Cerebro Fibra

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David Perlmutter, MD

com Kristin Loberg

CREBRO DE FIBRA

Brain Maker
The Power of Gut Microbes to Heal
and Protect Your Brain for Life

Traduzido do ingls por


Michelle Hapetian
CONTEDOS

INTRODUO :: Alerta geral: Micrbios vista 9


AUTOAVALIAO INTESTINAL :: Quais so os seus fatores de risco? 21
PARTE I :: CONHEA OS SEUS BILIES DE AMIGOS 27
> Captulo 1 :: Bem-vindo a bordo: Os seus amigos microbianos,
desde que nasce at que morre 29
> Captulo 2 :: A barriga e o crebro a arder: A nova cincia da inamao 51
> Captulo 3 :: Tem a barriga deprimida? Intestinos irritados,
mentes temperamentais e ansiosas 81
> Captulo 4 :: Como a ora intestinal pode provocar obesidade e doenas
cerebrais: A inesperada ligao entre bactrias intestinais,
apetite, obesidade e crebro 107
> Captulo 5 :: O autismo e os intestinos: Na fronteira da medicina
cerebral 129
PARTE II :: SARILHOS NA MICROLNDIA 157
> Captulo 6 :: Um murro no estmago: A verdade sobre a frutose
e o glten 159
> Captulo 7 :: A destruio dos intestinos: Coisas comuns que tornam
um microbioma bom num mau 173
PARTE III :: REABILITAO CREBRO DE FIBRA 197
> Captulo 8 :: Alimente o seu microbioma: Seis estratgias para
estimular o crebro, estimulando os intestinos 199
> Captulo 9 :: Torne-se um prossional: Guia dos suplementos 223
> Captulo 10 :: Plano de refeies Crebro de Fibra para sete dias:
Coma para ter um crebro mais saudvel 239

EPLOGO: O QUE O FUTURO NOS RESERVA 293


AGRADECIMENTOS 305
NOTAS 307
INTRODUO
Alerta Geral: Micrbios vista

A morte comea no clon.


lie Mechnikov (1845-1916)

Ao longo da minha carreira, foram muitas as vezes (vrias por semana)


em que tive de falar com pacientes e familiares, para lhes dizer que
j no tinha maneira de curar a doena neurolgica de que sofriam,
doena essa que acabaria por lhes tirar a vida. Tinha de me render
porque j no era possvel controlar a doena e no havia mais solues
ou medicamentos, nem que fosse s para impedir a sua evoluo. So
situaes dilacerantes, s quais nunca nos habituamos, por mais que
passemos por elas. O que me d esperana, no entanto, uma nova
rea de estudo que me tem permitido experimentar novos mtodos
para aliviar o sofrimento. Crebro de Fibra fala sobre essa nova e des-
lumbrante cincia e explica como pode ser aplicada nossa sade.
Paremos para pensar por momentos no quanto o nosso mundo
mudou, ao longo do sculo passado, graas investigao mdica. J
no receamos morrer de varola, disenteria, difteria, clera ou escar-
latina. Demos passos gigantescos no sentido de reduzir a taxa de mor-
talidade de muitas doenas que eram mortais, como a SIDA, alguns
cancros e doenas cardiovasculares. No entanto, relativamente s doen-
as e aos distrbios relacionados com o crebro, a histria muda com-
pletamente de gura. Os avanos, quer na preveno, quer na cura de
doenas neurolgicas durante o ciclo vital como o autismo, perturbao
de hiperatividade com dce de ateno (PHDA), enxaquecas, depres-
so, esclerose mltipla (EM), as doenas de Parkinson e Alzheimer
, so praticamente nulos. E, lamentavelmente, perdemos muito ter-

9
CREBRO DE FIBRA

reno numa altura em que a incidncia dessas doenas est a aumen-


tar a olhos vistos na nossa sociedade.
Ponderemos sobre alguns nmeros. Nas dez naes ocidentais mais
ricas, a morte por doenas do crebro, em geral (sobretudo morte por
demncia), aumentou drasticamente nos ltimos vinte anos. E os
Estados Unidos vo frente. Na verdade, um relatrio britnico de
2013 demonstra que, desde 1979, nos Estados Unidos, a morte por
doenas do foro cerebral registou um aumento brutal de 66 por cento
nos homens e 92 por cento nas mulheres. Tal como diz o Professor
Colin Prichard, principal autor do estudo, estas estatsticas referem-
-se a pessoas e famlias reais, pelo que temos de [reconhecer] que se
trata de uma epidemia claramente inuenciada pelas mudanas
ambientais e sociais. Os investigadores tambm se aperceberam de
que esse surto, que afeta pessoas cada vez mais jovens, contrasta
duramente com a grande diminuio do risco de morte por outras
causas.1
Em 2013, a revista New England Journal of Medicine publicou um
relatrio revelando que se gasta anualmente cerca de 50 mil dlares
por paciente no tratamento de demncias, nos Estados Unidos da
Amrica.2 Isso equivale a aproximadamente 200 mil milhes de dla-
res por ano, o dobro do que se gasta no tratamento de doentes cardacos
e quase o triplo do que gasto no tratamento de doentes oncolgicos.
Os distrbios de humor e a ansiedade tambm esto em alta e podem
ser to nocivos para a qualidade de vida como qualquer outra doena
neurolgica. Cerca de um em cada quatro adultos, nos Estados Unidos
mais de 26 por cento da populao , sofre de distrbios mentais
diagnosticveis.3 Os distrbios de ansiedade afetam mais de 40 milhes
de americanos e quase 10 por cento da populao adulta americana
sofre de distrbios de humor que tm de ser controlados com medi-
cao forte sujeita a receita mdica.4 A depresso, que afeta um em
cada dez americanos (estando um quarto das mulheres na casa dos
40 e 50), j a principal causa de incapacidade a nvel mundial e o
nmero de diagnsticos aumenta a um ritmo alucinante.5 O Prozac
e o Zoloft so dos frmacos mais receitados no pas. E ateno que
esses medicamentos tratam os sintomas da depresso, e no as causas,

10
INTRODUO

agrantemente negligenciadas. Em mdia, as pessoas que sofrem de


doenas mentais graves, como a bipolaridade e a esquizofrenia, morrem
25 anos mais cedo do que a populao em geral.6 (Em parte, porque,
para alm dos problemas mentais com que se debatem, so pessoas
que tendem mais a fumar, a abusar do lcool e drogas, bem como a ter
excesso de peso e a sofrer de doenas relacionadas com a obesidade.)
As cefaleias, incluindo as enxaquecas, so dos distrbios mais vul-
gares do sistema nervoso; quase metade da populao adulta sofre
desse problema, pelo menos uma vez por ms. E so mais do que um
mero inconveniente; so problemas que geram incapacidade, sofri-
mento, menor qualidade de vida e custos nanceiros avultados.7 Ten-
demos a pensar que as cefaleias so um incmodo nanceiramente
insignicante, sobretudo porque os frmacos que as tratam, na sua
maioria, so relativamente baratos e acessveis (por exemplo, aspiri-
na, paracetamol, ibuprofeno), mas segundo a National Pain Founda-
tion, uma associao americana dedicada ao estudo da dor, as cefaleias
so a justicao para mais de 160 milhes de dias de trabalho per-
didos por ano, nos EUA, e originam cerca de 30 mil milhes de dla-
res de despesas mdicas.8
A Esclerose Mltipla, uma doena autoimune que interfere na comu-
nicao do sistema nervoso, afeta atualmente cerca de 2,5 milhes
de pessoas no mundo inteiro, perto de meio milho das quais nos
EUA, e cada vez mais predominante.9 O custo mdio do tratamen-
to a longo prazo de uma pessoa com esclerose mltipla ultrapassa os
1,2 milhes de dlares.10 A medicina convencional diz que ainda no
se avista uma cura no horizonte.
E depois temos o autismo, que aumentou sete a oito vezes s nos
ltimos 15 anos11, tornando-se uma verdadeira epidemia dos tempos
modernos.
Apesar de se gastarem centenas de milhes de dlares nessas e
noutras enfermidades debilitantes associadas ao crebro, poucos so
os progressos visveis nesse domnio.
Agora as boas notcias: as instituies mais conceituadas do mundo
esto a descobrir, atravs de uma nova cincia pioneira, que a sade
do crebro e, logo, as doenas cerebrais so consequncia, em grande

11
CREBRO DE FIBRA

parte, do que acontece ao nvel intestinal. isso mesmo: o que acon-


tece hoje nos seus intestinos que determina o risco de vir a contrair
problemas neurolgicos. Sei que isto poder ser difcil de entender;
se por acaso perguntasse ao seu mdico se havia alguma cura para o
autismo, esclerose mltipla, depresso ou demncia, ele encolheria
os ombros e diria que no existe nenhuma e talvez nunca venha a
existir.
nesse ponto que me distancio da maioria dos meus colegas, mas,
felizmente, no de todos. Ns, os neurologistas, somos ensinados a
centrar-nos no que ocorre ao nvel do sistema nervoso e, sobretudo,
no crebro, de uma forma mope. Acabamos automaticamente por
considerar os outros sistemas, como o gastrointestinal, entidades
discretas que em nada interferem na atividade cerebral. Anal, nin-
gum vai ao cardiologista ou ao neurologista por ter dores de estma-
go. A indstria mdica caracteriza-se por diferentes disciplinas para
diferentes sistemas ou partes do corpo. A generalidade dos meus
colegas diria que o que acontece nos intestinos com os intestinos.
Essa perspetiva distancia-se bastante da cincia atual. O sistema
digestivo est intimamente ligado atividade cerebral. E o aspeto
mais importante do intestino, que tem tudo a ver com o bem-estar
geral e a sade mental, talvez seja a sua ecologia interna os diversos
microrganismos que nele vivem, em especial as bactrias.

