Irineu Fontes - Cacumbi Mestre Deca PDF

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

MINISTRIO DA CULTURA
FUNDAO JOAQUIM NABUCO
CURSO DE FORMAO DE GESTORES CULTURAIS DOS ESTADOS DO
NORDESTE

IRINEU SILVA FONTES JUNIOR

CACUMBI MESTRE DECA


Renovando a tradio - A relao grupo cultural e gesto pblica.

Aracaju
2014

IRINEU SILVA FONTES JUNIOR

CACUMBI MESTRE DECA


Renovando a tradio - A relao grupo cultural e gesto pblica.

Monografia apresentada ao Curso de Formao de


Gestores Culturais dos Estados do Nordeste, promovido
pelo Instituto de Humanidades, Artes e Cincias Professor
Milton Santos, da Universidade Federal da Bahia, em
parceria com a Fundao Joaquim Nabuco e o Ministrio
da Cultura, como requisito parcial para obteno do ttulo
de Especialista em Gesto Cultural.
Orientador: Prof. Dr. Paulo Miguez

Aracaju
2014

IRINEU SILVA FONTES JUNIOR

CACUMBI MESTRE DECA


Renovando a tradio - A relao grupo cultural e gesto pblica.

Monografia apresentada como requisito parcial para obteno do ttulo de Especialista em


Gesto Cultural pela Universidade Federal da Bahia.

Aprovada em 26 de novembro de 2014.

Banca examinadora

Diogo Henrique Helal


Doutor em Cincias Humanas pela Universidade Federal de Minas Gerais

Allan Rodrigo Arantes Monteiro


Doutor em Cincias Sociais pela Universidade Estadual de Campinas

Dedico esse trabalho aos Mestres da Cultura Popular,


em especial ao Mestre Deca e ao Mestre Z Rolinha.

AGRADECIMENTOS
Eu agradeo a Deus por colocar uma famlia maravilhosa em minha vida. Sou um
privilegiado, pois nasci de uma mulher de fibra, Dona Susete, corajosa e determinada, que
criou e cuidou de quatro filhos, eu e minhas trs irms, Aninha, Sandra e Simone. Cresci em
um lar feminino, onde, alm das mulheres que l j viviam, sempre que podiam estavam
presentes; tias como a saudosa tia Margarete, minha tia Avani, minhas avs Amrica e
Marrocas e a minha bisav Noemi, a minha filsofa de planto.
Devo ter realizado muitas coisas bacanas nas minhas vidas passadas, pois o pai eterno
me concedeu muito mais benesses e colocou na minha vida mais almas femininas pra que eu
possa cuidar e elas de mim. Casei com Dona Cssia e tenho trs lindas filhas, rica, Tatiana e
Tssia; so elas meu porto seguro, e por elas que procuro sempre melhorar, sempre
aprender, e a elas agradeo tudo que fizeram e fazem pela minha vida.
Nesse aprendizado no posso esquecer-me de outras almas femininas que foram e so
muito importantes na minha caminhada. As minhas professoras Terezinha, Dona Lalia e
Maria Jos, a minha saudosa prima Gena Ribeiro pelo sonho, s minhas cunhadas Cla Gama
pelo apoio e a Leninha Gama pela exigncia; a L Spinelli pelo aprendizado, a Ceclia
Cavalcante pela sensibilidade e a Ione Sobral pela oportunidade e afeto; a Isaura Botelho pela
luz, a Hildnia Oliveira pela amizade, a Janaina Couvo, Giordanna Santos, Monica Sobral,
Eugenia Teixeira, Isa Trigo e a Thiara Camara pelo carinho.
Claro que essa vivncia com a alma feminina me fez mais sensvel e grato pelas
minhas amizades e por isso agradeo ao meu irmo do corao Fabio Henrique ao irmo de
esprito e fofura Milton Goulart; aos mestres Luiz Antonio Barreto, Jos Calazans, Paulo
Miguez, Deca, Z Rolinha, Seu Sales, Dona Maria, Nadir, Antonio Carlos, Carlos Alberto e
aos amigos, Marcelo Ribeiro, Alex Pinheiro, Rubens Lisboa, Denys Leo, Tonho Rolemberg,
Hlvio Dora(in memria) e Manuel Vasconcelos. Muito obrigado!!!

Pisa Maneiro, Pisa Maneiro, quem no pode com a formiga no assanha o formigueiro
(Ilari/Pirambu)

FONTES, Irineu. Cacumbi Mestre Deca: A relao grupo cultural e gesto pblica. p.52 il.
2014. Monografia (Curso de Formao de Gestores Culturais dos Estados do Nordeste)
Instituto de Humanidades, Artes e Cincias Professor Milton Santos, Universidade Federal da
Bahia, Salvador, 2014.

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

SEPPIR/PR
SE
MINC
SCDC
SECULT
RN
FJA
SP
FMC
BH
SID/MinC
FICART
SNC
SMC
SAI
PAC
SEBRAE
UFS
INTERA
SETUR
CMPC
MTUR
UNIT

Secretaria de Polticas de Promoo da Igualdade Racial da Presidncia da


Repblica
Estado de Sergipe
Ministrio da Cultura
Secretaria da Cidadania e da Diversidade
Secretaria de Cultural
Rio Grande do Norte
Fundao Jos Augusto
So Paulo
Fundao Municipal de Cultura/BH
Belo Horizonte
Secretaria da Identidade e da Diversidade Cultural
Fundo de Investimento Cultural e Artstico
Sistema Nacional de Cultura
Sistema Municipal de Cultura
Secretaria de Articulao Institucional
Programa de Acelerao do Crescimento
Servio Brasileiro de Apoio as Micros e Pequenas Empresas
Universidade Federal de Sergipe
Arte e Economia Criativa
Secretaria de Turismo
Conselho Municipal de Cultura
Ministrio do Turismo
Universidade Tiradentes

LISTA DE IMAGENS

Cacumbi de Florianpolis, comandada pelo capito Amaro. (VOLPATO,

14

Rosane in )
2

Grupo Cacumbi - cortejo de Rua, foto Neu Fontes

15

Mapa de Sergipe com referencia de Laranjeiras.

16

Mestre Deca no comando nos anos 80. Foto Beatriz Dantas

16

Cacumbi do Mestre Deca, no comando Mestre Testinha

17

Marcelo Deda, Ione Sobral, Lula e Mestre Deca

21

Mestre Deca e Antonio Carlos (Neguinho)

22

Antonio Carlos(Neguinho) e Mestre Deca na Igreja So Benedito

23

Homenagem e Exposio com o Mestre Deca 2010 Museu Afro

34

10

Guia Turstico para divulgao Nacional

35

11

Cartaz do Festival Mestre Deca

37

12

Mesa do Festival Mestre Deca - Mestre Deca, Mestre Juarez, Prof. Agla

38

Fontes, Prof. Terezinha Oliva, Hildenia Oliveira e Jackson Sousa (Foto Koka
Sapateiro)
13

Mestre Deca/2014 Imagem Neu Fontes

39

14

Mestre Deca, Irineu e Macario/2012 Imagem Arquivo Pessoal

43

15

Marca do Cacumbi

46

16

Camisas

46

17

Camisa infantil

47

18

Bolsa

47

19

Caneca

48

20

Pano de prato

49

21

Divulgao em Sites e Blogs

50

SUMRIO

RESUMO

11

INTRODUO

12

CACUMBI

14

O CACUMBI DO MESTRE DECA

16

PANORAMAS
POPULARES

FINANCIAMENTO DO CACUMBI EM LARANJEIRAS

31

CONSIDERAES FINAIS

40

REFERNCIAS

44

ANEXOS

46

DO

FINANCIAMENTO

DAS

MANIFESTAES

24

RESUMO

O trabalho Cacumbi do Mestre Deca Renovando a Tradio, A relao grupo cultural


e gesto pblica. Vm mostrar a trajetria das polticas pblicas municipais na rea da cultura
implantadas nos ltimos anos, e de como os grupos tradicionais da cidade de Laranjeiras/SE
absorveram esses novos formatos.
Atravs da trajetria do Cacumbi e dessa transformao em grupo valorizado e
encaixado nas novas formas de polticas pblicas e novos formatos de fomento para o grupo,
e atravs do ressurgimento do Mestre Deca no cenrio cultural, podemos observar o quanto a
mo do Estado no incentivo s polticas pblicas pode modificar as condies dos brincantes
da cultura popular e das diversas manifestaes da rea da cultura.

Palavras-chave: Cacumbi Polticas Pblicas Manifestaes Culturais - Cultura - Aes


Afirmativas impacto social.

12

1.

INTRODUO

Os direitos culturais so parte integrante dos direitos humanos e esto indicados no


artigo 27 da Declarao Universal dos Direitos Humanos (1948), e nos artigos 13 e 15 do
Pacto Internacional dos Direitos Econmicos, Sociais e Culturais (1966).
Uma das maiores dificuldades de implementar polticas pblicas na rea na cultura
est em estabelecer formas democrticas e transparentes de acesso dos atores da cultura e da
populao a essas polticas, dentre as quais a possibilidade de garantir que todo cidado ou
instituio cultural possa captar recursos e ser parte integrante de uma poltica pblica de
cultura, contribuindo de forma direta no processo de criao dessa poltica, elaborando
projetos para serem analisados e fomentados com recursos pblicos.
A Cultura em Laranjeiras marcada pela diversidade. So inmeros grupos e agentes
culturais atuando em variados segmentos: grupos de Cultura Popular, de capoeira, Irmandades
religiosas, Terreiros, grupos musicais, de teatro, de dana, blocos carnavalescos, quadrilhas
juninas, artesos, artistas plsticos, fotgrafos, poetas, literatos, alm de inmeros mestres da
sabedoria popular. E esta, sem dvidas, outra marcante caracterstica. A sabedoria e a
participao popular esto presentes em todas as manifestaes existentes na cidade.
A cultura popular o smbolo-mor da diversidade cultural da cidade. Com uma
riqueza extraordinria de manifestaes e matrizes, este segmento da cultura laranjeirense
ocupa lugar de destaque no Estado de Sergipe e projeta-se cada dia mais no plano nacional.
Essa riqueza tambm um dos grandes produtos tursticos da cidade. H 25 grupos de
Cultura Popular que esto em atividade, envolvendo cerca de 500 brincantes, o que
caracteriza esta como o maior segmento cultural do municpio.
As mais diversas manifestaes da Cultura Popular de Laranjeiras dispem de um
extenso cronograma de eventos culturas relacionados as manifestaes da cultura popular e
religiosa, que endossam a manuteno plena de suas atividades tradicionais o que torna a
promoo de intercmbios culturais, com a ida desses grupos para outras cidades e eventos, a
formao e a informao das novas polticas da cultura, um novo desafio para o setor.
No tocante organizao e manuteno dos grupos, h uma natural dificuldade em
lidar com os aspectos burocrticos dos novos formatos de financiamento que surgiram na
ltima dcada no Brasil. Muito embora haja recursos pblicos disponveis, as novas
maneiras de se lidar com a cultura tm decretado aos grupos, especialmente os da cultura
popular, uma quase total reorganizao.

13

Todavia, para fugir da dependncia, atualmente preciso contar com integrantes


ou colaboradores que saibam da necessidade de aprenderem a elaborar projetos, que busquem
entender as mincias dos editais e demais formas de captao, alm de criar em alguns casos
uma entidade jurdica que os represente.
O antroplogo Branislaw Malinowski1 revolucionou a Antropologia nas trs primeiras
dcadas do sculo XX. Segundo ele, toda a estrutura de uma sociedade encontra-se
incorporada no mais evasivo de todos os materiais: o ser humano2.
Esse trabalho e o resultado de uma inquietao, que me acompanhou no perodo de
2009 a 2013, quando cheguei a Laranjeiras para trabalhar como documentarista do 35
Encontro Cultural de Laranjeiras e, logo em seguida, assumindo a Secretaria Municipal de
Cultura, foram cinco anos de uma histria de vida. No estudo fao uma descrio das aes
afirmativas, polticas pblicas e do relacionamento adotado pela gesto municipal de
Laranjeiras atravs do trabalho da pasta da Secretaria Municipal de Cultura, com os atores da
cultura de Laranjeiras, tendo como a situao do recorte o Grupo Cacumbi Mestre Deca,
procurando descrever como houve o renascimento e a renovao da tradio do Cacumbi.

MALINOWSKI, B. 1 Objetivo, mtodo e alcance desta pesquisa. In: GUIMARES, A. Z. (org.).


Desvendando as mscaras sociais. 2 ed. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves Editora, s/d.
2
Minayo MCS. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em sade. Rio de Janeiro: Abrasco; 2004.

14

2. CACUMBI
O Cacumbi um folguedo popular, sua origem se perdeu no tempo, impossibilitando
dessa forma, marcar com exatido a sua fixao no Pas.
Sabe-se que o folguedo vm da variao de Autos e Bailados, como as Congadas,
Guerreiros, Reisados, Lambe Sujos e Caboclinhos que so variaes de denominaes, mas
que vem de um s referencial a Luta entre o Rei negro e Rei indgena. Tendo um contedo
dramtico na sua apresentao.
Cacumbi, Quicubi, Catumbi e Ticumbi, so nomes dados a diferentes folguedos afrobrasileiros que tm os Reis Congos e o louvor a So Benedito e Nossa Senhora do Rosrio em
comum, uma variante das congadas. Uma manifestao de puro sincretismo brasileiro. O
Cacumbi era uma prtica exercida pelos escravos africanos nos canaviais e representa as
guerras entre reis e rainhas contra os escravos.

Figura 1 Cacumbi de Florianpolis, comandada


pelo capito Amaro. (VOLPATO, Rosane in )

A pesquisadora Patrcia Souza Teixeira em seus trabalho Cacumbi, Catumbi,


Quicumbi, Ticumbi 2006, revela que:
O folguedo, por sua energia cores e alegria exerce no olhar dos moradores e
visitantes uma enorme atrao. O Grupo fascinava pelos sons dos apitos, pandeiros,
3
4
5
ona(cuca) , Ganza , Reco Reco e outros instrumentos musicais, alm das danas e
Ona um instrumento musical membranofone de frico, com uma haste de madeira presa no centro da
membrana de couro, pelo lado interno. O som obtido friccionando a haste com um pedao de tecido molhado e
pressionando a parte externa da cuca com dedo, produzindo um som de ronco caracterstico. Outras
denominaes para o instrumento: Cuica, puta, roncador e tambor-ona.
(http://www.percussionista.com.br/instrumentos/cuica.html )
4
Ganz um instrumento musical de percusso de origem africana, utilizado no samba e outros ritmos
brasileiros. O ganz classificado como um idiofone, executado por agitao. um tipo de chocalho, geralmente
feito de um cilindro oco, preenchido com areia, gros de cereais ou pequenas contas...
( http://www.onjoangoma.com/2010/07/ganza.html )
3

15

roupagens caractersticos; exibem estandartes, coroavam seus reis e rainhas; com


trovas e procisses percorriam as ruas das cidades homenageando os oragos 6 de
devoo. um conjunto de influncias da cultura negra e europia catlica. Este
folguedo tradicionalmente comemorado no dia 06 de janeiro, na Festa dos
Santos Reis.

Seus aspectos podem ser comparados aos de outras regies do Brasil como as
Congadas em Minas Gerais e os Cucumbis do Rio de Janeiro; os Cacumbis e os Ticumbis do
Estado do Esprito Santo ou de Santa Catarina.

Figura 2 Grupo Cacumbi - cortejo de Rua, imagem: Neu Fontes

Reco reco instrumento de percusso que produz um rudo rascante e intermitente, causado pelo atrito de duas
partes separadas, e que, em seu feitio mais conhecido, consiste num gomo de bambu no qual se abrem regos
transversais e que se faz soar passando por estes uma varinha ou tala:...(Dicionrio Aurlio, pg.1721)
6
Entoam as oraes cantadas em homenagem a So Benedito.

16

3. O CACUMBI DO MESTRE DECA


A cidade de Laranjeiras/SE um dos municpios mais ricos, em manifestaes
folclricas e culturais do estado de Sergipe e do nordeste, com seus 25 grupos de cultura
popular.

Figura 3
Mapa de Sergipe com referencia de Laranjeiras.

Dentre as vrias manifestaes folclricas que a cidade apresenta por suas ruas de
pedra, enladeiradas e estreitas, temos o Cacumbi do Mestre Deca.O Cacumbi de Laranjeiras
no tem mais o teor dramtico, segundo seu chefe Mestre Deca em entrevista a Professora
Beatriz Gis Dantas em 1985:
Eu j brinquei no Cacumbi de Joo de Pita, e tinha Rei e Rainha, Cabco. Eu acho
um negocio fora de srie, n[...] uma ruma de home, com uma mui atrs s pra
acompanhar[...] aquela historia de quem tem o reis, tem a rainha[...] Isso
interessante quando tem outro cacumbi, por que um rouba a rainha do outro (1985)

Figura 4 Mestre Deca no comando nos anos 80.

O Tempo levou o grupo a se transformar em uma manifestao coreogrfica de um


bailado alegre e rico. O Cacumbi de Laranjeiras oriundo dos componentes da confraria de

17

So Benedito7 o grupo formado somente por homens que so considerados verdadeiros


arteses da simtrica dos gestos (Dantas, 2013). Formado pelo Mestre8, Contra-Mestre e
danarinos que cantam, danam e tocam seus instrumentos, a idade dos participantes tem uma
variao entre 17 a 86 anos, e so todos moradores de Laranjeiras. O Cacumbi se apresenta
em forma de cordes (fila indiana), sempre em nmeros pares, de acordo com a quantidade de
componentes, que varia de uma apresentao para outra. O Mestre fica no meio dos cordes,
comandando o grupo com um apito. A musicalidade do grupo est relacionada ao momento
da apresentao, se a brincadeira for na rua, eles cantam msicas de cortejo de rua; se
estiverem dentro da Igreja ou na procisso, sero msicas especificas para a ocasio. O grupo
acompanhado por instrumentos de percusso como pandeiros, ganzs, reco-reco e caixas,
que so usadas pelos componentes do grupo, ao mesmo tempo em que apresenta seu bailado,
a nica figura que no utiliza instrumento o Mestre. A indumentria bastante alegre, com
cores muito fortes, pautadas no amarelo ouro para as camisas e no branco para as calas usam
muitas fitas coloridas para enfeitar a camisa e no chapu, que de palha e forrado de acordo
com a cor usada pelo componente, bastante enfeitado de fitas e espelhos. Essa a
indumentria dos danarinos.
A figura que fica frente, que o lder, tem sua indumentria diferenciada, usando a
cor azul na sua camisa e muitas fitas coloridas enfeitando o chapu e a camisa. Utiliza um
apito para comandar a coreografia do grupo.

Figura 5 Cacumbi do Mestre Deca, no comando Mestre Testinha

A irmandade era o lugar onde possibilitava a populao de cor estabelecer um espao de autonomia dentro da
sociedade, pois, ao se inserir nas confrarias negras as comunidades mais carentes detinham alguns benefcios.
8
O Mestre o regente do espetculo. Utilizando apitos, gestos e ordens, comanda a entrada e sada de peas e o
andamento das execues musicais.

