PROACI - Síndrome Compartimental

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|  PROACI.  2013;9(2):57-77  |
SÍNDROME COMPARTIMENTAL
ABDOMINAL

BRUNO MONTEIRO TAVARES PEREIRA


GUSTAVO PEREIRA FRAGA

Introdução
A síndrome compartimental abdominal (SCA) é uma complicação grave, oriunda do aumento exa‑
gerado da pressão intra‑abdominal (PIA), causando significativa morbidade e mortalidade.

As alterações fisiopatológicas decorrentes do aumento da PIA em vários órgãos e sistemas têm


sido estudadas desde o século passado, inicialmente para salientar a consequência cardiovascular
associada à elevação da PIA. Contudo, o reconhecimento da cavidade abdominal como um com‑
partimento e o conceito de que hipertensão intra‑abdominal (HIA) resulta em SCA têm recebido
atenção apenas recentemente.

lembrar
A gravidade clínica e a frequência da HIA e da SCA justificam a atenção a este
tópico.1

A SCA é definida como uma disfunção orgânica sintomática que resulta do aumento da PIA. O
termo SCA foi criado por Fietsam, em 1989, após descrever o quadro de um paciente em recupe‑
ração pós‑operatória de aneurisma de aorta abdominal que evoluiu com abdome tenso, oligúria,
hipoxemia, hipercarbia e altos picos de pressão inspiratória.

Posteriormente, a mensuração da PIA tornou‑se disponível, e estudos clínicos terminaram por


demonstrar a baixa sensibilidade do exame físico. Assim, a mensuração por meio da pressão
intravesical (bexiga) tornou‑se o método padrão na maioria dos centros de trauma e unidades de
terapia intensiva espalhados pelo mundo.2,3

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A incidência de HIA ainda foi pouco estudada, e faltam pesquisas prospectivas, testes duplo‑cego
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randomizados e análises baseadas em evidência.

A SCA é uma consequência grave da elevação da PIA. Assim, torna‑se necessário entender
melhor alguns conceitos básicos. Por definição, PIA é a pressão contida no interior do comparti‑
mento abdominal. Fisiologicamente, a PIA pode atingir marcas transitórias de até 80mmHg (tosse,
manobra de Valsalva, levantamento de peso, etc.), mas esses valores não podem ser tolerados
por longos períodos.

Segundo a Sociedade Mundial da Síndrome Compartimental Abdominal (WSACS),4 fundada em


2004 e responsável pelos mais recentes estudos no assunto, pacientes adultos críticos já possuem
a PIA aumentada (5‑7mmHg).

A HIA é definida como uma PIA superior a 12mmHg. Os efeitos nocivos da HIA ocorrem muito
antes da manifestação da SCA, e os pacientes que se apresentam com HIA estão associados
a um risco 11 vezes maior de desenvolver complicações abdominais do que aqueles que não
possuem HIA/SCA.1,4

A rápida progressão da HIA leva à SCA, que é formalmente definida como PIA > 20mmHg.
A  SCA deve, portanto, ser vista como o resultado final de um aumento contínuo e
progressivo da PIA, o qual, se não for corrigido, resultará na disfunção ou falência de
múltiplos órgãos.2

São causas comuns de disfunção e falência múltipla de órgãos:

„„ acidose metabólica (em razão da reanimação volêmica);


„„ oligúria;
„„ pressão das vias aéreas elevadas;
„„ hipercarbia refratária ao aumento da frequência respiratória;
„„ hipoxemia refratária ao oxigênio e à pressão expiratória final positiva (PEEP);
„„ hipertensão intracraniana;

O consenso mundial de definições de PIA, HIA e SCA, desenvolvido pela WSACS, pode ser visto
resumidamente no Quadro 1.4

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Quadro 1

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Definições preconizadas pela WSACS4

Definição 1 A pressão intra‑abdominal é, por definição, a pressão contida dentro do


compartimento abdominal.
Definição 2 Pressão de perfusão abdominal (PPA) = pressão arterial média (PAM) –
pressão intra‑abdominal (PIA)
Definição 3 Gradiente de filtração (GF) = pressão de filtração glomerular (PFG) – pressão
tubular proximal (PTP) = PAM – (2 x PIA)
Definição 4 A PIA deve ser mensurada em mmHg, em posição supina e em expiração
após constatação de que não há contração da parede abdominal e que o
transdutor está “zerado” no nível da linha axilar média.
Definição 5 A mensuração da PIA deve ser realizada via pressão intravesical com
instilação máxima de 25mL de solução salina estéril.
Definição 6 A PIA pode ser considerada normal em aproximadamente 5‑7mmHg nos
pacientes críticos.
Definição 7 A HIA é definida por PIA sustentada ou repetida ≽ 12mmHg.

Definição 8 HIA é classificada em:


„„ grau I: 12‑15mmHg
„„ grau II: 16‑20mmHg
„„ grau III: 21‑25mmHg
„„ grau IV: > 25mmHg
Definição 9 A SCA é definida por PIA sustentada ou repetida ≽ 20mmHg (com ou sem
pressão de perfusão < 60mmHg), que está associada à disfunção ou à
falência de órgãos.
Definição 10 SCA primária é a condição associada à lesão ou à doença localizada dentro
da cavidade abdominopelviana.
Definição 11 SCA secundária é a condição em que a etiologia não se origina da região
abdominopelviana.
Definição 12 SCA terciária ou recorrente é a condição em que há recidiva da SCA após
intervenção cirúrgica ou tratamento clínico prévio de SCA primária ou
secundária.

Objetivos
Ao final da leitura deste artigo, espera‑se que o leitor

„„ diagnostique e trate a HIA e a SCA dentro dos conceitos atuais propostos pela WSACS;
„„ recorde os seis importantes passos no tratamento dessa síndrome.

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Esquema conceitual
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Perfusão cerebral
Função cardíaca
Etiologia e fisiopatologia
Função respiratória
Manifestações clínicas
Função renal
Classificação
Função intestinal
Diagnóstico
Perfusão periférica
Tratamento
Caso clínico
Conclusão

Etiologia e fisiopatologia
Qualquer anormalidade que induza a elevação da pressão no interior da cavidade abdominal po‑
de levar à HIA. Assim, diversas são as causas potenciais desta alteração e da SCA, incluindo:3‑5

„„ pancreatite aguda;
„„ aneurisma de aorta abdominal;
„„ tumores abdominais e retroperitoneais;
„„ íleo metabólico;
„„ obstrução mecânica do intestino;
„„ trauma;
„„ transfusão maciça;
„„ sepse.

O trauma, principalmente se contuso com hemorragia intra‑abdominal oriunda de lesões de baço,


fígado e mesentério, é a causa mais comum de HIA e SCA. Não obstante, em situações em que a
cirurgia do controle de danos seja necessária, a utilização de compressas na cavidade abdominal
também aumenta a PIA, bem como a distensão e o edema das alças intestinais.

lembrar
O choque hipovolêmico, a reposição volêmica exacerbada e a transfusão maciça são
importantes e conhecidas causas de HIA e SCA relacionadas ao trauma.

Nos estados de choque hipovolêmico, a vasoconstrição mediada pelo sistema nervoso simpáti‑
co diminui o fluxo sanguíneo para a pele, os músculos, os rins e o trato gastrintestinal em favor da
perfusão do coração e do cérebro. Esse mecanismo fisiológico de defesa acaba produzindo hipo‑
xia celular. A hipoxia gerada no tecido intestinal decorrente da redução acentuada da circulação

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esplâncnica está associada a três fatores cruciais para o desenvolvimento do círculo vicioso que

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caracteriza a patogênese da HIA e sua progressão para a SCA:6

1. liberação de citocinas;
2. formação de radicais livres de oxigênio;
3. diminuição da produção celular de trifosfato de adenosina (ATP).

Em resposta à lesão hipóxica tecidual, citocinas pró‑inflamatórias são liberadas. Essas moléculas
promovem vasodilatação e aumentam a permeabilidade capilar, levando à formação de edema. Após
reperfusão celular, radicais livres de oxigênio são gerados e têm efeito tóxico sobre as membranas
celulares, agravados pela presença de citocinas, que estimulam a liberação de mais radicais livres.

O fornecimento insuficiente de oxigênio aos tecidos limita a produção de ATP, prejudicando todas as
atividades dependentes de energia celular, particularmente as bombas de sódio e potássio (Na+/K+).
O funcionamento eficaz da bomba de Na+/K+ é essencial para a regulação intracelular de eletrólitos.

Quando a bomba falha ocorre influxo de sódio e água nas células. Como edema celular, as mem‑
branas perdem sua integridade, derramando conteúdo intracelular para o ambiente extracelular,
promovendo irritação tecidual e inflamação.

A inflamação, por sua vez, rapidamente leva à formação de edema, como resultado do aumento
e da fragilidade capilar, promovendo, por exemplo, edema de alças intestinais e aumento da PIA.
Com aumento da PIA, a pressão de perfusão abdominal diminui, perpetuando o ciclo de hipoxia
celular, inflamação, edema e morte celular (Figura 1).3‑6

Diminuição
Choque Lesão Aumento da resposta
Trauma da perfusão
hipóvolêmico tecidual simpática
intestinal

Liberação Hipoxia celular ATP


de citocinas

Produção
de radicais livres Edema celular

Ativação
de neutrófilos Morte Membrana
celular celular

Inflamação

Permeabilidade
HIA/SCA
Formação
de edema

Figura 1 – Círculo vicioso de perpetuação da PIA.


Fonte: Arquivo de imagens dos autores.

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1. Apresente a definição dos seguintes conceitos:
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A) Síndrome compartimental abdominal – .......................................................................


......................................................................................................................................
......................................................................................................................................
B) Pressão intra‑abdominal –............................................................................................
......................................................................................................................................
......................................................................................................................................
C) Hipertensão intra‑abdominal –.....................................................................................
......................................................................................................................................
......................................................................................................................................

2. Quais são os principais fatores que podem levar à hipertensão intra‑abdominal e,


consequentemente, à síndrome compartimental abdominal?

............................................................................................................................................
............................................................................................................................................
............................................................................................................................................
............................................................................................................................................

3. Explique o mecanismo por meio do qual a hipoxia pode levar a HIA e SCA.

............................................................................................................................................
............................................................................................................................................
............................................................................................................................................
............................................................................................................................................

Manifestações clínicas
A alteração da PIA possui efeitos sistêmicos importantes. A seguir, serão detalhados os efeitos da
HIA em diferentes órgãos e sistemas.

A mensuração da PIA por via intravesical (padrão atual) é essencial para o diagnóstico
desta complicação, pois o exame físico isoladamente não tem acurácia. Recentes pes‑
quisas demonstraram que a sensibilidade do exame físico na presença de SCA varia
entre 40 e 61% e que o valor preditivo positivo varia entre 45 e 76%. Assim, conclui‑se
que as chances de diagnosticar a SCA por meio apenas do exame físico somente são
as mesmas (ou menores) do que jogar uma moeda para cima, apostando em uma das
faces, ou seja, 50% (ou menos).1,3,4,6

A Figura 2 demonstra os efeitos sistêmicos da HIA e SCA.

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Fluxo sanguíneo Redução do fluxo
reduzido para o Redução do crédito sanguíneo para os Falência múltipla
coração (pré-carga) cardíaco órgãos abdominais dos órgãos
Compressão da VCI acima Redução da perfusão renal e PVC e PCP tornam-se
de 8-12mmHg diminui produção de urina resulta na de difícil interpretação
o retorno venoso para inabilidade de mobilizar fluidos na presença de HIA por
o coração, diminuindo a e aumento da incidência de estarem virtualmente
pré-carga. insuficiência renal. também elevadas.
↑ PIA excedendo 15mmHg
diminui a circulação
sanguínea induzindo o
metabolismo anaeróbio,

Fonte: Cópia adaptada da referência número 4


PVC > 4-12mmHg
aumento da produção de

Figura 2 – Efeitos sistêmicos de HIA e SCA.


citocinas e aumento da
permeabilidade capilar
(aumentando o edema
de alças intestinais.
PIA
PAM > 90mmHg

Edema
↑ da PIA força o diafragma para
cima, aumentando a pressão
intratorácica, causando hipercarbia
Impacto da PIA no fluxo e hipoxemia, levando à permanência
sanguíneo capilar dos prolongada no ventilador e ao ↑ PIC ↑ da PIA
órgãos abdominais aumento da incidência de PAV.

Aumento do Ressuscitação
Compressão Elevação da PIA (edema volêmica
da VCI de alças intestinais) volume no terceiro
espaço/edema
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O Quadro 2 apresenta as principais manifestações clínicas decorrentes de HIA e SCA, as quais
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serão detalhadas a seguir.

Quadro 2

Manifestações clínicas de HIA e SCA

Sistema nervoso central Sistema digestivo


 Elevação da PIC Diminuição do fluxo sanguíneo esplâncnico
 Diminuição da PPC Isquemia de mucosa e aumento da
Sistema cardiovascular translocação bacteriana
 Hipovolemia Sistema urinário
 Diminuição do débito cardíaco  Diminuição do débito urinário
 Diminuição do retorno venoso  Diminuição da perfusão renal
 Aumento da PAP e da PVC  Diminuição da taxa de filtração glomerular
 Aumento da resistência vascular periférica Parede abdominal
Sistema respiratório  Diminuição da complacência abdominal
 Elevação da PIT
 Aumento das pressões ventilatórias
 Diminuição da complacência torácica
 Alteração da relação ventilação/perfusão
PIC – pressão intracraniana; PPC – pressão de perfusão cerebral; PAP – pressão da artéria pulmonar;
PVC – pressão venosa central; PIT – pressão intratorácica.
Fonte: Quadro elaborado pelos autores.

Perfusão cerebral
A pressão de perfusão cerebral (PPC) alterada foi primeiramente observada em pacientes obesos
mórbidos com HIA crônica. O aumento da PIA força o diafragma para cima, diminuindo o volume
da cavidade torácica e aumentando a pressão intratorácica (PIT).

A PIT aumentada leva ao aumento da pressão venosa jugular e dificulta o retorno venoso do cére‑
bro, elevando a pressão intracraniana (PIC) e, consequentemente, diminuindo o fluxo sanguíneo
cerebral. Essas alterações não são incomuns no período pós‑operatório imediato.

HIA e SCA podem tornar a PPC ainda pior nos casos de pacientes traumatizados com
lesões abdominais combinadas com lesões cerebrais.

Função cardíaca
A HIA dificulta o retorno venoso, causando edema dos membros inferiores. Altos valores de PIT
virtualmente elevam a pressão venosa central (PVC) e a pressão da artéria pulmonar (PAP).
Simultaneamente, a pressão de pós‑carga do ventrículo esquerdo se eleva devido à resistência
vascular aumentada.

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A PIT elevada também aumenta a pós‑carga do ventrículo direito. Quando esta se encontra ex‑

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tremamente alta, causa falência ventricular direita e dilatação, com consequente desvio de septo
cardíaco à esquerda, o que dificulta o enchimento do ventrículo esquerdo.

Clinicamente, o paciente se apresenta com baixo débito cardíaco, altas pressões de enchimento
e alta resistência vascular periférica.

Função respiratória
A elevação da PIA diminui a complacência torácica, necessitando de pressões maiores para manter
a ventilação mecânica adequada. Além disso, a capacidade funcional residual também se encontra
reduzida, e a relação entre ventilação e perfusão aumenta, desencadeando dificuldade de troca e
oxigenação dificultada. Clinicamente, é um paciente “difícil de ventilar e oxigenar”.

Função renal
Oligúria ou anúria apesar de reposição volêmica agressiva é um sinal típico de SCA, descrito por
alguns autores como o primeiro sinal clínico a aparecer na presença de HIA.

Mecanismos responsáveis pela diminuição da função renal incluem compressão direta do parên‑
quima renal, diminuição da perfusão renal devido ao débito cardíaco diminuído e retenção de água
e sódio causada pela ativação do sistema renina‑angiotensina.

lembrar
É muito importante interpretar o volume do débito urinário no contexto e na magnitude
da ressuscitação volêmica, e não confiar apenas em números absolutos relativamen‑
te normais.

Função intestinal
A HIA dificulta a perfusão esplâncnica por diminuição do débito cardíaco e aumento da resistência
vascular periférica e esplâncnica.

Quando houver HIA grave, pode ocorrer isquemia tecidual.

Perfusão periférica
A elevação da PIA aumenta a pressão venosa femoral e a resistência vascular periférica, além de
reduzir o fluxo arterial femoral em até 65%.

Síndrome compartimental de extremidades devido ao trauma, ressuscitação volêmica e síndrome


de reperfusão são fatores de risco comuns para o desenvolvimento de SCA.7,8

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Classificação
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O Quadro 3 apresenta a classificação de HIA preconizada pela WSACS.4

Quadro 3

Classificação da HIA4

Grau de HIA Valor de PIA


Grau I 12‑15mmHg
Grau II 16‑20mmHg
Grau III 21‑25mmHg
Grau IV > 25mmHg

A classificação da SCA se dá em três níveis:

„„ SCA primária é a condição associada ao trauma ou à doença abdominopelviana que fre‑


quentemente requer intervenção cirúrgica precoce ou intervenção radiológica (radiologia
intervencionista) – ver o Quadro 1, definição 10. Exemplos: tumores abdominais e pélvicos,
trauma de abdome, ascite.
„„ SCA secundária refere‑se a condições que não são originárias da topografia abdominopelviana.
Exemplos: sepse, ressuscitação volêmica maciça, grandes queimados (queimadura abdominal
de terceiro grau).
„„ SCA terciária ou recorrente refere‑se à condição em que a SCA ressurge após tratamento
clínico e/ou cirúrgico da SCA primária ou secundária.3‑5,9,10

4. Explique de que maneira o aumento da PIA interfere no fluxo sanguíneo cerebral.

............................................................................................................................................
............................................................................................................................................
............................................................................................................................................
............................................................................................................................................

5. Quais são os valores de PIA considerados normais no paciente crítico?

A) 0‑5mmHg.
B) 5‑7mmHg.
C) 12‑15mmHg.
D) 15‑17mmHg.

Resposta no final do artigo

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6. A respeito das manifestações clínicas de HIA e SCA, marque a alternativa
INCORRETA.

A) A pressão intratorácica aumentada eleva a pressão venosa jugular e dificulta o


retorno venoso do cérebro, elevando a pressão intracraniana.
B) A elevação da PIA diminui a complacência torácica, necessitando de pressões
maiores para manter a ventilação mecânica adequada.
C) A pressão intratorácica elevada diminui a pós‑carga do ventrículo direito, podendo
causar falência ventricular direita e dilatação, dificultando o enchimento do ven‑
trículo esquerdo.
D) Síndrome compartimental de extremidades devido ao trauma, ressuscitação
volêmica e síndrome de reperfusão são fatores de risco comuns para o desen‑
volvimento de SCA.

7. Assinale a alternativa que representa um sinal precoce da presença de SCA.

A) Acidose.
B) Exame físico positivo.
C) Oligúria.
D) Hipoxemia.

Respostas no final do artigo

Diagnóstico
O diagnóstico da SCA deve ser realizado por meio da mensuração da pressão intravesical. De
acordo com as definições preconizadas pela WSACS, a escala de pressão utilizada deve ser em
milímetros de mercúrio (mmHg). Na maioria dos serviços públicos do Brasil, a escala de pressão
utilizada é em centímetro de água (cmH2O), exigindo a conversão entre as escalas de pressão.

lembrar
Sítios eletrônicos de conversão estão disponíveis na Internet. De forma geral, deve‑se
dividir o valor em cmH2O por 1,36 para alcançar o valor aproximado em mmHg.

O valor da PIA que induz à falência múltipla de órgãos varia de um paciente para outro. Por isso,
é necessário fazer o cálculo da pressão de perfusão abdominal (PPA), obrigatoriamente, após
a mensuração da PIA e de sua conversão para mmHg. A PPA é calculada como o valor da PIA
menos o da pressão arterial média (PAM).

A PPA é a variante mais confiável para determinar o grau de perfusão dos órgãos abdominais.
Assim, na predição de falência múltipla de órgãos e do prognóstico, os indicadores apresentam a
seguinte ordem de acurácia: PPA > PIA > pH arterial > base deficit > lactato.

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A falha em manter a PPA > 60mmHg nos primeiros três dias a partir do diagnóstico
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representa diminuição no prognóstico do paciente.11,12

Os fatores de risco associados à presença de HIA e SCA são importantes preditores da presença
desta comorbidade. Por isso, devem ser avaliados na admissão do paciente na sala de emergência
ou na presença de disfunção orgânica. São fatores de risco comuns, entre outros:12‑14

„„ trauma e tríade letal (hipotensão, coagulopatia e acidose);


„„ múltiplas transfusões de sangue e alto volume de infusão de cristaloides (> 3,5L/24h);
„„ sepse;
„„ alterações do volume intra‑abdominal;
„„ disfunção pulmonar, renal e/ou hepática;
„„ íleo metabólico;
„„ cirurgia abdominal e síntese da aponeurose abdominal.

Na presença de dois ou mais fatores de risco, a PIA deve ser mensurada. Na presença
de HIA, a mensuração seriada da PIA deve ser realizada durante toda a fase crítica do
paciente.

A Figura 3 apresenta uma sugestão de protocolo para a mensuração da PIA, baseado nas diretrizes
da WSACS, elaborado para a disciplina de Cirurgia do Trauma da UNICAMP.4
Figura 3: Protocolo para mensuração da PIA – Disciplina de Cirurgia do Trauma, UNICAMP

Monitorização da PIA em intervalos de


2-2 horas por 12 horas.

PIA > 20 mmHg


PIA consistentemente PIA entre 12 PIA entre 15-20 mmHg:
OU
< 12 mmHg e 15 mmHg sem evidência de
PPA < 50-60 mmHg:
disfunção
evidência de
orgânica/SCA.
disfunção
orgânica/SCA.
Otimizar a PPA.
Reposição volêmica cautelosa.
Utilização de vasopressores.

Reduzir a mensuração da
PIA para intervalos de 4-6 horas
por 24 horas.
Considerar tratamento clínico
• Sedação/bloqueio neuromuscular Descompressão
• Paracentese cirúrgica
• Sucção gástrica/enema
Se PIA continua < 12 mmHg, • Reposição volêmica judiciosa
descontinuar mensuração. • Utilização de coloide

Figura 3 – Protocolo para mensuração da PIA – Disciplina de Cirurgia do Trauma, UNICAMP.


Fonte: Arquivo de imagens dos autores.

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A técnica de mensuração da PIA é simples e economicamente acessível para os hos‑

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pitais. Aplicam‑se 25mL de solução salina estéril na bexiga, após cateterização vesical,
pelo pórtico de irrigação do cateter de 3 vias de Foley e com o pórtico de drenagem
clampeado. Uma agulha de 18 gauge ou Abocath® (Jelco®), conectada ao transdutor de
pressão, é inserida no pórtico de irrigação, e a pressão é consequentemente mensurada.
O transdutor deve ser “zerado” na altura da linha axilar média.

Na ausência de um transdutor de pressão, pode‑se utilizar um kit para mensuração da PVC (Figura 4).
Outras tecnologias já possibilitam a mensuração contínua da PIA por meio da conexão do cabo
do transdutor de pressão no monitor cardíaco (Spiegelberg, Hamburgo, Alemanha; CiMON device,
Pulsion Medical Systems, Munique, Alemanha).

Figura 4 – Esquema de mensuração da PIA com transdutor de pressão.


Fonte: Adaptada de Referência 4.

lembrar
A mensuração da PIA com agulha para punção do pórtico emborrachado de lavagem
do Foley não está recomendada na atualidade. Portanto, deve‑se utilizar preferen‑
cialmente uma sonda de três vias, como descrito anteriormente.12,14

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8. A respeito da classificação da hipertensão intra‑abdominal, apresente os valores de:
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A) HIA grau I –__________________________________________________________

B) HIA grau II –_________________________________________________________

C) HIA grau III –_________________________________________________________

D) HIA grau IV –________________________________________________________

9. Quanto à classificação da síndrome compartimental abdominal, caracterize:

A) SCA primária –_______________________________________________________

B) SCA secundária –_____________________________________________________

C) SCA terciária ou recorrente –____________________________________________

Tratamento
Os princípios básicos essenciais para o tratamento de HIA e SCA são os seguintes:

„„ monitorização seriada da PIA;


„„ otimização da perfusão sistêmica e da função orgânica;
„„ instituição de intervenções clínicas específicas para controle e redução da PIA;
„„ descompressão cirúrgica imediata para PIA refratária às medidas anteriores.

Baseado nesses princípios básicos, na presença de HIA, algumas medidas clínicas devem ser em‑
pregadas com o objetivo de impedir a evolução crescente da PIA e melhorar o quadro.

lembrar
A WSACS disponibiliza, em seu sítio eletrônico, as estratégias e medidas aplicáveis
no tratamento clínico da HIA. Essas medidas são, cada vez mais, reconhecidas como
importantes fatores na prevenção e no tratamento da HIA.4

Ações como reduzir o tônus da musculatura toracoabdominal com sedação, analgesia e bloqueio
neuromuscular potencialmente reduzem a PIA para níveis mais baixos. Portanto, são importantes
medidas clínicas a serem tomadas no cuidado do paciente crítico com diagnóstico de HIA. Ainda
não há estudos prospectivos disponíveis na literatura que avaliem os riscos e benefícios da sedação
e da analgesia em casos de HIA e SCA. As medidas descritas são, na verdade, potenciais adjun-
tos no controle da HIA baseados no conhecimento atual da fisiopatologia desta comorbidade.15

Sonda nasogástrica, enema e descompressão endoscópica são outros métodos simples e minima‑
mente invasivos utilizados para reduzir a PIA e tratar a HIA de graus I, II e, eventualmente, III em
um cenário subagudo e que não envolva risco de morte imediata. Agentes estimuladores da motili‑

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dade gastrintestinal, como bromoprida, metoclopramida ou neostigmina, ainda não demonstraram

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evidências confiáveis de seus efeitos sobre a evacuação do conteúdo intraluminal do intestino e
a consequente diminuição do volume total da víscera. No entanto, tais medicamentos ainda são
rotineiramente utilizados por diversos serviços.

Uma vez diagnosticada a SCA primária, o tratamento padrão‑ouro estabelecido é a descompressão


cirúrgica por meio de laparotomia xifopúbica mediana.16 Uma vez aplicada a cirurgia de controle
de danos no caso de pacientes politraumatizados ou resolvidas as causas primárias que induziram
a SCA, o abdome deve preferencialmente ser deixado aberto, em peritoniostomia, utilizando‑se uma
técnica de fechamento temporário. Os requisitos de qualquer técnica de fechamento abdominal
temporário são suficientes para fornecer descompressão da fáscia abdominal.

O fechamento abdominal temporário ótimo não deve prejudicar a fáscia, a aponeurose ou a pele,
e deve facilitar a aproximação gradual da pele. A discussão detalhada sobre a abordagem da pe‑
ritoniostomia não faz parte do escopo deste artigo.

As técnicas disponíveis para manutenção do abdome aberto são importantes estratégias


de prevenção da SCA; contudo, possuem significativa morbidade e mortalidade.17‑18

Publicações recentes demonstraram que a indicação cirúrgica precoce em vigência de SCA resultou
em cerca de 80% menos complicações, incluindo infecções, sepse, fístulas e abscessos. A dre‑
nagem percutânea do líquido peritoneal é uma opção atraente e bem documentada em pacientes
queimados e na literatura pediátrica.

A drenagem percutânea do líquido peritoneal pode funcionar na presença de ascite, por exemplo,
mas é muito improvável que seja eficiente no controle de HIA e SCA de pacientes submetidos à
laparotomia exploradora, principalmente traumatizados submetidos à cirurgia do controle de danos,
em que a SCA é causada por edema intestinal, compressas utilizadas no empacotamento abdo‑
minal, líquido residual e coágulos.

Quando utilizada a técnica de controle de danos, o paciente apresenta‑se com múltiplas lesões
intra‑abdominais. A presença de SCA no primeiro dia pós‑operatório significa mais provavelmen‑
te ressangramento, e a drenagem percutânea do abdome claramente não soluciona o problema.

lembrar
A recidiva do sangramento exige reavaliação da hemostasia abdominal, com des‑
compressão e laparotomia exploradora.

A drenagem percutânea do abdome pode ser uma ferramenta valiosa para um selecionado grupo
de doentes, em que a SCA primária se desenvolve durante o tratamento não operatório de lesões
isoladas em órgãos sólidos abdominais (fígado e baço).

