Choros 10 - Villa Lobos
Choros 10 - Villa Lobos
Choros 10 - Villa Lobos
1 () it should be remembered that a quartet is based on four individual voices. The fact
that we have to coordinate and find a proper balance doesnt mean that any one of us
should become faceless. On the contrary; the re-creation of a masterpiece needs the full,
vital participation of each of us.
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As consideraes de Neves sobre a orquestrao de Villa-Lobos alerta ao intrprete sobre os desafios da interpretao das partes de cada instrumento, conforme observaremos na anlise interpretativa que realizaremos
da parte de trompete no Choros n10.
Mas o que so os Choros? Villa-Lobos descreve: expresso popular
que define as tocatas tpicas de pequenos conjuntos de cantores rurais, solistas ou de instrumentos, executados, geralmente, ao ar livre. Foi o ttulo
encontrado para denominar uma nova forma de composio musical, em
que se acham sintetizadas vrias modalidades da msica indgena brasileira primitiva, civilizada ou popular, tendo como principais elementos, o
ritmo e qualquer melodia tpica popularizada, que aparece de quando em
quando, incidentalmente. Os processos harmnicos e contrapontsticos so
quase uma estilizao do prprio original.3
Conclui Nbrega:
(...) essas obras trazem outro ingrediente muito pouco especfico, porquanto geral e subjetivo, qual seja o de retratar psicologicamente aqueles tipos populares. Por essa via, ou a despeito dela, afirma-se a forte
personalidade, que se impe acima do exotismo amerndio e da grata
mensagem do popular-urbano (NOBREGA, 1974. p 10).
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Para sugerirmos interpretaes para a parte do trompete vamos analisar o udio do trecho representado pela Fig.1. O udio do trecho foi gravado5 com trs possibilidades interpretativas:
a) com os trompetes em dinmica forte - Fig. 2;
b) com os trompetes em dinmica fortissimo Fig. 3;
c) com os trompetes utilizando vibrato e dinmica
forte Fig. 4.
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Fig. 5 - Articulaes
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No trecho seguinte, com parte para trompete, localizado dez compassos depois da letra C6 de ensaio, encontraram novamente articulaes
e dinmicas diferentes dentro de um mesmo motivo. Nos dois primeiros
compassos da Figura 10, 3 trompa se encontra em piano com staccato
( . ) e trompetes em forte com acento ( > ). Observando a parte da 3 trompa
(tpa 3), o trompetista (ptns) tem a possibilidade de mudar a articulao de
seu instrumento para staccato ( . ) permanecendo em piano, pois o trecho
continua at a letra D de ensaio, para as trompas, com a mesma indicao
de dinmicas e articulao.
6 Segundo Villa-Lobos em seu Estudo Tcnico, Esttico e Psicolgico: (...) letra (C), Plus
anim, os flautins e clarinetes, em flterzung, iniciam um pitoresco ambiente de passarada que serve de pedal superior, ondulante, em bordaduras meldicas de segundas menores, combinadas em teras menores entres estes dois instrumentos para uma marcha harmnica de oito acordes bitonais que descrevem a exposio de um dos principais temas
por aumentao, de carter incaico.
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As diferenas de dinmicas entre as partes, muitas vezes consideradas como erro, revelam que Villa-Lobos era consciente das possibilidades
orquestrais dos instrumentos.
No terceiro compasso aps a letra I o trompete e clarineta apresentam
um mesmo motivo (Fig. 18). Como na Fig.17, o trompete utiliza surdina,
mas agora com a mesma dinmica da clarineta. Ao escrever soli para as clarinetas podemos acreditar que o compositor deseja que o instrumento aparea mais e que o trompete tenha mais liberdade para tocar o rinforzando.
Nos cinco compassos antes do nmero 4 o trompete entra em fortissississimo com um motivo anteriormente utilizado por Villa-Lobos que,
segundo Neves consiste num jogo imitativo a partir de uma curta melodia, (...) numa lenta marcha para o agudo e com considervel aumento de
intensidade (NEVES, 1977, p. 69). nesse contexto que o trompete inicia sua parte, com a funo de incremento de intensidade ao dilogo entre
madeiras e metais. Do ponto de vista da dinmica o fortissississimo deve
ser definido dentro do carter apresentado. As articulaes escritas para
os trompetes coincidem com as articulaes escritas para os outros metais
nesse trecho (Fig. 21).
