Anos 30 - Jaqueline Santos

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Jaqueline Santos da Silva

Anos 30
Contexto Mundial
A quebra da Bolsa de Valores de
Nova York, em outubro de 1929, e a
falncia do banco austraco CreditAnstalt, em maio de 1931, deram
incio a um pnico finaceiro e a uma
depresso econmica mundiais. O
ruidoso aperto no crdito causou
desemprego e bancarrotas
internacionais: 12 milhes de
desempregados em 1932 nos
Estados Unidos, 5,6 milhes na
Alemanha, 2,7 milhes na Inglaterra.
Os governos reagiram com restries
tarifrias, que enfraqueceram o
comrcio mundial.

Na Alemanha, anos de agitao


causados por extremistas violentos
foram interrompidos pela Depresso. O
lder nazista Hitler foi nomeado
chanceler pelo presidente Hindenburg
em janeiro de 1933, e em maro o
Reichstag concedeu-lhe poder
ditatorial. Os partidos de oposio
foram desmantelados, as greves
proibidas, e todos os aspectos da vida
econmica, cultural e religiosa
dominados pelo governo central e pelo
partido nazista e manipulados por uma
sofisticada propaganda. Teve incio uma
implacvel perseguio aos judeus.

Obras pblicas, um
recrutamento renovado,
produo de armas e um
plano de 4 anos quase
acabaram com o
desemprego.
O expansionismo de Hitler
comeou com a
reincorporao do Sarre,
ocupao da Renncia e a
anexao da ustria. Em
Munique, em setembro
de1938, uma hesitante
Inglaterra e a Frana
sancionaram o
desmembramento alemo
da Tchecoslovquia.

J na Rssia a urbanizao e a
educao avanavam. A rpida
industrializao foi conquistada por
meio de sucessivos planos de 5
anos que tiveram incio em 1928,
usando rigorosa disciplina no
trabalho e trabalhos forados em
massa. A indstria foi financiada por
um declnio no padro de vida e na
explorao da agricultura, que foi
quase totalmente coletivizada no
comeo da dcada de 30.
Expurgos sucessivos realaram o
papel dos profissionais e da
administrao custa dos
trabalhadores.

Milhes sucumbiram numa srie de desastres


calculados: eliminao dos kulaks,
perseguio e execuo de polticos da
oposio, supresso de nacionalidades e
precrias condies nos campos de trabalhos
forados.
Aps todos os seus opositores na poltica serem
anulados, Stalin passou a perseguir o Exrcito
Vermelho, A tropa criada por Trotsky para
fortalecer a Revoluo era agora uma
potencial fonte de intrigas dentro do pas, e o
ditador sovitico raciocinava que quaisquer
conspiraes destinadas a derrub-lo
passariam, direta ou indiretamente, por eles. Ao
fim do expurgo, o alto comando do Exrcito
Vermelho estava dilacerado, carente de oficiais
competentes para comandar a defesa da
URSS contra a Wehrmacht de Adolf Hitler.

Poster do Exrcito Vermelho, 1935

Na Espanha, uma revoluo industrial durante a Primeira Guerra Mundial


criou um proletariado urbano que foi atrado pelo socialismo e pelo
anarquismo; os nacionalistas catales ameaavam a autoridade central.
Os 5 anos aps o rei Afonso ter deixado a Espanha, em abril de 1931,
foram dominados e clrigos, monarquistas e outros direitistas.
As Rebelies anarquistas e comunistas foram esmagadas, mas em julho
de 1936, uma rebelio de extrema direita comandada pelo general
Francisco Franco e apoiada pela Alemanha nazista e pela Itlia Fascista
foi bem sucedida, aps uma guerra civil que durou 3 anos, com mais de
um milho de mortas em batalhas e atrocidades.

Guernica,
Pablo Picasso

A Itlia liderada por Benedito


Mussolini, apesar da
propaganda pelo ideal do
Estado Corporativo, poucas
reformas internas foram
experimentadas. Um
entendimento com a Hungria
e a ustria em maro de
1934, um pacto com a
Alemanha e o Japo em
novembro de 1937 e a
interveno de 75 mil
soldados na Espanha entre os
anos de 1936 e 1939 selaram
a identificao da Itlia com
o bloco fascista, leis antisemitas foram promulgadas
em maro de 1938.

Benedito Mussolini discursando


em Milo, 1930.

Anos 30
Moda
Os reflexos da crise se estenderam a
moda. Com a falta de dinheiro no
mercado, os costureiros tiveram de
se adaptar, criando modelos menos
exuberantes e mais sbrios, porm
de formas mais elegantes.
Em Paris a alta-costura sofreu muito
devido a crise, muitos profissionais
perderam seus empregos. Os
preos tiveram de ser cortados. A
maison Chanel teve seus preos
reduzidos pela metade.

Sobre a crise econmica mundial que


assolava a moda, Paul Poiret declarou a
revista Heim:
A costura est morrendo justamente
porque passou a gastar demais. o fim
dos lacaios agaloados na recepo. O
fim dos tapetes por toda parte, das
tapearias nas paredes, das vitrines
suntuosas. O fim dos inmeros
funcionrios. O fim das colees de
quatrocentos modelos com peles
carssimas. O fim do conjuntinho repetido
1500 vezes. O fim daslojas de aluguis
altssimos na Champs-lyses.

A moda teve que procurar


alternativas para enfrentar a
crise, alm de baixar seus
preos, foram utilizados tecidos
mais simples em suas criaes.
Os bordados da dcada anterior
foram abandonados, o atelier
Lessage que era referncia nesse
quesito, substituiu os vidrilhos e
missangas por tecidos
estampados.
Apesar de todos esses reveses
novas maisons surgiram, como a
Alix Barton, em 1933, Jacques
Fath e Jean Desss em 1937.
Alix Barton, 1935

As saias ficaram mais longas e os


cabelos comearam a crescer. Os
vestidos eram justos e retos, alm
de possurem uma pequena capa
ou um bolero, tambm bastante
usado na poca. Em tempos de
crise, materiais mais baratos
passaram a ser usados em vestidos
de noite, como o algodo e a
casimira.
As costas passaram a ser o foco
das atenes, com decotes
profundos e sensuais. Alguns
pesquisadores acreditam que foi a
evoluo dos trajes de banho a
grande inspirao para tais roupas
decotadas.

Embora a silhueta da
moda fosse mais cheia,
uma linha esguia ainda era
desejvel. Como na
dcada de 20,
comerciantes de banhos
de espuma redutores de
peso e de tratamentos
eltricos de moldagem de
silhueta prometiam
resultados miraculosos,
assim como faziam os
fabricantes de vrias plulas
e preparados. A mulher
dessa poca devia ser
magra, bronzeada e
esportiva.

June Clyde, toma banho de sol se protegendo de


queimaduras com papel celofane,
em 1932.

Alguns modelos novos de


roupas surgiram com a
popularizao da prtica de
esportes, como o short, que
surgiu a partir do uso da
bicicleta. Os estilistas
tambm criaram pares
estampados, mais e
suteres. Um acessrio que
se tornou moda nos anos 30
foram os culos escuros. Eles
eram muito usados pelos
astros do cinema e da
msica.
Duas mulheres passeiam usando shorts em 1937,
Marlene Dietrich em 1938 e capa da Vogue de 1939.

A sociedade dos anos


30 valorizava muito
esportes, a vida ao ar
livre e os banhos de sol.
Os mais abastados
procuravam lugares
beira-mar para passar
perodos de frias.
Seguindo as exigncias
das atividades
esportivas, os saiotes de
praia diminuram, as
cavas aumentaram e
os decotes chegaram
at a cintura, assim
como alguns modelos
de vestidos de noite.

As sedas, ls e linhos
continuaram a ser os tecidos
da moda mais exclusivos. As
peles eram usadas
extensamente para fazer e
ornamentar trajes, com
peles mais achatadas para
trajes de dia e as de pelo
mais longo para a noite.
A qualidade do rayon
melhorou muito na poca,
mas mesmo com toda a
propaganda para eleg-lo
como to bom quanto ou
at mesmo melhor que a
seda, ainda assim a seda
continuou em alta.

A introduo de tecidos
mais informais nos trajes de
noite foi um enunciado da
moda radical, alm de
econmico. Chanel foi
convidada a ir a Londres
para promover uma
tecelagem de algodo.
Criando uma coleo de 35
vestidos de noite em piqu
de algodo, combraia,
musselina e organdi.

Cartela de tecidos da maison Chanel


para sua coleo de 1935

Os fabricantes inovadores
continuaram a trabalhar
intimamente com os
costureiro para criar
tecidos de alta-costura
nicos.
Para Schiaparelli,
Colcombet produziu, em
1934, um cetim de
plissado permanente que
lembrava casca de
rvore, alm de edies
limitadas de estampas
novas, como as de seu
modelo com partitura
musical, de 1937.

O rhodophane, material
semelhante ao vidro, feito
de celofane e outros
sintticos, foi desenvolvido
por Colcombet na dcada
de 1920, mas s se tornou
notcia na moda em 1934,
quando a ousada cliente
americana de Schiaparelli, a
sra. Harisson Williams, usou
uma tnica de rhodophane
cor-de-rosa sobre um
vestido de tafet.

Aps anos de achatamento dos


seios, os corpetes de busto foram
substitudos por sutis moldados. As
cinturas eram controladas e
enfatizadas por espartilhos armados
e amarrados levemente ou por
roupas de baixo elsticas, tornadas
possveis pelo novo fio americano de
borracha elstica, o lstex (mais
tarde conhecido como ltex),
introduzido em 1930. Cintas
graciosas, de corte enviesado e
combinaes em tom pastel, em
seda ou rayon, mais barato, com
bordados e inseres de renda,
eram muito populares.

O influncia de Hollywood
O vesturio era muito importante para o
sucesso de um filme e vastas somas em
dinheiro eram gastas nos guarda-roupas
das atrizes. Os estilistas aproveitavam a
oportunidade para criar modas usveis
e lucrativas, inspiradas em filmes.
Por muito tempo os figurinistas de
Hollywood adaptavam a moda de Paris,
mas quando as bainhas desceram eles
foram pegos de surpresa,
transformando muitos rolos de filme em
antiquados e obsoletos. Para impedir a
repetio deste custoso episdio,
dezenas de estilistas eram enviados
para Hollywood para transmitir aos
estdios as ltimas tendncias.
Carole Lombard, 1930

A soluo de Samuel Goldwyn parecia


ainda melhor: convidar um costureiro
parisiense de renome mundial para
criar os figurinos. A escolhida foi
Chanel, pois acretivam que seus
modelos clssicos seriam moda por
muito tempo. A estilista aceitou a
avassaladora oferta de 1milho de
dlares por ano para desenhar o
guarda-roupa, para dentro e fora das
telas, dos principais artistas da MGM.
Greta Garbo, Gloria Swanson e
Marlene Dietrich receberam as novas
peas da estilista. Porm Chanel
trabalhou em apenas trs filmes, seu
figurino foi muito criticado por ser muito
discreto.

Palmy Days, 1931

Vrios estilistas internacionais


trabalharam em Hollywood, com
graus variveis de sucesso, mas
tornou-se cada vez mais evidente
que a criao de trajes de filmes
requeriam habilidades diferentes.
Os estdios passarama a valorizar
seus prprios talentos, pois esses
estilistas tinham o conhecimento
para criar figurinos que se
ajustassem melhor a trama e a
personalidade dos personagens,
e com o sucesso dos filmes,
estabelecendo novas tendncias
ou endossando as j existentes.
Adrian, figurinista da MGM

Talvez o mais famoso figurino da


poca seja o vestido branco com
mangas de babados, criado por
Adrian para Joan Crawford, no
filme de 1932, Letty Lynton. A
Macys, loja de departamento de
Nova York, vendeu meio milho
de cpias dele. Muitos atribuem a
esse modelo, que enfatizava os
ombros naturalmente largo de
Joan, a moda das ombreiras e
dos ombros marcados na poca.

Joan Crawford, em Letty Lynton


no ano de 1932

As vezes Hollywood conseguia ficar a frente dos estilistas. Em 1933, Travis


Banton desenhou para Marlene Dietrich conjuntos de casaco e cala
com ombros largos e ombreiras, que eram, simultaneamente,
masculinos e femininos. Foi muito admirado, mas s foi fazer sucesso
mesmo em 1966 quando foi criado o le smoking por Yves Saint Laurent.

Ao perceberem a potencial de
vendas de roupas inspiradas nos
figurinos de Hollywood surgiram
muitas empresas especalizadas
nesse ramo, como a Studio Style e
a Miss Hollywood. Eram vendidos
em toda Amrica do Norte e
Europam podiam ser encontrados
em lojas de departamentos ou por
encomenda postal, alm de
revistas com moldes para costurar
as peas em casa.
Para muitas mulheres sem
condies de comprarem essas
roupas, usar a maquiagem ou o
cabelo como das estrelas.

Noivas
A principal influncia para os
modelos de vestidos de
noiva da dcada de 30
eram as estrelas de cinema.
Seus figurinos eram
adaptados para as noivas.
Tambm foi na dcada de
30 que se consolidou o uso
de vestidos brancos para
noivas, isso no era uma
ideia nova, pois a Rainha
Vitria j havia usado um,
mas a partir dos anos 30 os
estilistas comearam a
produzir vestidos
especificamente para
noivas.

Noivas

Acessrios
Os acessrios serviam para atualizar e
para acrescentar distino a trajes
muitas vezes simples e versteis. Os
chapus ainda eram comuns para o
uso fora de casa e os estilos eram
diversos: boina, chapu de marinheiro,
tricornes e toques. Em 1936 a
chapelaria chegou a novos e
dramticos limites, e os modelos mais
extremos refletiam a influncia do
surrealismo.

A medida que a cintura voltava a ser o


foco da ateno da moda, os cintos
tornaram-se acessrios importantes,
muitas vezes produzidos de maneira
que combinasse com o traje e, com
fechos ou fivelas de metal com pedras
ou de plstico brilhante.

Com a crise financeira, os


fabricantes de bolsa passaram a usar
materiais mais baratos como o
plstico Bakelite, que dava o efeito
rgido e cintilante.
As bolsas eram pequenas e
arrematadas por fechos de metal,
algumas fabricadas com o mesmo
tecido dos vestidos.
No comeo dos anos 30, as bolsas
mantiveram um tamanho pequeno,
sem muita ornamentao, mas no
final da dcada, gradualmente
foram ficando largas e mais
sofisticadas, fabricadas com diversos
tipos de couro como o de cobra,
crocodilo, jacar, bezerro, leo
marinho, entre outros.

Com o advento dos beauty cases (estojos de beleza) em verses


sofisticadas. Em consequncia a esta nova tendncia, em 1935 os
espaos internos das bolsas passaram a ser mais funcionais com
compartimentos para maquiagem que vinham com espelho, porta
batom e compartimento para dinheiro.

Na dcada de 30, Florence Jay Gould, uma cliente da joalheria Van


Cleef, usou uma cigarreira como bolsa, o que inspirou Charles Arpels a
criar uma caixa retangular, feita de metal, com compartimentos para
maquiagem e cigarros, que passou a ser conhecida como minaudire.
A palavra, em francs, significa dengosa e a nova bolsa de mo foi
batizada com esse nome em homenagem a Estelle Arpels, esposa de
Alfred Van Cleef, fundador da Joalheria.

Joalheria

Acessrios
Sandlias de tira, com salto alto, eram
usadas com vestidos de noite e muitas
vezes eram feitos de tecidos e couros
que combinando com a cor do
vestido. Sapatos com tiras traseiras no
tornozelo estavam na moda e os
modelos com biqueira aberta foram
introduzidos por volta de 1931.

Credita-se ao
desenhista
francs Roger
Vivier a criao
dos primeiros
saltosplataforma, em
meados da
dcada, j em
1936, o
inovador
sapateiro
italiano
Salvatore
Ferragamo criou
o salto em
cunha original.

Modelos de Salvatore Ferragamo na dcada de 30.

Moda masculina
A moda masculina no era to
influenciada por estrelas de cinema
como a feminina, mas muitos
homens buscavam referencias em
astros como Ronald Colman, Cary
Grant e Gary Cooper. A influncia
de polticos e personalidades
tambm era muito forte, como o o
antigo prncipe de Gales, coroado
Eduardo VIII em 1936 e abdicando
no mesmo ano, com seu estilo
ousado e amor por cores vivas,
texturas e padres audaciosos,
especialmente em roupas
esportivas.

Eduardo VIII foi responsvel pela


popularizao de vrios artigos
masculinos, como a cala com
braguilha com zper e cinto ao estilo
americano. Seus palets eram
comprados na famosa rua de alfaiates
em Londres, Savile Row.
Por toda sua vida, suas calas tiveram o
mesmo corte, com cs reto, bolsos
laterai e pregas.

Os modelos masculinos para o


vero e frias tornaram-se mais
relaxados, especialmente por
influncia americana.
A sociedade da moda reuniase em Palm Beach, Monte
Carlo, Canes entre outros
lugares, os adptos do sol
preferiam blazers, combinando
com calas ou shorts de linho,
de corte folgado. Camisas
plo, esportivas, tambm
marcaram a mudana na
moda masculina. Os estilos de
chapus mais populares eram
o trilby e o fedora.

Time de volei, em 1935.

Jovens danam na praia em 1938

Para ocasies formais, os homens


continuaram a usar ternos,
geralmente em cores escuras, com
camisa e gravata. Como as modas
femininas, o vesturio masculino
exagerava o fsico, para criar uma
aparncia forte e atltica. O palet
da moda tinha ombros largos e um
bolso no peito, era cinturado e
razoavelmente justo nos quadris,
podia ser trespassado ou no,
embora a forma trespassada fosse
particularmente preferida. O colete
era cuto, com seis botes e
abertura em V. As calas tinham
cintura alta e corte folgado, com
pregas duplas e barra italiana, e
eram sustentadas por suspensrios.

Anos 30 no Brasil

At o comeo da dcada de 30, a


Repblica Velha vigorava no Brasil.
O presidente da poca, Washington Luis
deveria indicar um mineiro para o cargo,
porm apoiou Jlio Prestes, o que causou a
conhecida revolta armada. A situao ficou
ainda mais crtica quando o vice-presidente
de Getlio Vargas, Joo Pessoa foi
assassinado no Recife, Pernambuco.
No final do mesmo anos, com a ajuda do
exrcito o poder foi passado para Getlio.
Vargas usou polticas de modernizao,
criou novos ministrios (Ministrio do
Trabalho, Indstria e Comrcio e o Ministrio
da Educao e Sade), deu segmento a
poltica de valorizao do Caf, o PVC,
criou o Conselho Nacional do Caf e o
Instituto do Cacau e a Lei da Sindicalizao.

Um ano depois, um passo ousado de


Getlio quase colocou tudo a perder, ele
tinha a inteno de derrubar a Constituio
Brasileira, o que deixou a classe mdia
paulista irritada. Para piorar a situao quatro
soldados paulistas: Martins, Miragaia, Drusio
e Camargo, foram assassinados e ento a
sociedade passa a apoiar a causa
constitucional.
No dia 9 de julho, a revoluo acontece,
sendo que os paulistas tinham apoio do Rio
de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do
Sul. O presidente ento isola So Paulo, que
sem outra opo se rende. ento
aprovada a Constituio de 1934 que passa
a ter o voto secreto, o voto feminino, ensino
primrio obrigatrio e diversas leis
trabalhistas.

Trs anos mais tarde, devido


aos documentos do Plano
Cohen, Vargas conseguiu
realizar o Golpe de 1937
derrubando a Constituio e
declarando o Estado Novo. O
presidente fechou o
Congresso Nacional, criou o
Tribunal de Segurana
Nacional, centralizou o poder
e acabou com a liberdade
partidria.

O Brasil da dcada de 30 se
urbanizava e se industrializava;
suas principais capitasi j
contavam com bondes
eltricos, vias para veculos
automotores e centros
comerciais. No entanto as
vestimentas da maioria da
populao era feita de forma
artezanal e rudimentar - exceto
por alguns nichos, como roupas
ntimas e alguns acessrios. A
mquina de costura se
popularizava, mas faltava
tecnologia para a produo de
roupas em srie.

A mquina de costura se
popularizava, mas faltava
tecnologia para a produo de
roupas em srie. Os tecidos
eram adquiridos em pequenas
tiragens, chamadas de fazendas
para a produo de pequenas
quantidades de peas por
costureiros ou mesmo pela dona
de casa.
Todos se baseavam na moda
que vinha de Paris, divulgada por
revistas estrangeiras e nacionais como o Jornal das Moas,
Figurino Moderno e Fon-Fonrecheadas de croquis, fotos e
algumas delas com moldes
para copiar.

Fon-Fon, edio de fevereiro de 1930

O incremento dos meios de


comunicao, principalmente o
cinema falado, fez crescer a
divulgao das novidades no
mundo da moda. Apesar de Paris
ser considerada o bero de toda
moda criada na poca, Londres e
Hollywood passaram a ter um
importante papel.
A moda e a cultura no Brasil era
muito influenciada por Paris. como
atesta o divertido samba Menina
Fricote, composta por Marlia e
Henrique Batista e interpretada por
Aracy de Almeida.

Aracy de Almeida, 1936.

Com o incremento da
industrializao, a riqueza
interna foi dinamizada,
dando origem a uma
classe mdia composta
por empregados
assalariados e funcionrios
pblicos, que
demandavam produtos
de moda. Alm disso,
muitas das tradicionais
famlias de cafeicultores,
que antes montavam seus
guarda-roupas em Paris,
perderam suas fortunas e
tiveram que mudar seu
estilo de vida.

Joan Crawford, capa da revista A Cigarra


de dezembro de 1930

Para atend-los, nas capitais


brasileiras, grandes magazines
voltados ao comrcio de tecidos e
roupas prontas - estas ltimas
produzidas, ainda, em pequena
escala e quase artesanalmente.
Nesta poca surgiram lojas
reproduzindo os moldes das maison
francesas, copiando e adaptando
os modelos vindos de Paris. Nesses
ateliers era possvel escolher o
tecido e os aviamentos, todos
importados da Europa.
Revista Jornal das Moas edio de
dezembro de 1933

A mais importante dessas casas


foi a Canad, sediada na ento
capital do Brasil , o Rio de Janeiro.
Em So Paulo havia as casas
Madame Rosita e Vogue, em
Porto Alegre houve a Madame
Mary Steigleder, instalada na
Avenida Independncia, que
comeou fazendo chapus e,
mais tarde, se dedicou a
importao de alta-costura.
Muitas nesse estilo se espalharam
pelas grandes cidades do Brasil,
sendo abastecidas pela Casa
Canad, que se tornou
distribuidora de alta-costura
francesa no Brasil.

Desfile na casa Madame Rosita

No incio essas casa de moda


apenas compravam os
produtos pronto, mas com a
Grande Depresso, as maisons
francesas passaram a vender
seus moldes para sobreviver a
crise. Com a compra dos toiles,
ficou mais simples para as
modelistas do Brasil replicarem
os modelos importados.
E j que as cpias eram
inevitveis, o melhor era tentar
obter o mximo de resultados
por meio da venda desses
moldes.

Nos anos 30 no Brasil tambm


houve o boom dos
programas de rdio. Com
selecionados radialistas e
cantores, com programas de
auditrios, radionovelas,
programa de calouros,
humorsticos e concursos com
oferta de brindes. Em 1932 o
governo federal decidiu
baixar o decreto-lei 21.111,
autorizando a veiculao de
propagandas no rdio,
passou-se anunciar todo tipo
de produto e servio.

Desenhistas comearam a
surgir no Brasil, como o
mineiro Alceu Penna e do
carioca J. Luis. Estes
desenhavam croquis para
revistas de moda brasileira,
mas no criavam novos
modelos, apenas
copiavam os vindo de Paris,
indicando de qual maison
aquele croqui havia surgido,
at porque a brasileira no
estava interessada em
consumir uma moda feita
aqui.
Croqui de J. Lus para a revista Fon-Fon,
edio nmero 20 de maio de 1939

Os tecidos brasileiros no eram


muito apreciados pelas
consumidoras, pois eram mais
grosseiros, geralmente empregados
na confeco de peas de roupa
rsticas de trabalhadores. Entre eles
estavam os de algodo, o
algodozinho e alpaca, os brims e
sarjas, as chitas e chites, as lonitas
e lonas e ainda flanelas. Mesmo
tecidos mais finos como cambraias
e tricolines ou linho leve, tinham
uma produo pequena.
Tecidos de fibras mais nobres no
eram produzidos aqui, pois no
havia a tecnologia necessria nas
tecelagens brasileiras.
Tecelagens da dcada de 30

No Brasil, assim como no mundo, a dcada de 30 foi marcada pela


busca da pele bronzeada e momentos de lazer na beira-mar.
No incio houve uma certa resistncia aos trajes de banho parisienses.
Era comum haver um guarda com rgua fiscalizando a praia para que
ningum usasse uma pea mais curta do que devia. Mas com o tempo
a sociedade deixou um pouco o moralismo de lado, adotando a sunga
e o mai.

