Abordagem Constitucional Dos Direitos
Abordagem Constitucional Dos Direitos
Abordagem Constitucional Dos Direitos
13/12/13
15:20
Abordagem
Constitucional
dos Direitos
UnisulVirtual
Palhoa, 2013
Abordagem
Constitucional
dos Direitos
Livro didtico
Designer instrucional
Luiz Henrique Queriquelli
UnisulVirtual
Palhoa, 2013
Copyright
UnisulVirtual 2013
Livro Didtico
Professora conteudista
Solange Bchele S. Thiago
Designer instrucional
Luiz Henrique Queriquelli
Diagramador(a)
Daiana Ferreira Cassanego
ISBN
978-85-7817-586-3
Revisor(a)
Amaline Boulos Issa Mussi
342.1
T36
Inclui bibliografia.
ISBN 978-85-7817-586-3
Sumrio
Introduo | 7
Captulo 1
Captulo 2
Poder Constituinte e formao da
constituio | 23
Captulo 3
Hermenutica constitucional | 31
Captulo 4
Princpios fundamentais da Constituio da
Repblica de 1988 | 41
Captulo 5
Captulo 6
Captulo 7
Os direitos sociais | 85
Captulo 8
Direitos de nacionalidade | 99
Captulo 9
Introduo
Caro/a estudante,
Seja bemvindo/a ao estudo da unidade de aprendizagem Abordagem
Constitucional dos Direitos. Nossa meta fazer despertar em voc a curiosidade
de ler a Constituio Federal e, assim, conhecer a base dos seus direitos!
Em 2013, ano em que a Constituio Federal completa 25 anos, as reivindicaes
populares que tomaram as ruas e sacudiram o pas deramnos a certeza de que
vivenciamos uma crise. Conforme adverte o jurista Paulo Bonavides (2013), no
se trata, contudo, de uma crise constitucional; pelo contrrio, tratase de uma
crise de legitimidade nos poderes que grita aos olhos da populao, cuja soluo
est na prpria Constituio brasileira.
A Constituio justamente o objeto de estudo principal desta unidade de
aprendizagem. Entender o que uma Constituio, por que deve ser protegida,
compreender o processo de reforma do texto constitucional e seus limites, estudar o
processo de interpretao do texto constitucional, analisar os direitos fundamentais,
as suas caractersticas e as solues para as colises entre direitos fundamentais
so alguns dos importantes temas que sero tratados neste livro didtico ao longo de
nove captulos, com nfase em um enfoque crtico do seu contedo.
Voc ver que proteger a Constituio proteger as liberdades pblicas,
que s so plenamente asseguradas em um Estado Democrtico de Direito.
Compreender, ainda, que no s as liberdades, como tambm a garantia de
todos os demais direitos, repousam na Constituio Federal.
Por fim, voc entender que o processo de interpretao de todos os demais
textos normativos que compem nosso ordenamento jurdico depende do sentido
que temos da nossa Constituio: formal ou material.
S atravs do exerccio da cidadania que o povo brasileiro viabilizar o direito a
ter direitos! Ingresse no contedo desta unidade de aprendizagem, de relevncia
inquestionvel para a compreenso e estudo do Direito.
Prof. Solange Bchele de S. Thiago
Captulo 1
Teoria da Constituio e
constitucionalismo
Habilidades
Sees de estudo
Captulo 1
Consideraes iniciais
O estudo partir da noo de que, em todas as pocas e lugares, sempre
existiu uma Constituio material definindo o modo de ser de uma comunidade,
sociedade ou Estado. Entretanto, apenas a partir do movimento constitucional na
Inglaterra, Frana e Estados Unidos, surge a Constituio como um documento
jurdicoformal, com a funo de limitar o poder (definindo o funcionamento
organizacional do Estado) e de reconhecer direitos e garantias fundamentais.
Eis a razo de iniciarmos este estudo com uma retrospectiva das origens
histricas do constitucionalismo ingls, francs e americano, oportunizando a
voc o entendimento sobre o que uma Constituio. Em seguida, um breve
apanhado sobre a histria constitucional brasileira ser traado. Bons estudos!
Seo 1
Conceito de Constituio
O que uma Constituio? Qual o sentido que melhor reflete o conceito de
Constituio? Por que a Constituio deve ser protegida?
A Constituio o documento polticojurdico onde esto reunidas as normas
que fundam o Estado. Retrata a sua forma de ser e confere direitos e garantias
fundamentais aos indivduos e coletividade.
Qualquer comunidade poltica possui uma Constituio real, entretanto a ideia de
uma Constituio formal completamente moderna e est intimamente ligada
evoluo do pensamento poltico ocidental.
A leitura que os cientistas do Direito fazem de uma Constituio sempre histrica
e cultural, e moldada pela viso que norteia cada um. Essas diferentes percepes
atriburam a ela sentidos diversos. E esta a razo de iniciarmos nosso estudo
tratando dos sentidos sociolgico, jurdico e poltico de Constituio.
Sociologicamente falando, cada comunidade, sociedade ou Estado sempre
possuiu uma Constituio, reflexo do seu modo de ser. Em sentido sociolgico,
aessncia da Constituio reside nos fatores reais e efetivos de poder que
regem uma sociedade.
Durante a conferncia pronunciada diante de um grupo de cidados em Berlim,
no ano de 1862, Ferdinand Lassale lanou a seguinte pergunta: Quando se pode
dizer que uma Constituio escrita boa e duradoura? (LASSALE, 2001, p. 63).
A resposta para Lassale era clara: Quando esta Constituio escrita corresponde
10
11
Captulo 1
Seo 2
Os movimentos constitucionais na Inglaterra,
na Frana e nos Estados Unidos
A Constituio, enquanto documento formal, jurdiconormativo, sempre existiu?
Quais matrias, necessariamente, precisam estar presentes na Constituio formal?
Quais as principais contribuies dos movimentos constitucionais promovidos na
Inglaterra, Frana e Estados Unidos?
O constitucionalismo tem como trao marcante a adoo da Constituio formal,
documento normativo dotado de supralegalidade, porque prevalece sobre todo o
ordenamento jurdico estatal. A Constituio passa a ser a norma fundante de um
Estado, um documento que representa a positivao dos valores de determinada
sociedade, ao qual todos devem respeito.
A luta pelo reconhecimento de direitos e garantias fundamentais e pela limitao
do poder, com a necessria organizao e estruturao do Estado, o tema
central dos movimentos constitucionalistas que tiveram origem na Inglaterra,
naFrana e nos Estados Unidos.
Embora o Constitucionalismo dito moderno s tenha tido incio em fins do
sculoXVIII, podemos dizer que a Inglaterra escreveu o primeiro captulo na
prhistria do Constitucionalismo, quando, em 1215 (sculo XIII), o Rei Joo
Sem Terra reconheceu estar obrigado a respeitar alguns preceitos legais, no
mais podendo fazer tudo que quisesse. Esses preceitos foram a Carta Magna de
Joo Sem Terra. O fato de no ter natureza constitucional no impediu que ela se
tornasse um smbolo das liberdades pblicas.
O segundo captulo na histria do Constitucionalismo tem como protagonista
novamente a Inglaterra e suas treze colnias na Amrica do Norte. De incio,
como Bill of Rights (1689), declarao de Direitos que limitava o Poder Absoluto;
e, nasequncia, em 1776, a Declarao de Independncia do Povo da Virgnia,
aps a rebelio das 13 colnias britnicas.
Por fim, em 1787, assinase a primeira Constituio escrita da histria do
Constitucionalismo, marcando a criao da Federao dos Estados Unidos da
Amrica do Norte a Constituio dos Estados Unidos da Amrica.
Com a Revoluo Francesa, em 1789, sobreveio a Declarao Universal dos
Direitos do Homem e do Cidado e, logo aps, em 1791, criouse, de forma popular
representativa, a primeira Constituio escrita da Europa a Constituio Francesa.
12
Seo 3
Classificao das Constituies
Quanto extenso, h constituies mais enxutas, concisas do que outras?
Emregimes ditatoriais, a Constituio imposta promulgada ou outorgada?
Para responder a essas perguntas, voc estudar a classificao adotada pela
maioria dos doutrinadores brasileiros, a qual se resume da seguinte maneira:
13
Captulo 1
Seo 4
A concepo de Constituio Dirigente,
de J. J. Gomes Canotilho
A Constituio da Repblica de 1988 uma constituio dirigente?
Na histria constitucional, o termo Estado vem sempre acompanhado de
adjetivos por exemplo, Estado Liberal, Estado Social, Estado Democrtico de
Direito, etc. Com a Constituio ocorre o mesmo fenmeno, pois a Constituio
constitui a ao do Estado, e os adjetivos que acompanham o termo Estado
acompanham, em geral, o termo Constituio.
Nesse contexto, a ideia de uma Constituio dirigente tpica do modelo de Estado
Social, podendo ser compreendida como um bloco de normas constitucionais
dotadas do poder que vincula a atuao dos poderes pblicos na busca de
concretizar os anseios populares de natureza econmica, cultural e social.
O autor portugus J. J. Gomes Canotilho, ao formular o conceito de
Constituio dirigente, atribuiulhe uma importante funo na determinao das
transformaes econmicas e sociais necessrias efetivao das demandas
sociais. Dava, assim, incio defesa terica do dirigismo constitucional.
Seo 5
A teoria da fora normativa da Constituio,
defendida por Konrad Hesse
Quais so as condies para que a Constituio se converta em fora ativa, ou
ento, tenha efetividade? A concretizao da Constituio uma tarefa exclusiva
dos Entes e Poderes estatais? Quais so as condies para que a Constituio
obtenha legitimidade e fora normativa?
Para responder a essas reflexes, podemos buscar respostas na teoria
desenvolvida por Konrad Hesse em sua obra clssica A fora normativa da
Constituio. Nela, Hesse defende a tese de que a Constituio no configura
apenas um modo de ser de uma comunidade ou Estado, mas expressa, tambm,
um deverser, imprimindo ordem e conformao realidade poltica e social.
Para Hesse, a Constituio Real e a Constituio Jurdica condicionamse
mutuamente, mas no dependem, pura e simplesmente, uma da outra.
AConstituio jurdica adquire fora normativa, na medida em que consegue
realizar sua pretenso de eficcia.
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importante destacar que Hesse defende a tese de que, para ser duradoura,
a Constituio deve ser aberta ao tempo, de modo que possa ser atualizada
constantemente, respeitando os limites impostos pelas regras e princpios por
elaestatudos.
Seo 6
Breve apanhado sobre a histria
constitucional brasileira
Como voc ver, o Brasil tem uma histria constitucional pouco democrtica.
Com a Proclamao da Independncia do Brasil, em 7 de setembro de 1822,
surgiu a necessidade da estruturao do Estado Brasileiro.
A nossa primeira Constituio foi a Imperial, de 1824, outorgada pelo Imperador
D. Pedro I, aps a dissoluo da Assembleia Geral Constituinte. Mantevese at a
queda do sistema poltico monrquico.
Caractersticas principais da Constituio de 1824:
Forma de Estado: unitria (Estado formado por provncias administradas por um
presidente de livre nomeao do imperador);
Forma de governo: Monarquia hereditria, constitucional e representativa;
Nmero de poderes estabelecidos: quatro poderes - Legislativo; Executivo;
Moderador (exercido privativamente pelo Imperador) e Judicirio;
Instituio de uma religio oficial: catlica;
15
Captulo 1
Excludos do direito de votar: as mulheres, o clero, os menores de 25 anos e os
que no tivessem renda lquida anual de cem mil ris.
Ainda a ressaltar: trazia em seu artigo 179 uma declarao dos direitos e
garantias individuais, no entanto mantinha o regime de escravido.
Uma segunda fase na nossa histria constitucional teve incio com a Proclamao
da Repblica em 15 de novembro de 1889, quando o Estado Brasileiro mudou
sua estrutura, adotando a forma de Estado Federal e o sistema de governo
presidencialista. O nome do pas passou a ser Estados Unidos do Brasil e
a primeira bandeira nacional republicana tinha a exata configurao da
norteamericana, com estrelas e listras, embora as cores fossem verde e amarelo.
Em 24 de fevereiro de 1891, a Assembleia Constituinte promulgou a segunda
Constituio do pas.
Caractersticas principais da Constituio de 1891:
16
17
Captulo 1
A partir deste momento, alijaramse da vida nacional os partidos polticos, o
parlamento e o povo. A Constituio de 1937 no foi cumprida e destinouse,
apenas, a cumprir seu papel de legitimar uma ditadura pura e simples.
Caractersticas principais da Constituio de 1937:
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Em 1961, o ento presidente Jnio Quadros enviou seu vice Joo Goulart em
viagem oficial a Pequim, com o objetivo de estabelecer laos diplomticos com a
China comunista.
Com o vice na China, Jnio renunciou Presidncia. Militares e setores
conservadores tentaram impedir a posse de Jango, sob a alegao de que ele
faria parte do comunismo internacional. Crise instalada, a sada foi a edio
da Emenda Constitucional n 4, de 2 de setembro de 1961, que, apesar de
apresentar defeitos congnitos insanveis, instituiu o regime parlamentarista de
governo. Mais uma vez, a Constituio saiu arranhada.
Joo Goulart foi o primeiro presidente da Repblica Brasileira dentro do regime
parlamentarista. Assumindo o governo, Jango convocou um plebiscito que
culminou pela volta do sistema presidencialista e passou a implementar reformas
de base no pas (agrria, bancria, fiscal, eleitoral etc.)
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Captulo 1
Na madrugada do dia 31 de maro de 1964, um golpe militar, saudado pelas
classes dominantes e seus idelogos, civis e militares, como uma autntica
Revoluo, foi deflagrado contra o governo de Joo Goulart.
Para dar foros de legalidade situao, so editados os atos institucionais, e tem
incio a derrocada da Constituio de 1946. Em 15 de maro de 1967, com a posse
de Costa e Silva, outorgada a Constituio produto do golpe militar de 1964.
Caractersticas principais da Constituio de 1967:
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Sntese
Se voc chegou at aqui e trilhou o caminho com bastante dedicao, percebeu
que o estudo da teoria constitucional fundamental para a compreenso de que
cada Estado possui uma Constituio que no configura apenas o modo de ser
de uma sociedade mas tambm expressa um deverser, imprimindo ordem e
conformao realidade poltica e social.
21
Captulo 1
A Constituio, como Lei Maior do ordenamento jurdico do pas, tem a funo de
limitar o exerccio do poder poltico, regulando a organizao e o funcionamento
do Estado e definindo os direitos e garantias fundamentais. A Constituio paira
soberana acima das demais leis e atos normativos.
No podemos ver a Constituio como um mero bloco de regras gerais e estticas.
Muito ao contrrio, necessrio reconhecer sua fora normativa, demodo que seu
potencial emancipatrio seja alcanado.
Por fim, voc estudou um breve apanhado da histria constitucional brasileira
e pde ver que, em duzentos anos, o nosso pas foi colnia de Portugal,
Imprio, Repblica Presidencialista, Ditadura Civil, Ditadura Militar, Repblica
Parlamentarista e at Democracia, sempre com Constituies que, muitas vezes,
no passaram de uma folha de papel, na expresso de Lassale.
Voc estudou o importante papel desempenhado pela Constituio. Resta perceber
que cabe a cada um de ns a tarefa de fazer cumprir a sua vontade, lutando pela
eficcia jurdica e social da Constituio, de modo que as conquistas sociais nela
inscritas no sejam mera expresso formal, mas a representao de um direito vivo,
concreto, verdadeiro.
22
Captulo 2
Poder Constituinte e formao
da constituio
Habilidades
Sees de estudo
23
Captulo 2
Consideraes iniciais
Voc vai iniciar seu estudo voltando os olhos para o passado, buscando,
nomovimento do Constitucionalismo do sculo XXVIII, a origem da verso
clssica da teoria do Poder Constituinte.
O Poder Constituinte em sua verso originria o poder criador de uma nova
ordem jurdica por meio de um texto constitucional. Seu titular , antes de tudo,
aNao. Por ser um poder de fato, ilimitado e incondicionado.
Contudo, a partir do sculo XX, a doutrina faz uma nova leitura do Poder Constituinte,
e, dentro dessa releitura, temos a mudana de titularidade da Nao para o Povo.
Esse o entendimento da nossa Constituio, como voc pode perceber da leitura
atenta do pargrafo nico do artigo 1: Todo o poder emana do povo, que o exerce
por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituio.
Vamos, ao longo desta unidade, estudar a teoria do Poder Constituinte,
buscandorefletir acerca da importncia dessa discusso terica para a
legitimao da Constituio.
Seo 1
A origem histrica do Poder Constituinte
O que o Poder Constituinte? Quem o titular do Poder Constituinte?
Poder constituinte a competncia para constituir ou dar constituio ao
estado, quer dizer, para organizlo. Percebese, assim, que o poder constituinte
originrio est localizado fora do Direito e precede o Estado e a prpria
Constituio, os quais so criados por ele.
A teoria do Poder Constituinte apareceu na Europa em fins do sculo XVIII,
defendendo, de modo revolucionrio, uma nova ordem jurdicopoltica. Nela,
a Nao passa a ser titular do poder legtimo de estabelecer o comando na
sociedade e, deste modo, as Constituies formais s seriam vlidas aps
receberem a sano do povo.
Essa teoria deriva do movimento de pensadores racionalistas franceses, que
encontra no abade Emmanuel Sieys, autor da obra O que o terceiro Estado,
seu maior expoente.
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Siyes aponta a Nao, corpo de associados que vivem sob uma lei comum
e representados pela mesma legislatura, como titular do poder de criar uma
Constituio. A Constituio tornase, assim, o fruto da vontade da Nao,
detentora de um Poder Constituinte permanente que lhe garante o direito de
elaborar, modificar e, at mesmo, extinguir a sua Lei Maior.
A noo de Poder Constituinte elaborada por Sieys possibilitou, por sua vez,
aelaborao da primeira Constituio escrita da Europa, a Constituio Francesa
de 1791, por meio de uma Assembleia Nacional Constituinte formada por
representantes do povo.
Seo 2
Poder constituinte originrio
A Constituio a fonte de todos os poderes por ela constitudos. A supremacia
constitucional decorre de sua origem, isto porque ela provm de um Poder
Constituinte originrio soberano na tomada de suas decises.
A titularidade do poder constituinte tem mudado de acordo com as circunstncias
histricas. Primeiro, pertenceu a Deus; depois, ao monarca; mais tarde, nao.
Atualmente, o povo o titular do Poder Constituinte.
O Poder Constituinte originrio inaugura uma nova ordem jurdica a partir do
surgimento da primeira Constituio de um pas ou mediante a elaborao de
nova Constituio, substituindo, por completo, a Constituio anterior.
O Poder Constituinte originrio apresenta algumas caractersticas fundamentais.
Ele :
25
Captulo 2
Seo 3
Poder constituinte derivado
3.1 Poder constituinte derivado de reforma da constituio
As Constituies no so textos imutveis, mas sim, textos passveis de alterao.
Alterar uma Constituio significa adaptla s mudanas culturais, polticas e
sociais de seu tempo, sem que seja necessrio o rompimento de toda a ordem
constitucional atravs da convocao de uma Assembleia Constituinte, ou atravs
de uma revoluo.
O poder reformador no existe por si, posto que foi criado pelo Poder Constituinte
originrio. Tratase, portanto, de um poder derivado, subordinado e limitado s
regras estabelecidas na Constituio da Repblica.
26
limites temporais;
formais ou procedimentais;
circunstanciais; e
materiais.
27
Captulo 2
clusulas ptreas. Neste sentido, h determinadas matrias que no podero ser
suprimidas no texto constitucional. Estes so os limites materiais.
H limitaes materiais explcitas e implcitas. As limitaes materiais explcitas
so as do art. 60, 4. No pode haver emenda constitucional tendente a abolir
(total ou parcialmente) qualquer das matrias ali referidas: a forma federativa de
Estado; o voto direto, secreto, universal e peridico; a separao de poderes e os
direitos e garantias individuais.
Embora no estejam expressas na Constituio, podem ser relacionadas as
seguintes limitaes implcitas ao poder reformador:
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Sntese
Ao longo desta unidade, voc estudou que a Teoria do Poder Constituinte aflorou
na Europa, em fins do sculo XVIII, junto com as Constituies escritas, que,
porsua vez, tinham como objetivo limitar o poder do monarca e garantir direitos.
Todavia voc percebeu que a existncia de uma Constituio escrita, fruto do
poder constituinte originrio, no mantinha, por si s, a perenidade e segurana
jurdica necessrias.
Era preciso construir um mecanismo de alterao e atualizao do texto
constitucional, permitindo sua adequao s mudanas sociais, sem com isso
provocar um processo de ruptura constitucional.
Neste sentido, voc aprendeu que o texto constitucional pode ser reformado,
desde que observados determinados limites. Vale relembrar, aqui, as famosas
clusulas ptreas, que voc conheceu ao estudar os limites materiais explcitos e
implcitos ao poder de reforma constitucional.
Ao final deste estudo, cabe fazer um alerta: o poder constituinte do povo
realizase atravs da prxis, e no por meio de um diploma.
Quanto mais centralizado for o exerccio do poder, quanto menos participao
houver de setores da sociedade na elaborao/atualizao da Constituio, mais a
Constituio representar os privilgios de uma classe, distanciandose do povo.
Nestes casos, a teoria do poder constituinte do povo ser apenas uma fachada e
as mudanas na Constituio carecero de legitimidade!
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Captulo 3
Hermenutica constitucional
Habilidades
Sees de estudo
Seo 1: A interpretao
Seo 2: A interpretao constitucional
Seo 3: Mtodos clssicos de interpretao
Seo 4: Princpios de interpretao constitucional
Seo 5: Mtodos de interpretao constitucional
31
Captulo 3
Consideraes iniciais
Para que uma norma seja aplicada, preciso interpretla. Deste processo
participam pelo menos trs elementos: o sujeito que interpreta, o objeto que
interpretado e o mtodo com que o sujeito apreende o objeto. Este o pano de
fundo a partir do qual se desenvolve esta unidade.
Voc perceber que h sempre um pluralismo interpretativo, ou seja, so
possveis vrias interpretaes, e a soluo vai depender da escolha do sujeito/
intrprete. A interpretao , portanto, uma escolha do sujeito, no existindo uma
interpretao unvoca.
Podem os magistrados decidir um mesmo caso concreto a partir de
argumentos distintos, e suas decises serem consideradas igualmente
aceitveis. Este ponto importante!
Seo 1
A interpretao
O que interpretao e quem o intrprete da norma? Antes de compreender o
conceito de interpretao, preciso entender o significado do termo hermenutica.
32
33
Captulo 3
Seo 2
A interpretao constitucional
Interpretar as normas constitucionais significa buscar o sentido e o alcance
dos enunciados lingusticos que formam o texto constitucional, buscando
unidade e harmonia de sentido. Neste sentido, h que se fazer um esforo
para que seus preceitos sejam entendidos luz dos princpios e valores
constitucionalmente relevantes.
Enquanto objeto de interpretao, a Constituio possui especificidades que
a diferenciam das demais normas do ordenamento jurdico. Estamos falando
da Lei Suprema de um pas, que no pode ser contrariada por qualquer outra
normainfraconstitucional.
Como estudante e futuro profissional do Direito, voc deve se familiarizar,
portanto, com a ideia de que a Constituio uma instncia argumentativa
sempre acessvel, pois nenhum outro ato de nenhum dos trs Poderes (Executivo,
Judicirio ou Legislativo) lhe pode ser contrrio; sempre ser possvel analisar
questes jurdicas sob a tica constitucional.
A Constituio possui uma funo informadora do conjunto do ordenamento
jurdico, servindo como lente para a compreenso, interpretao e aplicao
de toda a ordem jurdica. Esta funo, chamada de filtragem constitucional,
extremamente relevante, na medida em que a Constituio a fonte de validade
das demais normas do ordenamento jurdico.
Concluise, deste modo, que atravs da interpretao da Constituio que
se definem o alcance e o sentido das normas do Direito Penal, do Direito
Civil, do Direito Processual, do Direito Tributrio, do Direito Administrativo,
doDireito Ambiental, enfim, de todos os demais ramos jurdicos.
34
35
Captulo 3
Exemplo deste processo de mutao constitucional ocorre na extenso
dos contedos dos direitos fundamentais, como o progressivo
reconhecimento do casamento entre pessoas do mesmo sexo no Brasil,
atravs do conceito de unio estvel, ou na extenso me adotiva do
direito licena gestao, institudo em favor da empregada gestante pelo
inc. XVIII do art. 7 da Constituio da Repblica.
Seo 3
Mtodos clssicos de interpretao
Os principais mtodos clssicos de interpretao, capazes de auxiliar o jurista a traar
o quadro normativo, primeiro passo para a aplicao do direito, so os seguintes:
interpretao lgicogramatical;
interpretao histricoevolutiva;
interpretao sistemtica; e
interpretao teleolgica.
36
Seo 4
Princpios de interpretao constitucional
A hermenutica constitucional guiada por princpios prprios, dentre os quais
destacamse:
37
Captulo 3
Por outro lado, a consequncia da unidade da Constituio para a atividade
interpretativa o dever de aplicla de modo que nenhuma norma anule a outra,
afastando as antinomias. Essa tarefa muitas vezes problemtica, posto que no
se possa negar a eficcia de nenhum dispositivo da Constituio.
Como conciliar, por exemplo, a liberdade econmica, a liberdade de
propaganda e o direito informao com a proteo sade pblica, ao
consumidor e ao meio ambiente?
O equilbrio entre esses interesses e valores que deve ser buscado pelo
intrprete da Constituio, cabendolhe harmonizar os espaos de tenso
existentes entre as normas constitucionais a concretizar, ponderando os bens e
valores que elas protegem.
Diante dessa necessidade, o princpio da concordncia prtica ou harmonizao
parte da noo de que no h diferena hierrquica ou de valor entre os bens
constitucionais. Por consequncia, diante de conflitos entre direitos e garantias
constitucionalmente tutelados, deve o intrprete limitarse a uma tarefa de
concordncia prtica, para que todos os interesses constitucionais em jogo tenham
a sua poro correta de eficcia, sem a prevalncia de um interesse sobre o outro,
de modo a evitar o aniquilamento de algum deles.
Por fim, o princpio da mxima efetividade da Constituio orienta o intrprete
no sentido de atribuir a uma norma constitucional o sentido que lhe d maior
eficcia, sem, contudo, alterarlhe o contedo. Vale lembrar que a eficcia a
aptido da norma para produzir os seus efeitos, enquanto que a efetividade diz
respeito aos efeitos concretamente produzidos pela norma.
Ao reconhecer normatividade aos princpios e valores constitucionais,
principalmente em sede de direitos fundamentais, o princpio da mxima
efetividade densifica seus preceitos.
Seo 5
Mtodos de interpretao constitucional
A moderna interpretao da Constituio procura favorecer mtodos concretizadores
das normas e princpios constitucionais. Dentre os mtodos de interpretao
constitucional, destacamos:
38
mtodo tpicoproblemtico;
mtodo hermenuticoconcretizador;
mtodo cientficoespiritual; e
mtodo normativoestruturante.
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Captulo 3
Sntese
Neste captulo, voc aprendeu que a hermenutica a cincia que estuda e
sistematiza os princpios e regras de interpretao do Direito, enquanto que a
interpretao a atividade prtica de revelar o contedo e alcance da norma,
tendo por fim fazla incidir sobre um caso concreto.
Estudou que, em razo de sua superioridade hierrquica, a Constituio
funciona como parmetro de aferio de validade formal e material das
normas infraconstitucionais.
