Cadernos de Recursos para o Ambiente

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Caderno de Recursos

em Educao Ambiental
Resduos Slidos e Animais em Meio Urbano

I - AMBIENTE E RESDUOS SLIDOS


II - TEMTICA AMBIENTAL E ANIMAIS EM MEIO URBANO
III - CIDADANIA, EDUCAO AMBIENTAL E QUALIDADE DE VIDA
IV - A HISTRIA DA HIGIENE E LIMPEZA URBANA EM LISBOA

Financiamento:
Fundo Social Europeu /Estado Portugus/POEFDS

Os problemas ambientais e a conscincia ecolgica

Prefcio

O Director Municipal,

ngelo Mesquita

Os problemas ambientais e a conscincia ecolgica

O Caderno de Recursos em Educao Ambiental, na rea


dos resduos slidos e animais em meio urbano, destina-se
aos profissionais que tm como misso e objectivo desenvolver projectos de interveno, nesta rea, junto da comunidade
escolar, local ou de pblicos profissionais.
Esta publicao enquadra-se nos propsitos da Direco
Municipal de Ambiente Urbano, de que sou responsvel, em
transmitir competncias, experincias e saberes, acumulados
ao longo dos anos pelos seus tcnicos, a novos agentes
da formao de comportamentos favorveis ao ambiente,
em particular naquilo que nos est mais prximo e onde,
no dia-a-dia, a nossa aco pode fazer a diferena.
Porque a Educao Ambiental tambm se faz pela partilha
e pelo estabelecimento de parcerias activas o Caderno
do Formador estar disponvel, com actualizao peridica,
no site da Cmara Municipal de Lisboa.
Fao votos para que a sua consulta seja profcua em prol
da construo de um ambiente de qualidade para as geraes vindouras.
Lisboa, Agosto de 2007

Os problemas ambientais e a conscincia ecolgica

Sumrio
INTRODUO
I AMBIENTE E RESDUOS SLIDOS
P

1. Os Problemas Ambientais e a Conscincia Ecolgica


1.1. Os Recursos Naturais
1.2. A Atmosfera
1.2.1. Camada do Ozono
1.2.2. Efeito de Estufa e Alteraes Climticas
1.2.3. Chuvas cidas
1.3. O Solo
1.3.1. Poluio por Resduos
1.3.2. Desflorestao/Desertificao
1.4. A gua
1.4.1. Poluio das guas
1.5. A Conscincia Ecolgica
1.5.1. No Mundo
1.5.2. A Poltica do Ambiente na Europa
1.6. Linhas Orientadoras da Unio Europeia face aos Resduos
1.7. A Poltica dos Trs R's
1.7.1. Reduzir
1.7.2. Reutilizar
1.7.3. Reciclar
1.8. A preveno na produo de RSU
1.8.1. Aspectos gerais
1.8.2. Estratgias para a preveno
2. Resduos Slidos: Tipos, Composio e Propriedades
2.1 Classificao por Tipos
3. Sistema de Recolha e Transporte dos RSU
3.1. Sistemas Gerais

Sumrio

2.2 Dados Evolutivos: Quantitativos e Caractersticas

3.2. O Caso de Lisboa


3.2.1. Recolha Indiferenciada
3.2.2. Recolha Selectiva
3.2.3. Restries Actividade Municipal
3.2.4. Recolha de Informao
3.3. Novas Linhas de Orientao
4. Tratamento e Valorizao de Resduos: Reciclagem,
Incinerao e Valorizao Energtica, Aterro Sanitrio
4.1. Tratamento de Resduos
4.1.1. Reciclagem
4.1.1.1. Estaes de Triagem
4.1.2. Reciclagem Material
4.1.2.1. Vidro
4.1.2.2. Papel/Carto
4.1.2.3. Plstico
4.1.2.4. Metal
4.1.2.5. Tetra Brik
4.1.2.6. Pilhas
4.1.3. Reciclagem Orgnica
4.1.3.1. Compostagem
4.1.3.2. Biometanizao
4.2. Incinerao e Valorizao Energtica
4.3. Aterro Sanitrio
5. Instrumentos Econmicos na Gesto dos Resduos
Slidos Urbanos
5.1. Taxas por Servios Prestados
5.2. Taxas sobre Produtos
5.3. Sistemas de Consignao
5.4. Crditos Reciclagem
5.4. Taxas sobre Deposio em Aterro
Sumrio

6. Avaliao de Impacte Ambiental


6.1. Ambiente e Avaliao de Impacte Ambiental

6.2. Metodologia
6.3. Elementos de Evoluo
II ANIMAIS EM MEIO URBANO
P

1. Do Homem. Dos Direitos do Animal. Dos Animais


na Cidade
2. Animais de Companhia
2.1. Conceitos Gerais
2.2. Obrigao dos Detentores
2.3. Captura de Animais e Controle da Reproduo
2.3.1. Captura de Animais
2.3.2. Controle da Reproduo
2.4. Identificao Animal
2.5. Profilaxia da Raiva
2.5.1. Sintomas
2.5.2. Tratamento
2.5.2.1. Profilaxia Mdica [vacinao anti-rbica]
2.5.2.2. Profilaxia Sanitria [quarentenas]
2.5.2.2.1. Animais Agressores
2.5.2.2.2. Pessoas Agredidas
2.5.2.2.3. Animais Agredidos
2.6. Controlo de Outras Zoonoses
2.6.1. Leishmaniose
2.6.2. Leptospirose
2.6.3. Toxoplasmose
2.6.4. Equinococose
2.6.5. Sarna Sarcptica
2.6.6. Dermatomicoses
2.8. Animais Perigosos e potencialmente Perigosos
2.9. Actividades desenvolvidas pelo Canil/Gatil Municipal

Sumrio

2.7. Registo e Licenciamento

2.10. Abandono versus Adopo de Animais


3. Pragas Urbanas
3.1. Conceitos Gerais
3.2. Metodologia de Controlo de Pragas
3.3. Principais Pragas
3.3.1. Aspectos Gerais
3.3.2. As Pragas de Roedores
3.3.2.1. Informao Geral
3.3.2.2. Controlo de Pragas de Roedores
3.3.3. Pragas de Artrpodes e seu Controlo
3.3.3.1. Informao Geral
3.3.3.2. Controlo de Pragas de Insectos
3.3.3.2.1. Formigas
3.3.3.2.2. Insectos Alados
3.3.3.2.2. Mosca
3.3.3.2.2. Mosquitos
3.3.3.2.2. Baratas
3.3.3.2.2. Pulgas
3.4. Pombos
3.4.1. Contexto da Problemtica
3.4.2. Preveno e Controlo
3.4.3. Risco para a Sade
3.4.4. Transmisso de Doenas
3.4.4.1. Salmonelose
3.4.4.2. Histoplasmose
3.4.4.3. Criptococose
3.4.4.4. Ornitose [psitacose ou clamidiose aviria]
3.4.4.5. Alergias
3.5. Controlo da Populao de Pombos na Cidade de Lisboa
Sumrio

10

III DA CIDADANIA EDUCAO AMBIENTAL


P

1. Da Cidadania

1.1. A Concepo Grega


1.2. A Concepo Romana
1.3. Cidadania na Idade Mdia
1.4. A Concepo Moderna de Cidadania
2. Do Desenvolvimento
2.1. A Relao Homem-Natureza
2.2. A Globalizao
2.3. Desenvolvimento Humano versus Desenvolvimento Sustentvel
3. Da Educao Ambiental
3.1. A Emergncia de uma Perspectiva Educativa
3.2. Educao Ambiental em Portugal
3.2.1. Um pouco de Histria
3.2.2. O Papel das Autarquias
3.3. Educao Ambiental e Participao
3.3.1. Educao Ambiental: O que ?
3.3.2 Participao para Todos e de Toda a Gente
3.3.3 Informao e Sensibilizao
3.3.4 Transferncia de Competncias
3.3.5 Motivao
3.3.6 Crianas e Jovens - Agentes de Mudana
3.4. O Papel das Entidades Educativas
3.4.1 A Escola
3.4.1.1. Enquadramento
3.4.1.2. Os Currculos Escolares - O Caso Portugus
3.4.1.3. Escolas Tcnicas, Profissionais e Universidades
3.4.1.4. A Educao Ambiental e o Mundo do Trabalho
3.4.1.5. A Famlia
3.5. Olhando para a Floresta
IV A HISTRIA DA HIGIENE E LIMPEZA URBANA
EM LISBOA
1. At ao Terramoto de 1755

Sumrio

11

2. De 1755 ao final do Sculo XIX


3. Fases da Nova Modernidade
3.1. O Desenvolvimento da Cidade: Breves Notas
3.2. Salubridade e resduos da Cidade no Sculo XX
3.2.1. At ao Plano de Pormenor para o Lixo de Lisboa
3.2.2. O Plano de Pormenor para o Lixo de Lisboa
3.2.3. O Destino dos Lixos da Cidade de Lisboa
3.2.4. A Recolha Selectiva
3.2.5. O Normativo de Enquadramento
3.3. Sensibilizao Sanitria e Ambiental
BIBLIOGRAFIA

Sumrio

12

Sumrio d e A nexos
[em suporte digital]

A. Informao Complementar*
anexo A1 Informao Estatstica
anexo A2 Resenha Legislativa
anexo A3 Curiosidades Ambientais
anexo A4 Documentos Referncia na rea do Ambiente
[apontadores]

anexo A5 Sensibilizao e Educao Ambiental em Lisboa 1979-2005 [sntese materiais, programas e projectos]
anexo A6 Referncia Bibliogrfica Complementar

*Informao Terica Complementar.


**Materiais para apoio a projectos/actividades.

Sumrio de Anexos

B. Materiais de Apoio**
anexo B1 Plano de Apoio para Explorao do Caderno
do Formador
anexo B2 Apresentaes Temticas
ACTIVIDADES LDICO-DIDCTICAS:
anexo B3 Animao com Grupos
anexo B4 Visitas de Estudo
anexo B5 Ateliers de Reutilizao de Materiais
RECURSOS COMPLEMENTARES [B6]:
anexo B6.1 Base de Imagens
anexo B6.2 Vdeos

13

Os problemas ambientais e a conscincia ecolgica

14

Introduo
Este trabalho resulta de uma candidatura ao Fundo Social
Europeu, beneficiando do apoio do Programa Operacional
do Emprego, Formao e Desenvolvimento Social, o que no
s viabilizou a sua realizao, como constituiu um incentivo
para a equipa que estruturou e concretizou o Caderno do
Formador em Educao Ambiental: Resduos Slidos e Animais
em Meio Urbano.
O presente recurso pedaggico surgiu da necessidade de organizar um material de apoio dirigido s equipas envolvidas na actividade de informao, sensibilizao e educao
ambiental, na rea de competncias do Departamento
de Higiene Urbana e Resduos Slidos, pretendendo constituir
um recurso permanente de apoio e facilitar a integrao
de objectivos associados sustentabilidade na educao
ambiental.
O Caderno de Recursos disponibiliza diferentes materiais que
se interligam e complementam, estando organizados num
Dossier do Formador [em suporte de papel] e num DVD.

O DVD agrega a informao susceptvel de actualizao


e dirigida prtica diria dos profissionais. A informao
disponibilizada resulta da sistematizao da interveno
nesta rea, desde 1992, pelo Departamento de Higiene
Urbana e Resduos Slidos [DHURS] da Cmara Municipal
de Lisboa, onde o contributo de parcerias e actores locais,
constituiu uma mais-valia.
O DVD integra a sistematizao de materiais e recursos
dirigidos prtica diria da actividade de sensibilizao
e educao ambiental:
P

P

Propostas de planos de sesso e de apresentaes-tipo


para apoio a aces informativas [formativas];
Fichas para apoio organizao e realizao de actividades
de sensibilizao e educao ambiental na rea deste
recurso didctico [dinamizao e animao com grupos];

Os problemas ambientais e a conscincia ecolgica

O Dossier do Formador integra a informao de carcter


mais persistente, nomeadamente a conceituao terica
de enquadramento a esta rea de interveno e elementos
para a histria da cidade de Lisboa, no que respeita higiene e limpeza urbana.

15

P

P

P

P

Organizao de informao para apoio ao planeamento


de visitas de estudo [listagem de entidades e cadernos
de campo-tipo];
Base de imagens e vdeos para apoio estruturao e realizao de actividades;
Informao estatstica, legislativa, informao e sites de referncia associados ao ambiente e resenha da bibliografia
disponvel no Centro de Documentao do DHURS;
Cronologia das campanhas, projectos e aces dinamizadas
pelo Departamento de Higiene Urbana e Resduos Slidos
desde 1979, na rea da sensibilizao e educao ambiental.

Para a realizao do Caderno de Recursos em Educao


Ambiental contriburam quer os profissionais que hoje
desenvolvem a sua actividade na Diviso de Sensibilizao e Educao Sanitria, quer os que por aqui passaram,
pela sistematizao da sua prtica, assim como a Diviso
de Limpeza Urbana e a Diviso de Higiene e Controlo
Sanitrio, a Direco Municipal de Servios Gerais, atravs
do Departamento de Modernizao Administrativa e Gesto
de Informao, da Diviso de Imprensa Municipal e ainda
a Diviso de Comunicao e Imagem e o Eng. Fernando
Louro, que realizou a superviso cientfica do Manual
do Formador.

Os problemas ambientais e a conscincia ecolgica

16

Ambiente e Resduos Slidos

Os problemas ambientais e a conscincia ecolgica

CAPIT

31

18

1. Os Problemas Ambientais
e a Conscincia Ecolgica
Para se poderem enunciar os principais problemas
ambientais importante clarificar a noo de ambiente.
O ambiente , de uma forma geral, o meio que sobre um
organismo pode ter influncia, como pode por ele ser
influenciado. Consideram-se, neste contexto, todos os sistemas fsicos [gua, ar e solo] e os organismos vivos.

Ao longo da histria, o Homem tem modificado as suas


relaes com o ambiente. Mas desde a revoluo industrial
e em particular nas ltimas dcadas, a influncia do Homem
no ambiente provocou alteraes, at ento jamais verificadas. Os avanos industriais e tecnolgicos registados
permitiram ao ser humano usar grandes quantidades
de bens de consumo, essencialmente no mundo ocidental.
Porm, se por um lado se criaram necessidades que de seguida foram satisfeitas, por outro, essa satisfao tem-se
feito conta da sobre-explorao dos recursos e muitas
vezes da degradao do ambiente.
A grande carga sobre a biosfera1 verifica-se quer ao nvel
da delapidao dos recursos naturais, quer ao nvel dos
poluentes descarregados nos meios receptores - guas
[interiores e mar], solo e atmosfera; ou seja, o Homem tem
vindo a explorar os recursos, quer estes sejam ou no
renovveis, transforma-os produzindo grandes quantidades
de bens [cuja transformao gera poluio] e, de seguida,
rejeita-os sob a forma de resduos que, mais uma vez,
poluiro os meios receptores.
1

A terra, incluindo todos os seres vivos, a gua, a atmosfera e o solo.

Os Problemas Ambientais e a Conscincia Ecolgica

Desta forma, o ambiente tudo o que nos rodeia, ou seja


a nossa envolvente social, cultural, familiar, natural e construda. Acresce que o Homem de uma qualquer cultura
ou latitude deste planeta acaba, invariavelmente, por produzir efeitos em locais distantes do seu meio prximo
e sofre globalmente as consequncias ambientais relativas
explorao dos recursos de que necessita para viver,
do consumo e das emisses e descargas poluentes sobre
o ambiente, de uma maneira geral.

19

Contudo, nos nossos dias j possvel poluir menos:


controlar as emisses poluentes das fbricas, tratar a gua
utilizada e antes de ser lanada nos rios e mares, tratar
de forma correcta os resduos produzidos podendo fazer
destes verdadeiras fontes de riqueza, em detrimento da explorao de recursos naturais para a produo de novos bens
de consumo.
Sem querer tratar exaustivamente todos os problemas ambientais globais, como por exemplo a exploso demogrfica, as assimetrias Norte-Sul, os conflitos raciais e a xenofobia, que encerram em si factores de carcter poltico
e social que transcendem os objectivos destas pginas,
referem-se, de seguida, alguns dos problemas ambientais
directamente relacionados com o consumo humano e modos
de vida de modelo ocidental, ordenando-os, para uma
maior facilidade de consulta e orientao, consoante o seu
maior impacte ou influncia sobre os Recursos, o Solo,
a gua e a Atmosfera.
Porm, quer as causas, quer as consequncias dos factores
que mais contribuem para a degradao do ambiente,
no se esgotam num dos componentes da biosfera sendo
transversais e podendo ter incidncia nos seres vivos, nos
solos, na atmosfera e na gua.

1.1. Os Recursos Naturais


A explorao dos recursos naturais transversal e incide
indiscriminadamente sobre as componentes viva e no viva
face da terra.
Factores biticos - Todos os seres e sistemas vivos
do ambiente que habitam a biosfera: plantas, animais
e microrganismos.
P

Os problemas ambientais e a conscincia ecolgica

20

P

Factores abiticos - Todos os factores sem vida que intervm na biosfera: clima, luz, radiao, gua, minerais, rochas;
em suma, os aspectos fsicos do ambiente.

Os recursos que a natureza providncia e que se exploram


para suprir as necessidades humanas dividem-se, de forma
genrica, em recursos no renovveis e recursos renovveis.
P

P

Os recursos no renovveis - so os que tm uma


capacidade de renovao menor de que a explorao
de que so alvo e permitem a obteno de energia ou
de outras matrias-primas de forma fcil; so por isso
os mais intensamente explorados. Sabe-se, contudo, que
se esgotam e que, por isso, so insubstituveis escala
da vida humana. Neste domnio situam-se os combustveis
fsseis e os materiais inertes, tais como os mrmores, granitos, areias, minerais nobres ou no, tais como a bauxite
[alumnio], ferro, ouro, prata, etc.
Os recursos renovveis - so os que mais facilmente
se renovam ou, escala da vida humana, so inesgotveis.
Requerem para alm de uma explorao controlada,
grandes investimentos que dificilmente so ressarcidos
no curto prazo, pelo que tm sempre subjacente uma deciso poltica. Neste domnio citam-se, a ttulo de exemplo,
as fontes de energia proporcionadas pela radiao solar,
pelo vento, pelas mars e pela energia geotrmica e,
ainda, enquanto recursos para a produo de bens, vrias
espcies vegetais e animais que, exploradas de forma
controlada e eficaz, podem permitir o seu usufruto sistemtico: as exploraes florestais em ecossistemas2 naturais,
os recursos pisccolas e cinegticos.

Na ltima metade do sculo XX, verificou-se uma sobre-explorao dos recursos esgotveis [fruto da procura cada
vez mais exigente e da afirmao social do Homem, e do
consumo] para a produo de produtos sinteticamente transformados que, por sua vez, deram origem a grandes quantidades de materiais rejeitados - a sociedade de consumo
caracterizada pela prtica de usar e deitar fora.

, pois, urgente que


se equacione a
explorao dos
recursos numa
perspectiva
sustentvel:
...minimizar
o esgotamento dos
recursos no3
renovveis , gerir
racionalmente todos
os recursos, em
especial os que mais
dificilmente se
renovam ou
regeneram e
estabelecer como
prioridade a obteno
de energia de forma
alternativa aos
combustveis fsseis.

Ecossistema - o todo formado pelos organismos [componente bitica]


e pelo meio [componente abitica]. Uma espcie endmica significa que
pertence naturalmente ao meio, no foi introduzida. Por exemplo
o eucalipto endmico na Austrlia mas uma espcie introduzida
em Portugal [embora se adapte bem ao meio, no endmica].
3
In: Caring for the earth - IUCN/UNEP/WWF.
21

Tem-se assistido a uma constante delapidao dos recursos


naturais esgotveis e a uma m gesto dos recursos renovveis, o que pe em causa a sobrevivncia de vrias
espcies, contribuindo para a diminuio da biodiversidade.

1.2. A Atmosfera
1.2.1. A Camada do Ozono
O ozono um gs que existe na atmosfera, constitudo
por trs tomos de oxignio [O3]. O ozono estratosfrico
forma-se por aco da radiao solar ultravioleta nas molculas de oxignio [O2], segundo um processo denominado
fotlise: as molculas de oxignio so quebradas dando
origem a tomos de oxignio, que por sua vez se combinam
com outras molculas de oxignio formando-se deste modo,
a molcula triatmica do ozono.
A quantidade de ozono presente na estratosfera mantida
num equilbrio dinmico, por processos naturais, atravs
dos quais continuamente formado e destrudo. Mas este
equilbrio natural de produo e destruio do ozono
estratosfrico tem vindo a ser perturbado devido, essencialmente, s emisses de compostos halogenados, tais como
os clorofluorcarbonetos [CFC's] e os halons4.

Os problemas ambientais e a conscincia ecolgica

22

Na troposfera [estrato da atmosfera, desde a superfcie at


aos 10km de altitude], o ozono em elevadas concentraes
pode exercer um efeito txico nos animais, originando
problemas respiratrios e irritao ocular e um efeito
corrosivo em diversos materiais. Misturado com outros
gases e partculas, ele responsvel pela formao do smog
fotoqumico [nevoeiro fotoqumico que cobre os grandes
centros urbanos e industriais, resultante da poluio
atmosfrica]5.
Contudo, este gs acumula-se principalmente numa camada
com cerca de 15 km de espessura, na estratosfera [estrato
compreendido entre os 10 e os 50 km de altitude], designada por camada de ozono. aqui que ele desempenha
o papel de escudo protector, de filtro que assegura a vida
na Terra. Ele absorve mais de 95 % das radiaes
ultravioleta [parte do espectro electromagntico das
4

MAOT. Estado do Ambiente 2000. Lisboa: MAOT, 2003.


REIS, Maria do Carmo. Fonte: www.naturlink.pt [Maro06].

PIT

Idem.
Ibidem.

A Agncia
Norte-Americana
de Proteco Ambiental
estima que a reduo
de apenas 1%
na espessura
da camada de ozono
suficiente
para cegar
100 mil pessoas
por cataratas
e desencadear
um aumento
de 5% no nmero 7
de cancros de pele .

Os Problemas Ambientais e a Conscincia Ecolgica

radiaes emitidas pelo sol, que tm efeitos negativos],


preservando da sua aco nefasta todas as formas vivas6.
Se a camada de ozono no existisse, as radiaes ultravioleta
no teriam nenhuma barreira entre a sua fonte de emisso
e a superfcie da Terra e nenhuma forma de vida, das que
conhecemos, poderia sobreviver. No entanto, mesmo a pequena fraco que atinge a superfcie da Terra potencialmente perigosa para quem a ela se expe por perodos
prolongados, podendo afectar as defesas imunolgicas
do homem e de outros animais, permitindo o desenvolvimento de doenas infecciosas e de carcinomas.
Nveis elevados de radiao podem diminuir a produo
agrcola, com a consequente reduo na produo alimentar.
As radiaes ultravioleta tambm afectam microrganismos,
embora no se tenha a noo da extenso de tais alteraes, j que estes organismos intervm na decomposio
dos resduos, no ciclo dos nutrientes e interagem com
as plantas e animais na forma de agentes patognicos
ou simbiticos.
Nos ecossistemas aquticos a intensificao das radiaes
ultravioleta interfere no crescimento, na fotossntese e na reproduo do plancton. So estas plantas e animais microscpicos que se encontram na base das cadeias alimentares
e que so responsveis pela produo de grande parte
do oxignio do planeta e absoro do dixido de carbono,
actuando como um tampo contra o aquecimento global
do planeta.

23

A radiao ultravioleta afecta igualmente os ciclos biogeoqumicos, como o ciclo de carbono, do azoto e o ciclo dos
nutrientes minerais, entre outros, lesando globalmente toda
a biosfera do planeta.
Apesar de a camada de ozono se ter mantido inalterada
por milhes de anos, nas ltimas dcadas tem-se assistido
sua rpida degradao, com o aparecimento dos buracos
de ozono, zonas da estratosfera onde a camada se apresenta extremamente fina, com reduo bvia dos seus efeitos
protectores.

Entre 1980 e 1989,


o nmero de novos
casos praticamente
duplicou nos EUA.
Em 1995
observou-se
um aumento
do nmero de novos
casos de cancro
em regies do
Hemisfrio Sul,
como a Austrlia,
a Nova Zelndia,
frica do Sul
e Patagnia.
No Chile,
os casos de carcinoma
da pele
aumentaram 133%
desde o aparecimento
do buraco do ozono
sobre o plo Sul8.

Os problemas ambientais e a conscincia ecolgica

24

O maior responsvel por esta situao o Cloro, presente


nos clorofluorcarbonetos [CFC's], utilizados em sprays, embalagens de plstico, chips de computador, solventes para
a industria electrnica e, especialmente, nos aparelhos
de refrigerao e climatizao, como os frigorficos e os ares
condicionados.
A proibio da utilizao de CFC's, a pesquisa de alternativas incuas para o ambiente e o decretar do Dia Internacional do Ozono, com o objectivo de reduzir a utilizao
de substncias destruidoras do ozono, so algumas das
medidas a adoptar. No entanto, mesmo pondo em prtica
estas e outras medidas que visem a reduo das emisses
de Cloro e Bromo, iro ainda ser necessrias vrias dcadas
para que os nveis de ozono voltem a aumentar na estratosfera. Efectivamente, embora a utilizao de compostos
halogenados tenha sofrido um decrscimo desde os anos 80,
como resultado da implementao dos compromissos
preconizados pelo Protocolo de Montreal sobre as Substncias que Deterioram a Camada de Ozono [PNUA, 1987]
e suas Emendas, esperava-se que a concentrao de Cloro
e Bromo na estratosfera atingisse um mximo por volta
do ano 2000 e que se tivesse de esperar at ao ano
2060 para que a camada de ozono fosse totalmente
recuperada9.

1.2.2. Efeito de Estufa e Alteraes Climticas


A temperatura terrestre mantida, essencialmente, graas
ao vapor de gua e pelo dixido de carbono [CO2] existentes
na atmosfera. Para que tal seja possvel, estes gases
9

MAOT. Estado do Ambiente 2000.

Os problemas ambientais e a conscincia ecolgica

permitem a passagem da radiao solar em direco


Terra e absorvem o calor libertado por esta, reflectindo-o, criando deste modo um tecto, que impede que o calor
se liberte para o espao - a este fenmeno natural
que se d o nome de efeito de estufa da atmosfera
terrestre e que permite a vida na Terra na forma que
actualmente a conhecemos.
Porm, desde a Revoluo Industrial e principalmente nos
ltimos anos a acumulao de gases responsveis pelo efeito
de estufa tem aumentado. Tal deriva da queima de combustveis fsseis nos processos de fabrico, com a consequente
libertao de CO2. O trnsito automvel uma das causas
de libertao de dixido de carbono e tambm de outros
gases, como por exemplo o dixido de azoto [NO2]. A par
destes gases, o metano [CH4], proveniente da decomposio
da matria orgnica e de processos agrcolas, os CFC's
e o ozono da troposfera tm aumentado a camada de gases
que causam o efeito de estufa. Refere-se, a ttulo de exemplo,
que o dixido de carbono e o metano so responsveis
pelo aumento de cerca de 80% da temperatura terrestre.
Assim o processo natural de efeito de estufa largamente
ampliado. Ou seja, h maior reteno e reflexo do calor
libertado pela terra e menor libertao da energia calorfica
para o espao.
As opinies mais cpticas referem que no linear a
correlao entre a acumulao destes gases na atmosfera
e o aumento da temperatura terrestre.
Porm as comparaes dos registos climticos confirmam
que a temperatura tem aumentado. Desde 1900, por
exemplo, a temperatura mdia anual aumentou entre 0,3
e 0,6C. Estima-se, ainda, que no ano 2050 como consequncia do aumento da temperatura [que se prev seja

25

de 1 a 4C] o nvel das guas do mar, devido ao descongelamento das calotes polares, possa subir cerca de 20cm.
Prev-se, tambm, que se no houver a nvel global uma
reduo de cerca de 70% nas emisses de CO2, em 2100,
o nvel das guas do mar possa subir cerca de 50cm.
Tal conduzir inundao de reas densamente povoadas
nos litorais ocenicos.
A reduo na disponibilidade de gua doce outra
consequncia do efeito de estufa, devido ao descongelamento das calotes polares e glaciares que contm cerca
de 79% das reservas de gua doce existente no planeta.
Para alm das causas j enunciadas, ou seja a queima
de combustveis fsseis quer nos processos industriais, quer
nos transportes, tambm a desflorestao desempenha
um papel importante neste fenmeno, dado que se gera
menor consumo de CO2 no processo de fotossntese.
, assim, necessrio adoptar medidas que passam pela utilizao de energias alternativas, pela reflorestao e por
uma maior eficcia e eficincia energtica.

1.2.3. Chuvas cidas


A precipitao, mesmo quando no est poluda, ligeiramente cida devido presena natural de dixido de carbono na atmosfera. A chuva age, assim, como agente
facilitador na dissoluo dos sais minerais no solo,
tornando-os mais facilmente absorvveis pelas plantas.

Os Problemas Ambientais e a Conscincia Ecolgica

26

O aumento dos gases na atmosfera, nomeadamente o dos


xidos de azoto e de enxofre, conduz formao de cido
ntrico e sulfrico, por reaco qumica com o vapor
de gua e com o oxignio atmosfrico.

Assim, quando chove caem verdadeiras cargas de gua


cida que destroem culturas e patrimnio construdo e que
so nocivas para a sade humana.
Em locais onde a concentrao de gases muito alta
chegam a ocorrer chuvas com pH muito baixo. Foram detectados alguns charcos de gua com origem na pluviosidade com pH que ronda os 3,0. A existncia de vida
nessas condies torna-se impossvel.

1.3. O Solo
1.3.1. Poluio por Resduos
Desde as ltimas dcadas do sculo XX, os resduos10 slidos
tm assumido propores preocupantes a nvel global, quer
derivadas do aumento crescente dos quantitativos produzidos
quer pela perigosidade que representam para o ambiente.
At meados do sculo passado os resduos slidos eram
essencialmente orgnicos facilmente decompostos pela
natureza.

Porm, devido introduo de plsticos e demais materiais


processados sinteticamente em bens de consumo generalizado, fabrico de vesturio, mobilirio e muitos outros
de uso corrente [nomeadamente nas embalagens que so
produzidas em larga escala com padres atractivos e que
apenas visam vender melhor os produtos], a par da introduo das tecnologias de fabrico mais leve de embalagens
de vidro e metal [com a consequente rejeio e no
reutilizao destes produtos] alterou-se a forma de encarar
o problema em que os resduos se tinham tornado.
Passou-se, numa primeira fase, por tentar resolver o destino
final do lixo para que no se pusesse directamente em
causa a sade pblica, atravs do confinamento controlado
10

Resduos - so quaisquer substncias ou objectos que o seu detentor


no usa e que por isso se quer desfazer ou tem obrigao legal de se
desfazer.

Os Problemas Ambientais e a Conscincia Ecolgica

Lembremos que os materiais de difcil decomposio, como


por exemplo o vidro e os metais, eram reutilizados inmeras
vezes, tendo praticamente todas as embalagens depsito
ou tara; ou seja s eram chamadas lixo quando, por
acidente, alguma delas se deteriorava.

27

dos resduos, at uma nova fase em que se integram os resduos na poltica de ambiente. As preocupaes so actualmente de carcter mais preventivo, embora no se descure
a sade pblica. Assim, primeiramente deve reduzir-se
a quantidade de resduos produzidos, depois reutilizar o mais
possvel os materiais e finalmente adoptar polticas de tratamento adequadas, que possibilitem a reciclagem dos materiais rejeitados.
Os resduos tornaram-se num dos factores que mais contribui
para a poluio, caso no sejam alvo de um tratamento
adequado, no s dos solos mas tambm dos lenis
freticos [guas subterrneas], por percolao atravs dos
solos e ainda da atmosfera pela libertao de compostos
volteis. Por tal e na sequncia da Conferncia do Rio
de Janeiro - ECO92, a gesto integrada dos resduos
assumiu particular importncia e prioridade para os governos que se comprometeram com a inteno de reduzir,
por um lado os quantitativos dos resduos e, por outro,
a toxicidade dos mesmos.
Em Portugal, a classificao dos resduos feita tendo por
base a origem da sua produo e consideram-se: resduos
slidos urbanos, resduos industriais, resduos hospitalares
e outros resduos. H tambm a classificao de resduos
perigosos e estes podem estar presentes em qualquer uma
das categorias anteriormente referidas.

Os Problemas Ambientais e a Conscincia Ecolgica

28

Se quase imediata a ligao de resduo perigoso aos


resduos hospitalares e aos industriais, tal no parece to
evidente quando se trata de resduos slidos urbanos.
Porm, estes englobam igualmente pequenas quantidades
de resduos perigosos que vo de tintas a solventes,
passando por medicamentos fora de uso e pilhas e mesmo
por velhos electrodomsticos contendo clorofluorcarbonetos [CFC's].
Para alm da necessidade de se implementarem sistemas
de gesto de resduos cada vez mais eficazes e eficientes,
para que os resduos que produzimos no ponham definitivamente em causa o futuro do planeta, tambm
necessria a participao informada dos cidados, assente
num consumo mais controlado e ambientalmente mais
equilibrado, atravs da rejeio de produtos txicos e perigosos e pela escolha de bens durveis. A participao
activa na deposio selectiva para reciclagem outra

vertente importante que, para alm de reduzir os quantitativos de resduos a eliminar, contribui para fazer destes
verdadeiras fontes de riqueza para a produo de novos
bens de consumo.

1.3.2. Desflorestao/Desertificao
Muitos dos problemas ambientais globais passam pelo
fenmeno da desflorestao, saelizao e desertificao
dos solos.
Nos primrdios da humanidade a influncia do Homem
sobre os ecossistemas permitiu-lhe a descoberta da agricultura e do pastoreio e, por consequncia, a sedentarizao. Contudo, este grande salto da humanidade fez-se
e continua ainda a fazer-se conta da devastao de
grandes reas de coberto vegetal, para a disponibilizao,
cada vez mais exigente, de terrenos agrcolas.
Esta prtica, associada agricultura extensiva e de monocultura, tem vindo a esgotar os solos, fazendo com que cada
vez mais o homem continue a desbravar as florestas
visando obter novas terras frteis. Este o processo artificial e galopante de desflorestao.

Saelizao
processo regressivo
em que
os ecossistemas
tendem
para o pr-deserto.
Desertificao
processo regressivo
em que
os ecossistemas
tendem para
o deserto,
quase sempre
deserto quente.

O processo de saelizao da decorrente regressivo e conduz os ecossistemas a situaes de pr-deserto. O processo


de desertificao igualmente um processo regressivo em
que os ecossistemas tendem para o deserto quente -

Os Problemas Ambientais e a Conscincia Ecolgica

A desflorestao pode acontecer de forma natural, atravs


de incndios e outras catstrofes, ou de forma artificial
como vimos atrs, atravs da reduo da rea coberta com
um qualquer sistema natural, para proveito humano
imediato.

29

temperaturas mdias mais elevadas, geralmente sem estaes


do ano to diferenciadas, com humidade atmosfrica praticamente inexistente e com baixos ndices de pluviosidade.
Os solos so rochosos ou de areias soltas, praticamente
sem matria orgnica, o que impossibilita qualquer prtica
agrcola.
Uma floresta com biodiversidade, sendo alvo de desflorestao e de um processo de desertificao torna-se numa
rea rida e pobre. O empobrecimento dos solos acaba
por conduzir ao empobrecimento econmico e ao afastamento ou abandono por parte dos residentes.
As principais causas da saelizao e da desertificao
prendem-se com a desflorestao, a sobre-explorao da
fertilidade dos terrenos, com as alteraes efectuadas aos
regimes hdricos e com a poluio dos solos. Constituindo
simultaneamente causa e consequncia destes processos
refira-se o aquecimento global [provoca desertificao e ao
mesmo tempo uma consequncia desta, pela falta de coberto vegetal].
A perda de nichos ecolgicos e de biodiversidade tem forte
repercusso no desenvolvimento das populaes podendo
desencadear o aumento da pobreza extrema, situaes
de fome, de doena e fenmenos de migrao conducentes
desertificao humana.

1.4. A gua
1.4.1. Poluio das guas
Os problemas ambientais e a conscincia ecolgica

30

A gua, conjuntamente com o ar, fundamental para a existncia de vida na terra.


A gua cobre cerca de dois teros do planeta e, mesmo
assim, considerada um bem escasso e que necessrio
poupar. Tal deriva da distribuio deste recurso no ser
igual em todo o planeta - existem zonas com grande
disponibilidade de gua doce e outras onde a desertificao a fez desaparecer quase completamente.
Da totalidade de gua existente na Terra, apenas cerca
de 3% doce e como tal passvel de ser utilizada
no consumo humano. Contudo desta pequena percentagem
apenas uma parte est disponvel: cerca de 79% est
congelada nas calotes polares e nos glaciares e perto

de 20% encontra-se no subsolo; ou seja, resta-nos 1%


de gua acessvel para o consumo. Da gua dita disponvel
para consumo e que, feitas as contas apenas 0,03%
do total existente, 58% encontra-se em lagos interiores,
38% est retida no solo, 8% vapor de gua que
se encontra na atmosfera e apenas 1% corre nos rios.
Apesar desta pequenssima poro de gua disponvel,
o Homem nas suas actividades, consome-a de forma
indiscriminada e faz dos cursos de gua verdadeiros
receptores das descargas dos seus resduos e efluentes.

Durante muitos anos, as descargas de esgotos urbanos


e industriais foram feitas directamente para os cursos
de gua. Porm, a pouca distncia, a gua apresentava novamente boa qualidade para utilizao humana. A utilizao
de produtos cada vez mais txicos e o aumento da quantidade de efluentes descarregados nos cursos de gua veio
alterar este cenrio inicial. Assim, a qualidade da gua deixou de ser retomada e degradou-se; ou seja, o meio deixou
de ter capacidade para se auto-regenerar.
Os rios deixaram por tal de ser vistos como fonte
inesgotvel de gua doce e o local para onde se poderiam
deitar todos os efluentes humanos.

Os Problemas Ambientais e a Conscincia Ecolgica

Os contaminantes que se podem encontrar na gua e que


provocam a sua poluio provm quer de causas naturais
como erupes vulcnicas e arrastamentos de solos, quer
de causas com origem antropognica: descargas de guas
residuais e de resduos sem tratamento adequado e poluio
difusa maioritariamente proveniente de escorrncias de pesticidas e adubos agrcolas.

31

Para o Homem as alteraes mais evidentes de uma gua


poluda so as suas caractersticas organolticas: o cheiro,
a cor e o sabor. Porm, para os organismos que habitam
um curso de gua, uma pequena subida da temperatura
suficiente para pr em causa a sua subsistncia. Sendo
os peixes animais de sangue frio, no possuem resistncia
s alteraes de temperatura e tal pode conduzir impossibilidade da sua reproduo. Podem, igualmente, em presena
de gua poluda, desenvolver dermatoses com origem em
fungos e diminuir a sua resistncia a doenas, acabando
por morrer.
As descargas de efluentes de origem antropognica tm
diferentes impactos consoante o meio receptor. Assim passamos a analisar alguns meios hdricos:
guas interiores - so as mais importantes enquanto fonte
de gua potvel, satisfazendo necessidades domsticas,
industriais e agrcolas. So o local mais acessvel e menos
dispendioso para a descarga de efluentes.

P

Nas guas interiores consideram-se as guas subterrneas


que resultam da infiltrao da chuva a vrias profundidades, criando reservas no subsolo de gua potvel, e as
guas superficiais que se acumulam superfcie do solo
em lagos e rios criando igualmente reservatrios naturais
ou correndo para depresses ou para o mar.
P

No podemos esquecer
que, segundo dados
recentes, cerca de
2 bilies de pessoas
ainda no tm acesso
a gua potvel e que
mais de um bilio
no est servida com
sistemas adequados
de tratamento
de gua.
32

guas do mar - so guas salgadas que podem dividir-se


em zonas costeiras e zonas de mar aberto. As descargas
de efluentes neste meio tm tambm impactes negativos.
Descargas urbanas sem tratamento em zonas costeiras
impossibilitam a utilizao das praias e comprometem
actividades econmicas que delas dependem. As descargas
em mar aberto, sobretudo quando existe um tratamento
prvio dos efluentes so menos negativas, devido ao maior
volume de gua e maior diluio, que levam a um efeito
de minimizao do impacte.

Para que a gua possa continuar a constituir um bem


disponvel para a satisfao das necessidades humanas
necessrio que se proceda a uma gesto integrada dos
efluentes que so descarregados nos cursos de gua,
que se diminua o consumo de gua de boa qualidade,
aproveitando-se integralmente este recurso, sem desperdcios e promovendo a sua reutilizao.

1.5. A Conscincia Ecolgica


1.5.1. No Mundo
No foi imediatamente que o Homem se deu conta dos
impactes negativos que o padro consumista aportava
ao ambiente e, em ltima anlise, a si prprio.
At ao final do sculo XIX, a maior parte das calamidades
que afligiam os homens tinham uma origem natural.
A Revoluo Industrial veio alterar a situao, na medida
em que as ameaas passaram sobretudo a surgir no interior
das prprias sociedades. Desta forma, a partir de meados
do sculo XIX, o homem civilizado transformou-se numa
fora geolgica planetria, capaz de desencadear reaces
em cadeia susceptveis de o destruir. Tratou-se de um corte
definitivo na histria da humanidade pois, desde ento,
a prpria sobrevivncia da humanidade que tem estado
em jogo11.
Data dessa poca a emergncia de uma inquietao
ambiental, que ganhou visibilidade e consistncia durante
o sculo XX, impulsionada por acontecimentos que alertaram
o homem para a precaridade do equilbrio do ecossistema
Terra e que culminou, no virar do Milnio, com o surgimento de um novo conceito: o desenvolvimento sustentvel,
onde a dimenso ecolgica assume paridade com a economia e as dimenses sociais e polticas [cfr. ponto 2
do captulo III].
Este foi um longo caminho para tericos e pensadores, polticos e opinio pblica.
Desde o sculo XVI que alguns pensadores, de uma forma
cada vez mais insistente, comearam a integrar as preocupaes ambientais na sua actividade filosfica e/ou cientfica12.
A partir da segunda metade do sculo XIX, elas comeam
a ganhar visibilidade e consistncia, primeiro na comunidade cientfica e mais tarde na opinio pblica.

Os Estados-Membros
da Unio Europeia
devem promover
campanhas
de informao
e de sensibilizao
dos consumidores
e incentivar
os instrumentos
de preveno.

Para a estruturao
deste captulo
contribuiu
de forma significativa
o documento
Contributo para
a Cronologia
dos mais importantes
marcos
em Ambiente
e Educao Ambiental
e no Mundo de
Fernando Louro Alves
[2002].

11

DELAGE, Jean-Paul. Uma Nova Era de Perigos. In: BEAUD, Michel;


BEAUD, Calliope e BOUGUERRA, Mohamed Larbi. O Estado do Ambiente
no Mundo. Lisboa: Instituto Piaget, Perspectivas Ecolgicas, 1995, p. 23.
12
Referenciam-se alguns elementos: Garcia da Horta [1501-1568], na sua
visita ao oriente, estudou as espcies vegetais. Georges Louis Leclerc
[1749-1789] publica a primeira verso naturalista da histria da Terra.
Thomas Robert Malthus [1766-1834] no Ensaio sobre os Princpios das
Populaes alerta para a importncia do controlo da natalidade.
33

O Desenvolvimento Sustentvel
Segundo Lawrence [1993]13 os objectivos centrais do desenvolvimento sustentvel podem sintetizar-se da seguinte forma:
1 Satisfazer as necessidades humanas bsicas - sobretudo ao nvel da alimentao, para evitar a fome e a desnutrio.
P

2 Promover um crescimento econmico constante - o que


se considera uma condio necessria mas no suficiente.
Pretende-se que as economias produzam bens e servios
para servir as populaes.
P

3 Melhorar a qualidade do crescimento econmico - em


particular as possibilidades de acesso equitativo aos recursos naturais e aos benefcios do desenvolvimento.
P

4 Atender aos aspectos demogrficos - e, em especial,


reduo dos elevados ndices de crescimento populacional.
P

5 Seleccionar opes tecnolgicas adequadas - pretende-se estimular a investigao e capacitao [e competncia] tcnica para reduzir as transferncias tecnolgicas,
sobretudo nos pases em desenvolvimento.
P

6 Aproveitar, conservar e restaurar os recursos naturais evitando a degradao dos recursos, protegendo a capacidade da natureza favorecendo a sua restaurao,
e evitando todos os efeitos adversos que danam a sociedade e os ecossistemas.
P

Os Problemas Ambientais e a Conscincia Ecolgica

34

Darwin [1859], com a publicao do livro A origem das


espcies contribuiu significativamente para este processo.
Haeckel [1834-1919], por seu lado, concorreu para o surgimento de um novo ramo do saber, para uma nova forma
de compreender e interpretar o mundo: a ecologia. Esta
apresenta-se como o estudo das relaes entre as espcies
e o seu meio ambiente que durante o sculo XX se
multiplica em diversas perspectivas de anlise - a ecologia
animal, a vegetal, a humana, a urbana, acompanhando
a crescente afirmao das inquietaes ambientais.
Destes primrdios fez tambm parte o conceito de Conservao da Natureza, cuja afirmao conduziu criao dos
primeiros Parques Naturais: o Parque Nacional de Yellowstone
13

LAURENCE, Luis Chesney. Lecciones sobre desarollo sustentable. Venezuela:


Fundacin de Educatin Ambiental, 1993, p.40-44.

nos Estados Unidos [1872], o Parque Nacional de Banff no


Canad [em 1887]. Com o sculo XX, estas preocupaes
atravessaram o oceano Atlntico e na Europa foram criados
os primeiros parques nacionais europeus - na Alemanha
em 1910 [parque de Luneburger Heide], na Frana em
1913 e, com os Parques Naturais de Covadonga e Ordesa,
na Espanha em 1918. Em Portugal, apenas em 1971 foi
fundado o primeiro Parque Natural - o da Peneda Gers.
O associativismo ambientalista apareceu, tambm, no final
do sculo XIX com a fundao de organizaes que ainda
hoje constituem entidades de referncia: o Sierra Club
[1892], cujo objectivo era a proteco da Serra Nevada e
a Royal Society for Protection of Birds [1889], no Reino
Unido. Fazendo eco de alguma agitao da conscincia
internacional provocada pelo lanamento da primeira
bomba atmica em 1945, em 1948 foi fundada a Internacional Union for the Protection of Nature [a IUPN14].
Em Portugal [e tambm nesse ano] foi criada a Liga de
Proteco para a Natureza, a primeira associao ambientalista portuguesa.
que: o azul do cu transformou-se subitamente num
claro ofuscante. Os seres vivos adquirem ento a autoconscincia da possibilidade de destruio completa do
planeta.
Aps o dia 6 de Agosto, a bomba acabava de plantar
as primeiras sementes do ambientalismo contemporneo.
Estava-se entrando na idade ecolgica15.
Com a criao das Naes Unidas e de organizaes a ela
associadas17 e atravs da realizao de eventos por ela
patrocinados, a questo ambiental foi-se firmando [principalmente a partir dos anos 60] na agenda pblica.
14

Em 1956 esta associao transforma-se na IUCN - Internacional Union for


the Conservation Nature and Natural Resources e que hoje constitui a
World Conservation Union.
15
Worster, 1992, citado por Louro, 2002.
16
Einstein, prefcio do livro L'Heure H, a-t-elle sonn pour le Monde?,
editado em 1955, da autoria do fsico francs Charles-Nel Martin. Citado
por GRINEVALD; Jacques. Os pioneiros da Ecologia. In: BEAUD, Michel;
BEAUD, Calliope e BOUGUERRA, Mohamed Larbi. O Estado do Ambiente
no Mundo. Lisboa: Instituto Piaget, Perspectivas Ecolgicas, 1995, p. 29.
17
A Unesco [Organizao das Naes Unidas para Educao Cincia e Cultura]
criada em 1946. O Programa das Naes Unidas para o Ambiente
e Desenvolvimento ser criado na dcada de 70.

assim que Einstein,


em 1955, afirma:
a poderosa
desintegrao
do tomo veio
modificar tudo,
salvo o nosso modo
de pensar,
fazendo-nos assim
deslizar para uma
catstrofe nunca vista.
A sobrevivncia
da humanidade exige
uma nova 16maneira
de pensar .

35

A evidncia dos problemas ambientais18 com determinantes


da aco humana contribuiu para a discusso da temtica
em documentos cientficos e fruns internacionais, onde,
lentamente, a questo ambiental passou a ser vista no
apenas como um problema com relevncia poltica, econmica e/ou tecnolgica associado conservao dos
recursos naturais, mas tambm como um problema de tica
e de conscincias, a que se vem juntar a educao
ambiental [cfr. Captulo III].
A apresentao cronolgica de alguns acontecimentos
expressa a evoluo do sentir durante a segunda metade
do sculo XX:
P

P

P

P

Os Problemas Ambientais e a Conscincia Ecolgica

36

Em 1949, a UNESCO impulsiona a realizao de um estudo


em 24 pases focalizado no uso do ambiente como recurso pedaggico.
As Naes Unidas proclamam a dcada de 60 como a Dcada do Desenvolvimento.
Em 1961, com o apoio das Naes Unidas fundada
a World Wildlife Fund [WWF], cuja actividade est dirigida
para a conservao das espcies.
O ano de 1962 um momento de charneira para a emergncia de uma conscincia ambiental contempornea, com
a publicao do livro The Silent Spring da biloga
americana Rachel Carson [1907-1964], centrado na temtica do uso dos pesticidas [DDT] na agricultura, que qualifica como biocidas. Esta obra produziu um grande
impacte na opinio pblica e comunidade cientfica. Roger
Heim [1900-1979], presidente do Museu de Histria Natural
[Frana] e da Academia das Cincias escreveu na altura:

O tema essencial do volume de R. Carson possui uma


significao prtica e filosfica to grande que dominar,
com certeza, as preocupaes da humanidade na passagem
para o prximo sculo. Trata-se do deve e haver entre
a criao e a destruio, de que o homem o principal
18

Alguns exemplos: a combusto dos produtos derivados do petrleo gera


vrios gases txicos que influenciam o clima da Terra; a descarga de desperdcios nos rios, lagos e mares, alteram os bio-sistemas de sobrevivncia de inmeras espcies aquticas e terrestres; os acidentes no-naturais
com a energia atmica e a devastao por eles provocada [Hiroshima 1944, Three Miles Island - 1979, Tchernobyl - 1986,], a poluio de
solos e aquferos causadas por descargas industriais, pesticidas, etc.

agente, das consequncias desta nova guerra desencadeada


pelo Homem contra a Natureza, deste conflito que surge
na sequncia das batalhas gigantescas que os grandes travaram entre si, por duas vezes, sobre quase toda a superfcie das terras, das guas e dos cus planetrios19.
P

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Em 1968, Paris mais uma vez palco de um evento internacional dirigido problemtica ambiental20. Nesse ano,
a UNESCO promove a Conferncia da Biosfera, de que
resulta a institucionalizao da educao ambiental. Por
consequncia, o Reino Unido, a Sucia e a Noruega formalizam a sua prtica atravs da criao de estruturas
governamentais [Reino Unido] ou da sua integrao nos
currculos escolares.
Promovida pelas Naes Unidas, em 1972 tem lugar
a Conferncia de Estocolmo, a qual culmina com a criao
do Programa das Naes Unidas para o Ambiente [PNUA]
e com a afirmao da centralidade da prtica da educao
ambiental. Nesta linha, desenhado o Programa Internacional de Educao Ambiental [PIEA] cujos trabalhos viro
a servir de base Conferncia de Belgrado, a realizar
na Jugoslvia no ano de 1975.
Neste mesmo ano tambm publicado o Relatrio
Meadows, encomendado pelo Clube de Roma21. Neste
documento, onde era defendido o crescimento zero,
atendendo conservao das espcies e preservao
da biodiversidade.
Este relatrio foi produzido a pedido do Clube de Roma.
Nesta obra era defendido que para atingir a estabilidade
econmica e ecolgica seria necessrio congelar o crescimento da populao global e do capital industrial. Estas
teses foram actualizadas na obra publicada pelo casal
Meadows, em 1992, onde afirmavam que o homem ultrapassou os limites de uso dos recursos naturais e nveis

19

GRINEVALD; Jacques. Os pioneiros da Ecologia. In: BEAUD, Michel; BEAUD,


Calliope e BOUGUERRA, Mohamed Larbi. O Estado do Ambiente no
Mundo. Lisboa: Instituto Piaget, Perspectivas Ecolgicas, 1995, p. 31
20
A 1. Conferncia Internacional sobre a Proteco da Natureza tivera lugar
nesta cidade no ano de 1913, sendo organizada pela Liga Sua para a
Proteco da Natureza.
21
O Clube de Roma foi constitudo em 1968 e integrava especialistas do
MIT [Massachussets Institute of Technology] e alguns industriais.

Os problemas ambientais e a conscincia ecolgica

Os Limites do Crescimento

37

de poluio aceitveis com incidncia na reduo dos


nveis de produo alimentar, de energia e produo
industrial [ttese 1]; o declnio do desenvolvimento um
facto inevitvel [ttese 2]; se se investir nesse sentido, ainda
ser possvel a inverso da tendncia e rumar para
uma sociedade tcnica e economicamente sustentvel
[ttese 3]. MEADOWS, H. et al.. Alm dos Limites. Lisboa:
Difuso Cultural, 1993.
Conferncia de Belgrado [Jugoslvia] 1975 - conferncia
internacional que produziu e aprovou a Carta de Belgrado
e o Programa Internacional de Educao Ambiental
[PIEA] Este programa mantm uma base de dados
com informaes sobre instituies e projectos envolvidos
com a Educao ambiental, bem como promove eventos
e publicaes especficas sobre esta temtica.
Promovida pela UNESCO e pelo PNUA, em 1987 tem lugar
a Conferncia de Tblisi22 [Gergia, ex-URSS]. Neste encontro
so abordadas as alteraes climticas e, pela primeira
vez, o problema ambiental do buraco na camada de ozono.
Esta conferncia constituiu um marco para a educao
ambiental.
Em 1987 publicado O Relatrio de Brundtland23, o qual
define o conceito de Desenvolvimento Sustentvel24 como
o desenvolvimento que satisfaz as necessidades presentes
sem comprometer a capacidade das geraes futuras
satisfazerem as suas prprias necessidades.
Protocolo de Montreal, em 1988 - Neste encontro internacional assinado um compromisso por 40 Pases, onde
as Naes se comprometem a alcanar a reduo das
emisses de CFC's em 50% at 1999, em ordem preservao da camada de ozono. Ulteriores correces ao Protocolo apontam para a eliminao total dos CFC's e dos
Halons at 2010. Se o Protocolo de Montreal for integralmente cumprido, prev-se que a recuperao da camada
de ozono possa ocorrer entre o ano 2033 e o ano 2052.
A Comisso das Naes Unidas sobre o Ambiente e Desen-

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Os Problemas Ambientais e a Conscincia Ecolgica

38

P

22

Este frum internacional foi um marco para a educao ambiental [ver


captulo III].
23
BRUNDTLAND. O Nosso Futuro Comum. Lisboa: Meribrica/Liber Editores,
1991.
24
O conceito de desenvolvimento humano e desenvolvimento sustentvel sero
desenvolvidos no ponto 2 do captulo III.

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25

Formas/Estratgias [Means] de Implementao.

Mais de 178 Pases adoptaram, na Cimeira da Terra, a Agenda 21, a


Declarao do Rio e a Declarao de Princpios de Gesto Sustentvel das
Florestas. [Earth Summit - Agenda 21 - The United Nations Programme
of Action from Rio -1992, New York: United Nations Reproduction Section].
26
Fonte: http://www.scielo.br [Setembro05].

Os Problemas Ambientais e a Conscincia Ecolgica

volvimento promove em 1992, a Conferncia das Naes


Unidas sobre Ambiente e Desenvolvimento25 [Rio de Janeiro,
Junho de 1992] - A ECO92 envolveu muita polmica
durante a sua realizao e aprovou cinco acordos oficiais
internacionais sobre temas como Meio Ambiente e Desenvolvimento, Florestas, Mudanas Climticas, Diversidade
Biolgica, alm da famosa Agenda XXI, que contm pressupostos para a implementao da Educao Ambiental,
visando a sobrevivncia dos povos para o sculo XXI. Neste
documento foram apresentados compromissos e intenes
para uma melhoria da qualidade de vida e para a sua
sustentabilidade26.
Agenda 21
Documento sado em 1992 da Conferncia do Rio [Rio
de Janeiro, Brasil, de 3 a 14 de Junho de 1992].
Apresentou-se como um documento de referncia para
a aco poltica, reflectindo o consenso entre os pases
que assinaram o documento e o seu compromisso poltico com o desenvolvimento e cooperao ambiental.
A denominao decorre do estabelecimento de metas
ambientais para o Sculo XXI, para que prope linhas
de aco e antev situaes problemticas e mudanas
futuras subsequentes.
Reconhece que o desenvolvimento sustentvel primariamente da responsabilidade dos governos. Tal requer
a implementao de estratgias nacionais e planos
especficos adequados s vrias naes, a concretizar sob
a forma de Estratgias Nacionais de Desenvolvimento Sustentvel [ENDS].
A Agenda 21 possui 40 captulos, divididos em quatro seces distintas:
Dimenses scio-econmicas.
Conservao e Gesto de Recursos para o Desenvolvimento.
Reforo/Empowerment de Grupos de Influncia [Major
Groups].

39

No Captulo 36 trata de, uma forma exaustiva, as linhas


de aco Promoo da educao, consciencializao
pblica e formao. Como linha de programtica define
a orientao da educao para o desenvolvimento sustentvel, enunciando o seguinte princpio de aco:
tanto a educao formal como a no formal so indispensveis para mudar as atitudes das pessoas de modo
a elas terem a capacidade de acesso e de resposta
s suas preocupaes sobre o ambiente sustentvel.
igualmente decisiva para se chegar consciencializao
ecolgica e tica e para se alcanarem valores e atitudes,
aptides e comportamentos compatveis com o desenvolvimento sustentvel e para a eficaz participao pblica
em processos de tomada de deciso [...]. [...]dever
empregar mtodos formais e no formais e meios
eficazes de comunicao [Ponto 36.3. da Agenda 21].

P

Os Problemas Ambientais e a Conscincia Ecolgica

40

P

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Protocolo de Quioto, em 1997 - Regulamenta as emisses


dos gases que contribuem para o efeito de estufa, visando
reduzir a emisso de dixido de carbono, metano, xido
nitroso, entre outros, em 5,2% relativamente aos valores
de 1997. Espera-se atingir essa meta entre os anos 2008
e 2012. Os mecanismos de Quioto permitem o comrcio
de emisses entre pases industrializados e pases em
desenvolvimento, visando a implementao em ambos
de mecanismos de tecnologias limpas.
Conferncia de Nova Iorque - Rio+5, 1997 - faz um
balano dos avanos conseguidos desde a realizao
da ECO92 do Rio de Janeiro.
Conferncia de Aarthus, em 1998 - em matria de am-

biente, preconiza o acesso informao e participao


do pblico no processo de tomada de deciso; refere
ainda o acesso justia, nesse domnio.
Em Setembro de 2000, as Naes Unidas aprovam
a Declarao do Milnio onde a par do estabelecimento
de metas para a inverso da degradao ambiental, so
definidos objectivos dirigidos ao estabelecimento de um
desenvolvimento global mais equitativo e igualitrio, sustentado pelos valores da dignidade humana e participao na realizao do desenvolvimento.
Conferncia de Joanesburgo, em 2002, 2. Conferncia
da Terra - Conferncia promovida pela Comisso das Naes
Unidas sobre o Ambiente e Desenvolvimento sob o lema
Rio+10, tinha por objectivo dar continuidade e avaliar
a execuo dos acordos estabelecidos na Conferncia
do Rio em 1992. Contou com a participao de 60.000
delegados de governos e representantes da sociedade
civil. Debruou-se sobre o plano de aco para o desenvolvimento sustentvel, numa perspectiva de reduo
de assimetrias sociais, visando a erradicao da pobreza
no Mundo, dando continuidade a preocupaes de anteriores eventos internacionais [a execuo do Protocolo
de Quioto, a liberalizao do comrcio, o financiamento
aos pases mais pobres, etc.]
Portugal acompanhou esta evoluo.
Em 1987 foi publicada a primeira Lei de Bases do Ambiente - Lei 11/87, de 7 de Abril, onde foram definidas
as polticas nacionais de proteco ambiental. pela
primeira vez abordado o ambiente na sua globalidade,
perspectivando uma aco preventiva integrada.
J antes, em 1971, fora criada a Comisso Nacional do
Ambiente27 a que se seguiu, no incio da dcada de 80,
o Instituto Nacional do Ambiente [que veio mais tarde a dar
lugar ao Instituto de Promoo Ambiental]. Este Instituto possua competncias na rea da educao e participao ambiental28. O Instituto de Conservao da Natureza possui competncias idnticas para a rea da conservao da natureza.
P

27

De referir que elementos desta Comisso estiveram presentes na Conferncia de Estocolmo, em 1972.
28
As competncias deste Instituto vm a ser integradas no Instituto do
Ambiente no incio do milnio. Todavia, esta questo ser desenvolvida no
enquadramento relativo educao ambiental no captulo III.

Os Problemas Ambientais e a Conscincia Ecolgica

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41

1.5.2. A Poltica do Ambiente na Europa


Os tratados que deram origem Comunidade Econmica
Europeia em 1957, no incluam qualquer poltica ambiental.
Na sequncia da Conferncia das Naes Unidas sobre
Ambiente Humano de Estocolmo [1972] os Chefes de Estado
e de Governo da Comunidade Econmica Europeia lanaram,
quase do zero, uma poltica de ambiente comunitria.
Em 1973, foi aprovado o primeiro Programa Comunitrio
de Aco para a rea do ambiente e lanada legislao
comunitria - sobretudo na rea da preveno e combate
poluio e gesto de resduos perigosos.
Com o Acto nico Europeu, em 1987, o Tratado de Roma
foi alterado pela introduo de um novo objectivo associado
poltica do ambiente.
J aps a Conferncia do Rio [1992] e da Agenda 21, em
1997 com o Tratado de Amesterdo, o desenvolvimento sustentvel passou a integrar os objectivos da Unio Europeia.
No dia 1 de Janeiro de 1986, Portugal deu entrada na
Comunidade Econmica Europeia, o que tambm significou
a adeso do pas aos objectivos e estratgias preconizados
pela Europa na rea do Ambiente.
Nos ltimos 30 anos, a Unio Europeia procurou assumir
um papel de liderana na poltica de ambiente. Desde muito
cedo, Portugal teve uma participao activa em diversos
grupos de trabalho, comisses, e plenrios europeus, transpondo para o direito nacional os desafios preconizados
para a Europa.
Os Problemas Ambientais e a Conscincia Ecolgica

42

Entre as aces desenvolvidas na rea do ambiente pela


Unio Europeia destaca-se:
Os seis programas comunitrios de aco que se tornaram importantes documentos de referncia e de estabelecimento de padres na poltica de ambiente quer a nvel
comunitrio quer a nvel internacional.
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O combate a vrias formas de poluio e a regulamentao rigorosa da utilizao, transporte e destino final
dos resduos perigosos.
A preocupao com a defesa da biodiversidade europeia
que se traduziu na aprovao da Directiva Habitas e na
criao da Rede Natura 2000 que pretende preservar para
as geraes futuras as espcies e habitats mais representativos a nvel europeu.
A sensibilizao e promoo da participao dos cidados
europeus na elaborao e na execuo da poltica de ambiente, que se traduziram na realizao da campanha
do Ano Europeu do Ambiente em 1987 e na aprovao
de vrias directivas relativas ao acesso informao
e participao dos cidados.
A criao, em 1994, da Agncia Europeia do Ambiente,
com sede em Copenhaga, que funciona como um centro
de recolha e tratamento de informao, na rea do
ambiente, de modo a sustentar as decises a tomar pela
Unio Europeia e Estados Membros.
A introduo da exigncia de avaliao de impacte
ambiental prvia, para os projectos de determinada dimenso, recentemente alargada a planos e programas.
A aposta na produo de energias renovveis, resultante
do envolvimento empenhado da Unio Europeia nas negociaes da Conveno das Naes Unidas sobre alteraes
climticas e do Protocolo de Quioto, atravs da aprovao
de legislao que estabeleceu metas comunitrias e nacionais para as energias renovveis, e a criao de sistema
de incentivos para a respectiva produo.
A utilizao de parte dos fundos estruturais no investimento em infra-estruturas na rea do ambiente.
O papel que a Unio Europeia tem tido na ajuda aos
pases em desenvolvimento e na promoo do respectivo
desenvolvimento sustentvel.

Os Problemas Ambientais e a Conscincia Ecolgica

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43

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A liderana exercida nas vrias reunies internacionais

[Conferncia do Rio em 1992 e Conferncia de Joanesburgo


em 2002] e na negociao dos vrios instrumentos

jurdicos internacionais na rea do ambiente permitindo


que, na generalidade, estes instrumentos assumissem
um carcter mais exigente29.

Apesar destas e de outras aces desenvolvidas pela Unio


Europeia e onde estiveram implicados os seus EstadosMembros, foi diverso o alcance e a exigncia de cada
Estado-Membro em relao aos instrumentos jurdicos aprovados. Por outro lado, a falta de integrao das preocupaes
ambientais em outras reas polticas - como por exemplo
a indstria, a agricultura, o turismo, ou, ainda, os transportes
e a construo de infra-estruturas - levou a progressos
pouco significativos em alguns mbitos de aco e pases.
Acresce, ainda, a emergncia de novas temticas, que
importante ponderar, como as relaes entre o ambiente
e a sade ou organismos geneticamente modificados, entre
outros.
Mesmo assim, a Unio Europeia assumiu novas iniciativas
que pretendiam minimizar as disfunes ambientais que
colocam em perigo o funcionamento global do ecossistema
Terra... a principal ameaa sendo as alteraes dramticas
em curso no Clima30.

1.6. Linhas Orientadoras da Unio Europeia face aos


Resduos
A integrao de Portugal na Unio Europeia veio contribuir
para o estreitamento das metas protectoras do ambiente
e, no caso particular dos Resduos Slidos Urbanos, para
um compromisso efectivo na reduo de resduos a eliminar, favorecendo-se deste modo a proteco primria [que
inclui a reutilizao] e a proteco secundria [a reciclagem, entre outros factores].
Foram vrios os Decretos-Lei e Portarias que vieram transpor
para o direito nacional as directivas comunitrias inerentes
29

SOROMENHO MARQUES, V. et al. Cidadania e Construo Europeia. Lisboa,


Ideias e Rumos, 2005, p. 190.
30
PIMENTA, Carlos. A Poltica de Ambiente da Unio Europeia - Evoluo e
Desafios. 2005.
44

Evoluo da Produo e Destino Final RSU Portugal


[1995-2004]

[Fonte: PERSU II. 2006]

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Decreto-Lei n 366-A/97, de 20 de Dezembro - Transpe


para a ordem jurdica interna a Directiva 94/62/CE,
do Parlamento e do Conselho Europeu, de 20 de Dezembro
de 1994. Estabelece os princpios e as normas aplicveis
gesto de embalagens e resduos de embalagens, com
vista preveno da sua produo, reutilizao
de embalagens usadas, reciclagem e a outras formas
de valorizao com consequente reduo da sua eliminao final, assegurando um elevado nvel de proteco
do ambiente. Visa, igualmente, garantir o funcionamento
do mercado interno e evitar entraves ao comrcio, distores e restries da concorrncia na Comunidade
Europeia. Este diploma sofre alteraes atravs do Decreto-Lei 162/2000, de 27 de Julho e Decreto-Lei 92/2006
de 25 de Maio.
Decreto-Lei n 162/2000 - Altera os artigos 4 e 6
do Decreto-Lei n 366-A/97, de 20 de Dezembro, que
estabelece os princpios e as normas aplicveis ao Sistema
Integrado de Gesto de Embalagens e de Resduos de Embalagens - SIGRE.
Decreto-Lei n 92/2006, de 25 de Maio - Este diploma
transpe para a ordem jurdica portuguesa a Directiva
2004/12/CE, do Parlamento Europeu e do Conselho,
de 11 de Fevereiro, a qual rev o quantitativo dos objecti-

Os Problemas Ambientais e a Conscincia Ecolgica

a esta problemtica. Assim:

45

vos a atingir pela valorizao e reciclagem de resduos.


Altera o Decreto-Lei 366-A/97, de 20 de Dezembro.
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Os Problemas Ambientais e a Conscincia Ecolgica

46

Decreto-Lei n 178/2006, de 5 de Setembro - aprova


o regime geral da gesto de resduos e transpe para
a ordem jurdica portuguesa a Directiva 2006/12/CE,
do Parlamento Europeu e do Conselho, de 05 de Abril,
relativa aos resduos e a Directiva 91/689/CEE, do Conselho
da Europa, de 12 de Dezembro relativa aos resduos
perigosos. Neste diploma so definidos os princpios gerais
da gesto de resduos: o princpio da auto-suficincia,
o da responsabilidade pela gesto, o da preveno e da
reduo, o da hierarquia das operaes de gesto de resduos, o da responsabilidade do cidado, o da regulao
da gesto de resduos e o princpio da equivalncia.
O art. 3. deste diploma apresenta, de forma desenvolvida, as definies de referncia associadas ao regime
geral de gesto de resduos. Este Decreto-Lei revoga
o anterior diploma regulador do sector - Decreto-Lei
239/97, de 20 de Dezembro.
Directiva 2004/12-CE, 18 de Fevereiro - actualiza a Directiva n 94/62/CE e estabelece as metas a cumprir pelos
estados membros da Unio Europeia, no mbito da reciclagem de resduos de embalagem at 2008 [prazo este
prorrogado para Portugal at 2011], bem como refora
a ideia da preveno primria, pela promoo de polticas
internas em cada estado-membro incidindo na reduo
e reutilizao desses resduos.
At 31 de Dezembro de 2011 sero valorizados ou incinerados em instalaes de incinerao de resduos com recuperao de energia no mnimo, 60% em peso dos resduos
de embalagens. At 31 de Dezembro de 2011 sero
reciclados no mnimo 55%, e no mximo 80% em peso,
para cada material de embalagem. Neste ltimo mbito,
e de acordo com a Directiva 2004/12/CE, de 18 de Fevereiro todos os estados membros da Unio Europeia tm
de atingir metas de valorizao e reciclagem, transpostas
para Portugal pelo Decreto-Lei 92/2006 de 25 de Maio.
Assim, at 31 de Dezembro de 2011, o nosso Pas deve
atingir os seguintes objectivos mnimos de reciclagem para
os materiais contidos nos resduos de embalagens:
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60% em peso para o vidro


60% em peso para o papel e carto

P

50% em peso para os metais

22,5% em peso para os plsticos, contando exclusivamente o material que for reciclado sob a forma
de plstico
P

15% para a madeira.


No entanto, para Portugal estes objectivos afiguram-se como
muito ambiciosos [sobretudo no que diz respeito fraco
das embalagens de metal e plstico] considerando o prazo
estipulado.
No Municpio de Lisboa, as taxas de reciclagem alcanadas
no ano de 2005 foram as seguintes:
34% para o vidro.
25% para as embalagens de papel/carto [29% para
o papel - fraco no embalagem].
6% para os metais.
e, 5% para o plstico.
Mesmo no caso dos subsistemas de recolha selectiva porta-a-porta implementados na cidade de Lisboa, nos quais
o rcio mais favorvel, as melhores taxas de reciclagem
obtidas foram as seguintes: 44% para as embalagens
de papel/carto, 17% para as embalagens de plstico
e 31% para as embalagens de metal.
Para se alcanarem as taxas de reciclagem estipuladas,
fundamental entre outras medidas:
aumentar a adeso da populao.
P

incrementar a qualidade dos materiais depositados selectivamente.


Resduos Slidos recolhidos por Habitante

Fonte: www.ine.pt [Julho 2007].

47

Para atingir esses objectivos importante a realizao


de campanhas de sensibilizao, que se pretendem concertadas,
continuadas e esclarecedoras dos materiais a depositar
e a evitar, e ainda, intensificar a recolha porta-a-porta de
RSU junto das entidades consideradas Grandes Produtores.
O aumento das taxas de reciclagem de embalagens e resduos de embalagem est, igualmente, dependente da alterao das limitaes actualmente existentes ao nvel da triagem
de determinadas embalagens de plstico e do seu escoamento para reciclagem.

1.7. A Poltica dos trs Rs


Agir localmente, pensando globalmente o princpio
orientador de muitos projectos concretizados e a concretizar
no mbito da formao de uma cidadania interveniente
para uma gesto ecolgica e racional dos resduos slidos
atravs da prtica dos 3 R's: Reduzir, Reutilizar e Reciclar.
A chamada Poltica dos trs R's [3 R's], sada da Conferncia
do Rio de Janeiro, foi adoptada como prioridade comunitria para a preveno, tratamento e valorizao dos resduos.
A abordagem destas temticas no mbito da educao
das populaes prende-se, essencialmente, com a percepo
de que na Reduo, Reutilizao e Reciclagem que
os cidados mais podero agir, em termos da conservao
da qualidade do ambiente.

Os Problemas Ambientais e a Conscincia Ecolgica

48

Entendem-se, pois, como medidas preventivas na gesto


de resduos a reduo da sua produo [quer por parte
dos consumidores, quer nos processos industriais e comerciais
de colocao dos produtos no mercado], a reduo da nocividade dos resduos, nomeadamente atravs da reutilizao e da alterao dos processos produtivos, por via
da adopo de tecnologias mais limpas. , tambm, entendida como medida preventiva a sensibilizao dos agentes
econmicos e dos consumidores.
Estas medidas, pedra base das prioridades de aco da Unio
Europeia, foram transpostas para a realidade portuguesa pelo
Plano Estratgico de Resduos Slidos Urbanos [PERSU].
Temos assim, a nvel nacional:
Medidas de preveno primria - reduo, reutilizao
e educao das populaes.
P

Medidas de preveno secundria - proteco dos operadores, dos sistemas de resduos e proteco da sade pblica.
Medidas de preveno terciria - No confinar resduos
que sejam passveis de valorizar quer atravs de processos
de reciclagem quer atravs da valorizao energtica.
Para melhor se entender, do ponto de vista da actuao
dos cidados, no que consiste a poltica dos 3 R's
desenvolvemos, em seguida, perspectivas prticas do que
pode ser a reduo, reutilizao e participao na reciclagem dos resduos por parte da populao.

A melhor forma de minimizar os efeitos negativos dos resduos no ambiente a diminuio da sua produo, bem
como a reduo ou eliminao de produtos geradores
de poluio [por ex.: resduos perigosos]. Pode falar-se
de reduo a vrios nveis - industrial, agrcola, etc.
Reduzir a primeira forma de minimizar os impactes causados quer pelos quantitativos de resduos, quer pela sua
toxicidade. As indstrias podem fazer muito para minimizar
o impacte ambiental dos seus produtos atravs da utilizao
de novas tecnologias, do ecodesign do produto e pela opo
de materiais com menor toxicidade.
O consumidor tem um papel fundamental. Pode evitar consumos suprfluos e exprimir junto das entidades responsveis
a sua opinio quanto ao tipo de produtos que so postos
venda no mercado.
O consumidor um dos agentes mais importantes na
reduo da quantidade de RSU, ao tomar atitudes que
contribuam para a no produo de resduos, de que so
exemplo:
Optar por produtos reciclados, biodegradveis, recarregveis
e de tamanho familiar e evitar os produtos descartveis.
P

Os Problemas Ambientais e a Conscincia Ecolgica

1.7.1. Reduzir

49

Rtulo
Ecolgico
Comunitrio

Indica que o fabricante, embalador ou distribuidor


contribui financeiramente para o sistema de recolha
selectiva e de valorizao dos resduos de embalagens
institudo pela Sociedade Ponto Verde.

Reciclvel

Este smbolo tem dois significados:


indica que a embalagem reciclvel [mas no garante
que seja reciclada por ainda no existir entidade
que desenvolva o processo], ou que o produto
ou embalagem contm materiais reciclados.

Reciclado
Reciclado

Indica que o produto biodegradvel.


Cumpre a lei que impe que 90% dos agentes
tensioactivos sejam biodegradveis em 28 dias.

Este smbolo indica que o produto foi obtido atravs


de material recuperado. Diminui-se a quantidade
de resduos, poupam-se recursos naturais e energticos.

Reduzir

Os problemas ambientais e a conscincia ecolgica

50

Indica que o produto no tem CFC's


[Clorofluorcarbonetos], um gs propulsor acusado
de destruir a camada de ozono. Desde Janeiro de 1995
que este tipo de gs proibido nos aerossis.

A Reduo a melhor forma de diminuir os efeitos


negativos dos resduos no ambiente.
Evitar consumos desnecessrios e rejeitar o excesso
de embalagens so exemplos de reduo.

Reutilizvel

Biodegradvel
Biodegradvel No contm CFC's

o nico smbolo ecolgico oficial. Indica que


o produto tem um impacto reduzido no seu ciclo de vida,
atendendo a critrios como a poluio do ar, da gua,
a utilizao de matrias-primas, o consumo de energia,
os resduos de pesticidas, de metais pesados, etc.

Ponto Verde

Rtulos
A preocupao com o ambiente comea a ser um factor relevante na deciso de compra, cada vez mais, um acto
esclarecido por parte dos consumidores. Estes so cada vez
mais exigentes e procuram o mximo de informao sobre
os produtos antes de os adquirir.
Os smbolos e menes nos produtos no garantem, s por si,
que sejam mais verdes ou ecolgicos.

Este smbolo indica que o produto poder ser utilizado


de novo, com o mesmo ou com outros fins diferentes
daquele que o originou. Permite a diminuio da
quantidade dos resduos domsticos que a eliminar.
[Fonte: DECO/PrTeste, Revista Frum Ambiente e IPAMB]

Este smbolo indica que o produto nocivo por


inalao, em contacto com a pele e por ingesto.
Pode causar danos nos pulmes se ingerido. Possibilidade
de efeitos irreversveis muito graves. Riscos de efeitos
graves para a sade em caso de exposio prolongada.
Possveis riscos de comprometer a fertilidade e, durante
a gravidez, de efeitos indesejveis na descendncia.

Nocivo

Este smbolo indica que o produto irritante


para os olhos, para as vias respiratrias e para a pele.
Risco de leses oculares graves.

Irritante

Este smbolo indica que o produto muito txico para


os seres aquticos, para as plantas e animais, organismos presentes no solo e insectos. Pode causar efeitos
nocivos no ambiente. Pode destruir a camada de ozono.

Perigo para
Ambiente

Este smbolo indica que o produto pode explodir


em estado seco, em caso de choque, frico,
fogo ou perante outras fontes de ignio.

Perigo de
Exploso

Este smbolo indica que o produto txico por


inalao, em contacto com a pele e ingesto.
Pode causar efeitos irreversveis muito graves.
Riscos graves para a sade em caso de exposio
prolongada. Pode causar doenas cancergenas, por
contacto ou inalao. Pode ocasionar alteraes genticas
hereditrias e comprometer a fertilidade. Riscos durante
a gravidez com efeitos adversos na descendncia.

Txico

Este smbolo indica que o produto


muito txico por inalao, em contacto com a pele
e ingesto. Pode causar efeitos irreversveis muito
graves, mesmo por inalao.

Muito Txico

[*] De acordo com a Portaria n 732-A/96, de 11 de Dezembro e a Portaria n 1159/97, de

12 de Novembro. [Fonte: Miguel, Alberto Srgio S. R., Manual de Higiene e Segurana do


Trabalho, 5 Ed., Porto Editora]

Os problemas ambientais e a conscincia ecolgica

Extremamente inflamvel

Extramente
Inflamvel

T+

Este smbolo indica que o produto


facilmente inflamvel. Em contacto com o ar
espontaneamente inflamvel. Em contacto com a gua
liberta gases extremamente inflamveis.

Inflamvel

Este smbolo indica


que o produto pode provocar queimaduras.

Corrosivo

Xi

Comburente

Xn

Este smbolo indica que o produto favorece


a inflamao de matrias combustveis.
Pode provocar incndios. Pode explodir quando
misturado com matrias combustveis.

51

No quotidiano praticar gestos simples que esto ao alcance


de todos os cidados, de que so exemplo:
A utilizao do papel de ambos os lados da folha.
A utilizao na cozinha de panos em vez de toalhas
de papel.
Optar por produtos feitos de papel reciclado.
Utilizar sacos de pano ou rede para as compras em vez
de sacos de plstico ou de papel.
Escolher produtos embalados em vidro, dado que estas
embalagens so facilmente recicladas.
Preferir vasilhame com depsito em vez de tara perdida.
Utilizar sempre que possvel a electricidade em vez
de pilhas.
Usar pilhas recarregveis e com baixo teor de mercrio.
Colocar lmpadas compactas fluorescentes, porque duram
mais e gastam 25% da energia despendida por uma
lmpada incandescente.
Lavar a frio na mquina da roupa e da loua, porque
permite economizar 75% de energia na mquina da
roupa e at 90% na mquina da loia.
Comprar pneus mais duradouros e mant-los com a presso correcta, dado que permite poupar gasolina e impede
o seu desgaste prematuro.
Estes esforos conjugados permitem reduzir a utilizao
de recursos naturais na produo de bens de consumo.
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P

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Os Problemas Ambientais e a Conscincia Ecolgica

52

1.7.2. Reutilizar
Reutilizar uma noo que sempre esteve associada
prtica da humanidade at afirmao da sociedade
de consumo, uma vez que a predominncia diria dos povos
e populaes era a da gesto da escassez de recursos, fossem

eles econmicos ou naturais. Naturalmente as pessoas


reutilizavam o vesturio, o calado, passando-os de pais para
filhos e entre irmos; usavam at quase ao impossvel
o papel, o qual acabava muitas vezes a ensopar fritos;
vendiam ao ferro velho, o que j no tinha utilidade, etc.
Hoje vivemos na sociedade do comprar e deitar fora, sendo
este um valor de consumo apregoado pela publicidade e,
muitas vezes, visto como sinnimo de aquisio de status
social. O reutilizar adquiriu uma conotao negativa,
incentivando o usar e deitar fora, o que teve efeitos
directos na quantidade de resduos rejeitados/produzidos pelo
consumidor. assim que se imps um novo reconhecimento desta prtica ancestral atravs da sua integrao
na poltica dos 3 R's. Nesta ptica Reutilizar:
P

aquilo que pode ser usado vrias vezes [as garrafas


de vidro, por exemplo, ou as caixas de ovos] antes dos
materiais serem reciclados, queimados para reaver
energia, ou simplesmente deitados fora31.
Utilizar um produto mais de uma vez para o mesmo fim
para que foi concebido. Fala-se normalmente de reutilizao no caso das embalagens, que so projectadas para
perfazer um nmero mnimo de viagens ou rotaes
no seu ciclo de vida. o caso das garrafas de vidro com
tara32.

A reutilizao assume particular importncia nos processos de fabrico e, fazendo um balano ambiental desta
opo versus reciclagem, pode afirmar-se que, por exemplo
para o vidro, a poupana de energia33 lhe favorvel
em cerca de 30%.
Optar por produtos reutilizveis diminui, a curto prazo,
a quantidade de lixo domstico a eliminar. Deste modo,
um consumidor atento e responsvel avalia as vantagens
da utilizao de embalagens reutilizveis e opta pela sua
aquisio.
31

ELKINGTON, John; HAILES, Jlia. Guia do Jovem Consumidor Ecolgico.


Lisboa: Gradiva Jovem.
32
In: Guia do BCE 1995 e 1996 - CML-DHURS.
33
Os indicadores utilizados so: para a garrafa retornvel - transporte e
lavagem; para a garrafa reciclada - transporte do casco, tratamento
[limpeza e fragmentao], fuso, produo e transporte [cfr. MARTINHO, M.
da Graa.; GONALVES, M. da Graa P. Gesto de Resduos. Lisboa:
Universidade Aberta, 2000, p. 136].
53

Deixamos algumas sugestes e dicas sobre prticas de reutilizao associadas aos resduos:
Os frascos de vidro ou de plstico, podem ser reutilizados
para armazenar bebidas, ingredientes, parafusos, pregos,
como porta lpis ou como jarra para flores;
As caixas de carto podem ser reutilizadas para armazenar roupa, calado, loua, revistas e livros;
Os envelopes em bom estado podem ser reaproveitados,
colando etiquetas por cima do que estiver escrito;
A roupa pode ser oferecida a quem precisa ou transformada em panos e esfreges;
As latas podem ser utilizadas como vasos para plantas
ou recipientes para guardar objectos domsticos;
Alguns componentes de computadores obsoletos podem
ser reutilizados para fazer melhorias noutros computadores, tais como: placas grficas, placas de memria, discos
rgidos, fontes de alimentao, placas de som, processadores, cabos, dissipadores, torre do computador, etc.
P

Utilizao do lixo
[isto ,
vidro, metais,
plstico, papel,
restos de comida]
para que possa ser
transformado em
qualquer outra coisa
com utilidade
[por exemplo, garrafas,
latas, plstico, papel,
composto para
a agricultura]34.

1.7.3. Reciclar
A reciclagem um processo de transformao fsica, qumica
ou biolgica que permite valorizar um determinado resduo,
Evoluo da Composio dos Resduos Slidos Urbanos
produzidos em Portugal35
2000
2003
Os Problemas Ambientais e a Conscincia Ecolgica

54

Matria Orgnica
Papel/Carto
Plstico
Vidro
Txteis
Metal
Madeira
Finos
Outros
34

[%]

35.9
27.3
11.1
5.6
3.4
2.4
0.3
11.9
5.7

[%]

29.7
26.4
11.1
7.4
2.6
2.8
0.5
14.3
5.4

ELKINGTON, John; HAILES, Jlia. Guia do Jovem Consumidor Ecolgico. Lisboa:


Gradiva Jovem.
35
MAOT. Relatrio do Estado do Ambiente em Portugal 2000. Lisboa: MAOT,
2003. e MAOT. Relatrio do Estado do Ambiente em Portugal 2003. Lisboa:
MAOT 2005.

Vantagens da Reciclagem de Materiais


Matrias-Primas

Poupa o abate
de 15 a 20 rvores
Evita a extraco
Vidro*
de 400kg de areia
Reduz
Metal
a extraco de Bauxite

Papel*

Energia

Ar

gua

O consumo de energia A poluio


O consumo de
no processo de fabrico atmosfrica reduz gua no processo
reduz em...
em...
diminui em...

2 a 3 vezes

50 a 200 vezes

32%

50%

95%

95%

95%

[*] Por tonelada de material reciclado.

convertendo-o num novo bem de consumo.

A actual tecnologia e dinmicas da sociedade moderna


requerem processos mais sofisticados. J se no recicla
apenas o papel e o ferro. Hoje em dia comum afirmar-se que tudo reciclvel, sendo as fronteiras do no-reciclvel volteis e susceptveis de alterao decorrente
da descoberta de novas tecnologias amigas do ambiente
e que permitam tornar atractiva a reciclagem a determinado sector para o capital. Desta forma, o que neste
momento ainda colocado no contentor de deposio
indiferenciada de resduos, amanh poder vir a ser
objecto de uma recolha especfica de material.
Para o desenvolvimento do sector da reciclagem tambm
no indiferente, o balano negativo entre os processos
de reciclagem de resduos e o seu envio para valorizao.
Para que a reciclagem seja possvel necessrio que se
separem os resduos por tipos, os quais so posteriormente

Os Problemas Ambientais e a Conscincia Ecolgica

Estando na ordem do dia e contrariamente ao que se possa


pensar, a reciclagem enraza na histria onde foram actores
centrais [por exemplo] ferros-velhos, ferreiros, produtores
de papel. Estes artesos andaram de mos dadas, desempenhando um papel parecido ao das nossas modernas
estaes de triagem de resduos e indstrias de reciclagem.
O ferro-velho ia pelas ruas, pelas cidades, de porta-em-porta, comprava o que j no era til e depois, levava
o produto do seu trabalho at junto daqueles que
o transformavam e produziam novos produtos, fossem eles
o papel [a partir dos tecidos,...] ou novos objectos em ferro.

55

encaminhados para indstrias transformadoras que os vo


incorporar nos seus processos produtivos. Deste modo,
salvaguardam-se recursos naturais [uma vez que os resduos os substituem ou complementam], h uma maior
poupana de gua e de energia ao mesmo tempo que
menor a carga poluente dos efluentes dos processos
produtivos, quando comparados com os resultantes
da produo dos mesmos bens a partir, exclusivamente,
das matrias primas virgens.
Reciclar :
Recolher transformar um resduo de modo a que este
possa ser novamente utilizado, quer para o mesmo fim,
quer para um fim distinto do original36.
Na actual sociedade, as embalagens constituem uma parcela
importante associada ao consumo [em 2003 representavam
71,4% dos resduos produzidos em Portugal], constituindo
uma das principais fontes de reciclagem.

Os Problemas Ambientais e a Conscincia Ecolgica

56

semelhana da reduo e da reutilizao de resduos,


o consumidor tem um papel primordial na reciclagem dos
resduos. Da sua participao na recolha selectiva de resduos depende a quantidade de materiais enviados para
reciclagem, a que esto associadas vantagens ambientais
significativas. Estas vantagens so avaliadas atravs de variveis diversas as quais so determinadas pelo tipo de resduo e materiais a produzir, caractersticas e finalidade
do produto e matrias-primas envolvidas no seu fabrico37.
No processo avaliativo so, normalmente, ponderados
os seguintes aspectos na produo de bens obtidos atravs
da integrao de matrias-primas provenientes da reciclagem:
36
37

In: Guia do BCE 1995 e 1996 - CML-DHURS.


Para informao mais desenvolvida, ver o ponto 4.1.2. do presente captulo,
onde abordada a reciclagem de uma forma mais alargada.

a poupana na quantidade das matrias-primas consumidas


a economia na energia despendida
a diminuio da poluio atmosfrica
a reduo no consumo de gua associado produo
do bem.

Tornar perceptvel a relao entre a prtica individualizada


do cidado na deposio selectiva de resduos e a reduo
dos impactes ambientais traduz-se, normalmente, no uso
de unidades de medida que tornam esta associao mais
tangvel e perceptvel.
Para obter estas vantagens ambientais, a colaborao na
recolha selectiva central. Desta forma:
P

Os resduos devem ser separados e depositados por tipo


de material: papel, vidro, embalagens de metal, plstico
e carto para lquidos alimentares e pilhas e depositados
no equipamento adequado.
Todos os resduos encaminhados para reciclagem devem
apresentar-se limpos, vazios, espalmados e sem tampa.

1.8. A Preveno na Produo dos RSU`S


1.8.1. Aspectos Gerais
Os elevados nveis de consumo da sociedade moderna tm
contribudo para uma crescente produo de RSU'S, o que
implica a adopo de medidas urgentes conducentes
reduo da produo de resduos, pelo que necessrio
intervir ao nvel da preveno da produo de resduos,
quer em termos quantitativos quer em termos qualitativos.
Produtos/Materiais
Eliminao
e Reduo
na Fonte

Reutilizao

Resduos
Reciclagem

Valorizao
Energtica

Confinamento
Tcnico

Preveno de Resduos
Minimizao de Resduos

Eliminao

Estratgia de Preveno dos Resduos [Adaptado de Almeida, C., 2006]

57

Segundo Barros, N. [2006] a hierarquizao da gesto dos


resduos deveria ser seguinte: Preveno [Reduo], seguida
da Reutilizao, Reciclagem Multimaterial e Orgnica, Valorizao Energtica e finalmente Confinamento Tcnico.
A reduo quantitativa dos resduos pode ser conseguida
atravs da eliminao e reduo dos resduos na fonte e da
reutilizao de produtos.
A reduo qualitativa pode ser alcanada atravs do incentivo
reduo da perigosidade dos resduos.

1.8.2. Estratgias para a Preveno


1.8.2.1. Estratgias Nacionais e Regionais/Locais
Segundo Pinheiro, L [2006], a Estratgia Nacional para
a Preveno na Produo de Resduos tem como objectivo
final a diminuio dos quantitativos produzidos e a sua
perigosidade. Esta Estratgia ir consistir no seguinte:
P

Aplicao do princpio da responsabilidade do produtor;


Adopo de medidas regulamentares e normativas,
Acordos voluntrios com sectores econmicos;
Reforo da aplicao do princpio do poluidor-pagador:Pay
as you Throw e taxas;
Sensibilizao dos produtores e da populao em geral.

A aplicao do princpio da responsabilidade do produtor


depende da:
P

Os problemas ambientais e a conscincia ecolgica

58

Existncia de entidades gestoras, licenciadas para os diversos


fluxos de resduos [Embalagens e Resduos de Embalagens,
Resduos de Equipamentos Elctricos e Electrnicos e Pilhas
e Acumuladores];
Definio de objectivos de reutilizao; normalizar as embalagens e os resduos de Equipamentos Elctricos e Electrnicos;
Substituio de substncias perigosas por outras menos
poluentes na fase de concepo dos produtos;
Recorrer ao eco-design e utilizao de tecnologias mais
limpas nos processos produtivos.

A adopo de medidas regulamentares e normativas consiste


em estipular objectivos de preveno, tais como estabilizar
a capitao da produo de RSU's e separar na origem

os resduos perigosos presentes nos RSU's; Reforar metas


de reutilizao no canal Horeca; incentivar a compostagem
caseira; desmaterializar [ex: SIMPLEX], Implementar legislao e procedimentos de consumo sustentveis e Implementar medidas de gesto de RSU'S ao nvel da Administrao
Pblica central e local [Pinheiro, L., 2006].
Relativamente Aplicao do princpio do poluidor-pagador
Pay as you Throw, o Instituto dos Resduos prope um
sistema diferenciado de tarifao fixo e varivel, consoante
os destinos.
Para a sensibilizao dos produtores e da populao em
geral, o Instituto dos Resduos prope a realizao de uma
Campanha Nacional de Comunicao, elaborao de dossiers
temticos no mbito escolar e incentivos realizao
de projectos inovadores.
A Associao das Cidades para a Reciclagem [ACR+] lanou
recentemente um projecto ambicioso intitulado Produzir
menos 100 kg/habitante/ano. A LIPOR, como membro
desta Associao, est a implementar este projecto na rea
metropolitana do grande Porto, que ir ter uma durao
de dois anos [2006-2008].
Segundo Barros, N. [2006] a estratgia para implementar
a Preveno e a Reduo da Produo e da Perigosidade
dos RSU's tem de assentar:
no estabelecimento de parcerias entre todos os agentes
envolvidos na gesto de RSU's;
na promoo de tecnologias mais limpas;
na reutilizao de produtos;
no estabelecimento de limites para a utilizao de produtos que contenham substncias perigosas com o objectivo
de reduzir a perigosidade dos resduos;
no eco-design;
na utilizao de instrumentos econmicos;
na anlise do ciclo de vida do produto.
P

Com estas medidas, poder verificar-se a reduo dos custos


associados gesto e tratamento de Resduos. No entanto,
dever-se- investir no incentivo participao dos cidados
e da comunidade em geral, apelando adopo de boas
prticas tendo como objectivo o consumo sustentvel.

Os problemas ambientais e a conscincia ecolgica

59

Neste tipo de projecto as reas de impacto vo ser as


seguintes: preveno na produo de resduos orgnicos,
indiferenciados e reciclveis; reduo da perigosidade dos
resduos, desenvolvimento econmico sustentvel, reduo
de impactes na sade pblica, realizao de campanhas
concertadas e bem definidas para comunicao com
a comunidade-alvo do projecto [populao em geral,
escolas, associaes locais; comrcio e servios, indstria,
etc.] e sensibilizao e envolvimento de todos os parceiros.
A reduo da produo de RSU's em casa, pode ser alcanada de diversas formas:
P

Os problemas ambientais e a conscincia ecolgica

60

Privilegiando a compra de produtos com menos embalagens, produtos concentrados e embalagens familiares;
Adquirindo bebidas em embalagens de vidro com retorno;
Evitando a utilizao de sacos de plstico fornecidos pelos
estabelecimentos comerciais, reutilizando-os para acondicionamento dos RSU's;
Consumindo gua da torneira;
Fazendo compostagem caseira dos resduos biodegradveis da cozinha e do jardim;
Reparando e reutilizando objectos e roupa e finalmente
promovendo a desmaterializao.

Na implementao de um programa de Preveno da Produo de RSU's, a Catalunha definiu como prioritrias


as seguintes reas de interveno: taxas de tratamento
e deposio de RSU'S, aplicao de taxas relacionadas com
a produo de resduos, parcerias entre todos os agentes
envolvidos na gesto dos resduos, realizao de vrias
campanhas de incentivo aquisio de produtos reciclados
e a reviso dos programas sobre resduos [Chiva, P., 2006].
Para encorajar a preveno e a reciclagem, a Catalunha
imps as seguintes taxas: 10/ton pela deposio em
aterro, 5/ton pela incinerao, 3/ton deposio de resduos de construo e demolio em aterros especficos.
Definiu ainda como reas prioritrias: a compostagem
caseira; a preveno na produo de resduos em festivais
e eventos pblicos; a reduo de anncios gratuitos;
a promoo da reutilizao dos equipamentos e dos produtos; a reduo do consumo e do tamanho das emba-

lagens, o incentivo realizao dos mercados de artigos


em segunda mo e a realizao de campanhas de sensibilizao concertadas que alertem para a preveno na
produo dos resduos e para as boas prticas visando
o consumo sustentvel. [Chiva, P., 2006].
A Preveno na Produo dos Resduos no Sector Industrial
Nos diversos sectores industriais a preveno na produo
de resduos tambm deve ser assumida como uma prioridade, dado que a minimizao da produo de resduos
e da sua perigosidade, permite em simultneo poupanas
financeiras e salvaguarda dos recursos naturais. A estratgia para a preveno pode ser adoptada na altura
da concepo da embalagem e do produto, na definio
das matrias-primas a utilizar [recicladas ou menos
poluentes], no equipamento mecnico ou elctrico utilizado
no processo produtivo, etc.

Seguidamente apresentam-se algumas vantagens inerentes


utilizao dos diferentes materiais e exemplos de diversas
indstrias que definiram estratgias para a preveno, que
entretanto foram implementadas e que se vieram a traduzir
em evidentes benefcios para essas empresas do ponto
de vista da imagem do produto, econmico e ambiental,
uma vez que se verificou reduo dos custos da embalagem
e dos custos logsticos associados e ainda permitiu gerar
ganhos de eficincia
Recentemente muitas foram as empresas que introduziram
optimizaes na concepo das embalagens primrias,
sobretudo ao nvel da sua dimenso e peso. A concepo
das embalagens passou a ser vista pelos industriais como
um ponto estratgico de investimento.
As Embalagens
Por definio, uma boa embalagem aquela que consegue
proteger e conservar o produto, ao mesmo tempo que
informa o consumidor, diferencia a marca e permite, em

Os problemas ambientais e a conscincia ecolgica

Se os industriais optarem por intervir ao nvel da concepo


da embalagem existem vrias anlises que devem ser feitas
nomeadamente qual o melhor material para embalar
o produto em questo [plstico, vidro, metal, carto,
madeira, etc.].

61

fase ps-consumo, a sua reutilizao, valorizao [ex:


energtica] ou fcil reciclagem. [Media Monitor - Especial
Embalagem, Julho de 2005].
A embalagem pode ser dividida em 3 gneros:
P

Os problemas ambientais e a conscincia ecolgica

62

Embalagem primria: foi feita de modo a constituir uma


unidade de venda para o utilizador final ou consumidor
em qualquer estabelecimento comercial.
Embalagem secundria: constitui uma grupagem de determinado grupo de embalagens, quer sejam vendidas ao
consumidor final ou ao estabelecimento comercial
Embalagem terciria: facilita a movimentao e o transporte
de uma srie de unidades ou embalagens agrupadas,
evitando danos fsicos durante a movimentao e transporte.

Segundo a Media Monitor - Especial Embalagem [Julho de


2005], o princpio de que uma embalagem reutilizvel,
e portanto normalizada, sempre prefervel est errado,
uma vez que a normalizao limita a criatividade das
marcas. Em termos econmicos e ambientais, a reutilizao
pode, eventualmente, tambm no ser a melhor soluo.
A embalagem de tara perdida que colocamos habitualmente nos vidres pode ser valorizada atravs da reciclagem, compostagem ou valorizao energtica, o que no
acontece com a embalagem reutilizvel. Por outro lado, as
embalagens reutilizveis precisam de aumentar os seus
nveis de resis-tncia, o que implica a utilizao de mais
matria-prima, podendo tornar-se mais dispendiosa do que
a de tara perdida, uma vez que acarreta custos adicionais
no processo produtivo. Por outro lado, uma embalagem
reutilizvel utiliza pouco transporte ao nvel local ou
regional. No entanto, se se efectuar o transporte de uma
regio para outra ou at mesmo para outro pas, os custos
de transporte aumentam bem como a poluio associada,
a que se dever ainda adicionar os custos de lavagem, nos
que compreende consumo de gua, energia e detergentes,
o que pode no compensar os benefcios da reutilizao.
1. Embalagens de Plstico
O plstico um material que se apresenta com diversas
vantagens na concepo de uma embalagem:

um material assptico.
um isolante trmico durvel e fivel.
um material leve, com elevada maleabilidade e impermeabilidade.
pode ser reciclado ou valorizado com recuperao de energia.
permite a vrias combinao com diferentes plsticos e materiais.

Na fase de concepo das embalagens de plstico, deve


pensar-se em utilizar polmeros compatveis em termos de
reciclagem [PET com o PP e no com o PVC] e sempre
que possvel um s tipo de material na embalagem. Por
outro lado, devem-se utilizar rtulos compatveis, em termos
de reciclagem, com o corpo da embalagem e utilizar colas
solveis em gua. As cores das embalagens devem igualmente estar normalizadas. A marcao internacional SPI
deve, tambm, ser utilizada por todos os embaladores, uma
vez que facilita o encaminhamento para reciclagem ou
valorizao energtica.

Uma empresa do sector dos detergentes, passou a comercializar o produto concentrado, garantindo o mesmo nmero
de lavagens. Com esta alterao, deixou de necessitar de
uma garrafa de 2 litros de capacidade, passando a utilizar
uma embalagem de apenas 500 ml, o que conduziu a uma
poupana no custo da embalagem de cerca de 75%. Esta
alterao no volume da embalagem, permitiu aumentar
de 320 para 1152 o nmero de embalagens acondicionadas em cada palete, o que se traduziu na diminuio
de custos logsticos e na melhoria da imagem do produto.
Noutro caso, a substituio de 4 insufladoras antigas por
uma insufladora moderna, originou uma poupana energtica de 15% e uma reduo de cerca de 3 gramas no
peso da embalagem, gerando assim um acrscimo de 20%
na produo.

Os problemas ambientais e a conscincia ecolgica

A ttulo de curiosidade refere-se que as garrafas de gua,


sumos, detergentes e produtos de higiene so habitualmente
feitas em PET. As garrafas de amaciador, champ,
detergente, lcool e iogurte lquido so de PEAD. Os sacos
e filme de paletes so de PEBD e os copos de iogurte
slido, esferovite e tabuleiros so feitos de PS.

63

Noutra situao ainda, a melhoria das tcnicas de enchimento e a eliminao de espaos vazios existentes numa
saqueta compsita do caf, permitiram uma reduo no peso
da embalagem primria, que se veio a traduzir na poupana
do material da embalagem primria e secundria.
No sector das bebidas, a simples eliminao do tabuleiro
de carto, reduziu em cerca de 70% o peso da embalagem secundria, o que representou uma poupana anual
de 306 toneladas.
Noutros casos, a alterao do design e a reduo do
dimetro do garrafo, obrigou adopo de uma cpsula
e pega mais pequenas e utilizao de um rtulo de
menores dimenses, o que permitiu reduzir o peso da embalagem primria em 10,33 gramas, que representou uma
poupana nos recursos naturais e nos custos de transporte.
Noutra situao ainda, a reduo da embalagem primria
e a substituio da cpsula metlica por outra de polietileno,
originou a reduo do peso da embalagem e consequentemente o consumo de combustvel no transporte, aumentando as possibilidades de reciclagem uma vez que houve
diminuio da variedade de materiais utilizados.
2. Embalagens de Vidro
O vidro apenas pode ser utilizado nas embalagens primrias
e apresenta as seguintes vantagens, :
P

Os problemas ambientais e a conscincia ecolgica

64

inerte e permite preservar as caractersticas do produto


embalado, nomeadamente o sabor;
higinica e transparente, permitindo visualizar o produto
embalado.
hermtica.
resistente.
o vidro de cor tem capacidade de proteco solar, garantindo a qualidade do produto.
infinitamente reciclvel, dado que a qualidade do vidro
produzido a partir do vidro usado no se altera.
o preo da embalagem competitivo, quando comparado
com outros materiais.

contribui positivamente para a economia Portuguesa,


porque o vidro de embalagem fabricado em Portugal.
mais apelativo nas prateleiras dos super e Hipermercados porque permite visualizar o produto [as salsichas, os produtos hortcolas e as conservas de peixe],
podendo a embalagem ser posteriormente reciclada.

A ttulo de curiosidade refere-se que no total de vendas


de 2004, o sector do vinho consumiu 50% das embalagens
de vidro produzidas em Portugal, o sector das cervejas
consumiu 26%, o dos refrigerantes, as guas e os sumos
14%, o dos vinagres, leos e azeite 3%, as conservas 2%
e os molhos 1%.
No conjunto dos pases da UE, a Frana o pas que
apresenta o maior consumo do vidro de embalagem
[57%], seguido da Sua [43% e da Alemanha [41%],
Reino Unido e Espanha [37%], Portugal [36%], Itlia
[34%], Holanda [32%], Blgica [31%], ustria [29%],
Polnia [22%] e Repblica Checa [15%].

3. Embalagens de Metal
As embalagens metlicas so comummente utilizadas nos
seguintes sectores:
P

Bebidas [sumos, refrigerantes e cervejas]


Conservas [atum]
Produtos alimentares [leite em p, polpa de tomate,
confeitaria e azeite]
Aerossis [desodorizantes e purificadores de ar]
Indstria [colas, tintas e vernizes]
Bides

Os problemas ambientais e a conscincia ecolgica

Numa situao particular, a simples melhoria no processo


de fabrico da garrafa e a alterao do formato da
embalagem, permitiram reduzir o seu peso em 30 gramas.
Com esta alterao conseguiu-se diminuir o consumo das
matrias-primas, optimizar a utilizao das paletes e
consequentemente reduzir os custos de transporte e
distribuio e ainda introduzir melhorias ao nvel da
imagem do produto. As alteraes introduzidas na
concepo da embalagem traduziram-se portanto em
evidentes benefcios ambientais e econmicos.

65

Barris e bilhas de gs
Tabuleiros de alumnio para comida preparada.

A embalagem metlica constituda por ao ou alumnio.


As de alumnio so mais caras, pelo que a embalagem
de ao est a ser objecto de estudo no sentido de se obter
uma embalagem com menor peso e espessura.
O alumnio [liga rica em magnsio e mangans] geralmente utilizado para a produo de latas de refrigerantes
e cervejas, mas tambm pode ser utilizado nos tabuleiro
de comida preparada, nos pacotes das margarinas ou nos
pacotes de carto complexo para lquidos alimentares
[tetra brik].
As latas de alumnio pesam no mximo 14 gramas, ou seja
cerca de metade do peso das latas de ao, o que em mercados de exportao, tem importantes repercusses do ponto
de vista econmico. Para alm disso, so tambm menos
espessas e ainda resistentes e 100% reciclveis.
O ao utilizado fundamentalmente nas latas das conservas
de tomate, azeite e fruta enlatada, caricas, tampas de frascos
de doce, embalagens de aerossis, tintas, vernizes, etc.

Os problemas ambientais e a conscincia ecolgica

66

A lata 100% reciclvel, sem perder qualidade e econmica devido rapidez do seu fabrico, j que as modernas linhas de produo alcanam velocidades de produo
superiores a 1000 embalagens por minuto, com um
reduzido consumo energtico. A eficincia destas linhas
de produo da ordem dos 95%, com desperdcios
inferiores a 2,5%.
Refere-se ainda que o canal Horeca do programa Verdoreca,
permite a utilizao de embalagens metlicas no reutilizveis.
A adopo de novas tecnologias tem contribudo para a diminuio da espessura das latas de 33cl, e consequentemente
no peso da embalagem. Com esta alterao, conseguiu-se
reduzir o consumo de combustvel no transporte deste tipo
de embalagens.
4. Embalagens de Papel

A utilizao das embalagens de papel tem vantagens econmicas e ambientais relativamente a outras embalagens:
P

O papel e o carto so reciclveis, recuperveis e biodegradveis;


So leves, resistentes, higinicas e econmicas;
O fabrico do papel novo com a introduo de novas
tecnologias e a utilizao de fibras recicladas provenientes do papel reciclado tem um impacte ambiental
menor, uma vez que os consumos de gua e energia so
menores. Por outro lado, salvaguarda os recursos naturais,
que so as rvores, e diminui o volume de resduos incinerados ou depositados em aterro;
O papel e o carto que no podem ser reciclados, so
valorizados gerando produo de energia atravs da incinerao.

Considera-se embalagem de papel/carto, aquela que constituda - em pelo menos 75% do seu peso - de papel/carto
e cuja funo proteger os produtos que acondiciona e/ou
agrupa com o fim de serem transportados, bem como todos
os produtos cuja funo a apresentao para venda.
Existem 4 tipos de embalagens: as de carto canelado,
carto compacto, carto para lquidos alimentares e embalagens de papel.

A reciclagem do papel para alm de ser uma medida


vantajosa do ponto de vista econmico, contribui para a reduo da quantidade dos RSU'S incinerada ou depositada
em aterro e permite diminuir a velocidade de abate de
rvores. No entanto, as fibras recuperadas do papel usado
no podem ser recicladas mais do que 4 a 6 vezes, o que
implica a obrigatoriedade de utilizao de matrias-primas
virgens para a produo de papel novo.
O papel classificado em 57 categorias diferentes, agrupadas em 5 grupos: Qualidade Corrente, Qualidades Mdias,
Qualidades Elevadas; Qualidade Kraft, Qualidades Especiais.

Os problemas ambientais e a conscincia ecolgica

Actualmente grande parte do papel produzido a partir


de florestas geridas no mbito de uma poltica de Gesto
Florestal, que visa o desenvolvimento sustentado e a preservao do ambiente.

67

Algumas empresas do sector alimentar promoveram alteraes conceptuais nas embalagens primrias, conducentes
reduo das suas dimenses e consequentemente do seu
peso, permitindo armazenar mais unidades por palete. Esta
pequena alterao teve repercusses na reduo dos custos
de transporte e distribuio. Por outro lado, promoveu
a reduo das embalagens secundria e terciria.
5. Embalagens de Madeira
As embalagens de madeira so constitudas por um material
limpo e higinico, so resistentes e reciclveis. So leves
e fceis de manipular e melhora a imagem do produto
colocado directamente [frutas e legumes]. Possibilita ainda
impresso directa.
As embalagens de madeira podem ser classificadas em vrios
tipos: caixas, paletes, contentores-palete, bobines e barris
de madeira.
86% das embalagens de madeira tm destino desconhecido. Dos resduos que tem destino conhecido, 80% so
reciclados, 8% so incinerados ou depositados em aterro.
Em 2002, 11% dos resduos de paletes foram reciclados,
1% valorizados com recuperao de energia, 2% foram
depositados e 85% destes resduos tiveram outros destinos.
10% dos resduos das outras embalagens de madeira
foram recicladas, 1% foi depositado em aterro e 89%
tiveram outros destinos.
Os problemas ambientais e a conscincia ecolgica

68

2.Resduos S lidos: T ipos,


Composio e P ropriedades

A legislao portuguesa face caracterizao dos


resduos slidos, Dec-Lei 239/97, de 9 de Setembro,
separa claramente os resduos slidos considerados especiais e alvo de legislao especfica. Destes resduos pouco
h a acrescentar, no mbito deste manual, dado tratar-se
de resduos muito especficos e que por tal transcendem
os objectivos destas pginas. Nesse domnio encontram-se:
a] Os resduos radioactivos.
b] Os resduos resultantes da prospeco, extraco e armazenagem de recursos minerais, bem como da explorao
de pedreiras.
c] Os cadveres de animais e os resduos agrcolas que
sejam matrias fecais ou outras substncias naturais
no perigosas aproveitadas nas exploraes agrcolas.
d] As guas residuais, com excepo dos resduos em estado lquido.
e] Os explosivos abatidos carga ou em fim de vida.
f] Os efluentes gasosos emitidos para a atmosfera.
O diploma atrs referido estabelece as regras a que fica
sujeita a gesto dos resduos, abaixo discriminados, nomeadamente quanto sua recolha, transporte, armazenagem,
tratamento, valorizao e eliminao, de forma a no constiturem perigo ou causar prejuzo para a sade humana
ou para o ambiente.
a] Resduos - quaisquer substncias ou objectos de que
o detentor se desfaz ou tem inteno ou obrigao de
se desfazer, nomeadamente os previstos em portaria
dos Ministros da Economia, da Sade, da Agricultura,
do Desenvolvimento Rural e das Pescas e do Ambiente,
em conformidade com o Catlogo Europeu de Resduos38, aprovado por deciso da Comisso Europeia.
38

Catlogo Europeu dos Resduos - recentemente substitudo pela Lista


Europeia de Resduos [LER]. Os diferentes tipos de resduos includos na
lista so totalmente definidos pelo Cdigo LER [um cdigo de seis dgitos
e que visa uma linguagem e tratamento comum dos resduos no espao
europeu]. Inclui, tambm, a lista dos resduos perigosos e quais as caractersticas de perigo que lhes so atribuveis.

Resduos Slidos: Tipos, Composio e Propriedades

2.1. Classificao por Tipos

69

b] Resduos perigosos - os resduos que apresentem caractersticas de perigosidade para a sade ou para
o ambiente, nomeadamente os definidos em portaria
dos Ministros da Economia, da Sade, da Agricultura,
do Desenvolvimento Rural e das Pescas e do Ambiente,
em conformidade com a Lista de Resduos Perigosos,
aprovada por deciso do Conselho da Unio Europeia.
c] Resduos industriais - os resduos gerados em actividades
industriais, bem como os que resultem das actividades
de produo e distribuio de electricidade, gs e gua.
d] Resduos urbanos - os resduos domsticos ou outros
resduos semelhantes, em razo da sua natureza ou
composio, nomeadamente os provenientes do sector
de servios ou de estabelecimentos comerciais ou industriais e de unidades prestadoras de cuidados de sade,
desde que, em qualquer dos casos, a produo diria
no exceda 1100 litros por produtor.
e] Resduos hospitalares - os resduos produzidos em unidades de prestao de cuidados de sade, incluindo
as actividades mdicas de diagnstico, preveno e tratamento da doena, em seres humanos ou animais,
e ainda as actividades de investigao relacionadas.
f] Outros tipos de resduos - os resduos no considerados
como industriais, urbanos ou hospitalares.
Situemo-nos, pois, nos resduos classificados por este normativo e, mais em particular, nos resduos slidos urbanos.
Resduos Slidos: Tipos, Composio e Propriedades

70

Partindo da definio geral de Resduos e de Resduos


Urbanos, resultam os Resduos Slidos Urbanos [RSU].
sobre estes resduos que se exercem as competncias
das autarquias quanto s operaes de remoo, transporte,
valorizao, tratamento e eliminao.
Em Lisboa entraram em vigor, em Novembro de 2004,
as alteraes ao Regulamento de Resduos Slidos da Cidade.
Este documento operacionaliza ao nvel das competncias da
autarquia as operaes que constituem o sistema integrado
de gesto dos resduos, bem como define claramente o que
se entende por Resduos Slidos Urbanos [RSU]:
P

Resduos slidos domsticos - provenientes das normais


actividades das habitaes.

P

Monstros - objectos volumosos fora de uso, tais como


colches, mobilirio, tapetes e outros produzidos nas habitaes, que, pelo seu volume, forma ou dimenso, no
possam ser recolhidos pelos meios habituais.

Resduos verdes urbanos - troncos, aparas e ervas, desde


que a produo no exceda os 1100 litros por semana.

P

Resduos provenientes da limpeza pblica e os produzidos


na via pblica.

P

P

Resduos comerciais, industriais e hospitalares equiparveis


a domsticos, que no sejam considerados contaminados,
e cuja produo no exceda os 1100 litros por dia.

Este tipo de classificao dos resduos, por tipos, atende


essencialmente sua provenincia ou fonte [resduos
hospitalares, resduos urbanos, industriais], embora estes
possam ser classificados de acordo com os materiais
constituintes.
Se atendermos composio fsica dos resduos teremos
uma classificao do tipo papel/carto, plstico, vidro,
txteis, metais, etc. Este tipo de classificao revela-se
particularmente til quando se pensa no destino final dos
resduos que, assim classificados, integraro uma mesma
fileira39 de reciclagem, tratamento ou eliminao.

Por outro lado a noo de fluxo introduz um outro tipo


de classificao que se prende com as utilizaes dadas aos
produtos que agora so resduos. Temos, assim, de acordo
com o Plano Estratgico para a Gesto dos Resduos
Slidos Urbanos [PERSU], os seguintes fluxos: embalagens,
resduos de jardim, pilhas e acumuladores, leos usados,
resduos de construes ou demolies [entulhos], resduos
de equipamentos elctricos e electrnicos [REEE], lamas
de estaes de tratamento de guas residuais e pequenas
quantidades de resduos perigosos.
Em Lisboa separam-se os resduos com vista sua poste39

Fileira - corresponde aos materiais componentes dos resduos.31

Resduos Slidos: Tipos, Composio e Propriedades

Os resduos podem, tambm, ser classificados de acordo


com a sua composio qumica [orgnicos, inorgnicos]
ou face s suas propriedades relativamente aos sistemas
de tratamento [compostveis, combustveis, reciclveis].
A sua perigosidade pode ser expressa em classificaes
do tipo: corrosivos, txicos, inflamveis etc.

71

rior valorizao ou tratamento adequado para eliminao,


do seguinte modo:
Resduos indiferenciados
Papel/carto [de embalagem ou outros formatos, tipo jornais e revistas]
Embalagens [plstico, metal e tetra brik]
Pilhas [alcalinas, nquel-cdmio, ltio e outras]
Vidro de embalagem
Resduos orgnicos
Entulhos [resduos provenientes de construes ou demolies]
Monstros [sofs, colches, mveis velhos etc.]
Resduos de equipamentos elctricos e electrnicos [REEE]
Linha Branca frigorfica e outra linha branca [fornos,
foges, esquentadores, etc.]
Resduos de Jardim
Pneus
Baterias
leos usados
Lmpadas
Embalagens de madeira [paletes e caixas de fruta]
Esta classificao mistura algumas das anteriormente
referidas, seja a de fluxo e fileira, seja ainda a de material
constituinte ou de provenincia. Porm, dados os destinos
finais dos resduos de Lisboa, a que melhor se adequa
para que, claramente, se possa entender que tipo de material temos em presena.
P

P

P

P

P

P

P

P

P

P

P

P

P

P

P

P

Resduos Slidos: Tipos, Composio e Propriedades

72

2.2. Dados Evolutivos: Quantitativos e Caractersticas


Como foi referido na introduo a este tema Ambiente
e Resduos Slidos, as quantidades e caractersticas dos
resduos modificaram-se substancialmente durante o sculo
passado, fruto do desenvolvimento tecnolgico e das crescentes necessidades de consumo do Homem.
Assim, passmos rapidamente de uma capitao40 diria
de cerca de 300 gramas, na dcada de 50, para cerca
40

Capitao - no caso dos resduos refere-se quantidade produzida por


habitante e por dia ou por habitante e por ano.

de 750 gramas na de 80, atingindo-se na dealbar do sculo XX uma capitao diria de 1,5 Kg, em Lisboa.
Paralelamente, os resduos orgnicos, fraco desde sempre
maioritria no lixo [uma vez que representa o excedente
do consumo primrio dos indivduos] deu lugar a outro
tipo de resduos que assumiram lugar de destaque, em
peso relativo, mas especialmente em volume: os plsticos
e o papel.
Evoluo da Composio dos Resduos Slidos Urbanos
produzidos em Lisboa [1940-2000]

Fonte: Cmara Municipal de Lisboa e Valorsul

Assistiu-se, pois, a alteraes muito significativas das suas


caractersticas fsicas o que implicou, do ponto de vista
da recolha e destino final dos resduos, ajustamentos
efectivos para a salvaguarda da sade e do ambiente bem
como para a eficincia de todo o tecnossistema de gesto.
Mas, para alm das caractersticas fsicas, outros parmetros so considerados quando se trata de conhecer que
resduos temos em presena. Assim vulgarmente determina-se:
P

P

o peso especfico, que se expressa em kg/m3, e que traduz


o peso de uma massa de resduos relativamente unidade
de volume.
a humidade, ou seja a percentagem de gua contida

Resduos Slidos: Tipos, Composio e Propriedades

O grfico tenta mostrar, do ponto de vista evolutivo, as diferenas verificadas na composio fsica dos resduos
em Lisboa, num intervalo de 60 anos.

73

na massa de resduos. Este parmetro tem especial influncia nos processos de tratamento.
P

P

o poder calorfico ou seja a quantidade de calor libertada


por combusto.
a anlise elementar que envolve o conhecimento das percentagens relativas de carbono, azoto, oxignio, hidrognio,
enxofre e cinzas. O conhecimento destes parmetros assume importncia particular nos processos de incinerao
e compostagem.

Conhecer claramente as quantidades e caractersticas dos resduos que se produzem fundamental para que o processo
de gesto possa revelar-se eficaz, em termos da proteco
ambiental e da sade pblica, e o mais eficiente possvel.

3.Sistema de Recolha e Transporte


dos Resduos Slidos Urbanos
3.1. Sistemas Gerais
So vrios os tipos de recolha de resduos que podem
fazer uso de diferentes equipamentos de deposio. Contudo
prioriza-se actualmente a recolha hermtica41,
de forma a reduzir os riscos para a sade e para o ambiente.

Sistema de Recolha e Transportes dos Resduos Sliods Urbanos

74

Este tipo de recolha utiliza contentores de diferentes capacidades e materiais. Podem ser contentores plsticos [geralmente em polietileno de alta densidade] com capacidades
que variam entre os 50 e os 1100 litros, ou de metal que
so contentores de deposio colectiva de 1000 e 1100
litros de capacidade.
A deposio por sacos um procedimento que pode ser
adoptado quer para os resduos indiferenciados quer para
as fraces reciclveis.
Existem outros equipamentos de deposio que determinaro o tipo de recolha a efectuar e que so sobretudo
41

A recolha hermtica faz uso de contentores hermticos que tm tampa


para evitar espalhamentos de resduos e proliferao de vectores. As
viaturas de recolha tm adufas que evitam igualmente o espalhamento
de resduos e proliferao de maus-cheiros ou vectores, dado que encostam, no momento do despejo, completamente boca do contentor.

equipamentos de deposio colectiva [ecopontos, vidres


e contentores de grandes capacidades].
No caso dos contentores de grandes capacidades a recolha
efectuada quer por substituio do equipamento de deposio [ou seja, a viatura que efectua a recolha deixa no local
um contentor vazio e transporta o que est cheio] quer
por esvaziamento, o que requer a utilizao de viaturas com
sistema de elevao, semelhana das utilizadas para
ecopontos e vidres.
vulgar classificar-se a recolha conforme a sua periodicidade, o tipo de resduos a que se destina e o tipo de contentorizao adoptado.
Podemos, pois, ter uma recolha individual, diria para resduos indiferenciados, associada recolha individual selectiva
no diria ou recolha selectiva colectiva. Ou seja so
vrias as conjugaes que um sistema de gesto de resduos permite e que normalmente so efectuadas para
responder produo de resduos de um aglomerado
urbano, s suas caractersticas sociais, urbansticas e topogrficas, bem como para optimizar os recursos humanos
e materiais desse mesmo sistema.

O sistema de recolha e transporte de resduos na cidade


de Lisboa processa-se de forma diferenciada que visa a
adaptao dos meios humanos e materiais s condies
topogrficas e tipologia da ocupao urbana da cidade.
Embora as actividades inerentes gesto do Sistema
de Resduos Slidos seja uma competncia municipal,
a remoo uma operao partilhada entre a autarquia
e os respectivos produtores de resduos, uma vez que inclui
a sua deposio [indiferenciada e selectiva], a recolha e o
transporte para tratamento/destino final adequado.
Tradicionalmente, e na maior parte da cidade de Lisboa,
o sistema de recolha de resduos assenta na recolha indiferenciada e selectiva. Contudo, desde 2003, que novas
formas de recolha se tm vindo a desenvolver, visando
uma adequao cada vez mais concreta do sistema
s exigncias da populao, por um lado, e s realidades
urbansticas por outro.

Sistema de Recolha e Transportes dos Resduos Sliods Urbanos

3.2. O Caso de Lisboa

75

Evoluo da Recolha Selectiva em Lisboa

Fonte: www.ine.pt [Julho 2007].

3.2.1. Recolha Indiferenciada


A recolha indiferenciada divide-se em dois grandes grupos:
a realizada em reas com deposio individual e com deposio colectiva.
P

Sistema de Recolha e Transportes dos Resduos Sliods Urbanos

76

Deposio individual - os contentores so


atribudos aos muncipes, sendo estes os
responsveis pelo bom acondicionamento
dos RSU, pela colocao e retirada dos equipamentos de deposio da via pblica e
pela limpeza, conservao e manuteno
dos sistemas de deposio. Os contentores habitualmente
utilizados so em polietileno verde e tm uma capacidade
entre os 90 l e os 340 litros.
Em algumas reas, nomeadamente em alguns bairros
e ncleos histricos da Cidade, devido s caractersticas
das habitaes e dos arruamentos, so entregues sacos
de plstico para a deposio indiferenciada dos resduos.

Em entidades com grande produo de resduos so utilizados contentores de 1000 ou 1100 litros de capacidade,
em polietileno verde ou metlicos.
P

Deposio colectiva - os contentores esto colocados na via pblica


e servem ao mesmo tempo um nmero indeterminado de indivduos.
A atribuio destes equipamentos
no feita a nenhum dos utentes.
Os contentores habitualmente utilizados so de 1000
ou 1100 litros de capacidade, em polietileno verde ou
metlicos.

3.2.2. Recolha Selectiva


A recolha selectiva de resduos tem como objectivo a reciclagem das fraces valorizveis dos resduos.
Em Lisboa recolhem-se selectivamente o papel e o carto,
o vidro, as embalagens [plstico,
metal e carto complexo], os resduos orgnicos provenientes de
grandes produtores e as pilhas.
Actualmente esto implementados dois subsistemas de recolha selectiva: O subsistema de deposio colectiva ou
de transporte voluntrio e o subsistema de recolha selectiva
porta-a-porta.
No subsistema de deposio colectiva incluem-se:
Os Ecopontos - so constitudos por uma bateria de contentores do tipo Cyclea,
de cor azul safira, identificados com chapas metlicas
de cores diferenciadas, de acordo com o tipo de resduos
a que se destinam. Existem dois tipos de ecopontos, os
de superfcie que tm 2,5m3 de capacidade e os subterrneos que tm 3m3 de capa-cidade. O vidro depositado
no contentor que tem chapa verde, o papel/carto no
contentor que tem chapa azul, as embalagens de plstico,
metal e carto complexo [vulgarmente conhecidas como
embalagens para lquidos alimentares] no contentor que
tem chapa amarela e as pilhas no recipiente vermelho,
com 50 litros de capacidade.
Os Vidres - so equipamentos que podem estar includos na bateria de ecopontos ou existir isoladamente na via
pblica, podendo ser do tipo Cyclea de
cor azul safira e chapa verde, com
2,5m3 de capacidade ou do tipo igloo
de cor verde, com 1,5m3 de capacidade.
Existem ainda vidres do tipo igloo com pilhes acoplados e vidres do tipo Cyclea junto aos quais foi
instalada uma estrutura metlica com um pilho.
P

Os circuitos de recolha dos ecopontos e vidres so

Sistema de Recolha e Transportes dos Resduos Sliods Urbanos

P

77

efectuados por viaturas de caixa aberta equipadas com


grua, com uma capacidade de 10/11m3 ou por viaturas
Ampliroll equipadas com caixas de 18m3 e obedecem
a periodicidades de recolha que variam com a taxa de
ocupao dos respectivos equipamentos [taxa de enchimento] e os circuitos de recolha a que esto adstritos.
As Eco-ilhas ou Ilhas Ecolgicas - so baterias de contentores de 1000/1100 litros
que se destinam deposio
selectiva de papel e embalagens de plstico, metal e carto para lquidos alimentares. Estas baterias so utilizadas em zonas onde a deposio dos resduos indiferenciados colectiva.
P

P

Sistema de Recolha e Transportes dos Resduos Sliods Urbanos

78

Os Centros de Recepo de Papel - so reas vigiadas,


destinadas recepo de papel ou carto, onde os
muncipes podem utilizar os equipamentos disponveis para
a sua deposio. Os centros de recepo de papel esto
inseridos nos circuitos de recolha de papel porta-a-porta.
A Central de Triagem e Ecocentro da Valorsul, situado na
Estrada Militar [ao Lumiar]. Nessa instalao, para alm
dos resduos que so recolhidos selectivamente pelo municpio, podem ser entregues, por muncipes ou entidades:
leos usados, REEE [resduos de equipamentos elctricos
e electrnicos], linha branca [frigorfica e outra], baterias,
madeiras e paletes, entulhos e resduos verdes de jardins,
de acordo com o seu regulamento interno.

O subsistema de recolha selectiva porta-a-porta est organizado da seguinte forma:


Recolha de Papel Porta-a-Porta em Entidades - Esta recolha porta-a-porta realizada em entidades com grandes produes
de papel. A deposio de papel efectuada
em contentores de polietileno azul ou verde
de tampa azul, com capacidades que variam entre os 240 e os 1100 litros. Os circuitos de recolha de papel porta-a-porta so efectuados por viaturas
com compresso [iguais s da recolha indiferenciada], com
uma capacidade de 13/15m3.
P

P

Recolha de Papel Porta-a-Porta em Zonas


Residenciais - As habitaes e as actividades econmicas localizadas em reas
abrangidas pelo sistema de recolha
porta-a-porta de papel/carto podem
utilizar diversos equipamentos de deposio. Nos bairros histricos, a deposio
de papel /carto efectuada em sacos
azuis translcidos, com 30 litros de capacidade, mas no caso das actividades
econmicas sem espao para armazenar
contentores, podem ser utilizados sacos
de 50 litros de capacidade, que so distribudos gratuitamente pelo Municpio. Em zonas especficas utilizam-se
fitas azuis distribudas gratuitamente para fechar os sacos
colocados remoo. Noutras, ainda, utilizam-se contentores de corpo verde escuro com tampas azuis, cujas capacidades variam entre os 90 e os 340 litros de capacidade.

P

Recolha de Papel/Carto em Zonas Comerciais - Recolha


realizada junto de entidades grandes produtoras, localizadas em zonas com elevada densidade de comrcio.
A remoo efectuada em fardos que se recolhem no interior dos estabelecimentos comerciais [no caso da Baixa-Chiado] ou colocam na via pblica em horrios e dias
bem definidos [no caso das Av. Novas e Bairro Alto].
Os circuitos de recolha de papel/carto em zonas
comerciais so efectuados por viaturas com compresso
de 13/15m3 e por viaturas Calabrese de 9m3 de capacidade no caso dos arruamentos mais estreitos, como os
da Baixa-Chiado.

P

Recolha de Embalagens Porta-a-Porta em Zonas Residenciais - As habitaes e as actividades econmicas


localizadas em reas abrangidas pelo sistema de recolha
porta-a-porta de embalagens, podem utilizar diversos
tipos de equipamentos de deposio. Nalguns bairros histricos, a deposio das embalagens de plstico, metal
e carto para lquidos alimentares efectuada em sacos
de plstico amarelos e translcidos, com 30 litros
de capacidade, mas no caso das actividades econmicas,

Sistema de Recolha e Transportes dos Resduos Sliods Urbanos

As actividades econmicas localizadas em zonas residenciais dispem ainda da possibilidade de entregar o carto
produzido devidamente acondicionado em fardos.

79

sem espao para armazenar contentores, podem ser utilizados sacos com 50 litros de capacidade, que so distribudos gratuitamente pela autarquia. Em zonas especficas
utilizam-se fitas amarelas para fechar os sacos colocados
remoo. Noutras zonas da cidade, este tipo de deposio efectuado em contentores de cor verde com tampa
amarela, cuja capacidade pode variar entre os 90 e os
340 litros.
Recolha de Embalagens Porta-a-Porta em Entidades A deposio de embalagens de plstico, metal e carto
para lquidos alimentares efectuada em contentores de
cor verde com tampa amarela, cuja capacidade pode variar
entre os 90 e os 1100 litros de capacidade. No entanto,
no caso dos estabelecimentos de restaurao e hotelaria
localizados na Baixa Pombalina, Chiado e Zona Ribeirinha
a deposio das embalagens efectuada em sacos de
plstico que so adquiridos pelos prprios estabelecimentos
de restaurao e similares e so recolhidos no interior
dos mesmos.

P

Recolha de Vidro Porta-a-Porta - Este tipo


de recolha tem vindo a ser realizada em
locais com elevada densidade de estabelecimentos de restaurao e similares,
tais como a Baixa Pombalina, Chiado,
Zona Ribeirinha e Bairro Alto. A deposio do vidro efectuada em contentores de cor verde escuro e tampa verde claro, de 90,
140 e 240 litros de capacidade. No caso do Bairro Alto,
utilizam-se contentores de 50 e 90 litros de capacidade.
P

Sistema de Recolha e Transportes dos Resduos Sliods Urbanos

80

Os circuitos de recolha de vidro so efectuados por


viaturas de recolha hermtica de 7 m3 de capacidade.
P

Recolha de Resduos Orgnicos Porta-a-Porta - Este tipo


de recolha iniciou-se em
2005, por forma a promover
a reciclagem anaerbia da
fraco orgnica dos resduos
produzidos pelos estabelecimentos de restaurao, hotelaria e comrcio alimentar. A deposio da matria
orgnica efectuada em contentores de cor verde com
tampa castanha, com capacidades compreendidas entre

os 90 e os 1000 litros. A recolha destes resduos


efectuada conjuntamente pela Cmara Municipal de Lisboa
e pela Valorsul.
3.2.3. Condicionantes da Actividade Municipal
Em Lisboa so vrias as restries que se colocam ao bom
funcionamento do sistema de resduos slidos. Para alm
de incumprimentos muitas vezes verificados por parte
dos muncipes no correcto acondicionamento dos resduos
que produzem e na participao na deposio selectiva
para reciclagem, tambm outras restries de carcter
tcnico e de funcionamento se colocam actividade
municipal, como por exemplo:

P

P

P

P

P

P

P

P

P

P

Caractersticas dos arruamentos da cidade - velocidade


mdia das vias, sentidos de trnsito, proibio [ou impossibilidade] de circulao de determinado tipo de viaturas,
proibio de virar esquerda ou direita, proibio
de inverso de marcha.
Caractersticas scio-urbansticas - rea comercial ou residencial a que correspondem resduos com diferentes
composies, que se reflecte no peso e volume.
Caractersticas do edificado - moradias, prdios de baixa
densidade de ocupao, prdios com elevada densidade
de ocupao; edifcios em banda com vrias entradas, etc.
Estrutura topogrfica e morfolgica da cidade.
Frota de viaturas - capacidades diferenciadas de cada
viatura.
Localizao dos contentores - nos contentores de 90
a 340 litros e nos sacos a localizao efectuada por
quarteiro, nos restantes a localizao exacta.
Localizao das garagens e dos postos de limpeza.
Localizao do destino dos resduos.
Horrio de remoo nos pontos de recolha e horrio
de trabalho dos Condutores de Veculos Pesados e dos Cantoneiros de Limpeza.
Em cada ponto de recolha: quantidade e tipo de resduos,
quantidade e tipo de contentores.
Periodicidade de recolha em cada ponto de recolha.

Sistema de Recolha e Transportes dos Resduos Sliods Urbanos

P

81

3.2.4. Recolha de Informao


Aps a realizao dos circuitos de recolha so inseridos
em suporte informtico os seguintes dados:
P

P

P

P

Data, quantidades recolhidas, com local de descarga e respectivo horrio.


N da viatura, quilmetros percorridos.
Horrio de partida e chegada da garagem e do posto
de limpeza e o tempo gasto no trabalho.
Na recolha selectiva indicada a taxa de enchimento de
cada equipamento [vidro ou ecoponto] e as anomalias
remoo que foram verificadas [equipamento danificado, inacessibilidade ao equipamento, entidade encerrada, existncia de contaminantes, se existe lixo no cho,
etc.].

Aquando da anlise desta informao ou quando se registam


restries optimizao dos circuitos, se se verificar a necessidade de interveno no sistema, h uma actuali-zao, com
a respectiva correco nos circuitos de remoo recorrendo-se, para tal, a um software de optimizao.

3.3. Novas Linhas de Orientao

Sistema de Recolha e Transportes dos Resduos Sliods Urbanos

82

Com datas definidas para que Portugal atinja as metas


exigidas pela Unio Europeia para a separao de resduos,
conforme visto anteriormente [25% em peso do total de resduos de embalagem em 2005 e 60% em 2011], a Cmara
Municipal de Lisboa tem vindo a desenvolver estratgias
no sentido de aumentar os quantitativos recolhidos selectivamente.
Assim, tem-se vindo a alterar o tradicional sistema para
a recolha selectiva porta-a-porta, a fim de tornar mais
cmoda e prxima a deposio e, por essa via, incentivar
a participao dos muncipes42.
Acresce que a deposio e recolha dos resduos reciclveis
nos ecopontos aportam algumas dificuldades prticas, quer
42

Em 2005 o sistema porta-a-porta est a funcionar na Baixa Pombalina


[em entidades comerciais], urbanizao da Alta de Lisboa, Freguesia de
Santa Maria dos Olivais, Bairros de Caselas, Alvalade [vivendas], Sta. Cruz
de Benfica, Restelo, Bairro Alto e parte das Freguesias de S. Domingos de
Benfica e Carnide.

para os servios municipais quer para os utentes, fazendo


diminuir as quantidades passveis de serem recolhidas:
Estacionamento anrquico - que compromete a recolha.
Colocao de resduos fora do contentor - o que compromete o acesso de mais participantes na deposio e constitui verdadeiros focos de insalubridade.
Dificuldade na colocao deste tipo de equipamento em
vrios locais da cidade [topografia acidentada, ruas
estreitas, cabos elctricos, etc.].
Para alm das recolhas selectivas efectuadas em Lisboa,
os muncipes ou entidades podem utilizar o Ecocentro
da Valorsul, de acordo com o regulamento daquela instituio.
Mas, por mais ajustados que estejam os tecnossistemas
de resduos, s a participao activa dos muncipes na deposio selectiva far Portugal atingir as metas de reciclagem
a que est vinculado.
P

P

4.Tratamento e Valorizao de Resduos:


Reciclagem, Incinerao e Valorizao
Energtica, Aterro Sanitrio
At 1996, altura em que foi aprovado o Plano
Estratgico para a Gesto Integrada dos Resduos
Slidos Urbanos [PERSU], Portugal sofria de um grande
atraso face aos restantes pases da Unio Europeia, no que
respeita aos Sistemas de Resduos Slidos Urbanos.
As lixeiras eram, at ento, o mtodo de deposio e destino
final mais comum no pas e contavam-se mais de 300 que
provocavam graves problemas ambientais e que punham
em causa a sade pblica.
O PERSU veio estabelecer para o nosso Pas a mesma hierarquia da Unio Europeia para a gesto dos resduos, mas
enfatiza a preveno e a necessidade urgente de limpar
o Pas. Assim, para alm destas duas prioridades, estabelece
todas as outras emanadas das polticas orientadoras
da Unio Europeia, por ordem decrescente:
Reduo
Reutilizao
Reciclagem [material e orgnica]
P

P

P

Tratamento e Valorizao de Resduos: Reciclagem, Incinerao e Valorizao Energtica, Aterro Sanitrio

P

83

Incinerao com valorizao energtica


Aterro sanitrio
Incinerao sem valorizao energtica.
O PERSU refere ainda que fundamental a educao
das populaes quer para a sua participao na reduo,
reutilizao de resduos e na deposio selectiva para
reciclagem, quer na correcta informao sobre os sistemas
de gesto e explorao dos resduos e respectiva monitorizao. Outro aspecto importante foi o reconhecimento
da necessidade da criao e aplicao de taxas municipais
de gesto dos resduos, de forma a cobrir custos de explorao dos sistemas e tambm como instrumento estratgico para a reduo na produo de resduos por parte
dos cidados.
O PERSU prope, igualmente, metas e objectivos para o ano
2000 e para o ano 2005. Se at 2000 foi prioritrio o encerramento total das lixeiras do Pas, para 2005 refere que
a incinerao com recuperao de energia se estenda
a 22% do total de resduos, que seja pelo menos construda
e entre em funcionamento uma estao de tratamento anaerbico para a valorizao das fraces orgnicas, que
diminua a deposio directa em aterro sanitrio [devendo
esta ser aplicada a apenas 13% da produo global dos
resduos] e que metade dos resduos produzidos seja conduzida a reciclagem [25% de reciclagem orgnica; 25%
de reciclagem de materiais].
P

P

P

Tratamento e Valorizao de Resduos: Reciclagem, Incinerao e Valorizao Energtica, Aterro Sanitrio

84

Em Lisboa, nessa data [1996], embora se fizesse a recuperao de vidro e de algum papel e carto para reciclagem,
a maior parte dos resduos era depositada no aterro
sanitrio do Vale do Forno. Porm, o destino final dos
resduos da capital tem sofrido alteraes decorrentes quer
das suas caractersticas fsicas, quer de condicionalismos
diversos. Assim, desde a dcada de oitenta e at ao encerramento da Estao de Tratamento de Resduos Slidos
de Beirolas [ETRS], por motivo da realizao da EXPO98
cuja localizao coincidiu com a da ETRS, Lisboa dispunha
de um tratamento por compostagem para as fraces
orgnicas dos resduos. Nessa mesma estao de tratamento eram ento recuperados os metais ferrosos presentes
nos resduos, atravs de um sistema de separao electromagntico, sendo os metais posteriormente conduzidos
a reciclagem.

Mas o verdadeiro impulso


para a recuperao selectiva de materiais e para
um tratamento e destino
final adequado dos lixos
de Lisboa comeou tambm
em 1996, ano de encerramento da ETRS, mas de incio da colocao de ecopontos
na via pblica e da integrao de Lisboa na Valorsul
- Valorizao e Tratamento de Resduos Slidos da rea
Metropolitana de Lisboa Norte, S.A., empresa responsvel
pelo tratamento e destino final dos resduos recolhidos nos
municpios de Lisboa, Loures, Amadora, Odivelas e Vila
Franca de Xira.

Central
de Tratamento
de Resduos Slidos
Urbanos [Valorsul].

