Moacir Santos, Choros e Alegria, Dissertacao PDF
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Processos composicionais em
Choros & Alegria: O desenvolvimento da
primeira fase de Moacir Santos.
So Paulo
Setembro/2010
Agradecimentos
Resumo
Abstract
This work figured out the personal language of Moacir Santos in the compositional
process of Choros & Alegria, bringing up the socio-cultural and stylistic aspects and
musical style. It was of great interest to research and organize the main compositional
procedures, structural in the process of construction and consolidation of this Moacirs
first compositional phase, through analysis of audios and transcriptions available.
Sumrio
5
3.2.3 Padres de acompanhamento ................................................................... 65
3.2.4 Figurao rtmico-meldica ..................................................................... 67
3.3 Plano Harmnico ............................................................................................ 68
3.3.1 Emprego do SubV e de dominantes alterados ......................................... 68
3.3.2 Modalismo X Tonalismo ......................................................................... 69
3.4 Plano Formal ................................................................................................... 71
3.4.1 Componentes unificadores (Introdues, interldios e codas) ................ 71
3.4.2 Prolongamento em finais de frase ............................................................ 75
3.4.3 Improvisos em ritornelos ......................................................................... 76
3.4.4 A forma-choro e suas variantes................................................................ 77
Captulo 4 Agora eu Sei ........................................................................................ 80
4.1 Plano Meldico ............................................................................................... 80
4.2 Plano Rtmico.................................................................................................. 83
4.3 Plano Harmnico ............................................................................................ 86
4.4 Plano Formal ................................................................................................... 88
Consideraes Finais ................................................................................................... 92
Bibliografia .................................................................................................................. 96
Anexos ......................................................................................................................... 99
ndice de Figuras
7
Figura 19 Trecho de Ricaom: Aproximaes/polarizaes cromticas (c. 05-08).
...................................................................................................................................... 40
Figura 20 Trecho de De Bahia ao Cear: Aproximaes cromticas (c. 22-23). .. 41
Figura 21 Trecho de De Bahia ao Cear: Aproximaes cromticas (c. 25-26). .. 41
Figura 22 Trecho de De Bahia ao Cear: Aproximaes cromticas (c. 40-43). .. 42
Figura 23 Trecho de De Bahia ao Cear: Aproximaes cromticas (c. 48-51). .. 42
Figura 24 Trecho de Excerto no. 1: Aproximaes cromticas (c. 12-18)............ 43
Figura 25 Trecho de Excerto no. 1: Aproximaes cromticas (c. 58-59)............ 44
Figura 26 Trecho de Excerto no. 1: Aproximaes cromticas (c. 69-73)............ 44
Figura 27 Trecho de Rota : Aproximaes cromticas (c. 35-42). .................... 45
Figura 28 Trecho de Samba Diamante: Aproximaes cromticas (c. 110-112). 45
Figura 29 Trecho de Vaidoso: Gesto cromtico (c. 08-09).................................. 46
Figura 30 Trecho de Vaidoso: Gesto cromtico (c. 44-45)................................... 47
Figura 31 Trecho de Vaidoso: Simetria (c. 44-45). .............................................. 47
Figura 32 Trecho de Ricaom: Gesto cromtico (c. 17-33). ................................. 48
Figura 33 Trecho de Excerto n1: Gesto cromtico (c. 36-40).............................. 49
Figura 34 Trecho de Lemurianos: Gesto cromtico (c. 04-19). ............................ 50
Figura 35 Trecho de Agora eu Sei: Cromatismo harmnico (c. 38-45). .............. 51
Figura 36 Trecho de Flores: Cromatismo harmnico por arpejos (c. 29-33). ...... 51
Figura 37 Trecho de De Bahia ao Cear: Cromatismo harmnico (c. 56)............ 52
Figura 38 Trechos de Samba Diamante: Cromatismo harmnico (c. 15-16 e c. 1920). ............................................................................................................................... 52
Figura 39 Trechos de Carrossel: Cromatismo harmnico (c. 68) ......................... 53
Figura 40 Trechos de Felipe: Cromatismo harmnico e meldico (c. 14-16). ..... 54
8
Figura 41 Trechos de Felipe: Simetria (c. 14-16). ................................................ 54
Figura 42 Trecho de Vaidoso: Figurao em ziguezague com aproximaes
cromticas (c. 21-23). .................................................................................................. 56
Figura 43 Trecho de Vaidoso: Figurao em ziguezague com aproximaes
cromticas (c. 31-32). .................................................................................................. 57
Figura 44 Trecho de Flores: Figurao em ziguezague com aproximaes
cromticas (c. 12-16). .................................................................................................. 57
Figura 45 Trecho de Flores: Figurao em ziguezague com aproximaes
cromticas (c. 39-43). .................................................................................................. 58
Figura 46 Trecho de Flores: Figurao em ziguezague com aproximaes
cromticas (c. 17-21). .................................................................................................. 59
Figura 47 Trecho de Cleonix: Figurao em ziguezague com aproximaes
cromticas (c. 01-16). .................................................................................................. 59
Figura 48 Trecho de Cleonix: Figurao em ziguezague com aproximaes
cromticas (c. 22-24). .................................................................................................. 60
Figura 49 Trecho de Cleonix: Figurao em ziguezague com aproximaes
cromticas (c. 30-32). .................................................................................................. 60
Figura 50 Trecho de Ricaom: Figurao em ziguezague (c. 00-04). ................ 61
Figura 51 Trecho de Excerto no. 1: Figurao em ziguezague (c. 53-56). ........ 61
Figura 52 Trecho de Agora eu sei: Hemola (c.52-54).......................................... 62
Figura 53 Trecho de De Bahia ao Cear: Hemola (c.09-12). ............................... 62
Figura 54 Trecho de Carrossel: Duas melodias com subdivises ternria e binria
sobrepostas (c. 03-12). ................................................................................................. 63
9
Figura 55 Trecho de Rota : Duas melodias sobrepostas com subdivises ternria
e binria sobrepostas (c. 00-13). .................................................................................. 64
Figura 56 Trecho de Carrossel: Levada rtmica com subdivises ternria e binria
sobrepostas (c. 1-2). ..................................................................................................... 65
Figura 57 Trecho de De Bahia ao Cear: Levada rtmica, baixo pedal (c. 01 -05)66
Figura 58 Trecho de Lemurianos: Padres de acompanhamento em 5 por 4 e 6 por
4 (c. 01-02 e c. 52-53) .................................................................................................. 66
Figura 59 Trecho de Flores: Figurao rtmico-meldica (c. 43-51). ................... 67
Figura 60 Trecho de Ricaom: Figurao rtmico-meldica (c. 13-16). ................. 67
Figura 61 Trecho de Felipe: Figurao rtmico-meldica (c. 18-21). ................... 68
Figura 62 Trecho de Vaidoso: SubVs (c. 01-03). ................................................ 69
Figura 63 Trecho de Felipe: SubVs (c. 14-16)..................................................... 69
Figura 64 Trecho de Lemurianos: Modalismo X Tonalismo (c. 04-19). .............. 70
Figura 65 Trecho de Paraso: Policorde (c. 53). .................................................... 71
Figura 66 Trecho de Paraso: Simetria em policorde (c. 53)................................. 71
Figura 67 Trecho de Paraso: Introduo e incio do tema (c. 01-09). .................. 72
Figura 68 Trecho de Excerto no. 1: Fugato (c. 66-73). ......................................... 74
Figura 69 Trecho de Outra Coisa: Introduo e Coda (c. 01-04 e c. 45-51). ........ 75
Figura 70 Trecho de Agora eu Sei: Prolongamento em finais de frase (c. 77-82).76
Figura 71 Trecho de Agora eu Sei: Prolongamento em finais de frase (c. 111-115).
...................................................................................................................................... 76
Figura 72 Tabela: aspectos formais nos choros ........................................................ 78
Figura 73 Esqueleto meldico de Agora eu sei: (parte 1). .................................... 81
Figura 74 Esqueleto meldico de Agora eu sei: (parte 2). .................................... 82
10
Figura 75 Esqueleto rtmico-meldico de Agora eu sei: (parte 1). ....................... 84
Figura 76 Esqueleto rtmico-meldico de Agora eu sei: (parte 2). ....................... 85
Figura 77 Esqueleto harmnico de Agora eu sei: (parte 1). .................................. 87
Figura 78 Esqueleto harmnico de Agora eu sei: (parte 2). .................................. 88
Figura 79 Tabela: Nmero de compassos por seo ................................................. 89
Figura 80 Trecho de Agora eu sei: Introduo (c. 00-08). .................................... 90
Figura 81 Trecho de Agora eu sei: Interldio (c. 83-96)....................................... 91
Figura 82 Trecho de Agora eu sei: Coda (c. 122-137). ......................................... 91
Figura 83 Tabela: simetria na disposio das msicas ............................................. 94
11
Introduo
Nos ltimos anos a obra musical de Moacir Santos (1926-2006) vem sendo
recorrentemente resgatada, e isso se deu aps o ano de 2001, quando Mario Adnet e
Z Nogueira iniciaram esse processo, com o aval do prprio. Com isso o Brasil e o
mundo tiveram acesso a um material que permaneceu at aquele momento
praticamente desconhecido, apenas na memria de alguns poucos msicos.
At 2005, trs livros de partitura (Coisas, Ouro Negro e Choros & Alegria)
foram lanados, o LP Coisas foi relanado em CD e dois outros CDs (Ouro Negro e
Choros & Alegria) foram exclusivamente gravados por msicos da atualidade. Isso
propiciou que a msica de Moacir fosse difundida muito rapidamente e, como
consequncia, msicos de vrias geraes se interessaram em prestar sua prpria
homenagem ao maestro. Floresceram ento diversos grupos que abordavam a msicas
de Moacir sob diversas estticas, at mesmo alguns especializados em sua obra. E
tambm alguns trabalhos acadmicos de anlise comearam a se fazer necessrios,
inclusive a presente monografia, que tambm surgiu dessa efervescncia moacirniana.
Em trabalhos acadmicos anteriores o tema mais recorrente tem sido sempre o lbum
Coisas, analisado por Gabriel Muniz Improta Frana e Joo Marcelo Zanoni Gomes.
Para compreender melhor toda a obra de Moacir, dada a maturidade musical
alcanada por ele em sua vida, se fez necessrio ir atrs do comeo de tudo, buscar
entender suas primeiras composies. Por esse motivo este trabalho tem o intuito de
analisar sob um prisma analtico-composicional a obra Choros & Alegria, obra esta
que carrega enorme musicalidade e esconde gratas surpresas, devidamente tratadas ao
12
longo dos captulos, visto que dentre as msicas que compe o CD/ Songbook a
grande maioria data dos anos 40. Como mostram a lista e o grfico abaixo:
Perodo
N de
composies
Anos 40
6
Anos 60
2
Anos 70
3
Anos 80
3
Anos 90
1
13
Captulo 1
Aspectos histricos e musicais dos gneros amalgamados
por Moacir Santos em sua obra Choros & Alegria
Choros & Alegria essa formidvel coleo de choros e outros gneros brasileiros
compostos e cultivados por Moacir [Santos] durante dcadas, (...) um documento
dessa primeira fase de sua obra (SUKMAN, 2005, p.15).
Basta uma primeira audio das quinze composies que integram o lbum
Choros & Alegria (2005) para notar a grande fluncia composicional de Moacir
Santos por sinal, adquirida precocemente dos mais diversos gneros e
maneirismos musicais brasileiros em voga at 1940, dcada em que comps a maior
parte dessa obra1. Dentre esses, podemos citar pelo menos trs gneros tipicamente
brasileiros, o choro, o samba e o frevo/marcha2, todos intimamente ligados ao
repertrio popular urbano brasileiro. Esses trs gneros sero aqui contextualizados
brevemente, devido importncia que eles tiveram para a composio da obra a ser
estudada.
Tambm esto presentes, em menor parte, influncias jazzsticas e africanas3.
Contudo, tais influncias no vm do plano formal, elas se encontram principalmente
em pequenas sutilezas rtmicas e harmnicas, encontradas principalmente em trs
composies: Lemurianos, Rota e Carrossel.
apropriado dizer que o CD Choros & Alegria no foi concebido como obra j nos anos 40,
e sim como uma coletnea organizada posteriormente com composies desse perodo.
2
Frevo e marcha so tratados aqui como um gnero por estarem intimamente ligados, essa
relao ser melhor explicada a seguir.
3
Notam-se de maneira mais marcante essas influncias jazzsticas e africanas em obras
posteriores de Moacir Santos, tendo grande destaque em sua srie de Coisas.
14
notvel que Moacir tenha se tornado um grande estudioso musical durante
sua vida. Tendo estudado diversas vertentes estilsticas, logo se dedicou a uma ampla
gama de sonoridades e procedimentos para suas composies. No entanto, at o fim
dos anos 40, Moacir ainda no tinha entrado em contato com todos estes materiais
musicais. Mesmo assim, esbanjava potencial criativo ainda no totalmente aflorado
mas de uma musicalidade sem igual. Como suporte dessa musicalidade o choro,
principalmente, e alguns outros gneros como o samba e o frevo/marcha so sugeridos
composicionalmente. Como mostra o quadro a seguir:
MSICAS
GNEROS
Agora eu sei
frevo/marcha
Outra Coisa
alegria
Paraso
valsa
Vaidoso
choro
Flores
choro
Saudades de Jacques
Cleonix
choro
Ricaom
choro
De Bahia ao Cear
choro
Exerto no. 1
choro
Lemurianos
Rota
Samba di Amante
Carrossel
Felipe
alegria
Figura 1 Tabela: gneros
Todas essas definies de gnero so concluses do autor dessa dissertao tiradas a partir de
minuciosa escuta.
15
Grfico de gneros
Cho
oro (7)
Aleegria (5)
Frev
vo/Marcha (1)
Valssa (1)
Sam
mba (1)
O grfico
g
acim
ma representta como estto distribudos os gnneros abordados em
cada compoosio, mass bastantee clara a inffluncia polli estilstica presente em
m maior
ou menor grau
g
em cadda pea. Poorm, de maneira
m
geraal, podemoss notar que a maior
parte das coomposiess so choross (7) e alegrrias5 (5) que
q por sinaal, do nom
me a essa
coleo de composies. Contuddo, tambm
m so enconntrados um
m frevo/marccha; um
samba, quee tem caracctersticas de
d um samb
ba de gafieira e uma vvalsa, que bastante
longinquam
mente faz aluuso prtiica do choro
o.
Com
m essas infformaes podemos
p
su
ugerir que Moacir com
mps em todos
t
os
gneros quee comumennte passavam
m por suas mos.
m
Comoo:
16
Frevos e marchas que teve ntima relao nos anos que tocou em
diversas orquestras pelo nordeste, principalmente em Pernambuco, sua
terra natal
Sobre o choro, a valsa e o samba pode-se dizer que foram gneros bastante
disseminados pelo Brasil, mas que efervesceram principalmente no Rio de Janeiro,
cidade em que Moacir fixou residncia na segunda metade dos anos 40, facilitando
ento o contato direto com essas prticas musicais.
1.1 Choro
17
Especula-se que o ritmo africano que mais influenciou na caracterizao do
choro foi o lundu. Porm, a palavra lundu pode conter significados divergentes, pois
tal gnero passou por processos de grande transformao no decorrer de sua histria
(BONETTI, 2009, p.15). Ela serviu para denominar uma dana popular, um gnero de
cano de salo e tambm um tipo de cano folclrica6.
Alm do lundu o choro resultado de diversas danas europeias, sendo a polca
a mais representativa, tanto no carter meldico, quanto formal. interessante notar
como a polca dominou o cenrio musical do fim do sculo XIX, por ter um perfil
bastante contagiante fazendo aflorar um lado mais sensual nos sales de dana,
provocou com isso uma grande e rpida aceitao popular.
Carlos Sandroni prope de maneira bastante interessante o abrasileiramento
da frmula rtmica de acompanhamento da polca7. Essa conduo abrasileirada foi
rapidamente disseminada pelos ditos msicos de choro.
