Caderno CCAP 1-Supervisao
Caderno CCAP 1-Supervisao
Caderno CCAP 1-Supervisao
DESEMPENHO DOCENTE
PARA UMA ABORDAGEM DE ORIENTAO
TRANSFORMADORA
Flvia Vieira
Maria Alfredo Moreira
Cadernos do CCAP 1
SUPERVISO E AVALIAO
DO DESEMPENHO
DOCENTE
PARA UMA ABORDAGEM DE ORIENTAO
TRANSFORMADORA
Flvia Vieira
Maria Alfredo Moreira
Ficha Tcnica
TTULO
Superviso e avaliao do desempenho docente: Para uma abordagem de orientao
transformadora
AUTORIA
Flvia Vieira
Maria Alfredo Moreira
EDIO
Ministrio da Educao Conselho Cientfico para a Avaliao de Professores
Avenida 5 de Outubro, 107, Lisboa
http://www.ccap.min-edu.pt
COLECO E NMERO
Cadernos do CCAP 1
REVISO EDITORIAL
Conselho Cientfico para a Avaliao de Professores
DATA
Abril de 2011
DISPONVEL EM
http://www.ccap.min-edu.pt/pub.htm
ISBN
978-989-97312-0-2
COPYRIGHT
2011, Ministrio da Educao Conselho Cientfico para a Avaliao de Professores
NOTA
As opinies expressas nesta obra so da exclusiva responsibilidade das autoras e no reflectem
necessariamente a opinio do Conselho Cientfico para a Avaliao de Professores.
2
ndice
Prefcio 7
1. Superviso da Pedagogia e Pedagogia da Superviso 11
2. Avaliao e Superviso: Tenses e Desafios 19
3. Para a Transformao da Prtica Docente: Estratgias de SuperViso 27
3.1. Observao de aulas 28
3.2. Narrativas profissionais e reflexo escrita 39
Dirio reflexivo 42
Estudo de casos 47
Porteflio de ensino 53
3.3. Investigao-aco (na inovao das prticas pedaggicas/ 57
/avaliativas)
Eplogo 61
Referncias Bibliogrficas 63
Nota Biogrfica das Autoras 73
3
ndice de Quadros
4
ndice de Figuras
5
PREFCIO
7
Prefcio
Sem pretender dar resposta a estas dvidas, ou sequer elimin-las, j que so vitais inter-
rogao do sentido possvel da avaliao dos professores e da superviso nesse contexto,
vejamos no entanto o que nos diz Gil (2009: 53) sobre os principais efeitos da avaliao em
8
Prefcio
geral: fortalece as hierarquias e as relaes de poder; sujeita o indivduo a uma grelha geral
de competncias que faz dele uma entidade comparvel, homogeneizada por padres que
valem para todos, ou seja, neutraliza a singularidade; legitima, atravs desses padres, o
grau mximo de saber e de poder, gerando no indivduo sentimentos de inferioridade e de
impoder face ao avaliador e imagem ideal do avaliado, e favorecendo, desse modo, lgicas
de excluso e autocondenao.
Onde fica, nestas circunstncias, o espao para a transformao baseada numa democra-
cia substantiva, participativa e crtica? Onde fica, podemos ainda perguntar, o espao da
construo da identidade profissional? Tomando novamente as palavras de Gil (2009: 57),
ser que estaremos a promover a fixao aberrante de uma identidade artificial atravs da
avaliao, sem conscincia do passado, das relaes do corpo terra, apenas virada para as
competncias, os parmetros de que depende a avaliao e que medem o ser avaliado?
Ser que estaremos ainda a alimentar o que Correia e Matos (2001) descrevem como uma
lgica de distoro comunicacional, segundo a qual os professores constroem narrativas
de auto-avaliao desenraizadas do seu quotidiano e despidas de subjectividade, auto-legi-
timadoras, nas quais ocultam os problemas e insucessos para se protegerem dos efeitos
perversos de um sistema avaliativo que no respeita a natureza complexa e idiossincrtica
da sua actividade profissional e que parece colocar neles toda a responsabilidade do que
corre mal na educao?
Mais uma vez, estas questes devem ser mantidas em aberto. Tal como acontece com a
educao escolar, o potencial da avaliao e da superviso joga-se no campo das possibili-
dades, entre o que so e o que deveriam ser, insurgindo-se contra o sistema mas operando
no seu seio e segundo as suas regras. Na pior das hipteses, representaro tecnologias
essencialmente formais e burocrticas ao servio da domesticao dos professores, a quem
negada a possibilidade de contestao e de quem esperado um realismo assente na
interiorizao da obedincia (Gil, 2009: 56). Na melhor das hipteses, sero apropriadas
pelos professores como estratgias de (auto-)crtica, desocultao de constrangimentos e
reconstruo individual e colectiva da profissionalidade docente, ao servio de uma educa-
o transformadora e emancipatria. Na maioria das situaes situar-se-o, muito provavel-
mente, entre estes dois extremos.
9
Prefcio
Como se pode depreender do que aqui fica dito, o presente trabalho situa-se, ele prprio,
no espao entre o real e o ideal, ou seja, o espao da possibilidade, um espao de fronteiras
indefinidas onde a transitoriedade do pensamento e da aco assenta na rejeio de uma
viso definitiva acerca do possvel o que hoje nos parece impossvel poder amanh tornar-
se mais possvel e na adopo de uma perspectiva re(ide)alista, alimentada pela esperan-
a enquanto crena na possibilidade (Van Manen, 1990) e necessariamente (auto-)crtica,
expondo dimenses problemticas da superviso no contexto da avaliao do desempenho
docente.
Este trabalho estrutura-se em trs momentos: no primeiro momento (Captulo 1), explora-se
a relao entre superviso e pedagogia escolar, clarificando-se o quadro tico-conceptual
em que, do nosso ponto de vista, estas devero ser inscritas; no segundo momento (Cap-
tulo 2), foca-se a relao entre superviso e avaliao do desempenho, equacionando pos-
sibilidades mas tambm tenses que afectam essa relao; no terceiro momento (Captulo
3), discutem-se algumas estratgias de superviso que podem promover a transformao
da educao e a emancipao dos docentes e alunos a observao de aulas, as narrativas
profissionais (dirios, estudos de caso e porteflios de ensino) e a investigao-aco.
Nota: Parte do Captulo 1 e das seces 3.1 e 3.2 do Captulo 3 retomam e expandem ideias apresentadas
no relatrio de provas de agregao de uma de ns, no publicado (Vieira, 2006).
10
1. SUPERVISO DA PEDAGOGIA E PEDAGOGIA DA
SUPERVISO
1
Voltaremos superviso clnica a propsito da observao de aulas, no Captulo 3, sec-
o 3.1.
11
1. Superviso da Pedagogia e Pedagogia da Superviso
superViso
teoria e prtica de regulao de processos de ensino e aprendizagem
Aluno: consumidor crtico e produtor criativo do
Interaco dos contextos saber
pessoal, pblico e partilhado
do conhecimento terico e Professor: facilitador da relao
prtico Indagao crtica aluno-saber-processo de aprender
Waite (1995a: 87) e Glickman et al. (2004: 8) usam as grafias SuperViso e superViso para
sublinhar a necessidade de uma viso do que o ensino e a aprendizagem podem e devem
ser, defendendo uma superviso colegial e dialgica, orientada para a construo de uma so-
ciedade democrtica (ver, tambm, Waite, 1995b e 1999). Concebendo o ensino como acto
moral e poltico (Smyth, 1987a, 1987b, 1989 e 1997), entendemos que uma pedagogia para
a autonomia (Freire, 1996) constitui uma direco defensvel para a superviso e propomos
uma definio nica para a autonomia do professor e do aluno: competncia para se desen-
volverem como participantes autodeterminados, socialmente responsveis e criticamente
conscientes em (e para alm de) ambientes educativos, por referncia a uma viso da edu-
cao como espao de emancipao (inter)pessoal e transformao social (Jimnez Raya et
al., 2007: 1). Propomos, assim, a associao entre autonomia e cidadania democrtica, base-
ada em princpios ticos como os que Torres Santom advoga para uma cultura democrtica
nas escolas (2006: 88-90): integridade e imparcialidade intelectual, coragem moral, respeito,
humildade, tolerncia, confiana nos alunos e nas suas capacidades e possibilidades, res-
ponsabilidade, justia, sinceridade e solidariedade.
Neste enquadramento, os papis do aluno e do professor na sala de aula podem ser defini-
dos conforme o Quadro 1.
12
1. Superviso da Pedagogia e Pedagogia da Superviso
13
1. Superviso da Pedagogia e Pedagogia da Superviso
c Articulao entre prtica reflexiva e pedagogia para a autonomia, com reflexos na defi-
nio das finalidades, contedos e tarefas da superviso;
14
1. Superviso da Pedagogia e Pedagogia da Superviso
15
1. Superviso da Pedagogia e Pedagogia da Superviso
Funes Prestar Clari- Enco- Servir Dar Ajudar a Nego- Orien- Esta- Condi-
aten- ficar rajar de opi- encon- ciar tar/ belecer cionar
o espelho nio trar so- Dirigir critrios/
Estilos lues metas
No directivo
Colaborativo
Directivo
Fonte: Glickman (1985), in Alarco e Tavares (2003).