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> ) com clareza para que o trompete se faa presente em termos de timbre
na massa sonora resultante.
Fig. 24 - Soli
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trompetista no deve alongar o tamanho da nota possibilitando mais clareza na letra do coro (Fig. 25), especialmente os segundos tenores que cantam
o mesmo ritmo dos trompetes.
O motivo apresentado na Fig. 26 (quatro compassos depois do nmero 7 de ensaio) a repetio (ver Fig. 18) do motivo apresentado na
primeira parte da obra, porm, agora com dinmica em fortissimo e em um
bloco com metais e madeiras.
O trompetista no necessita tocar o rinforzando com demasiada intensidade, pois o bloco j est com intensidade suficiente para se destacar
na orquestrao. Para que o trompete seja ouvido dentro do contexto necessrio que as notas sejam encurtadas, ou seja, os stacatti muito curtos.
O mesmo vale para o motivo encontrado cinco compassos antes do nmero de ensaio 8 (Fig. 27), que deve ser pensado como um glissando, uma
imitao de trompas e trombones.
Fig. 26 - O rinforzando
Fig. 27 - Glissando
O motivo apresentado na Fig.28 possui carter rtmico e apresentado simultaneamente pela mo direita do piano. O mais importante para
o trompetista na concepo deste trecho observar as pausas de semicolcheias entre as notas reforando a ideia de tocar notas muito curtas. Estas
pausas mais que valores de silncio so avisos para distanciar uma nota
tocada da outra, ou seja, encurt-las.
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O gosto da improvisao aparece nos acentos no segundo compasso e na apogiatura no terceiro compasso. O arpejo no incio deste ltimo
compasso um glissando do D3 at o Si4, passando por vrias sncopes e
descendo, em outro glissando, at o D3 novamente. As tercinas devem ser
tocadas com notas duplas e no com triplas, o que torna invivel a execuo
da obra.
A Fig. 30 mostra os trompetes em partes distintas. Enquanto o primeiro trompete, nos dois primeiros compassos toca notas longas, o secundo
dobra a melodia do coro. O primeiro trompete ao iniciar sua nota, L sustenido, deve diminuir para que a melodia do segundo trompete se destaque,
deciso corroborada por Pablo Casals, transcrito por Blum: (...) vai sair da
nota permanecendo em seu valor, no somente por causa de sua intensidade especial, mas principalmente por causa do que se segue (BLUM, 1977,
p.51) No final deste compasso, o primeiro trompetista realiza um crescendo voltando dinmica forte at o final de sua parte.
O final da obra um tutti orquestral em fortissississimo com um pequeno crescendo e grande intensidade sonora (Fig. 31). Ao intrprete, recomendamos se situar dentro da dinmica estabelecida pelo compositor.
Fig. 31 - Final
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REFERNCIAS
AQUINO, Felipe. Prticas Interpretativas e a Pesquisa em Msica: dilemas e propostas. OPUS - Revista Eletrnica da ANPPOM, Dez. 2003.
BLUM, David. Casals and the Art of Interpretation. Los Angeles, Califrnia, EUA:
University of California Press, 1977.
______. The Art of Quartet Playing. New York, USA: Alfred A. Knopf, Inc., 1986.
DUARTE, Roberto. Reviso das obras orquestrais de Heitor Villa-Lobos Vol.I. Niteri: Eduff., 1989.
MAGALHES, Tairone. et al. Segmentao automtica de sinais musicais monofnicos para anlise. Anais do XVIII Congresso da ANPPOM, Salvador: ANPPOM, 2008.
MUSEU VILLA-LOBOS. Villa-Lobos, sua obra (3 rev. atual. e aum. ed.). Rio de
Janeiro, RJ, Brasil: MinC - SPHAN/Pr-Memria/Museu Villa-Lobos, 1989.
NEVES, Jos Maria. Villa-Lobos, o Choro e os Choros (1 ed.). So Paulo, SP, Brasil:
Ricordi, 1977.
NOBREGA, Adhemar. Os Choros de Villa-Lobos (2 ed.). Rio de Janeiro, RJ, Brasil:
MinC/Fundao Nacional Pr-Memria/Museu Villa-Lobos, 1974.
SCHLUETER, Charles. (no publicado). Zen and the Art of the Trumpet.