Métodos de Ensino Do Piano

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

CENTRO DE LETRAS E ARTES


PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM MSICA
DOUTORADO EM MSICA

PROPOSTA DE REPERTRIO DE MSICA BRASILEIRA


PARA OS NVEIS INTRODUTRIO E ELEMENTAR
A PARTIR DA ANLISE CRTICA DE TRS MTODOS DE ENSINO DO PIANO

DENISE ZORZETTI

RIO DE JANEIRO, 2010

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PROPOSTA DE REPERTRIO DE MSICA BRASILEIRA


PARA OS NVEIS INTRODUTRIO E ELEMENTAR
A PARTIR DA ANLISE CRTICA DE TRS MTODOS DE ENSINO DO PIANO

por

DENISE ZORZETTI

Tese submetida ao Programa de Ps-Graduao


em Msica do Centro de Letras e Artes da UNIRIO
como requisito parcial para a obteno do grau de
Doutor em Msica, sob a orientao do Professor
Dr. Jos Nunes Fernandes.

Rio de Janeiro, 2010.

Zorzetti, Denise.
Z88

Proposta de repertrio de msica brasileira para os nveis introdutrio e elementar a partir da anlise crtica de trs mtodos de ensino do piano / Denise
Zorzetti, 2010.
xx, 296f.
Orientador: Jos Nunes Fernandes.
Tese (Doutorado em Msica) Universidade Federal do Estado do Rio de
Janeiro, Rio de Janeiro, 2010.
1. Piano Mtodo de ensino. 2. Msica para piano. 3. Msica - Instruo
e ensino. 3. Msica Brasil. I. Fernandes, Jos Nunes. II. Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (2003-). Centro de Letras e Artes. Curso
de Doutorado em Msica. III. Ttulo.
CDD 786.2

Ao Pedro,
estrela maior de minha existncia.

iii

AGRADECIMENTOS

Ao concluir este trabalho, tenho convico de que ele no teria sido possvel sem a
colaborao, o apoio, o incentivo e a compreenso de inmeras pessoas. Durante a realizao
do curso de doutorado, tive bons momentos, os quais compartilhei com amigos e famlia, e tive
tambm momentos mais difceis, que s foram transpostos graas a constante presena dos
mesmos amigos e da famlia. Meus sinceros agradecimentos a todos que acreditaram em meu
projeto e caminharam junto comigo,
A meu filho Pedro que, apesar da pouca idade, soube compreender to bem a necessidade de
minhas ausncias.
A Ricardo, a meus pais, Pedro e Esmeralda, e a meus irmos, Lais e Paulo Adriano, pelo
incentivo e apoio nos momentos felizes e nos mais difceis.
Ao Professor Jos Nunes, pela disponibilidade e pela orientao segura e competente.
s Professoras Glacy Antunes de Oliveira, Laura Rnai, Miriam Grosman e Mnica Duarte,
membros da banca examinadora da defesa de tese, pela disponibilidade e observaes
criteriosas.
s Professoras Ingrid Barancoski, Lcia Barrenechea e Salomea Gandelman, pelas
contribuies valiosas por ocasio das bancas de Ensaio e Qualificao.
Aos Professores Luiz Medalha Filho, Estrcio Marquez Cunha, Slvio Mehry e Ruth Serro, por
indicar caminhos e abrir as primeiras portas.
Aos compositores que gentilmente forneceram as informaes solicitadas e se dispuseram a
contribuir com suas obras.
A Cristina Medeiros, Carlos Costa, Luiz Medalha Filho e Wolney Unes, pela ajuda nas
tradues.
A Lais Zorzetti, pela reviso dos exemplos musicais.
Ao Sr. Aristides Domingues Filho, presena imprescindvel em todos os momentos, sempre
disposto a ajudar.
A Ronaldo Caetano, pelo apoio e assessoria tcnica.
A Lea Mendes, mais que amiga, meu anjo da guarda, pela acolhida calorosa no Rio de
Janeiro.
A Gyovana Carneiro, cuja amizade me fortalece e impulsiona.
A Fernanda Albernaz, pela disponibilidade e colaborao nos assuntos acadmicos e
administrativos na UFG.
A Ana Flvia Frazo, Ana Guiomar Souza, Cludia Zanini, Denise Felipe e Luis Carlos Furtado,
amigos e companheiros de trabalho na UFG, pelo incentivo e sugestes pertinentes.
A Ernesto Hartmann, Jos Eduardo Costa Silva, Laize Guazina, Lilia Justi, Neder Nassaro e
Waleska Beltrami, colegas de curso, que tornaram a jornada mais prazerosa.
E a todos aqueles que, de alguma forma, contriburam para a realizao deste trabalho.

ZORZETTI, Denise. Proposta de repertrio de msica brasileira para os nveis introdutrio e


elementar a partir da anlise crtica de trs mtodos de ensino do piano. 2010. Tese
(Doutorado em Msica) Programa de Ps-Graduao em Msica, Centro de Letras e Artes,
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro.

RESUMO

A partir da anlise dos mtodos: Hal Leonard Student Piano Library (1996-2000), Europische
Klavierschule (1992-94) e Meu Piano Divertido (1983-87), esta tese faz uma proposta de
repertrio de msica brasileira para o ensino do piano nos nveis introdutrio e elementar. Tem
por objetivo fornecer subsdios ao professor de piano para a escolha de material adequado a
cada estgio de desenvolvimento de seu aluno. Para estabelecer os critrios de anlise, foram
tomadas por base as diretrizes propostas por James Bastien (1995), Hazel Skaggs (1981) e
Marienne Uszler et al (2000), que descrevem e avaliam mtodos de ensino de piano. Foram
observados os seguintes itens: apresentao e objetivos, questes tericas, aspectos tcnicos,
conhecimento musical geral, repertrio, habilidades funcionais e material suplementar. A partir
da anlise dos itens citados, foi realizado um levantamento de peas de compositores
brasileiros, com o propsito de oferecer um repertrio que possa ser utilizado como reforo ou
complemento ao contedo abordado pelos referidos mtodos.

Palavras-chave: piano; mtodo de ensino; msica brasileira

ZORZETTI, Denise. A proposal of Brazilian repertoire for introductory and elementary levels, based
upon the critical analysis of three piano teaching methods. 2010. Thesis (Doctor of Music)
Programa de Ps-Graduao em Msica, Centro de Letras e Artes, Universidade Federal do
Estado do Rio de Janeiro.

ABSTRACT

Departing from an analysis of three methods Hal Leonard Student Piano Library (1996-2000),
Europische Klavierschule (1992-94) and Meu Piano Divertido (1983-87) this work sets out
to propose a Brazilian repertoire for piano teaching, at both introductory and elementary levels.
The objective is to offer the piano teacher the opportunity to choose from appropriate material at
each stage of his pupils development. On defining the premises for the analysis, we based
upon the directions of James Bastien (1995), Hazel Skaggs (1981) and Marienne Uszler et al
(2000), who described and analysed piano teaching methods. We observed thus following
items: introduction and objectives, technical issues, general musical knowledge, repertoire,
functional abilities and supplementary material. Upon the analysis of such elements, we
selected piano pieces by Brazilian composers, with the purpose of offering a repertoire which
could be used as reinforcement or a complement to the content of such methods.

Keywords: piano, teaching method, Brazilian music

vi

ZORZETTI, Denise. Proposition dun rrpertoire de musique brsilienne pour les niveaux
introductoire et lmentaire partir de lanalyse critique de trois mthodes denseignement du
piano. 2010. Thse (Doctorat en Musique). Programa de Ps-Graduao em Msica, Centro de
Letras e Artes. Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro.

RSUM

Cst partir des mthodes Hal Leonard Student Piano Library (1996-2000), Europische
Klavierschule (1992-94) et Meu Piano Divertido (1983-87), que cette thse fait une proposition de
la musique brsilienne pour lenseignement du piano aux niveaux introductoire et lmentaire. Il a
comme objectif fournir des moyens au professeur de piano pour le choix doutils appropris
chaque stage du dveloppement de son lve. Pour tablir les critres de lanalyse, on a pris
comme dpart les coordonnes proposes par James Bastien (1995), Hazel Skaggs (1981) et
Marienne Uszler et al (2000), qui dcrivent et valuent des mthodes pour lapprentissage de cet
instrument. Les dones suivantes ont t adopts : prsentation et objectives, des textes
theriques, perspectives techniques, connaissance musicale gnral, rpertoire, des habilits
fonctionnelles et matriel supplmentaire. partir de lanalyse de ces lments, on a fait un choix
des morceaux des compositeurs brsiliens, avec le but doffrir un rpertoire que pourrait tre utilis
comme renfort ou complment du contenu pesquis dans les mthodes que sont rferences au
dbut de ce resum.

Mots-cl : piano ; mthode denseignement ; musique brsilienne

vii

SUMRIO
LISTA DE EXEMPLOS MUSICAIS ........................................................................................... x
LISTA DE FIGURAS .............................................................................................................. xx

1 INTRODUO ..................................................................................................................... 1
1.1
Apresentao do problema e universo da pesquisa
1.2
Questes
1.3
Contextualizao do problema e referencial terico
1.4
Metodologia e procedimentos de coleta e anlise dos dados
1.5
Organizao do estudo
2 MTODOS
2.1
2.2
2.3

DE ENSINO ..................................................................................................... 29
Caminhos dos mtodos de ensino de piano
A influncia das teorias de aprendizagem
Algumas consideraes

3 ANLISE DE MTODOS DE ENSINO ................................................................................ 45


3.1
Critrios de Anlise
3.1.1 Apresentao e Objetivos
3.1.2 Questes Terico-Musicais
3.1.3 Aspectos Tcnicos
3.1.4 Conhecimento Musical Geral
3.1.5 Repertrio
3.1.6 Habilidades Funcionais
3.1.7 Material Suplementar
3.2

Mtodos Selecionados
3.2.1 Hal Leonard Student Piano Library
3.2.1.1 Primeiro Volume
3.2.1.2 Segundo Volume
3.2.1.3 Terceiro Volume
3.2.1.4 Quarto Volume
3.2.1.5 Quinto Volume
3.2.1.6 Consideraes acerca dos itens observados
3.2.2

Europische Klavierschule (Mtodo Europeu de Piano)


3.2.2.1 Primeiro Volume
3.2.2.2 Segundo Volume
3.2.2.3 Terceiro Volume
3.2.2.4 Consideraes acerca dos itens observados

3.2.3

Meu Piano Divertido


3.2.3.1 Primeiro Volume
3.2.3.2 Segundo Volume
3.2.3.3 Terceiro Volume Divirta-se Tocando
3.2.3.4 Consideraes acerca dos itens observados

4 PROPOSTA DE REPERTRIO PARA OS NVEIS INTRODUTRIO E ELEMENTAR ........ 147


4.1
Discutindo Nveis de dificuldade
4.2
Proposta de Repertrio de Msica Brasileira
4.2.1 Ttulos das peas
4.2.2 Uso de termos e indicaes caractersticos da linguagem musical
4.2.3 Posies, deslocamento e movimentao pelo teclado
4.2.4 Intervalos harmnicos
4.2.5 Melodia e acompanhamento

viii

4.2.6
4.2.7
4.2.8
4.2.9
4.2.10
4.2.11

Escrita polifnica
Ornamentos
Ritmos e compassos diversos
Linguagem contempornea
Incentivo criatividade
Uso de aspectos da cultura nacional

5 CONSIDERAES FINAIS .............................................................................................. 235


REFERNCIAS ................................................................................................................... 244
ANEXOS ............................................................................................................................. 257

ix

LISTA DE EXEMPLOS MUSICAIS

Pgina
1

Compasso 4/4 contado metricamente (Jacobson, 2006, p.45)

49

Compasso 4/4 contado numericamente (Jacobson, 2006, p.45)

49

Compasso 4/4 contado silabicamente (Jacobson, 2006, p.45)

50

Compasso 4/4 contado silabicamente, com subdiviso da unidade de tempo

50

4a

Compasso 4/4 contado metricamente, com utilizao da letra e para a


subdiviso da unidade de tempo

50

Compasso 4/4 contado nominativamente (Jacobson, 2006, p.45)

51

5a

Compasso 4/4 contado nominativamente, na lngua portuguesa (Gonalves,


2007, p.44)

51

Circle Dance pea que introduz a ligadura de notas diferentes e o contraste


de articulao entre as duas mos (Kreader et al.,1996b, p.23)

61

Reading Warm-up exerccio que prepara para a execuo de notas e


dedilhados diferentes entre as duas mos (Kreader et al., 1996a, p.25)

61

Can You...? aquecimento que prepara para o toque staccato na mo


esquerda, utilizando apenas um dedo, enquanto a mo direita sustenta
uma nota (Kreader et al., 2000b, p.25)

62

You Can! aquecimento que prepara para o toque staccato na mo direita,


utilizando apenas um dedo, enquanto a mo esquerda sustenta uma nota
(Kreader et al., 2000b, p.25)

63

Can You...? ! estudo que trabalha o staccato na mo esquerda, enquanto


a mo direita articula uma sucesso de notas longas (Kreader et al., 2000b,
p.26)

63

You Can! estudo que trabalha o staccato na mo direita, enquanto a mo


esquerda articula uma sucesso de notas longas (Kreader et al., 2000b, p.27)

64

Outside-In aquecimento com o movimento de apoio e retirada do pulso,


realizado do 5 para o 1 dedo (Kreader et al., 2000b, p.25)

64

Inside-Out aquecimento com o movimento de apoio e retirada do pulso,


realizado do 1 para o 5 dedo (Kreader et al., 2000b, p.25)

64

Outside-In estudo que trabalho o movimento de apoio e retirada do pulso,


realizado do 5 para o 1 dedo (Kreader et al., 2000b, p.28)

65

Inside-Out estudo que trabalho o movimento de apoio e retirada do pulso,


realizado do 1 para o 5 dedo (Kreader et al., 2000b, p.29)

65

Dance Of The Court Jester pea que trabalha o contraste de toque entre
as duas mos (Kreader et al., 1996c, p.12)

66

10

11

12

13

14

15

16

17

My Dog, Spike pea para ser tocada com a mo esquerda em um grupo de


trs teclas pretas (Kreader et al., 1996b, p.12)

68

Sorry, Spike pea para ser tocada com a mo direita em um grupo de trs
teclas pretas (Kreader et al., 1996b, p.13)

68

19

Star Quest pea escrita na forma A-B-A (Kreader et al., 1996c, p.30)

71

20

My Own Song: Improvisation in C Major acompanhamento a ser realizado


pelo professor, sobre o qual o aluno dever improvisar uma melodia utilizando
o modelo dos cinco dedos na tonalidade de D Maior (Kreader et al., 1996b,
p.27)

73

My Own Song: Improvisation in F Major acompanhamento a ser realizado


pelo professor, sobre o qual o aluno dever improvisar uma melodia utilizando
o modelo dos cinco dedos na tonalidade de F Maior (Kreader et al., 1996b,
p.32)

73

My Own Song: Improvisation in a minor acompanhamento a ser realizado


pelo professor, sobre o qual o aluno dever improvisar uma melodia utilizando
o modelo dos cinco dedos na tonalidade de L menor (Kreader et al., 1996b,
p.37)

73

All Through The Night lio que utiliza a semnima pontuada (Kreader et al.,
1996d, p.19)

74

Calypso Cat lio que trabalha a sncope e tambm a passagem do polegar


(Kreader et al., 1997b, p.13)

76

25

Wandering lio que emprega a quiltera (Kreader et al.,1997, p.37)

77

26

Joshua Fit The Battle Of Jericho: Tema e Variao I compassos 1 a 19


(Kreader et al., 1997, p.28)

78

Joshua Fit The Battle Of Jericho: Variao II compassos 23 a 36


(Kreader et al., 1997b, p.29)

78

Get It Together exerccio que trabalha o contraste de articulao entre as


duas mos (Kreader et al., 2000d, p.9)

79

Take It Away exerccio preparatrio para a execuo de sncopes entre as


duas mos (Kreader et al., 2000d, p.12)

79

30

Ritmos que utilizam a semicolcheia

80

31

Lio que introduz a leitura de notas na pauta juntamente com a explicao


sobre o intervalo de 2, que denominado passo (Kreader et al., 1996b, p.37)

84

Reflection primeira lio do volume 2, na qual as mos adotam a posio


dos cinco dedos (Kreader et al., 1996c, p.4)

85

Summer Evenings pea em que acontece a mudana de localizao da


posio dos cinco dedos, transferindo-se do pentacorde de D, utilizado
anteriormente, para o pentacorde de Sol (Kreader et al., 1996c, p.40)

85

Close By atividade em que o aluno dever realizar o acompanhamento


da melodia dada, utilizando os acordes pedidos, primeiramente em bloco e,
e seguida, quebrados (Kreader et al., 1999, p.19)

89

18

21

22

23

24

27

28

29

32

33

34

xi

35

Sound Check atividade em que o aluno dever escolher o acorde mais


adequado para cada compasso, dentre as trades do I, IV e V7 graus
(Kreader et al., 1998, p.24)

89

A Minor Tango pea cujo acompanhamento dever ser realizado pelo


aluno, enquanto o professor toca a parte solo (Kreader et al., 1997, p.26)

90

Carpet Ride pea que dera ser transposta para uma 6 acima
(Kreader et al., 1999, p.4)

91

Ist ein Mann in Brunn gefallen sugesto de melodia para


ser tirada de ouvido (Emonts, 1992, p.21)

96

Sugestes de realizao da cano Ist ein Mann in Brunngefallen


(Emonts, 1992, p.27)

97

Michael Finigin pea com mudana de dedilhado na mesma nota,


visando a troca de posio da mo (Emonts, 1992, p.71)

98

Nachlaufen / Catch Me If You Can / Attrape-moi si tu peu pea que trabalha


a mudana de localizao da posio dos cinco dedos (Emonts, 1992, p.76)