Para mais informaes sobre as diferenciaes dos lundus, ver : BONETTI, Lucas Zangirolami.
A apropriao como homenagem na Sute Retratos de Radams Gnattali: A citao no processo
composicional. Projeto de Pesquisa em Iniciao Cientfica. So Paulo: Faculdade Santa Marcelina,
2009.
7
18
Tambm importante notar a evoluo histrica das formaes
instrumentais caractersticas do choro. Inicialmente os grupos dos primeiros chores
eram compostos pelos chamados trio de pau e corda, que consistiam em flauta,
cavaquinho e violo Joaquim Antnio Callado foi um importante precursor dessa
formao. Mais tarde Jacob Bittencourt (Jacob do Bandolim) sedimentou a
consagrada formao do regional de choro, formada por dois violes (usualmente um
de seis e um de sete cordas), cavaquinho, pandeiro e um ou mais solistas, podendo
figurar diversos instrumentos, como o bandolim, a flauta, o clarinete, o saxofone, o
trombone e alguns outros.
Alguns compositores mais modernos compuseram e executaram o choro em
diversas outras instrumentaes, podemos citar aqui os arranjos para combo de
Radams Gnattali (Quinteto ou Sexteto Radams) e Egberto Gismonti, onde vrios
instrumentos, alheios ao gnero, foram incorporados interpretao, entre eles a
bateria, a guitarra, o baixo acstico/eltrico, o piano, o acordeom, etc. O choro
tambm alcanou lugares antes inimaginveis para seus msicos e ouvintes, a sala de
concerto, dita erudita, deixando para trs todo um histrico de preconceito entre a
msica popular e a msica clssica. Isso se deu inicialmente com a Sute Retratos de
Radams Gnattali, que confrontou os dois mundos em que transitava com
propriedade, concebendo a composio para Bandolim Solista, Conjunto Regional e
Orquestra de Cordas.
19
1.2 Samba
possvel que os sambas das baianas tenham aportado no Rio de Janeiro quando elas, as
baianas, mudaram-se com os maridos soldados ao final da guerra de canudos entre 1896 e 1897.
20
21
1.3 Frevo/Marcha
22
gneros brasileiros, o frevo se ramificou atravs da miscigenao cultural, dando
origem ao frevo-cano, marcha-frevo e alguns outros gneros mais lentos, saindo
das ruas a caminho dos sales de dana e posteriormente at a sala de concerto visto
a grande quantidade de excelentes arranjadores9 que o gnero conheceu. Nos ltimos
anos alguns msicos se estabeleceram como representantes desse frevo mais
rebuscado, seja como cano ou como composio instrumental, dentre outros
temos: Spok Frevo Orquestra, Edu Lobo, Hermeto Pascoal, etc.
Ver http://www.frevo.pe.gov.br/
23
Captulo 2
Choros & Alegria de Moacir Santos
Moacir Santos nasceu na cidade de Serra Talhada, Pernambuco. O prprio Moacir relata
que descobriu ao certo o local e data de seu nascimento tardiamente, em viagem que fez a Pernambuco,
e durante a qual encontrou sua certido de nascimento (GOMES, 2009, p.15).
24
Aos 25 anos j era maestro efetivo da Rdio Nacional, e suas atividades
musicais abarcavam uma grande gama de atuaes. Alm de instrumentista,
compositor, arranjador e regente, Moacir tambm teve crucial importncia como
professor. Dentre seus alunos mais ilustres podemos citar: Baden Powell, Paulo
Moura, Srgio Mendes, Joo Donato, Raul de Souza, Bola Sete, Dori Caymmi e
muitos outros.
interessante notar que por essa poca, por volta dos anos 1940, Moacir
comps grande parte das msicas presentes em Choros & Alegria, sendo que essa
parte de sua obra ser devidamente contextualizada mais a frente.
Entre os anos 50 e 60 produziu intensamente nas mais diversas instituies,
como TV Record em So Paulo e na Rdio Nacional no Rio de Janeiro. Nessa mesma
poca comps tambm muitas msicas para cinema, como as trilhas dos filmes: Seara
vermelha, de Rui Aversa; O santo mdico, de Sacha Gordine e Robert Mazoyer; O
Gamza-Zumba, de Carlos Diegues; Os fuzis, de Ruy Guerra e O beijo, de Flvio
Tambellini.
No ano de 1966, Moacir lanou o LP Coisas, seu primeiro disco gravado e
nico lanado no Brasil. Esse LP possui 10 msicas que transcenderam seu tempo,
intituladas de Coisa n1, Coisa n2, at a de n10, sendo que na poca em que
Coisas foi lanado no se imaginava uma sonoridade como aquela. Moacir comeou
a desenvolver suas Coisas durante as aulas que ministrava e principalmente no
processo de desenvolvimento das suas diversas trilhas cinematogrficas, como
catalogou Joo Marcelo Zanoni Gomes em sua dissertao de mestrado:
Algumas das Coisas foram compostas originalmente para serem trilhas de filmes.
Coisa n4, Coisa n 5 e Coisa n9, por exemplo, integraram a trilha de
Gangazumba (1963), de Cac Diegues (GOMES, 2009, p.19).
25
A transcrio e edio das grades orquestrais das dez Coisas, juntamente com
seu relanamento em CD (MP,B);
26
(escolhidas dentre os quatro CDs lanados originalmente nos Estados
Unidos11)
2.2.1 A dcada de 40
A atividade profissional de Moacir Santos havia sido intensa desde que chegara ao
Rio de Janeiro, em 1948, aps uma infncia pobre e precoce atividade como msico
ou diretor de bandas de msica e intensa peregrinao pelas cidades nordestinas
durante a adolescncia (FRANA, 2007, p.27).
11
27
Ao longo dessa dcada Moacir desenvolveu sua musicalidade muito
rapidamente, atuando nos mais diversos segmentos, desde pequenas bandas, no incio
dos anos 40, at se tornar maestro da Rdio Nacional, em 1951.
Fazendo um apanhado cronolgico da vida de Moacir podemos acompanhar
sua evoluo musical.
No ano de 1943, com 17 anos, Moacir participa do programa Vitrine, em
Recife (Pernambuco) tocando saxofone alto, e j em 44 ingressa na banda da polcia
militar de Joo Pessoa (Paraba), tocando saxofone tenor. Um ano depois migra para a
Rdio PRI-4 Tabajara, ainda em Joo Pessoa, para tocar saxofone tenor na orquestra e
clarinete no conjunto regional da emissora. Nota-se que em pouco tempo Moacir sobe
de cargo, tornando-se, em 47, maestro e diretor musical da mesma rdio.
Logo, com 22 anos, Moacir tem a oportunidade de mudar-se para o Rio de
Janeiro e trabalhar na Rdio Nacional, principal veculo de entretenimento da poca.
Por essa poca, por volta de 1948, tem contato com diversos msicos importantes,
pois se torna saxofonista tenor e solista da orquestra do maestro Chiquinho.
Tomando conscincia de sua grande afinidade com a escritura musical Moacir
comea, em 1949, a estudar simultaneamente a fim de se tornar um maestro
completo: harmonia, contraponto, fuga e composio; tendo tido como professores os
mais importantes da poca, tais como: Paulo Silva, Jos Siqueira, Virgnia Fiusa,
Claudio Santoro, Joo Batista Siqueira, Nilton Pdua, Guerra Peixe (...) e H. J.
Koellreutter do qual se tornou assistente (SUKMAN, Hugo. In: ADNET;
NOGUEIRA, 2005, p. 18).
28
Analisando a trajetria de Moacir Santos pelos anos 40 podemos perceber dois
momentos. O primeiro constitudo pela sua busca musical pelo nordeste, como
comenta Joo Marcelo Zanoni Gomes:
O que me parece mais relevante com relao a este perodo de andanas que durou 8
anos no total, a evidncia de que a busca pela Msica, por possibilidades de tocar
em diferentes grupos e, consequentemente, acumular experincias musicais que
levou Moacir a tocar em bandas de algumas das cidades por onde passava, tocar em
bandas de circo, na Banda da Polcia Militar da Paraba e, finalmente, na Jazz Band
da Rdio PRI-4 Tabajara, da qual se tornou regente em 1947 (GOMES, 2009,
12
p.16).
