Livro Hadji Avaliacao Regras Do Jogo Hadji PDF
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REGRAS
DO JOGO
PORTO EDITORFI
-
REGRAS
DO JOGO
DAS IIVTEIVOES
AOS INSTRUMENTOS
CHARLES HADJI
C O L E C O CINCIAS
DA EDUCAO
Orientada por
A AVALIAAO,
REGRAS
DO JOGO
S INSTRUMENTOS
"bb,
de Philippe Meirieu
--
ISBN 9 7 2 - 0 - 3 4 1 1 5 - 7
Um grande OBRIGADO
- a todos os que, citados ao longo do texto, foram os actores de um dilogo que a
razo de ser desta obra:
-aos membros do Groupe Ressource valuation de 1'Acadmie de Grenoble, cuja
crena na instaurao de uma avaliao "facilitadora", posta ao servio do desenvolvimento dos alunos, ter sido o motor do trabalho de formao realizado durante
quatro anos, trabalho esse que continua, sempre;
- a Jean Berbaum, que soube acompanhar com competncia o trabalho efectuado por
este grupo;
- a Guy Avanzini, pela sua presena calorosa e pela sua ateno exigente;
- a Philippe Meirieu, pela sua paixo pelo trabalho pedaggico e pela confiana
demonstrada em todos os momentos.
Grenoble. 16 de Abril de 1989
. . . . . . . .... . . . .
13
17
INTRODUO
" E R e os correctores ........................................................................
19
27
44
........................... 60
.........................
83
87
Primeiro momento
Saber assinalar e desmontar as ciladas a que nos expomos consoante a nossa
"filosofia" ......................................................................................................
93
95
109
131
Segundo momento
Saber construir dispositivos pertinentes e utilizar instrumentos adequados ...... 145
Para construir dispositivos pertinentes ............................................................ 147
Para escolher e utilizar instrumentos adaptados ...........................................
161
CONCLUSO GERAL
Em resposta a algumas questes ...........................................................................
177
GLOSSRIO
Com uso de ndice ...............................................................................................
185
Quadro 2
Funes da avaliao, segundo o seu papel na sequncia da aco de
formao ....................................................................................................
Quadro 3
Quadro geral das funes da avaliao dos aprendentes ...........................
Quadro 4
Espaos de escolha e espaos de jogo: o exemplo da avaliao escolar ........
Quadro 5
As filosofias da avaliao
...........................................................................
Quadro 6
A avaliao "plural" em todos os seus espaos
.........................................
Quadro 7
As dificuldades da classificao .................................................................
Quadro 8
Funes e estratgias da avaliao no ensino
............................................
...............................................
Figura 2
A dupla articulao na operao de avaliao
...........................................
Figura 3
A avaliao entre a anlise e a tomada de deciso
.....................................
Figura 4
A articulao aco-avaliao ....................................................................
Figura 5
O questionamento sobre a avaliao das aces de formao
...................
Figura 6
Os objectos possveis dos objectivos pedaggicos
....................................
Figura 7
Pedagogia por objectivos e avaliao formadora .......................................
Figura 8
A actividade didctica ................................................................................
Figura 9
A articulao formao-avaliao ..............................................................
Figura 10
Um dispositivo de avaliao de um estgio numa escola
..........................
Figura 11
A dinmica (ou "dramtica") da aprendizagem
.........................................
Evitemos, em primeiro lugar, qualquer mal-entendido: a despeito do que julgam ainda certos pais ansiosos e alguns tecnocratas atrasados, a obsesso do termmetro nunca fez baixar a
temperatura. Isto para no gerar iluses nem dar ensejo aos crt i c o ~A. avaliao no tudo; no deve ser o Todo, nem na
escola, nem fora dela; e se o frenesim avaliativo se apoderar dos
espritos, absorver e destruir as prticas, paralisar a imaginao, desencorajar o desejo da descoberta, ento a patologia
espreita-nos e a falta de perspectivas tambm.
Mas, se a avaliao no tudo, ela tambm no o nada. at
uma coisa demasiado importante para a entregar aos avaliadores.
Porque - e este o primeiro mrito do livro de Charles Hadji ao
demonstr-lo - nunca se inocente ao avaliar: quer o confessemos
ou no, a a~alia~o~remete
sempre para um referente. "Avaliar
no pesar um objecto que se teria podido isolar no prato de uma
balana; apreciar um objecto em relao a outra coisa para alm
dele", diz Charles Hadji. Quem quer que seja que avalie revela o
seu projecto ... ou o que llie impuseram os seus preconceitos, as
suas preocupaes, a sua instituio. Ao avaliar o que vejo, digo o
que procuro e, se no estiver c o n s c i e n t ~ i ono
, posso pretender
a -que antigaser aquilo a que hoje se chama um "actor social" e .mente se chamava um "homem livre".
PREFCIO
segunda edio
Imagino que um autor se alegra sempre com a audincia do
seu trabalho, e que procura compreender o que que pode dar
a conhecer. certo que o eco encontrado por uma obra dedicada a avaliao est, em primeiro lugar, relacionado com o
prprio tema. Com o desenvolvimento das preocupaes actuais
sobre a qualidade do ensino, a avaliao objecto de um interesse cada vez mais vivo1*. Contudo, no mbito do tema, o
importante fazer ouvir alguma msica original. Parece-me que
a originalidade do presente trabalho tem a ver com a sua recusa
em desenvolver um pensamento original, e com a sua vontade
de ir ao essencial, ao colocar a questo: "A que que se joga
quando se pretende avaliar?". A aposta em que assenta esta
obra a da necessria lucidez. A primeira e mais til tarefa a
de saber o que se quer fazer, para inventar tcnicas e construir
instrumentos que sejam pertinentes em relao as intenes.
Mas se, linearmente, a anlise vai das intenes aos instrumentos, o que impe o plano que foi aqui seguido, para quem se
preocupa com a prtica, a primeira urgncia , no entanto, a do
':fazer".E no momento da aplicao dos instrumentos que se
pem as questes relativas ao sentido do trabalho que se ,faz.
' Pode-se avaliar particularmente esse interesse pelo sucesso da obra L'valuation en questions, publicada nesta
mesma coleco sob a direco de Charles Delorme. e que constitui uma excelente leitura "plur;il" d a i prticas e
dos problenias.
* Em relao a coleco referida na nota anterior, trata-se da coleco francesa, onde est publicado o original deste
livro de Charles Hadji que agora se traduz (N.T.).
INTRODUAO
"ER" e os correctores
PARA COMEAR UMA BELA HISTRIA
destino para um mau. Com efeito, os que vinham do cu, onde tinham vivido de uma
maneira virtuosa, no demoravam, por "hbito", a examinar "com vagar" as vidas para
que se precipitavam sem desconfiana. Para no se deixarem deslumbrar pelas riquezas,
ou levar pela avidez, ou, por outras palavras, para ultrapassarem o risco capital da escolha, tinham de pr em prtica as duas qualidades que tomam afinal a alma virtuosa: a
Sabedoria que conduz, como soube faz-lo a alma de Ulisses, a no se precipitar, a "andar
muito tempo volta", a s escolher depois de exame aprofundado e do conhecimento
"filosfico" da virtude. Diremos que preciso possuir um referente operatrio (a ideia da
justia, cujo conhecimento toma a virtude verdadeira) e p-lo em prtica sem precipitaes (aplicarmo-nos a "examinar profundamente" e a "calcular" o efeito dos acontecimentos "sobre a virtude de uma vida"). Plato no nos diz assim, de uma forma simples,
que o nosso destino depende de uma escolha inicial que pe em jogo uma operao de
avaliao que , ao mesmo tempo, fundamental e arriscada? A vida de cada um dependeria ento do seu talento de avaliador nesse momento decisivo em que o prprio Deus se
pe margem. "A responsabilidade pertence quele que escolhe. Deus no de modo
nenhum resp~nsvel."~
.-
Quando que se pode falar, adequadamente, de uma avaliao? Qual o sentido preciso deste conceito? Quais so as condies de um uso pertinente do termo? Por outras
palavras: quais so as caractersticas especficas de um juzo de avaliao?
possvel, e da maneira mais coerente, das intenes aos instrumentos. Porque, se classificar
um exerccio fundamentalmente um acto de avaliao, este acto tem bastantes pontos
em comum com o trabalho das "almas" que escolhem o seu modelo de vida para que a
reflexo sobre um se tome til para a compreenso do outro, e permita compreend-lo
melhor na sua particularidade.
r-
CONCEBER
A
AVALIAAO
A questo da avaliao:
a unidade de um modo de juzo
I
I
ue significa exactamente avaliar? Poder-se- pensar que uma pergunta desta natureza
bastante ingnua. Como toda e qualquer questo de sentido, a questo do sentido
do termo arrisca-se mesmo a nunca ter uma resposta acabada. Ainda por cima porque,
como veremos, se est sempre a avaliar, e se avaliar significa interpretar, nunca se chega a
conseguir dizer em que que consiste a avaliao, a qual nunca se poder limitar, obviamente, a uma definio "exacta". No entanto, preciso tentar esclarecer do que se fala, e
tentar, no delimitar as prticas na rigidez de um discurso que permita traar uma fronteira segura entre o que a avaliao e aquilo que ela no , mas, pelo menos, exprimir o
que estas prticas tm em comum e o que justifica tambm o emprego de um mesmo
termo para as designar. Porque a primeira dificuldade, quando se trata de avaliao,
sobretudo entendermo-nos sobre uma acepo.
Partamos da prtica, e consideremos a diversidade de frmulas propostas por um grupo
de professores a quem tinha sido pedido que respondessem por escrito, e numa frase,
pergunta: "O que avaliar?". Diversidade dos verbos, designando o acto do avaliador.
Avaliar pode significar, entre outras coisas: verificar, julgar, estimar, situar, representar;
determinar, dar um conselho...
Verificar o que foi aprendido, compreendido, retido. Verificar as aquisies no quadro
de-urna progresso.
Julgar um trabalho em funo das instrues dadas; julgar o nvel de um.aluno em
relao ao resto da aula; julgar segundo normas preestabelecidas.
--- -- .- -
Esta ltima acepo d testemunho, de uma certa maneira, da dificuldade que est no
centro da noo de avaliao. Como se pode julgar o valor de um trabalho, e, ainda mais,
o de um indivduo? O termo valor particularmente ambguo. Trata-se de determinar um
preo ou um valor comercial? qualquer coisa como isto que est em jogo na avaliao
do valor profissional. "Quanto que este (esta pessoa) vale?", perguntar-se- hoje sem
problemas. Tratar-se- de apreciar a eficcia de um conjunto de actos ou de um dispositivo? Quais so os critrios que permitem "medir" esta eficcia?
1!
-'I
1
29
)I
entre o que existe e o que era esperado. Por exemplo: o aluno tal como ele ,
atravs da sua produo (um exerccio), e o aluno ideal que domina os saberes e o
saber-fazer;
-relao entre um dado comportamento e um comportamento-alvo: um desempenho
real e um desempenho visado;
-relao, por fim, entre uma realidade e um modelo ideal. Esta relao efectua-se
atravs de um discurso no qual o sujeito que o produz se considera qualificado
para "se pronunciar sobre", graas ao seu domnio de normas para julgar que deve
possuir, ou que, pelo menos, tem o direito de exibir.
- relao
- pontualidade e assiduidade;
- actividade e eficincia;
- autoridade e prestgio.
Para o director da escola que emite o juzo, estas rubricas funcionam como uma grelha
de leitura da realidade observvel (o professor X) e traam, com efeito, um verdadeiro
retrato-rob do bom professor, ou, pelo menos, daquele que considerado como tal pela
administrao central. A assiduidade, a pontualidade, etc., so as principais caractersticas
do bom professor, as que servem de critrios de apreciao. Para avaliar, o director incitado a confrontar cada professor concreto que ser analisado, atravs de alguns signos
procurados em relao a cada critrio, com esse retrato-rob. Por exemplo, para apreciar a
assiduidade, perguntar-se- se o professor chega atrasado com frequncia, se tem faltas
no justificadas, etc. Apreciar-se- a actividade do sujeito em questo pela eventual produo de documentos didcticos, a eficcia pelo sucesso dos seus alunos no exame, o
prestgio pela existncia de publicaes ... Estes aspectos do comportamento do professor
real servem de indicadores e so um testemunho da presena das caractersticas procuradas. Assim, o acto de avaliao um acto de "leitura" de uma realidade observvel, que
aqui se realiza com uma grelha predeterminada, e leva a procurar, no seio dessa realidade, os sinais que do o testemunho da presena dos traos desejados. A nota proposta
no faz mais do que exprimir o grau de adequao que foi estabelecido entre o professor
concreto e o modelo ideal previamente desenhado (fig. 1: A avaliao administrativa dos
professores).
Este exemplo parece confirmar a nossa hiptese e permite-nos precisar o funcionamento concreto de um acto de avaliao. Propomo-nos, a partir daqui, em denominar avaliao o acto pelo qual se formula um juzo de "valor" incidindo num objecto determinado (indii~duo,situao, aco, projecto, etc.) por meio de um confronto entre duas
sries de dados que so postos em relao:
"
incipais caractersticas ou
critrios
do bom professor
Pontualidade -Assiduidade...
Actividade - Eficcia...
Autoridade - Prestgio....
mbito do referente
'8
Professor real
Aspectos do comportamento do
professor real ou indicadores
que do conta das
caractersticas procuradas
Atrasos? Faltas no jjustificadas?
Produo de documentos didcticos?
Sucesso dos alunos?
Publicaes
Participao em "colquios"
Influncia nos colegas
INDIV~DUOCONCPRETO
- 8
3%
"-3
CAPTADO ATRAVS DE
ALGUNS SINAIS
mbito do referido
O processo de avaliao assim definido caracterizado por uma dupla articulao (fig. 2):
- articulao.
em primeiro lugar, entre o referido e o referente, visto que avaliar consiste em atribuir um "valor" (ou, numa acepo mais lata, como veremos, um "sentido") a uma situao real a luz de uma situao desejada, ao confrontar assim o
campo da realidade concreta com o das expectativas;
-mas articulao, tambm, entre o referido e o referente, e as "realidades" de que eles
constituem um modelo reduzido. Com efeito, preciso construir o referente e o referido.
No exemplo da pgina 3 1, a administrao desenhou o retrato do professor ideal, a luz do
qual o director da escola selecciona, no conjunto dos comportamentos, alguns aspectos
significativos. O referente um modelo ideal que articula as intenes consideradas significativas a partir de um ou de uma pluralidade de projectos. O referido constitudo
pelo conjunto dos obsemveis julgados representativos do objecto "lido". Cada um deles
uma representao simplificada do nvel de realidade a que corresponde.
Assim descrita, a avaliao, operao pela qual eu me pronuncio, e tomo partido em
relao a um objecto, pode ser vista, num sentido, como uma operao de transformao
das representaes. isto que descreve J.-M. Barbier, para quem o "o acto de avaliao'
pode ser considerado "como um processo de transformao das representaes, cujo ponto
de partida seria uma "representao factual" de um objecto e o ponto de chegada uma
representao normalizada desse mesmo objecto'. Contudo, no se deveria dizer que se
passa de uma representao para outra, porque no h, para falar verdade, uma dada representao factual antes de se emitir um juzo de avaliao. este que produz uma representao da realidade cuja caracterstica precisamente a de estar sujeita a normas. O olhar
com que se foca o objecto est em relao com o que nele se procura. A vontade de avaliar
coloca-nos em ruptura com o campo das representaes factuais. A tarefa do avaliador a
de construir uma representao composta de partes "normalizadas".
Esta construo traduz-se, enfim, em, e por, um juzo. O juzo um acto do esprito pelo
qual eu afirmo ou nego alguma coisa. A lgica clssica descreve-o como uma assero que
estabelece ou documenta uma relao entre dois termos, que enuncia uma relao como verdadeira ou falsa. O juzo de avaliao pertence a evidncia, a categoria dos juzos de valor.
Os juzos sobre a realidade enunciam factos, ou relaes entre factos. Os juzos de valor so
aqueles por meio dos quais se aprecia o que vale a realidade, o que implica ter definido um
valor. Em sentido lato, o valor a caracterstica que faz com que certas coisas meream ser
apreciadas. por isso que o juzo de avaliao no exprime uma certeza. Segundo a teminologia adoptada por Kant na analtica dos conceitos da Crtica da razo pura, do ponto de
este juzo hipottico, ligando
vista da relao (das "relaes do pensamento nos juzo~")~,
dois juzos segundo o modelo: se... ento. Se um bom aluno "de quatrime" * no for capaz
REALIDADE
(situao concreta observada)
) .1
.2
O
cd
g I z
PROJECTO
(inteno de mudana)
5 1 %
Dados de facto
(o que se produziu concretamente)
A Ao
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22
---------,$
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v v v
A A
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I
I
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Dados do "dever-ser7'
(o que idealmente desejado
ou esperado)
I
I
a ,
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.2
O 1
0 1 %
cd
2
icd
I
II
0 8 :
Icd
O
.4
v v v
de resolver tal tipo de problema, ento tal aluno no bom. No se afirma, simplesmente,
qualquer coisa que lhe diga directamente respeito (juzo "categrico": este aluno sabe
fazer isto...). Pe-se em relevo a consequncia de uma proposio aceite como premissa
em se pronunciar sobre a verdade desta. Do ponto de vista da modalidade, quer, dizer do
grau de segurana com o qual se afirma o que se afirma, o juzo de avaliao problemtico. No exprime nem uma realidade, tal como ela de maneira certa (juzo assertrico),
nem uma verdade necessria que no pode ser de outro modo seno como (juzo apodctico). Kant insiste no facto que o que afirmado ou negado, no juzo problemtico, simplesmente possvel ou "arbitrrio". E v, alm disso, nesta modalidade o primeiro
momento do "pensamento em geral", que julga primeiro uma coisa problematicamente
(simples possibilidade lgica), a admite em seguida assertoricamente (afirma-a como verdadeira) antes de, eventualmente, a reconhecer como necessria (p. 92). certo que se,
por um lado, o juzo de avaliao manifesta uma certa imperfeio no conhecimento e se,
por outro, ele problemtico no sentido em que s vale a partir do momento em que se
admite a validade do seu ponto de partida (do referente que permite operar uma leitura
particular da realidade avaliada), esse juzo exprime, no entanto, mais do que uma simples
possibilidade lgica.
Por isso, a tipologia mais esclarecedora para a nossa reflexo , sem dvida, a que distingue trs espcies de juzos3:
- juzo
G. Dispaux, Lu logique et /e quotidien, Paris, Minuit, 1984, citado por Alain Trognon. "Processus d'haluation
dans les groupes en fomation". POUR, 107. p. 86.
D. L. Stufflebeam e? a[., L'valuation en ducation et lu prise de la dcision, ed. francesa, ditions N. H. P.,
Ottawa, 1980.
pqEq
As mudanas no comportamento humano, visadas pelos objectivos educacionais,
foram atingidas?
Esta definio tem, dizem-nos, vrios mritos e alguns inconvenientes. Os mritos
so, entre outros, os de chamar a ateno para a necessidade de possuirmos um referencial
(determinao dos objectivos) e de nos interessarmos tanto pelo processo (por exemplo,
procedimentos educativos), como pelos produtos (desempenho dos alunos). Os dois
principais inconvenientes dizem respeito a centrao excessiva da operao de avaliao
nos objectivos, expondo-a a uma deriva tecnicista; e o de conceder excessiva importncia,
'
apesar do acento posto no processo, aos resultados finais, fazendo dos comportamentos o
critrio ltimo de apreciao.
I
-A
v
i
".
I
L. Stufflebeam et al., L'valuation en ducation er laprise de dcision, op. cit.. p. 17. As citaes seguintes so
extradas desta. obra.
Figura 3
A avaliao entre a anlise e a tomada de deciso
AVALIAO
Tomada de posio
/ \
em funo de uma
ANLISE/IDENTIFICAO
Produes de
sobre um "objecto"
\
---
- - - - - - - -" - - - - - - - - - - - - -
Um decisor, que soubesse tudo sobre o objecto da sua deciso e das suas possveis
consequncias, deixaria de ter necessidade de avaliar, e agiria ento como o sujeito "inteiramente livre" de Descartes, com pleno conhecimento de causa. Mas este precisamente
um caso-limite, quase utpico. "Se eu conhecesse sempre com clareza o que verdade e o
que bom, nunca teria de deliberar qual o juzo e qual a escolha que deveria fazer". Podetomada de deciso" descrito
remos dizer que o processo "anlise-identificao
por Stufflebearn corresponde ao percurso ideal de um sujeito que no sofra de nenhuma
imperfeio do conhecimento, nem de limitao da vontade.
por isso que a avaliao nos parece ausente desta anlise, que, no entanto, devido a
esta mesma ausncia, nos ajuda a compreender, ao mesmo tempo, em que que ela consiste e no que a toma necessria. Observmos que o exame das definies "correntes" no
colocava verdadeiramente o problema da sua pertinncia, mas que se contentava em tecer
consideraes sobre os comportamentos decorrentes da aceitao de cada uma delas, com
vista a pesar as suas vantagens e inconvenientes. Pr a questo da pertinncia teria levado
os autores a interrogarem-se sobre a significao da existncia de um acto como a avaliao, o que manifestamente no quiseram fazer. Contudo, acreditamos que no seja possvel
definir a avaliao sem se colocar a questo do sentido desta operao. O que significa
TOMADA DE DECISO
certamente, antes de mais, descrev-la correctamente, tal como ela se apresenta na realidade das prticas. Mas, a prpria tentativa para a descrever objectivamente que leva a
descobrir que no a podemos descrever sem sermos conduzidos a interrogarmo-nos sobre
as mtdiqes de possibilidade de uma tal operao. Com efeito, a existncia de uma actividade, tal como aquela a que chamamos avaliao, traduz, simultaneamente, a imperfeio do conhecimento daquele que obrigado a avaliar, e a presena de uma certa ideia de
perfeio que lhe anima e guia a vontade.
