As Mil e Uma Noites
As Mil e Uma Noites
As Mil e Uma Noites
INTRODUO
contexto,
coube-nos
escolher,
dentre
os
tantos
temas
texto de As Mil e Uma Noites, finalizando com uma anlise sobre o papel de Sherazade e
uma possvel interpretao sua segundo a qual sua atuao seria uma representao da
importncia do poder ou dom da palavra.
1 Aqui, entenda-se literatura no apenas como obras registradas por escrito, mas, tambm, e qui principalmente, histrias e poesia da
tradio oral.
2 MARZOLPH, Ulrich. The Arabian Nights in Transnational Perspective. Wayne State University Press: 2007, p. 119 e ss.
histrias3) no qual se conta que Sherazade, esposa do rei Shariar, narra as histrias
maravilhosas que do origem obra na tentativa de escapar da morte j que o rei, aps
haver sido trado por sua primeira esposa, havia passado a casar-se com uma nova mulher a
cada noite, mandando matar cada uma delas na manh seguinte. , assim, por meio da
narrativa das histrias arrebatadoras e surpreendentes que Sherazade consegue entreter o
rei e distra-lo, interrompendo a histria a cada manh a fim de manter acesa a curiosidade
do rei e, consequentemente, garantir que no seria morta por ele, ao menos at a noite
seguinte, quando continuaria a contar a histria. Ao final das histrias, o rei se arrepende
de sua atitude descontrolada com as esposas anteriores e acaba por no assassinar
Sherazade.
que concerne a outras civilizaes ou culturas (i.e., no rabes) o que em geral refletia a
ideia daquilo a respeito do qual um homem erudito ou cultivado (adib) deveria ter
conhecimento a fim de ser tido por sua comunidade como tal. Assim, o conceito de adab
passava a abarcar o conhecimento de dimenses to diversas quanto a tica ou moral,
esttica, poltica, cultural, comportamental, relacional, deontolgica e subjetiva5.
Nesse contexto, notadamente durante o califado abssida, houve uma
grande produo de textos cujo mote central era a produo do adab, ou cuja inteno era
a de dar alguma espcie de orientao a quem desejasse ser tido como um adib, os quais de
uma maneira geral viriam a ser chamados ou conhecidos como obras de adab.
Com o declnio e posterior queda do califado abssida, passa-se a
observar um processo de paulatina restrio ao significado do termo adab embora, notese, seu significado ainda hoje englobe muitos conceitos diversos e, por isso mesmo, sua
traduo nem sempre seja de fcil feitio, ao menos quando se trata de lnguas como a
nossa, que no possuem termo semelhantemente amplo para sua designao , at que
chegasse a um ponto em que, de uma maneira geral, o termo passasse a designar mais
objetivamente as belles lettres i.e., poesia e prosa elegantes, culturalmente entendidas
como literatura.
nesse contexto que se pode compreender a obra das Mil e Uma Noites,
em cujo prprio prembulo se l: ... a elaborao deste agradvel e saboroso livro tem por
meta o benefcio de quem o l: suas histrias so plenas de decoro [adab], com
significados agudos para homens distintos i.e., a obra em si explicita desde o incio essa
sua inteno de ser instrutiva, no sentido de gerar essa espcie de conhecimento amplo, que
diz respeito aos vrios aspectos da vida humana, e de orientar seus leitores a fim de que
estes aprendam o que tido como bom comportamento o bem-fazer e o bem-viver e, ao
mesmo tempo, impe-se (a obra) como obra de literatura elevada, produzida de acordo
com as exigncias do bem escrever de ento e por algum que, consequentemente, seria
tudo como um adib a seu tempo. Em outras palavras, ao mesmo tempo em que poderia ser
considerada como uma concatenao de fbulas cujo propsito seria o de mero
entretenimento, constitua tambm um conjunto de histrias com a habilidade de transmitir
ao leitor conhecimento acumulado acerca de diversos aspectos da vida do homem,
adquirindo, com isso, maior valor cultural.
5 SANTOS, Messiane Brito dos. Ob. Cit., p. 12.
gerao em gerao oralmente durante sculos, atravs dos quais tais histrias foram sendo
modificadas e ganhando diversas verses, at serem compiladas por diferentes autores ou
grupos de autores e tornadas uma s obra, como se v hoje. Igualmente, entende-se hoje,
de uma maneira geral, que, dentre o conjunto de contos que compem as Mil e Uma Noites
em suas diversas verses, predominam duas camadas ou dois ramos de contos no que
diz respeito sua origem: um deles de origem sria e o outro, posterior historicamente e
mais extenso que o primeiro, teria sido escrito no Egito (conforme classificao feita pela
primeira vez por August Mller em 1887). Contudo, vale dizer que, aps Mller, diversas
outras verses e tradues de textos relacionados s Mil e Uma Noites foram sendo
encontrados conjuntos que variavam no apenas no teor das histrias, mas tambm na
sua abrangncia temporal e geogrfica, entre outros aspectos.
A primeira traduo das Mil e Uma Noites feita e publicada na Europa
foi a de Antoine Galland (Les Mille et Une Nuits, contes arabes traduits en franais, 12
vol. (Volumes 1-10 publicados entre 1704-1712; volumes 11 e 12 publicados em 1717)), a
qual tomou por base principalmente um compilado de textos de origem sria, embora tenha
tambm utilizado outras fontes. Mais tarde, outras tradues/reedies importantes viriam
a ser a Vulgata egpcia de 1835, e As Mil Noites e Uma Noite, de Richard Burton, cujos
primeiros 10 volumes foram publicados em 1885, sendo os 6 complementares publicados
entre 1886-1888.
De todo modo, diante de tantas vicissitudes relativas forma original em
que teriam sido concebidas as Mil e Uma Noites, a nica afirmao certa que se pode fazer
a respeito de que a histria bsica de Sherazade e do rei Shariar, apresentada no prlogomoldura e que serve como elo de ligao entre as demais histrias subsequentes, j existia
e estava presente na obra, como mencionamos, acima, desde o sculo IX.
BIBLIOGRAFIA: