Profilaxia Psicomotora Hospitalar
Profilaxia Psicomotora Hospitalar
Profilaxia Psicomotora Hospitalar
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Psicomotricista, titulado pela SBP; Terapeuta Corporal e Fonoaudilogo; Mestre em Cincias: Sade da
Criana - IFF/FIOCRUZ - M.S. Docente das Ps-graduaes em Psicomotricidade - UERJ, UNESA e
UVA. Coordenador do Projeto de Profilaxia Psicomotora Hospitalar: Brincar Viver - UERJ/HUPE &
INCA.
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Psicomotricista, Psicopedagoga; Mestre em Educao - UERJ. Docente da Faculdade de Educao -
UERJ e das Ps-graduaes em Psicomotricidade da UERJ, UNESA, UVA e UCB. Coordenadora do
Projeto de Profilaxia Psicomotora Hospitalar: Brincar Viver - UERJ/HUPE & INCA.
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1) A Dor
S a busca do sentido da vida por parte da pessoa, lhe d a capacidade de suportar
o sofrimento. O brincar, o toque e a escuta ajudam a criana e o jovem no resgate deste
sentido, em atividades representativas de seus desejos e experincias. A elaborao e a
percepo do que pode ser feito, traz criana/jovem as suas prprias respostas, o seu
modo original de lidar com a realidade. um fator de conscincia, de escolhas, de
atitudes. E essas descobertas no se limitam ao sujeito, mas so igualmente contagiantes
para quem ama, quem cuida. Tem-se como exemplo, a descoberta pela me da vida e da
sade no filho.
"Roseane (7a Talassemia) est no leito, ambas as mos esto inchadas, vermelhas e doloridas;
ela quase no as movimenta com medo de sentir dor. Conversamos um pouquinho sobre o fato
e noto que seus ps esto empurrando as barras da cama. Comento ento, que parece que seus
ps tambm esto quietinhos e, vagarosamente, fao minha mo ir at eles. De repente,
Roseane levanta as pernas. Eu rio do susto e digo que seus ps estavam s fazendo de conta que
dormiam. Novamente seus ps se paralizam e eu torno a perguntar se eles agora esto
dormindo e, novamente, Roseane, levanta as pernas bem alto e sorri. A partir da, o jogo se
repete e mais tarde ela insere uma bola de gs. Roseane, que antes no se mexia com medo da
dor, agora est transformada, seus olhos brilham e todo o seu corpo pulsa de alegria. 3
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Psicloga Maira Ruiz - Sub-coordenadora do Projeto Brincar Viver - HUPE/UERJ: Excertos de
relatrios de atuao.
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2) A Culpa
Sentimos culpa quando no nos apercebemos das multi-origens de um fato: na
doena, fatores biolgicos, psicolgicos e/ou sociolgicos, pelos quais nos
responsabilizamos. No caso da criana/jovem enferma, a culpa tem uma seta de duas
pontas: os pais e ela prpria. O compartilhar atravs do toque, da palavra e do olhar
(envelopamento), traz o sentimento de compreenso e ajuda na superao do sofrimento e
no caminho para o encontro da transformao e auto-mudanas de atitudes e projetos.
"Mariana (7a Leucemia) est no leito sem se mover ou falar devido uma reao ao
quimioterpico. Sua boca est cheia de feridas o que a impede de falar, sua me de vez em
quando, coloca uma gaze mida em seus lbios, pois ela prpria no consegue molh-los, seu
cabelo est cada vez mais ralo e seu corpo est coberto de hematomas. Ela est deitada meio
sonolenta e choramingando de dor. Como era seu aniversrio, levamos um bolo de massinha,
copos e garrafinhas de brinquedo, bolas de gs e alguns presentes para comemorar. Mariana
pareceu gostar. Ela colocou sua mo na minha e seus olhos pareciam mais atentos, observando
o bolo, os presentes, etc. Percebi seu polegar levantado e perguntei se ela estava conversando
conosco, novamente o polegar se fez notar e, a partir da, nossa comunicao se incrementou
com ela pedindo para que abrssemos seus presentes e, brincando de comer o bolo e
refrigerante." 3
3) A Morte
A presena da morte em processo e evidncia em si mesmo e no outro faz do
Hospital um lugar constatador da transitoriedade da vida, mas tambm lugar concreto da
valorizao da vida, dos feitos e das possibilidades. Da construo de sonhos. O
investimento na fantasia, atravs de histrias espontneas, da imaginao, sublinha os
valores morais, tipicamente humanos, que trazem de novo o sentido da vida, com o
incentivo aes responsveis, sobre si mesmo e o outro.
Para este efeito, cumpre como em qualquer prtica, estabelecer competncias que
dem conta de explicitar as aes e intervenes deste profissional que se diz agente
profiltico brincante; procura de uma identidade que o distinga de outros agentes
nesse mesmo espao.
O ofcio de brincar foi, por muito tempo, assimilado lembrana de
crianas/adolescentes sadios. Como despertar a infncia no adulto prematuro que a
doena fez surgir?
A prpria idia de estar em um hospital disponvel para brincar desperta ainda
pouco interesse para aqueles que pensam que este lugar foi feito para curar ou lamentar e
que todas as situaes devem servir para esses intentos.
Os grupos que se formam, atrados pelo brincar nos hospitais, precisam de
referenciais para avaliar os seus fazeres e afazeres. Neste sentido as competncias surgem
como vias de acesso, fio condutor para uma ao coerente e que nos faz distinguir de
outros profissionais (e no-profissionais) voluntrios, por ter uma unidade, embora no
pretenda dar conta de todas as competncias possveis no ato de permitir o toque, o olhar,
o brincar, contextualizando e favorecendo a transformao da tonicidade do sujeito .
Utiliza-se o referencial de competncias adotado por Philippe Perrenoud em
relao ao ofcio do professor e as novas tendncias polticas e filosficas em sade e
educao. Acentua-se aquelas hoje julgadas prioritrias para o papel do agente profiltico
brincante com a sua formao contnua e interao com a equipe de sade, de forma
transdisciplinar.
A cada competncia principal associam-se competncias mais especficas, que
poderiam, cada uma delas, ser desmembrada em outras tantas, visto que possvel propor
outros reagrupamentos. desejvel a ampliao das competncias e at mesmo a criao
de outras, pois isso significa reflexo, trabalho de conscincia sobre si mesmo e
construo de novos caminhos, o que remete formao contnua deste agente
psicomotor. a forma de estar preparado para a prestao de contas junto a ao
profissional, que ali vivenciada.
Por ltimo, para que as competncias cumpram realmente sua funo necessrio
compartilhar seus referenciais com outros profissionais, auxiliando assim a uma viso
clara da filosofia psicomotora no contexto hospitalar e a construo de uma identidade
coletiva, atravs de aes coerentes e interligadas.
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Referncias Bibliogrficas: