Direito Difuso e Coletivo
Direito Difuso e Coletivo
Direito Difuso e Coletivo
Intensivo II
Prof. Alexandre Gialluca
2010
EVOLUO HISTRICO-METODOLGICA
3.2.
Ao Civil Pblica
Ao Coletiva* (para os que adotam)
AIA Ao de Improbidade Administrativa
AP Ao Popular
Mandado de Segurana Coletivo
Eu tive uma ACP que objetivava que uma empresa que produzia
parafusos fizesse uma proteo acstica porque naquele bairro ningum
dormia, ningum tinha paz. No meio do processo, a empresa faliu e parou de
funcionar. O promotor, nesse caso, desistiu. E, sendo assim, homologa-se a
desistncia.
4.2.
Na minha opinio, esse princpio tinha que ser de todo o processo civil,
mas ele especialmente forjado para o processo coletivo. Esse princpio,
diferentemente dos outros dois, no tem previso legal. meramente
interpretativo. Esse princpio basicamente estabelece que a aplicao do art.
267, do CPC, deve ser sempre evitada. Deve-se evitar ao mximo a extino
do processo sem julgamento do mrito por um motivo muito simples, porque
essa extino no resolve o conflito. E, neste caso, o conflito no um conflito
que atinja apenas uma pessoa, mas de magnitude extraordinria. Como um
conflito que atinge muitas pessoas, o ideal que o juiz faa tudo para no
extinguir o processo sem julgamento do mrito.
Um exemplo: o indivduo entra com uma ao popular. O legitimado,
nesse caso, o cidado, ou seja, tem que estar no gozo dos direitos polticos.
Na metade do processo, ele condenado criminalmente com trnsito em
julgado. E voc sabe que um dos efeitos da condenao penal, previsto na
CF, a suspenso dos direitos polticos. Automaticamente, aquele cara que
era parte legtima, se tornou parte ilegtima. Se fosse um processo individual,
seria extinto sem julgamento do mrito ante a ilegitimidade superveniente. Mas
o juiz deve convidar outros cidados para assumir a titularidade ativa,
evitando, assim, a extino do processo.
4.4.
tudo bonitinho. Eu teria que julgar improcedente a ao. S que nas contas
da percia foi descoberto que o cara no repassou determinada verba, que
era gigantesca, para a educao do municpio. E, pela lei, sobre o ato
incidiam sanes e, entre elas, a devoluo do dinheiro que no foi aplicado.
O promotor, espertamente, pediu para mudar a causa de pedir: eu quero
que ele devolva, no por causa do desvio, mas por causa da no aplicao
da verba de forma adequada. Eu admiti a alterao da causa de pedir. Foi
preciso produzir novas provas, formular novos quesitos ao perito para julgar o
processo. Qual a vantagem disso que eu teria que julgar a ao
improcedente, caso no considerasse a possibilidade de alterao. E a o MP
teria que entrar com uma nova ao, com prejuzo ao errio, que j tinha
acontecido j que a percia foi carssima.
d)
Controle das polticas pblicas Cada vez mais o Judicirio est
sendo chamado para resolver atravs dos processos coletivos o qu? Opes
polticas da Administrao. Por exemplo, determinar a construo de
determinado hospital, de creche, aquisio de medicamentos. Todas essas
so opes polticas que esto sendo tomadas pelo Judicirio atravs de
aes coletivas. Sobreleva-se, dessa forma, um papel de ativismo judicial
gigantesco e o processo coletivo tem que se prestar a essa finalidade. Eu,
recentemente, tive uma ao civil pblica de aumento de efetivo policial no
municpio onde trabalho. O promotor encasquetou que tinha pouca polcia
no municpio. Fez uma conta, umas anlises e chegou concluso que tinha
pouco efetivo. O Judicirio teve que interferir para aumentar o efetivo.
Percebe a repercusso direta na poltica de segurana pblica do Estado?
Isso ativismo judicial.
4.7.
Princpio Mxima Amplitude ou
taxatividade do Processo Coletivo Art. 83, CDC
da
Atipicidade
ou
No-
Lei de Ao
Popular
ACP
CDC
Lei do
Deficientes
Lei de Improbidade
Administrativa
daquele grupo, daquela categoria. Voc tem que entender que para uma
pessoa entrar com uma ao coletiva ela tem que, no mnimo, ter condies
de defender adequadamente aquele interesse que de muitas pessoas.
Ento, o sistema norteamericano fala o seguinte: juiz, qualquer pessoa pode
entrar com uma ao coletiva, mas voc controla a representao. E como
se verifica se a pessoa representa adequadamente os interesses que ela est
postulando na ao? Isso feito l da seguinte forma: checando se a pessoa
tem histrico, antecedente, na defesa dos interesses sociais. Verifica tambm
se a pessoa faz parte ou representa o grupo de prejudicados. Ela poderia ser
uma vtima de um dano ou receber uma autorizao de todas as vtimas do
dano para que representasse a todas em juzo. Eles exigem que a pessoa
tenha dinheiro. No sistema norteamericano, se voc no tem dinheiro, no
entra com a ao. E processo coletivo extremamente caro. E o juiz verifica,
ainda, se o advogado especializado em processo coletivo. Ou seja, o juiz faz
um controle rigoroso da adequada representao. Se o autor da ao
representa adequadamente os interesses daquela coletiva.
Tem um filme com a Julia Roberts que trata disso: Erin Brockovich Uma
mulher de talento. A histria de uma maluquinha, que bate no carro de um
advogado e pede emprego para o cara, em vez de pagar o dano do carro
dele. A o cara d o emprego para ela e ela comea a levantar a questo de
umas pessoas que tomavam uma gua que era cancergena. O fato que
ela comea a angariar a confiana da comunidade e as pessoas passam a
querer que ela represente os interesses daquela coletividade. O filme quase
que acaba numa audincia (audincia de certification), em que o juiz
basicamente diz: eu aceito que ela represente adequadamente os interesses
daquela categoria. A coisa foi confusa porque ela no tinha dinheiro para
pagar o processo coletivo. E no final, acaba com um acordo. Quando a ela
foi reconhecida a adequada representao, no final, as vtimas foram
indenizadas. Esse o raciocnio l.
No Brasil, vamos ter um sistema diferente. No qualquer pessoa que
pode entrar com a ao coletiva. A ao popular tem um objeto muito
especfico, mas no caso da ACP, os nicos legitimados so os do art. 5, da lei:
Art. 5 - Tm legitimidade para propor a ao
principal e a ao cautelar: (Alterado pela L011.448-2007)
I - o Ministrio Pblico; (Alterado pela L011.448-2007)
II - a Defensoria Pblica; (Alterado pela L011.448-2007)
III - a Unio, os Estados, o Distrito Federal e os
Municpios; (Acrescentado pela L-011.448-2007)
IV - a autarquia, empresa pblica, fundao
ou sociedade de economia mista; (Acrescentado
pela L-011.448-2007)
Os
titulares
so
indeterminados
e
indeterminveis nunca saberei quem so os
titulares dos direitos difusos
Durao efmera
Alta abstrao
Essas cinco caractersticas dos direitos difusos so disciplinadas pela lei,
mas so dissecadas pela doutrina. Perceba que quando h os interesses
difusos, esses so aqueles interesses mais abstratos possveis. So os interesses
que assistem a um nmero de pessoas que eu jamais conseguirei precisar e
dentro do prprio grupo tutelado eles no chegam, muitas vezes, a um bomsenso porque h uma alta conflituosidade interna. Como se tudo isso no
bastasse, o que liga esses sujeitos entre si apenas uma relao de fato.
O primeiro e principal membro dessa categoria dos difusos o meio
ambiente que pode ser encaixado nessas caractersticas. Quem so os
titulares do direito ao rio no poludo? Ns. No d para identificar. As
circunstncias de fato que nos ligam so mutveis. H quem more na beira do
rio, por exemplo. Dentro desse grupo, tem gente que apia a poluio do rio
porque a fbrica que polui gera empregos e tem gente que apia a natureza.
O direito sucumbe conforme vai passando o tempo. E h uma alta abstrao
a porque todos podem defender o meio ambiente. No d para dividir a
tutela do meio ambiente entre todos. Todos exercem o direito ao mesmo
tempo, como em um condmino. Assim, se tutelou o rio para mim, tutelou
tambm para voc.
Um outro exemplo que entra aqui o administrativo, que tambm um
direito difuso por excelncia. Quem tem o direito tutela do patrimnio
pblico de modo lcito, moral? Todos ns. Sujeitos indeterminados,
determinados, ligados por circunstncias de fato (morar naquele estado,
naquele municpio). E h conflituosidade: tem gente que votou no ladro e
tem gente que no votou. Tem gente que apia e tem gente que no apia.
Todo mundo liga a proteo do consumidor com os individuais
homogneos, mas o exemplo que eu quero dar aqui o da propaganda
enganosa. Propaganda enganosa direito difuso em princpio. Tpico exemplo
de propaganda enganosa: remdio para careca. Na propaganda, o cara
careca fica cabeludo meses depois. Voc nunca saber quem assistiu quela
propaganda naquele determinado momento. Quando voc veicula a
propaganda, atinge a um nmero absolutamente indeterminado de pessoas
e nunca voc vai saber quem estava assistindo aquela propaganda naquele
momento. Abstratamente, todo mundo poderia comprar aquele remdio,
consequentemente direito difuso.
b)
Direitos/Interesses
COLETIVOS SS
transindividuais
naturalmente
coletivos
Menor abstrao
direito individual. Mas foi tanta gente lesada que esse direito individual
passou a ser homogeneizado na sociedade.
Exemplo das cadernetas de poupana, dos expurgos inflacionrios O
Judicirio est entupido de aes discutindo os expurgos inflacionrios dos
Planos Bresser, Collor I e Collor II. Por uma tcnica matemtica, eles acabaram
comendo do bolso do poupador. Eu tenho direito correo, mas todo
mundo tambm. Todo mundo tinha poupana no Brasil. Assim, trata-se de um
interesse homogeneizado, portanto, tutela coletiva. Se fosse difuso e coletivo,
se um ganhasse, todos ganhavam. Aqui, ganha cada um. Aqui pode um
ganhar e outro perder.
Veculos com defeitos de fbrica Recall. Se cada indivduo pode
entrar com ao. Como muitos compraram aquele lote de carros, individual
homogneo.
a)
b)
c)
COISA JULGADA
Difuso,
Coletivo e
Individual homogneo.
Nosso sistema estabelece que segundo o resultado da lide (secundum
eventus litis), h trs tipos de efeitos. A deciso pode ser :
Erga omnes,
Ultra partes e pode ser
Sem coisa julgada material.
2 Observao:
Entretanto, para que o autor da ao
individual j proposta se beneficie da coisa julgada coletiva (coletivos e
individuais), deve requerer a suspenso da sua ao individual em 30 dias a
contar da cincia da existncia da ao coletiva. No efetuado o
requerimento, a coisa julgada coletiva no beneficiar. Art. 104, do CDC. O
Cdigo, entretanto, para permitir o transporte in utilibus da coisa julgada
coletiva para as pretenses individuais, estabelece que a parte dever
requerer no prazo de 30 dias a suspenso da ao individual:
Art. 104 - As aes coletivas, previstas nos
incisos I e II do pargrafo nico do artigo 81, no
induzem litispendncia para as aes individuais,
mas os efeitos da coisa julgada erga omnes ou ultra
partes a que aludem os incisos II e III do artigo
anterior no beneficiaro os autores das aes
individuais, se no for requerida sua suspenso no
prazo de 30 (trinta) dias, a contar da cincia nos
autos do ajuizamento da ao coletiva.
Se eu estou com uma ao contra o Microvlar, vem uma ao coletiva
discutindo a mesma coisa para todo mundo, se eu quiser aproveitar o
transporte in utilibus, h uma condio: suspende a individual. Se no
suspender, a coisa julgada no beneficia. Faz sentido. Voc quer ao
coletiva? Ento, para com a sua individual.
3 Observao:
Acabou de surgir, na prtica, essa discusso,
que estava s na teoria. Voc acha que a suspenso da ao individual
uma faculdade ou obrigatria? Se o juiz est com uma individual e percebe
a coletiva, o que ele faz? A regra do art. 104, do CDC bastante clara no
sentido de que a suspenso da individual faculdade da parte, de modo que
ela pode optar por prosseguir na ao individual, entretanto, o STJ em
28/10/209, no REsp 1.110.549/RS, disse outra coisa.
STJ - REsp 1110549 / RS - SIDNEI BENETI - SEGUNDA
SEO - Julgamento 28/10/2009
1.- Ajuizada ao coletiva atinente a macro-lide
geradora de processos multitudinrios, suspendemse as aes individuais, no aguardo do julgamento
da ao coletiva.
2.- Entendimento que no nega vigncia aos aos
arts. 51, IV e 1, 103 e 104 do Cdigo de Defesa do
Consumidor; 122 e 166 do Cdigo Civil; e 2 e 6 do
Cdigo de Processo Civil, com os quais se
harmoniza,
atualizando-lhes
a
interpretao
extrada da potencialidade desses dispositivos legais
ante a diretriz legal resultante do disposto no art.