Voc percebeu, assim, que todo o ordenamento jurdico deve ser interpretado
e aplicado luz da Constituio. E que a Constituio, portanto, passa a
constituir um filtro atravs do qual se deve ler e interpretar as categorias e os
institutos de todos os ramos do Direito. Tratase do fenmeno conhecido como
filtragem constitucional.
Por fim, estudou que cabe ao intrprete, luz dos elementos do caso concreto,
revelar o contedo da norma, com o objetivo de encontrar uma soluo
constitucionalmente adequada.
Para isso, o intrprete se utiliza de mtodos e princpios especficos de
interpretao constitucional, aptos a superar as limitaes da interpretao jurdica
convencional, sem dispensar, contudo, os mtodos clssicos de interpretao!
40
Captulo 4
Princpios fundamentais
da Constituio da
Repblica de 1988
Habilidades
Sees de estudo
41
Captulo 4
Consideraes iniciais
A Constituio da Repblica Federativa do Brasil de 1988 instituiu, atravs de
seus princpios fundamentais, um Estado Democrtico de Direito comprometido,
na ordem interna e internacional, com o respeito dignidade da pessoa humana
e destinado a assegurar o bemestar e a justia social, entre outros valores
supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos.
Os princpios constitucionais fundamentais so, portanto, responsveis no s
por estabelecer as decises polticas essenciais quanto forma e estrutura do
Estado brasileiro, mas alcanam os princpios norteadores do funcionamento de
toda a sociedade. Neste sentido, a Constituio tambm estabelece a ordem
jurdica fundamental da comunidade, ou seja, ela representa a constituio do
Estado e da sociedade.
Ao longo deste captulo, deve ficar claro para voc que a principal funo dos
princpios constitucionais servir de vetor para a interpretao e aplicao
do texto constitucional. Portanto, interpretar corretamente os princpios
constitucionais fundamentais essencial efetivao dos direitos e garantias
assegurados na Constituio.
Seo 1
Distino entre princpios e regras constitucionais
A Constituio um sistema de normas jurdicas dotadas de imperatividade. Estas
normas podem ser enquadradas em duas categorias diversas: as normasregras e
as normasprincpios.
As regras tm eficcia jurdica restrita s situaes especficas s quais se
dirigem. J os princpios so normas dotadas de elevado grau de abstrao,
condensando os valores centrais de um sistema e exercendo uma funo
ordenadora do mesmo.
Em passagem clssica, Mello (1986, p. 230) definiu princpio como sendo:
[...] o mandamento nuclear de um sistema, verdadeiro alicerce
dele, disposio fundamental que se irradia sobre diferentes
normas compondolhes o esprito e servindo de critrio para sua
exata compreenso e inteligncia, exatamente por definir a lgica
e a racionalidade do sistema normativo, no que lhe confere a
tnica e lhe d sentido harmnico.
42
Seo 2
A classificao dos princpios estruturantes
Os princpios estruturantes ou princpios constitucionais fundamentais expressam
as decises polticas que do forma e estrutura ao Estado e ao governo. So as
opes polticoconstitucionais fundamentais que, no caso brasileiro, encontramse
expressas do art. 1 ao art. 4 da Constituio da Repblica de 1988.
Os princpios estruturantes ocupam lugar estratgico no ordenamento jurdico
e, por isso, foram colocados no incio da Constituio, justamente para permitir
uma correta interpretao do seu texto quanto aos fundamentos e objetivos do
Estado brasileiro.
Da leitura do caput do art. 1 A Repblica Federativa do Brasil, formada pela
unio indissolvel dos Estados e Municpios e do Distrito Federal, constituise em
Estado Democrtico de Direito, voc poder divisar os seguintes princpios:
princpio federativo;
princpio republicano;
Captulo 4
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Seo 3
Fundamentos e objetivos do Estado brasileiro
Nos cinco incisos do art. 1, encontramos os fundamentos da Repblica
Federativa do Brasil:
a soberania;
a cidadania;
o pluralismo poltico.
45
Captulo 4
Entretanto, como adverte Faria (2002, p. 23), em um contexto socioeconmico
globalizado,
[...] embora em termos formais os Estados continuem a
exercer soberanamente sua autoridade nos limites de seu
territrio, em termos substantivos muitos deles j no mais
conseguem estabelecer e realizar seus objetivos exclusivamente
por si e para si prprios. Em outras palavras, descobremse
materialmente limitados em sua autonomia decisria. E,
conforme o peso relativo de suas respectivas economias
nacionais na economia globalizada, a dimenso de seu mercado
consumidor, acapacidade de investimento dos capitais privados
nacionais, ocontrole da tecnologia produtiva, a especificidade
de suas bases industriais, o grau de modernidade de sua
infraestrutura bsica e os nveis de escolaridade e informao
de suas sociedades j no mais dispem de condies
efetivas para implementar polticas monetria, fiscal, cambial
e previdenciria de modo independente, nem para controlar
todos os eventos possveis dentro de sua jurisdio territorial.
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Captulo 4
Erradicar a pobreza e a marginalizao e reduzir as desigualdades sociais
eregionais
Com a finalidade de atender a esse objetivo fundamental, foi criado por Emenda
Constitucional o Fundo para Combate Pobreza e Sua Erradicao, prorrogado
por prazo indeterminado, nos termos da EC n. 67/2010.
Promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raa, sexo, cor,
idade e quaisquer outras formas de discriminao
Os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), ao julgarem a Ao Direta de
Inconstitucionalidade (ADI) 4277 e a Arguio de Descumprimento de Preceito
Fundamental (ADPF) 132, reconheceram a unio estvel para casais do
mesmo sexo, sob o fundamento de que o art. 3, inc. IV, da CF veda qualquer
discriminao em virtude de sexo, raa, cor, e que, neste sentido, ningum pode
ser diminudo ou discriminado em funo de sua preferncia sexual. O ministro
Ayres Britto argumentou que: O sexo das pessoas, salvo disposio contrria,
no se presta para desigualao jurdica. Observou o ministro, para concluir, que
qualquer depreciao da unio estvel homoafetiva colide, portanto, com o inc. IV
do art. 3 da CF.
Seo 4
Princpios que regem o Estado brasileiro nas
suas relaes internacionais
A Repblica Federativa do Brasil regese nas suas relaes internacionais pelos
seguintes princpios (art. 4):
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independncia nacional;
no interveno;
defesa da paz;
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Captulo 4
fundamentais. Dispe o art. 5, inc. LVIII, que a lei considerar crimes inafianveis
e insuscetveis de graa ou anistia o terrorismo e os definidos como hediondos,
por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitlos,
se omitirem.
Quanto ao combate ao racismo, o art. 5, inc. XLII, da Constituio da Repblica
de 1988, considerou sua prtica crime inafianvel e imprescritvel, sujeita pena
de recluso, nos termos da lei.
O princpio da cooperao entre os povos para o progresso da humanidade
pretende a busca de solues conjuntas para os problemas que afetam a
humanidade. Atravs da troca de informao e tecnologias, podese, por
exemplo, inventar a cura para o HIV ou desenvolver produtos ou combustveis
que poluam menos o meio ambiente.
O asilo poltico consiste no acolhimento de estrangeiro por parte de um Estado
que no o seu, por motivo de perseguio por ele sofrida em razo de dissidncia
poltica, delitos de opinio. A concesso de asilo poltico ato de soberania
estatal, de competncia do Presidente da Repblica. O Estado no obrigado a
conceder o asilo poltico.
Sntese
Neste captulo, voc aprendeu que os princpios fundamentais expressam os valores
constitucionais supremos e representam o fio condutor da hermenutica jurdica.
Estudou os princpios constitucionais fundamentais da Constituio Federal
de 1988, tambm chamados de princpios estruturantes da organizao
constitucional, presentes nos artigos 1 ao 4, que expressam as decises
polticas que do forma e estrutura ao Estado brasileiro.
Percebeu que o Estado Democrtico de Direito brasileiro deve moverse no
sentido de cumprir os objetivos fundamentais traados no art. 3 do texto
constitucional, moldados pelo vis da dignidade humana.
Por fim, estudou os princpios constitucionais que regem a Repblica Federativa
do Brasil nas suas relaes internacionais e a sua aplicabilidade no ordenamento
jurdico brasileiro.
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Captulo 5
Teoria geral dos
direitosfundamentais
Habilidades
Sees de estudo
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Captulo 5
Consideraes iniciais
A consagrao dos direitos fundamentais nas Constituies o elemento mais
expressivo do Constitucionalismo contemporneo.
Voc estudar que a expresso direitos fundamentais na atual Constituio
brasileira abrange os direitos individuais, polticos, sociais, de nacionalidade
e econmicos, atribudos com a finalidade de proteger a dignidade da pessoa
humana em todas as suas dimenses.
Entender que o desenvolvimento dos direitos fundamentais foi um processo
histrico e gradativo, sendo sua consagrao fruto de mudanas ocorridas ao
longo do tempo, em relao estrutura da sociedade.
Estudar os limites aos direitos fundamentais e as solues apontadas pela
doutrina e jurisprudncia para as colises entre os referidos direitos, e ver a
riqueza dos assuntos e a complexidade dos temas que envolvem a teoria dos
direitos fundamentais.
Por fim, ver que vivemos em um momento histrico no qual a constitucionalizao
de todo o Direito repercute tambm na esfera das relaes jurdicas privadas que,
por sua vez, devem mostrarse coerentes com os novos valores constitucionais.
Bom estudo!
Seo 1
O que so direitos fundamentais?
Qual a definio para direitos fundamentais?
Os direitos fundamentais constituem o conjunto de direitos e liberdades
institucionalmente reconhecidos e garantidos pelo direito positivo de determinado
Estado, previstos no texto constitucional, diferenciandose dos direitos humanos,
categoria mais ampla, na medida em que essa abarca direitos reconhecidos na
esfera internacional, presentes em tratados internacionais.
De acordo com Vieira (1999, p. 36), Direitos Fundamentais a expresso
comumente empregada por constitucionalistas para designar o conjunto de
direitos da pessoa humana expressa ou implicitamente reconhecidos por uma
determinada ordem constitucional.
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53
Captulo 5
J na dimenso subjetiva, so faculdades constitucionalmente aceitas que
habilitam as pessoas a exigir o resguardo e/ou a promoo de sua decncia.
Para Reinaldo Pereira e Silva (2005 p. 196), trs so as condies necessrias
para que se entendam como so fundamentais certos direitos humanos:
1. preciso que as sociedades, nas quais eles encontram acolhida,
organizemse sob a forma de Estado de direito (sociedades de
indivduos iguais);
2. preciso que tais direitos estejam positivados nas Constituies
dos respectivos Estados e que sejam considerados essenciais
existncia e ao contedo dos demais direitos da mesma ordem
jurdica positiva; e
3. preciso que o exerccio de tais direitos positivados seja
acompanhado de garantias jurdicas precisas.
Em sntese, podemos afirmar que os direitos fundamentais indicam deveres
positivos ao Estado e ao indivduo no mbito social; bem como limitam
negativamente a atividade estatal frente liberdade dos indivduos.
Ao estudar esta seo, importante que voc faa uma leitura em paralelo
da obra A eficcia dos direitos fundamentais, de autoria do professor Ingo
Wolfgang Sarlet. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 1998. p.2935.
Seo 2
Geraes de direitos fundamentais
Mas, afinal, quando surgem os direitos fundamentais? Considerando que os
direitos fundamentais so produtos de lutas histricas, possvel afirmar que os
direitos humanos no so, mas esto sendo?
A expressao direitos fundamentais nao deixa dvidas de que estamos diante
de bens jurdicos extremamente importantes, contudo os direitos fundamentais
nao sao absolutos.
Pare para pensar nas inumeras limitacoes que os nossos direitos suportam
diariamente. Observe, por exemplo, os direitos de personalidade (honra, imagem,
privacidade, entre outros), os quais apontam para a protecao da pessoa, para o
resguardo de sua intimidade. Agora observe o direito de informacao e o direito de
liberdade de expressao. Eles apontam para a direcao oposta, para a divulgacao
de dados e informacoes, inclusive pessoais.
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Captulo 5
Cabe observar que as geraes de direitos fundamentais refletem o movimento
de lutas e conquistas da sociedade em busca de prerrogativas que possam
frear a opresso do Estado e dos particulares sobre os indivduos ou sobre a
comunidade, possibilitando o pleno desenvolvimento da pessoa humana e da
sociedade como um todo.
Para aprofundar seus estudos, sugerimos a leitura da obra Curso de Direito
Constitucional, em especial
o captulo A Teoria dos Direitos Fundamentais, deautoria de Paulo Bonavides,
27.ed. So Paulo: Malheiros Editores Ltda., 2012.
Seo 3
Caractersticas dos direitos fundamentais
Os direitos fundamentais apresentam caractersticas em comum. Voc saberia
apontar algumas delas?
As principais caractersticas dos direitos fundamentais so:
1. Historicidade
2. Universalidade
3. Inalienabilidade
4. Imprescritibilidade
5. Relatividade
6. Interdependncia
1. Historicidade: os direitos fundamentais so fruto de um processo de afirmao
das conquistas resultantes da luta contra a opresso. Por isso, tm seu contedo
moldado pelo contexto histrico, de acordo com a possibilidade poltica, social e
econmica da comunidade. De modo que, um direito fundamental porque uma
sociedade em determinado momento o erigiu a tal status.
Nos dizeres de Jos Afonso da Silva (2007, p. 181), [...] sua historicidade [dos
direitos fundamentais] rechaa toda fundamentao baseada no direito natural,
na essncia do homem ou na natureza das coisas.
possvel concluirmos que os direitos fundamentais so uma construo
histrica e que a concepo sobre quais so os direitos considerados
fundamentais varia no tempo e no espao.
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Captulo 5
Todavia no se pode limitar os direitos fundamentais alm do estritamente
necessrio, pois a restrio aos direitos fundamentais s admitida quando
compatvel com os ditames constitucionais e quando respeitados os princpios
da razoabilidade e da proporcionalidade.
6. Interdependncia: os direitos fundamentais formam um conjunto indissocivel,
no podendo ser analisados como elementos isolados. Cabe ressaltar que h
uma conexo entre os direitos de 1, 2, 3 e 4 geraes, conforme advertiu o
professor Antnio Augusto Canado Trindade, em palestra na IV Conferncia
Nacional de Direitos Humanos:
De que vale o direito vida sem o provimento de condies
mnimas de uma existncia digna, se no de sobrevivncia
(alimentao, moradia, vesturio)? De que vale o direito liberdade
de locomoo sem o direito moradia adequada? De que vale
o direito liberdade de expresso sem o acesso instruo e
educao bsica? De que valem os direitos polticos sem o direito
ao trabalho? De que vale o direito ao trabalho sem um salrio
justo, capaz de atender s necessidades humanas bsicas?
De que vale o direito liberdade de associao sem o direito
sade? De que vale o direito igualdade perante a lei sem as
garantias do devido processo legal? (TRINDADE, 1999, p. 17).
Seo 4
Limites aos direitos fundamentais
Os direitos fundamentais podem sofrer restries?
Os direitos e garantias fundamentais no tm carter absoluto, visto que
encontram limites nos demais direitos igualmente consagrados no texto
constitucional. De acordo com jurisprudncia do Supremo Tribunal Federal:
No h, no sistema constitucional brasileiro, direitos ou garantias
que se revistam de carter absoluto, mesmo porque razes
de relevante interesse pblico ou exigncias derivadas do
princpio de convivncia das liberdades legitimam, ainda que
excepcionalmente, a adoo, por parte dos rgos estatais,
demedidas restritivas das prerrogativas individuais ou coletivas,
desde que respeitados os termos estabelecidos pela prpria
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Captulo 5
O texto constitucional permite, no seu art. 5, inc. XIII , que o Congresso Nacional
edite leis regulamentando o exerccio de algumas profisses, exigindo determinadas
qualificaes tcnicas para o desempenho de algumas tarefas. legtimo, portanto,
exigir que algum s possa clinicar se possuir o curso superior de Medicina. Porm,
seria constitucional exigir para o exerccio da profisso de advogado o ttulo
de psdoutor em Direito? Certamente, no. Epor qu? Porque essa restrio
destoaria do razovel, restringiria tanto o direito fundamental, que o tornaria vazio.
Para aprofundar seus estudos sugerimos a leitura da obra Curso de Direito
Constitucional, em especial o captulo O princpio constitucional da
proporcionalidade e a Constituio de 1988, de autoria de Paulo Bonavides,
27.ed. So Paulo: Malheiros Editores Ltda., 2012.
Seo 5
Como resolver colises de direitos fundamentais?
De que forma resolver colises de direitos fundamentais?
Os direitos fundamentais colidem porque no se esgotam no plano de
interpretao in abstracto. As normas de direito fundamental se mostram abertas e
mveis quando da sua realizao ou concretizao da vida social. Da a ocorrncia
de colises. Ou seja, em abstrato, os direitos fundamentais convivem em harmonia,
no entanto, luz de um caso concreto, o exerccio de um direito fundamental pode
afetar ou restringir o exerccio de um direito fundamental de outro titular.
Segundo Fernandes, as colises entre direitos fundamentais podem se situar em
quatro modalidades:
Coliso de direito fundamental enquanto direito liberal de defesa:
dois grupos contrrios desejam realizar uma manifestao na
mesma praa pblica. A permisso de ambos simultaneamente,
aniquilaria ambos os interesses.
Coliso de direito de defesa de carter liberal e o direito de
proteo: situao exemplificativa da polcia que tem de escolher
atirar no sequestrador para salvar a vida da vtima ou do refm.
Coliso do carter negativo de um direito com carter positivo desse
mesmo direito: um exemplo fica no campo do direito de liberdade
religiosa, quando a prtica de uma religio pressupe a no prtica
de outra. o caso de aulas de educao religiosa crist fornecidas
em escola pblica municipal a todos os alunos, independentemente
da religio professada pelos mesmos e seuspais.
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61
Captulo 5
Nestes casos, mostrase insuficiente o mtodo subsuntivo. A subsuno se
desenvolve por via de um raciocnio silogstico, no qual a premissa maioranorma
incide sobre a premissa menor os fatos produzindo um resultado, fruto da
aplicao da norma, ao caso concreto. De acordo com Barroso (2001) a subsuno,
na sua lgica unidirecional (premissa maior premissa menor concluso), s
poderia trabalhar com uma das normas, oque importaria na eleio de uma
nica premissa maior, descartandose as demais. Tal frmula, todavia, no seria
constitucionalmente adequada, em razo do princpio da unidade da Constituio,
a qual nega a existncia de hierarquia jurdica entre normas constitucionais, posto
que os direitos fundamentais so expressos por normas constitucionais de idntica
hierarquia e vinculao.(BARROSO, 2011, p. 357358).
Sendo assim, exigese um raciocnio que seja capaz de operar multidirecionalmente,
isto , que considere os mltiplos elementos em anlise, considerandoos na
medida de sua importncia e pertinncia para o caso concreto. Tratase da tcnica
da ponderao, que se socorre do princpio da razoabilidadeproporcionalidade
para promover a mxima concordncia prtica entre os direitos em conflito.
Acerca da soluo de conflitos entre direitos fundamentais, Barroso (2011, p. 362)
conclui que:
O intrprete dever fazer concesses recprocas entre os valores
e interesses em disputa, preservando o mximo possvel cada
um deles. Situaes haver, no entanto, em que ser impossvel
a compatibilizao. Nesses casos, o intrprete precisar fazer
escolhas. Determinado in concreto, o princpio ou direito que
irprevalecer.
62
Seo 6
Eficcia dos direitos fundamentais nas relaes
privadas: eficcia horizontal
No compete somente ao Estado fazer valer a vontade da Constituio. Cabe,
tambm, ao povo concretizla. Partindose da tese da fora normativa da
Constituio, formulada por Konrad Hesse, o Direito Privado no poderia furtarse
obedincia aos direitos fundamentais, sob pena de estes no adquirirem a
devida eficcia.
Por isso, falase em eficcia horizontal de direitos fundamentais nas
relaes privadas. A eficcia horizontal dos direitos fundamentais decorre do
reconhecimento de que as desigualdades no se situam apenas na relao
entre o Estado e o particular. Surge da a necessidade de defender, com base no
catlogo dos direitos fundamentais, o particular nas suas relaes com outros
particulares. Significa dizer que os direitos fundamentais, ainda que de modo
singular, incidem tambm no campo das relaes entre os particulares.
Para Daniel Sarmento (2006, p. 323):
O Estado e o Direito assumem novas funes promocionais e
se consolida o entendimento de que os direitos fundamentais
no devem limitar o seu raio de ao s relaes polticas, entre
governantes e governados, incidindo tambm em outros campos,
como o mercado, as relaes de trabalho e a famlia.
63
Captulo 5
Nos termos da proposta da teoria da eficcia direta ou imediata, adotada
majoritariamente pelos pases europeus, alguns direitos fundamentais podem
ser aplicados diretamente s relaes privadas, ou seja, sem a necessidade da
interveno legislativa. a teoria adotada no Brasil, conforme entendimento
adotado pelo Supremo Tribunal Federal nos julgados colacionados a seguir:
SOCIEDADE CIVIL SEM FINS LUCRATIVOS. UNIO BRASILEIRA
DE COMPOSITORES. EXCLUSO DE SCIO SEM GARANTIA
DA AMPLA DEFESA E DO CONTRADITRIO. EFICCIA DOS
DIREITOS FUNDAMENTAIS NAS RELAES PRIVADAS.
RECURSO DESPROVIDO. I. EFICCIA DOS DIREITOS
FUNDAMENTAIS NAS RELAES PRIVADAS. As violaes
a direitos fundamentais no ocorrem somente no mbito das
relaes entre o cidado e o Estado, mas igualmente nas
relaes travadas entre pessoas fsicas e jurdicas de direito
privado. Assim, os direitos fundamentais assegurados pela
Constituio vinculam diretamente no apenas os poderes
pblicos, estando direcionados tambm proteo dos
particulares em face dos poderes privados. II. OS PRINCPIOS
CONSTITUCIONAIS COMO LIMITES AUTONOMIA PRIVADA
DAS ASSOCIAES. A ordem jurdicoconstitucional brasileira
no conferiu a qualquer associao civil a possibilidade de
agir revelia dos princpios inscritos nas leis e, em especial,
dos postulados que tm por fundamento direto o prprio
texto da Constituio da Repblica, notadamente em tema de
proteo s liberdades e garantias fundamentais. O espao de
autonomia privada garantido pela Constituio s associaes
no est imune incidncia dos princpios constitucionais
que asseguram o respeito aos direitos fundamentais de seus
associados. A autonomia privada, que encontra claras limitaes
de ordem jurdica, no pode ser exercida em detrimento ou com
desrespeito aos direitos e garantias de terceiros, especialmente
aqueles positivados em sede constitucional, pois a autonomia
da vontade no confere aos particulares, no domnio de sua
incidncia e atuao, o poder de transgredir ou de ignorar as
restries postas e definidas pela prpria Constituio, cuja
eficcia e fora normativa tambm se impem, aos particulares,
no mbito de suas relaes privadas, em tema de liberdades
fundamentais. III. SOCIEDADE CIVIL SEM FINS LUCR ATIVOS.
ENTIDADE QUE INTEGRA ESPAO PBLICO, AINDA QUE
NO ESTATAL. ATIVIDADE DE CARTER PBLICO. EXCLUSO
DE SCIO SEM GARANTIA DO DEVIDO PROCESSO LEGAL.
APLICAO DIRETA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS AMPLA
DEFESA E AO CONTRADITRIO. As associaes privadas
que exercem funo predominante em determinado mbito
econmico e/ou social, mantendo seus associados em relaes
de dependncia econmica e/ou social, integram o que se pode
denominar de espao pblico, ainda que noestatal. AUnio
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65
Captulo 5
os Poderes Pblicos e no atribuem aos particulares direitos frente a outros
particulares com exceo apenas da 13 Emenda, que proibiu a escravido.
Tratase da chamada teoria da state action.
Aprofunde seus estudos sobre a eficcia dos direitos fundamentais a partir da
leitura do texto:
SARMENTO, Daniel Sarmento; GOMES, Fbio Rodrigues. A eficcia dos
direitos fundamentais nas relaes entre particulares: o caso das relaes
de trabalho. Disponvel em: <http://aplicacao.tst.jus.br/dspace/bitstream/
handle/1939/28342/003_sarmento_gomes.pdf?sequence=1>.
Sntese
Neste captulo, voc estudou que a trajetria dos direitos fundamentais a
histria da liberdade moderna, da separao e limitao de poderes, da criao
de mecanismos que auxiliam o ser humano a concretizar os valores cuja
identidade nasce primeiro na Sociedade, e no nas esferas do poder estatal.
Entendeu que os direitos fundamentais consagrados no texto constitucional esto
edificados sobre o princpio da dignidade da pessoa humana e que os mencionados
direitos so o corao da nossa Constituio, podendo ser vistos como direitos de
defesa ou como garantias para o exerccio das liberdades pblicas.
Conheceu as caractersticas comuns das quais so dotados os direitos
fundamentais, entre elas destacandose a historicidade, a universalidade,
ainalienabilidade, a imprescritibilidade, a relatividade e a interdependncia.
Verificou que os direitos fundamentais no podem ser tomados como elementos
absolutos na ordem jurdica, mas sempre compreendidos e analisados caso a
caso, de modo relativo ou limitado. Todavia, fazse necessrio atender a todos os
desdobramentos da teoria dos limites dos limites, garantindo o efetivo exerccio
dos direitos fundamentais que fortalecem o Estado Democrtico de Direito.
Por fim, verificou que tambm o particular pode violar a esfera de liberdade dos
indivduos, nesse sentido, o Supremo Tribunal Federal vem reconhecendo a
aplicabilidade direta e imediata dos direitos fundamentais s relaes privadas.
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Captulo 6
Direitos individuais e coletivos
Habilidades
Sees de estudo
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Captulo 6
Consideraes iniciais
Voc estudar os direitos individuais e coletivos previstos no art. 5 do
texto constitucional e compreender que a dignidade da pessoa humana
elevada condio de metaprincpio, porque irradia seus valores e vetores
de interpretao para alm dos direitos fundamentais, alcanando todo o
ordenamento jurdico.
Entender que os direitos fundamentais esto em constante processo de
construo e reconstruo, e analisar o direito vida e seus desdobramentos,
odireito liberdade, igualdade e propriedade.
Compreender que a luta pela afirmao da dignidade humana a marca
do novo tempo, e o compromisso maior do Estado brasileiro deve ser com o
bemestar e a justia social, fazendo valer os direitos fundamentais previstos na
Constituio Cidad.
Por fim, conhecer as correntes doutrinrias e jurisprudenciais acerca do status
atribudo aos tratados internacionais de direitos humanos ratificados pelo Brasil
no ordenamento jurdico ptrio. Bom estudo!
Seo 1
A noo de dignidade da pessoa humana
Por que a dignidade da pessoa humana pode ser entendida como um
metaprincpio?
Apesar de no haver um conceito consensualmente aceito, doutrina e
jurisprudncia tm concretizado o contedo de dignidade da pessoa humana
e delineado seus contornos bsicos, conforme verificamos na conceituao
jurdica proposta por Sarlet (2004, p. 59):
A qualidade intrnseca e distintiva reconhecida em cada ser
humano que o faz merecedor do mesmo respeito e considerao
por parte do Estado e da comunidade, implicando, neste sentido,
um complexo de direitos e deveres fundamentais que assegurem
a pessoa tanto contra todo e qualquer ato de cunho degradante
e desumano, como venham a lhe garantir as condies
existenciais mnimas para uma vida saudvel, alm de propiciar
e promover sua participao ativa e coresponsvel nos destinos
da prpria existncia e da vida em comunho com os outros
demais seres humanos.
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Seo 2
Direito vida
A vida um direito absoluto? O direito vida pode ceder diante de outros valores,
como o respeito liberdade?
69
Captulo 6
Previsto de forma genrica no caput do art. 5, o direito vida deve ser interpretado
luz do princpio da dignidade da pessoa humana, previsto no inc.II do art. 1 da
Constituio Federal. Nesse sentido, o professor Sarmento (2000, p.105) destaca que:
A liberdade do operador do direito tem como norte e como limite
a constelao de valores subjacentes ordem constitucional,
dentre os quais cintila com maior destaque o da dignidade
da pessoa humana. Nenhuma ponderao poder importar
em desprestgio dignidade do homem, j que a garantia e
promoo desta dignidade representa o objetivo magno colimado
pela Constituio e pelo Direito.
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71
Captulo 6
O resultado do julgamento da ADI 3510 demonstra que cabe ao Poder Pblico
promover e incentivar o desenvolvimento cientfico, a pesquisa e a capacitao
tecnolgica, conforme prev o art. 218 da Constituio Federal, que estejam
voltados ao tratamento de doenas atualmente incurveis, trazendo benefcios
que ultrapassam as questes culturais e religiosas, em respeito vida humana
digna como valor bsico de um Estado Democrtico de Direito.
A vida, enquanto direito fundamental, no deve ser analisada apenas pela tica
biolgica, qual seja, o direito da vida em si mesma, mas tambm pela tica da
dignidade da vida!
Vale registrar neste estudo que a concepo de vida conectada de dignidade
humana levou os parlamentares argentinos a aprovarem em maio de 2012 a
lei chamada de morte digna, que permite ao paciente terminal ou em estado
irreversvel rejeitar tratamentos mdicos que possam prolongar seu sofrimento
outer vida artificial, conectada aos aparelhos.
Pela nova lei argentina, pacientes terminais tm o direito de rejeitar tratamento
mdico que prolongue suas vidas, tais como procedimentos cirrgicos, de
hidratao, alimentao e reanimao artificial, quando extraordinrio ou
desproporcionado em relao s perspectivas de melhoria e produzir dor e
sofrimento excessivo.
Outro aspecto destacado no estudo do direito vida referese proteo da
intimidade e da vida privada, erigidas na Constituio como valores fundamentais,
na condio de direito individual.
A Constituio Federal de 1988 declara no seu art. 5, inc. X que: so inviolveis
a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o
direito indenizao pelo dano material ou moral decorrente de sua violao.
Importa destacar que o texto constitucional resguarda o local em que se
desenvolve a vida privada, positivando a garantia da inviolabilidade domiciliar
no artigo 5, inc. XI, ao estabelecer que a casa asilo inviolvel do indivduo,
ningum nela podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso
de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por
determinao judicial.
Para o direito constitucional, casa tem um amplo significado, abrangendo
qualquer compartimento habitado, no s o domiclio, como tambm quartos
de hotel, casas de pousada, mesmo que provisoriamente, oficinas, garagens,
escritrios, consultrios, estabelecimentos comerciais ou industriais de acesso
restrito ao pblico. Vejamos:
72
73
Captulo 6
Seo 3
Direito igualdade
O que se entende por aes afirmativas? Por meio da discriminao positiva de
pessoas integrantes de grupos que estejam em situao desfavorvel, vtimas de
discriminao e estigma social, possvel promover a igualdade material?
A concepo de igualdade no Estado Democrtico de Direito no se resume
isonomia formal. Em uma sociedade dita democrtica, fundamental construir e
aplicar o Direito, de modo a promover a igualdade material/real entre as pessoas,
reduzindo os desnveis sociais e de poder existentes.
De acordo com Santos (2003, p. 59),
Temos o direito a ser iguais quando a nossa diferena nos
inferioriza; e temos o direito a ser diferentes quando a nossa
igualdade nos descaracteriza. Da a necessidade de uma
igualdade que reconhea as diferenas e de uma diferena
queno produza, alimente ou reproduza as desigualdades.
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De acordo com Piovesan (2005, p. 48), desde seu prembulo, essa Conveno
assinala que qualquer doutrina de superioridade baseada em diferenas raciais
cientificamente falsa, moralmente condenvel, socialmente injusta e perigosa,
inexistindo justificativa para a discriminao racial, em teoria ou prtica, em
lugar algum.
75
Captulo 6
A referida Conveno especificou, no pargrafo 4 do art. 1, a possibilidade de
discriminao positiva, mediante a adoo de medidas especiais de proteo
ou incentivo a grupos ou indivduos, com vistas a promover sua ascenso na
sociedade, at um nvel de equiparao com os demais, dispondo que:
No sero consideradas discriminao racial as medidas
especiais tomadas com o nico objetivo de assegurar o
progresso adequado de certos grupos raciais ou tnicos ou
de indivduos que necessitem da proteo que possa ser
necessria para proporcionar a tais grupos ou indivduos
igual gozo ou exerccio de direitos humanos e liberdades
fundamentais, contanto que tais medidas no conduzam,
em consequncia, manuteno de direitos separados
para diferentes grupos raciais e no prossigam aps terem
sido alcanados os seus objetivos. (BRASIL, 1969).
Seo 4
Direito liberdade
O exerccio da liberdade de expresso permite dizer tudo aquilo ou fazer tudo
aquilo que se quer?
O conceito de Estado Constitucional tem origem na afirmao histrica do
direito de liberdade. O estudo contemporneo da liberdade acompanha de
perto a evoluo do Direito Constitucional e encontrase intimamente ligado s
repercusses decorrentes do exerccio das liberdades que nascem como condio
essencial de existncia e sobrevivncia do Estado Democrtico de Direito.
na democracia que a liberdade encontra campos de expanso. Nesse sentido,
a Constituio da Repblica de 1988, tambm chamada de Constituio Cidad,
marca a retomada da Democracia no Brasil, assegurando o exerccio da liberdade,
desde o seu prembulo, que assim dispe:
76
77
Captulo 6
A Liberdade de expresso pode tanto compreender a atividade de pensar, formar
a prpria opinio e exteriorizla, quanto traduzir a possibilidade de utilizar os
mais diversos meios adequados divulgao do pensamento.
Esse direito encontra abrigo no art. 5, inc. IX, garantindo a liberdade de
expresso da atividade intelectual, artstica, cientfica e de comunicao,
independentemente de censura ou licena. Dispe que livre a expresso da
atividade intelectual, artstica, cientfica e de comunicao, independentemente
de censura ou licena. (BRASIL, 1988).
A Constituio de 1988 engloba, ainda, limites liberdade de manifestao do
pensamento, como a vedao de anonimato; a proteo imagem, honra,
intimidade e privacidade; tambm o direito de resposta, no caso de abuso do
direito de expressar do ser humano.
c. Liberdade de ao profissional Implica o direito da livre escolha
e o exerccio de trabalho, ofcio e profisso. Conforme enuncia o
art. 5, inciso XIII: livre o exerccio de qualquer trabalho, ofcio
ou profisso, atendidas as qualificaes profissionais que a lei
estabelecer. (BRASIL, 1988).
d. Liberdade de expresso coletiva So consideradas de
expresso coletiva a liberdade de reunio e de associao.
e. Liberdade de contedo econmico e social Inclui a liberdade
econmica e de comrcio, a livre iniciativa, a liberdade ou
autonomia contratual, a liberdade de ensino e a de trabalho.
Ao estudar esta seo, sugiro a leitura em paralelo da obra Liberdade de
Expresso e Discurso do dio, de autoria de Samantha Ribeiro MeyerPflug.
Editora RT, 2009.
Seo 5
Direito de propriedade
O que significa afirmar que a propriedade deve atender a sua funo social?
Todas as Constituies que vigoraram no Brasil a saber: 1824, 1891, 1934,
1937, 1946, 1967/69 e 1988 , garantiam o direito de propriedade, contudo
constatamse grandes discrepncias entre a garantia em toda sua plenitude,
do art. 179, inc. XXII, da Constituio Imperial de 1824, e a previso na atual
Constituio de 1988, em que o constituinte proclamou, de maneira veemente,
que o uso da propriedade ser condicionado ao bemestar social.
78
79
Captulo 6
Art. 182. [ ]
4 facultado ao Poder Pblico municipal, mediante lei
especfica para rea includa no plano diretor, exigir, nos termos
da lei federal, do proprietrio do solo urbano no edificado,
subutilizado ou no utilizado, que promova seu adequado
aproveitamento, sob pena, sucessivamente, de:
I parcelamento ou edificao compulsrios;
II imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana
progressivo no tempo;
III desapropriao com pagamento mediante ttulos da dvida
pblica de emisso previamente aprovada pelo Senado Federal,
com prazo de resgate de at dez anos, em parcelas anuais,
iguais e sucessivas, assegurados o valor real da indenizao e os
juros legais. (BRASIL, 1988).
80
Seo 6
A nova exegese dos tratados internacionais de
direitos humanos
Qual o status do tratado internacional de direitos humanos na ordem jurdica
interna brasileira?
Somente a partir do processo de democratizao do pas, deflagrado em 1985,
que o Estado Brasileiro passou a ratificar relevantes tratados internacionais
de direitos humanos, sendo que as inovaes introduzidas pela Constituio
de 1988 foram fundamentais para assegurar esses importantes instrumentos de
proteo dos direitos humanos.
81
Captulo 6
Em virtude do que dispe o 2 do art. 5 da Constituio e, sobretudo, com a
introduo do 3 ao mesmo artigo, por via da Emenda Constitucional n. 45 de
2004, o debate acerca da hierarquia dos tratados internacionais de proteo dos
direitos humanos ganhou novos contornos.
Isso porque a clusula de abertura do 2 do art. 5 da Constituio de 1988
oportunizou uma ampla discusso doutrinria e jurisprudencial, admitindo
distintas exegeses sobre o dispositivo e, por conseguinte, um acirrado debate
em torno da posio hierrquica dos tratados, assim sistematizadas: a) da
supraconstitucionalidade; b) da constitucionalidade; c) da supralegalidade; e,
porltimo, d) da paridade entre lei e tratado.
O mencionado 3 do art. 5 da Constituio de 1988, inserido pela Emenda
Constitucional n.45/2004, dispe que: Os tratados e convenes internacionais
sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso
Nacional, em dois turnos, por trs quintos dos votos dos respectivos membros,
sero equivalentes s emendas constitucionais. (BRASIL, 2004).
Assim, esse dispositivo pretendeu pr termo s discusses relativas hierarquia
dos tratados internacionais de direitos humanos no ordenamento jurdico
ptrio, uma vez que a doutrina mais abalizada, antes da reforma, j atribua
aos tratados de direitos humanos status de norma constitucional, em virtude
da interpretao do 2 do mesmo art. 5 da Constituio, que traz o seguinte
direcionamento: Osdireitos e garantias expressos nesta Constituio no excluem
outros decorrentes do regime e dos princpios por ela adotados, ou dos tratados
internacionais em que a Repblica Federativa do Brasil seja parte. (BRASIL, 1988).
Acerca do 3, do art. 5, afirma Sarlet (2006, p.14):
Tal preceito acabou por inserir no texto constitucional uma
norma procedimental dispondo sobre a forma de incorporao
ao direito interno dos tratados em matria de direitos humanos,
que, interpretada em sintonia com o art. 5, 2, pode ser
compreendida como assegurando em princpio e em sendo
adotado tal procedimento a condio de direitos formal e
materialmente constitucionais (e fundamentais) aos direitos
consagrados no plano das convenes internacionais.
82
Ao estudar esta seo importante que voc faa uma leitura em paralelo da
obra Tratados Internacionais de Direitos Humanos e Direito Interno, de
autoria de Valrio de Oliveira Mazzuoli, 1. ed. So Paulo: Editora Saraiva, 2010.
83
Captulo 6
Sntese
Neste captulo, voc estudou que no Estado constitucional de direito, a
Constituio passa a valer como norma jurdica, ocupando posio superior
sobre o restante da ordem jurdica. Diante da centralidade da Carta, todos os
demais ramos do Direito devem ser compreendidos e interpretados a partir do
que dispe a Constituio.
Verificou que, quando a Constituio da Repblica de 1988 surge aps o
perodo de vinte anos de exceo marcado por grandes retrocessos no tocante
a Direitos Fundamentais traz consigo a promessa da construo de uma
sociedade livre, justa e solidria, calcada no respeito ao princpio da dignidade da
pessoa humana, expresso logo em seu art. 1, inciso III. Trata se de um princpio
tico fundamental que est na base da enunciao dos direitos fundamentais.
Compreendeu que os direitos fundamentais constituem uma barreira oponvel
opresso e a excluso, que se move no sentido da ampliao dos espaos
de reivindicao e de exerccio da cidadania. Alm disso, exercer a cidadania
plena ter direitos civis, polticos e sociais. ter resguardado o direito vida,
liberdade, propriedade, igualdade, segurana. Mas tambm poder
participar consciente e responsavelmente do destino da sociedade, alm de votar,
ser votado, ter direitos polticos.
Voc estudou que os direitos civis e polticos no asseguram a democracia sem
os direitos sociais, os quais garantem a participao do indivduo na riqueza
coletiva: o direito educao, ao trabalho justo, sade, a uma velhice tranquila,
entre outros. Da a necessidade de afirmao dos direitos fundamentais como
conquistas histricas irreversveis. Neste sentido, a Constituio cidad protege
os direitos fundamentais, incluindoos no rol das chamadas clusulas ptreas da
Constituio Federal, art. 60, 4, inciso IV.
Por fim, analisou que os direitos e garantias expressos na Constituio no
excluem outros decorrentes do regime e dos princpios por ela adotados, ou dos
tratados internacionais em que a Repblica Federativa do Brasil seja parte.
84
Captulo 7
Os direitos sociais
Habilidades
Sees de estudo
85
Captulo 7
Consideraes iniciais
Voc estudar que os direitos sociais surgem em decorrncia
do agravamento dos problemas sociais impulsionados pela Revoluo Industrial,
a qual multiplicaria a produo, sem diminuir a carga de trabalho.
Compreender que, ante a crescente necessidade da garantia das mnimas condies
materiais bsicas de vida, o Estado passa a adotar uma postura intervencionista nas
esferas sociais, voltada ao atendimento e concretizao das necessidades bsicas do
ser humano, como educao, moradia, sade, dentre outros.
Ver que a preocupao, no Brasil, com os direitos econmicos, sociais e culturais,
rotulados de forma genrica como direitos sociais, tem como marco inicial a
Constituio de 1934, promulgada no perodo do governo de Getlio Vargas.
Estudar tambm que os direitos sociais no podem ser considerados meras
recomendaes (conselhos) ou preceitos morais, com eficcia ticopoltica
apenas diretiva, mas verdadeiras obrigaes jurdicas
Prima facie uma
concretas,
direcionadas ao Estado, posto que devem ser
expresso latina
entendidos como direitos subjetivos prima facie e, como
que significa
primeira vista. Neste
tal, judicialmente exigveis.
contexto, por exemplo,
significa que, logo
primeira vista, isto ,
indubitavelmente, os
direitos sociais devem
ser entendidos como
direitos subjetivos,
judicialmente exigveis.
86
Seo 1
Conceito e desenvolvimento dos direitos
sociais: do Estado Liberal ao Estado Social
Em que momento da ordem constitucional brasileira, a preocupao com os
direitos sociais ganhou espao nas Constituies?
A derrocada do Estado Absolutista e o surgimento do Estado Liberal tm a marca
da ascenso da burguesia, que de classe dominada, passa a ocupar o posto de
classe dominante.
O Estado Liberal institucionalizouse aps a Revoluo Francesa de 1789, revolta
social da burguesia, cujo lema era: Liberdade, Igualdade e Fraternidade, e que
ps fim ao Estado Monrquico autoritrio.
Ao exercer o poder poltico, a burguesia manteve a universalidade dos princpios,
todavia, apenas de maneira formal. O que imperou, na prtica, foram aes
conservadoras do status quo, que serviram acumulao do capital e
expanso do capitalismo, agravando, contudo, a situao da classe trabalhadora,
que passou a viver sob condies cada vez mais miserveis.
A Revoluo Industrial, iniciada no sculo XVIII, multiplicaria a produo, sem
diminuir a carga de trabalho. Os operrios, incluindo crianas, cumpriam jornadas
de trabalho superiores
a 12 horas dirias. Acrescentese a isso os baixos salrios, a insalubridade
e a falta de segurana no ambiente de trabalho, alm da inexistncia de leis
trabalhistas e de previdncia social.
A Revoluo Russa de 1917 foi uma resposta da classe trabalhadora ecloso
da Revoluo Industrial, que submetia o trabalhador a condies desumanas e
degradantes, e o agravamento dos problemas sociais impulsionaram a crise do
Estado Liberal, fazendo surgir o Estado Social.
O Estado Social, tambm chamado de Estado do BemEstar Social ou
Welfare State, caracterizase por ser um estado intervencionista, em que h
uma presena ativa do poder poltico nas esferas sociais, ante a crescente
necessidade da garantia das mnimas condies materiais bsicas de vida.
A intensa desigualdade estabelecida pelo Estado liberal foi a mola
propulsora que deu origem necessidade de um novo modelo de Estado,
voltado ao atendimento e concretizao das necessidades bsicas do ser
humano, como educao, moradia, sade, entre outros.
87
Captulo 7
Sob essa perspectiva, os direitos econmicos, sociais e culturais, rotulados de forma
genrica como direitos sociais, positivaramse em documentos exclusivamente
de abrangncia nacional (primeiramente na Constituio mexicana de 1917, na
Constituio Russa de 1918 e na Constituio de Weimar de 1919) e, posteriormente,
em documentos de mbito internacional, como a Declarao Universal dos Direitos
do Homem, aprovada pela Organizao das Naes Unidas em 1948.
No Brasil, a preocupao da ordem constitucional com os direitos sociais tem
como marco inicial a Constituio Federal de 1934, promulgada no perodo do
governo de Getlio Vargas.
Por sua vez, o Poder Constituinte de 1988 acabou por consagrar, sob o
rtulo de direitos sociais, um conjunto abrangente de direitos fundamentais,
estabelecendo, noseu artigo 6, que So direitos sociais a educao, a sade,
a alimentao, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurana, a previdncia social,
aproteo maternidade e infncia, a assistncia aos desamparados, na
forma desta Constituio.
A amplitude dos temas inscritos no referido artigo permite reconhecer que os
direitos sociais positivados no texto constitucional no so apenas aqueles
enunciados nos artigos 7, 8, 9, 10 e 11, abarcando, tambm, os que esto
localizados no Ttulo VIII Da Ordem Social, nos artigos 193 e seguintes.
Estabelecidas tais premissas, adentraremos na anlise da fundamentalidade e
eficcia dos direitos sociais na ordem constitucional brasileira.
Aprofunde seus conhecimentos acerca da afirmao histrica dos direitos
humanos, fazendo a leitura da obra do professor Fbio Konder Comparato,
intitulada A afirmao histrica dos direitos humanos. 7. ed. So Paulo:
Editora Saraiva, 2010.
Seo 2
Consideraes acerca da eficcia jurdica dos
direitos sociais
Como podemos trabalhar a vinculatividade normativa dos direitos sociais?
Os direitos fundamentais ostentam como caracterstica intrnseca, afundamentalidade,
que aponta para a especial dignidade de proteo desses direitos. Entre os direitos
fundamentais, destacamse os sociais, que impem ao Estado um atuar permanente,
ou seja, uma ao orientada para uma prestao positiva de natureza material ou ftica,
em benefcio do indivduo. (FERNANDES, 2011, p. 462)
88
89
Captulo 7
Em consequncia, afirmase que as normas que preveem tais direitos no tm
o condo de tornlos exigveis diante do Estado, porque o Judicirio no titula
competncia para dispor a respeito do oramento pblico. Logo, tais direitos no
seriam subjetivos, no havendo o correlato dever jurdico do Estado de prestlos.
De outra parte, a forma de veiculao desses direitos tambm dificulta sua
efetividade. Com efeito, alguns direitos sociais so expressos em regras, mas
muitos vm definidos em princpios, da surgindo todas as dificuldades relativas
sua normatividade.
Embora se reconhea a existncia de limites que implicam certa relativizao
de eficcia dos direitos sociais, tais objees no tm o condo de impedir o
reconhecimento, pelo Poder Judicirio, de direitos subjetivos a prestaes, luz
de um caso concreto. Nesses termos, esse direito social seria um direito subjetivo
exigvel sempre prima facie, que poderia se tornar um direito definitivo no caso
concreto. (FERNANDES, 2011, p. 465).
Nesse sentido, destaca Sarlet (2009) que:
[...] os direitos sociais no apenas tm sido considerados
como dignos de tutela contra intervenes ilegtimas por
parte dos poderes pblicos e dos particulares, como tm sido
constantemente tratados como direitos subjetivos e, como
tal, judicialmente exigveis, ainda que se possa controverter a
respeito de eventuais excessos aqui ou acol, bem como estejam
a aumentar em nmero os que questionam a legitimidade do
Poder Judicirio para impor, em face dos demais rgos estatais,
os direitos sociais na sua dimenso positiva.
90
Seo 3
O mnimo existencial como critrio definidor do
contedo dos direitos fundamentais
Qual a origem e o que compreende a noo do mnimo existencial?
O conceito de mnimo existencial foi emprestado da dogmtica constitucional
alem, basicamente em razo da no positivao de direitos sociais, econmicos
e fundamentais, pelo texto constitucional de Bonn.
Segundo Krell (2002, p. 61):
A Corte Constitucional alem extraiu o direito a um mnimo de
existncia do princpio da dignidade da pessoa humana (artigo
1, I, da Lei Fundamental) e do direito vida e integridade fsica,
mediante interpretao sistemtica junto ao princpio do Estado
Social (art. 20, I, da LF). Assim, a Corte determinou um aumento
expressivo do valor da ajuda social (Sozialhilfe), valor mnimo
que o Estado est obrigado a pagar a cidados carentes. Nessa
linha, a sua jurisprudncia aceita a existncia de um verdadeiro
Direito Fundamental a um mnimo vital.
91
Captulo 7
Percebese, assim, que os direitos sociais esto intimamente ligados dignidade
da pessoa humana, pois patente que direitos como sade, assistncia
social, moradia, educao e previdncia social tm por objetivo conferir aos
cidados uma existncia digna.
Tambm a jurisprudncia do Supremo Tribunal Federal se debruou sobre o
conceito de mnimo existencial.
No julgamento do Recurso Extraordinrio 482.611/Santa Catarina entendeu o STF
que no se pode alegar reserva do possvel para se afastar o ncleo bsico do
mnimo existencial, seno vejamos:
CRIANAS E ADOLESCENTES VTIMAS DE ABUSO E/OU
EXPLORAO SEXUAL. DEVER DE PROTEO INTEGRAL
INFNCIA E JUVENTUDE. OBRIGAO CONSTITUCIONAL
QUE SE IMPE AO PODER PBLICO. PROGRAMA SENTINELA
PROJETO ACORDE. INEXECUO, PELO MUNICPIO DE
FLORIANPOLIS/SC, DE REFERIDO PROGRAMA DE AO
SOCIAL CUJO ADIMPLEMENTO TRADUZ EXIGNCIA DE
ORDEM CONSTITUCIONAL. CONFIGURAO, NO CASO,
DE TPICA HIPTESE DE OMISSO INCONSTITUCIONAL
IMPUTVEL AO MUNICPIO. DESRESPEITO CONSTITUIO
PROVOCADO POR INRCIA ESTATAL (RTJ 183/818819).
COMPORTAMENTO QUE TRANSGRIDE A AUTORIDADE DA
LEI FUNDAMENTAL (RTJ 185/794796). IMPOSSIBILIDADE
DE INVOCAO, PELO PODER PBLICO, DA CLUSULA DA
RESERVA DO POSSVEL SEMPRE QUE PUDER RESULTAR, DE
SUA APLICAO, COMPROMETIMENTO DO NCLEO BSICO
QUE QUALIFICA O MNIMO EXISTENCIAL (RTJ 200/191197).
CARTER COGENTE E VINCULANTE DAS NORMAS
CONSTITUCIONAIS, INCLUSIVE DAQUELAS DE CONTEDO
PROGRAMTICO, QUE VEICULAM DIRETRIZES DE POLTICAS
PBLICAS. PLENA LEGITIMIDADE JURDICA DO CONTROLE
DAS OMISSES ESTATAIS PELO PODER JUDICIRIO.
ACOLMATAO DE OMISSES INCONSTITUCIONAIS
COMO NECESSIDADE INSTITUCIONAL FUNDADA EM
COMPORTAMENTO AFIRMATIVO DOS JUZES E TRIBUNAIS E
DE QUE RESULTA UMA POSITIVA CRIAO JURISPRUDENCIAL
DO DIREITO. PRECEDENTES DO SUPREMO TRIBUNAL
FEDERAL EM TEMA DE IMPLEMENTAO DE POLTICAS
PBLICAS DELINEADAS NA CONSTITUIO DA REPBLICA
(RTJ 174/687 RTJ 175/12121213 RTJ 199/12191220).
RECURSO EXTRAORDINRIO DO MINISTRIO PBLICO
ESTADUAL CONHECIDO E PROVIDO. (SUPREMO TRIBUNAL
FEDERAL, 2010).
92
93
Captulo 7
Seo 4
A clusula da reserva do possvel como limite
de implementao dos direitos sociais
Em que medida a clusula da reserva do possvel representa um limite eficcia
dos direitos sociais?
A expresso reserva do possvel deve ser considerada nos precisos termos em
que o Tribunal Constitucional alemo inicialmente formulou o conceito, a partir do
caso numerous clausus, versando sobre o direito de acesso ao ensino superior,
em que ficou decidido que a prestao reclamada deve corresponder ao que o
indivduo pode razoavelmente exigir da sociedade. (SARLET, 1998, p. 261).
importante registrar que o Estado o responsvel pela implementao dos
direitos fundamentais sociais, os quais so essenciais para que os seres humanos
usufruam de um padro mnimo de dignidade.
Para Martins (2005, p. 663664), a deciso do Tribunal Constitucional alemo
significa que a sociedade deveria delimitar a razoabilidade da exigncia de
determinadas prestaes sociais, a fim de impedir o uso dos recursos pblicos
disponveis em favor de quem deles no necessita.
No Brasil, pas que tem caractersticas normativas e socioeconmicas totalmente
distintas da Alemanha, a mera transposio doutrinria e jurisprudencial do
conceito de reserva do possvel enseja crticas contundentes, como a de Krell
(2002, p. 54): A discusso europeia sobre os limites do estado social e a
reduo de suas prestaes e a conteno dos respectivos direitos subjetivos
no pode absolutamente ser transferida para o Brasil, onde o estado providncia
nunca foi implantado.
Efetivamente, a teoria da reserva do possvel deve ser estudada com os devidos
cuidados, inclusive porque ela no pode ser transposta, de modo automtico,
para a realidade brasileira, conforme alerta Clve (2003, p. 160161):
[...] aqui no se trata, para o Estado, de conceder o mais, mas,
antes, de cumprir ainda com o mnimo. Ou seja, evidente que a
efetivao dos direitos sociais s ocorrer luz das coordenadas
sociais e econmicas do espaotempo. Mas a reserva do
possvel no pode, num pas como o nosso, especialmente em
relao ao mnimo existencial, ser compreendida como uma
clusula obstaculizadora, mas, antes, como uma clusula que
imponha cuidado, prudncia e responsabilidade no campo da
atividade judicial.