98

Hrst du zu? / Listen Please! / Ecoutes-tu? final da lio, em D Maior


(Emonts, 1992, p.58)

99

Das gleiche Stck in Moll / The same piece in a minor key / La mme pice
em mineur trecho final da lio, escrita em D menor (Emonts, 1992, p.58)

99

Taktwechsel / Changing Time / Changement de mesure pea construda em


compasso alternado (Emonts, 1992, p.61)

100

Reigen / Round Dance / Ronde pea com mos alternadas e sugesto de


contagem (Emonts, 1992, p.31)

101

Good Morning melodia acompanhada por notas que se movem em graus


conjuntos, intervalos meldicos e harmnicos (Emonts, 1992, p.54)

101

47

Je suis un petit garon pea escrita na forma A-B-A (Emonts, 1992, p.72)

102

48

Anschlagbung mit Sttzfinger / Touch Exercise with Supporting Finger /


Exercice de poids avec doigt dappui exerccio de toque com um dedo
apoiado (Emonts, 1992, p.55)

102

bung / Exercise / Exercice exerccio que trabalha o contraste de articulao


entre as duas mos (Emonts, 1992, v.1, p.80)

103

Pea que utiliza o contraste de articulaes entre as duas mos


(Emonts, 1992, p.80)

103

Kasperle tanzt / Punch is Dancing / Le Guignol danse pea que contm


os sinais de articulao (ligadura e staccato) e de identificao das frases
(vrgula) (Emonts, 1993, p.11)

105

Tonleiter-Training / Scale Training / Entranement pour les gammes exerccio


preparatrio para a execuo de escalas (Emonts, 1993, p.15)

106

Gelufigkeit und GleichmBigkeit I / Velocity and Even Playing / Vlocit et


galit I exerccio que trabalha a velocidade e igualdade (Emonts,1993, p.54)

106

36

37

38

39

40

41

42

43

44

45

46

49

50

51

52

53

xii

54

Arabesque (compassos 1 a 6 e 12 a 17) pea composta, basicamente, de


semicolcheias em andamento rpido (Emonts, v.2, 1993, p.57)

107

Klagelied / Lament / Lamentation pea para treino da utilizao do pedal


com funo de sustentar os sons (Emonts, 1993, p.60)

108

Japanisches Wiegenlied aus Itsuki / Japanese Lullaby from Itsuki /


Berceuse Japonaise dItsuki outra forma de utilizao do pedal (Emonts,
1993, p.61)

108

Bindungspedal / Legato Pedalling / Pedale de liaision exerccio para o treino


do pedal com funo de ligar os sons (Emonts, 1993, p.63)

109

58

Choral pea que requer uso do pedal para ligar os sons (Emonts, 1993, p.64)

109

59

Kleine Trff-Studie / A Little Leaping Study / Petite tude de saut pea que
utiliza o pedal rtmico (Emonts, 1993, p.67)

110

Trllerliedchen / Humming Song / Chanson fredonne pea que utiliza o


toque legato nas duas mos (Emonts, 1993, p.70)

111

61

Musette pea construda na forma A-B-A-C-A (Emonts, 1993, p.55)

112

62

Spiel mit 3 Fingern / Playing with 3 Fingers / Jouer avec 3 doigts primeira
lio de leitura de notas na pauta, iniciando com a mo direita na nota D 3
(Emonts, 1992, p.30)

119

Segunda lio de leitura de notas na pauta, iniciando com a mo esquerda


na nota D 3 (Emonts, 1992, p.30)

120

Kleine Melodie / Little Melody / Petite Melodie terceira lio de leitura de


notas na pauta, com incio na nota Mi 3 (Emonts, 1992, p.31)

120

Rtsel N 1 / Puzzle N 1 / Devinette N 1 pequeno exerccio de pergunta


e resposta, em que a mo esquerda dever responder, em movimento contrrio,
a pergunta feita pela mo direita (Emonts, 1992, p.32)

120

Rtsel N 2 / Puzzle N 2 / Devinette N 2 segundo exerccio de pergunta e


resposta, em que a mo direita dever responder, em movimento contrrio,
a pergunta feita pela mo esquerda (Emonts, 1992, p.32)

121

Kleines Duett / Little Duet / Petit Duo primeira lio de leitura de notas em que
as duas mos tocam juntas, utilizando dedos diferentes (Emonts, 1992, p.33)

121

68

O Dr. D primeira lio do mtodo (Botelho, 1983, p.8)

127

69

O ndio Alegre pea em D Maior (Botelho, 1983, p.54)

128

70

O ndio Triste pea em D menor (Botelho, 1983, p.55)

128

71

De Marr pea para mos alternadas (Botelho, 1983, p.35)

129

72

Minha Valsinha melodia acompanhada por duas notas simultneas (Botelho,


1983, p.41)

129

Os Trs Camelos melodia acompanhada por acordes de trs sons e incio de


passagem de dedos, com o 2 dedo sobre o polegar (Botelho, 1983, p.82)

129

O Elevador pea com extenso de uma oitava, realizada pela mo direita


(Botelho, 1983, p.68)

130

55

56

57

60

63

64

65

66

67

73

74

xiii

75

Escalando a Montanha pea em que a mo esquerda realiza cruzamento


sobre a mo direita (Botelho, 1983, p.65)

131

O Sapinho pea em que a mo direita toca em staccato, enquanto a mo


esquerda deve ser ligada (Botelho, 1983, p.67)

131

Os Cinco Irmos primeira lio em que so utilizados os cinco dedos das


duas mos (Botelho, 1983, p.45)

133

O Amanhecer pea que emprega o cruzamento de mos, com maiores


deslocamentos das mos (Botelho, 1987, p.73)

134

As Borboletas trecho final da lio, cuja melodia se apoia sobre o baixo


dAlberti e utiliza sncopes e acentos (Botelho, 1987, p.64)

134

80

Meus Veleiros pea que emprega a quiltera (Botelho, 1987, p.34)

135

81

O Boneco Teimoso pea escrita na forma A-B-A (Botelho, 1987, p.56)

136

82

Sinh Bruxinha pea que contm pequenos deslocamentos da mo e


indicaes de dedilhado nas mudanas de posio (Botelho, 1987, p.41)

137

83

L vae a barquinha carregada de?... compassos 1 a 8 (Carvalho, s.d.)

159

84

O Menino compassos 1 a 10 (Rezende, 1998, p.1)

160

85

O Grilo compassos 1 a 8 (Rezende, 1998, p.2)

160

86

O Menino e o Grilo compassos 25 a 32 (Rezende, 1998, p.3)

161

87

Pato 7 compassos 1 a 7 (Siqueira, 1972, p.3)

161

88

Palcio Encantado compassos 1 a 6 (Siqueira, 1972, p.11)

162

89

Festa do Casamento compassos 1 a 11 (Siqueira, 1972, p.21)

162

90

O Eco do Terreno Baldio (compassos finais) pea que trabalha contrastes


de dinmica (Richter, 1985, p.30)

163

91

A Bailarina e o Jardineiro compassos 1 a 5 (Tacuchian, 2007, p.4)

163

92

Quase Triste compassos 1 a 7 (Alimonda, 1959a, p.3)

165

93

Aninha faz sua bonequinha nan compassos 1 a 6 (Almeida Prado,


1984, p.18)

165

94

Angiopdie compassos 3 a 8 (Ribeiro, M., 2000)

166

95

Dana do Carneiro compassos 1 a 7 (Amaral Vieira, 1982, p.9)

167

96

Folguedo compassos 3 a 10 (Fernandez, 1937, p.4)

167

97

Pula-Pula compassos 1 a 4 (Miranda, 1985)

168

98

O Trenzinho compassos 1 a 3 (Miranda, 1985)

168

99

Despertar compassos 1 a 10 (Fernandez, 1944, p.1)

170

100

Valsinha compassos 1 a 7 (Fernandez, 1944, p.7)

170

76

77

78

79

xiv

101

As Cinco Meninas I, compassos 1 a 7 (Mojola, 1999, p.20)

171

102

As Cinco Meninas III, parte inicial (Mojola, 1999, p.21)

171

103

DO SOL FA, compassos 1 a 6 (Vasconcellos-Corra, 2000, lio n 1)

172

104

Caio... Levanto lio que trabalha o movimento do pulso de apoio e retirada


(Vasconcellos-Corra, 2000, lio n 7)

172

T Pensando, compassos 1 a 6 lio que trabalha a execuo de intervalos


harmnicos(Vasconcellos-Corra, 2000, lio n 10)

172

Vamos passear juntos? lio que introduz a execuo de intervalos harmnicos


(Richter, 1985, p.16)

173

Valsinha (compassos 7 a 15) pea que explora a ligadura de duas notas iguais
(Richter, 1985, p.19)

173

108

Ingnua compassos 1 a 7 (Miguez, 1974, p.1)

174

109

Madrugada compassos 1 a 7 (Fernandez, 1974)

175

110

Manh na Praia compassos 1 a 6 (Fernandez, 1968b)

175

111

Caando Borboletas compassos 1 a 6 (Fernandez, 1960)

176

112

Acalanto para Tnia compassos 1 a 5 (Guarnieri, 1973, p.1)

176

113

Tanguinho para Miriam compassos 1 a 5 (Guarnieri, 1973,p.3)

177

114

Toada para Daniel Paulo compassos 1 a 8 (Guarnieri, 1973, p.5)

177

115

Ponteio compassos 1 a 11 (Guerra-Peixe, 1944a)

178

116

Valsa compassos 1 a 8 (Guerra-Peixe, 1944b)

178

117

Choro compassos 1 a 6 (Guerra-Peixe, 1943a)

179

118

Seresta compassos 1 a 5 (Guerra-Peixe, 1944c)

179

119

Achech compassos 1 a 7 (Guerra-Peixe, 1943b)

180

120

Requebradinho compassos 1 a 4 (Miranda, 1983)

180

121

Cantiga compassos 1 a 7 (Ripper, 2009)

181

122

Ronda compassos 1 a 7 (Ripper, 2009)

181

123

Lundu compassos 1 a 7 (Ripper, 2009)

181

124

Mos Cruzadas compassos 1 a 6 (Lacerda, 1971, p.10)

182

125

O Desenho de Constancinha compassos 22 a 27 (Almeida Prado, 1984, p.8)

183

126

Parabns a Voc compassos 10 a 19 (Almeida Prado, 1984, p.17)

183

127

Acalanto compassos 21 a 24 (Soares, 2003c)

184

128

O Burrinho Teimozo compassos 1 a 4 (Carvalho, s.d.)

184

105

106

107

xv

129

Pequeno Estudo compassos 1 a 5 (Soares, 2003b)

185

130

Carrilho compassos 1 a 5 (Miguez, s.d., p.4)

186

131

A Avosinha compassos 1 a 7 (Miguez, s/d, p.10)

186

132

Olha Aquela Menina... compassos 1 a 4 (Villa-Lobos, 1968, p.8)

187

133

A Bailarina e o Mdico compassos 1 a 5 (Tacuchian, 2007, p.14)

187

134

Nova Modinha compassos 1 a 6 (Campos, 2002, p.45)

188

135

Minueto compassos 1 a 6 (Nepomuceno, 1960)

189

136

A Aritmtica da Aninha compassos 1 a 8 (Almeida Prado,

137

Manobra Militar compassos 1 a 6 (Nepomuceno, 1960)

190

138

Histria Muito Antiga compassos 1 a 6 (Nunes, s.d.)

190

139

Assim Ninava Mam... compassos 1 a 5 (Villa-Lobos, 1976)

191

140

Yay Sonhando compassos 1 a 9 (Fernandez, 1946)

191

141

Marchando compassos 1 a 6 (Souza Lima, 1959)

192

142

Acalanto compassos 1 a 7 (Alimonda, 1958a)

193

143

Valsinha Brasileira compassos 1 a 7 (Lacerda, 1962, p.12)

193

144

Pequena Cano compassos 1 a 8 (Lacerda, 1972b)

194

145

Manhas e Reproches compassos 1 a 8 (Miguez, s.d., p.12)

195

146

O Menino Sossegado compassos 1 a 6 (Nunes, 1968, p.3)

195

147

Primeira Valsinha compassos 1 a 8 (Mignone, 1996, p.7)

196

148

Moinho de Vento compassos 1 a 8 (Alimonda, 1959a, p.8)

196

149

O gatinho subiu na cerca... compassos 1 a 7 (Morozowicz, 2002, p.12)

197

150

Estudo Seresteiro compassos 1 a 6 (Krieger, 1983)

197

151

Dana dos Gnomos e das Fadas compassos 1 a 9


p.109)

1984, p.6)

189

(Almeida Prado, 1999,


198

152

Valsa de P Quebrado compassos 1 a 6 (Korenchendler, 1999, p.96)

198

153

Preldio Modal II compassos 1 a 5 (Sabbato, 1999, p.184)

199

154

Sonatina n 1 (1 movimento) compassos 9 a 14 (Ripper, s.d.)

199

155

Dana do Bufo Tristonho compassos 1 a 4 (Ribeiro A.C., 2008c)

200

156

A Danarina Espanhola compassos 1 a 5 (Fernandez, 1945)

201

157

Miniatura n 2 compassos 1 a 8 (Lombardi, 2002, p.47)

201

xvi

158

Choro Manhoso compassos 1 a 4 (Krieger, s.d.)

202

159

Miniatura III compassos 1 a 8 (Cunha, 2008)

202

160

Na Beira do Rio compassos 1 a 16 (Fernandez, 1968)

203

161

Melodia Folclrica compassos 1 a 8 (Mendes, s.d., p.1)

204

162

Chorinho compassos 1 a 5 (Vasconcellos-Corra, 1961, p.3)

204

163

Miniatura I compassos 1 a 8 (Cunha, 2008)

205

164

Inveno Branda compassos 1 a 6 (Cavalcanti, 1999, p.158)

205

165

Two Part Invention n 1 compassos 1 a 5 (Schroeter, 2003)

206

166

Soldadinhos da Cabea de Papel compassos 41 a 48 (Nunes, 1957c)

207

167

Caminhando no Frio compassos 1 a 6 (Richter, 1984, p.38)

207

168

O Sapinho de Mola compassos finais (Almeida Prado, 1984, p.16)

208

169

Cantiga de Roda compassos 11 a 15 (Cervo, 2000)

208

170

A Pobrezinha Sertaneja compassos 1 a 4 (Villa-Lobos, 1976)

209

171

O Corvo e o Pavo compassos 1 a 7 (Mignone, 1976a)

210

172

Ponteio compassos 1 a 9 (Alimonda, 1958b, p.3)

210

173

Cantiga compassos 3 a 10 (Alimonda, 1958b, p.4)

211

174

Dansa compassos 1 a 9 (Alimonda, 1958b, p.6)

211

175

Dansa compassos 29 a 37 (Alimonda, 1958b, p.6-7)

212

176

Acalanto compassos 1 a 6 (Vasconcellos-Corra, 1968a)

212

177

Acalanto compassos 15 a 20 (Vasconcellos-Corra, 1968a)

213

178

A Bailarina e o Mendigo compassos 5 a 10 (Tacuchian, 2007, p.10)

213

179

Dana com Basso Ostinato compassos 2 a 7 (Korenchendler, 1999, p.88)

214

180

Cinco Passos: I compassos 1 a 5 (Aguiar, 1999, p.52)

214

181

Cinco Passos: III compassos 1 a 5 (Aguiar, 1999, p.56)

215

182

Cinco Passos: V compassos 1 a 8 (Aguiar, 1999, p.60)

215

183

Alternncia compassos 1 a 7 (Alvarenga, 1999, p.34)

215

184

midos, Voluptuosos compassos 3 a 9 (Oliveira, S.R., s.d.)

216

185

Toc-toc pea n 2, 1 volume (Widmer, 1966a, p.4)

217

186

Coqueiral pea n 64, 2 volume (Widmer, 1966b, p.8)

217

187

A Caverna dos Cristais Cintilantes compassos 1 a 5 (Richter, 1985, p.52)

218

xvii

188

Sambinha compassos 1 a 5 (Soares, 2003)

218

189

Msica em Trs Partes n 1: I compassos 1 a 7 (Aguiar, 1971)

219

190

Msica em Trs Partes n 1: II compassos 1 a 8 (Aguiar, 1971)

219

191

As Curvas Dobra compassos 1 a 3 (Oliveira, S.R., s.d.)

220

192

Improvisao IV (compassos 1 a 7) improvisao meldica a ser realizada


sobre o baixo dado (Widmer, 1966a, p.19)

221

Improvisacin II improvisao livre sobre as teclas pretas (Widmer, 1985,


p.15)

221

Campanas (compassos 5 a 8) improvisao livre, atravs de variaes da


melodia apresentada (Widmer, 1985, p.21)

222

Composio (compassos 8 a 14) improvisao da melodia, utilizando o


ritmo dado (Alvarenga, 1999, p.28)

222

Adeus Bela Morena! (compassos 17 a 23) tema apresentado na Seo B


(Villa-Lobos, 1968, p.4)

223

Garibaldi foi Missa (compassos 1 a 3) seo A de carter contrastante


com o tema que ser apresentado na seo seguinte (Villa-Lobos, s.d., p.10)

224

Garibaldi foi Missa (compassos 9 a 15) tema apresentado na Seo B,


aps seo inicial contrastante (Villa-Lobos, s.d., p.10)

224

A Mo Direita Tem Uma Roseira (compassos 1 a 4) tema realizado pela


mo esquerda e apresentado na seo inicial (Villa-Lobos, 1976)

224

Na Bahia Tem (compassos 1 a 9) aproveitamento do folclore brasileiro


(Widmer, 1966a, p.20)

225

Marcha Soldado (compassos 1 a 9) melodia do folclore brasileiro


harmonizada de forma no convencional (Widmer, 1966b, p.13)

225

Paloma Blanca (compassos 1 a 8) pea que utiliza melodia folclrica


peruana (Widmer, 1985a, p.43)

226

Pobre Corazn (compassos 1 a 8) pea que utiliza melodia folclrica


equatoriana (Widmer, 1985a, p.44)

226

Esclavos de Job (compassos 1 a 8) pea que utiliza cano de roda


brasileira (Widmer, 1985a, p.46)

227

205

Angolinhas movimento paralelo (Mahle, 2003, p.1)

227

206

Quantos dias tem o ms?- contraste de articulao entre as duas mos


(Mahle, 2003, p.13)

228

Os Pombinhos (compassos 1 a 6) melodia acompanhada por ostinato


rtmico ((Mahle, 2003, p.25)

228

208

Rosa Amarela (compassos 1 a 7) uso de sncopes (Mahle, 2003, p.85)

228

209

Atirei um pau no gato... (compassos 1 a 6) uso de tema do folclore


brasileiro (Morozowicz, 2002, p.4)

229

193

194

195

196

197

198

199

200

201

202

203

204

207

xviii

210

Frre Jaques (compassos 1 a 6) uso de conhecida melodia francesa


(Morozowicz, 2002, p.9)

229

211

Nove Peas Fceis n 1 compassos 1 a 6 (Oliveira, W., 1987a, p.1)

230

212

Nove Peas Fceis n 7 compassos 1 a 6 (Oliveira, W., 1987a, p.6)

230

213

7 ou 8 Peas (mais) Fceis n 1 (Oliveira, W.,1987b, p.1)

231

214

7 ou 8 Peas (mais) Fceis n 6b compassos 1 a 5 (Oliveira, W. 1987b, p.4)

231

215

Baio Mulato compassos 1 a 8 (Campos, 2002, p.9)

232

216

Sertaneja compassos 1 a 8 (Campos, 2002, p.17)

232

217

Nova Bossa compassos 1 a 9 (Campos, 2002, p.21)

232

218

Samba compassos 3 a 8 (Cervo, 2000)

233

219

Cantiga de Cego compassos 1 a 7 (Cervo, 2000)

234

xix

LISTA DE FIGURAS

Pgina
Figura 1

Capa do volume 1 de Piano Lessons (Kreader et al, 1996)

58

Figura 2

Capa do volume 1 de Piano Practice Games (Kreader et al, 1996)

58

Figura 3

Capa do volume 1 de Piano Technique (Kreader et al, 2000)

59

Figura 4

Capa do volume 1 de Piano Theory Workbook (Kreader et al, 1997)

59

Figura 5

Ilustraes que contribuem para o ensino do intervalo de 3 (Kreader


et al, 1996, p. 50)

83

Figura 6

Capa do volume 1 de Europische Klavierschule (Emonts, 1992)

93

Figura 7

Capa do volume 2 de Europische Klavierschule (Emonts, 1993)

94

Figura 8

Capa do volume 3 de Europische Klavierschule (Emonts, 1994)

94

Figura 9

Ilustrao do prefcio escrito em alemo (Emonts, 1992, p.4)

117

Figura 10

Ilustrao do prefcio escrito em francs (Emonts, 1992, p.5)

117

Figura 11

Ilustrao do prefcio escrito em ingls (Emonts, 1992, p.6)

117

Figura 12

Ilustrao do prefcio do segundo volume, com referncia Unio


Europeia (Emonts, 1992, p. 6)

117

Figura 13

Ilustrao da seo intitulada Tocando de Ouvido (Emonts, 1992, p.20)

118

Figura 14

Ilustrao da lio intitulada Tango (Emonts, 1992, p.86)

118

Figura 15

Ilustrao da lio intitulada Despedida (Emonts, 1993, p.36)

118

Figura 16

Exerccio em que o aluno dever unir a figura ou smbolo musical a


seu nome correto

132

Figura 17

Capa do primeiro volume de Meu Piano Divertido (Botelho, 1983)

140

Figura 18

Ilustrao da lio 1, do primeiro volume de Meu Piano Divertido


(Botelho, 1983, p. 8)

140

xx

1 INTRODUO

1.1

Apresentao do Problema e Universo da Pesquisa

Ao longo de minha trajetria de trabalho como professora de piano, tive oportunidade


de lidar com diferentes materiais de ensino e experimentar diferentes procedimentos. Muitos
foram os mtodos utilizados, na tentativa de encontrar o melhor caminho a ser seguido. Essa
preocupao agora se estende preparao e orientao dos alunos do Curso de Licenciatura
1

em Msica Habilitao em Ensino do Instrumento / Piano , oferecido pela Escola de Msica e


Artes Cnicas da Universidade Federal de Gois (UFG), instituio qual perteno e pioneira
no Brasil na criao de um curso voltado para a formao de professores de instrumentos
musicais. Sendo assim, a preocupao e necessidade de melhor instrumentalizar esses futuros
professores foi o impulso inicial desta pesquisa, que tem por objetivo analisar trs mtodos de
ensino de piano e propor repertrio de msica brasileira como uma complementao ao
contedo abordado pelos mtodos analisados. Pretendo apresentar um modelo de anlise que
possa ser utilizado em estudos que apresentem objetivos semelhantes.
Ao tomarmos como ponto de partida a definio da palavra mtodo, segundo a qual
2

trata-se de um caminho a ser percorrido para se chegar a determinado resultado , entendemos


que um mtodo de ensino pode ser descrito como um conjunto de procedimentos e contedos
organizados de forma a possibilitar uma aprendizagem efetiva, em um espao de tempo
determinado. Por decorrncia, consideraremos como mtodo de ensino de piano todo material
didtico dirigido a esse instrumento, que tenha sido planejado com o objetivo de contribuir
para uma progresso da aprendizagem. Mais detalhes sobre mtodos de ensino sero
fornecidos na Parte 2 desta tese.

Curso criado em 1999, denominado inicialmente Educao Musical, abrangendo trs habilitaes, a saber:
Ensino Musical Escolar, Instrumento Musical e Canto. Atualmente, passa por estudos que visam atender o
novo Regime Geral dos Cursos de Graduao da UFG e ter seu nome modificado para Licenciatura em
Msica, com as habilitaes: Educao Musical, Ensino do Instrumento Musical e Ensino do Canto
(Universidade Federal de Gois, 2008).
2

Definio baseada na acepo adotada por Ferreira (s.d.), em sua publicao: Novo dicionrio da lngua
portuguesa.

Trataremos apenas dos mtodos de ensino destinados iniciao ao piano,


apropriados a crianas com idade entre 7 e 10 anos. No consideraremos, portanto, aqueles
que se atm a apenas um aspecto como, por exemplo, a princpios de tcnica; ou seja,
preocupam-se em resolver apenas questes referentes ao desenvolvimento dos meios e
movimentos necessrios para a realizao pianstica; ou, ainda, aqueles que utilizam o
instrumento como uma ferramenta adicional na educao musical em geral. O que nos
interessa identificar os passos e procedimentos utilizados na preparao do pianista e futuro
intrprete do repertrio apropriado a cada etapa de seu desenvolvimento. Isso no significa
valorizar um procedimento em detrimento de outro. Trata-se apenas da necessidade de
selecionar um tpico, dentre aqueles que compem uma formao musical abrangente, na
tentativa de analis-lo o mais detalhadamente possvel.
Foram analisados mtodos destinados aos nveis iniciais de estudo do piano, isto ,
aqueles que partem do nvel introdutrio, no qual o aluno no tem qualquer conhecimento
acerca das questes que envolvem a execuo instrumental, e fornecem os contedos
necessrios para que ele atinja o denominado nvel elementar. Para definir o que seja o nvel
elementar, tomamos por base, primordialmente, os estudos realizados por Salomea
Gandelman (1997) e Marienne Uszler et al (1995), que discutem questes relacionadas a
nveis de dificuldade. Para delimitar os graus elementar, intermedirio e avanado, Gandelman
(1997) utiliza como parmetro principal a obra Mikrokosmos, de Bla Bartk (1881-1945). A
autora considera de nvel elementar apenas o volume 1 da referida obra. J Uszler et al (1995)
listam os elementos musicais e caractersticos da execuo pianstica que consideram
pertencentes aos nveis elementar e intermedirio.
Portanto, consideramos como nvel elementar a etapa que se segue imediatamente ao
nvel introdutrio, na qual o aluno j domina os elementos bsicos de leitura, reconhece os
smbolos e sinais musicais e capaz de executar peas que contenham elementos citados por
Uszler et al como pertencentes ao nvel elementar e, ainda, aquelas que se assemelhem s
obras que compem o volume 1 do Mikrokosmos de Bartk. Esse tpico ser discutido mais
detalhadamente na Parte 4 desta tese.
Na busca por mtodos de ensino, verificamos a existncia de diferentes opes de
publicaes, o que possibilita ao professor de piano tentar encontrar aquele ou aqueles que

sejam mais adequados a seus propsitos. Entendemos que a escolha deve ser guiada pelos
objetivos que se pretende atingir aps determinado tempo de estudo; esses objetivos devem,
ento, ser os norteadores da procura de material que melhor atenda s necessidades e
interesses tanto do professor quanto do aluno.
Dentre os mtodos levantados, encontramos publicaes nacionais e estrangeiras que
se tornaram bastante difundidas, tanto como material de ensino do instrumento, como tambm
objeto de estudos e pesquisas. Citamos, a ttulo de exemplo, os seguintes mtodos
estrangeiros, que so descritos e avaliados por diversas publicaes que tratam do ensino do
3

piano :

Mtodo Suzuki, elaborado por volta de 1930, por Shinichi Suzuki, que parte do
princpio de que no existe talento nato, mas uma potencialidade que pode ser
trabalhada e toda criana, com treinamento adequado, pode desenvolver uma
habilidade musical. Compara o aprendizado musical com o aprendizado da lngua
materna, no qual a criana ouve, em seguida comea a falar e s depois aprende a
ler e escrever. Assim, a aprendizagem do instrumento se d atravs da audio
repetida da pea que o aluno est estudando e a memorizao incentivada. A
leitura s ensinada quando a destreza de execuo e memria tiverem sido
suficientemente treinadas (Suzuki, 1995).

The Leila Fletcher Piano Course (1950) , da autoria de Leila Fletcher, que tem o
objetivo de se dedicar a quatro propsitos principais: o desenvolvimento da
habilidade

de

ler

msica

fluentemente

interpret-la

artisticamente,

estabelecimento de uma tcnica pianstica slida e abrangente, o estmulo do


talento musical criativo e o favorecimento de uma apreciao da msica. A autora
utiliza a abordagem de leitura do D central (Fletcher, 1981).

Selecionamos os exemplos que foram citados pelos trs autores principais nos quais nos baseamos para a
realizao da anlise de mtodos de ensino, a saber: Bastien (1995), Skaggs (1981) e Uszler et al (2000),
cujas ideias sero detalhadas no Item 1.3 desta Introduo.
4

Este mtodo no avaliado pelos trs autores mencionados, porm optamos por inclu-lo na lista de
exemplos por ser uma publicao que ainda amplamente utilizada em nosso meio de atuao.

The Music Tree (1955), de Frances Clark, Louise Bianchi e Marvin Blickenstaff, que
foi revisado, em 1973, por Frances Clark, Louise Goss e Sam Holland. O material
destinado pelos autores ao nvel elementar contm quatro volumes e cada um
deles possui um livro texto e um livro de atividades, que devem ser utilizados em
conjunto. Aps um trabalho de pr-leitura, fora da pauta, a leitura de notas
introduzida gradativamente, atravs da abordagem intervalar (Clark, 2000).

Music for Keyboard (1961), de Robert Pace, cuja proposta ensinar atravs do
equilbrio de atividades de leitura primeira vista, transposio, harmonizao,
treino auditivo, improvisao, repertrio e tcnica. Adota a abordagem de leitura
das mltiplas tonalidades (Pace, 1973).

Bastien Piano Basics (1976), de James Bastien, que apresenta o contedo


integrando o mtodo de ensino a livros complementares de tcnica, teoria,
performance e, a partir do segundo volume, includo um exemplar para
treinamento de leitura primeira vista. A abordagem de leitura a das mltiplas
tonalidades (Bastien, 1997).

No Brasil, vrios exemplos tambm podem ser citados. Um dos primeiros professores
de instrumentos de teclado que se preocupou em escrever um mtodo de ensino foi Pe. Jos
Maurcio Nunes Garcia (1767-1830), que publicou, em 1821, o Mtodo de Pianoforte, cujo ttulo
completo : Compndio de Msica e Methodo de Pianoforte do Snr. Pe. Joz Mauricio Nunes
Garcia. Expressamente escrito para o Dr. Joz Maurcio e seu Irmo Apollinrio em 1821. De
acordo com Fagerlande (1996), trata-se do primeiro mtodo de teclado a ser escrito no Brasil e
segue o modelo dos tratados do mesmo gnero, englobando noes de teoria musical, regras
para o acompanhamento [...] e peas musicais a serem executadas no instrumento, com seu
dedilhado (Fagerlande, 1996, p.32). O Mtodo do Pe. Jos Maurcio composto por Lies e
Fantasias e o autor utiliza esses dois termos em consonncia com seus significados dentro da
tradio da msica europeia. As Lies so peas de movimento nico, para o exerccio ao
teclado, enquanto as Fantasias so peas de maior grau de liberdade, escritas tanto sem forma

definida, como na forma ternria ou na forma rondo. De acordo com Fagerlande (1996), h no
Mtodo uma coerncia pedaggica, pois, em primeiro lugar, oferece uma grande quantidade de
informao e, em segundo lugar, essa grande quantidade de informao apresentada em
ordem crescente de dificuldade.
Depois desse primeiro mtodo, novas publicaes s vo acontecer nas primeiras
dcadas do sculo XX, segundo estudo realizado por Sampaio (1996). De acordo com
levantamento realizado pelo referido autor, at cerca de 1960, poucos mtodos foram
publicados no Brasil e estes visavam, principalmente, o ensino da leitura musical, sem se
preocupar com a incluso de outros aspectos alm dos referentes execuo instrumental. Um
exemplo dessas primeiras publicaes o Mtodo Infantil para Piano, de Francisco Russo
(s.d.). Apesar de no constar a data de publicao, h indcios que tenha sido anterior a 1930,
pois, na contracapa do Mtodo de Piano, escrito como uma continuao para o Mtodo Infantil,
5

esto impressas algumas crticas ao livro, datadas de 1931 . Outra indicao de se tratar de
uma publicao antiga o fato de a leitura ser introduzida apenas na Clave de Sol, e a Clave
de F apresentada s a partir da lio n 27. E esse procedimento parece ter sido abandonado
na maioria das publicaes posteriores.
Vale citar outro exemplo desse tipo de material, que o livro Ciranda dos dez dedinhos,
das autoras Maria Apparecida Vianna e Carmen Xavier, publicado em 1953, e que, apesar de
no receber a denominao de mtodo, apresenta uma das caractersticas que consideramos
pertinente a mtodos de ensino, que a organizao das peas em ordem progressiva de
dificuldade. Porm, j nas primeiras lies, o aluno encontrar grande nmero de informaes,
como leitura de notas nas Claves de Sol e F simultaneamente, valores das figuras, notas
pontuadas, notas ligadas, alteraes, dentre outras. importante notar a preocupao das
autoras em incluir melodias do folclore brasileiro (Vianna e Xavier, 1953).
Na dcada de 60, Ernst Widmer apresenta uma proposta de ensino que visa, dentre
outros objetivos, abrir caminhos para a compreenso da msica moderna (Widmer, 1966,
p.3). A publicao composta de cinco cadernos de peas progressivas, denominada Ludus
brasiliensis (1966), na qual Widmer faz uso de elementos que se aproximam das tcnicas
composicionais adotadas no sculo XX, como a utilizao de uma harmonia menos
5

O Mtodo de Piano, de autoria do Prof. E. DE ANGELIS (Francisco Russo), editado pela Casa Wagner,
inegavelmente de grande utilidade para os estudantes da matria. (Do Jornal A Razo So Paulo, 26-731)

convencional, ritmos assimtricos e variados, alm da explorao de outros recursos sonoros


do instrumento, como a percusso na madeira, por exemplo. Incentiva, ainda, a prtica de
atividades criativas, como a improvisao.
tambm da dcada de 60 a publicao de Heitor Alimonda, O Estudo do Piano,
composto de dez cadernos, e definido pelo autor como um mtodo de formao pianstica e
musical (Alimonda, 1967, p.1). Apesar de ser considerado, por alguns professores, uma
contribuio relevante, no um mtodo muito utilizado e, no nosso ponto de vista, no
indicado para crianas muito novas, pois as atividades ali contidas podem ser muito rduas
para aqueles que necessitam de constante estmulo e atividades diversificadas. As ginsticas,
exerccios e estudos so, por vezes, um pouco montonos, com grande nfase no trabalho de
tcnica, embora apresente grande coerncia na maneira como prope e desenvolve questes
motoras. Ressaltamos, ainda, como um grande ponto positivo, a preocupao em incluir
melodias do folclore brasileiro como material de leitura e estudo.
Outro exemplo significativo, ainda da dcada de 60, Iniciao ao Piano, de Carmem
Mettig Rocha, publicado em duas partes. Cada caderno possui 70 peas, que esto dispostas
em ordem crescente de dificuldade. O objetivo da referida autora fazer a criana entrar em
contato com o instrumento de maneira agradvel (Rocha, 1969, prefcio). importante
observar a preocupao de Rocha em incentivar atividades de transposio e improvisao, a
fim de desenvolver a percepo auditiva, bem como a capacidade criativa da criana.
As dcadas de 70 e 80 foram bastante produtivas na publicao de material de ensino.
Percebemos desde publicaes mais tradicionais, como algumas tentativas de inovaes.
Mrio Mascarenhas foi um autor que contribuiu com diversas obras e, dentre as que se
tornaram mais difundidas, citamos Duas mozinhas no teclado (1970), na qual Mascarenhas
tenta atrair a ateno das crianas com desenhos coloridos, substituindo a leitura tradicional
pela leitura atravs de smbolos; ou seja, o D representado pelo dodi, o R pelo relgio,
o Mi pelo miau e assim por diante (Mascarenhas, 1970).
Ao lado de iniciativas similares, vemos surgir propostas de ensino mais abrangentes
que visam ir alm do ensino da execuo instrumental, isto , propem uma educao musical
atravs da utilizao do piano. Um exemplo significativo dessa tendncia o trabalho de Maria
de Lourdes Junqueira Gonalves, Educao musical atravs do teclado (1985), que prope a

utilizao do piano como instrumento musicalizador e no apenas a servio do virtuose


(Gonalves, 1985, p.v). indicado para o ensino em grupo, situao que Gonalves (1989)
considera mais eficiente em termos do desenvolvimento da musicalidade, mais atraente e
divertida (p.1). No entanto, a autora do mtodo no desaconselha a utilizao do material em
aulas individuais. Segundo ela,

cada volume um livro-texto que leva o aluno a vencer etapas, o que se


processa atravs da musicalizao, da alfabetizao musical, da
aprendizagem de conceitos e da prtica de habilidades funcionais no uso do
teclado, tudo isso feito em espiral, partindo do teclado para a pgina musical,
numa intimidade com o som, com o ritmo, com a harmonia, com a
transposio, sendo dada nfase leitura e criatividade (Gonalves, 1985,
p.vi).

