A Natureza Como Limite Da Economia A Con PDF
A Natureza Como Limite Da Economia A Con PDF
A Natureza Como Limite Da Economia A Con PDF
Georgescu-Roegen
Sumrio
Introduo
Parte 1 Pensamento econmico
O paradigma
Um pouco de histria
Viso irreal
Parte 2 Outro paradigma
A formao de Georgescu
Termodinmica versus mecnica
Entropia e evoluo
Entropia e atividade econmica
Processo produtivo
Bioeconomia
Manuais introdutrios
Parte 3 Pessimismo da razo
Escassez e crescimento
Dissipao da matria
Teoria do valor energtico
Condio estacionria
O novo Prometeu
Parte 4 Correntes atuais
Economia ambiental
Economia ecolgica
Abismo epistemolgico
Evoluo e complexidade
Coevoluo socioambiental
Parte 5 Energia e desenvolvimento sustentvel
Desenvolvimento e sustentabilidade
Futuro energtico e o aquecimento global
Uma questo de valores
Georgescu e o desenvolvimento sustentvel
Concluso
Bibliografia
Anexo I
Introduo
perto as duas grandes Guerras Mundiais no seu pas de origem, a Romnia. Fez parte
de um grupo seleto de economistas de Harvard dos anos 1930. Foi considerado
economista dos economistas e professor dos professores pelo Prmio Nobel Paul
Samuelson. Mas, a partir dos anos 1970, teve incio o processo de seu banimento,
com advertncias do prprio Samuelson de que ele havia se embrenhado pela
obscura ecologia. Mesmo tendo contribudo para a consolidao de importante centro
de ps-graduao em economia no Brasil, o Instituto de Pesquisas Econmicas (IPEUSP), e escrito quase duas centenas de artigos e trs livros, no h mais que seis
artigos seus traduzidos para o portugus. Por isso, fundamental detalhar as ideias
que geraram o antema da comunidade cientfica.
A terceira parte avalia as ideias de Georgescu no contexto do debate sobre o dilema
escassez de recursos naturais versus crescimento econmico. Explicita quem foram
seus interlocutores e a quem ele dirigiu suas crticas na dcada de 1970. Importantes
acontecimentos da poca chamaram a ateno para o problema da adequao da
oferta de recursos naturais para sustentar os padres de consumo e produo. O
debate gerou um amplo espectro de opinies cujos extremos chegavam a concluses
completamente opostas. Partiu de outra viso pr-analtica, por isso a discrepncia em
relao s opinies dos economistas convencionais.
A quarta parte avalia sua influncia na economia ecolgica e na economia fora-doequilbrio. Sua obra tem inspirado ambos os programas de pesquisa na fronteira do
conhecimento, tanto pela sua viso biofsica do processo produtivo quanto por ter
chamado a ateno para as implicaes epistemolgicas mais gerais da lei da
entropia.
E a ltima, antes da concluso, procura mostrar o quanto o futuro energtico da
humanidade est no centro da problemtica do chamado desenvolvimento sustentvel
e como Georgescu fornece uma abordagem realista para esse debate. Para que o
termo desenvolvimento sustentvel no represente mera inovao retrica,
necessrio atentar para o duplo aspecto da relao entre processo econmico e
natureza: a depleo dos recursos naturais e a sada inevitvel de resduos.
Este livro no teria sido possvel sem a ajuda da Fundao de Amparo Pesquisa do
Estado de So Paulo (Fapesp), que possibilitou minha dedicao integral ao mestrado,
tampouco sem a orientao de Jos Eli da Veiga, verdadeiro educador, que percebeu
e direcionou meu potencial e me mostrou a importncia de fugir do hermetismo. No
poderia deixar de agradecer a todos os amigos que acompanharam o processo e
leram as primeiras verses, a meus pais Jos Cechin e Maria Elizabeth Domingues
Cechin pelo apoio de sempre, e Candi, minha companheira de vida.
1 Pensamento econmico
O economista preocupa-se acima de tudo com as mercadorias [] A economia no
pode abandonar o fetichismo da mercadoria, assim como a fsica no pode renunciar
ao fetichismo das partculas elementares, e a qumica, das molculas.
(Nicholas Georgescu-Roegen, The Entropy Law and the Economic Process)
O paradigma
O conjunto de ideias econmicas que predominou durante o sculo XX ainda pode ser
encontrado nos mais recentes livros-texto, largamente utilizados no ensino de
economia. Qualquer pessoa que queira se iniciar nesse campo do conhecimento
precisa saber de algumas ideias bsicas constantes do livro-texto. Este, s vezes
chamado de manual, um importante instrumento de transmisso de conhecimento e
nele constam exemplos do que seja um problema econmico, alm de desenhos e
diagramas representando o sistema econmico. O aprendiz tem uma viso do que a
economia, de quais so seus problemas tpicos, e uma ideia de como represent-la
visualmente. O manual demonstra como reconhecer um problema econmico e como
encar-lo. Os manuais de economia contm os modelos utilizados para que se
aprenda o funcionamento do mundo econmico. Assim como na medicina os
professores usam rplicas de plstico do corpo humano, na economia so os
diagramas e as equaes que permitem uma viso do que considerado realmente
importante. Nas palavras de Gregory Mankiw, autor de um dos manuais mais
utilizados atualmente:
Os economistas tm uma forma nica de ver o mundo, grande parte da qual pode ser
ensinada em um ou dois semestres. Meu objetivo neste livro transmitir esta forma de
pensar ao pblico mais amplo possvel e convencer os leitores de que ela ilumina
grande parte do que est a nossa volta.
Receita
Despesa
Bens e servios
comprados
Bens e servios
Empresas
Famlias
Insumos para
produo
Salrios,
aluguis e lucros
Terra, trabalho e
capital
Mercado de
fatores de
produo
Renda
As empresas produzem bens e servios usando vrios insumos, como trabalho, terra e
capital, que so chamados de fatores de produo. As famlias so proprietrias dos
fatores de produo e consomem todos os bens e servios produzidos pelas
empresas. Existem dois tipos de mercado em que as empresas e as famlias
interagem. O mercado de bens e servios, em que as famlias compram e as
Ibid., p. 23.
Thomas S. Kuhn, A estrutura das revolues cientficas (So Paulo: Perspectiva, 1995), p. 234.
4
A palavra paradigma, que na primeira edio de A estrutura das revolues cientficas de Thomas Kuhn
tinha 22 sentidos, pode ser entendida de duas maneiras, conforme a reviso de Kuhn no posfcio da
segunda edio de 1970. Uma a matriz disciplinar e a outra so os exemplos compartilhados.
5
Thomas S. Kuhn, A estrutura das revolues cientficas, cit.
6
Leda Maria Paulani, Economia e retrica: o captulo brasileiro, em Revista de Economia Poltica, 26
(1), jan.-mar. de 2006.
3
a cincia normal,
O fato de os cientistas aceitarem algumas regras estabelecidas e uma viso pranaltica que faz o trabalho na cincia normal ser cumulativo. E a revoluo na
cincia a mudana de paradigma, o estabelecimento de uma nova viso pranaltica e de novas regras. Para alguns historiadores do pensamento econmico, est
fora de questo a existncia de paradigmas dominantes na economia:
Visto que os livros-texto descrevem um conjunto relacionado de teorias conceitos e tcnicas
analticas aceitas como legtimos pela maioria dos economistas; e que houve mudanas radicais
na estrutura das doutrinas econmicas que determinam a situao dos problemas geralmente
10
aceita.
certo que, no sculo XX, houve grande debate sobre como ocorre o
desenvolvimento da cincia e muitas das contribuies divergem da anlise de Kuhn.
De acordo com Imre Lakatos,11 por exemplo, a histria da cincia seria uma
concorrncia entre programas de pesquisa. Ele quis dar uma explicao lgica para o
que Kuhn chama de revoluo cientfica. Esta entendida por Lakatos como um
processo racional de superao de um programa de pesquisa por outro melhor. E um
programa considerado melhor que outro quando tem contedo verdadeiramente
superior ao programa rival, isto , prev novos fatos e tem suas previses
corroboradas.
7
Philip Mirowski, Against Mechanism: Protecting Economics from Science (Nova Jersey: Rowman and
Littlefield, 1988); Geoffrey M. Hodgson, Economics and Evolution: Bringing Life Back into Economics
(Michigan: The University of Michigan Press, 1993).
8
Joseph A. Schumpeter, History of Economic Analysis (Nova York: Oxford University Press, 1954).
9
Thomas S. Kuhn, A estrutura das revolues cientficas, cit., p. 225.
10
Phyllis Deane, A evoluo das idias econmicas (Rio de Janeiro: Zahar, 1980), p. 13.
11
Imre Lakatos, O falseamento e a metodologia dos programas de pesquisa cientfica, em Imre Lakatos
& Alan Musgrave (orgs.), A crtica e o desenvolvimento do conhecimento (So Paulo: Cultrix, 1979).
10
Mark Blaug sustenta que o termo paradigma s deveria ser usado na literatura
econmica se entre aspas e apropriadamente qualificado. Todavia, mesmo
ressaltando a importncia da abordagem de Lakatos para a economia, reconhece que
a ideia de paradigma cumpre a importante funo de lembrar a falcia que avaliar
teorias especficas sem considerar a estrutura metafsica mais ampla na qual esto
inseridas.12
Para os fins deste livro, considera-se que a abordagem de Kuhn facilita o
entendimento do desenvolvimento da cincia econmica e da viso unificadora do
objeto estudado, ainda que no possa servir integralmente como referencial terico.
Ademais, a utilizao das categorias paradigma ou revoluo cientfica como
descries convenientes para a histria do pensamento econmico no requer que se
aceite por inteiro a sua teoria do desenvolvimento cientfico.13 Joseph A.
Schumpeter,14 por exemplo, considera que a evoluo das ideias econmicas ocorre
em saltos, numa sucesso de pocas de revoluo e consolidao.