E o segundo, representada por sua busca por aperfeioamento, tendo aulas com
os melhores professores de que dispunha e o sequencial reconhecimento, quando se
torna maestro da Rdio Nacional.
2.2.2 Consideraes
12
O instrumento escolhido como principal por Moacir foi o saxofone, em especial o bartono.
Contudo, sabe-se que ele tocou diversos instrumentos de sopro pelas bandas do nordeste at se fixar
como saxofonista.
29
A modernidade presente nessa primeira fase composicional de Moacir Santos
ficou literalmente escondida por anos a fio. Somente sendo revelada e disseminada
recentemente, em 2005, com a iniciativa de Mario Adnet e Z Nogueira.
Bastante intrigante tambm o termo alegria, adotado por Moacir. Segundo
o prprio nem todo choro triste, pra chorar13. Tal termo representa a fertilidade
criativa de Moacir, tanto nas composies com gneros claramente definidos, como
nas outras, as ditas alegrias, que parecem ter recebido um nome bastante acertado,
visto que todas possuem caractersticas prprias, impossveis de serem rotuladas com
qualquer outra nominao. Mesmo assim difcil achar elementos unificadores entre
as alegrias, pois talvez este novo gnero tambm no estivesse to claramente
definido nem para o prprio Moacir, ou talvez, e mais provavelmente, essa nominao
foi dada a posteriori e pretendia apenas distinguir melhor as msicas. Cada uma
apresentando caractersticas diferentes, como frmulas de compasso, andamento e
padro de acompanhamento rtmico.
Alm dos gneros citados como principais formadores estticos, no primeiro
captulo, possvel notar, como j dito anteriormente, a importncia do carter poliestilstico das obras de Moacir. O prprio compositor comenta um caso de influncia
de outra cultura em sua msica:
que me baseei num ponto de macumba, que ouvia desde cedo sua produo
moderna j modernizando sua produo inicial. Esclarece o prprio Moacir a
diferente origem meldica de sua marcha-rancho [Agora eu sei], a inspirao afrobrasileira que marcaria (SUKMAN, 2005, p.18).
30
Tocando nas mais diversas orquestras e conjuntos, tornando-se arranjador e por fim
tendo aulas com os maiores mestres da poca. Caracterizando assim uma obra que tm
a dose certa de simplicidade e clareza esttica, ao mesmo tempo em que possui
procedimentos e solues bastante ousados e dignos do grande maestro que era e viria
a ser.
31
Captulo 3
Processos composicionais - Anlises
os
exemplos
sero
apresentados
por
tpicos
de
processos
A palavra cromatismo :
(...) derivada do grego chromos, cor; ela se aplicava a uma das trs classificaes das
escalas gregas. Para os gregos, as modificaes cromticas eram consideradas como
efeitos puramente expressivos que alteravam a colorao do modo. Hoje em dia o
cromatismo o emprego de semitons no interior das notas de uma escala diatnica.
Podem-se distinguir notas de passagem cromtica que no modificam a tonalidade
principal, e notas cromticas modulantes que servem para se efetuarem modulaes
para outros tons alm do tom principal, (...). Se todos os sons intermedirios
32
cromticos so introduzidos numa escala diatnica, obtm-se a chamada escala
cromtica, fora de qualquer tonalidade [ela compreende os doze semitons do interior
da oitava] (BOULEZ, 2008, p. 257).
33
com grandee fora de attrao para a nota d14, elas tambm sejam peercebidas, de
d forma
indireta, coomo aproxim
maes crom
mticas.
Figura 4 Trecho de P
Paraso: Aproximaes croomticas (c. 333-34).
Figura 5 Trecho de P
Paraso: Aproximaes croomticas (c. 337-38).
O prximo exemplo
e
iniciado por uma figuraoo rtmica bastante
movimentaada, e impportante desttacar que a primeira noota de apoioo (f#) um
m tipo de
14
34
bordadura da nota soll (imediatam
mente anterrior e imeddiatamente pposterior)15. A nota
m tem uma funo crom
mtica quan
ndo pensadaa em relao harmon
nia, visto
f# tambm
que o acorrde que perrmeia este primeiro compasso um D m
menor e essaa quarta
aumentada serve aqui como um reetardo/aprox
ximao da quinta (soll).
J o segundo compasso
c
o mais liteeralmente crromtico, pois passa por todos
os semitonns de mib a si conseccutivamentee. bastannte evidentee a direcion
nalidade
cadencial desse
d
compaasso, foranndo a resoluo na notaa d.
Figura 6 Trecho de P
Paraso: Aproximaes croomticas (c. 447-49).
35
Figura 7 Trecho de V
Vaidoso: Aprroximaes crromticas (c. 000-05).
No exemplo acima
a
podee-se enconttrar um tippo de retroggradao, as
a notas
midades da tessitura dee cada perfiil meldicoo se dispostaas como
localizadas nas extrem
mtrico.
na figura abbaixo repressentam um espelho sim
Sol
F
S
Sol
Sol
R
F
Figura 8 Trecho de V
Vaidoso: Sim
metria.
c
e de afirmaar uma detterminada nota
n
por
Outra maneiraa bastante convincente
aproximao cromtica a apogiaatura. A seg
guir vemos a apogiaturaa de segund
da menor
(mi - f) enncontrada noo compasso vinte e quaatro de Vaiidoso:
36
A seeguir se enccontra um caso
c
bastante especficoo de cromattismo, o mo
ovimento
cromtico propriament
p
te dito se enncontra na primeira
p
notta de cada ccompasso (ssol, solb,
f) e as figguraes meldicas
m
q as sepaaram tm appenas a funno de deelinear a
que
harmonia im
mplcita.
Figura 10 Trecho de V
Vaidoso: Aprroximaes crromticas, a caada cabea de compasso (c.. 27-29).
37
Figura 12 Trecho de V
Vaidoso: Ap
proximaes cromticas (c. 40-41).
O exemplo a seguir
s
mostrra o anacru
use e o prim
meiro compaasso da seo A de
Saudade de
d Jacques, o anacrusse constru
udo sobre um
u acorde de E7 formado
f
por um fraggmento do arpejo de E7
E e um mo
ovimento crromtico (m
mi, r#, r, d#)
d
que
se encerra na
n tera do acorde de A6,
A no prim
meiro compaasso. O treccho est nottado sem
armadura de
d clave, com
mo no original, pois esta seo A16 uma seeo modulaante que
se inicia em
m L maior e se encerraa em D maaior.
No prim
meiro compaasso enconttra-se um peequeno gestto, quase co
omo uma
apogiatuura, para a nota
n r.
16
38
como uma extennso do anacruse
a
quue reapareecer no prximo
p
compassso.
Se obseervarmos as
a notas dee apoio (cirrculadas) nnotaremos que
q elas
configuuram uma esscala de ton
ns-inteiros, que
q estruturra toda a fraase.
ximo exem
mplo encontrram-se trs casos de
Noss dois primeeiros compaassos do pr
polarizaoo por cromaatismo, ou seja, as no
otas mi, l e si so poolarizadas por
p suas
39
sensveis im
mediatamennte um sem
mitom abaix
xo. Do quarrto para o quinto com
mpasso
apresentadoo um trechoo de uma esccala cromttica descenddente (si, l##, l, sol#).
Figura 16
1 Trecho dee Saudade dee Jacques: Po
olarizao/aprroximao croomtica (c. 14--18).
17
40
1
s
no trecho de Ricaom18
, podemoos observarr quatro treecho de
A seguir,
18
Moacir.
U
Uma
curiosidadde o fato dee que o nome dessa msicaa um anagraama (espelho)) no nome
41
Podde-se percebber nas seiss primeiras notas do exemplo
e
a seguir cincco graus
cromticos (lb, l, siib, si, d), s
s que disp
postos no consecutivaamente, de forma a
delinear um
ma melodia no
n previsvvel.
42
A seeguir, no trrecho da msica De Bahia
B
ao Ceear, enconntramos trs pontos
cromticos. O primeirro comea no segundo
o tempo doo primeiro compasso, onde se
inicia um movimentoo cromticoo ascendentte (lb, l, sib) seguido de um salto, a
finalizao se d porr um movim
mento crom
mtico desccendente (m
mib, mibb, rb). O
segundo poonto se loccaliza no seegundo tem
mpo do tercceiro compaasso e no primeiro
p
tempo no quarto
q
comppasso, onde o movimen
nto cromticco abarca consecutivam
mente as
notas rb, d,
d db, sib, sibb, lb. O terceiro e ltimo ponnto onde occorre cromaatismo se
inicia no seegundo tem
mpo do quartto compasso, o direcioonamento m
meldico asccendente
se d pelas notas sol, lb, l, sib.
43
A melodia
m
a seeguir19 apreesenta trs pontos de cromatismo
c
o; logo no primeiro
p
compasso notamos
n
um
m motivo meldico que
q ser reecorrente (l, sib, l, sib); no
terceiro com
mpasso essee motivo apresentado
o transpostoo e invertiddo (mib, r, mib, r)
seguido dee mais um grau cromtico, rb; o ltimo ponto de croomatismo pode
p
ser
desmembraado em doiss: d, si#, d
d (como uma
u
bordaddura cromttica) e lb, sol, f#
(como aprooximao crromtica linnear). O aco
ompanhameento da mellodia se d por
p uma
trama sem
mi-contraponntstica quue tambm
m apresentaa movimenntaes cro
omticas
explcitas, as linhas que
q mais chamam
c
a ateno
a
soo a segundda e a quarrta. Elas
configuram
m um moviimento conntrrio bastante interessante, a ssegunda vo
oz segue
ascendente e a partir do
d terceiro compasso
c
do
o exemplo se
s inicia o ccromatismo (f-f#sol-sol#-l)), j a quarrta voz cam
minha desccendentemente e j a partir do segundo
compasso do exemplo se iniciia o crom
matismo (m
mib-r-rb-d), com um
u salto
intercalado (lb).
Figura 24 Trecho
T
de Exxcerto no. 1: Aproximaes
A
s cromticas ((c. 12-18).
19
apresentada aqui
a
a reduoo da grade, em
m Cancioneiroo Moacir Santoos, Choros & Alegria a
msica Exceerto no. 1 apresentada
ap
arrranjada para quarteto
q
de saxxofones (soprano, alto, teno
or e
bartono), conntra-baixo e baateria.
44
A seeguir enconntramos um
ma linha grav
ve que forrmada por uuma nota pedal (l)
seguida dee saltos quue aparecem cada veez um sem
mitom abaiixo (sol, f#,
f
f),
configuranddo um clichh harmnicco.
Figura 25 Trecho
T
de Exxcerto no. 1: Aproximaes
A
s cromticas ((c. 58-59).
Figura 26 Trecho
T
de Exxcerto no. 1: Aproximaes
A
s cromticas ((c. 69-73).
45
O exemplo
e
abbaixo apressenta dois movimentoos cromtiicos, o prim
meiro
bastante sim
mples, apenas para approximar o sol# locallizado na ccabea do segundo
compasso (f#, sol, sol#).
s
J o segundo movimento
m
cromtico bem aceentuado,
delineando todo o terrceiro comppasso at as
a duas primeiras notaas do quarrto (d#,
si#/d, si, l#). A moovimentaoo rtmica desse
d
trechoo tambm interessan
nte, pois
mescla figuuraes com
m subdivisoo binria e tercinada.
t
A seguir
s
est o exemplo que mostrra um trechho de Sam
mba Diaman
nte que
prepara a modulao
m
d primeiro centro tonaal (F maiorr) para o segundo (Lb
do
b maior).
Neste caso um fragmennto constituudo por um
ma bordaduraa cromticaa inferior reiterado
r
m abaixo a cada
c
vez (f, mi, f mi,
m mib, mi mib, r, m
mib r, rb
b20)
um semitom
20
Na ltima repettio a sequnncia meldica interrompidda pela supressso da ltima nota (r).
46
3.1.1.2 Gesto
os cromticcos
A palavra
p
gestto diretam
mente relaccionada a uma
u
ao ccorporal, co
omo por
exemplo, os
o movimeentos realizzados pelas pessoas durante
d
um
ma conversaa. E em
linguagem musical podemos
p
reelacionar os gestos musicais
m
sinnestesicameente, de
magtica, com os gestos
g
corrporais. Dee modo a configurrar uma
maneira im
movimenttao, norm
malmente , direcional.
d
Foraam chamados aqui de gestos cromticoos apenas os exemplos que
contenham tantos grraus cromticos que no seriaa adequadoo defini-los como
c
um tiipo de gesto
o musical onde
o
o crom
matismo tem papel
aproximaes e sim como
principal naa estruturao musical..
O prximo exeemplo se traata de um geesto ascenddente pela esscala cromtica que
se direcionaa at a nota r.
Se analisarmoss apenas os
o pontos de
d apoio do
d exemploo abaixo qu
ue esto
d primeiro compasso (f), na caabea do
localizadas na cabeaa do segunddo tempo do
mpasso (l) e na terceeira semicoolcheia do primeiro
p
primeiro teempo do seegundo com
47
tempo do segundo com
mpasso (f), notamos que
q elas soo as notas estruturais que
q esto
C
tod
dos os outrros graus crromticos conferem
cadenciando para a nota sib. Contudo,
grande leveeza e flunccia para a fraase musical.
Tam
mbm podem
mos observvar que o exemplo
e
annterior apreesenta uma perfeita
simetria, onnde os pontoos polarizaddores so sib
b-f e f-sibb contando com a nota l como
eixo centraal. O esquem
ma abaixo toorna essa siimetria maiss clara. Outtro fator relevante
o fato dessee trecho abaarcar o totall cromtico entre f e siib.
n que
Abaaixo encontrramos a trannscrio de toda a seo B de Riccaom, e nela
encontramoos a maior aglomerao cromtica de toda a obra esttudada. A primeira
p
frase, que vai
v at o quaarto compassso, formaada basicam
mente por trs graus cro
omticos
agrupados (mi#, f#, sol) e repettidos de tall maneira que
q os perccebemos com
mo uma
N segundo tempo do quarto
q
com
mpasso localliza-se um anacruse crromtico
hemola. No
48
para a prxima frasee, que term
mina no oitavo
o
com
mpasso, essaa frase bastante
semelhantee primeiraa, mas seus graus localizam-se um
m semitom aabaixo e o incio
i
da
hemola esst uma seemicolcheia deslocada. Entre os compassoss nove e doze
d
do
exemplo enncontra-se uma
u
frase coom perfil meldico
m
asccendente e fformada apeenas por
graus crom
mticos. J na ltima fraase, do comp
passo treze ao dezesseiis, Moacir mescla
m
o
cromatismoo integral das frases annteriores com figuraees de arpejoos, conferin
ndo mais
movimentoo para a finaalizao da seo.
s
Na prxima
p
figgura, que uma reduo do arrannjo para quaarteto de sax
xofones,
contrabaixoo e bateria, so enconntrados trs planos crromticos. Primeiro no
n plano
meldico, onde
o
a figuurao em arpejo trransposta um
u semitom
m abaixo21. Em um
segundo plano, um ostinato crom
mtico (si, d)
d se sustennta por todaa a passageem. E no
21
Coom exceo da
d primeira nota de cada arp
pejo, que maantida, constituuindo assim os
o arpejos
de F7M e E.
49
terceiro pllano, sustenntando um
ma harmoniia temos as
a notas loongas grav
ves, que
apresentam
m uma connduo croomtica na linha do baixo. Quuanto harmonia
h
estabelecida por todoos esses planos podem
mos crer que
q ela reppresente a seguinte
cadncia: | B7(b9)/F# | E7(#9,b133) |22.
Figura 33
3 Trecho de
d Excerto n1: Gesto crom
mtico (c. 36--40).
