Ordem; Planta 10.

Encontramos também uma grande diversidade de plantas consideradas prejudiciais


para as circunvizinhas ou para as hortícolas. Entre elas estão as da família Labiadas

(Labiatae), com três mil e quinhentas espécies como a Prunela, a Salva, a Angélica-amarela,

entre outras, e algumas da família das Plantagináceas (Plantaginaceae) com trezentas

espécies, como a tanchagem-maior e alvadia, consideradas ervas daninhas e algumas da


família das Gramíneas (Gramineae) que é uma das mais extensas, com mais de dez mil

espécies, incluindo os cereais; Foto 71.

256 CHINERY, Michael - O.c.,p. 212


257 CHINERY, Michael - O.c.,p. 251; PORTUGAL NATURAL - O.c., p. 100
79
80

6.1.3. Fetos, Musgos, Fungos, Líquens e Algas

Fetos e Musgos - Este tipo de flora natural tem uma forma de reprodução muito

própria, dado que se eefectua através da libertação de pequenos esporos. Os fetos, as

cavalinhas e os licopódios são pteridófitas; já os musgos e as hepáticas, são briófitas.

No caso dos fetos, a maior parte dos caules são subterrâneos, o que faz com que a sua
folhagem germine anualmente. O nascimento das suas folhas, em anel, é muito específico,

desdobrando-se ao longo do seu percurso vegetativo. Os esporos formam-se em esporângeos,

que se localizam na página inferior das folhas. Quando os esporos estão maduros, os soros
tornam-se côr de ferrugem, libertando-os primeiro logo que o tempo está seco; no caso de

haver humidade, germinam, dando origem ao protalo. Nota-se assim, que o factor clima - a

humidade no caso - é extremamente importante para a reprodução desta vegetação pelo que é

em locais frescos que melhor os podemos encontrar.


Em relação aos musgos, estes são plantas de crescimento lento. O musgo e a hepática

adultos equivalem ao protalo do feto, uma vez que é neste que se encontram os gâmetas. Tal

como os fetos, a fertilização efectua-se quando há suficiente humidade, formando-se então o

esporófito que é constituído por uma cápsula de esporos, pedunculada, ou não.


As cavalinhas e os licopódios desenvolvem-se tal qual o ciclo dos fetos, ou seja, em

duas gerações que se alternam. No entanto, os esporos e o protalo não têm a mesma

localização258.
No que diz respeito à identifação destas plantas, o feto vulgar (Pteridium aquilinum)

é o mais fácil de encontrar, nas matas a Nascente e a Poente da igreja. O musgos são mais

habituais no Inverno, em áreas bastante húmidas e proporcionam determinado tipo de vida

como nos descreve, uma vez mais, Ezequiel de Campos: "Que tontura de amor á vida tem
uma árvore! - nos musgos de alguns troncos apodrecidos de eucaliptos cortados, o vento

258 CHINERY, Michael - O.c.,p. 355-361


81

depoz pinhões bravos, que geraram pinheirinhos para morrerem à sede na secura do

Verão"259; Foto 72 e 73.

Fungos - Os fungos são das espécies mais numerosas em Portugal e em toda a Europa.

Estão quantificadas num grupo de cerca de cinquenta mil plantas e caracterizam-se

fundamentalmente pela ausência de clorofila. O que equivale a dizer que não podem produzir
o seu próprio alimento através da fotossíntese, como fazem as outras espécies. O corpo do

fungo é basicamente uma massa de estreitos filamentos designada "hiba" e que penetra no

alimento absorvendo-lhe os nutrientes. Uns subsistem de matéria vegetal em decomposição,


nomeadamente, folhas mortas; outros são parasitas de plantas e animais. Curiosa é a sua forma

de reprodução, através dos esporos - pequenos corpos parecidos com poeira, habitualmente

transportados pelo vento. A forma de os distinguir e classificar está estritamente relacionada

com a maneira como "fabricam" esses esporos260.

Os Líquens e as Algas - As algas são plantas de estrutura muito simples. Não têm

raízes, não dão flor, nem se dividem em caule e folhas. Não possuem sistema vascular, sendo

na maior parte, aquáticas. Algumas, consistem mesmo numa única célula flutuante, como é o
caso das Chlamydomonas. Multiplicam-se de forma rápida dando origem a duas ou mais

novas células em poucas horas. No Verão os aquários e lagos cobrem-se de verde. Esta

actividade é fundamental na economia do mar dado que constitui o fitoplâncton - o "caldo" de


minúsculos seres vivos que se encontram à superfície das águas e de que depende a

alimentação dos animais marinhos.

Quanto à sua coloração e que permite classificá-las, os grupos distinguem-se

precisamente pela côr. Existem três grupos principais: algas verdes, algas castanhas e algas
vermelhas. As verdes vivem em solos húmidos e nos troncos das árvores, desde que as

259 CAMPOS, Ezequiel de - "A Deveza da Ordem" Gazeta das Aldeias, nº 2105..., O.c., p. 134
260 CHINERY, Michael - O.c.,p.363
82

condições de humidade sejam propícias ao seu crescimento. As restantes predominam em

ecossitemas fluviais, marinhos e aquáticos261.


Apesar desta flora predominar nos ecossistemas marítimos ou fluviais, também

existem nas matas, principalmente no Inverno, junto dos troncos das árvores262.

6.2. Fauna Natural

As espécies animal incluídas na fauna natural vivem de forma espontânea, sem

intervenção da mão humana e p+odem-se dividir em cinco grupos:

- mamíferos

- aves

- répteis e anfíbios

- peixes

- invertebrados.

Embora tenha sido nossa intenção fazer o levantamento das espécies animais e
vegetais que constituem o património natural desta região e, em particular, as que resistiram

ao longo dos tempos, tivemos em conta as grandes alterações que houve na área em estudo,

nomeadamente climatéricas, geomorfológicas e hidrográficas. Nem sempre foi fácil encontrar


exemplares destes grupos de animais, que, por certo, ali vivem. No entanto, foram

consideradas determinados ecossistemas, como o Carvalhal, o Souto e as Quintas, a que

normalmente anda associada alguma desta fauna.

261 CHINERY, Michael - O.c.,p.389


262 CAMPOS, Ezequiel de - "A Deveza da Ordem" Gazeta das Aldeias, nº 2105..., O.c., p. 134
83

6.2.1. Mamíferos

Em termos de habitat este tipo de fauna está dispersa em praticamente todo o mundo,

incluindo-se as altas montanhas e as regiões polares. Isto só é possível graças às características

fisicas nomeadamente, o pêlo, que modera a temperatura do corpo o que lhes permite
sobreviver nos sítios mais frios do planeta. Tratando-se basicamente de animais terrestres, e

que normalmente se movem sobre quatro patas, a sua fisionomia é diversificada como reflexo

do tipo de vida e do respectivo ecossistema em que se inserem.

Animais com esqueleto interno incluem-se na classe Mammalia, o corpo é


vulgarmente coberto coberto de pêlo e as fêmeas alimentam as crias com leite, característica

esta que deu o nome à classe.


A título de curiosidade, refira-se que o mais pequeno dos animais desta classe é o musaranho-

-de-dentes-brancos, com a dimensão de 40 mm de comprimento e, ao invés, a baleia azul que


atinge os trinta m de comprimento e chega a pesar 100 t.

As formas de gestação, são das mais diversas, mas na maior parte dos casos nascem já

com bastantes capacidades motoras, possivelmente devido ao instinto de auto-protecção.

Quanto à sua alimentação, na maior parte são carnívoros e herbívoros o que se irá
reflectir na dentição. A título de exemplo, os animais europeus com dentição completa são: as

toupeiras, os ratos-almiscareiros-dos-pirinéus e o javali; já os roedores e herbívoros não

possuem dentes caninos.


Quanto às ordens dos mamíferos, supõe-se que existem 16, nove das quais originárias

do continente europeu ou dez, se incluirmos a espécie humana. No total, há cerca de 3.500

espécies, sendo 170 deste continente. No entanto, cerca de 23 foram trazidas para a Europa

onde evoluíram no estado selvagem em simultâneo com algumas espécies bravias locais.
Neste caso, tratam-se de espécies domesticadas que fugiram e se tornaram selvagens, sendo

exemplo disso a cabra, o furão e o gato doméstico.


84

Deste grupo, podemos considerar como espécies que viveram, e algumas ainda vivem,

em Leça do Balio: a toupeira e a doninha, a fuinha; as lebres e os coelhos; os ratos e os gatos.

Toupeira - Inclui-se numa das oito famílias de insectivoros, a Talpidae, espécie Talpa

europaea, que predomina por toda a Europa, excepto no Extremo Norte e na Irlanda. Possui
características de boa nadadora, pelo que por vezes constrói o seu habitat junto à água. Não

obstante, é um animal típico dos ecossistemas de caducifólias e das pastagens. As dimensões

são de doze a quinze centímetros, alimenta-se praticamente só de minhocas, possui olhos

pequeníssimos e vive em galerias subterrâneas. Uma das formas de as encontrar é através da


detectação de pequenos altos de terra fofa, que elas próprias criam263. No campo de milho, que
visitamos, na Quinta do Mosteiro, é possível apercebermo-nos da sua existência; Foto 1, 60 e

61.

Doninha - Espécie Mustela nivalis. Faz parte da família Mustelidae constituída por

setenta espécies de animais carnívoros. Sendo o animal mais pequeno da família, encontra-se

distribuido por toda a Europa e por todo o tipo de habitats, inclusivé nas cidades. Alimenta-se

de ovos, aves, ratos e outros pequenos roedores. O tamanho não ultrapassa os vinte
centímetros. Dadas as características do seu habitat anteve-se que ali existam.

Fuinha - Da mesma família que a doninha e espécie Martes foina, tem o dobro do
tamanho, e a cauda com cerca de vinte e dois a vinte e seis centímetros. Identifica-se

facilmente por uma mancha que possui no pescoço, quando foina. Vive em florestas

caducifólias, zonas pedregosas e junto às casas. Chega a construir o seu habitat em celeiros e

entra facilmente nas povoações. Predadora por natureza, alimenta-se de roedores, musaranhos,
aves, rãs e lagartos, para além de comer frutos264.

263 CHINERY, Michael - O.c.,p. 10


264 CHINERY, Michael - O.c.,p. 28
85

Lebres e Coelhos - Com semelhanças aos roedores, não o sendo porque possuem dois

pares de incisivos superiores, constiutem a família Leporidae e pertencem à ordem


Lagomorpha. Identificam-se facilmente pelas patas traseiras mais compridas e mais fortes que

as dianteiras, cauda curta e peluda e longas orelhas. As lebres são maiores e mais rápidas.

Mas, o que também os faz distinguir são as ninhadas e o local onde nascem. As crias dos
coelhos nascem nas tocas das árvores e com os olhos fechados; as das lebres nascem no solo,

olhos abertos e já protegidas por pêlos.

Encontram-se praticamente por toda a Europa, em colónias e tocas subterrâneas, tendo

como habitats preferidos as zonas de pastagem, de arbustos, matas, dunas, charnecas e sebes
vivas. Ambos têm hábitos nocturnos, a "ementa" é composta essencialmente de erva, no caso

dos coelhos; no entanto, podem destruir campos de cereais e raizes de plantações de florestas

jovens265. Ainda que de uma forma indirecta, Ezequiel de Campos confirma a problemática da

caça e os malefícios das gentes: "num talhão de mato roçado, tinhamos semeado pinhões ao
covacho. Um bando de caçadores, com rapazes, dirigia-se para lá. Pedimos, por favor, ao

mais velho, que fossem por outro lado. - Espanto do «nenrod»: «que não fazia mal.. »

mostramos-lhe os pinheirinhos a nascer (...)"266. Assim, não obstante a destruição directa da

fauna, a caça contribui também para a destruição indirecta da flora.

Ratos - Sendo a mais extensa família dos roedores, mas não sabemos exactamente

quais as espécies que se encontram em Leça do Balio. No entanto, a avaliar pelas


características dos habitats de cada uma delas, parece-nos que os que existem por certo e aliás

observados pelos caseiros da Quinta do Mosteiro, são: o rato-do-campo (Microtus agrestis) e

o rato-dos-bosques (Apodemus sylvaticus). Tanto um como outro pertencem à família

Muridae; o primeiro da sub-familia Microtinae e o segundo da Murinae. O rato-do-campo, tal


como o nome indica, constrói o seu habitat praticamente em todos os locais com vegetação,

especialmente em searas de trigo e plantações herbáceas. Escava redes de túneis debaixo da

265 CHINERY, Michael - O.c.,p. 14


266 CAMPOS, Ezequiel de - "A Deveza da Ordem" Gazeta das Aldeias, nº 2103..., O.c., p. 54
86

vegetação, provocando a destruição de sementeiras, plantações e campos de pasto. É bastante

diferente do rato-dos-bosques, principalmente no que diz respeito à cor do pêlo, às orelhas e à


cauda. Pode aparecer em jardins, sebes e edifícios, sendo mais habitual em pomares e

florestas. Alimenta-se sobretudo de sementes, bolotas, frutos da faia e avelãs, embora também

devore insectos e outros invertebrados. Em contrapartida, são a delícia dos mochos e de


pequenos mamíferos267.
Em relação aos gatos, Ezequiel de Campos diz-nos que "uma observação muito

simples mostrou que, de toda a fauna local, o gato é o animal menos daninho do arvoredo; e

o mais nefasto é o homem". Será que se refere ao gato doméstico ou ao gato-bravo "?" Este
vive em florestas densas, mas no Sul da Europa, Alpes e Escócia.

