Irineu Fontes - Cacumbi Mestre Deca PDF
Irineu Fontes - Cacumbi Mestre Deca PDF
Irineu Fontes - Cacumbi Mestre Deca PDF
MINISTRIO DA CULTURA
FUNDAO JOAQUIM NABUCO
CURSO DE FORMAO DE GESTORES CULTURAIS DOS ESTADOS DO
NORDESTE
Aracaju
2014
Aracaju
2014
Banca examinadora
AGRADECIMENTOS
Eu agradeo a Deus por colocar uma famlia maravilhosa em minha vida. Sou um
privilegiado, pois nasci de uma mulher de fibra, Dona Susete, corajosa e determinada, que
criou e cuidou de quatro filhos, eu e minhas trs irms, Aninha, Sandra e Simone. Cresci em
um lar feminino, onde, alm das mulheres que l j viviam, sempre que podiam estavam
presentes; tias como a saudosa tia Margarete, minha tia Avani, minhas avs Amrica e
Marrocas e a minha bisav Noemi, a minha filsofa de planto.
Devo ter realizado muitas coisas bacanas nas minhas vidas passadas, pois o pai eterno
me concedeu muito mais benesses e colocou na minha vida mais almas femininas pra que eu
possa cuidar e elas de mim. Casei com Dona Cssia e tenho trs lindas filhas, rica, Tatiana e
Tssia; so elas meu porto seguro, e por elas que procuro sempre melhorar, sempre
aprender, e a elas agradeo tudo que fizeram e fazem pela minha vida.
Nesse aprendizado no posso esquecer-me de outras almas femininas que foram e so
muito importantes na minha caminhada. As minhas professoras Terezinha, Dona Lalia e
Maria Jos, a minha saudosa prima Gena Ribeiro pelo sonho, s minhas cunhadas Cla Gama
pelo apoio e a Leninha Gama pela exigncia; a L Spinelli pelo aprendizado, a Ceclia
Cavalcante pela sensibilidade e a Ione Sobral pela oportunidade e afeto; a Isaura Botelho pela
luz, a Hildnia Oliveira pela amizade, a Janaina Couvo, Giordanna Santos, Monica Sobral,
Eugenia Teixeira, Isa Trigo e a Thiara Camara pelo carinho.
Claro que essa vivncia com a alma feminina me fez mais sensvel e grato pelas
minhas amizades e por isso agradeo ao meu irmo do corao Fabio Henrique ao irmo de
esprito e fofura Milton Goulart; aos mestres Luiz Antonio Barreto, Jos Calazans, Paulo
Miguez, Deca, Z Rolinha, Seu Sales, Dona Maria, Nadir, Antonio Carlos, Carlos Alberto e
aos amigos, Marcelo Ribeiro, Alex Pinheiro, Rubens Lisboa, Denys Leo, Tonho Rolemberg,
Hlvio Dora(in memria) e Manuel Vasconcelos. Muito obrigado!!!
Pisa Maneiro, Pisa Maneiro, quem no pode com a formiga no assanha o formigueiro
(Ilari/Pirambu)
FONTES, Irineu. Cacumbi Mestre Deca: A relao grupo cultural e gesto pblica. p.52 il.
2014. Monografia (Curso de Formao de Gestores Culturais dos Estados do Nordeste)
Instituto de Humanidades, Artes e Cincias Professor Milton Santos, Universidade Federal da
Bahia, Salvador, 2014.
SEPPIR/PR
SE
MINC
SCDC
SECULT
RN
FJA
SP
FMC
BH
SID/MinC
FICART
SNC
SMC
SAI
PAC
SEBRAE
UFS
INTERA
SETUR
CMPC
MTUR
UNIT
LISTA DE IMAGENS
14
Rosane in )
2
15
16
16
17
21
22
23
34
10
35
11
37
12
Mesa do Festival Mestre Deca - Mestre Deca, Mestre Juarez, Prof. Agla
38
Fontes, Prof. Terezinha Oliva, Hildenia Oliveira e Jackson Sousa (Foto Koka
Sapateiro)
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39
14
43
15
Marca do Cacumbi
46
16
Camisas
46
17
Camisa infantil
47
18
Bolsa
47
19
Caneca
48
20
Pano de prato
49
21
50
SUMRIO
RESUMO
11
INTRODUO
12
CACUMBI
14
16
PANORAMAS
POPULARES
31
CONSIDERAES FINAIS
40
REFERNCIAS
44
ANEXOS
46
DO
FINANCIAMENTO
DAS
MANIFESTAES
24
RESUMO
12
1.
INTRODUO
13
14
2. CACUMBI
O Cacumbi um folguedo popular, sua origem se perdeu no tempo, impossibilitando
dessa forma, marcar com exatido a sua fixao no Pas.
Sabe-se que o folguedo vm da variao de Autos e Bailados, como as Congadas,
Guerreiros, Reisados, Lambe Sujos e Caboclinhos que so variaes de denominaes, mas
que vem de um s referencial a Luta entre o Rei negro e Rei indgena. Tendo um contedo
dramtico na sua apresentao.
Cacumbi, Quicubi, Catumbi e Ticumbi, so nomes dados a diferentes folguedos afrobrasileiros que tm os Reis Congos e o louvor a So Benedito e Nossa Senhora do Rosrio em
comum, uma variante das congadas. Uma manifestao de puro sincretismo brasileiro. O
Cacumbi era uma prtica exercida pelos escravos africanos nos canaviais e representa as
guerras entre reis e rainhas contra os escravos.
15
Seus aspectos podem ser comparados aos de outras regies do Brasil como as
Congadas em Minas Gerais e os Cucumbis do Rio de Janeiro; os Cacumbis e os Ticumbis do
Estado do Esprito Santo ou de Santa Catarina.
Reco reco instrumento de percusso que produz um rudo rascante e intermitente, causado pelo atrito de duas
partes separadas, e que, em seu feitio mais conhecido, consiste num gomo de bambu no qual se abrem regos
transversais e que se faz soar passando por estes uma varinha ou tala:...(Dicionrio Aurlio, pg.1721)
6
Entoam as oraes cantadas em homenagem a So Benedito.
16
Figura 3
Mapa de Sergipe com referencia de Laranjeiras.
Dentre as vrias manifestaes folclricas que a cidade apresenta por suas ruas de
pedra, enladeiradas e estreitas, temos o Cacumbi do Mestre Deca.O Cacumbi de Laranjeiras
no tem mais o teor dramtico, segundo seu chefe Mestre Deca em entrevista a Professora
Beatriz Gis Dantas em 1985:
Eu j brinquei no Cacumbi de Joo de Pita, e tinha Rei e Rainha, Cabco. Eu acho
um negocio fora de srie, n[...] uma ruma de home, com uma mui atrs s pra
acompanhar[...] aquela historia de quem tem o reis, tem a rainha[...] Isso
interessante quando tem outro cacumbi, por que um rouba a rainha do outro (1985)
17
A irmandade era o lugar onde possibilitava a populao de cor estabelecer um espao de autonomia dentro da
sociedade, pois, ao se inserir nas confrarias negras as comunidades mais carentes detinham alguns benefcios.
8
O Mestre o regente do espetculo. Utilizando apitos, gestos e ordens, comanda a entrada e sada de peas e o
andamento das execues musicais.
18
No inicio dos anos de 1970 registrado nos primeiros estudos dos grupos da cultura
popular em Sergipe da professora Beatriz Dantas para UFS; O Folguedo, liderado por Joo de
Pita, tinha apresentaes espordicas com muitas dificuldades pois o chefe e muitos
brincantes moravam na rea rural. O municpio de Laranjeiras se localiza na Zona Litornea
do Estado de Sergipe. A cidade se situa numa regio repleta de morros e colinas, banhada
pelo Rio Cotinguiba que passa pelo centro histrico e na divisa do municpio desgua no rio
Sergipe. Sua principal localidade o Centro, onde encontra-se a parte histrica da cidade, a
Cidade e possui vrios povoados e bairros, muitos dos quais na rea rural.
H registros da Segunda Metade da dcada de 1970, e confirmado pelo mestre Deca,
que cita o mestre Otaclio e Jos de Rosa da Silva (Zezinho) como lideres do Cacumbi em
Laranjeiras, e que havia mais de um grupo de Cacumbi na cidade, no final dos anos 70 e
comeo da dcada de 1980 assume o grupo o brincante com o nome de Batismo Jos Santana
dos Santos, conhecido por todos como Deca.
O Mestre Deca, nasceu em 13 de julho de 1936 na Fazenda Boa Luz no municpio de
Laranjeiras/SE, filho de Cndido Ramos dos Santos e Maria So Pedro dos Santos.
Participo do Cacumbi desde pequeno. Eu brincava com os falces, com os chefes.
O meu mestre e amigo Zezinho morreu, fiquei n , pra no deixar cair [...] O Mestre
antigo era o Z de Pita[...]Mas eles no ensinava a ningum, o Mestre minha
cabea mesmo (Mestre Deca 1985)
Nesse mesmo ano o Mestre Deca faz sua primeira manifestao sobre a forma que os
grupos so tratados pelo poder pblico, registro no livro Mensageiros do Ldico da
Professora Beatriz Gois Dantas.
[...] Por que ningum olha pro lado da gente. A gente fica ai... s chega pra gente
quando tempo de brincadeira e depois fica pr l. No tem nada, entendeu? Eu e
todos os chefes merecia ns ter um cachzinho mensal ou por semana, entendeu
(Mestre Deca, 1985).
O Mestre Deca permaneceu danando com seu grupo Cacumbi ate 2008 quando uma
queda o deixou impossibilitado de continuar a brincar. Em entrevista reproduzida no site da
banda Sulanca (www.sulanca.com.br), realizada pelo pesquisador musical Jorge Ducchi em
2008, fica clara a decepo e a tristeza do Mestre Deca na dedicao durante quase 40 anos a
cultura popular e ao seu Cacumbi.
O senhor se arrepende de ter sido um mestre de uma manifestao to
importante como o cacumbi? No. Eu t arrependido agora. Oi, nos meus trinta e
trs anos de encontro, eu me arrependi devido s ingratides... Ns brinca em
Aracaju, Itabaiana, em qualquer lugar, entendeu? L fora pagam, mas aqui! aqui s
recebi dinheiro duas vezes em trinta e trs anos. Oi, se eu disser uma coisa, o senhor
no vai acreditar, sabe o que fizeram com a gente? Chamaram a gente pra uma
apresentao, pra uma filmagem na porta da igreja da matriz, e eu reuni meu grupo,
acertei tudo direitinho e quando acabou sabe o que vieram me dar? duas garrafas de
[...]
19
pitu, eu me conformei e fiquei com isso guardado, entende? Esse ano eu ainda me
fardei aqui, mas a dor que tem no osso do quarto, aqui... No tem jeito pra sarar, e
quando eu desci por aqui, a dor me pegou, roendo bem dentro do osso, e eu sem
poder dar o passo, entendeu? E a, deixei meu menino, fardei ele e ele foi. (Mestre
Deca 2008)
Festejado em 6 de janeiro, o Dia de Reis uma festa catlica que marca a data da visita dos trs reis magos Gaspar, Melchior e Baltasar - ao menino Jesus, em Belm.
10
O Encontro Cultural de Laranjeiras criado em 1975, erguido num cenrio exuberante de tradio, que vem
sendo mantido pelo mais democrtico exerccio da continuidade.
11
20
ter noticias da sade do Mestre, pois desde o Encontro Cultural estvamos preocupados com a
cena que presenciamos e gravamos para o documentrio. O Antnio Carlos informou que o
Mestre Deca estava em casa acamado com muitas dores e sem vontade nenhuma de continuar
a viver.
A Professora Isaura Botelho coloca em sala de aula que toda ao das polticas
publicas s podem ser considerada como tal, se levar a um resultado da melhoria na vida da
populao;
A constituio da Repblica Federativa do Brasil, 2008, diz;O poder pblico, com a
colaborao da comunidade, promover e proteger o patrimnio cultural brasileiro, por
meio de inventrios, registros, vigilncia, tombamento e desapropriao, e de outras formas
de acautelamento e preservao.
A Constituio Brasileira atribui ao Estado e sociedade civil a responsabilidade
de preservar o patrimnio cultural. Porm, nem o Estado, tampouco a sociedade
dispem de instrumentos jurdicos eficazes para exercerem seus deveres culturais e,
por isso, ambos so omissos em suas respectivas responsabilidades. (Claudia Sousa
Leito 2010)
A omisso estava clara. Nem a gesto municipal anterior sentiu a falta do mestre, e
no teve o interesse em saber quais os motivos do afastamento dele, nem a sociedade civil
sentiu a falta do Mestre na brincadeira do Cacumbi, e tampouco a famlia, que fugia da sua
responsabilidade. A Prefeita trouxe a responsabilidade para a gesto. Foi constatado que o
Mestre tinha fraturado a bacia e estaria impossibilitado de danar no seu Cacumbi. Em uma
primeira ao quanto ao Mestre Deca, a Prefeita Ione Sobral, acompanhada da Secretaria de
Sade e do Secretario de Cultura do Municpio, fizeram uma visita ao Mestre, solicitando a
famlia que deveriam lev-lo ao mdico urgentemente. A Gestora Municipal autorizou que
fosse utilizado todos os mecanismos da gesto municipal, no apoio a resoluo do problema.
Assim foi feito e todos os exames foram realizados.
Nesse momento o total desmonte do Cacumbi era visvel. Sem comando, os brincantes
foram se afastando se desiludindo da brincadeira. Dos 18 componentes necessrios
minimamente para a brincadeira s restavam 14, o grupo estava no agonizando, era eminente
o fim das historias de luta dos Mestres que o chefiaram, o Cacumbi estava prestes a
desaparecer.
A Doena fsica do mestre Deca j tinha como tratar, mas como a gesto municipal
faria para renovar as energias e a fora do Mestre na reestruturao do grupo?
Em 12 de Junho de 2009 o ento presidente Lula iria inaugurar o campus das Artes
(UFS) em Laranjeiras, e todos os Secretrios e assessores foram convidados para uma reunio
21
Presidente?
Surgiu a oportunidade de colocar em prtica as primeiras aes afirmativas12, aes
que j estavam no planejamento, e que seriam de suma importncia para a valorizao e
sobrevivncia da cultura popular da cidade.
A proposta da Secretaria da Cultura para a Prefeita era; A gesto daria ao presidente
dois presentes: O primeiro presente seria uma imagem de So Jorge Guerreiro em madeira, do
arteso Mestre Demar13, e o outro presente, o chapu do Mestre e o pandeiro, que d o
ritmo funo que representava a cultura do Municpio. Alm do presente a Prefeita
convidaria os Mestres Demar e o Mestre Deca para junto com ela, entregar os presentes ao
Presidente da Repblica, como representantes da cultura Laranjeirense. Os Mestres da Cultura
Popular, so fontes de memria e raros conhecimentos especficos em qualquer sociedade,
essa era a hora do reconhecimento e da visibilizao dos Mestres
Presidente Lula apresento a Vossa Excelncia os nossos mestres da cultura
popular[...], Laranjeiras deve muito a esses mestres e uma honra est ao lado deles
nesse momento to importante para a cidade[...],o momento simboliza o
soerguimento da tradio cultural e da gerao de novas oportunidades para todos,
faremos de Laranjeiras a Capital da Cultura Popular do Pas (Ione Sobral 2009,
Trecho do discurso)
12
Aes afirmativas so medidas especiais e temporrias, tomadas ou determinadas pelo estado, espontnea ou
compulsoriamente, com o objetivo de eliminar desigualdades historicamente acumuladas, garantindo a igualdade
de oportunidades e tratamento, bem como de compensar perdas provocadas pela discriminao e marginalizao,
decorrentes de motivos raciais, tnicos, religiosos, de gnero e outros.
13
Notvel escultor em madeira de Laranjeiras, Mestre Ademar Lima assina seu nome artstico como Demar.
22
Para reforar a ao, logo em seguida em 08 de Julho de 2009 nas comemoraes dos
189 anos de emancipao do Estado de Sergipe, o governador do Estado Marcelo Dda, faz
uma homenagem ao Mestre Deca com a Medalha do Mrito Cultural Tobias Barreto. Em
Agosto de 2011 o Cacumbi de Laranjeiras recebe dois grandes incentivos em forma de
homenagem, participou do Encontro Nacional de Cultura Popular Brincantes Brasileiros
em Joo Pessoa, onde receberam uma placa de Mrito pelo trabalho que estavam realizando
em prol da cultura popular no Brasil, homenagem feita pela Fundao Cultural de Joo
Pessoa. J no dia 19 de agosto a pesquisadora e fotografa Janaina Couvo realizou uma
Exposio dedicada ao Mestre Deca nas comemoraes do Ms do Folclore nos sales do
Museu Afro-brasileiro de Sergipe, localizado em Laranjeiras.
Todas essas aes da gesto municipal estimularam a famlia do Mestre Deca, que
voltaram a acreditar na importncia do Pai. hoje sou um fazedor de cultura por algumas
23
palavras que o meu pai me disse, sem a cultura no sobrevivo (Antnio Carlos dos Santos,
2009).
Os Filhos do Mestre Deca, conseguiram entender a importncia, a referncia cultural e
a tradio do Mestre. A gesto municipal por sua vez, prova do remdio que ela mesmo
autorizou a receita, e sua responsabilidade aumenta na construo de polticas pblicas
afirmativas.
24
25
26
Em 1991 homologado, pela Lei n 8.313, de 23 de dezembro, o PRONAC Programa Nacional de Apoio
Cultura. Popularmente conhecido como Lei Rouanet, em reconhecimento ao criador, o socilogo Srgio Paulo
Rouanet. O Programa buscava fomentar alternativas em que se mesclavam a interveno pblica e a privada para
o financiamento de projetos por meio de deduo no imposto de renda, de pessoas jurdicas e fsicas.
27
valor em impostos, e com isso escolhe o artista ou projeto para divulgar a sua marca. E quem
paga a conta o governo; esse procedimento concentrou o incentivo em produes no eixo
centro-sul, Rio de Janeiro e em So Paulo.
Como consequncia, em 2010 a Lei reformulada, sendo implementada pela primeira
vez. O PRONAC transforma-se em PRCULTURA - Programa Nacional de Fomento e
Incentivo Cultura, aprovada pelo Projeto de Lei n 6722/2010.
Em 2007, o Ministrio da Cultura implementa o Programa Mais Cultura16. Este est
dividido em trs estruturas bsicas, todas com foco sobre a participao da sociedade civil e
jurdica: Cultura e Cidadania (que organiza o Cultura Viva); Cultura e Cidades; e Cultura e
Economia.
A estrutura Cultura e Cidadania promove o Programa Cultura Viva, que por sua vez
promove os Pontos de Cultura. Pelas estatsticas do Minc o Programa Cultura Viva a
iniciativa que mais se aproxima das culturas populares.
O Cultura Viva tem como objetivos:
Ampliar e garantir acesso aos meios de fruio, produo e difuso
cultural;
Identificar parceiros e promover pactos com atores sociais governamentais
e
no-governamentais,
nacionais
estrangeiros,
visando
um
28
29
30
grande maioria nunca foram remunerada, cobravam dos mestres a sua parte, e no
conseguiam entender o por que do prmio s para o Mestre, pois quando eles recebiam
enquanto grupo, o valor era dividido entre todos, inclusive o Mestre ou algum ligado a ele
(famlia).
Laranjeiras com suas manifestaes da Cultura Popular e de grupos de capoeira,
arteses, Terreiros, poetas populares, tem grandes dificuldades de acesso internet e de
leitura; portanto, sem condies de preencher as fichas de inscries ou projetos, ficando essa
misso de apoio, informao e preenchimento Secult. E por essa prestao de servio, e por
estarem mais prximos aos atores da cena da cultura que sero ou no beneficiados,
responsabilizando por qualquer problema, isso gerado pela no comunicao direta entre o
Minc e a Secretaria Municipal.
Alguns Editais e Prmios para a Cultura Popular.
Editais e prmios
Edital Prmio Culturas
Populares
Edital Prmio de Cultura AfroBrasileira
Edital Prmio Aes de
Cultura Cigana
Edital Prmio Cultura
Indgenas
Prmio Patrimnio Cultural
dos Povos e Comunidades
Tradicionais de Matriz
Africana
Prmio Defilo Gurgel de
cultura popular
Instituio
Beneficirios
Recursos
Edio
SCDC/Minc
350
5.000.000,00
2012
Fundao
Palmares/MINC
MINC/SEPPIR
60
2.000.000,00
2014
60
857.107,20
2014
SCDC/Minc
100
1.650.000,00
2012
IPHAN/Minc
35
1.025.000,00
2014
SECRETARIA
EXTRAORDINRIA
DE CULTURA/FJA RN
SECULT/SP
11
218.000,00
2012
38
1.000.000,00
2013
SECULT/BA
FMC
Indeterminado
03
500.000,00
15.000,00
2014
2014
IPHAN
SECULT/Laranjeiras
100
4 por ano
1.500.000,00
2 salrios
mnimos por
ms
2010
SECULT/CEARA
1(um)
Salrio
Mnimo
2010
31
17
Joo Roberto Peixe, designer, arquiteto e gestor cultural pernambucano ocupava o cargo de secretrio de
Articulao Institucional no Ministrio da Cultura.
32
Somar, integrar, interagir, compartilhar, isso que o SNC quer fazer, uma gesto
compartilhada. No podemos mais deixar que sempre que mude o governo, se inicie
tudo do zero. Precisamos avanar e no ficar s nesse movimento de retomada.
Sistema Nacional de Cultura um processo de gesto e promoo conjunta das polticas pblicas de cultura. O
SNC estabelece mecanismos de gesto partilhada entre os entes federativos e considera o direito identidade,
diversidade e participao na vida cultural como umas das plataformas de sustentao da poltica nacional
33
O CPF (Conselho, Plano e Fundo) da Cultura faz parte do sistema Nacional de Cultura (SNC), modelo de
gesto criado pelo Minc, em 2010 e que deve ser implantando em todos os municpios brasileiros at 2020.
20
A renda irlandesa patrimnio cultural imaterial brasileiro um tipo de renda de agulha, dentre as muitas
existentes no Brasil. Combina uma multiplicidade de pontos executados com fios de linha tendo como suporte o
lac, produto industrializado que se apresenta sob vrias formas, sendo o fitilho e o cordo os mais conhecidos
na atualidade.
19
34
Jos Ronaldo de Menezes, mais conhecido como Z Rolinha, Mestre dos Grupos Chegana Almirante
Barroso, Batalho 1 de So Joo e Rei dos Lambe Sujo, manifestaes tradicionais de Laranjeiras.
35
resultando dois prmios: Prmio das Culturas Populares; O primeiro em 2009 concedido ao
Mestre Deca no valor de R$ 10.000,00 (Dez mil reais), e o segundo em 2010 como
Grupo/comunidades informais tambm no valor de R$ 10.000,00 (Dez mil reais). Esses dois
prmios impulsionaram de vez a Renovao da Tradio do Grupo Cacumbi.
As aes afirmativas estavam nas ruas e nas cabeas dos atores, Mestres e Brincantes
da cultura Laranjeirense; o Mestre Z Rolinha disse em entrevista para o site:
http://www.jornalinformacao.com/ - Aracaju/Sergipe em novembro de 2012:
Olha, a gente sabe muito bem que mesmo com todo o apoio que recebemos sempre
existe certo tipo de dificuldade. Para voc ter uma idia, o grupo da Chegana que
eu tambm fao parte, estava parado h quase 5 anos por no ter quem pudesse levar
o movimento e por isso eu fui convocado. A questo no de dificuldade, porque
com a entrada do Secretrio de Cultura de Laranjeiras, o nosso trabalho foi muito
mais bem valorizado e divulgado, a prerrogativa de tentar mant-lo e mostrar para
a sociedade a importncia da nossa cultura, passar isso de pai para filho.
A Prefeita Ione Sobral teve um papel importante, pois no media esforos para
garantir os investimentos na potencialidade da Cultura, principalmente na rea da cultura
popular, proporcionando a todos os grupos, Mestres e Brincantes a infraestrutura necessria
na produo (Material para as roupas dos Brincantes, Transportes para as apresentaes e
Cachet) e divulgao das expresses culturais da cidade (Revistas, Guias, Folds).
Figura 10
Guia Turstico para divulgao Nacional
36
37
38
Cacumbi Mestre Deca (Laranjeiras), Cacumbi Mestre Juarez (Itaporanga), Cacumbi Mestre
Nego (Japaratuba)
08:50 Abertura Oficia
09:10 Mesa: Professora Agla DAvila Fontes Renovando a Tradio
Hildnia Oliveira A Dana do Cacumbi
Luciano Aciolle O apoio do Legislativo as Culturas Populares
Terezinha Oliva Patrimnio Imaterial
Antnio Carlos dos Santos Cacumbi Mestre Deca
11:00 Apresentaes das Novas aes do Cacumbi Mestre Deca
Irineu Fontes Apresentao da Estrutura do Trabalho de TCC
Adelson Alves Apresentao da Nova Marca e Produtos com os signos do Grupo Cacumbi
Marcolino Joy e Palloma Carvalho Apresentao do trailer do Filme Documentrio
Jeane Caldas e Gustavo Arago Apresentando a Revista Educativa da Historia do
Mestre.
Figura 12 Mesa do Festival Mestre Deca - Mestre Deca, Mestre Juarez, Prof. Agla Fontes, Prof. Terezinha
Oliva, Hildenia Oliveira e Jackson Sousa. Imagem Neu Fontes
39
40
6. CONSIDERAES FINAIS
Laranjeiras introduziu um novo pensamento na gesto municipal da Capital da Cultura
Popular, calcado nas definies tericas do Minc. Todavia essas definies precisam serem
ajustadas, somos diferentes num contexto de iguais.
O processo ocorreu em etapas; houve a reaproximao entre Secretaria e os grupos,
sempre respeitando suas opinies, valorizando o seu conhecimento e dividindo a
responsabilidade do planejar. Foi um trabalho longo e difcil, mas realizado dentro das
expectativas deles. Foram resolvidos alguns bloqueios, como a desconfiana e a reticncia do
grupo com a gesto municipal, e o deficiente relacionamento anterior da Secult com as
manifestaes.
Nessa fase, os atores das manifestaes entenderam e aceitaram os tcnicos da
Secretaria como de algum externo, interessado em realizar algo bom e importante,
juntamente com eles.
Em entrevista a Daniel Douek, a Prof Dr Isaura Botelho diz:
Em primeiro lugar, o gestor cultural precisa conhecer a realidade com a qual est
lidando e ser capaz de dialogar com ela,[...] Em essncia, o gestor um mediador
entre diversas realidades
(http://centrodepesquisaeformacao.sescsp.org.br/noticias/entrevista-com-isaurabotelho 2014)
41
empoderamento das aes e das polticas e que chegam a um resultado. A melhoria na vida da
populao, alm da confiana e auto estima dos atores da cultura.
O grupo Cacumbi de Mestre Deca se apoderou da sua historia e tradio, a passos
lentos, aprendeu a se relacionar a usar todo seu potencial de negociao sem gerar tanto atrito.
Eles esto em suas primeiras experincias, mas j possvel visualizar e analisar seus
resultados. O Grupo est desenvolvendo prticas polticas importantes a relao entre velhos e
novos brincantes, no respeito sabedoria dos mais velhos, s formas legais de dilogo com o
poder publico, ao aprendizado na medida da cobrana e da responsabilidade nos
compromissos assumidos.
Esse empoderamento dos grupos de Cultura Popular como agentes construtores de
polticas culturais imprescindvel para o avano das polticas pblicas da rea, mas devemos
ter em conta alguns pontos essenciais para a efetividade dessas polticas: formao,
capacitao; institucionalizao das polticas; transparncia pblica das aes; linguagem e
meios de comunicao que atendam ao pblico alvo; e a no descontinuidade das polticas
pblicas. Essa descontinuidade gera no s um retrocesso do ponto de vista poltico, mas
tambm na prpria mobilizao dos atores. Gera uma apatia poltica e falta de credibilidade
nas instituies polticas nacionais, estaduais e municipais, desfazendo todos os esforos
conjuntos realizados.
Olhando toda a trajetria de cinco anos na implementao, das, leis, decretos, Fruns,
discursos, e muita conversa, vejo que o principal motivo da gesto da cultura e do trabalho
com o Cacumbi foi a preocupao com a reconstruo da identidade municipal, e que ela
pode ser geradora de desenvolvimento econmico e social de Laranjeiras.
O Grupo Cacumbi, reconstri sua identidade, busca nos novos formatos para o dilogo
com o poder pblico, aposta em organizao quando monta sua associao, o grupo ganha
notoriedade e se diferencia dos demais grupos da cidade; essa diferena causa desconforto no
primeiro momento entre seus pares, para em seguida ser um exemplo, um modelo a ser
analisado. O Grupo vem adquirindo visibilidade e reconhecimento social e aprende que os
benefcios alcanados tm que ser distribudos com todos. O trabalho realizado criou as
condies propcias ao entendimento, valorizao a diversidade das manifestaes culturais
Laranjeirenses. Houve, simultaneamente, a incluso cultural, social e econmica.