18

No inicio dos anos de 1970 registrado nos primeiros estudos dos grupos da cultura
popular em Sergipe da professora Beatriz Dantas para UFS; O Folguedo, liderado por Joo de
Pita, tinha apresentaes espordicas com muitas dificuldades pois o chefe e muitos
brincantes moravam na rea rural. O municpio de Laranjeiras se localiza na Zona Litornea
do Estado de Sergipe. A cidade se situa numa regio repleta de morros e colinas, banhada
pelo Rio Cotinguiba que passa pelo centro histrico e na divisa do municpio desgua no rio
Sergipe. Sua principal localidade o Centro, onde encontra-se a parte histrica da cidade, a
Cidade e possui vrios povoados e bairros, muitos dos quais na rea rural.
H registros da Segunda Metade da dcada de 1970, e confirmado pelo mestre Deca,
que cita o mestre Otaclio e Jos de Rosa da Silva (Zezinho) como lideres do Cacumbi em
Laranjeiras, e que havia mais de um grupo de Cacumbi na cidade, no final dos anos 70 e
comeo da dcada de 1980 assume o grupo o brincante com o nome de Batismo Jos Santana
dos Santos, conhecido por todos como Deca.
O Mestre Deca, nasceu em 13 de julho de 1936 na Fazenda Boa Luz no municpio de
Laranjeiras/SE, filho de Cndido Ramos dos Santos e Maria So Pedro dos Santos.
Participo do Cacumbi desde pequeno. Eu brincava com os falces, com os chefes.
O meu mestre e amigo Zezinho morreu, fiquei n , pra no deixar cair [...] O Mestre
antigo era o Z de Pita[...]Mas eles no ensinava a ningum, o Mestre minha
cabea mesmo (Mestre Deca 1985)

Nesse mesmo ano o Mestre Deca faz sua primeira manifestao sobre a forma que os
grupos so tratados pelo poder pblico, registro no livro Mensageiros do Ldico da
Professora Beatriz Gois Dantas.
[...] Por que ningum olha pro lado da gente. A gente fica ai... s chega pra gente
quando tempo de brincadeira e depois fica pr l. No tem nada, entendeu? Eu e
todos os chefes merecia ns ter um cachzinho mensal ou por semana, entendeu
(Mestre Deca, 1985).

O Mestre Deca permaneceu danando com seu grupo Cacumbi ate 2008 quando uma
queda o deixou impossibilitado de continuar a brincar. Em entrevista reproduzida no site da
banda Sulanca (www.sulanca.com.br), realizada pelo pesquisador musical Jorge Ducchi em
2008, fica clara a decepo e a tristeza do Mestre Deca na dedicao durante quase 40 anos a
cultura popular e ao seu Cacumbi.
O senhor se arrepende de ter sido um mestre de uma manifestao to
importante como o cacumbi? No. Eu t arrependido agora. Oi, nos meus trinta e
trs anos de encontro, eu me arrependi devido s ingratides... Ns brinca em
Aracaju, Itabaiana, em qualquer lugar, entendeu? L fora pagam, mas aqui! aqui s
recebi dinheiro duas vezes em trinta e trs anos. Oi, se eu disser uma coisa, o senhor
no vai acreditar, sabe o que fizeram com a gente? Chamaram a gente pra uma
apresentao, pra uma filmagem na porta da igreja da matriz, e eu reuni meu grupo,
acertei tudo direitinho e quando acabou sabe o que vieram me dar? duas garrafas de
[...]

19

pitu, eu me conformei e fiquei com isso guardado, entende? Esse ano eu ainda me
fardei aqui, mas a dor que tem no osso do quarto, aqui... No tem jeito pra sarar, e
quando eu desci por aqui, a dor me pegou, roendo bem dentro do osso, e eu sem
poder dar o passo, entendeu? E a, deixei meu menino, fardei ele e ele foi. (Mestre
Deca 2008)

Nesse panorama, cheguei em Laranjeiras no inicio de 2009, como produtor e Diretor de


um documentrio sobre o XXXV Encontro Cultural de Laranjeiras que acontece nas
comemoraes da Festas de Reis9. Convidado pela senhora Maria Ione Macedo Sobral que
tinha sido reeleita Prefeita de Laranjeiras e que gostaria de retornar o caminho perdido dos
significados do Encontro Cultural de Laranjeiras10.
O Prof Luis Antnio Barreto(2000) um dos seus criadores, define o Encontro como:
... um mostrurio da criao popular, abrangente e representativo para a exaltao
da vida e da alma das populaes mais simples de Sergipe, especialmente do povo
de Laranjeiras (Fala de abertura do Encontro Cultural de Laranjeiras em 2000).

A inteno da Gestora Municipal era garantir que o Encontro mantivesse a mesma


motivao da criao do Encontro em 1975, empunhando a bandeira da pesquisa, do estudo e
da difuso do folclore, a proteo dos grupos, a valorizao dos brincantes, estudando o
melhor modo de garantir para o futuro a sobrevivncia dos traos de cultura que o tempo tem
deixado nos guardados do povo, legado, deixado nos caminhos de inmeros pesquisadores,
estudiosos e brincantes que passaram pelas ruas de Laranjeiras, atravs dos anais publicados a
cada Encontro.
Reencontrei os mestres e grupos da cultura popular, amigos que fizemos nas nossas
caminhadas e pesquisas de msicas e ritmos da cultura popular realizadas nos anos noventa, e
constatamos a ausncia do Mestre Deca na chefia do seu Cacumbi. O documentrio mostrou,
um punhado de homens amarrotados e sem liderana, participando do cortejo de abertura do
referido Encontro. O Mestre Deca s participou no domingo na Igreja So Benedito na
coroao das Taieiras11, muito abatido e sendo apoiado pelo filho Antnio Carlos.
No ms de Maro de 2009 fomos contratados pela Prefeita Ione Sobral a prestar
assessoria na formulao de um planejamento nas reas de turismo, Cultura e comunicao,
de imediato ao chegar ao municpio, procuramos o Antnio Carlos, filho do Mestre Deca para
9

Festejado em 6 de janeiro, o Dia de Reis uma festa catlica que marca a data da visita dos trs reis magos Gaspar, Melchior e Baltasar - ao menino Jesus, em Belm.
10
O Encontro Cultural de Laranjeiras criado em 1975, erguido num cenrio exuberante de tradio, que vem
sendo mantido pelo mais democrtico exerccio da continuidade.
11

O sentido religioso da Taieira originalmente inspirado no catolicismo, encontra-se hoje em Laranjeiras


mesclado com elementos das crenas afrobrasileiras. terreiro a Taieira recebeu influencia do culto negro..
Beatriz Gis Dantas A Taieira em Sergipe pag 29

20

ter noticias da sade do Mestre, pois desde o Encontro Cultural estvamos preocupados com a
cena que presenciamos e gravamos para o documentrio. O Antnio Carlos informou que o
Mestre Deca estava em casa acamado com muitas dores e sem vontade nenhuma de continuar
a viver.
A Professora Isaura Botelho coloca em sala de aula que toda ao das polticas
publicas s podem ser considerada como tal, se levar a um resultado da melhoria na vida da
populao;
A constituio da Repblica Federativa do Brasil, 2008, diz;O poder pblico, com a
colaborao da comunidade, promover e proteger o patrimnio cultural brasileiro, por
meio de inventrios, registros, vigilncia, tombamento e desapropriao, e de outras formas
de acautelamento e preservao.
A Constituio Brasileira atribui ao Estado e sociedade civil a responsabilidade
de preservar o patrimnio cultural. Porm, nem o Estado, tampouco a sociedade
dispem de instrumentos jurdicos eficazes para exercerem seus deveres culturais e,
por isso, ambos so omissos em suas respectivas responsabilidades. (Claudia Sousa
Leito 2010)

A omisso estava clara. Nem a gesto municipal anterior sentiu a falta do mestre, e
no teve o interesse em saber quais os motivos do afastamento dele, nem a sociedade civil
sentiu a falta do Mestre na brincadeira do Cacumbi, e tampouco a famlia, que fugia da sua
responsabilidade. A Prefeita trouxe a responsabilidade para a gesto. Foi constatado que o
Mestre tinha fraturado a bacia e estaria impossibilitado de danar no seu Cacumbi. Em uma
primeira ao quanto ao Mestre Deca, a Prefeita Ione Sobral, acompanhada da Secretaria de
Sade e do Secretario de Cultura do Municpio, fizeram uma visita ao Mestre, solicitando a
famlia que deveriam lev-lo ao mdico urgentemente. A Gestora Municipal autorizou que
fosse utilizado todos os mecanismos da gesto municipal, no apoio a resoluo do problema.
Assim foi feito e todos os exames foram realizados.
Nesse momento o total desmonte do Cacumbi era visvel. Sem comando, os brincantes
foram se afastando se desiludindo da brincadeira. Dos 18 componentes necessrios
minimamente para a brincadeira s restavam 14, o grupo estava no agonizando, era eminente
o fim das historias de luta dos Mestres que o chefiaram, o Cacumbi estava prestes a
desaparecer.
A Doena fsica do mestre Deca j tinha como tratar, mas como a gesto municipal
faria para renovar as energias e a fora do Mestre na reestruturao do grupo?
Em 12 de Junho de 2009 o ento presidente Lula iria inaugurar o campus das Artes
(UFS) em Laranjeiras, e todos os Secretrios e assessores foram convidados para uma reunio

21

com a Prefeita. Uma das

questes em pauta era o que a cidade daria de presente ao

Presidente?
Surgiu a oportunidade de colocar em prtica as primeiras aes afirmativas12, aes
que j estavam no planejamento, e que seriam de suma importncia para a valorizao e
sobrevivncia da cultura popular da cidade.
A proposta da Secretaria da Cultura para a Prefeita era; A gesto daria ao presidente
dois presentes: O primeiro presente seria uma imagem de So Jorge Guerreiro em madeira, do
arteso Mestre Demar13, e o outro presente, o chapu do Mestre e o pandeiro, que d o
ritmo funo que representava a cultura do Municpio. Alm do presente a Prefeita
convidaria os Mestres Demar e o Mestre Deca para junto com ela, entregar os presentes ao
Presidente da Repblica, como representantes da cultura Laranjeirense. Os Mestres da Cultura
Popular, so fontes de memria e raros conhecimentos especficos em qualquer sociedade,
essa era a hora do reconhecimento e da visibilizao dos Mestres
Presidente Lula apresento a Vossa Excelncia os nossos mestres da cultura
popular[...], Laranjeiras deve muito a esses mestres e uma honra est ao lado deles
nesse momento to importante para a cidade[...],o momento simboliza o
soerguimento da tradio cultural e da gerao de novas oportunidades para todos,
faremos de Laranjeiras a Capital da Cultura Popular do Pas (Ione Sobral 2009,
Trecho do discurso)

Figura 6 Marcelo Deda, Ione Sobral, Lula e Mestre Deca

12

Aes afirmativas so medidas especiais e temporrias, tomadas ou determinadas pelo estado, espontnea ou
compulsoriamente, com o objetivo de eliminar desigualdades historicamente acumuladas, garantindo a igualdade
de oportunidades e tratamento, bem como de compensar perdas provocadas pela discriminao e marginalizao,
decorrentes de motivos raciais, tnicos, religiosos, de gnero e outros.
13
Notvel escultor em madeira de Laranjeiras, Mestre Ademar Lima assina seu nome artstico como Demar.

22

Essa ao afirmativa em um primeiro momento, instigaram e encorajaram os filhos do


Mestre Deca a voltarem para o grupo. Antnio Carlos (Neguinho), filho mais velho do Mestre
e anos antes o Contra-Mestre da Brincadeira assume a coordenao do grupo, enquanto os
irmos Jos Carlos dos Santos (Testinha) e o Jos Adilson dos Santos (Z Adilson) assume as
funes de Mestre e Contra Mestre, respectivamente.

Figura 7 Mestre Deca e Antonio Carlos (Neguinho)

Para reforar a ao, logo em seguida em 08 de Julho de 2009 nas comemoraes dos
189 anos de emancipao do Estado de Sergipe, o governador do Estado Marcelo Dda, faz
uma homenagem ao Mestre Deca com a Medalha do Mrito Cultural Tobias Barreto. Em
Agosto de 2011 o Cacumbi de Laranjeiras recebe dois grandes incentivos em forma de
homenagem, participou do Encontro Nacional de Cultura Popular Brincantes Brasileiros
em Joo Pessoa, onde receberam uma placa de Mrito pelo trabalho que estavam realizando
em prol da cultura popular no Brasil, homenagem feita pela Fundao Cultural de Joo
Pessoa. J no dia 19 de agosto a pesquisadora e fotografa Janaina Couvo realizou uma
Exposio dedicada ao Mestre Deca nas comemoraes do Ms do Folclore nos sales do
Museu Afro-brasileiro de Sergipe, localizado em Laranjeiras.
Todas essas aes da gesto municipal estimularam a famlia do Mestre Deca, que
voltaram a acreditar na importncia do Pai. hoje sou um fazedor de cultura por algumas

23

palavras que o meu pai me disse, sem a cultura no sobrevivo (Antnio Carlos dos Santos,
2009).
Os Filhos do Mestre Deca, conseguiram entender a importncia, a referncia cultural e
a tradio do Mestre. A gesto municipal por sua vez, prova do remdio que ela mesmo
autorizou a receita, e sua responsabilidade aumenta na construo de polticas pblicas
afirmativas.

Figura 8 Antonio Carlos(Neguinho) e Mestre Deca na Igreja So Benedito

24

4. PANORAMA DO FINANCIAMENTO DAS MANIFESTAES POPULARES


A tradio do financiamento cultura no Brasil esteve marcada na maior parte de sua
histria pela chamada poltica de balco. Ele deve atender a todos e ter em seus princpios,
transparncia, acesso democrtico, equidade de oportunidades e carter republicano, e acabar
com a lgica do favor. Esse modo se apresentava no ambiente autoritrio que se vivia no Pas
nos anos da ditadura militar.
O Governo Lula atravs do trabalho do Ministro Gilberto Gil transforma o panorama
da cultura, difundindo os editais como maneira para realizar a distribuio dos recursos
estatais. O Professor Albino Rubim diz que: A adoo dos editais como procedimento
garante um carter mais transparente, democrtico e republicano aos campos de cultura.
(http://aldeianago.com.br/artigos/5/6726-financiamento-da-cultura-e-editais-por-albinorubim)
Os editais se tornaram um enorme avano, mesmo se mostrando em algumas reas
deficientes. Eles apresentam algumas limitaes; as exigncias que os proponentes tenham
capacidade de elaborar e gerenciar os projetos, a prpria qualificao dos avaliadores deste
processo de seleo e a dificuldade na divulgao e informao deixam muitas reas de fora
nos primeiros momentos, principalmente na rea da cultura popular, ainda hoje.
A falta de dilogo com a cultura popular era um grande desafio, e em 23 de Fevereiro
de 2005 acontece o primeiro Seminrio Nacional de Polticas Pblicas para as Culturas
Populares em Braslia,

promovida pela recm criada Secretaria da Identidade e da

Diversidade Cultural do Ministrio da Cultura; que passa, juntamente com o IPHAN14, a


promover uma poltica mais eficaz e efetiva de fomento ao patrimnio cultural imaterial por
todo o pas, especialmente das expresses culturais tradicionais e populares brasileiras.
A somatria de esforos para diminuir os anseios dos indivduos, grupos e
comunidades nos quais nunca tiveram seus modos de fazer respeitados; os intelectuais,
agentes e amantes dessa cultura e a sensibilidade dos gestores, foi decisivo para termos o
primeiro passo para o conhecimento e a valorizao das culturas populares.
Ao exemplo da prtica japonesa, o Brasil tambm comea a considerar seu
patrimnio cultural imaterial como riqueza nacional e por isso, resgata seu papel
de formulador de polticas pblicas para sua valorizao e difuso quando realiza os
registros do samba de roda, do ofcio das baianas do acaraj, do Crio de Nazar, da
Feira de Caruaru, do samba do Rio de Janeiro, do Tambor de Crioula no Maranho,
da viola do cocho do Pantanal, do jongo e da cachoeira do Iauaret, assim como do
frevo de Pernambuco. (Claudia Sousa Leito, 2010 VI Enecult)
O Instituto de Patrimnio Histrico e Artstico Nacional (IPHAN) uma autarquia federal vinculada ao
Ministrio da Cultura, responsvel por preservar os diferentes elementos que compem a sociedade brasileira.
14

25

O grande foco de atuao do IPHAN - Instituto do Patrimnio Histrico e Artstico


Nacional foi a salvaguarda do patrimnio material ou edificado. S em 04 de agosto de 2000,
com decreto n. 3.551, que foi institudo o Programa Nacional do Patrimnio Imaterial. Esse
Programa se prope a viabilizar projetos de identificao, reconhecimento, salvaguarda e
promoo da dimenso imaterial do patrimnio cultural. Sempre em parcerias com
instituies dos governos federal, estadual e municipal, universidades, organizaes no
governamentais, agncias de desenvolvimento e organizaes privadas ligadas cultura,
pesquisa e ao financiamento.
O Programa Nacional do Patrimnio Imaterial assume os desafios da preservao da
imensa riqueza da diversidade cultural brasileira, definindo as seguintes diretrizes para o seu
fomento (IPHAN, 2000):
Promover a incluso social e a melhoria de vida dos produtores e detentores
do patrimnio cultural imaterial;
Ampliar a participao dos grupos que produzem, transmitem e atualizam
manifestaes culturais de natureza imaterial nos projetos de preservao e
valorizao desse patrimnio;
Promover a salvaguarda de bens culturais imateriais por meio do apoio s
condies materiais que propiciam sua existncia, bem como pela ampliao
do acesso aos benefcios gerados por essa preservao;
Implementar mecanismos para a efetiva proteo de bens culturais imateriais
em situao de risco;
Respeitar e proteger direitos difusos ou coletivos relativos preservao e ao
uso do patrimnio cultural imaterial.
Os bens registrados so inscritos nos Livros de Registro dos Saberes, das
Celebraes, das Formas de Expresso e dos Lugares (IPHAN, 2006), assim definidos:
Os saberes ou modos de fazer so atividades desenvolvidas por atores sociais
conhecedores de tcnicas e de matrias-primas que identificam um grupo
social ou uma localidade;

26

As celebraes so ritos e festividades associados religiosidade, civilidade


e aos ciclos do calendrio, que participam fortemente da produo de
sentidos especficos de lugar e de territrio;
As formas de expresso so formas no-lingusticas de comunicao
associadas a determinado grupo social ou regio, traduzidas em
manifestaes musicais, cnicas, plsticas, ldicas ou literrias;
Os lugares so espaos onde ocorrem prticas e atividades de natureza
variadas, tanto cotidianas quanto excepcionais, que constituem referncia
para a populao.
Em 2003, profundas transformaes acontecem dentro da lgica de funcionamento do
Ministrio da Cultura. Essas transformaes tm como objetivo agilizar a forma de
financiamento e de reformular uma poltica de incentivos, antes centrada basicamente na Lei
Rouanet (PRONAC)15.
O Programa possua trs mecanismos de estmulo a projetos culturais: o FNC Fundo
Nacional da Cultura, o FICART Fundo de Investimento Cultural e Artstico e o
MECENATO Incentivo a projetos culturais.
O Seminrio Cultura para todos promoveu consultas pblicas e seminrios que tinha
o objetivo de rearranjar internamente os mecanismos de financiamento. Os participantes
receberam duas perguntas para responder, e do dilogo ao redor de suas respostas poderiam
sair as reformulaes ministeriais.
A partir da, a Lei Rouanet vem sendo repensada, os problemas e desencontros em
meio aos quais a sociedade civil e o poder de Estado no conseguiam estabelecer dilogo.
Esse mecanismo de incentivo desenhado 20 anos, imaginou-se que deixando para o
empresrio definir onde colocar seus recursos, poderia estimular a parceria pblico-privada,
onde as empresas colocariam parte dos recursos prprios e parte dos recursos viriam do
incentivo fiscal. A Lei foi sendo modificada e manipulada ao longo dos anos, para que os
empresrios colocassem cada vez menos recursos e o governo mais recursos, at chegar a
Ruanet em que nada do empresrio aplicado.
As empresas colocam dinheiro para projetos culturais, uma pea de teatro, por
exemplo. Depois, ela tem todo ou boa parte do dinheiro de volta, porque deixa de pagar esse
15

Em 1991 homologado, pela Lei n 8.313, de 23 de dezembro, o PRONAC Programa Nacional de Apoio
Cultura. Popularmente conhecido como Lei Rouanet, em reconhecimento ao criador, o socilogo Srgio Paulo
Rouanet. O Programa buscava fomentar alternativas em que se mesclavam a interveno pblica e a privada para
o financiamento de projetos por meio de deduo no imposto de renda, de pessoas jurdicas e fsicas.

