Aula 7 - Religiosidade Indígena

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

CURSO DE MUSEOLOGIA
DISCIPLINA: MUSEOLOGIA APLICADA A ACERVOS V

Manifestaes Materiais do Sagrado - Arte Sagrada


Professora: Helena Cunha de Uzeda

7 AULA RELIGIOSIDADE INDGENA


As populaes indgenas brasileiras dividem-se em diversos grupos, costumes e lnguas,
formando um mosaico cultural que se v refletivo numa multiplicidade religiosa, o que torna
difcil analisar a religiosidade indgena a partir de uma viso homognea.
Como essas populaes no conheciam a escrita, a tradio religiosa era transmitida
oralmente. As referncias religiosidade indgena focalizam mais seus aspectos mitolgicos
do que religiosos. Com fundamentaes de fundo animista, no h a viso de se religar a
um deus (religare), mas de se relacionar de modo mgico com a natureza, que ligaria o
povo indgena diretamente s divindades.
H, entretanto, a mesma necessidade de explicar o surgimento e a histria do mundo, assim
como de estabelecer determinadas regras que possam auxiliar a preservao da tradio do
grupo e sua transmisso s futuras geraes.
O mito dos gmeos Sol e Lua, considerados como semi-deuses, foi explicado pelo
indianista Orlando Villas Boas1, sendo Mavutsinim o deus criador.
A religio indgena est profundamente ligada natureza e a seus poderes sobrenaturais. A
fora suprema, que se fazia ouvir atravs do trovo era chamada de Tup, o ente supremo.
A chegada do homem branco em 1500 iria afetar a religiosidade indgena, tendo os
missionrios europeus satinizado a divindade Jurupari, muito cultuada entre os indgenas na
poca, que passou a ser associada ao diabo e substituda por Tup, um ser supremo, cuja
simbologia parecia mais correlata ao Deus catlico.
Pajelana
A pajelana uma prtica religiosa que ocorre nas manifestaes xamnicas dos povos
indgenas brasileiros. Os xams2, ou pajs, so sacerdotes que promovem rituais de cura ao
entrar em estado de transe, que o colocaria em contato direto com os espritos de outros
xams e de seres mticos.
A pajelana uma prtica comum entre os curandeiros da Amaznia, que mantm relao
direta com os reinos da natureza: mineral, vegetal e animal, tentando uma harmonia com
essas esferas, considerando o homem como parte integrante desse sistema. A doena
vista como um desequilbrio em relao ordenao csmica, podendo ser tambm vista
como um castigo moral. prtica da pajelana esto associados: ervas, alucinjenas ou
no, cantos nativos e instrumentos musicais.
1

VILLAS BOAS, Orlando ; VILLAS BOAS, Claudio. Xingu:os ndios, seus mitos. 3 ed. So Paulo:
Crculo do Livro, 1970.
2
Xam um termo de origem russa, que se refere a indivduos que possuem funo religiosa dentro
de um grupo e que podem entrar em contato com os espritos ancestrais e tambm com o mundo
animal, mineral e vegetal por meio de transe.

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Objetos Rituais
Marac chocalho indgena, feito de uma cabaa seca e oca que cheia com pedrinhas ou
sementes, chamado tambm de maracax e xuat. um elemento fundamental nos rituais
indgenas, considerado sagrado e preservado dentro da tribo.
Tauari espcie de charuto que fumado pelo paj e que funciona na defumao do local
ou da pessoa a ser tratada. A fumaa do tauari tem um aroma agradvel e seu objetivo
criar um ambiente propcio para os rituais.
Alm do marac, outros instrumentos musicais utilizados para a guerra e nos rituais:
Tor flauta de taquara;
Bor flauta de osso;
Mimbi espcie de buzina;
Ua tambor de pele e de madeira.

Rituais Indgenas
Os rituais indgenas so realizados em momentos importantes,
como a passagem de indivduos para diferentes fases de sua
vida, funcionando como reafirmadores da identidade do grupo.
Entre eles, destaca-se o ritual do Quarup que marca a
passagem para o mundo dos mortos.
Kuarup ritual que homenageia os mortos, na regio do Xingu.
O ritual do kuarup ocorre uma vez por ano durante a estao da
seca (entre os meses de julho e setembro), caracterizando-se
por choros e lamentaes de participantes do grupo, como
forma de saudar seus mortos. Os preparativos, que comeam 15
dias antes, incluem pescarias e a preparao de troncos,
cortados uma semana antes da cerimnia, que so enfeitados
para representarem os entes mortos.
Veja a descrio de alguns rituais indgenas no site da Fundao Nacional do ndio do
Ministrio da Justia, em Povos indgenas:
http://www.mj.gov.br/main.asp?ViewID={A63EBC0E-BFB4-402A-8497F1BCAA07164E}&params=itemID={7D5503CE-C359-4796-8A2A63C846E4C75A};&UIPartUID={2868BA3C-1C72-4347-BE11-A26F70F4CB26}

Referncias
ANDRADE E SILVA, Waldemar de. Lendas e Mitos dos Brasileiros. 2 ed. So Paulo: FTD, 1999.
CAMARA CASCUDO, Luis. Dicionrio do Folclore Brasileiro , Rio, 1954 3 edio, 1972.
GOMES, Mrcio Pereira. O ndio na Histria do Brasil: o Povo Tenetehara em Busca da
Liberdade. Petrpolis, Vozes, 2002.
SIDEKUN, Antonio. Hitria do Imaginrio Religioso Indgena. Unisinos, 1997.
VILLAS BOAS, Orlando ; VILLAS BOAS, Claudio. Xingu:os ndios, seus mitos. 3 ed. So Paulo:
Crculo do Livro, 1970.

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