Patrimonio Natural - Leca Do Balio - Matosinhos
Patrimonio Natural - Leca Do Balio - Matosinhos
Patrimonio Natural - Leca Do Balio - Matosinhos
Histórico,
Cultural e Natural =
Margarida Rebelo,
Universidade Portucalense,
1996
2
INTRODUÇÃO
que, na sua qualidade de orientador, sempre nos dispensou a maior atenção e disponibilidade.
durante estes últimos quatro anos, que sempre se mostraram disponíveis e nos apoiaram.
Aos nossos colegas de curso, com quem trocamos ideias e nos forneceram pistas de pesquiza e
aos colegas da G. Tournier, SA, nomeadamente à Maria Teresa Monteiro e à Drª Cláudia
compromisso académico.
Os nossos agradecimentos também ao Dr. Silvestre do A.D.P. pela orientação que nos
proporcionou. Na disponibilidade e tempo que nos dispensaram um muito obrigado aos Sr.s
Dr.s Raúl Ramos Pinto, Paula Pacheco e Pedro Gradim (Pe). No apoio informático e
tratamento de imagens ao Engº Francisco Magalhães e ao Engº João P. Ferreira. Do mesmo
ESBOÇO HISTÓRICO
4
Souto (largo e rua), (...) este logar pertencia ao de Recarei"1. O espaço, aqui referido, tem
sido descrito das mais variadas formas. Uma prespectiva romancista ao século XIV, da autoria
de Arnaldo Gama, situa o monumento, visto de "uma alta colina, que abraçava, de sul a
poente, um extenso e dilatado vale, dividido em campinas verdejantes e franjadas por copado
um pequeno rio"2. Já um outro autor refere-se à paisagem e ao edíficio como "uma imprevista
Herculano"3; Foto 1.
Geograficamente, este mosteiro, insere-se nas terras da Maia, gozando de localização
estratégica com o Atlântico a Oeste, o rio Leça a Este, o Minho a Norte e o rio Douro a Sul.
Este posicionamento beneficiava o desenvolvimento da comunidade: a agricultura era tanto
Bouças; Mapa 1. Fazia fronteira com Paranhos, Águas Santas, Milheirós, Nogueira, Vermoim,
até à Fábrica de Tecidos Lionesa. A segunda, estende-se pela encosta Sul, é atravessada por
uma Nova Via de circulação que desvia o trânsito do Mosteiro e é limitada pela Rua D. Frei
Cristóvão de Cernache a Oriente e pela Rua Santos Lessa, a Norte. Esta é a antiga estrada
5 TEDIM, José Manuel - Obras e Artistas no Concelho da Maia do Século XVIII (Subsídios para o seu estudo)
in Revista de Ciências Históricas da Universidade Portucalense, Porto, 1986, Vol. I, pp. 289-320.
6 GUIA DE PORTUGAL, FUNDAÇÃO CALOUSTE GULBENKIAN, ENTRE DOURO E MINHO, I
LITORAL DOURO, 2ª Edição, Vol. IV, [s/d], p. 437.
7 À casa e espaço, com aspecto de abandonado, chamam actualmente "Os Balios".
6
principal, que vai da Ponte da Pedra até aos Bombeiros Voluntários desta freguesia, passando
Santana, a passagem de uma das vias de circulação do Norte mais movimentadas (Via Norte)
a Ocidente e de outra a Sul para desviar o trânsito do Mosteiro, bem como a indústria que o
rodeia, alteraram completamente o cenário medieval que a memória histórica nos transmite;
Planta 3.
Douro e Minho, em 868, seguiu-se uma nova organização no Norte de Portugal. Os condes
que apoiavam Afonso III, nomeadamente portucalenses, procediam a acções de presúria e
senhoriais9.
Estes homens, recebiam do rei o direito de exercer o poder nestas terras, podiam ser
categoria ter sido confiada temporariamente uma pequena área. Referimos o conmissus do
8 Os condados em Portugal, eram entidades políticas, mais extensas que as dioceses, que as terras e julgados em
que se subdividiam, in HISTÓRIA DE PORTUGAL, Dir. de José Mattoso, Circulo de Leitores, Lda e Autores,
Lisboa, 1992, Vol. I, p. 469.
9 Ibidem, O.c., p. 466.
10 O significado do termo comes, que surge nos documentos Galegos e Portugueses do século IX e X, significa
que se trata de pessoa com "proximidade ou intimidade com o soberano"; responsáveis de mandationes e
conmissa.O.c., pp. 468-469.
7
por beneficiar quem detinha o poder militar e senhorial, passando a exercê-lo "por conta
própria". Independentemente dos condes, os infações passaram a presidir tribunais regionais,
como parece ter acontecido com os senhores das famílias da Maia, no início do século XI.
com possessões e a própria estratificação, ir-se-ía reflectir a vários níveis, nomeadamente nos
aspectos económicos e sociais13. Embora se tenha tratado de um processo moroso, as
proprietário da época, significava também o domínio dos homens que dela viviam, sendo
muitas vezes estes afastados da acção directa do poder central e unindo-se aos senhores
privilegiados e aos seus interesses14.
Coimbra deslocaram-se para as terras mais pacíficas e já organizadas de Entre Douro e Minho.
verificou-se principalmente nesta última região (Mapa 4 e 5), embora as primeiras fundações
se tenham situado nas margens do rio Ave, a norte do Tâmega e na Terra de Santa Maria16.
Daqui se observa que as próprias características geográficas desta área tiveram extrema
importância: terras fortemente acidentadas, mas protegidas pela barreira natural das altitudes
das serras17- Peneda, Laboreiro, Gerês, Cabreira, Marão, Montemuro e Gralheira;
feudais, como os mosteiros. Estes, detentores de poder regional equiparado aos castelos e
Salvador de Leça - Entre Douro e Minho, mais concretamente num espaço semi-rural, muito
possessões e padroados21.
1.3. Origens
Uma neta destes, Dona Unisco Mendes contrai matrimónio com Trutesendo Osoredes,
homem rico da região e patrono do mosteiro de Leça23 e aparece como padroeira, em 1021, na
doação ao Mosteiro da Vacariça. Embora, esta família seja a mais referida, é a doação Famula
de Deos Vigilia de "18 de Março do anno de 1003", em que diz: "cuja Basilica está fundada
rio Leça (...) e lhe doamos a nossa herdade, que temos em Recaredi ... e damos tudo aos
Presbyteros, Frades, e Freiras, que ahi perseverarem em vida sancta"24 que melhor nos
filho Oseredo e sua filha Patrina do Mosteiro de Leça ao da Vacariça, no ano de 1021. Não
que ali vinham: comer, receber contribuições, dotes, pitanças, etc, fazendo com que se
ressentisse economicamente. Terá sido no sentido de resolver estes problemas que, Dona
Unisco e seus filhos, tiraram o padroado dos Mosteiros de Leça, Vermoim, Anta e seus
cidade, por esta se encontrar em situação de pobreza. A doação incluia todas as suas
pertenças, eclesiásticas e locais, levando o Mosteiro de Leça a ficar unido àquele Cabido,
embora conservando a sua comunidade28. Esta dependência administrativa e religiosa não terá
facilitado a vida dos monges de Leça, dado que os Hospitaleiros o recebem em ruínas e sem
monges.
1.4.1. A Administração
melhorar.
Cerca de um século depois, é entregue à Ordem dos cavaleiros de S. João de
Jerusalém, ficando estes seus proprietários até ao primeiro quartel do século XIX, altura em
Deste resumo não transparece toda uma série de acontecimentos que se detalham
adiante e referentes à Administração do mosteiro.
parece ter pertencido à Ordem de S. Bento, pelo menos a partir de 1021 data em que passou a
e respectivo mosteiro. Pensa-se que, devido à irrupção dos Árabes às terras de Coimbra, este
Abade não veio logo para Leça, pelo que D. Osoredo o continuou a governar. Só num
Cinco anos depois, o Monge Frei Pedro e o Presbytero Randulfo fizeram a sua
profissão nas mãos do Abbade Tudegildo32, altura em que aquele Prelado, "senhor de Leça,
29 Ibidem, p. 19.
30 Chamavam-se assim por albergarem freiras e frades. Ibidem, O. c., p. 12.
31 Ibidem, O. c., p. 19
32 Livro Preto, doc. nº 3, p. 80, in BARBOZA, António - Ibidem, O. c., p. 21
12
Vermoim33, e Anta fez prazo ou doação d'esses Mosteiros e suas pertenças, cuja maior parte
nomêa, a Florite, ou Florido, Prior da Vacariça, tratando dos Prelados de Leça, e tambem a
Pedro, e Randulfo"34.
José Mattoso, sobre este assunto, remete-nos para o documento DC 342, considerando-
Assim, nesta mesma data, o Abade Tudegildo deixa36 aqueles mosteiros a Frei Pedro,
ao Presbytero Electo, ao Presbytero Randulfo, ao Abade Tudiulfo, ao Presbytero Arias e a
Lueido. E definiu sucessões: após a sua morte governaria como patrono aqueles mosteiros o
Presbytero Randulfo e a este sucederia o Presbytero Electo. A doação foi também assinada
Fernando39.
segundo metade das rendas de Leça, para que possa fazer algumas obras, continuando, no
em 1095", feita pelo "Presbytero Gonçalo, filho d'Arão" a Leça, mencionando "que é para
d'algum modo remediar a inopia, e socorrer os Clerigos, que moram n'esse logar, pela
instituição canónica, segundo o arbitrio do Bispo"41, Velho Barboza é da opinião de que não
haviam monges nessa altura em Leça, mas apenas Clérigos, sendo o Bispo que os fazia
guardar a regra do patriarca deste autor - S. Bento e que só em 1103 terá surgido um novo
Abade, em Leça - Roderigo - e, como tal, novamente monges42.
Durante o segundo decénio do século XII, o Mosteiro terá passado a reger-se pelos
canônes da Ordem Religiosa de S. João de Jerusalém, que chegada a Portugal se foi instalar na
primitiva casa-mãe de Leça - Mosteiro de S. Salvador, onde permaneceu até ao século XIX43.
No entanto, durante toda a Idade Média, os conflitos entre regiões vizinhas eram
frequentes. Os procuradores do Porto, no reinado de D. João I, queixavam-se a este rei das
usurpações dos senhores da urbe45. Tal como acontecia com muitos outros coutos, também o
de Leça necessitava de um foral que definisse com clareza a pauta fiscal a aplicar nas terras,
sem que ferisse a sua imunidade de couto. Nessse sentido, mais tarde, D. Manuel outorgou o
Foral do Couto de Leça da Ordem de Sam Johã dado per Inquiriçooes, em Évora, a 3 de
o Mosteiro de Nossa Senhora de Leça e Couto que tem o cível pertencia ao julgado da Maia,
tal como as freguesias de: "Perafita, Lavra, Gatões, S. Thiago do dito Couto, S. Mamede do
Esta terra, à semelhança de muitas outras, travou uma luta pela sua independência
administrativa e jurisdicional, principalmente com os concelhos limítrofes, nomeadamente
com o Porto48. Exemplo disso são as Actas de Vereação da Câmara de Leça onde se lê que a
Câmara do Porto solicita ao governo, que este couto "seja obrigado a obedecer-lhe, visto ter
jurisdicção sobre este e outros julgados"49. Ao que a Câmara de Leça responde : "em sessão
de 1 de Julho de 1825 que este couto de Leça do Balio é diverso e inteiramente separado da
cidade do Porto, e pertence à sagrada religião de Malta, no qual ha um juiz ordinario que
conhece de todo o civel e orphãos, camara com todas as suas atribuições, vereadores,
sello, capitão-mor das ordenanças da baliagem (...) cujas justiças se governam com toda a
independencia da Ill.ma camara do Porto, em vista dos privilégios que os Snrs. Reis lhe
concederam em 6-12-1638"50.
Durante dois séculos, até 1836, data em que foi incorporada na Câmara de Bouças, o
couto de Leça do Balio pertenceu ao extenso concelho da Maia, era Julgado e teve Câmara
Municipal, conforme citação supra. Estavam-lhe atribuídas três freguesias: Leça, S. Mamede
de Infesta ou Ermida e Custoias; Planta 1. Os Paços do Concelho e a sala de audiências
Maria de Lessa era igreja matriz, tendo adstritas as freguesias atrás mencionadas, Sam Miguel
de Barrejros e Sam Faustino de Guejfães na Maya e no Porto as igrejas do Salvador de
Godim, Sam Martinho de Aldoar e Santa Crestina de Cornes. A administração espiritual era
desde longa data da responsabilidade dos Menistros da Sagrada Religiam de Sam Joam
Ajerusalem, não dependendo portanto de nenhuma Diocese, Bispo ou Arcebispo.
48 MORENO, Humberto Carlos Baquero - Os Municípios Portugueses nos séculos XII a XVI. Estudo de
História, Lisboa, Edições Presença, 1986
49 FARIA, F. Fernando - O. c., pp. 265
50 Actas das Vereações da Câmara Municipal do Concelho de Leça do Balio. Ibidem, O. c., p. 265-266,
51 Até 1836, data em que dissolveram os pequenos concelhos nos grandes, segundo a Lei de 1 de Janeiro de
1831 e os Decretos de 3 de Outubro de 1833 e de 21 de Março de 1835 in FARIA, F. Fernando - O. c., p. 265.;
Memórias Paroquiais, 1758, in FELGUEIRAS, Guilherme - O. c., p. 790
15
Nesta data, quem usufruia da isenção destas, bem como de todas as Comendas no
Distrito do Porto, ero o Prelado, Provizor e Vigário Geral da Ordem de Malta - Doutor
António de Souza Perejra.
sucedendo o Abade António do Carmo Velho Barbosa52. Em 1859 foi eleito vogal eclesiástico
António dos Santos Lessa, que em 1875 passou a exercer o de Vigário da vara ou Arcypreste,
Abade de Leça do Balio53. Em 1899 era sede da Vigaría do 1º Distrito da Maia, tendo a cargo
um vasto território, 19 freguesias, em termos de fiscalização do registo paroquial54.
Maria de Leça e cerca de 1741 surge a Senhora da Assumpção até pelo menos 1758, como
as ordens religiosas. No caso de Leça, a igreja ficou para o público como matriz, os passaes58
52 Trata-se do autor da obra "Memória Historica do Mosteiro de Leça ..." , por nós várias vezes citada in FARIA,
F. Fernando - O. c., p. 269.
53 Ibidem, O. c., p. 268, (vid. nota 1).
54 O registo paroquial foi começado a organizar em 1860, embora a legislação de 1863 o tenha aperfeiçoado,
Ibidem, O. c., p. 270.
55 Em 1035 era assim referido; Livro Preto, p. 94 v, in BARBOZA, António - O. c., p. 8.
56 Ibidem, O. c., p. 9. O fundador da actual igreja foi o Prior Frei D. Estevão Vasques Pimentel, que Arnaldo
Gama enalteceu no seu romance "o Balio de Leça".
57 Livro dos Capítulos do Arquivo Parochial in FARIA, F. Fernando Godinho de - O. c., p. 253.
58 Ibidem, O. c., p. 254
16
dos três credos. Com vista a recolher cristãos, judeus ou muçulmanos, pagadores de
promessas, surgiu naquela cidade da Palestina, uma casa religiosa - igreja e mosteiro, sobre a
regra de S. Bento, em 104859.
As origens da Ordem que estes cavaleiros formaram, e embora não pareça ter usado o
secretismo que a sua congénere - Ordem dos Templários - criticava, são controversas60. Não
obstante a informação da edificação da suposta casa primitiva, a referência seguinte é já de
1104, data em que terá sido edificado um Hospital que em breve se arruinou. Supõe-se que em
sua substituição, tenham sido edificados dois mosteiros: um feminino e outro masculino. O
dois Hospitais nas terras de Sancta Maria a Latina. O dos homens, teve como primeira
invocação S. João - o Esmoler e, S. João Baptista, posteriormente. Por indicação do Abade de
do novo Hospital de homens. Com a sua chefia, os monges beneditinos, embuidos do espírito
de cruzada, pegavam nas armas para defenderem os peregrinos dos salteadores62, começando
O apoio e protecção dos Príncipes Cruzados, permitiu a Gerardo e seus homens irem-
Ordem, através da Bula do Papa Pascoal II, de 15 de Fevereiro de 1113, acabou com essa
sujeição, tomando-os sobre a protecção da Santa Sé Apostólica. Trata-se da primeira Bula que
os monges cavaleiros de Jerusalém obtiveram e, face a esta, organizaram-se na Ordem
Sancto Agostinho63.
Independente de quais tenham sido as suas origens, o Papa que a institucionalizou
A "categoria" que substituiu a de Regente ou Reitor, que Frei Gerardo usava, foi a de
Mestre do Hospital. O primeiro homem a usar este título foi Raymundo do Pui (ou Raymond
de Puy)65 francês, que sucedeu o beatificado Gerardo. As respectivas classes, eram Cavaleiros
da Justiça66 e Capelães67; conventuais e de obediência, que por sua vez ainda se sub-
Cada uma destas, detinha um determinado número de Reinos, onde era presidida por um
Chefe, normalmente designado de Piller da Lingoa de tal. Em 1467, a Ordem tinha então oito
Lingoas: Provença, Alvernia, França, Itália, Espanha, Alemanha, Inglaterra e Castela. Nesta
última, inseria-se o Reino de Castela, Leão e Portugal, cujo Chefe, ou Piller, tomava a
em S. João de Acre em 1194 e até 1291, onde se destacou o Grão-Comendador D. Frei Garcia
Martins de Leça, que morreu em 1300. Com a tomada do Chipre, aí permaneceram até 1306,
seguindo então para Rodes, nome pelo qual a Ordem passou a designar-se. Mas, o ataque dos
turcos de Soleiman, em 1522, obrigou-os a abandonar essas terras. Em 1530, o Imperador
Carlos V doou-lhes as ilhas de Malta, Gozo, Comino e Tripoli, na Barberia, "como perpétuo
feudo nobre, livre e franco", onde se fixaram. A congregação tomou então o nome de S. João
69 Tratava-se de um cargo de "grande importancia, honra, distincção, privilegios, e rendas: entre nós havia o
Priorado do Crato" BARBOZA, António - Ibidem, O. c., p. 32
70 Balio ou Bailio era sinónimo de: "senhor, principe, heroe, nobre (...) alguém em dinhidade, principado ou
senhorio (...) Na religião de Malta havia Balios conventuaes e capitulares: estes assistiam nos capitulos dad
ordem da sua respectiva nação: eram grão-cruzes, e tinham titulo de Senhoria: aquelles eram os primeiros, e
principaes conselheiros da dita ordem. Em Portugal chamaram-se «Balios» os perceptores ou commendadores
das primeiras, e principaes commendas". in CARNEIRO, José Augusto - O. c., p. 79. Bailio ou Balio é um
"magistrado a que os nobres de uma provinvia confiavam a defesa dos seus bens; comendador, nas antigas
Ordens" in 6ª edição do Dicionário da Lingua Portuguesa da Porto Editora, Porto, 1991, p. 199.
71 BARBOZA, António - O. c., p. 33
72 Ibidem; CABEÇA, Custódio - Malta e os Grão=Mestres Portugueses da Ordem de S. João de Jerusalém,
separata da Revista de História e de Arte «Armas e Troféus», Centro Tip. Colonial, Lisboa, 1936, p. 3-5. A partir
daqui sempre que referirmos esta obra, citamo-la apenas da seguinte forma "CABEÇA, Custódio - Malta e os
Grão=Mestres Portugueses da Ordem de S. João de Jerusalém..."; FONSECA, José - O Mosteiro de Leça do
Balio - Cinco Depoimentos..., p. 33
73 Desta Ordem saíram 9 Santos, 2 Papas, 4 cardeais, 2 Marechais de batalha para o exército francês, diplomatas
marinheiros, etc.
19
Francesa não a poupou, retirou-lhe as possessões que ali possuiam, tal como veio a acontecer
em outros países, onde se deram as revoluções liberais. Além disso, em 1798, Bonaparte, não
respeitando a neutralidade desta organização nos conflitos europeus, tomou a Ilha de Malta na
Sobre a data de entrada dos Cavaleiros Hospitalários no nosso país, as opiniões , são
muitas e controversas74. Segundo o registo de Leça75, a data mais provável situa-se entre 1112
e 1116, data do documento em que a Condessa D. Thereza, viuva do conde D. Henrique doa
Leça ao Spital76, sendo Leça do Balio a primeira residência, Cabeça e Casa Conventual da
impressas, diz-nos que o mais antigo e fidedigno para comprovar a entrada destes cavaleiros
em Portugal, é por certo o que Erdman78 menciona como existente no Mosteiro de Santa Cruz
de Coimbra, datado de 1132. Este documento reporta-se a uma doação de Zalama Godins aos
frades crúzios, onde o testador refere que os cónegos compraram os bens doados por aquele ao
74 Não se sabe se vieram a chamado do Conde D. Henrique ou de D. Afonso Henriques ou ainda se por
iniciativa da própria Ordem, no sentido de ajudarem os lusitanos contra os serracenos, como era princípio desta -
combater os infieis. Outros autores inclinam-se para o facto de muitos fidalgos terem ficado ligados à Ordem
quando se alistaram nas Cruzadas, in CAMPO BELLO, Conde de (D. Henrique) - O. c., pp. 22-23. Mas, são
diversos os autores que consideram "obscura" a entrada desta Ordem em Portugal: Gama Barros, Erdmann e o
reeditor da obra de Gama Barros - Prof. Torquato Soares, Pinho Leal, etc., in AZEVEDO, Ruy - Algumas
achegas para o estudo das origens da ordem de S. João do Hospital, depois chamada de Malta, em Portugal
Revista Portuguesa de História, Tomo IV, da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Coimbra, 1949,
p. 322 (nota 15 e 16); Viterbo, Herculano e Gama Barros são da opinião de que estes cavaleiros entraram em
Portugal nos fins do reinado de D. Teresa, sem o comprovarem; Anastácio Figueiredo na Nova Malta dá
explicações controversas; o medievalista Rui de Azevedo, documentando, situa as datas entre 1122 e 1140, in
SERRÃO, Joel - Dicionário da História de Portugal, Livraria Figueirinhas/Porto, 1989, Vol. III, p. 225. Mais
recentemente, José Manuel Salgado Fonseca refere que a data mais provável é entre 1122 e 1130, in "O
Mosteiro de Leça do Balio - Cinco Depoimentos" (policopiado), Porto, 1991, p. 35.
75 Este Registo foi mandado organizar por Frei Diogo de Mello Pereira, Balio de Leça, em meados do século
XVII. Segundo as doações feitas à Ordem do Hospital, ali existentes, a interpretação de F. Faria é de que a
doação de Leça aos cavaleiros do Hospital, por parte de D. Teresa, foi entre 1112 e 1118 in FARIA, F. Fernando
Godinho de - O. c., p. 253; Já António do Carmo Velho Barboza, citando a mesma fonte, diz ter sido entre
1112 e 1116.
76 BARBOZA, António - O. c., p. 34; Notas do Arquivo Nacional Torre do Tombo "A.D. 1112-1128 (governo
de D. Teresa), A Condessa D. Teresa Afonso, mulher do Conde D. Henrique, faz doação do mosteiro de Leça à
ordem do Hospital. A.N.T.T. - Livro dos Herdamentos de Leça, fl. 5, n. 11, fl. 9, n. 1 e fl. 16 n. 254, Obs.: -
Texto perdido. C f. Documentos Medievais Portugueses. Documentos régios, vol. I, T. II, pgs 519." in
FONSECA, José - O. c., p. 103.
77 CAMPO BELLO, Conde de (D. Henrique) - O. c., p. 24
78 ERDMAN, Papsturkuden, e Idea de Cruzada em Portugal, p. 95, in AZEVEDO, Ruy - O. c, pp. 317-327
20
algum tempo, por naquela altura já possuir bens de raiz79. Em relação ao Registo de Leça,
este mesmo autor, é da opinião de que a interpretação paleográfica do documento do acordo
entre o Bispo D. Hugo do Porto e o Prior Martinho do Mosteiro de Leça, feita no sumário
daquele documento, não está correcta. O facto de o sumário mencionar Spital não se deve
interpretar que a ordem interveio na assinatura do acordo80.
Mais recentemente, Salgado Fonseca considerou como ponto assente as datas que
Em nosso parecer, esta opinião não será descabida se nos basearmos nos seguintes
factos: em 1021 o Mosteiro de Leça foi doado ao da Vacariça ainda por um dos padroeiros da
Maia - Dona Unisco Mendes; o governo de Dona Teresa vai de 1112 a 1128; o documento de
Erdman e as observações deste são de 1132; em 1140 D. Afonso renova previlégios ao Couto
de Leça da Ordem do Hospital e que comprovado está ter sido Leça a primeira casa-mãe. No
entanto, já quando da tomada de Évora em 1116, D. Afonso Henriques construiu o Hospital
Em todo o caso, tal como referia o Conde de Campo Bello82 na sua obra, sobre esta
Ordem, a polémica da data da sua entrada em Portugal contínua diversificada, por enquanto,
parece-nos mais correcto considerar apenas o início do século XII, ou seja, entre 1112 a 1130.
Em termos de actividade militar, estes cavaleiros davam apoio aos monarcas, nas lutas
contra o inimigo, tal como as outras ordens. D. Afonso Henriques e muitos outros reis83,
retribuiam-lhes os serviços prestados com vilas e lugares, isenções e privilégios84. A título de
79 Ibidem, O. c, p. 323
80 Ibidem, O. c., p. 324
81 CARNEIRO, José Augusto - O. c., p. 89
82 Cavaleiro de Honra e Devoção da Soberana e Militar Ordem de Malta.
83 A.N.T.T. - Gaveta 6, m. único, n. 29, renovação da carta de couto de Leça e privilégios que D. Afonso
concedera à Ordem do Hospital, em 30 de Março de 1140 in FONSECA, José - O. c., p. 103; os "Privilegios
concedidos e confirmados por el-rei D. João 5º aos cavalleiros da ordem de S. João do Hospital de Jerusalem
de Malta, em 3 de dezembro de 1728" in CARNEIRO, José Augusto - O. c., pp. 89-96.
84 Nas Cartas dos reis D. Afonso Henriques e D. Sancho I; Bulas de Leão X e Benedicto XIII e Ordenações,
Livro 2º Título 25, "As pessoas privilegiadas são todas aquelas que possuem os ditos bens ou se ocupam no
serviço, ou beneficio da Religião, como caseiros, lavradores, serviçaes, vassallos, soldados, e quaesquer
pessoas, por qualquer nome chamadas, ou pagam foros, ou dizimos á mesma Religião; porém, d'estas, só
21
nosso primeiro rei lhes outorgou; a seguir à tomada de Évora, em 1116, receberam em
"agradecimento" o hospital85 que este rei fundou naquela cidade. Em 1128, 1132 e 1139 foram
também várias as doações. Nesta última data, como recompensa da luta contra os mouros em
Santarém, receberam uma das igrejas de São João de Alporão86. Já em 1147, era a igreja de
Curiosa é a oferta de três mil marcos em oiro, de D. Afonso Henriques ao Grão Mestre
da Ordem para sustento de enfermos na casa de Jerusalém, tal era o seu reconhecimento e
confiança87.
Mas, não eram apenas ofertas régias que os freires do Hospital recebiam; aquando da
sua chegada a Portugal, também uma série de famílias particulares abastadas o faziam. Veja-
Paio Paes, a de Diogo Tructozendis e a de Paio Daz e de sua mulher Maria Paes, (...)"88.
Estas dádivas, por certo, deviam-se ao ingresso de elementos das famílias nobres na
influência exercida na Ordem, a ponto de ser eleito Grão Mestre, no princípio do século XIII,
instalavam, obrigando-se desde logo a ajudá-lo nas campanhas e a defender as terras que este
lhes confiava, o que fazia com que o rei sentisse protegidas as suas terras, ao mesmo tempo
aquellas, que se occupam no beneficio da Religiâo a maior parte cada anno, ou moram dentro dos casaes, ou
herdades d'ella, gosam inteiramente do foro Ecclesiastico, e privilegios a ellas concedidos, ainda que leigos, ou
dispensados, que se estendem tambem a todos os seus subjugados, e servos" in CARNEIRO, José Augusto - O.
c., p. 89.
85 Chamado de São Joaninho ou São Joãosinho, aonde mais tarde surgiu o primeiro Convento das Religiosas
Maltezas em Portugal, antes se fixarem em Estremoz. O. c.
86 Uma antiga mesquita muçulmana, in CARNEIRO, José Augusto - O. c., p. 89; José Manuel Salgado - O. c., p.
35 diz que a doação foi em 1147 (?) tal como a de S. Bráz em Lisboa - este refere o ano de 1148 e José Augusto
Carneiro um ano antes (?!) Não cabendo no nosso estudo o aprofundar desta questão, deixamo-la em aberto.
87 CAMPO BELLO, Conde de (D. Henrique) - O. c., pp. 25; 27
88 Ibidem, O. c., p. 25
89 Ibidem, O. c., p. 24; CABEÇA, Custódio - O. c., p. 4
22
que a Ordem ía ganhando poder material e prestígio 90. Dos cavaleiros que governavam a
Ordem - Priores do Hesprital, no tempo do rei D. Afonso Henriques, ressalta D. Frey Ayres
que, em 1157, recebeu daquele alguns desses privilégios91.
Os castelos da Sertã e de Cernache do Bonjardim foram doados em 1174 e 1182 por
D. Sancho I à Ordem. Em 1194 faz-lhes nova doação, desta vez as terras de Guidintesta, perto
do Tejo, onde a Ordem construiu o castelo de Belver para aí funcionar a sua administração e
organização senhorial, deu origem a poderosas abadias, onde vivia um elevado número de
monges93. Segundo as inquirições de 1220, mandadas efectuar por D. Afonso II, a Ordem de
S. João do Hospital era a que possuia mais casais, sendo esta a unidade de mediada
religiosos, 793 pertenciam a Ordens Militares, dos quais 620 eram dos Hospitaleiros,
seguindo-se os Templários com 143 casais94.
Algozo, Penas Roias e Mogadouro, em Trás-os-Montes, doadas por D. Sancho II. Este mesmo
rei, em 1232, entrega-lhes as vastas terras da Flor da Rosa, no Crato, para onde seria
transferida a Sede da Ordem95.
estendia-se pelos vários bispados de Norte a Sul do país, sendo geralmente padroados de
Valdavez96.
Entre os muitos "feitos" que os cavaleiros prestaram à monarquia portuguesa, podemos
Leça do Balio, a Ordem ganhou prestígio, mas breve o perdeu. D. Frei Álvaro Gonçalves
Pereira morre em 1382 e o seu sucessor tem o mesmo fim, em Aljubarrota, mas pelo lado
castelhano.
pessoa de D. Afonso V. Daqui em diante, o prestígio da Ordem foi sendo recuperado: D. João
II torna-se afilhado do Prior do Crato - D. Vasco de Ataíde; D. Manuel e D. João III casam no
mosteiro da Flor da Rosa. Estes acontecimentos contribuiram para que o Priorado do Crato,
no século XVI, fosse considerado um dos mais prestigiados benefícios de Portugal. Também
as doações do Foral de Couto100 de Leça por D. Manuel, em 1519, a das Ilhas de Malta em
1530 pelo Imperador Carlos V e a recuperação do título de Balio para Leça, em 1571101
comprovam essa mesma retoma do prestígio que outrora possuiam.
Muitos foram os homens que por esta Ordem passaram. Só de Grão-Priores contam-se
trinta e cinco102, a maioria dos quais eram famosos varões. Em termos de famílias régias
ligadas à Ordem de Malta, os infantes foram os que mais usaram o título de Grão-Prior, entre
Inicialmente, possuiam o cargo por dez anos sucessivos, dando-lhes no reino as honras de
Conde, entre outras103.
Em 1640, o Priorado do Crato dependia do Grão-Prior de Castela, pelo que houve
dificuldades em nomear um novo prior para o Crato. Castela não aceitava os que eram
nomeados por Portugal e vice-versa. Não obstante esta controvérsia, o português Frei Lopo
Lima, foi nomeado em Malta, vindo a governar na regência de D. Pedro II, a quem sucedeu o
infante D. Francisco104.
Em 1645, o mesmo Balio - Frei Lopo de Lima - era reconhecido por D. João IV, que o
Lango, Acre e os de Negro Ponto. Os poderes espirituais passaram para a Santa Sé107. A partir
dos Reaes Empréstimos. Esta iniciativa foi revogada pela legislação de Janeiro de 1830 que
fazia entregar as comendas à Ordem de S. João. Mas, pelo decreto de 30 de Julho de 1832, a
Junta dos Juros passou a administrar todas as comendas da Ordem de S. João de Jerusalém,
Malta: "(...) lançando um olhar retrospectivo para essa época de fé, de ideal e de valentia,
ninguém por mais calmo e reflectivo que seja, pode deixar de vibrar intensamente ao
recordar a corajem daquela falange, pequena em número mas grande na heroicidade, que
conseguiu sempre manter em respeito o poderio enorme dos infieis. A prosperidade da
Ordem de São João só declinou quando se levantaram contra ela os estados europeus,
107 "O priorado de Portugal comprehendia 18 leguas de comprido, 9 de largo, e 56 de circunferência, com 13
villas, ...". Ibidem, O. c., p. 83.
108 Mais concretamente com a constituição de 1822.Ibidem, O. c., p. 87
109 Ibidem, O. c., p. 88
110 CAMPO BELLO, Conde de (D. Henrique) - O. c., pp. 10; 11
111 Ibidem
26
gótico, renascentista e maneirista, ao mesmo tempo que predomina a arquitectura dos monges
guerreiros.
Em relação às alterações arquitectónicas que se foram verificando, melhor que as
nossas palavras são as imagens que conseguimos reunir e que se juntam. Em relação a datas
112 Entre eles encontrava-se o Embaixador da Ordem nas Ilhas Maurícias - Conde Hervé de Fontmichel, o Balio
Grão Cruz de Obediência - Conde Geraud Marie Michel de Pierredon, in NORONHA, (D.) Marcus de (Subserra)
- A Ordem Soberana de Malta e as Comemorações do VIII Centenário da Bula «Manifestis Probatum», Lisboa,
1983, pp. 7-12.
113 CAMPO BELLO, Conde de (D. Henrique) - O. c., p. 9
114 FONSECA, José - O. c.
27
concretas de alterações e construções, fazemos apenas breves conjunturas, dado não ser
templo, não chegamos a nenhuma data em concreto. A orientação que nos pareceu mais
fidedigna foi a do documento mais antigo, de 1003, onde se pode lêr que "no século X era um
pequeno ermitério ou cenóbio. Que os tempos eram difíceis e de recolhimento"116 - o que
parece comprovar que nesta altura já existia o primeiro edifício e era habitado - donde se
presume que tenha sido construído senão antes, pelo menos, durante o século X.
transicção do século X para o século XI consta ter estado abandonado, devido à instabilidade
provocada pelos assaltos dos árabes e dos normandos. Um pacto ou prazo, de 1091, entre o
metade das rendas de Leça "(...) para que disponha delas no edifício do dito Mosteiro orne a
Igreja, e eleve .. os altares"118, dando a entender que a igreja estava a precisar de obras.
Assim, terá existido uma primeira igreja durante aproximadamente 200 anos,
momento, ainda não se encontraram vestígios que o confirmem e uma segunda igreja, ou
primeira reedificação, feita pelo Abade Gutino em 1091. Os vestígios românicos que restam
nalgumas estruturas, nomeadamente na janela geminada do Claustro e nas salas térreas dos
encontrava uma Ordem Militar - o edifício foi já construido com função dupla, religiosa e
Entre 1598 e 1644, realizaram-se obras a mando do Balio Fr. Luiz Alvares de Távora.
Estas realizaram-se essencialmente nos Paços da Baliagem, onde mandou contruir o andar
superior, com varandas, pátio e escadas123
Em 1810, sabe-se que foram efectuadas outras obras. Neste caso na igreja e da
Na planta que se segue e que datamos do período que medeia entre 1844 e 1849,
pode-se perspectivar toda uma série de alterações: construções, demolições e reedificações
119 Em relação às estruturas mais antigas que se observam na planta de 1844, continua a dúvida se são obra
Beneditina e por isso da primitiva construção ou obra dos Hospitalários depois de para ali terem ido entre 1112 e
1118, in BARBOZA, António - O. c., p.36
120 O Balio Frei Estevão Vasques Pimentel sucedeu D. Fr. Garcia Martins em 1360, pelo que a obra terá sido
mandada construir entre esta data e a data de conclusão - Maio de 1336, in FELGUEIRAS, Guilherme - O. c., p.
794; BARBOZA, António - O. c., p. 9
121 CHICÓ, Mário T. - O. c., p. 115
122 Memórias Paroquiais (1758) in FELGUEIRAS, Guilherme - O. c., p. 794
123 No corrimão das escadas está um brasão semi-apagado sobre a Cruz de Malta. Segundo Velho Barboza o
facto de estar apagado deve ter sido por causa das instruções do rei D. José I que, mandou apagar as armas da
família dos Tavoras in BARBOZA, António - O. c., p. 41. Ao fundo do mesmo corrimão, num colunelo de
granito, encontra-se o brasão dos Coelhos - que ali viveram em quinhentos.
124 Os encarregados das obras eram irmãos deste Balio - Fr. José de Almeida, da Ordem de S. Bernardo e Fr.
José de Santa Rosa e Vasconcelos ex-General da Congregação Beneditina in BARBOZA, António - O. c., p. 25
29
1849-59, 1852 e 1886 verifica-se que já tinha havido algumas alterações em relação à planta
que atrás apresentamos; Fotos 5 e 6, Gravuras 1 a 4.
1904, demonstra que o estado de conservação deste Mosteiro era preocupante. Como se pode
ler, na reprodução da mesma, quando diz "já conheço de há muito a necessidade de
reconstruir o templo de Leça do Balio. Já disso me ocupei quando era deputado por
Bouças"125; Doc. 2.
nossos monumentos se encontravam e das perdas culturais que decorriam e que decorreram,
particularmente nos séculos XVII e XVIII . A partir de 1926/29 procede a uma série de
contemplados.
igreja, Ezequiel de Campos encetou uma série de obras de restauro e de novas construções,
com a orientação dos técnicos daquela Instituição. As salas térreas, mais antigas,
encontravam-se a servir de estábulos. As construções maneiristas que dão continuidade aos
Paços pela Nascente e se prolongam para Sul são da sua iniciativa127 ; Foto 47. O
reconhecimento desta iniciativa e investimento, por parte da D.G.E.M.N., encontra-se na
reprodução da Lâmina de Bronze, de Fr. Estevão Vasques Pimentel, que lhe ofereceram e está
colocada numa das salas térreas ao lado da arcada do Claustro. A Quinta do Mosteiro
conserva assim, a casa que "prolongava" a igreja - os Paços dos Balios - com algumas
As restantes construções, como já referimos e podemos observar na planta que se segue, são
recentes.
Actualmente e ao abrigo da Lei do Mecenato Cultural, a Igreja e a Torre estão sobre a
acções previstas são a recuperação das portas exteriores, a reabilitação das coberturas da igreja
e da torre, a recuperação das caixilharias e pavimentos da torre, a electrificação e iluminação
1.6. Toponímia
"Os topónimos são como que o bilhete de identidade de um lugar: trazem notícias
Dos designados povos clássicos, os que mais paragem fizeram por terras portuguesas
parecem ter sido os Gregos, em detrimento dos Celtas e Fenícios. Pelo menos, os nomes de
terras e lugares assim no-lo indicam. Na freguesia de Leça do Balio sobressaem como
128 O contrato de mecenato prevê um investimento de 37 mil contos. Teve início em 29.10.1993 e o seu término
em 31.12.1997, podendo ser renovado automáticamente, desde que não haja rescizão de nenhuma das partes,
com aviso prévio de 60 dias, in Documento manuscrito que recebemos da UNICER; Imprensa Escrita: Vida
Económica de 30/10/1993, p. 12; Vida Económica de 6/11/1993, p. 13; Jornal de Matosinhos de 5/11/1993, p.
9; A Capital de 30/10/1993, p. 5; O Público de 30/10/1993, p. 55; O Primeiro de Janeiro de 30/10/1993, p. 9;
Jornal de Notícias de 30/10/1993, p. 9; O Comércio do Porto de 30/10/1993, p. 33; o Correio da Manhã de
30/10/1993, p. 32; O Dia de 30/1071993, p. 12; O Jornal de Notícias de 29/10/1993, p. 8; O Correio da Manhã
de 29/10/1993, p. 35; O Diário Económico de 25/10/1993, p. 7; O público de 24/10/1993, p. 62.
129 GUIMARÃES, J. A. Gonçalves - Gaia e Vila Nova na Idade Média, Arqueologia de uma área ribeirinha,
Universidade Portucalense, Série Monografias, Porto, 1995, p. 87.
31
exemplo: "Balecas, Keirão, Jabbada, Leça, Mogos, Mortorio, Recarei, ou Necaredi, Amieira,
passamos a analisar estes nomes de Leça, tratados num breve dicionário pelo Abade Velho
Barboza, já várias vezes citado, que nos dão ideia das prováveis origens dos nomes, do seu
significado e por vezes nos ajudam a identificar lugares que mudaram de nome:
Balecas - Blecas, Bleche, Bleches que significa Balatus ou seja balido das cabras,
ovelhas, etc. É o nome de uma das bouças ao lado do regato do Keirão que desagua
no rio Leça e fica na mesma freguesia. Deriva ainda do grego Be, cabra e do Echo
Keirão - ou Keirãos, parece derivar do grego cheiron, cheirons que significa peior,
inferior. Como é o nome de um regato que vai da Ponte da Pedra à igreja de Santa
Maria, supõe-se querer dizer que é mais pequeno que o Leça, onde desagua. Nasce
seguir à Ponte da Pedra, deriva do grego Iabbada que significa Platéa do Theatro.
Como em frente ficava um lugar designado de Bomjardim que terminava no
Cruzeiro132 do terreiro da igreja. Isto leva-nos a deduzir que a beleza de tais campos
Leça - Nos documentos latinos mais antigos, aparece escrito Leza "e mesmo em uma
Bulla do Papa Leão 10º do anno de 1515 vem ora Leça, ora Leza (viD. Nov. Malt.,
part. 3º, pag. 101) e em nehum documento antigo, quer latino, quer portuguez, tenho
encontrado Lessa; o - z - dos Gregos era substituido pelos nossos antigos pelo - ç -"
e varios Codices d'este antigo Geographo escrevem este nome, em grego, de dous
modos; uns escrevem Lissa, outros Leza, e Leza é também o nome de varias cidades
Moggos surge ainda em grego como significado de "aquelle que tem a voz grosseira,
132 Entenda-se que o cruzeiro estava situado no terreiro e não aonde se encontra hoje.
133 Ibidem, O. c., p. 80
33
século XIX como: Requerém, Requarem e Recarei. Nos documentos mais antigos
mencionam Necaredi "do grego Nekadessim, ablat. do plur. Jonico de Nekas, que
que encontramos e que nos remetem para a cobertura vegetal doutros tempos. Já os nomes
doutras Ruas são em memória dos Cavaleiros da Ordem que por ali passaram ; Rua de D. Frei
Cristóvão de Cernache, Rua de Frei Diogo Melo Pereira, Rua de D. Frei Álvaro Pinto e Rua
de D. Frei Jerónimo de Brito e Melo e que fazem parte da história desta terra; Planta 1 e 2.
134 Ibidem, O. c., p. 82-83. Diz-se temporã a árvore que floresce e dá frutos antes da época habitual e os
próprios frutos também assim se designam.
135Ibidem
34
1. HISTÓRIA E PROBLEMÁTICA
Não obstante a maioria das obras consultadas tenderem para a vertente arquitectónica
se interessaram pela natureza e como tal se preocuparam em deixar registado o espaço natural
Ainda em 1954 o vale de Leça do Balio era visto como "uma cenografia medieval tão
sugestiva (...), num dos arredores do Porto, que oferece aos olhos surpresos a Igreja de
Santa Maria de leça. (...) perfila-se ao fundo suave dum pequenino vale entre pinceladas
mar, as águas leves e os múrmurios ainda mais leves do poético rio de que tira o nome"137.
Compreender e falar de Património Natural nem sempre é fácil. No entanto, se
tivermos em conta a riqueza e as surpresas que a Natureza nos reserva: as paisagens, as formas
de vida da flora e da fauna, os seus segredos e tudo o que permite à vida humana - é
estimulante e compensador .
A Natureza resulta de um processo moroso. Antecede o homem da pré-história,
tal, ela é um dos bens Patrimoniais mais antigos que a Humanidade possui. Mas, embora
"grandiosa" não é imensa. É mutável e recupera, mas até quando?! Importa, por isso, respeitá-
Há longa data que, no nosso país, não existem praticamente florestas virgens e
natureza selvagem ou no seu estado de pureza original, já que a intervenção humana foi
tornando a Natureza em semi-Natureza. A que permanece natural tranformou-se num acto de
industriais e urbanas, geralmente, extinguem-se por não se adaptarem aos novos ambientes ou,
Segundo estudos recentes, sabe-se que até ao século XVIII a floresta forneceu
produtos essenciais para o consumo e para a organização económica do nosso país. Pelo
passaram a controlar o meio ambiente. As matas naturais eram heterogéneas: pela variedade,
alterado em termos de paisagens naturais, devido à invasão morfológica das terras nas lutas da
reconquista141. A organização e a fixação dos povos, junto de pântanos com parcelas
arroteadas e nas matas mais baixas, levou a uma reorganização da paisagem e das gentes,
138 PACHECO, Helder - Portugal - Património Cultural (1), o ambiente dos homens, Areal Editores, Porto,
[1985], p. 27; PORTUGAL NATURAL , Edideco Editores, Lda, Lisboa, 1995
139 ATLAS GEOGRÁFICO in Grande enciclopédia Portuguesa e Brasileira, Edit. Enciclopédia, Limitada,
Lisboa/Rio de janeiro, 1991, pp. 68-69
140 VARETA, Nicole-Devy - Para uma geografia histórica da floresta portuguesa, As Matas Medievais e a
«Coutada Velha» do Rei, in revista da faculdade de letras-Geografia, I Série, vol. I, Porto, 1985, p. 47-67
141 RIBEIRO, Orlando - Povoamento, in Dicionário de História Portuguesa, Tomo IV, p. 470
37
dos mosteiros na Alta Idade Média. O espaço agrícola expandiu-se, o cultivo das florestas e a
pastorícia passou a situar-se nas vertentes superiores dos cumes das colinas e das serras. Os
soutos de carvalho e/ou castanheiros representando parcelas de floresta «natural» que foram
jardins", onde o gado bovino e caprino não entrava, excepto os porcos na altura da bolota142.
Os matos localizavam-se mais próximo das habitações e do terreno agrícola, dada a sua
quando se fixaram tributos sobre a caça grossa (gamos, cervos, javalis e ursos). Isto
principalmente no Alto Minho, onde o rei caçava146.
142 VARETA, Nicole-Devy - Para uma geografia histórica da floresta portuguesa, As Matas Medievais e a
«Coutada Velha» do Rei..., na p. 50 remete-nos para uma nota sobre a privatização dos bosques já segundo o
Código Visigótico, que previa "multas e indemnizações" aos proprietários, caso se verificassem fogos
prepositados ou devastação não planeadas, cita (G. Barros, IX, p. 22-27), refere ainda que C. Higounet não
entende esta atitude como lei de protecção às florestas mas sim aos interesses particulares que irão "perdurar
nas propriedades dos mosteiros nortenhos" (p. 378 deste último autor).
143 Matos é (...) lande arbustiva, espontânea ou cultivada - VARETA, Nicole-Devy - O. c., p. 50.
144 Sobre este assunto, cf ALMEIDA, C. A. Ferreira de - Arquitectura Românica de Entre Douro e Minho, Tese
de doutoramento, policopiada, Porto, 1978, p. 78-80.
145 VARETA, Nicole-Devy - O. c., p. 50
146 Ibidem, p. 51
38
régia de D. Afonso V 149 que proibe o abatimento de espécies da fauna natural: "que nenhuua
pessoa de quallquer estado e condiçam que seia nom seia ousada que mate em nenhuua parte
e luguar das ditas comarquas damtre Doyro e Minho e Tralos Montes assy nas nossas terras
como dos outros gramdes fidalgos nenhuua porco nem porca nem outra veacom com nenhuua
armadilha nem çepo nem rredea nem beesta nem coussa que sse nomear150. Sendo também
fixados as penas, castigos e multas a quem tais ordens não cumprisse "por cada vez que lhe
prouado for pague polla primeyra mill reais pera o que o acusar e pella segumda pague dous
mill o quall sera acusado e demandado presemte o corregedor da comarqua ou juyz da terra
rei "ficando as vastíssimas áreas destinadas à Venatória (...) bem como às áreas também
coutadas das instituições religiosas, das ordens militares e da nobreza, as quais no seu
conjunto ocupavam a maior área do país"153. Por outro lado, no século XV, a procura de
"derivados" da floresta e a própria caça, intensificou-se ainda mais. Agora, as coutadas reais
147 No século XIV, devido à política de expansão, observou-se em Portugal o declíneo da floresta, tendo como
causa principal o desiquilibrio entre a oferta e a procura das madeiras nacionais e a difícil regeneração das
florestas, in VARETA, Nicole-Devy -O. c., p. 67.
148 A História Florestal, Aquícola e Cinegética de C. M. L. Baeta das Neves é exemplo dessa preocupação
régia, trata-se de uma obra composta de documentos régios transcritos e abrange o período de 1208 a 1521.
149 Viveu entre 1432 e 1481, foi o nosso 13º rei e o 3º da dinastia de Avis, era muito "querido" de quase todas as
cidades e vilas (...) e muitos fidalgos da Beira e de Entre Douro e Minho in Joel Serrão - O. c., vol. I, p. 42.
150 A.N./T.T. Além Douro, Lº 4, fls 60-60 v. in NEVES, C. M. L. Baeta - História Florestal, Aquícola e
Cinegética, Lisboa, 1982, Vol. II, pp. 142-143
151 NEVES, C. M. L. Baeta - Alguns dos Principais aspectos da Política Florestal em Portugal até ao século
XVII, sep. dos Boletins do Instituto dos produtos Florestais, Edição do IPF, Lisboa, 1980, p. 1
152 Sobre este assunto, cf VARETA, Nicole-Devy - O. c., p. 61
153 NEVES, C. M. L. Baeta - Alguns dos Principais aspectos da Política Florestal em Portugal até ao século
XVII ..., p. 1
39
estavam ameaçadas. As protegidas eram apenas as dos coutos da igreja, que se impôs à carta
flora e no século XVI/XVII era criado o cargo de Monteiro Mor155. São ainda de notar os
castigos: físicos, prisões e deportações para África, como nos mostra o documento
arborizadas eram os mosteiros, como já referimos, sendo também eles os que mais
preservavam o Património Natural157; até porque, a sensibilidade e o nível de conhecimento
que supostamente possuiam - medicina, iconografia, arte, a própria religião e terras por onde
muito viajavam, principalmente os monges cavaleiros das ordens - assim lhes permitia
proceder158.
Senão, vejamos o que nos diz o Index Histórico e Diplomático do Cartório de Leça, da
autoria de Frei Manuel de Almeida e Vasconcelos: "Dos Passaes da Igreja, e que cautela seja
154 Os mosteiros possuiam guardas (mateiros) a quem pagavam para guardar as matas e soutos in VARETA,
Nicole-Devy - Para uma geografia histórica da floresta portuguesa, do Declíneo das Matas Medievais à
Política Florestal do Renascimento (séc. XV e XVI) in Revista da Faculdade de Letras-Geografia, I Série, vol. II,
Porto, 1986, pp. 5-37.
155 Este, dependia hierarquicamente do rei, contituindo a Montaria Real , equivalente ao Serviços Florestais de
hoje. Ibidem, O. c. , pp. 4-5.
156 Ibidem, O. c. , p. 4; 5. O "Regimento de Monteyro mor do reyno de Portugal" foi criado em 20 de Março de
1605 segundo este autor mas Nicole Devy-Vareta (vol. II, p. 34) menciona a data de 1494 (?), no domínio
Filipino, em 1598 D. Filipe I de Portugal, actualizava a legislação sobre estes, aliás continuaram a política de
plantação de árvores, preocupação constante dos reis de Espanha. Em 1821 a Montaria real foi extinta e
substituida posteriormente pela Administração Geral das Matas e Pinhais do Reino (1836). Nicole Devy-Vareta
(vol. II, p. 29) remete-nos ainda para outras medidas; as Leis Extravagantes (1546) e a Lei das Árvores (1565).
157Nos emprazamentos do século XIII, de Entre Douro e Minho, há notícia de se recomendarem as plantações
de árvores, in Nicole-Devy - Para uma geografia histórica da floresta portuguesa, do Declíneo das Matas
Medievais à Política Florestal do Renascimento (séc. XV e XVI) ...,O.c. p. 36
158 Os primeiros inventários florestais portugueses foram empreendidos pelos grandes mosteiros, tal como o de
Alcobaça em 1530, que proconizou a reflorestação nos pinhais litorais degradados pelos cortes e o fogo" in
VARETA, Nicole-Devy - Para uma geografia histórica da floresta portuguesa, do Declíneo das Matas
Medievais à Política Florestal do Renascimento (séc. XV e XVI)... O.c. p. 37
40
nas cercanias do Mosteiro de Leça do Balio, fazia parte a Devesa, ou seja, os campos das
várzeas e a mata do Baliado. Pelo que nos é dado a saber pelo autor do Index supra-citado,
estas terras, em 1814, estavam danificadas em mais de metade: "reduzida a pinhal, e com tojo
tal alto, q. excedia a altura de hum homem a cavalo, tendo por isso suffocado, e extincto todo
o arvoredo de castanho e carvalho: eu via com disgosto, q.do aqui entrei, o estrago da peça
mais nobre, que a Ordem tem em Portugal, e q. se viesse reduzir a pinhal e mato bravo huma
mata, q. ainda na p.te q. se conserva m.to mal tratada, excederá ao valor de cem mil
cruzados, se houvesse de pôr-se a corte. Tem gdª com ordennado annual de doze mil reis e
hum piqueno campo". Face ao exposto, Frei Vasconcelos considerou a situação preocupante
como se observa no 13º parágrafo do mesmo Index. Frei Manuel de Almeida e Vasconcelos
consulta a documentação do Cartório onde encontra recomendações oficiais do Comendador
e, posteriormente Balio, - Fr. Manuel Guedes de Magalhães, quando da sua visita geral a este
mosteiro em 1776, onde se lê: "ordenamos q. não se deixem nascer pinheiros em os Lugares,
q. saõ mui proprios p.ª Carvalhos, e q. sempre os produzirão optimos; p.r q. crescendo os
pinheiros m.to mais depressa q. os Carvalhos, e multiplicando-se p.r si infinitam.te
assombraõ logo tudo, e em lugar de Mata de Carvalhos, não haverá em breves annos senaõ
pinheiral, com grd.e prejuizo da dª Matta que deve conservar-se, como foi sempre"160.
Face a esta "legislação", foi instituido internamente que "se não désse mais lenha aos
parrochos, e mercieyras (como he costume) senão de pinheiro, pois até ali se lhe dava de
carvalho, e o resto, q. se tirasse p.ª a caza, e vendesse, assim como o tojo, deixando contudo
alguns pinheiros para madeiras de taboas, e pª hir dando pelos annos adiante a's obrg.es da
159Das janelas a Nascente e a Norte do Paço dos Balios era possível ver a maior parte dos campos dos passais
do Baliado, com cerca de meia légua de circuito, com antigos carvalhos e alguns pinheiros. Das janelas a
Nascente sobressaiam o pomar que se prolongava até ao rio Leça - Memórias Paroquiais, 1758, in
FELGUEIRAS, Guilherme - O.c. p.800; Index Histórico e Diplomático do Cartorio de Leça (1814) in CAMPOS,
Ezequiel de - "A Deveza da Ordem" Gazeta das Aldeias, nº 2099 de 16 de Novembro de 1946, p. 890.
160 Ibidem, O.c. p. 890
41
caza (...)". O dinheiro da venda da madeira foi utilizado para mandar: cavar, valar, limpar e
liberd.e de trazerem Bois, Bestas, ou outros gados no Matto, q. he o q. a perde p.r lhe roerem
todos os renovos e crescenças. Aos cultivadores dos Passáes, se lhe pode francar estrume em
abunandcia pelo m.to q. há, mas sempre com a condição de deixarem as árvores novas menos
pinheiros, por se prohibir a sua creação na Vizita G.ral de 1766 a fl. 109; tãobem se não
vivência do homem limitava-se a uma forma de vida comunitária que, de certa forma, permitia
a manutenção dos espaços primitivos, havendo como que um "contraponto lógico" das acções
Uma das rupturas deu-se com a venda dos Bens Nacionais, como aconteceu à
Comenda de Malta ou Baliagem de Leça. Vinte e oito anos depois da conclusão do Index
Histórico, mais precisamente em 28 de Novembro de 1842, esta foi vendida em Praça
compradores, indica que poucas árvores havia, devido aos animais as danificarem, quando
estavam a "rebentar".
a parte da estrada de S. Sebastião, no sentido do gado não entrar na Devesa; plantar 102
carvalhos e 700 castanheiros163, proteger dos caseiros as plantações, através de valados e,
finalmente, fazer a poda às árvores que existiam164; Planta 10.
Contudo, três anos depois, em 1845 segundo Velho de Barboza, o largo caminho entre
o cruzeiro e a igreja, designado então de Souto por ali haver muitos carvalhos e castanheiros,
tinha apenas 4 "corcomidos" carvalhos e 2 castanheiros velhos. Um destes, em 1852, ainda ali
Paróquia, que vendeu a madeira nesse mesmo ano, para mandar construir no mesmo lugar
uma pequena residência para o Páraco. O Souto ficou sem castanheiros, tal como a Quinta do
antiga mata166 e o Paço da Baliagem ou dos Balios167, foram adquiridos por Ezequiel de
Campos168, para onde foi viver; Foto 48. Segundo o seu testemunho, a Devesa estava
praticamente desarborizada, "árvores grandes, antigas, tinha somente 4 carvalhos, 3
onde havia uma cancela através de todo o terreno, viam-se os carros de bois e a gente passar
na estrada de S. Tiago para S. Sebastião; Planta 10. Da parte mais alta, via-se perfeitamente a
torre de Leça do Balio afastada, de tão despido que estava o terreno.
Tal como o vizinho de Ezequiel de Campos dissera, "a Devesa da Ordem é o frascal
da freguesia - sitio onde toda a gente vae buscar lenha seca ... e verde170; de Devesa já só
tinha o nome. Embora houvesse muitos carvalhos novos - semeados pelos gaios - e pequenos
pinheiros - semeados pelo vento, estas árvores não podiam medrar: os bois e as vacas, as
cabras e as ovelhas comia-nas ainda em rebentos. Por outro lado, os gigueiros, os vendedores
de varas e cacetes, etc, cortavam-nas sem qualquer critério de selecção.
hábitos adquiridos, para que a mata se recobrisse de arvoredo. Agora diferente nalgumas
espécies, mas com 12 mil árvores a crescer. Estava-se em 1946. Aqueles 12 ha tinham-se
tornado numa "selva fechada de árvores novas"171. Para além das árvores que foram plantadas
junto ao corrego e às pequenas linhas de água, como os amieiros, os choupos, os freixos e os
salgueiros e, junto à estrada Santos Lessa - os cedros, as robíneas e os plátanos - outras foram
distribuidas por parcelas de terreno a que melhor se adaptariam. Esses talhões tiveram um
nome, atribuido pelo autor desta "obra de arquitectura paisagística", que identifica as
Perante esta informação específica do Mosteiro de Leça do Balio e de uma forma geral
na documentação encontrada, podemos observar que: quer sobre a iniciativa régia, dos
Mosteiros, dos Monteiros Mores e de Engenheiros Sivicultores, "as florestas, a pesca nas
Silvicultura foram sempre objecto de cuidados técnicos"173. Por vezes, de forma escassa ou
Pouco eficaz, mas tendo, por certo, em vista a defesa deste Património, independentemente de
Cada vez mais, nos dias de hoje, a questão dos ecossistemas florestais é uma
"a importância da floresta na economia atinge tais proporcões que, a partir de Outubro
último, o Banco Mundial passou a utilizar uma nova metodologia para a avaliação de
riqueza de cada país, tomando mais em conta o valor dos recursos naturais, incluindo
florestas"175. A mesma fonte diz ainda que entre os anos 80 e 90 do nosso século foram
eliminados 16,9 milhões de hectares de área florestal, tendo-se atingido médias de consumo
de papel na ordem de 45 quilos por pessoa/ano, 150 quilos per capita no primeiro Mundo e 10
das florestas em Portugal, em áreas e em mono-espécies, com especial relevo para o distrito
175 BASTOS, João Pereira - "O papel da floresta e a floresta do papel" in Vida económica, nº 620 de 5 de
Janeiro de 1996, p. 13.
45
46
47
48
espécies, que passamos a enumerar, descrever e classificar. Optamos por fazer uma simples
divisão das espécies, tanto na flora como na fauna, para uma melhor compreensão e
facilidade de escrita.
49
2. ANÁLISE GEOMORFOLÓGICA
Director Municipal.
A sua situação geográfica faz com que esta região sofra influências diversas. Insere-se
maior extensão com o Cocelho da Maia a Nascente, tendo a Sul a cidade do Porto, da qual faz
do pequeno vale delineado pelo rio Leça, onde se encontra o mosteiro. Os montes do Araújo e
Padrão da Légua, a Puente e o do Santeiro a Nascente, têm vindo a ser substituidos pela
urbanização.
Na extensão cartografada onde se inclui, sobressaem como acidentes principais: a Sul
"(...) o Monte da Virgem, espigão granítico com 230m de cota, modelado, no decursos do
mar179. Na freguesia de S. Mamede de Infesta, que faz fronteira com o espaço em análise,
tectónicos mais marcantes junto ao sinuoso rio Leça, com sulcos bem definidos que
176 PDM, Matosinhos, 1992, p. 13; MATOSINHOS - Monografia do concelho (1), Edição da C.M.M.,
Matosinhos, 1995.
177 Carta Geológica de Portugal, escala de 1/50.000, Notícia Explicativa da folha 9-C - Porto por COSTA, J.
Carríngton e TEIXEIRA, Carlos, Serviços Geológicos de Portugal, Lisboa, 1957, p. 6
178 Intercaladas em xistos e grauvaques.
179 Ibidem
50
3. GEOLOGIA
número de alterações que se foram efctuando. Entre outros factores, ressaltam o recuo dos
Hespérico. "A Península Ibérica é, em grande parte, constituida por um retalho da cadeia
hercínica, arrasada, e marginada, a nordeste e a sueste, por trechos da cadeia alpina. Bacias
anos181; Mapa 3, "de idade variável, algumas destas formações encontam-se associadas a
do Douro, e em particular a sul deste rio, onde contacta com os terrenos de orla"182.
Em termos estruturais, Leça do Balio é formada por terrenos de facies florestal, de
natureza diversa. Noutros tempos, no inverno, havia terrenos que ficavam inundados, o que
prejudicava a agricultura, por não possuir solos permeáveis. São fundamentalmente dois os
180 MEDEIROS, Carlos Alberto - "Geografia de Portugal. Ambiente Natural e Ocupação Humana ; Uma
Introdução", 2ª edição, Imprensa Universitária, Ed. Estampa, Lisboa, 1991, p. 29
181 ATLAS DE PORTUGAL, Selecções do Reader's Digest , Cartas do Instituto Geográfico e Cadastral,
Lisboa,1988, p. 42
182 ARROTEIA, Jorge Cravalho - O.c., p. 11
183 CAMPOS, Ezequiel de - "A Deveza da Ordem" Gazeta das Aldeias, nº 2099..., O.c., p. 891; Carta
Geológica de Portugal, escala de 1/50.000..., O.c. p. 6; MATOSINHOS - Monografia do concelho (1), Edição da
C.M.M., Matosinhos, 1995.
51
Quanto aos terraços do rio Leça, localizam-se em Ermesinde, Leça do Balio e Santa
Cruz do Bispo.
As rochas xisto-grauváquivas, foram-se alterando devido ao granito do Porto, dando
origem aos xistos luzentes, micaxistos e gneisses que compõem grande parte desta região. O
granito alcalino, referido no quadro supra, predomina na região do Porto fazendo contraste
com os xistos metamórficos. Esta cidade está praticamente suportada por este, servindo ainda
para intensa exploração de pedra de construção184.
informação de fosseis vegetais e animais para fazer datações. No presente caso, não temos
referência de que existam. No entanto, não muito longe, encontraram-se os de Valdeão e os de
Ermesinde, sobre os quais nos chega a indicação de "rica fauna de insectos (...) os vegetais
purifica-se. Como referência, a produção186 deste recurso mineral em 1954 foi de 25.732 ton,
no ano seguinte 27.788 ton e, em 1956, 33.382 toneladas187.
Outros são os recursos nas redondezas: o carvão com camadas estefanianas em
pedreiras que são várias na região do Porto, nomeadamente em Águas Santas, Santa Cruz do
Bispo, São Gens, e Custoias no Concelho de Matosinhos, Canidelo no Concelho de Vila
4. HIDROLOGIA
A freguesia de Leça do Balio é banhada pelo Rio Leça que nasce perto de Ermesinde e
na Serra da Monte Corbeda189, tem a sua foz dentro do concelho - no Oceâno Atlântico junto
186 Informação da Circunscrição Mineira do Norte, in Carta Geológica de Portugal, escala de 1/50.000, Notícia
Explicativa da folha 9-C ..., p. 27
187 A produção/exploração do caulino no concelho terminou em 1995 devido a terem-se esgotado os recursos
naturais. Contactamos o Instituto Geológico e Mineiro do Porto e Lisboa que nos informou não terem dados
publicados quanto à produção do último ano de exploração. Contactamos ainda a empresa Anglo-Portuguesa de
Caulinos de Viana, Lda, em Viana do Castelo, que nos informou não nos poder fornecer esses dados por questões
burocráticas.
188 Ibidem, O.c., p. 28
189 Memórias Paroquiais, 1758, in FELGUEIRAS, Guilherme - O.c., p. 806
53
Segundo a memória histórica "não ha Lagoa selebre, nem fontes, cahinda que as
detodas sam excelentes agoas, contudo a de Santejro debaixo, e a das quelhas em Recarem de
Sima saô melhores, mais leves"190.
Antes da construção do caminho de ferro, que lhe cortou a bacia de captação, existia
"levava sempre água no inverno. E havia um pequeno triangulo de lameiro, ou prado. Tem
dos povos cristãos em toda a época medieval, tinham como ponto de referência os percursos
de água mais próximos para a sua fixação. O primitivo mosteiro de S. Salvador de Leça não
foi excepção, sendo também ele uma das "capelas" a "coroar" o rio Leça.
Há quatro séculos um homem "apaixonado" pelo rio da sua terra, versava-o assim:
ratazanas.
O rio, que outrora contribuiu para a salobridade destas terras, morreu. O seu leito
transporta actualmente "aquilo" que contribui para um dos problemas com que as sociedades
Matosinhos e Maia - está em elaboração um projecto de despoluição deste rio que será posto
5. CLIMA
Portugal Continental tem influências externas que determinam, em grande parte, o seu
clima. Como regulador da atmosfera, tem ao longo de toda a faixa Litoral o Oceano
Atlântico, o Mediterrânico e África, a Sul e a parte Continental inserida no bloco
Penínsular197.
Outros factores a considerar, em paralelo, serão: a especificidade da rede hidrográfica,
costeiras: é temperado, tem condições de salubridade, excepto nas encostas mal isoladas
voltadas a Norte e em pequenas áreas de terrenos baixos e alagadiços. A zona litoral é mais
afectada pelos ventos de noroeste no Verão e do sudoeste no Inverno, o que não será o caso de
Os períodos de insolação têm uma duração elevada, oscilando entre 2500 e 2600
apresenta valores entre 145 e 150 kcal/cm2 que, conjugada com a insolação, contribui para as
pequeno vale. O monte de Custoias serve de barreira e faz com que as influências marítimas
não sejam tão directas, pelo que é natural que os valores referidos para o concelho sejam aqui
ligeiramente diferentes, devido à já interioridade desta freguesia.
dos solos e ainda podemos encontrar em Leça do Balio espaços agrícolas significativamente
reflorestações. Incluem a flora natural local e a flora aclimatada que por isso, passou a fazer
e arbustos, tenta-se tipificar apenas as espécies que se conhecem como naturais da região,
embora tenham sido na grande maioria plantadas. Por outro lado, encontram-se subdivididas
- flores silvestres,
endémicas ou aclimatadas. Para uma melhor compreensão das plantas que existem em Leça
do Balio, seguiremos uma ordenação por grupos, identificando, sempre que possível, a
família e o nome científico, bem como as características desses grupos.
folhosas. Possuem folhas normalmente largas e as sementes são protegidas por uma espécie de
estojo que no conjunto, formam o fruto; como é o caso do carvalho, do castanheiro e da
macieira. Nas resinosas, encontram-se as coníferas, ou seja, as que possuem cones ou pinhas e
em que as folhas por norma são estreitas, potiagudas e tipo agulha, como, por exemplo, os
pinheiros, os cedros, os ciprestes, os abetos, etc. Nas folhosas temos entre outras o carvalho e
o castanheiro201.
As árvores e arbustos são plantas de caule lenhoso e perene. De uma forma geral, as
árvores têm apenas um caule principal designado por tronco, ao contrário dos arbustos cujo
caule é ramificado, praticamente a partir do solo. A altura dos arbustos ronda os cinco metros
no máximo e é uma das formas de os identificar, dado que as espécies inferiores a um metro
200RIBEIRO, Orlando - Portugal o Mediterrâneo e o Atlântico, Colecção "Nova Universidade", Ed. Livraria Sá
da Costa, 5ª Ed., Lisboa, 1987
201 CHINERY, Michael - O.c.,p. 295
58
de altura são consideradas flores silvestres. Quanto à folhagem, ela pode ser perene ou caduca.
possuirem nem cálice nem corola e os óvulos não se encontrarem nos ovários - inserem-se
no grupo das gimnospérmicas. Aqui o pólen é transportado pelo vento, das flores masculinas
para as femininas. As sementes desenvolvem-se na flor desta última e nunca são totalmente
absorvidas pelo fruto, como acontece nas angiospérmicas. Refira-se ainda que, neste caso, as
inserem. No caso, por exemplo, das angioespérmicas, a forma mais eficaz de se identificarem
é através da flor, embora esta seja sazonal. Já em relação às coníferas, será através das pinhas
que as poderemos reconhecer.
Outra forma de identificação é a folha. As margens podem ser inteiras, ou seja sem
recortes, mas por norma são serradas e denteadas ou, em muitos casos, lobadas. As
compostas, têm folíolos específicos.
Os frutos, podem ser secos ou carnudos. Um dos frutos secos mais comuns é a noz,
enquanto que um dos mais carnudos é a baga. A noz tem uma única semente e pericarpo
coriáceo; a baga tem várias sementes e o pericarpo suculento. A camada exterior do pericarpo
dos frutos é uma película, quer fina, quer bastante grossa, como a da laranja. As drupas, ou
frutos de caroço, têm uma camada interior lenhosa que envolve uma só semente; a camada
202 Ibidem
59
externa do fruto é normalmente carnuda. A noz também é uma baga, mas a camada externa do
pericarpo é coriácea. Às maçãs e às pêras dá-se o nome genérico de pomos; aqui a parte
carnuda e comestível provém da parte superior do pedúnculo, que se tornou tumefacto e
envolveu as sementes203.
natural, são árvores que ainda se encontram na área em estudo ou que, nalguns casos, temos
informação de ali terem vivido e se extinguiram, mas que fazem parte da História do
castanheiros e carvalhos em Leça do Balio, "dos passaes faziam parte as grandes varzeas á
beira rio, hojeda família Albino Ribeiro da Silva e uma bella matta cerrada de carvalhos e
castanheiros, onde pinheiros não tinham o direito de crescer., conforme rezam os Livros das
Visitações, mas cuja significação desconhecemos. Hoje essa Devesa da ordem, nome porque
é conhecida, está reduzida a meia e duzia de pinheiros e matto, cortada a meio por uma
estrada municipal"204.
Como nos percebemos pela citação supra e pela grande maioria das que encontramos,
os castanheiros são as árvores mais relevantes. A própria toponímia de Leça "no lugar do
souto", "a quinta do souto"205, etc, são exemplos da existência desta espécie de flora, ao
longo dos tempos, nesta terra. O que de certa forma não admira, se tivermos em conta as
condições climatéricas deste vale, tratando-se de uma das caducifólias que predominam no
Norte do país, por possuirem condições de adaptação aos frios invernos. Não sendo endémica
203 Ibidem
204 FARIA, F. Fernando Godinho de - O.c. p. 254
205 A propósito da toponímia ligada ao castanheiro veja-se VIEIRA, José António Bastos Neiva - Topominia de
Portugal Continental ligada ao castanheiro, in Actas do encontro sobre soutos e castinçais /Conservação
Sivicultura e utilização), Castelo de Vide, Portalegre e Marvão, Novembro de 1987; Portugaliae Monumenta
Historica, documento 192, extrahído do Liv.º preto da Sé de Coimbra, in FARIA, F. Fernando Godinho de -
O.c. p. 248
60
Mais tarde, no século XVI, foi substituida pela batata. Por outro lado, os espaços de plantio
Inserida no grupo de árvores e arbustos, tem um crescimento lento e uma vida longa.
Distingue-se das suas congéneres pelas grandes dimensões, cerca de 30 metros de altura208. De
tronco recto e largas copas arredondadas, cujo diâmetro varia entre 6 e 8 metros, a maturidade
dá-se com 70 ou 80 anos, altura em que começa o seu lento envelhecimento, já que podemos
A distribuição geográfica ocorre por quase todo o país, com excepção dos solos
206 BELIZ, J. Malato - As sociedades vegetais e origem do castanheiro em Portugal, in Actas do encontro sobre
soutos e castinçais /Conservação Sivicultura e utilização), Castelo de Vide, Portalegre e Marvão, Novembro de
1987, p. 3
207 Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, Liv. 6, p. 164; SERRA Mário Cameira - O Castanheiro e
castanha na Tradição e na Cultura, in actas do encontro sobre soutos e castinçais (Conservação Sivicultura e
Utilização), Castelo de Vide, Portalegre e Marvão, Novembro de 1987, pp. 6-7
208 CHINERY, Michael - O.c., p. 320
209 Vários são os exemplares notáveis classificados de interesse público pela sua longevidade de vida. Decreto-
Lei nº 28.468 de 15 de Fevereiro de 1938; FRANÇA, António Carlo LLoyd Massiotti - Castanheiros notáveis, in
actas do encontro sobre soutos e castinçais (Conservação Sivicultura e utilização), Castelo de Vide, Portalegre
e Marvão, Novembro 1987, p. 1; O da Arrifana na Guarda é considerado um dos mais idosos com 1193 anos, o
de Gebelim, no distrito de Bragança, em 1946 contava já quatro séculos de existência, tal como o de Pero Moço
na Guarda em 1971, in FRANÇA, António Carlo LLoyd Massiotti - Castanheiros notáveis, in actas do encontro
sobre soutos e castinçais, O.c. p. 1; O Mel e o Castanheiro - Quercos, Associação Nacional de Conservação da
Natureza, Cadernos Quercos - Série C-nº1, 1991, s/p.
61
pouco elevadas (600 a 800 metros de altitude) e vales entre montanhas. Leça do Balio era um
exemplo dessa ocorrência. Arnaldo Gama reportando-se ao século XIV, descreve o percurso
de dois famosos cavaleiros da Ordem de S. João de Jerusalém: D. Frei Estevão Vasconcelos
Pimentel e D. Frei Álvaro Gonçalves Pereira210, do Porto até Leça. Ao avistarem o "castelo"
da Balia de Leça, "os dois palmeiros (...) ficaram por alguns minutos a olhar como que
embelezados", dando-nos uma imagem do "espesso souto de carvalhos e castanheiros, que
arvoredo mediava uma vasta clareira, sobre a qual apenas se copava aqui e ali uma
árvore"211 diferente.
O livro de Prazos da Baliagem nº 48, confirma, num prazo datado 1797, a existência
de várias árvores na mata da Devesa da Ordem "o campo chamado da Fontiella terra
lavradia com hua devesa de carvalhos e castanho em hua chave que faz aparte do Poente
caparte do Nascente e Sul tem outra Devesa de carvalhos e amieiros com hum grande
castanhal que tudo está dividido por paredes valos e ribeiro e Amedio junto principiando a
medição no canto ao Ponte e sul asima da cancella da Devesa e correndo para baixo (...) o
ribeiro, chamado de Rigueirão, antes de lá passar o caminho de ferro e que "da estrada de
Santos Leça, ao meio da mata, onde há uma cancela, atravez de todo o terreno, na extensão
de 460 metros". Isto permite-nos identificar o espaço atrás mencionado no livro de prazos,
Por outro lado, informa-nos da quantidade de árvores plantadas por João Luis da
Rosa213, entre 1842 e 1846, na Devesa da Ordem. O número de castanheiros foi de 952.
A minúcia que teve ao registar todas as fases do processo de silvicultura a que se
propôs, permite-nos quase que saber quantas árvores existiam, quando nasceram, como
Hoje, encontra-se um ou outro ao longo dos campos, nas quintas do Souto e do Mosteiro, num
213 Comprou o Baliado de Leça em 28 de Novembro de 1842, quando da venda do Bens Nacionais in CAMPOS,
Ezequiel de - "A Deveza da Ordem" Gazeta das Aldeias, nº 2104, Porto, 16 de Fevereiro de 1947, p.86
214 Sementes encontradas em Lamego, em França e na Alemanha. As castanhas eram semeadas em caixotes,
quando nasciam os castanheiros (ao fim de 1 ano) eram mudados para o viveiro aonde permaneciam 3 anos até
serem plantados no talhão destes, ou noutros locais Outra forma era quando as castanhas estavam secas metiam-
nas em água corrente ou renovada por 24 horas, depois eram metidas em petróleo e de seguida eram semeadas a
5 cm de profundidade em terra arejada, remexida, cobrindo-a com estrume, cal ou ferrugem para as proteger das
aves e dos ratos. Segundo o Professor Engenheiro Ezequiel de Campos, esta última forma de sementeira era uma
recomendação de Joaquim Pedro Fragoso de Sequeira in Memórias Económicas da Academia real de Ciências de
Lisboa - "Memória sobre as Azinheiras, Sovereiras e Carvalhos da província do Além-Tejo", Tomo II, 1790, p.
364.; CAMPOS, Ezequiel de - "A Deveza da Ordem" Gazeta das Aldeias, nº 2103, Porto, 16 de Janeiro de 1947,
p. 52
215 CAMPOS, Ezequiel de - "A Deveza da Ordem" Gazeta das Aldeias, nº 2103, O.c., pp 52-54
63
pequeno monte subjacente à Junta de Freguesia e na margem esquerda do rio Leça; Foto 52 e
53.
Em termos de vestígios de utilidade da madeira destas árvores, encontram-se no
tecto216 da igreja e dos Paços da Baliagem e em alguns portais, largas traves de madeira de
no nosso país: em 1987, calculava-se que Portugal continental tinha ainda uma área de 30.000
ha; em 1992, tinha já sido reduzida consideravelmente; Gráfico 2. Para o Distrito do Porto, os
valores deste último levantamento referem que a área de florestação de castanheiros não
variedades desta, consoante o solo é mais ou menos húmido. Assim, temos o carvalhal negral
anos220.