94
95
Captulo 7
Ricardo Lobo Torres confirma a tese de que a proteo do mnimo existencial
no se sujeita reserva do possvel, pois tais direitos se encontram nas
garantias institucionais de liberdade, na estrutura dos servios pblicos
essenciais e na organizao de estabelecimentos pblicos. De acordo com
esse autor (2008, p.8182):
A proteo positiva do mnimo existencial no se encontra sob a
reserva do possvel, pois sua fruio no depende do oramento
nem de polticas pblicas, ao contrrio do que acontece com
os direitos sociais. Em outras palavras, o Judicirio pode
determinar a entrega das prestaes positivas, eis que tais
direitos fundamentais no se encontram sob a discricionariedade
da Administrao ou do Legislativo, mas se compreendem nas
garantias institucionais da liberdade, na estrutura dos servios
pblicos essenciais e na organizao de estabelecimentos
pblicos (hospitais, clnicas, escolas primrias, etc.).
96
Seo 5
Princpio da Proibio (vedao)
do retrocesso social
O princpio da proibio do retrocesso social impede que as conquistas obtidas
pelo cidado sejam desconstitudas.
Para CANOTILHO (p. 468/469),
o princpio da proibio do retrocesso social expressa que os
direitos sociais e econmicos (ex.: direito dos trabalhadores,
direito assistncia, direito educao), uma vez alcanados
ou conquistados, passam a constituir, simultaneamente, uma
garantia institucional e um direito subjectivo.
97
Captulo 7
Os direitos sociais traduzem para o Estado a obrigao de fazer, sobretudo nas
reas da educao, sade e seguridade social. Vale destacar que, enquanto
referidas tarefas constitucionais impostas ao Estado no forem implementadas,
a Constituio s pode fundamentar exigncias para que se criem. No entanto,
aps terem sido criadas, a Constituio passa a proteger a sua existncia, como
se j existissem data da Constituio!
Isto quer dizer que o Estado, que estava obrigado a atuar para dar satisfao ao
direito social, passa a estar obrigado a absterse de atentar contra a realizao
dada ao direito social.
Sntese
Neste captulo, voc viu que a Constituio de 1988 representou um grande
avano no apenas em termos quantitativos, ao consagrar um nmero expressivo
de direitos sociais, mas tambm em termos qualitativos, considerando o regime
jurdicoconstitucional dos direitos sociais agora inseridos no Ttulo que trata dos
direitos e garantias fundamentais.
Verificou que h uma previso expressa de direitos sociais no catlogo
constitucional dos direitos fundamentais, e estudou que cada vez mais intenso
o problema de sua eficcia e, por conseguinte, de sua efetividade.
Voc analisou o debate doutrinrio acerca do contedo abarcado pelo mnimo
existencial, a partir de posicionamentos que buscam conferir eficcia aos direitos
sociais relacionados ao princpio da dignidade da pessoa humana, e estudou
que o conceito da reserva do possvel teve origem no direito alemo, motivo pelo
qual alguns autores criticam sua utilizao no direito brasileiro, tendo em vista a
notria diferena econmicosocial entre os dois pases.
Estudou, ainda, que os direitos sociais devem ser entendidos como direitos
subjetivos prima facie e, como tal, judicialmente exigveis.
E, por fim, compreendeu que um dos principais desafios com os quais nos
deparamos atualmente o de promover a efetivao e concretizao dos direitos
sociais na sociedade brasileira, especialmente no que diz respeito implantao
e manuteno dos nveis suficientes de proteo social alcanados no mbito do
Estado Social.
98
Captulo 8
Direitos de nacionalidade
Habilidades
Sees de estudo
99
Captulo 8
Consideraes iniciais
Voc compreender que a fundamentabilidade da nacionalidade est no fato de
ela ser o direito que garante ao sujeito ter direitos, por vincular o Estado a ele;
e entender que no h como se falar em dignidade da pessoa humana num
Estado que no garante a nacionalidade dos indivduos.
Estudar que o direito nacionalidade determinado pelo Estado, por meio
de seu ordenamento jurdico, e ver que, no Brasil, a previso do direito
nacionalidade est na Constituio Federal de 1988, Ttulo II, Captulo III, arts. 12
e 13, bem como em legislao ordinria (Lei. n. 6.815/80).
E, por fim, entender a distino entre brasileiros natos e brasileiros
naturalizados, e conhecer os casos em que ocorre a perda da nacionalidade
brasileira. Bons estudos!
Seo 1
Conceito de nacionalidade e cidadania
Nacionalidade e cidadania so conceitos idnticos? O que configura a nacionalidade?
No ramo do Direito Constitucional, verificamos uma confuso entre o conceito de
nacionalidade e cidadania, a qual precisa ser evitada, visto que so duas matrias
interrelacionadas, porm, juridicamente, seus significados no se confundem.
Na prpria Constituio de 1988, no ttulo relativo aos direitos fundamentais,
figura um captulo dedicado nacionalidade e outro aos direitos polticos,
expresso da cidadania.
No captulo sobre a nacionalidade de nossa Constituio, vem especificado no
art. 12 quem brasileiro, como se adquire
e quando se perde a nacionalidade brasileira; j, no captulo intitulado Dos
Direitos Polticos, o art. 14 trata dos direitos de votar e ser eleito, e o art. 15
dispe sobre a perda e a suspenso dos direitos polticos.
A nacionalidade o vnculo jurdico que une, conecta, o indivduo ao Estado; j
a cidadania representa um contedo adicional de cunho poltico, que faculta ao
nacional certos direitos polticos, como o de votar e ser eleito.
100
101
Captulo 8
Seo 2
Nacionalidade primria e secundria
Os modos de aquisio da nacionalidade variam de Estado para Estado?
A aquisio da nacionalidade varia de Estado para Estado, no entanto, em
qualquer deles, involuntria a aquisio da nacionalidade primria, em que no
decorre da vontade do indivduo essa aquisio, pois ela imposta pelo Estado
no momento do nascimento.
A nacionalidade pode ser dividida em duas categorias:
a. primria ou originria (involuntria); e
b. secundria ou adquirida (voluntria).
No que se refere nacionalidade primria, cabe registrar que h dois critrios
para sua determinao:
a. jus sanguinis ou critrio da origem sangunea a nacionalidade
conferida em funo do vnculo do sangue, da filiao, da
ascendncia, pouco importando o local de nascimento;
b. jus soli ou critrio da origem territorial a nacionalidade atribuda
em razo do local de nascimento, e no da ascendncia.
J a nacionalidade secundria aquela que se adquire por fato voluntrio, depois
do nascimento, normalmente pela naturalizao, que pode ser requerida pelo
estrangeiro tanto como pelos aptridas ou heimatlos (indivduos que no tm
ptria alguma).
O estrangeiro, dependendo da regra de seu pas, poder ser enquadrado na
categoria de poliptrida, ou seja, aquele que tem mais de uma nacionalidade.
Assim se d, por exemplo, com filhos oriundos de Estado que adota o critrio do
jus sanguinis, quando nasce num Estado que acolhe o jus soli.
O caso de filhos de italiano nascidos no Brasil, posto que a Itlia adota o
critrio do jus sanguinis, e o Brasil acolhe o jus soli.
102
Seo 3
Fonte constitucional do direito de nacionalidade
So os Estados livres para legislar sobre matria de nacionalidade?
O Estado tem liberdade de legislar sobre matria de nacionalidade, por meio
do princpio da atribuio estatal da nacionalidade. No Brasil, por ser a
nacionalidade matria constitucional, est disciplinada nos arts. 12 e 13 da
Constituio Federal de 1988.
Os modos de aquisio da nacionalidade brasileira esto previstos no art. 12 da
Constituio da Repblica de 1988. Esse dispositivo constitucional especifica no
inc. I quem so os brasileiros natos, e, no inc. II, quais as exigncias para obter a
naturalizao brasileira.
O Brasil, por ser um pas formado por imigrantes, adota como regra geral o
critrio do jus soli, sendo que essa regra atenuada pela conjugao de outros
fatores, conforme veremos a seguir.
103
Captulo 8
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105
Captulo 8
VII. inexistncia de denncia, pronncia ou condenao no
Brasil ou no exterior por crime doloso a que seja cominada pena
mnima de priso, abstratamente considerada, superior a 1 (um)
ano; e
VIII. boa sade. (BRASIL, 1980).
Seo 4
Estatuto da igualdade
O que o Estatuto de Igualdade de direitos entre portugueses e brasileiros?
Portugal e Brasil, conscientes da necessidade de reafirmar, consolidar
e desenvolver os particulares e fortes laos que unem os dois povos,
estabeleceram, em 1981, um regime de igualdade de direitos para os cidados
nacionais do outro pas residentes em seu territrio.
Atualmente, a reciprocidade entre Brasil e Portugal no que tange igualdade
de diretos e obrigaes civis e o gozo dos direitos polticos encontra respaldo
no Decreto n 3.927/2001, que promulgou o tratado de amizade, cooperao e
consulta, assinado em Porto Seguro, no dia 21 de abril de 2000.
106
107
Captulo 8
Seo 5
Distino entre brasileiros natos e naturalizados
Poder haver na lei distino entre brasileiro nato e naturalizado?
A Constituio da Repblica de 1988, no pargrafo 2 do seu art. 12, dispe que
a lei no poder estabelecer distino entre brasileiros natos e naturalizados,
salvo nos casos previstos nesta Constituio. (BRASIL, 1988).
Esses casos excepcionais dizem respeito hiptese em que
a Constituio privilegia os brasileiros natos, em relao
a determinados cargos, que somente eles podem ocupar, constantes do
pargrafo 3 do mesmo dispositivo constitucional, que assim prev:
3 So privativos de brasileiro nato os cargos:
I de Presidente e VicePresidente da Repblica;
II de Presidente da Cmara dos Deputados;
III de Presidente do Senado Federal;
IV de Ministro do Supremo Tribunal Federal;
V da carreira diplomtica;
VI de oficial das Foras Armadas.
VII de Ministro de Estado da Defesa. (BRASIL, 1988).
108
Seo 6
Perda da nacionalidade brasileira
O indivduo que teve cancelada sua naturalizao, em virtude de sentena
transitada em julgado, agora como estrangeiro, pode naturalizarse novamente?
O brasileiro s perde a sua nacionalidade por uma das causas expressamente
enumeradas no pargrafo 4 do art. 12 da Constituio de 1988. De acordo com
esse dispositivo, ser declarada a perda da nacionalidade do brasileiro que:
[...]
I tiver cancelada sua naturalizao, por sentena judicial, em
virtude de atividade nociva ao interesse nacional;
II adquirir outra nacionalidade, salvo nos casos:
a. de reconhecimento da nacionalidade originria pela lei estrangeira;
b. de imposio de naturalizao, pela norma estrangeira, ao
brasileiro residente em Estado estrangeiro, como condio para
permanncia em seu territrio ou para o exerccio de direitos civis.
(BRASIL, 1988).
109
Captulo 8
Sntese
Neste captulo, voc estudou aspectos relevantes ao direito
de nacionalidade. Compreendeu que tirar a nacionalidade de um indivduo
privlo do direito de estar inserido no ordenamento jurdico de um Estado, e
que no h como se falar em dignidade da pessoa humana num Estado que no
garante a nacionalidade dos indivduos.
Verificou que a nacionalidade no texto constitucional brasileiro foi prevista de forma
a incluir no rol de nacionais o maior nmero de indivduos, tanto os estrangeiros,
por meio da naturalizao, como os filhos de estrangeiros, com o nascimento.
Verificou, ainda, que o Brasil no admite diferena entre brasileiros natos e
naturalizados, a no ser nas hipteses previstas na Constituio.
E, por fim, estudou que a Constituio brasileira no s prev
os modos de aquisio da nacionalidade, mas tambm garante que essa no
ser retirada do indivduo de forma arbitrria. Alm disso, aprendeu que a
Constituio Brasileira de 1988 admite a possibilidade de dupla nacionalidade e
que o nacional pode, sim, mudar de nacionalidade.
110
Captulo 9
Os direitos polticos
Habilidades
Sees de estudo
111
Captulo 9
Consideraes iniciais
Voc estudar que, passados mais de 20 anos de ditadura militar, perodo em
queo Estado brasileiro cerceou as liberdades de expresso e participao
poltica, asociedade brasileira, por meio de seus representantes, elaborou,
noano de 1988, a vigente Constituio Federal, a chamada Constituio Cidad,
que consagra o Brasil como um Estado Democrtico de Direito.
Entender que viver em um Estado Democrtico significa ter assegurados espaos
de luta por dignidade, liberdade e justia social, assim como dispor de instrumentos
que permitam a participao do povo na vida pblica, direta ou indiretamente.
Ver que, segundo a Constituio Federal de 1988, o direito de sufrgio
universal e no deve ser privilgio de poucos indivduos economicamente ou
culturalmente abastados, mas, sim, pertencer sociedade, que tem a liberdade
de escolher quem ir representla.
E, por fim, compreender a importncia dos Direitos Polticos assegurados
pela Constituio Federal do Brasil de 1988, os quais, no campo poltico,
possibilitaram a efetividade dos direitos de cidadania. Bom estudo!
Seo 1
Conceito de direitos polticos
O exerccio dos direitos polticos resumese ao direito de votar e ser votado?
A Constituio Federal de 1988 traz um conjunto de normas que regula a atuao
da soberania popular, desdobramento do princpio previsto em seu art.1,
pargrafo nico, de que o poder emana do povo, que o exerce por meio de
representantes eleitos ou diretamente. (BRASIL, 1988).
No Captulo IV do Ttulo II, a Constituio trata dos Direitos Polticos,
abarcandotemas como o exerccio da soberania popular pelo sufrgio e pelo
voto, aalistabilidade eleitoral, a elegibilidade e a impugnao de mandato eletivo.
Os Direitos Polticos compreendem um conjunto de direitos atribudos ao cidado,
que lhe permite participar, por meio do voto, da ao popular, da iniciativa popular
do exerccio de cargos pblicos, entre outros instrumentos constitucionais de
processos de tomada de deciso.
Usufruir dos direitos polticos significa estar credenciado a alistarse
eleitoralmente, habilitarse a candidaturas para cargos eletivos, votar em eleies,
plebiscitos e referendos, apresentar projetos de lei pela via da iniciativa popular e
propor ao popular.
112
Seo 2
Formas de sufrgio
O que o sufrgio?
