Livro Extrativismo HOMMA ONLINE
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Vegetal na Amaznia
histria, ecologia,
economia e domesticao
Embrapa
Braslia, DF
2014
Autores
Alfredo Kingo Oyama Homma
Agrnomo, doutor em Economia Rural, pesquisador da Embrapa
Amaznia Oriental, Belm, PA.
Andra Vieira Loureno de Barros
Agrnoma, doutora em Cincias Agrrias, professora da
Universidade Estadual do Par, Belm, PA.
Antnio Jos Elias Amorim de Menezes
Agrnomo, doutor em Sistemas de Produo Agrcola Familiar,
analista da Embrapa Amaznia Oriental, Belm, PA.
Arnaldo Jos de Conto
Agrnomo, mestre em Economia Aplicada, pesquisador aposentado
da Embrapa Amaznia Oriental, Belm, PA.
Clio Armando Palheta Ferreira
Economista, analista aposentado da Embrapa Amaznia Oriental,
Belm, PA.
Clarisse Maia Lana Nicoli
Agrnoma, mestre em Economia Rural, pesquisadora da Embrapa
Caf, Braslia, DF.
Fabrcio Khoury Rebello
Economista, doutor em Cincias Agrrias, professor da Universidade
Federal Rural da Amaznia, Belm, PA.
Joo Tom de Farias Neto
Agrnomo, doutor em Gentica e Melhoramento de Plantas,
pesquisador da Embrapa Amaznia Oriental, Belm, PA.
Jos Edmar Urano de Carvalho
Agrnomo, mestre em Fitotecnia, pesquisador da Embrapa Amaznia
Oriental, Belm, PA.
Kleber Farias Perotes
Agrnomo, mestre em Cincias Florestais, tcnico da Emater/PA
disposio no Instituto de Desenvolvimento Florestal do Estado do
Par, Belm, PA.
Agradecimentos
Ao economista Otto Vergara Filho (19 1999), pesquisador da
Embrapa Solos e ao professor Samuel Isaac Benchimol (19232002),
maior conhecedor da economia do pau-rosa e smbolo da inteligncia
amaznica, ambos falecidos, os sinceros agradecimentos pela
colaborao prestada.
Ao Sr. Nazareno Neves Mateus (Associao dos Produtores Rurais
de Campo Limpo), ao Sr. Jeremias/Ivanete, ao Prof. Ariberto
Venturini (UFPA) e Sra. Osmarina Cardoso da Cruz (Associao
dos Produtores Rurais Rancho Fundo), bem como a todos os outros
produtores participantes da reunio no fornecimento das informaes
sobre a priprioca.
Ao Sr. Jos Paixo da Silva, presidente da Cooperativa dos Catadores
de Folhas de Jaborandi, ao Sr. Domingos Alves da Silva, associado,
ao Dr. Edgar Pinheiro (Banco da Amaznia S.A.) e ao Dr. Orlando
Maia Alves (Ibama), lotados em Parauapebas, pela ajuda prestada na
conduo deste trabalho para a coleta de dados sobre o jaborandi.
Ao Sr. Manuel Nazar Ferreira Rodrigues, proprietrio da Renmero
Indstria e Comrcio, por franquear a entrada na indstria e o livre
acesso aos funcionrios na coleta dos coeficientes tcnicos relacionados
ao processo de beneficiamento da castanha-do-par.
Aos agricultores japoneses e seus descendentes da Colnia Agrcola de
Tom-Au e Acar; dirigentes da Cooperativa Agrcola Mista de TomAu; Associao Cultural e Fomento Agrcola de Tom-Au e Agronag
Comrcio e Representao Ltda., os nossos agradecimentos pelas
informaes sobre cultivo de aaizeiro irrigado, castanha-do-par,
baunilha, uxizeiro, SAFs, cupuauzeiro, pimenta-do-reino, cacaueiro,
bacurizeiro e agricultura na Amaznia. Entre os que tivemos maior
contato: Mitinori Konagano, Francisco Wataru Sakaguchi, Tomio
Sasahara, Noburo Sakaguchi, Seya Takaki, Noboru Takakura, Shigeru
Hiramizu, Mrcio Hiramizu, Ivan Hitoshi Saiki, Mikio Nagai, Thomas
Nagai, Jailson Takamatsu, Kunio Matsunaga, Tsuneo Kusano, Hironori
Ono, Mitsuharu Onuki, Shigeru Yokokura, entre outros.
Ao Dr. Edowardo Muneaki Shimpo (Emater Benevides), Dr. Fabrcio
Khoury Rebello (Universidade Federal Rural da Amaznia), Dr.
Antnio Erildo Lemos Pontes (Frutal Amaznia), Dr. Yukihisa
Ishizuka (Amazon Agroforestry Association) e Sr. Eder Sena, pelo
apoio e ajuda para o desenvolvimento de tpicos deste livro.
Apresentao
com grande satisfao que colocamos disposio dos leitores o livro
local em pelo menos quatro vezes, o que induziu novos plantios. Essas
possibilidades se estendem, tambm, para as plantas aromticas,
medicinais, inseticidas, corantes, entre outros, que exigem maiores
investimentos de pesquisa visando sua domesticao e manejo.
Com a plena implantao do Cdigo Florestal no Pas, reacende a
importncia da seleo de espcies da biodiversidade amaznica,
reconhecidas no passado, do presente e aquelas com potenciais ainda
por serem descobertos para promoo da recomposio das reas
de Reserva Legal (ARL) e das reas de Preservao Permanente
(APP). A consolidao do Cdigo Florestal traduz-se como um
anseio da sociedade brasileira, certamente contribuir para promover
a recuperao de reas que no deveriam ter sido desmatados e
dar maior garantia de um equilbrio harmnico entre as atividades
produtivas e o meio ambiente.
Nesse contexto, constata-se a necessidade de aumento da produtividade
das propriedades agrcolas em face da reduo de rea til. Nesse
sentido, uma sada para os produtores seria promover a recomposio
das ARL e APP com espcies vegetais nativas que propiciem uma
possvel renda futura, contribuam complementarmente para o
equilbrio da fauna e, sobretudo, criem uma nova natureza para as
geraes futuras.
Cabe, portanto, s instituies de pesquisa contribuir para a gerao
de tecnologias que, uma vez disseminadas, venham trazer alternativas
de renda e emprego. com esse sentimento que lanamos esta
publicao, esperando que tenha utilidade a um pblico igualmente
amplo, formado por estudantes, tcnicos, pesquisadores e produtores
interessados no desenvolvimento da Amaznia.
Adriano Venturieri
Chefe-Geral da Embrapa Amaznia Oriental
Prefcio
ste livro rene 31 captulos enfocando produtos extrativos que
E
tiveram a importncia econmica reduzida com o esgotamento de seus
estoques, substitudos por plantios ou por sintticos (timb, pau-rosa,
jaborandi, guaran, cupuau, jambu, priprioca, baunilha, sistemas
agroflorestais), e aqueles ainda com forte domnio do extrativismo
ou do manejo (madeira, andiroba, aa, castanha-do-par, bacuri,
uxi, pequi, tucum, carvo para as guseiras). Esses tpicos procuram
abordar aspectos histricos, econmicos e ecolgicos, alm da
domesticao.
uma coletnea de trabalhos resultantes de pesquisas desenvolvidas
nos ltimos 20 anos, que sofreram adaptaes, tendo sido publicados
nas sries da Embrapa Amaznia Oriental, Revista Amaznia: Cincia
e Desenvolvimento, Revista Cincia Hoje, Revista Estudos Avanados,
Anais dos Congressos da Sociedade Brasileira de Economia,
Administrao e Sociologia Rural (Sober), Encontros da Sociedade
Brasileira de Economia Ecolgica (Ecoeco), Congresso Brasileiro
de Recursos Genticos, Frutal Amaznia e seminrios diversos.
Agradecemos o apoio que foi concedido ao longo do tempo por meio
dos recursos do Projeto de Apoio ao Desenvolvimento de Tecnologia
Agropecuria para o Brasil (Prodetab), do Fundo Estadual de Cincia
e Tecnologia do Estado do Par (Funtec), do Conselho Nacional de
Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico (CNPq) e, em especial, do
Banco da Amaznia.
H uma grande nfase com relao ao extrativismo vegetal ps-assassinato de Chico Mendes (1944-1988), envolvendo as polticas
internacionais do Reducing Emissions from Deforestation and Forest
Degradation (REDD), dos programas federais e estaduais do governo
brasileiro e das organizaes no governamentais, que o colocam como
cerne da questo para a reduo dos desmatamentos e queimadas, para
a gerao de emprego e renda e como modelo de desenvolvimento
adequado para a regio amaznica.
um desafio promover o desenvolvimento de cadeias produtivas de
produtos dispersos em pequenas quantidades, sem economia de escala,
com falta de infraestrutura, baixa produtividade da terra e da mo de
obra, perecibilidade e baixo valor dos produtos versus programas sociais
como Bolsa Famlia. A separao em produtos florestais madeireiros e
no madeireiros como concepo traduz a falsa iluso destes ltimos
como sendo sustentveis por definio. A sustentabilidade econmica
versus biolgica depender da taxa de extrao: nem sempre a
sustentabilidade biolgica garante a sustentabilidade econmica ou
vice-versa. No h diferena do ponto de vista econmico com relao
Sumrio
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329
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377
405
411
425
437
461
Introduo1
Depois do assassinato, em 22 de dezembro de 1988, do lder sindical
Chico Mendes (nascido em 1944), o extrativismo vegetal passou a
ser considerado como a grande ideia ambiental brasileira para conter
os desmatamentos e queimadas na Amaznia e em outras partes
do mundo tropical. A grande pergunta que fica se realmente o
extrativismo vegetal, defendido pelos seguidores de Chico Mendes,
seria a forma ideal de desenvolvimento para a Amaznia. Qual
seria a viabilidade econmica da extrao de produtos florestais no
madeireiros? (HOMMA, 2010a, 2010b).
A importncia econmica de produtos extrativos tem apresentado
modificaes ao longo da histria. Assim o caso de vrios produtos
extrativos que tiveram grande importncia na formao econmica,
social e poltica da Amaznia. Entre esses produtos podem ser
mencionados as drogas do serto e o cacau (Theobroma cacao
L.) no perodo colonial, a borracha (Hevea brasiliensis M. Arg.), a
castanha-do-par (Bertholletia excelsa H.B.K), o palmito e o fruto
do aa (Euterpe oleracea Mart.) e a extrao da madeira, entre os
principais. A sustentabilidade da extrao dos recursos extrativos
apresenta modificaes com o progresso tecnolgico, o surgimento
de alternativas econmicas, o crescimento populacional, a reduo
dos estoques, os nveis salariais da economia, as mudanas nos preos
relativos e outros fatores. De uma forma geral, as atividades extrativas
se iniciam, passam por uma fase de expanso, de estagnao e depois
declinam, no sentido do tempo e da rea espacial.
A opo extrativa como uma soluo vivel para o desenvolvimento da
Amaznia deve ser considerada com cautela. Para produtos extrativos
que apresentam um grande estoque natural, como o caso do fruto e
do palmito de aa, da madeira, da castanha-do-par e at mesmo da
seringueira, medidas devem ser tomadas para permitir uma extrao
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Figura 2. Possveis
formas de utilizao do
recurso natural depois
da transformao em
recurso econmico.
Fonte: Homma (2008, 2012).
O fenmeno da domesticao
A humanidade iniciou o processo de domesticao de plantas e
animais nos ltimos 10 mil anos, tendo obtido sucesso com mais de
3 mil plantas e centenas de animais que fazem parte da agricultura
mundial. Desde quando Ado e a Eva provaram a primeira ma
(Malus domestica) extrativa no Paraso, o Homem verificou que no
poderia depender exclusivamente da caa, da pesca e da coleta de
produtos florestais.
A domesticao comea na seleo efetuada pelos prprios coletores,
observando as caractersticas teis e, dependendo do crescimento do
mercado, tende a avanar para plantios, at mesmo em uma situao
de completa ausncia de pesquisa (LEAKEY; NEWTON, 1994;
MAZOYER; ROUDART, 2010). Por outro lado, existem plantas para
as quais a domesticao tende a ser bastante difcil, como o uxizeiro,
com baixa e lenta taxa de germinao, dificuldade no processo de
enxertia e no longo tempo para a entrada do processo produtivo. Em
outras situaes, a interveno da pesquisa se torna necessria, como
foi o caso da domesticao da pimenta-longa (Piper hispidinervium),
planta nativa existente no Acre, de cujas folhas descobriu-se o safrol.
Sem o plantio seria totalmente impossvel a sua explorao.
paradoxal afirmar que as tentativas de domesticao apresentam
chances de sucesso fora da rea de ocorrncia do extrativismo vegetal,
como aconteceu com o cacaueiro, a seringueira e o guaranazeiro.
Vrias plantas amaznicas esto sendo cultivadas nos estados da Bahia,
Esprito Santo, Rio de Janeiro, So Paulo e Paran, como aconteceu e
est ocorrendo com cacaueiro, guaranazeiro (Paullinia cupana HBK),
seringueira, aaizeiro, pupunheira (Bactris gasipaes HBK) e jambu
(Spilanthes oleracea). O alcaloide spilanthol presente nas folhas, ramos
e flores do jambu descrito em patentes como apropriado para uso
anestsico, antissptico, antirrugas, ginecolgico, anti-inflamatrio
e como creme dental, com diversos produtos no mercado vendidos
como remdio e cosmtico. Essa a razo da existncia de 5 patentes
que utilizam o jambu, registradas no United States Patent and
Trademark Office (USPTO), no perodo de 2000 a 2006 (1 americana, 1
francesa e 3 japonesas), 7 na World Intellectual Property Organization
(WIPO) (japonesa, americana, inglesa, dinamarquesa, sua, brasileira
e australiana), no perodo de 2006 a 2010, e 1 no Instituto Nacional
de Propriedade Intelectual, em 2005. O jambu utilizado pela
Natura na composio do creme antirrugas Chronos e era adquirido
de plantios na Regio Metropolitana de Belm. A partir de 2004, o
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Polticas de manuteno do
extrativismo
A economia amaznica tem se desenvolvido pelo aproveitamento dos
recursos disponveis na natureza. Foi o que ocorreu com a extrao da
borracha, da castanha-do-par, do pau-rosa, do leo-de-tartaruga, do
pirarucu e, em poca mais contempornea, da madeira, do palmito e
do fruto de aaizeiro, da minerao, do petrleo, da energia hidrulica,
entre dezenas de outros produtos. O aproveitamento de recursos
disponveis na natureza, com negligncia quanto ao seu esgotamento,
fundamenta-se na exportao de matria-prima, desestimula a
industrializao, provoca realocao no mercado de mo de obra e,
perversamente, afeta a economia local. Isso sintetiza claramente o
modelo de Dutch Disease desenvolvido por Coorden e Neary (1982),
quanto ao efeito da descoberta de reservas de gs natural no Mar do
Norte na dcada de 1960, afetando a economia holandesa (BARHAM;
COOMES, 1994).
Mercados constituem a razo para a existncia e o desaparecimento
de economias extrativas. A transformao de um recurso natural em
produto til ou econmico o primeiro passo da economia extrativa.
Contudo, medida que o mercado comea a expandir, as foras que
provocam o seu declnio tambm aumentam. A limitada capacidade de
oferta de produtos extrativos leva necessidade de se efetuar plantios
domesticados ou o seu manejo e descoberta de substitutos sintticos
ou de outro substituto natural.
As reservas extrativas esto sendo consideradas como soluo para
se evitar o desmatamento na Amaznia, melhor opo de renda e
emprego, proteo da biodiversidade e, mais recentemente, como
mecanismo de aplicao do Reduce Emissions for Deforestation
and Degradation ou Reduo de Emisses para o Desmatamento
e Degradao (REDD). A anttese dessa proposta que tem grande
simpatia dos pases desenvolvidos o desconhecimento do mecanismo
da economia extrativa e da importncia de se modificar o perfil
tecnolgico da agricultura amaznica.
A dinmica do extrativismo vegetal que conduz a forma trapezoidal
(Figura 3) pode apresentar sucessivos deslocamentos desse ciclo ao
longo do tempo e para determinada rea geogrfica. Foi o que ocorreu
na Amaznia em pocas sucessivas com a fase das drogas do serto,
do extrativismo de cacau, seringueira, castanha-do-par, pau-rosa,
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Pau-rosa
Trata-se de outra riqueza do Amazonas e do Par, que chegaram a
exportar o mximo de 444 t de leo essencial, em 1951. A mdia do
trinio 20092011 foi pouco mais de 8 t e o custo do leo essencial por
volta de US$ 129,00/kg. Para exportar a quantidade mxima j deveriam
ter iniciado plantios h cerca de 20 a 30 anos, permitindo o corte de
30 mil rvores/ano, gerando divisas da ordem de US$ 74 milhes/ano.
A sua verticalizao na regio constitui alternativa na formao de
um polo floro-xilo-qumico para a produo de leos essenciais para
perfumaria, cosmticos e frmacos na Amaznia (HOMMA, 2003d).
Timb
O timb foi muito utilizado como inseticida natural antes do advento
dos inseticidas sintticos, desapareceu e est retornando para utilizao
na agricultura orgnica, mas em bases racionais (HOMMA, 2004d).
Antes da Segunda Guerra Mundial, os estados do Amazonas e do Par
eram grandes exportadores de raiz de timb, utilizada como inseticida.
A descoberta da utilizao do DDT pelo qumico suo Paul Hermann
Mller (18991965), em 1939, para controle de insetos transmissores
de doenas, acabou com o mercado de inseticidas naturais. O sucesso
no combate s doenas fez com que, em 1948, recebesse o Prmio
Nobel de Medicina. O lanamento do livro A Primavera Silenciosa
de Rachel Louise Carson (19071964), em 1962, tornou evidentes
os riscos ecolgicos do uso indiscriminado de inseticidas sintticos
na agricultura. Com isso, comeou a crescer a importncia do uso
de inseticidas orgnicos, sobretudo a partir da dcada de 1990,
aumentando o interesse do cultivo de plantas inseticidas, como
timb, neen, fumo, etc. Atualmente, o pas importa timb do Peru,
para utilizao na agricultura orgnica e para a recuperao de reas
degradadas como leguminosa. O timb exemplo de uma planta
domesticada, amplamente cultivada no Sudeste Asitico, Japo, Porto
Rico e Peru e depois abandonada. Houve a seleo de variedades
efetuada pelos ingleses, americanos, japoneses, peruanos e brasileiros,
que foram perdidas, necessitando novo comeo.
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Jaborandi
O yabor-di (planta que faz babar) era utilizado h vrios sculos pelos
ndios tupi-guarani, que mascavam as folhas desse arbusto. O uso dessa
planta para fins medicinais foi introduzido em Paris pelo engenheiro
militar pernambucano Joo Martins da Silva Coutinho, em 1874. A
descoberta do princpio ativo pilocarpina das folhas do jaborandi
foi efetuada simultaneamente, em 1876, na Frana por E. Hardy e na
Inglaterra por A.W. Gerrard (COSTA, 2012; HOMMA, 2003c).
A empresa alem Merck foi a pioneira na domesticao do jaborandi,
efetuando um plantio de 500 ha na Fazenda Chapada, adquirida em
1989, em Barra do Corda, Maranho, levando autossuficincia a
partir de 2002.
Para o beneficiamento das folhas de jaborandi, a Merck criou a
Vegetex, em 1972, em Parnaba, Piau, fechada em 2000, com estoque
de pilocarpina suficiente para abastecer o mercado mundial por 5
anos. Ocorre que 1 ano aps o fechamento da Vegetex, 80% do estoque
estava vendido, fazendo com que a Merck retomasse suas atividades de
forma terceirizada. Em julho de 2002, o Grupo Centroflora (criado em
1957) assumiu o controle dos ativos da Vegetex, criando a Vegeflora,
beneficiando o jaborandi procedente de Barra do Corda.
Em 2009, a Diviso de Produtos Naturais da Merck foi adquirida
pela Quercegen Agronegcios 1 Ltda., brao da Quercegen Pharma,
sediada em Massachusetts, Estados Unidos, que passou a enfatizar o
plantio de fava-danta e uncria [Uncaria tomentosa (Willd. ex Roem.
& Schult.) DC.], alm do jaborandi. A fava-danta e a uncria so
utilizadas para a produo de quercentina, um poderoso antioxidante
e anti-inflamatrio, com capacidade imunolgica.
Com a venda da Merck ocorreu o rompimento com a Vegeflora,
cancelando o fornecimento de folhas de jaborandi, procedentes da
Fazenda Chapada, no Maranho. Isso levou a Vegeflora a efetuar
seu prprio plantio de jaborandi no Territrio dos Cocais, Piau,
distribudo mundialmente pela indstria farmacutica Boehringer
Ingelheim.
Andiroba
O leo de andiroba, alm dos aspectos medicinais, foi muito utilizado
no passado e por ocasio da Segunda Guerra Mundial na iluminao no
interior da Amaznia, pela escassez de querosene. At antes da Segunda
Guerra Mundial existiam indstrias gerenciadas por descendentes
de italianos que beneficiavam leo de andiroba em Belm e Camet
a serem utilizados para movelaria. J existem diversos plantios de
andiroba combinados com cultivos de cacaueiros integrando sistemas
agroflorestais nos municpios de Tom-Au e Acar. Como o perodo
Copaba
Veiga Jnior e Pinto (2002) efetuaram um profundo levantamento
histrico da copaba. No passado, o leo de copaba era utilizado
contra disenteria, bronquites rebeldes, afeces cutneas, catarro
pulmonar, blenorragias e leucorreias, que eram exportadas para a
Europa (CARREIRA, 1988). A oferta de leo de copaba depende
integralmente do extrativismo, que precisa ser substitudo por
plantios, por razes de crescimento de mercado e padronizao do
leo, procedente de meia dzia de espcies, com cor, densidade e
composio diferenciadas. H necessidade de investir na pesquisa
para identificao de espcies mais promissoras, desenvolver tcnicas
de domesticao e efetuar plantios. Por ser rvore perene, as decises
atuais s tero impacto nas prximas dcadas, da a necessidade de
urgncia com relao a esses investimentos.
Salsaparrilha
um cip da famlia das Liliaceas (Smilax papiracea Poir), com
ocorrncia nas terras altas, no curso superior dos afluentes do Baixo
Amazonas. um cip quadrangular, com acleos fortes e curtos, muito
cerrados, dispostos em forma de ponta ao longo de quatro cantos da
parte inferior do caule. As razes com at 3 m de comprimento so
vermelhas e utilizadas no tratamento de sfilis, molstias cutneas e
reumatismo. O sabor forte e nauseoso, mas, na poca pr-penicilina,
era importante no tratamento de doenas venreas. A Companhia
Geral do Gro Par e Maranho chegou a exportar 3.482 arrobas no
perodo de 1759 a 1778 (CARREIRA, 1988).
Ipecacuanha
Muito utilizado como componente de xaropes antitussgenos at a
dcada de 1960, quando foi substitudo por compostos qumicos,
decorrente do esgotamento dessa planta com o avano da fronteira
agrcola, sobretudo em Rondnia. O padre Joo Daniel tem a seguinte
descrio:
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[...] uma raiz delgada, cheia de ns, e do feitio do genital dos patos, e
daqui vem o chamarem-lhe os naturais ipecacuanha, que quer dizer na sua
lngua genital do pato. purga j mui vulgar na Europa com efeitos e prstimos admirveis para parar todos os cursos ou sejam soltos, ou do sangue,
porque lhes tira o mau humor e causas. Tambm os seus por dados a beber
s mulheres lhes limpam o tero e fazem conceber (DANIEL, 2004. V. 2,
p. 193).
Carageru
Trepadeira da famlia das Bignoniaceae, de cujas folhas secas, por
macerao, extrai-se uma tinta vermelha insolvel na gua, porm
solvel no lcool e no azeite. A tinta e as folhas so empregadas contra
disenterias e impigens (CARREIRA, 1988). H interesse recente das
pesquisas farmacolgicas em virtude de seu efeito anti-inflamatrio de
picadas de serpentes dos gneros Brothrops e Crotalus (OLIVEIRA et
al., 2009).
Puxuri
rvore da famlia das Lauraceas, possui frutos aromticos, estimulantes
e txicos, usados com xito no combate s diarreias, dispepsias e
leucorreias. No Municpio de Tom-Au, alguns produtores nipo-paraenses tm conseguido xito no plantio de puxuri e efetuam a
venda das sementes para o exterior.
Pimenta-longa
Representa uma planta da biodiversidade amaznica que foi
identificada como fonte de safrol pelo pesquisador Jos Guilherme
Soares Maia, do Museu Paraense Emilio Goeldi. Em dezembro de
1990, o Ibama proibiu a derrubada de sassafrs em Santa Catarina e
no Paran, que eram utilizados para a extrao do safrol (MAIA et al,
2002). Em 1997, foram realizados os primeiros plantios comerciais de
pimenta-longa em Rondnia (Vila Extrema) e no Par (Igarap-Au)
(ROCHA NETO et al., 2001).
Plantas alimentcias
Para os produtos extrativos alimentcios que apresentem conflitos
entre a oferta e a demanda, urgente promover a domesticao. A
despeito da exaltao da magnitude da biodiversidade futurstica,
os grandes mercados e a sobrevivncia da populao regional ainda
dependero dos atuais produtos tradicionais, representados pela
biodiversidade extica, como o rebanho bovino e o bubalino, e pelos
cultivos, como cafeeiro, dendezeiro, soja, milho, algodo, pimentado-reino, bananeira, juta, coqueiro, laranjeira, entre os principais.
A biodiversidade nativa ainda no ocupou parte relevante do seu
potencial, que pode aliar preservao ambiental, renda e qualidade de
vida para os agricultores da Amaznia.
Cacau
O ciclo do extrativismo e do plantio semidomesticado do cacaueiro
foi a primeira atividade econmica na Amaznia, tendo perdurado
at a poca da Independncia do Brasil, quando foi suplantado pelos
plantios da Bahia. O cacaueiro foi levado em 1746, por Louis Frederic
Warneaux, para a fazenda de Antnio Dias Ribeiro, no Municpio
de Canavieiras, Bahia. interessante frisar que da Bahia o cacaueiro
foi levado para os continentes africano e asitico, transformando-se em principal atividade econmica nesses locais. Com a entrada
da vassoura-de-bruxa nos cacauais da Bahia, em 1989, a produo
decresceu do mximo alcanado em 1986, de 460 mil toneladas
de amndoas secas, para o nvel mais baixo, em 2003, com 170 mil
toneladas e o incio da recuperao com as tcnicas de enxertia de copa
para 196 mil toneladas, em 2004.
A partir de 1976, o governo federal deu incio, por intermdio da
Ceplac, ao Plano de Diretrizes para a Expanso da Cacauicultura
Nacional (Procacau), que previa a implantao de 300 mil hectares
de novos cacaueiros e a renovao de outros 150 mil hectares em
plantaes decadentes e de baixa produtividade da Bahia e do Esprito
Santo. Com a aprovao do Procacau, a Amaznia foi contemplada
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34
Castanha-do-par
A Bolvia o maior produtor mundial de castanha-do-par e em
Cobija est localizada a Tahuamanu S.A., considerada a indstria de
beneficiamento mais moderna do mundo. A capacidade da oferta
extrativa do Brasil, da Bolvia e do Peru apresenta limitaes, tendo
sua produo mundial sido constante h seis dcadas. H necessidade
de ampliar a oferta mediante plantios. Os estoques de castanheiras
no Sudeste Paraense foram substitudos por pastagens, projetos de
assentamento, extrao madeireira, minerao, expanso urbana, etc.
Existem plantios pioneiros de castanha-do-par: um de 3 mil hectares,
com 300 mil ps plantados na dcada de 1980, na estrada ManausItacoatiara, em plena produo; outro na regio de Marab, plantado na
mesma poca, pertencente ao ex-Grupo Bamerindus, que foi destrudo
pelos integrantes do MST e por posseiros. Plantios esto sendo
efetuados na regio de Tom-Au, em sistemas agroflorestais, desde
o incio da dcada de 1980, e apresentam-se similares s castanheiras
nativas. Seria possvel expandir para 100 mil hectares, para recompor
reas de Reserva Legal e de Preservao Permanente, com mercado
assegurado. Toda a atual produo extrativa espalhada em mais de
1 milho de hectares poderia ser obtida em apenas 20 mil hectares
cultivados. A dificuldade decorre do longo tempo para o retorno de
capital, estimado em 27 anos em plantio solteiro (PIMENTEL et al.,
2007).
Aa
As reas de ocorrncia de aaizeiros no Estado do Par, a partir da
dcada de 1970, sofreram grandes derrubadas para extrao do
palmito, o que levou o presidente Ernesto Geisel (1974-79) a assinar a
Lei 6.576/1978, proibindo a sua derrubada, mas que no obteve xito.
A valorizao do fruto a partir da dcada de 1990 teve efeito positivo
sobre a conservao de aaizais. Os aaizeiros cuja localizao permitia
Cupuau
A oferta de cupuau nativo est em declnio na regio de Marab,
decorrente da baixa densidade na floresta, da destruio dos
ecossistemas para o plantio de roas e pastagens e da obteno de
frutos mediante cultivo em tempo relativamente curto, o que induziu
a expanso dos plantios. Os agricultores nipo-brasileiros de Tom-Au
foram os primeiros a acreditar na potencialidade do cupuauzeiro,
iniciando os plantios comerciais em 1980, pelo agricultor Katsutoshi
Watanabe. O maior perigo do desmatamento das reas de ocorrncia
de cupuauzeiros nativos a destruio de material gentico que pode
ser importante para programas de melhoramento. A produo atual
de cupuau provm, basicamente, de plantios comerciais, estimados
em mais de 20 mil hectares, distribudos no Par (13 mil hectares),
Amazonas, Rondnia e Acre, principalmente. As amndoas de
cupuau apresentam grandes possibilidades para as indstrias de
frmacos, cosmticos e, principalmente, para a produo de chocolate
35
36
Bacuri
O bacurizeiro uma das poucas espcies arbreas amaznicas de
grande porte que apresenta estratgias de reproduo por sementes
e por brotaes oriundas de razes. Nos locais de ocorrncia natural,
que vo desde a Ilha de Maraj, seguindo a faixa costeira do Par e
do Maranho e adentrando no Piau, a densidade de bacurizeiros
em incio de regenerao chega a alcanar a expressiva marca de
40 mil indivduos/hectare. Constitui-se em importante alternativa
para promover a recuperao de mais de 50 mil hectares de reas
degradadas e para recompor reas de Reserva Legal e Preservao
Permanente, mediante seu manejo ou efetuando plantios racionais. O
manejo consiste em privilegiar as brotaes mais vigorosas que nascem
nos roados abandonados, colocando-as no espaamento adequado. A
primeira produo de frutos ocorre entre 5 e 7 anos (HOMMA et al.,
2010b).
Com o crescimento do mercado de frutas amaznicas, que antes tinha
consumo local e restrito ao perodo da safra, decorrente da exposio
da mdia nacional e internacional sobre a regio, a polpa de bacuri
tornou-se a mais cara, atingindo R$ 32,00/kg, sem condies de
atender nem o mercado local. Isso fez com que a presso da demanda
fosse sentida nas reas de ocorrncia, induzindo o manejo desses
rebrotamentos e o estabelecimento de plantios por agricultores nipo-paraenses.
Os estoques de bacurizeiros foram derrubados no passado para a
obteno de madeira e, no momento, ainda continua a destruio
das reas de ocorrncia no Maranho e Piau para o plantio da soja,
expanso do cultivo do abacaxi (Ananas comosus L. Merril) e roados
na Ilha de Maraj, produo de carvo, lenha e feijo-caupi [Vigna
unguiculata (L.) Walp] no Nordeste Paraense (HOMMA et al., 2010b).
Considerando uma rea mnima de 20 mil hectares, com produtividade
de apenas 200 frutos/planta/ano, possvel aumentar a produo
atual em 400 milhes de frutos, que corresponde aproximadamente
a 120 mil toneladas de frutos ou 12 a 15 mil toneladas de polpa. Isso
implica receita bruta de R$ 384 milhes anuais, para os prximos 10
Uxi
O uxizeiro foi bastante derrubado para extrao madeireira e para
a formao de roados. Sendo assim, sua produo depende de
remanescentes que sobreviveram, tendo um amplo mercado local.
Ultimamente tem despertado ateno pelo alto contedo em fitoesteris
(CARVALHO et al., 2007). Ainda nos primrdios da domesticao,
tem como desafio a dificuldade para a germinao de suas sementes
e do processo de enxertia. A estratgia seria aproveitar as mudas que
nascem debaixo dos uxizeiros existentes na floresta, da a importncia
da conservao dessas reas de ocorrncia. Os colonos nipo-paraenses
de Tom-Au esto introduzindo essa planta, alm do bacurizeiro e o
piquiazeiro, em sistemas agroflorestais, formando novas combinaes
com aaizeiros, cacaueiros e cupuauzeiros (MENEZES; HOMMA,
2012).
Pupunha e tucum
Estima-se 15 mil hectares de pupunheiras no Pas, dos quais 7,5 mil
hectares em So Paulo, no Vale da Ribeira, 2,5 mil hectares na Bahia,
destinados para produo de palmito, e 1,5 mil hectares na Amaznia.
Alm da sua utilizao para a indstria de palmito, apresenta
possibilidade para a produo de rao para animais e leo vegetal. O
Instituto Nacional de Pesquisas da Amaznia a instituio que mais
avanou na domesticao dessa planta. interessante o conhecimento
popular para verificar a qualidade da pupunha: uns pressionam com
a unha, verificam se tem bicadas de pssaros, colorao, etc. Alguns
supermercados de Belm comearam a vender frutos de pupunha
a retalho, em vez de cacho, que pode ser uma tendncia futura de
comercializao dessa fruta por tamanho, colorao e peso.
Enquanto os paraenses gostam de pupunha cozida, comercializada
nas ruas, os amazonenses tem predileo pelo tucum, tendo at
mesmo criado o X-Caboquinho, um sanduche com essa fruta.
H necessidade de promover a domesticao do tucumanzeiro para
atender ao grande consumo da cidade de Manaus. O abastecimento
de tucum em Manaus feito durante o ano inteiro, proveniente de
diversos municpios do Estado do Amazonas, alguns distantes at mil
quilmetros, e de Terra Santa (Par) e Roraima, provenientes da coleta
extrativa (DIDONET, 2012).
Guaran
Durante a gesto do presidente Emlio Garrastazu Mdici (19051985)
e de Lus Fernando Cirne Lima como ministro da Agricultura (1933),
37
38
Urucum
Planta domesticada, destacando-se So Paulo como maior produtor
brasileiro de urucum, seguido de Rondnia, Par, Minas Gerais,
Paran, Bahia e Paraba, entre os mais importantes. Utilizado
inicialmente pelos ndios como tintura e proteo contra insetos, o seu
uso estendeu-se para culinria e para fins medicinais.
Cubiu
Planta da mesma famlia do tomateiro, destaca-se como o mais novo
recurso da biodiversidade amaznica, cultivado no Municpio de
Presidente Figueiredo, no Amazonas, e exportado para os Estados
Unidos como fonte de pectina. usado pelas populaes interioranas
e nos quartis do Estado do Amazonas em sucos e em cozidos com
peixe, ocupando o lugar do tomate, bastante caro.
Jambu
A divulgao do uso do jambu em nvel nacional e mundial muito se
deve iniciativa do chef-de-cuisine Paulo Martins (19462010), do
conhecido restaurante L em Casa, criado em 1972, tendo servido
dezenas de personalidades nacionais e internacionais, como o Papa
Joo Paulo II (1980), o Imperador Akihito (1933) e a Imperatriz
Michiko (1934) nas duas visitas que fizeram a Belm, em 1978 e 1997
(HOMMA et al., 2011b).
Em abril de 2012, foi realizado o 10 Festival Ver-o-Peso da Cozinha
Paraense, iniciado em 2000 e interrompido em alguns anos por causa
do estado de sade do chef Paulo Martins. Esse festival foi uma das
alavancas da divulgao do jambu e de outras frutas amaznicas na
Planta industrial
Seringueira
A borracha natural moldou a civilizao do planeta de modo que seria
impossvel descrever aqui. Os indgenas utilizavam-na para confeco
de moringas e at de bolas. A primeira descrio do uso da borracha
natural foi feita por Charles Marie de La Condamine (17011774), que
realizou uma expedio ao Peru e Bacia Amaznica (17351744).
A partir de 1951, o Brasil iniciou a importao de borracha vegetal,
que atinge 70% do consumo nacional. Em 1990, a produo de
borracha obtida de plantios superou a borracha extrativa. No trinio
20072009, a participao da borracha extrativa representava apenas
1,81% do total da produo de borracha natural do Pas. A produo
de borracha vegetal, a despeito de planos como o Prohevea (1967),
Probor I (1972), Probor II (1977) e Probor III (1981), foi um fracasso
e mecanismo de corrupo (HOMMA, 2003b). O governo atualmente
subsidia o preo da borracha extrativa pagando um preo superior ao
da borracha obtida de plantios por meio da poltica de preos mnimos.
Em 2010, o Brasil bateu o recorde de importao de borracha natural,
atingindo a marca de US$ 790,4 milhes (260,8 mil toneladas) contra
US$ 283 milhes (161,3 mil toneladas) no ano anterior, aumento de
179,3%. Para suprimir as importaes, j deviam estar em idade de
corte cerca de 300 mil hectares de seringueiras, que poderiam gerar
emprego e renda para 150 mil famlias de pequenos produtores.
A ndia, a China e o Vietn conseguiram aumentar a produo de
borracha vegetal num curto perodo, enquanto o Brasil produz pouco
mais de 200 mil toneladas, destacando-se os estados de So Paulo,
Bahia e Mato Grosso.
A implementao de um Plano Nacional da Borracha mais do que
urgente para o Pas, considerando o risco do aparecimento do mal-das-folhas (Microcyclus ulei) no Sudeste Asitico por razes acidentais
ou de bioterrorismo, do esgotamento das reservas petrolferas e por
ser um produto estratgico da indstria mundial (DAVIS, 1997).
A proposta de criao da Embrapa Seringueira, apresentada em
fevereiro de 2012, com sede em So Paulo, numa modalidade de
parceria pblico-privada, pode ser importante apoio tecnolgico para
a expanso dessa cultura.
39
40
Figura 5. Produo de
borracha de plantios
e de origem extrativa,
19902010.
Plantas fibrosas
Curau e a valorizao da malva por meio da juta
A fibra de curau (Ananas erectifolius) obtida de uma bromlia, mais
concentrada na regio de Santarm, foi muito utilizada at o sculo 18
na cordoaria para embarcaes, para uso agrcola e domstico, antes do
advento das cordas de fabricao industrial. A fibra de curau chegou a
ser exibida na Exposio Universal de Paris, realizada em 1889, quando
foi inaugurada a Torre Eiffel (PINHEIRO, 1939). O interesse recente da
fibra do curau renasce com a Mercedes Benz na dcada de 1990 para
a utilizao em encostos de caminhes, com plantios concentrados no
Municpio de Santarm.
Em 2011, o Brasil importou mais de 21 milhes de dlares de fibra
bruta e sacaria de juta da ndia e de Bangladesh, totalizando 16 mil
toneladas. A lavoura de juta foi introduzida pelos imigrantes japoneses
em Parintins, aps aclimatao efetuada pelo colono japons Ryota
Oyama (18821972), em 1934, iniciando a produo comercial em
1937. Com a produo nos estados do Amazonas e Par, o Brasil
atingiu a autossuficincia em 1953, sendo iniciada novamente em 1970.
Com a introduo da juta, ocorreu a valorizao da malva, uma planta
daninha que ocorria em grande intensidade no Nordeste Paraense e
passou a ocupar o lugar da juta nas reas de vrzeas a partir de 1971,
passando a dominar a produo. Em 1978, a produo de fibra de malva
alcanou o dobro da juta, em 1983, o triplo e, em 2010, mais de 93%.
Para o Pas atingir a autossuficincia, necessrio produzir de 25 mil
a 30 mil toneladas de fibra, envolvendo 10 mil a 15 mil produtores,
sendo necessrio duplicar a atual produo concentrada no Estado do
Amazonas (HOMMA et al, 2011a). H um crescente interesse do uso
de juta e malva para a substituio de embalagens plsticas.
Smbolo cultural
Cuieira
A cuieira (Crescentia cujete) merece um destaque nesta breve descrio
por ser um utenslio utilizado pelos indgenas e smbolo da cultura
paraense associado ao tacac. A etnotecnologia da fabricao da cuia
envolve o corte da fruta em dois hemisfrios, a secagem e a pintura
de preto proveniente do extrato aquoso do caule de cumat (rvore
da famlia das Melastomceas cujas cascas so ricas em tanino).
Aps a pintura, as cuias so colocadas sobre um recipiente contendo
urina humana em decomposio, a cujos vapores elas ficam expostas,
no entrando em contato direto com a urina, apenas com as suas
emanaes amoniacais. Hoje, a urina substituda pelo amonaco.
O corante endurecer e escurecer, adquirindo as propriedades de
uma laca negra e brilhante, que proteger a cuia do apodrecimento e
facilitar seu manuseio e higiene (MACHADO, 2012?).
Recursos faunsticos
H quatro dcadas, o consumo de aves estava restrito para doentes ou
mulheres em resguardo. A partir da dcada de 1960, o Pas iniciou
uma grande expanso da avicultura e a produo de carne de frango
suplantou a da carne bovina, com menos impactos ambientais. O
Brasil tornou-se o maior exportador de frangos e de carne bovina,
destinando 30% e 20%, respectivamente, da produo nacional. O
mesmo no ocorre com a pesca, em que 73% da produo nacional
de origem extrativa e 27% proveniente de criatrios. Em nvel
mundial, essa proporo de 50% entre extrativa e aquicultura.