Numa perspectiva mais centrada nas questes de poder nas relaes supervisivas, e que
nos parece interessante considerar no mbito da avaliao do desempenho, Waite (1995a)
advoga uma superviso situacional que implica a democratizao dos papis supervisivos. O
supervisor situacional dever conhecer bem os contextos profissionais e promover a sua
transformao, adoptando para tal uma estratgia dialgica que contrarie a natureza tenden-
cialmente hierrquica, hegemnica e ritualizada das prticas discursivas convencionais. A de-
finio de novas formas de dilogo profissional exige uma abertura do mbito da reflexo, a
negociao de perspectivas e a construo colaborativa de uma viso da escola, do ensino e
da aprendizagem, assim como uma atitude de resistncia do supervisor e do professor face
a poderes institudos que determinam, em menor ou maior grau, de forma mais ou menos
consciente em cada sujeito, as ideologias e as prticas educativas dominantes.
Com base na anlise etnogrfica de encontros supervisivos, Waite caracteriza o papel que
os professores assumem por referncia a duas dimenses principais: a agenda (mais ou me-
nos forte) do supervisor e a auto-determinao (mais ou menos explcita) do professor. Do
cruzamento destas dimenses podem emergir trs papis principais adversativo, passivo
e colaborativo , apresentados no Quadro 3, cujas marcas discursivas revelam diferentes
formas de exerccio do poder na interaco supervisiva.
16
1. Superviso da Pedagogia e Pedagogia da Superviso
Numa perspectiva dialgica, apenas o papel colaborativo far sentido, na medida em que
traduz e refora a democraticidade da relao supervisiva. Na anlise do papel adversativo,
principalmente caracterizado pela activao de contradiscursos pelo professor em reaco
a um discurso tendencialmente hegemnico do supervisor, o autor salienta o fenmeno da
resistncia como um sinal evidente da forte assimetria de poderes que muitas vezes carac-
teriza as prticas supervisivas (ver, tambm, Waite, 1995b). Essa assimetria tambm pode
explicar a adopo de um papel passivo, de obedincia ao supervisor, embora este papel
possa ser apenas aparente e resulte daquilo que Handal e Lauvs (1987) descrevem como
estratgia camalenica: o professor aparenta concordar com o supervisor de forma a evi-
tar conflitos ou penalizaes na sua avaliao. Trata-se de uma estratgia de sobrevivncia
que ser tanto mais utilizada quanto menor for o grau de abertura do supervisor s perspec-
tivas do professor e quanto maior for o poder avaliativo daquele.
A concepo relacional de poder que preside anlise proposta por Waite oferece uma
perspectiva distinta da de Glickman e colaboradores, na medida em que salienta o papel do
professor na construo da relao e o papel que o supervisor pode assumir na desconstru-
o colaborativa de uma cultura de superviso potencialmente opressiva para o professor.
Para Waite, qualquer discurso pode e deve ser problematizado e questionado como condio
essencial de democraticidade, e isto vlido tanto para o discurso do professor como para
o discurso do supervisor, cabendo a cada um compreender o posicionamento do outro, na
tentativa de compreender os fenmenos educativos. Esta perspectiva parece-nos ser par-
ticularmente desejvel no contexto da avaliao do desempenho, onde a superviso ser
sobretudo uma estratgia de (inter)compreenso com o objectivo de analisar e renovar pr-
ticas. Contudo, como salienta o autor, esta busca da (inter)compreenso no fcil, pois im-
plica uma focalizao na comunicao autntica e na compreenso profunda dos fenmenos
educativos, mais do que na obteno imediata de respostas para problemas identificados
(op. cit.: 133).
Num estudo sobre estratgias utilizadas em encontros supervisivos, Blase e Blase (1995)
concluem que o desenvolvimento de relaes de colegialidade favorecedoras do crescimen-
to profissional do professor depende fortemente do uso de duas estratgias: integrao
das orientaes pessoais dos participantes e congruncia conversacional. A primeira inclui
a mobilizao de quadros pessoais de referncia (opinies, convices, expectativas, mo-
tivaes), a expresso de sentimentos e emoes positivos face ao outro e a partilha
de conhecimentos e experincias; a segunda envolve processos de explicitao mtua e
negociao de perspectivas, prioridades e pressupostos, assim como a construo de uma
linguagem comum e o recurso a fontes comuns de conhecimento. Trata-se, em suma, de
encontrar critrios normativos que permitam distinguir entre o exerccio legtimo e ilegtimo
do poder, ou seja, entre poder facilitador e poder coercivo. De acordo com Robinson (1995:
115-116), fazer esta distino implica saber em que medida o processo de influncia de um
sujeito sobre outro se aproxima ou afasta das qualidades de um dilogo crtico, definido
como um processo onde os sujeitos analisam a validade das suas asseres, exercendo um
controlo bilateral ou multilateral do dilogo. A noo de dilogo crtico, assente em valo-
res como o respeito, o comprometimento com informao vlida e a liberdade de escolha,
articula-se com a perspectiva dialgica de Waite e supe tambm uma democratizao das
relaes interpessoais.
17
1. Superviso da Pedagogia e Pedagogia da Superviso
18
2. AVALIAO E SUPERVISO: TENSES E DESAFIOS
2
Decreto-Lei n. 15/2007, de 19 de Janeiro Altera (stima alterao) o Estatuto da Carreira
dos Educadores de Infncia e dos Professores dos Ensinos Bsico e Secundrio, aprova-
do pelo Decreto-Lei n. 139-A/90, de 28 de Abril, republicado em anexo e altera o regime
jurdico da formao contnua de professores, aprovado pelo Decreto-Lei n. 249/92, de 9
de Novembro. Publicado no Dirio da Repblica, 1. srie, n. 14, de 19 de Janeiro de 2007,
pp. 501-547. Disponvel online em http://dre.pt/pdf1sdip/2007/01/01400/05010547.pdf.
19
2. Avaliao e Superviso: Tenses e Desafios
No actual modelo, a nica resposta credvel s questes colocadas ser: dificilmente. Isto
porque o modelo incorpora finalidades incompatveis num mesmo processo, assentes em
perspectivas epistemolgicas e ontolgicas distintas: a primeira finalidade assenta numa
concepo de avaliao como actividade situada de construo de conhecimento educacio-
nal (perspectiva subjectivista), enquanto a segunda concebe a avaliao como classificao
e medio de desempenhos (perspectiva objectivista). Em rigor, seria necessrio separar os
actos de apoio melhoria do ensino ou motivao do professor dos actos de juzo avaliativo
para efeitos de promoo e mrito (Dunlap e Goldman, 1990; Pacheco e Flores, 1999; Daniel-
son e McGreal, 2000; Nolan e Hoover, 2005), ou seja, ter modelos distintos para finalidades
distintas (Moreira, 2009a).
Como salienta lvarez Mndez (2002: 15), a avaliao educativa transcende a perspectiva
objectivista:
Paradoxalmente, a avaliao tem a ver com actividades de qualificar, medir, corrigir, classi-
ficar, certificar, examinar, testar mas no se confunde com elas. (...) Com estas actividades
artificiais no se aprende. Em relao a elas, a avaliao transcende-as. onde elas no
chegam que comea, exactamente, a avaliao educativa.
Este autor equaciona a relao entre avaliao e conhecimento, alertando para a questo-
-chave que devemos colocar quando falamos de avaliao: qual a concepo ou viso do
conhecimento, da educao, do ensino, da aprendizagem, do desenvolvimento curricular, da
avaliao? Isto porque toda a actividade avaliativa reflecte a concepo que o avaliador tem
do conhecimento, mais do que o valor que a matria a ser avaliada possa possuir em si mes-
ma. Assim, continua lvarez Mndez, os problemas da avaliao so problemas conceptuais
sobre o ensino, a aprendizagem, o currculo e a prpria educao numa sociedade democr-
tica que deve pretender integrar e no segregar no fundo, no so meramente problemas
tcnicos, mas epistemolgicos e ontolgicos e que importa agora abordar.
20
2. Avaliao e Superviso: Tenses e Desafios
gica e a emancipao dos sujeitos, implicando: experincia vivida e prtica reflexiva na pro-
moo de aprendizagens significativas; valorizao do esforo, motivao e compromisso
por parte dos agentes; credibilizao e legitimao de uma grande diversidade de talentos e
realizaes, fontes, agentes e instrumentao; continuidade e evidncia longitudinal; tarefas
autnticas e significativas, e padres de excelncia e sistemas avaliativos negociados pelos
participantes; feedback imediato, claro e compreensvel; reviso peridica e avaliao dos
resultados entre todos os participantes e, no menos importante, da justia e equidade do
processo, independentemente do (in)sucesso anterior, gnero, raa, lngua, orientao sexu-
al ou meio econmico ou scio-cultural dos sujeitos (ver, ainda, Paris e Ayres, 1994).