O sufrgio um direito que decorre do princpio de que todo o poder emana do
povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, o qual
se consubstancia, portanto, no consentimento do povo, fonte que legitima o
exerccio do poder.
As formas de sufrgio so condicionadas pelo regime poltico. Se esse for
democrtico, o sufrgio ser universal, isto , alcana a todos, independentemente
de condies econmicas, culturais e intelectuais. J, em um regime poltico elitista,
oligrquico, o sufrgio ser restrito, isto , conferido a indivduos qualificados por
condies econmicas, de fortuna e capacidade especial.
Cabe destacar que o sufrgio restrito se divide em duas espcies: censitrio
ecapacitrio.
Censitrio o sufrgio concedido apenas ao indivduo que preencha
determinada qualificao econmica.
113
Captulo 9
Nas eleies dos deputados e senadores do Imprio, estavam excludos de
votar os que no tivessem renda lquida anual de duzentos mil ris por bens
de raiz, indstria e comrcio ou emprego, conforme previa o art. 92, inc. V,
daConstituio do Imprio de 1824. As Constituies de 1891, art. 70, 1,
item1, e de 1934, art. 108 e pargrafo nico, alnea c, excluam os mendigos
dodireito de sufrgio, o que tambm revela seu aspecto censitrio.
Capacitrio o sufrgio que se baseia em capacitao de natureza intelectual.
Outra exigncia democrtica do sufrgio que cada eleitor deva dispor de
nmero igual de votos, correspondendo igualdade de reconhecer a cada
homem, a cada eleitor, um nico voto (one man, one vote).
Todavia o sistema adotado no Brasil provoca distores de representatividade
potencializadas pelo estabelecimento de nmero de representantes mnimo e mximo
por unidade da federao, o que acaba por ferir o princpio one man, one vote.
Conforme destaca Silva (1998, p. 354):
Contraria a regra do valor igual o fato de que um voto, porexemplo,
no Acre, vale cerca de vinte vezes mais do que um voto em So
Paulo, pois para se eleger um Deputado Federal naquele bastam
cerca de dezesseis mil votos, enquanto neste so necessrios
aproximadamente trezentos mil votos.
114
Por outro lado, no referendo, primeiro se tem o ato legislativo ou administrativo, para
s ento submetlo apreciao do povo, que o ratifica (aprova) ou rejeita (afasta).
Referendo sobre a proibio da comercializao de armas de fogo e
munies, ocorrido no Brasil a 23 de outubro de 2005. (TRIBUNAL
SUPERIOR ELEITORAL, 2012).
115
Captulo 9
Aprofunde seus conhecimentos acerca do direito de sufrgio, fazendo a leitura
do captulo II, do ttulo V da obra de Jos Afonso da Silva, intitulada Curso de
Direito Constitucional Positivo. 35. ed. So Paulo: Malheiros, 2012.
Seo 3
Direitos polticos positivos
O que so direitos polticos positivos?
116
117
Captulo 9
c) vinte e um anos para Deputado Federal, Deputado Estadual ou
Distrital, Prefeito, VicePrefeito e juiz de paz;
d) dezoito anos para Vereador. (BRASIL, 1988).
Seo 4
Direitos polticos negativos
O que so direitos polticos negativos?
Os direitos polticos negativos correspondem s previses constitucionais que
restringem o acesso do cidado participao nos rgos governamentais.
As restries e impedimentos ao exerccio dos direitos polticos positivos se
dividem em: a) normas de inelegibilidade;
b) normas sobre perda e suspenso dos direitos polticos.
4.1 Inelegibilidades
As inelegibilidades so circunstncias que impedem o cidado de exercer total ou
parcialmente a capacidade eleitoral passiva, ou seja, a capacidade de elegerse.
Consiste, portanto, na restrio de ser votado, no atingindo os demais direitos
polticos, como por exemplo, direito de votar e participar de partidos polticos.
Os casos de inelegibilidades esto previstos na Constituio Federal de 1988,
nos 4 a 7 do art. 14, podendo ser
ampliados por lei complementar, conforme previso do 9
do mesmo dispositivo constitucional ver LC 64/1990 (lei das inelegibilidades)
modificada pela LC 135/2010 (lei da ficha limpa).
As inelegibilidades podem ser classificadas, em relao ao cargo ocupado, em
absolutas e relativas.
a. As inelegibilidades absolutas valem para qualquer
cargo. Soabsolutamente inelegveis os inalistveis e os analfabetos.
Soinalistveis os menores de 16 anos, os estrangeiros, os
conscritos e os privados temporariamente dos seus direitos polticos.
118
Por consanguinidade:
Por colateralidade:
a) irmos (2 grau);
Por afinidade
(casamento, unio
estvel ou unio
homoafetiva):
a) pais;
b) avs;
c) filhos originrios de outro casamento;
d) netos originrios de outro casamento; e) nora(s)e/ou genro(s);
f)cunhados;
g)concubina ou unio homoafetiva.
Por adoo:
a) filhos adotivos.
119
Captulo 9
4.4 Militares
Caso um militar queira candidatarse a algum cargo eletivo, ele no poder estar
entre os conscritos, pois esses so inalistveis, conforme dispe o art. 14, 2,
de nosso texto constitucional.
No sendo conscrito, o militar alistvel. Nesse ponto, importante destacar que
ao militar da ativa o qual pretenda concorrer a cargo eletivo, no se exige a filiao
partidria, ante a vedao prevista no art. 142, 3, inc. V, daConstituio de 1988,
bastando o pedido de registro de candidatura, aps prvia escolha em conveno
partidria; porm, o militar inativo necessita de filiao partidria no prazo da lei.
120
Seo 5
Perda ou suspenso dos direitos polticos
Diante de quais hipteses ocorre a perda ou suspenso dos direitos polticos?
A Constituio de 1988 expressa que os direitos polticos jamais podero ser
cassados, podendo apenas ser perdidos ou suspensos. A diferena que, na
suspenso, os direitos polticos so temporariamente afastados e, na perda, h o
carter de definitividade. Portanto a perda definitiva, e a suspenso temporria.
A Constituio de 1988, no seu art. 15, apresenta as hipteses de perda e
suspenso dos direitos polticos, deixando a cargo da interpretao doutrinria e
jurisprudencial estabelecer quando caso de privao temporria ou definitiva.
De acordo com o art. 15 da Constituio de 1988,
vedada a cassao de direitos polticos, cuja perda ou
suspenso somente se dar nos casos de:
I cancelamento da naturalizao por sentena transitada em
julgado; IIincapacidade civil absoluta;
III condenao criminal transitada em julgado, enquanto durarem
seus efeitos;
IVrecusa de cumprir obrigao a todos imposta ou prestao
alternativa, nos termos do art. 5, VIII, da CF/88,
Vimprobidade administrativa, nos termos do art. 37, 4.
(BRASIL, 1988).
121
Captulo 9
So hipteses de suspenso dos direitos polticos, ou seja, perduram enquanto
perdurar a causa determinante:
a. Incapacidade civil absoluta: segundo o art. 3 do novo Cdigo Civil,
a incapacidade absoluta atribuda aos menores de dezesseis
anos; aos que, por enfermidade ou deficincia mental, no tiverem
o necessrio discernimento para a prtica desses atos; aos que,
mesmo por causa transitria, no puderem exprimir sua vontade.
(BRASIL, 2002);
b. Condenao criminal transitada em julgado: enquanto perdurarem
seus efeitos;
c. Improbidade administrativa: conforme o art. 37, 4, de nossa
Constituio de 1988.
So hipteses de perda dos direitos polticos: a condenao transitada em
julgado em ao de cancelamento da naturalizao; escusa de conscincia,
conforme o art. 5, VIII, da Constituio de 1988.
Alm dessas hipteses, existe aquela referente perda da nacionalidade
brasileira, posto que, ao adquirir outra nacionalidade por naturalizao voluntria,
o brasileiro perde a nacionalidade brasileira e, consequentemente, no poder se
alistar como eleitor (interpretao sistemtica dos arts. 15 e 12, 4, II, alnea a,
da Constituio de 1988).
A referida Constituio garante o direito a todo cidado de escolher seus
representantes polticos por meio do voto. Nesse sentido, so assegurados
os direitos polticos ao preso provisrio, j que no est sujeito aos efeitos da
condenao criminal transitada em julgado.
Contrariando dispositivos constitucionais, na maioria dos Estados brasileiros
negado o exerccio dos direitos polticos ao cidado preso provisoriamente e
devidamente habilitado como eleitor.
O impedimento ao exerccio pleno da cidadania ao preso provisrio constitui
aplicao de pena antecipada de suspenso de direitos, desrespeitando o
princpio da presuno de inocncia inscrito na Constituio Federal.
Restringir o exerccio de voto do preso provisrio significa sustentar medidas
antidemocrticas e excludentes, negandolhe o exerccio de sua cidadania.
122
123
Captulo 9
Sntese
Nesta captulo, voc aprendeu que a Constituio Federal de 1988 representa o
marco simblico da transio democrtica, consagrando a adoo do princpio
da soberania popular, no qual o poder repousa na vontade do povo e na garantia
dos direitos fundamentais conquistados ao longo dos tempos.
Estudou que a Constituio Federal de 1988 oferece aos cidados possibilidades
de participao ativa nos processos de tomada de deciso, em adio
representao popular. Percebeu, assim, que por meio do exerccio do direito
de sufrgio que o povo outorga legitimidade aos seus representantes e que
intervm diretamente no poder, como nos casos de plebiscito e referendo.
Verificou que o art. 14 da Constituio Federal de 1988 dispe que A soberania
popular ser exercida pelo sufrgio universal
e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos, e aprendeu que o direito
de sufrgio apresentase sob dois aspectos: a capacidade eleitoral ativa (direito
de votar, capacidade de ser eleitor, alistabilidade) e a capacidade eleitoral passiva
(direito de ser votado, elegibilidade).
Entendeu o que so os direitos polticos positivos e adentrou no estudo dos
direitos polticos negativos, os quais restringem, limitam, impedem ou suspendem
os direitos de participao no processo eleitoral, seja como eleitor, seja como
candidato. Alm das inelegibilidades, estudou as regras sobre perda e suspenso
dos direitos polticos.
E, por fim, compreendeu a importncia dos direitos polticos, eis que, por seu
intermdio, se asseguram e efetivam os direitos de cidadania no Brasil e, em
ltima anlise, concretizamse os valores da liberdade, igualdade e dignidade da
pessoa humana, almejados pela democracia.
124
Consideraes Finais
Caro/a estudante,
Chegamos ao final do estudo deste livro e almejo que a sua leitura tenha sido
uma experincia agradvel.
Com certeza, todos os temas abordados tm a sua relevncia no campo do
Direito e espero tlos expressado atravs de uma linguagem adequada
apreenso de todo o conhecimento apresentado.
Sou uma apaixonada pela abordagem constitucional dos direitos. Espero que
voc tambm tenha adquirido o mesmo gosto e continue buscando aprofundar
seus estudos nesta rea to rica do Direito.
Ao confeccionar o livro, no tive a pretenso de esgotar o conhecimento, mas
de oferecerlhe um texto que represente uma base terica mnima, porm slida,
para infundirlhe um pensamento crtico e criador.
Espero que nosso esforo tenha servido compreenso do fenmeno da
constitucionalizao do Direito, que consiste na leitura do Direito infraconstitucional
luz dos princpios, mandamentos e fins previstos na Constituio. No exagero,
portanto, afirmar que a Abordagem Constitucional dos Direitos, por envolver o estudo
da Constituio, uma das mais importantes disciplinas jurdicas hoje em dia.
Ressalto, por fim, que, ao longo dos ltimos 25 anos, caminhamos da indiferena
conquista de normatividade e de efetividade constitucionais. A Constituio
Federal de 1988, a despeito das crticas ao seu texto, por demais analtico e
dezenas de vezes reformado, conquistou maturidade e foi capaz de assegurar ao
pas a transio e a continuidade democrtica.
Continue a sua caminhada de estudos com sucesso e lembrese sempre de ler e
reler a Constituio Federal, precioso "livro" que qui possa sempre despertar a
sua curiosidade!
Prof. Solange Bchele de S. Thiago
125
Referncias
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da dignidade da pessoa humana. Rio de Janeiro: Renovar, 2002.
BARROSO, Luis Roberto. Curso de direito constitucional contemporneo.
3.ed. So Paulo: Saraiva, 2011.
BESTER, GISELA MARIA. Cadernos de direito constitucional. Parte I. Porto
Alegre: Sntese, 1999.
BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. 11. ed. Rio de Janeiro: Campus, 1992.
BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional. So Paulo: Malheiros.
_______. Paulo Bonavides e Valdetrio Monteiro participam de reunio sobre as
manifestaes. Direito CE, Fortaleza, 29 jun. 2013. Disponvel em: <http://www.
direitoce.com.br/paulo-bonavides-e-valdetario-monteiro-participam-de-reuniaosobre-as-manifestacoes/>. Acesso em: 30 jul. 2013.
BONAVIDES, Paulo, ANDRADE, Paes. Histria constitucional do Brasil. 3. ed.
So Paulo: Paz e Terra, 1991. p. 217.
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_______. Decreto n 65.810, de 8 de dezembro de 1969.
_______. Decreto-Lei n 2.848, de 7 de dezembro de 1940.
_______. Decreto n 4.738, de 12 de junho de 2003.
_______. Constituio federal, de 5 de outubro de 1988.
_______. Lei Complementar n 64, de 18 de maio de 1990.
_______. Lei n 8.239, de 4 de outubro de 1991.
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_______. Lei Complementar n 135, de 4 de junho de 2010.
_______. Lei n 6.815, de 19 de agosto de 1980.
_______. Lei n 6.964, de 9 de dezembro de 1981. Altera disposies da Lein6.815,
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127
128
_______
. Direitos fundamentais e relaes privadas. 2. ed. Rio de Janeiro:
Lumen Juris, 2006.
_______ .Daniel/ GOMES, Fbio Rodrigues. A eficcia dos direitos fundamentais
129
130
131
capa.pdf
13/12/13
15:20