Resenha Do Livro Espaço de Criação em Psicologia

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Resenha do Livro Espao de Criao em Psicologia: Oficinas na Prtica

Christina M. B. Cupertino
Captulo 1
Arte em psicologia e educao: o uso de recursos expressivos no passado recente
O estudo prope a sistematizao e discusso das vivenciadas e prticas
teraputicas que utilizam os recursos expressivos. Foram feitas analise de trabalhos
acadmicos publicados (teses e dissertaes de 1996 e 2001), das principais
universidades de So Paulo. Buscando-se os benefcios e limitaes neste contexto.
A expresso "uso de recursos expressivos" pode ser pensada como complemento
de intervenes didticas regulares. No se trata simplesmente do uso complementar,
mas sim da criao de um espao para outras atividades de formao, configurando nos
sujeitos as experincias desses recursos. Estes estavam sendo interpretados como
expresso (linguagem) para facilitar a aprendizagem, atravs de procedimentos
educativos tradicionais, a qual no temos acesso. O principal critrio para a seleo dos
trabalhos era funcionalidade dos recursos expressivos como abordagem complementar
ao ensino e a construo de conhecimento. Ficou definida a necessidade de um dilogo
entre linguagem expressiva (carter artstico) e a linguagem formal e conceitual (de uma
ou mais disciplinas).
O material foi lido sucessivas vezes e analisado, buscando: funcionamento,
fundamentos e resultados das atividades propostas, afim de sistematizao para
confronto com a literatura existente.
Foram encontrados 41 trabalhos, no curso de Psicologia e 31 no curso de
Educao da USP. Na PUC havia apenas sete trabalhos, com nfase no uso de recursos
expressivos coma ferramenta auxiliar em clnica e no atendimento psicolgico
institucional.
A quem se destinava as atividades pesquisadas
Teve predominncia da aplicao de recursos expressivos nos contextos
educacionais, de formao, sade (preveno, manuteno ou recuperao), instituies
de atendimento psicolgico/psiquitrico e psicopedaggicos. Tambm tinha trabalhos
que forneciam discusso sobre pertinncia ou no da associao entre Arte/Psicologia
ou Arte/Educao.

A anlise do material desencadeou uma serie de descobertas que se aprofundaria


alm do que foi proposto.
Para a Educao, manteve-se inicialmente a ideia de uma abordagem
complementar ao ensino e a construo de conhecimentos de uma ou mais disciplinas,
mas foi modificando-se em relao a ideia de no se trata simplesmente de um uso
complementar.
Na Sade os recursos expressivos serviam para ampliar possibilidades de
aprendizado, mas de outra forma: buscando sensibilizao e promovendo a expanso
dos horizontes de seus usurios e seus ambientes.
Mas a maior riqueza foi a descoberta do uso de desenho para melhorar o
aprendizado em geografia e os processos de aproximao da realidade, imperceptveis a
olhares cientficos.
A partir da identificao de tais pontos foi feita a apresentao e discusso do
material em trs segmentos:
Prticas educacionais: Com o uso da arte como complemento ao ensino das
disciplinas escolares e na formao de adultos.
Discurso de prticas que usam os recursos expressivos na Sade e em Oficinas
de Criatividade (arte como expresso do mundo interno e/ou como modo de reinsero
social).
Abordagem das atividades consideradas pertinentes, correlatas ou subsidiarias as
principais, mas que no se enquadraram as categorias anteriores.
Recursos artsticos como complemento no ensino das disciplinas escolares
A discurso foi sobre os trabalhos voltados para o Ensino Fundamental e Mdio.
Neles a principal caracterstica a necessidade de inovao e ampliao dos recursos
didticos e das diferentes possibilidades de uso. Os recursos artsticos mais usados so o
desenho e o teatro como formas da expresso. Tambm so usados: obras de arte
quadros, letras de msica, peas de teatro, lendas, mitos e contos. Mas existem tambm
as atividades corporais e plsticas.
Os pesquisadores enfatizam o valor da expresso artstica com forma de
aproximar o indivduo do fenmeno estudado. Ha uma mobilizao no sentido de tornar
o ambiente mais interessante atravs da linguagem expressiva, do carter artstico e a
linguagem formal estudada. A ideia era estabelecer uma apropriao entre educador e
educando.