Desde o surgimento da economia enquanto campo de conhecimento at os dias de
hoje certamente ocorreram muitos saltos e revolues nas ideias sobre o processo
estudado. Contudo, justamente a representao do sistema econmico como um
fluxo circular isolado que deu inicio a esse campo de estudo, que passou a tratar o
sistema econmico como uma categoria a ser estudada parte. Para que a
importncia de tal representao seja realmente avaliada, deve-se ter algum
conhecimento da histria do pensamento econmico.
Um pouco de histria
Mark Blaug, Kuhn versus Lakatos ou paradigmas versus programas de pesquisa na histria da
Economia, em Ana Maria Bianchi (org.), Metodologia da economia: ensaios (So Paulo: Instituto de
Pesquisas Econmicas da Faculdade de Economia e Administrao da USP, 1988), p. 2.
13
Phyllis Deane, A evoluo das idias econmicas, cit.
14
Joseph A. Schumpeter, History of Economic Analysis, cit.
15
Roger E. Backhouse, Histria da economia mundial (So Paulo: Estao Liberdade, 2007).
11
16
Ibidem.
Ibidem.
18
Ibidem.
19
Stefano Zamagni & Ernesto Screpanti, An Outline of the History of Economic Thought (Oxford:
Clarendon, 1993).
17
12
Foi a interpretao de Adam Smith dos temas econmicos discutidos antes dele que
conduziu economia do sculo XIX. Em A riqueza das naes, de 1776, combinou
seu conhecimento de filosofia moral com um enfoque na interdependncia dos vrios
setores da economia.20
Para Smith, a riqueza, ou valor econmico, criada pelo trabalho, ou seja, pela
transformao de recursos da natureza em coisas que as pessoas querem. Portanto, o
segredo da criao de riqueza a melhora na produtividade do trabalho. Para
aumentar a produtividade do trabalho, necessrio que haja uma diviso do trabalho
que permita a especializao em tarefas cada vez mais especficas. A nfase dos
fisiocratas na agricultura foi transferida para o setor manufatureiro. Alm da
produtividade do trabalho resultante da especializao, a acumulao de capital,
atravs da poupana proveniente dos lucros, que garantiria o crescimento
econmico.21
Smith no achava que o crescimento pudesse seguir indefinidamente, pois a oferta
fixa de terra imporia em algum momento um limite ao crescimento da populao. Os
economistas que se seguiram a Smith acentuaram que a tendncia do ritmo de
inovaes tcnicas seria ultrapassada pelos retornos decrescentes gerados pela
presso de uma populao em rpido crescimento e pelo estoque limitado de recursos
naturais.
David Ricardo e seu contemporneo Thomas R. Malthus foram pessimistas sobre as
possibilidades de crescimento econmico a longo prazo. O limite estaria na oferta de
terras de boa qualidade, e, portanto, nos retornos decrescentes da produo agrcola.
A ideia de retornos decrescentes que depois de certo ponto, mesmo com aplicao
de quantidades crescentes de trabalho na terra, o produto por trabalhador diminuiria. A
partir da, o crescimento da populao implicaria em queda no padro de vida, que por
sua vez levaria a estabilizao da populao. Assim, ambos viam como tendncia de
longo prazo uma economia em estado estacionrio, com uma populao constante e
vivendo num nvel de subsistncia.
A possibilidade do estado estacionrio era vista como algo mais distante e tambm
com certo otimismo por John Stuart Mill. Concebeu o progresso econmico como uma
corrida entre mudana tecnolgica e retornos decrescentes na agricultura. At a
chegada do estado estacionrio, o progresso tcnico j teria possibilitado satisfazer as
vontades materialistas da humanidade, e a sociedade estaria livre para perseguir
outras metas sociais, a um padro de vida mais elevado do que o de sua poca.
A tecnologia resolveria o problema dos limites naturais para Karl Marx. Ele assumiu
que toda a escassez desapareceria no futuro, pois a humanidade j teria capacidade
20
21
13
24
22
Geoffrey M. Hodgson, Economics in the Shadows of Darwin and Marx: Essays on Institutional and
Evolutionary Themes (Cheltenham: Edward Elgar, 2006).
23
Roger E. Backhouse, Histria da economia mundial, cit.
24
Karl Marx, O capital: crtica da economia poltica, vol. 1, Livro Primeiro, Tomo II, Captulo XXI, trad.
Rgis Barbosa & Flvio R. Kothe (So Paulo: Nova Cultural. 1988), p. 145.
25
Roger E. Backhouse, Histria da economia mundial, cit.
14
Philip Mirowski, Against Mechanism, cit.; Philip Mirowski, More Heat than Light: Economics as Social
Physics, Physics as Natures Economics (Londres: Cambridge University Press, 1989); Eric D.
Beinhocker, The Origin of Wealth: Evolution, Complexity, and the Radical Remaking of Economics
(Boston: Harvard Business School Press/Random House, 2006).
27
Philip Mirowski, Against Mechanism, cit.
28
Ibid.
15
do
sculo
XX
acabaram
identificando
um
princpio
vlido
universalmente:31
29
Ibid.
Stanley Brue, Histria do pensamento econmico (So Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2005).
31
Stefano Zamagni & Ernesto Screpanti, An Outline of the History of Economic Thought, cit.
30
16
32
32
Lionel Robbins, An Essay on the Nature and Significance of Economic Science (2. ed. Londres:
Macmillan and Company, 1935), p.15, traduo livre.
33
Philip Mirowski, Against Mechanism, cit.
17
34
18
Viso irreal
19
Em uma de suas formulaes, Lord Kelvin diz que impossvel realizar um processo
cujo nico efeito seja remover calor de um reservatrio e produzir uma quantidade
equivalente de trabalho. Isso porque a energia em sua forma calor tende a se dissipar,
impossibilitando sua utilizao por completo para gerar trabalho. O que significa que
qualquer sistema para continuar funcionando precisa de energia entrando, no mnimo
de maneira constante.
A economia no uma totalidade, mas, sim, um subsistema de um sistema maior,
geralmente chamado de meio ambiente. Os seres vivos dependem de um fluxo
metablico. Os bilogos, ao estudarem os sistemas circulatrios dos organismos, no
esqueceram o que entra e o que sai. Contudo, os economistas, ao focarem no fluxo
circular monetrio, ignoraram o fluxo metablico real. Ao contrrio dos economistas,
os bilogos jamais imaginaram um ser vivo como um sistema total, ou como mquina
de moto-perptuo.40
Em pocas passadas, as consequncias desse erro conceitual poderiam no ter muito
significado, pois ainda eram pequenas as propores de extrao de materiais e
energia e de produo de fluxo de resduos. Atualmente, est claro que preciso
corrigir esse equvoco e levar em conta tanto a gerao de lixo quanto a dilapidao
do capital natural. preciso entender que o modelo est equivocado e que ele no
substitui a realidade.
Karl Marx41 foi um autor que considerou essa interao da sociedade com a natureza
quando se referiu ao metabolismo social.42 Marx entendia por metabolismo social o
processo
pelo
qual
sociedade
humana
transforma
natureza
externa,
Herman E. Daly & Joshua Farley, Ecological Economics: Principles and Applications (Washington:
Island Press, 2003).
41
Karl Marx, Gundrisse (Nova York: Vintage, 1973 [1859]).
42
O termo metabolismo comeou a ser adotado largamente por fisiologistas alemes apenas a partir
das dcadas de 1830 e 1840, para se referir s trocas materiais relacionadas com a respirao de um
organismo. Tornou-se de uso corrente ao ser usado por Justus Von Liebig (1803-1873).
43
John Bellamy Foster, A ecologia de Marx: materialismo e natureza (Rio de Janeiro: Civilizao
Brasileira, 2005).
20
44
21
2 Outro paradigma
A formao de Georgescu
Nicholas Georgescu-Roegen nasceu em 1906, em Constana, na Romnia. No dia em
que foi anunciada a entrada da Romnia na Primeira Guerra Mundial (27 de agosto
de 1916), Georgescu ficou sabendo que tinha conseguido uma bolsa de estudos para
uma escola preparatria. Seus primeiros estudos s comeariam com o trmino da
guerra. Em 1918 entrou para o lyce na capital Bucareste, em que havia pouco o que
fazer a no ser estudar. Estudou l de 1918 a 1923, quando entrou para o curso de
matemtica na Universidade de Bucareste. Formou-se em 1926 e ganhou uma bolsa
de doutorado para estudar na Sorbonne em Paris.46
L Georgescu mudou da matemtica para a estatstica. Entre 1927 e 1930 esteve
ligado ao Institut de Statistique, onde foi diretamente influenciado por mile Borel. Sua
tese Le Problme de la recherche des composantes cycliques dun phnomne de
to elogiada foi publicada na ntegra no Journal de la Societ de Statistique de Paris,
em outubro de 1930. Em 1931 conseguiu uma bolsa para estudar dois anos em
Londres com o criador da estatstica e filsofo da cincia Karl Pearson. Essa
convivncia o convenceu de que todo pesquisador deve estudar algo de filosofia para
controlar a verossimilhana do prprio esforo cientfico. A representao satisfatria
do mundo real a questo primria de qualquer esforo cientifico.
Sua tese sobre fenmenos cclicos chamou a ateno de economistas de Harvard,
que se empenhavam num projeto chamado Barmetro econmico. Havia proposto um
novo mtodo para a anlise de perodos, que permitiu que se encontrassem os
coeficientes para alguns processos aleatrios. Por isso, em 1934 ganhou uma bolsa
da fundao Rockefeller para visitar a Universidade de Harvard por dois anos. Ao
chegar a Harvard, descobriu que o projeto no existia mais. Estava pronto para voltar
para a Romnia quando pediu um encontro com Joseph A. Schumpeter, que na poca
se dedicava elaborao de uma grande teoria dos ciclos. O dilogo entre eles era,
46
Joseph C. Dragan & Mihai C. Demetrescu, Entropy and Bioeconomics: the New Paradigm of
Nicholas Georgescu-Roegen (Milo: Nagard, 1986).
22
portanto, total, dado o tema da tese de Georgescu. Schumpeter chegou a usar sua
tcnica, numa verso simplificada, em seu livro Business Cycles de 1939.
Schumpeter foi uma das figuras da primeira metade do sculo XX que tentaram
explicar o mecanismo de mudana no capitalismo, indo na contramo das
preocupaes dominantes da economia de sua poca. A contribuio geral de
Schumpeter para a economia consiste em sua nfase na importncia dos
empreendedores e das inovaes para que uma economia se desenvolva. O
economista austraco lecionou em Harvard e presidiu a American Economic
Association de 1932 at sua morte.
Schumpeter teve influncia crucial na carreira de Georgescu e foi quem o transformou
em um economista. Os dois anos (1934 a 1936) de convvio em Harvard foram de
atividade intelectual intensa e fundamentais para reforar sua convico de que os
processos histricos so nicos e impossveis de serem descritos precisamente por
uma frmula matemtica. Nesse perodo foi membro de um grupo de estudos que
reunia economistas como Wassily Leontief,47 Oskar Ryszard Lange,48 Fritz Machlup,49
Nicholas Kaldor50 e Paul M. Sweezy,51 alm do prprio Schumpeter.
Enquanto estava em Harvard, Georgescu escreveu quatro artigos importantes para a
teoria do consumidor e para a teoria da produo.52 Schumpeter chegou a convid-lo
para escrever um livro em coautoria, alm de lhe oferecer uma vaga de professor na
Faculdade de Economia de Harvard, mas Georgescu achava que devia voltar para a
Romnia para colocar seus conhecimentos em prtica. Tinha um sentimento de
obrigao com seu pas. Assim, em 1937 retornou Romnia.
Na Romnia ocupou muitos cargos no governo. Foi diretor do Instituto Central de
Estatstica de Bucareste, conselheiro econmico no Departamento de Finanas,
diretor no Ministrio do Comrcio. Entre 1944 e 1945, assumiu o cargo de secretrio47
23
53
Joseph C. Dragan & Mihai C. Demetrescu, Entropy and Bioeconomics, cit.; Andrea Maneschi
& Stefano Zamagni, Nicholas Georgescu-Roegen, 1906-1994, em The Economic Journal, 107
(442), 1997, pp. 695-707.
24
Indicou pela
primeira vez quais so as condies especficas para que uma entidade qualquer
possa ser medida. Nem as vontades nem as expectativas humanas atendem a tais
condies
de
mensurabilidade.
Ele
mostrou
que
solidez
aparente
das
25
nos seus comportamentos, elas revelariam suas preferncias atravs das escolhas
feitas.
Em 1937, quando retornou Romnia, Georgescu j estava treinado em matemtica,
estatstica e economia. Contudo, logo percebeu a diferena entre o que poderia ser
explicado com a teoria econmica que aprendera e a realidade de uma economia
cujas instituies so no capitalistas. Dedicou dois artigos para esse tema:
Economic Theory and Agrarian Economics em 1960 e The Institutional Aspects of
Peasant Economies: a Historical and Analytical Review em 1965.
O artigo Economic Theory and Agrarian Economics, embora publicado apenas em
1960, j havia sido escrito quando retornou aos Estados Unidos, em 1948.Tal artigo,
escrito durante os anos na Romnia, foi apresentado num simpsio na Universidade
de Chicago, mas, como a recepo foi muito hostil, no o enviou para publicao, at
que o editor do peridico Oxford Economic Papers o convidou doze anos depois.57
O artigo tenta responder a seguinte pergunta: Pode uma teoria econmica que
descreve o sistema capitalista ser usada para analisar com sucesso outro sistema
econmico? Afinal, as sociedades humanas variam enormemente de acordo com o
tempo histrico e com a localidade.
Georgescu58 discutiu principalmente a conduta do homo economicus. A racionalidade
assumida pela teoria neoclssica a de um comportamento estritamente hedonista do
indivduo. A satisfao do indivduo estritamente hedonista depende apenas da
quantidade de mercadorias em sua posse. Para Georgescu,59 a maneira como a teoria
neoclssica v a conduta humana s vale numa situao de consumidores com renda
suficiente e cujas escolhas econmicas so guiadas apenas pela quantidade de
mercadorias.
No entanto, a escolha de um indivduo no determinada somente pela quantidade de
mercadorias, mas tambm pelas aes necessrias para obt-las. A propenso a agir
de uma maneira ou de outra depende da matriz institucional a qual o indivduo
pertence. No caso de uma comunidade rural de base familiar, o mais comum que os
57
26
valores culturais do vilarejo pesem mais na hora da escolha do indivduo, ainda mais
se a deciso diz respeito aos outros membros da comunidade.60
Se o comportamento estritamente hedonista j pouco realista no contexto urbanoindustrial, que dir numa comunidade rural em que os indivduos se pautam pelas
instituies comunitrias do vilarejo. Possivelmente valha para o personagem
Robinson Cruso,61 mas dificilmente para aqueles que vivem em sociedade.
Georgescu62 chegou concluso de que os dois principais sistemas tericos da
economia,de sua poca, neoclssico e marxista, tinham dificuldades de explicar um
contexto diferente do industrializado, urbanizado e individualista, sem assumirem
premissas fictcias. Tudo isso para dizer que a trajetria das economias avanadas
no pode mostrar qual o caminho a ser trilhado pelos demais pases, como a sua
Romnia natal, pois as mesmas oportunidades no podem ser repetidas. Assumir que
os
processos
que
sustentaram
progresso
das
economias
avanadas
logo so
igualmente ordenadas para todos os seres humanos. Estas so seguidas por vontades
sociais, que tm a mesma ordem para todas as pessoas que pertencem mesma
cultura. Por ltimo, existem vontades pessoais que variam irregularmente de indivduo
para indivduo. Necessidades e vontades de diferentes nveis so irredutveis. Isto ,
60
27
aquele que no tem o que comer no pode satisfazer sua fome usando mais
camisetas, pois no pode ser indiferente entre comida e roupas. Como h uma
hierarquia de necessidades e vontades, s pode haver indiferena entre aquelas que
se encontram num mesmo nvel.
Em 1966, Georgescu organizou a coletnea Analytical Economics com seus primeiros
artigos da dcada de 1930, com as contribuies da dcada de 1950 para a teoria da
escolha e com artigos que tratavam de outros temas, como o Economic Theory and
Agrarian Economics sobre a economia de pases agrrios com alta densidade
populacional. Como introduo, escreveu 127 pginas sobre questes que
extrapolavam a cincia econmica. Mas, por que algum escreveria uma introduo
do tamanho de um livro para uma coletnea de artigos de 1936 a 1960?
Georgescu aceitou a sugesto da editora Harvard University Press de fazer uma
introduo relacionando seu pensamento com os artigos, pois assim poderia articular
e dar uma coerncia geral para suas contribuies prvias. Tal introduo daria
origem ao livro que pode ser considerado sua obra mxima The Entropy Law and the
Economic Process de 1971.
A coletnea Analytical Economics mereceu o prefcio de Samuelson, j respeitado por
causa do livro-texto Economics e por suas contribuies importantes teoria do
consumidor. Samuelson considerou Georgescu pioneiro na economia matemtica,
mas em primeiro lugar, um economista. Fez ainda a seguinte observao sobre o
autor: Mesmo sendo um especialista na matemtica, ele imune aos charmes
sedutores desse instrumento, sabendo us-lo de maneira objetiva e com o p no
cho.64 Chamou-o de professor dos professores e de economista dos economistas.
No final do prefcio, alm de ter considerado seu artigo de 1936 sobre teoria do
consumidor um clssico, desafiou qualquer economista informado a permanecer
indiferente depois de refletir sobre a introduo do livro.
A inquietao de Georgescu era que enquanto na fsica os maiores autores passaram
a filosofar sobre sua cincia, na economia o debate epistemolgico era muito pouco
efetivo. Assim, essa introduo explorou o divisor de guas de cada questo de
maneira mais intensa e extensa do que j havia sido feito no passado. Mais
especificamente, extrapolou as questes epistemolgicas para alm das fronteiras da
economia. Como resultado, chegou concluso de que, contrariamente ao que se
pensava, muitas questes com as quais deparam os economistas no so especficas
dessa disciplina, elas surgem tambm nas cincias fsicas. So questes que dizem
respeito s mudanas qualitativas que so estruturais, em contraposio s mudanas
que s envolvem variao de quantidade.
64
28
66
67
Por trinta anos escreveu artigos de economia em peridicos de primeira linha como
Quarterly Journal of Economics e Econometrica. Sempre esteve preocupado com a
questo da validade das representaes analticas da realidade. Assim, com seu
65
29
30
O conceito de trabalho na fsica pode ser entendido como maneira de transferir energia em
ao portanto, deve ser visto como um processo, e no como uma coisa. (Eric Schneider &
Dorion Sagan, Into the Cool: Energy Flow, Thermodynamics and Life (Chicago: University of
Chicago Press, 2005), p. 27.)
72
Ibid., p. 39.
31
parecida com a energia, mas tinha uma direo. Assim, Clausius chamou tal razo de
entropia, emprestando tal palavra com significado de transformao em grego.
Clausius avanou o trabalho j realizado por Carnot, formalizando as duas primeiras
leis da termodinmica e introduzindo a noo de entropia. A primeira lei diz que a
quantidade de energia num sistema isolado constante, enquanto a segunda lei diz
que a qualidade da energia num sistema isolado tende a se degradar. Um sistema
isolado no pode trocar matria nem energia com o exterior. Apenas o universo como
um todo atende a essa exigncia. Por isso, Clausius afirmou na sua formulao das
duas primeiras leis da termodinmica que:
A afirmao de que num sistema isolado a entropia nunca decresce envolve o tempo,
pois mais precisamente isso significa que a entropia aumenta medida que o tempo
flui pela conscincia do observador. Nenhuma outra lei distingue o passado do futuro.
Assim, apenas a segunda lei da termodinmica define a flecha do tempo, explicando
a direo de todos os processos fsica ou quimicamente espontneos. Essa lei afirma
que um sistema pode estar orientado apenas numa direo do tempo, justamente
porque no pode voltar da maneira como foi, se o seu caminho envolve dissipao de
calor. Tal lei provocou uma reviso drstica no que concerne energia e sua
conservao, enquanto muitos fsicos tentaram o mximo possvel negar que algo de
fundamental havia mudado.73
A admisso aparentemente incua de queo calor sempre flui do corpo mais quente
para o mais frio por si s, o que representa uma lei fsica, gerou um problema
epistemolgico que demorou a ser resolvido. O problema est no fato de que a
mecnica no consegue lidar com movimento unidirecional do calor, uma vez que,
para ela, todos os movimentos devem ser reversveis. Essa peculiaridade dos
fenmenos mecnicos corresponde ao fato de as equaes da mecnica no variarem
ao sinal da varivel t, de tempo, ou seja, no h passado nem futuro. possvel,
portanto, opor duas categorias de fenmenos: locomoo reversvel e entropia
irreversvel. Os processos reversveis so exceo na natureza, enquanto os
processos irreversveis constituem a regra. Ao passo que aqueles mantm a entropia
constante, estes a produzem.74
73
Nicholas Georgescu-Roegen, The Entropy Law and the Economic Process, cit.; Philip
Mirowski, More Heat than Light: Economics as Social Physics, Physics as Natures Economics
(Londres: Cambridge University Press, 1989).
74
Ilya Prigogine, O fim das certezas: tempo, caos e as leis da natureza (So Paulo: Editora da
Unesp, 1996), p. 25.
32
33
Entropia e evoluo
A lei da entropia nas formulaes de Clausius e Boltzmann diz respeito aos sistemas
isolados que tendem mxima entropia, ou seja, ao equilbrio termodinmico, quando
as foras que provocam mudanas esto completamente ausentes, o que
caracterizado por uma temperatura uniforme no sistema.
A condio de que o sistema deve ser isolado compreensvel, pois, se matria ou
energia puderem entrar e sair daquele, no possvel falar de constncia ou de
aumento constante. Por outro lado, todos os sistemas da nossa experincia so ou
fechados ou abertos, e no isolados. Os sistemas fechados podem trocar energia,
mas no matria, com o exterior. Enquanto os sistemas abertos podem trocar
ambos.82 Qualquer sistema aberto pode diminuir sua prpria entropia. Todavia, como
ele um subsistema, o decrscimo de sua entropia deve ser acompanhado por um
aumento na entropia do sistema maior no qual est inserido, de tal forma que a
entropia do sistema total aumente.
Aqueles que estudaram a eficincia energtica na Europa do sculo XIX ficaram to
impressionados com a predio da segunda lei da termodinmica de aumento da
entropia em sistemas isolados que estenderam essa ideia para o universo inteiro. Mas
79
34
83
Erwin Schrdinger, What is Life? The Physical Aspect of the Living Cell (Londres: Cambridge
University Press, 1944).
84
Ilya Prigogine, Thermodynamics of Irreversible Processes (Nova York: John Wiley and Sons,
1955).
85
Eric Schneider & Dorion Sagan, Into the Cool, cit., p. 222.
35
86
Ibid., p. 220.
Alfred J. Lotka, Contribution to the Energetics of Evolution, em Proceedings of the National
Academy of Sciences of the United States, 8 (6), 1922, p. 147.
88
Kim Sterelny, Dawkins vs. Gould: Survival of the Fittest (Cambridge: Icon Books, 2007).
89
Alfred J. Lotka, Contribution to the Energetics of Evolution, em Proceedings of the National
Academy of Sciences of the United States, 8 (6), 1922, p. 147
87
36
37
denominados
instrumentos
endossomticos.
As
converses
energticas
92
Um exemplo desta viso mecanicista o livro de Charles Jones que sequer menciona o
ambiente, seja como provedor de recursos naturais (ignorados por Jones), seja como
assimilador de resduos do processo produtivo. Para se ter uma idia, a palavra energia no
aparece no livro. [Charles Jones, Introduo teoria do crescimento econmico (So Paulo:
Campus, 2000).]
93
Essa idia pode ser atribuda a Alfred J. Lotka, mas foi desenvolvida por Nicholas
Georgescu-Roegen. (Alfred J. Lotka, Elements of Mathematical Biology Nova York: Dover,
1956; Nicholas Georgescu-Roegen, Analytical Economics, cit.; Nicholas Georgescu-Roegen,
The Entropy Law and the Economic Process, cit.)
38
Processo produtivo
95
94
39
97
40
99
Nicholas Georgescu-Roegen, The Entropy Law and the Economic Process, cit., p. 244.
Ibidem; Mario Morroni, Production and Time, cit.
101
Nicholas Georgescu-Roegen. "Process in Farming versus Process in Manufacturing: A
Problem of Balanced Development." In Economic Problems of Agriculture in Industrial
Societies, edited by Ugo Papi and Charles Nunn. London: Macmillan; New York: St. Martin's
Press, 1969, pp. 497-528.
100
41
Nicholas Georgescu-Roegen, The Entropy Law and the Economic Process, cit., p. 226.
Ibid., p. 228.
42
naturais,
relao
no
processo
produtivo
muito
mais
de
106
no entanto, reduo na
A prpria mquina mais
104
Geoffrey M. Hodgson & Ernesto Screpanti, Rethinking Economics: Markets, Technology and
Economic Evolution (Cheltenham: Edward Elgar, 1991).
105
Juan Hersztajn Moldau, Os fundamentos microeconmicos dos indicadores de
desenvolvimento socioeconmico, em Revista de Economia Poltica, 18 (3), 1998, p. 75.
106
Philip A. Lawn, On Georgescu-Roegens Contribution to Ecological Economics, em
Ecological Economics, 29 (1), 1999, pp. 5-8.
43
Bioeconomia
continua
presente, ainda que de forma velada. Este ltimo mito vai contra a lei da entropia, a
qual diz apenas que a entropia, o ndice de energia dissipada e indisponvel em
relao energia total, de um sistema isolado no declinante.
No nada trivial explicar o fenmeno da vida pelas leis da fsica. Mas certamente a
vida no as pode violar. De acordo com Schrdinger,109 a vida parece evitar a
degradao entrpica qual a matria inerte est sujeita. Para ele, o organismo vivo
se esfora para compensar sua prpria degradao entrpica, utilizando recursos de
baixa entropia do ambiente e dissipando a energia em forma de calor de volta para o
ambiente. Contanto que a entropia do ambiente aumente mais que a compensao do
organismo, o fenmeno no vai contra a lei da entropia.
A vida tem uma importncia no processo entrpico. Conforme Eric Schneider e Dorion
Sagan,110 a vida uma manifestao da segunda lei da termodinmica. As mais
diversas formas de vida so estruturas dissipativas que existem para degradar
107
Nicholas Georgescu-Roegen, The Entropy Law and the Economic Process, cit.
Nicholas Georgescu-Roegen, Energy and Economic Myths, em Nicholas GeorgescuRoegen, Energy and Economic Myths, cit., pp. 3-36.
109
Erwin Schrdinger, What is Life? The Physical Aspect of the Living Cell (Cambridge:
Cambridge University Press, 1944).
110
Eric Schneider & Dorion Sagan, Into the Cool, cit.
108
44
gradientes. E assim que a vida mantm sua organizao, diminuindo gradientes, que
inclui dissipao de energia em forma de calor.
Georgescu111 considerou que os organismos, para manterem sua prpria organizao,
aceleram a marcha da entropia. No est, portanto, em desacordo com o
entendimento recente112 da relao entre vida e entropia. Para Georgescu, o homem,
com seus instrumentos exossomticos, ocupa a mais alta posio na escala dos
organismos que aumentam a entropia, e esse seria o cerne das questes ambientais,
que tem dois aspectos ligados um ao outro: o escasseamento dos recursos terrestres
e os resduos inevitveis do processo produtivo.
A humanidade tem duas fontes bsicas para sua reproduo material: os estoques
terrestres de minerais e energia concentrados e o fluxo solar. Os estoques terrestres
so limitados e sua taxa de utilizao pela humanidade facultativa. A fonte solar, por
outro lado, praticamente ilimitada em quantidade total, mas altamente limitada em
relao taxa que chega Terra. H ainda outra diferena: os estoques terrestres
abastecem a base material para as manufaturas, enquanto o fluxo solar responsvel
pela manuteno da vida. possvel determinar o ritmo de consumo de minrios e
combustveis fsseis, mas sempre tendo em vista que so recursos finitos. Dessa
forma, a taxa de utilizao determinar em quanto tempo esses insumos estaro
inacessveis.
Para Georgescu,113 resta saber se a humanidade quer continuar usando rapidamente
os estoques de recursos terrestres, comprometendo assim a possibilidade de
reproduo material das geraes futuras, ou se, ao contrrio, admite evitar qualquer
uso desnecessrio de recursos a fim de prolongar sua existncia.
No entanto, segundo Georgescu114 a tendncia de extrao de recursos ser
decrescente, por mais remoto que seja o incio dessa tendncia. Isso far com que a
escala da economia seja reduzida, ou seja, trata-se do encolhimento do tamanho da
populao e do fundo de capital. Quanto mais cedo tal processo de encolhimento da
economia comeasse, maior seria a sobrevida da atividade econmica da espcie
humana. A ideia que no bastar parar de crescer, ou mesmo estabilizar o fluxo de
recursos naturais que entra na economia. A rigor, algumas economias do mundo j
deveriam estar pensando na reduo desses fluxos.
O segundo aspecto da reproduo material da humanidade, o resduo, um fenmeno
fsico em geral prejudicial a uma ou outra forma de vida, e direta ou indiretamente
111
45
O acmulo de poluio pode, sob certas circunstncias, produzir a primeira crise ecolgica
sria. Nicholas Georgescu-Roegen, Energy and Economic Myths, cit., p. 15, traduo livre.
116
Como a lei da entropia no permite resfriar um planeta continuamente aquecido, a poluio
trmica poderia surgir como um obstculo mais importante para o crescimento do que para o
finitude dos recursos acessveis. Ibid., p. 14, traduo livre.
117
Nicholas Georgescu-Roegen, Energy and Economic Myths, cit.
46
era
um
pensador
do
tipo
renascentista,
pois
queria
entender
118
47
Manuais introdutrios
122
48
124
125
Ibidem.
Nicholas Georgescu-Roegen, The Entropy Law and the Economic Process, cit., p. 218.
49
3 Pessimismo da razo
A economia neoclssica analisava o crescimento econmico em capital, mo de
obra e progresso tcnico. Mas hoje creio que seria mais esclarecedor conceber os
principais propulsores da economia como energia e ideias.
(Martin Wolf, Uso da energia requer controle)
Escassez e crescimento
transformao
(produo inevitvel de
resduos) como
126
O relatrio foi resultado do trabalho de investigao realizado por uma equipe do Instituto de
Tecnologia de Massachusetts (MIT) a pedido do Clube de Roma (organizao no
governamental, fundada em 1968, que rene economistas, industriais, banqueiros, chefes de
estado, lderes polticos e cientistas de vrios pases para analisar a situao mundial e
apresentar previses e solues para o futuro). (Donella H. Meadows et al. The Limits to
Growth, Nova York: Universe Books, 1972).
127
Vincent Kerry Smith & John V. Krutilla, The Economics of Natural Resource Scarcity: an
Interpretative Introduction, em Vincent Kerry Smith, Scarcity and Growth Reconsidered
(Baltimore: John Hopkins University Press, 1979), pp. 1-35.
50
pela
deciso
de
explorar
recurso
precisariam
estar
51
128
52
131
53
132
54
133
55
Industrial
foi
acompanhada
por
contnuos
melhoramentos
tecnolgicos, em que cada nova mquina a vapor era mais eficiente no uso de
energia do que as anteriores. Foi o que mostrou William Stanley Jevons, em
1865, antes de se tornar um dos pioneiros da economia neoclssica. Jevons
estava preocupado com o futuro dos estoques de carvo na Inglaterra e sua
relao com a economia daquele pas. No captulo On the Economy of Fuel,
do livro The Coal Question, Jevons tenta mostrar a importncia do carvo para
a economia inglesa, sobretudo que foi justamente a eficincia no uso do carvo
por meio de novas tecnologias que permitiu aumentar a escala de produo e
desenvolver a indstria inglesa.
A questo era saber se novas tecnologias no uso do carvo seriam capazes de
evitar o escasseamento da fonte. Jevons argumentou que aumentos de
eficincia no uso de um recurso natural, como o carvo, apenas resultavam em
aumento da demanda por aquele recurso, e no na reduo desta. Tal melhora
134
56
Dissipao da matria
137
William Stanley Jevons, The Coal Question: an Inquiry Concerning the Progress of the
Nation, and the Probable Exhaustion of Our Coal-Mines (Londres: Macmillan, 1866), p. 152,
traduo livre.
138
Para discusso detalhada sobre as relaes entre eficincia, consumo e conservao de
energia, ver trabalho de Nilton Bispo Amado. (Energia e desenvolvimento capitalista: o debate
em torno das polticas de eficientizao, dissertao de mestrado (So Paulo: Programa
Interunidades de Ps-graduao em Energia USP, 2005).
139
Nicholas Georgescu-Roegen, Energy Analysis and Economic Valuation, em Southern
Economic Journal, 45 (4), 1979.
140
Ibid.
141
William F. Cottrell, Energy and Society (Nova York: McGraw-Hill, 1955); Howard T. Odum,
Environment, Power and Society (Nova York: John Wiley & Sons, 1971); Malcolm Slesser,
Energy in the Economy (Nova York: St. Martins Press, 1978); Robert Constanza, Embodied
Energy and Economic Valuation, em Science, 210 (4475), 12-12-1980, pp.1219-1224.
57
mas
dissipam
materiais.
Qualquer
princpio
de
avaliao
142
58
Ibidem.
Kenneth E. Boulding, The Economics of the Coming Spaceship Earth, em Henry Jarett
(org.), Environmental Quality in a Growing Economy (Baltimore: Resources for the Future/Johns
Hopkins University Press, 1966).
146
Nicholas Georgescu-Roegen, Energy Analysis and Economic Valuation, cit.
145
59
148
147
60
materiais
de
qualidade
tambm
se
dissipam
se
tornam
150
61
62
156
Nicholas Georgescu-Roegen, The Entropy Law and the Economic Process (Cambridge:
Harvard University Press, 1971); Silvana de Gleria, Nicholas Georgescu-Roegens Approach to
Economic Value: a Theory Based on Nature with Man at its Core, em Kozo Mayumi & John M.
Gowdy, Bioeconomics and Sustainability: Essays in Honor of Nicholas Georgescu-Roegen
(Cheltenham: Edward Elgar, 1999).
157
Robert Constanza, Embodied Energy, Energy Analysis, and Economics, em Herman E.
Daly & Alvaro F. Umaa, Energy, Economics and the Environment: Conflicting Views of an
Essential Interrelationship (Boulder: Westview Press, 1981), pp. 119-145.
63
Condio estacionria
158
Nicholas Georgescu-Roegen, The Entropy Law and the Economic Process in Retrospect,
em Eastern Economic Journal, 12 (1), 1986, p. 10, traduo do autor deste livro.
159
Nicholas Georgescu-Roegen, Energy Analysis and Economic Valuation, cit.
160
Exercer o pessimismo da razo com o otimismo da vontade, mxima de Romain Rolland,
Nobel de literatura em 1915, adotada por Antonio Gramsci. (Antonio Gramsci, Il pessimismo
dellintelligenza e lottimismo della volont, em Giuseppe Fiori, Vita di Antonio Gramsci (Bari:
Laterza, 1966), p. 323.)
161
Referncia ao personagem de Voltaire, dr. Pangloss, para quem tudo ia bem.
64
65
O novo Prometeu
Durante
163
Clive Ponting, A Green History of the World (Londres: Penguin Books, 1991).
66
67
Nicholas Georgescu-Roegen, Technology Assessment: the Case of the Direct Use of Solar
Energy, em Atlantic Economic Journal, 6 (4), dezembro de 1978, pp. 15-21; Nicholas
Georgescu-Roegen, Energy Analysis and Economic Valuation, cit.
169
Nicholas Georgescu-Roegen, Technology Assessment, cit.; Energy Analysis and
Economic Valuation, cit.
68
170
Cutler J. Cleveland, Energy Quality, Net Energy, and the Coming Energy Transition, em
Jon D. Erickson & John M. Gowdy (orgs.), Frontiers in Ecological Economic: Theory and
Application (Cheltenham: Edward Elgar, 2007).
69
tambm
representa
uma questo
importante
para
essa
InterAcademy Council, Lighting the Way: Toward a Sustainable Energy Future, report,
Royal Netherlands Academy of Arts and Sciences, Amsterd, outubro de 2007, disponvel em
http://royalsociety.org/downloaddoc.asp?id=4695.
172
Isaas de Carvalho Macedo, A energia da cana-de-acar: doze estudos sobre a
agroindstria da cana-de-acar no Brasil e sua sustentabilidade (So Paulo: nica, 2005);
Jos Goldemberg et al., Ethanol Learning Curve: the Brazilian Experience, em Biomass and
Bioenergy, 26 (3), 2003, pp. 301-304.
70
de
173
Cutler J. Cleveland, Energy Quality, Net Energy, and the Coming Energy Transition, cit.
71
4 Correntes atuais
<epi>Se sua teoria estiver contra a segunda lei da termodinmica, no posso lhe dar
nenhuma esperana; no h nada para ela a no ser colapsar na mais profunda
humilhao.
(Arthur Eddington, The Nature of the Physical World)
Economia ambiental
72
a sociedade, Arthur Cecil Pigou174, considerado fundador da economia do bemestar, diferenciou os custos ou benefcios privados dos sociais.
Exemplos de atividades com um custo social diferente do custo do agente
privado ocorrem em casos de bens que no so de uso exclusivo, mas
apresentam rivalidade no consumo, chamados tambm de recursos comuns.
So bens que as pessoas no podem ser impedidas de usar, mas sua
utilizao pode causar prejuzos
no No-rivalidade
consumo
no
consumo
No
Recursos
exclusivos
comuns
174
Arthur Cecil Pigou, The Economics of Welfare, Macmillan, 1st edn., 1920.
73
teoria prope que os custos sociais sejam internalizados nos clculos dos
agentes geradores, por exemplo, atravs de taxao.175
A economia dos recursos naturais se funda com um artigo de Harold
Hotelling.176 A teoria foi construda para tratar dos aspectos da extrao e da
exausto dos recursos naturais ao longo do tempo. Parte do entendimento de
que a utilizao dos recursos naturais um problema de alocao
intertemporal, j que um estoque de recursos naturais pode ser extrado hoje
ou no futuro. A anlise, portanto, se centra na determinao da depleo tima
de um recurso natural que existe em quantidade limitada e fixa. Depleo tima
aquela que maximiza o valor presente do benefcio da extrao do recurso.
Todavia, as condies do timo econmico no garantem de forma alguma a
estabilidade ecolgica. Pelo contrrio, contribuem para perturb-la. Mauricio de
Carvalho Amazonas aponta os motivos pelos quais os atributos dos problemas
ambientais no podem ser apreendidos pelas preferncias individuais
reveladas no consumo:
neoclssica
passou
adotar
critrios
adicionais
que
175
74
suplantar
escasseamento
dos
combustveis
fsseis
75
David W. Pearce & R. Kerry Turner, Economics of Natural Resources and the Environment
(Nova York: Harvester Wheatsheaf, 1990).
182
Mauricio de Carvalho Amazonas, Desenvolvimento sustentvel e teoria econmica, cit., p.
141.
183
Philip A. Lawn, Frontier issues in Ecological Economics (Cheltenham: Edward Elgar, 2007),
p. 57.
76
certo nvel de riqueza aferida pela renda per capita. Gene M. Grossman e Alan
B. Krueger184 lanaram, em 1995, tal conjectura ao examinarem a relao entre
o comportamento da renda per capita e quatro tipos de indicadores de
deteriorao ambiental: poluio atmosfrica urbana, oxigenao de bacias
hidrogrficas e duas de suas contaminaes (fecal e metais pesados).
Segundo os autores, h uma forte tendncia de os nveis de poluio
aumentarem durante o perodo inicial de crescimento econmico, mas carem
gradativamente medida que os pases vo se tornando mais ricos. Em suma,
a ideia de que o crescimento inicial degrada o meio ambiente, porm a
continuidade do crescimento resolve os problemas ambientais.
Esse modelo, que ficou conhecido como curva de Kuznets ambiental 185 ou U
invertido, tem sofrido, no entanto, severas crticas 186, sobretudo aquelas que
apontam insuficincia metodolgica e a fraca previsibilidade de resultados, se
aplicado aos inmeros pases que ficaram de fora da pesquisa original, diga-se
mais de 97% do planeta. Alm disso, os problemas ambientais globais no
foram contemplados nesse modelo. A utilizao de recursos fsseis e as
emisses de gases de efeito estufa tendem a aumentar com o crescimento
econmico.
O raciocnio apenas em mbito monetrio mostra que mesmo a economia
ambiental neoclssica continua sendo crematstica (conceito aristotlico que
trata do estudo da formao dos preos nos mercados). Aristteles em sua
obra Poltica distinguiu esse estudo da economia, definindo-o como o estudo
do abastecimento material da casa, ou da cidade. Aristteles no usou a
palavra ecologia, mas, para ele, a economia estava relacionada ao estudo do
uso de energia e materiais nos ecossistemas onde vivem os seres humanos.
184
Gene M. Grossman & Alan B. Krueger, Economic Growth and the Environment, em
Quarterly Journal of Economics, 110 (2), 1995.
185
Simon Smith Kuznets, Wilbert E. Moore e Joseph J. Spengler lanaram a hiptese de que a
relao entre o PIB per capita e a desigualdade de renda tem formato de U invertido no
grfico. Haveria uma fase inicial em que a desigualdade de renda aumentaria junto com o
aumento do PIB per capita. A partir de certo patamar de PIB per capita, novos aumentos
diminuiriam a desigualdade de renda. a idia de que preciso crescer o bolo antes de
dividi-lo. (Simon Smith Kuznets, Wilbert E. Moore e Joseph J. Spengler, Economic growth:
Brazil, India, Japan, Durham: Duke University Press, 1955).
186
David I. Stern, Michael S. Common, and Edward. B. Barbier. Economic growth and
environmental degradation: the environmental Kuznets curve and sustainable development.
World Development, n. 24, 1996, pp. 1151-1160. Para um amplo levantamento das crticas
metodolgicas e tericas ao modelo veja David I. Stern, The Environmental Kuznets Curve.
Internet
Encyclopaedia
of
Ecological
Economics,
Junho
de
2003
http://www.ecoeco.org/pdf/stern.pdf
77
Economia ecolgica
78
190
79
Herman E. Daly, Entropy, Growth, and the Political Economy of Scarcity, em Vincent Kerry
Smith, Scarcity and Growth reconsidered (Baltimore: John Hopkins University Press, 1979), pp.
67-94.
195
Ezra J. Mishan, The Costs of Economic Growth (Londres: Staple Press, 1967).
80
196
Karl William Kapp, The Social Costs of Private Enterprise (Cambridge: Harvard University
Press, 1950).
197
Herman E. Daly & Kenneth N. Townsend (orgs), Valuing the Earth: Economics, Ecology,
Ethics (Boston: MIT Press, 1993), p. 378.
198
;James OConnor, Is sustainable capitalism possible?, em Martin OConnor (ed.), Political
Economy and the Politics of Ecology, (New York: Guilford Press, 1994), pp. 15275.
199
Mancur Olson, Introduction, em Mancur Olson and H. Landsberg (eds), The No-Growth
Society, (New York: W.W. Norton, 1973), pp. 113.
81
em que
200
82
banco
financie
projetos
de
desenvolvimento
ambientalmente
Abismo epistemolgico
Georgescu morreu em 1994 sem ter suas crticas aos modelos de Robert
Solow e Joseph E. Stiglitz respondidas. Por isso, ambos foram chamados a
respond-las na edio especial da Ecological Economics, em 1997,
principalmente com o esforo de Daly. O frum Georgescu-Roegen versus
Solow/Stiglitz reuniu diversos economistas, em que o tema central era a
questo da substitutibilidade entre recursos naturais e capital manufaturado.
Solow203 no encarou as questes levantadas por Daly, dando respostas
extremamente curtas e evitando o confronto, como se seu desejo fosse de que
a crtica de Georgescu nunca tivesse sido feita. Stiglitz204 respondeu dizendo
que, a mdio prazo, existe a possibilidade de substituir recursos naturais por
capital sim e que, para o economista, o longo prazo daqui a cinquenta anos.
203
83
84
205
85
forem maiores que os benefcios gerados pelo crescimento, este estar sendo
antieconmico.
A economia ecolgica leva em conta todos os custos (no apenas os
monetrios) do crescimento da produo material. inteiramente ctica sobre
a possibilidade de crescimento por tempo indeterminado, e mais ainda quanto
iluso de que o crescimento possa ser a soluo para os problemas
ecolgicos. Da o antema da economia convencional pela ecolgica.
Georgescu nunca usou a expresso economia ecolgica e no fazia nenhuma
militncia ambientalista, mas suas contribuies representam a linha
demarcatria entre o que pode ser considerado economia ecolgica e as
vertentes ambientais da economia convencional. H, contudo, economistas
ecolgicos que no consideram Georgescu um precursor e h quem considere
que suas contribuies podem ser absorvidas pela economia ambiental
neoclssica.
Robert Constanza, ex-presidente da ISEE e autor de alguns livros-texto de
economia ecolgica, escreveu artigo sobre a histria da economia ecolgica e
da ISEE.206 Curiosamente, no primeiro pargrafo ele atribui o interesse de
juntar economia com ecologia aos trabalhos de Boulding e Daly, mas sequer
cita Georgescu. Sabe-se que a principal influncia de Constanza foi Howard T.
Odum e a escola energtica. Georgescu, por sua vez, foi um crtico severo das
concluses tiradas por essa escola e demonstrou que uma prova matemtica
de Constanza era na verdade uma grande manobra (crtica j mencionada em
Pessimismo da razo, na seo Teoria do valor energtico).207
Por outro lado, Charles Perrings,208 economista australiano e tambm expresidente da ISEE, considera que a contribuio de Georgescu no se
restringe economia ecolgica e que poderia ser absorvida pela economia
ambiental neoclssica. Perrings vem se dedicando nos ltimos anos ao Beijer
Institute of Ecological Economics da Real Academia de Cincias da Sucia. O
Beijer uma instituio de pesquisa que congrega economistas e eclogos
para o estudo da interao entre sistemas sociais e institucionais e sistemas
ambientais.
206
Robert Constanza, The Early History of Ecological Economics and the International Society
for Ecological Economics (ISEE), em International Society for Ecological Economics: Internet
Encyclopaedia
of
Ecological
Economics,
abril
de
2003,
disponvel
em
https://www.ecoeco.org/pdf/costanza.pdf.
207
Nicholas Georgescu-Roegen, The Entropy Law and the Economic Process in Retrospect,
em Eastern Economic Journal, 12 (1), 1986, pp. 3-25.
208
Charles Perrings, Economy and Environment: a Theoretical Essay on the Interdependence
of Economic and Environmental Systems (Cambridge: Cambridge University Press, 1987).
86
Convidado
se
manifestar
no
frum
Georgescu-Roegen
versus
87
214
88
Evoluo e complexidade
216
Kant & Albert R. Berry (orgs.), Economics, Sustainability, and Natural Resources: Economics of
Sustainable Forest Management, vol. 1 (Berlim: Springer, 2005), pp. 67-90.
216
Geoffrey M. Hodgson, Evolution and Institutions: on Evolutionary Economics and the
Evolution of Economics (Cheltenham: Edward Elgar, 1999), p. 7, traduo livre.
89
Ulrich Witt, Evolutionary Economics, em Steven N. Durlauf & Lawrence E. Blume (orgs.),
The New Palgrave Dictionary of Economics (2 ed. Nova York: Palgrave, 2008).
218
Robert Delorme & Geoffrey M. Hodgson, Complexity and the Economy: an Interview with
W. Brian Arthur, em John Finch & Magali Orillard, Complexity and the Economy: Implications
for Economic Policy (Cheltenham: Edward Elgar, 2005).
219
John Finch & Magali Orillard, Complexity and the Economy: Implications for Economic Policy
(Cheltenham: Edward Elgar, 2005).
90
Geoffrey M. Hodgson & Thorbjrn Knudsen, Why We Need a Generalized Darwinism: and
Why a Generalized Darwinism is Not Enough, em Journal of Economic Behavior and
Organization, 61 (1), setembro de 2006, pp. 1-19.
221
Eric D. Beinhocker, The Origin of Wealth: Evolution, Complexity, and the Radical Remaking
of Economics (Boston: Harvard Business School Press/Random House, 2006); Geoffrey M.
Hodgson, Economics in the Shadows of Darwin and Marx: Essays on Institutional and
Evolutionary Themes (Cheltenham: Edward Elgar, 2006); Geoffrey M. Hodgson & Thorbjrn
Knudsen, Why We Need a Generalized Darwinism, cit.
91
92
93
231
94
reducionistas
no-reducionistas.235
Georgescu
no
era
um
No
se
trata
apenas
de
analogias
emprestadas
da
cincia
moderna.236
Mostrou
que
complexidade
de
Ernst Mayr, Biologia, cincia nica: reflexes sobre a autonomia de uma disciplina cientfica
(So Paulo: Companhia das Letras, 2005), pp. 91-92.
236
Charles C. Mueller, Os economistas e as relaes entre o sistema econmico e o meio
ambiente, cit.
95
238
Eric Schneider & Dorion Sagan, Into the Cool: Energy Flow, Thermodynamics and Life
(Chicago: University of Chicago Press, 2005), p. 286.
238
Parecer de Eleutrio Prado registrado em e-mail de 30-9-2007. Prado tem estudado e
trabalhado na rea de economia e complexidade, junto com os professores Jorge E. C.
Soromenho, Dcio K. Kadota e Gilberto Lima, no ncleo de estudos chamado Complex,
sediado na Faculdade de Economia, Administrao e Contabilidade da USP.
239
Eric D. Beinhocker, The Origin of Wealth, cit.
240
William Brian Arthur, Complexity and the Economy, em Science, 284 (5411), abril de 1999,
pp. 107-109.
241
Eric D. Beinhocker, The Origin of Wealth, cit.
96
Coevoluo socioambiental
242
Ibid.
Charles C. Mueller, Os economistas e as relaes entre o sistema econmico e o meio
ambiente, cit., p. 463.
243
97
244
Louis Dumont, From Mandeville to Marx: the Genesis and Triumph of Economic Ideology
(Chicago: University of Chicago Press, 1977).
245
Stefano Zamagni & Ernesto Screpanti, A Post-Smithian Revolution?, em Stefano Zamagni
& Ernesto Screpanti (orgs.), An Outline of the History of Economic Thought (2 ed. Oxford:
Oxford Online Monographs, 2005), disponvel em: http://fds.oup.com/www.oup.co.uk/pdf/0-19927914-4.pdf.
246
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(Dordrecht: Kluwer Academic, 1994); Richard B. Norgaard, Development Betrayed, the End of
Progress and a Coevolutionary Revisioning of the Future (Londres/Nova York: Routledge,
1994).
98
de
agentes,
produtos,
instituies
tecnologias.
247
Peter Mulder & Jeroen C. J. M. van den Bergh, Evolutionary Economic Theories of
Sustainable Development, em Growth and Change, 32 (1), 2001, pp. 110-134; Christian
Rammel, Sigrid Stagl e Harald Wilfing, Managing Complex Adaptive Systems: a Coevolutionary Perspective on Natural Resource Management, em Ecological Economics, 63 (1),
2007, pp. 9-21.
248
John M. Gowdy, Sustainability and Collapse: What Can Economics Bring to the Debate?,
em Global Environmental Change, 15 (3), outubro de 2005, pp. 181-183.
99
Desenvolvimento e sustentabilidade
Situao em que a atividade pesqueira duma espcie ou numa regio deixa de ser
sustentvel. O mesmo vale para a sobrecaa.
100
250
no
so
consideradas
desenvolvidas
tampouco
em
101
humanas,
processo
este
que
prpria
definio
de
254
Jos Eli da Veiga, Meio ambiente e desenvolvimento (So Paulo: Editora Senac So Paulo,
2006).
255
Amartya K. Sen, Desenvolvimento como liberdade (So Paulo: Companhia das Letras,
1999).
256
Celso Furtado, Criatividade e dependncia na civilizao industrial (Rio de Janeiro: Paz e
Terra, 1978).
257
Celso Furtado, Introduo ao desenvolvimento: enfoque histrico-estrutural (Rio de Janeiro: Paz e
Terra, 2000).
102
103
econmica,
expresso
desenvolvimento
sustentvel
265
104
Jeroen C. J. M. van den Bergh, Abolishing GDP, em Tinbergen Institute Discussion Paper,
fevereiro de 2007, p. 3, traduo livre. Disponvel em http://www.tinbergen.nl.
268
Stephen Jay Gould, The Golden Rule: a Proper Scale for Our Environmental Crisis, em
Natural History, setembro de 1990.
269
Ibidem.
105
270
Dentre as diversas teorias que tentaram explicar a extino, essa a mais aceita
atualmente.
271
Stephen Jay Gould, The Golden Rule, cit., pp. 24-30.
272
Sonia Barros de Oliveira, Base cientfica para a compreenso do aquecimento global, em
Jos Eli da Veiga, Aquecimento global: frias contendas cientficas (So Paulo: Editora Senac
So Paulo, 2008).
106
273
InterAcademy Council, Lighting the Way: Toward a Sustainable Energy Future, report,
Royal Netherlands Academy of Arts and Sciences, Amsterd, outubro de 2007, disponvel em
http://royalsociety.org/downloaddoc.asp?id=4695.
107
temperatura
positivas.
acima
dessa
meta
podem
causar
retroalimentaes
274
Quando a temperatura cresce, o gelo prximo dos polos funde, e terra ou oceano
tomam seu lugar. Ambos tm muito menor capacidade de refletir a luz (albedo) que o
gelo, e, portanto absorvem mais radiao solar. Isso causa mais aquecimento, que por
sua vez aumenta o degelo, alimentando o processo.
275
274
108
2030, as emisses per capita da China sero apenas 40% das emisses dos
Estados Unidos (no cenrio de referncia). Por isso, a China ser um atorchave nas questes de sustentabilidade ambiental, nas prximas dcadas.277
Todavia, para que a temperatura do planeta no aumente mais que 2 C acima
do nvel pr-industrial at o final do sculo, seria necessrio reduzir, at 2050,
as emisses globais de CO2 para 15% do nvel de emisses do ano-base 2000.
Isso pode ser visto no 4 relatrio do IPCC,278 em que h uma tabela que
relaciona diferentes temperaturas com os cortes exigidos nas emisses.
Quando se observa tanto as tendncias de aumento na demanda global por
energia, e a participao dos combustveis fsseis nessa demanda, quanto a
necessidade de cortes drsticos nas emisses, ficam mais claros os reais
dilemas relacionados ao aquecimento global.
Atualmente so emitidos mais ou menos 7 bilhes de toneladas de carbono por
ano. Isso implica uma necessidade de reduo global de 60% nas emisses
at 2030. Nos pases ricos, tal reduo seria da ordem de 90%. Se a produo
de dixido de carbono de 2000 for dividida pela populao mundial do mesmo
ano, chega-se cota de 3,58 t de CO2 per capita. Se o corte exigido nas
emisses for levado a srio, a produo global per capita de CO2 deve ser
reduzida para 0,537 t at 2050. Os Estados Unidos produzem atualmente 23,6
t per capita de CO2. Se a populao mundial se mantivesse constante, os
Estados Unidos teriam que reduzir suas emisses em 97,7% para alcanarem
essa cota per capita mundial.279
Ser que a civilizao industrial, com todas as suas liberdades, habita uma
espcie de breve interldio histrico entre a restrio ecolgica e a catstrofe
ambiental? Isso depender da capacidade da humanidade de descarbonizar a
sua economia o quanto antes. Considerando o imperativo de restringir as
emisses de gases de efeito estufa, resta saber se as economias do mundo
podero continuar crescendo. Ser que as tecnologias para a descarbonizao
das matrizes energticas j esto disponveis, de modo que os pases no
precisem parar de crescer?
277
International Energy Agency, World Energy Outlook 2007 (Paris: OECD/IEA, 2007),
disponvel em http://www.iea.org/textbase/nppdf/free/2007/weo_2007.pdf.
278
Intergovernmental Panel on Climate Change, Summary for policymakers, em Bertz Metz et
al. (orgs.), Climate Change 2007: Mitigation of Climate Change, Contribuio do Working Group
III para o Fourth Assessment Report do IPCC (Cambridge: Cambridge University Press, 2007),
disponvel em http://www.ipcc.ch/pdf/assessment-report/ar4/syr/ar4_syr_spm.pdf.
279
George Monbiot, Heat, cit.
109
Jos Eli da Veiga & Petterson Molina Vale, Economia e poltica do aquecimento global, em
Jos Eli da Veiga, Aquecimento global: frias contendas cientficas (So Paulo: Editora Senac
So Paulo, 2008), pp. 59-82.
281
Organisation for Economic Co-Operation and Development, Energy: the Next Fifty Years
(Paris: OECD, 1999), disponvel em http://www.oecd.org/dataoecd/37/55/17738498.pdf.
282
Dieter M. Imboden & Carlo C. Jaeger, Towards a Sustainable Energy Future, em
Organisation for Economic Co-Operation and Development, Energy: the Next Fifty Years (Paris:
OECD/IEA, 1999), pp. 63-94.
283
International Energy Agency, World Energy Outlook 2007, cit.
110
284
111
287
112
291
290
Jos Eli da Veiga & Petterson Molina Vale, Economia e poltica do aquecimento global, cit.,
p. 106.
291
Ibidem.
113
1% ou 2%, e numa poca em que a renda per capita ter provavelmente dobrado.
Thomas C. Schelling, The Cost of Combating Global Warming, em Foreign Affairs, 76 (6),
1997, p. 9, traduo livre.
293
Herman E. Daly, When Smart People Make Dumb Mistakes, em Ecological Economics, 34
(1), 2000, pp. 1-3; John Bellamy Foster, Ecology Against Capitalism (Nova York: Monthly
Review Press, 2002).
114
um
agropecuria,
profundo
que
desconhecimento
possivelmente
tem
da
singularidade
origem
na
crena
da
de
produo
que
294
115
encontrar uma fonte de energia necessria vida que dispense o consumo das plantas
296
e dos animais.
296
Jos Eli da Veiga, O desenvolvimento agrcola: uma viso histrica (2 ed. So Paulo:
Edusp, 2007), p. 189.
297
Resilincia o potencial que uma configurao particular de um sistema tem para manter
sua estrutura e funo em caso de distrbios, e a habilidade do sistema se reorganizar quando
da mudana causada por distrbios. (Crawford S. Holling & Brian Walker, Resilience Defined,
em International Society for Ecological Economics: Internet Encyclopaedia of Ecological
Economics, agosto de 2003, disponvel em www.ecoeco.org/pdf/resilience.pdf).
298
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116
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relaes entre o sistema econmico e o meio ambiente (Braslia: Editora da UnB/Finatec,
2007); Charles C. Mueller, Sustainable Development, cit.
302
David W. Pearce, Economic Values and the Natural World (Cambridge: MIT Press, 1993).
117
118
119
prximas geraes tenham acesso a esse capital natural? Essa pode ser
considerada uma questo de escolha intertemporal, em que no se sabe quem
sero os beneficirios ou prejudicados do futuro, ou ao menos se existiro.
A escolha intertemporal uma troca voluntria que um indivduo faz consigo
mesmo. a escolha entre usufruir de algum valor agora e pagar depois, ou
postergar o desfrute de algum valor e colher um benefcio adicional depois.
Enquanto o juro o valor adicional que se paga ou recebe por aquilo que se
tomou ou cedeu hoje, o desconto o valor daquilo que se pagar ou receber
amanh, caso aquilo fosse tomado ou cedido hoje. Desconto o inverso do
juro, o valor futuro transportado para o presente.307
O instrumento utilizado pelos economistas para avaliar o valor futuro a
chamada taxa de desconto. Uma taxa de desconto positiva para a preferncia
intertemporal
dos
agentes
econmicos,
que
consistente
com
Eduardo Giannetti, O valor do amanh (So Paulo: Companhia das Letras, 2005).
Joo R. Sanson, Ethics, Politics, and Nonsatiation Consumption: a Synthesis, em
EconomiA, 8 (1), 2007, pp. 1-20.
309
Joseph E. Stiglitz, A Neoclassical Analysis of the Economics of Natural Resources, em
Vincent Kerry Smith, Scarcity and Growth Reconsidered (Baltimore: John Hopkins University
Press, 1979), pp. 36-66; Joseph E. Stiglitz, Georgescu versus Solow/Stiglitz, em Ecological
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310
Eduardo Giannetti, O valor do amanh, cit., p. 278.
308
120
311
121
314
Andr Gorz, Capitalisme, socialisme, cologie (Paris: Galile, 1991); Ademar Ribeiro
Romeiro, Desenvolvimento sustentvel e mudana institucional, cit.; Ademar Ribeiro Romeiro,
Economia ou economia poltica da sustentabilidade, cit.
315
Eduardo Giannetti, O valor do amanh, cit.
316
David Schwartzman, Solar Communism, em Science & Society, 60 (3), 1996; David
Schwartzman, The Limits to Entropy: the Continuing Misuse of Thermodynamics in
Environmental and Marxist Theory, em Science & Society, 72 (1), 2008.
122
317
123
124
fim,
Georgescu
no
era
nenhum
idelogo
antidesenvolvimento,
ser
aplicado
primeiro
economias
avanadas.
Programa
125
323
Ser que a humanidade dar ateno a qualquer programa que implique uma constrio de
seu conforto exossomtico? Talvez o destino dos homens seja ter uma vida curta, mas
vigorosa, uma existncia excitante e vertiginosa, em vez de montona e vegetativa. Deixemos
outras espcies as amebas, por exemplo que no tm ambies espirituais herdarem uma
terra ainda muito banhada de sol. (Ibid., traduo livre, p. 35.)
126
324
127
de
Economia
Ecolgica,
Peter
May.
expresso
128
332
Nicholas Georgescu-Roegen, Thermodynamics and We the Humans, em Juan MartnezAlier & Eberhard K. Seifert (orgs.), Entropy and Bioeconomics (Milo: Nagard, 1993), pp. 184201; Nicholas Georgescu-Roegen, Looking Back, em Juan Martnez-Alier & Eberhard K.
Seifert (orgs.), Entropy and Bioeconomics, cit., pp.11-21.
129
Concluso
Ao se justificar por no utilizar a expresso paradigma, Mark Blaug333 afirma que a
histria da cincia econmica no fornece exemplos de ideias cientficas internamente
consistentes, corroboradas, frutferas e poderosas que tenham sido rejeitadas numa
poca especfica. Ser isso verdadeiro? Se Georgescu realmente antecipou questes
que hoje preocupam a sociedade, no que diz respeito sustentabilidade ambiental do
desenvolvimento, por que suas ideias cientficas no foram levadas a srio?
O banimento de Georgescu parece ter sido um caso de ideias cientficas internamente
consistentes, frutferas e poderosas que foram rejeitadas numa poca especfica. Ele
ofereceu uma alternativa viso convencional do que e como funciona a economia.
Mostrou as restries na maneira como o processo econmico visto: como uma
mquina, em que as mudanas qualitativas no so levadas em conta nem por quem
se prope a estudar sua a dinmica. Ele mostrou que a economia um processo
evolucionrio desde suas caractersticas fsicas, que se desdobra no tempo e
irreversvel. Criticou a viso mecnica que se tinha e ainda tem da economia,
apresentando uma nova viso sobre seu funcionamento. Trata-se de um processo
aberto e unidirecional.
Georgescu sequer usou a expresso sistema, pois queria enfatizar que a economia
ocorre no tempo histrico. Tal processo requer entrada de energia e materiais e tem
uma sada inevitvel de resduos. Nenhuma outra escola de pensamento considerou a
economia como um sistema aberto nesse mesmo sentido material. Por isso, sua viso
constitui realmente um rompimento com o paradigma da economia, no prprio sentido
dado por Thomas S. Kuhn ao termo (ver Pensamento Econmico, seo O
paradigma). Apesar de todas as divergncias entre as diversas escolas de
pensamento econmico dos marxistas aos neoclssicos, dos keynesianos aos
shumpeterianos, passando pelos institucionalistas, etc. , todas elas compartilham
uma viso de sistema econmico isolado do ambiente natural.
No podia ser diferente, pois a prpria origem da economia como a cincia que estuda
o funcionamento de um sistema econmico, desde os fisiocratas, focou-se na
circulao de mercadorias. Assim, a viso do sistema econmico circular e fechado
orientou as mais diversas escolas e teorias, muitas vezes antagnicas entre si. Nesse
sentido, todas esto sob um mesmo guarda-chuva, o paradigma mecnico. Desde
que a economia se tornou uma cincia autnoma e economista, uma profisso, a
primeira revoluo cientfica, dentro da abordagem Kuhn, foi esta, sair do paradigma
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Anexo I
156
Eleutrio Prado
(e-mail recebido em 30.9.2007)
157
ele troca energia com o ambiente: recebe energia em formas nobres, ditas
livres, e a devolve sob formas degradadas. por isso que a lei da entropia tem
importncia fundamental na rea de meio ambiente. Mas a lei da entropia,
como se sabe, tambm abrange uma dimenso informacional. possvel
encarar o sistema econmico como uma mquina computacional que opera
evolutivamente cujo funcionamento origina a chamada auto-organizao. Sabese pouco sobre esta ltima questo. De qualquer modo, evidente que temos
a temas absolutamente relevantes no s para a economia como cincia, mas
tambm para a prpria sobrevivncia da humanidade. Georgescu acentuou a
importncia da lei da entropia para a questo populacional e para a questo da
poluio ainda que o tenha feito de um ponto de vista elitista europeu.
Charles Mueller
158
impressionante.
159
160
161
esse o emprego da lei da entropia que vem sendo dado por economistas
ecolgicos como Robert Ayres, entre muitos outros. Foi tambm o caminho
trilhado por Kenneth Boulding que, com Georgescu, foi um dos precursores da
disciplina de economia ecolgica. pena que Georgescu no tenha enfocado
dessa forma a lei da entropia. Em sua obra mxima, publicada em 1971, The
Entropy Law and the Economic Process, Georgescu nem mesmo faz referncia
a uma abordagem tratando o sistema econmico como estrutura dissipativa
estvel longe do equilbrio; no seu ndice remissivo de autores, no aparece
Prigogine. Mas, num texto de 1986 (The Entropy Law and the Economic
Process in Retrospect), Georgescu menciona Prigogine como suporte a seu
resgate da lei da entropia para a anlise econmica. E, no artigo, emprega a
linguagem da teoria de interao de sistemas.334
finitude
dos
recursos
naturais
disposio
da
humanidade
necessariamente a levar, mais cedo ou mais tarde, a ter que regredir (com
menos gente e menos consumo per capita). No seu trabalho de 1986,
encontra-se a seguinte frase que elucida o seu pensamento: como [...] para
todos efeitos a Terra um sistema fechado, alguns materiais vitais para a atual
tecnologia quente cedo ou tarde se tornaro extremamente escassos (na sua
forma atual), mesmo mais escassos que a energia fssil. Isso tambm expe a
inconsistncia lgica da promessa de salvao ecolgica de uma economia de
estado estacionrio to convincentemente propugnada por Herman Daly.
Em um desabafo exasperado chega a afirmar no artigo Energy and Economic
Myths: Talvez o destino do homem seja o de ter vida curta, mas fogosa, ao
invs de existncia longa, mas vegetativa e sem grandes eventos. Deixemos
outras espcies as amebas, por exemplo [...] herdar o globo terrestre ainda
abundantemente banhado pela luz solar. Essas citaes deixam ntido que,
para Georgescu, o declnio da humanidade inexorvel e que a velocidade
com que esse declnio se processar depender de seus padres de produo
e consumo.
334
Um parntese: a publicao desse artigo mostra o antema que Georgescu se tornou para o
mainstream neoclssico. Seria de esperar que o artigo fosse aceito para publicao em
journals de primeira linha de economia. No entanto, s conseguiu aceitao em journal muito
pouco conhecido do interior dos Estados Unidos.
162
processo
produtivo,
com
suas
ramificaes
para
avaliaes
da
163
Alguns anos depois, escrevi para Georgescu sobre um autor que ele menciona,
sem referncia bibliogrfica, na resenha sobre utilidade, publicada na
International Encyclopedia of the Social Sciences. Ele prontamente me
respondeu com uma carta encorajadora. S me interessei pelas partes do livro
[Entropy] referentes ao meio ambiente muito tempo depois, ao pesquisar para
164
165
Ibrahim Eris
(transcrio do relato gravado em 7-12-2007)
166
aceitado o convite para ir para Harvard mudou muita coisa. Elites da cincia se
localizam em certos lugares. Se estiver fora geograficamente daquele espao,
voc esquecido. MIT, Chicago, Stanford faziam a corrente da cincia
econmica.
Por que nunca recebeu o Nobel? Nobel premia uma obra completa. E
Georgescu sonhava com isso, tanto que ficou amargurado por no t-lo
recebido. No recebeu porque no fazia parte dos centros importantes, seu
pensamento estava fora da corrente e sua personalidade atrapalhou muito.
Afinal, voc votado pelos seus colegas. Ele era um aliengena em relao a
qualquer corrente que se olhe. Acho muito engraado os ambientalistas e os
ecologistas
considerarem
Georgescu
como
um
papa.
Provavelmente,
167
168
de
ser reconhecido.
identificao
com
o movimento
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