Monólogo A Dois
Monólogo A Dois
Monólogo A Dois
Mc 5NLOGO
1^ Dois 4
^
\
MONLOGO A DOIS
Fanny Goldberg
( in Minha Esperana).
memria de
embora e muito.
- Cano das carpas. Expresso parisiense que se refere relao dos peixes,
feita no silncio, atravs dos olhares de cumplicidade. Afinidade eletiva, na
concepo de Goethe.
1. Charme Indiscreto
(Inditos, 2000)
retina movedia.
amarga impotncia do
inconsolvel.
Ontem
Antes-de-ontem,
se pudesse a
arquitetura da memria,
uma artista,
seus rastros.
fugdios.
Londres
Eu sei que,
algum lugar,
algum tempo,
havia algum.
Numa esquina,
concerto, chuva,
estiou, num
relance, algum,
Amanh, em algum
lugar, no luar,
na praia ensolarada,
no deserto, no mar,
canto, encanto,
num canto.
Ou ningum, no jamais,
um chamado no pesadelo,
jamais.
forado, o silncio,
o riso, a palavra, a
mudez, o algum, o ningum,
a orfandade, ausncia,
s pretas.
Ou s brancas.
Chove
chovo,
noite.
ninar.
E, ao balano da hmida
onda, no travesseiro,
no imenso oceano,
o sono e o sonho,
as nuvens da fantasa,
no contraste,
lembrar, que
entre as plpebras,
chove.
Texto dourado
entre rvores,
ramos cinzentos,
folhagem amarela.
Quando, quando
naquela sala
o dia se encurtou.
O vulto
na penumbra-
Um mundo se acabou!
Os olhos do Infinito
disparavam o Espanto.
Um cro entoava o
No cho, o cadver da
minha me.
Um sorriso disfarava
Um filme de cinema
da ateno e informa-la
acabou.
imperador.
2. A Clave da Morte
De Propsito
Engano.
ire vir.
Morte
Aps
Estria
longnquos antepassados?
Inslito
O A/caso e O/caso
despedida.
e predica.
rejeio.
e inocentes.
Segredo
maldio ps-den.
Sagrado
se roando.
Sempre
Atrs e futuro.
por isso,
no Encanto.
Encontro
o inimaginvel.
Partida
O Duplo
O morto sepultado segundo o rito se transforma, conforme os
Saudao
vontade de poder.
O instinto de sobrevivncia no explica os mecanismos
Saudaes se celebram.
Timidez
se restringe.
um fracasso.
a meio-pau.
Aleluia
o amanh Revival.
A morte do vento
E, findo, volta.
Lobo
Entardecer, aurora,
a noite, o amanh,
vespertino, a madrugada,
o matutino, o dia,
a meia-noite,
os ponteiros do relgio,
ontem, o porvir,
hoje, outrora.
Cem velas para Diana/rtemis
do sol.
Comea a viagem,
Diana, viajante.
Quem a
estranha passageira?
guia
E as aves, sabedoria,
proclamam as
novi/antigi/dades.
Cu
pretensioso, se imagina
Drama (li)turgia
a fronteira.
Pega - Pega
um anti-clmax.
Horizonte
depois da chuva?
Infinito
O Tempo no passa. O Espao espaa.
No morreu. Extempou.
Finito
a seus deuses.
A Trama
em contra-mo.
Dana
fruto do homem;
inteno do homem.
Para os sanum,
espritos sa de.
A/gora, o A/deus
oh sentimentos amargos.
Sorrisos embaraados
embaraos e soluos,
convivncias interrompidas.
no executada?
e o podia?
A sombra
extrapola.
sombra cresce.
A figura desaparece.
Mortalha,
passaporte de ida-e-volta,
na rota da pupila.
Eu
um corao dita
O reflexo
a outra dimenso.
A gea e a calhandra
A ave rapineira paralisa
sentimento interdito
de vertigem comprimida.
Adeus
Se o inferno no existe
projetem a internalizao
da eternidade.
Para Deus
A miragem especular,
infinito.
Oh! Deus!
Na terra da proibio,
A paz.
Escrita
a morte se inclina.
E, outra vez,
a sombra das mos
Fumaa
na imagem se reflete,
se in/terroga
e des/aparece.
Nome
livre do corpo,
convenes ou medo,
Renome
Um animal moribundo:
Escarnece da
Suspenso da respirao;
Aluso
Vsperas,
saturnais,
se enxergam matizes
algodoado, o saco de
algodo doce
Iluso
O anncio do nascimento
de uma pessoa
solenidade
Sim
de um jato desembarcado.
do canto e desencanto.
Em resposta,
Deus alude...
3. Segunda Madrugada
(Edio Cultura)
arrancados
esto crescendo.
________________________________________________________________
_________
louco e condenado.
Talhe na madeira,
os cristais de pedra,
rosto -
D-me tempo!
E no salve minha alma to depressa.
No to depressa.
E os negcios?
O viajante j morreu,
E as mulheres?
acar, ch e simpatia.
E sua me?
No to depressa.
Anjo ou Demnio,
Adeus solido,
As trevas ir cavalgar.
Tendo que ao crepsculo reinan os olhos das
embutidos.
loucura.
meu cho,
meu solo,
meu Deus,
meu lar.
de risos abertos,
de peitos erguidos.
circunspectos,
volveis,
amveis.
Favores e desfavores,
todos,
pela metade.
rouquides.
Plancie.
vermelha de pardais.
meio da reconciliao.
passado.
poucos.
a cada instante.
Ato de Contrio
beira da loucura.
abandonada.
A Aurora Roxa
esmagados pelo
que se rendeu
Carla e Godofredo,
vozes -
Pecado, fome.
descoberta.
Imagem de Circo
carteiras e professores.
ps, palavras,
e de Connecticut,
jamais.
sempre quis.
boquiaberta.
Os braos finos de uma criana pobre e
Quando morrer
dos ternos,
sonhos,
apetrechos,
roupas,
sapatos,
ttulos.
um som atropelado,
o espirro de um adeus.
na volpia de comunho.
Copacabana.
e a coca-cola que
distrai o tdio.
As crianas e todas as crianas do mundo,
desgraada.
me dizem, respeito,
O quarto azul
Rei ferido e
soldado desmaiado.
Solilquio do Fara
A seduo deste mago ingrato,
Que estranho.
polmicos.
adoram o Sonho.
na dvida e na busca.
Moses (I)
Prncipe da eternidade,
Marinheiro do bero encalhado.
As areias ao vento,
a estria prateada,
de rito e aluvio.
A paixo da travessia,
Babel Poeti
Snscrito
Dastur parse
Pahlavi
Malcha Shali
i , etc - that is e
and so on
hundert
nepis
Par
dia
hayr - n
Ecbatana
Os prcritos
Ninda
i..
tosco
Shomer
Kiraene
* Italiano.
* Sacerdote persa.
* Dialeto persa.
* Cem, em alemo.
* Nuvem, em hitita.
* Igual, em etrusco.
* Deus, em celta.
* Dialetos.
* Rainha, em hngaro.
* Guarda, em hebraico
Indivizvel
No bem no mal,
tapetes do absurdo,
na Disperso,
totem e tabu,
as pespectivas filogenticas,
esttua no ar,
castelos de barroco,
O Nome.
Avenidas de obras,
pensamento e estatura,
o avano e o recuo,
o eco do
Nome.
Vamos assim, e
na hiptese de chuva,
voltamos e, em cada
alternativa,
a pedra lascada,
gravado o Nome.
acrscimo, no skate da
caricatura,
rituais, de riqueur,
o interior sentimento,
dispora, Galuth,
O Apelido.
_____________________________
Ado e Eva,
Alegoria da Queda.
Mito e mimese,
Que o
Anjo da Memria
permita lembrar.
Que o
Anjo do Esquecimento
permita esquecer.
E que o
Anjo da Distrao
Divirta o saber.
E No Campo Passeava
Eva alimentou.
destino atroz.
Exaltao a Esther
den
de dio.
a conscincia, porque a
mente no Paraso,
Cantos Davdicos
no vir-a-ser,
pede a voz.
o consolo e o amparo.
Kadish Para Fnix
E, o prisoneiro se interroga,
o algoz se culpa,
a f desacredita,
acredita a crena na
eterna reconciliao.
________________________________
O Flamingo, ainda
no deserto, se alimenta
do manah.
___________________________________
De olhos fechados,
descansa.
de Abel.
castigo.
Irmo
Quem me rouba,
cavaleiro alado,
o caderno e tenta
impedir a descrio
de paisagem.
Na Alameda Franca,
verdes drvore,
um loiro anjo,
Kip azul,
corre para o
nibus da escola.
Meu Golem
As cinzas de Fnix,
as mos de Maharal,
na sombra de hoje,
projetos de ciberntica,
o robot, a
As Pirmides
Cegas e surdas,
imaginam as Escrituras,
a luz se hipnotiza,
a cadncia da serpente.
Um anagrama vermelho
grita em azul
as pedras e os hierglifos.
Sem alma,
o preto cu.
Eu vi que
a saga de Suss,
A flama de Marx.
dimenses einstenianas.
Schlemiel ou Klienteltschik,
Meus Pais
Em versos de sabor.
ao guidon da bicicleta,
de mormao e nostalgia.
freguesia.
(Catimb
e outros poemas).
Em Vis
Laibale, seu Luizinho
O poema poderia
terminar no incio,
guaran na Cervejaria
Da bicicleta e o ceno
do leno branco na
estao ferroviria, e
principalmente, as
palavras - que de to
pungentes e gratas,
eu no disse quando
deveria?
A ltima volta
Fui-me emb/ora.
S partida.
S/L/us.
Senhor (Senhora)
minha razo.
5. Monlogo Do Medo
(Edio Cultural)
Pombagira
rvores,
morros
da minha infncia.
Meu pai,
de bicicleta,
subindo,
e cavalos de alegria
de juventude
sua gente
sua cerveja.
pretos
os cartes de cobrador
o sol batendo
as ruas descalas
de sol posto
e o pic-pic
de minha bola
assustada
Os toques de mos
e arrebatamento
As orelhas abanando
no colgio metodista
onde nunca se sa
priso
e cratera imensa
as vitrias da rebeldia
Os compassos,
esquadros,
rguas,
cadernos,
lgrimas,
sustos,
surras,
bofetes,
bandido mocinho,
os pedais de bicicletas,
as colas
o MEDO
as perguntinhas da professora
eu
do professor de geografia
e as capitais da Amrica
e as costas da professora
e a baba incmoda
do professor de francs
e o jogo de futebol
a alegria encantada
da minha me
numa vizinha costureira
e costurando
minha irm
de vestidinho
na matine
e da ciranda loira
comportada na
Escola e na ruinha.
me convida;
Escreve e fala,
O vento j se foi;
sejam si no exame de
laboratrio.
de um bero,
Sou um super-homem?
E o meu homicdio.
No brinde ao clice vazio?
No V To Ligeiro
Os cirios de Nazar
louco estival
submarinos
Descer at o subsolo
nela esconderam
orientes
as testas largas
os olhos abertos as
vises da esperana
guichets.
a pedra do caminho
global capaz de
Seja da Espanha
na Abissnia
e luzes de crayon
rouquido.
estrada
Em alta velocidade,
o jato e o ferry-boat.
presidentes
marcas de caminho
cachorro-quente, mortadela, pomada,
esparadrapo e
nomes
no me dizem nada.
absolutamente nada.
Criana
Um Urro De Pavor
vises.
inchada da infame.
pr l do horizonte da vida.
Para Vender
Flor de prata,
notcias de natal
vo renascer.
Este silencio doloroso grita nos
Flor de prata,
na solido.
(Edio OINA )
Se Voc Fosse
sobrenome.
iluminado.
A cabea do amanh,
os cartuchos na fechadura,
Os nadas do futuro.
aqurio roxo,
Eu seria a boca,
Voc a guitarra.
Anncio
Precisa-se
Um alquimista
Um sirva-se vontade,
Acar a granel.
Precisa-se finalmente,
arrependimento.
E por se precisar de coisas to banais se pede que sejam entre
noite.
Precisa-se um homem
O Gato Na Madrugada
do gato),
cesta-de-lixo (mal-colocadas),
de passados,
azul.
ternura.
o esprito do som,
para anunciar.
Eu morreu!
tambores retinindo,
orquestras martelando,
um hino de avatar,
sinos de aleluia,
de gramneas amarelas,
dvidas enternecidas,
muito elevado.
Complacncia.
tolerncia,
compreenso,
eu por voc,
viver.
Existem rvores que so irms negras que adivinham a verdade como uma
laranja, como uma laranja que
no Milsimo Dia,
nas vilas,
sua desamada,
hora de ir embora,
dia de ir embora,
hora de som,
patro,
um dia,
eu hei- de me levantar,
Senhor:
Concentre-se e venha,
Mister:
ei voc,
ningum,
Tua boca com os lbios abertos (meu Deus nunca vi um lbio com vida sozinha,
o lbio inferior, grosso, pronto para uma mordida fatal, como este teu).
Casamento, amor, estes negcios todos ligados, numa teia que o machado vai
destruir. Maldita priso que faz o sono parecer um pesadelo, o pesadelo um
verde fogo de chuva, a chuva a semente da morte, a morte, um desejo maluco
de arrancar essa mulher dela mesma e voc entrando nela habitar a mais louca
caverna que teus nervos possam conceber, a mais silenciosa, a mais quente,
mortal como a mo que pega nos teus ps e sobe pelo teu corpo, procurando
tua infncia, teus sorrisos, teus sonhos, teus medos, as trevas da tua noite, a
morte do solitrio, a fome do miservel, a perna do paraltico libertado por uma
agonia fenomenal.
7. Ritual de Clivagem
mares?
o parecer e o poder.
Avenida Tiradentes).
da.
tes.
Netuno desponta no horizonte, e o barquinho de pa
pel.
zas da esperana.
batada.
guei.
______________________________________________
gem dormida.
foi.
Ode Ctica
Nem prosa, rosa, lado, vspera, rio, mar, cegueira, manga, parreira.
A Rainha e a Corte.
exclama:
sorri, dantesca.
Retngulo
nas janelas, corretas indginaes. Quem sou, seno o Outro que me rompe,
arrebenta, arrebata, roubando a graa da madrugada.
Na minha infncia,
imaginei a escrita da
minha diva.
ou rstia luminosa.
meus enlaces
desenlaces.
Em busca de Cronos
de enxofre e agonia.
ambos se observam e a se
em suas faces,
arqueiro rebuscado.
8. O Feitio da Amrika
Jamo Panka Pixipre Jamo - (1991/1992)
A Mgica do Exlio
e no do Encontro.
Em Hokan-Coahuiltecan
jicaque
na voz do xam.
No Chile de ento,
dos Salishan.
so os embries de um
salto na escurido.
encheram os horizontes
nas ordens do
Sepa Inca.
Os atacamenos, os diaguitas,
Senhor?
A gua, proibida,
aqui massacrar,
rezando e matando,
Amrika
nas costas,
cavaleiros cavalgando,
Um pandeiro,
vida, emancipao.
Um cholo deitado,
nas cordilheiras,
de paz.
Uma garota saborosa
lendo, s escondidas,
gente.
do ouro, do acar,
no assobio da invocao
que percorre,
as minas de estanho,
Assuno,
ptria idolatrada,
na prosa de Faulkner,
numa fazenda do Sul.
Jernimo,
Ave Pelada,
Touro Sentado,
um canal de frustraes,
1493 e 1532,
os ingleses em Barbuda.
Tabaco e cana-de-acar,
1981.
Suaves brisas tropicais,
o tringulo issceles,
Nguillatu
Argentina
pulmo da Amrika,
Hacer la juventud,
la vida,
de um pintor apaixonado?
Pap,
Guanaiani
faixas verticais
em azul,
ouro e azul,
Anans
Na forma de
um anans maia,
os amerndios em
Turneffe.
Os irmos
Esperana Unida.
Koa
boca a boca
Pachamama,
que ajude nesta histria,
ouvido, corao.
La Paz,
la guerra,
Um acidente, um tiro,
um capataz,
me cuido de te dizer:
Bolvia,
no vs morrer agora,
Bolvia,
lo hago madurar.
o brinde de chicha,
Sangue e neve,
choro e compulso.
o fantasma de Melgarejo,
se ama,
se chora,
sofre,
perdo e crime,
como os Kayov,
o ee e o angury,
na avenida ou no salo?
a marcha de 32 quilmetros.
Vivemos, morremos,
gritando um nome
qualquer,
o coro monumental,
1.2.3.1.2.3.
Noel Nutels,
Orlando e Cludio Villas Boas,
Tiradentes,
um corso napoleo.
um botequim carioca,
um bronqueado metalrgico,
um riso de cumplicidade
na festa do uuatsim.
de f e tropical
bicho-preguia,
Me Menininha de Gantois,
ausub
Deus de mim
karasy e-!
de dia,
de noite,
no frio calor,
no cu de anil,
de cimento,
tim-tim.
Branco e Vermelho
Num tecnicolor
violado pelas
vermelho um painel de
Comme lOiseau,
ainda celebraro,
a missa final,
junto ao
lago Beauport, de doce comunho,
agreste sentir.
Copihue
No Ihama, os atacamas
at os araucanos,
at os omas e tehuelches,
e desolados beijos,
Valdivia e Antofagasta,
em beros de f,
mares de esperana,
Embebidos de chicha
se vo por pssaros
largos e azuis
montanhas enlouquecidas
cazuela de vaca,
choritos al limn
Cair os muros
a clida cano,
a ruiva amada,
o cachorro sentido.