Tudo comea pela e com a aco. Ns agimos. Temos constantemente necessidade de
decidir, de nos "determinarmos". Esta relativa liberdade de escolha, ou, se se quiser, esta
necessidade de nos determinamos, exige, para ser exercida, ou obriga, para ser satisfeita,
por um lado, ao conhecimento aprofundado da situao, e, por outro, termos uma certa
ideia daquilo que convm decidir na situao presente. Dito de outra forma, a deciso que
implica a aco humana exige ao mesmo tempo conhecer bem o que existe e saber o que
se deve fazer. Idealmente, para um ser omnisciente e com uma vontade sempre justa, a
realizao de uma actividade de forma a pr em prtica os fins dignos de serem perseguidos apoiar-se- num conhecimento adequado da situao que exige uma interveno
activa do sujeito e da sua evoluo previsvel em funo desta interveno. Mas, se o
conhecimento se limita ao que , ao dado, de que se pode, quando muito, dar conta pelo
seu passado, pelo seu modo de produo, e no permite predizer o futuro, haver sempre
que avaliar as consequncias da aco a empreender: prever, tanto quanto possvel, a evoluo do ou dos sistemas em causa; imaginar o que poderia ser uma situao posterior
se.. . (se se executasse tal ou tal aco). Avaliar significa, pois, aqui, antes de mais, tentar
dizer o que ser, se... Mas o processo no qual se fundamentar a deciso de agir ultrapassa
largamente o que seria apenas um simples esforo de previso. , em primeiro lugar, uma
anlise da situao presente (a avaliao segundo D. L. Stufflebeam), observada luz de
uma certa ideia da situao ideal (daquilo que deveria ser), que leva a estabelecer as
aces susceptveis de a melhorar. Depois, a avaliao das consequncias da aco leva
no somente a imaginar a evoluo previsvel da situao, depois de realizada a aco em
causa, mas tambm a comparar a previsvel situao futura com o modelo ideal da situao desejada, para julgar da pertinncia da referida aco. No seno em funo deste
ltimo juzo que decidida a execuo da aco. O esquema geral seria ento aquele que
se representa na figura 4 (p. 41).
A avaliao intervm em diferentes momentos deste processo de conjunto. A deciso
de agir depende, antes de mais, da deciso que h que agir face a uma dada situao que
no satisfatria: por exemplo, considerar que os resultados deste aluno no correspondem quilo que ele poderia e deveria fazer, que no exprimem todas as suas possibilidades. Uma anlise da realidade - do ser - efectuada luz do que parece ser desejvel - do
dever-ser - d origem a um primeiro juzo: preciso mudar isto. Primeiro juzo de avaliao, obtido pelo confronto entre um referido (o aluno, compreendido atravs dos seus
Figura 4
A articulao aco-avaliao
r------------------------------------------I
I
I
SITUAO "IDEAL"
Norma do dever-ser
I
I
?-""
Anlise
comparativa
--
Deciso
PROJECTO
DE ACO
de pr @+em prtica
I
Confronto @
Concretizao
da aco projectada
Q
J
SITUAO
CONCRETA
Previso
clculo da
evoluo
j
I
SITUAO
FUTURA
PREVISVEL !
resultados actuais) e um referente (o aluno ideal que domina a matria ensinada). Esta primeira deciso assenta na aco de "ler" a realidade (apreciar o aluno), naquilo a que D. L.
Stufflebeam et al. chamam um modelo de "tipo I " , que constitui "uma representao
ideal de um estado de coisas esttico", e indica "o que deveria ser" (p. 141). Tendo sido
identificada a necessidade de mudana, o actor social (aqui o professor) construir um
projecto de aco de forma a produzir as mudanas desejadas. Este projecto tem por funo dar resposta questo "Como obter o que deveria ser", e corresponde a construo de
um modelo de "tipo 2", que "uma representao ideal de um processo dinmico que
pode, mediante certas condies precisas, levar a atingir o estado de coisas descrito no
tipo 1" (ihid.). Por exemplo, colocando o aluno face a uma situao-problema construda
judiciosamente, eu facilitarei a emergncia da competncia pretendida. A construo do
projecto de aco implica pois uma avaliao-estimativa das consequncias previsveis da
execuo do projecto. A primeira vista, esta avaliao no implica uma comparao referentelreferido no sentido restrito j definido. Todavia, ela uma operao de leitura da
realidade (o aluno) analisada a luz de uma grelha que a transcende (o projecto de aco),
leitura essa que leva a ultrapassar a realidade para imaginar no que ela se tomar se ... H
- e por isso que se pode falar de avaliao das consequncias - confronto entre duas
sries de dados - o prprio ser e o projecto - para tomar posio, desta vez sobre o
projecto: valer a pena p-lo em prtica? Mas o juzo sobre o projecto no poder ser verdadeiramente pronunciado seno depois de um confronto entre a previsvel situao
futura, tal como ela surge depois de avaliadas as consequncias, e o modelo de "tipo l", a
situao ideal. deste ltimo confronto que poder resultar a deciso de realizar o
projecto. que traduz, pois, um segundo juzo de avaliao respeitante pertinncia da
aco imaginada. Eu pronuncio-me, por um lado, sobre o projecto (referido) em nome da
evoluo previsvel do aluno, e, por outro, em ordem ao modelo do aluno ideal (referente
multidimensional). Em resumo, poder-se- dizer que toda a deciso da aco implica dois
juzos de avaliao:
-
- juzo
So juzos de avaliao na medida em que se inscrevem no quadro geral de uma gesto do provvel: o primeiro no tem apenas como nica ambio a de dar a conhecer a
realidade (juzo de observador), mas tambm a de dizer em que que ela tem de ser modificada. O segundo no se limita a prescrever o que necessrio fazer (juzo de prescritor),
mas tambm a dizer o que razovel fazer para realizar o seu projecto de mudana, tendo
em conta a realidade actual, tal como se pode compreend-la, e a realidade futura, tal
como se pode prev-la.
O AVALIADOR COMO TECELO FLTNMBLILO
Assim a avaliao prpria de um ser:
por um lado, de julgar o que e o que faz, e possuindo, para isso, uma certa
ideia da perfeio que se exprime na construo de modelos de tipo 1: capacidade de
distanciao crtica face realidade, e, sobretudo, face sua prpria realidade;
-mas incapaz de conhecer exaustivamente a realidade e de prever com exactido a
sua evoluo.
- capaz,
por isso que o juzo de avaliao faz intervir uma escolha e uma aposta. A escolha,
sempre contestvel, de um ou de mais valores, de um modelo em relao ao que deveria
existir; uma aposta sobre a evoluo provvel das coisas em funo de uma aco que se
inspira nesta escolha.
O avaliador no sabe tudo o que existe. Mas sabe:
a) que a existncia processo, desenvolvimento, evoluo. Ora, porque o ser evoluo que ele avalia. Com efeito, o avaliador sabe tambm ...
b) que pode ser actor nesta dinmica evolutiva; que pode impor a sua marca no
decurso das coisas; que pode inflectir ou orientar os desenvolvimentos; que pode,
por exemplo, intervir no desenvolvimento de outrem para o tornar conforme a certas normas (educar...);
c) que a este poder de interveno corresponde, pois, um outro poder: o de conceber um
estado de coisas melhor, ou, em qualquer caso, um estado prefervel. A interveno
As questes da avaliao:
variveis e espaos de variao
t aqui temos insistido sobre a unidade do modo de julgar. Isso permitiu-nos captar o
sentido global da actividade de avaliao. Mas estaremos, para tanto, em condies
de saber como proceder? Porque, se se pode falar de avaliao todas as vezes que um
sujeito se decide pronunciar-se sobre um determinado objecto, para dizer qual o seu valor
de um ponto de vista particular, no menos verdade que o que logo primeira vista
impressiona o observador a variedade das prticas. Variedade dos domnios abrangidos: a
educao e a formao, evidentemente. Mas tambm a medicina. o trabalho humano, a
poltica e at os acidentes nucleares. Variedade dos mtodos: Robert E. Stake pde assim, e
voltaremos a este assunto mais frente, inventariar e descrever nove mtodos diferentes.
Variedade das funes: fala-se de avaliao diagnstica ou prognstica, ou preditiva; avaliao formativa; avaliao sumativa. Variedade dos actores: financiadores, responsveis polticos ou sociais, especialistas, auditores, utilizadores, formadores, formandos. Neste caso,
como nos deveremos posicionar? Como pr ordem nesta profuso de actividades diversas e
de discursos divergentes? E. antes de mais, quais so os verdadeiros factores de variao?
AS VARIVEIS DA AVALIAO:
UM QUESTIONAMENTO MULTIDIRECCIONAL
Tendo sempre como objectivo essencial clarificar a questo da avaliao, e de destacar
aquilo que constitui a especificidade desta "actividade", propomo-nos, uma vez mais, partir
da prtica e tomar como objecto de reflexo as questes que se pem realizao de uma
operao de avaliao. Isso permitir-nos- uma primeira abordagem daquilo que se poderia
denominar como as variveis da avaliao. Assim, um trabalho de clarificao e de classificao operado a partir de questes enunciadas pelos membros (inspectores, reitores,
professores) de uma comisso reunida para reflectir sobre a avaliao das aces de
formao permitiu distinguir nove grandes questes:
1. Formar? Esta questo pode ser encarada na sua dimenso objectiva: quais so as
mudanas visadas, as transformaes esperadas? E tem tambm uma dimenso
subjectiva: que significado tem para os formandos a aco de formao: recompensa, momento de escape, tempo forte numa avaliao pessoal'? Por fim, a questo convida a interessarmo-nos tambm pelo contexto institucional e at mesmo
poltico.
.2. Avaliar? QuaI a finalidade principal que se atribui aco de avaliar: informar,
regular, formar, etc.? Quais so os critrios e os indicadores que se devem ter em
conta?
t
3. Qual o objecto? Sobre que mbito incidir a investigao: aco global, campo
especfico? Que tipos de efeitos podemos apreender e apreciar? E como ter a certeza que os efeitos observados so mesmo consequncia da aco de formao?
4. Com que instrumentos? Quais os instmmentos que teremos de utilizar para produzir a informao e como devero ser postos em prtica? conveniente prever a
utilizao de instrumentos especficos para diferentes tipos de aco?
\ 5. Quem avaliar? Que parte na avaliao, caber: ao(s) responsvel(veis) da formao, aos formadores, aos formandos, aos especialistas exteriores, etc.?
6. Quando? Quais so os momentos oportunos para recolher a informao: antes da
aco; durante a aco ("a quente"); pouco tempo depois ("a frio"); muito tempo
depois? Que peso atribuir informao recolhida em cada um destes diferentes
momentos?
8. Para tomar que gnero de deciso'? Quais sero as bases da avaliao? Em que
"dinmica" se inscrevem'? Quem tem o poder de decidir e em que domnio(s)?
Figura 5
O questionamento sobre a avaliao d a s aces d e formao
FORMAR?
SIGNIFICADO DA OPERAAO
QUE UTILIDADE?
DE NOVO
QUE GNERO
DE DECISAO? --@o0
OBJECTO?
PARA QUEM?
FORMAS E INSTRUMENTOS
questes de ordem tcnica, que dizem respeito s formas possveis de avaliao, aos
procedimentos a pr em prtica, s operaes concretas a realizar. Estas questes
poderiam ser reagrupadas sob a designao geral de questes do dispositiilo, que so,
na maior parte das vezes, as primeiras que preocupam os que trabalham no terreno.
A sua preocupao constante , com efeito, a de determinar uma metodologia que
produza respostas concretas s questes dos objectos, das formas e dos instrumentos
(questes 3 a 6);
questes que dizem respeito ao sentido da operao, e que so, simultaneamente, o
ponto de partida e o ponto de chegada das questes tcnicas. Para construir uma
metodologia de avaliao das aces de formao, no seria necessrio dizer o que
entendemos por formar e avaliar: dizer qual , segundo o nosso ponto de vista, o
sentido das duas operaes? E as escolhas, que implicam a construo do dispositivo, para alm de consideraes puramente tcnicas, no sero tambm elas o
resultado, no somente desta primeira tomada de posio, geral, sobre o sentido das
operaes, mas tambm do sentido particular da operao de avaliao em que
concretamente nos empenhamos? As informaes a recolher dependeriam, pois,
no s da ideia que fazemos de uma formao eficaz, e do sentido que damos ao
verbo avaliar, mas tambm da funo precisa da avaliao pedida (por quem'?). Por
que avaliamos aqui e agora? Para que vai servir? Por outras palavras, as questes
tcnicas (como "jogar"?) s poderiam, por um lado, fornecer todas as respostas no
quadro de uma reflexo sobre o sentido (a que que se joga?) e, por outro, sobre os
objectivos "sociais" da avaliao.
Reenviar-nos-o as questes de metodologia, inexoravelmente, para as outras? Sendo
assim, no conviria hierarquizar as "variveis" que constituem as questes enumeradas?
Tentaremos estabelecer a validade desta hiptese ao examinar, de forma mais aprofundada, os problemas de estratgia.
OS PROBLEMAS DE ESTRATGIA: PROCEDIMENTOS E MTODOS
Pode entender-se por estratgia a orientao geral das operaes e dos meios a utilizar.
No seu sentido primeiro, a estratgia a arte de conduzir, de fazer avanar um exrcito.
Em sentido lato, o termo designa um conjunto de aces coordenadas tendo em vista uma
finalidade. A estratgia aponta para o domnio de aces ordenadas de forma a produzirem um resultado, e pertence, pois, ao domnio do mtodo.
A estratgia exprime a inteno de construir a aco em funo de racionalidades que
podem ser de ordem poltica, econmica, tcnica ou cientfica. Naturalmente os actores da
avaliao manifestam a sua preocupao em realizar uma avaliao "cientfica". Veremos,
mais frente, quais so as armadilhas de uma problemtica objectivista. Contentemo-nos,
de momento, em ver como se traduz esta inteno de racionalizao no plano dos mtodos e do dispositivo.
Robert E. Stake, num trabalho consagrado avaliao dos programas de ensino1,distingue nove mtodos diferentes. Para chegar classificao que prope, o autor tem em
conta um certo nmero de "dimenses" entre as que so "comummente utilizadas" para
descrever e situar os modelos de avaliao. Assim, so consideradas oito dimenses que
correspondem a oito eixos sobre os quais se podem posicionar cada um dos modelos.
I
O primeiro eixo (avaliao formativa-avaliao recapitulativa) diz respeito simultaneamente ao momento da avaliao e sua finalidade. A avaliao formativa intervm
ii
,'
Robert E. Stake chama-nos a ateno para o facto de estas dimenses serem interdependentes. Existem certas correlaes entre a posio dos elementos num eixo e o lugar ocupado
nos outros. Acrescentaremos, no entanto, que estas componentes situam a avaliao em campos diferentes. Poder-se-iam distinguir aqui, pelo nienos, trs espaos de posicionamento:
- o espao das intenes, no qual se situam os eixos (I) (finalidade) e (5) (inteno
dominante: descrever ou apreciar);
- o espao dos problemas tcnicos, ou espao do dispositivo: objecto isolado da realidade (dimenso 4), modo de construo do referente (eixo 6) e do referido (eixo 7),
actor privilegiado (eixo 2) e lugar deste actor (eixo 8);
- espao da aplicao social da actividade de avaliao e dos seus produtos (eixos 2 e 3).
O estudo destas "dimenses" traz uma nova luz nossa anlise da questo sobre a
avaliao das aces de formao. Com efeito, encontramos a estes trs espaos: o das
intenes que do sentido operao (questes 1 e 2); o dos problemas relativos aos procedimentos (questes 3 a 6); o da aplicao social da actividade de avaliao, que levanta
de novo a questo do seu sentido (7 a 9).
Procedendo de dois modos diferentes - a partir das questes concretamente levantadas, ou separando dimenses pela anlise, determinamos variveis que se distribuem
pelos mesmos trs espaos. Ser preciso concluir que estes espaos correspondem aos trs
principais planos de variao das avaliaes?
No seguimento desta primeira anlise, examinemos os nove mtodos descritos por
Stake. O autor prope uma grelha de leitura em que cada mtodo especificado pelo seu
objectivo, os seus aspectos principais, as categorias visadas e, por fim, os seus riscos e
vantagens. Vimos que a dicotomia risco/vantagens leva a pr o problema do valor do
objecto avaliado (definies com Stufflebeam, mtodos, aqui, com Stake) num plano
puramente pragmtico. Mas uma definio ou um mtodo apreciam-se, no somente em
funo das vantagens ou inconvenientes ligados sua aplicao tcnica, mas sobretudo
em relao sua pertinncia. Ora, esta caracteriza-se essencialmente pela adequao com
o que se situa "a montante": as intenes, ou "objectivos", segundo o termo utilizado por
Stake para designar a primeira linha de leitura proposta. E, de facto, claro que a maior
parte dos riscos assinalados s tm sentido em relao ao objectivo que o mtodo se
prope realizar. Por exemplo, para medir o xito nos estudos. poder-nos-amos contentar
com testes que apenas versam sobre os conhecimentos'? Para permitir a uma escola superar
uma crise, poder-nos-emos fiar apenas na intuio de personalidades reconhecidas?
A grelha de leitura de Stake comporta, pois, por fim, trs tipos de rubricas:
- rubricas
esta ltima que a rubrica-chave. Cada mtodo, tal como pode ser descrito pelos
seus elementos principais, s tem sentido em funo de uma inteno dominante, em
relao qual ele prprio pode ser avaliado. Daqui decorre uma consequncia importante: o nmero dos mtodos distinguidos est em relao com o nmero de "objectivos"
susceptveis de serem referenciados. Ora, a ambio de Stake era a de descrever os principais mtodos "vulgarmente utilizados". Os objectivos referenciados correspondem pois
s intenes dominantes "na hora actual". Ser possvel ir para alm do circunstancial?
Poderemos distinguir, de forma segura, as grandes intenes? A que recorrer para operar
um corte pertinente nesta realidade complexa? Porque o termo de objectivo ambguo.
2 R. E .
E os objectivos fixados por Stake situam-se, sem que isso os faa objecto de uma
distino clara. em pelo menos dois espaos:
-aquele a que chammos o das grandes intenes, como o manifestam termos tais
como: estimar, medir, compreender, estudar;
- o da aplicao social da actividade: ajudar, resolver as crises, racionalizar as escolhas. etc.
-nos, pois, necessrio prosseguir o esforo de caracterizao destes espaos nos quais
se desdobra a actividade de avaliao. Vamos faz-lo continuando a explorar o espao dos
problemas tcnicos, para salientar bem a sua especificidade e, simultaneamente, a forma
como este espao se articula com os outros.
O qu?
Qual o objecto da avaliao?
- Por quem?
Quais sero a natureza e o estatuto dos avaliadores?
- Quando?
- Como?
Quais so os principais tipos de avaliao, do ponto de vista metodolgico?
- Para quem? Quem utilizar os dados produzidos e interpretados?
- Para qu?
Quais so as principais funes da avaliao?
-
Um quadro como este tem, certamente, a sua utilidade, para dar uma viso de conjunto
das questes que se colocam no arranque de um processo de avaliao, e propor pontos de
apoio para as escolhas concretas que devero ser efectuadas. Mas, arrisca-se tambm a levar-nos a pensar que todas as questes so equivalentes e que todas se situam no mesmo plano.
Logo, o importante ver que as respostas as quatro primeiras questes dependem, por um
lado, das que forem dadas as duas ltimas - Por quem? e Para quem?; e, por outro, derivam
de uma questo essencial - Com vista a qu? -, esquecida na maior parte dos quadros.
por isso que abordar as questes da avaliao, como se o espao dos problemas
tcnicos fosse autnomo, impede paradoxalmente de resolver estes problemas. Num plano
puramente tcnico, pode-se, quando muito, fazer um inventrio de possibilidades. Por
exemplo, para a questo "Para quem", e no quadro da avaliao dos alunos, o inventrio
dever ter em conta: as autoridades administrativas, os pais dos alunos, os professores que
funcionam em equipa, os prprios alunos, etc. Mas esta questo, como o demonstra o
facto de a segunda dimenso considerada por Stake dizer respeito simultaneamente a dois
espaos, no pode ser tratada independentemente do seu contexto. As variveis/questes,
assim como as suas diferentes "modalidades" (casos possveis), funcionam como uma
check-list* e convidam a no esquecer uma possibilidade de escolha. Foi disto que Andr
de Peretti bem se apercebeu propondo, neste sentido, uma "check-list sobre a avaliao"
com base nas entradas: Quem? Com quem? Para quem? Que podemos ... avaliar? Em que
que pode assentar a avaliao? Com a ajuda de que instrumentos que podemos
a ~ a l i a r ?Mas
~ como escolher uma modalidade apropriada? Uma check-list no permite
decidir. Porque as questes de ordem metodolgica tm sempre uma dupla dimenso. A
primeira descritiva: eis como se poder fazer. .. E a segunda prescritiva: eis como ser
necessrio fazer. .. Mas como fundamentar uma prescrio? A questo "que preciso
fazer" s pode ter resposta no modo do: "se ... ento". Se pretendemos elucidar o decisor
encarregado de definir novas orientaes para a aprendizagem da leitura, ento ser
necessrio avaliar o saber-ler de determinado pblico, com determinados instrumentos, e
em referncia a determinada expectativa social. Se pretendemos ajudar um aluno a progredir na sua aprendizagem da leitura, ento tem de se permitir que ele se situe em relao
a um objectivo de ensino, e de tomar conscincia das suas dificuldades, etc. As escolhas
metodolgicas fundamentam-se, necessariamente, nas consideraes que as transcendem,
e que se situam tambm tanto a montante (com vista a qu), como a jusante (para quem e
para que aplicao?) do processo puramente tcnico. S h boa metodologia quando
adaptada aos seus objectivos. O essencial , pois, se pretendemos conferir credibilidade
avaliao, precisar "com o que que se joga", tanto no que respeita s intenes que
presidem sua realizao, como em relao ao uso que ser feito socialmente dos seus
resultados. Em definitivo, a variedade dos jogos possveis no espao dos procedimentos
limitada pelos jogos reais nos outros espaos.
Sem se tomar em considerao este "com vista a qu" e o "para qu" avaliamos, as
questes de ordem tcnica tornam-se, com toda a certeza, verdadeiras/falsas questes.
Tomemos alguns exemplos.
NO MBITO DA QUESTO: "COMO?"
AVALIAO NOR MATIVA OU A VALIAO CRITERIAL
dissertao apreciada atravs do exerccio que ser classificado; tempo gasto para efectuar
o percurso do uoss da escola), pode, primeiramente, ser apreciado por comparao com
' .
Gilbert De Landsheere, Dictionnaire de I'valuation et de la recherche en duration. Paris, PUF, 1979, p. 183.
Bemard Maccario, "L'valuation", in: La psychopda,yogie des actions physiqires et sportives, Toulouse, Privat,
1985. p. 365.
Philippe Meirieu, "valuation externe ou valuation interne: un faux problrne?", Bullerin de I'Association
fion(ar.\e des adniinistrat<,ur.\de l'du<ation.41, Janeiro de 1989. pp. 23-28.
direito?", mas tambm "quem tem o poder de avaliar?". No caso das aces de formao,
por exemplo, se o direito de avaliar pode ser legitimamente atribudo ao conjunto dos
participantes, o poder de avaliar reproduz muitas vezes, de facto, a distribuio do poder
na conduo das aces7. A afirmao da igualdade de todos os actores quanto ao direito
de avaliar pode ser encarada sob dois aspectos: por um lado, isso significa que os objectivos de cada um devero ser tomados em conta: por outro, indica que "a avaliao das
aces tendem para uma auto-avaliao" (p. 249), o que est de acordo com as anlises de
Philippe Meirieu. Mas, na realidade. este direito exerce-se desigualmente, e podemos
diferenciar assim vrios nveis do seu exerccio.
de simples fornecedor de informaes que, por exemplo, d a preencher um questionrio preparado por outros;
- o de produtor de informaes que determina os indicadores e constri um questionrio adaptado;
- o de avaliador propriamente dito que, depois de ter definido os critrios, trata as
informaes produzidas atravs da utilizao dos instrumentos de avaliao e formula o juzo final.
-o
J.-M. Barbier demonstra como a avaliao das aces conduzida de maneira diferente, em conformidade com a distribuio do poder de avaliar, ao distinguir trs tipos de
situao. Quando os actores privilegiados da avaliao so os responsveis da aco, a
avaliao centra-se sobre os resultados, para "medir" objectivamente o grau de concretizao dos ob-lectivos preestabelecidos. Quando os actores principais so os participantes
(grupo dos formandos), esta centra-se sobre o funcionamento da aco. Quando o poder
distribudo entre as diferentes partes intervenientes, a avaliao esfora-se por tomar em
considerao "um mximo de dimenses num mximo de direces" (ibid., p. 255), e
multidimensional e multidireccional.
Assim, a forma da avaliao e o seu objecto privilegiado esto ligados natureza
do actor que verdadeiramente dispe do poder de avaliar. No podemos dissociar a
questo "quem?" de questes deontolgicas (quem tem o direito?) e "polticas" (quem
tem o poder?).
A QUESTO DO OBJECTO
AO contrrio das questes "como?" e "quem?", ser a questo "o qu?" autnoma? O
avaliador no tem necessidade de se preocupar com as intenes ou de precisar uma determinada funo. No lhe mesmo necessrio levar em conta consideraes deontolgicas
ou polticas para determinar o objecto da avaliao, visto que este lhe dado inicialmente,
e a partir dele que a avaliao se organiza. A deciso tomada para avaliar funcionrios
ou alunos, ou um sistema de ensino. O objecto designado de imediato. Mas, deste ponto
de vista, a questo "quem?" ainda uma verdadeira-falsa questo, que no se pe ... ao
avaliador! Ela da competncia do decisor, que designa o objecto da avaliao, pelo
mesmo acto em que afirma a necessidade de avaliar,.
Contudo, desde que este objecto seja algo um pouco mais complexo, a questo reaparece. Isto evidente se se tratar, por exemplo, de avaliar um programa de ensino. D. L.
Stufflebeam et al., a este propsito, distinguem: projecto, programa e sistemas. Um programa um "esforo especializado" (p. 169) no interior de um sistema. Um sistema educativo comportaria assim seis "sectores": os alunos, o programa, os funcionrios, o oramento, o equipamento e a colectividade (p. 171). Para R. E. Stake, a palavra programa
um termo global "que abrange o contedo dos estudos, os mtodos pedaggicos e o quadro estrutural de um sistema de en~ino"~.
Uma caracterstica essencial do programa, no
sentido dos autores anglo-saxnicos, no s a da sua extenso e complexidade mas tambm a de assumir propores de grande envergadura. Cada programa pode assim ser
objecto de um questionamento mltiplo que incidiria nas suas diferentes "linhas" (p. 40):
lugar de concretizao, histria, objectivo, finalidade, actores principais. O seu estudo
poderia estender-se a "domnios" muito diferentes (p. 44): a transmisso dos conhecimentos; o interesse suscitado; os efeitos sobre a cooperao entre alunos; o apego manifestado
pelo seu cumprimento por parte de professores e famlias, etc. O programa toca, pois,
diferentes pblicos (p. 83): administradores, professores, pais, alunos. Ser assim necessrio distinguir, no objecto global, os objectos precisos de observao e de estudo. Em
nome de qu? Como escreve Jean Berbaum: "O objecto de estudo no existe em si
mesmo; delimitado pelo obser~ador"~~.
A que recorrer, pois. para traar as fronteiras do
objecto? Stake sugere que se deve ter sobretudo em conta as preocupaes dos que encomendam a avaliao. preciso procurar saber o que os leva a fazer um tal pedido. "Para
que que necessrio realizar um estudo de avaliao? Que se espera dele? A que concluses dever chegar?". O avaliador deve ter tempo para pesquisar exactamente o que dele
pretendem, e que tipos de observao e de informaes sero teis neste caso preciso.
Aqui, ainda, "a questo primordial, e que merece ser continuamente evocada" (p. 36), a
dos objectivos.
Para D. L. Stufflebeam, s se pode definir de maneira adequada o sistema que ser
objecto de investigao em reerncia s decises susceptveis de virem a ser tomadas.
E de acordo com os tipos de objectivos de avaliao que decorrem dos tipos de deciso a
tomar, poderemos especificar diferentes nveis de investigao. Projectos, programas,
sistemas constituem assim trs nveis possveis. Poderemos igualmente distinguir nveis
D. L. Stufflebeam, et al., L'valuation en ducation ..., op. cit., p. 176.
R. E. Stake, L'vczlr~ariondesprograrnrnes d'enseignernenr, op. cir., p. 6.
' O I. Berbaum, rude systniique de forrnation, Paris, PUF. 1982, p. 17.
' I R. E. Stake, Lri.aluation des prograrnnres d'eri.teignernenr, op. cit., p. 40.
ou os meios;
..
Para ns, da investigao que conduziu determinao dos quatro modelos agrupados
sob a sigla CIPP, interessa-nos reter que a delimitao do campo de uma avaliao
depende. tambm, da considerao das suas finalidades especficas. Que essas finalidades
sejam, ou no, analisadas em funo de tipos de deciso, como no modelo CIPP, leva-nos
a concluir, uma vez mais, no que respeita questo "quem?", que as decises de ordem
tcnica dependem, em ltima anlise, de consideraes de uma outra ordem, que se
situam no campo geral das finalidades (fins, intenes).
Podemos apostar que o mesmo suceder com a questo "quando?". Mas , sem
dvida, tempo de fazer o balano do que aprendemos sobre o problema das variveis e
dos espaos de variao.
O principal ensinamento a colher certamente o de que a realizao de uma actividade
de avaliao nos coloca perante escolhas que no se reduzem sua simples dimenso
metodolgica. De Bruyne et al. definem a metodologia como uma "praxeolgica" ou
"lgica dos procedimentos cientficos na sua gnese e no seu desenvolvimento", que tem
por funo "limpar os caminhos da prtica concreta... dos obstculos que esta encontra"'5.
O modelo geral desenvolvido no primeiro captulo permite-nos afirmar que necessrio, para proceder no cientificamente, no sentido restrito do termo, mas rigorosamente,
construir e pr em correspondncia um referente e um referido. Este juzo prescritivo fundamenta-se na observao do funcionamento do juzo do avaliador, que se organiza
segundo a lgica do: se -,ento. Se desejamos verdadeiramente produzir um juzo de
avaliador, temos ento de proceder assim. Mas esta indicao de procedimento muito
geral e no responde satisfatoriamente exigncia metodolgica, porque temos tambm
de dizer, concretamente, como proceder. ento que nos encontramos face a uma multiplicidade de questes e o primeiro grande "obstculo" encontrado precisamente constitudo pelo nmero e pela variedade dessas questes. Por que ordem que as devemos
considerar? E, antes de mais, quais so as questes "incontornveis"? Por outras palavras,
quais so as variveis fundamentais da avaliao? Pudemos descrever:
- variveislquestes, que correspondem as grandes linhas do questionamento metodolgico na sua dimenso mais imediata e concreta (O qu? Para qu? Como'?
Quando? Para quem? Para qu? Com vista a qu?);
- variveisldimenses, que correspondem a eixos de posicionamento colocados entre
dois plos extremos.
Se parece que podemos, com uma relativa facilidade, estar de acordo com uma lista-tipo de variveis/questes - com a condio de no nos esquecermos da questo "Com
vista a qu?". qual teremos de voltar, em relao determinao das "dimenses de base
da avaliao" (Stake), temos mais problemas. Essas dimenses foram consideradas em
funo do critrio "de utilizao", que so "as mais comummente utilizadas para estabelecer uma classificao dos modelos de avaliao". Que sentido ter, aqui, a utilizao?
Poder a prtica ser o seu prprio critrio de pertinncia metodolgica?
l5
Paul de Bruyne et a [ ,Dvnamique de la recherche en rciences soc rales, Paris, PUF, 1974, pp. 24-27.
Quadro 1
O modelo CIPP (Contexto, inputs - entradas, processo, produto)
TIPOS
VARIEDADES
} DE AVALIAO
CAMPO FOCADO
Contexto
Estado das coisas no momento em que
se desencadeia o processo.
Znputs (Entradas)
vi
00
O sistema total;
Presses do exterior que se exercem sobre o sistema;
O ambiente em causa;
Problemas a resolver;
Necessidades a satisfazer e ocasies favorveis a no
deixar perder.
Decises de Planificao
(finalidades projectadas).
Recursos disponveis;
Re5postas possveis: aces executveis em resposta
a necessidades;
Estratgias a pr em prtica para se atingirem os
objectivos.
Deciso de Estruturao
(meios projectados).
Decises de Reviso.
Medir as realizaes e reagir em conformidade.
(Prosseguir, modificar ou interromper a
aco em funo do grau de obteno dos
objectivos.
Poderemos ultrapassar o risco de paralisia inerente a este primeiro obstculo considerando que, uma vez que essas dimenses s funcionam como um coadjuvante da memna, o verdadeiro problema no tanto o de estabelecer, antes de agir, uma lista exaustiva
das variveis e das suas modalidades, mas o de distinguir os espaos de escolha em que se
xerce a liberdade do avaliador. Segundo esta ptica, podemos assinalar trs grandes
:\paos de posicionamento:
- o dos problemas tcnicos, evidentemente, que constitui o espao metodolgico em
sentido restrito (questes: O qu? Quando? Como? Por quem?). Mas a explorao
deste espao leva-nos a concluir que as escolhas tcnicas no so autnomas, e
dependem de opes feitas nos outros dois espaos:
- o da utilizao social do campo da avaliao e dos seus resultados (questes: Para
quem? Para qu?);
- o das intenes ou dos "jogos" atravs dos quais se exprimem as reas que designaremos porfilosofias da avaliao (questo: Com vista a qu?).
Resta-nos explorar os dois ltimos espaos. Antes de o fazer, poderemos observar que
estas concluses no pem em causa o nosso modelo geral e que, pelo contrrio, antes o
precisam melhor. Com efeito, o espao dos problemas tcnicos diz respeito essencialmente construo do referido que, como sabemos, s tem sentido a partir daquele que
conferimos ao referente. Assim, a construo deste ltimo organiza-se em funo de dois
"domnios de referncia":
- o das intenes que caracterizam a prpria actividade da avaliao e determinam o
seu sentido (campo das finalidades);
- o do contexto decisional (campo das funes).
A avaliao plural:
descoberta dos jogos e dos seus riscos
produo de um juzo pelo qual afirmamos "o valor" de uma dada realidade inscreve-se num processo que exige, como acabmos de ver, que o avaliador faa um
certo nmero de escolhas. nestes espaos de escolha que se exerce a sua liberdade
e, simultaneamente, se manifesta a sua competncia. preciso compreendermos o que
est aqui realmente em jogo, porque no se pode pensar no avaliador sem colocar, afinal,
a questo do sentido "do jogo" para o "jogador". A competncia deste exprime-se na pertinncia das escolhas tcnicas, a qual resulta da coerncia entre estas escolhas e as intenes que presidiram realizao do processo de avaliao. E a sua liberdade manifesta-se
pelas escolhas e pelas decises que fundamentaram o modelo de avaliao que d sentido
ao jogo, ou que organizaram mesmo o seu funcionamento. No se dever certamente
acreditar que esta liberdade absoluta. Os "jogos" realmente possveis so limitados pelo
contexto poltico, social e institucional. Em matria de avaliao, um professor no tem a
liberdade de fazer o que quer. Para ser mais preciso, tem sempre ocasio para avaliar a sua
aco procurando compreend-la, interpret-la, no sentido de Ardoino e Berger, mas a
instituio exige-lhe que avalie o trabalho dos seus alunos. que divulgue os resultados, o
que induz um tipo de uma determinada prtica. Todavia, h vrias maneiras de efectuar
esse trabalho, vrios jogos ainda possveis no interior deste quadro imposto. por isso
que comearemos por explorar o espao em que, precisamente, em funo dos condicionalismos que pesam sobre o avaliador, os jogos possveis so ainda mais claramente discernveis: o do uso "social" da avaliao. Com efeito, ainda que o avaliador possa no ter
uma conscincia muito clara da filosofia subjacente ao seu projecto de avaliar, dificilmente pode esquecer a questo de saber para que serve a sua actividade. E mesmo se no
lhe atribuir explicitamente um modelo de funcionamento, no pode ignorar que, em referncia ao contexto decisional, essa mesma actividade pode ter vrias funes.
I
)
Um dos resultados
- - mais visveis da investigao, no domnio da avaliao dos alunos, dos
formandos ou, de uma maneira geral, dos aprendentes, a distino entre vrias funes.
Podemos entender por funo o papel caracterstico de um elemento ou de um objecto no
conjunto em que est integrado. "Uma funo, escreve J. Piaget, define-se pelo papel que
desempenha na subestrutura em relao estrutura tota13'l. A funo da avaliao dos
aprendentes ~ e r pois,
,
o papel desempenhado por esta actividade no conjunto das actividades -ditas de ensino. Podemos tentar compreender estas funes a partir daquilo que De.Landsheere designa como os objectos possveis da avaliao escolar.
/'
competncia do sujeito que realizou com sucesso as provas nesse momento de "provao"
que permitiu verificar a aquisio dos comportamentos socialmente desejados, e, alm
disso, socialmente atestados pela posse do diploma. O diagnstico a ocasio, por um
lado. de situar o nvel actual das aptides, das necessidades ou dos interesses de um indivduo, de verificar a presena de pr-requisitos; mas, por outro lado, , sobretudo, a ocasio de situar e de compreender as dificuldades sentidas pelo aprendente, tendo em vista a
concepo das estratgias de remediao possveis. Por fim, o prognstico versa sobre as
possibilidades de xito ulterior em funo do que, actualmente, parece aprendido. Atribumos um valor preditivo s informaes fornecidas pela avaliao, que tem neste caso por
''objecto'' guiar e orientar.
Assim, distinguimos trs objectivos que conduziro cada um deles realizao de uma
estratgia diferente:
- Se o objectivo dominante o de certificar (fazer o ponto da situao sobre os conhecimentos adquiridos e, eventualmente, outorgar um diploma), a observao debruar-se- sobre os comportamentos globais, socialmente significativos. Assim, no
passado, o certificado de estudos primrios atestava que se sabia ler, escrever e
contar. Eram ento os trs comportamentos que a Repblica considerava fundamentais
para os cidados.
- Se o objectivo o de. regula (guiar constantemente o processo de aprendizagem), o
avaliador esforar-se- por obter informaes sobre as estratgias de ataque dos problemas e sobre as dificuldades encontradas.
-Se o objectivo o de orientar (escolher as vias e as modalidades de estudo mais
apropriadas), a avaliao debruar-se- principalmente sobre as aptides, os interesses e as capacidades e competncias consideradas como pr-requisitos para as
futuras aquisies.
Para designar as prticas que se organizam volta destas trs grandes funes (orientar,
regular, certificar), fala-se hoje de avaliao diagnstica ou prognstica, ou preditiva; de
avaliao formativa, e de avaliao sumativa.
Esta terminologia convida-nos a considerar a forma como se insere o acto de avaliao
no acto global do ensino. Porque o sentido deste acto depende, em boa parte, do seu lugar
em relao aco de formao ou de ensino propriamente dita (quadro 2, p. 63).
Falaremos de avaliao diagnstica quando se trata de explorar ou de identificar
algumas caractersticas de um aprendente (por exemplo, as representaes ou os conhecimentos adquiridos) com vista a escolher a sequncia de formao mais bem adaptada
s suas caractersticas. De qualquer forma, trata-se de articular, de maneira adequada,
um perfil individual ou um perfil de formao. Antes de iniciar qualquer aco de formao, nisto que reside o interesse em captar traos daquilo que se denomina como o
perfil de partida dos formandos. J.-M. Barbier, que neste caso prope que se fale de
identificao, em lugar de avaliao, mostrou que esta aco deveria efectuar-se no
Quadro 2
Funes d a avaliao, segundo o seu papel
n a sequncia d a aco d e formao
"
A
3
v
A
Sequncia ou aco
de FORMAO
"Progressiva"
caractersticas
somente "pela negativa", em relao quilo que deve ser adquirido, mas tambm "pela
positiva", para valorizar as competncias existentes que podero constituir outros tantos
pontos de apoio para a formao3.
A expresso ailaliaqoformativa foi proposta por Scriven em 1967. Desde ento este tipo
de avaliao multiplicou-se e foi objecto de um grande nmero de trabalhos4. A avaliao
dita formativa tem, antes de tudo, uma finalidade pedaggica, o que a distingue da avaliao
administrativa, cuja finalidade probatria ou certificativa. A sua caracterstica essencial a
de ser integrada na aco de "formao", de ser incorporada no prprio acto de ensino. Tem
por objectivo contribuir para melhorar a aprendizagem em curso, informando o professor
sobre as condies em que est a decorrer essa aprendizagem, e instruindo o aprendente
3 J.-M.
4
sobre o seu prprio percurso, os seus xitos e as suas dificuldades. Esta funo geral de
ajuda da aprendizagem recobre um certo nmero de funes anexas:
- se
'
alimentar um verdadeiro dilogo entre professorlaprendente que esteja fundamentado em dados precisos.
Segundo J.-J. Bonniol e R. Amigues5, para ser formativa, a avaliao deve preencher
trs funes. De facto, a funo reguladora, que permite ao aluno ajustar as suas estratgias e ao docente adaptar o seu dispositivo pedaggico - o que corresponde dupla retroaco, sobre o aluno e sobre o professor, descrita por G. Noizet e J.-P. Caverni6 -,
depende de duas outras funes:
-uma funo reforadora: reforo positivo de qualquer competncia que esteja de
acordo com o objectivo;
-uma funo correctiva: o prprio aluno deve poder reconhecer e corrigir os seus
prprios erros.
Por fim a avaliao dita sumativa quando se prope fazer um balano (uma soma),
depois de uma ou vrias sequncias ou, de uma maneira mais geral, depois de um ciclo de
formao. por isso que muitas vezes ela pontual, efectuada num momento determinado (ainda que tambm se possa realizar num processo cumulativo, quando o balano
final toma em considerao uma srie de balanos parciais) e pblica. Muitas vezes os
alunos so classificados uns em relao aos outros (avaliao normativa) e os resultados
so comunicados administrao e aos encarregados de educao.
Esta primeira abordagem a respeito das funes da avaliao dos aprendentes pode ser sintetizada num quadro geral, que precisa cada passo: o objecto (no sentido de De Landsheere), o
uso social (concretamente, para que serve a avaliao), a funo principal (definida pelo
objectivo central), o tipo de avaliao, assim como algumas funes anexas (quadro 3).
Este quadro impe, no entanto, um certo nmero de observaes. A primeira que a
situao muito mais complexa do que aquilo que primeira vista se poderia pensar.
E, antes de mais, ser exaustivo o nosso quadro? Pode-se duvidar disso. Bernard Maccario,
por exemplo, ao diferenciar o que poderamos designar por uma lgica da regulao das
condies de aprendizagem de uma lgica da apreciao social, conclui pela existncia,
por desdobramento, de "seis funes possveis".
1.-J. Bonniol e R. Amigures, "Dispositif duto-valitarion des lves et russite scolaire", document ronotyp,
Universit de Provence.
G. Noizet e J.-P. Caverni, Psychologie de I'valuarion scolaire, Paris, PUF, 1978, p. 19.
Quadro 3
Quadro geral das funes da avaliao dos aprendentes
OBJECTO
Inventrio
Diagnstico
Prognstico
USO SOCIAL
Verificar
(pr prova)
FUNO
Certificar
TIPO DE
Sumativa
FUNES
ANEXAS
Classificar
Situar
Informar
Situar um nvel
e
Compreender
dificuldades
Inventariar
Harmonizar
Tranquilizar
Apoiar
Orientar
Reforar
Corrigir
Estabelecer um
dilogo
Predizer
Explorar ou
identificar
Orientar
Compreender
(um modo de
funcionamento)
Adaptar (perfis)
Orientar
Diagnstica
Prognstica
Preditiva
Por exemplo, a avaliao inicial pode ser feita para conceber a organizao da aprendizagem ou para descobrir aptides individuais7. Para alm disso, claro que as categorias
utilizadas no so mutuamente exclusivas. A avaliao formativa tem um objectivo "diagnstico" ... tal como a avaliao diagnstica ou preditiva. O diagnstico implica um inventrio. A avaliao prognstica rene os trs objectos caracterizados por De Landsheere: o
prognstico que se baseia num inventrio dos conhecimentos e num diagnstico das lacunas
e dificuldades! Pelo prprio jogo das funes anexas, surgem cruzamentos. A avaliao formativa serve para guiar, tal como a avaliao prognstica. Nos dois casos, ser questo de
adaptar ou de harmonizar (perfil individual, metodologia de formao). Uma avaliao
sumativa pode ser utilizada para fins prognsticos. o problema, por exemplo, do haccalaurat*, que pode ser interpretado como um simples exame de fim de curso, ou como um
instrumento de orientao. Por fim, a distino antes deldepois de verdadeiramente operatria? Qualquer avaliao preditiva (antes de) ao mesmo tempo sumativa (ela tem lugar
depois de um ciclo de formao). Uma mesma srie de provas pode ter vrias finalidades.
A avaliao formativa poder ser considerada como uma srie de balanos pontuais de
valor preditivo! Que concluir?
A) Que no h marcador temporal indiscutvel para distinguir funes. Como para
outras variveis "tcnicas'?, a questo "quando?" no , por si s, determinante.
B) Que no convm conceber a funo da avaliao como qualquer coisa de unidimensional em que se encerraria todo o sentido de uma prtica. No h que lhe escolher o
campo, e no h campos separados de uma vez por todas. Pelo jogo das funes anexas,
as funes principais interpenetram-se ou, ao contrrio. singularizam-se e pode haver
mltiplos deslocamentos ou desvios. A realidade movedia e so sempre possveis
vrios jogos. Basta considerar a avaliao formativa, que pode servir para:
)(
I -esclarecer
Toda e qualquer prtica sempre multifuncional. Dever-se-, pois, pensar que qualquer distino de funes , por isso, v? No, porque pode concluir-se tambm ...
C) Que o essencial determinar o espao de "liberdaden no qual se operam as escolhas
de funo. A cada espao corresponde uma "lgica" particular. Assim, com B. Maccario,
podemos considerar o espao de apreciao social, em que se faz um juzo sobre o aprendente em funo das expectativas sociais (competncias requeridas), da futura utilizao
social da competncia escolar adquirida, ou do interesse social de aptides individuais
(lgica da orientao-validao-certificao e nova orientao); e podemos considerar tambm o espao da gesto pedaggica, em que o juzo formulado tem ento por "funo"
essencial contribuir para uma optimizao da orientao didctica. aqui que as anlises de
Stufflebeam er al. ganham toda a sua pertinncia. Se a avaliao um juzo, este juzo situa-se num campo decisional que prepara e clarifica as decises. No primeiro captulo, debrumo-nos sobre a aco na sua globalidade. Precisamos agora de caracterizar tipos de aco
que definam tipos de deciso, uma vez que cada campo de aco se estrutura segundo uma
lgica prpria. A multiplicidade dos jogos possveis corresponde, primeiro, multiplicidade
destes espaos possveis8, antes de exprimir em torno das tarefas prioritrias a variedade das
estratgias possveis para cada um.
Falamos aqui dos espaos do jogo que estruturam "o espao de posicionamento", mais geral, do uso social.
9 Yves
Quadro 4
Espaos de escolha e espaos de jogo:
o exemplo da avaliao escolar
ESPAO DE
ESCOLHA
FOCADO
TIPOS DE JOGOS
Utilizaes
sociais
da
avaliao
escolar
ESTRATGIAS
desenvolvidas em tomo de
tarefas prioritrias
Jogo pedaggico
Espao do processo didctico
Lgica de ajuda aprendizagem
Jogo institucional
Espao do dilogo social
pais/professores/alunos
Lgica de intercmbio conflitual
Negociao didctica
(regateio e transaco)
Estratgias dos professores de recolha
de informaes destinadas discusso
nos conselhos de turma
1 Jogo social
Espao de articulao
Escola/Sociedade
Lgica da orientao
ser definido o lugar a que pode aspirar, num sistema de posicionamentos sociais (lgica
da orientao e do posicionamento social).
Em cada um destes espaos, vrios jogos - agora no sentido de organizao das estratgias em torno de funes dominantes - so possveis, como o demonstrmos para o
espao do jogo pedaggico. Tomar credvel a avaliao corresponder, pois, do ponto de
vista da funo, a interrogarmo-nos principalmente sobre o espao em que decorre a nossa
actividade de avaliao para organizar esta ltima segundo uma lgica apropriada a esse
espao (quadro 4: Espaos de escolha e espaos de jogo).
- das intenes
O campo tratado seria o dos fins. Ora, o termo de fim ambguo. Podemos, com Daniel
Hameline, distinguir os fins das finalidades e dos objectivos. As finalidades dizem respeito
ao longo termo, e fornecem linhas de direco associadas a valores. Os objectivos enunciam, a curto prazo, intenes em termos de resultados esperados. Entre a afirmao de um
princpio, sempre geral, e a determinao das competncias pretendidas, sempre particulares, o fim define as intenes perseguidas por um determinado grupo respeitantes a um
pblico preciso, para o qual ser ou no vlido um determinado programa. Com o fim
surge a noo de resultado pretendidolo. No domnio da avaliao pedaggica, que define
como "uma tarefa de observao e de interpretao dos efeitos do ensino, que visem
empreender as decises necessrias ao bom funcionamento da escola", J. Cardinet, respondendo a questo "avaliar, para qu'?", distingue quatro fins essenciais:
- melhorar
Para o autor, o primeiro e o ltimo fim "pedem" uma avaliao formativa. Trata-se de
fornecer uma informao til para a adaptao das actividades de aprendizagem.
O segundo e o terceiro fins "pedem" uma avaliao sumativa. A inteno a de "contabilizar" as aprendizagens realizadas numa ptica de controlo socialI1. Assim, D. Hameline
mostra como as intenes pedaggicas decorrem de intenes sociais mais vastas, respeitantes ao pblico que ser objecto de avaliao. E J. Cardinet confirma que a escolha de
um tipo de avaliao depende da determinao prvia de fins que traduzem intenes
sociais que aqui se exprimem num modelo de funcionamento da escola. Porque "todo o
funcionamento reenvia para uma funo" (p. 2).
Propomo-nos considerar, a partir daqui, que o fim o que exprime, de uma maneira
geral, a funo dominante consignada actividade de avaliao, manifestando um certo
nmero de preocupaes do avaliador, e indicando o que este deseja "fazer", na sua relao com um determinado ob.jecto. O fim traduz, assim, uma orientao dominante quanto
ao objecto a que a avaliao se refere. Assim, M. Lesne classifica, "segundo os seus fins",
as actividades de recolha de informaes a que se entregam os actores do processo de
formao, em prticas de controlo, de orientao e de avaliao. Cada fim define, pois,
um tipo de continuao do respectivo processo, que corresponde a uma dada "preocupao"
e que leva a decises particulares.
- A orientago um processo dinmico que tem em ateno o contexto. Visa manter a
coerncia entre o processo de formao e a situao na qual este se desenvolve, e
traduz-se por decises de reajustamento do processo situao.
'O
'I
D. Hameline, Les objectifs pdagogiques en,formation iniciale et en formation continue, Paris. ESF, 1979.
J. Cardiner, Pour apprcier /e travail des Ii,es, Neuchrel, IRDP, Agosto de 1984; pp. 2-3.
l2M .
Lesne, Lire lespratiques de formation d'adultes. Paris, Edilig, 1984, pp. 54-62.
se existem vrias formas de conceber uma relao do tipo "avaliao", o que levanta
logo a questo das fronteiras "intemas" da actividade.
Fronteiras externas; fronteiras intemas. No falmos j no que est em jogo quando se
pretende avaliar? Convm. sem dvida, precisar as nossas primeiras anlises, dizendo de
forma mais clara o que separa a avaliao de outras actividades vizinhas, mas que so.
contudo, diferentes. Isso permitir-nos- limitar melhor a sua essncia e talvez distinguir,
de forma mais segura, os seus fins principais.
AVALIAO E CONTROLO
Facilmente se ope, hoje, avaliao a controlo. Para Jacques Ardoino e Guy Berger,
estas duas noes pertencem a duas ordens diferentes e reenviam para duas "epistemologias" distintas. O controlo tem por objecto verificar o grau de conformidade entre os fenmenos que ocorrem numa dada situao e um modelo preexistente de referncia. Tal
como o viajante deve validar o seu ttulo de transporte, tambm o aluno "de troisime" *
deve conhecer as regras do jogo. A avaliao um questionar sobre o sentido do que
produzido na situao observada. J. Ardoino e G. Berger demonstram como, ao mesmo
tempo, se opem as prticas e os discursos, e como, mesmo ao nvel das atitudes naturais,
avaliar (apreciar o gosto de um alimento) e controlar (verificar se uma porta est fechada)
se distinguem. Quando a prtica se sistematiza e se organiza metodologicamente, o controlo centra-se sobre o espao (para medir) e esfora-se por explicar (esforo de rigor).
A avaliao indissocivel do tempo vivido e situa-se na ordem do implicado (procura de
sentido). E as anlises tericas no podem deixar de ser confusas se no "compreenderem
e admitirem que estes dois conceitos reenviam para dois universos e duas epistemologias". por isso que as tipologias clssicas, incluindo as que assentam na determinao
de funes, so insuficientes. Ora, no podemos fazer economia de noes quando se trata
"de uma fenomenologia infinitamente mais complexa".
Isto parece-nos particularmente correcto, mas uma das razes pelas quais no sem
dvida oportuno estratificar a oposio entre os dois termos e deixar de pensar a avaliao
apenas em oposio ao controlo. Ento, pensamos ns, h a o risco de nos fixarmos numa
anlise que se prenda quase exclusivamente em opor os aspectos fundamentais das duas
actividades. Assim:
- o controlo deve ser objectivo e os controladores so substituveis, enquanto que a
avaliao no pode ser seno subjectiva e o avaliador insubstituvel;
- o controlo tem uma pretenso totalitria e s se satisfaz com a finalizao da sua
aco; a avaliao um processo parcial e necessariamente inacabado;
- o controlo mede os desvios em relao a um referente constante; a avaliao criao
contnua do "referente".
J. Ardoino. G. Berger, "L'i2aluation conlnze interprtation". POUR, 107, pp. 120-123. Estes autores escrevem
"rfrant com "a", para marcarem sem dvida a especificidade do referente que o intrprete constri.
* Em relao nota anterior, convm salientar que C. Hadji prefere escrever "rfrent" (referente) com "e". Da a
necessidade. para este autor. de precisar a diferena entre a sua opo e a de Ardoino e Berger. Visto no existir
terminologia correspondente que marque esras diferenas em portugus, manteve-se sempre a traduo "referente"
para os dois casos (N.T.).
l4 J. Ardoino, "Au filigrane d'un discours: Ia question du controle et de l'valuation". Prefcio da obra de M. Morin,
L'imaginaire duns l'ditcation permanente, Paris, Gauthier-Villars, 1976.
l3
jogos. Para melhor tentar perceber estes plos, podemos interrogarmo-nos sobre o que
separa a avaliao, no agora do controlo, mas da medida.
AVALIAO E MEDIDA
No tarefa simples situar reciprocamente avaliao e medida. Por um lado, a inteno de avaliar est prxima da da medida, e a avaliao parece implicar a medida. Alis,
muitas vezes, o termo medida surge espontaneamente nos propsitos daqueles que desejam avaliar esta ou aquela prtica social. Deseja-se medir tanto a eficcia de um ensino
como a de um medicamento. Por outro lado, parece existir uma diferena radical entre as
duas actividades: "Medir atribuir um nmero a um objecto ou a um acontecimento
segundo uma regra logicamente aceitvel". Quando se mede, pem-se em correspondncia objectos e sistemas de unidades que devem ser objectivamente definveis. Em ltima
instncia, podemos design-las materialmente (o metro padro que repousa no seu "pavilho"). Ser possvel qualquer coisa deste gnero em avaliao? Como materializar uma
unidade de comportamento ou de aco? Doze pontos no so doze metros ... Mas h dificuldades muito mais importantes do que esta dificuldade "tcnica" para determinar unidades de medida claras e precisas. Porque, como escreveu Claude Lvi-Strauss, sabemos
hoje, graas aos novos ramos das matemticas, "estabelecer relaes rigorosas entre classes de indivduos separados entre si por valores descontnuos". Ora, precisamente estas
"novas" matemticas poderiam ser qualificadas de "qualitativas" ao dissociarem rigor e
medida e ao permitirem assim ultrapassar o estdio da simples quantificao16. Seria
assim necessrio distinguir a "medida" clssica da tradio quantitativa, e a nova
"medida" de rigor tomada possvel pelas matemticas qualitativas que operam sobre relaes entre elementos descontnuos. O obstculo tcnico no intransponvel. O problema
verdadeiro o de saber se o rigor, que efectivamente requer a avaliao, deve ou no
assentar prioritariamente no uso de uma instrumentao matemtica. Nas cincias do
Homem, esta tem, segundo C. Lvi-Strauss, por funo permitir um tratamento rigoroso
de fenmenos, evidentemente qualitativos, mas regidos por leis necessrias. esta
"necessidade" que perseguida atravs da utilizao das matemticas no quantitativas.
Ento, o propsito do avaliador no o de estabelecer "o reino da necessidade"I7 nos
fenmenos de essncia qualitativa. antes o de fundamentar um juzo "qualitativo" sobre
fenmenos que podem muito bem ter uma essncia quantitativa. o que Ardoino e
Berger exprimem ao afirmarem que no h avaliao seno no momento "em que emerge o
qualitativo no quantitativo", consistindo assim o acto de avaliar em "quebrar a continuidade"
J.-P. Guilford, citado por G. De Landsheere, Inrrnduction r ) Ia recherche en ducarion, Paris. Colin. 4P ed., 1976.
C. Lvi-Strauss, "Les rnathrnatiques de l'hornrne". in Bullefin iritert7ational de.< s<,ierzcessociales, 6, 1954,
pp. 6461648. Citado por G. Durand, Les grarzds te-xfesde Ia sociologie modrrne, Paris, Bordas, 1969.
I 7C. Lvi-Strauss, "Les rnathmatiques de I'homrne", art. citado, p. 122.
l5
l6
l8
significar uma tomada de posio, a priori, sobre a prpria operao de avaliao, sobre
uma determinada concepo desta actividade. Cada "filosofia" organiza-se em tomo de
uma resposta questo: "Para que serve avaliar?".
A filosofia , segundo Hegel, "a compreenso do presente e do real" e tem por tarefa
"conceber o que "19. Se cada uma das filosofias que desejamos assinalar corresponde,
assim, a uma concepo particular da realidade "Avaliao", somos convidados, uma vez
mais, a fazer um trabalho de leitura das prticas. Poderemos diferena subconjuntos de
prticas exprimindo uma "concepo" suficientemente caracterstica para poder ser isolada e distinguida das outras?
J. Ardoino e G. Berger do-nos uma primeira e decisiva resposta, ao distinguirem a
avaliao estimativa, orientada para o quantitativo, e a avaliao apreciativa, que privilegia o qualitativo. Mas sabemos que, para estes autores, s h verdadeira avaliao
quando qualitativa. Logo, a avaliao estimativa tambm nos parece merecer ser designada pelo termo avaliao enquanto operao de leitura do real mais prxima da medio.
O que estabelece a diferena a ausncia de um instrumento de medida apropriado. por
isso que nos propomos falar do processo da avaliao de medio por defeito. Desejaramos pesar, mas no dispomos de balana. A inteno apreciar "objectivamente", captar
certas caractersticas "objectivas" do fenmeno considerado. Mas, como no h uma unidade de medida indiscutvel, contentamo-nos em calcular: calcular a gravidade de um acidente nuclear, situando-o numa escala que foi objecto de consenso entre especialistas; ou
calcular a gravidade de uma doena, antecipando o seu provvel desenvolvimento. Poderemos calcular recorrendo a experimentao, para determinar, por exemplo, o "valor" de
um novo mtodo pedaggico, ou de um novo tratamento mdico. O clculo faz-se em
referncia finalidade com que o tratamento foi inventado (cura "mesmo"?), ou razo
pela qual o mtodo pedaggico foi realizado (melhora o resultado dos alunos?). Estamos
ento prximos da avaliao apreciativa. Mas o clculo orientado para o quantitativo.
Gostaramos de dizer, o mais objectivamente possvel, o valor do produto ou do mtodo
avaliados, tendo em considerao esse valor como uma dimenso que lhe prpria. A
inteno a de medir bem, de dizer o "peso" do ser. De, em resumo, descrever o ser ou a
realidade tal como so. Antes de efectuar a ultrapassagem, eu avalio a distncia que me
separa do veculo com que me vou cruzar, e o tempo necessrio para ultrapassar o veculo
que me precede. Um computador que fosse capaz de, instantaneamente, levar em conta
todos os parmetros da situao - como a minha prpria velocidade, o estado do piso, a
minha competncia de condutor, etc. - poderia decidir a escolha acertada entre ultrapassar
ou no, e dar-me ou no luz verde para passar. A avaliao por "defeito de medida" assinala uma certa incapacidade: so as minhas prprias limitaes - no conhecimento da
situao, nas minhas capacidades de clculo - que me impem constrangimentos no acto
de avaliar.
Iy
75
Cf. 15Monde, 19 de Dezembro de 1987. A Direco da TFI retira a grelha de avalialo da redaco.
que no possa ser completada e por isso mesmo alterada'"'. O especialista tentava captar o
real medindo-o; o juiz apreciava-o em relao a um dever-ser. Aquele que designaremos
como o filsofo, situado na extremidade do continuum que vai da medida a avaliao. tem
em comum com o especialista a ambio de compreender o ser. No entanto, essa ambio j
no para lhe descrever o peso, mas o sentido. Trabalho que exige, ao mesmo tempo, as
qualidades de Ssifo e de Penlope: de Ssifo, porque a realidade a avaliar movedia e,
como no podemos parar o tempo que a transporta e a modifica, esgotamo-nos a seguir o
nosso objecto; de Penlope, porque continuamente temos de recomear a teia feita de palavras e de ideias que tecemos para exprimir o sentido do que se avalia em funo, por um
lado, da evoluo das coisas e da sua prpria evoluo, e, por outro, da finitude do seu
discurso e do seu saber. Para o filsofo que interpreta, no h saber absoluto. Tal como,
segundo Valry, no h um sentido verdadeiro de um poema, tambm no h o sentido
"verdadeiro" da realidade avaliada (quadro 5).
Quadro 5
As filosofias da avaliao
AVALIAO ESTIMATIVA
I
AVALIAO APRECIATIVA
I
Medir
Apreciar
Zy:
ggico
Captar a realidade
pesando-a
Julgar o ser
luz do dever-ser
Compreender o ser
na sua multidimensionalidade
Discurso objectivo
Discurso apreciativo
Discurso interpretativo
-2 sg
5 '2
L
Interpretar a significao
de unia prtica ao construir o "referente" multidimensional que permite
"pens-la"
-'-.
' d
1232
"Oo 5.2
m r-
O especialista
1 O juiz
1 O filsofo
" Guy Berger, "Mais-qu'est-cequi nous prend ?I valuer?", POUR, 55, Junho de 1977, p. 13.
Por ltimo, possvel percorrer o espao dos fins colocando, sob um outro ngulo, o
problema das filosofias subjacentes aos projectos de avaliao. Porque, se os jogos se
diferenciam segundo a funo dominante do acto realizado sobre o seu objecto (de medio. apreciao ou compreenso), esses jogos podem igualmente exprimir uma tomada de
posio quanto a relao do avaliador com o seu objecto, quando este um ser humano.
Neste caso, o acto de avaliao apresenta o carcter de um discurso social pelo qual dizemos qualquer coisa da nossa relao com o outro. De uma certa forma, o avaliador pronuncia-se sobre a natureza da ligao que une aquele que produz o juzo aquele que o
suporta e a quem ele se destina. Porque um discurso destina-se a ser escutado. O risco do
discurso avaliativo , nestas condies, o da relao social, relao que se tomou, nos
nossos dias, particularmente preocupante, e que uma das razes pelas quais damos tanto
interesse e ateno a avaliao. Aceitar avaliar um outro tomar posio sobre a relao
social. Segundo este ponto de vista, propomo-nos distinguir quatro grandes discursos em
que cada um exprime uma inteno em relao ao avaliado, uma concepo do que se
joga entre aquele que fala e aquele de quem se fala.
Falar verdade: "Vou-te dizer quem tu s a fim de que tu possas tomar-te como eu".
Podemos falar por dever, dever de dizer a verdade, ou, dito de outra forma, dizer a realidade "verdadeira" daquilo de que se fala. Discurso semelhante, de alguma forma, ao do
mdico. Da mesma forma que este tem o dever de contribuir para a cura do paciente, o
avaliador pode pensar e fazer compreender que tem o dever de contribuir para a construo e o desenvolvimento de um sujeito "epistmico", tal como o concebe Jean Piaget:
"Sujeito descentrado que coordena as suas prprias aces entre si e estas com as de um
outro, que mede, calcula e deduz de forma verificvel para cada um, e cujas actividades
epistmicas so, pois, comuns a todos os sujeitos"22. Aquele que est em situao de
saber (o avaliador) tem o dever de permitir que o outro (o avaliado) possa tambm alcanar o saber e tomar-se num sujeito conhecedor, antes de mais, da sua prpria realidade.