Deve-se ressaltar que, no Pas, a produo de pescado no atinge
41
42
Concluses
O extrativismo vegetal na Amaznia foi muito importante no passado,
importante no presente, mas h necessidade de pensar sobre o futuro
da regio. Foi o extrativismo da seringueira que permitiu o processo
de povoamento da regio e a construo de infraestrutura produtiva.
Ademais, sustentou a economia nacional por trs dcadas como
terceiro produto de exportao, vindo depois do caf e do algodo,
e promoveu a anexao do Acre soberania nacional. Como outros
exemplos, no caso da seringueira, o Pas no pode ficar dependendo
da economia da borracha extrativa. Justifica-se a manuteno do
extrativismo como uma maneira de comprar tempo, enquanto no
surgirem alternativas para evitar o xodo rural ou quando existirem
em grandes estoques. A formao de um parque produtivo forte com
a domesticao de plantas extrativas atualmente conhecidas e aquelas
potenciais a melhor garantia para evitar a biopirataria na Amaznia
e nos pases vizinhos, alm de gerar renda e emprego.
No se pode negar que a economia extrativa foi a razo e a causa
do atraso regional, apoiando-se na disponibilidade dos recursos
naturais e na crena da sua inesgotabilidade. Para a manuteno
da economia extrativa, importante impedir as pesquisas com a
domesticao de plantas e animais passveis de serem incorporados
ao processo produtivo. Dessa forma, o culto ao atraso de muitas
propostas ambientais, tanto nacionais como estrangeiras, em favor
do extrativismo na Amaznia, escondem resultados que podem ser
avessos aos interesses dos consumidores, das indstrias e dos prprios
extratores. De forma idntica, para a manuteno do extrativismo
importante que no se criem alternativas de renda e emprego, a melhoria
da infraestrutura, em face da baixa produtividade da terra e da mo de
obra da economia extrativa, da o obscurantismo de muitas propostas
ambientais defendidas pelos pases desenvolvidos para a Amaznia. A
extrao pulverizada e a inexistncia de economia de escala tornam
um grande desafio como um modelo adequado para a Amaznia. A
melhoria do nvel de vida das populaes extrativistas, estimuladas,
por exemplo, com a energia eltrica, induz ao desenvolvimento de
43
Introduo1
O ataque de pragas e doenas tem sido uma grande preocupao
desde tempos remotos. Muitas plantas nos seus 400 milhes de
anos de evoluo tm desenvolvido mecanismos de proteo como
repelncia e at ao inseticida. O mtodo de controle de pragas mais
antigo envolvia at sacrifcios humanos, com rituais pagos e forte
superstio. Para resolver esses problemas, o Homem tem procurado
utilizar diversos produtos. O uso de extratos e de plantas pulverizadas
como inseticidas datam de 400 a.C., nos tempos do rei Jerjes, da
Prsia, hoje Ir, no controle de piolhos, espalhando um p obtido de
flores secas de pretro (Chrysanthemun cinerariaefolium). O primeiro
inseticida natural com uso definido foi efetuado em 1736, com folhas
de tabaco trituradas, na Frana, para exterminar afdios. H um grande
equvoco em considerar que todos os produtos de origem vegetal, tais
como os inseticidas vegetais, sejam produtos incuos. Existe uma
grande quantidade de produtos vegetais que so altamente txicos,
como a cicuta (Cicuta spp.), cujo extrato aquoso Socrtes foi obrigado
a beber quando condenado morte (MERK, 2003; TAMBELLINI,
1976).
O desenvolvimento, em 1867 e 1868, de verde-de-paris (acetoarsenito
de cobre) para controle de colepteros e outros insetos mastigadores,
na forma de emulso com querosene, foi considerado um grande
avano. No perodo de 1890 a 1920, os praguicidas mais utilizados
eram p de enxofre, enxofre molhvel, arsenicais (verde-de-paris,
arsenatos de clcio e chumbo), fumo, pretro, rotenona, petrleo, leo
de baleia, resinas, sabo, dissulfeto de carbono e cido hidrocinico.
Em 1910, as preparaes inseticidas contendo sulfato de nicotina a
40% se transformaram em um dos produtos mais populares na poca.
No perodo de 1920 a 1940, os praguicidas mais utilizados eram o
arseniato de chumbo e de clcio, p de enxofre, enxofre molhvel,
1
46
47
48
49
50
51
52
Ano
1938
1939
1940
1.135,0
681,0
454,0
681,0
1.135,0
1.362,0
90,8
45,4
908,0
1.589,0
1.362,0
136,2
68,1
45,4
295,1
908,0
113,5
681,0
794,5
90,8
295,1
408,6
2.973,7
4.903,2
5.402,6
Equador
Trinidad e Tobago
Honduras
Guatemala
Ilhas Leeward
Trinidad e Tobago
Total Geral
1.095,05
259,69
0,91
Total
50,39
Inglaterra
25,88
182,51
Filipinas
Congo Belga
ndias Holandesas
Indochina Francesa
Malaia Britnica
frica Oriental
Britnica
835,36
Colmbia
Total
171,60
Peru
Venezuela
663,75
1937
Brasil
Pas
1.393,33
337,78
0,91
10,44
61,74
264,68
1.055,55
24,97
216,56
814,02
1938
2.682,69
1.320,23
3,18
118,95
127,12
14,98
1.056
1.362,45
77,18
785,42
499,85
1939
2.981,87
1.462,79
104,87
452,64
65,38
836,27
3,63
33,60
1.010,15
1.519,08
1941
171,16
771,8
35,41
876,22
6,81
3.630,64
1.861,4
Derris
1.769,24
27,69
1.146,35
595,19
Lonchocarpus
475,34
1940
1.724,29
500,31
8,63
195,22
296,46
1.223,98
1.136,36
87,62
1942
1.620,78
1.620,78
7,72
2,27
943,87
666,93
1943
2.872,46
2.872,46
5,90
12,26
59,93
69,01
2.475,21
251,52
1944
4.003,83
22,7
1,36
0,91
20,43
3.981,13
2,72
2,27
27,24
3.906,22
42,68
1945
5.161,53
13,17
0,454
0,91
4,54
7,26
5.148,36
2,27
4.931,35
214,74
1946
Tabela 2. Importao de raiz e raiz de timb em p pelos Estados Unidos, por principais pases de origem, em toneladas, no perodo de 1937-1946.
54
55
56
57
1938
Par
(1)
timb em p;
1940
1941
1942
1943
1944
1945
1946
1947
1948
1949
49
308(1)
152
403
361
193
2.866
822(1)
435(1)
387
461
218
247
21
29
10
(1)
539
864
579
511
450
167
129
22
37
Amap
Brasil
1939
181
Amazonas
3.047
(2)
871
(2)
743
inclusive 435 t em p.
Quantidade (kg)
Valor (Cr$)
1936
863.108
3.597.815,50
1937
763.316
3.810.930,00
1938
994.310
5.316.624,10
1939
532.500
2.764.966,00
1940
437.000
2.415.215,00
1941
387.095
2.027.114,20
1942
102.545
950.231,90
1943
264.260
2.637.439,50
Continua...
58
Tabela 4. Continuao.
Ano
Quantidade (kg)
Valor (Cr$)
1944
56.750
708.195,50
1945
78.465
807.927,70
1946
80.110
1.251.261,20
1939
1940
1941
1942
Rio de Janeiro
1943
1944
1945
1946
7.300
5.300
8.045
45.000
23.490
13.700
30.000
So Paulo
600
850
500
500
3.050
10.000
Alemanha
4.500
Argentina
500
2.000
2.050
Estados Unidos
381.228
280.300
376.450
57.500
263.606
30.200
54.750
50.000
Frana
109.050
108.000
Inglaterra
Blgica
14.850
39.400
Itlia
50
Japo
9.000
Sucia
800
1.000
100
Pernambuco
41
100
Amap
Total
10
15
529.928
434.850
387.095
102.545
264.106
56.750
78.465
80.110
1950
1951
1952
1953
1954
1955
1956
1957
1958
1959
Amazonas
25
Par
72
95
83
127
145
169
243
199
135
Amap
Maranho
16
24
30
21
18
Piau
Brasil
72
95
84
143
169
199
264
221
166
1960
1961
1962
1963
1964
1965
1966
1967
1968
Amazonas
42
13
14
Par
13
Acre
1969
134
71
60
53
18
20
21
16
15
Amap
10
10
Maranho
32
43
19
Minas
Gerais
Brasil
183
93
84
97
73
50
37
26
28
28
1970
1971
1972
1973
1974
1975
1976
1977
1978
1979
15
15
14
15
41
32
30
112
Minas
Gerais
Rio de
Janeiro
138
30
23
19
15
41
32
30
Maranho
Brasil
59
60
1980
1981
1982
1983
1984
1985
Par
38
46
68
29
26
25
Brasil
38
46
68
29
26
25
Quantidade (kg)
Valor (Cr$)
2001
108.232
3.630
2002
44.618
5.049
2003
18.417
2.206
2004
9.533
2.025
2005
2006
12.851
75
2007
2.589
40
2008
817
11
2009
1.081
20
2010
192.385
4.918
2011
45.556
1.731
2012
136.526
2.426
2013
87.038
1.098
61
62
63
64
Espaamento
1mx1m
2mx2m
3mx3m
4mx4m
Timb-urucu
P (kg)
0,601
0,977
1,634
1,739
Hectare (kg)
6.010
4.885
1.815
1.086
Timb-macaquinho
P (kg)
0,301
0,493
0,772
0,555
Hectare (kg)
3.010
2.465
857,53
376,87
65
66
67
68
Concluses
A busca de praguicidas naturais que causem menores desequilbrios
ecolgicos e menores riscos para os aplicadores e para os consumidores
tem sido uma preocupao permanente, sobretudo a partir da dcada
de 1960.
O extrativismo da raiz de timb teve uma importncia econmica at
o advento da descoberta do DDT e de outros inseticidas sintticos. O
seu declnio, alm da competio com o aparecimento do DDT, esteve
relacionado, tambm, com a reduo dos estoques mais acessveis
nos estados do Par e do Amazonas. Foi iniciado o processo da
domesticao pelo antigo Instituto Agronmico do Norte, mas que
foi abandonado com a disseminao do uso do DDT e de outros
inseticidas sintticos.
O extrativismo do timb mostra o ciclo que muitas plantas potenciais
da biodiversidade amaznica podero seguir no futuro. So
transformados em recursos econmicos, expandem a sua extrao
ou so domesticados e depois podem desaparecer com a competio
de novos produtos e o deslocamento para novas reas produtoras.
Desaparecem e podem aparecer novamente com novos usos. Os
exemplos da biodiversidade do passado e do presente (pau-brasil,
cochonilha, carnaba, cacau, seringueira, leo de andiroba para
iluminao, jaborandi, guaran, etc.) ilustram essa assertiva. Nos
plantios efetuados no passado, a recomendao era a derrubada da
floresta densa para reduzir despesas com capinas, em uma poca
carente de mo de obra. A descoberta de substitutos sintticos afetou
o extrativismo do timb e a disseminao dos seus plantios racionais.
A identificao dos componentes qumicos do timb, desde a
publicao do primeiro relato sobre o uso dessa planta pelos indgenas,
em 1741, at a identificao da estrutura molecular em 1933,
consumiu quase dois sculos. Atualmente, possvel efetuar essas
identificaes em questo de meses, aumentando os riscos de perda
de direito de propriedade intelectual e do conhecimento tradicional da
biodiversidade da Amaznia.
Possveis acordos com pases tecnologicamente mais avanados no
estudo da biodiversidade no podem ficar restritos ao curto prazo
estabelecido para a coleta e identificao, mas tambm no longo prazo,
fora do mbito do contrato. Muitos produtos da biodiversidade perdem
a sua importncia, mas podem reaparecer depois de vrias dcadas. O
conhecimento sobre a biodiversidade cumulativo e multiplicativo,
extrapola a dimenso do presente. Mesmo nas clusulas comerciais de
Anexo A
Decreto 1.259, de 3 de abril de 1934, do Governo do Estado do
Par, ditando medidas sobre a cultura e exportao do timb
O desembargador secretrio geral do Estado, respondendo pelo
expediente da Interventoria Federal, usando de suas atribuies legais,
e,
Considerando a necessidade que o Governo tem de zelar pela boa
aceitao dos produtos de exportao do Estado, com o que muito
lucrar em sua economia, promovendo o beneficiamento local de seus
produtos naturais ou cultivados;
Considerando ser a cultura e industrializao do timb, ora em
incio, de grande futuro para o Estado, pelas perspectivas de utilizao
que apresentam os produtos derivados;
Considerando que nem todas as variedades de timb, aqui
encontradas, tem o mesmo valor comercial ou industrial, havendo,
portanto, necessidade de proceder a seleo e aproveitar, unicamente,
as variedades que tiverem cotao no comrcio;
69
70
Anexo B
Decreto 8.174, de 6 de novembro de 1941 Aprova as
especificaes e tabelas para a classificao e fiscalizao da
exportao do timb, visando sua padronizao
O Presidente da Repblica, usando das atribuies que lhe confere
o art. 74 da Constituio e tendo em vista o que dispe o art. 6o
do decreto-lei nmero 334, de 15 de maro de 1938, e o art. 94 do
regulamento aprovado pelo decreto n. 5.739, de 29 de maio de 1940,
decreta:
Art. 1 Ficam aprovadas as especificaes e tabelas para a classificao
e fiscalizao da exportao do timb, visando a sua padronizao,
assinadas pelo ministro de Estado dos Negcios da Agricultura.
Art. 2 Revogam as disposies em contrrio.
Rio de Janeiro, 6 de novembro de 1941, 120 da Independncia e 53
da Repblica.
Getlio Vargas
Carlos de Souza Duarte
DO. 08/11/1941.
Especificaes e tabelas para a classificao e fiscalizao da exportao
do timb, baixadas com o decreto n. 8.174, de 6 de novembro de
1941, em virtude das disposies do decreto-lei n. 334, de 15 de maro
de 1938 e do regulamento aprovado pelo decreto n. 5.739 de 29 de
maio de 1940.
71
72
$020
$005
$050
73
Introduo1
B
Figura 1. rvore nova
(a) e adulta (b) de
pau-rosa, plantada
na propriedade do
Sr. Tomio Sasahara,
Municpio de Tom-Au,
Par.
76
Dcada de 1920
A extrao de leo essencial de pau-rosa para fins industriais na
Amaznia comeou em 1926, com o esgotamento das reservas na
Guiana Francesa e a instalao da primeira usina em Juruti Velho, na
localidade de Taparap, Par. No primeiro ano de funcionamento,
exportou quase 16 t de leo essencial de pau-rosa. O beneficiamento
de pau-rosa foi a primeira agroindstria flora-qumica implantada na
Amaznia (BENCHIMOL, 1988).
O ambiente econmico era marcado pela escassez de alternativas
econmicas que se seguiu queda da economia da borracha. A
domesticao da seringueira no Sudeste Asitico, que passou a dominar
o mercado mundial da borracha, sugeria que plantios racionais do
pau-rosa poderiam alcanar sucesso semelhante. A despeito disso, a
existncia de estoques naturais funcionava como uma barreira para
qualquer esforo nesse sentido e a extrao indiscriminada de pau-rosa levou a ocupar a terceira posio na pauta de exportaes da
regio Norte. Sua extrao, s vezes, alcanava nveis superiores aos
que o mercado podia absorver. Em 1927, de 200 t extradas, 80 t
ficaram estocadas.
A grande competio entre extratores levava queda dos preos e
descontinuidade da produo nos dois anos seguintes, 1928 e 1929
(GUENTHER, 1972). Essas circunstncias justificavam a adoo de
medidas protecionistas. A preocupao com o esgotamento levou
os extratores do Estado do Amazonas a tomarem medidas a fim de
organizar e proteger essa indstria nascente. Supostamente, o potencial
existente era grande para a poca, apesar do desconhecimento de sua
dimenso exata.
Dcada de 1930
Em 9 de abril de 1932, o governo do Estado do Amazonas promulgou
o Decreto 1.455, que estipulava a quantidade de leo a ser produzida
77
78
Dcada de 1940
No perodo que antecedeu a Segunda Guerra Mundial, o governo
estabeleceu uma srie de medidas, como a de limitar a extrao em
torno de 100 t anuais de leo de pau-rosa e fixar as exportaes em
aproximadamente 80 t, com o objetivo de manter a demanda e o preo
em alta.
A despeito dessas recomendaes, a extrao mdia anual da dcada de
1940 foi de 256,6 mil quilos e uma exportao mdia anual de 188 mil
quilos. Os preos mdios de exportao apresentaram-se irregulares,
bem como as quantidades extradas e as exportaes.
O comrcio sofreu muito na poca da Segunda Guerra Mundial, em
decorrncia da paralisao dos negcios com a Europa, causando
irregularidades nas quantidades extradas e exportadas, a despeito da
valorizao da essncia de pau-rosa. A entrada do Japo na guerra,
em 1941, provocou a paralisao da extrao de linalol de rvores de
ho-oil (Cinnamomum camphora Sieb. var. linaloolifera Fujita), um
sucedneo extrado das florestas em Taiwan, desde 1920, provocando
Dcada de 1950
As quantidades extradas e exportadas de leo essencial de pau-rosa
atingiram o mximo durante a dcada de 1950, com mdia anual de
408,2 mil quilos, e as quantidades exportadas com mdia anual de 297 t.
Em 1955, o ciclo da extrao atingiu o seu mximo, com 599 t, e, em
1951, registrou-se o maior volume exportado, 444 t.
79
80
Dcada de 1960
Durante a dcada de 1960, a quantidade anual mdia extrada foi
de 259,6 mil quilos e as exportaes anuais mdias de 196.926 kg,
semelhantes s da dcada de 1940. O setor comeava a evidenciar
sinais de esgotamento dos estoques de matrias-primas mais acessveis,
decorrente da intensidade da extrao. As cotaes para o perodo
foram relativamente baixas, uma vez que a escassez do produto natural
no levou a uma tendncia crescente dos preos, pois o vcuo foi
ocupado pelo similar sinttico.
A manifestao do esgotamento, evidenciada pela alta taxa de abate
de rvores, que consumia 20 mil rvores/ano, ensejou o incio do
desenvolvimento de pesquisas com vistas domesticao do pau-rosa
e a descoberta de outros sucedneos naturais contendo linalol.
Deve-se destacar as pesquisas realizadas durante a dcada de 1960
pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amaznia (Inpa), conseguindo
desenvolver com sucesso mtodos de propagao do pau-rosa,
tanto por semente como vegetativamente, por estacas, bem como o
aproveitamento integral de outras partes do pau-rosa, alm do tronco,
para a extrao da essncia. Contudo, ressalte-se a vulnerabilidade
da planta a pragas e doenas em plantios artificiais. Desse modo,
as pesquisas tm-se empenhado em efetuar triagens de plantas de
crescimento rpido e resistncia a pragas e doenas e que contenham
alto teor de linalol (ARAJO, 1967, 1971; VIEIRA NETO, 1972).
Dcada de 1970
O processo de domesticao prosseguiu na dcada de 1970, por
meio dos esforos da antiga Sudam, que vinha atuando na regio
81
82
Acetato linalila
Preo
exportao
essncia
pau-rosa
US$/kg
FOB
Valor total
importaes
US$ CIF
Quant.
(kg)
Preo
US$/kg
CIF
Quant.
(kg)
Preo
US$/kg
CIF
1973
56.160
3,29
29.278
3,73
13,57
293.932
1974
30.516
6,19
18.899
6,90
19,77
319.321
1975
16.705
8,48
17.936
8,91
10,97
Ano
301.398
Continua...
Tabela 1. Continuao.
Linalol
Acetato linalila
Preo
exportao
essncia
pau-rosa
US$/kg
FOB
Valor total
importaes
US$ CIF
Quant.
(kg)
Preo
US$/kg
CIF
Quant.
(kg)
Preo
US$/kg
CIF
1976
44.519
6,52
36.100
7,13
11,75
547.897
1977
41.911
6,57
44.960
7,05
11,36
592.230
1978
14.944
6,95
23.545
7,06
10,80
270.132
1979
8.752
6,70
14.647
7,58
11,61
169.709
1980
36.051
6,82
29.310
7,98
5,38
479.814
1981
46.091
6,62
31.496
7,64
14,85
546.022
1982
61.685
6,28
33.299
7,47
13,92
639.068
1983
71.627
5,73
42.124
6,60
18,42
688.246
1984
79.679
5,29
33.299
7,47
14,87
670.033
1985
74.614
5,17
41.095
6,16
10,17
639.041
1986
99.576
6,67
56.538
7,51
10,4
1.089.129
1987
87.325
7,98
41.188
7,43
18,1
1.003.445
1988
112.579
8,13
40.162
8,78
24,3
1.268.109
1989
143.614
7,66
57.965
8,36
27,5
1.585.093
1990
131.527
7,74
55.554
8,70
30,4
1.501.120
1991
164.359
7,51
47.599
8,70
32,3
1.647.571
1992
125.897
7,86
38.605
9,91
23,7
1.364.465
1993
148.966
7,54
61.696
9,17
36,6
1.689.393
1994
160.778
7,76
76.847
8,83
23,9
1.926.121
1995
187.046
8,89
87.436
9,91
29,5
2.529.998
1996
235.233
8,89
73.963
10,77
27,3
2.887.034
1997
247.281
8,09
93.150
9,68
38,2
2.902.829
1998
274.768
7,85
73.963
10,77
44,4
2.954.811
1999
265.241
7,56
92.013
8,55
39,3
2.791.410
2000
260.981
7,57
99.359
7,37
33,0
2.707.825
2001
311.926
5,86
111.168
6,05
31,9
2.500.220
2002
360.670
4,89
109.176
5,80
30,4
2.398.125
2003
344.639
5,39
120.679
5,76
34,2
2.553.136
2004
411.967
5,57
160.063
5,83
49,7
3.228.513
2005
409.789
5,31
147.359
5,79
67,9
3.032.084
2006
497.166
5,09
181.204
5,57
97,83
3.538.483
2007
483.815
4,95
172.804
5,37
81,58
3.321.460
2008
471.530
5,55
206.956
5,53
108,40
Ano
3.762.659
Continua...
83
84
Tabela 1. Continuao.
Linalol
Acetato linalila
Preo
exportao
essncia
pau-rosa
US$/kg
FOB
Valor total
importaes
US$ CIF
Quant.
(kg)
Preo
US$/kg
CIF
Quant.
(kg)
Preo
US$/kg
CIF
2009
598.382
6,81
220.298
7,07
106,10
5.631.817
2010
705.130
6,27
245.280
6,86
116,90
6.104.303
2011
507.248
7,58
249.648
8,29
163,65
5.914.527
2012
710.743
7,33
333.261
8,01
123,33
7.881.650
2013
661.100
6,61
304.633
7,95
192,64
6.794.829
Ano
Dcada de 1980
A quantidade mdia anual exportada, no perodo 19801985, caiu
para 103.331 kg, prevalecendo a tendncia decrescente desde a dcada
de 1960. Apesar de as cotaes mostrarem-se relativamente elevadas,
os preos reais, com exceo do de 1983, mostraram-se semelhantes
aos das dcadas anteriores.
O volume exportado, em 1980, o maior desde 1975, fez com que
casse a cotao do produto e se reduzissem as exportaes nos 2 anos
85
86
87
88
Consideraes finais
A anlise dos preos de exportao, no perodo 19372011 (Tabela
2), mostra uma caracterstica irregular. Para um produto que vem
apresentando o esgotamento das reas mais acessveis, seria esperada
tendncia crescente nos preos, para haver uma compensao
intertemporal, conforme o Princpio de Hotelling. Porm, esses preos,
no perodo 19421974, mostraram tendncia decrescente. Os preos
comeam, realmente, a mostrar uma tendncia crescente somente a
partir da segunda metade da dcada de 1980. Essa tendncia aproxima-se do enunciado por Pindick (1978), de que os preos de recursos
naturais tenham a forma de U, isto , decrescem para ento subir.
Tabela 2. Produo e exportao de leo de essncia de pau-rosa, no Brasil,
no perodo de 19372013.
Extrao
Ano
1937
Quant.
(t)
160
Exportao
Valor
(Cr$ 1.000)
5.059
Quant.
(kg)
130.706
Valor (US$)
FOB
Valor
(Cr $ 1.000,00)
Preo
mdio
US$/
Tambor
Continua...
Tabela 2. Continuao.
Extrao
Ano
Quant.
(t)
Exportao
Valor
(Cr$ 1.000)
Quant.
(kg)
Valor (US$)
FOB
Valor
(Cr $ 1.000,00)
Preo
mdio
US$/
Tambor
1938
109
3.738
92.789
1939
167
6.625
185.177
1940
220
8.642
197.000
10.267
1941
324
24.411
275.000
21.289
1942
268
39.252
153.000
22.746
1943
170
24.502
67
1944
335
34.850
306.000
37.977
214
1945
167
20.013
66.000
11.615
618
1946
481
76.210
332.000
58.662
611
1947
193
16.593
210.000
26.517
425
1948
103
8.025
60.000
6.085
341
1949
305
25.083
281.000
25.642
307
1950
590
22.579
335.000
40.115
403
1951
356
32.135
444.000
68.073
1.388
1952
265
33.930
145.000
22.511
1.586
1953
478
58.630
332.000
55.012
1.280
1954
454
61.039
268.000
65.167
2.731
1955
599
153.866
360.000
149.360
3.015.000
1.507
1956
342
76.424
288.000
111.788
2.157.000
1.348
1957
293
66.566
181.000
75.687
1.307.000
1.300
1958
272
101.648
111.000
54.850
584.000
947
1959
433
112.264
326.000
185.117
1.239.000
684
1960
289
103.245
157.000
116.711
638.000
733
1961
221
93.852
174.000
161.537
649.000
688
1962
157
86.116
95.000
184.979
506.000
1.054
1963
134
160.806
61.000
213.442
383.000
1.136
1964
205
725.449
102.000
634.578
474.000
861
1965
283
1.030.316
241.000
1.922.294
1.052.000
780
1966
256
1.348.350
204.000
2.135.263
980.000
867
1967
346
2.078.482
311.000
4.346.997
1.657.000
935
1968
377
2.793.659
336.700
5.051.605
1.554.000
841
1969
328
3.000.240
287.560
5.085.000
1.290.000
790
1970
321
2.493.000
280.963
5.262.000
1.151.000
711
1971
155
2.095.000
217.000
4.499.000
849.000
678
Continua...
89
90
Tabela 2. Continuao.
Extrao
Ano
Quant.
(t)
Exportao
Valor
(Cr$ 1.000)
Quant.
(kg)
Valor (US$)
FOB
Valor
(Cr $ 1.000,00)
Preo
mdio
US$/
Tambor
1972
175.000
5.713.000
963.000
1.159
1973
244.000
20.131.000
3.312.000
2.674
1974
313.657
40.654.328
6.201.681
3.292
1975
500
95.000
8.323.000
1.042.000
1.770
1976
18.000
2.257.772
211.600
2.116
1977
116.660
18.346.646
1.325.293
2.045
1978
116.923
22.656.283
1.262.918
1.944
1979
123.909
35.692.420
1.439.042
2.090
1980
155.020
93.267.961
834.570
969
1981
56.155
70.377.561
834.120
2.674
1982
59.445
131.160.838
827.472
2.506
1983
110.410
1.205.041.085
2.033.917
3.316
1984
146.705
3.133.414.371
2.182.318
2.678
1985
92.255
4.593.378.598
938.065
1.830
1986
48.332
500.243
1.863
1987
39.386
713.984
2.263
1988
94.876
2.305.986
4.375
1989
78.435
2.154.335
4.944
1990
59.772
1.815.366
5.467
1991
73.512
2.374.952
5.815
1992
77.996
1.845.844
4.260
1993
51.410
1.882.128
6.590
1994
59.684
1.429.206
4.310
1995
59.095
1.740.476
5.301
1996
47.443
1.293.239
4.907
1997
45.954
1.756.940
6.882
1998
35.456
1.573.011
7.986
1999
39.901
1.567.379
7.071
2000
31.557
1.041.292
5.939
2001
29.980
957.082
5.746
2002
22.816
694.245
5.477
2003
32.398
1.108.920
6.161
2004
29.453
1.462.742
8.939
2005
38.528
2.615.774
12.221
Continua...
Tabela 2. Continuao.
Extrao
Ano
Quant.
(t)
Exportao
Valor
(Cr$ 1.000)
Quant.
(kg)
Valor (US$)
FOB
Valor
(Cr $ 1.000,00)
Preo
mdio
US$/
Tambor
2006
21.137
2.067.863
17.610
2007
36.119
2.946.676
14.685
2008
21.137
2.291.333
19.513
2009
16.955
1.798.841
19.097
2010
4.164
486.762
21.042
2011
3.316
542.680
29.458
2012
1.080
133.200
22.200
2013
2.075
399.730
34.675
91
92
93
1.620
900
1.440
1.620
360
1.080
760
720
900
1.080
1.080
720
720
530
885
1.960
180
540
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
315
390
130
1.080
1989
Argentina
Alemanha
Importadores
540
529
180
180
Austrlia
2.125
5.910
5.940
4.620
1.440
720
720
Blgica
100
540
2.698
4.661
3.143
5.643
1.980
1.260
900
180
180
530
360
720
360
1.080
1.080
Espanha
1.440
3.136
2.952
12.578
14.079
20.223
18.930
21.457
16.014
19.620
7.880
14.525
14.930
30.415
24.840
33.014
21.962
41.985
30.495
34.695
49.911
51.572
40.360
54.385
Estados
Unidos
540
180
852
2.902
3.770
6.653
4.649
5.182
3.084
1.875
4.176
4.655
8.062
5.176
4.860
3.060
7.360
8.460
8.309
4.680
10.992
6.635
2.822
10.420
Frana
0
0
525
2.622
2.455
4.784
6.585
5.538
2.690
2.520
2.865
1.620
4.856
5.220
6.826
1.440
10.080
5.735
6.650
1.080
1.980
Inglaterra
1.080
900
360
3.240
2.822
10.420
Holanda
180
930
540
180
3.920
7.560
5.400
7.200
3.960
9.000
13.680
11.340
9.360
Sua
180
Itlia
20
Paraguai
2.975
Colmbia
50
Cingapura
355
180
360
410
410
Japo
2.075
1.080
3316
4164
16955
21137
36.119
30783
38.528
29.453
32.398
22.816
29.980
31.557
33.901
35.456
45.954
47.443
59.095
59.684
51.410
77.996
73.512
59.772
78.435
Total
94
Extrativismo Vegetal na Amaznia: histria, ecologia, economia e domesticao
Introduo1
A priprioca uma planta da famlia das Cyperaceae, cujo nome
cientfico Cyperus articulatus L., uma espcie de capim alto, em cuja
extremidade brotam flores midas, quase insignificantes. Os talos desse
capim produzem pequenos tubrculos que, quando cortados, exalam
um perfume fresco, amadeirado e picante, tradicionalmente usado em
banhos de cheiro e na fabricao de colnias artesanais no norte do
Pas, principalmente no Par. Diversas espcies da famlia Cyperaceae
apresentam grande importncia na farmacopeia local, sendo usadas,
principalmente, como contraceptivo, analgsico e no tratamento das
diarreias. No Estado do Par, a priprioca vem despertando um grande
e crescente interesse cientfico e econmico, em virtude do agradvel
aroma do leo essencial obtido dos seus rizomas. Os leos essenciais
dessas espcies so constitudos principalmente por sesquiterpenos
pertencentes s classes do cipereno, cariofilano, eudesmano,
patchoulano e rotundano. Essas espcies so cultivadas em quintais
para uso prprio e em sistema de consrcio com outras culturas para
comercializao (ZOGHBI et al., 2003).
O nome priprioca (Figura 1) vem do tupi e tem sua origem em uma
lenda dos ndios Aruaca, do Estado do Amazonas, registrada em lngua
tupi pelo pesquisador Antnio Brando de Amorim, em 1926. Piripiri
era um guerreiro que exalava um cheiro misterioso e irresistvel para
as mulheres. Porm, ele sempre se esvaa em fumaa quando elas
tentavam se aproximar. Aconselhadas pelo paj, para tentar segur-lo, elas amarraram os ps do guerreiro com os prprios cabelos, mas
foi intil na manh seguinte, ele havia desaparecido de vez. Onde
ele dormira, surgiu uma planta cujas razes soltavam o mesmo aroma
de Piripiri. A planta recebeu o nome do ndio por ter se tornado a
sua morada, Piripiri-oca, priprioca ou a casa de Piripiri. Como as
lendas indgenas todas apresentam um tronco comum de enredo e
1
96
Figura 2. Plantio de
priprioca no Municpio
de Santo Antnio do
Tau, Par.
97
98
Plantio
Antes do plantio conveniente deixar os rizomas de molho por 1 dia,
para facilitar o pegamento, depois de 3 dias plantados j comeam a
grelar. A poca apropriada para o plantio o incio da estao chuvosa,
nos meses de janeiro e fevereiro.
Em cada linha da leira, gasta-se 125 rizomas, plantados no
espaamento de 0,40 m x 0,40 m. Para cada leira so necessrios 3 kg
de semente (rizoma), e uma pessoa prepara 5 kg/dia. Os rizomas so
plantados manualmente, com auxlio de uma vara para abertura das
covas, que devem ser rasas para facilitar o arranquio dos rizomas com
a enxada por ocasio da colheita, saindo como se fossem um tapete
de rizomas entrelaados. Como so 80 leiras/hectare, ento seriam
240 kg de rizoma de priprioca/hectare, que, ao custo de R$ 3,00/kg
comercializado, seria R$ 720,00/hectare.
Tratos culturais
Os tratos culturais compreendem a realizao de quatro limpezas para
retirada das ervas daninhas, efetuadas manualmente (mondar), uma
vez que no possvel o uso de enxadas. O uso da enxada apresenta o
risco de cortar as plantas germinadas dos rizomas e danificar as hastes,
prejudicando o crescimento da priprioca. Essa operao, que efetuada
de ccoras, bastante desconfortvel, sujeita a dores lombares, alm da
presena de formigas-de-fogo (Solenopsis spp., Ordem Hymenoptera,
Famlia Formicidae) em grande quantidade. Na primeira e na segunda
capina, uma pessoa gasta 1 dia/leira e na terceira e quarta capina,
gasta-se cerca de 2 dias/leira, dependendo do grau da infestao.
A priprioca bastante rstica, no necessitando de outros tratos
culturais, sendo a paquinha [Neocurtilla hexadactyla (Perty, 1832),
Ordem Orthoptera, Famlia Gryllotalpidae] o nico inseto observado,
que chega a cortar o rebrotamento dos rizomas, mas sem maiores
problemas ou prejuzos.
Produtividade
A produtividade dos rizomas varia com a idade da planta, de modo
que com 9 meses a produo obtida varia de 180 kg a 200 kg/leira,
chegando a atingir 300 kg/leira com 18 meses. A empresa d preferncia
s batatinhas mais jovens (colheita a partir de 9 meses), porque se
extrai mais leo e, medida que vo envelhecendo, algumas batatinhas
secam. Os rizomas-me que deram origem s plantas adultas ficam
pretos e secos quando a colheita retardada, formando novas camada
de razes abaixo da anterior. Por esse motivo, foi estabelecido que a
colheita fosse feita entre 9 meses a 1,5 ano de idade no mximo.
Considerando a mdia obtida por cada leira, de 180 kg de rizoma de
99
100
Colheita
O arranquio dos rizomas de priprioca, depois de 9 meses de plantio,
comea com o corte das hastes com terado para efetuar a limpeza
das leiras, em plena poca seca. A seguir, procede-se novo corte, mais
rente ao solo, para reduzir o tamanho das hastes, a fim de facilitar a
retirada dos rizomas e da terra. Esses dois cortes promovem um grande
desgaste dos terados, exigindo que sejam constantemente afiados.
Com a enxada, promove-se o levantamento dos rizomas que esto
emaranhados, enquanto outra pessoa bate os rizomas para retirada da
terra aderente e dos pelos. Em seguida, so amontoados para serem
lavados. So necessrias quatro dirias para colher e bater uma leira
de priprioca. A operao de transporte, lavagem e ensacamento da
produo de uma leira de priprioca demanda 2 a 2,5 homens/dia. A
colheita pode ser efetuada, quando o plantio foi realizado no incio da
poca chuvosa, com adubao orgnica e capinas para livrar das ervas
daninhas, durante os meses de outubro a dezembro. Alm dos rizomas,
as folhas da priprioca podem ser utilizadas para produo de fibra e
utilizao de cestarias diversas, apesar de o uso ser restrito.
Comercializao
Os 16 agricultores da Associao dos Produtores Rurais de Campo
Limpo efetuaram, durante o ano de 2004, duas colheitas de 4,5 t,
uma em outubro e outra em novembro, e uma terceira colheita de
3,5 t em dezembro, totalizando 17 t de rizoma entregues para Beraca/
Brasmazon (Indstria de Oleaginosas e Produtos da Amaznia, PA),
empresa do segmento de leos e gorduras vegetais e animais que
fabrica leos fixos e essenciais para uso na indstria de fragrncias,
cosmtica e fitoterpica, para a extrao de leo que posteriormente foi
exportado para a Natura, em So Paulo. A Brasmazon uma empresa
criada em 1995, por meio da associao de professores da Universidade
Federal do Par, que em 2003 foi adquirida pela Beraca Ingredients,
empresa brasileira atuante no mercado de produtos qumicos desde
1956, sendo atualmente a maior fabricante e distribuidora brasileira
de ativos vegetais naturais para a indstria cosmtica, farmacutica, de
fragrncias e nutracutica do mundo.
No contrato estabelecido com a Natura, em 2003 e 2004, foi definido o
tamanho de rea a ser plantado por cada associado (uma vez que no
conheciam ao certo a produtividade dessa espcie quando cultivada).
Unidade
Valor Unitrio
R$ 1,00
Valor Total
R$ 1,00
43,75
175,00
40
15,00
600,00
Quantidade
Preparo da rea
Gradear
h.m.
Fazer leira
d.h(2)
(1)
Adubao
Esterco de
galinha
320
3,00
960,00
Incorporao do
adubo
d.h.
40
15,00
600,00
Continua...
101
102
Tabela 1. Continuao.
Itens
Unidade
Valor Unitrio
R$ 1,00
Valor Total
R$ 1,00
240
3,00
720,00
Quantidade
Plantio
Batatinha-semente
kg
16
15,00
240,00
Plantar
d.h.
40
15,00
600,00
Capinas (1 e 2)
d.h.
160
15,00
2.400,00
Capinas (3 e 4)
d.h.
320
15,00
4.800,00
Tratos culturais
Colheita
1 Roagem (mais
alta)
d.h.
40
15,00
600,00
2 Roagem
(rente solo)
d.h.
40
15,00
600,00
Arrancar e bater
a terra
d.h.
320
15,00
4.800,00
Carregar, lavar e
ensacar
d.h.
50
15,00
750,00
Sacaria
Saca
480
0,25
120,00
Ferramentas
1993
148.966
9,17
36,6
1.689.393
1994
160.778
8,83
23,9
1.926.121
1995
187.046
9,91
29,5
2.529.998
1996
235.233
10,77
27,3
2.887.034
1997
247.281
9,68
38,2
2.902.829
1998
274.768
10,77
44,4
2.954.811
Custo operacional
efetivo
18.769,00
Receita Bruta
Rizoma priprioca
kg
Receita Lquida
Custo unitrio
14.400
3,00
43.200,00
25.235,00
kg
R$ 1,30
Mito da biodiversidade
A apropriao do conhecimento das populaes indgenas e
tradicionais da Amaznia, efetuada pelas indstrias de cosmticos e
frmacos, tem sido frequente na Amaznia, por empresas nacionais e
externas. A coleta e a aquisio de produtos, visando identificao de
princpios ativos e ao seu patenteamento, tm sido rotina nas ltimas
dcadas. A prpria Brasmazon, que efetua o beneficiamento de leo
de priprioca para entrega Natura, foi a responsvel pelas exportaes
de leo de andiroba para a Rocher Yves Biolog Vegetale, que culminou
no patenteamento do princpio ativo para composio cosmtica ou
farmacutica em 1999.
Alguns desses episdios ganharam dimenso mundial, como ocorreu
com a empresa japonesa Asahi Foods Ltda. em 2000, quando efetuou o
registro da marca cupuau, descoberto em 2003, e felizmente cancelada
em 1 de maro de 2004 pelo Escritrio de Marcas do Japo (JPO).
O caso tragicmico est relacionando com a patente da rapadura. Em
1989, a empresa de alimentos orgnicos alem Rapunzel efetuou o
registro da rapadura como marca de seu acar orgnico, na Alemanha.
Sete anos depois, fez o mesmo nos Estados Unidos. O Brasil descobriu
apenas em 2005, depois que um comunicado annimo chegou a
Diviso de Propriedade Intelectual do Itamaraty.
Em agosto de 2002, a empresa Natura Inovao e Tecnologia de Produtos
Ltda. foi acionada por estar adquirindo e utilizando o conhecimento
tradicional do breu-branco (Protium pallidum), no Estado do Amap,
especificamente na Reserva de Desenvolvimento Sustentvel (RDS)
do Rio Iratapuru. No entorno da RDS est localizada a Comunidade
do So Francisco do Iratapuru, que manteve o primeiro contato com
a empresa Natura para aquisio do breu-branco. A comunidade
vive dos recursos existentes no territrio da reserva e sua principal
organizao a Cooperativa Mista de Produtores e Extrativistas do
Rio Iratapuru (Comaru), que exerce funes de representao formal
e poltica dos moradores da RDS (COSTA, 2005). Comunidade do
So Francisco do Iratapuru foi prevista a seguinte forma de repartio
de benefcios:
a. Pagamento do valor de R$ 10.000,00, em parcela nica, em nome
da Comaru, pelo acesso ao patrimnio gentico, independente do
resultado da pesquisa.
b. Certificao da parte da RDS do Iratapuru no tocante ao extrativismo
local.
c. Percepo do valor de meio por cento da receita lquida aferida por
meio das vendas dos produtos que contm a resina do breu-branco,
pelo perodo em que ocorrer o seu fornecimento pela comunidade.
103
104
Concluses
Existe um grande interesse pelo uso da imagem da Amaznia por
empresas, bancos privados e pelo prprio governo (federal, estaduais
e municipais) que no corresponde aos recursos aplicados para
promover a preservao e conservao da biodiversidade. O uso da
imagem da Amaznia promove uma simpatia perante a opinio
pblica de forma barata, nem sempre associada aos impactos que so
transmitidos.
Na comercializao desses produtos, a imagem da Amaznia, o
sentido de fora da natureza, de pureza e de sustentabilidade da
atividade, transmitida para o consumidor. D-se a impresso que
a empresa est salvando a Amaznia, adotando prticas sustentveis
quando, na verdade, seguem as mesmas regras de mercado de
qualquer produto agrcola ou florestal. No restam dvidas que, para
um pequeno grupo de agricultores, os benefcios das compras pela
Natura tiveram impactos nas suas atividades. Isso ocorreu a partir de
2003, apesar de posteriormente o volume comprado ter sido reduzido,
podendo a mdio e longo prazos desaparecer com a abertura de novos
mercados e com a disseminao dos plantios. Apesar da propaganda,
o interesse das empresas est voltado para a aquisio do produto ou
da matria-prima, sem interesse pela verticalizao, especializao
da mo de obra e democratizao do conhecimento. Muitas dessas
propostas apregoam uma sustentabilidade exgena, em vez de vir
endogenamente ao sistema. No obstante o mito da biodiversidade,
muitos desses mercados se caracterizam como sendo nichos especficos
que rapidamente so saturados.
Como ponto final, bastante complexo avaliar o mercado de produtos
invisveis, que constituem produtos sobre os quais no existem dados
105
Introduo1
Homma (2003e).
108
1937
1938
1939
1975
1976
1977
1978
1979
1980
1981
1982
1983
1984
1985
80
67
102
115
115
141
156
140
109
129
138
223
225
Amap
19
17
16
12
12
Maranho
153
218
115
150
150
164
187
194
201
Amazonas
Piau
Brasil
2,250 15,058
-
2,873
252
302
233
276
276
305
342
334
310
352
363
Fonte: Anurio Estatstico do Brasil (1938, 1939, 1940, 1976, 1977, 1978, 1979, 1980, 1981, 1982, 1983, 1984, 1985, 1986).
109
110
111
112
1972
1973
1974
1975
1976
1977
1978
22.473
148.620
67.428
61.000
36.840
38.333
101.820
Material e mtodos
Os dados para o clculo de custo de produo foram obtidos de um
plantio adulto de 10 mil ps em um sistema consorciado com cacau em
uma rea de 40 ha, no Municpio de Tom-Au, onde originalmente
foram plantados 12 mil ps. Essa rea constitui o desdobramento de
plantios anteriores de pimenta-do-reino, que foram substitudos com o
ataque do Fusarium, iniciados com 14 ha em 1976 (YAMADA, 1999).
O espaamento adotado apresenta variaes de 5 m x 5 m, 2,5 m x 4 m
e 2,5 m x 6 m. O planejamento para essa coleta de dados foi efetuado
em duas visitas de campo realizadas durante os meses de maio, junho
e agosto de 2003.
Para esse clculo, considerou-se a partir do plantio j formado, no
incluindo o custo de formao e manuteno do estoque de rvores
existentes. Foi feita uma estimativa do custo de produo de leo de
andiroba, considerando a capacidade do galpo de escoamento do leo
para 1 t de massa cozida.
113
114
0,50
0,50
6,00
Lavar as sementes
2,50
25,00
3,75
45,00
1,00
10,00
6,25
75,00
Revirada da massa
1,25
15,00
Total
6,00
242,00
115
116
Unidade
Valor total
R$ 1,00
Depreciao
R$ 1,00
253,00
25,30
40,00
20,00
200,00
20,00
1.000,00
100,00
1.000,00
100,00
500,00
250,00
Total
80,00
40,00
3.073,00
553,30
Valor
(R$ 1,00)
484,00
Percentual
46,70
553,30
53,30
Custo total
1.037,30
100,00
Produo de leo
150 litros
6,92
20,00
13,08
65,40
Concluses
Apesar da grande abundncia das andirobeiras em toda a Bacia
Amaznica, o fato de produzir madeira parecida com o cedro e como
117
Introduo1
A explorao de plantas medicinais, aromticas, inseticidas e corantes
naturais ser a grande riqueza da Amaznia no futuro? Um exemplo
desse prognstico afirma que em 2050 a Amaznia seria capaz de
produzir 1,28 trilho de dlares, equivalente a dois PIBs atuais do
Pas. O valor da produo em dlares seria distribudo da seguinte
forma: petrleo, 650 bilhes; medicamentos e cosmticos, 500 bilhes;
agricultura e extrativismo, 50 bilhes; minrios, 50 bilhes; carbono,
19 bilhes; turismo, 13 bilhes; madeira, 3 bilhes (COUTINHO,
2001).
Com a ecloso da questo ambiental na Amaznia, a partir do final
da dcada de 1980, criou-se o mito da biodiversidade, baseado na
exportao de plantas medicinais, aromticas, inseticidas e corantes
naturais, como sendo a grande riqueza do futuro. Associa-se a esse
mito a ideia de exportar gua da Amaznia e da venda de crditos de
CO2 sequestrados das florestas, mediante o provvel bloqueio dessas
reas.
Um grande equvoco envolve a prpria definio da biodiversidade. A
mdia est transmitindo a errnea concepo de que a biodiversidade
da Amaznia algo mgico, por descobrir, que vai curar todos os males
(cncer, Aids, produtos geritricos, impotncia, sobretudo doenas
nobres de pases desenvolvidos, etc.), e que a populao regional vai
ganhar fabulosas riquezas (GONALVES, 2001; HOMMA, 2002;
PASTORE JNIOR; BORGES, 1998; VILELA-MORALES; VALOIS,
2000).
A produo de frmacos, aromticos, inseticidas e corantes naturais
poder atingir substancial valor na pauta de exportaes regionais,
principalmente pelos investimentos na rea de cosmticos, frmacos
e da fundao do Centro de Biotecnologia da Amaznia, que esto
1
120
Descrio da planta
O jaborandi (Pilocarpus microphyllus Stapf ex. Wardl) um arbusto de
sub-bosque, pertencente famlia das Rutceas e ao gnero Pilocarpus,
encontrado, atualmente, nos estados do Maranho, Par, Piau e Bahia.
So conhecidas 14 espcies de jaborandi, das quais apenas trs no so
encontradas no Pas (MANEJO..., 1997).
Trata-se de uma planta nativa de regio de clima quente e mido, de
porte arbustivo verdejante e bastante ramificada, apresenta um bom
crescimento vegetativo em chapades arenosos, podendo tambm
ser encontrada em terrenos argilosos de baixa fertilidade e cobertos
por vegetao de capoeira, como em solos litlicos com afloramentos
rochosos (MARQUES; COSTA, 1994).
Figura 1. Detalhe
de moita de arbusto
de jaborandi na
Floresta Nacional dos
Carajs, Municpio de
Parauapebas.
Histrico do uso
O yabor-di (planta que faz babar) era utilizado h vrios sculos
pelos ndios tupi-guarani, que mascavam as folhas desse arbusto. O
uso dessa planta para fins medicinais foi introduzido em Paris pelo
engenheiro militar pernambucano Joo Martins da Silva Coutinho,
em 1874. A descoberta do princpio ativo pilocarpina das folhas do
jaborandi foi efetuada simultaneamente, em 1876, na Frana por E.
Hardy e na Inglaterra por A.W. Gerrard (MANEJO..., 1997).
A histria da explorao comercial do jaborandi para fins medicinais
no tratamento de glaucoma iria surgir no Pas um sculo depois, em
face do interesse de Emanuel Merck, que desde 1820 investigava o
comportamento dos alcaloides. Um outro membro da famlia, Louis
Merck, defendeu uma tese de doutorado intitulada Contribuies ao
Conhecimento da Pilocarpina, apresentada em 1883 na Universidade de
Freiburg e, em 1885, efetuou o isolamento da pilocarpidina das folhas
de jaborandi. O uso das folhas de jaborandi no tratamento de glaucoma
remonta a 1876 e atribudo a Adolfo Weber (COSTA, 2012).
Das folhas de jaborandi so processados os sais de pilocarpina
(cloridrato de pilocarpina, nitrato de pilocarpina e pilocarpina base)
utilizados na formulao de colrios para tratamento do glaucoma,
121
122
Produo de jaborandi
O Estado do Maranho concentra a extrao de folha seca de jaborandi,
vindo depois os estados do Par, Piau e a quase insignificante
extrao da Bahia. A maior extrao no Pas ocorreu no ano de 1993,
apresentando uma tendncia decrescente. A extrao do Estado do
Par tem sido bastante irregular, de modo que em 2001 equivale a 5%
da produo mxima ocorrida em 1993 (Tabela 1).
Tabela 1. Extrao de folha seca de jaborandi em toneladas, no perodo de 19902012.
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
Brasil
1.374
1.260
1.257
2.422
2.280
2.155
723
1.415
1.313
1.613
1.235
1.146
Par
30
25
65
520
416
354
283
226
158
135
54
27
Maranho
1.279
1.194
1.152
1.867
1.825
1.761
431
1.179
1.145
1.471
1.174
1.113
Piau
66
38
38
33
38
40
Bahia
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
Brasil
1.088
800
243
222
224
229
360
217
266
299
294
Par
19
19
29
10
10
30
33
35
Maranho
1.063
780
214
212
214
227
358
215
236
267
259
Piau
Bahia
Domesticao do jaborandi
Entendendo das limitaes do processo extrativo no fornecimento de
folha de jaborandi, decorrente da forte concorrncia entre a Unidade
Industrial da Vegetex e a Fitobrs, que levou a um extrativismo
predatrio, em 1989, a Merck implantou a unidade Agroindustrial
Fazenda Chapada, no Municpio de Barra do Corda, no Maranho.
Com 3 mil hectares, a fazenda possibilitou a concretizao de pesquisas
iniciadas em 1972, com o objetivo de domesticar o jaborandi e alcanar
a autossuficincia para a produo de pilocarpina, por meio do cultivo
racional dessa planta em larga escala (MANEJO..., 1997; 2003).
Na Agroindustrial Fazenda Chapada existem 500 ha com 15 milhes de
ps de jaborandi plantados com irrigao com pivot central, utilizando
as mais modernas tcnicas agrcolas e processo de colheita e secagem
totalmente mecanizado. Esse plantio fez com que a Merck atingisse a
autossuficincia de matria-prima em 1999.
Deve-se reconhecer o esforo da Merck no processo de domesticao do
jaborandi, apesar de ainda apresentar inmeros desafios agronmicos.
A partir do quarto ano j possvel efetuar o corte das folhas, cuja
densidade alcana 60 mil plantas/hectare, permitindo 5 a 6 cortes por
ano, com 1,2 mil quilos de folha seca/hectare/colheita, obtendo-se 6 mil
a 7,2 mil quilos/hectare/ano. O teor de pilocarpina estimado em 0,6%
mnimo 1,2% mximo, obtendo-se a produtividade de 36 kg/ha/ano
a 43,20 kg/ha/ano ou 10.800 kg a 12.960 kg na rea total do plantio
existente.
Na Agroindustrial Fazenda Chapada, alm do jaborandi, outros 400 ha
esto plantados com fava-danta (Dimorphandra gardneriana Tul.),
que uma leguminosa arbrea, nativa dos cerrados brasileiros, com
grande incidncia nos estados do Maranho e do Piau. O esforo
da domesticao da fava-danta, cuja casca do fruto rica em rutina,
tambm conhecida como vitamina P, substncia medicamentosa usada
no tratamento de varizes e fragilidade capilar, vem recebendo grande
ateno por parte da Merck desde 1996.
A Unidade Industrial Merck Maranho produz em mdia 450 t de
rutina por ano, atendendo cerca de 40% das necessidades mundiais
dessa substncia. Como subproduto da extrao da rutina, a Unidade
Industrial Merck Maranho fabrica rhamnose e quercetina.
A Unidade Industrial Vegetex, em Parnaba, Estado do Piau, foi
implantada logo aps a do Maranho e produz anualmente 9 t de
pilocarpina que, alm de atenderem s necessidades nacionais, so
exportadas para Amrica do Norte, sia e Europa. A produo de
folhas de jaborandi da Agroindustrial Fazenda Chapada representa
60% do necessrio para manter a produo de pilocarpina na Vegetex.
123
124
125
126
127
F
311,26
M
338,02
A
263,29
M
131,09
Chuva
J
37,05
J
17,45
A
27,09
S
62,81
O
127,96
N
157,45
D
232,21
Chuva
128
Figura 2. Detalhe da
estufa para secagem
de folha de jaborandi
durante o perodo
chuvoso.
Figura 3. Transporte
de folhas de jaborandi
secas e ensacadas para
o armazm na cidade de
Parauapebas.
Figura 4. Detalhe do
transporte de folha
de jaborandi secas
no Municpio de
Parauapebas. comum
fundir dois sacos para
aumentar o contedo
das folhas a serem
transportadas.
129
130
Quantidade
12 pessoas
30,00
30,00
2 viagens
150,00
300,00
300,00
1 viagem
350,00
350,00
350,00
100,00
Sacaria
200 sacas
0,50
100,00
Barbante
3 rolos
2,00
6,00
6,00
12 molas
2,00
24,00
24,00
10 metros
3,50
35,00
7,00
5 metros
3,50
17,50
3,50
12 lonas
35,00
420,00
84,00
12 unidades
30,00
360,00
14,40
12 unidades
8,00
96,00
6,40
1.925,30
Nota: Foi considerada a durabilidade das lonas plsticas para 5 meses de coleta, das tesouras para 5
anos e dos terados para 3 anos, utilizando durante 5 meses/ano.
Gasto total
R$ 1,00
5.000 kg x R$ 1,70
Custo total
R$ 1,00
8.500,00
3.150,00
3.150,00
250,00/ms
250,00
709,00
5,06
1.000,00
71,43
Vistoria do Ibama
750,00
53,57
600,00
42,85
Vistoria do engenheiro-florestal
ATPF
10,00
10,00
50,00
50,00
1.000,00
1.000,00
300,00
300,00
13.432,91
Nota: Foi considerado o preo de comercializao de R$ 3,50/kg de folha de jaborandi seca. Os custos
das vistorias do engenheiro-florestal e do Ibama foram diludos para uma extrao equivalente de
70 t de folha seca durante uma safra. A depreciao da balana foi considerada para uma vida til
de 10 anos.
Consideraes gerais
A atividade econmica de extrao de folha de jaborandi proporciona
aos coletores uma remunerao mensal equivalente a 2,28 salrios
131
132
Introduo1
A modernidade do agronegcio do aa (Euterpe oleracea), nas
vrzeas mais prximas da cidade de Belm, est presente nas antenas
parablicas, nos aparelhos de TV e de som, na antena de telefone
celular, no barco e no atracadouro defronte casa erguida sobre estacas,
nas bombas para puxar gua do rio para a casa, nos geradores eltricos
e nas baterias. Sinal de luxo, reluzentes mquinas de beneficiar aa
movidas a gerador enfeitam o interior de diversas casas, deixando para
trs a trabalhosa tarefa de amassar com as prprias mos. Soalhos de
madeira brilhantes no interior dessas casas contrastam com a moldura
dos aaizais manejados ao redor. As antigas casinhas com alguns ps
de aaizeiros de 10 anos atrs, que lembravam as idlicas paisagens que
Paul Gauguin (1848-1903) pintou, quando, em 1891, partiu para o Taiti,
sofreram grandes transformaes. Esse pintor do ps-impressionismo
francs que retratou a beleza do povo e os mitos subjacentes religio
tradicional do Taiti projetou uma viso idealizadora da vida nativa
que difere dos moradores ribeirinhos do passado. O crescimento da
demanda do fruto de aa provocou grande interesse no manejo de
aaizeiros nas reas de vrzeas e no plantio em reas de terra firme.
Com o crescimento do mercado dessa fruta, tem expandido, tambm,
o plantio em reas de terra firme, em antigas reas de pimentais
(Piper nigrum), de roas abandonadas, de novos plantios envolvendo
consrcios com outras espcies frutferas como cacaueiro (Theobroma
cacao), cupuauauzeiro (Theobroma grandiflorum), bacurizeiro
(Platonia insignis), uxizeiro (Endopleura uxi), pequiazeiro (Caryocar
villosum), entre outras, e como etapa final de cultivos semiperenes, tais
como: maracujazeiro (Passiflora edulis f. flavicarpa), bananeira (Musa
spp.), pimenteira-do-reino, ou aproveitando pastagens degradadas.
Nesse sentido, a mesorregio do Nordeste Paraense tem despertado
a ateno dos produtores no plantio de aaizeiros, muitos deles
procurando inovar tcnicas de cultivo em processo de erro/acerto,
1
Homma (2006a)
134
135
136
Impactos indiretos
A colheita dos cachos inclui a debulha dos frutos e o seu transporte at
o local do embarque, efetuado nas costas ou em pequenas embarcaes
a remo (cascos) e paga-se R$ 3,00/rasa. A rasa uma medida local
que consiste em duas latas de 20 L (28,4 kg). A rasa confeccionada
com talos de arum (Ischnosiphon ovatus Kcke.), planta da famlia
das Marantceas, qual pertence a araruta (Maranta arundinacea).
A confeco das cestas de arum feita por moradores locais e custa
R$ 2,50/unidade, com capacidade para duas latas, ou R$ 1,00/unidade
quando cabe uma lata. A durabilidade dessas rasas para uma safra.
Para um aaizal com produo de 10 mil latas/safra ou 5 mil rasas/
safra, so necessrios 300 cestos.
A rasa de arum constitui-se em inveno nativa de grande versatilidade
para o transporte em canoas e outros tipos de embarcaes que
apresentam espaos curvos no seu interior. A utilizao de caixas
de plstico com forma retangular, bastante usadas na colheita e no
transporte de frutas em outras regies do Brasil, tem restries para
o transporte do aa, uma vez que no podem ser acomodadas nos
espaos curvos das embarcaes. Alm disso, as rasas quando vazias
podem ser empilhadas uma dentro da outra, reduzindo o espao, e
colocadas no toldo das embarcaes, por serem leves. Foi muito
utilizada no passado para o transporte de farinha de mandioca e de
frutas como bacuri, buriti e patau (Jessenia bataua) e na colheita das
razes de mandioca.
A confeco das rasas de arums, cujos talos so vendidos a R$ 5,00/
cento, permite a fabricao de cinco rasas e constitui o servio de 1
dia. Existem moradores nas casas ribeirinhas onde essas rasas so
fabricadas adotando um princpio de linha de produo com diviso
de tarefas. Os talos de arum so provenientes do Municpio de Moju,
uma vez que a presso na sua extrao levou reduo dos estoques no
Municpio de Igarap-Miri.
Os barcos a motor que efetuam o transporte dos frutos dirigem para
cada brao de rio em dias determinados, criando uma relao de
confiana baseada na amizade, com fornecimento de cestas de arums,
transporte de pessoas e de bens, e outras facilidades. O transporte das
rasas com os frutos de aa comea pela manh, a partir das 9h ou 10h,
tempo suficiente para aqueles que j efetuaram a coleta ou aqueles que
j coletaram na tarde do dia anterior. Esses barcos de transporte de
frutos podem ser de intermedirios, que so chamados de marreteiros
137
138
139
140
141
142
Fotos: Rui de Amorim Carvalho, Antnio Jos Elias Amorim de Menezes e Oscar Lameira Nogueira.
E
A
Figura 1. Evoluo no
desenvolvimento de
coletor de aa.
(A) coletor de cacho de
aa feito de madeira
(Marab); (B) modelo
primitivo para coleta em
Carutapera (MA) e
(C) Viseu; (D) vara
e (E) pea coletora
desenvolvidas por
Noboru Takakura em
Santo Antnio do Tau;
(F) modelo desenvolvido
por Shigeru Hiramizu,
Tom-Au, que est
amplamente utilizado;
(G) vara coletora de
alumnio e (H) pente
para retirada de frutos,
ambos desenvolvidos
por Shigeru Hiramizu.
143
144
145
146
Concluses
O lanamento da cultivar de aa BRS Par, em 2004, pela Embrapa
Amaznia Oriental, foi um grande acontecimento, que chama a
ateno para evitar amadorismos em efetuar plantios utilizando
sementes de origem desconhecida oriundas de batedeiras de aa e
para maior fiscalizao na venda de mudas. Deve-se mencionar que
essa precauo j observada pelos maiores plantadores de aaizeiros
no Estado do Par. Novidades surgiro nos prximos anos, em termos
de: variedades mais produtivas, adaptadas para as reas de vrzea e
terra firme; prticas culturais; nutrio e adubao; processos que
aumentem a produtividade da mo de obra na colheita e minimizem
os riscos de acidentes, entre outros.
Para reduzir os custos de exportao, um desafio a ser vencido
refere-se obteno da polpa integral de aa ou reduo do teor
de gua da bebida aa, transformao em p com durabilidade e
sabor adequados, novos produtos duradouros, entre os principais.
Vrios desses produtos j se encontram disponveis em balces de
supermercados e em mercados virtuais, como xampus, sabonetes,
bombons, doces, mix de aa com outras frutas tropicais, bebidas
e cpsulas energticas, biojoias, leo e corante de aa, em que
os consumidores sero os juizes dessa viabilidade. Em termos de
medicamentos e frmacos, as possibilidades futuras so ilimitadas, tal
qual o processo de patenteamento iniciado pela Embrapa Amaznia
Oriental e pela Universidade Federal do Par do uso do corante de
aa como identificador de placa bacteriana sinaliza esse caminho.
Trata-se de um campo sujeito a grande concorrncia internacional,
no qual o registro de patentes por instituies de pesquisa dos pases
mais desenvolvidos ser sempre uma ameaa se esforos de pesquisa
cientfica no forem desenvolvidos no Pas. O interesse pelos produtos
nutracuticos ou funcionais, muitos deles sem comprovao cientfica,
mas baseado no mercado da angstia como adequado para evitar o
cncer da prstata, produto geritrico, entre outros, tendem a criar
um mercado simpatizante, apoiado no crescimento do contingente de
idosos no Pas e no mundo.
Um dos grandes entraves ao beneficiamento da fruta a informalidade,
que leva contaminao e descaracterizao dos produtos. A
cor forte da polpa de aa constitui um atrativo para gerar fraudes,
cuja lucratividade pode ser ampliada mediante maiores adies
de gua. A falta de legislao especfica, de fiscalizao eficiente e o
desconhecimento dos consumidores permitem que essa adulterao
no seja percebida. A Portaria n 78, de 17 de maro de 1998, classifica
a bebida aa da seguinte forma: a) aa grosso ou especial, quando
147
148
Introduo1
O plantio de aaizeiro (Euterpe oleracea) em rea de terra firme
constitui-se em alternativa para a recuperao de reas desmatadas, com
consequentes benefcios sociais pela gerao de renda e de emprego.
Alm disso, o cultivo dessa palmeira em rea de terra firme representa
uma forma de reduzir a presso de utilizao de reas situadas no
ecossistema de vrzea que, por suas caractersticas, bem mais frgil
e de mais difcil recuperao e vem sendo seriamente ameaado pela
adoo de prticas inadequadas no manejo de aaizais nativos, que
seguramente em futuro prximo podero gerar consequncias drsticas
para a flora, a fauna e at mesmo para a produo de aa. Entre essas
prticas destacam-se: a derrubada verde, ou seja, a eliminao total
de arbustos e rvores sem o uso de fogo, transformando a paisagem
em macios homogneos de aaizeiros; a construo de canais, para
facilitar o transporte dos frutos e o escoamento das guas de mars;
o controle da vegetao herbcea com a utilizao de herbicidas. O
problema agravado pelo movimento mais intenso de pequenas
embarcaes utilizadas no transporte do aa, o que vem causando
eroso e mesmo o tombamento de aaizeiros adultos.
A adoo da prtica do manejo de aaizais em vrzeas consiste na
remoo da cobertura vegetal original em reas de ocorrncia natural
da espcie, cuja densidade varivel, e em competio com outras
espcies dominantes, mas com chances de sua proliferao. Aps
a limpeza, essas reas so escolhidas. Alguns produtores efetuam
a remoo de toda a cobertura vegetal original, deixando apenas os
aaizeiros, que so tambm plantados nos espaos livres. Conquanto,
outros produtores efetuam apenas a substituio parcial da cobertura
vegetal, eliminando buritizeiros (Mauritia flexuosa) do sexo masculino,
pelo fato de no produzirem frutos, sumaumeiras (Ceiba pentandra),
cacaueiros (Theobroma cacao), entre os principais. Apesar da imagem
da sustentabilidade dos aaizais manejados das vrzeas, a expanso
1
150
Sistema de plantio
Os 55 ha de aaizeiros comearam a ser irrigados por asperso em
2002, segundo a tica do proprietrio de somente comear a irrigao
quando a planta inicia a fase de frutificao, haja vista que, na rea
em que est implantado o pomar, no existem restries hdricas
severas que limitem o crescimento vegetativo. Os 30 ha que esto sem
irrigao vo ser incorporados medida que iniciarem a frutificao.
O aaizal foi implantado em talhes com espaamentos diversificados
e diferentes combinaes de culturas que foram testadas ao longo do
tempo (8 m x 5 m; 7 m x 5 m; 7 m x 6 m; 7 m x 2,5 m), envolvendo o
consrcio com mamoeiro, cupuauzeiro e teca. O espaamento mais
adequado foi de 7 m x 6 m, totalizando 238 ps de aaizeiro/hectare,
para permitir a mecanizao de diversas etapas do processo produtivo.
O cupuauzeiro, em face de maior lucratividade do aa, foi todo
eliminado com motosserra, em 2006, uma vez que estava concorrendo
com o aaizeiro em termos de nutrientes e gua e com produo muito
baixa, em decorrncia do sombreamento excessivo provocado pelos
aaizeiros. J o consrcio com mamoeiro apresenta vantagens como o
aproveitamento da rea enquanto o aaizeiro est crescendo e permite
amortizar os custos de implantao do aaizeiro, considerando o rpido
retorno que o mamoeiro apresenta, e o aproveitamento dos resduos de
adubao dessa cultura. O proprietrio entende que o reflorestamento
na Amaznia deve ser efetuado em etapas: o cultivo do mamoeiro
custeia a implantao do aaizeiro e este, de espcies florestais.
Mudas
A produo e a disponibilidade de mudas de boa qualidade o primeiro
passo para a implantao de um aaizal. A obteno de mudas de
boa qualidade requer a seleo de plantas conhecidas por apresentar
boa produtividade, construo de um viveiro, irrigao apropriada,
preparo 1 ano antes do plantio definitivo, evitando adensamento das
mudas para evitar estiolamento. Outra alternativa seria obter essas
mudas de viveiristas idneos, adquirindo-as prontas, ganhando tempo,
mas observando a qualidade dessas mudas.
Os grandes plantadores de aaizeiros e aqueles que ganharam
experincia no processo de erro/acerto chamam a ateno para no
plantarem mudas que estejam estioladas em virtude da disposio
incorreta das mudas nos viveiros comerciais. Mudas nessa situao,
quando plantadas no local definitivo, so queimadas pelo sol, o que
retarda o crescimento. Os produtores que j efetuaram grandes plantios
de aaizeiros colocam esses aspectos como sendo de primordial
importncia para o sucesso do cultivo e preferem fazer suas prprias
mudas.
151
152
Sistema de irrigao
A irrigao por asperso efetuada h 4 anos, entre setembro e
dezembro, uma vez por semana, recebendo volume de gua de
375 L/touceira, distribuda durante 1,5 hora. O servio de irrigao
comea as 6h da manh, envolvendo duas pessoas, efetuando a
mudana a cada 1,5 hora e encerrando-se as 18h, sem interrupo. O
almoo dos trabalhadores efetuado entre o perodo de irrigao de
determinada quadra. Procedido o incio da irrigao da ltima quadra
do dia, os trabalhadores deixam o servio e a irrigao continua por
1,5 hora, sendo desligada pelo proprietrio para recomear no dia
seguinte.
Apesar de alto investimento, cerca de 100 mil reais, com 3 anos de
carncia e 5 anos para pagamento do emprstimo, o proprietrio
afirma que a opo da irrigao por asperso foi tomada pois, sem
esse procedimento, o preo e a produo de fruto de aa seriam
muito baixos em decorrncia da safra e de o terreno arenoso no ser
apropriado. O sistema de motobombas e 5 km de tubulaes com 48
bicos foi financiado pelo Banco da Amaznia S.A., de modo que o custo
de manuteno at o momento no tem ultrapassado R$ 1.000,00/ano,
apesar de constantes furtos de registros dos canos de irrigao. Para
irrigar 55 ha, foram instaladas trs motosbombas com capacidade de
35 mil litros/hora, que consomem R$ 800,00/ms de energia eltrica/
motobomba. Para o clculo da depreciao, considerou-se um tempo
de uso de 10 anos, porm o proprietrio estipula o dobro desse tempo,
em face do reduzido uso durante o ano.
Sistema de colheita
No sistema tradicional, a colheita dos frutos efetuada por exmios
escaladores, inclusive mulheres, que mostram as suas habilidades
passando de uma planta para outra, em arriscadas operaes, trazendo
os cachos ou jogando-os em locais estipulados. A demonstrao dessas
habilidades so uma constante nos Festivais de Aa, sendo conhecidos
aqueles que conseguem tirar maior quantidade de frutos em menor
perodo de tempo.
importante realar a inventividade e a criatividade dos agricultores
em superar dificuldades e encontrar solues criativas. Prevendo
a impossibilidade de recrutar um contingente de escaladores de
aaizeiros e pelo risco que a atividade apresenta, que implicaria nus
financeiro com seguro contra acidentes, aumentando sensivelmente os
custos de produo, esse agricultor procurou aumentar a produtividade
da mo de obra.
Para isso, efetuou plantios com espaamento de 7 m x 6 m, deixando
ruas para o trnsito de tratores para facilitar as operaes de limpeza,
adubao e colheita do aa. Desenvolveu uma vara com um
Tratos culturais
A formao do aaizal inicia-se com o plantio de mamoeiros, logo aps
o plantio das mudas de aaizeiros, pois mesmo com a produtividade
reduzida cobre todos os custos de implantao e promove o
aproveitamento do adubo residual. Enquanto os mamoeiros esto
crescendo, essas reas no recebem irrigao.
A limpeza nos renques de aaizeiros efetuada com roadeira, uma
no incio do inverno e outra no incio da safra, gastando 15 dias para
limpar 85 ha. A limpeza de ervas daninhas entre os ps e das folhas
cadas de aaizeiros efetuada uma vez com terado, de modo que
cada pessoa consegue limpar 205 ps/dia. O objetivo dessa limpeza
evitar o risco da entrada de fogo no aaizal durante a poca seca. Outra
operao a de coroamento, geralmente em junho, nas touceiras de
aaizeiros, em que um trabalhador consegue fazer 300 touceiras/dia.
A retirada dos rebentos de aaizeiros efetuada com um cavador e
uma pessoa consegue limpar 200 ps/dia de servio, com cuidado para
no danificar a touceira.
Apesar de ser um pioneiro em utilizar irrigao por asperso no
aaizeiro em larga escala, o proprietrio acha que o ideal seria procurar
reas mais apropriadas, que dispensem a irrigao, como no trecho
entre Bujaru e Santa Izabel do Par. Outra observao seria evitar solos
arenosos, preferindo aqueles com maior teor de argila.
153
154
Produtividade
A produtividade mdia do sistema irrigado de 120 latas/ha no quinto
ano, quando se inicia a irrigao, esperando atingir 4,5 t/ha (321 latas)
na estabilizao. Em virtude de problemas climticos, a safra de 2005
foi considerada 20% inferior de 2004, esperando em 2006 atingir a
mdia de 180 latas/ha. O procedimento adotado que os aaizeiros,
aos 5 anos, quando inicia a irrigao por asperso, tenha trs estipes
formados e trs estipes pequenos. Com o manejo, espera-se que aos 10
anos tenha trs estipes adultos e trs com 5 anos, todos produzindo. O
proprietrio acha que o ideal seria plantar trs plantas em uma cova, o
que permitiria obter maior rendimento.
A produo do aa irrigado concentra-se nos meses de novembro
(30%), dezembro (30%), janeiro (25%), fevereiro, maro e abril (5%). A
produo da safra do esturio amaznico concentra-se no vero, sendo
duas a trs vezes superior da safra de inverno. A produo do Estado
do Amap mais forte no perodo de janeiro a junho, com picos de
produo entre fevereiro e abril, de modo que parte da produo
enviada para o Estado do Par. J no Estado do Amazonas a safra vai
de janeiro a agosto, mas sem condies de exportar para o Estado do
Par.
A produo do aa irrigado depende da capacidade do aaizeiro
de emitir cachos, cuja densidade de frutos desenvolvidos apresenta
variao. O primeiro cacho apresenta-se bastante cheio, seguido de
outro menor e o terceiro muitas vezes com quantidade insignificante.
O quarto cacho, com a retirada do primeiro, ganha nova conformao
e tende a encher novamente. Os cachos produzidos no sistema de aa
irrigado sem a utilizao de adubao qumica so menores do que
aqueles produzidos nas reas de vrzeas, da a produtividade ser mais
modesta.
Tabela 1. Custo operacional de aa irrigado por asperso no Municpio de Santo
Antnio do Tau, por hectare. Espaamento de 7 m x 6 m (238 touceiras/ha) e
produtividade de 120 latas/ha. Abril, 2006.
Itens
Trator
Coeficiente
Depreciao e
manuteno
Unidade
Valor R$ 1,00
Ha/ano
37,65
Carreta
Depreciao e
manuteno
Ha/ano
5,88
Roadeira
Depreciao e
manuteno
Ha/ano
5,88
Torre de vigilncia
Depreciao
Ha/ano
4,36
Espingarda
Depreciao
Ha/ano
0,91
Munio
Cartuchos
Ha/ano
7,27
Tratorista
Salrio
Hora
3,32
Ajudante
Salrio
Hora
2,22
Continua...
Tabela 1. Continuao.
Itens
Limpeza com roadeira (2
vezes/ano)
Coeficiente
Unidade
Valor R$ 1,00
17 horas
Tratorista
17 horas
56,44
Combustvel
17 horas
283,39
205 touceiras/dia
18,46
Coroamento
300 touceiras/dia
12,62
200 touceiras/dia
18,93
2,67 horas
Tratorista + 2 ajudantes
2,67 horas
Combustvel
2,67 horas
Esterco de aves
5 kg/p
20,72
44,51
R$ 3,00/30 kg
119,00
Conjunto de motobombas
Depreciao 10%
181,82
Manuteno de motobombas
R$ 1.000,00/ano
18,18
Colheita
Tratorista + 2 ajudantes
120 latas
9,6 horas
74,50
Combustvel
120 latas
9,6 horas
160,03
Motobomba
174,55
2 pessoas
Energia eltrica
R$ 800,00
55,54
Transporte
2,00/lata
240,00
Vigilncia
4 meses
12,54
Ferramentas leves
1,09
Subtotal
Receita bruta
1.559,81
120 latas
R$ 20,00
2.400,00
Receita lquida
840,19
Custo lata aa
12,99
Nota: Ferramentas leves para 6 trabalhadores (3 terados, 4 limas, 3 catadores de aa, 3 draga, 2
ps)/85 ha/ano.
Terado R$ 15,00; lima R$ 8,00; enxada e enxadeco R$ 15,00; catador de aa R$ 10,00; draga R$ 8,00;
p R$ 15,00.
Concluses
O custo de uma lata de fruto de aa irrigado de R$ 12,99, o que
est bastante elevado, em decorrncia do consumo de combustvel
do trator que representa 1/3 do custo de produo. O custo do
transporte, o consumo de energia eltrica na irrigao, a mo de
obra e a depreciao do conjunto de motobombas e do trator e
equipamentos constituem variveis em que seria possvel reduzir
os custos via aumento da produtividade. A utilizao de fertilizante
qumico poderia duplicar a produtividade, at o momento fortemente
baseada na adubao orgnica, utilizando o insumo disponvel da
propriedade. A identificao de reas propcias, onde seja dispensvel
a irrigao, e de tcnicas de manejo envolvendo a contnua existncia
de novas estipes em produo deve constituir na melhor poltica a ser
seguida para obteno do aa na entressafra. O tipo de solo arenoso
onde foi implantado esse sistema constitui outra dificuldade para a
rentabilidade.
155
156
Introduo1
O plantio de aaizeiro (Euterpe oleracea) em rea de terra firme
constitui-se em alternativa para a recuperao de reas alteradas,
para a gerao de renda e emprego como tambm para reduzir a
transformao do ecossistema de vrzeas, mais frgil, em bosques
homogneos dessa palmeira.
Nas vrzeas do esturio amaznico, o manejo incorreto de aaizais
nativos vem promovendo a derrubada verde, sem queima, porm
com impactos ambientais que podem comprometer a diversidade da
flora e da fauna desse ecossistema e, at mesmo, a produo de aa.
Em muitos locais dessas reas manejadas ocorre a construo de canais
para facilitar a drenagem da gua inundada pelas mars e o aumento
da movimentao de barcos para o transporte de frutos, provocando
eroso nas margens e impactos para a flora e a fauna.
A adoo da prtica do manejo de aaizais em vrzeas consiste na
remoo da cobertura vegetal original em reas em que se verifica a
presena de aaizeiros e em competio com outras espcies. Alguns
produtores efetuam a substituio integral da cobertura vegetal,
deixando apenas os aaizeiros. Nas reas liberadas pela remoo de
outras espcies ou em que o aaizeiro ocorre em densidade baixa
efetuado o plantio de aaizeiros, com plantas jovens oriundas da
regenerao natural ou com mudas produzidas para essa finalidade
(NOGUEIRA, 1997; NOGUEIRA et al., 2005; NOGUEIRA;
HOMMA, 1998). Outros produtores efetuam substituio parcial
da vegetao original, deixando os buritizeiros (Mauritia flexuosa)
do sexo feminino, as samaumeiras (Ceiba pentandra), os cacaueiros
(Theobroma cacao) e outras espcies que tm valor econmico. Apesar
da imagem da sustentabilidade dos aaizais manejados nas vrzeas
na foz do Rio Amazonas, a expanso em larga escala desse sistema de
produo, com o crescimento do mercado, esconde potenciais riscos
1
158
159
160
Coeficiente
Unidade
Valor R$ 1,00
2075,07
10 dh
200,00
R$ 0,03 por
touceira
45,00
Prmio produtividade
limpeza
Coroamento
20,32
30,48
10 dh
200,00
Aplicao de herbicida
Aplicao de farinha osso
Colheita
Prmio coleta
3 vezes ao ano
3 dh
60,00
2 kg por touceira
36 dh
720,00
34 dh
680,00
596 latas
Insumos
119,27
2378,8
Energia eltrica
R$ 1.500,00 por ms
Motobomba
250,00
NPK (10-28-20)
15 sc
1.500,00
Continua...
Tabela 1. Continuao.
Itens
Farinha osso
Herbicida (1%)
Coeficiente
600 kg
3 vezes ao ano
Unidade
R$ 850,00 por
tonelada
Valor R$ 1,00
118,80
Equipamentos leves
90,02
Ferramentas leves
Engradados para transporte
Vara de colheita
R$ 19,98
Unidades
1,09
100 engradados
para 30 ha
66,60
Apanhador de aa
Lona (5 m x 10 m)
510,00
14,00
3,50
3,50
R$ 200,00
2 lonas para 30 ha
Conjunto de motobombas
R$ 11.000,00
ha por ano
73,33
Abertura de poo
R$ 20.800,00
ha por ano
69,33
R$ 4.089,15 por
hectare
ha por ano
817,83
R$ 1.000,00 ao ano
ha por ano
18,18
596 latas
R$ 20,00
11.920,00
R$
Lata
Depreciao
Tubulao
Manuteno de conjunto de
motobombas
978,67
Custo operacional
Receita bruta
5.522,56
Receita lquida
Custo aa
1,33
6.397,44
9,27
Nota: Ferramentas leves para 6 trabalhadores (3 terados, 4 limas, 3 catadores de aa, 3 dragas, 2
ps)/30 ha por ano. Uma lona dura 10 anos.
Terado R$ 15,00; lima R$ 8,00; enxada e enxadeco R$ 15,00; catador de aa R$ 10,00; draga R$ 8,00;
p R$ 15,00.
161
162
Produtividade
A produtividade mdia do sistema irrigado de 28,23 kg por touceira
em plantas com 6 anos de idade, no qual a microasperso foi iniciada
h 2 anos. No primeiro ano da microasperso, a produtividade mdia
de frutos por touceira foi de 11 kg.
Os frutos de aa so vendidos a R$ 20,00 a lata, sendo entregue para a
Cooperativa Agrcola Mista de Tom-Au. Da safra de 2007, das 180 t
colhidas, 20 t foram destinadas para comercializao de terceiros.
