Ayahuasca e A Expansão Da Consciência
Ayahuasca e A Expansão Da Consciência
Ayahuasca e A Expansão Da Consciência
BRASLIA
JUNHO/2005
Dedicatria
Dedico este trabalho a Deus, a
Energia Suprema que preenche cada
tomo desse universo infinito e ao
saudoso e amado amigo espiritual
Francisco Souza de Almeida que, com
seu amor, me ajudou a enxergar os
caminhos que levavam a mim mesma.
Agradecimentos
Agradeo sinceramente minha
orientadora pelo apoio incondicional, a
meus pais pelo amor e pela
concretizao de mais uma etapa em
minha vida e a meu irmo e cunhada
Paulo Roberto Tavares e Giselda
Tavares, pela confiana.
SUMRIO
RESUMO.........................................................................................................................04
ABSTRACT.....................................................................................................................05
INTRODUO................................................................................................................06
CAPTULO I
1.1 Ego, Inconsciente e Consciente, Persona, Complexos, Sombra...........................10
1.2 Expanso da conscincia.......................................................................................16
1.3 O plano fisiolgico na expanso da conscincia....................................................18
1.4 Alcanando o estado de expanso da conscincia...............................................19
CAPTULO II
2.1 Entegenos A expanso da conscincia atravs das plantas de poder.............21
2.2 Aspectos farmacolgicos/fisiolgicos do ch.........................................................23
2.3 Histria da Ayahuasca no Brasil.............................................................................25
CAPTULO III
3.1 Expanso da conscincia e confisso religiosa na individuao...........................28
3.2 Psicologia e Religio..............................................................................................30
CAPTULO IV
4.1 Enxergando a sombra............................................................................................34
4.2 Liberdade para mudar............................................................................................38
4.3 A confisso religiosa O sagrado e o divino trazendo uma nova
conscincia......................................................................................................................40
4.4 Ouvindo a conscincia superior.............................................................................41
CAPTULO V
5.1 Aspectos teraputicos/psicolgicos do ch............................................................44
CONCLUSO.................................................................................................................52
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS...............................................................................54
ANEXOS.........................................................................................................................56
Dirio Oficial da Unio.....................................................................................................57
RESUMO
A psicologia tem como pressuposto bsico tratar os produtos conscientes de uma
realidade supostamente originria do inconsciente, cuja natureza fornece elementos
para a ao do psiclogo. Assim, para uma melhor compreenso dos processos
internos de um indivduo, torna-se fundamental conhecer o que ele guarda no mais
recndito do seu interior ou, em outras palavras, a sua sombra. Segundo depoimentos
de psiclogos que utilizam o processo de expanso da conscincia, este permite ao
indivduo encontrar as causas profundas dos problemas pessoais e a origem real de
uma doena, fsica ou psquica. Dentre as vrias tcnicas para se atingir um estado de
conscincia alterado esto as chamadas plantas de poder que, desde os primrdios
dos tempos, so utilizadas na busca de respostas e da cura. A Ayahuasca produzida
a partir de duas plantas de poder e utilizada em contextos religiosos no Brasil desde
1930. Jung acreditava que, em um determinado momento, uma pessoa pode perceber
a existncia de algo mais alm do senso comum visvel, e isso costuma provocar
transformaes profundas e radicais em sua maneira de enxergar o mundo. No
processo de Individuao, ocorre o desenvolvimento e a diferenciao da conscincia,
em que se pode, com o amadurecimento, perceber mais profundamente que as
prprias experincias esto subordinadas a um certo objetivo. Jung afirmava que
descobrir e trabalhar o contedo da sombra um processo bsico no caminho da
individuao. Assim, a experincia de expanso da conscincia com a Ayahuasca
adquire um enorme valor, pois pode conduzir o indivduo a um mergulho nas
profundezas do seu ser, levando-o a se tornar consciente do material existente na
sombra e oferecendo-lhe uma excelente oportunidade de trabalhar este material sob os
holofotes da luz da conscincia. O indivduo v e compreende a verdadeira razo pela
qual sente que algo est errado. Para Jung, a experincia do sagrado e do divino, e sua
conseqente transformao de conscincia, so a origem dos credos religiosos, a
transformao de conscincia decorre da experincia com o sagrado. Para os usurios
da bebida Ayahuasca, a experincia com a mesma proporciona o encontro com o
divino em cada um e esse divino que, aos poucos, vai transformando cada pessoa
em um ser humano melhor, mais pleno e mais feliz. Existem vrias pesquisas sendo
feitas com a Ayahuasca e a psicologia comea finalmente a fazer parte desse grupo.
ABSTRACT
One of the Psychology basics is to deal with conscious products of a given unconscious
reality, whose nature provides the elements for a psychologist's action. To better
understand of ones internal processes, it is essential to know what he/she keeps hidden
deep inside or in other words, the shadow. According to psychologists who deal with
expanded consciousness, this process helps a person to find the deep causes of his/her
personal problems and the real source of a disease, psychic or physical. Among several
techniques to achieve altered consciousness states there are what we call power
plants that are used in search for answers and for healing since time immemorial. The
Ayahuasca, a beverage made from two of these power plants, is used within religious
context in Brazil since 1930. Jung believed that in a given moment a person can realize
that there is something more beyond the visible common sense, and this realization
usually causes deep transformations in the way one sees the world. In a process called
individuation there is a development and differentiation of the consciousness, in which
one can realize that ones own experiences are subordinated to a certain objective.
