PINHO de Arnaldo Igreja Sacramento de Salvacao
PINHO de Arnaldo Igreja Sacramento de Salvacao
PINHO de Arnaldo Igreja Sacramento de Salvacao
INTRODUO
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I. A origem da expresso
A expresso sacramento de salvao antecede, no captulo primeiro da Lumen Gentium, uma srie de metforas da Igreja hoje consignadas no nosso vocabulrio eclesiolgico. e quase banais: povo de
Deus, esposa, corpo de Cristo. Mas ao mesmo tempo sintetiza-as de
forma sistemtica: em toda a sua aco litrgica, proftica ou caritativa,' a Igreja um mistrio revelador da vontade salvfica do Pai.
Segundo o Conclio de Trento, os sacramentos tm em comum
serem smbolo da coisa sagrada e forma visvel da graa invisvel CZ).
Mas a cat~goria mistrio, para traduzir a tenso entre o divino e o
humano naigreja, tradicional na Igreja.
(I) G. MARTELET, Horizon thologique de la deuxieme session du Concile, em
Nouvelle Rev. Thologique)), 96 (1964), 449-468.
(2) DENZINGER-876.
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Desde o segundo sculo a palavra sacramentum usada pela cristandade de lngua latina para designar a palavra grega misterion. Esta
palavra designava, no domnio religioso, o plano da criao estabelecido por Deus e seu intento com a histria do mundo que ele revela a
seus fiis. Trata-se sempre nos textos bblicos duma revelao que
permanecer oculta e de que alguns apenas so os confidentes.
Esta significao correntemente empregada por S. Paulo.
Segundo este apstolo, em Cristo a graa salvadora e o amor do Pai
para com os homens apareceram a todos os homens (Tito 2,11) e
tornaram-se eficazes no mundo. Ao nascer, ao morrer pelos nossos
pecados, e ao ressuscitar para nossa justificao (Rom. 4,25; Gl. 4,4),
ao ser criado pelos pagos, realizado o mistrio escondido desde os
tempos em Deus.
Os passos da vida de Jesus, a sua fora implicativa para a vida
dos cristos so designados por Justino e Incio no ~c. II como mistrios. Em Justino e Melito, a palavra mistrio passa a designar as
profecias do AT, numa significao prxima de prefigurao. Orgenes dar-lhe- um cunho escatolgico entre o j realizado do mistrio e
o ainda no.
Para os cristos de lngua latina j por volta do ano 200 a palavra passa a designar os grandes ritos, sobretudo do Baptismo e da
Eucaristia, na traduo por sacramentum. Durante o auge do pensamento patrstico nos sculos IV e v em que o pensamento cristo e a
celebrao crist receberam a sua estrutura definitiva para vrios sculos, o sacramentum latinum e misterion grego eram sinnimos e
ambos designavam um amplo leque de significaes que ia desde o
desgnio de Deus at s suas prefiguraes e sua celebrao.
Foi sobretudo a relao entre a Igreja e a histria da salvao,
adquirida pela Igreja Catlica com a reforma bblica e litrgica desde
o comeo do sculo, que levou a esta considerao da Igreja como
valor dinmico e no esttico que no vale por si, mas na medida em
que sacramento para o mundo.
E esta relao entre a Igreja e a histria da salvao levou tambm considerao da vida sacramental da Igreja, no apenas atravs
dos sacra~entos, mas em todas as suas aces. A Igreja no o
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humana, ainda que, possivelmente ao servio do espiritual, no consentnea com a f. Mas significa tambm que olhar apenas para o
invisvel, independentemente do carcter mediador e sacramental da
instituio eclesial, no reflecte, evidentemente, uma f autntica.
E isto pela simples razo que crer em Deus salvador significa
tambm, se levarmos a srio o perfil da revelao, crer no seu desgnio
de salvao, ou naquilo que se chama a economia da salvao.
Jesus de Nazareth, sabemo-lo hoje melhor pelos estudos da poca
de Jesus, foi pedra de escndalo, entre outras razes porque tinha um
corpo, porque comia com os pecadores, porque dialogava com os
estrangeiros (Mt. 11 ,6). E no menor hoje a tentao dos judaizantes
na Igreja e fora dela.
H uma kenose de Jesus Cristo em sua humanidade, como diz S.
Paulo na carta aos Filipenses, h tambm uma kenose de Deus na
Igreja.
Nas relaes Igreja e f, acreditar e aceitar a frmula Igreja
sacramento de salvao significa aceita~ a tradio e renov-la na fidelidade, fazer o dilogo da esposa com o seu Senhor e no o dilogo
do escravo ou do estranho. Esta parte de estranho e de obscuro, que
se encontra nas frmulas histricas da Incarnao, faz parte do
sacramentum ou.do mistrio da prpria Igreja...
Ora aqui a liturgia, dando expresso a gestos e sinais, um meio
maravilhoso para atravs da mediao da Igreja revelar o Deus vivo.
A liturgia realmente chamada a oferecer ao homem de hoje o
mistrio de Deus, sob o vu ou melhor atravs do vu duma realidade
humanamente experimentvel, como so os sinais.
E nesta medida a liturgia efectivamente no apenas ponto de
chegada da aco da Igreja, mas tambm ponto de partida, forma de
aproximao de Deus, mas tambm forma de sua transcendentalizao.
Como escreve o nmero dois da Constituio, a liturgia contribui no mais alto grau para que os fiis, pela sua vida, exprimam e
manifestem aos outros o mistrio de Cristo e a autntica natureza da
verdadeira Igreja C).
C) Constituio sobre a Liturgia, n. 2.
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A apresentao da Igreja como sacramento de salvao funcional. Significa naturalmente a necessidade da Igreja para a salvao,
mas tambm a necessidade que a Igreja tem de no fazer de si mesma
um instrumento a bourrer le crne>>, mas antes a necessidade de se
renovar para precisamente ser sinal.
Ao considerarmos a assero: a Igreja sacramento de salvao,
queremos portanto dizer conjuntamente: a Igreja deve ser sacramento
de salvao, ou seja conter em si o que significa.
Como organizao de homens, como comunidade de crentes,
esta Igreja deve naturalmente responder pergunta que foi a mesma
pergunta do Conclio: Igreja, que dizes de ti mesma?
Sacramento, isto , antes de mais signo, ou sinal. Para o homem
actual a Igreja o paralelo de muitas sociedades actuais, como um
partido, por exemplo, exactamente porque diz o mesmo noutra instncia. Onde est a originalidade da Igreja? O que que nela faz sinal
em ordem a um outro universo de sentido? Como que esta Igreja
aponta para outras verdades?
Embora reconhecendo que aqui h os que tudo mudam para
fazer sinal e os que absolutizam de tal modo a instituio que esta se
transforma num absoluto, foroso reconhecer que a Igreja no pode,
mesmo com as dificuldades da hora, deixar de acentuar que a sua
qualidade de sinal fundamental para a sua dimenso missionria.
Por sersinal sacramental a Igreja interpeladora do homem a
quem foi en\fiad.a. Por outro lado a estrutura do sinal determina a sua
recepo. No,-se recebe um sinal para o qual o homem moderno no
tenha semitica.
Esta neces'idade da fidelidade, por um lado, e da criatividade,
pelo outro, d odgem a uma tenso. A reforma da Igreja no deve
tentar nem iludir, nem eliminar esta tenso. Ela faz parte da natureza
mais ntima do mi&trio da Igreja, como fez parte da natureza mais
ntima do mistrio d~ Jesus.
A Igreja no estranha ao mundo, porque intra-mundana.
Mas tambm no deste mundo, 'porque vive em tenso para o mist25
rio trinitrio. Por isso mesmo, quando afirmamos que a Igreja uma
realidade inserida na histria, h que ver o que queremos dizer: se
queremos ou no dizer que a Igreja a mo estendida de Deus para o
mundo, e tambm uma comunidade de homens que incarnam este
desgnio: sinais de salvao para este mundo ou, como diz a constituio sobre a Igreja, de unio dos homens entre si e com Deus.
No se pode afirmar, pois, desta perspectiva que a Igreja seja o
reino de Deus. A Igreja , melhor dito, sinal do reino de Deus que
vem.
3.3 No captulo da adeso pessoal f
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Este simples enunciado das vertentes desta noo prova que, sem
uma profunda reflexo que o Conclio assumiu, no parece possvel
entendermo-nos sobre a Igreja e por conseguinte na Igreja.
A noo de sacramento em primeiro lugar antropolgica. E
chamar a uma instituio sacramento significa dar prioridade.
dimenso antropolgica das instituies. No caso concreto do homem,
como ser de transcendncia, isto como ser capaz de captar a transcendncia na precaridade dum sinal.
O homem afirma-se nesta noo como ouvinte da palavra, para
citar Rahner, e simultaneamente como capaz de pertencer visivelmente
a uma comunidade e de dar testemunho nela.
Estamos aqui naturalmente muito longe quer da Igreja/ Cristandade, quer da Igreja/ apologtica sada do Conclio de Trento. Esta
noo, tirada da teologia e da vivncia do Cristianismo primitivo, privilegia uma Igreja colocada diante dum mundo a evangelizar e diante
do qual faz sinal.
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CONCLUSO:
A liturgia, como sinal duma Igreja/ sacramento
ARNALDO DE PINHO
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