543-C do Cdigo de Processo Civil, com a redao
7 Observao:
J na coletiva para a tutela dos individuais
homogneos, a improcedncia por qualquer fundamento impede a
repropositura de outra ao coletiva. Aqui, mesmo que for por falta de
provas, no pode repropor. E no pode por opo poltica do legislador,
conforme eu j expliquei. Se perdeu a coletiva, s resta a propositura da
individual.
8 Observao:
H precedentes da Justia do Trabalho
indicando que as aes ajuizadas por sindicatos, julgadas improcedentes,
obstariam as pretenses individuais dos sindicalizados. Isso porque esse
precedente vai contra tudo o que eu falei at agora. A coisa julgada no caso
do sindicato no in utilibus, mas pro et contra (expresso contrria a in
utilibus). No CPC, no processo individual, a coisa julgada pro et contra. A
coisa julgada integra, se ganhar ou se perder. No processo coletivo que ela
in utilibus. E a ao coletiva do sindicato no in utilibus. pro et contra.
Tudo tem a ver com o final da aula passada. Lembra da adequada
representao? O sindicato tem uma representao muito melhor do que
qualquer outro legitimado coletivo, porque ele defende os interesses apenas
dos seus prprios filiados.
9 Observao:
Art. 103, 4, do CDC que indica a
possibilidade da utilizao da sentena penal condenatria nos mesmos
moldes da sentena coletiva. Permite o uso da sentena penal condenatria
nos mesmos moldes da coletiva. O art. 103, 4, do CDC, permite o transporte
in utilibus da sentena penal condenatria para o cvel. O cara foi condenado
por crime ambiental. Eu, pescador, que no consigo pescar porque os
peixinhos morreram, pego essa sentena penal condenatria e entro no cvel.
A sentena penal condenatria faz as mesmas vezes de uma sentena
coletiva que teria condenado o cara a reparar o meio ambiente. isso o que
o dispositivo diz:
4 - Aplica-se o disposto no pargrafo anterior
sentena penal condenatria.
A execuo dessa sentena penal condenatria s pode ocorrer
contra o condenado. No pode atingir terceiro. Se condenou o dono da
empresa por crime ambiental, voc s pode executar o dono da empresa,
voc no pode condenar a empresa. Se voc quiser pegar corresponsveis
civis, tem que entrar com ao prpria porque o ttulo penal executivo no
transborda os limites da pessoa do condenado. J a sentena absolutria no
crime, como regra, no impede nem a ao coletiva e nem a pretenso
individual. A no ser quando ficar pronunciada a existncia do fato ou da
autoria. Eu no falei falta de prova da autoria. Uma coisa voc dizer que
no h prova que a pessoa fez isso. Outra coisa declarar que a pessoa no
fez isso. H uma simbiose entre a jurisdio penal e a civil (individual e
coletiva).
10 Observao:
Hoje j se fala, no mbito do processo coletivo, em
relativizao da coisa julgada coletiva tambm. Aquela teoria da
relativizao da coisa julgada tem que ser aplicada ao processo coletivo.
Aplica-se aqui o regime da relativizao da coisa julgada. Essa expresso
horrorosa porque relativizar deixar mais ou menos. Na relativizao, voc
afasta a coisa julgada. Essa expresso implica em afastamento, excluso,
desconsiderao da coisa julgada. No relativizar. No processo coletivo, em
especial, a teoria da relativizao tem bastante importncia em razo nos
enormes avanos na rea de cincia e tecnologia. Queima de cana para
colher. Faz ou no faz mal ao meio ambiente? Eu julguei isso em 1998 e os
estudos diziam que no fazia mal. Hoje j h estudos cientficos mais evoludos
dizendo que faz mal. Ento, voc vai deixar o cara continuar queimando s
porque ele tem uma coisa julgada numa ao coletiva que diz que pode
queimar porque no faz mal? Reparem que no improcedncia por falta de
prova! Se eu tivesse julgado dizendo: no h prova que faz mal, o que
poderia ser feito? Repropor a todo momento porque a coisa julgada por falta
de prova secundum eventum probationis. Em 1998 eu disse que no faz mal,
h elementos que me dizem que no faz mal. Ser que em 2010 eu posso
rediscutir essa coisa julgada? Evidente que pode. O exemplo da cana-deacar emblemtico.
ltima Observao:Tudo o que eu falei sobre o regime da coisa julgada
no aplica para o mandado de segurana coletivo, que tem regime prprio,
que vamos estudar em momento prprio. Os arts. 21 e 22, da LMS trata
especificamente da coisa julgada no mandado de segurana.
Definitivamente o tema coisa julgada em processo coletivo o mais
difcil. E eu coloquei as principais discusses. Mas h muitas outras que
caberiam aqui.
7.
As partes so distintas
A causa de pedir pode ser idntica, mas nunca o pedido vai ser
Identidade total
Identidade parcial
Quem vai ser o felizardo que vai receber todas as aes? Temos trs
regras:
1 Regra:
Art. 106, do CPC Regra do despacho positivo. L
se estabelece que havendo juzes de mesma competncia territorial,
aquele que prevento para todas vai ser o primeiro que colocou o
cite-se.
2 Regra:
Art. 219, do CPC Estabelece que no a regra do
despacho, mas a da citao. Prevento o juzo em que houve a
primeira citao.
3 Regra:
Arts. 2, da LACP e 5, da LAP Estabelecem a regra
da propositura. A propositura se d com a distribuio da inicial.
Qual a regra que se aplica? a terceira, porque a regra do prprio
microssistema processual coletivo. Eu s aplicaria as demais, subsidiariamente,
se no houvesse regra especfica do microssistema. E toda doutrina vem nesse
sentido. O art. 5, da Lei de Ao Popular, inclusive, fala no juzo universal da
ao popular. Apesar disso, voc vai encontrar no STJ alguns precedentes
antigos mandando aplicar a regra do art. 106 e do 219, do CPC. No se
assustem se trombarem com algo desse gnero. Tem que aplicar a regra da
distribuio! No caso da Vale, o que recebeu a primeira inicial de ao
popular ser o juzo prevento. Todas as demais aes devero ser
encaminhadas para ele.
8.
Critrio Material
Critrio Valorativo
Critrio Territorial
o critrio que define o local, onde vamos ajuizar a ao. Esse critrio
vamos deixar para a prxima aula porque um pouco mais longo.