216 MAGALHÃES, Luis de - Egreja de Leça do Balio in A Arte e a Natureza em Portugal, Direcção de F. Brut,
Cunha Morais, Editor Emílio Biel & Cª, Porto, 1903, Vol. II, p. 25
217 FRANÇA, António Carlo LLoyd Massiotti - Castanheiros notáveis, O.c. p. 1
218 REBELO, Margarida Pereira; PALMEIRÂO, Mário José Ferreira - Lamego e a sua Padronádiga Natural,
trabalho apresentado à disciplina de Património Natural do 3º Ano de Ciências Históricas da Universidade
Portucalense, (policopiado), Porto, 1995, p. 75.
219 CORREIA, Clara Pinto; CIDADÃO, António José - Portugal Animal; Circ. de Leitores, Publicação Dom
Quixote, 1991, p.11
220 FABIÃO, A. Manuel D. - Árvores e Florestas, Colecção Euroagro, Publicações Europa-América, 1987, p.
153
64
qualidade, bom gosto e alto valor económico muito utilizada na marcenaria e na tanoaria.
Trata-se de uma árvore caducifólia de crescimento lento, o que, de certa forma, tem
contribuido para o seu desaparecimento e substituição, por questões económicas, por espécies
mata, foram podados e defendidos dos animais e das pessoas. Foram criados muitos mais nos
viveiros, que passou a plantar todos os anos. No entanto, a natureza tem as suas normas e as
primeiras sementeiras foram goradas pela actividade da fauna local, nomeadamente os gaios e
os ratos que comiam as bolotas semeadas no viveiro da horta. A estratégia sivícula teve que
ser alterada, passaram a ser semeados em caixotes que eram colocados fora do alcance dos
animais e passados dois anos é, que eram plantados na mata. Não obstante os aspectos
negativos - é caso para dizer que "a natureza semeia direito por linhas tortas", - os mesmos
gaios que não deixavam crescer os pequenos carvalhos no viveiro também os semeavam
quando transportavam as bolotas no bico e eles apreciam espontâneos onde a mão humana os
não tinha semeado. Neste caso, eram recolhidos do local da mata onde surgiam
espontaneamente e plantados em locais mais apropriados conforme a planificação feita por
Ezequiel de Campos. Assim, passados alguns anos, dado ser uma árvore de crescimento lento,
Quercus Robur, L.; Q. pedunculata, Ehrh que apareciam na mata, o carvalho vermelho
221 PACHECO, Helder - O Grande Porto, Novos Guias de Portugal, Editorial Presença, Lisboa, 1986, p. 148.
222 Foram vendidos para realizar dinheiro para construir a casa do páraco in CAMPOS, Ezequiel de - "A
Deveza da Ordem" Gazeta das Aldeias, nº 2099..., O.c., p. 891
65
(Quercus rubros L.) que não crescia muito; embora fosse plantado desde 1923, em 1947 não
havia nenhum com 12 anos porque os invasores não lhes tinham dado tempo223.
Hoje, numa pequena réstea da mata, na parte sobranceira à Junta de Freguesia, apenas
encontramos alguns exemplares que nos parecem puros; Foto 55. Perto do rio e no monte a
Noroeste da igreja, vêm-se alguns "carrascos224" que por vezes se confundem com os
verdadeiros carvalhos; Foto 56.
A comparar com as citações que temos vindo a referir poderemos dizer que o carvalho
se encontra praticamente extinto nesta área. Contudo, os dados fornecidos pela Direcção de
Florestas para o país e particularmente para o Distrito do Porto, dão ainda, com referência a
1992, a existência de alguns hectares desta espécie arbórea, ao contrário do que acontece com
L.) crescia bem, tal como o carvalho vermelho, mas era cortado por lenhadores furtivos e
outros, rebentava de novo mas passados oito anos era cortado novamente; sobreviviam
apenas os que cresciam tortos. A azinheira (Quercus Ilex, L.) foi experimentada com sementes
de Évora. Cresciam em bastante número, mas não chegavam a adultas porque eram
derrubadas e levados pelos caceteiros225. Tanto em relação a uma como outra árvore,
ribeiros e lagos, independentemente da altitude. Razão pela qual fomos encontrar vários
223 CAMPOS, Ezequiel de - "A Deveza da Ordem" Gazeta das Aldeias, nº 2102 de 1 de Janeiro de 1947, p. 6
224 Pelo menos na Beira Alta e Trás-os-Montes é vulgar designarem-se assim as árvores que, são parecidas com
os carvalhos, por secura ou outra razão que altere as condições dos seus ecossistemas naturais.
225 CAMPOS, Ezequiel de - "A Deveza da Ordem" Gazeta das Aldeias, nº 2102 de 1 de Janeiro de 1947, pp.
6;24
66
exemplares nas margens do rio Leça; Foto 57. De copa larga ou piramidal possui rebentos
últimos presentes todo ano. A madeira é usada em pasta de papel, calçado, brinquedos, etc,
devido à facilidade com que se trabalha, embora seja muito resistente à água. Plantam-se
ainda para ajudar a assorear e fertilizar os campos. Já o amieiro-cinzento (A. incana), embora
muito parecido, dá-se em solos secos. É vulgar ser empregue em recuperação de lixeiras e
deste são simples mas não denteadas - e dos amentilhos femininos e masculinos. Os
primeiros no salgueiro-cabra (Salix caprea) são cinzentos e agudos, no amieiros são redondos
e rosados; já os amentilhos masculinos no amieiro são longos e verdes ou amarelados e no
salgueiro mais parecem uma flor de macieira amarela. Por outro lado pertencem a famílias
diferentes, embora do mesmo grupo. O salgueiro encontra-se nas cerca de 300 espécies de
e ribeiros, com uma altura de 16 metros227, nalguns casos. Confunde-se facilmente com
outras espécies como a bétula, o vidoeiro e o próprio amieiro, pelo que é necessário reparar no
brilho das folhas deste.
Nas margens do rio Leça, encontramos entre outras espécies o amieiro e o salgueiro;
Foto 58 e 59. As cascas dos troncos dos salgueiros eram utilizadas nas redes dos pescadores
Leça:
«(...)
Corres por areias Logrem teus salgueiros
mais diversos jardins, lagos, parques urbanos e avenidas. Os ramos chegam a tocar no chão, as
arbustos228.
(Ulmus procera). Não obstante as diferenças que possam existir, todos eles se podem
altura é de cerca de 35 metros, copa larga, ramos estreitos e muito repartidos, saiem do tronco
castanho-escuro ou cinzento. Os frutos do ulmeiro são "sâmaras estéreis" que resultam de uma
flor vermelho-escuro pouco vulgar; invulgar também é a forma de se reproduzir, através dos
rebentos das raízes. Não obstante ser uma árvore atacada por fungos e insectos, é frequente
(...)
«Olmos abraçados
Tenhas sempre de heras;
Sempre a Primavera
Hoje ainda é possível encontrar exemplares junto às margens do rio; Foto(s) 57 e 60.
Para além da imponente presença que possui, dado o aspecto morfológico, a casca
dura, espessa e não parte facilmente. Usa-se, no fabrico de caixões, mobiliário, pontes e
estacarias230.
gostam de sombra e alastram-se rapidamente. As folhas são largas, ao contrário dos salgueiros
e dos vimeiros. Nas espécies mais encontradas em Portugal e de que são espontâneas, o
respectivas degenerações ou cruzamento com outras árvores. Em Leça do Balio, pelo menos
no tempo de Ezequiel de Campos, foram plantados: o vulgar, o branco e do Canadá. Pelas
características de cada um deles, o que identificamos no local, é mais provável ser o negro ou
vulgar - Choupo-tremedor (Populus tremula). Este tem porte médio, copa larga e aberta e não
em forma de coluna como o branco. Os amentilhos femeninos têm no início uma cor violeta.
O tronco é acinzentado e aparece nas margens dos rios e ribeiros231 como no caso presente,
nigra), não em grande quantidade e disperso. É uma planta entre a árvore e o arbusto,
embora a altura ronde os 10 metros, muito ramificado. As flores pequeninas e agrupadas em
em cada ramo e têm côr preta, quando maduras. Este fruto é muito aproveitado para geleias,
compotas e para a preparação dos vinhos232, principalmente nas zonas de transicção das
beiras.
Sabugueiro, muito divulgada por todo o país, devido ao significado e importância que esta
O Loureiro - Por certo uma das árvores mais clássicas. É vista, quer nas coroas dos
imperadores romanos, quer às portas das tabernas rurais a informar que "há vinho". Em Leça
do Balio fomos encontrá-lo no quintal dos Paços do Balio e numa mata em que predominam
pinheiros e eucaliptos, a Nordeste do mosteiro. O loureiro (Laurus nobilis) é ainda conhecido
pelo seu uso na culinária, pelo sabor e pelo perfume e utiliza-se também na decoração de
espiral tem um verde bem definido, tal como as flores e os frutos que mal se notam no meio
Esta árvore atinge uma dimensão e anos de vida que não sabemos precisar, mas pelo
que observamos num exemplar do jardim do Centro de Saúde de Aníbal Cunha, no Porto, que
231 CHINERY, Michael - O.c., p. 312; PORTUGAL NATURAL - O.c., p. 65; FOREY, Pamela - O.c., p. 36
232 CHINERY, Michael - O.c., p. 350
70
nos parece ter uma centena de anos, dado que não é de crescimento rápido e possui um tronco
folha caduca. Os ramos têm espinhos e as flores são brancas e aromáticas, em cachos
rio e no que resta da Devesa da Ordem, tal como no início do nosso século234; Foto 59 e 61.
globular amarela, porte médio, fruto de vagem ervilheira e folha caduca. Insere-se no grupo
das caducifólias e na família das leguminosas, tal como a robínia e outras plantas de
exploração agrícola. Devido ao azoto que possue, utiliza-se para fertilizar os solos, bem como
para fixar os arenosos e as dunas. Pelas suas características torna-se inconfundível235.
Freixo - Uma das características desta árvore é anunciar a Primavera, uma vez que é
uma das primeiras árvores a florir. Tal como a oliveira e o zambujeiro que se incluem na
família das oleáceas, mas, ao contrário daquelas, é uma caducifólia. Tem um perfil triangular
233 Esta árvore foi observada por nós, in loco, em 29 de Agosto de 1996.
234 FOREY, Pamela - O.c., p. 90; PORTUGAL NATURAL - O. c. p. 74; CAMPOS, Ezequiel de - "A Deveza da
Ordem" Gazeta das Aldeias, nº 2103..., O.c., p. 52
235 CAMPOS, Ezequiel de - "A Deveza da Ordem" Gazeta das Aldeias, nº 2103..., O.c., p. 52; FOREY, Pamela
- O.c., p. 91.
71
com pétalas aromáticas e surge em simultâneo às folhas. Este último tipo de freixo é oriundo
pelos efeitos decorativos e propriedades medicinais das folhas; diuréticas e anti-reumáticas 236.
Encontram-se nas margens do rio Leça exemplares do frixo europeu; Foto 63.
nigra) é uma delas; árvore alta - pode atingir os 35 metros de altura - tem coroa de ramos na
copa. Os cones femininos maduros são significativamente menores que os do pinheiro-bravo,
depois das sementes se terem espalhado. As suas folhas com um comprimento entre 10 e 15
cm , crescem aos pares e envolvem de forma densa os ramos que apresentam uma cor verde
escura. A floração (cones) verifica-se entre os meses de Maio e Junho237; Foto(s) 47, 57 e 64.
Este pinheiro é normalmente plantado em zonas litorais e em solos calcários, servindo
serras de Nogueira, Coroa, Padrela, Marão e Gerês. É uma árvore de porte médio, embora
possa atingir os 40 metros de altura. A copa encontra-se bastante afastada do chão; os cones
femininos maduros medem entre 2 e 8 cm de comprimento e têm cor cinzento-acastanhado.
com o objectivo de servir como árvore de ornamento ou para a produção de madeira. A copa
236 FOREY, Pamela - O.c., p.82; CHINERY, Michael - História Natural de Portugal e da Europa, Ed. Verbo,
Lisboa/São Paulo, Janeiro de 1990, p.352; PORTUGAL NATURAL, O.c., p. 66
237 FOREY, Pamela - O.c., p.107; CHINERY, Michael - O.c., p.299
238 FOREY, Pamela - O.c., p.108; CHINERY, Michael - O.c., p.300
72
tem uma forma piramidal que atinge cerca de 25 metros de altura, não obstante os seus ramos
inferiores quase tocarem no chão. As folhas têm entre 5 e 8 cm de comprimento, são verde
escuras na parte superior e esbranquiçadas na inferior, crescem em grupos de cinco e cobrem
muito densamente os ramos. A sua floração dá-se entre os meses de Maio e Junho239. Cones
Candole), este possui folhas que variam entre os 10 e 20 cm de comprimento, de cor verde-
esbranquiçada, com floração entre Maio e Junho240. Esta espécie teve como principal
incentivador D. Dinis. Rapidamente se difundiu, espalhando-se pelo Noroeste português e
outras regiões, graças ao seu rápido crescimento e poder de propagação. Desde então, tem
árvore que mais área ocupava no país e, particularmente no distrito em análise - o Porto,
seguido-se-lhe o eucalipto; Gráfico3 e Quadro 4.
sementeiras e plantações dos pinheiros, devido a ser semeado no meio dos tojos que naquela
altura eram cultivados. Quando procediam à roça deste último, os pinheiros pequeninos eram
arrancados. Foram criadas novas formas de plantação e sementeira, como o covacho, para
minimizar as perdas. Esta forma consistia em semear quatro a oito pinhões em cada uma das
pequenas covas alinhadas, cobrindo-as de seguida com terra miuda e solta. Eram ainda
colocadas pedras e espinheiros em cada cova, como forma de protecção. Para que
sobrevivessem ainda em mais quantidade, ao sacho do tojo, foram criados "prémios
pecuniários por pinheirinho não roçado". Com estas medidas, conseguiu-se que cerca de
terá chegado à Europa durante o século XIX. A altura máxima é de 50 metros, mantêm as
folhas durante todo o ano e emana um cheiro agradável. As flores são de um branco-
amarelado e dão frutos em forma de cápsula que por sua vez, libertam um número
incalculável de sementes.
Devido à forma como se alastra rapidamente, tem sido plantado, tanto em Portugal
como pelo resto da Europa, para a obtenção de matéria-prima utilizada na produção de pasta
de papel.
Em Leça do Balio ainda se encontra em grande quantidade, principalmente nasbermas
da Via Norte. Um dos seus impulsionadores nesta área, reconhecendo a sua inexperiencia
silvícola, foi Ezequiel de Campos, "levou tempo - alguns anos - a saber (...) aprendemos
praticando e pagando nós próprios as lições" e, reforça a sua constactação ao dizer que: "hoje
fariamos de outra maneira. Naquele tempo, por ainda haver grande falta de lenha causada
pelo destroço da guerra de 1914-18, destinamos quase a terça parte do terreno a eucaliptos
Não obstante, é uma árvore que carece de cuidados especiais; humanos e naturais,
“Oh Sílvio! Toma conta. Olha que a Maria de Loundos deixou cair a giga, e quebrou vinte
241 CAMPOS, Ezequiel de - A Deveza da Ordem Gazeta das Aldeias, nº 2102..., O.c., pp. 5-6
242 Ibidem, p. 6
243 CAMPOS, Ezequiel de - A Deveza da Ordem Gazeta das Aldeias, nº 2100..., O.c., p. 932
244 PORTUGAL NATURAL - O.c., p. 43
74
vasos: quantos levava! - Está na mão dum homem!... Palavras acabadas, ao fechar da porta,
deixou cair a giga, do ombro ao chão, e quebraram-se quase todos os vasos, (...) as primeiras
sementeiras de eucaliptos fizemo-las no chão. Notamos, porém que morriam bastantes na
plantação por terem perdido as raízes no arranque descudidado. Por isto passamos a fazer a
sementeira em caixotes; depois a transplantação de cada arvorezinha para o seu vaso; e, por
fim, a plantação do vaso para a cova no terreno. (...) Dispõem-se em lugar de rega fácil e
crescer em pleno246.
As espécies eram várias, embora predominasse o globulus, por ser o que melhor se
adaptou. Havia também o E. amygdalina, o citriodora, o longifolia, o marginata, o robusta e
o rostrata. O espaço entre eles era de 2,5 por 2,5 metros, quase sempre; outros havia que
distavam 2 a 3 metros. Daqui resultavam cerca de 2.500 árvores por hectar e nas de intervalo
pessoas, morriam muitos eucaliptos. Durante vários anos foram feitas replantações de
eucaliptos e nas falhas do chão plantaram pinhões que na maioria não se deram. Contudo, ao
fim de 16 anos de silvicultura persistente, existiam então 1.573 eucaliptos com diametro
245 CAMPOS, Ezequiel de - "A Deveza da Ordem" Gazeta das Aldeias, nº 2100..., O.c., pp. 932-933
246 Ibidem
247 Ibidem
248 CAMPOS, Ezequiel de - "A Deveza da Ordem" Gazeta das Aldeias, nº 2102..., O.c. p. 4
75
Observa-se assim que, se de início esta árvore foi plantada para drenagem de terrenos
pantanosos, acabou por, mais tarde, ser utilizada para outros fins, nomeadamente económicos.
De tal forma que, em muitos casos, veio a tomar conta de solos agrícolas, se bem que, por
outro lado, o perfume que emana tem levado ao seu aparecimento em zonas poluidas249;
Foto(s) 67 e 68.
Em relação aos arbustos, o que mais proliferava era o tojo. Há setenta anos atrás tinha
inclusivé exploração económica, como nos diz Ezequiel de Campos "a Devesa da Ordem
também produz muito tojo para estrume. Assim está dividida em duas partes: uma para gasto
da quinta; outra para venda. Cada parte em três folhas. Então, em cada ano, roça-se duas
folhas. O mato tem tido sempre compradores - 15 a 20 parcelas anuais"250 . Temos assim
mais um exemplo de exploração económica do património natural, já que, geralmente, o tojo
(Ulex europaeus) é uma planta espontânea nos matos e matagais portugueses, tal como o
rectilínea e atingir três metros, ou de forma rasteira, que é a mais habitual. Se quando as
folhas nascem são parecidas com o famoso trevo da sorte, quando adultas são grossos
espinhos, onde não se pode tocar sem protecção. A flor, amarela, semelhante na forma aos
"sapatinhos" das orquídeas embora mais miúda, pode aparecer no Inverno, sendo mais
habitual na Primavera e, locais há em que persiste todo o ano. Insere-se na numerosa família
das leguminosas (Leguminosae), que são cerca de sete mil, como tal, possui frutos em vagem
e raízes com nódulos, que ajudam a fixar o azoto, fertelizando o solo - uma das razões por que
remos251.
249 FOREY, Pamela - O.c., p.66; CHINERY, Michael - O.c., p.346; PORTUGAL NATURAL, ..., pp. 76-77;
HISTÓRIA NATURAL - O.c., Vol. 8, p. 62
250 CAMPOS, Ezequiel de - "A Deveza da Ordem" Gazeta das Aldeias, nº 2105..., O.c., p. 133
251 CHINERY, Michael - O.c.,p. 334; PORTUGAL NATURAL - O.c., pp. 44;100
76
A título de síntese e no seguimento do que foi referido no início deste ponto, muitas
O primeiro, comprador do Baliado quando da venda dos Bens Nacionais, plantou nos
primeiros quatro anos 1.128 árvores; o segundo, passados oitenta anos, iniciou um trabalho de
plantação de pelo menos 8.000 árvores diversas, excluindo os pinheiros, nas 26 quadras entre
1923 e 1949. Nestas não está incluida "a sementeira anual de pinheiros pelo vento (...) e de
carvalhos pelos gaios", a título de exemplo "para semear bersim no prado, debaixo das
Entende-se por flor silvestre, uma flor completa e composta por: um cálice formado
por sépalas, de cor verde; uma carola composta por várias pétalas coloridas; pelos estames que
produzem o polén e pelo pistilo, simples ou composto. Este poderá dar origem ao fruto que
dará a semente. As flores dispõem-se em inflorescências e podem ser solitárias ou grupadas;
no caso de serem solitárias, surge apenas uma flor na ponta do pedúnculo e nas grupadas já se
estigma (parte superior do carpelo). Existem ainda flores masculinas e femininas, caso tenham
dada pelas cápsulas das mais variadas formas, que abrem de modos diferentes para expelir as
Para além das flores e dos frutos, também as folhas são uma forma de identificar as
plantas. Podem-se distinguir pelas suas suas margens: inteiras, denteadas ou lombadas.