Os mtodos que procuram explorar diversos aspectos do fazer musical se baseiam no


princpio de que o ensino do piano deve ir alm da aprendizagem da notao musical, isto ,
no visar apenas a leitura e interpretao de peas do repertrio. Tais mtodos adotam
recursos como atividades de pr-leitura e leitura no convencional, treinamento da percepo e
audio e, principalmente, exerccios para desenvolver a capacidade criativa. Outros exemplos
dessa tendncia so Nossos dez dedinhos (1994), de Elvira Drummond, citado por Sampaio
(1996), e Piano-brincando (1993), de Maria Betnia Parizzi Fonseca e Patrcia Furst Santiago,
que no tm a pretenso de fornecer um mtodo de ensino, mas um caderno de atividades
cujo principal objetivo enfatizar e complementar assuntos considerados fundamentais no
ensino do piano como instrumento musicalizador (Fonseca & Santiago, 1993, p.7).
Alguns mtodos publicados na dcada de 90 procuraram acompanhar a popularizao
do teclado eletrnico ao incluir a possibilidade de utilizao do material tambm no ensino do
referido instrumento, como o caso de Iniciao ao piano e teclado (1994) da autoria de
Antnio Adolfo e Meu 1 teclado (1994), de Cristine Prado (Sampaio, 1996).
Citamos, ainda, outro exemplo dedicado ao ensino do teclado: Educao musical ao
teclado (2002), de Nair Pires, Cesar Buscacio e Izabella Montesanto, que propem a utilizao
do teclado eletrnico como recurso metodolgico de ensino musical, introduzindo a prtica do
instrumento antes do conhecimento da grafia tradicional. destinado ao ensino em grupo, para
crianas na faixa etria entre 7 a 10 anos (Pires, Buscacio e Montesanto, 2002).

Em meio a tantas e diferentes opes, difcil afirmar que existe um mtodo ideal, mas
possvel encontrar material adequado a diferentes propsitos; um amplo conhecimento de
mtodos disponveis e da maneira correta de utiliz-los amplia as possibilidades de sucesso do
professor de piano. Uma anlise minuciosa de tais mtodos tarefa do professor preocupado
em obter os melhores resultados com cada aluno em particular, desde o mais talentoso at
aquele que apresenta maiores dificuldades no processo de aprendizagem.
por essa razo que escolhemos analisar trs mtodos de ensino de piano, publicados
em diferentes locais e que, apesar de ligados pelo objetivo comum de proporcionar a
introduo ao estudo do instrumento, apresentam algumas caractersticas distintas em relao
forma de abordagem de contedos e qualidade do repertrio. Foram selecionadas as
seguintes publicaes: o mtodo americano Hal Leonard Student Piano Library (1996-2000), a
publicao europeia Europische Klavierschule (1992-94), editado na Alemanha e difundido em
outros pases da Europa, e o mtodo brasileiro Meu Piano Divertido (1983-87). Tratam-se de
mtodos sobre os quais no existem estudos mais detalhados e no foram analisados sob o
ponto de vista que esta tese prope.
A opo por publicaes de diferentes pases se justifica pelo nosso interesse em
verificar como enfocada a produo artstica local, pois consideramos ser um dos
procedimentos relevantes da prtica do ensino musical a utilizao, como contedo de ensino,
de elementos da cultura nacional. E a incluso de peas brasileiras no repertrio de alunos,
desde os primeiros anos de seus estudos, uma prtica que pode ser reforada e melhor
explorada por professores e escolas de msica.
Os mtodos mencionados foram selecionados com base nas categorizaes sugeridas
por Marienne Uszler (1995a) e Hazel Skaggs (1981). Uszler (1995a) agrupa os mtodos em
duas categorias: aqueles que oferecem uma introduo geral msica, mas utilizam o teclado
como ferramenta de ensino e [...] os que so, por si s, mtodos de preparao para tocar
6

piano (p.88).
Skaggs (1981) considera que a existncia, ou no, de orientao ao professor, bem
como de apresentao do material de forma progressiva, ou no, como fatores de
categorizao, dividindo os mtodos em trs categorias: a primeira a dos mtodos que
6

methods that provide a general introduction to music but use the keyboard as a teaching tool, and (...)
methods that are readiness courses for piano playing per se (Uszler, 1995a, p.88).

oferecem muita orientao ao professor; a segunda, a dos mtodos com menos orientaes,
mas com as lies organizadas de forma progressiva; e a terceira, a dos mtodos com foco
maior no repertrio, oferecendo maior liberdade de escolha ao professor.
Com base nas categorizaes sugeridas pelas autoras citadas, delimitamos nossa
escolha entre mtodos destinados ao ensino de piano, que apresentam o contedo de forma
gradativa, oferecendo algum tipo de orientao ao professor e sejam adequados a alunos com
idade entre 7 e 10 anos. A partir desse critrio, procuramos selecionar mtodos que tivessem
tais caractersticas em comum, mas que apresentassem abordagens diferentes em relao ao
primeiro contato do aluno com o instrumento. Hal Leonard Student Piano Library inicia com
atividades de pr-leitura, apresentando as notas fora da pauta, que devem ser lidas de acordo
com o desenho que indica os movimentos ascendente, descendente ou no mesmo lugar. O
Mtodo Europeu de Piano tem incio com atividades de familiarizao do teclado, atravs de
sugestes de melodias para serem tocadas por imitao, alm do incentivo prtica de tocar
de ouvido melodias que lhes sejam familiares. E Meu Piano Divertido, por sua vez, j inicia
com a leitura das notas na pauta.
Consideramos, ainda, a forma de apresentao dos contedos, o repertrio utilizado e,
alm dos critrios de seleo que dizem respeito s caractersticas de cada obra, outros
fatores influenciaram nossa escolha, os quais esto relacionados s particularidades do
contexto determinante da realizao desta pesquisa. Dessa forma, ao considerarmos nosso
universo de atuao, que a cidade de Goinia, nos deparamos com algumas contingncias
que influenciaram nossas opes e, mesmo no tendo sido tratadas como prioridades,
ajudaram a guiar nossos passos em direo escolha dos referidos mtodos.
Primeiramente, constatamos que o acesso a esse tipo de material ainda relativamente
limitado, sendo possvel quase exclusivamente via internet, o que dificulta que o professor
conhea e manuseie o material antes de adquiri-lo, fazendo com que se sinta mais confortvel
em utilizar um mtodo que j lhe seja familiar, ao invs de arriscar em algo novo e cuja eficcia
desconhece. Verificamos, assim, que o mtodo Meu Piano Divertido um dos mais
acessveis e tambm o mais utilizado dentre as publicaes brasileiras, fato que foi constatado
em levantamento prvio, realizado junto a escolas de msica pblicas e particulares na cidade
de Goinia.

10

Acreditamos que a facilidade de acesso e o desconhecimento de outras publicaes


so dois fatores interligados, que contribuem para reforar a ampla utilizao do referido
mtodo e, por isso, julgamos relevante conhecer detalhadamente o material que ele oferece,
como forma de obter maior fundamentao para sugerir ou mesmo desaconselhar o seu uso.
Em relao ao mtodo americano Hal Leonard Student Piano Library, verificamos que,
dentre as opes disponveis e de mais fcil acesso, uma das publicaes atuais que procura
ser mais abrangente na apresentao das questes que envolvem a aprendizagem pianstica
ao coordenar atividades tericas, tcnicas, de criao e repertrio.
E,

como

foi

mencionado

anteriormente,

mtodo

europeu

(Europische

Klavierschule) se destaca pela preocupao em utilizar, como repertrio, canes folclricas e


populares de diversos pases da Europa, numa clara preocupao em difundir a cultura local.
A seguir, uma primeira apresentao dos mtodos selecionados, que sero analisados
mais detalhadamente na Parte 3 desta tese.

a) Hal Leonard Student Piano Library


Composto de cinco volumes, foi publicado pela Hal Leonard Corporation, de Milwaukee,
Wisconsin (USA), na dcada de 90, e escrito pelos autores americanos Barbara Kreader, Fred
Kern, Phillip Keveren e Mona Rejino, com a colaborao de outros compositores. Oferece uma
proposta de ensino que apresenta, simultaneamente, os seguintes temas: lies, exerccios
tericos, tcnica, jogos e peas solo, que so editados em exemplares individuais.
Este mtodo se encaixa na categoria descrita por Skaggs (1981) daqueles que
oferecem muita orientao ao professor. Atravs do Guia do Professor (2001-03), os autores do
mtodo

sugerem

procedimentos

serem

adotados

em

cada

aula,

dividindo

esses

procedimentos em trs etapas: Preparao, Prtica e Performance. Apresentam, ainda, Cartes


de Planejamento de Aula, que orientam o professor como coordenar todos os livros que
compem cada volume da srie, isto , coordenam o livro de lies com os livros de jogos,
tcnica, teoria e solos.

11

b) Europische Klavierschule (The European Piano Method / Mthode de Piano


Europenne)
Publicado pela Schott Musik International, Mainz (Alemanha), na dcada de 90,
composto de trs volumes e foi elaborado pelo compositor e professor alemo Fritz Emonts
(1920-2003). Direcionado primordialmente a alunos da Unio Europeia, este mtodo nos
chamou a ateno, principalmente, por sua proposta de abranger a cultura de diversos pases.
Com o advento da unificao de parte dos pases europeus, o autor considerou importante que
os estudantes tivessem contato com a msica de diferentes localidades.
De acordo com o autor do mtodo, o 1 volume tem um carter introdutrio e contm as
bases da execuo pianstica. J o 2 visa um aprofundamento da formao tcnica e musical,
atravs da abordagem de temas como frase e articulao, velocidade e igualdade,
objetivando atingir um nvel tcnico que possibilite um trabalho artstico de expresso e criao
sonora, introduzindo a utilizao do pedal e a realizao do cantabile.
O 3 volume considerado pelo autor como uma coletnea e sugestes de peas para
alunos mais adiantados. Tais peas so organizadas de acordo com certos critrios
metdicos, com os aspectos tcnicos acompanhados de perto pelas questes musicais, pois
Emonts acredita que os dois processos de progresso devem permanecer inseparveis. Isto ,
o controle sobre a qualidade do som, a clareza e a articulao no podem ser negligenciados
no processo tcnico; ao mesmo tempo, as peas do repertrio devem ganhar fora criativa
atravs do crescimento constante das capacidades tcnicas (Emonts, v. 3, 1994).
Pode-se dizer que este mtodo se encaixa na segunda categoria descrita por Skaggs
(1981), que aquela em que o mtodo oferece pouca orientao ao professor, mas apresenta o
contedo de forma progressiva. Aqui o autor apresenta algumas sugestes de ensino nas
primeiras lies e vai diminuindo as orientaes no decorrer do livro, a fim de evitar uma
limitao iniciativa individual do professor quanto a procedimentos a serem realizados na
transmisso dos contedos (Emonts, v. 1, 1992).

c) Meu Piano Divertido


Foi elaborado pela autora brasileira Alice Botelho que, como o nome sugere, pretende
ensinar de forma prazerosa. Para tanto, usa uma linguagem simples, introduzindo os aspectos

12

relacionados leitura da notao musical atravs de pequenas estrias. Publicado na dcada


7

de 80 pela Ricordi Brasileira , possui trs volumes, sendo o terceiro intitulado Divirta-se
Tocando (1988) e trata-se de uma coletnea de peas de diversos autores.
Seguindo as categorizaes sugeridas por Skaggs (1981), podemos considerar os dois
primeiros volumes deste mtodo como pertencentes categoria daqueles que fornecem pouca
orientao ao professor, mas apresentam o contedo de forma progressiva, sendo que o
terceiro volume exemplo de mtodo cujo foco maior est no repertrio, oferecendo maior
liberdade de escolha ao professor.
importante salientar que ao analisarmos tais mtodos no significa que estamos
sugerindo seu uso, ou seja, no estamos os considerando modelos ideais de materiais de
ensino. A realizao de tal anlise leva em conta a importncia de se ter um conhecimento
mais aprofundado de diferentes materiais de ensino a fim de avaliar as vantagens e
desvantagens da aplicao dos diferentes tpicos propostos por cada um dos autores. Dessa
forma, esperamos contribuir tambm para a realizao de futuras investigaes e estudos
semelhantes.

1.2

Questes

As questes que levantamos em relao aos mtodos analisados dizem respeito,


principalmente, ao contedo apresentado e para qual repertrio o aluno estar preparado ao
concluir determinado mtodo; isto , quais aspectos da execuo pianstica e conceitos
tericos so abordados e que peas do repertrio tradicional de piano, mais especificamente
de msica brasileira, podem ser utilizadas como complementao, possibilitando assim a
aplicao do contedo recm aprendido.
Ao questionarmos a abrangncia do contedo dos mtodos, o fazemos por acreditar
que a escolha de material adequado e a forma como utilizado so fatores preponderantes
para o sucesso do processo de ensino. Assim, ao conhecer o material e a abordagem de
diferentes publicaes, o professor ter, em mos, maiores possibilidades de escolha e poder
planejar melhor as estratgias de sua ao pedaggica.

Esta data se refere edio a que tivemos acesso para a realizao deste trabalho. A primeira edio do
mtodo foi publicada em 1976 pela Musiclia S/A. Cultura Musical, So Paulo (Botelho, 1983).

13

Quanto aplicao do contedo aprendido em peas do repertrio tradicional, bem


como a utilizao desse repertrio como complementao aos mtodos analisados, interessounos verificar a existncia de peas brasileiras que possam ser utilizadas com esse fim.

opo por msica brasileira se deve ao fato de acreditarmos ser importante que o material de
ensino contenha temas relacionados ao contexto a que se destina, isto , que utilize uma
linguagem compreensvel ao estudante e que o repertrio tenha algum tipo de ligao com seu
universo, pois esses so aspectos que podem despertar um maior interesse e funcionar como
fatores de motivao.
Ao observarmos as obras de compositores brasileiros, no decorrer da histria,
verificamos que existe um nmero significativo de peas dedicadas a iniciantes, mas nem todas
podem ser indicadas para o nvel em questo. Dentre essas obras, citamos alguns exemplos,
como o conjunto denominado Peas Fceis (1976), de Francisco Mignone (1897-1986),
composto de oito peas que, apesar da sugesto do ttulo, foram consideradas, por Jos
Eduardo Martins (1997), como de nvel mdio. De fato, ao analisarmos as referidas peas,
verificamos a presena de elementos como: contraste de articulao entre as duas mos,
semicolcheias em andamento rpido em legato e staccato, ritmos elaborados, mudanas
constantes de posio da mo e deslocamentos pelo teclado.
Camargo Guarnieri (1907-1993) pode ser considerado outro exemplo significativo, por
ter dedicado vrias peas s crianas (Cinco Peas Infantis, Srie dos Curumins, Sute Mirim e
As Trs Graas). De acordo com Belkiss S. Mendona (2001), essas peas enriqueceram o
repertrio elementar e so de grande importncia para o desenvolvimento tcnico e artstico
dos pequenos estudantes de piano (p.420). Porm, de acordo com nosso entendimento, nem
todas as peas acima citadas podero ser utilizadas por aqueles que se encontram nos nveis
iniciais de estudo, como por exemplo, as peas que compem a Sute Mirim (1995), pois a
linguagem utilizada pelo compositor bastante elaborada, com utilizao de constantes
inflexes cromticas, bem como melodias e harmonias pouco previsveis. A maioria dos
acompanhamentos trabalhosa, apresentando ritmos pontuados, sncopes e teras. Uma
caracterstica marcante do compositor a escrita polifnica, o que eleva consideravelmente o
nvel de dificuldade de suas peas.