Um sistema de gesto de Resduos Slidos Urbanos [RSU]


compreende vrias operaes que vo desde a recolha,
transporte e armazenamento, at ao tratamento e destino final.
So vrios os mtodos de tratamento e de destino final
dos Resduos Slidos Urbanos, que se complementam. Contudo, qualquer que seja o tratamento ou conjunto de mtodos
adoptado h sempre um destino ltimo para as fraces
de refugo - o aterro sanitrio.
O tratamento dos resduos composto por processos manuais, mecnicos, fsicos, qumicos ou biolgicos que alterem
as suas caractersticas, de forma a reduzir o seu volume
ou perigosidade, bem como facilitar a sua movimentao,
valorizao ou eliminao.
Temos, assim, como formas de tratamento, eliminao e operaes associadas:
P

P

Armazenagem - a deposio temporria e controlada, por


prazo no indeterminado, de resduos antes do seu tratamento, valorizao ou eliminao.
Reutilizao - a reintroduo, em utilizao anloga e sem
alteraes de substncias, objectos ou produtos nos circuitos
de produo ou de consumo, de forma a evitar a produo
de resduos.

Tratamento e Valorizao de Resduos: Reciclagem, Incinerao e Valorizao Energtica, Aterro Sanitrio

4.1. Tratamento de Resduos

85

P

Valorizao - as operaes que visam o reaproveitamento


dos resduos e que engloba:
Reciclagem - reprocessamento dos resduos num processo
de produo, para o fim original ou para outros fins,
considerando-se includos neste tipo de operao, nomeadamente, os seguintes processos:
Compostagem - processo de reciclagem onde se d a degradao biolgica, aerbia ou anaerbia, de resduos orgnicos, de modo a proceder sua estabilizao, produzindo
uma substncia hmica, utilizvel em algumas circunstncias como um condicionador do solo.
[

Regenerao - processo de reciclagem por tratamento que


visa obter, de um produto usado, um produto no mesmo
estado e com propriedades iguais s originais, tornando-o apropriado sua utilizao inicial.
[

Tratamento e Valorizao de Resduos: Reciclagem, Incinerao e Valorizao Energtica, Aterro Sanitrio

86

Valorizao energtica - a utilizao dos resduos combustveis para a produo de energia atravs da incinerao
directa com recuperao de calor.
Estaes de triagem - instalaes onde os resduos so
separados, mediante processos manuais ou mecnicos,
em materiais constituintes destinados a valorizao ou
a outras operaes de gesto.
Instalaes de incinerao - qualquer equipamento tcnico
afecto ao tratamento de resduos por via trmica, com
ou sem recuperao do calor produzido por combusto,
incluindo o local de implantao e o conjunto da instalao, nomeadamente o incinerador, seus sistemas de alimentao por resduos, por combustveis ou pelo ar, os aparelhos e dispositivos de controlo das operaes de incinerao, de registo e de vigilncia contnua das condies
de incinerao.
Aterros - instalaes de eliminao utilizadas para a deposio controlada de resduos, acima ou abaixo da superfcie
do solo.

Passemos agora descrio dos mtodos e estruturas


integrantes dos tecnossistemas de tratamento e destino final
dos resduos, que asseguram o seu correcto tratamento
e destino final e de acordo com a hierarquia estabelecida

Destino final de RSU em Portugal Continental - 1999 a 2004


Ano
1999
2000
2001
2002
2003
2004

Aterro [t] Outros [t][a] Incinerao Compostagem


]t]
[t]
61.813
72.828
88.853
55.730
24.458
18.185

3.650
2.213
2.425
0
0
0

0
0
35
29.205
110.106
117.414

32.291
31.450
27.798
29.611
0
3.173
[a]
[b]

Rec. Selectiva [b]


+ Ecocentros [t]

Total [t]

10.739
22.339
25.279
30.466
14.215
15.389

108.493
128.830
144.390
145.012
148.779
154.160

Inclui lixeiras e vazadouros controlados.


Inclui recolha nos ecopontos e porta-a-porta.

pelo PERSU43. Lembremos, ainda que as metas para a reciclagem e incinerao com valorizao energtica emanadas
da UE estreitam-se para 201144.
4.1.1. Reciclagem
A reciclagem uma das prioridades da poltica de gesto
dos resduos a nvel europeu e, como vimos, tambm
a nvel nacional. A reciclagem um mtodo de valorizao
que aproveita os materiais contidos nos resduos, introduzindo-os de novo no ciclo produtivo. De uma forma
geral a reciclagem de materiais, bem como a reciclagem
orgnica, origina uma grande poupana de matrias-primas
virgens, poupana de energia, reduo das emisses atmosfricas e de efluentes lquidos e diminui os quantitativos
de resduos a depositar em aterro sanitrio.
Para que a reciclagem, quer a material quer a orgnica
seja possvel necessrio que os materiais estejam separados por tipos. Assim, relativamente reciclagem material,
no momento da deposio os muncipes separam os materiais por tipos mas, mesmo aps essa operao, necessrio proceder a uma separao mais fina e retirada
43

No ponto 6 deste captulo encontram-se definidos os conceitos de reduo


e reutilizao de materiais.
44
O anexo A2 onde se encontra sistematizada a legislao de enquadramento.

Tratamento e Valorizao de Resduos: Reciclagem, Incinerao e Valorizao Energtica, Aterro Sanitrio

FONTE: INR, SGIR

87

de materiais contaminantes45. Para tal existem as estaes


de triagem.
4.1.1.1. Estaes de Triagem

Centro de Triagem
e Ecocentro [Valorsul].

Tratamento e Valorizao de Resduos: Reciclagem, Incinerao e Valorizao Energtica, Aterro Sanitrio

88

Estas instalaes podem possuir equipamentos simples


[com recurso a processos
exclusivos de separao manual] ou equipamentos mais
complexos com sistemas de
alta tecnologia, que complementam os primeiros ou
os substituem.
Em ambos os casos uma estao de triagem tem uma zona
de descarga dos resduos, normalmente provenientes de sistemas de recolha selectiva [quer esta tenha sido efectuada
atravs de ecopontos, contentores colectivos, sacos ou contentores individuais]. Como a recolha j feita de forma
selectiva, o vidro, o papel/carto e as embalagens, chegam
estao de triagem e so descarregados em diferentes
locais, sendo de seguida escolhidos separadamente. Esta
separao visa a retirada de contaminantes e o isolamento
por materiais constituintes, sobretudo nas embalagens.
Separam-se assim os metais ferrosos dos no ferrosos,
os cartes complexos e os diferentes plsticos por tipos.
Os resduos so conduzidos atravs de tapetes rolantes e so
separados quer recorrendo-se a sistemas automticos, que
combinam diversos equipamentos mecnicos e que separam
os resduos pelas suas propriedades fsicas, ou por operadores que se encontram dispostos ao longo dos tapetes
e que manualmente vo separando os materiais.
vulgar que os plsticos sejam separados manualmente
dado que as caractersticas fsicas dos diferentes plsticos
so muito idnticas46, e que sejam separados os metais
ferrosos dos alumnios atravs do recurso a separadores
electromagnticos ou de contra corrente.
45

Objectos ou substncias comprometedores no posterior processo de


transformao ou reciclagem.
46
Embora o PVC [policloreto de vinilo] possa ser separado do PET [politerftalato de etileno] pelo uso de sensores de raio X e o PP [polipropileno] possa de igual forma ser separado do PEAD [polietileno de alta
densidade].

Para alm da zona de descarga e da zona de processamento em que se separam os resduos, uma estao
de triagem dispe tambm de uma zona de enfardamento
e armazenagem de materiais recuperados para reciclagem
e de um local de armazenamento dos materiais rejeitados
para posterior conduo a destino final adequado.
Em Lisboa os resduos provenientes das recolhas selectivas
so conduzidos estao de Triagem da Valorsul onde so
separados por tipos e aos quais so retirados os contaminantes. Refere-se que a contaminao muito frequente
- ou seja na deposio quando os muncipes no respeitam
ou desconhecem as regras de separao e por tal misturam
Processo de Fabrico

Garrafas fabricadas com matrias-primas


virgens.
Extraco e laborao de matrias-primas
Fuso, fabrico e transporte das embalagens
Total
Garrafas recicladas
Transporte do vidro recolhido selectivamente
Tratamento [triagem, limpeza e fragmentao
Fuso, fabrico e transporte das embalagens
Total
[a]

Consumo de Energia Consumo de Matrias-Primas


[TEP/t][a]
0.083
0.218
0.301
0.002
0.004
0.215
0.221

1,24 t: 70% de slica,


18% de carbonato de sdio,
10% de carbonato de clcio
e 2% de xidos e sais
Uma tonelada
de casco velho
por cada tonelada
de vidro novo

TEP/t toneladas equivalentes de petrleo gastas por cada tonelada de vidro produzido
[Adaptado de Martinho, 2000]

indevidamente materiais nos contentores que se destinam


apenas a um tipo de resduo.
4.1.2. Reciclagem Material
Cada material reciclvel tem um ciclo especfico, associado
ao consumo, o qual o momento em que se transforma
num resduo, aps a sua utilizao, at sua deposio
selectiva e transporte para a estao de triagem, e ao seu
encaminhamento s indstrias recicladoras, que faro dele
um novo produto. Desta vez um produto reciclado.
89

De seguida abordam-se os ciclos dos principais materiais


conduzidos a reciclagem.
4.1.2.1. Vidro
O vidro um material muito homogneo que composto
por slica [material vitrificante], carbonato de clcio [estabilizante e que confere resistncia], carbonato de sdio
[favorece a fuso], xidos e sais metlicos [que so corantes
e estabilizantes]. Para o fabrico de vidro estes produtos
so misturados e fundidos a temperaturas que podem
atingir os 1500C.

Tratamento e Valorizao de Resduos: Reciclagem, Incinerao e Valorizao Energtica, Aterro Sanitrio

90

O processo de reciclagem de vidro consiste na fuso do casco


velho do vidro de embalagem, limpo de contaminantes.
Desta forma esto a introduzir-se no forno os mesmos
constituintes que formaram o vidro inicial. As gotas fundidas
so insufladas de ar, dando forma a novas embalagens.
A percentagem de casco velho introduzido no processo
de reciclagem depende do tipo de embalagem que se
pretende produzir, mas pode atingir os 100%. Ou seja,
o vidro reciclado pode no necessitar de incorporar
matrias-primas provenientes de recursos naturais.
O processo de fabricao de vidro a partir de casco velho
oferece vantagens ambientais e para as indstrias transformadoras, porque funde a temperaturas mais baixas que
os materiais originais. Desta forma poupa-se energia
e aumenta-se a vida til dos fornos de fuso.
Na tabela seguinte podemos observar as vantagens do processo de reciclagem de vidro, comparativamente produo
de vidro a partir de matrias-primas virgens.
Para alm da poupana energtica de cerca de 3,8 Gj/t
e da totalidade das matrias-primas, no processo de reciclagem de vidro quer as emisses atmosfricas quer
os efluentes lquidos so mais reduzidos e, portanto, menos
prejudiciais para o ambiente.
4.1.2.2. Papel/carto
O papel e o carto tm como componente fundamental
a celulose, cujas fibras provm do algodo [que possui
cerca de 90% de celulose], da madeira [com 60% de

celulose] ou das palhas de cereais [que chegam a possuir


cerca de 50% de celulose].
Para o fabrico de papel usam-se diferentes seleces
de matrias-primas, que dependem do tipo de papel que
se visa obter. Para alm da celulose, na produo do papel
e do carto, so usados outros produtos, como por exemplo,
resinas e colas, para conferir maior resistncia, sais, materiais
inertes e corantes.

No caso do papel, a reciclagem no pode ser integral porque,


quer durante o uso do papel, quer durante o processo
de reciclagem acontece a ruptura das fibras de celulose,
o que implica a incorporao de matrias-primas virgens.
A quantidade destas matrias depende do tipo e qualidade
de papel que se pretende produzir: se para se obter
carto canelado basta incorporar apenas 1% de fibras
virgens, j para produzir papel de escrita [tipo folhas A4
e papis de revistas], so necessrias mais de 80%; ou seja
s so utilizados at 20% de papis velhos para o seu
fabrico.
Porm, fabricar papel reciclado muito mais simples e econmico. apenas necessrio desmembrar o papel em gua
e retirar-lhe as impurezas [agrafos, plsticos, colas, etc.],
recuperando-se de seguida as fibras que contm. Estas so
posteriormente destintadas, incorporadas, ou no, com
as fibras virgens necessrias ao tipo de papel que se
pretende produzir. A pasta depois estendida em mesas de
formao da folha, seca e posteriormente cortada medida.
Os papis velhos so classificados por lotes consoante o tipo
de papel a que podem dar origem. Assim, o papel branco
[impresso e no impresso] utilizado para a produo
de papis de escrita e impresso; o papel colorido e o impresso so usados para o fabrico de jornais e papis para
folhetos; os papis misturados e os cartes so utilizados
para fabricar outros cartes de embalagem.

Tratamento e Valorizao de Resduos: Reciclagem, Incinerao e Valorizao Energtica, Aterro Sanitrio

O processo de produo de papel a partir das fibras


celulsicas bastante poluente, dado que necessria a utilizao de branqueadores, maioritariamente base de cloro.
O branqueamento pode, igualmente, ser conseguido atravs
de um processo que tem por base o ozono ou o oxignio
e do qual resultam efluentes menos poluentes.

91

Extraco de areias

Ciclo do Vidro

Deposio no
Lixo de indiferenciados.

Utilizao de garrafas
e frascos de vidro

Deposio no vidro.
Demonstrao do que no se deve depositar, nomeadamente vidros de janela,
espelhos, lmpadas, porcelanas
e produtos de cristal

Garrafas com retorno,


para reutilizao

Remoo e transporte do vidro

Indstria de reciclagem do vidro.

rvores
a serem cortadas
para produo
de pasta de papel

Apresentao
de alguns problemas
oriundos da produo
da pasta de papel

Os problemas ambientais e a conscincia ecolgica

92

Ciclo do Papel

Demonstrao de processos
para produo
da pasta de papel.

Engarrafamento
das garrafas
e utilizadas de novo.

Apresentao do aproveitamento
do verso das folhas de escrita
para rascunho com prvia seleco
em casa ou no escritrio.

Demonstrao do tipo de papel


que no deve ser depositado.
Por exp.: Papel de embrulho; Papel
com gorduras; Papel betuminoso

Deposio
do papel
no Ecoponto para
reciclagem

Recolha e transporte
do papel para
unidade de triagem.

Enfardamento do papel para reciclagem


Processo de Reciclagem.
A partir do papel usado
possvel fazer papel com elevada qualidade,
papel de jornal, cadernos, carto,
carto canelado e isolante na construo civil,
entre outros.

Apresentao das vantagens da reciclagem.


Permite o abate de menos rvores.
Necessidade de menos gua.
Consome 2 a 3 vezes menos energia
Diminuio da poluio atmosfrica
e da de aquferos.

Vrias aces e/ou objectos com


a utilizao do plstico.

Transporte para a unidade de


triagem e envio para as indstrias de reciclagem.

Realizao de alguns objectos


O Plstico separado pelas
atravs das embalagens que j diferentes caractersticas e submeno se pretende usar.
tido aos vrios processos de
reciclagem.

Ciclo Embalagens de Plstico

Deposio
no lixo indiferenciado

Deposio no ecoponto
com visualizao
da prvia seleco em casa.

Apresentao de caixotes para o restos dos alimentos


e de resduos reciclveis.
Preparao dos alimentos e envio dos restos
para o caixote dos resduos de matria orgnica

Imagem da compostagem
no prprio jardim.

Deposio nos contentores de indiferenciados


com a imagem
tambm de diferenciados ou reciclveis

Transporte dos resduos para uma estao


de triagem para posterior compostagem.

Transporte at incineradora
para obter energia.

Estao de compostagem

Transporte at incineradora
para obter energia.

Lanamento
do composto nos solos.

Objecto que demonstre


o uso de energia

Ciclo Orgnico

Apresentao da aquisio
de vrios alimentos

Os problemas ambientais e a conscincia ecolgica

Os novos produtos j reciclados voltam


para as lojas para serem utilizados.

93

Vantagens Ambientais da Reciclagem do Papel47


Papel de
1 Qualidade
rea de floresta [ha]
5,3
15
rvores
2 400
Madeira [kg]
gua [litros]
200 000
Energia [KW/h]
7 500
Poluio da gua
Elevada
Poluio do ar
Elevada
1,5 a 2 m3
Produo de RSU
em aterro

Tratamento e Valorizao de Resduos: Reciclagem, Incinerao e Valorizao Energtica, Aterro Sanitrio

94

Papel de
2 Qualidade
3,8
10
1 700
100 000
5 000
Mdia
Mdia
1,5 a 2 m3
em aterro

Papel Reciclado
0
0
0
1 000
2 500
Baixa ou nula
Nula
Baixa ou nula

As vantagens da reciclagem de papel so bastante evidentes


quer do ponto de vista econmico quer ambiental. Se por
um lado o processo de fabrico de papel reciclado gasta
menos gua, isto traduz-se imediatamente num benefcio
econmico para os fabricantes e tambm num benefcio
ambiental. Por outro lado, os efluentes resultantes do processo de reciclagem so menos poluentes, o que implica
menos custos associados ao seu tratamento por parte das
indstrias e menos impactes negativos no ambiente.
Tambm a poupana de matrias-primas [normalmente
a madeira proveniente de rvores de crescimento rpido
e que substituem a floresta tradicional com a consequente
diminuio da biodiversidade e esgotamento dos solos] no
pode ser desprezada.
4.1.2.3. Plstico
O plstico fabricado a partir do petrleo. Estima-se que
para fabricar um quilo de plstico sejam necessrios dois
quilos de petrleo.
A maior parte dos plsticos no biodegradvel e por tal
a sua eliminao dispendiosa e danosa para o ambiente.
47

Centro de Informao de Resduos da Quercus. Formao de Professores


na rea dos Resduos Slidos Urbanos. Quercus.
Fonte: http://www.quercus.pt [Setembro05].

Classificao
PET
Politerftalato
de Etileno

Principais Usos
Embalagens para
lquidos gaseificados,
garrafas gua,
detergentes, sumos
e produtos higiene

HDPE [PEAD]
Polietileno
de Alta Densidade

Garrafas
e frascos,
brinquedos

PVC
Cloreto
de Polivinilo

Embalagens
de detergente,
gua e leo, tubos
e perfis de estores

LDPE [PEBD]
Polietileno de
Baixa Densidade
PP
Polipropileno

PS
Poliestireno

Sacos plsticos
e filme plstico
Embalagens
de bolachas, batatas
fritas, cadeiras,
tabuleiros,
caixas de CD
Copos de iogurte,
embalagens de ovos,
esferovite, e tabuleiros

Mas a reciclagem dos plsticos tambm no um processo


simples, como os que vimos atrs, relativamente ao vidro
e ao papel.
Diariamente somos confrontados com imensos objectos
de plstico e nem nos apercebemos que so plsticos
de diferentes tipos, provenientes de diferentes polmeros48,
com caractersticas distintas, e que para serem reciclados
tm de ser devidamente separados.
Na tabela seguinte referem-se os plsticos mais correntes,
os termoplsticos, e que podem ser fundidos e remoldados.
48

Polmeros - corpos formados pela reunio de muitas molculas numa s.

Tratamento e Valorizao de Resduos: Reciclagem, Incinerao e Valorizao Energtica, Aterro Sanitrio

Smbolo

95

Tratamento e Valorizao de Resduos: Reciclagem, Incinerao e Valorizao Energtica, Aterro Sanitrio

96

Estes plsticos so tambm os que tm menor grau


de polimerizao. Para alm destes existem tambm os plsticos termoendurescveis, que pelas suas caractersticas [alto
grau de polimerizao] so resistentes ao calor e presso
no podendo, por isso, ser reciclados.
A reciclagem dos plsticos assenta em tecnologias fsico-mecnicas ou qumicas. Da mistura de diferentes plsticos
podem obter-se produtos com alta resistncia e que
podem competir com a madeira em bancos de jardim
e outro mobilirio urbano, com os metais, em tubagens
e outras aplicaes, ou mesmo com o cimento para
a construo de pavimentos. Quando se requer a obteno
de produtos com caractersticas anlogas aos produtos
de origem, a seleco dos plsticos tem que ser muito
cuidadosa para se garantirem os mesmos polmeros.
A reciclagem qumica promove, ento, a quebra das estruturas polimricas at se chegar s molculas de origem que
podem, assim, ser recicladas. Este processo pode ter por
base a hidrogenao49, gaseificao50 ou pirlise51.
Comparativamente, e pese embora os benefcios ambientais
da reciclagem dos plsticos, nomeadamente no que respeita
poupana de recursos naturais, o custo da reciclagem
destes materiais maior que o do processo de fabrico
com matrias virgens [petrleo bruto].
A reciclagem dos plsticos traduz-se numa diminuio dos
impactes ambientais a nvel de52:
Tabela de Reduo dos Impactes Ambientais no Fabrico
de Produtos atravs da Reciclagem do Metal53
Metais
Metais ferrosos
no ferrosos [%]
[%]
Consumo de energia
- 75
- 95
Poluio do ar
- 85
- 95
Consumo de gua
- 40
- 95
Poluio da gua
- 75
Reduo de resduos
- 97
49

Hidrogenao - quebra das correntes polmeras com hidrognio e calor.


Gaseificao - aquecimento dos plsticos com ar ou oxignio.
51
Pirlise - quebra das molculas a quente mas em vcuo.
52
Idem.
53
Ibidem, p. 34-35.
50

Poupana de matrias-primas no renovveis, como


o petrleo.
Reduo do consumo de energia na fabricao de materiais plsticos.
Transformao de produtos de vida curta [embalagens],
em produtos de vida longa.
Reduo dos encargos com a remoo e tratamento de RSU.
Em Portugal j possvel a reciclagem de diversos plsticos
e existem vrias empresas que incorporam nos seus processos de fabrico os plsticos provenientes dos resduos
slidos urbanos aps a sua triagem.
P

P

P

4.1.2.4. Metal
Os metais que fazem parte do nosso dia-a-dia de consumidores dividem-se em dois tipos distintos: uns so
metais ferrosos, maioritariamente o ao, [ou seja provm
do ferro] os outros, os no ferrosos, so essencialmente
os de alumnio [que tm por base a bauxite].
A reciclagem do metal tem alguma tradio no nosso pas
e um processo simples de fuso para a produo de novos
bens metlicos.
A recuperao dos metais enviados para reciclagem quase
total, devido ao seu elevado valor econmico. efectuada
a recuperao do cobre, do lato e do alumnio. O cobre
utilizado na metalurgia, o lato para a produo de, por
exemplo, contadores de gua e o alumnio fundido sendo
novamente utilizado com excelente qualidade.
Para alm de outras, tal como temperaturas de fuso inferiores para a reciclagem, a grande vantagem de reciclar
o metal est na poupana dos recursos naturais que esto
na base da produo de latas de bebidas, comidas, sprays e
outras latas, e que so recursos esgotveis.
A reciclagem de uma tonelada de alumnio permite a economia de cerca de 5670 litros de combustvel, considerada
suficiente para o abastecimento de um automvel durante
trs anos. [The Resource Conservation Challenge, 2003]
Acresce que a construo de minas para extraco de ferro
e de bauxite, provoca a devastao de grandes reas de
floresta, especialmente de floresta tropical, no caso da
extraco da bauxite.

Tratamento e Valorizao de Resduos: Reciclagem, Incinerao e Valorizao Energtica, Aterro Sanitrio

P

97

Para produzir uma tonelada de alumnio so necessrios


17600KW/h de energia. Por seu lado a reciclagem de uma
tonelada de alumnio necessita, apenas, de 700KW/h. Este
diferencial garante energia a 160 pessoas durante um ms.
[ABA - Associao Brasileira do Alumnio - www.abal.org.br]
4.1.2.5. Tetra brik
O tetra brik, tambm designado por carto compsito,
carto complexo ou carto para lquidos alimentares
constitudo por uma camada de papis, sobre a qual
assenta um filme plstico e cujo interior constitudo por
uma folha de alumnio. Este material usado em embalagens de leite, vinho, natas, concentrados de tomate
e outros produtos alimentares. Tem excelentes caractersticas
de impermeabilidade e de opacidade que garantem as caractersticas organolticas54 dos produtos, sem necessitarem
de refrigerao.
Tratamento e Valorizao de Resduos: Reciclagem, Incinerao e Valorizao Energtica, Aterro Sanitrio

98

A reciclagem destas embalagens pode ser efectuada de duas


formas:
P

P

Uma que tritura e mistura todos os componentes das


embalagens, que depois de prensados podem ser usados
na produo de diferentes aglomerados.
E uma outra que separa os constituintes [essencialmente
a fibra de celulose] para serem reciclados separadamente.

No caso do aproveitamento conjunto, e por um processo


de extruso, obtm-se tacos para paletes e briquetes
[utilizadas como um combustvel pelas indstrias]. Desde
h vrios anos que na Alemanha e na Sucia, se fabricam
a partir das embalagens usadas aglomerados com a marca
registada Tectan. Este aglomerado no necessita de colas,
impermevel e termoformvel, sendo utilizado para
a produo de vrios produtos comerciais, nomeadamente
bases para copos, pastas, dossiers, suportes de relgios,
quadros, caixas, tabuleiros de jogos, mobilirio e acabamentos para soalhos.
No caso da reciclagem separativa de cada componente, que
o processo utilizado na fbrica da Tetra Pak em Espanha,
o principal objectivo a recuperao da fibra celulsica.
54

Caractersticas organolticas - o cheiro, o sabor, a cor, a textura e o aspecto,


as que so detectadas pelos sentidos.

As embalagens Tetra Brik provenientes das recolhas


selectivas de resduos so enviadas, depois de seleccionadas
e enfardadas nas estaes de triagem, para a fbrica
de Espanha onde so recicladas utilizando o processo
de reciclagem acima mencionado55.
4.1.2.6. Pilhas
As pilhas tm alguns constituintes que so nocivos sade
e ao ambiente, como o cdmio e o mercrio.
Perspectiva-se que cada vez mais sejam consumidas pilhas
recarregveis que so mais econmicas, e que estas deixem
de incorporar o cdmio, passando preferencialmente a ser
constitudas por hidrxido de nquel.
As pilhas de mercrio tm vindo a ser retiradas do mercado
devido perigosidade deste componente e so substitudas
por pilhas de zinco-ar ou de xidos de prata.
As tecnologias de recuperao dos constituintes das pilhas
baseiam-se na separao dos diversos metais para a sua
posterior utilizao no fabrico de novas pilhas.
Em Portugal as pilhas so todas importadas, no havendo
nenhuma indstria que as retome e incorpore nos seus
processos de fabrico/reciclagem. Deste modo comum exis55

Fonte de informao: http://www.consultorioct.mct.pt [Maro06].

Tratamento e Valorizao de Resduos: Reciclagem, Incinerao e Valorizao Energtica, Aterro Sanitrio

A separao da componente celulsica realiza-se num


hidropulper com um sistema de filtragem, obtendo-se uma
fibra sem branqueamento do tipo kraft de alta qualidade.
A fraco de alumnio e plstico transportada at uma
caldeira onde se realiza o aproveitamento do polietileno
atravs da utilizao do seu calor na secagem do papel.
O alumnio, em forma oxidada, pode ser aproveitado para
a produo de sulfato de alumnio que tem diversas
aplicaes industriais. Este processo possibilita uma
poupana energtica de 156kg de fuel por tonelada de
papel. Em Portugal e Espanha este papel kraft, produzido
pela reciclagem das embalagens Tetra Brik, utilizado
para fazer bolsas de papel para fins comerciais e sacos
para fins industriais.

99

tirem acordos de exportao destes materiais para pases


que os possam processar correctamente.
No caso de Portugal, as pilhas e acumuladores [segundo
a Ecopilhas] so encaminhados para a ustria para serem
recicladas.
Dada a perigosidade destes resduos, o seu transporte e exportao para reciclagem obedecem a um normativo legal
especfico para este tipo de resduos [resduos perigosos].

4.1.3. Reciclagem Orgnica


A reciclagem das fraces orgnicas dos resduos pode ser
conseguida por via aerbia [em presena de oxignio]
como o caso da compostagem ou por via anaerbia [na
ausncia de oxignio], que se designa por biometanizao
ou digesto anaerbia.
4.1.3.1. Compostagem
A compostagem a degradao aerbia dos resduos
orgnicos at sua estabilizao, produzindo uma substncia
hmida [composto] utilizada como corrector de solos56.

Numa
Central de Triagem
ou Estao
de Compostagem
a separao
de embalagens
de metal faz-se
por correntes
de Foucault
[no ferrosas]
ou por eletro-man
[ferrosas].

Numa instalao de tratamento por compostagem esto


presentes trs operaes bsicas at se chegar ltima etapa e que a da afinao do composto para a aplicao
na agricultura e que so: a preparao, a decomposio
e a maturao.
A preparao visa a retirada de resduos indesejveis das fraces orgnicas
compostveis e pode ser
efectuada com recurso a
trabalho manual conjuntamente com equipamentos
diversos, como por exemplo:
separadores electromagnticos [que retiram os metais
ferrosos], separadores de contra corrente [para a retirada
de metais no ferrosos], crivos de malhas diversas [que
retiram todos os materiais com dimenses superiores
56

100

Segundo Lobato Faria et al, 1997.

Processo de decomposies e maturao de resduos orgnicos

ou inferiores s desejveis, ou ainda para separar materiais


mais leves ou mais pesados].
So assim separados os vidros, plsticos, metais, papel,
txteis, cascalhos, materiais leves etc., que podem pr em
causa o processo de compostagem, dado que contm
substncias com propriedades que podem neutralizar
os cidos que se formam durante a fase seguinte - a decomposio. Com a preparao pretende-se obter uma
massa de materiais fermentveis, triturada e de caractersticas homogneas.
Na fase de decomposio muito importante o controlo
contnuo de diferentes factores como por exemplo:
P

P

P

P

a temperatura - para indicar o equilbrio biolgico e a eficincia do processo.


a oxigenao - para garantir as condies aerbias; evitar
temperaturas excessivas; diminuir os maus cheiros.
o teor em humidade - para assegurar a actividade
dos microrganismos [altos teores de humidade - > 65%
- levam formao de gua impedindo a circulao
do oxignio e causando anaerobiose; baixos teores de humidade - < 40% - inibem a actividade microbiolgica].
o pH - para garantir a actividade dos microrganismos.

Tratamento e Valorizao de Resduos: Reciclagem, Incinerao e Valorizao Energtica, Aterro Sanitrio

Fonte: CARAPETO, Cristina [coord. Cientfica]; ALVES, Fernando Louro; CAEIRO, Sandra.
Educao Ambiental. Lisboa: Universidade Aberta, 1999. [Adaptado]

101

P

P

a relao carbono/ozono [C/N] - para indicar a disponibilidade de nutrientes e de condies metablicas para
a actividade dos microrganismos.
o tamanho das partculas a compostar - para assegurar
que toda a rea est em contacto com os microrganismos [partculas muito pequenas: dificuldade de circulao
do oxignio; partculas muito grandes: muito tempo para
a decomposio].

O processo de decomposio e de maturao apresenta


uma grande variao de temperatura e uma evoluo das
caractersticas bioqumicas da mistura.

Tratamento e Valorizao de Resduos: Reciclagem, Incinerao e Valorizao Energtica, Aterro Sanitrio

102

Na fase inicial da decomposio, com a formao de pilhas


ou medas que so revolvidas para arejamento ou so
injectadas de ar forado, a temperatura comea a aumentar muito rapidamente at atingir perto dos 70C
e mantm-se assim alta durante duas a trs semanas. Este
aumento de temperatura deve-se actividade da populao
de microorganismos. Na fase mesfila acontece a decomposio dos compostos mais facilmente degradveis, por aco
de fungos mesofilos e de bactrias. Esta grande actividade
gera calor que fica retido na massa de resduos. O aumento
da temperatura d origem ao aparecimento de bactrias
termfilas e de actinomicetes que degradam a quase totalidade da fraco orgnica. A estas temperaturas [entre
os 50 e os 65] destruda uma grande parte dos
organismos patognicos presentes nos resduos bem como
ovos de parasitas, larvas de insectos e sementes de ervas
daninhas, sobretudo quando esta fase termfila mantida
durante alguns dias.
Quando se esgota o carbono mais acessvel para a actividade destes organismos termfilos, a temperatura da massa desce o que favorece nova colonizao por outros
organismos que vivem a temperaturas mais baixas e que
vo decompor os compostos mais difceis de degradar, como
a celulose e a lenhina. Quando se atinge uma temperatura
prxima da temperatura ambiente o composto passa fase
de maturao, que pode demorar entre algumas semanas
a vrios meses. Nesta fase a humidade de cerca de 20%
e a relao C/N atinge valores de 10:1. Continua lentamente a processar-se a degradao de substncias mais
resistentes com a formao de cidos hmicos.

O pH na fase de maturao encontra-se prximo de 8


- o composto ligeiramente alcalino.
O processo atrs descrito tambm referido como sendo
o processo de compostagem lenta. Porm a compostagem
pode ser acelerada atravs do recurso a um reactor que
funciona como catalisador ou acelerador dos processos
naturais, podendo em alguns casos o processo estar
concludo ao fim de 6 dias. Neste caso, para higienizar
o composto necessrio eliminar os organismos patognicos
que s desaparecem quando a fase termfila dura pelo
menos alguns dias.

No final do processo de compostagem o composto deve


apresentar um odor a terra hmida, ter uma cor castanha
escura e homognea e uma textura porosa.
A compostagem tem vrias vantagens econmicas e ambientais, dado que incorpora nos solos matria orgnica proveniente dos resduos e que serve de correctivo e fertilizante.
Em Lisboa, como foi alis referido no incio deste captulo,
durante a dcada de oitenta e primeira metade dos
anos 90 e at ao seu encerramento para a realizao
da EXPO98, esteve em funcionamento uma estao
de tratamento por compostagem [ETRS] que recebia e processava, na altura, cerca de 1020 toneladas de resduos
diariamente. Pese embora a entrada em funcionamento
desta estao ter sido anterior, durante esse perodo ela
era uma responsabilidade da Cmara de Lisboa. Contudo,
os resduos recebidos na ETRS no eram alvo de recolha
selectiva, pelo que o processo de preparao da compostagem era complicado e apenas uma pequena fraco
do total de resduos recebido na instalao era passvel
de sofrer reciclagem orgnica. A separao dos contaminantes
contava tambm com um separador electromagntico que
conduziu a reciclagem vrias toneladas de metais ferrosos.
O composto na altura produzido, o Ferthumus, era vendido
a diversas exploraes agrcolas situadas maioritariamente
na Estremadura e Ribatejo.

Tratamento e Valorizao de Resduos: Reciclagem, Incinerao e Valorizao Energtica, Aterro Sanitrio

Em qualquer dos casos o processo de compostagem passa,


ainda, pela afinao do composto e que consiste na retirada de materiais inertes que escaparam na fase de preparao e na reduo da granulometria. Este tipo de afinao
depende da utilizao final que o composto ir ter.

103

Refere-se que a legislao nacional no menciona quais as


caractersticas que o composto orgnico deve possuir para
aplicao agrcola. Porm, vrios normativos internacionais
estabelecem as caractersticas fsico-qumicas e microbiolgicas que devem ser requeridas ao composto para o seu uso
agrcola. Mas mesmo que o uso deste produto no se faa
na agricultura ele pode igualmente ser utilizado como corrector e fertilizante de solos para usos recreativos e florestais.
4.1.3.2. Biometanizao

ETVO
Estao de Tratamento
e Valorizao Orgnica
da Valorsul
[fase de construo].
Tratamento e Valorizao de Resduos: Reciclagem, Incinerao e Valorizao Energtica, Aterro Sanitrio

104

A biometanizao tambm um processo de reciclagem das fraces orgnicas dos resduos, mas
efectuado sem a presena
de oxignio. Este processo
requer uma tecnologia
mais sofisticada que o de
compostagem e o produto
final obtido pastoso e necessita, para aplicao agrcola,
de uma fase de secagem e de maturao aerbica.
Para que a biometanizao possa acontecer, a recolha da
matria orgnica a reciclar deve ser selectiva, embora mesmo
assim seja alvo de preparao [retirada de contaminantes]
e homogenizao.
A degradao da matria orgnica, como foi atrs referido,
efectuada por digesto anaerbia, ou seja, pela actividade
de bactrias anaerbias e os produtos finais desse metabolismo so o dixido de carbono e o metano. Estes
constituintes fazem parte do biogs que se produz durante
a degradao orgnica, o qual pode ser aproveitado para
a produo de energia elctrica, aquecimento ou abastecimento das redes de gs canalizado. A produo deste
subproduto pode ascender a 200m3 de biogs, por tonelada
de resduos processada.
Todo o processo ocorre num sistema fechado, que se designa
por digestor, mas a estabilizao do produto final lenta,
uma vez que no se atingem temperaturas muito elevadas.
Por tal, a destruio de organismos patognicos no
totalmente eficaz, sendo necessria a sua posterior destruio ou uma seleco muito apurada dos resduos iniciais
a incorporar.

A biometanizao pode classificar-se de acordo com os materiais que entram no processo e pode ser por via seca
[quando a concentrao total de slidos superior a 25%]
ou por via hmida [quando a concentrao de slidos
inferior a esse valor]. Tambm o tipo de degradao
pode variar, embora seja feita por bactrias metanognicas,
dependendo da temperatura alcanada: diz-se que o processo
mesoflico quando a temperatura oscila entre os 30
e os 40C, ou termoflico quando atinge temperaturas mais
elevadas, na casa dos 50 a 65C.
Comparativamente com a compostagem este processo
apresenta algumas vantagens e desvantagens que podem
ser verificadas no prximo quadro.
Uma das principais vantagens da biometanizao a rapidez

Outputs

Compostagem

Combusto anaerbia

Calor, C02, vapor Biogs [C02 e CH4],


de gua
gua e os resduos
e composto da digesto [lamas]

Emisses
atmosfricas [odor]

Amnia

cido sulfrico

Investimento

Relativamente baixo

Elevado

Tempo do processo

Demorado

Relativamente baixo
[Adaptado de Martinho, 2000]

com que se processa o tratamento dos resduos orgnicos


e a recuperao do biogs para a produo de energia.
Em Portugal, h uma estao de digesto anaerbia na
Valorsul que se situa no Concelho da Amadora e que entrou
em funcionamento, com os primeiros testes, no Vero de 2005.
Esta central destina-se a tratar os resduos orgnicos do
Mercado Abastecedor de Lisboa e os recolhidos selectivamente em restaurantes, cantinas, hotis e outros mercados
municipais. No municpio de Lisboa, durante 2005, foram
integradas no sistema de recolha selectiva de matria
orgnica, cujo destino a central de valorizao orgnica
da Valorsul, cerca de 500 entidades.

Tratamento e Valorizao de Resduos: Reciclagem, Incinerao e Valorizao Energtica, Aterro Sanitrio

Caractersticas

105

4.2. Incinerao e Valorizao Energtica


Incinerao

[Estao de

Tratamento
de RSU
de So Joo da Talha
- Valorsul].

Embora a valorizao energtica, como vimos no


ponto anterior, possa ser
efectuada atravs do processo de biometanizao
com a recuperao do biogs, ela assume particular
importncia associada ao processo de incinerao dos resduos, com a recuperao do calor produzido.
A incinerao um processo de combusto controlada
dos resduos ou seja um processo qumico por via trmica
e realiza-se em duas fases:
P

Tratamento e Valorizao de Resduos: Reciclagem, Incinerao e Valorizao Energtica, Aterro Sanitrio

106

P

Na combusto primria acontece a transformao quase


imediata e total dos resduos em cinzas ou escrias de
fundo e em efluentes gasosos, com libertao de energia.
Na combusto secundria, queimam-se os gases resultantes da fase anterior [gases volteis e produtos da combusto
incompleta]. Nesta fase h a libertao de cinzas volantes.

O processo de incinerao visa:


P

P

P

a reduo dos resduos, que permite atingir os 90%


no volume e os 70% no peso.
a recuperao de energia que pode ser realizada sob
a forma de energia trmica, elctrica, ou ambas as formas
conjugadas.
a estabilizao dos resduos [as cinzas ou escrias
de fundo so consideradas mais inertes que os resduos
que entram na incinerao].

Por razes econmicas a incinerao deve efectuar-se sem


recurso a combustveis auxiliares. Ou seja, devero ser
os prprios resduos a nica fonte combustvel do processo.
Porm isto nem sempre possvel, porque geralmente os
resduos so admitidos em bruto e a sua composio no
respeita os pressupostos essenciais, para que tal acontea.
Quer isto dizer que podem ter poder calorfico inferior
[PCI] abaixo das 1100Kcal/Kg; ou que no tm matria
combustvel superior a 25% em peso; ou ainda que o seu
teor em humidade mais elevado que o admissvel [50%
em peso]. O teor em cinzas outro elemento limitante

da auto-combusto dos resduos. Existem queimadores de reforo que funcionam a fuel ou gs e que entram automaticamente em funcionamento quando a temperatura dos gases de combusto inferior a 850C. Estes queimadores
auxiliares so tambm utilizados no arranque e paragens
da instalao.

A eficincia do processo depende das temperaturas em que


este ocorre [variam entre 800 e 1000C, sendo mais comum
verificarem-se 850C], do tempo de permanncia dos resduos no forno [cerca de 2 segundos] e da turbulncia ou
grau de mistura dos resduos com o ar - o teor em oxignio
deve ser superior a 6%.
Uma central de incinerao dispe de uma zona de recepo
e preparao dos resduos [que pode incluir a sua separao
ou pr-processamento], de uma cmara de combusto,
de uma ou mais caldeiras para a recuperao de vapor.
Tem igualmente vrios mtodos e equipamentos para
o tratamento das emisses gasosas e lquidas e de locais
de armazenamento dos resduos da combusto [cinzas
ou escrias de fundo e cinzas volantes].
A fossa de recepo dos resduos e a rea de descarga
e processamento so estruturas normalmente cobertas para
evitar a emanao de maus cheiros.
O forno de combusto deve ser suficientemente alto para
que os compostos volteis libertados se possam misturar
com o ar e inflamar-se. A presso dentro do forno inferior
presso atmosfrica para evitar que os gases de combusto se libertem para o exterior.
As cmaras de combusto so normalmente dotadas
de grelhas e todo o processo de incinerao controlado,
podendo requerer insuflao de ar. Da combusto dos resduos resultam gases a elevadas temperaturas. Estes gases
podem ser conduzidos a uma caldeira de recuperao
de calor, ou a tubos verticais alinhados e interligados

Tratamento e Valorizao de Resduos: Reciclagem, Incinerao e Valorizao Energtica, Aterro Sanitrio

A admisso dos resduos em bruto na incinerao aporta


algumas dificuldades que comprometem o processo ou que
diminuem a sua eficincia. Assim, a presena de materiais
inertes como o vidro, pedras e metais degradam a cmara
de combusto [forno] e implicam uma menor eficincia.
Tambm a presena de resduos com metais pesados conduzem a emisses muito poluentes.

107

colocados no interior da cmara de combusto. Pelo seu


interior passa gua que absorve o calor. Em ambos os casos
o que se obtm para a recuperao de energia o vapor.
Para a produo de energia elctrica o vapor passa por
uma turbina de condensao, sendo a refrigerao efectuada
por gua. Se se pretender usar o vapor para aquecimento,
e como este produzido a alta presso, tem que ser
conduzido a uma turbina de contrapresso para se reduzir
a presso at ao nvel de utilizao de consumo.
Numa estao de incinerao inevitvel a produo de poluentes, embora seja possvel a sua minimizao atravs
da triagem de substncias indesejveis e pela utilizao
de dispositivos eficientes de controlo.

Tratamento e Valorizao de Resduos: Reciclagem, Incinerao e Valorizao Energtica, Aterro Sanitrio

108

Os gases provenientes da queima podem conter poeiras,


metais pesados [mercrio, cdmio, chumbo], gases cidos
e compostos orgnicos [como por exemplo dioxinas e furanos, clorofenis, clorobenzenos]. As partculas ou poeiras
formam-se se a combusto for incompleta e, geralmente, so
produzidas entre 10 a 75Kg de partculas por cada tonelada
de resduos incinerada. Os metais pesados podem estar
contidos nos gases de combusto ou ficar com as cinzas
e escrias de fundo. A natureza qumica destes metais
alterada pelo calor mas no destruda o que implica
que concentraes significativas possam ser emitidas, especialmente no estado gasoso.
Os gases cidos que se formam so essencialmente cido
clordrico, e cido fluordrico. Formam-se igualmente xidos
de azoto e de enxofre que na atmosfera podem originar
cido sulfrico e cido ntrico, gases que originam vrios
problemas ambientais e de sade pblica.
Os compostos orgnicos, nomeadamente os furanos e dioxinas so considerados substncias txicas. Contudo segundo,
White et al, 1995, os nveis de dioxinas emitidos por um
incinerador so consideravelmente menores que a quantidade que d entrada no processo.
Estes diferentes poluentes so alvo de diferentes dispositivos
de controlo.
As partculas so controladas por precipitadores electrostticos [atraco electrosttica], filtros de mangas [filtrao
mecnica das partculas] ou filtro electrosttico de leito
de areia grossa [combina os dois dispositivos anteriores].

Estes trs sistemas de controlo de partculas so igualmente


eficazes na recolha de metais pesados que esto dissolvidos
nas poeiras. Tal acontece quando sada da caldeira
a temperatura baixa para valores da ordem dos 230C ou
inferiores, o que beneficia a condensao e recolha de cidos,
metais volteis e compostos orgnicos [Clarke et al, 1991].
Tipicamente so produzidos cerca de 6.000m3 de gases
de combusto por tonelada de resduos incinerada. Estes
efluentes so, como vimos atrs,despoludos e dependendo
da altura da chamin, da temperatura a que so emitidos
e da velocidade e orientao dos ventos dominantes, diluem-se e dispersam-se na atmosfera.

Assim, temos por um lado as cinzas ou escrias de fundo


consideradas um resduo no perigoso, que podem ser alvo
de aproveitamento e utilizadas como um agregado de substituio na construo civil ou para a pavimentao
de estradas. A utilizao desses materiais para estes fins
tem sido alvo de controvrsia, que se prende com a toxicidade dos materiais em causa. Por tal conveniente a existncia de um pr-tratamento [separao] e monitorizao
das caractersticas para estas aplicaes. A valorizao destes
materiais pode tambm incluir a separao dos metais
ferrosos e no ferrosos presentes nas escrias, visando a sua
conduo a reciclagem.
Caso no sejam alvo de valorizao estes resduos so
depositados em aterro sanitrio, em clulas separadas ou
conjuntamente com outros resduos.
Por outro lado, as cinzas volantes, as cinzas da caldeira e
os resduos provenientes do tratamento dos efluentes gasosos
so considerados resduos perigosos [de acordo com o catlogo europeu de resduos]. Assim a sua eliminao deve ser
encarada como tal e por isso devem ser alvo de cuidados
especiais e que passam por um tratamento de solidificao/estabilizao [por exemplo a encapsulao destes
resduos com cimento] ou pela sua vitrificao ou fuso
[processos trmicos muito dispendiosos]. Seja qual for
o mtodo de tratamento a deposio final tem que ser
efectuada em aterro sanitrio para resduos perigosos.

Tratamento e Valorizao de Resduos: Reciclagem, Incinerao e Valorizao Energtica, Aterro Sanitrio

Tambm os resduos resultantes do processo de incinerao


so alvo de tratamento, aproveitamento ou destino final.
Tal depende dos resduos em presena.

109

Do processo de incinerao resultam tambm alguns efluentes lquidos, embora em pequena quantidade: guas
de lavagem e arrefecimento, efluentes do tratamento hmido
dos gases cidos, gua usada para a recuperao do calor
e guas residuais de diversas actividades de limpeza. Estes
efluentes, antes de serem lanados nas redes de esgotos
municipais, para tratamento conjunto com os efluentes
domsticos, so tambm alvo de pr-tratamento na instalao de incinerao.
Todos os efluentes produzidos numa instalao de incinerao so alvo de uma monitorizao e controlo contnuos
que verificam se os poluentes emitidos esto dentro de parmetros que no comprometam o ambiente e a sade
pblica. Os dados recolhidos so facultados s populaes
locais e a vigilncia e monitorizao tambm efectuada
por entidades externas, podendo ser realizada no mbito
de um sistema de vigilncia ambiental, por cmaras
municipais ou entidades governamentais.
Tratamento e Valorizao de Resduos: Reciclagem, Incinerao e Valorizao Energtica, Aterro Sanitrio

110

Os resduos indiferenciados produzidos em Lisboa, ou seja


os que no so alvo de recolha selectiva para reciclagem,
so conduzidos Central de Tratamento de Resduos
Slidos Urbanos da Valorsul, situada em S. Joo da Talha.
Esta instalao tem capacidade para processar perto de
2000 t/dia. A recuperao do vapor feita para a produo
de energia elctrica que lanada na rede de abastecimento pblico;produz-se energia suficiente para alimentar
uma cidade com 150 mil habitantes57.

4.3.Aterro Sanitrio
O aterro sanitrio o destino ltimo dos resduos slidos,
ou pelo menos de uma parte deles, dado que nos processos
anteriores de tratamento e valorizao [reciclagem material
e orgnica e incinerao] h sempre uma quantidade
de materiais rejeitados, cujo destino final o confinamento
em aterro.
No nosso pas tambm frequente que este equipamento
seja o nico disponvel para a eliminao dos RSU; ou seja
a recolha selectiva ainda no extensvel a todo o pas,
existem poucas instalaes de compostagem, apenas funcio57

Valorsul. Regulamento de Utilizao da Central de Tratamento de Resduos


Slidos Urbanos. 2003.

P

P

P

P

58
59

LOBATO FARIA et al. [1997], citado por M. da Graa Martinho [1999].


Efluentes resduais lquidos, ou seja as guas que percolam atravs dos
resduos. Estas guas so portadoras de elevadas concentraes de matria
orgnica e outros poluentes.

Vista area
[Aterro Sanitrio
de Mato da Cruz
- Valorsul].

Tratamento e Valorizao de Resduos: Reciclagem, Incinerao e Valorizao Energtica, Aterro Sanitrio

P

nam duas incineradoras, a


da Valorsul [empresa para
o tratamento dos resuos
da rea metropolitana
de Lisboa norte] e a da
LIPOR [Empresa para o
tratamento dos resduos
do Grande Porto]. Porm, como vimos atrs, o PERSU
estabelecia que em 2005 apenas 13% do total de resduos
do pas seriam conduzidos directamente a aterro sanitrio.
Na eliminao dos resduos em aterro sanitrio tm que ser
executadas com segurana as vrias operaes, de forma
a no se pr em causa a sade humana ou o ambiente.
frequente a confuso dos termos lixeira e aterro sanitrio. Porm so grandes as diferenas entre um vazadouro
e um aterro sanitrio. Na lixeira ou vazadouro os resduos
so depositados a cu aberto ao passo que um aterro
sanitrio obedece a normas estreitas, que visam a proteco
da sade e a reduo ao mnimo de contaminaes ou
riscos ambientais58.
Lixeira ou vazadouro no controlado - uma modalidade
de confinamento no solo, em que os resduos so lanados
de forma indiscriminada e no existe qualquer controlo
posterior.
Vazadouro controlado - uma modalidade indesejvel
de confinamento no solo, em que os resduos so lanados
de forma ordenada e cobertos com terra; o local possui
vedao completa e pelo menos uma das duas condies
de drenagem [guas ou gases] e impermeabilizao satisfeita, mas em contrapartida no feita qualquer monitorizao de impacte ambiental.
Aterro sanitrio - a modalidade de confinamento no solo
em que:
Os resduos so lanados ordenadamente e cobertos com
terra ou material similar.
Existe controlo sistemtico das guas lixiviantes59 e dos gases produzidos.

111

feita a monitorizao do impacte ambiental durante a operao do aterro e aps o seu encerramento.

P

Um aterro sanitrio deve, assim, obedecer s seguintes condies tcnicas:


P

P

P

P

P

Vedao total
Cobertura diria dos resduos
Impermeabilizao do fundo do aterro e respectivos taludes
Drenagem, recolha, tratamento e posterior rejeio no sistema de esgotos municipais das guas lixiviantes
Drenagem do biogs [com ou sem aproveitamento energtico]

P

P

Tratamento e Valorizao de Resduos: Reciclagem, Incinerao e Valorizao Energtica, Aterro Sanitrio

112

Plano de monitorizao durante a operao do aterro


e aps o seu encerramento

Plano de recuperao paisagstica aps o encerramento da


instalao.

Estas condies visam assegurar a reduo dos incmodos


e riscos de sade pblica, quer para trabalhadores, quer
para a populao residente nas proximidades da instalao,
a minimizao dos problemas de poluio quer do ar, quer
da gua, e ainda dos solos e da paisagem.
Os aterros sanitrios tm vrios tipos de configuraes
e de designaes:
P

Aterros em depresso [construdos em depresses naturais


- vales, ravinas - ou em depresses artificiais - por ex.
antigas pedreiras].
Aterros em trincheira [que implicam a escavao e retirada de terras, depois usadas para a cobertura dos resduos].
Aterros de superfcie [que implica a construo de um talude, de encontro ao qual se vo depositando os resduos].

De qualquer forma o aterro composto por uma rea


de solo impermeabilizada, normalmente com tela plstica
ou um material argiloso, onde os resduos so depositados
em camadas dirias cobertas com terra. A estas reas
de deposio d-se o nome de clulas e tm normalmente
uma altura de cerca de 1,5 metros. Os resduos so compactados por equipamentos mecnicos de modo a evitar-se a formao de espaos intersticiais, como bolhas de ar.
Num aterro sanitrio existem igualmente diversas insta-

laes de apoio. comum a existncia de uma bscula


para a pesagem dos resduos que entram na instalao,
um pavilho para a recolha e lavagem de viaturas e rodados
e, dependendo da sua dimenso e nmero de operadores
que a trabalham, poder tambm ter refeitrio, vestirio,
oficinas, etc.
Durante a vida til do aterro e mesmo aps o seu encerramento, os resduos a depositados passam por vrias fases
de transformao que do lugar formao de lixiviado
e de biogs.

Na fase seguinte a decomposio dos resduos passa a ser


anaerbia [dado que o oxignio dissolvido foi j consumido]
e a actividade de degradao assegurada por bactrias
fermentadoras e acetognicas. Daqui resulta a formao
de guas lixiviantes de natureza cida que podem conter
elevadas concentraes de CQO [carncia qumica de oxignio] e CBO5 [carncia bioqumica de oxignio], de cidos
gordos, clcio, ferro, metais pesados e azoto amoniacal.
Os gases que se formam so o dixido de carbono
e hidrognio.
A terceira fase de decomposio designa-se por decomposio metanognica intermdia e caracteriza-se pelo desenvolvimento lento de bactrias metanognicas, que aumentam
a concentrao do metano nos gases produzidos e reduzem
o dixido de carbono.
A fase metanognica estvel que se segue tem uma concentrao estvel de metano [cerca de 50 a 65% do total
de gases produzidos]. Nesta fase o lixiviado apresenta uma
reduo de CQO e CBO5. A decomposio metanognica
estvel pode durar entre 15 a 20 anos.
A ltima fase de decomposio dos resduos designa-se por
fase de maturao na qual apenas a matria orgnica
de difcil decomposio permanece na massa de resduos.
Todavia tm sido observadas emisses gasosas, 75 anos aps
a selagem de alguns aterros.

Tratamento e Valorizao de Resduos: Reciclagem, Incinerao e Valorizao Energtica, Aterro Sanitrio

Na primeira fase a decomposio dos resduos essencialmente aerbia. O oxignio dissolvido nos resduos rapidamente consumido por bactrias aerbias e os materiais
orgnicos decompem-se dando origem produo de dixido de carbono, gua e outros compostos.

113

A construo e explorao de um aterro sanitrio passa por


vrias fases. O estudo para o melhor local de implementao normalmente assegurado pela realizao complementar de estudos de impacte ambiental. Nesta fase estima-se igualmente a durao de vida do aterro para
a quantidade diria de resduos que a iro ser depositados.

Vista area
das clulas
do Aterro Sanitrio
[Aterro Sanitrio
de Mato da Cruz
- Valorsul]

O projecto do aterro elaborado para a obteno de autorizao de construo, dever conter uma memria descritiva
e justificativa da qual constam as caractersticas geolgicas
e hidrolgicas do local de construo, o sistema de impermeabilizao a utilizar, a tipologia dos resduos a receber,
o sistema de drenagem de guas lixiviantes e de guas
pluviais a implementar e o respectivo tratamento, o sistema
de drenagem e tratamento do biogs e, para alm do plano
de explorao, com o respectivo estudo econmico deve
igualmente conter o projecto de cobertura final
e recuperao paisagstica do local, aps o seu
encerramento. O detalhe
dos elementos a constar
do projecto de execuo
para a construo de um
aterro sanitrio podem ser consultados no Anexo I da Portaria 961/98 de 10 de Novembro.
Na fase de construo e para se garantirem as normas
de segurana ambiental tm que ser contemplados um conjunto de sistemas de proteco, dos quais se salientam60:
P

P

P

P

60

114

Sistema perifrico de valetas para o desvio das guas pluviais do permetro de deposio dos resduos e, sobretudo,
para fora das zonas em interveno e frente de trabalhos.
Impermeabilizao do solo e dos taludes [feita com tela
de polietileno de alta densidade, protegida por geotextil].
Aplicao de uma camada drenante sobre o sistema de impermeabilizao, com 0,5 metros de espessura.
Sistema de drenagem de fundo com valas e colectores
para que, de forma estratgica, possam captar e drenar
todas as escorrncias lquidas para um poo de captao
e derivao.
Cabeas, 1996; Martinho 2000 [adaptado].

P

P

P

Sistema de recepo para concentrar e acumular todas


as guas lixiviantes drenadas.
Sistema de tratamento para esses efluentes que permita
o seu lanamento no meio receptor natural em condies
admissveis.
Sistema de drenagem de biogs em tubagem de polietileno de alta densidade colocada horizontal e verticalmente
e ligada por estrelas que permita a sada para o exterior
dos efluentes gasosos.
Sistema de conduo do
biogs captado para uma
unidade de queima ou para
um sistema de aproveitamento de energia.

P

Queimador de biogs
[Aterro Sanitrio
de Mato da Cruz
- Valorsul].

P

P

P

O controlo e registo do peso dos resduos entrados


diariamente. Esta operao feita atravs da pesagem
das viaturas na bscula entrada e sada do aterro
[a diferena obtida corresponde tonelagem de resduos
depositada]. Para se garantir que no h disparidades
nos dados, as viaturas devem passar por uma unidade
de lavagem dos rodados aps efectuarem a descarga.
Esta operao evita tambm que lamas ou outros
resduos conspurquem as vias e outros espaos pblicos
exteriores ao aterro.
A descarga dos resduos deve ser sempre efectuada nas clulas dirias que constituem a frente de trabalhos. Aps
a descarga os resduos devem ser arrumados por uma
mquina compactadora ou p de rastos, que de seguida
circula sobre estes, procedendo sua compactao.
As clulas de descarga tm que ser diariamente compactadas e cobertas por um palmo de terra. A superfcie deve
ser regularizada e ter uma ligeira inclinao para permitir
o escoamento e drenagem superficial das guas pluviais.

Estes cuidados so da maior importncia para a reduo


dos impactes negativos:
P

Evitam o espalhamento de resduos mais leves por aco


do vento.

Tratamento e Valorizao de Resduos: Reciclagem, Incinerao e Valorizao Energtica, Aterro Sanitrio

Igualmente na fase de explorao do aterro devem ser


observadas normas bsicas que permitam o bom funcionamento da estrutura e das quais se destacam:

115

P

P

Reduzem a propagao de maus cheiros e a proliferao


de roedores, aves e insectos.
Causam menos incomodidade e insalubridade.

Na fase de encerramento ou selagem de um aterro, ou seja


quando este atinge a sua capacidade limite, h tambm
vrias regras a observar para que o terreno possa ter
utilidade, sem pr em causa, uma vez mais, a sade
humana e o ambiente. Assim, a cobertura da maior importncia porque a estabilidade dos terrenos s conseguida em muitos casos aps 30 ou mais anos da selagem
do aterro. Deve-se pois reduzir ao mximo a infiltrao
de guas pluviais e permitir o desenvolvimento de vegetao, continuando-se a monitorizao ambiental relativa
drenagem do biogs e do lixiviado.
A cobertura final de um aterro sanitrio feita atravs
da colocao de diversas camadas:
P

Tratamento e Valorizao de Resduos: Reciclagem, Incinerao e Valorizao Energtica, Aterro Sanitrio

116

P

P

P

P

P

Camada em terra, regularizada sobre os resduos, com


uma espessura de 80 cm.
Camada mineral [material arenoso com elevada porosidade] com 20 cm para a captao e drenagem horizontal do biogs acumulado superfcie.
Camada de impermeabilizao.
Camada mineral drenante [material britado] com 30cm
protegida por geotxtil no-tecido.
Camada de cobertura de terra e terra vegetal. Se o revestimento posterior for do tipo herbceo a camada dever
ter pelo menos 60cm, se a opo for por um revestimento arbreo, o solo de suporte deve ter no mnimo
2 metros. Esta camada no deve ser compactada para
permitir a circulao de ar e a penetrao das razes
das plantas.
Sistema de drenagem das guas pluviais.

Aps o encerramento de um aterro o terreno pode ser


utilizado essencialmente para fins recreativos: relvados,
jardins ou zona florestal. O uso agrcola e a construo
de infra-estruturas so pouco comuns porque requerem
tcnicas muito dispendiosas de recuperao.

5.Instrumentos Econmicos na Gesto


dos Resduos Slidos Urbanos
A integrao da economia, ambiente e emprego so
fundamentais para o desenvolvimento sustentvel,
de acordo com a definio da Comisso das Naes Unidas
para o Ambiente e Desenvolvimento, constante no relatrio
O Nosso Futuro Comum. Para alm dos instrumentos legais
e sociais, os instrumentos econmicos so cada vez mais
utilizados, como ferramenta fundamental para o desenvolvimento sustentado.

A aplicao de impostos e de taxas recolha de resduos


domsticos a forma mais directa, imediata e visvel de influenciar o comportamento dos cidados. Os instrumentos
econmicos incluem taxas, impostos, subsdios, sistemas
de depsito e licenas de comercializao.
De acordo com a Association of Cities and Regions for
Recycling61, existem duas grandes categorias de instrumentos econmicos aplicados recolha de resduos: os impostos
e as taxas. Dentro destas categorias h vrias subcategorias:
P

61

O sistema geral de impostos baseado em impostos


directos: os impostos sobre a habitao, os impostos
comerciais, os impostos sobre as propriedades, no sendo
suposto cobrirem o custo dos servios nem estarem
directamente relacionados com a produo de resduos.
Este sistema utilizado em Inglaterra.
ACRR. Conferncia Internacional: Financing Models for Municipal Waste
Management based on Taxes, Charges, Volume-bbased Rates. Viena, ustria,
1997.

Instrumentos Econmicos na Gesto de Resduos Sliods Urbanos

Um outro aspecto da gesto de RSU a necessidade de


criao e implementao de taxas municipais de gesto
dos RSU, que so indispensveis para cobrir os custos de
operao e manuteno dos sistemas implementados e que
podem funcionar simultaneamente como instrumento econmico para prevenir e reduzir a produo de RSU e alterar
os comportamentos dos cidados, que tradicionalmente
consideram que os servios de recolha, tratamento e deposio dos seus resduos devem ser gratuitos e da responsabilidade da autarquia.

117

P

P

P

P

Instrumentos Econmicos na Gesto de Resduos Sliods Urbanos

118

A taxa especfica foi concebida para a recolha de resduos,


mesmo que as facturas-recibo no estejam necessariamente
relacionadas com a gesto dos resduos. Os parmetros
de anlise podem ser a dimenso da habitao ou do agregado familiar, o consumo de gua ou o imposto de propriedade. Esta taxa aplicada fundamentalmente nos
seguintes pases: Frana, Grcia, Itlia, Espanha e Portugal.
A taxa fixa destina-se a cobrir os custos dos servios
efectuados. No feita nenhuma distino em relao
produo de resduos. Esta taxa utilizada na Blgica,
Dinamarca e Irlanda.
A taxa varivel no relacionada com a produo de resduos determinada em funo dos servios prestados
e cobre os seus custos, mas os parmetros de anlise
no esto relacionados com a produo de resduos
[dimenso da habitao ou do agregado familiar, consumo
de gua, valor da renda]. Esta taxa utilizada na Blgica,
Frana, Holanda e Sua.
A taxa varivel relacionada com a produo de resduos
cobre os custos dos servios prestados. Reflecte o princpio
do poluidor-pagador, estando os parmetros de anlise relacionados com a gesto de resduos, tais como o volume,
frequncia de recolha ou peso. Esta ltima subcategoria
a que tem maior impacto na alterao do comportamento
dos cidados. Esta taxa largamente utilizada na ustria,
Blgica, Finlndia, Alemanha, Luxemburgo, Sucia e Sua.

A aplicao de taxas variveis relacionadas com a produo


de resduos em pases como a Blgica, a Alemanha, o Luxemburgo e a Holanda teve os seguintes efeitos:
P

P

P

Reduo de 15% a 50% das quantidades de resduos


domsticos, residuais ou no.
Aumento de cerca de 5% a 10% dos resduos que so
triados e reorientados para os recipientes adequados.
O aumento da compostagem individual.

Os efeitos adversos tambm esto presentes, mas raramente


foram quantificados, sendo da ordem dos 3% a 10%, embora
possam ser minimizados atravs da adopo de medidas
adequadas.
Relativamente aplicao de sistemas Pay-as-you throw
por parte das Autoridades Locais e com base num outro es-

tudo realizado em 15 Pases da Unio Europeia e na Suia,


a ACRR [1999] voltou a concluir e recomendar o seguinte:
Os sistemas que aplicam o princpio Pay-as-you throw so
largamente utilizados na Europa e s-lo-o cada vez mais.
Representam um importante instrumento da poltica nacional, regional e local.
Nos locais em que os sistemas Pay-as-you throw j foram
desenvolvidos, o esforo feito no sentido de se optimizar
a sua aplicao, de forma a incrementar a preveno dos
resduos, a compostagem individual e a triagem, minimizando os efeitos adversos.
Os dados disponveis resultantes da aplicao dos sistemas
Pay-as-you-throw, revelaram os seguintes resultados:
Reduo dos resduos residuais domsticos
Aumento da triagem na origem
Encorajamento da preveno na origem e da compostagem individual
Presena de efeitos adversos, que podem ser minimizados
pela adopo de medidas adequadas.
Os sistemas Pay-as-you throw devem ter em considerao alguns aspectos de forma a alcanar um bom desempenho econmico e ambiental:
Informao e comunicao populao
Transparncia do sistema
Aplicao de um sistema eficiente de recolha selectiva
Factores socio-econmicos [rendimento, educao, dimenso do agregado familiar]
Tipo de habitao [edifcios ou moradias]
Seleco do tipo e capacidade dos contentores de acordo
com o comportamento da populao
Aplicao de um sistema de coimas.
A aplicao dos Sistemas Pay-as-you throw nestes pases,
revelou as seguintes tendncias:
O volume o principal parmetro de anlise nos pases
examinados; o custo dos primeiros metros cbicos superior aos seguintes, mas por vezes o custo tambm
constante ou progressivo, o que constitui um importante
incentivo para reduzir os resduos.
P

P

P

P

P

P

P

P

[

[

[

[

[

[

P

Instrumentos Econmicos na Gesto de Resduos Sliods Urbanos

[

119

A frequncia um parmetro largamente difundido,


o custo da frequncia de recolha normalmente diminui,
mas, nalguns casos, aumenta podendo ser um incentivo
para reduzir os resduos.

P

A pesagem rara porque recorre utilizao de tecnologia sofisticada o que pode ser economicamente invivel
nalguns casos.

P

P

P

Outros parmetros tambm so considerados tais como:


a dimenso do agregado familiar, a dimenso da habitao, o valor da renda, medidas sociais e incentivos
no caso da compostagem.

Em sistemas baseados na recolha de sacos, por vezes


os sacos so vendidos a um preo que inclui a taxa.

Nos sistemas que se baseiam na descarga dos contentores


individuais, a taxa est relacionada com a capacidade do
contentor [normalmente de 60 ou 240 litros]. Quando
o sistema de reconhecimento electrnico dos contentores
utilizado as frequncias de recolha ou a pesagem dos
resduos so as variveis utilizadas para a determinao
da taxa a pagar.

P

As tarifas tendem a ser divididas em duas partes, uma


fixa e outra varivel, que nalguns casos esto relacionadas com os custos fixos e variveis.

P

Instrumentos Econmicos na Gesto de Resduos Sliods Urbanos

120

Segundo Martinho [1998]62, os instrumentos econmicos


mais utilizados pelos diversos pases comunitrios tm
sido: as taxas por servios prestados, taxas sobre produtos,
sistemas de depsito e consignao, crditos reciclagem,
taxas de deposio em aterro ou incinerao, apoios
financeiros ou subsdios criao de novos mercados para
reciclveis e reciclados.

5.1. Taxas por Servios Prestados


O objectivo da utilizao de taxas por servios prestados
o de cobrir total ou parcialmente os custos de recolha
e tratamento/deposio, incentivar a reduo das quantidades produzidas, desviar os resduos valorizveis para a re62

MARTINHO, M. G. Factores Determinantes Para os Comportamentos de


Reciclagem. Tese de Doutoramento. Caso de Estudo: Sistema de Vidres.
Departamento de Cincias e Engenharia do Ambiente. Faculdade de Cincias
e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, 1998.

colha selectiva e a matria orgnica para a compostagem


e incentivar o consumo de produtos com menos embalagens.

Todavia nos EUA, no Canad e em algumas cidades


europeias, foram adoptadas formas mais justas, embora
mais dispendiosas, que consistem na aplicao do princpio
do poluidor-pagador ou seja na cobrana de tarifrios
proporcionais quantidade de resduos depositada em
cada contentor. O mecanismo utilizado consiste na instalao
de um sistema de identificao de frequncias de rdio
[sistema RFID] no veculo de recolha. Os contentores so
identificados e pesados no momento em que so elevados
para descarga. Este sistema identifica ainda os contentores
vazios, o tempo de descarga de cada recipiente e o tempo
gasto entre pontos de recolha, o que aumenta a eficcia
dos sistemas de recolha. McAdams63 refere que em 1994,
cerca de 1000 comunidades nos EUA utilizaram um sistema
destes e que a reduo registada na quantidade de RSU
chegava a ser superior a 40%.
Existe ainda um outro sistema de deposio que permite
cobrar tarifrios proporcionais quantidade de RSU depositada, que consiste na utilizao de um equipamento
de deposio, que dispe de uma torre telemtica com
uma plataforma rotativa com 8 contentores, na qual se
insere um carto magntico identificativo do utilizador
do sistema. Pressionado o boto relativo ao resduo que se
pretende depositar, o contentor correspondente activado
63

McADAMS, C.; RFID. The Missing Link To Comprehensive Automated Refuse


Collection Recycling. In: Waste Age, 25[4], 1994, p. 143-147.

Instrumentos Econmicos na Gesto de Resduos Sliods Urbanos

Contudo, a aplicao de taxas por servios prestados pode


ser injusta, uma vez que difcil estimar as quantidades
de RSU produzidas por famlia. Em muitos municpios,
o clculo do tarifrio de RSU, no proporcional produo
de RSU, mas sim ao consumo da gua e dimenso do
agregado familiar. Porm, na prtica, este sistema tem-se
revelado injusto, uma vez que as famlias que poupam gua,
no produzem necessariamente menos resduos; as famlias
que tm jardins consomem mais gua, mas podem colocar
menos resduos remoo, porque podem utilizar os resduos orgnicos como fertilizantes ou como alimento para
animais. Por outro lado, as famlias que triam os resduos
valorizveis no so beneficiadas com este tipo de tarifrio.

121

e o resduo colocado pesado, sendo o seu peso registado


numa base de dados com o cdigo do respectivo utilizador.
Deste modo, possvel saber os quantitativos depositados,
por tipo de material, e por habitao, num determinado ano.
O clculo do tarifrio proporcional quantidade de resduos
produzidos pode, igualmente, basear-se no pagamento
prvio de recipientes para deposio, cujo preo poder ser
fixo ou varivel em funo da capacidade dos recipientes
ou da frequncia de recolha. Num relatrio da EPA64,
referido que em Perkasie e Llion [EUA], a utilizao de
taxas baseadas no nmero e no tamanho de contentores
ou sacos induziu uma reduo igual ou superior a 10%
da quantidade de resduos produzidos e a um aumento
superior ao dobro da reciclagem previamente verificada
e reduziu, ainda, em cerca de 30% a quantidade de resduos
misturados. A aplicao deste tarifrio apresenta, no entanto,
alguns inconvenientes nos casos em que a deposio colectiva, uma vez que difcil taxar cada famlia em funo
das quantidades realmente produzidas. Por outro lado,
podem favorecer deposies ilegais, para alm dos custos
financeiros associados, de recolha e deposio, sem contudo
incluir os custos externos65.

Instrumentos Econmicos na Gesto de Resduos Sliods Urbanos

122

Para finalizar, destaca-se o impacte que poder ter para


os sistemas de gesto de resduos a reforma fiscal que
a Unio Europeia pretende realizar. Esta reforma, ainda em
estudo e debate na UE, pretende reduzir ou deslocar os
tradicionais impostos e taxas sobre o capital e o trabalho,
para a poluio e depleo dos recursos no renovveis,
ou seja pretende-se a substituio de algumas taxas por
eco taxas que visem a promoo do desenvolvimento sustentvel e sejam melhor aceites pelos contribuintes66.

5.2. Taxas sobre Produtos


As taxas sobre produtos baseiam-se num princpio directamente relacionado com o princpio do poluidor-pagador, uma
64

USEPA. Charging Households for Waste Collection and Disposal: The


Effects of Weight or Volume-Based Pricing on Solid Waste Management.
In: Environmental Protection Publication 530-SW-90-047, U.S. Printing
Office, Washington, D.C., 1990.
65
BRISSON. Externalities in Solid Waste Management: Values, Instruments and
Control. PhD Thesis: University College London Department of Economics,
1994.

vez que procura incluir no produto final os custos de recolha, tratamento ou de deposio final. Refere-se, portanto,
obrigatoriedade de pagamento de uma taxa adicional,
por parte dos produtores ou importadores de um produto,
com o objectivo de se assegurar um destino final adequado.
Contudo, como os produtores transferem a taxa para
o consumidor, existe o risco de no se realizarem esforos
no sentido de reduzir as quantidades de embalagens dos
produtos. Por outro lado, a taxa representa uma nfima
parcela do preo final pelo que dificilmente ter efeito nos
comportamentos.

A recolha e reciclagem dos resduos de embalagem so


organizadas pelo Duales Systems Deutchland [DSD],
uma rede nacional independente67.
As empresas que contribuem para
o DSD esto autorizadas a rotular as
suas embalagens com a marca Ponto
Verde. O esquema foi introduzido
segundo as seguintes fases:
P

Em Janeiro de 1992 envolveu as embalagens tercirias.

P

66

Em Abril de 1992 englobou todos os tipos de embalagens.


A meta global era a de atingir, em 1995, uma taxa
de reciclagem de 64% para todo o papel e carto
de embalagem. Isto significa que 80% de todo o papel
e carto produzidos tm que ser recolhidos, separados
e reciclados ou reutilizados. Este esquema foi to bem
sucedido que a indstria alem se viu incapacitada para

GEE, D. Economic Tax Reform in Europe: Opportunities and Obstacles.


In: O'RIORDAN, T., CSERGE, University of Esat Anglia e University College
London [eds], Ecotaxation. Earthscan Publications, 1997.
67
FAZERKERLEY, E. Profile: the German packaging ordinance. European
Environment, 2 [5], 1992, p. 12-13.

Instrumentos Econmicos na Gesto de Resduos Sliods Urbanos

A Alemanha adoptou uma taxa deste tipo para as embalagens, as quais constituem cerca de 35-40% do peso total
de RSU. A conhecida Packaging Ordinance, introduzida
pela Lei Topfer, em 1991, estipula dois grandes princpios:
primeiro, atribui aos produtores a responsabilidade de recuperar as embalagens dos produtos que colocam no mercado;
segundo, os resduos que so recolhidos devem ser reciclados
ou reutilizados e no podem ser incinerados ou enviados
para aterro.

123

absorver todo o papel e o plstico recolhidos, tendo comeado a enviar estes produtos para outros pases, nomeadamente para Portugal68.
A Frana tambm utiliza o smbolo Ponto Verde mas,
ao contrrio da Alemanha, no estipulou metas quantificadas
para a reciclagem e a estrutura de funcionamento da organizao Eco-Embalagens diferente.
Em Novembro de 1996, surge em Portugal a Sociedade
Ponto Verde para implementao do Sistema Integrado
de Gesto de Resduos de Embalagens, previsto no Decreto-Lei n 322/95, de 28 de Novembro e na Portaria n 313/96,
de 29 de Julho.

5.3. Sistemas de consignao

Instrumentos Econmicos na Gesto de Resduos Sliods Urbanos

124

Os sistemas de depsito e consignao apresentam uma


relao com o conceito de taxa sobre o produto. Trata-se
de uma sobretaxa ao preo do produto sobre o qual se
quer actuar. O depsito no se baseia no peso ou no volume
do produto em questo e devolvido quando o produto
entregue aos agentes de recolha. Nos ltimos anos tem-se verificado a sua aplicao nas embalagens de bebidas,
mas tambm em produtos como electrodomsticos, pilhas
e baterias, carcaas de automveis ou pneus. Este instrumento econmico permite reduzir a quantidade de resduos
e preservar os recursos e a energia, induzindo a reutilizao
e a reciclagem.
O valor do depsito deve ser suficientemente alto para
encorajar o retorno por parte do consumidor e com isto
incentivar a reutilizao e a reciclagem. Um depsito
de 0.08 numa embalagem de bebida asseguraria uma
taxa de retorno de 95%. Isto representaria mais de um
milho de toneladas de plstico, metal e vidro, que sairiam
do fluxo dos RSU, o que representa 6% do seu peso total
e o cumprimento de cerca de das metas para a reciclagem estabelecidas em Inglaterra69.
68

COLLINS, L. Recycling and the Environmental Debate: A Question of Social


Conscience or Scientific Reason? In: Journal of Environmental Planning
and Management, 39 [3], 1996, p. 333-355.
69
KPMG Peat Marwick. Market Mechanisms. In: Environment Briefing Note,
Autum, 1992, p. 9.

Pearce e Brisson70 afirmam, no entanto, que as experincias


de aplicao desta medida indicam que as taxas de retorno
no so muito sensveis ao valor do depsito. Muito mais
importante o nmero, conhecimento, e convenincia
dos pontos de recolha para os consumidores.
Em Portugal o Sistema Ponto Verde, ou melhor, o Sistema
Integrado de Gesto de Resduos de Embalagens [SIGRE]
tem como principal objectivo fazer a gesto dos resduos
de embalagens que, no ps-consumo, no so reutilizadas.
Isto , na sequncia da publicao do Decreto-Lei n366-A/97
[que estabelece os princpios e as normas aplicveis ao
sistema de gesto de embalagens e resduos de embalagens]
foi constitudo, a nvel nacional, um dispositivo que garante
a valorizao, essencialmente, atravs da reciclagem [precedida de recolha selectiva] do fluxo de resduos de embalagens que no so reutilizveis. O funcionamento deste sistema
integrado pauta-se pelas regras definidas na portaria n29-B/98. Este mesmo diploma estabelece, igualmente, as regras
a observar no sistema alternativo, designado sistema de consignao, destinado a gerir os resduos de embalagens
reutilizveis.
No mbito do sistema integrado, os operadores econmicos

cam as embalagens no mercado, sendo por isso co-responsveis pela gesto destes resduos, transferem a sua
responsabilidade na correcta eliminao dos resduos provenientes do consumo dos seus produtos para a entidade
gestora do sistema, a Sociedade Ponto Verde, atravs de uma
contrapartida financeira.
O sistema consubstancia-se num ciclo fechado de diversas
operaes/responsabilidades/intervenientes:
P

Embaladores e importadores asseguram o financiamento


do sistema atravs de contrapartidas financeiras, pagando
uma taxa por cada embalagem colocada no mercado.

P

70

Consumidores separam as embalagens usadas por tipo


de material e depositam-nas em contentores de recolha
selectiva.

PEARCE, D. W.; BRISSON, I. The Economics of Waste Management. In:


Hester, R.E e Harrison, R.M. [eds.], Waste Treatment and Disposal, The
Royal Society of Chemistry, 1995.

Instrumentos Econmicos na Gesto de Resduos Sliods Urbanos

[os embaladores e importadores de embalagens] que colo-

125

Cmaras municipais efectuam a recolha selectiva e transportam os resduos para estaes de triagem onde feita
uma separao mais fina dos materiais, recebendo parte
das contrapartidas financeiras da Sociedade Ponto Verde,
face aos custos acrescidos da recolha selectiva.
Fabricantes de embalagens e de matrias-primas de embalagens encarregam-se de reciclar os resduos recuperados
da fase anterior.
As embalagens abrangidas pelo SIGRE so identificadas
atravs do smbolo Ponto Verde. Este indica que a embalagem financia, a nvel nacional, um sistema de recolha
selectiva e valorizao de embalagens usadas.
P

P

5.4. Crditos Reciclagem


Consiste em passar os custos evitados na deposio em
aterro, para as empresas que fazem recolha selectiva.
A inteno desta medida a de deslocar o destino dos
resduos para as primeiras posies da hierarquia dos
resduos. Aumentando os preos da deposio em aterro,
relativamente reciclagem, esta tornar-se- financeiramente
mais vivel71.

5.5. Taxas sobre Deposio em Aterro

Instrumentos Econmicos na Gesto de Resduos Sliods Urbanos

126

Estas taxas tm-se revelado um bom mecanismo para


incentivar a reduo e promover a valorizao.
Em Frana esta taxa aplica-se a cerca de 6500 aterros
de RSU e de resduos industriais e perigosos. As indstrias
que depositam os resduos nos seus prprios aterros esto
isentas. Os 3.05 por tonelada podem sofrer um aumento
de 50% se os resduos a depositar forem oriundos de outras
zonas. As receitas da taxa vo para o Fundo para a Modernizao da Gesto dos Resduos, administrado pela ADEME
[Agence Governamentale de lEnvironnement et de la
Maitrise de lEnergie], cujo objectivo o de financiar
o desenvolvimento e a instalao de tecnologias inovadoras
de tratamento de resduos, apoiar projectos locais, eliminar
os depsitos ilegais e descontaminar solos poludos72.
71

MacLEAN, J.C. Tax Exempt Debt Financing for privately Owned Facilities.
In: Biocycle. 1988; Turner e Brisson, August, 61-64.
72
FERNANDEZ, V.; TUDDENHAM, M. The Landfill Tax in France. In: GALE, R.;
BARG, S.; GILLIES, A. [Editores], Green Budget Reform: An International
Casebook of Leading Pratices. London: Earthscan, 1995.

No caso do objectivo ser o de reduzir as quantidades de RSU


produzidos na fonte e aumentar as quantidades recicladas
[reduzindo ao mnimo os custos econmicos e ambientais]
ento vrios grupos de instrumentos econmicos devem ser
aplicados de uma forma complementar e integrada. As inter-relaes tcnico-econmicas entre os vrios elementos
da cadeia dos RSU e os diferentes materiais presentes exigem uma abordagem integrada e multisectorial73.

6. Avaliao de Impacte Ambiental


6.1. Ambiente e Avaliao de Impacte Ambiental
A Avaliao de Impacte Ambiental [AIA] constitui um
instrumento de apoio deciso sobre as aces
prioritrias num desenvolvimento que se pretende equilibrado e sustentvel.
Surgiu no final da Dcada de 60 nos EUA. Ganhou relevncia e visibilidade com a tomada de conscincia da determinante humana no equilbrio dos ecossistemas da Terra,
a par do reconhecimento da importncia da participao
dos cidados, organizaes e comunidades nas decises
sobre planos, programas e projectos de desenvolvimento,
a sua incidncia no ambiente, na qualidade de vida das populaes, bem como a afirmao da equidade no direito
ao desenvolvimento entre as actuais e as geraes futuras.

73

ZABOLI. The integrated use of economic instruments in the policy of municipal solid waste. In: Curzio, A.; Prospetti, L; Zoboli, R., Developments in
Environmental Economics. Volume 5: The Management of Municipal Solid
Waste in Europe: Economic, Technological and Environmental Perspectives.
ELSEVIER, 1994.
74
Cfr. Declarao de Estocolmo sobre o Meio Ambiente Humano [Estocolmo,
1972] - princpios 1 a 8. Declarao do Rio sobre Ambiente e Desenvolvimento [Rio de Janeiro, 1992] - princpios 2,3,4, 7,8,10 e 17 [ver anexo A3].

Avaliao do Impacte Ambiental

Nos documentos internacionais de referncia74, de forma


crescente e explcita manifestou-se a associao entre a necessidade de um desenvolvimento sustentvel, a responsabilizao dos Estados e a afirmao da importncia da
participao, por organizaes e cidados, nos processos
de tomada de deciso que, na Conferncia do Rio, assume
a seguinte expresso:

127

A melhor forma de tratar as questes ambientais assegurar a participao de todos os cidados interessados
ao nvel conveniente. Ao nvel nacional cada pessoa ter
acesso adequado s informaes relativas ao ambiente
detidas pelas autoridades, incluindo informaes sobre
produtos e actividades perigosas nas suas comunidades,
e a oportunidade de participar em processo de tomada
de deciso. Os estados devero facilitar e incentivar a sensibilizao e a participao do pblico, disponibilizando
amplamente as informaes. O acesso efectivo aos processos
judiciais e administrativos, incluindo os de recuperao
e de reparao, deve ser garantido75.
A AIA um instrumento de poltica de ambiente generalizada nos pases desenvolvidos e recomendada por
organismos internacionais suportada pelo princpio da preveno ambiental na implementao de planos, programas
e projectos de desenvolvimento, mediante:
uma avaliao sistemtica dos efeitos previsveis [efeitos
directos e indirectos] causados por um dado projecto no
ambiente - fauna, flora, solo, gua, atmosfera, paisagem,
factores climticos, bens materiais, patrimnio arquitectnico e populao76, sendo para o efeito suportado por um
Estudo de Impacte Ambiental [EIA].
Sustentado pelo princpio da participao, a AIA to mais
eficaz quanto a sociedade integre cidados conscientes dos
seus direitos e deveres e, mais e melhor informados estejam sobre a problemtica ambiental, capacitando-os para
uma participao substantiva na discusso pblica.
Desejando promover a educao ambiental para um melhor
conhecimento do ambiente e do desenvolvimento sustentvel
e no sentido de encorajar uma maior sensibilizao do
pblico e a sua participao nas decises que afectam
o ambiente e o desenvolvimento sustentvel77, bem como
Avaliao do Impacte Ambiental

128

75

Declarao do Rio sobre Ambiente e Desenvolvimento, princpio 10 [cfr.


anexo A3].
76
ANTUNES, Paula. Faculdade de Cincias e Tecnologia da Universidade Nova
de Lisboa. Fonte: http://www.iapmei.pt [Setembro 2005].
77
Prembulo da Conveno sobre o acesso informao, participao do
pblico no processo de tomada de deciso e acesso justia em matria
de Ambiente promovida pela Comisso Econmica para a Europa das
Naes Unidas, a 26 de Junho de 1998, em Aarhus [Dinamarca] - cfr.
anexo A3.

consumidores com prticas ambientalmente informadas,


a Conveno de Aarhus78 encerra um conjunto de princpios
que devem informar a participao em matrias ambientais.

6.2. Metodologia
A AIA uma metodologia de avaliao de planos e projectos,
normalmente dinamizada por uma estrutura institucional,
que tem por objectivo avaliar os efeitos potenciais de uma
actividade a nvel ambiental. A AIA assenta numa concepo
de Ambiente multidireccional, assumindo-se como um instrumento preventivo dos impactes ambientais associados
execuo de projectos. Para alm da vertente associada
ao Ambiente-Natureza, AIA importa tambm a cultura,
o ambiente social e psicossocial das comunidades a que se
dirigem os projectos.
Esta metodologia permite, pois, orientar a deciso no respeito pelos princpios do desenvolvimento sustentvel onde se
articulam os interesses do homem com os do equilbrio dos
ecossistemas e preservao dos recursos naturais. A par da
avaliao tcnica das solues, esta metodologia permite
integrar inputs resultantes da participao das comunidades
locais e entidades externas aos projectos.
De forma genrica, e independentemente das concretizaes locais, o processo de AIA orientado pelos seguintes
princpios/linhas de aco:
A par das propostas de aco, os projectos devem incluir
a previso de efeitos [positivos e negativos] associados
sua execuo, bem como a identificao de solues
tcnicas alternativas, ou opes possveis.
Os projectos devem prever e assegurar a adopo de
medidas de minimizao e monitorizao dos impactes
associadas execuo dos projectos.
Os projectos devem garantir decises ambientalmente
sustentveis, orientando-se pelo princpio da flexibilidade
P

P

78

Portugal aprova para ratificao esta Conveno em 2003 [Resoluo da


Assembleia da Repblica n 11/2003, publicada no DR I Srie - A, n 47,
de 2003.02.25]. A Directiva 2005/370/CE de 17 de Fevereiro valida-a, em
nome da Comunidade Europeia, sendo confirmada por Portugal atravs do
Decreto do Presidente da Repblica, de 25 de Fevereiro, publicado no DR
I Srie - A, n 47, de 2005.02.25 - Ratifica a Conveno de Aarhus. [a
Conveno vigora em Portugal desde 2003.09.07] - cfr. anexo A3.

Avaliao do Impacte Ambiental

P

129

de modo a integrar os aspectos resultantes da ponderao


das solues tcnicas e da participao pblica.
aplicao da metodologia de AIA possvel associar um
conjunto de vantagens79:
Ainda na fase de concepo do projecto assegura-se
o estudo aprofundado e a ponderao das solues a adoptar e dos efeitos que so passveis de produzir.
Identificam-se problemas e prevem-se solues numa fase
inicial do projecto, contribuindo para reduzir os custos
da proteco ambiental pela adopo de medidas
de preveno em vez de medidas correctivas.
Contribui para uma tomada de decises suportada pela
articulao entre razes tcnicas e sociais e pela participao dos interessados.
Favorece a equidade social e econmica a par de uma
melhor gesto dos recursos naturais em articulao.
Desta forma, a Avaliao de Impacte Ambiental mais
eficiente quando o Estudo de Avaliao de Impacte Ambiental exaustivo80, as instituies e as comunidades locais
so ambientalmente informadas, de forma a participar
substantiva e efectivamente, quer na fase de deciso sobre
a implementao do projecto, quer nas fases ulteriores
associadas monitorizao dos efeitos, onde a manuteno
de nveis adequados de informao central para a
verificao dos nveis de eficcia ambiental com impactes
mnimos no ambiente natural, social, cultural e psicossocial
dos indivduos, a par de um desenvolvimento econmico
que contribua para um bem-estar e conforto material81.
P

P

P

79

Avaliao do Impacte Ambiental

130

MELO, Joo Joanaz. Metodologia de Avaliao de Impactes Ambientais. In:


Centro de Estudos Judicirios. Ambiente e Consumo. II volume, 1996.
80
Onde a par da avaliao das solues tcnicas propostas sejam ponderados os efeitos nos seres humanos, fauna, flora, solo, ar, gua, clima,
paisagem, bens materiais, patrimnio cultural e social, de curto e longo
prazo, directos e indirectos, desenvolvendo para o efeito anlise de risco
e de custo benefcio.
81
Nesta acepo, o processo de AIA pode contribuir efectivamente para o
que hoje entendido como qualidade de vida: este conceito compreende
a abundncia material e o conforto econmico como componentes a no
desprezar, mas onde no [se] pode esquecer, ao mesmo tempo, os
aspectos no materiais das condies de vida, como sejam as prprias
apreciaes que delas se faz, as condies sanitrias, os servios e as
condies de sade, a famlia e as relaes sociais, ou ainda, a qualidade
do ambiente natural envolvente [FERRO, Joo; GUERRA, Joo; HONRIO,
Fernando. Municpios, sustentabilidade e qualidade de vida. Lisboa:
Observa, 2004, p. 4].

A AIA uma metodologia de apoio deciso com um conjunto de procedimentos chave. Assim, em qualquer processo
de AIA so sempre intervenientes82:
P

O dono da obra ou proponente, que prope o projecto


[de que faz parte o Estudo de Impacte Ambiental - EIA].

Os consultores ou peritos, presentes em diferentes fases


do processo, estando presentes quer no Estudo de Impacte
Ambiental, quer nas comisses que realizam a apreciao
tcnica dos processos na administrao pblica.
A sociedade civil, neste caso todas as organizaes que
possam estar interessadas no processo decisrio [autarquias locais, associaes de defesa do ambiente, associaes de moradores, profissionais ou econmicas locais,
o cidado].

P

Referencialmente, o processo de AIA de um projecto de desenvolvimento inclui as fases de definio do mbito do EIA,
a sua preparao83, a consulta pblica84 e a deciso.
O desenvolvimento de um sistema de monitorizao assoNesta acepo, o processo de AIA pode contribuir efectivamente para o
que hoje entendido como qualidade de vida: este conceito compreende
a abundncia material e o conforto econmico como componentes a no
desprezar, mas onde no [se] pode esquecer, ao mesmo tempo, os
aspectos no materiais das condies de vida, como sejam as prprias
apreciaes que delas se faz, as condies sanitrias, os servios e as
condies de sade, a famlia e as relaes sociais, ou ainda, a qualidade
do ambiente natural envolvente [FERRO, Joo; GUERRA, Joo; HONRIO,
Fernando. Municpios, sustentabilidade e qualidade de vida. Lisboa:
Observa, 2004, p. 4].
82
MELO, Joo Joanaz, ob.cit.
83
Processo complexo onde se identifica e prev a amplitude dos impactes,
avalia as alternativas para a aco, [atendendo ao espao e ao tempo],
se identificam as medidas mitigadoras, bem como a metodologia do
processo de monitorizao. A utilizao de ndices ambientais de medio
permite a articulao entre estes diversos nveis de anlise. So exemplo
de ndices utilizados nestes estudos: ndices de emisso, de qualidade
ambiental, socio-econmicos de qualidade de vida, de sensibilidade
[ecolgica, paisagem, ], tecnolgicos, etc. Idem.
84
Ibidem. A consulta pblica assenta no uso de dois conjuntos de tcnicas:
as informativas e as de participao. So exemplos de tcnicas informativas: conferncias de imprensa, comunicados, reportagens, artigos e
anncios nos meios de comunicao social; dossiers informativos,
apresentao a grupos civis e tcnicos, envio de relatrios tcnicos ou
estudo para as entidades interessadas, briefings com representantes de
organismos pblicos ou grupos para informar sobre uma deciso. Entre as
tcnicas de participao referenciam-se: comisses de acompanhamento,
grupos de discusso representativos do pblico, entrevistas, palestras,
workshop, inqurito, plebiscito, etc.

Avaliao do Impacte Ambiental

81

131

ciado ao funcionamento da instalao ou do projecto, acompanhado de auditorias ambientais [externas e/ou internas]
constituem instrumentos promotores de boas prticas
e promotores da prossecuo de objectivos ambientais
e de um desenvolvimento sustentvel.

6.3. Elementos de evoluo


A metodologia de Avaliao de Impacte Ambiental foi criada
nos Estados Unidos da Amrica com a publicao da National Environmental Policy Act [NEPA] a 1 de Janeiro de 1970.
Sucessivamente, este instrumento de poltica ambiental foi
sendo integrado nos sistemas jurdicos de um crescente
nmero de pases85, acabando por ser reconhecido como
instrumento indutor de decises orientadas para um desenvolvimento sustentvel na Conferncia do Rio:
P

A avaliao de impacte ambiental, como instrumento


nacional, deve ser efectuada em relao a determinadas
actividades que possam vir a ter um impacte adverso significativo sobre o ambiente e estejam dependentes de uma
deciso de uma autoridade nacional competente86 .

Ao longo dos anos, a metodologia de AIA evoluiu, assim


como se amplificou o seu mbito de aplicao. Do estudo
monogrfico dos primeiros tempos transformou-se numa
metodologia de apoio deciso validada, em processos de
desenvolvimento. Exemplo deste reconhecimento a exigncia de Estudos de Impacte Ambiental em projectos
liderados ou apoiados por organismos internacionais, de que
so exemplo o Banco Mundial, a FAO, a OCDE, a Organizao
85

Avaliao do Impacte Ambiental

132

Na Holanda e Pases Escandinavos [1970], a AIA passou a existir em


todos os projectos de grandes dimenses; na Alemanha, em 1971, passou
a ser obrigatria a sustentao das decises federais pela anlise de
Compatibilidade Ambiental; no Canad, em 1973 - o Environmental
Assessment and review process; na Austrlia, em 1974 - o Environmental
Protection Act; na Irlanda, em 1976, com a publicao do Local
Government Planing and Development Act, a AIA foi introduzida em todos
os projectos pblicos e privados com um oramento superior a 5 milhes
de libras; em Frana, em 1976, com a aprovao da Lei de Proteco da
Natureza todos os grandes empreendimentos pblicos e privados sujeitos
a autorizao pblica passaram a carecer de Estudos de Impacto
Ambiental [LIMA. Lusa. Avaliao Psicossocial de Impactes Ambientais.
Lisboa: Universidade Catlica Portuguesa, Ps-Graduao em Educao
Ambiental, 1996-97].
86
Princpio 17 da Declarao do Rio sobre Ambiente e Desenvolvimento,
aprovada na Conferncia das Naes Unidas sobre Ambiente e Desenvolvimento, Junho 1992 - cfr. anexo A3.

Mundial de Sade, a Comisso Econmica para a Europa


da ONU, etc.
Na Unio Europeia, a AIA foi introduzida em 1985, com
a entrada em vigor da Directiva Comunitria 85/337/CEE
de 27 de Junho [alterada pela Directiva 97/11/CE do Conselho de 3 de Maro] e complementada pela Directiva
2001/42/CE de 27 de Junho, que encerram os princpios
orientadores da avaliao de impactes ambientais: os princpios da preveno e da participao.
A Directiva 2003/04/CE 28 de Janeiro87, complementada
pela Directiva 2005/370/CE de 17 de Fevereiro88, desenvolve,
em particular, os procedimentos associados participao
pblica em planos e programas relativos ao ambiente.
Em Portugal realizam-se Estudos de Impacte Ambiental

[EIA] desde o incio da dcada de 80, sendo determinados

pela realizao de projectos onde se percepcionava o ambiente como factor crtico89. So exemplo de estudos realizados
nesta fase o empreendimento hidro-agrcola de Alqueva,
a Central Termoelctrica do Pego e o empreendimento
das Minas de Neves Corvo.
At aprovao da Lei de Bases do Ambiente [Lei 11/87
de 7 de Abril], estes estudos no tm enquadramento jurdico, apesar da meno explcita neste diploma realizao
de Estudos de Impacte Ambiental [EIA] - artigos 30. e 31.
- para planos, projectos, trabalhos e aces que possam
afectar o ambiente, o territrio e a qualidade de vida
dos cidados .

A Avaliao de Impacte Ambiental regulamentada em 1990,


atravs do Decreto-Lei n. 186/90 de 6 de Junho onde
87

Revoga a Directiva 90/313/CE.


Ratifica a Conferncia de Aarhus e determina a sua complementaridade
em relao a aspectos especficos enquadrados pela Directiva 2003/04/CE
de 28 de Janeiro.
89
Melo, Joo Joanaz, ob.cit.
88

Avaliao do Impacte Ambiental

Todavia, a partir de ento assiste-se afluncia de um


conjunto de EIA ao Ministrio tutelar - Ministrio do Planeamento e Administrao do Territrio - respondendo
assim s exigncias da legislao europeia, os quais eram
enquadrados por Comisses de Acompanhamento definidas
ad hoc pelos servios competentes.

133

se definem os princpios gerais por que se deve reger o


processo de Avaliao de Impacte Ambiental90. Este diploma
legal e toda a legislao complementar foi revogado pela
entrada em vigor de novo diploma legal enquadrador do
processo de Avaliao de Impacte Ambiental: o Decreto-Lei
n 69/2000, de 3 de Maio. Este diploma transpe para a
legislao nacional as Directivas comunitrias e estabe-lece
o novo regime jurdico da avaliao de impacte ambiental
em projectos pblicos e privados susceptveis de
produzirem efeitos significativos no ambiente91.
Tendo por referncia o Decreto-Lei 69/2000 de 3 de Maio
e legislao acessria, o processo de Avaliao de Impacte
Ambiental [AIA] segue um faseamento especfico, integrando os critrios tcnicos da avaliao dos projectos [a
nvel da concepo do projecto na participao de peritos
em determinadas fases do processo], com a audio dos
interessados internos e externos. Assim, de forma sistemtica,
o AIA deve respeitar o seguinte faseamento:
1 Seleco dos projectos - atendendo enunciao constante dos anexos I e II, sobre os projectos obrigatoriamente
sujeitos a AIA, o proponente deve apresentar Autoridade
de AIA o processo devidamente instrudo com o objectivo
de possibilitar a determinao da aplicao dos procedimentos de AIA.
P

2 Definio do mbito - para permitir a identificao


das questes a ser objecto de Estudo de Impacte Ambiental
[EIA] e facilitar a identificao dos impactes a serem
objecto de ateno particular no EIA, o proponente do
projecto pode [de forma facultativa] solicitar um parecer
Autoridade de AIA. Esta fase contribuir para aumentar
a eficcia do processo de AIA.
P

3 Preparao do Estudo de Impacte Ambiental [EIA] a realizar pelo proponente, contendo:


P

Avaliao do Impacte Ambiental

134

90

Descrio do projecto;
Apreciao das alternativas;

Este enquadramento foi complementado e alterado por legislao publicada


posteriormente: Portaria n 590/97, de 5 de Agosto, pelo Decreto Regulamentar n 38/90 de 27 de Novembro, pelo Decreto-Lei 278/97 de 8 de
Outubro e Decreto-Regulamentar 42/97 de 10 de Outubro.
91
ANTUNES, Paula. Faculdade de Cincias e Tecnologia da Universidade Nova
de Lisboa. In: http://www.iapmei.pt [Setembro05].

Descrio do estado actual do ambiente;


Anlise de impactes;
Interpretao e apreciao dos impactes;
Minimizao e gesto de impactes;
Descrio dos programas de monitorizao.

4 Apreciao tcnica do EIA - que avalia o cumprimento


dos termos de referncia pelo EIA, dos requisitos legais,
assim como a presena da informao base necessria
tomada de deciso. A apreciao tcnica da responsabilidade da Autoridade de AIA [constituda pela Agncia
Portuguesa do Ambiente ou Direces Regionais do Ambiente, de acordo com a natureza do projecto em anlise].
P

5 Participao pblica - nesta fase procede-se recolha


de opinies, sugestes e outros contributos dos interessados no projecto sujeito a AIA, atravs de consulta pblica.
P

6 Preparao da Declarao de Impacte Ambiental [DIA]


- A Declarao de Impacte Ambiental contm a deciso
formal do procedimento de AIA, assim como a fundamentao a ela associada, sustentada pelos resultados da participao pblica. A DIA proferida pelo Ministro do Ambiente
e do Ordenamento do Territrio e tem carcter vinculativo.
P

Nmeros de Processos de Avaliao de Impacte Ambiental


entrados em Entidade Competente

[Fonte: AAVV. Impacte Ambiental, Contingncia e Regulao. Lisboa: 2000]

7 Ps-avaliao - que visa assegurar que os termos


e condies de aprovao de um projecto so efectivamente
cumpridos, atravs da verificao de conformidade, de monitorizao e da realizao de auditorias.
P

ainda de referir que, tendo por base a anlise do grfico


anterior, tem sido crescente o nmero de processos sujeitos
a avaliao de impacte ambiental, os quais se tm centrado
em reas que acompanham as prprias determinantes do
desenvolvimento de Portugal92. Sob o ponto de vista qualitativo na dcada de 90 predominaram os projectos associados construo/alterao de vias de comunicao, construo de barragens e infra-estruturas93. Com a entrada em
vigor do novo regime legal, o Relatrio do Estado do Ambiente de 2003 reconhece:
Nos trs primeiros anos de vigncia do novo regime legal
verificou-se um aumento significativo do nmero global
de processos sujeitos a avaliao, nomeadamente os projectos
das grandes infra-estruturas de iniciativa do Estado94.
As vias rodovirias e os projectos elicos constituem a maioria dos projectos submetidos a AIA.

92

Avaliao do Impacte Ambiental

136

A tipologia dos projectos abrangidos por AIA est definida nos anexos
I e II do decreto-lei 69/2000 de 3 de Maio, de que so exemplo:
refinarias de petrleo bruto, centrais trmicas, centrais nucleares,
instalaes qumicas ou ligadas actividade mineira, vias de comunicao, instalaes de tratamento de vrios tipos de resduos, de tratamento de guas e efluentes, instalaes industriais; bem como [anexo 2]
projectos de emparcelamento rural, de desenvolvimento agrcola com
infra-estruturas de rega, de florestao e reflorestao com espcies de
crescimento rpido, instalaes de pecuria e de piscicultura intensiva;
produo e transformao de metais; indstrias extractiva, da energia
e mineral qumica, alimentar, txtil, curtumes, madeira e papel, da borracha;
projectos de infra-estruturas, turismo.
93
Cfr. GARCIA, J.L.; SUBTIL, F., POTT, M. Impacte Ambiental, contingncia
e regulao. Lisboa: Observa, 2000, p. 38.
94
MAOT. Relatrio do Estado do Ambiente em Portugal 2003. Lisboa: MAOT,
2005, p. 174.

Os problemas ambientais e a conscincia ecolgica

100

Os problemas ambientais e a conscincia ecolgica

101

Animais em Meio Urbano

Os problemas ambientais e a conscincia ecolgica

CAPIT

31

138

A relao do Homem com a Natureza e a sua evoluo foi, ao longo dos tempos, objecto de reflexo filosfica, mas tambm da curiosidade cientfica.
Da viso animada da Natureza na Antiguidade chegou-se,
nos nossos dias, a uma nova conscincia sobre a relao
Homem-Natureza95, a par do aprofundamento da abordagem cientfica aos segredos da Terra, das espcies, da vida,
do comportamento e vivncia em sociedade.
Nos nossos dias a pertinncia e visibilidade da temtica
animal toca aspectos to diversificados como a defesa de
animais em extino, a discusso em torno da manuteno
de animais em cativeiro e da sua exibio em espectculos
[jardins zoolgicos, circos], do uso de animais para investigao e ensino, bem como, questes bem mais prximas
de ns: os maus-tratos e o abandono, sem esquecer aqueles
que connosco convivem diariamente e partilham o espao
em que vivemos - as pragas.
A abordagem ecolgica analisa o ser vivo inserido e em
inter-relao com o meio. Michel Lamy96 considera que o
Homem possui diversos invlucros ecolgicos: o aqutico,
a pele, o vesturio, o espao individual, os invlucros ecolgicos e sociais [da casa aldeia, do espao rural cidade
e s grandes metrpoles]:
O Homem no se contentou com os seus invlucros ecolgicos e individuais. Com o auxlio de utenslios, construiu
a sua casa para proteger a famlia. Organizando-se em
sociedade, agrupou as casas em aldeias, cidades e megaplis,
no seio das quais desenvolve as suas actividades.
Estas construes no foram edificadas ao acaso.
[]
O espao rural, devido sedentarizao do homem e
urbanizao, foi ento completamente reestruturado, e as
nossas paisagens ficaram profundamente modificadas97
95

Ver captulo III sobre educao ambiental.


LAMY, Michel. As camadas ecolgicas do homem. Lisboa: Instituto Piaget,
Perspectivas ecolgicas, 1996.
97
Idem, p. 101.
96

Do Homem. Dos Direitos do Animal e dos Animais na Cidade.

1.Do Homem. Dos Direitos


do Animal e dos Animais na Cidade

139

Todavia, onde quer que esteja o Homem acompanhado


por outros ser vivos, encontre-se ele no campo ou na cidade.
Aves, insectos, mamferos e outros animais acompanham-no de uma forma mais ou menos visvel, beneficiando dos
locais de refgio por ele proporcionados, adaptando-se
s novas condies.
Em casa, desejando-o ou no, o homem conviveu com numerosos ser vivos. A par dos animais domsticos [galinceos,
ovinos, etc.] e de companhia [ces, gatos], numerosos
invertebrados convivem dia-a-dia com o homem - tais como
insectos, aranhas, caros e mamferos [ratos]. Tambm
fungos e bactrias potenciais causadores de fenmenos
alrgicos so uma presena forte no quotidiano humano.
O convvio equilibrado entre espcies colocou desafios.
Nas cidades o controlo de pragas e a intimidade com
animais de companhia em nome da sade pblica sustentou o desenvolvimento de mtodos e tcnicas que suportam a partilha do espao, onde o equilbrio entre espcies
conseguido pela adopo de mtodos mais ou menos
ofensivos dos ecossistemas.
A segunda metade do sculo XX assiste ao reconhecimento
pblico dos direitos dos animais atravs da proclamao
da Declarao Universal do Direitos dos Animais98 pela
UNESCO, em 1978. Em Frana, pela primeira vez, surgira
em 1924 a publicao da Declarao dos Direitos dos Animais [Andr Graud]99.
Do Homem. Dos Direitos do Animal e dos Animais na Cidade

140

A reflexo filosfica sobre as relaes Homem-Natureza


teve ao longo dos tempos abordagens diversificadas.
A discusso em torno dos direitos dos animais foi um
dos parntesis dessa discusso filosfica100, muitas das vezes
com traduo em acontecimentos que do nota das preocupaes e entendimento de cada poca. Ferry, numa linguagem muito pitoresca, d nota da realizao de processos
98

Cfr.: http://www.lpda.pt [Novembro05]. Esta declarao coloca-se por


oposio Declarao dos Direitos do Homem e do Cidado, proclamados pela 1. vez na Revoluo Francesa [1789]. Em 1948, a Assembleia
Geral das Naes Unidas, a 10 de Dezembro de 1948, proclamou, no
ps-II Guerra Mundial, a Declarao Universal dos Direitos do Homem
Cfr.: http://www.unhchr.ch [Novembro05].
99
Cfr. prefcio da obra de FERRY, L. A Nova Ordem Ecolgica. Lisboa:
Edies Asa, 1993, p. 61.
100
Idem.

judiciais no sculo XV para julgar a devastao causada


por animais em povoaes101, sendo estes constitudos rus
e julgados luz dos valores da poca, podendo a sentena variar consoante os animais fossem considerados
como criaturas de Deus limitando-se a seguir a lei natural,
como flagelo enviado aos homens em castigo dos seus
pecados, ou como instrumento do demnio opondo-se
frontalmente prpria autoridade eclesistica102.
Descartes103, sustentado pela sua viso racional do mundo,
reconhece ao homem todos os direitos e nenhum natureza; defendia que o animal como todas as mquinas
bem feitas, funciona melhor do que o homem: bem sei
- escreve Descartes - fazem coisas muito melhor do que ns,
mas tal no me admira, pois isso mesmo serve para provar
que eles agem natural e mecanicamente, assim como um
relgio que mostra as horas com mais exactido do que
o nosso julgamento. E no h dvida de que, quando as andorinhas voltam na Primavera, esto a agir como relgios104.
Durante o sculo XVIII surgem alguns pensadores105 que,
numa postura anti-cartesiana, ensaiam a defesa do Direito
dos Bichos, depois continuada no sculo XIX, centrando as
suas teses na concepo de que o animal pensa e sofre e,
So exemplos: o processo levantado pela aldeia de Saint-Jean-de
Maurienne contra uma colnia de gorgulhos; a cidade de Coire contra as
larvas.
102
Ibidem, p. 13.
103
1596-1650.
104
Citado por FERRY, p. 57-58.
105
Maupertuis nas Mmoires pour servir l' histoire des Insectes [1734]
e Condillac no Trait des Animaux so alguns dos autores centrais desta
linha de pensamento.
Pierre-Louis Moreau de Maupertuis [1698-1759] - No Sistema da
natureza [1752], o autor apresenta uma ampla teoria que pretende
explicar, a partir de um princpio gerativo universal, como os organismos
actuais so gerados, como as espcies podem conservar-se ao longo do
tempo e como ocorre a formao de novas espcies a partir de uma
dada linhagem de organismos. [RAMOS, Maurcio de Carvalho. Origem da
vida e origem das espcies no sculo XVIII: as concepes de Maupertuis.
So Paulo: Departamento de Filosofia da Universidade de So Paulo.
In: http://www.fflch.usp.br [Novembro05].
Tienne Bonnot de Condillac [1714 -1780]. Publicou 2 trabalhos: Ensaio
das origens do conhecimento humano [1746], Tratado das Sensaes
[Treatise on Sensations, de 1754].
106
FERRY, ob. cit., p. 60. Identifica como autores relevantes: Rousseau e Kant
entre outros.

Do Homem. Dos Direitos do Animal e dos Animais na Cidade

101

141

nessa medida possui direitos e cria deveres humanidade106.


No seu tempo, J. Bentham107 equacionava o problema nos seguintes termos: a questo : no podem raciocinar? Nem
podem falar? Mas podem sofrer?.
Ferry sintetiza do seguinte modo a evoluo do pensamento filosfico em relao problemtica do direito
dos animais:
A posio cartesiana, segundo a qual a natureza, incluindo o reino animal, est inteiramente privada de direitos
em benefcio desse plo nico de sentido que o sujeito
humano.
P

A tradio republicana e humanista [] Quatro temas


filosficos revelam-se inseparveis: o homem o nico
ser titular de direitos; o fim ltimo da sua actividade
moral e poltica no , antes de mais, a felicidade, mas
a liberdade; nesta ltima que se funda o princpio
da ordem jurdica, e no primordialmente a existncia
de interesses a proteger; apesar de tudo, o ser humano
est ligado por certos deveres aos animais, em particular
pelo de no lhes infligir sofrimentos inteis.
O pensamento utilitarista no qual o homem no
o nico detentor de direitos, mas em que o so, com
ele, todos os entes susceptveis de prazeres e dores.108

Peter Singer109 na actualidade, um dos pensadores que


se inscreve nesta ltima linha e postula como princpio
tico bsico o da Igual Considerao de Interesses, que
designa como princpio, a igualdade quer entre as pessoas,
quer nas relaes com seres de outras espcies: os animais
no-humanos.

2.Animais de Companhia
A problemtica dos animais de companhia, a nvel
nacional, enquadrada por um conjunto de diplomas
Animais de Companhia

142

107

1748-1842. Principal obra: Introduction to the Principles of morals and


legislation [1789].
108
Idem, p. 65.
109
So obras de referncia deste autor: Animal Liberation [1975] e Practical
ethics [tica Prtica]. Gradiva, 2002.

legais110 que regulam de uma forma muito precisa a actividade institucional nesta rea de aco.
A Conveno Europeia para a Proteco dos Animais de
Companhia, assinada por todos os Estados Membros do Conselho da Europa, constitui o documento internacional de
referncia, tendo sido transposto para a legislao portuguesa em 1993.

2.1. Conceitos Gerais


Dono ou Detentor - Qualquer pessoa singular ou colectiva
responsvel pelos animais de companhia para efeitos
de reproduo, criao, manuteno, acomodao ou utilizao, com ou sem fins comerciais.

Animal de Companhia - Qualquer animal detido ou destinado a ser detido pelo homem, designadamente em sua
casa, para seu entretenimento e companhia.

P

Animal Vadio ou Errante - Qualquer animal que seja


encontrado na via pblica ou outros lugares pblicos, fora
do controlo e guarda dos respectivos detentores, ou relativamente ao qual existem fortes indcios de que foi abandonado ou no tem detentor e no esteja abandonado.
Animal Potencialmente Perigoso - Qualquer animal que,
devido sua especificidade fisiolgica, tipologia racial,
comportamento agressivo, tamanho ou potncia de mandbula, possa causar leso ou morte a pessoas ou outros
animais, nomeadamente os ces pertencentes s raas
Co de Fila Brasileiro, Dogue Argentino, Pit Bull Terrier,
Rottweiller, Staffordshire Terrier Americano, Staffordshire
Bull Terrier e Tosa Inu, bem como os cruzamentos destas
raas entre si ou o seu cruzamento com outras.
Animal Perigoso111 - Qualquer animal que se encontre
numa das seguintes situaes:
Tenha mordido, atacado ou ofendido o corpo ou sade
de uma pessoa.

110

Cfr. o anexo A2, que inclui um captulo com uma sntese da legislao
de enquadramento [Portaria 81/2002 de 24 de 24 de Janeiro;
Portaria 899/2003 de 28 de Agosto; Decretos-Lei 312/2003, 313/2003,
314/2003 e 315/2003 de 17 de Dezembro; Portarias 421/2004 e
422/2004 de 24 de Abril; Portaria 585/2004 de 29 de Maio].
111
Foi publicada legislao especfica para este tipo de animais [Decreto-Lei 312/2003 de 17 de Dezembro] - cfr. anexo A2.

Animais de Companhia

143

Tenha ferido gravemente ou morto um outro animal fora


da propriedade do detentor.

Tenha sido declarado voluntariamente pelo seu detentor,


Junta de Freguesia da rea da sua residncia, que tem
um carcter ou comportamento agressivos.

Campanha
de sensibilizao
sobre os animais
de companhia dirigida
cidade de Lisboa.

Tenha sido declarado pela autoridade competente como um


risco para a segurana de pessoas ou animais, devido
ao seu carcter agressivo ou especificidade fisiolgica.
Ces e Gatos Adultos - Todos os
animais destas espcies, com idade
igual ou superior a 1 ano de idade.
Co Guia - Todo o co devidamente treinado, atravs de ensino especializado ministrado por entidade reconhecida para o efeito, para
acompanhar como guia pessoas invisuais e que tem o
direito de acompanhar o invisual, com entrada, sem quaisquer restries, em todos os locais pblicos e privados.
Co de Caa - Co que pertence a um indivduo habilitado
com carta de caador actualizada e que declarado como
tal pelo seu dono ou detentor.
Animal com Fins Econmicos - Animal que se destina
a objectivos e finalidades utilitrios, guardando rebanhos,
edifcios, terrenos, embarcaes ou outros bens ou ainda
utilizado como reprodutor nos locais de seleco e multiplicao.
Animal para Fins Militares ou Policiais - Animal que propriedade das Foras Armadas ou de entidades policiais ou de
segurana e se destina aos fins especficos destas entidades.
P

P

P

P

Aaime Funcional - Utenslio que, aplicado ao animal sem


lhe dificultar a funo respiratria, no lhe permita comer
nem morder.
Animal suspeito de Raiva - Qualquer animal susceptvel
que, por sinais ou alteraes de comportamento exibidos,
seja considerado como tal por um Mdico Veterinrio. So
sempre considerados como suspeitos de raiva todos os
animais que agridem pessoas ou outros animais.

P

Animais de Companhia

144

2.2. Obrigao dos Detentores


Aos donos ou detentores de animais cabe o que podemos
designar por cuidados gerais e por cuidados especiais,

sendo estes ltimos, com alguma frequncia negligenciados


ou desconhecidos dos proprietrios.
Dentro dos cuidados gerais temos:
Alimentao adequada - de acordo com a espcie, raa, idade
e estado fisiolgico, o proprietrio pode optar por confeccionar
a alimentao destinada aos seus
animais, a qual deve ser apenas
cozida com gua e um pouco de sal, sem quaisquer outros
temperos [os restos da nossa comida no so adequados
para os ces e gatos], ou optar por raes comerciais,
podendo esta ser hmida [enlatados] ou seca [normalmente sob a forma de grnulos]. Qualquer dos tipos
de alimentao adequada se for completa e equilibrada, o que normalmente sucede com as raes comerciais,
mas nem sempre com a alimentao caseira. Esta ltima
deve conter protena de origem animal [carne ou peixe],
uma fonte energtica [arroz ou massa; se for utilizada
batata esta deve ser em pouca quantidade] e uma fonte
de vitaminas e minerais [vegetais e fruta].

Uma alimentao
completa e equilibrada essencial para
o bem estar do seu
animal de companhia.

Em animais jovens pode fornecer-se algum leite, podendo


ser leite gordo de vaca, caso no provoque diarreia, ou
preferencialmente leite de substituio destinado a cachorros ou gatinhos, uma vez que o leite de cadela e gata
muito mais rico que o de vaca. Para alm de leite,
podemos proporcionar aos animais, mesmo adultos, outros
produtos lcteos, de que destacamos o iogurte natural no
aucarado, queijo fresco ou requeijo.
No devem ser fornecidos aos animais produtos aucarados
[bolachas, bolos, etc.], gorduras [gordura animal, po com
manteiga, etc.] ou ossos, sobretudo ossos de galinha ou
codorniz, costeleta ou qualquer osso de pequenas dimenses. Os nicos ossos adequados so os de dimenso
elevada [especialmente os ossos do joelho ou perna de
vaca] e s depois da mudana de dentio - a qual se
inicia aos 4 meses de idade - podem tambm ser dados
ossos artificiais. Para os animais at aos 4 meses de idade
devem ser fornecidos alimentos 4 vezes por dia; entre
os 4-6 meses, 3 vezes por dia; aps os 6 meses, 2 vezes
por dia. Nas raes comerciais, a quantidade total diria
vem normalmente mencionada na embalagem.

Animais de Companhia

145

Fornecimento de gua em quantidade e qualidade - os


gatos so especialmente exigentes na qualidade da gua,
gostando de gua fresca [nunca proveniente de frigorfico]
e limpa, obrigando sua mudana diria. Os animais que
so alimentados com raes secas consomem muito mais
gua, pelo que isso tem de ser tido em conta.
Higiene do animal - Os ces necessitam de um banho
quinzenal ou mensal para minorar os odores caractersticos, podendo ser usados nesse banho champs para uso
veterinrio ou simplesmente sabo azul e branco ou sabo
de seda, desde que no haja patologia do foro dermatolgico. Os gatos no necessitam de banhos frequentes
e no produzem odores desagradveis, cuidando eles mesmo da sua higiene, salvo em caso de doena, em que
deixam de o fazer. Pode-lhes ser dado um banho espordico [normalmente um banho em cada 6 meses].
Higiene do local onde vive o animal.
Desparasitaes peridicas - Existem 2 tipos de desparasitaes: as desparasitaes internas e as desparasitaes externas, dizendo as primeiras respeito ao combate
aos parasitas existentes no interior do corpo, predominantemente no tubo digestivo e as segundas ao combate
aos parasitas existentes na pele.
Dentro dos parasitas internos temos 2 grupos predominantes,
que so os nemtodos ou vermes redondos [as vulgares
lombrigas] e os cstodos ou vermes chatos [conhecidos
genericamente por tnias]. Em geral, os animais devem
ser desparasitados internamente pelo menos 2 vezes por
ano, mas preferencialmente 4 vezes por ano. No caso
dos cachorros ou gatinhos, as desparasitaes devem ter
incio logo nas primeiras semanas de vida e serem repetidas
em intervalos de 2-3 semanas, seguindo depois o esquema
antes mencionado para desparasitaes de manuteno.

Animais de Companhia

146

Existem desparasitantes internos sob vrias formas farmacuticas [comprimidos, xaropes ou suspenses e pastas].
As pastas e xaropes so, como regra geral, mais adequadas para animais jovens, enquanto que os comprimidos
se destinam predominantemente a animais adultos. Os
desparasitantes internos devem ser de amplo espectro,
ou seja, abranger nemtodos e cstodos, sobretudo nos
animais adultos.

Quanto aos parasitas externos ou ectoparasitas predominam


2 grupos: as carraas e as pulgas. Para o seu combate
h produtos que actuam sobre ambos e outros que s
actuam sobre um dos grupos. Os produtos mais recentes
tm efeito residual; isto , actuam durante perodos
prolongados, podendo chegar at aos 6 meses. Existem
sob vrias formas desde champs, coleiras, comprimidos,
sprays, injectvel e spot-on. Este ltimo consiste numa
pipeta, contendo um lquido, o qual aplicado sobre
a pele na regio dorsal do pescoo - na zona mais
prximo da cabea - de modo que o animal no possa
lamber o local, tendo uma aco que vai de 1 a 3 meses.
Um dos principais problemas dos anti-parasitrios sobretudo nos externos - a capacidade dos parasitas
adquirirem resistncia, pelo que fundamental no administrar doses inferiores s recomendadas.
Cuidados Mdico-Veterinrios, quer em termos de profilaxia
[vacinas], quer em termos de teraputica [tratamentos
propriamente ditos] - Existem vacinas que so obrigatrias
[destinam-se fundamentalmente preveno do contgio
humano] e outras que so facultativas.
No primeiro caso temos a vacinao anti-rbica, a qual
obrigatria para todos os ces com 3 ou mais meses
de idade e tem de ser repetida anualmente.
No segundo caso h, para os ces, as vacinas contra
a Esgana, Hepatite, Leptospirose, Parvovirose, Tosse do Canil,
Piroplasmose [babesiose] e Borreliose [Doena de Lyme].
Estas devem ser dadas a partir das 6-7 semanas de
idade, repetidas ao fim de 3-4 semanas e depois anualmente112. Entre as vacinas facultativas para os gatos h,
tambm, a vacina contra a coriza, a panleucopnia felina
e a leucose, sendo o esquema de vacinao idntico ao
mencionado para os ces. A vacina anti-rbica facultativa
para os gatos.
Os cuidados especiais para os donos dos animais so os descritos na Lei. Ou seja:
P

Identificao do animal - Todo o animal que circula


na via pblica ou em quaisquer outros lugares pblicos
- seja co, ou gato - tem obrigatoriamente de possuir

112

No caso da esgana e parvovirose, j existem vacinas que podem ser


dadas logo s 4-5 semanas, conferindo assim um incio de imunidade mais
cedo contra duas doenas que tm elevada mobilidade e mortalidade.

Animais de Companhia

147

coleira ou peitoral, onde deve estar colocado, por qualquer


forma, o nome e morada ou telefone do dono do detentor.
P

Uso de trela ou aaimo - proibida a presena na via


pblica [ou em quaisquer outros lugares pblicos] de ces
sem aaimo funcional, excepto quando conduzidos trela;
ou, tratando-se de animais utilizados na caa, durante
os actos venatrios ou em provas e treinos. Nos termos
da lei, nos animais perigosos ou potencialmente perigosos
sempre obrigatrio o uso de aaimo e trela curta
[inferior a 1 metro] em material resistente113.

Dever especial de cuidado - Incumbe ao detentor do animal


o dever especial de o vigiar, de forma a evitar que este
ponha em risco a vida ou a integridade fsica de outras
pessoas ou animais114.

P

2.3. Captura de Animais e Controle da reproduo


2.3.1. Captura de Animais
A captura de animais pode ser determinada por vrias
situaes: por circulao indevida, por risco para a sade
pblica e por abandono de animais de companhia.
A circulao de ces e gatos na via ou lugares pblicos
tem, como vimos, regras bem claras. As Cmaras Municipais
podem criar zonas ou locais prprios para a permanncia
e circulao de ces e gatos, sem os meios de conteno
previstos na Lei, estabelecendo, para o efeito, as condies
em que aquelas se podem fazer.
Considera-se abandono de animais de companhia a no
prestao de cuidados no alojamento, bem como a remoo
efectuada pelos seus detentores para fora do domiclio ou
dos locais onde costumam estar mantidos, com vista a pr
termo sua deteno, sem que procedam sua transmisso
para a guarda e responsabilidade de outras pessoas,
das autarquias locais ou das sociedades zofilas115.
113

Animais de Companhia

148

No ponto 2.8. deste captulo encontra-se desenvolvida a temtica dos


animais perigosos ou potencialmente perigosos.
114
Art. 6 do D.L. 276/2001 de 17 de Outubro, com a redaco dada pelo
D.L. 315/2003 de 17 de Dezembro. A violao do dever de cuidado
punvel com coima que varia entre 500,00 e 3 740,00 - cfr. anexo
A2.
115
Contra-ordenao por abandono, punvel com coima de 500,00
a 3740,00 - cfr. anexo A2.

Nos domnios da defesa da Sade Pblica e do Ambiente


atribuio das autarquias proceder captura dos ces
e gatos vadios ou errantes, encontrados na via ou em quaisquer lugares pblicos. Para o efeito dever ser utilizado
o mtodo de captura mais adequado a cada caso, recolhendo os animais no canil ou gatil municipal.
Os animais capturados so submetidos a exame clnico pelo
Mdico Veterinrio Municipal, que do facto elabora relatrio
sntese e decide do seu ulterior destino. Os animais devem
permanecer no canil ou gatil
municipal durante o perodo
mnimo de 8 dias.

Animais
capturados e entregues
no Canil/Gatil
Municipal

Durante o perodo de recolha


no canil/gatil, todas as despesas de alimentao e alojamento
so da responsabilidade do
dono ou detentor do animal, bem como o pagamento das
multas e coimas correspondentes aos ilcitos contra-ordenacionais verificados. Caso estes pagamentos no sejam
efectuados, as Cmaras Municipais podem dispor livremente
destes animais.

A CML possui
uma linha de adopo
disponvel na sua
prpria pgina
da internet:
www.cm-lisboa.pt
[link da Lisboa Limpa]

Os animais recolhidos s podem ser entregues aos presumveis donos ou detentores depois de identificados, submetidos
s aces de profilaxia consideradas obrigatrias para o ano
em curso e sob termo de responsabilidade escrito do dono
ou detentor com a sua identificao completa.
Quando no reclamados, as
Cmaras Municipais devero
publicitar, pelos meios
usuais, a existncia destes
animais com o objectivo de
cedncia a particulares ou
a entidades [pblicas ou privadas] que demonstrem possuir
os meios necessrios sua manuteno. Se mesmo assim
no forem reclamados/cedidos, as autarquias podem
dispor deles livremente. Atendendo salvaguarda de
quaisquer riscos sanitrios para as pessoas ou outros
animais, por parecer do Mdico Veterinrio Municipal,
podem at decidir a sua occiso atravs de mtodos que
no impliquem dor ou sofrimento ao animal.
Se conhecida a identidade dos detentores dos ces e gatos
capturados, aqueles so notificados para o seu levantamento
149

e punidos pelo abandono de animais, nos termos da legislao em vigor.

2.3.2. Controle da Reproduo


Entre os animais de companhia, o Homem permite a reproduo excessiva dos animais, nomeadamente do co
e do gato, o que tem implicaes no elevado nmero
de abandonos e de animais errantes, causa de sofrimento
para os animais, mas tambm um risco para a sade pblica.
competncia das Cmaras Municipais promover a captura
de animais vadios ou errantes na via pblica, fazendo-os
recolher ao Canil e/ou Gatil Municipais. A captura de animais
na via pblica e a sua occiso no pode ser considerada
como a maneira mais eficaz de lidar com o excesso de animais vadios, pois no tem qualquer efeito na origem
do problema: excesso de produo de animais. A captura
de animais errantes reduz apenas temporariamente a sua
populao num determinado local, o que aumenta a probabilidade de sobrevivncia dos restantes e encoraja a migrao
de outros para essas zonas limpas.
necessrio que sejam tomadas medidas a longo prazo,
as quais incluem:
P

Uma correcta identificao animal.


O controle da reproduo atravs da esterilizao.
Sensibilizao e educao da populao.

A razo porque muitos governos evitam a introduo de um


programa mais humanitrio de controlo da populao vadia
ou errante, prende-se com o custo destas operaes. Trata-se de uma falsa economia se tivermos em conta os custos
que advm dos programas pouco efectivos, como sejam:
P

Animais de Companhia

150

Os acidentes de trfego.
As despesas mdicas provocadas pelas mordidelas.
O custo da eutansia em si.
Outras implicaes a nvel da Sade Pblica, como sejam
a propagao de certas zoonoses, nomeadamente a raiva.

O Canil/Gatil de Lisboa deu incio a um programa de esterilizao de animais vadios para adopo. O programa
consiste em:

Relativamente aos Gatos - Um casal de gatos pode ter


2 ou mais ninhadas por ano o que, exponencialmente,
pode representar 420.000 animais no final de um perodo
de 7 anos. Perante este facto, torna-se evidente a importncia da adopo de medidas eficazes de controlo,
as quais podem passar por:
Captura dos animais
Despiste das principais doenas e, no caso dos gatos
saudveis, a esterilizao e libertao de novo no local.
Este mtodo apresenta as seguintes vantagens:
Estabiliza o nmero de animais nas colnias.
Elimina os comportamentos ruidosos associados ao acasalamento.
mais eficaz, dado que os animais no so retirados
do local, reduzindo a possibilidade de migraes e de futura procriao.
Ajuda a combater os roedores.
Menor custo.
Pode proporcionar uma vida melhor a esses animais.
Estas colnias devero ser supervisionadas por grupos de
moradores ou por pessoal das Associaes de Proteco
dos Animais.
Para evitar a propagao de doena a outros membros
da colnia ou a gatos da vizinhana, s devem ser libertados
animais saudveis nas zonas supervisionadas e eutanasiados
os animais com doenas fatais ou contagiosas.
Relativamente aos Ces:
Captura dos animais.
Despiste das suas principais doenas.
Esterilizao das fmeas saudveis e com possibilidades
de adopo.
Os machos, em princpio, s sero castrados aqueles cujos
donos o solicitarem. Encara-se a possibilidade de esterilizao dos outros, o que impede a sua reproduo sem
os inconvenientes associados castrao, nomeadamente
a nvel esttico, de obesidade, etc.
O objectivo a atingir reservar a occiso para animais
doentes e agressivos.
P

Animais de Companhia

151

O estabelecimento de programas de esterilizao apoiados


[por Institutos Veterinrios e Associaes Protectoras de
Animais] uma estratgia tambm a observar pelas
autoridades locais, a par da concordncia da populao
em geral. A colaborao de todos importante, para que
o controle das populaes seja efectivo e se obtenham
resultados a mais curto prazo.

2.4. Identificao Animal

Identificao electrnica

Existem 2 tipos de identificao: a tatuagem e a identificao electrnica [microship].


Esta o tipo de identificao
adoptado pela actual legislao, sendo a nica em pleno
funcionamento.
Qualquer dos tipos de identificao, para ser eficaz, necessita de:
P

Possuir um conjunto de letras e/ou nmeros.


Regras de descodificao para as letras e/ou nmeros,
a qual no existe, ainda neste momento, para a tatuagem.
Base de dados - actualmente, h duas bases de dados.
Uma delas existe j h vrios anos sendo designada por
Sistema de Identificao e Registo Animal [SIRA] e est
instalada no Sindicato Nacional dos Mdicos Veterinrios.
A actual legislao obrigou criao do Sistema de Identificao de Caninos e Felinos [SICAFE] coordenada pela
Direco Geral de Veterinria [DGV]. A legislao omissa
quanto articulao entre o SIRA e o SICAFE.

A identificao electrnica obrigatria, desde 1 de Julho


de 2004, para os seguintes grupos de animais, devendo
ser efectuada entre os 3 e os 6 meses de idade:
P

Animais de Companhia

152

Ces perigosos ou potencialmente perigosos.


Ces utilizados em acto venatrio [Ces de caa].
Co em exposio, para fins comerciais ou lucrativos,
em estabelecimentos de venda, locais de criao, feiras
e concursos, provas funcionais, publicidade ou fins similares.

A partir de 1 de Julho de 2008, a identificao electrnica


passa a ser obrigatria para todos os ces nascidos aps
esta data.

A obrigatoriedade de identificao electrnica para os gatos


ser fixada por despacho do Ministro da Agricultura, Desenvolvimento Rural e Pescas.
A identificao electrnica animal de primordial importncia nas seguintes situaes:
Abandono - s possvel identificar e punir o proprietrio
se o animal estiver identificado, pois a coleira com identificao perde-se ou retira-se com facilidade e apanhar
o dono em flagrante muito difcil.
Perda - se no tiver coleira com identificao [nome
e morada ou telefone do proprietrio], no possvel
estabelecer contacto com o proprietrio.
Roubo - S possvel confirmar, de forma inequvoca, se
determinado animal foi roubado se estiver identificado.
A tatuagem, para alm do facto de no ter regras para
a sua descodificao e no possuir base de dados, ainda
apresenta as seguintes desvantagens face identificao
electrnica:
colocada normalmente na face interna da orelha, o que,
em caso de leso ou amputao, torna invivel a sua
leitura [a tatuagem pode tambm ser feita na face interna
da coxa].
removida com relativa facilidade, quer por amputao
da orelha, quer por remoo da pele no local de implantao.
fcil a confuso entre diversos algarismos, sobretudo
0, 3, 6, 8 e 9.
A dificuldade de leitura aumenta ao longo do tempo e
com o crescimento do animal.
Quando feita pelo mtodo tradicional, causa mais dor
do que a aplicao do microship [a tatuagem pode tambm ser feita a laser, sendo neste caso indolor].
A identificao electrnica, por sua vez, apresenta algumas
desvantagens em relao tatuagem:
Como qualquer dispositivo electrnico, pode avariar ou
ser adulterado.
Pode migrar, embora sejam obrigados a conter dispositivos
anti-migrao.
P

Necessita de um leitor.

Animais de Companhia

153

O microship [transponder] aplicado por injeco subcutnea na face lateral esquerda do pescoo, sendo a agulha
de grosso calibre. Apresenta um conjunto de 15 dgitos,
em que os primeiros 3, correspondem ao cdigo do pas.
Aquando da identificao electrnica efectua-se o preenchimento de uma ficha, em que o original e o duplicado so
para o proprietrio [fazendo este posteriormente a entrega
de um dos exemplares na Junta de Freguesia, para esta proceder insero dos dados na Base de Dados - SICAFE]
e o triplicado na posse do mdico veterinrio que procedeu
identificao. No caso do SIRA, a ficha em quadruplicado, em que o triplicado para o veterinrio enviar base
de dados [SIRA] e o quadruplicado fica na posse do mdico.
Na ficha constam dados relativos a:
P

Animal - espcie, sexo, cor, raa, nome, data de nascimento,


sinais particulares e n de registo/pedigree.
Proprietrio - nome, telefone, morada, localidade, freguesia,
concelho, cdigo postal, bilhete de identidade e pas.
Mdico Veterinrio - nome, telefone, cdula profissional,
morada, localidade, cdigo postal, pas, data, carimbo
e assinatura.

A Cmara Municipal de Lisboa tem realizado campanhas


gratuitas de identificao electrnica de candeos desde 1997,
destinadas aos animais vacinados contra a raiva no Posto
Mvel de Vacinao [PMV], bem como para os animais que,
no tendo a sido vacinados, os seus proprietrios residam
no concelho de Lisboa. A autarquia tem, tambm, procedido
identificao electrnica gratuita dos candeos adoptados
no canil/gatil municipal, desde essa data.
Desde o ano 2004 [altura em que a identificao electrnica
se tornou obrigatria para algumas categorias de animais]
existe igualmente uma campanha oficial de identificao
electrnica, promovida pelo Ministrio da Agricultura,
a qual feita em simultneo com a vacinao anti-rbica.
Animais de Companhia

154

2.5. Profilaxia da Raiva


A raiva uma zoonose de risco e pode ser transmitida
ao ser humano pelos carnvoros domsticos [em especial
pelo co] mas tambm por roedores, mamferos selvagens

como a raposa e o lobo e certos morcegos hematfagos,


estando Portugal indemne desta doena, h vrios anos.
Na Europa, sobretudo nos pases da zona central, esta
zoonose deixou de ter carcter exclusivamente domstico
- isto , deixou de atacar s os ces e os gatos que privam
connosco - para se mostrar tambm como epizootia
silvestre, atacando principalmente as raposas, os lobos,
os texugos, etc.
A Raiva uma doena contagiosa aguda, conhecida desde
os tempos mais recuados e das mais estudadas em todos
os seus aspectos, por ser transmitida ao Homem e por, em
regra, ser mortal. essencialmente uma encfalo-mielite viral.
A infeco natural consequncia da mordedura de um
animal raivoso, ou da aposio da sua saliva na pele no
intacta [mos lambidas por ces, por exemplo]. A gravidade
da infeco est ligada a vrios factores, como sejam
a virulncia da saliva, a extenso e profundidade da ferida,
a riqueza em nervos e vasos linfticos da regio atingida,
a proteco dispensada pelo revestimento piloso ou pelo
vesturio, a proximidade dos centros nervosos, etc. A seguir
replicao no local, o vrus progride centripetamente pelos
nervos perifricos e vai at ao crebro. Vindo do sistema
nervoso central, atinge as glndulas salivares por intermdio
da rede nervosa.
A transmisso tambm pode ser feita por via aergena,
porque a atmosfera de certas cavernas habitadas por
morcegos tem-se mostrado infectante para o Homem e para
os animais que l tenham permanecido. Tambm pode haver
transmisso por via transplacentria.

O perodo de incubao varivel, podendo ir de 15 a 90


dias no co e de 14 a 60 dias nos gatos. Pensa-se que
a distncia a percorrer pelo vrus entre o local da inoculao
e o crebro tenha influncia no perodo de incubao, mas
o que seguramente tem importncia, a quantidade de vrus
inoculado e a sua virulncia, a severidade da mordedura,
a idade do animal e a sua espcie.
No co, a raiva pode apresentar-se de trs formas: furiosa,
muda e atpica.

Animais de Companhia

2.5.1. Sintomas

155

A raiva furiosa a mais importante e evolui em trs perodos distintos: o melanclico, o de excitao e o de depresso.
O perodo melanclico dura 1 a 3 dias, e caracteriza-se por
modificaes profundas do carcter. O animal mostra-se
triste, de reflexos exaltados, procurando evitar os rudos
e a luz intensa, isolando-se por isso em lugares tranquilos
e semiobscuros. Se o dono lhe fala mostra-se pouco solcito,
ainda que significando t-lo ouvido e acaba por se aproximar lentamente procurando lamber as mos das pessoas
com quem convive podendo, em certos casos, readquirir
a habitual vivacidade.
As manifestaes nervosas agravam-se rapidamente e surge
inquietao e agitao: o animal deita-se, levanta-se, vagueia,
pra repentinamente e parece ter alucinaes, abocando
objectos imaginrios no ar e no cho; se excitado, rosna
e se algum tenta acarici-lo tenta morder; o apetite torna-se caprichoso e surge picacismo, que o leva a ingerir corpos
estranhos; procura a gua, mas s consegue, custa de grandes esforos, deglutir quantidades mnimas.

Animais de Companhia

156

O perodo de excitao corresponde exacerbao das manifestaes iniciais e dura em regra 3 a 4 dias: a inquietao
intensifica-se, traduzindo-se em acessos de fria que alternam com curtos perodos de acalmia. Em certas regies
do corpo surge prurido, s vezes to intenso que o animal
coa-se at se mutilar, sem manifestar dor. Se est preso,
tenta soltar-se e se est enjaulado morde as grades desesperadamente, a ponto de partir os dentes e rasgar as gengivas.
Destri todos os objectos que apanha, chegando a deglutir
parte deles. Normalmente apresenta-se com a lngua pendente, a baba escorrendo em fio, o pelo eriado. Habitualmente no mostra agressividade para o Homem, a no ser
que seja provocado, mas ataca todos os animais, em especial
os da sua prpria espcie. A voz torna-se rouca e, por
vezes, solta um uivo lgubre e prolongado, muito caracterstico, e que traduz o comeo da paralisia da faringe. Desta
paralisia resulta grande dificuldade na deglutio e acessos
de fria em presena da gua.
Os acessos de fria vo sendo cada vez mais espaados e,
no extremo deste perodo, o aspecto do animal impressionante e inesquecvel; a boca entreaberta e cheia de saliva,
o olhar vago e a pupila dilatada, a voz rouca, a tendncia
dominante para morder, em resumo, um aspecto feroz.

