A Velhice

Fazer download em doc, pdf ou txt
Fazer download em doc, pdf ou txt
Você está na página 1de 7

Visão filosófica de personagens da antigüidade oriental e ocidental22, Abril 2008 às 7:16 pm · Arquivado

em Artigos ·Tagged envelhecimento, Ocidente, Oriente, visão histórica e filosófica

Ads by Google
Filosofia UGF Online
Faça sua pós-graduação em
filosofia. Inscreva-se!
www.PosEAD.com.brResidência p/ Idosos
Moradia para Idosos e Deficientes
Município de São Pedro, SP
www.bellatrixresidencial.com.br

“Um fantasma amedronta o mundo atualmente e seus ruídos assustadores desafiam o saber e o poder,
levando, ao mesmo tempo, o ser humano a uma nova encruzilhada: a velhice. O ambicionado
prolongamento à vida transforma-se cada vez mais, em realidade” (Eneida Haddad, 1993).

Introdução

A preocupação com a velhice e com um possível rejuvenescimento existe desde tempo muito remoto e a
forma de perceber o envelhecimento não foi única para todos os povos. A partir da visão de alguns
expoentes da história universal, pode-se fazer uma breve retrospectiva histórica e filosófica, sobre o
processo de envelhecimento, considerando as épocas vivenciadas por estes personagens e as influências
das suas civilizações.
Ao realizar esta revisão, não pretendo “esgotar” o assunto, mas apenas torná-la pertinente e necessária
para que, após ela possamos refletir acerca do nosso próprio envelhecimento e possamos entender o ser
humano idoso, passando a cuidar dele com mais competência; sendo então, este o objetivo deste estudo.

Envelhecimento na civilização oriental

Em relação à civilização oriental, merece destaque a condição privilegiada do idoso, verificada na China,
desde a Antigüidade até os dias atuais. Dois personagens foram fundamentais para que essa percepção
surgisse e perdurasse até os nossos dias, Lao-Tsé e Confúcio. Primeiro descrevo o filósofo e historiador
Lao-Tsé ou Lao-Tzy (604-531a. C.), nome cuja tradução mais apropriada é ancião, o qual foi o fundador
do Taoísmo, sistema filosófico, que considera Tao o todo e único. Pouco se sabe acerca da sua história de
vida, porém sua historicidade se faz presente através do seu livro Da Razão Suprema e da Virtude, o Tao-
te King.

Lao-Tzy indica, através de sua obra, o ponto de partida para o conhecimento intuitivo, para as suas
opiniões sobre o sentido da vida, para ele: “a vida nada mais é do que o ser humano que atua
espontaneamente e é idêntico ao centro do mundo” (Lao-tzy, 1999). Esse filósofo percebe a velhice como
um momento supremo, de alcance espiritual máximo, comentando que ao completar 60 anos de idade, o
ser humano atinge o momento de libertar-se de seu corpo através do êxtase de se tornar um santo.
Apesar da velhice ser reconhecida apenas no outro ser humano e não em quem a está vivenciando, o
“dono” do corpo que envelhece, integrado na dimensão temporal da existência, reconhece-se a cada
momento de forma renovada e galgando novos limites, muitos priorizando a dimensão espiritual.

Outro destaque da civilização oriental foi o filósofo Confúcio (551-479 a.C.), profundo conhecedor da
alma humana, que externou conceitos de moral e de sabedoria. A filosofia de Confúcio, que não deve ser
considerada religião, visa a uma organização nacionalista da sociedade, baseando-se no princípio da
simpatia universal, que deve obter-se por meio da educação, e estender-se do ser humano à família e da
família ao Estado, considerando este último a grande família.

Portanto, o Confucionismo é um sistema moral e prático, sendo compreendido pelo ser humano simples,
sem a menor dificuldade e apresentando-se repleto de sabedoria e senso comum, aplicando-se a todas as
situações e circunstâncias, tornando-se então, um tesouro de ensinamentos éticos do velho povo chinês.