14

Vale citar, ainda, as Peas Infantis (1954), de Cludio Santoro (1919-1989), que se
trata de um conjunto de nove peas baseadas em temas folclricos infantis brasileiros. Apesar
de apresentarem melodias e ritmos simples, algumas caractersticas podem dificultar sua
execuo por alunos iniciantes, tais como cruzamento de mos, teras harmnicas, escrita
polifnica, articulaes variadas e ornamentos.
Por outro lado, verificamos a existncia de algumas publicaes adequadas a alunos
que se encontram nos estgios iniciais de seus estudos, devido utilizao de uma escrita
mais simples, que no exige grande desenvolvimento tcnico de seus intrpretes. Citamos, a
ttulo de exemplo, as seguintes obras:
- 30 Peas Fceis (2000), de Srgio de Vasconcellos-Correa (1934) que, de acordo com
o compositor, trata-se de um Mtodo de Iniciao Pianstica, que pretende oferecer solues
para alguns problemas de ordem tcnica, pedaggica e artstica. No entanto, acreditamos que
tais peas so mais indicadas como repertrio complementar a outro mtodo, pois, ao mudar a
posio da mo, que at a lio n 17 se mantm no D central, o autor inclui tambm outros
aspectos que dificultam a leitura e execuo das mesmas, como, por exemplo, ritmos mais
elaborados, para os quais no h uma preparao prvia.
- Viagem pelo Teclado (1985), de Frederico Richter (1932), outro exemplo de conjunto
de peas que podem ser utilizadas como repertrio nos estgios iniciais de ensino. Foram
denominadas, pelo compositor, como estudos complementares de desenvolvimento criativo
para piano e cada pea aborda um ou mais aspectos da execuo pianstica. Atravs de uma
viagem imaginria da personagem central, o compositor apresenta questes como notao,
dinmica e carter, aspectos tcnicos, dentre outros.
Outro nome significativo que dedicou obras a estudantes o do compositor Lorenzo
Fernandez (1897-1948), que tem produo expressiva de peas em diferentes nveis de
dificuldade. Citamos, como exemplo, Sute das Cinco Notas (1944), conjunto de oito peas
escritas na posio dos cinco dedos, cada uma delas com incio em um grau da escala
diatnica. Tambm na posio dos cinco dedos so as sries Minhas Frias (1937) e Bonecas
(1932), esta ltima com a particularidade das mos utilizarem, simultaneamente, grupos
diferentes de cinco notas. Outras peas, que fogem da posio dos cinco dedos, mas que

15

podem ser consideradas de nvel elementar so: Recordaes da Infncia (1933), Pequena
8

Srie Infantil (1937) e Sute Infantil da Boneca Yay (1944) .


Ernst Mahle (1929) contribuiu com Vamos Maninha (2003), coletnea de msicas
populares brasileiras, para as quais o compositor fez arranjos e destinou-os ao ensino do
piano, com o objetivo de oferecer uma coleo de msicas [...] simples, fceis e
pianisticamente interessantes (Mahle, 2003, contracapa).
Diante da constatao da existncia dessas, e outras peas que sero citadas no
decorrer deste estudo, acreditamos ser possvel incluir repertrio de msica brasileira no
contedo de ensino para alunos dos nveis introdutrio e elementar. necessrio, no entanto,
estabelecer alguns critrios para essa incluso, para que as obras a serem utilizadas estejam
de acordo com o conhecimento proporcionado pelos mtodos em questo, pois, como j
afirmamos anteriormente, muitas vezes no existe uma concordncia entre autores de mtodos
e compositores no que diz respeito a nveis de dificuldade. Por essa razo, acreditamos na
necessidade de oferecer diretrizes nas quais o professor possa se basear para escolher o
material adequado a cada estgio de desenvolvimento de seu aluno.

1.3

Contextualizao do Problema e Referencial Terico

Vem de longa data a preocupao em sistematizar contedos para o ensino do piano.


No decorrer da histria do instrumento encontramos diversos autores, professores e
compositores que se dedicaram ao ofcio e muitas so as opes de publicaes que
encontramos atualmente. Em relao ao pblico-alvo, existem mtodos destinados a iniciantes
crianas ou adultos, indicados para aulas individuais ou em grupo. Quanto aos objetivos,
encontramos os que se propem a ensinar msica atravs do teclado ou aqueles que visam
simplesmente ensinar aspectos da execuo pianstica, sem se preocupar com uma formao
musical sistemtica e mais ampla do instrumentista. Entendemos que o ensino do piano deve
se caracterizar no s pela abordagem das questes referentes execuo do instrumento,
como tambm por atividades que desenvolvam as denominadas habilidades funcionais,
consideradas por Gonalves (1988) como aspectos a serem cultivados para que a educao

As datas citadas se referem ao ano de composio, fornecido por Abreu e Guedes (1992) e algumas diferem
da edio utilizada na realizao deste trabalho.

16

musical se processe em sentido amplo (p.vii). A referida autora nos fornece uma lista
detalhada de tais habilidades, classificando-as da seguinte forma:
saber usar o teclado tocando por imitao ou por audio (tocar de ouvido); ler
msica no teclado: do texto musical, de cifras, primeira vista; harmonizar no
teclado; acompanhar; transportar; criar: improvisar, compor; dominar a tcnica
instrumental; executar repertrio: solo, de conjunto; analisar e ouvir
criticamente (Gonalves, 1988, p.48).

Seguindo linhas de pensamento semelhantes, diversos autores procuraram produzir


material que proporcionasse o desenvolvimento de diferentes habilidades, formando um msico
capaz de apreciar, compreender, criar e interpretar. Um exemplo significativo desse modo de
pensar a proposta de Swanwick (2003), que relaciona cinco atividades musicais que devem
ser identificadas, observadas e avaliadas em uma sala de aula: Composio, Estudos de
Literatura, Apreciao, Habilidades Tcnicas e Performance, resultando no amplamente
9

difundido Modelo C(L)A(S)P que, por sua vez, tem sido utilizado como parmetro na avaliao
de materiais e procedimentos de ensino musical. Um exemplo de estudo dessa natureza o
trabalho de Sampaio (2001), que analisa dois mtodos de iniciao de autores brasileiros

10

utiliza orientaes de outros pedagogos americanos. Dentre os aspectos observados por


Sampaio (2001) esto leitura, tcnica, ritmo, compreenso musical, teoria, experincia auditiva
e criatividade.
Em outro trabalho de anlise de mtodos de ensino, realizado por Montandon (1992),
so observadas as concepes pedaggicas, bem como a fundamentao, objetivos,
11

metodologia e contedo de trs autores, a saber: Robert Pace (1973, 1976) , Marion
Verlaahen (1989)

12

13

e Maria de Lourdes Gonalves (1986) , cujas publicaes foram

consideradas pertencentes mesma categoria, isto , so destinadas ao ensino de piano para

Para maior aprofundamento sobre o tema, ver: SWANWICK, Keith. A basis for music education. London:
Routledge, 1979.

10

O autor analisa os mtodos Piano 1: arranjos e atividades, de Ramos e Marino (2001) e Iniciao ao piano e
teclado, de Antnio Adolfo (1994).
11

PACE, Robert. Criando e aprendendo. Trad. Slvia Camargo Guarnieri e Marion Verhaalen. So Paulo:
Ricordi, 1973. 4v.
______ Msica para piano. Trad. Slvia Camargo Guarnieri e Marion Verhaalen. So Paulo: Ricordi, 1973. 4v.
______ Tarefas. Trad. Abigail R. Silva. So Paulo: Musiclia, 1976.
12

VERHAALEN, Marion. Explorando msica atravs do teclado. Trad. Denise Frederico. Porto Alegre: Editora
da UFRGS, 1989. 2v.
13

GONALVES, Maria de Lourdes. Educao musical atravs do teclado. Rio de Janeiro: Cultura Musical,
1986. 4v.

17

crianas iniciantes e so propostas que se desenvolvem melhor em situaes de aula em


grupo. De acordo com Montandon (1992), os trs mtodos apresentam em comum a proposta
de utilizao da aula de piano como um momento de aprendizagem da linguagem musical
(p.75).
Citamos, ainda, a publicao de Campos (2000), que afirma ser necessrio criar na
pedagogia do piano o hbito do exerccio de tirar de ouvido e prtica da msica popular,
associados experimentao, onde seja trabalhada a harmonia aplicada liberdade de
criao, intuitiva e experimental (p.190). Ao defender um novo paradigma para a educao
musical, a autora citada afirma que os mtodos para iniciantes deveriam considerar o aluno
msico, compositor, maestro e ouvinte em potencial necessitado de estmulo e dar espao
para uma informao musical que permita a livre expresso (p.122). Sendo assim, na
14

avaliao de mtodos de ensino , a autora considera, dentre outros, os seguintes aspectos:

explorao do instrumento;
possveis sugestes instigando a imaginao criativa antes e aps a
introduo da leitura; [...]
contedo terico;
maneira de introduo do contedo terico, se atravs da explorao e
criatividade ou se apenas colocados como informao conceitual;
introduo da linguagem musical contempornea; [...]
propostas que exercitam a prtica do tirar de ouvido;
relao entre harmonia, tonalidade e msica tirada de ouvido;
conhecimento do teclado pela transposio (Campos, 2000, p.175).

Podemos perceber que, alm da nfase nas atividades de criao e liberdade de


expresso, a autora tambm se preocupa com as diversas questes relacionadas
aprendizagem pianstica como, por exemplo, as habilidades motoras necessrias para a
execuo do instrumento. Para tanto, se apoia em publicaes de referncia na rea como
Alfred Cortot, S Pereira e Guilherme Fontainha, cujas ideias relacionadas tanto aos aspectos
tcnicos referentes execuo pianstica quanto interpretao musical merecem ateno,
pelo fato de j terem sido estudadas e aplicadas exaustivamente e, dessa forma, confirmada
sua eficcia.
Atravs dos exemplos de anlise de mtodos citados at aqui, podemos perceber
diferentes aportes tericos e observamos tambm que algumas publicaes procuram embasar
sua abordagem nos pressupostos da psicologia educacional e teorias de aprendizagem.
14

So avaliados pela autora os seguintes livros: Leila Fletcher Piano Course (1977); Robert Pace (1973); A
Course for Piano Study, de Olson, Bianchi e Blickenstaff (1979) e Educao Musical atravs do Teclado, de
Maria de Lourdes Junqueira (1985).

18

Abordaremos, na prxima parte desta tese, a influncia, sobre a pedagogia do piano, das
teorias de aprendizagem desenvolvidas pelos psiclogos educacionais. No entanto, Montandon
(1992) observa que tais teorias e pressupostos foram desenvolvidos visando o ensino em geral
e que, para o ensino da msica, foram feitas adaptaes e, por isso, devem ter um carter
experimental. A autora chama a ateno, ainda, para os riscos que alguns educadores correm
ao tentar combinar teorias, pressupostos e princpios de autores e escolas psicolgicas
diferentes. De acordo com Montandon (1992), se por um lado a variedade de opes pode
favorecer a individualidade e criatividade na elaborao de materiais e conduo da aula, por
outro ela pode levar a problemas de consistncia (p.156). por essa razo que concordamos
com a questo apresentada pela referida autora a respeito da necessidade dos educadores
musicais alcanarem
o
ponto
de
serem
autocrticos,
de
examinar
criticamente
e
desapaixonadamente os mtodos e ideias alheias, de decidir que postura iro
adotar e fundamentar suas decises em conceitos slidos e com credibilidade,
tanto do ponto de vista filosfico quanto psicolgico (Jorgenson apud
Montandon, 1992, p.156).

E neste ponto que est o foco desta tese: na necessidade de uma anlise criteriosa
de material de ensino e, para a realizao dessa anlise, nos baseamos, primordialmente, nos
autores James Bastien (1995), Hazel Skaggs (1981) e Marienne Uszler et al (2000), que
discutem vrios aspectos relacionados ao tema, incluindo descrio e avaliao de mtodos de
ensino de piano.
Bastien (1995) oferece um conjunto detalhado de orientaes para serem utilizadas na
avaliao de mtodos de ensino de piano. Prope observar desde o formato do livro, passando
pelos conceitos bsicos de notao, ritmo, acordes, escalas, dentre outros, at chegar a
questes que detectem o nvel atingido pelo aluno, o que tambm uma de nossas
interrogaes bsicas. O referido autor defende ainda a necessidade de se incluir um trabalho
criativo, de improvisao, bem como elementos de harmonia ao teclado e teoria, pois acredita
que essa uma forma de estabelecer uma base de conhecimentos mais consistente, ao invs
de simplesmente levar o aluno a aprender peas determinadas a cada ano. Como sugesto de
anlise, oferece um questionrio, baseado nas diretrizes propostas por David Piersel, da
Universidade do Estado de Dakota do Sul. De acordo com Bastien (1995), essa avaliao pode
facilitar a escolha de material adequado aos propsitos do professor.

19

Em relao ao planejamento, estrutura, formato e contedo apresentado, o referido


autor levanta as seguintes questes (p.43):

Qual a abordagem bsica de leitura? D central, mltiplas tonalidades ou outra?

O livro utiliza cores, pinturas e desenhos? O tamanho adequado e o tipo de


msica compreensvel pela criana? O material que acompanha claro e escrito
em linguagem adequada criana? O livro longo o suficiente para ser prtico,
mas curto o suficiente para dar ao estudante a sensao de tarefa cumprida?

A sequncia de material permite que o estudante progrida de maneira constante e


uniforme e no atravs de esforos vigorosos irregulares?

indicado para estudo individual, em grupo ou uma combinao de ambos?

O mtodo guia o estudante para explorar gradualmente o teclado ou a extenso


limitada parte central do teclado?

Qual o mtodo de contagem utilizado: numrico, silbico ou outro?

Que tipos de ritmos so encontrados medida que o mtodo progride?

Como e quando so apresentados acordes e escalas? So utilizados tanto acordes


em bloco como quebrados? So apresentadas as escalas maiores e menores?

So includos tpicos tericos como intervalos, acordes, harmonia e transposio?

includo um trabalho criativo?

So utilizados outros livros? Como eles se integram com o mtodo bsico?

Que variedade de material suplementar disponvel no decorrer do curso?

Que oportunidades so oferecidas durante o curso para o ensino da forma?

dada ao estudante a oportunidade de desenvolver um conhecimento musical ou


criatividade?

dada nfase apenas parte mecnica da execuo pianstica?

Em relao ao que denominou Caractersticas Fundamentais, Bastien (1995) discute a


abrangncia, a funcionalidade e o propsito, ao questionar se o mtodo:

inclui um programa prtico e lgico de leitura primeira vista;

inclui um programa terico que se baseie na harmonia do teclado;

20

inclui um programa tcnico prtico que esteja relacionado a elementos bsicos da


execuo instrumental;

oferece uma variedade de livros suplementares para reforo de aprendizagem nos


diferentes nveis de adiantamento.

Questiona ainda:

se a msica faz sentido para o estudante, agradvel, apela para o gosto da


criana e progride de forma gradual;

se o aluno, aps completar o mtodo, ser capaz de ler primeira vista, ter
conhecimentos

bsicos

de

teoria

musical

ter

tcnica

suficientemente

desenvolvida para a execuo acurada do repertrio pertinente;

e em quanto tempo de estudo o aluno poder ser considerado alfabetizado


musicalmente, ou seja, ter aprendido as questes bsicas da notao musical e
ser capaz de ler textos musicais simples.

Ao observar os itens propostos por Bastien (1995) para a avaliao de mtodos de


ensino, podemos constatar que o autor procura ser bastante abrangente em suas questes,
observando os aspectos musicais bsicos que possibilitam a execuo instrumental, passando
pela forma de apresentao do contedo e seu sequenciamento, bem como o desenvolvimento
das habilidades funcionais e a sugesto de material suplementar. Recomenda, ainda, que o
professor esteja sempre atento a mtodos novos e inovadores, mas que tenha cautela na
escolha de material, pesando os prs e contras, antes de adotar algo totalmente novo, apenas
por se tratar do ltimo mtodo a ser publicado.
Diante disso, reiteramos a importncia de se avaliar as publicaes disponveis a fim de
optar por aquela que melhor atenda aos objetivos tanto do professor quanto do aluno. Para
tanto, Skaggs (1981, p.330) apresenta um quadro comparativo, atravs do qual descreve
alguns elementos contidos nos mtodos analisados e observa:

o nmero de pginas que o livro contm;

se o livro traz ilustraes;

21

se so utilizadas, como repertrio, canes familiares, tais como msica folclrica


ou popular;

a quantidade de msica clssica includa;

se duetos so includos;

se feita uma preparao no teclado antes de iniciar a leitura;

como introduzido o ensino da leitura de notas e realizado o reforo;

se as canes possuem verso;

quais os valores e notas empregados;

quais so as frmulas de compasso utilizadas;

qual o sistema de contagem sugerido;

se o dedilhado sugerido e como isso feito;

em que momento, no decorrer do livro, as mos tocam juntas;

que tipo de exerccio tcnico proposto;

se escalas so apresentadas e em quais tonalidades;

se so utilizadas armaduras de clave e de quais tonalidades;

se aparecem indicaes de dinmica e em que momento isso acontece;

se utiliza indicaes de fraseado;

se so dadas explicaes tericas, identificando quais conceitos so abordados;

se o livro traz exerccios escritos;

se so sugeridos materiais suplementares.

Uszler (2000a), por sua vez, destaca alguns aspectos do ensino do piano, como leitura,
ritmo, tcnica e conhecimento musical, fazendo uma reviso dos processos de ensino que
foram utilizados no decorrer do desenvolvimento da pedagogia musical. Compara as diferentes
abordagens de leitura, isto , a abordagem a partir do D central, a de mltiplas tonalidades e
15

a intervalar, apontando as vantagens e desvantagens de cada uma . Tambm em relao ao


ritmo, Uszler (2000a) relaciona os diferentes sistemas de contagem utilizados, descrevendo-os
e avaliando suas caractersticas. Sendo assim, so explicitadas as contagens: mtrica, por

15

Essas abordagens sero descritas na Parte 3, que tratar das anlises dos mtodos selecionados para a
realizao deste estudo.