Surge ento o perodo de depresso com o alargamento


de fase de abatimento entre cada acesso de fria, e com
a marcha cambaleante a denunciar o progresso degenerativo medular. Deste resulta parsia seguida de paraplgia
ou paralisia e mices e defecaes involuntrias, em consequncia do relaxamento dos esfncteres. A cauda est pendente e metida entre as pernas. A paralisia vai ascendendo
e acentuando-se, tornando-se cada vez mais difcil a deglutio. Os globos oculares entram em estrabismo convergente,
aprofundando-se nas rbitas e a crnea turva-se.
Para o fim da doena, os animais caem em decbito lateral,
surgindo hipotermia e coma, morrendo ao fim de poucas
horas em estado de misria extrema.
A durao total da doena medeia de 4 a 7 dias, com
o mximo de 12 dias.
A raiva muda difere da furiosa principalmente pela ausncia ou fugacidade dos dois perodos anteriores ao da depresso; as paralisias surgem prematuramente, e logo so
localizadas no maxilar inferior e na cabea. O aspecto
do animal de intensa depresso. A evoluo bastante
rpida e raramente vai alm dos 5 dias.
A raiva atpica, traduz-se em modificaes largas dos perodos referidos, em paralisias limitadas a certos grupos
musculares, ou em simples manifestaes de gastroenterite
hemorrgica, de que o animal se cura muitas vezes, vindo
contudo a morrer de raiva, sem sintomas caractersticos,
passados poucos dias. Outras vezes, ocorre a morte logo
a seguir fase de excitao, sem que se verifiquem paralisias.

2.5.2. Tratamento
A raiva no tem tratamento curativo e a Lei obriga occiso dos animais nos casos declarados, embora seja aconselhvel a conservao da vida dos animais suspeitos, tanto
quanto possvel para se poder fazer um diagnstico seguro.

Animais de Companhia

No gato, a evoluo muito semelhante do co, mas


na fase furiosa o animal muito mais agressivo, atacando
com unhas e dentes. A evoluo realiza-se entre 2 a 6 dias.
A raiva muda manifesta-se por sialorreia intensa [baba-se
muito] e apatia profunda, com ligeira paralisia do tero
posterior.

157

No acto do provvel contgio


deve-se fazer um rpido tratamento, desinfectando-se cuidadosamente a ferida e mesmo
cauterizando-a.

Posto
de Vacinao Mvel

Para o Homem, h um tratamento preventivo, que consiste


na tentativa de imunizar rapidamente o indivduo que se
exps ao contgio, para que no termo da incubao da
doena, j esteja assegurado o estado de imunidade orgnica.
Existe um Programa Nacional de Luta e Vigilncia Epidemiolgica da Raiva Animal e outras zoonoses, que integra
o conjunto de aces de profilaxia mdica e sanitria
destinadas a manter o estatuto de indemnidade de Portugal
relativamente raiva ou - no caso de ecloso da doena
- executar, rapidamente, as medidas de profilaxia e de polcia
sanitria com vista sua rpida erradicao.
2.5.2.1. Profilaxia Mdica [Vacinao Anti-Rbica]
A vacinao anti-rbica116 obrigatria para todos os candeos com trs ou mais meses de idade, podendo os animais
ser vacinados nos servios veterinrios oficiais ou em clnicas
privadas, ficando isso considerao do dono. obrigatria
a revacinao anual.
No caso dos felinos, a vacinao anti-rbica no obrigatria.
Todos os candeos provenientes do estrangeiro devem ser
vacinados contra a raiva no prazo de 10 dias, excepto se
for feita prova de validade da vacina, ou seja, se tiver sido
administrada h menos de um ano.
A campanha de vacinao anti-rbica desenvolve-se ao
longo de todo o ano e compreende dois perodos.
P

Perodo Normal - 1 de Maro a 31 de Maio, no qual


cobrada uma taxa N que definida anualmente por
despacho conjunto dos Ministros das Finanas e da Agricultura, do Desenvolvimento Rural e das Pescas.
Perodo Extraordinrio - 1 de Junho a 28 ou 29 de Feve-

116

Nos termos do Decreto-Lei 314/2003 de 17 de Dezembro, que aprova o Plano Nacional de Luta e Vigilncia Epidemiolgica da Raiva
Animal e Outras Zoonoses [PNLVERAZ] - cfr. anexo A2.1

158

reiro, no qual cobrada uma taxa E, que corresponde


ao dobro da taxa N definida para esse ano.
Os felinos pagam sempre a taxa N, independentemente
da poca do ano em que so vacinados.
Esto isentos do pagamento das taxas de vacinao e do boletim sanitrio de ces e gatos:
Ces-guias.
Ces-guardas de estabelecimentos do Estado, de corpos
administrativos, de instituies de beneficncia e de utilidade pblica.
Ces dos servios de caa da Direco Geral das Florestas
Ces de autoridades militares, militarizadas e policiais.
A vacinao anti-rbica anunciada atravs de editais,
afixados at ao dia 15 de Fevereiro de cada ano, indicando
os locais, dias e horas das concentraes, bem como o valor
das taxas a pagar.
No acto de vacinao, os ces devem estar aaimados ou
imobilizados pelo peito, pescoo e cabea, devendo o proprietrio apresentar o boletim sanitrio de ces e gatos, excepto
se for a primeira vez que o animal vacinado. ento
colocado no respectivo boletim, o selo comprovativo da aco
de profilaxia efectuada117.
P

2.5.2.2. Profilaxia Sanitria [Quarentenas]


Em caso de declarao de rea suspeita ou infectada de
raiva ou outras zoonoses, podem ser impostos condicionalismos especiais ao trnsito de ces, gatos e outros animais susceptveis quelas doenas, ou pode mesmo ser determinado o seu confinamento por perodo de tempo a definir.

117

A Cmara Municipal de Lisboa dispe de um posto Mvel de Vacinao


que entre Maro a Outubro, diariamente e segundo um calendrio prestabelecido, disponibiliza os seus servios. No perodo de Novembro a
Fevereiro, a vacinao s efectuada no Canil/Gatil Municipal. O calendrio
anual encontra-se disponvel no site da CML: http://www.cm-llisboa.pt
[Maro 07].

Animais de Companhia

2.5.2.2.1. Animais agressores


Os ces, gatos e outros animais susceptveis raiva que
tenham agredido pessoas ou outros animais, por morde-

159

dura ou arranho, so considerados suspeitos de raiva


e devero ser objecto de observao mdico-veterinria obrigatria e imediata, e permanecer em sequestro durante, pelo
menos, 15 dias.
Se o animal se encontrar vacinado contra a raiva e dentro
do prazo de validade imunolgica da vacina, a vigilncia
clnica pode ser domiciliria, sempre que haja garantias
para o efeito, devendo neste caso o dono ou detentor do
animal entregar no canil/gatil municipal, um termo de responsabilidade, passado por Mdico Veterinrio, onde o clnico
se responsabiliza pela vigilncia sanitria do animal durante
15 dias, comunicando no fim do perodo, o estado do animal
vigiado.
O dono do animal responsvel por todos os danos causados
e por todas as despesas relacionadas com o transporte
e manuteno do animal, durante o perodo de sequestro.
2.5.2.2.2. Pessoas agredidas
Se a pessoa agredida por co suspeito de raiva for presente
para tratamento mdico, este facto dever ser comunicado
urgentemente entidade policial mais prxima, indicando
a entidade e a residncia da pessoa agredida e do dono
do animal para, em colaborao com o Mdico Veterinrio
Municipal, se proceder recolha do animal agressor.
Qualquer pessoa, qualquer elemento da autoridade e todos
os donos ou detentores de animais, em particular, tm
obrigao de comunicar s autoridades veterinrias locais,
regionais ou centrais e s autoridades policiais ou municipais
qualquer caso que os leve a suspeitar de raiva e promover
a captura e o rpido isolamento do animal suspeito, acautelando todo e qualquer contacto directo com aquele.
2.5.2.2.3. Animais agredidos
Animais de Companhia

160

Os ces e gatos agredidos por outros com raiva confirmada sero abatidos, com excepo dos que tenham sido
vacinados contra a raiva h mais de 21 dias e h menos
de 12 meses, tendo estes, no entanto, que ser submetidos
a sequestro em canil/gatil oficial, por um perodo mnimo
de 6 meses, e sujeitos a duas vacinaes anti-rbicas
consecutivas com intervalo de 180 dias.

Se o animal agressor estiver confinado e em observao,


o sequestro ter a durao de 15 dias, procedendo-se de
seguida em conformidade com o resultado da observao
do animal agressor.
Se o animal agressor tiver desaparecido, o sequestro do
animal agredido, ter a durao de 180 dias, reduzido
para 90 dias no caso de ter sido vacinado contra a raiva
h mais de 21 dias e h menos de 6 meses.
Todos os animais mortos ou abatidos por suspeita da raiva,
sero submetidos a exame laboratorial, para diagnstico
diferencial.
O dono ou detentor de animais de companhia que causem
ferimentos, leses ou danos materiais a terceiros ou sua
propriedade, ser responsvel pelas despesas da decorrentes,
nomeadamente as resultantes de tratamentos mdicos,
sem prejuzo de outras eventuais responsabilidades cveis
ou criminais.

2.6. Controlo de Zoonoses


Entende-se por zoonose toda a doena transmitida pelos
animais ao homem.
No caso das zoonoses em que intervm os animais de companhia [ces e gatos] tm especial relevncia as seguintes:

As fases da Nova Modernidade

2.6.1. Leishmaniose
A leishmaniose canina uma doena parasitria, provocada
por um protozorio do gnero Leishmania, transmitida
por intermdio de um mosquito pertencente ao gnero
Phlebotomus.

uma doena sistemtica


crnica, caracterstica dos pases mediterrnicos e chamada,
por analogia com a leishmaniose cutnea indiana, Kala-azar.

Flbotomos

No homem pode provocar a forma cutnea ou a forma


visceral, enquanto que no co sempre mista [cutnea
e visceral].
Nos mamferos, o protozorio multiplica-se nas clulas
161

do sistema mononuclear fagocitrio [clulas de defesa


do organismo] e distribui-se por praticamente todos os tecidos do corpo, com excepo do sistema nervoso central.
Tem uma distribuio idntica dos vectores, os flebtomos,
estando descrita na sia Central, China e todos os pases
mediterrnicos.
Os dados existentes indicam que endmica em Portugal,
podendo afirmar-se que predo-mina nas zonas prximas
dos rios - o Tejo, Sado, Guadiana e Douro - e, de um modo
geral, em reas arenosas e com vegetao, condies essas
que favorecem a presena do vector.
Os flbotomos adultos vivem durante o dia nos muros
de pedra, troncos e sebes, sendo activos no crepsculo,
deslocando-se em voos regulares, interrompidos sempre que
se levante vento.
Os flebtomos machos alimentam-se exclusivamente de sucos
vegetais, sendo apenas as fmeas hematfagas, necessria
a alternncia de uma refeio de sangue com uma aucarada para a maturao dos ovos.
O ciclo evolutivo da leishmania inicia-se quando um flebtomo fmea pica um hospedeiro infectado e ingere sangue.
No mosquito, o protozorio sobre evoluo vai localizar-se
na sua faringe e ser inoculado num novo vertebrado
mediante picadela.
A transmisso da leishmaniose nos vertebrados realiza-se
sempre pela picadela do flebtomo; somente em casos
excepcionais h uma transmisso directa [transmisso inter-humana, atravs de feridas
infectadas].
Exame clnico de animal
no Canil/Gatil
Municipal

A sintomatologia observada
muito variada e o perodo
de incubao pode ir de vrios
meses a vrios anos. Verifica-se
que cerca de 50% dos ces infectados no apresentam
sintomas evidentes, sendo mais frequentes os problemas
dermatolgicos.
Principais manifestaes gerais:
P

162

Febre - transitria, moderada e inconstante.


Modificaes do comportamento - perda da vivacidade, apetite irregular, fadiga e abatimento.

Emagrecimento - frequente e resulta de atrofia muscular,


especialmente dos msculos da cabea [crotfitas], dando ao
animal o aspecto de cabea velha. Vai progredindo para
todos os msculos, terminando num estado de caquexia.
Anemia - devida invaso da medula ssea pelo parasita.
Hemorragias - as mais frequentes so a epistaxis [sangue
pelo nariz] e as hemorragias digestivas.
Principais manifestaes cutneas:
Alopcias [zonas sem plo] - em volta dos olhos, chanfro,
orelhas, pescoo, parte ventral do trax, salincias sseas,
extremidades dos membros e cauda.
Hiperqueratose - espessamento da camada de queratina
do chanfro, almofadas plantares e focinho, acompanhada
de pele seca, dura e rugosa [aspecto paquidrmico].
Paraqueratose - descamao cor de amianto, sob a forma
de escamas, predominantemente na regio dorso-lombar
e extremidade do pavilho auricular.
Onicogrifose - crescimento anormal das unhas, sendo conhecido por unhas de faquir.
lceras - cutneas, da boca, estmago, intestino ou da mucosa nasal, estando na origem da epistaxis. So crnicas
e no cicatrizam.
Ndulos - nas regies torxica e lombar.
Formas oculares - conjuntivites, leses da crnea e glaucoma.
Principais manifestaes viscerais:
Hipertrofia dos linfonodos
Esplenomeglia
Hepatomeglia
Diarreia e colite, se for atingido o aparelho digestivo
Claudicao e artrites, se for atingido o aparelho locomotor.
Para se confirmar uma suspeita de leishmaniose sempre
necessrio recorrer ao laboratrio que pode passar pela
observao microscpica directa do parasita ou atravs
de reaco antignio-anticorpo [serolologia] e ainda exames
no especficos [hematolgicos ou bioqumicos].
No Norte de frica, a leishmaniose visceral afecta sobretudo
crianas, enquanto no sul da Europa afecta igualmente
adultos e crianas.
P

A leishmaniose
uma zoonose
com importncia real
em Sade Pblica,
nos pases mediterrnicos. A sua
prevalncia de
14 milhes
de pessoas infectadas
e a incidncia anual
de 1,5 milhes
de novos casos,
em que um milho
so formas cutneas
e meio milho de
forma visceral.

Animais de Companhia

163

Em Frana, os ltimos dados estatsticos revelam um aumento significativo do nmero de casos de leishmaniose visceral.
Em Portugal, os estudos realizados indicam que predomina
em crianas at 3 anos de idade, no evidenciando um aumento do nmero de casos em adultos, ao contrrio de
outros pases, como a Frana, onde so j cerca de 50%
dos casos. No que se refere leishmaniose visceral humana,
a sua frequncia parece inversa leishmaniose canina, predominando nas zonas urbanas e suburbanas - principalmente
nos bairros degradados de Lisboa e Setbal. A maior prevalncia da leishmaniose canina nas zonas rurais juntamente
com a raridade da infeco humana explica-se pelo facto
de haver maior abundncia de animais disponveis para a refeio de sangue do flebtomo e pelo tipo disperso do povoamento humano. Quer isto dizer que o flebtomo parece
preferir o co para se alimentar, ou outro mamfero susceptvel.
Assim sendo, porque se verifica um aumento do nmero
de casos de leishmaniose humana? O nmero de ces no
tem diminudo!?
Curiosamente, em Frana, pas onde tem havido um nmero crescente de casos humanos tambm um dos pases
com maior nmero de ces, chegando a atingir 1 co para
2 habitantes.
O aumento do nmero de casos humanos poder estar
relacionado como incremento do nmero de ces tratados
e das doses usadas, j que a teraputica mais usada na
medicina veterinria [antimoniato de N-acetil glucamina,
GLUCANTIME] a mesma que a usada em medicina humana,
causando assim um aumento da resistncia das leishmanias,
pois o tratamento da leishmaniose canina no permite obter,
na quase totalidade dos casos, a esterilizao completa
e definitiva do animal parasitado.

Animais de Companhia

164

H um factor que aumenta a sensibilidade humana ao


parasita. Trata-se de indivduos imunodeprimidos, quer de
origem viral [principalmente os portadores de SIDA] quer
os indivduos que fizeram teraputicas com corticosteroides, antineoplsicos ou imunodepressores.
Alguns autores aconselham que, perante um co infectado
com leishmaniose, se deve proceder do seguinte modo:
P

Eutansia de todos os ces errantes infectados com


leishmaniose.

Indicar ao proprietrio o perigo que um co infectado


e que o tratamento tem uma eficcia de cerca de 20%.
Despiste anual de novos casos e tratamento precoce,
sabendo que 1/3 dos ces infectados e tratados so capazes de recuperar o poder infestante.

As recadas so frequentes, devido a populaes de


leishmania resistentes.
A evoluo clnica no evolui paralelamente parasitolgica, pelo que se recomenda tratamentos anuais, a realizar
durante toda a vida do co, com todos os problemas econmicos que isso acarreta.
A Direco Geral de Veterinria recomenda que, aquando
da Campanha de Vacinao Anti-Rbica, os proprietrios
cujos animais apresentem sintomas que levem a suspeitar
de leishmaniose, sejam notificados para que procedam ao
despiste da doena, devendo os resultados ser apresentados
no prazo de trinta dias. Caso o resultado seja positivo,
devero os proprietrios ser notificados, no sentido de procederem ao tratamento mdico do animal no prazo de 30
dias, e apresentar atestado mdico comprovativo da execuo do tratamento, no prazo de 60 dias. Todos os animais
com diagnstico positivo leishmaniose que no forem
sujeitos a tratamento mdico da doena, devero ser
eutanasiados. Sempre que os detentores no cumpram as
determinaes do Mdico Veterinrio Municipal, ser-lhes-
instaurado processo de contra-ordenao ao abrigo do n 9
do art. 6 do Decreto-Lei 91/2001 de 23 de Maro.
P

2.6.2. Leptospirose

uma doena que afecta vrias espcies animais, sendo


os roedores, especialmente, os murdeos [ratos], os seus
hospedeiros naturais.
A penetrao no organismo faz-se atravs de eroses da pele, atravs da mucosa ocular, vaginal e nasal e, possivelmente pelo tubo digestivo. Aps uma infeco transitria
do sangue, onde se multiplicam, as leptospiras vo depois

Animais de Companhia

A leptospirose uma doena bacteriana, provocada por


microorganismos do gnero Leptospira. Frequentemente
as leptospiras localizam-se no rim e so eliminadas em
grande nmero pela urina, durante meses ou anos.

165

acantonar-se nalguns rgos, como o fgado, linfonodos


supra-renais e principalmente no rim.
Podem ser veculos da infeco as guas e os alimentos
[em particular o leite] quando conspurcados com produtos
infectantes, especialmente com urina. A infeco tambm
se pode dar por contacto directo, atravs da mordedura
de roedores e da picada de insectos. O coito e a placenta
tambm podem ser vias de infeco.
A infeco nos animais no provoca, com frequncia, doena
declarada, havendo muito mais animais infectados do que
animais doentes.
No co, a doena pode apresentar-se de uma forma aguda
ou hemorrgica, provocando depresso, vmitos hemorrgicos, febre, epistxis, hemorragias cutneas, sede muito
intensa, conjuntivite, necrose da lngua e sintomas de meningite. Nesta forma a doena pode levar morte num prazo
de poucas horas ou num perodo de 5-15 dias.
Na forma ictrica, no h grande elevao da temperatura,
a qual baixa logo que surge ictercia [3-4 dia], vmito
sanguinolento, epistxis, obstipao, fezes estriadas de sangue, urina de cor carregada [com muita albumina
e pigmentos biliares]. A morte pode dar-se em poucos
dias, mas se a doena se arrastar por mais de uma semana,
o animal pode recuperar a sade.
Na forma sub-aguda, pode aparecer ictercia ligeira passados 4-6 dias, febre, anorexia, conjuntivite, vmito e obstipao. O animal tem muita sede, mas no consegue
conservar os lquidos no estmago, resultando numa profunda desidratao, lceras da boca e morte por urmia
[grande elevao dos nveis de ureia].
O diagnstico clnico muito difcil, porque a doena tem
aspectos muito variados, pelo que fundamental recorrer
ao laboratrio.
Animais de Companhia

166

O tratamento tem por base o uso de antibiticos, especialmente a estreptomicina e a penicilina.


Em termos de profilaxia sanitria, fundamental eliminar
os ratos, fazer drenagem das guas estagnadas e realizar
desinfeces peridicas.
Os ces devem ser vacinados a partir das 7 semanas, nor-

malmente com vacinas associadas, contendo Esgana, Hepatite,


Leptospirose, podendo ainda ter a Parvovirose, Tosse do Canil
e Raiva.

2.6.3. Toxoplasmose
A toxoplasmose uma doena parasitria, causada por um
protozorio, o Toxoplasma gondii. O gato o hospedeiro
definitivo, enquanto que os mamferos [roedores, ovinos,
bovinos, sunos, homem] e aves so os hospedeiros intermedirios.
A forma adulta localiza-se no epitlio intestinal [parede
do intestino] do gato, formando oocistos que so libertados
nas fezes. As formas larvares formam normalmente quistos, que se localizam principalmente no crebro, corao
e msculos.

O hospedeiro intermedirio [mamferos, aves e homem]


infecta-se ingerindo os oocistos [normalmente atravs de
alimentos contaminados com fezes de gatos infectados] ou
tecidos animais contendo os quistos. Os parasitas libertados por aco dos sucos digestivos, atravessam a parede
intestinal, atingem a corrente sangunea e distribuem-se
pelo organismo, penetrando em diferentes tipos de clulas
e sofrendo a uma rpida multiplicao, dando origem
forma aguda de toxoplasmose. Quando as clulas infectadas se rupturam, libertam os parasitas, indo estes infectar
novas clulas. medida que o processo avana, o organismo reage e produz anticorpos que limitam o processo.
Assim, ao estabelecer-se a imunidade, formam-se quistos,
o que constitui a forma crnica da toxoplasmose.
Existem no homem dois processos de contaminao, que
correspondem s duas formas da doena. Na forma

A toxoplasmose
humana est
largamente difundida,
existindo no Mundo
cerca de meio bilio
de pessoas com
anticorpos contra
o Toxoplasma gondii,
com predominncia
nos pases com climas
quentes e hmidos.

Animais de Companhia

O gato infecta-se ingerindo roedores ou pssaros contendo


quistos, que sob a aco dos sucos digestivos vo libertar
o parasita, o qual acaba por penetrar no epitlio intestinal,
culminando com a produo de oocistos 3-20 dias depois
da infeco. Durante o ciclo intestinal, o parasita pode
invadir outros rgos, dando ento origem a quistos,
funcionando o gato simultaneamente como hospedeiro definitivo e intermedirio. Os occistos eliminados com as fezes
do gato, sob condies adequadas de humidade, temperatura
e oxigenao, esporulam e tornam-se infectantes.

167

O gato desempenha
o papel principal
na epidemiologia
da toxoplasmose,
sendo a doena
praticamente
inexistente
em reas onde
no exista.

A prevalncia
da toxoplasmose
nas reas urbanas
maior do que
nas reas rurais, pois
nestas ltimas
os gatos dispem
de uma rea maior
para eliminarem
as suas fezes.

Animais de Companhia

168

adquirida a contaminao d-se pela ingesto de oocistos


[atravs de vegetais ou gua] ou carne mal passada
contendo quistos. Na forma congnita a contaminao s
possvel quando uma mulher grvida no imune adquire infeco durante o primeiro trimestre da gravidez.
Os dados existentes [publicados em 1984] indicam que,
na regio de Lisboa, 6 em cada 1 000 mulheres adquirem
a toxoplasmose durante a gravidez, sendo o risco de transmisso placentria cerca de 50%. Nascendo em Portugal
180 000-200 000 crianas por ano, haver em cada ano
540-600 casos de toxoplasmose congnita. A toxoplasmose
congnita pode dar origem a aborto [quando contrada no
incio da gravidez], hidrocefalia, microcefalia, encefalite,
convulses, leses oculares, hepato-esplenomeglia e ictercia
neonatal.
Os gatos s eliminam oocistos durante algumas semanas
da sua vida, contudo quando h perdas de imunidade
podem voltar a elimin-los. Os occistos s so perigosos
para o homem e depois de esporulados mantm-se viveis
durante muitos meses ou anos, em condies favorveis
de humidade e temperatura, pelo que a sua grande
resistncia compensa o seu curto perodo de eliminao.
Os occistos podem ser encontrados nos locais de defecao
dos gatos, no solo dos jardins e nos espaos destinados s
brincadeiras das crianas.
A prevalncia da toxoplasmose nas reas urbanas maior
do que nas reas rurais, visto que nestas ltimas os gatos
dispem de uma maior rea para eliminarem as suas
fezes, reduzindo a concentrao de occistos, ao contrrio
das zonas urbanas, em que grande parte dos terrenos
esto ocupados por edifcios e arruamentos, havendo maior
concentrao dos occistos.
Um estudo epidemiolgico realizado na regio de Lisboa
e publicado em 1984 revelou que 71% dos gatos tm
anticorpos contra a toxoplasmose, o que sugere que nesta
regio os gatos devem constituir um importante reservatrio do parasita. Este estudo mostrou ainda que os gatos
comeam a apresentar anticorpos relativamente cedo, ou
seja, logo que iniciam a caa aos roedores e s aves. Aos
5-6 meses, cerca de 50% dos gatos foram infectados,
devendo j ter eliminado os oocistos. A partir dos 15
meses, o gato j no desempenha um papel importante
na cadeia da toxoplasmose, pois nessa idade, a maioria

da populao felina est imunizada, sendo ento rara a reeliminao de oocistos.


A carne e vsceras de vrias espcies de mamferos e aves
podem conter quistos toxoplsmicos infectantes no s
para o gato, mas tambm para os hospedeiros intermedirios, incluindo o homem. Assim, o homem pode adquirir
a infeco ao ingerir carne crua ou mal cozinhada, principalmente de origem bovina ou ovina. Os quistos so
destrudos, quando a carne submetida a temperaturas
de 66C ou sujeita a congelao. Estudos realizados na
regio de Lisboa indicam que aos 14 anos de idade 45%
da populao j est imunizada e, por conseguinte, a percentagem de populao em risco de 55%.
O diagnstico da doena feito por serologia, devendo ser
feitas 2 colheitas de sangue com intervalos de 3 semanas,
para determinao dos ttulos de duas classes de anticorpos,
as imunoglobulinas G e M [IgG e IgM]. Da anlise desses
resultados, podemos ter trs situaes:
P

Ausncia de imunidade - IgG e IgM negativas [ttulos


inferiores a 1:64].

Toxoplasmose antiga - IgG positivas e com ttulos estveis


aps 3 semanas de intervalo e IgG negativas ou francamente positivas.
Toxoplasmose recente - IgG e IgM inicialmente negativas
e que se tornam positivas na segunda anlise, ou IgG
e IgM positivas na primeira anlise, com subida da IgG
ao fim de 3 semanas.
As mulheres no imunes toxoplasmose, devem seguir
as seguintes normas durante a gravidez:
Efectuar controlo serolgico regular.
Ingerir carne bem cozinhada.
Lavar as mos, com sabo ou detergente, sempre que
manipule carne crua, ou usar luvas de proteco.
No dar carne crua ou mal cozinhada aos gatos domsticos, sobretudo se forem jovens. Aliment-los nesse perodo,
preferencialmente com raes comerciais.
Limpar diariamente os cestos e caixas onde dormem
os gatos e lavar, com gua fervente, os recipientes usados
na sua alimentao.
P

Animais de Companhia

169

Lanar nos sanitrios, ou queimar, as fezes dos gatos.


Utilizar luvas de proteco quando fizer jardinagem ou tiver necessidade de mexer em terra.
No comer saladas cruas nem frutas com casca.
Combater os insectos e artrpodes caseiros.
Evitar ovos crus.
A mais perigosa complicao da toxoplasmose encontra-se
em pacientes imunodeprimidos, pelo facto, de estarem
submetidos a uma teraputica anti-tumoral ou serem portadores de SIDA. Em pacientes com SIDA haver reactivao
de infeces crnicas ou latentes de toxoplasmose, sendo
a principal manifestao clnica nestes pacientes uma encefalite. Muitos doentes apresentam uma dor de cabea
persistente, bilateral e severa, que no permite dormir
noite e responde fracamente aos analgsicos.
A percentagem de indivduos com anticorpos anti-toxoplasmose em Portugal cerca de 47%, o que nitidamente
baixo, quando comparado com o que se verifica em pases
como a Frana, mas bastante mais elevado quando comparado com o que se verifica nos pases do Norte da Europa.
P

2.6.4. Equinococose

Animais de Companhia

170

Tambm designada por Hidatidose, uma doena parasitria, provocada por um pequeno cstodo [tnia], com cerca
de 1,5 a 6 milmetros de comprimento.
O verme adulto vive no intestino delgado do co [ou outros
carnvoros, como o lobo] e a forma larvar, o Echinococcus
granulosus, designado vulgarmente por quisto hidtico,
pode localizar-se em vrios rgos, sendo mais frequente
a localizao ao nvel do fgado e pulmo do homem,
ruminantes [vaca, ovelha e cabra] e roedores, funcionando
estes como hospedeiros intermedirios.
O Echinococus especialmente importante como parasita
pela prevalncia dos quistos hidticos em pessoas que
vivem em estreita relao com os ces, que se alimentam
de restos de cadveres de animais, constituem hospedeiros
intermedirios. O homem pode tambm infestar-se sem
contactar directamente com os ces, atravs da ingesto
de vegetais crus ou de gua contaminados com fezes
de ces parasitados.

O verme adulto liberta ovos nas fezes dos ces, os quais


eclodem quando ingeridos pelos hospedeiros intermedirios, entram na circulao sangunea e vo at s vrias
partes do corpo, ficando a maioria retida no fgado e pulmes, formando os quistos hidticos, os quaios podem ter
alguma dimenso.
A infestao dos hospedeiros definitivos [ces] tem lugar
quando estes ingerem quistos hidticos. Os sucos digestivos
digerem a parede dos quistos, libertando os parasitas,
que vo atingir o estado adulto no intestino delgado.
Num meio urbano como Lisboa, no to fcil a infestao dos hospedeiros definitivos, [os ces] uma vez que estes
no possuem acesso fcil s ovelhas para alimentao. Na
cidade a sua alimentao feita cada vez mais base
de alimentos compostos [as raes] quer estas sejam enlatadas ou sob a forma de granulado.

O plo dos ces


no prejudicial
sade humana,
ao contrrio do que
correntemente
se pensa, excepto
nos casos alrgicos,
os quais
so muito raros.

No havendo ces parasitados, tambm menos provvel


a infestao do homem. No entanto h as vias indirectas
de infestao, principalmente atravs da ingesto de vegetais
mal lavados.
Para prevenir a doena h que desparasitar regularmente
os ces com um antiparasitrio que seja eficaz contra
o equinococos, no permitir a ingesto de vsceras cruas
e cumprir as regras bsicas de higiene, designadamente lavar as mos aps mexer nos ces. Uma vez que os parasitas
existentes no intestino dos ces podem aderir aos plos
dos animais e penetrar no organismo humano por ingesto
ou inalao. Deve-se ainda lavar bem os vegetais antes
de os consumir, especialmente se forem consumidos crus
e ingerir apenas carne e vsceras provenientes de animais
que tenham sido submetidos a inspeco sanitria [evitar
o auto-consumo].

Animais de Companhia

2.6.5. Sarna Sarcptica


uma doena parasitria, provocada por caros da espcie
Sarcoptes scabiei.

Para alm do homem pode afectar


ces, raposas, coelhos, ovinos,
caprinos, bovinos, sunos, equinos e
outros mamferos.

caro
171

Os caros vivem na pele dos hospedeiros, causando uma


dermite com grande prurido. Este devido aco mecnica,
pois cavam galerias na pele, onde a fmea realiza a postura
de 40-50 ovos, dando origem a larvas ao fim de 3-5 dias,
mas tambm a substncias pruriginosas por elas secretadas
[saliva] e a reaces de hiper-sensibilidade do hospedeiro.
As escamas e espinhas existentes na parte dorsal do corpo
impedem-nos de recuar.
O caro adulto mede 0,2-0,4 mm, tem uma forma circular
e possui 2 pares de membros na parte cranial e 2 pares
na parte caudal, sendo estes de menores dimenses, pelo
que lembrar a forma de uma tartaruga minscula.
O parasita completa o seu ciclo de vida [ovo-larva-ninfa-adulto] em 17-21 dias e o adulto vive cerca de 4 semanas.
uma doena altamente contagiosa e transmitida sobretudo
por contacto directo.
Como sintomas, para alm do prurido [o qual intenso,
pois os caros utilizam as patas e os dentes at surgir
sangue, esfregando-se contra tudo] h tambm as alopcias
resultantes da aco dos caros sobre os folculos pilosos
e pela aco da coceira, e as crostas resultantes do processo
inflamatrio, devido produo de exsudados e de sangue
provocados pela comicho intensa. O sangue aglutina os
produtos de descamao da pele e o suor, formando crostas
acastanhadas. Estas aumentam de tamanho, podendo cobrir
todo o corpo. Em alguns casos, h infec-es bacterianas
secundrias que causam piodermites [infeco purulenta da
pele, forma crnica marcada com alopcia], escamas, crostas
e lenhificao.
As leses aparecem primeiramente na parte ventral do corpo
e face. As reas classicamente afectadas so as espduas,
focinho, parte ventral do trax e tronco do animal.
No homem, as reas do corpo mais afectadas so as que
contactam com os animais, tais como as palmas das mos
[sobretudo as zonas interdigitais], pulsos, braos e tronco.
Animais de Companhia

172

O diagnstico da doena baseia-se nos sinais clnicos, acompanhado de raspagem dos locais afectados para observao
microscpica da presena dos caros.
O tratamento pode prolongar-se por algumas semanas
e basear-se na aplicao tpica de produtos, champs

de tratamento e/ou injeces em intervalos de 15 dias


[3 administraes], mas d lugar a uma cura efectiva.
Como medidas de preveno, h que manter a boa higiene
dos animais e do local onde eles vivem, lavar as mos
com gua e sabo aps o contacto com os animais e mant-los bem alimentados e saudveis, visto que a capacidade
do hospedeiro para limitar a multiplicao do parasita,
um factor a ter em conta.

2.6.6. Dermatomicoses
So doenas cutneas provocadas por fungos dos gneros
Trichophyton ou Microsporum, designando-se tambm por
tinhas.
As zonas do corpo mais afectadas so a cabea e o pescoo,
formando placas de depilao mais ou menos circulares especialmente roda dos olhos - podendo confluir e dar
depilao total dessas regies. A extremidade das patas
tambm frequentemente atingida. Estas situaes so
normalmente acompanhadas de prurido. Em certos casos
aparecem pstulas, nas zonas depiladas ou normalmente
desprovidas de plo. Os animais jovens so os mais
susceptveis de contrair esta doena.
Os tratamentos podem ser locais [ base de cremes,
pomadas, sprays ou banhos] ou sistmicos [de durao
longa], tendo frequentemente a durao de 30-45 dias.

A luta contra as zoonoses transmissveis pelos ces e gatos


envolve um conjunto de medidas tendentes a disciplinar
a posse daqueles, nomeadamente atravs da sua classificao
segundo a utilidade, da sua identificao, do seu registo
e do seu licenciamento nas autarquias locais. Tal conjunto
de medidas, permite estabelecer barreiras progresso destas doenas, visando o seu controlo e futura erradicao118.
Os detentores de ces entre 3 a 6 meses de idade so obrigados a proceder ao seu registo e licenciamento na Junta
de Freguesia da rea do seu domiclio. O registo e licenciamento de gatos ainda no obrigatrio.
118

Prembulo da Portaria n. 421/2004, de 24 de Abril - cfr. anexo A2.

Deve-se evitar
o contacto com
animais atingidos
por esta doena,
usar luvas aquando
da manipulao
de animais doentes
e lavar as mos
sempre que se
contacte com estes.

Animais de Companhia

2.7. Registo e Licenciamento

173

O registo ser efectuado mediante a apresentao dos seguintes documentos:


P

Boletim sanitrio de ces e gatos.


Duplicado [ou original] da ficha de registo de identificao
electrnica, quando aplicvel.

Os ces e gatos classificam-se nas seguintes categorias:


A Co de companhia
P

B Co com fins econmicos [guarda e pastor]


P

C Co para fins militares, policiais e de segurana pblica


P

D Co para investigao cientfica


P

E Co de caa
P

F Co-guia
P

G Co potencialmente perigoso
P

H Co perigoso
P

I Gato.
P

A licena feita aquando do registo e sujeita renovao anual - a solicitar nas Juntas de Freguesia - para
o que necessrio apresentar:
P

Animais de Companhia

174

Boletim sanitrio de ces e gatos.


Prova de realizao dos actos de profilaxia mdica
declarados obrigatrios para esse ano [comprovadas pelas
respectivas vinhetas oficiais] que podem ser substitudas
por um atestado de iseno dos actos de profilaxia mdica
emitido por um Mdico Veterinrio.
Exibio da carta de caador actualizada, no caso dos ces
de caa.
Declarao dos bens a guardar, assinada pelo dono do co
ou pelos seus representantes, no caso dos ces de guarda.
Prova de identificao electrnica, quando seja obrigatria, comprovada com a etiqueta e nmero de identificao.
Registo criminal e seguro de responsabilidade civil, quando
se trate de animais perigosos ou potencialmente perigosos.

Na actual legislao deixou de constar qualquer referncia


renovao da licena nos meses de Junho e Julho. Esta
pode ser tirada em qualquer altura do ano e tem a validade
de 12 meses.

As taxas a cobrar pelo


registo e licenciamento
de candeos, so aprovadas pelas Assembleias
de Freguesia e tm
por referncia o valor
da taxa N de profilaxia mdica para esse
ano, no podendo em
regra exceder o triplo
daquele valor e variando de acordo com a
categoria do candeo.
Ao proceder ao registo e ao licenciamento de ces e gatos,
a Junta de Freguesia colocar um selo ou carimbo no Boletim Sanitrio.

Boletim Sanitrio

Os candeos cujos donos no apresentem carta de caador,


declarao dos bens a guardar, ou prova de co-guia so
licenciados como ces de companhia.
Os ces-guia, de guarda de estabelecimentos do Estado,
corpo administrativos, organismos de beneficncia e de utilidade pblica, bem como os recolhidos em instalaes
pertencentes a sociedades zofilas ou nos canis municipais
esto isentos das taxas de licenciamento.
Os ces para fins militares, policiais ou de segurana do
Estado esto tambm isentos de licena, devendo possuir
sistemas de identificao e registos prprios sediados nas
entidades onde se encontram e cumprir todas as disposies
de profilaxia mdica e sanitria.
A morte ou desaparecimento de um co dever ser comunicada pelo dono ou representante Junta de Freguesia, no
prazo de 5 dias, sob pena de presuno de abandono119.

O alojamento dos ces e gatos em prdios urbanos, rsticos


ou mistos, fica sempre condicionado existncia de boas
119

Punvel com coima de 50 a 1.850 [pessoa singular] ou 22.00 [pessoa colectiva] - Decreto-Lei 314/2003 de 17 de Dezembro.

Animais de Companhia

A transferncia do titular do registo de um animal efectuada na Junta de Freguesia, que proceder ao seu averbamento no Boletim Sanitrio de ces e gatos, mediante
requerimento do novo detentor, no prazo de 30 dias.

175

condies e ausncia de riscos higio-sanitrios relativamente conspurcao ambiental e doenas transmissveis


ao Homem.
Nos prdios urbanos podem ser alojados at 3 ces ou 4
gatos adultos por cada fogo, no podendo no total ser
excedido o nmero de 4 animais, excepto se, a pedido
do detentor, e mediante parecer vinculativo do mdico
veterinrio municipal e do Delegado de Sade, for autorizado alojamento at ao mximo de 6 animais adultos,
desde que se verifiquem todos os requisitos higio-sanitrios
e de bem-estar animal legalmente exigidos.
No caso de fraces autnomas em regime de propriedade horizontal, o Regulamento do Condomnio pode estabelecer um limite de animais inferior ao previsto por lei.
Nos prdios rsticos ou mistos podem ser alojados at 6 animais adultos, nmero que pode ser excedido se a dimenso
do terreno o permitir e desde que as condies de alojamento obedeam aos requisitos legalmente exigveis.
Sempre que se verifiquem situaes que colidam com as
condies acima referidas, as Cmaras Municipais notificam
os detentores dos animais para correco das situaes
detectadas. No caso de incumprimento, aps vistoria conjunta
do Delegado de Sade e do Mdico Veterinrio Municipal.
As autarquias podem retirar os animais para o canil ou gatil
municipal, se o dono no optar por outro destino.
No caso da criao de obstculos ou impedimentos retirada
dos animais em situao que desrespeite as condies,
o Presidente da Cmara Municipal pode solicitar a emisso
de mandado judicial para permitir o acesso ao local e sua
remoo.

2.8. Animais Perigosos e Potencialmente Perigosos

Animais de Companhia

176

A propriedade deste tipo de animais como animais de companhia carece de licena emitida pela Junta de Freguesia da
rea de residncia do detentor, a qual tem a categoria G
para os ces potencialmente perigosos e a categoria H para
os ces perigosos.
Para a obteno da referida licena, o detentor tem de ser
maior de idade e apresentar a seguinte documentao:
P

Boletim Sanitrio.

Vacina anti-rbica actualizada [efectuada h menos de


um ano].
Ficha de identificao electrnica.
Termo de responsabilidade no qual declara as condies
do alojamento, as medidas de segurana e o historial de
agressividade do animal.
Registo criminal do qual resulte no ter sido o detentor
condenado por sentena transitada em julgado, poor crime
contra a vida ou a integridade fsica, quando praticados
a ttulo de dolo.
Documentao que certifique a formalizao de um seguro de responsabilidade civil relativamente ao animal120.

A licena tem de ser renovada todos os anos.


Os alojamentos destinados a animais perigosos ou potencialmente perigosos devem possuir medidas de segurana
reforadas, nomeadamente para no permitir a fuga dos
animais e acautelar de forma eficaz a segurana de pessoas,
outros animais e bens.
O detentor fica obrigado afixao no alojamento, em local
visvel, de uma placa de aviso relativa presena e perigosidade do animal.
Estes animais no podem circular sozinhos na via pblica
ou lugares pblicos, devendo ser conduzidos por pessoas
maiores de 16 anos, com aaimo e trela curta [at 1
metro de comprimento] fixa coleira ou peitoral, no caso
dos ces. Tratando-se de outras espcies, a sua circulao
dever fazer-se com meios de conteno adequados
espcie e raa, nomeadamente caixas, jaulas ou gaiolas.

As cmaras municipais podem regular as condies de autorizao de circulao e permanncia destes animais nas
ruas, parques, jardins e outros locais pblicos. Nestes
120

Valor mnimo de 50.000 - Decreto-Lei 314/2003 de 17 de Dezembro


- cfr. anexo A2.
121
Punvel com coimas que variam entre 500 e 3.740, se estiverem em
causa pessoas. Entre os 25 e 3740 , se estiverem em causa animais.

Animais de Companhia

Refira-se que, de acordo com a Lei, incumbe ao dono do


animal o dever de o vigiar, de forma a evitar que este
ponha em risco a vida ou a integridade fsica de outras
pessoas ou animais121.

177

termos as autarquias podem determinar zonas onde


proibida a permanncia e circulao destes animais,
assim como definir as reas e horas onde permitida,
estabelecendo para o efeito as condies em que se pode
faz-lo sem o uso de trela ou aaimo funcional.
Os animais que tenham agredido pessoas ou outros animais
so obrigatoriamente recolhidos para um centro de recolha
oficial [canil], onde permanecero por um perodo mnimo
de 15 dias, a expensas do detentor, ficando a situao
registada no cadastro do animal. Findo o prazo, se tiver
causado ofensas graves integridade fsica de uma pessoa,
[devidamente comprovadas atravs de relatrio mdico],
o animal obrigatoriamente abatido.
Se as ofensas integridade fsica de uma pessoa no forem
graves, o animal pode ser entregue ao detentor, sendo
requisito obrigatrio a realizao de provas de socializao
e/ou de treino de obedincia.
Entende-se por ofensas graves integridade fsica, as ofensas ao corpo ou sade de uma pessoa, de forma a:
P

Priv-lo de rgo ou membro, ou a desfigur-lo grave


e permanente.
Tirar-lhe ou afectar-lhe, de forma grave, a capacidade
de trabalho, as capacidades intelectuais ou de procriao,
ou a possibilidade de utilizar o corpo, os sentidos ou
a linguagem.
Provocar-lhes doena particularmente dolorosa ou permanente, ou anomalia psquica grave ou incurvel, ou pondo
em perigo a sua vida.

Todo o animal que no controlado pelo seu dono


e constitua um risco grave integridade fsica de uma
pessoa, pode ser imediatamente abatido pelas autoridades,
no tendo o detentor direito a qualquer indemnizao.

Animais de Companhia

178

Os detentores de animais perigosos ou potencialmente perigosos devem promover o seu treino com vista sua domesticao e socializao, no podendo, em caso algum, ter
por objectivo a participao em lutas ou o reforo da sua
agressividade para com as pessoas, outros animais ou
bens 122. O treino deve ser efectuado por treinadores
122

Punvel com coima de 500 a 3.740 , no caso de pessoas singulares;


ou 500 a 44.890 , no caso de pessoas colectivas.

certificados por entidade reconhecida pela Direco Geral


de Veterinria.

2.9. Actividades Desenvolvidas pelo Canil/Gatil Municipal

Nos termos da legislao em vigor, as autarquias devero possuir um Canil ou Gatil Municipal,
o qual dever possuir condies
tcnicas adequadas ao exerccio
de um conjunto de competncias:
As cmaras municipais, de forma isolada ou em associao
com outros municpios, so obrigadas a possuir e manter
instalaes destinadas a canis e gatis, de acordo com as
necessidades da zona, e postos adequados para execuo
das campanhas de profilaxia, quer mdica quer sanitria,
que a DGV entenda determinar123.
O Canil/Gatil Municipal de Lisboa124 desenvolve as seguintes actividades125:
Recolha de animais vadios ou errantes - A captura efectuada na via pblica ou em quaisquer lugares pblicos, normalmente no perodo nocturno e com a Polcia Municipal.
No que diz respeito aos gatos vadios, em quintais particulares, a captura feita por solicitao do interessado,
mediante a colocao de gaiolas com armadilha, no perodo
diurno.
Recolha de animais mortos ou acidentados - No caso
de animais mortos, a recolha feita na via pblica ou
em local privado, pagando o dono uma taxa de recolha126.
Recolha domiciliria de animais para eutansia - A recolha efectuada por solicitao do dono, o qual ter
de dispor de um atestado passado pelo Mdico Veterinrio
que acompanhou o animal, solicitando a sua occiso127.

O Canil/Gatil
de Lisboa.

123

N. 1 do art. 21. da Portaria 1427/2001 de 15 de Dezembro.


Localizao: Canil/Gatil Municipal, Estrada da Pimenteira [Monsanto],
1300 Lisboa. Telf. 213 617 700.
125
As taxas associadas aos servios prestados pelo Canil/Gatil Municipal
esto integradas na Tabela de taxas e outras receitas municipais,
sendo anualmente actualizadas por deliberao da Assembleia Municipal.
126
No valor de 5,35 [ano de 2005].
127
So cobradas as taxas de recolha e de occiso, nos valores de: 5,35
e 8,55 [ano de 2005].

Animais de Companhia

124

179

Actividade clnica dos animais


do Canil/Gatil Municipal - Todos
os animais que do entrada
no Canil/Gatil, so submetidos
a exame clnico, iniciando-se
o tratamento para quem dele
necessite. , tambm, efectuado o acompanhamento clnico
e tratamento dos animais pertencentes aos vrios servios
da autarquia.
P

Exame clnico de animal


no Canil/Gatil
Municipal

Adopo de animais - a adopo de animais gratuita


para todos os que tenham at 4 meses de idade. A partir
da cobrada uma taxa de adopo128.
Todos os candeos com mais de 3 meses realizada
a identificao electrnica gratuita, bem como as aces
de profilaxia mdica em vigor [vacinao anti-rbica].
A todos os animais adoptados oferecida a desparasitao
internae e esterilizao.

Tendo por base alguns


indicadores e estudos
realizados, estima-se
existir uma proporo
de 1 co para
10 habitantes,
a que corresponde
uma estimativa
de 1 milho de ces
em Portugal.
Em Lisboa,
com quase 600.000
habitantes,
existiro cerca
de 60.000 ces,
no havendo dados
quanto ao nmero 130de
ces abandonados .
180

Realizao de quarentenas - So efectuadas quarentenas


durante o perodo de 15 dias, de animais vadios e de animais com dono, no mbito da profilaxia sanitria da raiva.
Restituio de animais - Se o dono tiver os documentos
que comprovem que o animal lhe pertence [Boletim
Sani-trio de ces e gatos e, no caso dos ces o registo
e licena actualizados]. Este -lhe restitudo. Caso contrrio,
o animal ter de permanecer no Canil/Gatil durante
8 dias, findos os quais, o presumvel dono o poder levantar.
Resoluo de situaes de insalubridade -desde que provocadas por animais, so realizadas vistorias conjuntas com
a autoridade de sade.
Occiso de animais e cremao de cadveres - feita
a cremao de cadveres de animais propriedade de residentes no concelho de Lisboa ou fora dele129.

128

Os valores so de 14,50 para os ces e 5,75 para os gatos [valores 2005].


129
Sendo que para os proprietrios de animais residentes no concelho
gratuita e para os no residentes cobrada uma taxa de 6,75.
130
No existem estudos que nos permitam ter uma ideia precisa sobre
esta realidade.

2.10. Abandono versus Adopo de Animais


No existem dados sobre o nmero de ces ou gatos existentes em Lisboa ou em Portugal.
Relativamente a estes ltimos, segundo estimativas da associao CATTUS PORTUGAL, existiro na rea Metropolitana
de Lisboa 1-2 milhes de gatos errantes no pas, desconhecendo-se o nmero dos existentes na cidade de Lisboa.
As causas de abandono, ou entrega de animais no Canil
/Gatil, so mltiplas, destacando-se as seguintes:
P

Realojamentos - a mudana de um bairro degradado


para construes em altura, justificam a entrega de animais
no Canil/Gatil, dado que os animais perdem a sua anterior
utilidade [de co de guarda]131.
Dificuldades econmicas - os obstculos financeiros das
famlias portuguesas reflectem-se no aumento de abandono de animais, como meio de economizar nas despesas
assim que as dificuldades apertam.
Frias - durante o perodo de frias assiste-se a um
incremento no nmero de animais entrados no Canil/Gatil

Animais de Companhia

Mudana de habitao - esta uma causa frequente


devido transferncia do dono do animal para uma casa
de menores dimenses que no permitem manter o[s]
animal[s] em condies condignas.

Passaporte

131

Nestas situaes, a Cmara Municipal de Lisboa mediante a apresentao de declarao comprovativa pode receber os animais, encaminhando os saudveis para adopo.
181

por abandono dos seus donos. Todavia, h que ter em


conta que quando o tempo est melhor que os animais
se expem mais, sendo ento mais fcil captur-los.
P

Os problemas ambientais e a conscincia ecolgica

182

Caa - O fim da caa apontado como um dos perodos


de grande abandono de animais - sobretudo no Alentejo,
Ribatejo e na zona interior de Portugal. Este fenmeno
no sentido em Lisboa, por ser apenas um fornecedor
de caadores e no um local de caa.
Crescimento excessivo do animal - ao decidir-se adquirir
um animal de companhia, frequentemente, o animal
muito jovem, no se tendo a noo do seu futuro
crescimento. Quando cresce e se verifica que este no se
adequa ao espao que lhe estava destinado, esta pode
ser uma razo que induz ao abandono.
Alteraes do comportamento do animal - o animal comea a tornar-se agressivo, a roer objectos em casa, ladra
ou uiva com frequncia, urina ou defeca dentro da habitao em locais inapropriados [principalmente os felinos
machos, no castrados], causando incmodo aos donos
e/ou vizinhos.
Doena do animal - esta uma das grandes causas de
abandono, sobretudo se a esse facto se aliar a elevada
idade do animal.
Doena do[s] proprietrio[s] - A doena impede o seu
dono de cuidar do seu animal, no tendo normalmente
ningum a quem o entregar. Numa populao cada vez
mais envelhecida, esta uma situao geralmente associada aos mais idosos. tambm frequente e determinante
a presena de elementos na famlia com problemas
de sade ou doena alrgica, sendo os animais uma
das primeiras vtimas [seja por iniciativa prpria ou por
conselho mdico], muitas das vezes sem serem causa
directa de doena.
Reproduo descontrolada - o animal no foi esterilizado
ou castrado, tendo ninhadas com frequncia. Nesta
situao, as grandes vtimas so, obviamente, as fmeas.
Adopes a quente - a adopo no planeada de um
animal, seja porque estava abandonado em algum local,
porque se adoptou um animal numa campanha de

Data

2002
2003
2004
2005
2006

Total

Entrados
Ces

Gatos

1.083
959
1.552
1.591
0

944

2.027

1.318
1.906
1.308
0

2.277
3.458
2.899
0

Adoptados/Restitudos aos
donos
Ces

Gatos

240
326
498
517
0

141
96
463
222
0

Total

381
422
961
739
0

Animais capturados e adoptados no Canil/Gatil Municipal de Lisboa 2002|2006

sensibilizao132, ou devido a oferta de animais de estimao em aniversrios ou festas similares - leva a que, com
frequncia existam situaes de abandono ou de entrega
dos animais nos canis.
No Canil/Gatil Municipal de Lisboa a prtica tem demonstrado que existe uma situao de desfasamento entre
a oferta e a procura de animais para adopo: as pessoas
procuram um tipo de animais que no coincide com
o disponvel para adopo.
Neste Canil, como em todos
os outros - sobretudo nos municipais - predominam os animais
sem raa definida [muitos deles
velhos ou doentes], adultos e um
grande nmero de fmeas.
A procura de animais para adopo dirige-se, sobretudo,
para animais com as seguintes caractersticas:

Raa - So preferidos os animais com raa definida - frequentemente associados aquisio de status social
- sendo os canis um local onde o preo a pagar baixo
ou nulo.
Idade - So mais procurados os animais jovens - em especial at aos 3-4 meses de idade - por serem mais atraentes e pela convico [falsa] que um animal adulto no
se adapta a novos donos.

132

Sobretudo nas aces de adopo de animais promovidas em locais


onde supostamente no deveriam existir animais - tais como hipermercados ou Centros Comerciais.

Animais de Companhia

183

Sexo - Os machos so muito procurados, o que se relaciona com ausncias de problemas com a reproduo.
O facto de ser fmea , com frequncia, motivo de rejeio de um animal, mesmo que tenha sido previamente
escolhido.
Estado de sade - Aqui podemos dizer que os extremos
tocam-se. Existe por um lado o cidado normal que quer
adoptar um animal, preferindo ou exigindo apenas animais
saudveis. Por outro os auto-designados protectores dos
animais [normalmente adultos do sexo feminino] com
problemas de solido ou de relacionamento social, com
o objectivo de impedir a eutansia.

Como forma de estimular a adopo de animais133,


a Cmara Municipal de Lisboa divulga alguns dos animais
existentes para adopo atravs da pgina da Internet134.

3.Pragas Urbanas
3.1. Conceitos Gerais
O ser humano, na maior parte dos locais onde
vive, contacta com vrias espcies animais. Algumas
delas so benficas enquanto produtoras de alimentos,
companhia ou como predadores de espcies indesejveis.
Outras podem ocasionar situaes de risco para o Homem,
porque mordem, picam, transmitem doenas, destroem
ou danificam alimentos e outros bens ou, causam repulsa
ou pnico; isto , por diversas formas, directa ou indirectamente, provocam incmodo ao homem. A este grupo
chamamos pragas.
As pragas podem classificar-se em agrcolas e no agrcolas
ou urbanas.
Definem-se como pragas urbanas as que afectam as cidades,
perturbando as actividades que a se desenvolvem afectando
a envolvente, transmitindo doenas infecciosas, estragando
ou perturbando o habitat e o bem-estar humano.
Pragas Urbanas

184

133

A adopo de animais at aos 4 meses de idade gratuita. A partir


dos 4 meses, paga a taxa de 5,75 para os gatos e 14,50 para
os ces, acrescida da vacinao anti-rbica. oferecida a desparasitao,
a identificao electrnica e apanha dejectos.
134
http://www.cm-llisboa.pt [Maro 06], na rea designada por [Lisboa Limpa].

O controlo das pragas urbanas tem ento como finalidade


a proteco da sade, do bem-estar das populaes e do
patrimnio. Para tanto, h que intervir sobre os factores
de que qualquer ser vivo necessita - e neste caso, os animais
sinantrpicos135 no so excepo: gua, alimento e abrigo.
Para que uma populao de organismos vivos [como as
pragas] se estabelea com sucesso num determinado local
[nicho] fundamental que lhe sejam favorveis algumas
variveis ambientais, como por exemplo: as condies climticas, a oferta de abrigos, a proximidade da fonte
de alimentos e de gua, ausncia de inimigos naturais, entre
outras. Por essas razes, as aces que visam o controle
de pragas devem passar, necessariamente, pela observao
atenta dessas variveis.
Para se definir uma estratgia de controlo da espcie
necessria uma avaliao criteriosa da situao, atendendo
s seguintes linhas de anlise:
Conhecer o inimigo que se quer combater, identificando-o, estudando o seu modo de vida e comportamento
[dados biolgicos].
Caracterizar o local de permanncia da espcie.
Identificar a quantidade de indivduos da populao
no local [dados da infestao], bem como a anlise dos
factores ambientais que favoreceram a sua introduo,
instalao e reproduo [histrico da infestao].

So vrios os mtodos para controlo de pragas urbanas.


Os tradicionais assentam na aplicao de forma defensiva
de qumicos. A curto prazo so obtidos alguns resultados positivos expressos na diminuio da populao infestante.
A mdio e longo prazo observa-se uma reaco inversa pois,
para alm dos prejuzos causados sade e ao ambiente,
ocorre um crescimento desordenado da populao da praga-alvo [reinfestao]. Esta mais acentuada do que antes da
primeira aplicao e com um nmero maior de indivduos
resistentes aos produtos qumicos aplicados. Quando se
adopta esta filosofia de controlo, perante estas condies,
135

Por oposio aos animais domsticos designam-se de sinantrpicos os


animais que se adaptam a viver junto do homem, a despeito da sua
vontade.

Pragas Urbanas

3.2. Metodologia do Controlo

185

aumenta-se o nmero de aplicaes e a dosagem dos produtos


biocidas, reaplicando-os nos ambientes de forma intensiva.
Desta forma cria-se um ciclo vicioso:

reinfestao
aplicao macia

infestao

reaplicao com o aumento


da dose de biocidas aplicada

reinfestao

Toda a expectativa de sucesso do controle fundamenta-se


no nmero e no tipo de aplicaes e nos produtos qumicos aplicados, no existindo o combate s causas primrias da infestao o que, ao longo do tempo, resulta na
perpetuao e agravamento dos problemas.
O Controlo Integrado de Pragas Urbanas a alternativa
mais moderna, tecnicamente mais adequada e ecologicamente mais correcta e segura. Destina-se s reas urbanas
e instituies a existentes [espao pblico, habitaes,
hospitais, escolas, mercados, hotis, indstria, comrcio, etc.]
Implica o envolvimento de todos os intervenientes na tarefa
de manter o ambiente livre de pragas e uma populao
mais saudvel.
O Controlo Integrado de Pragas Urbanas definido como
o uso de todas as tecnologias apropriadas, de prticas
e procedimentos que procuram conseguir a eliminao
e preveno de pragas dentro de uma relao custo-benefcio adequada e uma prtica ambientalmente
segura e que mantm a expectativa de controlo baseado
apenas no biocida a ser aplicado.
So objectivos do Controlo Integrado de Pragas Urbanas:
Controlar e eliminar as populaes de pragas que infestem
as reas abrangidas pelo sistema.
Prevenir a presena de pragas ocasionais.
Minimizar os riscos para a sade humana e o ambiente.
Minimizar a formao de populaes de pragas resistentes.
Reduzir a necessidade de biocidas [qumicos].
P

Pragas Urbanas

186

aumento do
nmero de aplicaes

Minimizar a formao de resduo qumico.


Abordar preventivamente a questo de pragas.
Envolver toda a populao na preveno das pragas, nos
hbitos saudveis de vivncia na Cidade.

O Controlo Integrado de Pragas Urbanas difere da abordagem tradicional em vrios aspectos:


Programa Pr-Activo - Os mtodos tradicionais tendem
a ignorar as causas dos problemas, atacam as consequncias
e removem uma parte da infestao com produtos qumicos.
Apesar do mtodo tambm incluir uma resposta correctiva
imediata pelo uso de produtos
qumicos; no essencial este novo processo procura eliminar
ou restringir condies propiciadoras do estabelecimento
da infestao - seja de insectos, aracndeos, roedores ou
qualquer organismo indesejado.
Processo de Interveno - Os mtodos tradicionais baseiam-se na aplicao intensiva de produtos qumicos para
resolver os problemas com pragas, frequentemente sem
o apoio de algum habilitado a determinar que servios
so necessrios e o tipo de controlo desejado. O Controlo
Integrado de Pragas Urbanas visa coordenar iniciativas
que ampliem o grau de higienizao e a manuteno
da rea abordada.
Uso Mnimo de Qumicos - os mtodos tradicionais consistem na aplicao peridica de produtos qumicos, estejam
as pragas presentes ou no. O Controlo Integrado de
Pragas Urbanas privilegia as inspeces e monitorizaes
peridicas. Os tratamentos qumicos s ocorrem quando as
pragas esto efectivamente a infestar o local em questo.
As aplicaes repetidas de biocidas que no tm em considerao a dinmica populacional das pragas so caras,
ineficientes e apresentam um risco ambiental desnecessrio. Este mtodo reduz potencialmente o risco de acidente ecolgico ou dano para a sade humana.
P

Baixa Toxicidade - Alternativas [que no o controlo qumico] devem ser sempre consideradas antes do uso de
biocidas. Os mtodos tradicionais levam, por vezes, aplicao de quantidades excessivas de qumicos em reas
expostas e distantes do local onde so realmente necess-

Pragas Urbanas

187

rios. No Controlo Integrado de Pragas Urbanas, quando necessrios os biocidas so usados com preciso e parcimnia.
As aplicaes tradicionais reservam-se para quando no
existe nenhuma outra alternativa.
P

Conhecimento Tcnico-Cientfico - Os mtodos tradicionais


ainda so utilizados devido s condicionantes: desconhecimento, factores predisponentes no identificados.
O Controlo Integrado de Pragas Urbanas assenta num
sistema que envolve as seguintes prticas:
Avaliao criteriosa da rea a ser atingida pelo sistema.
Anlise quantitativa e qualitativa das pragas existentes.
Elaborao de um plano de aco que visa interferir, o mnimo possvel, no quotidiano da Cidade.
Interveno inicial para eliminar os principais focos
de infestao.
Monitorizao da rea.
Utilizao de iscas, armadilhas e produtos bio-racionais
com o objectivo de aumentar o ndice de controlo.
Treino de pessoas que trabalham no local para a adopo
de prticas preventivas.
Relatrios peridicos das actividades desenvolvidas e consideraes sobre a questo de pragas, para orientaes
e intervenes futuras.

Sob o ponto de vista metodolgico, o Controlo Integrado


de Pragas Urbanas pressupe as seguintes medidas:
P

Pragas Urbanas

188

Medidas Fsicas - Aces correctivas no meio, modificando-o de forma parcial ou definitiva para eliminar as pragas
ou prevenir a sua reinstalao.
Medidas Biolgicas - Actividades executadas sobre o meio
atravs da utilizao de produtos biolgicos e/ou bio-racionais.
Medidas Qumicas - Incluem a aplicao de biocidas que
so escolhidos segundo a rea a tratar e as pragas-alvo,
com uma utilizao criteriosa e no respeito pelas normas
tcnicas.
Medidas Profilticas - Envolvem a higienizao dos ambientes.
Envolvimento - A participao efectiva de todos os agentes

no programa bem como da populao residente so determinantes para a prossecuo dos objectivos.
P

Medidas educativas - Pretendem a motivao e a mudana


de comportamento das pessoas face aos processos que
compem o controle de pragas.
Documentao - Elaborao de relatrios das actividades,
para facilitar a avaliao contnua do programa e suportar
o planeamento futuro.

Quando no controladas, as pragas urbanas podem originar


doenas:
P

A Barata: diarreias, alergia, tifo, hepatite.


Os Mosquitos: dengue, febre amarela, malria.
As Formigas: choque anafiltico.
Os Ratos: Leptospirose, tifo, peste bulbnica.
As Pulgas: peste e tifo.
Os Pombos: toxoplasmose, piolhos, doenas respiratrias
e infeces por histoplasma.

3.3. Principais Pragas


3.3.1. Aspectos Gerais
As espcies que causam pragas urbanas so divididas ou
classificadas de diversas formas. frequente o seu agrupamento em funo do tipo de problemas que causam ao
homem e ao seu habitat. Assim, falamos de pragas dos alimentos armazenados, dos tecidos, do papel, da madeira;
das pragas provocadas por espcies que mordem, picam
e provocam irritao; pragas ocasionais, etc.

Sabia que:
30% dos incndios
em indstrias
e comrcios
que no tm causas
definidas so
atribudos a roedores.
P As baratas
de esgoto vivem
em mdia 2 anos
e seis meses
e chegam a produzir
810 ovos. Elas podem
ficar at 15 dias
sem gua e alimento
ou at 30 dias
apenas com gua.
P As pragas precisam
de quatro factores
bsicos para
se desenvolverem:
acesso, abrigo,
alimento e gua.
P As formigas so
os principais vectores
de infeco hospitalar
no mundo.
P

As pragas que afectam alimentos armazenados so inmeras. Infestam armazns de cereais, combios, barcos
e camies utilizados para o seu transporte, restaurantes,
fbricas de processamento de alimentos, habitaes, estabelecimentos comerciais, etc., ingerindo os alimentos destinados

Pragas Urbanas

De forma a ajudar o planeamento e execuo de um programa de controlo adequado [ainda que muitos destes
grupos se sobreponham] a classificao de uma praga num
grupo apropriado permite aos profissionais conhecer os aspectos mais importantes do seu comportamento e os seus
hbitos especficos.

189

ao homem e contaminando-os, o que leva a prejuzos


considerveis. Estas pragas podem ser de dois tipos: as que
atacam os alimentos apenas para os ingerir [por exemplo,
roedores, baratas e formigas] e as das espcies que dependem desses alimentos para completar o seu ciclo biolgico
[por exemplo gorgulho e traas].
As espcies que pertencem ao primeiro grupo no so
normalmente muito selectivas quanto ao tipo de alimento,
passando-se o contrrio com as do segundo grupo. Algumas pragas dos alimentos armazenados podem ter origem
no campo antes das colheitas, enquanto outras apenas
infestam os produtos durante as fases de processamento
e armazenamento.
Os insectos que infestam os tecidos podem causar prejuzos importantes. Alm de perdas no seu fabrico e nas
operaes de armazenamento, h ainda que ter em conta
os prejuzos causados a nvel domstico. Os materiais infestados incluem vesturio, componentes do mobilirio como
tapearias, almofadas e revestimentos de l de qualquer
outra pea. As fibras e os materiais sintticos apenas acidentalmente so afectados, devendo-se geralmente a sua
destruio presena de manchas provocadas por alimentos
gordos, por secrees corporais ou por outros resduos que
so objecto do ataque dos insectos.
As pragas dos insectos dos tecidos so problemticas devido
capacidade que tm para digerir a queratina, principal
protena constituinte por exemplo dos cabelos, das unhas
e da pele nos humanos e, noutras espcies, das penas,
plos, l e cornos. Esta capacidade aliada ao uso frequente
pelo homem de tecidos de l e outras peles de animais
constituem a base dos problemas de pragas que afectam
os tecidos. So tambm vulnerveis a estas pragas as coleces de insectos ou outros animais, bem como qualquer
alimento armazenado como carne, peixe e produtos
lcteos. Existem ainda outras espcies que destroem tecidos
por mastigao mas no digerem a queratina, como por
exemplo os peixinhos de prata, as baratas e os grilos.
Pragas Urbanas

190

A madeira encontra-se bastante difundida no ambiente urbano. Diversas espcies podem afectar este material, nomeadamente trmitas e carunchos. As infestaes em edifcios
com construo em madeira so um quebra-cabeas para
a reabilitao urbana. Mas, de uma forma geral podemos

ainda identificar as pragas de aranhas, formigas, maria-caf, centopeias, peixinhos de prata, piolhos dos livros, etc.
Muitas das espcies causadoras destas pragas transmitem
ao homem agentes que podem provocar doenas infecciosas.
As principais espcies que se incluem neste grupo so artrpodes, como as carraas, os caros, os piolhos, as pulgas,
os percevejos, os mosquitos, as moscas, as abelhas, etc.
A sua origem pode ser diversa: a partir do exterior pelas
portas e janelas, animais presentes nas habitaes, por partilha de bens e utenslios ou directamente de outras pessoas,
alimentos e instalaes sanitrias pblicas.
As reaces humanas s espcies que picam, mordem ou
provocam irritao so vrias, desde as praticamente inexistentes at a tumefaces ou outros problemas alrgicos
de extenso alarmante.
Muitas das espcies referidas incluem-se no grupo das
designadas pragas ocasionais. Vivem no exterior e, em
determinadas ocasies, so atradas por factores diversos
e entram nos edifcios [muitas vezes durante a noite atradas
pela luz] embora no completem a o seu ciclo de vida.
Embora algumas sejam comuns s vrias regies do Globo,
outras incidem sobre regies especficas. Algumas causam
danos elevados no mobilirio e outro equipamento domstico, ao passo que outras podem ser venenosas ou produzir
reaces alrgicas. No entanto, de um modo geral no
provocam danos elevados e a sua presena considerada
inofensiva.

3.3.2. As Pragas de Roedores


3.3.2.1. Informao geral

Os roedores so os mais importantes competidores do homem relativamente aos alimentos e outros bens e, quer
a nvel industrial quer a nvel domstico, podem encontrar
as condies ideais para uma rpida multiplicao: disponibilidade de alimentos e gua, refgio e ausncia de predadores e competidores.
Podem ocorrer pragas de roedores nas habitaes, supermercados, restaurantes, indstrias alimentares, esgotos,

Pragas Urbanas

Entre as pragas urbanas, as dos roedores ocupam um lugar


de destaque.

191

Os problemas ambientais e a conscincia ecolgica

192

Biologia

Alimentao

Reproduo

Caractersticas fsicas

Rato caseiro Mus Musculus


Comprimento corpo

=< 10cm

Cauda

5 a 7 cm

Peso

10 a 20 gramas

Focinho

Fezes

Pontiagudo
Grandes
[ultrapassam os olhos quando rebatidas]
Cinzento a castanho
[diversificada de acordo com o habitat ]
Gro de arroz [6 mm]

Informao especfica

Odor tpico devido ao cheiro da urina

Ninhos

Interior edifcios com materiais maleveis


[papel, material isolamentos, pedaos madeira]

Gestao

21 dias

Ninhada

6 a 8 crias

Nmero de ninhadas/ano

Esperana de vida

2 anos

Espcie

Omnvora
Cereais, alimentos secos, aves
e animais de companhia
2 refeies principais [manh e noite],
com ingesto de pequenas pores alimento
cada 1 a 2 horas 3 a 4 gr/dia

Orelhas
Cor pelagem

Alimentos preferidos
Ingesto diria alimentos
Ingesto gua

Subsiste durante perodos apreciveis sem gua

Informao especfica

Comem baratas alems nos edifcios com infestaes

Locais presena

Todas as zonas habitadas da cidade


com alimentao e ambiente seco

Rotinas

Locais habitados: aparece noite


Locais desabitados: aparece tambm de dia

Capacidade nadar

Pode nadar

Deslocao

Deslocao individual reduzida com raio aco 10 m

Informao especfica

Ratazana esgotos Rattus Norvegicus

Ratazana preta ou caseira Rattus Rattus

19 a 26 cm

200 a 475 gramas

16 a 23 cm
Mais comprida que a combinao de cabea
e corpo [17 a 28 cm]
100 a 200 gramas

Pontiagudo

Pontiagudo

Mdias

Bem desenvolvidas

Castanho-acinzentada, avermelhada,
at branco acinzentado
Cpsula [19 mm]

Preto a acinzentado

16 a 20 cm

Fuso [12 mm]


Pelo lustroso

Interior edifcios: preferncia por pisos inferiores


e uso de materiais moles
Exterior: subterrneos e cava galerias

Constri os ninhos em rvores,


telhados, stos, caixas de edifcios

22-24 dias

21 dias

8-12 crias

5-10 crias

3-5

3-5

1 ano

1-2 anos

Omnvora
Prefere alimentos com elevado teor de protena
e hidratos de carbono

Omnvora e carnvora
Sementes, vegetais e frutos secos

No subsistem sem gua

Subsiste durante perodos apreciveis sem gua

Lixeiras, esgotos, jardins, muros, ribeiras,


locais de rega; instalaes pecurias, industriais
ou costeiras; bermas estrada.
Entrada em edifcios atravs de canalizaes

Encontra-se em qualquer habitat,


mas prefere reas florestadas
ou agricultura com preferncia por locais secos

Actividade nocturna com picos ao amanhecer


e anoitecer. Se as populaes forem grandes
ou houver fome, tm actividade diurna

Predomina actividade nocturna

Excelentes nadadores,
podendo ficar submersos at 30 segundos

Pode nadar
Raio aco: 30 a 50 m

Vector de doenas causadas pelas fezes


[tifo, peste, etc.]

Vector de doenas

Os problemas ambientais e a conscincia ecolgica

Come grandes quantidades de uma vez:


25 a 30 grama/dia

193

escolas, hospitais, etc. Aberturas das canalizaes, ventiladores


e algerozes, mas tambm janelas e portas podem ser fonte
de infestao, tal como edifcios contguos ou mercadorias
infestadas.
As espcies de roedores mais vulgarmente implicados nas
pragas urbanas so:

Mus Musculus - rato caseiro ou ratinho.


Rattus Norvegicus - ratazana dos esgotos ou ratazana
castanha.
Rattus Rattus - ratazana preta ou caseira.
Estas espcies consideram-se oportunistas ou comensais,
isto , dependem em muito da presena do homem, cujos
alimentos e desperdcios constituem a sua principal fonte
alimentar, ao mesmo tempo que a proximidade do homem
as protege contra muitos inimigos naturais. Provocam
estragos considerveis nos locais que infestam, consumindo
alimentos e contaminando-os com fezes, urina e plos, estragando mobilirio, roupas e documentos.
Atendendo aos hbitos e caractersticas dos roedores, a
adopo de medidas de preveno em casa, no comrcio,
indstria e servios o primeiro passo. Assim:
1 Manter a limpeza de todas as reas.
2 No acumular entulho de obra no quintal e espaos
expectantes e eliminar outros possveis esconderijos.
3 No deixar restos de alimentos em vasilhames/lixeiras
abertas.
4 Colocar proteces nos esgotos.
5 Eliminar goteiras e outras fontes de gua.
6 Ao perceber-se da presena de roedores contactar servios especializados ou a autarquia.
P

3.3.2.2. Controlo de pragas de roedores


Pragas Urbanas

194

A suspeita da existncia de uma praga de roedores carece


sempre de confirmao da sua presena atravs da identificao de diversos sinais.
Para combater as pragas de roedores fundamental identificar a espcie em causa, j que os ratos e as ratazanas

exigem diferentes estratgias de controlo dado diferirem


nos hbitos e comportamentos relativamente aos iscos.
Antes de colocar ratoeiras com a finalidade de identificar
a espcie e a dimenso do problema, obtm-se normalmente
bons resultados pela observao cuidada das fezes, trilhos,
ninhos, marcas de mordedura, etc.
Assim, o planeamento e execuo de um programa de controlo de roedores pressupe:
1 Inspeco dos locais infestados, com a finalidade de
identificar a espcie e verificar quais as condies que
favorecem o estabelecimento dos roedores.
2 Medidas de higiene que impeam os roedores de obter
alimentos e zonas de refgio.
3 Medidas para eliminar os locais de entrada dos roedores
e reduzir a populao presente atravs de raticidas,
ratoeiras, etc.
So vrios os processos e fontes de informao que permitem identificar/caracterizar a presena de uma praga
de roedores:
Sons - Depois de entrar nos locais onde existem roedores noite, aguardar em silncio durante alguns minutos
e tentar ouvir sons da actividade dos roedores: sons
de roer, de trepar pelas paredes, guinchos, etc.
Zonas escavadas - No solo em direco s paredes.
Trilhos - Os trilhos so os caminhos percorridos diariamente pelos roedores desde o ninho at rea de
alimentao e que so normalmente os mesmos. A passagem contnua pelo mesmo local deixa manchas de gordura. Se o trilho estiver a ser usado estas apresentam-se
frescas, se estiver abandonado, as manchas de gordura
estaro secas e a descamar. O conhecimento dos trilhos
percorridos pelos roedores imprescindvel para colocar
ratoeiras, ps de pista e iscos.
Pegadas - Detectam-se mais frequentemente em zonas
com p, como por exemplo as ombreiras das portas e das
janelas. Se no existirem estas zonas, pode colocar-se p
de pista - tal como a farinha ou o p de talco - que
utilizado para detectar a presena e localizao de roedores, atravs das marcas deixadas pelas patas ou cauda.
Este p no txico, no os destri e serve apenas para
detectar a sua presena.
P

Pragas Urbanas

195

Marcas de roeduras - Os dentes dos roedores so de crescimento contnuo, o que contribui para a sua necessidade
permanente de roer todos os materiais ao seu alcance.

Quando roem, os ratos fazem orifcios com cerca de 1


a 2,5 centmetros de dimetro, ao passo que os das ratazanas tm 5 ou mais centmetros de dimetro.
Nas cozinhas encontram-se frequentemente marcas nos cantos de caixas de madeira e de carto, tendo os animais
removido estes materiais para construir os ninhos. Roem
tambm barras de sabo.
P

Presena de fezes - A forma mais simples de detectar


uma infestao por roedores e de diferenciar o tipo de
infestao [por rato ou ratazanas] baseia-se no tamanho
das fezes. A anlise das fezes d ainda outras informaes. Por exemplo, se estiverem duras e secas tm geralmente mais de trs dias; se estiver presente uma grande
variedade de tamanhos o ninho encontra-se prximo.
Odor a roedores - Um odor almiscarado persistente sinal
de infestao por roedores.
Visualizao de roedores - Durante o dia possvel visualizar os ratos, que, no caso de ratazanas, s acontece
quando a populao muito grande.
Marcas de sujidade - Em tubagens e em vigas onde a sujidade e a gordura da pelagem dos roedores deixam uma
pelcula gordurosa.
Visualizao de ninhos - A localizao dos ninhos pode
ajudar a identificar a espcie em causa. A inspeco dos
locais infestados permite tambm constatar as condies
que favorecem a instalao e a sobrevivncia de uma
praga de roedores.
Uma vez que as populaes de roedores se fixam quando
existe alimento, gua e locais para a construo de ninhos,
o objectivo inicial deve ser prevenir ou diminuir o nmero
de roedores atravs de medidas de higiene e saneamento
para diminuir a disponibilidade daquelas condies.

Pragas Urbanas

196

So vrios os mtodos de controlo, embora o mais comum


seja o recurso a mtodos qumicos - atravs da colocao
de iscos - devendo atender-se aos seguintes aspectos na
sua colocao:

Usar caixas de isco para proteger o produto e diminuir


o risco para crianas e animais domsticos.
Colocar o raticida em locais que facilitem a sua ingesto
pelos roedores [ninhos, locais de passagem e locais de refgio]. Assim, as distncias a respeitar so:
P

para os ratos - 1 a 2 metros


para as ratazanas - 7 a 10metros.

Sinalizar, em planta de localizao, os iscos para facilitar


a monitorizao.

Ao colocar com frequncia um determinado isco no trilho


dos ratos, estes animais desenvolvem um reflexo condicionado que os leva a continuar a procur-lo. Alguns roedores
possuem uma resistncia natural aos raticidas, ingerindo-os durante vrias semanas, sem qualquer efeito.
O uso de aparelhos de ultra-sons um outro processo de
controlo de pragas. Este equipamento emite sons imperceptveis para o ouvido humano [acima de 18 - 20kHz]
mas desagradveis para os roedores. Se acontecer habituao, o mtodo perde eficcia, apresentando-se o ultra-sons como uma das solues a integrar num programa
de controlo de roedores [por exemplo, alterando o padro
de deslocaes dos roedores de forma a atra-los para
ratoeiras].

Assim, deve utilizar-se uma gama variada de mtodos, se


se pretende identificar a espcie envolvida. Embora sejam
criaturas de hbitos [utilizam sempre os mesmos percursos],
os ratos so tambm muito curiosos, abertos a novos alimentos e a novidades. Assim a combinao destes dois
factores com a colocao de um nmero adequado de ratoeiras, favorece o xito elevado na captura destes animais136.
136

Por exemplo se forem vistos um ou dois ratos na cozinha de uma


habitao devem colocar-se seis ratoeiras; no caso de um restaurante
devero colocar-se 24 a 36 ratoeiras.

Pragas Urbanas

As armadilhas para roedores [ratoeiras] so teis em locais


de risco, como por exemplo na indstria alimentar, para
capturar sobreviventes isolados depois de uma desinfestao ou para capturar exemplares com vista sua identificao. Este processo tem a vantagem de impedir a morte
dos roedores em locais inacessveis, com os consequentes
maus odores ou surtos de moscas.

197

As superfcies que contenham materiais pegajosos constituem


um outro processo de controlo das pragas de roedores
e tem por objectivo eliminar sobreviventes ocasionais
de uma desinfestao. Devem observar-se cuidados idnticos
aos da colocao de ratoeiras, sendo desaconselhado o seu
uso em locais com muito p ou com temperaturas muito
baixas ou muito elevadas. So mais eficazes com os ratos
do que com as ratazanas.

3.3.3. Pragas de Artrpodes e seu Controlo


3.3.3.1. Informao geral
Aranhas, escorpies, carrapatos, caranguejos, moscas, borboletas, baratas e centopeias so alguns dos animais mais
comuns do planeta. Formam o filo Arthropoda [do grego
arthros = articulao; podos = ps]. o maior dos grupos
zoolgicos, tanto em diversidade de formas como em nmero
de indivduos, incluindo a maioria das espcies potencialmente causadoras de pragas.
Assim reveste-se de especial importncia, a identificao
das diversas espcies de artrpodes consideradas como
potenciais pragas urbanas. Deve apoiar-se em critrios
especficos que permitam, de uma maneira simples e fivel,
conhecer uma determinada espcie, num dado espao
e numa determinada etapa do seu ciclo biolgico.
Os artrpodes apresentam as seguintes caractersticas
morfolgicas gerais:
P

Corpo segmentado [articulado] com os segmentos agrupados em duas ou trs regies distintas.
Apndices [patas, antenas] em nmero par, segmentados.
Esqueleto externo que se renova periodicamente.
Simetria bilateral.

O filo dos artrpodes inclui vrias classes a que pertencem


espcies causadoras de pragas urbanas, cujas caractersticas
gerais so:
Pragas Urbanas

198

Insectos

Aracndeos

mosca

aranha

mosquitos

escorpio

formiga

caros

pulga

carraas

Patas

3 pares

Antenas

Exemplo

Diviso do
corpo

Crustceos

Quilpodes

Diplpodes

bicho de conta

centopeia

maria-Caf

4 pares

nmero varivel

1 par por
segmento

2 pares por
segmento

1 par

ausentes

2 pares

1 par

1 par

cabea

cefalotrax

cefalotrax

abdmen

abdmen

trax

cabea
segmentos

abdmen

Respirao

traqueias

Excreo

tbulos de
Malpighi

filotraquias e

trax curto
segmentos

traqueias

traqueias

tbulos de
glndulas verdes tbulos de
Malpighi e
ou antenais
Malpighi
glndulas coxais

tbulos de
Malpighi

traqueias

brnquias

cabea

Os problemas ambientais e a conscincia ecolgica

Classes

199

Os conhecimentos de sistemtica e de chaves para a identificao de espcies de grande importncia para os profissionais de controlo de pragas. Alm da apreciao das
caractersticas morfolgicas que permitem identificar uma
praga - utilizando chaves de identificao - o conhecimento
dos hbitos [alimentares e outros] das espcies e caractersticas biolgicas imprescindvel para a sua identificao,
nomeadamente quando no so capturados elementos das
espcies.
A maioria dos insectos desenvolve-se a partir de ovos.
Estes so depositados pelas fmeas nos hospedeiros numa
cpsula [ou ooteca, como o caso das baratas], individualmente ou em massas, soltos ou fixos a objectos diversos,
normalmente em locais protegidos do meio.
O crescimento dos insectos faz-se em estdios separados
por mudas; ou seja, pela substituio do esqueleto rgido
externo que possuem. O nmero de mudas varia com
a espcie. Alm das alteraes do tamanho, muitas espcies
mudam a sua forma durante o crescimento - processo que
conhecido por metamorfose. Relativamente a esta aparncia existem quatro tipos de insectos:
P

Pragas Urbanas

200

Sem metamorfoses - Ao longo do crescimento verifica-se


apenas um aumento de tamanho, sem ocorrerem
alteraes da forma. Exemplo: peixinhos de prata.
Metamorfose gradual - Distinguem-se trs etapas de desenvolvimento: ovos, ninfas e adultos. As ninfas assemelham-se
aos adultos na forma e hbitos alimentares, entre outros.
As alteraes na aparncia so graduais, excepto nas asas
que s atingem desenvolvimento completo nos adultos.
Exemplos: baratas, percevejos das camas.
Metamorfose incompleta - As alteraes da forma so
superiores s que se verificam nos artrpodes de metamorfose gradual. Os jovens tm uma forma e hbitos
diferentes dos adultos. Exemplo: algumas moscas.
Metamorfose completa - Distinguem-se quatro etapas de
desenvolvimento: ovos, larvas [com vrios estdios], pupas
e adultos. Exemplo: escaravelhos, traas, algumas moscas,
pulgas, formigas, abelhas, vespas. A larva [forma que sai
do ovo] tem frequentemente hbitos diferentes dos adultos
e causadora de estragos [exemplo: larva da traa da
roupa], o que justifica a importncia do conhecimento

dos hbitos e caractersticas biolgicas das vrias etapas


de desenvolvimento.
Embora seja conhecida como fase de repouso, a pupa
uma das etapas mais activas do desenvolvimento dos
insectos, pois durante esta fase que atingem as estruturas corporais adultas. Os adultos emergem da cpsula
pupal, sem qualquer desenvolvimento posterior.
3.3.3.2. Controlo de pragas de insectos
3.3.3.2.1. As Formigas
As formigas existem em quase
todas as regies: desde desertos,
florestas inundadas, montanhas,
vales e dentro das nossas casas,
com excepo dos plos. Pertencem ordem hymenoptera, onde
se incluem tambm as vespas e as abelhas. Em funo de
seus hbitos de vida as formigas so insectos que apresentam as trs caractersticas que definem o comportamento
dito verdadeiramente social em insectos: coabitao de duas
geraes na colnia, diferenciao entre indivduos estreis
e reprodutivos, cuidado cooperativo com as crias.
As formigas so um perigo potencial para a sade pblica
quando acontecem infestaes em hospitais, pois tm
a capacidade de transportar microorganismos patognicos
[vectores mecnicos]. Estas infeces provocadas pelas
formigas so decorrentes da sua circulao pelas instalaes dos hospitais, entrando em contacto com material
infectado [ferimentos, ataduras usadas, lixo, etc] e posteriormente com os pacientes, alimentos, medicamentos,
aparelhos e utenslios, salas de UTI, etc., disseminando
os microorganismos patognicos [vrus, bactrias e fungos].
Hbitos Alimentares A dieta alimentar de uma formiga
muito variada. Algumas formigas so carnvoras e alimentam-se de outros animais [mortos ou vivos]; ao passo
que outras se alimentam de secrees de plantas, seiva,
nctar, fungos e outras substncias. Porm, a maioria
alimenta-se do que encontra, seja doce ou no, e isso no
varia, esteja ela nas residncias ou no.

Os ninhos
das formigas
constituem um
sistema de passagens
ou cavidades
que se comunicam
entre si e com
o exterior. Um ninho
tpico de formiga
gira em torno
da rainha, a me
da colnia, a qual
uma fmea
que foi fecundada. O
seu papel
pr os ovos,
donde nascem
as larvas.
De acordo com
a alimentao
que recebem,
as larvas podem
tornar-se operrias
ou fmeas frteis.

H ainda as formigas que protegem pulges e cochonilhas,


que atacam as plantas dentro das casas ou do jardim.

Pragas Urbanas

201

Esses insectos so protegidos como vacas leiteiras, pois


as formigas aproveitam as suas secrees aucaradas como
alimento.
Controlo A preveno das pragas de formigas assenta em
regras bsicas de higiene idnticas s das restantes espcies:
higienizar os ambientes, diminuir a oferta de alimentos
e mant-los bem acondicionados, embalar e dispensar diariamente o lixo e vedar frestas.
P

Os processos de controlo podem ser naturais ou qumicos.


Entre os processos naturais, fruto da experincia de geraes, possvel inventariar:
P

Identificados os potenciais ninhos [buracos em azulejos,


por exemplo] aplica-se, com uma seringa, uma mistura
de gua e detergente, fechando de seguida os furos com
parafina, cimento ou sabo. Se as formigas voltarem,
significa que o ninho da rainha no foi eliminado.
Repetem-se as aplicaes at atingir o ninho principal.
Colocao de produtos repelentes nos locais passveis
de infestao [armrios, cantos da casa], como cravo-da-ndia, folhas de louro, cascas de limo ou de tangerina
- que possuem leos essenciais repelentes.

Identificar a espcie de formiga, estudar a sua biologia


e comportamento so as bases de definio para uma estratgia de controlo da praga, no uso de processos qumicos,
pois cada espcie exige uma interveno qumica especfica.
O uso de ultra-sons um outro processo de controlo.
O aparelho altera o campo magntico dos insectos, fazendo
com que as formigas percam as referncias de localizao.
3.3.3.2.2. Insectos alados
A Mosca Entre os insectos areos
o que se destaca a mosca
domstica [Musca Domestica], que
a espcie mais presente em
reas urbanas.
A crescente aglomerao humana
em centros urbanos tem produzido efeitos indesejveis sociedade, os quais se traduzem em inmeras enfermidades,
muitas delas associadas a pragas urbanas: a Musca Domestica
P

Pragas Urbanas

202

[muscidae] e as moscas-varejeiras pertencentes aos gneros


Chrysomya e Phaenicia [Calliphoridae]. A Musca Domestica

possui uma distribuio geogrfica mundial e um alto nvel


de sinantropia, sendo provavelmente a espcie com maior
diversidade de hbitos alimentares: frequenta o lixo, carcaas
de animais, fezes e matria orgnica em geral [Harwood &
James,1979; Smith, 1986].
H pelo menos trs factores que tm visivelmente contribudo para a manuteno das moscas em reas urbanas:
O aumento do volume de dejectos de natureza orgnica
[dependendo da dimenso do ncleo urbano] - A biologia
das moscas envolve um processo de desenvolvimento, em
que os adultos pem os ovos na matria orgnica e de
que as larvas se alimentam para obter o peso mnimo
necessrio formao das pupas e dos adultos [Ullyett,
1950; Levot et al. 1979]. A populao urbana de moscas
proporcional ao volume de matria orgnica acumulada
pelo homem.
A diminuio da distncia entre as zonas urbana e rural
devido ao crescimento das cidades - A aproximao
destes ambientes facilita a invaso da zona urbana por
espcies que, at esse momento, estavam circunscritas s
reas rurais.
A presena de aterros sanitrios mantidos em condies
precrias e prximos das zonas urbanas.
Os Mosquitos So insectos
pequenos da ordem dptera,
conhecidos popularmente como
pernilongos. Depositam os ovos
em gua parada, correntes e at
guas limpas. Destes ovos eclodem
as larvas, que continuam a viver na gua at se
transformarem em adultos. As larvas transformam-se em
pupas que vivem na gua, mas no se alimentam. As pupas
transformam-se em adultos que tm hbitos nocturnos,
porm a sua presena incomoda a qualquer hora do dia.
Os mosquitos so potenciais transmissores de vrias doenas
- dependendo da espcie - como dengue, malria, febre
amarela, filarase, etc.
Podem adoptar-se, comummente, algumas medidas de preveno, tais como: evitar a presena de gua parada e acumulada em recipientes, proteger os recipientes com gua.
P

Estes insectos so
importantes vectores
mecnicos,
podendo transportar
germes nas suas
patas, disseminando-os
ao pousarem nos
alimentos.

203

www.mundodasbaratas.vilabol.uol.com.br

Sabia que:
H 5.000 espcies
de baratas, sendo que
apenas 1% tem
o carcter de praga.
As baratas existem h
mais de 300 milhes
de anos.
Passam 75%
do seu tempo
em fendas e buracos,
e preferem os locais
prximos de uma
fonte de alimento,
gua, calor e alta
humidade.
So resistentes
radioactividade,
aumentando
de tamanho.

As Baratas [Ordem Ohthoptera]


Os hbitos alimentares das baratas colocam-nas em contacto directo com os alimentos, com as
pessoas e utenslios de cozinha,
deixando para trs um cheiro repugnante e fezes, para
alm de uma grande variedade de organismos, tais como:
bactrias, protozorios e outros, contaminando alimentos,
utenslios, equipamentos, etc. Entre as doenas transmitidas
pelas baratas h a clera, a difteria, o carbnculo, o ttano,
a tuberculose, as diarreias e a toxoplasmose,...
Controlo Integrado - As pragas envolvem estratgias integradas de tratamento qumico e no-qumico, onde as
tcnicas de monitorizao determinam as necessidades de
aplicao de insecticidas e outras medidas correctivas.
Os mtodos de controlo no-qumico tm um papel vital
na eliminao efectiva das baratas, pois de nada adiantar
fazermos uso de insecticidas se no cuidarmos das causas
que propiciam a infestao e as condies ideais para
a sua proliferao.
Medidas de Preveno nas prticas quotidianas - importante promover a limpeza rigorosa das instalaes,
pois um ambiente com comida, gua e abrigo propicia
infestaes, bem como medidas para a eliminao ou
reduo de restos de alimento e gua. So recomendveis:
usar caixotes do lixo com tampa.
recolher o lixo com frequncia.
evitar deixar o local com restos de comida durante
a noite ou durante um perodo muito longo.
manter limpos os locais de colocao dos caixotes de
lixo e, nos terrenos baldios, assegurar a sua limpeza.
A realizao de inspeces peridicas pode tambm prevenir
a infestao de baratas.
Nas habitaes podem adoptar-se ainda as seguintes
medidas para impedir o acesso das baratas a ambientes
hmidos:
o uso de sifes nas pias
conserto da canalizao
vedao de frestas e buracos [como azulejos
quebrados, rachas, tampa de esgoto, etc.].
P

P

P

Pragas Urbanas

204

ventilar o local, mantendo o local sempre seco e arejado.


[

As Pulgas Estes animais ocupam um lugar importante


como vectores de doenas. As espcies mais perigosas, so
as que transmitem os germes
da peste bubnica e do tifo
murino dos ratos e as que
propagam a peste entre os
roedores silvestres, podendo
infectar o homem.
Referem-se as espcies domsticas importantes:

Pulex Irritan - uma espcie cosmopolita. O hospedeiro


primrio desta espcie o homem, podendo ser encontrada
em vrios animais [ces, gatos e outros, onde raramente
se alimentam].
Ctenocephalides Felis e Ctenocephalides Canis - Espcie
cosmopolita que ataca ces e gatos. E tambm em roedores. Ctenocephalide Felis parece ser a mais abundante
e de distribuio mais ampla que Ctenocephalides Canis.
So encontradas habitualmente em residncias habitadas,
preferindo lugares onde se acumula o p ou resduos
orgnicos. Estas espcies constituem uma sria ameaa,
em especial durante o Vero.
A Felis leva de 2 a 4 dias no estgio de ovo, 8 a 24 dias
na fase larval, 5 a 7 dias, na fase pupal.
Xenopsylla Cheopis [Pulga do Rato] - o principal vector
da peste bubnica e do tifo murino. Foi introduzida em
todos os pases do mundo pelo rato preto [Rattus Rattus]
e pela ratazana [Rattus Norvegicus] atravs dos navios mercantes, particularmente na segunda metade do sculo XIX.

P

www.hospvetprincipal.pt

Existem cerca
de 1900 espcies
de pulgas no mundo.
A que preocupa
a maior parte
dos donos de animais
Felis Ctenocephalides.
Esta a pulga
que encontramos
nos animais
de estimao [gatos,
ces, coelhos
e a outras espcies].

P

P

O pombo convive com o homem


desde tempos imemorveis, existindo a convico de que, j no
tempo de No, foi um pombo
quem trouxe a notcia da proximidade de terra, aps o Grande
Dilvio. Os romanos e os gregos

Pragas Urbanas

3.4. Pombos
3.4.1. Contexto da Problemtica

205

utilizaram-no para fins militares e, ao longo dos tempos,


foi um carteiro eficaz de boas e ms notcias. De tal
modo que, mesmo j na era da telegrafia sem fios,
a agncia noticiosa REUTERS no dispensou os seus
servios durante as Grandes Guerras do sculo XX.
Sob o ponto de vista religioso e cultural, e em diferentes
civilizaes, o Pombo apresenta-se associado a uma forte
simbologia: cone de sorte para os chineses, do Esprito
Santo para os Cristos, Mensageiro da Paz
Actualmente os pombos so encontrados em praticamente
todas as cidades do mundo.
O pombo das cidades [Columba Livia] um descendente
do pombo de rochas europeu e foi aproveitado como
animal domstico, mantido em cativeiro [em gaiolas] para
o consumo domstico.
Caractersticas:
P

P

P

P

P

P

P

P

Pequena corpulncia [32 cm ]


Envergadura 60 a 65 cm
Cabea cinzenta
Olhos cor de laranja
Pescoo com reflexos verdes
Asas cinzentas
Cauda com barra preta
Alimentao: gros, sementes e pequenos moluscos

Em estado selvagem, estes animais so uma espcie pouco


prolfica, produzindo no mximo trs posturas por ano.
Trata-se de uma ave monogmica, com uma esperana
mdia de vida entre os 12 e os 15 anos.
Caractersticas Fisiolgicas do Pombo:
P

P

Pragas Urbanas

206

Temperatura - 38 - 40 C
Peso Mdio - 450 - 500 grs

Ingesto de gua - 30 - 60 cc por dia [45cc em mdia],


que duplica no Vero [60 - 100cc]

P

Ingesto de alimentos - 30 gramas por dia [mdia]

Nos ncleos urbanos - onde possuem condies favorveis


para a sua fixao - os pombos vivem cerca de trs anos.

So aves granvoras e podem alimentar-se de uma grande


variedade de gros e sementes. Porm, a sua adaptao
s cidades promoveu uma mudana na sua dieta que vai
desde o po e o farelo a outras iguarias oferecidas pela
populao. Na sua ausncia, debicam os sacos de lixo ou,
simplesmente, comem o que encontrarem.
Nas cidades, o equilbrio ecolgico atingido quando
o nmero de aves inferior a um quinto da populao
humana residente. A situao torna-se problemtica quando
o seu nmero superior, o que se deve presena
e conjugao de vrios factores, tais como:
P

Fotoperodo longo [nmero de horas de luz]


Ausncia de predadores
Disponibilidade constante de alimento
Facilidade de nidificao [devido arquitectura do patrimnio edificado].

A partir do momento em que a populao de pombos


atinge valores superiores ao aceitvel137, passa a ser considerado como uma praga, com interferncia na vida citadina. A ttulo de exemplo podemos referir acumulaes
inestticas nos edifcios causadoras de estragos. As consequncias para a sade pblica so vrias - desde patologias
respiratrias, distrbios intestinais a problemas alrgicos.

3.4.2. Preveno e Controlo


As solues para o controlo da populao de pombos nas
cidades exigem a aplicao e utilizao de tcnicas variadas,
sendo a preveno um dos aspectos a atender. Enquadrase nesta perspectiva a proibio da criao de pombos
domsticos na cidade, assim como a sua alimentao constitui contra-ordenao punvel com coima138. So tambm
opes que se inscrevem na preveno, o desenvolvimento
Nas cidades, os pombos pem ovos praticamente todo o ano produzindo cerca de 8 a 10 filhotes por ano. A fmea coloca um a dois
ovos de cada vez, que ficam a encubar cerca de 18 dias. Depois da
ecloso dos ovos os filhotes so alimentados com uma dieta oferecida pelos adultos chamada de leite de pombo e que consiste em
alimento pr-digerido.
138
De acordo com o n. 1 do art. 60 do Regulamento de Resduos Slidos
da Cidade de Lisboa.

Pragas Urbanas

137

207

de aces de sensibilizao dirigidas populao e o incentivo adopo de prticas preventivas que visem a reduo da oferta de locais de postura nos imveis [atravs
da colocao de gel repelente, espculas e telas de proteco].
Nesta ltima situao, o primeiro passo verificar o local
onde as aves se abrigam ou nidificam, seguido da anlise
das melhores opes de proteco na rea, tendo em conta
o aspecto financeiro e numa ptica custo-benefcio. No
esquecendo que um servio dessa natureza utiliza muita
mo-de-obra podendo exigir a utilizao de equipamentos
para apoio ao trabalho em altura, o que encarece bastante
o servio. pois preciso ser bastante cuidadoso na escolha
do sistema a utilizar, de tal forma que ele seja o mais
permanente possvel e no exija muita mo-de-obra para
a sua colocao ou reparao.
Na verdade deve prevenir-se ou retirar as aves do local
de pouso ou nidificao e impedir o acesso ao alimento
preferencial. Num segundo momento, o controlo deve criar
mecanismos de barreira para impedir o retorno dessas
aves aos locais de interesse.
Como mtodos de controlo enuncia-se a captura [atravs
de canho e gaiolas] e a distribuio de anticoncepcional
aos pombos139, o qual inibe a ovulao nas fmeas e a espermatognese nos machos.

3.4.3. Risco para a Sade


Sem inimigos naturais nas metrpoles, os pombos proliferam
rapidamente. Pela simpatia que despertam, so alimentados
diariamente com po e outros alimentos. Este constitui um
comportamento de risco j que a ave pode ser fonte
de contaminao bacteriana. Por isso, importante colaborar,
para que estas aves procurem ambientes mais apropriados
ao seu desenvolvimento e encontrem os alimentos prprios
da sua dieta natural [gros, insectos, frutas].
Os pombos podem afectar a sade nas seguintes situaes:
P

Pragas Urbanas

208

O contacto com as fezes pode causar problemas respiratrios, renais e outros como meningite, encefalite
e histoplasmose.

139

Esta metodologia ser desenvolvida de forma mais aprofundada no


ponto 3.5 deste captulo.

Os parasitas naturais que carregam no corpo podem


causar alergias e outros incmodos.
Os pombos podem provocar danos ao patrimnio ao abrigarem-se em casas, prdios, telhados, torres de igreja
e parques. As suas fezes ocasionam a descolorao de
pinturas, corroso de superfcies de alvenaria e metal,
alm do apodrecimento de madeiras devido composio
qumica das secrees.

Como proceder:
P

Limpar os locais com acumulao de dejectos destes


animais usando mscara, luvas e produtos desinfectantes.
Humedecer as fezes antes de as remover, o que evita
a disperso de partculas que podem provocar doenas.
No dar comida s aves. Assim, elas procuraro alimentos
em ambientes naturais, longe das cidades.
No deixar restos de comida, gros ou lixo ao alcance
dos pombos.
Impedir a formao de ninhos, removendo-os sempre.
Fechar com tela os espaos onde as aves se possam abrigar.

3.4.4. Tansmisso de Doenas

Pragas Urbanas

Este um assunto polmico, pois muitos acreditam ser difcil


comprovar a participao das aves na difuso de doenas
para o homem. Mas no bem assim. Se aceitamos que
os pombos podem adquirir doenas com as pessoas, devemos
entender que o inverso tambm possvel.

209

Doenas dos pombos


Salmonelosis ou Paratifosis
Bacterianas

Pasteurelosis ou Clera

[bactria]

Coriza
Ornitosis

Micoplasmosis

Infecciosas

New Castle ou Paramixovirus


Virticas

Adenovirus

[vrus]

Herpes Vrus
Varicela

Micticas

Aspergilosis

[fungos]

Candidiasis ou Muguet
Coccidiosis

Internos

Ascariosos
Capilariosos
Teniasis
Plasmodiosis ou Malria

Parasitrias

Protozorios

Haemoproteosis
Trichomoniasis
Piolhos

Externos

caros
Dpteros [moscas]
Carraas

3.4.4.1. Salmonelose
P

Pragas Urbanas

210

Agente etiolgico - Bactria do gnero Salmonela.


Fonte - Vivem no tubo digestivo dos animais.
Animais que so portadores e sensveis doena - Todos,
inclusiv o homem. Em cada 100 pombos, espera-se que
menos de 10 tenham a bactria. Os portadores podem

3.4.4.2. Histoplasmose
Agente etiolgico - Um fungo dimrfico chamado Histoplasma Capsulatum.
Fonte - Solos e pisos com dejectos de animais.
Modo de transmisso - Pela inalao dos esporos suspensos
no ar. Quanto mais excrementos ressequidos e pulverizados
no ambiente, maior a probabilidade de o homem apresentar a doena. Por exemplo, o forro do telhado de uma
casa, se frequentado por pombos, um ambiente insalubre
repleto de microorganismos patognicos inalveis.
Patologia que pode provocar no homem - A histoplasmose
uma micose sistmica de gravidade variada. A infeco
comum, mas a doena no. Isto , estamos sempre expostos aos esporos, em maior ou menor quantidade, podendo
desenvolver sensibilidade sem apresentar doena sintomtica. Quando h sintomas, pode ser uma enfermidade
respiratria benigna ou, nos casos mais graves, os rgos
internos podem ser afectados de forma aguda ou crnica.
Como evitar a doena - Mantendo a higiene dos locais
que frequentamos e destinando adequadamente os dejectos
dos animais domsticos e peridomiciliares, como os pombos.
Importante: na aco de limpeza dos excrementos,
humedecer o piso e as superfcies a serem limpas e usar
sempre um leno hmido ou mscara na face para evitar
inalao da poeira levantada.

Pragas Urbanas

apresentar sintomas da doena, quando so conhecidos


como portadores sadios. Estes so os mais perigosos.
Modo de transmisso - Pela ingesto de carne e de ovos
contaminados ou de alimentos mal lavados [que tenham
estado em contacto com fezes, ou ainda, que foram
lavados com gua contaminada por fezes de pombos].
Patologia que pode provocar no homem - gastroenterite.
Como evitar a doena - Ter higiene na manipulao dos
alimentos; lavar as mos ao chegar a casa, sempre que
se for casa de banho e antes das refeies; manter os
alimentos cobertos; janelas e peitoris da cozinha bem
limpos.
Grupo de risco - Qualquer pessoa exposta a condies
de falta de higiene.

211

Grupo de risco - Pessoas expostas a ambientes empoeirados e contaminados com fezes de animais. Se estas
pessoas esto imunodeprimidas, ou seja, com as suas
defesas orgnicas diminudas [como transplantados, portadores de cancro em tratamento com quimioterapia, tuberculosos, pessoas infectadas com o HIV e idosos debilitados]
os riscos de contrair a histoplasmose so maiores.
3.4.4.3. Criptococose

Agente etiolgico - O fungo Cryptococcus Neoformans.


Fonte - Como na histoplasmose.
Modo de transmisso - Como na histoplasmose.
Patologia que pode provocar no homem - Uma micose
sistmica que geralmente se apresenta como meningite
sub-aguda ou crnica. A seguir ocorre o comprometimento
dos pulmes, bao, articulaes, msculos, pele e gnglios
linfticos.
Como evitar a doena - Como na histoplasmose.
Grupo de risco - Como na histoplasmose.
3.4.4.4. Ornitose [Psitacose ou Clamidiose Aviria]

Agente etiolgico - Um microorganismo intracelular nomeado Chlamydia Psittaci.


Fonte - Aves infectadas.
Animais que so portadores e sensveis doena - As aves
domsticas e as silvestres, pois a doena comum entre
os pombos, patos, galinhas e psitacdeos [papagaios,
periquitos e araras].
Os grandes bandos de aves, sob stress, so mais sensveis
doena.
A sua ocorrncia no homem espordica.

Pragas Urbanas

212

Modo de transmisso - Por via area por inalao em


locais contaminados [uma vez que o agente patognico
eliminado nos excrementos e secrees corporais das
aves doentes] podendo ficar nas penas, aderir ao material
do ninho e poleiros das aves. Os dejectos secos formam

aerossis contendo a clamdia. O grau de exposio ao


agente infeccioso pode determinar a gravidade da doena
no homem.
P

Patologia que pode provocar no homem - Pode ser assintomtica ou ocorrer doena de gravidade variada. Pode
confundir-se com enfermidade respiratria comum e passar despercebida; ou ser traioeira e provocar pneumonia e broncopneumonia [nas formas mais graves]
hepato-espleno-megalia, vmitos, diarreias, depresso mental e delrios.
Como prevenir a doena - Para evitar a inalao de
aerossis durante a limpeza das superfcies frequentadas
por aves, humedecer os excrementos, os ninhos e as
camas de aves usando uma mscara.
Grupo de risco - idosos, pessoas com sade debilitada
e profissionais com contacto estreito com as aves, em
especial os que se exponham em ambientes confinados140.
3.4.4.5. Alergias

Agentes - Poeira com resduos orgnicos [plos, penas,


escamas de pele, plumas, secrees corporais e excrementos] e/ou ectoparasitas de pombos [caros de pele
ou penas, carrapatos, piolhos, pulgas e moscas].
Fonte - Aves e outros animais que frequentam os
mesmos ambientes que pessoas sensveis.
Sensibilizao - Pela inalao e pelo contacto com os
agentes irritantes ou picadas dos ectoparasitas.
Patologia que pode provocar no homem - Alergias com
diversos sintomas que vo desde a irritao e pruridos
da pele, coriza ou sufocao por edema de glote.
comum a bronquite asmtica alrgica, principalmente
em crianas e idosos.
Como evitar a doena - Manter limpos e ventilados os
locais frequentados por pessoas sensveis e impedir a proximidade dos agentes irritantes.

140

Como forros e stos onde os pombos fazem os seus ninhos ou se


abriguem.

Pragas Urbanas

213

3.5. Controlo da Populao de Pombos na Cidade


de Lisboa
O aumento do nmero de pombos e de queixas dos residentes em Lisboa, um facto. Os incmodos causados pelas
aves que se traduzem na destruio do patrimnio edificado, dos monumentos e dos pavimentos e a identificao
de agentes patognicos nas aves [com eventual risco para
a Sade Pblica] levaram a CML a tentar controlar a populao columbfila na cidade.
Tendo por objectivo atingir o equilbrio da espcie pelo
controlo da reproduo das aves, a soluo adoptada
replicou [com as devidas alteraes] uma metodologia testada com xito, em algumas cidades europeias, nomeadamente Veneza e Treviso.
Este mtodo de controlo assenta na utilizao de um contraceptivo oral que agindo como factor de seleco natural,
no esteriliza as aves, mas apenas diminui a sua capacidade
reprodutiva141 permitindo, assim, controlar a populao,
de uma forma humanitria. Substitui os predadores utilizados
em vrias cidades.
A metodologia utilizada observou os seguintes aspectos:
I Fase - Caracterizao do problema [situao de referncia]
P

Censo da populao de pombos na Cidade de Lisboa.


Levantamento dos locais com maior nmero de reclamaes de muncipes, relacionadas com os pombos.
Identificao dos locais com elevado nmero de aves.

Contagem do nmero de animais que poisam em cada um


dos locais [contagem directa e por fotografia feita durante a distribuio de milho simples].
II Fase

Pragas Urbanas

214

Avaliao da informao recolhida, mapeamento e definio de reas prioritrias.


Definio do programa de alimentao [estimativa da quantidade de produto a utilizar142, locais, etc.].

141

Sendo faseado, este mtodo inicia-se com uma distribuio de milho


impregnado com contraceptivo oral [progesterona a 0,01%], durante 180
dias ano, dividido em 2 aces de 90 dias correspondentes s pocas de
postura das aves.
142
Tendo por base a regra: n. de animais que poisam x 30g de milho/dia.

Formao aos operacionais a envolver no projecto.


III Fase

Distribuio diria de milho atendendo aos dois momentos:


fase de habituao, fase de distribuio de milho impregnado com contraceptivo oral143.
Envio de amostras de pombos para anlise e identificao
dos agentes patognicos144.
Desenvolvimento de aces de sensibilizao populao,
acompanhadas de uma interveno dirigida pela Polcia
Municipal junto de muncipes infractores.

Para alm desta metodologia, o municpio de Lisboa tem


tambm incentivado a colocao de repelentes de poiso
das aves [picos, fio simples, fio electrosttico, rede, etc.]
quer nos edifcios municipais, quer nos privados, prestando
aconselhamento tcnico.

A distribuio teve duas fases: Abril, Maio e Junho [1 fase] e Setembro,


Outubro e Novembro [2 fase].
144
Foram enviados 20 pombos capturados para o Laboratrio Nacional de
Investigao Veterinria, 10 pombos para a Faculdade de Medicina Veterinria e 20 pombos para o Instituto de Medicina Tropical para identificao dos agentes patognicos das aves.

Pragas Urbanas

143

215

Os problemas ambientais e a conscincia ecolgica

216

Da Cidadania Educao Ambiental

Os problemas ambientais e a conscincia ecolgica

218

A capacidade criativa e intelectual do homem trouxe


inmeros benefcios e possibilitou a transformao
da Terra, mas tambm, a transformao do prprio homem,
da sua maneira de pensar, de estar e da prpria noo
de cidadania.
Os desafios da actualidade implicam uma reflexo profunda sobre estas alteraes, com especial destaque para
a prpria noo de cidadania, uma vez que esta, de algum
modo, acaba por traduzir a nossa relao quer com a natureza quer com os nossos semelhantes.
Neste captulo pretendemos sublinhar a importncia de uma
cidadania efectiva, por forma a consciencializar para o papel
fundamental [tantas vezes ignorado ou descurado] que cada
um desempenha na construo da uma sociedade melhor,
em consonncia com o meio natural e construdo, de cuja
preservao somos responsveis. A noo de participao
determinante numa cidadania activa e empenhada, constituindo um dos componentes bsicos da educao ambiental
para um desenvolvimento sustentvel.
Mas, o conceito de cidadania no unvoco. Ao longo dos
tempos assumiu vrios significados que procurmos recuperar pelo seu interesse para o debate e para uma melhor
compreenso da sua relao com os problemas e os valores
de cada poca e ainda a forma como se imps ou omitiu,
forjando as prprias histrias.
Procuramos tambm identificar alguns dos desafios que
actualmente se impem humanidade, os valores emergentes e, por fim, algumas estratgias associadas prtica
da informao, sensibilizao e educao ambiental na rea
dos Resduos Slidos Urbanos e animais.

1.Da Cidadania

A primeira teoria sobre a noo de cidadania


deve-se a Aristleles, mas podemos considerar que
a prtica da cidadania grega remonta poca da formao
da Polis Grega, por volta do ano 800 a.C. Contudo, foi entre
os sc. V e IV a.C., em pleno apogeu da democracia grega,

Da Cidadania

1.1. A Concepo Grega

219

que o exerccio da cidadania atinge a sua maior expresso.


Apesar da associao generalizada da noo de cidadania
a este perodo da histria da humanidade, a verdade que
a prpria formao da Polis j fruto do esprito embrionrio da cidadania e da democracia: a discusso pblica.
Os habitantes encontravam-se no gora145 onde discutiam
os vrios problemas, principalmente os de natureza poltica.
Comea-se, assim, a ganhar conscincia de que a administrao uma coisa pblica, que interessa a todos e que
todos devem dar a sua opinio. desta forma que a cidade
se encaminha para uma abertura participao dos
cidados146 e ensaia a to paradigmtica democracia grega.
Para Aristteles, o elemento central da cidadania efectivamente a participao na comunidade poltica, cujo objectivo
ltimo o Bem comum. Mas para os gregos comunidade
poltica abrangia todos os aspectos da vida dos indivduos
desde as questes familiares, religiosas e mesmo lazer, at
aos assuntos puramente pblicos. O Homem definido como
um animal poltico por natureza que vive em conjunto
com os seus semelhantes e que, portanto, nasceu para
a cidadania. Esta definio d noo de cidadania, enquanto participao na comunidade poltica, um sentido profundo, ligado prpria noo do ser da pessoa humana.
Sendo a natureza de um ser o fim ltimo da sua existncia,
isto , o estado em que cada ser se encontra desde o momento do seu nascimento at ao seu perfeito desenvolvimento147, o exerccio da cidadania a possibilidade do desenvolvimento das capacidades humanas e da plena realizao do homem. Para se ser verdadeiramente humano era
necessrio ser cidado, mas, mais do que isso, era necessrio
ser cidado activo.
Estando a noo de cidadania to intimamente ligada natureza humana, facilmente se depreende que dela fazem parte
todos os aspectos da polis: a vida poltica, econmica, religiosa, social e familiar, formando uma ideologia cvica cujos
valores so vistos como imutveis e de origem divina.
Utilizando uma terminologia contempornea podemos dizer
que a noo aristotlica de cidadania era essencialmente
Da Cidadania

220

145

Inicialmente praa pblica e mais tarde mercado.


PENEDOS, lvaro J. Introduo aos Pr-SSocrticos. Lisboa: Rs-Editora,
Lda, 1984.
147
CRESSON, Andr. Aristteles. Lisboa: Edies 70, 1943.
146

baseada em obrigaes e no em direitos. Contudo, em rigor,


no contexto grego, no deveramos falar em obrigaes ou
direitos mas sim em deveres morais e possibilidades de
desenvolver a nossa natureza humana ou oportunidades para
exercer a virtude cvica, como referimos anteriormente.
O carcter holstico da concepo grega de cidadania no
permite a noo de direitos e obrigaes porque estes
pressupem uma ciso ou oposio entre quem concede
direitos e quem est obrigado a algo. Ora, em Atenas, os interesses individuais e os interesses da comunidade so totalmente coincidentes e interdependentes. Nada escapa autoridade da polis porque, simplesmente, no h diviso entre
Estado e sociedade, pblico e privado ou lei e moralidade
como nas sociedades contemporneas. A prpria liberdade s
existe na participao da vida da cidade e na procura
do bem comum. Por isso, no h na Grcia a noo de obrigaes e muito menos a de que estas so um mal
necessrio ou mesmo formas de limitar a liberdade. Alm
disso, apesar do Estado ter caractersticas de proteco dos
seus cidados, no era essa a sua essncia.

O grande seno da concepo grega de cidadania era, obviamente, o facto de ser altamente exclusiva e o facto desta,
para alm de aceite com grande naturalidade, se encontrar
perfeitamente justificada luz dos valores da poca.
As mulheres no eram seres suficientemente racionais para
a participao poltica e os escravos nem sequer eram verdadeiramente humanos.
148

CHATELT, Franois. Histria da Filosofia de Plato a S. Toms de Aquino.


Lisboa: Crculo de Leitores, 1986.

Da Cidadania

Na democracia grega todos os cidados participavam


directamente na gesto da cidade e alguns cargos eram
mesmo atribudos por sorteio. Por conseguinte, todos tinham
a capacidade de regular [construir normas] mas, tambm,
eram regulados e fiscalizados. Assim, para Chtelet148
a democracia no a fora do povo, a extenso da cidadania a todo o homem livre, a equiparao da condio
de cidado a todos, sejam quais forem os rendimentos
e a origem. Mas no nos iludamos com a noo de origem: na Atenas clssica, esta diz respeito apenas aos cidados [cerca de 10% da populao] pois, como sabido,
os escravos, os estrangeiros, as mulheres e as crianas no
tm este estatuto.

221

1.2. A Concepo Romana


Ao falar da concepo romana de cidadania devemos ter
presente que esta diz respeito a um longo perodo de tempo
e a um espao geogrfico muito alargado [inicialmente Roma
e depois todo o Imprio Romano]. Contudo, se deixarmos
de lado as vrias nuances que o conceito foi adquirindo
ao longo do espao e do tempo, podemos dizer que a noo
romana de cidadania , genericamente, menos filosfica
e bastante mais pragmtica.
No tempo de Roma, a cidadania estava tambm ligada participao poltica semelhante ao que vimos na Grcia.
Contudo, com a expanso do imprio foi-se desligando cada
vez mais deste ideal, tornando-se um conceito legalista
e utilitrio que facilitava o controlo e a pacificao dos
povos conquistados, bem como a cobrana de impostos.
Comparativamente com a concepo Grega, a noo romana
de cidadania assim inclusiva, mas desligada da tica
e da participao. Abrangendo povos longnquos e de mltiplas culturas, transforma-se numa mera expresso das leis
do Imprio e reflecte-se quase exclusivamente na simples
guarda e segurana judicial. O aspecto legalista do Imprio
Romano foi de tal forma marcante que o legado do direito
romano no nosso sistema legal e judicial ainda hoje
vastssimo.
Apesar da inclusividade que caracteriza a concepo romana
de cidadania, esta s muito lentamente foi alargada a todo
o Imprio acabando, pelo menos teoricamente, com a desigualdade entre cidados e no cidados.

Da Cidadania

222

Segundo Coulanges149 s depois de oito a dez geraes terem


ansiado por ela, surgiu um decreto imperial a conced-la
a todos os homens livres sem distino. Embora paradoxal,
esta situao no contraria o que atrs foi dito. Quando
este decreto surgiu j todos os homens com algum valor
tinham conseguido o pleno direito de cidadania. Coulanges
considera espantoso que, apesar de na histria quase no
se encontrar decreto mais importante do que este [que
suprimia a desigualdade entre povo dominador e povos subjugados] tenha passado completamente despercebido. No se
consegue determinar com exactido nem a data, nem o nome
149

COULANGES, Fustel. A Cidade Antiga. Lisboa: Clssica Editora, 1988.

de quem o promulgou. Por isso, Coulanges conclui que se no


impressionou os seus contemporneos e no referido pelos
que ento escreviam a histria, porque a modificao,
da qual expresso legal, h muito estava estabelecida.
Sendo a igualdade um conceito fundamental na noo de
cidadania, convm sublinhar que se tratava apenas de uma
igualdade que eliminava a diferena formal entre povo
dominador e povo dominado. Continuavam a existir partes
da populao que no estavam includas [os escravos, por
exemplo] e as desigualdades entre cidados e no cidados
eram tomadas como naturais e imutveis.
Para melhor compreender a importncia da inclusividade
que caracteriza a concepo romana de cidadania, acrescentamos que das cerca de 1.000 cidades da Grcia e de
Itlia, Roma foi a nica capaz de subjugar todas as outras.
Em vez de impr os seus deuses, Roma adoptou os das
cidades vizinhas, passando a viver em harmoniosa comunho
religiosa com todos os povos. Esta abertura foi fundamental
quer durante a expanso do Imprio, quer durante o declnio
da velha religio. medida que esta ia perdendo o seu peso
na forma como as cidades se organizavam, perdia-se tambm
o patriotismo. J no se amava a ptria pela sua religio
e os seus deuses mas, somente, pelas suas leis, instituies
e segurana. A terra j no era sagrada e se as suas leis
e instituies no agradassem, era muito fcil aceitar
o imprio romano ou mudar de urbe.

Na perspectiva de Nogueira e Silva150, o contributo da concepo romana de cidadania para a nossa questo [Como
definir cidadania?] est relacionado com o facto de ser
o primeiro exemplo da utilizao da cidadania como instrumento de controlo social e, em segundo lugar, permitir
150

NOGUEIRA, Conceio; SILVA, Isabel. Cidadania - Construo de Novas


Prticas em Contexto Educativo. Lisboa: Edies Asa, 2001.

Da Cidadania

Mais tarde o cristianismo com o seu Deus nico assinalou


o fim da sociedade antiga e concluiu a transformao social
iniciada seis ou sete sculos antes. Um dos aspectos mais
importantes foi a separao entre o Estado e a religio,
tendo esta vivido trs sculos completamente fora do Estado.
Esta independncia foi particularmente importante na histria
do direito romano que h muito tentava libertar-se da
velha religio.

223

discutir se um sentido profundo de cidadania s ser possvel


em comunidades pequenas e homogneas como a de Atenas.
Mas a abertura e o carcter de inclusividade romana
parece-nos, tambm, fundamental para o actual debate da noo
de cidadania.

1.3. Cidadania na Idade Mdia


Conforme constatmos ao longo da explanao da noo
romana de cidadania, este conceito foi perdendo importncia. Depois da sua atribuio a todos os que habitavam
o imprio caiu em desuso ou, quando usada, servia apenas
para designar a condio de homem livre em oposio
de escravo. Com a agonia e posterior queda do imprio,
o esprito cvico degrada-se ainda mais. A conjugao
de factores como a depresso econmica [regresso economia baseada na agricultura e na troca], a decadncia das
cidades e a passividade, revolta ou fuga dos cidados s suas
obrigaes [o exrcito, por exemplo, era totalmente composto
por mercenrios estrangeiros] afectaram toda a organizao
social, cultural e poltica, dando origem a um longo perodo
de obscurantismo e estagnao no desenvolvimento da histria da humanidade.

Criao de Ado
Pintura
de Miguel ngelo
na capela sistina
- 1508/1512

224

A cidadania na Idade Mdia muitssimo marcada pelo


cristianismo que depressa tomou o lugar do Imprio.
Se antes a cidadania significava honras, riqueza e segurana,
agora o grande objectivo do Homem era a salvao.
Se nos velhos tempos a religio e o Estado formavam um
todo, agora so completamente distintos. Em vez de vrios
deuses temos um Deus nico que chama a si toda a humanidade. O sacerdcio deixa
de ser hereditrio porque a
religio j no um patrimnio. O Estado s governa
parte do homem porque a alma s a Deus pertence.
A alma j no tem ptria
e daqui resulta, pela primeira vez, a possibilidade da liberdade individual. O cristianismo coloca Deus, a famlia,
a pessoa humana acima da ptria, coloca-se fora do direito
e acima de tudo o que terreno. Em suma, a nova religio separa tudo o que a antiga confundia. Esta distino
- cidade terrena e cidade celeste - foi estabelecida por

St Agostinho [sc. IV e V d.C.] em A Cidade de Deus, onde


demonstrava que para o cristo s contava a Cidade de Deus
e com esta que o Homem se deve preocupar. Contudo,
fizera notar que apesar de independentes, a sociedade
temporal se integrava no plano divino e que, por esse
motivo, no podia contrari-lo. Ora, desta superioridade
do plano divino interpretao de que este deve submeter
o mundo material, vai um pequeno passo.
A Cidade de Deus preconizava um desprendimento material
que conduzia a uma viso mstica. Por isso as noes
agostinianas de paz e de justia no se impem ao direito
natural, pelo contrrio, situam-se num plano absolutamente
distinto. Segundo Touchard151 no podemos sequer dizer que
o que para St Agostinho era apenas uma inclinao de
esprito se tenha transformado em doutrina [o agostinianismo poltico] nos seus comentadores. Estes amputaram-lhe
as perspectivas: da defesa de uma causa superior fizeram
uma regra de governo quotidiano, em que a ordem natural
absorvida pela ordem sobrenatural, o direito natural pela
justia sobrenatural e o Estado pela Igreja. Nos sculos XI,
XII e XIII a Igreja exprime a totalidade no mundo
e controla todos os aspectos da vida do Homem.
Foram ainda precisos mais dois sculos de profundas
convulses polticas e ideolgicas, crises econmicas, pestes
e escndalos no seio da Igreja que medida que enfraqueciam o poder eclesistico fomentavam a formao
das naes, a ecloso do sentimento nacional e todo um
humanismo regenerado que constituiu os alicerces da cidadania moderna.

1.4. A Concepo Moderna de Cidadania

151

A concepo moderna de cidadania est intimamente relacionada com o desenvolvimento do Estado liberal, cujas
bases foram preparadas
no final do sc. XVI. A Revoluo Francesa [1789]
e a noo de igualdade,
introduzida nos debates
sobre a relao do indivduo com o Estado pelos

A Liberdade
guiando o povo
Delacroix, 1831.

TOUCHARD, Jean. Histria das Ideias Polticas. Lisboa: EA, vol. I, 1981.
225

filsofos Thomas Hobbes152 e John Locke153, desde o sculo


anterior, bem como o direito vida e liberdade foram
preconizados por diversos filsofos e outros humanistas
tambm depois da Revoluo Francesa.
A insegurana provocada pela violncia das guerras religiosas
e da guerra civil inglesa levaram concepo de soberanias
absolutas como forma de garantir a paz. O cidado ,
ento, um sujeito a quem compete obedecer em troca
de proteco. Contudo, ao longo dos sculos XVII e XVIII
assume-se cada vez mais a ideia de que o poder tem por
base um contrato social atravs do qual os cidados
transferem para a comunidade os seus direitos e interesses
individuais para que esta possa garantir os direitos e interesses de todos. Mas se no incio esta filosofia esteve na
origem do absolutismo, as discusses em torno dela criaram
as bases da democracia.

Rousseau,
filsofo francs
do sculo XVIII.

Hobbes considera que s uma soberania


absoluta capaz de pr fim quilo que
considera ser o estado natural do Homem: a guerra perptua de uns contra
os outros. Mas, ao afirmar que todos
tm este potencial, permite a Locke
introduzir a noo de igualdade. Estas
ideias tm continuidade e so reforadas por Rousseau154 no
Contrato Social, obra escrita em 1762, onde defende que,
se todos transferem para a comunidade todos os seus
direitos, ento so iguais e livres porque se sujeitam s leis
que eles prprios consentiram no contrato social. Por outro
lado, o facto de transferirem os seus direitos para o Estado
no significa que abdiquem deles. Muito pelo contrrio,
significa que concordam com a proteco desses direitos.
Portanto, a soberania continua a ser do povo.
A partir do sc. XVII iniciou-se uma profunda mudana no
significado da cidadania que passa a estar muito mais
ligada noo de proteco do que noo de participao. Esta tendncia foi ainda mais acentuada depois
do sc. XVIII, atravs de sucessivas reivindicaes e lutas

Da Cidadania

226

152

Filsofo ingls, fundador da filosofia moral, que viveu entre 1588 e 1679.
Filsofo ingls, iniciador do iluminismo, que viveu entre 1632 e 1704.
154
Filsofo francs que viveu entre 1712-1778.
153

sociais que, no sc. XX, deram origem aos direitos sociais


nos Estados-Providncia, em muitos pases de Europa.
Assim, se nas primeiras verses da modernidade encontramos a troca de benefcios por servios, ou proteco por
fidelidade, nas democracias liberais contemporneas encontramos a troca de direitos por obrigaes. Com a definio
das fronteiras, durante o sc. XVIII assiste-se, tambm,
associao da noo de cidadania de nacionalidade,
gerando fenmenos de incluso e excluso de pessoas.
Ao atingir os direitos sociais [por exemplo, direito sade,
educao, habitao, etc.] o processo de construo da
cidadania parecia concludo. Thomas Marshall155 formulou
mesmo uma teoria sobre a evoluo da cidadania moderna
composta por trs estdios:
O primeiro concretizou-se no sc. VII d.C. e diz respeito
conquista da cidadania civil face ao absolutismo [liberdade da pessoa, liberdade de expresso, pensamento e f
e direito propriedade e justia].
O segundo teve lugar entre os
sc. XVII e XIX com o desenvolvimento da democracia parlamentar e diz respeito cidadania
poltica [direito participao
na vida poltica como eleitor atravs do sufrgio universal
e como eleito].
E, por ltimo, a cidadania social.
Mesmo sem abordar aqui as discusses que esta teoria tem
gerado - no nosso caso, basta pensar que as primeiras eleies livres s aconteceram depois do 25 de Abril de 1974
- podemos ento perguntar: por que razo, nas ltimas
dcadas se fala tanto de cidadania? Porqu uma to grande
nfase sobre a importncia da educao para a cidadania?
Para uma melhor abordagem desta questo, voltemos
gnese da cidadania moderna sintetizada no primeiro
pargrafo deste tema.
P

P

Mesas de voto,
instaladas no trio
principal da Cmara
Municipal de Lisboa,
para as eleies
autrquicas. AFL

P

155

Professor de Sociologia da Universidade de Londres. A sua obra principal foi Classe, Cidadania e Status [1950]. Citado por: NOGUEIRA, Conceio; SILVA, Isabel. Cidadania - Construo de Novas Prticas em Contexto
Educativo. Lisboa: Edies Asa, 2001.

Da Cidadania

O sc. XVIII [ou Sculo das Luzes, como ficou conhecido]


foi o sculo da afirmao da racionalidade humana, da li-

227

bertao do dogmatismo da religio e da metafsica, da afirmao do conhecimento cientfico. A Revoluo Francesa,


marco fundamental deste sculo, foi considerada por Kant156
como o maior acontecimento jamais verificado no mundo,
a livre auto-determinao de um povo e smbolo do progresso moral da Humanidade. A nvel cientfico a civilizao
moderna concretizou, finalmente, o ideal de manipulao
e domnio da Natureza pelo Homem preconizado pelos
filsofos do sc.VII [Descartes157 exaltava esta relao tcnica
do Homem com a Natureza e Bacon158 proclamou como
ideal cientfico que saber poder]. A cincia passa a ser
vista como um instrumento ao servio da melhoria das condies de vida e eliminao de todas as preocupaes e misrias da Humanidade. O progresso cientfico e tecnolgico
alcanado, sobretudo, no sc. XIX alimentou este optimismo
e a crena exacerbada no poder da razo e no progresso
generalizado. Esta concepo instrumentalista do conhecimento levou a um pragmatismo e individualismo egosta,
prprios da ordem econmica reinante: o capitalismo.

A descoberta
da mquina a vapor
marcou o incio
da Revoluo
Industrial.

A modernidade revela-se um
projecto ambicioso e carregado de contradies. Em vez
da harmonia e da qualidade
de vida que prometia, trouxe o
agravamento da injustia social, da concentrao da riqueza e consequente desigualdade e excluso social, bem como a devastao ecolgica que afecta a qualidade de vida e at a sustentabilidade
do Planeta.
O Estado-Providncia procurou atenuar algumas destas
contradies - por exemplo, assegurando uma melhor distribuio da riqueza e garantindo os direitos bsicos. Todavia,
no final da dcada de 70 do sculo XX existia j a conscincia de que muitas das expectativas da modernidade
seriam irrealizveis. Paradoxalmente, a dominao da Natureza com todos os seus efeitos perversos e consequente
crise ecolgica excedeu em muito todas as expectativas.

Da Cidadania

228

156

Immanuel Kant, filsofo alemo que viveu entre 1724-1804.


Filsofo francs que viveu entre 1596-1650.
158
Francis Bacon [1561-1626], filsofo iniciador do empirismo em Inglaterra.
157

Depois dos anos 80 a globalizao introduz uma nova


relao entre a economia e a sociedade, criando incertezas
e acentuando as desigualdades. A concentrao de capitais [multinacionais e cartis] pe em causa o Estado-Providncia e tende a tornar os Estados impotentes face
a problemas como a emigrao, crime organizado, doenas
infecciosas, poder nuclear e problemas ambientais que tm
impacto planetrio e escapam ao controlo de qualquer pas.
As fragilidades e inconsistncias do paradigma da modernidade esto vista. Ser possvel reformul-lo e reiterar
as promessas da modernidade de melhoria das condies
de vida e do bem-estar para todos? Ou vivemos, como
alguns defendem, uma poca de transio de paradigmas,
de dvidas e incertezas que urge esclarecer? Seja qual for
a verdadeira resposta parece claro que so os problemas
acima expostos e a procura de alternativas para ultrapassar
o vazio da modernidade e enfrentar as questes decisivas
para o futuro da humanidade, o motivo das crescentes discusses em torno da cidadania.

Para alguns autores, no contexto da tradio liberal onde


se enquadra a modernidade, esta ciso constituiu a principal
dicotomia que origina o individualismo, a desresponsabilizao e o entendimento da cidadania como uma mera manuteno dos direitos adquiridos. Os direitos so entendidos
como a representao dos interesses dos indivduos, por
exemplo, os que dizem respeito sua autonomia, proprie159

NOGUEIRA, Conceio; SILVA, Isabel. Cidadania - Construo de Novas


Prticas em Contexto Educativo. Lisboa: Edies Asa, 2001.

Da Cidadania

No cenrio actual Nogueira e Silva159 identificam vrias


acepes de cidadania, padecendo todas de fragilidade
e limitaes. Contudo, segundo as referidas autoras e a prpria definio apresentada na generalidade dos dicionrios da lngua portuguesa, a concepo dominante define
cidadania como vnculo jurdico-poltico de um indivduo
a um Estado traduzido num conjunto de direitos e obrigaes - que nas sociedades ocidentais se refere essencialmente liberdade de expresso, voto, benefcios sociais,
pagar impostos e servir nas foras armadas. Est associada
a interpretaes legais e formais que so vlidas na caracterizao de um cidado mas, do ponto de vista sociolgico,
bastante pobre e promove a ciso entre o indivduo
e a comunidade.

229

dade e ao livre desenvolvimento das actividades econmicas.


Os deveres representam os interesses da comunidade e,
como tal, podem colidir com os interesses individuais.
Desta dicotomia decorrem as contradies sucintamente
referidas que so fonte e consequncia de uma forte apatia
face ao exerccio da cidadania por egosmo, desinteresse,
desconhecimento dos direitos ou por incapacidade de apropriao desses direitos e, por conseguinte, de participao
social.
Ultrapassar as contradies da modernidade exige uma
nova cidadania baseada no conhecimento e exerccio
efectivo de direitos e deveres, perspectivando-os de uma
forma conjunta e interdependente, onde um dos principais
deveres a participao activa dos indivduos - nomeadamente no que se refere defesa contnua dos direitos de
todos - de forma a garantir uma igualdade efectiva e no
apenas a sua consagrao nas leis dos estados ou princpios
internacionais. Direitos e deveres so duas faces de uma
mesma moeda. Por isso usufruir dos primeiros implica necessariamente aceitar os segundos. Implica reaprender a ser
cidado, construir uma cidadania partilhada e orientada pelo
princpio da solidariedade, responsvel e efectivamente participada a nvel poltico, social, cultural e ambiental. Se dos
ideais da Revoluo Francesa a liberdade foi fundamental
para assegurar os direitos individuais e a igualdade para
assegurar a democracia e garantir a liberdade, a fraternidade ou a solidariedade - na sua verso lingustica mais
avanada - hoje uma exigncia.

Da Cidadania

230

A inquietao ecolgica ultrapassa largamente as preocupaes da dcada de 70, praticamente confinada s contaminaes da actividade industrial e agrcola em determinadas regies do Globo, deteriorao dos espaos naturais
considerados nicos ou a ameaa de determinadas espcies.
A crise ecolgica desde o final da dcada de 80 entendida como um fenmeno planetrio e no localizado, analisado a partir de uma viso complexa e interdependente
das realidades ambientais, dos seus significados sociais,
econmicos e culturais. A pobreza que afecta um nmero
cada vez maior de pessoas quer nos pases ricos, quer nos
pases pobres, a falta de equidade na diviso da riqueza
e de acesso a bens e servios to essenciais como a gua
potvel e o saneamento bsico, bem como o crescimento

Desenho publicado
em 1854
numa revista londrina
quando as instalaes
do Parlamento foram
abandonadas devido
ao mau cheiro
do rio Tamisa.

demogrfico so questes ambientais que exigem tanta


ateno como o problema do buraco do ozono, a desflorestao ou o aquecimento global.
A crise rugiu com tal fora que acordou a humanidade para
o facto de no haver lugares seguros. Viajamos no mesmo
barco, mas um rombo numa das extremidades deste navio,
por mais distante que seja, significa uma viagem mal
sucedida. O desenvolvimento econmico assente num
completo desrespeito pela Natureza e ciclos de regenerao
para alimentar a opulncia da cultura ocidental, tem
vindo a cavar um fosso cada vez maior entre os pases
desenvolvidos e os subdesenvolvidos. o rombo que tem
de ser urgentemente reparado por todos. De qualquer
forma, a verdade que ningum o pode ignorar e que
a sua reparao depende da construo de um novo
projecto social baseado nas pessoas e no na economia,
um projecto necessariamente mais exigente porque implica
uma participao activa.

A nfase nos direitos tem empobrecido as responsabilidaes


e, segundo alguns autores, cria sujeitos e no cidados. Por
isso o novo projecto social exige uma forte ligao entre
160

Idem.

Da Cidadania

Citando Turner [1993] tambm Nogueira e Silva160 propem


que a cidadania seja definida como um conjunto de prticas [jurdicas, polticas, econmicas e culturais] que define
uma pessoa como membro competente de uma sociedade.
Estamos, pois, perante uma perspectiva que vai muito para
alm da mera relao Indivduo-Estado, assumindo um
sentido mais amplo que compromete todos e exige repensar
as responsabilidades individuais e colectivas.

231

direitos e responsabilidades. Se os direitos so fundamentais


para a apropriao e exerccio da cidadania, assumir responsabilidades a prpria cidadania. Temos, pois, o dever
de participar activamente na defesa do bem comum [por
exemplo, na proteco do ambiente], numa repartio mais
justa dos recursos e fazendo-nos ouvir - por ns e pelos
outros. S desta forma ser possvel recuperar o princpio
mais esquecido da Revoluo Francesa: a solidariedade.
E no se pense que se trata de uma utopia ou de algo
impossvel de concretizar a nvel individual. Defender o bem
comum pode passar por medidas polticas ou grandes
movimentaes de origem social a nvel nacional ou internacional [s quais, de qualquer modo, tambm podemos
aderir] ou tambm por gestos to simples como separar
os resduos para reciclar, rejeitar produtos sobre-embalados
ou, na rua, apanhar os dejectos dos nossos animais
de estimao. Ser solidrio e defender uma repartio
mais justa dos recursos no significa apenas dar. Evitar
o desperdcio, rejeitar produtos provenientes da explorao
de mo-de-obra barata, optar por produtos do comrcio
justo, poupar gua e energia, para alm de proteger
o ambiente, disponibilizam recursos que contribuem para
a promoo do desenvolvimento humano.

O direito ao ambiente
de qualidade um
direito de cidadania.

Contudo, qualquer aco


intencional [ou mesmo
a deciso de no agir] implica escolhas e decises
num quadro de valores implcitos ou explcitos que
cada indivduo possui. Por
isso a educao para a cidadania no pode deixar de integrar a questo dos valores, tendo em conta a sua perenidade mas principalmente a sua historicidade. Os valores
so indissociveis de toda e qualquer experincia humana,
mas so marcados pelos acontecimentos histricos, pela
cultura e especificidade dos grupos. Cada poca valoriza
mais determinados valores161, hierarquiza-os de um modo
prprio ou cria novos valores face aos problemas que vo

161

A Idade Mdia valorizou mais os valores religiosos; a partir do Renascimento valorizaram-se mais os valores humanistas; hoje tendemos a valorizar mais aos valores estticos e os que se relacionam com o bem-estar.