6.2.2. Aves

A flora que já referimos forma ecossistemas com características específicas que

proporcionam habitats às espécies animais que lhes são típicas. Assim, era natural que nas

primitivas matas e bosques de Leça existisse uma diversidade de aves que hoje não é possível

encontrar e/ou identificar. Uma demonstração do que acabamos de dizer são os versos que
Francisco de Sá e Meneses, dedicou ao rio Leça:

(...)
«Por ti cantam aves, De laços e redes

Sem temerem quedas, Criam sem receio,

Mil cantigas ledas Seguras no seio

E versos suaves De teus bosques verdes.»

À semelhança do que temos feito, abordaremos as que conseguimos identificar,

directa ou indirectamente.

267 CHINERY, Michael - O.c.,p. 21


87

As aves identificam-se por uma característica óbvia - só elas possuem asas. Trata-se de uma

das maiores divisões do grupo dos vertebrados, que engloba perto de 9000 espécies.
Conseguem adaptar-se a todos os tipos de habitats, mesmo aos mais agrestes como o são as

zonas oceânicas, os desertos, as calotes polares ou ainda as florestas tropicais.

Compreendem diversas formas e dimensões, desde a avestruz com 2,7 m de altura e 150 kg de
peso ao diminuto colibri cubano, de 60 mm de comprimento e 2 g de peso. Uma das formas de

identificar as aves face aos seus habitats, é através das patas. As haborícolas têm dedos com

funções específicas, que lhes permite equilibrarem-se nos ramos, nos fios e nos poleiros. Já as

nadadoras, têm as patas semelhantes a remos, com os dedos unidos por uma membrana. Por
último, as que habitam em ecossistemas tipo sapais, possuem altas pernas e longos dedos.

Sendo animais de "sangue quente", protegidas pelas asas, as aves são descendentes dos

répteis cujas escamas foram transformadas em penas face à necessidade de isolamento. No

desenrolar da sua evolução, os membros anteriores serviríam apenas para planar, após o que
teria ocorrido a transição para as autênticas asas. As penas que as cobrem tornaram-se maiores

e mais resistentes para que levantassem vôo e conseguissem a propulsão durante o vôo. A

diversididade e dimensão das asas são inevitavelmente condicionadas pelo modo de vida da

ave. Mas, nem todas conseguem voar, se nos lembrar-mos da galinha doméstica, do pinguim
ou da avestruz.

A cor e o tamanho revelam-se os dois principais factores para se identificar uma

espécie, tal como o bico e as patas reflectem os seus hábitos alimentares. As granívoras, por
exemplo, têm fortes bicos, embora curtos. As insectívoras divergem: umas têm bicos delgados

e outras, largos. Já os bicos das aves de rapina são fortes a aguçados.

Carriça - Da família Troglodytidae, caracteriza-se pelo seu comportamento muito


activo, dimensões reduzidas - dez centímetros - e cauda levantada, como o melro-d'água. Em

toda a Europa só existe uma representante desta família, a troglodytes troglodytes. A origem é

o continente americano. Em termos de habitat, encontra-se praticamente por todo o lado:


88

montanhas, florestas prados, parques e jardins. Alimenta-se de insectos, nidifica nas sebes e

arbustos ou em buracos de árvores e de paredes268.

Andorinhas - Pertencem à família Hirundinidae. Deslocam-se em vôos muito rápidos,

por vezes rasando o chão e rodopiando acrobaticamente no ar, enquanto perseguem insectos.
São muito semelhantes aos andarinhões, embora tenham as asas mais pequenas. É frequente

observar grandes grupos de andorinhas pousadas ao longo dos fios telefónicos, principalmente

durante a sua viagem de migração. As andorinha-das-barreiras (Riparia riparia) medem

aproximadamente treze centímetros, são semelhantes à andorinha-das-rocas, mas com uma


faixa castanha no peito e sem marcas brancas na cauda. Vive em habitats abertos,

especialmente perto de charcos, lagos e rios. Nidifica em colónias, nos buracos escavados nas

margens e baixios fluviais, em minas e grutas e em fendas de penhascos269.

Pardal - Talvez a ave mais conhecida, por se adaptar a todos os tipos de habitat. O

Passer domesticus mede quinze centímetros, faz parte da família das Ploceidae e pode-se

encontrar em povoações, praças, parques, jardins, quintas e prados, de preferência junto a

áreas habitadas. Reproduz-se em beirais, buracos dos muros, paredes, ninhos artificiais,
arbustos, árvores e entre a folhagem e os caules das trepadeiras. São pequenas aves

granívoras, de plumagem castanha listrada e bico robusto: A fêmea distingue-se por ter cores

diferentes do macho, principalmente na cabeça com tons de beije.

Rouxinol - Da classe das aves, o rouxinol (Luscinia Megarhynchos) mede

normalmente dezasseis centímetros, tem dorso acastanhado, cauda ruiva e peito creme.

Alimenta-se de frutos, insectos ou moluscos terrestres. Faz parte da família das Turdídeas e
refugia-se entre a vegetação rasteira das matas, sebes e jardins, espaços onde gosta de

construir o seu ninho discreto, de caniços e erva seca, junto ao solo. Do género

268 CHINERY, Michael - O.c.,p. 86


269 CHINERY, Michael - O.c.,p. 80
89

Dentrirrostros, inclui-se na ordem Passeriformes, gosta de cantar durante a noite, vendo-se

pela Europa Mediterrânica e Ocidental270.

Codorniz - Da família Phasianidae, sub-família Phasianinae, estas aves possuem

patas e pernas nuas e não frequentam zonas frias. A codorniz (Coturnix coturnix) é a espécie
mais pequena e tímida. Com um tamanho de dezoito centímetros, a cabeça é listada e a

garganta preta (apenas o macho). Vive escondida entra a vegetação natural ou em campos de

cultivo. Pode ser observada em pequenos bandos durante a migração, mas é geralmente uma

ave solitária271.

Melro-Preto - O macho tem plumagem preta e bico amarelo, enquanto que a fêmea

bastante diferente, tem plumagem castanho e bico creme. Das quatro espécies que existem na

Europa, o turdus merula, de vinte de cinco centímetros, é o que se encontra nas matas e
pomares. No Inverno, vê-se em planícies e campos abertos, como os de milho da Quinta do

Mosteiro e da Quinta do Souto. São da família Certhiidae e sub-família Turdinae e

encontram-se por toda a Europa durante todo o ano. Para nidificar não escolhe muito: árvores,

arbustos, sebes, solo ou edifícios272, todos lhe servem..

Gaio - Ave extremamente nervosa, o que se nota pelo agitar da cauda quando está

pousada. Reproduz-se por toda a Europa e habita em florestas, pomares, parques e jardins.
Com trinta e seis centímetros, inclui-se na família Corvidae, que abrange os passeriformes de

maiores dimensões e as espécies de aves consideradas mais inteligentes. Exemplo disso é que

o gaio (Garrulus glandarius) pode segurar no bico seis bolotas, de que se alimenta e que

armazena em buracos no chão.

270 CHINERY, Michael - O.c.,p. 53


271 CHINERY, Michael - O.c.,p. 59
272 CHINERY, Michael - O.c.,p. 88
90

As leis da natureza, por vezes, são contraditórias. Que o digam as memórias de

Ezequiel de Campos: "de começo semeávamos as bolotas num recanto da horta. Os gaios e os
ratos comiam muitas, por melhor defesas que puzessemos (...). De ajuda temos a sementeira

pelos gaios e outras aves, que por certo vão buscar bolotas também aos carvalhos em torno

(...) aparecem por esta forma carvalhos variados de folha e de feitio"273.


Não tendo sido possível fotografá-lo, é uma ave de rara beleza com asas de desenhos

azuis e brancos e uropígio branco, grande parte do corpo é amarelo torrado, o rabo e o bico

são pretos274.

Galinhola - Da ordem das Charadriiformes peretence ao género Scopolax, mede


aproximadamente trinta e seis centímetros, tem cor castanho indefenido com listas

transversais finas no ventre e largas na parte posterior da cabeça e do pescoço. Os olhos,

escuros, situam- -se muito atrás e em posição elevada. O bico é muito longo e flexível e com
a extremidade da maxila superior branda e móvel. A cauda é negra com a extremidade

cinzenta. Os jovens são muito parecidos aos adultos, com excepção das patas que são um

pouco mais claras.O seu principal alimento é constituido por minhocas e larvas de insectos.

Estas aves procuram geralmente zonas alagadas, ou melhor, ecossistemas do tipo


fluvial/marítimo. No entanto, podem aparecer junto de flores e zonas bastante arborizadas.

Estritamente monogâmicos, os casais organizam-se em sessões de grupos que duram toda a

noite, fazendo a corte pré-núpcial. As fêmeas escolhem o par com um sinal de cabeça.
Terminada a corte, cada um deles escava no chão um buraco que atapeta com ervas e folhas

secas, onde as fêmeas poem de três a seis ovos, depois incubados durante três semanas.

Aliando ao seu mimetismo os seus hábitos solitários e a sua actividade eminentemente

crepuscular, a galinhola é uma ave de observação díficil, que passa o dia escondidos e quieta
sob a vegetação espessa e a folhagem dos bosques ou entre os caniçais das terras húmidas e

alagadas. É sobretudo pelo seu comportamento tímido que escapa às mãos dos caçadores

273 CAMPOS, Ezequiel de - "A Deveza da Ordem" Gazeta das Aldeias, nº 2102 - O.c., p. 6
274 CHINERY, Michael - O.c.,p. 83
91

furtivos. É uma das peças de caça mais apreciadas, mas também uma das mais difíceis de

caçar, para o que constitui defesa também a sua forma de voar em ziguezague entre as árvores.
Os seus bandos começam a chegar do Norte entre Outubro e Novembro, passam o Inverno

entre nós e partem novamente entre Fevereiro e Março.

A galinhola ocupa quase toda a Europa, à excepção das áreas mais geladas do extremo
norte. Aparece ainda na Ásia Menor e no Norte de África. Não a identificamos em Leça, mas

as características do seu habitat são de regiões como esta275.

Os Mochos e as Corujas - Inserem-se na ordem Strigiformes e na família Strigidae.


Têm hábitos quase exclusivamente nocturnos, alimentando-se sobretudo de mamíferos (dos

musaranhos às lebres e pequenos carnívoros). Algumas espécies, alimentam-se ainda de outras

aves e insectos. As suas garras são muito fortes e o bico grande em forma de gancho. Os olhos

também são grandes e muito eficientes.


A coruja-das-torres (Tyto alba) tem trinta e seis centímetros. Pertence à subfamília

Tytoninaee. A "face" é em forma de coração, o dorso castanho amarelado, o peito e o ventre

brancos ou acizentados (às vezes, ao crepúsculo, parecem todos brancos). Habita em quintas e

em zonas húmidas, acidentalmente em construções abandonadas ou celeiros, torres de igrejas


e ruínas276.

Milhafre - Milhano ou Milhafre (Milvus milvus). Embora existam pelos menos duas
espécie em Portugal e na Europa, parece-nos ser este o identificado pelas gentes locais. São da

família Accipitridae, tal como os abutres, águias, açores, gaviões e tartaranhões. Com sessenta

e três centímetros, assemelha-se à águia-d'asa-redonda, embora a plumagem seja avermelhada

e a cauda mais marcada. Tem como habitats preferidos os bosques, contudo também vive nas
zonas de vegetação mais dispersa. A nidificação é feita em árvores. Em relação às presas, que

275CORREIA, Clara Pinto; CIDADÃO, António José - O.c., p. 105; CHINERY, MICHAEL - O.c., p. 62
276CHINERY, Michael - O.c.,p. 73. Segundo informação obtida no local, estas aves, tal como o Milhafre, ainda
hoje se podem encontrar em Leça do Balio
92

são outras aves, actua de forma discreta, mas prefere-as vivas, tal como as águias. Em

Portugal, encontra-se durante todo o ano; não emigra277.

Corvos, Gralhas e Pegas - Constituem a família das Corvidae que engloba os

passeiformes de maiores dimensões. São também das espécies consideradas mais inteligentes.
Procuram ousadamente e sem timidez o seu alimento, evitando todo o tipo de armadilhas e

ignorando os espantalhos colocados pelos agricultores nos campos de lavoura. Têm o hábito

de armazenar alimento para o Inverno e uma técnica especial para comerem caracóis consiste

em atirá-los contra as pedras até a casca se quebrar. Crucitam em tons roucos e graves.

Gralha-de-Nuca-Cinzenta - Esta ave (Corvus monedula) tem cerca de trinta e três

centímetros. A plumagem é preta, mas cinzenta no pescoço e na nuca. Aparece em prados,

planícies ou em zonas costeiras rochosas. Nidifica em buracos de árvores e rochas, bem como
em edifícios velhos abandonados. Frequenta quintas e povoações, vê-se em bandos,

caminhando no solo em saltos abruptos ou voando acrobaticamente278.

Pombos e Rolas - Compõem a família Columbidae e inserem-se na ordem dos


Columbiformes. São distintos pela morfologia fisica; corpo: arredondo, cabeça pequena e

pernas curtas. São aves muito rápidas e têm capacidade de orientação, como tal são, desde há

muito tempo, domesticadas para transportarem mensagens e para concursos de velocidade.


Em Leça do Balio é possivel observá-las no telhado da igreja; Foto 74.

O pombo-torcaz (Columba palumbus) é o que mais se identifica com a área em estudo,

especialmente no que concerne ao seu habitat - matas e quintas. É vulgar misturar-se com

pombos-bravos e domésticos em bandos.

277 CHINERY, Michael - O.c.,p. 52; 55


278 CHINERY, Michael - O.c.,p. 82
93

A rola (Streptopelia turtur) prefere as zonas de arvoredo menos denso, embora

também se encontre em quintas e jardins, mas surge apenas na Primavera e no Verão. Trata-se
de uma ave mais pequena - vinte e oito centímetros279.

Estas são algumas das aves que compõem os ecossistemas da região. À semelhança do
exemplo do gaio, que referimos, "as aves cantam e semeiam. - Bendita Natureza! "280

6.2.3. Répteis e Anfíbios

Os répteis e os anfíbios, como animais vertebrados que são, inserem-se nas classes
Reptilia e Amphibia. Ao contrário dos mamíferos e das aves, possuem sangue frio, ou seja, a

temperatura do seu corpo altera-se de acordo com o meio em que se inserem. No entanto, não

significa que sejam realmente animais frios até porque, no caso de climas quentes, acontece
precisamente o inverso.

Quanto à sua origem, os répteis, dão continuidade ao ancestral anfíbio que terá surgido

há cerca de 280 milhões de anos. A partir dali, muitas foram as espécies qe surgiram e se

extinguiram nomeadamente os dinossauros. Pensa-se que nos dias de hoje, este tipo de
população rondará as 6 mil espécies, tratando-se na sua maior parte de cobras e lagarto, da

ordem Squamata. As tartarugas marinhas e terrestres atingem as 330 espécies, ordens Celonia,

os crocodilos e aligatores, da ordem Crocodilia, são cerca de 21 e a classe fecha-se com o

tuatara solitário da Nova Zelândia que pertence à ordem Rhynchocephalia.


Predominam em habitats terrestres, dadas as suas característiscas físicas. Alguns

possuem quatro patas embora os haja, como as serpentes, sem qualquer membro

No caso da classe dos anfíbios, dividem-se em três ordens: da Anura, fazem parte os
sapos e as rãs: da Caudata, os tritões e as salamandras; por fim, na Apoda, inserem-se os

279 CHINERY, Michael - O.c.,p. 72


280 CAMPOS, Ezequiel de - "A Deveza da Ordem" Gazeta das Aldeias, nº 2105..., O.c., p. 134
94

vermiformes, oriundos das terras tropicais. À primeira pertencem cerca de 4000, existindo no

total cerca de 4400 espécies.


Apareceram há volta de 350 milhões de anos, tendo a sua origem no peixe281. Para se
reproduzirem, regressam à água, devido à forma de respiração continuar a ser semelhante à

dos peixes. Assim, este tipo de fauna, nunca predominou na terra, como outras espécies,
nomeadamente, a dos répteis.

6.2.4. Peixes

De uma forma geral, os peixes dividem-se em três grupos bastante distintos: lampreias

e mixinas (super classe Agnatha); tubarões e raias, peixes cartilagíneos (classe

Chondrichthyes) e peixes ósseos (classe Osteichthyes). Estas últimas duas classes, inserem-se

ainda na super- -classe Gnathostomata.


Embora se trate de uma das espécies mais diversificada e numerosa da fauna natural,

não nos parece oportuno desenvolver este sub-ponto, uma vez que no espaço em análise não

se encontrarem, por o leito do rio se encontrar morto, como já referimos. Contudo e dado que
as memórias paroquiais assim no-lo informam, deixamos registadas algumas das variedades

de peixes que noutros tempos se encontravam no rio Leça: "Bogas, Bordallos, Barbos,

escalos, ealgumas trutas"282

6.2.5. Invertebrados

Antes de mais, importa referir que são considerados animais invertebrados todos

aqueles que não possuem esqueleto, tal como o seu nome indica. Estão divididos em 29 filos
diferentes e são mais que os vertebrados. As suas dimensões são das mais diversificadas: vão

281 (...) um peixe que era capaz de se deslocar para fora de água e respirar o ar da atmosfera, in CHINERY,
Michael - O.c. p. 107.
282 Memórias Paroquiais, 1758, in FELGUEIRAS, Guilherme -O.c., p. 807
95

desde os micro-organismos às lulas de 15 m e, ainda, a gigantestescos moluscos como as

tridacnas que atingem o peso de 275 kg. Assim, chegam-se a encontrar invertebrados
extremamente mais pesados que alguns vertebrados.

Os menos complexos, são os Protozoários, filo Protozoa, de corpo microscópico

unicelular, como as amibas. O seu habitat situa-se entre os solos húmidos e a água. Em termos
de reprodução, esta é extremamente simples, vão-se dividindo sucessivamente. Os principais

invertebrados pluricelulares, pertencem a vários filos. Na sua maior parte são animais

Arthropoda, ou seja, têm membros articulados. Nas principais classes encontram-se

crustáceos, insectos, aracnídeos (aranhas e escorpiões), centípodes e milípodes, perfazendo


um total de um milhão de espécies.

As lesmas, os caracóis, as lulas e outros animais atingem os 80 mil e constituem o filo

Mollusca. Já o filo Annelida é constituído por uma enorme quantidade de vermes terrestres e

aquáticos. As estrelas do mar, os ouriços-do-mar, etc. Compõem o filo Echinodermata e


distinguem-se por um tegumento áspero e muitos espinhos. O quinto filo, Coelenterata, tem

como representante as anémonas-do-mar e as alforrecas.

Grande parte dos animais invertebrados, aquáticos e terrestres, encontram-se no estado

de vida activa todo o ano, salvo raras excepções, que são os que hibernam no Outono e os
insectos que são sazonais.

No caso deste grupo de animais ficamo-nos pela caracterização geral, sem especificar

espécies - não por ausência, mas por não ter sido possível o seu levantamento, espécie a
espécie.
96

7. ESPAÇOS AJARDINADOS

Os jardins que circundam o Mosteiro são o da própria Igreja; Foto 1 e 55, na maior

parte de plantação recente mas que também conservam árvores antigas como uma nogueira e

alguns carvalhos e o da Quinta do Mosteiro283; Foto 74 a 76, que possui algumas das espécies
que Ezequiel de Campos deixou em meados do nosso século. Não consideramos o Alto da
Flórida, criado para árvores de flores, por ter sido praticamente extinto; Planta 10.

Não queremos deixar de referir que nem sempre foi linear distinguir as espécies

plantadas para ornamentação, das que constituem habitualmente a flora natural local. Por um
lado, porque as espécies se encontram de uma forma geral misturadas, independentemente das

áreas previamente definidas; Planta 10; por outro, e na sequência do aspecto anterior, o espaço

de arvoredo existente forma todo ele uma espécie de jardim - árvores que normalmente são

plantadas para produção agrícola ou silvícola encontram-se nos espaços ajardinados ou nas
hortas; Foto(s) 48, 77 à 79. Face ao que acabamos de expôr usamos um critério de abordagem

meramente pessoal, por nos parecer o mais prático em termos de descrição, classificação e

numeração das espécies:

O Cipreste - é uma das árvores mais plantada na Europa, especialmente na região


mediterrânica, onde é fácil de identificar devido à forma como se destaca na paisagem. O

cipreste Cupressus sempervirens, L. é uma das variedades desta espécie. Com porte médio,

folha perene, muito estreito, com ramos e rebentos erectos e com lanugem donde saem folhas
opostas, cor verde-escura. Este género possui cônes femininos e masculinos, uns esféricos de

2 a 4 cm de diâmetro e 8 a 14 escamas que, por sua vez, dão 8 a 20 sementes cada; Foto 80,

outras, têm os cônes de 4 mm de diâmetro e situam-se nas extremidades dos rebentos 284.

Ezequiel de Campos diz, em relação aos ciprestes, que "do que estava em frente à
porta do Mosteiro de Leça do Balio obtivemos semente que deu logo muitos. Duma feita

283 O actual jardim da Baliagem encontra-se onde era o terreiro e anteriormente os antigos claustros do
convento. BARBOZA, Velho do Carmo de - O.c. p. 40.
284 FOREY, Pamela - O.c. pp. 117; 125; CAMPOS, Ezequiel de - "A Deveza da Ordem" Gazeta das Aldeias, nº
2102..., O.c., p. 6
97

tantos como dias tem o ano ... Plantamos alguns; outros foram para o Douro e Évora; e uns

poucos crescem em Lisboa perto do Palácio da Assembleia Nacional, [em casa do Dr.
Salazar]"285. Hoje, depois das diversas alterações que aqueles espaços sofreram, encontramo-
-los a decorar os espaços ajardinados pela Câmara, tal como acontece em muitos locais do

nosso país, junto ao cemitério e a servir de sebe ao espaço definido "como Zona de Protecção"
adstrita ao Monumento Nacional; Foto(s) 1 e 80 a 83.

Em relação aos "Cedros do Buçaco", Ezequiel de Campos também plantou uma parte

da mata só com esta espécie, designada pelo mesmo nome e na orla da estrada Santos Lessa,

após os ter criado em pequenos vasos e viveiro durante dois anos. O Cupressus glauca -
Lamarck, foi a espécie semeada inicialmente. É uma árvore que, depois de se adaptar, se

reproduz facilmente junto aos troncos das árvores mais velhas. Arbórea e de grande porte é

endémica da bacia do Mediterrânico e das montanhas do Himalaia.

O nome "Cedro-do-Buçaco" não corresponde à sua origem mas apenas a uma confusão
com os ciprestes. Embora sejam árvores semelhantes na prática, quando bem observadas têm

características morfológicas bastante diferentes - as folhas dos ciprestes são escamosas,

enquanto que as dos cedros são em forma de agulha como as dos pinheiros, mas muito

pequenas, não ultrapassando os 3 cm de comprimento. Outras formas de os distinguir é


através da disposição das folhas, do tamanho e da forma da pinhas286; Foto 81.

Encontram-se ainda outras árvores, arbustos e trepadeiras ornamentais no Jardim da

Quinta. Algumas com 70 anos, como o Aloendro ou Loendreira, Espilradeira, Loureiro-rosa e


ainda por Cevadilha no Sul de Portugal287; Foto 84 e 85, das mais antigas árvores da

humanidade encontram-se as Magnólias - Grandi-flora Americana e Europeia; Foto 74, 86 e

88. Com cerca de 30 anos há a Murta ou Murtinhos; Foto 77, e a Trepadeira Tostão; Foto

77. A Vinha Virgem; Foto 76, 89 e 90 com aproximadamente 70 anos.

285 CAMPOS, Ezequiel de - "A Deveza da Ordem" Gazeta das Aldeias, nº 2102..., O.c., p. 6
286 CAMPOS, Ezequiel de - "A Deveza da Ordem" Gazeta das Aldeias, nº 2102..., O.c., p. 6; PORTUGAL
NATURAL - O.c., pp. 80-81
287 Enciclopédia das Plantas - O.c., p. 39; CHINERY, Michael - O.c., p. 349
98

Das espécies exóticas, para além da Palmeira, encontram-se algumas Japoneiras que,

não tendo as dimensões das centenárias do jardim do Solar Condes de Resende288, segundo a
História Oral - informação dos proprietários, parecem datar da época em que o primeiro andar

do Paço dos Balios sofreu grandes obras289, entre os finais do Século XVI e o início do século

seguinte290; Foto 77 e 91.


Em termos de flores silvestres, destacamos as Rosas de Toucar ou Rosas dos

Conventos e os Rebenta-Bois. Estas, encontram-se no espaço ajardinado a Norte dos Paços e

segundo a mesma fonte já ali estavam quando Ezequiel de Campos para lá foi viver.

As Tílias - da família das Tiliaceas, subdividem-se principalmente em três espécies,


nenhuma delas espontânea em Portugal: Tília silvestre (Tilia cordata), Tília comum (Tilia

platyphyllos) e Tília-intermediária (Tilia vulgaris). Todas as variedades são muito parecidas a

nível de morfologia. De grande porte e do Grupo das Caducifólias, as folhas são em forma de

coração e margens crenadas. A distinção faz-se principalmente através das características do


tronco: o da primeira é liso com zonas avultadas de pequenos rebentos, a segunda tem tronco

liso mas cinzento; o da terceira é muito rugoso. São conhecidas como "árvores calmas" pelas

propriedades medicinais e pelos chás. O aspecto negativo é a alergia que provocam, a muitas

pessoas, tal como os plátanos291.


Outras árvores plantadas, mas também não identificadas, foram as: Olaias, Acácias,

Plátanos, Austrálias (Accácia Melanoxylon, R. Brown), Negrilhos, Bordos e Gleditschias,

Jacarandá, Tulipeiro, Sofora, Catalpa, Hakeas e o Azevinho292, os Medronhos - Arbutus


unedo L.293, a que chamam vulgarmente êrvedo, êrvodo ou ervedeiro, pertence à família da
Ericácea tendo as suas origem no Mediterrânico.

288 GUIMARÃES, Gonçalves - O.c., p. 44


289 Estas obras foram efectuadas pelos Távoras.
290 BARBOSA, Ignacio de Vilhena - O.c., p. 306
291 FOREY, Pamela - O.c., pp. 31-33; PORTUGAL NATURAL - O.c., p. 76; CHINERY, Michael - O.c., p. 344;
CAMPOS, Ezequiel de - "A Deveza da Ordem" Gazeta das Aldeias, nº 2103..., p. 52
292 Enciclopédia das Plantas (1) - O.c., p. 47
293 Enciclopédia das Plantas (2) - O.c., p. 50; CAMPOS, Ezequiel de - "A Deveza da Ordem" Gazeta das
Aldeias, nº 2103..., O.c., p. 52
99

8. EXPLORAÇÃO AGRÍCOLA

Os campos da paisagem rural são o resultado de uma série sucessiva de intervenções e

de gerações de homens. Durante séculos, com cuidados e técnicas de cada uma das épocas, os

campos foram construídos a partir da natureza selvagem e transformados em meios de

produtividade e susbsistência humana.