22
16

unidade, silbica e nominativa . No apenas os tipos de contagem so abordados neste item,


como tambm sugestes de atividades que favoream uma acuidade e segurana rtmica, tais
como msica de conjunto, improvisao, dentre outras.
Em relao tcnica, aborda aspectos como toques e articulaes, movimentos do
brao e das mos, dedilhado, gradaes de dinmica, bem como aggica e pedal, descrevendo
as formas utilizadas por diferentes mtodos para ensinar essas questes. No item
conhecimento musical inclui atividades como escalas, acordes e inverses, armadura de clave,
improvisao e o uso de indicaes de andamento e sinais de repetio, linha de oitava, dentre
outros. Sugere, ainda, atividades de reforo para cada habilidade ou tpico apresentado.
Ao destacar os aspectos acima citados, Uszler (2000a) sugere que os mesmos sejam
considerados como contedo de ensino e, para a anlise de mtodos, salienta questes que
podem fazer parte dessa avaliao e dizem respeito linguagem utilizada, forma de
organizar a sequncia do contedo, origem das canes folclricas, natureza da msica
contida no mtodo e tambm ao formato e qualidade da impresso grfica.
Uszler (2000a) acredita, ainda, que o perodo de iniciao representa, para a maioria
dos professores, um perodo preparatrio para a interpretao de clssicos do repertrio de
ensino de piano, como as peas do Pequeno Livro de Anna Magdalena Bach, o Mikrokosmos
(volumes 1 a 3) de Bartk e algumas peas fceis de Beethoven, Mozart, Haydn, Schubert,
Schumann e Kabalevsky, alm de sonatinas de Clementi e similares. A referida autora acredita
que a maioria dos professores se baseia na premissa de que tal repertrio imprescindvel
para a formao do futuro pianista e que importante desenvolver determinadas habilidades
17

antes de entrar em contato com as obras citadas , desde que o tempo gasto nessas
atividades no seja muito longo, a fim de que o aluno se sinta estimulado e progrida mais
rapidamente (Uszler, 2000a).
Sendo assim, o contedo do mtodo de ensino deveria estar voltado para a aquisio
do conhecimento especfico e habilidades necessrias para a execuo de tal repertrio. Ao
sugerir que essa preparao seja concluda em aproximadamente dois anos, apesar de no se
tratar de uma afirmao consensual, a autora nos leva a inferir que o material utilizado dever
16

17

Os diferentes sistemas de contagem sero explicitados na Parte 3 deste trabalho.

A validade, ou no, de se estudar o repertrio acima citado no ser discutida no presente trabalho por no
fazer parte dos objetivos propostos. No entanto, tais peas podem ser utilizadas como parmetro na escolha
de repertrio para o nvel em questo.

23

possibilitar o cumprimento do prazo. No entanto, essa uma questo que ainda precisa ser
investigada sob diferentes aspectos.
No nosso ponto de vista, primeiramente, preciso atentar para os objetivos propostos
pelos autores dos mtodos, pois no se pode esperar que o livro desempenhe uma funo para
a qual no foi proposto. importante salientar, tambm, que a incluso de repertrio adicional
pode ser feita em qualquer etapa do desenvolvimento do aluno, desde que esse repertrio seja
compatvel com a abordagem pedaggica que est sendo utilizada e esteja de acordo com
suas possibilidades e expectativas. E esse um dos pontos centrais de nossa discusso: a
possibilidade de se utilizar msica do repertrio nacional nas etapas iniciais do ensino de
piano.
Alguns estudos se debruaram sobre esse tema. Citamos o artigo de Barancoski
(2004), no qual ela se ocupa do repertrio de nvel intermedirio, escrito no sculo XX,
avaliando suas possibilidades como material pedaggico, atravs da observao dos
elementos que caracterizam a variedade de linguagens dessa poca. Apesar de no ter como
objetivo a anlise de repertrio exclusivamente brasileiro, exemplos dessa natureza so
includos.
Tambm nessa linha de pensamento est o estudo de Deltrgia (1999), que defende o
uso da msica brasileira da atualidade no ensino de piano para alunos com at trs anos de
estudo. Para tanto, elabora um catlogo de peas com essas caractersticas e acrescenta
obras inditas, alm de outras escritas especialmente para a realizao de sua pesquisa. Com
isso, a autora pretende fornecer material para o professor interessado em familiarizar o aluno
com as tendncias da msica brasileira contempornea. A atitude de incentivar compositores a
escrever esse tipo de material bastante louvvel, desde que acompanhada de estratgias
para sua difuso, sob o risco delas permanecerem inditas nas prateleiras das bibliotecas
acadmicas.
A preocupao com repertrio para alunos iniciantes tambm permeia o estudo
realizado por Hollerbach (2003), que levanta questes a respeito da existncia de peas
escritas com esse propsito. Em sua pesquisa, a autora citada constatou que, muitas vezes, os
professores no se preocupam em procurar peas para esse nvel, concentrando-se apenas no

24

repertrio contido no mtodo em uso, o que resulta em pouco aproveitamento do rico material
existente, ou mesmo em quase total desconhecimento.
No entanto, a difuso desse material uma prtica que vem crescendo entre os
estudiosos e, alm das obras j citadas, destacamos a publicao de Gandelman (1997), que
realiza um relevante trabalho de catalogao e anlise de peas de 36 compositores
brasileiros, escritas entre 1950 e 1988. Alm de contribuir para a divulgao do referido
repertrio, a autora oferece parmetros para a classificao das peas, de acordo com suas
exigncias piansticas e seu grau de dificuldade. Tais parmetros sero tomados como ponto
de partida para a sugesto de repertrio, tpico que ser apresentado e discutido na Parte 4
desta tese.
Vale citar, ainda, o trabalho de Abreu e Guedes (1992), que fazem uma catalogao
dos compositores brasileiros desde seus primrdios at 1950, tornando-o uma fonte de
consulta a ser considerada, no que se refere ao perodo anterior quele coberto por
Gandelman (1997). Entretanto, diferente de Gandelman (1997), que fornece subsdios ao
professor de piano, o enfoque de Abreu e Guedes (1992) no pedaggico e sim histrico,
sendo cada pea descrita de acordo com suas caractersticas e estilo de composio.
As autoras acima citadas sero utilizadas como referncia para um dos aspectos que
sero abordados nesta tese, que a proposta de peas brasileiras como ferramenta de ensino
de piano nos nveis iniciais de estudo, ou seja, nveis introdutrio e elementar.

1.4

Metodologia e Procedimentos de Coleta e Anlise dos Dados

O presente estudo foi orientado pelos preceitos da pesquisa qualitativa e adotou como
procedimentos principais a pesquisa bibliogrfica e anlise documental.
Foi realizada uma reviso da literatura especializada, que discute procedimentos
didtico-pedaggicos inerentes ao ensino do piano, incluindo tpicos referentes a material, a
fim de estabelecer critrios para anlise de mtodos de iniciao ao instrumento. Como uma
continuidade anlise dos mtodos de ensino, verificamos a existncia, na literatura pianstica
brasileira, de peas que podem ser utilizadas como exemplo de reforo ou complementao s
lies contidas nos mtodos. Isso foi feito atravs de pesquisa em acervo de bibliotecas,
bibliografia especializada, catlogos e contato com compositores selecionados, coletando

25

peas designadas, por seus autores ou por estudiosos do assunto, aos nveis iniciais de estudo
delimitados no incio desta tese e que sero melhor detalhados na Parte 4.
Como j afirmamos anteriormente, para estabelecer os critrios de anlise, tomamos
como ponto de partida os estudos de Hazel Skaggs (1981), James Bastien (1995) e Marienne
Uszler et al (2000), que analisam mtodos disponveis nos Estados Unidos e cujos
procedimentos de anlise podem ser estendidos a publicaes de outras localidades, pois no
tratam de especificidades do ensino naquele pas, mas sim de contedos e procedimentos
inerentes ao ensino do piano em geral. Com base nas propostas dos autores citados,
estabelecemos os seguintes pontos para serem analisados:

Apresentao e Objetivos a proposta do mtodo, seus objetivos e pblico-alvo, a


linguagem utilizada, a extenso e coerncia do mtodo, bem como a velocidade em
que progride, e tambm o apelo visual conferido pelas figuras e ilustraes.

Questes Terico-musicais os conceitos referentes leitura e compreenso de


um texto musical abordados pelo mtodo, tais como notas, figuras, compasso,
ritmo, tonalidades, sinais e outras indicaes.

Aspectos Tcnicos os aspectos que envolvem a interao corpo-instrumento, ou


seja, como se d o desenvolvimento dos meios e movimentos necessrios para a
execuo pianstica.

Conhecimento Musical Geral a incluso de temas que ampliem o conhecimento


musical do aluno, alm das questes que se referem leitura musical e execuo
instrumental, tais como harmonia, forma, estrutura e noes de apreciao e
histria.

Repertrio as caractersticas das peas utilizadas como contedo do mtodo, bem


como a incluso de peas do repertrio tradicional.

26

Habilidades Funcionais as atividades que incentivam a criatividade do aluno,


como improvisao, composio e harmonizao, bem como o desenvolvimento da
capacidade de leitura primeira vista, tcnicas de memorizao e treinamento
auditivo, que envolve tambm uma preocupao com o resultado sonoro.

Material Suplementar a sugesto de livros suplementares de teoria, tcnica ou


repertrio, como forma de reforar e ampliar o contedo aprendido.

Para um maior detalhamento dos itens a serem observados, elaboramos um quadro


descritivo, que ser utilizado como primeiro passo na realizao de nossa anlise (Quadro 1).
Importante salientar que a separao em tpicos no implica uma viso fragmentada
dos aspectos que envolvem a execuo pianstica e realizao musical, pois no os
consideramos aspectos isolados que devem ser trabalhados como tal, mas elementos que,
integrados, constroem uma base slida de conhecimentos e habilidades importantes para o
desenvolvimento artstico do futuro pianista. A diviso em itens apenas uma forma de
sistematizar nosso estudo, visando uma discusso mais detalhada de cada tpico relacionado
no quadro a seguir.

27

Quadro 1. Critrios para Anlise de Mtodos de Iniciao ao Piano

ITEM

APRESENTAO
E
OBJETIVOS

QUESTES
TERICOMUSICAIS

ASPECTOS
TCNICOS

CONHECIMENTO
MUSICAL
GERAL

REPERTRIO

HABILIDADES
FUNCIONAIS
MATERIAL
SUPLEMENTAR

O QUE SER OBSERVADO


Proposta: objetivos a serem atingidos; para qual faixa etria dirigido; em quanto
tempo espera-se que o aluno complete o mtodo; forma de apresentao do contedo,
de forma integrada, em ordem progressiva de dificuldade; como realizado o reforo
de contedo.
Linguagem: adequada ao pblico-alvo; o autor se dirige ao aluno ou ao professor;
apresenta explicaes ao aluno sobre o contedo das lies e orientaes ao professor
quanto forma de utilizar o material.
Extenso: nmero de pginas, volumes e tamanho que possibilitem determinar em
quanto tempo o mtodo dever ser concludo; extenso das lies adequada ao
iniciante.
Organizao grfica: contm desenhos ou ilustraes; colorido ou possui figuras
para o aluno desenhar ou colorir; usa artifcios visuais para atrair a ateno do aluno;
claro na transmisso das informaes.
Leitura: preparao antes da leitura propriamente dita; abordagem utilizada: d
central, mltiplas tonalidades, intervalar ou outras.
Figuras e Ritmo: valores e pausas correspondentes; tipos de ritmos utilizados;
sistemas de contagem.
Compassos: simples; composto; irregular; mudanas de compasso em uma mesma
pea.
Tonalidades: tonalidades e armaduras apresentadas; formao de escalas.
Sinais e Indicaes: dinmica; intensidade; andamento; fraseado; dedilhado; pedal;
alteraes; ligadura; staccato; ritornelo; outros.
Intervalos e Acordes: reconhecimento de intervalos; formao de acordes.
Postura: do corpo, das mos e dos dedos em relao ao instrumento.
Explorao do instrumento: extenso utilizada do teclado; deslocamentos; saltos;
mudana de posio; extenso da mo; outras formas de produo sonora: percusso
na madeira ou direto nas cordas, por exemplo.
Exerccios e preparao para: igualdade e agilidade dos dedos; independncia de
dedos e entre as mos; passagem do polegar; toque legato e staccato; notas duplas e
acordes (em bloco ou quebrados; estado fundamental e inverses; execuo com as
duas mos); escalas e arpejos de diferentes tonalidades Maiores e menores
Forma e Estrutura: as lies e o repertrio includos possibilitam abordar esses
conceitos.
Harmonia: atividades escritas e prticas, referentes a cadncias, criao de
acompanhamentos e regras de harmonia.
Apreciao e Histria: atividades que incentivam o aluno a ampliar seus
conhecimentos, indo alm das questes que se referem exclusivamente execuo
instrumental.
Compositores: peas escritas especificamente para constar no mtodo; peas de
compositores variados, que fazem parte do repertrio pianstico tradicional.
Canes familiares: canes populares ou folclricas; arranjos e verses de peas ou
temas clssicos.
Estilo de escrita: mos separadas, alternadas ou juntas; estilo de acompanhamento;
duetos para professor/aluno ou aluno/aluno; canes com letra.
Incentivo a atividades de criao e auto-expresso: harmonizao no teclado;
improvisao; composio, acompanhamento; tocar por imitao e de ouvido.
Outras: leitura primeira vista; memorizao; treinamento auditivo; transposio.
Livros: indica material suplementar de teoria, tcnica ou todo o contedo pertinente
contemplado pelo mtodo.
Repertrio: sugere peas suplementares, como forma de explorar o contedo
aprendido nas lies.

28

1.5

Organizao do Estudo

Esta tese est organizada da seguinte forma: aps a apresentao do trabalho,


realizada nesta Introduo (Parte 1), discorremos, na Parte 2, sobre mtodos de ensino,
abordando as transformaes que esses mtodos sofreram no decorrer da pedagogia do piano,
bem como os aspectos que influenciaram as feies que, pouco a pouco, passaram a
caracterizar a produo desse tipo de material.
A Parte 3 traz a anlise dos mtodos selecionados, que se baseia nos critrios de
avaliao sugeridos por Skaggs (1981), Bastien (1995) e Uszler et al (2000), tendo tambm
como suporte outros autores que tratam do ensino do piano e sugerem formas de abordar e
ensinar os contedos analisados. Os aspectos gerais avaliados foram divididos em oito itens:
Apresentao e objetivos; Questes terico-musicais; Aspectos tcnicos; Conhecimento
musical geral; Repertrio; Habilidades funcionais; Material suplementar.
A Parte 4 discutir aspectos relevantes da escolha de repertrio e apresentar uma
proposta de utilizao de peas brasileiras como material complementar ao contedo abordado
pelos mtodos analisados.
E, por fim, as Consideraes Finais (Parte 5), onde sero feitas sugestes quanto a
procedimentos relativos ao ensino e incentivo a possveis estudos posteriores, que venham
contribuir com discusses para o enriquecimento e aprofundamento das ideias aqui
apresentadas.

2 MTODOS DE ENSINO

2.1

Caminhos dos Mtodos de Ensino de Piano

Como afirmamos na Introduo desta tese, definimos como mtodo todo material
dedicado ao ensino do piano, cujo contedo apresentado sistematicamente, com as questes
musicais e as habilidades necessrias para sua realizao expressas de forma gradual e que
aborda as vrias caractersticas da execuo do instrumento.
Tal conotao conferida palavra mtodo resultado de algumas transformaes que
aconteceram em relao aos objetivos propostos pelos trabalhos escritos com fins didticos.
Nas primeiras dcadas do sculo XVIII o mtodo se referia, principalmente, ao ensino do
solfejo ou de algum instrumento e tinha como meta facilitar a aprendizagem de uma
determinada matria, (...) mediante exerccios ordenados segundo o que o autor considera
uma dificuldade crescente

18

(Jorquera, 2004, p.3). Dessa forma, um mtodo seria constitudo

apenas de exerccios destinados a desenvolver e refletir sobre determinado aspecto da


aprendizagem musical. Um pouco mais tarde, ainda na primeira metade do sculo XVIII,
tornou-se comum a prtica de professores criarem exerccios especficos para um aluno em
particular, visando trabalhar alguma dificuldade encontrada no decorrer de seu estudo. Em
alguns casos, como o professor tambm era o compositor das peas que o aluno iria tocar,
muitas vezes os exerccios criados tinham o objetivo de preparar o aluno para compreender o
estilo de composio de seu professor e, com isso, os autores desses mtodos no tinham a
inteno de abranger a totalidade dos aspectos fundamentais e indispensveis para a
aprendizagem instrumental (Jorquera, 2002).
Uma preocupao com a disposio de exerccios de forma sistemtica surgiu j no
final do sculo XVIII e, de acordo com Jorquera (2002), foi uma consequncia do surgimento
das escolas de msica e tambm da valorizao do virtuosismo, que exigiu a criao de
estratgias cada vez mais refinadas para a realizao musical. Com isso, os exerccios foram
18

[...] facilitar el aprendizaje de una determinada materia, (...) mediante ejercicios ordenados segn lo que o
autor considera una dificuldade creciente.