163
164
Tratos culturais
A limpeza nos renques de aaizeiros decorrente da presena de
microaspersores no solo requer muito cuidado quanto utilizao
de enxadas e terados e no pode ser efetuada com roadeiras. Dessa
forma, a limpeza efetuada bateo com terados 4 a 5 vezes durante
o ano, dependendo da infestao de ervas daninhas. Efetua-se o
pagamento de R$ 0,02 a R$ 0,03 por touceira como gratificao, e uma
pessoa consegue limpar 150 touceiras por dia de servio.
A aplicao de herbicida Roundup utilizada para limpar os locais
onde esto os aspersores, uma vez que as plantas daninhas quando
crescem impedem que a gua aspergida pelos microaspersores atinjam
os aaizeiros. A roagem com faco ou foice no utilizada para
evitar danificaes nos aspersores. A aplicao do herbicida efetuada
duas a trs vezes durante o ano, na proporo de 200 mL do produto
comercial para 20 L de gua (1%). So utilizados pulverizadores costais
com capacidade para 20 L de calda. Em mdia, cada 20 L de calda
suficiente para controlar em volta de 160 microaspersores.
Para pulverizar 5 ha, um trabalhador gasta 0,5 dia e 10 bombas de 20 L. O
agricultor considera prejudicial a utilizao do herbicida para o aaizeiro,
pois provoca o seu tombamento, quando atinge a touceira. Por essa razo,
pensa-se em substituir seu uso pela roagem manual ou utilizao de
leguminosa puerria (Pueraria phaseoloides) como cobertura viva. A
estimativa do proprietrio que o custo seja de R$ 1,00 por touceira para
limpeza durante o ano.
A adubao qumica efetuada com a aplicao de 2 kg a 2,5 kg de
NPK (formulao 10-28-20), dividida em sete parcelas iguais, custando
R$ 82,50 por 50 kg, decorrente da compra em grande quantidade. Com
cinco pessoas, possvel efetuar a adubao em 30 ha, aplicando 250 g
por touceira em um dia de servio. Quando se aplica 500 g por touceira,
o tempo necessrio duplicado. Alm da fertilizao qumica aplica-se
2 kg de farinha de osso por touceira em uma nica aplicao, que foi
adquirida razo de R$ 850,00/tonelada. Uma pessoa pode aplicar 10
sacos de farinha de osso perfazendo 250 touceiras por dia de servio.
Em uma quadra, efetua-se o plantio de puerria no aaizeiro e com isso
a bateo foi dispensada. Outro trato cultural relacionado ao manejo
dos estipes seria deixar sempre trs estipes por touceira.
Concluses
O custo operacional de produo da lata de aa obtida na irrigao por
microasperso de R$ 9,27, bastante inferior ao obtido de R$ 13,78 na
irrigao por asperso em Santo Antnio do Tau (HOMMA et al.,
2006c). A obteno do fruto na entressafra permite cobrir os custos
165
Introduo1
O aaizeiro uma palmeira nativa da Amaznia que se destaca entre os
diversos recursos biolgicos vegetais pela abundncia e por produzir
importante alimento para as populaes locais, alm de se constituir
na principal fonte de matria-prima para a agroindstria de palmito.
encontrado habitando toda a regio do esturio amaznico, como uma
espcie componente da floresta nativa ou em formas de verdadeiros
macios naturais conhecidos como aaizais, com predominncia
nas reas de vrzeas, notadamente quando h constante extrao de
madeira e palmito.
Os produtos derivados do extrativismo dos aaizeiros ocupam lugar
de destaque na economia do Estado do Par, pela produo de frutos
e palmito, os quais, juntos, mobilizam, anualmente, recursos da ordem
de 200 milhes de dlares, sendo 10% desse valor proveniente da
exportao de palmito para outros pases (PALMITO..., 1989; PAR,
1990; SUDAM, 1992). Dentre as principais exportaes paraenses
realizadas durante o ano de 1996, o palmito atingiu 14,2 milhes de
dlares, sendo superado apenas pelos produtos madeireiros, pelo leo
de dend (Elaeis guineensis) e pela pimenta-do-reino (Piper nigrum).
Vale ressaltar que as exportaes de palmito de aaizeiro vm
decrescendo uma vez que, em 1992, atingiram 29,3 milhes de
dlares para um total de aproximadamente 6 mil toneladas. Em anos
anteriores, como em 1983, as exportaes brasileiras desse produto
ultrapassaram 11 mil toneladas, suprindo quase a totalidade do
palmito comercializado a nvel internacional (URP et al., 1991).
1
Parte da Tese de Doutorado do primeiro autor, submetida ao Curso de
Biologia Ambiental, Centro de Cincias Biolgicas, Universidade Federal do
Par. Nogueira e Homma (1998).
168
Material e mtodos
O modelo mais simples assume que o aaizeiro, tanto para a extrao
do palmito como do fruto, tem uma taxa de crescimento dada por uma
funo g(X), onde X a quantidade de aaizeiros existentes, cuja forma
tpica da curva apresentada na Figura 1 (FISHER, 1981; PETERSON;
FISHER, 1977).
Figura 1. Funo
logstica de crescimento
dos recursos naturais
renovveis.
169
170
Figura 2. Modificao
da capacidade de
suporte decorrente do
manejo dos aaizais
nativos.
Resultados e discusso
Nas Tabelas 1 e 2 apresentam-se as caractersticas do aaizal, a utilizao
de mo de obra e as produtividades de frutos e palmito observadas
em aaizais nativos de vrzea permanentemente manejados e no
manejados.
171
172
Unidade
Manejado
No manejado
Caractersticas do aaizal
Nmero de plantas adultas
Unid.
800
Estipes em produo
Unid.
900
400
500
Nmero de cachos
Unid.
2.700
1.500
Extrao do palmito
D/H(1)
D/H
30
D/H
20
20
Mo de obra 1 ano
Raleamento e roagem
Transplantio de mudas
Mo de obra 2 e 3 anos
Roagem semestral
D/H
Mo de obra 4 ano, anual
D/H
40
D/H
10
D/H
20
10
D/H
Roagem semestral
D/H
10
Produo
Palmito(2) 1 ano
Unid.
1.000
Frutos(3) anual
Lata(4)
300
Lata
600
Unid.
200
100
(1)
(3)
Unidade
Manejado
(3 anos)
Manejado
(1 ano)
No manejado
(3 anos)
Caractersticas do aaizal
Nmero de plantas adultas
Unid.
800
800
400
Intervalo de corte
Ano
3
7
Mo de obra 1 ano
D/H(1)
Raleamento e roagem
D/H
30
30
Transplantio de mudas
D/H
Roagem
D/H
10
10
Corte do palmito
D/H
Extrao do palmito
Mo de obra anual/trienal
Descasca do palmito
D/H
Enfeixe do palmito
D/H
Transporte do palmito
D/H
2
1.000
Produo
Palmito 1 ano
Unid.
1.000
1.000
Unid.
800
Unid.
1.600
1.000
(1)
Dia/homem: R$ 10,00.
173
Caso 1 Aaizal
manejado/frutos
Caso 2 Aaizal
no manejado/frutos
Caso 3 Aaizal
manejado/palmito (3 anos)
Caso 4 Aaizal
manejado/palmito (1 ano)
Caso 5 Aaizal
no manejado/palmito (3 anos)
Perodo
Custo
Receita
bruta
Receita
lquida
Remunerao
da mo de
obra
A0
70,00
400,00
330,00
A1
330,00
-330,00
A2
200,00
-200,00
A3
200,00
-200,00
R1
820,00
1.520,00
700,00
8,54
R2
360,00
760,00
400,00
11,11
B0
70,00
400,00
330,00
B1
350,00
-350,00
B2
100,00
-100,00
R3
200,00
640,00
400,00
20,00
C0
70,00
400,00
330,00
C1
350,00
-350,00
C2
100,00
-100,00
R4
150,00
320,00
170,00
11,33
R5
140,00
400,00
260,00
37,14
Frmula do
VPL
VPL
i=10%
VPL
i=0
VPL
i=
Caso 1 Aaizal
manejado/frutos
4.973,00
330,00
Caso 2 Aaizal
no manejado/frutos
4400,00
400,00
Caso 3 Aaizal
manejado/palmito (3 anos)
1258,00
330,00
Caso 4 Aaizal
manejado/palmito (1 ano)
1334,00
330,00
Caso 5 Aaizal
no manejado/palmito (3 anos)
1.046,00
260,00
174
Figura 3. Valores
presentes de benefcios
lquidos (VLP)
observados em aaizais
nativos sob diferentes
sistemas de manejo e
taxas de juros.
Concluses
A partir do final da dcada de 1980, tem-se enfatizando na Amaznia
o manejo de recursos extrativos como soluo para a conservao dos
recursos naturais. Em muitas situaes de curto prazo, a facilidade de
acesso e o grande estoque de aaizais fizeram com que o extrativismo
na forma no manejada apresentasse maiores vantagens econmicas.
Nas reas prximas aos centros consumidores de frutos, a adoo
das prticas de manejo pelos extratores comprovaram as vantagens
econmicas desse procedimento. interessante frisar que no passado
essas reas sofreram intensivo processo de extrao de palmito e a
valorizao econmica dos frutos induziu sua conservao, o que a
legislao no conseguiu inibir em anos anteriores.
Em reas com grande disponibilidade de aaizais, onde a coleta de
frutos torna-se invivel em virtude da longa distncia dos locais de
comercializao, a extrao de palmito prtica dominante. Em face
dos grandes estoques de aaizais, a extrao de palmito em sistemas no
manejados, mediante contnua incorporao de novas reas, revela-se
superior em termos de rentabilidade em comparao com o sistema
manejado. Esse aspecto explica o processo de explorao predatria
que tem caracterizado essa atividade, cuja taxa de extrao praticada
coloca em risco os estoques de aaizais no esturio amaznico com o
crescimento da demanda desse produto.
O manejo dos aaizais nativos mostrou-se importante para o aumento
da capacidade de suporte, dobrando a produo por unidade de rea
para a extrao de frutos e proporcionando um incremento de 60%
no caso de palmito. O aumento da capacidade de suporte, obtido por
meio do processo de homogeneizao nos aaizais manejados, conduz
a preocupaes com as possveis consequncias ecolgicas para a flora
e a fauna. A homogeneizao dos estoques de aaizais tende, no seu
limite, a imitar um plantio racional.
Outra varivel importante analisada refere-se taxa de juro. Quando
esta elevada, tende a dissipar as vantagens econmicas em manejar
aaizais, tanto para frutos como para palmito. Dependendo da
dimenso do mercado, em um ambiente com altas taxas de juros,
a extrao de palmito no presente mais vantajosa do que adotar
prticas de manejo. Esses resultados tm importantes ilaes polticas
quando se pretende efetuar programas de manejo para a conservao
da Floresta Amaznica.
175
176
Introduo1
A microrregio de Marab, localizada no sul do Estado do Par, foi
incorporada ao processo de extrao da castanha-do-par no incio
do sculo passado. No contexto da dinmica da economia extrativa
regional, a importncia da extrao de castanha-do-par cresceu com
a domesticao da seringueira no Sudeste Asitico, provocando a crise
da economia gumfera na regio. A partir da dcada de 1960, vem
sofrendo uma srie de transformaes econmicas, sociais e polticas,
afetando a base da economia extrativa.
A coleta de castanha-do-par, no incio, conheceu uma fase de
extrao livre, em que a terra no era apropriada por particulares.
A partir dos anos 1920, as reas de castanhais passaram a ser
monopolizadas sob diversas formas, desde os casos de compra direta
ou mediante ttulos da dvida pblica do Estado at o arrendamento e
aforamento dos castanhais. A partir da nova Lei de Terras de 1930 at
o incio da dcada de 1950, a forma predominante de apropriao dos
castanhais foi o arrendamento. O controle econmico e poltico passou
a prevalecer nas concesses para a extrao. No final do mandato
do General Zacarias de Assuno, em 1954, foram introduzidas
importantes modificaes no arrendamento de terras devolutas do
Estado para fins de extrao de castanha-do-par. Inicialmente,
concedia-se uma licena de explorao por uma safra. Depois da
licena inicial, passava-se a um contrato de arrendamento por 5 anos
(o primeiro considerado a ttulo precrio). O direito de renovao
do arrendamento constitua, no terceiro passo, numa forma de
aforamento perptuo, com pouca margem para disputa, acelerando-se,
a partir da, o processo de concentrao (EMMI, 1988; VELHO, 1981).
Os aforamentos abrangem um perodo que vai de 1955 a 1966 (a partir
da passam a ser adquiridos por transferncia de direitos dos foreiros
originais). O Estado do Par nesse perodo concedeu 252 aforamentos,
destes 168, ou seja, 66,6% foram para Marab (EMMI, 1988).
1
178
179
180
Nmero
Quantidade Percentual
extrada (hL) extratores
Percentual
quantidade
Quantidade
extrator (hL)
Exportador
30.000 hL a
50.000 hL
221.000
9,4
50,7
36.833
Grande
extrator
5.000 hL
13
161.000
20,3
36,9
12.384
Continua...
Tabela 1. Continuao.
Tipo de
Quantidade Percentual
Nmero
extrator
extrada (hL) extratores
Mdio extrator
2.500 hL a
7
19.600
10,9
3.500 hL
Percentual
quantidade
Quantidade
extrator (hL)
4,5
2.800
905
Pequeno
extrator 500 hL
a 1.500 hL
38
34.400
59,4
7,9
Total
64
436.000
100,0
100,0
6.812
Microrregio
Marab
Municpio
Marab
Ano
Amaznia
1950
22.636
11.145
7.513
1960
39.382
13.405
8.095
8.095
1970
49.912
26.830
22.068
17.732
1975
51.719
20.667
7.887
3.912
1980
40.456
22.611
15.022
8.823
1985
45.020
15.417
3.845
2.000
1987
36.241
17.954
5.695
3.085
1988
29.391
12.899
3.844
1.980
1989
25.672
8.465
2.793
550
1990
51.195
16.235
1.160
600
1991
35.838
9.456
1.073
550
7.513
Continua...
181
182
Tabela 2. Continuao.
Ano
Amaznia
Par
1992
25.303
10.962
1993
26.505
6.936
Microrregio
Marab
950
880
Municpio
Marab
500
450
Fonte: Censo Agropecurio (1950, 1960, 1970, 1975, 1980, 1985, 1995, 1993).
Modelo conceptual
Foi possvel estabelecer as condies de comportamento dos
agricultores que induzem a derrubada das castanheiras, a despeito do
potencial de lucro decorrente da extrao. Para o desenvolvimento
do modelo, enfocou-se a escolha dicotmica entre agricultura e
183
184
Figura 1. Interpretao
hipottica da averso ao
risco dos colonos com
relao extrao da
castanha-do-par e/ou
cupuau vs atividades
agrcolas.
(1)
Se r= , obtm-se:
185
186
tem-se:
Resultado e discusso
A produtividade das castanheiras apresenta variao de 0,16 a 0,55 hL/ha
de castanha com casca, se considerar o conjunto da rea do castanhal
(KITAMURA; MLLER, 1984). A densidade de castanheiras varia
entre 33 a 107 castanheiras adultas por lote de 50 ha. A disponibilidade
de castanheiras adultas nos lotes dos colonos apresenta grandes
187
188
Dias-homens/tonelada
Coleta
15
Quebra
20
Transporte
Lavagem
Total
41
189
190
Concluses
Verifica-se que a derrubada de reas em que existe grande disponibilidade
de castanheiras e cupuauzeiros representa um desperdcio para os
produtores, considerando a alternativa entre extrao de madeira ou a
coleta de castanha e cupuau. Deve-se observar que, apesar da alta taxa
de desconto, considerando a manuteno integral da floresta no lote
e a extrao de castanha e de cupuau, a renda mensal equivalente
a apenas um salrio mnimo, ante ao reduzido tamanho do lote,
alm da sazonalidade. Como existe metade de mo de obra ociosa,
considerando apenas a do chefe de famlia, cria-se uma opo natural
para promover o desmatamento para a implantao de roas para
produo de alimentos e posterior transformao em pastos. A atual
nfase governamental e dos movimentos ambientalistas em colocarem
as atividades extrativas, desconhecendo a sua dinmica, como maneira
de proteger a biodiversidade da Amaznia pode resultar em efeitos
contrrios aos esperados.
Razes de risco e incerteza representam tambm fatores de insegurana
para a adoo de tcnicas de manejo florestal com vistas a racionalizar
a extrao madeireira na Amaznia. O conflito enfrentado pelo
madeireiro, que inicialmente tem como objetivo a extrao daquelas
espcies mais nobres, em razo da heterogeneidade dos recursos
madeireiros da Floresta Amaznica, por questo de economicidade
e distncia em relao aos mercados, faz com que se retorne
mesma rea quando outras espcies remanescentes so valorizadas.
Isto descaracteriza o procedimento de manejo florestal, conforme
determinado tecnicamente, que prev o retorno rea original de
extrao somente depois de 30 ou 40 anos, afetando dessa forma o
processo de regenerao, uma vez que as expectativas de curto prazo
so diferentes das de longo prazo. Por outro lado, o atendimento das
etapas do manejo florestal exige o seu acompanhamento por perodo
que vai de 30 a 40 anos, com srios riscos de incndios florestais e
principalmente invases de posseiros e mais recentemente do MST, alm
do projeto de vida pessoal do madeireiro e da grande disponibilidade
de estoques de madeiras em reas novas. O procedimento de manejo
que exige divises de reas em 30 ou 40 talhes, conforme exigido
191
Introduo1
As castanheiras que produzem a nutritiva castanha-do-par, um dos
principais produtos de exportao da Amaznia esto desaparecendo
no Sudeste do Par, regio com imensas reas desmatadas e graves
problemas fundirios. Muitos fatores contriburam, nas ltimas
dcadas, para a destruio dos castanhais, que poderia ser reduzida
com polticas pblicas mais coerentes, fiscalizao efetiva do
desmatamento e conscientizao da populao quanto importncia
desse recurso natural.
Milhares de castanheiras centenrias desapareceram nos ltimos 30
anos no Sudeste do Par, regio que abrange 38 municpios, sendo
Marab o mais importante em termos econmicos. A histria da
ocupao dessa regio por migrantes de outras reas comeou em
1898, quando foi fundado o povoado de Itacainas, que originaria a
cidade de Marab. O povoado nasceu em funo da explorao do
caucho (Castilloa ulei), rvore que produz um ltex usado para fabricar
uma borracha inferior obtida da seringueira (Hevea brasiliensis).
Com a expanso dos seringais no Sudeste Asitico, ocorreu o declnio
da extrao da borracha amaznica, o caucho perdeu importncia
e a extrao da castanha-do-par (Bertholletia excelsa) tornou-se
a principal atividade econmica da regio. Durante 60 anos, os
castanhais sustentaram milhares de extrativistas e toda uma oligarquia
decorrente dessa riqueza. A partir do final dos anos 1960, porm, o
governo comeou a apoiar a agropecuria, por entender que esta
renderia mais que a mata em p. Com isso, posseiros, colonos e
fazendeiros avanaram sobre a floresta, substituindo-a aos poucos por
culturas anuais e pastos.
Para promover a ocupao da Amaznia, foram construdas as rodovias
Belm-Braslia (BR-010), inaugurada em 1960, e Transamaznica
1
194
Sudeste Paraense
Par
Brasil
1950
7.514
1960
8.095
1970
17.732
1973
22.191
1974
5.588
1975
8.067
1976
12.400
1977
14.621
1978
15.505
1979
17.580
1980
15.139
1981
12.048
1982
8.816
1983
6.143
1984
5.114
1985
3.999
1986
6.654
1987
5.838
1988
3.981
1989
2.909
1990
3.157
16.235
51.195
35.838
1991
2.872
9.456
1992
2.432
10.962
25.303
1993
2.194
6.936
26.505
38.882
1994
2.371
9.689
1995
1.521
12.215
40.216
1996
1.460
8.458
21.469
1997
1.248
9.510
22.786
1998
1.184
8.150
23.111
Continua...
Tabela 1. Continuao.
Ano
1999
Sudeste Paraense
1.199
Par
5.959
Brasil
26.856
2000
1.165
8.935
33.431
2001
1.169
6.972
28.467
2002
1.115
5.770
27.389
2003
966
5.361
24.894
2004
1.109
7.642
27.059
2005
953
6.814
30.975
2006
900
5.291
28.806
2007
944
7.639
30.406
2008
940
6.203
30.815
2009
927
7.015
37.467
2010
930
8.128
40.357
2011
932
7.192
42.152
2012
896
10.449
38.805
Fonte: Produo Extrativa Vegetal e Silvicultura (1994); Produo da Extrao Vegetal (2012).
195
196
197
198
199
Introduo1
A castanheira-do-par (Bertholletia excelsa H.B.K) tem a sua rea de
distribuio nas partes amaznicas do Brasil, Bolvia, Peru, Colmbia,
Venezuela, Suriname, Guiana e Guiana Francesa. Tem por habitat a
mata virgem alta de terra firme, em agrupamentos mais ou menos
extensos, tradicionalmente conhecidos como castanhais, sempre
associada a outras espcies florestais de grande porte, nunca em
formaes oligrquicas (CAVALCANTE, 2010; PIMENTEL et al.,
2007). As rvores dessa espcie podem atingir at 60 m de altura por
4 m de dimetro na base do tronco, e rvores desse porte tem idade
estimada de 800 anos (MLLER et al., 1995). Aps a decadncia da
borracha, a extrao da castanha-do-par passou a constituir o principal
produto extrativo para exportao da regio, alcanando o seu apogeu
na dcada de 1950. Com a abertura de rodovias, desencadeada a partir
da dcada de 1960, as reas de ocorrncia de castanheiras foram sendo
derrubadas, provocando o seu contnuo declnio. Por ser uma planta
algama, ou seja, necessita de polinizao cruzada para que ocorra
a frutificao e consequentemente a produo, os desmatamentos
e as queimadas, ao destruir o habitat natural do agente polinizador
(Hymenoptero do gnero Bombus spp.), tm contribudo para reduo
da produo.
A extrao de castanha-do-par no Brasil tem declinado abruptamente
a partir da dcada de 1990, passando para a Bolvia a posio de maior
produtor mundial (Figura 1, Tabela 1). Com o crescimento da extrao
boliviana, a produo mundial tem se mantido constante, apesar do
evidente declnio do consumo per capita, se considerar o crescimento
populacional dos pases desenvolvidos como maiores consumidores
desse produto.
1
202
Figura 1. Produo de
castanha-do-par do
Brasil, da Bolvia e do
mundo em toneladas
(1961-2010).
1961
1962
1963
1964
1965
1966
1967
1968
1969
1970
Bolvia
2.834
3.117
4.306
5.000
6.000
6.000
7.000
7.000
6.200
8.500
Brasil
51.713
45.442
40.431
44.223
40.798
55.470
34.164
50.977
40.004
104.487
Peru
1.800
1.800
1.200
1.800
1.700
1.588
1.443
1.317
1.387
1.680
59.377
53.389
48.987
54.053
51.528
66.108
45.657
62.324
50.621 117.667
Mundo
Pas
1971
1972
1973
1974
1975
1976
1977
1978
1979
1980
Bolvia
10.500
11.400
7.500
10.700
11.800
14.750
11.900
11.350
8.700
9.380
Brasil
67.005
70.000
52.095
35.776
51.719
61.043
53.958
40.449
43.242
40.456
Peru
1.635
1.247
1.349
1.367
1.384
1.283
1.315
1.240
1.177
1.107
Mundo
82.140
85.647
63.944
50.843
67.903
80.076
70.173
56.039
56.119
53.943
Pas
1981
1982
1983
1984
1985
1986
1987
1988
1989
1990
Bolvia
10.412
11.000
13.000
11.500
12.000
21.366
17.777
16.080
17.496
17.000
Brasil
36.702
36.849
50.860
40.710
45.020
36.136
36.241
29.391
25.672
51.195
Peru
1.302
1.476
1.521
1.656
1.430
1.396
1.506
1.607
1.572
1.639
Mundo
51.416
52.325
68.381
56.866
63.450
63.898
60.524
52.078
49.740
75.768
Pas
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
Bolvia
18.000
18.500
17.500
16.500
15.400
18.000
23.000
15.400
30.000
36.000
Brasil
35.838
25.303
26.505
38.882
40.216
21.469
22.786
23.111
26.856
33.431
Peru
1.634
1.564
1.582
1.525
1.662
1.336
520
407
325
325
Mundo
61.027
51.111
50.787
62.716
64.368
47.806
51.506
44.624
64.153
76.207
Pas
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
Bolvia
38.000
36.582
38.500
40.000
43.259
41.000
42.000
42.629
45.000
45.000
Brasil
28.467
27.389
28.000
28.500
30.000
28.806
30.406
30.815
37.467
40.357
Peru
227
234
179
203
274
302
237
287
300
260
Mundo
74.273
72.481
73.319
76.284
82.030
79.429
83.398
85.588
92.231
99.917
Pas
2011
2012
Bolvia
42.152
43.500
Brasil
45.000
45.000
Peru
315
315
Mundo
87.467
88.815
203
Rondnia
(t)
Acre
(t)
Amazonas
(t)
Roraima
(t)
Brasil
Par
(t)
Amap
(t)
Mato
Grosso
(t)
Valor
Produo Exportao
US$ 1000
(t)
(t)
FOB
1928/32
1.927
14.339
12.651
67
34.138
20.496
1933
2.632
16.413
19.805
546
39.400
28.695
1934
2.632
20.680
9.504
810
38.434
24.468
1935
2.632
19.038
26.184
506
51.097
27.401
1936
2.632
5.404
14.050
557
37.116
24.322
1937
2.632
4.220
8.499
643
23.133
13.145
1938
2.632
19.160
9.678
927
34.501
23.961
1939
2.632
12.642
19.135
556
35.709
22.887
1940
2.632
18.940
14.855
620
40.527
26.117
1941
2.632
9.805
10.189
325
22.709
15.499
1942
2.632
9.177
6.991
223
21.211
8.397
1943
2.632
2.615
2.213
37
5.172
413
1944
2.632
1.890
1.591
48
3.557
1.277
1945
2.632
4.737
150
2.095
66
20
7.128
2.056
1946
559
2.632
10.405
235
9.399
22
23.989
17.199
1947
345
2.632
9.575
721
13.760
656
20
28.082
19.278
1948
182
2.632
8.900
369
8.392
524
19.566
13.507
1949
654
2.632
13.268
1.081
11.646
911
31.452
21.264
1950
1.100
2.632
7.627
240
11.145
754
22.636
17.198
1951
1.612
2.632
13.885
240
14.516
990
120
33.635
24.820
1952
1.598
2.632
4.758
468
7.154
523
80
17.601
13.063
7.418
1953
759
2.632
12.808
184
13.165
1.341
30
30.612
22.332
11.126
1954
1.869
2.632
9.966
713
13.775
1.523
25
31.878
23.243
10.270
12.596
Continua...
204
Tabela 2. Continuao.
Estados
Ano
Rondnia
(t)
Acre
(t)
Amazonas
(t)
Roraima
(t)
Brasil
Par
(t)
Amap
(t)
Mato
Grosso
(t)
30
Valor
Produo Exportao
US$ 1000
(t)
(t)
FOB
35.593
25.389
13.086
1955
1.370
2.632
12.520
177
15.933
819
1956
1.746
2.632
19.133
1.310
12.247
2.541
41.524
30.710
13.635
1957
1.620
2.632
14.487
841
13.603
1.268
37.150
30.559
11.659
11.966
1958
1.168
2.632
12.514
927
19.887
1.732
38.888
29.135
1959
2.247
2.632
5.290
202
6.255
723
21.691
15.887
8.095
1960
1.205
2.632
11.855
227
12.228
2.416
39.382
26.395
14.286
1961
2.884
2.632
14.752
17.974
2.916
51.713
36.252
15.621
1962
3.314
2.632
11.085
405
22.158
2.130
10
45.442
23.030
9.910
1963
1.527
2.632
9.929
77
21.123
2.247
11
40.431
25.193
8.882
1964
1.270
2.632
14.143
77
25.332
1.086
13
44.223
24.185
10.421
1965
824
2.632
9.432
75
26.063
867
18
40.798
19.911
11.597
1966
1.025
2.632
19.094
354
25.377
1.480
59
55.470
30.323
15.084
1967
1.587
2.632
8.366
52
18.868
1.238
53
34.164
19.979
10.129
1968
3.313
2.632
11.862
432
27.390
1.346
53
50.977
36.172
14.969
1969
2.412
2.632
7.994
432
20.585
1.314
54
40.004
24.115
12.076
1970
3.230
2.632
56.659
89
26.913
1.161
84
104.487
32.267
13.639
13.770
1971
3.357
2.632
30.222
114
18.152
960
124
67.005
24.192
1972
37.579
20.229
1973
2.050
2.162
8.193
249
37.675
966
800
52.095
33.848
22.763
1974
2.166
8.655
5.693
299
17.761
702
500
35.776
20.664
20.222
1975
2.543
6.604
9.884
11.069
20.667
853
100
51.720
34.230
24.735
1976
2.853
9.389
13.039
9.800
24.983
900
80
61.044
23.293
21.968
1977
2.955
7.197
8.800
8.600
25.681
660
65
53.958
21.292
32.082
1978
1.603
7.483
8.839
14
21.906
400
205
40.449
20.921
32.710
1979
1.826
6.542
9.413
75
24.636
450
800
43.242
29.106
43.037
1980
1.201
6.624
8.811
244
22.611
965
40.456
22.436
26.821
1981
784
7.181
6.410
55
21.357
600
315
36.702
18.610
24.734
1982
833
8.328
11.774
84
14.681
720
430
36.849
18.105
32.240
1983
1.466
13.714
11.132
524
22.947
900
176
50.859
21.962
36.038
1984
1.392
14.021
10.715
804
11.957
1.560
262
40.711
19.664
24.330
1985
563
14.761
10.754
974
15.417
2.270
281
45.020
24.915
25.155
1986
1.165
10.191
3.583
926
17.297
2.400
573
36.135
19.631
21.871
1987
784
8.737
5.489
815
17.954
1.755
707
36.241
20.221
29.134
1988
885
8.623
3.394
1.169
12.899
1.631
351
28.952
18.079
25.943
1989
907
8.663
4.234
805
8.465
2.201
397
25.672
13.571
21.745
1990
1.472
17.497
13.059
16.235
2.250
674
51.194
23.794, 4
32.453,282
1991
1.080
14.630
7.957
9.456
1.898
813
35.838
13.950,5
17.590,915
1992
1.043
11.156
193
10.962
1.556
392
26.505
16.989,6
19.674,037
1993
1.118
11.984
4.267
6.936
1.810
389
38.882
14.040,9
20.076,797
1994
794
11.034
15.465
9.689
1.650
250
40.217
17.970,7
28.719,806
1995
792
9.367
15.727
12.215
1.858
258
40.216
15.604,8
24.992,189
1996
461
3.858
6.670
8.458
1.776
21.224
10.160,5
16.526,538
1997
461
3.378
7.357
9.510
1.845
230
22.786
14.661,3
26.075,115
1998
2.063
3.628
7.368
54
8.150
1.606
241
23.111
15.128,6
21.180,289
1999
1.935
9.613
7.467
31
5.959
1.582
267
26.856
11.094.875 6.105.766
Continua...
Tabela 2. Continuao.
Estados
Brasil
Ano
Rondnia
(t)
Acre
(t)
Amazonas
(t)
Roraima
(t)
Par
(t)
Amap
(t)
2000
6.508
8.247
7.823
34
8.935
1.639
Mato
Grosso
(t)
245
Valor
Produo Exportao
US$ 1000
(t)
(t)
FOB
33.431 27.686.194 18.927.995
2001
5.481
5.924
8.352
69
6.972
1.393
277
28.467
11.149.679 10.551.995
2002
4.385
6.674
8.985
66
5.770
1.157
351
27.389
12.602.947 9.642.786
2003
3.357
5.661
9.068
68
5.361
1.048
331
24.894
6.946.901 10.869.674
2004
2.830
5.859
9.150
88
7.642
1.106
385
27.059
13.391.408 21.713.676
2005
2.710
11.142
8.985
91
6.814
860
373
30.975
17.241.160 34.509.587
2006
2.652
10.217
9.165
91
5.291
917
473
28.806
13.749.183 18.985.189
2007
2.105
10.378
8.871
90
7.639
847
476
30.406
16.312.964 25.550.482
2008
1.927
11.521
9.111
102
6.203
519
1.430
30.815
13.078.502 20.319.491
2009
2.107
10.313
16.012
104
7.015
390
1.527
37.467
9.884.343 11.792.320
2010
1.797
12.362
16.039
106
8.128
447
1.477
40.357
8.998.138 13.446.855
2011
3.523
14.035
14.661
105
7.192
401
2.234
42.152
10.350.315 14.175.468
2012
1.714
14.088
10.478
112
10.449
426
1.538
38.805
11.117.894 25.155.805
205
206
Metodologia
Coleta dos dados
Os dados sobre a cadeia produtiva da castanha-do-par foram obtidos
da Renmero Indstria e Comrcio, estabelecida no Municpio de
Camet, empresa que iniciou suas atividades em 20 de agosto de 1996,
oferecendo farinha com castanha-do-par para a merenda escolar
daquele municpio. O objetivo desta pesquisa foi obter dados tcnicos
inexistentes na literatura quanto ao rendimento do setor industrial,
que pudesse comparar a castanha-do-par in natura com casca com
a castanha-do-par beneficiada. Esses dados foram colhidos em duas
visitas, uma em novembro de 2005 e outra em agosto de 2006, nas
quais foram franqueadas a coleta e a anlise dos dados em todas as
etapas do processo produtivo.
Resultado e discusso
A cadeia comercial da castanha-do-par
Um resumo sobre o processo extrativo importante para compreender
as etapas do processo de beneficiamento. Um castanheiro treinado
pode juntar, diariamente, de 700 a 800 ourios, produzindo 2 hL (1 hL
equivale de 50 kg a 56 kg) de castanha-do-par com casca, rendimento
que mesmo nos castanhais mais produtivos deve ser considerado
muito bom, pois a distncia entre as rvores faz com que se perca
muito tempo em longas caminhadas num terreno naturalmente hostil.
Os ourios so transportados nas costas em jamaxim (cesto adaptado
para transporte), o castanheiro apanha os ourios com uma vara com
trs pontas ou com a ponta do terado, transportando-os em um cesto
amarrado s costas. Esses ourios so amontoados em determinado
ponto estratgico da floresta, onde efetuado o corte para a retirada
das amndoas e seu transporte (ALMEIDA, 1963; SOARES, 1976). Um
ourio pode pesar de 0,50 kg at 2,50 kg, com dimetro de 8 cm a
15 cm e contendo de 12 a 25 castanhas. O rendimento mdio de 1 ha
nas reas de ocorrncia de castanheiras situa-se entre 0,25 hL e 0,41 hL,
ou de 25 kg a 35 kg de castanha-do-par com casca, ou de 7 kg a 11 kg
de amndoas (ALMEIDA, 1963; SOARES et al., 1976). Dependendo
do local, a densidade de castanheiras varia entre 33 e 107 castanheiras
adultas em 50 ha, apresentando grande variao, pois nem todas
produzem no mesmo ano.
Todas as indstrias tm seus agentes, que so moradores da
comunidade ou comerciantes localizados nas sedes municipais
encarregados da aquisio da castanha-do-par nos locais de extrao
e de observar o volume da safra. A escolha das castanhas adquiridas
(que podem ser da safra do ano anterior), a maneira como foi efetuado
o armazenamento na floresta e nas comunidades, a lavagem das
207
208
A recepo da castanha-do-par
O processo de beneficiamento de castanha-do-par se inicia aps o
recebimento do produto em sacos de polietileno com capacidade para
cinco latas, equivalente a 1 hL, que so transportadas em caminhes
ou barcos de locais distantes como Lbrea, Manacapuru e Jari. O
transporte uma operao onerosa, uma vez que, durante a navegao,
muitas vezes h necessidade de efetuar transbordos entre embarcaes,
como exemplo, um barco vindo de Lbrea ou Manacapuru descarrega
a sua carga no porto de Belm, para ento a carga ser embarcada
para Camet em barcos menores com capacidade de transportar 75 t,
equivalente a 1,5 mil sacos de castanha-do-par. No porto, esses
sacos so retirados dos barcos e passam para o caminho, que leva
at s fbricas de beneficiamento, onde as castanhas so estocadas
para permitir o funcionamento durante o maior nmero de meses. A
estocagem exige grande capital de giro, sem o qual no ser possvel
armazenar quantidade suficiente para garantir o funcionamento da
fbrica por maior tempo. O incio de funcionamento dessas usinas, por
constituir alternativa de trabalho para grande contingente de homens
e mulheres, pelo carter intensivo de utilizao da mo de obra,
sobretudo na quebra da castanha-do-par, ansiosamente aguardado.
209
210
211
212
Rentabilidade
A amndoa de castanha-do-par, adquirida a R$ 80,00/hectolitro dos
coletores, colocada na usina de beneficiamento a um custo
de R$ 110,00/hectolitro. Aps o beneficiamento, obtm-se uma caixa
com 20 kg, que comercializada a R$ 310,00. Isso indica que 1 kg de
castanha beneficiada implicou na utilizao de 5 L de castanha com
casca. O beneficiamento promove a valorizao da castanha-dopar em 3,87 vezes o valor da castanha com casca, como se tem uma
estimativa de que o beneficiamento esteja por volta de R$ 165,00/20 kg,
pode ser calculada a rentabilidade do processo.
Considerando que em mdia 50 kg de castanha com casca rende 20 kg
de amndoa de castanha pronta para exportao, pode-se depreender
os benefcios advindos da sua verticalizao na Amaznia (Figura 3,
Tabelas 1 a 4).
Como exerccio, consideremos o ano de 2011, quando foram
exportados 10.264.951 kg de castanha com casca no valor de
US$ 13.593.401, ao preo de US$ 1,32/kg. Se tivesse sido beneficiada,
poderia render 4.105.880 kg de amndoa, no valor de US$ 6,84/kg.
Uma receita adicional de US$ 14.490.818, que seriam transformados
em renda e emprego para a populao regional.
Figura 3. Exportao de
castanha-do-par com
casca e sem casca no
perodo 19962011, em
toneladas.
213
1.767
12
43
822
Itlia
Nova
Zelndia
Noruega
Pases
Baixos
Reino Unido
Sua
87.127
10.324.125
842.419
31.451
10.885
1.426.610
142.414
9.729
913
115
16
1.841
235
107
4.280
10.707.670
1.075.422
161.778
15.860
2.148.366
201.274
131.307
4.022.326
12.369
952
223
13
2.103
254
81
5.555
130
146
167
2.723
13
Quant.
13.661.879
1.199.032
293.360
12.810
2.190.483
255.657
83.165
5.783.484
135.334
10.207
122.019
182.724
3.376.580
17.024
US$ FOB
1994
875
124
2.079
442
79
4.883
16
164
130
2.459
16
Quant.
11.318
181
Frana
11.781
101
Espanha
4.714.262
14.828
90.106
66.139
2.779.054
1.210
US$ FOB
1993
Total
5.775
Estados
Unidos
11
108
60
2.041
Quant.
43
Dinamarca
9.267
110.407
61.400
2.873.140
14.743
US$ FOB
1992
Tunsia
Bolvia
China
91
Blgica
Canada
85
136
Austrlia
2.750
Alemanha
Argentina
18
Quant.
frica do Sul
Pases
12.899.290
26.042
1.059.485
140.703
8.839
2.302.144
425.872
90.571
5.459.895
19.897
163.540
167.700
3.016.346
18.256
US$ FOB
1995
8.510
13
847
140
25
1.586
337
53
3.639
38
42
13
1.766
11
Quant.
11.195.139
12.133
1.202.227
214.605
38.500
1.981.971
409.000
76.722
4.673.407
50.944
79.252
18.200
2.423.680
14.498
US$ FOB
1996
11.821
14
1.118
128
44
13
1.436
211
82
5.101
41
145
165
118
64
3.128
13
Quant.
16.113.736
15.600
1.664.300
164.811
57.571
14.300
1.871.314
238.501
113.041
6.680.193
58.512
37.500
239.118
136.766
88.350
4.716.779
17.080
US$ FOB
1997
12.052
14
1.036
1.108
78
129
4.155
60
88
1.940
347
99
90
2.882
18
Quant.
Continua...
12.342.790
15.600
1.165.196
7.448
1.216.261
75.789
177.242
4.948.003
58.300
97.017
532.500
339.782
104.236
106.750
3.476.893
21.773
US$ FOB
1998
214
Extrativismo Vegetal na Amaznia: histria, ecologia, economia e domesticao
75.840
7.674.925
13.566
13.376.839
0
7.903
26
6.263.460
14.020
6.949
27
7.350.073
30.700
1.107.844
86.608
1.493.746
113.455
5.618
102
94
1.355
38
17
51
7.178.863
171.084
122.562
1.933.538
50.416
26.078
138.023
3.516.569
6.842.601
85.800
117.260
82.933
270
65
232.128
125.440
48.180
3.885.055
100.175
58.458
1.935.629
73.645
13.750
55.000
29.148
US$ FOB
2004
150
81
14
3.151
50
50
6.316
50
13
25
Quant.
10.296
4.987
1.053
81
1.070
76
16.730
95.834
2.838
21.987
90.940
105.500
15.600
951.500
35.066
US$ FOB
2003
Total
713.303
64.219
58.728
9.172
1.216.849
26
75
2.543.451
225
137
84
13
637
26
Quant.
