O documento discute a história e o uso de cadernos escolares no Brasil, analisando-os como fonte histórica e cultural. É dividido em 14 artigos que examinam a produção, circulação e usos dos cadernos, além de como eles refletem a memória escolar e a cultura escrita. Os artigos abordam tópicos como a substituição de outros materiais didáticos pelos cadernos e como estes transmitiam valores patrióticos e de obediência.
O documento discute a história e o uso de cadernos escolares no Brasil, analisando-os como fonte histórica e cultural. É dividido em 14 artigos que examinam a produção, circulação e usos dos cadernos, além de como eles refletem a memória escolar e a cultura escrita. Os artigos abordam tópicos como a substituição de outros materiais didáticos pelos cadernos e como estes transmitiam valores patrióticos e de obediência.
Descrição original:
História
Título original
Resenha - Cadernos à Vista - Escola, Memória e Cultura Escrita
O documento discute a história e o uso de cadernos escolares no Brasil, analisando-os como fonte histórica e cultural. É dividido em 14 artigos que examinam a produção, circulação e usos dos cadernos, além de como eles refletem a memória escolar e a cultura escrita. Os artigos abordam tópicos como a substituição de outros materiais didáticos pelos cadernos e como estes transmitiam valores patrióticos e de obediência.
O documento discute a história e o uso de cadernos escolares no Brasil, analisando-os como fonte histórica e cultural. É dividido em 14 artigos que examinam a produção, circulação e usos dos cadernos, além de como eles refletem a memória escolar e a cultura escrita. Os artigos abordam tópicos como a substituição de outros materiais didáticos pelos cadernos e como estes transmitiam valores patrióticos e de obediência.
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Resenha
Cadernos vista: escola, memria e cultura
escrita
Ana Chrystina Venancio Mignot (Org.)
Cidade: Rio de Janeiro Editora: Eduerj Ano: 2008
Conforme anuncia o ttulo, o propsito da obra trazer os cader-
nos escolares nossa vista. Objeto ordinrio da educao escolar, o caderno reconhecido como elemento fundamental da escolarizao moderna, mas muitas vezes passa despercebido aos nossos olhos, j to acostumados sua presena. O subttulo da obra Escola, memria e cultura escrita , destaca o objeto caderno escolar, as memrias nele incrustadas bem como a reflexo acerca da cultura escrita que perpassar boa parte dos textos. Organizado por Ana Chrystina Venancio Mignot, o livro possui 272 pginas divididas em 14 artigos escritos por autores brasileiros e estrangeiros. Sua editorao impecvel, sendo grande parte dos artigos ilustrados com fotografias que representam fontes das pesquisas. Os 14 artigos que compem o livro esto estruturados em quatro eixos, propostos por Mignot. So eles: 1) Balano dos estudos feitos no mbito da historiografia da educao; 2) Produo e circulao dos suportes e utenslios da escrita escolar; 3) Usos dos cadernos escolares; 4) Iniciativas pessoais e familiares de salvaguarda desses docu- mentos produzidos durante a trajetria escolar.
Em Os cadernos escolares como fonte histrica: aspectos me-
todolgicos e historiogrficos, Antonio Viao faz um mapeamento desses materiais pedaggicos ao longo da histria, tomando-o como
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produto da cultura escolar, e discorre acerca das dificuldades metodo-
lgicas que perpassam as pesquisas debruadas sobre essa temtica. Discute, ainda, a utilizao dos cadernos escolares como instrumento de conhecimento e reconhecimento da escola e seu cotidiano, abor- dando a importncia de um entrecruzamento de fontes. Em Os cadernos de classes como fonte primria de pesquisa: alcances e limites tericos e metodolgicos para sua abordagem, Silvina Gvirtz e Marina Larrondo apresentam um estudo, realizado em alguns pases da Europa e da Amrica do Sul, no qual evidenciam quanto os cadernos escolares dizem a respeito dos sistemas educa- tivos e so produtores de saberes, alm de transmissores. Saberes esses que devem ser incorporados pelos alunos, sendo, portanto, produtores de efeitos. Dentre os trabalhos que apontam para um estudo da origem, produo e disseminao do uso dos cadernos escolares, bem como da importncia e do sentido que esse suporte tomou em sala de aula, encontra-se o captulo escrito por Rogrio Fernandes, Um marco no territrio da criana: o caderno escolar. O autor faz uma genealogia dos cadernos escolares, os quais, aos poucos, substituram as caixas de areia e as ardsias, que eram aparatos de baixo custo da cultura escrita. Remete o olhar para o mbito da indstria e do mercado, os quais deram suporte para a disseminao do uso do caderno indivi- dual. Para Rogrio Fernandes, no obstante o mercado estar atento s mudanas e contribuir para o uso em massa do caderno, foram necessrias tambm mudanas nas prticas escolares. Os alunos passaram a ser protagonistas no processo de ensino e aprendizagem, por meio da teorizao e individualizao, o que facilitou a difuso do caderno como principal instrumento de escrita do aluno, refletindo naquele o trabalho do professor. Ana Chrystina Venancio Mignot, em seu captulo Antes da escrita: uma papelaria na produo e circulao dos cadernos esco- lares, fala da trajetria da Casa Cruz, que passou de mercado de artigos de pesca a uma renomada papelaria, atendendo elite do Rio de Janeiro, em fins do sculo XIX e incio do sculo XX, estando em funcionamento at os dias atuais e atribuindo seu enorme sucesso ao ecletismo com que trabalhava. Afirma que o caderno h muito no mais um conjunto de folhas cosidas juntas. Utilizando-se de exem-
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Marlia Gabriela Petry e Glria Cristina Maciel Moreira
plares de colees de cadernos, anncios em peridicos e entrevistas
com antigos proprietrios, Mignot faz uma relao entre os processos de escolarizao, industrializao e comrcio que contriburam para a massificao do uso dos cadernos, elevando-os de objetos de desejo a objetos de consumo. Observou, ainda em seu estudo, como os cadernos contriburam para a transmisso de valores e ensinamentos que deveriam ser perpetuados: mensagens introjetadas de amor ptria, de obedincia ordem e amor ao trabalho (p. 72). Por fim, conclui que esses suportes da escrita foram banalizados, mas ao longo da histria afetaram as prticas de escrita, os processos de ensino-aprendizagem e os uso do tempo nas salas de aula. No captulo Instrumentos da escrita na escola elementar: tec- nologias e prticas, Mrcia de Paula Gregrio Razzini fala de uma demanda por outros instrumentos que comearam a servir de suporte ao papel com o crescente uso dos cadernos escolares e se consagra- ram ao longo do tempo, como penas, tintas e, posteriormente, lpis, canetas, entre outros. Ao utilizar vrias fontes para seu estudo, entre elas anncios, dicionrios, manuais pedaggicos e inventrios de escolas, a autora aponta que, alm da substituio da caixa de areia ou da ardsia pelo caderno, se operou tambm a substituio de seus aportes, o dedo ou o lpis de pedra pelas canetas de pena, lpis e canetas de madeira. Ao concluir, a autora chama a ateno para que faamos uma reflexo sobre os usos excessivos das canetas e lpis em sala de aula, o que poderia contribuir para um empobrecimento da oralidade escolar, a qual peculiar, uma vez que possui padres formais que s a escola poderia e pode oferecer maioria da popu- lao, de acordo com a autora. Rosa Maria Souza Braga, no captulo A boa letra tem grande importncia: Orminda Marques e as prescries sobre a escrita, versa sobre os cadernos de caligrafia e discute a importncia que estes adquiriram no perodo em questo. Em seu estudo, Rosa Maria utiliza o livro escrito por Orminda, cujo intuito foi unir cincia e edu- cao, tendo como ttulo A escrita na escola primria. Nesse livro, Orminda defende a incorporao de uma metodologia da escrita por parte dos alunos, a qual contempla graciosidade no trao, ou seja, a necessidade de um senso esttico desde cedo, alm de economia do tempo na tarefa de escrita e disciplinamento do corpo.
