Biofisica
Biofisica
Biofisica
encias e Tecnologia
Universidade do Algarve
Biofsica
Um dos mandamentos da F
sica, e da Ci^
encia em geral,
e desconfiar das
afirma
c~
oes das sumidades: n~
ao esquecer que os cientistas s~
ao primatas e,
portanto, muito propensos a hierarquias de dom
nio.
Bom trabalho!
Gambelas, Novembro de 2005
Jose Figueiredo
E-mail: [email protected]
Preparado em LATEX 2 .
Tendo em conta o procedimento do ano lectivo 2004/2005, esperava-se que a componente de Biofsica fosse
leccionada ap
os a componente de Bioqumica. Em consequencia, as estas notas s
ao preparadas `
a medida que as
materias s
ao leccionadas, n
ao permitindo uma revis
ao crtica cuidada. Mesmo assim optou-se por fornecer este
material aos alunos.
2
Programa do m
odulo de Biofsica
Unidade Curricular de Biofsica e Bioqumica
Ano Lectivo 2005/2006
Curso de Licenciatura em Enfermagem
Escola Superior de Sa
ude de Faro
Escolaridade: 10 horas (teoricas/te
orico-pr
aticas)
Objectivos pedag
ogicos
Introduzir os conceitos e desenvolver atitudes e competencias associadas `a disciplina de Fsica,
que facilitam a compreensao e a analise dos fenomenos biofsicos caractersticos do corpo humano. Pretende-se tambem contribuir para o desenvolvimento do esprito crtico e analtico dos
estudantes.
Conte
udos program
aticos:
1. Conceitos e atitude fundamentais em Fsica
O metodo cientfico e a linguagem da Fsica. Unidades fundamentais de medida. Sistema Internacional de Unidades (SI). Regras para a escrita das unidades e das grandezas. Aproximac
oes
e estimativas.
2. Mec
anica
Deslocamento, espaco percorrido, velocidade, acelerac
ao. Efeitos da acelerac
ao no corpo humano. Tipos de movimento, cinematica da rotac
ao. Massa, momento linear, forca, leis de Newton, leis de forca, metodologia para aplicac
ao das leis de Newton. Centro de massa, centro de
gravidade e forca peso de um corpo. Momento angular e momento de uma forca. Equilbrio
estatico do corpo rgido. Trabalho, energia potencial, energia cinetica, potencia, energias naomecanicas. Leis de conservacao da energia, do momento linear e do momento angular. Estrutura
do corpo humano: esqueleto, m
usculos, articulac
oes, e fracturas. Aplicac
oes: velocidade em corridas, quebra de ossos nos saltos, tracc
ao de membros do corpo humano, distribuic
ao de massa
do corpo humano, forcas nos m
usculos e nos ossos, forcas na articulac
oes, forcas na coluna,
balanco energetico nos saltos.
3. Fluidos
Tipos de fluidos, densidade e pressao. Lei fundamental da hidrostatica, pressao atmosferica,
princpio de Pascal e prensa hidraulica. Forca de impulsao e princpio de Arquimedes. Movii
Metodologia
Pedag
ogica
O metodo de ensino baseias-se na apresentac
ao de conceitos, na explicac
ao e na demonstrac
ao
de fenomenos, procurando induzir nos alunos pensamento e raciocnio activos.
Avaliativa
A avaliacao do modulo de Biofsica sera efectuada atraves de uma frequencia: - 22 de
Novembro de 2006, das 16h `as 18 horas.
Para que o aluno esteja aprovado na Unidade Curricular dever
a ter classificac
ao igual ou
superior a 9,5 valores em cada um dos modulos.
A classificacao final da unidade curricular sera a media ponderada da classificac
ao obtida no
modulo da Biofsica com a obtida no modulo da Bioqumica, aplicando-se a seguinte formula:
Classificacao Final =
1 Biofsica + 2 Bioqumica
3
ii
Conte
udo
1 Conceitos e atitudes fundamentais em Fsica
1.1
1.2
1.3
1.3.1
1.3.2
Aproximacoes e estimativas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
1.4.1
1.4
1.5
Exerccios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Bibliografia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
2 Mec
anica
2.1
2.2
2.3
11
Nocoes de cinematica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
2.1.1
2.1.2
2.1.3
Tipos de movimento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
2.1.4
Cinematica da rotac
ao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
2.1.5
Exerccios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
Nocoes de dinamica
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
2.2.1
2.2.2
2.2.3
Leis de forca . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
2.2.4
2.2.5
Dinamica da rotac
ao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
2.2.6
2.2.7
Exerccios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
Nocoes de estatica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
2.3.1
Estatica da partcula . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
iii
2.4
2.5
2.6
2.7
2.3.2
2.3.3
Exerccios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
Trabalho e energia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
2.4.1
Trabalho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
2.4.2
2.4.3
Energia potencial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
2.4.4
2.4.5
2.4.6
Exerccios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
2.5.2
2.5.3
2.5.4
Exerccios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
2.6.2
Estar de pe e caminhar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
2.6.3
2.6.4
2.6.5
Forcas na coluna . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58
2.6.6
2.6.7
2.6.8
2.6.9
Bibliografia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62
3 Mec
anica dos fluidos
3.1
63
Hidrostatica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
3.1.1
Fluido . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
3.1.2
3.1.3
Equilbrio hidrostatico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
3.1.4
Pressao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
3.1.5
3.1.6
3.2
3.3
3.4
3.1.7
3.1.8
3.1.9
Exerccios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74
Hidrodinamica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74
3.2.1
3.2.2
Equacao da continuidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76
3.2.3
3.2.4
Viscosidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80
3.2.5
Regimes de escoamento e o n
umero de Reynolds . . . . . . . . . . . . . . 81
3.2.6
3.2.7
Aplicacao: vasodilatac
ao dos vasos sanguneos . . . . . . . . . . . . . . . . 82
3.2.8
Exerccios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83
Sistema vascular . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85
3.3.2
O sangue . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86
3.3.3
O coracao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87
3.3.4
Circulacao do sangue . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 88
3.3.5
Pressao arterial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89
3.3.6
3.3.7
Bibliografia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 94
4 Campo el
ectrico e corrente el
ectrica
95
4.1
Interaccao fundamentais
4.2
4.3
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 95
4.2.1
Carga electrica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 97
4.2.2
4.2.3
4.2.4
4.2.5
4.2.6
4.2.7
4.2.8
Exerccios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 108
4.3.1
4.3.2
4.3.3
4.4
4.5
Exerccios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 112
4.6
Bibliografia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 113
vi
Captulo 1
1.1
Fsica: a ci
encia da descoberta
A Fsica tem vindo a mudar o nosso conhecimento sobre o modo como a Natureza se comporta
(e claro esta sobre o modo como o corpo humano funciona). Um Fsico procura descrever estes
1
comportamentos com a ajuda de modelos simples. Varias ferramentas sao essenciais para esta
tarefa: uma mente curiosa, alguma criatividade, a Matematica, e metodos e aparelhos de medida. As duas u
ltimas permitem que a descric
ao e interpretac
ao dos fenomenos seja objectiva
e exacta, e nelas se baseiam as teorias sobre os diferentes fenomenos fsicos. A observac
ao e a
experimentacao sao as chaves mestras do nosso conhecimento sobre o mundo fsico, combinados com a logica e a razao (a formulac
ao de ideias em Fsica envolve certas quantidades de
pensamento puro e imaginaca
o).
Porem, o teste de qualquer teoria e sempre a Natureza e/ou a experimentac
ao. Eis um de
muitos exemplos: as leis do movimento e a lei da gravitac
ao universal, associadas ao nome de
Isaac Newton, sao consideradas entre as mais altas realizac
oes da especie humana. Trezentos
anos mais tarde continuamos a usar a dinamica newtoniana para prever os eclipses, e para
enviar, a milhares de quilometros de distancia da Terra, uma nave espacial a um ponto pre
determinado na orbita de um corpo celeste (so com pequenas correcc
oes devidas a Einstein).
A precisao e extraordinaria: sem sombra de d
uvida, Newton sabia o que estava a fazer quando
propos as leis do movimento e a lei da gravitac
ao universal.
A Fsica e mais do que um corpo de conhecimentos, e uma atitude, uma forma de pensar. Em cada geracao ha sempre um grupo de cientistas que nao se contentam em deixar as
coisas como estao. Com toda a persistencia, procuram fendas na armadura dos conhecimentos vigentes. Foi assim com a Mecanica Newtoniana e, actualmente, passa-se o mesmo com a
Teoria da Relatividade. Um dos mandamentos da Fsica, e da Ciencia em geral, e desconfiar das afirmacoes das sumidades: nao esquecer que os cientistas sao primatas e, portanto,
muito propensos a hierarquias de domnio. A Fsica da, por vezes, as mais elevadas recompensas
`aqueles que convictamente refutam convicc
oes estabelecidas.
O bom cientista nao insiste na validade da sua teoria mas sim na sua utilidade. Nenhuma
teoria, por muito bem concebida ou considerada que esteja, podera suportar a existencia de
um so facto importante que seja contradit
orio. O que interessa nao e se e verdadeira?, mas
sim funciona?. O progresso surge quando se mantem a vontade de desacreditar ou modificar
essa teoria ao primeiro sinal de falhanco. Os factos nunca estao enganados! Uma das causas de
muitos equvocos e a diferenca existente entre a impossibilidade teorica e a impossibilidade dos
factos. Considere-se, a ttulo de exemplo, a seguinte situac
ao caricata: Um advogado procura
tranquilizar o seu cliente dizendo nao se preocupe, eles nao o podem prender por isso!, respondendo o cliente estou a telefonar-lhe da cadeia. Sao as teorias e nao os factos que caiem
por terra.
Por mais importante que seja uma teoria ela so corresponde a uma descric
ao completa
2
1.2
O m
etodo cientfico e a linguagem da Fsica
A mera acumulacao de factos nao constitui conhecimento bastante para formar uma boa
ciencia. Para que do conhecimento destes factos resulte uma maior compreensao do Universo
e necessario entender/descobrir as relac
oes entre eles. Para tal utiliza-se o metodo cientfico: a
interligacao da observacao, da razao e da experiencia.
O progresso em ciencia so ocorre como resultado da relac
ao de simbiose que existe entre a
informacao observacional e a formulac
ao de ideias/modelos que correlacionam os factos e nos
permitem apreciar as inter-relacoes entre factos. Devemos estar sempre alerta para novas ideias
e estar preparados para tirar vantagem de oportunidades inesperadas.
Na verdade, o metodo cientfico nao e um metodo de facto, mas antes uma atitude ou
filosofia/postura que se baseia na forma como inter-agimos com o mundo real e tentamos ganhar conhecimento sobre a forma como a Natureza funciona. Johannes Kepler (1571-1630) seguiu
o metodo cientfico quando analisou um n
umero incrvel de observac
ao sobre as posicoes dos
planetas no ceu.2 A partir desses dados ele foi capaz de deduzir a correcta descric
ao do movimento planetario: os planetas movem-se em orbitas elpticas em torno do Sol. De facto, um
dos passos mais significantes no sentido do nosso conhecimento do comportamento da Natureza
foi a conclusao de que e a Terra que se move em torno do Sol e nao o contr
ario. A simples
afirmacao de que a Terra se move em torno do Sol representa uma nova dimensao em termos
2
do pensamento fsico.
O procedimento de Kepler - amassar os dados e tentar varias hipoteses - ate que se encontre uma que satisfaca toda a informac
ao recolhida - nao e o u
nico meio de utilizar o metodo
cientfico. Por vezes, os cientistas formulam uma descric
ao fsico-matem
atica geral de um conjunto de possveis eventos e/ou resultados. Isto e, ha casos em que primeiro se propoe uma
teoria/modelo para descrever um comportamento geral e so depois se faz a sua comparac
ao
com a realidade. Os trabalhos de Einstein, sobre a Relatividade, e de Schrodinger, sobre a
Fsica Quantica, sao dois exemplos deste procedimento.
1.3
A dimens
ao de uma grandeza corresponde `
a relaca
o de uma unidade com as unidades fundamentais.
1.3.1
trajecto percorrido pela luz no vazio, durante um intervalo de 1/(299 792 458) do segundo (17a
CGPM de 1983 - Resolucao n.o 1).
- Grandeza tempo: a unidade SI e o segundo, smbolo s. O segundo e a durac
ao de 9 192 631
770 perodos da radiacao correspondente `a transic
ao entre os dois nveis hiperfinos do estado
fundamental do atomo de cesio 133 (17a CGPM de 1983 - Resoluc
ao n.o 1).
- Grandeza massa: a unidade SI e o quilograma, smbolo kg.5 O quilograma e igual `a massa
do prototipo internacional do quilograma (3a CGPM de 1901 - pag. 70 das actas).6
- Grandeza intensidade de corrente electrica: a unidade SI e o ampere, smbolo A. O ampere e
a intensidade de uma corrente constante que, mantida em dois condutores paralelos, rectilneos,
de comprimento infinito, de seccao circular desprezavel e colocados `a distancia de 1 metro um
do outro no vazio, produziria entre estes condutores uma forca igual a 2107 newton por
metro de comprimento (9a CGPM de 1948 - Resolucao n.o 2).
- Grandeza temperatura termodinamica: a unidade SI e o kelvin, smbolo K.7 O kelvin,
unidade de temperatura termodinamica, e a fracc
ao 1/273,16 da temperatura termodinamica
do ponto triplo da agua (13a CGPM de 1967 - Resoluc
ao n.o 3).
- Grandeza quantidade de materia: a unidade SI e a mole, smbolo mol. A mole e a quantidade de materia de um sistema contendo tantas entidades elementares quantos os atomos que
existem em 0,012 quilograma de carbono 12. Quando se utiliza a mole, as entidades elementares
devem ser especificadas e podem ser atomos, moleculas, ioes, electroes, outras partculas ou
agrupamentos especificados de tais partculas (14a CGPM de 1971 - Resoluc
ao n.o 3).
- Grandeza intensidade luminosa: a unidade SI e a candela, smbolo cd. A candela e a intensidade luminosa, numa dada direccao, de uma fonte que emite uma radiac
ao monocromatica de
frequencia 540 terahertz e cuja intensidade energetica nessa direcc
ao e 1/683 watt por esterradiano (16a CGPM de 1979 - Resolucao n.o 3).
Unidades Derivadas
As unidades derivadas sao unidades que podem ser expressas a partir das unidades de base
atraves dos smbolos matematicos de multiplicac
ao e de divisao. A algumas unidades derivadas
foram atribudos nomes e smbolos especiais que podem ser, eles proprios, utilizados com os
5
Excepca
o: entre as unidades de base do SI, a unidade de massa e a u
nica cujo nome, por raz
oes hist
oricas,
contem um prefixo. Os nomes e os smbolos dos m
ultiplos e subm
ultiplos decimais da unidade de massa s
ao
formados pela junc
ao dos prefixos `
a palavra grama e os smbolos correspondentes ao smbolo g.
6
A relaca
o entre a unidade de massa at
omica (smbolo u) e o quilograma e conhecida com a precis
ao de
apenas cerca de uma parte em 10 000. Esta precis
ao n
ao e suficiente para se poder definir a unidade de massa em
termos at
omicos, como acontece para as unidades de tempo e de comprimento. Ser
a necess
ario que os metodos
de medida sejam melhoradas.
7
N
ao confundir o smbolo de kelvin com o smbolo k do m
ultiplo quilo.
smbolos de outras unidades de base ou derivadas para exprimir unidades de outras grandezas.
O grupo de unidades derivadas do SI com nomes e smbolos especiais compreende: o angulo
plano, radiano, smbolo rad (mm1 =1); o angulo solido, esterradiano, smbolo sr (m2 m2 =1);
a temperatura Celsius, grau Celsius, smbolo o C (K).
Unidades n
ao SI em uso com o Sistema Internacional
O International Committee for Weights and Measures (CIPM) de 1969 e, mais tarde, o de
1996 reconheceu que os utilizadores do SI terao necessidade de empregar conjuntamente certas
unidades que, embora fora do sistema, estao em uso e tem um papel importante: minuto, min,
1 min=60 s; hora, h, 1 h=60 min=3 600 s; dia, d, 1 d=24 h=86 400 s; grau, , 1 =(/180) rad;
minuto, 0 , 10 =(1/60) =(/10 800) rad; segundo, 00 , 100 =(1/60)0 =(/648 800) rad; litro, l ou L, 1
l=1 dm3 =103 m3 ; tonelada, t, 1 t=103 kg; neper,8 Np, 1 Np=1; bel,9 B, 1 B =(1/2)ln10(Np).
Outras unidades nao-SI em uso com o SI devido a necessidades especficas nos domnios
comercial, jurdico ou cientfico: milha martima, 1 milha martima=1852 m; no, 1 milha martima
por hora=(1852/3600) m/s=1,852 km/h=0,5144 m/s; are, a, 1 a=1 dam2 =102 m2 ; hectare, ha,
1 ha=1 hm2 =104 m2 ; bar, bar, 1 bar=0,1 MPa=100 kPa=1000 hPa=105 Pa.
Outras unidades nao-SI admitidas pelo Decreto-Lei n. 238/94, de 19 de Setembro: vergencia
dos sistemas opticos, dioptria(*), 1 dioptria=1 m1 ; massa de pedras preciosas, carat metrico,
1 carat metrico=2104 kg (200 mg); massa linear das fibras texteis e dos fios, tex(*), tex,
1 tex=106 kgm1 ; pressao sangunea e pressao de outros fluidos corporais, milmetro de
merc
urio(*), mm Hg(*), 1 mm Hg=133,322 Pa. (*) Estes nomes e smbolos nao constam das
listas estabelecidas pela CGPM (BIPM), mas foram adoptados pela Directiva 89/617/CEE e,
por consequencia, introduzidos na ordem interna portuguesa.
1.3.2
Os smbolos usados para representar as grandezas sao escritos em caracteres italicos. Por exemplo, o smbolo da grandeza massa e m e nao m (smbolo da unidade metro). Os smbolos
8
O Neper (smbolo Np), mesmo estando fora do Sistema Internacional de Unidades (SI), e usado em conjunto
como este. O neper e utilizado para expressar o valor de grandezas logartmicas como o nvel do campo, nvel
de potencia, ou a press
ao ac
ustica. Os logaritmos naturais s
ao utilizados para se obter os valores numericos das
grandezas expressas por nepers. Apesar do neper ser coerente com o SI, ainda n
ao foi adotado como uma unidade
do SI. O nome da medida foi dado em homenagem ao matem
atico John Napier, criador da t
abua de logaritmos
e do n
umero neperiano.
9
O bel (smbolo B) e uma escala relativa, sem dimens
ao (como a percentagem), que compara a intensidade de
um sinal a uma referencia. Sendo uma escala logartmica, uma diferenca de 1 bel corresponde a uma relaca
o de 10
em potencia. Utiliza-se generalmente seu sub-m
ultiplo, o decibel (dB). Uma diferenca de 1 decibel corresponde
a uma relaca
o de 101/10, ou seja, aproximadamente 1,259. O bel e utilizado para exprimir o valor de grandeza
logartmicas como o nvel de campo, de potencia, de intensidade sonora, de press
ao ac
ustica ou de atenuaca
o.
Os logaritmos de base dez s
ao utilizados para se obterem os valores numericos das grandezas expressas em bel.
O bel tem seu nome em homenagem ao fsico Alexander Graham Bell.
para as grandezas vectoriais sao escritos em italico negro ou italico normal com uma seta em
cima (smbolo de vector): ~v . Os smbolos dos valores de grandezas vectoriais sao escritos em
italico normal: v = |~v |. Ter presente que muitas vezes e necessario especificar o sinal algebrico
(+ ou -) da quantidade, e tambem os prefixos e os smbolos dos prefixos adoptados para formar
os nomes e os smbolos dos m
ultiplos e subm
ultiplos decimais das unidades SI.
Smbolos das unidades SI
1. Os smbolos das unidades sao impressos em caracteres romanos (direitos). Em geral, os
smbolos das unidades sao escritos em min
usculas, mas, se o nome da unidade deriva de um
nome proprio, a primeira letra do smbolo e mai
uscula. Exemplos: hertz, Hz; joule, J. O nome
da unidade propriamente dita comeca sempre por uma min
uscula, salvo se se trata do primeiro
nome de uma frase ou do nome grau Celsius. Exemplos: watt, tesla.
2. Os smbolos das unidades ficam invari
aveis no plural. Exemplos: 1 Pa e 10 Pa.
3. Os smbolos das unidades nao sao seguidos de um ponto, salvo se estao no fim de uma
frase e o ponto tem a funcao habitual da pontuac
ao.
Express
ao alg
ebrica dos smbolos das unidades SI
1. Quando uma unidade derivada e formada pelo produto de duas ou mais unidades, pode
ser indicado com os smbolos das unidades separadas por pontos a meia altura ou por um
espaco. Por exemplo: Nm ou N m.
2. Quando uma unidade derivada e formada dividindo uma unidade por outra, pode utilizarse uma barra oblqua (/) ou expoentes negativos. Por exemplo: m/s ou ms1 .
3. Nunca deve ser utilizado na mesma linha mais que uma barra oblqua, a menos que sejam
adicionados parentesis, a fim de evitar qualquer ambiguidade. Em casos complicados devem ser
utilizados expoentes negativos ou parentesis. Por exemplo: m/s2 ou ms2 , mas nao m/s/s.
Regras de utiliza
c
ao dos prefixos SI
1. Os smbolos dos prefixos sao impressos em caracteres romanos direitos, sem espaco entre
o smbolo do prefixo e o smbolo da unidade. Exemplos: kK, km, THz.
2. O conjunto formado pela juncao do smbolo de um prefixo ao smbolo de uma unidade
constitui um novo smbolo inseparavel, que pode ser elevado a uma potencia positiva ou negativa
e que pode ser combinado com outros smbolos de unidades para formar smbolos de unidades
compostas. Por exemplo: 1 cm3 =(102 m)3 =106 m3 ; 1 cm1 =(102 m)1 =102 m1 .
3. Nao sao empregues prefixos compostos, ou seja, formados pela justaposic
ao de varios
prefixos. Por exemplo: 1 nm, mas nao 1 mmm; 1 M e nao 1 kk.
4. Um prefixo nao pode ser empregue sem uma unidade a que se refira. Por exemplo: 106 /m3 ,
mas nao M/m3 .
8
1.4
Aproximac
oes e estimativas
Todas as grandezas com dimensoes tem unidades. Quando fazemos uma afirmac
ao numerica ou
escrevemos equacoes numericas relacionando quantidades fsicas, devemos sempre incluir ou ter
presente as unidades das quantidades envolvidas. Uma forma de confirmar se uma dada equac
ao
esta correcta e verificar se as unidades nos dois membros sao as mesmas (ou equivalentes, no
sentido em que estao relacionadas por factores de convers
ao): se forem diferentes, alguma coisa
esta errada.
Embora a Fsica procure descrever os fenomenos naturais em termos o mais precisos possvel,
em muitas ocasioes e perfeitamente aceitavel uma aproximac
ao ou mesmo uma estimativa grosseira. Por exemplo, se quisermos descrever o movimento da Terra em torno do Sol, nao e
necessario tomar em conta as caractersticas geologicas da Terra ou a sua estrutura interna.
Obtem-se uma boa representacao do fenomeno fazendo a aproximac
ao de que a Terra e uma
partcula, i.e., que o seu tamanho nao e importante para os efeitos em considerac
ao. Se deslocarmos o nosso interesse para o estudo dos terramotos ou ate das mares, a estrutura da Terra
ja e de crucial importancia.
Qualquer fenomeno/problema deve ser examinado com cuidado para se poder determinar correctamente que aproximacoes sao aceitaveis, de forma a simplificar o seu tratamento,
sem, contudo, por em causa a correcta descric
ao do fenomeno. Assim, quando estudamos um
fenomeno devemos perguntar sempre: que caractersticas deste fenomeno ou evento podem ser
negligenciadas de forma a tomar os calculos ou a analise do problema mais simples? Cada
situacao requer a sua analise. Por exemplo, podemos desprezar o atrito numa situacao, mas
incluir os efeitos da gravidade. Noutro problema o atrito pode ser importante e os efeitos da
gravidade negligenciados. Antes de comecar um calculo longo ou complexo, e muitas vezes van3,
tajoso obter uma estimativa do resultado fazendo aproximac
oes tais como 3,7+5,4
=10, =
1.4.1
Exerccios
Os exemplos que se seguem servem para treinar a capacidade de fazer estimativas. Para fazer os
calculos aproximados pedidos, apenas precisa de usar papel e lapis, e a informac
ao disponvel
9
1.5
Bibliografia
[1] General Physics with Bioscience Essays, captulo 1, J. B. Marion and W. F. Hornyak,
John Wiley & Sons, NY, 1985.
[2] O Sistema Internacional de Unidades (SI), http://www.ipq.pt/museu/sistema/index.htm.
[3] Cosmos, Carl Sagan, Gradiva, 1980.
[4] Um Mundo Infestado de Demonios, Carl Sagan, Gradiva 1997.
10
Captulo 2
Mec
anica
1A
mecanica e a parte da Fsica que tem por objecto o estudo dos movimentos dos corpos, das
forcas que produzem esses movimentos e do equilbrio das forcas sobre um corpo em repouso,
bem como da teoria da accao das maquinas (mecanica aplicada); celeste: teoria do movimento
dos corpos celestes nos seus campos de gravitac
ao m
utuos; ondulatoria: teoria formulada em
1924 por Lus de Broglie, fsico frances (1892-1987), premio Nobel em 1929, que estende a todos
os elementos do mundo material a dualidade de onda-corp
usculo afirmada a respeito da luz.
(Do gr. mekhanike [tekhne], arte da construc
ao de maquinas, pelo lat. mechanca-, id.)
Neste captulo sao apresentadas as noc
oes basicas para a caracterizac
ao dos possveis estados
de movimento dos corpos, as leis de Newton do movimento, as leis conservac
ao de momento
linear e angular e da energia. Os conceitos sao tratados apresentando aplicac
oes em que o corpo
humano ou partes dele sao o objecto de estudo.
2.1
Noco
es de cinem
atica
A cinematica e a parte da mecanica que estuda o movimento independentemente das forcas que
o produzem ou modificam (Do gr. knema, -atos, movimento + -ica).
Para se descrever inequivocamente um movimento, um observador deve definir um sistema
de referencia em relacao ao qual analise esse movimento. A um sistema de referencia associa-se
um sistema de coordenadas. O sistema de coordenadas mais comum para representar posic
oes
no espaco e o sistema de coordenadas rectangulares ou cartesianas, que e baseado em tres eixos
espaciais perpendiculares, geralmente designados x, y e z: Oxyz, onde O representa a origem do
referencia (ponto de interseccao dos tres eixos). Em geral, o plano definido pelos eixos x e y e
paralelo ao plano tangente `a superfcie da Terra na origem do referencial, e o eixo z aponta no
sentido aposto ao sentido geocentrico. Imaginado que estamos de pe com os bracos estendido
e paralelos `a superfcie da Terra, formando entre eles um angulo recto, o eixo z coincide com
1
11
o eixo do nosso corpo em que o sentido positivo e o sentido dos pes para a cabeca (versor
2 os sentidos positivos dos eixos x e y sao os indicados pelas nossas maos (versores i e j,
k),
respectivamente).
Um objecto ao deslocar-se, em relacao a um determinado referencial, vai ocupando sucessivas
posicoes: estas posicoes definem uma linha que se designa por traject
oria do objecto. Qualquer
ponto P da trajectoria pode ser representado por tres quantidades algebricas, normalmente
escritas na forma (x, y, z), onde cada coordenada segundo um dado eixo e a distancia do ponto
P ao plano formado pelos outros dois eixos,3 isto e, a posic
ao de um ponto e especificada por
um vector de posicao ~r = (x, y, z), que pode tambem ser expresso em termos dos valores das
associados aos eixos, isto e,
coordenadas segundo cada eixo e dos vectores unitarios i, j e k,
~r = (x, y, z) = xi + yj + z k.
No que se segue considera-se que os corpos tem dimensoes desprezaveis em face das medidas
das suas trajectorias. Tais corpos designam-se, genericamente, por partculas (moveis de dimensoes desprezaveis em relacao `a medida da trajectoria). Os corpos analisados neste captulo
sao considerados rgidos e indeformaveis, isto e, tais que a distancia entre dois quaisquer dos
seus pontos nao varia no decurso do tempo. Os movimentos dos corpos rgidos podem ser simples (translacao pura e rotacao pura) ou compostos (translac
ao e rotac
ao simult
aneas). No caso
de movimento de translacao todos os pontos do corpo descrevem trajectorias iguais e paralelas
e, num dado instante, todos os ponto tem as mesmas caractersticas cinematicas, em particular
a mesma velocidade e acelerac
ao. Para descrever o movimento de translac
ao de um corpo rgido
basta, portanto, descrever o movimento de um qualquer dos seus pontos. Por isso, iremos, com
frequencia, substituir os corpos em translac
ao por partculas, considerando aplicadas nestas
todas as forcas exteriores que actuam nesses corpos. Reduz-se, assim, o estudo do movimento
de translacao de um corpo ao estudo do movimento de uma partcula sua constituinte.
2.1.1
Vector posic
ao e vector deslocamento
12
2.1.2
O conceito corrente de velocidade e-nos bastante familiar.4 Corresponde `a rapidez com que
qualquer corpo se desloca no espaco. Por exemplo, o velocmetro de um automovel indica a
rapidez instantanea do veiculo. Embora, este conceito traduza a taxa de deslocac
ao do corpo,
nao da qualquer indicacao da direccao e do sentido.
Em Fsica, o conceito de velocidade corresponde a uma grandeza vectorial que caracteriza
com detalhe a taxa temporal de variac
ao do deslocamento do corpo, indicando para alem da
medida, uma direccao e um sentido.
Celeridade m
edia
Define-se celeridade5 ou rapidez media < u > como a razao entre o espaco s percorrido no
trajecto AB e o intervalo de tempo t = tB tA necess
ario para descrever o percurso AB:
< u >=
s
.
t
(2.1)
Se o movimento e numa dimensao, ao longo do eixo dos xx, por exemplo, podendo o objecto
deslocar-se no sentido positivo ou negativo do eixo, tem-se
< u >=
|xB xA |
.
tB tA
(2.2)
A celeridade e uma grandeza escalar que mede o espaco percorrido, em media, por unidade
portanto, uma medida da rapidez com que o movel percorre a trajectoria e, no SI,
de tempo. E,
exprime-se em m/s. Notar que a celeridade media e sempre positiva independentemente do tipo
de deslocamento, isto e, qualquer que seja o deslocamento. A celeridade media e a grandeza
que, de facto, conta, por exemplo, no problema do consumo de energia por um atleta quando
este participa numa corrida.
Velocidade m
edia
Define-se velocidade media < ~v > como a razao entre o vector deslocamento, neste caso ~rAB ,
e o intervalo de tempo t necessario para descrever o percurso AB:
4
14
< ~v >=
~r
.
t
(2.3)
A velocidade media mede a rapidez com que, em media, o movel muda de posic
ao e, no SI,
mede-se em m/s.
No caso do movimento ser efectuando numa dimensao, ao longo do eixo dos xx, por exemplo,
podendo o objecto deslocar-se no sentido positivo ou negativo do eixo, obtem-se
< v >=
xB xA
.
tB tA
(2.4)
Notar que neste caso, o valor da velocidade media pode ser positivo ou negativo, dependendo
do valor algebrico do deslocamento (xB xA ), isto e, consoante o deslocamento se realiza no
sentido positivo ou negativo do eixo dos xx (comparar equac
oes 2.2 e 2.4).
Velocidade instant
anea ou velocidade
As grandezas instantaneas determinam-se a partir das grandezas medias pela operac
ao de passagem ao limite, ou seja pela operac
ao derivada do espaco percorrido ou do vector posic
ao em
ordem ao tempo. Define-se velocidade instant
anea ou simplesmente velocidade ~v , como a razao
entre o deslocamento ~r e o intervalo de tempo t necessario para descrever o percurso AB,
quando o intervalo de tempo t considerado tende para zero, isto e,
~v = lim < v >=
t0
d~r
.
dt
(2.5)
Aceleraca
o s. f. acto ou efeito de acelerar; aumento de velocidade; ligeireza; prontid
ao; (fs.) limite da variaca
o
da velocidade vectorial por unidade de tempo. (Do lat. accelerati
one-, id.)
15
~v
.
t
(2.6)
vB vA
.
tB tA
(2.7)
A aceleracao media mede a rapidez com que, em media, o movel muda de velocidade e, no SI,
mede-se em m/s2 .
Acelera
c
ao instant
anea ou acelera
c
ao
Define-se aceleracao instantanea ou simplesmente acelerac
ao ~a como a razao entre a variac
ao
de velocidade ~v e o intervalo de tempo t em que essa variac
ao ocorre, quando o intervalo de
tempo considerado tende para zero, isto e,
~a = lim < ~a >=
t0
d~v
d2~r
2.
dt
dt
(2.8)
Efeitos da acelera
c
ao no corpo humano
Os efeitos das aceleracoes no corpo humano tem sido estudados em veculos de alta velocidade,
seguidas de travagens bruscas, e em grandes maquinas centrfugas. Os valores da acelerac
ao e
do tempo de aceleracao tem efeitos que podem ser catastroficos para o corpo humano:
- aceleracao nula, portanto, velocidade constante, por muito grande que seja a sua medida,
nao tem qualquer efeito no corpo humano;
- aceleracoes ate cerca de 4g (onde g representa a acelerac
ao devida `a gravidade), sao
suportaveis;
- aceleracoes superiores a de 4g podem ser suportadas durante pouco tempo:
- se a aceleracao se verifica ao longo do eixo do corpo e o sentido e o da cabeca,
ocorre a chamada sensacao visual de escuro; quando o sentido e o dos pes, ocorre a chamada
sensacao visual de vermelho, provocada por excessiva quantidade de sangue na cabeca e, em
particular na retina; se tiver o valor de cerca de 10g, a coluna vertebral pode partir-se;
- se a aceleracao se verificar no sentido antero-posterior - e toleravel, se tiver valores
ate cerca de 10g durante curtos perodos; o limite de tolerancia e de cerca de 30g.
A ttulo de exemplo, informa-se que os astronautas, na largada e na chegada, sao submetidas
a uma aceleracao de cerca de 10g, mas esta acelerac
ao e no sentido das costas.
16
2.1.3
Tipos de movimento
Considere-se o movimento de uma partcula numa trajectoria rectilnea (por exemplo, o eixo x do
referencial Oxyz, e o sentido positivo correspondente ao sentido do versor i). Nestas condic
oes,
a velocidade da partcula, em cada instante t, e uma grandeza vectorial ~v = vi, onde o escalar
v, componente da velocidade no eixo a que a trajectoria pertence, e um escalar algebrico: v > 0,
se a velocidade tem o sentido positivo (o de i); v < 0, se a velocidade tem o sentido negativo
(aposto a i). Um movimento diz-se acelerado se a medida ou modulo da velocidade aumenta,
isto e, se a aceleracao tem o sentido da velocidade; o movimento e retardado, quer dizer, a
medida ou modulo da velocidade diminui, se a acelerac
ao tem o sentido oposto ao da velocidade.
Movimento uniforme e rectilneo
Quando uma partcula se move com movimento uniforme e rectilneo (m.u.r.), os deslocamentos
~r da partcula efectuam-se segundo um linha recta, nao mudam de sentido e os seus modulos
(ou medidas) sao proporcionais aos tempos em que ocorrem, isto e, no movimento rectilneo e
uniforme a velocidade e constante (em modulo, direcc
ao e sentido) e, portanto, a acelerac
ao e
~ te e ~a = ~0.
nula: ~v = const
Tendo presente que
(~r ~r0 )
~r
=
= ~v ,
t
(t t0 )
(2.9)
(2.10)
(2.11)
(2.12)
(2.13)
A equacao escalar das posicoes, valida apenas para movimento rectilneo, tem a forma:
x = x0 + v0 (t t0 ) + 12 a(t t0 )2 ou s = s0 + v0 (t t0 ) + 12 a(t t0 )2 .
Na maioria dos casos considera-se que o instante inicial do movimento t0 coincide com o
incio da contagem dos tempo, isto e, t0 = 0 s. Considerando que no instante t a velocidade e v,
t = (v v0 )/a. Substituindo t na equac
ao escalar das posic
oes, tem-se s = s0 + v0 (v v0 )/a +
1
2 a [(v
v0 )/a]2 , obtendo-se
v 2 = v02 + 2as.
(2.14)
As equaco
es escalares s
ao v
alidas apenas no caso de o movimento ser rectilneo, enquanto que as equaco
es
vectoriais aqui apresentadas s
ao v
alidas para todos os movimentos com aceleraca
o constante.
18
(2.15)
1
z = z0 + v0,z t gt2 ,
2
(2.16)
19
2.1.4
Cinem
atica da rotac
ao
(2.18)
onde (t) representa o deslocamento angular. Derivando s(t) = (t)R, em ordem ao tempo,
obtem-se:
ds
d(R)
d
=
=R .
dt
dt
dt
(2.19)
d
= R.
dt
(2.20)
(2.21)
Quando a velocidade angular de uma partcula varia com o tempo, a taxa de variacao
temporal da velocidade angular designa-se acelerac
ao angular
~:
~=
d~
.
dt
(2.22)
(2.23)
(2.24)
1
= 0 + 0 t + t2 .
2
(2.25)
20
2.1.5
Exerccios
Nesta seccao sao apresentados alguns exerccios e tratadas questoes acerca dos movimentos.
Deslocamento, velocidade, acelera
c
ao, e tipos de movimento
1. Um pessoa faz a viagem Faro-Lisboa de avi
ao seguindo ate Beja, e a partir dai ate
Lisboa. Na primeira parte do percurso viaja a 600 km/h durante um quarto de hora, enquanto
que o resto do percurso efectuado a 600 km/h, demora 10 min.
1.1 Qual celeridade media e a velocidade media em unidades SI no percurso Faro-Lisboa?
1.2 Determine o espaco percorrido e o deslocamento, sabendo que as distancias Faro-Beja,
Beja-Lisboa e Faro-Lisboa sao, respectivamente, 150 km, 200 km e 300 km?
1.3 Se a pessoa regressar a Faro, seguindo directamente de Lisboa para Faro viajando a 700
km/h durante 25 min, determine a celeridade media e a velocidade media?
1.4 Qual e o espaco percorrido, o deslocamento efectuado, a celeridade media e a velocidade
media durante o percurso Faro-Lisboa-Faro?
2. A velocidade de um automovel comum pode passar dos 0 km/h aos 100 km/h em cerca
de 10s. Determine a aceleracao que o motor imprime ao automovel, o espaco percorrido e o
deslocamento. Qual a velocidade 5 s apos se ter iniciado o movimento?
o:
Resoluc
a
Admitindo que a variacao de velocidade ocorre com acelerac
ao constante, e igual ao seu
valor medio, a aceleracao e
a =< a >=
v
1
' (28 m/s)/(10 s) = 2, 8 m/s2 ' 28%g ' g
t
4
(2.26)
1
< a > t2 ' 140 m
2
ou s =
v2
' 140 m.
2<a>
(2.27)
indefinidamente pelo facto do fornecimento de oxigenio ser inadequado. O corpo contem oxigenio
armazenado nos m
usculos e adquire e adquire mais oxigenio atraves da respirac
ao. Quando corre
`a velocidade maxima, o oxigenio obtido atraves da respirac
ao nao e suficiente para suprir as
necessidades do corredor, pelo que o oxigenio armazenado nos m
usculos e consumido. O atleta
so consegue manter a velocidade maxima ate o oxigenio inicialmente armazenado nos m
usculos
se esgotam, o que acontece ao fim de cerca de 300 m, Figura 2.1. Quanto mais longa a corrida,
menor deve ser a velocidade de cruzeiro do atleta de modo que o fornecimento de oxigenio
seja adequado `a corrida inteira. A velocidade media aumenta para corridas entre os 50 m e os
300 m, e depois diminui. Porque?
t
cao escalar das velocidades v(t = td ) = v0 gtd , e v(td ) = 2gH.
d , considerando a equa
5.1 Exemplo numerico: assumindo H = 5 m, calcule os valores do tempo de queda, da
aceleracao e da velocidade imediatamente antes de embater no solo.
5.2 Se o corpo for lancado de uma altura de 5 m, com velocidade inicial de 10 m/s dirigida
no sentido oposto `a aceleracao da gravidade, caracterize o movimento ate o corpo atingir o solo.
Considere a aceleracao devida `a gravidade 10 m s2 .
o:
Resoluc
a
O movimento e uniformemente retardado durante a subida do corpo ate a velocidade se
anular, o que acontece ao fim de um segundo, atingindo o corpo a altura total de 10 m. A partir
deste instante, o movimento e uniformemente acelerado, atingindo o solo 2,4 segundos apos ter
sido lancado. A velocidade do corpo imediatamente antes de atingir o solo e 14 m/s.
2.2
Noco
es de din
amica
2.2.1
Define-se a grandeza momento linear de uma partcula, p~, como o produto da massa da partcula
pela velocidade da partcula:
p~ = m~v ,
(2.28)
23
Pn
mi~ri
= Pi=1
.
n
i=1 mi
(2.29)
(2.30)
n
X
mi~vi,CM = ~0,
(2.31)
i=1
3,84108 m). (resposta: o centro de massa esta localizado na linha que une os dois corpos
celestes, `a distancia de 4 729 km do centro da Terra, isto e, a 1 650 km no interior da Terra,
do lado virado para a Lua)
Exemplo 2:
Determine o centro de massa de uma barra formada por duas componentes de madeira
diferente, o primeiro tem massa 6 kg e comprimento 4 m, e o segundo tem massa 4 kg e
comprimento 3 m. (resposta: considerando a barra alinhada segundo o eixo x, o centro de
massa dista da extremidade livre do primeiro segmento de 3,6 m)
Distribui
c
ao de massa no corpo humano
Varios estudos tem sido realizados para determinar a distribuic
ao de massa no corpo de um
humano medio. Num humano tpico de pe, o centro de massa encontra-se a cerca de 55% da
altura do individuo, ligeiramente a acima da segunda vertebra sacra [2], Figura 2.2. Para uma
pessoa com 1,70 m de altura, em pe, o centro de massa localiza-se a cerca de 95 cm do solo.
2.2.2
Antes de introduzir as leis de Newton, convem estabelecer o valor epistemologico das leis basicas
da Fsica. As leis fsicas sao afirmac
oes que de momento se revelam correctas acerca do modo
como ocorrem os fenomenos. Saliente-se o princpio geral seguido em Ciencia: uma lei nao tem
caracter eterno. Nunca e de mais insistir no caracter u
til e moment
aneo das leis fsicas. Basta
lembrar que no passado, Aristoteles julgava ter descoberto uma lei da Natureza ao afirmar que
os corpos mais pesados (isto e, de maior massa) caem para a Terra mais rapidamente do que os
corpos mais leves (isto e, de menor massa). A lei da Natureza que actualmente se refere a esta
situacao foi descoberta por Galileu apenas no seculo XVII, isto e, cerca de 2000 anos depois, e,
segundo ela, todos os corpos caem para a Terra com a mesma acelerac
ao, independentemente
da sua massa. Sao dois os criterios principais que presidem ao estabelecimento das leis fsica: o
criterio da simplicidade e o criterio da generalidade.
Lei da in
ercia e referenciais de in
ercia
Sabe-se, por experiencia propria, que so a actuac
ao de forcas pode alterar o estado cinetico
de um corpo. Contudo, nao se pode partir deste ponto de vista correcto para afirmar que o
movimento de um corpo exige a interacc
ao dele com outros corpos, isto e, um corpo so pode
estar em movimento se for actuado por forcas.
A partir quer de experiencias reais quer conceptuais, Galileu chegou `a conclusao de que
um corpo, desde que nao seja actuado por forcas, se move eternamente, em linha recta, com
25
rectilneo uniforme. Todavia, esta ideia contem em si uma insuficiencia: o corpo esta em repouso
ou em movimento rectilneo uniforme, mas em que referencial?
Todo o corpo nao actuado por forcas esta em repouso ou em movimento rectilneo uniforme
relativamente a determinados referenciais, que designamos genericamente por referenciais de
inercia. Os referenciais de inercia sao referenciais que se movem sem acelerac
ao. Mas existem
no Universo referenciais inerciais?
A Terra nao e um referencial de inercia: sabe-se que a Terra roda em torno do seu eixo
com uma aceleracao de 3,4102 m/s2 e no movimento de translac
ao em trono do Sol tem
uma aceleracao de 0,6102 m/s2 . O movimento do Sol em torno do centro da nossa galaxia
implica uma aceleracao da ordem de 31010 m/s2 e, portanto, em termos absolutos o Sol
tambem nao e um referencial de inercia porque acelera (como, alias, aceleram todos os corpos
do Universo), embora esta acelerac
ao seja por demais insignificante, mesmo para movimentos
celestes duradoiros.
O efeito de aceleracoes tao pequenas e perfeitamente desprezavel para movimentos de curta
duracao. Nestas condicoes, e legtimo considerar a Terra como referencial de inercia na grande
maioria das situacoes com que se vai trabalhar. Porem, no estudo dos movimentos celestes, o
efeito da rotacao da Terra ja se faz sentir.
Newton tentou superar estas dificuldades inventando um espaco absoluto e um tempo
absoluto. Hoje aceita-se que espaco e tempo estao indissociavelmente ligados: o espaco absoluto
e o tempo absoluto nao existem. Assim, os referenciais considerados inerciais sao definidos, de
modo pragmatico, para cada fenomeno. Por outras palavras: um referencial pode ser considerado
de inercia para um dado fenomeno e nao o ser para outro fenomeno.
Lei fundamental da din
amica ou segunda lei de Newton do Movimento
A forca, aplicada numa partcula ou num corpo, e nos referenciais inerciais, um modo de exprimir
a interaccao da partcula ou do corpo com o resto do Universo. Desta interacc
ao resulta uma
variacao de momento linear da partcula ou do corpo, sendo a relac
ao entre a interacc
ao e o
momento linear dada pela lei fundamental da dinamica. Tomando por base, principalmente, o
princpio da independencia das forcas simult
aneas, de Galileu, as observac
oes deste cientista e
as suas proprias conjecturas sobre a variac
ao do momento linear dos corpos, Newton estabeleceu
a seguinte lei fundamental do movimento: a taxa temporal de variac
ao do momento linear de
uma partcula e igual `a forca que actua na partcula:
d~
p
F~ =
dt
~
p
).
t
(2.32)
(2.33)
No caso de a partcula ser actuada por um sistema de forcas, isto e, por varias forcas
simultaneas, chama-se resultante do sistema de forcas a forca que, so por si, e capaz de
provocar na partcula o mesmo efeito (no sentido do mesmo deslocamento) que as forcas do
sistema, actuando conjuntamente. A forca resultante e dada pelo vector soma dos vectores
representativos das forcas componentes do sistema. A acelerac
ao e a soma das acelerac
oes
produzidas por cada uma das forcas separadamente.
Finalmente, se a partcula de massa invari
avel, m, ou nao e actuada por forcas ou a resultante
destas e zero (F~ = ~0), a lei fundamental indica-nos que a acelerac
ao e nula (~a = ~0), isto
e, a partcula ou esta em repouso ou em movimento rectilneo e uniforme. Conclui-se que
a lei fundamental implica, para os observadores inerciais (observadores fixos em referenciais
inerciais), a verificacao da lei da inercia. Esta lei e, pois, uma particularizac
ao da lei fundamental
para tais observadores, no estudo do movimento das partculas de massa invari
avel.
A definicao newtoniana de forca, F~ = d~
p/dt, tem a vantagem de ser extensvel `as forcas
valida, alem disso, quer em Fsica
que, como as forcas de inercia, nao resultam de interacc
oes. E
Classica quer em Fsica Relativista (onde m varia com a velocidade). Nesta u
ltima situac
ao, a
forca apresenta duas componentes - uma segundo a linha de acc
ao da acelerac
ao e outra segundo
a linha de accao da velocidade, porque
d~v dm
d~
p
=m +
~v .
F~ =
dt
dt
dt
(2.34)
Excluindo as forcas de inercia, que pertencem ao universo dos referenciais acelerados, todas
as demais forcas resultam de interaccoes fundamentais (gravitacionais ou electromagneticas)
entre as partculas dos corpos e os campos dos outros corpos. E isto e tao certo na situacao
28
(2.35)
n
X
mi~vi,CM = ~0,
(2.36)
i=1
Pn ~
Fext
= Pi=1
.
n
i=1 mi
(2.37)
d~
ps
F~ext =
.
dt
(2.38)
2.2.3
Leis de forca
Lei de for
ca da for
ca de gravita
c
ao: lei da atrac
c
ao universal de Newton
Desde que Isaac Newton propos a lei da Gravitac
ao Universal que se aceita que a interacc
ao
gravitacional entre massas e universal e apenas depende das quantidades de materia em interaccao e da distancia que separa os seus centros de massa. A partir dos trabalhos de Kepler
e de Galileu, Newton concluiu que a forca da gravidade F~g que a Terra exerce num corpo de
massa m, consequencia da interacc
ao gravitacional do corpo com o planeta Terra, e dada por
GM m ~r
F~g =
,
|~r|2 |~r|
(2.39)
isto e, materia atrai materia na razao directa das massas e na razao inversa do quadrado da
distancia que separa os seus centros de massa. Na expressao 2.39, G representa a constante
gravitacional (6,671011 Nm2 kg2 ), M e a massa da Terra (5, 8 1024 kg), ~r e o vector
posicao com origem no centro de massa da Terra e extremidade no centro de massa do corpo.
A forca da gravidade que a Terra exerce num corpo F~g pode ser escrita como o produto da
Figura 2.4: Forcas que actuam no corpo em repouso na superfcie solida da Terra, a uma dada
latitude: a forca F~ e a resultante da forca da gravidade F~g que actua no corpo e da acc
ao da
~ no corpo.
superfcie da Terra N
31
~
r
massa m do corpo pela aceleracao devida `a gravidade ~g , F~g = m~g ; a grandeza ~g = GM
r|
|~
r|2 |~
(2.40)
Trata-se do centro de forcas gravticas paralelas que actuam sobre cada uma das partculas que
constituem o solido. Atente-se que o centro de gravidade de um corpo coincide sempre com o
centro de massa. Contudo, o conceito de centro de massa e mais geral do que o conceito de
centro de gravidade.
A resultante de todas as forcas gravticas paralelas e a forca gravtica F~g aplicada no corpo.
A linha de accao desta forca tem a direcc
ao da vertical geocentrica (dirigida para o centro da
Terra) e passa pelo centro de gravidade do corpo, que e o centro de forcas gravticas paralelas.
Na pratica, considera-se a forca gravtica resultante F~g como a forca aplicada no centro de
gravidade do corpo, embora possamos tambem considerar aplicada em qualquer ponto do corpo
que pertenca `a sua linha de accao, por se tratar de uma resultante de forcas paralelas.
Leitura complementar
A intensidade da forca da gravidade pode ser medida com auxlio de um dinamometro ou de uma balancadinamometro, assegurando que o corpo e o dinamometro estao em repouso em relacao `a Terra. Esta
afirmacao requer alguns esclarecimentos. Considere-se um corpo em repouso relativamente `a superfcie
da Terra a uma dada latitude, Fig. 2.4. O corpo e actuado por duas forcas: a forca da gravidade F~g ,
~ que a superfcie da Terra (ou do suporte)
apontando para o centro da Terra, e a forca de reaccao N
~
exerce sobre a superfcie do corpo. A direccao de N e determinada pela forca da gravidade e pela rotacao
da Terra em torno do seu eixo. Tendo presente a segunda lei de Newton da Dinamica (a resultante
das forcas que actuam num corpo e igual `a taxa temporal de variacao do momento linear do corpo,
F~ = d(m~v )/dt), a resultante F~ destas duas forcas assegura a rotacao diaria do corpo segundo o paralelo
que passa pela posicao deste. Como consequencia apenas deste efeito, as direccoes de F~g e de ~g medidas
diferem ligeiramente da direccao do centro da Terra - excepto nos polos e no equador - em um angulo cuja
amplitude e inferior 0,10 . Verifica-se tambem que, devido `a aceleracao centrpeta do corpo, a intensidade
de F~g indicada na balanca ou no dinamometro e inferior, excepto nos polos, ao valor dado pela equacao
2.39. Acresce ainda que as irregularidades da superfcie e as variacoes de densidade nas diferentes regioes
que constituem a Terra dao origem a um campo gravitacional nao exactamente central pelo menos nas
proximidades da superfcie da Terra e, portanto, a variacoes na direccao e na intensidade de ~g .
Ao longo do resto do texto considera-se que a Terra e uma esfera homogenea e desprezam-se os efeitos
da rotacao em torno do seu eixo e da translacao em torno do Sol, e de quaisquer outros movimentos,
32
devido aos pequenos valores das aceleracoes linear e angular da Terra quando comparados com aceleracao
devida `a gravidade ou a outras forcas aplicadas. Isto e, a Terra e considerada em repouso durante os
desprezado tambem o efeito da atmosfera no
tempos caractersticos dos fenomenos aqui analisados. E
corpos.
Lei de for
ca da for
ca el
ectrica: lei de Coulomb
Carga electrica atrai carga electrica na razao directa das cargas e na razao inversa do quadrado
da distancia que a separa os seus centros:
q1 q2 ~r
F~e = k 2
,
|~r| |~r|
(2.41)
(2.42)
(Fr = kr v).
(2.43)
contacto mas, apenas, da sua natureza (grau de rugosidade e materiais que contactam). E
~ n da reacc
~ da superfcie `a acc
proporcional `a componente normal R
ao R
ao que o corpo exerce
nesta:
~ n.
F~ae = e R
(2.44)
(2.45)
2.2.4
For
ca peso de um corpo
O que os seres humanos e a restante materia experimentam como peso nao e a forca da
gravidade. A sensacao de peso e devida `a forca normal que os suportes exercem nos corpos,
constrangindo-os de forma a contrariar a forca (peso) que eles exercem nos suportes. Uma
evidencia deste facto ocorre quando uma pessoa em cima de uma balanca-dinam
ometro verifica
que o valor indicado por esta (a intensidade do peso) varia sempre que flecte as pernas sem
perder o contacto com a superfcie da balanca. Outra manifestac
ao ocorre quando um elevador
a descer, trava para parar: uma pessoa sente um acrescimo de pressao nas pernas e nos pes.
Estas variacoes nao podem ser atribudas `a forca da gravidade, porque a distancia entre os
centros de massa da Terra e da pessoa praticamente nao se alterou, assim como as respectivas
massas. (Rever terceira lei de Newton do movimento - lei da acc
ao-reacc
ao.)
Consideremos o corpo pendurado num dinamometro ou colocado no prato de uma balancadinamometro. Quando o corpo e colocado na balanca, a mola da balanca e comprimida (no
caso do dinamometro seria distendida) e a sua deformac
ao e comunicada ao ponteiro da escala
da balanca, porque o corpo tem tendencia a acelerar no sentido do centro da Terra. O corpo
exerce uma accao no prato da balanca e atraves deste na mola. O ponteiro indica a magnitude
da forca peso do corpo P~ , forca exercida na superfcie do prato da balanca pela superfcie
do corpo.
Se o corpo e a balanca estiverem em repouso em relac
ao `a Terra ent
ao, e como anteriormente,
a intensidade da forca peso do corpo, que actua na balanca, iguala a magnitude da forca da
gravidade que actua no corpo, |P~ | = |F~g |; a igualdade verifica-se tambem no caso do corpo e
da balanca estarem em movimento uniforme e rectilneo relativamente a um referencial ligado
`a Terra.
Leitura complementar
Sera que a relacao |P~ | = |F~g | permanece valida se o corpo e o seu suporte estiverem em movimento
acelerado em relacao `a Terra? Qual e a indicacao da balanca nesta situacao?
For
ca peso de um corpo num referencial acelerado
Imaginemos agora o corpo colocado no prato de uma balanca fixa no pavimento de um elevador.
Quando o elevador acelera com uma aceleracao ~a, o corpo move-se em conjunto com a balanca e o
elevador, enquanto estiver em contacto com a balanca. No corpo actuam duas forcas: a forca da gravidade
~ da balanca `a forca peso do corpo P~ . De acordo com a segunda lei de Newton da
F~g e a reaccao N
Dinamica e assumindo que a massa m do corpo nao varia, a resultante das forcas que actuam no corpo
e igual ao produto da massa m e da aceleracao ~a do corpo, isto e,
~.
m~a = F~g + N
(2.46)
~ da superfcie da balanca formam um par accaoUma vez que a forca peso do corpo P~ e a reaccao N
~
~
reaccao, P = N , podemos rescrever a equacao 2.46 como
P~ = m~g m~a.
35
(2.47)
Ter presente que o valor indicado na balanca corresponde `a intensidade da forca P~ que o corpo exerce
na balanca.
Pode, portanto, concluir-se que a forca que os corpos exercem nos seus suportes ou a sua ausencianao
tem a ver necessariamente com o facto do corpo estar ou nao sob a influencia de um campo gravitacional. Mesmo na presenca de um campo gravitacional significativo, esta forca depende essencialmente
das caractersticas de movimento do corpo e do seu suporte.
For
ca peso do corpo num campo gravitacional fraco
A accao que um corpo exerce nos seus suportes, a forca peso do corpo, nao depende da existencia
de um campo gravitacional na regiao do espaco onde este se encontra. Considere-se um veculo espacial
numa regiao do Universo onde o efeito gravitacional e nulo ou pouco significativo, i.e., ~g ' ~0. Se uma
nave em movimento rectilneo e uniforme nesta regiao accionar os seus motores entrara em movimento
acelerado e os objectos no seu interior serao projectados no sentido oposto `a aceleracao ~a da nave,
tal como acontece quando um carro acelera, acabando estes por exercer forcas nos seus suportes ou nas
paredes da nave. Isto e, quando a nave espacial acciona os motores passa a ser actuada pela forca de
propulsao que e transferida a cada objecto no seu interior. Estes, apos entrarem em contacto com as
paredes da nave ou com outros corpos solidarios com a nave, deslocam-se com a aceleracao ~a da nave.
Nestas condicoes a equacao 2.47 toma a forma
P~ = m~a,
(2.48)
i.e., a accao que o corpo exerce no seu suporte (peso) tem o sentido oposto `a aceleracao da nave e
depende apenas da intensidade dessa aceleracao e da massa do corpo. De facto, as propostas para criar
artificialmente o efeito da gravidade no interior de naves interplanetarias empregam a rotacao da nave
em torno do seu centro de massa, sendo a aceleracao devida `a gravidade artificialoposta `a aceleracao
centrpeta da nave.
Imponderabilidade e microgravidade
Nas situacoes ideais de queda livre todas as partes de um aviao ou de nave espacial acelerariam
uniformemente e o ambiente no seu interior seria de gravidade-zero, porque os corpos no seu interior
nao sentiriam os efeitos da gravidade. Em situacoes reais o efeito da gravidade nos corpos, embora
substancialmente reduzido, faz-se sentir, e diz-se que os corpos estao em ambiente de microgravidade
porque a ausencia de peso nao e total. Contudo, o emprego do termo microgravidade sem especificar
o seu significado real pode aumentar os equvocos associados `a identificacao da forca peso com a forca
da gravidade.
A total ausencia de peso numa nave espacial so seria possvel se todos os pontos da nave estivessem
em movimento rectilneo e uniforme, fora da accao de qualquer campo gravitacional. Neste caso, os corpos
dentro da nave nao experimentariam qualquer aceleracao uns relativamente aos outros, e a situacao seria
de gravidade-zero, desprezando e claro as interaccoes gravitacionais m
utuas e com as paredes da nave.
As situacoes de imponderabilidade (ausencia de peso) correntes sao frequentemente designadas, de
importante ter presente que no interior
forma impropria, como gravidade-zero ou microgravidade. E
de uma nave nas proximidades da Terra a intensidade da aceleracao devida `a gravidade terrestre nao e
nula (gravidade-zero) ou diminuta (microgravidade): a 400 km de altura, por exemplo, a aceleracao
devida `a gravidade terrestre e 8,4 m s2 , e mesmo `a distancia da orbita da Lua e 2,6103 m s2 .
A verdadeira microgravidade terrestre, g 106 m s2 , so poderia ser experimentada em regioes `a
distancia de 17 vezes a separacao entre a Terra e a Lua (17384000 km!). Contudo, mesmo nessas
regioes a aceleracao devida `a gravidade do Sol, e cerca de 6103 m s2 , sendo os corpos atrados para
o Sol com g 6 103 m s2 .
Para os cientistas, o termo microgravidade caracteriza o facto da nave em queda livre e os corpos
no seu interior nao estarem todos sujeitos exactamente `a mesma aceleracao, em resultado das diferentes
interaccoes gravitacionais entre os corpos interiores e exteriores `a nave, e da accao de outras forcas, e
traduz-se na aceleracao residual que os corpos no interior de um veculo em queda livre experimentam
relativamente, por exemplo, ao centro de massa deste. Em consequencia, nas proximidades da Terra e em
naves nao tripuladas em queda livre, obtem-se com facilidade 1g, enquanto que em missoes tripuladas
dificilmente se consegue menos de 100g. As causas mais relevantes sao: i) a variacao da aceleracao
devida `a gravidade em resultado da morfologia da Terra; ii) variacoes devidas ao efeito gravitacional dos
outros corpos celestes, em particular do Sol e da Lua, dependentes das suas posicoes relativamente `a
Terra; iii) a variacao da aceleracao da gravidade terrestre com a altitude, que decresce aproximadamente
36
1 parte por milhao por cada 3 m de aumento (numa nave em orbita a forca centrpeta e, portanto,
a aceleracao devida `a gravidade e superior na parte da nave mais afastada da Terra do que na parte
mais proxima); iv) a atmosfera a 400 km de altura, por exemplo, embora podendo ser muito rarefeita,
desacelera gradualmente a nave.
Conceitos de vertical e de para cima/para baixo
Correntemente, define-se vertical de um lugar como a direccao da aceleracao devida `a gravidade.
Outras definicoes baseiam-se na direccao do fio-de-prumo, que `a superfcie da Terra e em repouso coincide
com a direccao da forca da gravidade. A nocao de vertical e mais geral. Por exemplo, um ser humano ou
outro ser vivo sente-se equilibrado na direccao da forca que exerce no suporte e a orientacao para baixo
correspondem ao sentido dessa forca. A vertical esta sempre segundo a linha de accao da forca peso do
corpo e a orientacao para baixo corresponde ao sentido dessa forca. Da relacao 2.47 pode concluirse que tanto a direccao da vertical de um corpo como as orientacoes para baixo/cima dependem da
aceleracao do corpo e da aceleracao devida `a gravidade. Uma constatacao quotidiana ocorre quando
um autocarro arranca ou quando trava: nesta situacao a nossa vertical e oblqua e para nao nos
desequilibrarmos inclinamo-nos na direccao da nova vertical.
2.2.5
Din
amica da rotac
ao
(2.49)
(2.50)
(2.51)
(2.52)
(2.53)
(2.54)
isto e, o momento, relativamente a um dado ponto, da forca que actua numa partcula e igual
`a taxa de variacao temporal do momento angular da partcula em relac
ao a esse ponto.