Jung stated that the basic process in the road to individuation is to discover and work
out the shadowed content. This way, the Ayahuasca expanded consciousness
experience becomes of great value because it can lead the individual to dive deep
inside oneself and become conscious of his/her shadowed substance, thus offering
him/her an excellent opportunity to work out this material under the light of the
conscience. The individual then sees and understands the true reasons that make
he/she feel that something is going wrong. For Jung, the sacred and the divine
experiences, together with their resulting consciousness changes, are the origin of
religious beliefs and that the consciousness changes emerges from the sacred
experience. For Ayahuasca users, this experience can provide a divine encounter
which gradually causes a human being to become better, fuller and happier. Several
researches with Ayahuasca are now going on, and Psychology finally begins to take part
in this group.
Numinoso Do latim numinosum. Com esta palavra Otto denota a conscincia que est no fundamento da
experincia do sagrado e, portanto, a constituio de mysterium tremendum que inspira venerao e temor.
utilizao, esta bebida sofreu algumas proibies, seja por total desconhecimento das
autoridades e da populao, seja para efeito de estudo. No tendo sido encontradas
razes concretas para sua proibio, seu uso permaneceu liberado extra-oficialmente,
embora permanecesse o preconceito de muitos.
No dia 04 de novembro de 2004, o plenrio do Conselho Nacional Antidrogas
CONAD aprovou o parecer da Cmara de Assessoramento Tcnico-Cientfico que
reconhece, em carter definitivo, a legitimidade do uso da Ayahuasca em contexto
religioso (Edio Nmero 214 de 08/11/2004; Dirio Oficial da Unio).
(...) CONSIDERANDO que o plenrio do CONAD aprovou, em reunio
realizada no dia 17 de agosto de 2004, o parecer da Cmara de Assessoramento
Tcnico-Cientfico que, por seu turno, reconhece a legitimidade, juridicamente,
do uso religioso da ayahuasca, e que o processo de legitimao iniciou-se, h
mais de dezoito anos, com a suspenso provisria das espcies vegetais que a
compem, das listas da Diviso de Medicamentos DIMED, por Resoluo do
Conselho Federal de Entorpecentes - CONFEN, n 06, de 04 de fevereiro de
1986, suspenso essa que tornou-se definitiva, com base em pareceres de 1987
e 1992, indicados em ata do CONFEN, publicada no D.O. de 24 de agosto de
1992, sendo os subseqentes considerandos baseados na j referida deciso do
CONAD; (...)
A partir da liberao definitiva e legitimao do uso da Ayahuasca em contextos
religiosos, novas portas se abriram para o seu estudo nas diversas reas da cincia.
O objetivo terico do presente trabalho o estudo do fenmeno de expanso da
conscincia atravs da Ayahuasca, uma bebida cujo efeito, segundo a opinio de seus
usurios freqentes, pode levar o indivduo, entre outras coisas, auto-anlise, ao
contato com uma conscincia superior e ao reconhecimento do seu processo evolutivo
pessoal, o qual Jung chamou de individuao, causando transformaes profundas em
sua forma de encarar a vida em sua totalidade. Pretende-se explanar sobre o que
uma experincia de Expanso da Conscincia abordando a utilizao da bebida
Ayahuasca como um veculo para este processo. Busca-se explicar o que este ch,
discorrer sobre alguns aspectos de sua utilizao, identificar quais contribuies sua
utilizao pode trazer para a psicologia e, ainda, responder se a experincia de
CAPTULO I
1.1 EGO, INCONSCIENTE E CONSCIENTE, PERSONA, COMPLEXOS, SOMBRA
Sabe-se que a conscincia a primeira parte da psique, com a qual a psicologia
se relaciona. tudo aquilo, no comportamento humano, que pode ser mostrado sem
que haja desaprovao, crtica ou censura. Em seguida, a psicologia lida com os
produtos do inconsciente, tudo que no pode ser explorado diretamente, j que se
encontra no nvel ao qual no se tem acesso. O acesso foi ou negado pelo sensor
que diz: voc ser rejeitado, ser julgado, no ser amado se isto vier tona, e essa
negao acaba se tornando uma neurose. O juiz final sempre o ego, que reprime,
ou no, qualquer contedo.
Segundo Stein (1998), O ego um espelho no qual a psique pode ver-se a si
mesma e pode tornar-se consciente. Stein salienta que quaisquer sentimentos,
pensamentos, percepes ou fantasias tm que, necessariamente, ter uma ligao com
o ego a fim de se tornarem conscientes. E que na mesma proporo em que estes
contedos psquicos so refletidos pelo ego, pode-se afirmar que eles pertencem ao
domnio da conscincia. Quando um contedo psquico vagamente consciente
significa que ele no foi captado ainda, nem mantido, em seu lugar na superfcie
refletora do ego (p. 23).
Para o mesmo autor (1998), o inconsciente tudo aquilo que presumivelmente
no se distinguiria dos contedos psquicos conhecidos quando chegasse
conscincia (p. 23). Alguns contedos permanecem conscientes e outros, temporria
ou permanentemente, no. O inconsciente abrange todos os contedos psquicos que
ficam fora da conscincia, por qualquer razo ou durao. a rea de investigao
mais importante da psicologia profunda.
Stein (1998) coloca ainda que a conscincia , muito simplesmente, o estado de
conhecimento e entendimento de eventos externos e internos. o estar desperto e
atento, observando e registrando o que acontece no mundo em torno e dentro de cada
um de ns (p. 24). A ausncia de conscincia a total incapacidade de percepo e
sentido. Para Jung, a conscincia contm mais que apenas o ego, sendo uma categoria
mais ampla que este. O ego citado freqentemente como um complexo. Ele o
ponto central da conscincia. A conscincia do ego a condio sine qua non para a
investigao psicolgica. Stein enfatiza que o ego no constitudo nem definido
somente pelos contedos adquiridos da conscincia, mas algo como um espelho ou
m que segura um contedo num ponto focal da conscincia. Segundo Jung, o ego
moralmente neutro, sendo uma parte necessria da vida psicolgica humana, no se
constituindo em algo ruim. Assim, o ego pode recuperar contedos guardados no
inconsciente, desde de que estes no estejam bloqueados por mecanismos de defesa,
que mantm os conflitos no tolerados fora do alcance, e que tenham sido aprendidos
com suficiente solidez (p. 26).
Jung tambm afirmava que o ego o grande determinador de quais contedos
tornar-se-o conscientes e quais permanecero desconhecidos (inconscientes). E, em
suas prprias palavras, como toda a psicologia uma confisso pessoal (Stein; 1998;
p.22), o papel do psiclogo auxiliar o indivduo a trazer estes contedos tona para
que, tornando-se conscientes (sendo confessados), possam ser trabalhados.
Entretanto, o ego pode reprimir tudo aquilo que no lhe agrada ou que muito
doloroso. Jung (1971) salienta que o paciente, ao ser requisitado a descrever as
circunstncias provocadoras de sua enfermidade, sofrer inevitavelmente de certas
inibies. Ele ainda clarifica os motivos que levam o indivduo a no se permitir falar
abertamente, ter medo, timidez ou se esquivar.
(...) A causa reside na "observao cuidadosa" de certos fatores externos
que se chamam opinio pblica, respeitabilidade ou bom nome. E mesmo que
confie em seu mdico, mesmo que no se sinta envergonhado diante dele,
hesitar em confessar certas coisas a si mesmo, como se fosse perigoso tomar
conscincia de si prprio. Em geral, temos medo daquilo que aparentemente
pode subjugar-nos (p. 12).
A preocupao com a opinio pblica, a respeitabilidade ou o bom nome, levam
o sujeito a usar uma roupagem diferente para que ele possa ser aceito socialmente.
Essa roupagem, ou mscara, foi denominada por Jung de persona2. De acordo com
Grinberg (1997), a persona no se trata apenas da mscara, ela tambm consiste do
conjunto de atributos da conscincia coletiva, vivenciados como pertences pessoais
2
Persona Termo latino que indica a mscara que o ator teatral, tanto cmico como trgico, punha no prprio rosto
no decorrer da representao.
aspectos
da
personalidade
menos
valorizados
so
nossas
Sempre que uma emoo nos domina, sinal de que algum complexo foi
ativado. Jung dizia que no somos ns que possumos um complexo, mas ele
que nos possui. Enquanto o complexo estiver no inconsciente, isto , enquanto
no estivermos conscientes dele, estaremos sob seu poder, sujeitos s reaes
mais irracionais. Os complexos do inconsciente nos visitam entrando pela porta
dos fundos, invadindo nossa intimidade nas horas mais inoportunas. Seu
propsito o de nos revelar o que menos gostamos de ver em ns mesmos:
nossa sombra (p. 125).
Outra questo importante colocada por Grinberg (1997) sobre a projeo dos
complexos. Quanto menos consciente for um complexo, mais facilmente ele projetado
nas outras pessoas, e essa projeo fala das prprias caractersticas do mesmo. Em
algumas fases do desenvolvimento da personalidade, a projeo dos complexos pode
ser construtiva, enquanto que em outros casos, podem surgir muitos problemas nas
relaes pessoais (p. 126-127).
Se uma pessoa ou um objeto se tornam alvo de alguma de nossas
projees, eles passam a ser portadores de nossas imagens e de nossos
smbolos. Dessa forma, o objeto exterior assume as caractersticas do nosso
complexo inconsciente e comea a exercer, de maneira mgica, pela via do
inconsciente, uma influncia direta sobre ns. Por meio do mecanismo da
projeo, passamos a ver nossos aspectos inconscientes fora de ns e temos a
iluso de que nos livramos deles. Desse modo, h duas vantagens: achamos
que tais aspectos inconscientes no nos dizem respeito e, portanto, no nos
sentimos obrigados a lidar com eles (p. 127).
Para Jung, aps muitos confrontos com os erros, defeitos e inferioridades da
nossa personalidade, finalmente nos livramos da influncia dos complexos: eles nos
abandonam. Este desligamento em relao pessoa que recebeu as projees
inconscientes s possvel quando o valor simblico que havia sido colocado na
pessoa ou objeto, por meio da conscientizao, tiver condies de retornar ao sujeito,
acompanhado de seu significado. Para evitarmos as projees s existe um caminho:
conscientizarmo-nos de nossos complexos e os confrontarmos. Jung dizia que o
caminho da diferenciao da conscincia e do ego deve obrigatoriamente passar pelo
desligamento dos imagos3 que atribuem aos objetos um significado exagerado. Com o
desligamento, o sujeito recupera a energia psquica inconsciente e dissociada da qual
ele necessita para seu desenvolvimento. Pode-se ver que, em sntese, o complexo
inconsciente no um inimigo, pois, embora crie situaes desagradveis, ajuda a
pessoa a conhecer-se. Mais ainda, se aceitarmos as mensagens do inconsciente, ele
pode se tornar nosso melhor aliado, j que em nossa sombra esto tambm os
aspectos sadios e criativos de nossa personalidade que esto ainda por se desenvolver
(GRINBERG, 1997, p. 126-128).