232

surgindo e cada homem vive, tambm a sua prpria historicidade, criando valores que do sentido sua existncia.
Vivemos numa sociedade pluralista, onde o respeito pelo
outro, pela sua identidade cultural e religiosa, em suma,
pela diferena, assumem um papel preponderante na educao para a cidadania. Mas tambm vivemos numa sociedade
marcada pelo desenvolvimento cientfico e tecnolgico que
provocou o desmoronamento de valores prprios de sociedades que j no existem e o reescalonamento,reorientao
e mesmo a criao de novos valores que permitam responder aos novos desafios que se nos deparam.

neste contexto que a educao para a cidadania assume uma importncia fundamental na preparao dos
indivduos.
162
163

LIPOVETSKY, G. A Era do Vazio. Lisboa: Relgio de gua, 1988.


Idem.

Do Desenvolvimento

Lipovetsky162, considera que alguns dos valores da modernidade que dominaram at actualidade foram o trabalho,
o progresso, a norma universal, a disciplina e a obedincia,
entre outros. Hoje temos um conjunto de valores relacionados Biotica, caridade meditica, aces humanitrias,
defesa do meio ambiente, moralizao dos negcios, da poltica e dos meios de comunicao, debates em torno
do aborto e do assdio sexual, cruzadas contra a droga
e o tabaco: por toda a parte a revitalizao dos valores,
e o esprito de responsabilidade so brandidos como o imperativo primeiro da poca. Ainda h pouco as nossas sociedades electrizavam-se com a ideai de libertao individual
e colectiva. Actualmente, vo proclamando que no h mais
utopia possvel a no ser a moral. Todavia, no se trata
de nenhum retorno da moral. A poca do dever rigorista
e categrico eclipsou-se em benefcio de uma cultura
indita que difunde as normas do bem-estar de preferncia s obrigaes supremas do ideal, que metamorfoseia a aco moral em show recreativo e em comunicao
de empreendimento, que promove os direitos subjectivos
mas faz cair em desgraa o dever dilacerante. Eis-nos
comprometidos no ciclo ps-modernista das democracias
que repudiam a retrica do dever austero e integral
e celebram os direitos individuais autonomia, ao desejo,
felicidade163.

233

2.Do Desenvolvimento
2.1.A Relao Homem-Natureza
Ao longo da histria podemos, facilmente, identificar trs fases distintas da relao do Homem
com a Natureza.
A primeira foi uma relao de dependncia caracterizada
pelo medo, pela angstia e pela magia. A falta de explicaes
para os fenmenos naturais suscitou no Homem Primitivo,
como meio de acalmar as suas foras, uma atitude de adorao. Apesar disso, era uma relao de harmonia e respeito
com a Natureza, na qual o Homem se sentia integrado,
fazendo parte dela.
A segunda foi uma relao de pseudo domnio baseada
na cincia e na tcnica que trouxe conforto e bem-estar,
mas tambm a destruio. A cincia permitiu desvendar
os segredos da Natureza, e criou no Homem a iluso de um
controlo absoluto sobre ela. Numa atitude antropocntrica,
a Natureza passou a ser vista como um reino sobre o qual
o Homem impera, fazendo dela o que entendesse. Esta
a civilizao Moderna teoricamente estruturada no sc. XVII
por Francis Bacon e Descartes que teve grande impacto
negativo sobre o ambiente desde a Revoluo Industrial
at aos nossos dias.
A terceira fase - aquela em que nos encontramos presentemente - embora ainda subjugada pela anterior, uma relao
de dilogo com a Natureza. a fase da consciencializao
ecolgica e da reconciliao. O Homem compreendeu que
no consegue dominar a Natureza, de cujo destino depende
e com quem vai aprendendo a dialogar. Num contexto marcado por uma sociedade de contradies e assimetrias, cuja
superao um dos maiores desafios da humanidade, a tese
do desenvolvimento ilimitado cada vez mais um mito que
urge substituir pela noo de conteno e por um desenvolvimento verdadeiramente sustentvel.
Do Desenvolvimento

234

Tendo em conta o propsito deste manual respigamos


alguns dos aspectos que podero contribuir para o enquadramento e o trabalho ao nvel da educao ambiental,
ainda que apenas na rea da higiene urbana, resduos
slidos e animais em meio urbano.

2.2. A Globalizao
Entre os pensadores associados problemtica do desenvolvimento frequente defender-se que a globalizao se iniciou com os Descobrimentos
Portugueses, sendo a chegada
de Vasco da Gama ndia
o exemplo paradigmtico164.
Nesta fase significava essencialmente: contacto com novos
povos, criao de novos mercados com base na troca de produtos e explorao de recursos naturais.
Hoje:
A globalizao pode [] ser definida como a intensificao das relaes sociais de escala mundial, relaes
que ligam localidades distantes de tal maneira que as ocorrncias locais so moldadas por acontecimentos que se do
a muitos quilmetros de distncia, e vice-versa165.
Mas o conceito de globalizao a que nos referimos surgiu
apenas em meados da dcada de 1980 para designar um
novo impulso do desenvolvimento do capitalismo marcado
pela livre movimentao do capital entre os pases, as privatizaes e o desenvolvimento de novas tecnologias.

164

ANTUNES, Manuel de Azevedo. Do Crescimento Econmico ao Desenvolvimento Humano. In: Campos Social - Revista Lusfona de Cincias
Sociais. Lisboa: Universidade Lusfona, N. 1, 2004, p. 73.
165
GIDDENS, Anthony. As Consequncias da Modernidade. Oeiras: Celta Editora,
1992, p. 45.

Do Desenvolvimento

A partir dos anos 90 do sculo XX, a globalizao intensifica-se, acentuando o seu carcter macroeconmico, tambm
denominado como mundializao do capital. A globalizao
dos investimentos e da produo traduz-se, por exemplo,
na forte concorrncia internacional entre as grandes potncias econmicas, geradora de conflitos; na fuso de grandes
empresas e grupos bancrios e financeiros; na generalizao de baixas taxas de crescimento do Produto Interno Bruto;
na deflao acentuada; no enfraquecimento das soberanias
nacionais; na marginalizao de grandes regies do Mundo
e crescimento do desemprego estrutural [altas taxas de desemprego e generalidade do emprego temporrio].

235

So quatro as linhas que caracterizam a globalizao dos


sculos XX e XXI166:
Novos mercados de cmbio e de capitais traduzidos numa
internacionalizao do capital financeiro, em permanente
actividade de negociao distncia. Acentua-se a importncia dos investimentos externos directos em detrimento
da troca comercial.
P

Novos instrumentos tecnologias que permitem a comunicao em tempo real [internet, redes telemticas, telefone,
rdio, televiso,...].
P

Novos actores A Organizao Mundial do Comrcio [OMC]


com autoridade sobre os governos nacionais, empresas
multinacionais com mais poder econmico que muitos estados, redes mundiais de organizaes no governamentais
[ONG's] e outros que transcendem as fronteiras nacionais.
P

Novas regras acordos multilateriais sobre comrcio, servios, propriedade intelectual, apoiados por fortes mecanismos de imposio e mais vinculativos que os governos
nacionais, reduzindo o campo de aco da poltica
nacional167.
P

Neste contexto, o desenvolvimento econmico, industrial


e tecnolgico apresenta-se como um paradoxo que combina
a unificao com a fragmentao, o crescimento econmico
com a pobreza, o progresso com a degradao do ambiente.
A globalizao fez do planeta uma aldeia global. Aumentou o intercmbio comercial e cultural, generalizou bens
de consumo e fomentou a partilha do conhecimento cientfico. Mas esta interdependncia tem sido mais benfica
para os pases desenvolvidos. medida que aumentam
os seus nveis de riqueza, os pases mais desfavorecidos
ficam cada vez mais pobres. J em 1995, os Estados Unidos
e o Japo detinham 45% do PIB mundial168 e o Programa
das Naes Unidas para o Ambiente e Desenvolvimento
acrescenta que em 1960, os 20% da populao mundial
que viviam nos pases mais ricos detinham 30 vezes
Do Desenvolvimento

236

166

PNUD. Relatrio de Desenvolvimento 1999. Lisboa, Trinova Editora, 1999, p. 1.


Idem.
168
De acordo com a revista Fortune Internacional, citada por: ARIAS, Miguel
ngel. La educacin ambiental ante las tendencias de globalizacin
mundial. Algunas reflexiones para Amrica Latina. In: Revista de la
Escuela y el Maestro. 1998. Fonte: http:// www.anea.org.mx [Maro06].
167

Desigualdades no consumo entre pases


Bens

Os 20% mais ricos Os 20% mais pobres

Carne e Peixe

45

Energia

58

Metal

74

1.5

Linhas de Telefone

84

1.1

Papel

87

Fonte: PNUD; Relatrio do Desenvolvimento Humano 1998

o rendimento dos 20% mais pobres - por volta de 1995,


82 vezes mais rendimento169.
A par das fortes assimetrias econmicas que dividem o mundo em Norte/Sul possvel, tambm, identificar - quer nos
pases em desenvolvimento, quer nos prprios pases
desenvolvidos - uma dicotomizao idntica e cada vez mais
visvel relativamente distribuio da riqueza, cuidados
de sade e acesso educao e informao.

No Brasil, os 50% mais pobres da populao recebiam 18%


do rendimento nacional em 1960, caindo para os 11,6%
em 1995. Os 10% mais ricos recebiam 54% do rendimento nacional em 1960, crescendo para 63% em 1995.
[...] na Rssia, a parcela de rendimento de 20% dos mais
ricos 11 vezes a dos 20% mais pobres. Na Austrlia
e no Reino Unido perto de 10 vezes mais170.
169

PNUD. Relatrio de Desenvolvimento 1998. Lisboa, Trinova Editora, 1998,


p. 29.
170
Idem, p. 29.

Do Desenvolvimento

O Relatrio do Desenvolvimento Humano de 1998 introduz,


pela primeira vez, um novo ndice para medir a pobreza
nos pases desenvolvidos e mostra que h pouca relao
entre o rendimento mdio de um pas e a pobreza a excluso social e a marginalidade de determinados grupos.
Entre os 17 pases mais desenvolvidos, os EUA apresentam
o rendimento mdio mais elevado e, simultaneamente,
o maior ndice de pobreza humana. A Sucia encontra-se
em 13 lugar na tabela do rendimento mdio, mas tem o
nvel de pobreza humana mais baixo de todos.

237

Num mundo global a riqueza dos pases est dependente


das grandes empresas e das movimentaes do capital que
frequentemente circula margem dos Estados. Ultrapassam
a especificidade de um determinado territrio enquanto
unidade de produo e consumo e, ao alterar os mecanismos
associados a estes dois processos, a globalizao afecta no
s a organizao econmica mas, tambm, a organizao
social, poltica e cultural.
Os Estados deparam-se com situaes pouco confortveis.
Controlam cada vez menos os fluxos de capital, de mercadorias e de informao, embora continuem a ser responsabilizados por reas altamente dependentes de capital tais
como a educao, a segurana e a sade. Isto significa que
as polticas econmicas e sociais so cada vez mais
determinadas pelo mercado global e cada vez menos eficazes para enfrentar, entre outras, a problemtica ecolgica
cujas causas e consequncias vo muito para alm do seu
territrio.
O industrialismo171, enquanto difuso universal das
tecnologias da mquina [] no est limitado esfera
de produo afecta muitos aspectos da vida quotidiana,
alm de influenciar o carcter genrico da interaco
humana com o ambiente172. O Estado j no totalitrio, porm a economia, na era da mundializao, tende
cada vez mais a s-lo173.
Deste modo, a globalizao emerge, tambm, como uma
entidade macrossocial que integra as especificidades das
populaes: a sua riqueza cultural e social, a sua organizao poltica e at os seus aspectos psicolgicos.

Do Desenvolvimento

238

As tecnologias de informao e comunicao de massas


assumem uma importncia decisiva e convertem-se num
instrumento de homogeneizao cultural que visa estimular
o consumo e criar novos mercados para produtos iguais:
tanto aqui como do outro lado do mundo, os jovens ouvem
as mesmas msicas, vem os mesmos filmes, seguem os mesmos dolos, vestem as mesmas marcas.... aderem a valores
que lhes so apresentados de forma descontextualizada.
171

Entendido por Giddens como a transformao da natureza: desenvolvimento do ambiente produzido [ob. cit.].
172
Idem, p. 59.
173
RAMONET, citado por CARIDE e MEIRA, ob.cit.

A globalizao contribui para a diluio da identidade


colectiva e tambm para a alterao dos papis da escola
e da famlia a quem, por tradio, cabia aquela funo.
No obstante os aspectos positivos e negativos174 frequentemente apontados por autores com posies divergentes
sobre a globalizao, ela no se pode evitar. Contudo,
uma realidade para a qual no dispomos de referncias
que nos permitam compreender ou prever os seus efeitos.
A globalizao e a inerente problemtica ambiental
colocam a necessidade de interiorizar um saber ambiental
emergente num conjunto de disciplinas, tanto das cincias
naturais como sociais, para construir um saber capaz de
captar a multi-causalidade e as relaes de interdependncia
dos processos de ordem natural e social que determinam
as mudanas socio-ambientais, assim como para construir
um saber e uma racionalidade social orientados para
os objectivos de um desenvolvimento sustentvel, equitativo
e duradoiro175.
A crise ambiental demasiado complexa e no pode ser
resolvida s com mudanas marginais na esfera econmica
e tecnolgica; qualquer alternativa vivel de mudana
dever repor em profundidade os pressupostos ticos
[avanar de uma moral antropocntrica para moralidades
bio- ou eco-cntricas], econmicos [limitar e redistribuir
o crescimento], sociais [potenciar a participao real das
comunidades nas decises que afectam o meio ambiente
e o desenvolvimento], culturais [mudar os estilos de vida
As teorias positivas enfatizam o progresso da humanidade alicerado no
crescimento econmico florescente e num planeta unificado sem barreiras econmicas, comunicativas ou ideolgicas. O mercado global
uma inquestionvel fonte de riqueza - a expandir e a alargar a todos
os pases para que possam fazer frente pobreza, desigualdade, aos
problemas ambientais e a todas as preocupaes que ainda persistem.
A degradao do ambiente est intimamente relacionada com a pobreza,
a qual exerce fortes presses sobre a Natureza para angariar sustento,
no dispondo de meios para aplicar na sua proteco. S com a riqueza
gerada pela globalizao ser possvel assegurar as necessidades bsicas
das populaes e desviar recursos para a recuperao e preservao do
ambiente.
As teorias negativas denunciam, em geral, o mercado como valor central em torno do qual se organiza o modo de vida de toda a
humanidade, sem deixar espao para outras alternativas, que combinem
a vivncia das populaes, com um desenvolvimento desejado [e no
imposto]. In: CARIDE e MEIRA, 2004 e PNUD, 1998.
175
Idem.

Do Desenvolvimento

174

239

baseados no consumo crescente de bens e servios por


uma cultura de escassez na qual se replante a noo de
necessidade], tecnolgicos [implementar tecnologias mais
eficientes e com menos custos] polticos [situar as questes
do ambiente e do desenvolvimento adiante dos imperativos
do mercado e reforar a tomada de decises democrticas
a nvel mundial]. No seu conjunto, so mudanas que
pressupem questionar e abandonar a racionalidade econmica e instrumental dominante para construir e preservar
a manuteno de uma racionalidade ecolgica-ambiental
emergente176.

2.3. Desenvolvimento Sustentvel Versus


Desenvolvimento Humano
O desenvolvimento econmico, industrial e tecnolgico verificado nas ltimas dcadas trouxe novas oportunidades para
milhes de pessoas em todo o mundo mas, tambm, novos
riscos e novos desafios. A esperana de vida aumentou, mais
pessoas passaram a ter acesso a gua potvel, saneamento
bsico, electricidade, transportes, tempo para o lazer e muitos outros benefcios at ento inimaginveis. Mas ao analisar
o progresso por regies do globo, pases e dentro dos
prprios pases, encontram-se fenmenos de desigualdade,
excluso e marginalizao verdadeiramente escandalosos.
Apesar de nveis de desenvolvimento nunca antes registados,
na ltima dcada, mais de 50 pases tornaram-se mais
pobres [PNUD - 2003].

Do Desenvolvimento

240

176

Ibidem [realces nossos].

Por outro lado, a visibilidade dos problemas ambientais


a partir da dcada de 70 - a desertificao de grandes reas
do planeta, o buraco da camada do ozono, os acidentes
nucleares, as mars negras, as chuvas cidas, etc. - contriburam para aprofundar a reflexo sobre o desenvolvimento.
Neste contexto, o desafio que se coloca humanidade no
o de travar o desenvolvimento, mas sim o de encontrar
formas de partilhar os seus benefcios entre todos os povos
e grupos sociais e de o fazer protegendo o ambiente.
Trata-se de promover um desenvolvimento ao servio das
pessoas e no do lucro que vem exigindo um compromisso
cada vez mais forte entre a noo de desenvolvimento
econmico e desenvolvimento humano, sem o qual no
poder existir um verdadeiro desenvolvimento sustentvel.
A associao entre desenvolvimento e ambiente comeou
a ganhar centralidade ideolgica e poltica com o contribuiu
da publicao da obra Os Limites do Crescimento do casal
Meadows, bem como a realizao de fruns internacionais
onde estiveram presentes as temticas do desenvolvimento
e do ambiente. A Conferncia de Estocolmo sobre o Ambiente
Humano, em 1972, contribuiu de forma efectiva para a divulgao da integrao do desenvolvimento com a sustentabilidade social, econmica e ecolgica.
Nesta linha de preocupaes, o Relatrio de Brundtland177
publicado em 1987, define o conceito de Desenvolvimento
Sustentvel como o desenvolvimento que satisfaz as necessidades presentes sem comprometer a capacidade das geraes futuras satisfazerem as suas prprias necessidades.
A partir de ento, o desenvolvimento sustentvel insinua-se
como uma nova estratgia de desenvolvimento, influenciando
posies e a produo de documentos de referncia na rea
poltica.
A partir de 1990, atravs do Programa das Naes Unidas
para o Desenvolvimento e da publicao anual do Relatrio de Desenvolvimento Humano, as Naes Unidas assumem, tambm, uma concepo de desenvolvimento pluri-dimensional, onde esto presentes as dimenses humana
e ecolgica:
176

Ibidem [realces nossos].


BRUNDTLAND. O Nosso Futuro Comum. Lisboa: Meribrica/Liber Editores,
1991.

177

241

Relatrios
do Desenvolvimento
Humano [PNUD]

Para enfrentar o crescente desafio da segurana humana


necessrio um novo modelo de desenvolvimento que coloque o povo no centro, que olhe o crescimento econmico
como um meio e no como um fim, que proteja as oportunidades de vida das futuras geraes, assim como das actuais
e respeite os sistemas naturais dos quais a vida depende178.
Com a Conferncia das Naes Unidas de Ambiente e Desenvolvimento, em 1992 - Conferncia do Rio -179, este
conceito fica, definitivamente, na agenda poltica mundial.
A Agenda 21180 e a Declarao do Rio181 constituem,
a partir de ento, documentos estruturantes para a efectivao de polticas de sustentabilidade:
A implementao do desenvolvimento sustentvel assentava
inicialmente em duas dimenses fundamentais: o desen178

Do Desenvolvimento

242

PNUD. Relatrio de Desenvolvimento humano 1994. Lisboa: Tricontinental


Editora, 1994, p. 4. As dimenses que compem o ndice de desenvolvimento humano so: longevidade [esperana de vida nascena], conhecimento [taxa de alfabetizao de adultos e taxa de escolaridade
combinada], padro decente de vida [rendimento per capita ajustado
em dlares PPC - Paridade do Poder de Compra]. - In: PNUD. Relatrio
de Desenvolvimento Humano 1998. Lisboa: Trinova Editora, 1998, p. 15.
179
Produziu cinco documentos importantes: 2 acordos internacionais Conveno de Mudanas Climticas e a Conveno sobre Diversidade
Biolgica; duas declaraes de princpios - O Guia da Gesto da
Conservao e do Desenvolvimento Sustentvel de Todo o Tipo de
Florestas e a Declarao do Rio; e ainda uma agenda global para o
desenvolvimento sustentvel - Agenda 21. Esta Conferncia reuniu um
elevado nmero de representantes de todo o mundo, tendo assinado as
convenes mais de 150 pases.
180
Que se assume como um instrumento que visa identificar actores, parceiros, e metodologias para a obteno de consensos e os mecanis-mos
institucionais necessrios para sua implementao e monitorizao
In: Agenda 21.
181
O anexo A3 incluiu a meno a endereos electrnicos para consulta
dos textos originais.

volvimento econmico e a proteco do ambiente. Aps


a Cimeira de Copenhaga, realizada em 1995, foi integrada
a vertente social como terceiro pilar do conceito de desenvolvimento sustentvel. Assim, [] a sua implementao
realizada com base em trs dimenses essenciais: o desenvolvimento econmico, a coeso social e a proteco do
ambiente182. A estas acresce uma dimenso institucional,
onde se integram as vertentes governativa, legislativa [flexibilidade, transparncia e democracia] e participativa [sindicatos e associaes empresariais, bem como organizaes
no-governamentais]183.
O desenvolvimento humano no um conceito separado
do desenvolvimento sustentvel - mas pode ajudar a salvar
o desenvolvimento sustentvel da falsa ideia de que este
envolve apenas a dimenso ambiental184. um processo
de alargamento das escolhas dos indivduos que pressupe
a possibilidade de acesso a uma vida longa e saudvel,
ao conhecimento e a recursos que lhe permitam uma melhor
qualidade de vida.

O esgotamento de recursos e o crescimento demogrfico


exponencial que afecta principalmente os pases mais
pobres, so factores fundamentais de desequilbrio e fazem
com que este seja o maior desafio jamais colocado humanidade. A populao mundial hoje, de 6 mil milhes de
habitantes, estimando-se que em 2050 atinja os 9,5 mil
milhes - dos quais mais de 8 mil milhes viver nos
pases em vias de desenvolvimento. Por seu lado, os pases
182

AAVV. Estratgia Nacional para o Desenvolvimento Sustentvel 20052015. Lisboa: Pandora, 2005, p. 14.
183
Idem, p. 14.
184
PNUD, 1998, p.14.

Do Desenvolvimento

Para alm destas dimenses bsicas - sem as quais no


h verdadeira escolha - o desenvolvimento humano pressupe tambm oportunidades sociais e polticas que conferem
a cada cidado um sentimento de pertena a uma sociedade. Deste modo, o desenvolvimento humano abarca todas
as questes j antes abordadas, tais como: as que se relacionam com a cidadania, os valores, os direitos humanos,
as responsabilidades individuais e colectivas, a equidade na repartio de riqueza e na igualdade de oportunidades
- e o desenvolvimento sustentvel.

243

desenvolvidos, representando apenas 20% da populao


mundial, consomem 80% dos recursos do planeta e
produzem a maior parte dos gases poluentes e de resduos
txicos185.
Paradoxalmente a degradao do ambiente deve-se tanto
pobreza quanto riqueza. Nos pases em vias de
desenvolvimento, para sobreviverem, as populaes exercem
uma presso sem precedentes sobre os recursos naturais,
ao passo que nos pases mais desenvolvidos a presso
social se faz no sentido da manuteno de elevados nveis
de consumo que, por sua vez, influenciam o aumento da
pobreza e da excluso.
Num planeta fisicamente limitado, os nveis de consumo
verificados nos pases desenvolvidos no se podem alargar
aos pases em vias de desenvolvimento. Todavia, estes
precisam de expandir drasticamente as suas economias
para suprir as necessidades das suas populaes, promover
o desenvolvimento humano e canalizar recursos para a
proteco e recuperao do ambiente.
O equilbrio s ser possvel se os pases mais pobres
puderem prosperar economicamente, ao mesmo tempo que
os mais ricos abrandem ou diminuam o consumo e a
quantidade de resduos produzidos. Porm, num planeta
global altamente competitivo e marcado por fortes clivagens, o desenvolvimento dos pases mais pobres - onde os
pases doadores disponibilizam para a cooperao para o
desenvolvimento apenas 0,25% do total do seu PNB, de 22
milhes de dlares EUA186- exige um forte compromisso dos
mais desenvolvidos ao nvel da solidariedade e da defesa
do bem-estar comum, como objectivo ltimo do progresso
e de o fazer atravs do esforo colectivo, do uso racional
dos recursos e dos direitos em que assentam as liberdades,
a justia, a solidariedade e a equidade social187.
Surgindo o desenvolvimento sustentvel, a nvel internacional,
como um imperativo para enfrentar a crise social e ambiental, em Setembro de 2000 as Naes Unidas aprovaram
os Objectivos de Desenvolvimento para o Milnio, voltando a afirmar a responsabilidade colectiva de apoiar
185

Idem, p. 5.
Ibidem, p. 37.
187
CARIDE e MEIRA, 2004.
186

244

As prioridades do mundo
[despesa anual em dlares]

Despesas militares

780 mil milhes

Narcticos no mundo

400 mil milhes

Bebidas alcolicas na Europa

105 mil milhes

Cigarros na Europa

50 mil milhes

Negcios de entretenimento no Japo 35 mil milhes


Alimentos para animais domsticos
na Europa e nos EUA

17 mil milhes

Sade bsica e nutrio

13 mil milhes

Perfumes na Europa e nos EUA

12 mil milhes

Sade reprodutiva para todas as mulheres 12 mil milhes


Gelados na Europa

11 mil milhes

gua e saneamento para todos

9 mil milhes

Cosmticos nos EUA

8 mil milhes

Educao bsica para todos

6 mil milhes

*Custo anual adicional estimado para atingir o acesso universal aos servios sociais bsicos
em todos os pases em desenvolvimento. PNUD 1998, tendo como fonte Euromonitor 1997;
UN 1997g; UNDP, UNFRA e UNICEF 1994; Worldwide Research, Advisory
and Business Intelligence Services 1997.
Fonte: PNUD; Relatrio do Desenvolvimento Humano 1998, p. 37 (adaptado).

os princpios da dignidade humana, igualdade e equidade a


nvel global, estabelecendo para isso metas concretas
[millenium development goals] que pretendem contribuir
para inverter a tendncia de degradao do Ambiente
e de agravamento da sustentabilidade das condies de vida
em grande parte do planeta188:
1 Erradicar a pobreza e fome extremas.
P

2 Atingir a educao primria a nvel mundial.


P

3 Promover a igualdade entre os sexos e delegar poderes


nas mulheres.
4 Reduzir a mortalidade infantil.
P

188

AAVV. Estratgia Nacional para o Desenvolvimento Sustentvel 20052015. Lisboa: Pandora, 2005.

Do Desenvolvimento

245

5 Melhorar a sade materna.


P

6 Combater o HIV/SIDA, malria e outras doenas.


P

7 Garantir a sustentabilidade ambiental.


P

8 Desenvolver uma parceria global para o desenvolvimento.


P

Existem 59 pases considerados de prioridade mxima e


alta, onde os fracassos do progresso impedem a concretizao destes objectivos189. Para atingir o crescimento
sustentvel [estes pases] tm de atingir limiares bsicos
em vrias reas funcionais: governao, sade, educao,
infra-estruturas e acesso aos mercados. Se um pas ficar
abaixo do limiar em qualquer dessas reas, pode cair na
armadilha da pobreza190. Este um desafio demasiado
grande para poderem enfrentar sozinhos.
A poltica internacional deve centrar a sua ateno nestes
pases e contribuir para que possam ultrapassar os obstculos criados pelas elevadas dvidas externas, barreiras aos
mercados internacionais, infertilidade dos solos, desastres
naturais, pandemias e dificuldades estruturais diversas.
A ajuda externa decisiva e deve incluir tambm a transferncia de tecnologias limpas que permitam desenvolver as
suas economias, saltando algumas das etapas seguidas pelos
pases desenvolvidos e evitar a degradao do ambiente. Mas
o esforo e a convergncia das polticas dos prprios pases
na resoluo dos seus problemas so igualmente determinantes. necessrio que mobilizem recursos internos, combatam
a corrupo e melhorem a governao, passos essenciais no
caminho do desenvolvimento sustentvel191.

Da Educao Ambiental

246

Esta aliana envolve a participao activa de todos os cidados e dos vrios grupos que compem uma comunidade.
Famlias, organizaes comunitrias, ONG e foras produtivas
desempenham, tambm, um papel fundamental na medida
em que, estando prximo dos problemas, podem controlar
e exigir do poder poltico medidas adequadas. neste
cenrio que se desenha a importncia da Educao para
a Cidadania e da Educao para o Desenvolvimento Sustentvel, designao nascida na Conferncia Internacional de
Tessalnica, na Grcia, em 1998.
189

PNUD. Relatrio do Desenvolvimento Humano 2003. Queluz [Lisboa]:


Mensagem - Servio de Recursos Editoriais, Lda., p. 3
190
Idem, p. 3.
191
Ibidem, p. 5.

3.Da Educao ambiental


3.1. A Emergncia de uma Perspectiva Educativa
Em rigor no se sabe bem quando nem como a
reaco planetria ganhou visibilidade, ultrapassando os nichos de conscincia ambiental que lentamente se foram afirmando ao longo do sculo XX at dcada
de 60, saltando para a ribalta no final do sculo192.
Lentamente as redes de pesca colhiam menos peixe, os files
de minrio diminuam, o ar saturou-se de gases nocivos,
o solo perdeu propriedades, a gua potvel tornou-se um
bem precioso e escasso, e os desastres naturais sucedem-se
a um maior ritmo193. Ou seja, os efeitos da destruio dos
equilbrios ecolgicos que desde h muito se faziam sentir,
embora mais nuns pontos do Globo do que noutros194.
Desde os primeiros fruns internacionais a problemtica
ambiental fizera-se acompanhar de preocupaes formativas,
relacionadas com a generalizao da conscincia ambiental,
bem como de preocupaes associadas promoo de prticas ecologicamente orientadas - de governos e cidados195.
Trs eventos importantes marcaram a dcada de 70 e foram
impulsionadores do desenvolvimento da educao ambiental
em todo o mundo: Estocolmo [1972], Belgrado [1975]
e Tbilisi [1977].
Na Conferncia do Ambiente Humano em Estocolmo [Sucia],
em 1972, feita uma recomendao sobre a Educao
Ambiental:
indispensvel um esforo para a educao em questes
ambientais, dirigida tanto s geraes jovens como aos
adultos e que preste a devida ateno ao sector da populao menos privilegiada, para fundamentar as bases de
uma opinio pblica bem informada e de uma conduta
Cfr. Captulo I.
questionvel afirmar-se que os desastres naturais aumentaram, pois
temos que contar sempre com a evoluo dos meios de comunicao
e a recente possibilidade de hoje sabermos com maior acuidade e em
simultneo, o que se passa em vrias zonas do globo.
194
Sugerimos e leitura do captulo Grandes desastres de contaminao da
biosfera de Moralles [1999], p.27 a 29.
195
Cfr. Captulo I.
193

Da Educao Ambiental

192

247

A qualidade de vida
na cidade depende
de jovens e adultos.

dos indivduos, das empresas e das colectividades inspirada


no sentido da sua responsabilidade sobre a proteco
e melhoria do meio ambiente em toda a sua dimenso
humana. igualmente essencial que os meios de comunicao de massas evitem contribuir para a deteriorao
do meio ambiente humano e, ao contrrio, difundam informao de carcter educativo sobre a necessidade de proteg-lo e melhor-lo, a fim de que o homem possa desenvolver-se em todos os aspectos.
Trs anos depois, em 1975, seguindo as recomendaes
da Conferncia de Estocolmo, a UNESCO realiza o Encontro
de Belgrado [Ex-Jugoslvia], onde elaborada a Carta
de Belgrado - Uma Estrutura Global para a Educao
Ambiental, e lanado o Programa Internacional de
Educao Ambiental [PIEA], derivado do Programa das
Naes Unidas para o Ambiente, criado em Estocolmo.
O PIEA produz a primeira declarao intergovernamental
sobre educao ambiental, enunciando metas, objectivos,
conceitos chave e princpios de orientao, assegurando a
partir de ento uma base de dados com informaes sobre
instituies e projectos realizados na rea da Educao
ambiental, assim como a promoo de eventos e publicaes
sobre esta temtica.
Carta de Belgrado196
Uma Estrutura Global para a Educao Ambiental
Da Educao Ambiental

248

Os breves, mas abrangentes compromissos para a educao


ambiental preparados em Belgrado, podem ser sumariados
da seguinte forma:
196

PALMER, J. Environmental Education in the 21st Century - Theory,


Practice, Progress and Promise. 1998.

A fertilizao
dos solos a partir
da decomposio
de matria orgnica
foi um processo
de fertilizao usado
durante geraes.

1 Promover o conhecimento claro e a compreenso das


interdependncias econmica, social, poltica e ecolgica,
entre as zonas urbanas e as rurais.
P

2 Providenciar a todas as pessoas oportunidades para


adquirirem conhecimentos, valores, atitudes, competncias
e os compromissos necessrios proteco e recuperao
do ambiente.
P

3 Criar novos padres de comportamento nos indivduos,


grupos e sociedade em geral, enquanto conjunto e a favor
do ambiente.
P

Porque no Encontro de Belgrado participaram sobretudo


educadores e/ou indivduos relacionados com a educao,
foi muito importante o plano de aco seguinte que implicava envolver e comprometer a esfera poltica.
Decorrente desta questo chave, dois anos mais tarde, em
1977, desta vez na ex-URSS, em Tbilisi [Gergia], a UNESCO
organiza a Primeira Conferncia Internacional e Intergovernamental sobre Educao Ambiental, onde participaram 66
delegaes oficiais de estados membros da UNESCO, para
alm de um nmero significativo de representantes de
Organizaes No-Governamentais [ONGs].

L Tambm

foi em Belgrado
que foi criada
a revista Connect
sobre
educao ambiental.

Na Conferncia de Tbilisi foi preparada uma srie de recomendaes dirigida a uma aplicao mais alargada da educao ambiental, tanto na educao formal como na educao no formal, envolvendo pessoas de todas as idades.
O relatrio final da Conferncia inclui uma Declarao, em
muito baseada nos princpios antes defendidos em Belgrado,
consagrando a estrutura de um consenso internacional
a nvel de objectivos, estratgias, caractersticas, princpios
e recomendaes para a Educao Ambiental que foram
aperfeioados em publicaes posteriores da UNESCO em
249

1985, 1986, 1988 e 1989. Tbilisi constituiu o embrio


do desenvolvimento de polticas de educao ambiental em
todo o mundo e que ainda hoje se evoca em muitos pases
do mundo197.
Tbilisi198 - Recomendaes sobre Educao Ambiental

L Conferncia de Tbilisi

definiu
a Educao Ambiental
nos seguintes termos:
um processo permanente
no qual os indivduos
e a comunidade
tomam conscincia
de seu meio
e adquirem
o conhecimento,
os valores,
as habilidades,
as experincias
e a determinao
que os tornam aptos
a agir - individual
e colectivamente
- para resolver
os problemas ambientais.

[Adaptado do Relatrio 2/1978 das Recomendaes da Conferncia]

Educao Ambiental:
P

P

P

P

P

P

P

P

P

um processo que dura toda a vida.


interdisciplinar e de natureza holstica na sua aplicao.
Deve abordar a educao como um todo e no como
assunto particular.
Tem a ver com a inter-relao e inter-conectividade entre
o Homem e os sistemas naturais.
V o ambiente na sua plenitude, incluindo os aspectos
sociais, polticos, econmicos, tecnolgicos, morais, estticos
e espirituais.
Reconhece que os recursos energticos e materiais se apresentam com possibilidades limitadas.
Encoraja a participao nas experincias de aprendizagem.
D nfase e importncia aco responsvel.
Utiliza uma variedade de tcnicas de ensino-aprendizagem, com particular incidncia nas actividades prticas
e experincias inovadoras.
Preocupa-se com as dimenses local
e global, assim como com o presente,
passado e futuro.

P

Os concursos estimulam a criatividade.


A reutilizao de
materiais de desperdcio
permite explorar
a poltica dos 3 R's,
mas tambm outros
problemas ambientais
[concurso Recria em
lata- 1. ciclo;
concurso de painis
- 2./3. ciclo]

Deve ser salientada e suportada pela


organizao e estrutura as situaes
de aprendizagem e as instituies, como
um todo.

P

Estimula o desenvolvimento da sensibilidade, compreenso, pensamento crtico


e competncias de resoluo de problemas.
P

197
198

250

Fonte: http://www.scielo.br [Setembro05].


Idem. De referir que Tbilisi se localiza na Gergia [Ex-URSS].

P

Motiva a clarificao de valores e o desenvolvimento


de valores sensveis ao ambiente.
Preocupa-se em desenvolver
uma tica ambiental.

A focalizao da educao ambiental progrediu desde ento


e at aos nossos dias, nas
suas metodologias e temticas
centrais. Esta evoluo enraza
na problematizao da relao Homem-Natureza, na constituio de uma tica ambiental, na formao para a cidadania - onde se inscreve uma polarizao mais ou menos
acentuada das questes ambientais de acordo com os
entendimentos de cada poca e da participao na prpria
concepo do desenvolvimento, temas j abordados.

P

A animao de rua
cria cumplicidade
e afectividade
no espao pblico,
para os temas ambientais.

Foi na Cimeira da Terra [Rio 92] que a educao ambiental


tomou corpo documental, fruto do reconhecimento da sua
urgncia e importncia, constituindo-se num compromisso para os pases que assinaram os acordos subjacentes
Agenda 21200.
199

PALMER, J. Environmental Education in the 21st Century - Theory,


Practice, Progress and Promise. 1998, p.15.
200
Cfr. captulo 1.

Da Educao Ambiental

Nos anos 80, consolidando desenvolvimentos anteriores, foi


lanada a Estratgia de Conservao Mundial [pela IUCN International Union for the Conservation of Nature and
Natural Resources/The World Conservation Union, pelo PNUA
e pela WWF], documento esse que reafirmava a importncia
da conservao dos recursos, atravs do desenvolvimento
sustentvel e enfatizava a ideia de que a conservao e o
desenvolvimento so mutuamente interdependentes. Inclua,
igualmente, um captulo dedicado educao ambiental, com
a seguinte mensagem: No fundo, o comportamento de
sociedades inteiras em relao biosfera precisa de ser
transformada se quisermos assegurar que os objectivos de
conservao sejam atingidos... a tarefa a longo prazo da
educao ambiental a de estimular e reforar as atitudes
e os comportamentos compatveis com uma nova tica199.

251

O Tratado de Educao Ambiental para as Sociedades


Sustentveis e Responsabilidade Global [TEASSRG]201 em
coordenao com a Agenda 21 definem os pblicos alvo
prioritrios da educao ambiental202, integram os princpios
do desenvolvimento sustentvel com os da participao,
da formao de competncias e apresentam um plano
de aco para a educao ambiental. Nesses documentos
enfatiza-se o processo participativo na promoo do ambiente, orientado para a sua recuperao, conservao
e melhoria, bem como para uma melhor qualidade
de vida203.
O Tratado de Educao Ambiental [TEASSRG] apresenta
os seguintes princpios bsicos para a educao ambiental:
a A educao ambiental deve ter como base o pensamento crtico e inovador, em qualquer lugar ou tempo,
no seu modo formal, no-formal e informal, a transformao e a construo da sociedade.
P

b A educao ambiental individual e colectiva, sendo


o seu propsito formar cidados com conscincia local
e planetria, que respeitem a autodeterminao dos
povos e a soberania das naes.
P

c A educao ambiental deve desenvolver uma perspectiva holstica, focalizando a relao entre o ser humano,
P

201

Da Educao Ambiental

252

Documento produzido pelo frum internacional das ONG's que decorreu em simultneo Conferncia do Rio, onde se reconhece a educao
como direito dos cidados, capaz de transformar a relao do Homem
com a Natureza - porque indutora de uma responsabilizao individual
e colectiva. A educao ambiental tem como objectivos contribuir para
a construo de sociedades sustentveis, igualitrias ou socialmente justas, assim como ecologicamente equilibradas e geradoras de mudanas
na qualidade de vida [Frum Internacional das ONGs, 1995].
202
As crianas, os jovens, as mulheres e as comunidades locais.
203
JACOBI, Pedro. Educao Ambiental, cidadania e sustentabilidade. In:
Cadernos de Pesquisa, So Paulo, n. 118, Maro 2003, p. 194. De referir
a existncia de algum paralelismo na evoluo conceptual entre os conceitos de desenvolvimento e qualidade de vida. Hoje, a conceptualizao
sobre a qualidade de vida assume-se como relevante, na medida em
que a dimenso ambiental se junta s dimenses subjectivas e de autorealizao do indivduo, sade fsica e mental; s dimenses econmicas, sociais, culturais e institucionais. Assim, para que exista qualidade
de vida, tambm necessrio haver qualidade ambiental, da a sua
relevncia para a educao ambiental [cfr. FERRO, J; GUERRA, J. Agenda
21 Local: Municpios e Sustentabilidade: Relatrio final de Julho de 2004.
Lisboa: Observa, p.4].

a natureza e o universo, de forma interdisciplinar204.


Em 1997, e novamente sob o patrocnio da UNESCO, tem
lugar a Conferncia Internacional sobre Meio Ambiente
e Sociedade, Educao e Conscincia Pblica para a Sustentabilidade, realizado em Tessalnica [Grcia]. No documento
final chamada a ateno para a necessidade de integrao/articulao da educao ambiental com os conceitos
de tica e sustentabilidade, identidade cultural e diversidade,
mobilizao, participao e prticas interdisciplinares205.

As parcerias locais
e activas favorecem
a formao
de uma conscincia
ambiental.

Enquanto dimenso educativa para a cidadania, a educao


ambiental, dever ser perspectivada como Educao para
o Desenvolvimento Sustentvel, aproveitando a dinmica
das iniciativas locais, mobilizando as pessoas para as energias renovveis, desenvolvendo e consolidando parcerias,
ajudando as escolas a resolver as suas disfunes e a transformarem-se num exemplo de pedagogia cvica e ambiental,
solicitando a participao e responsabilidade cvica de todos.
A Resoluo 57/254 das Naes Unidas, de 20 de Dezembro
de 2002, proclama a Dcada das Naes Unidas da Educao para o Desenvolvimento Sustentvel [DEDS], para
o perodo de 2005 a 2015.
O objectivo consagrar a integrao do desenvolvimento
sustentvel nos vrios sistemas e a todos os nveis de ensino,
204

GADOTI, M. ECO-92 e educao ambiental. In: Revista de Educao


Pblica, Cuiab, Editora Universitria da UFMT, vol. 2, n. 2, Out 1993
[citado por: SPAZZIANI, Maria de Lurdes. A Formao de Educadores
Ambientais para Sociedades Sustentveis: Memrias do Processo de
Elaborao do Projecto Piloto de um Curso de Especializao].
205
Cfr. SORRENTINO, M. De Tiblissi a Tessalnica: a educao ambiental no
Brasil. 1998. Citado por: JACOBI, Pedro. Educao Ambiental, cidadania e
sustentabilidade. In: Cadernos de Pesquisa, So Paulo, n. 118, Maro
2003, p. 190.
253

A vizinhana activa
um poderoso instrumento de sensibilizao
nas pequenas
comunidades.

quer tenham cariz formal ou informal. Pretende-se equipar


os indivduos e sociedades com competncias, perspectivas,
conhecimentos e valores para que possam viver e trabalhar
de uma forma sustentvel.
A Educao para o Desenvolvimento Sustentvel [EDS]
introduz uma viso da educao que procura um balano
entre o bem-estar humano e o bem-estar econmico, com
respeito pelas tradies culturais e pelos recursos naturais
do planeta. A EDS aplica mtodos e aproximaes de educao transdisciplinares com vista a:
P

P

P

P

Desenvolver uma tica de aprendizagem ao longo da vida.


Promover o respeito pelas necessidades humanas compatveis com o uso sustentvel dos recursos naturais e com
as necessidades do planeta.
Nutrir um sentido de solidariedade global.
Preparar os cidados para o exerccio da cidadania.

A cooperao internacional em matria de Educao para


o Desenvolvimento Sustentvel pode favorecer a compreenso
mtua, reforar a confiana entre Naes e o respeito dos
valores culturais; desenvolver as relaes de amizade e a
tolerncia entre naes; contribuir para a paz, para a segurana e para o bem-estar das populaes em geral206.

3.2. Educao Ambiental em Portugal


3.2.1. Um Pouco de Histria
Da Educao Ambiental

254

Segundo Alves207, a primeira Associao de Defesa do Am206

SCHMIT, Lusa. Educao Ambiental e Educao para o Desenvolvimento


Sustentvel - Um Futuro Comum. In: ASPEA; XII jornadas pedaggicas
de Educao Ambiental da ASPEA, 2005, p.20.
207
ALVES, Fernando Louro. A educao Ambiental em Portugal. In: Carapeto,C.
Cadernos de Educao Ambiental, Lisboa: Universidade Aberta, 1998.

biente [ADA] criada em Portugal surgiu em 1948; mas s


vinte e um anos mais tarde, em 1969, o governo portugus
cria um estrutura ligada proteco do ambiente e
conservao da natureza, que deu pelo nome de Comisso
Nacional de Ambiente [CNA]. Foi a resposta encontrada ao
pedido das Naes Unidas, para a definio de um
interlocutor, na rea ambiental.
A partir desta data a prtica da educao ambiental no
pas surge muito timidamente e sempre muito localizada,
seja em reas protegidas, seja numa escola ou grupo de
escolas, sensveis s questes ambientais.

L Louro Alves (1998)

refere "situaes
que surgiram muitas
vezes de uma forma
espontnea,
algumas vezes
com uma certa
confuso de conceitos,
mas curiosamente
envoltas de um certo
secretismo..."

O mesmo autor208 situa em 1975 o surgimento das primeiras preocupaes com a educao ambiental atravs da
publicao do Decreto-Lei 550/75 de 30 de Setembro e da
criao do Servio Nacional de Participao das Populaes
[SNPP], cuja misso era a realizao de campanhas de
divulgao, participao e formao da populao em geral
e da juventude em particular em ordem consecuo e
concretizao de uma poltica nacional, regional e local do
ambiente209.
Relativamente educao ambiental no nosso pas, em 1983,
Jos de Almeida Fernandes210 referia: partida podemos
afirmar que no existe uma Educao Ambiental
minimamente estruturada em Portugal, quer consideremos
o ensino formal quer o no-formal211.
Desde a criao da Comisso Nacional de Ambiente [CNA],
a situao evoluiu com a criao do INAMB - Instituto
Nacional do Ambiente [mais tarde, 1994, denominado de
IPAMB - Instituto de Promoo Ambiental, que integrou, em
contedo e propsito a Direco Geral de Ambiente, at Abril
de 2007 e agora a Associao Portuguesa de Ambiente],
sobretudo entre os anos de 1993 a 1999, observando-se
um forte impulso na rea da educao ambiental.
O INAMB, de mbito nacional, teve por objectivos a promoo da qualidade de projectos de educao ambiental, assim
208

Idem.
Ibidem.
210
Jos de Almeida Fernandes foi o primeiro director do Instituto Nacional
de Ambiente [INAMB].
211
FERNANDES, Jos de Almeida. Manual de Educao Ambiental. Lisboa: Secretaria de Estado do Ambiente\Comisso Nacional de Ambiente, 1983, p. 42.
209

255

Formao
de Animadores
de Educao Ambiental:
Visita de Estudo
ao Parque Ecolgico
de Monsanto.

como a gesto e investimento em projectos e aces que


exibissem indicadores de eficcia.
Decorrente de um acordo estabelecido entre o Ministrio
do Ambiente e o Ministrio da Educao212, o IPAMB
concretizou um modelo de apoio a aces e projectos
de educao ambiental - para incentivar a crescente
adeso educao ambiental dinamizada por entidades
pblicas e privadas213 - para alm de manter uma viso
estratgica a favor da sustentabilidade e da continuidade
de aces orientadas para o desenvolvimento sustentvel,
em geral.
A par destas surgiram, tambm, em Portugal outras estruturas de mbito nacional, regional ou local na rea do
ambiente, vocacionadas para a educao ambiental em reas
de interveno privilegiada: os resduos, a indstria, a gua,
as energias renovveis, os centros de observao e recuperao de animais, entre outros214.
Por outro lado, programas e projectos de educao ambiental comearam a ser uma realidade, dentro e fora da escola,
visando a informao dos cidados e a sua focalizao na
preservao e gesto equilibrada dos recursos naturais.
Apesar desta perspectiva, no podemos deixar de referir
a existncia de vrias iniciativas condutoras actual situao
212

Este acordo deu incio a um novo processo de elaborao de uma


Estratgia Nacional de Educao Ambiental [ENEA], a ser inserida na
Estratgia Nacional de Desenvolvimento Sustentvel de Portugal.
213
Durante estes anos foram criadas diversas Organizaes No Governamentais de Defesa do Ambiente [ONGA], tendo muitas delas uma aco
privilegiada em projectos/aces de educao.
214
Refere-se, a nvel central, o Instituto de Conservao da Natureza,
Parques Naturais [Gers, Serra da Estrela, etc.]; a nvel empresarial,
empresas intermunicipais de gesto de resduos, associaes empresariais na rea da reciclagem de materiais, etc.
256

Informar,
criar proximidade
e empatia com
as causas ambientais
junto de alunos,
professores
e auxiliares
de educao.

da educao ambiental em Portugal e que, tanto individualmente como no seu conjunto, muito contriburam para que
hoje, em 2006, a situao inclua:
a A existncia de reas protegidas e reconhecidas a nvel
nacional e internacional, como o caso do Parque Peneda-Gers, da Serra da Estrela, das Dunas de S. Jacinto
[Aveiro], de Montesinho, da Mata da Margaraa, da Serra
da Malcata, entre outros, como do Parque da Serra do Caldeiro e Candeeiros, de Monchique, da Lous e, para
referenciarmos um Parque de Lisboa, o Parque Florestal
de Monsanto, onde existe uma infraestrutura criada
[a partir de 1990] especificamente para o apoio prtica
da Educao Ambiental: o Parque Ecolgico de Monsanto.
P

b Interesse [e carolice] de professores, docentes, investigadores e profissionais de reas diversas relacionadas com
a temtica de ambiente, no desenvolvimento de iniciativas
a favor do ambiente, seja atravs de projectos de aco
com alunos, seja atravs da criao de associaes ou, ainda, pela dinamizao de projectos sustentados pela metodologia da investigao-aco a partir das universidades.
Entre 1989 e 1990 um grupo de professores do Departamento de Educao da Faculdade de Cincias da Universidade Clssica de Lisboa, liderado por Ana Benavente
[Secretria de Estado da Educao em 1995], levou a cabo
uma investigao a respeito dos projectos de educao
ambiental. Merece tambm destaque o estudo de caso
desenvolvido pela Universidade do Minho, em 1993-94,
relativo ao papel das crianas enquanto catalisadoras
de mudanas de comportamentos e atitudes face s alteraes no estado do ambiente [Louro, 1998, p. 88 - Ob.
cit.]. Este ltimo, em conjunto com estudos similares

Da Educao Ambiental

257

Jogos didcticos
e dinmicas de grupo:
fortes aliados
na sensibilizao
para o Ambiente.

de outros pases, deu origem a uma publicao coordenada


por Patrcia Joyce Fontes, em Novembro de 1998: As
Crianas como Agentes de Mudana Ambiental.
c Uma Lei de Bases do Sistema Educativo, em 1986,
que incluiu no ensino bsico a formao pessoal e social,
possibilitando o desenvolvimento da educao para a
cidadania, educao para a sade, educao ecolgica,
educao para o consumo, entre outras valncias.
P

d Sobretudo a partir do Encontro de Tbilisi [onde


Portugal esteve representado e apresentou um relatrio
sobre as iniciativas que estavam a ser desenvolvidas, na
rea da educao ambiental] referencia-se o envolvimento
de estruturas governativas. Entre outros documentos oficiais destacam-se a Lei de Bases do Ambiente, publicada
em 1987 [Decreto-Lei n11/97] e a Lei das Associaes
de Defesa do Ambiente [Decreto-Lei n10/87]. Mais do que
o envolvimento das estruturas governativas, importa
salientar a colaborao entre os Ministrios do Ambiente
e da Educao, em vrias ocasies215.
P

e A realizao de Encontros Nacionais de Educao


Ambiental, que inicialmente tiveram como principais
participantes indivduos e representantes de Associaes
de Defesa de Ambiente216 e que, hoje em dia, so partiP

215

Da Educao Ambiental

258

Para um conhecimento mais aprofundado sobre este tema sugere-se a


leitura do Bloco 5 do livro Educao Ambiental. [CARAPETO, Cristina
coord. Cientfica; ALVES, Fernando Louro; CAEIRO, Sandra. Lisboa:
Universidade Aberta, 1999].
216
Entre muitas outras, so conhecidas as ADA's: GEOTA - Grupo de Estudos
do Ordenamento do Territrio e Ambiente, criada em 1981, a QUERCUS
- Associao Nacional de Conservao da Natureza, fundada em 1985,
e a APE-AMIGOS DA TERRA - Associao Portuguesa de Ecologistas, de
1985.

I Encontro
de Professores:
a Educao ambiental
no mbito do programa Lisboa Limpa,
tem outro Pinta
- 1998/1999.

cipados tambm por representantes de ONG's217, Redes


Nacionais e Internacionais de Ambiente, e por representantes de estruturas governativas.
f A formao na rea ambiental: Formaes dirigidas
a Professores e a Jovens - conhecidos por Monitores
de Educao Ambiental.
P

g O papel dos media na divulgao [embora no muito


ambiciosa] de iniciativas de ndole ambiental, desde
a publicidade de iniciativas escolares, denncia de situaes controversas e ambientalmente desadequadas e
divulgao de iniciativas do governo na rea, entre outras.
P

Em Portugal muitos foram os projectos, aces e eventos


de educao ambiental que deixaram rasto - para o que
contriburam os media - pelo que o conhecimento das
geraes mais novas e a sua sensibilidade face s questes
ambientais, superior de anteriores geraes. Os dois
Inquritos Nacionais s Representaes e Prticas dos Portugueses sobre o Ambiente218 revelaram que, de uma forma
geral, o cidado Portugus sensvel s questes ambientais s que essa sensibilidade no se traduz, ainda, em
participao activa, salvo poucas excepes honrosas.
Independentemente da idade, o nvel de participao cvica
A primeira ONG - Organizao No Governamental, criada em Portugal
foi a ASPEA: Associao Portuguesa de Educao Ambiental.
218
ALMEIDA, J.F. [org.]. Os portugueses e o Ambiente: I Inqurito Nacional
s Representaes e Prticas dos Portugueses sobre o Ambiente. Oeiras:
Celta, 2000 e ALMEIDA, J.F. [Coord]. Os Portugueses e o Ambiente: II
Inqurito Nacional s Representaes e Prticas dos Portugueses sobre
o Ambiente. Oeiras: Celta Editora, 2004. Estes inquritos tiveram por
objectivo saber o que os portugueses pensam das questes ambientais,
avaliar opinies e atitudes, valores e representaes, para inferir sobre
prticas e comportamentos.

Da Educao Ambiental

217

259

Adquirir
novas competncias
um instrumento
importante
para estimular
o interesse e para
motivar para a aco
nas comunidades.

reduzido, em particular, no que respeita s prticas ambientais [ excepo do que se relaciona com a separao
de RSU e algumas - poucas - polticas de qualidade implementadas por indstrias, sobretudo indstrias recicladoras
de materiais].

3.2.2. O Papel das Autarquias


L Em Lisboa,

na dcada de 80,
surgiu uma rede
de Escolas na zona
de Benfica,
com destaque para
a Escola Secundria
Jos Gomes Ferreira,
que catalizou um
projecto de mbito
comemorativo,
a propsito do Dia
Mundial do Ambiente
(5 de Junho), em que
houve a colaborao
do Municpio
de Lisboa. Esta nova
relao com
a autarquia, embora
apenas embrionria
na altura,
foi posteriormente
estendida a outras
escolas do concelho
e, tambm, a outras
autarquias.

Algumas autarquias portuguesas, desde muito cedo, estiveram


atentas aos acontecimentos e evoluo das discusses de
pequenos e grandes grupos, nacionais e internacionais sobre
questes relacionadas com o ambiente - a nvel tcnico,
econmico ou educativo.
Por comparao com o governo nacional, as autarquias
[a estrutura poltico-social mais prxima dos cidados]
podem desenvolver estratgias, programas, projectos e aces
que visem a educao ambiental junto dos cidados, em
todas as suas possveis vertentes. Falamos no s da motivao para uma participao cvica responsvel dos indivduos, como de todos os aspectos bio-fsicos que nos rodeiam
e que nos permitem ter uma melhor ou pior qualidade
de vida, em funo dos equilbrios que conseguirmos gerir.
Enquadrados pelo mbito de competncias dos municpios,
possvel encontrar programas, projectos e aces associados as diversas reas de aco das autarquias219.
219

Tendo por referncia a actividade da Cmara Municipal de Lisboa, refere-se a ttulo meramente exemplificativo, a aco do Espao Monsanto
na rea da Conservao da Natureza e das Espcies, a Quinta
Pedaggica numa perspectiva agro-cultural e a actividade do Departamento de Higiene Urbana e Resduos Slidos [neste ltimo caso cfr.
anexo A5].

260

As autarquias tm, tambm, disponvel como princpio para


a aco a implementao da Agenda 21 Local, a qual
traduz, para o nvel autrquico, as orientaes e recomendaes da Agenda 21 [Rio, 1992]. Aquela apresenta-se
como um instrumento que contribui para o uso racional
dos recursos naturais, sem hipotecar as necessidades das
geraes futuras220. A Agenda 21 Local rene as seguintes
caractersticas:
P

P

P

P

P

Potencia polticas de proximidade.


Promove a abertura dos governantes ao envolvimento
dos cidados.
flexvel, cooperante, participativa, pedaggica e dinmica.
Envolve num mesmo processo empresas, servios pblicos,
instituies educativas, religies, comunidades cientficas,
associaes, sindicatos, vrios grupos de interesse e cidados.
Monitoriza e avalia - com base em relatrios de progresso regulares, de consenso estatstico e de leitura acessvel
a todos os cidados. Desta avaliao decorre o aumento
do conhecimento das realidades locais, um superior envolvimento de todos os intervenientes na procura de solues
e, ainda, uma maior adequao das polticas implementadas face s necessidades locais.

A Agenda 21 Local promovida a nvel Europeu pela Campanha Europeia das Cidades e Vilas Sustentveis [ICLEI]
e a nvel internacional pela Organizao das Naes Unidas,
pela Organizao Mundial de Sade e pelo Banco Mundial,
entre outras organizaes.

Tendo presente as orientaes da Agenda 21 Local e atendendo necessidade de participao social de todos, com
esprito crtico e empreendedor na promoo da sustenta220

Princpio da Sustentabilidade.

Da Educao Ambiental

A Agenda 21 Local um programa de aco promotor


da participao e envolvimento entre o poder e os agentes
locais, nas dinmicas de desenvolvimento econmico, social
e ambiental, escala autrquica. Traduz-se num programa
de aco integrado e pluridimensional e requer a participao dos cidados nas decises.

261

bilidade ambiental221, o papel das autarquias revela-se


fundamental no s pela maior proximidade ao cidado e
mais profundo conhecimento das realidades locais mas,
tambm, porque podem ser o apoio, a regulao e a
garantia de continuidade de polticas sociais e educativas
que incluam a educao ambiental e a educao para a
cidadania, como elementos integradores dos seus projectos
para a populao.
O Municpio de Lisboa tem vindo a desenvolver, nas
ltimas duas dcadas, esforos adicionais na rea da
educao ambiental, onde se integra a aco desenvolvida
na rea da higiene urbana e animais em meio urbano222.
So disso exemplo:
P

P

P

P

P

P

Campanhas de informao e divulgao.


Aces de sensibilizao para muncipes, escolas, pblicos
profissionais especficos [educadores e professores,
tcnicos de equipamentos sociais, pessoal de apoio
diverso, porteiros, auxiliares de aco educativa, ajudantes
domicilirios, entre outros].
Aces de formao para professores [no mbito das
escolas] e para muncipes [animadores e monitores de educao ambiental].
Visitas de estudo de vria ndole.
Concursos diversos.
Interveno comunitria com jovens enquanto agentes

221

Como tambm das capacidades sociais, econmicas, polticas e culturais potenciadoras do desenvolvimento endgeno, como da compreenso
e manejo das possibilidades e dos limites que estabelece o ambiente
para garantir a satisfao adequada das necessidades bsicas a mdio
e a longo prazo RAMOS PINTO, Joaquim & MEIRA CARTEA, Pablo.
Processos Participativos e Educao Ambiental: Estratgias para a sustentabilidade Local. In: Revista ASPEA, Lisboa: ASPEA, 2005, p.6-7.
222
O anexo A5 integra uma sntese descritiva das principais aces, projectos, programas e campanhas de informao e sensibilizao desenvolvidos desde 1979 nesta ltima rea de competncias. A experincia
acumulada constitui tambm a base da informao operativa constante
dos anexos B1 [fichas e planos de sesso], B2 [apresentaes tipo, para
apoio dinamizao de aces informativas], B3 [fichas ldico-didcticas dirigidas a actividades de animao com grupos], B4 [informao
relativa organizao de visitas de estudo], B5 [fichas ldico-didcticas
dirigidas actividades com grupos na rea da reutilizao de resduos]
e B6 [base de imagens e vdeos para apoio organizao de actividades na rea dos resduos slidos e animais em meio urbano].
262

de mudana de comportamentos, junto dos muncipes


[na rea dos Resduos Slidos Urbanos].
P

P

Programas regulares de educao ambiental nas escolas


dos 1, 2 e 3 ciclos e Jardins de Infncia.
Formao de tcnicos e operacionais do Departamento
de Higiene Urbana, na rea dos Resduos Slidos Urbanos
e Animais na Cidade.

Participao em Fruns/Seminrios/Congressos, organizados


por entidades governamentais e no governamentais, onde
a temtica da educao ambiental se constitui como tpico
de trabalho.

P

P

Divulgao das iniciativas realizadas, atravs da imprensa


diria ou em publicao prpria com regularidade anual223.

3.3. Educao Ambiental e Participao


3.3.1. Educao Ambiental: O que ?

223

A este respeito, importa referir que as iniciativas executadas no mbito


da educao ambiental so descritas, tambm, no relatrio anual de
Experincias Educativas da Cidade de Lisboa, editado pelo Departamento
de Educao e Juventude da Cmara Municipal de Lisboa.
224
EarthWorks Group. 30 coisas simples que voc pode fazer com energia
para salvar a terra; 1993.
225
Lema estratgico que surgiu com a Agenda 21, em 1992.

Da Educao Ambiental

Durante muito tempo, muitos pensaram que as aces em


prol do ambiente eram coisas distantes e impraticveis,
como se estivesse em causa um voltar as costas civilizao e um regresso natureza: quando os problemas parecem
muito complicados e as solues muito difceis, sentimos
vontade de desistir [] Hoje em dia, aco em prol do
ambiente significa o conjunto de pequenas coisas que
fazemos diariamente: onde vazamos as garrafas e as latas,
como conduzimos os nossos automveis, o que fazemos
para reduzir o consumo de energia nos nossos chuveiros,
aparelhos de ar condicionado e foges...224.
Tal como o lema Pensar Global, Agir Local225, o que importa
participar, mas no de qualquer forma e a qualquer
preo: necessria informao correcta, sentido crtico,
partilha e persistncia.
A Educao Ambiental parte integrante da educao
cvica e social do indivduo. Ela pretende chamar a ateno

263

Chuva de Ideias

para a vivncia equilibrada com o ambiente que nos rodeia,


informando e desenvolvendo o sentido crtico, valorizando
o sentido de equilbrio e de percepo dos limites [do meio].
Sendo um vector educativo particular, insere-se na educao
para a cidadania dos indivduos uma vez que tambm ela,
e a propsito do meio e da Natureza que nos rodeia, nos
exige valores, participao e cooperao, de forma restrita
e/ou alargada.
Ao promover uma chuva de ideias226, alguns dos registos
possveis sobre a definio de Educao Ambiental seriam:
Um processo dinmico/interactivo que pretende moderar
a relao homem/natureza, promovendo comportamentos
pr-ambientais, atravs da mudana e/ou conservao
de atitudes face ao ambiente.
L A Educao

Ambiental,
como parte integrante
da educao cvica,
dever contribuir
para uma melhor
compreenso
das formas mais
adequadas de actuar
perante o ambiente,
alertando,
sensibilizando e
educando as pessoas,
envolvendo-as
e informando-as.

A Educao Ambiental visa sensibilizar e alertar a sociedade para os problemas ambientais, promovendo competncias e comportamentos pr-ambientais, com o intuito de
propiciar uma melhoria da qualidade de vida. educar para
a preveno, preservao e reabilitao do meio ambiente
mobilizando, assim, a sociedade para as questes ambientais.
Educao Ambiental passa pela sensibilizao de grupos,
no sentido de os alertar para problemas ambientais, que
podem ser melhorados ou superados com um maior envolvimento e aco participada, por parte de todos, promovendo
estratgias facilitadoras da modificao de comportamentos.
Educao Ambiental... sensibilizao sobre as formas de
226

As definies que se apresentam sem autor referenciado, resultaram


de uma chuva de ideias promovida entre alunos finalistas da licenciatura de Psicologia [rea Educacional] do Instituto Superior de Psicologia
Aplicada, no ano lectivo 2003/2004.

264

preservar, melhorar e modificar o ambiente, mediante uma


componente de educao cvica, alertando para algumas
estratgias concretas como a reutilizao dos materiais ou
a reciclagem, consciencializando as pessoas para o facto
de que as suas motivaes e comportamentos influenciam
o meio ambiente e os seus ciclos naturais.
Educao Ambiental... deve ser uma passagem social que
assenta na sensibilizao das pessoas para a mudana
de atitudes ambientais e na chamada de ateno para
o facto dos seus comportamentos influenciarem o ambiente.
Ensinar estratgias [ex: reciclagem,...], para prevenir, melhorar
e proteger o ambiente, tendo em conta as expectativas e representaes das pessoas, de modo a que estas elaborem
objectivos e estratgias de interveno ambiental.
Educao Ambiental...
1] Promover atitudes/comportamentos que facilitem um
melhor viver;
P

2] Preservao, Reabilitao... Criar um melhor ambiente


natural e social!
P

Educao Ambiental uma forma de sensibilizar e alertar


para as questes ambientais e para os seus problemas,
envolvendo e informando as pessoas, de modo a que estas
compreendam as formas mais adequadas de actuar no quotidiano, prevenindo e remediando algumas situaes, em
ordem a um ambiente cada vez melhor e a uma melhor
qualidade de vida.

L Educao Ambiental

um processo
interactivo e dinmico
no mbito da
educao cvica,
que com base
na motivao visa
informar, sensibilizar
e educar atravs
do desenvolvimento
de competncias
pr-ambientais, no
sentido de produzir
mudanas de
comportamentos
e atitudes.

Educao Ambiental? Uma definio possvel: uma componente da educao cvica que tem como objectivo educar,
sensibilizar e alterar atitudes/comportamentos da populao,
face s prticas ambientais, contribuindo desta forma para
uma melhor qualidade de vida.
A Educao Ambiental um processo interactivo e dinmico, parte integrante da educao cvica, que atravs
da informao, sensibilizao e motivao, tem como
objectivo educar [os indivduos] para a mudana de
atitudes e comportamentos desenvolvendo as competncias
pr-ambientais de preveno, preservao e reabilitao
[do ambiente] para uma melhoria da qualidade de vida.
Estas definies contm e articulam alguns vectores que
integram o conceito de educao ambiental, tais como:
265

P

P

P

P

P

P

Componente educativa
Desenvolvimento
Aquisio de competncias
Promoo de prticas
Participao e aco
Melhoria de qualidade de vida dos indivduos.

A educao ambiental apresenta-se, assim, como uma ferramenta de que dispomos para mudar valores e atitudes
e usarmos os conhecimentos que temos a favor de uma
coexistncia equilibrada com a nossa casa Terra.
A educao ambiental no s aprender a Natureza,
tambm aprender o Homem e o seu lugar na Natureza,
ainda aprender a respeitar as leis que regem os equilbrios naturais e a usar os conhecimentos para restabelecer
pontes destrudas. Constitui-se como um elemento227 proDa Educao Ambiental

266

227

No devemos esquecer que o poder da educao na transformao dos


problemas socioambientais relativo e a sua eficcia tende a ser reduzida se no for integrada num modelo sistmico, coerente, pragmtico e culturalmente reconhecido. Apesar de esta ser uma ferramenta poderosa para
uma mudana de atitudes e comportamentos a favor de um desenvolvimento sustentvel, no s na rea do ambiente, mas em todas as valncias que respeitam a vida humana, a educao ambiental, ou outra, no
uma panaceia para todos os problemas da sociedade contempornea.

3.3.6. Crianas e Jovens - Agentes de Mudana


O sucesso de alcanarmos uma sociedade em harmonia
com o ambiente, depender da vontade e engenho das nossas
crianas e jovens.
No esquecendo outros grupos da populao, as crianas
devem ser o alvo principal do investimento educativo em
cidadania e educao ambiental, maximizando-se essa potencialidade no espao e vida da escola.
Apesar da sua pouca idade, as crianas podem agir como
catalizadores significativos de mudana de atitudes e comportamentos ambientais, tanto na comunidade, como no
meio familiar - se apoiadas por processos continuados
e eles prprios promotores da mudana.
As crianas revelam desde muito cedo a sua capacidade
de imitao dos adultos e tambm o seu desejo e ansiedade
para terem o seu prprio papel e reconhecimento. A interveno das crianas nas atitudes e comportamentos ambientais tem elevadas probabilidades de eficcia, se sentirem que
tm poder e que so apoiadas por adultos significativos.
Devemos mostrar-lhes a possibilidade de serem Amigos da
Terra, atravs de pequenas aces amigas do ambiente.
Deix-las experimentar e sentir a satisfao que tambm
ns sentimos quando realizamos algo que sabemos ser
correcto ou bem feito, evitando a todo o custo que se
instale um sentimento de impotncia do tipo no vai servir
de nada!.
O nvel de consciencializao e conhecimento pode elevarse atravs da ajuda dos pais aos filhos, tal como acontece
com os deveres escolares e actividades extracurriculares,
o nvel de consciencializao e conhecimento pode elevar-

Utilize o ecoponto,
dizem as crianas
no Desfile de Carnaval.
281

Construo
de maquetes
a partir de materiais
de desperdcio.

-se por esta via. A discusso sobre temticas ambientais


mais prximas [exemplo: porque que nem toda a gua
potvel?] pode, tambm, tornar-se parte do quotidiano
familiar e revelar simetrias de conhecimento benficas
para pais e filhos. No entanto, nos estudos realizados por
Fontes et al.237, as crianas no iniciam espontaneamente
este tipo de discusses, a menos que o tema surja a propsito do relato de uma actividade realizada na escola, a pedido dos pais.
J em relao aos jovens a perspectiva ligeiramente diferente. Quase adultos, j conseguem relativizar os problemas
apresentados e agir em conformidade com aquilo em que
acreditam ou representam poder ser a realidade. Sendo
detentores de informao correcta e apoiados nos seus projectos ou integrados em projectos j estruturados e dirigidos
a jovens238, podem cativar os adultos para as causas que
defendem com o seu entusiasmo.