Outra opção de drenagem para pacientes que detenham hematoma intra‑abdominal retido por trauma
de vísceras maciças, principalmente fígado, e que estejam em HIA refratária às medidas clínicas e
em progressiva evolução para SCA é a videolaparoscopia, com lavagem e aspiração do conteúdo
remanescente do hematoma e revisão da cavidade. Infelizmente, ainda não existem evidências
claras e concretas das indicações desta técnica. Contudo, diversos serviços especializados fazem
uso desse procedimento como uma ferramenta útil, nos casos determinados.19‑20

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Com relação ao tratamento de HIA e SCA, destacam‑se a seguir os seis passos especialmente
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importantes para serem memorizados:

a. evacuar o conteúdo intestinal intraluminal;


b. esvaziar o conteúdo extraluminal abdominal e/ou retroperitoneal;
c. melhorar a complacência abdominal (uso de bloqueadores neuromusculares);
d. otimizar a administração de fluidos (ressuscitação balanceada/vasopressor?);
e. otimizar a perfusão tecidual;
f. indicar intervenção cirúrgica precoce.

10. Quais são os fatores de risco mais comuns associados à presença de HIA e SCA?

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11. De acordo com o artigo, quais são os princípios básicos essenciais para o tratamento
de HIA e SCA?

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12. Qual é o tratamento padrão‑ouro para a SCA primária?

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13. De acordo com o artigo, quais são os seis passos especialmente importantes no
tratamento de HIA e SCA?

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14. Um paciente politraumatizado grave, com TCE, hipertensão intracraniana, oligúria
e acidose metabólica é admitido na unidade de terapia intensiva e, menos de 12 horas
depois, revela hipertensão intra‑abdominal de grau II. Neste caso, o que o cirurgião
assistente deve fazer?

A) Chamar o cirurgião assistente e indicar a cirurgia precocemente.


B) Iniciar medidas clínicas e indicar a cirurgia precocemente.
C) Iniciar medidas clínicas e observar de hora em hora se há melhora do quadro.
D) Iniciar medidas clínicas e solicitar tomografia abdominal.

15. Um paciente do sexo masculino, de 18 anos de idade, foi vítima de atropela‑


mento por veículo de passeio. Apresenta‑se no pronto‑socorro com TCE, trauma de
tórax, trauma de abdome e trauma de extremidades. Qual é risco de esse paciente
desenvolver SCA?

A) Não possui risco de desenvolver HIA/SCA.


B) Possui risco de desenvolver somente SCA primária.
C) Possui risco de desenvolver somente SCA secundária.
D) Possui alto risco de desenvolver SCA primária e secundária.

Respostas no final do artigo

Caso clínico
Uma paciente do sexo feminino, de 33 anos de idade, foi vítima de trauma contuso de
abdome após acidente com veículo automotor. Ela foi levada pela equipe de atendimen‑
to pré‑hospitalar para o hospital de trauma referência na cidade, onde deu entrada 25
minutos após o evento traumático.

Na sala de emergência, a paciente foi atendida conforme protocolo do Advanced Trauma


Life Support (ATLS). Encontrava‑se em choque hipovolêmico de grau II, mas respondeu
bem às medidas iniciais, mantendo pressão arterial sistólica de 110mmHg e frequência
cardíaca de 100bpm.

A equipe assistente decidiu submeter a paciente ao exame de tomografia de abdome,


quando foi observada lesão hepática isolada de grau III, segundo a classificação da
Associação Americana de Cirurgia do Trauma (AAST). Optou‑se por tratamento não
operatório, e a paciente foi conduzida à unidade de trauma e terapia intensiva.

Ao final das primeiras 24 horas de internação na unidade intensiva, a paciente evoluiu com
piora dos parâmetros ventilatórios e necessitou de intubação orotraqueal. Os parâmetros
de ventilação foram ajustados em ventilação por pressão, com PEEP de 12, e seu abdome
encontrava‑se distendido, mas compressível. A gasometria indicou acidose respiratória.
O residente observou diminuição progressiva do débito urinário.

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A equipe assistente, suspeitando de HIA, solicitou então a mensuração da PIA e instituiu
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medidas clínicas para a resolução do quadro.

As medidas clínicas impediram a evolução da PIA na primeira hora de observação, mas


esta voltou a subir, atingindo a marca de 25mmHg, quando foi indicada laparotomia
descompressiva.

16. Qual é a variante mais confiável para determinar o grau de perfusão dos órgãos
abdominais?

A) PIA.
B) pH arterial.
C) Base excess.
D) Pressão de perfusão abdominal.

17. No tocante à mensuração da PIA, deve‑se

A) instilar 100mL e zerar o transdutor na altura das cristas ilíacas.


B) instilar 25mL e zerar o transdutor na altura das cristas ilíacas.
C) instilar 25mL e zerar o transdutor na altura da linha axilar média.
D) instilar 100mL e zerar o transdutor na altura da linha axilar média.

Respostas no final do artigo

CONCLUSÃO
A SCA é uma condição potencialmente letal causada por qualquer evento que produza aumento
da PIA e provoque diminuição da PPA, induzindo isquemia e disfunção orgânica.

Os efeitos fisiopatológicos da síndrome são abrangentes e predispõem o paciente acometido à


falência múltipla de órgãos, caso nenhuma ação urgente seja deliberada. Anormalidades hemodi‑
nâmicas, renais, respiratórias e neurológicas são achados comuns.

A técnica de laparotomia descompressiva precoce diminui a morbidade e mortalidade dos pacien‑


tes acometidos por esta grave condição, e é o tratamento de escolha nos casos refratários ao
tratamento clínico.

A presença de SCA reflete a evolução progressiva da HIA sem intervenção médica adequada. A
WSACS classificou a HIA em quatro graus e determinou diretrizes para o diagnóstico e o tratamento
desta complicação clínico‑cirúrgica. Como consequência da criação da WSACS e de suas diretrizes
e protocolos, mais médicos e profissionais da área da saúde foram expostos ao conteúdo infor‑
mativo e educacional, podendo atualmente perceber com mais atenção a presença de HIA e SCA.

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Respostas às atividades e comentários

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Atividade 5
Resposta: B
Comentário: Segundo a WSACS, fundada em 2004 e responsável pelos mais recentes estudos no
assunto, pacientes adultos críticos já possuem a PIA aumentada (5‑7mmHg). A HIA, por sua vez,
é definida como uma PIA acima de 12mmHg.

Atividade 6
Resposta: C
Comentário: A pressão intratorácica elevada aumenta a pós‑carga do ventrículo direito. Quando
esta se encontra extremamente alta, causa falência ventricular direita e dilatação, com consequente
desvio de septo cardíaco à esquerda, o que dificulta o enchimento do ventrículo esquerdo.

Atividade 7
Resposta: C
Comentário: A mensuração da PIA por via intravesical é essencial para o diagnóstico da SCA. O
exame físico isoladamente não apresenta acurácia. Recentes pesquisas demonstraram que a sen‑
sibilidade do exame físico na presença de SCA varia entre 40 e 61% e que o valor preditivo positivo
varia entre 45 e 76%. A HIA e, consequentemente, a SCA provocam diminuição da TFG e oligúria,
sendo este um dos sinais clínicos mais precoces.

Atividade 14
Resposta: C
Comentário: Sonda nasogástrica, enema e descompressão endoscópica são métodos clínicos
simples e minimamente invasivos utilizados para reduzir a PIA e tratar HIA de graus I, II e, eventual‑
mente, III em cenário subagudo e que não envolva risco de morte imediata. Agentes estimuladores
da motilidade gastrintestinal, como bromoprida, metaclopramida ou neostigmine, ainda não de‑
monstraram evidências confiáveis de seus efeitos sobre a evacuação do conteúdo intraluminal do
intestino e a consequente diminuição do volume total da víscera, mas ainda sim são rotineiramente
utilizados por alguns serviços.

Atividade 15
Resposta: D
Comentário: A SCA pode ser classificada em SCA primária, SCA secundária e SCA terciária ou
recorrente. SCA primária é a condição associada ao trauma ou à doença abdominopelviana que
frequentemente requer intervenção cirúrgica precoce ou intervenção radiológica (radiologia interven‑
cionista). Exemplos: tumores abdominais e pélvicos, trauma de abdome, ascite, etc. SCA secundária
refere‑se a condições que não são originárias da topografia abdominopelviana. Exemplos: sepse,
ressuscitação volêmica maciça, grandes queimados (queimadura abdominal de terceiro grau). SCA
terciária ou recorrente refere‑se à condição em que a SCA ressurge após tratamento clínico e/ou
cirúrgico da SCA primária ou secundária. Assim, acidentes em peritoniostomia também possuem
risco de desenvolver SCA.

Atividade 16
Resposta: D
Comentário: O valor da PIA que induz a falência múltipla de órgãos é variante para cada paciente.
Assim, o cálculo da PPA deve obrigatoriamente ser realizado em todos os pacientes que tiverem
a PIA mensurada e convertida em mmHg (PPA = PIA – PAM). A PPA é a variante mais confiável

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para determinar o grau de perfusão dos órgãos abdominais. Assim, PPA > PIA > pH arterial > base
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deficit > lactato na predição de falência múltipla de órgãos e do prognóstico. A falha em manter a
PPA > 60mmHg nos primeiros três dias a partir do diagnóstico representa diminuição no prognós‑
tico destes pacientes.

Atividade 17
Resposta: C
Comentário: A técnica de mensuração da PIA é simples e economicamente acessível para os hos‑
pitais. Instilam‑se 25mL de solução salina estéril na bexiga, após cateterização vesical, pelo pórtico
de aspiração do cateter de Foley e com o pórtico de drenagem clampeado. A PIA deve ser men‑
surada em posição supina e em expiração após constatação de que não há contração da parede
abdominal e que o transdutor está “zerado” no nível da linha axilar média.

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