27

valor em impostos, e com isso escolhe o artista ou projeto para divulgar a sua marca. E quem
paga a conta o governo; esse procedimento concentrou o incentivo em produes no eixo
centro-sul, Rio de Janeiro e em So Paulo.
Como consequncia, em 2010 a Lei reformulada, sendo implementada pela primeira
vez. O PRONAC transforma-se em PRCULTURA - Programa Nacional de Fomento e
Incentivo Cultura, aprovada pelo Projeto de Lei n 6722/2010.
Em 2007, o Ministrio da Cultura implementa o Programa Mais Cultura16. Este est
dividido em trs estruturas bsicas, todas com foco sobre a participao da sociedade civil e
jurdica: Cultura e Cidadania (que organiza o Cultura Viva); Cultura e Cidades; e Cultura e
Economia.
A estrutura Cultura e Cidadania promove o Programa Cultura Viva, que por sua vez
promove os Pontos de Cultura. Pelas estatsticas do Minc o Programa Cultura Viva a
iniciativa que mais se aproxima das culturas populares.
O Cultura Viva tem como objetivos:
Ampliar e garantir acesso aos meios de fruio, produo e difuso
cultural;
Identificar parceiros e promover pactos com atores sociais governamentais
e

no-governamentais,

nacionais

estrangeiros,

visando

um

desenvolvimento humano sustentvel, no qual a cultura seja forma de


construo e expresso da identidade nacional ;
Incorporar referncias simblicas e linguagens artsticas no processo de
construo da cidadania, ampliando a capacidade de apropriao criativa
do patrimnio cultural pelas comunidades e pela sociedade brasileira ;
Potencializar energias sociais e culturais, dando vazo dinmica prpria
das comunidades e entrelaando aes e suportes dirigidos ao
desenvolvimento de uma cultura cooperativa, solidria e transformadora;
Fomentar uma rede horizontal de transformao, de inveno, de fazer e
refazer, no sentido da gerao de uma teia de significaes que envolva a
todos ;
Estimular a explorao, o uso e a apropriao dos cdigos de diferentes
meios e linguagens artsticas e ldicas nos processos educacionais, bem
16

Um programa pautado na integrao e incluso de todos segmentos sociais, na valorizao da diversidade e do


dialogo com os mltiplos contextos da sociedade brasileira (Minc).

28

como a utilizao de museus , centros culturais e espaos pblicos em


diferentes situaes de aprendizagem e desenvolvendo uma reflexo crtica
sobre a realidade em que os cidados se inserem;
Promover a cultura enquanto expresso e representao simblica, direito
e economia. (MINC, noticirio, 2010).

Os Mestres e atores da cultura popular podem acessar os recursos do


PRCULTURA, ora por meio do Fundo Nacional de Cultura, ora meio do Incentivo Fiscal a
Projetos Culturais. O edital que determinar a fonte do fundo.
A partir das enormes dificuldades enfrentadas pelos segmentos populares e
tradicionais em relao ao acesso aos recursos pblicos e as enormes dificuldades enfrentadas
pelos segmentos populares pelos caminhos existentes poca (Convnios e Lei Rouanet,
dentre outras), O MinC inicia atravs de suas Secretarias e instituies, uma srie de
experincias no sentido de desenvolver formas inovadoras de acesso aos recursos pblicos
existentes para o fomento das culturas populares e tradicionais. Entre essas experincias o
formato de premiao se mostrou adequado ao nvel de organizao dos artistas tradicionais,
comunidades e grupos populares, e foi amplamente utilizado. Entre essas experincias temos
o Prmio Culturas populares.
O Prmio Culturas Populares, institudo em 2007, pela Secretaria da Identidade e da
Diversidade Cultural (SID/MinC), teve como objetivo reconhecer a atuao de Mestres e
Grupos/Comunidades responsveis por iniciativas exemplares que envolvessem as expresses
das culturas populares brasileiras. De acordo com o Edital, entende-se por iniciativas
exemplares as que envolvam as expresses das culturas populares brasileiras como aes e
trabalhos, individuais ou coletivos, que fortaleam as expresses culturais populares,
contribuindo para sua continuidade e para a manuteno dinmica das diferentes identidades
culturais no Brasil.
O Prmio Culturas Populares foi precedido, em 2005, por um edital de
conveniamento. Depois, foram lanadas trs edies em 2007, 2008 e 2009 e foram
destinados R$ 6,9 milhes para 695 iniciativas diferentes de todo o pas. Em mdia, foram
investidos R$ 862,5 mil por ano nessa ao, sendo R$ 9.928,05 em mdia para cada iniciativa
premiada. Em 2013 foram R$ 5 milhes, aumentando a mdia anual de investimento para R$
1.322.222,22.

29

Os prmios so alternativas bastante valiosas, mas so aes pontuais, sem


consequncias a longo prazo, e se mostram paliativas; mesmo reconhecendo o papel
fundamental na valorizao e apoio das expresses culturais populares.
Precisamos de polticas de financiamento slidas, que atendam os princpios da
transparncia e acesso democrtico, a equidade de oportunidades e o carter
republicano alm de um vasto programa de formao e orientao dos atores.
(Albino Rubin 2012),

A partir das experincias vivenciadas na rea das culturas populares, principalmente


no perodo de 2009 a 2014 no qual estive como Secretario Municipal de Cultura e VicePresidente do Frum Nacional dos Dirigentes de Cultura das Capitais e regies
Metropolitanas, constatei que os programas, aes ou projetos do Governo Federal para o
segmento das culturas populares ainda contam com instrumentos burocrticos, com
linguagens formais e meios de comunicao eminentemente online. Sendo que, a maior parte
do pblico alvo interessado no segmento - e a qual essas aes devem se voltar - no
familiarizado com esses instrumentos, linguagens e meios de comunicao.
Mostramos alguns exemplos sobre esse apontamento: No final de 2009 e incio de
2010, durante a seleo de participantes para as Pr-Conferncias Setoriais de Cultura, as
inscries foram quase que inteiramente feitas pelo site do Ministrio da Cultura (MinC) e/ou
dos blogs das setoriais. Alm disso, pediam um 'dossi', uma srie de documentos que
comprove a atuao na cultura. Boa parte dos mestres (as) de cultura e saberes populares de
Laranjeiras no conseguiriam participar por conta de dificuldades de acesso a Internet ou de
atender ao envio de documentos comprobatrios se no houvesse a participao da Secretaria
de Cultura Municipal.
Outra dificuldade foi a candidatura para vaga no Colegiado Setorial de Culturas
Populares; o problema do Mestre em compreender ou acompanhar o que era o rgo, e o que
ele deveria fazer, alm do receio e at medo de todo o processo e do ambiente, pois, tudo era
muito novo. O Mestre Z Rolinha eleito (por dois binios membro do Colegiado Setorial de
Culturas Populares) foi Secult que se colocou como um mediador; e o auxiliou no processo
de familiarizao.
Um dos primeiros desafios da Secretaria de Cultura de Laranjeiras na gesto 20092013 foi os conflitos gerados pelo Prmio de Culturas Populares, pois, por vrios momentos,
houve necessidade de uma interveno da Secult nos conflitos entre Mestres e Brincantes dos
grupos. Quando os brincantes ou figuras descobriam, que o valor do prmio era R$ 10.000,00
(Dez mil reais), esse grupos de pessoas, que dedicam suas vidas a brincadeira, e em sua

30

grande maioria nunca foram remunerada, cobravam dos mestres a sua parte, e no
conseguiam entender o por que do prmio s para o Mestre, pois quando eles recebiam
enquanto grupo, o valor era dividido entre todos, inclusive o Mestre ou algum ligado a ele
(famlia).
Laranjeiras com suas manifestaes da Cultura Popular e de grupos de capoeira,
arteses, Terreiros, poetas populares, tem grandes dificuldades de acesso internet e de
leitura; portanto, sem condies de preencher as fichas de inscries ou projetos, ficando essa
misso de apoio, informao e preenchimento Secult. E por essa prestao de servio, e por
estarem mais prximos aos atores da cena da cultura que sero ou no beneficiados,
responsabilizando por qualquer problema, isso gerado pela no comunicao direta entre o
Minc e a Secretaria Municipal.
Alguns Editais e Prmios para a Cultura Popular.
Editais e prmios
Edital Prmio Culturas
Populares
Edital Prmio de Cultura AfroBrasileira
Edital Prmio Aes de
Cultura Cigana
Edital Prmio Cultura
Indgenas
Prmio Patrimnio Cultural
dos Povos e Comunidades
Tradicionais de Matriz
Africana
Prmio Defilo Gurgel de
cultura popular

Edital ProAC Culturas


Populares e Tradicionais
Edital de Culturas Populares
Edital Prmio Mestres da
Cultura Popular de Belo
Horizonte
Prmio Viva Meu Mestre
Lei Mestre Mestres
Tesouros Vivos da Cultura
Projeto de Lei 7792/2010
aposentadoria por idade de
repentistas e de cordelistas

Instituio

Beneficirios

Recursos

Edio

SCDC/Minc

350

5.000.000,00

2012

Fundao
Palmares/MINC
MINC/SEPPIR

60

2.000.000,00

2014

60

857.107,20

2014

SCDC/Minc

100

1.650.000,00

2012

IPHAN/Minc

35

1.025.000,00

2014

SECRETARIA
EXTRAORDINRIA
DE CULTURA/FJA RN
SECULT/SP

11

218.000,00

2012

38

1.000.000,00

2013

SECULT/BA
FMC

Indeterminado
03

500.000,00
15.000,00

2014
2014

IPHAN
SECULT/Laranjeiras

100
4 por ano

1.500.000,00
2 salrios
mnimos por
ms

2010

SECULT/CEARA

Cmara dos Deputados


Federal

1(um)
Salrio
Mnimo

2010

31

5. FINANCIAMENTO DO CACUMBI EM LARANJEIRAS


Em de setembro de 2009, a Secretaria Municipal de Cultura assume a
responsabilidade de transformar essas aes em polticas pblicas permanentes. Os escassos
recursos e a falta de viso e vontade poltica para o setor da cultura trazem uma dificuldade na
realizao dessa polticas e que sempre me fez acreditar, que o bom gestor aquele que
consegue instrumentalizar os atores da cultura para que cada vez menos, precise dele(Fala da
posse de Irineu Fontes na Presidncia do Frum de Secretrios e Dirigentes Municipais de Cultura de Sergipe,
2011).

A gesto pblica da Cultura no Municpio, at pouco tempo, esteve conjugada a


outras reas da administrao municipal. Inicialmente, como grande parte dos municpios
brasileiros, a estrutura institucional da cultura dividia com a Educao uma mesma Secretaria.
No caso em questo, o Departamento de Cultura tinha ainda atribuies relacionadas gesto
do turismo local. No incio dos anos 2000 foi criada a Secretaria Municipal de Cultura e
Turismo; e somente no final de 2008, houve o desmembramento em duas secretarias
independentes.
O Municpio possui uma tradio secular de plo cultural do Estado e h quatro
dcadas promove um dos maiores e mais respeitados eventos culturais do Brasil o Encontro
Cultural de Laranjeiras, realizado a partir da dcada de 1970.
Convnios firmados nos ltimos anos resultaram em estudos, projetos e aes, a
exemplo da Oficina Escola de Laranjeiras. Instituda em 1998 em parceira com o Instituto do
Patrimnio Histrico e Artstico Nacional (Ministrio da Cultura), a oficina contribui para a
formao de mo-de-obra especializada em conservao e restaurao.
Na atualidade, as polticas pblicas vivenciadas no Brasil tm trazido um novo
modelo de gesto para a rea da cultura. A Secretaria participou pela primeira vez das
discusses do SNC, quando teve contato de fato com os significados e a importncia do
sistema para a concretizao da plataforma de gesto do Minc.
No Seminrio Sistema Nacional de Cultura(SNC) realizado pelo Ministrio, e
produzido pela SECULT/SE no dia 13 de agosto de 2009 em Aracaju, o ento Coordenador
geral de relaes federativas da SAI, Joo Roberto Peixe17 em resposta a um questionamento,
sobre por que deveria lutar pela adeso do municpio ao SNC, disse:

17

Joo Roberto Peixe, designer, arquiteto e gestor cultural pernambucano ocupava o cargo de secretrio de
Articulao Institucional no Ministrio da Cultura.

32

Somar, integrar, interagir, compartilhar, isso que o SNC quer fazer, uma gesto
compartilhada. No podemos mais deixar que sempre que mude o governo, se inicie
tudo do zero. Precisamos avanar e no ficar s nesse movimento de retomada.

Laranjeiras decidiu tomar essas medidas e aes como pressuposto estabelecendo um


novo dialogo com a cultura local. Com esta viso de gesto, e com algumas dvidas mais
certo que o caminho a seguir era uma gesto democrtica, a Secult influenciou a
administrao pblica municipal a inseri-se neste novo modelo, a gesto municipal encarou o
desafio.
Alm da criao de uma Secretaria prpria de Cultura; em 2009, foram
elaborados, em parceria com IPHAN, o PAC das Cidades Histricas/Laranjeiras para projetos
de recuperao e de revitalizao do patrimnio histrico da cidade. O Municpio aderiu ao
Sistema Nacional de Cultura18, atravs do Acordo de Cooperao Federativa para o
Desenvolvimento do SNC, a gesto municipal assumi compromisso com o MinC de construir
o Sistema Municipal de Cultura.
Em 2010 foi criado e institudo o Conselho Municipal de Polticas Culturais (lei n
920, de 30/03/2010) pioneiro no Estado por ter uma composio paritria entre
representantes do governo e da sociedade, o segundo pilar solicitado pelo Minc atravs do
Acordo de Cooperao. Essas aes geraram grandes avanos para o municpio, com
resultados importantes no contexto nacional.
No mesmo ano, foi realizado um estudo sobre economia da cultura local, juntamente
com as Secretarias de Cultura e do Desenvolvimento Econmico do Governo Estadual, que
recebeu o ttulo de Plano de Desenvolvimento do Arranjo Produtivo Local de Cultura.
Outro ponto importante est na realizao de trs Conferncias Municipais de Cultura;
a primeira em setembro de 2009 com o tema Cultura, Diversidade, Cidadania e
Desenvolvimento, a segunda em outubro de 2011 sobre Estratgias de Aes para o Plano
Municipal de Cultura e a terceira em Julho de 2013, com o tema Uma poltica de Estado
para cultural: desafios do Sistema Municipal de Cultura.
Foram realizadas diversas reunies, com todos os setores da sociedade, com base em
uma dinmica de mobilizao social batizada de Rodas de Conversa, um mtodo de discusso
que possibilitou aprofundar o dilogo com a participao democrtica, a partir da riqueza que
cada pessoa possui sobre o assunto. Na Roda cada integrante teve oportunidade de falar ou
18

Sistema Nacional de Cultura um processo de gesto e promoo conjunta das polticas pblicas de cultura. O
SNC estabelece mecanismos de gesto partilhada entre os entes federativos e considera o direito identidade,
diversidade e participao na vida cultural como umas das plataformas de sustentao da poltica nacional

33

expressar o que pensou. Agentes do movimento cultural do municpio indicaram os pontos


mais sensveis da cultura com possibilidades de interveno do Poder Pblico; a gesto
entendia suas necessidades e eles o que a gesto queria realizar junto cultura do municpio.
Com todas essas informaes e indicadores foi elaborado e aprovado em Lei n
996/2012 todo o Sistema Municipal de Cultura, Laranjeiras sendo o primeiro municpio
sergipano a ter em forma de lei todo o CPF19 (Conselho, Plano e Fundo), da Cultura
compromissos assumidos com Ministrio da Cultura (MinC); atravs do acordo de
Cooperao Federativa para o Desenvolvimento do SNC, que estabelece a existncia da
secretaria municipal de cultura ou rgo equivalente, conselho municipal de poltica cultural,
plano municipal de cultura, sistema de financiamento Cultura, programa de formao na
rea, sistema de informaes e indicadores culturais, sistemas setoriais e conferncia
municipal do setor. Laranjeiras, com seus 25 grupos de Cultura Popular, seus mais de 20
Terreiros de religiosidade afrobrasileira, seus grupos de capoeiras, de arteses em madeira e
de renda irlandesa20, que transformam a cidade na Capital da Cultura Popular; marca criada
para divulgar e oportunizar a cultura de Laranjeiras a chegar em todos os cantos do Pas.
Nessa concepo, a Secretaria trouxe para junto dela os atores da cultura, e no caso
particular do estudo em pauta, os da culturas populares; e assim, porque, na prtica funcionou
como um balco de projetos, gerando a participao desses grupos em editais, prmios,
participaes em conferncias, colegiados setoriais, Fruns, conselho, festivais e feiras de
cultura e turismo.
Foram fechadas parcerias e convnios com o Minc, Mtur, Secult/Se, UFS, UNIT e
SEBRAE, alm de se contratar uma consultoria da empresa INTERA de Arte e Economia
Criativa para cursos de formao, no apoio e na elaborao de propostas e projetos e para
avaliao e julgamento dos mesmos. Isso foi uma ao importante, pois alguns entraves da
burocracia no fechamento dessas parcerias e convnios foram resolvidos.
O resultado foi surpreendente, Laranjeiras entrou definitivamente nas discusses da
cultura nacional, assumindo um papel de destaque e se torna vice Presidente do Frum
Nacional dos Secretrios de Cultura das Capitais e Regies Metropolitana, Presidente do

O CPF (Conselho, Plano e Fundo) da Cultura faz parte do sistema Nacional de Cultura (SNC), modelo de
gesto criado pelo Minc, em 2010 e que deve ser implantando em todos os municpios brasileiros at 2020.
20
A renda irlandesa patrimnio cultural imaterial brasileiro um tipo de renda de agulha, dentre as muitas
existentes no Brasil. Combina uma multiplicidade de pontos executados com fios de linha tendo como suporte o
lac, produto industrializado que se apresenta sob vrias formas, sendo o fitilho e o cordo os mais conhecidos
na atualidade.
19

34

Frum dos Secretrios Municipais de Cultura de Sergipe. O Mestre Z Rolinha21 eleito


representante do Nordeste das culturas populares no colegiado Setorial das Culturas
Populares. Foram 15 mestres e mais de 10 grupos premiados, no premio de Cultura populares,
e entre esses grupos, o Cacumbi do Mestre Deca, grupo tema desse trabalho de TCC.
Com as aes afirmativas, o cuidado que a gesto municipal dedicou ao Mestre Deca,
e a valorizao do fazer do grupo, produziu como primeiro resultado, a volta dos filhos do
Mestre Deca, ao Cacumbi, retomando o caminho construdo pelo pai. O Antnio Carlos
Neguinho, filho mais velho, demonstrou, entre todos os mestres e coordenadores dos
grupos, ser o mais interessado em aprender e desenvolver o potencial cultural e se tornar
independente financeiramente da Prefeitura, como ele ressaltou em sua fala representando o
Mestre Deca, em uma das inmeras homenagens ao Mestre e sua historia;
Agradeo a todos o apoio que a prefeitura atravs da Secretaria da Cultura vem nos
dando[...] Meu pai me pediu para no abandonar a cultura, pois se ele esta vivo ate
hoje pelo o amor que ele sente pelo Cacumbi[...] T aprendendo a andar com
nossas pernas, com mais sabedoria entendeu [...]temos que nos organizar, para
nunca mais ningum tratar a gente como um bando de bbados[...]o melhor
resultado pra gente nunca mais depender da Prefeitura... (Antonio Carlos 2010 em
homenagem ao Mestre no dia do Folclore no Museu Afro de Sergipe)

Figura 9 Homenagem e Exposio com o Mestre Deca 2010 Museu Afro

Os tcnicos da Secretaria deram as primeiras orientaes ao grupo, como buscar os


editais, como colocar a idia do projeto no papel, como preencher as fichas de inscries,
como prestar contas entre outras informaes solicitadas pelo Cacumbi, tendo como
21

Jos Ronaldo de Menezes, mais conhecido como Z Rolinha, Mestre dos Grupos Chegana Almirante
Barroso, Batalho 1 de So Joo e Rei dos Lambe Sujo, manifestaes tradicionais de Laranjeiras.