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Aprendendo com cadernos escolares: sujeitos, subjetividades e
prticas sociais cotidianas na escola, captulo escrito por Ins Barbosa de Oliveira, mostra como supostos consumidores no so apenas passivos de uma ao, mas usam o que lhes oferecido para consumo e imprimem subjetividades, tornando esses objetos muito particulares e diversificando seus usos. Ins Barbosa de Oliveira defende que possvel, partindo desse pressuposto, colocar como sujeitos de um estudo no somente os alunos a quem esses cadernos pertencem, mas tambm os demais sujeitos da cultura escolar, como os professores e as metodologias por eles aplicadas, o que permite compreender uma pluralidade de redes tecidas entre alunos e escola. No texto Aprendendo a usar cadernos: um caminho necess- rio para a insero na cultura escolar, Anabela Almeida Costa e Santos, pela tica da psicologia escolar e da pesquisa etnogrfica, analisou cadernos de alunos de uma turma de 1 e outra de 4 srie de uma escola pblica paulista. Segundo a autora, essas duas sries marcam momentos distintos da escolarizao e apropriao do objeto caderno, a 1a como fase de iniciao quanto ao seu uso e, no caso da 4a srie, de autoria, uma vez que nesta os alunos passam a criar novas formas de se apropriar do caderno, revelando com maior nfase caractersticas pessoais. Conclui que, ao longo dos anos, os estudantes comeam a ter domnio das regras do uso desse material, o que possibilita que seja utilizado efetivamente como auxiliar de estudo. Mara del Mar del Pozo Andrs e Sara Ramos Zamora, no texto Representaes da escola e da cultura escolar nos cadernos infantis (Espanha, 1922-1942), tm como objeto de estudo uma coleo de 300 cadernos oriundos de escolas pblicas espanholas. A anlise desse material permitiu um aprofundamento acerca das prticas escolares de cultura escrita dessas instituies. O foco do texto est nas percepes da escola e dos valores educativos que se refletem nos cadernos escolares (p. 162). De acordo com as autoras, um dos aspectos mais interessantes da prtica de escrita era a redao de cartas pelos alunos, atividade muito esmerada e presente nos cadernos. O estudo concluiu que nesses cadernos coexistiam os escritos disciplinados e dirigidos pelos professores e uma principiante forma de expresso infantil
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espontnea. Entretanto, as autoras no se propuseram a responder
se os escritos refletiam exclusivamente a personalidade do professor ou da criana. Em Cadernos escolares: memria e discurso em marcas de correo, Isa Cristina da Rocha Lopes trabalhou com uma coleo de 45 cadernos da 1a a 4a sries do ensino fundamental, originrios de acervos pessoais. O estudo props-se a delinear tendncias visveis nesses cadernos e pode-se perceber o quanto a marca da presena do professor no perodo estudado (1951-2003) esteve aparente nos cadernos dos alunos, por meio de registros escritos, sinais grficos e imagens constituintes de um discurso escolar indicador de identida- des. De acordo com a autora, conclui-se que produes discursivas semelhantes podem cumprir funes diferentes, pois dependem de quando aparecem e de quais sentidos esto impregnados. No texto O contedo emocional de trs cadernos escolares do franquismo, Kira Mahamud ngulo fala-nos da educao de me- ninas na Espanha, a partir da anlise de trs cadernos pertencentes a uma professora. Esses cadernos so conhecidos como cadernos de circulao ou de aula e so assim chamados porque todos os alunos participavam de sua escrita; destinavam-se ao registro da memria das aulas, uma espcie de dirio. O objetivo do trabalho centrou-se em enfatizar o contedo emocional desses cadernos, a partir de trs elementos: transparncia da professora na expresso dos seus sentimentos, referncias ao amor ptrio e religioso nas lies de comemoraes e recurso poesia para o ensino. Os cadernos conti- nham