As comunidades rurais que se geraram, aliadas a uma arquitectura de produção eram,

até determinada altura, auto-suficientes: principalmente devido ao aproveitamento de energias

acessíveis e de baixo custo, como a energia solar; através das características de determinado
tipo flora de que a fauna depende e o estrume. Por outro lado, as eiras294, sequeiros,
coradouros e estendais eram também formas de aproveitamento de energia solar para a seca

dos cereais, plantas, frutos, peixes, roupas, objectos de cerâmica, etc.. Estas formas de vida

tinham como um dos principais e importantes benefícios as vantagens da manutenção dos


solos vivos, onde os ciclos ecológicos naturais se processavam295. Além do aspecto

económico, os campos agrícolas ou simplesmente de pastoreio formam paisagens de

indiscutível beleza e valor cultural que representam monumentos ao trabalho, à perseverança e

ao esforço humano.
A exploração agrícola faz parte de um sistema cultural, tal como o património

arqueológico, construído, etnográfico e natural, pelo que não deve ser analisada isoladamente.

Não podiamos por isso deixar de abordar a agricultura do Mosteiro de Leça do Balio, uma vez
que ali permanece desde a construção do primitivo cenóbio até aos dias de hoje296, fazendo

parte deste conjunto cultural.

Os produtos agrícolas mencionados nos DMP Régios que consultamos são

essencialmente os cereais297; aparecem também mensões a alguns campos e montes só para a

294 Até 1923 a eira da Quinta do Mosteiro encontrava-se no meio do campo de 6 ha, onde hoje estão duas
enormes nogueiras, a que já nos reportamos. Nesta data, foi transportada (as mesmas pedras) para o espaço junto
à casa dos caseiros e do silo (ala Sul), estes construídos por Ezequiel de Campos.
295 PACHECO, Helder - O.c., p. 40
296 Assim o demostram alguns dos 250 livros da Monástica deste Mosteiro existentes no A.D.P..
297 Livro de Prazos da Baliagem nº 38 (1548 a 1765); 1º Livro Mostrador da Fazenda da Baliagem (1811);
Livro de Prazos da Baliagem nº 43, Baliagem 40, Livro 48 (1816 a 1828), p.1.
100

pastagem de gado298. A exploração silvícola predominava na devesa, os campos de cereais, o

pomar e a horta nos passaes.


Em meados do século XVIII produziam-se as seguintes espécies de milho: "o milho

mayor, algum centeyo, milho alvo, painso, sevada, e triguo", sendo a espécie de maior

quantidade o milho mayor. No entanto, não era suficiente para a alimentação da freguesia
pelo que muitos dos Labradores tinham que comprar o pam fora. Produziam ainda a

castanha, algum vinho verde e pouco azeite299. Não obstante, ainda "há um século atrás (...).
Em volta eram campos desdobrando-se até ao Leça correndo perto"300. Os campos de hoje

ainda são de considerável dimensão, principalmente os das Quintas, explorados pelos caseiros
e/ou vários rendeiros. Nos grandes espaços o predomínio dos produtos agrícolas vai para o

milho, enquanto que nos terrenos junto às casas - as chamadas hortas - a variedade é imensa e

sazonal.

Hoje, em muitos dos espaços ajardinados encontram-se árvores de fruto, algumas das
quais foram plantadas com intenção paisagística mas também económica. A Quinta do

Mosteiro é o melhor exemplo dessas plantações referidas por Ezequiel de Campos: "e fomos

depressa às sementeiras e às plantações, resolvendo alcançar as árvores, na máxima parte

possível, por sementeiras e estacas em pequeno viveiro, que logo organizamos num recanto
do pomar da quinta. Além de colaborar com a Natureza, seria economia"301. Como vestígios
destas acções encontram-se ali uma série de árvores que passamos a analisar.

A Nogueira de largo e alto tronco; Foto(s) 92 e 93, que se encontra junto à fachada
Norte, num espaço ajardinado, é como que um ex-libris da actual flora que circunda a igreja

de Santa Maria de Leça do Balio302. Trata-se de um dos dois exemplares, desta variedade, de

298 Memórias Paroquiais, 1758, in FELGUEIRAS, Guilherme - O.c., p.791


299 Também havia feiras, uma quinzenal em Santana que hoje se realiza, semanalmente, e que naquela altura os
produtos mais vendidos eram "bois e outros géneros", outra - a de S. José - no Lugar do Souto, destinava-se à
venda de "carros, ferragens, emais generos de labrançia" - Memórias Paroquiais, 1758, in FELGUEIRAS,
Guilherme - O.c., pp. 803, 804
300 PACHECO, Helder - O Grande Porto, Novos Guias de Portugal, Editorial Presença, Lisboa, 1986, p. 148.
301 CAMPOS, Ezequiel de - "A Deveza da Ordem" Gazeta das Aldeias, nº 2100..., p. 932
302 De salientar o esforço feito em preservar esta espécie, quando das obras de restauro da Direcção Geral dos
Edifícios e Monumentos Nacionais.
101

plantações de Ezequiel de Campos - nogueira preta (Juglans nigra, L.). Esta foi introduzida

em Portugal para a exploração de madeira, devido à sua boa qualidade. Tem a sua origem nos
Estados Unidos, enquanto que a nogueira comum é proveniente da Eurásia303. Esta última
pertence à ordem das Juglaudáceas, família das Gimnospérmicas, espécie Juglaus regia e

também se insere no grupo das caducifólias. Cultiva-se ou nasce perto dos cursos de água, em
terrenos frescos e profundos, podendo a reprodução ser feita por sementes ou enxertia. A sua

produção alimentar são as nozes, fruto oleoginoso. A noz é composta por um "tegumento"

lenhoso e rugoso do qual se extrai a semente comestível304. São árvores de grande porte que

chegam a atingir 30 m de altura. Compõem-se de sinuosas pernadas que formam a extensa


copa de folhas "imparipinuladas", a touça de casca lisa e acinzentada conserva-se assim

durante vários anos. As próprias folhas são aproveitadas em favor da medicina, para além das

diversas aplicações em produtos de beleza. Das duas centenas de nogueiras comum plantadas

sobressaem apenas duas no meio do campo de 6 hectares da Quinta do Mosteiro305;


Foto(s) 1, 60, 78 e 94.

A Oliveira de longa tradição, e os seus frutos são tema de versos e redondilhas muitas

vezes "trauteados" pelo povo. Correia de Oliveira, em 1947, referindo-se ao azeite exaltava-o

assim:
"Amacias o caldo, em teu perfume
Dás vista aos olhos; enches do teu lume
Palácio, Templo, ou antro de caverna

Azeite de Oiro, num cristal macio,


Alegria de meza e seu adorno
Que bem te casas, tu, ao pão do forno,
A' verdura das hortas, fio a fio!"306

303 FOREY, Pamela - O.c., p. 84; PORTUGAL NATURAL - O.c., p. 58


304 Ibidem
305 Enciclopédia das Plantas - As Plantas nossas Amigas, Edição Amigos do Livro, V. II, pp. 15-89;
Enciclopédia das Plantas - As Plantas nossas Amigas, Edição Amigos do Livro, V. I, pp. 24-63; LELLO, José;
LELLO, Edgar - Lello Universal, Dicionário Enciclopédico Luso-Brasileiro em 2 volumes, Ed. Lello & Irmão,
V. I, Porto, 1988; CHINERY, Michael - O.c. p. 314
306 OLIVEIRA, Correia de - Arboricultura, Gazeta das Aldeias, nº 2109 de 16 de Abril de 1947, p. 293
102

Esta árvore encontra-se por todo o país, em zonas onde os solos não são muito
húmidos ou as altitudes não sejam muito elevadas, mas o seu habitat natural são as terras

secas e pedregosas. É procedente da região mediterrânica, onde existe desde tempos remotos.

Insere-se na vasta família das quatrocentas a quinhentas espécies de oleáceas, entre árvores e
arbustos ornamentais e de grande importância económica, como a faia. A floração dá-se

entre Março e Maio e a frutificação é entre Julho e Setembro.

A Olea europae var. sativa é uma árvore de folha miudinha e perene. A sua congénere

brava é o zambujeiro (var. sativa) na transicção dos arbustos para as árvores. Este mede
aproximadamente oito metros enquanto que a oliveira tem geralmente quinze307.
A Figueira caracteriza-se por ser uma árvore cuja flor é praticamente invisível com

dimensões muito reduzidas e fechadas, onde apenas os insectos entram para as fecundar. Nas

regiões rurais é vulgar ouvir-se dizer "(...) como a Figueira que dá fruto sem flor", o que não
corresponde exactamente à realidade. Oriunda do Ocidente Asiático, em Portugal encontra-se

dispersa com um tamanho de mais ou menos 10 metros. Os frutos - os figos - são diversos,

consoante as regiões, a época do ano e as castas. São considerados muito ricoS em termos

alimentares e laxantes. Em Portugal são particularmente apreciados secos, na época natalícia.


Uma variante da espécie é a Ficus carica, morácea de família, que, em termos fisiológicos,

tem características muito próprias e apenas se poderá comparar à amoreira-negra (Morus

nigra) pelo tronco baixo, copa larga e ramos torcidos; mas as folhas e os frutos são
completamente diferentes308. Em Leça do Balio vê-se um ou outro exemplar daquela árvore

nas margens dos campos.

307 CHINERY, Michael - O.c., p. 351; PORTUGAL NATURAL - O.c., p. 67; FOREY, Pamela - O.c., p. 65
308 CHINERY, Michael - O.c., p.323
103

A Cerejeira - A cerejeira ou cerdeira (Prunus avium L.)309 pertence ao grupo das

Cordaites, insere-se na família das rocáseas e na subdivisão das Angiospérmicas. A sua


origem levanta algumas dúvidas, uma vez que há informações que nos dizem ser a cerejeira

originária da Ásia Central e transferida para a Ásia Menor há mais de mil anos e, só daí, para

a Europa310. No entanto, outras obras referem que ela é nativa da Europa311.


É na Primavera, nomeadamente nos meses de Março e Abril, que esta árvore atinge o

auge da sua beleza, quando se apresenta vestida de flores brancas, vermelhas ou rosadas. A

côr da flôr denuncia a grande diversidade de castas Trigãees, Vasteses, Soldares, Vicaes,

Agostinhas, Pedraes, pretas, etc. É da espécie indígena ou silvestre que surge a grande
diversidade cultivada em pomares e jardins. Nos jardins, ela aparece, fundamentalmente,

devido à sua extraordinária beleza. Se na Primavera é a côr das flores a principal atracção, no

Verão e no Outono é a côr e a forma do seu fruto - a cereja. Para além da beleza que

proporciona, as suas propriedades naturais são aproveitadas e exploradas: à mesa são


conhecidos os frescos e deliciosos frutos, também muito apreciados em compotas,

cristalizados ou secos e em licores. Com a madeira fabricam-se móveis e artefactos de elevado

valor, devido à invulgaridade dos veios e grãos que constituem o tronco desta árvore que

atinge mais de 20 m de altura312. Mas, há semelhança de outras árvores, também é utilizada


como fonte medicinal: das suas flores fazem-se infusões, normalmente usadas como

calmante peitoral e o chá de pés de cereja é recomendado para infecções dos rins e do

fígado313.

309 Enciclopédia das Plantas - O.c., V. II, pp. 15-89; Enciclopédia das Plantas - O.c.,V. I, pp. 24-63; LELLO,
José; LELLO, Edgar - Lello Universal, Dicionário Enciclopédico Luso-Brasileiro em 2 volumes, Ed. Lello &
Irmão, V. I, Porto, 1988; CHINERY, Michael - O.c., p. 327
310 Enciclopédia das Plantas - O.c., V. I, p. 82
311 CHINERY, Michael - O.c., p. 327
312 CHINERY, Michael - O.c., p.327
313 Enciclopédia das Plantas - O.c., V. I, p. 82
104

A Macieira - Cultiva-se, há longa data, em regiões temperadas como a do

Mediterrâneo. Uma das formas de a identificar é pelas cinco pétalas que compõem as suas
flores. No caso presente, identificamos espécies derivadas da macieira-silvestre, que se

cultivam nas quintas limítrofes ao Mosteiro; Foto(s) 48 e 95.

A macieira (Pyrus malus L.) ou maçãzeira, da família das Rosáceas, grupo das
Cordaites, que hoje em dia se cultivam, são resultado de enxertias efectuadas às macieiras

silvestres (Malus Sylvestris), indígenas da Europa e do Sudeste Asiático. Em Portugal dão-se

em grande quantidade e variedade na região do Alto-Minho, Trás-os-Montes e Serra da

Estrela. Ainda em estado selvagem, aparecem nas matas, valados e sebes. Com uma altura de
cerca de 10 metros e touça pouco longa, sobressai a copa de densa folhagem espinhosa.

As folhas apresentam-se sob a forma de cunha ou ovais, de base circular. Tal como

acontece com alguns frutos ácidos, também aqui a côr das folhas varia de acordo com a maior

ou menor exposição ao sol. Os pecícolos sulcados, com cerca de 2,5 cm de comprimento, têm
características penugentas. A influência do clima, o tipo de enxertia, entre outros factores,

determinam a variedade de castas314; Foto(s) 96.

A Pereira - encontra-se em ambas as Quintas: na do Souto e na do Mosteiro. Coabita


com as ramadas de videiras, com o milho e com as próprias hortenses; Foto(s) 79, 97 e 98. A

espécie silvestre pyrus communis é que deu origem a todas as outras que possamos encontrar

nestes campos ou em jardins.