Hall (1986) explica que existem dois componentes muito importantes na
dissoluo de um complexo: a compreenso de seu significado, para que seu propsito
seja compreendido na conscincia; e a experimentao do mesmo com afeto (emoo)
numa situao segura em que ele possa ser objeto de reflexo luz dos valores
conscientes da personalidade. A compreenso tambm pode ocorrer sob uma forma
simblica, atravs de sonhos e outros procedimentos simblicos (p. 44-45). Hall faz
ainda uma interessante analogia do complexo com as clulas do corpo:
...o complexo constrangido a funcionar como parte do organismo total,
tal como as clulas do corpo humano, em seu estado normal, funcionam como
partes ordeiras do corpo. Uma clula desregulada para servir ao bem do corpo
como um todo torna-se cancerosa; um complexo no relacionado com a
organizao da psique (incluindo-se a tanto a conscincia como o inconsciente)
pode levar a uma neurose ou (no pior dos casos) a uma psicose. (...) A sombra
ou, na verdade, todo complexo, caso no estejam ligados psique como um
todo, podem ser to destrutivos e at mesmo capazes de ameaar a vida em
proporo idntica a uma clula cancerosa, que escapou integrao normal
nos sistemas saudveis do corpo (p. 45).
Percebe-se assim a importncia de tornar conscientes os complexos, vivenciar a
emoo neles contida e refletir sobre eles para poder-se, ento, altera-los. De acordo
com Hall (1986), O que efetivamente altera um complexo o fato de ele estar ativo,
com a carga emocional que carrega, ao mesmo tempo em que h a possibilidade de se
3
Imago Palavra latina cujo uso foi proposto por Jung a Freud para indicar a representao subjetiva que cada
criana tem do genitor, razo pela qual este ltimo, justamente enquanto imago paterna ou imago materna torna-se
psiquicamente importante e duravelmente influente para a prpria criana.
fazer uma reflexo consciente a respeito do modo pelo qual ele influencia a psique (p.
47). E aqui surge um fator fundamental: o contexto em que essa vivncia deve ocorrer.
Assim, um dos propsitos do tmenos4 o de possibilitar um local seguro para se poder
examinar as questes internas. Nas palavras de Hall (1986) No tmenos, fechado e
protegido, os complexos so inevitavelmente constelados e seus efeitos percebidos (p.
48).
V-se, ento, que o papel da psicologia exatamente tratar os produtos
conscientes de uma realidade que se supe originria do inconsciente. O inconsciente,
cuja natureza desconhecida, se exprime atravs de elementos conscientes que
fornecem os dados para a ao do psiclogo. Torna-se bvio ento que, para uma
melhor compreenso dos processos psicolgicos de um indivduo, faz-se necessrio
enxergar o que se passa realmente, sem disfarces, no seu inconsciente, que guarda
aquilo que no mostrado. Em suma, quanto mais o indivduo se mostra como
realmente , mais facilmente um processo de cura pode ser alcanado.
5
Sincronicidade A doutrina que na psicologia analtica junguiana admite uma correlao entre estados interiores e
eventos exteriores e, portanto, um paralelismo temporal, espacial e de significado entre condio psquica e evento
fsico.
CAPTULO II
2.1 ENTEGENOS A EXPANSO DA CONSCINCIA ATRAVS DAS PLANTAS
DE PODER
Desde os primrdios dos tempos as plantas de poder so utilizadas na busca de
respostas e da cura. Dbora Lerrer, jornalista da revista Planeta na web escreve que
as plantas consideradas alucingenas tm sido utilizadas em rituais religiosos, ao longo
de sculos, por vrias culturas. As plantas de poder agem como mediadoras entre o
mundo da experincia imediata (consciente) e as dimenses profundas, tambm
chamadas de espirituais (o inconsciente). Por isso, essas plantas so tidas em certas
culturas como portadoras de inteligncia e consideradas como fontes de profunda e
misteriosa sabedoria, ou instrumentos do divino. Segundo Lerrer, as plantas de poder
so denominadas entegenos, que em grego quer dizer tornar-se divino
interiormente. O objetivo de seu uso acessar outros planos de conscincia, entender
seus prprios processos de vida e conectar-se com a natureza.
Entretanto, embora no haja efeito colateral conhecido, nem registro de
dependncia qumica ou dano cerebral, os distribuidores da bebida Ayahuasca
asseguram que devem ser tomados alguns cuidados quanto sua utilizao. A
conscincia s deve ser expandida em contextos seguros, para que a experincia
vivida promova um encontro iluminador e no desestruturante. O mdico Otvio
Castello de Campos, que toma ch de Ayahuasca regularmente dentro dos rituais da
Unio do Vegetal, diz que uma coisa distribuir uma substncia dessa em uma
danceteria, outra utiliz-la dentro de um contexto ritual, em que ela encarada como
um veculo sagrado, dentro de uma esfera cultural e um conjunto de valores.
A Ayahuasca uma bebida composta por duas plantas conhecidas
popularmente como: mariri, jagube ou cip (Banisteriopsis caapi) e chacrona ou rainha
(Psychotria viridis). Jnior (1989) explica que o mariri apontado como possuidor de
virtudes teraputicas e, para os ndios, a Ayahuasca tem importncia fundamental
(129).
Lerrer publicou que durante a celebrao dos Mistrios de Eleusis, na Grcia
Antiga, o iniciado bebia uma poo chamada Kykeon. Entre vrios povos amerndios, a
receberam
uma
avaliao
psiquitrica,
uma
avaliao
de
foram desenvolvidas e que, a partir destas, o seu uso ritual vem adquirindo mais e mais
espao no cenrio brasileiro e mundial marcando presena em quase todos os estados
brasileiros e em vrios pases do mundo (p. 1-2).