Novidades legislativas no tm a ver com processo coletivo, mas com
processo civil. Como so matrias que eu dei, tenho que avisar. Duas leis
alteraram o CPC:
1.
Lei 12.122/09 (de 15/12/09) Essa lei alterou o art. 275, do CPC,
que o que trata do procedimento sumrio. A gente adota dois critrios para
definir o cabimento do procedimento sumrio:
Valor Qualquer causa at 60 salrios-mnimos
Assunto Causa de pedir (a no tem teto. qualquer valor)
elencadas pelo inciso II.
A grande novidade que agora o art. 275 ganhou uma nova alnea:
g. Hoje causas que versem sobre revogao de doao, no importando o
valor, obedecero ao procedimento sumrio.
Art. 275 - Observar-se- o procedimento sumrio:
I - nas causas cujo valor no exceda a 60 (sessenta) vezes o valor do
salrio mnimo;
II - nas causas, qualquer que seja o valor:
a) de arrendamento rural e de parceria agrcola;
b) de cobrana ao condmino de quaisquer quantias devidas ao
condomnio;
c) de ressarcimento por danos em prdio urbano ou rstico;
Essa smula dizia que onde no tivesse justia federal, quem julgaria a
ao coletiva (para qualquer assunto) seria a justia estadual. Seria uma nova
hiptese de delegao de competncia da justia federal para a estadual,
como acontece no art. 109, 3, da CF (previdencirio). Esse dispositivo diz
que nas comarcas onde no haja justia federal, quem julga os processos
previdencirios o juiz estadual.
3 - Sero processadas e julgadas na justia estadual, no foro do
domiclio dos segurados ou beneficirios, as causas em que forem parte
instituio de previdncia social e segurado, sempre que a comarca no seja
sede de vara do juzo federal, e, se verificada essa condio, a lei poder
permitir que outras causas sejam tambm processadas e julgadas pela justia
estadual.
A Smula 183 falava algo parecido. Qual o raciocnio que se fazia:
como se trata da competncia do local do dano, quem tem que julgar o juiz
que est no local do dano. E se no tem justia federal, quem julga o juiz da
justia estadual, seguindo essa regra. Por que o STJ revogou essa smula,
declarando o seu cancelamento? Pelo seguinte: a definio sobre se da
federal ou estadual foi feita no momento anterior da anlise da competncia.
Para definir a justia, o critrio usado o material e no o territorial. O principal
fundamento do cancelamento foi o seguinte: ainda que no haja sede da
justia federal naquela cidade, algum juiz federal tem competncia sobre
aquele territrio. Exemplo: em Sumar (SP) no tem justia federal. Por isso um
juiz federal no poder apreciar nada que envolva Sumar? Isso errado. A
rea territorial da justia federal de Campinas abrange vrios municpios,
inclusive, Sumar. Ento, se tiver m dano ambiental em Sumar e a Unio tem
interesse porque o bem dela quem julga a justia federal que abarca o
territrio de Sumar: a de Campinas. Sempre haver um juiz federal com
competncia territorial sobre a cidade, ainda que a sede do juzo federal no
seja na cidade. Ento, muito cuidado com a Smula 183, do STJ. No existe no
Brasil mais nenhuma ao coletiva julgada por juiz estadual quando a
competncia da justia federal, ainda que no local do dano no tenha
justia federal.
A primeira posio vem agora e diz o seguinte: dano local, local do
dano.
Dano estadual Que o que o art. 93 do CDC chama de dano
regional, a competncia vai ser da capital do Estado. Se o dano em todo SP,
a competncia vai ser de SP. Se eu tenho um dano em MG todo, a
competncia vai ser de BH, porque pega a capital do estado. Foi opo
legislativa. O legislador achou que o juiz da capital tem melhores condies
de julgar esse processo. E, nesse caso, a deciso tem que valer para o Estado
inteiro porque o juiz competente para apreciar toda a extenso desse dano.
A terceira observao, sobre essa primeira posio que diz que para
todo interesse metaindividual se aplica o CDC sobre:
Dano nacional Ou seja, dano que pegue o Brasil inteiro, a
competncia vai ser do DF ou da capital de qualquer dos Estados envolvidos.
Aqui, entretanto, quanto a essa primeira posio (para todo e qualquer
interesse metaindividual se aplica o art. 93, do CDC e essas trs regrinhas),
existe uma derradeira crtica, que pode ser feita a essa posio a partir da
leitura do art. 93, do CDC. E a crtica a respeito do art. 93, do CDC a
seguinte: a lei usa expresses como dano regional, dano de mbito nacional e
dano de mbito local. O grande problema desse dispositivo que no define
o que um dano local, regional ou nacional. No h um critrio de definio
de dano. Como no h definio do que um dano local, regional e
nacional, surgem algumas situaes bizarras e que no d para indicar a
regra de competncia a ser aplicada.
Um dano abrangendo duas comarcas contguas regional ou local?
local? Qual das duas comarcas vai apreciar? Se o dano considerado
regional, vai para a capital. O que a capital do Estado tem a ver com um
dano que aconteceu a 300 km de distncia dela?
O dano pegou os estados de SP e MG. um dano regional ou
nacional? Se voc fala que dano estadual, a competncia da capital do
Estado. Qual? Mas se voc responde que nacional, a competncia do DF.
O que o DF tem a ver com isso se o dano s atingiu MG e SP?
Deu para perceber a falha do critrio do art. 93, quando ele no define
o critrio nacional, regional e local? Por isso, por essa falta de definio, a
crtica que feita.
Mas como resolver esse problema? A doutrina indica que para resolver
essa crtica, embora seja uma meia resoluo do problema (e eu estou aqui
hoje mais para apresentar o problema do que a soluo) voc usa as regras
de preveno. A doutrina tem indicado que tm que ser utilizadas as regras de
preveno. E isso significa que se Franca, Ribeiro Preto e Patrocnio Paulista
foram atingidos pelo dano, se a primeira ao caiu em Patrocnio, est
prevento. O juiz da comarca de Patrocnio vai apreciar todo o dano, inclusive
o que atingiu Franca e Ribeiro Preto. Se no caso de SP e BH uma ao foi
ajuizada primeiramente em BH, BH est prevento e a deciso ali proferida vai
valer tambm para o Estado de SP. Enfim, a nica maneira de solucionar,
ainda que precariamente, seria pela regra da preveno. E isso na primeira
posio.