A melodia
m
trannscrita na prrxima figurra bastantte peculiar, isso se devee ao fato
de que elaa tem umaa resultantee cromticaa intensa, mas,
m
sobreetudo os in
ntervalos
cromticos consecutivvos so evvitados. Vejjamos abaiixo a meloodia e seu resumo
meldico:
22
50
Enteendeu-se por
p
cromattismo harm
mnico alguuns tipos de movim
mentao
harmnica, desde parralelismos literais at progresses em quee, por inveerso, se
m
o que na
chegou a movimentos
cromticoss na disposiio das vozzes. Tambm notrio
maioria doos casos a movimenttao crom
mtica da harmonia
h
gere a transsposio
paralelamennte cromtica da meloddia.
Nessse primeiro exemploo, trecho de
d Agora eu sei, ppodemos encontrar
cromatismoo, tanto no plano
p
melddico quanto
o no harmnnico, Moacirr criou os primeiros
quatro com
mpassos e simplesmen
s
nte os repetiu meio-toom abaixo, dando um
m carter
sequencial frase. Meelodicamentte no primeiro compasso a nota r (tera de Bbmaj7)
B
polarizaada
cromaaticamente pelo
d#
# (nona aumentada
de Bbm
maj7)
harmonicam
mente h uma
u
movim
mentao haarmnica innteressante, o primeiro
o centro
23
51
tonal Bb,, onde o prrimeiro grauu [Bbmaj7]] seguidoo pelo quartto grau [Eb
bmaj7] e
retorna ao primeiro, porm
p
agoraa com stim
ma menor e quarta suuspensa [Bb
b7sus(9)]
tornando-see um SubV
V do novo centro ton
nal, que L maior. A partir daqui
d
os
primeiros quatro
q
comppassos so trranspostos literalmente
l
e repetidos.
Figura 35 Trecho de A
Agora eu Sei:: Cromatismo harmnico (cc. 38-45).
Abaaixo podem
mos notar um
ma figurao meldica em arpejos, conectaados por
intersecees cromticaas, mas o principal carter
c
desssa frase o desenvollvimento
harmnico,, onde o croomatismo acentuado pelo
p encaddeamento ddos arpejos.
F
Figura
36 Trecho de Florres: Cromatissmo harmnicco por arpejoss (c. 29-33).
A prxima
p
figuura represennta o camin
nho para a modulao
m
de Solb maaior para
Mib maior, e ele se d
d com a movimenta
m
o de semiitons ascenndentes por acordes
dominantess at chegaar na domiinante de Eb.
E O que confere leeveza ao trrecho ,
principalmeente, a acenntuao rtm
mica em parrtes fracas do
d compasso, que d leeveza ao
trecho.
52
Figura 37 Trecho
T
de Dee Bahia ao Ceaar: Cromatiismo harmnicco (c. 56).
No exemplo abaixo
a
podeemos ver a mesma melodia
m
harrmonizada de duas
maneiras diferentes,
d
| F/A - Abdim - G7(13) - Gb7((b13) | e | Abdim - G7(13)
G
Gb7(b13) - F7M |. Em
m ambas o baixo se movimenta
m
mente e as relaes
cromaticam
harmnicass tambm so cromticas, principaalmente peloo uso do SuubV.
53
A figura
f
abaixxo mostra a finalizao da mssica Carroossel, nela Moacir
caminha em uma mesma tippologia de acorde, paaralelamentte, por doiis graus
cromticos,, a movimenntao rtmiica confere grande fora conclusivva ao trecho
o.
O excerto
e
a seeguir um
m caso basttante peculiiar, comoo se o crom
matismo
harmnico e o meldiico se conntraponteasssem obliquuamente. O
Ou seja, a harmonia
h
segue em movimento
m
cromtico descendente
d
e de maneirra bastante clara. J a melodia
pode ser coonsiderada como
c
cromtica ascend
dente, no liiteralmente no perfil meldico,
m
mas se obsservarmos os
o acidentess ocorrentess veremos que no prim
meiro comp
passo do
exemplo, as
a notas soll, r e d so
s naturaiss e no seguundo compaasso elas ap
parecem
sustenizaddas, conferrindo meloodia esse caarter cromtico ascenddente.
Tam
mbm percceptvel a utilizao
u
dee outro parmetro conjjugado, a figurao
fi
em ziguezzague24 do segundo paara o terceirro compassoo do exempplo. Aqui como se
contrrio (d
Moacir sim
mulasse duas linhas meeldicas obllquas em movimento
m
d#-r#mi, l-sol#--mi) que connvergem naa nota mi.
24
54
M
apreesenta pro
ocedimentoss composiccionais dee forma
Por vezes Moacir
mplos de crromatismo cconjuntameente com
conjugada, por isso vooltaro a apparecer exem
outras tcniicas compossicionais.
55
(...) caracterizam-se por realizar um contorno meldico que estabelece uma espcie
de contraponto consigo mesmo, um tipo de polifonia interna, inerente a uma melodia
singularmente sinuosa. Tal sinuosidade chega ao ponto em que se tem impresso de
ouvir duas linhas meldicas expressas em um nico instrumento de sopro, ou de
arco (SALLES, 2009, p. 114).
Ainda segundo o prprio Paulo de Tarso este tipo de procedimento pode ser
encontrado em trs lugares:
56
No caso de Moacir
M
Sanntos podem
mos dizer ainda que eele teve, allm dos
a
a refeerncia do prprio
p
Villa-Lobos.
exemplos acima,
Sallles determinna trs tippos de fun
no estrutuural para esssas figuraes em
ziguezaguue: 1) elem
mento textuural, geralm
mente em ostinato;
o
2) prolongam
mento de
determinadda nota, poor vezes com mudan
na de registro (Oitavva) ou tim
mbre; 3)
p
polarizao
o, ou seja, a tenso meldica gerad
da pela sinuuosidade daa frase faz convergir
uma espcie de resooluo sobbre uma no
ota-alvo, poosicionada no final da
d frase
(SALLES, 2009, p.1166).
mo veremoss nos exem
mplos, a fun
no estruttural que M
Moacir Santtos mais
Com
utiliza a terceira, a dee polarizao.
A seguir
s
sero apresenttados algun
ns exemploos retirados das mssicas de
Moacir:25
a) Neste
N
trechho a figurao em ziiguezague se inicia dde fato no segundo
tempo do segundo
s
com
mpasso, e bastante clara
c
a preseena de duaas linhas
meldicas caminhando paralelam
mente em movimento
m
descenden
nte. Essa
figurao sinuosa
s
passsa por diveersos grauss cromticoos (rb-d, mi-mib,
sol-solb-f)) e convergge na nota sib
s por movimento dee quarta asccendente
(f-sib).
Figura 42
4 Trecho dee Vaidoso: Figurao em
m ziguezague com aproxim
maes cromticas
(c. 21-2
23).
25
57
b) Aqui a figuurao em ziguezaguee se d por pequenos ggrupos de trrs notas
cromticas (sol-sol#-l, r-rb-d
d, sol-sollb-f, sol#-l-sib26) que
q
so
concatenaddos por saltoo. No ltimo
o grupo (soll#-l-sib) h tambm uma
u nota
r intercalaada que ajudda a dar um
ma maior dirrecionalidadde tonal parra a nota
sib.
Figura 43 Trecho de V
Vaidoso: Figuurao em ziiguezague coom aproximaes cromticaas (c. 3132)..
Figura 44 Trecho
T
de Flores: Figurao em zigueezague com aproximaes
a
s cromticas (cc. 12-16).
26
58
d) No
N exempplo a segguir encon
ntramos doois tipos de figurao em
ziguezaguue, a prim
meira se inicia no segundo
s
teempo do primeiro
p
compasso e vai at a cabea do
o segundo tempo do terceiro co
ompasso,
como padro desse prrocedimento
o so estrutturadas duaas linhas meeldicas,
uma cromtica descenndente (l-ssol#-sol-f##-f-mi-mibb-r-rb-d) e outra
em um arpejo de F maior
m
(l-l-f-d), senndo que a ltima nota,, d, faz
p
parte
das duas.
d
A seggunda figu
urao em ziguezague
e vai do segundo
tempo do terceiro
t
com
mpasso at o fim do exemplo e constitu
uda por
quatro gruppos de trs graus
g
cromticos (mi-m
mi#-f#, si-ssib-l, r-rb
b-d, ll#-s) que convergem na nota si.