38
Se, em vez de uma partcula, se tiver um sistema rgido de partculas (um corpo rgido), a
taxa de variacao temporal do momento angular do sistema e igual `a soma dos momentos das
forcas exteriores aplicadas: lei de variac
ao do momento angular.
importante ter presente que o momento resultante de um sistema de forcas e diferente do
E
momento da forca resultante, como facilmente se constata no caso do binario de forcas.
2.2.6
2.2.7
Exerccios
1. Um prato caiu no chao e, ao embater neste, partiu-se. Foi a forca gravtica a forca responsavel
pelo a quebra do prato? Justifique.
2. Um carro puxa um atrelado. Pela lei da acc
ao-reacc
ao, a forca que o carro exerce no
atrelado e simetrica da forca que este exerce no carro. Se a forca que o carro exerce no atrelado
parece ser, assim,
(2.55)
(2.56)
pa+p
va
= (M + mc )
= (M + mc ) < a >= 2, 8 kN.
t
t
(2.57)
4. Imagine agora, que o automovel sofre um choque frontal com um muro macico, ficando
imobilizado ao fim de 1 segundo. Qual a variac
ao de momento linear do carro e do condutor se
este usar cinto de seguranca? A que acelerac
ao fica sujeito o condutor?
o:
Resoluc
a
Tendo em conta que agora a variac
ao de momento tanto do automovel como do condutor
ocorre num intervalo de tempo 10 vezes menor, as forcas medias a que ficam sujeitos sao 10
vezes maiores, obtendo-se aceleracoes (desacelerac
oes) 10 vezes superiores.
A desaceleracao a que fica sujeito o condutor e cerca de 28 m/s2 ' 2, 5g. Se o condutor
nao usar cinto de seguranca sera projectado, podendo embater contra o muro, o que muito
provavelmente causara a sua morte.
2.3
Noc
oes de est
atica
A estatica e a seccao da Mecanica que estuda o equilbrio das forcas actuantes sobre corpos
em repouso ou em movimento uniforme (Do gr. statike [episteme],
corpos).
Um corpo rgido tem movimento de rotac
ao ou simplesmente rotac
ao quando dois dos seus
pontos, P e Q, por exemplo, se mantem fixos durante o movimento. Estes dois pontos definem
o eixo de rotacao. Um exemplo comum e o movimento de rotac
ao de uma porta em torno do
eixo definido pelas dobradicas.
O deslocamento geral de um corpo rgido pode considerar-se como a combinac
ao de uma
translacao com uma rotacao - lei de Chasles (1793-1880). O deslocamento total pode ser considerado como uma translacao representada pelo deslocamento do CM, seguida de uma rotac
ao
em torno de um eixo que passa pelo CM.
2.3.1
Est
atica da partcula
Uma partcula esta em equilbrio num dado referencial se o seu centro de massa nao acelera
(~aCM = ~0) nesse referencial. Basta, para isso, que seja nula a soma das forcas exteriores que
40
actuam na partcula
F~ext = ~0.
(2.58)
A definicao de equilbrio nao exige que a partcula/sistema esteja em repouso, mas tao
~ te . O
somente que a velocidade do respectivo centro de massa nao varie em modulo: |~v | = const
~ te ), o
equilbrio e estatico se a velocidade da partcula for nula, i.e., (~vCM = ~0). Se (~vCM = cont
equilbrio diz-se dinamico.
2.3.2
Est
atica do corpo rgido
Um corpo esta em equilbrio num dado referencial se o seu centro de massa nao acelera (~aCM =
~0) nesse referencial e se tiver acelerac
ao angular nula em relac
ao a qualquer ponto (~
= ~0).
Basta, para isso, que seja nula a soma das forcas exteriores
X
F~ext = ~0,
(2.59)
~ ext = ~0.
M
(2.60)
A definicao de equilbrio de um corpo nao exige que esse corpo esteja em repouso, mas
~ te . Neste
tao somente que as velocidades dos seus pontos nao variem em modulo: |~v | = const
texto, considera-se o equilbrio est
atico, isto e, que os corpos estao em repouso no referencial
escolhido e, portanto, a velocidade e nula para qualquer ponto do corpo: ~v = ~0 e, portanto,
~aCM = ~0 e
~ = ~0.
O efeito de um sistema de forcas aplicado num corpo rgido e determinado pelas coordenadas
~ 0 = ~0. Isto e, para que um sistema de forcas
vectoriais do sistema num ponto O: F~ = ~0 e M
esteja em equilbrio e necessario e suficiente que tenha resultante nula e momento nulo num
ponto qualquer O. Isto significa que um corpo rgido esta em equilbrio se estiver a ser actuado,
exclusivamente, por um sistema de forcas cujas coordenadas vectoriais sejam nulas. Assim,
o equilbrio exige que as componentes
num referencial cartesiano ortonormado de base (i, j, k),
~ 0 sejam nulas:
escalares da resultante F~ e do momento resultante M
X
e
(2.61)
(2.62)
2.3.3
Exerccios
(2.63)
Fi = R + F Fg,ab Fli = 0.
(2.64)
Nesta fase da resolucao, os valores das forcas F e R sao ainda desconhecidos. A analise deve
prosseguir de forma se determinar os respectivos valores.
O calculo dos momentos das forcas em relac
ao ao cotovelo, permite obter:
M = Fg,ab rCM,ab + Fg,li rli F rF = 0.
42
(2.65)
A partir desta equacao determina-se F =100 N. Uma vez conhecido o valor de F , pode-se obter
o valor de R = +F Fg,ab Fli =75 N.
Note que a forca do m
usculo e aplicada proximo do cotovelo, e, portanto, o momento desta
forca e pequeno. Isto significa que o valor da forca aplicada pelo m
usculo deve ser muito superior
`a forca gravtica da massa que queremos suportar. Imagine-se como seria a estrutura humana
se o m
usculo estivesse ligado ao radio a meio do antebraco.
A vantagem mecanica da articulac
ao e dada pela razao entre a carga e o esforco necessario
para manter a carga. Neste caso (Fg,li + Fg,ab )/F =0,25.
Ver tambem exerccios das paginas 103 a 106 de [2] (fotocopias).
2.4
Trabalho e energia
2.4.1
Trabalho
Seja um corpo a mover-se numa trajectoria rectilnea, desde um ponto A ate um ponto B. Se
durante o movimento, actuar sobre o corpo uma forca constante, F~ , define-se, nesta situac
ao, o
trabalho realizado pela forca sobre o corpo como o produto interno do vector forca pelo vector
deslocamento:
WAB = F~ ~rAB = F r cos ,
(2.66)
onde cos representa o angulo entre os vectores deslocamento e forca. No caso de um movimento
rectilneo, pode-se escolher a trajectoria paralela ao eixo dos xx. Nestas condic
oes:
WAB = F~ ~rAB = F xAB cos ,
(2.67)
Um forca diz-se conservativa quando o trabalho realizado por essa forca sobre um corpo e
nulo ao longo de um percurso fechado, isto e, o trabalho realizado sobre um corpo pelas forcas
conservativas e independente da forma da trajectoria seguida pela partcula, mas depende das
posicoes inicial, A, e final, B, deste.
Se a forca F~ variar ao longo da trajectoria, o trabalho elementar de uma forca num deslocamento elementar d~r e dado por:
dW = F~ d~r.
(2.68)
O trabalho de uma forca entre dois pontos A e B da trajectoria do corpo no qual a forca actua,
e dado por:
Z
WAB =
2.4.2
F~ d~r.
(2.69)
Energia cin
etica e lei do trabalho-energia
Em fsica, a energia cinetica e a quantidade de trabalho que teve que ser realizado sobre um
objecto para tira-lo do repouso e coloca-lo a uma velocidade ~v .
Energia cin
etica
A energia cinetica de um corpo e uma grandeza relativa (isto e, uma grandeza cujo valor
depende do referencial), resulta de uma transferencia de energia para ele, do sistema que o poe
em movimento, e e igual ao trabalho que o corpo e capaz de realizar sobre o exterior devido ao
seu estado de movimento e, em cada instante, e dada por Ec = 21 mv 2 , onde v e a velocidade
instantanea do corpo.
Lei do trabalho-energia
Seja F~ a forca resultante das forcas aplicadas num corpo de massa m, movendo-se rectilineamente. O trabalho realizado pela resultante F~ , que e igual `a soma dos trabalhos realizados por
cada uma das forcas aplicadas, e igual `a variac
ao da energia cinetica do corpo:
1
1
2
2
WAB = Ec = mvB
mvA
.
2
2
(2.70)
Numa partcula, o trabalho realizado pela resultante de todas as forcas que nela actuam e
sempre igual `a variacao da sua energia cinetica. Num sistema mecanico, o trabalho realizado
pelas forcas exteriores We mais o trabalho das forcas interiores Wi mede a variac
ao da energia
cinetica do sistema:
We + Wi = Ec .
44
(2.71)
2.4.3
Energia potencial
(2.72)
onde R representa a configuracao tomada para referencia e F~c a resultante das forcas interiores
conservativas.
A energia potencial de um sistema representa uma forma de energia mecanica armazenada
no sistema, podendo (donde o nome potencial) converter-se integralmente em energia cinetica.
A energia potencial so pode estar associada `as forcas conservativas, visto que, intervindo forcas
nao conservativas e, cumulativamente, dissipativas, nao haver
a recuperac
ao total da energia
cinetica.
A expressao 2.72 mostra que a energia potencial Ep (C) que se procura obter, so pode ser
determinada a menos de uma constante arbitraria: precisamente o valor atribudo `a energia
potencial de referencia Ep (R).
Numa transformacao qualquer de um sistema o trabalho das forcas interiores conservativas
e simetrico `a variacao de energia potencial:
WRC = Ep (R C).
(2.73)
Mm
.
(RT + h)
(2.74)
Para pequenas altitudes, quando comparadas com o raio da Terra, isto e, h << RT . Se neste
caso se escolher para configuracao de referencia R do sistema corpo-Terra a que corresponde `a
altitude nula, h = 0, costuma-se considerar, por simplicidade, Ep (R) = 0. Como o trabalho da
forca gravtica (que pode ser considerada constante quando h << RT e igual a mg), que e
conservativa, de R para C (h) e resistente, obtem-se
Ep (C) = Ep (R) WRC (F~g ) = 0 (mgh) = mgh.
45
(2.75)
Energia potencial el
astica
Da mesma forma se pode considerar para a energia potencial elastica, a configurac
ao de
referencia do sistema corpo-mola aquela que corresponde `a deformac
ao nula (x = 0). Considerando novamente, por simplicidade, Ep (R) = 0 (deformac
ao nula) tem-se
Z
Ep (C) = Ep (R) WRC (F~e ) = 0
2.4.4
1
kxdx = kx2 .
2
(2.76)
Lei da conserva
c
ao da energia mec
anica
A energia mecanica total de um sistema e a soma da energia potencial mais a energia cinetica.
Seja um sistema isolado, onde so realizam trabalho as forcas interiores conservativas. A energia
mecanica do sistema mantem-se constante durante qualquer transformac
ao do sistema.
Numa transformacao qualquer deste sistema isolado, o trabalho das forcas interiores conservativas e simetrico `a variacao de energia potencial:
WRC = Ep (R C).
(2.77)
(2.78)
Resulta daqui que a variacao da energia mecanica total e nula. Isto equivale a afirmar que
a energia mecanica se mantem constante:
Ep (R C) + Ec (R C) = [Ep (R C) + Ec (R C)] = 0,
(2.79)
isto e,
Ep (R C) + Ec (R C) = constante ou seja Em (R C) = constante.
(2.80)
2.4.5
Pot
encia e rendimento de uma m
aquina
Designa-se por maquina qualquer sistema destinado a realizar trabalho com utilidade (trabalho
u
til). A potencia media (
util) de qualquer maquina, quando num intervalo de tempo t transfere
a energia u
til Eu para o exterior, medida pelo trabalho u
til Wu realizado pela maquina, e dada
pelo quociente:
P =
Eu
Wu
=
.
t
t
(2.81)
P = lim
(2.82)
A energia motora, Em , que a maquina recebe, pode ser-lhe fornecida quer atraves de energia
potencial qumica libertada por um combustvel, sob a forma tecnica, quer atraves de um
trabalho motor, Wm , realizado por uma forca exterior potente (que e o que sucede, por exemplo,
na roldana e outras maquinas simples). A eficacia ou rendimento de qualquer maquina e a forca
de energia motora recebida, Em , que ela consegue transferir para o exterior sob a forma de
energia u
til, Eu , medida pelo trabalho u
til, Wu , realizado:
=
Eu
Wu
=
.
Em
Wm
(2.83)
Isto e, o rendimento de uma maquina e a razao entre a energia utilizavel transferida para
o exterior e a energia recebida do exterior. Ter presente que ha sempre trabalho resistente
devido `as forcas nao conservativas (por exemplo, o atrito e a resistencia do ar) e, portanto, ha
sempre energia dissipada sob a forma nao mecanica, como a energia termica. Temos, assim:
Ed = Em Eu e < 1.
2.4.6
Exerccios
o:
Resoluc
a
Vamos admitir que apenas a forca que acelerao automovel e responsavel pelo movimento.
Para podermos determinar o trabalho realizado pela forca em causa, e necessario conhecer,
para alem do valor da forca, o valor do deslocamento, que neste caso coincide com o espaco
percorrido (porque?). Para determinar a forca e necessario determinar a acelerac
ao.
Admitindo que a variacao de velocidade ocorre com acelerac
ao constante, e igual ao seu
valor medio, a aceleracao e
a =< a >=
v
= (28 m/s)/(10 s) = 2, 8 m/s2
t
(2.84)
Da segunda lei de Newton do movimento, admitindo que a perda de massa do automovel durante
o processo e desprezavel,
< F >= m < a >= (1000 kg) (2, 8 m/s2 ) = 2, 8 kN.
(2.85)
1
< a > t2 = 140 m
2
ou s =
v2
= 140 m.
2<a>
(2.86)
Como neste caso a forca responsavel pelo movimento tem a mesma linha de acc
ao que o
deslocamento, o trabalho e dado pelo expressao: segunda lei de Newton do movimento, admitindo que a perda de massa do automovel durante o processo e desprezavel,
W =< F > s = (2, 8 kN)(140 m) = 392 kJ.
(2.87)
2.5
dW
ds
=F
= F v = 78, 4 kW [106 cv (cavalos)].
dt
dt
(2.88)
Leis de conservac
ao dos momentos linear e angular e da
energia
As leis de conservacao constituem um corpo de teoria que governa todos os fenomenos fsicos,
desde os microscopicos aos macroscopicos.
10
48
2.5.1
A lei fundamental do movimento de Newton aplicada aos sistemas de partculas toma a forma:
n
X
i=1
d~
ps
F~ext =
.
dt
(2.89)
Desta expressao pode-se deduzir uma lei fundamental da Natureza conhecida como lei da conservacao do momento linear: quando a resultante das forcas exteriores que actuam num sistema
e nula, o momento linear do sistema mantem-se constante:
n
X
i=1
d~
ps ~
~ te .
F~ext =
= 0, que e equivalente a p~s = const
dt
(2.90)
P
Isto significa que, num sistema isolado ( ni=1 F~ext = ~0), quaisquer que sejam as forcas interiores
de interaccao, o momento linear nao varia.
Lei da conservacao do momento linear: mantem-se invari
avel o momento linear de um sistema
enquanto nele nao actuarem forcas exteriores - sistema isolado - ou enquanto estas se mantiverem
equilibradas.
2.5.2
Anteriormente verificou-se que a soma dos momentos das forcas exteriores, aplicadas num sistema, e igual `a derivada do momento angular do sistema em ordem ao tempo. Portanto, se a
soma dos momentos for nula, a derivava do momento angular sera nula e o momento angular
permanecera constante.
Quando a soma dos momentos das forcas exteriores aplicadas a um sistema e nula, o momento angular do sistema permanece constante.
Muitos comportamentos humanos do dia-a-dia sao aplicac
oes intuitivas da lei de conservac
ao
do momento angular. Um exemplo classico ocorre quando uma patinadora, a rodar nas pontas
dos patins, encolhe os bracos. Chegar os bracos ao corpo significa diminuir as distancias das
respectivas partculas ao eixo de rotac
ao, o que faz com que o modulo da velocidade linear das
partculas aumente e, consequentemente, a velocidade angular, rodando mais rapidamente, de
forma a manter o momento angular constante.
2.5.3
Seja um sistema nao isolado onde actuam algumas forcas interiores nao conservativas. Em
sistemas como este, nao isolados e onde algumas das forcas interiores sao dissipativas, o trabalho
das forcas exteriores, We , da o balanco de energia transferida, na forma mecanica, do exterior
49
para o sistema. Actuando, porem, forcas dissipativas interiores, esta energia, proveniente do
exterior, nao vai corresponder integralmente ao acrescimo de energia mecanica do sistema,
Em (R C) = Ec (R C) + Ep (R C),
(2.91)
ja que parte da energia mecanica transferida para o sistema e transformada em energia nao
mecanica (termica ou nao termica) resultante do trabalho, Wnc , das forcas interiores nao conservativas. Este mede, precisamente, a energia que passou para a forma nao mecanica.
Em conclusao,
We + Wnc = Ec (R C) + Ep (R C).
(2.92)
Seja o sistema considerado isolado, mas onde as forcas interiores sao umas conservativas
e outras nao conservativas. Se nos sistema isolado so actuam forcas conservativas, a energia
mecanica total do sistema mantem-se constante:
Ec (R C) + Ep (R C) = 0.
(2.93)
(2.94)
Isto equivale a dizer, por outras palavras, que a totalidade de energia, num sistema isolado,
se conserva, embora se transfira de umas partculas para outras ou passe de umas formas para
outras. Se actuarem forcas interiores nao conservativas, ocorre necessariamente nao conservac
ao
da energia mecanica porque esta, em parte, se dissipa, passando para outras formas. Se apenas
actuarem forcas conservativas, entao, alem da conservac
ao da energia total, tambem ocorre
conservacao da energia mecanica: o que desaparece em energia cinetica aparece em energia
potencial e vice-versa.
2.5.4
Exerccios
1. Uma bala de 15 g e disparada contra um bloco de madeira com massa 10 kg, em repouso. Apos
o impacto, o bloco com a bala encastrada adquire a velocidade de 0,45 m/s. Qual e velocidade
da bala imediatamente antes de embater no bloco? (resposta: 300 m/s)
11
A energia interna de um sistema engloba todas as formas de energia possveis (termica, qumica, electrica,
etc.) respeitantes `
as partculas do sistema.
50
2. Uma bola de massa de 10 kg, presa por um fio com 4 m de comprimento, gira com
velocidade linear de 2 m/s. Durante o movimento o fio e encurtado para 2 m. Qual e a velocidade
da bola, apos o fio ser encurtado? (resposta: 4 m/s)
3. Se apos o impacto, o bloco do problema 1, pendurado por dois fios presos ao tecto,
descrever o movimento semelhante ao de um baloico, qual a variac
ao de altura do bloco?.
(resposta: 1 cm)
2.6
Aplicaco
es: movimentos e forcas no corpo humano
2.6.1
Esqueleto
51
M
usculos
Os ligamentos mantem os ossos em conjunto nas articulac
oes, e os m
usculos ligados aos
ossos atraves de tendoes para activar o movimento. Um m
usculo e um tecido fibroso que se
pode contrair e aumenta de volume em resposta a um sinal enviado pelo sistema nervoso.
Contraindo-se, o m
usculo aplica forcas a cada um dos seus pontos de contacto. Os m
usculos
apenas se podem contrair, sendo necessaria a acc
ao de um segundo m
usculo no sentido oposto
para repor o osso na sua posicao inicial, e restaurar o estado inicial do primeiro m
usculo.
Existem tres tipos de m
usculo: o m
usculo esqueletal, que cobre e movimenta o esqueleto,
formado por fibras longas, fortes e paralelas, capazes de se contrarem rapida e fortemente, mas
so o podem fazer durante curtos perodos de tempo; o m
usculo cardaco (corac
ao), que bombeia
o sangue por todo o corpo, formado por fibras curtas, ramificadas e interligadas criando uma
rede dentro das paredes do coracao, e contrai-se rtmica e continuamente sem cessar; e o m
usculo
liso, que se encontra nas paredes do tracto digestivo, vasos sanguneos e nos tractos genitais e
urinarios, formado por fibras curtas, em forma de fuso, e mais fibras do que as fibras musculares
esqueleticas, em que as celulas do m
usculo suave formam camadas de m
usculo que se contraem
por perodos prolongados (os m
usculo liso desempenha as acc
oes inconscientes do corpo, como
fazer a comida avancar ao longo do tracto digestivo).