Um ltimo alerta sobre a primeira posio: no estudo da competncia
voc aprende que a competncia pode ser absoluta (o juiz age de ofcio sob
pena de nulidade) ou relativa (o juiz age por provocao, sob pena de
Posio da doutrina
Posio da jurisprudncia
na
execuo
da
pretenso
coletiva,
teremos
Autor
Qualquer legitimado
Ministrio Pblico
essa sentena e, com base no comando dela (que o que diz que a pessoa
foi culpada pela poluio do meio ambiente) e transformar aquilo em um
valor para mim. Portanto, nesse caso, eu preciso proceder a uma liquidao
da sentena genrica. Eu tenho que proceder a uma prvia liquidao da
sentena genrica.
Essa liquidao que feita no processo coletivo um pouco diferente
das liquidaes do CPC. A liquidao de sentena serve para apurar o
quantum debeatur. Na sentena individual, eu s apuro o valor. Aqui muda.
Quando h uma liquidao de sentena genrica coletiva, ela serve para,
no s apurar o quantum, como tambm serve para apurar o an debeatur.
Como assim, an debeatur? O pescador vai ter que provar, antes de mais
nada, que pescador, que pesca naquele rio para, s depois, verificar o
quantum. Ento voc percebe que quando se trata de liquidao de
sentena genrica, uma liquidao um pouco diferente porque voc s
no prova o quantum, mas o an debeatur. Por isso, a gente poderia parar de
usar a expresso liquidao de sentena quando se tratar de processo
coletivo, para no confundir a liquidao aqui, com aquela liquidao do
CPC. Seria muito melhor usar que expresso aqui? Habilitao. Essa seria uma
expresso muito mais adequada para designar esse fenmeno que um
fenmeno distinto do fenmeno do processo individual. Se eu usar a
habilitao, eu resolvo esse problema e mostro, para quem est de fora, que
estou falando de um instituto que no apenas para discutir o quantum, mas
para discutir tambm o an debeatur.
Mas se voc no concorda e quer usar a palavra liquidao, pelo
menos faa como faz o Dinamarco. Ele fala que gosta da expresso
liquidao e vai continuar usando, mas para diferenciar, ele chama a
liquidao da sentena genrica de liquidao imprpria.
Destinatrios Liquidou, provou que pescador, provou que ficou sem
pescar um ms. Conseguiu apurar um valor de 50 mil reais (caro esse peixe!).
Quem vai receber essa grana? No o fundo porque o dano individual.
Quem recebe so as vtimas e sucessores.
Competncia Quem vai julgar esse processo em que o pescador,
pegando a sentena que condenou o ru a pagar 5 milhes ao meio
ambiente, vem justia e prova que sofreu dano? Pode ser: ou o juzo do
domiclio do lesado (art. 101, I, do CDC) ou o juzo da condenao (art. 98,
2, I, CDC):
Art. 101 - Na ao de responsabilidade civil do fornecedor de produtos
e servios, sem prejuzo do disposto nos Captulos I e II deste Ttulo, sero
observadas as seguintes normas: I - a ao pode ser proposta no domiclio do
autor;
b)
Isso aqui uma coisa que existe no Brasil e a previso para esse
monstrinho est no art. 100, do CDC. E isso ns herdamos do sistema
norteamericano. Isso tem um nome l e bom voc anotar porque eu j vi
vrias vezes em provas eles no se referirem a isso em Portugus. Chama-se
fluid recovery.
Voltando ao exemplo da Microvlar. Quando o juiz condenou a empresa
a indenizar todas as mulheres que tomaram a plula de farinha, ele o fez luz
de uma estimativa de que entre 1.000 e 1.500 mulheres foram atingidas pelo
evento (eu sei disso porque tive acesso aos autos). Passado 1 ano da data do
trnsito em julgado, ele descobre que apenas 50 mulheres se habilitaram,
liquidaram e executaram as pretenses individuais. Ou seja, quem sai no lucro?
A empresa, j que no vai ter que indenizar as outras 950 mulheres que no
apareceram ou no conseguiram provar que tomaram a plula de farinha, o
que algo difcil de provar. O art. 100, do CDC, diz o seguinte:
Art. 100 - Decorrido o prazo de 1 (um) ano sem habilitao de
interessados em nmero compatvel com a gravidade do dano, podero os
9.3.
de direitos difusos e coletivos. O projeto foi apresentado com base num outro
projeto feito pela Ada, Dinamarco e Kasuo Watanabi, os trs de SP. E esse
projeto apresentado pelo MP/SP, somado com o dos outros trs, acabou se
tornando a Lei de Ao Civil Pblica, que a Lei 7.347/85. Ento, a partir do
art. 14, 1, da Lei 6.983/81, foi elaborado um projeto para regulamentar esse
art. 14, 1 e esse projeto acabou se transformando na Lei de ACP.
Depois de 1985 houve um grande reforo da Lei 7.347/85 por um motivo
simples: a Constituio Federal de 1988 estabeleceu no art. 129, III, uma ao
a ser ajuizada pelo MP, entre outros, chamada de Ao Civil Pblica. O art.
129, III, da CF, consolidou no sistema brasileiro a ao civil pblica, ao
estabelecer que compete ao MP instaurar e presidir o inqurito civil e instaurar
a Ao Civil Pblica. Esse o modelo legal da ao civil pblica: origem (Lei
6.938/91), regulamento (Lei 7.347/85) e reforo (CF/88).
As aulas mais importantes que tivemos sobre processo coletivo foi a
primeira e esta, at a metade. Porque tudo o que falei at ento, se aplica
aqui. Se te perguntarem: o que regulamenta a ACP? o microssistema. No
pode esquecer. E o microssistema o CDC, Lei de ACP e tudo o mais que
trata do tema. Eu s no estou falando aqui de microssistema e de CDC
porque j falei e bom deixar isso claro. Microssistema cuida de tudo o que
processo coletivo.
Apesar dos 24 anos da Lei de Ao Civil Pblica, a ao civil pblica
no contou com muitas smulas dos tribunais superiores. H hoje, em vigor,
sobre ao civil pblica, duas smulas: 643, do STF que j vimos quando eu
expliquei a diferena entre difusos, coletivos e individuais homogneos e a
Smula 329, do STJ:
STF Smula n 643 - DJ de 13/10/2003 - O Ministrio Pblico tem
legitimidade para promover ao civil pblica cujo fundamento seja a
ilegalidade de reajuste de mensalidades escolares.
STJ Smula n 329 DJ 10.08.2006 - O Ministrio Pblico tem legitimidade
para propor ao civil pblica em defesa do patrimnio pblico.
E isso uma coisa bvia, evidente, mas foi preciso editar essa smula
porque tinha gente falando que o MP podia defender tudo, menos o
patrimnio pblico. Quem tinha que defender o patrimnio pblico seria a
prpria parte prejudicada. Ento, roubaram a prefeitura? Quem defende a
prefeitura a prefeitura e no o MP. E isso no tem p nem cabea porque
voc institucionaliza a robalheira.
Tinha aquela smula que a gente viu na primeira parte da aula, a
Smula 183, s que essa foi cancelada. Portanto, s h essas duas smulas.
2.
Meio ambiente
Consumidor
Bem de valor histrico e cultural
Qualquer outro direito metaindividual
Ordem econmica
Ordem urbanstica
2.1.
Tutela preventiva
Tutela ressarcitria (ou reparatria)
Meio ambiente
A Cespe pede prova sim, prova tambm, essa questo. Ento, vamos
esclarec-la. A grande discusso aqui no a definio sobre o que bem
de valor histrico e cultural. Isso j est integrado nossa cultura como um
todo. A discusso aqui sobre o tombamento. a nica discusso que vou
travar.
3 Observao:
Ao Civil Pblica.
Ministrio Pblico
1 Corrente: Diz que o MP atua em qualquer justia. Isso quer dizer que
o MP/SP pode ajuizar ACP junto justia de MG e por a vai. A atuao seria
livre. essa a recomendao. No haveria vinculao. O MP estadual poderia
entrar na justia federal e vice-versa. Sabe por que razovel esse
entendimento? Porque voc potencializa, maximiza, expande o objeto do
processo coletivo. Quem adota isso o Fredie Didier. Um dano ao ambiente
no Amazonas repercute aqui embaixo. importante voc saber isso.
2 Corrente: Tem um precedente do STJ (no d para dizer que
posio do STJ), que o RE 440002/SE: o MP federal acaba fazendo as vezes
do rgo federal, seria similar ao rgo federal. E toda vez que o MPF atua,
atrairia a competncia para a justia federal. No importa o objeto. Se o MPF
entra para discutir a publicidade da garapa, justia federal, mesmo que o
assunto no tenha relao com a justia federal. Ento, existe esse nico
precedente do STJ dizendo que o MPF litigaria na justia federal. Essa posio
no boa porque voc poda, principalmente, o MP estadual, que ficaria a
depender do federal.
b)
c)
d)
Associaes (inciso V)
Art. 5 da Lei de Ao Civil Publica Tm
legitimidade para propor a ao principal e a ao
cautelar: (Redao dada pela Lei n 11.448, de
2007).
V - a associao que, concomitantemente:
(Includo pela Lei n 11.448, de 2007).
a) esteja constituda h pelo menos 1 (um)
ano nos termos da lei civil; (Includo pela Lei n
11.448, de 2007).
b) inclua, entre suas finalidades institucionais,
a proteo ao meio ambiente, ao consumidor,
ordem econmica, livre concorrncia ou ao
Uma ltima observao sobre o art. 2.-A, nico, da Lei 9.494/97, que
uma aberrao e vai dizer o seguinte:
Art. 2o-A. A sentena civil prolatada em
ao de carter coletivo proposta por entidade
associativa, na defesa dos interesses e direitos dos
seus associados, abranger apenas os substitudos
que tenham, na data da propositura da ao,
domiclio no mbito da competncia territorial do
rgo prolator. (Includo pela Medida provisria n
2.180-35, de 2001)
Pargrafo nico. Nas aes coletivas
propostas contra a Unio, os Estados, o Distrito
Federal, os Municpios e suas autarquias e
fundaes,
a
petio
inicial
dever
obrigatoriamente estar instruda com a ata da
assemblia da entidade associativa que a
autorizou, acompanhada da relao nominal dos
seus associados e indicao dos respectivos
endereos. (Includo pela Medida provisria n
2.180-35, de 2001)
Est dizendo basicamente o seguinte: quando se tratar de ao para
a tutela dos individuais homogneos, ajuizada por associao contra o poder
pblico, a inicial tem que estar acompanhada de autorizao assemblear e
lista com nome e endereo dos que sero beneficiados.
A finalidade desse dispositivo inviabilizar o ajuizamento dessas aes.
Como possvel fazer uma assembleia para pedir autorizao para entrar
com uma ao pela tutela de individuais homogneos? E olha, s para os
individuais homogneos. Para os difusos, isso no precisa. Quando a
associao for muito grande, voc no consegue isso nunca! Imagine, 5 mil
membros! Como reunir toda essa gente para saber se pode ou no pode
entrar com uma ao na defesa dos interesses individuais homogneos dos
associados?
O art. 2-A objeto de intensa controvrsia na doutrina. A doutrina
critica veementemente esse dispositivo por uma razo s: quando eu dei
autorizao para a entidade defender meu interesse? Em que momento eu
falei: pode entrar com a ao? No momento em que eu me associei. A
minha autorizao est dada no momento que eu entro na associao, que
conheo suas finalidades institucionais. E a partir daquele momento, ela pode
propor ao no meu interesse. E o art. 2-A nada mais faz do que desvirtuar o
objetivo do direito de se associar que, nada mais do que a autorizao que
voc d para a associao representar os seus interesses.
Se voc for prestar concurso para AGU, procuradorias, diga que esse
dispositivo o melhor do mundo, mas ns temos no Brasil um precedente do
STJ que o REsp 805277/RS, que entendeu pela inaplicabilidade desse
dispositivo. Foi um belo voto relatado pela Ministra Nancy Andrighi, que disse
que esse dispositivo contraria o prprio fim associativo.
REsp 805277 / RS - Ministra NANCY ANDRIGHI (1118) TERCEIRA TURMA - Julgamento - DJe 08/10/2008
- A ao coletiva o instrumento adequado para a
defesa dos interesses individuais homogneos dos
consumidores. Precedentes.
- Independentemente de autorizao especial ou
da apresentao de relao nominal de
associados, as associaes civis, constitudas h
pelo menos um ano e que incluam entre seus fins
institucionais a defesa dos interesses e direitos
protegidos pelo CDC, gozam de legitimidade ativa
para a propositura de ao coletiva.
- regular a devoluo do prazo quando, cessado
o impedimento, a parte prejudicada demonstra a
existncia de justa causa no qinqdio e, no prazo
legal, interpe o Recurso. Na ausncia de fixao
judicial sobre a restituio do prazo, aplicvel o
disposto no art. 185 do CPC.
- A prerrogativa assegurada ao Ministrio Pblico de
ter vista dos autos exige que lhe seja assegurada a
possibilidade de compulsar o feito durante o prazo
que a lei lhe concede, para que possa, assim,
exercer o contraditrio, a ampla defesa, seu papel
de 'custos legis' e, em ltima anlise, a prpria
pretenso recursal. A remessa dos autos primeira
instncia, durante o prazo assegurado ao MP para a
interposio do Especial, frustra tal prerrogativa e,
nesse sentido, deve ser considerada justa causa
para a devoluo do prazo.
Recurso Especial Provido.
3.2.
Legitimidade passiva
J vimos quem vai ser autor, agora falta ver quem vai ser ru na ACP,
quem vai ser demandado na ACP e na lei de ACP no h previso legal
quanto ao legitimado passivo para a propositura da ACP, o que leva a
doutrina a abraar duas posies:
INQURITO CIVIL
4.1.
Generalidades
1 Observao:
O inqurito civil tem previso nos arts. 8, 1 e 9,
da Lei de Ao Civil Pblica, e tambm na Constituio Federal no art. 129, III
(se quiserem acabar com ele, vai ter que ser por emenda constitucional). E
cada MP estadual tem uma lei orgnica que disciplina o inqurito civil, cada
uma dizendo uma coisa. Para resolver o problema, o Conselho Nacional do
Ministrio Pblico, influenciado negativamente pelo CNJ, editou uma
resoluo, a Resoluo 23, de 17/09/2007. Essa resoluo quer padronizar os
procedimentos do inqurito civil nos mbitos estadual e federal.
c)
O inqurito civil no obrigatrio Se o promotor estiver
convencido de que houve o dano, pode entrar diretamente com
a ACP.
d)
O inqurito civil pblico Qualquer pessoa pode ter
acesso, cabendo, inclusive MS para ter acesso aos autos.
possvel, excepcionalmente, a decretao dos sigilos das
investigaes, por analogia ao art. 20, do CPP.
e)
procedimento inquisitivo Isso significa que sem
contraditrio. A finalidade aqui formao do convencimento.
O momento da discusso ocorrer, se for ajuizada, na ao civil
pblica. A professora Ada entende que tem que ter contraditrio
porque se trata de procedimento administrativo acusatrio, mas
posio isolada.
f)
instrumento privativo e exclusivo do MP Muitos querem,
mas s o MP tem. Se no tem como investigar, no prope ao
coletiva. A defensoria pblica no pode instaurar inqurito civil.
Na nova Lei de Ao Civil Pblica, uma das maiores pblicas foi
no sentido de que daria ou no inqurito civil para a defensoria
pblica. E a maioria, por uma mnima vantagem de votos,
entendeu que no. Sabe por qu? Porque isso desvirtuaria a
funo tpica da defensoria.
4.3.
a)
Instaurao
Poderes instrutrios do MP
1 Corrente (Nri, Hugo Nigro Mazzilli) A lei que trata do sigilo a Lei
Complementar 105/01, que probe. J a lei que permite a quebra do sigilo de
documentos pelo MP a LOMP (Lei 8.625/93). O que esses doutrinadores
dizem para sustentar que pode requisitar direto? Ou seja, que o promotor
pode decretar quebra de sigilo fiscal e bancrio independentemente de
autorizao judicial? O que eles alegam para poder sustentar isso? Alegam
que esses dois sigilos decorrem da lei ou decorrem da Constituio Federal?
Decorrem da lei. O MP pode requisitar documentos, salvo os resguardados por
sigilo constitucional. Nesse caso, o sigilo no constitucional, mas legal. No
modo de entender deles, o MP pode requisitar documentos fiscais e bancrios
porque o sigilo no constitucional, mas infraconstitucional, de modo que
prevaleceria a LOMP, sobre a LC 105/01. Esse entendimento foi amparado
pelo STF no passado, no MS 121729. No julgamento desse MS, o Supremo
entendeu que o MP pode requisitar diretamente os dados sob esse
fundamento, de que os dados no decorrem de sigilo constitucional, mas
legal. Ento, a LOMP poderia excepcionar LC 105/01
2 Corrente A LC 105, na verdade, simplesmente disciplina a garantia
intimidade, de modo que os sigilos fiscais e bancrios tm status constitucional.
A LC s disciplina, s explicita, mas a garantia no decorre da LC 105, mas
decorre de um direito intimidade que previsto no art. 5. da Constituio
Federal. Ora, se o direito intimidade previsto no art. 5 da CF, e os sigilos
fiscal e bancrio, por serem integrantes dele, tm status constitucional. Por isso,
de acordo com os adeptos dessa teoria, o MP no teria poder de quebrar o
sigilo fiscal e bancrio, uma vez que eles teriam status constitucional. Esse
entendimento tambm foi adotado pelo STF, no julgamento do RMS 8716/GO.
Nesse julgamento, o STF entendeu que o sigilo fiscal e bancrio decorrem do
direito constitucional intimidade e que, portanto, o MP no poderia
determinar a sua quebra sem autorizao judicial.
Essas posies so diametralmente opostas. H julgados do STF para os
dois lados. Na prtica, os promotores no querem correr o risco de ver todas
as investigaes deles indo por gua abaixo porque temem que no futuro se
decida que no poderiam ter requisitado a prova diretamente. Ento, eles
acabam pedindo a autorizao para no ter que enfrentar essa polmica. Na
minha opinio, acho que pode.
Para encerrar o poder de requisio, eu queria chamar ateno para o
que diz o art. 10, da Lei de ACP, que tipifica um crime para os que no
apresentam os documentos requisitados pelo MP:
Art. 10. Constitui crime, punido com pena de
recluso de 1 (um) a 3 (trs) anos, mais multa de 10
(dez) a 1.000 (mil) Obrigaes Reajustveis do
Tesouro Nacional - ORTN, a recusa, o retardamento
ou a omisso de dados tcnicos indispensveis
Concluso
Homologa o arquivamento.
Natureza do TAC
Legitimao
Fiscalizao do cumprimento
Quem fiscaliza quem firmou. O rgo que celebrou o TAC quem faz
a fiscalizao. Mas e se quem firmou o TAC foi uma prefeitura comprometida
com os interesses do madeireiro? Ento, a fiscalizao de quem celebrou,
no entanto, a m celebrao ou m fiscalizao gera improbidade
administrativa do celebrante, sem prejuzo de uma outra ACP para reparao
do dano causado.
O cara desmatou 5000 rvores o prefeito fez o TAC mandando plantar
500. Ele vai responder por improbidade administrativa e qualquer outro
legitimado vai entrar com uma ACP contra o prefeito e o cara que desmatou,
para obrigar a plantar as 4500 rvores faltantes. assim que funciona.
5.4.
Eficcia
5.5.
Celebrao no bojo do IC
Compromisso preliminar
Eu tenho algumas questes processuais finais sobre ACP para voc ficar
esperto, em especial, em prova de marcar.