A bebida utilizada ritualisticamente por diversas culturas e seu uso remonta
poca dos Incas, sendo considerada uma bebida sagrada at hoje por este povo. O uso
da Ayahuasca no Brasil remonta a 1930, segundo Lima (2004), embora s nos anos
oitenta ela tenha sido oficialmente citada junto legislao brasileira. Ao mesmo tempo
em que os grupos que utilizavam a Ayahuasca em contextos religiosos e teraputicos
cresciam, o autor escreve que havia uma resistncia muito forte por parte dos
conservadores da sociedade poca, que pressionaram o Conselho Federal de
Entorpecentes (CONFEN) a embargar o funcionamento das instituies distribuidoras
do ch nos grandes centros. Em 1985, a Ayahuasca foi acrescentada lista de
substncias controladas do DIMED (Diviso Nacional de Vigilncia Sanitria de
Medicamentos). A Unio do Vegetal solicitou a reviso deste parecer e, em 1986, o
CONFEN organizou uma comisso interdisciplinar de pesquisa composta por juristas,
psiquiatras, psiclogos, socilogos e antroplogos, a qual no encontrou evidncias de
problemas sociais relativos ao uso da Ayahuasca em contextos religiosos. Segundo
LIMA, a deciso legal da liberao do uso da Ayahuasca em contextos religiosos abriu
as portas para discusses mais amplas e permitiu a expanso das religies tanto no
Brasil como em outras regies do mundo. Hoje, a Ayahuasca legalizada no Brasil e
em pases como a Espanha, a Holanda e o estado do Novo Mxico-EUA (p. 24-25-2627). Sabe-se tambm que a Ayahuasca foi recentemente liberada para uso legal na
Frana.
H vrias organizaes religiosas no Brasil atualmente que utilizam a
Ayahuasca, fazendo uso do direito liberdade religiosa garantida pela constituio.
Essas instituies em geral propagam princpios morais e ticos com fundamentao
crist, incentivam o cultivo de hbitos que propiciem uma melhor convivncia entre os
indivduos na sociedade e preconizam a busca pelo autoconhecimento e autoaperfeioamento atravs da concentrao mental, num processo de interiorizao
profunda. Jung dizia que nenhuma circunstncia exterior poderia substituir a
experincia interna e que s luz dos acontecimentos internos ele conseguia entender
CAPTULO III
3.1
EXPANSO
DA
CONSCINCIA
CONFISSO
RELIGIOSA
NA
INDIVIDUAO
Segundo Jung, em um determinado ponto de sua vida o indivduo pode perceber
a existncia de algo mais alm das questes cotidianas do dia-a-dia. Pode descobrir
um profundo sentimento do significado da prpria vida. Essa experincia costuma
provocar transformaes profundas e radicais. A pessoa compreende que a doena e o
sofrimento no so frutos do acaso nem castigo, so ensinamentos que devem lev-la
a transformar-se interiormente. Ela comea a ter vontade de entender os seus
processos internos e de curar todas as doenas de sua alma. Comea a perceber
que, na essncia, ela algo mais, algo que vai alm de tudo isso, de tudo o que pode
ser visto e percebido.
Jung era procurado por muitas pessoas em razo da falta de significado em suas
vidas significado no encontrado na cincia, na filosofia, ou na religio. No buscar
esse significado para muitos indivduos que entram na segunda metade da vida
representa defrontar-se com um vazio existencial, a partir do qual, passa-se a repensar
atitudes e lamentar oportunidades e relacionamentos perdidos. Essa fase chamada
de metania6 e uma etapa de enormes desafios: Uma poca em que muitos dos
valores construdos e conquistados, e que tanto serviram ao crescimento e
diferenciao, precisam ser deixados de lado. necessrio permitir a morte do velho
para que, outra vez, o novo tenha lugar" (GRINBERG, 1997; p. 176).
Grinberg, atravs de Jung, tambm nos leva a refletir sobre o papel do terapeuta
nesse processo:
A questo bsica que Jung coloca ao homem : qual o tipo de atitude
moral necessria em certo momento para lidar com as influncias perturbadoras
do inconsciente? Nesse sentido, a individuao ou realizao do Si-Mesmo um
conceito permeado de significados morais e ticos. Sua nfase est na
6
Metania laing usou este termo em referncia ao processo pelo qual uma pessoa, aps uma crise psictica
(sobretudo esquizofrenia), resolve por si mesma progredir para um novo estado, graas a essa crise considerada
positiva para a reconstruo da pessoa. Originalmente, metania significava mudana de esprito, converso. o
oposto de cura, que Laing define como regresso ao estudo anterior.
rituais
so
executadas
unicamente
com
finalidade
de
provocar
CAPTULO IV
4.1 ENXERGANDO A SOMBRA
Como se sabe, certos complexos s esto separados da conscincia porque
esta preferiu reprimi-los. Tudo o que se aproxima da conscincia analisado e
selecionado para ser ou no incorporado ao ego. Assim, sombra tudo aquilo que
colocado na escurido da nossa conscincia. O que inaceitvel pelos conceitos
morais reprimido na sombra.
Para Jung, descobrir e trabalhar o contedo da sombra um processo bsico no
caminho da individuao. Hall (1986) explica que, para as concepes junguianas, as
desordens que levam as pessoas a fazerem anlise trazem em si as sementes de
desenvolvimentos novos e criativos na personalidade em processo de individuao. O
alvo costuma ser no apenas superar os sintomas manifestos, mas tambm descobrir
e integrar seu significado (61). Portanto, somente ao obter uma viso ampliada sobre
seus processos doentios interiores que um indivduo pode, a partir da tomada de
conscincia e de uma mudana de postura, encontrar um alvio para sua dor. Grinberg
(1997) diz que os complexos so a pedra no nosso sapato.
O indivduo que busca a ajuda de um psiclogo est, consciente ou
inconscientemente, buscando apaziguar a sua dor interna. Ele quer ajuda para tirar a
pedra do seu sapato, curar aquilo que machuca, que fere, que tira o sossego e a paz.
preciso, ento, descobrir o que est doendo, por que est doendo, como
comeou esta dor. E no h como encontrar estas respostas sem entrar em contato
com a sombra. Este um caminho rduo, doloroso e longo, com o qual se deve ter todo
cuidado. Para despotencializar um complexo preciso experienciar novamente a dor
para entender a sua construo e, a partir da, desatar esses ns e desmanchar esses
processos. E para isto s h um caminho: encontrar a verdade sobre si mesmo. Mas
como encontrar-se consigo mesmo se h todo um aprendizado e treino no sentido de
evitar este encontro? Para Jung, as pessoas tm medo de tornarem-se conscientes de
si mesmas. Alm de todo receio natural, de todo sentimento de pudor, existe um temor
secreto dos perigos da alma.
haver
um
analista
num
contexto
como
este,
facilita
processo
de
de acordo com o presente estudo, pode ser comparado confisso religiosa, em que
uma transformao de conscincia decorre da experincia com o sagrado, com o
divino. Para os usurios da bebida Ayahuasca, a experincia com a mesma
proporciona o encontro com o divino em cada um e esse divino que, aos poucos, vai
transformando cada pessoa em um ser humano melhor, mais pleno e mais feliz.
da, ento, necessrio permitir a morte do velho para que, outra vez, o novo tenha
lugar.
Jung tambm fala que Individuao o pilar de sustentao de toda a nossa
busca e Grinberg afirma que implica tornar-se aquilo que de fato somos e o objetivo
final a integrao de conscincia e inconscincia que faz com que o ego seja
assimilado ao Si-Mesmo. A identidade pessoal se livra, ento, das camadas da
persona, atravs da qual adotamos papis sociais rgidos e artificiais, fugindo da nossa
individualidade. preciso ter a capacidade de fazer morrer tudo o que j no serve
mais (p.177).
Foi observado com o presente trabalho, que a confisso religiosa de vital
importncia para uma mudana transformadora na vida do indivduo em seu processo
de individuao, e esse fato traz uma compreenso maior para os rituais religiosos
realizados com a Ayahuasca, j que a confisso religiosa uma das possibilidades que
a experincia com esta bebida proporciona. Se toda confisso religiosa se funda
originalmente na experincia do numinoso, na f e confiana em relao a uma
determinada experincia de carter numinoso e na mudana de conscincia que da
resulta (Moraes;1995; p. 48), pode-se deduzir que a experincia com a Ayahuasca
possibilita uma mudana de conscincia. A partir dessa mudana e da adoo de uma
nova postura frente aos desafios e prpria vida, pode-se comear a ouvir melhor
uma voz interna que guia e direciona. Essa voz passa, ento, a ser a bssola rumo a
uma verdade maior.
Jung, nas palavras de Hall (1986), fala sobre um dilogo constante entre uma
conscincia superior e o ego, e este dilogo parece ser o que d uma nova direo ao
indivduo que se torna consciente do seu processo de individuao (p. 56). Caso ele se
decida a ouvir essa voz, este pode ser um passo importante nessa nova caminhada
em busca do autoconhecimento e do encontro com novos significados. Pela presente
pesquisa, pode-se observar que h uma grande semelhana entre este dilogo
alcanado atravs das experincias culminantes e as experincias com a bebida
Ayahuasca. Viu-se as indicaes de que esta experincia permite ao indivduo entrar
em contato com uma conscincia maior e receber dessa conscincia instrues e
orientaes para sua vida diria, alm de lhe permitir a compreenso de seus
em
CAPTULO V
5.1 ASPECTOS TERAPEUTICOS/PSICOLGICOS DO CH
O psiquiatra Wilson Gonzaga da Costa, em matria publicada no O ESTADO
DE SO PAULO (10 de maro de 1998), diz que toma o ch h 18 anos e explica
porque a Ayahuasca pode ter efeito benfico em pessoas dependentes de drogas.
Segundo Costa, no estado alterado de conscincia proporcionado pela bebida,
desencadeado um processo de auto-anlise intenso e produtivo, fazendo com que o
indivduo perceba seus conflitos internos. Ele, contudo, alerta sobre seu uso. De acordo
com o psiquiatra, pessoas com esquizofrenia ou quadros intensos de paranias so
proibidas de utilizar o ch. Explica ainda que a Ayahuasca deve ser utilizada apenas em
rituais, para evitar que a experincia possa desencadear uma psicose. De acordo com
a matria, na poca de sua publicao, Costa pretendia comear um trabalho utilizando
a Ayahuasca com moradores de rua para tratamento de dependncias e reintegrao
sociedade.
J o psiquiatra da Unifesp, Lcio Rodrigues, desenvolveu uma pesquisa
para descobrir como a Ayahuasca interfere no sistema emocional. A mesma matria do
jornal fala do estudo de Rodrigues, que contou na poca (1998) com a colaborao de
colegas que nunca haviam tomado o ch. O psiquiatra pretendia obter entrevistas
minuciosas, a respeito do processo desencadeado pelo ch e, de acordo com o
resultado obtido, o uso teraputico da Ayahuasca poderia ser pesquisado com maior
profundidade. Rodrigues conta que a ao das substncias que alteram a conscincia
sempre foi alvo de pesquisas srias, mas ao comearem a ser utilizadas fora de rituais,
houve banimento e preconceito. E Rodrigues lamenta esse fato. Esse tipo de
substncia
talvez
possa
ajudar
pessoas
entrar
em
estado
de profundo
Ayahuasca provoca uma espcie de ruptura das barreiras do consciente, diz o mdico,
e o ritual funciona como um limite protetor. Ele fala ainda que todos os entrevistados
relataram e ressaltaram que as experincias com a bebida trouxeram mudanas
importantes. Eles se deram conta do processo que estabeleceu a dependncia do
lcool. Outro ponto relatado o fato de que todos os entrevistados terem feito tambm
referncias constantes sobre a sensao da presena de Deus.
