Capitulo 02 Fluxo de Calor Durante Soldagem
Capitulo 02 Fluxo de Calor Durante Soldagem
Capitulo 02 Fluxo de Calor Durante Soldagem
Neste captulo, discutiremos sobre fluxo de calor na pea durante a soldagem. Fluxo de
calor durante a soldagem, como ser demonstrado nas Partes II IV deste livro,
podem afetar transformaes de fase durante a soldagem e portanto, a microestrutura
e as propriedades resultantes do metal de solda. Este fluxo de calor tambm
responsvel por tenses residuais e distores, como ser discutido no Captulo 5.
2.1 - Fonte de Calor Para Soldagem
A natureza da fonte de calor um fator importante no controle do fluxo de calor
durante a soldagem. A eficincia e a distribuio de densidade de energia da fonte de
calor, como ser descrito mais tarde neste captulo, pode afetar diretamente o fluxo de
calor durante a soldagem em geral. Como ser discutido no Captulo 4, na soldagem
arco a distribuio de densidade de corrente e a fora da fonte de calor podem afetar
indiretamente o fluxo de calor, influenciando a conveco na poa fuso. Uma
descrio detalhada de fonte de calor, a qual envolve outros aspectos importantes, tais
como fsica do arco e fsica do estado slido (1,2), no ser feita aqui. Apesar disto,
alguns resultados experimentais relativos eficincia e a densidade de energia da
fonte de calor sero apresentados.
A. Eficincia da fonte de calor
A eficincia de uma fonte de calor, , definida como se segue:
=
48 kJ . VC2H2 .
litro C2H2
h
= 13.3 VC2H2
3600 s
onde a taxa volumtrica de fluxo de acetileno em litros por hora VC2H2 e o calor de
combusto de acetileno, 48 kJ/litro (3), so referidos ao estado normalizado de 25oC e
1 atm.
Vrios mtodos tm sido empregados para medir a eficincia da fonte de calor.
O calormetro molhado tem sido, dentre estes mtodos, o mais utilizado. Neste mtodo,
gua utilizada para remover calor da pea e a eficincia determinada pelo aumento
da temperatura e pela taxa de fluxo de gua. Numa tentativa de medir a eficincia do
arco durante a soldagem por costura de tubos de alumnio, Kou e Le (4) empregaram o
calormetro mostrado na Figura 2-1a. O aumento da temperatura da gua, Tsada Tentrada foi medido utilizando termopares diferenciais ou um termistor (Figura 2-1b). A
eficincia foi determinada utilizando a seguinte equao de balano de energia:
22
W C (T
saida
Tentrada ) dt = E I t soldagem
Eficincia,
Referncia
0.50 - 0.80
0.20 - 0.50
0.65 - 0.85
0.65 - 0.85
0.80 - 0.99
0.55 - 0.82
0.25 - 0.80
0.80 - 0.95
0.005 - 0.70
4 - 12
5, 9
3, 9, 10, 12
9, 10, 12
9, 12, 13
13
12, 14, 15
12
16 - 20
= exp
Q
2 s o 2 s
onde,
T
To
ks
g
Q
U
s
Ko
r
=
=
=
=
=
=
=
=
=
(2-1)
temperatura,
temperatura da pea antes da soldagem,
condutividade trmica do slido,
espessura da pea,
aporte trmico aplicado na pea,
velocidade de soldagem,
difusividade trmica do slido (isto , ks/ Cs, onde e Cs so a densidade
e o calor especfico do slido, respectivamente),
funo de Bessel modificada de segundo espcie e ordem zero, e
distncia radial da origem - (x2 + y2)1/2.
A Tabela 2-2 lista algumas propriedades trmicas para vrios materiais. Para uma
chapa fina de largura finita, a Equao 2-1 pode ser rearranjada pelo "mtodo de
imagem" para o clculo da temperatura (32).
A Figura 2-9 mostra um desenho esquemtico da soldagem de uma pea de
espessura finita. Por causa da grande espessura da pea, variaes de temperatura na
direo da espessura so significantes e o fluxo de calor no mais considerado em
duas, mas em trs dimenses. A Figura 2-8b mostra a seo transversal de uma solda
feita com GTAW em uma chapa de alumnio de 3,2 mm de espessura, onde pode-se
observar a condio de tridimensionalidade da fonte de calor.
Tabela 2-2. Propriedades Trmicas de Vrios Materiais
25
Material
Difusividade
Trmica (m2/s.)
Alumnio
Ao Carbono
Ao 9% Ni
Ao
Austentico
Inconel 600
Liga de Ti
Cobre
Monel 400
8.5 - 10 x 10-5
9.1 x 10-6
1.1 x 10-5
5.3 x 10-6
4.7 x 10-6
9.0 x 10-6
9.6 x 10-5
8.0 x 10-6
Fonte: Gray et al. (33).
Capacidade
Trmica
Volumtrica Cs
(J/m3K)
2.7 x 106
4.5 x 106
3.2 x 106
4.7 x 106
3.9 x 106
3.0 x 106
4.0 x 106
4.4 x 106
Condutividade
Trmica k (J/m s.
K)
Ponto de
Fuso
(K)
229
41.0
35.2
24.9
18.3
27.0
384
35.2
933
1800
1673
1773
1673
1923
1336
1573
D = dU
2 s
e
n=
QU________
4 s2 C(Tm - To)
Nas equaes acima, d e Tm so a profundidade da solda e o ponto de fuso do
material da pea, respectivamente. Como foi mencionado anteriormente, a solda
simtrica com relao ao eixo x. Portanto, de acordo com a soluo de Rosenthal, a
largura W = 2d e a rea de seo da solda podem ento ser determinadas. E ainda
mais, a Figura 2-12 pode ser igualmente aplicada para a zona afetada por calor,
26
UY 2
1
2 +
+
2 s Tm To
(2.3)
(2.4)
R = x
Q___
2 ks x
Da equao acima, a seguinte equao pode ser derivada para a taxa de resfriamento
durante a soldagem
(T To ) 2
T
Q
1
=
= 2 k s
x t 2 k s x 2
Q
x
=U
t T
T
t
=
x
(T To )
T x
= 2 k s U
xt t T
Q
(2-5)
(2-6)
(2-7)
Assumindo que a eficincia do arco de 70%, portanto, para a condio de sem praquecimento, temos,
T
W
m (500 o C 25 o C ) 2
= 2 35 o 2 10 3
= 71o C / s
t x
s 0.7 200 A 10V
m C
Similarmente, para o pr-aquecimento de 250oC, temos,
T
t
W
(500 o C 275 o C ) 2
3 m
= 2 35 o 2 10
= 15 o C / s
s
0.7 200 A 10V
m C
prximo do ponto central do corpo de prova, da ordem de 30oC/mm. Figura 2-25, por
outro lado, mostra que o gradiente de temperatura prximo linha de fuso da ordem
de 300oC/mm. Esta grande diferena tende a fazer com que a microestrutura do corpo
de prova seja diferente da microestrutura da zona afetada pelo calor. Como observado
por Dolby e Widgery (77), o tamanho de gro pode ser significantemente grande no
corpo de prova da Gleeble em relao zona afetado pelo calor real, o que no
permite que a microestrutura da zona afetada pelo calor seja perfeitamente simulada.
REFERNCIAS
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M/52/70.
MAIS REFERNCIAS
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PROBLEMAS
2-1
Calcule a eficincia da fonte de calor na soldagem ox-acetilnica, se a energia
coletada pelo calormetro mido de 76.8 kcal em 1 min. e a taxa de fluxo volumtrico
de acetileno de 1000 L/h.
2-2. Em um experimento de soldagem, placas de ao de 50 mm de espessura foram
unidas por eletroescria. A corrente e a tenso foram respectivamente de 480 A e 34
Volts. As perdas de calor para as sapatas refrigeradas gua e por radiao atravs
da superfcie da escria foram de 1275 e 375 cal/segundo, respectivamente. Calcule a
eficincia da fonte de calor.
2-3. Tem sido documentado que a eficincia da fonte de calor na soldagem por
eletroescria aumenta quando a espessura da pea tambm aumenta. Explique
porque.
2-4. a) Considere a soldagem de placas de ao com 25,4 mm de espessura. Voc
prefere aplicar as equaes bidimensionais ou as equaes tridimensionais para uma
soldagem com penetrao total com EB? E se for cordo sobre chapa com GTAW?
b) Suponha que voc esta interessado em estudar estrutura de solidificao de
metal de solda e quer calcular a distribuio de temperatura na poa de fuso. Voc
espera que as equaes de Rosenthal possam ser aplicadas? Porque ou porque no?
c) Na soldagem de mltiplos passes, voc espera uma taxa de resfriamento mais
alta ou mais baixa no primeiro passe do que nos passes subsequentes? Porque?
2-5. Duas grandes placas de alumnio de 1,6 mm de espessura so soldadas em
topo pelo processo GTAW com corrente alternada. A corrente, tenso e velocidade so
33
Fig. 2-1. Medida da eficincia do arco do processo GTAW: (a) Calormetro; (b)
Aumento da temperatura da gua em funo do tempo. De Kou e Le (4), Metll. Trans.
15A: 1165, 1984.
34
Fig. 2-2. Eficincia do arco como uma funo do teor de Ar-He no gs de proteo. Os
nmeros em mm indicam o comprimento do arco na soldagem GTA. De Kou e Lu (5).
35
Fig. 2-4. Efeito do ngulo da ponta do eletrodo na forma do arco sob proteo de
argnio. De Glickstein (22), em Trends in Welding Research, American Society of
Metals, 1982, p. 37. Sob permisso.
Fig. 2-5. Perfis de zona de fuso como uma funo da geometria da ponta do eletrodo
e da composio do gs de proteo (150, 2,0 s. ponto sobre placa). De Key (23).
1980 AWS.
36
Fig. 2-7. Desenho esquemtico mostrando a soldagem de placas finas. De Kou (31),
Metall. Trans. 12A: 2025, 1981.
Fig. 2-8. Sees transversais de duas soldas GTA de alumnio 6061: (a) Fluxo de calor
bidimensional em seo fina; (b) fluxo de calor tridimensional em seo grossa.
37
Fig. 2-9. Desenho esquemtico mostrando a soldagem de uma pea com espessura
finita. De Kou e Le (34), Metall Trans. 14A: 2245, 1983.
Fig. 2-10. Resultados calculados a partir da equao de Rosenthal para fluxo de calor
tridimensional: (a) ciclos trmicos; (b) isotermas. Velocidade de soldagem: 2,4 mm/s;
aporte trmico: 3200 W; material: ao 1018 espesso.
38
Fig. 2-11. Resultados calculados a partir da equao de Rosenthal para fluxo de calor
tridimensional: (a) ciclos trmicos; (b) isotermas. Velocidade de soldagem: 6,2 mm/s;
aporte trmico: 5000 W; material: ao 1018 espesso. Note que a poa mais alongada
e as taxas de resfriamento so maiores do que na Figura 2-10 devido maior
velocidade de soldagem e ao maior aporte trmico neste caso.
Fig. 2-12. Profundidade adimensional da solda (D) como uma funo do parmetro
operacional, n. A curva slida representa a relao predita. De Christensen et al (9).
39
Fig. 2-14. Comparao entre a poa de solda calculada a partir de solues numricas
e calculada a partir da soluo analtica de Rosenthal. H representa o calor de fuso. A
pea de alumnio puro com 1,6 mm de espessura e 127 de largura. O aporte trmico
de 1500 W e a velocidade de soldagem de 20 mm/s. De Kou (31) Metall. Trans. 12A:
2025, 1981.
40
Fig. 2-16. Taxa de resfriamento medida como uma funo de (a) espessura e praquecimento da pea, e (b) aporte trmico por comprimento unitrio da solda. De
Kihara et al (67).
41
Fig. 2-18. Relaes empricas para predizer (a) taxa de resfriamento e (b) dureza
mxima na ZTA de soldas de aos estruturais. De Inagaki e Sekiguchi (68).
42
Fig. 2-23. Ilustrao do teste de dutilidade a quente. Acima: Ciclo trmico. Abaixo:
dutilidade como uma funo da temperatura. De Grotke (70).
44
Fig. 2-24. Perfil de temperatura longitudinal em uma barra de ao inoxidvel 304 de 1,0
mm de dimetro durante simulao trmica de soldagem, com temperaturas de pico de
900, 1000 e 1000oC e distncia entre as garras de 2.54 mm. De Walsh et al (75).
45