Ballenato
Solido,
capital Macondo.
Descendo o Caoca
e existem homens
que no tm coraes.
Aracataca.
Palavras sonoras
Enchentes e Sucre,
bilhar e futebol,
na festa do El-Dorado.
Federman, Belalcazar.
petrleo, banana,
barco de iguanas,
Um Sonho Habitado
Oposi,
Rincn de la Vieja,
Irazu, Turrialba,
e a indolncia esconde
medos e arrebis,
teus ndios
abac e cacau.
de ndia
derramada na lassido
em Puntarenas,
o ouro
No Clube Unio,
se espera um vulco
a acordar,
ao compasso de um sonho
Punta Burica,
pingentes de ouro
circulam recordaes.
Fumo, cana-de-acar.
limoeiros, laranjeiras.
Ah, ah,
71 brancos, 12 negros,
15 mulatos, 1 chins,
falando espanhol.
O doce amargo da
Papagaio
papagaio.
Los Valientes
Os pipiles
e por Acajutla
as guas de Coatepeque,
Zapoticln e Tecapa,
So de quartzo,
so de ouro,
so de ferro,
Pedro de Alvarado.
A volta
terra prometida
ser feita
at o lago Guija,
Sierra
herana de Atahualpa,
exigem os quitenhos,
o conquistador.
o filme em disparada,
a linha equatorial,
o huasipungo e o cuartelazo.
Tajumulco
um Imprio em flor.
Guatemala.
Imprio Maia,
ndia maia.
um cavalo de fora,
um torro,
ossos.
Um senhor se faz com pele,
ossos,
sangue ndio,
braos, olhos,
loucura tropical.
Trouxeram da ndia,
ao longo do Demerara,
de abril a fevereiro.
o ar que respiram.
Gourde
No tmulo do tonton-macoute
no lavam a raiva,
da loucura tropical.
princesa negra,
pensada da Amrika.
Na pele serena
no Mar do Caribe.
Vou perguntar ao cadver de Henrique I
caf e sisal
e importa remdios,
fumo e saber,
em lngua crole,
De Caratasca s Savanas
Da serra de Opalaca
suas savanas,
Yoro, Nacaome,
a cobia.
Pela Taca,
de Caratasca s savanas,
Honduras,
despedaaram as frisas,
os registros sacerdotais,
no existiam quase...
Teonanacatl
matam cavalos.
O silncio e o murmrio,
Queria, queria,
tierra templada,
tierra fria.
Plantar henequn nos teus amores,
cor maia,
cor asteca,
um sol deus,
um sol escravo,
em Rodeo, Durango.
Nicarao
Tringulo
de cujos vulces
dos negros,
o dio, o amor,
um esprito em Granada,
Masaya e Chinadenga.
Afastem os mosquitos
vale sangue,
vale ouro,
vale, vale,
tua banana,
rf americana,
Panam,
vale amerikano,
um barco de sonho,
esperana, frustrao.
doce, rouquido.
feito de gua,
banana e lgrima.
Serra de Chiriqui,
para remar
de um capito espanhol.
em San Bls
do Stio Conte,
provncia de Cocl.
Paloma Herida
Tierra de brasas,
em Assuno senti
Chaco, Concepcin,
Pilar, Encarnacin.
A msica guarani,
o ndio guarani,
em um balco varejista
Iturbide e
Caballero?
Me lembro, s vezes,
uranda, timb,
lapacho e caranda,
o quebracho do Chaco.
As redues e o cunhadio
danam
e bailam
un palmo de tierra,
tierra viva.
Sombra y palmera,
verde o roja,
tierra propia,
tierra descansada,
de Yegros e Villarica,
hombre del pueblo paraguayo
e os ndios ayoreos,
Viracocha
Piru,
moreno criollo,
reduziu-se a um s astro.
de Arequipa e Cuzco.
Como dar,
o quinho inca?
cara de anjo,
arrebentadas de trabalhar,
por Viracocha-cano.
Ao Sul do Norte
e, no forte de La Navidad,
um sonho de liberdade
se deteve.
Trujillo morreu
em Vegal Real
e Valle de Constanza.
O tormento negro,
mulato,
ndio, espanhol,
Negros e Mulatos
pentecostais e adventistas.
1983.
Nas antilhas,
sobre um vulco
os olhos miram o
Parque Vitria em
Kingstown, onde
e sua gente.
25 de Novembro
de negros
num asfalto
que negro
Cai chuva
menina marrom,
menina vizinha,
fetiche tropical,
dos bananais,
da febre amarela,
de sua leveza
negro-amarela,
banana tropical,
tropical.
Mississipi
um dialeto Ydish,
Nunca, nunca
um hamburguer quente
a angstia de Faulkner,
estourar as reservations,
numa cavalgada de cowboys, nas mos de
Tatanka Yottanka.
Mato Gleska,
Shunkaha Napin,
Mawatani Hanska,
Kangi Wiyaka,
Haleluia, coca-cola.
Cuchillas Feridas
Me chegam cartas
de palavras misteriosas
de toda histria,
em cuja carta-de-entrada
estar lavrada
do terutero,
vontade e libertao.
Terutero, terutero.
terutero terutero.
Oro Negro
ferozes
para a Amrika.
Ainda hoje,
nos canis
da Amrika do Sul.
En La Charneca,
Ultimo Tiro,
El Guarataro,
Bajio Ajuro,
blue jeans,
e o pesadelo de Gmez,
atormentando Maracay,
escapa de um cinema.
De los enemigos,
Ni bien, ni mal.
Mam y salchichas,
Anguilla
Antilhas Holandesas
Aruba
Bermudas
Groenlndia
Guadalupe
Guiana Francesa
Ilha de Pscoa
Ilhas Cayman
Ilhas Malvinas
Ilhas Turk e Caicos
Martinica
Montserrat
Porto Rico
Faixas, manchas e
Nunataks
as mulheres esquims,
os homens dinamarqueses,
a mestiagem nrdica.
Norte.
Cana Caiana
Os escravos dispersos,
a Ilha do Diabo,
o exlio de Dreyfus.
O El Dorado de mentira,
imperial.
Teus ventos
fazem a vida
chapu de palha
sobre rum,
e o Culebrinas.
Queimars um dia
teu cigarro
numa bandeira
independente,
tremulando em Ponce,
Mayaguez, Arecibo,
Guayama e Humacao,
tremulando
na Serra de Cayey,
na Serra de Luquillo,
na Cordilheira Central,
de Bayamon
at Aguadilla.
(Edio OINA)
Congada, Eh,Eh
os ps batendo no cho,
a congada vai
passar.
Eh, Rei,
So Benedito,
Senhora do Rosrio.
Do cemitrio, da zona,
gente rezando,
o nhambu, o nhambu,
as velas acesas,
gritando, cantando,
ave-maria,
Deus da Tristeza,
do cateret,
Dana
No Amazonas,
os pssaros,
o chefe dos cangaceiros,
a despedida do rouxinol,
amo, macumbeira,
princesa e canjer,
Boi-bumb,
todas de saudao,
urros do boi,
Manaus.
paj e caador,
guaranis, briques,
quadrilha sertaneja,
Ju
a Gringo de Alencar,
desfeiteira,
No Par, pssaros,
tem-tem,
Estrelas de Ouro,
boi-bumb,
xote paraense,
quadrilha,
lundu e castanhola.
parte da mestra,
parte da contra-mestra,
boi-calemb,
bambel,
congos de saiote.
Nas Alagoas,
guerreiros,
samba pagode,
abaianado,
cantiga de Xang.
Chegana de Macei,
tema de caada,
roda balanceada,
aboios de vaquejada,
toadas de boiadeiro.
pandeiro, reco-reco,
cabaa,
Candombl,
festa de Ogum,
no terreiro de me Constana,
Cabloco Eru,
caruru e aru.
Maculel,
grupo de pop,
balaio,
samba da Bahia,
palmas, palmas,
sambas de roda,
festa da Ribeira.
Desfile de frevo,
escolas de samba,
no Rio de Janeiro,
Acadmicos do Salgueiro,
Portela,
catira de Frutal,
Iturama e Pirajuba,
o recortado de Frutal,
corta-jaca e chula.
Folia de Santos Reis,
bate-p e palmeio,
viola e cateret.
Toques de berrante
As danas indgenas,
bacururu, tambm,
Do Mar
amarelo, envergado ao
pau darco.
cardumes,
o arrasto na restinga,
o carro do cabloco,
envergando um arco,
montando um drago.
Os guerreiros tupinamb.
Em ponta de Areia,
o terreiro,
do galo e do porquinho.
O candombl quieto em
Gameleira,
Os coqueiros e os pescadores,
O barraco em Itamambuca,
Os guaiamus preto-azulados.
Comer o unha-de-velho,
vieiras, a ostra fresca,
o ourio, em So Paulo.
encorpando a bebida,
para neutralizar o
coco e dend.
massaranduba,
cera de carnaba.
Jati
Ara ou Gar.
Pego no meu uru, de homem ou de mulher,
jaguaribe.
um quadrado s,
macumba,
Um pau darco,
a sombra engalhecida,
as vozes do corao
com um ndio
benzendo a
rede ensolarada
que eu amo,
De preferncia,
Bonfim,
Um Som do Cho
do fandango.
Uma dana,
Ribeiro da Ilha.
Galponeira, gaita,
canto e roda de mate.
os homens de preto.
de pau,
choro do marfim.
Paneplano
De 200 a 1100 m,
mesozicos.
o Distrito Federal.
Juscelino Kubitschek de Oliveira
Mineira.
ventos,
Venturis ventis.
Gwa Ya
Terra de Anhanguera,
congado, cururu,
marimbondo, quebra-machado,
recortado.
Bueno feiticeiro,
que assoprou
at Braslia,
o sopro do fogo
do Brasil.
Terra Cabocla
nuaruaques, bororos,
nhambiquaras,
Em ofcio de tatu, as
garras do jaguar,
Arrimar bastes,
largar ginetes,
deixar alabardas,
morrer,
gemer e chorar,
At, at
Cuiab.
Ofcio de Tatu
As garras do Jaguar,
ao garimpo.
No Caminho do Nordeste
A mata,
o serto,
o agreste,
os terrenos cristalinos,
os mangues, os carnaubais.
o planalto da Borborema,
chapada do Araripe.
Os mandacurus, os xiquexiques,
umbuzeiros at a majestade do aude,
o jangadeiro a pescar.
o santurio.
Juazeiro de meu-padim-Ciro,
Pirapora, Canind.
So Jos,
fazei chover,
um dcimo-nono dia,
chuvas de rama,
chuvas de caju.
o cu vermelho,
o cho gretado,
barriga estufada,
peito encolhido.
No cu, viaja uma nuvem
molhar os canaviais.
mucun.
transpassar a caatinga
na cola do barbato.
pajelana.
viajar.
Bonabuiu,
Quixeramobim.
Pacajus, Acara,
Antonina Aar,
do Norte.
Minador do Negro.
Varola em Carrapicho,
Salve, Ors,
cochicholo, assoalho.
milho, algodo.
a Braslia,
do agreste,
da mata,
do serto
cangaceiro, cabramacho,
coiteiro da cabroeira,
Salvador, Bonfim.
azul.
Verde ou azul, a bagaceira do engenho,
de Deus Brasileiro.
as pginas ensolaradas.
Bumba-meu-boi, caboclinho,
quilombos.
Nessa enciclopdia de sonhos,
e o Jacu do tranquiado.
Severino Pinto,
cantadores de viola.
sua mente,
seu cho.
aoitado e salgado.
folhas de bananeira.
O Rei negro,
manto azul,
coroa na cabea,
espada na cinta.
Os caboclos,
de arco e flecha,
mulungus,
pandeiros e ganzs,
Os sinos repicando,
foguetes no ar,
o quilombo destrudo.
um sonho de terreiro,
um terreiro bendito,
de Man preto,
feiticeiro.
Desce,
preto velho,
no barco de sexta-feira,
Por Jangada e Ub
subindo as montanhas,
no cocuruto da vaga,
no meio do vendaval.
Comendo peixe,
comendo caju,
fazer mocoror
vento da terra,
vento do mar.
Ub de guapuvuru,
Pescar o xaru,
chega-negro, carimbamba,
esposa de Oxal.
O saveiro na Bahia,
as velas de alto-mar,
o desenho da sereia,
a relao do Maranho.
Jos de Alencar.
Mathias Beck.
Gonalves Dias.
miangas,
o totem.
PuKa
No Nova Lusitnia.
os cajueiros, na terra,
Holanda e Portugal.
embriagado pelo
Rio Mau
os sesmeiros.
Pi a, estrela de prata, tucum,
cajueiro, oiticica.
Cirijipe
caranguejo.
Cariris
Caics, juremas e
panatis,
serto.
cabrochas, mamelucos,
janduis, potiguares, da
Alecrim e da Manjerona,
de poeta, de jornal,
do cangaceiro gentil-homem,
salinas,
jangada a velejar.
Para os olhos
aritica, alu.
O-E
Dos Andes ao Atlntico,
na Ilha do Maraj.
catuquina:
serto.
Uwakuru
Pelas guas,
as gaiolas,
o Eldorado da borracha,
Tarauac,
madeira,
castanha-do-par.
O Purus,
o Juru,
a nascente do Javari,
versificar
a grandeza do Brasil.
Terras Baixas
O calor e a chuva,
a hilia brasileira, o
A borracha, a cana-de-acar, a
mandioca, a castanha-do-par.
Macap.
munducurus,
um paraso de terra,
floresta,
mandioca,
borracha,
petrleo,
madeira, guaran,
juta,
arroz, feijo.
de palha,
tapada de madeira,
pelas montarias
os arigs.
Amazonense,
Ucayali,
Maran,
Negro,
Caquet.
na solido,
e dos igaps.
Par
Na boca do Nhamund,
no Crio de Nazar.
figuras de bem-querer,
tacacazeiras de esquina,
bandeirinhas de aa,
almoo de manioba,
pirarucu assado,
Noites no Guam,
um p de taj,
na porta da casa,
beber aa para
ficar no Par.
Na lngua de Mariano,
morrer se necessrio for, matar nunca
Entre 24 e 26 C
1500-2000 mm de chuvas,
cerrados.
Araricapar.
Boa Vista.
Uru
Rio Par.
Tubaro
Guanabara,
a terra capixaba
escreveu
e escreveu
O ferro de Tubaro,
o caf em Linhares,
escrevendo Cana.
Cachoeira Iracema e
Lagoa Me-B, em
Guarapari,
Cachoeiro do Itapemirim,
de Rubem Braga,
faanhas do alardo,
dana do esquinado.
Uma terra,
o nome da liberdade,
tem o nome de
Ouro Preto,
Diamantina,
So Joo del-Rei,
Sabar,
Pitangui,
Lobo de Mesquita.
o Aleijadinho,
barroco universal,
doze esttuas,
Manchester,
Vamos convidar,
em Minas Gerais,
o chibamba
correr pedras,
secar cascalho.
Guanabara
Inhomirim, Iguau,
Angra dos Reis, Parati.
um bronze de Copacabana,
saudade do Mengo.
Baa de Jacuecanga,
comer o olho-de-sogra,
a goiabada-casco.
A vista do Po-de-Acar,
um romance clandestino,
Catete ou no Leblon.
os faris,
na Avenida Brasil,
de onde se ganha o mar,
se perde a Perimetral.
Terra de Tibiri
O sague de Arara,
Os bandeirantes paulistas,
Araraquara, Angatuba,
Apia.
os tupis-guaranis,
Saci-Perer,
A terra do automvel,
passear
no Viaduto do Ch.
Vento verde,
de gente brava
de Porto Alegre.
Erro na geografia,
nos contornos deste vento,
at os confins de Manaus,
de um sonho brasileiro.
catarinenses,
escondido no
Devon e Charols.
os pltanos queimados,
mida,
grande, pequena,
que bebeschnaps,
cerveja,
caf.
Torres, Cabeudas,
da serra gacha,
para beber com canela,
o caf colonial.
mi,
nu,
ano,
Para N
Nhapecani,
um falco paranaense,
de asas estendidas,
da sua cor.
Porco preto,
ningum sai de
casa em noite escura
sem encontrar
sem desgostar.
Caririba, Pien,
Piraquara, Peabiru,
em Paranagu,
em Superagui,
as impresses do Brasil.
O loiro caf,
na
Serra da Esperana.
Mu
J, tupi-guarani,
guaicuru.
Os catecmenos fundaram
Orientais.
O gado opulento,
Usar o chimarro,
comer churrasco,
Render homenagem em
Caiboat a
SepTiarai.
a imigrao alem.
Terra gacha,
Liberdade, Igualdade,
Humanidade.
Caibat, Camaqu.
Cangussu, Carazinho,
Caiara.
No esquecer Jlio de Castilhos,
no barco de Melancias,
danando bambaquer.
Jurir-Mirim,
mansa barriga-verde.
Gente de Araguari,
Ararangu, Botuver,
Joinville, Blumenau.
Cruz e Sousa,
plantados em Florianpolis,
pares em roda,
de mos dadas,
adiantando o p direito,
a ponta no cho.
na Festa de So Sebastio,
Jerer, Sambaqui,
Cacup e Canavieiras.
Cricima, Uruangu e
um de caf.
Planetas
as luas do mar.
magrinho.
Sonho
Repousa
o sonho
na janela
Late vento,
mesmo que
ausente.