3WCFTQ0CVWTG\CFQEQPJGEKOGPVQRTQUUKQPCNGEQPFKGURCTCCUWC
FGUTGEQPUVTWQ
1EQPJGEKOGPVQRTQUUKQPCN 'CUWC
FGUTGEQPUVTWQRTGUUWRG
Multireferenciado Explicitao e confronto de quadros de referncia
(substncia) Escrutnio da opinio
Prtico/ Plurimetodolgico Formulao de questes e construo de problemas
normativo (sintaxe) Recurso a metodologias diversificadas na busca de respostas
e
Plurifacetado (morfo- Identificao de obstculos epistemolgicos/razes da no
terico/
logia) compreenso e da inrcia
reflexivo
Valorizao de diversas formas de conhecimento
[caleidoscpico] Complexificao da viso da realidade
Bem privado
Respeito pelo conhecimento de cada um
Indissocivel do eu e
Autobiogrfi- Focalizao no auto-(des)conhecimento e na aco pessoal
da sua experincia
co e local Anlise crtica dos contextos de aco
Situado
Reposicionamento do eu
Identitrio
Bem pblico Colectivizao e democratizao das formas de conhecer
Relacional Dilogo crtico e comprometimento com o outro
Socialmente Inscrito em formas de Sentido do individual no colectivo
construdo coexistncia
Reconfigurao do eu na relao com o outro
Inscrito em formas de
linguagem Descoberta do poder da linguagem
21
2. Avaliao e Superviso: Tenses e Desafios
22
2. Avaliao e Superviso: Tenses e Desafios
Como afirmmos no incio deste captulo, necessrio criar uma imagem construtiva da
(auto-)avaliao, v-la como um instrumento a favor do professor e da sua actuao profis-
sional. Para isso, argumenta Murillo (2008: 47), um elemento crtico a ter sempre em conta
a qualidade do sistema de avaliao que no depende apenas da adequao das suas
caractersticas tcnicas (validade e fiabilidade), mas tambm da sua credibilidade e utilidade,
assim como da transparncia e da equidade. Todavia, a avaliao do desempenho docente
comporta riscos que devem ser tidos em considerao:
E para que a avaliao seja de qualidade, ter de explicitar o modelo ideal de pedagogia que
defende. Tal significa que avaliadores e avaliados devem partilhar os mesmos quadros de
referncia ontolgica e epistmica, mas significa tambm que todos se considerem agentes
de mudana sistmica e lderes transformadores num sentido global, vendo-se no apenas
como parte do sistema, mas como o prprio sistema: We are the system, and the system
is us (Glanz, 2005).
23
2. Avaliao e Superviso: Tenses e Desafios
24
2. Avaliao e Superviso: Tenses e Desafios
seja, a interrogao da sua qualidade, aqui definida luz dos seguintes critrios: actualidade,
economia, aplicabilidade, consistncia, transversalidade, colegialidade, relevncia e lideran-
a (Vieira e Moreira, 2008a: 111).
Como argumenta Sanchez (1985, cit. in Simes, 2000: 50), uma coisa medir a compe-
tncia dos professores, outra bem distinta mudar a sua actuao. No enquadramento
socioconstrutivista crtico que propomos, a avaliao visa mudar a actuao docente, atra-
vs da reflexo crtica sobre os fins e meios da educao, com recurso a estratgias (auto-)
supervisivas potencialmente transformadoras da aco e das situaes de trabalho. Algu-
mas dessas estratgias so apresentadas no captulo seguinte: a observao de aulas, as
narrativas profissionais e a investigao-aco.
25
3. PARA A TRANSFORMAO DA PRTICA DOCENTE:
ESTRATGIAS DE SUPERVISO
Auto-questiona- Questionrios/guies
mento/Auto- Notas de campo
-avaliao Registos reflexivos*
Gravao (udio/vdeo)
Dilogo INDAGAO
Notas de campo
reflexivo CRTICA
Registos reflexivos*
FORMADOR-
Anlise -SUPERVISOR
Grelhas/guies INTERVENO
documental
CRTICA
Questionrio
Inqurito FORMANDO-
Entrevista (notas de campo
-PROFESSOR
ou gravao) DEMOCRATICIDADE
Grelhas
Gravao (udio/vdeo) ALUNOS
Observao de DIALOGICIDADE
aulas Notas de campo
Registos reflexivos* (OUTROS COLA-
PARTICIPAO
Notas de campo BORADORES)
Narrativas
profissionais Registos reflexivos*
EMANCIPAO
Porteflio de Documentos da prtica
ensino Registos reflexivos*
Investigao-
(Todos os anteriores)
-aco
27
3. Para a Transformao da Prtica Docente: Estratgias de SuperViso
Nas seces que se seguem, daremos destaque a algumas destas estratgias, por nos pa-
recerem especialmente importantes e tambm por apresentarem alguma complexidade: a
observao de aulas, as narrativas profissionais (dirio reflexivo, estudo de casos, porteflio
de ensino) e a investigao-aco. Apresentamos, na Figura 2, uma esquematizao possvel
da sua interrelao, baseada em Simes (2000: 49). No centro encontramos a observao
de aulas, enquanto estratgia privilegiada de recolha de informao incidente na dimenso
identitria da aco docente: a dimenso da pedagogia. Gravitando sua volta, encontramos
as narrativas profissionais (estudo de casos, dirio reflexivo e porteflio de ensino), enquanto
instrumentos epistmicos subjectivistas ao servio de uma avaliao dos processos de ensi-
no e aprendizagem de natureza socioconstrutivista crtica e de uma superviso de orientao
transformadora, coadjuvadas pela investigao-aco, enquanto metodologia e estratgia de
construo de conhecimento prtico e situado, de orientao emancipatria para professo-
res e alunos.
Dirio
reflexivo
Estudo de Observao de
Observao de Porteflio de
casos aulas
aulas ensino
Investigao-
- aco
28
3. Para a Transformao da Prtica Docente: Estratgias de SuperViso
Ao longo destes ciclos, assumem especial importncia a recolha e anlise de informao e a co-
-responsabilizao do supervisor e do professor na melhoria da qualidade das prticas, mas
tambm a regulao conjunta dos processos supervisivos pela avaliao sistemtica da sua
eficcia quanto consecuo das suas finalidades e qualidade da relao interpessoal
desenvolvida, uma dimenso muito valorizada pelos seus defensores, de que exemplo
paradigmtico o trabalho de Blumberg (1980). Este autor caracteriza a superviso acompa-
29
3. Para a Transformao da Prtica Docente: Estratgias de SuperViso
30
3. Para a Transformao da Prtica Docente: Estratgias de SuperViso
31
3. Para a Transformao da Prtica Docente: Estratgias de SuperViso
(KIWTC)WKGUFGRTGRUQDUGTXCQFGCWNCU3
Guio de Pr-Observao
a. Que caracterizao faz da turma? Que abordagem de ensino tem vindo a adoptar?
Guio de Ps-Observao
Anlise dos aspectos observados e estratgias de melhoria (ver Guio de Pr-Observao, questo g):
3
Traduzido e adaptado de GSI Teaching and Resource Center, University of California (http://gsi.berkeley.
edu/faculty/facwithgsis/observation.html).
32
3. Para a Transformao da Prtica Docente: Estratgias de SuperViso
Descrever > Justificar > Equacionar implicaes > Imaginar e Agir
Fonte: adaptado de Vieira (2010a: 38).
33
3. Para a Transformao da Prtica Docente: Estratgias de SuperViso
Comecemos com uma grelha de observao global, apresentada na Figura 5, onde se pre-
tende abarcar dimenses gerais da pedagogia. Esta grelha foi concebida no sentido de apoiar
a observao de aulas no mbito do processo de avaliao do desempenho nas escolas,
numa fase inicial da implantao desse processo4. Tinha-se como propsito construir um
instrumento que fosse passvel de utilizao por observadores no especializados, e que
fosse tambm til reflexo sobre a prtica profissional em dimenses centrais.
Figura 5 Grelha de observao global
#CDQTFCIGOFQ
CRTQHGUUQT
CRTQOQXGWETKQWQRQTVWPKFCFGURCTC
#RTGPFK\CIGPUUKIPKECVKXCUPQODKVQFCFKUEKRNKPC
EQPVGFQUUWDUVCPVKXQU
(Aprendizagens ajustadas ao programa e aos alunos competncias prvias, interesses, necessidades;
teis noutras situaes de aprendizagem e/ou em situaes do quotidiano; desafiadoras)
Aspectos conseguidos e a melhorar:
#RTGPFGTCCRTGPFGTEQPUVTWQFGEQORGVPEKCUFGCRTGPFK\CIGO
FCFKUEKRNKPCGQWVTCPUXGTUCKU
(Reflexo sobre dificuldades e estratgias de aprendizagem; trabalho independente/autodireco; espri-
to/trabalho colaborativo; negociao; esprito crtico; auto/hetero-avaliao; avaliao do ensino)
Aspectos conseguidos e a melhorar:
'ZRNQTCQFGOCVGTKCKUGTGEWTUQUEQOXCNQTGFWECVKXQ
(Uso de materiais e recursos que possibilitam expandir competncias, aprofundar conhecimentos, pes-
quisar informao, comunicar com outros, confrontar ideias, reflectir sobre a aprendizagem)
Aspectos conseguidos e a melhorar:
&KNQIQGFWECVKXQ
RTQHGUUQTCNWPQUGPVTGCNWPQU
(Expresso de sentimentos, ideias, opinies, experincias; convivncia democrtica; comunicao inclu-
siva; participao equilibrada; relacionamento afvel; colaborao e respeito; resoluo de problemas/
conflitos; partilha de dvidas; feedback positivo e apoio na resoluo de dificuldades)
Aspectos conseguidos e a melhorar:
1WVTCUFKOGPUGUCEQPUKFGTCT
5WIGUVGUKFGKCURCTCTGGZQ
4
A construo deste e de outros instrumentos de apoio avaliao do desempenho teve lugar em
2007/2008 no seio do GT-PA (Grupo de Trabalho-Pedagogia para a Autonomia), um grupo de investiga-
dores/formadores da Universidade do Minho e professores dos ensinos bsico e secundrio, criado em
1997. O resultado desse trabalho foi divulgado nos Cadernos 5 do GT-PA e nas Actas do 4. Encontro do
grupo (Vieira et al., 2009).