APRESENTO-LHE O SEU MICROBIOMA

Historicamente, ensinaram-nos a considerar que as bactrias so


agentes da morte. Anal, a Peste Bubnica dizimou quase um tero
da populao europeia, entre 1347 e 1352, e ainda h infees bacte-
rianas que matam no nosso mundo atual. Mas chegou o momento
de olhar para a outra verso da histria das bactrias na nossa vida.
Temos de perceber que alguns micrbios, longe de serem prejudiciais,
so fundamentais para a vida.
No sculo III a.C., Hipcrates, o mdico grego, pai da medicina
moderna, j dizia que todas as doenas comeam nas entranhas.

12
INTRODUO

Isso foi muito antes de a civilizao ter encontrado alguma prova ou


formulado qualquer teoria slida para o explicar. Nessa poca, nem
sequer sabamos que as bactrias existiam s o soubemos nos nais
do sculo XVII, quando Anton van Leeuwenhoek, mercador e cientis-
ta holands, observou a sua prpria placa dentria num microscpio
artesanal e viu um mundo oculto daquilo a que chamou animlcu-
los. Hoje em dia, considerado o pai da microbiologia.
No sculo XIX, foi lie Mechnikov, o bilogo russo laureado com
um Nobel, quem fez a associao direta entre a longevidade humana
e o equilbrio saudvel de bactrias no organismo, conrmando que
a morte comea no clon. Desde as suas descobertas, feitas numa
altura em que a prtica da sangria ainda era popular, a investigao
cientca tem vindo a atribuir cada vez mais crdito noo de que
cerca de 90 por cento das doenas humanas conhecidas tem origem
numa sade intestinal deciente. E, tal como as doenas, podemos
armar com segurana, tambm a sade e a vitalidade comeam no
sistema digestivo. Foi tambm Mechnikov quem armou que deve-
mos ter mais bactrias boas do que ms. Infelizmente, hoje em dia,
a maioria das pessoas tem mais bactrias patognicas do que deveria
e carece de um universo microbiano diverso e abundante no seu inte-
rior. No admira, pois, que soframos de tantos distrbios cerebrais.
Se ao menos Mechnikov fosse vivo para poder fazer parte da revo-
luo mdica que tentou iniciar no sculo XIX e que est nalmente
a acontecer!
O nosso corpo colonizado por uma innidade de organismos,
cerca de dez vezes mais numerosos do que as nossas prprias clulas
(por sorte, as nossas clulas so muito maiores, por isso estes orga-
nismos no pesam dez vezes mais do que ns). Esses cerca de cem
bilies de seres invisveis os micrbios cobrem o interior e o exte-
rior do nosso corpo, vivem na nossa boca, nariz, ouvidos, intestinos,
rgos genitais e em cada centmetro da nossa pele. Se os pudsse-
mos isolar, eramos capazes de encher um garrafo de quatro litros.
At data, os cientistas j identicaram aproximadamente 10 mil
espcies de micrbios e, uma vez que cada micrbio tem o seu pr-
prio ADN, isso traduz-se em mais de oito milhes de genes. Por outras

13
CREBRO DE FIBRA

palavras, para cada gene humano do nosso corpo existem pelo menos
360 genes microbianos.12 A maioria vive no sistema digestivo e, ape-
sar de incluir fungos e vrus, ao que parece, a espcie bacteriana
que se destaca no apoio a todos os domnios da nossa sade. Intera-
gimos no s com esses organismos, mas tambm com o seu mate-
rial gentico.
Chamamos a essa complexa ecologia que vive dentro ns, e sua
impresso digital gentica, o microbioma (micro de pequeno ou
microscpico, bioma porque se refere a uma comunidade de ora
que surge naturalmente e ocupa um grande habitat, neste caso, o corpo
humano). Mas se o genoma humano de cada pessoa praticamente
idntico, tirando o punhado de genes que codicam as caractersticas
pessoais, como a cor do cabelo ou o tipo de sangue, o microbioma
intestinal difere muito de pessoa para pessoa, mesmo no caso de
gmeos verdadeiros. A investigao de vanguarda reconhece agora
que a sade do microbioma determinante para a sade humana e
tem uma palavra a dizer sobre se teremos ou no uma vida longa e
robusta , e que o microbioma devia ser considerado um rgo por
si s. E trata-se de um rgo que passou por mudanas radicais, nos
ltimos dois milhes de anos. Ao longo da nossa existncia, fomos
desenvolvendo uma relao ntima e simbitica com esses habitantes
microbianos que tm contribudo ativamente para a nossa evoluo,
desde os primrdios da humanidade (e que, com efeito, j viviam no
planeta milhares de milhes de anos antes de ns aparecermos). Ao
mesmo tempo, foram-se adaptando e modicando em relao aos am-
bientes que crimos para eles no nosso corpo. A prpria expresso dos
nossos genes em cada uma das nossas clulas inuenciada em certa
medida pelas bactrias e por outros organismos que vivem em ns.
A importncia do microbioma levou a National Institutes of Health
(NIH), entidade pertencente ao Ministrio da Sade americano que
gere a investigao mdica a nvel nacional, a lanar o Projeto do
Microbioma Humano, em 2008, como extenso do Projeto do Geno-
ma Humano.13 Alguns dos melhores cientistas americanos tm a
misso de investigar como as alteraes do microbioma esto asso-
ciadas sade e, tambm, doena. Alm disso, estudam o que se

