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ARQUITECTURA

SUSTENTVEL
EM ANGOLA
{ MANUAL DE BOAS PRTICAS }
ARQUITECTURA
SUSTENTVEL
EM ANGOLA
{ MANUAL DE BOAS PRTICAS }
Editor
CPLP Comunidade dos Pases de Lngua Portuguesa
www.cplp.org

Coordenao
Prof. Arq. Manuel Correia Guedes
[email protected]

Equipa Tcnica
Prof. Arq. Benga Pedro, Departamento de Arquitectura da Universidade Agostinho Neto
Prof. Arq. Isabel Nunes da Silva, Departamento de Arquitectura da Universidade Agostinho Neto
Prof. Arq. Manuel Correia Guedes, Instituto Superior Tcnico
Prof. Dr. Leo Lopes, Escola Internacional de Artes do Mindelo
Prof. Eng. Klas Ernald Borges, Universidade de Lund
Prof. Arq. Gustavo Canturia, Universidade de Cambridge
Prof. Eng. Manuel Duarte Pinheiro, Instituto Superior Tcnico
Arq. Joana Aleixo, Instituto Superior Tcnico
Arq. Mariana Pereira, Escola Internacional de Artes do Mindelo
Arq. ngelo Lopes, Escola Internacional de Artes do Mindelo
Eng. Carla Gomes, Universidade de Aveiro
Arq. Lus Calixto, Instituto Superior Tcnico

Design Grfico
Jos Brando Susana Brito
Alexandra Viola { Paginao }
[Atelier B2]

Primpresso e tratamento de imagens


Joana Ramalho Gabriel Godoi
[Atelier B2]

Impresso
idg Imagem Digital Grfica
www.idg.pt

isbn
978-989-97178-3-1

N de exemplares
750

Depsito Legal
322 689/11
ARQUITECTURA
SUSTENTVEL
EM ANGOLA
{ MANUAL DE BOAS PRTICAS }
5

{ Prefcio }

O presente manual tem como principal objectivo su- de Arquitectura da Universidade Agostinho Neto
gerir medidas bsicas para a prtica de uma arquitec- (Angola), a Escola Internacional de Artes do Min-
tura sustentvel. Destinase a estudantes e profis- delo (MEIA, em Cabo Verde), o Ministrio das
sionais de arquitectura e engenharia civil, sendo Infraestruturas e Transportes da Repblica da
tambm acessvel ao pblico com alguma prepara- GuinBissau, e a Faculdade de Arquitectura da
o tcnica na rea da construo. Tendo em conta Universidade Eduardo Mondlane (Moambique).
o clima, os recursos naturais e o contexto socioeco- Ao longo do projecto SUREAfrica, que decorreu
nmico, so traadas, de forma simplificada, estrat- entre 2007 e 2009, foram realizados diversos semi-
gias de boas prticas de projecto. nrios, workshops e conferncias, foi criada uma
Foi elaborado no mbito do projecto europeu rede de conhecimento entre as instituies envol-
SUREAfrica (Sustainable Urban Renewal: Energy vidas, no domnio da arquitectura e planeamento
Efficient Buildings for Africa), implementado para urbano sustentvel, e foi produzido material de
aprofundar e disseminar o conhecimento existen- apoio ao ensino, assim como manuais de boas pr-
te em quatro pases africanos de lngua oficial ticas. Os manuais so publicaes pioneiras, po-
portuguesa, na rea da arquitectura sustentvel dendo servir de referncia no s para os pases de
em particular no que se refere ao projecto bio- lngua portuguesa, mas tambm para outros pases
climtico e eficincia energtica em edifcios, africanos, e constituem um ponto de partida para
contribuindo para a melhoria das condies de futuros trabalhos, to necessrios nesta rea.
habitabilidade do espao construdo. Participa- Deve ser salientado o contributo da Arq. Joana
ram no projecto trs instituies acadmicas eu- Aleixo para a elaborao deste manual, enqua-
ropeias o Instituto Superior Tcnico (coordena- drado na sua investigao para Doutoramento,
dor do projecto), a Universidade de Cambridge sobre Arquitectura Sustentvel em Angola.
(Reino Unido) e a Universidade de Lund (Sucia) Prof. Manuel Correia Guedes
e quatro instituies africanas: o Departamento Coordenador do projecto SUREAfrica.
7

{ Agradecimentos }

> Ao Doutor Lus Alves, do Instituto de Engenharia Mecnica (IDMECIST),


pelo constante e precioso apoio dado ao longo de todo o processo de elabo-
rao deste manual.

> Aos colegas da Universidade de Cambridge: Doutores Koen Steemers,


Torwong Chenvidyakarn, Judith Britnell e, muito em particular, ao Doutor
Nick Baker, que esteve na gnese do projecto SUREAfrica, e que foi um ele-
mento chave para a sua realizao.

> Arq. Ana Mestre, do DECA, aos Engos. Ulisses Fernandes e Anildo Costa,
e Rita Maia e Maria do Cu Miranda, do IDMEC-IST.

> Comunidade dos Pases de Lngua Portuguesa (CPLP), que apoiou e finan-
ciou esta publicao.

> Fundao para a Cincia e Tecnologia (FCT), que contribuiu com finan-
ciamento para a execuo do design grfico do manual.

> Ao programa COOPENER da Unio Europeia, principal financiador do projecto


SUREAfrica, e s instituies que contriburam com cofinanciamento: a CPLP,
a Fundao Calouste Gulbenkian, a FCT e a Direco Geral de Energia.

> Ao Instituto Portugus de Apoio ao Desenvolvimento (IPAD), pelo apoio logs-


tico concedido durante a estadia em Luanda.
NDICE

Prefcio 5

Agradecimentos 7

Introduo 11

1. Enquadramento 12

1.1 Informao geral 13

1.2 Espao construdo: situao actual 14

1.2.1 Construo consolidada em espao urbano 14

1.2.2 Construo no consolidada em espao urbano 18

1.2.3 Construo tradicional 19

2. Arquitectura sustentvel 22

3. Projecto bioclimtico: princpios gerais 26

3.1 Contexto climtico 28

3.2 Localizao, forma e orientao 30

3.3 Sombreamento 36

3.4 Revestimento reflexivo da envolvente 42

3.5 Isolamento 43

3.6 reas de envidraado e tipos de vidro 46

3.7 Ventilao natural 49

3.8 Inrcia trmica 59

3.9 Arrefecimento evaporativo 62


3.10 Controle de ganhos internos 63

3.11 O uso de controles ambientais 64

3.12 Estratgias passivas e critrios de conforto 65

4. gua 70

4.1 Mtodos de captao 72

4.2 Mtodos de potabilizao 74

4.3 Abastecimento 75

4.4 Instalao 75
5. Energia 76

5.1 Poupana de energia 77

5.2 Sistemas activos de energia renovvel 77

5.2.1 Energia solar trmica 77

5.2.2 Energia elica 79

5.2.3 Energia fotovoltaica 80

5.2.4 Biogs ou gs metano 81

6. Saneamento 82

6.1 Latrina seca 83

6.2 Fossa sptica 85

7. Casos de estudo 88

7.1 Arquitectura de Terra: dois projectos da UAN 89

7.1.1 Habitao de alta renda 91

7.1.2 Hospital de 2 Nvel 94

7.2 Projecto Cacuaco Esperana 99

Bibliografia 106

Anexos
A1 Desempenho bioclimtico: programas de anlise 112

A1.1 Contexto climtico 113

A1.2 Modelo de habitao unifamiliar 121

A2 O sistema LderA 126

A3 Vegetao e conforto microclimtico 144

A4 A gesto urbana e o licenciamento: reviso bibliogrfica 152

A5 Desenvolvimento limpo nos PALOP 168

Autorias 173
11

{ Introduo }

No mbito das reflexes feitas a nvel internacio- A Regulamentao relativa ao Ensino, de uma
nal, importa evidenciar a contribuio dos recen- maneira geral, deve privilegiar a formao profis-
tes debates sobre Habitat que levaram a uma revi- sional, a promoo social dos cidados e a reali-
so profunda da filosofia das intervenes nas zao das intervenes em matria de investiga-
reas urbanas dos Pases em via de desenvolvi- o cientfica e de transferncia de tecnologia.
mento. Esta nova forma de projectar consiste em A individualizao e contextualizao das tcni-
reformular os programas e iniciativas, tendo em cas construtivas interventivas nas reas urbanas
conta a dimenso da instruo e formao, a rela- caracterizada pela degradao e falta de qualifica-
o investigao cientfica e produo e o reforo o, tanto a nvel de arquitectura como ambiental, e
das capacidades locais. Num contexto como este, constitui o principal objectivo da nossa abordagem.
colocase a necessidade de qualificar a actividade O presente manual inserese no mbito do Pro-
no sector da formao, da avaliao dos recursos jecto SURE AFRICA Reabilitao Urbana Sustent-
humanos e dos materiais disponveis, respeitando vel, o qual visa aprofundar o conhecimento e sua
plenamente as culturas e tradies locais. aplicao na prtica, com nfase na rea vital da efi-
A reconstruo nas reas dos assentamentos cincia energtica nos edifcios, contribuindo para a
humanos ter neste sentido como alicerce a va- melhoria das condies de vida, pelo aumento das
lorizao e a investigao dos materiais locais e condies de habitabilidade e conforto ambiental do
tcnicas construtivas tradicionais, promoo de espao construdo. O Manual tem como principal ob-
aces de carcter pedaggico, tendentes a or- jectivo apoiar a prtica da construo sustentvel,
ganizar e enquadrar as iniciativas populares e as- destinandose no s aos profissionais na rea, como
segurar o acompanhamento tcnico das suas in- tambm a toda a populao interessada.
tervenes. Constitui esta atitude um quadro
es-tratgico e aposta vlida para as instituies Prof. Benga Pedro
governamentais, na medida em que traz muitos Ph.D. em Tecnologia da Arquitectura
benefcios em termos de melhoria de qualida- Director do Curso de Arquitectura
de da vida da populao desta regio do mundo. Universidade Agostinho Neto
ARQUITECTURA SUSTENTVEL EM ANGOLA 12

Enquadramento
{ captulo 1 }
13

ENQUADRAMENTO
Clima: Subtropical, quente e hmido na maior
1.1 Informao geral parte do territrio; semirido e subhmido seco
no Sul e faixa litoral at Provncia de Luanda
Localizao: costa Sudoeste do continente africano, (cf. 3.2 e anexo A1).
delimitada a Norte e a Nordeste pela Repblica De- Sociedade: enfrenta ainda vrios problemas ao
mocrtica do Congo, a Leste pela Zmbia e a Sul pela nvel da Sade e Educao, com sistemas de-
Nambia. A Oeste banhada pelo Oceano Atlntico. fecitirios, apesar do desenvolvimento actual
Superfcie: 1.246.700 Km apontar para uma forte melhoria, especialmente
Populao: 12.531.357 habitantes (em 2008). nos centros urbanos. A lngua oficial o Portu-
Territrio: composto por 18 provncias: Bengo, gus e existem mais de 42 lnguas, consideradas
Benguela, Bi, Cabinda, Cunene, Huambo, Hula, lnguas nacionais, sendo as mais faladas o Um-
Kuando Kubango, Kwanza Norte, Kwanza Sul, Lu- bundo, o Quimbundo (ou Kimbundu) e o Quicon-
anda, Lunda Norte, Lunda Sul, Malanje, Moxico, go (ou Kicongo).
Namibe, Uge e Zaire. As provncias dividemse em Economia:
Municpios (com um total de 163), que por sua } Estrutura do Emprego: Sector Primrio 68,5%;
vez se subdividem em Comunas. Secundrio 4,5%; Tercirio 26,8%.
Relevo: 60% do territrio so planaltos de 1.000m a } Principais Exportaes: Petrleo, diamantes, mine-
2.000m de altura, com uma densa e extensa rede hi- rais vrios, madeiras, peixe, caf, algodo e sisal
drogrfica, em que os principais rios so o Zaire, Cune- } Principais Importaes: Produtos alimentares,
ne, Kwanza, Kubango e Queve. Os pontos mais altos do bebidas, produtos vegetais, equipamentos elctri-
territrio so constitudos pelo Morro Moco (2.620m) cos e viaturas.
e o Morro Meco (2.538m). Consegue reunir no seu ter- } Principais ndices Econmicos: PIB $80.95 bi-
ritrio habitats que vo desde a floresta tropical, flo- lhes (estatsticas de 2007).
resta aberta, savana, e zona desrtica no Sul.
14
ARQUITECTURA SUSTENTVEL EM ANGOLA

{ FIG. 1.1 } Provncias de Angola


1.2 Espao construdo:
situao actual

Antes de se entrar na temtica sobre construo sus-


tentvel, propriamente dita, fundamental compre- 1.2.1 Construo consolidada em espao urbano
ender o estado da construo em Angola. Para tal,
expese de seguida um pequeno resumo sobre as Dentro deste grupo incluise todo o edificado
caractersticas gerais dos tipos de construo exis- existente com carcter no provisrio e que carac-
tente e praticada actualmente quer em espao urba- teriza o conjunto urbano resultante. Engloba, por-
no quer em espao rural. Para tal, optouse por divi- tanto edificado consolidado de vrios perodos de
dir as tipologias de construo em: construo at actualidade.
{ 1 } Construo consolidada em espao urbano; O estado de conservao do edificado varia de
{ 2 } Construo no consolidada em espao urbano; regio para regio, consoante os nveis de confli-
{ 3 } Construo tradicional. tos armados que a ocorreram, o seu desenvolvi-
15

ENQUADRAMENTO
{ FIG. 1.2 } Vista da baa de Luanda: patente a intensa actividade de construo de novas edificaes.

mento econmico, poltico e administrativo, e a sido notvel. Os principais centros urbanos expan-
existncia de polticas adequadas ao nvel do pla- dem e alteramse de dia para dia, constituindo ac-
neamento urbano e da salvaguarda e recuperao tores intervenientes nessa transformao no s
do patrimnio edificado. entidades nacionais (pblicas e privadas), mas
Nas maiores cidades, como Luanda, Huambo, tambm uma srie de intervenientes externos, en-
Benguela, Namibe ou Lubango, ainda notria a volvidos nas relaes de cooperao internacio-
necessidade de reabilitao de edifcios em pior nal. Os mtodos construtivos seguem as disponi-
estado de conservao. Ao nvel da habitao par- bilidades do mercado, sendo os projectos bastante
ticular ou unifamiliar, os edifcios vo sendo man- variados quanto sua concepo.
tidos, sofrendo por vezes algumas alteraes, por Este boom construtivo verificase principal-
exemplo nos seus revestimentos, que nem sempre mente ao nvel das infraestruturas bsicas de apoio
so as mais adequadas. No entanto, nos ltimos (virias, de saneamento e de abastecimento de
anos, tm sido feitos esforos muito significativos gua potvel, gs e energia), da construo de edi-
para que seja concretizada a recuperao da maio- fcios de escritrios (grandes superfcies, geralmen-
ria dos edifcios. te distribudas em altura), de edifcios de habita-
Actualmente, o desenvolvimento do sector da o colectiva, e de grandes bairros residenciais
construo, tal como nos restantes sectores, tem (geralmente na periferia dos centros urbanos).
16

{ FIG. 1.3 } Exemplos de edifcios a necessitar de reabilitao, em Luanda.

Verificase ainda a reabilitao de edifcios pblicos Regra geral, os edifcios de habitao comparti-
e alguns edifcios de escritrios existentes nos cen- cipados pelo Estado so construdos em tijolo, com
tros urbanos. H contudo ainda carncias fora dos estrutura armada (pilares e fundaes) em ferro e
grandes centros urbanos, particularmente em termos beto, e cobertura em madeira revestida a chapa
de edificao para a populao mais carenciada, metlica. So construes simples, apresentando
apesar do grande esforo que tem sido feito neste uma tipologia de habitao unifamiliar isolada, de
sentido com a implementao de diversos projectos 1 piso, variando entre os 2 e 3 quartos. As tcnicas
para Habitao Comparticipada pelo Estado. de construo utilizadas na execu destes peque-

{ FIG. 1.4 } Nova construo: reabilitao das infraestruturas virias e edifcios de servios, Luanda.
17

ENQUADRAMENTO
{ FIG. 1.5 } Nova construo e reabilitao de edifcios de habitao, Luanda.

{ FIG. 1.6 } Nova construo de condomnios de habitao,


nos arredores da capital.

nos conjuntos habitacionais apresentam aspectos


positivos, tanto no que diz respeito aos materiais
empregues, como ao prprio modo como se erguem
as construes, demonstrando preocupaes espe-
ciais que contribuem para a melhoria da qualidade
das mesmas.
18
ARQUITECTURA SUSTENTVEL EM ANGOLA

1.2.2 Construo no consolidada em espao urbano

As construes onde vive grande parte da popula-


o, em particular em reas suburbanas, so ainda
muito precrias, com baixos nveis de habitabili-
dade, reflectindo a pobreza dos seus ocupantes.
So edificaes que respondem a uma necessidade
urgente por parte da populao, sem qualquer ca-
rcter de permanncia ou durabilidade e com gran-
des carncias em termos de infraestruturas de
apoio bsicas mas que vo permanecendo im-
plantadas, formando focos de insegurana social,
insalubridade e doenas.
A construo da habitao normalmente exe-
cutada pelo prprio (autoconstruo), sem qual-
quer projecto, baseandose apenas no resultado
da prtica e experincia que este conhece. Os ma-
teriais mais utilizados so o tijolo, (de adobe, ci-
mento ou cermico), pedra, ou ainda materiais di-
versos como pequenas pedras ou outros materiais
aproveitados, por exemplo para aplicao nos re-
vestimentos de parede e pavimentos. Para as co-
berturas, so utilizadas geralmente chapas metli-
cas, simplesmente colocadas sobre as paredes. Por
vezes os vos no tm portas ou janelas, e as di-
vises so mnimas em quantidade e dimenso.
Tornamse urgentes aces de apoio a este tipo
de construo, quer seja atravs de orientao por
tcnicos responsveis dada autoconstruo exe-
cutada pelos moradores, por implementao de gran-
{ FIG. 1.7 } Construo de edifcios de habitao
comparticipados pelo estado. des projectos de reabilitao urbana, ou outros.
necessrio um entendimento de que possvel
19

{ FIG. 1.8 } Construo no consolidada em espao urbano: a edificao normalmente executada pelo prprio, utilizando recursos
locais (autoconstruo).

construir igualmente com materiais baratos, espe- tersticas diferentes. Jos Redinha, no seu livro
cialmente os do origem local, mas atribuindo condi- A habitao tradicional Angolana aspectos da sua
es suficientes de habitabilidade e higiene ao edi- evoluo, descreve os diversos tipos tradicionais
fcio. Basta por vezes uma correcta aplicao dos de habitao, de acordo coma sua distribuio
materiais disponveis, e o cumprimento de estrat- geogrfica, etnogrfica e aspectos construtivos
gias construtivas e arquitectnicas adequadas ao materiais, estrutura e mtodos de construo.
contexto, sendo as principais referidas mais Actualmente, as construes tradicionais esto
adiante. maioritariamente presentes no espao rural.
Considerase, que apesar da falta ainda generali-
1.2.3 Construo tradicional zada de infraestruturas bsicas saneamento,
abastecimento de gua potvel e energia elctri-
Angola caracterizase por uma grande heterogenei- ca, estas edificaes incorporam tecnologias cons-
dade etnogrfica, em que cada grupo ou subgrupo trutivas que so o produto do conhecimento em-
tnico possui caractersticas socioculturais particu- prico de muitas geraes, que ao longo de sculos
lares e diferentes entre si. No entanto, no que con- desenvolveram estratgias de adaptao ao meio
cerne s caractersticas construtivas e materiais ambiente, utilizando recursos locais so assim
aplicados, as diferenas so poucas, uma vez que uma importante referncia para a prtica actual
os materiais mais utilizados paus, canios, col- de uma construo sustentvel.
mo, madeiras, adobe e pedra, se encontram facil- A aplicao de materiais locais torna a cons-
mente por todo o pas, apesar de possurem carac- truo mais barata, pois geralmente estes so
20
ARQUITECTURA SUSTENTVEL EM ANGOLA

{ FIG. 1.9 } A implementao de solues para as zonas de habitao precria e insalubre uma prioridade,

transformados e aplicados pelo prprio dono da Nos espaos suburbanos algumas construes
habitao, e tambm mais rpida, pois so mate- seguem as tipologias tradicionais, principalmente
riais de fcil acesso e cujo tempo de espera para no que diz respeito forma, mas so modificados
aplicao geralmente reduzido. O estado de con- alguns materiais aplicados, sendo por vezes esta
servao depende da durao dos materiais. A ma- alterao suficiente para um decrscimo no de-
deira e o colmo, aplicados sem tratamento, e rea- sempenho de conforto interior. Por exemplo, a
gindo por vezes a chuvas fortes, no tm um utilizao de chapas metlicas na cobertura nem
tempo de durao efectivo muito grande, sendo sempre mostra ser uma boa estratgia, uma vez
necessria a sua substituio peridica, que fei- que ao ser aplicada sem qualquer isolamento adi-
ta com alguma facilidade. cional ir gerar situaes de sobreaquecimento.
21

ENQUADRAMENTO
{ FIG. 1.10 } Exemplo de habitao vernacular em Angola.
22
ARQUITECTURA SUSTENTVEL EM ANGOLA

{ captulo 2 }
Arquitectura Sustentvel
23

ARQUITECTURA SUSTENTVEL
H muitas definies para Arquitectura Sustent- das vias e a orientao das edificaes deveriam re-
vel, mas a essncia da sustentabilidade est in- ger o projecto desde o seu incio.
trinsecamente ligada essncia da Arquitectura. Encontramos tambm prticas de sustentabili-
Um bom edifcio naturalmente sustentvel. dade na arquitectura vernacular, no erudita, de
Os edifcios designados para a sustentabilida muitas comunidades. Esta incorpora tecnologias
de so construdos e operados para minimizar to construtivas que so o produto do conhecimento
dos os impactos negativos nos ocupantes (em ter emprico de muitas geraes, que ao longo de s-
mos de sade, conforto e produtividade), e no culos desenvolveram estratgias de adaptao ao
ambiente (uso de energia, recursos naturais e po meio ambiente, utilizando recursos locais.
luio). Plainotis (2006). As problemticas da sustentabilidade e das
Podemos afirmar que Vitrvio no sculo I a.C. j alteraes climticas so frequentemente con-
defendia um projecto de Arquitectura Sustentvel. sideradas como questes pertencentes aos pa-
O sistema firmitas, vetustas, utilitas (solidez, beleza ses ricos. O continente africano, apesar de pou-
e utilidade) deveria incluir uma observao da Na- co industrializado e pouco consumista, encon-
tureza e um consequente aproveitamento dos re- trase numa posio mais vulnervel do que os
cursos naturais, com a utilizao da iluminao so- pases desenvolvidos e fortemente industriali-
lar e da ventilao natural. Factores determinantes zados. O hiperconsumismo no deve ser um
para a funcionalidade ambiental, como a escolha modelo a seguir pelos pases em desenvolvimen-
do local para implantao das cidades, a disposio to que por vezes erradamente prescrevem as ten-
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ARQUITECTURA SUSTENTVEL EM ANGOLA

dncias ocidentais. H uma necessidade latente Uma medida indispensvel a autosuficincia.


de no seguir os maus exemplos do mundo in- Os altos custos de importao podero ser a motiva-
dustrializado e preservar uma qualidade, que o para produzir e conduzir naturalmente a solu-
podemos considerar como intrnseca falta de es mais viveis em termos ecolgicos e de respeito
riqueza financeira, que a capacidade de reci- ambiental no envolvendo o uso de recursos locais.
clar e aproveitar os recursos existentes. Tem de haver uma sensibilizao da populao neste
Os pases mais ricos tm explorado os recursos sentido. O que pode e deve vir do exterior so as no-
naturais dos mais pobres, e alguns dos (poucos) vas tcnicas e concepes de construo, que permi-
ricos dos pases mais pobres colaboram com este tem uma utilizao mais racional da matriaprima.
sistema, permitindo a exportao de recursos na- Apesar de medidas pontuais do sector da cons-
turais a custos irrisrios. O debate contra a fome, truo fazerem alguma diferena, este s poder
a pobreza e as doenas endmicas ocupa um lugar ser verdadeiramente fomentado atravs de um
cimeiro em frica. novo modelo de crescimento econmico, que te-
essencial pensar em estratgias de planea- nha por base um desenvolvimento ecologicamente
mento ecolgico e desenvolvimento sustentvel, sustentado. Devero ser incrementadas medidas
de forma holstica e integrada, evitando solues para a promoo de materiais de baixo custo, com
de curto prazo e alcance. A sustentabilidade ener- desenvolvimento de tipologias e tecnologias de
gtica e o uso responsvel dos recursos locais de- construo locais, que se revelem determinantes e
vem ser partes integrantes do desenvolvimento eficientes. O cooperativismo e associativismo de-
sustentvel do ecossistema. vero ser fomentados para haver uma rede de soli-
Actualmente, a problemtica da construo dariedade e cooperao entre os cidados e entre
sustentvel, adaptada o contexto climtico, socio a ecotecnosfera e a biosfera.
econmico e cultural em que se insere, no se O processo participativo e a autoconstruo de-
encontra devidamente estudada ou explorada no vero ser integrados nesta teia sinergtica de solida-
continente africano. Existe contudo um vasto cor- riedade e unio colectiva, com o objectivo de supe-
po de conhecimentos e ferramentas de anlise que rao dos problemas de escassez de recursos
permitem identificar as principais estratgias a financeiros. O arquitecto, na sua prtica profissional,
utilizar no projecto de edifcios em frica, solu- para alm da utilizao de materiais locais e da in-
es eficazes e econmicas para um bom desem- troduo de sistemas de energias renovveis, deve
penho do conforto interior de um edifcio. O pre- prever no projecto os espaos de construo priori-
sente manual pretende ser um contributo para o tria e contemplar o edifcio como um organismo
conhecimento nesta rea de estudos. que pode crescer, num processo espacial evolutivo
25

ARQUITECTURA SUSTENTVEL
que acompanha o crescimento das famlias. O abrigo calculase que cem milhes no tm casa. O ob-
evolutivo que comporta espaos com potencial de jectivo deste Manual sugerir medidas bsicas
expanso, para a famlia em crescimento, um ele- para uma casa confortvel, que respeite a natu-
mento cultural em frica. Paralelamente, a definio reza, e com custos reduzidos de construo e de
dos espaos de construo prioritria fundamental manuteno. Tendo em conta o clima, os recur-
para a gesto dos recursos financeiros. sos naturais e o contexto socioeconmico, so
Mais de mil milhes de pessoas nos pases traadas estratgias de boas prticas para o
em desenvolvimento no tm abrigo adequado e projecto arquitectnico.

{ FIG. 2.1 } Construo precria num musseque de Luanda a melhoria das condies de habitabilidade uma necessidade prioritria.
26
ARQUITECTURA SUSTENTVEL EM ANGOLA

{ captulo 3 }
Projecto Bioclimtico:
Princpios Gerais
27

PROJECTO BIOCLIMTICO: PRINCPIOS GERAIS


No contexto climtico angolano possvel atin- As medidas passivas so as que mais contri-
gir um equilbrio entre o edifcio e o clima atra- buem para reduzir os gastos energticos do edif-
vs da aplicao de uma srie de estratgias de cio ao longo da sua existncia. Dois exemplos de
projecto referidas como bioclimticas ou de estratgias passivas so a optimizao do uso da
design passivo. iluminao natural para reduzir o recurso a siste-
As estratgias de design passivo tm como ob- mas de iluminao artificial, ou a promoo de
jectivo proporcionar ambientes confortveis no ventilao natural, para evitar o uso de aparelhos
interior dos edifcios e simultaneamente reduzir o de ar condicionado para arrefecimento.
seu consumo energtico. Estas tcnicas permitem Em Angola existem bons exemplos de arquitectu-
que os edifcios se adaptem ao meio ambiente en- ra adequada ao meio ambiente em que se insere.
volvente, atravs do projecto de arquitectura e da Contudo, hoje em dia a prtica de uma arquitectura
utilizao inteligente dos materiais e elementos passiva ou bioclimtica, com preocupaes ambien-
construtivos, evitando o recurso a sistemas mec- tais e energticas, necessita ainda de implementa-
nicos consumidores de energia fssil. o. Embora as publicaes existentes refiram exten-
O uso de energia fssil, no renovvel, , como samente os potenciais benefcios desta arquitectura,
se sabe, o principal responsvel pelo grave proble- o seu uso ainda muitas vezes mal compreendido,
ma do aquecimento global, resultante da emisso sendo erradamente considerado um risco, ineficien-
de gases de efeito de estufa para a atmosfera. Nos te, demasiado complicado ou caro. Por exemplo, em
edifcios, o uso de electricidade proveniente de muitas novas construes as preocupaes de clima-
energia fssil, contribui em larga medida para a tizao so deixadas para engenheiros, que tendem
intensificao deste problema. a adoptar o uso seguro do ar condicionado. Apesar
28
ARQUITECTURA SUSTENTVEL EM ANGOLA

{ FIG. 3.1 } Edificao em complexo turstico recente, com algumas tipologias construtivas inspiradas na arquitectura vernacular.

de existirem j muitos exemplos que comprovam nais foram simplesmente reforadas com o conhe-
a eficcia, melhores nveis de conforto, e vanta- cimento tecnolgico hoje disponvel, e optimizadas
gens econmicas do uso das tcnicas passivas para que pudessem ser incorporados com sucesso
ainda h uma grande necessidade de difuso des- na concepo e operao dos edifcios.
te conhecimento e do aumento do nmero de Neste captulo feita primeiramente uma des-
edifcios passivos, bioclimticos, em termos de crio sumria do contexto climtico de Angola,
nova construo e reabilitao. ponto de partida para a prtica de uma arquitec-
Sendo um clima quente, tambm dada neste tura bioclimtica, de design passivo. Seguidamen-
manual particular ateno questo da refrigera- te so apresentadas as principais estratgias de
o dos edifcios, fundamental para obteno de projecto bioclimtico.
ambientes confortveis. O arrefecimento dos edi-
fcios deve, e pode, ser conseguido atravs de
meios naturais, evitando o recurso a sistemas de 3.1 Contexto climtico
climatizao energvoros. O objectivo das tcnicas
de arrefecimento passivo evitar a acumulao de Em Angola, o clima classificado como subtropical,
ganhos de calor e fornecer refrigerao natural, quente e hmido, na maior parte do territrio, e
evitando o sobreaquecimento. Os princpios de semirido e subhmido seco no Sul e faixa litoral
tcnicas de arrefecimento passivo foram usados at Provncia de Luanda. A { FIGURA 3.2 } apresen-
com sucesso durante sculos, antes do apareci- ta a diviso a diviso por zonas de aridez (diviso
mento do ar condicionado. Estas tcnicas tradicio- climtica) para frica.
29

PROJECTO BIOCLIMTICO: PRINCPIOS GERAIS


{ FIG. 3.2 } Distribuio por Zonas de Aridez (segundo
a World Meteorological Organization WMO).

{ FIG. 3.3 } Em cima: grfico com o perfil anual de valores


mdios de temperatura para Luanda. Em baixo: valores
de temperatura do ar (azul), humidade relativa (tracejado
verde), velocidade do vento (tracejado azul claro),
radiao solar directa (amarelo) e difusa (tracejado),
para um dia quente (21 de Fevereiro), e para um dia frio
(15 de Julho), em Luanda. Valores estimados,
obtidos atravs do software METEONORM.

Para o projecto de arquitectura devem ser previa-


O grfico apresentado na { FIGURA 3.3 } mostra mente analisadas algumas questes que esto asso-
um exemplo tpico de perfil anual de valores m- ciadas ao clima, como: a orientao da casa; os tipos
dios de temperatura e humidade para Luanda. Ou- de materiais a serem utilizados; as necessidades de
tros dados climticos de referncia para o projecto proteco solar nas diferentes zonas, etc.. Estes prin-
urbano e arquitectnico, correspondentes s Pro- cpios so seguidamente apresentados, comeando
vncias de Luanda, Uge, Huambo e Cunene, so pelos primeiros passos a considerar no projecto a lo-
apresentados no anexo 1. calizao, forma e orientao das edificaes.
30
ARQUITECTURA SUSTENTVEL EM ANGOLA

conforto na habitao. Nas regies montanhosas,


3.2 Localizao, as habitaes devem ser implantadas nas zonas
forma e orientao
mais baixas da montanha e acima do leito das ri-
beiras, onde circula mais o ar. Deve privilegiarse o
A seleco do lugar, a forma e a orientao do edi- lado da encosta que beneficia de mais horas de
fcio so as primeiras opes a considerar para a sombra. No litoral, as fachadas voltadas para o mar
optimizao da exposio ao trajecto solar e aos devem ser protegidas por alpendres de dimenses
ventos dominantes. Num clima quente como o de generosas, para diminuir o impacto do reflexo do
Angola, essencial que a implantao das casas te- sol sobre o mar no interior das habitaes. Os ar-
nha em considerao o regime de ventos, para uma ranjos exteriores so essenciais para proteger o in-
ventilao eficiente, e consequente melhoria do terior dos ganhos solares excessivos.

Sol Chuva

{ FIG. 3.4 } Localizao de um aglomerado numa encosta. { FIG. 3.5 } necessrio evitar a implantao das habitaes em
No primeiro esquema, as habitaes ficam demasiado expostas linhas de gua, ribeiras secas, zonas predispostas a inundaes
ao sol nas horas de maior incidncia. O segundo esquema mostra e encostas sujeitas a enxurradas. Devemse escolher zonas seguras
uma localizao mais favorvel. Nas horas de maior incidncia e protegidas de inundaes. Nas alturas de chuvas torrenciais,
do sol, as casas beneficiam da sombra da encosta. a gua conhece o seu antigo caminho. As obras de correco pluvial
ficam sempre mais caras e normalmente s se executam quando
as chuvas j causaram muitos prejuzos. O segundo esquema
apresenta a localizao conveniente de um aglomerado.

{ No }
31

PROJECTO BIOCLIMTICO: PRINCPIOS GERAIS


Vento

{ FIG. 3.6 } Orientao correcta, considerando o regime dos ventos. { FIG. 3.7 } Num aglomerado situado numa encosta devemos estudar
os ventos dominantes, para que a localizao favorea
o arejamento das casas.

{ FIG. 3.8 } Neste esquema, os raios de sol (1) incidem na fachada { FIG. 3.9 } A configurao da fachada do edifcio alto e da
do edifcio que os reflecte para o pavimento e depois para o cobertura do edifcio baixo foram alterados para melhorar o
interior do edifcio. Os raios (2) atingem o pavimento e reflectem ambiente externo nessa zona. A rvore amortece o efeito dos raios
na zona de circulao de pessoas. Os raios (3) caem sobre a solares e favorece a circulao do ar. O efeito do vento na zona,
cobertura plana do edifcio mais baixo reflectindose na fachada ajudado pela cobertura inclinada do edifcio baixo e pelas varandas
do edifcio mais alto. O vento resvala por cima da cobertura plana do edifcio alto, tornase mais diversificado, podendo assim
e como no encontra nenhuma reentrncia na fachada da frente penetrar nas habitaes.
passa por cima do edifcio. O ambiente fica excessivamente quente
em redor e dentro dos edifcios.
32
ARQUITECTURA SUSTENTVEL EM ANGOLA

Em termos de forma do edifcio, a configurao


e o arranjo dos espaos internos, de acordo com a
funo, influenciam a exposio radiao solar
incidente, bem como a disponibilidade de ilumina-
o e ventilao natural. Em geral, um edifcio
compacto ter uma superfcie de exposio relati-
vamente pequena, ou seja, um baixo rcio superf-
cie/volume. Para as pequenas e mdias constru-
es, esta situao oferece vantagens para o
controlo de trocas de calor atravs da envolvente
do edifcio. A geminao dos edifcios oferece tam-
bm vantagens; ao diminuir a rea de exposio so-
lar, so reduzidos os riscos de sobreaquecimento.

{ FIG. 3.10 } A ventilao tem um papel fundamental no contexto


angolano, devendose privilegiar solues para optimizar a
circulao do ar. O recurso tipologia da casaptio uma medida
eficiente. O tema da ventilao natural adiante desenvolvido.
{ FIG. 3.11 } Definio de reas passivas (cor clara) e no passivas
(ou activas, cor mais escura) na planta de um edifcio (adaptado
de Baker, 2000).

As novas zonas habitacionais devem tambm ser


projectadas a uma distncia conveniente da estra-
da de maior circulao, evitando rudos e outros
inconvenientes. As ruas devem ser estreitas e
orientadas por forma a que pelo menos um lados
tenha sempre sombra.
Sendo o ambiente externo quente, a ventilao
e o conforto dentro de casa so aspectos crticos.
Nas zonas urbanas o impacto dos raios solares nos
telhados e nas fachadas dos edifcios e a circula-
o da brisa fresca em redor dos edifcios deve ser
estudado. Caso contrrio, poder haver o risco da
criao de um ambiente muito desconfortvel no
interior das habitaes.
33

PROJECTO BIOCLIMTICO: PRINCPIOS GERAIS


As reas do edifcio potencialmente iluminadas O objectivo sempre maximizar a rea passiva.
e ventiladas naturalmente, as chamadas reas pas- Em edifcios com reas no passivas (activas) de
sivas, podem ser consideradas como tendo uma dimenso significativa, as solues com recurso a
profundidade de duas vezes a altura do pdireito sistemas mecnicos energvoros tendem a preva-
(i.e. geralmente cerca de 6 metros). Esta profun- lecer { FIGURA 3.11 }. No caso da reabilitao de
didade pode ser reduzida quando h obstculos edifcios com reas activas, devese procurar que
luz natural e ventilao, devido uma comparti- estas sejam convertidas em espaos no ocupa-
mentao interior pouco adequada, a edifcios vi- dos, por exemplo arrumos. Quando a rea activa
zinhos, ou no caso de espaos adjacentes a trios. atinge grandes dimenses, aconselhvel a incor-
A proporo de rea passiva de um edifcio, em re- porao de sagues ou trios.
lao sua rea total, d uma indicao do poten- O conceito de zona passiva deve ser considerado
cial do edifcio para o emprego de estratgias a partir da primeira fase do projecto, em que so
bioclimticas. definidas a forma e a orientao do edifcio. As es-

{ FIG. 3.12 } Optimizao da orientao solar para a zona de


Luanda. A melhor orientao para a fachada principal de 352.5N.
As melhores orientaes para outras regies so indicadas no anexo
A1. Para o territrio Angolano, a orientao aceitvel no deve
exceder uma variao at 45 a partir do Norte.
34
ARQUITECTURA SUSTENTVEL EM ANGOLA

tratgias de design passivo a utilizar variam segun- orientao a Norte, sendo contudo aceitvel
do a orientao das diferentes zonas do edifcio. uma variao at 45 (entre Nordeste e Noroeste).
Estas estratgias que incluem, por exemplo, a alte- De acordo com simulaes realizadas utilizando o
rao da rea de envidraado e a utilizao de dife- software Ecotect, por exemplo para o caso de Lu-
rentes dispositivos de sombreamento, encontram anda, uma ligeira variao (352o5N) ser a orien-
se descritas nos subcaptulos seguintes. tao ptima as orientaes ptimas para outras
A melhor orientao do edifcio para reduzir os regies so apresentadas no Anexo 1.
ganhos solares de calor ser paralela ao eixo Os quartos de dormir, quando orientados a Nas-
NascentePoente, uma vez que restringe a rea de cente, captam menos calor e durante a tarde so
exposio das fachadas que recebem sol de ngulo espaos mais frescos. Os alados orientados a Po-
baixo (Nascente e Poente) e permite o sombrea- ente devem ser protegidos para no haver radia-
mento da fachada que mais recebe sol de ngulo o solar excessiva. A utilizao de frestas e de
alto (Norte), beneficiando ainda de iluminao pequenos vos uma medida eficiente. O dimen-
natural conforme representado na { FIGURA 3.12 }. sionamento das reas envidraadas deve ser com-
Em remodelaes, e em muitas situaes urbanas patibilizado com a orientao da fachada. O espa-
onde a orientao est fora do controlo do projec- o da cozinha deve ser o mais fresco da habitao,
tista, uma orientao desfavorvel pode ser com- por isso no pode ser orientado a Poente. Deve ser
pensada atravs do reforo de outras estratgias tida em conta a direco dos ventos dominantes
adequadas de controlo de ganhos solares, como o para que quando soprem no arrastem os cheiros
sombreamento ou o dimensionamento de janelas. e o calor para o resto da casa.
A orientao correcta dos espaos de perma- A optimizao da orientao e da rea passiva
nncia da habitao, em funo do percurso do contribuem para evitar situaes de sobreaquecimen-
sol e do vento, o ponto de partida para aprovei- to, sendo o primeiro passo para a promoo de estra-
tar estas energias renovveis. A insolao das fa- tgias de proteco e dissipao do calor. As tcnicas
chadas definida no processo de implantao do de proteco ao calor como o sombreamento, o di-
edifcio e decisiva no conforto dos espaos inte- mensionamento das janelas, o revestimento reflexivo
riores. A orientao a Sul geralmente recomen- da envolvente, ou o isolamento oferecem proteco
dada para o hemisfrio Norte, por ser a que mais trmica contra a penetrao de ganhos de calor inde-
optimiza os ganhos solares para aquecimento du- sejveis para o interior do edifcio e minimizam os
rante a estao fria. Contudo, em regies do he- ganhos internos. Em Angola devem ser previstos ele-
misfrio Sul, e onde a questo do sobreaquecimen- mentos de sombreamento das reas de envidraado e
to prioritria, como no caso de Angola, a melhor paredes exteriores, por forma a evitar situaes de
35

PROJECTO BIOCLIMTICO: PRINCPIOS GERAIS


sobreaquecimento, para haver conforto trmico no nicas evita o sobreaquecimento, conduzindo os valo-
interior dos compartimentos. Estes elementos podem res da temperatura interior a nveis prximos da tem-
ser tectnicos: palas ou alpendres, elementos vege- peratura do ar exterior, ou mesmo abaixo destes.
tais ou ainda elementos mistos. Os elementos vege- A radiao solar directa , de longe, a principal
tais junto a fachadas ou mesmo o revestimento de fonte de calor. O uso de tcnicas de controlo solar
fachadas com elementos vegetais aumentam o con- no projecto de arquitectura uma estratgia de
forto interior e funcionam como um filtro dos raios alta prioridade para minimizar o impacto dos ga-
solares. As paredes devem, quando possvel, ter iso- nhos solares no edifcio.
lamento e ser suficientemente macias para retardar As melhores solues de projecto para arrefeci-
a penetrao de calor de dia e o frio noite. mento passivo combinam vrias estratgias, com
As Tcnicas de dissipao do calor maximizam o fim de se alcanar uma maior eficcia como
as perdas do calor que se acumulou no interior do por exemplo o arrefecimento por ventilao noc-
edifcio, dissipandoo atravs de ventilao natural e turna com isolamento externo da massa trmica.
inrcia trmica, evaporao, radiao, ou de um A eficcia das tcnicas de arrefecimento passi-
poo de calor como o solo. A utilizao destas tc- vo pode muitas vezes ser melhorada atravs do

{ FIG. 3.13 } Os ganhos de calor: I Ganhos solares causados por conduo a partir da conduo de calor proveniente
pela incidncia da radiao solar sobre as superfcies externas, do ar exterior mais quente para o interior do edifcio, atravs
que conduzida para o interior do edifcio (ganhos solares das superfcies externas do edifcio (fachadas e telhado); IV Ganhos
externos), e pela passagem da radiao solar atravs das janelas por ventilao a partir da infiltrao de ar quente para o interior
(ganhos solares internos); II Ganhos internos provenientes do edifcio.
dos ocupantes, iluminao artificial e equipamentos; III Ganhos
36
ARQUITECTURA SUSTENTVEL EM ANGOLA

uso de sistemas mecnicos de energia renovvel, tivos, visto que estas tm muito pouca resistncia
como os painis solares ou fotovoltaicos, ou de transferncia de calor radiante. Em regies quentes,
sistemas de baixo consumo (de energia fssil), um edifcio bem sombreado pode ser entre 4C a
como as ventoinhas. Estes sistemas so referidos 12C mais fresco do que um sem sombra.
no captulo 5. O sombreamento da envolvente opaca do edif-
cio pode ser feito por dispositivos fixos de som-
breamento, pela vegetao, ou atravs de disposi-
3.3 Sombreamento tivos ajustveis. Varandas, ptios ou trios, podem
ser tipologias teis na proteco solar.
O sombreamento uma estratgia muito eficaz para Em termos de sombreamento das reas de envi-
reduzir a penetrao da radiao solar no edifcio, draado, o edifcio deve ser especialmente protegido
oferecendo proteco s reas de envidraado (jane- dos ganhos solares nas janelas orientadas a Nascen-
las), e tambm envolvente opaca. Os ganhos de te e Poente, devido ao ngulo baixo do sol no incio
calor atravs das janelas podem ser muito significa- da manh e ao fim da tarde. As orientaes a Nas-

{ FIG. 3.15 } Utilizao


de dispositivos fixos para
sombreamento (Brise soleil),
num edifcio modernista
em Luanda.

{ FIG. 3.14 } O sombreamento uma estratgia secular


de proteco ao calor.
37

PROJECTO BIOCLIMTICO: PRINCPIOS GERAIS


Sombreamento Descrio Desempenho

Dispositivos Geralmente elementos As palas horizontais, usadas acima de reas de janela


fixos externos, como palas orientadas a Sul podem proporcionar um bom nvel de
horizontais, aletas sombreamento. Nas fachadas Nascente e Poente um dis-
verticais, ou sistemas positivo fixo vertical pode ser melhor do que um horizon-
de grelhas. tal, mas a janela nunca completamente sombreada. Ale-
tas verticais podem tambm proteger a fachada Norte do
sol baixo, de nascente e poente.
O uso de sistemas de grelhas (desde simples gelosias de
madeira at sistemas prfabricados em cimento ou material
cermico) tambm pode ser muito eficaz para sombreamen-
to, e oferece vantagens em termos de privacidade. Reduz
contudo a vista para o exterior, e na sua concepo devem
ser especialmente consideradas as necessidades de luz e ven-
tilao natural.
O uso de cor clara para o sombreador prefervel cor
escura, j que tem melhor desempenho na reflexo da radia-
o solar, reduzindo a sua penetrao para o edifcio. O uso
de cor clara tem tambm um melhor desempenho em termos
de iluminao natural.

Espaos Varandas, ptios, trios Estas tipologias podem ser muito teis como uma forma de
intermdios ou arcadas. sombreamento fixo, se o seu design for adequado. Como em
todas as estratgias de sombreamento, o projecto tambm
deve considerar os requisitos de ventilao e iluminao na-
tural. O desempenho do sombreamento depende da configu-
rao do edifcio, e do desenho das varandas.

Prdios Os edifcios vizinhos, Os edifcios vizinhos podem proporcionar um sombreamento


vizinhos e.g. do outro lado da rua, eficiente, embora em algumas situaes, como em ruas estrei-
podem proporcionar tas, tal possa diminuir a disponibilidade de luz natural.
sombreamento O impacto do sombreamento dos edifcios vizinhos deve ser
de fachada, considerado no processo de design, em termos da escolha dos
particularmente dispositivos de sombreamento e dimensionamento da janela,
em pisos inferiores. por exemplo aumentando um pouco o tamanho da janela em
reas permanentemente sombreadas, para melhorar o desempe-
nho de iluminao natural.

{ QUADRO 1 } Caractersticas de estratgias de sombreamento atravs de dispositivos fixos, espaos intermdios e prdios vizinhos
38
ARQUITECTURA SUSTENTVEL EM ANGOLA

cente e Poente podem facilmente originar sobrea-


quecimento, especialmente em edifcios mal isola-
dos e de baixa inrcia. Existe uma grande variedade
de dispositivos de sombreamento, fixos ou ajust-
veis, internos ou externos, mais ou menos leves. Os
{ QUADROS 1 e 2 } apresentam as caractersticas dos di-
ferentes tipos de sombreamento, que podem ser usa-
dos em habitaes ou edifcios de servios.

{ FIG. 3.16 } Utilizao de palas fixas verticais e horizontais de


sombreamento, num edifcio modernista em Luanda.

{ FIG. 3.17 } Alguns exemplos tpicos de dispositivos { FIG. 3.18 } As rvores e as plantas, e os beirais salientes,
de sombreamento externos para janelas. diminuem a incidncia solar.
39

PROJECTO BIOCLIMTICO: PRINCPIOS GERAIS


Os sistemas de sombreamento fixo cortam a in-
cidncia dos raios solares antes de atravessarem o
vidro, evitando o efeito de estufa. H diversos ele-
mentos que podem ter esta funo, como as palas,
venezianas, toldos, estores e beirais. importante
garantir alguma distncia entre o elemento de som-
breamento e a zona envidraada, para que a radia-
o trmica captada pelo elemento de sombra no
{ FIG. 3.19 } Exemplos de varandas sombreadas
seja transmitida para o interior do edifcio. em edifcios na cidade de Luanda.

{ FIG. 3.20 } Sombreamento fixo: arcadas (esquerda, em baixo);


projeco da cobertura (esquerda, em cima); e palas fixas num
edifcio comercial contemporneo (direita).
40

{ FIG. 3.21 } Sombreamento fixo: alpendre em vivenda; cobertura sombreada; grelhas de sombreamento.

Sombreamento Descrio Desempenho

Vegetao A vegetao pode ser Nas regies quentes como em Angola, prefervel a utiliza-
usada para sombrear o de rvores de folha perene, de modo a proporcionar som-
os pisos inferiores bra ao longo de todo o ano.
do edifcio.

Dispositivos Estes dispositivos Os dispositivos ajustveis podem ser mais eficazes do que fi-
ajustveis podem ser externos xos, pois podem ser regulados para diferentes ngulos de in-
tais como estores ou cidncia solar. A sua flexibilidade permite tambm um me-
persianas retrcteis, lhor aproveitamento da luz natural, quando comparado com
palas ou venezianas sombreamento fixo. Os dispositivos ajustveis permitem
ajustveis, aletas tambm o controle pelos ocupantes, de acordo com as suas
giratrias, placas preferncias individuais.
horizontais, toldos, Os dispositivos externos de sombreamento so mais efi-
tendas, cortinas cientes do que os internos, pois reduzem a incidncia da ra-
ou prgulas feitos diao solar sobre a rea envidraada, enquanto que os dis-
de madeira, metais, positivos de sombreamento interno apenas conseguem
plsticos, tecidos, etc. reflectir uma parcela da radiao que j entrou no espao in-
Tambm podem ser terno. No entanto h sistemas, como os estores, comuns em
internos como cortinas, edifcios domsticos, que podem ser uma m escolha em ter-
persianas ou venezianas. mos de vista, iluminao natural e ventilao.
Os dispositivos externos opacos de cor clara podem reflec-
tir at 80% da radiao incidente nas fachadas, se forem devi-
damente controlados. Os dispositivos externos translcidos de
cor clara, de preferncia brancos, (tais como dispositivos de
tela ajustvel) podem reflectir at 60% dessa radiao.

{ QUADRO 2 } Caractersticas de estratgias de sombreamento atravs de vegetao e dispositivos ajustveis.


41

PROJECTO BIOCLIMTICO: PRINCPIOS GERAIS


{ FIG. 3.22 } Utilizao de vegetao e dispositivos fixos para sombreamento, no edifcio da Faculdade de Arquitectura da UAN, Luanda

{ FIG. 3.23 } Sombreamento ajustvel: portadas venezianas { FIG. 3.24 } Sombreamento amovvel: toldo em esplanada.
exteriores de madeira (esquerda) e estores (direita):
proporcionam sombreamento e simultaneamente permitem
iluminao e ventilao natural.
42
ARQUITECTURA SUSTENTVEL EM ANGOLA

3.4 Revestimento reflexivo


da envolvente

As cores claras de alguns materiais de revestimento


reflectem uma parcela considervel da radiao so-
lar. A cal branca para pintar os edifcios um exem-
plo. Os revestimentos de cores claras contribuem
para reduzir a temperatura da envolvente do edif-
cio e evitar a conduo de calor para o interior do
edifcio. O { QUADRO 3 } descreve as caractersticas
{ FIG. 3.25 } As superfcies caiadas diminuem a incidncia solar
dos revestimentos reflexivos, de cor clara. (em cima). A proximidade da casa aos pavimentos de cor escura
deve ser evitada, para no haver absoro de calor e irradiao
para dentro da habitao (em baixo).

Descrio Desempenho

REVESTIMENTO Tinta ou azulejos de cor A pintura de cor clara um meio econmico e eficaz
REFLECTIVO clara (por exemplo, branco) para reduzir a entrada de calor no edifcio, reflectindo
(Tinta ou azulejos nas fachadas. a radiao solar. A cor que mais reflecte a radiao so-
de cor clara) O telhado, sempre que lar o branco.
possvel, tambm deve A pintura das paredes internas com uma cor clara
ser de cor clara. tambm pode melhorar os nveis internos de iluminao
natural, reduzindo assim a necessidade de luz artificial.
Nas proximidades da casa deve evitarse o uso de
materiais de cores escuras, como o gravilho, a areia pre-
ta e o beto, para diminuir a absoro de radiao.
Em algumas situaes urbanas, a reflexo da radia-
o solar para outros prdios, por vezes, pode no ser
desejvel, mas pode constituir uma vantagem em termos
de luz natural. As reflexes indesejveis de prdios vizi-
nhos podem ser evitadas atravs da utilizao de dispo-
sitivos de sombreamento.

{ QUADRO 3 } Caractersticas do uso de revestimentos de cor clara (reflexivos).


43

PROJECTO BIOCLIMTICO: PRINCPIOS GERAIS


{ FIG. 3.26 } A pintura de cor clara reflecte o calor, evitando o
sobreaquecimento no interior dos edifcios.

3.5 Isolamento

A localizao correcta do isolamento protege o


edifcio contra os ganhos de calor durante os pe-
rodos mais quentes, e melhora o conforto trmico
durante todo o ano. Tambm pode melhorar a ve-
dao das paredes (evitando a infiltrao de ar
quente), e reduz problemas de condensao em
superfcies, em zonas com climas mais hmidos.

{ FIG. 3.27 } O uso de tijolo perfurado contribui para o isolamento


dos edifcios. Nas fachadas, deve ser reforado com material
isolante, pelo exterior, ou na cavidade das paredes duplas.

{ FIG. 3.28 } Utilizao contempornea do colmo, num complexo


turstico na barra do Kuanza. O colmo um material isolante, que
protege o edifcio contra os ganhos de calor. Ao utilizar esta
tipologia de tradio local, recolhemse tambm os benefcios
trmicos da proteco solar.
44
ARQUITECTURA SUSTENTVEL EM ANGOLA

Descrio Desempenho

ISOLAMENTO O material isolante pode ser O isolamento dos elementos opacos externos, ou o uso de
acrescentado na superfcie isolamento adicional para as fachadas, uma das medi-
exterior das fachadas, das mais simples e eficazes de proteco ao calor e redu-
ou na cavidade entre panos o da necessidade de arrefecimento.
de parede (paredes duplas). O prprio ar existente nas cavidades dos tijolos, ou
Os materiais de isolamento no espao entre paredes (parede dupla de fachada) con-
evitam a conduo de calor fere isolamento ao edifcio, mas este pode ser significati-
para o interior devido vamente reforado com material adicional (isolamento
existncia de gs externo ou de cavidade).
aprisionado em muitas O isolamento externo prefervel ao isolamento
camadas (e.g. fibra de vidro, de cavidade, fazendo mximo uso da capacidade de arma-
l de rocha) ou em clulas zenamento da massa trmica interna, e tem um melhor
(poliestireno), aumentando desempenho em termos de preveno de ganhos de calor.
a resistncia trmica Minimiza tambm as pontes trmicas do edifcio.
do material conduo, O recurso ao isolamento interno deve ser evitado,
proporcionalmente sua dado que reduz a rea de exposio da massa trmica,
espessura, mas no retirando o benefcio da inrcia ao interior do edifcio.
restringem necessariamente O isolamento do telhado uma prioridade, pois diminui
o calor radiante. o risco de temperaturas elevadas no piso superior.
O isolamento externo pode
ser adicionado utilizando
painis isolantes
prfabricados. Deve ser
pintado com cor clara.

BARREIRAS As barreiras radiantes, feitas A eficcia deste mtodo depende da ventilao necess-
RADIANTES de produtos reflexivos, como ria para transportar o calor da chapa por conveco.
chapa de alumnio, podem Quando o arrefecimento a principal preocupao pode
ser instaladas em cavidades ser prefervel usar um sistema de barreira radiante, em al-
ventiladas do telhado. A chapa ternativa a elevados nveis de isolamento do telhado.
metlica reflecte a radiao, Este sistema pode contudo ser mais caro e complexo do
e a ventilao na cavidade que o isolamento simples.
impede a conduo do calor
para o interior do edifcio

{ QUADRO 4 } Caractersticas de isolamentos e barreiras radiantes.


45

PROJECTO BIOCLIMTICO: PRINCPIOS GERAIS


{ FIG. 3.29 } Sistema construtivo misto de cobertura. O colmo
sobreposto em chapa ondulada de material metlico (subcapa):
aos benefcios da impermeabilizao e durabilidade conferidos pelo
uso da subcapa metlica adicionase a capacidade isolante do colmo.

{ FIG. 3.30 } O uso sem proteco (isolamento) de material


metlico para coberturas deve ser evitado, dado que leva ao
agravamento de situaes de sobreaquecimento interno
(esquerda em baixo).

Caixa de ar

Folha de alumnio

Isolamento

Laje de cobertura

{ FIG. 3.31 } Representao esquemtica de uma barreira radiante


num telhado, com caixa de ar ventilada.
46
ARQUITECTURA SUSTENTVEL EM ANGOLA

de ar condicionado. De forma geral, a rea de envi-


3.6 reas de envidraado draado no deve ultrapassar 30% da rea das fa-
e tipos de vidro
chadas a Norte e a Sul, considerando j que os vos
tm sombreamento adequado. Nas fachadas Nas-
Grande parte dos ganhos de calor de um edifcio cente e poente, este valor deve ser reduzido para
passa atravs das reas envidraadas das facha- um mximo de 20%.
das, j que as janelas oferecem muito pouca resis- O dimensionamento das janelas uma tarefa
tncia transferncia de calor radiante. A orienta- complexa. H contudo uma srie de programas de
o e dimensionamento das reas de envidraado, software de simulao, disponveis para projectis-
bem como a escolha do tipo de vidro, determi- tas, para ajudar no dimensionamento das abertu-
nam, em grande medida, a penetrao da radiao ras, como por exemplo, o EnergyPlus, o DOE, ou,
solar no edifcio. para arquitectos, o Ecotect.
A utilizao de vidros duplos pode reduzir os ga-
nhos e as perdas de calor. Pode tambm recorrerse
a um tipo de vidro que transmite selectivamente as
partes do espectro solar visvel necessrios para a
iluminao natural, reflectindo a radiao indesej-
vel os chamados vidros de baixa emissividade. Os
{ QUADROS 5 e 6 } descrevem as estratgias para pro-
teco da radiao solar atravs do dimensiona-
mento das janelas e da escolha do tipo de vidro.

{ FIG. 3.32 } Troca energtica numa janela de vidro simples de 3mm.

Para um clima quente, com grande incidncia de


radiao solar, com em Angola, importante evitar
grandes vos de envidraado nas fachadas, condu-
centes a sobreaquecimento e ao uso de aparelhos
47

PROJECTO BIOCLIMTICO: PRINCPIOS GERAIS


{ FIG. 3.33 } Devem ser evitadas tipologias de fachadas com
grandes reas de envidraado, largamente responsveis pelo
sobreaquecimento do interior do edifcio, e consequente recurso
a sistemas energvoros de ar condicionado. As fachadas com
grandes reas de envidraado so uma tipologia importada,
no se adequando ao clima quente de Angola.

{ FIG. 3.34 } Uma parte significativa dos edifcios residenciais


que encontramos nas zonas urbanas mais consolidadas em Luanda
tm reas de envidraado muito razoveis. So uma boa referncia
para o projecto de novos edifcios. A rea de envidraado no deve
exceder os 30% da superfcie total das fachadas Norte ou Sul,
e deve ser devidamente sombreada.
48
ARQUITECTURA SUSTENTVEL EM ANGOLA

Descrio Desempenho

DIMENSIONAMENTO Janelas, rea de envidraado, As janelas tambm influenciam o desempenho da ilumina-


DE JANELAS orientao, fachadas. o e ventilao natural, acstica, e o contacto visual com
o ambiente externo. Devem, portanto, ser projectadas para
permitirem essa integrao.
As janelas devem ser dimensionadas de acordo com a
orientao. Existe software apropriado para o dimensiona-
mento de vos, como por exemplo os programas DOE, Energy
Plus, ou, para arquitectos, o Ecotect. Poder ser utilizados
tanto no design de novos edifcios como na reabilitao.
A rea de envidraado deve ser reduzida ao indispens-
vel. recomendado que no ultrapasse 30% da rea das fa-
chadas a Norte e a Sul, considerando j que os vos tm som-
breamento adequado. Nas fachadas Nascente e poente, este
valor deve ser reduzido para um mximo de 20%.
As reas de envidraado horizontal s devem ser uti-
lizadas muito pontualmente, em zonas de pdireito ele-
vado (duplo, de preferncia), e com sombreamento ade-
quado, pois podem facilmente causar problemas de sobre-
aquecimento.

{ QUADRO 5 } Descrio das estratgias que envolvem o dimensionamento de janelas.

O dimensionamento dos vos e o isolamento da um motivo de preocupao, principalmente em re-


envolvente opaca, alm de proteco contra a radia- gies mais quentes, com altas temperaturas, que po-
o solar, tambm previnem a entrada de ganhos de dem chegar no vero a 40C, como muitas regies de
calor por conduo, causados pelo fluxo de calor pases africanos. Os ganhos por conduo tendem
proveniente do ar exterior mais quente, atravs das contudo geralmente a ter um impacto relativamente
paredes e reas envidraadas, quando a temperatura menor nas necessidades de refrigerao, quando
externa maior do que a temperatura interna. So comparados com os ganhos solares ou internos.
49

PROJECTO BIOCLIMTICO: PRINCPIOS GERAIS


Descrio Desempenho

TIPO DE VIDRO Vidro simples, vidro duplo, O vidro duplo aumenta o valor do isolamento da rea de
vidro de baixa emissividade. envidraado, e tem tambm a vantagem de reduzir con-
densaes, e as taxas de infiltrao. Comparado com vi-
dros simples, o seu uso pode reduzir significativamente
os ganhos de calor. A amortizao de janelas de vidro du-
plo pode ser alcanada entre 5 e 15 anos, de acordo com
a qualidade dos materiais e o tamanho das janelas.
Uma maior reduo no ganho de calor alcanada
com o uso de vidros de baixa emissividade. Estes vidros
podem ser quase opacos radiao infravermelha, redu-
zindo a transmisso de energia solar em mais de 50%.
Este tipo de vidro no reduz os nveis de luz natural, ape-
sar de serem eficientes na reduo da radiao solar. No
entanto, podem ser bastante caros.
O uso de vidros fumados e reflexivos para sombrea-
mento e preveno de brilho deve ser evitado, pois estes
materiais reduzem substancialmente os nveis de luz na-
tural, aumentando o uso de luz artificial (gerando maior
consumo energtico, e calor). prefervel usar vidro
translcido, e sombreamento adequado.

{ QUADRO 6 } Descrio das estratgias que envolvem a escolha do tipo de vidro.

3.7 Ventilao natural

A ventilao natural consiste no fluxo de ar entre


o exterior e o interior do edifcio. A ventilao na-
tural originada por duas foras naturais: por di-
ferenas de presso criadas pelo vento em redor
do edifcio ventilao por aco do vento; e por
diferenas de temperatura ventilao por efeito
de chamin. O { QUADRO 9 } mostra os vrios objec-
{ FIG. 3.35 } Portadas exteriores de duas casas,: alem de sombrea-
tivos da ventilao e respectivos requisitos. mento, permitem e direccionam o fluxo de ventilao natural.
50
ARQUITECTURA SUSTENTVEL EM ANGOLA

Objectivos Descrio Requisitos

Fornecimento A ventilao necessria Para este processo so normalmente necessrias 0,53


de ar fresco para fornecer ar fresco renovaes de ar por hora por pessoa, dependendo da
aos ocupantes, melhorando intensidade da ocupao. Em geral, a regulamentao
a qualidade do ar: substituindo internacional considera um padro mnimo de 5l/s
o ar viciado e controlando odores, por pessoa (o que conseguido atravs da taxa de in-
humidade, CO2 e concentrao filtrao mdia), aumentando este padro para 16l/s
de poluentes. em zonas de fumadores.

Remoo de calor Este tipo de ventilao usado Requer maiores taxas de ventilao que o processo an-
do edifcio para remover o calor excessivo terior. Mais eficaz a nvel superior (junto ao tecto),
do interior do edifcio, para remover o calor acumulado.
proporcionando temperaturas Quando a temperatura do ar exterior inferior
mais confortveis. temperatura do ar interior, as taxas tpicas de ventila-
o para dissipao do calor no espao so 525 ach/h,
dependendo da diferena de temperaturas. Quanto maior
o ganho de calor, mais necessria a ventilao.

Arrefecimento Uma maior velocidade do ar Este processo requer velocidades do ar entre 0,5 e 3 m/s.
do corpo humano aumenta a evaporao do suor da Admitese que cada aumento de 0.275m/s corres-
por conveco pele, ampliando o limite superior ponde a um acrscimo do limite superior de conforto
e evaporao. da temperatura de conforto. de 1C.
A sensao trmica correspondente A velocidade mxima do ar recomendado em escri-
a uma temperatura efectiva trios de 1,5 m/s. Para habitaes este valor pode
de 27C pode ser alcanada aumentar para os 2,5 3m/s.
se uma circulao do ar de 1m/s
for aplicada a um quarto com uma
temperatura do ar de 30C.

{ QUADRO 9 } Os vrios objectivos da ventilao e respectivos requisitos.

A ventilao por presso do vento influencia- a concepo dos vos. A direco do vento varia
da pela intensidade e direco do vento e ainda por muito ao longo do dia. Alm dos ventos dominan-
obstrues decorrentes de prdios vizinhos ou ve- tes, o regime de ventos de terra (noite) e a brisa do
getao. O conhecimento das condies do vento mar (dia) so tambm importantes.
em torno do edifcio e o seu padro de velocidade A distribuio, dimenso e a forma dos vos so
e direco (informao que pode ser obtida em ins- elementos fundamentais para a realizao de uma
titutos meteorolgicos) so dados necessrios para ventilao eficiente. As aberturas devem ser ampla-
51

PROJECTO BIOCLIMTICO: PRINCPIOS GERAIS


{ FIG. 3.36 } Uso de sistemas fixos de sombreamento, permitindo
simultaneamente a passagem do fluxo de ventilao.

mente distribudas nas diferentes fachadas, de acor- proporcionar a circulao do ar em toda a zona ocu-
do com os padres de vento, assegurando que estes pada. As janelas acentuadamente verticais facilitam
tero diferentes presses, melhorando a distribuio a ventilao a nvel superior, e conseguem um me-
do fluxo de ar no edifcio. As aberturas de entrada e lhor desempenho em termos de iluminao natural e
de sada (janelas, portas, outros vos) devem estar arranjo do espao interior.
localizadas de forma a ser alcanado um sistema efi- No design de janelas para ventilao natural deve
caz de ventilao em que o ar percorre todo espao haver um compromisso com outras necessidades am-
ocupado, considerando j os elementos que podero bientais, tais como a iluminao natural, a imperme-
funcionar como obstculos (divisrias internas). As abilizao, os ganhos solares, o desempenho funcio-
aberturas que se localizam numa posio alta permi- nal, a manuteno, o rudo, a segurana, os custos e
tem altas taxas de ventilao para dissipao de ca- o controlo de circulao de ar. O problema do rudo,
lor. As aberturas situadas num nvel inferior podem tpico dos ambientes urbanos, pode ser minimizado
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ARQUITECTURA SUSTENTVEL EM ANGOLA

Presso do vento Descrio Desempenho

Ventilao Ventilao fornecida A ventilao unilateral tem uma penetrao menos pro-
unilateral por aberturas em apenas funda do que a ventilao cruzada normalmente de 3 a
(lado nico) um lado da diviso 6m ou at cerca de duas vezes a altura do tecto ao cho.
ou fachada. Este tipo de ventilao criado com a entrada de ar na
diviso, ar que sai poucos segundos depois devido flu-
tuao de presso esttica do vento.

Ventilao Aberturas de ambos A ventilao cruzada constante geralmente o mais forte


cruzada os lados do edifcio mecanismo de ventilao natural, especialmente em edi-
e um percurso de fluxo fcios de maiores dimenses.
de ar dentro do edifcio. Este tipo de ventilao funciona em situaes com
uma profundidade til de 9m, ou at trs vezes a altura
de pdireito zonas com 18m podem ser ventiladas, se
estiverem dispostas costas com costas.
reas de circulao, como corredores e escadas, tam-
bm podem ser utilizadas para abastecer as divises que
no tm acesso ao lado de barlavento.
Podem ser utilizados ptios, em vez de planos profun-
dos, para promover a ventilao cruzada.
Se o edifcio est voltado para a direco predomi-
nante do vento, e o vento tem uma boa intensidade, a
utilizao de condutas e cavidades na laje para ventila-
o cruzada tambm podem ser eficazes.

Torres Se o edifcio no est Torres elicas, como as usadas em alguns pases quentes
de vento numa posio favorvel (2 a 20m de altura), tambm podem ser teis para criar o
ao sentido do vento e brisas movimento de ar, quando o vento para ventilao cruzada
predominantes, podem ser no est disponvel a nvel do edifcio. O abastecimento
utilizados dispositivos e extraco da torre de vento so feitos por presso do
para canalizao do vento, vento, revertendo para efeito de chamin quando no
tais como torres de vento. h vento suficiente.
Em certas regies com clima quente e seco, charcos ou
potes de cermica com gua so colocadas na base da torre
elica para fornecer arrefecimento evaporativo adicional.

{ QUADRO 10 } Estratgias de ventilao natural por presso do vento, para arrefecimento do edifcio e do ocupante.
53

PROJECTO BIOCLIMTICO: PRINCPIOS GERAIS


atravs da utilizao de prateleiras acsticas no ex- Os problemas de segurana podem ser resolvidos
terior das janelas ou painis acsticos absorventes atravs do dimensionamento das aberturas, ou colo-
sobre as superfcies internas. Os problemas de polui- cao de portadas exteriores venezianas.
o tambm podem ser evitados com o uso de espa- A ventilao por efeito de chamin apropria-
os tampo, e trazendo para o interior do edifcio o da para edifcios em altura, e principalmente em si-
ar que entra de uma rea exterior menos poluda. tuaes em que o vento no consegue proporcionar

{ FIG. 3.37 } Posio de


aberturas para dois tipos
de arrefecimento.
A situao do primeiro esquema
ideal para o conforto do
ocupante (arrefecimento)
a entrada de ar mais fresco
feita a nvel inferior. A situao
do segundo esquema serve para
o para arrefecimento do edifcio
escoamento do ar aquecido,
que sobe e se acumula junto
ao tecto, feito a nvel superior.
O uso de janelas altas, verticais,
ideal para permitir e controlar
estes dois nveis de ventilao.

{ FIG. 3.38 } Alguns padres


de ventilao para diferentes
tamanhos e posies de janela.

{ FIG. 3.39 } As presses positivas e negativas causadas por


diferentes direces do vento e as posies das aberturas.
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ARQUITECTURA SUSTENTVEL EM ANGOLA

Efeito de chamin Descrio Desempenho

Aberturas duplas Aberturas com posies Pode ser eficaz at 6m ou duas vezes a altura do p di-
de um nico lado baixa e alta, numa janela reito. Pode aumentar a profundidade da ventilao natu-
ou parede. ral em salas de plano profundo. Depende da diferena de
altura entre a entrada (inferior) e sada (superior).

trios A introduo de um trio Os trios podem ser utilizados em edifcios de maiores di-
oferece um bom potencial menses e devem ter uma altura considervel em pases
para ventilao por efeito quentes, j que podem conduzir a sobreaquecimento.
de chamin.

Chamins solares Em chamins solares, A chamin solar deve terminar bem acima do topo do te-
a radiao solar usada lhado, de modo a oferecer maior superfcie exposta para
para aumentar o efeito aquecimento, potenciando a circulao por efeito de
de chamin. Quando as chamin. O seu desempenho tambm influenciado pe-
superfcies da chamin so las presses de vento no topo da chamin.
aquecidas pelo sol, a taxa
de ventilao aumenta.

Paredes com cavidade Paredes com cavidade As paredes com cavidade ventilada melhoram a dissipa-
ventilada ventilada (ver tambm o do calor armazenado no edifcio. Esta tcnica ex-
massa trmica). clusiva para a remoo de calor do edifcio.

{ QUADRO 11 } Estratgias de ventilao natural por efeito de chamin.

um movimento de ar adequado: quando h baixa ve-


locidade de ventos ou o vento tem um padro impre-
visvel. Este mtodo tambm pode ser utilizado em
conjunto com a ventilao por presso do vento,
para reforar o desempenho do sistema de ventila-
o, especialmente em prdios de plano mais profun-
do onde difcil conseguir a ventilao cruzada. O
efeito de chamin consiste na gerao de uma di-
ferena de presso vertical, dependendo da diferena
{ FIG. 3.40 } Esquema de ventilao por efeito de chamin
de temperatura mdia entre a coluna de ar e da tem- num edifcio de trio.
55

PROJECTO BIOCLIMTICO: PRINCPIOS GERAIS


peratura externa, os tamanhos de abertura/localiza- presso do vento, uma vez que requer maiores dife-
o e da altura da coluna de ar. O ar quente sobe e renas de temperatura e maiores reas de aberturas
sai do topo das aberturas; o ar mais fresco ir pene- (por exemplo, a ventilao cruzada alcanada a par-
trar no edifcio em nveis de solo. O problema da ven- tir de um vento a 2.7m/s pode superar a de uma cha-
tilao por efeito de chamin o sistema atingir o min com 3m de altura a 43C no seu topo).
seu mximo quando se registam temperaturas exte- Os { QUADROS 10 e 11 } mostram as caractersticas
riores mais baixas e quando h maiores diferenas de da ventilao por presso do vento e efeito de
temperatura dentro do edifcio. Em climas mais quen- chamin. O { QUADRO 12 } diz respeito a casos par-
tes, como o angolano, uma chamin solar pode ser ticulares de tcnicas nocturnas e diurnas de venti-
usada para elevar as temperaturas nas reas desocu- lao, incluindo ventilao por presso do vento e
padas, aumentando as diferenas de temperatura. O efeito de chamin. O { QUADRO 13 } diz respeito
desempenho mais fraco do que o da ventilao por utilizao de ventilao assistida.

Dia/Noite Descrio Desempenho

Ventilao a estratgia mais simples Apropriado quando o conforto interior pode ser obtido
diurna para melhorar o conforto quando na temperatura do ar exterior, e com variaes de
a temperatura interna superior temperatura diurna inferiores a 10 C.
temperatura externa. Pode ser usada
ventilao por presso do vento,
ou por efeito de chamin.

Ventilao Usada para arrefecer a massa especialmente adequada para situaes em que as
nocturna do edifcio durante a noite. No final temperaturas exteriores so demasiado quentes du-
do dia, a temperatura de armazena- rante o dia, e a ventilao diurna impossvel. A ven-
mento (nas paredes, lajes, e outros tilao nocturna eficaz quando as temperaturas noc-
elementos macios) ser aumentada turnas so substancialmente inferiores s temperaturas
sem degradar o conforto, aumentando diurnas, com uma amplitude de 8C10C.
tambm a capacidade de dissipao O seu desempenho pode ser melhorado atravs da
de calor do sistema. O calor ento utilizao de ventoinhas (ventilao mecnica).
libertado atravs de ventilao Esta tcnica utilizada para a remoo de calor
durante a noite, e o edifcio do edifcio.
est fresco na manh seguinte
(ver tambm massa trmica).

{ QUADRO 12 } Uso de estratgias de ventilao natural em funo da diferena entre as temperaturas externas e internas: ventilao
diurna e nocturna.
56
ARQUITECTURA SUSTENTVEL EM ANGOLA

Quando a temperatura exterior demasiado quen- do a temperatura exterior maior do que a temperatura
te, h que prevenir os ganhos de calor por ventilao interior. A taxa de ventilao deve ser substancial-
causados pela infiltrao de ar quente exterior den- mente aumentada nos perodos em que a temperatu-
tro do edifcio. Este tipo de ganhos pode ser minimi- ra exterior menor do que a temperatura interior
zado atravs da reduo da taxa de ventilao quan- por exemplo, durante a noite (ventilao nocturna).

{ FIG. 3.41 } O ar quente deve ser puxado para o exterior para no


se acumular no tecto.

{ FIG. 3.42 } Quando os vos da entrada de ar so mais pequenos { FIG. 3.44 } Com rvores baixas a brisa sobe; com rvores altas
do que os da sada de ar, h maior eficincia na suco do ar fresco a brisa desce e refresca a habitao.
que expulsa o ar quente.

{ FIG. 3.43 } A pala distanciada da parede aumenta { FIG. 3.45 } Quanto maior for a distncia entre o edifcio
a entrada de ar. e as rvores, mais fora ter a entrada da brisa.
57

PROJECTO BIOCLIMTICO: PRINCPIOS GERAIS


{ FIG. 3.46 } No primeiro esquema, a clarabia est mal localizada,
porque o ar quente do telhado entra dentro do edifcio. No segundo
esquema, h um bom posicionamento o ar quente do comparti-
mento pode sair pela clarabia.

{ FIG. 3.47 } No caso das coberturas inclinadas, a abertura deve ser


feita na parede mais alta.

{ FIG. 3.49 } A incluso de ptios nas habitaes traz vantagens


suplementares climatizao da casa. O ar fresco do ptio entra
e circula nos compartimentos. Se o ptio tiver plantas, a climatizao
ser maior. Nas zonas onde h poucas rvores, a casa pode ser
climatizada com um ptio para ser criada uma zona de sombra,
onde o ar mais fresco. O uso de ptio ou quintal possibilita mais
aberturas na fachada, para ventilao dos compartimentos interiores.

{ FIG. 3.48 } Dois recursos para forar a movimentao do ar,


atravs de abertura nos tectos.

{ FIG. 3.51 } Podemos construir um captador central para a ventilao


de todos os compartimentos ou pequenos captadores individuais
(torres de vento). Uma forma de fazer entrar ar fresco e limpo
{ FIG. 3.50 } O movimento de ar fresco tambm pode ser produzido no interior de um edifcio utilizar captadores, que permitem reciclar
atravs de dois ptios, um mais pequeno que o outro. O ar do ptio o ar viciado e aquecido. Quanto maior for a altura de captao, mais
mais pequeno, por ter mais sombra, mais fresco do que o ar fresca a brisa; evitase tambm a entrada de poeiras arrastadas pelo
do ptio maior. Assim, o ar quente sobe, fazendo com que o ar vento. Se a direco da brisa fresca for relativamente constante, esta
fresco penetre melhor nos compartimentos entre os dois ptios. soluo muito eficaz.
58
ARQUITECTURA SUSTENTVEL EM ANGOLA

Algumas das medidas para baixar a temperatu- casos de edifcios existentes, especialmente naqueles
ra nas lajes de cobertura so: isolar a cobertura; onde o potencial da ventilao natural limitado.
fazer aberturas de sada de ar quente na parte Em situaes muito pontuais em que o poten-
mais alta das paredes; melhorar a entrada de ar cial de ventilao natural reduzido e o uso de
com aberturas na parte baixa das paredes orien- sistemas de ventilao de baixo consumo, como
tadas na direco dos ventos de forma a propor- as ventoinhas, no so suficientes para colmatar
cionar no interior da habitao uma ventilao as necessidades de ventilao e refrigerao do
cruzada; isolar com caixadear; fazer canteiros. edifcio, prefervel utilizar os chamados siste-
As lajes de beto aligeiradas com abobadilhas su- mas de modo misto ou seja utilizar os sistemas
portadas por vigotas presforadas so uma solu- de climatizao apenas quando e onde for neces-
o eficaz. Alm de serem leves, tm custos mais srio. A utilizao de estratgias de modo misto
reduzidos e permitem uma boa ventilao. pode evitar o sobredimensionamento dos sistemas
Em regies com perodos muito quentes, a venti- centralizados, reduzir os custos operacionais do edi-
lao natural pode ser reforada com dispositivos fcio e economizar energia.
mecnicos de refrigerao de baixo consumo energ-
tico, como ventoinhas. Os dispositivos de arrefeci-
mento de baixa energia podem ser muito teis em

{ FIG. 3.53 } Pormenor de um piso ventilado com tubos PVC. As lajes


podem ter canais de circulao de ar para climatizao da habitao.
Estes canais devem ter entrada e sada para o exterior para que
o ar circule e se renove no interior do piso. As aberturas devem
ser protegidas contra a entrada de insectos.

{ FIG. 3.52 } Esquema de um edifcio ventilado pelo subsolo.


possvel baixar a temperatura interior da habitao atravs de um
sistema de ventilao de subsolo. Esta tcnica consiste em fazer passar
o ar por debaixo do solo por meio de um tubo, a cerca de dois metros
de profundidade, para tornar o ar mais frio. O tubo conduzido at
ao compartimento que se quer refrescar. importante que o tubo
esteja a essa profundidade para se obter ar fresco. A captao fazse
numa rea fresca com sombra de rvores ou de plantas. A sada
do tubo, dentro do compartimento, protegese com uma rede { FIG. 3.54 } Esquema de um edifcio ventilado pela cobertura.
de mosquiteiro, para evitar a entrada de insectos, e persianas A maior parte dos ganhos e perdas trmicas dse atravs
com lminas mveis, para controlar a entrada de ar. da cobertura, por estar mais exposta insolao.
59

PROJECTO BIOCLIMTICO: PRINCPIOS GERAIS


Descrio Desempenho

VENTOINHAS O uso de ventoinhas pode melhorar A utilizao de ventoinhas de tecto, de caixa ou oscilantes
o desempenho das tcnicas podem permitir um aumento da temperatura de conforto in-
de ventilao natural. terior, de 3C5C, a 1m/s, digamos de 24C a 28C, reduzin-
Ventoinhas de tecto, caixa ou oscilan- do muito as exigncias de arrefecimento.
tes, aumentam as velocidades do ar As ventoinhas de tecto podem ter um perodo de re-
interior e trocas por conveco, torno de apenas 3 anos.
aumentando os processos convectivos A qualidade do movimento turbulento e varivel de ar
e melhorando o conforto. produzido pelas ventoinhas tambm produz efeitos mais
Estes mecanismos podem tambm confortveis do que o movimento do ar uniforme.
ser teis quando a abertura de janelas Uma ventoinha de tecto ou de mesa no incomoda ou
causa a penetrao de calor, excesso de causa correntes de ar a 1m/s.
velocidade do ar, ou problemas de rudo. Os sistemas de ventilao assistida envolvendo ductos
Os sistemas de ventilao assistida, e aberturas especiais, fora da zona ocupada, no so utili-
envolvendo ductos e aberturas especiais zados para o resfriamento convectivo do corpo, mas para o
para o efeito, podem tambm ser arrefecimento da massa da construo e fornecimento de ar
utilizados para melhorar a circulao fresco. Estes sistemas podem ser muito mais baratos e con-
do ar atravs do edifcio. sumir menos energia do que o ar condicionado.

{ QUADRO 13 } Ventilao assistida

o dia pode ser dissipado durante a noite atravs de


3.8 Inrcia trmica ventilao nocturna. A inrcia atrasa as trocas de ca-
lor por conduo com o exterior, o que particular-
Na maior parte das construes consolidadas em An- mente benfico durante as ondas de calor.
gola, a envolvente opaca do edifcio, as estruturas e Ao contrrio de outros dissipadores de calor,
as divises internas so construdas com materiais como a atmosfera, o cu, ou o subsolo, que forne-
macios, como o beto, o tijolo ou a pedra. A massa cem um recurso quase ilimitado para este propsito,
trmica actua como armazenamento de calor e frio, o uso da massa trmica uma soluo temporria,
regulando e suavizando as oscilaes de tempera- de transio. Aps um certo ponto, o calor comea a
tura. A alta inrcia trmica dos componentes de cons- acumular na massa do edifcio e a massa trmica di-
truo macia diminui os valores mximos de tempe- minui a sua eficincia. Portanto, o uso da massa tr-
ratura radiante no Vero, proporcionando melhores mica deve ser conjugado com estratgias de ventila-
condies de conforto. O calor armazenado durante o para remover o calor acumulado, em particular
60
ARQUITECTURA SUSTENTVEL EM ANGOLA

com ventilao nocturna. As estratgias de ventila- a necessidade de refrigerao e reduzir os perodos


o nocturna aliadas a uma boa massa trmica po- de tempo em que se torna necessrio arrefecer.
dem reduzir as temperaturas mdias internas durante O desempenho da massa trmica depende da capa-
o dia abaixo da mdia das temperaturas exteriores cidade das caractersticas construtivas do edifcio
diurnas. No entanto, em edifcios com grandes ga- para a transferncia de calor para o espao, ou seja,
nhos internos, como edifcios de servios com gran- depende do coeficiente de transmisso trmica dos
de concentrao de ocupantes e equipamento, isto materiais empregues. O desempenho depende tam-
mais difcil de ser conseguido. Contudo, mesmo nes- bm da capacidade fsica desses materiais para arma-
tes casos particulares, as temperaturas mdias diur- zenar calor, ou seja, o seu calor especfico. A poro
nas no interior podem ser mesmo assim reduzidas de massa trmica utilizada no processo corresponde
para valores prximos da mdia exterior, ou um pou- tipicamente a uma espessura de 50150mm a parir da
co acima desta, com um desempenho ainda razovel superfcie. O material macio deve ter a maior exposi-
em termos de arrefecimento passivo. o possvel. Os problemas de acstica, por vezes cau-
Quando so necessrios sistemas auxiliares de sados pelo aumento da exposio dos elementos ma-
refrigerao, como no caso dos edifcios de modo cios (paredes, lajes), podem ser reduzidos pelo uso
misto, a utilizao de massa trmica pode atrasar de tectos falsos perfurados, com absorvente de som.

{ FIG. 3.55 } Nova construo, utilizando materiais macios,


como pedra, tijolo ou beto, que conferem inrcia trmica
aos edifcios. Este tipo de construo adequado a climas quentes
com amplitudes trmicas significativas entre o dia e a noite.
61

PROJECTO BIOCLIMTICO: PRINCPIOS GERAIS


{ FIG. 3.55 }

Descrio Desempenho

MASSA TRMICA Elementos construtivos macios, Os sistemas de refrigerao nocturna podem ser
como paredes, estrutura, lajes. uma das mais eficientes tcnicas de arrefecimento
A ventilao nocturna da massa trmica passivo. Este sistema exige taxas de ventilao, de
proporciona um meio eficiente 10 25 ach/h, tendo a construo de ser suficien-
de refrigerao do edifcio. temente macia para armazenar o efeito de resfria-
noite, quando a temperatura exterior mento at o dia seguinte. Este tipo de ventilao
consideravelmente menor do que no pode ser natural ou assistida por ventoinhas.
interior, a ventilao nocturna usada As paredes e a estrutura devem ser suficiente-
para dissipar o calor acumulado mente expostas ao fluxo de ar, evitando o uso de
durante o dia na massa do edifcio, tectos falsos, e de quaisquer outros elementos que
para a atmosfera, de mais baixa poderiam impedir este contacto. A optimizao da
temperatura, impedindo inrcia trmica normalmente no exige aces com-
o sobreaquecimento no dia seguinte. plexas e caras pode ser suficiente aumentar a ex-
O ar exterior introduzido no edifcio posio em massa trmica, por exemplo, atravs da
atravs das janelas, ou atravs de canais remoo de tectos falsos e abrir as janelas existen-
especiais incorporados na estrutura tes, tendo em conta as precaues de segurana,
do edifcio. proteco contra insectos e correntes de ar. Para fa-
cilitar a ventilao nocturna, as janelas podem ter
aberturas na parte superior.

{ QUADRO 14 } Tcnicas que podem ser usadas para optimizar a utilizao de massa trmica.
62
ARQUITECTURA SUSTENTVEL EM ANGOLA

dero ser aplicadas com sucesso em Angola em


3.9 Arrefecimento evaporativo particular nas zonas Sul e Litoral (mais ridas).
Existem tambm tcnicas de arrefecimento
O arrefecimento evaporativo alcanado por um evaporativo indirecto, em que o ar arrefecido
processo adiabtico, em que a temperatura sensvel sem que haja aumento do seu contedo em vapor
do ar reduzida e compensada por um ganho de ca- de gua. Atravs destes sistema, a temperatura do
lor latente. O uso de fontes e vegetao nos ptios, ar pode ser diminuda at se igualar Temperatura
assim como o acto de derramar gua no cho e a uti- de Bolbo Hmido. O consumo de gua bastante
lizao de grandes vasos de barro poroso cheio de mais reduzido que em sistemas directos. Contudo,
gua nos quartos so bons exemplos de tcnicas de os sistemas indirectos envolvem o recurso a apa-
arrefecimento evaporativo directo, usados em alguns relhos mecnicos, que podem ser caros e requerer
dos pases mais quentes de frica e que tambm po- uma manuteno complexa.

{ FIG. 3.56 } Exemplos de uso de vegetao em espaos exteriores: alm de oferecerem sombreamento e contriburem para a beleza
do local, a vegetao tambm contribui para uma ligeira reduo da temperatura local atravs do processo de evapotranspirao resultante
da fotossntese (arrefecimento evaporativo).
63

PROJECTO BIOCLIMTICO: PRINCPIOS GERAIS


mento, especialmente em edifcios de servios de
3.10 Controle de ganhos internos maiores dimenses. As principais estratgias para
reduzir os ganhos internos de calor so:
As principais fontes de calor no interior do edif-
cio so: a iluminao elctrica, a concentrao a) Evitar o uso excessivo de iluminao artificial;
dos ocupantes e os equipamentos que estes utili- b) Optimizar a utilizao da luz natural;
zam. Os ganhos internos de calor tambm podem c) Evitar ganhos excessivos de calor de ocupantes
contribuir significativamente para o sobreaqueci- e equipamentos.

Descrio Eficincia

Luz Artificial O uso de iluminao artificial recomendado o uso de iluminao pontual, de secretria,
muitas vezes excessivo, ou porque com baixos nveis de iluminao de fundo
os nveis de iluminao so muito Fontes de luz de alta eficcia, com baixa emisso de calor
altos, os sistemas de iluminao e baixo consumo energtico, como lmpadas fluorescentes, de-
so ineficientes, ou devido a uma vem ser utilizadas em vez das convencionais lmpadas incan-
m gesto por parte dos ocupantes. descentes, de tungstnio.
Os ganhos internos de calor Em edifcios de servios tambm podem ser usados extrac-
provenientes da luz artificial podem tos de ventilao junto das luminrias para reduzir os ganhos
variar de 6 a mais de 20 W/m2. de calor.

Luz Natural O uso da luz natural pode reduzir Estimase que por cada 1KWh evitado para iluminao na esta-
substancialmente as cargas o de arrefecimento, se poupam cerca de 0.3KWh de electri-
de refrigerao, ao substituir cidade usada pelo ar condicionado.
ou complementar o uso de luz Deve ser considerado que a rea de espao que pode ser
artificial durante o dia. iluminada naturalmente a correspondente ao dobro da altura
A luz natural deve ser bem do tecto ao cho em geral at cerca de 6m em profundidade,
distribuda pelas vrias divises. a partir das janelas. Regra geral, janelas localizadas a um nvel
Deve ser tomado em conta mais alto tm um desempenho melhor do que janelas a um n-
o conforto visual dos ocupantes, vel mais baixo, e janelas verticais altas, tm um desempenho
evitando situaes de encadeamen- melhor do que janelas horizontais em banda (visto que a luz do
to e contraste luminoso excessivo. sol entra mais profundamente no espao). A utilizao de co-
res claras (reflexivas) nas paredes e decorao tambm aumen-
ta os nveis de iluminao.
A utilizao de clarabias nos ltimos andares deve ser fei-
ta com cuidado, dado que pode causar o sobreaquecimento du-
rante o vero, assim como o encandeamento.

{ QUADRO 7 } Estratgias de utilizao de diferentes tipos de iluminao para reduzir ganhos internos.
64
ARQUITECTURA SUSTENTVEL EM ANGOLA

Descrio Eficincia

Ptios e trios A introduo de ptios e trios A introduo de trios envidraados deve ser cuidadosamente
pode melhorar a iluminao considerada em climas mais quentes, j que muitas vezes leva
natural e a ventilao, a problemas de sobreaquecimento. A zona naturalmente ilumi-
reduzindo o consumo nada adjacente ao trio a ser considerada limitada zona de
de energia da iluminao viso do cu (o que corresponde a uma proporo de cerca de
artificial e ar condicionado. 3 para 1 entre a altura e a largura do trio).

Ocupantes Os ganhos internos provenientes A reduo dos ganhos internos pode ser alcanada atravs da lo-
e equipamento dos ocupantes e equipamentos, calizao do equipamento de gerao de calor em reas especiais
interno como computadores (por exemplo, sala de informtica), com maiores taxas de venti-
e fotocopiadoras, podem lao (climatizao especial, se necessrio), servindo como es-
produzir ganhos de calor anual paos tampo, e longe dos ocupantes, se possvel.
na faixa de 15 a 30W/m2. Os ganhos internos dos ocupantes podem ser reduzidos evi-
tando uma excessiva densidade de ocupao, no caso de escri-
trios, atravs de uma boa gesto da organizao espacial.

{ QUADRO 8 } Estratgias para reduzir ganhos internos .

de ventoinhas, o desempenho do sistema regu-


3.11 O uso de controles lado por controlos operacionais. Nestes casos, a
ambientais
eficincia dos sistemas de reduo do consumo de
energia e a criao de ambientes confortveis es-
Algumas tcnicas de arrefecimento passivo, como to condicionadas no s pela eficincia dos con-
a utilizao de isolamento trmico ou de revesti- trolos, mas tambm pelo pela forma como os ocu-
mento reflexivo para reduzir a penetrao do calor pantes os utilizam. O uso de controlos ambientais
dentro do edifcio, no envolvem o uso de contro- permite aos utilizadores mudar o ambiente,
los operacionais, ou seja, os sistemas so fixos, adaptandoo s suas necessidades de conforto tr-
inerentes ao edifcio, no exigindo controlo por mico. Consecutivamente, pode haver uma melho-
parte do ocupante ou interaco automtica. ria significativa na satisfao trmica, permitindo
No entanto, em muitas outras estratgias pas- que os ocupantes vo ao encontro das suas neces-
sivas, como a abertura de janelas para ventilao sidades especficas de conforto, reduzindo o des-
natural, o ajuste de sombreamento ou a utilizao conforto por sobreaquecimento.
65

PROJECTO BIOCLIMTICO: PRINCPIOS GERAIS


importante que os ocupantes se apercebam que edifcios com sistema centralizado, que inibem o
a utilizao de controlos no s leva a uma melhoria processo natural de adaptao humana.
da eficincia do prprio sistema, mas tambm tem um Existe hoje uma grande controvrsia em rela-
grande impacto sobre a poupana de energia. Para tal, o aos critrios de conforto trmico. As normas
o seu design deve ser simples, por forma a facilitar convencionais apresentam uma zona limitada de
uma compreenso intuitiva sobre o seu uso. temperatura, como sendo teoricamente ideal,
isto , dentro da qual a grande maioria dos ocu-
pantes de um edifcio se vai sentir confortvel.
Estes padres de conforto convencionais, como as
3.12 Estratgias passivas
actuais normas ASHRAE ou ISO, so considerados
e critrios de conforto trmico
ainda como aplicveis em qualquer lugar do mun-
do, apesar da grande variedade climtica existen-
As tcnicas de design passivo podem ser aplicadas te, com apenas uma pequena variao sazonal
com um bom grau de eficcia. verdade que no pro- para situaes de Vero e Inverno. Consideram
movem o tipo de ambientes uniformes, de baixas temperaturas de Vero em torno de 22C como
temperaturas, encontradas em edifcios com ar con- ideais, com temperaturas mximas na ordem dos
dicionado. Colocase uma questo: esse tipo de am- 26C. Em pases mais quentes, tal implica o recur-
bientes internos realmente necessrio e desejvel? so extensivo a sistemas de ar condicionado.
Em pesquisas realizadas por todo o mundo em Por outro lado, existe hoje um vasto corpo de in-
edifcios naturalmente ventilados, onde as con- formao, que demonstra que as pessoas que vivem
dies de ambiente trmico variam fora da zona em pases com climas mais quentes esto satisfeitas
de conforto convencional, um nmero maiorit- em temperaturas mais altas do que as pessoas que
rio de pessoas relataram sentirse, de facto, con- vivem em pases com climas mais frios, e estas tem-
fortveis com o seu ambiente trmico. Outros es- peraturas so significativamente diferentes (superio-
tudos, realizados em edifcios com ar condicionado res e inferiores, respectivamente) das temperaturas
central, demonstraram uma insatisfao signifi- consideradas ideais pelos padres convencionais.
cativa com o ambiente trmico por parte dos Os edifcios que usam tcnicas de arrefecimento
ocupantes. Este descontentamento poderia ser passivo podem ser uma alternativa mais eficiente e
atribudo a vrias causas como a falta de natu- econmica, de baixo consumo energtico e amigos
ralidade e os problemas de sade inerentes ao do ambiente, a edifcios com ar condicionado. Estes
sistema e ainda a outro factor muito importante: edifcios bioclimticos oferecem tambm ambientes
a falta de controlos ambientais existentes em trmicos mais satisfatrios no na sua capacidade
66
ARQUITECTURA SUSTENTVEL EM ANGOLA

de cumprir normas rigorosas, mas na melhoria do Nestas figuras encontramse ainda sobrepostas as
conforto fisiolgico e psicolgico dos ocupantes. zonas de influncia das diversas tcnicas de arre-
Para uma melhor percepo do que poder sig- fecimento passivo baseados em pesquisa realizada
nificar o conforto interior de um edifcio em An- por Givoni (1969).
gola, a { FIGURA 3.57 } apresenta os diagramas psi- Os vrios diagramas mostram como a zona con-
comtricos referentes s capitais das Provncias vencional de conforto poderia ser ampliada atra-
de Luanda, Uge, Huambo e Cunene. As manchas a vs da utilizao de vrias tcnicas de arrefeci-
azul escuro na carta representam as caractersti- mento passivo. As estratgias referenciadas so as
cas climticas (temperatura de bolbo seco e hmi- mais adequadas ao bom desempenho do edifcio
do, humidade relativa e presso de vapor). O con- nessa zona climtica. Pode verificarse que, se ne-
torno amarelo representa a zona convencional de nhuma estratgia passiva for utilizada, a aplica-
conforto ASHRAE, considerada directamente pelo o de padres de conforto da ASHRAE (ASHRAE,
software ECOTECT Weather Tools (um dos softwa- 1995) leva ao uso de ar condicionado durante a
res de apoio elaborao do presente manual). maior parte do ano.

Luanda
Huige

Huambo
67

PROJECTO BIOCLIMTICO: PRINCPIOS GERAIS


68
ARQUITECTURA SUSTENTVEL EM ANGOLA

Ondjiva

{ FIG. 3.57 } Diagramas psicomtricos Cidades de Luanda, Uge, estratgia principal de arrefecimento passivo a im-
Huambo, e Ondjiva. A mancha azul escura ilustra o perfil climtico
da regio. O grfico mostram como a zona convencional de conforto plementar a ventilao diurna. A ventilao noc-
de vero da ASHRAE (1) pode ser ampliada atravs da utilizao
de vrias tcnicas de arrefecimento passivo. As vrias zonas turna e a inrcia trmica desempenham tambm um
apresentadas nos grficos foram definidas por Givoni (1969)
e correspondem a: papel importante no arrefecimento do edifcio. Para
{1} Zona convencional de conforto de Vero da ASHRAE, utilizada
como padro para o uso de ar condicionado (contorno amarelo) a cidade do Uge, que apresenta valores de tempera-
{2} Zona de influncia da ventilao diurna (contorno azul claro).
{3} Zona de influncia da ventilao nocturna (contorno azul). tura e humidade mais baixos do que em Luanda, a
{4} Zona de influncia da inrcia trmica (contorno cor de rosa).
Inclui zonas 2 e 3. estratgia principal de arrefecimento a implementar
{5} Zona de influncia do arrefecimento evaporativo (contorno verde).
O arrefecimento evaporativo pode tambm ser utilizado nas zonas ser a ventilao diurna, sendo tambm significativo
2, 3 e 4, para temperaturas do bolbo seco superiores a 21C.
{6} Zona de aquecimento passivo (contorno amarelo torrado) o desempenho da inrcia trmica do edifcio. Para
e zona de aquecimento activo (contorno castanho claro).
{7} Zona onde o ar condicionado necessrio (fundo branco). perodos excepcionalmente quentes correspondentes
margem que se localiza na zona activa (7onde a
Verificase ainda que h uma grande diversidade climatizao artificial necessria), pode recorrerse
de perfis climticos no territrio Angolano, cada um a sistemas de baixo consumo energtico, como ven-
com requisitos especficos em termos de utilizao toinhas (mais econmicas e eficazes), ou sistemas
de estratgias passivas. Para a cidade de Luanda a de modo misto. Para situaes de excepo, em que
69

PROJECTO BIOCLIMTICO: PRINCPIOS GERAIS


o uso de ar condicionado difcil de evitar (e.g. riores, sendo elas a ventilao diurna e nocturna, a
grandes edifcios de servios), existe tambm hoje inrcia trmica, o arrefecimento evaporativo, e a
tecnologia alternativa aos sistemas convencionais humidificao. H um perodo em que necessrio
de climatizao: o chamado AVAC solar, um sistema aquecimento, que pode ser obtido de forma passiva
mecnico de ar condicionado em que o uso de elec- (aproveitando a energia solar), por exemplo atravs
tricidade proveniente de combustveis fsseis subs- de uma correcta orientao e dimensionamento dos
titudo pelo da energia solar, uma fonte renovvel, vos. Encontramse tambm situaes onde ne-
reduzindo assim o impacto negativo sobre o ambien- cessrio aquecimento activo, que pode ser obtido
te, e tambm os custos de manuteno. atravs do recurso a painis solares trmicos. Destaca
Tanto o Huambo como Ondjiva, apesar de se si- se tambm que, nestas regies, as estratgias pas-
tuarem em zonas climticas diferentes, possuem sivas cobrem praticamente todo perfil climtico
grandes amplitudes trmicas, podendo, principal- (mancha azul escura), mostrando que, em teoria,
mente no caso de Ondjiva, atingir baixas tempera- no h necessidade de recorrer a sistemas activos
turas durante a noite e altas durante o dia. As ca- de ar condicionado para arrefecimento.
ractersticas climticas destas cidades fazem com
que as mesmas estejam sob a influncia de mais { FIG. 3.58 } O uso do ar condicionado pode ser evitado atravs
da correcta utilizao de design passivo, evitando encargos
tcnicas de arrefecimento passivo do que as ante- econmicos e danos ambientais.
ARQUITECTURA SUSTENTVEL EM ANGOLA 70

gua
{ captulo 4 }
71

GUA
Actualmente uma em cada seis pessoas no mundo nada; incrementar equipamentos sanitrios apropria-
no tem acesso a gua potvel, e frica o conti- dos e a colecta e tratamento de guas residuais e es-
nente mais afectado. Os problemas ligados gua goto, contribuindo para a sade da populao.
esto intimamente conectados com a sade. Muitas Existem regies cujo nico recurso de abasteci-
vezes, a gua aparece contaminada por bactrias mento de nascentes, que se situam a grandes dis-
originrias de matrias orgnicas de diversas ori- tncias de aglomerados habitacionais e em locais
gens: resduos humanos, resduos animais e lixos de difcil acesso. H muitas situaes de crianas e
industriais, provocando clera, disenteria, febre ti- adolescentes que despendem parte do seu tempo a
fide, esquistossomose, ancilostomase e tracoma. procurar e transportar gua para as suas famlias.
A gua contaminada das principais causas de morte Este problema contribui para o abandono ou insu-
no mundo. A escassez de gua potvel um proble- cesso escolares e consequentemente alimenta a po-
ma enfrentado em frica, mas que se agrava a um breza. Muitas famlias gastam grande parte do seu
ritmo galopante em todo o Mundo. Por isso, actual- rendimento em gua potvel engarrafada, que tem
mente, a investigao nesta rea prioritria, e a custos muito mais elevados do que nos pases de-
implementao de medidas nos pases africanos, senvolvidos. H localidades abastecidas por lenis
poder constituir um potencial modelo para o oci- aquferos subterrneos e outras por nascentes, atra-
dente, num futuro prximo. vs de cisternas municipais. So contudo necess-
Brian Edwards (2008) referese gua como o rios sistemas de reteno para aproveitar as guas
petrleo do futuro". A resoluo de problemas de da chuva. Um outro recurso com potencial em zo-
sustentabilidade deve privilegiar as questes ligadas nas de altitude, mas que ainda no explorado
a este bem essencial e ao saneamento. necessrio convenientemente o da captao da gua, atra-
criar redes de abastecimento de gua no contami- vs da condensao de nuvens baixas.
72
ARQUITECTURA SUSTENTVEL EM ANGOLA

4.1 Mtodos de captao

Captao da gua da chuva

Nas regies onde no existem sistemas de abaste-


cimento regular de gua, recomendase a constru-
o de cisternas domsticas para o armazenamen-
to da gua na poca das chuvas. { FIG. 4.1 } Cisterna domstica de recolha da gua da chuva.

{ FIG. 4.2 } Sistema de recolha da gua das nuvens.


Captao da gua das nuvens

Para as famlias que vivem em zonas de altitude onde O primeiro esquema corresponde ao sistema
se podem recolher grandes quantidades de gua por simples, que rende cerca de 60 litros por hora por
condensao das nuvens, possvel instalar um sis- cada copa de um pinheiro mdio. A captao pode
tema de recolha adaptado s suas necessidades. Nes- ser melhorada se a gua for canalizada por uma
sas zonas, podemse obter quantidades significati- campnula, atravs de oleados ou mangas de pls-
vas de gua durante alguns meses e armazenla em tico. Desta forma, as gotas de gua no so cana-
cisternas para usar em tempo seco. lizadas para o tronco.
73

GUA
Captao por condensao Sistema de gua doce
por evaporao solar da gua do mar
Um sistema de captao mais elaborado consiste
Da gua do mar ou a partir de guas salobras pode-
na instalao de superfcies de redes mosquitei-
mos ter gua doce por evaporao solar. A produo
ro ou rede sombra que se usa na agricultura
de gua por metro quadrado pode ir de 4 a 6 litros
montadas na vertical de forma a provocar a con-
por dia. O processo consiste em fazer evaporar a
densao pelo impacto das nuvens. A gua
gua dentro de um recipiente fechado (evaporador
recolhida por um canal montado em toda a exten-
ou destilador solar), cuja tampa um vidro inclina-
so da rede e canalizada para uma cisterna, depois
do. O vapor de gua em contacto com o vidro con-
de passar por um filtro.
densa e a gua purificada recolhida. O evaporador
deve ser orientado a Sul e em lugar acessvel para fa-
cilitar a limpeza.

{ FIG. 4.3 } Sistema de recolha da gua atravs de redes.

{ FIG. 4.4 } Sistema de captao da gua do mar vista lateral


e perspectiva de um destilador solar.
74
ARQUITECTURA SUSTENTVEL EM ANGOLA

Captao e conservao da gua da chuva


4.2 Mtodos de potabilizao
Um dos principais problemas para a sobrevivncia e
melhoria da qualidade de vida das populaes rurais Mtodos fsicos
a escassez ou a falta de gua potvel para o con-
Filtrao
sumo humano. Um bom sistema de armazenamento
de gua consiste numa cisterna equipada com um A gua de qualidade duvidosa deve ser filtrada.
filtro que recolhe e conserva a gua da chuva cana- Embora a filtrao ajude a eliminar as bactrias,
lizada da cobertura da habitao. no suficiente para garantir a potabilizao da
gua. Um sistema de um filtro de areia e cascalho
de construo simples com um bido de 200 litros
pode ser uma boa soluo para o meio rural.

{ FIG. 4.6 } Sistema de filtrao com um bido com filtro de areia


e cascalho.

Ebulio

A ebulio o melhor mtodo para destruir os mi-


crorganismos patognicos que se encontram na
gua. Para que este mtodo seja efectivo neces-
{ FIG. 4.5 } Sistema de filtrao da gua da chuva. srio que a gua seja fervida.
75

GUA
Mtodo qumico
4.4 Instalao
Existem vrios mtodos qumicos para o tratamen-
to da gua, mas o cloro sem dvida o elemento O princpio de distribuio de gua corrente numa
mais importante para a desinfeco da gua. A li- habitao aplicase tanto no meio rural como no
xvia de fcil controlo, econmica e eficiente. meio urbano. Estas instalaes, que se designam
Devese filtrar a gua previamente antes de juntar instalaes sanitrias, consistem em tubos de dis-
a lixvia que deve ficar em repouso durante cerca tribuio de gua aos equipamentos sanitrios e
de 20 minutos antes de ser usada. Para cada litro seus acessrios e na evacuao das guas negras.
de gua necessrio juntar duas gotas de lixvia. A existncia de um sistema de abastecimento de
gua exige a presena de um sistema de evacua-
o de guas negras.
4.3 Abastecimento

Os custos de um sistema de abastecimento de gua s


comunidades so muito mais baixos relativamente aos
custos que uma famlia dispensa em tempo e esforo
para o seu autoabastecimento. Neste caso, os peri-
gos de contaminao da gua so mais evidentes. A
importncia social de um sistema de abastecimento
domicilirio de gua indiscutvel, justificandose to-
dos os esforos para o realizar. A longo prazo, o sis-
tema mais barato de obter gua potvel, uma vez que
proporciona: melhores condies para a sade; maior
poupana e consequentemente maior riqueza; um
meio ambiente mais saudvel. O aproveitamento ade-
quado dos sistemas de abastecimento de gua consis-
te em evitar desperdcios ou fugas de gua, que nunca
se justificam, especialmente num pas onde os recur-
sos so escassos.

{ FIG. 4.7 } Sistema de abastecimento de gua numa habitao.


ARQUITECTURA SUSTENTVEL EM ANGOLA 76

Energia
{ captulo 5 }
77

ENERGIA
so alguns exemplos de medidas bsicas. A seleco
5.1 Poupana de energia de lmpadas de baixo consumo e a escolha de elec-
trodomsticos com classe de eficincia A, A+ ou A++
Considerando o impacto negativo do uso de combus- so outras duas estratgias facilmente alcanveis.
tveis fsseis no meio ambiente (aquecimento global
e poluio atmosfrica), e a crescente diminuio de
5.2 Sistemas activos
reservas destes combustveis (como o petrleo) a n-
de energia renovvel
vel global, urgente a promoo do uso de energias
alternativas, renovveis, bem como a racionalizao
O sol e o vento so as duas fontes de energia reno-
do consumo, evitando gastos desnecessrios.
vvel de que se pode tirar mais partido. O movimen-
A prtica de uma arquitectura bioclimtica, referi-
to das ondas do mar e as diferenas trmicas do oce-
da no captulo 1, o primeiro passo para uma reduo
ano so outras fontes de energia para explorar.
significativa do consumo energtico em edifcios.
A nvel dos utilizadores, a poupana de energia
5.2.1 Energia solar trmica
deve ser iniciada com pequenos gestos quotidianos,
que no tm implicaes ao nvel do conforto de Os painis solares trmicos aproveitam a energia
quem usufrui dos espaos interiores do edifcio. A solar para aquecimento da gua. Esta tecnologia
economia energtica implica uma mudana de hbi- tem custos irrisrios comparativamente aos gas-
tos. A utilizao racional dos electrodomsticos, tos com electricidade em aquecimento de gua.
para no ser desperdiada energia, a primeira regra Os colectores de aquecimento solar devem ser
de poupana utilizar a mquina de lavar a roupa instalados nas coberturas dos edifcios, orienta-
com o mximo de roupa possvel, manter sempre fe- dos a Norte e com 30 de inclinao. A sua ins-
chada a porta do frigorfico e apagar as luzes dos talao est dependente da localizao do dep-
compartimentos quando estes esto desocupados, sito de gua fria.
78
ARQUITECTURA SUSTENTVEL EM ANGOLA

Processo de autoconstruo de um sistema


com depsito para aquecimento de gua
Um sistema para aquecimento de gua para uso
corrente numa habitao pode ser construdo com
meios acessveis.
Elementos necessrios:
{ 1 } Um depsito de 4060 litros pintado de preto
para absorver uma maior quantidade de calor;
{ 2 } Uma caixa isoladora pintada de branco e com
tampo de vidro para isolar o ar quente;
{ 3 } Uma tampa isoladora e reflectora pintada de
branco para melhorar a incidncia do sol. noite
serve para cobrir a caixa e conservar o calor ganho
{ FIG. 5.2 } Depsito de gua isolado e ligao de vrios depsitos.
durante o dia.
{ 4 } Um depsito de gua fria.

Para se rentabilizar este sistema e aumentar a


quantidade de gua quente, devemos instalar vrios
tanques pequenos ligados entre si, em vez de um s.

Processo de autoconstruo de um colector solar


Um depsito de gasolina de um carro velho pode ser
convertido num colector solar. Este pode ser ligado
rede de gua ou abastecido por um depsito. O co-
lector deve estar orientado a Norte, para captar mais
radiaes solar, com cerca de 30 graus de inclinao
e prximo do tanque de gua. A tampa reflectora e
isoladora deve funcionar com dobradias e ter um
{ FIG. 5.1 } Sistema com depsito para aquecimento de gua.
dispositivo que permita tapar a caixa distncia,
sem necessidade de subir ao telhado. Esta caixa deve
fechar muito bem para evitar que se perca o calor du-
rante a noite. O colector pode estar conectado rede
de gua ou ento ser abastecido por um depsito.
79

ENERGIA
5.2.2 Energia elica

O aproveitamento da energia do vento tradicio-


nalmente feito em algumas situaes para a bom-
bagem de gua dos poos e a produo de electri-
cidade. A electricidade obtida atravs dos geradores
pode ser conectada a uma rede de distribuio e
utilizada posteriormente em caso de ausncia de
ventos. A energia elica uma maisvalia onde no
h combustveis fsseis.

Processo de autoconstruo de aerogeradores


{ FIG. 5.3 } Localizao do colector solar na cobertura do edifcio.
possvel construir um aerogerador com capaci-
dade de produo at 750 watts com a reciclagem
de materiais.
Elementos necessrios:
{ 1 } Um alternador de automvel;
{ 2 } Pedaos de madeira ou fibra de vidro para ps;
{ 3 } Tubos.

{ FIG. 5.4 } Vista lateral, perspectiva e pormenor do colector solar.


80
ARQUITECTURA SUSTENTVEL EM ANGOLA

No processo de produo de energia elica, a 5.2.3 Energia fotovoltaica


energia fornecida pelo aerodnamo alternador
acumulada em baterias a partir das quais se faz A energia fotovoltaica consiste na converso da

a distribuio. Entre o alternador e as baterias radiao solar em energia elctrica, atravs de c-

necessrio instalar um regulador de tenso e um lulas solares. Os painis fotovoltaicos no produ-

disjuntor para evitar os dias excepcionais a nvel zem rudos ou resduos, excepto no final da sua

de consumo. Por isso, necessrio instalar bate- vida til. A tecnologia fotovoltaica e solar passiva

rias de reserva que guardam uma grande quantida- formam um sistema ideal. Em Africa h forte ra-

de de energia para essas eventualidades. diao solar durante todo o ano, por isso uma ha-
bitao com este sistema autosuficiente na
produo de energia elctrica. Os painis fotovol-
taicos contribuem para uma imagem hightech
dos edifcios, o que os torna sedutores para os ar-
quitectos contemporneos. Faltam incentivos fis-
cais do Governo para promoverem o incremento da
sua aplicao.

{ FIG. 5.6 } Elementos para a autoconstruo de um painel fotovoltaico.

{ FIG. 5.5 } Elementos para a autoconstruo de um aerogerador.


81

ENERGIA
5.2.4 Biogs ou gs metano

O lixo que produzido pelo homem e despejado


no meio ambiente, libertando gases txicos, pode
ser purificado e aproveitado, atravs da elimi-
nao da sua toxicidade e transformao em ener-
gia o gs metano. O sistema de produo de bio-
gs est associado reciclagem de resduos org-
nicos ou outros produzidos diariamente.
O gs metano resulta da fermentao anaerbica
de resduos orgnicos, com ausncia de oxignio,
para provocar o apodrecimento da matria orgnica.
O biogs no txico, podendo ser utilizado com se-
gurana. As lamas resultantes do processo de produ-
o, ricas em azoto, podem ser utilizadas como adu-
bo. A produo de gs metano uma alternativa
ao consumo de lenha, que contribui para a
desertificao.
Processo de autoconstruo
de pequenas unidades de produo de biogs
O mtodo mais simples para a construo de uma
pequena unidade de produo de biogs exige
apenas um tanque, que utilizado tanto para a
fermentao, como para a recolha de gs. Os sis-
temas mais elaborados articulam dois tanques
um para o digestor e outro para a recolha de gs.
Em ambos os casos, os disjuntores quando no
so subterrneos exigem um isolamento trmico,
para que a temperatura dos resduos no seu inte-
rior, que deve ser de 35, seja constante. Os res-
duos devem ser misturados com gua, antes de se-
rem vazados para o tanque. A mistura pode ter
{ FIG. 5.7 } Elementos para a autoconstruo de pequenas unidades
de produo de biogs. 50% de gua e 50% de resduos.
ARQUITECTURA SUSTENTVEL EM ANGOLA 82

Saneamento
{ captulo 6 }
83

SANEAMENTO
H uma interdependncia entre as condies eco- Os resduos so fontes de contaminao do
nmicas das pessoas, os seus hbitos de higiene e ambiente natural e como tal devem ser confinados
a salubridade dos ambientes que habitam. Ao siste- e eliminados, para evitar focos de infeco.
ma de conexo recproca entre estes trs elementos Uma resposta eficaz e econmica para o isola-
associado um outro: a gua. A escassez de gua mento e tratamento dos resduos orgnicos o re-
em certas zonas, e a falta de iniciativa para recorrer curso a latrinas secas.
a sistemas de captao de gua agrava a falta de
condies de higiene das habitaes.
Uma grande parte da populao africana vive 6.1 Latrina seca
em ambientes rurais ou periferias, onde as insta-
laes sanitrias e as infraestruturas de sanea- As experincias feitas com latrinas secas tm tido
mento so escassas. resultados muito positivos. A latrina seca, de for-
Os aglomerados familiares so, na maior parte ma econmica, resolve o problema do isolamento
dos casos, numerosos e, muitas vezes, as habita- e da eliminao das fezes humanas.
es comportam no s as famlias, mas tambm Este sistema de fcil manuteno e especial-
os animais que estas possuem. A vivncia em con- mente indicado para habitaes e escolas em zo-
dies de higiene precrias provoca doenas, nas rurais ou de periferia sem uma rede de abaste-
como a febre tifide, e agrava ainda mais o estado cimento de gua. A utilizao de materiais locais
econmico destas famlias. torna esta soluo mais sustentvel.
84
ARQUITECTURA SUSTENTVEL EM ANGOLA

{ FIG. 6.1 } Autoconstruo de uma latrina seca. { FIG. 6.2 } Autoconstruo de uma latrina seca com tanque duplo.

Processo de autoconstruo para proteco das condies climatricas adver-


da latrina seca com tanque duplo
sas, um sistema de ventilao e uma sanita.
O tempo de utilizao de um poo para uma fa-
Estruturas
mlia de seis pessoas, segundo as experincias j
Subestrutura: a parte da construo abaixo do n- desenvolvidas, pode ser de cinco a seis anos.
vel do terreno ou a subestrutura da latrina, que No entanto, independentemente deste tempo
tambm chamamos de tanque, fosso ou fossa, deve que meramente indicativo, logo que o nvel das
ser: rectangular com 1.30mx0.90m (medidas para matrias fecais chegue a cerca de 50cm, devese
cada tanque) e a altura recomendada de 1.80m. cobrir o fosso com terra, tapar o buraco e criar um
A fossa deve ser revestida com blocos e rebo- novo tanque. A transferncia do tanque, dever
cada para impermeabilizao. ser feito no interior da casinha ou abrigo que,
Sobreestrutura: O abrigo deve conter uma porta para este caso, ter dimenses apropriadas.
85

SANEAMENTO
{ FIG. 6.3 } Localizao da latrina seca.

Esta latrina pode ser geminada e ampliada,


para utilizao numa escola.
A localizao da latrina dever ter em conta
as seguintes condicionantes:
} A distncia mnima entre a latrina e a casa de- 6.2 Fossa sptica
ver permitir uma orientao voltada a sul, de
modo a haver uma maior incidncia do sol sobre a A fossa sptica um mtodo eficaz e de baixo cus-
tampa dos tanques; to para a eliminao de resduos orgnicos e de pe-
} Em terrenos com pendentes, a latrina deve estar quenas quantidades de guas negras em habitaes
situada na parte mais baixa; unifamiliares ou de um conjunto de habitaes,
} Quando h poos no terreno de implantao, quando no existem sistemas de esgoto.
a distncia mnima dever ser de 15 metros. A instalao da fossa sptica numa habitao
implica gua corrente em quantidade suficiente
As regras de manuteno para o correcto para garantir o bom funcionamento do sistema.
funcionamento da latrina devem incluir as se-
Compartimentos
guintes aces:
} Proteger todas as entradas de ar com rede de mos- Tanque sptico: um tanque impermevel, geral-
quiteiro para evitar a entrada de moscas na latrina; mente subterrneo, construdo segundo determi-
} No guardar nada dentro do abrigo e manter a nados requisitos, que mantendo as guas em re-
porta sempre fechada; pouso, provoca a sedimentao e a formao de
} Tapar o buraco quando este no est a ser utilizado; natas. Com o tempo, o volume de natas e a sedi-
} No deitar gua ou outro lquido dentro do fos- mentao tendem a desaparecer deixando uma
so, incluindo desinfectantes; gua entre as duas camadas pela aco de seres
} Deitar cinzas dentro do fosso. microscpicos que se desenvolvem no tanque.
86
ARQUITECTURA SUSTENTVEL EM ANGOLA

O ambiente interior tem de ser favorvel ao de-


senvolvimento destes seres sem oxignio nem
luz. Esses seres, que se chamam de anaerbios,
sobrevivem nos resduos orgnicos, transformando
os em lquidos e em gases. Com essa transforma-
o, as guas ficam de tal forma expostas ao ar,
que rapidamente oxidam, tornandose inofensivas
pela aco de outras bactrias que precisam de
oxignio para sobreviver.

Campo de oxidao e poo de absoro: Instalao


para oxidar o efluente, ou seja, as guas negras que
{ FIG. 6.4 } Esquema de instalao de uma fossa sptica.
saem do depsito sptico. O campo de oxidao con-
siste numa srie de drenos instalados no subsolo de
um terreno poroso e pelos quais se distribui o efluen-
te, que oxida em contacto com o ar contido nos po-
ros do terreno. O poo de absoro substitui o cam-
po de oxidao, quando no se dispe de terreno
suficiente para a instalao articulada do campo de
oxidao e do poo.

Caixa de separao de gorduras e sabo: Entre a ha-


bitao e a fossa sptica devese construir uma
caixa para reter as gorduras das lavagens da co-
zinha. Esta caixa tambm recebe as guas dos
banhos e da lavagem da roupa que podero ser
reaproveitadas para regar um jardim. Neste
caso, este sistema intermdio deve ser montado
sem ligao fossa nem ao poo de absoro. A
gua sem gorduras passa pela caixa, que tam-
bm funciona como filtro, e depois conduzida
para o jardim. { FIG. 6.5 } Caixa de separao de gorduras e sabo.
87

SANEAMENTO
Tabela para o desenho das fossas spticas: { FIG. 6.6 } Tabela para o desenho das fossas spticas.

Para se construir uma fossa, com as normas funcio-


nais, de forma a evitar problemas, devemos seguir Para exemplificar, apresentamos a seguinte si-
uma tabela que tem em conta os seguintes factores: tuao: temos as dimenses de uma fossa de uso
Para servio domstico: capacidade de 150 litros/ domstico que serve 40 pessoas. Queremos saber
pessoa/dia e um perodo de reteno de 24 horas. quantas pessoas de uma escola uma fossa, com as
Para escolas: no perodo de trabalho escolar a mesmas caractersticas daquela que j foi execu-
contabilizao feita com 8 horas de trabalho/ tada, pode servir, se o perodo de funcionamento
dia/pessoa. Para se calcular a capacidade de uma de 8 horas. Dividimos o perodo de reteno
fossa para uma escola estabelecese a relao en- 24 pelo perodo de trabalho 8. O resultado 3.
tre o perodo de reteno (24 horas) e o perodo Multiplicamos o resultado por 40 (capacidade da
de trabalho escolar (8 horas) e depois relacionase fossa). Ento, conclumos que a fossa pode servir
o resultado com a capacidade domstica. uma populao escolar de 120 pessoas (3x40).

{ FIG. 6.7 } Fossa spticatipo. { FIG. 6.8 } Fossa sptica rectangular para dez pessoas.
ARQUITECTURA SUSTENTVEL EM ANGOLA 88

Casos de Estudo
{ captulo 7 }
89

CASOS DE ESTUDO
em terra, ou com terra, uma arte tradicional
7.1 Arquitectura de Terra: muito antiga que se vem transmitindo de gerao
dois projectos desenvolvidos em gerao. O conhecimento da tcnica de cons-
pela UAN truir das Grandes Civilizaes Egipto, Mesopot-
mia, Mali, entre outras que a Histria da Arqui-
com enorme prazer que pela primeira vez o tectura traz at ns, levanos a reflectir sobre uma
Departamento de Arquitectura da Universidade das mais remotas tradies de habitar o mundo.
Agostinho Neto conduz um processo de Teses de A inveno da construo em terra to natu-
Licenciatura de alguns projectos que sero de- ral quanto o acto de uma criana fazer um castelo
senvolvidos com base em tecnologias em terra de areia. Tentar saber onde nasceu a construo
ou tecnologia mista. Esta ideia foi lanada in- em terra quase como tentar saber onde nasceu o
formalmente em "conversa de amigos", profes- primeiro Homem, j que desde os primrdios da
sores e estudantes e qual no foi o nosso espan- humanidade o Homem tem tendncia para se apro-
to quando verificmos, emocionados, uma signi- priar dos bens que a Natureza lhe oferece.
ficativa adeso a essa tecnologia.
Realmente construir em terra nos pases do
3 Mundo, significa pobreza, significa precarieda-
de, significa insanidade, enfim, significa que
uma soluo quase sempre rejeitada. preciso
mostrar e demonstrar como a terra natural, mol-
dvel, salutar, econmica e, sobretudo, renovvel
e, sobretudo, renovvel e de que forma o Homem
deve aproveitar esse bem precioso. A construo { FIG. 7.1 } Produo de adobe (lama moldada).
90
ARQUITECTURA SUSTENTVEL EM ANGOLA

Esta arte, desenvolvida na antiguidade como a rial de construo preferido para a soluo do
forma de arquitectura mais universal e mais acess- habitat popular. Com mestria inigualvel, Hassan
vel, foi e aquela que utilizou, basicamente, a terra Fathy utiliza elementos arquitectnicos da cultura
em variadas formas quer seja crua ou cozida. O barro popular egpcia como as coberturas abobadadas,
e os materiais vegetais entranados, juntamente vazamentos geomtricos, etc., com a integrao
com pedra, foram as formas mais elementares de es- dos materiais e tcnicas locais na construo.
truturar um abrigo contra as intempries. A terra Estas razes justificam, sem qualquer tipo de d-
pode aparecer na construo de vrias formas: base- vida, a utilizao da terra nas suas variadas formas
ada na taipa (terra prensada dentro de cofragem), no para a construo e da o enorme interesse no estudo
adobe (unidades modulares de terra crua, secas ao dessas tcnicas: a conscincia de que a arquitectura
sol), ou no pauapique ou tabique (estruturas de em terra mais ecolgica e menos dispendiosa na
madeira engradada, preenchida por adobe). produo de obras inovadoras e de grande qualidade e
A construo em terra possui um enorme po- conforto; a noo de que muitos stios arqueolgicos,
tencial ecolgico, pois para alm de usar mate- designados anteriormente como sendo arquitectura
riais biodegradveis, a construo em terra permi- em pedra, so realmente construdos em terra sobre
te rentabilizar o conforto ambiental no interior embasamentos de pedra. , neste sentido, uma pes-
dos edifcios; pode, tambm, ser uma alternativa quisa riqussima e interdisciplinar que deve ser apro-
do futuro para reduzir a acumulao de lixos, o fundada e que tem um futuro que queremos desenvol-
consumo de energia e as emisses de gases. ver para Angola, com toda a criatividade e inovao.
No mundo 30% das pessoas vivem em habita- O Departamento de Arquitectura da UAN est
o em terra. empenhado nesta pesquisa e com muita vontade
No podemos deixar de referenciar o Arquitec- pretende incentivar todos os estudantes no apro-
to egpcio Hassan Fathy que se destaca na promo- veitamento dessa energia sustentvel, sempre re-
o e aplicao sistemtica da terra como mate- novvel e renovada, para a criao de uma arqui-
tectura prpria, inovadora e, sobretudo, angolana
capaz de resolver os problemas sociais com qualida-
de e bem estar. Nesse contexto vamos apresentar a
experincia de estudantes nesta matria, na reali-
zao dos seus projectos de Tese de Licenciatura.

Isabel Maria Martins


{ FIG. 7.2 } Tcnicas de aplicao: Taipa. Ph.D. em Histria da Arquitectura
91

CASOS DE ESTUDO
7.1.1 Habitao de alta renda
bm, pela inexistncia de politicas de Estado que
com tecnologia de terra fomentem o crescimento acelerado da componente
habitacional, tornase imperioso, a exemplo de v-
Estudante Francisco Amaro rios pases das mais diversas regies do mundo,
adoptar politicas que incentivem a recuperao e
Tecnologias renovveis:
a terra como componente integrante inovao dos princpios que tornaram, ao longo dos
tempos, a arquitectura tradicional indispensvel e
Desde h algum tempo que a expresso construir considerada como a nossa verdadeira herana.
em terra passou a significar sabedoria e noutros Com os olhos virados para a resoluo deste gra-
casos sobrevivncia, pois em ambas as circunstn- ve problema que enferma a nossa sociedade, o De-
cias manifestase um conhecimento minucioso e partamento de Arquitectura da Faculdade de Enge-
um respeito diligente pelos materiais vindos da na- nharia da Universidade Agostinho Neto, em
tureza, que acabam por se associar capacidade de associao com um dos maiores centros de estudo
renovao das energias actuantes neste processo, das propriedades construtivas da terra o centro
diversidade climtica, s tcnicas e materiais lo- CRAterre EAG, localizada em Grenoble, Frana, in-
cais, e s diferentes comunidades nacionais, que cluiu no seu programa de licenciatura uma aborda-
manifestam as suas prprias tradies culturais e gem mais exaustiva e cientfica sobre o tema, pro-
valores simblicos e estticos que as caracterizam curando desta forma contribuir para o bem estar da
e identificam. Este conceito no inteiramente populao e a melhoria gradual das condies de
novo pois sempre se construiu com terra utilizan- vida de todos os Angolanos, fazendo deste plano
do, para o efeito, tcnicas e diferentes procedi- ambicioso um instrumento srio que com certeza
mentos de acordo com cada regio, o que quer di- vai criar as condies cientficas de abordagem
zer que esta Arquitectura, assente numa forte base para o problema social e balizas teis para a con-
ecolgica e sustentvel, tem a qualidade de perdu- cretizao de projectos com esta tecnologia.
rar e de ser o sinnimo mais visvel quando trata- Os projectos podero ser considerados protti-
mos da interligao meio habitat e natureza. pos, quer do ponto de vista das tipologias contem-
pladas, quer da maneira como podemos aplicar a
Realidade Angolana
tecnologia da terra aproveitando toda a sua capaci-
Na realidade Angolana, com o agravar das condi- dade renovvel, esttica, moldvel e construtiva.
es habitacionais caracterizada pela crescente de- Concretamente, estamos a referirnos a uma
gradao e escassez do habitat, devido ao custo Arquitectura que, de uma forma geral, tenta inter-
elevado dos materiais de construo, como tam- pretar, com dinamismo, as funes corporativas e
92
ARQUITECTURA SUSTENTVEL EM ANGOLA

a satisfao tecnolgica, possvel em cada regio de despertar a conscincia de todos do valor que
do mundo, pondo em prtica a valorizao dos as energias renovveis desempenham nos dias de
materiais locais dentro de um contexto natural e hoje, fazendo delas uma mais valia quando fala-
regional. Desta forma preenchese uma lacuna que mos de desenvolvimento sustentado.
se agrava cada vez mais, estabelecendo um con- De acordo com o plano traado pelos docentes
traponto entre a representao da cultura arqui- e discentes deste departamento, esta experincia
tectnica contempornea e as estruturas urbanas deve garantir as seguintes premissas:
espontneas, tecnicamente aceites e solucion- } A divulgao deste tipo de Arquitectura um pou-
veis. Podemos dizer que esta tendncia se torna co mais virada aos aspectos ligados ao conforto,
valorizada e renovvel desde o momento em que economia, e o que ecologicamente correcto;
verificamos que a aproximao dos materiais de } A criao de modelos prottipos ricos em conte-
construo ao local de interveno a torna mais do cientfico e habilitados a serem utilizados em
econmica e por conseguinte contextualmente planos de desenvolvimento sustentado nos cam-
melhor enquadrada com a geografia do lugar e o pos da Arquitectura e Urbanismo;
clima correspondente, possibilitando um maior e } A caracterizao dos diferentes tipos de solos,
melhor aproveitamento dos materiais disponveis suas propriedades construtivas e por conseguinte
ao longo dos anos vindouros. avaliar o carcter renovvel que estes possuem
dentro do contexto nacional;
} Dar maior ateno s energias e tecnologias re-
Objectivos
novveis empregues em todo o mundo e que po-
Como projecto universitrio piloto em Angola este dem ser amplamente utilizadas em Angola;
estudo, para alm do descrito, vai acabar por dar } A criao e capacitao de especialistas no ramo
aos intervenientes, tambm, a possibilidade e a do uso da tecnologia de terra servindo de coadju-
capacidade de concentrar os seus esforos na pro- vantes s diferentes associaes j existentes no
cura de novas tcnicas de produo e construo pas enriquecendo mais o cenrio de pesquisa e
com terra, em conexo com alguns grupos que tra- produo desta Arquitectura.
balham isoladamente, dandolhes a base cientifi- Esta prtica foi amplamente divulgada na Amri-
ca preponderante para o desenvolvimento almeja- ca Latina, frica, sia, e Europa, e resultou num au-
do. O objectivo primordial de levar a cabo um tntico sucesso, um processo que fez com que a ter-
plano de capacitao a nvel nacional como estra- ra, como material essencial e tecnologicamente
tgica para incentivar, de forma efectiva, a utili- renovvel fosse cada vez mais estudado em pases
zao da tecnologia de terra para a construo e como a Nigria, Colmbia, Kenya, Mxico, Iro, Ar-
93

CASOS DE ESTUDO
bia Saudita, Mali, ndia, frica do Sul, Chile, Imen, Destacamse as seguintes tcnicas:
Frana, Egipto, Marrocos, ilhas Comores, os quais } A tcnica BTM blocos de terra moldada (vul-
dentre outros, destacamse pela constante aborda- garmente conhecido por adobe), e do pau-a-pique
gem sobre as propriedades construtivas da terra. (estado plstico);
} As tcnicas da taipa e da compresso (estado
hmido) por sinal uma das tcnicas a utilizar no
Tcnicas
meu projecto de licenciatura.
Um edifcio construdo utilizando a tecnologia de } As tcnicas do BTC blocos de terra comprimida.
terra na Provncia do Kwanza Sul (Gabela). Tal } A tcnica da terra palha (estado liquido), to-
como em todo o pas, grupos organizados tentam das elas ostentando propriedades nicas como:
a todo custo tornar esta hiptese uma realidade. E forte capacidade isolante, acstica e trmica, im-
o Departamento de Arquitectura est interessado portantes para o bemestar de todos os utentes
em integrar e ajudar estes grupos. que se reflecte nos procedimentos, hbitos e cos-
tumes dos mesmos.
importante esclarecer que o uso de diferen-
tes materiais e tcnicas, depende das condies
em termos de recursos naturais que cada regio
apresenta. Nas distintas regies que compem o
territrio Angolano, de Cabinda ao Cunene e do
mar ao leste, acabamos por encontrar (s que de
uma forma desordenada) uma variedade de ma-
neiras de aproveitar o solo e todo material natu-
ral para a construo, indicador mais do que sufi-
{ FIG. 7.3 } Habitao de construo em Terra, em Gabela.
ciente para pensarmos que a superao destas
dificuldades ter que feita a nvel local e de acor-
Propriedades e vantagens
do a um programa bem elaborado e conveniente-
A terra um material abundante, de fcil molda- mente estruturado, onde o respeito pela natureza
gem e em termos construtivos pode apresentarse e a integrao de cada modelo paisagem, tenha
em trs estados fsicos: hmido, plstico e lqui- em comum este grande objectivo: deixar o ser hu-
do. Estes diferentes estados fazem com que haja mano experimentar e participar nas alegrias e na
tambm mtodos e tcnicas de trabalhar a mesma beleza natural; hoje chamamoslhes planeamento
para que o resultado final seja o almejado. do local, estudo ambiental e empregamos uma s-
94
ARQUITECTURA SUSTENTVEL EM ANGOLA

rie de termos complicados que na realidade signi- tural dos ecossistemas e, portanto, um indicador
fica a mesma coisa: o respeito pela terra. Em re- do estado de sade de determinado meio, acaban-
lao a essa problemtica, podemos distinguir os do por garantir uma recuperao natural dos stios
estudos realizados por importantes antroplogos de extraco ou aproveitamento da matria natu-
junto s populaes e o seu habitat, que nos po- ral necessria para um determinado fim, bem como
dem ser teis quando abordamos aspectos rela- diversidade de climas, relevos e tipos de solo.
cionados com as caractersticas do habitat tipica- Creio que as bases esto lanadas para que a
mente angolano. A destacar o antroplogo Jos arquitectura de terra encontre nas energias reno-
Redinha, que se evidenciou mais propriamente na vveis um parceiro indispensvel, procurando a
comunidade LundaTshokw, que pensamos ter partir desta a auto sustentabilidade das solues
encontrado vestgios consolidados da habitao e programas emergentes e que possam concorrer
tradicional daquela regio, outro grande estudo para o necessrio equilbrio da qualidade de vida
do antroplogo Ruy Duarte de Carvalho, que estu- de todos os habitantes da Terra e em particular de
dou, analisou e caracterizou o habitat dos dife- todos os angolanos.
rentes povos de Angola e sintetiza todos os as-
pectos relacionados com a habitao da regio 7.1.2 Hospital de 2 nvel
sul do nosso pas, e em ambos os estudos, se re-
ferencia que em termos de materiais empregues, Estudante Venceslau Calvino Mateus
constatouse que o tipo de material predominan-
temente aplicado o adobe reforado com mat- A terra , desde tempos remotos, um dos princi-
ria vegetal, deixando bases de estudo importan- pais materiais de construo usado pelo Homem,
tes para as futuras geraes de pesquisadores pois, se por um lado, estava mo de semear, por
como o nosso caso. outro, era facilmente conformada e naturalmente
Dentro do quadro do uso das tecnologias ou seca. Sobre este seu uso, perdido nas dobras do
energias renovveis, h um aspecto muito vanta- tempo, existem hoje diversos estudos arqueolgi-
joso a ser salvaguardado que a biodiversidade, cos que o atestam, indicando at construes em
tambm chamada de diversidade biolgica, j que terra de aproximadamente dez mil anos. A cons-
pelo facto de serem utilizados materiais no po- truo em terra parece imparvel, abrindo pers-
luentes ao meio ambiente, acabam por garantir pectivas na economia de meios, na qualidade am-
que no haja grandes alteraes no que diz res- biental e mesmo na variedade e equilbrio de
peito ao equilbrio j que essa diversidade de es- volumes, to necessrios a uma requalificao da
pcies imprescindvel para o funcionamento na- arquitectura num contexto rural claro, por opo-
95

CASOS DE ESTUDO
sio, a uma sociedade de consumo, em que a efi-
As principais razes que levam
ccia do cimento e a arrogncia do beto armado a propor solues sustentveis so as seguintes

tudo dominam.
} Proporcionar uma moradia/imvel com melhor
O presente artigo tem como objectivo a pro-
qualidade para a populao de baixa renda;
moo e colaborao no domnio da investigao
} Dar oportunidade populao de baixa renda de
relativa construo e conservao da arquitec-
tambm se sentir responsvel pela conservao do
tura em terra, contribuir para a melhoria na qua-
meio ambiente;
lidade de construo, contribuir para a formao
} Dar autonomia s comunidades carentes;
e consequentemente preparao adequada dos
} Economizar recursos naturais (energia e materiais)
tcnicos nacionais, regionais e locais interve-
} Evitar grandes quantidades de resduos.
nientes na construo e conservao da arqui-
tectura em terra, aprofundar a investigao em
todos os domnios da arquitectura e construo
Motivo da escolha
em terra, contribuir para um desenvolvimento lo-
cal mais sustentvel, promover o uso de mate- No que se refere o lado acadmico um desafio a
riais tradicionais com maior eficincia energti- encarar com responsabilidade. Como tema de li-
ca, assim como estratgias para formao e cenciatura instalaes sanitrias, mais concreta-
informao local, com maior integrao social, mente um hospital em que ser projectado utili-
visa ainda explicar que no s o factor econ- zando a tecnologia de terra como tcnica de
mico que nos leva a construir. construo. Ser um hospital de 2 nvel com dois
pisos no mximo que se desenvolver com dois
blocos laterais interligados com corpo principal
O Desenvolvimento Sustentvel
de acesso facilitado.
Na maioria das vezes, a construo civil conven- Os argumentos fundamentais empregues na de-
cional no considera os efeitos que causa ou pos- fesa desta tcnica tm partido do facto de a terra
sa causar aos recursos naturais. A formao de ser um material abundante e reutilizvel, no pro-
uma nova conscincia surge a partir da responsa- cessado industrialmente e, por comparao com
bilidade de tomar decises integradas e sustent- outros materiais, ecolgico. O seu uso pressupe
veis durante o processo de produo das edifica- economia de meios, de recursos, de material, de
es. necessrio que os tcnicos e empreendedores tempo, no tem aquilo que se chama energia in-
possuam uma viso abrangente em relao ao sis- trnseca. Desta forma podemos adequar realidade
tema maior em que esto inseridos. angolana ou seja unir o til ao agradvel num
96
ARQUITECTURA SUSTENTVEL EM ANGOLA

contexto econmico e social. Quero com isso dizer (bloco de terra comprimida) e o tabique. Muitas das
que o facto de termos muita falta de servios b- edificaes do nosso patrimnio histrico foram exe-
sicos em quase todo o pas, com essa tcnica de cutadas com essa tcnica. Infelizmente, em funo
construo poderamos colmatar esse mal, at da industrializao, esse antigo saber fazer foi adul-
porque com essa tcnica a populao poder ser terado e preconceituosamente associado pobreza e
mais activa e participativa na construo e con- insalubridade. Porm, as propriedades das constru-
servao da arquitectura em terra. es em terra indicam uma ptima alternativa para
Aprofundar a investigao em todos os dom- as comunidades de baixa renda.
nios da arquitectura e construo em terra, con-
tribuir para um desenvolvimento local mais sus-
Taipa
tentvel, promover o uso de materiais tradicionais
com maior eficincia energtica, assim como es- a tcnica de construo com terra crua mais an-
tratgias para formao local, com maior integra- tiga. Jogamos a mistura de terra que apinhada
o social esse seria o papel das universidades. em camadas dentro de uma forma tipo sanduche,
A meu ver para que esses pontos possam ser ca- tornandose um bloco monoltico. Nos ltimos 20
balmente exequveis passaria por conjunto de estu- anos, a taipa tem ganho novas verses com tecno-
dos a nvel universitrio em contacto com as auto- logia actualizada, permitindo uma construo
ridades locais, para que os meus projectos e estudos mais racional e limpa, reduzindo a modeobra.
no cassem no esquecimento. Desta forma acho As paredes construdas com taipa de pilo so ex-
que esse apenas um ponto de partida para um fu- tremamente resistentes compresso, podendo
turo da arquitectura que se quer mais verncula. ser usadas como partes estruturais da edificao.
Foi assim ento que surgiu a ideia de construir um
hospital em terra, para apoiar as populaes que se
encontram em zonas carentes e de difcil acesso

Diversidade Tecnolgica

A construo em terra basicamente a utilizao do


material terra, sem transformao, a que chamamos
terra crua, por oposio terra cozida. E, idealmen-
te, tirase do prprio terreno e constrise utilizando
tcnicas tradicionais, que so: a taipa, o adobe, BTC { FIG. 7.4 } Construo em Terra: Taipa.
97

CASOS DE ESTUDO
te caso, a terra, muito argilosa, misturada com
Taipa de mo ou pauapique
grandes quantidades de palha ou fibras vegetais lo-
Sistema leve, autoportante, ideal para paredes de cais. O tabique mais utilizado em edifcios de vrios
vedao. Executada por quadros de madeira onde pisos, uma vez que um material de baixo peso.
so presos por arames, cordas ou pregos nas ripas Embora seja diminuta a utilizao desta tcnica
de madeira, onde o barro colocado manualmente em Portugal (apenas em paredes divisrias ou de
em camadas. Matriaprima: terra local, areia ou compartimentao interior), foi praticada em vrias
argila, estabilizante: cal, baba sinttica regies do mundo. A acrescentar ainda um tipo es-
pecfico de taipa designado por taipa militar, qual
so adicionadas grandes quantidades de cal, de
Adobe
modo a possibilitar uma maior resistncia.
Termo de origem rabe ("thobe"), significa pequenos
tijolos de terra no cosida, secos ao sol e ao ar. A
BTC bloco de terra comprimida
terra utilizada neste tipo de construo muito are-
nosa e bastante argilosa (at 30%). Misturase terra O BTC um material de construo feito com um
com gua at se obter uma mistura plstica, capaz certo tipo de terra que se adapta compresso.
de ser moldvel. Geralmente, os adobeiros amas- Para aumentar a resistncia mecnica e a resistn-
sam o barro com os ps descalos, o que permite cia humidade do solo possvel agregar um es-
uma massa mais homognea. Em alguns locais, alm tabilizante. H dois tipos de tijolos de terra, o
da terra e da gua, utilizavase o capim cortado Adobe e o BTC (Bloco de Terra Comprimida). A di-
como estabilizador por armao e o estrume de gado ferena entre os dois tipos de tijolos que o Ado-
fresco como estabilizador qumico. Depois de amas- be feito manualmente e o BTC utiliza prensas.
sado, o barro colocado em uma forma de madeira Ambos secam com o sol, sem a necessidade de
ou metal e ao deformarse o bloco colocado ao sol fornos. Por isso, so ecologicamente correctos.
para secagem. Matriaprima: solo local, gua, esta- No utilizamos madeira nem emitimos gs carb-
bilizante (estrume, capim, palha para adobe). nico na atmosfera, alm de ser muito mais barato.
Se pegarmos a terra do terreno no qual a obra ser
construda, o custo cai a praticamente zero, pois
Tabique
acrescentaremos s gua.
Consiste na construo de uma grelha de madeira, Na confeco do BTC, ao invs de ser moldado
cana ou vime, formando um entranado, onde poste- manualmente, usada uma prensa. No entanto,
riormente se aplicar uma fina camada de terra. Nes- gasto o mesmo tempo para a fabricao. Em am-
98
ARQUITECTURA SUSTENTVEL EM ANGOLA

bos os casos, prdios at trs pisos podem ser terra tem tipologias que apresentam regras gerais
construdos. A nica diferena da construo com contrafortes exteriores de grandes dimenses, de
tijolos convencionais que o projecto arquitect- modo a transformar a interseco de paredes. O
nico tem que ser um pouco diferente, mas nada maior inconveniente dos adobes e taipas resulta
que impea nenhuma obra de ser realizada. Esse da sua fraca consistncia, sobretudo quando sujei-
tipo de tijolo no queimado, deixa uma sensa- tos a vibrao das aceleraes ssmicas.
o trmica mais agradvel, um frescor muito me- Em termos de vantagens esto bem patentes
lhor do que em prdios de beto armado ou tijolo a sua a facilidade de construo, economia, iso-
queimado. Por ser mais frio, mais econmico re- lamento trmico e acstico e acima de tudo a in-
lativamente ao consumo de energia elctrica, pois tegrao ambiental. Em qualquer tcnica de ter-
o uso de ventilador e de arcondicionado e o n- ra, as caractersticas do solo so fundamentais.
mero de vezes que se abre a geladeira diminuem. A proporo entre areia e argila deve ser corrigi-
da. A quantidade e a qualidade da gua devem
ser controladas. Testes em amostras devem ser
Vantagens e inconvenientes
feitos para evitar fissuras, garantir estanquidade
Em virtude da consistncia dos blocos de adobe e resistncia. Tambm de essencial importn-
ser inferior dos tijolos correntes, as paredes com cia os cuidados com impermeabilizaes e reves-
este material apesar de terem espessura maior do timentos. A construo de terra, executada com
que as paredes de tijolo, no resistem mesmo as devidas preocupaes tcnicas, apresenta re-
assim com a igual segurana aos esforos hori- sultados mais que satisfatrios de resistncia e
zontais. Por isso, a arquitectura pura e crua de durabilidade.