A relao "avaliador-avaliado" concebida como uma relao de igual dignidade, sendo
a intermutabilidade terica das posies um dever de objectividade. A busca da nota
verdadeira (e justa, porque verdadeira) traduz particularmente bem este querer-dizer-a-verdade de uma paisagem filosfica caracterizada pela preocupao pelo saber objectivo.
22
J . Piaget, pisrmologie des sciences de I'homme, Paris/Gallimard, coll. "Ides", 197 1, p. 46.
uma empresa. Avaliar ento pr as coisas, quer dizer, as pessoas, no seu lugar. O avaliador
afirma o seu poder (e a sua superioridade) marcando a distncia que separa o mestre do
aprendiz. Assim se compreende a avaliao por subtraco da qual so defensores apaixonados os jris dos grandes concursos acadmicos que fazem o encanto da vida intelectual
francesa. A nota de 20120 para Deus. A de 19 para o mestre (para si prprio ... partindo do
pressuposto que este tenha verdadeiramente capacidade para se candidatar de novo.
Gostaramos de poder dizer: "atreve-te!"). A partir desta base, que marca o nvel terico
da excelncia, contam-se os erros e atribuem-se os pontos. No se hesitar em marcar
com o ferro em brasa da infmia aqueles que cometeram os erros mais crassos (ou os mais
engraados: divertimo-nos como podemos neste tempo em que, como escrevia Alain, "os
prazeres so rarosHz3),com os quais ser de bom-tom constituir um florilgio. Quem tem
o poder de avaliar tem tambm o poder de legitimar ou de condenar o comportamento
avaliado. A relao "avaliador-avaliado" vivida, nestas condies, como uma relao de
dominao hierrquica. Com o mesmo movimento com que impe a sua leitura da realidade e a sua grelha de interpretao, o avaliador marca a superioridade da sua posio.
Ajudar: "No te preocupes, estou aqui para te ajudar".
Salienta-se, hoje, frequentemente, a importncia da avaliao formativa. Esta preferncia por uma funo exprime uma terceira filosofia da relao "avaliador-avaliado",
segundo a qual um est l principalmente para ajudar o outro. O avaliador torna-se no
humilde servidor do desenvolvimento do outro. Num tal contexto, propriamente dito personalista (respeito pela pessoa do outro que necessita, sobretudo quando se est a formar,
que venham em seu auxlio), a relao "avaliador-avaliado" urna relao de proteco
fraternal. Adivinhamos que, pelo menos, se colocam duas grandes questes aqueles que
se lanarem neste jogo de ajuda:
-Qual a utilidade real do discurso avaliativo? Como tornarmo-nos verdadeiramente
auxiliares do desenvolvimento do avaliado?
- O poder de ajudar no se arriscar, como todo o poder, a ser inebriante para aquele
que o exerce?
Compreender: "Vou esforar-me por compreender o que nos liga e o que nos separa".
A vontade de compreender, que caracteriza uma filosofia da avaliao, pode ir a par,
como evidente, na teoria da "avaliao como interpretao", desenvolvida por
J. Ardoino e G. Berger, com uma concepo da relao social que faz dela uma relao
opaca, complexa, equvoca. "Qualquer processo de avaliao mergulha na espessura e na
opacidade dos inconscientes, no artifcio, na prpria duplicidade dos diferentes interesses
-".
23
em presena"24. O outro est l com "os seus artifcios, as suas estratgias e a sua inteligncia" (p. 124). E, paradoxalmente, num mundo em que a relao com o outro marcada por uma dialctica conflitual, o avaliador deve precaver-se contra qualquer tentao
de domnio e tem de se tomar capaz de elucidar a sua prpria posio institucional, e pensar "o seu lugar em funo dos interesses e dos desafios em presena" (p. 125). A relao
"avaliador-avaliado" transforma-se ento numa relao dialctica que necessita. tambm
ela, de ser interpretada. Aqui, finalmente, sobrepem-se e correspondem-se trs "filosofias":
-uma concepo do mundo como esfera do opaco, do complexo e do equvoco, em
evoluo permanente;
-uma concepo da relao com o outro como relao conflitual onde permanentemente se produz o inesperado;
-uma concepo da relao de avaliao como relao de interpretao, permanentemente posta em causa e permanentemente retomada, que deve ser permanentemente
reinterpretada.
Esta ltima filosofia da relao avaliador-avaliado d notvel testemunho da complexidade dos jogos que se desenvolvem na esfera da avaliao e fazem desta uma actividade
eminentemente plural (quadro 6, p. 8 1).
Quadro 6
Grandes QUESTOES
de partida
ESPAOS
de posicionamento
OBJECTO (S)
FOCADO (S)
Fins
que caracterizam
Intenes
(respeitantes ao objecto
de avaliao)
Modelos
de avaliao
TIPOS DE JOGOS
ao
: Medir
: Apreciar
: Interpretar
Jogo do juiz
Quanto
,
relao
avaliador/
/avaliado
de
- falar verdade
- dominar
- ajudar
-
compreender
Dispositivo
CONCLUSO
DA PRIMEIRA PARTE
Para bem jogar
preciso saber primeiro ao que se joga
perao de cruzamento, a avaliao casa, por fim, o uno e o mltiplo. Por detrs da
unidade de uma modalidade de juzo pela qual se toma partido sobre uma dada realidade dizendo o que, de um determinado ponto de vista, a seu respeito convm pensar,
esconde-se uma pluralidade de jogos possveis que implicam escolhas que se efectuam em
espaos diferentes. Pudemos assim pr em evidncia duas grandes sries de escolhas.
Em primeiro lugar, h escolhas axiolgicas que determinam a construo do referente.
a escolha dos valores sobre os quais se fundamenta aquilo a que D. L. Stufflebeam
chama modelo de "tipo 1 " e que uma representao ideal do que deveria ser. Contudo, o
avaliador no livre de operar uma qualquer escolha de valores. A sua tarefa precisa a
de construir um referente operatrio. Para isso -lhe necessrio identificar os diferentes
actores sociais implicados na avaliao a realizar e as diferentes partes intervenientes. Por
exemplo: para a avaliao de uma aco de formao, tem de se ter em considerao
quem a pede (o Ministrio), os responsveis da formao, os formadores, os formandos,
os responsveis do (futuro) terreno profissional, etc. Para a avaliao dos alunos: a autoridade administrativa (instrues oficiais), a direco da escola, os colegas, os pais, os
prprios alunos, etc.
Depois, o avaliador, ao ter em conta o peso especfico das preocupaes de cada um
(que necessrio avaliar: qualquer acto de avaliao implica outros) e o tipo de avaliao
83
- interrogar o ou os jogos que so privilegiados para ver o que nos separa, ou, ao contrrio, o que nos une a esses jogos, os quais, tendo em conta valores e preferncias
prprias, gostaramos de jogar, e aqueles a que estamos, pelo prprio contexto institucional e social, coagidos a jogar;
- interrogar as ciladas de cada um, a fim de tentarmos no ser vtimas delas;
- desenvolver, a partir da, estratgias coerentes no quadro das escolhas efectuadas.
S nos resta mostrar como nos podemos esforar para alcanar estes dois ltimos
objectivos.
"TORNAR SEGURA"
A
AVALIAAO
escolar para manifestarem a sua existncia e o seu valor. Nesta lgica, os alunos tomam-se
todos... "os dominados". No se trata, de modo algum, em participarmos em qualquer
movimento de promoo de uma disciplina que se completaria em detrimento das outras,
ao servio das quais deveria estar. A questo de saber se seria necessrio constituir a avaliao em objecto separado, em "cincia" ou disciplina autnoma, foi posta recentemente
no quadro de uma reflexo sobre a formao dos professores em avaliao2. Mas, cristalizando-se sobre o problema da "entrada" no currculo (entrada pela didctica ou entrada
pela avaliao?), o debate sobre a formao arrisca-se, uma vez mais, em se atolar nos
problemas estratgicos da ocupao do espao, esquecendo o essencial. Ora, o essencial
parece-nos ser, nas questes de formao, o interesse dos formandos. Quais so as necessidades as quais deve responder a formao? Quais so os problemas para cuja resoluo
a formao pode contribuir? O que torna a pr, sob uma nova forma, o problema do
modelo de funcionamento da actividade de avaliao. Para qu, e aqui mais concretamente, a quem deve servir a avaliao? Porque esta a nossa hiptese de trabalho: a uvaliao uma actividade que deve ser exercida em proveito daqueles sobre os quais ela se
e-verce (por exemplo: os alunos). ou daqueles que dizem respeito ao objecto sobre o qual
ela se debrua (neste caso, por exemplo, um mtodo pedaggico). Esta hiptese privilegia
de certos problemas
um modelo de funcionamento: a avaliao contribui para a ~~esoluo
iividos pelos seus actores ou pelos seus agentes. Querer p-la ao seu servio conduz,
pois, a interrogarmo-nos sobre estes problemas.
Nas actividades de ensino ou de formao, como em qualquer processo de ensino-aprendizagem, h dois grandes tipos de actores: os formadores e os formandos. Trata-se
de ajudar estes ltimos a ultrapassarem as dificuldades que lhes so prprias, enquanto
formandos. Simplificando, este o nico problema dos formadores. necessrio, pois,
para poder "tomar segura a avaliao", saber o que quer, do ponto de vista da avaliao, o
formando na situao de ser-formado. Quais so, ento, as exigncias desta situao?
Quais so as condies para uma formao com sucesso?
Do ponto de vista da utilizao social da actividade de avaliao, distinguimos, pelo
menos, trs grandes jogos possveis: o da gesto didctica (espao das aprendizagens), o
da gesto institucional (espao de dilogo pais/professores/alunos), o da gesto social
(espao de articulao escola/sociedade). O formando pode assim ser encarado de um
triplo ponto de vista:
- enquanto aprendente;
Cf. "Savoir valuer pour mieux enseigner. Quelle formation des maitres?", Textos reunidos por Monique Thurler e
Philippe Perrenoud. Cahiei. nP 26. Service de Ia recherche sociologique, Genve, 1988.
I
I
ajuda a aprendizagem. Assim, no espao do seu uso social, a avaliao pode concorrer
para trs grandes funes:
- orientao/seleco
A prirneira regra para quem quer avaliar com rigor a de conhecer qual , em cada
caso ou em cada circunstncia, o jogo principal.
Se se trata de fazer a triagem e de seleccionar, que se faa! Mas na condio, por um
lado, de nem os seleccionadores nem os seleccionados serem ludibriados pensando que
esto a fazer outra coisa que no aquilo que realmente fazem; e, por outro, de se terem
definido de forma clara os critrios de triagem. Em certas disciplinas, no concurso de
agregao**,em cada dez candidatos s ser seleccionado um. Seriam os candidatos
eliminados os menos aptos para serem professores nesse grau de ensino? Se se trata
de comunicar informao til aos parceiros do acto educativo, o rigor exige que se saiba
*Optou-se por conservar a expresso original que corresponde a uma realidade francesa sem equivalncia no
sistema educativo portugus. Trata-se de cursos que preparam os alunos para a entrada nas chamadas grandes
escolas ("grandes coles") do ensino superior (N.T.).
A agregao uma certiicao obtida ap, um exame de admisso altamente selectivo e uma formao profissional
de um ano. Este diploma permite que os seus titulares ensinem. nomeadamente, em liceus, em cursos preparatrios
para a entrada nas "grandes escolas" e nas seces de tcnicos superiores (N.T.).
..
primeiro qual o tipo de utilidade que est em questo. O que que importante dizer e
visando o qu? Tomar segura a avaliao jogar, da forma mais "limpa" possvel, o jogo
dominante. pr o problema dos direitos e deveres do avaliador nas suas "respectivas"
obrigaes. E quais so ento essas obrigaes, cujas funes esto determinadas social e
institucionalmente'? Se o avaliador um funcionrio, essas obrigaes so definidas pelo
legislador, que traduz a vontade geral em textos de lei em que se inspiram notas e instrues. neste quadro que o professor/avaliador deve orientar, comunicar e facilitar as
aprendizagens. Mas cada coisa no seu lugar e no seu tempo. A primeira necessidade de
no as misturar e de respeitar, com toda a clareza, cada uma destas tarefas.
No tomaremos, todavia, esta ltima distino de funes como o fio condutor da
sequncia do nosso trabalho, embora possamos, efectivamente, tentar dizer como cumprir
sucessivamente com rigor cada uma dessas funes. Mas consideramos - segunda hiptese de trabalho - que h, de direito e de facto, uma fungo dominante para os professores
ou para os formadores: a de facilitar as aprendizagens. E afirmamo-lo ao considerarmos o
que nos parece constituir a essncia dessa actividade. Temos assim de definir mais
precisamente o que significa ensinar ou formar.
Tentmos conceber a avaliao no vasto contexto geral da aco humana. Era necessn o balizar o mbito dos juzos avaliativos para melhor compreendermos e efectuarmos os
actos de avaliao exigidos pelo processo educativo. neste quadro preciso que, daqui
para a frente, nos manteremos. Mas, uma vez mais, do que que estamos a falar? Do trabalho dos educadores, dos professores, e/ou dos formadores? O processo educativo reduz-se,
como o deixariam pensar as primeiras linhas, ao processo ensino-aprendizagem? Visto
que a primeira obrigao do avaliador a de actuar com toda a clareza, comecemos
tentando tomar claro o nosso campo de estudo.
Propomo-nos distinguir actividades de educao, de instruo e de formao. O termo
educao aquele que cobre o mais extenso campo de actividades. A educao a aco
exercida sobre um indivduo ou um grupo de seres humanos com vista a inflectir ou a
modelar o seu comportamento. Isto pressupe que o indivduo ou o grupo so modificveis e capazes de desenvolvimento. Poder-se- dizer que, neste sentido, educar intervir
no desenvolvimento do outro para o tomar conforme a certas normas. O que deixa entrever que o primeiro problema para o educador ser o da legitimidade das normas que ele
prprio impe. Esta aco, bem demonstrada de resto por Guy Avanzini3, multidireccional
e no visa um uso preciso, porque diz fundamentalmente respeito ao dever-ser. O ensino
(conjunto de actividades ditas de instruo) uma aco sistemtica que tem por objectivo ajudar o outro a apropriar-se dos instrumentos intelectuais, de que fazem parte esses
instrumentos privilegiados que so os conhecimentos. O ensino est assim orientado para
promover e facilitar as aprendizagens. Em sentido lato, a aprendizagem a construo
(que envolve ao mesmo tempo uma operao e o seu resultado) de novos modelos de
' Guy Avanzini, Introduction aux sciences de l'ducation, Toulouse, Privat, 1987, p. 136.
comportamento. Estes modelos podem ser vistos como instrumentos, teis ao indivduo
no seu dilogo com o ambiente fsico e humano. O ensino que se efectua nos estabelecimentos escolares tem por objecto facilitar as aprendizagens particulares que a escola tem,
em primeira instncia, de gerir. Por exemplo: ler, escrever, calcular, na escola primria.
Estas aprendizagens dizem respeito aos trs grandes eixos do desenvolvimento: intelectual (construo dos saberes), mas tambm motor e sensorial. Por fim, falaremos de formao quando se exerce um conjunto coerente de aces com vista a conferir aos sujeitos
uma competncia precisa e predeterminada4.
Definies
Contedos e domnios
respectivos
I Educar
Ensinar
Saber-ser
Relaes
inter-humanas
Saberes
Conhecimentos
Formar
Actividades
sociais
A prpria organizao da instituio escolar, em torno das "disciplinas" que estruturam o seu espao-tempo, mostra que a Escola tem, por primeira misso, instruir e que est
a a sua "essncia". O que permite compreender, e fundamenta. a nossa segunda hiptese
de trabalho: a tarefa central do ensino a de assegurar as aprendizagens escolares. Esta
tarefa "educativa" na medida em que h interveno num desenvolvimento. A pluralidade das disciplinas assinala a preocupao de aumentar a polivalncia da pessoa. Mas,
por um lado, a escolha das disciplinas fruto de uma primeira deciso social que diz
respeito as direces a privilegiar, e traduz (e estratifica ao mesmo tempo) um consenso
sobre um programa comum e mnimo de desenvolvimento. E, por outro lado, visam-se
capacidades e competncias que, sem corresponderem a um saber-fazer em situao
(competncias profissionais), so relativamente precisas e limitadas, visto que teoricamente
se poder organizar a sua listagem. E, ainda por outro lado, esta tarefa preformadora,
na medida em que os instrumentos adquiridos por aprendizagem sero pr-requisitos
Primeiro momento
Saber assinalar e desmontar as ciladas
a que nos expomos
consoante a nossa "filosofia"
ornar segura a avaliao , pois, antes de mais, permitir a quem trabalha no terreno do
"ensino" fazer correctamente aquilo que h a fazer neste mbito. Ora, a instituio
espera que os professores lhe forneam informaes fiveis sobre o trabalho dos
alunos, sobre os seus resultados. Estas informaes apresentam-se, ainda hoje, na maioria
dos casos, sob a forma de notas. O lugar que ocupa a nota na vida escolar bastante
prodigioso. A vida institucional dos professores , tal como a dos seus alunos, avaliada
por notas numricas: a nota administrativa e a nota pedaggica decidem a progresso de
adultos que so, sob este aspecto, colocados na mesma situao (infantilizante?) que as
crianas ou os adolescentes de quem eles so ... os "mestres"! Poderemos falar de um
verdadeiro imperialismo, e de um imperialismo redutor. Com efeito, considera-se que um
s algarismo diz tudo, enquanto que, originalmente, a nota notao, com o duplo sentido
de representao por um smbolo, e de breve comunicao escrita. O que que resta da
mensagem comunicada quando o smbolo separado daquilo que tem a incumbncia de
representar? Poderemos considerar um discurso, mesmo breve, num s signo? Ser necessrio descodificar, quer dizer, interpretar, num signo sibilino que ele prprio exprime - ou
deveria exprimir - uma primeira interpretao! O uso de um tal meio de comunicao
abre a porta a todo e qualquer mal-entendido. Uma primeira necessidade, para diminuir os
riscos de equvoco. seria a de criar as condies de uma linguagem comum que dotasse o
locutor e o receptor de um referencial que permitisse evitar fortes distores na compreenso da mensagem, quer dizer, no acto de fazer a correspondncia entre o significante (a
nota numrica) e o significado (o que h para comunicar). A nota s til se os parceiros
do dilogo, de que ela instrumento, possurem o mesmo lxico que define os domnios
de referncia em que ganharo significao as observaes que ela condensai, e que precisam as significaes atribudas, em cada caso, aos diferentes valores; o que permite ver
que o problema do bom uso da nota ultrapassa largamente a questo docimolgica.
Durante muito tempo. o paradigma docimolgico dominou os trabalhos sobre avaliao. Na prpria medida em que se reduz a avaliao classificao, encara-se a pesquisa
de procedimentos "cientficos" da classificao como o principal problema do avaliador.
O termo docimologia foi proposto por H. Piron em 1922, a partir de termos gregos:
dokim, que significa prova, exame; e logos, palavra, razo; donde: discurso cientfico. A
docimologia corresponde tentativa de construir um discurso "cientfico" sobre as provas
e os exames, e pode ser definida como a cincia dos exames ou, de uma forma mais lata,
como o estudo cientfico dos procedimentos de exames, em particular dos sistemas de
classificao2. O paradigma docimolgico, que foi dominante desde os anos 40 aos
anos 60. conheceu uma primeira expanso importante quando se interessou, nos anos 70,
pelo comportamento dos examinadores.
Mas esta expanso no se traduziu por uma mudana significativa de perspectiva. Tratou-se sempre de determinar as condies de uma avaliao mais objectiva. Pretende-se
poder captar, com mais rigor, o objecto avaliado. Mas qual esse objecto? O simples
facto de se colocar tal questo vai-nos permitir compreender que a realizao da prpria
inteno, que subentende o projecto de produzir notas como medidas objectivas, implica,
paradoxalmente, o deslocamento de uma problemtica da objectividade para uma problemtica da pertinncia. Com efeito, no podemos esperar uma melhoria significativa das
prticas por um simples aperfeioamento dos procedimentos e sistemas de clculo. E nem
o conhecimento dos mecanismos em jogo, nem o das causas das distores so suficientes
para garantirem a avaliao estimativa.
A primeira condio para descrever "objectivamente" o "peso" da realidade, segundo a
prpria ambio da filosofia do discurso cientfico na qual adquirem, com toda a evidncia, sentido as prticas de classificao, a de vencer a cilada do objectivismo, antes de
mais e sempre, ao interrogarmo-nos sobre o que necessrio conhecer objectivamente. E
esse o preo que tomar mais rigoroso o jogo que tem lugar no espao do dilogo social
pais/alunos, e esse jogo que poder ser posto ao servio do jogo "pedaggico" da facilitao das aprendizagens e no qual nos pareceu exprimir-se a essncia do trabalho dos
professores. Tal a principal lio que se retira de um estudo das dificuldades da classificao,
que apresentar, para alm disso, o interesse de nos permitir apropriarmo-nos de algumas
aquisies fundamentais da investigao em docimologia.
YOTAS VERDADEIRAS E FALSAS:
O FIM DE UM MITO (PNICO NA CLASSIFICAO)
Para o senso comum, classificar medir. Todos sabemos que medir significa atribuir um
nmero a um objecto comparando este com um sistema de unidades que se lhe aplicam, e
que vlido para todos os objectos do mesmo tipo. E avaliar quer dizer aquilo que convm
pensar de uma realidade em funo de uma grelha de leitura particular e construda para
esse efeito. O risco principal da avaliao estimativa - por ausncia de medida - o de
esquecer esta distino e de pretender ento produzir um discurso que seja a medida das
coisas. Se se pretende, de qualquer forma, poder medir imediatamente um objecto, mesmo
que no se esteja verdadeiramente em condies de o fazer, por razes que se prendem
com a natureza deste ltimo (que no se reduz aquilo que dele dado, no espao). ou
sua ambiguidade ("o objecto" realmente visado - por exemplo, a competncia do produtor - que distinta do objecto apreendido - o exerccio produzido), ento. ainda que s se
possa tentar dizer (produzir um discurso, necessariamente equvoco) sobre o que se desejaria medir (captar atravs de um sistema de smbolos unvocos), est-se quase condenado
a deixar de se saber o que diz. Tal a cilada do objectivismo, de que a crtica docimolgica nos deveria ter levado a tomar conscincia.