Nessa estrutura o Confucionismo tem como base à família, e a casa toda deve obediência ao ser humano
masculino mais velho. A autoridade do patriarca mantém-se elevada com a idade e até mesmo a mulher,
tão subordinada, na velhice, tem poderes mais altos do que os jovens masculinos, tendo influência
preponderante na educação dos netos. Para Confúcio a autoridade da velhice é justificada pela posse da
sabedoria.

Em relação a ele próprio, completava que, aos 60 anos o ser humano compreende, sem necessidade de
refletir, tudo que ouve; ao completar 70 anos, pode seguir os desejos do seu coração sem transgredir regra
nenhuma, dizia ainda que a sua maior ambição era que os idosos pudessem viver em paz e principalmente,
que os mais jovens amassem esses seres.

Para Confúcio (1999), no mundo, não há nada tão grande como o ser humano e no ser humano, nada é
maior que a piedade filial. Segundo sua doutrina, os deveres dos filhos para com os pais compreendem:
cuidá-los, com carinho, na vida diária; procurar torná-los seres humanos felizes, de todas as maneiras e em
todos os momentos; sempre cuidar deles com carinho e atenção; demonstrar saudade e dó deles, por
ocasião de sua morte e após a sua morte; oferecer-lhes sacrifícios com muita formalidade. Na verdade, o
culto aos antepassados constitui, de certa maneira, a única ligação desta doutrina com o mundo do além.

O amor dos filhos aos pais envelhecidos, a assegurar-lhes maior proteção e segurança na última idade do
seu processo de viver, compreende uma das mais sublimes ações do ser humano para consigo mesmo e
para com a sua espécie, ou seja, para com a sua geração e para as gerações futuras, perpetuando assim, o
amor intenso e especial entre pais e filhos.

Envelhecimento na civilização ocidental

No Ocidente, o primeiro texto referindo à velhice encontra-se no Egito, no ano 2.500 a.C. quando a beleza
física e o vigor eram cantados e exaltados, Ptah-Hotep filósofo e poeta, afirmou o seguinte sobre a
velhice:
“Quão penoso é o fim do ancião! Vai dia a dia enfraquecendo: a visão baixa, seus ouvidos se tornam
surdos, o nariz se obstruiu e nada mais pode cheirar, a boca se torna silenciosa e já não fala. Suas
faculdades intelectuais se reduzem e torna-se impossível recordar o que foi ontem. Doem-lhe todos os
ossos. A ocupação a que outrora se entregara com prazer, só a realiza agora com dificuldade e desaparece
o sentido do gosto. A velhice é a pior desgraça que pode acontecer a um homem” (Beauvoir, 1990, p.114).
Os versos de Ptah-Hotep mostram a face cruel do processo de envelhecimento, comentando a velhice de
um modo pouco favorável, desolado e até depressivo. Ao meu ver, essa é a visão mais presente acerca
desta fase do processo de viver humano, onde os preconceitos, a discriminação e o isolamento aos idosos
são fatos constantes e que aos poucos vêm sendo trabalhados e transformados em uma função mais
positiva. Se bem que, ainda com problemas não resolvidos no que diz respeito à saúde da população
materna e infantil, a de adultos jovens e principalmente a do trabalhador, o aumento acelerado e brusco da
população idosa em um país em desenvolvimento como o Brasil, passa a ser incluído dentre os sérios
problemas de saúde pública.

Por outro lado, penso que, com o avanço tecnológico e com a transição demográfica, a qual surge a partir
da redução da mortalidade geral e infantil; da diminuição das taxas de fecundidade e do próprio aumento
da expectativa de vida, numa determinada população; é verificado que o crescimento do número de seres
humanos idosos, ainda não faz com que estes conquistem espaços que lhes permitam uma velhice mais
tranqüila, mais saudável e principalmente, mais adaptável às limitações que possam surgir nesta fase de
vida.

Quanto à Grécia antiga, sua civilização floresceu no Mediterrâneo nos anos 4.000 a 1.000 a.C. num país
montanhoso, árido, com uma orla bastante acidentada e com numerosas ilhas, que lhe favoreceu o
comércio e as atividades marítimas em geral. As cidades que surgiram nas ilhas eram distintas, possuindo
hábitos, costumes, vida econômica independentes e por vezes, eram rivais entre si. Somente a língua e a
adoração dos mesmos deuses conscientizavam os gregos que realmente, constituíam um mesmo povo.

Duas cidades destacaram-se na Grécia antiga, Atenas e Esparta. Atenas revelou-se com uma atividade
cultural intensa, criativa, apresentada através da filosofia e de gêneros como a tragédia, a comédia, a
oratória. A democracia ateniense, constituída pelas instituições políticas, foi muito importante para que os
artistas explorassem livremente seus talentos. Dentre os atenienses mais famosos destacam-se: Sócrates,
Platão e Aristóteles. Quanto a Esparta, sobressaiu-se pela dura aplicação das leis aos seus cidadãos, os
quais empenhavam-se integralmente em aprimorar a formação militar. O jovem espartano, ao contrário do
ateniense, recebia uma educação intelectual muito rudimentar (Piettre, 1985), talvez por esta razão Atenas
tenha sido o berço, propriamente dito, da civilização grega.

O advento da filosofia, na Grécia, marca o declínio do pensamento mítico e o começo de um saber


racional, acarretando uma transformação geral das perspectivas cosmológicas e consagrando o surgimento
de uma forma de pensamento e de sistema de explicação sem analogia no mito (Vernant, 1992). Os gregos
foram amantes do corpo jovem e saudável, sempre voltados ao culto e preservação deste corpo, sendo a
velhice, de um modo geral, tratada com desdém, muito desconsiderada e até motivo de pavor,
principalmente pela perda dos prazeres obtidos através dos sentidos.

Beauvoir (1990, p.123), descreve algumas percepções de personagens importantes da Grécia antiga, entre
eles Minermo, sacerdote em Colofos, 630 a.C., o qual cantava os prazeres da juventude, do amor e
detestava a velhice, ele dizia: “Que vida? Qual o prazer sem Afrodite de ouro?” Já Anacreonte, que cantou
o amor e os prazeres do corpo, dizia: “envelhecer é perder tudo que constituí a doçura da vida”. Titon
afirmava: “Prefiro morrer a envelhecer”. Entretanto, havia aqueles que tinham outras opiniões sobre a
velhice, como Homero, que associava a velhice à sabedoria, mas em outro momento opõe-se à velhice,
quando dizia que “os deuses odeiam a velhice”. Já para Sólon, os prazeres pouco contavam e dizia: “Ao
avançar em anos, nunca deixo de aprender”.

Fica claro que mais seres humanos insatisfeitos do que os seus contrários aceitam a velhice e procuram
adaptar-se aos limites impostos pelo processo de vida. Não sendo diferente da atualidade, onde são poucos
os idosos que se sentem felizes pelos anos vividos e procuram aproveitá-los da melhor maneira possível,
engajando-se nos programas oferecidos pela universidade aberta à terceira idade, às aulas de ginásticas a
eles direcionados, aos clubes ou associações voltados ao lazer e ao entretenimento e que despertam o
interesse no aprendizado de novas situações, como tocar um instrumento, usar o computador e outras. É
necessário estimular nos seres humanos idosos à vontade de viver intensamente e com melhor qualidade
possível a sua fase de vida.

Mas é nos diálogos de Sócrates, através de Platão, que se encontra o verdadeiro interesse pelos problemas
dos idosos. Sócrates (469 – 399 a.C.) foi, talvez, a personagem mais enigmática de toda a história da
filosofia. Era um ser humano considerado feio, pois não possuía os atributos tidos como belos pelos
gregos daquela época, mas interiormente era especialmente maravilhoso. Sua vida e seus pensamentos
chegaram até nós a partir do seu discípulo Platão.

Um fato crucial na vida de Sócrates foi que ele, ao contrário dos outros filósofos, não queria ensinar aos
outros, mas dialogar, discutir com eles, atiça-los. Na sua opinião, tal como a sua mãe parteira, ele deveria
ajudar os seres humanos à “parir” suas próprias opiniões, considerando que o conhecimento tem de vir de
dentro e não pode ser obtido “espremendo-se” dos outros, pois só o conhecimento que vem de dentro é
capaz de revelar o verdadeiro discernimento. Na República (Platão,1985), são registradas passagens onde
Sócrates faz referências ao envelhecimento e diz que para os seres humanos prudentes e bem preparados, a
velhice não constituiu peso algum.