34
3. Para a Transformao da Prtica Docente: Estratgias de SuperViso
)4'.*#&'24'251$5'48#1
Pedagogia para a autonomia: papis do aluno e do professor
Turma: Registos de ocorrncia:
Data: Pr-observao: : previsto
Observador: Ps-observao: : ocorre
X: No ocorre ?: Incerteza
Professor observado: Passos da aula
PAPIS DO ALUNO
4GGZQ (Promoo da reflexo sobre o contedo e o processo de aprendizagem)
1. O aluno reflecte sobre contedos da disciplina
2. O aluno reflecte sobre o processo de aprender (ver Regulao)
Experimentao (Promoo de estratgias de aprendizagem)
3. O aluno descobre e experimenta estratgias: na aula___/fora da
aula___.
4. O aluno explora recursos/situaes: pedaggicos___/no-pedag-
gicos___.
Regulao (Promoo da regulao de experincias de aprendizagem)
5. O aluno monitoriza atitudes, representaes, crenas.
6. O aluno monitoriza conhecimento e capacidade estratgicos.
7. O aluno avalia resultados e progressos da aprendizagem.
8. O aluno identifica problemas e necessidades de aprendizagem.
9. O aluno define objectivos e planos de aprendizagem.
10. O aluno avalia o processo didctico.
Negociao (Promoo da co-construo de experincias de aprendizagem)
11. O aluno colabora com os colegas: pares___/grupos___/turma___
12. O aluno colabora com o professor.
13. O aluno toma iniciativas, realiza escolhas e toma decises.
PAPIS DO PROFESSOR
O professor...
1. Encoraja os alunos a assumir posies crticas face a valores e pr-
ticas sociais e educativos
2. Envolve os alunos na procura de solues adequadas (embora no
necessariamente ideais)
3. Partilha teorias pedaggicas, responsabilidades e decises com os
alunos
4. Articula a dimenso pessoal da aprendizagem com a natureza so-
cial e interactiva da cultura da sala de aula
5. Promove a comunicao, onde todos tm o direito de se expressar
e de contribuir para a co-construo de sentidos
6. Recolhe informao dos/sobre os alunos de modo a compreender
os seus processos de aprendizagem e a sua evoluo (por exem-
plo, dilogo, observao...)
7. Analisa com os alunos a informao recolhida com o objectivo de
melhorar as prticas de ensino e de aprendizagem
35
3. Para a Transformao da Prtica Docente: Estratgias de SuperViso
DESENVOLVIMENTO DA
TAREFA DE APRENDIZA- A dimenso dos grupos favoreceu a interaco entre os alunos?
GEM COOPERATIVA
Organizao espacial
Os materiais didcticos favoreceram a interdependncia positiva?
Materiais e papis:
interdependncia
Os papis dos alunos favoreceram a interdependncia positiva?
Monitorizao e apoio
57)'56'5&'/'.*14+#
36
3. Para a Transformao da Prtica Docente: Estratgias de SuperViso
Imaginemos, contudo, que queramos observar um aspecto especfico desta grelha o tra-
balho colaborativo dos alunos em sala de aula. Neste caso, poderamos construir uma grelha
mais focalizada em dimenses particulares do trabalho cooperativo, que seria apenas vlida
para a observao de tarefas realizadas por pares ou grupos de alunos. Apresentamos um
exemplo na Figura 7, que integra princpios da aprendizagem cooperativa.
Em qualquer um dos casos apresentados, podemos identificar uma orientao terica subja-
cente aos parmetros sugeridos, ou seja, uma determinada viso de educao. Para ilustrar
o modo como um mesmo fenmeno pode ser observado sob diferentes pontos de vista ou
vises de educao, atentemos no exemplo seguinte (Vieira, 2009c: 33-34).
Imaginemos uma turma bastante heterognea, com nveis de participao muito desiguais.
Imaginemos que queremos observar uma aula para analisar esta situao e poder alter-la,
e que para tal pedimos ajuda a um colega e definimos com ele um conjunto de aspectos
a observar. Que aspectos? No Quadro 9 so apresentadas duas hipteses que viso de
educao traduz cada uma delas? Em que direco caminhamos quando usamos uma ou
outra?
Na hiptese A, no se estabelece uma relao clara entre a participao dos alunos e as op-
es pedaggicas do professor, como se pudssemos compreender e alterar a primeira sem
questionarmos as segundas. Pelo contrrio, na possibilidade B so essas opes que esto
em causa: os espaos de participao efectivamente criados, a natureza das intervenes
e das actividades, e ainda a acessibilidade do discurso da aula. A viso de educao aqui
patente evidencia a necessidade de desenvolver prticas inclusivas e relevantes, enquanto
na hiptese A se valoriza tacitamente um ensino conduzido pelo professor, onde a (falta de)
participao dos alunos relacionada sobretudo com tcnicas de questionamento e o (des)
conhecimento da matria. Evidentemente, usar uma ou a outra hiptese conduz-nos por
caminhos diferentes, nomeadamente no que diz respeito imaginao de possibilidades
para a resoluo do problema detectado.
37
3. Para a Transformao da Prtica Docente: Estratgias de SuperViso
Perante estes problemas, diramos que a observao de aulas enquanto meio de avaliao
sumativa requer extrema cautela e exige o recurso a outras fontes de evidncia acerca da
qualidade das prticas dos professores, como, por exemplo, materiais e projectos pedag-
gicos inovadores, reflexes sobre a prtica, apreciaes dos alunos, exemplos dos traba-
lhos que estes desenvolvem, etc. A Figura 8 apresenta uma grelha de registo de fontes de
evidncia que podem ser convocadas na avaliao de diferentes vertentes do desempenho
pedaggico5.
A crtica de Waite (1995a/b) natureza ritualizada dos encontros de superviso, assim como
tendncia destes encontros para uma reduo significativa dos objectos de reflexo, refor-
ada, no seu entender, pelo uso de instrumentos de observao focalizada, representa um
contraponto importante a uma viso tecnicista e instrumental da observao. Como j foi
referido, a abordagem que prope assenta numa acepo dialgica da interaco supervisor-
-professor e numa democratizao de papis, supondo o recurso observao naturalista
em alternativa a outras formas de observar, como condio para a criao de um maior es-
5
A1, A2... B1, B2 etc. reportam-se a parmetros especficos que forem definidos no mbito de cada uma
das quatro vertentes consideradas ver, por exemplo, os descritores para cada dimenso da avaliao,
publicados no despacho que estabelece os padres de desempenho docente (Despacho n. 16034/2010
do Ministrio da Educao, publicado no Dirio da Repblica em 22 de Outubro).
38
3. Para a Transformao da Prtica Docente: Estratgias de SuperViso
0CTTCVKXCURTQUUKQPCKUGTGGZQGUETKVC
39
3. Para a Transformao da Prtica Docente: Estratgias de SuperViso
podem ter outras focalizaes e servir de apoio a outras actividades supervisivas (podem
incidir, por exemplo, sobre a eficcia dos encontros com o supervisor, as actividades extra-
-curriculares, o desenvolvimento profissional do professor, etc.), ou ainda em actividades de
formao-investigao (Barbosa, 2009; Melo, 2011; Vieira, 2011).
Embora se trate de uma estratgia que pode servir diferentes propsitos e ser concretizada
de diversos modos, pressupe sempre que a escrita constitui uma forma de estruturar o pen-
samento e de desenvolver hbitos de reflexo, facilitar a consciencializao de contradies
e dilemas, e explicitar ideias e emoes (Amaral, 1998; Clandinin, 1992; Clandinin e Connely,
1991; Hobson, 2001; Holly, 1991; Mannion, 2001; Oliveira, 1994; Ramos e Gonalves, 1996;
Richards e Ho, 1998; S-Chaves, 2000b e 2005; Zabalza, 1994). Ao pedir-se ao indivduo que
registe a sua experincia, ele estar a reviver e a reestruturar a mesma; ao revisit-la, ela ser
certamente alterada luz das experincias e vivncias entretanto ocorridas aps os aconte-
cimentos que lhe deram origem (Clandinin e Rosiek, 2007). Quando partilhados, os registos
podem ainda promover o dilogo reflexivo com o supervisor ou com outros professores.
40
3. Para a Transformao da Prtica Docente: Estratgias de SuperViso
3WCFTQ&KOGPUGUFCTGGZQ
Rotina Tcnica Dialgica Transformadora
Foco: Qual o foco de preocupao?
Focalizao nas preocupa- Focalizao numa s Focalizao nos alunos Focalizao em preo-
es pessoais ou em as- tarefa de aprendiza- e nas interaces com cupaes pedaggicas,
suntos que no envolvem gem. alunos, como forma de ticas, morais, culturais
uma posio pessoal. No estabelece rela- compreender os proces- e histricas... com impli-
Como que isto me afec- es entre diferentes sos de aprendizagem de caes no processo de
ta?: controlo dos alunos, aspectos/momentos modo a poder ajud-los. ensino-aprendizagem.
tempo, trabalho, sucesso do processo.
pessoal
Indagao: Qual o processo de indagao?
No so colocadas ques- So colocadas ques- Ocorrem questes situ- Processo de indagao
tes sobre mudanas tes sobre situaes adas que conduzem a contnua (longo prazo),
pessoais. que afectam o Eu ou novas questes. envolvendo colegas e
No se reconhecem pro- provocam frustrao Abertura a novas ideias. alunos (discursos e pr-
blemas. pessoal. Procura da opinio dos ticas).
Atribuio de culpas a evitada a anlise de alunos, dos pares e de Anlise de situaes cr-
outros ou a condies ex- assuntos considerados outros. ticas.
ternas. complexos. Formulao de questes
Anlises definitivas e ge- que exigem uma mudan-
neralistas. a pessoal.
/WFCPC%QOQSWGCTGGZQOWFCCRTVKECGCURGTURGEVKXCU!
Anlise sem uma respos- Resposta pessoal si- Questionamento do en- Reenquadramento de
ta pessoal ou feita para tuao, no sendo su- sino para desenvolver perspectivas que levem
proveito pessoal. ficiente para mudana novas abordagens na ocorrncia de mudan-
Distncia entre o Eu e a de perspectiva. aprendizagem (sua e dos as fundamentais nas
situao. alunos). ideias e prticas.
Pouco envolvimento na Respostas instrumen- Indagao como parte Questes fundamentais
mudana. tais a situaes espec- de um processo que en- e preocupao/compro-
ficas sem perspectiva volve questes especfi- misso com a mudana.
de mudana. cas e situadas.
Considerao de pers-
pectivas dos outros.
Novas abordagens.
Fonte: adaptado de Melo (2006), baseado em Ward e McCotter (2004).
41
3. Para a Transformao da Prtica Docente: Estratgias de SuperViso
O peso da avaliao pode colocar em risco a sinceridade dos registos e, portanto, condiciona
o seu valor formativo para o professor e para o supervisor. No obstante, e quando a avalia-
o docente e a superviso visam a melhoria do ensino e o desenvolvimento profissional, as
narrativas podem tornar-se, verdadeiramente, estratgias valiosas ao servio de uma educa-
o transformadora. Ao promover o alargamento das dimenses da reflexo, a reflexo es-
crita alimenta o compromisso poltico e tico do professor com prticas mais democrticas,
mais racionais, socialmente e cognitivamente mais justas e congruentes com uma viso da
educao como prtica de liberdade (Moreira et al., 2010; Moreira, 2011; Vieira, 2011).
&KTKQTGGZKXQ
Enquanto narrativa reflexiva situada no espao entre o dirio de bordo (mais descritivo e
factual) e o dirio ntimo (mais pessoal, de natureza intimista), o dirio reflexivo assume-
-se como estratgia supervisiva de desocultao de processos reflexivos e meta-reflexivos
(S-Chaves, 2000b), mas tambm como instrumento ao servio da construo e anlise da
identidade e cultura profissionais (Moreira e Ribeiro, 2009; Oliveira, 2010).
Atravs da escrita reflexiva nos dirios, os professores ganham voz e autoridade na cons-
truo do conhecimento profissional. Partindo da observao reflexiva das prticas, da con-
textualizao dos saberes adquiridos (em processos de formao/superviso ou outros), ou
de processos investigativos vivenciados, o dirio serve como veculo de ancoragem terica
e fundamentao para a aco, de modo a que a prtica ganhe sentidos renovados e que o
professor possa desenvolver a sua auto-direco na aco.
luz de uma viso de educao como transformao, o trabalho do professor situa-se con-
tra-corrente (against the grain, como refere Cochran-Smith, 1991) porque (ou deve ser) um
trabalho dirio de luta pela igualdade educacional e justia social (Zeichner e Diniz Pereira,
2005; Vieira, 2002). A aco do professor sempre crtica, na medida em que se encontra
incrustada no mundo micro dos profissionais, em cada sala de aula, em cada grupo de pro-
fessores (Zeichner e Diniz Pereira, 2005). Apesar da frequente sensao de impotncia para
mudar as suas condies de trabalho e as condies de aprendizagem dos seus alunos, os
(...) professores podem ser bastante importantes e fazer a diferena em termos de como
afectam a vida de seus estudantes. () A realidade que o poltico e o crtico esto em
nossas salas de aula e em outros locais de trabalho, e as escolhas que fazemos diariamen-
te em nossos ambientes de trabalho revelam nossos compromissos morais em relao
continuidade ou transformao social. No podemos ser neutros (op.cit.: 73-74).
Neste enquadramento, a escrita dos dirios reflexivos revela claramente o compromisso mo-
ral dos seus autores. Na nossa experincia de uso desta estratgia supervisiva, ao servio
da viso de educao que defendemos, o dirio veicula o compromisso dos professores por
42
3. Para a Transformao da Prtica Docente: Estratgias de SuperViso
uma educao libertadora e eticamente comprometida com uma sociedade melhor, o que
, claramente, um posicionamento que se encontra muito longe de uma viso instrumental
e racionalista da actividade de ensino e de formao. Numa conjuntura educativa em que o
trabalho docente responde sobretudo a processos avaliativos estandardizados e prescritivos
e em que o docente se v como pea (facilmente descartvel) da mquina da escola (cf.
Tonucci, 2003: 94-95), mais urgente se torna desenvolver aprendizagens crticas e aprendi-
zagens da construo de prticas crticas (Cochran-Smith, 2001). A escrita dos dirios coloca-
-se ao servio destas aprendizagens, ao constituir-se como frum de expresso pessoal de
inquietaes face percepo de (in)justia das prticas de ensino-aprendizagem/avaliao/
/formao. Vejamos, como exemplo, excertos de dois dirios reflexivos de duas professoras
em dois cursos de ps-graduao em educao6:
() [Abordo] a histria de vida de um aluno que se vem construindo de forma pouco alinhada
com o que eu considero convenes pedaggicas, que incomoda o corpo docente preocupado
em participaes disciplinares onde se reiteram os despautrios, as atitudes agressivas e pro-
vocadoras do aluno, e que vem ocupando um lugar especial nas minhas preocupaes no s
de professora, mas tambm de me solidria com outra me, que carece de ajuda e apoio nas
suas funes de educadora.
Os professores acham-se desautorizados e desrespeitados pelo aluno que no tem modos,
nem educao, e que no so obrigados a aturar falta de respeito. Sou voz dissonante neste
tipo de caracterizao bem como das estratgias coercivas adoptadas, pois o meu corao adi-
vinha que este jovem quem mais sofre com o seu comportamento, que a regulao das suas
atitudes no passa por processos ou suspenses, mas pela valorizao das suas capacidades
intelectuais, pela liderana de um projecto ou funo de responsabilizao e por um processo de
aprendizagem para a auto-descoberta de tudo que h de bom dentro de si.
Porque da minha experincia posso afirmar que, quando se toca no corao destes alunos com
carinho e respeito, quando olhamos nos seus olhos e lhes dizemos o quanto so importantes
para ns e a esperana que neles depositamos, e que os veremos com orgulho no caminho da
rectido e da dignidade, a resposta nunca vem com falta de educao, com agressividade ou
despautrios, mas com um desculpe e um obrigado, que se prolonga nas aulas seguintes
com um simples por favor, como chamada de ateno por parte do professor;
Porque acredito que sempre possvel fazer mais por cada jovem em perigo, porque acredito
que a agressividade um meio de defesa para quem est habituado a ser agredido; porque
quem no cresceu no amor e no respeito no sabe o que isso e, por isso, no os pode ofere-
cer; porque o professor sempre uma referncia de aprendizagem para o aluno que espera dele
um comportamento diferente do seu, bem diferente da represso, da intolerncia, do consenti-
mento irnico, do sarcasmo dissimulado, mas tambm do facilitismo e da permissividade;
Porque penso que a escola no foi criada para separar os bons dos maus nem guardar aqueles
que lhe interessam e deitar fora os que lhe causam problemas, tenho sempre como princpio
que escola compete, pelas funes que desempenha, esbater as desigualdades sociais; pro-
teger e educar as crianas e no jog-las na rua, ou reuni-las em cursos CEF, cujos princpios
parecem ser de preveno do insucesso e abandono escolar, mas que, paradoxalmente, sub-
jacentes a estes, esto bem patentes a discriminao social e o desrespeito pela diferena. E
que, a escola, ao constituir turmas homogneas deste tipo, ou ao criar cursos CEF para reunir
os alunos em situao de risco e abandono escolar, acaba por os evidenciar ainda mais, sendo
ela prpria geradora de desigualdades sociais.
Por isso, levanto-me sempre contra deliberaes que denotem falta de esperana nos jovens,
que desistam de lutar pelos alunos e os coloquem ainda em situao de maior risco e discrimi-
nao social. Por muito pouco que a escola possa fazer, nunca dever demitir-se de fazer este
6
Mestrado em Cincias da Educao rea de Especializao em Superviso Pedaggica na Educao
em Lnguas Estrangeiras e Mestrado em Estudos da Criana rea de Especializao em Integrao
Curricular e Inovao Educativa, Universidade do Minho.
43
3. Para a Transformao da Prtica Docente: Estratgias de SuperViso
44
3. Para a Transformao da Prtica Docente: Estratgias de SuperViso
Como refere Poduska (1996), no cerne de uma pedagogia democrtica est a possibilidade
que o professor encerra de dar asas aos seus alunos para voar, apontar caminhos de mudan-
a, para eles e para a sociedade em que vivem no se trata de buscar a perfeio, mas to
somente uma compreenso mais clara acerca da essncia do ensino.
45
3. Para a Transformao da Prtica Docente: Estratgias de SuperViso
mao da educao (Barbosa, 2011). Veja-se o excerto dialgico que se segue, no Quadro 11,
sobre avaliao docente, desenvolvido tambm em contexto de formao ps-graduada em
superviso7, entre uma professora e a formadora.
Quadro 11 Excerto dialgico
A.V.: 5 de Maio de 2008 Comentrio
Maria Alfredo Moreira, 25 de Maio de 2008
Educai as crianas e no ser preciso castigar os ho- O que faz de algum um bom professor?
mens. (Pitgoras) Ora a est uma pergunta cuja resposta tem
Hoje acordei melanclica e sem grande vontade de ir feito correr rios de tinta, mas poucos resulta-
dar aulas (ou como dizem por a vender aulas). Sim, dos prticos tem vindo a ter. A investigao
porque parece que cada vez mais temos menos vonta- diz-nos que o bom professor desenvolve a sua
de de educar. Estamos to desmotivadas e cansadas actividade em redor de diferentes dimenses;
que parece que tudo anda morno e sedentrio. Pare- consoante o paradigma e posicionamento ide-
ce que nada anda para a frente. Tudo se mantm. Tudo olgico em que nos posicionamos, encontra-
parou. Tudo ficou. mos diversas valorizaes destas dimenses.
Esta questo da avaliao de professores, o congela- Obviamente que, numa perspectiva crtica, o
mento das carreiras, a perda do poder de compra, as bom professor nada tem a ver com a aplicao
horas infindveis a preencher documentos e a fazer rela- de critrios emanados exteriormente, ou com
trios enfim, uma panplia de senos que no nos a participao em jantares de confraternizao,
permite respirar confiana e optimismo no futuro. ou ainda com o cumprimento de normas e ex-
pectativas exclusivamente top-down ou em
O que faz de algum um bom professor? resultado de presses externas para produzir
Ser que ser um bom professor fazer relatrios? determinado modelo de aluno ou de cidado;
ter s positivas? participar em todos os jantares de no caso presente, o cidado que produtivo,
confraternizao da escola? avaliar tendo em conta os sob o ponto de vista econmico, que serve
critrios espartilhados emanados dos departamentos e bem o Estado e a economia, pois revela possuir
conselhos pedaggicos? somar todos os itens e atri- as competncias que potenciam a sua empre-
buir uma nota???????? gabilidade e produtividade.
Ser que os meus alunos crescem se souberem a voz Quem determina os contedos do currculo es-
passiva, o discurso indirecto, as preposies? E? E colar? Quem determina que os alunos tm de
depois? papaguear a voz passiva, o discurso indirecto,
ensinar no transferir conhecimento (Freire, 1996: as preposies? Quem determina que os alu-
52 ). Ento, o que ensinar? O que educar? Onde fica nos tm de realizar exames nacionais que com-
a alegria, a curiosidade, os afectos, a esperana? Ser param o incomparvel e retiram concluses
que o meu rigor e competncia podem ser abalados por relativamente ao mrito das escolas e dos pro-
estes factores? Julgo que no. Todos eles so concili- fessores absolutamente autistas relativamente
veis e completam-se mutuamente. ao que a realidade e o conhecimento?
Como posso sentir-me bem se me sinto pressionada claro, para mim, que o professor isolado nada
para apresentar resultados e nada mais? Vou ser ava- (pouco) pode; todavia, as escolas fortes, com
liada numa perspectiva tcnica e criterial? Na minha es- os seus professores unidos numa viso de
cola s se fala de resultados. Quantas negativas des- escola, de aprendizagem e de conhecimento
te? Quantos alunos vais chumbar?... podem mudar muito ou pouco podem mu-
E o processo? E a minha relao com os alunos? E a co- dar. E, felizmente, temos exemplos disso em
-responsabilizao dos resultados? Portugal. s preciso que algum diga basta,
ou que, simplesmente, comece a questionar e
Bem sei que para avaliar e ser avaliada tenho que me no desista de instalar o desconforto.
avaliar. E antes de me avaliar tenho que mudar. No
posso, por isso, cruzar os braos fatalisticamente diante Est disposta a faz-lo A.?
da misria, esvaziando, desta maneira, minha responsa-
bilidade no discurso cnico e morno, que fala da impos-
sibilidade de mudar porque a realidade mesmo assim
(Freire, 1996: 84).
Mais uma vez
D que pensar
7
Mestrado em Cincias da Educao rea de Especializao em Superviso Pedaggica na Educao
em Lnguas Estrangeiras, Universidade do Minho.
46
3. Para a Transformao da Prtica Docente: Estratgias de SuperViso
(Macedo, 2005), ou seja, para desmistificar discursos e prticas tidos como inquestionveis
ou politicamente correctos, oferecendo lentes alternativas de leitura da realidade. Sabendo
que os dispositivos de anlise funcionam como lentes que nos permitem ver em maior ou
menor pormenor retalhos da realidade, sabemos tambm que nem sempre ressaltam os
matizes mais crticos, sendo que a diversidade e riqueza dessa realidade so ocultadas quan-
do esses dispositivos se assumem como neutros ou quando no so questionados.
Estudo de casos
Como afirma Alarco (2003: 54-55), as narrativas esto na base dos casos, mas os casos
implicam uma teorizao. (...) Os casos so narrativas elaboradas (ou trabalhadas) com um
objectivo: darem visibilidade ao conhecimento. Segundo L. Shulman (1992), o recurso aos
casos como ilustraes da prtica profissional permite explorar princpios ou conceitos te-
ricos, aspectos morais e ticos do ensino, assim como estratgias didcticas. Possibilita,
ainda, construir vises ou imagens do possvel e criar ambientes motivadores e colaborati-
vos de aprendizagem.
O estudo de casos pode assumir duas formas: a anlise de casos e a construo de casos. A
anlise de casos centra-se na interpretao de narrativas da experincia de outrem, ao passo
que a construo de casos implica a produo de narrativas sobre experincias vividas. Cada
narrativa incorpora a leitura que o seu autor faz dessa experincia, mas deve ser capaz de
suscitar outras interpretaes, as dos leitores.
47
3. Para a Transformao da Prtica Docente: Estratgias de SuperViso
de professores para quem os casos constituam a lngua franca dos seu desenvolvimento
profissional (Shulman, 2004b: 543-544).
8
Trata-se do Mestrado em Cincias da Educao rea de Especializao em Superviso Pedaggica na
Educao em Lnguas Estrangeiras, da Universidade do Minho. Numa das disciplinas, adopta-se uma
abordagem centrada no desenvolvimento de experincias e produo de narrativas profissionais (Vieira,
2009d). O texto aqui reproduzido um excerto de uma verso sumria de uma dessas experincias.
Para exemplos de como os casos podem ser construdos e usados na formao de professores, ver
Jimnez Raya e Vieira, 2011.
48
3. Para a Transformao da Prtica Docente: Estratgias de SuperViso
Questionrio
A tua professora est a fazer um trabalho de investigao com o objectivo de melhorar o ensi-
no e, consequentemente, a tua aprendizagem de Ingls.
Ordena de 1 a 3 os TRS aspectos que gostarias que fossem objecto de estudo:
49
3. Para a Transformao da Prtica Docente: Estratgias de SuperViso
desenvolvido numa escola E.B. 2/3, inserida num meio rural. O grupo escolhido foi uma turma de
9. ano, nvel 5 de Ingls, cujos alunos no tinham hbitos de leitura e cujos interesses se limitavam
a futebol e programas televisivos. A professora adiantou que a escola vista pela maioria dos pais e
alunos como obstculo entrada no mundo do trabalho e por isso tem vindo a desenvolver projectos
como meio de evitar o abandono escolar. Um desses projectos a rdio escola, que tem sido muito
bem sucedida. Por estas razes, decidimos que os alunos poderiam elaborar letras de canes, que
seriam depois musicadas em colaborao com a disciplina de Educao Musical, e por fim cantadas
no espectculo no fim do ano lectivo a decorrer no Auditrio Municipal da vila.
Tratando-se de escrita criativa, pensmos que esta experincia teria um impacto muito positivo, por-
que alm de consciencializar os alunos para o processo de escrita, promoveria uma maior motivao
para a aprendizagem da Lngua Inglesa e elevaria a sua autoconfiana enquanto alunos escritores
autnomos. Por outro lado, tambm ns desenvolveramos a nossa autoconfiana na planificao e
experimentao de estratgias facilitadoras de uma produo escrita autnoma. Finalmente, e no
menos importante, esta experincia pedaggica despoletaria e/ou melhoraria a capacidade de refle-
xo de professores e alunos sobre os processos de escrita.
Passmos de seguida a um primeiro esboo de planificao da experincia. Em primeiro lugar, come-
aramos com a distribuio de um questionrio para auscultar os alunos acerca da sua viso sobre a
escrita. Aps a anlise dos dados, a Alexandra iria reflectir com os alunos acerca das suas respostas,
preparando caminho para as actividades seguintes:
1. Recolha de letras de uma ou mais canes a serem trazidas para a aula;
2. Audio e anlise das letras;
3. Reescrita em textos paralelos;
4. Reflexo sobre o processo de escrita.
(...) O encontro que tivemos com a docente da disciplina para apresentao da planificao do pro-
jecto trouxe-nos algo de novo por constrangimentos de tempo, a experincia a relatar no mbito do
trabalho limitar-se-ia sua fase de arranque9. Foi-nos proposto que as letras das msicas selecciona-
das pelos alunos fossem posteriormente trabalhadas em grupo, com base num guio que os alunos
pudessem seguir nas vrias fases do processo. Assim sendo, e no conseguindo esconder um certo
desencanto perante os constrangimentos de tempo que nos tinham sido colocados, reformulmos as
nossas intenes iniciais, fixando o arranque na elaborao e aplicao aos alunos de um questionrio
que conduzisse reflexo sobre o processo de escrita. No entanto, no deixmos de elaborar em
conjunto o guio que os alunos utilizariam posteriormente na anlise e escrita das letras de canes,
uma vez que a Alexandra mostrou vontade em seguir com a experincia.
