Derrida: Aporias Da Subjetividade
Derrida: Aporias Da Subjetividade
Derrida: Aporias Da Subjetividade
Diogo Boga
Natal, v. 21, n. 36
Jul.-Dez. 2014, p. 153-176
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segredo/secreto,
pelo
recalque,
pela
incorporao
do
segredo/secreto que permanece inscrito na estrutura do sujeito
responsvel constitudo, sujeito fundamentalmente constitudo por
sua relao com o outro.
Mas, por que dar a morte? Qual a relao da morte e/ou da
morte dada com a responsabilidade? A noo de
responsabilidade , como j vimos, indissocivel daquela de
sujeito e a noo de sujeito responsvel , por sua vez,
indissocivel daquilo que chamamos vida e morte. A vida do
sujeito filosfico e teolgico est sempre para alm do simples
funcionamento do aparelho biolgico. Enquanto sujeito que vive
responsavelmente, vive uma vida plena de sentido. A vida
responsvel uma vida dotada de sentido, uma vida baseada em
padres verdadeiros e eternos que o sujeito supe ver e conhecer
para que possa agir responsavelmente. Responsvel a vida do
sujeito que v, que contempla a verdade e que v e contempla
a si mesmo em sua verdade mais ntima. A vida responsvel
portanto a vida do sujeito em sua mais pura autenticidade. Mas, a
prpria vida s se torna vida autntica do sujeito responsvel, o
prprio sujeito somente se interioriza e individualiza, somente se
dobra sobre si mesmo tornando-se relao consigo, somente se
torna livre e, porque livre e consciente, responsvel, diante da
morte. Este cuidado da morte, este desvelo que vela sobre a
morte, esta conscincia que olha para a morte cara a cara outro
nome da liberdade (Ibid., p. 27). encarando a inevitabilidade da
prpria morte, que o sujeito efetivamente se torna singular e,
diante do seu carter insubstituvel chamado sua
responsabilidade (Ibid., p. 53). Aqui h uma referncia tradio
platnica e socrtica, em sua concepo de filosofia como melete
thanatou, isto , meditao da morte, exerccio para a morte, tal
como diz a clebre frase de Scrates no Mnon de Plato: em
verdade esto se exercitando para morrer todos aqueles que, no
bom sentido da palavra, se dedicam filosofia Assim, o prprio
pensamento de estar morto para eles, menos que para qualquer
outra pessoa, um motivo de terrores (Plato, 1979, p. 60). Bem
como tambm uma referncia ao ser-para-a-morte de Heidegger.
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Cada vez que se afirma um trao seja qual for como prprio,
como seu, afirma-se o rastro, o necessariamente outro a si.
Os traos afirmados como prprios vm se acrescentar como
suplemento a um suposto eu verdadeiro, sempre presente, capaz
de se manter na relao a si, um eu real que se d como
fundamento aos traos a ele acrescentados, seus traos prprios.
Assim, um nome, uma profisso, uma determinada maneira de se
vestir, gostos e hbitos, ideias, traos socioculturais, vm se
acrescentar como suplementos a um eu que se acredita restar
sempre presente por trs deles, um eu que lhes serviria de
fundamento. No entanto, so em todo caso estes suplementos que
aparecem no lugar de um eu. Cada vez que devo dizer quem
sou, cada vez que devo me apresentar, comeo por dizer meu
nome, passando ento a outros traos como formao intelectual,
profisso, insero em tal ou qual relacionamento afetivo seja
como esposo, filho, pai, irmo, primo, amigo ideologia poltica,
religiosa, etc., apresento uma narrativa mais ou menos organizada,
fixada, apropriada como minha: minha histria, isso sem contar
os traos que j falam por mim e de mim antes mesmo que eu
termine minha primeira frase, como, por exemplo, uma
determinada aparncia, a prpria lngua que falo e a maneira
como falo. Cada vez que devo, portanto, me apresentar, recorro
somente aos suplementos, aos traos que julgo possuir, no sendo
capaz jamais de me apresentar eu mesmo enquanto tal. Os
suplementos, ento, no so apenas algo que se acrescenta ao eu
realmente presente, eles se encarregam de substituir, representar a
presena de um eu que no est l. Desse modo, a
desconstruo parte sempre do princpio de que essa estrutura do
suplemento que original ou originria, e no a presena nua e
crua de alguma coisa, anterior sua suplementao (Duque-
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