Os recursos artsticos na formao de adultos


Com adultos, foi investigado o uso de recursos expressivos como ferramentas
complementares para aquisio de contedos especficos.
Foi mais complexo por abranger aspectos mais sutis da experincia de
incorporao de conhecimentos, o que o autor coloca como processo educacional para
promotor de mudanas de atitudes, mostrando que a arte tem a funo de dar vazo as
emoes e atitudes do indivduo.
Os autores defendem os efeitos da arte e do fazer artstico, que podem produzir no
adulto, uma nova possibilidade de conhecimento e de leitura do mundo. A introduo
dos recursos artsticos nesse caso, no apenas facilitaria a experincia, mas daria outra
configurao ao processo educativo.
Esse sistema atual vem sendo usado h pelo menos cinco sculos. Ele conhecido
como "reinado da razo, da positividade e do mtodo". Ou seja, apenas quando
explicitamos as razes de um evento, onde poderamos dizer que ele verdadeiro.
Assim ao confrontarmos com algo novo, imediatamente temos que definir a qual
categoria aquilo pertence, articulando-a com as demais, para fazer sentido.
De posse desse conhecimento possvel controlar e prever os desdobramentos de
situaes futuras, bem como sistematizar o conhecimento obtido. Esse procedimento
por um lado, vem proporcionando um desenvolvimento cientfico e tecnolgico e
espera-se, que este conhecimento seja disseminado e incorporado por toda a
humanidade, de modo cumulativo, progressivo e uniforme.
As crticas mais bem articuladas era a de fazer prevalecer lgica linear num
processo cumulativo de iluminao progressiva, com a necessidade de estudos das
relaes entre os diferentes elementos dos contextos. Essas teorias so construes, e
no uma simples traduo de uma ordem suposta da realidade, onde conhecer e
aprender, no anda s pela via da repetio, mas tambm pelos desvios e pelas
divergncias, em que as situaes passam a no serem mais iguais s outras, ou seja,
cada experincia vivida deve promover alm daquilo que intrnseco a pessoa, tambm
deve alcanar e contemplar as novas experincias de outras coisas.
Alguns exemplos citados so relacionados associao de contedos de diferentes
disciplinas com experincias que do vida aos conceitos ou teorias, consolidando assim
o aprendizado. So exemplos de criatividade no manejo de realidades, que na maioria
muito adversa, o que em si j valoriza seus autores.

O uso de recursos expressivos em Sade Mental


As oficinas debatidas neste segmento na rea de sade mental investigam as
prticas do uso da arte como atividade teraputica, como: msica, teatro, somada a
passeios e festas. Essas foram realizadas com internos de instituies psiquitricas, mas
os autores do trabalho focalizam a ateno nos profissionais da rea da Sade, e no nos
benefcios usufrudos pelos pacientes.
Nos estudos dirigidos aos usurios dos servios, foram apontados benefcios da
criao artstica como atividade teraputica para a insero social de participantes que
passa a ser reconhecida pela produo.
Alm desses tambm foram alvos de estudo: teatro, fotografia, distinguindo arte e
cincia na abordagem do humano e a ressignificao de experincias vividas.

As o ficinas de criatividade
Atravs de cinco dos trabalhos chegou se a "Oficina de Criatividade", esses
estudos foram descritos mais detalhadamente, para discriminar a especificidade de cada
modalidade de oficina.
Os recursos artsticos em o ficinas criativas trouxeram novos significados para a
prtica profissional de educadores. Tambm resultou em um olhar diferenciado da
relao da expresso de afetos e sentimentos da populao demandada.
Bernardo (2001), por sua vez, associa os processos de aprendizagem, quando
efetuados numa base vivencial ancorada no uso de recursos artsticos, com
o desenvolvimento psquico. Baseada na psicologia analtica enfatiza o papel
do uso criterioso, tico e criativo de recursos expressivos na facilitao da
aquisio do conhecimento integrado ao autoconhecimento. O pressuposto
aqui que o verdadeiro aprendizado passa pelo autoconhecimento.

Essas prticas tm por base uma vasta gama de autores e vertentes, que passam
por Feldenkrais, Eutonia e Tai-Chi (na abordagem corporal), Bachelard, Anzieu e Mario
de Andrade (com a obra Macunama), alm de recursos expressivos grficos, plsticos e
literrios.

Na rea da Sade Mental nas Oficinas de Criatividade foi percebido o uso de


recursos expressivos que apoia o uso de tcnicas projetivas, ou seja, o indivduo
externa os aspectos pessoais (afetos, sentimentos, viso de mundo) na produo
artstica.
No campo da Psicologia o sentido dos recursos artsticos passa para expresso de
sentimentos e emoes. Neste contexto o bservado um pensar da arte com algo que
tem que ser decifrada em busca de uma representao fiel da realidade.
A partir sculo XX a arte rompe com a religio e passa a no mais valorar a
beleza, o que favorece a apreciao dos sentimentos.
Read (1978) apresenta uma definio possvel de arte para alm da mera
reproduo da realidade, e ao mesmo tempo a ela inexoravelmente atrelado: a
expresso, a arte, para ele, expressa o ideal, mas no qualquer ideal, e sim
aquele possvel de ser representado plasticamente.

O termo expresso artstica pode ser ambgua, significando emoes diretas e


tambm a disciplina imposta ao meio escolhido pelo artista. Obra de arte de certo modo
a liberao da personalidade atravs dos sentimentos inibidos ou reprimidos. Outro
argumento que a arte no est presente em pensamento, e sim em sentimento, o que
constitui o smbolo dessa verdade.
Podemos observar que a s atividades artsticas no tratam especificamente do
processo de desenvolvimento da criatividade, e sim a forma como ela e entendida, esses
trabalhos cientficos acadmicos apresentados estabelecem um trnsito entre diferentes
saberes, que caminham por vezes isoladamente, cuja completude do sentido s aparece
no final da histria.
Consideraes finais
O trabalho traz relaes entre disciplinas, como: arte, sade e educao, sugerindo
novas pesquisas para solucionar algumas lacunas encontradas. Abrem perspectivas para
a atuao na rea de Sade e da Psicologia. E introduz uma tendncia composio e
complementao entre essas atividades, expondo que essa rea hbrida, o que nos leva
ir alm do que fora estabelecido.

Captulo 2

O processo de aprendizagem vivencial semeando o desenvolvimento humano


Marina Halpern-Chalom

Homem oscila a respeito do certo ou incerto, o conhecido e o desconhecido, sua


viso contempornea valoriza o conhecimento que produzido cientificamente
desconsiderando seu fluxo natural do existir.
Sua cultura no d privilgios para lidar com sua busca por respostas, deixandoo emudecido ante sua capacidade de elaborar experincias vividas.
Algumas abordagens Psicolgicas propem respostas atravs um espao de
troca e elaborao de experincias existenciais.
Oficinas de criatividade: uma proposta
A oficina de criatividade proposta em trabalho de grupo, explora a vivncia
existencial atravs de vrios recursos que mobilize o homem em torno do tema
proposto,

fazendo

refletir

suas

lembranas,

sentimentos,

sensaes,

pensamentos e intuies.
Vivencia: A prender com
Em cada contexto as Oficinas adquirem caractersticas peculiares,
possibilitando a reflexo de vivencias existenciais e interpessoais em seus
processos psicolgicos a partir da proposta de sala, ultrapassando assim o discurso
terico.
Cupertino (2001:16) "nossa pratica depende, em grande medida, daquilo
que somos, alm daquilo que sabemos".

A inteno fomentar um modelo de aprendizagem que ultrapasse a


reproduo de conceitos categorizados e classificados, uma vez que a proposta
passa a ser de aprendizagem atravs do "com" ao invs do "sobre" (Cupertino,
2001).
Benjamin (1994) traz dois conceitos:

No primeiro, fala da relao do homem com a histria, fazendo apropriao

do passado como uma experincia nica.


No segundo, fala que o historicista aproxima-se da histria se deixando tocar
pela experincia, atravs fluxo existencial onde a fatos objetivos e
verificveis.

As atividades
Para facilitar a aprendizagem proposto temas, que buscam a partir das
experincias, fazer com que o participante perceba suas questes, como:
autoimagem, identidade, preferncias, escolhas, histria de vida e outras.
Promovendo um olhar para si, onde vivenciado suas memrias, sentimentos,
percepes e compreenses.
A elaborao simblica envolve-se num processo com a conscincia,
abalando sua estabilidade e despertando-a para novas possibilidades de
ampliao.
J a conscincia por sua vez sofre c o m este processo, mas se adequa, tendo
participao ativa com novos smbolos.
Tomando o exemplo de uma

atividade de auto apresentao, os

participantes so convidados a fazerem um anuncio de si. Para isso, deve-se


escolher figuras em revistas e cola-las numa cartolina. Em seguida deve-se dar
um ttulo para o anncio.
Evidencia-se:

A multiplicidade constituinte da identidade: o que apresentar?