As plantas fanerogâmicas dividem-se em dicotiledóneas e monocotiledóneas. Cada
um destes grandes grupos subdivide-se ainda em muitas famílias, cuja terminologia desta é
geralmente em ácea. Nas aproximadamente 2000 espécies que compõem a primeira divisão,
encontra-se a família das ranunculáceas, onde se encontram as plantas herbáceas das regiões
temperadas do Norte, das quais são endémicas em Portugal as: A. trifólia, A.coronária e A.
palmata252. De uma forma geral as flores silvestres são perenes, há no entanto as anuais que
não excedem um ano de vida e as bienais que não passam de dois anos253. Como a diversidade
de famílias e espécies é imensa, referiremos apenas algumas que identificamos na região254,
tendo em conta a época do ano.
Dedaleira (Digitalis purpurea) - É uma planta espontânea no nosso país. Caule alto,
viçoso e solitário. A flor tipo bienal - só aparece ao segundo ano de vida - é inspiradora para
quem a observa, assemelhando-se a campaínhas de cor rosa púrpura e florescem entre Junho e
algumas regiões é conhecida como batitestas. Gosta dos solos ácidos, de espaços com
sombra/luz; cresce nos campos, caminhos, orlas das matas e sebes. Faz parte de uma grande
cardíacos255.
pela altura - este mede cerca de 50 cm, enquanto que o primeiro, variando consoante o local,
chega a atingir 1 m. O caule é piloso e com bastantes folhas. Floresce entre Abril e Outubro,
Urze ou Queiró (Calluna vulgaris) - São plantas típicas das nossas matas, tal como a
Carrasca (Erica tetralix) e compo. As cores das flores variam entre os rosas e roxos ou branco,
surgindo entre Julho e Setembro. São pequenos arbustos lenhosos e rasteiros que medeiam
entre quinze e oitenta centímetros. Os ramos de flores compostos de várias pernadas
contorcidas, provocam um tilintar tal como a queiró (Erica cinerea) com menos braços e mais
direitos, tendo esta uma flor em forma de urna e folhas com pelos ásperos. Tanto uma como
Além da originalidade da paisagem que todas juntas formam, quando estão floridas,
são espécies muito ricas para a alimentação de gado de pasto, lenha e carvão e fazem parte
das plantas escolhidas pelas abelhas para a polinização. O mel de urze é muito famoso257. Em
Leça do Balio encontram-se nos montes junto da Via Norte, no que resta da antiga Devesa da
(Labiatae), com três mil e quinhentas espécies como a Prunela, a Salva, a Angélica-amarela,
Fetos e Musgos - Este tipo de flora natural tem uma forma de reprodução muito
No caso dos fetos, a maior parte dos caules são subterrâneos, o que faz com que a sua
folhagem germine anualmente. O nascimento das suas folhas, em anel, é muito específico,
que se localizam na página inferior das folhas. Quando os esporos estão maduros, os soros
tornam-se côr de ferrugem, libertando-os primeiro logo que o tempo está seco; no caso de
haver humidade, germinam, dando origem ao protalo. Nota-se assim, que o factor clima - a
humidade no caso - é extremamente importante para a reprodução desta vegetação pelo que é
adultos equivalem ao protalo do feto, uma vez que é neste que se encontram os gâmetas. Tal
duas gerações que se alternam. No entanto, os esporos e o protalo não têm a mesma
localização258.
No que diz respeito à identifação destas plantas, o feto vulgar (Pteridium aquilinum)
é o mais fácil de encontrar, nas matas a Nascente e a Poente da igreja. O musgos são mais
como nos descreve, uma vez mais, Ezequiel de Campos: "Que tontura de amor á vida tem
uma árvore! - nos musgos de alguns troncos apodrecidos de eucaliptos cortados, o vento
depoz pinhões bravos, que geraram pinheirinhos para morrerem à sede na secura do
Fungos - Os fungos são das espécies mais numerosas em Portugal e em toda a Europa.
fundamentalmente pela ausência de clorofila. O que equivale a dizer que não podem produzir
o seu próprio alimento através da fotossíntese, como fazem as outras espécies. O corpo do
fungo é basicamente uma massa de estreitos filamentos designada "hiba" e que penetra no
de reprodução, através dos esporos - pequenos corpos parecidos com poeira, habitualmente
Os Líquens e as Algas - As algas são plantas de estrutura muito simples. Não têm
raízes, não dão flor, nem se dividem em caule e folhas. Não possuem sistema vascular, sendo
na maior parte, aquáticas. Algumas, consistem mesmo numa única célula flutuante, como é o
caso das Chlamydomonas. Multiplicam-se de forma rápida dando origem a duas ou mais
novas células em poucas horas. No Verão os aquários e lagos cobrem-se de verde. Esta
precisamente pela côr. Existem três grupos principais: algas verdes, algas castanhas e algas
vermelhas. As verdes vivem em solos húmidos e nos troncos das árvores, desde que as
259 CAMPOS, Ezequiel de - "A Deveza da Ordem" Gazeta das Aldeias, nº 2105..., O.c., p. 134
260 CHINERY, Michael - O.c.,p.363
82
existem nas matas, principalmente no Inverno, junto dos troncos das árvores262.
- mamíferos
- aves
- répteis e anfíbios
- peixes
- invertebrados.
Embora tenha sido nossa intenção fazer o levantamento das espécies animais e
vegetais que constituem o património natural desta região e, em particular, as que resistiram
ao longo dos tempos, tivemos em conta as grandes alterações que houve na área em estudo,
6.2.1. Mamíferos
Em termos de habitat este tipo de fauna está dispersa em praticamente todo o mundo,
fisicas nomeadamente, o pêlo, que modera a temperatura do corpo o que lhes permite
sobreviver nos sítios mais frios do planeta. Tratando-se basicamente de animais terrestres, e
que normalmente se movem sobre quatro patas, a sua fisionomia é diversificada como reflexo
As formas de gestação, são das mais diversas, mas na maior parte dos casos nascem já
Quanto à sua alimentação, na maior parte são carnívoros e herbívoros o que se irá
reflectir na dentição. A título de exemplo, os animais europeus com dentição completa são: as
espécies, sendo 170 deste continente. No entanto, cerca de 23 foram trazidas para a Europa
onde evoluíram no estado selvagem em simultâneo com algumas espécies bravias locais.
Neste caso, tratam-se de espécies domesticadas que fugiram e se tornaram selvagens, sendo
Deste grupo, podemos considerar como espécies que viveram, e algumas ainda vivem,
Toupeira - Inclui-se numa das oito famílias de insectivoros, a Talpidae, espécie Talpa
europaea, que predomina por toda a Europa, excepto no Extremo Norte e na Irlanda. Possui
características de boa nadadora, pelo que por vezes constrói o seu habitat junto à água. Não
61.
Doninha - Espécie Mustela nivalis. Faz parte da família Mustelidae constituída por
setenta espécies de animais carnívoros. Sendo o animal mais pequeno da família, encontra-se
distribuido por toda a Europa e por todo o tipo de habitats, inclusivé nas cidades. Alimenta-se
de ovos, aves, ratos e outros pequenos roedores. O tamanho não ultrapassa os vinte
centímetros. Dadas as características do seu habitat anteve-se que ali existam.
Fuinha - Da mesma família que a doninha e espécie Martes foina, tem o dobro do
tamanho, e a cauda com cerca de vinte e dois a vinte e seis centímetros. Identifica-se
facilmente por uma mancha que possui no pescoço, quando foina. Vive em florestas
caducifólias, zonas pedregosas e junto às casas. Chega a construir o seu habitat em celeiros e
entra facilmente nas povoações. Predadora por natureza, alimenta-se de roedores, musaranhos,
aves, rãs e lagartos, para além de comer frutos264.
Lebres e Coelhos - Com semelhanças aos roedores, não o sendo porque possuem dois
as dianteiras, cauda curta e peluda e longas orelhas. As lebres são maiores e mais rápidas.
Mas, o que também os faz distinguir são as ninhadas e o local onde nascem. As crias dos
coelhos nascem nas tocas das árvores e com os olhos fechados; as das lebres nascem no solo,
como habitats preferidos as zonas de pastagem, de arbustos, matas, dunas, charnecas e sebes
vivas. Ambos têm hábitos nocturnos, a "ementa" é composta essencialmente de erva, no caso
dos coelhos; no entanto, podem destruir campos de cereais e raizes de plantações de florestas
jovens265. Ainda que de uma forma indirecta, Ezequiel de Campos confirma a problemática da
caça e os malefícios das gentes: "num talhão de mato roçado, tinhamos semeado pinhões ao
covacho. Um bando de caçadores, com rapazes, dirigia-se para lá. Pedimos, por favor, ao
mais velho, que fossem por outro lado. - Espanto do «nenrod»: «que não fazia mal.. »
Ratos - Sendo a mais extensa família dos roedores, mas não sabemos exactamente
florestas. Alimenta-se sobretudo de sementes, bolotas, frutos da faia e avelãs, embora também
simples mostrou que, de toda a fauna local, o gato é o animal menos daninho do arvoredo; e
o mais nefasto é o homem". Será que se refere ao gato doméstico ou ao gato-bravo "?" Este
vive em florestas densas, mas no Sul da Europa, Alpes e Escócia.
6.2.2. Aves
proporcionam habitats às espécies animais que lhes são típicas. Assim, era natural que nas
primitivas matas e bosques de Leça existisse uma diversidade de aves que hoje não é possível
encontrar e/ou identificar. Uma demonstração do que acabamos de dizer são os versos que
Francisco de Sá e Meneses, dedicou ao rio Leça:
(...)
«Por ti cantam aves, De laços e redes
directa ou indirectamente.
As aves identificam-se por uma característica óbvia - só elas possuem asas. Trata-se de uma
das maiores divisões do grupo dos vertebrados, que engloba perto de 9000 espécies.
Conseguem adaptar-se a todos os tipos de habitats, mesmo aos mais agrestes como o são as
Compreendem diversas formas e dimensões, desde a avestruz com 2,7 m de altura e 150 kg de
peso ao diminuto colibri cubano, de 60 mm de comprimento e 2 g de peso. Uma das formas de
identificar as aves face aos seus habitats, é através das patas. As haborícolas têm dedos com
funções específicas, que lhes permite equilibrarem-se nos ramos, nos fios e nos poleiros. Já as
nadadoras, têm as patas semelhantes a remos, com os dedos unidos por uma membrana. Por
último, as que habitam em ecossistemas tipo sapais, possuem altas pernas e longos dedos.
Sendo animais de "sangue quente", protegidas pelas asas, as aves são descendentes dos
desenrolar da sua evolução, os membros anteriores serviríam apenas para planar, após o que
teria ocorrido a transição para as autênticas asas. As penas que as cobrem tornaram-se maiores
e mais resistentes para que levantassem vôo e conseguissem a propulsão durante o vôo. A
diversididade e dimensão das asas são inevitavelmente condicionadas pelo modo de vida da
ave. Mas, nem todas conseguem voar, se nos lembrar-mos da galinha doméstica, do pinguim
ou da avestruz.
espécie, tal como o bico e as patas reflectem os seus hábitos alimentares. As granívoras, por
exemplo, têm fortes bicos, embora curtos. As insectívoras divergem: umas têm bicos delgados
toda a Europa só existe uma representante desta família, a troglodytes troglodytes. A origem é
montanhas, florestas prados, parques e jardins. Alimenta-se de insectos, nidifica nas sebes e
por vezes rasando o chão e rodopiando acrobaticamente no ar, enquanto perseguem insectos.
São muito semelhantes aos andarinhões, embora tenham as asas mais pequenas. É frequente
observar grandes grupos de andorinhas pousadas ao longo dos fios telefónicos, principalmente
especialmente perto de charcos, lagos e rios. Nidifica em colónias, nos buracos escavados nas
Pardal - Talvez a ave mais conhecida, por se adaptar a todos os tipos de habitat. O
Passer domesticus mede quinze centímetros, faz parte da família das Ploceidae e pode-se
áreas habitadas. Reproduz-se em beirais, buracos dos muros, paredes, ninhos artificiais,
arbustos, árvores e entre a folhagem e os caules das trepadeiras. São pequenas aves
granívoras, de plumagem castanha listrada e bico robusto: A fêmea distingue-se por ter cores
normalmente dezasseis centímetros, tem dorso acastanhado, cauda ruiva e peito creme.
Alimenta-se de frutos, insectos ou moluscos terrestres. Faz parte da família das Turdídeas e
refugia-se entre a vegetação rasteira das matas, sebes e jardins, espaços onde gosta de
construir o seu ninho discreto, de caniços e erva seca, junto ao solo. Do género
patas e pernas nuas e não frequentam zonas frias. A codorniz (Coturnix coturnix) é a espécie
mais pequena e tímida. Com um tamanho de dezoito centímetros, a cabeça é listada e a
garganta preta (apenas o macho). Vive escondida entra a vegetação natural ou em campos de
cultivo. Pode ser observada em pequenos bandos durante a migração, mas é geralmente uma
ave solitária271.
Melro-Preto - O macho tem plumagem preta e bico amarelo, enquanto que a fêmea
bastante diferente, tem plumagem castanho e bico creme. Das quatro espécies que existem na
Europa, o turdus merula, de vinte de cinco centímetros, é o que se encontra nas matas e
pomares. No Inverno, vê-se em planícies e campos abertos, como os de milho da Quinta do
encontram-se por toda a Europa durante todo o ano. Para nidificar não escolhe muito: árvores,
Gaio - Ave extremamente nervosa, o que se nota pelo agitar da cauda quando está
pousada. Reproduz-se por toda a Europa e habita em florestas, pomares, parques e jardins.
Com trinta e seis centímetros, inclui-se na família Corvidae, que abrange os passeriformes de
maiores dimensões e as espécies de aves consideradas mais inteligentes. Exemplo disso é que
o gaio (Garrulus glandarius) pode segurar no bico seis bolotas, de que se alimenta e que
Ezequiel de Campos: "de começo semeávamos as bolotas num recanto da horta. Os gaios e os
ratos comiam muitas, por melhor defesas que puzessemos (...). De ajuda temos a sementeira
pelos gaios e outras aves, que por certo vão buscar bolotas também aos carvalhos em torno
azuis e brancos e uropígio branco, grande parte do corpo é amarelo torrado, o rabo e o bico
são pretos274.
escuros, situam- -se muito atrás e em posição elevada. O bico é muito longo e flexível e com
a extremidade da maxila superior branda e móvel. A cauda é negra com a extremidade
cinzenta. Os jovens são muito parecidos aos adultos, com excepção das patas que são um
pouco mais claras.O seu principal alimento é constituido por minhocas e larvas de insectos.
noite, fazendo a corte pré-núpcial. As fêmeas escolhem o par com um sinal de cabeça.
Terminada a corte, cada um deles escava no chão um buraco que atapeta com ervas e folhas
secas, onde as fêmeas poem de três a seis ovos, depois incubados durante três semanas.
crepuscular, a galinhola é uma ave de observação díficil, que passa o dia escondidos e quieta
sob a vegetação espessa e a folhagem dos bosques ou entre os caniçais das terras húmidas e
alagadas. É sobretudo pelo seu comportamento tímido que escapa às mãos dos caçadores
273 CAMPOS, Ezequiel de - "A Deveza da Ordem" Gazeta das Aldeias, nº 2102 - O.c., p. 6
274 CHINERY, Michael - O.c.,p. 83
91
furtivos. É uma das peças de caça mais apreciadas, mas também uma das mais difíceis de
caçar, para o que constitui defesa também a sua forma de voar em ziguezague entre as árvores.
Os seus bandos começam a chegar do Norte entre Outubro e Novembro, passam o Inverno
A galinhola ocupa quase toda a Europa, à excepção das áreas mais geladas do extremo
norte. Aparece ainda na Ásia Menor e no Norte de África. Não a identificamos em Leça, mas
aves e insectos. As suas garras são muito fortes e o bico grande em forma de gancho. Os olhos
brancos ou acizentados (às vezes, ao crepúsculo, parecem todos brancos). Habita em quintas e
Milhafre - Milhano ou Milhafre (Milvus milvus). Embora existam pelos menos duas
espécie em Portugal e na Europa, parece-nos ser este o identificado pelas gentes locais. São da
família Accipitridae, tal como os abutres, águias, açores, gaviões e tartaranhões. Com sessenta
e a cauda mais marcada. Tem como habitats preferidos os bosques, contudo também vive nas
zonas de vegetação mais dispersa. A nidificação é feita em árvores. Em relação às presas, que
275CORREIA, Clara Pinto; CIDADÃO, António José - O.c., p. 105; CHINERY, MICHAEL - O.c., p. 62
276CHINERY, Michael - O.c.,p. 73. Segundo informação obtida no local, estas aves, tal como o Milhafre, ainda
hoje se podem encontrar em Leça do Balio
92
são outras aves, actua de forma discreta, mas prefere-as vivas, tal como as águias. Em
passeiformes de maiores dimensões. São também das espécies consideradas mais inteligentes.
Procuram ousadamente e sem timidez o seu alimento, evitando todo o tipo de armadilhas e
ignorando os espantalhos colocados pelos agricultores nos campos de lavoura. Têm o hábito
de armazenar alimento para o Inverno e uma técnica especial para comerem caracóis consiste
em atirá-los contra as pedras até a casca se quebrar. Crucitam em tons roucos e graves.
planícies ou em zonas costeiras rochosas. Nidifica em buracos de árvores e rochas, bem como
em edifícios velhos abandonados. Frequenta quintas e povoações, vê-se em bandos,
pernas curtas. São aves muito rápidas e têm capacidade de orientação, como tal são, desde há
especialmente no que concerne ao seu habitat - matas e quintas. É vulgar misturar-se com
também se encontre em quintas e jardins, mas surge apenas na Primavera e no Verão. Trata-se
de uma ave mais pequena - vinte e oito centímetros279.
Estas são algumas das aves que compõem os ecossistemas da região. À semelhança do
exemplo do gaio, que referimos, "as aves cantam e semeiam. - Bendita Natureza! "280
Os répteis e os anfíbios, como animais vertebrados que são, inserem-se nas classes
Reptilia e Amphibia. Ao contrário dos mamíferos e das aves, possuem sangue frio, ou seja, a
temperatura do seu corpo altera-se de acordo com o meio em que se inserem. No entanto, não
significa que sejam realmente animais frios até porque, no caso de climas quentes, acontece
precisamente o inverso.
Quanto à sua origem, os répteis, dão continuidade ao ancestral anfíbio que terá surgido
há cerca de 280 milhões de anos. A partir dali, muitas foram as espécies qe surgiram e se
extinguiram nomeadamente os dinossauros. Pensa-se que nos dias de hoje, este tipo de
população rondará as 6 mil espécies, tratando-se na sua maior parte de cobras e lagarto, da
ordem Squamata. As tartarugas marinhas e terrestres atingem as 330 espécies, ordens Celonia,
possuem quatro patas embora os haja, como as serpentes, sem qualquer membro
No caso da classe dos anfíbios, dividem-se em três ordens: da Anura, fazem parte os
sapos e as rãs: da Caudata, os tritões e as salamandras; por fim, na Apoda, inserem-se os
vermiformes, oriundos das terras tropicais. À primeira pertencem cerca de 4000, existindo no
dos peixes. Assim, este tipo de fauna, nunca predominou na terra, como outras espécies,
nomeadamente, a dos répteis.