A propriedade dos m
usculos responsavel pelo movimento e a contractilidade. As extremidades dos m
usculos prendem-se aos ossos por meio de tendoes (tecido fibroso). Sempre que ha
contraccao dos m
usculos de um membro da-se ou uma flexao (se ele se dobra) ou uma extensao
(se ele se alonga). Igualmente, todos os nossos movimentos da cabeca e do tronco sao devidos
`a contraccao de m
usculos que puxam os ossos. A contracc
ao destes m
usculos e rapida e de52
Articula
c
oes
Todo o corpo sujeito a ligacoes ou vnculos pode ser considerado livre de se mover, isto
e, sem qualquer ligacoes, mas submetido a forcas exteriores de ligac
ao que substituem essas
ligacoes hipoteticamente nao existentes. As articulac
oes sinoviais sao classificadas segundo a
maneira como as suas superfcies articulares (onde os ossos se encontram) se encaixam e os
movimentos que cada uma delas permite.12
53
p
ubica, que une as duas partes anteriores da pelvis, e as articulac
oes da coluna vertebral);
- articulacao fixa: os ossos sao unidos por tecidos por tecido fibroso, que permitem pouco ou
nenhum movimento (as articulacoes fixas entre os ossos do cranio sao denominadas suturas).
As articulacoes danificadas por um dist
urbio tal como a artrite, ou por uma lesao, podem ser
substitudas cirurgicamente com articulac
oes artificiais feitas de metal, ceramica ou plastico. As
articulacoes mais substitudas sao as das ancas, joelhos e ombros. Durante a intervenc
ao cirurgia,
as extremidades dos ossos danificados sao tambem removidas e os componentes artificiais sao
fixos no seu lugar.
Tratamento de fracturas
Embora alguns ossos fracturados nao tenham de ser imobilizados, a maioria tem de voltar
a ser colocada na posicao normal (reduc
ao) e ser mantida na mesma posic
ao, para que as
extremidades osseas possam consolidar-se devidamente. A escolha da tecnica de imobilizac
ao
de uma fractura depende do tipo e gravidade da fractura:
- imobilizacao em gesso: aparelho rgido de gesso (plastico ou resina) aplicado a num membro
e que permanece na mesma posicao durante varias semanas, mantendo as extremidades do osso
fracturado unidas e impedir qualquer movimentac
ao;
- fixacao interna: fixacao com placas de metal, parafusos, pregos, arames ou varetas introduzidas no osso para manter as extremidades unidas, muito usada em fracturas das extremidades
osseas;
- fixacao externa: usada para reparar ossos fracturados em varios pontos, e consiste na
introducao de pregos que atravessam a pele ate aos fragmentos osseos, sendo os pregos mantidos
no lugar por um aparelho metalico, o qual passados alguns dias permite a movimentac
ao normal
do membro e assim que o osso estiver soldado, sao retirados o aparelho e os pregos;
- traccao: e utilizada quando nao e possvel manter um osso com uma fractura simples na
posicao correcta, tal como uma fractura transversal, por meio de fixac
ao externa, e normalmente
utilizada no tratamento de fracturas da diafise do femur, e para manter o alinhamento sao
utilizadas massas porque a potencia dos m
usculos da coxa numa situac
ao normal manteria as
extremidades do osso fracturado afastadas, originado um desvio (um exemplo e a tracc
ao do
femur: na extremidade superior da tbia e introduzido um prego ligado a uma massa atraves de
um sistema de roldanas, e a forca aplicada mantem os ossos fracturados correctamente alinhados
enquanto consolidam).
54
2.6.2
Estar de p
e e caminhar
Caminhar
Mesmo o movimento simples de andar corresponde a um processo complexo quando e analisado em detalhe.
Comecando de uma forma simples, considere-se que cada perna requer uma forca horizontal
para acelerar no sentido da marcha, Figura 2.7. Ent
ao a perna roda em torno da anca articulacao, de forma que um momento de forca e tambem necessario para produzir a acelerac
ao
angular. Por fim, a perna deve desacelerar denovo quando chega ao fim da passada. Desta vez,
contudo, o corpo nao necessita de aplicar toda a forca uma vez que a gravidade ajuda. Ter
presente que a forca de reaccao vertical do solo no pe e vari
avel. Assumindo que ha apenas um
55
Altera
c
ao da posi
c
ao do centro de massa ao andar
Outra caracterstica do movimento de caminhada corresponde `a alterac
ao da altura do
centro de gravidade da pessoa `a medida que caminha, Figura 2.8. Este ponto encontra-se na
posicao mais baixa quando as pernas estao a meio da passada, uma perna antes da vertical e
outra depois da vertical contendo o centro de gravidade. O ponto mais elevado ocorre quando
as duas pernas estao alinhadas. Determinar o trabalho realizado contra a forca da gravidade
56
Figura 2.7: Tres etapas de caminhar (pousar o calcanhar, suporte do pe, e apoiar os dedo do
pe) e as forcas que actuam no pe nas diferentes fases do caminhar.
em consequencia da alteracao do centro de massa quando caminhamos.
o:
Resoluc
a
Um adulto medio possui umas pernas com cerca de 1 m de comprimento e e capaz de uma
passada com cerca de 80 cm. Como consequencia, a variac
ao em altura da posic
ao do centro
Figura 2.8: Variacao da posicao do centro de massa do corpo `a medida que caminhamos.
Exerccios das paginas 484 e 485 de [4] (fotocopias).
2.6.3
A variac
ao de altura do centro de gravidade e um pouco inferior ao valor obtido uma vez que ao caminhar e
comum dobrar-se as pernas.
57
2.6.4
For
cas na articulac
ao da anca
Figura 2.9: Sistema de forcas que actuam na anca: a forca que actua na cabeca da anca nao
e paralela ao osso, o que faz com que o osso fique sujeito a forcas de compressao e a tensoes
tangenciais (cisalhamento).
Exerccios das paginas 482 a 483 de [4] (fotocopias).
2.6.5
For
cas na coluna
A coluna vertebral, tambem denominada espinha, mantem o corpo direito (constitui o principal
constituda por 33 ossos
meio de suporte do corpo), apoia a cabeca e rodeia a espinal medula. E
denominados vertebras. As articulacoes e discos de tecido fibroso entre a maioria das vertebras
tornam a coluna vertebral flexvel, ao passo que os ligamentos e m
usculos a estabilizam e
controlam os movimentos. As articulac
oes entre as vertebras sao formadas por uma faceta
58
59
2.6.6
Ao cair ou saltar de uma dada altura, uma pessoa sujeita os ossos da perna a um esforco, tanto
maior quanto maior for a altura da queda ou do salto. O osso da perna mais vulneravel e a tbia
e o esforco aplicado neste osso e maior na zona do osso com secc
ao transversal menor, isto e,
mesmo acima do tornozelo. A tbia suporta, sem fracturar, forcas de compressao ate 50 000 N
('5000 kgf). Se uma pessoa aterrar em ambos os pes, a forca maxima que os ossos das pernas
podem tolerar e 2 vezes 50 000 N (100 000 N).
1. Estime a altura maxima que um indivduo pode cair ou saltar sem fracturar a tbia?
o:
Resoluc
a
Na resolucao vamos considerar o movimento da pessoa como sendo representado pelo movimento do seu centro de massa. O movimento do centro de massa da pessoa pode ser dividido
em duas fase: na primeira, a pessoa cai em queda livre, sujeita apenas `a forca da gravidade, ate
que toque com os pes no solo - movimento uniformemente acelerado, com acelerac
ao a = g durante esta fase a pessoa percorre a dist
ancia H; na segunda, que decorre desde o momento em
que a pessoa toca no chao e ate que para, movimento que pode, em primeira aproximac
ao, ser
considerado uniformemente retardado com acelerac
ao media < a >: durante esta fase a pessoa
percorre a dist
ancia h.
Do problema anterior, resulta, para o caso da queda da altura H, partindo do repouso, que
a velocidade da pessoa imediatamente antes de tocar no solo e dada por vd2 = 2gH. Durante
a segunda fase, a pessoa desacelera percorrendo a dist
ancia h, observando-se a relac
ao 0 =
vd2 2 < a > h. Combinando estas duas expressoes obtem-se a expressao para a acelerac
ao
media durante o movimento retardado: < a >= gH/h. O tempo de desacelerac
ao e dado por:
tda = vd / < a >.
De acordo com a lei fundamental da dinamica, a forca media exercida e igual `a massa do
indivduo vezes a desaceleracao media: < F >= m < a >.
Substituindo a expressao da acelerac
ao media na lei fundamental < F >= m < a >, obtemse < F >= mgH/h. A altura maxima que e possvel cair ou saltar, sem fracturar a tbia, e,
portanto, Hmax = h < Ftibia > /mg.
Dois casos podem ocorrer:
- o indivduo aterra sem flectir as pernas: neste caso o espaco percorrido durante o movimento
retardado h ' 1 cm. Admitindo que a massa da pessoa e 60 kg, obtem-se Hmax = 0, 01
100000/(60 9, 8) ' 1, 7 m.
60
- o indivduo aterra flectindo as pernas: neste caso o espaco percorrido durante o movimento
retardado h ' 60 cm. Admitindo que a massa da pessoa e 60 kg, obtem-se Hmax = 0, 6
100000/(60 9, 8) ' 1, 7 60 ' 102 m.
Claro esta que a pessoa nao pode cair ou saltar de uma altura de 103 m sem se magoar. Em
primeiro lugar, quando se dobram as pernas ao aterrar, o esforco e desviado dos ossos para os
tendoes e ligamentos, os quais suportam forcas cerca de 20 vezes inferiores aos ossos. Assim, a
altura maxima seria Hmax = 0, 6 (100000/20)/(60 9, 8) ' 5 m.
Acresce ainda que os calculos assumem que a desacelerac
ao e uniforme, de modo que o valor
instant
aneo da desaceleracao e igual ao valor medio da acelerac
ao. Tal nem sempre e facil de
conseguir pelo que mesmo de uma altura de 5 m e perigoso saltar ou cair.
2.6.7
Para saltar em altura a partir do repouso, um individuo dobra os joelho, descendo o seu centro
de massa, e usa os m
usculos das pernas para impulsionar o corpo para cima. O trabalho realizado
pelos m
usculos das pernas e W = F d, onde d e o deslocamento de descida do centro de massa,
tipicamente cerca de 0,3 m. Os m
usculos das pernas so realizam trabalho enquanto os pes
estao em contacto com o solo. Em consequencia do trabalho realizado pelos m
usculos das
pernas, o centro de massa do indivduo eleva-se uma dist
ancia h + d, a que corresponde uma
variacao de energia potencial Ep = mg(h + d), onde m e massa do indivduo. Visto que todo o
trabalho realizado pelos m
usculos das pernas e transformado em energia potencial (na altura
maxima atingida pelo indivduo a velocidade vertical do indivduo e nula), podendo escrever-se
W = mg(d + h) = F d.
Que forca muscular e necessaria para elevar o centro de massa em 0,6 m (valor tpico para
um atleta normal)? (resposta: cerca de 3 vezes a forca gravtica do indivduo)
2.6.8
Neste caso, um indivduo pode saltar mais alto, uma vez que parte da energia cinetica da
corrida poder ser convertida em energia potencial. Se no instante imediatamente antes do salto,
a velocidade de um indivduo com cerca de 70 kg de massa for 6 m/s, a energia cinetica e
Ec = 12 mv 2 = 1260 J. Se esta energia cinetica for totalmente convertida em energia potencial, o
atleta saltaria a altura H: a energia potencial final seria Ep = mgL, obtendo-se L = Ec /mg=1,8
61
que implica que o centro de massa deve elevar-se, pelo menos L=0,1
m acima da fasquia. Tendo
em conta estas condicoes, altura maxima do salto sera:
2.6.9
Trac
c
ao de membros do corpo humano
Com referido anteriormente, por vezes quando se parte um osso e necessario imobilizar as zonas
afectadas. Um dos processos usados baseia-se em sistema de tracc
ao, constitudos por roldanas,
cordas e massas. Uma roldana e uma maquina simples que permite alterar a direcc
ao de uma
forca, sem alterar a sua intensidade. Neste texto considera-se que a massa da roldana e a massa
do fio sao desprezaveis, podendo ser negligenciada a forca de gravidade que actua sobre elas,
bem como os momentos das forcas relativamente ao eixo da roldana.
Exerccios das paginas 97 a 99 de [2] (fotocopias).
2.7
Bibliografia
62
Captulo 3
Mec
anica dos fluidos
1A
hidrostatica e a hidrodinamica (De hidro- + mecanica).2 Fluido e qualquer substancia que flui,
incluindo os lquidos, que sao praticamente incompressveis, e os gases, que sao compressveis;
ideal ou perfeito: fluido desprovido de viscosidade [(Do lat. fludu-,
(do v. fluir)].
Neste captulo sao apresentadas as noc
oes basicas para a compreensao do funcionamento do
sistema cardiovascular e circulatorio, nomeadamente os conceitos de pressao, de velocidade de
escoamento e de caudal.
3.1
Hidrost
atica
A hidrostatica e o ramo da hidromecanica que estuda o equilbrio das forcas exercidas numa
massa fluida em repouso (De hidro- + estatica).
3.1.1
Fluido
Um fluido ideal pode ser definido como um meio material cujas camadas nao oferecem qualquer
resistencia ao deslizamento umas sobre as outras. Na realidade todo o fluido oferece sempre
alguma resistencia ao deslizamento das suas camadas. A esta resistencia chama-se viscosidade: propriedade dos fluidos que se traduz por oferecerem resistencia ao escoamento, que nos
lquidos diminui quando a temperatura aumenta, mas nos gases aumenta com o incremento da
temperatura.
Um fluido nao tem rigidez mecanica interna. Os fluidos nao reagem a qualquer forca que
implique variacao de forma, adaptando-se sempre `a forma dos recipientes que os contem. Sao
considerados fluidos todos os lquidos e gases. Tanto uns como outros nao tem forma propria.
1
2
63
3.1.2
A massa vol
umica ou especifica de uma substancia, tambem designada densidade, corresponde
`a quantidade de materia da substancia por unidade de volume:
=
m
,
V
(3.1)
As condico
es PTN, condico
es de press
ao e temperatura normais, correspondem `
a press
ao de 1 atm e `
a
temperatura de 273 K.
4
Pontes de hidrogenio: .
64
a sobrevivencia dos seres vivos nos lagos quando a temperatura ambiente e inferior a 0 o C, como se
descreve, resumidamente, a seguir.
O comportamento anomalo da agua tem importantes efeitos na vida vegetal e animal dentro de
agua. A agua de um lago arrefece da superfcie para o fundo. Se a temperatura ambiente, superior a
4 0 C, comeca a diminuir a agua mais fria da superfcie desloca-se para o fundo, porque e mais densa
que a agua do fundo, que esta a uma temperatura superior, sendo substituda pela agua do fundo. Este
ciclo repete-se ate que a temperatura da agua do fundo diminui, chegando aos 4 o C, terminando o fluxo
de agua da superfcie para o fundo e do fundo para a superfcie. Nesta situacao, qualquer que seja a
temperatura da agua `a superfcie, a sua densidade e inferior `a da agua em contacto com o leito do lago.
Quando a temperatura da agua `a superfcie fica inferior a 4 0 C, a agua da superfcie e menos densa do
que agua mais quente do fundo, o fluxo de agua da superfcie para baixo termina, e a agua da superfcie
permanece mais fria do que a do fundo. A temperatura da agua `a superfcie continua a baixar se a
temperatura ambiente diminuir. Quando a temperatura ambiente se torna inferior a 0 o C, a agua da
superfcie comeca o processo de congelacao. Como o gelo formado flutua, porque e menos denso do que a
agua lquida, a agua do lago vai congelando da superfcie para o fundo. De facto, a camada de agua em
contacto com o leito do lago permanece sempre a uma temperatura superior `a camada imediatamente
superior, so congelando quando a temperatura do leito do lago e inferior a 0 o C.
Se a agua se comportasse como a maioria das substancias, contraindo-se continuamente no arrefecimento e no congelamento, os lagos congelariam a partir do fundo. A circulacao da agua, devido `a
diferenca de densidades, deslocaria continuamente a agua do fundo, a temperatura superior, para a superfcie, aumentando a eficiencia do processo de congelacao e toda a agua dos lagos passaria ao estado
solido muito mais facilmente, e toda a vida vegetal e animal que nao suporta a congelacao seria rapidamente destruda. Se a agua nao tivesse este comportamento e bem provavel que a evolucao dos seres
vivos tivesse tomado um rumo significativamente diferente.
3.1.3
Equilbrio hidrost
atico
3.1.4
Press
ao
Define-se pressao, num ponto de um fluido, como o cociente entre o modulo da forca elementar
dF~ exercida pelo fluido sobre o elemento de superfcie que contem o ponto e a area elementar
dS:
P =
dF
.
dS
(3.2)
sobre a qual ela se exerce, isto e, para qualquer ponto considerado, a pressao do fluido e a
mesma em todas as direccoes, aumentando com a profundidade (distancia `a superfcie livre).
3.1.5
F~ext = ~0
(3.3)
~ 0 = ~0.
M
(3.4)
Tendo em conta o exposto, o corpo pode ser substitudo por um volume igual de fluido que
preenche o volume anteriormente ocupado pelo corpo. Assim, o corpo de fluidoesta tambem
em equilbrio. As forcas a que estao sujeitos o corpo cilndrico ou o seu substituto de fluido sao:
0
- as forcas de pressao laterais, F~l,i e F~l,i , perpendiculares `as faces laterais dos corpos, exercidas
(3.5)
i
0
Como os pares F~l,i e F~l,i sao simetricos (estao ao mesmo nvel), a condic
ao da soma das
P
forcas laterais (horizontais) ser nula,
Fext,l = 0, esta sempre satisfeita.
P
Quanto `a condicao de soma das forcas verticais ser nula,
Fext,v = F~2 F~1 F~g = 0,
resulta:
F2 F1 = Fg ,
66
(3.6)
(3.7)
Isto e, num fluido em equilbrio, a diferenca de pressao entre dois pontos A e B fluido e igual `a
forca gravtica da coluna de fluido que se situa entre dois pontos, por unidade de area:
P =
Fg,f
= f gh.
S
(3.8)
Se o lquido tem uma superfcie livre, esta e considerada como referencia para a medida das
alturas (h1 = 0 e h2 = h),
P = P0 + gh.
(3.9)
3.1.6
Press
ao atmosf
erica e experi
encia de Torricelli
O ar atmosferico, tal como, os lquidos exerce pressao em todas as superfcies que com ele
contactam - e a chamada pressao atmosferica. Ter em atenc
ao a densidade do ar diminui com a
altitude. A pressao atmosferica em cada lugar e medida com barometros e a altura h pode ser
obtida usando o barometro altmetro.
No seculo XVII, o fsico italiano Evaristo Torricelli descobriu um processo simples de medir
a pressao atmosferica, inventando em 1643 o barometro de merc
urio formado por um tubo de
vidro, de cerca de 1 m de altura. Este tubo enche-se de merc
urio e inverte-se numa tina que
tambem contem merc
urio. Verifica-se, em condic
oes normais, que o merc
urio desce no tubo
e estaciona a cerca de 76 cm de altura. Torricelli admitiu que a pressao exercida na tina de
67
merc
urio, pela coluna de merc
urio do tubo, era equilibrada pela pressao exercida pela altura
de ar atmosferico. (A pressao do vapor de merc
urio, no cimo do tubo, pode considerar-se
praticamente nula, em virtude da pequena volatilidade do merc
urio.)
A pressao exercida por uma coluna de merc
urio de 76 cm de altura, a 0 o C e nas condic
oes
de gravidade normal, tornou-se uma unidade de medida de pressao atmosferica, e deu-se-lhe o
nome de atmosfera (atm). A pressao 1 atm (76 cm de Hg ou 760 mmHg) corresponde `a pressao
de Hg gh ' 13, 6 103 9, 8 0, 76 ' 101, 4 103 Pa. Tambem se utiliza, por vezes, o torr como
unidade de pressao: 1 torr corresponde `a pressao de 1 mm de Hg; 1 atm corresponde a 760 mm
Hg e, portanto, 760 torr.
3.1.7
(3.10)
(3.11)
P = P0 + P0 + gh P,
(3.12)
resultando P = P0 .
68
(3.13)
A relacao 3.13 traduz matematicamente a lei de Pascal: a pressao exercida num fluido
transmite-se integralmente a todos os pontos do lquido e `as paredes do contentor (os embolos
sao paredes moveis).
Da expressao 3.13 conclui-se que as forcas de pressao hidrostatica sao proporcionais `as
areas das superfcies em que actuam, quando o fluido atraves do qual sao transmitidos esta
em equilbrio e e incompressvel, f = constte . O que e evidente: se a intensidade das forcas
em cada unidade de superfcie (pressoes) sao iguais, a intensidade da forca resultante exercida
numa superfcie de area S sera naturalmente proporcional ao n
umero de unidades de superfcie
contidas em S.
O Princpio de Pascal e usado no sistema de trav
oes e amortecedores, aos elevadores hidraulicos,
entre outros, e deve-se ao fsico e matematico frances Blaise Pascal (1623-1662). Enunciado alternativo do princpio de Pascal: o acrescimo de pressao produzido num fluido em equilbrio
transmite-se integralmente a todos os pontos do lquido e `as paredes do recipiente.
Aplica
c
ao: prensa hidr
aulica
A prensa hidraulica e uma ferramenta mecanica que ajudou a tornar possvel a revoluc
ao industrial. O objectivo da prensa hidraulica consiste em obter uma forca FB de elevada intensidade
`a custa de uma forca FA de pequena intensidade, aplicada numa area muito menor. Sejam SA
e SB as areas das superfcies dos embolos menor e maior da prensa, respectivamente. Entre os
embolos existe um lquido em equilbrio. Se se aplicar sobre SA uma forca F~A = FA k que lhe
e perpendicular, havera no lquido um acrescimo de pressao
P =
69
FA
.
SA
(3.14)
Como esse acrescimo de pressao se transmite integralmente a todos os pontos do lquido e das
paredes, o embolo de area SB ficara sujeito a uma forca F~B = +FB k tal que:
P =
FB
.
SB
(3.15)
Assim, para o lquido ficar em equilbrio tem que se exercer sobre o embolo B uma forca contr
aria
a F~B , F~ = F~B . Se colocarmos no embolo B uma massa m, cuja forca gravtica e inferior ao
valor de F~B , ao inves de exercermos a forca F~ , a massa m sobe em relac
ao ao embolo A, ate
que:
mg + f V g
Fg
FA
=
+ f ghAB =
,
SA
SB
SB
(3.16)
3.1.8
Impuls
ao e princpio de Arquimedes
X
(F~z,l,i + F~z,l,i0 ) = ~0.
(3.17)
Como as forcas de pressao laterais F~z,l,i e F~z,l,i0 se equilibram duas a duas, obtem-se:
F2 F1 = Fgc .
70
(3.18)
O corpo mergulhado, em equilbrio estatico, pode ser substitudo por um fluido da mesma
natureza daquele que envolve o corpo e com o mesmo volume do corpo, sem que as forcas de
pressao acima referidas se alteram, porque dependem apenas das caractersticas do fluido, isto
e, sobre o fluido que substitui o corpo actuam as mesmas forcas de pressao que actuava no
corpo imerso. Como o fluido esta em equilbrio, as forcas que sobre ele actuam tem tambem
resultante nula:
F2 F1 = Fgf ,
(3.19)
onde Fgf e a medida da forca gravtica F~gf que actua no volume de fluido que substitui o volume
do corpo mergulhado.
As forcas a que esta sujeito este volume de fluido sao: a forca gravtica F~gf , que actua no seu
centro de massa, e a forca de pressao resultante (I~ = F~2 + F~1 ), exercida pelo fluido circundante
que compensa a forca de gravidade exercida no fluido: vertical, dirigida no sentido oposto `a
forca da gravidade (i.e., de baixo para cima), aplicada no centro de gravidade do volume de
fluido em consideracao e de modulo igual a forca gravtica F~gf que actua no fluido. A resultante
das forcas de pressao designa-se por impuls
ao do fluido e o seu ponto de aplicac
ao, centro de
impulsao, e o centro de gravidade do fluido que substitui o corpo.
Com base nestes resultados pode-se enunciar o princpio de Arquimedes: qualquer corpo
mergulhado num fluido sera actuado, por parte do fluido, por uma forca vertical, dirigida de
baixo para cima, de intensidade igual `a resultante das forcas que o fluido exerce sobre o corpo.
Pode-se concluir que a impulsao exercida por um fluido sobre um corpo nele mergulhado,
nao depende da substancia de que o corpo e constitudo, nem do facto de o corpo ser macico ou
oco. A impulsao e a resultante das forcas de pressao exercidas pelo fluido, e, no caso do corpo
em consideracao, reduz-se `a soma vectorial das forcas de pressao exercidas nas faces horizontais
do corpo ou seja:
I~ = F~1 + F~2 ,
(3.20)
I = F2 F1 .
(3.21)
I = f gVf d = f gVci ,
(3.22)
resultando
onde Vci corresponde ao volume da parte imersa do corpo, que e igual ao volume Vf d do fluido
deslocado. Quando ha imersao total do corpo Vf d = Vci = Vc , onde Vc representa o volume do
corpo.
71
(3.23)
(3.24)
obtendo-se
contacto com o fluido: quando entre a superfcie inferior do corpo e a superfcie do contentor
nao existe fluido a impulsao nao e igual `a forca gravtica do fluido deslocado.
Leitura complementar
O
horror ao v
acuo: porque se mant
em a atmosfera terrestre? [1]
Desde Aristoteles de Estagira (384-322 a. C.) ate Rene Descartes (1596-1650), incluindo este, se
aceitava que nao podia haver vacuo, porque ... a Natureza tinha horror ao vacuo! Assim, um tubo
previamente cheio de lquido (escorvado),5 introduzido, com a parte aberta para baixo, num recipiente
com lquido, continuara sempre cheio, sem esvaziar qualquer parcela. Porque? Porque a Natureza, tendo
horror ao v
acuo, obrigaria a preencher algum vazio que eventualmente se formasse.
O fsico frances Blaise Pascal (1623-1662), contemporaneo de Evangelista Torricelli (1608-1647),
tendo conhecimento das experiencias deste, nas quais conseguiu obter vacuo, invertendo um tubo com
merc
urio numa tina de merc
urio, pensou que a experiencia poderia repetir-se com igual exito, usando
outros lquidos. E foi assim que refez a experiencia de Torricelli com vinho (!) em tubos de vidro ligados,
perfazendo um comprimento total de 15 m.
Pascal imaginou ent
ao que a pressao hidrostatica devida `a forca gravtica da coluna de merc
urio era
equilibrada pela pressao devida `a forca gravtica que actua numa coluna de ar de altura igual `a distancia
desse ponto ao limite superior da atmosfera.6 Esta seria a pressao atmosferica e deveria, portanto,
diminuir com a altitude, por ser cada vez menor a distancia ao tal limite superior da atmosfera `a medida
que se sobe. E, consequentemente, diminura tambem a altura da coluna de merc
urio equilibrada. (A
massa da coluna de ar suportada por cada metro quadrado da superfcie terrestre e, aproximadamente,
2
2
10 ton (m = (105 ) N/m )/(9, 8 m/s ).)
Escreveu de Paris a seu cunhando Perier, que vivia na pequena cidade de Clermont, pedindo-lhe
que fizesse a experiencia de Torricelli a varias altitudes, na montanha vizinha de Puy de Dome.
O resultado obtido cuidadosamente por Perier foi surpreendente naquela epoca: a coluna de merc
urio
baixou cerca de 8 cm para uma diferenca de quase 900 m.
A repercussao que estas experiencias tiveram no seculo XVII foi muito grande, pois acabaram com
a supersticao do horror do vacuo e mostraram que a pressao atmosferica tambem car
acter gravtico,
ja que esta relacionada com a forca gravtica que actua no ar, e por isso diminui com a altitude (como
se vera mais adiante, a pressao corresponde `a energia potencial, neste caso gravtica, por unidade de
volume). Foi a partir de entao que se iniciou a construcao de bombas de vacuo ou de extraccao de ar,
cujos pioneiros foram Otto von Guericke, em 1650, na Alemanha, e Robert Boyle, em 1660, na Inglaterra.
No caso da Terra, a grandes altitudes (dezenas e centenas
de quilometros), as moleculas de ar com
velocidade superior `a segunda velocidade cosmica (v = 2gRT '11 km/s) podem perder a ligacao com a
Terra e partir para viagens interplanetarias. Contudo, a percentagem de moleculas da atmosfera terrestre
com esta velocidade e muito pequena. A energia cinetica media das moleculas da atmosfera e inferior ao
modulo da sua energia potencial gravtica Ep = GMT m/(RT + h). Por isso, a fuga de moleculas do ar
e desprezavel e, assim, a atmosfera terrestre mantem-se.
Ja nao sucede o mesmo com a Lua, uma vez que `a superfcie do satelite natural da Terra a energia
potencial gravtica de eventuais moleculas gasosas e um vinte-avos do valor que teria na Terra. Nestas
condicoes, a percentagem de moleculas gasosas com energia cinetica superior ao modulo da energia
potencial gravtica lunar e muito significativa. Daqui resulta a fuga de moleculas gasosas da Lua para o
espaco interplanetario e, portanto, ausencia de atmosfera na Lua.
5
73
3.1.9
Exerccios
1. O embolo menor de uma prensa hidraulica e accionado por uma alavanca inter-resistente.
No caso de o atrito ser desprezavel, que forca e necessario exercer no embolo menor SA para
equilibrar um bloco de 200 toneladas apoiado no embolo maior SB , sabendo que a razao SB /SA
e 4000/1? Se essa forca fosse devida `a colocac
ao de uma massa no embolo, qual seria o valor da
massa?
Resolucao:
Uma massa de 200 ton corresponde no campo gravtico da Terra, a uma forca gravtica de
' 2 106 N. Tendo em consideracao que FA /SA = FB /SB , FA = (FB /SB )SA '500 N.
Se a forca FA fosse resultado da colocac
ao de uma massa m, corresponderia `a acc
ao que a
massa exerceria no embolo, que seria numericamente igual `a forca gravtica que actua na massa.
Assim, e tendo em conta que FA = mg, a massa necessaria m = FA /g teria o valor aproximado
de 50 kg.
2. A pressao de 1 atm corresponde a uma forca de 105 N aplicada em cada metro quadrado
da superfcie, o que equivale a dizer que cada m2 da superfcie da Terra e do corpo humano,
por exemplo, suportam uma forca equivalente a uma massa de 104 kg. Porque e que o corpo
humano nao e amassado por esta forca, ou seja, pela pressao da atmosfera?
Resolucao:
O corpo humano nao e amassado pela pressao da atmosfera porque tanto as superfcies
interior como exterior dos tecidod estao sujeitas essencialmente e mesma pressao.7
3. Assumindo que as densidades da agua do mar e do gelo sao 1,028 g/cm3 e 0,917 g/cm3 ,
respectivamente, determine a fraccao submersa do volume de um icebergue.
Resolucao:
Na situacao de equilbrio, a impulsao e igual `a forca gravtica que actua no volume do
icebergue: g g(V1 + V2 ) = a gV2 , onde V2 e V1 representam os volumes imerso e nao submerso,
obtendo-se V2 /(V1 + V2 ) = g /a = 0, 892.
3.2
Hidrodin
amica
74
3.2.1
Movimento estacion
ario e movimento turbulento de um fluido
Linhas de corrente
Se no escoamento estacionario tracarmos a trajectoria de uma partcula que passa por A, ela
sera, em cada ponto, tangente `a velocidade do fluido. Como esta nao varia com o tempo,
a trajectoria tracada e a mesma para todas as partculas que passam por A. A esta linha,
tangente em cada ponto `a velocidade do fluido, chama-se linha de corrente. No escoamento
estacionario, as linhas de corrente nao mudam de configurac
ao e coincidem com as trajectorias
das partculas do fluido. No escoamento estacionario e uniforme, a familia de linhas de corrente
e um conjunto de linhas paralelas.
No escoamento turbulento, as trajectorias das partculas nao coincidem com as linhas de
corrente, porque as velocidades, em cada ponto, variam de instante para instante e, por isso,
varia tambem a configuracao das linhas de corrente de instante para instante. Como cada
partcula tem so uma trajectoria, a famlia de trajectorias, que e construda ao longo do tempo,
nao coincide com a famlia de linhas de corrente que se formam em cada instante (sendo diferente
a familia de linhas de corrente num dado instante da familia de linhas de corrente no instante
seguinte).
75
3.2.2
Equa
c
ao da continuidade
O escoamento de um fluido diz-se em regime permanente quando a massa do fluido que atravessa,
por unidade de tempo, uma seccao qualquer S1 e igual `a massa que atravessa, por unidade
de tempo, a outra seccao qualquer S2 . No regime de escoamento permanente qualquer das
grandezas associadas ao sistema nao e func
ao do tempo (d/dt = 0).
Considere-se o escoamento estacionario de um fluido ideal numa conduta de secc
ao vari
avel.
Nestas situacoes, os fluxos do vector velocidade de escoamento nas secc
oes S1 e S2 s
ao, respectivamente:
1 = v1 S1
2 = v2 S2 ,
dx1
S1
dt
2 =
(3.25)
ou
1 =
dx2
S2 .
dt
(3.26)
dVi
dt
unidade de tempo a seccao Si . A grandeza Q = dV /dt, volume de fluido escoado por unidade de
tempo, atraves de uma seccao transversal, chama-se fluxo de volume, vaz
ao, caudal ou debito
de escoamento. Em unidades SI, a razao exprime-se em m3 /s (metro c
ubico por segundo).
Uma vez que o fluido e impressvel e entre as secc
oes S1 e S2 , ou entre quaisquer outras, nao
ha acumulacao nem diminuicao de fluido (o que poderia acontecer se a conduta tivesse fugas
por exemplo), o volume de fluido que atravessa a secc
ao transversal S1 e igual ao volume de
fluido que atravessa a seccao transversal S2 , por unidade de tempo, i.e., os fluxos sao iguais
76
(3.27)
(3.28)
3.2.3
Equac
ao fundamental da hidrodin
amica
(3.29)
(3.30)
(3.31)
(3.32)
Como nao ha forcas interiores dissipativas a actuar, porque sendo o fluido ideal, sao nulas
as forcas de viscosidade (atrito interno), embora o fluido possa ser compressvel, verifica-se a
relacao:
W (F~ext ) = Em = Ep + Ec .
(3.33)
(3.35)
(3.36)
(3.37)
onde o termo P + gh representa a pressao estatica (pressao - energia potencial por unidade de
volume associada `a pressao - e a pressao gravtica - energia potencial por unidade de volume) e
o termo 12 v 2 representa a pressao dinamica (energia cinetica por unidade de volume). Assim,
a equacao de Bernoulli exprime a conservac
ao da energia mecanica por unidade de volume do
fluido.
A equacao de Bernoulli aplica-se ao escoamento estacionario e isotermico de fluidos compressveis e nao viscosos. Para os lquidos incompressveis o valor da constante e o mesmo para
os pontos da mesma linha de corrente, mas difere de uma linha de corrente para outra. Se o
lquido for viscoso surgem forcas de atrito, cujo trabalho se transforma em energia termica,
deixando o processo de ser isotermico. Nestas situac
oes teramos:
W (F~ext ) = Em + Ui = Ep + Ec + Ui ,
78
(3.38)
(3.39)
(3.40)
Aplica
c
oes da equa
c
ao de Bernoulli
Segue-se um conjunto de exemplos de aplicac
ao da equac
ao fundamental da hidrodinamica.
Escoamento de um lquido por um orifcio
A equacao de Bernoulli permite determinar a velocidade de escoamento de um lquido contido
num vaso, atraves de uma abertura praticada nas paredes ou no fundo do vaso. Terricelli
demonstrou que a velocidade com que um lquido sai por um orifcio aberto num vaso que o
contenha, e igual `a velocidade que adquiririam as partculas do lquido se cassem, em queda
livre, de uma altura igual `a distancia que vai da superfcie livre do lquido no vaso ate ao nvel
do centro do orifcio.
Tubo de Venturi
O tubo de Venturi destina-se a medir a velocidade de deslocamento horizontal de um fluido
num tubo com seccao variavel, conhecidas as pressoes nas secc
oes/pontos de medida S1 e S2 .
Da equacao da continuidade resulta: v1 S1 = v2 S2 , de onde se pode concluir que a velocidade
de escoamento aumenta nos estrangulamentos. Aplicando a equac
ao de Bernoulli ao sistema,
obtem-se P + 12 v 2 = conste , pois gh = 0, verificando-se que um aumento da velocidade nos
estrangulamentos corresponde a uma diminuic
ao de pressao:
1
1
P1 + v12 = P2 + v22 .
2
2
(3.41)
Tubo de Pitot
O tubo de Pitot corresponde `a introduc
ao num cano horizontal, por onde se escoa um fluido,
de dois ramos abertos de um manometro. Aplicando a equac
ao de Bernoulli a este sistema (`as
duas extremidades A e B dos ramos do manometro) obtem-se
v=
2(P2 P1 )/,
(3.42)
onde P = P2 P1 se le no manometro.
3.2.4
Viscosidade
Os fluidos sao substancias que podem fluir, escoar-se, com maior ou menor facilidade - ou porque
as suas partculas nao ocupam posicoes fixas, movendo-se umas em redor das outras, rolando
encostadas, mudando de vizinhanca, deslocando-se com pequeno atrito, como os lquidos; ou
porque as suas partculas estao muito afastadas umas das outras, na ordem de 100 diametros,
e se deslocam rapida e erraticamente em todo o espaco do recipiente contentor, colidindo umas
com outras, como os gases. No estado lquido, nao ha estrutura organizada, cristalina, mas
as distancias intermoleculares ainda sao pequenas (as moleculas giram, rolam, umas sobre as
outras). No estado gasoso, as moleculas deslocam-se aleatoriamente e livremente em translac
ao,
colidindo.
Os lquidos nao tem forma propria (adaptam-se aos contornos dos recipientes que os contem)
mas tem volume definido e sao quase incompressveis. Os gases nao tem forma propria nem
volume definido (ocupam todo o espaco que lhe e oferecido por um recipiente fechado, por
maior que seja) e sao altamente compressveis. Os fluidos nao reagem a qualquer forca que
implique variacao de forma, adaptando-se sempre `a forma dos vasos que os contem.
Considere-se um fluido a escoar-se lentamente ao longo de uma conduta e imagine-se o
caudal dividido, por exemplo, em seis camadas paralelas. Chama-se viscosidade do fluido ao
atrito interno do fluido, ou seja `a forca de atrito entre as camadas adjacentes do fluido que
se movem com velocidades relativas diferentes. Esta forca de atrito interno aumenta com a
velocidade relativa das camadas, e oposta a esta e, para velocidades pequenas, e proporcional
`a velocidade relativa.
Sejam duas placas planas paralelas, separadas de uma distancia d, mergulhadas num fluido
viscoso. A placa inferior esta fixa, enquanto que a placa superior e compelida por uma forca F~ a
deslocar-se paralelamente `a inferior. Em resultado da viscosidade, o fluido adere `as placas, isto
e, a camada de fluido imediatamente adjacente `a placa adere a esta. Assim, o fluido junto `a placa
superior adquire a velocidade ~v da placa e arrasta, devido `a viscosidade, a camada de fluido
80
adjacente, a qual adquire uma velocidade ligeiramente inferior a ~v e assim sucessivamente, ate
que se atinge a camada de fluido adjacente `a placa inferior, que tem a velocidade desta ~v = ~0.
possvel mostrar que a velocidade ~v e proporcional a F e a d, e inversamente proporcional `a
E
area da placa A:
v=
1F d
.
A
(3.43)
por exemplo, a glicerina. Nos gases, a viscosidade e praticamente nula, em virtude dos grandes
espacos intermoleculares.
Viscosidade de algumas substancias: ar (a 20 o C), 1,89105 Pas; sangue (a 37 o C), 4103
Pas; agua (a 20 o C), 1103 Pas; glicerina (a 20 o C), 1,49 Pas.
3.2.5
Regimes de escoamento e o n
umero de Reynolds
(3.44)
A grandeza R e adimensional.
Se o n
umero de Reynolds NR e inferior a 2000, o escoamento diz-se laminar. Se for superior
a 3000, o escoamento e turbulento. Para valores de NR compreendidos entre 2000 e 3000, o
tipo de escoamento e, em maior ou menor grau, a composic
ao destes dois regimes.
3.2.6
e dada por:8
vP (r) =
1 P2 P1 2
(R r2 ).
4
L
(3.45)
1 P2 P1 2
R ,
8
L
(3.46)
1 P2 P1 2 2
R R .
8
L
(3.47)
3.2.7
Aplica
c
ao: vasodilatac
ao dos vasos sanguneos
O sangue e um fluido viscoso (a 37 o C: = 1050 kg/m3 e = 4 103 Pas), que flui nas
arterias e veias de forma geralmente laminar. Como consequencia da viscosidade, a velocidade
do sangue na camada imediatamente adjacente `as paredes da arteria/veia e nula, em resultado
das forcas intermoleculares atractivas entre o sangue e as paredes da arteria/veia. Visto que a
velocidade do sangue na arteria/veia varia radialmente, ent
ao a equac
ao de Bernoulli permite
concluir que a pressao varia tambem radialmente. Como no eixo da arteria, a velocidade e
maxima, a pressao a e minima. Junto `as paredes da arteria/veia a velocidade e minma e a
pressao e maxima. Em consequencia, as celulas do sangue, devido `a diferenca de pressao entre
a periferia e o centro do canal sanguneo, sao sujeitas a uma forca que as desloca da periferia
para o eixo da conduta, isto e, a celulas do sangue tendem a acumular-se no eixo central dos
vasos sanguneos.
8
82
A pressao do sangue `a entrada da aorta pode ser medida e varia, num adulto saudavel,
entre: pressao sistolica (maxima, e ocorre quando o corac
ao se contrai) - da ordem de 120 torr
(0,18 atm); e pressao diastolica (minma, ocorre entre contracc
oes do corac
ao) - da ordem de 80
torr (0,11 atm). A pressao diminui `a medida que o sangue passa das arterias para os capilares e
veias. De facto sao os vasos de diametro mais menor que determinam a resistencia ao fluxo. A
posicao das arterolas, imediatamente antes dos capilares, permite controlar o fluxo de sangue
numa dada regiao do organismo sempre que e necessario. Esta rede de pequenos vasos pode
restringir o fluxo para uma parte do corpo, enquanto induz um aumento do fluxo noutra parte
do corpo de forma a ir ao encontro da demanda de oxigenio e nutrientes, uma vez que tem a
capacidade de variacao o seu raio em em resposta a estmulos nervosos.