3.4. O Papel das Entidades Educativas


3.4.1. A Escola
3.4.1.1. Enquadramento

Da Educao Ambiental

282

O presente Currculo Nacional compreende um conjunto de


aprendizagens e competncias que integram conhecimentos, capacidades, atitudes e valores a desenvolver junto dos
237

UZZEL, David: FONTES, Patricia Joyce; JENSEN, Bjarne Bruun; VOGNSEN,


Christian ; UHRENHOLDT, Jean ; KOFOED, Jens. As Crianas como Agentes
de Mudana Ambiental. Porto: Campo das Letras Editores, S.A., 1998.
238
Nestes projectos, a [in]formao, aquisio de competncias prprias, acompanhamento e monitorizao esto previstos.

alunos, ao longo de toda a escolaridade239. A Lei de Bases


do Sistema Educativo240 [no respeito absoluto da Constituio da Repblica Portuguesa241] estabelece objectivos
de aprendizagem para a escolaridade obrigatria. As orientaes curriculares incluem a definio de competncias transversais e essenciais para cada disciplina e rea curricular,
em cada um dos nveis de ensino.
Sendo a Escola um lugar privilegiado de aprendizagem,
inegvel a importncia da educao para a cidadania
no meio escolar, em todas as suas etapas. Se nos lembrarmos
de que passamos parte significativa dos nossos dias na
escola [10 anos em mdia242] ento a educao para a cidadania, a par da instruo lectiva, revela-se no s importante
como fundamental. Espao relacional, de convivncia social
e de formao pessoal243, a Escola determinante para a formao de cidados interventores e participativos.
Apesar de assuntos como os Direitos Humanos, o Ambiente,
a Sade, o Emprego, entre outros, poderem [e deverem]
ser abordados em qualquer rea curricular, pode tambm
acontecer que - num ou noutro momento - a escola sinta
necessidade de tratar academicamente e de forma isolada
um ou mais temas relacionados com o bem-estar dos indivduos em sociedade, com tudo o que isso implica [o bem-estar fsico, psquico, social, econmico, cultural, tnico
e religioso].
Atravs do Projecto Curricular de Escola244, ou mesmo do

Em 2005/2006, a escolaridade obrigatria em Portugal o 9 ano de


escolaridade [com os anos de ensino pr-escolar recomendados mas ainda
opcionais], mas aqui referimo-nos ao perodo de escolaridade desde o prescolar at ao ingresso numa escola tcnico-profissional, ensino superior ou
outras formaes especficas.
240
Lei de Bases do Sistema Educativo: Lei n46/86 de 14 de Outubro.
241
A nova Constituio da Repblica Portuguesa entrou em vigor em 1976
[aps o perodo revolucionrio iniciado a 25 de Abril de 1974]. A
Constituio a que nos referimos a revista em 2004.
242
Valor mdio [do pr-escolar ao final da escolaridade - 12ano].
243
A Escola pretende a promoo de aprendizagens que levem ao conhecimento e compreenso da realidade, para que os indivduos desenvolvam
sentido crtico em relao ao mundo que os rodeia.
244
Projecto Curricular de Escola: a adequao do currculo nacional ao contexto de cada estabelecimento de ensino. A responsabilidade da Direco
da Escola, do Conselho Directivo ou Executivo, ou de estrutura local responsvel pela gesto da escola.

Da Educao Ambiental

239

283

Projecto Curricular de Turma245, as escolas podem optar por


desenvolver reas vocacionadas para a valorizao da Educao para a Cidadania. No primeiro e segundo ciclos de escolaridade, o projecto da escola pode passar por temas to
abrangentes como: Higiene, Alimentao, Reciclagem de Resduos, gua, Energias, Estaes do Ano, Hortas Pedaggicas,
entre outros. Qualquer um destes temas permite um trabalho de explorao junto dos alunos, e de acordo com as suas
capacidades e potencialidades, de forma isolada ou integrado nas prprias aprendizagens do ler, escrever e contar246.
J no 3 ciclo e no ensino secundrio, a organizao e funcionamento das escolas diferente. Os tempos lectivos podem
divergir e ser priorizados de diferente forma, entre disciplinas como a Formao Cvica e a rea Projecto; os Clubes
de Ambiente, a Aprendizagem Intercultural [Jornalistas,
Rdio, Investigadores]; para alm das conhecidas visitas de
estudo e o estudo acompanhado. Em todas estas reas,
a educao para a cidadania pode [e deve] acontecer, tendo
aqui a educao ambiental um lugar privilegiado. Sabendose que, frequentemente, os problemas ambientais resultam
da incria da aco humana, necessrio preparar os indivduos [e sobretudo, as crianas e os jovens] para agir
a favor de um desenvolvimento sustentvel, quando iniciarem
o perodo de vida activa.
A concretizao de aces e actividades educativas de educao ambiental ou educao para a cidadania depende
da iniciativa do docente - em regime de mono-docncia,
como acontece no 1 ciclo de escolaridade, ou em colaborao com o Conselho de Turma, como o caso do 2
e 3 ciclo e ensino secundrio. Exceptuam-se as situaes
em que so planificadas disciplinas especficas, onde o professor responsvel pela cadeira ser o principal agente
- como no caso da Formao Cvica.
245

Da Educao Ambiental

284

Projecto Curricular de Turma: Trata-se do Projecto Curricular da Escola,


especificado ao nvel de uma turma particular. A responsabilidade deste
projecto do/a professor[a] titular da turma, em colaborao com a
direco da escola ou conselho de docentes ou de turma, ou, no caso do
ensino secundrio da responsabilidade do conselho de turma em colaborao com o director de curso respectivo.
246
Pode ser seleccionado um texto de leitura que conte uma histria sobre
qualquer aspecto ambiental, da vida dos animais e das plantas, da aco
do Homem nos rios, da mudana das estaes, ou ainda sobre personagens mediticos que representem preocupaes ambientais e que sejam
heris actuais das crianas e jovens.

3.4.1.2. Os Currculos Escolares - O caso Portugus


A Lei de Bases do Sistema Educativo de 1986 determinou
que os planos curriculares do ensino bsico incluiro em
todos os ciclos e de forma adequada uma rea de formao pessoal e social, que pode ter como componentes
a educao ecolgica, a educao do consumidor, a educao
familiar, a educao sexual, preveno de acidentes, a educao para a sade e a educao para a participao nas
instituies, servios cvicos e outras do mesmo mbito247.
O Decreto da Reforma Curricular de 1989 previu 4 estratgias de formao pessoal e social - no s para o ensino
bsico, mas tambm para o ensino secundrio - em conformidade com anterior recomendao do Conselho Nacional
de Educao, denominadas:
Estratgia transdisciplinar todas as componentes de ensino devem contribuir de forma sistemtica para a formao
pessoal e social dos indivduos.
P

Estratgia multidisciplinar a rea-Escola no sendo uma


disciplina, curricular e beneficia da contribuio e colaborao das vrias disciplinas e respectivos docentes].
P

Estratgia disciplinar a criao de uma disciplina


especfica de formao desenvolvimento pessoal e social.
P

Estratgia de complemento curricular s actividades


de complemento curricular so atribudos tambm objectivos de formao pessoal e social.
P 

Ainda assim, seja sob a designao da Formao Pessoal


e Social, ou de Educao para a Cidadania, j existem
mltiplas oportunidades curriculares que permitem aos jovens aceder - no quadro da educao formal - a alguma

247

Jogo Misso
Ambiente:
actividade de grupo.

N2, art. 47, Lei46/86 de 14 de Outubro.


285

informao ambiental integrada nas disciplinas [por exemplo: nas cincias naturais e na rea-Escola]. Todavia, continua
a ser necessrio um maior investimento na formao dos
processos de participao cvica, regras de jogo democrtico,
dos direitos e deveres, desde a comunidade escolar, autarquia, escala nacional e outras.
Dependendo da maior ou menor sensibilidade relativamente s questes ambientais, haver uma diferenciao
de investimento nas aces educativas transversais que
versem sobre matrias ambientais, j que no h a nvel
nacional, o estabelecimento de objectivos especficos a cumprir, por determinados perodos de tempo - tal como acontece, por exemplo, com os manuais escolares. Face a esta
realidade, professores e formadores de educao para a cidadania, de formao pessoal e social e mesmo de educao
ambiental, muitas vezes optam por contextualizar apenas
localmente a sua interveno, perdendo-se aqui e ali a noo
do impacto que o conjunto destas aces isoladas pode ter.
Deste modo uma Estratgia Nacional de Educao Ambiental
carece da definio por anos lectivos, segundo nveis de
ensino, o que constituir uma mais valia a considerar num
futuro prximo.
Recorrendo aos recursos existentes, os professores e as escolas
podem, todavia248:
a] Desenvolver sesses de sensibilizao para grupos de
alunos suportadas por documentao escrita e/ou audiovisual.
P

b] Preparar e realizar com os alunos exposies temticas sobre ambiente ou complementar outras exposies
nas escolas com curiosidades ambientais.
P

Festa de final de ano


em estabelecimento
de ensino do 1 ciclo.
248

286

Ver exemplos de actividades j desenvolvidas no anexo 5.

c] Dinamizar projectos especficos com a colaborao


de vrias reas disciplinares: por exemplo sobre a gua,
o ar, as energias...
P

d] Implementar sistemas de recolha selectiva de resduos dentro da escola.


P

e] Realizar visitas de estudo de interesse ambiental com


preparao, acompanhamento e avaliao a par da integrao nos currculos escolares adequados.
P

f] Participar em aces de escolas vizinhas e promover


intercmbios escolares.
P

g] Elaborar e distribuir materiais de informao com


a participao dos alunos.
P

h] Criar Clubes do Ambiente na Escola e apoiar os alunos na dinamizao desses Clubes.


P

i] Discutir e fazer aprovar contedos curriculares para


a rea-Escola que propiciem a educao ambiental para
a cidadania e para o desenvolvimento sustentvel.
P

3.4.1.3. Escolas Tcnicas, Profissionais e Universidades

Nas Escolas Superiores e Universidades, em que a diversidade de cursos elevada e os interesses dos acadmicos
docentes e discentes se multiplicam, a Educao Ambiental
acontece atravs da realizao de eventos dinamizados por
grupos de alunos e para alunos - de colquios, seminrios,
workshops e exposies sobre temas ambientais variados
que podem ir desde: Do filo de petrleo s Energias
Renovveis, ou Da vida no campo, Fbrica de Sonhos
Virtual, ou ainda, da Vida da Formiga Biografia de
Bill Gates. Pode tambm estar presente atravs da gesto
energtica dos edifcios e/ou da informao sobre a utilizao das energias.
Devem ser incitadas, promovidas e apoiadas pelas Escolas
Superiores, Universidades e outras Entidades Educativas dis-

Da Educao Ambiental

A educao ambiental nas escolas tcnicas e profissionais


deve sobretudo chamar ateno para o facto de existirem profisses - tais como: Tcnicos de Ambiente, Guardas
Florestais, Engenheiros do Ambiente, Arquitectos Paisagistas,
etc. - cuja aco contribui para minorar os impactes
negativos da aco humana no ambiente.

287

cusses e apresentaes abrangentes, aces que incomodem conscincias e alertem para a necessidade de agir de
forma informada a nvel ambiental e em particular aces
que motivem a participao activa dos indivduos.
No contexto do ensino profissional, a Educao Ambiental
e a Educao para a Cidadania tm uma dimenso transversal no processo de ensino-aprendizagem, que deve estar
sempre presente e ser valorizada em todos os contextos
educativos.
A investigao sobre as temticas do ambiente249, embora
no seja propriamente educao ambiental e a divulgao
dos seus resultados, um contributo valioso para o
entendimento de como a aco do Homem pode beneficiar
ou prejudicar o ambiente.
Uma outra rea de investigao que importa realar a
rea das cincias sociais e humanas sobretudo ao nvel da
psicologia comportamental, cognitiva e social, assim como na
rea educativa, para que, com base e sustentao tcnico-cientfica, possamos ensaiar e desenvolver novas estratgias
de interveno e mobilizao dos indivduos, indo ao encontro dos seus interesses a favor de uma sustentabilidade
ambiental.
3.4.1.4. A Educao Ambiental e o Mundo do Trabalho
A Educao Ambiental tambm no deve ser esquecida nos
contextos empresariais ou de servio pblico [como as escolas, hospitais, autarquias, servios sociais e outros]. A sua
presena revela-se atravs de: implementao de sistemas
de controlo e reduo de energia; instalao de sistemas de
reaproveitamento de produtos no comercializveis; colocao de fontes de energia no tradicionais; triagem dos
resduos produzidos no local de trabalho; consumo de consumveis menos poluentes; utilizao de tecnologias mais
limpas; etc.
Da Educao Ambiental

288

A certificao ambiental [ISO 14000 e 14001] um instrumento de incentivo s boas prticas em matria de ambiente
249

De que so exemplos o estudo das alteraes climticas, movimento dos


glaciares, foras elicas, movimentos tectnicos, sismologia, estudos sobre o
desenvolvimento das diversas espcies de animais e plantas, fora das
mars, poluio atmosfrica, poluio dos recursos hdricos, rudo, etc.

Formao
para tcnicos
de Gabinete
de instituies
com actividade junto
das comunidades locais.

ao nvel empresarial. Traduz-se na valorizao da imagem


ambiental da empresa, com benefcios significativos na reduo dos impactes ambientais da sua actividade.
No mundo do trabalho, a educao ambiental pode e deve
acontecer, constituindo um instrumento indutor de eficincia.
Compreender o porqu das regras amigas do ambiente
justifica o desenvolvimento de aces [in]formativas e de
sensibilizao extensveis a todos os nveis profissionais, de
forma a obter colaboradores crticos, informados e participativos no sistema.
3.4.1.5 A Famlia

Se podemos levar a educao ambiental at cada famlia,


atravs das crianas e dos jovens com quem trabalhamos,
tambm devemos promover a sua participao enquanto
grupo em aces educativas, de teor ambiental e de
cidadania. Estar informado, reflectir, agir com sentido
crtico em questes relativas ao ambiente, tarefa que
no tem limite vista e que vlida para o indivduo,
famlias, comunidade, organizaes e populao em geral.
Em Portugal j existem projectos dirigidos s famlias250,
250

Importa aqui ressaltar o aumento de projectos para pais em todo o pas


atravs das Escolas de Pais.

Da Educao Ambiental

A famlia o primeiro agente educativo de qualquer


indivduo, por isso, faz sentido no esquecer este microsistema que tanta influncia tem na educao e desenvolvimento das crianas e dos jovens. Independentemente
do seu tipo de organizao ou estrutura, mais restrita ou
mais alargada, mais ou menos convencional, influencia e
influencivel pelos seus elementos mais novos.

289

sobretudo nos grandes centros urbanos. Todavia, necessrio um maior investimento na oferta e na diversidade
destes projectos educativos, a custos reduzidos, de forma
a facilitar a motivao e participao de todos251.

3.5. Olhando para a Floresta...


Atendendo aos objectivos da Educao Ambiental, enquanto
parte integrante da Educao para a Cidadania, sabendo
das inter-relaes envolvidas, das influncias mtuas de
vrias dimenses humanas [pensar, sentir, agir] e do meio
[escola, famlia, trabalho, sociedade, Natureza], sabendo que
o Homem persegue os seus valores e tanto mais activo
quando mais motivado ou envolvido emocionalmente
estiver com alguma coisa [ou algum], apresentamos esta
metfora da floresta, to infinitamente rica de nveis de
interveno, de diversidade individual, nacional, internacional onde todas as rvores se alimentam de uma
mesma Terra, se interligam nos seus ramos estendidos e
criam novas formas de existir e co-existir, se revelam nicas
mas integradas num ambiente aparentemente homogneo
mas que sabemos muito diverso volta do Mundo252.
nesta perspectiva aqui metamorfoseada e imensa que
acreditamos na Educao e Cidadania Ambiental.

250

Da Educao Ambiental

290

Importa aqui ressaltar o aumento de projectos para pais em todo o pas


atravs das Escolas de Pais.
251
Alguns exemplos so: os Museus; o Oceanrio - em Lisboa; O Jardim
Zoolgico - Lisboa; as Quintas Pedaggicas - um pouco espalhadas por
todo o Portugal; o Visionarium, na Feira; o Centro de Recuperao do Lince
Ibrico, na Serra da Malcata; ou o Museu-Laboratrio e Jardim Botnico
em Lisboa, entre outros.
252
muito importante a existncia de redes locais, nacionais e internacionais
para que o conhecimento flua facilmente volta do Globo e se desenvolvam estratgias das catstrofes ambientais, sobretudo preventivas, de
forma concertada e no dispersa.

Processo Ensino-Aprendizagem

291

Os problemas ambientais e a conscincia ecolgica

180

Os problemas ambientais e a conscincia ecolgica

292

A Histria da Higiene e Limpeza Urbana em Lisboa

Os problemas ambientais e a conscincia ecolgica

CAPIT

31

294

1.At ao Terramoto de 1755


A histria da formao da cidade de Lisboa perde-se na memria dos tempos, datando de 138 a.c.
a primeira referncia romana Felicitas Iulia Olisipo253.
Na verdade, desde 2.000 anos a.c. que Monsanto recebera
os primeiros ncleos de povoao humana e, depois dos
romanos, os rabes254 aqui permaneceram at conquista
da cidade por D. Afonso Henriques255.
A formao e consolidao da nacionalidade [sc. XII] faz
com que Lisboa v adquirindo centralidade e importncia
em que, a par de uma crescente populao, se afirma
como capital do reino [D. Afonso III - 1256].
Mantendo a influncia da traa mourisca a formao,
constituio e afirmao da nacionalidade at ao sculo
XVIII transformam a cidade num burgo rico, de elevada
densidade populacional e forte movimento mercantil.
Nas Memrias de Lisboa256, Rmulo de Carvalho de uma
forma breve e rica conduz-nos pelo ambiente desta cidade
at ao Terramoto de 1775:
Nos primeiros sculos da nacionalidade toda a zona que
vai actualmente desde o Largo do Pelourinho, passando pelo
Terreiro do Pao, at alturas da Conceio Velha, era uma
extensa e larga praia, ao norte da qual a pequena cidade
se acumulava nas encostas das colinas sobranceiras ao Tejo.
O local prestava-se, optimamente, para incurses de piratas
pelo que D. Dinis, em 1294, mandou construir uma muralha
a todo o comprimento da referida praia, com fortes torres,
robustas paredes e portas espessas, bem aferrolhadas [].

253

SERRO, Joel. Dicionrio de Histria de Portugal. Porto, Livraria Figueirinhas,


1979, vol. VI, p. 659.
254
Os rabes permaneceram na cidade entre 714 e 1147 [DIAS, Marina
Tavares; Lisboa Desaparecida. Lisboa, Imprensa Municipal, tomo 1, 1990].
255
Idem.
256
RMULO de CARVALHO. Memrias de Lisboa. Lisboa, Relgio dgua, 2000,
p.12 a 19.

At ao Terramoto de 1755

Anos mais tarde, em 1372, quando Henrique de Castela


sitiou Lisboa, reconheceu-se que a muralha de D. Dinis era
insuficiente para a defesa da cidade. Serenada a guerra,
o rei de ento, D. Fernando, mandou construir uma segunda

295

muralha, frente da primeira, do lado do rio, e que


devidamente prolongada envolvia toda a cidade [].
Com o decorrer dos anos foi-se procedendo ao aterro
da praia at que D. Manuel [sc. XVI] mandou aplanar
a parte central e fazer da um terreiro onde se instalou
um mercado, em melhores condies, no s do peixe
como de tudo o mais.
Nesse tempo o palcio real, que j vinha dos antigos reis,
ficava situado no cume da colina onde hoje se encontra
o Castelo de So Jorge [reconstrudo] e da D. Manuel
descia, frequentemente, at ao terreiro para ver trabalhar
os carpinteiros das naus [] no stio denominado RIBEIRA
DAS NAUS.
[] o rei mandou construir um palcio, ali mesmo, na
zona ribeirinha.
[] No se passou muito tempo sem que o rei sentisse
a exiguidade das instalaes, no s pela conscincia da
grandeza pessoal que ia adquirindo com a expanso dos
descobrimentos, como pela intensificao do comrcio com
a ndia [].
Foi a partir da construo do pao que o terreiro da ribeira
passou a ser conhecido por TERREIRO DO PAO []
Pela sua vastido era a que se efectuavam as corridas
de touros e que desfilavam as interminveis procisses
do Santo Ofcio. []
Em 1609, durante a ocupao castelhana, Filipe II [em Portugal] mandou fazer obras no pao da Ribeira [].
O aspecto do conjunto melhorou muito, mas o aougue
que distribua a carne para toda a Lisboa, continuava
a funcionar no Terreiro do Pao, e era tambm a que
se iam lanar as imundcies da cidade.

At ao Terramoto de 1755

296

D. Joo IV, aps a Restaurao, proibiu tais desacatos,


mandou limpar o terreiro e ps-lhe ao centro um chafariz
de quatro bicas, encimado por um Apolo [].
Foi nessa poca, e nesse local, que se iniciou a revoluo
de 1640, em que Miguel de Vasconcelos foi lanado de uma
das janelas do pao para o Terreiro. []
O Pao da Ribeira chegou ao sculo XVIII recheado com
as riquezas acumuladas durante os Descobrimentos e, com

D. Joo V, atingiu o auge do esplendor [] Perto do Pao,


D. Joo V mandou construir [1716] a catedral Metropolitana
e Patriarcal de Lisboa [mais ou menos onde se encontra
hoje a Igreja de So Julio], sumptuosa; e D. Jos, a Casa
da pera [1753], de 120 m de frente [correspondente ao
edifcio do arsenal da Marinha na parte voltada para o Largo do Pelourinho].
Assim era a extensa zona ocupada pelo Pao da Ribeira
e edificaes anexas, s 9 horas e 40 minutos da manh
de sbado, dia 1 de Novembro de 1755.
Como vimos, embora tenham existido algumas preocupaes pontuais com a limpeza dos burgos [...] na Europa
crist medieval [] no existiam hbitos de higiene
pessoal nem de salubridade pblica. As condies sanitrias
ambientais eram pssimas. As cidades medievais no tinham
sistemas de saneamento bsico. Os despejos domsticos
eram feitos para a via pblica.
Quanto tradio romana dos banhos pblicos, de algum
modo valorizada pela medicina judaica e rabe na Pennsula
Ibrica, sabemos como ela foi duramente combatida pelo
cristianismo: por exemplo, homens da Igreja como So Jernimo [343-420] no viam razes vlidas para um cristo
tomar banho depois do baptismo, se bem que na planta
arquitectnica do clebre mosteiro de Sant Gallen [Sc. IX]
estivessem previstas latrinas e balnerios [Graa, 1996].
Refira-se que este preconceito teolgico em relao aos
cuidados de higiene corporal vai ter consequncias nefastas
na sade da populao europeia257.
Na Lisboa, cuja populao se adensou ao longo dos
sculos258, a salubridade colocou, aos monarcas, desafios
difceis de ultrapassar. A frequncia e persistncia de doenas
GRAA, Lus. Representaes Sociais da Sade, da Doena e dos Praticantes da Arte Mdica nos Provrbios em Lngua Portuguesa. 2000.
Fonte: http://www.ensp.unl.pt - [Setembro05].
258
data da conquista da cidade, Lisboa tinha 15.000 habitantes
e 15 hectares e meio de extenso. Com a construo da cerca fernandina, a rea do burgo alarga-se at aos 105 hectares comportando uma
populao que entre os sculos XV e XVII passou dos 50.000 habitantes
aos 100.000 habitantes, onde abundavam marinheiros, soldados, cambistas, mercadores, artfices, frades e mendigos a par de uma forte presena estrangeira. Durante o domnio filipino, em 1626 eram recenseados 126.000 residentes. [In: DIAS, Marina Tavares. Lisboa Desaparecida.
Lisboa, Quimera, Tomo 1, 1990].

At ao Terramoto de 1755

257

297

epidmicas era favorecida pela escassez de guas, pelo


lanamento de detritos para as ruas ou para o rio, bem
como por uma relao permanente com povos de naes
diversas, proporcionadas pelo Porto do Lisboa e por toda
a actividade ligada s Descobertas.
O povo vivia na rua. Amontoava-se entre as galinhas,
os monturos e as centenas de ces e gatos que faziam
o aproveitamento dos restos que encontravam. Desconhecia
a importncia da higiene na sade e estava impossibilitado
de ter hbitos de higiene devido falta de gua e de esgotos. Frequentemente era assolado por febres originadas
pela falta de limpeza e pelos maus cheiros da resultantes
que se faziam sentir em toda a cidade e que provocaram
entre a populao, nos sculos XV e XVI, graves crises de mortalidade. Refere-se, a ttulo de exemplo, a peste que
grassou durante o cerco a Lisboa259 em 1384, matando
entre as tropas castelhanas 150 a 200 homens por dia;
e a que aconteceu em 1414 e conduziu morte de D. Filipa
de Lencastre.
Em cortes de 1434 afirma-se o mau estado de salubridade do pas. Nos fins de Agosto de 1437 deram-se em
Lisboa e arredores casos mortais de pestes. Sobre a sua
profilaxia e tratamento realizaram-se conferncias pblicas
semanais, tendo o rei aprovado um sistema de medidas
sanitrias apresentado pela Cmara de Lisboa260. No Leal
Conselheiro, D. Duarte ao abordar o problema da peste
de opinio que se abandonassem os lugares infestos.261
As pestes ocasionadas pela insalubridade das ruas atormentavam os poderes pblicos. Renovam-se as medidas surgindo,
ento, para auxiliar o trabalho dos carretes262, as negras
calhandreiras263 que transportavam as imundcies apanhadas nas ruas para as praias.
O crescimento desordenado da cidade [edificado e arruamentos], a ausncia de saneamento e a escassez na distri259

At ao Terramoto de 1755

298

Crise de 1383-1385 que veio culminar na proclamao de D. Joo I dando


incio dinastia de Aviz.
260
Epidemias. In: SERRO, Joel [coord]; Dicionrio de Histria de Portugal.
Porto, Livraria Figueirinhas, 1979, p. 407.
261
Idem.
262
Homens com carroas que transportavam as imundcies para as praias.
263
Designao dada s escravas negras que trabalhavam para as vendedoras
dos mercados.

buio de gua, a par da falta de dinheiro do Senado264


contriburam para que a Limpeza da Cidade fosse tratada
durante o sculo XV265, com medidas pontuais que tentavam
minorar o estado imundo em que as ruas se encontravam.
S as regulares procisses, cortejos, casamentos e baptizados
reais permitiam alguma limpeza nas ruas.
D. Joo II266, entre 1485-1495, emanou diversas cartas rgias
e alvars, ordenando a limpeza da cidade e dos canos das
habitaes, proibindo o abandono de sujidades nos quintais descobertos e fixando o seu local de lanamento.
Chamou a si a resoluo de questes sobre limpeza, s quais
o Senado no conseguia responder por transcenderem
as suas competncias.267
As ruas afogavam-se em estrumeiras; quem podia, s as
transitava a cavalo. Canos, apenas mencionados no regimento
municipal de 1502, s ao findar do sculo XVI que tinham
traado figurvel - tudo parcelar e desconexo, contando-se
to somente dois canos reais.268
Talvez o marco mais importante de todo o tipo de medidas
tomadas por D. Joo II seja a Carta Rgia de 1486, na
qual o monarca ordenava que nas freguesias existissem
homens pagos pelos prprios moradores para averem
dallimpar a cidade.
Nos anos de 1500 Lisboa era uma cidade populosa com
18.000 casas distribudas por 270 ruas e 89 becos e
cerca de 50.000 ou 60.000 habitantes [podendo atingir
os 100.000 habitantes, segundo alguns autores], oriundos
no s das diversas provncias do Reino como das terras
recentemente descobertas. O Tejo, local de partida e chegada
das naus da ndia, era tambm o local de despejo das
imundcies da cidade269. No , pois, de estranhar que a sa264

Estrutura que funcionava ao nvel da gesto da cidade.


Que coincide com o perodo que vai de D. Joo I a D. Joo II, durante
o qual se inicia o expansionismo portugus, primeiro para frica
e depois atravs da Descoberta de novas Terras.
266
1481-1495.
267
Ibidem.
268
Nas palavras de Ricardo Jorge citado por GRAA, Lus. Representaes
Sociais da Sade, da Doena e dos Praticantes da Arte Mdica nos
Provrbios em Lngua Portuguesa. 2000.
Fonte: http://www.ensp.unl.pt [Setembro05].
269
Demografia. In: SERRO, Joel. Dicionrio de Histria de Portugal. Porto,
Livraria Figueirinhas, 1979, Tomo II, p. 281-286.

At ao Terramoto de 1755

265

299

lubridade da cidade continuasse a ser uma preocupao


de D. Manuel270, o qual legislou sobre esta matria ora
fixando o logar onde se deveriam lanar os estercos ora
obrigando todos, sem excepo, a contribuir para a limpeza
e higiene da cidade.
Contrariamente prtica generalizada de enterramento
da poca, este monarca tambm determinou, para sanear
a cidade, a abertura de dois poos para colocar os cadveres
da colnia negra existente em Lisboa271, que at ento
[1515] eram lanados no monturo de Santa Catarina, na
praia de Santos ou atirados para herdades dos arredores.272
Apesar das preocupaes dos reis, segundo dados de 1552,
o nmero de homs que and c suas carretas pela cidade,
allimpando da lama e as mais sugidades no passara ainda
de quatro.
No reinado de D. Sebastio273 - que considerava a limpeza
como cousa principal e importante - foi emitido um
Alvar determinando que homes com carretes, e bestas
na parte em que os carretes no poderem servir, limpem
as imundices e as levem aos lugares para isso deputados,
custa dos moradores das ditas ruas, travessas e becos.
Esta determinao isentava do pagamento da contribuio
os visitados pelas Misericrdias e outras semelhantes.
Como forma de melhorar quer a execuo e fiscalizao
da limpeza quer a gesto deste servio, aumentou em
dois o nmero de almoatis da limpeza, que ficaram
a perfazer o nmero de seis, e repartiu a Cidade em seis
bairros.274
Pestes sucessivas assolaram o final dos anos de Mil e Quinhentos [1580, 1598 e 1599].275 Em 1607, o Senado deter270

1494-1521.
O Poo dos Mouros e o Poo dos Negros. O topnimo de Poo dos
Negros existente ao fundo da Calada do Combros [MARQUES, Antnio.
Os negros na Lisboa quinhentista. In: Jornal de Artes e Letras. Fonte:
http://www.eomais.cjb.net [Setembro05] e GRAA, Lus. Representaes
Sociais da Sade, da Doena e dos Praticantes da Arte Mdica nos Provrbios em Lngua Portuguesa, 2000. Fonte: www.ensp.unl.pt [Setembro05].
272
Idem.
273
1556-1578.
274
OLIVEIRA, Eduardo Freire de. Elementos para a Histria do Municpio de
Lisboa. Lisboa, Tipografia Universal, 1898.
275
Demografia In: SERRO, Joel. Dicionrio de Histria de Portugal. Porto,
Livraria Figueirinhas, 1979, Tomo II, p. 281-286.
271

At ao Terramoto de 1755

300

minou que as intervenes da limpeza se fizessem por conta


do real da gua276 e que, em todos os bairros, se utilizassem os carretes e ribeirinhos277, j que a verba proveniente das contribuies dos moradores era insuficiente
para custear esta tarefa.
Apesar do seu papel mais modesto, durante o domnio
filipino, Lisboa continuou a crescer: Em 1620, segundo
Fr. Nicolau de Oliveira, Lisboa contava 27.000 fogos
e 165.000 pessoas, das quais 10.000 seriam escravos,
6.000 estrangeiros e 3.000 frades e freiras278 e ciganos,
sendo que em 1642 a populao da cidade se aproximava dos 200.000279 habitantes.
Em 1661, Nuno de Mendona, Conde de Vale de Reis [ento
Presidente do Senado de Lisboa] ordenou que a cidade fosse
dividida em bairros e que aos respectivos ministros se acometesse a obrigao de olharem pela limpeza, para o que
lhes deu dinheiro e o rol dos monturos.
Mais tarde, ainda no sculo XVII, com Garcia de Melo na
Presidncia do Senado, os Servios melhoraram um pouco.
Na sequncia de um emprstimo, faz-se a aquisio de
seis carros de duas rodas, sendo que em cada um deles
andaro dois homens para limparem as ruas e as governarem. Uma das condies impostas era que todo o servio
deveria estar concludo at s 9h da manh e, para alm
disso, os moradores que at ento pagavam um vintm
por cada sobrado e dois o que estiver com tenda debaixo
dele ou em outra parte no seriam sobrecarregados com
novas contribuies.280
O real da gua surgiu no tempo de D. Joo em substituio da anduva que no tempo se dirigia edificao. O real de gua atravessou
diversas fases, tanto no valor das taxas cobradas, como na sua aplicao. s cmaras competiam sempre os encargos da cobrana e da
administrao, mas o produto do imposto revertia, no todo ou em
parte, em benefcio da coroa [SERRO, Joel. Dicionrio da Histria de
Portugal. Porto, Livraria Figueirinhas, Tomo 1, 1979, p. 238].
277
OLIVEIRA, Eduardo Freire de. Elementos para a Histria do Municpio de
Lisboa. Lisboa, Tipografia Universal, 1898.
278
SERRO, Joel. Dicionrio da Histria de Portugal. Porto, Livraria Figueirinhas,
Tomo 1, 1979, p. 238.
279
Idem, citado no Decreto de 10 de Julho de 1642 in: CHABY, Cludio.
Synopse dos Decretos do extinto Conselho de Guerra.
280
OLIVEIRA, Eduardo Freire de. Elementos para a Histria do Municpio de
Lisboa. Lisboa, Tipografia Universal, 1898.

At ao Terramoto de 1755

276

301

Posteriormente, no princpio do sculo XVIII281, cria-se um


outro imposto [resultante da imposio de um novo
adicional sobre a venda da carne e do vinho] denominado
realete da limpeza, deixando os habitantes da cidade de
ter que contribuir directamente para a limpeza das ruas.
Os decretos de 1738 e 1746 determinaram que nenhum
morador lance ou mande lanar guas ou lixos nas ruas,
nem de dia, nem de noite, seno depois do sino corrido,
tendo estas medidas contribudo para melhorar o aspecto
da Cidade, apesar de no serem cumpridas por todos.282

2.De 1755 ao final do sculo XIX


A viso estratgica do Marqus de Pombal, aps
o Terramoto de 1755, foi a oportunidade de renascimento da cidade de Lisboa. Jos Augusto Frana sintetiza283:
No sculo XVIII portugus, o nico acontecimento verdadeiramente original foi o terramoto de 1755 - e o nascimento de uma cidade que disso foi consequncia. Esta
a ltima das antigas cidades da Europa e a primeira das
cidades modernas.
A Lisboa do sculo XIX desenvolveu-se medida do pas,
sem programa urbano nem modelo social, fosse ele reformista ou utpico: faltou-lhe uma filosofia, como lhe faltou
a necessidade pragmtica que lhe determinaria uma poltica
[]. S no ocaso Rosa Arajo esboou idealisticamente
281

De 1755 ao final do Sculo XIX

302

Em 1702 adicionou-se mais um real no vinho e outro na carne, mas


com a condio, imposta por D. Pedro II [1683-1706], em 10 de Julho
daquele ano, de que o novo tributo se aplicaria exclusivamente
limpeza da cidade e reparao dos caminhos pblicos e caladas
extramuros. Recebeu este novo imposto o nome de realete ou realete
da limpeza. In: SERRO, Joel. Dicionrio da Histria de Portugal. Porto,
Livraria Figueirinhas, Tomo 1, 1979, p. 238.
282
OLIVEIRA, Eduardo Freire de. Elementos para a Histria do Municpio
de Lisboa. Lisboa, Tipografia Universal, 1898.
283
FRANA, Jos Augusto. Lisboa Pombalina e o Iluminismo. Lisboa, 2. ed.,
Bertrand, 1977, p. 296; FRANA, Jos Augusto; Lisboa Oitocentista. Lisboa,
Academia Nacional de Belas Artes/Fundao Calouste Gulbenkian
[exposio documental] - [Citado por FERREIRA, Vtor Matias. A cidade
de Lisboa: de capital do imprio a centro da metrpole. Lisboa, Dom
Quixote, 1987, p. 75].

um novo destino urbano de que Ressano Garcia tirou


consequncias, na charneira materialista dos dois sculos.
Sob o trao de Eugnio dos Santos e Carlos Mardel, a nova
Lisboa foi reconstruda com a orientao da racionalidade
iluminista da poca, conferindo cidade uma estrutura
orientada pela funcionalidade, onde a par de reas de habitao e mercantis se evidencia as da gesto poltico-administrativa - o Terreiro de Pao - e a convivial - o Passeio
Pblico.
o Passeio Pblico foi, no dizer de Jlio Castilho, um
dos filhos dilectos do Marqus de Pombal; um dos instrumentos mais eficazes que teve o grande pensador para
amalgamar as classes284.
E ao mesmo tempo que reconstrua a cidade, o Marqus
de Pombal decidiu concentrar a limpeza, a iluminao e a
guarda a cavalo da cidade, numa nica instituio, a Intendncia de Polcia, atribuindo as despesas aos habitantes
de Lisboa - segundo o aluguel que pagaro as lojas
e casas de pasto, as estalagens e os estrangeiros que de
novo entram na cidade285.

Em 1823, por Carta de Lei de 7 de Abril, o servio da


limpeza da cidade passou a ser, conjuntamente com a iluminao, uma competncia do Municpio de Lisboa. Para
tal, pagava o Governo, a dotao anual de oitenta e quatro
contos de ris: sessenta contos para a iluminao e vinte
e quatro para a limpeza287.
284

DIAS, Marina Tavares. Lisboa Desaparecida. Lisboa, Quimera Editores, 7.


ed., Vol. I, 1991, p. 51.
285
Idem.
286
SERRO, Joel. Dicionrio de Histria de Portugal. Porto, Livraria Figueirinhas,
omo 1, 1979.
287
Idem.

De 1755 ao final do Sculo XIX

Por Decreto de 20 de Maio de 1780 foram transferidas,


tambm, para a Intendncia Geral da Polcia a administrao e arrecadao dos reais e realete da carne. Este
produto era aplicado s despesas de reedificao e conserto de pontes, bem como s caladas, fontes e limpeza
da cidade. Ficou assim a administrao do concelho sem
estes servios e rendimentos286.

303

Sabemos que em 1835, de acordo com Lisboa Antiga


de Jlio de Castilho, a remoo do lixo era efectuada
...por meio de carroas numeradas e puxadas a muares,
que atravs do toque da campainha anunciavam aos moradores a passagem dos carretes.

Carroa
Carro de recolha
de lixo puxado por
boi [In: Costume of
Portugal - Henri L'
veque, 1806(?)
mencionado por
Nuno Madureira.
In: Luxo e Distino,
ed. Fragmentos].

O Pelouro da Limpeza.
1855.
Autor: D. Fernando II.

Tardiamente, e por essa altura, o pas desperta para a industrializao, com a chegada da mquina a vapor, em 1835.
Apesar do predomnio da fora motriz ser ainda humana
e animal, a mquina a vapor ganha espao nas pequenas
concentraes industriais de Lisboa e Porto. Em 1852
existiam j 70 unidades com uma potncia instalada
de 983 cv288.
De 1755 ao final do Sculo XIX

304

A poltica de transportes da Regenerao289 [caminhos


de ferro e estradas] liga o pas e abre-o ao exterior.
Lisboa cresce e acompanha este movimento. Entre 1852
288

Ibidem, Regenerao.

289

Inicia-se em 1850.

e 1857290 construda a Estrada da Circunvalao, o que


constitui um facto poltica e administrativamente significativo abstraindo as cercas medievais construdas para
fins defensivos da Cidade e que pela primeira vez, foi
o Municpio de Lisboa demarcado por uma linha de limites,
contnua e nitidamente definida atingindo uma rea
de 1278 hectares291. iluminao pblica a azeite do tempo
de Pina Manique292 sucede a de leo de purgueira [1842],
rapidamente substituda pela do gs [1848]. No final
do sculo [1880] surgiu a luz elctrica, sendo que os ltimos
candeeiros a gs do centro de Lisboa se apagaram perto
do Campo de Santana, j nos anos de 50 do sculo XX293.
O transporte pblico vulgarizou-se294 e a traco animal
sucessivamente substituda pela traco a vapor [1867],
pelo carro elctrico [1873] e no sculo XX pela motorizao.
A abertura da Avenida da Liberdade - por que tanto se
bateu o Vereador e depois Presidente da Cmara Rosa Arajo
- e da Av. 24 de Julho ajudam a expandir os horizontes
da cidade:
De 1755 ao final do Sculo XIX

Nesse tempo295, a praia de Lisboa estendia-se desde

Torre Belm [1855].

290

Inclua as reas de Alcntara, Prazeres, Campolide, So Sebastio da


Pedreira, Arco Cego, Arroios, Penha de Frana, Cruz da Pedra e Santa
Apolnia e, numa outra rea, a estrada militar da Ameixoeira, Lumiar,
Sete Rios e Chelas.
291
Vieira da Silva. Os Limites de Lisboa: Dispersos. vol. I, p. 61. Citado
por: FERREIRA, Vtor Matias. A Cidade de Lisboa. Lisboa, Publicaes
Dom Quixote, 1987, p. 80.
292
1780.
293
DIAS, Marina Tavares. Lisboa Desaparecida. Lisboa, Quimera, vol. 4,
1994, p. 151.
294
Em 1837 fundada a Companhia dos Transportes Pblicos de Lisboa.
295

Meados do sculo XIX.


305

Xabregas at Belm. O aspecto da rea que englobava


Alcntara e a Ribeira Nova no era famoso: estava coberta
de toldos e barraces, servia de vazadouro e, em vez de
areia, ensopava-se em lama296.
organizao da limpeza de Pina Manique sucede a do
Municpio de Lisboa, em meados do sculo XIX, sendo
assegurada por um grupo de serventurios [varredores
e carroceiros]. Percorrendo a cidade de ls-a-ls competia-lhes varrer as ruas durante a noite e retirar tanto os lixos
das habitaes como o estrume das cavalarias, conduzindo o lixo recolhido na cidade at ao Vazadouro. Assentando na fora humana e animal, a limpeza da cidade
estava organizada em sete distritos, cabendo a cada um
quatro giros.

Regulamento da
Administrao da
Limpeza do Municpio
de Lisboa, aprovado
em Dezembro 1855,
sendo a edilidade
presidida por
Damasceno Monteiro.

Em 3 de Dezembro de 1855, aprovado o Regulamento


da Administrao da Limpeza de Lisboa que vigorou at
que esta actividade passou a ser arrematada por uma
pessoa contratada para o efeito297.

De 1755 ao final do Sculo XIX

306

Em 1857 o governo props-se fazer desaparecer todas


as reas insalubres da capital. Ajardinaram-se as praas que
estavam quase transformadas em lixeiras []. O Parlamento destinou 800 contos maior obra de salubridade
pblica jamais feita em benefcio do povo de Lisboa:
o aterro das lamas da Boavista298 - a Avenida 24 de Julho.
296

DIAS, Marina Tavares. Lisboa Desaparecida. Lisboa, Quimera, vol. 3, 1992,


p. 121.
297
Por sua vez, o arrematante contratava, particularmente, diversos indivduos que, sob as suas ordens, executavam a limpeza da cidade.
298
DIAS, Marina Tavares. Lisboa Desaparecida. Lisboa, Quimera, vol. 3, 1992,
p. 127.APIT

Todavia, e segundo os registos da Exposio O Povo de


Lisboa299, no final do sculo XIX Lisboa era ainda uma
cidade suja, desordenada e malcheirosa. Encantava pela sua
beleza e pitoresco, mas decepcionava pelo aspecto catico
das suas ruas e o atraso em que vivia a populao. As
ruas estreitas e tortuosas dos bairros populares para onde
se lanavam detritos de toda a espcie, formando autnticas lixeiras, apresentavam-se esburacadas, com poas de
gua suja...

3.As Fases de uma Nova Modernidade


3.1. O Desenvolvimento da Cidade: Breves Notas
O final do sculo XIX marcado pela inaugurao da
Avenida da Liberdade:

At meados do sculo XX Lisboa caracteriza-se por um


continuum cidade-campo, acentuando-se algumas das linhas
de crescimento do centro para a periferia da urbe. So
Sebastio-Benfica, Campo Pequeno-Lumiar, Almirante ReisAreeiro, a que se vem juntar a frente ribeirinha301 [cuja
gesto passa a ser da responsabilidade da ento criada
Administrao do Porto de Lisboa] so, nessa altura, os principais eixos de expanso da cidade.
299

Exposio promovida pelo Municpio de Lisboa em 1978.


FERREIRA, Vtor Matias. A Cidade de Lisboa: de Capital do Imprio
a Centro da Metrpole. Lisboa, Dom Quixote, 1987, p. 85.
301
BARROS, M. Armanda. O desenvolvimento de Lisboa 1890 a 1940.
In: Revista Municipal, n. 71, p. 26-31. Citado por: FERREIRA, Vtor
Matias. A Cidade de Lisboa: de Capital do Imprio a Centro da
Metrpole. Lisboa, Dom Quixote, 1987, p. 86.
300

As fases de uma Nova Modernidade

A partir de ento, o centro histrico da cidade - a Baixa


Pombalina - deixa de ser a exclusiva componente urbana
centralizadora [] de todo o processo de urbanizao.
[] A cidade deixa de estar, assim, exclusivamente
virada para o seu umbigo pombalino, ao mesmo tempo
que as urbanizaes dispersas, situadas no exterior
daquele centro histrico, tendero a uma progressiva
integrao no conjunto urbano da cidade300.

307

Fotografia area
da Avenida Estados
Unidos da Amrica
e arredores [Alvalade],
1950-1959. Autor: Mrio
de Oliveira. AFL

Duarte Pacheco302 implementa uma poltica de expropriao


no concelho de Lisboa, aprova e/ou realiza projectos emblemticos para o Estado Novo [que pretendiam transformar
a cidade no centro do Imprio e do Mundo Portugus].
Enfim, marca o rosto da Lisboa da dcada de 40. Planta-se
o Parque Florestal de Monsanto - o pulmo da cidade,
so abertas novas vias de acesso303, so aprovadas novas
urbanizaes304 e inicia-se a construo de bairros sociais
na periferia da cidade [Boavista, Encarnao, etc.], a par
da edificao de novos equipamentos para a cidade305
e da inaugurao do Aeroporto de Lisboa.
A dcada de 50 coincide com a gnese da rea
Metropolitana de Lisboa306, cuja expanso para a Margem
Sul do Tejo facilitada pela inaugurao da Ponte sobre
o Tejo [1966].
A instalao de um regime democrtico em Portugal em
1974, o retorno de compatriotas das ex-colnias e a adeso
Unio Europeia influenciaram a dinmica de Lisboa no
302

As fases de uma Nova Modernidade

308

Presidente da Cmara Municipal de Lisboa entre 1938 e 1943, a par


da orientao do Ministrio das Obras Pblicas.
303
A Avenida de Ceuta em Alcntara e a Marginal e a auto-estrada para
o Estoril vias de acesso zona do Estoril.
304
Do Stio de Alvalade, da Encosta da Ajuda, da Encosta de Palhav e
da Estrada de Benfica e Circunvalao.
305
De que a Cidade Universitria e o Instituto Superior Tcnico so
exemplo.
306
De acordo com a Lei 10/2003 de 13 de Maio, actualmente a rea Metropolitana de Lisboa abrange os seguintes concelhos: Alcochete, Almada,
Amadora, Azambuja, Barreiro, Cascais, Lisboa, Loures, Mafra, Moita, Montijo,
Odivelas, Oeiras, Palmela, Seixal, Sesimbra, Setbal, Sintra e Vila Franca
de Xira. Para mais informao consultar: http://www.aml.pt [Setembro05].1
CCAPIT

Construo
da Ponte sobre o Tejo,
na dcada de 60,
do sc. XX.

ltimo quartel do sculo XX. Definitivamente, a cidade


assume-se como plo de concentrao de servios, o que,
a par da diminuio da populao residente e do aumento
da dos concelhos limtrofes, justifica um elevado nmero
de deslocaes dirias.
Sob o ponto de vista urbanstico assinalam-se alguns elementos que podem ajudar a compreender a organizao
da higiene e limpeza urbana de Lisboa neste final de sculo:
a densificao da malha urbana, pela criao de novas
reas residenciais [Lumiar, Charneca, Ameixoeira, Olivais, etc.];
a renovao urbanstica da zona oriental da cidade
motivada pela Exposio Mundial dos Oceanos em 1998;
a premncia da renovao urbana dos ncleos histricos
da Cidade [Alfama, Chiado, Bairro Alto, Madragoa, etc.];
a construo de novas reas de habitao social, que permitiu a demolio das construes degradadas instaladas
nos terrenos expectantes pertena da edilidade.
P

P

P

P

O aumento da rea construda da cidade de Lisboa e das


vias a percorrer, a transformao da estrutura econmica
e modos de vida da populao residente e flutuante determinou que os processos associados manuteno de nveis
aceitveis de salubridade na cidade sofressem uma grande
modificao durante o sculo XX. Por outro lado evoluram
mentalidades e por consequncia as exigncias de moradores
e governantes da urbe lisboeta.
Do binmio salubridade - sade pblica passou-se a uma
gesto tecnicamente orientada para a qualidade de vida

As Fases da Nova Modernidade

3.2. Salubridade, Limpeza e Resduos na Lisboa


do Sculo XX

309

na cidade e para a sustentabilidade ambiental incentivada


pelas directrizes da Unio Europeia307.

3.2.1. At ao PPLL308
No incio do sculo XX [1907], a Cmara Municipal de
Lisboa chamou a si, de novo, a organizao da limpeza

Varredor
varrendo a rua
em finais do sc. XIX,
incio do sc. XX. AFL

Trabalhador da Limpeza
a remover o lixo
depositado em caixas,
Rua dos Sapateiros
[incio sc. XX]. AFL
As fases de uma
Nova

Carrinhola do lixo, 1930


[Coleco Ferreira
da Cunha]. AFL
Modernidade

307
308

310

Ver captulo I e anexo A2.


Plano a Curto Prazo para o Lixo de Lisboa. 3

Nos anos 50, a frota automvel aumentou gradualmente


e os transportes hipomveis [que em 1951 totalizavam 65
309

Veculo de traco animal, com condutor. Em Lisboa estes veculos eram


utilizados para a recolha do lixo.

As Fases da Nova Modernidade

da cidade, integrando o pessoal que, at ento, executava


essa tarefa.
Nos arruamentos que permitiam a sua passagem, as carrinholas e carroas-pipa aliviavam o trabalho exclusivamente
manual. Os locais mais estreitos, eram limpos sem qualquer
meio auxiliar.
Por volta dos anos 20, e no sentido de verificar as solues
encontradas para o problema dos lixos nas cidades, os responsveis pela limpeza deslocaram-se a vrios Pases da
Europa Ocidental, donde resultou posteriormente a mecanizao da limpeza urbana. E foi assim que entraram em funcionamento os primeiros veculos de remoo motorizados.
Em meados dos anos 30, os Servios de Limpeza dispem
de 30 veculos automveis e 439 hipomveis309 e em 1939
adquirido o primeiro veculo automvel adaptado apanha de candeos. Os hipomveis continuaram a ser utilizados at finais dos anos 50 tendo coexistido com os
primeiros veculos motorizados na remoo e lavagem de
ruas, durante quase duas dcadas.
Nos anos da II Grande Guerra devido s restries no
fornecimento de combustveis e de todo o tipo de peas,
parte das viaturas motorizadas ficou imobilizada. Foi
necessrio recorrer ao gasognio para conseguir que funcionassem alguns dos veculos, bem como reactivar os
hipomveis que j no se encontravam em utilizao plena.
Nesses tempos difceis, alguns dos atrelados a traco
mecnica foram transformados em hipomveis. Por exemplo
um atrelado para recolha de lixo da marca Scammel de tapete rolante - foi adaptado traco animal, puxado
por trs cavalos.
A varredura das ruas da cidade era efectuada por
varredores, com o apoio de carros em ferro, empurrados
pelas acidentadas colinas da cidade. No Ps-Guerra foi
adoptado um novo modelo de carro de cantoneiro que,
por ser dotado de rodados pneumticos tornava este
equipamento muito mais leve e, consequentemente mais
ligeiro que os anteriores.

311

Cantoneiro na varredura
junto Igreja
de So Joo da Praa,
fachada principal.
Autor: Jos Artur
Leito Brcia. AFL
Cantoneiro de Limpeza,
1944 [Coleco
de Fardamentos].
Autor: Antnio
Passaporte. AFL

Balde. AFL

Carros de Remoo
de Lixo, 1939. Autor:
Antnio Passaporte. AFL

unidades] passaram a ser usados, no decurso desta dcada,


apenas no fornecimento de gua populao e na limpeza
de fossas e sarjetas.
Ainda em 1951310 com o objectivo de normalizar os procedimentos de deposio do lixo, foi finalmente adoptado

310

Dando provimento Postura de 15 de Agosto de 1939, aprovada durante


a presidncia de Duarte Pacheco.

312

Veculo para Transporte


de Lixo. Belm. 1959. AFL

o uso obrigatrio de recipientes metlicos, todos numerados


e registados [com 20 e 30 l de capacidade. Com esta medida
pretendia-se evitar que os lixos se espalhassem pela rua,
uma vez que contribuam para a propagao de doenas
como a clera, difteria e ttano.
No mesmo sentido, as autoridades impuseram outras normas
de higiene sancionando, por exemplo, cuspir no cho, sacudir
o tapete janela e deixar o lixo ao abandono.
Paralelamente, as actividades comerciais que aconteciam
em plena rua, como a venda de peixe, legumes, po, figos,
etc. passaram, tambm, a utilizar estes recipientes, o que
contribuiu para uma melhoria significativa do aspecto
e higiene das ruas de Lisboa.

Em finais dos anos 60 foram adquiridos os primeiros veculos de recolha de lixo do tipo rotativo e caixa de carga
bem como a primeira viatura equipada com elevador de
contentores.
Em 1967 foram admitidas pela primeira vez auxiliares
da limpeza e guardas de sentinas do sexo feminino, que
vieram reforar a mo-de-obra masculina. Em Dezembro de
1967 eram j 200 as mulheres afectas a estas actividades.
Em 8 de Agosto de 1966, deixou de actuar a ltima viatura
hipomvel utilizada na recolha de lixo.

As fases da Nova Modernidade

Em 1959, os Servios de Limpeza possuam quatro estaes


centrais de apoio actividade dos Servios de Salubridade
e a cidade estava dividida em 12 Postos de Limpeza. Por
esta altura, o nmero de funcionrios a recolher o lixo,
varrer e lavar as ruas de Lisboa era j de, aproximadamente, 1430.

313

No incio dos anos 70 fez-se um grande esforo de modernizao da frota de apoio limpeza urbana, tendo sido
adquiridas viaturas de remoo com capacidades que
variavam entre os 6 e os 14 m3, as primeiras mquinas
de varrer de pequena dimenso e tambm viaturas para
desobstruo de colectores.

3.2.2. O Plano a Curto Prazo para o Lixo de Lisboa


Em 1976, a estrutura responsvel pela limpeza na cidade
- Direco dos Servios de Salubridade e Transportes [DSST],
deu incio a vrios estudos orientados para a criao
de um sistema integrado para os lixos de Lisboa.
Tais estudos conduziram aprovao do Projecto de Plano
a Curto Prazo para o Lixo de Lisboa [PPLL] entre 1978
e 1980, com o objectivo de responder ao problema a curto
e mdio prazo atravs da recolha hermtica dos lixos.
A implementao do PPLL levou reestruturao dos servios, renovao das instalaes [foram vrios os Postos
de Limpeza reconstrudos], dos equipamentos, reformulao dos circuitos de varredura e de lavagem e formao
especializada do pessoal, para alm da sensibilizao
populao da cidade de Lisboa.
Como resultado da adopo do novo sistema hermtico
de remoo de lixos, a cidade passa a dispor de novos
contentores para as habitaes e papeleiras nas ruas para
a deposio de papis e pequenos lixos.

As fases de uma Nova Modernidade

314

A prossecuo dos objectivos do PPLL dependia da colaborao dos funcionrios envolvidos na implementao
do projecto, da colaborao da populao, tendo sido por
isso imprescindvel o desenvolvimento de programas de educao sanitria a acompanhar esta grande reestruturao
da Cidade. Sob o mote Lisboa Cidade Limpa desenvolveram-se vrios programas articulando os aspectos tcnicos
e funcionais com a sensibilizao aos funcionrios, populao em geral e populao escolar.
Ao nvel dos funcionrios, estas aces tinham por objectivo
a sua consciencializao para a sade pblica no trabalho.
Pretendia-se, por outro lado, informar e sensibilizar a populao para o cumprimento das normas correctas de deposio e acondicionamento do lixo domstico nos contentores

311

e papeleiras, de forma
a tornar Lisboa uma cidade mais limpa. Ensinar
hbitos de higiene e salubridade era o objectivo
prosseguido junto da populao escolar.311

Novos Equipamentos
de Recolha de Lixo.
Acompanhamento
do Presidente CML
Nuno Krus Abecasis.
Autor: Artur Gonalves.
PPLL

Materiais de Sensibilizao
para a populao em geral
e pblico escolar.

Ver anexo A4.31


315

3.2.3. O Destino dos Lixos da Cidade de Lisboa


Durante grande parte do sc. XX, mais precisamente at
meados da dcada de 60, os lixos produzidos na cidade
de Lisboa eram transportados para a Margem Sul do rio
Tejo, para serem aproveitados no melhoramento dos terrenos agrcolas, como fertilizantes. Os lixos eram levados
pelos veculos motorizados e hipomveis at aos bateles
[ao servio do arrematante] e faziam a travessia at um
ancoradouro na margem esquerda do rio.

Descarga de lixo. AFL

Nos dias de temporal nem os veculos motorizados nem


os hipomveis conseguiam descarregar o lixo, sendo necessrio recorrer a vazadouros de emergncia terrestres, criados
para o efeito. Ao longo dos anos tiveram vrias localizaes: Quinta da Musgueira, em 1939; Quinta das Areias,
Rotunda do Aeroporto, em 1960; Quinta da Lobeira,
ao Lumiar, em 1962.

As fases de uma Nova Modernidade

316

A partir de 1 de Janeiro de 1963, a totalidade dos lixos


produzidos na cidade comeou a ser depositada nesta
Quinta. Entre 1 de Janeiro de 1963 e 31 de Dez. de 1965,
a Federao dos Grmios da Lavoura da Provncia da Estremadura passa a ser a entidade adquirente dos lixos,
tendo tambm como objectivo a organizao de um novo
vazadouro na Quinta da Barroca, em Odivelas. Por falta
de anuncia do Municpio de Loures, aquela estrutura nunca
se concretizou, pelo que os lixos continuaram a ser colocados na Quinta da Lobeira at que, em princpios de Agosto
de 1963, passaram a ser encaminhados para o Casal da
Boba na Amadora.
Contudo, desde os anos 50 que se equacionava a construo
de uma central para o tratamento biolgico dos resduos,
cuja edificao teve incio em 1969 - Estao de Tratamento de Lixos de Lisboa [ETLL]. A unidade entrou em
funcionamento em 1973 e possua uma capacidade de tra-

tamento de 600 t/d312, transformando a fraco orgnica


dos resduos em correctivo de solos para aplicao na
agricultura. Em 1986 a capacidade de tratamento desta
instalao - ora designada Estao de Tratamento de Resduos Slidos, ETRS - foi alargada para 1050 t/d.
Os resduos no aproveitados nesta unidade eram depositados no Aterro de Beirolas, situado em terreno contguo.
Esgotada a sua capacidade, a Cmara Municipal de Lisboa
[CML] investiu na construo de um novo aterro sanitrio,
situado no Vale do Forno, o qual entrou em funcionamento
em 1989, dotado de modernas infra-estruturas, com impermeabilizao dos terrenos, recolha e tratamento de efluentes
lquidos e gasosos.

A ETRS foi encerrada na segunda metade dos anos 90


devido EXPO 98, a qual se realizou na zona oriental da
cidade, exactamente nos terrenos ocupados por esta estao.
A partir de 1994, com a criao da Valorsul, S.A.313, d-se
um passo de grande alcance no tratamento e destino final
dos resduos produzidos na rea metropolitana de Lisboa
Norte [Amadora, Lisboa, Loures, Odivelas e Vila Franca de
Xira]. Aquela empresa fica responsvel pela construo
e gesto de todas as instalaes necessrias explorao
deste sistema, tcnica e ambientalmente avanado, o qual
inclui as seguintes unidades:
CTRSU - Central de Tratamento de Resduos Slidos
Urbanos [em So Joo da Talha]314.

Estao de Tratamento
de Resduos Slidos,
em Beirolas.

312

Toneladas por dia.1


Sociedade concessionria responsvel pela gesto integrada dos resduos slidos urbanos da rea metropolitana de Lisboa Norte [ver: Captulo I].
314
Destinada incinerao dos resduos slidos urbanos, iniciou a sua
actividade em 2000.
313

As fases da Nova Modernidade

P

317

CTE - Centro de Triagem e Ecocentro - Vale do Forno


[Lisboa]315.
AS - Aterro Sanitrio de Mato da Cruz [Vila Franca
de Xira]316.
ITVE - Instalao de Tratamento e Valorizao de Escrias
[Vila Franca de Xira]317.
ETVO - Estao de Tratamento e Valorizao Orgnica
[Amadora]318.

P

P

P

P

3.2.4. A Recolha Selectiva

As fases de uma Nova Modernidade

Acompanhando as tendncias do desenvolvimento social


e econmico do Pas, o final dos anos oitenta e, sobretudo toda a dcada de 90, so marcados por novas formas
de consumo que provocaram alteraes na composio
e quantidade de resduos produzidos na cidade de Lisboa319.
A par do que j acontecia noutros pases320 e acompanhando as solues tcnicas e as directrizes emanadas da
Unio Europeia enceta-se a implementao de solues
dirigidas deposio selectiva de resduos, com a adopo
das tcnicas determinadas pela evoluo do conhecimento
cientfico e prtica dos lisboetas.

Recolha de Ecopontos.
315

Unidades que permitem, respectivamente, a separao selectiva dos resduos slidos urbanos recolhidos nos 5 concelhos que integram a Valorsul
e a recepo de resduos. A sua actividade iniciou-se em 2002.
316
Iniciou actividade em 1998.
317
Esta unidade recepciona e trata as escrias da CTRSU, tendo sido inaugurada em 2000.
318
Entrou em funcionamento em Fevereiro de 2005.
319
Ver anexos A1 e B2.
320
Ver captulo I.
318

Entre 1988 e 1989, inicia-se em Lisboa a recolha selectiva


de vidro para reciclagem, atravs da colocao de vidres
[do tipo igloo] na via pblica. Em 1993, foi lanada
a primeira campanha para a reciclagem do papel, em
simultneo com a abertura de 40 Centros de Recepo
de Papel. Deu-se incio recolha porta-a-porta de papel
na rea de Telheiras e no eixo da Baixa Pombalina - com
enfoque na participao das empresas, servios da CML
e Escolas, para alm da populao em geral.
Em 1997 so instalados ecopontos na cidade, atingindo-se
em 1999 um universo de 990 unidades. Entre 1997 e 2000
foram recolhidas para reciclagem 2516 toneladas de resduos de embalagens de plstico, metal e carto para
lquidos alimentares; 20796 toneladas de vidro e 30629
de papel/carto.
Em 2003 iniciaram-se as recolhas selectivas porta-a-porta
em locais da cidade onde a morfologia urbana e o tipo
de edificado o permitiam, facto que contribuiu para o
aumento dos quantitativos de resduos entregues para
reciclagem, a que esteve associada uma forte componente
de sensibilizao.

3.2.5. O Normativo de Enquadramento

Com a publicao do Decreto-Lei n. 488/85, de 25 de Novembro foi definido pela 1. vez em Portugal o quadro
jurdico da gesto dos resduos, sendo cometido de forma
clara s autarquias um papel na gesto dos resduos
produzidos.
Em Lisboa a actividade do municpio nesta rea enquadrada desde 1979 pelo Regulamento de Resduos Slidos da Cidade. Este normativo camarrio compila, luz
da legislao em vigor, as normas orientativas da aco
dos servios.

As fases de uma Nova Modernidade

Sob o ponto de vista legal, a interveno da Cmara


Municipal na rea da higiene e salubridade pblica
enquadrada pela legislao geral. Assim, na Lei 100/84
de 23 de Maro, de forma clara ficou estabelecido que
compete s autarquias, no mbito do seu funcionamento
e servio [alnea h], n. 4, artigo 51.] Deliberar sobre
a deambulao de animais nocivos, especialmente ces vadios, e sobre a construo do canil municipal.

319

Vrias edies
do Regulamento
de Resduos Slidos
da Cidade

Ao longo dos anos foram publicadas diversas edies,


a ltima das quais em 2004321, introduzindo acertos luz
da nova legislao publicada e aperfeioamentos que a experincia e a aplicao prtica dos anteriores demonstrou como
necessrios.
As fases de uma Nova Modernidade

Este documento suporta a actividade fiscalizadora do municpio nesta rea, tendo justificado a constituio de um
grupo especializado em 1998322.

3.3. Sensibilizao Sanitria e Ambiental


implementao do PPLL em
Lisboa esteve estreitamente associado o desenvolvimento de estratgias informativas e de sensibilizao que procuravam motivar
os moradores e utentes da cidade
para o uso dos novos equipamentos, divulgando argumentos de
higiene e sade pblica associados introduo da remoo
hermtica dos lixos domsticos
produzidos e controlo das con-

Folheto de campanha,
1997-1998.

321

Deliberao n64/AM/98. In: Boletim Municipal, n. 241 de 1 de Outubro de


1998. Disponvel para consulta no site da CML: http://www.cm-llisboa.pt
[Setembro05].
322
A aco do Gabinete de Fiscalizao foi reconhecida como exemplar,
tendo-lhe sido atribudo o Prmio Nacional de Excelncia Autrquica 1999.
320

323

Ver anexo A5.


Este Gabinete foi reconhecido como entidade com Boas Prticas de Modernizao Administrativa Autrquica, em 2003, 2004 e 2005.
325
Ver captulo 3.
324

Sensibilizao Sanitria e Ambiental

dies higio-sanitrias. Marketing social nos variados rgos


de imprensa, contacto com moradores e utentes da cidade,
assim como a realizao de aces de sensibilizao junto
ao pblico escolar323, foram os meios privilegiados para
atingir aquele desiderato, a par da criao de uma valncia vocacionada para o atendimento dos muncipes - Gabinete de Relaes Pblicas324.
A reestruturao dos servios camarrios de 1992 contempla no Departamento de Higiene Urbana e Resduos
Slidos uma estrutura cuja principal
misso a informao, sensibilizao
e educao ambiental na rea dos
resduos, respondendo, desta forma,
s preocupaes emanadas da Conferncia do Rio em 1992 e, em particular, s orientaes
expressas no documento da Agenda 21325.

Materiais de campanhas
de divulgao [cartazes,
agenda e folhetos],
1998-2005.

321

Materiais Didcticos:
programa Lisboa Limpa
Tem Outra Pinta,
1997-1998.
programa Escola a Escola,
Pr-Ambiente,
2002-2003.

As fases de uma Nova Modernidade

A aposta na formao de novas geraes , a partir de 1993,


um dos principais enfoques concretizado em programas
que se desenvolvem de forma continuada nos estabelecimentos do ensino bsico oficial da cidade de Lisboa:
os programas Lisboa Limpa Tem Outra Pinta326 e Escola
a Escola, Pr-Ambiente327.
Ao longo dos anos, estes programas incluem a produo
e distribuio de materiais pedaggicos, actividades ldico-didcticas328 [jogos de animao, peas de teatro,],
visitas de estudo, distinguindo-se pela continuidade e envolvimento da comunidade escolar.

Equipas de Interveno Local:


jovens das comunidades
locais na sensibilizao
porta-a-porta.

326

Iniciado no ano lectivo de 1993-1994, dirigida ao 1. ciclo e alargado


aos Jardins de Infncia em 1998-1999. [Ver anexo A5].
327
Iniciou-se no ano lectivo de 1997-98 tendo como pblico alvo prioritrio as escolas do 2., 3.ciclos do ensino oficial, apoiando igualmente
iniciativas de estabelecimentos oficiais e particulares de ensino
secundrio e tcnico-profissional. [Ver anexo A5].
328
Ver anexo B3 - Actividades ldico-didcticas: animao com grupos;
anexo B4 - Actividades Ldico-Didcticas: visitas de estudo; anexo B5 Actividades Ldico-Didcticas: ateliers de reutilizao de materiais.
322

Trabalho nas
comunidades locais:
actividade
de animao,
Ambiente sem Fronteiras.

Os problemas ambientais e a conscincia ecolgica

Ver Anexo A5.


Ver Anexo A5.

Programa Lisboa Limpa


Tem Outra Pinta:
Jogo ldico-didctico
com crianas.

330

329

Os princpios de aco pensar global, agir local sustentam


a participao de lderes e comunidades, desde 1996, no
desenvolvimento de projectos em zonas histricas do concelho
e reas residenciais de construo apoiada, motivadas pela
alterao do sistema de remoo de resduos da cidade329,
numa estratgia que se pretende de continuidade.
A estratgia de interveno assenta nas metodologias do
Marketing Social no sentido de convocar os cidados para
a adopo de comportamentos mais consentneos e cooperantes com a construo de um melhor ambiente na
cidade330.

Programa Escola a Escola,


Pr-Ambiente:
Visita de estudo
Estao de Triagem
da Valorsul.

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Ficha T cnica
EDIO

Cmara Municipal de Lisboa | Direco Municipal de Ambiente


Urbano | Departamento de Higiene Urbana e Resduos Slidos
| Diviso de Sensibilizao e Educao Sanitria

COORDENAO DA EDIO P Antnio Trindade


COORDENAO P Verssimo Pires | Alcinda Barata
SUPERVISO CIENTFICA P Fernando Louro Alves
SUPERVISO TCNICA P Carla Tamagnini | Rita Lucas [Ambiente e Resduos
Slidos] | Augusto Baptista [Animais em Meio Urbano]
REDACO

Alcinda Barata | Augusto Baptista | Carla Tamagnini | Carla


Teixeira | Domingos Ferreira | Elisabete Andrade | Helena Grosso
| Sandra Balau | Sandra Teixeira Sousa | Virglia Encarnao

COLABORADORES

Ana Dias | Augusta Figueiredo | Cndida Ferreira


Carolina Ferreira | Carlos Carola | Carlos Ferreira
| Cristina Pinto | Eduardo Cruz | Ftima Mendes
| Ftima Rodrigues | Filipe Sousa | Franscisco Raposo
| Gentil Rocha | Glria Silva | Ins Cristovo | Joo Cruz
| Jos Carlos Lopes | Lusa Costa Gomes | Marta Mouro
| Patrcia Rodrigues | Paulo Cuia | Sandra Nobre
| Slvia Regageles | Sofia Vieira | Sofia Vitria | Tiago Paiva
e Pona
|

PRODUO VDEO E FOTOGRAFIA


|

APLICAO INFORMTICA

Armindo Ribeiro | Jorge Ramalho


Nuno Morais | Amrico Simas
Humberto Mouco | Lus Ponte

Lus Vaz | Philip Almeida | Paulo Bastos

PAGINAO E CONCEPO DE IMAGEM P Isilda Marcelino


SECRETARIADO P Ftima Silva | Joo Diogo
TIRAGEM P 1000 exemplares
ANO P 2007
DEPSITO LEGAL P 241287/06
P

Cmara Municipal de Lisboa


Imprensa Municipal

AGRADECIMENTOS
Os nossos agradecimentos Dr. Paula Levy pela disponibilidade e interesse,
assim como o apoio do Arquivo Fotogrfico.
A colaborao e o empenhamento da Diviso de Imprensa Municipal
e Diviso de Novas Tecnologias.

Ficha Tcnica

FOTOLITO, IMPRESSO E ACABAMENTO

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