Porque esta critica ps em evidncia um facto constante, que a ausncia de fiabilidade dos procedimentos de classificao. Lembremos trs exemplos j clssicos.
-Uma comparao das mdias das notas atribudas, numa mesma matria, por diferentes jris do baccalaurat. pelos quais os candidatos tinham sido divididos ao
acaso (relativo) por ordem alfabtica, mostra que estas mdias flutuam de uma forma
considervel: por exemplo, de 5,81 a 9,06 para a prova escrita de Matemtica, disciplina tradicionalmente considerada como dando origem s avaliaes mais objectivas (sesso de Julho de 1955, em treze jris) ... Os jris no corrigem da mesma
forma, sendo as divergncias ainda mais importantes para as provas orais. Consequncia importante: as percentagens dos candidatos admitidos pelos diferentes jris
flutuam (por exemplo, de 31 a 53% no caso acima citado3).
-As experincias de multicorreco puseram em evidncia que examinadores diferentes
no corrigem da mesma maneira. Uma experincia realizada em 1967 nas academias
de Lyon, Clermont e Limoges, demonstraram a importncia das flutuaes. Trs composies de Francs, corrigidas por 150 professores diferentes que leccionavam em
Cf. Maunce Reuchlin. "Problmes d'Cvaluation", in Trait des sciences pdagogiques. t. IV:Psychologie de i'du<.ation,Paris, PUF, 1974, pp. 7 13-214.
turmas do 9P ano, obtiveram notas que variam de 4,5 a 13,75 para a primeira; de 2,5
a 12,5 para a segunda; de 5,5 a 17,5 para a terceira4.
- Por fim, as notas atribudas variam igualmente no tempo, o que leva G. De Landsheere
a falar da "infidelidade" do corrector" Uma investigao, citada por Piron, que se
centrou em provas de Histria, comprovou este facto. Quinze exerccios tiveram uma
nota mdia, mas submetidos a apreciao de quinze outios correctores, obtiveram quarenta notas distintas. Doze meses mais tarde, os mesmos correctores atribuem-lhe
notas diferentes, e, sete meses depois, as notas diferem uma vez mais6.
DA CONSTATAO
A INVESTIGAAODAS CAUSAS
A ausncia de fiabilidade das notas resulta, em primeiro lugar, do papel desempenhado pela "subjectividade" daqueles que as atribuem. Podemos aqui ver tudo o que
separa a avaliao por defeito de medida da avaliao-interpretao. Para J. Ardoino
e G. Berger, enquanto o controlo assenta no "ideal da intermutabilidade perfeita dos
correctores", a avaliao inerente a um sujeito que no se pode substituir sem, por
isso mesmo, modificar o discurso avaliativo7. Deste ponto de vista, o avaliador
insubstituvel. Ora, deplorar a no fiabilidade das notas querer que os correctores
"no avaliem" e lamentar que estes no sejam intermutveis! Para que o "controlo"
dos conhecimentos fosse assegurado e justo, conviria que diferentes correctores concordassem com as mesmas notas em relao s mesmas produes. Se isso no
acontece (como acaba de ser constatado) , por um lado, porque os avaliadores no
controlam a dimenso subjectiva da sua reaco ao produto que classificam.
- %
'
- Por fim, a anlise psicolgica do acto de avaliao, particularmente atravs dos trabalhos de G. Noizet e J. P. Cavemi, ps em evidncia a existncia de causas que esto
em relao com o prprio acto de avaliar, na sua dimenso de tarefa psicolgica.
Pensando que qualquer modificao de procedimentos se arrisca a tomar-se v de tal
forma que no se saberia a que atribuir as divergncias entre avaliadores, G. Noizet e J. P.
Cavemi empenharam-se em conhecer a forma como o especialista se organiza para formar
os seus juzos e em descrever os mecanismos psicolgicos que os avaliadores-especialistas
mobilizam na realizao das suas tarefas. Estes autores conseguiram assim isolar algumas
' O Cf
'I
99
1
Os resultados mais interessantes dizem respeito aos dois primeiros factores, que se
revelaram como importantes fontes de variao da nota.
Por um lado, fenmeno importante na medida em que as produes avaliadas fazem
em geral parte de um lote (por exemplo: uma srie de exerccios), a investigao realizada
ps em evidncia efeitos de ordem, em relao com aquilo que J.-J. Bonniol descreveu
como fenmeno de ancoragem12. Alguns exerccios, com uma classificao situada nos
extremos (muito boa ou muito m), jogam o papel de "ncora" e modificam a percepo
dos trabalhos seguintes. Donde os efeitos de contraste: uma mesma produo julgada
mais fraca quando se encontra a seguir a uma "ncora" alta ou forte, e mais forte quando
est a seguir a uma "ncora" baixa. As notas dependem, em parte, do lugar que a produo avaliada ocupa no lote.
Por outro lado, as notas podem flutuar consoante as informaes que o avaliador possui sobre o produtor. Fala-se ento de efeito de origem: uma mesma produo julgada de
fonna diferente segundo a qualidade atribuda ao produtor; ou de efeitos de assimilao:
assimilao de uma avaliao quelas que foram atribudas, anteriormente, ao mesmo
aluno. Em qualquer caso, o estudante com uma aurola de bom aluno mais bem classificado; e, inversamente, os progressos do aluno considerado fraco tero dificuldade em
serem notados, o que leva Noizet e Cavemi a conclurem que os procedimentos de avaliao tm a sua quota-parte de responsabilidade no insucesso escolar13. O efeito de origem
est prximo do efeito de halo, quando h contaminao de aspectos diferentes: influncia
exercida, por exemplo, por ndices de ordem "afectiva" (comportamento do candidato) ou
formal (apresentao do exerccio), sobre a apreenso dos aspectos tcnicos (que exprimem a competncia pretendida). As anlises da reproduo descrevem, neste sentido, um
halo social. E o efeito de assimilao, do mecanismo geral de estereotipia, pode ser aqui
definido como uma contaminao dos resultados (De Landsheere). Assim a nota pode ser
l2
l3
Impedir tudo isto que os avaliadores tentem progredir com vista a atingir uma classificao mais justa e mais fivel? Dever a constatao da importncia das causas de enviesarnento lev-los a desesperar? Estar a actuao do especialista fora do seu alcance?
A primeira vista, no h nenhum obstculo fundamental que tome caduco o projecto
de progredir para uma avaliao de acordo com o modelo do especialista, capaz de descrever a realidade tal qual ela , segundo a inteno caracterstica da filosofia da avaliao
por falta de medida. Pelo contrrio, o conhecimento dos factores de distoro no tomar
precisamente possvel a procura de procedimentos susceptveis de os ultrapassar? Para
cada grande causa de enviesamento poderiam ser utilizados meios de remediao, como
se v no quadro 7 (constataes, causas, remdios), p. 102.
De facto, vrios procedimentos passaram a ser de utilizao, seno corrente, pelo menos
frequente. Os mais conhecidos e utilizados tendem a lutar contra as divergncias entre avaliadores. Procede-se, a priori, por moderao, ou, a posteriori, por remediao. A posteriori,
possvel proceder a uma multicorreco, que se pensa poder diminuir a incerteza da nota, ou
proceder a um tratamento estatstico, harmonizando as escalas e conferindo-lhes a mesma
mdia e disperso. A priori, podemo-nos prevenir das distores harmonizando os pontos de
vista e as expectativas pela classificao em comum de alguns exerccios ou, melhor, determinando uma tabela analtica onde se precisam as diferentes linhas de leitura do objecto
avaliado (ou os diferentes "subobjectos" constitutivos da produo) e o valor ou a importncia a atribuir a cada aspecto considerado. Este ltimo procedimento tem o mrito de
comear a deslocar a importncia da "verdade" de uma nota para o da sua significao.
De facto, notvel que cada um dos remdios apresentados tenha suscitado crticas.
As normalizaes a posteriori no constituem seno uma remediao formal, e no fazem
desaparecer a dimenso aleatria da apreciao daquilo que seria o nvel intrnseco da
produo, dimenso que no se consegue apagar de provas comuns e normalizadas ...
excepto por supresso do prprio avaliador. A este respeito, a utilizao dos QEM (questionrios de escolha mltipla), ou dos testes de conhecimento, exemplar. A classificao
torna-se automtica: basta contar as boas respostas. Mas, o que que se classifica com o
l4
Cf. a experincia relatada por M. Postic de investigadores americanos que evidenciaram a influncia que tem
sobre a nota a natureza "favorvel" ou "desfavorvel" de um nome prprio! (M. Postic, L a relation c;tlicc.crrii.e,
Paris, PUF. 1986, p. 101).
Quadro 7
As dificuldades da classificao
CONSTATAOES
Divergncias interindividuais
(entre avaliadores)
CAUSAS
REMDIOS POSS~VEIS
Supresso do corrector
(ex.: QEM)
Multicorreco
Avaliao analtica
dos objectivos
explicitao
dos critrios
Procedimentos de harmonizao
(normalizao a posteriori)
(moderao a priori)
<
Pregnncia do contexto
Tradies e particularidades locais
Disparidades locais
Adaptao
s caractersticas socioculturais do pblico escolar
- ao "nvel" da classe
Sobrevalorizao da forma
Preferncias de "classe"
Relatividade da nota
com o que se sabe do produtor
-com a situao do produto entre outros
Avaliao "annima"
Avaliao "isolada"
'5
'
l6
l7
Composio em francs
Verso em latim
Ingls
Matemtica
Dissertao em Filosofia
Fsica
78
19
28
13
127
16
Retomando o problema, J.-J. Bonniollg mostra primeiro que tendo em conta certos
dados que permitiram obter estes nmeros, e em particular o nmero inicial de correctores
da investigao efectuada em 1933-1936, convir multiplicar os resultados por 6. O que
daria, por exemplo, 78 correctores em Matemtica e 762 em Filosofia! Mas, sobretudo, ao
criticar as hipteses de trabalho sobre as quais se fundamenta essa investigao. Bonniol
demonstra que esta no tem sentido. Com efeito, adoptar a teoria do erro vlido para as
cincias fsicas implica que aceitemos duas hipteses:
a) o erro (a incerteza, a impreciso) tem a ver com a operao de medida, e provm
das condies de realizao do instrumento de medida (constitudo, aqui, pelo corrector).
b) da mesma forma que um objecto no tem seno um comprimento ou uma espessura, um exerccio no tem seno um valor, o seu "valor verdadeiro", que a medida
(a nota) tem por funo revelar, dar a conhecer.
Estas duas hipteses so particularmente contestveis, e pela mesma razo, que tem a
ver com a natureza do objecto avaliado, que o impede de ser "medido" em sentido estrito.
l8
l9
1
I
A primeira apoia-se no facto de o corrector efectuar uma medida, de que ele instrumento.
A medida , por essncia, verificvel. Para ser medido, um objecto deve ser definvel numa
s dimenso. Se o objecto tem vrias dimenses, cada uma deve ser isolvel, e ser medida
separadamente (comprimento, espessura, etc.). E s poderemos medir o conjunto. quer
dizer, o objecto considerado ao mesmo tempo em todas as suas dimenses, se estas
puderem ser remetidas para uma nova e nica escala. De modo que, conclui
J.-J. Bonniol, s poderemos medir de forma verificvel um objecto complexo se cada uma
das dimenses a tomar em conta for: 1. isolvel; 2. provida de uma escala numrica;
3. combinvel com as outras mediante uma nica regra de composio; 4. que a nova
dimenso nica obtida possa ser munida de uma escala numrica. Ora, a prpria necessidade de construir tabelas analticas demonstra que uma produo escolar multidimensional
e no um objecto "unvoco": e dimenses tais como o estilo, a preciso, a elegncia no
podem estar munidas de uma escala numrica. Que podemos fazer com um tal objecto?
Avali-lo, quer dizer, apreci-lo, em referncia a uma escala, no de medida, mas de valor.
Quer dizer que a avaliao-medida no passa de um logro? Sim, se se acreditar poder
medir, se se pensar que uma nota um valor numrico cuja atribuio verificvel. No,
se nos referimos inteno que a caracteriza, de ser objectiva, e que ganha todo o seu
sentido quando a relacionamos com a preocupao de "falar verdade", que domina a
primeira filosofia descrita da relao avaliador-avaliado. Porque preciso compreender
que ser objectivo no , aqui, apreender "cientificamente" um objecto mensurvel, mas
produzir um juzo seguro sobre o valor deste ob-iecto, encarado de um ponto de vista
objectivvel, quer dizer, explicitvel e comunicvel. Uma produo escolar no um
cofre que contm uma determinada quantidade de ouro. O seu valor no uma qualidade
intrnseca. A hiptese de trabalho (b) essencialista. por isso que precisamos de nos
livrar do mito da nota verdadeira e abandonar um paradigma que leva a concluses verdadeiramente delirantes, como o testemunham os nmeros calculados no exemplo anterior
para os correctores que seriam necessrios.
DO BOM USO DA NOTA
PARA NO SERMOS V~TIMASDO PARADIGMA DOCIMOL~GICO
pode ter no indivduo-instrumento? Sem dvida, da sua probidade e do seu sentido de justia.
A classificao no deve tomar-se num meio de ajuste de contas. E, ainda que voltemos a
este assunto, preciso no misturar o trabalho de polcia com o trabalho de avaliador. Mas
a confiana assenta tambm, e sobretudo, na qualidade das informaes transmitidas. O
que , pois, uma informao de qualidade? Aquela que tem um sentido tanto para o locutor
como para o alocutrio. O que implica, como vimos, a existncia de um lxico comum e a
explicitao dos domnios de referncia em que ganhem sentido as observaes feitas. O
primeiro trabalho do avaliador o de assegurar a existncia do referido lxico, ou de contribuir para a sua construo explicitando, com preciso, os domnios de referncia em
jogo. Porque avaliar no pesar um objecto que pudssemos isolar no prato de uma
balana. apreciar este objecto em relao a outra coisa que no ele prprio.
Qualquer avaliao uma ocasio para recolher e fornecer informao. A questo
importante a de saber que gnero de informao e para fazer o qu. O quadro das funes (preditiva, formativa, sumativa) poder aqui servir de guia til. Porque s poderemos
dizer que utilizaremos a mesma balana consoante a funo atribuda ao acto concreto de
avaliao, que pode ser ordenado segundo lgicas diferentes, em funo de objectivos
diferentes. Dito de outra forma, para avaliar "objectivamente" convm:
-determinar a questo precisa qual a avaliao tem por objecto fornecer respostas
precisas. Por exemplo, a respeito de uma dissertao, a pergunta: "Est bem feita'?"
no operatria. "Est organizada para dar uma resposta com argumentos questo
subentendida no tema?" j uma questo mais precisa, que permite fornecer informao til ao autor do trabalho. Poderemos imaginar, a partir daqui, um instrumento de
comunicao da avaliao que apresente, em tantas linhas quantas forem necessrias,
que h, de facto, dimenses a apreciar. ou domnios de referncia, em relao s
questes que o avaliador colocou a si prprio, a propsito do produto, ou s respostas
fornecidas. Porque, em segundo lugar, convm:
- explicitar a resposta dada a cada questo, justificando-a. (Exemplo: Questo: "Foi
capaz de discernir e exprimir o mais claramente possvel, com o menor nmero de
palavras possveis, a questo contida no tema?"; Resposta: "No, no possvel
sublinhar na sua introduo uma frase que exprima esta questo.")
.
4
claro que um trabalho como este, que conduz a uma utilizao dinmica daquilo
que. para alm disso, poderia constituir uma tabela analtica (a grelha de compreenso ou
de leitura do produto), equivale simplesmente, conforme os mtodos descritos na nossa
primeira parte, a explicitar critrios (linhas de leitura correspondentes a domnios de
referncia) e a procurar, em cada um deles, indicadores.
A avaliao pertinente quando, em funo do contexto decisional, precisa os eixos
& questionamento do produto e se organiza para fornecer elementos fundamentados de
respojta a questes claras. O avaliado, que sabe como questionado, poder ento
realmente beneficiar do que lhe dito. Encarar o critrio sob a forma de questo permite
compreender como a avaliao dilogo.
O mito da nota verdadeira nasce, entre outras coisas, de uma ateno excessiva concedida
ao produto. No centrmos tambm a nossa reflexo, neste captulo, na avaliao das produes escolares? S nos libertaremos do mito se passarmos de uma problemtica centrada no
produto (que se pretenderia "pesar") para uma problemtica centrada sobre o processo de
20
Yves Chevallard, "Vers une analyse didactique des faits d'valuation", in De Ketele, ed., L'valuation approche
descriprive ou prescriptive?, Bruxelles, De Boeck, 1986, pp. 3 1-59.
A partir daqui toma-se, sem dvida, claro que a avaliao, como medio, s realizar a
sua ambio de descrever as coisas como elas so, no por ser capaz de captar a essncia
de um produto e de dizer o seu valor intrnseco, mas quando se esfora por falar verdade,
de acordo com a primeira das "filosofias" descritas da relao social. E falar verdade no
dizer a verdade de um objecto, mas dar a um sujeito informaes fiveis - dignas de
confiana -, sobre alguns aspectos das suas produes, importantes e significativas em
relao as aprendizagens que se ajudam a desenvolver e as competncias que se ajudam a
construir. A avaliao, liberta da tentao objectivista, pode ento alimentar um dilogo
permanente que permitir ao aluno-aprendente co-gerir, de facto, as suas aprendizagens,
com o professor-facilitador. Este dever apoi-lo com informaes que o vo esclarecer,
guiar, encorajar, e ajud-lo a analisar a sua actividade, ao chamar-lhe a ateno para
pontos fortes e debilidades e ao permitir-lhe ver o estado em que se encontra. Qualquer
informao que v nesse sentido til.
Nestas condies, ser preciso conservar ou suprimir a nota? O nico problema o de
saber que informao veicula essa nota. Se essa informao nos permite fazer o ponto da
situao, ento o lugar que importa e no o resultado numrico"; se serve para materializar um nvel de competncia?', por que privarmo-nos dela? Mas se a nota apenas d
testemunho da persistncia do mito do valor verdadeiro, e apenas o instrumento de
perspectivas que nada tm a ver com a avaliao - manuteno da ordem ou imposio
de fora -. seria melhor deixarmos de a usar.
Cf. "Ateliers lyonnais de pdagogie" Du hon usage de Ia notation, 2? ed., Mthode Baret-Becker. nmero especial,
Novembro de 1987 (16, quai Claude-Bernard, 690007 Lyon).
22 Encontraremos um exemplo deste uso nuni instrumento proposto no captulo 8.
2'
Segundo o temio (quantofrenia) utilizado pelo socilogo americano Sorokin para denunciar os abusos da quantificao dos fenmcnos social\ e o uso intempestivo da estatstica.
*.
ciladas ainda mais perigosas, no somente porque se arrisca sempre a errar na sua apreciaao atribuir, por exemplo, a uma ausncia de competncia, um erro originado por uma
causa diferente. Isto acontece, tambm, porque a avaliao apreciativa com modelo predeterminado, est exposta a uma dupla deriva, como poderemos ver se repararmos que a
"tilosofia" do juiz pode acompanhar de forma electiva duas das quatro concepes de relao social descritas anteriormente, para as quais essa filosofia constitui um segundo plano
quase natural. Com efeito, e de forma bastante paradoxal, o discurso do poder, que permite
ao avaliador impor-se ao avaliado, e o discurso do dever, que exprime a necessidade de vir
em auxlio deste, encarnam-se nos mtodos orientados pela filosofia do juiz e traduzem-se
nas prticas em que se confronta o indivduo avaliado com um modelo ideal que preexiste
a este confronto. O recurso a um referente predeterminado para descrever o valor de uma
produo ou de um produto predispe assim para duas derivas: a deriva autoritarista, a
recear particularmente no espao do dilogo social pais/professores/alunos, e a deriva tecnicista, de que esto ameaadas, enquanto prticas, a pedagogia por objectivos (P P O), ou
at a avaliao formativa. Como se caracterizam estas derivas? E como que o avaliador
poder evit-las?
AVALIAO E PODER DE AVALIAR.
A DERIVA AUTORITARISTA
Como j vimos, Jean-Marie Barbier observa que se o direito de avaliar apresentado
como uma caracterstica principal da avaliao das aces de formao para o conjunto dos
actores implicados na sua realizao, o exerccio deste direito na realidade deriva das
relaes de poder existentes nas prprias aces2. O poder de avaliar no se distribui de
forma igual e equitativa. De acordo com o seu grau de participao nos processos de
definio dos objectivos e de determinao dos indicadores, o formando pode ser apenas
um simples objecto que se submete a evoluo do processo, ou. pelo contrrio, ser um
sujeito activo que constri as condies de emergncia de um juzo pertinente em relao
as suas necessidades e preocupaes, e de que poder, finalmente, beneficiar para o seu
prprio desenvolvimento.
certo que o caso mais desfavorvel aquele em que lhe escapa no somente a construo do referente, mas at o prprio conhecimento deste. o caso em que o avaliador
julga em referncia a "leis" que no so escritas nem comunicadas, utilizando critrios
implcitos ou que ficam, de qualquer modo, escondidos. ento que pode nascer, e de
forma justificada, um sentimento de injustia fundamentado na percepo do carcter eminentemente arbitrrio de uma tal prtica. Como que um aluno que no v exactamente o
que lhe censuram no seu trabalho, ou que se d conta que os critrios do juzo do professor
1
1
1
i
flutuam de um "controlo" para outro, poderia no ser tentado a concluir que o professor
avalia "consoante a fisionomia do cliente"? Ento no a subjectividade do professor que
est verdadeiramente em causa e cria obstculos, mas a incerteza quanto aos seus critrios
de apreciao. Porque quando se conhecem esses critrios, apesar de estes poderem parecer
contestveis, e a sua fundamentao poder ser discutvel, dispe-se, pelo menos, de pontos
de apoio que permitem orientar e organizar o trabalho. Assim, a avaliao com referente
predeterminado um mtodo particularmente contestvel, quando, paradoxalmente, lhe
falta esse referente. quer dizer, quando aquele a quem pertence o trabalho que vai ser julgado no tem nenhuma ideia precisa do que determina e fundamenta o juzo do avaliador.
E, a primeira necessidade, para quem quer jogar correctamente este jogo, , consequentemente. dar a conhecer os seus critrios. P. Bordieu e J.-C. Passeron descreveram a aco
pedaggica como violncia simblica, enquanto ela imposio, por um poder arbitrrio,
de um arbitrrio cultural3. H violncia simblica quando um poder impe como legtimas
determinadas significaes dissimulando as relaes de foras que, de facto, presidiram a
esta imposio. Neste sentido, poderamos falar de violncia suave, tanto mais prfida
quanto dissimula a realidade, visto que o avaliado constrangido, ao receber a nota ou a
apreciao que lhe proposta, a admitir, por isso mesmo, a legitimidade de uma operao
de juzo que assenta em critrios ocultos ou obscuros, ainda que esta ausncia clara de referente tenha criado as condies de uma contestao desta legitimidade. Haver poder mais
arbitrrio que aquele que dissimula o seu carcter arbitrrio ocultando cuidadosamente o
que o toma arbitrrio? esta a primeira, e sem dvida a mais insidiosa, forma daquilo que
nos propomos denominar de deriva autoritarista.
Poder-se-ia aqui ob.jectar que a no-comunicao dos critrios de avaliao manifesta
apenas uma negligncia, sem dvida censurvel, mas que essa atitude no traduz uma vontade de poder; e que conviria mais lastimar uma insuficincia que deveria ser fcil de remediar, do que condenar um autoritarismo que no evidente. Claro que necessrio precavermo-nos de generalizar prematuramente, e de condenar demasiado depressa. Mas no
tambm real o risco de nos comprazermos numa situao ambgua, e de a etemizar, porque
tem a a vantagem de exercer um poder sem ter de o justificar, de julgar sem ter de apresentar as suas razes? No haver motivo para ficarmos inquietos pelo facto de, no incio de
numerosos estgios de formao contnua de professores, a afirmao de que preciso
"permitir ao aluno apropriar-se dos critrios do professor" ser rejeitada em massa? No
recusaremos assim o que seria vivido como uma violncia exercida pelo aluno sobre o professor - qualquer coisa que lhe fosse "arrancada" - para podermos continuar a exercer,
com toda a impunidade, a violncia subtil do juzo soberano? Sem dvida, para a maior
parte dos professores, uma deriva como esta no passa do estdio de tentao. Mas convm
tomar conscincia desta tentao para no nos deixarmos cair no prazer "culpvel", denunciado por Patrice Ranjard, que experimentamos na embriaguez de sermos "donos absolutos
i
P. Bourdieu e J.-C. Paiseron; La reproduction, op. cit., p. 19.
das nossas notas", no prazer do "Poder com P grande" que ocasionar o exerccio do "juzo
sem apelo".
Para Ranjard, este prazer verdadeiramente infernal e de tal modo intenso que nem nos
apercebemos dele. Isso seria reconhecer que, contrariamente ao que se pretende e
proclama, no se tanto o humilde servidor do desenvolvimento do aluno mas mais um
homem que detm o poder e que busca um "prazer de m qualidade mas certo, garantido,
quotidiano", que proporcionado pelo prazer "todo-poderoso de classificar: um prazer que
vem dos infernos e que no se pode encarar de frente..."4. Para evitar esta deriva, a
primeira regra da avaliao com modelo predeterminado deve ser a de tomar este modelo
transparente.
Mas, mesmo quando o "modelo" explicitado e comunicado, o risco no fica ainda
completamente afastado. Porque pe-se a a questo da sua legitimidade. A violncia que
constitui a imposio de normas de comportamento s se justifica na medida em que essas
normas possam ser, de uma forma ou de outra, consideradas legtimas. Dito de outra
forma, no podemos fugir ao problema da avaliao, e ao problema dos meios por que avaliamos. O avaliador, que no . enquanto tal, um prescritor, deve, no entanto, para no
exercer um poder de prescrio que se apresentaria ento com o duplo carcter de ser sub-reptcio e arbitrrio, poder levar a reconhecer a boa fundamentao do referente que lhe
serve de grelha de leitura. Poderamos dizer, ao referirmo-nos teoria da dupla arbitrariedade, que a violncia do modo de imposio arbitrrio (a forma particular dessa posio de
fora que um acto de avaliao que, mesmo quando as coisas acontecem de uma maneira
afvel, no menor em "violncia simblica" exercida sobre o sujeito avaliado) ser tanto
mais duramente sentida, quanto o contedo imposto parea arbitrrio. No se trata aqui da
forma, das condies e circunstncias do acto, mas da natureza do modelo imposto.
Quanto mais contestvel for a norma, mais constrangedora ser a avaliao nos seus procedimentos. Inversamente, quanto mais o referente for entendido como legtimo, mais a
operao poder ser aceitvel. Assim, uma das condies de possibilidade de auto-avaliao
a da apropriao pelo sujeito de um referente que, do seu ponto de vista, seja absolutamente legtimo.
Assim, o problema da legitimidade pe-se diferentemente consoante o acto de avaliao
se situe num contexto educativo, instrutivo ou formativo. Se se trata de formar, a norma
fundamentar-se- na medida em que exprima bem uma tarefa fundamental no campo
profissional para que se est a fazer a formao. legtimo avaliar um professor pela bitola
das suas capacidades de comunicao, se o acto pedaggico acto de comunicao. Se se
trata de instruir, o problema duplo. A primeira questo a legitimidade da disciplina
como meio de deienvolvimento. Ao admiti-lo, preciso confrontarmo-nos ento com a
questo da pertinncia do modelo escolhido para julgar os progressos do aprendente, como
Pairice Ranjard, Les enseignants perscurs, Roben Jauze, 1984, pp. 94 e 99.
O quarto argumento que exprime, sua maneira, a recusa da avaliao-medida, foi particularmente estudado por Carl Rogers e Ivan Illich. Para C. Rogers, a utilizao daquilo a
que chama "a horrvel maquinaria" dos testes, exames e avaliaes, assenta no erro fundamental que consiste em acreditar na pos~ibilidadeda existncia de uma medida exterior do
desenvolvimento pessoal. Ora, seria "absurdo" querer medir a aprendizagem por notas de
exames6. A crena estigmatizada um dos aspectos do que Ivan Illich designa como "o
mito dos valores padronizados", que considera particularmente perigosa. Porque "os
homens que se reconhecem numa determinada unidade de medida definida por outros para
julgarem o seu desenvolvimento pessoal s passaro a saber julgar segundo a sua prpria
bitolaw7.A avaliao com referente predeterminado, ao impor normas, que so exteriores
ao indivduo, corre assim o risco de criar hbitos de submisso, acabando por lev-lo a desligar-se de si prprio e vir a ocupar na sociedade o lugar que esta lhe tinha destinado.
Vemos, assim, como este ltimo argumento retoma e congrega os outros trs.
De facto, um sistema autoritrio educa o indivduo para a obedincia, e este, ao submeter-se, acaba por aceitar e admitir como legtima uma modelagem arbitrria que o toma
esclerosado. Esta anlise crtica fundamenta-se em duas concepes concordantes em relao ao desenvolvimento e educao. Um desenvolvimento pessoal qualquer coisa de
irredutvel, que no pode ser relacionado com nenhum outro. " crescimento, desenvolvimento nico de uma dissidncia pessoal e, contudo, ordenada, que no se mede por
nenhum padro de c~mparao."~
E a educao tem por funo acompanhar o desenvolvimento, e no de o paralisar; de salvaguardar e fazer frutificar as potencialidades pessoais, e
no de as sufocar sob uma mscara social.
Cf. Charles Hadji, Pdagogle e1 bhralion. thse de doctorat d'tat, vol I, pp. 131-144
apprendre, Paris. Dunod, 1972. pp. 200 e 230
Carl Rogers, Liher~poi~r
Ivan Illich, Une sorit sans cole, Paris, Le Seuil, 1971, p. 73.
8 lhrd.
113
ARJ 8
4
No poderamos ter aqui a pretenso de dizer em que pode consistir uma educao que
respeite a natureza, nem de mostrar como a socializao pode ser, apesar de tudo, libertao individual9. Mas no podemos deixar de reconhecer a existncia do risco de normalizao e convidar o educador-avaliador a interrogar-se sempre sobre o interesse e o valor,
tendo em vista um autntico desenvolvimento do sujeito avaliado, e a norma atravs da
qual este desenvolvimento apreciado. Por exemplo, qual o valor do modelo, que hoje
parece dominar, do aluno que "vence" porque, em abstracto, trabalha depressa, e ultrapassa
com facilidade as provas que lhe impem a um ritmo acelerado? Rapidez de execuo,
domnio formal das linguagens abstractas e sobretudo capacidade para resistir a presso
dos exames, sero estas as caractersticas principais de um indivduo bem desenvolvido?
Em qualquer dos casos, talvez seja necessrio reflectir no assunto, antes de se entrar neste
jogo, antes se lhe juntarem de novo as peas, como o sabem fazer to bem os defensores do
"nvel". Quando faltam pontos de comparao, e agora que o pblico escolar se transformou, que sentido pode ter a afirmao quase obsessiva de que preciso manter o nvel?
No uma maneira de se exprimir o desejo de manter as coisas na ordem, e de fixar cada
um no seu lugar?
O recurso a um referente predeterminado pode certamente assim permitir ao avaliador
afirmar o seu poder exercendo-o de forma a contribuir para a conservao e/ou para a
reproduo de uma certa ordem das coisas, em particular de uma certa estratificao social,
tal como o uso da "medida" pode ter por efeito submeter e tomar dcil. Contudo, sem que
a vontade de compreender "objectivamente" seja, em si mesma, condenvel, a questo
essencial a de saber quais so, exactamente, as propriedades "mensurveis", j que a
utilizao de um modelo predeterminado no transforma automaticamente o avaliador em
agente de polcia social. preciso recordar aqui a distino feita por J. Ardoino entre as
formas, arcaica e moderna, do controlo, para nos interrogarmos sobre as condies que
faro da avaliao um acto, no de polcia social, mas de optimizao de um funcionamento que a verdadeira ambio da avaliao formativa.
Mas, antes de se ver como esta poderia superar o risco de deriva tecnicista, que lhe
inerente, podemos, tomando em considerao esta ambivalncia do controlo, compreender o
mecanismo da armadilha que aqui se lana ao avaliador, e precisar ao mesmo tempo os
meios de a ultrapassar. Porque o controlo o caso-limite da avaliao apreciativa com
referente predeterminado. Quando o referente pode ser totalmente "explicado", quando se
pode tomar transparente, no se limitar o avaliador a verificar e a procurar concretamente o
que est inscrito na clleck-list* em que o referente se transformou? por isso que, enquanto
que a avaliao, como interpretao, multidimensional, isto , um produto da compreenso e da mudana e tem um carcter democrtico, "permissivo" e dinamognico, o controlo
tem um carcter normalizador, hierarquizante, usurpador, sancionante, e no s limitador,
Poder-se- consultar sobre este assunto Charles Hadji. Pdagogie er iibration, op. cit., vol. 2.
* Em ingls no original (N.T.).
OBJECTIVOS E u ~ ~ ~ ~ ~ ~ f l .
A DERIVA TECNICISTA
A referncia s armadilhas do discurso de pretenso objectivista e uma primeira anlise
da problemtica da apreciao levam mesma concluso: quer para superar o risco de
'O
''
Yvette Harvois. "Le controle. cet obscur objet du dsir", POUR. 107, pp. 117-118.
J. Ardoino e G. Berger, "L'valuation comme interprtation", art. cit.. p. 123.
:.-
deriva autoritarista, quer para evitar cair no impasse do objectivismo, convm determinar,
de forma rigorosa, o objecto da avaliao (saber o que se quer "medir" num caso, definir a
competncia-alvo, no outro).
O avaliador deve, pois, precisar os seus objectivos de formao (ou de educao, ou de
instmo), visto que se trata de apreciar os resultados alcanados em funo desses objectivos. O jogo da avaliao apreciativa implica a forn-iulao de objectivos pedaggicos, tal
como o jogo da avaliao estimativa implica a procura de uma coerncia objecto/critrio/
indicador. Quando se trata da avaliao escolar, e tendo em conta que prioritariamente
entramos no jogo pedaggico de ajuda aprendizagem a que chammos espao do processo didctico, a razo de ser do objectivo pedaggico exprimir e fazer surgir o objecto
que se quer "medir". Aqui juntam-se as duas filosofias do especialista e do juiz. A filosofia
do especialista s se pode realizar no quadro do jogo "social" acima recordado por meio da
formulao precisa de objectivos, a que naturalmente conduz a construo de tabelas analticas quando so definidos, no simplesmente os critrios dar boas produes, mas tambm
os do bom "produtor" ... dito de outra forma, as competncias que a aco de formao
deve tomar por alvo. Isto permite compreender o favor que desfruta, pelo menos nos
discursos, a avaliao formativa.
Porque as prticas nem sempre correspondem aos discursos e fala-se sem dvida muito
mais da avaliao formativa do que da sua prtica. Se chegarmos a compreender por que
que isto acontece, veremos melhor em que consiste o segundo maior obstculo com que se
defronta o discurso apreciativo. Com efeito, o problema o de saber como fazer da avaliao criterial um verdadeiro instrumento ao servio do desenvolvimento. O exame desta
questo vai confirmar, antes de mais, o que acabmos de prever: no possvel, quando a
inteno a de gerar aprendizagens, de tratar separadamente problemas de avaliao e problemas de gesto didctica.
A didctica pode ser definida como "o estudo dos procedimentos de ensino e de formao e a procura dos mais pertinentes". O seu objecto o "de iluminar os caminhos que
simultaneamente convm aquele que ensina e queles que so ensinados"12. O acento
posto na necessidade de uma avaliao formativa marca o significativo deslocamento de
uma problemtica autnoma da avaliao para uma problemtica da avaliao como auxiliar da aprendizagem. A avaliao formativa est centrada na gesto das aprendizagens e,
ao procurar guiar o aprendente para facilitar os seus progressos, reclama-se de procedimento pertinente de formao. por isso que a reflexo sobre os seus problemas e os seus
limites nos ajudaro a precisar o que a actividade didctica. A noo de avaliao formativa assenta em trs conceitos-chave: os de critrio, de diagnstico e de regulao.
Examinaremos sucessivamente as dificuldades inerentes a realizao das intenes que se
expressam em cada um destes conceitos.
'2
Guy Avanzini, "A propos de didactique: i1 n'y a pas de consensus". Bulleriri Binet-Simori, 606,1, 1986, pp. 3 e 9.
A avaliao formativa tem por primeiro objectivo permitir que o aprendente saiba o que
espera dele e que se saiba situar em funo disso. aqui que reside o interesse maior
daquilo a que se chamou a pedagogia por objectivos. Um objectivo um "enunciado de
inteno pedaggica" que traduz, em termos de capacidade ou de competncia do aprendente, o resultado antecipadamente esperado de uma sequncia de formao1? Exprime a
esperada mudana observvel no comportamento do aluno. Diz-se que o objectivo operacional ou operacionalizvel quando ele precisa (regra dos trs "C"):
a) que Comportamento ser observvel;
b) em que Condies ser observado;
C)que Critrios permitiro apreciar o seu sucesso (nvel de desempenho aceitvel).
Exemplo 1: Sem ajuda, sem documentos, mas sem limitao de tempo. o aluno ser
capaz de escrever quatro linhas sem erros.
Exemplo 2: Utilizando o manual de estatstica e uma calculadora, o estudante em cincias da educao ser capaz de calcular, sem erros, o coeficiente de correlao entre duas
variveis.
evidente que uma formulao como esta sobre aquilo que o aluno deve ser capaz de
fazer, aps uma sequncia de formao, apresenta numerosas vantagens. A "entrada" pela
pedagogia por objectivos permite, entre outras coisas:
em relao prtica e instaurarmos uma reflexo concreta sobre o
acto de ensino e as suas condies. Como referiu J.-P. Astolfi14,um quadro de objectivos um instrumento "de autoscopia" que reenvia aos professores uma imagem
distanciada do seu prprio trabalho;
-planificarmos o processo educativo por referncia aos resultados esperados, o que,
simultaneamente, clarifica as perspectivas e obriga a articular as finalidades (grandes
intenes) e os contedos (saberes assimilados e saberes a ensinar) com a prtica
concreta;
-tomar as coisas mais transparentes para o aprendente, que compreende o que dele se
espera, o que toma possvel o estabelecimento de negociaes didcticas claras.
- distanciarmo-nos
Daniel Harneline, Les objertifs pkdagogiquex en formation initiale et en fonnation continue, Paris. ESF,
lm:
l5
Figura 6
Os objectos possveis dos objectivos pedaggicos
DOMNIO DOS SABERES
I
Aspecto funcional
II
I
Aspecto estrutural
I
I
Produtos do pensamento
CONCEITOS
ENVOLVIDOS
INTELECTUAIS
instrumental
Conhecimentos
I
I
I
I
Processos, "CAPACIDADES"
(transdisciplinares)
-COMPETNCIAS~
(ligadas ao contedo)
I
I
Comportamento
esperado
PROCEDIMENTOS - - - - - - - -
ABSTRACTO
----------------
OBJECTIVOS
Desempenho
observvel
-C
CONCRETO
Saber-fazer
em situao
Funes do saber
em situao
(Competncias funcionais)
COMPETNCIAS
SOCIAIS
TAREFAS
SIGNIFICATIVAS
Ihid. p. 36.
J.-J. Ronniol, R. Amigues e G . Nunziati.
os comgir, levou os autores a afirmarem que, antes de tudo, a avaliao deve visar a apropriao pelo aprendente de duas sries de critrios, cujo conhecimento e posse so uma
forma de favorecer o xito na tarefa, quer dizer, a realizao de um "bom" produto:
- os
Figura 7
Pedagogia por objectivos e avaliao formadora
APRENDIZAGEM
(contedo)
Pedagogia
objectivos
CAPACIDADES E
COMPETNCIAS
DO PRODUTOR
'
Produto
formadora
A avaliao foqnativa , em segundo lugar, uma avaliao que se esfora por fazer um
diagnstico preciso das dificuldades do aluno, a fim de lhe permitir "encontrar-se" num
duplo sentido: compreender os seus erros e, em funo disso, tomar-se capaz de os ultrapassar.
A primeira dificuldade liga-se ento com a distino que necessrio estabelecer entre
desempenho e competncia. A informao til aquela que permitir compreender o percurso do aluno, e determinar a significao da resposta produzida, quer ela seja verdadeira
ou falsa. Consideremos a este propsito o caso mais simples, analisado por Pierre
Vermersch19.Um desempenho pode ser correcto ou incorrecto, e isto em funo da sua realizao, relativamente a competncia pretendida pela sequncia de formao, ou a uma
outra competncia. O sucesso (desempenho correcto) pode assim ser atribudo, por um
lado, ao emprego da competncia visada (caso 1): h ento sucesso pedaggico. Mas o
sucesso pode ser tambm atribudo a interveno de uma outra competncia, ou, de uma
maneira geral, ficar a dever-se a uma outra determinante (receita prvia, acaso): neste caso
(nP 2), h fracasso pedaggico. Qual ser ento a interpretao correcta? Todo o problema
reside em bem interpretar. Qual o valor do movimento de inferncia pelo qual passamos
do desempenho competncia? Da mesma forma, o erro (caso 3) pode inscrever-se no
quadro da competncia pretendida: erro de clculo, falta de habilidade, incompreenso
pontual, e pode tambm manifestar a ausncia desta competncia. Tal como o sucesso no
uma garantia absoluta da existncia da competncia pretendida, o erro no a prova
absoluta da sua ausncia! Mas para nos podermos pronunciar de uma forma segura - o que
sempre arriscado -, no nos podemos contentar, em caso algum, apenas com o resultado
final, pelo que necessrio recolher observaes no decurso da elaborao das respostas,
ou conduzir um inqurito complementar aps a realizao da tarefa.
Com efeito, o que que podemos realmente observar? Ou as aces do sujeito em situao, face a tarefa, no decurso da prova (observao directa), ou os testemunhos que pode
fornecer sobre a sua actividade sob a forma de respostas verbais, de desenhos, de esquemas
ou de textos escritos (observao indirecta). Os procedimentos (forma de se comportar) tm
por vezes uma dimenso exterior: apanhar o aluno a copiar, ou a contar pelos dedos, ou a
manipular dados de um jogo. Mas estes procedimentos so muitas vezes inobservveis e s
podem ento ser inferidos (ex.: encontrar o resultado de uma subtraco ao efectuar uma
adio lacunar ao contrrio20). Por fim, as representaes (o que se passa "na cabea" do
aluno sob o aspecto estrutural) no so, como os processos (o que se passa sob o aspecto
funcional ou dinmico), nunca directamente observveis, e s podem ser objecto de hipteses, a partir de exerccios de emergncia (de representaes) ou de entrevistas clnicas.
l9
20 Cf. J
Ir
2'
Cf. C. Hadji, "Sur le projet d'valuation formatrice: I'valuation formative de I'illusion I'utopie", acles de I a
renconrre inrerna~ionale:"valuer I'valuation", INRAP, Dijon, 1986, pp. 173-176.