14
INTRODUO

pode fazer com essa informao para travar os problemas de sade


mais complicados. Apesar de o projeto abranger as vrias partes do
corpo onde habitam micrbios, nomeadamente a pele, grande parte
da investigao incide sobre o intestino, uma vez que l que vive a
maioria dos micrbios do organismo; o intestino, como esto prestes
a descobrir, uma espcie de centro de gravidade de toda a nossa
siologia.
hoje indiscutvel que os nossos organismos intestinais participam
em vrios atos siolgicos, designadamente no funcionamento do
sistema imunolgico, destoxicao, inamao, neurotransmissores
e produo de vitaminas, absoro de nutrientes, sensao de fome
ou saciedade e utilizao dos hidratos de carbono e da gordura. Todos
esses processos determinam largamente a incidncia ou ausncia de
alergias, asma, PHDA, cancro, diabetes ou demncia. O microbioma
afeta o humor, a lbido, o metabolismo, a imunidade e at a perceo
que temos do mundo e a clareza dos nossos pensamentos. Ajuda a
determinar se somos gordos ou magros, enrgicos ou letrgicos. Para
simplicar, tudo na nossa sade como nos sentimos emocional e
sicamente depende do estado em que se encontrar o nosso micro-
bioma. Ser que um microbioma saudvel, constitudo por bactrias
bencas e amigveis? Ou ser que est doente e cheio de bactrias
ms e hostis?
Talvez no haja nenhum sistema to sensvel a mudanas nas bac-
trias do intestino como o sistema nervoso central, em particular, o
crebro. Em 2014, o National Institute of Mental Health, instituto
americano dedicado investigao das doenas mentais, despendeu
mais de um milho de dlares num novo programa de investigao
sobre a relao entre o microbioma e o crebro.14 Embora haja muitos
fatores que inuenciam a sade do nosso microbioma, logo, a sade
do nosso crebro, cuidar do microbioma mais fcil do que parece.
No preciso porem-se a adivinhar; as recomendaes que fao neste
livro explicam tudo.
Testemunhei grandes reviravoltas na sade de muitas pessoas, gra-
as a simples alteraes na alimentao e, por vezes, a alguns mtodos
mais agressivos que visavam recuperar o microbioma. Tomemos o

15
CREBRO DE FIBRA

exemplo do senhor que sofria de um terrvel caso de esclerose ml-


tipla, preso a uma cadeira de rodas e a uma alglia para urinar. Depois
do tratamento, no s se despediu da alglia e recuperou a capacidade
de andar, como tambm a doena entrou em remisso completa. Ou
vejamos o caso de Jason, o menino de doze anos com autismo pro-
fundo que mal conseguia articular frases completas. No Captulo 5 vo
ver como se transformou sicamente num rapaz insinuante, depois
de seguir um protocolo probitico intensivo. E mal posso esperar por
vos dar a conhecer as inmeras histrias de pessoas que tinham pro-
blemas de sade complicados desde dor crnica, fadiga e depresso
a distrbios intestinais e doenas autoimunes graves e que viram
os seus sintomas desaparecer totalmente aps o tratamento. Deixa-
ram de ter uma pssima qualidade de vida e ganharam uma segunda
oportunidade. Algumas deixaram at de ter ideias suicidas e passa-
ram a sentir-se felizes e animadas pela primeira vez em muito tempo.
Para mim, essas histrias no so atpicas, mas, comparando com o
que normalmente acontece, parecem quase milagrosas. Assisto a his-
trias destas todos os dias e sei que vo conseguir dar um destino
melhor ao vosso crebro, melhorando a sade dos intestinos. Neste
livro, explico o que devem fazer para isso acontecer. Mesmo que no
sofram daqueles problemas de sade mais complicados, que reque-
rem medicamentos fortes ou tratamentos intensivos, talvez tenham
cefaleias, ansiedade, falta de concentrao e uma perspetiva negativa
da vida e isso pode dever-se a um mau funcionamento do microbio-
ma. Com base em estudos mdicos e laboratoriais especializados e
nos resultados extraordinrios que tenho testemunhado ou de que
ouvi falar em conferncias mdicas em que participam os melhores
mdicos e cientistas do mundo inteiro, explico o que se sabe atual-
mente e como podemos tirar partido desse conhecimento. Para alm
disso, apresento linhas orientadoras muito prticas e abrangentes
para ajudar a restabelecer a vossa sade intestinal e, por conseguinte,
a vossa sade cognitiva, para que possam ganhar mais anos de uma
vida ativa. E os benefcios no acabam aqui. Esta nova cincia pode
ajudar em todos os casos que se seguem:

16
INTRODUO

> PHDA
> Asma
> Autismo
> Alergias e intolerncias alimentares
> Fadiga crnica
> Transtornos do humor, incluindo depresso e ansiedade
> Diabetes e vontade incontrolvel de comer acar e hidratos de
carbono
> Obesidade e excesso de peso, bem como problemas em perder
peso
> Problemas de memria e falta de concentrao
> Obstipao ou diarreia crnicas
> Constipaes ou infees frequentes
> Distrbios intestinais, incluindo doena celaca, sndrome do
clon irritvel e doena de Crohn
> Insnias
> Artrite e inamao dolorosa das articulaes
> Hipertenso
> Aterosclerose
> Problemas de candidase crnica
> Problemas de pele, como acne e eczema
> Halitose, gengivite e problemas dentrios
> Sndrome de Tourette
> Sintomas fortes da menstruao e da menopausa
> E muitos mais

Na verdade, estes novos conhecimentos podem ajudar a tratar quase


todos os problemas degenerativos ou inamatrios. Nas pginas que
se seguem, exploramos os fatores que contribuem para o estado de
sade do microbioma, tanto a nvel positivo como negativo. O ques-
tionrio da pgina 22 fornece pistas sobre os fatores, circunstanciais
ou no, que se relacionam diretamente com a sade e funcionamen-
to do microbioma. E se h um aspeto que vo perceber de imediato
que a alimentao mesmo importante.

17
CREBRO DE FIBRA

SOMOS AQUILO QUE COMEMOS

A ideia de que a alimentao a varivel mais importante na sade


humana no novidade. Tal como diz o velho adgio, que o vosso
alimento seja o vosso medicamento.15 Qualquer pessoa pode mudar
o estado do seu microbioma e o destino da sua sade , atravs da
alimentao.
Recentemente, tive a oportunidade de entrevistar o Dr. Alessio Fasa-
no, professor convidado na Escola de Medicina de Harvard e diretor do
Departamento de Gastroenterologia e Nutrio Peditrica do Hospital
de Massachusetts. considerado um lder na investigao do micro-
bioma a nvel mundial. Falmos sobre os fatores que alteram as bact-
rias intestinais e ele disse-me claramente que o fator mais importante
para a sade e diversidade do microbioma era, sem qualquer sombra
de dvida, aquilo que comemos. O que levamos boca representa o
maior desao ambiental para o nosso genoma e microbioma.
No podia haver um aval melhor para esta ideia de que a alimenta-
o importante, mais at do que outras circunstncias da vida que
muitas vezes fogem ao nosso controlo.
Tal como descrevo na minha obra anterior, Crebro de Farinha, os
grandes responsveis pela degenerao cerebral so a inamao cr-
nica e os radicais livres que, por ora, podem considerar como sendo
os subprodutos da inamao que fazem com que o corpo enferru-
je. Crebro de Fibra analisa esses fatores sob outra perspetiva, obser-
vando a forma como a sade e as bactrias intestinais os inuenciam.
Na realidade, a ora intestinal est intimamente ligada inamao
e determina se somos ou no capazes de combater os radicais livres.
Por outras palavras, o estado do microbioma que leva o corpo a ali-
mentar ou a extinguir as chamas da inamao.
A inamao crnica e os danos causados pelos radicais livres so
conceitos primordiais na neurocincia atual, mas nenhum tratamen-
to farmacolgico se compara a uma dieta alimentar especicamente
pensada para regular as bactrias intestinais. Explicarei essa dieta
passo a passo. Felizmente, a comunidade microbitica dos intestinos
extraordinariamente recetiva reabilitao. As linhas orientadoras

18
INTRODUO

deste livro tm como objetivo mudar a ecologia interna de cada um


de vs, no sentido de promover o crescimento dos organismos ben-
cos para o crebro. Este regime alimentar muito prtico inclui seis
protagonistas: pr-biticos, probiticos, alimentos fermentados, ali-
mentos com baixo teor de hidratos de carbono, alimentos sem glten
e gordura saudvel. Vou explicar como cada um deles inuencia a
sade do microbioma, beneciando o crebro.
O melhor de tudo que bastam algumas semanas para receber a
recompensa do protocolo Crebro de Fibra.