Lgia Formenti finaliza a matria expondo o ponto de vista de Arthur Guerra de
Andrade, diretor do Grupo Interdisciplinar de Estudos de lcool e Drogas da Faculdade
de Medicina da Universidade de So Paulo (USP). Para Andrade, o estudo de
Labigalini ingnuo. Andrade acredita que Labigalini deveria indicar a um grupo o uso
da Ayahuasca e a outro um tratamento convencional. A opinio de Ronaldo Laranjeira,
coordenador da Unidade de lcool e Drogas da Unifesp, de que os dependentes
deixaram o lcool em funo de um possvel fanatismo religioso, mas Labigalini afirma
que esse comportamento de fanatismo no foi constatado entre os integrantes de sua
pesquisa. Para o mdico, Ficou claro que, com a transformao provocada pela
Ayahuasca, a causa da compulso foi sanada.
Existem outras pesquisas importantes na rea da psiquiatria que tambm esto
estudando as plantas alucingenas no tratamento de doenas mentais. Uma matria
da FOLHA CINCIA (14 de maro de 2001), diz que Arthur Heffer foi o primeiro a
identificar uma molcula alucingena. Segundo a matria, David E. Nichols, fundador
do Instituto Heffer de Pesquisas, est financiando pesquisas para tratar fobias,
depresso, transtorno obsessivo-compulsivo e dependncia qumica. Nichols afirmou
haverem testes planejados ou em execuo na Sua, na Rssia e nos EUA. Segundo
a FOLHA CINCIA, essas substncias funcionam mudando os nveis da serotonina,
um mensageiro qumico do sistema nervoso envolvido na modulao de vrios estados
cerebrais, como o bem-estar e o apetite. A matria explica que alguns antidepressivos
tambm agem na serotonina, fazendo com que ela permanea nos espaos que h
entre as clulas do crebro. Para Nichols, muito pouco se conhece sobre como essas
substncias poderiam ser utilizadas em terapia e a primeira coisa que se quer saber
se elas so seguras. Um psiquiatra chamado John Halpern, psiquiatra do Hospital
McLean em Boston, EUA, parece estar tentando responder essa questo com membros
(ndios americanos) de uma Igreja Nativa Americana em rituais religiosos.
A matria tambm fala de estudos realizados no Brasil com alcolatras violentos
que, aps a ingesto da Ayahuasca, pararam de beber e tiveram seus nveis de
serotonina aumentados no sangue, podendo isso refletir em um aumento no nvel de
serotonina no crebro. Cita igualmente pesquisas realizadas sobre o transtorno
obsessivo compulsivo na Universidade do Arizona, EUA, e na Universidade de Zurique,
Sua, onde se tem a permisso do governo para explorar essas substncias no
tratamento da esquizofrenia (Folha Cincia; 14 de maro de 2001).
At bem pouco tempo, as pesquisas feitas com a bebida Ayahuasca davam-se
no mbito restrito de poucas reas da cincia. A psicologia pouco acrescentou ou
estudou oficialmente sobre o assunto at recentemente. O tema, entretanto, comeou a
fazer parte do interesse de muitos psiclogos, incluindo os da linha cognitiva.
A conferncia Psychoactivity III foi a primeira sobre a Ayahuasca na
Europa (outras foram organizadas no Brasil, Estados Unidos e na Jamaica). Em
Amsterd, o pblico internacional foi notvel; alm dos cientistas, havia cerca de
150 ayahuasqueiros da Amrica, da Europa e do Japo. Antropologia, psicologia,
etnobotnica, farmacologia, a situao jurdica e uma breve histria da arte
ayahuasqueira foram temas das palestras de cientistas conhecidos, como o
antroplogo Luis Eduardo Luna, o psiclogo Benny Shanon, o farmacologista
Jace Callaway, o toxiclogo Laurent Rivier e o botnico Christian Raetsch.
Xams da Amaznia fizeram um ritual de abertura. Foram mostradas
reportagens sobre o Santo Daime no Brasil (Rio de Janeiro, Cu do Mapi, no
Acre) e os rituais indgenas no Amazonas. (Revista Planeta, julho de 2003).
O artigo explica que, nos anos 90, o farmacologista Jace Callaway tomou parte
em uma pesquisa que estudou o uso da Ayahuasca e os resultados mostraram que os
usurios do ch desenvolvem mais receptores de serotonina no crebro, um sinal
importante do efeito positivo da bebida para a sade. Contudo, diz o artigo, ainda no
est comprovado se isso significa que o ch pode curar doenas como o mal de
Parkinson ou o cncer, apesar de rumores favorveis sobre isso entre ayahuasqueiros.
Para o psiclogo Benny Shanon, a Ayahuasca pode nos dar um insight sobre o
funcionamento da mente humana. Segundo ele, a conscincia se constri como uma
dana (um ps-de-deux) com a realidade, dentro de um campo de significaes. A
Ayahuasca pode mudar as regras dessa dana e, conseqentemente mudar a relao
entre a conscincia e o mundo. Para ele, exatamente durante o estado alterado de
conscincia que a sua natureza e a relao com o mundo podem ser reveladas. Assim,
atravs da experincia com a Ayahuasca, a psicologia cognitiva pode aprender mais
sobre as regras dessa dana (Revista Planeta, julho de 2003).
Biase e Amoroso (2004), organizadores dos trabalhos de alguns autores
proeminentes de vrias partes do mundo, editaram um livro chamado A revoluo da
CONSCINCIA Novas descobertas sobre a mente no sculo XXI. No captulo 8,
Ayahuasca, mente e conscincia, eles transcrevem o trabalho de Benny Shanon The
Hebrew University, Israel.