52
Tunsia
74.109
167.182
2.959
288.641
42.000
155.357
103.243
13.900
1.258.564
US$ FOB
2002
Ucrnia
1.070.016
621
1.596.058
82
13
1.528
905
Peru
1.613
90.850
6.336
1.524.137
268
114
Reino Unido
84
1.671
38.280
128.497
70
42.350
335.006
41
145
Pases
Baixos
24
Noruega
207
Nova
Zelndia
Mxico
Itlia
Hong Kong
28.003
187.020
2.971.547
16
3.753
103
6.728.443
43.868
Frana
6.717
61
Espanha
3.615.823
36.416
2.143
41
158
25.698
41
102
13
1.038
Quant.
Estados
Unidos
81.108
25.083
85.810
793.739
US$ FOB
2001
Dinamarca
91
31
76
935
Quant.
222
104.700
90.179
80.508
2.931.435
44.592
US$ FOB
2000
China
Bolvia
97
78
2.962
19
Quant.
50
60
489
Blgica
58.452
52.883
2.074.180
30.518
US$ FOB
1999
Canada
46
52
Austrlia
1.211
Alemanha
Argentina
16
Quant.
frica do Sul
Pases
Tabela 3. Continuao.
13.058
104
225
48
4001
77
8.460
70
52
16
Quant.
Continua...
12.432.033
232.093
78.287
182.858
7.568.640
147.402
3.891.012
121.746
87.000
116.160
6.820
US$ FOB
2005
Total
11.216
10.696.034
172.801
13.983
859
26
87
Tunsia
Vietn
92
Romnia
110.766
46.848
50
3.057
25
Japo
266.963
1.851.250
2.370
75
12
120
Itlia
339
1.057
Hong Kong
4.387.820
522.772
120.558
100
7.312
Peru
2.565
Estados
Unidos
102.652
2.987.033
Nova
Zelndia
75
302
China
Bolvia
Canada
63
6.511
Austrlia
13
95.658
54
17
Argentina
30.844
15.535.162
1.505.191
36.036
155.980
42.240
160.925
5.077.110
4.139.464
142.029
4.040.611
157.403
17.286
30.588
US$ FOB
2007
Quant.
18
US$ FOB
2006
Quant.
Alemanha
frica do Sul
Pases
Tabela 3. Continuao.
12.736
254
52
134
27
2.689
2.115
26
7.304
74
39
20
15.733.175
528.221
100.056
307.064
10.903
5.402.245
4.506.547
59.924
4.505.753
147.175
66.682
91.765
6.380
US$ FOB
2008
Quant.
9.047
181
182
207
621
2.061
1.322
352
4.057
33
18
13
8.465.360
260.115
309.291
346.060
307.027
3.110.992
1.942.444
514.989
1.573.468
49.647
24.602
26.725
US$ FOB
2009
Quant.
8.142
104
138
544
905
1.692
4.731
24
9.087.363
202.766
257.056
400.918
2.091.183
3.861.518
2.183.234
77.272
13.228
US$ FOB
2010
Quant.
10.265
39
1.458
671
740
7.273
75
13.539.401
170.379
1.086.533
3.387.302
3.582.852
5.011.098
311.810
42.240
US$ FOB
2011
Quant.
10.445
409
1.477
3.258
657
765
3.729
49
39
51
110
Quant.
20.213.054
1.094.211
1.013.925
10.492.868.
2.396.226
2.371.550
2.285.770
196.234
128.970
184.800
48.500
US$ FOB
2012
12.143
104
2.925
517
756
25
7.755
39
10
11.446.532
358.687
1.923.430
1.598.982
2.650.116
88.945
4.603.952
146.178
44.092
US$ FOB
2013
Quant.
216
Extrativismo Vegetal na Amaznia: histria, ecologia, economia e domesticao
73
29
20
288
1.848
Frana
Itlia
Japo
Nova
Zelndia
Pases
Baixos
Portugal
Reino Unido
5.288
83
Espanha
Total
1.924
Estados
Unidos
76
Cingapura
46
Canada
Rssia
3.000.975
Bolvia
Venezuela
494.054
Blgica
9.349.912
45.045
68.024
124.344
196.985
3.437.246
155.442
87.736
6.930
995.197
518
564.970
Austrlia
291
Alemanha
172.964
US$ FOB
1992
Argentina
89
Quant.
frica do Sul
Pases
4.570
1.440
294
64
83
71
1.658
49
16
422
383
85
Quant.
9.111.553
2.454.747
636.790
130.658
193.228
235.409
3.342.908
119.160
32.736
11.220
973.227
818.142
163.328
US$ FOB
1993
5.615
1.118
787
54
156
156
2.214
48
127
352
451
116
Quant.
15.057.887
4.950
2.865.870
2.088.298
129.580
393.000
14.700
473.960
6.004.338
142.840
364.720
427
974.965
22.165
1.231.439
346.635
US$ FOB
1994
4.287
1.121
364
69
34
166
213
1.426
50
47
407
284
100
Quant.
12.092.899
2.947.022
1.069.277
198.154
110.250
392.650
645.530
4.054.047
163.577
139.533
17.864
1.242.133
811.654
301.208
US$ FOB
1995
1.651
177
343
17
36
107
573
49
131
113
105
Quant.
5.331.399
576.818
1.032.296
48.900
122.482
421.562
1.819.703
166.670
438.310
362.478
342.180
US$ FOB
1996
2.841
317
464
48
92
23
125
1.432
16
179
111
34
Quant.
9.961.379
1.125.289
1.616.428
173.730
240.165
82.368
481.800
5.023.921
56.144
638.486
396.994
126.054
US$ FOB
1997
3.074
16
316
16
128
54
97
147
1.677
48
22
260
205
81
Quant.
Continua...
8.837.499
26.400
839.070
73.450
356.928
164.282
289.378
21.263
499.009
4.715.018
161.568
61.380
755.889
602.774
271.090
US$ FOB
1998
84
16
128
Alemanha
Arbia Saudita
Austrlia
1.086
1.868.288
72
204.120
127
512
48
118
Quant.
24.464
110
Portugal
Reino Unido
2.649
4.886.219
30.803
21.120
56.611
2.694
90
16
155
5.252.874
123.838
43.305
265.192
11.396
579.832
1.329
93
3.690.811
198.880
3.095
64
214
14.871.075
250.312
997.700
23.760
1.365.663
32
96
10
241
16
14.309.355
16
16
32
10.677
121.176
351
4.183
5.362
26.752
38.124
6
64
602.457
Total
3.419.950
60.720
1.307.380
323
113
16
32
124
144
16
227
2.022
16
176
695
15
32
159
Quant.
Vietn
1.119
16
Venezuela
16
26.400
Rssia
16
22
463
Repblica Tcheca
282.866
462.528
188.320
176
48
292
83.072
32
198.337
241.243
1.019.560
5.308.921
Noruega
210.100
44
80
207
1.015
63.340
Pases Baixos
64
12.408
42.988
48.048
183.360
1.978.436
16
584.320
77.601
571.498
2.400.516
234.080
625.843
US$ FOB
2004
719.763
88.032
16
29
62
44.000
28.670
28.160
776.654
38.720
33.330
US$ FOB
2003
160
47
49.386
16
16
Mxico
Nova Zelndia
26.400
96.855
16
Litunia
14.190
6
47
35.360
8.810
Lbia
90.849
29.040
76.384
15.783
467.399
1.443.543
Lbano
42
11
32
193
704
16
185.492
39.424
38.765
392.477
Jordnia
Japo
51.040
237.657
81
105
38
16
16.570
144.626
Itlia
10
58
204
Israel
Ilhas Canrias
Frana
784.593
661
280
170
566.999
496
Espanha
36.960
Estados Unidos
2.640
10.12016
16
16
21.903
308
16
12
Quant.
14
7.200.230
23
888.893
779.134
134.824
US$ FOB
2002
2.718
464
400
60
Quant.
Egito
Coveite
591.712
475.056
702.592
136.386
US$ FOB
2001
128
China
208
63.256
22
250
336
68
Quant.
Canada
977.182
10.560
1.886.114
324.104
US$ FOB
2000
356
740
110
Quant.
16
1.492.304
466.400
35.200
227.950
196.460
US$ FOB
1999
Bulgria
Blgica
57
Quant.
frica do Sul
Pases
Tabela 4. Continuao.
Continua...
22.077.554
70.400
201.344
561.317
66.000
1.247.092
602.800
89.953
178.607
13.200
698.720
630.080
106.580
1.353.166
10.688.216
70.400
896.620
3.366.476
75.614
198.880
962.009
US$ FOB
2005
218
Extrativismo Vegetal na Amaznia: histria, ecologia, economia e domesticao
32
Blgica
Canada
Coveite
23.320
166.889
48
54
32
Israel
Itlia
Japo
44.800
64
214.720
8.289.155
31.570
2.330
10.015.320
1.013
4.586.316
837
3.326.960
856
73.920
1863
16
3
95
Total
507.100
33.440
336.380
160
Tunsia
112
91.520
285.120
80
129.634
79
80
16
32
211.200
497.750
32.340
144.320
353.760
Rssia
48
102
32
80
128
288
36
64
946.000
592.416
30.800
13.200
72.000
129.184
61.600
1.381.465
20.939
104.004
479.160
316.770
4.359.492
422.752
267.520
549.120
16.170
739.147
841.280
16.277
1.283.920
217.800
US$ FOB
2010
Quant.
Reino Unido
208
191
Pases Baixos
882.112
120
350.460
72
16
32
Nova Zelndia
267.292
204.160
Malsia
Lbia
41.800
25
16
16
147.840
Grcia
32
Hong Kong
77.440
Frana
16
28.650
32
Espanha
175.888
3
1.973.910
336
455
134
76
887
5.921.572
19.800
88.000
830.720
211.587
US$ FOB
2009
Quant.
Estados Unidos
1.362
16
176
44
US$ FOB
2008
Quant.
Emirados rabes
Unidos
3.893.051
20.680
92.947
78
1.084.160
518.619
256
116
US$ FOB
2007
26
13.200
140.800
11.000
1.479.480
8.800
5.410
61.219
329.384
Quant.
Egito
Bolvia
336
Angola
Austrlia
16
Alemanha
Arbia Saudita
66
US$ FOB
2006
Quant.
frica do Sul
Pases
Tabela 4. Continuao.
85
16
16
16
16
16
582.067
116.160
116.659
132.000
105.662
1.400
25.916
70.400
US$ FOB
2011
Quant.
673.043
96
48
24
48
12
144
208
80
32
16
48
16
848
314
128
64
207.680
61.600
278.740
112.640
5.755.028
77.661
2.059.939
724.416
373.648
US$ FOB
2013
Quant.
38.500
658.944
244.288
232.320
25.344
306.240
91.981
953.800
60.241
1.571.680
738.144
US$ FOB
2012
Quant.
220
Concluses
Os resultados mostram que 1 hL de castanha bruta que entra no
ptio da usina de beneficiamento, pesando em mdia 50 kg, rende
em torno de 20 kg de amndoa de castanha beneficiada, pronta para
comercializao. No processo de beneficiamento, 10% so perdidos na
forma de castanhas quebradas e das castanhas comercializadas, 75%
so classificadas em amndoas mdias e 15% em amndoas gradas.
Isso indica que a amndoa de castanha beneficiada para exportao
representa uma reduo de 60% em relao ao peso da castanha bruta.
Grande parte da mo de obra do setor de beneficiamento utilizada
para a quebra da castanha, com predominncia de mulheres e dos
operrios encarregados de limpar a castanha recebida. A mo de obra
especializada refere-se ao foguista encarregado de controlar o forno e
a caldeira para a produo de vapor, o cozinheiro responsvel pelo
banho de vapor sob presso nas castanhas secas, a classificao das
castanhas descascadas, o processo de secagem na estufa, a classificao
final, a pesagem e a embalagem. A falta de matria-prima constitui a
grande limitao para o funcionamento da fbrica aps 4 a 6 meses,
dependendo do estoque. Da a necessidade de adquirir o mximo de
castanha durante o curto perodo da safra.
Observa-se que o processo de beneficiamento de castanha-dopar bastante complexo, exigindo capital de giro para adquirir a
castanha e efetuar o armazenamento para conseguir um estoque
que permita o funcionamento da fbrica por um perodo mais longo
e a manuteno dos trabalhadores por mais tempo. Outros desafios
gerenciais referem-se a evitar os riscos da contaminao do produto
e a sua comercializao, a exigncia de mo de obra capacitada para
determinadas atividades e a existncia de estoques de castanheiras,
como condies fundamentais para a manuteno da atividade.
O fracasso das tentativas de beneficiamento de castanha-do-par
nos estados do Acre e do Amap decorre da complexidade da cadeia
produtiva e de beneficiamento, composta e gerenciada por egressos
de movimentos sindicais, sem a qualificao necessria para gestar
uma empresa, alm da falta de pessoal tcnico especializado e com
capacidade gerencial. Observa-se que a economia regional est
incorrendo em grandes perdas, estimadas em mais de 14 milhes de
dlares anuais, decorrente da exportao de castanha-do-par em
casca.
A longo prazo, a sustentabilidade da indstria de beneficiamento de
castanha-do-par vai depender da implantao de plantios racionais
de castanheiras para garantir uma oferta confivel e da formao de
estoques adequados em reas mais prximas e acessveis dos locais
de beneficiamento, alm do correto manejo das populaes nativas,
permitindo a regenerao da espcie e a manuteno da fauna
dependente dos frutos da castanheira.
Introduo1
No perodo de 8 a 18 de setembro, estivemos visitando as reas de
castanhais no sul do Par, em decorrncia do Convnio Embrapa/
Sectam. Em Marab, as invases nas sedes do Incra e da CEF, pelos
integrantes do MST e dos garimpeiros, respectivamente, retratam
que esses eventos constituem apenas a face visvel do iceberg social-econmico-poltico dessas reas que centralizavam a produo de
castanha-do-par. Nas ltimas trs dcadas, essa regio tem sofrido
as maiores intervenes humanas desde o incio da ocupao da
Amaznia. A conexo de Marab com a Rodovia Belm-Braslia em
1969, a Transamaznica em 1971, a guerrilha do Araguaia em 1972,
o incio da construo da hidreltrica de Tucuru em 1976, a abertura
da PA-150, o Programa Grande Carajs em 1980, o auge da Serra
Pelada em 1983, a inaugurao da Estrada de Ferro Carajs em 1985,
a implantao da Hidrovia do Rio Araguaia em 1995, entre outros
eventos, constituem fatores que levaram contnua subtrao dos
estoques de castanhais.
O fluxo migratrio cujo sentido de luta tinha por objetivo o uso da
terra para fins agrcolas conflitava com a conservao ou a preservao
dos castanhais. Esse fluxo, facilitado pelas vias de acesso rodovirio
e ferrovirio, resultou, tambm, na transferncia de problemas de
outras reas do Pas para aquela regio, exteriorizados pelos violentos
conflitos fundirios que sempre preocuparam desde a criao do
Getat em 1980 e a sua extino em 1987, sem conseguir uma efetiva
soluo para esse xadrez fundirio. O saldo, naturalmente, sempre foi
a contnua destruio dos estoques de castanhais.
Essas transformaes mostram, tambm, um evidente conflito entre a
opo do desenvolvimento pelos novos atores sociais que entram em
cena, como pecuaristas, madeireiros, capital nacional e internacional
interessado na explorao mineral, produo de energia eltrica e, mais
recentemente, na expectativa da produo de soja. Em outro conjunto,
1
Publicado originalmente em Homma e Carvalho (1998) e Homma e Carvalho
(1998/1999).
222
223
Introduo1
Em 1952, por sbia deciso do presidente da Associao Comercial do
Par, Antnio Martins, foi institudo o dia 27 de janeiro como sendo o
Dia da Castanha, por marcar o incio da safra nos castanhais do Estado
do Par. interessante verificar que o Estado do Amazonas considera
o dia 29 de abril como o Dia do Castanheiro. Independente das datas,
isso demonstra o reconhecimento da importncia que a extrao da
castanha e o castanheiro tinham para a economia amaznica.
No era para menos, uma vez que a extrao da castanha estava em
pleno crescimento, atingindo seu auge na participao da economia
amaznica em 1956. Nesse ano, as exportaes de castanha-do-par representaram o mximo de contribuio no valor total das
exportaes amaznicas, com 71%.
Enquanto a economia da borracha se caracterizou pela realizao
de uma dzia de seminrios e a criao de entidade oficial, a da
castanha s teve dois eventos para discutir os rumos e as polticas
desse importante recurso natural. No perodo de 20 a 25 de fevereiro
de 1967 aconteceu a 1 Conferncia Nacional da Castanha-do-par
(CONFERNCIA NACIONAL DA CASTANHA-DO-PAR, 1967),
organizada pelo Instituto Nacional de Desenvolvimento Agrrio e
pela Confederao Nacional de Agricultura, em Belm, que foi aberta
pelo ento governador Alacid Nunes. Nesse evento as reivindicaes
do setor estavam relacionadas com a questo dos transportes e a
possibilidade do aumento da safra. Um dos trabalhos apresentados
nesse evento afirmava que apenas 1 milho de castanheiras estavam
sendo colhidas, mas que existiam 5 a 8 milhes de castanheiras e que
esses alimentos estavam sendo perdidos.
O segundo evento foi o 1 Simpsio Nacional da Castanha-do-Brasil
realizado em Belm, organizado pelo ento superintendente da Sudam,
Dr. Elias Sefer, no perodo de 12 a 15 de dezembro de 1982. Alm da
discusso quanto destruio dos castanhais, que passou a constar da
1
Homma (1999c).
226
227
Introduo1
Este artigo pretende adicionar alguns esclarecimentos com relao
entrevista ao jornalista Campbell (1999a, 1999b) na reportagem sobre
a crise dos castanhais no Estado do Par, publicado em O Liberal,
no dia 17 de janeiro de 1999, e motivo de comentrio do Sr. Valdir
de Campo, presidente da Associao das Indstrias Madeireiras de
Eldorado dos Carajs (Assimec), publicado no mesmo jornal, no dia
10 de maro de 1999.
A grande questo no momento como salvar as castanheiras
remanescentes e ampli-las. As pesquisas tendem a mostrar uma
contnua subtrao dos estoques de castanheiras. Por exemplo, a
tese de mestrado de Raul F. Batista, defendida no dia 3 de maro,
no Centro Agropecurio da UFPA, mostra que mais da metade da
cobertura florestal nos municpios de Marab, Jacund, Itupiranga,
Nova Ipixuna, So Joo do Araguaia e So Domingos do Araguaia
foram derrubados no perodo 19731996. Resultados preliminares
da pesquisa em andamento Embrapa/Funtec comparando imagens de
satlites de 1997 e de 10 anos atrs, do chamado Polgono Castanheiro,
criado em 1983, revelam essa mesma preocupao.
Em primeiro lugar, preciso entender que a atual situao constitui a
conjugao de vrios fenmenos. Assim, no dia 7 de junho de 1898, o
Coronel Carlos Gomes Leito fundou o Burgo de Itacainas, que daria
origem cidade de Marab. Nos ltimos 30 anos, verificou-se uma
violenta subtrao de reas de castanhais em decorrncia de polticas
pblicas ou de mudanas de alternativas econmicas.
A abertura da antiga PA-70, em 1969, conectando com a Rodovia
Belm-Braslia, a Rodovia Transamaznica e as estradas operacionais
do Exrcito em 1972, a PA-150 cortando o corao dos castanhais, a
Estrada de Ferro Carajs em 1985 e outras que se seguiram, levaram
atrao de migrantes, competindo com as reas dos castanhais.
1
Homma (1999a).
230
231
Introduo1
Antnio Gonalves Dias (18231864), famoso poeta maranhense,
natural de Caxias, que morreu afogado quando retornava da Europa no
navio Ville de Boulogne, que naufragou nos baixios de Atins, Municpio
de Guimares, prximo de So Lus, Estado do Maranho, dedicou
baunilha um poema, onde se l:
A baunilha
Vs como aquela baunilha
Do tronco rugoso e feio
Da palmeira em doce enleio
Se prendeu!
234
1990 1995 2000 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
371
386
650
1.262 1.958 1.681 2.366 3.768 3.177 3.319 3.341 2.400 3.500 3.400
Madagascar
1.000
840
880
Mxico
195
207
255
280
291
637
523
524
395
362
390
60
100
119
170
200
195
215
270
287
290
Turquia
Tonga
47
85
130
133
140
150
199
263
200
202
202
Uganda
15
33
45
48
64
52
48
30
180
170
Comoros
250
160
140
65
75
76
50
65
66
42
42
Mundo
3.211 3.784 3.984 6.754 8.344 8.558 8.899 8.794 6.680 9.454 9.864
Quantidade (kg)
Valor (US$)
1989
5.066
351.379
Preo (US$/kg)
69,36
1990
2.836
205.423
72,43
1991
6.269
404.968
64,60
1992
2.275
171.442
75,36
1993
2.610
197.123
75,53
1994
4.631
317.685
68,60
1995
7.481
426.256
56,98
1996
23.366
254.193
10,88
1997
5.013
167.850
33,48
1998
8.831
217.359
24,61
1999
6.830
210.201
30,78
2000
11.485
338.900
29,51
2001
6.090
760.755
124,92
2002
5.433
1.040.679
191,55
2003
2.355
561.751
238,53
2004
1.428
486.390
340,61
2005
1.465
137.042
93,54
2006
936
72.844
77,82
2007
1.743
117.438
67,38
2008
7.973
194.974
24,45
2009
2.327
49.122
21,11
2010
644
21.078
32,73
2011
937
26.272
28,04
2012
980
62.991
64,28
2013
290
16.240
56,00
235
236
2000
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
Argentina
2.994
1.465
Frana
171
523
75
824
10
528
Madagascar
1.817
452
703
1.038
200
79
185
499
Alemanha
3.695
ndia
2013
10
5
198
15
149
75
100
500
6.100
2.100
50
20
75
Mxico
100
65
120
40
150
Indonsia
1.020
60
100
100
Itlia
32
Porto Rico
1.080
Chile
363
Espanha
16
75
69
87
125
109
Estados
Unidos
316
62
15
152
50
50
Lbano
22
Papua Nova
Guin
12
Grcia
frica do Sul
10
Uganda
700
315
Canad
59
97
Figura 1. Plantio
consorciado de
seringueira com
baunilha em rea
anteriormente cultivada
com pimenta-do-reino
em propriedade de
agricultor no Municpio
de Tom-Au.
237
238
Colheita
Do plantio para a primeira florao leva 2 a 3 anos e da florao para
colheita leva em torno de 8 a 9 meses. No perodo do inverno, realiza-se a poda de formao para dar incio florao no perodo de agosto
a setembro. A colheita efetuada no perodo chuvoso, de abril a junho,
mas pode apresentar variaes dependendo da intensidade do perodo
seco.
Figura 3. Vagens de
baunilha em processo
de desenvolvimento,
plantadas na sombra de
seringueiras.
Tratos culturais
Existem vrias doenas na cultura da baunilha que atacam folhas e
frutos. Essas doenas ocorrem com maior frequncia no perodo de
chuvas e diminuem com a chegada da estao seca.
239
240
Processamento
H vrios procedimentos para o beneficiamento de baunilha. O
processo utilizado pelos dois produtores consiste em mergulhar vagens
de baunilha em um recipiente perfurado, dando um banho-maria em
gua e com temperatura entre 85 C e 90 C durante 10 a 15 segundos.
Em seguida, deixar por 30 a 35 segundos em descanso, depois repetir a
operao at trs vezes e colocar em uma flanela para enxugar. No se
pode colocar as vagens em gua fervente, uma vez que afeta o aroma e
o processo enzimtico da fermentao. Aps o banho-maria, deve-se
secar no perodo das 12h s 14h, durante 1 semana, at atingir o ponto
certo, quando a vagem enrola-se no dedo e no quebra, guardando
sempre em uma caixa de isopor para transpirao, isto , deixar suar.
Proceder classificao, separando em primeira e refugo, que
depende do tamanho e da qualidade das vagens e do cheiro decorrente
do processo de fermentao e maturao. Da produo mxima obtida
pelo Sr. Tsuneo Kusano, de 40 kg, na safra 2003/2004, cerca de 6 kg foi
considerado refugo, cuja cotao a metade do preo.
Existe problema de ataque de fungos nos frutos, produzindo uma
mancha esbranquiada que prejudica a qualidade. Em razo do seu
alto preo, o mercado bastante exigente, sobretudo nos ltimos anos,
necessitando extremo cuidado no beneficiamento (Figura 4).
Figura 4. O processo
de beneficiamento
e secagem deve ser
efetuado com muito
cuidado para evitar
o aparecimento de
fungos.
Concluses
A cultura apresenta desafios que precisam ser solucionados pela
pesquisa, principalmente com relao a fungos que prejudicam as
vagens depois de beneficiadas e oscilao na produtividade. Contudo,
a experincia desses dois produtores pode ser democratizada, iniciando
em pequena escala pelos pequenos produtores, aproveitando as rvores
existentes na propriedade, tanto de plantios racionais como da mata,
que poderia constituir em uma alternativa de gerar renda adicional. Se
considerar a produtividade de 100 g/p de baunilha, para suprimir as
importaes de 2005, seriam necessrios 15 mil ps de baunilha, que
poderiam ser disseminadas entre os pequenos produtores.
241
Introduo1
Este trabalho procura mostrar a importncia do aproveitamento de
bacurizeiros (Platonia insignis Mart. Clusiaceae) para promover a
gerao de renda e emprego, como j ocorre com cacaueiro (Theobroma
cacao), cupuauzeiro (Theobroma grandiflorum), guaranazeiro
(Paullinia cupana), aaizeiro (Euterpe oleracea), pupunheira
(Bactris gasipaes Kunth), entre outras que j fazem parte de plantios
racionais ou da utilizao de prticas de manejo. O aproveitamento
de rebrotamentos naturais de bacurizeiros nas antigas reas de
ocorrncia constitui uma importante alternativa para promover
a recuperao de reas desmatadas e que no deveriam ter sido
desmatadas, mediante a criao de linhas de crdito especficas. Outra
poltica importante seria incentivar os plantios racionais, impedindo
a destruio dos remanescentes de bacurizais decorrente da expanso
da fronteira agrcola com atividades competitivas e da criao de
uma legislao visando sua proteo. No menos importante seria o
desenvolvimento de mquinas apropriadas para o beneficiamento da
polpa, a domesticao visando seleo de variedades mais produtivas,
com maior teor de polpa, e o aproveitamento da casca e do caroo, que
representam a totalidade do peso dos frutos.
A ecloso da questo ambiental na Amaznia, sobretudo a partir da
dcada de 1990, despertou a ateno para diversas frutas amaznicas,
como o cupuau, o aa, a pupunha, o tucum (Astrocaryum aculeatum
G.F.W. Meyer) e o bacuri, entre outras. O aspecto cultural tambm est
presente no consumo das frutas regionais: em Manaus predomina
o consumo de tucum, includo at no conhecido sanduche
X-Caboquinho, enquanto em Belm predomina a venda de pupunha
cozida e a essncia do sabor bacuri, em um popular chope na Estao
das Docas.
1
244
245
246
rea de ocorrncia
O bacurizeiro uma planta perene de porte mdio a alto, podendo
atingir nos indivduos mais desenvolvidos uma altura de 30 m e
dimetro na altura do peito (DAP) de 2 m. Quando componente
da vegetao primria, ocorre em baixa densidade, geralmente com
nmero inferior a um indivduo por hectare. uma rvore social,
formando agrupamentos de seis a oito indivduos, distanciados entre
si em cerca de 30 m a 40 m. Entretanto, em ecossistemas de floresta
secundria de terra firme, a densidade bem maior, em virtude de
a espcie apresentar estratgias de reproduo sexuada e assexuada.
Nesse tipo de vegetao, quando a espcie ocorre formando macios
quase homogneos, em densidade que comumente supera a marca de
200 indivduos por hectare, indicativo de que em tempos passados
algum tipo de manejo foi efetuado para favorecer o estabelecimento e
o crescimento dos bacurizeiros.
O tronco geralmente retilneo, sem ns, pois apresenta desrama natural. A
madeira do bacurizeiro apresenta densidade entre 0,80 g/cm3 e 0,50 g/cm3,
fcil de trabalhar e recebe acabamento esmerado (LOUREIRO et
al., 1979). Essas caractersticas despertaram a ateno da indstria
madeireira amaznica, razo da eroso gentica em algumas populaes
da espcie. A propsito, no ento maior polo madeireiro da Amaznia,
em Paragominas, PA, no final dos anos 1980, o bacurizeiro ocupava a
33 colocao, em termos de volume de madeira serrada, superando
outras espcies bem mais conhecidas e cotadas nos mercados regional,
nacional e mesmo internacional, tais como: a andiroba (Carapa
guianensis) e o acapu (Vouacapoua americana) (LISBOA et al., 1991).
Ressalte-se que, em muitos casos, as estatsticas no evidenciavam a
explorao madeireira do bacurizeiro, pois sua madeira semelhante,
no aspecto e na estrutura anatmica, madeira do anani (Symphonia
globulifera L), sendo comercializada como se fosse dessa espcie.
Outro aspecto que merece considerao refere-se ao fato de que
milhares de bacurizeiros foram sacrificados em decorrncia da
especulao imobiliria em reas litorneas do Estado do Par, como
no Municpio de Salinpolis e no Distrito de Ajuruteua, em Bragana.
O extrativismo de frutos do bacurizeiro constitui-se em atividade
econmica com destaque para os estados do Par, Maranho, Piau
e Tocantins, no obstante verificar-se a ocorrncia da espcie em
todos os estados da Amaznia Legal (CAVALCANTE, 2010). A no
explorao do bacuri nos estados do Acre, Amap, Amazonas, Mato
Grosso, Rondnia e Roraima est associada ao fato de que nesses locais
a espcie ocorre em reas de vegetao primria, com reduzido nmero
de indivduos por hectare e distante dos centros consumidores, o que
inviabiliza o extrativismo. Nessa situao, o bacuri representa apenas
recurso de sobrevivncia na floresta.
Manejo ou plantio?
Nas regies de ocorrncia do bacurizeiro, mesmo depois da derrubada
das rvores e das queimadas para a formao de roados, essa espcie
vegetal apresenta notvel capacidade de regenerao natural, por
apresentar estratgias de reproduo sexuada e assexuada. Esta
ltima por meio de brotao de razes, mesmo quando as plantas
so derrubadas e queimadas, podendo alcanar at 15 mil rebentos/
hectare, verificado em levantamento efetuado no Municpio de
Maracan (HOMMA et al., 2005a).
comum, no linguajar do caboclo, dizer que o bacurizeiro nasce at
dentro de casa. Paradoxalmente, a propagao da espcie por sementes
muito difcil. Carvalho et al. (1998; 1999; 2002) apresentaram
estudos demonstrando a dificuldade na produo de mudas a partir
de sementes. O bacuri possui um tipo especial de dormncia que
impede a emergncia da parte area da planta. A emergncia dessa
estrutura ocorre, em mdia, 540 dias aps a semeadura, ocasio em
que a raiz primria j apresenta comprimento superior a 180 cm. Alm
da propagao por sementes, o bacurizeiro pode ser propagado por
processos assexuados, como brotaes de razes, estacas de razes e
enxertia. No entanto, cada um desses mtodos apresenta limitaes
que, por enquanto, inviabilizam sua utilizao na produo de mudas
de bacuri em escala comercial.
Outro aspecto que tem limitado o cultivo da espcie refere-se baixa
sobrevivncia das mudas plantadas. Mesmo experimentalmente no se
tem, at ento, obtido resultados satisfatrios, sendo comuns ndices de
mortalidade, 1 ano aps o plantio, superiores a 30%. A mortalidade
particularmente mais drstica quando os pomares so instalados com
mudas enxertadas. As causas de tais problemas no esto devidamente
elucidadas, mas existem hipteses associadas a patgenos que atacam
o sistema radicular.
Em um momento em que se est procurando alternativas de gerao
de renda e emprego para o Estado do Par, nada mais salutar que
dar outro destino para essas reas degradadas, depois de dezenas de
anos de prtica de agricultura migratria, promovendo o manejo das
247
248
Figura 1. Diversos
tipos de manejo de
bacurizeiros formados a
partir de rebrotamento
de razes, no Nordeste
Paraense, caracterizados
pelo reduzido
espaamento adotado.
Figura 2. Bacurizal
plantado na Base
Fsica de Tom-Au,
pertencente Embrapa
Amaznia Oriental.
249
250
251
252
Figura 3. Bacurizeiros
em rea de vegetao
secundria no Municpio
de Bragana, Estado
do Par.
253
254
Melhorar o processo de
beneficiamento
A polpa do bacuri retirada mediante a bateo do fruto com um
cacete, evitando-se o corte com a faca. Com a bateo, o fruto se parte e
a polpa se desprega com mais facilidade da casca, separando o filhote
ou lngua (polpa sem caroo) e as mes, que so os caroos envoltos
com a polpa, os quais so retirados com uma tesourinha. Existem
comunidades que efetuam a quebra do bacuri durante a tarde e a
noite, efetuando a entrega na manh seguinte, pelo fato de no terem
geladeira ou freezer ou por falta de energia eltrica. Outros adquirem
gelo para conservar a polpa, enquanto se procede a extrao, ou pagam
para conservar no freezer daqueles que o possuem. Os coletores da
Ilha de Maraj, pela dificuldade de energia eltrica, preferem vender o
fruto in natura na Feira do Ver-o-Peso ou em Icoaraci, para onde so
transportados pelas embarcaes. O comrcio do fruto in natura tende
a prejudicar os frutos menores, que no apresentam valor comercial
e poderiam ser aproveitados para a extrao da polpa. Outro aspecto
que o mercado futuro est mais voltado para a polpa, no levando
em considerao a sua acidez, condio exigente para o consumo in
natura, que tem preferncia pelas frutas mais doces.
O processo de extrao da polpa vai desde o mais emprico, separando
os filhotes e lavando os caroos com um pouco de gua em uma bacia
para retirar o mximo de polpa e depois mistur-los com os filhotes,
passando pelo corte da polpa com a tesoura, at procedimentos
higinicos utilizando luvas e mscaras em ambiente livre de insetos e
sua posterior pasteurizao. A utilizao de luvas e mscaras decorre,
muitas vezes, de cumprir um ritual, cujo procedimento de contaminao
nem sempre percebido. Dependendo do rendimento dos frutos e da
disposio do local de trabalho, conseguem retirar 10 kg polpa/dia ou,
as mais exmias, at o dobro dessa quantia.
Concluses
A regio de dominncia de bacurizeiros constitui a faixa costeira
filiforme, que se alastra nos estados do Par e do Maranho, se
estendendo at o Piau. Dessa forma, a viabilidade de manejo do
rebrotamento teria grande impacto em criar um polo produtor de
bacuri, bem como o estmulo para os plantios racionais, matria-prima
para agroindstrias e exportao de polpa (no Pas e no exterior)
gerando renda, emprego e uma nova alternativa econmica.
A atual valorizao da polpa de bacuri, quatro vezes mais cara
que a do cupuau, constitui na sequncia de eventos que se iniciou
com o consumo de frutos pelos indgenas, posteriormente pelos
255
256
257
258
Introduo1
Figura 1. Bacurizeiros
nativos existentes na
natureza so rvores
frondosas que atingem
at 40 m de altura e
dimetro de 2 m.
260
Figura 3. Frutos de
bacuri maduros para
serem comercializados.
O bacurizeiro na Histria
O primeiro relato conhecido sobre o bacuri est no livro Histria da
misso dos padres capuchinhos na ilha do Maranho, escrito pelo frade
francs Claude dAbbeville (?1632), publicado em 1614. Sua descrio
da espcie, grafada como pacuri, a seguinte:
O pacuri uma rvore muito alta e grossa, suas folhas parecem-se com as
da macieira e a flor esbranquiada. O fruto tem o tamanho de dois punhos, com uma casca de meia polegada muito boa de comer como doce, tal
qual a pera. A polpa desse fruto branca, parecida com a da ma, de gosto
suave; encontram-se dentro quatro nozes comestveis.
261
262
quer mao, ou requer se dar com ela em uma pedra, ou pau; ... porque tudo
so caroos vestidos ou revestidos de uma felpa por modo de algodo muito
alva... esta uns gomos da mesma massa, que serve de diviso aos caroos.
(...) Costumam pois os moradores, quebrada a fruta, separar com um garfo
esses gomos intermdios para um prato, e se o querem cheio necessrio
quebrar mais fruta; mas no seu superlativo gosto pagam muito bem o trabalho em as quebrar, e suprem a sua pouquidade: falo das doces, em que
sempre h algum tal ou qual cido; e to tenros os gomos, que parecem
nata, ou manteiga (DANIEL, 2004, v. 1, p.450)
263
Figura 5. Diferentes
padres de cor das flores
dos bacurizeiros.
264
Figura 6. Com a
enxertia, os bacurizeiros
iniciam a frutificao
com 4 a 5 anos,
reduzindo o tamanho
das rvores.
Os desafios do bacuri
265
266
267
Introduo1
Na mesorregio do Nordeste Paraense e na Ilha de Maraj existem
vastas reas onde ocorre o rebrotamento de bacurizeiros (Figura 1),
em que muitos produtores j efetuam manejo, alguns com mais de 50
anos. Por sua vez, j se verifica o interesse por parte dos produtores no
seu plantio, como est ocorrendo em Tom-Au, mediante a utilizao
da enxertia. O crescimento do mercado dessa fruta, atualmente a
polpa mais cara, coloca como uma grande oportunidade de incentivar
o manejo promovendo a transformao de capoeiras degradadas
em bacurizais manejados produtivos, recuperando ecossistemas
destrudos e gerando renda e emprego.
Foto: Antnio Jos Elias Amorim de Menezes.
Figura 1. Rebrotamento
de bacurizeiros no
Municpio de Augusto
Corra, mesorregio do
Nordeste Paraense.
270
271
Figura 3.
Rebrotamentos com
4 anos de idade, com
contnuo desbaste
anual e com a seleo
das rvores que sero
consideradas definitivas,
em uma propriedade no
Municpio de Maracan.
272
273
274
Figura 6. Bacurizeiros
separados em faixas
e com eliminao de
rebrotamentos entre as
faixas para o plantio de
caupi e mandioca.
Figura 7. Diagrama
para o plantio de
mandioca e caupi
aproveitando o espao
livre entre os renques de
bacurizeiros.
275
276
Figura 8. Processo de
desbaste de bacurizeiros
ao longo do tempo.
(A) Eliminao dos
bacurizeiros para reduzir
a competitividade; (B)
Estande final com 100
rvores/hectare.
Valor
Unidade Quantidade Unitrio
R$
Preparo rea manejo bacurizeiro
H/D(1)
25
15,00
Valor Total
R$
375,00
Plantio mandioca
Preparo maniva e plantio
H/D
5,0
15,00
75,00
Capinas
H/D
9,5
15,00
142,50
Arranquio e transporte
H/D
8,5
15,00
127,50
Preparo lenha
H/D
7,0
15,00
105,00
H/D
28,0
15,00
Subtotal
420,00
1.245,00
Plantio feijo-caupi
Adubao
H/D
1,0
15,00
15,00
Capina
H/D
5,0
15,00
75,00
Colheita/beneficiamento
H/D
0,5
15,00
7,50
kg
10
3,00
30,00
Sementes
Continua...
277
278
Tabela 1. Continuao.
Operao
NPK
Valor
Unidade Quantidade Unitrio
R$
kg
100
1,00
Valor Total
R$
100,00
FTE (micronutrientes)
kg
10
1,00
10,00
Defensivos
kg
40,00
40,00
Subtotal
277,50
Total
1.522,50
Produo farinha
Saco
25
80,00
2.000,00
Produo feijo-caupi
Saco
50,00
300,00
Lucro lquido
777,50
H/D: Homem/Dia
(1)
Valor
Unidade Quantidade Unitrio
R$
Preparo rea manejo bacurizeiro
Limpeza rea
Valor Total
R$
Htp(1)
100,00
Gradagem pesada
Htp
60,00
60,00
Gradagem niveladora
Htp
60,00
120,00
400,00
Plantio mandioca
H/D(2)
5,0
15,00
75,00
Capinas
H/D
9,5
15,00
142,50
Arranquio e transporte
H/D
8,5
15,00
127,50
Preparo lenha
H/D
7,0
15,00
105,00
H/D
28,0
15,00
420,00
Plantio feijo-caupi
Plantio
H/D
15,00
60,00
Aplicar defensivos
H/D
15,00
15,00
Colheita/beneficiamento
H/D
15,00
90,00
Calcrio dolomtico
Kg
800
0,22
176,00
Pulverizador costal
Unidade
180,00
180,00
Unidade
100,00
100,00
Cambures
Unidade
30,00
90,00
Kg
100
1,00
100,00
Litro
0,5
100,00
NPK
Adubo foliar/defensivo
50,00
Continua...
279
280
Tabela 2. Continuao.
Operao
Valor
Unidade Quantidade Unitrio
R$
Total
Valor Total
R$
2.311,00
Produo farinha
Saco
25
80,00
2.000,00
Produo feijo-caupi
Saco
50,00
300,00
Lucro lquido
11,00
(1)
Frutos/hectare
12.910
12
1.880
94,00
13
15.020
751,00
14
9.450
472,50
15
17.950
897,50
16
1.670
83,50
17
54.180
2.709,00
Mdia
16.190
809,50
281
282
Concluses
Para efetuar o manejo de bacurizeiro, faz-se necessrio a realizao
de uma srie de atividades conforme as exigncias dessa fruteira,
como: desbastes de rea, execuo de capinas e outros tratos culturais
indispensveis para o crescimento e frutificao das rvores. Apesar
da demanda por financiamentos por parte das lideranas comunitrias
onde ocorre o rebrotamento de bacurizeiros, como os investimentos
no so elevados por se tratar de pequenas reas, possvel o agricultor
efetuar com recursos prprios, utilizando a mo de obra familiar
e aproveitando-se de financiamentos para cultivos de feijo-caupi
ou mandioca. Tanto para a agricultura de toco como utilizando a
mecanizao, o custo ressarcido na primeira safra de feijo-caupi e
mandioca.