PREPAREM-SE

No tenho qualquer dvida de que esta informao vai revolucionar


completamente o tratamento das doenas neurolgicas. E no tenho
palavras para expressar o quanto me sinto honrado por poder apre-
sentar estas revelaes ao pblico, mostrando todos os dados que
circulam discretamente na literatura mdica. Esto prestes a perceber
que o microbioma o grande construtor de um Crebro de Fibra.
As recomendaes que fao neste livro visam tratar e prevenir os
distrbios cerebrais; aliviar as variaes de humor, a ansiedade e a
depresso; estimular o sistema imunitrio e diminuir a autoimunida-
de; melhorar os distrbios metablicos, como a diabetes e a obesidade,
que inuenciam a sade do crebro a longo prazo. Vou falar de alguns
aspetos que provavelmente no imaginavam que pudessem inuen-
ciar a sade cerebral. Falo da importncia do parto, da alimentao
e dos medicamentos que tomamos na infncia, bem como dos hbi-
tos de higiene (por exemplo, a utilizao de desinfetantes para as
mos). Explico como as bactrias intestinais diferem entre as vrias
populaes do mundo e como isso se deve a diferentes regimes ali-
mentares. Fazemos uma viagem no tempo, para ver o que comiam os
nossos antepassados, h milhares de anos, e veremos como tudo isto
se relaciona com as novas investigaes no domnio do microbioma.
Analisamos a noo de urbanizao: de que forma alterou a nossa
comunidade ecolgica interna? Ter a vida urbana, com rgidas con-

19
CREBRO DE FIBRA

dies de higiene, provocado um aumento das doenas autoimunes?


Estou certo de que este debate vos parecer igualmente esclarecedor
e dar-vos- a informao necessria para mudarem os vossos hbitos.
Mostro como os alimentos com pr-biticos a fonte nutricional
para as bactrias bencas que vivem no intestino tm um papel
fundamental na sade, preservando o equilbrio e a diversidade das
bactrias intestinais. Alimentos como o alho, o tupinambo, o jicama
e at as folhas do dente-de-leo, tal como os alimentos fermentados,
como o chucrute, a kombucha e o kimchi, so o caminho para uma
excelente sade, em termos gerais, e para proteo e bom funciona-
mento do crebro, em particular.
Muito embora os probiticos se tenham popularizado, passando a
fazer parte de muitos produtos alimentares, convm saber o que esco-
lher especialmente quando somos confrontados com publicidade
do gnero: ajuda a digesto. Para isso, explico a cincia por detrs
dos probiticos e ensino a escolher os melhores.
claro que tambm temos de ter em conta o estilo de vida. Para
alm de explorarmos a interao entre o microbioma e o crebro,
vamos tambm conhecer uma nova disciplina: a medicina epigen-
tica. Esta cincia analisa a forma como as escolhas relacionadas com
o estilo de vida, como a alimentao, o exerccio, o sono e o stresse,
inuenciam a expresso do ADN e interferem direta e indiretamente
na sade do crebro. Tambm falarei da importncia da mitocndria
nos distrbios cerebrais, sob a perspetiva do microbioma. A mitocn-
dria consiste numa estrutura minscula presente no interior das
nossas clulas com o seu prprio ADN que difere do ADN do ncleo.
Alis, a mitocndria pode ser considerada uma terceira dimenso do
microbioma, uma vez que mantm uma relao nica com ele.
As Partes I e II so a base para embarcar no meu programa de rea-
bilitao Crebro de Fibra, da Parte III. J vos dei muita informao.
Espero ter conseguido abrir-vos o apetite para aprenderem mais sobre
esta nova rea da medicina, que nos d uma nova viso de como pre-
servar a sade do crebro. Espera-vos nada mais, nada menos, do que
um futuro brilhante, cheio de fora e sade. Vamos a isso.

20
AUTOAVALIAO INTESTINAL
Quais so os seus fatores de risco?

Apesar de ainda no existir um exame que possa indicar com preci-


so o estado do microbioma, h pistas que podem recolher, respon-
dendo a algumas perguntas simples. Desse modo, compreendero
melhor quais foram as experincias desde que nasceram at ao dia
de hoje que inuenciaram a sade do vosso trato gastrointestinal.
Nota: Embora j comecem a aparecer no mercado kits para anlise
da microbiota, no creio que haja base cientca suciente para ava-
liar com rigor o signicado dos resultados (saudvel vs. no saudvel)
e os fatores de risco da cada pessoa. No futuro, no duvido de que ser
possvel estabelecer parmetros, com base em provas cientcas e
correlaes bem denidas entre determinadas assinaturas e condi-
es microbianas. Mas, para j, trata-se de um terreno pouco seguro;
ainda cedo para saber se alguns dos padres em estudo, relaciona-
dos com a doena X ou o distrbio Y, fazem parte da causa ou do
efeito dessas doenas. Apesar disso, esses kits podem ser teis para
avaliar a composio genrica e a diversidade do microbioma. Mas,
mesmo assim, pode ser difcil dizer se uma certa composio micro-
biana identica a pessoa como saudvel ou no. E no gostaria que
tentassem perceber os resultados desses testes sozinhos, sem a orien-
tao de prossionais de sade devidamente formados e experientes
neste domnio. Ento, por ora, deixemos os kits de lado, at se saber
mais sobre os mesmos. As perguntas que se seguem vo ajudar-vos
a ter uma noo dos fatores de risco de cada um.
No se preocupem se responderem armativamente maioria das
perguntas. Quanto mais respostas armativas, maior ser o risco de
terem um microbioma doente ou disfuncional, passvel de se reetir na
sade mental, mas isso no signica que estejam condenados. O gran-
de objetivo que me levou a escrever este livro foi o de vos transmitir