A capacidade de vasodilatacao (aumento do calibre de vasos, em regra para intensificar a
irrigacao sangunea de um orgao ou parte dele) permite controlar eficazmente o fluxo sanguneo.
Caso contrario, teria que haver uma variac
ao de pressao, o que implica alterar a actividade do
coracao. De facto, a relacao de Poiseuille, equac
ao 3.47, permite concluir, que para duplicar o
fluxo sanguneo, mantendo a diferenca de pressao, por exemplo, o raio da arterola apenas tem
de aumentar cerca de 19%! Se este aumento se desse `as custas de um aumento de pressao, a
pressao na arterola teria que duplicar, o que implicaria uma duplicac
ao da pressao arterial `a
sada do coracao.
3.2.8
Exerccios
1. Porque e que a pressao num lquido aumenta com a profundidade (distancia `a superfcie livre
do lquido), mas num gas a pressao e a mesma em qualquer ponto do interior do contentor?
Resolucao:
Nos lquidos as partculas estao tao proximas umas das outras que a pressao que algumas
delas exercem numa superfcie, imaginaria ou nao, e influenciada pela acc
ao compressora devido
`a forca gravtica das partculas que estao sobre elas. Compreende-se, assim, o facto experimental
de a pressao num ponto P do lquido ser numericamente igual `a forca gravtica de uma coluna
lquida de seccao unitaria e altura igual `a distancia do ponto P `a superfcie livre do lquido.
Esta pressao e muito sensvel `as variac
oes do potencial gravtico, e actua em todas as direcc
oes e
sentidos, pois deve-se ao choque das partculas com as superfcies, reais ou imaginarias (modelo
cinetico).
Nos gases, devido `a grande mobilidade das moleculas e ao seu grande afastamento, a acc
ao
compressora directa, por contacto, de umas sobre as outras nao e de considerar. Como tal, a
pressao nao varia tao significativamente com o potencial gravtico, uma vez que a distribuic
ao
83
1 P2 P1 2
8
L R =25
cm/s.
O n
umero de Reynolds NR = < v > d/ '1313, podendo o escoamento considerar-se
laminar.
O caudal do sangue na aorta e Q =< v > S =
1 P2 P1 2
2
8
L R R =79
cm3 /s.
3.3
Aplicaco
es: sistemas cardiovascular
Aproximadamente 56% do corpo humano e composto de lquidos. O lquido contido nas celulas
(aproximadamente 2/3 do total) e chamado lquido intracelular. O restante e chamado lquido
extracelular ou meio interno do corpo. Estes lquidos diferem substancialmente. Em particular, o intracelular contem grandes quantidades de ioes potassio, magnesio e fosfato. O lquido
extracelular possui ioes sodio, cloreto, bicarbonato, mais nutrientes para as celulas tais como
o oxigenio. Estas diferencas sao mantidas por mecanismos especiais de transporte atraves das
membranas celulares.
Todos os orgaos e tecidos do corpo contribuem para a homeostasia,9 isto e, para a manutenc
ao
de condicoes estacionarias do meio interno. Entre os sistemas que contribuem para a homeostasia esta o sistema circulatorio. Assim, a func
ao da circulac
ao e a de atender `as necessidades
dos tecidos, transportando nutrientes, removendo produtos de excrec
ao e em fim, mantendo em
todos os lquidos dos tecidos um ambiente apropriado `a sobrevivencia e func
ao das celulas.
O sistema cardiovascular e o sangue formam a rede de transporte do organismo. O sistema
cardiovascular e formado pelo corac
ao, org
ao que bombeia o sangue, e uma rede vascular de
distribuicao. A rede vascular e constituda por tres tipos de vasos sanguneos: as arterias, as
veias e os capilares. Estima-se que todos ligados entre si em linha recta, seriam equivalentes
a um canal com cerca de 160 000 km (cerca de 4 vezes o permetro da Terra). Os capilares,
os vasos mais pequenos, constituem 98% da rede vascular. A passagem do sangue atraves do
coracao e dos vasos sanguneos e chamada de circulac
ao do sangue.
3.3.1
Sistema vascular
85
nutrientes e resduos. As veias tem paredes finas que lhe permitem expandirem-se e susterem
grandes quantidades de sangue, quando o corpo esta em repouso. As veias maiores possuem
valvulas que trabalham num u
nico sentido, o que impede o sangue de voltar para tras.
Quando o sangue retorna ao corac
ao atraves das veias cavas superior e inferior e recolhido
na cavidade superior direita do corac
ao, atrio direito ou aurcula direita, e e, em seguida,
impulsionado para o ventrculo direito. Daqui e bombeado, atraves das arterias pulmonares,
para os capilares dos pulmoes, libertando a o dioxido de carbono e absorvendo o oxigenio. No
pulmoes ocorre a hematose do sangue, fenomeno respiratorio que diz respeito `a transformac
ao do
sangue venoso em sangue arterial (Do gr. haimatosis,
transformac
ao em sangue). O sangue
arterial retorna pelas veias pulmonares para a cavidade superior esquerda do corac
ao, atrio
esquerdo ou aurcula esquerda, que conduz o sangue para o ventrculo esquerdo. O ventrculo
esquerdo bombeia o sangue atraves da aorta (que tem aproximadamente o diametro de uma
mangueira de jardim), arterias sistemicas e dos capilares e, de volta ao corac
ao, atraves das
veias.
3.3.2
O sangue
Basicamente, o sangue consiste num meio fluido, denominado plasma, no qual estao em suspensao celulas. A densidade do sangue, , praticamente nao varia em condic
oes normais do
sistema cardiovascular e a tem um valor aproximado de 1050 kg/m3 (1,050 g cm3 ), podendo ser considerado um fluido incompressvel. O plasma, apos a remoc
ao das celulas por
centrifugacao, e um fluido claro, ligeiramente viscoso, rico em protenas (albumina, globulina e
fibrinogen), constitudo por agua (90% da sua massa), protenas (7%), substancias inorganicas
(1%) e substancias organicas (1%). As celulas suspensas no plasma sao, essencialmente, os
eritrocitos ou globulos vermelhos, os leucocitos ou globulos brancos e as plaquetas.
Os globulos vermelhos ou eritrocitos sao discos biconcavos com diametro de cerca de 7,6 m
e uma espessura de aproximadamente 1,0 m no centro e 2,8 m nos bordos, o n
umero de eritrocitos e de 5 a 5,5 milhoes por mm3 de sangue nos homens e de 4,5 a 5 milhoes nas mulheres,
ocupando aproximadamente 45% do volume do sangue. Os eritrocitos tem cor amarelo-palido
numa camada delgada de sangue fresco quando vistos ao microscopio de grande aumento;
mas quando sobrepostos em varias camadas adquirem uma matiz avermelhada. Nao possuem
n
ucleo e compoem-se, fundamentalmente, de uma protena contendo ferro e de um constituinte
lipoide que parece estar em grande concentrac
ao na membrana plasmatica. As propriedades
semi-permeaveis desta membrana, permitem ao eritrocito absorver lquido por osmose de meio
86
hipotonico e,10 no meio hipertonico,11 ele se enruga como uma esfera murcha. Dada a elevada
concentracao no sangue e a capacidade de se agregar e se deformar com a tensao de cisalhamento, os eritrocitos tem uma influencia marcante nas propriedades reologicas do sangue.12
Os leucocitos ou globulos brancos sao de tamanhos diferentes e, em media, tem cerca de 10 m.
Sao muito menos numerosos que os eritrocitos e, num indivduo sadio, existem entre 5000 a
8000 leucocitos por mm3 de sangue. Os leucocitos sao celulas, no verdadeiro sentido da palavra,
tendo n
ucleo e citoplasma. As plaquetas (tromboplastdeos; tromb
ocitos) sao pequenas massas de protoplasma (2 m a 4 m de diametro) e o seu n
umero varia entre 250000 e 300000
por mm3 . Tem um papel importante no processo de coagulac
ao do sangue, assim como no
desenvolvimento da arterosclerosis.
3.3.3
O corac
ao
87
3.3.4
Circula
c
ao do sangue
Circulaca
o sistemica ou grande circulaca
o.
Esta onda, ou pulsaca
o, pode ser sentida nas zonas onde as arterias est
ao `
a superfcie da pele).
16
A densidade do sangue praticamente n
ao varia, em condico
es normais do sistema cardiovascular, e, a 37 o C,
tem um valor aproximado de 1050 kg/m3 (1,050 g cm3 ). De facto, a resistencia a uma deformac
ao volumetrica
no sangue, caracterizada pelo m
odulo de elasticidade volumetrico, e de aproximadamente 109 N/m2 , bastante
similar ao da
agua, enquanto que a resistencia da arteria `
a mudanca de volume e da ordem de 105 N/m2 . Portanto,
a variaca
o da densidade do sangue que pode ocorrer devido a uma variaca
o da press
ao no sistema circulat
orio e
desprez
avel, em face da variaca
o do volume contido pela arteria por deformaca
o das suas paredes. Como referido,
o sangue pode ser modelado como um fluido incompressvel.
15
88
3.3.5
Press
ao arterial
Contracca
o isovolumetrica: todas as v
alvulas do coraca
o est
ao fechadas e admite-se que o sangue e incompressvel
89
3.3.6
Medi
c
ao da tens
ao arterial
A pressao do sangue nas arterias tem de ser regulada para assegurar uma adequada irrigac
ao
sangunea e consequentemente oxigenac
ao dos org
aos. Se a pressao arterial for muito baixa, a
irrigacao e insuficiente. Se for muito alta, pode causar danos aos vasos sanguneos e org
aos.
Variacoes s
ubitas da pressao desencadeiam, em segundos, reacc
oes compensatorias por parte
do sistema nervoso. Estas reaccoes autonomas do sistema nervoso nao envolvem as partes conscientes do cerebro. As variacoes a longo prazo sao, em parte, controladas pelas hormonas
que influenciam a quantidade de lquido expulso pelos rins. As reacc
oes hormonais demoram
algumas horas a fazer efeito.
90
3.3.7
Segue-se uma breve discricao dos aspectos hidrodinamicos das principais doencas que afectam
a rede vascular.
Aterosclerose
Arteriosclerose s. f. esclerose ou endurecimento das t
unicas arteriais (Do gr. artera, arteria +
sklerosis, endurecimento). Aterosclerose s. f. (medic.) lesao arterial em que ha degenerescencia
gorda e esclerose (Do gr. athero(oma),
dep
osito de gordura + sklerosis,
endurecimento).
Tens
ao arterial: (fisiol.) press
ao que e necess
ario exercer sobre uma arteria para que cesse o pulso do vaso
abaixo do ponto de compress
ao.
19
Esfigmoman
ometro s. m. (medic.) instrumento para registar a press
ao do sangue nas arterias (Do gr.
sphygm
os, pulsaca
o + port. man
ometro).
20
Ateroma [o] s. m. (medic.) degenerescencia das paredes internas das arterias, com a concomitante deposica
o local de colesterol e ulterior calcificaca
o ou ulcerac
ao (Do gr. atheroma, -atos, id., pelo fr. atherome, ateroma).
91
Hipertens
ao
A hipertensao corresponde a um estado de tensao arterial persistentemente elevada, superior
a 140 mmHg/90 mmHg, que pode causar lesoes arteriais e cardacas. Esta condic
ao obriga o
coracao e as arterias a um esforco, acabando por causar lesoes nas arterias coronarias (arterias
que irrigam o m
usculo cardaco), no corac
ao, e nos tecidos mais delicados, como por exemplo
os olhos e os rins.
21
92
Acidente isqu
emico transit
orio
O sangue oxigenado e transportado para o cerebro por dois pares de grandes arterias: as arterias
carotidas e as arterias vertebrais: as arterias carotidas circulam ao longo da parte anterior do
pescoco e as arterias vertebrais pela parte posterior do pescoco, por dentro da coluna vertebral.
Estas grandes arterias desembocam num crculo formado por outras arterias, do qual partem
arterias mais pequenas, assim como ocorre com as estradas que saem de uma rotunda de trafego.
Estes ramos levam sangue a todas as partes do cerebro.
As duas arterias vertebrais que fazem a irrigac
ao do cerebro derivam das arterias subclavias,
antes de estas chegarem aos bracos. Em condic
oes normais, o fluxo sanguneo dirige-se para
irrigar o cerebro. Contudo, em determinadas situac
oes ha revers
ao do fluxo da arteria vertebral
ipsilateral, distalmente a uma estenose, ou oclusao da arteria subclavia proximal, ou, mais
raramente, da arteria inominada. Quando a arteria subclavia esta parcialmente obstruda na
zona proxima da ramificacao, a velocidade do sangue ai aumenta e, de acordo com a equac
ao
de Bernoulli, a um incremento da velocidade numa dada regiao corresponde um decrescimo
de pressao. Em virtude da reduc
ao na pressao da arteria subclavia distalmente `a obstruc
ao,
o sangue flui anterogradamente pela arteria vertebral contralateral, chega `a arteria basilar e
desce retrogradamente pela arteria vertebral ipsilateral, para suprir a circulac
ao colateral para
a extremidade superior. Dessa forma, o suprimento sanguneo e sequestrado no sistema basilar
e pode comprometer o fluxo sanguneo encefalico, regional ou total.
Por vezes, esta situacao ocorre tambem quando se realiza um exerccio mais vigoroso com um
dos bracos: o fluxo de sangue aumenta na arteria subclavia para dar resposta `a maior necessidade
de irrigacao dos m
usculos do braco, diminuindo a pressao junto `a junc
ao da arteria vertebral
respectiva. Em consequencia, o sangue da arteria vertebral do lado oposto, por exemplo, diverge
parcialmente para arteria vertebral ligada `a arteria subclavia afectada, em vez de ir para o
cerebro, o que pode originar tonturas, fraqueza, etc., devido `a deficiente irrigac
ao do cerebro.
A designacao classica para este fenomeno e a sndrome do roubo da subclavia, que origina
o acidente isquemico transitorio (AIT). Um acidente isquemico transitorio, tambem e chamado
uma mini trombose, por ser, muitas vezes, um sinal de aviso antes de uma trombose. No caso
de um AIT, a arteria apenas fica bloqueada durante um curto espaco de tempo.
Paragem cardaca
A paragem cardaca e a interrupc
ao s
ubita do bombeamento de sangue do corac
ao, a qual e
muitas vezes fatal. Pode ser causada por um de dois tipos de problemas cardacos: a fibrilhac
ao
93
3.4
Bibliografia
22
Durante a fibrilhac
ao ventricular, os ventrculos contraem-se r
apida e descoordenadamente, impedindo o
coraca
o de bombear sangue [fibrilhaca
o ou fibrilaca
o s. f. (medic.) sucess
ao irregular, desordenada, de contracco
es
e relaxaco
es das fibras de um m
usculo, como o corac
ao, o diafragma e outros (Do fr. fibrillation, id.)]
23
A assistolia, um problema electrico do coraca
o, e a incapacidade total de o m
usculo cardaco se contrair, o
que por sua vez d
a origem `
a paragem cardaca [assistolia s. f. (medic.) insuficiencia da contracc
ao (sstole) do
coraca
o (Do gr. a-, sem + systole, contracc
ao + -ia)].
94
Captulo 4
Campo el
ectrico e corrente el
ectrica
1 Electricidade
ras formas, como energia termica, luz, movimento, etc.; estudo dos fenomenos electricos; a causa
desses fenomenos (Do lat. cient. electricitate-, pelo fr. electricite,
4.1
Interacc
ao fundamentais
95
4.2
Campo el
ectrico e forca el
ectrica
Para interpretar as interaccoes electricas recorre-se ao conceito de campo electrico. Quando dois
corpos electrizados interactuam exercem um sobre o outro forcas de naturezas electricas.
2
Materia s. f. (fs.) aquilo de que um corpo e feito, que ocupa espaco, que ocupa espaco, tem massa (por
isso tem peso) e pode impressionar os nossos sentidos corporais; energia condensada numa porca
o de espaco;
(Do lat. matera-, id.). Na definica
o de materia constante no Dicion
ario de Lngua Portuguesa, da Priberam
Inform
atica e da Porto Editora (vers
ao electr
onica de 1996) refere-se que ter massa implica ter peso (por isso
tem peso). Esta afirmaca
o n
ao e exacta nem e precisa.
3
Massa s. f. (fs.) raz
ao existente entre qualquer forca que actue sobre um dado corpo material e a aceleraca
o
do movimento que essa forca lhe comunica; quantidade de materia de um corpo; (Do lat. massa-, id.).
4
Prot
ao s. m. (fs.) partcula elementar, constituinte dos n
ucleos at
omicos, de massa quase igual `
a unidade
(na escala de massas at
omicas) e carga positiva, igual em valor absoluto `
a do electr
ao; i
ao hidrogenio (Do gr.
pr
otos, primeiro + [electr]
ao).
5
Neutr
ao s. m. (fs.) partcula elementar de massa ligeiramente maior que a do prot
ao, sem carga electrica,
facto que lhe permite penetrar atraves da estrutura aberta dos
atomos, mas dificulta a sua detecca
o, que s
o e
possvel quando efectua uma colis
ao com um n
ucleo at
omico e se observam as consequencias; (Do fr. neutron,
id.).
6
Atomo s. m. na filosofia antiga, partcula indivisvel da materia; porca
o mais pequena de materia que caracteriza um elemento qumico, composta por um n
ucleo (constitudo por prot
oes e neutr
oes) em torno do qual se
situa a nuvem electr
onica (os electr
oes)7 ; coisa excessivamente pequena (Do gr.
atomos, indivisvel, pelo lat.
at`
omu-,
atomo).
8
A forca electromagnetica e a forca nuclear fraca s
ao duas formas da mesma interacca
o fundamental: a energias
e a temperaturas extremamente elevadas as duas forcas fundem-se na interacca
o electrofraca.
9
Carga electrica: conceito fundamental da electricidade; quantidade de electricidade num corpo, adquirida
pela adica
o (carga negativa) ou extracc
ao (carga positiva) de electr
oes.
96
Interaccao
Nuclear forte
Electromagnetica
Nuclear fraca
Gravitacional
Intensidade*
1
1/137
109
1038
Alcance
curto
longo
curto
longo
Transportadores
gluoes
fot
oes
W , Z0
gravitoes
4.2.1
Carga el
ectrica
Aspectos not
aveis da carga el
ectrica
A carga electrica:
- e uma grandeza que nao se pode exprimir em func
ao de grandezas exclusivamente mecanicas;
- e invariante, quer dizer, nao muda de valor nas transformac
oes fsicas e qumicas e tem
sempre o mesmo valor em qualquer referencial, ou seja para qualquer observador;
- as cargas elementares, positiva e negativa, embora tenham os mesmo modulo sao fisicamente assimetricas: a primeira esta associada a partculas do n
ucleo - os protoes - enquanto que
a segunda esta associada `as partculas do inv
olucro atomico, que sao partculas de massa cerca
de 1800 vezes menor que os protoes - os electroes;
- tanto quanto se sabe nao existem na Natureza partculas livres com carga electrica inferior
`a carga electrica elementar (carga electrica do electrao ou do protao): e = 1, 6 1019 C;
- nao e possvel criar ou destruir carga electrica.
10
Para se ter uma ideia da carga electrica de 1 C, refere-se que as trovoadas atmosfericas envolvem quantidades
de electricidade desta ordem de grandeza.
97
Conserva
c
ao da carga el
ectrica
O princpio de conservacao da carga electrica traduz o facto de sempre que a partir de um
sistema neutro (sem carga aparente) surge uma carga electrica de um sinal, surge tambem uma
carga electrica simetrica, isto e, ocorre a produc
ao de pares de partculas de carga de sinais
contrarios.
Condutores e diel
ectricos
Um condutor e uma substancia ou corpo que oferece uma resistencia relativamente pequena `a
passagem de uma corrente electrica, de energia termica, etc. (por ex., um metal). Um dielectrico
e um material que conduz mal a electricidade; s. m. (electr.) objecto ou substancia isoladora
de electricidade, isto e, que nao contem cargas livres de se moverem sob a acc
ao de um campo
electrico (dielectrico ideal); substancia dielectrica: em geral, e a substancia ma condutora de
electricidade.
O parametro dielectrico de um material, tambem chamado permitividade relativa, e a razao
entre a capacidade de um condensador, cujo dielectrico e o material, e a capacidade que teria se
o dielectrico fosse o vazio. A rigidez dielectrica de um material corresponde ao campo electrico
maximo que um dielectrico pode suportar sem perder as suas qualidades de isolador.
o Ar h
umido e condutor de electricidade, descarregando rapidamente os corpos electrizados.
A agua salgada e boa condutora de electricidade.
4.2.2
For
ca electrost
atica e lei de Coulomb
A electrostatica e parte do electromagnetismo que estuda das propriedades das cargas electricas
em repouso (De electrostatico). A electrodinamica e area do electromagnetismo que estuda as
forcas geradas entre circuitos condutores proximos, quando percorridos por correntes electricas
(De electro- + dinamica).
A intensidade comum das forcas de interacc
ao electrostatica entre duas cargas electricas
pontuais e directamente proporcional ao produto das cargas e inversamente proporcional ao
quadrado da distancia |~r| que as separa. A lei de Coulomb da forca electrica traduz matematicamente a interaccao entre duas cargas electricas pontuais:
1 q1 q2 ~r
,
F~q1 ,q2 =
4 |~r|2 |~r|
(4.1)
onde F~q1 ,q2 representa a forca que a partcula de carga electrica q1 exerce sobre a partcula de
carga electrica q2 ( q1 e q2 representam o valor algebrico da carga electrica das duas partculas),
e ~r representa o vector posicao da partcula q1 relativamente `a partcula q2 .
98
Por sua vez a forca que a partcula de carga electrica q2 exerce sobre a partcula de carga
electrica q1 e dada pela por
1 q1 q2 ~r
.
F~q2 ,q1 =
4 |~r|2 |~r|
(4.2)
As forcas de atraccao ou repulsao entre duas cargas electricas pontuais sao simetricas, com
a mesma linha de accao: o seu modulo e directamente proporcional aos modulos das cargas
e inversamente proporcional ao quadrado da distancia entre os centros de carga das cargas.
As forcas electricas entre cargas do mesmo sinal sao repulsivas, enquanto as forcas electricas
entre cargas de sinal contrario sao atractivas. Diz-se que duas cargas electricas sao iguais se, no
mesmo meio e na mesma posicao em relac
ao a uma terceira carga, exercem sobre esta a mesma
forca.
O parametro caracteriza as propriedades electricas do meio entre as duas carga e designase permitividade electrica do meio. A permitividade electrica traduz a interferencia do meio
material na interaccoes electricas que nele ocorrem. A variac
ao da permitividade implica, portanto, uma variacao da intensidade das forcas electricas de interacc
ao. As forcas electricas entre
duas cargas sao maximas no vazio, onde toma o menor valor: no vazio - vacuo, ausencia de
materia ponderavel - =0 =8, 85 1012 C2 /Nm2 . A quantidade 0 e uma constante universal,
tal como a constante gravitacional G ou a velocidade da luz no vazio c.
Dois corpos extensos carregados com carga electrica q1 e q2 podem ser consideradas pontuais
se a distancia entre eles for muito maior que a maxima dimensao linear de cada corpo. A
experiencia mostra que se os corpos carregados tiverem dimensoes apreciaveis em relac
ao `a
respectiva distancia, a forca que um exerce sobre o outro nao satisfaz a lei de Coulomb.
Considere-se uma distribuicao de partculas carregadas electricamente. A forca que esta
distribuicao de cargas electricas exerce sobre uma carga de prova pontual e igual `a soma das
forcas que cada carga exerce sobre a carga de prova pontual, isto e, a experiencia mostra que
as cargas actuam independentemente umas sobre as outras, sendo as forcas entre pares de
partculas dadas exactamente pela lei de Coulomb como se as outras nao existissem.
Princpio da sobreposicao ou da nao interferencia das forcas electricas: Quando varias cargas
electricas actuam conjuntamente sobre outras a forca que sobre estas exerce cada uma dessas
cargas e a mesma que, de facto, cada uma exerceria se actuassem isoladamente.
99
4.2.3
Campo el
ectrico
(4.3)
100
Se o campo electrico no ponto P e criado por uma carga pontual Q, a expressao da grandeza
campo electrico e:
~ =
E
1 Q ~r
1 Qq 1 ~r
=
,
2
40 r q r
40 r2 r
(4.4)
4.2.4
Ep,AB
= WAB (F~el ) =
1 Qq
1 Qq
40 rA
40 rB
(4.5)
1 Qq
.
40 r
(4.6)
4.2.5
Potencial el
ectrico
Da expressao anterior conclui-se que, num campo electrico criado por uma carga pontual u
nica,
a razao Ep /q e constante para cada ponto. A grandeza potencial electrico define-se como:
Define-se, para o sistema em considerac
ao, potencial electrico como:
V =
Ep
.
q
(4.7)
(4.8)
(4.9)
O potencial electrico num ponto e numericamente igual ao trabalho realizado pela forca electrica
que actua uma carga unitaria e positiva, quando esta se desloca desse ponto ate ao infinito. Isto
e, o potencial electrico (num dado ponto de um campo electrostatico) corresponde ao trabalho
efectuado para transportar a unidade de carga electrica positiva do infinito ate ao ponto.
Diferen
ca de potencial e campo el
ectrico
~ e normal `as superfcies equipotenciais e o seu sentido aponta
A direccao do campo electrico E
sempre no sentido dos potenciais decrescentes. Se uma carga electrica pontual for colocada, sem
velocidade inicial, num campo electrico:
- desloca-se no sentido do campo, ou seja, dos potenciais mais altos para os potenciais mais
baixos, se for positiva;
- desloca-se no sentido contrario ao do campo, ou seja, dos potenciais mais baixos para os
potenciais mais altos, se for negativa;
102
Num campo electrico qualquer, ao passar-se de um ponto para outro da mesma linha de
campo, suficientemente proximo do primeiro para que se possa considerar constante o modulo
~ se tem:
do campo electrico E,
~ =
|E|
V
,
d
(4.10)
VA VB
,
dAB
(4.11)
4.2.6
Capacidade el
ectrica
Num condutor isolado, a carga e o potencial sao grandezas directamente proporcionais. A constante de proporcionalidade chama-se capacidade electrica do condutor. A capacidade electrica
(de um condutor isolado) e a razao entre a carga do condutor e o seu potencial. A unidade
SI de capacidade electrica e o farad, F, (1 F=1 C/1 V). O farad e, portanto, a capacidade
de um condutor isolado que fica ao potencial de 1 V quando possui a carga electrica de 1 C.
Dado tratar-se de uma unidade muito grande, usam-se vulgarmente os seus subm
ultiplos, em
particular: o microfarad (1 F=106 F) e o picofarad (1 pF=106 F).
Um condensador e um sistema formado por dois condutores separados por um isolador
(dielectrico). Assim, um condensador compreende as duas armaduras (os condutores) separadas
por um dielectrico. A armadura que recebe as cargas electrica designa-se colectora. A outra
chama-se armadura condensadora. A capacidade electrica de um condensador e o quociente da
carga electrica Q da armadura colectora e da diferenca de potencial V entre as armaduras:
C=
Q
.
V
(4.12)
(4.13)
Ep =
1X
Qi Vi ,
2
(4.14)
i=1
onde Vi representa o potencial produzido por todas as cargas, excepto a carga Qi , no ponto
P
onde se situa esta carga. Num condutor, em equilbrio electrostatico, com a carga Q = ni=1 Qi ,
todos os seus pontos estao a potencial Vi = V . A expressao 4.14 toma a forma:
1
1
Ep = QV = CV 2 .
2
2
(4.15)
Esta e a energia que o condutor descarrega para a Terra (ou outro reservat
orio de carga) quando
se liga a esta e e a energia potencial electrostatica que o condensador recebeu durante a carga.
Para descarregar um condensador, poem-se em contacto as armaduras colectora e condensadora.
Esta energia, durante a descarga, pode manifestar-se sob formas diversas, tais como: electrica,
luminosa e termica (fasca), mecanica, qumica, fisiologica e mecanica (contracc
ao muscular no
choque electrico), etc.
4.2.7
espessura de cerca de 3 nm, sendo a espessura total cerca de 9 nm. A membrana celular separa
duas regioes que contem uma variedade de ioes em soluc
ao. Na regiao intracelular abundam os
ioes Na+ e Cl , enquanto no interior da celula ha maior concentrac
ao de ioes K+ . Estes ioes
podem-se difundir atraves da estrutura proteica porosa da membrana. Contudo, os coeficientes
de difusao para os varios ioes e bastante diferente.13 Ao contr
ario do que seria de esperar, existe
um gradiente de concentracao destes ioes entre o interior e o exterior das celulas, o que significa
que a difusao dos ioes tem coeficientes diferentes consulate a direcc
ao de difusao. Por exemplo,
a concentracao do iao K+ no interior da celula e cerca de 30 vezes superior `a concentrac
ao no
exterior da celula. Qual e a razao deste comportamento?
Nas superfcies interior e exterior das celulas existe uma dupla camada de carga que produz
uma diferenca de potencial de aproximadamente 70 mV, isto e, considerando o potencial no
exterior da celula (regiao extracelular) igual a zero, a regiao intracelular (interior da celula)
esta ao potencial de -70 mV. Esta diferenca de potencial assegura a manutenc
ao do gradiente
dos varios ioes. Ter presente que o excesso de carga em cada regiao da membrana esta nas
superfcies interior e exterior desta. O fluido em cada regiao e electricamente neutro.
A diferenca de potencial V que impoe as concentrac
oes de equilbrio atraves da membrana `a
temperatura normal do corpo (310 K) e dada pela equac
ao de Nernst para ioes positivos (para
ioes negativos o sinal muda):
V = Vi Ve = 61 log
Ci
mV,
Ce
(4.16)
105
Ve Vi
= 7, 8 106 V/m.
d
(4.17)
Trata-se de um valor de campo electrico muito elevado (no ar, uma fasca ocorre entre dois pon
tos quando a magnitude do campo electrico atinge cerca de 3 MV/m. Oleos
especiais apresentam
campo electricos de rotura iguais ou superiores a 107 V/m.
Verifica-se que, apesar da elevada magnitude do campo no interior da membrana, poucas
ioes das celulas da membrana sao necessarios para estabelecer o campo electrico. Sabendo que
uma celula tpica do corpo humano tem um volume de cerca de 1015 m3 , uma area superficial
de aproximadamente 5 1010 m2 , e que se estima que a capacidade por unidade de area de
uma membrana celular e da ordem de 102 F/m2 ou 106 F/cm2 , a carga total numa membrana
celular e Q = V C = 70 103 (102 5 1010 ) ' 3, 5 1013 C e, portanto, o n
umero
total de ioes e n = Q/e = 2 106 ioes. Comparando o n
umero de ioes n nas paredes da celula
com o n
umero de ioes de potassio NK [=(concentrac
ao)(volume)(n
umero de Avogadro)],
NK = [(150 103 mol)/(103 m3 )] (1015 m3 ) (6 1023 i
oes/mol) ' 9 1010 , (4.18)
verifica-se que apenas 1 em cada 50 000 ioes de potassio dentro da celula devem ser transportados
para a superfcie da celula para se estabelecer o campo dentro da membrana.
Impulsos nervosos: potencial ac
c
ao
O sistema nervoso e o sistema mais complexo do corpo humano e regula simultaneamente todas
fonte da nossa consciencia, inteligencia e criatividade, e permite-nos
as actividades do corpo. E
comunicar e sentir emocoes. Controla tambem quase todos os processos do corpo, desde func
oes
automaticas das quais temos plena consciencia, como a respirac
ao e o pestanejar, `as actividades
complexas que implicam pensamento e a aprendizagem, como tocar um instrumento musical
e andar de bicicleta. O sistema nervoso de um humano divide-se em duas partes: o sistema
nervoso central constitudo pelo encefalo e pela espinal medula, e o sistema nervoso periferico,
constitudo por todos os nervos que emergem do sistema nervoso central e se espalham pelo
corpo, transmitindo sinais entre as diferentes partes do corpo e o sistema nervoso central. Os
sinais nervosos tem a forma de impulsos electricos.
Uma celula nervosa ou neuronio e composta como todas as celulas por um n
ucleo, e tem
um ou dois prolongamentos especiais, conhecidos como fibras nervosas ou axonios, que transportam sinais nervosos, e podem ser muito longos. Um neuronio possui ainda varias dendrites,
106
14
Os i
oes pot
assio tem um papel essencial na conduca
o nervosa. Um dieta saud
avel deve incluir alimentos ricos
em pot
assio como bananas, tomates, espinafres e laranjas.
15
Ax
onio e a parte do neur
onio que leva os impulsos nervosos do corpo celular para outra celula nervosa ou
para
org
aos efectores. Os neur
onios s
o tem um ax
onio.
107
4.2.8
Exerccios
1. Sabendo que uma celula tpica do corpo humano uma area superficial de aproximadamente
5 1010 m2 , que a espessura da parede celular e 9 nm, e que a permitividade electrica do
material que forma a parede e cerca de 10 vezes a permitividade electrica do vazio, determine
a capacidade electrica da parede da celula e a energia armazenada nas paredes da celula.
o:
Resoluc
a
Numa primeira aproximacao pode-se representar a parede celular como sendo equivalente
a um condensador plano de placas paralelas. A capacidade neste caso obtem-se usando a expressao:
C=
S
5 1010 m2
= 100
= 4, 9 pF,
d
9 109 m
(4.19)
4.3
(4.20)
Corrente el
ectrica
4.3.1
Intensidade de corrente el
ectrica
dQ
.
dt
(4.21)
Sncrono (electr.): diz-se dos motores de corrente alternada cuja velocidade e constante para determinado
perodo da corrente, e que s
o podem continuar em movimento quando j
a tiverem atingido a velocidade caracterstica.
109
4.3.2
Lei de Ohm
~ das propriedades do
A intensidade de corrente num condutor depende do campo electrico, E,
material de que e feito o condutor e da sua forma. Em geral esta dependencia no campo electrico
e nas propriedades do material e caracterizada pela grandeza condutividade electrica.
Para alguns materiais, especialmente para os metais, a uma dada temperatura, a corrente e
praticamente directamente proporcional `a magnitude do campo electrico. Esta regra e conhecida
como leide Ohm (descoberta em 1826 por George Ohm). O termo lei esta entre aspas, porque
na verdade, e como acontece com a equac
ao dos gases ideais e a lei de Hooke, por exemplo,
esta regra corresponde a um modelo idealizado que apenas descreve o comportamento de alguns
materiais.
Num elemento condutor puramente resistivo a tensao V aos terminais desse elemento e a
corrente electrica I que percorre esse elemento, a uma dada temperatura T, sao proporcionais:
V = R I.
(4.22)
4.3.3
Resist
encia el
ectrica e resistividade
(4.23)
Uma pessoa com resistencia electrica de uma pessoa entre as suas maos e da ordem de 10
k. Com as maos molhadas em agua salgada a resistencia diminui para cerca de 1000 .
Como e conhecido, a energia representa a capacidade de realizar trabalho. Como acontece
com as partculas materiais na presenca de um campo gravtico, os portadores de carga na
presenca de um campo electrico tem tendencia a deslocarem-se para as regioes de menor energia potencial electrica. Quando se movem no interior de meios condutores (bons condutores,
resistencias, etc.) perdem energia `a medida que avancam, em consequencia de colisoes com os
cernes ou os n
ucleos dos atomos. Ha, portanto, uma diminuic
ao de potencial ou uma queda de
tensao no seu deslocamento.
Os portadores de carga livres no seu movimento sofrem colisoes com os atomos dos materiais,
dissipando energia na forma de energia termica, de que resulta o aumento de temperatura dos
componentes e condutores. O aumento de temperatura traduz-se num fluxo de energia termica
possvel, tambem, que parte
do componente/condutor para a sua vizinhanca: efeito de Joule. E
da energia electrica seja convertida noutras formas de energia, por exemplo energia luminosa.
A energia dissipada por unidade de tempo, potencia dissipada, no condutor percorrido por
uma corrente electrica I e aos terminais do qual existe uma diferenca de potencial ou queda de
tensao V e dada pela expressao:
P = V I,
(4.24)
(4.25)
Cada condutor tem uma capacidade limitada para a quantidade de energia termica que pode
dissipar. Se esse limite for ultrapasso, o condutor queima. e o que acontece com os fusveis dos
equipamentos ou instalacoes electricas.17
4.4
Aplicaco
es: efeitos da corrente el
ectrica no corpo humano
A natureza electrica dos impulsos nervosos explica porque e que o corpo e sensvel a correntes
electricas externas. A propagacao no corpo de correntes inferiores a 100 mA podem ser fatais
porque interferem com processos nervosos essenciais como por exemplo, os que ocorrem no
coracao. Correntes da ordem de 10 mA atraves de uma perna ou braco provoca fortes contraccoes musculares e dor consideravel; se quando uma pessoa agarra um condutor a correntes
17
111
que percorre o corpo e 20 mA, a pessoa tem dificuldade em largar o condutor. Se correntes
desta ordem passarem pelo peito podem causar fibrilac
ao ventricular, uma s
ubita contraccao
muscular desorganizada do m
usculo cardaco, fazendo com que o corac
ao bombeie muito pouco
sangue. Surpreendentemente, correntes superiores a 100 mA sao menos capazes de causar fibrilacao porque o m
usculo e clampednuma posic
ao. Nesta situac
ao, o corac
ao para de bater e
e, muitas vezes, capaz de reiniciar o batimento normal quando a corrente e cessa. Os desfibriladores electricos usados normalmente nas emergencias electricas induzem um pulso de corrente
significativo para parar o coracao (e a fibrilac
ao) para dar ao corac
ao a possibilidade de reiniciar
o seu ritmo normal.
Os fluidos do corpo humano em geral sao bastante bons condutores porque possuem substanciais concentracoes de ioes. Por comparac
ao, a resistencia da pele e bastante superior, variando
desde 500 k (pele muito seca) a cerca de 1000 para pele molhada, dependendo tambem da
area de contacto. Se R = 1000 , a corrente de 100 mA, requer uma diferenca de potencial
V = RI=100 V. Se nao fosse a resistencia da pele, mesmo uma bateria comum de 1,5 V poderia
produzir um choque electrico hazardous.
Em resumo, uma corrente electrica pode induzir tres tipos de hazards:
- interferencia com o sistema nervoso,
- lesao provocada por accoes compulsivas dos m
usculos,
- queimaduras devido ao efeito de Joule, Ed = RI 2 t.
Mesmo tensoes da ordem de 10 V podem ser perigosas. Assim, deve-se ser sempre cuidadoso
quando se manuseiam equipamentos electricos.
Por outro lado, correntes alternadas com frequencias da ordem de 106 Hz nao interferem
apreciavelmente com os processos nervosos e pode mesmo ser usada com fins terapeuticos por
exemplo no tratamento por aquecimento de condic
oes de arterite, sinusite ou outras desordens.
Se um dos electrodos for muito pequeno, a concentrac
ao de energia termica pode ser usado
para a destruicao local de tecidos como tumores ou para cortar tecidos em certos procedimentos
cir
urgicos.
4.5
Exerccios
1. Uma pessoa com resistencia electrica entre as suas maos da ordem de 10 k agarra acidentalmente os terminais de uma fonte de tensao de 14 kV. a) Se a resistencia interna da fonte
for 2000 , qual e a corrente que percorre o corpo da pessoa? (1,2 A ??) b) Qual e a potencia
dissipada no corpo da pessoa? (1,4104 W ??) c) Se se aumentar a resistencia interna da fonte
de forma a tornar a fonte segura, qual deve ser o valor da resistencia interna da fonte para que
112
a corrente maxima atraves de um corpo humano seja igual ou inferior a 1 mA? (1,4107 ??)
2. A resistividade media de um corpo humano (aparte da resistencia da superfcie da pele) e
cerca de 5 m. O caminho condutor entre entre as duas maos podem ser representados aproximadamente como um cilindro com 1,6 m de comprimento e de diametro 0,10 m. A resistencia
da pele pode tornar-se desprezavel molhando as maos em agua salgada. Qual e a resistencia
entre as maos, se a resistencia da pele for desprezada? Qual a diferenca de potencial entre as
maos que pode originar um choque letal com corrente de 100 mA? Considerando a corrente de
100 mA, qual a potencia dissipada no corpo?
Este resultado mostra que uma pequena diferenca de potencial produz uma corrente perigosa
quando a resistencia da pele e substancialmente reduzida.
4.6
Bibliografia
[1] Manual de Fsica, 11o ano de escolaridade, (Campo Electrico e Corrente Electrica), Lus
Silva e Jorge Valadares, Didactica Editora, 1983.
[2] General Physics with Bioscience Essays, J. B. Marion and W. F. Hornyak, John Wiley
& Sons, NY, 1985.
[3] Notas Manuscritas de Biofsica, Paulo Seara de Sa, 2005.
[4] Advanced Phyics, S. Adams e J. Allday, Oxford Press, 2000.
[5] Manual de Fsica, Campos e Ondas - 12o ano de escolaridade, Lus Silva e Jorge Valadares, Didactica Editora, 1985.
[6] Enciclopedia Medica da Famlia, Livraria Civilizac
ao Editora, 2001.
[7] Dicion
ario de Lngua Portuguesa, Porto Editora, 1999.
113
Formul
ario de Biofsica
~ te
~a = const
x(t) = x0 + v0 t + 12 at2
v(t) = v0 + at
v 2 = v02 + 2as
~ 0 (F~ ) = ~r F~
M
M0 (F ) = rF sin
~ 0 = ~r p~
L
L0 = rp sin
W (F ) = F~ ~r
W (F ) = F r cos
Ec = 12 mv 2
Ep = mgh
P =
F
S
m
V
P = P0 + gh
I = f gVf d
Q = vS
P + 12 v 2 + gh = contte
v=
<v
I=
1 PA PB
(R2 r2 )
4
L
1 PA PB 2
>= 8
R
L
Q
t
V = IR
P =VI
R = L
S
1 atm = 760 torr =1, 013 105 Pa; e = 1, 6 1019 C; g = 9, 8 m/s2 ;
114