Engloba-se na família das rocáceas tal como a Macieira, o Pilreteiro, a Nespereira, o

Abrunheiro, a Amendoeira, o Mostajeiro, entre as duas mil espécies que compõem esta

família. No estado selvagem, a Pereira predomina nas matas e sebes da Europa e da Ásia

Ocidental, com uma altura de aproximadamente 20 metros. Tem uma fisionomia semelhante à
macieira, mas as folhas são normalmente mais pequenas e menos enrugadas. A própria copa é

mais esguia e os seus braços são ascendentes. Os frutos - as pêras - variam consoante as

314 CHINERY, Michael - O.c., p.326


105

enxertias e as castas. O carvão e a lenha desta árvore são muito duráveis na combustão. Já a

própria madeira, rija, é usada no fabrico de móveis, em artigos de relevo e em gravuras315.


São muitas mais as árvores de fruto que ali existem e que ainda não mencionamos.

Particularmente no antigo pomar, hoje horta, da Quinta do Mosteiro algumas dessas árvores

têm dezenas de anos, entre elas, encontramos: as Nespereiras com 22 anos, várias
Ameixieiras, dois grandes Diospireiros, Toranjeiras, Tangerineiras, Marmeleiros e

Nespereiras. As Laranjeiras parecem ser das árvores que melhor se adaptaram - o Tombo de

1642 fala de uma laranjeira no quintal dos Beneficiados, a qual, ou seus rebentos, em 1849

ainda ali estava316. Assim, mesmo que esta não fosse a mesma árvore, pelo menos sabemos
que esta espécie vive ali há, pelo menos, 4 séculos; Foto(s) 78, 79, 99 e 100.

No mesmo espaço, explorado pelos caseiros, mas no dito pequeno pomar e antiga

entrada do convento, encontra-se o Vinho Morangueiro, as Rosas de toucar e os Rebenta-bois.

Do mesmo lado e dando continuação ao pequeno pomar, mas a nível mais baixo e separados
por uma parede, é o campo que se chamava de Vargea grande317 da mesma Quinta, hoje está
arrendado e o predomínio da cultura é o milho. As Abóboras e uma série de produtos

habituais nas hortas portuguesas, cultivam-se no antigo pomar ou horta do lado Nascente dos

Paços; Foto(s) 101, 60, 57, 53, 48, 60, 78 e 79.

315 CHINERY, Michael - O.c., p. 331


316 BARBOZA, Velho do Carmo de - O.c., p. 37
317 Ibidem, O.c., p. 41
106

A NATUREZA NA ARTE - ICONOGRAFIA


107

1. INTRODUÇÃO

Os recentes métodos da História da Arte Moderna, seguem directrizes fundamentais:

formalista, sociológica, iconológica, semiológica ou estruturalista. Permitem-nos analisar as

manisfestações artísticas318, relacionando-as com a época, a «escola» , a sociedade e a classe

em que estas emergiram, bem como a possibilidade de as interpretar em épocas actuais. As

fontes encontram-se ainda nos materiais e nas temáticas utilizadas pelo artista.

No presente caso interessa-nos a análise interdisciplinar do Património Natural com o

Construído: Arquitectónico e Artístico que se encontram na igreja de Santa Maria e nos Paços
dos Balios, o que passaremos a fazer, basicamente, através destes métodos, mas

fundamentalmente da iconografia que encontramos.

Com o método formalista podemos observar várias imagens da flora e da fauna

esculpidas, em pedra, na igreja e na Quinta do Mosteiro em Leça do Balio. Encontram-se nos


portais, nos beirais, nos diversos capiteis das colunas, nos túmulos, na pia baptismal, no

cruzeiro e espólio arqueológico que se encontra disperso e ainda no jardim da quinta e no

espaço que circunda a igreja.

Cada uma destas imagens possui um significado, ao mesmo tempo que são o reflexo do
sistema cultural da época em que foram elaboradas, nomeadamente o económico, tornando-as

determinadas e determinantes e numa "realidade complexa" que não deve ser interpretada

apenas através dum primeiro olhar319. Assim, enquanto que a formação da obra é analisada
pelo método formalista, o sociológico estuda a sua génese e o iconológico explica e valoriza

as tipologias das artes figurativas320 e da arquitectura321.

318A investigação mais recente desta problemática relativa à história da crítica deve-se a autores como Julius
von Schlosser, em 1924, com "Storia della letteratura artistica" e a Lionello Venturi, em 1938, com "Storia
della critica d'arte". ARGAN, Giulio Carlo; FAGIOLO, Maurizio - Guia de História da Arte, 2ª Edição,
Editorial Estampa, Lda, Lisboa, 1994, pp. 25; 29; 34
319 ARGAN, Giulio Carlo; FAGIOLO, Maurizio - O.c., p. 23
320 Desenvolvido por E. Panofsky. ARGAN, Giulio Carlo; FAGIOLO, Maurizio - O.c., p. 37.
321 Desenvolvido por R. Wittkower. ARGAN, Giulio Carlo; FAGIOLO, Maurizio -O.c., p. 37
108

Contudo, enquanto que a iconografia estuda a interpretação das imagens-tipo, a

iconologia encarrega-se das mutações das mesmas ao longo dos tempos322.


Pelas formas e pela sua carga simbólica podemos "classificar" estilística e

cronologicamente uma construção, depois de desenhado o pensamento e as necessidades de

uma determinada sociedade. Estas imagens tornaram-se no melhor testemunho da história


deste monumento, ao mesmo tempo que a arquitectura pelos meios vultosos, pela ligação aos

hábitos e referências que esta arte compõe, se tornou na parte maior da História da Arte323.
Segundo Reinaldo dos Santos, a manifestação das comunidades sentiu-se

particularmente nas construções religiosas. A igreja era construída como que um símbolo de
Jerusalém. Devia ser segura e estável, cumprindo as necessidades do culto firmitas, utilitas et

venustas, tornando-se o orgulho do seu encomendante e dos seus fieis. A homogeneidade que

se pretendia na expansão do cristianismo, terá sido aparentemente, dada primeiro pela

arquitectura românica que correspondia aos novos canônes da liturgia romana324, realçando já

manifestações decorativas externas, que evoluiram com a corrente gótica, posteriormente.

Porém, devido às reedificações e alterações que o Mosteiro de Leça do Balio sofreu, o

que existe actualmente é a igreja de Santa Maria e a Quinta do Mosteiro, de foro privado. Esta

igreja, reedificada no século XIV, está classificada no estilo gótico das construções
militares325, embora a decoração vegetalista tenda à imaginação do século XII, principalmente
no interior das igreja326.

A análise dos vestígios iconográficos que se segue é no sentido de conjunto, como o


recomenda a Análise e Crítica da Arte; tenderemos para a descrição dos aspectos naturais

com a orientação dos métodos mencionados.

322 Ibidem, p.39


323 SANTOS, Reinaldo - O Românico em Portugal, 1956, (fotocopiado) p. 25
324 Ibidem, pp. 26-27
325 CHICÓ, Mário Tavares - O.c., p. 27; DIAS, Pedro - O.c., Vol. IV, p. 44
326 CHICÓ, Mário Tavares - O.c., p. 117; 120
109

2. A ICONOGRAFIA DO MOSTEIRO

A morfologia externa que o edíficio apresenta, todo ele em pedra granítica do século

XIV, numa primeira impressão é de grandeza, apesar da sua simplicidade. Poder-se-á dizer

que parte desse impacto será o resultado das características de um edifício de feição militar,
que tem semelhança na Igreja de S. Francisco no Porto. Também a decoração e as formas

reafirmam as funções, as mentalidades da época de construção, o gosto e conhecimento do

arquitecto e/ou encomendante desta obra.

Como exemplo do sistema defensivo encontram-se as muralhas laterais, nas traseiras


do transepto; os caminhos dos adarves, por cima da nave lateral direita, a passagem interna

para a fachada principal; a torre com balcões de mata-cães e ameias - assim como em todo o

edíficio ao longo da nave central e, mais abaixo, nas naves laterais, onde se vêem duas filas

de janelas, altas e estreitas; Foto(s) 29 a 41, 47, 102, 1, 6 e 8.


A fisionomia tradicional da época, deste tipo de edifícios - igreja-fortaleza, impunha

que o portal principal fosse a Poente. Este, com uma profundidade igual à espessura do muro,

é composto por oito arcos ogivais contínuos e de tamanho decrescente, que outras tantas

colunas sustentam. Entre os remates superiores destes, de cada um dos lados, encontra-se um
contraforte. Sobre o mesmo portal, há uma passagem em balcão com parapeito ameado, onde

foram usadas, como suporte, esculturas da fauna, mais concretamente cachorradas.

Sobre as cornijas, ao longo dos telhados, corre em toda a volta uma linha de ameias
como cumpre nas decoração militares; Foto(s) 103, 104, 7 e 8.

A transicção do estilo arquitectónico românico para o gótico, a decoração e a

mensagem cristã, encontram-se espalhadas por todo o conjunto: nos pilares quadrangulares de

esguias colunas adossadas do interior da igreja, nos arcos ogivais por banda, nas nervuras
absidais nas três naves que a dividem; na grande rosácea radiante do frontispício, que no

vértice tem colocada a cruz do divino cordeiro, como cumpre. Estas características podem-se

notar ainda no portal principal de arcos apontados, no lateral Sul englobado de capelos, nos
110

capiteis do interior da igreja e nos dos antigos claustros, onde se encontra esculpida a flora e a

fauna dos nossos ecossistemas. É possível observar os temas bíblicos nos capiteis da cabeceira
da igreja. O facto de existirem capiteis com dois tipos de decoração, uns embora toscos

naturalistas, outros hagiográficos de tradição românica, confirmam-nos essa transicção de

estílos e a possível substituição de artistas durante a construção327; Foto(s) 105, 106, 104,
107, 108, 109, 112, 113 e 114.

3. A ICONOGRAFIA DAS ARTES MENORES

Praticamente durante toda a Idade Média portuguesa a escultura esteve associada à

vida religiosa, quer na vertente do culto da divindade, quer no dos mortos, incumbindo-se por

isso da produção de imagens sacras e monumentos fúnebres.


Também aqui, o interesse e gosto do encomendante era importante tendendo, nesta

época, para a representação iconográfica, em vez do aspecto estético.

No espaço em estudo, o Património Construido móvel de maior impacto artístico são

a Lâmina de bronze, a Pia Baptismal, os Túmulos no interior da igreja e o Cruzeiro328 situado


no terreiro. Já os simbolos heráldicos no muro da quinta e num colunelo da escadaria dos

Paços da Baliagem são como que o cunho das famílias que por ali passaram. Interpretação

semelhante poderemos dar ao espólio arqueológico disperso. Estas obras retratam esse gosto

do encomendante, além das capacidades do artista; Foto(s) 86, 87 e 115.


Ao longo da igreja encontram-se os túmulos de alguns balios e priores da Ordem,

desde que foi de S. João de Jerusalém, de Rodes e depois de Malta. O do Beato Frei D. Garcia

Martins329; no chão, em campa rasa, a sepultura de D. Frei Estevão Pimentel330 , o autor da

327 MAGALHÃES, Luis de - Egreja de Leça do Balio in A Arte e a Natureza em Portugal, Direcção de F. Brut,
Cunha Morais, Editor Emílio Biel & Cª, Porto, 1903, Vol. II, p. 24. São temas retirados dos Génesis e dos
Evangelhos in MONTEIRO, Manuel - O.c., pp. 79; 84; DIAS, Pedro - O.c.,Vol. IV, p. 44
328 Incluido na Z.E.P.
329 Este Frei é um dos mais polémicos devido às crenças da sua santidade, faleceu no ano de 1306. Foi Gran
Comendador dos cinco Reinos de Espanha, in BARBOZA, Velho do Carmo - O.c., pp. 62-66.
111

actual igreja; o do D. Frei João Coelho331, o do D. Frei Christóvão de Cernache332, o do D.

Frei Diogo de Melo333 e o de D. Frei Lopo Pereira de Lima334.


Praticamente todos eles têm artefactos iconográficos que não são mais do que a

mensagem do que foram e de como eram aqueles homens, ou seja, a decoração representa as

tipologias: o homem, o seu tempo, os seus feitos e, nalgumas situações, a sua ideologia - como
nos casos da lâmina dedicada a Frei Estevão Vasques Pimentel e o de Frei Cristóvão de

Cernache - de mãos erguidas em frente a um livro aberto335.


Se a lâmina de bronze é a última das relíquias medievais deste templo, uma das

curiosidades quinhentista é a pia baptismal - octogonal, de pedra de ançã, sustentada por um


grupo circular de cabeças animalescas "de colmilhos arreganhados", saindo de um

revestimento de acanto, profusamente lavrada com estilizações florais semelhantes a espigas

de milho, com escudos brazonados que figuras de anjos amparam. Trata-se de um batistério

do século XVI que, segundo a inscrição, o encomendante foi D. Frei João Coelho, o mesmo
doador do cruzeiro e o artista Diogo Pires o Moço. O Cruzeiro, outrora "colocado um pouco

a sul da igreja numa bifurcação de caminhos, que formavam um trivium bastante

desnivelado"336, está hoje, embora na mesma orientação, colocado num pedestal que não

pertence ao conjunto, no largo da casa da paróquia, ou seja, na Rua de Santos Lessa. Também
em pedra de ançã, compõe-se de uma coluna cilindrica, cortada a meio fuste por um anel

330 Foi um dos homens mais notáveis da Ordem e do Reinado de D. Dinis, morreu em 1336, in BARBOZA,
Velho do Carmo - O.c., pp. 49-58.
331 Prior do Crato, Chanceler de Rodes, Balio de Negroponto, Comendador de Leça e da Guarda, faleceu em
1515, in BARBOZA, Velho do Carmo - O.c., pp. 58-61; FREITAS, Eugénio da Cunha e - "Santa Maria de
Leça do Balio, Notícia Histórica e Artística, Ed. Marques Abreu, Porto, 1958, pp. 10; 14; 26
332 O túmulo deste Gran Chanceler da Ordem de São João de Jersalém e Comendador do Mosteiro de Leça e
das comendas de Poiares tem a sua estátua orante, seiscentista, esculpida em madeira. Faleceu em 19 de Janeiro
de 1569, in BARBOZA, Velho do Carmo - O.c., pp. 47-48; FREITAS, Eugénio da Cunha e - O.c., pp. 11; 26.
333 Morreu em 1666, in BARBOZA, Velho do Carmo - O.c., pp. 46-47.
334 Segundo o livro de óbitos da igreja matriz, este Prior do Crato e Balio de Leça faleceu em 31 de Março de
1681 in BARBOZA, Velho do Carmo - O.c., p. 45
335 O livro tem uma simbologia muito vasta. Só - é um atributo do Evangelistas, dos Doutores da Igreja e dos
Santos diáconos (...), in TAVARES, Jorge Campos - Dicionário de Santos, Hagiológico, Iconográfico, Lello &
Irmão Editores, Porto, 2ª Ed., 1990, p. 193; COUTINHO, B.Xavier - Nossa Senhora na Arte, Alguns Problemas
Iconográficos e uma Exposição Marial, (obra Postuma) , Associação Católica do Porto, Liv. Tavares Martins,
Porto, 1959, p. 167.
336 O cruzeiro ainda em 1903 se encontrava nesta localização. MAGALHÃES, Luis de - O.c., p. 25;
MONTEIRO, Manuel - O.c., pp. 79; 84
112

saliente que é ornamentado por duas guarnições, superior e inferior, de pequenas bolas e

encimado por uma cruz floreada, donde pende uma figura de cristo, pouco vulgar como
documento iconográfico e como escultura. Ao sopé da cruz, sobre o capitel, está ostentado um

escudete com o brasão da família do encomendante, assim como na epígrafe de doação, datada

de 1514, também está o seu nome337; Foto(s) 116, 52, 117 e 118 e Gravuras 5, 1e 7.

4. TENTATIVA DE EXPLICAÇÃO SIMBÓLICA

Para além da descrição feita e tal como referimos na introdução deste capítulo, a
decoração da arquitectura e os recursos temáticos da escultura e doutras artes menores, têm

uma explicação simbólica, de acordo com a cultura em que se inserem, tendo como base

primária a estrutura religiosa.


No culto Mariano, por exemplo, essa simbologia está carregada de misticismo e

significância, desde a expressão e posição da Virgem só, ou com o menino, às roupas e aos

atributos de que este e ou ela são portadores338.

A lâmina de bronze dedicada ao mais mencionado Balio de Leça - Frei Estevão - está
carregada de mensagens e simbologia339. Mais parecida com um quadro do que com as
tradicionais campas, até porque se encontra na parede à altura dos olhos do visitante, além da

decoração floral - tipo silvas, tem a presença de Jesus e dos Apóstolos ao centro, a Trindade à

esquerda e a Anunciação à direita. A Trindade é um dos temas preferidos da iconografia


gótica em sinónimo dos Mistérios. A Anunciação, delineada pelo vaso de lírios, é o prenúncio

à saudação de Maria340. Estão ainda representados à esquerda S. João Baptista, o padroeiro da


Ordem; representado o Agnus Dei; S. Paulo, o Apóstolo das Gentes e S. Tiago, o peregrino. À

337 MAGALHÃES, Luis de - O.c., Vol. II, p. 25


338 COUTINHO, B. Xavier - O.c.
339 Com as devidas retircências, Manuel Monteiro é da opinião de que "análoga importância artísticas, não tem
outro símile na Península senão a lâmina do bispo Fernandes de Madrigal, El Tostado, na Catedral d'Ávila", in
Manuel - Igrejas Medievas do Porto - O.c., pp. 85-86.
340 É uma interpretação pela imagem do mistério da encarnação segundo os Evangelhos Apócrifos: O
Evangelho do Pseudo Mateus e o Evangelho Arménio da Infância, in MONTEIRO, Manuel - O.c., pp. 79; 84
113

direita, S. João, o Evangelista com um cálice; S. Pedro com as chaves do céu e S. Filipe o

formoso, com a cruz do seu martírio. Na base destacam-se: os simbolos dos evangelistas, os
brasões de Portugal e de D. Frei Estevão Vasques Pimentel. Ao centro a divisa heráldica da

Ordem ou seja a cruz de oito pontas e um centauro guerreiro341.

As flores de lis ou de lírios, "sou a flor dos campos e o lírio dos vales", representam
na iconografia mariana a Imaculada Conceição. Em Leça do Balio encontram-se vestígios

destas flores na lâmina de bronze, nalguns dos capiteis e nos portais342 ; Foto 113.
Também já vimos anteriormente que muita da flora e da fauna abordada tem uma

simbologia, na maior parte conhecida pelo povo. A nogueira, por exemplo, é o símbolo da
fertilidade, a oliveira da paz e a laranjeira da pureza. Os animais que suportam o

"sarcófago" de Frei Garcia Martins são figuras típicas deste tipo de obras e funcionavam como

que guardiões das necrópoles, normalmente assemelham-se a leões, mas são designados de

carrascos. As cabeças de animais que surgem no pé da pia baptismal já se parecem com


dragões ou crocodilos. A representação destes animais verificou-se até ao século XVII

associada ao culto da inveja, que Maria destruiu343; Foto 32.

A pomba, por exemplo, desde o início do cristianismo que ela aparecia como símbolo

do divino Espirito Santo nas árvores de Jessé. A simbologia desta ave espalhou-se
praticamente por todo o mundo: na Rússia aparecia assiduamente na iconografia de Jesus; na

Síria representava a pureza, a geração e o calor animal. Outras tentativas de explicação

iconográfica remetem o significado da pomba para o evangelho de S. Mateus (cap. XXVII)344

Nalguns dos casos, a decoração pode apenas fazer parte da corrente estilística, mas

também essa se regia por determinadas características, consoante a política religiosa em que

surgiu. Muitas vezes encontram-se decorações temáticas muito diferentes dentro do mesmo

estílo, por gosto do encomendante, do próprio artista e dos materiais usados, predominando

341 Ibidem, pp. 86-87; TAVARES, Jorge Campos - Dicionário de Santos, Hagiológico, Iconográfico, Lello &
Irmão Editores, Porto, 2ª Ed., 1990, pp. 183; 185; 187.
342 Ibidem p. 157
343 Ibidem pp. 160-162
344 COUTINHO, B.Xavier - O.c., p. 163.
114

os temas dos canones iniciais. Por outro lado, é quase que lógico as manifestações da fauna e

da flora natural da região nas artes locais, independentemente da explicação religiosa das
Sagradas Escrituras ou da mitologia dos Povos Clássicos. A decoração da pia baptismal

poderá ser um desses exemplos - aliada à mensagem religiosa e cristã dos anjos estará a das

espigas de milho (maçarocas) - produzidas na região e que por outro lado representam o pão.
Será que a interpretação de Edm. Joly nos ajuda a compreender melhor o significado

das representações iconográficas da natureza? - "l'homme a retrouvé en elles (nas plantas) son

premier espoir sur cette terre d'où le péché inicial les avait comme bannies pour les épines du

mal"345 - ou será a lâmina enaltecedora do "Balio de Leça" um dos melhores exemplos dessas
manifestações artísticas e objecto de mensagens? Numa das frases está escrito: "ut rosa flos

florum fuit" ou seja "foi como a rosa a flor das flores"!

345 Theotokos, Paris, 1932, p. 17 in COUTINHO, B.Xavier - O.c., p. 157.


115

UM ESTUDO NA ACTUALIDADE
116

1. DIAGNÓSTICO

A análise a que procedemos sobre este Património Cultural centrou-se na avaliação


dos aspectos positivos e aspectos negativos que foram possíveis de detectar. Efectuamos a
análise do Conjunto Cultural e não das partes, isto é, partindo do Monumento Classificado da
Igreja de Santa Maria de Leça do Balio e Cruzeiro, analisamos toda a sua envolvência
arquitectónica, industrial, natural e social que presentemente faz parte deste conjunto e nele se
reflecte.

 Pontos Fortes

Fazemos nota dos seguintes:

- A igreja e a torre encontrarem-se ao abrigo da Lei do Mecenato, no que respeita à


conservação e restauro

- O marketing e a "publicidade" indirecta (Fig.s ), feita pela UNICER346 ao Mosteiro

- A informação da existência e localização do Mosteiro e o do Cruzeiro na Internet347,


distinguindo-o como local a visitar do Concelho de Matosinhos

- A existência de uma placa informativa, no largo da igreja contudo as acções culturais


que se efectuam na freguesia

- As acções na Área Escola local, sobre o Mosteiro348

- O desvio do grande trânsito, passando a ser limitada a circulação junto ao Mosteiro

- A existência de uma carreira de autocarro que termina o circuito em frente à igreja, ao


pé da Junta de Freguesia, ligando-a ao centro da cidade do Porto

- Os espaços ajardinados circundantes ao monumento serem uma preocupação da


Câmara local, existindo um contrato de manutenção com um horto349

346 Os brindes ou lembranças desta empresa oferecidos aos seus clientes, têm na maioria dos casos como
temática o Mosteiro. Consideramos oportuno juntar algumas reproduções em anexo; contudo não foi possível
reproduzir o puzle em cerâmica de azulejos, pintados à mão, ficando apenas a nota.
347 Trata-se de uma informação resumida e concelhia de "Locais a Visitar". Enderesso:
http://sweet.ua.pt/~RuiMelo/Matosinhos/avisitar.html
348 Informação dada pelo Dr. Pedro Gradim (Pe) que lecciona naquela Escola. O artigo de uma destas
experiências encontra-se disponível na B.P.M.M.
117

- A existência de estruturas sanitárias subterrâneas no jardim lateral Norte da igreja

- Os factos de:

• as duas Quintas, a do Souto e a do Mosteiro continuarem a ser


exploradas em termos agrícolas

• a Quinta do Mosteiro ser habitada e ter acções de reabilitação

• serem efectuadas algumas acções de valorização350

- O crescimento urbano, embora sem qualquer traça de enquadramento paisagístico,


ainda se estender apenas na encosta de Santana

- O facto de algumas das empresas industriais circunvizinhas investirem na área da


protecção ambiental351.

 Pontos Fracos

São de destacar:

- A falta de sensibilização e informação a diversos níveis:

• não há placas informativas da existência e/ou localização deste monumento, quer a


nível local352, concelhio, distrital ou nacional

349 Segundo comunicado daquela Câmara, os investimentos na área paisagística (jardim da igreja) entre 1983 e
1993, eram de cerca de 300 mil contos, in Jornal de Notícias de 29/10/1993, p. 8. A empresa de jardinagem
chama-se Vibeiras e é de Viseu. Segundo informação verbal de um funcionário sub-contratado por esta empresa,
principalmente no Verão, o jardim é regado todos os dias e uma vez por semana é feita a manutenção da flora,
quando ali se desloca um superior da mencionada empresa.
350 Segundo informação de um dos proprietários, as duas salas térreas são alugadas, pontualmente, para
casamentos ou outras acções similares desde 1985/86; Foto 119 a 121.
351 O caso que melhor conhecemos é o da indústria alimentar, particularmente a UNICER que tem feito elevados
investimentos nesta área. Entre 1990 e 1995 o valor investido na área do ambiente no Grupo (Leça do Balio e as
fábricas no Sul do País) era de 29 milhões de contos, in MEISTER, Patrícia e MONTEIRO, Alexandra -
UNICER, Auto-suficiência Energética, Revista Ambiente nº 2, Edição AIP, Porto, Setº/Outº de 1995, s/p.
Algumas das outras indústrias que se encontram na área, sabemos que pelo menos que têm Diagnósticos
Ambientais efectuados e cumprem alguma da legislação, quanto mais não seja as Empresas Certificadas. São
também de considerar as plantações de árvores que essas empresas fizeram à volta do seu limite Industrial e que
de uma forma geral são espécies que têm história na paisagem (Veja-se o caso da Fábrica de Sedas Lionesa e a
UNICER).
352 A placa que se encontrava há uns tempos na Via Norte desapareceu, quem vier pela Ponte da Pedra também
não tem qualquer tipo de sinalização aluziva ao monumento.
118

• não encontramos qualquer forma, no sentido, de "informar para proteger", seja em


termos do conjunto cultural, ou do arquitetónico ou de protecção à natureza,

• o monumento não tem "B.I.", ou seja, não existe uma informação no local que diga
pelo menos a data da sua construção ou uma pequena biografia do monumento353
no exterior da igreja ou um simples folheto de orientação ao visitante

• não há um funcionário qualificado354 que oriente as visitas

• não há qualquer tipo de informação no local, de sensibilização, de divulgação ou


de protecção ao Património Natural que ali se encontra - quanto à classificação das
espécies animais ou vegetais

- No que respeita a questões ecológicas, tal como a maioria das empresas portuguesas, as
locais não cumprem ainda as exigências das Normas de protecção ao ambiente da
União Europeia - a degradação dos ecossistemas é notória

- O rio Leça é parte integrante do conjunto e o ecossistema rio praticamente não existe

- O espaço circundante ao monumento: o que o separa da Quinta do Mosteiro, as bermas


da nova cintura que desviou o trânsito e as da Via Norte (antiga Mata da Devesa), são
autênticos depósitos de lixo

- Não existe a segurança necessária, especialmente à noite355

- Não existem infraestruturas de apoio ao Turismo

- O espólio arqueológico que se encontra disperso pelo adro da igreja ou na quinta do


Mosteiro não está inventariado nem classificado. O mesmo deve acontecer ao espólio
artístico que foi retirado dos altares356

353 Como podemos verificar em muitos monumentos da Europa.


354 O funcionário que ali se encontra, com o devido respeito, é um sacristão. Neste Verão, nem tinha a situação
legalizada, em termos contratuais com a SEC.
355 Embora o edifício esteja iluminado, não é o suficiente. O páraco já alertou as devidas autoridades para esta
problemática, contudo continua a não haver policiamento ou qualquer tipo de vigilância. Estando a população
local em vias de o fazer.
356 As Memórias Paroquias enumeram uma série de imagens iconográficas.
119

- O Conjunto Cultural não está a ser rendibilizado, em termos de gestão do património.