Anncios em revistas
valorizavam atividades na
praia, mesmo que o produto
no estivesse necessariamente
relacionado com a essas
atividades.
E assim comeava a nascer a
paixo nacional pelo lazer a
beira-mar.
Editoriais com roupas de
banho comearam a surgir em
revistas femininas, como A
CIgarra.

Desfilar semanalmente as melhores


roupas nos grandes cineteatros era
garantia de visibilidade social. E no
era incomum ver mulheres nas salas
de projeo empunhando
pranchetas, lpis e papel para
esboar, no escuro mesmo, as modas
exibidas pelas estrelas de Hollywood.
No Brasil, a maior estrela dos anos
1930-40 era Carmem Miranda, que
estourou no rdio com marchinhas
carnavalescas e foi ao lado do ator
Raul Roulien, um caso de sucesso
artstico que transcendeu as fronteiras
nacionais e alcanou Hollywood. As
revistas tambm possuam longas
dedicadas aos filmes, com crticas ao
figurino e ao roteiro.

O cinema falado dos anos 30, foi


tambm o grande culpado pela reduo
do uso de chapus femininos, em
particular os de copas e abas amplas e
com muitos adornos, que passaram a ser
proibidos em muitas salas de cinema para
evitar que atrapalahssem a viso dos
outros espectadores.
Os cabelos passaram a ser mais
valorizados e surgiram vrias tcnicas de
tratamento, de modo que podiam ser
longos e soltos, cortados altura do
queixo, ondulados, polidos com brilhantina
ou frisados com ferro. Podiam tambm ser
tingidos, at mesmo moas de famlias de
prestgio poderiam tingir seus cabelos de
ruvo, loiro, platinado, castanho...

O cinema tambm propagou o


hbito da maquiagem, tornando
imprescindvel para uma mulher
ter uma ncessaire
com produtos para toques e
retoques: ruge ou ptalas de rosa
embebidas em lcool para
marcar as mas do rosto; crayon
ou carvo para redesenhar as
sobrancelhas depiladas; rmel ou
graxa para reforar os clios
curvados; batons em vrias cores
para ampliar e destacar os lbios.
As unhas deveriam ser longas e
devidamente pintadas de
vermelho, mesmo cobertas por
luvas.

As revistas passaram a dedicar sesses para


dicas de beleza e maquiagem.

O comrcio de peles no
Brasil foi impulsionado nos
anos 30 devido as estrelas de
cinema Marlene Dietrich,
Joan Crawford e Greta
Grabo aparecerem lindas e
sedutoras envoltas em
sedosas peles.
Contrariando a lgica
climtica, passou a ser
chique exibir, mesmo que
por pouco tempo, carssimos
visons, martas, zibelinas,
raposas...

Assim como o guarda-rupa feminino, o


masculino tambm seguia as
tendncias internacionais dos astros de
cinema.
Mas no Rio de Janeiro, entre as rodas
de samba, comeou a surgir uma
figura tipicamente brasileira: o
malandro.
Com terno de linho branco,
preferencialmente um linho que
amassasse muito, camisa de malha
listrada na horizontal em branco e azul,
chapu de copa chata e abas retas,
masi conhecido como canotier. Nos
ps, sapatos de verniz amarrados com
cadaros, se possveis bicolores. Leno
de seda pura, rosa ou vermelho, no
bolsinho do peito esquerdo.

Revistas femininas
Havia vrias revistas de variedades
voltadas para o pblico feminino no
Brasil na dcada de 30.
A Cigarra, Fon-Fon, O Globo, O
Cruzeiro, Querida, Vida Domstica...
Elas tinham em comum colunas de
moda com croquis e at mesmo
moldes, artigos sobre filmes da
poca, com muitas fotos dos
figurinos das atrizes, matrias sobre
maquiagem, educao de filhos,
receitas, pequenos contos, algumas
reportagens sobre acontecimentos
mundiais de relevncia, como as
turbulncias na Europa.

Capas da Vogue na dcada de 30

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