6.1.
Eu queria que voc ficasse atento ao art. 14, da Lei de ACP, at porque
tem um projeto de lei que quer transformar todas as apelaes igual ao 14:
Art. 14. O juiz poder conferir efeito suspensivo
aos recursos, para evitar dano irreparvel parte.
No mbito da ACP, a regra do efeito suspensivo da apelao
diferente da regra do CPC. O art. 520, do CPC diz que a apelao tem, como
regra, efeito devolutivo e suspensivo. Na ACP, quem decide se d ou no
efeito suspensivo no a lei, mas o juiz. E isso fundamental. Cuidado! Na
ACP, a apelao fica dependendo de efeito suspensivo a ser ou no
concedido pelo magistrado.
6.4.
Reexame necessrio
1.
OBJETO DA AO POPULAR
Patrimnio Pblico
Moralidade administrativa
Meio ambiente
Patrimnio histrico e cultural
2 Em se tratando de instituies ou
fundaes, para cuja criao ou custeio o tesouro
pblico concorra com menos de cinqenta por
cento do patrimnio ou da receita nua, bem
como
de
pessoas
jurdicas
ou
entidades
subvencionadas, as conseqncias patrimoniais da
invalidez dos atos lesivos tero por limite a
repercusso deles sobre a contribuio dos cofres
pblicos.
Quer dizer, o cara que tem uma creche que recebe dinheiro pblico, se
quiser pegar o dinheiro da creche, que no pblico, e rasgar, ele arca com
as consequncias, mas isso no me interessa para fins de ao popular. O que
me interessa para onde vai o emprego da verba pblica. Por isso, quando
eu ditei: pessoa jurdica de direito pblico ou entidade subvencionada na
proporo do dinheiro pblico que existir. Ento, h que se fazer uma anlise
casustica para saber o que vai ser atacado, conforme a quantidade de
dinheiro pblico aplicado.
3 Observao:
Moralidade administrativa o segundo objeto de
proteo da ao popular. E o que moralidade administrativa? Esse um
conceito jurdico indeterminado clssico, j que no h como dar um
conceito preciso sobre o que seja moralidade administrativa. A doutrina se
esfora para definir, mas continua sendo um conceito to abstrato quanto a
prpria expresso moralidade administrativa.
Moralidade administrativa so os padres ticos e de boa-f no trato
com a coisa pblica.
Continua um conceito bem aberto, j que falo em boa-f algo que
no d para definir direito. A moralidade administrativa evoluiu muito, j que
antes era aceitvel que se utilizasse a coisa pblica em benefcio prprio.
Voc podia usar o carro do rgo para assuntos particulares. Hoje, no. Voc
tem seu carro, que usa para ir trabalhar e o carro do governo para as coisas
do trabalho.
Um timo exemplo de regra que impe a observncia da moralidade
administrativa a regra do art. 37, 1, da CF, que aquele que probe a
propaganda pessoal em bens pblicos. S possvel propaganda institucional.
1 - A publicidade dos atos, programas,
obras, servios e campanhas dos rgos pblicos
dever ter carter educativo, informativo ou de
orientao social, dela no podendo constar
nomes, smbolos ou imagens que caracterizem
CABIMENTO
3.2.
LEGITIMIDADE
4.1.
Legitimidade ativa
Por que elas podem escolher o polo? Porque o maior prejuzo sofrido
por elas. Elas foram as vtimas. por isso que o art. 6, 3, diz o seguinte:
3 A pessoas jurdica de direito pblico ou de
direito privado, cujo ato seja objeto de
impugnao, poder abster-se de contestar o
pedido, ou poder atuar ao lado do autor, desde
que isso se afigure til ao interesse pblico, a juzo do
respectivo representante legal ou dirigente.
Ah, Gajardoni, mas esse artigo no tem a regra de que ela pode
escolher o polo passivo. Sabe porque no tem a regra? Porque ela j est no
polo passivo. Elas so rs no processo, so litisconsortes necessrias passivas.
Por isso, a pessoa prejudicada, seja no direito pblico, seja no direito privado
(que recebeu verba pblica, dinheiro pblico), pode escolher o polo.
4.3.
Prescrio Art. 21
Art. 21. A ao prevista nesta lei prescreve
em 5 (cinco) anos.
Objeto da prescrio
o juiz entender que o cara no roubou, pode entender que ele violou
princpios da Administrao. Se o juiz entender que ele no causou prejuzo,
pode entender que ele violou princpios da Administrao. Ento, fica esperto,
porque o art. 11 um tipo subsidirio.
3.
Legitimidade ativa
Sanes Art. 12
Prescrio Art. 23
Art. 23. As aes destinadas a levar a efeitos
as sanes previstas nesta lei podem ser propostas:
I - at cinco anos aps o trmino do exerccio
de mandato, de cargo em comisso ou de funo
de confiana;
II - dentro do prazo prescricional previsto em
lei especfica para faltas disciplinares punveis com
demisso a bem do servio pblico, nos casos de
exerccio de cargo efetivo ou emprego.
Procedimento da AIA
CONCEITO
Sindicato
Entidade de classe
Associaes,
o Desde que constitudos e em funcionamento h pelo
menos um ano.
120 dias o que acaba no dando tempo. Ento, o objetivo do legislador foi
fazer com que desacolhido o MS coletivo, a parte no mais possa impetrar MS
individual em virtude da ocorrncia da decadncia do prazo para a
impetrao.
6.
LIMINAR
O art. 22, 2, da Lei do MS repete algo que voc viu comigo ontem,
ele repete a redao do art. 2., da Lei 8.437/92, ou seja, vedam a concesso
de liminar inaudita altera pars contra o Poder Pblico:
2 No mandado de segurana coletivo, a
liminar s poder ser concedida aps a audincia
do representante judicial da pessoa jurdica de
direito pblico, que dever se pronunciar no prazo
de 72 (setenta e duas) horas.
Ento, tanto na ACP, quanto no MS coletivo, o juiz s pode conceder a
liminar aps a prvia oitiva do representante judicial (procurador do estado,
do municpio, federal), no prazo de 72 horas. Fica esperto porque todas as
consideraes que eu fiz na aula de ontem sobre essa impossibilidade de
liminar inaudita altera pars acabam sendo aplicadas aqui.
PARA FINALIZAR - Tudo o mais sobre MS coletivo segue a regra do MS
individual. Tem decadncia, requisitos da petio inicial, competncia, tudo
igual porque o MS coletivo nada mais do que o MS individual com variao
na legitimidade e no objeto. O resto absolutamente tudo igual.