21
CREBRO DE FIBRA

os conhecimentos necessrios para poderem controlar a sade do


vosso trato gastrointestinal e, por sua vez, a sade do vosso crebro.
Se no souberem a resposta a uma pergunta, passem frente. E se
houver alguma questo que vos deixe mais apreensivos ou que gere
novas dvidas, no se preocupem que encontraro a resposta nos
captulos seguintes. Para j, respondam a estas perguntas o melhor
que souberem.

1. A sua me tomou antibiticos quando estava grvida de si?


2. A sua me tomou esteroides, como prednisona, quando estava
grvida de si?
3. Nasceu de cesariana?
4. Foi amamentado menos de um ms?
5. Sofria frequentemente de infees nos ouvidos e/ou na
garganta quando era pequeno?
6. Teve de usar tubos de ventilao nos ouvidos quando era
pequeno?
7. Tirou as amgdalas?
8. Alguma vez foi medicado com esteroides, por mais de uma
semana, incluindo inaladores nasais ou respiratrios base de
esteroides?
9. Toma antibiticos, pelo menos uma vez, em cada dois ou trs
anos?
10. Toma anticidos, para a digesto ou reuxo gstrico?
11. Tem sensibilidade ao glten?
12. Sofre de alergias alimentares?
13. Tem sensibilidade a substncias qumicas que fazem parte
da composio de produtos e bens do dia a dia?
14. Sofre de uma doena autoimune?
15. Tem diabetes Tipo II?
16. Tem um excesso de peso superior a 9 kg?
17. Sofre da sndrome do clon irritvel?
18. Tem diarreia ou faz fezes lquidas, pelo menos uma vez por
ms?

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AUTOAVALIAO INTESTINAL

19. Precisa de tomar laxantes, pelo menos uma vez por ms?
20. Sofre de depresso?

Aposto como tm curiosidade em saber o que tudo isto signica.


Este livro diz-vos tudo o que querem e precisam de saber, e muito
mais.

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PARTE I
CONHEA OS SEUS
BILIES DE AMIGOS
No tm olhos, ouvidos, nariz ou dentes. No tm membros, corao,
fgado, pulmes ou crebro. No respiram nem comem como ns.
Nem sequer as pode ver a olho nu. Mas no as subestime. Por um
lado, as bactrias so espantosamente simples, consistindo numa
nica clula. Por outro, so extraordinariamente complexas, sosti-
cadas em muitos aspetos e um grupo de criaturas fascinante. No se
deixe enganar pelo seu tamanho innitesimamente pequeno. Algu-
mas bactrias podem viver a temperaturas que lhe fariam o sangue
ferver, e outras prosperam em locais com temperaturas negativas.
H uma espcie que at tolera nveis de radiao milhares de vezes
superiores queles que ns suportamos. Essas clulas vivas micros-
cpicas regalam-se com tudo, desde acar e amidos, a luz do sol e
enxofre. As bactrias so a base de toda a vida na Terra. Foram as
primeiras formas de vida do planeta e provvel que sejam as lti-
mas. Porqu? Porque no h absolutamente nada que possa existir
sem elas, nem mesmo voc.
Certamente saber que algumas bactrias provocam doenas e at
matam; porm, talvez no conhea o reverso da medalha: que cada
um dos nossos batimentos cardacos, expiraes e ligaes neuronais
ajudam as bactrias a suster a vida humana. Elas no s coexistem
connosco revestindo -nos por dentro e por fora como tambm
ajudam os nossos corpos a desempenhar uma gama impressionante
de funes indispensveis para a nossa sobrevivncia.
Na Parte I exploramos o microbioma humano o que , como fun-
ciona e a relao incrvel entre a comunidade microbiana dos seus
intestinos e o seu crebro. Ver que problemas distintos como o
autismo, a depresso, a demncia e at o cancro tm muito em
comum, graas s bactrias intestinais. Tambm analisamos os

27
CREBRO DE FIBRA

principais fatores associados ao desenvolvimento de um microbioma


saudvel, bem como aqueles que o comprometem. Depressa se aperce-
ber de como provvel que as pragas modernas da obesidade
doena de Alzheimer se devam a um microbioma doente e disfun-
cional. No m desta parte ter uma nova perspetiva das suas bactrias
intestinais e uma sensao renovada de poder contribuir ativamente
para o futuro da sua sade.

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1. BEM-VINDO A BORDO
Os seus amigos microbianos,
desde que nasce at que morre

Algures, numa bela ilha grega, no Mar Egeu, nasce um menino por
parto natural, em casa. amamentado durante dois anos. Ao crescer,
no tem acesso maioria dos confortos modernos da cultura ameri-
cana. A fast food, os sumos de fruta e os refrigerantes so coisa rara
para ele. As suas refeies consistem sobretudo em legumes da horta
da famlia, peixe e carne locais, iogurte caseiro, sementes e frutos
secos e muito azeite. Faz a escolaridade numa escola pequena e passa
a infncia a ajudar os pais na quinta, onde cultivam legumes, ervas
para ch e uvas para vinho. O ar limpo e sem poluio.
Quando adoece, os pais do-lhe uma colher de mel produzido na
regio, porque nem sempre tm acesso a antibiticos. Jamais lhe diag-
nosticaro autismo, asma, ou perturbao de hiperatividade e dce
de ateno. Est sempre em forma e magro, porque leva o estilo de
vida ativo que ali se pratica. As famlias no se sentam no sof noite,
preferindo conviver com os vizinhos e danar ao som da msica. Este
rapaz dicilmente enfrentar qualquer distrbio cerebral grave, como
a doena de Alzheimer. Alis, o mais certo ser viver muitos anos,
porque a sua ilha, Ikaria, tem a percentagem mais elevada de nona-
genrios do planeta quase uma em cada trs pessoas chega dci-
ma dcada com uma sade mental e fsica robusta.1 Para alm disso,
regista uma incidncia 20 por cento inferior de cancro, metade da
taxa de doenas cardacas e quase nenhum caso de demncia.
Passemos agora a qualquer umas das cidades americanas, onde
nasce uma menina. Chega ao mundo por cesariana programada e
exclusivamente alimentada com leite em p. Sofre vrias infees na
infncia, desde otites crnicas a infees da garganta e sinusite, para
as quais lhe receitam antibiticos. Toma antibiticos at para tratar
uma constipao vulgar. Embora tenha acesso melhor nutrio do

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CREBRO DE FIBRA

mundo, o seu regime alimentar dominado por alimentos processa-


dos, acares renados e gorduras vegetais pouco saudveis. Aos seis
anos, j tem excesso de peso e pr-diabtica. Cresce como hbil uti-
lizadora de aparelhos eletrnicos e passa grande parte da juventude
numa escola rigorosa. Mas, agora, toma medicao ansioltica, sofre
de problemas comportamentais e tem cada vez mais diculdades nos
estudos, porque no consegue concentrar-se. Na idade adulta, corre-
r um maior risco de desenvolver problemas graves relacionados com
o crebro, entre os quais, variaes de humor e ansiedade, enxaquecas
e distrbios autoimunes, como a esclerose mltipla. E quando for
mais velha, poder muito bem contrair a doena de Parkinson ou de
Alzheimer. Nos EUA, as principais causas de morte esto relaciona-
dos com doenas crnicas, como a demncia, que raramente encon-
tramos na ilha grega j referida.
O que se passa aqui? Nos ltimos anos, as investigaes feitas pro-
porcionaram-nos uma compreenso muito mais alargada da relao
entre aquilo a que estamos expostos desde tenra idade e a nossa sade
a curto e longo prazo. Os cientistas tm analisado a associao entre o
estado do microbioma humano e o destino da nossa sade. A respos-
ta pergunta est na diferena entre as primeiras experincias de
vida das duas crianas, pois, em termos gerais, parte dessas expe-
rincias est intimamente ligada ao desenvolvimento dos seus micro-
biomas, ou seja, da comunidade microbiana que habita os seus corpos
desde que nasceram e que desempenha um papel fundamental na
sade e na funo cerebral, durante a vida inteira.
evidente que tomei algumas liberdades, neste cenrio hipottico.
Existe toda uma constelao de fatores que inuenciam a longevidade
de uma pessoa e o risco de contrair determinadas doenas. Mas cen-
tremo-nos agora apenas no facto de as primeiras experincias de vida
da menina a terem posto num caminho totalmente diferente em ter-
mos de sade cerebral do caminho do menino. E, sim, a ilha grega
em questo existe mesmo. Ikaria ca a cerca de 48 km ao largo da
costa ocidental da Turquia. igualmente conhecida como uma Zona
Azul e um local onde as pessoas vivem mensuravelmente mais e com
mais sade do que a maioria das pessoas no mundo ocidental desen-

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