{ FIG. 7.5 } Construo


de parede com BTC no centro
do Bairro Palanca, dirigido
pelo arquitecto Argentino
Maurcio Banguilia.
99

CASOS DE ESTUDO
Descrio do projecto
7.2 Projecto Cacuaco Esperana
O Projecto tem como programa o planeamento e
O projecto Cacuaco Esperana aqui apresentado construo de trs novas reas urbanas na regio
como um exemplo ao nvel do planeamento urba- do Cacuaco em Angola.
no em Angola, pelas preocupaes ambientais, A rea de interveno total das trs reas urbanas
sociais, econmicas e polticas que inclui nos seus de 838 ha, distribudos do seguinte modo: Cacuaco
estudos e propostas. feita uma descrio breve Histrico 70 ha; Sequel 136 ha; Cidade Nova 632 ha.
das suas principais caractersticas e parmetros A vontade de contribuio para criar um novo
implcitos no ordenamento e planeamento do ter- modelo urbano de cidade, levou a que o projecto
ritrio em causa, evidenciando questes como a fosse estruturado tendo por base os princpios do
equidade social e econmica, o equilbrio do es- desenvolvimento sustentvel.
pao urbano e construdo e ainda a salvaguarda de
aspectos ambientais.

{ FIG. 7.6 } Exposio de vertentes Nova Cidade.


100
ARQUITECTURA SUSTENTVEL EM ANGOLA

Essa inteno permitiu a reunio de uma equi-


Modelo territorial
pa multidisciplinar bastante alargada e dotada de
uma viso estratgica sobre o que ser uma cidade Para articulao com os pressupostos do projecto
no futuro do planeta tendo em considerao os foram desenvolvidas vrias sesses no workshop de
efeitos do aquecimento global do planeta e do fe- startup do projecto em que foi reunida toda a equi-
nmeno da globalizao econmica. pa, grupos de entidades oficiais e civis angolanas,
O projecto na sua elaborao vrias entidades p- pblicas e privadas e estabelecido um programa
blicas e privadas, abrangendo as rea tcnicas de Am- adaptado realidade vista e sentida no terreno, ao
biente, Cincias Sociais e Polticas, Economia, Infra longo de uma semana de trabalho, exclusivo sobre
estuturas, Urbanismo e Arquitectura, entre outras. a temtica. O modelo de participao da constru-
o do programa foi sujeito a tcnicas de participa-
o especficas tendo por base a alargada equipa
Capacidade de carga e vocao de uso
de intervenientes.
Com a efectiva caracterizao do territrio, realizada Pelo carcter social e econmico que o projec-
atravs da anlise in loco, os recursos naturais e as to pretende garantir foi considerado que a articu-
suas capacidades, e as fragilidades identificadas, lao com a envolvente prexistente assumia um
considerouse que o modelo de ocupao do territ- papel determinante no s na fase ps constru-
rio dever garantir, na sua base, a sensibilidade am- o, mas desde logo na fase de concepo.
biental do territrio, a qual condicionar o modelo Pela equipa foram, por outro lado e de modo
de ocupao do solo adequandoo capacidade de articulado, estabelecidos os princpios e definidos
carga do sistema receptor de modo a garantir a sus- os objectivos que no campo da sustentabilidade
tentabilidade da soluo que a concesso de terre- iriam ser avaliados e posteriormente monitoriza-
nos ir concretizar. Tendo em considerao as in- dos ao longo de todo o projecto. Como tal foram
meras metodologias existentes para realizar esta realizadas compilaes tericoprticas sobre sus-
avaliao, garantindo a preservao da biodiversida- tentabilidade; cidade sustentvel; construo sus-
de e a criao de ambientes urbanos e actividades tentvel e governana da cidade.
econmicas sustentveis, fezse uso da utilizao de Numa segunda fase, foi estabelecida a viso
uma metodologia expedita, atravs da identificao estratgica a alcanar atravs do projecto e dos
da Estrutura Ecolgica Territorial, que se adequa factores de sustentabilidade para a implementa-
rede de Corredores Verdes Vitais garantindo deste o dessa mesma viso, que considerou os riscos
modo uma ocupao ambientalmente eficiente e du- naturais e as medidas de preveno dos mesmos
radoura no territrio das actividades do Homem. um factor determinante.
101

CASOS DE ESTUDO
Na terceira fase e com base na caracterizao Concludas as fases anteriores foi desenvolvida a
social, econmica e ambiental, foram determinadas primeira abordagem ao modelo urbano que respondia
as funes da cidade essenciais a ser previstas e si- aos pressupostos programticos iniciais, s contribui-
muladas desde o incio do processo: habitao; es do workshop e compilao terica efectuada.
educao; formao; mobilidade; gua; energia; O modelo sustentvel delineado apresenta, face
sade; sistemas sociais; justia; alimentao; in- particularidade do territrio e s premissas definidas,
dustria; comrcio; servios gerais; agroindstria; nmeros que traduzem uma densificao e multifun-
agricultura social; pesca; cultura; desporto; lazer; cionalidade dos futuros centros urbanos, bem como
segurana; informao e comunicao. a sua adequabilidade face s caractersticas ambien-
tais e econmicas do stio onde se iro inserir.

{ QUADRO 7.1 } Resumo de reas e ndices do projecto (BM, 2009).


102
ARQUITECTURA SUSTENTVEL EM ANGOLA

{ QUADRO 7.2 } Criao de emprego Nova Cidade (Fonte: BM, 2009)

{ QUADRO 7.3 } Criao de Emprego Sequel (BM, 2009).

{ QUADRO 7.4 } Criao de emprego Cacuaco Histrico (BM, 2009).

Acresce a este modelo ainda um conjunto de in-


Governao da cidade
dicadores desenvolvidos para o projecto Cacuaco Es-
A introduo num projecto urbano de conceitos e perana e garantiro a possibilidade de que se avalie
regras para a gesto e governao da cidade, sur- de modo regular e efectivo a implementao em to-
ge no sentido de que o projecto seja sustentvel das as fases do ciclo de vida do projecto da aplicao
em todas as suas vertentes, em particular a ver- e implementao dos princpios de sustentabilidade.
tente social. O conjunto de indicadores referido dever evo-
Deste modo as contribuies resultantes da luir e adaptarse a cada uma das trs reas de in-
componente governao traduzemse neste caso terveno. Devero ser definidas as metas e a pe-
em recomendaes nas reas de: Combate s fra- riodicidade a observar para monitorizao de cada
gilidades; Currculos educativos e formativos; rea- um dos indicadores. Tal poder ser efectuado logo
lojamento da populao; condicionantes ao pro- que concluda a fase de projecto de execuo at
jecto; monitorizao da sustentabilidade. fase de ocupao aps a construo.
103

CASOS DE ESTUDO
{ FIG. 7.7 } Proposta de Plano Urbano para a Nova Cidade Cacuaco.

{ FIG. 7.8 } Proposta de Plano Urbano para o Sequel


104
ARQUITECTURA SUSTENTVEL EM ANGOLA

{ FIG. 7.9 } Proposta


de Plano Urbano
para o Cacuaco Histrico.

{ FIG. 7.10 } Percentagens


de distribuio
das tipologias.
105

CASOS DE ESTUDO
Construo de edifcios vios vitais para o Homem, como seja a gua, a ali-
mentao e o trabalho, que em todo o projecto foi
O projecto Cacuaco Esperana, prev para o seu mo- observado e se garantiu que viesse a acontecer.
delo de construo de edifcios a adopo de par-
metros de conforto ambiental articulados com os cri- Impactes ambientais do projecto
trios de sustentabilidade. Deste modo a utilizao
Enquadrada foi ainda, neste projecto, a componen-
da denominao de construo sustentvel associa-
te ambiental em toda a sua dimenso, efectivando
da ao emprego da definio terica e adaptao do
se em todas as aces e decises tomadas, sendo
mesmo ao territrio em questo e ao continente afri-
que para a sua validao se procedeu implemen-
cano, fez com que fossem estabelecidos desde o in-
tao de uma prvia avaliao de impactes e da
cio os sistemas de avaliao da construo que iriam
sustentabilidade global do projecto com base nas
ser adoptados para a avaliao e reconhecimento da
decises efectivadas. Essa anlise de impactes ob-
construo sustentvel e do ambiente construdo.
servou os mesmos sobre os trs principais pilares
Do mesmo modo a articulao entre modelo
da sustentabilidade: ambiente, economia e social.
territorial e construo de edifcios nos quais o
clima e o conforto ambiental se interligavam, re-
Concluso
sultou numa srie de consideraes sobre as tipo-
logias a adoptar para os futuros edifcios dos cen- O modo e o processo operativo delineado e implemen-
tros urbanos em projecto. tado para o projecto Cacuaco Esperana, garante que
mesmo em reas fragilizadas e com recursos parcos
Viabilidade tcnica, econmica e financeira
possvel adoptar desde a fase de projecto atitudes que
O desenvolvimento do projecto tal como at aqui conduzam e garantam aces de planeamento urbano
descrito, em termos de processo operativo de con- sustentveis e a construo de edifcios, tambm eles
cepo, incorporando na sua estrutura uma aborda- seguindo o conceito da construo sustentvel.
gem viabilidade tcnica e econmica e financeira
que incidiu sobre a concretizao dos sistemas e
modelos dos servios urbanos, a sua concretizao,
fontes de financiamento e estrutura econmica
para a gesto futura destas trs novas reas urba-
nas, vem apenas tornar mais robusta a garantia de
que os princpios de sustentabilidade so observa-
dos, face equidade social no acesso a bens e ser-
ARQUITECTURA SUSTENTVEL EM ANGOLA 106

{ Bibliografia }
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111

ANEXOS
{ Anexos }
112
ARQUITECTURA SUSTENTVEL EM ANGOLA

vocacionados para reas de Engenharia, permite


A1 Desempenho bioclimtico: identificar as solues de projecto que mais in-
programas de anlise.
fluenciam o futuro desempenho energtico e de
conforto do edifcio. Paralelamente, foram tam-
Existem hoje diversos programas de software para bm realizadas as mesmas simulaes com o sof-
anlise do desempenho energtico e de conforto tware Energy Plus, sendo os resultados obtidos se-
em edifcios, que so importantes ferramentas de melhantes aos produzidos pelo Ecotect.
apoio ao projecto de arquitectura. Estes programas So primeiro apresentados os dados climticos
permitem dimensionar e quantificar nveis de con- de referncia, estimados pelo software Meteo-
forto interior e consumos de energia do edifcio, in- norm, e inseridos depois no Ecotect.
formando tambm sobre quais as melhores estrat- Descrevemse depois os resultados das simu-
gias de projecto a implementar em relao, por laes realizadas utilizando o software Ecotect
exemplo, orientao do edifcio, sombreamento, para um pequeno caso de estudo, um modelo de
dimenso de reas de envidraado, materiais de edifcio de habitao unifamiliar para a cidade
construo, ou regimes de ventilao. Para alm do de Luanda; mostrando uma sequncia de anlises
apoio ao projecto arquitectnico, que deve integrar para optimizao do desempenho energtico e
as estratgias bioclimticas desde a sua concepo de conforto. Estas simulaes devem ser consi-
inicial (em termos de nova construo e tambm de deradas a ttulo indicativo, como demonstrao
reabilitao), estas ferramentas podero ser teis sucinta das capacidades do programa. Os resulta-
na deciso sobre normas e recomendaes a deter- dos identificam as principais medidas passivas a
minar ao nvel da construo no Pas. implementar, e a sua importncia relativa in-
Entre vrios softwares disponveis, como o formando desta forma o processo de projecto de
Energy Plus, o DOE ou o Ecotect, a escolha para a Arquitectura. No mbito de trabalhos de investi-
realizao das simulaes a apresentar neste ma- gao, em que requerido um maior nvel de
nual recaiu sobre o Ecotect, por ser o programa preciso de resultados, ser necessrio desenvol-
mais adequado para Arquitectos, oferecendo uma ver um estudo mais aprofundado, incluindo, por
utilizao mais simplificada e uma interface visual exemplo, monitorizaes in situ, envolvendo me-
apelativa. Apesar de no ter a robustez e preciso dies e questionrios numa amostra significati-
de clculo dos outros programas referidos, mais va de edifcios e utilizadores.
113

ANEXOS
A1.1 Contexto climtico

A.1.1.1 Luanda
{ FIG. A1.1 } Diagrama
estereogrfico para a cidade
de Luanda, mostrando
o percurso solar nos vrios
periodos do ano.

{ FIG. A1.2 } Orientao solar


optimizada para a cidade
de Luanda (352 5N).
114
ARQUITECTURA SUSTENTVEL EM ANGOLA

{ FIG. A1.3 } Diagramas dos ventos dominantes em Luanda, nos diferentes meses do ano.

{ FIG. A1.5 } Em cima:


grfico com o perfil
anual de valores mdios de temperatura para Luanda. Em baixo: valores
de temperatura do ar (azul), humidade relativa (tracejado verde),
velocidade do vento (tracejado azul claro), radiao solar directa
(amarelo) e difusa (tracejado), para um dia quente (21 de Fevereiro), { FIG. A1.4 } Diagrama do regime anual de ventos em Luanda,
e para um dia frio (15 de Julho). mostrando a frequncia dos ventos dominantes.
115

ANEXOS
A.1.1.2 Uge

{ FIG. A1.6 } Diagrama


estereogrfico para a cidade
de Uge, mostrando
o percurso solar nos vrios
periodos do ano.

{ FIG. A1.7 } Orientao solar


optimizada para a cidade
de Uge (305 N)
116
ARQUITECTURA SUSTENTVEL EM ANGOLA

{ FIG. A1.8 } Diagramas dos ventos dominantes em Uge, nos diferentes meses do ano.

{ FIG. A1.10 } : Em cima:


grfico com o perfil anu-
al de valores mdios de temperatura para Uge. Em baixo: valores de
temperatura do ar (azul), humidade relativa (tracejado verde), veloci-
dade do vento (tracejado azul claro), radiao solar directa (amarelo)
e difusa (tracejado), para um dia quente (21 de Fevereiro), e para um { FIG. A1.9 } Diagrama do regime anual de ventos em Uge,
dia frio (15 de Julho). mostrando a frequncia dos ventos dominantes.
117

ANEXOS
A.1.1.3 Huambo

{ FIG. A1.11 } Diagrama


estereogrfico para a cidade
de Huambo, mostrando
o percurso solar nos vrios
periodos do ano.

{ FIG. A1.12 } Orientao solar


optimizada para a cidade
de Huambo (357 5 N)
118
ARQUITECTURA SUSTENTVEL EM ANGOLA

{ FIG. A1.13 } Diagramas dos ventos dominantes em Huambo, nos diferentes meses do ano.

{ FIG. A1.15 } Em cima:


grfico com o perfil
anual de valores mdios de temperatura para Huambo. Em baixo: valo-
res de temperatura do ar (azul), humidade relativa (tracejado verde),
velocidade do vento (tracejado azul claro), radiao solar directa
(amarelo) e difusa (tracejado), para um dia quente (21 de Fevereiro),
{ FIG. A1.14 } Diagrama do regime anual de ventos em Huambo,
e para um dia frio (15 de Julho).
mostrando a frequncia dos ventos dominantes.
119

ANEXOS
A.1.1.3 Cunene Ondjiva

{ FIG. A1.16 } Diagrama


estereogrfico para a cidade
de Ondjiva, mostrando
o percurso solar nos vrios
periodos do ano.

{ FIG. A1.17 } Orientao solar


optimizada para a cidade
de Ondjiva (5 N)
120
ARQUITECTURA SUSTENTVEL EM ANGOLA

{ FIG. A1.18 } Diagramas dos ventos dominantes em Ondjiva, nos diferentes meses do ano.

{ FIG. A1.20 } Em cima:


grfico com o perfil anual de valores mdios de temperatura para
Ondjiva. Em baixo: valores de temperatura do ar (azul), humidade re-
lativa (tracejado verde), velocidade do vento (tracejado azul claro),
radiao solar directa (amarelo) e difusa (tracejado), para um dia { FIG. A1.19 } Diagrama do regime anual de ventos em Ondjiva,
quente (21 de Fevereiro), e para um dia frio (15 de Julho). mostrando a frequncia dos ventos dominantes.
121

ANEXOS
A1.2 Modelo de habitao unifamiliar
cial soluo optimizada sendo apresentados os
resultados das etapas mais significativas.
O projecto de um edifcio de habitao econmica Na situao inicial, os materiais considerados
unifamiliar de um piso foi introduzido no Ecotect, e foram, para as paredes, blocos de solocimento, com
desenvolvido de forma expedita e simplificada, como 15cm de espessura, rebocadas pelo exterior e inte-
seria numa situao corrente num gabinete de Arqui- rior, e, para a cobertura, chapa metlica sem isola-
tectura. J de acordo com a orientao ptima dada mento. A rea de envidraado de 20% a Norte e
pelo mesmo programa, foram inseridos os dados de Sul, e de cerca de 10% a Nascente, sendo o valor
elementos construtivos e arquitectnicos, como o das aberturas a Poente negligencivel. Com estas
tipo de materiais de construo a utilizar, nvel de caractersticas, foram realizadas anlises referentes
isolamento, rea de envidraado ou sombreamentos. projeco solar de Vero e Inverno, iluminao
A planta dos pisos foi desde o incio concebida por natural, temperatura radiante, e aos consumos
forma a maximizar a rea passiva. de seguida ilus- energticos que seriam necessrios se o edifcio ti-
trado este processo de anlise desde a soluo ini- vesse um sistema de climatizao.

Anlise de um edifcio de Habitao Econmica


Unifamiliar 1 piso (existente)

Materiais de construo

{ FIG. A1.21 } Modelo de um edifcio de habitao econmica


unifamiliar materiais de construo.
122
ARQUITECTURA SUSTENTVEL EM ANGOLA

O valor do consumo anual resultante para o De modo a melhorar o desempenho energtico e


cenrio inicial de aproximadamente 228 KWh/m2, de conforto do edifcio, foram de seguida testadas no-
o que constitui um gasto energtico elevado pa- vas alteraes ao projecto do edifcio. Estas mudanas
ra uma habitao. Na Europa Central, uma fam- foram muito simples e consistiram na alterao dos
lia comum consome aproximadamente 70 kWh/m2/ materiais de construo das paredes e da cobertura,
ano, enquanto que um domiclio com um mon- no redimensionamento da rea de envidraados e ele-
tante energtico optimizado no ultrapassa os mentos de sombreamento. Para cada alternativa fo-
40 kWh/m2/ano. ram calculados os respectivos consumos energticos.

{ FIG. A1.22 } Percurso solar de vero, dia 15 de Maro.

{ FIG. A1.23 } Percurso solar de Inverno, dia 15 de Julho


123

ANEXOS
{ FIG. A1.24 } ( esquerda) Anlises de Iluminao Natural: situao inicial. Factor luz
e iluminncias para um dia frio (15 de Julho). Os valores do Factor Luz do Dia
encontramse, em mdia, entre 2 e 4%, correspondendo a uma variao entre 150 e 800
Lux. Os valores so aceitveis, dentro dos limites recomendados, e a distribuio de luz
no espao relativamente uniforme.

{ FIG. A1.25 } (em baixo) Anlise do desempenho trmico: situao inicial. Temperatura
radiante para um dia quente, 11 de Abril (esquerda), um dia intermdio, 15 de Novembro
(centro) e um dia frio, 15 de Julho (direita). No dia frio as temperaturas variam entre
os 20 e os 23C, mantendose bem dentro dos limites de conforto. A mesma situao ocorre
no caso do dia intermdio, representativo das situaes ocorrentes em grande parte do ano:
a temperatura media cerca de 24C. Contudo, no dia quente as temperaturas so mais
elevadas, com valores que podem indicar algum desconforto por sobreaquecimento.

Consumos para arrefecimento resultantes Por fim, com base no modelo adaptativo de con-
A soluo final mostra uma descida dos consumos de forto (cf. 3.12), foi considerada uma ampliao da
energia de cerca de 18%, dos 228 para os 189,2 zona de conforto entre os valores entre 18C e 28C,
kWh/m2 por ano. em sintonia com o contexto climtico local, substi-

MONT HLY HE AT ING/ COOLING LOADS - All Visible T hermal Zones LUANDA
kW h

1600.0
1200.0
800.0
400.0
0.0
400.0
800.0
1200.0
1600.0
2000.0
J F M A M J J A S O N D
Heating Cooling

{ FIG. A1.26 } Consumo energtico estimado para climatizao. Observase que o consumo se deve exclusivamente ao arrefecimento,
no havendo necessidade de arrefecimento. Nesta simulao consideraramse limites de conforto entre 18C e 26C, i.e. o sistema
de climatizao entra em funcionamento quando o limite de 26C atingido. O valor do consumo anual de aproximadamente 228 KWh/m2.
124
ARQUITECTURA SUSTENTVEL EM ANGOLA

COBERTURA
Chapa de zinco Telha Cermica
Chapa de zinco
Espessura (cms) com isolamento Telha Cermica com isolamento
sem isolamento
(poliextireno extrudido) (poliextireno extrudido)
Solocimento 15 Soluo Inicial Alternativa 1 Alternativa 2 Alternativa 3
Solocimento 30 Alternativa 4 Alternativa 5 Alternativa 6 Alternativa 7
PAREDE

Tijolo furado, pano simples 15 Alternativa 8 Alternativa 9 Alternativa 10 Alternativa 11


Tijolo furado, pano duplo, com caixa de ar 30 Alternativa 12 Alternativa 13 Alternativa 14 Alternativa 15

Tijolo furado, pano duplo, com caixa


30 Alternativa 16 Alternativa 17 Alternativa 18 Alternativa 19
de ar e isolamento

Bloco de Cimento 23 Alternativa 20 Alternativa 21 Alternativa 22 Alternativa 23


Bloco de Cimento com isolamento 25 Alternativa 24 Alternativa 25 Alternativa 26 Alternativa 27

COBERTURA
Chapa de zinco Telha Cermica
Chapa de zinco
Espessura (cms) com isolamento Telha Cermica com isolamento
sem isolamento
(poliextireno extrudido) (poliextireno extrudido)
Solocimento 15 228.55 209.35 214.59 208.88
Solocimento 30 217.22 193.47 195.27 192.58
PAREDE

Tijolo furado, pano simples 15 224.21 203.26 212.25 202.44


Tijolo furado, pano duplo, com caixa de ar 30 218.94 194.06 199.88 192.80

Tijolo furado, pano duplo, com caixa


30 219.26 191.61 200.64 190.72
de ar e isolamento

Bloco de Cimento 23 227.77 206.85 213.99 206.18


Bloco de Cimento com isolamento 25 221.03 194.64 202.79 193.43

{ QUADROS A1.1 } Matriz das diversas solues construtivas consideradas na anlise (em cima) e respectivos consumos para arrefecimento.

Envidraado/ Extenso Extenso


Sombreamento
Sombreamento da + Palas
igual
Cobertura Horizontais
Modelo sem Alteraes 190.72 190.33 189.29
30% Envidraado 209.77 208.63 207.33
60% Envidraado 228.48 226.32 224.91

{ QUADRO A1.2 } Consumos energticos resultantes das alteraes.


125

ANEXOS
tuindo a zona convencional usada (por defeito) nas dues ainda mais expressivas poderiam ser obtidas
simulaes anteriores (entre 18C e 26C). O resultado com o recurso, por exemplo, a um sistema de modo
obtido foi de 165.1 kWh/m2, correspondendo a uma misto, i.e. o edifcio a funcionar em regime de ven-
reduo de 28% no consumo anual de climatizao tilao natural (diurna/nocturna), complementado
comparativamente soluo inicial. pelo uso de ventoinhas (de baixo consumo).
A presente anlise serve para demonstrar que importante relembrar que, como referido na sec-
caso se tivesse optado pela utilizao de um siste- o 3.12, para os diversos contextos climticos exis-
ma mecnico convencional de ar condicionado te- tentes em Angola, em teoria, se correctamente aplica-
ria, mesmo assim, sido possvel uma reduo subs- das, o uso de estratgias bioclimticas pode gerar
tancial dos consumos anuais atravs da utilizao ambientes confortveis durante quase todo o ano,
de algumas estratgias passivas. Neste cenrio, re- dispensando o uso de aparelhos de ar condicionado.

{ FIG. A1.27 } Variao de percentagem de envidraados e sombreamento, para a soluo construtiva com paredes em tijolo furado,
pano duplo, com caixa de ar e isolamento.
126
ARQUITECTURA SUSTENTVEL EM ANGOLA

em comum entre eles. possvel, tal como defini-


A2 O sistema LiderA do pela Agenda 21 (CIB, 2002), focaremse aspec-
tos comuns e reconhecer a diversidade no facto de
sistema voluntrio cada soluo dever ser ajustada e apropriada ao
para avaliao da sustentabilidade
dos ambientes construdos contexto local.
Estes pases partilham tambm de barreiras co-
A2.1 Enquadramento: a importncia muns para a implementao da construo susten-
de utilizar sistemas integrados para a procura tvel (CIB, 2002), como incertezas ambientais e
da sustentabilidade no projecto e construo
econmicas, por vezes reduzida compreenso e
capacidade da rea da sustentabilidade da cons-
As actividades humanas, de que um exemplo a truo, pobreza e subsequentemente baixo inves-
construo, tm acompanhado o crescimento po- timento urbano, falta de dados precisos e envolvi-
pulacional. De acordo com a UNEP e a UNDP a po- mento dos vrios agentes.
pulao mundial atingiu os 6 464 milhes em Os desafios envolvem a rpida urbanizao, a
2005 (UNEP, 1999; UNPD, 1998) e segundo as mes- existncia de prticas, infraestruturas, solues
mas fontes, a economia mundial quintuplicou o construtivas e urbanas inadequadas, sendo as opor-
seu tamanho, nomeadamente por via do aumento tunidades a procura de habitao, infraestruturas
do nvel de vida individual das populaes, da e zonas urbanas sustentveis, fomento de desen-
maior capacidade de mobilizar recursos e do con- volvimento rural, educao, aposta em valores tra-
sequente impacte ambiental. dicionais ajustados e na inovao para a susten-
A construo um vasto processo/mecanismo tabilidade.
para realizar os ambientes construdos e infra Em muitos casos, esse aumento quantitativa-
estruturas que suportem o desenvolvimento das mente significativo das construes no se re-
sociedades. Esta pode incluir a extraco e bene- flectiu num aumento das preocupaes ambien-
ficiao de matriasprimas, a produo de mate- tais, nem na procura de eficincia em termos dos
riais e componentes, o ciclo do projecto da cons- consumos energticos e de materiais, colocando
truo, da viabilidade do projecto, as obras de assim na agenda a necessidade de uma aborda-
construo, operao e gesto, at a desconstru- gem mais activa da dimenso ambiental na pro-
o do ambiente construdo (CIB, 2002). cura sustentabilidade.
Os pases africanos de lngua oficial Portugue- Nesta lgica e associado perspectiva de de-
sa tm diferentes condies climticas, culturais e senvolvimento sustentvel e da sua aplicao s
econmicas, apesar de existirem muitos aspectos construes, promovese a procura de solues ar-
127

ANEXOS
quitectnicas de bom desempenho bioclimtico, Portuguesa, denominado de LiderA (www.lidera.
devendo, nesse aspecto estrutural, alargar as ques- info), isto liderar pelo ambiente, que seguida-
tes da sustentabilidade a serem consideradas nos mente se apresenta.
ambientes construdos.
A sustentabilidade da construo significa
A2.2 LiderA como instrumento
que os princpios do desenvolvimento sustent- para avaliar o caminho para a Sustentabilidade
vel so aplicados de forma compreensvel ao ci- nos Pases de Lngua Oficial Portuguesa
clo da construo Este processo global (holstico)
deseja restaurar e manter a harmonia entre os O sistema LiderA
ambientes naturais e construdos, enquanto se O sistema LiderA (Pinheiro, 2004) tem como objec-
criam aglomerados urbanos que afirmam a digni- tivo liderar a procura de boas solues ambientais
dade humana e encorajam a equidade econmica e de sustentabilidade nas diferentes fases, desde o
(CIB, 2002). plano ao projecto e obra, manuteno, gesto,
A Construo Sustentvel , ainda hoje, um reabilitao, at fase final de demolio.
conceito novo para a Indstria da Construo, dis- Para esse objectivo considerase relevante que
pondo de mltiplas perspectivas, o que desafia o os planos, projectos, actividades construtivas,
aparecimento de instrumentos que permitam ava- edifcios, infraestruturas e ambientes constru-
liar a procura da sustentabilidade. dos olhem a sustentabilidade de uma forma inte-
As formas prticas de avaliar e reconhecer a grada, abrangendo vrias vertentes, j que basta
construo sustentvel so cada vez mais uma re- uma delas no estar assegurada para que a susten-
alidade nos diferentes pases, destacandose as tabilidade efectiva seja difcil de atingir.
que fomentam a construo sustentvel atravs No LiderA a procura da sustentabilidade en-
de sistemas voluntrios de mercado (CIB, 1999; globa a integrao local, o consumo de recursos
Silva, 2004) e as que permitem avaliar desde logo (como por exemplo a energia, a gua, os mate-
o desempenho ambiental dos edifcios. riais e a produo alimentar), as cargas ambien-
A nvel internacional, existem j vrios siste- tais, o conforto ambiental, a vivncia socioeco-
mas (Portugal, Reino Unido, Estados Unidos da nmica e o uso sustentvel.
Amrica, Austrlia, Canad, Frana, Japo, entre Para cada uma destas seis vertentes, so conside-
outros), para reconhecer a construo sustent- radas reas (no total vintes e duas, ver { FIGURA A2.1 }).
vel. Entre essas abordagens destacase o sistema Em cada uma rea so definidos critrios (que na ver-
de apoio e avaliao da construo sustentvel so de aplicao aos Pases de Lngua Oficial Portu-
para Portugal e para os Pases de Lngua Oficial guesa considera vinte e dois critrios).
128
ARQUITECTURA SUSTENTVEL EM ANGOLA

{ FIG. A2.1 } Vertentes e reas (subdiviso das vertentes) consideradas pelo Sistema LiderA para a procura da sustentabilidade.

