Tintas PDF
Tintas PDF
Tintas PDF
Keywords: Watercolor; Gouache; China ink; Tempera; Oil inks; acrylic inks.
Resumo
O artigo descreve os principais desenvolvimentos tecnolgicos e seus reflexos na formulao de tintas para
arte, conhecidas como tintas expressivas. Inicialmente o homem usou xidos e hidrxidos de metais em
pinturas rupestres relacionadas a atividades corriqueiras como a caa, pesca, coleta de frutos, guerras e sexo.
Posteriormente, com as primeiras civilizaes foram desenvolvidas as tintas Aquarela, Guache, Nanquim e
Tempera, que em conjunto com novos pigmentos sintticos foram a base da produo artstica por milnios. No
sculo XV, estudos com leos vegetais proporcionaram o desenvolvimento das primeiras Tintas a leo, que ao
serem assimiladas por pintores renascentistas foram importantes para a criao de grandes obras de arte. Com
o desenvolvimento da petroqumica no sculo XX houve uma revoluo no mercado de tintas, com o
surgimento das Tintas Acrlicas que passaram a ser muito usadas por um grande nmero de artistas.
* Universidade de Braslia, Laboratrio de Materiais e Combustveis, Instituto de Qumica, P. Box. 4478, 70919-
970, Braslia, DF, Brasil. INCT-Catlise.
[email protected]
Rev. Virtual Quim. |Vol 4| |No. 1| |2-12| 2
Volume 4, Nmero 1 Janeiro-Fevereiro 2012
1. O que so tintas?
2. A tinta na pr-histria: as pinturas rupestres
3. A tinta e o surgimento da civilizao: a contribuio dos egpcios e chineses
4. Os afrescos Greco-romanos e Bizantinos
5. O Renascimento e o desenvolvimento da tinta a leo
6. O Sculo XX e a revoluo das resinas sintticas da indstria petroqumica
7. Qual ser a tendncia para o Sculo XXI?
Figura 1. Recobrimento de uma superfcie (em cinza) com tinta (veculo em amarelo-claro e pigmentos como
pontos vermelhos)
difcil de precisar com exatido a formulao das ilustrada na Figura 3. Estes povos foram os primeiros
tintas utilizadas. Acredita-se que os nossos a descobrir que os minerais podem mudar sua
antepassados usassem como pigmentos partculas colorao ao serem calcinados, desenvolvendo assim
inorgnicas minerais finamente modas. Por exemplo, os primeiros pigmentos sintticos. Por exemplo, estes
para a colorao vermelha era usada a hematita dois povos desenvolveram pigmentos sintticos de
(Fe2O3), para a colorao amarelo a Goethita cor azul. O Azul do Egito (CaCuSi2O6) foi obtido pela
[FeO(OH)], para a colorao branca a caulinita calcinao de uma mistura de slica, xidos de cobre e
[Al2Si2O5(OH)4] e para a colorao preta a Pirolusita sais de clcio. J os chineses desenvolveram o Azul de
(MnO2).5,6 Para conseguir cores intermedirias, muitas Han (BaCuSi2O6) a partir da calcinao de uma mistura
vezes eram usadas misturas desses minerais, como a de slica, xidos de cobre e sais de brio.8 Outros
hematita e o caulim para atingir a cor cinza. Foram pigmentos encontrados foram a hematita para o
tambm encontradas pinturas que utilizavam vermelho, uma mistura de hematita e calcita (CaCO3)
pigmentos orgnicos para a colorao preta, tais para a cor rosa, o ouropigmento (As2S3) no caso do
como carvo vegetal ou mineral. importante amarelo e carvo como pigmento preto. A cor laranja
ressaltar que os pesquisadores no descartam o uso foi preparada misturando-se hematita com
de corantes. No entanto, estes materiais, que sero ouropigmento ou, ento, usando massicote e litargrio
discutidos mais adiante, se decompem rapidamente, (PbO ortorrmbico e tetragonal, respectivamente).9
e no teriam chegado preservados at os dias atuais.1
Ambos os povos utilizavam como veculo a goma
J em relao ao veculo, no h um consenso sobre
arbica ou a gema ou a clara de ovo. A goma arbica
qual o material utilizado. Acredita-se que possam ter
uma resina obtida de rvores das espcies das
sido utilizadas seivas ou resinas de rvores ou
accias. uma mistura de polissacardeos (polmero
arbustos; ceras, leos ou gorduras de animais ou
da sacarose com outros acares) e glicoprotenas. A
vegetais; gemas e/ou clara de ovos; ou at mesmo
clara do ovo constituda praticamente por gua e
sangue, fezes ou urina de animais. No entanto, a
protenas conhecidas como albuminas, enquanto que
natureza orgnica destes materiais no permitiu que
a gema de ovo constituda por protenas (15 %),
chegassem aos nossos dias com integridade suficiente
gorduras (35 %), gua e diversos nutrientes em
para uma determinao precisa de sua composio.2
pequenas quantidades. A mistura de pigmentos com
goma arbica conhecida como aquarela, ou como
guache dependendo das propores entre veculo,
3. A tinta e o surgimento da civilizao: a solvente e pigmento. J no caso do uso de clara ou da
contribuio dos egpcios e chineses gema de ovo, a tinta conhecida como tmpera.3
Outro exemplo do desenvolvimento tecnolgico
ocorrido nas culturas egpcia e chinesa foi a obteno
Somente aps o estabelecimento de centros do que hoje chamamos tinta nanquim. Esta tinta foi
urbanos e o desenvolvimento das culturas antigas foi desenvolvida inicialmente atravs da disperso de
que as tintas sofreram novas modificaes. Dentre as partculas de carbono em gua. Hoje em dia o
civilizaes da antiguidade que mais contriburam nanquim preparado com nanopartculas de carbono
para o desenvolvimento das tintas podemos destacar esferoidais, conhecidas como negro de fumo, que
a cultura Egpcia e a Chinesa, as quais desenvolveram sero discutidas mais a frente. Para se evitar a
de forma independente tcnicas bastante similares. agregao das partculas de carbono e estabilizar a
Tanto no Egito quanto na China, as tintas foram suspenso era utilizada a goma arbica.3
amplamente utilizadas para a realizao de pinturas
decorativas em templos, palcios ou tumbas, como a
apresentassem elevada incidncia de doenas levou a sua rpida difuso no mercado. Os anos
crnicas. Por exemplo, em 1920 foi possvel viabilizar posteriores geraram novas opes de veculos com
a produo industrial do Branco de Titnio (TiO2), que propriedades no pensadas at o incio do sculo XX,
por sua baixa toxicidade e sua reflexo da luz que comearam a ser usados em formulaes de
superior, conseguiu substituir o Branco de Prata. tintas com caractersticas especficas. Assim, surgiram
Outro exemplo a cor preta, que at ento era obtida as tintas usando como veculo resinas epxi, acrlicas,
do carvo, passou a ser produzida sinteticamente a alqudicas, vinlicas, celulsicas, poliuretanas,
partir de 1870 atravs da combusto parcial de polisteres, poliamidas, silicones, perfluorados, etc.1
compostos orgnicos como o acetileno (C2H2) e o No entanto, a maioria dessas tintas se restringe ao
metano (CH4). Assim surgiu o Negro de Fumo, que mercado de revestimentos de superfcies,
constitudo por nanoesferas de estruturas coloidais de principalmente no ramo de tintas imobilirias e tintas
carbono, sendo comercializados cerca de 50 tipos veiculares.
diferentes de negro de fumo classificados a partir do
Em relao s tintas expressivas, a grande
dimetro das partculas (variaes entre 5 e 500
contribuio da indstria de petroqumica sem
nm).22 Hoje em dia, uma base de dados da Society of
dvida alguma os polmeros base de cidos acrlicos
Dyers and Colourists, que comeou a ser organizada
ou seus derivados acrilatos, conhecidas como Tintas
em 1925, tem catalogado mais de 78 mil compostos
Acrlicas. A grande vantagem desta classe de tintas
qumicos diferentes, com aplicaes como pigmentos
manter as cores originais depois de seca, o que no
ou corantes.
acontece com a aquarela ou a tmpera. Alm disso,
J no caso dos veculos das tintas, a grande ela apresenta uma durabilidade similar tinta a leo,
transformao comeou em 1907 quando Baekeland com a vantagem de ter uma secagem muito mais
desenvolveu uma grande variedade de resinas rpida do que esta ltima e de usar gua como
fenlicas. Estas resinas, quando comparadas com solvente, sendo de baixa toxicidade.3 Na Figura 10
materiais derivados da biomassa, apresentavam aparece a reproduo de uma obra de arte feita com
maior resistncia frente gua e lcalis, reduo do tinta acrlica.
tempo de secagem e uma dureza superior, o que
Figura 10. Pintura feita base de tinta acrlica sobre tela do artista plstico brasileiro Adir Sodr
O cido acrlico e o cido metacrlico, assim como temperatura (400 a 500 C). Na Figura 11 ilustrado o
seus derivados, podem ser obtidos seguindo diversos esquema de produo industrial do cido acrlico, que
protocolos. Industrialmente, a rota preferida a feito a partir do propeno, tendo a acrolena como
oxidao do propileno ou outras olefinas. Neste intermedirio de reao. J os acrilatos de metila e
processo, a reao feita em uma nica etapa etila, assim como os metacrilatos de etila e metila,
passando-se uma mistura da olefina (10 %), ar (50 %) podem ser obtidos atravs da esterificao dos
e vapor de gua (40 %) por um leito fixo de respectivos cidos com metanol e etanol.1
catalisador de cobalto e molibdnio a alta
Agradecimentos
Hoje em dia todas as tintas desenvolvidas ao longo
da histria da humanidade so usadas pelos artistas
plsticos de acordo com as suas necessidades de Os autores agradecem ao CNPq pelas bolsas de
expresso artstica. Aps muita experimentao e pesquisa e Embrapa pelo apoio financeiro dado a
estudos relacionados ao desempenho das infinitas pesquisas em tintas a partir de leos vegetais.
formulaes j testadas, fica muito difcil de precisar o
que poder acontecer nas prximas dcadas para
inovar o mercado de tintas expressivas. No entanto, Referncias Bibliogrficas
verifica-se a partir da dcada de 1990 uma tendncia
tanto na academia quanto na indstria em se
1
desenvolver processos tecnolgicos utilizando Fazenda, J. M. R.; Tintas: Cincia e Tecnologia, So
recursos renovveis, principalmente oriundos da Paulo: Editora Blucher, 4 Ed., 2009.
biomassa. Essa busca por tecnologias que substituam 2
Pessis, A. M.; Guidon, N. Adoranten 2009, 1, 49.
as matrias-primas de origem fssil est acontecendo
[Link]
em todas as reas da indstria, de combustveis a
3
polmeros. Assim, possvel supor que o mercado de Hofmann, G. T.; Castro, R. A. C.; Oliveira, D.;
Materiais em Artes - Manual para a manufatura e
11 Rev. Virtual Quim. |Vol 4| |No. 1| |2-12|
Mello, V. M.; Suarez, P. A. Z.
16
prtica. Secretaria de Estado de Cultura do DF, Fundo Suarez, P. A. Z.; Meneghetti, S. M. P.; Meneghetti,
da Arte e da Cultura: Braslia, 2007. M. R.; Wolf, C. R. Quim. Nova 2007, 30, 667.
4 [CrossRef]
Pessis, A. M.; Imagens da pr-histria: Parque
17
Nacional Serra da Capivara, FUMDHAM/Petrobrs: Mallegol, J.; Lemaire, J.; Gardette, J. L. Prog. Org.
So Paulo, 2003. Coat. 2000, 39, 107. [CrossRef]
5 18
Guidon, N.; Pessis, A. M.; Parenti, F.; Gurin, C.; Buono, F. J.; Feldman, M. L, Kirk-Othmer
Peyre, E.; Santos, G. M. Athena Rev. 2002, 3, 42. [Link] Encyclopedia of Chemical Technology, 3a. Ed., John
6 Wiley: New York, 1978.
Chalmin, E.; Menu, M.; Vignaud, C. Meas. Sci.
19
Technol. 2003, 14, 1590. [CrossRef] Muizebelt, W. J.; Hubert, J. C.; Venderbosh, R. A.
7 M. Prog. Org. Coat. 1994, 24, 263. [CrossRef]
Gaspar, M.; A arte rupestre no Brasil, Jorge Zahar
20
Ed.: Rio de Janeiro, 2003. Tuman, S. J.; Chamberlain, D.; Scholsky, K. M.;
8 Soucek, M. D. Prog. Org. Coat. 1996, 28, 251.
Berke, H. Chem. Soc. Rev. 2007, 36, 15. [CrossRef]
[CrossRef]
9
Riederer, J. Archaeoletry 1974, 16, 102. [CrossRef] 21
Middlemiss, R. G.; Olszanski, D. J. Am. Paint Coating
10
McGovern, P. E.; Michel, R. H. Anal. Chem. 1985, J. 1993, 78, 35. [Link]
57, 1514A. [CrossRef] 22
Atkins, J. H. Carbon 1965, 3, 299. [CrossRef]
11
Edmonds, J.; Historic Dye Series, 2000No 7, ISBN 0 23
Solomon, D. H. J. Polym. Sci. Part A: Polym. Chem.,
9534133 65, 41. Disponvel em:
1968, 6, 253. [CrossRef]
<http://www.imperial-purple.com/dyes7.html>.
24
Acesso em: 5 maro 2012. Erhan, S. Z.; Bagby, M. J. Am. Oil Chem. Soc. 1991,
12 68, 635. [CrossRef]
Bumler, E.; Um Sculo de Qumica, Econ-Verlag,
25
Dsseldorf, R. F. A, Traduo de Guenther Petersen, Panizzi, M. C. C.; Mandarino, J. M. G.; Suarez, P. A.
1963. Z.; Mello, V. M.; de Oliveira, G. V.; Processo de
13 Polimerizao Trmica de leos e Gorduras. N
Cennini, D. C.; The Craftsmans Handbook: The
Provisrio INPI: 012110000484, Depsito 17/06/2011.
Italian Il Libro Dell Arte, 1960. [Link]
26
14 Stio da Brasil@gro. Disponvel em:
Gunstone, F.; Fatty acid & lipid chemistry, Chapman
<http://www.brasilagro.com.br/index.php?noticias/vi
& Hall: New York, 1996.
sualizar_impressao/12/41713>. Acesso em: 2 maro
15
Swern, O.; Bailey's Industrial Oil and Fat Products. 2012.
1, John Wiley & Sons: New York, 4a. ed., 2005.