35

resultando dois prmios: Prmio das Culturas Populares; O primeiro em 2009 concedido ao
Mestre Deca no valor de R$ 10.000,00 (Dez mil reais), e o segundo em 2010 como
Grupo/comunidades informais tambm no valor de R$ 10.000,00 (Dez mil reais). Esses dois
prmios impulsionaram de vez a Renovao da Tradio do Grupo Cacumbi.
As aes afirmativas estavam nas ruas e nas cabeas dos atores, Mestres e Brincantes
da cultura Laranjeirense; o Mestre Z Rolinha disse em entrevista para o site:
http://www.jornalinformacao.com/ - Aracaju/Sergipe em novembro de 2012:
Olha, a gente sabe muito bem que mesmo com todo o apoio que recebemos sempre
existe certo tipo de dificuldade. Para voc ter uma idia, o grupo da Chegana que
eu tambm fao parte, estava parado h quase 5 anos por no ter quem pudesse levar
o movimento e por isso eu fui convocado. A questo no de dificuldade, porque
com a entrada do Secretrio de Cultura de Laranjeiras, o nosso trabalho foi muito
mais bem valorizado e divulgado, a prerrogativa de tentar mant-lo e mostrar para
a sociedade a importncia da nossa cultura, passar isso de pai para filho.

A Prefeita Ione Sobral teve um papel importante, pois no media esforos para
garantir os investimentos na potencialidade da Cultura, principalmente na rea da cultura
popular, proporcionando a todos os grupos, Mestres e Brincantes a infraestrutura necessria
na produo (Material para as roupas dos Brincantes, Transportes para as apresentaes e
Cachet) e divulgao das expresses culturais da cidade (Revistas, Guias, Folds).

Figura 10
Guia Turstico para divulgao Nacional

36

Em 29 de outubro de 2009, para garantir em lei alguns avanos da gesto, foi


institudo em Lei n 909/2009, a Lei Mestres dos Mestres. Uma importante ferramenta para
a promoo da cultura popular. Ela visa registrar e reconhecer oficialmente o trabalho das
pessoas que dedicam suas vidas para manter ativas estas diversas manifestaes da cidade.
Este instrumento jurdico estabelece que sejam realizados registros anuais atravs de edital
pblico, avaliado por uma comisso de especialistas na rea, e validados pelo Conselho
Municipal de Poltica Cultural. No caso de comprovada vulnerabilidade financeira, a lei
tambm prev recursos para garantia de auxlio mensal, com dois salrios mnimos vitalcio
para os mestres reconhecidos, e o prmio para dois grupos/tradicionais, para realizao de
projetos propostos com financiamento de 10 salrios mnimos para dois anos consecutivos.
Nas duas primeiras edies a Lei alcanou 07 Mestres e 04 grupos, que foram: Mestres Z
Rolinha (Chegana), Sales (So Gonalo), Deca (Cacumbi), Demar (Arteso em Madeira), as
Mestras Nadir (Reisado de Nadir), Dona Maria da Conceio (Samba de Coco) e Efignia
(Guerreiro Nova Gerao) e os Grupos Cacumbi, Taieira, Samba de Pareia e Reisado Flor do
Lrio.
O Grupo Cacumbi recebe o seu segundo prmio de R$ 10.800,00 (Dez mil e
oitocentos reais); e dessa vez em um projeto pensado e elaborado por eles para compra do
terreno e a construo do seu barraco.
O Mestre Deca realiza um dos seus maiores desejos, o de ser agraciado com sua
aposentadoria no valor de dois salrios mnimos por ms, um prmio vitalcio, um
reconhecimento que demorou mais de trinta anos para chegar.
O Grupo Cacumbi Mestre Deca comea a buscar os caminhos para fugir da
dependncia; e buscou a formao de integrantes e colaboradores para elaborar projetos,
entender as mincias dos editais e demais formas de captao, alm de criar uma entidade
jurdica que os represente.
Seus integrantes criaram uma Associao de Brincantes com o objetivo de decretar
sua independncia e assim promoveram uma reestruturao exemplar ao viabilizarem uma
nova forma de se auto-administrarem.
A Secretaria Municipal de Cultura deu suporte tcnico ao grupo e eles vm
conquistando editais que possibilitam o levantamento de recursos para renovao do vesturio
e dos instrumentos, confeco de material promocional (cartes-postais, para-sis e camisas),
produtos que rendem ao grupo fundos para realizarem algumas aes como o auxiliar o
tratamento de sade para alguns integrantes, alm de cestas bsicas para os mais necessitados.

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Hoje o grupo est gravando/produzindo o primeiro lbum musical e o primeiro


documentrio Hoje amanh e sempre: A historia do Cacumbi do Mestre Deca, vai erguer
seu Barraco com estrutura para ensaios, almoxarifado, lavanderia, para e que possam receber
grupos irmos do Estado e de fora dele.
Em 2013, o Grupo conseguiu, atravs da Vereadora Celgena Franco aprovar a Lei que
institui o dia 13 de Julho como o Dia do Cacumbi Mestre Deca, em homenagem ao
aniversrio do Mestre.
Mais uma vez o Antnio Carlos foi em busca de apoio na Secretaria de Cultura e
ouviu, como sugesto, a realizao do Festival Mestre Deca Encontro Nacional dos
Cacumbis, para que todos os anos eles pudessem comemorar esse dia e perpetuar a data. O
Festival aconteceu no dia 20 de Julho, pois ficou impossibilitado de ocorrer no dia 13 de
Julho, pela final da Copa do Mundo de Futebol. O Local escolhido para o evento foi a Igreja
de So Benedito e o grupo montou uma extensa programao:

Figura 11 Cartaz do Festival Mestre Deca

PROGRAMAO DO FESTIVAL MESTRE DECA:


I Encontro Nacional de Cacumbis
05:00 Alvorada - Igreja So Benedito
07:30 Recepo e Cadastramento
08:00 Entrada dos Grupos e Saudao a So Benedito.

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Cacumbi Mestre Deca (Laranjeiras), Cacumbi Mestre Juarez (Itaporanga), Cacumbi Mestre
Nego (Japaratuba)
08:50 Abertura Oficia
09:10 Mesa: Professora Agla DAvila Fontes Renovando a Tradio
Hildnia Oliveira A Dana do Cacumbi
Luciano Aciolle O apoio do Legislativo as Culturas Populares
Terezinha Oliva Patrimnio Imaterial
Antnio Carlos dos Santos Cacumbi Mestre Deca
11:00 Apresentaes das Novas aes do Cacumbi Mestre Deca
Irineu Fontes Apresentao da Estrutura do Trabalho de TCC
Adelson Alves Apresentao da Nova Marca e Produtos com os signos do Grupo Cacumbi
Marcolino Joy e Palloma Carvalho Apresentao do trailer do Filme Documentrio
Jeane Caldas e Gustavo Arago Apresentando a Revista Educativa da Historia do
Mestre.

Figura 12 Mesa do Festival Mestre Deca - Mestre Deca, Mestre Juarez, Prof. Agla Fontes, Prof. Terezinha
Oliva, Hildenia Oliveira e Jackson Sousa. Imagem Neu Fontes

O Grupo Cacumbi do Mestre Deca, um exemplo bem sucedido de busca pela


independncia nesta rea. Com o suporte tcnico da Secretaria Municipal de Cultura, o grupo
tem conquistado editais que possibilitaram, e, assim, promoveram uma reestruturao

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exemplar, ao viabilizarem uma nova forma de se auto-administrarem e darem os primeiros


passos em busca de uma gesto compartilhada.

Figura 13: Mestre Deca/2014 Imagem Neu Fontes

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6. CONSIDERAES FINAIS
Laranjeiras introduziu um novo pensamento na gesto municipal da Capital da Cultura
Popular, calcado nas definies tericas do Minc. Todavia essas definies precisam serem
ajustadas, somos diferentes num contexto de iguais.
O processo ocorreu em etapas; houve a reaproximao entre Secretaria e os grupos,
sempre respeitando suas opinies, valorizando o seu conhecimento e dividindo a
responsabilidade do planejar. Foi um trabalho longo e difcil, mas realizado dentro das
expectativas deles. Foram resolvidos alguns bloqueios, como a desconfiana e a reticncia do
grupo com a gesto municipal, e o deficiente relacionamento anterior da Secult com as
manifestaes.
Nessa fase, os atores das manifestaes entenderam e aceitaram os tcnicos da
Secretaria como de algum externo, interessado em realizar algo bom e importante,
juntamente com eles.
Em entrevista a Daniel Douek, a Prof Dr Isaura Botelho diz:
Em primeiro lugar, o gestor cultural precisa conhecer a realidade com a qual est
lidando e ser capaz de dialogar com ela,[...] Em essncia, o gestor um mediador
entre diversas realidades
(http://centrodepesquisaeformacao.sescsp.org.br/noticias/entrevista-com-isaurabotelho 2014)

Foi estabelecida uma relao de confiana entre a Secretaria e os atores envolvidos


nessas aes. Nesse momento, me permito escrever na primeira pessoa do singular, pois foi
essa vivncia e essa experincia extraordinria que me fez elaborar e apresentar esse trabalho.
Ser um bom ouvinte, aprender tudo sobre a cidade e sua cultura, familiarizar com os
integrantes do grupo, ter pacincia e tolerncia nas discusses, e usar a criatividade e
sensibilidade para aconselhar e resolver situaes inesperadas, sem direcionar nenhuma
deciso, proporcionando uma viso ampla e detalhada da realidade do grupo.
Seria ingnuo achar que o trabalho realizado na gesto municipal ir resolver os
problemas da cultura ou do grupo Cacumbi do Mestre Deca, longe disso, mas bons resultados
foram obtidos.
A Secretaria de Cultura de Laranjeiras, durante cinco anos desenvolveu aes e
Polticas Pblicas para a rica diversidade cultural do municpio, sabendo que todos eram
iguais nos direitos, mas, muito diferentes na experincia cultural; portanto, havia a
necessidade de relacionamento adequado com cada manifestao, buscando sempre o