6.2.4. Peixes
De uma forma geral, os peixes dividem-se em três grupos bastante distintos: lampreias
Chondrichthyes) e peixes ósseos (classe Osteichthyes). Estas últimas duas classes, inserem-se
não nos parece oportuno desenvolver este sub-ponto, uma vez que no espaço em análise não
se encontrarem, por o leito do rio se encontrar morto, como já referimos. Contudo e dado que
as memórias paroquiais assim no-lo informam, deixamos registadas algumas das variedades
de peixes que noutros tempos se encontravam no rio Leça: "Bogas, Bordallos, Barbos,
6.2.5. Invertebrados
Antes de mais, importa referir que são considerados animais invertebrados todos
aqueles que não possuem esqueleto, tal como o seu nome indica. Estão divididos em 29 filos
diferentes e são mais que os vertebrados. As suas dimensões são das mais diversificadas: vão
281 (...) um peixe que era capaz de se deslocar para fora de água e respirar o ar da atmosfera, in CHINERY,
Michael - O.c. p. 107.
282 Memórias Paroquiais, 1758, in FELGUEIRAS, Guilherme -O.c., p. 807
95
tridacnas que atingem o peso de 275 kg. Assim, chegam-se a encontrar invertebrados
extremamente mais pesados que alguns vertebrados.
unicelular, como as amibas. O seu habitat situa-se entre os solos húmidos e a água. Em termos
de reprodução, esta é extremamente simples, vão-se dividindo sucessivamente. Os principais
invertebrados pluricelulares, pertencem a vários filos. Na sua maior parte são animais
Mollusca. Já o filo Annelida é constituído por uma enorme quantidade de vermes terrestres e
de vida activa todo o ano, salvo raras excepções, que são os que hibernam no Outono e os
insectos que são sazonais.
No caso deste grupo de animais ficamo-nos pela caracterização geral, sem especificar
espécies - não por ausência, mas por não ter sido possível o seu levantamento, espécie a
espécie.
96
7. ESPAÇOS AJARDINADOS
Os jardins que circundam o Mosteiro são o da própria Igreja; Foto 1 e 55, na maior
parte de plantação recente mas que também conservam árvores antigas como uma nogueira e
alguns carvalhos e o da Quinta do Mosteiro283; Foto 74 a 76, que possui algumas das espécies
que Ezequiel de Campos deixou em meados do nosso século. Não consideramos o Alto da
Flórida, criado para árvores de flores, por ter sido praticamente extinto; Planta 10.
Não queremos deixar de referir que nem sempre foi linear distinguir as espécies
plantadas para ornamentação, das que constituem habitualmente a flora natural local. Por um
lado, porque as espécies se encontram de uma forma geral misturadas, independentemente das
áreas previamente definidas; Planta 10; por outro, e na sequência do aspecto anterior, o espaço
de arvoredo existente forma todo ele uma espécie de jardim - árvores que normalmente são
plantadas para produção agrícola ou silvícola encontram-se nos espaços ajardinados ou nas
hortas; Foto(s) 48, 77 à 79. Face ao que acabamos de expôr usamos um critério de abordagem
meramente pessoal, por nos parecer o mais prático em termos de descrição, classificação e
cipreste Cupressus sempervirens, L. é uma das variedades desta espécie. Com porte médio,
folha perene, muito estreito, com ramos e rebentos erectos e com lanugem donde saem folhas
opostas, cor verde-escura. Este género possui cônes femininos e masculinos, uns esféricos de
2 a 4 cm de diâmetro e 8 a 14 escamas que, por sua vez, dão 8 a 20 sementes cada; Foto 80,
outras, têm os cônes de 4 mm de diâmetro e situam-se nas extremidades dos rebentos 284.
Ezequiel de Campos diz, em relação aos ciprestes, que "do que estava em frente à
porta do Mosteiro de Leça do Balio obtivemos semente que deu logo muitos. Duma feita
283 O actual jardim da Baliagem encontra-se onde era o terreiro e anteriormente os antigos claustros do
convento. BARBOZA, Velho do Carmo de - O.c. p. 40.
284 FOREY, Pamela - O.c. pp. 117; 125; CAMPOS, Ezequiel de - "A Deveza da Ordem" Gazeta das Aldeias, nº
2102..., O.c., p. 6
97
tantos como dias tem o ano ... Plantamos alguns; outros foram para o Douro e Évora; e uns
poucos crescem em Lisboa perto do Palácio da Assembleia Nacional, [em casa do Dr.
Salazar]"285. Hoje, depois das diversas alterações que aqueles espaços sofreram, encontramo-
-los a decorar os espaços ajardinados pela Câmara, tal como acontece em muitos locais do
nosso país, junto ao cemitério e a servir de sebe ao espaço definido "como Zona de Protecção"
adstrita ao Monumento Nacional; Foto(s) 1 e 80 a 83.
Em relação aos "Cedros do Buçaco", Ezequiel de Campos também plantou uma parte
da mata só com esta espécie, designada pelo mesmo nome e na orla da estrada Santos Lessa,
após os ter criado em pequenos vasos e viveiro durante dois anos. O Cupressus glauca -
Lamarck, foi a espécie semeada inicialmente. É uma árvore que, depois de se adaptar, se
reproduz facilmente junto aos troncos das árvores mais velhas. Arbórea e de grande porte é
O nome "Cedro-do-Buçaco" não corresponde à sua origem mas apenas a uma confusão
com os ciprestes. Embora sejam árvores semelhantes na prática, quando bem observadas têm
enquanto que as dos cedros são em forma de agulha como as dos pinheiros, mas muito
88. Com cerca de 30 anos há a Murta ou Murtinhos; Foto 77, e a Trepadeira Tostão; Foto
285 CAMPOS, Ezequiel de - "A Deveza da Ordem" Gazeta das Aldeias, nº 2102..., O.c., p. 6
286 CAMPOS, Ezequiel de - "A Deveza da Ordem" Gazeta das Aldeias, nº 2102..., O.c., p. 6; PORTUGAL
NATURAL - O.c., pp. 80-81
287 Enciclopédia das Plantas - O.c., p. 39; CHINERY, Michael - O.c., p. 349
98
Das espécies exóticas, para além da Palmeira, encontram-se algumas Japoneiras que,
não tendo as dimensões das centenárias do jardim do Solar Condes de Resende288, segundo a
História Oral - informação dos proprietários, parecem datar da época em que o primeiro andar
do Paço dos Balios sofreu grandes obras289, entre os finais do Século XVI e o início do século
segundo a mesma fonte já ali estavam quando Ezequiel de Campos para lá foi viver.
nível de morfologia. De grande porte e do Grupo das Caducifólias, as folhas são em forma de
liso mas cinzento; o da terceira é muito rugoso. São conhecidas como "árvores calmas" pelas
propriedades medicinais e pelos chás. O aspecto negativo é a alergia que provocam, a muitas
8. EXPLORAÇÃO AGRÍCOLA
de gerações de homens. Durante séculos, com cuidados e técnicas de cada uma das épocas, os
acessíveis e de baixo custo, como a energia solar; através das características de determinado
tipo flora de que a fauna depende e o estrume. Por outro lado, as eiras294, sequeiros,
coradouros e estendais eram também formas de aproveitamento de energia solar para a seca
dos cereais, plantas, frutos, peixes, roupas, objectos de cerâmica, etc.. Estas formas de vida
ao esforço humano.
A exploração agrícola faz parte de um sistema cultural, tal como o património
arqueológico, construído, etnográfico e natural, pelo que não deve ser analisada isoladamente.
Não podiamos por isso deixar de abordar a agricultura do Mosteiro de Leça do Balio, uma vez
que ali permanece desde a construção do primitivo cenóbio até aos dias de hoje296, fazendo
294 Até 1923 a eira da Quinta do Mosteiro encontrava-se no meio do campo de 6 ha, onde hoje estão duas
enormes nogueiras, a que já nos reportamos. Nesta data, foi transportada (as mesmas pedras) para o espaço junto
à casa dos caseiros e do silo (ala Sul), estes construídos por Ezequiel de Campos.
295 PACHECO, Helder - O.c., p. 40
296 Assim o demostram alguns dos 250 livros da Monástica deste Mosteiro existentes no A.D.P..
297 Livro de Prazos da Baliagem nº 38 (1548 a 1765); 1º Livro Mostrador da Fazenda da Baliagem (1811);
Livro de Prazos da Baliagem nº 43, Baliagem 40, Livro 48 (1816 a 1828), p.1.
100
mayor, algum centeyo, milho alvo, painso, sevada, e triguo", sendo a espécie de maior
quantidade o milho mayor. No entanto, não era suficiente para a alimentação da freguesia
pelo que muitos dos Labradores tinham que comprar o pam fora. Produziam ainda a
castanha, algum vinho verde e pouco azeite299. Não obstante, ainda "há um século atrás (...).
Em volta eram campos desdobrando-se até ao Leça correndo perto"300. Os campos de hoje
ainda são de considerável dimensão, principalmente os das Quintas, explorados pelos caseiros
e/ou vários rendeiros. Nos grandes espaços o predomínio dos produtos agrícolas vai para o
milho, enquanto que nos terrenos junto às casas - as chamadas hortas - a variedade é imensa e
sazonal.
Hoje, em muitos dos espaços ajardinados encontram-se árvores de fruto, algumas das
quais foram plantadas com intenção paisagística mas também económica. A Quinta do
Mosteiro é o melhor exemplo dessas plantações referidas por Ezequiel de Campos: "e fomos
possível, por sementeiras e estacas em pequeno viveiro, que logo organizamos num recanto
do pomar da quinta. Além de colaborar com a Natureza, seria economia"301. Como vestígios
destas acções encontram-se ali uma série de árvores que passamos a analisar.
A Nogueira de largo e alto tronco; Foto(s) 92 e 93, que se encontra junto à fachada
Norte, num espaço ajardinado, é como que um ex-libris da actual flora que circunda a igreja
de Santa Maria de Leça do Balio302. Trata-se de um dos dois exemplares, desta variedade, de
plantações de Ezequiel de Campos - nogueira preta (Juglans nigra, L.). Esta foi introduzida
em Portugal para a exploração de madeira, devido à sua boa qualidade. Tem a sua origem nos
Estados Unidos, enquanto que a nogueira comum é proveniente da Eurásia303. Esta última
pertence à ordem das Juglaudáceas, família das Gimnospérmicas, espécie Juglaus regia e
também se insere no grupo das caducifólias. Cultiva-se ou nasce perto dos cursos de água, em
terrenos frescos e profundos, podendo a reprodução ser feita por sementes ou enxertia. A sua
produção alimentar são as nozes, fruto oleoginoso. A noz é composta por um "tegumento"
lenhoso e rugoso do qual se extrai a semente comestível304. São árvores de grande porte que
durante vários anos. As próprias folhas são aproveitadas em favor da medicina, para além das
diversas aplicações em produtos de beleza. Das duas centenas de nogueiras comum plantadas
A Oliveira de longa tradição, e os seus frutos são tema de versos e redondilhas muitas
vezes "trauteados" pelo povo. Correia de Oliveira, em 1947, referindo-se ao azeite exaltava-o
assim:
"Amacias o caldo, em teu perfume
Dás vista aos olhos; enches do teu lume
Palácio, Templo, ou antro de caverna
Esta árvore encontra-se por todo o país, em zonas onde os solos não são muito
húmidos ou as altitudes não sejam muito elevadas, mas o seu habitat natural são as terras
secas e pedregosas. É procedente da região mediterrânica, onde existe desde tempos remotos.
Insere-se na vasta família das quatrocentas a quinhentas espécies de oleáceas, entre árvores e
arbustos ornamentais e de grande importância económica, como a faia. A floração dá-se
A Olea europae var. sativa é uma árvore de folha miudinha e perene. A sua congénere
brava é o zambujeiro (var. sativa) na transicção dos arbustos para as árvores. Este mede
aproximadamente oito metros enquanto que a oliveira tem geralmente quinze307.
A Figueira caracteriza-se por ser uma árvore cuja flor é praticamente invisível com
dimensões muito reduzidas e fechadas, onde apenas os insectos entram para as fecundar. Nas
regiões rurais é vulgar ouvir-se dizer "(...) como a Figueira que dá fruto sem flor", o que não
corresponde exactamente à realidade. Oriunda do Ocidente Asiático, em Portugal encontra-se
dispersa com um tamanho de mais ou menos 10 metros. Os frutos - os figos - são diversos,
consoante as regiões, a época do ano e as castas. São considerados muito ricoS em termos
nigra) pelo tronco baixo, copa larga e ramos torcidos; mas as folhas e os frutos são
completamente diferentes308. Em Leça do Balio vê-se um ou outro exemplar daquela árvore
307 CHINERY, Michael - O.c., p. 351; PORTUGAL NATURAL - O.c., p. 67; FOREY, Pamela - O.c., p. 65
308 CHINERY, Michael - O.c., p.323
103
originária da Ásia Central e transferida para a Ásia Menor há mais de mil anos e, só daí, para
auge da sua beleza, quando se apresenta vestida de flores brancas, vermelhas ou rosadas. A
côr da flôr denuncia a grande diversidade de castas Trigãees, Vasteses, Soldares, Vicaes,
Agostinhas, Pedraes, pretas, etc. É da espécie indígena ou silvestre que surge a grande
diversidade cultivada em pomares e jardins. Nos jardins, ela aparece, fundamentalmente,
devido à sua extraordinária beleza. Se na Primavera é a côr das flores a principal atracção, no
Verão e no Outono é a côr e a forma do seu fruto - a cereja. Para além da beleza que
valor, devido à invulgaridade dos veios e grãos que constituem o tronco desta árvore que
calmante peitoral e o chá de pés de cereja é recomendado para infecções dos rins e do
fígado313.
309 Enciclopédia das Plantas - O.c., V. II, pp. 15-89; Enciclopédia das Plantas - O.c.,V. I, pp. 24-63; LELLO,
José; LELLO, Edgar - Lello Universal, Dicionário Enciclopédico Luso-Brasileiro em 2 volumes, Ed. Lello &
Irmão, V. I, Porto, 1988; CHINERY, Michael - O.c., p. 327
310 Enciclopédia das Plantas - O.c., V. I, p. 82
311 CHINERY, Michael - O.c., p. 327
312 CHINERY, Michael - O.c., p.327
313 Enciclopédia das Plantas - O.c., V. I, p. 82
104
Mediterrâneo. Uma das formas de a identificar é pelas cinco pétalas que compõem as suas
flores. No caso presente, identificamos espécies derivadas da macieira-silvestre, que se
A macieira (Pyrus malus L.) ou maçãzeira, da família das Rosáceas, grupo das
Cordaites, que hoje em dia se cultivam, são resultado de enxertias efectuadas às macieiras
Estrela. Ainda em estado selvagem, aparecem nas matas, valados e sebes. Com uma altura de
cerca de 10 metros e touça pouco longa, sobressai a copa de densa folhagem espinhosa.
As folhas apresentam-se sob a forma de cunha ou ovais, de base circular. Tal como
acontece com alguns frutos ácidos, também aqui a côr das folhas varia de acordo com a maior
ou menor exposição ao sol. Os pecícolos sulcados, com cerca de 2,5 cm de comprimento, têm
características penugentas. A influência do clima, o tipo de enxertia, entre outros factores,
espécie silvestre pyrus communis é que deu origem a todas as outras que possamos encontrar
Abrunheiro, a Amendoeira, o Mostajeiro, entre as duas mil espécies que compõem esta
família. No estado selvagem, a Pereira predomina nas matas e sebes da Europa e da Ásia
Ocidental, com uma altura de aproximadamente 20 metros. Tem uma fisionomia semelhante à
macieira, mas as folhas são normalmente mais pequenas e menos enrugadas. A própria copa é
mais esguia e os seus braços são ascendentes. Os frutos - as pêras - variam consoante as
enxertias e as castas. O carvão e a lenha desta árvore são muito duráveis na combustão. Já a
Particularmente no antigo pomar, hoje horta, da Quinta do Mosteiro algumas dessas árvores
têm dezenas de anos, entre elas, encontramos: as Nespereiras com 22 anos, várias
Ameixieiras, dois grandes Diospireiros, Toranjeiras, Tangerineiras, Marmeleiros e
Nespereiras. As Laranjeiras parecem ser das árvores que melhor se adaptaram - o Tombo de
1642 fala de uma laranjeira no quintal dos Beneficiados, a qual, ou seus rebentos, em 1849
ainda ali estava316. Assim, mesmo que esta não fosse a mesma árvore, pelo menos sabemos
que esta espécie vive ali há, pelo menos, 4 séculos; Foto(s) 78, 79, 99 e 100.
No mesmo espaço, explorado pelos caseiros, mas no dito pequeno pomar e antiga
Do mesmo lado e dando continuação ao pequeno pomar, mas a nível mais baixo e separados
por uma parede, é o campo que se chamava de Vargea grande317 da mesma Quinta, hoje está
arrendado e o predomínio da cultura é o milho. As Abóboras e uma série de produtos
habituais nas hortas portuguesas, cultivam-se no antigo pomar ou horta do lado Nascente dos
1. INTRODUÇÃO
fontes encontram-se ainda nos materiais e nas temáticas utilizadas pelo artista.
Construído: Arquitectónico e Artístico que se encontram na igreja de Santa Maria e nos Paços
dos Balios, o que passaremos a fazer, basicamente, através destes métodos, mas
Cada uma destas imagens possui um significado, ao mesmo tempo que são o reflexo do
sistema cultural da época em que foram elaboradas, nomeadamente o económico, tornando-as
determinadas e determinantes e numa "realidade complexa" que não deve ser interpretada
apenas através dum primeiro olhar319. Assim, enquanto que a formação da obra é analisada
pelo método formalista, o sociológico estuda a sua génese e o iconológico explica e valoriza
318A investigação mais recente desta problemática relativa à história da crítica deve-se a autores como Julius
von Schlosser, em 1924, com "Storia della letteratura artistica" e a Lionello Venturi, em 1938, com "Storia
della critica d'arte". ARGAN, Giulio Carlo; FAGIOLO, Maurizio - Guia de História da Arte, 2ª Edição,
Editorial Estampa, Lda, Lisboa, 1994, pp. 25; 29; 34
319 ARGAN, Giulio Carlo; FAGIOLO, Maurizio - O.c., p. 23
320 Desenvolvido por E. Panofsky. ARGAN, Giulio Carlo; FAGIOLO, Maurizio - O.c., p. 37.
321 Desenvolvido por R. Wittkower. ARGAN, Giulio Carlo; FAGIOLO, Maurizio -O.c., p. 37
108
hábitos e referências que esta arte compõe, se tornou na parte maior da História da Arte323.
Segundo Reinaldo dos Santos, a manifestação das comunidades sentiu-se
particularmente nas construções religiosas. A igreja era construída como que um símbolo de
Jerusalém. Devia ser segura e estável, cumprindo as necessidades do culto firmitas, utilitas et
venustas, tornando-se o orgulho do seu encomendante e dos seus fieis. A homogeneidade que
arquitectura românica que correspondia aos novos canônes da liturgia romana324, realçando já
que existe actualmente é a igreja de Santa Maria e a Quinta do Mosteiro, de foro privado. Esta
igreja, reedificada no século XIV, está classificada no estilo gótico das construções
militares325, embora a decoração vegetalista tenda à imaginação do século XII, principalmente
no interior das igreja326.