No caso do manejo de bacurizeiros pelos agricultores familiares, cujo
custo de implantao est entre R$ 1.500,00 a R$ 2.300,00 por hectare,
conforme a tecnologia adotada, uma das possibilidades seria pleitear
recursos para o plantio de feijo-caupi ou mandioca e associ-lo a
essa modalidade inovadora de manejo. H possibilidade de enquadrar
o manejo de bacurizeiro a partir de rebrotamento associado com
cultivos anuais e consorciamento com cultivos perenes no Pronaf
(Grupos B e C e das linhas inovadoras Pronaf Jovem, Pronaf Mulher
e Pronaf Floresta, entre as principais). O que define o enquadramento
o perfil do beneficirio (assentado ou no e Renda Bruta Anual) e a
necessidade de crdito, ou seja, o montante a ser solicitado conforme
a finalidade de custeio ou investimento. Como a ocorrncia de
rebrotamentos de bacurizeiros se verifica somente nas antigas reas
de ocupao, excluiu-se o Pronaf A e A/C, que so especficos para
recuperao de assentamentos e beneficirios da reforma agrria, que
ocorre em reas mais recentes.
H muitos pequenos produtores efetuando manejo de bacurizeiros
a partir de rebrotamentos nas mesorregies do Nordeste Paraense e
de Maraj com recursos prprios. O grande problema para estimular
o manejo de bacurizeiros o longo tempo para entrada de produo
comercial e a necessidade de proteger contra o risco da entrada de
fogo. Essa mesma assertiva vlida para outras plantas com potencial
na Amaznia, como castanheira-do-par, uxizeiro, cumaruzeiro,
tucumanzeiro, entre as principais (PIMENTEL et al., 2007). Os lucros
so altamente atrativos quando as rvores esto em plena produo,
como se pode evidenciar nos bacurizeiros manejados, alguns com
mais de 50 anos.
283
Introduo1
O bacurizeiro (Platonia insignis Mart.) uma espcie arbrea de
porte mdio a grande, com aproveitamento frutfero, madeireiro e
energtico, com centro de origem na Amaznia Oriental Brasileira.
Ocorre espontaneamente, em todos os estados da regio Norte e
no Mato Grosso, Maranho e Piau. A rea de maior concentrao
do bacurizeiro o esturio do Rio Amazonas, com ocorrncia mais
acentuada na microrregio do Salgado, na Ilha do Maraj e em alguns
municpios da microrregio Bragantina (CAVALCANTE, 2010).
O bacurizeiro uma das poucas espcies arbreas amaznicas de
grande porte que apresenta estratgias de reproduo por sementes e
por brotaes oriundas de razes. Atualmente, a totalidade da produo
de frutos de origem extrativa de rvores oriundas de brotaes que
conseguiram escapar da extrao madeireira e da expanso de reas
urbanas de cidades situadas no litoral do Par e Maranho, nos ltimos
quatro sculos. No passado, o bacurizeiro foi mais importante como
espcie madeireira que como planta frutfera. Sua madeira resistente
e de colorao bege-amarelada foi muito utilizada na construo de
embarcaes e de casas, o que ainda se verifica em muitas reas de
ocorrncia natural.
Com a valorizao dos frutos do bacurizeiro, sobretudo nos ltimos
10 anos, muitos produtores das mesorregies do Nordeste Paraense
e da Ilha do Maraj passaram a preservar as plantas existentes nas
proximidades de suas casas ou roados, adotando prticas de manejo
com grande heterogeneidade ou efetuando plantios e at enxertia.
A notvel capacidade de reproduo do bacurizeiro por brotaes
oriundas de razes pode determinar que em uma rea de 1 ha, por
exemplo, todos eles sejam oriundos de uma mesma planta-me. Nessa
situao, os bacurizeiros so de um s clone, no havendo variabilidade
1
286
Reviso de literatura
Pereira (2001) afirma que comum a confuso entre o que mito e o
que lenda. Apesar da similitude, ele procura estabelecer a fronteira
entre lenda e mito. Lenda consiste em uma narrao escrita ou oral,
de carter maravilhoso, no qual os fatos histricos so deformados
pela imaginao popular ou pela imaginao potica. O mito constitui
uma narrativa dos tempos fabulosos ou heroicos, com significao
simblica, geralmente ligada cosmogonia e referente a deuses
encarnados das foras da natureza e ou de aspectos da condio
humana. Constitui tambm a representao dos fatos ou personagens
reais, exagerada pela imaginao popular, pela tradio.
Jaboulle (1986) classifica os mitos como de natureza teolgica
(relata o nascimento dos deuses, os seus matrimnios e genealogias),
cosmolgica (debrua-se sobre a criao e o ordenamento do mundo
287
288
Material e mtodos
Neste estudo utilizou-se uma amostra intencional, com base na
informao da existncia de agricultores familiares que efetuavam
a coleta de bacuri em suas propriedades. Foram entrevistados 56
agricultores da mesorregio do Nordeste Paraense e 52 da mesorregio
da Ilha do Maraj e com lideranas comunitrias, durante o perodo
20042009. Procurou-se entrevistar aqueles agricultores que
estivessem efetuando o manejo e que possussem rvores produtivas
na floresta primria, da regenerao da vegetao secundria, de reas
manejadas e de plantios. Sempre que possvel, procurou-se coletar
informaes com pessoas-chave em diversas comunidades, para
conhecer o histrico do bacuri naquela localidade, sua comercializao
e os problemas existentes.
A escolha das mesorregies do Nordeste Paraense e da Ilha do Maraj
como rea de estudo decorreu da informao corrente de que so reas
produtoras que respondem pela maior oferta dessa fruta. Conforme
Cavalcante (2010), a rea de maior concentrao do bacurizeiro
Informao pessoal fornecida pelo Cel. Joo Bosco Camura ao pesquisador da
Embrapa Amaznia Oriental Alfredo Kingo Oyama Homma, em 15.11.05.
Camet
Nordeste
Paraense
Guam
Salgado
Arar
Maraj
Augusto Corra
Produtores
entrevistados
7
Bragana
0,92
Camet
0,92
Igarap-Miri
2,77
Limoeiro do Ajuru
0,92
Oeiras do Par
0,92
Viseu
3,70
Curu
20
18,51
Municpio
6,48
Maracan
1,85
Marapanim
22
20,45
Cachoeira do Arar
4,62
Arar
6,48
Salvaterra
30
28,00
2,77
Soure
Furo de Breves So Sebastio da Boa Vista
Total
1
108
0,92
100,00
Figura 1. Mesorregio
do Nordeste Paraense,
com a localizao dos
municpios estudados.
289
290
Figura 2. Mesorregio
da Ilha do Maraj,
com a localizao dos
municpios estudados.
Resultados e discusso
Uma das prticas mais comuns adotadas consiste em provocar
ferimentos na casca dos bacurizeiros ou mesmo efetuar o anelamento
do tronco para aumentar a produo de frutos ou para fazer com
que os bacurizeiros vadios que no produzem frutos, no obstante
apresentarem florao abundante, passem a produzi-los (Tabela
2). Enfiar um prego no tronco de bacurizeiros para estimular a
produo de frutos tambm se constitui em prtica bastante comum
nos bacurizais nativos das mesorregies Nordeste Paraense e Ilha do
Maraj.
Tabela 2. Prticas adotadas para induzir a frutificao dos bacurizeiros nas
mesorregies do Nordeste Paraense e da Ilha do Maraj, Par.
Tipos de prticas
Corte na rvore
Nordeste Paraense
Nmero
6
%
10,72
Maraj
Nmero
4
%
7,72
3,84
Coloca prego
7,17
7,72
1,78
3,84
1,78
3,84
3,84
1,92
1,92
Continua...
Tabela 2. Continuao.
Tipos de prticas
Faz fogo para fazer fumaa
Nordeste Paraense
Nmero
0
%
0
Maraj
Nmero
1
%
1,92
Faz poda
1,78
3,84
No faz nada
40
71,42
26
50,00
Total
56
100,00
52
100,00
Figura 3. Abertura
de sulcos na casca de
bacurizeiro.
291
292
293
294
295
296
Concluses
A adoo de prticas no comprovadas, conquanto a sua riqueza
cultural, identifica o vcuo de informaes tcnicas, indicando a
necessidade de ampliar a fronteira de conhecimento cientfico e
tecnolgico sobre essa planta, que est passando da fase do extrativismo
para o manejo e dos primeiros plantios racionais.
Este artigo procura realar a importncia de conhecer as prticas
adotadas pelos agricultores tradicionais, suas razes e crenas, para
promover a mudana tecnolgica. Alerta quanto facilidade de criar
falsas lendas e crendices, bastando ter um conhecimento sobre alguns
termos indgenas das localidades, um enredo rudimentar envolvendo
o cacique, o guerreiro, o paj e a ndia. O interesse pelos produtos da
Amaznia, sobretudo quando associado ao lado mstico, est sendo
utilizado como atrativo mercadolgico.
Reala a importncia de documentar essas lendas e crendices que
caminham para o desaparecimento. O fato de o saber indgena ter sido
preservado somente por meio da transmisso oral refora essa assertiva.
Muitas crendices atribudas ao saber indgena parecem ter origem
mais recente, como a de pendurar garrafas plsticas, cs de cala ou
calcinha, fincar prego e aplicar golpes com terados, pelo fato de esses
materiais serem de origem contempornea. Isso significa que novas
crendices podem estar sendo criadas. O mesmo ocorre com as plantas
medicinais utilizadas pelos indgenas e comunidades tradicionais, que
so acrescidas com efeitos curativos para enfermidades totalmente
desconhecidas no passado.
Introduo1
O cupuau uma planta nativa da Amaznia que a partir do final da
dcada de 1970 iniciou seu cultivo racional em bases comerciais na
colnia nipo-brasileira de Tom-Au, antes restrito coleta extrativa,
de fundo de quintal e consumo regional. A exposio da mdia nacional
e internacional com relao Amaznia, com maior intensidade
a partir do final dos anos 1880, colocou diversas frutas amaznicas,
como o cupuau, o aa, o bacuri, entre outros, no cenrio mundial. A
polpa do cupuau utilizada na preparao de sucos, sorvetes, doces,
refrescos e licores.
Atualmente, a maior produo provm de plantios racionais estimados
em mais de 20 mil hectares distribudos nos estados do Par, Rondnia,
Amazonas e Acre, principalmente. No Estado do Par existem mais de
14 mil hectares plantados, dos quais 5 mil hectares esto em produo,
tendo apresentado um crescimento de 65% nos ltimos 4 anos (Tabela
1). No Sudeste Paraense, sobretudo na microrregio de Marab, ainda
so encontrados nas matas remanescentes estoques de cupuauzeiros
nativos que passaram a ser aproveitados com a valorizao do fruto,
acompanhados de plantios visando aumentar a sua produo.
Quanto produo de cupuau nativo, a rea de maior ocorrncia
o Sudeste Paraense, que tem sofrido forte presso migratria nestas
ltimas trs dcadas, traduzida na constante destruio dos recursos
naturais, em especial das reas de castanheiras e de cupuauzeiros. A
valorizao dos frutos de cupuauzeiros a partir da segunda metade da
dcada de 1980 induziu sua conservao, que passou a perder a sua
importncia pelo tempo relativamente curto para atingir a frutificao,
levando sua contnua destruio.
1
298
Microrregio
1997
347
Santarm
1998
393
1999
282
1997
220
1998
203
1999
145
1997
977
1998
606
1999
704
2000
1.006
Castanhal
420
784
1.071
1.158
102
202
430
562
321
321
1.284
1.684
Camet
857
856
1.123
1.123
342
80
155
305
843
166
492
1.183
Tom-Au
2.322
2.659
2.985
3.030
687
698
1.233
1.761
4.255
4.293
Itaituba
386
308
312
312
51
71
219
219
163
312
1.512
Tucuru
1.404
1.161
1.201
1.075
124
160
181
301
577
611
670
970
Marab
840
795
886
886
275
230
310
310
2.064
621
813
838
2.653
3.887
Par
7.115 10.740
1.512
Uma das grandes opes para manter a Floresta Amaznica tem sido
valorizar os produtos no madeireiros, o que criou a falsa concepo
de que todo produto no madeireiro sustentvel. A baixa densidade
desses recursos na floresta faz com que seja baixa a produtividade
da terra e da mo de obra, limita a expanso da oferta e eleva o
custo de produo, se comparado com os plantios domesticados.
O crescimento do mercado tem sido o indutor principal para a
expanso dos plantios, aliado ao custo de produo mais elevado da
coleta extrativa, a despeito da existncia desse recurso na natureza
e de os plantios serem realizados nas proximidades das residncias,
facilitando o transporte, entre outros. Ao longo do tempo, os preos
tm apresentado uma tendncia decrescente, com o crescimento dos
plantios domesticados inviabilizando ainda mais a coleta extrativa. Na
medida em que mais produtores so envolvidos nessa atividade, tende
a limitar as suas possibilidades econmicas, inviabilizando ainda mais
a coleta extrativa.
O objetivo desta pesquisa seria entender os mecanismos que levam
perda de importncia dos recursos extrativos e propor sugestes
de polticas visando preservar os recursos florestais (castanheiras e
cupuauzeiros) no Sudeste Paraense.
Metodologia
Os dados sobre cupuauzeiros nativos e plantados foram coletados
em diversas viagens de acompanhamento iniciadas desde 1997,
nos Projetos de Assentamento Castanhal Araras, no Assentamento
Agroextrativista Praialta e Piranheira, no Assentamento Piqui e no
Assentamento Sapecado, localizados na microrregio de Marab,
no Sudeste Paraense, que concentravam os maiores estoques de
cupuauzeiros nativos. Para servir de marco comparativo foram
coletados dados de plantios de cupuau na colnia nipo-brasileira
de Tom-Au, que se caracteriza pelo alto padro tecnolgico e de
beneficiamento.
299
Figura 1. Coleta de
cupuau extrativo
no Projeto de
Assentamento
Agroextrativista Praialta
e Piranheira, Municpio
de Nova Ipixuna, Par.
300
Unidade
Caractersticas do lote
Coeficiente
rea
Hectare
50
Nmero de cupuauzeiros
Unidade
100
Frutos/p
20 a 30
Produtividade
Perda
Porcentagem
10
Mo de obra utilizada
Limpeza da trilha
D/h
10
Coleta
D/h
40
Produo
Frutos
Unidade
Preo unitrio(1)
R$ 1,00
2.250
0,60
Custo
R$ 1,00
350,00
Receita bruta
R$ 1,00
1.350,00
R$ 1,00
1.000,00
O preo do fruto a R$ 0,60 decorrente da escassez verificada em 2001, sendo o normal o fruto
cotado a R$ 0,30.
(1)
301
302
Unidade
Caractersticas do plantio
Coeficiente
Plantas/hectare
277
R$ 1,00
0,60
Ano 0
Preparo da rea
D/h
21 (capoeira)
Marcao
D/h
Plantio direto
D/h
Custo (R0)
R$ 1,00
1
161,00
Ano 1 a 3
Roagem
D/h
Poda de formao
Dh
Coroamento
D/h
5,5
R$ 1,00
24
227,50
Ano 4 a 6
Roagem
D/h
10
Poda de formao
D/h
Colheita
D/h
Produtividade
Frutos/planta
5
5a6
Custo
R$ 1,00
126,00
Receita bruta
R$ 1,00
831,00
R$ 1,00
705,00
Ano 7 em diante
Roagem
D/h
Limpeza vassoura-de-bruxa
D/h
6
Continua...
Tabela 2. Continuao.
Discriminao
Colheita
Produtividade
Custo
Unidade
D/h
Frutos/planta
R$ 1,00
Coeficiente
15
25
161,00
Receita bruta
R$ 1,00
4.155,00
R$ 1,00
3.994,00
, referente
,
referente opo pelos plantios.
Tem-se ento,
303
304
Concluses
A percepo da importncia da comercializao do cupuau nativo a
partir da dcada de 1980 induziu conservao desse recurso vegetal
paralelamente ao incio de plantios em bases bastante rudimentares.
A valorizao do cupuau nativo veio contribuir para a conservao
das florestas remanescentes nas reas de ocorrncia comuns com
as castanheiras. Uma vez que essas atividades apresentam baixa
lucratividade, esse espao passou a entrar em conflito com o uso da
terra para fins agrcolas e com a pequena dimenso dos lotes. Os
plantios de cupuau se caracterizam pelo baixo nvel tecnolgico,
decorrente da falta de assistncia tcnica, de acesso a informaes de
pesquisa e de conhecimento de produtores mais experientes.
O curto espao de tempo para a frutificao do cupuau favoreceu a
expanso dos plantios, contribuindo para a incorporao das reas de
florestas remanescentes para muitos produtores na sua substituio
por culturas de ciclo curto e pastagens, aproveitando-se do processo
de capitalizao permitido.
A preservao dos cupuauzeiros nativos reveste de grande importncia
os programas de melhoramento gentico que esto sendo destrudos
pela sua substituio pelas culturas anuais, perenes e pastagens. O
plantio de sementes originadas de cupuauzeiros nativos escolhidos
preserva algumas caractersticas importantes para futuros programas
de melhoramento gentico, sem garantir outras caractersticas no
perceptveis pelos produtores.
305
Introduo1
Este captulo mostra a cronologia dos diversos eventos que marcaram
a histria econmica do guaran na Amaznia. Enfatiza a cronologia
do uso do guaran no sistema tradicional, a economia baseada no
extrativismo, a domesticada e a sua transformao como produto
nacional. Cita fatos regionais, nacionais e internacionais, separando-os em fases distintas e definindo a sua insero no contexto do
desenvolvimento agrcola regional.
Para atender expanso da nascente indstria de suco de laranja
em So Paulo, com problemas de mercado, o ento ministro da
Agricultura Lus Fernando Cirne Lima (1933) implementou a Lei dos
Sucos por meio do Decreto-Lei 5.823, assinado em 14 de novembro
de 1972. Essa lei estabelecia que todo refrigerante que levasse o nome
do produto natural deveria conter limites mximo e mnimo para
proteger o consumidor contra produtos artificiais, muito em voga
naquela poca. A consequncia da Lei dos Sucos foi a oligopolizao
das grandes indstrias de refrigerantes, uma vez que as pequenas
indstrias baseadas em sucos artificiais no tiveram condies de
atender legislao.
No caso do guaran, o cumprimento dessa legislao criou uma
grande demanda por esse produto, uma vez que estabelecia
quantitativos de 0,2 g a 2 g de guaran para cada litro de refrigerante.
No caso do xarope de guaran, a quantidade variava de 1 g a 10 g de
guaran para cada litro de xarope. Pode-se observar que, em ambas
as situaes, a quantidade de guaran entre o mnimo e o mximo
permitido legalmente de 10 vezes.
Palestra proferida na 2 Reunio Tcnica da Cultura do Guaran, em Belm, Par, na
Embrapa Amaznia Oriental, realizada no perodo de 20 a 22 de novembro de 2001.
308
309
310
1762
O frei Joo de So Jos de Queirz no relatrio Viagem e visita do
serto em o bispado do Gro-Par em 1762 e 1763 comentava sobre as
excelncias do guaran na medicina.
1775
O ouvidor Francisco Xavier Ribeiro de Sampaio escrevia os maus
so famosos pela fabricao da clebre bebida guaran, frigidssima,
que j se usa na Europa, em que se tem conhecido algumas virtudes
no seu uso....
1785
O baiano Alexandre Rodrigues Ferreira (17561815), gegrafo,
zologo e botnico, descreveu o uso do guaran em Barcelos e
denominou de Franzinia, em homenagem ao seu professor de
matemtica de Coimbra.
1817
Casamento da princesa austraca Maria Leopoldina Josefa Carolina
Habsburgo (1826) com Dom Pedro I (17981834), trazendo uma
comitiva de cientistas, desenhistas, etc.
1800
Alexandre von Humboldt (17691859), quando procurava a passagem
do Rio Orinoco com o Rio Negro, identificou o guaranazeiro como
sendo cupana, da a denominao, mais tarde, de Paullinia cupana
H.B. Kunth.
18181820
O lado mstico do guaran impressionou von Martius na sua viagem
pela Amaznia, quando batizou o guaranazeiro como Paullinia sorbilis,
utilizada pelos ndios Maus e Andirs, na forma de basto e ralado na
lngua do pirarucu. O nome Paullinia foi colocado em homenagem ao
mdico e botnico alemo C.F. Paullinia, que morreu em 1712.
1852
Exportao de 262 arrobas para a Europa.
1865
No dia 23 de abril, chegou ao Rio de Janeiro o suo Jean Louis
Rodolphe Agassiz (18071873), chefiando a Thayer Expedition,
financiada pelo milionrio americano Nathaniel Thayer, para estudar
a fauna ictiolgica da Bacia Amaznica, percorrendo o Rio Amazonas
em todo o seu curso, visitando Tabatinga, Tef, Manaus e retornando a
Belm. Na visita a Maus toma conhecimento do guaran.
1912
O engenheiro agrimensor Joo Alberto Mas, delegado Estadual do
Ministrio da Agricultura, introduziu o cultivo do guaranazeiro no
Estado do Acre.
1913
Incio das festividades do Boi-bumb como uma ramificao do
Bumba-meu-boi do Maranho. O Boi-bumb Caprichoso foi criado
no dia 20 de outubro e o Boi Garantido no dia 13 de junho.
311
312
Boi Caprichoso
1969, 1972, 1974, 1976, 1977, 1979, 1985,
1987, 1990, 1992, 1994, 1995, 1996, 1998,
2000 (empate), 2003, 2007, 2008, 2010,
2012
1921
O refrigerante guaran foi lanado no Pas pela Antarctica.
1922
Incio da fabricao do guaran Soberano, por Hilrio Ferreira, em
Belm.
1924
A Brahma registra seu primeiro guaran: Guaran Genuno.
1925
A Sociedade Bahiana de Agricultura introduz mudas de guaranazeiro
no Horto Botnico, em Retiro, Salvador.
1927
Lanamento do Guaran Brahma, pela Companhia Cervejaria Brahma.
1929
No final do ano, 50 imigrantes japoneses pertencentes a nove famlias
foram para Maus trabalhar em uma concesso de 25 mil hectares
para desenvolver plantios de cacaueiro, guaranazeiro e arroz, como os
principais produtos. Esse ncleo colonial, em decorrncia do fracasso,
foi absorvido, em 1939, pela colnia de Parintins, estabelecida em
1931.
1933
Plantio de 30 mudas de guaranazeiro na Estao Experimental de
gua Preta, atual Escola Mdia de Agricultura da Regio Cacaueira,
em Uruuca, Bahia.
1937
Observem que na classificao botnica do guaranazeiro esto
envolvidos nomes de cinco cientistas: Humboldt, Bonpland, Kunth,
Martius e Ducke. O estudo de Ducke promoveu a classificao final
1938
Fundao da fbrica de produtos Globo, em Belm, priorizando o
beneficiamento do guaran, na forma de xarope e refrigerante, com a
razo social Duarte Fonseca & Cia. Ltda.
19401945
Foram fundadas as fbricas Magistral, Luseia e Bar, em Manaus. Mais
tarde surgiram a marca Brasil, Lder e Tuchaua.
1942
A Coca Cola chegou ao pas com todas as consequncias sobre o
consumo de sucos naturais.
1946
O mdico Otthon Machado tenta caracterizar os princpios medicinais
do guaran como antitrmico, antineurlgico e antidiarreico.
1958
Cosme Ferreira Filho foi o primeiro a fabricar guaran em p para
substituir o trabalhoso processo do uso do guaran em basto.
1960
Incio das pesquisas agronmicas com o guaranazeiro no Instituto
Agronmico do Norte.
1961
Antnio Lemos Maia efetua o primeiro plantio de guaranazeiro com
fins comerciais, na Bahia, no Municpio de Ituber.
1963
A Companhia Antarctica Paulista adquire uma fazenda em Maus
com 1.070 ha, que em 1972 foi transformada em Sociedade Agrcola
Maus (Samasa).
1966
Incio do Festival Folclrico de Parintins, organizado por Raimundo
Muniz Rodrigues, Xisto Pereira, Lucinor Barros e Padre Augusto.
313
314
1969
O Decreto 104.492, de 15 de maio, criou o Instituto de Pesquisa e
Experimentao Agropecuria da Amaznia Ocidental (IPEAAOc),
com sede em Manaus e abrangncia nos estados do Amazonas, Acre,
Rondnia e Roraima.
1971
A Fazenda Cultrosa, no Municpio de Camamu, Bahia, inicia plantios
em escala comercial de guaranazeiro.
Fase domesticada
1972
O Decreto-Lei 5.823, de 14 de novembro, regulamentado em 1973,
ficou conhecido como a Lei dos Sucos, beneficiando a domesticao
do guaranazeiro. No caso do guaran, o cumprimento dessa legislao
criou uma grande demanda por esse produto, uma vez que estabelecia
quantitativos de 0,2 g a 2 g de guaran para cada litro de refrigerante.
No caso do xarope de guaran, a quantidade variava de 1 g a 10 g de
guaran para cada litro de xarope. Pode-se observar que, em ambas
as situaes, a quantidade de guaran entre o mnimo e o mximo
permitido legalmente de 10 vezes. Essa variao pode ser vista
comparando os percentuais do guaran Ta, que contm 0,2 g/l (0,02%)
de refrigerante, com o Tuchaua, 1,10 g/l (0,11%).
A mdica romena Ana Aslan, na sua visita ao Brasil enfatizou as
propriedades geritricas do guaran, uma vez que estava cuidando
do caudilho Juan Domingo Pern (18951974), que iria assumir o
governo da Argentina no perodo de 19731974, e s fez aumentar a
mstica dos benefcios do guaran.
1973
Implantao do plantio de guaranazeiro pela Antrctica, como
decorrncia da Lei dos Sucos, no Municpio de Maus, Amazonas,
gerenciado pelo agrnomo Kiyoshi Okawa.
Divulgao de estudos de mercado de guaran executados pela
Universidade Federal de Viosa em convnio com a Acar-Amazonas
Figura 1. Planta de
guaranazeiro em
plena frutificao no
Municpio de Maus,
Estado do Amazonas.
Figura 2. Fruto de
guaran sendo colhido
no Municpio de Maus,
Estado do Amazonas.
1974
Criao do Centro Nacional de Pesquisa de Seringueira, em Manaus,
pela Deliberao da Diretoria 098/74, de 16 de abril.
1975
A Deliberao da Diretoria 028/75, de 13 de junho, criou a Unidade
de Execuo de Pesquisa de mbito Estadual de Manaus (Uepae de
Manaus) e de Altamira (Uepae Altamira). A Deliberao da Diretoria
da Embrapa 005/75, de 23 de janeiro, criou o Centro de Pesquisa
Agropecuria do Trpico mido (Cpatu).
A Ceplac inicia pesquisas com guaranazeiro, com material proveniente
do Cpatu na Estao Experimental Lemos Maia, em Una.
315
316
1976
Incio das plantaes de guaranazeiro no Estado do Mato Grosso, em
Alta Floresta, pela Colonizadora Indeco.
1977
Incio das pesquisas sobre a propagao vegetativa do guaranazeiro
executadas pela Uepae de Manaus.
1981
O governo do Estado do Amazonas financia a produo de 100 mil
mudas de guaranazeiro pelo processo de enraizamento de estacas.
Incentivo ao plantio de guaranazeiro em Roraima.
Fabricao do guaran em p solvel pelo Cpatu, desenvolvido pela
pesquisadora Raimunda Ftima Ribeiro de Nazar.
1982
As normas e padres sobre a classificao do guaran esto regulados
pela Portaria 70, de 16 de maro de 1982, do Ministrio da Agricultura.
A senadora Eunice Michilles, deputada estadual (19741978), senadora
(19791987), publica o trabalho Uma alternativa econmica e social
para o Brasil: a cultura do guaran, defendendo a proposta de fundao
do Instituto do Guaran. A paulista Eunice Michilles dedicou-se no
incio s atividades de magistrio no Municpio de Maus.
1983
No dia 7 de julho foi lanado em Manaus o Programa Nacional de
Estmulo ao Desenvolvimento do Guaran, pela Secretaria de Produo
Rural do Estado do Amazonas (Sepror), que tinha como meta
estabelecer 16 mil hectares de guaranazeiro no Estado do Amazonas
no quadrinio 19821985, chegando apenas a 4 mil hectares.
Realizao do 1 Simpsio Brasileiro do Guaran, em Manaus, no
perodo de 24 a 28 de outubro.
1989
Deliberao da Diretoria 008/89, de 11 de julho, criou o Centro de
Pesquisa Agroflorestal da Amaznia, em Manaus, substituindo o
Centro Nacional de Pesquisa de Seringueira e Dend e a Uepae de
Manaus.
1991
Deliberao da Diretoria 004/91, de 1 de maro, criou o Centro de
Pesquisa Agroflorestal da Amaznia Oriental, substituindo o Centro
de Pesquisa Agropecuria do Trpico mido, a partir de 2 de abril.
Deliberao da Diretoria 005/91, de 1 de maro, alterou a denominao
de Centro de Pesquisa Agroflorestal da Amaznia para Centro de
Pesquisa Agroflorestal da Amaznia Ocidental, localizado em Manaus.
1995
Na cidade de Tapero, a 300 km de Salvador, a empresa Naturkork
e Naturwaren Import & Grobhandel adquire o guaran orgnico,
reconhecido pelo Instituto Biodinmico (IBD), e exporta para
a Alemanha. Em 1995, foi feita a primeira exportao de 2 t de
guaran orgnico, 3,5 t em 1999 e 4 t em 2000. A empresa adquire
aproximadamente 7 t de guaran orgnico produzido por 21 produtores
que cultivam o guaran orgnico no Projeto Ona.
2000
Realizao da 1 Reunio Tcnica da Cultura do Guaran, no perodo
de 6 a 9 de novembro de 2000, em Manaus, na Embrapa Amaznia
Ocidental, incluindo um minicurso sobre a cultura.
317
318
2001
Em janeiro, a Sucasa, empresa sediada em Castanhal, implantada com
um investimento de R$ 6 milhes, exportou a primeira partida de 21 t
de um energtico a base de aa e guaran em sacos plsticos de 100 g,
que iro direto para lanchonetes e prateleiras de supermercados dos
Estados Unidos, no valor de US$ 45 mil.
No perodo de 20 a 22 de novembro foi realizada a 2 Reunio Tcnica
da Cultura do Guaran, em Belm, Par, na Embrapa Amaznia
Oriental.
2006
Concludo o sequenciamento gentico do fruto de guaran pela equipe
de cientistas, coordenada pelo professor Spartaco Astolfi Filho da
Universidade Federal da Amaznia (Ufam) e de outras universidades
componentes da Rede da Amaznia Legal de Pesquisa Genmicas
(Realgene).
2011
Lanado no dia 26 de outubro no Campo Experimental da Embrapa,
no Municpio de Maus, as cultivares BRS Cereaporanga, BRS
Mundurucnia, BRS Luzeia e BRS Andir, que produzem em mdia
1,5 kg de sementes secas por planta, enquanto a mdia regional de
200 g por planta ao ano.
Consideraes finais
Nos ltimos cinco sculos, a partir da chegada de Cristovo Colombo
Ilha de Guanahani (So Salvador), no dia 12 de outubro de 1492,
vrias plantas do Novo Mundo foram aclimatadas em outras partes
do mundo. O fumo foi sem dvida a primeira planta que passou a
despertar a curiosidade dos europeus, passando a constituir em vcio
universal e, junto com o caf, tornou-se smbolo nacional.
Outras plantas, como a batata inglesa e o tomate, tm a sua origem na
Cordilheira dos Andes e tornaram-se, tambm, plantas universais. O
mesmo aconteceu com o milho, j utilizado pelas civilizaes incas,
astecas e maias. A batata doce foi outra planta alimentcia que foi
levada do Novo Mundo para o continente europeu.
No resta dvida que a mandioca foi o maior legado da civilizao
indgena, constituindo-se no alimento bsico da populao brasileira,
disseminado pelos portugueses para os continentes africano e asitico,
tornando-se, tambm, importante atividade agrcola nesses novos
locais.
319
Introduo1
O uxizeiro [Endopleura uchi (Huber) Cuatrecasas], pertencente
famlia Humiriaceae, originrio da Amaznia Brasileira,
encontrando-se disperso praticamente em todos os estados dessa
regio, porm, com maior abundncia e frequncia nos estados do Par
e Amazonas. No Par, encontram-se populaes naturais cujos frutos
apresentam diferenas de tamanho, cor, peso, formato, rendimento de
polpa e, possivelmente, caractersticas qumicas e fsico-qumicas da
polpa.
O uxizeiro uma rvore de tronco reto, de porte mdio a grande,
podendo atingir de 25 m a 30 m de altura e at 1 m de dimetro. uma
espcie de uso mltiplo (medicinal, frutfera e madeireira). Os frutos
so muitos consumidos pela populao dessa regio, em particular das
cidades prximas aos locais de ocorrncia da espcie, onde, no perodo
da safra, so comercializadas nas margens das rodovias, em feiras livres
e na Ceasa de Belm. Shanley (2000) estimou que a comercializao
do uxi durante o perodo da safra movimenta algo em torno de
1,2 milho de dlares. Para Carvalho et al. (2007), o uxi uma fruta
bastante conhecida na Amaznia Brasileira, porm completamente
desconhecida de outras regies do Brasil, mesmo por especialistas em
fruticultura, sendo raramente citada nos compndios sobre frutferas
tropicais, exceto quando envolve somente espcies amaznicas.
O fruto do uxizeiro consumido na forma fresca ou na forma de
creme, doce, suco e, principalmente, sorvete. Constitui-se em alimento
energtico e de boa qualidade nutricional. A parte comestvel do fruto
rica em fibras dietticas e sua frao lipdica apresenta elevados
teores de fitoesteris e de vitamina E (MARX et al., 2002). Da polpa
do fruto pode ser obtido leo comestvel, com caractersticas fsico-qumicas semelhantes s dos leos de abacate e de oliva (CARVALHO
et al., 1981; PINTO, 1956;).
1
322
323
324
Enxertia
A enxertia de garfagem efetuada quando as mudas apresentam altura
de 50 cm a 70 cm, com bom desenvolvimento vegetativo. Deve-se
escolher como enxerto ramos de uxizeiro que apresentem frutos de
bom tamanho, quantidade e qualidade de polpa, produtividade e
caracterstica do porte da rvore. Para consumo in natura, o melhor
uxi aquele que apresenta sabor adocicado. Depois de plantadas, as
325
Plantio em SAFs
Uxizeiros esto sendo plantados em sistemas agroflorestais, no
espaamento de 9 m a 10 m x 15 m, com piquiazeiro, bacurizeiro e
puxurizeiro enxertados. Esses plantios esto sendo efetuados para
substituir os pimentais em final do ciclo produtivo. Os uxizeiros
enxertados emitem as primeiras floraes 3 anos aps o plantio.
Figura 4. Plantio de
uxizeiro no Municpio de
Tom-Au em Sistemas
Agroflorestais.
326
Tratos culturais
A prtica da poda adotada por alguns agricultores que efetuaram o
plantio de mudas de p-franco para reduzir a altura das rvores.
Comercializao
A venda de polpa de uxi praticada por poucos agricultores e no
apresenta muita diferena com relao forma de comercializao do
fruto. A dificuldade de conservao da polpa limita o aproveitamento
de frutos menores, imprestveis para comercializao e ocorre a rpida
deteriorao do fruto quando amadurece.
327
328
Introduo1
Denomina-se etnocultivo aqueles conhecimentos gerados pelos
prprios produtores por meio de tentativas e transmitidos ao longo
do tempo ordinariamente de maneira oral e desenvolvidos margem
do sistema de pesquisa formal. So conhecimentos dinmicos que se
encontram em constante processo de adaptao, com intervenes da
extenso rural, da rede bancria, dos compradores, das tecnologias
utilizadas para outros produtos e em outros locais, do aparecimento de
pragas e doenas e do mercado de insumos.
Figura 1. Horta
periurbana de pequeno
produtor em Santa
Izabel do Par.
Foto: Antnio Jos Elias Amorim de Menezes.
330
Histrico
O padre jesuta Joo Daniel (17221776) viveu na Amaznia entre 1741
e 1757, quando foi preso, no perodo da caa aos jesutas promovida
por Sebastio Jos de Carvalho e Melo, o Marqus do Pombal (1699
1782) e recambiado para Portugal. Na priso at sua morte escreveu
um enorme tratado sobre a regio amaznica, Tesouro descoberto no
mximo Rio Amazonas, no qual fez detalhadas observaes sobre
as plantas, animais e os habitantes que viviam na regio. Nesse livro
menciona o caruru, cuja descrio identifica-se como sendo a do
jambu [Spilanthes oleracea var. fusca (Lam.) DC.]:
A verdura de que mais usam no Estado do Par so umas ervas a que chamam caruru, nome genrico para todas as ervas mais usadas, e comestveis
naquele estado, mas mais propriamente h duas espcies na verdade estimveis: a uma podemos chamar caruru doce pela distino que tem do
outro. este caruru na verdade doce, porque ou seja por si s em espernegados, ou misturado com os legumes lhes d um excelente gosto; to
tenra esta erva, e to mimosa, que vence o tenro da alface, e o mimoso dos
espinafres, e mais verduras; de sorte que metida na panela em poucos minutos est cozinhada. A segunda espcie no menos galante, porque, em
lugar do doce da primeira espcie, tem um picante, que no s lhe d sua
graa por si s, mas tambm a comunica aos legumes, e carne, com que se
cozinha: a sua flor semelhante aos malmequeres. Tanto deste caruru como
do primeiro se fazem muito frescas e gostosas saladas; e muito mais o so
se se misturam. E sendo to estimveis, ningum os cultiva hortenses, nem
necessrio, porque pelas roas da maniba, e mais searas, a erva mais ordinria, que nasce em tanta abundncia, que preciso arranc-los, para no
afrontarem, nem afogarem as searas. Com a mesma abundncia crescem
sem cultura outras ervas como so os espinafres, bredos, beldoegas e muitas
outras de que naquele estado se no faz caso. (DANIEL, 2004, v.1, p. 429).
331
332
Tambm conhecido como agrio-do-par, agrio-do-norte, agrio-do-brasil, abecedria e jambuassu. uma planta autctone da
Amrica do Sul (Brasil, Colmbia, Guianas e Venezuela), onde pode
ser encontrada cultivada ou subespontnea.
O jambu apresenta bom valor nutritivo por 100 g de folhas. Contm
89 g de gua e apresenta valor energtico de aproximadamente 32
calorias. Contm em cada 100 g: 1,9 g protenas, 0,3 g de lipdios,
7,2 g de carboidratos, 1,3 g de fibras, 1,6 g de cinzas, 162 mg de clcio,
41 mg de fsforo, 4 mg de ferro, 0,03 mg de vitamina B1, 0,21 mg de
vitamina B2, 1 mg de niacina e 20 mg de vitamina C (BORGES, 2009).
As inflorescncias apresentam maior concentrao do alcaloide, sendo
sua explorao como fonte de matria-prima para uso medicinal
e cosmtico potencialmente mais importante que ramos e folhas. O
jambu utilizado pela Natura na composio do creme antirrugas
Chronos e inicialmente as plantas eram adquiridas na Regio
Metropolitana de Belm. A partir de 2004, o jambu passou a ser
fornecido pelo Grupo Centroflora, fundado em 1957, de produtores
selecionados que cultivam de forma orgnica nos municpios de
Pratnia, Botucatu, Ribeiro Preto e Jaboticabal e efetuam a secagem
em Botucatu. Vrias teses de ps-graduao sobre o jambu j foram
defendidas nas universidades do Sul e Sudeste, facilitando, tambm, a
disseminao dessa planta (BORGES, 2009).
Os agricultores que se dedicam ao plantio de hortalias cultivam-nas em canteiros que no conjunto no atingem um quarto de hectare
(Figura 3). Do elenco de hortalias folhosas, frutos ou tubrculos, os
produtores se especializam para cinco ou seis espcies, permitindo o
rodzio dos canteiros e quanto perspectiva do mercado. O elenco de
verduras cultivadas bastante grande: jambu, coentro, salsa, chicria
regional, cebolinha, caruru, vinagreira, hortel, couve, alface, alfavaca,
quiabo, pepino, maxixe, pimenta-de-cheiro, tomate-cereja, pimento,
berinjela, espinafre, rcula, mostarda, vagem, hortel, manjerico,
mastruz, etc.
Figura 3. Canteiro
plantado de jambu.
333
334
Sistema de produo
Clima e solo
O cultivo do jambu preferencialmente realizado em clima quente e
mido, com temperatura mdia anual superior a 25,9 C e umidade
relativa do ar em torno de 80%. Em So Paulo, onde os novos plantios
esto localizados, o cultivo ocorre em perodos do ano cuja temperatura
335
336
Propagao e plantio
O jambu pode ser propagado por sementes ou por estacas de ramos.