30

se tornando mais e mais elaborados e um efeito desse procedimento foi sua dissociao da
interpretao de uma obra musical propriamente dita. Isto , os exerccios de tcnica
passaram a ter um fim em si mesmos e talvez essa tenha sido a razo pela qual surgiu a ideia
da tcnica desvinculada da prtica musical, com os mtodos que priorizavam esse aspecto
sendo vistos como manuais de tcnica. Por mais que hoje essa conotao seja debatida, por
algum tempo esse pensamento foi defendido por muitos professores, que advogavam a
necessidade de um trabalho tcnico preliminar que preparasse os alunos para a interpretao
do repertrio a ser aprendido.
Observamos que, se por um lado houve um crescente nmero de obras de cunho
didtico, destinadas a facilitar o aprendizado de um instrumento atravs da prtica exaustiva
de exerccios tcnicos, por outro, a concepo do que seja um mtodo de ensino passa por
algumas mudanas e hoje o mtodo pode ser descrito como material organizado de forma a
favorecer o aprendizado, partindo dos conceitos mais simples at chegar aos mais complexos,
que devem ser transmitidos de acordo com passos previamente estabelecidos. Pode-se dizer,
assim, que o mtodo tambm est relacionado ao como fazer, aos procedimentos de ensino
adotados na transmisso dos contedos pertinentes.
Em relao aos instrumentos de teclado, at fins do sculo XVIII e incio do sculo XIX,
seu estudo s era possvel atravs de aulas particulares e individuais. Muitas vezes, um grande
compositor ou intrprete era requisitado tambm como professor e, dessa forma, o ensino tinha
um carter individualizado, ou seja, o professor ensinava com base em sua prpria experincia,
pois no havia publicaes de carter didtico para auxili-lo em seu trabalho. Geralmente, era
o professor-compositor quem escrevia obras para seus alunos, medida que percebia
determinadas dificuldades que deveriam ser superadas. (Fagerlande, 1996). Assim, peas
eram compostas especificamente para trabalhar determinado aspecto da execuo pianstica,
sem um planejamento prvio. Era a necessidade do momento que ditava o procedimento e
determinava o material a ser utilizado.

31

Com o surgimento das escolas especficas de msica, que aconteceu na passagem do


19

sculo XVIII para o sculo XIX , aumentaram as publicaes de cunho didtico. Segundo
Fagerlande,
o aparecimento em larga escala de mtodos de pianoforte certamente est
ligado s mudanas sociais ocorridas na mesma poca. Enquanto no sculo
XVIII a msica estava concentrada em crculos fechados da nobreza, com
exceo da pera e da msica religiosa, em fins desse sculo e incio do XIX
comearam a surgir as salas de concertos, um nmero muito maior de msicas
foi publicado, tudo para atender a uma nova classe, vida por consumir
tambm cultura. H o aumento do alunado, tanto de amadores quanto de
profissionais. neste contexto que florescem os mtodos no sculo XIX
(Fagerlande, 1996, p.26).

No entanto, importante ressaltar que obras de referncia foram publicadas antes do


sculo XIX e se dirigiam a instrumentos de teclado em geral. Nomes como os de Franois
Couperin (1668-1733), Jean Philippe Rameau (1683-1764) e Carl Philipp Emanuel Bach (17141788) ainda hoje so pontos de partida para aqueles que desejam compreender as
transformaes pelas quais passaram a execuo e a pedagogia do teclado.
Se observarmos atentamente os caminhos percorridos por estudiosos e pedagogos,
perceberemos que a preocupao em contribuir com direcionamentos ao pianista caminha
lado a lado com o surgimento do instrumento, seu aperfeioamento e as caractersticas do
repertrio a ele destinado. Os primeiros escritos, que datam da poca do surgimento do ento
20

pianoforte , ainda tinham como modelo outros instrumentos de teclado, como o cravo e o
clavicrdio, por exemplo, e, por algum tempo, foi transferida para o novo instrumento a tcnica
de execuo de seus antecessores, que se baseava inteiramente na agilidade dos dedos,
devendo as outras partes do brao permanecer imveis. Nessa poca, a tcnica ainda era
vista como uma atividade mecnica, que deveria ser desenvolvida por meio de constantes
repeties (Kochevitsky, 1967). Porm, se considerarmos a semelhana dos instrumentos
musicais citados, por se tratarem de instrumentos de teclado, podemos pensar que seria

19

A primeira escola de msica a ser fundada foi o Conservatrio de Paris (1794), seguido pela Royal
Academy of Music (1822) na Inglaterra. Segundo Fonterrada (2006), a primeira instituio a ser criada no
Brasil foi o Conservatrio Brasileiro de Msica (1845), no Rio de Janeiro. vlido ressaltar que a autora citada
refere-se ao Conservatrio de Msica, instituio inaugurada, de fato, em 1848, e que, em 1890, daria lugar
ao Instituto Nacional de Msica, a atual Escola de Msica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Pereira,
2007).
20

Nome pelo qual ficou conhecido o instrumento fabricado por Bartolomeo Cristofori, em 1709, inicialmente
denominado gravicembalo col piano e forte (cravo com piano e forte), devido sua capacidade de emitir sons
suaves e fortes (piano e forte), o que no era realizado pelo cravo, instrumento de teclado mais popular da
poca (Gillespie, 1972).

32

natural que intrpretes e professores aplicassem os mesmos procedimentos de execuo e


ensino. No entanto, medida que foram percebendo as particularidades do piano, maneiras
mais eficazes de se obter melhores resultados foram sendo paulatinamente incorporadas s
prticas pedaggicas e interpretativas, numa sucesso de fatores que, de certa forma, esto
interligados. As mudanas tcnicas e o aperfeioamento do instrumento, que aconteceram
principalmente no final do sculo XVIII at a primeira metade do sculo XIX, motivaram os
compositores a escrever obras que explorassem as novas possibilidades do piano, exigindo,
com isso, modificaes referentes a questes tcnicas e interpretativas. O que vemos ocorrer,
ento, um processo marcado por transformaes contnuas, que incorporou novos conceitos
ao vocabulrio dos pianistas, como relaxamento, peso de brao, rotao de antebrao,
flexibilidade do pulso, dentre outros.
Muitos autores se ocuparam em estudar os mecanismos, sejam eles fsicos ou
psquicos, envolvidos na interpretao musical e, ao lado das preocupaes com o aspecto
fsico da execuo pianstica, ou seja, a realizao apropriada dos movimentos dos dedos,
mos, pulso, antebrao e brao, surge o cuidado em observar o papel da mente no processo
da aprendizagem. Sendo assim, as extenuantes horas de exerccios mecnicos, com suas
mltiplas repeties, so substitudas por um estudo caracterizado pela prtica consciente, em
que a percepo auditiva exerce papel fundamental no controle da qualidade sonora. A
repetio, sugerida pelos autores que vivenciaram as transformaes do instrumento e
experimentaram suas possibilidades, no puramente mecnica, mas tem o objetivo de
encontrar solues para as questes decorrentes da interpretao pianstica e a nfase passa
a se concentrar tambm no desenvolvimento da musicalidade e da capacidade auditiva
(Kochevistsky, 1967).
Percebemos, assim, que outros aspectos da aprendizagem instrumental tornam-se
preocupaes mais constantes no trabalho dos pedagogos, alm das questes relacionadas
exclusivamente tcnica da execuo pianstica. A improvisao, por exemplo, que era tema
comum dos primeiros tratados pedaggicos, volta a figurar entre os procedimentos de ensino.
Podemos dizer que hoje o estudo do instrumento no mais visto com a nica finalidade de
formar virtuoses e professores tm sentido a necessidade de incluir em seus programas de

33

ensino questes referentes criao musical e auto-expresso. Muitos estudiosos concordam


com essa premissa, como podemos constatar atravs de afirmaes como:
Seja na improvisao, na leitura, na composio, na interpretao, a relao
sujeito/instrumento deve ser calcada no prazer de fazer, de pesquisar, de
conhecer, de conviver. A educao musical atravs de um instrumento s tem
sentido se tiver como objetivo primeiro o crescimento individual da pessoa,
pela descoberta e conquista do instrumento atravs da ampliao da
percepo, do contato com o mundo sonoro dentro da realidade de cada um
na satisfao plena da carncia de se expressar atravs da linguagem musical
(Campos, 2000, p.3).

Vrias so as dedues que podemos inferir da anlise do pequeno pargrafo acima: a


importncia do prazer em fazer msica, pois o estudo no se caracteriza mais por horas a fio
de prtica de exerccios montonos; o piano no serve apenas para reproduzir as obras do
repertrio tradicional, mas tambm um meio de auto-expresso, de descobertas; o estudo do
instrumento no visa apenas o desenvolvimento das habilidades de execuo, mas uma
formao mais ampla, de um msico que utiliza a linguagem musical como meio de expresso
individual. Percebemos, dessa forma, que as questes levantadas no se referem apenas a
tpicos inerentes interpretao pianstica, mas ao prprio objetivo do estudo e tambm
funo do professor nesse processo. Acreditamos que, assim como mudaram as motivaes
que levam o estudante a querer iniciar o estudo do instrumento, o papel do professor tambm
no mais o mesmo e os alunos passam a ser vistos e tratados de acordo com suas
particularidades e grau de maturidade. E o professor, que antes era tido como um transmissor
de conhecimentos e aquele que ensina da forma como aprendeu, agora visto como um
facilitador da aprendizagem. ele o responsvel por criar as condies favorveis ao
aprendizado, levando o aluno a tomar conscincia de suas potencialidades e habilidades e a
fazer o melhor uso delas. Ou, como j havia afirmado S Pereira (1964), levar o aluno a achar
por si s a soluo de qualquer problema [...] o mais precioso legado que um mestre pode
transmitir ao aluno, ensinando-lhe a pensar, e a ouvir, por conta prpria (p.9). Podemos
afirmar, ainda, que a funo do professor de piano [...] engloba um trabalho junto a seu aluno,
estimulando-o a uma atividade independente, induzindo-o a um pensamento criador e formao
de uma abordagem individual, atravs da procura constante de dados que venham contribuir para a
elaborao de um conceito interpretativo que lhe possibilite a competncia para atuar, com

34

segurana, em sua futura realizao profissional como pianista - intrprete ou pedagogo (Zorzetti,
1998, p.18).
Em relao a mtodos de ensino, verificamos que, desde que se tornaram usuais,
esses tm sido uma ferramenta til no ensino do piano, pois, alm de fornecerem o contedo
necessrio aos primeiros passos do aluno, propem a sequncia em que tal contedo deve
ser ministrado, facilitando assim, o trabalho do professor. A escolha do material a ser utilizado
deve ser feita com critrio, pois ele, em grande parte, que vai determinar o sucesso ou no
dos procedimentos de ensino e aprendizagem. tarefa do professor atentar para a maneira
como cada aluno, individualmente, reage utilizao de tal material e estar aberto s
mudanas e ajustes que se faam necessrios no decorrer do processo. Muitas vezes no
apenas uma publicao que vai atingir os objetivos pretendidos, mas a combinao de duas
ou mais obras que apresentem propostas semelhantes, fazendo com que os pontos fracos de
um mtodo possam ser complementados com a utilizao de outro, pois todo mtodo pode
trazer contedos que podem precisar de material de reforo. Ao se preparar adequadamente,
o professor ser capaz de detectar essas necessidades e supri-las com o material ou
procedimento adequados. E, quanto maior o conhecimento do professor, melhores condies
ter de escolher o que melhor para cada aluno em particular, a cada situao especfica.
Acreditamos na utilidade dos mtodos como forma de organizao e sistematizao do
contedo a ser aplicado e, principalmente, como meio de determinar metas a serem atingidas.
Com o objetivo em mente e o caminho traado para sua consecuo, a previso ou
determinao do tempo necessrio para atingir tal objetivo se torna mais clara e
consequentemente, a avaliao dos resultados pode ser realizada mais facilmente.
Alguns profissionais e estudiosos, porm, so contrrios utilizao de mtodos, por
considerarem um material que limita a atividade do professor ao determinar tanto o contedo a
ser ensinado quanto a sequncia em que esse contedo deve ser apresentado. De acordo com
Hollerbach (2003), que entrevistou alguns professores de piano para a realizao de sua
pesquisa, existem aqueles que consideram os mtodos mecnicos e no musicais (p.93).
Essa afirmao, porm, no acompanhada de uma explanao que a justifique e nem
apresenta alternativas de material de ensino.

35

Outro aspecto apontado pela pesquisadora citada foi o fato de que grande parte dos
professores entrevistados utiliza os mtodos apenas como introduo leitura da notao
musical e, to logo os alunos dominem essa habilidade, procuram outro tipo de material para
trabalhar (Hollerbach, 2003). Fato que, de certa forma, corrobora as ideias apresentadas por
Uszler (2000a), quando esta afirma que os mtodos de ensino so mais utilizados durante o
perodo que denominou de preparatrio, sugerindo que este tenha a durao aproximada de
dois anos.
21

comum, ainda, a prtica de elaborar o prprio material de trabalho , atravs da


compilao de obras de diferentes autores ou mesmo atravs da composio de peas
originais. Assim, ao se basearem em sua prpria experincia, os professores procuram
atender s necessidades individuais de cada aluno; um procedimento que, de certa forma,
recria aquele dos pedagogos mais antigos. um procedimento vlido, desde que precedido de
estudos que ofeream uma fundamentao consistente a fim de que conceitos e passos
importantes do processo de ensino e aprendizagem no sejam negligenciados.
Um exemplo da existncia dessa variedade de caminhos adotados pode ser dado pelo
estudo realizado por Santos (2008) junto a professores de piano da cidade do Rio de Janeiro.
Dentre outras constataes, a autora verificou que muitos profissionais ainda reproduzem
procedimentos que lhe so familiares ao adotar os mtodos de ensino que foram utilizados
por seus mestres ao serem iniciados no instrumento (Santos, 2008, p.95). Muitas vezes, isso
acontece por no terem um conhecimento mais aprofundado de outros mtodos disponveis,
fato que tambm apontado por Bogdanow (1998) e que, dentre as diversas questes
levantadas em seu trabalho, considera como um dos entraves continuidade e ao progresso
do aluno no estudo do piano.
Por outro lado, Santos (2008) encontrou tambm professores que procuram adaptar o
mtodo de ensino a cada aluno, respeitando, dentre outros aspectos, sua personalidade e
nvel de conhecimento e tcnica. Verificou, ainda, que um dos mtodos de ensino mais
22

utilizados pelos professores entrevistados de origem norte-americana , cujo repertrio no


privilegia canes de tradio oral brasileiras (Santos, 2008, p.86). Essa constatao vem ao

21
22

Verificamos essa prtica em duas escolas particulares de ensino musical, na cidade de Goinia.

A autora se refere ao mtodo The Leila Fletcher Piano Course, citado no Item 1.1 da Introduo deste
trabalho.

36

encontro de nossas inquietaes em relao utilizao de msica brasileira como contedo


de ensino, reforando nossa convico da necessidade de oferecer sugestes de repertrio ao
professor de piano.
Podemos verificar, atravs das leituras realizadas, observao da prtica de vrios
profissionais e tambm com base em nossa experincia como professora de piano, que uma
das abordagens mais comuns no ensino de piano para alunos iniciantes a utilizao de
mtodos de ensino, publicados comercialmente ou elaborados pelo prprio professor, ou
mesmo a combinao de diferentes autores. Por isso, a relevncia de se conhecer publicaes
diversas e estabelecer critrios de avaliao que permitam verificar sua eficcia e
aplicabilidade.
Alm da importncia de se conhecer diferentes mtodos, outras preocupaes ocupam
os trabalhos dos profissionais do ensino e, dentre elas, est a busca pelos melhores
resultados, com todos os tipos de alunos, desde os mais talentosos at aqueles que
apresentam maiores dificuldades.
Algumas respostas podem ser encontradas nos estudos dos psiclogos educacionais
que, ao elaborar as teorias que refletem sobre processos de aprendizagem, causaram
profundas modificaes no apenas na educao em geral, mas tambm em reas especficas
de conhecimento como, nesse caso, na educao musical. E, por decorrncia, o ensino
instrumental tambm sentiu a influncia dessas teorias e muito do material de ensino produzido
desde ento reflete essa tendncia.