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empoderamento das aes e das polticas e que chegam a um resultado. A melhoria na vida da
populao, alm da confiana e auto estima dos atores da cultura.
O grupo Cacumbi de Mestre Deca se apoderou da sua historia e tradio, a passos
lentos, aprendeu a se relacionar a usar todo seu potencial de negociao sem gerar tanto atrito.
Eles esto em suas primeiras experincias, mas j possvel visualizar e analisar seus
resultados. O Grupo est desenvolvendo prticas polticas importantes a relao entre velhos e
novos brincantes, no respeito sabedoria dos mais velhos, s formas legais de dilogo com o
poder publico, ao aprendizado na medida da cobrana e da responsabilidade nos
compromissos assumidos.
Esse empoderamento dos grupos de Cultura Popular como agentes construtores de
polticas culturais imprescindvel para o avano das polticas pblicas da rea, mas devemos
ter em conta alguns pontos essenciais para a efetividade dessas polticas: formao,
capacitao; institucionalizao das polticas; transparncia pblica das aes; linguagem e
meios de comunicao que atendam ao pblico alvo; e a no descontinuidade das polticas
pblicas. Essa descontinuidade gera no s um retrocesso do ponto de vista poltico, mas
tambm na prpria mobilizao dos atores. Gera uma apatia poltica e falta de credibilidade
nas instituies polticas nacionais, estaduais e municipais, desfazendo todos os esforos
conjuntos realizados.
Olhando toda a trajetria de cinco anos na implementao, das, leis, decretos, Fruns,
discursos, e muita conversa, vejo que o principal motivo da gesto da cultura e do trabalho
com o Cacumbi foi a preocupao com a reconstruo da identidade municipal, e que ela
pode ser geradora de desenvolvimento econmico e social de Laranjeiras.
O Grupo Cacumbi, reconstri sua identidade, busca nos novos formatos para o dilogo
com o poder pblico, aposta em organizao quando monta sua associao, o grupo ganha
notoriedade e se diferencia dos demais grupos da cidade; essa diferena causa desconforto no
primeiro momento entre seus pares, para em seguida ser um exemplo, um modelo a ser
analisado. O Grupo vem adquirindo visibilidade e reconhecimento social e aprende que os
benefcios alcanados tm que ser distribudos com todos. O trabalho realizado criou as
condies propcias ao entendimento, valorizao a diversidade das manifestaes culturais
Laranjeirenses. Houve, simultaneamente, a incluso cultural, social e econmica.
O Professor Paulo Miguez22 diz:
22

Professor do Instituto de Humanidades, Artes e Cincias (IHAC/UFBA) e do Programa Multidisciplinar de


Ps-Graduao em Cultura e Sociedade da UFBA (POSCULT/UFBA) e Vice Reitor da UFBA.

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[...]O potencial de gerao de riquezas e de empregos representado pela cultura no


pode ser compreendido e operacionalizado por polticas dedicadas ao
desenvolvimento sem que se tenha como referncia uma viso da cultura enquanto
dimenso constitutiva da vida social e usina geradora de riquezas simblicas...
(Cultura, Desenvolvimento e Diversidade Cultural VII Enecult)

A inteno que esse processo esteja sendo aprendido e incorporado pelo grupo
Cacumbi. A cada passo dado na direo da sua independncia fica claro que eles buscam, no
s o desenvolvimento econmico para manuteno do grupo e da sua sustentabilidade, como
tambm e prioritariamente o desenvolvimento cultural para o grupo; e, principalmente para
seus brincantes. Celso Furtado observou, que uma poltica de desenvolvimento deve ser
posta a servio no processo de enriquecimento cultural (FURTADO, 1984, p.32)
Em todo o processo de desenvolvimento que vivemos a cultura no tomada como
algo essencial; as aes que aconteceram foram consequncia de atitudes de interesse da
gesto municipal e pelo planejamento da Secult/Laranjeiras
O receio dos brincantes de um retrocesso grande e est sempre presente. A nova
gesto SECULT, em reunio com os grupos, fez uma proposta, de fazer a doao de todo o
material e confeco das roupas dos grupos. Em troca, os grupos ficariam disposio para
apresentaes durante o ano. O Cacumbi no aceitou a proposta e foi seguido por outros
grupos, que reivindicaram suas conquistas de negociao e voz com a gesto anterior, e
fizeram uma contraproposta; que consistia na compra, por parte da gesto, de apresentaes
do grupo, no valor do material e da confeco das roupas. No interessa mais ao grupo
somente o valor financeiro (ou a compra das roupas) e sim o respeito cultural e a valorizao
pessoal e do que representa o grupo na cultural de Laranjeiras.
Enfim, longe da pretenso de apontar solues, nem muito menos considerar
definitivas essas analises, necessrio um distanciamento significativo para que crticas e
abordagens possam ser elaboradas de forma impessoal. O projeto de renovao da tradio do
Cacumbi de Mestre Deca traz alguns caminhos e informaes para contribuir na construo
das aes e polticas pblicas da cultura.

43

Figura 14 Mestre Deca, Irineu e Macrio

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REFERNCIAS
BOTELHO, Isaura. A DIVERSIFICAO DAS FONTES DE FINANCIAMENTO PARA
A CULTURA: UM DESAFIO PARA OS PODERES PBLICOS. In: MOISS, J.A. e
BOTELHO, I. (orgs.). Modelos de financiamento da cultura. Rio de Janeiro, Minc/Funarte,
1997.
BOTELHO, Isaura
Entrevista para o site Centro de Pesquisa e Formao SESC/SP
(http://centrodepesquisaeformacao.sescsp.org.br/noticias/entrevista-com-isaura-botelho 2014)
DANTAS, Beatriz Gis. MENSAGEIROS DO LDICO: Mestres de Brincadeiras em
Laranjeiras, Aracaju-Se. Criao, 2013 98p. ilust. ISBN. 978-85-62576-88-1
Entrevista concedida pela Mestra Giordanna Santos (Consultora do Minc Regional
Bahia/Sergipe Consultora Unesco/Minc Representente do Colegiado das Culturas
Populares 2010/2012), em 10 de junho de 2014.
FURTADO, Celso. CULTURA E DESENVOLVIMENTO EM POCA DE CRISE. 2.ed.
Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1984. 128p.
INSTITUTO DO PATRIMNIO HISTRICO E ARTSTICO NACIONAL - IPHAN. Os
sambas, as Rodas, os Bumbas, os Meus e os Bois: a trajetria da salvaguarda do patrimnio
cultural imaterial brasileiro. Braslia: Iphan, 2006.
INSTITUTO DO PATRIMNIO HISTRICO E ARTSTICO NACIONAL IPHAN.
Decreto n 3.551 de 04 de agosto de 2000. Disponvel em: <
http://portal.iphan.gov.br/portal/baixaFcdAnexo.do?id=295>. Acesso 26.02.2010.
GOMES, Joaquim B. Barbosa. AO AFIRMATIVA & PRINCPIO CONSTITUCIONAL
DA IGUALDADE: o direito como instrumento de transformao social. A experincia dos
EUA. Rio de Janeiro: Renovar, 2001. p. 40.
http://aldeianago.com.br/artigos/5/6726-financiamento-da-cultura-e-editais-por-albino-rubim
LEITO, Claudia Souza. O GOVERNO LULA E AS POLTICAS PBLICAS
PARA O FOMENTO DIVERSIDADE CULTURAL A PARTIR DA
VALORIZAO DO PATRIMNIO IMATERIAL. VI ENECULT Encontros de
Estudos Multidisciplinares em Cultura. FACOM/UFBA. Salvador-BA.
MRCIO, Jos Barros e OLIVEIRA. Jos Jnior. PENSAR E AGIR COM A CULTURA:
desafios da gesto cultural Belo Horizonte: Observatrio da Diversidade Cultural, 2011.
156p.

45

MALINOWSKI, B. 1 Objetivo, mtodo e alcance desta pesquisa. In: GUIMARES, A. Z.


(org.). DESVENDANDO AS MSCARAS SOCIAIS. 2 ed. Rio de Janeiro: Livraria
Francisco Alves Editora, s/d.
MIGUEZ, Paulo. CULTURA, DESENVOLVIMENTO E DIVERSIDADE CULTURAL Artigo VII Enecult (http://www.cultura.gov.br/)
MINC, Seminrio Nacional de Polticas Pblicas para as Culturas Populares. So Paulo:
Instituto Plis; Braslia: Ministrio da Cultura, 2005. 184 p
MINC, Anais do Seminrio Nacional de Polticas Pblicas para as Culturas Populatre;
Braslia, 23-26 de fevereiro de 2005
MINC, SNIIC, disponvel em http://blogs.cultura.gov.br/pnc/
MOREIRA, Gilberto Passos Gil. Entrevista realizada em Maio de 2009 pela Rede de
Pesquisadores de Polticas Culturais. Polticas Culturais em Revista, v.2, n.2, 2009 (no prelo).
PELEGRINI, Sandra C. A.
EDITAL DE CREDENCIAMENTO 02/2014
file:///C:/Users/Neu%20Fontes/Downloads/2.%20Edital%20de%20Credenciamento%20para
%20Culturas%20Populares%20e%20Tradicionais%20-%20FINAL%2012-03-2014.pdf
SECULT, Plano Municipal de Cultura de Laranjeiras
SOUZA, Patrcia Teixeira. CACUMBI, CATUMBI, QUICUMBI, TICUMBI: Uma Anlise
dos Elementos Teatrais Contidos nesta Manifestao Afro-brasileira de Santa Catarina.
Florianpolis/SC, 2006.

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ANEXO I
Matriz Institucional para Gesto Compartilhada da Associao dos Brincantes do Cacumbi do
Mestre Deca.

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ANEXO II
PRODUTOS PARA VENDA DO GRUPO CACUMBI MESTRE DECA

Figura 15- Marca Cacumbi

Figura 16- Camisetas

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Figura 17- CAMISETA INFANTIL

Figura 18 - BOLSA

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Figura 19 CANECA

Figura 20 - PANO DE COZINHA

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ANEXO III
DIVILGUO

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