Figura 45 Trecho
T
de Flores: Figurao em zigueezague com aproximaes
a
s cromticas (cc. 39-43).
d
frases na forma de sequnciaa, onde a
e) O exemplo a seguir coompreende duas
segunda fraase expossta uma quaarta acima da primeiraa, com exceeo das
notas circulladas. A figgurao em ziguezaguue se d peela concaten
nao de
p
pequenos
motivos
d trs notass (marcados pelas ligaaduras pontiilhadas),
de
curiosamennte esses m
motivos so
o apresentados em proocessos diveergentes.
O primeiroo um fragm
mento escaalar diatnicco, o segunddo um fraagmento
escalar croomtico, o terceiro um arpejoo e o quarrto volta a ser um
fragmento escalar
e
crom
mtico.
59
Figura 46 Trecho
T
de Flores: Figurao em zigueezague com aproximaes
a
s cromticas (cc. 17-21).
t
a seo A de Cleonix
Figura 47 Trecho de C
Cleonix: Figuurao em ziguezague com aproximaes cromticaas (c. 0116)..
60
intercalada e em segguida, no segundo
s
compasso, um
ma linha diatnica
d
v da figuraao em doiis registros.
descendente onde a noota f o piv
J no segunndo (Figuraa 45) apenass a primeiraa figurao em ziguezzague
modificadaa, aqui o segundo grupo dee trs graaus cromticos
desmembraado, inserinndo em seu lugar um movimentoo anacrsico
o para o
segundo coompasso.
Figura 48 Trecho de C
Cleonix: Figuurao em ziguezague com aproximaes cromticaas (c. 2224)..
E suua variao::
Figura 49 Trecho de C
Cleonix: Figuurao em ziguezague com aproximaes cromticaas (c. 3032)..
h) Aqui se apresentam
a
duas figurraes em dois regisstros na fo
orma se
sequncia. As duas linhas meldicas
m
de ambas se moviimentam
obliquamennte, sempree com um
ma nota peddal e um fragmento escalar
diatnico.
61
Figura 50 Trecho de R
Ricaom: Figu
urao em zigguezague (c.. 00-04).
i) Nos
N primeeiros dois compassos
c
do exempplo seguintee encontra--se uma
figurao em ziguezaague em qu
ue as duas linhas
l
melddicas implccitas so
descendentes e predoominantemeente escalarres, com eeventuais excees
e
(saltos ou cromatismos
c
s).
F
Figura
51 Trrecho de Exccerto no. 1: Figurao
F
em ziguezague
(c. 53-56).
62
No caso dos exxemplos abbaixo a melodia encontra sua acenntuao a cada
c
trs
tempos, attravessandoo a mtrica proposta peela frmulaa de compassso inicial.
Abaaixo seguem
m alguns exeemplos dessse procedim
mento rtmicco:
Figura 53 Trecho de
d De Bahia ao Cear: Heemola (c.09-112).
27
V PEREIRA
Ver
A, Marco. Ritmos Brasileeiros para viiolo. Rio dee Janeiro: Garbolights
G
Produes Arrtsticas, 2007.
63
O exxemplo a seeguir aparecce na primeeira seo dee Carrosseel, e comp
posto de
dois planoss sobreposttos. Esses planos
p
so representaddos por duaas melodiass que se
desenrolam
m simultaneaamente, porrm, as maio
ores movim
mentaes rtmicas de ambas
a
se
do quandoo a outra reppousa. Cadaa uma das liinhas foi cooncebida em
m uma subdiviso, a
melodia quue aparece primeiro
p
tem
m carter binrio
b
e a segunda appresenta um
m carter
ternrio. Um provvell motivo quue levou Moacir
M
a esccrev-las deessa maneiraa o de
destaque, pois
p como so evidenteemente conttrastantes ellas se separram em doiis planos
auditivos.
D
Duas
melodiass com subdivisses ternria e binria sobreepostas
(c. 03-1
12).
interessante
i
e notar quue essas duas
d
meloddias esto vinculadass a um
acompanhaamento rtm
mico bastaante similaar, onde so
s
sobreppostas s mesmas
subdivisess rtmicas.288
28
64
O exemplo
e
abbaixo mostrra a introdu
uo de R
Rota onnde um ostiinato na
regio agudda sobrepoosto a uma melodia naa regio gravve. Em cadda linha melldica se
d uma difeerente subdiiviso mtriica, o ostinaato figura em
m 4 por 4 e a melodia grave se
desenrola em
e uma mtrica compposta, mais especificam
mente 9 porr 8. Essas mtricas
m
so proposttas artificiaalmente, elas
e so sim
muladas sobrre uma terceeira mtricaa guia (3
por 4), o motivo
m
de Moacir
M
ter utilizado
u
a frmula
f
de compasso eem 3 por 4,, mesmo
ela no senndo utilizadda neste moomento, se d porquee o tema A dessa com
mposio
apresenta taal mtrica.
65
3
3.2.3
Paadres de acompanh
a
hamento
ntroduo de
d De Bahiia ao Cear, que
O trecho a seguir representa a in
composta por
p uma frm
mula rtmicca simples, onde
o
o temppo dois accentuado, e o baixo
se mantm
m em um sibb pedal. Esssa figurao rtmica de
d duas collcheias no segundo
tempo lem
mbra bastannte a clulaa rtmica bsica
b
do Ijex,
I
gneero tocado
o para a
reverncia aos
a Orixs do Camdom
mbl (PER
REIRA, 20077, p. 52).
66
rtmiica originaal.
Figura 58 Trecho
T
de Leemurianos: Padres
P
de aco
ompanhamentto em 5 por 4 e 6 por 4 (c. 01-02
0
e c.
52-53
3)
67
Figura 60 Trecho de R
Ricaom: Figu
urao rtmicoo-meldica (c. 13-16).
68
Um tipo
t
de sonnoridade haarmnica bastante preesente nessaa parte da obra de
2
Moacir soo os dominaantes SubV29
e os acord
des alteradoos [X7(b9, ##9, #11, b13)]. No
29
69
F
Figura
63 Trrecho de Feliipe: SubVs (c. 14-16).
3.3.2 Modalism
M
mo X Tonalismo
70
Genericamente pode-se
p
afirrmar que ass composies que estto mais lig
gadas ao
u desenvoolvimento mais
m tonal e as outras,, mais modaal. Essa abo
ordagem
choro tm um
pode estar relacionadaa a uma esccritura estilstica do chhoro, onde sse congelam
m alguns
moldes de
d maneira a se afirmarr uma potica comum. No outros casos, ondee Moacir
no se preoocupa em deixar formaas e gneross to explccitos, tornanndo as comp
posies
mais pessoaais e exclussivas, o moddalismo empregado
e
c
com
mais fr
frequncia e de uma
maneira muuito ntima.
im
mportante ressaltar quue mesmo assim poddemos encoontrar trech
hos que
intercalam essas duas concepes
c
s harmnicaas.
No exxemplo a seguir fica clara
c
essa reelao, o trecho se inicia com um
ma longa
passagem de
d sonoridadde modal, onde
o
um niico acorde perdura
p
porr muitos com
mpassos.
Ao final doo trecho Mooacir insere um movim
mento cadenncial dominaante-tnica bastante
bvio (G7 C7), intercalando as sonoridades
s
s do modaliismo e do toonalismo.
71
F
Figura
65 Trrecho de Parraso: Policorrde (c. 53).
Figura 66 Trecho de
d Paraso: Simetria em policorde
p
(c. 553).
72
Algunns dos prrocedimentoos compossicionais utilizados
u
ppara consttruir os
componentes unificaddores seroo brevemen
nte comenttados abaixxo, de forrma que
percebamoss o leque dee tcnicas em
mpregadas por
p Moacir em sua estrruturao fo
ormal.
Introddues:
Utilizar fragmentos
f
ou figuraes meldicas do tem
ma principaal, como
visto na introduo
i
de Outra Coisa,
C
ondde o tipo dee figura rtm
mica e as
relaes intervalaress da introd
duo so trransformaes da mellodia do
tema.
m
da melodia dda introduo um
curiosoo que a coonstruo meldica
desenvolvvimento dee um pequeeno fragmeento da seo A. A figurao
fi
rtmica do
d compassoo 06 (anacru
use da seoo A) acresscida de um
ma nota e
disposta sequenciallmente de maneira defasada na introdu
uo. A
movimenntao em teeras descen
ndentes tam
mbm predom
mina em am
mbas.
Figura 67 Trecho de P
Paraso: Intro
oduo e inciio do tema (c. 01-09).
73
Outra situao semelhante vista em De Bahia ao Cear, onde a
introduo formada por um ostinato que envolve um baixo pedal em
sib e a harmonia apresenta/prepara a tonalidade da seo A.
Os trs exemplos citados podem ser encontrados em 3.2.3.
Interldios:
30
31
74
Codaas:
32
75
F
Figura
69 Trrecho de Outtra Coisa: Inttroduo e Cooda (c. 01-04 e c. 45-51).
Compor uma
u nova seo,
s
contrastante do resto
r
da msica e norm
malmente
mais curtta do que ass sees qu
ue a precedeem. Exempllos so enco
ontrados
em Cleoonix e Excerto no. 1.
3.44.2 Proloongamento
o em finaiis de frasee
76
3.4.3 Improviso
I
os em ritorrnelos
77
compassos que se repete seis vezes e a harmonia : || Dm7 | % | % |Em7/A||. Uma
curiosidade o fato de que esse improviso em R menor que serve de transio
entre as sees A e B comum aos campos harmnicos de ambas as partes, sendo o
quarto grau menor da tonalidade da parte A (L maior) e o terceiro grau da tonalidade
da parte B (Bb maior). Dessa forma Moacir faz uma modulao para um semitom
acima, regio bastante distante, de maneira fluida e sutil.
Pode-se afirmar que esse procedimento de estruturao formal importante
para compreender a msica de Moacir, pois ele encontrado em outra parte de sua
obra de maneira bastante mais efusiva, no convm analis-las aqui, contudo ser
interessante citar algumas msicas: Bluishmen, Luanne (Sou Eu), Kathy,
Orfeu (Quiet Carnival), Amalgamation, Coisa no. 4, Anon, Quermesse,
De Repente, Estou Feliz (Haply Happy) e Maracatucut.
78
MSICAS
N de sees
N de compassos
Tonalidades
Vaidoso
A - 24c e B - 16c
A e B - Sib maior
Flores
A, B e C - 16c
Saudade de Jacques
A - 8c e B - 21c
Cleonix
2 + coda
A e B - 16c
A - R menor e B - F maior
Ricaom
A e B - 16c
De Bahia ao Cear
A, B e C - 16c
Excerto No. 1
133
A - 16c
A - D maior
33
Apenas uma seo (41-56) tem caractersticas de choro, as demais partes no apresentam
elementos suficientes para confira-las como tal gnero.
79
Ao compararmos a citao e o quadro acima notamos que Moacir raramente
utiliza o esqueleto harmnico, contudo, os encadeamentos harmnicos so to fluidos
e naturais que mesmo as modulaes mais abruptas so percebidas com bastante
leveza.
80
Captulo 4
Agora eu sei
(...) uma prola de alegria e modernidade (...). Nela, uma marcha-rancho diferentona, que
no s tem uma harmonia que vai entortando no decorrer da msica, como a
exuberncia orquestral abre espao para solos variados (...), num resultado que transcende
o gnero (SUKMAN, Hugo. In: ADNET; NOGUEIRA, 2005, p. 17).
81
82
83
34
84
J a estruturao rtmicaa da coda no segue exatamentte nenhum tipo de
padro, cauusando um certo
c
fluxo contnuo
c
baastante conddizente com
m o carter modal
m
da
seo.
Segue o esqueleto rtmico e formal daa melodia dee Agora euu sei:
85
86
c. 08-10
c. 12-14
c. 29-30
c. 40-41
c. 55-58
c. 93-94
c. 108-111
c. 120-121
87
Exeemplos de trrechos esttiicos em um
m acorde:
c. 31-344
c. 78-822
c. 95-1007
c. 112-1115
c. 122-1137
c. 46-522
c. 83-922
88
Com
mo veremoss a seguir, a forma de Agora eu sei bem
m trabalhadaa no que
diz respeitoo ao desenvoolvimento estrutural,
e
apresentando
a
o trs seees principaiss (A, B e
C) e trs sees unificaadoras (intrroduo, interldio e cooda).
89
Como estrutura geral, temos:
Introduo c. 00-08
A c. 09-37
B c. 38-56
A c. 57-82
Interldio c. 83-96
C c. 97-115
B idem B acima
A c. 57-72 e pula para c. 116-121
Coda c. 122-137
SEO
NMERO DE COMPASSOS
Introduo
26 (casa 1) e 24 (casa 2)
19
26
Interldio
3435
19
19
22
Coda
24
35
90
No captulo anterior foram
m analisados trs parm
metros form
mais, e curio
osamente
m utilizados por Moacirr na compossio de A
Agora eu sei. so eles:
todos foram
Com
mponentes unificadorees (introdues, interlddios e codass)
3
Impprovisos em
m ritornelos37
36
37
91
38
92
Consideraes Finais
93
Em seguida foi possvel, com as anlises musicais presentes nessa monografia,
delinear uma linguagem expressiva no processo de composio de Moacir Santos,
trazendo tona algumas caractersticas estilsticas recorrentes. Os principais
procedimentos composicionais foram esmiuados e diversos exemplos foram
devidamente comentados, a fim de organizar os processos de construo e
sedimentao da obra.
Dentre todos os parmetros aqui analisados alguns podem ser encarados como
unificadores entre as composies. Talvez a maior recorrncia processual de Moacir
Santos seja o minucioso trabalho lapidao de um material essencialmente
cromtico. Seu desenvolvimento cromtico bastante intenso e comumente
conjugado a outras tcnicas, sendo o ziguezague (ou figurao em dois registros) a
mais explorada.
Outro procedimento recorrente encontrado pontualmente em algumas das
composies de Choros & Alegria o uso da simetria como estruturao do discurso
composicional. Essa incurso por um pensamento simtrico, aqui trabalhado
principalmente como espelhamentos retrgrados, mostra as caractersticas de um
compositor frente do seu meio, visto o crculo musical no qual ele estava inserido.
Dois argumentos slidos que sedimentam a hiptese de Moacir ter premeditado
minuciosamente todas as suas incurses simtricas e retrgradas so:
1. A msica Ricaom o retrgrado de seu nome, Moacir.
RICAOMOACIR
94
2. A msica Ricaom est localizada exatamente no centro do set list39,
separando as sete primeiras msicas das sete ltimas.
Agora eu
sei
Outra
Coisa
Paraso
Vaidoso
Flores
Saudades
de Jacques
Cleonix
Samba di
Amante
Carrossel
Felipe
Ricaom
De Bahia
ao Cear
Exerto
n. 1
Lemurianos
Rota
39
95
Com a pesquisa feita no presente trabalho pode-se concluir que Moacir Santos
tinha um talento inato e uma capacidade de criao natural e intensa que acabou
gerando a necessidade de adquirir conhecimentos, por meio do estudo formal, para
sedimentar teoricamente o que ele j realizava intuitivamente. Sendo esta base cultural
o alicerce para que ele pudesse ir alm.
96
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http://musicabrasileira.org/marioadnet/machorosp.html
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99
Anexos
1 - Agora eu sei
2 - Outra Coisa
3- Paraso
4 - Vaidoso
5 - Flores
6 - Saudades de Jacques
7 - Cleonix
8 - Ricaom
9 - De Bahia ao Cear
10 - Exerto no. 1
11- Lemurianos
12 - Rota
13 - Samba di Amante
14 - Carrossel
15 - Felipe