A procura da sustentabilidade (nas vertentes, de maior desempenho A, A+ e A++, que revelam


reas e critrios) pode ser classificada em nveis uma maior sustentabilidade.
maiores ou menores do desempenho nesse cami- Esta escala definida tendo em considerao a
nho para a sustentabilidade, nomeadamente das prtica usual no sustentvel, que classificada
classes de menor desempenho G, E at s classes como classe E, at uma boa prtica que assuma
necessidades de consumos ou redues da ordem
de 2 vezes (classe A), da ordem das 4 vezes (Clas-
se A+) ou da ordem das 10 vezes (Classe A++).
Por exemplo, a utilizao de grandes reas envi-
draadas na fachada do edifcio origina consumos
energticos e necessidades de arrefecimento muito
elevados. Assim, atravs da rea envidraada (solu-
o adoptada) ou atravs dos consumos de energia
(kilogramas equivalentes de petrleo (kgep) por m2
ou kWh/m2) tal classificado como classe E. A re-
duo da rea envidraada no edificado e a utiliza-
o de princpios bioclimticos (adequada orienta-
{ FIG. A2.2 } Nveis de Desempenho Global. o, sombreamento, fomento da ventilao natural,
129

ANEXOS
entre outros) permite melhorias energticas nesse Princpios para a Sustentabilidade
edifcio que podem chegar a redues dos consu- Para o LiderA a procura de sustentabilidade nos
mos de 2 a 10 vezes (Classes entre A e A++). ambientes construdos edifcios, infraestruturas
Esta classificao pode ser efectuada de forma e outros espaos construdos baseiase em pro-
qualitativa, nomeadamente se esto considera- curar bom desempenho em seis vertentes a serem
dos os princpios da sustentabilidade em cada ver- adoptados atravs dos seguintes princpios:
tente (ver explicao da aplicao desta aborda- { 1 } Valorizar a dinmica local e promover uma
gem no capitulo 4.1) de forma semiquantitativa, adequada integrao. Para tal sugerese que a in-
atravs da resposta a um conjunto de questes tegrao local procure essa dinmica no que diz
dentro de cada vertente e abrangendo as diferen- respeito s reas do Solo, dos Ecossistemas Natu-
tes reas (ver capitulo 4.2) ou atravs de uma rais e da Paisagem e Patrimnio;
base quantitativa com o valor do desempenho { 2 } Fomentar a eficincia no uso dos recursos,
definido em cada critrio (ver capitulo 4.3). abrangendo as reas da Energia, da gua, dos Ma-
Esta lgica permite a aplicao do sistema, teriais e da Produo Alimentar;
desde as fases iniciais de planeamento e projec- { 3 } Reduzir o impacte das cargas ambientais
to, at fases de projecto mais detalhadas, culmi- (quer em valor, quer em toxicidade), envolven-
nando na fase de operao do edificado e am- do as reas dos Efluentes (esgotos), das Emis-
bientes construdos. Tal permite avaliar e procurar ses Atmosfricas (poeiras e gases), dos Res-
melhorias, mesmo com nveis de informao re- duos (lixos), do Rudo Exterior e da Poluio
duzidos e ir progredindo at nveis de informa- trmicolumnica (efeito de ilha de calor e ex-
o elevados. cesso de luz);
Essa lgica assume que o nvel de sustentabili- { 4 } Assegurar a qualidade do ambiente, focada
dade, por exemplo no consumo de energia, varia no conforto ambiental, nas reas do Conforto Tr-
de uma habitao para um escritrio, ajustando mico, Iluminao, Qualidade do Ar, e Acstica;
os diferentes nveis de desempenho ao tipo de { 5 } Fomentar a vivncia socioeconmicas sus-
servio do ambiente construdo e potenciando a tentvel, passando pelas reas do Acesso para To-
procura de solues ajustadas e eficientes. dos, da Diversidade Econmica, das Amenidades e
Assim, o sistema, ao definir princpios e nveis Interaco Social, da Participao e Controlo, e
de desempenho na sustentabilidade, diferencia as dos Custos no Ciclo de vida;
solues a considerar, contribuindo para adoptar { 6 } Assegurar a melhor utilizao sustentvel
solues e propostas mais eficientes no caminho dos ambientes construdos, atravs da Gesto Am-
da sustentabilidade pretendida. biental e da inovao.
130
ARQUITECTURA SUSTENTVEL EM ANGOLA

A2.3. Que aspectos considerar


interrelacionar com a dinmica local e regional.
O modelo adoptado deve integrarse na perspec-
tiva de desenvolvimento sustentvel, ou seja de
Esses princpios podem ser avaliados e implementa-
acordo com o princpio pensar globalmente, agir
dos considerando a aplicao nas vrias reas e cri-
localmente.
trios, que seguidamente se explicam de forma su-
A forma de crescimento sustentvel (sua loca-
mria, abrangendo as seis vertentes consideradas.
lizao e integrao) um aspecto muito questio-
nado. Uma soluo pode assentar, por exemplo,
A2.3.1 Assegurar uma boa Integrao Local
nos princpios de um crescimento inteligente (re-
Na perspectiva da sustentabilidade, a localizao ferenciado na literatura anglosaxnica como
dos empreendimentos, constituindo a fase inicial smart growth) que considera a aplicao de 10
de desenvolvimento do projecto, assumese como princpios (ICMA e Smarth Grow Network, 2003a;
um dos aspectos chave do mesmo. Efeitos como a ICMA e Smart Grow Network, 2003b):
ocupao do solo, as alteraes ecolgicas do ter- { 1 } Uso misto do solo;
ritrio e da paisagem, a presso sobre as infra { 2 } Adoptar as vantagens de projectar edifcios
estruturas e as necessidades de transportes, es- compactos;
to associados escolha do local e condicionam o { 3 } Criar uma gama de oportunidades de habita-
seu desempenho ambiental. es e de escolhas;
No geral, a deciso da escolha do local da { 4 } Criar uma vizinhana baseada na distncia
responsabilidade do promotor e deve estar asso- que se pode percorrer a p;
ciada ao conhecimento das sensibilidades e par- { 5 } Criar aspectos distintivos, ou seja, comuni-
ticularidades ambientais do mesmo. til pro- dades atractivas com uma forte noo do local;
ceder a uma avaliao das perspectivas de sus- { 6 } Manter os espaos abertos, as zonas cultivadas,
tentabilidade ao nvel da Avaliao Ambiental a beleza natural e as reas ambientais crticas;
Estratgica (AAE) se for um plano ou um progra- { 7 } Focar e desenvolver em direco s comuni-
ma, ou ao nvel do Estudo de Impacte Ambien- dades existentes;
tal (EIA), no caso de ser um projecto de dimen- { 8 } Fornecer variedades de opes de transporte;
ses significativas, ou ainda ao nvel de uma { 9 } Tornar decises de desenvolvimento previs-
anlise ambiental expedita, no caso de empre- veis, justas e efectivas em termos de custos;
endimentos de dimenso reduzida. { 10 } Encorajar a comunidade e a colaborao
A escolha do local associase ao modelo de dos vrios agentes envolvidos (stakeholder) nas
desenvolvimento perspectivado, o qual se deve decises de desenvolvimento.
131

ANEXOS
Os aspectos ambientais particulares da localiza- essencial dispor de informao ambiental da
o (por exemplo, a topografia, geologia, geotec- zona. Complementarmente e em funo das carac-
nia) devem ser entendidos no como um problema, tersticas do local e do empreendimento, pode ser
mas como uma oportunidade de desenvolver essas relevante considerar outros aspectos, tais como a
especificidades locais, devendo ser equacionados. condio dos solos.
Para contribuir para a sustentabilidade na ver-
tente da Integrao Local, considerase relevante A2.3.2 Reduzir as necessidades de Recursos
considerar a dinmica do solo, valorizar e preservar
a ecologia local, assegurar a integrao na paisa- O consumo de recursos, como a energia, a gua, os
gem e a valorizao e preservao do patrimnio. materiais e os recursos alimentares, associase
No quadro seguinte { QUADRO A2.1 } sumarizamse a impactes muito significativos do ponto de vista
os principais aspectos considerados na vertente da do edificado, sendo este um aspecto fundamental
Integrao Local. No quadro apresentase uma in- no que se refere sustentabilidade, nas diferentes
dicao da importncia atravs da ponderao, ou fases do ciclo de vida dos empreendimentos.
seja do peso de cada rea/critrio (wi); por exem- Os Recursos constituem uma vertente que, numa
plo o solo tem um peso de 7%. Simultaneamente, perspectiva da sustentabilidade, assume um papel
devese verificar se aplicam requisitos legais (nota- fundamental para o equilbrio do meio ambiente,
o de Prereq, significa que se deve ver se existem uma vez que os impactes provocados podem ser
pr requisitos legais) e apresentase o nmero do muito significativos e podem ocorrer nas diferentes
critrio, no caso de 1 a 6 (A1 a A3). fases do ciclo de vida dos empreendimentos.

Vertentes rea Wi PreReq. Critrio Nc

Integrao local Solo 7% S Valorizao territorial A1


3 Critrios
14%

Ecossistemas naturais 5% S Valorizao ecolgica A2

Valorizao paisagstica
Paisagem e patrimnio 2% S A3
e patrimonial

{ QUADRO A2.1 } Integrao Local: reas e Critrios de base considerados.


132
ARQUITECTURA SUSTENTVEL EM ANGOLA

A possibilidade de produo alimentar pontual mente para a disponibilizao de alimentos, para a


que, apesar de no afectar directamente a operao ocupao de tempo ligada natureza e para a reduo
dos edifcios e das zonas, pode contribuir pontual- da pegada do transporte, um aspecto a considerar.

Vertentes rea Wi PreReq. Critrio Nc

Recursos Energia 17% S Gesto da energia A4


4 Critrios
32%

gua 8% S Gesto da gua A5

Materiais 5% S Gesto dos materiais A6

Produo Alimentar 2% S Produo local de alimentos A7

{ QUADRO A2.2 } Recursos: reas e critrios de base considerados.

Vertentes rea Wi PreReq. Critrio Nc

Cargas Efluentes 3% S Gesto dos efluentes A8


ambientais
5 Critrios
Gesto das emisses
12% Emisses atmosfricas 2% S A9
atmosfricas

Resduos 3% S Gesto dos resduos A10

Rudo exterior 3% S Gesto do rudo A11

Poluio iluminotrmica 1% S Gesto iluminotrmica A12

{ QUADRO A2.3 } Cargas Ambientais: reas e critrios de base considerados.


133

ANEXOS
A2.3.3 Reduzir e valorizar as Cargas Ambientais luz dos modos de vida actuais e tendo em con-
ta a conscincia mais ponderada sobre as questes
As cargas ambientais geradas decorrem das emis- ambientais e econmicas por parte da sociedade
ses dos efluentes lquidos, das emisses atmosf- em geral, tornase essencial que os edifcios e os
ricas, dos resduos slidos e semislidos, do rudo ambientes exteriores respondam no s s exign-
e dos efeitos trmicos (aumento de temperatura) e cias de eficincia energtica mas tambm satisfa-
luminosos. o dos utentes, pelo que a interveno nesta rea
Os impactes das cargas geradas pelos ambien- assume um papel relevante e necessrio, que deve
tes construdos e actividades associadas decorrem ser equacionado. No h regras rgidas e rpidas ou
das emisses de efluentes lquidos, das emisses solues nicas para criar ambientes que respon-
atmosfricas, dos resduos slidos e semislidos dam ao conforto e ao bemestar humanos.
produzidos, do rudo e complementarmente da po- No entanto, devem existir mtodos de quanti-
luio trmicolumnica. Esta vertente focase nos ficao que demonstrem a eficcia e a eficincia
edifcios e nas estruturas construdas, bem como das solues adoptadas. Essas solues devem es-
na estreita relao que estes estabelecem com o tar associadas a estratgias especficas que de-
exterior. pendam dos ocupantes, das actividades e do pro-
grama. Os factores seguintes podem ser teis na
A2.3.4 Assegurar um bom nvel considerao de diferentes escalas e questes, fa-
de Conforto Ambiental
cilitando desta forma a capacidade dos ocupantes
modificarem as suas condies de conforto nos
No que diz respeito aos edifcios e ambientes cons- espaos interiores e exteriores.
trudos, alguns dos problemas de conforto associa-
dos m qualidade da construo e acabamentos, A2.3.5 Contribuir para a Vivncia Socioeconmica
fissurao, ventilao deficiente e a falta de manu-
teno, so os problemas menos identificados. A criao de ambientes construdos pode contribuir
Desta forma, verificase que mesmo em edifcios tambm, de forma relevante, para uma melhor vi-
com uma qualidade construtiva superior, os problemas vncia. A questo da vivncia econmica est rela-
so muitos e, em grande parte, dizem respeito ao con- cionada directamente com a sociedade e abrange
forto para os ocupantes. Nesta perspectiva, reforase vrios aspectos sociais e econmicos, ao garantir o
a ideia de que o que se anda a construir no s no acesso para todos, a dinmica econmica, as ame-
obedece aos critrios de eficincia energtica, como nidades e a interaco social, a participao e o
no proporciona a satisfao dos ocupantes. controlo, e os baixos custos no ciclo de vida.
134
ARQUITECTURA SUSTENTVEL EM ANGOLA

Vertentes rea Wi PreReq. Critrio Nc

Conforto Qualidade do ar 5% S Gesto da qualidade do ar A13


ambiental
3 Critrios
15% Conforto trmico 5% S Gesto do conforto trmico A14

Gesto de outras condies


Iluminao e acstica 5% S A15
de conforto

{ QUADRO A2.4 } Conforto Ambiental: reas e critrios de base considerados.

A vivncia socioeconmica uma vertente que rela- as condies de participao nas decises impor-
ciona directamente a sociedade com o espao em tantes, que influenciam a sua qualidade de vida;
que esta se situa. Dos vrios aspectos sociais e eco- } nos Custos no Ciclo de Vida a garantia de bai-
nmicos que compem esta interaco fazem parte: xos encargos durante o ciclo de vida dos ambien-
} no Acesso para Todos a acessibilidade e a mobi- tes construdos, que estabelecem uma relao
lidade, que abrangem o tipo e a facilidade de movi- mais adequada entre o preo e qualidade.
mentos e deslocaes realizados pela populao; Pretendese que estes aspectos sejam abordados de
} nas Amenidades e Interaco Social a qualida- forma a garantir crescentemente uma estrutura e vi-
de e o tipo de amenidades que compem o espa- vncia socioeconmica mais verstil e eficiente para a
o, influenciando a qualidade de vida da popula- qualidade de vida da populao residente e flutuante.
o e o tipo de interaco social que se fomenta
entre a populao; A2.3.6 Contribuir para o Uso sustentvel
} na Diversidade Econmica a dinmica econ-
mica que, tal como o nome indica, abrange uma A gesto e uso sustentvel, quer atravs da infor-
maior ou menor variedade de espaos com dife- mao a fornecer aos agentes envolvidos, quer
rentes tipos de funes e economia; atravs da aplicao de sistemas de gesto, pode
} na Participao e Controlo o controlo e a segu- assegurar a consistncia e concretizao dos cri-
rana, que garante uma maior ou menor segurana trios e solues com reflexos no desempenho
da populao e desta com o espao envolvente, e ambiental, uma dinmica de controlo e melhoria
135

ANEXOS
contnua ambiental dos empreendimentos, e a promovam a sustentabilidade a adopo de me-
promoo da inovao. Entre os aspectos relevan- didas inovadoras. A capacidade para apresentar
tes esto o nvel de informao e a sensibilizao elementos inovadores na projeco, construo,
dos utentes (atravs da criao de, por exemplo, operao e demolio dos edifcios tem de ser
um manual), a adopo de um Sistema de Gesto enaltecida, j que cada vez mais os projectos
Ambiental e a inovao de prticas, quer nas solu- tm a necessidade de se tornarem cada vez mais
es, quer na integrao e na operao. sustentveis, pelo que os desafios adquirem uma
Um dos elementos que se pretende reforar e dimenso de desempenho muito superior que
incentivar aquando da aplicao de solues que actualmente se regista.

Vertentes rea Wi PreReq. Critrio Nc

Contribuir
Vivncia Acesso para todos 5% S A16
para acessibilidade
socioeconmica
5 Critrios
19% Contribuir para
Diversidade econmica 4% S A17
a dinmica econmica

Amenidades e Contribuir para


4% S A18
interaco social as amenidades

Participao e controlo 4% S Condies de controlo A19

Contribuir para os baixos


Custos no ciclo de vida 2% S A20
custos no ciclo de vida

{ QUADRO A2.5 } Vivncia scioeconmica: reas e critrios de base considerados.

Vertentes rea Wi PreReq. Critrio Nc

Uso sustentvel Promover a utilizao


Gesto ambiental 6% S A21
2 Critrios e Gesto

{ QUADRO A2.6 } Uso sustentvel: reas e critrios de base considerados.


136
ARQUITECTURA SUSTENTVEL EM ANGOLA

A2.4 Aplicar o LiderA no desenvolvimento Os valores atribudos devem ser somados no fi-
dos Planos, Projectos e Solues nal. No caso de a soma ser superior a 6 indica que
se est caminhar para a sustentabilidade, mas que
importa considerar outros aspectos. Se tiver um
A2.4.1 Aplicar de forma preliminar
valor de 12 ento porque esto assumidos os

O sistema LiderA, atravs da sua aplicao nos princpios chave da sustentabilidade. Caso seja in-

empreendimentos, permite suportar o desenvol- ferior a 12 deve ser considerado que aspectos po-

vimento de solues que procurem a sustentabi- dero vir a ser incorporados e que oportunidades

lidade. Ou porque se encontra numa fase inicial de melhoria existem para o caso em anlise, sendo

ou porque o nvel de informao reduzido, a de considerar a possibilidade de as incorporar.

abordagem qualitativa. Pode assim avaliarse o Analisar se princpios de sustentabilidade


edifcio ou zona existente e procurar solues, esto a ser aplicados nas diferentes reas
utilizando para o efeito dois conjuntos de ques- de sustentabilidade no caso de anlise

tes que abrangem, as primeiras, os seis princ- Para analisar a abrangncia da aplicabilidade dos

pios referidos (vertentes), e as segundas o con- princpios s vrias reas da sustentabilidade,

junto de questes quanto abrangncia da apli- tambm atravs de um processo iterativo de an-

cao (ver { QUADRO A2.7 }). lise, deve verificarse em primeiro lugar se se
abrange as diferentes reas e, no caso de no se-

Analisar se esto assumidos os princpios rem abrangidas, que aspectos devem ser includos
de sustentabilidade no caso de anlise no plano ou projecto para as incluir.
Para aplicar os princpios da sustentabilidade Ao efectuar a anlise, identificamse solues
sugerese um processo iterativo de anlise, para que podem dar resposta para estas reas (ver as
verificar se esto a ser aplicados os princpios e questes colocadas na quinta coluna e inserir a
em caso de no serem que aspectos devem ser in- resposta na oitava coluna do { QUADRO A2.7 }) indi-
cludos no plano ou projecto para os concretizar. cando (na stima coluna do { QUADRO A2.7 }) se foi
Ao efectuar a anlise identificamse solues que considerado o princpio parcialmente (atribuindo
podem dar resposta a estes princpios (ver as ques- lhe um valor de 1) ou totalmente (atribuindolhe
tes colocadas na segunda coluna e inserir a respos- o valor de 2).
ta na quarta coluna do { QUADRO A2.7 }) indicando (na Os valores atribudos devem ser somados no
terceira coluna do { QUADRO A2.7 }) se foi considerado final. No caso de a soma ser superior a 6 indica
o princpio parcialmente (atribuindolhe um valor de que se est caminhar para a sustentabilidade,
1) ou totalmente (atribuindolhe o valor de 2). mas com uma abrangncia parcial, pelo que de
137

ANEXOS
Assumir dos princpios? Abrangncia da Aplicao?

Questes Abrangncia
Vertente iniciais? NPT Descrio rea da aplicao NPT Descrio

Integrao Est prevista Solo A integrao local procura


local a valorizao essa dinmica no que diz
da dinmica local Ecossistemas naturais respeito rea do Solo,
e promover uma aos Ecossistemas naturais
adequada integrao? Paisagem e patrimnio e Paisagem e ao Patrimnio?

Recursos Est assumido Energia Abrange a rea da Energia,


o fomentar a gua, os Materiais
da eficincia no uso gua e os recursos Alimentares?
dos recursos naturais?
Materiais

Produo alimentar

Cargas Est previsto Efluentes Envolve as reas dos


ambientais o reduzir do impacte Efluentes (esgotos),
das cargas ambientais Emisses atmosfricas as Emisses Atmosfricas
(quer em valor, (poeiras e gases),
quer em toxicidade)? os Resduos (lixos),
Resduos
o Rudo Exterior
e a Poluio Ilumino
Rudo exterior trmica (excesso
de luz e efeito de
Poluio iluminotrmica ilha de calor)?

Conforto Est assegurada Qualidade do ar Est considerada


ambiental a qualidade a Qualidade do Ar,
do ambiente, Conforto trmico do Conforto Trmico,
focada no conforto da Iluminao e Acstica?
ambiental? Iluminao e acstica

Vivncia Assumese fomentar Acesso para todos abrangido o Acesso


socio- as vivncias para Todos (incluindo
econmica socioeconmicas Diversidade econmica a transportes pblicos),
sustentveis? considera os Custos no
Amenidades e interaco social Ciclo de vida, a Diversidade
Econmica, as Amenidades
Participao e controlo e a Interaco Social
e Participao e Controlo?
Custos no ciclo de vida

Uso Esto assumidos Gesto ambiental Esto assumidos modos


sustentvel condies de boa de gesto sustentvel
utilizao e possibilidades
sustentvel? Inovao de inovao?

{ QUADRO A2.7 } Princpios e abrangncia da aplicao. NPT No (0), Parcial (1), Total (2).
138
ARQUITECTURA SUSTENTVEL EM ANGOLA

analisar se no se devem considerar outros as- Anlise detalhada:


pectos. Se tiver um valor de 12, ento porque Critrios e nveis de desempenho

esto assumidos princpios chave da sustenta- Como apoio procura da sustentabilidade, sugere

bilidade, abrangendo as diferentes reas. Caso se um conjunto de critrios nas diferentes reas.

seja inferior a 12 deve ser considerado que as- Os critrios propostos pressupem que as exign-

pectos podem vir a ser incorporados e que opor- cias legais so cumpridas e que so adoptadas

tunidades de melhoria existem para o caso em como requisitos essenciais mnimos nas diferentes

anlise sendo de considerar a possibilidade de reas consideradas, incluindo a regulamentao

incorporar essas intervenes dando uma abran- aplicada ao edificado, sendo a sua melhoria a pro-

gncia alargada. cura da sustentabilidade.

Esta abordagem do LiderA agora referida con- Para orientar e avaliar o desempenho, o sistema

tribui assim nesta fase para compreender qual possui um conjunto de critrios que operacionali-

o mbito da procura da sustentabilidade posicio- zam os aspectos a considerar em cada rea. Na ver-

nando e identificando reas de interveno a so LiderA frica esto predefinidos 22 critrios,

desenvolver. um por cada rea. Os critrios esto numerados de


1 a 22 (isto , um critrio sugerido como NC).
A2.4.2 Aplicar de forma detalhada

Nveis de desempenho:
Numa fase de anlise mais detalhada, pode ser avalia- Factor 1, 2, 4 e 10 e Classes E a A++
do o desempenho atravs de uma avaliao ao nvel Tal como noutros sistemas internacionais de avalia-
dos critrios do LiderA, nomeadamente identificando o, de que so exemplo o BREEAM, o LEED, o HQE e
quais os nveis de desempenho, valores ou solues, o CASBEE (Pinheiro, 2006), estas propostas evo-
que permitem implementar a sustentabilidade. luem com a tecnologia, permitindo assim dispor de
Assim, vertente a vertente, rea a rea, critrio a solues ambientalmente mais eficientes. No en-
critrio, cada empreendimento procura desenvolver tanto, os critrios e as orientaes apresentadas
as solues mais ajustadas ao seu posicionamento pretendem ajudar a seleccionar, no a melhor solu-
econmico e de mercado, registar os comprovativos o existente, mas a soluo que melhore, prefe-
dessa soluo e sempre que possvel do desempenho rencialmente de forma significativa, o desempenho
que consegue atingir. Este processo utiliza o sistema existente, tambm numa perspectiva econmica.
LiderA e os seus nveis Classe E a A++, como base Para cada tipologia de utilizao e para cada
para orientar e concretizar a procura da sustentabili- critrio so definidos os nveis de desempenho
dade e sua implementao. considerados, que permitem indicar se a soluo
139

ANEXOS
ou no sustentvel. A parametrizao para cada um A ttulo indicativo, apresentamse no quadro
deles segue, ou a melhoria das prticas existentes, seguinte { QUADRO A2.8 } as vertentes, reas e crit-
ou a referncia aos valores de boas prticas, tal rios, da verso Lidera frica, sendo que se sumari-
como usual nos sistemas internacionais. zam os principais aspectos a considerar para as
Estes nveis so derivados a partir de dois refe- diferentes reas consideradas na procura da sus-
renciais chave. O primeiro assenta no desempenho tentabilidade, num caso de anlise detalhada.
tecnolgico, pelo que a prtica construtiva existente Como sugesto de aplicao deve olharse
considerada como nvel usual (Classe E) e o melhor para a proposta de interveno (em projecto) ou
desempenho decorre da melhor prtica construtiva caso de anlise (edifcio ou ambiente construdo
vivel data, o que tem como pressuposto que uma existente) e procuramse identificar quais as so-
melhoria substantiva no valor actual um passo no lues a adoptar ou presentes e qual ser o seu
caminho da sustentabilidade. Decorrentes desta an- nvel de desempenho.
lise, para cada utilizao, so estabelecidos os nveis O foco central da anlise na avaliao aos am-
de desempenho a serem atingidos. bientes construdos assenta no desempenho em
s classificaes nos critrios atribudo um n- situao normalizada do ambiente construdo, do
vel global de desempenho ambiental que se encaixa edifcio, do espao pblico, etc. Isto , como fun-
num dos escales de avaliao, sendo que as avalia- ciona o edificado numa utilizao padro, por
es iguais ou superiores a A so aquelas que mais exemplo uma sala de aulas durante as 8 horas pre-
se evidenciam em termos de desempenho ambiental. vistas, ou a habitao no perodo usual, ou o es-
Como referencial no valor global final, considerase pao pblico.
que o melhor nvel de desempenho A, significando Esta utilizao normalizada revela como funcio-
uma reduo de 50% face prtica de referncia (no na o edificado projectado ou construdo, tal como
geral a prtica actual), que considerada como E. quando se indica um automvel consome 6 litros
O reconhecimento possvel de ser efectuado aos 100 km se est a indicar que num circuito es-
nas classes C a A. Na melhor classe de desempe- pecfico, parte urbano e parte rural, esse o consu-
nho existe, para alm da classe A, a classe A+, as- mo mdio. Naturalmente, em funo do tipo de uti-
sociada a um factor de melhoria de 4 e a classe lizao o valor pode ser maior o menor. Da mesma
A++ associada a um factor de melhoria de 10. forma, os valores de desempenho normalizado so
As solues que sejam regenerativas do ponto de utilizados para a avaliao, posicionamento, reco-
vista do ambiente, isto com balano positivo, nhecimento/certificao pelo LiderA, e permitem
enquadrandose numa lgica de melhoria, classifica- ver as possibilidades de melhoria, nomeadamente
da como superior a 10, associamse classe A+++. atravs da adopo de solues construtivas.
Vertentes rea Wi PreReq. Critrio Nc C.A. F.A.

Integrao local Solo 7% S Valorizao territorial A1


3 Critrios
14% Ecossistemas naturais 5% S Valorizao ecolgica A2

Valorizao paisagstica
Paisagem e patrimnio 2% S A3
e patrimonial

Recursos Energia 17% S Gesto da energia A4


4 Critrios
32% gua 8% S Gesto da gua A5

Materiais 5% S Gesto dos materiais A6

Produo local de alimen-


Produo alimentar 2% S A7
tos

Cargas ambientais Efluentes 3% S Gesto dos efluentes A8


5 Critrios
Gesto das emisses
12% Emisses atmosfricas 2% S A9
atmosfricas

Resduos 3% S Gesto dos resduos A10

Rudo exterior 3% S Gesto do rudo A11

Poluio iluminotrmica 1% S Gesto iluminotrmica A12

Conforto ambiental Qualidade do ar 5% S Gesto da qualidade do ar A13


3 Critrios
Gesto do conforto trmi-
15% Conforto trmico 5% S A14
cocondies de conforto
Gesto de outras
Iluminao e acstica 5% S A15
condies de conforto
Contribuir para
Vivncia Acesso para todos 5% S A16
acessibilidade
socioeconmica
Contribuir para a dinmica
5 Critrios Diversidade econmica 4% S A17
econmica
19%
Amenidades Contribuir para
4% S A18
e interaco social as amenidades

Participao e controlo 4% S Condies de controlo A19

Contribuir para os baixos


Custos no ciclo de vida 2% S A20
custos no ciclo de vida
Promover a utilizao
Uso sustentvel Gesto ambiental 6% S A21
e Gesto
2 Critrios
8% Inovao 2% S Promover a inovao A22

{ QUADRO A2.8 } Aplicao do LiderA nvel detalhado. C.A. Classe de avaliao; F.A. Fundamentao da avaliao.
141

ANEXOS
Como se avalia: Prescritivo versus Desempenho tos casos no adequadas, excepto nas solues
No caso da aplicao dos critrios, estes podem ter vernaculares) se classifica como classe A e se for
uma lgica prescritiva, isto , referenciar a soluo quatro vezes superior como classe A+ e dez vezes
a adoptar ou podem ser de desempenho, isto , superior como classe A++. Para a aplicao em ca-
associaremse a valores de desempenho, por exem- sos concretos de referir que pode ser contactado
plo percentagem de energias renovveis utilizadas o sistema LiderA ([email protected]) para obter
para aquecimento das guas quentes sanitrias. mais informao.
As vantagens dos critrios prescritivos que
apresentam logo a soluo a adoptar, sendo fcil A2.4.3 A certificao pelo Sistema LiderA
este passo; as desvantagens que restringem a
soluo a adoptar. Os critrios de desempenho A aplicao para certificao pelo LiderA assenta no
apresentam a vantagem de permitir escolher a acordo para a candidatura, com a equipa de desen-
gama de solues mais ajustadas, embora seja por volvimento do LiderA, durante a qual sero aferidos
vezes difcil de avaliar o desempenho em fases os critrios aplicados e respectivos limiares, em fun-
iniciais do projecto, onde muito importante que o dos usos e da fase em causa. Para a respectiva
a sustentabilidade comece a ser considerada. aplicao e instruo do processo, relevante a par-
Assim, a soluo adoptada para a verso LiderA ticipao dos assessores do sistema, que apoiem o
frica assenta num conjunto de critrios prescriti- desenvolvimento das solues do empreendimento,
vos, pressupondo a capacidade de integrao e bem como sistematizem os comprovativos.
valorizao da paisagem e assumindo uma pers- O seu reconhecimento em fase de projecto ou
pectiva de qualidade arquitectnica. Os critrios certificao em fase de construo ou operao,
propostos so uma base (ncleo) passvel de ser decorre da obteno de provas quanto ao nvel
ajustada, face ao tipo de utilizao do empreendi- atingido e efectuado atravs de um processo de
mento e aos aspectos ambientais considerados. verificao desses comprovativos e nvel do nvel
Por exemplo, no caso de uma habitao social, de desempenho atingido, por uma terceira parte
a acessibilidade comunidade pode e deve ser en- (independente face ao empreendimento) e indica-
tendida como o acesso aos utentes e o respectivo da pelo sistema LiderA.
custo. No caso de um edifcio de um banco o cri- O reconhecimento possvel ser efectuado quan-
trio da acessibilidade pode ser entendido como do se comprova que, para as diferentes reas ou no
segurana, e assim sucessivamente. global, o empreendimento se encontra nas classes C
A lgica , no geral, que o valor ou soluo se (superior em 25% prtica), B (superior em 37,5 %
for superior a 50 % s prticas usuais (e em mui- pratica) e A (50% superior pratica). Na melhor
142
ARQUITECTURA SUSTENTVEL EM ANGOLA

classe de desempenho existe, para alm da classe A, A2.5 Concluindo


a classe A+, associada a um factor de melhoria de 4
e a classe A++ associada a um factor de melhoria de A procura da sustentabilidade comea a abranger
10 face situao inicial considerada, sendo esta l- diferentes empreendimentos e desafia estrutural-
tima equivalente a uma situao regenerativa. mente o sector da construo. O Sistema LiderA
Para cada tipologia de utilizao so definidos tem como objectivo liderar a procura de boas solu-
os nveis de desempenho considerados, que per- es ambientais e de sustentabilidade nas diferen-
mitem indicar se a soluo ou no sustentvel. tes fases, desde o plano ao projecto, obra, manu-
A parametrizao para cada um deles segue, ou a teno, gesto, reabilitao e at fase final de
melhoria das prticas existentes, ou a referncia demolio. Para efeito define um conjunto de seis
aos valores de boas prticas, tal como usual nos princpios, que se subdividem em vinte e duas reas
sistemas internacionais. e em 22 critrios. Os critrios esto numerados de
1 a 22 (isto , um critrio sugerido com NC).
Exemplo de Certificaes pelo Sistema LiderA
Em Outubro de 2007, em Lisboa, foram atribudos os Para o sistema LiderA o grau de sustentabilidade mensurvel
e passvel de ser certificado em classes de bom desempenho
primeiros cinco certificados de bom desempenho am- (C, B, A, A+ e A++) que incluem uma melhoria de 25% (Classe C)
face prtica (Classe E), passando por uma melhoria de 50%
biental (Classe A) pela marca portuguesa registada (Classe A), melhoria de factor 4 (Classe A+) at uma melhoria
de factor 10 (Classe A++).
LiderA Sistema de Avaliao da Sustentabilidade.
Desde essa altura, o sistema Lider A tm sido utiliza-
do para o reconhecimento e certificao de empreen-
dimentos pelo seu bom desempenho, abrangendo
uma diversidade de situaes; no sector residencial,
empreendimentos tursticos de vulto, edifcios de
servios, ou interveno em planos de pormenor de
novas reas de expanso urbana. Os exemplos mais
representativos dos certificados atribudos so apre-
sentados no website www.lidera.info.
Actualmente esto em curso candidaturas mui-
to inovadoras de avaliao para pases africanos
de lngua oficial portuguesa, quer em termos de
planeamento urbano, quer em termos de projecto
de arquitectura (nova construo e reabilitao). { FIG. A2.3 } Nveis de Desempenho Global.
143

ANEXOS
O sistema LiderA pode ser utilizado para efec- O LiderA assumese assim como um instrumen-
tuar o desenvolvimento e a procura de solues, to de apoio ao desenvolvimento de solues sus-
de forma integrada e eficiente, quer nas fases pre- tentveis integradas e de certificao, dando as-
liminares ou qualitativas, quer nas fases detalha- sim ao mercado uma referncia da boa procura da
das e quantitativa, permitindo assim um apoio es- sustentabilidade.
trutural ao longo das vrias fases dos projectos.

{ FIG. A2.4 } Sistema Lidera.