A propagao por sementes o mtodo mais empregado. As sementes
devem ser obtidas de plantas que foram deixadas no canteiro com
maior desenvolvimento vegetativo, livre de pragas e doenas, at o
amadurecimento dos aqunios, uma vez que as sementes certificadas
no so comercializadas no mercado. Na feira do Ver-o-Peso e em
algumas casas comerciais do Municpio de Castanhal, possvel
adquirir sementes para venda, sem haver garantias quanto qualidade
fsica e sanitria. As inflorescncias so colhidas e postas para secar em
ambiente ventilado. Aps 3 a 5 dias feita a debulha.
O agricultor deve tomar as seguintes medidas para garantir sementes
de boa qualidade: colher sementes de plantas sadias e evitar produzi-las na poca chuvosa, pois essas sementes retm muita umidade,
tornando-as vulnerveis ao de micro-organismos e levando a
perdas considerveis por apresentar baixa germinao.
Para 1 g de sementes de jambu com impureza (restos culturais),
tem-se 2 mil sementes bem formadas. Em nvel de produtor, no
necessrio obter sementes limpas (livre de impurezas) em virtude
do trabalho para limp-las e mesmo porque essas impurezas so
constitudas geralmente de palea que reveste as sementes e das flores
no fecundadas, so facilmente decompostas, no prejudicando a
germinao, alm de facilitarem a distribuio mais uniforme das
sementes no canteiro de semeadura.
O modo mais tradicional do plantio de jambu fazer a semeadura a
lano sobre um canteiro, cobrindo as sementes com uma leve camada
de serragem. A densidade de semeadura elevada, sendo distribudos
337
338
Irrigao
No perodo sem chuvas so feitas duas irrigaes dirias. A fonte de
gua mais comum so poos semiartesianos. So usadas motobombas
eltricas e mangueiras plsticas com um chuveiro adaptado na
extremidade, ligadas diretamente na tubulao de recalque. Alguns
usam microasperso comercializada no mercado local em sistema de
fitas plsticas para irrigao.
Principais pragas
As principais pragas que atacam os canteiros com jambu so paquinha
(Neocurtilla hexadactyla), lagartas, caros, etc. O controle da paquinha
realizado com iscas, efetuando-se a mistura de 20 mL de inseticida
(geralmente Parathion metilico) para 1 kg de farelo de trigo, colocando
uma colher de sobremesa por metro quadrado de canteiro noite.
O combate s lagartas efetuado com aplicao dos inseticidas Decis
(30 mL/20 L de gua) ou Folisuper ou Mentox (20 mL/20 L de gua).
Quanto ao ataque de caros, utilizado o Tamaron, um inseticida
organofosforado sistmico (30 mL/20 L de gua), e o Agritoato 400 CE
(40 mL/20 litros de gua).
O controle do nematoide efetuado mediante rotao de cultura e
exposio de solo do canteiro luz solar revirado com a enxada.
Verifica-se que muitos produtores no apresentam cuidados na
aplicao de agroqumicos tanto para a sua sade como para a sade
dos consumidores, pela no observncia com relao aos prazos
mnimos exigidos para consumo. Os agrotxicos utilizados no so
permitidos pela legislao e no h utilizao de Equipamentos de
Proteo Individual (EPI).
Principais doenas
Entre as doenas destacam-se a ferrugem (Puccinia sp.), o carvo
(Tecaphora sp.), os nematoides do gnero Meloidogyne, etc. O controle
da ferrugem efetuado com o fungicida Dithane (50 mL/20 L de
gua), podendo efetuar at 3 pulverizaes, e o fungicida Amistar
(20 mL/ 20 L de gua). Esses fungicidas so aplicados separadamente.
Alguns produtores utilizam produtos misturados como Tamaron
(30 mL) mais Dithane (30 mL) em 20 L de gua. Quanto ao ataque do
carvo, que produz galhas distribudas nos caules, pecolos, folhas e
pednculos florais, os produtores eliminam as plantas doentes e fazem
outro plantio com sementes sadias.
Produo
A produo mdia de um canteiro de 25 m x 1,2 m de 250 maos de
jambu, que so vendidos para os intermedirios razo de R$ 0,25 a
Ps-colheita do jambu
De maneira geral, as plantas de jambu so arrancadas (Figura 4) e
amarradas em maos ainda na rea de cultivo, so transportadas e
depois so lavadas em um tanque prximo residncia do produtor.
A mesma gua reutilizada vrias vezes para a lavagem diria e
renovada para a nova lavagem apenas no dia seguinte. Os produtores
j esto sendo orientados a utilizar gua limpa nessa tarefa e efetuar
a renovao com maior frequncia. Essa lavagem constitui foco de
contaminao das hortalias.
Foto: Antnio Jos Elias Amorim de Menezes.
Figura 4. Arranquio
de jambu para
comercializao.
339
Comercializao
Isshiki (2010?) estudou a variao estacional do preo do mao de
jambu no mercado atacadista de Belm, no perodo de 2000 a 2009.
Ele identificou que o primeiro semestre apresenta os maiores valores,
em que o preo mais elevado ocorre no ms de janeiro, com ndice
estacional mdio de 123,06%, e o menor preo no ms de agosto,
com ndice estacional mdio igual a 73,92%, indicando uma variao
mdia no preo do produto de 49,14% referente ao perodo de safra e
entressafra do jambu. A maior produo ocorre no perodo do Crio e
para as festividades de final do ano, mas os produtores recebem preos
mais baixos.
Existem diferentes fluxos de comercializao do jambu. Uns entregam
diretamente para os intermedirios, que vendem nas feiras, repassam
para outros feirantes, supermercados e restaurantes. Alguns produtores
levam diretamente para as feiras, supermercados, restaurantes,
pizzarias, etc., em nibus de linha ou em carros prprios (Figura 5). Os
intermedirios tambm utilizam os nibus de linha ou carros prprios
para apanhar o jambu na propriedade e efetuar a entrega.
Figura 5. Maos de
jambu comercializado.
340
Alguns produtores e intermedirios esto comercializando jambu pr-cozido, que consiste em retirar as razes e os talos mais grossos, folhas
com defeito e outras impurezas. A seguir, so efetuadas cinco lavagens,
colocando-o em gua fervente por 20 a 30 minutos para promover o
murchamento dos talos e folhas. Depois, deixa-se escorrer e embala-se em sacos plsticos. O rendimento de 6 a 7 maos (R$ 0,25/mao)
para obter 1 kg de jambu pr-cozido que vendido a R$ 6,00 a R$
7,00/kg. A alta margem de comercializao implica na utilizao de
trs pessoas para preparar 50 kg de jambu pr-cozido e a despesa com
gs ou carvo, uma vez que a utilizao de lenha tende a contaminar o
jambu com detritos de carvo, cinza e fumaa. O mercado do jambu
pr-cozido destina-se a grandes restaurantes, reduzindo-se com isso a
utilizao de mo de obra para o preparo dos maos de jambu.
Consumo do jambu
O uso tradicional do jambu na gastronomia cultural paraense destinase para o pato-no-tucupi e o tacac (Figura 6). Nas duas ltimas
dcadas, alm do uso de outros animais assados em substituio ao
pato, popularizou-se o uso do jambu com arroz, pizza com jambu, uso
do jambu na indstria cosmtica, salada de folha in natura de jambu,
como picles pelos descendentes de japoneses, etc.
Foto: Antnio Jos Elias Amorim de Menezes.
341
342
H necessidade do desenvolvimento de tecnologia visando ao pr-cozimento ou sua desidratao com a conservao, facilitando o seu
transporte para locais distantes.
Jambu em hidroponia
O plantio do jambu em hidroponia com Tcnica do Fluxo Laminar
de Nutrientes (NFT) apresenta concorrncia como o cultivo da alface,
com demanda constante durante o ano, e como produto diferenciado
para os consumidores. A vantagem do cultivo do jambu em hidroponia
seria o aproveitamento da ressoca e a venda do jambu sem as razes.
A tcnica de cultivo semelhante quela recomendada ao cultivo da
alface, inclusive com relao soluo nutritiva.
Custo de produo
Para o clculo do custo operacional do plantio de jambu, considerou-se 1 ha disposto em canteiro padro de 1,20 m x 25 m (30 m2),
perfazendo 192 canteiros, com 5.760 m2 de rea til. Os canteiros
seriam separados entre si de 0,80 m e as ruas principais seriam de
2 m a cada intervalo de 25 m, tanto no sentido vertical como horizontal.
Adotou-se a produtividade mdia de 250 maos de jambu por canteiro,
totalizando 48 mil maos, considerando um ciclo produtivo de 2 meses
a 2,5 meses, efetuando rotao de plantio.
Ressalta-se que no existe um produtor exclusivo de jambu, mas
em associao com outras olercolas, ocorrendo a diluio das
despesas com depreciao de pequenos equipamentos (enxadas, ps,
carrinho de mo, etc.), utilizao de adubao residual, mo de obra,
motobomba e energia eltrica. Ocorrem algumas variaes nesse
oramento, dependendo da escala do plantio e dos insumos utilizados.
Tabela 1. Coeficientes tcnicos na produo de jambu considerando 1 ha,
junho 2011.
Item
Unidade
Insumo
Quantidade
Preo (R$)
Semente
gr
80
Esterco de ave
kg
70.000
0,00
Adubo mineral
kg
100
200,00
Defensivos
gr
7.000
360,00
3.360,00
Mo de obra
Preparo da rea
D/h
25
500,00
D/h
10
200,00
Sementeira
D/h
0,50
Transplantio
D/h
20
400,00
Tratos culturais
D/h
50
1.000,00
Colheita
D/h
25
500,00
6,00
Continua...
Tabela 1. Continuao.
Lavagem
Item
Unidade
D/h
Quantidade
10
Amarrio
D/h
20
Custo total
Preo (R$)
200,00
400,00
7.126,00
Produtividade
48.000 maos/ha
Receita bruta
R$ 12.000,00/ha
Receita lquida
R$ 4.800,00/ha
Preo venda
R$ 0,25/mao
Custo produo
R$ 0,15/mao
R$ 0,10/mao
Nota: Para o clculo foi considerado 192 canteiros de 1,2 m x 25 m (30 m2), com 5.760 m2 de rea til.
Concluses
O sucesso do jambu constitui exemplo de uma produo e consumo
invisveis, que, apesar da sua importncia, no constam nas estatsticas
oficiais. A expanso do cultivo do jambu mostra a importncia que
se deve dar para os recursos da biodiversidade medida que so
domesticados e aqueles que j so cultivados em consonncia com o
crescimento do mercado.
As patentes j registradas configuram uma planta com possibilidades
para atrair os interesses da indstria farmacutica/cosmtica mundial
ou como uma hortalia extica. A sua exportao exige inovaes
tecnolgicas, como a desidratao ou pr-cozimento, reduo no uso
de agroqumicos, produo em escala, etc. A transferncia do jambu
para outras partes do Pas e do mundo torna questionvel alguns
tpicos sobre a legislao de biopirataria. Refora-se a ideia de criao
de um parque produtivo local como a melhor segurana para evitar a
drenagem para outras partes do Pas e do mundo.
O jambu ainda apresenta as caractersticas de um produto sazonal,
limitado pelas festividades populares e datas histricas familiares.
Apesar disso, o jambu apresenta grandes possibilidades de ampliar sua
demanda ao longo do ano. O crescimento do turismo, a disseminao
dessa erva amaznica no Centro-Sul do Pas e no exterior poderia
trazer novos mercados para esse produto.
Atualmente os produtores de jambu no se dedicam exclusivamente ao
cultivo dessa plantas, mas a um conjunto de outras hortalias, visando
promover a rotao dos canteiros, assegurar maior renda, da demanda
especfica para cada produto hortcola e da diferena de rentabilidade
para cada produto.
343
Introduo1
A ocupao do Sudeste Paraense iniciou-se a partir do final do
sculo 19 por religiosos franceses que j faziam expedies nessa
rea com a finalidade converter as tribos indgenas ao cristianismo.
Como a regio era basicamente ocupada por tribos indgenas, poucas
eram as comunidades de homens brancos existentes na rea. Essas
comunidades se resumiam em fazendas, com enormes reas de terra,
quase impossvel de se saber onde era o limite, e com poucas cabeas
de gado, sendo este criado de forma extensiva, posto que a regio
constituda de uma imensa rea de campo natural e cerrado.
Uma das grandes dificuldades encontradas por parte dos seus habitantes
naquela poca era a falta de estradas. As viagens em terra firme eram
realizadas no lombo de animais (cavalo, burro, jumento). O acesso
at a capital Belm s era possvel por meio de barcos e as viagens
duravam muitos dias, em virtude disso, as pequenas aglomeraes de
pessoas fixavam-se s margens dos rios Araguaia e Tocantins, sendo
estes de fato verdadeiras estradas naturais, propiciando o caminhar
aventureiro que firmava pouco a pouco as pessoas no interior do Par
(ACEVEDO MARIN, 1985).
O produto que apresentava maior importncia econmica era a
borracha retirada do caucho2 existente na rea. Alm disso, crescia de
forma acelerada em Belm a demanda da borracha para exportar. Por
se tratar de uma rea pouco povoada, as relaes comerciais tambm
eram realizadas praticamente na base da troca, posto que a presena
humana ainda era restrita e as atividades econmicas resumiam-se ao
extrativismo.
Feitosa et al. (2005).
O caucho um tipo de rvore que produz ltex e exige a sua derrubada para a
retirada do ltex, levando ao seu aniquilamento.
1
2
346
Metodologia
Para a realizao deste trabalho, o primeiro contato foi com a Comisso
Pastoral da Terra (CPT), que faz acompanhamento tcnico entre os
pequenos agricultores de alguns municpios do Sudeste Paraense. A
indicao para que a pesquisa fosse realizada no Municpio de Santa
Maria das Barreiras deu-se em virtude de esse municpio possuir um
grande nmero de unidades produtivas que possuem pequizeiros
e tambm da preocupao dos tcnicos com a entrada da soja na
regio. Estes temem que os pequenos produtores vendam suas terras
para os grandes fazendeiros. A CPT, alm de fornecer apoio logstico,
foi tambm a intermediria nos contatos com o Sindicato dos
Trabalhadores Rurais e dos presidentes de Associaes de Produtores.
A coleta dos dados da pesquisa foi realizada por uma equipe de
dois entrevistadores. O questionrio era composto de perguntas
abertas e fechadas, procurando seguir os critrios de uma linguagem
praticamente regional, cujo objetivo era fazer com que o entrevistado
pudesse sentir-se vontade para dar o maior nmero de informaes
possveis, permitindo assim alcanar os objetivos da pesquisa.
Nesse modelo de entrevista, o papel do pesquisador no decorrer da
entrevista se limita ao recolhimento da informao, estimulao da
comunicao e a manter o fluxo de informaes sobre as variveis
estudadas (CONTANDRIOPOULOS et al., 1994).
347
348
349
350
Resultado e discusso
Caracterizao dos agricultores
entrevistados no Municpio de Santa
Maria das Barreiras
Os resultados desta pesquisa baseiam-se no levantamento das
atividades econmicas de 19 unidades produtivas, entre produtores
das comunidades de Nova Esperana e So Joo Batista, no Municpio
de Santa Maria das Barreiras. Na pesquisa, a prioridade foi analisar
os dados referentes utilizao do pequi na economia domstica,
tendo sido tambm analisada a prtica dos pequenos produtores na
utilizao do fruto e no seu armazenamento.
351
352
Nmeros absolutos
1
Percentual
5,26
Incra
5,26
Iterpa
10,53
Getat
10,53
Compra
13
68,45
Total
19
100,00
Total
Nmero de produtores
1
Percentual
5,26
48,0
10,53
67,2
5,26
81,6
5,26
96,0
52,55
110,4
5,26
153,6
5,26
268,8
5,26
816,0
5,26
19
100,00
1.680
353
354
Nmero de produtores
10
Percentual
53,00
Sindicato
5,00
No associados
42,00
Total
19
100,00
A safra do pequi
O pequizeiro tem uma safra de curta durao. Entre o perodo de
florao e a colheita do fruto so aproximadamente 3 meses. Segundo
as informaes dos pequenos produtores entrevistados, a florao se
inicia da segunda quinzena de julho primeira quinzena de agosto.
A flor do pequizeiro tem um odor agradvel e desperta o apetite dos
animais silvestres e o instinto predatrio do homem. No perodo da
florao, os produtores costumam esperar a caa veado, paca e porco
do mato que costuma comer as flores noite. A caada torna-se
um atrativo, pois alm de contribuir na alimentao passa a ser um
momento de diverso, uma espcie de relaxamento. O produtor sai
tardezinha, munido de uma espingarda velha, cartucho, uma boa
lanterna e uma pequena rede. Arma a rede no pequizeiro e, logo que
escurece, os animais silvestres comeam a chegar para comer os frutos
do pequizeiro e so abatidos. Para muitos caadores uma verdadeira
aventura.
Aps a florao, inicia-se o perodo de desenvolvimento do fruto,
que vai at incio de outubro, quando os primeiros frutos comeam
a cair. So 3 meses de colheita: outubro, novembro e dezembro.
Novembro o ms de maior produo. Nesse perodo, comum o
morador das cidades vizinhas buscar o pequi nos finais de semana,
assim como os comerciantes de feira. Estes alugam caminhes e
vo em busca do fruto durante a semana. Como os produtores no
conhecem o valor econmico que o fruto poderia contribuir para a
propriedade, agradecem aos comerciantes pelo recolhimento do fruto
e at facilitam a colheita indicando o local de maior concentrao.
Para os comerciantes de feira, o produto torna-se mais rentvel, posto
que alm do frete no se paga mais nada por ele. como se no fosse
produto de ningum. Os produtores no tm noo da quantidade de
pequi produzida por safra.
A maioria no observa se a produo est ou no aumentando. Para
57% dos produtores o pequi tem diminudo, para 43% tem aumentado.
355
356
Nmero de produtores
10
Percentual
52,70
Manh e tarde
26,30
Tarde
10,50
No colhe
10,50
Soma
19
100,00
357
358
359
360
Quantidade
Unidade
medida
Preo
Preo total
unitrio
(R$)
(R$)
8,00
16,00
2 garrafas
250 ml
7 litros
1.000 ml
25,00
175,00
144 vidros
800 g
8,00
1.152,00
Farinha
39 pacotes
800 g
6,00
234,00
16 garrafas
250 ml
8,00
128,00
55,00
1.705,00
Soma
Consideraes finais
No Sudeste Paraense, assim como em outras reas da Amaznia, h
uma infinidade de produtos da floresta e do cerrado que poderiam
ser otimizados como fonte permanente de renda para a economia
domstica dos pequenos produtores. Entretanto, a fragilidade das
organizaes sindicais e associaes nos Projetos de Assentamentos,
bem como as Cooperativas que se habilitam a assessorar as associaes,
demonstram no ter conhecimento da importncia econmica desses
produtos. Essas organizaes ficam merc do direcionamento
das polticas pblicas, sendo estas padronizadas. Os projetos para
agricultura se resumem nas atividades agrcolas e/ou agropecuria,
que podem ser financiadas pelos bancos. No h entre os pequenos
produtores do Sudeste Paraense um despertar para a utilizao dos
frutos do cerrado, que nesse caso no se restringe apenas ao pequi,
como foi dito no incio deste trabalho. O buriti, o murici, a bacaba, o
caju, o ing, o caj (tapereb), entre outros frutos, fazem parte desse
cenrio.
361
Introduo1
Na Amaznia destacam-se duas variedades de tucumanzeiro,
o tucumanzeiro-do-par (Astrocaryum vulgare Mart.) e o
tucumanzeiro-do-amazonas (Astrocaryum aculeatum Meyer). A
palmeira tucumanzeiro-do-par menor, com 10 m a 15 m de altura,
regenera facilmente por perfilhar, possuindo vrios estipes, enquanto
o tucumanzeiro-do-amazonas pode alcanar 25 m de altura e no
perfilha, tornando-se um tronco nico. Seus frutos so maiores e a
sua polpa mais carnuda, com menor quantidade de fibra e menos
adocicada do que o tucum-do-par.
Para Lorenzi (1992), ambas ocorrem em terra firme da Floresta
Amaznica, onde formam agrupamentos relativamente homogneos,
em formaes primrias e secundrias, produzindo anualmente
grande quantidade de sementes viveis.
Para Oliveira et al. (2003), as palmeiras diferem entre si no hbito
de crescimento do estipe, sendo predominantemente em touceira
o tucum-do-par e solitrio o tucum-do-amazonas. A espcie
predominante no Estado do Par destaca-se no uso das folhas e na
extrao de fibras e dos frutos para alimentao, seja in natura ou na
forma de sorvetes e polpa congelada. Ainda os mesmos autores relatam
que o tucum-do-amazonas tem sua polpa amplamente utilizada em
recheio de sanduches, tapiocas e outros. Ambas as espcies tm uso
mltiplo entre as populaes de baixa renda que vivem na sua regio
de ocorrncia. Contudo, sua real importncia econmica reside na
explorao da polpa dos frutos para o consumo, alm de servir para
explorao de leos comestveis (GENTIL; FERREIRA, 2005), sendo
uma rica fonte de vitamina A, carotenoides (ROSSO; MERCADANTE,
2007), aminocidos essenciais (BORA et al., 2001) e ampla gama
Verso ampliada de dois trabalhos apresentados no 2 Congresso Brasileiro de
Recursos Genticos, em Belm, Par, no perodo de 24 a 28 de setembro de 2012.
364
Objetivo da pesquisa
O objetivo foi realizar um diagnstico socioeconmico dos
agricultores familiares e extrativistas que utilizam e comercializam
frutos e subprodutos do tucum. Esta pesquisa faz parte das atividades
do Projeto Gerao de Tecnologias para o Tucum como palmeira
potencial para a produo de biodiesel utilizando as reas degradadas
na Amaznia Oriental.
Metodologia
Foi realizado o levantamento dos dados de 20 agricultores familiares
e extrativistas que realizam o processo de extrao de polpa e de
leo do fruto de tucumanzeiro. Essas entrevistas foram realizadas na
Comunidade Pedral, Municpio de Soure, Ilha de Maraj, no perodo
de 22 a 25 de setembro de 2011. Essa comunidade est localizada na
Reserva Extrativista Marinha de Soure (Resex-Soure), criada pelo
Decreto Presidencial de 22 de novembro de 2001. uma Unidade de
Conservao Federal, estando responsvel pela sua gesto o Instituto
Chico Mendes de Conservao e Biodiversidade (ICMBio) juntamente
com a Associao de Usurio de Reserva Extrativista Marinha de Soure
(Assuremas). A unidade constituda por duas reas descontnuas,
totalizando 27.463,58 ha, sendo subdividida em rea marinha e
ambiente costeiro com predominncia de manguezais.
A coleta dos dados foi desenvolvida por uma equipe de dois
pesquisadores, por meio da formulao de perguntas abertas e/ou
fechadas2, que obedeceu aos critrios de uma linguagem coloquial,
procurando usar o mximo de expresses conhecidas dos entrevistados,
de modo que as informaes obtidas permitissem atingir os objetivos
da pesquisa.
365
366
Resultados e discusso
Com base no levantamento socioeconmico realizado, foram analisados
os dados de maior relevncia, ou seja, aqueles que refletissem o perfil
da agricultura familiar e extrativista no processo e beneficiamento da
retirada da polpa e do leo da larva do fruto de tucum.
Identificou-se que todos os agricultores entrevistados na comunidade
Pedral so paraenses. Os familiares mencionaram que no passado
vieram de outras localidades onde haviam nascido seus descendentes.
Todos os agricultores entrevistados afirmaram no possuir nenhum
documento da propriedade, sendo de domnio coletivo, convalidado
com a criao da Reserva Extrativista Marinha de Soure. Apenas um
entrevistado afirmou possuir outra propriedade.
Observou-se que os agricultores envolvidos na coleta e processamento
do tucum so relativamente jovens, na faixa etria de 19 a 40 anos,
correspondendo a 65% dos agricultores entrevistados. H uma
predominncia feminina na coleta e beneficiamento dos frutos de
tucumanzeiro (Tabelas 1 e 2).
Consiste no convvio do agricultor com o pesquisador, estabelecendo-se uma
relao de confiana por parte do agricultor em relao ao pesquisador, facilitando,
assim, o retorno das informaes por parte dos agricultores, as quais fluem com mais
facilidade e so mais reais (CHAMBERS, 1994). De acordo com o mesmo autor, essa
tcnica adotada para favorecer o processo de confiana entre pesquisadores e
agricultores, contribuindo para melhor fluncia de informaes.
Percentual (%)
Ano da chegada
De 1945 a 1970
30,00
De 1971 a 1991
11
55,00
De 2000 a 2006
15,00
Total
20
100,00
19 a 40
13
65,00
41 a 65
35,00
Total
20
100,00
Idade (anos)
Sexo
Masculino
20,00
Feminino
16
80,00
Total
20
100,00
Percentual (%)
Safra do tucum
Janeiro a maro
5,00
Janeiro a maio
13
65,00
Janeiro a julho
30,00
Total
20
100,00
Sim
14
70,00
No
30,00
Total
20
100,00
Casca amarela
35,00
25,00
Casca vermelha
20,00
20,00
Total
20
100,00
Melhor tucum
367
368
Percentual (%)
Hora de colher
Manh
11
Qualquer hora
55,00
45,00
Total
20
100,00
50 a 100 ps
30,00
101 a 200 ps
45,00
201 a 300 ps
10,00
No sabe
15,00
Total
20
100,00
30
13
65,00
40
15,00
60
20,00
Total
20
100,00
At 3 horas
14
70,00
3,5 a 5 horas
15,00
5,5 a 8 horas
15,00
Total
20
100,00
Tempo gasto
Percentual (%)
Consumo de vinho
Sim
13
No
65,00
35,00
Total
20
100,00
Elaborao do vinho
No
35,00
Mulher
11
55,00
Todos
10,00
Total
20
100,00
35,00
Colher e faca
11
55,00
Batendo pilo
10,00
Total
20
100,00
At 1 hora
11
55,00
2 horas
5,00
3 horas
5,00
No tira polpa
35,00
Total
20
100,00
At 50
10,00
51 a 100
45,00
101 a 120
10,00
No tira polpa
35,00
Total
20
100,00
369
Figura 1. Processo de
obteno de leo a
partir da larva contido
no fruto do tucum.
(A) Corte dos frutos;
(B) Retirada das larvas;
(C) Detalhe das larvas;
(D) Lavagem das larvas;
(E) Fritura das larvas;
(F) Separao do leo.
370
Nmero
2
Percentual (%)
10,00
12
60,00
Dentro de casa
15,00
10,00
5,00
Total
20
100,00
Nmero
14
Percentual (%)
70,00
31 a 60
30,00
Total
20
100,00
Percentual (%)
Material utilizado
Terado, forquilha e pedao de pau
14
70,00
15,00
Continua...
371
372
Tabela 7. Continuao.
Terado
Nmero
1
Percentual (%)
5,00
Martelo e forquilha
5,00
5,00
Total
20
100,00
11
55,00
De 5 a 8 horas
40,00
No informou
5,00
Total
20
100,00
Percentual (%)
3,5 kg a 5 kg
15
25,00
75,00
Total
20
100,00
At 300 g
35,00
301 g a 500 g
11
55,00
501 g a 1.000 g
10,00
Total
19
100,00
Nmero
10
Percentual (%)
50,00
10,00
30,00
10,00
Total
20
100,00
Percentual (%)
Comercializao
Consumo
Mercado de Belm
5,00
5,00
Mercado local/hotel
20,00
No vende
14
70,00
Total
20
100,00
5,00
No vende
14
70,00
At R$ 10,00
25,00
Total
20
100,00
373
374
Percentual (%)
Venda 2010
1La3L
13
65,00
3,5 L a 5 L
20,00
5,5 L a 8 L
15,00
Total
20
100,00
1La2L
14
70,00
2,5 L a 4 L
10,00
Acima de 4 L
20,00
Total
20
100,00
30,00 a 50,00
13
65,00
51,00 a 60,00
35,00
Total
20
100,00
Venda 2011
Nmero
4
Percentual (%)
20,00
10,00
25,00
35,00
Venda mo de obra
10,00
Total
20
100,00
Nmero
18
Percentual (%)
90,00
Caranguejeira
Espinho
5,00
5,00
Total
20
100,00%
Concluso
Em virtude de sua rusticidade, aliada s reduzidas necessidades
de cuidados operacionais, torna-se uma planta ideal para o
desenvolvimento como produto para agroindstria na produo de
leo e para a recuperao de reas degradadas na Amaznia Oriental.
Verificou-se que essa atividade desenvolvida principalmente pelas
mulheres enquanto os homens realizam outros trabalhos dentro ou
fora da propriedade, principalmente se as atividades necessitarem de
maior esforo fsico.
Conclui-se que a maior fonte de renda dos agricultores familiares
extrativistas entrevistados envolvidos no processo de coleta e
beneficiamento dos frutos de tucumanzeiro vem dos programas
sociais do governo federal e que os frutos de tucum tm um papel
complementar na dieta alimentar, na renda e no aproveitamento dos
estipes nas infraestruturas das propriedades dos agricultores familiares
entrevistados.
375
Introduo1
Este trabalho foi escrito como parte das comemoraes dos 70 anos
da criao do ex-Instituto Agronmico do Norte, comemorado em
2009. Neste artigo no se apresenta algo novo, apenas so listados
alguns eventos, pessoas e instituies que, de forma direta ou indireta,
esto associados ao desenvolvimento da fruticultura na Amaznia.
Baseou-se apenas na coleta de informaes disponveis e colecionadas
ao longo do tempo e sem a pretenso de publicar nesta oportunidade,
no fosse a pedido do Dr. Claudio Jos Reis de Carvalho, chefe-geral
da Embrapa Amaznia Oriental na poca, e a oportunidade concedida
pelo 4 Frutal Amaznia Semana da Fruticultura, Floricultura e
Agroindstria.
Os resultados de pesquisa so aditivos, associativos e multiplicativos.
Isto indica que diversos resultados de pesquisa de instituies
ou pesquisadores do passado e do presente podem ser somados,
produzindo novas descobertas ou interpretaes de fenmenos. Podem
ser associativos, cujo conjunto de informaes tende a produzir novos
avanos na fronteira cientfica e tecnolgica. Podem ser multiplicativos,
uma vez que uma simples descoberta pode desencadear novas
descobertas ou interpretaes dos resultados anteriores.
Outro pressuposto importante diz respeito fonte das tecnologias
e descobertas cientficas na Amaznia. Esta pode ter quatro origens
principais. A primeira refere-se ao conhecimento tradicional milenar
gerado pelas populaes indgenas, que no caso da Amaznia refere-se
ao conhecimento sobre os recursos naturais da regio, por exemplo, o
amplo conhecimento sobre as frutas nativas da Amaznia que muitos
antroplogos atribuem aos indgenas e sobre a domesticao primitiva
das castanheiras, pupunheiras e outras espcies vegetais existentes na
floresta.
1
Homma (2009).
378
Figura 1. Modelo de
quadrantes da pesquisa
cientfica.
Fonte: Stokes (2005),
adaptado por Rebello e
Homma (2008).
379
380
1669
Missionrio Joo Filipe Betendorf na sua Chronica relata que os
ndios Andirs utilizavam o guaran como planta milagrosa tem os
andirazes em seus matos uma frutinha a qual secam e depois pisam,
fazendo delas umas bolas que estimam como os brancos o seu ouro.
Chama-se guaran. Desfeitas com uma pedrinha em uma cuia dgua...
do tanta fora como bebida que indo caa um dia at outro no
sentem fome, alm do que tiram febres, cibras e dores de cabea.
1676
Destinados a desenvolver plantios de arroz, tabaco, cacau e cana-de-acar, chegaram ao Par 50 famlias dos Aores, totalizando 234
pessoas, fugindo da erupo do vulco na Ilha de Faial, no arquiplago
de Aores.
1679
O rei de Portugal encoraja os produtores a plantar mais cacau no Baixo
Amazonas.
1736
O valor das exportaes de cacau do Par durante o Brasil Colonial
atinge a participao mxima com 96,6%.
17411757
O padre Joo Daniel (17221776), missionrio da Companhia de
Jesus, viveu na Amaznia entre 1741 e 1757, quando foi preso por
ordem de Sebastio Jos de Carvalho e Melo, o Marqus do Pombal
(16991782), em 18 anos de priso qual no sobreviveu (17571776).
Seu clssico livro Tesouro descoberto no mximo Rio Amazonas contm
uma rica descrio das fruteiras encontradas na Amaznia.
1746
Nesse ano, as sementes de cacau do Estado do Par foram levadas por
Louis Frederic Warneaux para o fazendeiro Antnio Dias Ribeiro,
na Fazenda Cubculo, s margens do Rio Pardo, no Municpio de
Canavieiras, Bahia.
381
382
1752
So efetuados os primeiros plantios de cacau no Municpio de Ilhus,
Bahia.
1755
O Marqus de Pombal, o poderoso ministro do rei Dom Jos I, criou
a Companhia Geral de Comrcio do Gro-Par e Maranho, em 7
de junho, que durou at 1778 e promoveu a expulso dos jesutas,
carmelitas e franciscanos, em 1759.
1762
O frei Joo de So Jos de Queirz, no relatrio Viagem e visita do
serto em o bispado do Gro-Par em 1762 e 1763, comentava sobre as
excelncias do guaran na medicina.
1775
O ouvidor Francisco Xavier Ribeiro de Sampaio escrevia os maus
so famosos pela fabricao da clebre bebida guaran, frigidssima,
que j se usa na Europa, em que se tem conhecido algumas virtudes
no seu uso....
1785
O baiano Alexandre Rodrigues Ferreira (17561815), gegrafo,
zologo e botnico, descreveu o uso do guaran em Barcelos e
denominou de Franzinia, em homenagem ao seu professor de
matemtica de Coimbra.
1800
Alexandre von Humboldt (17691859), quando procurava a passagem
do Rio Orinoco com o Rio Negro, identificou o guaran como sendo
cupana, da a denominao, mais tarde, de Paullinia cupana H.B.
Kunth.
1809
Os portugueses ocuparam a Caiena e remeteram plantas novas para o
Par: estoraque (Liquidambar orientalis Mill.), a verdadeira pimenteira
da ndia, o cravo-da-ndia, a noz de Bem, a moscadeira, a nogueira de
Bankul, o bilimbi, a caramboleira, a bananeira de folha vermelha do
Oceano Pacfico e a verdadeira rvore de fruta-po.
18181820
O lado mstico do guaran impressionou von Martius, na sua viagem
pela Amaznia, quando batizou o guaran como Paullinia sorbilis,
utilizada pelos ndios Maus e Andirs, na forma de basto e ralado na
lngua do pirarucu. O nome Paullinia foi colocado em homenagem ao
mdico e botnico alemo C.F. Paullinia, que morreu em 1712.
1850
19 de abril: Entrou no porto de Belm o brigue americano Edward
Henry, que conduzia 50 t de gelo, importadas pelo negociante espanhol
Marcos de Lima, estabelecido em Belm e casado com Dona Joanna
Pires, natural como ele de Gibraltar, falecida em Belm a 7 de junho
de 1846. Com esse gelo, o primeiro introduzido no Par, que vendia
a 100 rs. a libra, comeou Marcos de Lima a preparar sorvetes, que s
ento foram ali conhecidos e custavam 320 rs. (uma pataca) cada um.
1852
Exportao de 262 arrobas de guaran para a Europa.
1865
23 de abril: Chegou ao Rio de Janeiro o suo Jean Louis Rodolphe
Agassiz (18071873), chefiando a Thayer Expedition, financiada
pelo milionrio americano Nathaniel Thayer, para estudar a fauna
ictiolgica da Bacia Amaznica, percorrendo o Rio Amazonas em
todo o seu curso, visitando Tabatinga, Tef, Manaus e retornando a
Belm. Na visita a Maus toma conhecimento do guaran.
1866
O romancista Ingls de Souza escreveu O Cacaulista, que se desenrola
no Paran-mirim, acima de bidos, onde se situavam fazendas de
cacau, tratando das relaes entre os cacaulistas.
1874
O cacaueiro introduzido na Nigria.
1879
O cacaueiro chega a Gana, trazido por Fernando P, procedente da
Ilha de So Tom e Prncipe.
383
384
1892
O cacaueiro introduzido em Camares.
1907
Surgiu em Manaus o guaran Andrade, produzido pela Fbrica
Andrade, a primeira do Pas a produzir refrigerante de guaran, tendo
funcionado at 1970.
1910
Incio das atividades da Fbrica de So Vicente, em Belm, de dona
Maria Rita Ferreira Santos (Dona Sinh), pioneira na fabricao de
doces, geleias e compotas de frutas nativas e exticas da Amaznia
(bacuri, cupuau, mangaba, cubiu, graviola, muruci, buriti, banana,
goiaba e abacaxi), situada na Rua da Municipalidade, 629.
1912
O engenheiro agrimensor Joo Alberto Mas, delegado estadual do
Ministrio da Agricultura, introduziu o cultivo do guaran no Estado
do Acre.
1921
O refrigerante guaran foi lanado no Pas pela Antarctica.
1924
A Brahma registra seu primeiro guaran: Guaran Genuno.
1925
A Sociedade Bahiana de Agricultura introduz mudas de guaran no
Horto Botnico, em Retiro, Salvador.
1927
Lanamento do Guaran Brahma, pela Companhia Cervejaria Brahma.
1929
No final do ano, 50 imigrantes japoneses pertencentes a nove famlias,
foram para Maus trabalhar em uma concesso de 25 mil hectares para
desenvolver plantios de cacau, guaran e arroz, como os principais
produtos. Esse ncleo colonial decorrente do fracasso foi absorvido,
em 1939, pela colnia de Parintins, estabelecida em 1931.
1933
Plantio de 30 mudas de guaran na Estao Experimental de gua
Preta, atual Escola Mdia de Agricultura da Regio Cacaueira, em
Uruuca, Bahia.
1937
Observem que na classificao botnica do guaran esto envolvidos
nomes de cinco cientistas: Humboldt, Bonpland, Kunth, Martius e
Ducke. O estudo de Ducke promoveu a classificao final do guaran
como sendo: Paullinia cupana H.B.K. var. typica, o guaran encontrado
na Colmbia e Venezuela, originariamente por Humboldt e Bonpland,
e Paullinia cupana H.B.K. var. sorbilis (Mart.) Ducke, o guaran de
Maus.
1938
Fundao da fbrica de produtos Globo, em Belm, priorizando o
beneficiamento do guaran, na forma de xarope e refrigerante, com a
razo social Duarte Fonseca & Cia. Ltda.
19401945
Foram fundadas as fbricas Magistral, Luseia e Bar, em Manaus. Mais
tarde surgiram as marcas Brasil, Lder e Tuchaua.
1942
Felisberto Cardoso de Camargo, diretor do Instituto Agronmico do
Norte (IAN), trouxe mudas de mangosto do Panam.
1944
Entrada da sigatoka-amarela na Amaznia.
1945
O comerciante Ovdio Bastos, estabelecido na Avenida Mundurucus,
em Belm, utilizou a primeira mquina de amassar aa, que veio a
substituir as amassadeiras de aa.
Incio das pesquisas com a cultura do cacau no IAN.
1946
O mdico Otthon Machado tenta caracterizar os princpios medicinais
do guaran como antitrmico, antineurlgico e antidiarreico.
385
386
1949
30 de setembro: Fundao da Cooperativa Agrcola Mista de Tom-Au (Camta).
1956
Professora Maria Celene Cardoso de Almeida, da Universidade Federal
Rural de Pernambuco, introduz acerola trazida de Porto Rico.
1957
20 de fevereiro: Criada a Comisso Executiva do Plano da Lavoura
Cacaueira (Ceplac), em Itabuna, BA, vinculada ao Ministrio da
Fazenda, pelo presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira.
1958
Cosme Ferreira Filho foi o primeiro a fabricar guaran em p, para
substituir o trabalhoso processo do uso do guaran em basto.
1959
Encontrada em Camet, localidade de Pacajs, situada a 500 m da
margem esquerda do Rio Tocantins, matriz de cupuau com frutos
sem sementes, de todas que foram disseminadas pelo IAN, Instituto
de Pesquisa Agropecuria do Norte (Ipean) e Embrapa Amaznia
Oriental. O proprietrio era um senhor de 70 anos, com uma produo
mdia de 50 a 60 frutos colhidos por safra e a equipe do IAN verificou
que os frutos apresentavam 2,7 mil gramas de peso. O tronco estava
brocado e a copa reduzida, em virtude da constante retirada do
material. No ano seguinte, em outubro, a equipe do IAN retornou para
coleta de material, tendo efetuado 633 enxertos, dos quais 535 tiveram
sucesso.
1960
Incio das pesquisas agronmicas com o guaran no IAN.
1961
Antnio Lemos Maia efetua o primeiro plantio de guaran com fins
comerciais na Bahia, no Municpio de Ituber.
Outubro: O financiamento das atividades da Ceplac era garantido
pela Cota de Contribuio Cambial, em torno de 10% do valor das
exportaes FOB, garantido uma segurana nos recursos e autonomia
financeira at dezembro de 1983.
1962
Criao do Centro de Pesquisas do Cacau (Cepec), em Itabuna, na
Bahia.
1963
A Companhia Antarctica Paulista adquire uma fazenda em Maus
com 1.070 ha, que em 1972 foi transformada em Sociedade Agrcola
Maus (Samasa).
Paulo de Tarso Alvim Carneiro, mundialmente conhecido como Paulo
Alvim, implanta o Cepec, que dirigiu at a sua aposentadoria em 1988,
promovendo a revoluo tecnolgica na cultura do cacau.
1964
Criao do Departamento de Crdito e Extenso Rural da Ceplac.
1965
Implantao da Ceplac nas dependncias do Ipean, com a chegada do
agrnomo Charles Jos Leondy de Santana.
1966
12 de abril: Incio das atividades da Benedito Mutran & Cia. Ltda. no
beneficiamento da castanha-do-par.
1967
realizada, em Belm, a 1 Conferncia Nacional da Castanha-doPar, no perodo de 20 a 22 de fevereiro, aberta pelo governador Alacid
Nunes.
1968
Novembro: Implantada a Resoluo 42, pelo Conselho Nacional do
Comrcio Exterior (Concex), visando proteger o padro do cacau
brasileiro e com isso prejudicando a qualidade do cacau amaznico.
Essa Resoluo vigorou at setembro de 1988.
1969
15 de maio: Decreto 104.492 criou o Instituto de Pesquisa e
Experimentao Agropecuria da Amaznia Ocidental (IPEAAOc),
com sede em Manaus e abrangncia nos estados do Amazonas, Acre,
Rondnia e Roraima.
1970
A Ceplac instalou a unidade de pesquisa em Manaus, nas dependncias
do IPEAAOc, coordenado por Jos Carlos do Nascimento. Em julho,
em Rondnia iniciou-se o desenvolvimento dos plantios de cacau
liderado por Frederico Monteiro lvares-Afonso.
387
388
1971
Fazenda Cultrosa, no Municpio de Camamu, Bahia, inicia plantios em
escala comercial de guaran.
Incio dos plantios de cacau em Castanhal, Santa Izabel do Par e
Tom-Au, nas reas abandonadas de pimentais pela Sagri, no governo
Fernando Guilhon.
Primeiros plantios de cacau em Brasil Novo, na Rodovia
Transamaznica e em Rondnia, pela Ceplac.
1972
14 de novembro: O presidente Mdici assina a Lei dos Sucos (Decreto-Lei 5.823), regulamentada pelo Decreto-Lei 73.267, de 6 de dezembro
de 1973, estabelecendo os quantitativos de 0,2 g a 2 g de guaran para
cada litro de refrigerante e de 1 g a 10 g de guaran para cada litro de
xarope.
Paulo B. Cavalcante inicia a publicao de Frutas Comestveis da
Amaznia, em trs volumes, o segundo em 1974 e o ltimo em 1979.
A mdica romena Ana Aslan, na sua visita ao Brasil, enfatizou as
propriedades geritricas do guaran, uma vez que estava cuidando
do caudilho Juan Domingo Pern (18951974), que iria assumir
o governo da Argentina no perodo de 19731974, aumentando a
mstica dos benefcios do guaran.
Primeiro plantio de cacau em Altamira.
1973
Implantao do plantio de guaran pela Antarctica, como decorrncia
da Lei dos Sucos, no Municpio de Maus, Amazonas, gerenciado pelo
agrnomo Kiyoshi Okawa.
Divulgao de estudos de mercado de guaran executados pela
Universidade Federal de Viosa em convnio com a Acar-Amazonas
Primeiros plantios de cacau em Medicilndia e Uruar.
1974
16 de abril: Criao do Centro Nacional de Pesquisa de Seringueira,
em Manaus, pela Deliberao da Diretoria 098/74.
18 de abril: Ceplac foi incorporada ao Ministrio da Agricultura,
desvinculando-se do Ministrio da Fazenda, por meio do Decreto-Lei
73.960.
1975
23 de janeiro: Deliberao da Diretoria da Embrapa 005/75 criou o
Centro de Pesquisa Agropecuria do Trpico mido (Cpatu).
13 de junho: Deliberao da Diretoria 028/75 criou a Unidade de
Execuo de Pesquisa de mbito Estadual de Manaus (Uepae de
Manaus) e de Altamira (Uepae Altamira).
Ceplac inicia pesquisas com guaran, com material proveniente do
Cpatu na Estao Experimental Lemos Maia, em Una.
No municpio baiano de Camamu, a Agro-Brahma S.A. implantada
ocupando uma rea total de 1.250 ha, dos quais 255 ha plantados com
guaran.
Implantao da estrutura tcnico-administrativa do Departamento
Especial da Amaznia (Depea), em Belm.
1976
Incio das plantaes de guaran, no Estado do Mato Grosso, em Alta
Floresta, pela Colonizadora Indeco.
Lanamento de Diretrizes para a Expanso da Cacauicultura Nacional
(Procacau), pelo presidente Ernesto Geisel, que vigorou no perodo de
1976 a 1985.
Foi aprovada a utilizao do Fundo Rotativo Suplementar para a
expanso da cacauicultura (Fusec).
Implantao no Municpio de Moju, a 110 km de Belm do Par, do
maior plantio de coqueiros do pas, com 796 mil coqueiros plantados
em cerca de 5 mil hectares.
1976 (?)
O agrnomo sergipano Antnio Soares Neto, da Emater/PA, durante
a dcada de 1970, trouxe mudas de Sergipe para iniciar os primeiros
plantios de laranja no Municpio de Capito-Poo, Par. Plantou as
primeiras 4 mil mudas, em reas decadentes de pimentais, que contou
com o apoio da Sagri e Emater na distribuio de mudas e teve forte
impulso na dcada de 1980. Akihiro Shironkihara, pastor da Igreja
Tenrikyo, introduziu o cultivo do mamo hawai, desenvolvido pela
Universidade do Hawai.
1977
Incio das pesquisas sobre a propagao vegetativa do guaran
executadas pela Uepae de Manaus.
389
390
1978
Ernesto Geisel assina a Lei 6.576/78 proibindo a derrubada de
aaizeiros para extrao de palmito.
1979
A Ceplac instala a Estao de Recursos Genticos Jos Haroldo
(ERJOH), que constitui o terceiro maior banco de germoplasma
de cacau do mundo, a 17 km de Belm, com quase 2 mil acessos de
variedades nativas da Amaznia.
1980
O agricultor Katsutoshi Watanabe foi o primeiro plantador de
cupuauzeiro em escala comercial no Estado do Par.
1981
O governo do Estado do Amazonas financia a produo de 100 mil
mudas de guaran pelo processo de enraizamento de estacas.
Incentivo ao plantio de guaran em Roraima.
Fabricao do guaran em p solvel pelo Cpatu.
A Fazenda Aruan inicia o plantio de 3,5 mil hectares, com mais de
300 mil castanheiras enxertadas na margem esquerda da rodovia
Manaus-Itacoatiara.
Carlos Hans Mller publica Castanha-do-brasil, estudos agronmicos
que justificariam os esforos do setor produtivo no plantio dessa
rvore.
1982
15 a 17 de fevereiro: realizado em Belm, o 1 Simpsio Nacional da
Castanha promovido pela Sudam, coordenado pelo Superintendente
Elias Seffer.
As normas e padres sobre a classificao do guaran esto regulados
pela Portaria 70, de 16 de maro de 1982, do Ministrio da Agricultura.
Eunice Michilles, deputada estadual (19741978), senadora (1979
1987), publica o trabalho Uma alternativa econmica e social para o
Brasil: a cultura do guaran, defendendo a proposta de fundao do
Instituto do Guaran. No incio, dedicou-se s atividades de magistrio
no Municpio de Maus.
Instalao da Ceplac na Rodovia Augusto Montenegro, em Belm,
Par.
1983
7 de julho: Lanado em Manaus o Programa Nacional de Estmulo ao
Desenvolvimento do Guaran, pela Secretaria de Produo Rural do
Estado do Amazonas (Sepror), que tinha como meta estabelecer 16
mil hectares de guaran no Estado do Amazonas no quadrinio 1982
1985, chegando apenas a 4 mil hectares.
24 a 28 de outubro: Realizao do 1 Simpsio Brasileiro do Guaran,
em Manaus.
A pesquisadora Raimunda Ftima Ribeiro de Nazar, da Embrapa
Amaznia Oriental, iniciou os estudos da industrializao das
sementes do cupuau, concluindo em 2 anos o que foi batizado de
cupulate.
Dezembro: Oramento da Ceplac que tinha como suporte o Imposto
de Exportao vigorou at outubro de 1989, quando a partir desta data
passou a depender exclusivamente do Oramento Fiscal da Unio,
iniciando os graves problemas financeiros da Instituio.
1984
Produo mxima de cacau do Pas de 457 mil toneladas.
Prof. Rubens Rodrigues Lima inicia ciclo de 15 expedies botnicas,
que seria encerrado em 1988, para coleta de germoplasma de plantas
pr-colombianas.
Domnio da biologia da florao da castanha-do-par pelo Cpatu.
1987
Grande estiagem no sul da Bahia, provocando a perda de produo de
100 mil toneladas de cacau.
Instalao da Unidade de Processamento Industrial da Sococo no
Municpio de Ananindeua.
O primeiro plantio de abacaxi em Floresta do Araguaia embarcado em
caminho foi de Waldemar Rodrigues Costa
1988
Foi concluda a fbrica de sucos da Associao de Fomento Agrcola de
Tom-Au (Asfata), fundada em 1981, que passou para administrao
da Camta em 1991.
Paulo de Tarso Alvim tomou conhecimento, por meio do fazendeiro
Clodomir Xavier de Oliveira, de Ubaitaba, de que agricultores vindos
de Rondnia conduziam frutos de cacau infestados com vassoura-de-
391
392
198?
Incio da expanso do cultivo do abacaxi em Salvaterra levou no final
da dcada de 1980 autossuficincia do Estado do Par.
1989
11 de julho: Deliberao da Diretoria 008/89 criou o Centro de
Pesquisa Agroflorestal da Amaznia, em Manaus, substituindo o
Centro Nacional de Pesquisa de Seringueira e Dend e a Uepae de
Manaus.
29 de setembro: Lei 7.827 criou o Fundo Constitucional de
Financiamento do Norte (FNO).
26 de outubro: A Resoluo 1.661, do Conselho Monetrio Nacional
suspende a fonte de recursos da Ceplac advinda da taxa do Imposto
de Exportao.
Disseminao da vassoura-de-bruxa nos cacauais da Bahia em grande
escala.
1990
Boletim de Pesquisa 108, editado pelo Cpatu, publicou a descrio
do processo de fabricao do cupulate e ao mesmo tempo efetuou
o pedido de reserva de patente de processo e do produto junto ao
1991
1 de maro: Deliberao da Diretoria 004/91 criou o Centro de
Pesquisa Agroflorestal da Amaznia Oriental, substituindo o Centro
de Pesquisa Agropecuria do Trpico mido, a partir de 2 de abril.
Deliberao da Diretoria 005/91 alterou a denominao de Centro
de Pesquisa Agroflorestal da Amaznia para Centro de Pesquisa
Agroflorestal da Amaznia Ocidental, localizado em Manaus.
1993
Foi realizado o 1 Festival do Abacaxi em Floresta do Araguaia.
1994
Implantao da Citropar Citrcos do Par, maior produtora de
laranja no Estado do Par, nos municpios de Capito Poo e Garrafo
do Norte, uma fazenda com mais de 3 mil hectares cultivados com
laranjeiras.
Existiam na Bahia 296 mil hectares que ainda estavam livres da
vassoura-de-bruxa.
1995
Na cidade de Tapero, a 300 km de Salvador, a empresa Naturkork
e Naturwaren Import & Grobhandel adquire o guaran orgnico,
reconhecido pelo Instituto Biodinmico (IBD) e exporta para a
Alemanha. Em 1995, foi feita a primeira exportao de 2 t de guaran
orgnico. Em 1999, 3,5 t e, em 2000, 4 t foram exportadas para a
Alemanha. A empresa adquire aproximadamente 7 t de guaran
orgnico produzido por 21 produtores que cultivam o guaran
orgnico no Projeto Ona.
O Brasil perde para Gana a segunda posio que vinha mantendo
desde a dcada de 1940.
Incio das atividades da Amazon Frut Frutas da Amaznia Ltda. na
Ilha de Murutucu.
1996
25 a 29 de maro: Realizao do 1 Workshop sobre As Culturas do
Cupuau e da Pupunha na Amaznia, em Manaus, Amazonas.
393
394
1997
Fevereiro: Utilizado pela primeira vez o processo de substituio de
copa de cupuauzeiro, seguindo o mesmo procedimento utilizado
para os cacaueiros e cajueiros pelo pesquisador Rubens Rodrigues de
Lima e Jos Paulo Chaves da Costa, para a substituio por clones mais
tolerantes vassoura-de-bruxa.
18 de setembro: O Ibama promulga a Portaria 108, permitindo a
derrubada de castanheiras desvitalizadas para madeira, assinada pelo
presidente do Ibama, Eduardo de Souza Martins.
Apenas 11 mil hectares dos cacauais da Bahia estavam livres da
vassoura-de-bruxa.
23 de dezembro: A tese de doutorado no Centro de Cincias Biolgicas
da UFPA do pesquisador Oscar Lameira Nogueira, intitulada Estratgias
de Regenerao, Manejo e Explorao de Aaizais Nativos de Vrzea do
Esturio Amaznico, sintetiza conjunto de prticas desenvolvidas pela
Embrapa Amaznia Oriental e pelo Museu Paraense Emlio Goeldi
sobre manejo de aaizeiros.
1998
5 de agosto: Registro da composio cosmtica incluindo extrato de
cupuau pela The Body Shop International, do Reino Unido com
nmero de registro GB 2321644.
3 a 5 de novembro: Workshop Biodiversidade: Recursos Genticos
Vegetais da Amaznia, de Plantas Medicinais, Aromticas, Inseticidas
e Corantes, com Potencial Socioeconmico, realizado em Belm,
patrocinado pela Sudam.
Implantada a empresa Muan Alimentos visando industrializao do
fruto do aa.
20 de outubro: Instalada a Floresta do Araguaia Conservas Alimentcias
Ltda. (Flora) para exportao de polpa de abacaxi.
Detectada a presena da sigatoka-negra em Tabatinga no Estado do
Amazonas e no Acre.
1999
1 de julho: Ocorreu a fuso da Companhia Antarctica e da Companhia
Cervejaria Brahma, resultando na Companhia de Bebidas das
Amricas (AmBev), que a imprensa enfatizou como sendo a primeira
multinacional verde-amarela. Isso parece descortinar o nascimento do
segundo boom do guaran na Amaznia.
21 de outubro: A Pepsico Inc., produtora da Pepsi Cola, e a AmBev
assinaram o International Masters Franchising Agreement, para
distribuio do guaran para mais de 175 pases do mundo inteiro, a
partir do ano 2000.
8 de novembro: Criada a Associao das Indstrias de Polpa e Suco
de Frutas do Par (Asspolpa), transformada 1 ano depois no Sindicato
das Indstrias de Frutas e Derivados do Estado do Par (Sindfrutas).
28 de novembro: Lanamento das cultivares de guaran BRS-Amazonas, tolerante antracnose, e BRS-Maus, tolerante
antracnose e ao superbrotamento, pela Embrapa Amaznia Ocidental,
em Maus, Amazonas.
26 a 28 de novembro: Foi realizada em Maus a 20 Festa do Guaran.
Dezembro: Criao da Pupunha-Net, uma iniciativa do Grupo de
Pesquisa com a Pupunha liderado pelo Inpa com colaborao de
pesquisadores da Embrapa da Amaznia e Paran, do Instituto
Agronmico de Campinas e outras instituies brasileiras.
Detectada a presena da sigatoka-negra em Rondnia
Embrapa Amaznia Ocidental recomenda as cultivares de bananeiras
Caipira e Thap Maeo para vencer o aparecimento da sigatoka-negra.
2000
Detectada a presena da mosca-negra-dos-citros.
Detectada a presena da sigatoka-negra em Almeirim.
6 a 9 de novembro: Realizao da 1 Reunio Tcnica da Cultura do
Guaran, em Manaus, na Embrapa Amaznia Ocidental, incluindo
um minicurso sobre a cultura.
26 de dezembro: Fundado o Sindicato das Indstrias de Frutas e
Derivados do Estado do Par (Sindfrutas), que possui 19 indstrias
associadas, todas instaladas nas regies Nordeste Paraense e
Metropolitana de Belm.
Herv Rogez publica o livro Aa: preparo, composio e melhoramento
da qualidade.
395
396
2001
Janeiro: Sucasa, empresa sediada em Castanhal, implantada com um
investimento de R$ 6 milhes, exportou a primeira partida de 21 t de
um energtico base de aa e guaran em sacos plsticos de 100 g,
que iro direto para lanchonetes e prateleiras de supermercados dos
Estados Unidos, no valor de US$ 45 mil.
26 de maio: Inaugurada a Amafibra Fibras e Substratos da Amaznia
Ltda, no Distrito Industrial de Ananindeua.
9 a 12 de outubro: Realizado em Porto Velho, Rondnia, o Seminrio
Internacional do Agronegcio do Cacau: uma Alternativa para o
Desenvolvimento Sustentvel para a Amaznia, promovido pela Ceplac,
IICA/Procitrpicos e Embrapa.
30 de outubro: Registro da gordura do cupuau e de mtodo para
produzir e seu uso pela Asahi Foods Co. Ltd., no Japo, com nmero
de registro JP 2001299278.
20 a 22 de novembro: Realizao da 2 Reunio Tcnica da Cultura do
Guaran, em Belm do Par, na Embrapa Amaznia Oriental.
20 a 25 de novembro: Realizao da 1 Amazontech, em Boa Vista,
numa iniciativa das unidades do sistema Sebrae situadas na Amaznia
Legal, em parceria com a Embrapa e Universidades Federais da
Amaznia, em cursos, palestras e produtos.
18 de dezembro: Nova patente pela Asahi Foods Co. Ltd. com nmero
de registro JP 2001348593 sobre registro de leo e gordura derivados
da semente do cupuau (Theobroma grandiflorum) e mtodo para
produzi-lo.
Restries colocadas pelos pases europeus quanto tolerncia de at
4 ppb (partes por bilho) de aflatoxina, enquanto nos Estados Unidos
o limite de 20 ppb, levou devoluo de 466 t pela Alemanha, Itlia,
Frana, Holanda e Reino Unido, envolvendo um prejuzo de quase
423 mil dlares.
Detectada a presena da sigatoka-negra em Porto de Moz.
Embrapa Amaznia Ocidental efetua o lanamento da cultivar Prata
ken, para vencer o aparecimento da sigatoka-negra.
Ryan Black fundou a Sambazon quando descobriu as potencialidades
do aa durante uma viagem de surf no Brasil.
2002
3 de julho: Ocorreu novo registro da produo e uso da gordura da
semente do cupuau pela Asahi Foods Co. Ltd. para a Unio Europeia,
com nmero de registro EP 1219698A1, simultneo para a Ompi
mundial, com nmero de registro WO0125377.
5 de agosto: Charles R. Clement condecorado com a Ordem Nacional
do Mrito Cientfico Classe Comendador.
6 de agosto: Criao do Programa Alimentos Seguros (PAS) por meio
de parceria entre CNI/Senai e Sebrae.
11 a 12 de setembro: Realizada a 1 Feira Internacional da Amaznia
(1 Fiam), promovida pela Suframa, em Manaus.
17 a 22 de setembro: Ocorreu em Rio Branco a 2 Amazontech, numa
iniciativa das unidades do sistema Sebrae situadas na Amaznia Legal,
em parceria com a Embrapa e Universidades Federais da Amaznia,
em cursos, palestras e produtos.
17 de outubro: Verificou-se o registo da produo e uso da gordura da
semente do cupuau pela Cupuau International Inc. para a Ompi
mundial, nmero de registro WO02081606.
18 a 22 de novembro: Realizao do 17 Congresso Brasileiro de
Fruticultura, realizado em Belm.
18 de novembro: Lanamento de quatro clones de cupuauzeiro
tolerantes vassoura-de-bruxa (Coari, Codajs, Manacapuru e Belm).
Esses clones foram selecionados pela Embrapa Amaznia Oriental,
decorrentes das coletas efetuadas pelo Prof. Rubens Rodrigues de
Lima, entre 1984 e 1988, em 15 expedies realizadas, com a formao
de uma coleo constituda por gentipos coletados em condies
silvestres, pomares caseiros e em plantios comerciais.
Embrapa Amaznia Ocidental recomenda as cultivares Prata Zulu e
FHIA 18 para vencer o aparecimento da sigatoka-negra.
Jos Edmar Urano de Carvalho, Carlos Hans Muller e Walnice Maria
Oliveira do Nascimento divulgam tcnicas inditas de propagao de
bacurizeiros.
2003
9 de janeiro: A organizao no governamental Amazonlink descobre
o registro de cupuau pela Asahi Foods Co. Ltd., provocando uma
grande discusso na mdia brasileira.
18 de janeiro: Artigo na revista New Scientist intitulado Going bananas
397
398
2004
12 a 13 de janeiro: Realizado o curso de Manejo de Doenas do
Maracujazeiro, pela Embrapa Amaznia Oriental com Esalq/USP,
Nova Amafrutas, Embrapa Cerrados e Amazonflora.
1 de maro: o Escritrio de Marcas do Japo (JPO) em Tquio
cancela o registro como marca comercial do cupuau, solicitado pela
multinacional japonesa Asahi Foods.
28 de junho: Foi divulgado o primeiro foco do mal da sigatoka-negra
em So Paulo, na cidade de Miracatu, no Vale do Ribeira, pelo Instituto
Biolgico.
16 a 21 de agosto: Ocorreu em Cuiab o 4 Amazontech, numa
iniciativa das unidades do sistema Sebrae situadas na Amaznia Legal,
em parceria com a Embrapa e Universidades Federais da Amaznia,
em cursos, palestras e produtos.
2005
18 de maro: Ocorreu o lanamento do selo alusivo ao cupuau,
procurando dar visibilidade a uma fruta amaznica que foi sujeita a
registro de marca.
A Embrapa Amaznia Ocidental efetua o lanamento da cultivar BRS
Vitria e BRS Japira para vencer o aparecimento da sigatoka-negra.
A Bolthouse do Brasil Indstria e Comrcio de Frutas, Polpas e Sucos
inicia a operao de sua unidade de produo de aa, no Distrito
Industrial de Icoaraci.
2006
11 de fevereiro: Realizao do 1 Curso de Manejo de Bacurizeiros e do
1 Festival do Bacuri, em Camar, Cachoeira do Arari, pela Embrapa
Amaznia Oriental e pela Emater-Par.
4 a 5 de abril: Workshop Regional da Castanha-do-brasil: pesquisa,
produo e comercializao, realizado pela Embrapa Amaznia
Oriental, em Belm.
7 a 10 de junho: Foi realizado o 1 Frutal Amaznia Semana da
Fruticultura, Floricultura e Agroindstria, em Belm, Par.
399
400
2007
20 a 23 de junho: Foi realizado o 2 Frutal Amaznia Semana da
Fruticultura, Floricultura e Agroindstria.
23 a 25 de novembro: Realizao da 8 Festa do Cacau em Medicilndia.
13 de setembro: 1 Seminrio Regional da Cadeia Produtiva da
Fruticultura Familiar, realizado em Marab, pela Emater-Par.
2008
24 a 26 de maro: 1 Encontro de Frutas Nativas das Regies Norte e
Nordeste do Brasil Frutas Nativas: Novos Sabores para o Mundo,
realizado em So Lus, Maranho.
20 de maio: O presidente da Repblica Luiz Incio Lula da Silva
sanciona a Lei n. 11.675, estabelecendo o cupuauzeiro como fruta
nacional.
26 a 29 de junho: Foi realizado o 3 Frutal Amaznia Semana da
Fruticultura, Floricultura e Agroindstria.
11 a 13 de setembro: Realizao da 4 Feira Internacional da Amaznia
(4 Fiam), promovida pela Suframa, em Manaus.
25 a 29 de novembro: Ocorreu em So Lus o 6 Amazontech, numa
iniciativa das unidades do sistema Sebrae situadas na Amaznia Legal,
em parceria com a Embrapa e Universidades Federais da Amaznia,
em cursos, palestras e produtos.
2009
25 a 28 de junho: Foi realizado o 4 Frutal Amaznia Semana da
Fruticultura, Floricultura e Agroindstria.
25 a 28 de novembro: 5 Feira Internacional da Amaznia (5 Fiam),
em Manaus.
2011
18 a 22 de outubro: Realizao do Amazontech 2011 em Palmas,
Tocantins.
2012
15 de maro: Lanamento da variedade de cupuauzeiro Carimb, em
Tom-Au.
13 a 17 de novembro: Realizao da Amazontech 2012, em Macap,
Amap.
12 a 13 de dezembro: Seminrio Plano Nacional para a Promoo de
cadeias de valor de Produtos da Sociobiodiversidade (Plano Sociobio),
em Belm.
Comentrios finais
A fruticultura deve estar inserida no programa governamental do
Plantio de Um Bilho de rvores, lanado pelo presidente da Repblica,
em Belm, no dia 30 de maio de 2008. A fruticultura deve ser entendida
como uma alternativa para ocupar reas j desmatadas, promover
o reflorestamento e garantir emprego e renda para as populaes
regionais. Em todas as atividades relacionadas fruticultura o controle
de pragas e doenas e a oferta de alimentos seguros representa uma
prioridade importante.
A regio Norte se destaca no cenrio regional e nacional na produo
de diversas fruteiras, tanto anuais como perenes e extrativas. Dentre
os estados componentes, o Par ocupa a primeira posio nacional
de cupuau, segundo lugar na produo de cacau e castanha-do-par, terceiro lugar de banana e abacaxi e quarto em coco. Quanto
aos produtos extrativos como palmito e castanha-do-par, nota-se a
primazia dos estados do Par e Acre. O destaque cabe na produo de
abacaxi, na qual o Estado do Par o maior produtor regional. Outra
fruteira anual importante a melancia, destacando-se o Estado do
Tocantins como maior produtor regional. O cultivo de melo, que teve
o seu auge no Estado do Par durante a dcada de 1970, foi perdendo
a sua importncia com os plantios realizados no Nordeste e Sudeste do
pas, mais prximos dos grandes centros consumidores.
401
402
403
Introduo1
Figura 1. Lingotes de
ferro-gusa prontos para
exportao em Marab,
PA.
406
Figura 3. Conjunto
de fornos de carvo
em lote de projeto
de assentamento no
Sudeste do Par.
407
408
Figura 5. Conjunto de
fornos do tipo raboquente no Sudeste do
Par.
409
410
Introduo1
No incio do processo de povoamento na Amaznia, que tem como
marco de referncia a fundao da cidade de Belm (1616) at a
abertura da Rodovia Belm-Braslia (1960), a madeira extrada era
praticamente das vrzeas. A fora muscular humana era responsvel
pelo corte e o meio aqutico indispensvel para o arraste e transporte
da madeira.
Com a abertura de rodovias que passaram a cortar os estados da
Amaznia Legal e com o esgotamento das reservas florestais da
Mata Atlntica, a extrao madeireira em reas de terra firme passou
a dominar em todas as frentes de expanso agrcola. A motosserra,
inventada por Andreas Stihl, em 1927, torna-se um instrumento
prtico no final da dcada de 1960, sendo instalada a primeira fbrica
de motosserras no Brasil em 1973. Com o uso da motosserra, a
produtividade da mo de obra no desmatamento, antes dependente
do uso do terado, da foice e do machado, aumentou 700%. A extrao
madeireira tradicional estimada em 0,5 m/homem/dia aumentou em
34 vezes com o uso da motosserra e foi ampliada, posteriormente,
com o uso de maquinaria no arraste e transporte (NASCIMENTO;
HOMMA, 1984).
A extrao madeireira de florestas nativas tornou-se a principal
atividade econmica em todos os estados da Amaznia Legal,
ocupando a terceira posio na pauta das exportaes, vindo logo
depois dos minrios. Muitos municpios nasceram com a extrao
madeireira, com forte lobby poltico, com grandes custos sociais e
ambientais, de violncia no campo e da insensibilidade quanto aos
rumos futuros. Caminhes madeireiros improvisados cruzavam as
estradas, serrarias ilegais em constante mudana para novos locais e
com grande desperdcio constituam o cenrio em vrios municpios
1
412
413
414
415
416
417
418
419
420
rea (km)
3.214.046,58
%
64,26
No floresta
953.262,50
19,06
Hidrografia
114.913,56
2,30
11.458,64
0,23
Desflorestamento 2008
Continua...
Tabela 1. Continuao.
Classe
Agricultura fnual
Mosaico de ocupaes
rea (km)
34.927,24
%
0.70
24.416,57
0,49
3.818,14
0,08
Minerao
730,68
0,01
Outros
477,88
0,01
335.714,94
6,71
rea urbana
Pasto limpo
Pasto sujo
62.823,75
1,26
48.027,37
0,96
594,19
0.01
150.815,31
3,01
45.406,27
0,91
5.001.433,63
100,00
421
422
Consideraes finais
H ainda uma longa distncia para tornar positivo o saldo entre
reflorestamento e desmatamento, desenvolver uma nova agricultura
e recuperar as reas que no deveriam ter sido desmatadas. O
reflorestamento nas reas desmatadas deve estar orientado tanto
para reverter os antigos ecossistemas, quanto para reconstruir matas
perturbadas pela ao antrpica e mudar a paisagem em reas antes
inexistente. Para estimular o reflorestamento, o custo total da madeira
proveniente de uma floresta nativa deveria ser equivalente ao custo
total de uma floresta cultivada. Os problemas da Amaznia no so
independentes. Para reduzir a presso sobre os recursos madeireiros
importante que se promova o reflorestamento no Nordeste, Sul e
Sudeste Brasileiro, grandes consumidores de madeira amaznica.
Existe um preconceito com relao s plantations na Amaznia,
necessrias para reflorestamento, para obter economia de escala,
reduo de custos de produo e viabilizar o empreendimento. Para
os produtores que plantaram mogno e encontravam dificuldades
423
Introduo1
Os Sistemas Agroflorestais (SAFs) implantados entre os agricultores
nipo-brasileiros de Tom-Au e Acar decorreram da busca de
alternativas produtivas, em funo da disseminao do Fusarium nos
pimentais (Piper nigrum L.), que surgiu em 1957 e passou a devastar os
plantios a partir da dcada de 1970, e da queda de preos decorrente da
expanso desordenada dos plantios (HOMMA, 2006a; BARROS et al.,
2011). A prtica de SAFs no nova e j era utilizada por comunidades
indgenas, caboclas e ribeirinhas, sobretudo para fins de subsistncia,
entretanto, os colonizadores europeus somente perceberam a sua
importncia muito tempo depois. As populaes indgenas j utilizavam
tcnicas de transformar arredores de suas moradias em concentraes
de castanheiras (Bertholletia excelsa HBK) e de pupunheiras (Bactris
gasipaes Kunth). Os agricultores nipo-brasileiros em Tom-Au e
Acar desenvolveram sistemas visando aproveitar reas de pimentais
antes do seu plantio, durante o ciclo produtivo e aps o seu declnio
compondo sistemas agroflorestais (BOLFE; BATISTELLA, 2011;
DUBOIS et al., 1996; KATO; TAKAMATSU, 2005; MILLER; NAIR,
2006;).
Os SAFs encontrados nos municpios de Tom-Au e Acar se
sobressaem aos demais sistemas praticados por produtores locais,
desenvolvendo tecnologias e processos, assemelhando-se s chamadas
ilhas de eficincia, passveis de serem reproduzidos pelos demais
produtores, podendo sofrer adaptaes ao longo do tempo com
as modificaes do contexto socioeconmico e ambiental em que
foram criados (ARCE; LONG, 2000; BARROS et al., 2011). So
formados basicamente por cultivos de pimenta-do-reino, cacaueiro,
aaizeiro (Euterpe oleracea Mart.) e cupuauzeiro [Theobroma
grandiflorum (Willd. ex Spreng.) Schum], combinados entre si e/
Verso ampliada de Homma (2011b).
Trabalho apresentado na verso ampliada de Homma (2011a).
426
Metodologia
rea de estudo
O Municpio de Tom-Au, Par, localizado na mesorregio Nordeste
Paraense (24054S e 481611O), a 200 km da cidade de Belm,
possui um clima tropical chuvoso com estao seca bem definida,
temperatura mdia anual entre 26,3 C e 27,9 C, umidade relativa
entre 82% a 88%, precipitao de 2,5 mil milmetros anuais, com
distribuio mensal irregular, tendo um perodo (novembro a junho)
com maior intensidade de chuvas, ocupa uma rea de 5.179 km2 com
populao de 55.538 habitantes, que composta por cerca de 60% de
paraenses (FRAZO et al., 2005; IBGE, 2012; KATO; TAKAMATSU,
2005; RODRIGUES et al., 2001; YAMADA, 1999) O Municpio de
Tom-Au comeou com a imigrao dos japoneses a essa regio em
1929.
Dados utilizados
Os dados utilizados foram obtidos no levantamento de campo
realizado entre os colonos nipo-brasileiros no Municpio de Tom-Au, sob a superviso da Associao Cultural e Fomento Agrcola de
Tom-Au (Acta). Foram entrevistados 96 produtores, do universo de
122 associados da Cooperativa Agrcola Mista de Tom-Au (Camta).
Como alguns produtores possuam at seis propriedades e preencheram
um questionrio para cada uma delas, foram preenchidos, ao todo,
274 questionrios, dos quais 198 foram efetivamente aproveitados.
O no aproveitamento de 76 questionrios decorreu da falta de
preenchimento das informaes, ou seja, os questionrios foram
devolvidos incompletos. Os questionrios, escritos em portugus e
japons, foram entregues aos produtores no incio de 2006 e recolhidos
medida que eram preenchidos, seguido de coleta anual de dados da
Camta at 2011 (BARROS 2009; BARROS et al., 2011).
A coleta dos dados foi desenvolvida por meio de perguntas abertas
e fechadas, que obedeceram a critrios de uma linguagem coloquial,
de modo que as informaes obtidas permitissem atingir os objetivos
da pesquisa. As variveis selecionadas referem-se opinio dos
agricultores com relao aos SAFs; aspectos comparativos entre SAFs
e monocultivos, como qualidade do produto, produo por p, tratos
culturais, quantidade de mo de obra necessria, capina e lucro por
rea; espcies de interesse para plantio e pela implantao de sistema
agrossilvipastoril.
427
428
Resultados e discusso
A partir dos resultados tabulados foram mapeados e identificados 442
consrcios ou sistemas agroflorestais a partir do questionrio aplicado
com os agricultores nipo-brasileiros de Tom-Au. A partir da cultura
principal, ou seja, aquela que contm o maior nmero de ps plantados,
foram identificadas 14 famlias de SAFs, cuja composio de plantas
variou no mnimo de duas ao mximo de sete plantas (Tabela 1 e
Figura 1).
Tabela 1. Presena das culturas como componentes dos 442 SAFs identificados entre os agricultores
nipo-brasileiros de Tom-Au, Par.
Mercado no presente
Mercado
Cultura para garantir Cultura como renda Mercado secundrio potencial ou como
sombreamento
renda inicial
permanente
Pimenteira-do-reino
Cacaueiro (297)
Pupunheira (11)
Espcies madeireiras(1)
(194)
Sem mercado
definido
Camu-camu (3)
Maracujazeiro (24)
Aaizeiro (156)
Mangueira (8)
Castanheira (92)
Noni (3)
Bananeira (9)
Cupuauzeiro (140)
Abacateiro (4)
Seringueira (55)
Cumaru (2)
Mamoeiro (2)
Taperebazeiro (35)
Muricizeiro (3)
Puxuri (8)
Neem (17)
Mandioca (1)
Aceroleira (21)
Rambutazeiro (2)
Piquiazeiro (4)
Cardamono (1)
Coqueiro (16)
Goiabeira (2)
Bacurizeiro (3)
Malang (1)
Limoeiro (15)
Urucunzeiro (2)
Baunilha (1)
Achachairu (1)
Gravioleira (15)
Laranjeira (2)
Uxizeiro (1)
Sapucaia (1)
Espcies
sombreadoras sem
valor de mercado(2)
Cafeeiro (1)
Cana-de-acar (1)
Mangostozeiro (5)
Sapotizeiro (1)
Dendezeiro (5)
Abricoteiro (1)
Cajueiro (1)
Caramboleira (1)
Nota: Os nmeros entre os parnteses referem-se presena das culturas no conjunto de 442 SAFs identificados.
Mogno (56), teca (26), paric (24), freij (24), ip-amarelo (24), andiroba (14), cedro (14), para-para (3), virola (2), acapu (1), tatajuba (1).
(1)
Espcies madeireiras = acapu (Vouacapoua americana Aubl.); andirobeira (Carapa guianensis Aubl.); cedro (Cedrella odorata L.); ip
(Tabebuia serratifolia); mogno (Swietenia macrophylla King.); para-para (Jacaranda copaia); paric [Schizolobium amazonicum (Huber)
Ducke]; tatajuba (Bagassa guianensis); teca (Tectona grandis L.); virola (Virola surinamensis).
(2)
Espcies sombreadoras: eritrina (Erytrina sp.); gliricdia (Gliricdia sepium); ingazeiro (Inga edulis Mart); palheteira (Clitoria racemosa).
Nomes cientficos de fruteiras e outros: abacateiro (Persea americana Mill.); abricoteiro (Mammea americana L.); achachairu (Garcinia
humilis Vahl); bacurizeiro (Platonia insignis); baunilha (Planifolia mexicana); cafeeiro (Coffea arabica L.); cajueiro (Anacardium occidentale
L.); camu-camuzeiro (Myrciaria dbia); cana-de-acar (Saccharum officinarum L.); caramboleira (Averrhoa carambola L.); cardamomo
(Elettaria cardamomum); coqueiro (Cocos nucifera L.); cumaru [Dipteryx odorata (Aubl.) Willd.]; dendezeiro (Elaeis guineensis L.); goiabeira
(Psidium guayaba L.); gravioleira (Anona muricato L.); laranjeira (Citrus sinensis); limoeiro (Citrus limon); mamoeiro (Carica papaya L.);
mandioca (Manihot esculenta); mangostozeiro (Garcinia mangostana); mangueira (Mangifera indica); marang ou malang (Artocarpus
odoratissimus); murucizeiro [Byrsonima crassifolia (L) HBK]; neen (Azadirachta indica A. Juss.); noni (Morinda citrifolia); piquiazeiro
(Aspidosperma desmanthum); puxuri [Licaria puchury-major (Mart.) Kosterm.]; rambutanzeiro (Nephelium lappaceum L.); sapotizeiro
(Manikara zapota L.); sapucaia (Lecythis pisonis Camb.); taperebazeiro (Spondias mombin L.); uxizeiro [Endopleura uchi (Huber) Cuatrec.].
Figura 1. Famlia de
SAFs tendo a pimenta-do-reino como cultura
inicial.
429
430
N produtores
22
%
11,11
Mdia (ha)
20,29
31,27
25 50
36
18,18
50 100
43
21,72
64,80
100 400
66
33,33
192,79
400 1.000
14
7,07
653,95
1.000 2.000
09
4,55
1.210,85
4,04
2.800,00
100,00
710,60
> 2.000
08
Total
198
Estrato (ha)
rea plantada
<25
32
Pastagem
11
16
21
24
38
69
35
Capoeira
27
23
23
26
12
13
Mata
20
27
25
29
42
20
50
Outros
10
431
432
Frequncia
48
Plantas perenes
Puxurizeiro
Frequncia
10
Castanheira-do-par
46
Copaibeira
09
Bacurizeiro
30
Louro
07
Piquiazeiro
27
Angelim
07
Ip
23
Sapucaia
06
Andirobeira
22
Pau-amarelo
06
Teca
21
Macacaba
05
Freij
20
Amap
04
Uxizeiro
18
Jarana
04
Paricazeiro
18
Para-para
03
Cedro
17
Quarubeira
02
Tatajubeira
14
Outros
10
Acapuzeiro
13
433
434
Outras
Frutas(1)
-
1980-84
61,33
9,64
15,47
0,08
1985-89
79,24
6,95
8,96
1,19
1990-94
36,18
33,06
8,31
5,90
14,84
1995-99
41,84
11,50
0,89
18,33
14,04
4,19
6,76
2000-04
39,08
6,65
8,23
10,47
5,64
12,66
16,46
Perodo
Aa
0,02
2005-10
20,45
3,12
8,38
8,42
6,54
32,63
18,43
2011
22,28
5,82
14,30
9,43
6,17
20,80
20,24
Goiaba, tapereb, abacaxi, caju, graviola, muruci, bacuri, carambola, abacate, limo, manga, etc.
Fonte: Relatrio da Diretoria (1981, 1984, 1988, 1990, 1991, 1992, 1993, 1994, 1995, 1996, 1997, 1998,
2002, 2003, 2005, 2006, 2007, 2008, 2010, 2012).
(1)
Concluses
Os SAFs apresentam grande potencial para sua expanso na Amaznia
na ocupao produtiva das reas desmatadas e na sua recuperao, que
est em funo do mercado das plantas componentes. Ao contrrio das
culturas anuais que exigem grandes dimenses de reas, o mercado de
plantas perenes exige menor espao para saturar o mercado.
Os SAFs apresentam mudanas ao longo do tempo, decorrente das
condies de preos, mercado, aparecimento de pragas e doenas,
mudanas nas polticas pblicas beneficiando determinadas culturas,
legislao trabalhista ou ambiental, envelhecimento do proprietrio,
entre outras. Muitas vezes os incentivos para determinados SAFs no
momento podem perder a sua importncia no futuro, promovendo
o aparecimento de novos SAFs e ativao daqueles que estavam
em hibernao. A despeito da apologia dos SAFs, os resultados do
levantamento apontam que a presena de uma atividade-eixo, com
forte presena no mercado, constitui-se na razo da manuteno do
modelo, mais do que a simples combinao de culturas perenes.
O sistema de uso da terra adotado pelos agricultores nipo-brasileiros,
independente do tamanho das propriedades, no atende aos requisitos
435
436
438
Referncias
439
440
Referncias
441
442
Referncias
443
444
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