No resumo de seu estudo Shanon escreve o seguinte:
Este trabalho parte de um projeto de pesquisa em curso atualmente que
investiga, de uma perspectiva cognitivo-psicolgica, a infuso psicotrpica
ayahuasca. At o momento, a ayahuasca foi estudada principalmente pelos
cientistas ditos naturais (botnicos, farmaclogos e fisiologistas) ou pelos
cientistas sociais principalmente antroplogos. Nosso argumento que, se
quisermos apreciar verdadeiramente o que especial a respeito da ayahuasca,
necessitamos de uma investigao congnitivo-psicolgica das experincias
subjetivas peculiares que a bebida induz. Por um lado, o modelo cognitivo
psicolgico serviria para estabelecer as bases para um estudo sistemtico da
fenomenologia da experincia com a ayahuasca. Por outro, o estudo da
ayahuasca pode introduzir ao psiclogo cognitivo novos territrios mentais antes
nunca mapeados e, assim, tambm oferecer-lhe novas questes e novas
perspectivas para o estudo da mente. Neste trabalho, focalizo as vrias
mudanas que a ayahuasca induz no estado de conscincia das pessoas, e
destaco o grande potencial que o estudo da experincia com a ayahuasca pode
ter para o estudo do fenmeno da conscincia humana (BIASE e AMOROSO;
2004; p.196).
Segundo o
Floresta Amaznica como tesouro de muitas outras plantas com grande valor para a
humanidade. Para Govert Derix, o uso da Ayahuasca, mesmo fora de um ritual
religioso, acompanhado de uma grande carga espiritual. (Revista Planeta, julho de
2003).
Shanon tambm considera que as experincias com a Ayahuasca so algo
maior: Especialmente intensas so as experincias em que sentimos que a
conscincia no pessoal e sim parte integrante de uma moldura do ser que maior
que ns mesmos. Essa superconscincia pode ser ou algo csmico uma espcie de
anima mundi ou pode pertencer a um self de um nvel superior, ao qual estamos
conectados. Ele cita algumas observaes de Alex Polari, um dos mais altos lderes
religiosos que utilizam a bebida no Brasil: Nossa conscincia (...) poderia ser (...)
diretamente relacionada com (...) a totalidade da energia csmica (que, por sua vez, )
meramente um ponto provisrio na compreenso de outras totalidades infinitas que nos
conduzem verdadeira totalidade que Deus. (Com isso, segue-se) a descoberta do
verdadeiro eu do qual o ego racional apenas uma caricatura desbotada (BIASE e
AMOROSO; 2004; p. 213).
CONCLUSO
No presente estudo verificou-se que a prtica da ingesto da Ayahuasca por
parte de certos grupos religiosos nos coloca frente a questes que vo alm da
liberdade de religio ou do direito liberdade da mente e privacidade do ser humano.
Unificando os vrios conhecimentos aqui abordados, pde-se perceber algumas
similaridades e concluir que o estado de expanso de conscincia proporcionado com a
bebida Ayahuasca pode possibilitar ao indivduo entrar em contato com algo sagrado e
divino, que muitas vezes no pode ser compreendido de imediato. Aqueles que vivem
este tipo de experincia falam de uma emoo impossvel de ser descrita, um
sentimento de mistrio. Essa experincia lhes traz conhecimentos profundos de outras
realidades e se funda na f no indizvel desse contato, lhes deixa a lembrana de seu
contedo e importncia, a certeza de uma vontade superior e lhes traz a possibilidade
de uma transformao radical em sua forma de ver e lidar com o mundo.
Nas experincias de expanso da conscincia obtidas com esta bebida,
percebeu-se que a pessoa convidada a voltar-se para o seu interior; deixar cair as
mscaras; crescer; melhorar suas condies de estar no mundo e sua interao com as
outras pessoas; lidar melhor consigo mesma ao assumir as conseqncias de suas
prprias decises e atitudes passadas; resignificar seus conceitos (principalmente os
conceitos religiosos); enxergar a si mesma de forma verdadeira e corajosa; adotar
novas posturas, mais conscientes, saudveis e maduras; curar feridas e vcios;
desapegar-se de culpas e medos limitadores; adotar uma atitude mais coerente com
sua prpria vida e com propsitos mais nobres; aprender a dialogar com uma
conscincia superior que lhe poder orientar os passos podendo, assim, religar-se.
Tudo isso nada mais do que a busca incessante que a psicologia empreende junto ao
ser humano.
Assim, seria interessante e bastante revelador que a psicologia pudesse voltar
seus olhos um pouco mais sobre este assunto. Conhecer as pesquisas que j esto
sendo realizadas nas vrias partes do mundo, participar delas e, nas palavras de
Shanon, focalizar as vrias mudanas que esta bebida induz no estado de conscincia
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
SILVEIRA, Nise da; JUNG Vida e Obra. Ed. Paz e Terra, 1997.
STEIN, Murray; JUNG O Mapa da Alma. Ed. Cultrix, 1998.
REVISTA PLANETA Psychoactivity III - A Ayahuasca em debate; Julho de 2003.
REVISTA TRIP - Dai-me Luz A Revelao do Santo Daime; Setembro de 1995.
FOLHA CINCIA Alucingeno pode tratar doena mental; 14 de maro de 2001.
O ESTADO DE SO PAULO Terapia para mendigos usar ch do Daime; 10 de
maro de 1998.
http://www.vitriol.com.br/artigo_expansao.htm
V. I. T. R. I. O. L. Clnica de Sade Integral - Psicologia, Fisioterapia e Fonoaudiologia
http://www.terra.com.br/planetanaweb/flash/transcendendo/mente/outra_dimensao.htm
http://revistaepoca.globo.com/Epoca/0,6993,EPT384839-1664-1,00.html
ANEXOS