Autor: Manuel Duarte Pinheiro, Instituto Superior Tcnico. Responsvel do Sistema LiderA (www.lidera.info)

Bibliografia Cole, R. (2003, May 14). Building environmental assess-


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Curso: Construo Sustentvel Estratgias, Projectos
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Maio 20 22 de 2003 Fundec/ IST, Lisboa. tion e Smart Growth Network. (2003a). Getting to smart
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144
ARQUITECTURA SUSTENTVEL EM ANGOLA

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Pinheiro, M. D. (2004, Outubro 27 29). Linhas gerais


de um sistema nacional de avaliao da construo sus-
tentvel. 8 Conferncia Nacional do Ambiente, Centro
Cultural de Lisboa, Lisboa.
{ FIG. A3.1 } Benefcios da vegetao: sombreamento,
arrefecimento do microclima (evapotranspirao), reduo
Pinheiro, M. D. (Reviso Cientifica Correia, F.N.; Bran- da poluio e conforto psicolgico.
co, F.; Guedes, M. C.) (2006). Ambiente e Construo
Sustentvel. Instituto do Ambiente, Amadora, Portu-
gal. Esta seco visa mostrar a possibilidade de melhorar
o microclima local atravs da vegetao. Foca em
Pinheiro, M. D. (2007). Sistemas de Gesto Ambiental
para a Construo Sustentvel. Tese Doutoramento em particular o microclima exterior associado a edifcios
Engenharia do Ambiente. IST/ UTL, Lisboa. localizados no meio urbano, em pases africanos lu-
sfonos, durante a estao quente e seca. referido
UNEP United Nations Environment Programme. (1999).
Global environment outlook 2000. New York, USA. o potencial microclimtico da vegetao em condi-
cionar um espao para reduzir as altas temperaturas,
UNPD United Nations Population Division. (1998). minimizando a sensao de desconforto.
World population prospects 19502050 (The 1998
Revision). United Nations. Disponvel em http://esa. Alguns factores que influenciam as variaes
un.org/unpp/ de temperatura e humidade so: o tipo e tamanho
145

ANEXOS
da vegetao, formato de copa, a qualidade e per- infelizmente, excepo. As caixas de vidro sela-
meabilidade de sombra projectada, e tambm a fi- das esto proliferando pelas cidade, sem noo do
siologia vegetal. O uso da vegetao uma estra- seu absurdo e efeitos negativos. Importar ideias,
tgia de arrefecimento passivo eficiente, de baixo tipologias e conceitos arquitectnicos de pases
custo e baixa manuteno. O seu uso gera espaos estrangeiros, onde a geografia, o meio ambiente e
mais confortveis, salubres, humanos e dignos, o clima so absolutamente diferentes do contexto
elevando a qualidade de vida da populao. local, tem levado a solues arquitectnicas im-
Como a maioria das questes na sociedade mo- prprias e inadequadas.
derna, a arquitectura tambm foi influenciada importante, se no essencial, que se faa uso
pelo processo de globalizao, onde a cultura e ao mximo do potencial do meio ambiente, para
identidade local tem dado lugar voz macia da se obter o maior benefcio possvel, de uma ma-
ignorncia e o poder do mais forte. Grandes caixas neira inteligente e sustentvel
de vidro, totalmente seladas, esto sendo cons- Para muitos, a questo da habitao de baixa
truda nos trpicos, ignorando qualquer recurso renda meramente um exerccio matemtico de
natural ou potencial bioclimtico. A frica no , economia e estatstica, resultando muitas vezes em

{ FIG. A3.2 } Conforto microclimtico vegetao no espao urbano, em Luanda (esquerda);


o efeito da vegetao como factor de agregao social (direita).
146
ARQUITECTURA SUSTENTVEL EM ANGOLA

solues indevidas. A soluo apropriada para uma bertura vegetal nativa removida de forma irres-
comunidade no necessariamente apropriada para ponsvel, na tentativa de simplificar a implemen-
outra. H milhares de pessoas com problemas habi- tao urbana. O processo de devastao traz um
tacionais e urbanos, e por isso deveria haver milha- enorme impacto negativo no meio ambiente dei-
res de solues. As ideias devem ser abundantes e xando a terra vulnervel a eroses, escassez de
apropriadas para cada contexto. O conhecimento sombreamento e muita poeira. O maior problema
no deve jamais ser ignorado, sempre se aperfeio- porm a exposio excessiva e castigante ra-
ando de experincias passadas. Consequentemente, diao solar. Essa combinao agrava ambientes j
valores culturais, tradies e memria histrica, secos resultando em reas de muita pouca humida-
tudo que faz pessoas e cidades distintas, interes- de, sendo os baixos valores considerados alarman-
santes e nicas, devem ser preservados. As rvores tes para a sade pela World Health Organisation
e vegetao de um modo geral, podem melhorar (WHO). Estas condies tornam algumas tarefas do
condies microclimticas indesejveis em torno quotidiano urbano impraticveis em certas pocas
de edificaes. Todavia, seu potencial tem sido ig- do ano. Para se criarem ambientes internos e ex-
norado, principalmente pela falta de informaes ternos confortveis, ou para se reduzir a carga de
sobre as suas vantagens em termos de providenciar arrefecimento, construir com o controle solar em
conforto e bem estar, alm dos benefcios em ter- mente essencial vital o melhoramento do mi-
mos energticos e ambientais. croclima externo para se alcanarem espaos mais
Muitas vezes o processo de urbanizao tem confortveis, principalmente para pessoas que no
sido caracterizado por devastao, onde toda a co- tem nenhum outro recurso ou meio para explorar a

{ FIG. A3.3 } Processos de sombreamento (proteco da radiao { FIG. A3.4 } Sombreamento: reduo de temperaturas.
solar) e evapotranspirao.
147

ANEXOS
no ser o entorno imediato. Analisando o clima e
vegetao local, podemos perceber o potencial que
a implantao de rvores ao redor da casa tem para
o controle ambiental microclimtico, providen-
ciando arrefecimento passivo atravs do sombrea-
mento e da humidificao do ar atravs da evapo-
transpirao. Com a vegetao urbana h ainda
benefcios psicolgicos e culturais, alem de ga-
{ FIG. A3.5 } Radiao reflectida, absorvida e transmitida por uma folha.
nhos sustentveis como reteno de poluio, ab-
soro de barulho e poluio, filtrao dos raios
solares e produo de frutos. As variveis do microclima incluem a radiao
Da mesma forma que no h nenhuma luz me- solar e terrestre, velocidade de vento, humidade,
lhor do que a luz solar natural, e no h nenhu- temperatura do ar e precipitao. O microclima da
ma brisa melhor do que a brisa de vento, no h subcopa o espao trmico em baixo da folhagem
tambm nenhuma sombra melhor do que a de que determinado pelas caractersticas da rvore,
uma rvore. Os benefcios associados ao micro- relacionado as condies ambientais circundantes
clima com rvores so descritos posteriormente, { FIGURA A3.3 }.
em especial a importncia da utilizao de rvo- A vegetao um elemento ideal para a obstru-
res e seus efeitos em diminuir a temperatura e o de radiao solar pois tem baixa transmitncia;
aumentar os nveis de humidade relativa por evitando a passagem da radiao para os espaos
meio de bloqueio do sol e da transpirao da fo- adjacentes. No sobreaquece acima da temperatura
lha. Extremo calor e secura so as principais cau- do ar devido sua capacidade autoregulao. Em
sas de condies fisiolgicas desconfortveis em geral, e considerado que, da radiao entrando em
locais quentes. Bernatzky (1978) afirma que o uma folha, aproximadamente 50% absorvida, 30%
sobreaquecimento provoca distrbios da sade: reflectida e 20% transmitida (Robinnette, 1983)
congestionamento de sangue para a cabea, dor { FIGURA A3.5 }. Como a maioria das copas so cons-
de cabea, nusea e fadiga. Projectar com vege- titudas por mltiplas camadas, a radiao filtra-
tao est directamente relacionado e afecta o da, resultando em uma transmitncia muito baixa,
conforto trmico das pessoas. Nesses casos cr- quando atinge a parte inferior da copa. Grande par-
tico o controle da radiao solar, e a maximiza- te da radiao reflectida para outras folhas, redu-
o do ganho por evaporao. So seguidamente zindo assim o montante que se reflecte a espaos
descritos os efeitos microclimticos das rvores. adjacentes. A maioria da radiao absorvida pelas
148
ARQUITECTURA SUSTENTVEL EM ANGOLA

A grande fonte de energia no microclima de


qualquer local, radiao solar. O excesso de ca-
lor e luz que evitamos, geralmente bem vinda
pela vegetao. A quantidade de radiao recebi-
da e mantida em um microclima ir depender de
suas caractersticas como tamanho, localizao e
{ FIG. A3.6 } Contributo da vegetao para a filtrao do ar, orientao do sitio e os objectos nesse sitio; as
e obstruo e reflexo da radiao solar.
caractersticas de superfcie; o tamanho e tipo de
vegetao. Copas finas e leves podem interceptar
rvores e plantas perdido pela evaporao da hu- 6080% da radiao solar e copas densas podem
midade que transpirada pelas folhas ou absorvida interceptar at 99%. Morfologias diferentes de r-
pela terra e lentamente liberada. vores e folhas tero variaes. Galhos e ramos
A evapotranspirao um processo natural da tambm ajudam a bloquear a radiao solar. No
bioqumica das plantas, que tem o efeito de in- caso de locais quentes, a obstruo eficiente dos
fluenciar o arrefecimento. Durante este processo excessos solares uma necessidade e a rvore uma
as rvores absorvem gua atravs de suas razes, eficiente aliada, de baixo custo e manuteno.
que atravessa seu tronco e pela transpirao das Elementos de paisagem tm diferentes albe-
folhas, lentamente introduzem gua para a atmos- dos e espcies de rvores diferentes interceptam
fera circundante. Por conseguinte, o ar perto de radiao em nveis diferentes, dependendo da
espaos verdes tende a ser mais hmido. Enis poca do ano. Sua altura, transmissividade da
(1984) descreve que uma arvore madura de grande copa, sazonabilidade, folhagem e desfolhao
porte pode criar um efeito de arrefecimento de so algumas maneiras como as arvores se dife-
2500kcal/h, que equivale a cinco aparelhos de ar renciam na sua capacidade de influenciar a radia-
condicionado de tamanho convencional funcio- o directa. Radiao solar directa incidindo em
nando 20 h/dia. Federer (1976), tambm, confir- paredes e janelas a principal fonte de ganhos
ma que a sombra de uma grande rvore urbana de de calor, mas dois outros factores tambm so
20 metros pode fornecer tanto frio quanto apare- importantes: calor do ar ambiente radiao indi-
lhos de ar condicionado funcionando praticamen- recta decorrente das imediaes. Todos os trs
te o dia todo. Sendo assim, a evapotranspirao desses factores podem ser moderados por planta-
pode providenciar um melhoramento local da ilha o de rvores prximas residncia.
de calor urbana, e reduzir a energia necessria As rvores ajudam especialmente no sombrea-
para o arrefecimento de espaos em edificaes. mento de telhados e muros. Pode ser usada de trs
{ FIG. A3.7 } Uso de vegetao para sombreamento, num complexo turstico recente, na zona da barra do Kuanza.

maneiras para proteger o edifcio da radiao so- seus habitantes. Paisagens com rvores e vegeta-
lar, sendo elas: adjacente ao edifcio, sobre a o produzem estados fisiolgicos mais relaxados
construo e independente do edifcio. Telhados nos seres humanos do que paisagens que carecem
com vegetao podem diminuir o fluxo de calor de recursos naturais (Ulrich, 1984). O ar mais
atravs da laje na cobertura. Alguns estudos de puro tambm dever melhorar a sade.
Canturia (2001) exemplificam bem as variaes As rvores trazem benefcios sociolgicos, contri-
de temperatura em microclimas com rvores. Nos buindo para a vitalidade de uma cidade ou de uma
exemplos estudados, a mangueira apresentou ser vizinhana. Elas podem dominar a paisagem urbana
um excelente condicionador de ar natural. e contribuir para seu carcter e imagem de um am-
As rvores tm tambm uma influncia benfi- biente habitvel e atraente. O paisagismo urbano
ca na sade. A presena de rvores nas cidades foi traz uma responsabilidade ambiental, tica e um for-
associada reduo de stress mental e fsica dos te senso de comunidade, capacitao, para os resi-
150
ARQUITECTURA SUSTENTVEL EM ANGOLA

dentes. Plantar rvores melhora as condies da vizi- Redues de 50% ou mais podem ser alcanadas na
nhana e refora o sentimento da comunidade de intensidade aparente por amplos cintos de rvores
identidade social, autoestima, territorialidade e pro- densas e altas combinados com superfcies macias
move a educao ambiental e sensibilizao. A vege- de terreno (Cook, 1989).
tao urbana ajuda a aliviar algumas das dificuldades
da cidade especialmente para grupos de baixa renda, Recomendaes de design:
e podem fornecer uma oportunidade to necessria } Uma rvore deve ser localizada por forma a for-
para crianas de cidade de experimentar a natureza. necer o mximo de sombreamento para as facha-
Atravs da sua rede de razes e efeitos hidrol- das, particularmente a Nascente e Poente. As fa-
gicos, as rvores afectam tambm substancial- chadas com maior rea de janela devem ser
mente a estabilidade de encostas inclinadas, e im- privilegiadas em sombreamento.
pedem a eroso. Funcionam tambm como } O potencial de arrefecimento da sombra tende a
estruturas de reteno e deteno, quando redu- diminuir com a distanciamento do seu tronco. De-
zindo o escoamento, que essencial em muitas vem ser plantadas rvores considerando que quando
comunidades, como assentamentos urbanos popu- maduras, a parte externa da copa esteja perto da fa-
lares onde a tubulao de drenagem no inexis- chada. Neste processo devem ser tambm conside-
tente. O custo do tratamento de gua das chuvas radas restries em termos de segurana, relaciona-
em assentamentos pode ser diminudo, reduzindo das com o sistema de razes e a resistncia do ramo.
o escoamento devido a intercepo de chuvas. } Devese buscar o sombreamento das coberturas
Portanto reduzindo a taxa e o volume de escoa- por altas e grandes copas. Danos ao edifcio, ou
mento de gua das chuvas, danos de inundao, de paredes, podem ser evitados, seleccionando as
custos de tratamento de gua de tempestade e espcies correctas para o espao disponvel.
problemas de qualidade da gua, rvores urbanas } Em locais onde a necessidade de refrigerao do
pode desempenhar um importante papel nos pro- ambiente est presente quase todo o ano recomen-
cessos hidrolgicos urbanos. dase o plantio de espcies perenes, com rpido
Quando bem projectadas, plantaes de rvores crescimento.
e arbustos podem reduzir significativamente o ru-
do, agindo como abafadores de som. As folhas Autor: Gustavo Cardoso Canturia,
absorvem o som e reduzem o tempo de reverberao. University of Cambridge
151

ANEXOS
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152
ARQUITECTURA SUSTENTVEL EM ANGOLA

recursos, nas regras de funcionamento, e na apli


A4 A gesto urbana e o licencia cao e desenvolvimento de ideias e valores
mento: reviso bibliogrfica
(Healey 1991)
...um processo que envolve a alterao ou a in
tensificao do uso da terra para produo de edif
Neste anexo apresentada e comentada a biblio-
cios para ocupao. (Wilkinson & Reed 2008)
grafia actual e relevante na rea da gesto urbana
numa perspectiva de sustentabilidade. So tam-
Estas duas definies focam a transformao
bm sumariamente descritos conceitos essenciais.
do terreno com a construo. Comease com uma
A literatura que indicamos serve como fonte de
ideia e uma anlise da possibilidade mudar o uso
inspirao para todos, e os diversos ttulos men-
do terreno para ter um aproveitamento melhor. A
cionados so fcilmente acessveis.
construo vem como consequncia desta anlise,
e do investimento.
A4.1 O processo de promoo imobiliria Esta perspectiva do processo de promoo imo-
biliria no apenas aplicvel na Europa ou nou-
Definio tros pases industrializados. evidente que a ur-
Na promoo imobiliria identificamos o papel banizao tambm se enquadra em processos de
dos agentes principais o promotor imobilirio e promoo imobiliria em pases africanos. As for-
o Municpio (autarquia local). Tambm h outros mas podem ser diferentes, mas os fundamentos
agentes, como por exemplo os construtores indivi- so os mesmos.
duais, incluindo os autoconstrutores. Neste gru-
po encontramos as construes legais e clandesti- As fases da promoo imobiliria
nas. Uma forma identificar o papel destes agentes Um modelo de actividades (eventsequence) pode
definir a participao nalgumas partes da pro- ter um certo nmero de actividades tpicas. No
cesso de promoo imobiliria. uma lista de cada passo que se toma, mas uma
O processo de promoo imobiliria pode ser classificao das actividades principais. Kalbro
definido em vrias formas, por exemplo: (2010) descreve o processo em oito fases:
} Iniciao de um projecto
A transformao da forma fsica, conjunto de } Planeamento e projecto de uso de terreno, edi-
direitos, e valor material e simblico de terrenos fcios e equipamento
e edifcios, atravs da aco de agentes com inte } Processo de licenciamento por autoridades
resses e propsitos na aquisio e utilizao de } Aquisio de terreno
153

ANEXOS
} Financiamento dos. Mesmo nestes casos, sem a interveno do
} Construo Municpio na rea de planeamento e de licencia-
} Avaliao mento, pode haver outros actores locais que satis-
Tambm descreve mais duas fases que so impor- fazem as necessidades de organizao do espao
tantes para completar a lista: fsico, transferncia de terrenos para construir e
} Acordos de implementao do enquadramento das infraestruturas.
} Cedncia e manuteno O objectivo de um processo de planeamento urba-
no e de licenciamento do Municpio promover uma
Mesmo num pas com capacidade limitada de perspectiva global da sociedade, coordenando diver-
planeamento fsico pelo Municpio, h outras for- sos interesses sociais, econmicos e ambientais.
mas planear e levar projectos para a frente. O licen- Existe uma variedade de situaes onde o pla-
ciamento atravs do alvar de loteamento e de neamento urbano e o licenciamento so factores
construo a forma usada, quer os para ambos os essenciais. A ambio e capacidade real do Muni-
alvars, quer apenas para o de construo. Este cpio variam. No aconselhvel ter uma ambio
processo de licenciamento tambm exige uma ca- muito alm da capacidade da administrao do
pacidade urbanstica do Municpio, e nem sempre Municpio, pois poderia causar demoras no proces-
existe para satisfazer em quantidade suficiente. A so, e incentivos para desviar os pedidos da trami-
qualidade na apreciao dos projectos de lotea- tao normal. Tal situao pode criar oportunida-
mento e/ou construo tambm uma questo im- des de corrupo, construes clandestinas e
portante para satisfazer as exigncias da sociedade outras formas de gesto no desejada. Devese
e do ambiente. procurar um equilbrio entre as exigncias e a ca-
Significa que as urbanizaes se podem desen- pacidade administrativa, com directrizes bem cla-
volver apenas com iniciativas privadas, dos indiv- ras e transparncia na tramitao.
duos ou famlias, e tambm dos promotores priva- As estratgias de construo sustentvel tm
de ser enquadradas no contexto do processo de
promoo imobiliria. Tm de se encaminhar os
} Healey, P, 1991, Models of the development process: indivduos numa direco comum, definida pela
a review. Journal of Property Research, 9, 219238.
} Wilkinson, S & Reed, R, 2008, Property
sociedade. Entendemos que a indstria imobiliria
Development, Taylor & Francis Ltd. 5th edition. est progressivamente disposta a integrar aspec-
tos de sustentabilidade. Resumimos esta seco
{ QUADRO A4.1 } Publicaes de referncia sobre o processo
de promoo imobiliria. Na quinta edio do livro Property sugerindo a leitura de dois livro de referncia so-
Development foi introduzido um captulo sobre o impacto
ambiental na promoo imobiliria, com vrios exemplos prticos. bre a produo imobiliria { QUADRO A4.1 }.
154
ARQUITECTURA SUSTENTVEL EM ANGOLA

A4.2 A gesto urbana e do territrio


GENUS, Global Energy Network
for Urban Settlements
Perspectivas internacionais (http://www.unhabitat.org/categories.asp?catid=631)
Nesta parte apresentamos algumas publicaes
que consideramos teis para compreender melhor Cada organizao tem a sua tarefa, com um ou
a rea de planeamento urbano, o licenciamento e alguns departamentos com publicaes que nos in-
o processo de promoo imobiliria. A maior par- teressam. Tomamos a FAO como exemplo. Tem v-
te das publicaes de instituies das Naes rias reas e sries de publicaes. A nfase no de-
Unidas, sendo a nossa base comum como pases senvolvimento rural, mas existem partes gerais que
membros, independentemente do pas e conti- se aplicam tambm no contexto urbano. Na pgina
nente do mundo. Por isso, tm o peso e autorida- http://www.fao.org/corp/publications/en/ h listas de
de da comunidade global. Os comentrios so publicaes, incluindo os documentos acessveis
nossos, como interpretaes e enquadramento como documentos electrnicos ou impressos.
no contexto local. A maior parte dos documentos da FAO so es-
As instituies com documentos de interesse critos em Ingls, mas muitos documentos tam-
nesta rea so vrias. Apresentamos estas organi- bm so escritos em Francs, Espanhol e outras
zaes com as suas pginas Web de publicaes lnguas. As publicaes em Portugus so pou-
visto que muitos so documentos electrnicos, em cas. A FAO tem vrias reas de aco, e vrias s-
pdf, e assim acessveis sem nenhum custo. A nos- ries de publicaes. Uma rea Sustainable Na-
sa escolha a seguinte: tural Resources Management com mais de 100
} FAO, Food and Agriculture Organization publicaes. Uma srie de publicaes Land
of the United Nations (www.fao.org) Tenure Working Paper.
} WB, World Bank/Banco Mundial
(www.worldbank.org) Gesto urbana e a poltica
} International Institute for Environment de ordenamento territorial.
and Development (www.iied.org) Cada construo no meio urbano tem de ser inte-
} UN Habitat, the United Nations Human Settle- grada neste contexto. Significa que tem de existir
ments Programme (www.unhabitat.org) uma coordenao entre as construes individuais,
com trs redes de internet: isto uma poltica de ordenamento territorial. Ba-
GLTN, Global Land Tenure Network (www.gltn.net) seados na literatura apresentada no { QUADRO A4.3 },
SUDNET, Sustainable Urban Development Network so apresentados alguns aspectos mais relevantes
(http://www.unhabitat.org/categories.asp?catid=570) sobre o tema.
155

ANEXOS
H vrios nveis de gesto urbana e ordena- Governao o sistema de valores, polticas e
mento territorial. O nvel mais directo o alvar instituies atravs das quais uma sociedade admi
ou licena de construo. Mas h outros nveis, nistra as suas aces em termos econmicos, polti
com exigncias e princpios que devem integrar cos e sociais, entre o Estado, a sociedade civil e o
os alvars num contexto mais alargado. Podese sector privado. A administrao da terra diz respeito
definir estes nveis, desde uma escala do porme- s regras, processos e organizaes atravs das quais
nor at o geral: so tomadas decises sobre o acesso terra e seu
} Alvar/licenciamento (de obras, de loteamento) uso, a maneira pela qual as decises so implemen
} Planos urbansticos (loteamento, de pormenor, tadas, e a forma como os interesses concorrenciais
plano director municipal) sobre a terra so geridos. (Sotomayor, 2008, p. 8)
} Outros planos de desenvolvimento e planos sec-
toriais (gerais, regionais, do meio ambiente, zona Estas definies identificam os recursos fundi-
costeira, sociais, etc.) rios como essenciais para a governao da socieda-
} Nacional: poltica nacional, legislao (lei de terra, de. A sociedade desenvolvida com uma boa ges-
lei de ordenamento territorial, lei de planeamento, lei to dos recursos fundirios. No caso contrrio, as
de obras), cdigos (de obras, municipal, etc.) perspectivas de futuro da sociedade so piores.
} Enquadramento cientfico (sobre o territrio, A partir daqui importa abordar a questo da
posse de terra, gesto/governao) gesto destes recursos ao meio urbano. Suarz et
al (op cit) usam uma descrio do conceito boa
Comeando pelo nvel geral, apresentamos se- gesto urbana, proposta pela UNHabitat:
guidamente algumas definio bsicas sobre os A boa gesto urbana deve ser baseada no con-
recursos fundirios (Suarz et al, 2009, p 19): ceito de cidades inclusivas, em que as decises
{ 1 } A posse da terra a relao, definida legal so globalmente participadas e h uma devoluo
mente ou culturalmente, entre as pessoas com res do poder do governo central para o local. A base
peito terra. conceptual para a descentralizao deve ser a
{ 2 } Administrao da terra a forma como que transferncia de responsabilidades para o nvel
as regras da posse da terra so aplicadas e mais perto da realidade local. A pedra angular
operacionalizadas. para uma boa administrao urbana a participa-
{ 3 } A preveno da corrupo um aspecto b- o directa e ampla das comunidades na tomada
vio da boa governao. de decises uma forma de melhorar a eficcia
Num relatrio elaborado pela FAO fazse a se- das polticas locais e dar prioridade s iniciativas
guinte definio de governao: e necessidades dos cidados
156
ARQUITECTURA SUSTENTVEL EM ANGOLA

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{ QUADRO A4.2 } Publicaes sobre a gesto urbana e a poltica de ordenamento territorial.

Significa que se deve procurar um balano entre A UNHabitat (2009), faz uma caracterizao
o nvel central e local, e que a descentralizao do conceito boa gesto urbana em sete critrios:
tambm deve abranger os cidados, de uma forma } sustentabilidade equilibrando as necessidades
democrtica. A descrio inclui a sociedade civil e sociais, econmicas e ambientais das geraes
o sector privado, isto , no pode ser uma rea presentes e futuras;
onde o Estado (Governo central e os Municpios)1 } subsidiariedade a atribuio de responsabili-
tem um poder exclusivo, sem interaco com os ou- dades e recursos para o nvel adequado mais pr-
tros que desempenham um papel nesta rea. ximo da realidade local;
} equidade de acesso aos processos de deciso e
s necessidades bsicas da vida urbana;
1. Os Municpios fazem uma gesto pblica. Podem fazer parte
da estrutura do Estado, ou ser mais independentes como autarquias } eficincia na prestao dos servios pblicos e na
locais. Nesta explicao usamos o contexto do Estado,
sem distinguir de uma eventual autonomia municipal. promoo do desenvolvimento econmico local;
157

ANEXOS
} transparncia e responsabilizao dos decisores Significa que os edifcios fazem parte de um sis-
polticos e de todas as partes interessadas; tema urbano, incluindo as infraestruturas tcni-
} responsabilizao cvica e de cidadania reconhe- ca e fundiria.
cendo que as pessoas so o bem principal das cidades,
indispensvel para um desenvolvimento sustentvel; Contexto global do urbanismo
} segurana dos indivduos e do contexto onde vivem. A gesto do territrio tem de ser enquadrada num
contexto global. As perspectivas so vrias, e aqui
Depois desenvolvese mais sobre o planeamento queremos indicar umas partes que so mais rela-
fsico, enquadramento legal e a poltica de gesto cionadas com o urbanismo.
urbana. Aqui queremos mencionar algumas publica- Comecemos pela perspectiva geral sobre as ci-
es com exemplos concretos. Smolka & Mullahy dades no mundo. O Banco Mundial promove estudos
(2007) apresenta diversos artigos sobre pases na e anlises sobre a gesto urbana, com a perspecti-
Amrica Latina, abordando assuntos como as ten- va de sustentabilidade (Leautier, ed., 2006). Exige
dncias e perspectivas das polticas de uso da terra, se uma gesto das cidades, para enquadrar as ini-
a informalidade, legislao e direitos de proprieda- ciativas dos actores neste meio urbano. Tem de
de, imposto predial, recuperao de maisvalias, existir uma gesto com directrizes (regimes regula-
uso do solo e desenvolvimento urbano, participa- trios), integrando infraestruturas e servios so-
o e gesto pblica. Estes artigos so prticos e ciais. Tambm dada a nfase participao dos
acessveis para usar como exemplo na gesto urba- cidados, e dos agentes deste mercado. A aco
na em pases africanos. O livro indicado pela GLTN pblica uma necessidade para se conseguir criar
como uma coleco de bons exemplos. Na nossa lis- cidades sustentveis. Esta aco tambm inclui
ta de literatura, apresentada no { QUADRO A4.2 }, uma interligao entre as reas do clima mundial e
tambm propomos algumas publicaes em Portu- da gesto fundiria. Significa que a mudana gra-
gus, do Brasil, Moambique e Angola. dual do clima tem implicaes no sistema fundirio
A UNHabitat & Global Urban Observatory (2003) e da sua poltica (land policy; Quan 2008).
identificam quatro critrios para identificar o grau O Banco Mundial (World Bank 2003) tambm
de progresso de melhorar a vida urbana do meio desenvolve a ideia da terra como recurso, a sua in-
habitacional: tegrao no sistema fundirio e o papel para o de-
} estabilidade no acesso e posse de terra senvolvimento econmico: A definio de direi-
} durabilidade e qualidade e de edifcios tos, conferindo segurana sobre a posse de terra
} acesso a gua potvel um factor crucial para os esforos de desenvolvi-
} acesso a infraestruturas sanitrias mento. Notamos que o Banco Mundial considera a
158
ARQUITECTURA SUSTENTVEL EM ANGOLA

gesto pblica essencial, e que h uma necessida- e benefcios que entendem, isto , com a melhor
de criar uma poltica de terra (land policy) para lgica. Banco Mundial (World Bank 1993) faz uma
conseguir o melhor aproveitamento. anlise do mercado imobilirio em pases em de-
Mohlund & Forsman (2010) descrevem o pro- senvolvimento, e descreve o fracasso do seu fun-
cesso de planeamento da zona urbana. Fazemno cionamento. Prope que se dever criar estruturas
como um guia, com uma descrio detalhado e para o sector privado, incluindo o sector informal.
pratico como criar um processo de planeamento a Tambm explica o papel de uma gesto pblica, e
nvel de toda a cidade. A figura de plano director uma poltica de urbanismo e de habitao. Apre-
municipal (PDM) desenvolvida para coordenar o senta dados de 52 pases, e tira concluses dos fac-
uso de terra na rea total de um municpio. A zona tores que incentivam e desincentivam investimen-
urbana e periurbana de uma cidade est no foco tos. A seguir apresenta um programa como se pode
de interesse de investimentos de todas as cama- facilitar aos Governos desenvolver o mercado.
das da populao e empresas. O guia pretende Negro (ed., 2004) mostra como se pode identi-
mostrar exemplos e conselhos como o planeamen- ficar o papel do mercado de terras nas zonas urba-
to pode ser feito com a participao de todos os nas. Mostra a importncia existir um sistema fun-
actores locais, incluindo a populao pobre, mu- cional de alocao de terras para os cidados, e o
lheres, polticos, tcnicos e outros. Um exemplo impacto de um desequilbrio nesta rea essencial
deste tipo de planeamento apresentado separa- para ter uma justia social. O estudo feito em Mo-
damente por Forsman (2007). As publicaes fa- ambique um bom exemplo como realizar um es-
zem parte das publicaes da UN Habitat. tudo num pas lusfono na frica. Os nveis de va-
Assim, comeamos com uma perspectiva global lor de terra so bem conhecidos pela populao,
mas mesmo assim existem conselhos nvel prti- como uma realidade que se tem de enfrentar para
co como desenvolver este contexto global numa conseguir um terreno para construir, e tambm no
situao local. caso de compra de uma casa j construda.
Gilbert (2004) descreve num estudo para o

O mercado imobilirio Banco Mundial uma outra parte da gesto urbana,


e o financiamento do meio urbano e em especial como se podem encontrar formas de
A gesto municipal do meio urbano essencial, interveno nas cidades. As intervenes pblicas
mas o papel do mercado imobilirio tambm tem de funcionam como incentivos para investimento pri-
ser considerado. O mercado tem movimento e actua vado. Descreve 99 projectos urbanos com partici-
em relao s regras e estruturas criadas. Temos de pao de habitantes e instituies financeiras.
entender que o mercado reage conforme os custos Significa que se procura uma participao com v-
159

ANEXOS
rios actores, e no contam apenas com o munic- A4.3 Gesto municipal do urbanismo
pio/governo local ou a sua verba do Governo Cen-
tral. Os projectos foram desenvolvidos nas reas O papel do municpio
dos sistemas de gua, esgotos e de lixo, bem como Os estudos sobre a gesto do meio urbano podem
em outras reas. Mostra que o meio urbano pode ser feitos a nvel global, mas a implementao da
ser melhorado tambm nas zonas pobres da cida- poltica feita a nvel local. A gesto municipal
de, com a participao conjunta destes actores e a chave para levar a poltica nacional realidade
consumidores dos sistemas urbanos. na construo. O ambiente no bairro um resulta-

} Forsman, sa, 2007, Strategic citywide spatial plan- tat/GLTN. http://www.unhabitat.org/pmss/listItem-


ning A situational analysis of metropolitan Portau Details.aspx?publicationID=3020
Prince, Haiti. UN Habitat & GLTN http://www.unhabi- } Quan, Julian, 2008, Climate change and land ten-
tat.org/pmss/listItemDetails.aspx?publicationID=3021 ure. The implications of climate change for land ten-
} Leautier, Frannie (ed.), 2006, Cities in a Globaliz- ure and land policy. FAO Land Tenure Working Paper
ing World: Governance, Performance, and Sustaina- 2. FAO, IIED and Natural Resources Institute. ftp://
bility. World Bank. http://publications.worldbank. ftp.fao.org/docrep/fao/011/aj332e/aj332e00.pdf
org/ecommerce/catalog/product?context=drilldown } World Bank, 2003, Land Policies for Growth and
&item%5fid=5435493 Poverty Reduction. http://publications.worldbank.
} Mohlund, rjan & Forsman, sa, 2010, Citywide org/ecommerce/catalog/product?context=drilldown
Strategic Planning A Step by Step Guide. UNHabi- &item%5fid=939227

{ QUADRO A4.3 } Publicaes sobre o contexto global do urbanismo.

} Gilbert, Roy 2004, Improving the Lives of the Poor (Ingls, e http://www.iid.org.mz/html/relatorios.html
through Investment in Cities: An Update on the Per- (Portugus)
formance of the World Banks Urban Portfolio. http:// } World Bank, 1993, Housing: Enabling Markets to
publications.worldbank.org/ecommerce/catalog/pro Work. A World Bank policy paper.http://wwwwds.
duct?context=drilldown&item%5fid=2452871 worldbank.org/external/default/main?pagePK=6419
} Negro, Jos (ed.), 2004, Mercado De Terras Urba- 3027&piPK=64187937&theSitePK=523679&menuPK=
nas Em Moambique. Research Institute for Develop- 64187510&searchMenuPK=64187283&theSitePK=523
ment. http://www.gltn.net/index.php?option=com_ 679&entityID=000178830_98101911194018&search
docman&gid=196&task=doc_details&Itemid=24 MenuPK=64187283&theSitePK=523679

{ QUADRO A4.4 } Publicaes sobre o mercado imobilirio e o financiamento do meio urbano.


160
ARQUITECTURA SUSTENTVEL EM ANGOLA

{ FIG. A4.1 } Ocupao informal: bairro suburbano.

do da gesto municipal, tanto em casos positivos, UN Habitat & GLTN (2007) descrevem a situa-
como em casos negativos quando a gesto o de planeamento urbano num pas pobre, a ci-
ineficiente ou mesmo inexistente. dade de PortauPrince, em Haiti. Analisam o pa-
Lee & Gilbert (1999) apresentam experincias de pel do planeamento urbano, com uma gesto
projectos de desenvolvimento de autarquias locais activa do territrio. Tambm foca a necessidade
municpios, no Brasil e nas Filipinas. O estudo reali- integrar a perspectiva metropolitana na gesto
zado mostra a necessidade haver um funcionamento municipal, isto , no limitar a aco a cada mu-
local da gesto pblica. Mostra como se poder ava- nicpio na rea metropolitana, mas estender a
liar medidas e como implementar as melhores formas perspectiva a toda a rea urbana.
de descentralizao das funes pblicas de gesto. UN Habitat (2004) tambm apresenta perspec-
um bom exemplo, mostrando haver possibilidade tivas sobre a integrao dos bairros pobres no pla-
de se conseguir uma descentralizao em pases no neamento. O papel do Estado e dos municpios
terceiro mundo, onde a estrutura municipal muitas importante, e tambm de outros agentes locais.
vezes limitada. Davey (1993) tambm d muitos As medidas para melhorar os bairros existentes
bons exemplos da gesto autrquica do meio urbano. tambm podem servir de exemplo para as novas
Alguns aspectos so o financiamento dos servios, urbanizaes e outras ocupaes informais de
mtodos de avaliao dos servios e colaborao en- terreno. O processo de licenciamento enquadra
tre Municpios o sector privado. muitos projectos novos, e em especial projectos
161

ANEXOS
de carcter prioritrio. Todos os exemplos e inicia- Imparato & Ruster (2003) descrevem um outro
tivas para melhorar o meio urbano, com um plane- processo de colaborao, junto com os cidados
amento do uso de terra, e com as habitaes exis- dos bairros degradados na Amrica Latina, e apre-
tentes e novas, devem ser divulgados ao pblico. sentam vrias formas de financiamento, tanto lo-
O livro da UN Habitat um bom exemplo que se cal como externo. Fazem a seguinte definio de
pode trabalhar com mtodos e medidas praticas colaborao (participation):
para as populaes pobres. No devem ser exclu- A participao um processo no qual a popula
das dos trabalhos urbansticos. o, em particular a populao carenciada, influen
Sugerimos tambm a consulta de outros ttulos cia a alocao de recursos e a formulao e imple
da UN Habitat referidos abaixo, ou directamente mentao de polticas fundirias, e envolvida a
na pgina de Web desta organizao. As publica- diferentes nveis na identificao de solues duran
es abrangem vrios aspectos de medidas deseja- te o projecto de planeamento, e posteriormente na
das para melhorar os bairros urbanos existentes, sua implementao, e avaliao psocupao.
tanto a nvel geral, poltico e financeiro como A nfase inicial no conceito de participao
questes praticas de infraestruturas. feita para sublinhar o papel e a possibilidade
abranger os cidados dos bairros, e neste contexto
Comparticipao Municpio sector privado os proprietrios dos prdios.
A gesto municipal essencial, mas podemse pro- Godin & FarvacqueVitkovic (1998), num estu-
curar formas de colaborao com o sector privado, do lanado pelo Banco Mundial, apresentam uma
isto , no mercado imobilirio e noutras actividades perspectiva do desenvolvimento das cidades na
econmicas. Significa que se procura integrar o sec- frica francfona durante os ltimos 25 anos, isto
tor privado no contexto global, do urbanismo e do , durante as dcadas 19701990. O crescimento
ordenamento do territrio, e assim alargar a pers- das cidades tem sido muito elevado, e tem causa-
pectiva do licenciamento de obras, ou de loteamen- do muitos problemas criar estruturas urbanas para
tos. PPIAF & World Bank (2005) descrevem a colabo- acompanhar o desenvolvimento. Mostram ques-
rao com o sector privado na rea de infraestruturas tes chaves no que concernem o papel dos parcei-
em Angola. Na rea de urbanismo h uma complexi- ros, financiamento, infraestruturas, etc.
dade maior, e com benefcios comuns, que no se Peterson (2008) sublinha as mesmas ideias uma
pode cobrar directamente no seu consumo, por dcada mais tarde, e com uma nfase no valor fundi-
exemplo, o uso de terrenos comuns. Mas as experin- rio como recurso para financiamento de infraestru-
cias numa reas econmicas podem ser usadas para turas. Faz um exame da teoria subjacente a diferen-
desenvolver a rea de urbanismo. tes aspectos financeiros, tais como taxas de melhoria,
162
ARQUITECTURA SUSTENTVEL EM ANGOLA

} Davey, Kenneth J, 1993. Elements Of Urban Manage- bitat.org/pmss/getPage.asp?page=bookView&book=2460


ment / Elementos de la Gestion Urbana , World Bank. } UN Habitat, 2006a, Analytical Perspective of Propoor
http://publications.worldbank.org/ecommerce/cata- Slum Upgrading Frameworks. http://www.unhabitat.
log/product?context=drilldown&item%5fid=194821 org/pmss/getPage.asp?page=bookView&book=2291
(Ingls esgotado) http://publications.worldbank.org/ } UN Habitat 2006b, Financial Resource Mapping. For
ecommerce/catalog/product?context=drilldown&item% ProPoor Governance Part I. For Untied Resources
5fid=217916 (Espanhol acessvel) Available at City Level Part II. http://www.unhabitat.
} Lee, Kuy Sik & Gilbert, Roy, 1999, Developing Towns org/pmss/getPage.asp?page=bookView&book=2391
& Cities: Lessons from Brazil and the Philippines, } UN Habitat, 2004, ProPoor Land Management: In-
World Bank http://publications.worldbank.org/ecom- tegrating Slums into City Planning Approaches.
merce/catalog/product?context=drilldown&item%5fi h t t p : / / w w w. u n h a b i t a t . o r g / p m s s / g e t Pa g e.
d=210802 asp?page=bookView&book=1105
} UN Habitat, 2008a, How to Develop a Propoor Land Po- } UN Habitat & GLTN, 2007, Strategic citywide spatial
licy Process, Guide and Lessons. http://www.unhabitat. planning A situational analysis of metropolitan
org/pmss/getPage.asp?page=bookView&book=2456 PortauPrince, Haiti. http://www.gltn.net/index.
} UN Habitat 2008b, Manual on the Right to Water php?option=com_docman&gid=209&task=doc_
and Sanitation. http://www.unhabitat.org/pmss/ge- details&Itemid=24
tPage.asp?page=bookView&book=2536 } World Bank, 2009, Improving Municipal Manage-
} UN Habitat, 2008c, Participatory Budgeting in Africa ment for Cities to Succeed: An IEG Special Study.
A Training Companion (Volume I: Concepts and Princi- http://publications.worldbank.org/ecommerce/cata-
ples; Volume II: Facilitation Methods). http://www.unha- log/product?context=drilldown&item%5fid=9199933

{ QUADRO A4.5 } Publicaes sobre o papel do municpio no urbanismo.

taxas de impacto, e da troca de activos em terras e com o sector privado, tanto os construtores como os
infraestruturas pblicas e privadas. Estas ideias tem proprietrios, pode contribuir nos investimentos para
sido desenvolvidas durante os ltimos anos conside- criar o meio urbano desejado. A vantagem com esta
rando o habitat urbano como um recurso financeiro, srie que tem uma partes gerais e outras partes
visto que os investimentos realizados nas constru- prticas e que servem bem para usar pelos encarrega-
es representam um capital muito maior do que os dos nos municpios e nas empresas privadas.
investimentos de cooperao.
UN Habitat & EcoPlan International (2005/2007) A4.4 A gesto do meio urbano
tm uma srie de quatro volumes como um manual
pratico para entender e trabalhar com a autarquia lo- Espaos verdes no meio urbano
cal, e assim identificar como financiar os investimen- O meio urbano no constituda apenas pelas
tos sem depender do Estado Central. A coparticipao construes, mas tambm pelas partes publicas e
163

ANEXOS
comuns. evidente que as infraestruturas virias espaos verdes. Propese o uso de indicadores
so pblicas, mas tambm h uma necessidade no planeamento. O artigo foi destacado e publi-
de espao verde como um pulmo na rea urba- cado pela FAO como um bom exemplo.
na. A rea urbana desenvolvida como o habitat Um outro artigo destacado na pgina Web da FAO
o nosso meio de viver. As perspectivas de sus- foi escrito por um grupo de cientistas do Danish Fo-
tentabilidade nas construes uma parte im- rest and Landscape Research Institute (Konijnindijk
portante e talvez a parte mais em foco. As zonas et al, 2003), para dar nfase aos aspectos verdes no
verdes no meio urbano tambm fazem parte des- desenvolvimento urbano. O artigo apresenta o con-
te meio urbano. Aqui limitamos a nossa perspec- ceito de UPF (Urban and periurban forestry zonas
tiva a alguns exemplos prticos. Rukunuddin & verdes/bosque no meio urbano e periurbano), e a
Hassan (2003) mostram a necessidade criar um incluise a participao no processo de planeamento
meio ambiente nas cidades grandes, e neste caso e implementao. Entendemos que a gesto pblica
numa cidade em Bangladesh com uma percenta- essencial, mas depende de uma boa coparticipao
gem alta de pobreza. Significa que a gesto ur- de outros agentes, privados, associaes e de cida-
bana tem de procurar formas para garantir estes dos para ter sucesso. Tambm mostram no artigo

} Godin, Lucien & FarvacqueVitkovic, Catherine, blications.worldbank.org/ecommerce/catalog/product?c


1998, The Future of African Cities: Challenges and ontext=drilldown&item%5fid=4281347 ou 4281538
Priorities in Urban Development. World Bank. Tam- } UN Habitat, 1996, Policies and Measures for Small
bm acessvel em Francs. http://publications.world- Contractor Development in the Construction Industry.
bank.org/ecommerce/catalog/product?context=drilld h t t p : / / w w w. u n h a b i t a t . o r g / p m s s / g e t Pa g e.
own&item%5fid=204720 asp?page=bookView&book=1340
} Imparato, Ivo & Ruster, Jeff, 2003, Slum Upgrading and } UN Habitat e EcoPlan International, 2005/2007, Local
Participation: Lessons from Latin America. World Bank. Economic Development (LED) series Promoting Local
http://publications.worldbank.org/ecommerce/catalog/ Economic Development through Strategic Planning (Four
product?context=drilldown&item%5fid=1088629. Volumes 1 Quick Guide, 2 Manual, 3 Toolkit and 4 Action
} Peterson, George E, 2008, Unlocking Land Values to Fi- Guide) Promovendo o Desenvolvimento Econmico Local
nance Urban Infrastructure. World Bank. Palgrave Mac- atravs do Planejamento Estratgico. Edio em Ingls
millan. http://publications.worldbank.org/ecommerce/ 2005, em Portugus 2007. Tambm acessvel em Francs.
catalog/product?context=drilldown&item%5fid=8811078 http://www.unhabitat.org/pmss/getPage.asp?page
} PPIAF & World Bank, 2005, Private Solutions for Infras- =bookView&book=2625 (em Portugus) http://www.
tructure in Angola. Soluciones Privadas para a Infraestru- unhabitat.org/pmss/getPage.asp?page=bookView
tura em Angola. Edio em Ingls e Portugus http://pu- &book=1922 (em Ingls)

{ QUADRO A4.6 } Publicaes sobre a comparticipao entre municpios e sector privado.


164
ARQUITECTURA SUSTENTVEL EM ANGOLA

que no apenas uma questo dos pases desenvol- trar alternativas para financiamento, e com a necessi-
vidos, mas de todos os pases. Mostram exemplos de dade de uma infraestrutura financeira. Outros, por
UPF em vrias partes do mundo, e assim entendemos exemplo, Home & Lim (2004) mostram mais perspec-
que h condies para implementar o conceito. tivas para entender as origens do problema e a varie-
dade de solues em pases africanos e das Carabas.
A4.5 Financiamento e crditos O guia da UN Habitat (2008 a) uma boa intro-
duo nesta rea, como desenvolver as possibilida-
Os investimentos no sector imobilirio represen- des financeiras de habitaes para toda a popula-
tam uma grande parte do produto nacional bruto. o, e em especial para as camadas de rendimento
As formas de financiamento so vrias, e variam mdio e baixo. Descreve e analisa os sistemas for-
muito entre as camadas da populao. O auto mais e informais. Portanto, um guia para uma po-
financiamento grande nos pases em desenvol- ltica mais abrangente no sector imobilirio. No se
vimento, em especial nas camadas populacionais deve pensar apenas nos sistemas formais, a que
mdias e pobres. O crdito hipotecrio uma for- apenas uma pequena parte da populao tem efec-
ma muito usada nos pases desenvolvidos, e per- tivamente acesso.
mite um investimento maior para o dono sem re- Tambm h estudos especficos em vrios pases,
cursos na situao actual. Exige um sistema de nos continentes SulAmericano, Africano e Asitico:
segurana hipotecria, que se baseia no enqua- Bolvia, Chile, Per, Zimbabwe, frica do Sul, ndia,
dramento dos prdios num sistema de posse for- Indonsia, Tailndia e Coreia. O exemplo da frica do
mal de terra, para se poder hipotecar valores da Sul (UN Habitat 2008 b) pode servir bem. UN Habitat
unidade predial. Para funcionar bem tm de existir (2002) tambm apresenta um panorama de vrios
unidades prediais bem distintas e com valor ofi- pases na rea de financiamento habitacional, e as-
cial, que usado como unidade hipotecria. sim serve de exemplo e incentivo para enquadrar e
Em todos os pases existe uma estrutura para hipo- desenvolver os sistemas nacionais de financiamento.
tecar as propriedades, mas no usada num nvel As experincias apresentadas mostram que existem
muito elevado em pases em desenvolvimento. O es- solues para melhorar a situao habitacional para
tudo comparativo do economista de Soto (2003) o todos, e que o financiamento no restrito ao sector
mais destacado para identificar um problema especfi- formal onde o ttulo de propriedade permite a con-
co nesta rea. Explica a diferena entre os pases cesso de crdito atravs da hipoteca formal. As ini-
latinoamericanos e os EUA na confiana no sistema ciativas na rea de construo sustentvel exigem
judicial e no desenvolvimento do sector hipotecrio. tanto um conhecimento melhor de tcnicas de cons-
A polmica criada por de Soto tem sido til para mos- truo e design, como investimentos financeiros.
165

ANEXOS
} Rukunuddin, Ahmed Miyan & Hassan, Rakibul, 2003, } Konijnendijk, Cecil C; Sadio, Syaka; Randrup, Thomas B.
Peoples Perception toward Value of Urban Greenspace & Schipperijn, Jasper, 2003, Urban and periurban forest-
in Environmental Development. World Forestry Congress, ry for sustainable urban development. World Forestry Con-
Sept 2330, 2003, Quebec city, Canada http://www.fao. gress, Sept 2330, 2003, Quebec city, Canada. http://
org/DOCREP/ARTICLE/WFC/XII/0347B5.HTM www.fao.org/DOCREP/ARTICLE/WFC/XII/0976B5.HTM

{ QUADRO A4.7 } Publicaes sobre espaos verdes no meio urbano.

} Home, Robert & Lim, Hilary (ed.) 2004, Demystify- and Policies (Series title) http://www.unhabitat.org/
ing the Mystery of Capital. Land Tenure and Poverty pmss/getPage.asp?page=bookView&book=2547
in Africa and the Caribbean. Glasshouse Press. } UN Habitat, 2008b Housing Finance Systems In
} De Soto, Hernando, 2003, The Mystery of Capital/El South Africa. http://www.unhabitat.org/pmss/get-
mistrio del capital. Basic Books/Editorial Diana Sa. Page.asp?page=bookView&book=2549
} UN Habitat, 2008a, Housing for All: The Challenges } UN Habitat, 2002, Financing Adequate Shelter for All.
of Affordability, Accessibility and Sustainability, The http://www.unhabitat.org/pmss/getPage.asp?page
Experiences and Instruments from the Developing and =bookView&book=1277
developed worlds, 2008. Human Settlement Finance

{ QUADRO A4.8 } Publicaes sobre financiamento e crditos.

A4.6 Construo no meio urbano


O tema de Land and Housing tem muitos ttu-
los sobre as tcnicas de construo, incluindo a
As tcnicas de construo so descritas noutras partes energia, tecnologias, e sustentabilidade na cons-
deste manual. Nesta parte queremos apenas concluir truo. O acesso geral s publicaes da UN Habi-
a abordagem de literatura das organizaes interna- tat: http://www.unhabitat.org/pmss/.
cionais com alguns poucos ttulos sobre a construo Aqui queremos mencionar duas publicaes da
e o seu papel como consumidor de energia. A rea UN Habitat, para mostrar o desenvolvimento nesta
bem vasta, e no pretendemos fazer uma abordagem rea. UN Habitat (1997) d uma abordagem global
grande, mas apenas mostrar que faz parte dos progra- sobre no final da dcada de 1990. Entendemos que
mas e iniciativas das organizaes internacionais. esta rea j era importante nessa altura, que se
A UN Habitat tem uma seco sobre a habitao, tentava mostrar e fazer chegar conhecimentos de
e faz a ligao com o terreno, j descrito acima. solues adequadas na construo. Notase que o
Chamase Land and Housing, o que indica que fa- tema tecnologias para as construes de custos
zem a ligao entre o acesso a terreno e a constru- baixos, e assim so adaptadas a pessoas sem gran-
o. So duas partes interligadas na urbanizao. des recursos financeiros.
166
ARQUITECTURA SUSTENTVEL EM ANGOLA

Uma dcada mais tarde, UN Habitat (2007) apre- ment Network: http://www.unhabitat.org/cate-
senta opes para melhorar o acesso e consumo de gories.asp?catid=570
energia em bairros suburbanos pobres. Significa que Os temas desta rede so grandes, e abrange as-
h solues para resolver a situao actual nesses bair- pectos mais globais sobre as mudanas climticas,
ros. O consumo individual mas depende do forneci- mas tambm aspectos mais locais e aplicveis na
mento do bairro, e como se organiza esta rea a nvel construo civil e planeamento urbano. A cidade de
local. Como se entende da descrio do livro, foi uma Maputo uma de quatro cidades piloto desta rede, e
reunio de peritos para identificar as limitaes em to- assim tem alguns estudos j feitos e outros por fazer.
das as reas onde a energia um factor essencial. Tam- A anlise identifica vrios problemas, como por
bm faz uma anlise do ambiente local, onde o consu- exemplo inundaes fluviais, desaparecimento de zo-
mo de energia pode melhorar para evitar a poluio. nas de mangal, e degradao da qualidade de gua.
A UN Habitat tambm promove iniciativas na
rea de energia atravs de uma rede de internet, A4.7 Uma cidade sustentvel
GENUS, the Global Energy Network for Urban Set-
tlements. Acesso: http://www.unhabitat.org/ca- O processo de construo sustentvel tem de ser
tegories.asp?catid=631. apoiado por uma estratgica de sustentabilidade
A rede nova, e realizou dois encontros em 2009, da gesto urbana. um aspecto prioritrio do pro-
sobre transportes e electrificao para bairros subur- grama SUREAfrica Sustainable Urban Renewal
banos respectivamente, e dois em 2010 sobre trans- Energy Efficient Buildings in Africa.
portes urbanos e energia produzida com lixo. Notase Os promotores de construo precisam de uma
que estes tipos de tcnicas e aces so conhecidos contrapartida do sector pblico, tanto a nvel lo-
em pases desenvolvidos, como por exemplo o progra- cal e como a nvel nacional, com uma boa orien-
ma do urbanismo sustentvel da cidade de Malm (ver tao sustentvel na gesto urbana.
a parte inicial deste captulo). Seguidamente descrito, de forma sucinta, um
Uma outra rede de internet criada pela UN Ha- exemplo de boas prticas de gesto sustentvel,
bitat a SUD-NET Sustainable Urban Develop- promovida a nvel municipal a cidade de Malm.

} UN Habitat, 1997, Global Overview of Construction } UN Habitat, 2007, Enhancing Access to Modern Energy
Technology Trends: EnergyEfficiency in Construction. Options for Poor Urban Settlements. http://www.unhabi-
h t t p : / / w w w. u n h a b i t a t . o r g / p m s s / g e t Pa g e. tat.org/pmss/getPage.asp?page=bookView&book=2354
asp?page=bookView&book=1452

{ QUADRO A4.9 } Publicaes sobre construo no meio urbano.


167

ANEXOS
A cidade de Malm exemplo sustentvel opment.4.33aee30d103b8f15916800024628.html.
A cidade de Malm, ao sul da Sucia, apresentada Este website contem tambm muitos outros docu-
como inspirao e para mostrar o que o sector pblico mentos, disponveis em formato pdf, como por exem-
pode fazer para apoiar as actividades dos promotores plo programas gerais de desenvolvimento sustent-
privados. As condies so diferentes entre a Sucia e vel, e programas sobre energia e clima. Os temas dos
os pases africanos abrangidos pelo SureAfrica. Mas workshops da conferncia de 2007 mostram a situa-
apresentamse umas ideais do trabalho que se faz para o complexa das intervenes, ou seja, as possibi-
orientar a gesto urbana com este objectivo. lidades de actividades para mudar a gesto urbana.
Vamos comear com o trabalho do Municpio na A cidade de Malm foi um exemplo destacado
rea de sustentabilidade urbana. Aqui encontramos pela UN Habitat no World Habitat Day 2009. Outros
uma viso bem enraizada, em forma de trabalhos j exemplos do mundo inteiro, incluindo 20 projectos
feitos e vises. Foram realizadas duas conferncias em pases africanos, desde o incio desta iniciativa
sobre o tema Sustainable City Development, em 2005 em 1989, at 2009, so acessveis na seguinte di-
e 2007 respectivamente. Identificaramse muitas reco: http://www.unhabitat.org/content.asp?ty
reas para encaminhar o desenvolvimento urbano peid=19&catid=588&cid=7306.
nesta direco. A documentao das conferncias
est acessvel no website http://www.malmo.se/ser- Autor: Klas Ernald Borges
vicemeny/malmostadinenglish/sustainablecitydevel University of Lund

Workshop { 8 } Construo sustentvel


{ 1 } Arquitectura sustentvel nas regies do Bltico e Escandinvia
{ 2 } Alteraes climticas { 9 } Vegetao urbana como meio
{ 3 } Manuteno e operao de adaptao ao clima
de edifcios sustentveis { 10 } Planeamento urbano
{ 4 } Parcerias pblicoprivadas { 11 } Um futuro sem petrleo
no sector da Energia { 12 } Sistema de sade sustentvel
{ 5 } Sistemas de energias renovveis { 13 } Como reduzir produo sem reduzir os bens
{ 6 } Design de edifcios sustentveis { 14 } Integrao urbana
o desenvolvimento do conceito { 15 } Educao e desenvolvimento
{ 7 } Como melhorar a acessibilidade sustentvel das cidades
sem aumentar o nmero { 16 } Ferramentas para a concepo
de viaturas privadas de edifcios sustentveis

{ A4.10 } Workshops na conferncia sobre Sustainable Development, em Malm, 2007.


168

O Mecanismo de Desenvolvimento Limpo


A5 Desenvolvimento Limpo (CDM na sigla inglesa) um dos trs mecanis-
nos PALOP: Potencial
mos de flexibilidade previstos no Protocolo de
para energias sustentveis
Quioto, a par da Implementao Conjunta e do
comrcio de emisses, e o nico que envolve di-
O Protocolo de Quioto, as polticas e mecanismos rectamente os pases mais pobres. Pressupe o
com ele relacionadas deram novo flego ideia de investimento dos pases desenvolvidos (Anexo I
obter um modelo energtico sustentvel, que contri- da Conveno sobre as Alteraes Climticas)
bua ao mesmo tempo para combater as alteraes em projectos de reduo de emisses nos pases
climticas e para reduzir a pobreza. Enquanto se pro- em desenvolvimento (no Anexo I), contribuin-
cura minimizar os efeitos do crescimento econmico do para o desenvolvimento sustentvel destes
sobre o planeta, indefensvel negar s populaes pases e contabilizando esses investimentos nos
mais pobres que no tm acesso a servios bsicos seus prprios compromissos de reduo face ao
e foram as que menos contribuiram para a situao Protocolo de Quioto (e face a metas regionais
actual a melhoria do seu nvel de vida. como as da Unio Europeia).

{ FIG. A5.1 } Projectos CDM registados (Fonte UNFCCC).


169

ANEXOS
Existem no entanto obstculos a esta ideia de potencial destes pases para receber investimen-
desenvolvimento sustentvel. O CDM, enquanto tos deste tipo. Ser necessrio apostar nos prxi-
mecanismo de mercado, e nos moldes actuais, tem mos anos em estudos e levantamentos mais
se revelado mais apropriado para projectos de larga exaustivos.
escala e pases em crescimento econmico acelera- ainda mais escassa a informao sobre pases
do. Muito se tem falado do envolvimento de frica, pequenos como So Tom e Prncipe e a Guin
que est em ltimo plano, com menos de 2% de pro- Bissau. Angola e Moambique tm vastos territ-
jectos CDM registados at hoje. S a China e a ndia rios que parecem oferecer um universo de possibi-
representavam mais de 60% dos projectos registados lidades. Cabo Verde, por seu turno, assistiu a um
pelo Comit Executivo do CDM a 8 de Novembro de grande entusiasmo pelas renovveis, nos anos 70
2010 (2 486 no total). a 80, mas nos ltimos anos tem vindo novamente
Existe uma grande diversidade de tecnologias a afirmarse neste campo, tendo um conjunto de
de reduo de emisses consideradas no CDM, mas projectos previstos com apoios internacionais, in-
abordaremos aqui em concretos as que esto rela- cluindo de Portugal.
cionadas com o aproveitamento das Fontes de
Energia Renovveis (FER). A5.2 O caso dos PALOP:
Para fazer face necessidade de reduzir emis- energia e alteraes climticas
ses em diversas frentes, Portugal recorreu aos
mecanismos de flexibilidade e criou um Fundo O uso de biomassa dominante em frica, com
de Carbono com o objectivo de investir em pro- consequncias na preservao dos recursos natu-
jectos de reduo de emisses, incluindo de De- rais do continente. O consumo de energias fs-
senvolvimento Limpo. Desde 2007 j foram as- seis e de electricidade nunca foi generalizado
sinados memorandos de entendimento com os populao e a maior parte dos pases no total-
cinco PALOP, que do grande destaque aos pro- mente servida por uma infraestrutura energti-
jectos de FER. ca. Esta fonte de energia permanecer como a
A cooperao portuguesa estava at aqui dedica- mais importante, mas h formas de atenuar os
da a outras reas, mas nos ltimos anos o ambiente seus efeitos, por exemplo promovendo a utliza-
e a sustentabilidade tm aparecido como preocupa- o de fornos solares ou mais eficientes, uma vez
es estratgicas, com o ambiente a surgir nos pla- que a maior parte da energia utilizada na con-
nos anuais e plurianuais de cooperao. feco de alimentos.
No entanto, ainda no h projectos CDM no ter- Todos os PALOP esto classificados como Pa-
reno e tambm h pouca informao sobre o real ses Menos Avanados (PMA) pelas Naes Unidas.
170
ARQUITECTURA SUSTENTVEL EM ANGOLA

proceder a estudos aprofundados para apurar o verda-


deiro potencial existente nas diversas reas. A elica
no ter viabilidade em todas as geografias, sendo
adequada por exemplo no caso de Cabo Verde.
Um estudo feito pelo Banco Mundial em 2008,
sobre oportunidades de desenvolvimento de projec-
tos CDM em frica, abrangeu quatro PALOP (So Tom
e Prncipe no foi includo) e apenas uma parte das
FER, mas ainda assim conclui que o potencial de re-
duo de emisses pode ser significativo.

Cabo Verde

O pas revela potencial para o aproveitamento de di-


versas FER, em particular a solar e a elica. Cabo Verde
tem muito pouca chuva ao longo do ano e o nmero
de horas de Sol pode atingir uma mdia de 200 por
ms (IE4Sahel/IST, 2007). Esta fonte de energia tem
{ FIG. A5.2 } Microturbina elica.
sido pouco aproveitada ao longo dos anos, havendo
recentemente alguns projectos para as zonas rurais.
Excepto Cabo Verde que passou a ser considerado Alm dos elevados nveis de insolao, um dos
um Pas de Rendimento Mdio em 2008. Todos es- elementos climticos predominantes em Cabo Verde
tes cinco pases ratificaram j a Conveno sobre as o vento, que sopra de forma constante dos quadrantes
Alteraes Climticas e o Protocolo de Quioto, mas Nordeste e Este. As mdias situamse entre os 4 m/s e
apenas Cabo Verde e Moambique tm as suas Au- os 7 m/s (Alves et al., 2007).
toridades Nacionais Designadas operacionais, um Em 2004, a energia elica representou cerca de
passo fundamental para poderem receber projectos 3% da produo de electricidade. Em 2007 foi ela-
CDM. Portugal tem dado prioridade constituio borado um Atlas Elico de Cabo Verde pelo labora-
destes organismos na cooperao com os PALOP. trio Ris, da Dinamarca. Esperase que a taxa de
Em termos de potencial de implementao de pro- utilizao da elica aumente para os 18% com os
jectos FER, a biomassa e a energia solar sero as duas quatro projectos recentemente aprovados para as
fontes mais disponveis nos PALOP, mas necessrio ilhas de Santiago, So Vicente, Sal e Boa Vista.
171

ANEXOS
uma velocidade mdia de vento que pouco ultra-
Angola
passa 2 m/s, excepto nas zonas costeiras onde pode

A minihdrica, solar e aproveitamento da biomassa atingir 3 a 4 m/s, como concluram por exemplo es-

so as reas de maior potencial nas FER. Um estudo tudos desenvolvidos pelo projecto CDM for Sustai-

sobre o perfil ambiental de Angola, realizado pela nable Africa1.

MHV para a Comisso Europeia em 2006, recomen- O desenvolvimento de biocombustveis tem

da a difuso das fontes renovveis (nomeadamente suscitado interesse, tal como em Angola, pelo po-

solar, minihdrica e biomassa) a iniciar em escolas tencial de explorao de produtos como o coquei-

em meio rural, nos parques naturais e em reas de- ro ou a mandioca.

srticas (maior utilizao solar), assim como a pro-


GuinBissau
moo da eficincia energtica junto da indstria e
da utilizao de gs natural, com o objectivo de re-
Essencialmente dependente da biomassa (recursos
duzir a dependncia de combustveis.
florestais) e da importao de produtos petrolferos.
O sector dos biocombustveis tem suscitado in-
A desflorestao um problema significativo que se
teresse por parte das grandes empresas privadas
tem agravado com o passar dos anos, apesar da po-
da rea da energia.
ltica nacional de reflorestao. (MHV/CE, 2007).
Tambm neste pas a produo de biocombus-
Moambique
tveis a partir de recursos agrcolas poder ser

A biomassa, lenha e carvo vegetal, representa uma das FER mais importantes a explorar, mas

mais de 90% do consumo de energia, mas o pas tambm a solar e a elica.

tem potencial para explorao de algumas FER, em A velocidade mdia do vento na GuinBissau si-

particular a hdrica e minihdrica, pois rico nes- tua-se 3 e 5 m/s, sendo suficiente para a instalao de

te tipo de recursos, exportando inclusivamente a parques elicos. O pas dispe alm disso de uma boa

maior parte da electricidade produzida pela barra- radiao solar 5 a 6 KWh/m2/dia (8 horas dirias).

gem de Cahora Bassa.


A radiao solar global de 220 W/m2, mais
que o dobro da do continente europeu, o que per-
mite igualmente o aproveitamento da energia so- 1. CDM for Sustainable Africa Project Consrcio formado
por instituies de ensino e investigao de pases europeus
lar (Greenpeace/ITDG, 2002). e africanos, com o objectivo de aprofundar o conhecimento sobre
o potencial de frica para desenver projectos de Desenvolvimento
J o potencial para desenvolvimento da energia Limpo. Dados retirados do mapa CDM de Moambique: http:
//www.rgesdsustcomm.org/CDM_AFRICA/cdm_africa_Mapping_Mo-
elica no to significativo neste territrio, com zambique.htm. Fontes: IEA Energy Statistics and The World Fact Book.
172
ARQUITECTURA SUSTENTVEL EM ANGOLA

So Tom e Prncipe
Referncias:
Alves, Lus. et al. (2007), Energy for Poverty Al-
O potencial do pas para utilizao das FER est leviation in Sahel/IE4Sahel: Public Report, Insti-
ainda pouco estudado e requer um levantamento tuto Superior Tcnico, Lisboa.
exaustivo das potenciais fontes. Earth Institute, Universidade de Columbia (2004),
O relatrio pedido pelo governo de So Tom ao Relatrio sobre Infraestrutura de Energia So
Earth Institute da Universidade de Columbia, em Tom e Prncipe, Columbia.
2004, recomendava o uso da biomassa florestal,
atravs da gaseificao e posterior aproveitamento Gouvello, C., Dayo, F., & Thioye, M. (2008), Low
do gs na confeco de alimentos. O mesmo estudo carbon Energy Projects for Development in Sub
defendia inclusivamente que o agroflorestamento Saharan Africa: Unveiling the Potential, Address-
poderia levar a produo de biomassa a atingir as ing the Barriers, The International Bank for
40 mil toneladas anuais, o que equivaleria produ- Reconstruction and Development / The World Bank,
o anual de energia elctrica do pas. Washington, DC

Autora: Carla Gomes MWH, laboration du Profil Environnemental de


Mestre em Gesto e Polticas Ambientais Pays Guine Bissau: Rapport final (pour la CE),
pela Universidade de Aveiro 31 de Janeiro de 2007.

MHV (to the EC), Update of the Country Environ-


mental Profile of Angola, Julho 2006.

http://cdm.unfccc.int/, United Nations Framework


Convention on Climate Change
http://www.wri.org, World Resources Institute (WRI)
173

AUTORIAS
{ Autorias }
174
ARQUITECTURA SUSTENTVEL EM ANGOLA

{ Texto } { Figuras }
Introduo 1.1 Desenho Joana Aleixo
Benga Pedro (UAN) 1.2 Foto Manuel Correia Guedes
Captulo 1 1.3 Fotos Manuel Correia Guedes
Joana Aleixo (IST) 1.4 Foto Manuel Correia Guedes
Captulo 2 1.5 Fotos Manuel Correia Guedes
Leo Lopes (M_EIA) 1.6 Fotos Joana Aleixo
Captulo 3 1.7 Fotos Joana Aleixo
Manuel Correia Guedes, 1.8 Fotos Joana Aleixo
Joana Aleixo (IST) 1.9 Fotos Manuel Correia Guedes
Captulo 4 1.10 Fotos Joana Aleixo
Leo Lopes, ngelo Lopes,
Mariana Pereira (M_EIA) 3.1 Fotos Manuel Correia Guedes
Captulo 5 3.2 Desenho Joana Aleixo
Leo Lopes, ngelo Lopes, (adaptado de WMO)
Mariana Pereira (M_EIA) 3.3 Grfico Joana Aleixo
Captulo 6 3.4 Desenho Leo Lopes
Leo Lopes, ngelo Lopes, 3.5 Desenho Leo Lopes
Mariana Pereira (M_EIA) 3.6 Desenho Leo Lopes
Captulo 7 3.7 Desenho Leo Lopes
Maria Isabel Martins,Francisco Amaro, 3.8 Desenho Leo Lopes
Venceslau Mateus (UAN)7.1; 3.9 Desenho Leo Lopes
Miguel Amado (UNL)7.2 3.10 Desenho Leo Lopes
Anexo 1 Joana Aleixo, Luis Calixto (IST) 3.11 Desenho Mariana Pereira
Anexo 2 Manuel Pinheiro (IST) (adaptado de Baker, 2000)
Anexo 3 Gustavo Canturia (U. Cambridge) 3.12 Desenho Mariana Pereira
Anexo 4 Klas Borges (U. Lund) 3.13 Desenho Joana Aleixo
Anexo 6 Carla Gomes (U. Aveiro) 3.14 Foto Manuel Correia Guedes
3.15 Fotos Manuel Correia Guedes
3.16 Foto Manuel Correia Guedes
{ Quadros } 3.17 Desenho Leo Lopes
Captulo 1 Manuel Correia Guedes (IST) 3.18 Desenho Joana Aleixo
Captulo 7 Miguel Amado (UNL) (adaptado de Goulding, 1992)
Anexo 1 Joana Aleixo (IST) 3.19 Fotos Manuel Correia Guedes
Anexo 2 Manuel Pinheiro (IST) 3.20 Fotos Manuel Correia Guedes
Anexo 4 Klas Borges (U. Lund) 3.21 Fotos Manuel Correia Guedes
3.22 Fotos Manuel Correia Guedes
3.23 Fotos Manuel Correia Guedes
3.24 Fotos Manuel Correia Guedes
3.25 Desenho Leo Lopes
3.26 Foto Joana Aleixo
3.27 Foto Manuel Correia Guedes
175

AUTORIAS
3.28 Foto Manuel Correia Guedes 4.1 Desenho Leo Lopes
3.29 Foto Manuel Correia Guedes 4.2 Desenho Leo Lopes
3.30 Foto Manuel Correia Guedes 4.3 Desenho Leo Lopes
3.31 Desenho Joana Aleixo 4.4 Desenho Leo Lopes
(adaptado de Goulding, 1992) 4.5 Desenho Leo Lopes
3.32 Desenho Joana Aleixo 4.6 Desenho Leo Lopes
(adaptado de Thomas, 1996) 4.7 Desenho Leo Lopes
3.33Fotos Manuel Correia Guedes
3.34 Fotos Manuel Correia Guedes 5.1 Desenho Leo Lopes
3.35 Fotos Manuel Correia Guedes 5.2 Desenho Leo Lopes
3.36 Fotos Manuel Correia Guedes 5.3 Desenho Leo Lopes
3.37 Desenho Mariana Pereira 5.4 Desenho Leo Lopes
3.38 Desenho Joana Aleixo 5.5 Desenho Leo Lopes
(adaptado de Thomas, 1992) 5.6 Desenho Leo Lopes
3.39 Desenho Joana Aleixo 5.7 Desenho Leo Lopes
(adaptado de Thomas, 1992)
3.40 Desenho Mariana Pereira 6.1 Desenho Leo Lopes
(adaptado de Baker, 2000) 6.2 Desenho Leo Lopes
3.41 Desenho Leo Lopes 6.3 Desenho Leo Lopes
3.42 Desenho Leo Lopes 6.4 Desenho Leo Lopes
3.43 Desenho Leo Lopes 6.5 Desenho Leo Lopes
3.44 Desenho Leo Lopes 6.6 Tabela Leo Lopes
3.45 Desenho Leo Lopes 6.7 Desenho Leo Lopes
3.46 Desenho Leo Lopes 6.8 Desenho Leo Lopes
3.47 Desenho Leo Lopes
3.48 Desenho Leo Lopes 7.1 Foto Francisco Amaro
3.49 Desenho Leo Lopes 7.2 Fotos Francisco Amaro
3.50 Desenho Leo Lopes 7.3 Foto Francisco Amaro
3.51 Desenho Leo Lopes 7.4 Foto Venceslau Mateus
3.52 Desenho Leo Lopes 7.5 Foto Venceslau Mateus
3.53 Desenho Leo Lopes 7.6 Imagem GEOTPU
3.54 Desenho Leo Lopes 7.7 Imagem BM
3.55 Fotos Manuel Correia Guedes 7.8 Imagem BM
3.56 Fotos Manuel Correia Guedes 7.9 Imagem BM
3.57 Diagramas Joana Aleixo 7.10 Grfico BM
3.58 Fotos Manuel Correia Guedes 7.11 Foto Miguel Amado

A1 Imagens Joana Aleixo e Lus Calixto


A2 Imagens Manuel Pinheiro
A3 Imagens Gustavo Canturia
A4 Foto Manuel Correia Guedes
A5 Imagens Carla Gomes
O presente manual tem como principal objectivo sugerir medidas
bsicas para a prtica de uma arquitectura sustentvel. Destina-
se a estudantes e profissionais de arquitectura e engenharia,
sendo tambm acessvel ao pblico com alguma preparao
tcnica na rea da construo. Tendo em conta o clima, os re-
cursos naturais e o contexto socioeconmico, so traadas, de
forma simplificada, estratgias de boas prticas de projecto.

Foi elaborado no mbito do projecto europeu SURE-Africa (Sus-


tainable Urban Renewal: Energy Efficient Buildings for Africa), em
que participaram quatro instituies africanas: o Departamento
de Arquitectura da Universidade Agostinho Neto (Angola), a Es-
cola Internacional de Artes do Mindelo (M-EIA, em Cabo Verde),
o Ministrio das Infra-estruturas e Transportes da Repblica da
Guin-Bissau, e a Faculdade de Arquitectura da Universidade
Eduardo Mondlane (Moambique), e trs instituies acadmicas
europeias: o Instituto Superior Tcnico (coordenador do projecto),
a Universidade de Cambridge (Reino Unido) e a Universidade de
Lund (Sucia).

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