A pomba
pobre, fantasia
o fogo e
delira
De longe,
renasce
____________________________________
Terminou. Acabou.
Ausente presente.
Castigo
desobedecendo Persfone.
Inteligncias do Azar
na torre ameaada.
Eternidade
No obstante Rimbaud e
Fernando Pessoa,
Mas um s no morre,
Porque no nasceu.
Mudana
Dest/arte,
o aedo transforma
a viglia
em aurora.
Reproduo
A sonata se
de um neurnio que
naufraga e flagra a
Menelau,
Agenor,
Heitor e at
Aquiles.
Cu
segredo.
engano.
ser de ti?
Bash
Um haicai, literalmente: Do pai e da me/nostalgia absoluta/diz o faiso.
Oriente
D,
Bushid,
Kad,
Sad,
Butsud,
Desespero
A alma,
a Vergonha,
a Temperana,
timdas donzelas
Enigma
Ado e Eva,
alegoria da Queda.
Jogo
Este livro foi composto em duas tbuas:
vogal e consoante,
ponto e contraponto,
ato e ante-ato.
Inocente ardil.
de vassoura na mo (espada?),
intil, na cintura.
A Estrela In/significante
linho,
Estrela abandonada,
por um o/a/caso
qualquer,
Em memria iletradas.
As noites
em que,
a insnia
o sono,
o imprio do matagal.
A busca
aceno,
aquens,
A Despedida
o hbito encerrado.
e o eterno,
o vcuo, a memria do
A memrio que ir
Quisera pagiar o
teu choro,
despedida.
ser ouvida,
minha me,
as turvas imprecises, e
meu tero,
qui,
no seja mais
em paga de antes,
sempre, na carne da
memria.
________________________________________
Porque ns no
somos gatos, no ?
O Olhar Do Gelogo
de priscas eras.
O Cavalo E Eu
(parece) me enxergava.
olhando, e, no entretanto, as
infinitas distncias,
___________________________________
Impaciente criatura,
eminentes.
no sopro da Criao,
na cavalgada de Csar,
na mulher de Putifar,
no enxerto de Xeru,
as fragatas de Nelson,
bandeiras em funeral,
adeuses de lencinho.
em respostas incoerentes.
reinos fugazes.
Chovendo, ou
que caem,
Maddadayo
pronto?), de que
Dual
Primavera que,
Segunda mentira,
olhos de coral.
ontm.
Voil!
inter/escalam.
a fotografia,
em luz apagada e,
nunca,
finalmente,
ao fundo e baixo,
sobre o patinete,
meu,
inacreditvel elevado.
O Gato de Jade
De minha estimao.
o inquieto mutismo e a
vaguido.
O Avesso
paliadas desarranjadas,
floral extinto.
Um Gnio
no fortuito condescendente.
moldura.
exclamava comovida:
Quem vem l?
trilhas apagadas.
E o nominativo registra
um nmero qualquer
414.
O nmero do apartamento,
do bilhete de loteria, da
_______________________________________
Quem enganou,
ponteiro do relgio.
_________________________________________
No mar,
lutas do porvir
Mars.
apalhaados de cismadas
aluses.
Viagem
ele viajou,
glorioso,
O irmo,
indiscreto, na
fraterna/idade.
Na hora de
ir embora,
ora e uma
lgrima se dependura
na plpebra.
sem entender,
a tristeza de ir emb/hora.
_____________________________________
Em alta madrugada,
o Passado e o Futuro,
de pssaros de outra
tarde.
______________________________________
Os sonhos,
amarrados nas
praias do passado,
se negam viajar.
_________________________________________
A certeza
o deserto.
_________________________________________
se transformam e um dia
se transforma em noite.
Seu Lar
a orgulhosa arrebentao
da sina favorecida.
esquerda.
Se os rouxinis soubessem
azalas.
Ao entrar e ao sair,
impulso.
outros sonos.
A Histria de Ruth
e convico de esperana,
chamas de vitrias.
e/namorada
Iconologia fantstica.
A Saga Hibernal
De era a hera,
que passeia.
e o desastre acontece,
no.
a fora -
um olhando em dentro,
se encolheu, e os dois
meninos se acolheram.
Um se percebeu, e o
E, naquele instante,
a encantou.
de ento,
algum milagre, e
a profunda reflexo
(revelao?) -
aonde se esconderam
as silhuetas
que enxergavam
as tangentes,os
deslizes, o lento
da montanha.
Suzana,
de nuvem e chuva,
cavalgando.
Minha filha,
delirante imaginado.
Roubo da fantasia,
flores,
pingos de chuva.
Horas de sono,
asas, pssaros.
____________________________________
seja de mo,
escanteiro,
scandiare.
_______________________________________
quiser,
voc vir at
_______________________________________
shane dank.
_________________________________________
Lils
Escrevi o l, o sol e o
d. Que d do lils, a
apavorada, do fogo da
moita, beira da estrada.
impenetrvel.
preto do ontm,
mas no.
________________________________________
Pobre vero,
s com a
terra e o cu.
__________________________________________
Exceo
O latido no co,
mar,
tempo,
corre e percorre,
em vo.
corao,
agravado.
A Outra Revoluo
limiar-begin,
ruelas.
Mscaras, labirintos, que
simulacros sonolentos,
os pssaros fogem e
as almas fulgem.
No inferno-strasse-
as asas do desejo,
um visto no passaporte.
______________________________
Habitante
da
morte ou do sono -
quem saber?
Mistrio
inexprimvel da viglia.
Passagens
ilha e mar,
vo,
beatitude e vento.
Talvez nunca mais
ou, talvez,
retornar,
Terra Desconhecida.
___________________________________
Nossas sombras,
em algum lugar...
Zig-Zag
De jipe ou a cavalo,
as juras de sempre e
nunca mais.
___________________________________________
_______________________________________
Assim, pergunta-se,
_______________________________________________________________
A tribo corre sempre na mesma direo. Mas para ineludvel decepo,
___________________________________
Chovem as guas do
na rasteira fantasia.
Horizonte Possvel
viagens.
quieta.
Resignao
um biltre encanecido.
numa
lata de refrigerante, ao
lixo, reservada.
transeunte:
E garante o campo do
inimaginvelsatisfao garantida.
_______________________________________
so o mundo todo, e
o mundo todo so
o fugaz cavaleiro.
________________________________________
Inspirao, imagem,
sou o que no sou,
e um flamingo
perturbador alcana
as frestas, da porta
fechada.
Cenrio Irrecusvel
Ao Sol do inverno,
o gato-rei, senta
no toco drvore.
um programa vespertino de Tu
caam a Arca ou
um tesouro.
J.
______________________________________________________________
poemas - haikus.
Galho seco
Transcrevi:
No galho morto,
o vivo corvo,
outono
vespertino.
o nada febril,
o nome, humor.
consoante - vogal.
Se voc fosse voc,
Viveu o Outro
encantou e no viveu.
O ano passado,
alegres posies,
Os anos passados,
a qualquer momento,
O ano passado,
memria a evocar,
sorriso, riso.
Os anos passados.
Virgens pssaros,
na recordao
entoam rouxinis de
vinhos amendoados.
da madrugada.
se alonga e distendem.
Ele conforta.
ouro.
as rvores e os pssegos, a
nevasca e o
arco-ris.
A Gralha do Outro
O anjo em amarelo,
nos lbios,
trs coelhinhos.
__________________________________
Porque azul o
cu e os promontrios
so terrosos.
Porque o im no
colinas imberbes se
escondem espies.
Kuk(1)
A idolatria que
rezava, o canoro
Kacupacal (2)
se abre o caminho
para outro
ah miats (3).
(1) - Pssaro quetzal, assim chamado pelos mayas que o usavam em seus
ornamentos plumrios.
Vela
No creio nas primeiras lembranas,
imaginar (lembrana),
o corre-corre, minha
da eletricidade.
e feia.
Quando, anti-clmax,
se esvai, ameaa
com a
escurido.
_________________________________
o lugar do bem-te-vi.
_____________________________________
O trinado tenebroso
revela os sete
da indentidade.
Os canais da loucura
revelam o fracasso,
em sua face.
Oh, Rei macabro, com
medo do escuro e
de portas abertas,
cinematografando os outros.
Fanes
estrelas,
Cometas e ursos,
perpassam as nuvens,
em notas de arrepio.
E Esta Escrita
_ Saga (estria)
A proximidade das Idades Mdias Islandia, nos sculos seguintes Idade dos
Sturlungs, fez com que o impulso criativo fosse aplicado e esgotado nas sagas
familiares.
chuva noturna, e
que se afasta, a
e a sombra da ltima
neblina.
os cachos que,
na chuva de flores,
molha a mentira,
solido.
_________________________________
Pio de coruja,
a pieguice da orqudea.
____________________________________
Apressado e solitrio,
se retira o fantasma
No seu rastro o
de jaboticaba, jaboti,
E se as violetas falassem
doces altares.
________________________________________
Sons na esttica,
ou a distinta impresso
de chuva no ray-ban,
ou um rudo esquisito de
_________________________________________
Quais mascates
procuram-se palavras -
e - talvez -
sentimentos.
filho de Marte e
Saturno, estrela
cadente em alto
procurando dervixes,
que s se encontram
em areias no deserto,
quais mascates -
na pr-feira
o curral no alambrado,
o alambrado desapareceu,
o cachorro comeu,
o gato roubou.
muito menos,
eu nunca sa de onde
eu fui.
________________________________
lgrimas-marrom,
do deserto.
do piano desenrola a TV e
do goleiro.
Marrom-Glac
Fotogramas do passado,
O sono,
raconto sublimado.
Acordar, drama na
ressureio.
Sob a ponte,
aniz e mortadela.
___________________________________________________
e da indigna indiferena.
Close-up
face esgotada,
E nela, a saga,
Tera Vera
se adivinha a flor da
estao, primavera.
outra estao.
estao.
__________________________________________
e suba na rvore,
____________________________________________
Espies
sem passaporte.
Os sonhos invadem.
fantasmas e esqueletos
de cortinas poludas.
_______________________________________
Assobia o
vento, e
ontem, o
menino
__________________________________________
Miservel,
da praia,
o pssaro
que faz
_________________________________________
___________________________________________
A vida,
a gente,
conta,
grande.
____________________________________________
Randon Acess, -
Channel Surfing,
Madrugada
lata do lixo.
O assustado mia, no
escuro da noite, a
surpresa.
______________________________________________
A Tampa, mal-arranjada,
cede e grita.
infinito e, frustrado,
a fracassada aventura.
ao vento,
e patos avermelhados.
a dialtica, multicltica
em forte bria-a-brac.
Viagem
Outono (ou-tonus),
vages cinzentos,
lenos quase,
silvos longos,
silvos curtos.
Outra Despedida
Na gare da Central,
trem perdido na
pai/sagem.
o choro na garganta,
o conto, o canto,
encanto, eu/conto,
em que canto?
___________________________________
A gota,
s a chuva de
inverno,
s a chuva de vero
chuva que
inventa o menino.
Um tambor,
pausa, toque,
o tempo,
toque,
a espera,
toque.
_________________________________________
___________________________________________
O homem, algoz do
prprio destino.
____________________________________________
Pontualmente, s mesmas
horas.
_____________________________________________
Quando eu Te procuro, eu
Te encontro.
eu Te encontro.
Chuva
A gua escorre,
do vento.
gua e rudo
disputam as atenes do
martelos sagrados.
gua encharcando em
que bailam.
Os nervos adormecem
chuva perene.
A resposta do vento.
Outeiro Verde
e os sonhos abertos.
e verdes os descaminhos de
ira.
O Tecedor
Entrelaa a brisa e
e entrejusta imemoriais
lembranas de barquinhos de
vises.
O Pacto
De te amar enquanto
aninhada, espera o
tero alvorecer.
sonoras.
Jogos
os cavalos,
combinam o xeque-mate.
ao azar,
se as cartas e as pedras
se movem
de posio
nulidade.
Impermeveis e invictas, as
Ptreas, cticas.
se engana de endereo,
curvas intenes.
mentiras enfeitiadas,
audi-sonantes,
encarecidas.
O grilo amassa a ira da
lgrima
Dor
anunciante da primavera ,
clida esperana.
Poeta
Em escaninhos da memria
pergaminhos.
Leonardo
encantado,
rima o riso e aventura,
estivais e piques de
Infinito
inconstante e fria,
o fantstico herdeiro
brota do cotidiano.
Silncio mudo e n,
Lua -
esta combinao de
Castelo na tela,
que se esconde,
pudorosa ou maliciosa
atrs de nuvens -
frias, inconstantes,
pudorosa ou maliciosa
atrs de nuvens -
frias, inconstantes.
Ventgua
de Crishna e
na harmonia de outras
verses.
___________________________________________________
um conto crioullo, da
Martinica, a lua
sozinha fazendo graa,
ao luar,
palavras no se asfixiem.
Didjerindoo (*)
cruza em ocas
paisagens e anunciam
os espritos quietos.
(*) - Instrumento musical dos aborgenas feito pelos arpins das savanas
Segue
Monodilogo
Eu,
Usa meu nome, meu rosto, meu corpo, minha energia, minha vontade, minha
identidade, minha alma.
Ou, este estranho que habita minhas entranhas dever ficar aprisionado,
invejosa serpente, e assistir, em funeral, a glria de si mesmo?
Eu,
Se o mundo todo sentir que me ama, s eu sei a verdade. Sou a farsa bem-
sucedida.
Eu,
Fiel da Penumbra
de aflitas interjeies.
De prata, as inventivas,
de outro, os interldios,
de caveiras,
A Perspectiva
Do alto, enxerga o banco,
mexilhes, cores
e o horizonte in-finito
________________________________________________________________
_________
________________________________________________________________
_________
________________________________________________________________
_________
Ficar sentado, imaginando que sou
as praias com o
Super-Homem.
orelhas de abano -
que os
Glria, Aleluia.
queixo.
riso
no gibi:
Vim, vi e empatei.
os desatinos e as indefinies.
o branco de Leonardo, no
os passos de Flavinho,
a msica de Elvis,
o aqurio de faz-de-conta da
Suzana
de Brooklin -
meu processo -
tragdia ou absolvio,
a mandala vtima
assobios.
_____________________________________________
Desperta, esperta,
Maldosa, espeta.
________________________________________________
Ilhas na banheira,
e o menino mergulha
e socorre o peixinho
se encerra na
lata de sardinha.
________________________________________________
que os tradutores
alcanam em rimas,
penas de pavo.
o ser duende,
cavalo-marinho,
e criana que se gera, gesta.
________________________________________________
Posteridade, essa
madrasta dos
fatos
_________________________________________________
e se encanta, se pensa
que se espraiam, no
so outras que,
m sorte,
o vento se apaga e,
altiplanos e mars.
_______________________________________________________
Tringulo
O Louco Amor
No solilquio, Ovdio faz dizer Um cabrito faz sexo s cabras que procriou... O
que a natureza permite, negam leis exclusivistas... a devoo dos filhos
aumentaria com o duplo amor...
(Edio Cultura)
Enquanto se escreve
Algum procura
um assalto na televiso
e um frio entardecer
empalidece.
uma linha de chumbo se esgota
O agonizante geme
Enquanto se escreve
Um homem trai
e trado.
enquanto se escreve.
conspira.
_________________________________
Da cobia
os desejos tortuosos,
de todos os reclusos,
e reveste de agudos,
Que se enterrem
os mitos e heris,
o zig-zag do ray-ban,
no morgue,
___________________________________
caminha-se.
descarregando milho.
rudo,
pedra,
som,
gemido.
Turno diurno de
abertura ao
romance,
sexo,
poesia.
Na repentina dobrada de
luz,
que violenta a
madrugada
virgem.
Dedilhando a msica
eterna,
divina,
do ronco azago do
pssaro
exilado.
Exilado, dentro,
Exilado, fora.
Votos.
alegres mensagens,
demasiadamente.
em que encarnam,
frutuosos nadas,
em ardentes secretarias,
de matemtica proibida.
E disparando,
Joo e Maria,
no Oriente,
Ressuscite Maiacowski,
de um lar abandonado,
amores encantados,
sentidos e guarnies.
viagens transatlnticas,
___________________________________________
faz a vida,
que mentira,
na Rua So Luiz.
na Consolao,
ao gosto fregus.
enquanto desfila
sorriso desdentado,
da grande cidade.
Feche,
e prenda,
em jardins, os donos das verdades, junto com seus companheiros,
dizendo,
em rubras lamparinas,
e gente decente.
_________________________________________
de permanente oscilao.
E assim
pressas passageiras.
a plula anti-concepcional,
Em comum,
e em comunho,
________________________________________________
dominicais.
____________________________________________
no Ponto de nibus,
da Estao Rodoviria.
prsos ao guichet,
a ltima viagem.
______________________________________
A sombra da erva
passo a passo,
e sem fim.
Corre intil e velozmente,
s margens da rodovia,
onde vi escrito,
num dia,
da tua alma,
da tua vida,
Nessa estrada
de mo nica,
Msica de fundo
Somos,
ilhas.
Sombrio dia.
Conto, estremunhado,
as cartas no enviadas.
Aflies noturnas,
sem luas.
Irmo batido,
o fruto colhido.
Por tudo,
havido e no havido,
desejado.
Somos,
ilhas.
_______________________________________
de silncios clamorosos.
carregaro.
translcidos oceanos,
daqui e dagora.
asfaltada,
pigmentada,
Atropelhando-se acidentalmente, um
de vo recheios infiltrados.
Os escolhos,
na escalada,
da Estao Rodoviria,
E pescoes e palmadas,
________________________________________
Vou dormir
meus sonhos de menino,
vi nascer um circo
e um farol
primeiros medos
Quando surpreendi
outra vez,
minhas certezas.
por voc,
retomo resoluto.
________________________________________
saltam as rs e rouxinis,
Abrao um telefone e
vento.
Expurguem as fechaduras e as
grandes escadas.
No arrasem as flres,
armado,
_______________________________________
Somos, em cada instante,
os embriagados
companheiros da morte.
um compromisso de extino.
em cada instante,
os embriagados e desconsolados
companheiros da morte.
_______________________________________
Suores acumulados,
de sexo e baton,
o quadro ilusrio cotidiano,
de garons e garonetes.
vida
I love you,
Je taime,
incansavelmente,
a novela mal-enredada,
do crebro difcil
_________________________________________
dum pr-molar,
___________________________________________
Do medo,
nasce a vogal,
presentes e futuros.
na viciada distncia,
jamais se encontraro.
(Editora classico-cientfica)
Anais de Histria
No combate sem igual, covarde e desleal, com uma cidade enlouquecida pelo
dio de si mesma, desarrumada, desgostosa, prenhe de burrice e achatamento.
Poesia, poesia,
E voc um navio.
mastigada no seu ritmo dilacerante, no seu ritmo apressado, que faz caminhar
devagar, como se estivesse sempre num outro tempo, num outro espao,
ou principalmente,
numa outra cano?
Meu Deus!
Que triste engano. Que engano total. Mas quem se engana, por piedade?
Aqueles olhos tristes e cruis sero os meus? Ou os meus sero os olhos azuis
e assustados que guardei nos bolsos, atrs dos morros, da minha infncia?
Sero pretos como os de um rabino judeu?
Sero os olhos dum capito de infantaria que captou minha alma, nos passos
duros do ptio do quartel e o esforo dolorido de montar o cavalo da Amrica
progressista, num Brasil amado, com paixo, ardor, violncia, terror, num
mundo de lindas fadas vestidas de amor?
A angstia do engano,
Poesia que resta como degrau, muralha, parede, gente, escarmento, lamento,
quando tudo comea a faltar.
E a irm bendita nos horrios do avio que levanta vo para Buenos Aires,
Salvador, Madrid,
roteiro de anncio,
voc?
Vamos daqui para agora, em frente. Comeando pondo de lado, seu diapaso.
J no mais a poesia como tema, mas como tema um telefone inoportuno, com
voz e interjeies.
Tal qualzinho no correspondeu, desceu, teu sonho mais caro, tua preciosa
mentira, tua pedra de estimao.
E voc sai da cama, de madrugada, para acrescentar uma palavra a mais, riscar
outra frase, para levantar o tnus, cantar com vigor, as mscaras que no se
podem tirar.
Mas presas como um Golem formidvel viriam com sangue e esparadrapo, dos
pelos de tua barba, a maldita lngua da incompreenso, num dilema infernal te
acordar no meio do pesadelo: Falar ou ouvir? Um poema ou uma cano?
O menino que era um Abat-Jour
Ponto:
Segundo uma descrio de Vellard no comeo dos anos 30, do sculo XX, o
acompanhante paraguaio de um viajante europeu viu, entre as rvores, uma
mulher AX (indgena) e a matou a tiros.O europeu castigou o paraguaio. Este,
sem entender o castigo, tentou reconciliar-se com o patro dando-lhe uma
bolsa que confeccionou com a pele dos seios da mulher ax.
Contra-Ponto:
Dei ninho ao Demnio. Ouvi o canto da Sereia. Deitei com a dor e o Pecado.
Pequei e pequei. Abenoado seja o Seu nome, Deus Poderoso.
A cadela de Bergen-Belsen, Ilse Koch (maldito seja seu nome) fez abat-jour
com pele de crianas assassinadas. Morri com as crianas. Matei meu medo nas
mos apavoradas. Vi neles escorrendo os olhos, a cabea, a surpresa, o mais
ntimo suspiro mau.
Explicao:
No fico.
No me engano.
No posso me enganar.
No dio de quem olhou. Sei quem inferniza a lngua que enfurece, os buracos
da hierarquia.
Azteca, sou teu irmo. O sol o meu Deus. Toro contra Pizarro conquistador.
Caso meu sangue errante, mente pecadora, com o gozo pago da tua boca.
Al Kidush Haschem
Juiz de Fora, 3 Rios, Ribeiro Preto, Machu Pichu, mulata da minha vida,
Jerusalm, angstia, solido, carne terrosa de amor pago e judeu. Deus sol.
Deus uno.
Morte e Perseguio.
Fantasmas e Ressurreio.
14. Perspectivas da Literatura segundo Goldberg.
J.P.G. - Desde criana, o ABSURDO tem sido meu vizinho. Quando eu morava
na rua Santos Dumont, em Juiz de Fora, eu muitas vezes, indo para a escola,
batia grandes papos com o ABSURDO. O ABSURDO tinha carteira escolar e
sempre era bom aluno, o que me dava motivo para ter-lhe severa inveja.
Posteriormente, o ABSURDO veio-me acompanhado pela vida fora. De
repente, passei a perceber, com grande susto, alis, s a princpio, que o
ABSURDO j no me acompanhava mais s como personagem, ele comeava a
multiplicar-se havia o Absurdo, o Absurdo, o Absurdinho, a Absurda, era a
ENTIDADE toda voejando, tracejando, passeando ao longo de minha vida. De
repente (tudo acontece de repente, no existe preparao - toda preparao
mentirosa) passei a perceber que o ABSURDO no era s o meu vizinho - Ele
comeava a habitar tambm dentro do meu EU. Criou um campo de pouso
entre o meu estmago, sexo e o intestino. A eu s tinha dois caminhos: fazer
uma operao (os mdicos so especializados em tentar extirpar o ABSURDO
de dentro do duodeno) ou assimilar, aceitar, conviver com o ABSURDO, por
dentro e por fora.
(Editora junco)
Cuba de Fidel
_____________________________________________
O sonho
E no feriria.
Quando o praa no desse continncia eu ia dar-lhe uma sova de brinquedo.
Rondando,
rond,
criana brincando,
orvalho caindo.
Rondando,
rond.
___________________________
e no o fao,
jamais saberei,
e que importa,
o lobo.
A dvida paira,
se convenc a alcatia,
que o abomino,
se assustei as ovelhas,
o que no acredito.
Mas,
sentena final,
a execuo do lobo,
do Co.
16. Maneco
( Editora Smbolo)
Eu queria ter dinheiro, que nem meu pai, pr comprar galocha, terno e guarda-
chuva, pr dar pro pir e os patinhos quando chovesse, depois do vento, pr
eles no ficarem resfriados. E depois ter que tomar injeo, que nem eu, que
injeo di muito. Mesmo no bumbum, que o doutor Celso diz que num di. No
bumbum dele, que deve ser de couro, pr no doer, e a mo, eu queria ter
grande. Era pr quebrar a cara do ladro que roubasse o meu cofrinho eu ainda
no pus nada. Porque s ontem o meu pai trouxe do banco. Engraado, eu j
brinquei tanto no banco do jardim e nunca encontrei nenhum cofrinho. S se
meu pai brinca em outro banco, de outro jardim.
Esse barulho no cu, meu pai diz que chuva, que vai vim. Eu num sei como
ele sabe, mas eu acho que quem sabe mesmo o Tulinho, que sabe matar
passarinho com estilingue. Meu pai num sabe. O Tulinho diz, que a me dele
diz, que um dia de mudana no cu e, deus e os anjos to arrastando os
mveis de um lado para o outro. Que nem a minha me e a Maria ficam
arrastando, quintas-feiras de manh, pra fazer arrumao geral, que na
verdade eu acho que uma desarrumao geral. Porque na verdade, elas tiram
os meus brinquedos e as revistinhas do lugar e eu tenho que arrumar tudo de
novo. E s vezes jogam fora os brinquedos melhores, que elas dizem que esto
estragados e velhos. Essa gente no entende nada. Os brinquedos esto
gostados. As coisas dos brinquedos e a roupa, quando ficam gostadas, ficam
molinhas e boas pr brincar e usar, e a gente pode brincar com elas na terra e
sentar com a cala no cho. A que esto bacanas, mas os grandes acham
diferente. Acham que, quando d pr brincar na terra e sentar no cho, t na
hora de jogar fora. Num entendo nada. Por isso, que gosto de conversar com
o louro - D o p louro, d o p Chico, d o p. Sempre fala a mesma coisa e a
eu entendo tudo. Eu s entendo quando bicho e gente diz sempre a mesma
coisa. No gosto que fica mudando toda hora: Faz isso Maneco. No faz.
Agora a hora de fazer. Depois c faz. Pode. Num pode. Manequinho do
corao. Manuel. Manuel. Olha o qu que voc est fazendo. C vai pro
banheiro. Que coisa boba, me mandar pro banheiro, s porque eu fiz arte. Pro
banheiro eu s gosto de ir pr fazer xixi, coc ou ler revistinha. s vezes, at
me chamam de seu Manuel. Principalmente: Seu Manuel, vem c. Quem que
lambuzou de chocolate este livro?Que que tem de mais passar chocolate no
livro? Fica doce. D at pr lamber. E por isso tem que ir pro banheiro? S se
fr pr passar chocolate na pia.
O louro, tambm, eu acho que j viu o vento azul, porque tem o olho grande. E
quem tem o olho grande porque deve fazer ginstica com o olho. E, ento v
tudo. bom fazer ginstica, o professor falou. Porque a gente fica grande e
pode fazer tudo. E eu vou querer fazer tudo quando crescer, e at vou fazer
ginstica com o olho. pr ele ficar grande e eu ver tudo. Porque eu acho que
com o olho grande, d pr ver tudo at Deus, se fizer muita ginstica de olhar,
que a gente grande no faz. Gente grande tem olho pequeno. Por isso v
televiso mas no v as coisas...
Quando ficar grande, vou querer tambm empurrar avio. Porque tem gente
que acredita que avio voa sozinho. Eu, heim? Nada anda sozinho , sem
empurrar.
Minha me j disse que precisa comer, pr ter fora de andar e que comida
gasolina da gente. Sem gasolina, o automvel no anda. E sem comida a gente
para e fica morto - que , parar, sem andar e deitado. Que o tio parou, vai ver
que, de brincadeira, porque eu vi ele comer muito antes de parar pr morrer. E
at meu pai, um dia na feijoada, disse assim: Seu Joo, o senhor vai acabar
morrendo de aeroclorose, de tanta gordura. E a que comea a atrapalhao.
Eu pr ficar vivo tenho que comer feijo, e o seu Joo morre de aeroclorose?
E quem que empurra o vento, prele num ficar parado? Deve ser um homem
muito grande e forte, que fez muita ginstica, e comeu muito feijo com
abobrinha e no morreu de aeroclorose. E tambm que gosta de tirar as coisas
do lugar, porque seno, ele deixava o vento ficar parado. Ia ficar muito bonito.
O vento todo parado no mesmo lugar. Sem se mexer. Que isso de ficar
zanzando de um lado pro outro, muito depressa, vai acabar cansando o vento.
S se esse homem for que nem pio. Que meu av fica sempre resmungando,
diz: Maneco, pare de zanzar de um lado pro outro, que nem pio. Ser que o
vento um pio tufo?
E, quem que pintou o vento de azul? Vai ver que um menino que pintou de
azul. Porque s tinha lpis azul. Seno ia pintar de muitas cores. Deve ser um
daqueles moleques, que o Tio diz, que num t cum nada. p-de-chinelo. Vai
virar trombadinha, quando crescer, se crescer. J eu, se tivesse que pintar o
vento, ia usar os lpises amarelo, vermelho, verde e branco que ganhei no
estojo da mame. Ia misturar as cores e fazer um vento arco-ris. Mas, se
tivesse com vontade ia fazer s azul. Que nem se eu fosse um p-de-chinelo.
Mas, ia ter que ser chinelo da vov. Velho e gostado.
Bom, agora eu acho melhor parar de pensar. Porque meu tio j disse que, de
tanto pensar, morreu um burro.
Textos deste livro foram discutidos no Simpsio Brasileiro sobre o Escolar (PUC-
S.P.) na palestra Desenvolvimento psicolgico da criana e distribuidos no II
Encontro Nacional de Criao Publicitria.
17. Ritmo Esquerdo
O Sonho
( Editora ICC )
Nunca fui amigo do Rei. no sou e nunca serei. De nenhum rei, coroado ou sem
coroa. De nao, igreja, partido, ideologia. Abomino os donos da verdade.
Meu pai veio com o navio Valdvia, de Ostrowiecz, Polnia, sem um tosto no
bolso, sem falar uma palavra do portugus, com a opo do suicdio no mar ou
o vo no horizonte. Dezenove anos de idade, sozinho, em 1928. Solido.
Escolheu o cu. No o cu dos altares sacrlegos, mas o bruto e rduo trabalho
individual que no depende do favor alheio. Ganhou o po com suor de seu
rosto e dividiu-o comigo e nossa famlia.
Maharal mi - Prag -
Nos tempos do cabalista Jud Loew ben Bezalel (1525-1609), foi criado o golem
- para alguns, uma fbula, para outros uma criatura diminutiva, ainda um gnio
de obedincia e, finalmente, para mim, a essncia divina, no humano.
CAMINHO
Na tarefa, funo,
obra a natureza,
o af matutino.
Planeja e peleja e
justifica a expulso do
Paraso.
S,
passeia, viajando,
quem sabe,
rebelde,
o albatroz-vagabundo,
gaivota
passado e reflexivo, os
ares do porvir.
Sincrnia, a
murmrio de harmonia.
Ento, de-repente,
se faz desgraa e
olhos do tubaro.
Se cumpre a maldio.
Suicida, o tubaro
rompe as entranhas e
silncio cativa a
sentena.
E, ao longe, o filhote
volta do albatroz.
O cu se curva, a
solitrio.
No inferno, um
tubaro se regozija -
Mas a vingana do
Norte se aproxima,
de sangue se tinge a
gua.
sacode a imaginao,
seguindo
as mars.
Barco a vela,
talento das
mudanas de vento.
Invento a fbula -
sonolento.
SOLIDO
S, passeia, viajando,
ttulo rebelde, o
``albatroz-vagabundo``,
``gaivota `` dos
marinheiros holandeses.
Pousando em mares
calmos, ingnuo,
e reflexivo, os
ares do porvir.
Sincrnia, a onda azul
s murmrio de harmonia.
Se cumpre a maldio.
Suicida, o tubaro
rompe as entranhas
e silncio cativa
a sentena.
E, ao longe, o filhote
saudoso, aguarda
O cu se curva,
a fmea seguir
o curso solitrio.
No inferno, um
tubaro se regozija -
Rquiem por um albatroz.
Mas a vingana,
do Norte se aproxima,
a imaginao, seguindo
as mars.
mudanas de vento.
DILVIO
O REI
Diomeda Axulans,
as cores, os olhos, o
varre o cu,
pssaro ocenico.
NUVENS AMANTES
Balbuciando ou
chamando, se ouvia
distncia galctica, o
estranho juramento :
Corvos mirificados,
ceticismo.
a caminhada paira, na
espreita da aurora,
o pssaro em letrgica
sinfonia.
Sim, Sim.
E era como se de
fantasmtica orquestra
um Sim laranja-claro,
vermelho-festa, azul-celeste,
no coral do albatroz.
Porm,
aves congregadas -
falces, pssaros-do-mato,
repetiam, monocrdio,
Sim.
Disparado,
e no topo de
o albatroz-gritador,
se esmerava
na permisso -
os mundos a revelar.
Na rota entre
a ilha e o desterro.
O Golem.
Canoro Exlio
em que a imagem,
a sombra, o reflexo
da lua. Embora.
AUTONOMIA DE VO DO ALBATROZ
Sobre o mar,
reflexo da terra,
Quilmetros,
milhares de anos,
mandamentos.
as asas, voando,
Quilmetros a hora,
dianteiros, traseiros,
na orao consagrante,
os passos sangrentos.
Consumao da lenda,
Quarenta anos no
pousando no mar,
Wandering albatroz,
Judeu Errante
Idade Mdia.
Capaz de iluminuras em
mar,
Shem.
Diomedea Exulans,
o personagem de todas
as novelas e narrativas,
da inquieta aventura,
desventura,
humana, desumana .
milhares de quilmetros,
em busca de comida,
Ilhas Crozet,
o vento,
desfazendo as imagens do
Paraso.
passageiro da solido,
convico.
A navegao diurna,
a favor do vento.
As noites, as trevas, as
bruxas, a Inquisio.
A leitura
As vogais e consoantes do
Pirkei Avot.
cada fmea.
Crescei e multiplicai-vos,
Abro,
O pssaro aguardando at
do companheiro.
o recm-vindo.
O albatroz no mergulhador,
o judeu no caador.
o ritual de alimentao.
albatroz,
O resguardo nos
mares antrticos,
a leve brisa de liberdade.
no Pacfico, Atlntico,
Antrtico,
as tribos viajantes.
Ao vento, voam.
Na calmaria, deriva,
em sonhos encantados.
A docilidade e a f,
judeu covarde.
metros, envergados,
Fnix,
de sangue a fixidez
a orao da lua,
a orao da estrada,
distinguir, no canto
a bssola ao albatroz,
ocenicos,
as tbuas da Lei.