9
No contexto da disciplina de mestrado, as experincias e o seu relato devem estar concludos no final do
1. semestre (Fevereiro), o que condiciona a extenso da interveno em sala de aula. Como aconteceu
com este grupo de professoras, por vezes as experincias pedaggicas estendem-se para alm dos
limites temporais da disciplina e o relato produzido no seu mbito reporta-se sua fase inicial.
50
3. Para a Transformao da Prtica Docente: Estratgias de SuperViso
Sabendo ns que os nossos alunos apresentam resistncia escrita, e tendo conscincia de que at
data nunca nos debruramos aprofundadamente sobre os motivos dessa resistncia, optmos
por elaborar um questionrio que nos ajudasse a tirar algumas concluses. Este questionrio foi
estruturado em duas partes distintas: a primeira consistia em seis questes semi-abertas que reme-
tiam essencialmente para a relao afectiva entre os alunos e a escrita, e a segunda em questes
de resposta condicionada que remetiam para a frequncia com que os alunos utilizam determinadas
estratgias de escrita. Como base da elaborao do questionrio estiveram diversos materiais, dos
quais se salientam os Cadernos 2 do GT-PA (Vieira, 1999) e o livro Para Alm dos Testes (Vieira e
Moreira, 1993).
WRITING IS
1. Completa as seguintes frases pensando na escrita em lngua inglesa:
Para mim, escrever
Eu escrevo quando (pensa pelo menos em trs situaes)
Gosto/No gosto de escrever, porque
As maiores dificuldades que sinto na escrita so
Os meus pontos fortes na escrita so
Quando escrevo na aula, espero que a minha professora
Quando fao trabalhos escritos fora da aula, espero que a minha professora
2. Das estratgias seguintes, quais as que utilizas quando escreves um texto na aula de In-
gls? Assinala: muitas vezes (MV) // s vezes (AV) // raramente/nunca (R/N) // no sei (?)
MV AV 40 ?
Penso na situao de escrita (quem escreve, a quem, porqu e para qu)
para decidir o que vou escrever e como
Esboo um plano (mental ou no papel) sobre o que quero escrever
Recorro a textos que j li, como base para o que estou a escrever
Troco impresses com um colega sobre o tema do texto
Tento usar a imaginao e ser criativo
Arrisco escrever sempre o que quero dizer, mesmo que possa ter erros
Vou pedindo ajuda ao meu professor
Vou pedindo ajuda aos meus colegas
Vou relendo e emendando o texto medida que escrevo
Divido o texto em pargrafos
Procuro aplicar as regras de pontuao
Procuro escrever com letra legvel
Consulto o dicionrio
Identifico os meus erros mais frequentes e fao auto-correco
Estudo de modo a no repetir os erros mais graves
() Quando nos voltmos a reunir para o tratamento dos dados, demos conta de que havia aspectos
questionveis, no s nas perguntas de resposta semi-aberta (por exemplo, os alunos teriam tido
sempre presente que as questes se referiam escrita em lngua inglesa? Como interpretaram
determinadas questes?), mas tambm nas questes de resposta condicionada (Como lidar com a
ambiguidade contida nas respostas assinaladas com s vezes?). Este facto viria reforar a necessi-
dade de reflectir com os alunos sobre as respostas dadas: () investigar a sala de aula implica tam-
bm aceder aos sentidos que dela extraem os sujeitos que nela participam. (...) o investigador um
elemento mediador das respostas dos sujeitos que investiga, podendo interpret-las e interagir com
51
3. Para a Transformao da Prtica Docente: Estratgias de SuperViso
eles de forma produtiva () (Vieira, 1998: 147). Assim, ainda em grupo e com o apoio da docente da
disciplina, delinemos algumas linhas de orientao e questes a colocar na aula de reflexo.
Preocupadas com questes de credibilidade e para possibilitar a triangulao de vozes, a aula foi
assistida pela Graa, uma vez que os restantes elementos do grupo no podiam estar presentes por
sobreposio de horrio. () Aps a aula, a Alexandra e a Graa apenas comentaram entre si que
esta tinha ido ao encontro das expectativas do grupo de trabalho. No entanto, decidiram no tecer
mais comentrios para poderem ser mais autnticas aquando da redaco de um relato a partilhar
com as colegas. Cada uma enviou o seu relato Madalena e Josina, que os leram e comentaram,
colocando questes no sentido de esclarecer aspectos menos claros para si, enquanto observado-
ras distanciadas. ()
Na reflexo da Alexandra, esta descreve um incidente crtico, revelando o poder da reflexo escrita
como estratgia de descoberta:
Ao implementar a Experincia Pedaggica definida pelo meu grupo de trabalho de Superviso,
mais precisamente durante a aula qual a minha colega Graa assistiu, os alunos foram leva-
dos a reflectir sobre o seu processo de escrita e concluram, com relativa facilidade, que um
dos motivos da sua resistncia escrita em Ingls se devia ao facto de no possurem vocabu-
lrio suficiente para o fazerem.
Como devem calcular, esta concluso, ou talvez a rapidez com que a ela chegaram, deixou-me
bastante inquieta. Dessa inquietao emergiu uma questo que tomou conta do meu pensa-
mento alguns dias e que se formalizou, no na aula em si, mas, curiosamente, no decurso da
redaco da narrativa profissional: o que que eu fao, para que os alunos adquiram vocabul-
rio? Aps a leitura e compreenso dos textos da unidade resolvemos exerccios de vocabulrio
de antonmia, sinonmia e ligao de vocbulos s respectivas definies. Ento afinal, o que
falha?... pareigelei! Reli a frase que antecede esta questo, apaguei o plural, mas depois
restitui-o. Ser que a linguagem me traiu? O discurso permitir assim to claramente inferir
a nossa viso ou prticas de educao e/ou o desfasamento entre as duas? Bom, parece ser
sintomtica, pelo menos, de que mesmo a que reside o problema: ser que no lhes dou
tempo suficiente para a tarefa e com a pressa de avanar atropelo o procedimento, adiantan-
do a resposta ou recorrendo aos melhores alunos? Ser que eles se apercebem da rapidez e
desvalorizam esse contedo, por verificarem que no perco muito tempo com pormenores,
achando que s se aplica quele texto ou situao pontual? Recair a minha escolha sobre o
vocabulrio adequado e ser a tipologia de exerccios ajustada? ()
No fora a traio da linguagem, o relato deste meu incidente crtico tinha tomado outro rumo,
mas foi ela que me iluminou. Compreendo agora o poder da escrita e a necessidade de escre-
ver mais vezes... (Incidente Crtico, Alexandra Geada, 2006)
A Graa e a Alexandra trocaram tambm entre si os seus relatos e responderam aos comen-
trios da Josina e da Madalena. Com esta estratgia de triangulao, atingimos uma melhor
compreenso das situaes. A partir de uma situao particular da sala de aula, efectuou-se a
anlise da informao qualitativa proveniente de diversos ngulos e pontos de vista (Burton e
Bartlett, 2005). () Conclumos que:
- um dos principais factores da resistncia escrita a falta de vocabulrio;
- os alunos revelam dependncia do professor, pelo que devem ser implementadas mais fre-
quentemente estratgias que promovam a sua autonomia, nomeadamente, actividades com
apoio de dicionrio;
- a escola no lhes oferece grandes oportunidades de se afirmarem como alunos escritores
autnomos e criativos.
(...) Finalizada a experincia e medida que nos fomos aproximando do final do relato do nosso caso,
comemos a pensar na necessidade de dar resposta questo colocada por L. Shulman (1992)
What is this a case of? , tentando nomeadamente elaborar um esquema, tal como nos havia sido
sugerido pela docente. Aps vrios esboos e tentativas, foi-se tornando cada vez mais evidente a
dificuldade de encontrar uma resposta nica. Tal como o prprio Shulman refere Were it grammati-
cally correct, I would prefer asking the question what are this a case of? Abandonando a ideia do
52
3. Para a Transformao da Prtica Docente: Estratgias de SuperViso
esquema, optmos por referir as vrias respostas que nos pareceram relevantes. Isto ento um
caso de:
- Predisposio para a mudana;
- Ressonncia entre teorias pessoais e teorias pblicas;
- Promoo de alunos escritores autnomos criativos;
- Partilha de experincias com vista a um desenvolvimento profissional reflexivo e colaborativo.
(...) O nosso relato termina aqui. A experincia, essa, continua. Acompanharemos de forma colabo-
rativa o desenrolar da experincia na turma da Alexandra, com a conscincia de que este processo
transfervel para outros contextos, outras experincias. Este percurso permitiu-nos verificar que o
acto de escrever estimula a reflexo, atitude que facilita o encontro de respostas a algumas inquieta-
es, reforando-se a ideia de que no s necessrio saber escrever, mas tambm ir escrevendo
para saber.
Porteflio de ensino
Alarco (2003: 55) define o porteflio como um conjunto coerente de documentao re-
flectidamente seleccionada, significativamente comentada e sistematicamente organizada
e contextualizada no tempo, reveladora do percurso profissional. Esta definio ajuda-nos
a distinguir claramente o porteflio do tradicional dossi. Trata-se de uma estratgia que fa-
vorece a documentao da experincia e o desenvolvimento integrado de competncias de
criticidade, autodireco e criatividade/inovao, facilitando o acesso a processos de trans-
formao de teorias e prticas profissionais. As suas potencialidades no desenvolvimento
profissional do professor, assim como na sua avaliao formativa, tm sido evidenciadas em
inmeros estudos e publicaes a nvel nacional e internacional (ver, por exemplo, Barbosa,
2006 e 2009; Fernandes, 2005; Klenowsky, 2002; Martins, 2006; J. Moreira, 2010; Oliveira
e Alves, 2006; S-Chaves, 2000b e 2005; Tanner et al., 2000; Vieira, 2008 e 2010b; Walker e
Benson, 2001).
Como afirma Shulman (2004c: 385), um porteflio um acto torico, na medida em que
aquilo que nele se coloca traduz as teorias pessoais de quem o constri. Por outro lado,
tambm pode representar um instrumento de avaliao qualitativa das aprendizagens pro-
53
3. Para a Transformao da Prtica Docente: Estratgias de SuperViso
fissionais com validade de consequncia, ou seja, pode fornecer evidncia de que a sua
construo melhora a qualidade do ensino e abre oportunidades ao desenvolvimento profis-
sional do professor e do sistema que ele integra (op. cit.: 390-391).
Actualmente, o porteflio constitui uma prtica hbrida, passvel de ter diversas finalidades e
formatos. Paquay (2004) distingue dois tipos de porteflio de ensino, consoante a finalidade
que lhes subjaz: uma finalidade de desenvolvimento profissional (formativa) e uma finalida-
de de progresso e certificao de competncias (sumativa) (Quadro 12). Assim, tambm
varia o seu contedo, bem como a responsabilidade pela superviso e avaliao do mesmo.
Daqui se depreende a dificuldade em construir um porteflio de dupla funo, como seria
de supor no mbito da avaliao do desempenho, uma vez que ela tem tambm uma dupla
finalidade.
2QTVGHNKQHQTOCVKXQ
QWFGFGUGP- 2QTVGHNKQRTQFWVQ
QWFGRTQOQQEGT-
XQNXKOGPVQRTQUUKQPCN VKECQ
- Analisar as prticas e o percurso - Constituir um dossi de promoo do
profissional do professor; professor;
Finalidade - Melhorar o seu ensino e desen- - Fazer prova das competncias;
2CTCSW! volver competncias (e identidade - Avaliao sumativa.
profissional);
- Avaliao reguladora.
- Produes significativas; Coleco estruturada das melhores pro-
Contedo - Testemunhos de um percurso pro- dues do professor, demonstrativas das
1SW! fissional de longo prazo. diversas competncias em tempos e con-
textos diversos.
5WRGTXKUQ#XCNKC- Mentor, equipa de pares, conselhei- Director, comisso consultiva, perito exter-
o do porteflio ro pedaggico, consultor no
2CTCSWGO!
54
3. Para a Transformao da Prtica Docente: Estratgias de SuperViso
Contudo, construir um porteflio que integre todos estes aspectos pode revelar-se imprati-
cvel ou mesmo contraproducente. O que se recomenda uma estratgia selectiva, atra-
vs da qual o professor evidencia dimenses da sua actividade que, num dado perodo de
tempo, considera mais relevantes para si e, eventualmente, para quem o avalia. Isto poderia
significar, por exemplo:
55
3. Para a Transformao da Prtica Docente: Estratgias de SuperViso
&GUGPXQNXKOGPVQFQGPUKPQCRTGPFK\CIGO &GUGPXQNXKOGPVQFQGPUKPQCRTGPFK\CIGO
Objectivo individual 1 Participao na escola e na comunidade
- Promover prticas de auto-avaliao dos Objectivo individual 1
alunos
- Desenvolver a autonomia dos alunos e prticas de in-
cluso na escola/sociedade
Por outro lado, importa compreender em que medida a construo de um porteflio promo-
ve a (auto-)superviso pedaggica numa orientao transformadora. Tal como qualquer outra
estratgia, tambm esta pode ser colocada ao servio de prticas reprodutoras. Importar,
portanto, avaliar o seu potencial formativo luz de questes relevantes, as quais podero
constituir a base para a definio de critrios de qualidade para a sua construo e avaliao.
O Quadro 13 apresenta uma proposta neste sentido, luz dos princpios gerais acima enun-
ciados.
3WCFTQ%TKVTKQUFGSWCNKFCFGFCEQPUVTWQG
CWVQCXCNKCQFQRQTVGHNKQFGGPUKPQ
Critrios de qualidade
Princpios Construo
#WVQ#XCNKCQ
Que objectivos de desenvolvimento profissional presidem
Estruturao sua construo?
GZXGNG Que lgica preside seleco e organizao dos testemunhos Coerncia
construo da prtica? Inteligibilidade
continuada Que modificaes so introduzidas luz da experincia acu-
mulada e da reflexo sobre essa experincia?
Como se relacionam os testemunhos da prtica com os objec-
tivos de desenvolvimento profissional? Selectividade
Seleco re-
Que relevncia assumem esses testemunhos no percurso Relevncia
presentativa
profissional documentado? Orientao pedaggica
Que orientao pedaggica evidenciam esses testemunhos?
De que forma se documentam processos nicos de desenvol-
vimento profissional? Idiossincracia profissio-
Autenticidade
De que forma transparecem ideias, convices, sentimentos e nal
emoes pessoais nos testemunhos apresentados?
Qual o objecto de reflexo? Criticidade
4GGZKXKFCFG Existem movimentos de descrio, interpretao, confronto e Orientao para a mu-
reconstruo do pensamento e da aco profissional? dana
56
3. Para a Transformao da Prtica Docente: Estratgias de SuperViso
+PXGUVKICQCEQ
PCKPQXCQFCURTVKECU
RGFCIIKECUCXCNKCVKXCU
Ao longo de vrios anos, e juntamente com outras colegas, temos vindo a recorrer inves-
tigao-aco como estratgia privilegiada de superviso na educao em lnguas estran-
geiras, articulando uma pedagogia centrada no aluno, conducente sua autonomia, com
uma pedagogia da formao (inicial) de professores de natureza reflexiva (ver, por exemplo,
Moreira et al., 1999a/b; Moreira, 2006b, 2009b; M. Moreira, 2010; Moreira et al., 2010; Viei-
ra e Moreira, 2008b; Vieira et al., 2008; Vieira, 2009b). As caractersticas da investigao-
aco finalidade de melhoria da aco, aco participada e colaborativa, orientao para
o desenvolvimento emancipatrio do aluno e do professor e natureza situacional , aliadas
sua metodologia reflexiva cclica, tornam-na adequada superviso de professores em
contextos de formao, no apenas inicial (veja-se Oliveira, 1996; Estrela e Estrela, 2001;
Ponte, 2002; Caetano, 2004; Andrade, 2010; Cadrio e Veiga Simo, 2010), e ainda prpria
formao dos supervisores (Malhado e Moreira, 1999; Moreira, 2005; Ribeiro, 2006). Como
diz Andrade (2010), a formao contnua de professores na actualidade dificilmente pode
dispensar modalidades de superviso mais horizontais e colaborativas, onde formandos e
formadores negoceiem papis e modos de superviso do seu desenvolvimento profissional;
para isso, necessrio desenvolver esquemas de investigao mais poderosos que, por sua
vez, ajudem a desenvolver novas formas de superviso. E a investigao-aco faz precisa-
mente isso.
57
3. Para a Transformao da Prtica Docente: Estratgias de SuperViso
A Figura 10 (Moreira e Torres, 2010) visa mostrar a interrelao entre os processos activados
por quatro princpios cruciais determinao da qualidade da investigao-aco: participa-
o, colaborao, transformao e contextualizao.
58
3. Para a Transformao da Prtica Docente: Estratgias de SuperViso
recolha e anlise da informao, para a disseminao dos resultados, etc., so as mais refe-
ridas na literatura (veja-se, por exemplo, McKernan, 1996). A este constrangimento aliam-se
os dilemas trazidos pela assimetria profissional, experiencial e estatutria entre professor
e supervisor, rotinas e tradio das prticas supervisivas, bem como a tenso entre apoio
e avaliao, a que j aludimos anteriormente. O Quadro 14 elenca alguns factores de cons-
trangimento ao trabalho do professor-investigador, bem como algumas formas de resoluo
que tm sido sugeridas e experimentadas pelos professores que connosco tm vindo a
colaborar ao longo dos anos.
59
3. Para a Transformao da Prtica Docente: Estratgias de SuperViso
Terminamos aqui este captulo, dedicado a estratgias de superViso com potencial trans-
formador, cientes de que os princpios que as orientam e as exigncias que a sua ope-
racionalizao coloca podem no se conciliar facilmente com as agendas da avaliao do
desempenho docente. Na verdade, no se conciliam facilmente com a vida nas escolas, tal
como no se conciliam facilmente com discursos e polticas que reduzem as possibilidades
dessa vida fazer mais sentido. Por isso, dizemos que estas estratgias tm um potencial
transformador.
60
EPLOGO
Interrogar o olhar supervisivo necessrio
61
Eplogo
denncia e do debate, formas de aco que, estando longe do ideal, no fechem as possibi-
lidades de transformao.
Talvez seja. Mas em educao, tudo demais. Nada simples, fcil ou definitivo. Tudo exige
o olhar supervisivo da interrogao da realidade para a sua compreenso e transformao.
62
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Nota biogrfica das autoras
FLVIA VIEIRA
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