2.2

A Influncia das Teorias de Aprendizagem

O ensino do piano, por se tratar de uma atividade que, por muito tempo, s era possvel
atravs de aulas particulares, levava cada professor a desenvolver sua prpria metodologia de
trabalho, na maioria das vezes baseada em sua experincia individual como intrprete. Essa
forma de ensinar, que data do sculo XVIII, pode ser vinculada tendncia tradicional da
educao musical, segundo a qual o professor a autoridade absoluta e o aluno o aprendiz
do mestre, que deve estudar horas a fio de exerccios tcnicos e msicas totalmente sem
significado para ele (Fernandes, 2001, p.53). Tais exerccios deveriam ser repetidos
exausto, sem que o aluno compreendesse sua aplicabilidade e se destinavam, principalmente,

37

ao desenvolvimento, agilidade e fortalecimento dos dedos, uma caracterstica do procedimento


de ensino que ficou conhecido como a escola de dedos. Outro aspecto da tendncia
tradicional, que pode ter se refletido na prtica do ensino do piano, se baseia na premissa de
que a criana aprende passivamente por meio das informaes transmitidas pelo professor e,
na maioria das vezes, no existe diferena de procedimentos para com crianas ou adultos.
Dentre as mudanas provocadas pelas teorias de aprendizagem, talvez a mais
significativa tenha acontecido na maneira de lidar com a criana, que passa a ser tratada de
acordo com seu grau de desenvolvimento e as caractersticas prprias de cada idade. Essa
postura, uma herana do pensamento de Rousseau, foi defendida por vrios pedagogos e
psiclogos, culminando na denominada Escola Nova, que surgiria na Europa em meados do
sculo XIX, como reao ao pensamento e prtica da Escola Tradicional (Vale, 2006, p.128)
e teve seu apogeu na primeira metade do sculo XX. Ainda no sculo XVIII, porm, Jean
Jacques Rousseau (1712-1776) j intuiu as diferentes fases de desenvolvimento cognitivo
pelas quais o ser humano passa at atingir a idade madura, ao introduzir a concepo de que a
criana era um ser com caractersticas, ideias e interesses prprios e que, por isso, no
poderia mais ser considerada um adulto em miniatura. Com esse pensamento, Rousseau
pode ser considerado um precursor da Escola Nova, influenciando grandes estudiosos, dentre
eles John Dewey (1859-1952), que acreditava ser possvel aumentar o rendimento da criana
atravs do seguimento de seus interesses; ou seja, o mtodo de ensino deve seguir a lei
implcita na natureza da prpria criana, de tal modo que o lado ativo da aprendizagem
preceda sempre o passivo, j que a expresso vem antes da impresso consciente (Campi,
1999, p.553). A criana, ento, transformada na protagonista do processo educativo, numa
clara oposio s caractersticas mais autoritrias da escola tradicional. O momento central da
aprendizagem no mais aquele em que o professor transmite o conhecimento, mas sim, o do
fazer do educando (Campi, 1999).
Outro nome que teve influncia na pedagogia moderna o de Maria Montessori (18701952), que se dedicou terapia e educao de crianas com necessidades especiais,
transferindo para as crianas normais os mesmos processos empregados com as primeiras.
Um dos princpios educativos de Montessori reside na importncia de despertar a criatividade
infantil por meio do estmulo. Ao defender o respeito pela personalidade da criana, permitia ao

38

professor tratar cada uma delas individualmente, de acordo com suas necessidades
particulares, sendo o professor responsvel tambm por criar o ambiente favorvel ao
aprendizado, atravs da oferta de meios adequados para a autoformao da criana (Elias,
2000, p.29). A referida autora acreditava na alta capacidade de assimilao da mente criana
e, portanto, esta deveria agir por si e receber estmulos e solicitaes sobretudo do ambiente
e no diretamente do adulto (Campi, 1999, p.532).
Citamos, ainda, Edouard Claparde (1873-1940), considerado o pioneiro da psicologia
infantil que, ao enfocar a necessidade de se estudar a mente da criana e estimular seu
interesse pelo conhecimento, tambm pode ser considerado fonte de inspirao para o
desenvolvimento da Escola Nova (Gadotti, 2001). Uma das ideias de Claparde se refere
organizao da escola que, segundo ele, deve ser feita sob medida para a criana, [...]
satisfazer suas necessidades, organizando tambm processos de aprendizagem capazes de
ser individualizados, pela oferta de uma srie de opes de atividades, entre as quais a criana
pode escolher livremente (Campi, 1999, p.529).
Podemos perceber que uma das principais caractersticas do movimento escolanovista
era a ateno centrada no processo de aprendizagem e na pesquisa de mtodos ativos que
enfatizavam a construo do conhecimento pelo sujeito, sustentando que a verdadeira
Educao deve colocar a criana no centro da ao pedaggica (Vale, 2006, p.128). Ao
estudarem o processo de desenvolvimento mental da criana, tornaram-se referncia para os
profissionais de didtica nomes como o de Claparde e de seu discpulo Jean Piaget (18961980), que criou uma teoria do conhecimento centrada no desenvolvimento natural da criana,
descrevendo as diferentes etapas pelas quais a mente humana passa durante o processo de
crescimento. Para Piaget, era fundamental que o professor respeitasse essas etapas de
desenvolvimento a fim de obter bons resultados (Gadotti, 2001).
O movimento da Escola Nova provocou profundas mudanas na educao, fazendo
com que os pedagogos voltassem sua ateno para a criana e seus processos de
desenvolvimento. Assim, o foco do ensino se desloca do professor, at ento tido como o
detentor de todo o conhecimento, para a criana, que se torna um agente ativo do processo de
ensino e aprendizagem. Com isso, os pedagogos procuraram conhecer e compreender a forma

39

como os seres humanos aprendem e esforaram-se para basear o ensino de msica nos
princpios da psicologia da aprendizagem (Camp, 1981).
Segundo Fernandes (2001), uma das consequncias desse movimento foi a nfase nos
mtodos de ensino que, por sua vez, procuravam se basear nos pressupostos da psicologia e
psicopedagogia. Se fato que a educao musical adota os princpios da Escola Nova, como
23

comprova o surgimento de vrias metodologias dedicadas educao infantil , tambm o


ensino do piano vai ser influenciado por essa concepo. Vrias modificaes podem ser
percebidas, como a incluso de atividades criativas, atravs das quais o aluno pode se
expressar musicalmente e o estudo do piano no tem mais o objetivo nico de aprender peas
e passa a ser visto com propsitos de musicalizao, ou seja, uma ferramenta atravs da
qual se aprende msica. Muitos so os estudiosos que defendem a necessidade de se educar
todas as crianas como um intrprete em potencial, como um compositor em
potencial, como um maestro em potencial, enfim, como um ouvinte qualificado
em potencial. O aprofundamento das caractersticas essenciais em cada uma
dessas reas ser realizado de maneira paulatina. A transformao no
abrupta e apenas poderia ser comparada com o crescimento e
desenvolvimento do ser humano em geral (Gainza, 1988, p.116).

Observamos, nas

palavras

acima, um

exemplo da tentativa de respeitar

as

individualidades e considerar as etapas do desenvolvimento natural do ser humano. Para


Gainza (1988), o pedagogo que se especializa em educao de intrpretes deveria ter sempre
em mente que cada um dos aspectos ou traos a serem desenvolvidos segue estritamente uma
linha evolutiva to lgica e natural como a que caracteriza outros processos humanos (Gainza,
1988, p.120, grifo da autora). Com esse pensamento, a autora citada refora o pensamento
dominante na maioria dos estudos pedaggicos, que defendem o respeito ao processo natural
de desenvolvimento do ser humano e procuram encontrar respostas para algumas questes,
como as levantadas por Uszler (2000b), por exemplo, sobre como a aprendizagem acontece,
em que estgio o aluno est mais preparado para aprender e quais so os fatores que
estimulam esse aluno ao aprendizado.
Essas so questes que devem permear o trabalho do professor, pois, devido maioria
das aulas acontecerem em carter individual, seu contato com o aluno torna-se muito prximo.
E essa caracterstica lhe permite conhecer melhor a maneira de ser, sentir, agir e reagir,
23

Como exemplo dessa linha de pensamento, Fernandes (2001) cita os trabalhos dos brasileiros: Gomes
Jnior, Villa-Lobos, S Pereira, Liddy Mignone e Gazzi de S.

40

prpria de cada aluno em particular e, com isso, lanar mo de diferentes estratgias, de


acordo com cada caso. Portanto, como parte de sua formao pedaggica, importante que o
professor se inteire a respeito das teorias da aprendizagem a fim de conhecer a forma como o
ser humano aprende e ser capaz, dentre outros fatores, de criar as condies que facilitem o
aprendizado, atravs da escolha de material apropriado para a aplicao de seus
conhecimentos sobre o processo de ensino. relevante no apenas conhecer os materiais que
fornecem o contedo a ser ensinado, como tambm saber lidar com esse material, a fim de
construir uma ponte que conecte teoria e prtica. Dessa forma, o processo educacional passa a
ser visto como um
modelo tripartido, formado por um corpo terico, cristalizado nos materiais
instrucionais e catalisado pelo professor na situao da aula de piano.
pertinente supor que, quanto maior o grau de coerncia e sintonia entre essas
trs partes, maior a possibilidade de sucesso na efetivao dessa proposta
educacional, que defende a aula de piano como um momento de desenvolver a
execuo e compreenso musical (Montandon, 1992, p.161).

Percebemos, atravs das palavras citadas, que Montandon considera como parte da
preparao do professor, o conhecimento de material de ensino. E aqui acrescentamos a
importncia de conhecer tambm o aluno com o qual ir trabalhar, suas caractersticas, bem
como seus interesses, objetivos e grau de amadurecimento, a fim de melhor escolher o
material didtico e as estratgias a serem adotadas, visando obter o melhor resultado.
Vimos que, se o foco dos primeiros escritos pedaggicos se detinha, preferencialmente,
no aprimoramento tcnico e aquisio das habilidades motoras necessrias execuo do
repertrio padro exigido pelos professores e programas das escolas especializadas, com o
desenvolvimento da pedagogia do piano a ateno se voltou, tambm, para o desenvolvimento
de aspectos como a percepo auditiva, a capacidade de elaborao do resultado sonoro e as
habilidades funcionais. Sobre esse aspecto, Campos (2000) afirma que a improvisao livre
o caminho mais curto para se contatar de maneira plena com o instrumento (p.173). Ao
concluir seu trabalho, sugere que
o ensino do piano [...] necessita de contagiar-se com o dinamismo das oficinas
de msica, abertas explorao e pesquisa; influenciar-se pela busca da
criao [...], baseada na intuio livre da articulao dos sons e silncio;
desatar as amarras numa procura interior [...], fazendo do instrumento uma
continuidade de si mesmo, pela prtica da criao livre; colaborar para a
interao da polaridade sensorial e racional, pela prtica da intuio e
condicionamento fundidos numa mesma aprendizagem (Campos, 2000, p.190).

41

Atravs da afirmao acima, entendemos que Campos (2000) acredita no ensino que
valoriza as atividades criativas, as quais possibilitem ao aluno diferentes formas de expressarse musicalmente. Ao mesmo tempo, defende um ensino que valorize o rico patrimnio cultural
da literatura pianstica dentro de seu contexto histrico e ressalta a importncia de se
vivenciar a msica dentro de um processo educativo que considere o ser no seu mais pleno
desenvolvimento, num mundo em rpida transformao (Campos, 2000, p.122).
Concordamos com a afirmao da autora de que importante considerar o momento
em que estamos vivendo, pois o aluno que procura o estudo de um instrumento nem sempre
est motivado apenas pelo desejo de construir uma carreira de concertista. Muitas vezes, est
movido apenas por uma curiosidade ou pelo prazer de fazer msica, o que um fator que no
pode ser negligenciado; ao contrrio, deve ser incentivado. Acreditamos que uma prtica
pedaggica eficaz aquela que consegue ensinar o essencial sem desvincular o ato de
aprender do sentimento de prazer. Para obter os resultados almejados, o professor pode dispor
de vrios recursos e, neste trabalho, trataremos de um deles, que so os materiais didticos
ou, mais especificamente, os mtodos de ensino.

2.4

Algumas Consideraes

Vimos, at aqui, algumas transformaes pelas quais passou o ensino do piano, desde
o seu surgimento at os dias atuais, atravs da exposio de aspectos relacionados a mtodos
de ensino que, por sua vez, tambm foram adquirindo novas feies e apresentando novos
enfoques. Pudemos constatar a influncia exercida pelos instrumentos de teclado que
antecederam ao piano e, ao mesmo tempo, como os pedagogos, pouco a pouco, foram
percebendo as particularidades de cada um e de que forma essa percepo contribuiu para o
desenvolvimento de procedimentos de ensino especificamente voltados para o piano. Alm
disso, percebemos, tambm, a influncia exercida pelo repertrio a ele destinado. medida
que compositores modificavam a forma de escrever, estimulados pelas possibilidades sonoras
do instrumento, criando novas exigncias tcnicas e interpretativas, tambm o ensino passou a
focar no desenvolvimento das habilidades necessrias para a interpretao de tais obras. Por
muito tempo, esse foi o propsito principal do ensino, que tinha como meta a formao de
instrumentistas, muitos dos quais almejavam a virtuosidade, para que fossem capazes de

42

executar as grandes obras do repertrio tradicional, principalmente aquelas escritas a partir


dos sculos XVIII e XIX.
Com a chegada do sculo XX e todas suas transformaes caractersticas,
particularmente no campo da composio musical, novamente o ensino procura se adaptar a
essas novas feies que a msica passa a apresentar. No repertrio para piano do sculo XX,
diversos procedimentos podem ser percebidos e, dentre eles, Barancoski (2004) destaca
principalmente os elementos rtmicos e timbrsticos. Atravs de exemplos musicais, a autora
demonstra alguns dos elementos rtmicos que se tornaram mais frequentes na msica do
sculo XX, tais como ritmos pulsantes, sncopes regulares e irregulares, mudanas mtricas,
polimetria, dentre outros. Tambm sobre o ritmo caracterstico da msica do sculo XX, assim
se expressam Gandelman e Cohen (2006):
a regularidade da pulsao e da mtrica [...] foi desestabilizada, por intermdio
de procedimentos, tais como constante mudana de frmulas de compasso,
articulaes e andamentos, deslocamento de acentos, sncopes, ritmos
aditivos, polirritmias e polimetrias, perturbaes contnuas acompanhadas da
explorao de novos aglomerados sonoros e de grandes ressonncias que
estimulam a escuta e a imaginao sonora do intrprete (p.19).

Quanto explorao do potencial tmbrico do piano, Barancoski (2004) destaca os


usos inovadores do pedal, pedal de dedo, clusters, uso do interior do piano, e efeitos sonoros
como glissandos e harmnicos (p.103). Com isso, novas tcnicas, termos e smbolos foram
incorporados literatura pianstica, criando nos intrpretes a necessidade de se familiarizarem
com tal escrita. A exigncia tcnica no est mais focada s no desenvolvimento da agilidade
ou independncia de dedos, mas tambm na pesquisa sonora, que uma consequncia do uso
de timbres e efeitos variados.
Outra prtica comum que, embora no seja propriamente uma inovao, mas que
tambm modificou a forma como os intrpretes lidam com o instrumento, foi a incluso de
opes ao intrprete, atravs de trechos para improvisao ou da possibilidade de escolher
entre duas ou mais notas, acordes, e at mesmo compassos diferentes, para a realizao de
um mesmo trecho.
Esse novo tipo de escrita gerou, dentre outros fatores, a necessidade de se utilizar,
como estratgias de ensino, procedimentos que aproximem o aluno da msica composta mais
recentemente. Um exemplo de procedimento que pode contribuir para a familiarizao e

43

apreciao desse repertrio a improvisao, que parece ser um bom caminho para levar o
aluno a ter maior interesse em interpretar a msica atual. Pace (1962) acredita que
experincias com sons consonantes e dissonantes, atravs da improvisao, oferecem ao
aluno a oportunidade de adquirir um maior conhecimento da msica moderna (p.1). E, de
acordo com Barancoski (2004), atividades de improvisao podem contribuir para que o aluno
desenvolva
uma intimidade com seu instrumento, uma postura interpretativa criativa e rica
em paleta de sonoridades (que se desenvolve atravs de uma busca e uma
explorao prpria e individual), um estudo dinmico, com uma atitude
constante de experimentaes com andamentos, toques, dinmicas, nuanas,
timbres, uso do pedal, articulaes, em busca de solues ao mesmo tempo
individuais e estilisticamente corretas (Barancoski, 2004, p.108).

vlido ressaltar que, para que o aluno consiga realizar tais experimentaes ao
teclado, preciso que tenha sido devidamente preparado. Campos (2000) faz algumas
sugestes

para

que

liberdade

de

criao

possa se

desenvolver

gradativamente.

Primeiramente, a autora recomenda que o aluno crie estruturas sonoras explorando parmetros
do som, regies do piano, dentre outras, para depois serem introduzidas propostas de criao
24

mais elaboradas .
Atravs de nossa prtica pedaggica, podemos perceber que, por um lado, alguns
professores esto sempre procura de inovaes e repertrio atual, enquanto outros
permanecem fiis ao ensino da interpretao de obras que so mais facilmente reconhecidas e
aceitas, tanto por intrpretes quanto pelo pblico, por j serem amplamente difundidas. No
pretendemos questionar, avaliar, ou mesmo ressaltar uma ou outra prtica, como tambm no
as consideramos excludentes; pelo contrrio, acreditamos que ambas so vlidas e at mesmo
complementares.
Um professor que deseja obter xito em sua tarefa, dentre outros atributos, deve ter um
embasamento terico que abranja conhecimentos acerca das teorias de aprendizagem,
procedimentos didticos e cincia do material de ensino do qual pode dispor, o que configura
24

Estas so as propostas de criao sugeridas por Campos (2000): estrias sonoras imitando a natureza
(mar, chuva, tempestade, animais, pssaros etc.); improvisao inspirada nos prprios sonhos (tanto imagens
quanto sentimentos presentes neles); improvisao baseada em desenho feito pelo prprio aluno ou no;
improvisao inspirada em poesias; msica de filme de terror, cena de amor, filme engraado, desenho
animado; improvisao baseada em dilogos entre uma mo e outra ou a quatro mos; improvisao dentro
do piano; brincadeiras com o silncio, com tenses e distenses sonoras; improvisaes usando conceitos de
teoria musical (staccato, legato, tons, semitons, graus conjuntos e disjuntos, etc.); improvisaes usando
pulso, ritmos, escalas, clulas musicais, campos harmnicos, modos e encadeamentos; improvisaes
partindo de um tema improvisado, tema dado ou composto pelo prprio aluno (p. 174).

44

dois aspectos dentre os apontados por Richard Chronister (apud Darling, 2005), como
essenciais na prtica pedaggica. De acordo com o autor citado, que se baseia nos
ensinamentos de Frances Clark, trs so os fatores que contribuem para o sucesso do
professor de piano: um saber O QUE ensinar. Outro saber COMO ensinar. O terceiro
25

saber POR QUE ensinamos (p.8). Entendemos que o QUE ensinar se refere ao material a
ser utilizado e a sequncia em que o contedo apresentado; o COMO ensinar est
diretamente relacionado aos processos de ensino e aprendizagem; e o POR QUE ensinar se
refere necessidade de aplicao do contedo em outros contextos, ou seja, os diferentes
usos dos conceitos e habilidades aprendidos em outras peas do repertrio, alm daquelas
utilizadas para a aprendizagem de determinado contedo.
Talvez o sucesso do professor envolva algumas outras questes alm das apontadas
por Chronister, visto que sua atuao tambm depende da vontade e personalidade de quem
est na outra ponta do processo, que o aluno. No entanto, este trabalho se ater anlise
das ferramentas de que dispe o professor, mais especificamente, os materiais de ensino, que
fornecem o contedo a ser ensinado. E disso que tratar o prximo captulo, isto , a
realizao da anlise dos trs mtodos de ensino j mencionados, procurando detalhar o maior
nmero possvel de aspectos inerentes ao ensino do piano e que consideramos de relevncia
para o trabalho do professor.

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One is knowing WHAT to teach. Another is knowing HOW to teach. The third is knowing WHY we teach.

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