2. PROPOSTA DE VALORIZAÇÃO

A actual Proposta visa apresentar um ou mais Projectos de Gestão do Património, que

procurem atacar as causas que estão na origem dos pontos fracos identificados e potenciar as

competências distintivas que fundamentam os pontos fortes reconhecidos. Dizemos um ou

mais projectos, tendo em conta as diversas entidades de foro público e privado envolvidadas e
a sensibilização da própria população, pelo que se tratará de um Projecto cooperativo, a passar

por diversas fases de planificação com a participação de várias entidades e tendo em vista a

protecção, conservação e rendibilização deste Conjunto Cultural.


Há a considerar a necessidade de interdisciplinariedade no estudo das diversas

vertentes do Património, o que implica a coordenação da planificação e a criação de

Programa(s) de Gestão, a efectuar posteriormente que garantam a correcção dos Pontos Fracos

encontrados e a potenciação dos Pontos Fortes, conforme exposto no Diagnóstico.


Para a concretização dos objectivos apontados e numa perspectiva de acções paralelas

e/ou conjuntas, a nossa Proposta de Valorização deste Património segmenta-se em duas

etapas:

 Primeira fase

1. Proceder a uma rápida acção de vigilância e segurança, que eliminará, à partida, uma
série de problemas ao Monumento e à população local357

357 Referimo-nos por exemplo ao consumo de droga, cujos vestígios se encontram no exterior da cabeceira da
igreja e à prostituição na perifería das estradas.
120

2. Em paralelo ao ponto anterior, elaborar um rápido e pré-plano de sensibilização,

informação e sinalização dos vários patrimónios que ali se encontram, das


problemáticas ecológicas e ambientais. Nesta primeira fase a nível local, concelhos

limítrofes e distrital.

3. Em simultâneo com os pontos anteriores e com o Projecto de Despoluição do Rio

Leça, proceder a um rápido plano de limpeza às zonas de "lixeira e entulho", fazendo

vigorar a legislação e respectivas penalizações que esta prevê (acções conjuntas a nível

concelhio e estatal)

 Segunda fase

1. Proceder à inventariação, catalogação e classificação dos vários patrimónios,

especialmente do natural, do arqueológico e do artístico e publicar os resultados tendo

em vista o slogan "informar para proteger"358

2. Pôr em prática uma campanha de conscencialização, informação, divulgação e

atracção de âmbito nacional que vise o Património Cultural Português em geral e, em

particular, o Classificado. Esta acção tería como intervenientes diversas entidades,


nomeadamente as Instituições Estatais359, as Câmaras, através dos Postos de Turismo e
as Agências de Viagens. Marketing e Publicidade estudariam e divulgariam planos de

circuitos turísticos, colocação de placards iconográficos nas vias de comunicação mais

movimentadas da região, ilustrativos e informativos360. No caso em estudo, essas

358 Este slogan é o título de uma Revista do IPPAR, cuja imagem da capa se encontra na Internet.
359 Refiram-se algumas das instituições estatais: a S.E.C., a D.G.T., a D.G.R.N, a D.G.A., o I.N.C.N, o IPPAR
e a D.G.V. entre outras.
360 Como por exemplo: "está a X km's do Mosteiro de Leça do Balio" , ou "a X km's da casa-mãe dos
Cavaleiros Hospitalários em Portugal" Visite-nos! ou "Visite o Vale do Rio Leça e a sua Igreja-Fortaleza do
Século XIV", etc.
121

imagens, como forma de convite, poderiam ser alusivas ao Mosteiro, aos Monges, às

espécies da flora e da fauna local361. Este projecto de âmbito nacional poderia,


eventualmente, ser utilizado numa campanha pontual de Marketing no estrangeiro com

vista a atrair determinado tipo de turismo.

3. Criar um mínimo de infraestruturas para apoio ao Turismo, que arquitectonicamente

não choquem com o conjunto. Um pequeno quiosque362, uma estrutura hoteleira, onde
o turista sinta um ambiente acolhedor e original, possa tomar um chá, comer um

petisco da região363. Numa perspectiva mais abrangente do Conjunto, seriam criadas

outras infraestruturas na Quinta do Mosteiro: espaços destinados a exposições,

temáticas ou não, condizentes com os períodos Medievais e ambientes social que se

viveram no primeiro andar dos Paços dos Balios364; espaços para reconstituições de

acontecimentos históricos365. Estas e outras acções funcionariam como polos de


atracção e complementares às já mencionados. Em complemento poderia a Quinta do

Souto ser reabilitada por turismo rural

4. Após a entrada em funcionamento das acções prescritas nos pontos anteriores e


beneficiando o Monumento de um protocolo de conservação e restauro seria de

considerar a recuperação das salas da torre da igreja, no sentido de musealização,

361 Refira-se que a ilustração da flora e da fauna local, nesta forma de divulgação, só se justifica depois das
espécies estarem, devidamente, classificadas localmente. Aproveitamos o ensejo e a título de exemplo veja-se o
que acontece em outros países da Europa Comunitária; existem centenas de Kilómetros de Florestas protegidas,
classificadas, com vias de acesso ao seu interior, com informação do tipo de árvores e dos eventos que se
realizam sazonalmente, ao longo das estradas. Um destes exemplos encontra-se entre a fronteira Espanha/França
em direcção a Bordéus (aproximadante 200 Km's).
362 Que funcionará como posto de depósito, venda e distribuição. Destacamos produtos como: publicaçõs da
Imprensa; uma pequena biografia do Mosteiro, Mapas e Postais Etnográficos da região, Programas de
informação, permanentes ou sazonais; de eventos, culturais ou não, em Leça do Balio, no concelho, no distrito
e no país, consoante a tipologia da acção e do documento.
363 A intenção deste tipo de estrutura de apoio é para um determinado tipo de turismo - "seleccionado" e não o
turismo de "massas". Para este efeito poderia ser reabilitada a casa a que chamam hoje dos "Balios" (Foto nº )
364 Um dos exemplos é uma exposição de pintura retratista de todos os Resi Portugueses que ali se instalaram.
Outro, seria sobre os Grão-Mestres Portugueses da Ordem de Malta ou ainda dos Monges Cavaleiros que mais se
destacaram.
365 Lembramo-nos de um caso, a título de exemplo o casamento de D. Fernando e D. Leonor Teles.
122

permanente ou temporária, com o espólio do Conjunto Cultural - artístico e algum do

arqueológico que se encontra disperso. Outra opção, seriam são as exposições de arte.
O preço das visitas sería estípulado consoante a tipologia do programa e fins das

exposições.

5. Reabilitar e rendibilizar o espaço arquitectónico da igreja, sem interferência no culto.

Com a implementação das acções até aqui referidas é lícito antever uma maior

ocorrência na efectuação de cerimónias religiosas, nomeadamente casamentos e

baptizados366 e um aumento no número de turistas. Faria, então, sentido criar formas


"simpáticas"367 para que cada um contribuisse para a conservação deste monumento. O
no aumento de cerimónias no âmbito de formalidades sociais e culturais368,

eclesiásticas e estatais, a criação de concertos de música clássica, cânticos gregorianos,

etc., a criação de determinados documentos - um folheto tipo guia de visita ao interior,


postais ilustrados369, desdobráveis temáticos e gerais, uma pequena brochura

biográfica do monumento e/ou da Ordem de Malta - seriam outras formas de

divulgação do Monumento, com proveitos capazes de cobrir os seus custos. Admite-se

mesmo que os proveitos referidos pudessem garantir no mínimo, a colocação de um


"técnico" qualificado, no local, capaz de orientar o turista e cativá-lo a voltar.

Por incluir diversas entidades, a presente Proposta não contempla determinados aspectos,
implícitos em Projectos de Gestão do Património, como: as metodologias, definição de

366 Que, em maior quantidade, serão também "eles" uma forma de marketing.
367 Colocar objectos condizentes com o espaço e em local estratégico (onde o visitante vá de certeza e veja esses
objectos e o apêlo) de forma a que o turista possa colocar uma contribuição monetária sem "notar" que está a
dar, mas ficando a ideia de que contribuiu para a conservação do monumneto que visitou.
368 Como a assinatura do protocolo de 1993; Foto 127.
369 Salientamos que quando nos referimos a Postais ilustrados, a diversidade da temática a efectuar é imensa e
passará pela flora e fauna local, pelo conjunto arquitectónico e natural (como se pode observar em algumas das
imagens em anexo), pela iconografia dos cavaleiros da Ordem de Malta, etc, etc., além dos tradicionais temas da
arquitectura da igreja e pormenores que já conhcemos; Doc. 4 e 5.
123

Equipa(s) do(s) Projecto(s), o cálculo de Orçamentos, etc., podendo-se considerar

basicamente uma Proposta de Ideia.

Não obstante, em termos de planemeamento, calcula-se que as acções mencionadas a

empreender deveriam ter a seguinte duração:

 As Acções da primeira fase, deveriam desenvolver-se num período máximo de 6 meses.

 As Acções 1 a 5 da segunda fase, podendo algumas decorrer em simultâneo, desde que em


projectos separados (a nível hierárquico ou de entidade realizadora), mas cooperativos para

que resultem, e prevendo-se o constrangimento na execução de determinadas burocracias e

o timing de respostas, calcula-se que se prolongariam por cerca de 48 meses de calendário.

Leça do Balio, 29 de Novembro de 1996.


124

CONCLUSÕES

Terminado este nosso estudo, deveremos apresentar, em síntese, as conclusões a que

chegamos, após a análise do Património Natural do - Mosteiro de Santa Maria de Leça do

Balio, classificado de Monumento Nacional, o qual foi o nosso ponto de partida. No sentido
de melhor o compreendermos, procedemos a um breve esboço histórico que nos transportou

para as possíveis origens do espaço físico, social e localização geográfica em que terá surgido

o primitivo cenóbio de S. Salvador do Mundo, dando-nos a percepção das evoluções

administrativa das Ordens Religiosas e Militares das alterações arquitectónicas e dos


topónimos que consideramos mais significativos.
Como dissemos no início, o tema por nós escolhido foi uma das vertentes do

Património Cultural - o Património Natural. Apercebemo-nos, contudo, que não era possível

analisar esta "parte" sem conhecermos a interdisciplinariedade das diversas áreas do estudo
das heranças que os nossos antepassados nos legaram. Recorremos então ao fundo Monástico

deste Mosteiro e a outras fontes que nos ajudaram a compreender a História das Paisagens que

ali existiam e as que agora ali se encontram. Dada a riqueza e diversidade das espécies e do

espaço, no tempo, pensamos ter conseguido um inventário referencial do Património Natural


envolvente deste Mosteiro, relacionando-o com os vestígios existentes, com a sociedade e

particularmente, com as artes. Recordemos que abordamos a identificação, "datação",

descrição e classificação das espécies vegetais e animais, a sua importância na preservação do


equilibrio natural dos ecossistemas e da economia dos países, a diversidade de árvores que ali

foram semeadas, plantadas e replantadas sucessivamente.

Pela inexistência de obras de referência historiográfica nesta área - do património

natural - do local, parece-nos termos conseguido reunir um conjunto de informação flora e da


fauna e do ambiente, no fundo, da naturêza.
Trabalhamos também, no sentido de propôr a reabilitação e valorização do Vale de

Leça do Balio, particularmente do Monumento Classificado, ao analisarmos aspectos


125

positivos e negativos, propondo correcções dos mesmos e uma lista de acções práticas que

gostariamos de ver concretizadas. Que poderão proporcionar uma base de trabalho para
estudos neste âmbito.

Seria gratificante se o presente trabalho também pudesse constituir um alerta para a

problemática ecológica e para a necessidade da tomada de medidas de preservação das


espécies animais e vegetais.

Leça do Balio, 25 de Novembro de 1996.


126

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Mário de Fiuza, Liv. Civilização, Porto, 1984
134

Outras Fontes:

A.N./T.T. Além Douro, Lº 4, fls 60-60 v.


A.N./T.T. - Gaveta 6, m. único, n. 29.
A.N./T.T. - Notas do Livro dos Herdamentos de Leça, fl. 5, n. 11, fl. 9, n. 1 e fl. 16 n. 254
"A.D. 1112-1128 (governo de D. Teresa)"

Arquivo Distrital do Porto:


Monástica do Convento de Santa Maria de Leça do Balio

Cartório da Comenda de Leça do Convento de Santa Maria da Baliagem de Leça, Livro de


Vedorias nº 48 [1816, 1818, 1828], Prazos da Baliage nº 43, Baliagem 40
Index Histórico e Diplomático do Cartorio de Leça (1814)
Livro de Prazos da Baliagem nº 38 (1548 a 1765)
Livro de Prazos da Baliagem nº 43, Baliagem 40, Livro 48 (1816 a 1828)
Livro Mostrador da Fazenda da Baliagem, 1º , (1811)

DMP - Portugaliae Monumenta Historica


DMP, Régios, I, ref. 24 e doc. 260
Liv.º Preto da Sé de Coimbra:
Livro Preto p. 78; 78 v
Livro Preto, doc. nº 3, p. 80
Livro Preto, p. 84 v.
Livro Preto, p. 94 v
DC 192

Actas de Vereações da Câmara Municipal do Concelho de Leça do Balio


Livro de óbitos da igreja matriz de Leça do Balio.
Livro dos Capítulos do Arquivo Parochial
Memórias Paroquiais de Leça do Balio, 1758, (Tomo XX, nº 82, págs. 601 a 634).

Documentos Avulsos:

Doc. Avulsos «Reservados» da B.P.M.P


Documentos manuscritos que recebemos da UNICER
135

Legislação:

Monumentos:

Decreto Lei de 16-06-1910


Z.P.-D.G., 2ª Série, Nº 24, DE 29-1-1958
Decreto nº 28.468 de 15 de Fevereiro de 1938
Decretos Lei de 3 de Outubro de 1833 e 21 de Março de 1835

Ambiente:

DL 186/90 (D.R. 38/90) - Lei 11/87; DL 74/90 (Lei da Qualidade da água); DL 70/90
(Sanções);
DL 46/94 (Licenciamentos da indústria)
DL 352/90 (protecção e controlo do ar)
DL 310/95 (Tratamento e eliminação dos resíduos ..., proibe o abandono do lixo)
Portaria 286/93 (limites de poluentes emitidos pela indústria)

Imprensa Escrita:

A Capital de 30/10/1993
Jornal de Matosinhos de 5/11/1993
Jornal de Notícias de 29/10/1993
Jornal de Notícias de 30/10/1993
Jornal de Notícias nº 81 de 21/08/86 (Convento da Falperra)
O Comércio do Porto de 30/10/1993
O Correio da Manhã de 29/10/1993
O Correio da Manhã de 30/10/1993
O Dia de 30/1071993
O Diário Económico de 25/10/1993
O Jornal de Notícias de 29/10/1993
O Primeiro de Janeiro de 30/10/1993
O Público de 24/10/1993.
136

O Público de 30/10/1993
Vida Económica de 30/10/1993
Vida Económica de 6/11/1993
Vida Económica de 5/01/1996, BASTOS, João Pereira - "O papel da floresta e a floresta do
papel";
CONNOR, Steve (Correspondente de Ciência para o «Sunday Times»), "Guerras da Água" .
Vida Económica nº 660, 1996 (Turismo e Sociedade)
Revista a Indústria do Norte, Outº 1995 (recuperação do castelo de Vila da Feira)
Revista a Indústria do Norte, Outº 1996 (O mecenato no Palácio Nacional da Ajuda)
Catálogos da VII (1993) e VIII (1994) Exposição do Património Cultural (I.E.F.P.)
137

MAPAS, QUADROS, GRÁFICOS, GRAVURAS, FOTOGRAFIAS, PLANTAS E


DOCUMENTOS

MAPAS

1. Localização do Couto de Leça do Balio nos finais do Séc. XVIII


2. Localização do Concelho de Matosinhos
3. Localização de Leça do Balio no Concelho de Matosinhos
4. A Localização dos Mosteiros Portugueses nos Séculos IX a XII
5. A Localização de Terras e Julgados, a Norte do Douro, em 1258
6. A Localização de Estradas, Castelos, Solares e Mosteiros de Entre Douro
e Minho nos Séculos XI a XIV
7. Relevo de Leça do Balio e do Concelho
8. Geologia de Leça do Balio e do Concelho

QUADROS (no texto)

1. Distribuição Geográfica da Floresta no País em 1992


2. Cobertura Florestal do Distrito do Porto em 1992
3. Geologia de Leça do Balio
138

GRÁFICOS (no texto)

1. Distribuição Geográfica da Floresta no País em 1992


2. Superfície Florestada em Portugal, por espécies
3. Cobertura Florestal do Distrito do Porto em 1992
4. Cobertura Florestada de outras espécies no mesmo Distrito

GRAVURAS

1. Perspectiva Norte, Fachada Principal do Mosteiro [1852]


2. Perspectiva Sul e a sua envolvência natural [1852]
3. Perspectiva Nascente do Mosteiro [1852]
4. A fachada Norte do Mosteiro em [1886]
5. Pia Baptismal - Sec. XVI [1852]
6. A mesma Pia Baptismal aos olhos de Alberto Nogueira da Silva [1886]
7. O Cruzeiro visto em [1852]
8. A Ponte do rio Leça na estrada Porto/Braga [1886] em madeira

FOTOGRAFIAS

1. Perspectiva Aérea, Mosteiro de Leça do Balio


2. Janela geminada na arcada da Quinta do Mosteiro
3. Porta da Sala do Capítulo da Quinta do Mosteiro
4. Vista de Sudeste da Igreja-fortaleza
5. Fachada sul do Mosteiro, Leça do Balio
6. Fachada norte do Mosteiro, Leça do Balio
7. e 8, 10 à 46. Obras da D.G.E.M.N. em 1926 (antes e depois)
47. As construções a sul, construidas por Ezequiel de Campos [efectuadas]
48. Fachada a Nascente dos Paços dos Balios, o Pomar e a Horta
49. Uma lavadeira do rio Leça e a flora deste ecossistema
50. A poluição do rio Leça
139

51. A alteração da flora do rio Leça devido à poluição


52. Castanheiros na Quinta do Souto; localização actual do Cruzeiro
53. Castanheiros na margem esquerda do rio Leça que marcam as bermas da Várzea
Antiga
54. A arcada da Quinta do Mosteiro
55. Espaço ajardinado a puente da igreja; carvalho do lado direito
56. Pormenor das folhas do carvalho da Turquia
57. A diferente flora arbórea
58. Os Amieiros
59. O salgueiro e a robínia
60. O antigo pomar
61. Choupo-branco na margem esquerda do rio Leça e o milho da várzea
62. Pormenor do choupo-branco ou Álamo
63. O freixo e o carvalho da Turquia
64. A diversidade de árvores em primeiro plano, em segundo a mata de Santana
65. O predomínio dos eucaliptos a nascente do Mosteiro
66. Outro pormenor da imagem anterior e no mesmo local
67. Os eucaliptos a nascente do Mosteiro
68. Eucaliptos na antiga Devesa da Ordem
69. Arbustos (não identificados) na Mata de Santana
70. A dedaleira
71. Plantas silvestres diversas
72. Feto vulgar do monte misturado com framíneas
73. As gramíneas e uma borboleta-macho
74. (...) e as pombas e rolas pousadas nos telhados
75. Perspectiva sudeste do conjunto
76. Uma perspectiva da entrada e jardim da Quinta do Mosteiro
77. Espécies agrícolas no jardim dos Paços (a sul) e a casa dos caseiros
78. Vista da varanda a nascente dos Paços dos Balios
79. A horta ou antigo pomar, a nascente, dos Paços dos Balios
80. Ciprestes na orla da estrada Santos Lessa
81. Pormenor das pinhas dos mesmos ciprestes
82. Vista da entrada da casa da Paróquia
140

83. Os ciprestes usados como sebe do jardim (a Norte) e um cedro à esquerda


84. O Loendro (...)
85. O tronco do mesmo Loendro
86. Uma magnólia no mesmo jardim
87. A mesma magnólia e perspectiva
88. O tronco da mesma magnólia
89. Trepadeira Vinha Virgem na fachada a puente dos Paços
90. Mistura de espécies trepadeiras com catos
91. A Japoneira
92. A Nogueira
93. Pormenores do tronco da Nogueira
94. Nogueiras de outra espécie
95. Uma das Macieiras no pomar da Quinta do Mosteiro
96. Outra Macieira no antigo pequeno pomar dos Paços
97. Quinta do Souto
98. Quinta do Mosteiro
99. Vista de nascente
100. No mesmo pomar, a ameixoeira... e os cedros da Lionesa
101. Fachada Norte dos Paços dos Balios
102. Cabeceira da igreja de Santa Maria de Leça do Balio
103. Fachada principal do Mosteiro
104. O frontespício, em grande plano
105. Uma perspectiva do interior da igreja
106. Grande plano exterior da Rosácea
107. O aspecto da fachada principal
108. Pormenores iconográficos do Portal Principal
109. A decoração florística dos capiteis de um portal
110. Decoração dos capiteis do interior da igreja
111. Decoração dos capiteis em temas bíblicos
112. Decoração zoomórfica dos capiteis no interior
113. Capiteis decorados com flora na arcada da Quinta do Mosteiro
114. Decoração dos capiteis na entrada da Quinta do Mosteiro
115. Escada e colunelo dos Paços do Balio
141

116. A Pia Baptismal do séc.XVI


117. Cruzeiro, Leça do Balio
118. Outra perspectiva do mesmo Cruzeiro
119. e 120. O ambiente de um cocktail realizado nas salas térreas da Quinta do Mosteiro
121. O ambiente do mesmo cocktail, nos jardins da Quinta do Mosteiro
122. Árvores plantadas pela Unicer
123. "Portugal - Mosteiro de Leça do Balio"
124. Vista de Puente das Clautros do Mosteiro
125. A vista do jardim através de um dos arcos
126. A casa a que chamam hoje dos Balios a norte da igreja
127. Assinatura do Protocolo
128. A Quinta do Souto
129. Algumas das construções feitas por Izequiel de Campos

PLANTAS

1. Planta Topográfica (Matosinhos/Maia), 1/5000


2. Levantamento Aerofotogramétrico de Leça do Balio
3. Localização da Indústria
4. Esboço do Mosteiro em 1844/49
5. Planta do Conjunto Arquitectónico antes das Obras de 1926
6. Planta do Conjunto (detalhada)
7. Passadiços da Igreja
8. Planta Actual da Igreja
9. Planta(s): A - Esboço do Mosteiro em Meados do Séc. XIX, B - Transformações
10. Devesa da Ordem
142

DOCUMENTOS

1. Convento de Santa Clara-a-Velha de Coimbra [1905]


2. Carta de Henrique Kendall [1904]
3. Documento "imaginário" e ilustrativo do Mosteiro
4. Guia do Protocolo de 1993 (SEC, IPPAR e UNICER)
5. Postal de Natal [1993-94] da Unicer
143

ÍNDICE

INTRODUÇÃO............................................................................................................................................... 7

ESBOÇO HISTÓRICO................................................................................................................................. 9

1. CARACTERIZAÇÃO, ORIGENS E EVOLUÇÃO ..................................................................................... 10

1.1. Espaço Físico e Localização Geográfica ..................................................................................... 10


1.2. Espaço Social............................................................................................................................... 12
1.3. Origens......................................................................................................................................... 15
1.4. Evolução Administrativa, Religiosa e Militar .............................................................................. 17
1.4.1. A Administração ......................................................................................................... 17
1.4.2. Os Religiosos Cavaleiros do Hospital de S. João de Jerusalém................................. 22

1.5. Alterações Arquitectónicas, Conservação e Restauros ................................................................ 32


1.6. Toponímia.................................................................................................................................... 36

PATRIMÓNIO NATURAL E TRANSFORMAÇÃO ................................................................................. 40

1. HISTÓRIA E PROBLEMÁTICA ................................................................................................................ 41

2. ANÁLISE GEOMORFOLÓGICA ............................................................................................................... 55

3. GEOLOGIA.................................................................................................................................................. 56

4. HIDROLOGIA ............................................................................................................................................. 58

5. CLIMA ......................................................................................................................................................... 61

6. FLORA E FAUNA NATURAL.................................................................................................................... 62

6.1. Flora Natural................................................................................................................................ 62


6.1.1. Árvores e Arbustos ..................................................................................................... 63
6.1.2. Flores Silvestres.......................................................................................................... 82
6.1.3. Fetos, Musgos, Fungos, Líquens e Algas.................................................................... 85

6.2. Fauna Natural............................................................................................................................... 87


144

6.2.1. Mamíferos................................................................................................................... 88
6.2.2. Aves ........................................................................................................................... 91
6.2.3. Répteis e Anfíbios....................................................................................................... 98
6.2.4. Peixes.......................................................................................................................... 99
6.2.5. Invertebrados .............................................................................................................. 99

7. ESPAÇOS AJARDINADOS ........................................................................................................................ 101

8. EXPLORAÇÃO AGRÍCOLA ...................................................................................................................... 104

A NATUREZA NA ARTE - ICONOGRAFIA ............................................................................................. 111

1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................................................ 112

2. A ICONOGRAFIA DO MOSTEIRO ........................................................................................................... 114

3. A ICONOGRAFIA DAS ARTES MENORES............................................................................................. 115

4. TENTATIVA DE EXPLICAÇÃO SIMBÓLICA......................................................................................... 117

UM ESTUDO NA ACTUALIDADE ............................................................................................................. 120

1. DIAGNÓSTICO ........................................................................................................................................... 121

2. PROPOSTA DE VALORIZAÇÃO .............................................................................................................. 124

CONCLUSÕES............................................................................................................................................... 129

BIBLIOGRAFIA ............................................................................................................................................ 131

MAPAS, QUADROS, GRÁFICOS, GRAVURAS, FOTOGRAFIAS, PLANTAS E


DOCUMENTOS ............................................................................................................................................. 142

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