Aleksandr Dugin - Contra Iniciação
Aleksandr Dugin - Contra Iniciação
Aleksandr Dugin - Contra Iniciação
o budismo era uma tradio autntica o no. Gunon primeiro classificou o budismo como es
tando na categoria das heresias antinomianismo, e posteriormente o admitiu como
tradio verdadeira. A questo aqui no o budismo, mas o fato de que essa incerteza do G
unon demonstra certa arbitrariedade em seu mtodo sempre que se chega a tradies histri
cas e princpios dogmticos especficos. Mesmo que Gunon possa estar errado na questo bu
dista (que permaneceu para ele um grau considervel de abstrao j que a opinio de seus
informantes hindus diferia, tal como todos os tradicionalistas hindus possuem um
a orientao fortemente antibudista), posvel que erros similares tambm possam ocorrer
no caso de outras religies.
Nossa prpria pesquisa nos levou concluso de que, em pelo menos dois casos, Gunon no
avaliou as coisas corretamente.
Em primeiro lugar, quando Gunon negou a dimenso inicitica da Igreja Crist (ele datou
a perda dessa dimenso, que estava presente no Cristianismo original, era do Prim
eiro Conclio Ecumnico), aqui ele est claramente na histria e filosofia da histria exc
lusivamente do ramo romano (e do desvio protestante posterior). Gunon claramente
ignorava a realidade metafsica e inicitica da Ortodoxia, que nas mais fundamentais
posies difere radicalmente do Cristianismo Ocidental. Gunon identificava Cristiani
smo com Catolicismo e equivocadamente transferou as propores da organizao catlica, in
clusive a natureza msticas dos rituais e a especificidade da teologia, ao todo do
Cristianismo em geral, assim fazendo afirmaes absolutamente incorretas sobre o te
ma.
Em segundo lugar, Gunon se apressou para reconhecer a Cabala judaica como esoteri
smo genuno, que, segundo sua opinio, deve ser um universalismo distinto que jaz so
b todo particularismo. Na verdade, a Cabala tem um grau exotrico que no inferior (
talvez seja at superior) ao do judasmo talmdico, que insiste na singularidade tnica
dos judeus, na singularidade de seu destino e sua oposio metafsica a todos os outro
s povos e religies. Isso est em contradio clara com a definio guenoniana de esoterismo
, que deveria estar dominado por princpios de unidade universal e amalgamao de toda
s as formas espirituais e religiosas no conceito geral. A Cabala, mesmo em seus
aspectos mais transcendentes, reivindica no sua unidade, mas um radical e inconto
rnvel dualismo tnico metafsico.
Ademais, em termos mais gerais, a avaliao de Gunon sobre alguns povos (gregos, japo
neses, alemes, anglo-saxes, eslavos), algumas vezes to subjetiva e arbitrria (e ness
as avaliaes, Gunon tende s vezes a basear concluses na ortodoxia ou heterodoxia de fo
rmas tradicionais) lana dvidas sobre todos os aspectos do tradicionalismo, que lid
a com a aplicao de consideraes tericas esfera prtica.
2 - A Ausncia de uma Contra-Iniciao Universal
As diferenas de formas religiosas pode ser um fator muito mais profundo do que co
nvenes exotricas e estar enraizadas na prpria metafsica. Se a sntese unificadora real
zada de forma bem fcil (ainda que todas as outras tradies sejam interpretadas na pe
rspectiva peculiar exclusivamente a elas) no hindusmo e no esoterismo islmico, iss
o por causa da especificidade dessas tradies; em outras formas religiosas a situao u
m pouco diferente. O hindusmo e o islamismo permitiram a Gunon construir uma image
m lgica e no-contraditria, mas tudo isso se torna muito menos bvio se tentarmos apli
car a outras religies e sua abordagem particular em relao a metafsica.
Mas, como mostramos, fora do contexto esotrico hindu e islmico, essa lgica no pode s
er aceita de forma inequvoca, j que a metafsica no reconhece outras tradies esotricas
om solidariedade frente a outras formas religiosas. Na verdade, a universalidade
do sufismo e do hindusmo no to bvia quando parece. O preo do reconhcimento de outras
formas religiosas ortodoxas uma aprovao da "distoro" e a interpretao de seus dogmas
o esprito e letra especficos e peculiares apenas ao esoterismo hindu e sufi. Por e
xemplo, na abordagem budista cristologia, Cristo equiparado a um avatar, o que d
entro do esquema de uma doutrina puramente crist equivalente viso "monofisita". O
Isl, baseado em um monotesmo estrito, por outro lado, adere ao esquema cristolgico
"nestoriano" ("arriano"). Nos dois casos, nega-se a frmula cristolgica ortodoxa, r
esultando em uma perspectiva metafsica completamente diferente.
Assim, o universalismo proclamado pelos tradicionalistas, na verdade, no to total
e inequvoco como gostaramos.
Ademais, o hindusmo baseia sua prpria tradio na frmula inversa a da tradio iraniana, v
ndo da mesma fonte. sabido que mesmo nos nomes de deuses e demnios h uma analogia
inversa entre zoroastrismo e hindusmo. O budismo considerado pelo hindusmo como um
a heterodoxia (essa viso foi sustentada por muito tempo pelo prprio Gunon). Portant
o, estas trs tradies indo-europeias orientais no podem concordar uma com a outra e e
stabelecer sem problemas sua unidade esotrica. De fato, difcil reconhecer a "verda
de esotrica" daqueles que tem seus deuses chamados de "demnios" e vice-versa ("dev
as" e "asuras" no hindusmo e no zoroastrismo significam exatamente o oposto, j de
incio), ou aqueles que negam radicalmente a autoridade da maior fonte sagrada (os
budistas negam os "Vedas", as castas e todas as doutrinas bsicas do hindusmo).
No contexto abramico, a situao ainda mais problemtica. Mesmo que o Isl reconhea certa
legitimidade de tradies ao "povo do Livro" (judasmo e cristianismo), assumindo a mi
sso de Maom como a ltima palavra do "abraamismo", para corrigir todos os erros prvio
s, nem cristos ou judeus reconhecem outras verses abramicas, no dando a elas qualque
r autenticidade, incluindo-as como heresia, mentira e maldade. Por exemplo, no Z
ohar, a autoridade suprema da Cabala, fcil ver hostilidade ao islamismo e ao cris
tianismo a nvel metafsico e esotrico, que no removida, mas alcana um ardor metafsico
inda mais alto. E, da mesma forma, o esoterismo ortodoxo se relaciona de forma to
ruim quanto com o judasmo (exotrico e esotrico), considerado no apenas como alterid
ade de formas religiosas estranhas, mas como incorporao do mal e a "tradio" metafsica
do Anticristo.
Como se pode, em tal situao, identificar a contra-iniciao universal, traar suas fonte
s, reconhecer aquelas foras e organizaes que a servem de forma oculta? Se a univers
alidade do esoterismo (pelo menos em nossa situao cclica) no bvia e comprovada, ento
omo podemos falar na universalidade da "contra-iniciao", que sua projeo espelhada?
3 - Diferenas religiosas interiores e interreligiosas