vrias poesias favorveis ao regime franquista e serviam como impregnadores da nova ideologia. A autora concluiu, entre outras coisas, que a professora concebia o caderno de circulao como um recurso e material educativo, que exercia funo de introjeo da cultura escrita, de doutrinao de uma viso de mundo a partir do conhecimento e sentimentos, no se caracterizando apenas como dispositivo de controle e inspeo. Eurize Caldas Pessanha, no texto Entrevendo o currculo: um estudo sobre cadernos escolares de normalistas, usa como fonte de pesquisa dois cadernos de duas normalistas da dcada de 1930, um de higiene e outro de rascunho (anotaes rpidas). A autora considerou esses cadernos frestas para enxergar parte do processo de negociao
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do currculo e pretendeu analisar quais prticas de transmisso de
conhecimentos poderiam ser deduzidas a partir deles. O texto est estruturado em trs partes: na primeira, a autora situa os cadernos a partir da histria das escolas frequentadas pelas normalistas; na sequncia, descreve-os materialmente; e, por ltimo, explicita os conhecimentos e prticas possveis de serem visualizadas. Em A esttica e as ilustraes nos cadernos escolares: o caso de uma escola de meninas na Espanha franquista, Ana Mara Badanelli Rubio analisa cadernos pertencentes mesma professora mencionada no artigo de Kira Mahamud ngulo, porm de perodos diferentes. Estes cadernos de rotao, que relatavam os acontecimentos escolares, continham ilustraes de qualidade excepcional feitas pelas alunas. Alm de servirem como dirio, a professora selecionava atividades que as alunas deveriam desenvolver, o que indica que eram meticulosamente planejados. Sendo assim, esses cadernos no eram um espao de fruio, imaginao e fantasia. A autora conclui que os cadernos no eram apenas um meio para aquisio de conhecimentos, mas tambm um local de registro do cotidiano escolar e de informaes a respeito dos atores envolvidos. Ana Mara pontua, ainda, questes a respeito da esttica presente nos cadernos, devido inspeo pela qual passariam, questes de gnero e de religiosidade. Para finalizar, em Velhos cadernos, novas emoes, Mirian Paura Sabrosa Zippin Grinspun d voz s prprias lembranas a respeito dos cadernos de famlia e os motivos que a levaram a guard-los. Pela anlise dessa coleo, evidencia permanncias e rupturas ao longo da escolarizao da sua famlia. Da leitura desta obra, retiramos algumas reflexes acerca do objeto caderno, hoje consagrado e tornado quase invisvel, bana- lizado por aqueles que o usam. Conforme os autores dos artigos sublinham, os cadernos so, pela especificidade que os sujeitos lhes emprestam, passveis de serem compreendidos para alm de sua materialidade, uma vez que nos falam, de modo prprio, de caractersticas de uma poca. Versam sobre currculos e mtodos de ensino e de como e em quais circunstncias esses mtodos foram empregados. Falam-nos de sub- jetividades, no somente de alunos e de professores, mas de atores
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Marlia Gabriela Petry e Glria Cristina Maciel Moreira
envolvidos no processo de escolarizao, de uma cultura especfica
e de processos naturalizados e internalizados por quem passa pelos cadernos escolares e deixa suas marcas escritas nas linhas e nas entrelinhas. Os textos enfatizam a importncia dos cadernos como fontes de pesquisa ocupadas de investigaes que ajudam a compreender a complexa construo da cultura escolar (ou culturas, como tm preferido alguns autores). Escrevendo a partir de espaos geogrficos diferentes, mas tendo em comum esse suporte material to marcante da vida escolar, os autores remetem a diferentes abordagens e pos- sibilidades de leitura de um mesmo objeto.
SEIDLER, Carl. Dez Anos No Brasil - Eleições Sob Dom Pedro I, Dissolução Do Legislativo, Que Redundou No Destino Das Tropas Estrangeiras e Das Colônias Alemãs No Brasil PDF