Reflexo sabre a autoimagem: como me vejo? Como desejo ser visto?
A complexidade da comunicao: como apresentar o que desejo?

As questes que se colocam, expressa um processo que requer exerccio, uma vez
que a expresso do todo no recorte incompleta, pois a imagem torna-se um ser
novo da nossa linguagem,
A proposta das oficinas, tem este propsito de conectar as produes sem se
ater a padres conhecido, promovendo a integrao.
Durante o trabalho, o autor este envolvido com o mesmo passando por um
processo de autoconhecimento. Critelli (1996), refletindo sobre o processo de
conhecimento do homem e o mundo. Prope o movimento de realizao, em 5
passos:
1. Desvelamento- quando algo tirado do seu ocultamento por algum;
2. Revelao- quando o desocultado acolhido e expresso atravs de uma
linguagem;

3. Testemunhado- quando o linguageado visto e ouvido por outros.


4. Veracizado- quando o reconhecido referendado como verdadeiro por sua
relevncia publica;
5. Autenticado- quando, por fim, esse algo efetivado em sua consistncia
atravs da vivncia afetiva e singular dos indivduos.
Esses dois ltimos passos referem-se ao conhecimento que produzido
socialmente.
Em seguida so apresentadas as produes ao grupo sem divulgao do seu
autor. Os participantes so convocados ficarem frente aos trabalhos para perceberem
os sentimentos, emoes, pensamentos ou impresses que estes despertam.
Arnheim (1996) diz que o que as obras de arte criam - e eu amplio para
os mais diversos tipos de expresso - so experincias.

Os registros sugerem uma nova perspectiva, um olhar alm do padro


conhecido onde possvel vislumbrar alm do habitual.
Tambm dado um espao para cada participante fala o que est vendo no
cartaz e o que o autor quis comunicar, que em alguns casos surpreendem o s e u
produtor.
Em seguida pedido se tentem adivinhar o autor do cartaz, os participantes
geralmente tentam associar as impresses que tem das imagens com qualidades
percebidas nos colegas.
No final o autor se apresenta e compartilha o que buscou mostrar de si
mesmo, encerando com cada um falando coma foi realizar a atividade.
A palavra tem um papel importante ao permitir nomear o vivido e "enfatizar,
reincidir sobre o j expresso [ ... ] mas de uma maneira nova" (Freitas, 1995:163).
Um ponto importante o do movimento de retroalimentao entre ouvirse, comunicar e ouvir. Formando as relaes que estabelecemos na interao
com o mundo e com isto, novas perspectivas se abrem.
Trocas no grupo: a palavra circula
Nas Oficinas de Criatividade, a vivencia tem papel importante a partir da
construo de conhecimentos. Fazendo com que grupo crie uma identidade
prpria.

O oficineiro, quem conduz, preparao do ambiente, material e grupo,


propondo a atividade. Chama o grupo para as reflexes e direciona o trabalho,
tentando alcanar a integrao do grupo. Tambm deve estar preparado para
imprevisibilidade e a possibilidade de trabalhar com o que aparecer, com
mudanas repentinas que prprio de qualquer trabalho psicolgico.
Consideraes: O novo se apresenta
A compreenso do trabalho pertinente a partir das vivencias pessoais
corroborar para compreenso intersubjetiva e subjetiva do fluxo natural de
transformao que ocorre e m cada um. Ajudando na possibilidade de lidar melhor
com o processo de elaborao da vida.
O novo movimenta e cria novas possibilidades de olhar a si mesmo e ao
mundo,

revendo vises

preconcebidas

abrindo

um

leque

de

outras

reconfiguraes do que conhecido.

O processo de elaborao simblica semeando novos campos


A partir da reflexo em torno do tema das oficinas, busca-se a elaborao
simblica, com o objetivo de instrumentalizar o processo, dando aos
participantes a subsidio a um olhar diferente o que auxilie suportar a dinmica dos
processos existenciais humanos. Apesar desse processo no ocorrer em todos os
participantes, pois do tempo

de amadurecimento de cada um, mas para alguns

fica plantada uma semente, enquanto em outros colhe-se frutos.

Bibliografia
Cupertino, C. M. Barreto - Espaos de criao em psicologia: Oficinas na prtica
Ed.: Annablume.

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