Pousa no mar,
sua passagem.
As guias romanas no
Judea Liberata.
Carruagem de Fogo,
astrologia, tapete-voador,
na promessa messinica.
O som do albatroz,
Pssaro, passageiro, o
a verdade fugidia,
franqueadas de mentiras
percorrer o Infinito,
albatroz, os ps do vagabundo,
Esttico o Golem,
sempiternos, o albatroz
os ontens, os amanhs, os
As tribos perdidas se
africanizam em negritude
SAGA
o fruto proibido,
no Paraso.
Ovdio versejava:
ou ervas,
Galo do Japo,
J, 29,19 -
No meu ninho,
expiarei, multiplicarei
de Osiris.
Eu sou o ontem,
o hoje e o amanh.
e cristos-novos,
Capital do Arizona,
aonde no se imagina.
REVELAO
li em Tehilim 102:8-
do Templo.
de sacerdotes- e inverte o
costume do mundo.
O A.
Talvez me habite,
esprito Borges,
simples audincia
deGodsave...
To longe,
idioma que,
monoglota,
balbucio, inseguro.
.........................................
bilhete de ida-e-volta.
A fumaa
do charuto de Churchill
descreve
Pasrgada ou Cana.
O vento gelado
molhados,
pssaros atormentados.
ELYVIEITEZ LANES
Mestre em Letras.
de nosso nascimento.
O sangue,
a nossa tribo,
etna.
A tradio,
Deus,
E, assim (2)
Oh,
Olhos tigrinos
sonho,
na tela da TV.
Transita a Rainha
na carruagem.
Torres ao fundo,
sinos e signos.
O vento gelado
molhados,
uma fico,
mentira.
Londres,
transpassa o real,
para confessar
esta gente,
esta fala,
Talvez me habite,
simples audincia
deGodsave.... (7)
To longe,
idioma que,
monoglota,
balbucio, inseguro.
Londres,
Big-Ben, (8)
Londres,
um policial,
perguntou-me -
quando adivinhou
minha perdio,
na nica rua
das minhas avenidas
em que,
mgica de tempo,
espao,
metania,
dancei o carnaval
de coloridos e blsamo,
o requinte
abrigo
Oxal, (11)
sempre serei,
um na multido,
no ch vespertino,
comospolita, (12)
da Terra.
A fumaa
do charuto de Churchill
descreve
Nostalgia
que, frangueiro,
engoli, amargurado,
Pharmacy, (19)
onde
do verbo,
rompi as barreiras.
Cavalgada Kipling, (21)
que li,
no primeiro
corte de cabelo,
na primeira
barbearia,
equitao impossvel,
no quartel
hipo - mvel do
Osis no deserto.
Fantasmas e
castelos,
(3)- O jornal dirio sempre foi uma espcie de passaporte para fugir da
pequenez do cotidiano, pergaminho sagrado de entendimento.
(6)- Minha me, a poeta Fanny Goldberg dedicou seu livro Meu caminho sem
fim ao escritor argentino, Jorge Luiz Borges, o mais britnico dos escritores.
Fanny foi personagem da mgica vida borgeana. Como a outra, Fanny Haslam.
(13)- Caipira.
(20)- Como Walter Benjamim, sempre estive na esquina. Esquina foi meu
apelido, na adolescncia.
(21)- Aluso ao poema de Rudyard Kipling , If, sempre nas paredes das
barbearias, antigamente.
Cidade interior
Vadio numa praa qualquer, num pub, livraria, olho para a metrpole
febricitante, e vejo uma serenidade buclica, que pousa na prpria viso.
Este poema foi vertido para o espanhol pelo diretor de arte da Trip, Jorge
Colombo, numa edio de autor.
PARTE SEGUNDA
NA FORMAO DE MENTALIDADE ).
Agradecimentos :
- Ao Dr. Alberto Noronha Dutra da University College London Medical School,
seu estmulo intelectual e viso de psico-imunologia que abre caminhos para
uma nova realidade da sade fsica e mental.
Este foi o tema escolhido por Jacob Pinheiro Goldberg para uma conferncia
realizada no dia 3 de julho de 1998 no Lecture Hall da Universidade de Londres.
Silvana Ramos
A GNESE DO LIVRO
JPG - Devia ser. Mas eu vou hesitando. Quando vejo que fui at o limite, eu
procuro o pique de proteo.
ML - E porque um limite muito prximo loucura, tambm, no isso?
JPG - No. a prpria loucura, porque a sanidade ela est ligada a um acerto
de convenincia, e esse gnero de especulao absurdamente inconveniente,
porque eu me alo a quem? Aos fracos. E o fraco sempre suspeito. A mulher
sempre suspeita, no ? A prpria noo da serpente uma noo feminina. A
idia da insdia, da seduo feminina.
ML - da loucura tambm.
JPG - . Eu acho que toda vez que voc tenta o mnimo de criao, de
originalidade, o mnimo de fuga do plgio, quando voc fica autofgico,
quando voc aniquila essa segunda natureza que lhe foi imposta, e a voc
permite talvez um renascimento, essa idia rabe do renascido. Existe muito
isso no mulumanismo que uma idia de fnix, de morrer atravs da
revelao, e que na psicanlise est ligada introviso, quando voc se
transforma. Alis muito curioso porque na minha vida isso sempre foi uma
constante.Quando eu olho um lbum de fotografia, eu no me reconheo
absolutamente. Quando me
JPG - Na minha opinio voc tem tudo. Se voc fica com o passado voc no
tem nada, porque o passado no existe. E se voc consegue jogar fora o
passado, a voc tem tudo, que o presente, que a nica coisa que voc tem.
O futuro sero presentes possveis, mas no certos, e curioso como a gente
trai o presente o tempo inteiro, em nome, em geral, desse passado, desses Eus
mortos.
JPG - Sempre enfrentei, com muita dificuldade, com muita dor, muito
sofrimento, tanto interno como pelas presses externas. Na verdade a minha
busca pela Psicanlise foi uma tentativa de compreenso da loucura dos outros
e da minha prpria loucura, da loucura humana, porque eu acho realmente que
a loucura humana no tem limite. Eu acho que o inferno de Dante uma plida
expresso do que o ser humano capaz de fazer mesclando a maldade com o
seu delrio permanente. E curioso porque isso contrastando com uma
capacidade extraordinria, angelical, na alma humana. Ento essa convivncia
insuportvel, e ela te joga o tempo todo no limiar entre o crime e a insanidade.
O ser humano no suporta e no agenta a idia de que ele possa ter sido
criado por um Deus bondoso para ser um anjo. Ele no suporta isso. Ele tem
um chicote se ferindo permanentemente, t entando se revoltar contra esse
Deus bondoso. E o pior que com xito. Agora, eu acho que o que a gente
pode fazer, deve fazer o tempo todo, fugir desse plgio luciferino, porque
basicamente Lcifer o plagirio, ele acompanha e corre atrs de Deus porque
no fundo quer ser Deus. o filho que no suporta a submisso. A nica
possibilidade a gente se curvar humildemente e pedir licena a Deusa pra
tentar voltar ao Paraso. No atravs de Babel, mas atravs de uma contrio.
Ns temos que vomitar alguns milhares de anos, e eu sei l se s milhares, no
? Os antroplogos falam em milhes.
ML - Voc falou em Lcifer. Tem um texto em que voc fala da feira que eu
acho muito impressionante. um texto em que inicialmente voc parece brigar
com Deus pela feira no mundo, como se fosse um enredo divino e maldito.
Depois voc defende a feira no sentido de uma resposta e de uma defesa do
torto mais do que do direito. O texto se chama Culto Fealdade, e uma
espcie de reza, cantocho, ao mesmo tempo lamento e homenagem feira
(alis o texto termina falando em sto e poro, e a feira mesmo aquilo que
est nos fundos da casa, escondido, jogado e largado e que ningum quer ver
nem assumir). Espao do detrito, do resto, do entulho, do enterrado no fundo
da terra, e a feira, como voc diz, tambm o contato com a morte. 2
ML - Acho que podemos terminar lembrando um outro texto seu que acho
muito bonito e de muito alcance. Voc fala na beleza que est aonde no
parece estar. So duas frases:
A tribo corre sempre na mesma direo. Mas para ineludvel decepo, a
beleza caminha em marcha-a-r.
1 O Plgio.
A mais alta homenagem que a admirao presta ao gnio criativo. Copiar como
se fra autntico, bandidamente, um ato de amor absoluto.
2 Culto Fealdade
Orai por ns, feios, no altar de nossa vida, agora e na hora de nossa morte,
aleluia, tambm.
Trs coisas ignoro, e tampouco a quarta sei: os caminhos da guia nos cus,
da serpente sobre a rocha, do navio em alto mar, e os do homem no interior da
donzela. [Prov. XXX, 18].
________________________________________________________________
_______________________________
Por meio desta identificao, tudo o que se diz nas interpretaes talmdicas
do Cntico dos Cnticos sobre a Comunidade de Israel como filha e noiva foi
transferido para a Schehin. impossvel, creio, dizer qual foi o fator primrio:
a revivescncia pelos primeiros cabalistas da idia do elemento feminino em
Deus, ou a identificao exegtica dos conceitos anteriormente distintos de
Ecclesia e de Schehin, esta metamorfose especificamente judaica por meio da
qual tanta substncia gnstica ingressou na tradio judaica. No posso, aqui,
dintinguir entre o processo psicolgico e o histrico, cuja unidade peculiar
constituiu o passo decisivo dado pela teosofia cabalstica. Porm, como vimos,
existe ainda um terceiro elemento: o simbolismo da Schehin como alma, no
Bahir e no Zohar. A esfera da Schehin como morada da alma - esta uma
concepo completamente nova. A residncia mais elevada da alma, em
sistemas judaicos anteriores, era situada dentro ou debaixo do trono de Deus.
A noo de que a alma tinha sua origem no precinto feminino dentro de Deus
mesmo foi de grande alcance para a psicologia da Cabala. Mas se nos incumbe
avaliar plenamente o carter mtico da Schehin, devemos examinar mais duas
concepes que so inseparveis dela: sua ambivalncia e seu exlio. Aqui,
como em tantos outros lugares, a Agad remonta a idias bem distantes do
texto bblico. Um exemplo semelhante a estria de que uma mulher teria sido
criada antes de Eva, o que pode, verdade, ter sua origem numa tentativa de
solucionar a contradio entre Gnesis 1:27, onde o homem e a mulher so
criados simultaneamente, e Gnesis 2:21, onde Eva feita de uma costela de
Ado. Segundo um midrasch12 que, a bem dizer, no citado nesta forma
antes do sculo IX ou X, uma mulher foi feita para Ado primeiramente de
terra, e no de seu flanco ou de sua costela. Esta mulher foi Lilit, que irritou o
Senhor da Criao por exigir direitos iguais. Afirmava ela: Ns (Ado e eu)
somos iguais, porque ambos viemos da terra. Depois disso eles brigaram e Lilit,
amargamente descontente, pronunciou o nome de Deus e fugiu, iniciando sua
carreira demonaca. No sculo III, esta estria era aparentemente conhecida
numa forma algo diferente, sem a demonaca Lilit. Essa verso fala da primeira
Eva, criada independentemente de Ado, e sem relao, portanto, com Caim e
Abel, que lutaram pela posse dela, pelo que Deus f-la voltar ao p13.
gershom g. scholem
Aprendei como se d que algum veja sem querer e ame sem querer. Se
investigardes cuidadosamente esses assuntos, o encontrareis em vs mesmos.
Hipolito - Heresias.
O primeiro passo para longe do totemismo foi a humanizao do ser que era
adorado. Em lugar dos animais, aparecem deuses humanos, cuja derivao do
totem no escondida. O deus ainda representado sob a forma de um animal
ou, pelo menos, com um rosto de animal, ou o totem se torna o companheiro
favorito do deus, inseparvel dele, ou a lenda nos conta que o deus matou esse
animal exato, que era, afinal de contas, apenas um estgio preliminar dele
prprio. Em certo ponto dessa evoluo, que no facilmente determinado,
aparecem grandes deusas-mes, provavelmente antes mesmo dos deuses
masculinos, persistindo aps, por longo tempo, ao lado destes. (MM, ESB, p.
74) . Freud.
a mulher?
Para o Deus.
Quem intermeda?
Buda - Moiss -
Jesus - Maom -
Confcio.
E a reveleo
feminina?
O limite dos estudos da mentalidade feito pela Ecole des Annales o desenho
lgico.
La donna mobile.
Mas, Isaas...
Registra -
Itens
1 - Abortos: Levantamento oficial revelou que 12% dos fetos de sexo feminino
foram abortados.
Na lngua dos ndios ax, do Paraguai, Jamo panka pixipre jamo (aquele que
cai nas garras do jaguar tem que ser jaguar).
A filha do fara desceu para banhar-se no rio, enquanto suas servas passeavam
na borda do rio; e, descobrindo ela o cesto no meio dos juncais, mandou uma
serva apanh-lo. Abriu-o e viu a criana que chorava; compadeceu-se dela, e
disse: um filho dos hebreus. E a irm dele disse filha do fara: Queres
que v chamar uma ama dentre as hebrias, para te amamentar o menino?
Disse-lhe a filha do fara: Vai. E a menina foi chamar a me do menino. A
filha do fara disse-lhe: Toma este menino e amamenta-o, e eu te pagarei o
que for justo. E a mulher tomou o menino e o amamentou. E quando o
menino j estava crescido, levou-o filha do fara, que o recebeu como filho, e
lhe deu o nome de Moiss: Porque, disse, das guas o retirei. Em Moiss e
o Monotesmo, Freud defende a tese da filiao de Moiss, princesa egpcia
que o salvoudo meio da juncas e a teoria de que os judeus o mataram,
revoltados contra a imagem do pai.
uma longa viagem. Animal bpede, da famlia dos primatas. Aprendera a falar
e fabricar utenslios reconhecveis. No fim da primeira etapa, aprendeu a usar o
fogo, surgiu solitrio, na sua classe de animais. Era biologia. Na segunda etapa,
aprendeu a cozinhar alimentos e fazer roupas quentes. Criou o arco e a flecha e
domesticou o co para a caada. Melhorou sua habilidade. Na terceira etapa,
cultivou plantas, celebrou a cermica, fez carroas, fundio do cobre,
escreveu, carvo, mquinas a vapor, comrcio, imprensa, dinheiro, canho.
Desgastou o planeta e a natureza sofreu. Uma histria de mais de um milho
de anos.
Nem tudo que sinto e penso eu conto. Nem tudo que eu conto, eu sinto. O que
eu mais oculto nem meu o segredo. Quem pensa e sente por mim, aonde
encaminha meu pensamento, meu sentimento? O tero alimenta e o campo
da expanso. Dialeticamente, o universo com limites que tem que ser
abandonado e que expulsa. Na cela-paraso, detm e a plenitude. At... que
pela rachadura se perde todo o aconchego, e se ganha a liberdade e o medo. A
sndrome da rejeio. O desamparo e a provocao. No ltimo livro da
Revelao Budista que fala em uma Segunda Vinda -
E vi um novo cu e a nova
Terra, pois o primeiro cu e a
Para o mestre budista. D.T. Suzuki co-autor com Erich Fromm de Psicanlise e
Zenbudismo- a terminologia tudo que nos separa. Na realidade acho que a
terminologia tudo que nos une, e por isto separa o eu do eu, enquanto nos
junta ao outro que, por sua vez se junta a ns e se separa de si. Agostinho
exclama - O que isto para mim, embora ningum o compreenda. A
compreenso uma ponte, mas o Anncio do abismo. Criar o abismo, o
Nada, passa pela doutrina budista do Nirvana. Ver a face de algum ainda
antes do seu nascimento, Hui-neng (Yeno, morto em 713). Numa justaposio,
o Tao significa caminho, mas Lao-tzu, no Tao Te Ching diz que O caminho
semelhante a uma vasilha vazia, Quando olhas para ele, no podes v-lo.
Uma verso linda da desconstruo do Nome de Deus, na Cabala judaica
reportada por Martin Buber. O Nem. A sacralidade da forma que ilumina o
contedo se proclama no hebraico, como a lngua do Senhor, em que cada
letra, de per si, resulta num mundo, os ideogramas chineses em que os
caracteres comunicam, diretamente, o senso.
ERA UMA VEZ. Assim se iniciam as histrias que nos pretendem ligar a uma
tradio. Diferemente do depoimento que, em Juzo, se introduz com A BEM DA
VERDADE. Era uma vez admite a mentira como a instncia da fantasia, a
IMAGINAO, o SIMBLICO. Da um salto ao pecado e absolvio. O
conhecimento das razes mais profundas, estranhas, condenveis, a desrazo
iluminada, nos escaninhos do Inconsciente. O mestre Jalaluddin Rumi, sculo
XIII, mestre do sufismo, reporta a peculiaridade operacional alusiva das
estrias, em que o factual serve, unicamente como uma abertura para outro e
outro fechamento. O homem que bailava com as estrelas. O mulah Nasrudim
convidado a discursar numa aldeia, pergunta multido - vocs sabem o que
vou dizer? Em coro respondem que no. Se no sabem intil falar. Se retira.
Protestam e ele volta. Vocs sabem o que vou dizer? Sim. Se sabem
desnecessrio falar. Se retira. Protestam. Volta. Vocs sabem o que vou dizer?
Metade diz que sim, metade grita que no. Nasrudim arremata - Ento a
metade que sabe conta para a metade que no sabe. Numa passagem italiana
do Teatro do absurdo, algum anda com o p enfaixado. Inquirido responde
que havia sonhado que quebrara o p. Woody Allen, num de seus arroubos,
afirma que num domingo em Nova York, mais fcil encontrar Deus do que um
encanador. Desavisado o cineasta no sabe que fala do sbado e no do
domingo e que no seu arqutipo, no dia sagrado no se encontra um maker
(no sentido da concretude), mas um marker (o peregrino que anda com a
cabea na lua, o esprito no Cu). Somos criador e criatura do mito/minto.
Sagrado, lenda ou folclore. Verifico, pela literatura, os processos mentais, da
pessoa e da multido. A crtica, tambm arquetpica. Em psicanlise procura-se
o passado para compreender o presente e planificar o futuro. Na saga islandesa
desloca-se o presente, se vive no passado e no futuro. Quando falo-fallus, a
alma, do homem, referindo-me espcie, excluo as mulheres, mas no s da
fala (fallus), mas da espcie. Quando invento um personagem (crio), como um
deus, crio pessoas, que sero virtualidade enfeitada
Entre a dessacralizao da realidade e sua banalizao, eis a o espao para
outra aventura. Alm do fato e do ato, saio do profano e tento a histria.
Psicanalista e analisando - gato e rato, mtuamente se caando.
O Exterior
A interiorizao
Walt Whitman -
No sabeis que sois, cada uma de vs, uma Eva? A sentena de Deus sobre
esse vosso sexo permanece viva hoje: a culpa deve necessariamente viver
tambm. Vs sois o portal do demnio; vs sois a violadora da rvore proibida;
vs sois a primeira desertora da lei divina; vs sois aquela que convenceu
aquele a quem o demnio no foi suficientemente valente para atacar. Vs
destrustes de modo to irresponsvel o homem, imagem de Deus. Por vossa
culpa, at o filho de Deus teve de morrer.
Thank you for your excellent presentation in our seminar session in July 3rd . It
was, as expected, very well received and raised very interested points for
discussions, that should be followed up.
We would like, on this opportunity, to invite you to come next year for another
presentation. It is our plan to make this a yearly event that will gather others
academics, from different countries discussing the psyche in heath.
The subject for next year is The control of immunity by the psiche. We are
expecting to have your answer, about the subject of your presentation, by
November.
Yours sincerely
Division of Nephrology
Mortimer Street
II
TEXTOS
REFERENTES
Na cincia o que
me importa a
poesia. Na poesia, a
investigao.
Na prosa, o entrelaamento.
desenho e desdenho.
1 - O atavico,
2 - O maravilhoso,
3- O inconsciente,
Em fevereiro de 2001, equipe composta pelo Prof. Dr. Jacob Pinheiro Goldberg,
Ph.d. em psicologia - Deputy-chairman - Middlesex University South American
Advisory Board, Prof. Jerry Hart - Lecturer in Security Management - University
of Leicester, realizou pesquisa de campo sobre micro-violncia em So Paulo
Informa a imprensa que Josana Carla de Souza, de 4 anos, cuja morte foi
anunciada como assassinato, na verdade morreu de inanio.
Dois suspeitos da sua morte quase foram linchados. Mas o laudo necroscpico
revelou que a menina morreu de fome e que seu corpo no tinha marcas de
violncia sexual.
Uma parcela da sociedade brasileira est preocupada com uma estranha noo
de segurana: estupro crime, morrer de fome estatstica.
O que mais pode causar espanto e horror numa sociedade corroda pelo
cinismo da indiferena?
Mas no! Exagero minha indignao. A Ptria, o mundo e a moral esto salvas.
A Assemblia Legislativa de So Paulo decidiu que os seus deputados tm que
usar obrigatoriamente palet e gravata. o contraponto e o contocho fnebre
para o enterro de Josana.
Sugiro, alis, que para a maior respeitabilidade se use o fraque e cartola, por
que no?
Prato cheio (perdoem a infeliz expresso no artigo que fala da morte de uma
criana faminta). Prato cheio para um Fellini caboclo.
Que esprito de Josana desa nos terreiros das almas dos poderosos e possa
estimul-los para um ato, um gesto, uma palavra de contrio: perdo e
arrependimento, pela ao e omisso.
(Tribuna da Imprensa)
ASPECTOS PSICO-EMOCIONAIS
INTRODUO
NO ME DEIXE MORRER
Aidtico. Isto diz alguma coisa sobre ele? Nada. A no ser as diarrias violentas,
acompanhadas por dores insuportveis. As noites de pesadelos enlouquecidos,
o medo, suores frios (gelados). Me, me. O peito parece que vai quebrar. A
magreza que escandaliza e envergonha. S saa na rua noite. No nibus, as
pessoas se afastam, com ares de nojo, desprezo e condenao. A Aids est na
cara. Pr eles. Para ele, est nas vsceras, no corao, no seu passado, na
estria, na histria. 23 anos de idade. Paciente terminal. Isto diz alguma coisa
sobre ele? Nada. A no ser o pnico da morte. No quero morrer. No vou
morrer. Deve ser erro dos mdicos. J soube de resultados laboratoriais com
margem de engano. O AZT talvez possa curar. Se eu me alimentasse melhor.
Mas como se a cesta-base termina a rao na altura do dia 20. Seu
companheiro, tambm aidtico, mas sem sintomas, continua trabalhando, e
trs frutas e po, as vezes at carne. Escrevi hoje um poema, posso ler para
voc? Mas do que adianta, pr que escrever, se ningum vai publicar? Fui
numa editora, disseram que livro de poesia no vende. E quadro? Vou pintar.
Resolvi pintar, vou pintar um quadro, usando o meu sangue, quando vomito
sangue, vou molhar o pincel e pintar na tela. Vi que um artista francs fez isso
e os jornais publicaram. Quem sabe se eu fizer os jornais publicam tambm e
eu ganho um dinheiro pr comprar os remdios. Aos 15 anos de idade pegou
um txi, vinha do interior, inexperiente, pobre (miservel), e na hora de pagar
no tinha dinheiro. O motorista exigiu-lhe sexo oral. Chorou de vergonha, de
humilhao, mas ficou fascinado com a fora fsica, e a riqueza do chauffeur.
Dono de um txi. Ele s tinha um bluso e duas calas. Seu pai expulsou-o de
casa, porque os vizinhos diziam que ele era v. . "Prefiro meu filho morto do que
v. . Seria capaz de te matar com minhas prprias mos". A me, arrematou:
"Teria sido melhor se tivesse nascido morto". Na verdade, invejava seus
amiguinhos de rua, mais agressivos, mais fortes, briguentos. Sempre pelos
cantos, tmido, aceitava o uso de seu corpo, como carcias dos moleques mais
velhos. No entendia porque, depois ridicularizavam-no. Debochavam e at
batiam, nele, ele que satisfazia o desejo deles, ele que s queria sobreviver, em
paz, que o esquecessem. Que o esquecessem, pelo amor de Deus. Resolveu
amar a Deus. Deus era homem tambm? Homoafetividade. Queria um Pai, um
pai, precisava de irmos, queria um filho. Jamais iria ter um filho, era incapaz
de sentir desejo sexual por mulheres. No entendia, sua alma se encantava
com qualquer sorriso masculino (quem sabe este homem forte o protegeria dos
moleques que todas as noites, nos pesadelos vinham exigir seu corpinho fraco,
para depois cuspi-lo fora). Este homem forte, casado, que, furtivamente, nos
banheiros dos cinemas, nas saunas, o tocava, depressa, para logo, depois, com
brutalidade, murmurar: "se arranca v.". Hoje, agora que j tenho 23 anos, que
j estou velho eu sei que foi a que peguei a Aids. Mas agora no quero mais
sexo, s penso em Deus. Deus vai me perdoar? Devo ter feito alguma coisa
terrvel, no sei o que, castigo to grande. O que? Acho que envergonhei meus
pais. Mas eu voltei minha terra e prometi ao meu pai que nunca mais faria o
mesmo. Ele me deu um murro na cara. Naquela hora, pensei, ele no mais
meu pai,eu nunca tive pai, agora eu serei sozinho pr sempre. At que
encontrei o C. Ele cuida de mim, e eu sou estpido com ele mando ele embora
e ele volta. Porque que esse desgraado no me larga? Passa as noites sem
dormir, me carregando at o banheiro e quando eu enlouqueo... Eu estou
louco, no ? Eu peo pr ele - "No me deixe morrer". E ele me promete:
"No. No vou deixa-lo morrer". Na confuso, uma confuso, s vezes eu o
chamo de pai. Na U.T.I., ondas de fogo e gelo pelo corpo, cheguei a pensar:
Devo perdoar a Deus?
2 - "EU NO ACREDITO"
Comecei a sentir tontura. Sem motivo, estava tudo bem. Fui ao medico do
convnio. Expliquei sobre diarria e outras coisas, nem sei bem como foi. A ele
pediu uma srie de exames. Levei os resultados e ele me perguntou se eu tinha
feito sexo fora do casamento. Deus que me perdoe. Casei virgem e sou
honesta. Jamais tive sexo com outro homem. Achei esquisito. A ele disse que
tinha uma notcia ruim. Eu teria que fazer outros exames, porque havia
suspeita de AIDS. Quase desmaiei. Achei que era brincadeira ou loucura. Como
Aids? Ele me acalmou, disse que precisava confirmar e que havia tratamento e
ficou falando uma poro de coisas para me consolar. Mas o que eu queria era
levantar dali e perguntar pro meu marido se ele era homossexual. Perguntei
pro mdico. Ele ficou explicando com pacincia, mas eu no queria ouvir. Ento
era alguma vagabunda. Quem seria? E como ele teve coragem de me trair? A
falei com uma amiga e ela disse que eu devia procurar antes de me separar um
psiclogo. Na verdade eu no queria me separar, eu queria mat-lo e me
matar. Mas e meus filhos? Quanto tempo de vida eu tenho? Eu no merecia
isso. O senhor entende? Eu no merecia isso. Se eu soubesse que ele era esse
canalha eu teria trado ele, teria largado ele. E agora? E agora? (Choro
convulsivo). Um dia ela foi menina, amada por seus pais, brincando com seus
irmozinhos. Depois menina-moa, com esperana e desejo pela vida. Depois
mulher e me. Frustrao, recalque, medo, desespero. As vias que trouxeram a
desgraa se alimentaram na cultura machista, o feminino-objeto, Eva que na
verso desta masculina se aliou serpente, no Jardim do den. A indignao e
a surpresa habitam seu psiquismo. A dor, perene.
3 - "E A DANCEI!"
Eu acho que foi mais ou menos assim. Nem tenho certeza. Mas quase certo.
Ligado? Estava na boate, com o pessoal da Faculdade. Morno, quase frio. Nada
acontecendo. Jil. Jilosissimo. Ao R. Chegou e disse: "Topa a picada". Naquele
nada de nada, depr, resolvi ir. Falei: "Vou nessa". A M. Picou, o Z, a L. "t
fora", como sempre, careta. Piquei. Legal, depois champanhe pr quebrar.
Ficamos a noite inteira. Ligado, ligado? Samos dali, fomos noutra, e mais uma.
Acordei em Maresias. Chapado. Nem sei como quem. Porre legal, viajando.
Laboratrio, mdico. Aids. Brincadeira! Brincadeira, cara! Sujou. Sujou, legal. O
pessoal caiu de quatro. Aids? Pois . 2o ano de Direito, famlia de classe mdia,
20 anos de idade. O primeiro baseado aos 14 anos, no Colgio.
1- Associada a T.P.M.
2- Em decorrncia de auto-manipulao ou masturbao com parceiro.
4- Aps urina.
5- Ao excitar-se.
J.P.G.
OLHAR MASCULINO PERVERSO
MES DO BRASIL.
O EXORCISTA DO AMOR
(Gisele Vitria)
ISTO - comum ouvir que toda a harmonia e afinidade de uma relao nada
valem se no houver amor. De qual amor o sr. est falando?
ISTO - Por que o sr. diz que o machismo o que sustenta o amor idealizado?
ISTO - Mas se pode ter afinidade com um amigo, com um irmo. O que
diferencia um homem ou uma mulher com quem se leva uma vida em comum?
ISTO - Mas se atribui paixo uma das melhores coisas da vida. Como o sr.
interpreta isso?
ISTO - O que h de mal na fantasia, uma vez que ela faz parte do ser
humano?
JACOB- benfica, desde que no ocupe o espao real. Se uma mulher quer
dormir com o seu marido pensando neste heri, tudo bem. Agora, se ela
pretende substituir seu marido, com quem tem filhos, com quem se d bem,
com quem atinge orgasmo, por este outro fantasma, a a fantasia mrbida e
patolgica.
JACOB- Sim. A crtica maior de que essa tese rouba algo da fantasia.
JACOB- Para ser franco, confesso que alguns dos transtornos da minha vida
sentimental se deram exatamente no caminho oposto, de ter sido bem-amado
no sentido infantil.
JACOB- Seria mais consoante com o ritmo moderno. Hoje as pessoas no tem
tempo para esta chatice de amor. O mundo contemporneo tem muitos
estmulos. O amor acaba sobrando para os medocres.
ISTO - Qual a diferena a seu ver entre o amor mitificado e o amor maduro?
JACOB- O amor maduro leva em conta a outra pessoa. a nica forma de o ser
humano transformar a relao numa arte. A expresso ternura deveria
substituir o vocbulo amor.
JACOB- muito mais um preconceito que tenta aliar a idia do amor feminino
histeria. Hoje a mulher assume seus conflitos. O homem um cego no meio do
tiroteio. Quanto mais a emancipao feminina avana, mais a crise masculina
se aprofunda, e mais vo mudando esses modelos de amor.
ISTO - Encaixa-se em sua tese o estado a que chegou a atriz Vera Fischer?
ISTO - O sr. imagina que possa haver algumas regras para manter um
casamento?
Fiquei apavorado, porque sempre achei que tinha o pnis pequeno, embora
meus 1m83cm de altura. Mas era isso. Quando a mulher abriu as pernas e
pediu que eu tirasse as calas, comecei a urinar. . Urinar nas calas. Ela dava
risada e comeou a brincar-: Mijando, nen? T com medo. Tentou pegar no
meu pnis para fazer sexo oral. Implorei que ela parasse. Disse a ela que
pagaria o dobro do combinado mas que ela dissesse aos meus amigos que eu
tinha conseguido fazer a penetrao. Ela saiu do quarto e gritou: Abro, o seu
amigo bicha, brocha. Todos comearam a dar risada. Dei-lhe um tapa e sa
correndo. No dia seguinte comecei a sentir dores atrozes na bexiga. Fui ao
mdico e ele mandou fazer uma srie de exames. Resultados todos negativos.
Depois disso nunca mais procurei outra prostituta. Aos 22 anos de idade
conheci L. com quem me casei casto e tive um filho. No dia da circunciso do
meu filho, vomitei o dia inteiro. noite minha me comentou que quando fui
circuncisado sofri uma hemorragia fortssima e tiveram que me levar para o
hospital. Quando minha me contou o fato, o meu pnis ficou ereto. Morri de
vergonha e tentei esconder o pnis, com a mo, mas a minha mulher percebeu.
Nos dias seguintes tive recorrentes pesadelos e via o pnis do meu filho sendo
cortado e o meu no meio de uma poa de sangue. Sonhei tambm que no lugar
do pnis eu tinha um buraco. Doutor, sempre quando vejo um goy imagino
que o pnis dele maior do que o meu e isso me d uma idia de que vou
morrer a qualquer momento. Fui a um urologista e ele me disse que meu pnis
de tamanho normal mas no adianta. Quando penso na minha mulher
imagino que ela nunca ir ao orgasmo como se eu tivesse o pnis inteiro.
Quando me masturbo penso no meu pnis com a pele enorme e minha mulher
desmaiando de gozo. J resolvi doutor que se eu tiver um outro filho, juro que
no vou circuncis-lo, embora meus pais possam lamentar. Quer saber de uma
coisa? Prefiro no ter mais filho nenhum. Informao - Depois de 3 anos de
psicoterapia M.F. teve filho e resolveu no circuncis-lo. Sua mulher fez a re
converso religiosa e ele teve alta psicoterapica. Sua frase final - Doeu, mas
cicatrizou.
GOL E ORGASMO
Dona Martinha insistiu, como s ela sabia fazer: _ Vai, vai meu filho.
Que nada. Muito pelo contrrio. O olhar era uma provocao e um desafio.
Finalmente Joo, semi-desfalecido, chegou-se ao grupo com uma pergunta
intil:
Joo ainda lanou um ltimo olhar de pedido de compaixo para sua me. A
resposta acima dos pelos do queixo veio sem tergivesao.
_ Posso brincar?
A resposta veio com a fora das coisas decididas no incio dos sculos.
_ Se arranca, Gororoba.
Joo, num rompante, sentiu que era seu futuro que estava em jogo e tentou
tudo num p de audcia, to ridculo quanto ele mesmo. Tentou atingir com um
soco, sem fora, sem malcia, sem jeito, a cara de Chico Nego, que
desvencilhou-se com riso descontrolado. Joo desiquilibrando-se, estatelou-se
no cho, seguindo-se uma saraivada de murros e pontaps.
Com o rosto ainda mais branco que cera, um filete de sangue escorrendo feioso
pelo nariz, Joo comeou a recuar para casa sob os risos dos moleques e a
zoeira - Gororoba, Gororoba.
_Claro meu heri; claro que vi sua valentia. Voc mesmo meu homenzinho.
J.P.G. - Coo-jornal
ANALISANDO FREUD
Moiss trouxe da Lei de Deus, como mandamento: Honrars teu pai e tua
me, como te ordenou o Senhor, teu Deus, para que a tua vida seja longa e
prspera sobre a terra, que o Senhor, teu Deus, te dar. A leitura do discurso
freudiano sobre a psicanlise e sua base na Lenda de dipo, permite uma
interpretao personalista e cultural. Diante da ambivalncia de sentimentos em
relao a seus pais, judeus assimilados cultura leiga germnica, Freud se
aliena da tradio judaica de respeito e aceitao das figuras familiares para
encontrar no mito grego uma base de revolta filial. Na antigidade o judasmo
encontrou nas razes helnicas o seu maior desafio de sobrevivncia filosfica,
paralelo ao desafio religioso do cristianismo. Assim sendo, Freud se orientando
em dependncia da mitologia grega, duplamente podia enfrentar a autoridade
paterna: no contexto direto da revolta de dipo contra seu pai carnal e no trao
indireto de repdio tradio das ordens do Pai divino.
Em 1924 Freud enviou uma carta ao psicanalista ingls Ernest Jones em que
declara: Estou disposto a desistir da minha oposio existncia da
transferncia de pensamento e completou estou preparado para dar o apoio
da psicanlise questo da telepatia. Durante toda a sua vida Freud teve uma
atitude ambivalente em relao aos chamados fenmenos espritas ou ocultos.
Freud leu na Ata da Sociedade de Pesquisas Psquicas um relatrio sobre
experimentos telepticos com Gilbert Murray, o classicista de Oxford (ver pg.
233 The life and work of Sigmund Freud, de Ernest Jones). Enquanto morou
em Paris ele teve a chamada experincia clauriaudiente de ouvir a voz de sua
noiva, Martha Bernays, chamando-o de Viena, vrias vezes. Wilhem Fliess
mdico rinologista exerceu no princpio da carreira de Freud ascendncia sobre
o criador da Psicanlise. Excntrico Fliess era dedicado numerologia que
passou a interess-lo por toda vida. Freud registrou um caso de premonio
acontecido em 1889. Em The Psychopathology of everyday life, publicado em
1904 Freud analisa com prudncia a psicodinmica das supersties, sonhos
profticos e manifestaes telepticas. Ainda neste ano Freud visitou com seu
irmo Alexander a cidade de Atenas. A revista American Imago (outono 1969)
publicou A Perturbao de Freud na Acrpole. Os acontecimentos ocorridos
em 3 de setembro de 1904, quando Freud passou duas horas na Acrpole
foram relatados por Ernest Jones . . . sentiu uma estranha descrena na
realidade daquilo que estava diante de seus olhos. . . e chegou a perguntar a
seu irmo se eles estavam realmente na Acrpole. Mais tarde Freud tentou
explicar o fenmeno como processo observvel em pessoas que no podem
tolerar o sucesso. Em 1936, Freud publicou um artigo denominado Um
Distrbio de Memria na Acrpole, em homenagem a Romain Rolland, e no
qual tenta ligar o misterioso ao proibido: ... o fato teve algo a ver com as
crticas de crianas a seu pai, com a subestimao da infncia... Assim o que
interferiu com o prazer de nossas viagens para Atenas foi um sentido de
respeito filial... Em 1905 tendo encontrado um homem que se parecia
fisicamente consigo, Freud interpretou o fato como um pressgio de sua morte.
Em 1907 quando conheceu a irm de um paciente que falecera e notou a
semelhana entre ambos, exclamou: Ento verdade afinal, que os mortos
retornam. Em 1910 ele comentou com o analista Sandor Ferenczi sobre uma
premonio segundo a qual morreria em 1918. Em 1919 (Imago, vol. 5) Freud
publicou um ensaio sobre O misterioso, resultado de ponderaes de mais de
quinze anos. Neste trabalho ele afirma: ... Contudo quase no existe, nenhum
outro assunto, desde os tempos antigos, morte e cadveres, retorno dos
mortos, espritos, e fantasmas sobre o qual os nossos pensamentos tenham
sofrido to pouca mudana e no qual formas fora de uso foram to
completamente preservadas sob um tnue disfarce, como esse de nossa
relao com a morte.... Em 1921 o pesquisador psquico norte-americano
Herewar Carrington, convidou Freud para participar do conselho consultivo do
Instituto Psquico Americano e colheu a seguinte resposta: Eu no sou um
desses que logo de sada condena o estudo dos chamados fenmenos
psicolgicos ocultos, por consider-los no-cientficos. Sem que oscilasse na
sua atitude em relao ao fenmeno esprita chegou a negar ter escrito esta
carta (provavelmente dissuadido por Jones). Freud chegou a preparar um
ensaio sobre Psicanlise e telepatia para ser lido no Congresso Internacional
Psicanaltico de 1922, publicado em 1941 dois anos aps a sua morte. Seu
colaborador Ferenczi (conforme depoimento de seu testamenteiro literrio
Michael Ballint) mostrava muito interesse pelos fenmenos ocultos, de outro
lado Jones era rgido na oposio a qualquer ambigidade em relao aos
mesmos. No supra mencionado ensaio, Freud acaba por afirmar: ... Eu no
tenho opinio, no sei nada sobre isso... Esta afirmao seriamente
relevante, tendo em vista a coragem de Freud na dissecao conseqente de
todos os fenmenos mentais que procurava estudar. Em sua obra Novas
Prelees Introdutrias e Psicanlise, no captulo no . 20, Os sonhos e o
oculto ele resume vrios casos de relatos de pacientes sobre telepatia e
assegura: Todavia, levando em considerao todas as evidncias permanece
uma grande dose de possibilidade em favor de realidade de transferncia de
pensamento. Advertido por Jones que deveria ser cauteloso, Freud afirmou
que: UMA PESSOA DEVERIA TER A CORAGEM DAS SUAS PRPRIAS
CONVICES. E publicou um pargrafo especial relativo significao oculta
dos sonhos na edio de 1925 das suas Obras Completas. Com sua filha
Anna Freud e Ferenczi entregou-se experincias Telepticas. E em relao s
mesmas afirmou: Ns trs levamos avante experincias com transmisso de
pensamento. Elas foram excepcionalmente boas, em especial naquelas em que
fiz o papel de mdium e depois analisei minhas associaes. Jones advertiu-o,
Freud retrucou: Eu tambm no gosto disso tudo, mas existe alguma coisa de
verdade nisso. Jones respondeu que Freud acabaria acreditando em anjos,
este respondeu, brincando: Perfeitamente, talvez at mesmo no prprio bom
Deus. Freud foi membro da Sociedade de Pesquisas Psquicas de Londres
desde 1911 e da Sociedade Americana de Pesquisas Psquicas desde 1915.
Numa conversa com o escritor hngaro Cornelius Tabori, em Viena no dia 21 de
julho de 1935, Freud cita o caso relatado por um homem muito inteligente e
culto que corrobora os poderes de predio de uma ledora de sorte e um outro
de uma paciente na mesma linha. Perguntado por Tabori se estes casos seriam
provas suficientes sobre telepatia ou clarividncia, Freud afirmou: A
transferncia de pensamento, a possibilidade de sentir o passado ou o futuro
no pode ser meramente acidental. Na verdade as pesquisas sobre o
inconsciente iniciadas, genialmente por Sigmund Freud, a sua disposio para a
verdade, a aplicao da dialtica da cincia na psicologia que nos possibilitam
verificar, hoje, as dimenses da mente e a limitao do homem, sem o risco de
minimizao dos mais largos horizontes do esprito.
SIGMUND OU SCHLOMO.
LINGUAGEM DEMONISTA.
O MESSIANISMO DA PSICANLISE.
MISTICISMO E SURREALISMO.
FREUD E A CABALA.
DESINFORMAO E SUFERFICIALIDADE
Induo passividade
Tese
Aos 18 anos, muitos jovens, frequentemente, do interior saem das casas dos
pais em busca da autonomia para o seu comportamento e, tambm, quando
mudam para as grandes cidades, melhores oportunidades de trabalho e estudo.
Vrios fatores determinan este procedimento:
O ANJO PECADOR
EM NOME DE DEUS
MONLOGO A DOIS
Quem matou Jesus? Quem matou 6 milhes de judeus? O aparente dilogo que
se estabeleceu aps a tragdia da shoah (e no holocausto), na Segunda
Guerra Mundial, entre a igreja e a sinagoga nunca atingiu a autenticidade e a
coerncia indispensveis. Medo, culpa, sentimentos recalcados de amor e dio
se embaraam numa teia complexa, em que a fraqueza no encontra lugar.
Alguns pontos demandam mais a reflexo teolgica e psicolgica do que o
modus vivendi poltico. preciso mergulhar na origem das contradies e do
afastamento, at as teratolgicas implicaes. De um lado, a saga de Jesus,
Yeoshua Ben Yossef um campons judeu do Mediterrneo, na definio de
John Dominic Crossan , relatada numa linguagem epopica e passional pelos
apstolos, companheiros judeus. A mensagem, renovada e transmitida pela
ambiguidade do gnio poltico de Saulo de Tarso, que conquista o imaginrio e
o simblico como Paulo, culmina na conquista do imprio que se afirma em
Roma. Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste? as palavras na
cruz (suplcio do dominador romano) invocam o enigma: Jos, a identidade
paterna, o abandono diante da represso, a humilhao imposta. Ou se faz a
insero (que nem cristos nem judeus admitem) de Jesus no cenculo
existencial de sua histria ou a judeufobia do deicdio evolui, independente de
declaraes ou mea culpa. O papa Pio 12 foi omisso diante do crime nazista,
como Hochnut denuncia em O Vigrio? Sim. Mas no foi pessoal sua atitude.
Decorreu de dois milnios de sndrome de Caim (segundo o psicanalista
Szondi). A escola de Pilatos se reproduz. Khalil Gibran escreveu sobre a
necessria reconciliao entre Cristo e Jesus. Joseph Klausner, da Universidade
Hebraica, afirmou que Jesus foi o mais apaixonado autor das parbolas mais
sublimes do judasmo. A transformao do martrio de Jesus, por parte de
Roma, na justificao do anti-semitismo s pode ser compreendida numa
releitura horizontal dos quatro Evangelhos, luz dos manuscritos do mar Morto,
constatando discrepncias e no aparentes convergncias. Que o ovo da
serpente tenha germinado na Alemanha crist foi reportado por Gallagher. O
sacrifcio de Abel no demanda desculpas. Tudo foi imperdovel. S a graa
divina e a inteligncia antropolgica podem prometer um silencioso reencontro
de irmos, sobre a dor csmica. Diante de Auschwitz e do Calvrio, a
introspeco convida a que os companheiros de ascese implorem a redeno.
Nem monlogo nem dilogo. A prece.
(IM)POTNCIA SEXUAL
Em Hokan-Coahuiltecan
na voz do xam.
na rota selvagem,
so os embries de um
salto na escurido.
encheram os horizontes
como o Imprio Inca podia calcular
Sepa Inca.
Os atacamenos, os diaguitas,
Senhor?
A gua, proibida,
rezando e matando,
Em Hokan-Coahuiltecan
(Feitio da America)
PSICOLOGIA DA LINGUAGEM.
1o. a confuso das lnguas pode ser indicada corretamente por balal
palavra hebraica que significa confundir.
2o. bab significa porta; ilu significa Deus. Reaes inteligentes perante
as origens das confuses lingisticas foram pioneiras em tentativas de resolver
essas diferenas. A adoo de uma lngua existente foi e uma das formas
mais racionais para resolver a dificuldade da comunicao internacional. Cabem
aqui algumas perguntas:
ANAMORFOSE PSQUICA.
Anamorfose uma imagem torta que o espectador tem que distorcer para
descobrir o que representa. Aparentemente, as anamorfoses so apenas
ondulaes de formas e cores confusas, sem destino. A palavra provm da
botnica e zoologia moderna, significando alterao de forma em plantas e
animais, produzidas repentinamente pr modificao no meio ou por
modificao orgnica. Hoje palavra usada no s na pintura como na
literatura e msica. F. Morel comps em 1974 uma pea de msica com esse
ttulo. Em 1961, Jean Cocteau proclamou que a cincia e poesia se encontram
numa terra de ningum localizvel entre as anamorfoses cilndricas. Leonardo
da Vinci no Codex Atlanticus tem dois esboos esticados, aonde se pode
reconhecer a cabea de uma criana. Na China se prestava representao
oculta de cenas erticas. Edhard Schon numa xilogravura Vexierbild, em
1535, dissimulou retratos de um papa e trs soberanos. Hans Hoblein Filho
num quadro Os Ministros de 1552 representou dois amigos. O quadro est
cheio de alegorias simblicas e entre os dois homens existe uma anamorfose
que decifrada, se verifica tratar-se de uma caveira, vaidade segundo a
simbologia daquele perodo histrico. Esta arte foi muito usada nos sculos XVII
e XVIII. Nem sempre fcil compreender uma anamorfose pois muitas vezes o
artista usa sua obra como uma srie de superposies que devem ser
decifradas para serem compreendidas. Na psicoterapia o paciente muitas vezes
traz da sua vida uma imagem distorcida de uma realidade que deve ser
recomposta. Outras vezes, a realidade que se organiza como imagem
distorcida de uma compreenso subjetiva que deve ser ajustada. Procura-se um
ponto da imagem deformada e com auxlio de espelho cilndrico perceber-se- a
imagem distorcida. Na vida, o espelho capaz de retificar a viso a
localizao do ponto de observao adequado para cada situao.
J.P.G.
JESUS, O JUDEU
J.P.G.
O destino se ri dos planos dos homens. Numa cultura narcsica, em que o ser se
confunde com o prazer, o uso, o consumo, um presente sem passado e sem
futuro, a morte exilada. Contrariando Freud, o mal-estar no se origina na
informao de que o homem o nico animal que sabe da morte inevitvel. Na
verdade, o ser humano o nico animal que sabe da eternidade, e o mal-estar
se produz na incerteza, o estreito vagido entre o ir e o vir. Grande desafio, o
maior, paralisa a medicina, intriga a psicologia e provoca a teologia. Qual o
sentido da falta de sentido aparente da morte? Qualquer tentativa de lgica nos
remete a um raciocnio por semelhana. Qual o sentido ou a falta de sentido do
nascimento? Biofilia e necrofilia, plos opostos que imprimem as margens de
nossa vida. Viver perigoso, filosofa nas Gerais, Guimares Rosa. Morrer deve
ser uma tremenda aventura, diz Peter Pan, e se instaura a dialtica do absurdo.
Por meio do luto, os sobreviventes (ns) revisitam o ser amado, e a memria,
frequentemente, acompanhada de culpa. Deixei de dizer algo, deixei de fazer
algo. A onipotncia prometendo uma fora arrogante, que fantasia o vazio. E
essa fantasia de manter o morto pelo discurso da rememria angustia e exige
um permanente confronto entre a memria e a saudade. Outras civilizaes,
arcaicas, do para o morto trs destinos: o smbolo, a reencarnao ou a
ressurreio. No Ramayana (hindusta), uma descrio extraordinria que rene
elementos filosficos e poticos, superando a simples passividade diante do
inelutvel: Nas horas quando em casa os homens moram, tambm a morte
repousa a seu lado; quando saem, todos os dias, a morte os acompanha no
caminho. A morte vai com eles quando vo longe; e fica com eles, tr-los de
volta casa.... A baldeao que nos conduz morte, associao manipulada
pela vontade de poder. O instinto de sobrevivncia no explica os mecanismos
de pnico diante do desconhecido. Atnitos ou reconfortados pela promessa da
continuidade, a morte celebra o ritual da nossa vida. Bandeiras tremulam, as
cortinas descem, o show terminou. Projetos de novas cidades tm omitido
locais para cemitrios. A urbanstica contempornea est expulsando o espao
dos mortos. Sem espao, os mortos tero que habitar os vivos no tempo.
Deixar este mundo. A pessoa como viajante na Terra, e no um ser da Terra.
A INVENO DO TUCANO
Tribuna da Imprensa.
DESISTA, PROFESSOR
Tribuna da Imprensa.
preciso viver pelo que se ama, e no morrer pelo que se supe acreditar. Os
tempos modernos trouxeram a tortura e o desprezo pela dor, mercadejando a
alma em Auschwitz, no Gulag, e nos subrbios metropolitanos. Um
compromisso fundamental da sociedade democrtica a manuteno do direito
do homem vida. A ameaa permanente, que leva intranqilidade e ao
medo, reflete o declnio dos valores morais. Existe concordncia quase unnime
de que a engrenagem estatal no corresponde expectativa de segurana, mas
discorda-se quanto s causas. Duas so as teses opostas mais populares: a
afirmao de que a misria econmica a nica responsvel pelo agravamento
do ndice de criminalidade (embora Caim no morasse em favela ...), e aquela
que afirma ser o fenmeno oriundo de uma destinao maldita, uma espcie de
vingana do azar. Essas posies no levam em conta o fato preponderante,
que a responsabilidade de cada indivduo, criando uma dicotomia alienada
entre a pessoa e o mundo. O furor agressivo o resultado das vontades
subjacentes, dos propsitos inconscientes e do comportamento de cada homem
e cada mulher. Diante do perigo disseminado, o repertrio psicolgico dos seres
humanos se recolhe. A impotncia tende a se transformar na resposta elitiva.
Curvamo-nos diante da constatao fcil de que outros pases tambm so
vulnerveis ao mesmo problema, aquietando nossa reao. A inteno tem de
ser uma proposta de reao objetiva agressividade compulsiva. E a inteno
mais do que uma fbula potica, por se tratar de uma afirmao poltica, na
espcie. Que se espera? Vamos continuar na guerra do trnsito que mata e
mutila centenas de milhares de pessoas, numa engenharia falida? Esgotaremos
nossos recursos naturais, numa sarabanda desenfreada de imediatismo,
assistindo poluio da atmosfera, deteriorao dos servios de
comunicao, sade e educao, promovendo um deserto para a criatura
humana que sofre, cegamente, sem esperana, no sanatrio da metrpole?
Habitat medocre, sem rvores, folguedos, personalidade? lcool, sexo
desenfreado, drogas, desemprego constituem o zumbi assassino, fruto dessa
recusa do sagrado. Isso, enquanto se caam delinqentes formados nas casa
de deteno, nos asilos de menores, de um sistema jurdico e policial, alvo de
crticas intensas. Urge contrapor a deciso histeria. O excesso de desespero
conduz ao niilismo, de que tiram proveito os profetas idealizados que
pretendem uma opinio pblica negativa, dbil e estpida. Portanto, preciso
verificar a emoo social, o que est encorajando desempenhos rgidos e
hostis, nas suas razes de constipao tica e psquica. Margaret Mead
argumenta que as exigncias das culturas sobre seus participantes so mais
suportveis para uns do que para outros. A inquietude faz parte da origem da
irritao, mdulo das tenses presentes nas sociedades violentas. Equilibre-se a
ansiedade de ordem e autoridade com a possibilidade de manifestao das
expresses emocionais, lembrando a rvore genealgica da destrutividade
filha de Hitler, sobrinha-torta de Stalin com Al Capone, neta de Torquemada,
bisneta de Calgula, aborto do cime e da frustrao. Os desencadeantes da
emoo, na comunidade, so suscitados pelos conflitos. O ritmo frentico do
dio e do crime diminuiria se o homem figurasse no como objeto, mas como
agente de mudana, o que demanda alto grau de maturidade. Relaes sociais
harmnicas e interao construtiva dependem de sentido comunitrio (convvio
amistoso), sentido de participao (integridade de envolvimento com o meio
ambiente fsico e social) e sentido de controle (responsabilidade para canalizar
os impulsos inconscientes, no jogo da permissividade). Instituies modelares e
a transformao de nossa cultura vo depender da participao de todos e no
dos infantis e romnticos anelos radicais, de esquerda ou direita (metabolizao
ideolgica dos medocres e infelizes). A estabilidade social vai depender da
satisfao humana, a nica premissa revolucionria real, e esta no se pode
condicionar ao produto nacional bruto. Na crtica de Freud armadilha
tecnolgica: Se no existissem estradas de ferro para encurtar as distncias,
meu filho jamais teria sado de casa e eu no precisaria do telefone para ouvir
sua voz. Estender o acesso plenitude por meio de sistemas humanizados de
planejamento urbano e desenvolvimento geral a nica frmula de responder
equao de Slater se pretendemos roubar, roubemos quantias elevadas;
se pretendemos matar, matemos grande nmero de indivduos. Finalmente, o
horror tem de ser o resultado da revolta contra a tirania, pois que o assaltante
e o burocrata terrorista so os carrascos medievais, juzes auto-nomeados da
vida e morte do homem. A pistola do Joo das Quantas o instrumento do
miservel enlouquecido que se acredita o deus menor, no altar do
administrador corrupto Jos das Tantas, cuja caneta o condo mgico do
operacional, simbologia flica do vazio. Em contraposio, a histria dos
homens o esforo educado, com os ps no cho e a cabea no cu. Poesia
versus necrofilia.
O Estado de So Paulo.
O Estado de So Paulo.
VINGANA DE JUDEU
Meu pai, Luiz Goldberg, veio de Ostrowiecz, na Polnia, com 18 anos de idade.
Sua famlia de origem no obteve os vistos, por causa da poltica anti-semita
do Itamarati. Morreram nos campos-de-concentrao nazistas. Desembarcou do
navio de imigrantes argentino, Valdivia, no Rio, com 10 dlares, no bolso, sem
falar uma palavra em portugus, e sem conhecer ningum. Desesperado, pela
misria e a solido chegou a pensar em suicdio. Mas, um correligionrio,
acabou lhe informando que havia uma terra, Minas Gerais, em que o calor no
era trrido como o carioca, e ele rumou naquela direo, sabe Deus como, e
sabe Deus como uma poro de fatos desta histria. Andou por Varginha, Eloy
Mendes e acabou chegando em Juiz de Fora que o adotou, como filho e ele a
ela, como me. Trabalhou, suou, sofreu, alegrou-se na sua Juiz de Fora, por
dezenas de anos. Ajudado por amigos srios-libaneses, principalmente a famlia
Arbex, vendia roupa como prestamista, amando e sendo amado pelas Marias,
como se referia a suas freguesas, de So Mateus, Costa Carvalho, Bonfim,
descansando, tomando cerveja, na Jos Weiss, ou no Caf Internacional.
Trouxe minha me, Fanny, de So Paulo (ela era tambm de Ostrowiecz),
casaram-se nascemos eu e minha irm. Foram seus anos de glria, a minha
infncia e adolescncia. Orgulhoso, dizia que Juiz de Fora era sua Shtelele
Belz (o equivalente judaico Passargada). Minha me, por sinal, dedicou seu
primeiro livro de poesia Minha Esperana a Juiz de Fora. Desconheo que
algum mais tenha rendido homenagem to expressiva minha cidade natal.
Anos depois, j morando em So Paulo, fui convidado pela Cmara Municipal,
por iniciativa do vereador Hlio Zanini, a receber o ttulo de cidado
benemrito. Meus pais me acompanham, numa viagem cheia de emoo.
Depois da cerimnia comovedora, descemos a Rhalfeld para que pudesse
mergulhar na sua ansiada busca do tempo perdido proustiano. Nessa altura
estava com quase 80 anos de idade. De repente, viu um grupo de trs homens
conversando. Virou-se para mim e disse; Aquele um poltico digno, vou
cumpriment-lo. Admirava muito sua me. Estendeu a mo em direo ao tal
(uma fisionomia que lembrava um E.T. grotesco). O indivduo, asqueroso e
odiento retrucou ao seu amvel gesto: Vocs judeus, voltam aqui para
apanhar seu rico dinheirinho.... Paralisado, fiquei sem saber o que fazer. Se
desse um murro na cara do covarde, meu pai, sempre manso e avesso a
conflito, poderia at sofrer uma recada de seu problema cardaco. Preocupado
olhei para ele que humilhado, tinha seus olhos lacrimejantes. Meu pai afastou-
se, baixinho e disse: Vamos embora, minha Juiz de Fora no existe mais, j
morreu. Na verdade, quem comeou a morrer naquela hora, foi ele, na tristeza
e na decepo. Tentei reconfort-lo, mas em vo. Na realidade, ele tinha
voltado, no para buscar o rico dinheirinho ( que, alis, sempre esteve nos
cofres corruptos dos polticos e da oliguarquia), mas pelo contrrio, para
oferecer, como sempre, seu amor, sua dedicao, sua f para aquela cidade.
Disposto a me vingar, perguntei ao meu pai, vrias vezes, pelo nome daquele
poltico. Ele sempre recusou a declin-lo, ou sequer discutir a questo. Anos
depois, a Cmara Municipal de Juiz de Fora outorgou minha me, o ttulo
post-mortem de cidad honorria e a meu pai o preito de gratido, referido
como Seu Luizinho, de saudosa memria. Sei ou imagino que l, em sua Juiz
de Fora celeste, onde est para sempre, Laibale estar me recriminando por
esta crnica, dizendo deixa pr l, o que me importa a saudade das Marias
e dos amigos da rua Batista de Oliveira, no seu inconfundvel sotaque yddish.
Daquele seu reino encantado, onde conseguia at que o Braquinha, o inspetor
do DOPS que um dia veio me prender como comunista por estar na presidncia
do Diretrio de Alunos do Grambery, liderando uma greve contra os cinemas,
fizesse vista grossa, seu Luizinho s levou imensa amizade. Mas eu, filho
incorrigvel, tenho a esperana de que aquele poltico histrico, narciso
adoidado, leia esta crnica e saiba que a minha vingana de judeu dizer-lhe
que Juiz de Fora no dele, o dinheirinho do triunfo, da arrogncia, o nada
estril de sua vida vaidosa. E a nossa Juiz de Fora no tem dono, feita dos
sonhos e das fantasias, dos amores e das frustraes, da charrete, da bicicleta,
do seu amor amante, at hoje clandestino, como nos grandes romances: seu
Luizinho Quixote Goldberg, que jamais a deixou. Paixo de sua e de sua morte.
(Freud admirava Anibal que jurou no altar da famlia vingar-se dos romanos em
deferncia a Almicar, seu pai).
Jornal da Tarde.
Tribuna da Imprensa.
GARFIELD - O GATO PRECONCEITUOSO
Em 80, recebo uma carta de Jnio, com palavras ntidas: Devorei o seu
Psicoterapia e Psicologia. Tive vrias vezes, a sensao de trabalho imortal, eis
que a simplicidade casa-se com a erudio, o que difcil, e faz a obra ao
alcance de todos. O estudo Psicologia e Liberdade, eu gostaria de ter escrito e
assinado. J o admirava, mas, agora, vou a extremos! Saiba que tem em mim
algum que o admira e respeita, permanentemente. Abraa-o com carinho,
Jnio Quadros. Referem-se a um texto que publiquei e que fez parte de minha
tese de doutoramento..
Outra carta, de 81, ... o seu estudo, deveria ser objeto de debates nos
Partidos, entidades de classe e universidades. Que tal um simpsio?... Registro,
apenas, poucos dados sobre Londres, merecedora, agora, desse interesse. Se
promover os debates, no deixe de convidar-me. Tenho pouco a oferecer, - ao
longo de suas linhas - mas gostaria de faz-lo!. Jnio, ntimo, de corpo inteiro,
referindo-se s minhas pesquisas e trabalhos sobre violncia urbana. Entre
outras: incrvel sua capacidade de trabalho! Um prodgio. Devorei o
Psicologia da Agressividade. A importncia da Linguagem no sistema poltico
legal, antolgica. Mas sou suspeito...Creia-o! A admirao imensa.
Sabia voc que o Stoll sempre foi meu amigo? Recebi o que escreveu de Juiz
de Fora at Bauru... Passos largos. Oh, Deus! Deixo o PTB fisiolgico. Uma
vergonha, mesmo nesta poltica rasteira, despudorada! Fico em casa, junto da
esposa e das cachorras, que nunca me traram ou morderam... Esse, o meu
destino. O que releva, sim, a amizade e o respeito em que o tenho, filhos dos
que nutro por mim mesmo.
De vrios pontos do Pas, Minas, por exemplo, recebi o seu magnfico trabalho.
Deus sabe o quanto me deixou perplexo; entre envaidecido e magoado.
Conflitante como eu mesmo, ou qualquer homem... Mas, humano, decidi-me
pela vaidade... Elo e eu desejamos-lhe, e aos seus, todas as venturas para
este fim de ano e para 1984.
A primeira vez que tive contato pessoal com Jnio, foi num programa de rdio
(proibio de briga-de-galos), aonde fazia anlise de comportamento. Perguntei
a Jnio, a queima-roupa, no ar: Qual o mecanismo emocional que impediu o
advogado pobre de Vila Maria, de prosseguir na presidncia da Repblica? At
onde a sndrome do fracasso no pesou na deciso da renncia?. Mineira e
habilmente, Jnio respondeu: Esta matria para discutirmos, no seu
consultrio, professor.
Mais uma vez no votei em Jnio. Mas, no dia da definio do resultado das
eleies, comeou a dvida, quanto ao papel de Jnio. At onde no me
deixava ludibriar pela aparncia agreste de uma histria tumultuada?
Merece ateno especial o homem que tendo sido Presidente, escrevia contos e
expunha telas. Numa sociedade conservadora, ciosa at o fanatismo de poder
pessoal e status a qualquer custo, sua humildade, repassada de orgulho,
exige, pelo menos uma leitura menos apaixonada, do que aquela que lhe fazem
os apressadinhos, donos da intelectualidade brasileira, que constrem e
demolem dolos segundo seus interesses, idiossincrasias ou patrulhamentos
circunstanciais. Mesmo porque Jnio foi construdo e desconstrudo pela mdia.
Jnio, ou o direito universal de algum ser gente, com genialidade e erros; sem
o rtulo epidmico do destino partidrio.
Se o ponteiro do relgio voltasse, votaria outra vez em Lott, por quem era o
pelo que representava. Sua eleio mudaria a histria do Brasil no sentido da
independncia. Mas o Brasil no quis. No palanque, ao lado de Prestes, no
Brs, assisti as bandeiras desertarem diante do militar rgido. Mas para Glauber.
Trata-se de reducionismo. O conflito com seu pai e com sua filha, o papel de
Carlos Lacerda - a sndrome da gea e da calhandra - na presso insuportvel
que levou Jnio ao abandono da presidncia, o problema dos olhos, a feira
imediata e o carisma sedutor, sua cultura universal, a paixo pela fala erudita,
nada disto tem empolgado uma opinio pblica que sempre vacilou em relao
ao cone - fanatismo de seguidores ou dio irracional.
Mais do que isto, uma figura chaplinesca e hamleteana - insatisfeito com a vida,
a sua e da sua espcie.
Nisto e em tudo mais, jogou alto nesta tragicomdia que a poltica nacional.
Aonde estiver, agora, ironicamente, Jnio estar olhando para seus crticos, que
interrogam sua vida com um microscpio, e monologando a expresso que
tanto excitava aqueles que imaginam o Poder, uma trama de intrigas -
Quem viveu tantas vidas, pode ainda, assustar os fantasmas, e fnix, despertar
tantas outras aventuras.
Talvez, quem sabe, voltar, eternamente, ao Palcio do Planalto, e, travestido de
cow-boy, analisar o sonho (pesadelo) de um pas, num outro tempo.
(Tribuna da Imprensa)
III
LABIRINTITE
Psicologia da Perdio.
Walter Benjamin.
Apocalipse.
Weltschmerz.
Maladie damour.
Mala sangre.
Carto de crdito.
L numa revista que Deus feminino, aonde que essas feministas pretendem
chegar? Deus Pai. E a chorando, pedi-pai, me acde.
Se um dia encontrar um estuprador, dr. eu juro, eu castro ele. Corto fora seu
pnis. Deus que me perde.
Pro homem fcil gozar. Parece um animal. Mas para a mulher, no. Eu sou
romntica, preciso de amor, de muita conversa, romance. Eu sou romntica.
Polonaise, Chopin.
Escalar o Himalaia.
Instantaneidade.
Simultaneidade.
Perdeu o apetite.
Obesidade,
Triglicerides,
Colesterol.
Vertigem, parece que entro em parafuso, no sei o que pensar, parece que
estou de ponta-cabea.
Hitler foi responsvel pela morte de milhes de pessoas, mas teve um filho.
No casou.
As vezes penso que meus pais prefeririam que eu tivesse nascido homem. J
tive at um pesadelo em que me v com um pnis.
Na escola tinha uns moleques que me chamavam de Lauro. Lauro, Lauro. Mas
todas as bonecas chamei pelo meu nome. Laurinha. L um dia desses num
jornal sobre operao trans-sexual. Deus me livre.
Os deuses nascem do Mistrio, sem causa ou raz. As pessoas nascem do
instinto.
Detesto viajar, por mim, ficava na minha cidade a vida inteira, alis na minha
casa, deitada na minha cama. Sossegada, sem ningum.
A palavra grega naus significa barco. Hipocrates dizia que viajar no mar
(balano) provocava alteraes corporais (movimento). Jlio Csar, Darwin,
Lord Nelson, sofreram nuseas. Pessoas sentem tontura, chegando ao vomito
em avies, nibus e at bicicleta. Desequilbrio vagal, isquemia cerebral?
Labirintite por
Entretenimento, sair-de-si-mesmo.
A vertigem paroxstica benigna (dr. L.S. Laser, Sidney) seria uma variedade de
neuronite vestibular.
O que eu quero saber quando minha vida vai dar certo, quando vou
estabilizar, sossegar. Estou cansada de casar e descasar, trabalhar e ficar
desempregada, insonia, corre-corre. Essa roda de sobe e desce, a montanha-
russa da minha vida. Quero deitar e sonhar, calmamente. Acertar a minha vida,
que nem todo mundo. Normal, feliz, que nem todo mundo e no desse jeito
(rindo) como minha me dizia - Voc parece uma perdida. Sempre perdendo
cadernos, brinquedos. Fica atenta, seno vo acabar te chamando de tonta.
Melhor ser tonta que perdida. Deus me livre.
O lobo solitrio suspeito de perigoso. Pode ter com o Demnio, vive nas
vielas, espreita na noite, sem eira nem beira.
Descobriu.
Desmontou o circo.
Virou cigano.
O outro lado.
Vertigo, Hitchcock..
Sisfo e o Labirinto.
Um dia vi meu irmo jogando xadrez e pensei, no fundo sempre fui a Rainha,
no tabuleiro. Me achava importante. Mas quem me mova?
Sa do tabuleiro.
Eva mitocondrial