O Professor Paulo Miguez22 diz:
22
42
A inteno que esse processo esteja sendo aprendido e incorporado pelo grupo
Cacumbi. A cada passo dado na direo da sua independncia fica claro que eles buscam, no
s o desenvolvimento econmico para manuteno do grupo e da sua sustentabilidade, como
tambm e prioritariamente o desenvolvimento cultural para o grupo; e, principalmente para
seus brincantes. Celso Furtado observou, que uma poltica de desenvolvimento deve ser
posta a servio no processo de enriquecimento cultural (FURTADO, 1984, p.32)
Em todo o processo de desenvolvimento que vivemos a cultura no tomada como
algo essencial; as aes que aconteceram foram consequncia de atitudes de interesse da
gesto municipal e pelo planejamento da Secult/Laranjeiras
O receio dos brincantes de um retrocesso grande e est sempre presente. A nova
gesto SECULT, em reunio com os grupos, fez uma proposta, de fazer a doao de todo o
material e confeco das roupas dos grupos. Em troca, os grupos ficariam disposio para
apresentaes durante o ano. O Cacumbi no aceitou a proposta e foi seguido por outros
grupos, que reivindicaram suas conquistas de negociao e voz com a gesto anterior, e
fizeram uma contraproposta; que consistia na compra, por parte da gesto, de apresentaes
do grupo, no valor do material e da confeco das roupas. No interessa mais ao grupo
somente o valor financeiro (ou a compra das roupas) e sim o respeito cultural e a valorizao
pessoal e do que representa o grupo na cultural de Laranjeiras.
Enfim, longe da pretenso de apontar solues, nem muito menos considerar
definitivas essas analises, necessrio um distanciamento significativo para que crticas e
abordagens possam ser elaboradas de forma impessoal. O projeto de renovao da tradio do
Cacumbi de Mestre Deca traz alguns caminhos e informaes para contribuir na construo
das aes e polticas pblicas da cultura.
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44
REFERNCIAS
BOTELHO, Isaura. A DIVERSIFICAO DAS FONTES DE FINANCIAMENTO PARA
A CULTURA: UM DESAFIO PARA OS PODERES PBLICOS. In: MOISS, J.A. e
BOTELHO, I. (orgs.). Modelos de financiamento da cultura. Rio de Janeiro, Minc/Funarte,
1997.
BOTELHO, Isaura
Entrevista para o site Centro de Pesquisa e Formao SESC/SP
(http://centrodepesquisaeformacao.sescsp.org.br/noticias/entrevista-com-isaura-botelho 2014)
DANTAS, Beatriz Gis. MENSAGEIROS DO LDICO: Mestres de Brincadeiras em
Laranjeiras, Aracaju-Se. Criao, 2013 98p. ilust. ISBN. 978-85-62576-88-1
Entrevista concedida pela Mestra Giordanna Santos (Consultora do Minc Regional
Bahia/Sergipe Consultora Unesco/Minc Representente do Colegiado das Culturas
Populares 2010/2012), em 10 de junho de 2014.
FURTADO, Celso. CULTURA E DESENVOLVIMENTO EM POCA DE CRISE. 2.ed.
Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1984. 128p.
INSTITUTO DO PATRIMNIO HISTRICO E ARTSTICO NACIONAL - IPHAN. Os
sambas, as Rodas, os Bumbas, os Meus e os Bois: a trajetria da salvaguarda do patrimnio
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INSTITUTO DO PATRIMNIO HISTRICO E ARTSTICO NACIONAL IPHAN.
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GOMES, Joaquim B. Barbosa. AO AFIRMATIVA & PRINCPIO CONSTITUCIONAL
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http://aldeianago.com.br/artigos/5/6726-financiamento-da-cultura-e-editais-por-albino-rubim
LEITO, Claudia Souza. O GOVERNO LULA E AS POLTICAS PBLICAS
PARA O FOMENTO DIVERSIDADE CULTURAL A PARTIR DA
VALORIZAO DO PATRIMNIO IMATERIAL. VI ENECULT Encontros de
Estudos Multidisciplinares em Cultura. FACOM/UFBA. Salvador-BA.
MRCIO, Jos Barros e OLIVEIRA. Jos Jnior. PENSAR E AGIR COM A CULTURA:
desafios da gesto cultural Belo Horizonte: Observatrio da Diversidade Cultural, 2011.
156p.
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ANEXO I
Matriz Institucional para Gesto Compartilhada da Associao dos Brincantes do Cacumbi do
Mestre Deca.
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ANEXO II
PRODUTOS PARA VENDA DO GRUPO CACUMBI MESTRE DECA
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Figura 18 - BOLSA
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Figura 19 CANECA
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ANEXO III
DIVILGUO
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