Importante que percebamos que, se cada vez mais cedo o ser humano começar a preparar-se para o
processo de envelhecimento, procurando viver de forma saudável, longe de uso e abuso de drogas,
desenvolvendo atividades físicas regulares, alimentando-se adequadamente (estes dois últimos, desde que
tendo acompanhamento do professor de educação e do nutricionista), ingerindo grande quantidade de
água, realizando suas atividades laborais satisfatoriamente, conquistando o apreço e a amizade dos outros,
usufruindo o lazer e do entretenimento e tendo sempre em vista a criação de projetos futuros que sejam
voltados à coletividade, com certeza, sua vida terá um sentido concreto e sua velhice, será então, a
continuidade da sua vida.

Não posso deixar de descrever um diálogo ocorrido entre Sócrates e Céfalo, discutindo a velhice, que é
descrito por Beauvoir (1990, p. 135),
“Céfalo convidou Sócrates para visitá-lo, desculpando-se por não ir procurá-lo, pelo fato de estar velho e
ser difícil sair de casa. Queria conversar com o amigo, pois para Céfalo: ‘quanto mais amortecidos ficam
os prazeres do corpo, mais crescem o deleite e o prazer da conversação’. Sócrates aceitou o convite,
respondendo que lhe agrada muito conversar com pessoas de mais idade, que já tinham percorrido um
caminho que ele teria que percorrer. Assim, deu-se o início da conversa, quando Sócrates perguntou a
Céfalo, como ele, já velho, sentia-se ao atingir a fase que os poetas chamavam de ‘o limiar da velhice’.
Céfalo respondeu que muito bem, pois a triste cantilena, evocada por muitos, responsabilizando a velhice
por todos os males, para ele era decorrente da própria vida e não da idade avançada.”

Então, a partir desta passagem, verifica-se que as queixas não devem ser atribuídas à velhice e sim ao
caráter do ser humano, pois aquele que é naturalmente tranqüilo e bem humorado, não sentirá o peso dos
anos e aquele que não apresenta estas características, não só a velhice, mas a própria juventude lhe é um
fardo bastante pesado, portanto um processo de envelhecimento tranqüilo e saudável, depende de uma
juventude tranqüila e saudável.

SANTOS, Silvana Sidney Costa. Envelhecimento: visão de filósofos da antiguidade oriental e ocidental.
Rev. RENE. Fortaleza, v.2, n.1, p. 9-14, jan./jul./2001.
Silvana Sidney Costa Santos
Professora da faculdade de Enfermagem N. S. das Graças. Universidade de Pernambuco. Especialista em
Gerontologia Social/SBGG. Mestre em Enfermagem/UFPB. Aluna do Doutorado em Enfermagem /
UFSC

03
O FILÓSOFO E A VELHICE
Não é sábio deixar que a tarde julgue o dia: pois com muita freqüência o cansaço se torna justiceiro da
força, do sucesso e da boa vontade. Igualmente a mais extrema prudência deveria ser imposta à velhice e
ao seu julgamento sobre a vida, visto que a velhice, precisamente como a tarde, gosta de manter as
aparências de uma nova e sedutora moralidade e sabe humilhar o dia pelo vermelho de seu ocaso, seus
crepúsculos, sua calma pacifica ou nostálgica. O respeito que testemunhamos ao velho, sobretudo se esse
ancião é um velho pensador e um velho sábio, nos torna facilmente cegos a respeito do; envelhecimento
do seu espírito e é sempre necessário colocar à luz os sintomas de semelhante envelhecimento e cansaço,
isto é, mostrar o fenômeno fisiológico que esconde atrás do juízo e do preconceito moral, a fim de não nos
tornarmos os tolos da piedade e de não prejudicar o conhecimento. De fato, não é raro que a ilusão de uma
grande renovação moral e de uma regeneração se apodere do ancião e que, a partir desse sentimento, este
emita, sobre a obra e o desenvolvimento da sua vida, juízos que poderiam levar a crer que acaba de chegar
precisamente à clarividência: entretanto, a inspiradora desse bem-estar e desse juízo cheio de segurança
não é a sabedoria, mas o cansaço. O sinal mais perigoso dessa fadiga é certamente a crença no gênio que
geralmente não se apodera, senão a partir dessa idade da vida, dos grandes e semi-grandes homens do
pensamento: a crença numa posição excepcional e em direitos excepcionais. O pensador que possui esse
gênio se considera então livre para levar as coisas com superficialidade e decretar mais do que
demonstrar, mas é provável que seja precisamente a necessidade dessa superficialidade que; comprove o
cansaço do espírito, que é a principal fonte dessa crença, que a precede no tempo, embora não pareça.
Alem disso, queremos usufruir nesse momento resultados de nossos pensamentos, em conformidade com
a; necessidade de fruição comum a todos os cansados e a todos os anciãos; em lugar de examinar
novamente esses resultados e recomeçar a semeá-los, temos necessidade para isso de prepará-los para um
gosto novo, para torná-los comestíveis e tirar-lhes a secura, a frieza e a falta de sabor: é o que faz com que
o velho pensador se eleve aparentemente acima da obra da sua vida, enquanto na realidade ele a estraga
pela exaltação, pelas doçuras, pelos azedumes, pelo nevoeiro poético e pelas luzes místicas que lhe
mistura. O que aconteceu a Platão foi o que acabou por acontecer a esse grande francês integro, ao lado do
qual os alemães e ingleses deste século não podem colocar ninguém – ninguém como ele soube tomar e
dominar as ciências exatas – Augusto Comte (filosofo francês – 1798-1857 – fundador do positivismo;
dentre suas obras, Reorganizar a Sociedade e Discurso sobre o espírito positivo). Terceiro sintoma de
cansaço: essa ambição que agitava o peito do grande pensador quando era jovem e que então não
encontrava em parte alguma como satisfazer, essa ambição também envelheceu; como alguém que não
tem mais nada a perder, ela se apodera dos meios de satisfação mais grosseiros e mais imediatos, isto é,
aqueles das naturezas ativas, dominadoras, violentas, conquistadoras: a partir de então quer fundar
instituições que levem o seu nome, em vez de fundar edifícios de idéias. Que lhe importam agora as
vitórias e as honras etéreas no reino das demonstrações e das refundações! O que é para ele uma
imortalidade pelos livros, uma euforia tumultuosa na alma de um leitor! Em compensação, a instituição é
um templo – ele bem o sabe, e um templo de pedra, construído para durar, mantendo seu deus em vida
muito mais seguramente que o sacrifício de almas ternas e raras. Talvez encontre também, nessa época,
pela primeira vez esse amor que se dirige mais a um deus que a um homem, então todo o seu ser se
acalma e se amolece aos raios desse sol, como um fruto no outono. Sim, ele se torna também mais divino
e mais belo, o grande ancião – e é, apesar de tudo, a idade e a fadiga que lhe permitem amadurecer assim,
torna-se silencioso e repousa na idolatria radiosa de uma mulher. Agora conseguiu fazer do seu antigo
desejo altaneiro discípulos verdadeiros, desejo superior até mesmo a seu próprio eu, discípulos que seriam
o verdadeiro prolongamento do seu pensamento, isto é, adversários: esse desejo tinha sua fonte numa
força intacta, na altivez consciente e na certeza de poder tornar-se, ele também, a todo o momento, o
adversário e o inimigo irreconciliável da sua própria doutrina – agora necessita de partidos resolutos,
camaradas sem escrúpulos, arautos, um cortejo pomposo. Agora não é mais capaz de suportar o
isolamento terrível em que vive todo o espírito que toma seu vôo sempre à frente dos outros, cerca-se a
partir de então de objetos de veneração, de comunhão, de enternecimento e de amor, quer finalmente
gozar dos mesmos privilégios que todos os homens religiosos e celebrar o que venera na comunidade; ira
até o ponto de inventar uma religião para ter essa comunidade. É assim que vive o velho sábio e acaba por
cair imperceptivelmente numa vizinhança tão aflitiva dos excessos clericais e poéticos que mal se ousa
pensar em sua juventude sábia e severa, em sua rígida moralidade cerebral de então, em seu horror viril
pelas iluminações súbitas e divagações. Outrora, quando se comparava com outros pensadores mais
velhos, era para medir seriamente sua fraqueza em relação à força deles e para se tornar mais frio e mais
livre com relação a si próprio: agora não se entrega mais a essa comparação a não ser para se embriagar
com sua própria ilusão. Outrora pensava com confiança nos pensadores do futuro e via-se a si mesmo com
deleite desaparecer um dia em sua luz mais brilhante: agora está atormentado pela idéia de não poder ser o
último, pensa nos meios de impor aos homens, com a herança que lhes lega, uma limitação de seu
pensamento soberano, receia e calunia a altivez e a sede de liberdade dos espíritos individuais; - depois
dele, mais ninguém deve dar livre curso a seu intelecto; ele próprio quer ser para sempre o dique onde
batem sem cessar as ondas do pensamento – esses são seus desejos muitas vezes secretos e nem sempre
confessados! Mas a dura realidade quase esconde por trás desses desejos é que ele mesmo se deteve diante
da sua doutrina, com ela traçou para si um limite, um “até aqui e não mais longe”. Canonizando-se,
redigiu também a sua sentença de morte: daí em diante seu espírito não tem mais o direito de se
desenvolver, seu tempo terminou, o ponteiro parou. Quando um grande pensador quer fazer de si mesmo
uma instituição, cooptando a humanidade do futuro, pode-se admitir com certeza que ele além do apogeu
da sua força, que está muito cansado e muito próximo do seu declínio.

‘Friedrich Nietzsche’

Velhice
O pensador oriental Lao-Tsé, entendia a velhice como um momento supremo de alcance espiritual
máximo.

Confúcio, outro pensador oriental, pensava que toda a família deve obediência ao ente masculino mais
velho. E que mesmo a mulher mais velha, tem poderes maiores do que os homens mais jovens.

Aristóteles, filósofo grego, dizia que uma boa velhice é a que não apresenta enfermidades.

Platão, dizia que sendo o ser humano prudente, a velhice não constitui nenhum peso e que com a chegada
da velhice surge no ser humano um sentimento de paz e libertação.

O romano Cícero, em sua obra De Senectude, diz que os idosos substituem os prazeres corporais pelos
prazeres intelectuais.
Sêneca, filósofo romano, dizia que a velhice é boa como tudo o que é natural. Ele não vê a velhice como
sendo uma decadência, e diz que é necessário que se aceite o processo de envelhecimento para que se
possa ter tranqüilidade e aproveitar essa fase da vida.

É interessante observar o modo como cada um vê a velhice. Tem-se a impressão, porém, que todos eles
procuram encontrar uma maneira aceitável para dizer que a velhice, quer seja dita de uma forma muito
simples ou de forma primorosa, é a porta de saída que conduz para o desconhecido. É absolutamente
natural temermos o que não conhecemos, principalmente quando sabemos que é, humanamente,
impossível ao chegarmos ao final da vida observar que não gostamos dessa parte e então fazer o caminho
de volta. É exatamente aí que entra a inquietação. E é exatamente aí que precisamos acreditar que ali, na
porta de saída, estará Deus esperando por nós para nos conduzir a uma nova porta de entrada.

Não consigo aceitar de forma diferente. Meu coração diz não, minha alma está vinculada à existência de
Deus. A minha essência é essa. Existe em mim algo que não me pertence, existe em mim algo que me faz
ver que o que não me pertence, é o estar aqui para sempre, mas para estar aqui, por um tempo, eu preciso
desse algo, e que por mais que eu viva muitos e muitos anos, chegará o momento de fazer a entrega do
que não é meu.Serenamente, como quando aqui cheguei, pois não temi a vida, devo ultrapassar essa porta
de saída. De saída? Será? Não será uma porta de entrada? Sim, creio que é. Se creio dessa forma, então
não existe uma porta de saída, mas uma porta de entrada. Entrada para um lugar onde não estarei sozinha.
Com certeza, não uma certeza proveniente apenas da minha razão, mas uma certeza advinda de dentro da
minha alma, que faz com que eu olhe e veja com os olhos da fé, após essa entrada, eu serei novamente, eu
existirei novamente nessa Nova terra

Você também pode gostar