2. A ICONOGRAFIA DO MOSTEIRO
A morfologia externa que o edíficio apresenta, todo ele em pedra granítica do século
XIV, numa primeira impressão é de grandeza, apesar da sua simplicidade. Poder-se-á dizer
que parte desse impacto será o resultado das características de um edifício de feição militar,
que tem semelhança na Igreja de S. Francisco no Porto. Também a decoração e as formas
para a fachada principal; a torre com balcões de mata-cães e ameias - assim como em todo o
edíficio ao longo da nave central e, mais abaixo, nas naves laterais, onde se vêem duas filas
que o portal principal fosse a Poente. Este, com uma profundidade igual à espessura do muro,
é composto por oito arcos ogivais contínuos e de tamanho decrescente, que outras tantas
colunas sustentam. Entre os remates superiores destes, de cada um dos lados, encontra-se um
contraforte. Sobre o mesmo portal, há uma passagem em balcão com parapeito ameado, onde
Sobre as cornijas, ao longo dos telhados, corre em toda a volta uma linha de ameias
como cumpre nas decoração militares; Foto(s) 103, 104, 7 e 8.
mensagem cristã, encontram-se espalhadas por todo o conjunto: nos pilares quadrangulares de
esguias colunas adossadas do interior da igreja, nos arcos ogivais por banda, nas nervuras
absidais nas três naves que a dividem; na grande rosácea radiante do frontispício, que no
vértice tem colocada a cruz do divino cordeiro, como cumpre. Estas características podem-se
notar ainda no portal principal de arcos apontados, no lateral Sul englobado de capelos, nos
110
capiteis do interior da igreja e nos dos antigos claustros, onde se encontra esculpida a flora e a
fauna dos nossos ecossistemas. É possível observar os temas bíblicos nos capiteis da cabeceira
da igreja. O facto de existirem capiteis com dois tipos de decoração, uns embora toscos
estílos e a possível substituição de artistas durante a construção327; Foto(s) 105, 106, 104,
107, 108, 109, 112, 113 e 114.
vida religiosa, quer na vertente do culto da divindade, quer no dos mortos, incumbindo-se por
Paços da Baliagem são como que o cunho das famílias que por ali passaram. Interpretação
semelhante poderemos dar ao espólio arqueológico disperso. Estas obras retratam esse gosto
desde que foi de S. João de Jerusalém, de Rodes e depois de Malta. O do Beato Frei D. Garcia
327 MAGALHÃES, Luis de - Egreja de Leça do Balio in A Arte e a Natureza em Portugal, Direcção de F. Brut,
Cunha Morais, Editor Emílio Biel & Cª, Porto, 1903, Vol. II, p. 24. São temas retirados dos Génesis e dos
Evangelhos in MONTEIRO, Manuel - O.c., pp. 79; 84; DIAS, Pedro - O.c.,Vol. IV, p. 44
328 Incluido na Z.E.P.
329 Este Frei é um dos mais polémicos devido às crenças da sua santidade, faleceu no ano de 1306. Foi Gran
Comendador dos cinco Reinos de Espanha, in BARBOZA, Velho do Carmo - O.c., pp. 62-66.
111
mensagem do que foram e de como eram aqueles homens, ou seja, a decoração representa as
tipologias: o homem, o seu tempo, os seus feitos e, nalgumas situações, a sua ideologia - como
nos casos da lâmina dedicada a Frei Estevão Vasques Pimentel e o de Frei Cristóvão de
de milho, com escudos brazonados que figuras de anjos amparam. Trata-se de um batistério
do século XVI que, segundo a inscrição, o encomendante foi D. Frei João Coelho, o mesmo
doador do cruzeiro e o artista Diogo Pires o Moço. O Cruzeiro, outrora "colocado um pouco
desnivelado"336, está hoje, embora na mesma orientação, colocado num pedestal que não
pertence ao conjunto, no largo da casa da paróquia, ou seja, na Rua de Santos Lessa. Também
em pedra de ançã, compõe-se de uma coluna cilindrica, cortada a meio fuste por um anel
330 Foi um dos homens mais notáveis da Ordem e do Reinado de D. Dinis, morreu em 1336, in BARBOZA,
Velho do Carmo - O.c., pp. 49-58.
331 Prior do Crato, Chanceler de Rodes, Balio de Negroponto, Comendador de Leça e da Guarda, faleceu em
1515, in BARBOZA, Velho do Carmo - O.c., pp. 58-61; FREITAS, Eugénio da Cunha e - "Santa Maria de
Leça do Balio, Notícia Histórica e Artística, Ed. Marques Abreu, Porto, 1958, pp. 10; 14; 26
332 O túmulo deste Gran Chanceler da Ordem de São João de Jersalém e Comendador do Mosteiro de Leça e
das comendas de Poiares tem a sua estátua orante, seiscentista, esculpida em madeira. Faleceu em 19 de Janeiro
de 1569, in BARBOZA, Velho do Carmo - O.c., pp. 47-48; FREITAS, Eugénio da Cunha e - O.c., pp. 11; 26.
333 Morreu em 1666, in BARBOZA, Velho do Carmo - O.c., pp. 46-47.
334 Segundo o livro de óbitos da igreja matriz, este Prior do Crato e Balio de Leça faleceu em 31 de Março de
1681 in BARBOZA, Velho do Carmo - O.c., p. 45
335 O livro tem uma simbologia muito vasta. Só - é um atributo do Evangelistas, dos Doutores da Igreja e dos
Santos diáconos (...), in TAVARES, Jorge Campos - Dicionário de Santos, Hagiológico, Iconográfico, Lello &
Irmão Editores, Porto, 2ª Ed., 1990, p. 193; COUTINHO, B.Xavier - Nossa Senhora na Arte, Alguns Problemas
Iconográficos e uma Exposição Marial, (obra Postuma) , Associação Católica do Porto, Liv. Tavares Martins,
Porto, 1959, p. 167.
336 O cruzeiro ainda em 1903 se encontrava nesta localização. MAGALHÃES, Luis de - O.c., p. 25;
MONTEIRO, Manuel - O.c., pp. 79; 84
112
saliente que é ornamentado por duas guarnições, superior e inferior, de pequenas bolas e
encimado por uma cruz floreada, donde pende uma figura de cristo, pouco vulgar como
documento iconográfico e como escultura. Ao sopé da cruz, sobre o capitel, está ostentado um
escudete com o brasão da família do encomendante, assim como na epígrafe de doação, datada
de 1514, também está o seu nome337; Foto(s) 116, 52, 117 e 118 e Gravuras 5, 1e 7.
Para além da descrição feita e tal como referimos na introdução deste capítulo, a
decoração da arquitectura e os recursos temáticos da escultura e doutras artes menores, têm
uma explicação simbólica, de acordo com a cultura em que se inserem, tendo como base
significância, desde a expressão e posição da Virgem só, ou com o menino, às roupas e aos
A lâmina de bronze dedicada ao mais mencionado Balio de Leça - Frei Estevão - está
carregada de mensagens e simbologia339. Mais parecida com um quadro do que com as
tradicionais campas, até porque se encontra na parede à altura dos olhos do visitante, além da
decoração floral - tipo silvas, tem a presença de Jesus e dos Apóstolos ao centro, a Trindade à
direita, S. João, o Evangelista com um cálice; S. Pedro com as chaves do céu e S. Filipe o
formoso, com a cruz do seu martírio. Na base destacam-se: os simbolos dos evangelistas, os
brasões de Portugal e de D. Frei Estevão Vasques Pimentel. Ao centro a divisa heráldica da
As flores de lis ou de lírios, "sou a flor dos campos e o lírio dos vales", representam
na iconografia mariana a Imaculada Conceição. Em Leça do Balio encontram-se vestígios
destas flores na lâmina de bronze, nalguns dos capiteis e nos portais342 ; Foto 113.
Também já vimos anteriormente que muita da flora e da fauna abordada tem uma
simbologia, na maior parte conhecida pelo povo. A nogueira, por exemplo, é o símbolo da
fertilidade, a oliveira da paz e a laranjeira da pureza. Os animais que suportam o
"sarcófago" de Frei Garcia Martins são figuras típicas deste tipo de obras e funcionavam como
que guardiões das necrópoles, normalmente assemelham-se a leões, mas são designados de
A pomba, por exemplo, desde o início do cristianismo que ela aparecia como símbolo
do divino Espirito Santo nas árvores de Jessé. A simbologia desta ave espalhou-se
praticamente por todo o mundo: na Rússia aparecia assiduamente na iconografia de Jesus; na
Nalguns dos casos, a decoração pode apenas fazer parte da corrente estilística, mas
também essa se regia por determinadas características, consoante a política religiosa em que
surgiu. Muitas vezes encontram-se decorações temáticas muito diferentes dentro do mesmo
estílo, por gosto do encomendante, do próprio artista e dos materiais usados, predominando
341 Ibidem, pp. 86-87; TAVARES, Jorge Campos - Dicionário de Santos, Hagiológico, Iconográfico, Lello &
Irmão Editores, Porto, 2ª Ed., 1990, pp. 183; 185; 187.
342 Ibidem p. 157
343 Ibidem pp. 160-162
344 COUTINHO, B.Xavier - O.c., p. 163.
114
os temas dos canones iniciais. Por outro lado, é quase que lógico as manifestações da fauna e
da flora natural da região nas artes locais, independentemente da explicação religiosa das
Sagradas Escrituras ou da mitologia dos Povos Clássicos. A decoração da pia baptismal
poderá ser um desses exemplos - aliada à mensagem religiosa e cristã dos anjos estará a das
espigas de milho (maçarocas) - produzidas na região e que por outro lado representam o pão.
Será que a interpretação de Edm. Joly nos ajuda a compreender melhor o significado
das representações iconográficas da natureza? - "l'homme a retrouvé en elles (nas plantas) son
premier espoir sur cette terre d'où le péché inicial les avait comme bannies pour les épines du
mal"345 - ou será a lâmina enaltecedora do "Balio de Leça" um dos melhores exemplos dessas
manifestações artísticas e objecto de mensagens? Numa das frases está escrito: "ut rosa flos
UM ESTUDO NA ACTUALIDADE
116
1. DIAGNÓSTICO
Pontos Fortes
346 Os brindes ou lembranças desta empresa oferecidos aos seus clientes, têm na maioria dos casos como
temática o Mosteiro. Consideramos oportuno juntar algumas reproduções em anexo; contudo não foi possível
reproduzir o puzle em cerâmica de azulejos, pintados à mão, ficando apenas a nota.
347 Trata-se de uma informação resumida e concelhia de "Locais a Visitar". Enderesso:
http://sweet.ua.pt/~RuiMelo/Matosinhos/avisitar.html
348 Informação dada pelo Dr. Pedro Gradim (Pe) que lecciona naquela Escola. O artigo de uma destas
experiências encontra-se disponível na B.P.M.M.
117
- Os factos de:
Pontos Fracos
São de destacar:
349 Segundo comunicado daquela Câmara, os investimentos na área paisagística (jardim da igreja) entre 1983 e
1993, eram de cerca de 300 mil contos, in Jornal de Notícias de 29/10/1993, p. 8. A empresa de jardinagem
chama-se Vibeiras e é de Viseu. Segundo informação verbal de um funcionário sub-contratado por esta empresa,
principalmente no Verão, o jardim é regado todos os dias e uma vez por semana é feita a manutenção da flora,
quando ali se desloca um superior da mencionada empresa.
350 Segundo informação de um dos proprietários, as duas salas térreas são alugadas, pontualmente, para
casamentos ou outras acções similares desde 1985/86; Foto 119 a 121.
351 O caso que melhor conhecemos é o da indústria alimentar, particularmente a UNICER que tem feito elevados
investimentos nesta área. Entre 1990 e 1995 o valor investido na área do ambiente no Grupo (Leça do Balio e as
fábricas no Sul do País) era de 29 milhões de contos, in MEISTER, Patrícia e MONTEIRO, Alexandra -
UNICER, Auto-suficiência Energética, Revista Ambiente nº 2, Edição AIP, Porto, Setº/Outº de 1995, s/p.
Algumas das outras indústrias que se encontram na área, sabemos que pelo menos que têm Diagnósticos
Ambientais efectuados e cumprem alguma da legislação, quanto mais não seja as Empresas Certificadas. São
também de considerar as plantações de árvores que essas empresas fizeram à volta do seu limite Industrial e que
de uma forma geral são espécies que têm história na paisagem (Veja-se o caso da Fábrica de Sedas Lionesa e a
UNICER).
352 A placa que se encontrava há uns tempos na Via Norte desapareceu, quem vier pela Ponte da Pedra também
não tem qualquer tipo de sinalização aluziva ao monumento.
118
• o monumento não tem "B.I.", ou seja, não existe uma informação no local que diga
pelo menos a data da sua construção ou uma pequena biografia do monumento353
no exterior da igreja ou um simples folheto de orientação ao visitante
- No que respeita a questões ecológicas, tal como a maioria das empresas portuguesas, as
locais não cumprem ainda as exigências das Normas de protecção ao ambiente da
União Europeia - a degradação dos ecossistemas é notória
- O rio Leça é parte integrante do conjunto e o ecossistema rio praticamente não existe
2. PROPOSTA DE VALORIZAÇÃO
procurem atacar as causas que estão na origem dos pontos fracos identificados e potenciar as
mais projectos, tendo em conta as diversas entidades de foro público e privado envolvidadas e
a sensibilização da própria população, pelo que se tratará de um Projecto cooperativo, a passar
por diversas fases de planificação com a participação de várias entidades e tendo em vista a
Programa(s) de Gestão, a efectuar posteriormente que garantam a correcção dos Pontos Fracos
etapas:
Primeira fase
1. Proceder a uma rápida acção de vigilância e segurança, que eliminará, à partida, uma
série de problemas ao Monumento e à população local357
357 Referimo-nos por exemplo ao consumo de droga, cujos vestígios se encontram no exterior da cabeceira da
igreja e à prostituição na perifería das estradas.
120
limítrofes e distrital.
vigorar a legislação e respectivas penalizações que esta prevê (acções conjuntas a nível
concelhio e estatal)
Segunda fase
358 Este slogan é o título de uma Revista do IPPAR, cuja imagem da capa se encontra na Internet.
359 Refiram-se algumas das instituições estatais: a S.E.C., a D.G.T., a D.G.R.N, a D.G.A., o I.N.C.N, o IPPAR
e a D.G.V. entre outras.
360 Como por exemplo: "está a X km's do Mosteiro de Leça do Balio" , ou "a X km's da casa-mãe dos
Cavaleiros Hospitalários em Portugal" Visite-nos! ou "Visite o Vale do Rio Leça e a sua Igreja-Fortaleza do
Século XIV", etc.
121
imagens, como forma de convite, poderiam ser alusivas ao Mosteiro, aos Monges, às
não choquem com o conjunto. Um pequeno quiosque362, uma estrutura hoteleira, onde
o turista sinta um ambiente acolhedor e original, possa tomar um chá, comer um
viveram no primeiro andar dos Paços dos Balios364; espaços para reconstituições de
361 Refira-se que a ilustração da flora e da fauna local, nesta forma de divulgação, só se justifica depois das
espécies estarem, devidamente, classificadas localmente. Aproveitamos o ensejo e a título de exemplo veja-se o
que acontece em outros países da Europa Comunitária; existem centenas de Kilómetros de Florestas protegidas,
classificadas, com vias de acesso ao seu interior, com informação do tipo de árvores e dos eventos que se
realizam sazonalmente, ao longo das estradas. Um destes exemplos encontra-se entre a fronteira Espanha/França
em direcção a Bordéus (aproximadante 200 Km's).
362 Que funcionará como posto de depósito, venda e distribuição. Destacamos produtos como: publicaçõs da
Imprensa; uma pequena biografia do Mosteiro, Mapas e Postais Etnográficos da região, Programas de
informação, permanentes ou sazonais; de eventos, culturais ou não, em Leça do Balio, no concelho, no distrito
e no país, consoante a tipologia da acção e do documento.
363 A intenção deste tipo de estrutura de apoio é para um determinado tipo de turismo - "seleccionado" e não o
turismo de "massas". Para este efeito poderia ser reabilitada a casa a que chamam hoje dos "Balios" (Foto nº )
364 Um dos exemplos é uma exposição de pintura retratista de todos os Resi Portugueses que ali se instalaram.
Outro, seria sobre os Grão-Mestres Portugueses da Ordem de Malta ou ainda dos Monges Cavaleiros que mais se
destacaram.
365 Lembramo-nos de um caso, a título de exemplo o casamento de D. Fernando e D. Leonor Teles.
122
arqueológico que se encontra disperso. Outra opção, seriam são as exposições de arte.
O preço das visitas sería estípulado consoante a tipologia do programa e fins das
exposições.
Com a implementação das acções até aqui referidas é lícito antever uma maior
Por incluir diversas entidades, a presente Proposta não contempla determinados aspectos,
implícitos em Projectos de Gestão do Património, como: as metodologias, definição de
366 Que, em maior quantidade, serão também "eles" uma forma de marketing.
367 Colocar objectos condizentes com o espaço e em local estratégico (onde o visitante vá de certeza e veja esses
objectos e o apêlo) de forma a que o turista possa colocar uma contribuição monetária sem "notar" que está a
dar, mas ficando a ideia de que contribuiu para a conservação do monumneto que visitou.
368 Como a assinatura do protocolo de 1993; Foto 127.
369 Salientamos que quando nos referimos a Postais ilustrados, a diversidade da temática a efectuar é imensa e
passará pela flora e fauna local, pelo conjunto arquitectónico e natural (como se pode observar em algumas das
imagens em anexo), pela iconografia dos cavaleiros da Ordem de Malta, etc, etc., além dos tradicionais temas da
arquitectura da igreja e pormenores que já conhcemos; Doc. 4 e 5.
123
CONCLUSÕES
Balio, classificado de Monumento Nacional, o qual foi o nosso ponto de partida. No sentido
de melhor o compreendermos, procedemos a um breve esboço histórico que nos transportou
para as possíveis origens do espaço físico, social e localização geográfica em que terá surgido
Património Cultural - o Património Natural. Apercebemo-nos, contudo, que não era possível
analisar esta "parte" sem conhecermos a interdisciplinariedade das diversas áreas do estudo
das heranças que os nossos antepassados nos legaram. Recorremos então ao fundo Monástico
deste Mosteiro e a outras fontes que nos ajudaram a compreender a História das Paisagens que
ali existiam e as que agora ali se encontram. Dada a riqueza e diversidade das espécies e do
positivos e negativos, propondo correcções dos mesmos e uma lista de acções práticas que
gostariamos de ver concretizadas. Que poderão proporcionar uma base de trabalho para
estudos neste âmbito.
BIBLIOGRAFIA
127
BIBLIOGRAFIA
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130
Outras Fontes:
Documentos Avulsos:
Legislação:
Monumentos:
Ambiente:
DL 186/90 (D.R. 38/90) - Lei 11/87; DL 74/90 (Lei da Qualidade da água); DL 70/90
(Sanções);
DL 46/94 (Licenciamentos da indústria)
DL 352/90 (protecção e controlo do ar)
DL 310/95 (Tratamento e eliminação dos resíduos ..., proibe o abandono do lixo)
Portaria 286/93 (limites de poluentes emitidos pela indústria)
Imprensa Escrita:
A Capital de 30/10/1993
Jornal de Matosinhos de 5/11/1993
Jornal de Notícias de 29/10/1993
Jornal de Notícias de 30/10/1993
Jornal de Notícias nº 81 de 21/08/86 (Convento da Falperra)
O Comércio do Porto de 30/10/1993
O Correio da Manhã de 29/10/1993
O Correio da Manhã de 30/10/1993
O Dia de 30/1071993
O Diário Económico de 25/10/1993
O Jornal de Notícias de 29/10/1993
O Primeiro de Janeiro de 30/10/1993
O Público de 24/10/1993.
136
O Público de 30/10/1993
Vida Económica de 30/10/1993
Vida Económica de 6/11/1993
Vida Económica de 5/01/1996, BASTOS, João Pereira - "O papel da floresta e a floresta do
papel";
CONNOR, Steve (Correspondente de Ciência para o «Sunday Times»), "Guerras da Água" .
Vida Económica nº 660, 1996 (Turismo e Sociedade)
Revista a Indústria do Norte, Outº 1995 (recuperação do castelo de Vila da Feira)
Revista a Indústria do Norte, Outº 1996 (O mecenato no Palácio Nacional da Ajuda)
Catálogos da VII (1993) e VIII (1994) Exposição do Património Cultural (I.E.F.P.)
137
MAPAS
GRAVURAS
FOTOGRAFIAS
PLANTAS
DOCUMENTOS
ÍNDICE
INTRODUÇÃO............................................................................................................................................... 7
ESBOÇO HISTÓRICO................................................................................................................................. 9
3. GEOLOGIA.................................................................................................................................................. 56
4. HIDROLOGIA ............................................................................................................................................. 58
5. CLIMA ......................................................................................................................................................... 61
6.2.1. Mamíferos................................................................................................................... 88
6.2.2. Aves ........................................................................................................................... 91
6.2.3. Répteis e Anfíbios....................................................................................................... 98
6.2.4. Peixes.......................................................................................................................... 99
6.2.5. Invertebrados .............................................................................................................. 99
CONCLUSÕES............................................................................................................................................... 129