O avaliador est assim entre dois fogos, entre o observvel e o inobservvel: o observvel, donde preciso partir, pois que no h avaliao sem produo de informaes relativas a um objecto concreto, a que se deve voltar, pois que a ambio do avaliador a de
facilitar uma progresso concreta e a de permitir que o aprendente construa um comportamento mais eficaz; o inobservvel. a que o avaliador deve reportar o real observado para o
compreender e dar a compreender, visto que preciso analisar e interpretar a realidade
sobre a qual se pronuncia, sem o que no haver nunca avaliao, mas simples fotografia.
Desde que ultrapassemos o estdio de controlo que constitui, tal como vimos, o caso-limite
da avaliao apreciativa com modelo predeterminado (caso-limite porque, a partir da, no
avaliamos mais, apenas constatamos), a avaliao interpretao. Se queremos "gerir" o
erro, para l do desempenho registado, preciso tentar determinar as razes que lhe deram
origem, e dizer o que ele revela dos conhecimentos adquiridos ou das falhas do aluno. No
h gesto possvel seno por este meio.
De facto, a avaliao formativa quer-se, afinal, reguladora. O seu objectivo o de permitir ajustar o tratamento didctico natureza das dificuldades constatadas e realidade
dos progressos registados. Na lgica de uma integrao da avaliao no processo didctico,
esta toma-se um instrumento privilegiado de regulao das actividades de aprendizagem
dos alunos. Como referiu com clareza Linda Allal, a pedagogia da mestria, na qual se integra, por assim dizer, naturalmente, a avaliao formativa - visto que se trata de permitir
que o maior nmero de alunos possvel atinja a mestria dos objectivos pedaggicos adquire todo o seu sentido no quadro de uma teoria construtivista da aprendizagem.
Segundo J. Piaget, toda e qualquer aprendizagem pe em jogo um mecanismo de regulao
de duplo efeito: por um lado (mecanismo de,feedback), o sujeito situa-se em relao a meta
pretendida; por outro (mecanismo de orientao), haver ajustamento ou reorientao da
aco'2. Poderamos falar de um primeiro processo de controlo-verificao e de um
segundo processo de orientao.
** Linda Allal, "Veri un largissernent de Ia pedagogie de rnaitnse", in Assirrer Ia russite des apprentissa,qes scoluii-ri. 1988, p. 96, Delachaux e Niestl, Neuchtel.
Cardinet, i,olution scolaire etpratique, op. rir., pp. 152, 153, 180, 21 1,213, 216,226,232,247,
L. Allal, "Vers un largissement de Ia pdagogie de maitrise", art. cit., pp. 97-100.
23 J.
24
261.
'
Figura 8
A actividade didctica
FINALIDADES
MODELO DE
FUNCIONAMENTO
FUNCIONANIENTO
(aprendente)
(objecto ensinado)
MODELO
DIDCTICO
~circunstncias)
OBJECTIVOS
REALIZAO
w-1
RECOLHA DE INFORMAES
sobre o desenvolvimento da actividade
REGULAO REMEDIAO
(regulao da aco)
As dificuldades
do discurso interpretativo
lucoar, necessrio precisar esse qu de que falamos. Isso vai obrigar a que nos interroguemos sobre o olhar do avaliador, para especificar as condies de observao e o estamdo observvel num percurso de avaliao deliberadamente interpretativo. Mas, desde
logo. podemo-nos interrogar se o risco principal a que se expe o discurso interpretativo
no resulta de uma certa particularidade original do ponto de vista do avaliador. Quando
tomamos conscincia, ao mesmo tempo, da necessidade de, por um lado, ficar o mais perto
possvel do sujeito em evoluo, e, por consequncia, de no avaliar um ser em movimento
por meio de um quadro esttico e exterior, e, por outro, da irredutvel particularidade do
discurso, o que podemos fazer realmente para lhe dar credibilidade? Seria necessrio
construir um "referente" simples, adaptado, que se coadunasse com a vida do sujeito que
avaliamos. Mas. como tambm um sujeito que efectua este trabalho, e porque no podemos
substituir a avaliao1 sem a modificar, como fundamentar e validar o discurso produzido?
Escaparemos ao risco do imperialismo mascarado apenas para melhor nos expormos ao
risco da insignificncia tagarela? Recusando a violncia "suave" que ameaava o jogo
precedente com a imposio, por meios arbitrrios, de um referente arbitrrio, no estaremos
como que condenados a exercer a violncia, ainda mais dissimulada, da interpretao que
se considera como admissvel (pertinente, autntica, vlida) quando esta s a expresso
de um ponto de vista que a sua irredutvel particularidade toma eminentemente suspeito e
contestvel? Recusando-nos a usar um referente predeterminado, no estaremos a lanar ao
mar a bssola e o sextante, o que significa querermos ser pilotos de um barco a deriva?
Embriaguez do discurso de quem tem o outro a sua merc! O juiz, ao crer tomar-se filsofo,
metamotiosear-se-ia em xerife ... a partir de agora sem f nem lei?
O PARADIGMA DA INTERPRETAO
Para aqueles que vem na passagem do controlo interpretao uma verdadeira e necessria mudana de paradigma, o melhor que h a fazer , sem dvida, antes de mais, compreender que sentido dar ao termo. Fomos talvez um pouco apressados ao avanar a hiptese
que o intrprete devia lanar ao mar os instrumentos que lhe permitiam fazer o ponto da
situao para "pilotar" a sua aco. Porque, se Ardoino e Berger proclamam a sua recusa em
"se ligarem a um modelo predefinido9'2, no foi para conclurem da nocividade do
referente em si mesmo, mas, pelo contrrio, para criarem as condies de emergncia de um
"referente" til e operatrio, porque apropriado ao objecto complexo e movedio de que s
esse referente poder permitir a apreciao. "A avaliao, nos problemas que coloca quanto
questo de sentido, consiste essencialmente em produzir, em construir, em criar um
referente". Cada "referente" assim construdo, sempre provisrio e susceptvel de ser posto
J. Ardoino, "Pdagogie de projet ou projet ducatif?", POUR, 94, Maro-Abril de 1984, pp. 5-13.
I. Ardoino e G. Berger, "L'valuation comme interprtation". art. cit., p. 124.
' Ihid , p. 125.
7
R
Ihid., p. 127.
Ihid., p. 125.
G. Berger, "Mais, qu'est-ce qui nous prend a valuer?", POUR, 55, Junho de 1977, p. 14.
hid.
' O "L'valuation
usos sociais da avaliao, e deixar ver, para alm da aposta no progresso individual. a do
posicionamento social: isso conduzir infalivelmente a reflectir sobre as necessidades e os
constrangimentos do desenvolvimento socioeconmico, e a pr a questo da pertinncia do
modelo de desenvolvimento que domina na nossa sociedade.
Ser, pois, necessrio desconfiar simultaneamente da eficcia ilusria daquele que julgaria
poder dizer tudo, desvendando, no seu discurso, a realidade tal como ela , e da impotncia
desconfiada daquele que se condenar a uma fuga em frente, em busca de um sentido que ,
afinal, impossvel de encontrar. Entre a segurana enganadora daquele que cr saber e a
lucidez paralisante daquele que tem conscincia que nunca vai saber, o avaliador, que se
quer, antes de tudo, intrprete, ter dificuldade em encontrar o seu caminho.
Contudo, a conscincia desta dificuldade permite-nos precisar em que sentido qualquer
avaliao interpretao. Avaliar sem interpretar equivaleria a dar resultados brutos. No
"jogo'7 do especialista, isto corresponde tentao objectivista, que leva a querer instrumentos para medir o verdadeiro valor dos alunos, e termmetros para avaliar a escola. Esta
ltima preocupao d testemunho de uma "febre avaliadora" de que uma avaliao
interpretativa poder tentar explicitar o sentido ao deixar ver o jogo das presses de ordem
econmica e oramental". No "jogo" do juiz, este desejo de "falar verdade" traduz-se na
preocupao de operacionalizar os objectivos, que vimos estarem na origem de uma possvel
deriva tecnicista. Porque a vontade da transparncia nem sempre inocente! A afirmao
que a avaliao interpretao pode ter como primeiro efeito curar-nos desta tentao de
"verdade", fazendo-nos lembrar que o avaliador no tem que ser um conhecedor profundo
do assunto. A verdade que procura no est na produo de um discurso que traduza
adequadamente uma realidade, quer dizer, que exprima, nas suas articulaes, as dos
elementos que a constituem. Porque com o avaliador h sempre um terceiro, que no um
simples observador, mas algum que l, que escolhe antecipadamente os ndices para lhes
conferir sentido em funo de uma grelha de interpretao: modelo de tipo 1 (Stufflebeam),
referente (predeterminado), ou "referente" (criado para e no momento da avaliao:
Ardoino e Berger).
Com o avaliador introduz-se o Valor ou o Sentido. O seu trabalho consiste, como
tentmos mostrar, em pronunciar-se sobre uma realidade luz de qualquer coisa que da
ordem de uma "realidade" de uma outra ordem.
Mar~ode 1988.
..
Ilk
l4
completa). E a construo de uma grelha poder compreender uma srie de etapas, a partir
de uma primeira observao selvagem ou de registos episdicos, que passam por fases
sucessivas de elaborao e de ensaio. Mas no h grau zero em que o observador esteja
totalmente "nu" ...
Como descreve Hlne Chauchat, a observao sempre "uma percepo orientada
segundo esquemas, conceitos, hipteses"15.
Contudo, se o observador analisa, devemos dizer que interpreta? A anlise pe em jogo
operaes de classificao e eventualmente de seriao. Tem-se ento de estabelecer relaes de equivalncia (juntar o que "semelhante"), ou de ordem (agrupar o que difere
segundo uma ou vrias dimenses), entre os objectos recolhidos na observao. O intrprete vai mais longe, ao procurar dizer o que aprendemos com o facto de esses objectos l
estarem, e com o facto de os podermos agrupar em "categorias". O observador, por exemplo, assinala o comportamento agressivo de um aluno, e ao interrogar-se por que motivo
esse aluno agressivo, e o que isso significa quanto ao funcionamento desta escola, levar
a passar da anlise, que agrupa, interpretao, que cria distanciao para compreender.
Vai-se mais longe a interpretar do que a analisar.
Nestas condies, qual o interesse da reflexo sobre as dificuldades da observao em
cincias humanas? Em primeiro lugar, o de preparar o trabalho de investigao dos instrumentos adequados, ao precisar o quadro em que esta investigao poder ser efectuada. O
avaliador, que necessariamente deve produzir informaes por observao daquilo que
avalia (construo do referido), desde logo ter de defrontar-se com todos os problemas
que a observao levanta. , pois, importante compreender que no h nunca facto puro,
dado em si mesmo, neutro ou objectivo. No s porque a avaliao no se reduz produo de informaes, mas apenas por esta ser possvel, quando orientada por intenes e
dinamizada por questes. Donde a necessidade de nos tratarmos definitivamente da iluso
objectivista, e de reconhecermos os limites radicais de uma poltica de avaliao baseada
na procura de indicadores.
A falta de encontrar termmetros para avaliar a escola, os caadores da objectividade
puseram-se procura de indicadores indiscutveis, que, por exemplo, permitiriam conhecer
o valor real dos estabelecimentos escolares ou dos diplomas entregues pela instituio. A
avaliao rigorosa do sistema escolar, para os que desejam "calcular a sua capacidade",
passa assim pela definio consensual de indicadores, se possvel simples e fceis de compreender, que poderiam fornecer informaes claras, e directamente explorveis para uma
melhor gesto dos recursos escolares16. A preocupao certamente louvvel. Tentmos
assinalar, num primeiro momento, os domnios de investigao que correspondem aos
fenmenos a observar de perto (exemplos: os resultados dos alunos, a vida dos estabelecimentos, as opinies dos respectivos actores, as formas e taxas de escolarizao). Um grupo
'5
l6
& trabalho, a fim de poder apreciar a eficcia do sistema escolar nos seus diferentes campos,
props que fossem considerados indicadores tais como:
- taxas
de escolarizao;
- taxas de sucesso dos alunos;
- taxas de adaptao ao meio;
- capacidade de acolhimento dos alunos;
-nveis e taxas de insero de diplomas, etc.I7
Mas que uso fazer das informaes que aparecero no "caderno de bordo"? Um nmero
s se toma uma informao se lhe captarmos o sentido, por exemplo, em relao a determinados patamares. Quando o nvel de gasolina muito baixo, o respectivo indicador entra
"na zona vermelha". Como que saberemos se estamos ou no no vermelho? Um mostrador dos resultados escolares, para l do interesse da produo de dados factuais - que, de
resto, se no tiverem uma base concreta, depressa correm o risco de se tomarem embaraosos e de no terem qualquer efeito real -, s ser verdadeiramente til se produzir verdadeiros "indicadores". Um indicador um significante que testemunha a existncia de um
fenmeno determinado. um signo no qual reconhecemos a presena de um efeito previsto, ou a iminncia de um perigo. Do que que d, pois, testemunho uma taxa de escolarizao? Os signos que aparecem no caderno de bordo s ganham uma significao se os
definirmos, a montante, em termos dos nveis de "desempenho" aceitveis, dos limiares de
sucesso ou de insucesso, se precisarmos objectivos e descrevermos efeitos esperados. Sem
tais critrios, o avaliador fica cego, porque os indicadores fornecem algarismos que do
informaes difusas, e que, para falar verdade, no significam nada. Como salienta J.-M.
Dupuis, se as taxas de sucesso no baccalaur.at sobem custa de uma "eliminao feroz"
nos anos terminais do secundrio, dever-se- aplaudir ou deplorar este resultadolE?
Qualquer indicador , pelo menos, ambivalente. Com efeito, que significa a taxa de
sucesso no baccalaurat? Ser um ndice seguro para se apreciar o valor de um estabelecimento? Se nos limitarmos a dividir o nmero de alunos que "passaram" pelo nmero dos
que se apresentaram a exame (indicador I), ignoramos a transferncia de alunos de um
estabelecimento para outro ao longo do curso, ou at mesmo em fim de escolaridade, e no
temos em conta nem a durao do percurso escolar, nem a caracterstica dos estabelecimentosI9. Poderemos, pois, ter o propsito de estabelecer a relao (indicador 2) entre o
nmero de alunos que obtiveram o seu baccalaurat em trs anos e o nmero de alunos
que entraram en seconde*. Mas este ltimo indicador no tem em conta nem a caracterstica do estabelecimento, nem as diferenas do "valor escolar" dos alunos antes da sua
entrada no liceu. Em definitivo, um indicador , por si s, sempre insuficiente. Isto leva-nos,
Cf. "L'ducation aura ses "indicateurs" d'efficacit", L e Monde, 9-10 de Maro de 1986.
J.-M. Dupuis. "Guide du bon usage des indicateurs d'valuation". POUK, 107, p. 35.
l 9 Cf., "Les rsultats du baccalaurat; une lettre du proviseur du lyce Champollion", Le Monde, 8 de Abril de 1987.
* Correspondente ao 10: ano do sistema educativo portugus (N.T.).
l7
lu
pois, a uma dupla concluso. No s devemos ser desconfiados, e fazer um esforo para
interpretar de uma forma "s" os indicadores, mas at, e talvez por isso, devemos estar
atentos queles cujo sentido parece mais evidente. Mas importa, antes de mais, definir o
que se quer apreciar - por exemplo, a qualidade de um liceu - a fim de se poderem determinar indicadores pertinentes.
Assim, "os nmeros no falam nunca por si prprios, e s ganham sentido numa p
blemtica e~plicativa"~0.
O aspecto quantitativo do indicador no deve criar iluses. Todos
os dados so construdos, e os dados que devem servir para a avaliao tambm o so
duplamente: enquanto "dados" de observao e enquanto dados que nada indicam a no ser
em referncia a critrios que, logicamente, lhes preexistem. Um descritor s se toma num
indicador relativamente a um contexto de projectos ou de expectativas. preciso pr as
coisas nos seus lugares: a linha de pertinncia vai dos critrios para os indicadores.
DIFICULDADES E PERIGOS DA INTERPRETAO
O observador constri o objecto de percepo ao analis-lo, ao mesmo tempo que o
regista. O avaliador que no tem apenas o projecto de ver, mas de se pronunciar sobre o
que v, vai tecer com palavras uma tela onde articula observaes e ideias, representaes,
projectos, intenes, etc., que o levam produo de sentido. H uma parte de interpretao logo a partir da avaliao estimativa, visto que o ser que se quer descrever ultrapassa o
que pode ser captado de forma instrumental. "Avaliamos por estimativa" quando o ser pelo
qual nos interessamos no se reduz a ser mensurvel e escapa s nossas capacidades de
captao "objectiva". Com a avaliao sem modelo predefinido, o acento posto, de forma
radical, na necessidade de interpretar, quer dizer, de procurar as pedras-de-toque que permitem pensar a realidade observada. Se no encontramos estas pedras-de-toque, o que
observvel arrisca-se a ser, literalmente, insignificante. O observvel - comportamento, atitude, discurso - apenas um signo em que preciso encontrar o sentido. Os nmeros
devem ser decifrados! Interpretar significa pr a claro, descodificar.
Como estarmos ento seguros do nosso texto, quando no dispomos da ajuda de um
texto-chave ou de um texto-fundador?
O filsofo um tradutor que deve construir o seu dicionrio medida que vai traduzindo. Uma operao desta natureza no pode deixar de ser delicada. O principal risco a
que se expe o discurso interpretativo visvel, aqui, neste trabalho do funmbulo que
trabalha sem rede. o da embriaguez do discurso e da pretenso filosfica de saber tudo
sobre tudo.
Ser necessrio mais modstia para escapar armadilha da tagarelice pretensiosa, nesta
situao particular em que nos propomos explicitar a interpretao ascendente ou indutiva.
20
Podemos definir a induo como a operao intelectual pela qual remontamos aos factos,
considerados ento como consequncias, que , em princpio, susceptvel de os explicar, e
de dizer a sua causa possvel. "Em presena de fenmenos, construmos uma hiptese a
qual presumimos que permitir consider-los como conseq~ncias."~~
Ora, no domnio das prticas sociais, o esforo de avaliao concretizou-se por meio da
anlise dos efeitos que pem em jogo um mecanismo de tipo indutivo. Trata-se de relacionar os efeitos observados com os objectivos que presidiram a realizao de aces sociais
determinadas. Num primeiro tempo, "medimos" "a variao de uma situao". E, num
segundo tempo. tentamos dizer o que, nas mudanas observadas (a variao medida), fica a
dever-se poltica ou ao trabalho social que se quer avaliar22.A eficcia de uma poltica
social assim apreciada atravs dos seus efeitos, que convm assinalar e analisar. Mas este
trabalho de "anlise dos efeitos'' implica, quando partimos da realidade, um duplo movimento de inferncia. Porque a anlise articula, no dois, mas trs nveis de "realidade":
-o
dos "efeitos", que se situam no campo da realidade social concreta, em que as variaes podero ser medidas. sobre tais variaes que um "caderno de bordo" poder
dar instrues. Mas, como j vimos, sem "dados" de uma outra ordem, os indicadores
fornecidos no significam nada. preciso interpret-los, o que exige p-los em relao com dois outros nveis:
- o das aces concretamente realizadas;
- o dos objectivos que estas aces tinham por ambio alcanar.
E-
sem dvida a vontade de voltar aos factos, e de os ajustar constantemente a sua grelha de leitura, que pode salvar o intrprete da tagarelice pretensiosa. certamente tentador
impor a nossa interpretao e difcil escapar embriaguez que acompanha o exerccio do
poder de dizer a outro o que acreditamos ser a nossa verdade.
Como canta Guy Beart, as palavras "lanadas assim a cabea dos outros" podem doer
muito e ferir para sempre:
So to leves para aquele que as lana,
to pesadas para aquele que as recebe,
a flecha partiu e j tu a lamentas,
porque ficou cravada no fundo de mim.
26
permitir ultrapassar esta situao e "transformar" a sua realidade. A vontade de ser til
pode ser uma plataforma eficaz contra a tentao do discurso altivo e edificante. se essa
vontade reconduzir o avaliador ao seu lugar, que no um todo-poderoso profissional da
palavra, capaz de efectuar uma sntese donde sairia uma verdade sufocante, porque definitiva. O avaliador no mais que um acompanhante dando a ajuda pontual de uma anlise
esclarecedora, ou um "guarda de sentido", que convida a compreender melhor o que
fazemos, para nos tomarmos melhores que aquilo que somos.
por isso que uma terceira condio, para o avaliador intrprete, , em ltima instncia,
a de compreender, como escrevem Ardoino e Berger, que est "sobretudo l para se deixar
apagarn30.A verdade ltima do trabalho de interpretao a auto-avaliao ao servio de
uma autogesto dos desenvolvimentos. Segundo uma excelente frmula de Michel Juff, o
avaliador um "agente cataltico", que desapareceria, sem deixar rasto, uma vez terminado
o trabalho3'. A interpretao no mais que um momento numa dinmica na qual se
inscreve: a dinmica do desenvolvimento de um sujeito, ou de uma instituio, que se
apoiar no esclarecimento temporrio trazido pelo discurso interpretativo para melhor se
desenvolver.
Assim o avaliador, quando constri um sistema de interpretao, defronta-se com o
duplo risco de comentar abusivamente, ao propor uma grelha de leitura inadequada e de
submeter o indivduo avaliado priso de um discurso hegemnico. A avaliao interpretativa superar estes riscos dando provas de conteno e de modstia. O que significa,
concretamente:
1. Nunca perder de vista que um discurso se perde e se perverte, se se afastar da
realidade que tem a funo de explicitar. A interpretao tem de ser, de certa forma,
terra a terra. Certamente que necessrio criar distanciao em relao quilo que
avaliado, para tentar compreender o que se passa luz de um modelo de funcionamento da realidade construdo para esse efeito. Mas h vrias espcies de modelos de
funcionamento. No quadro de uma avaliao apreciativa, o referente , para falar em
sentido prprio, o modelo de dever ser. O avaliador sabe qual o alvo que o avaliado
deve visar. Mas, para o discurso interpretativo, o problema sensivelmente diferente.
No se trata de construir uma grelha para julgar. mas uma rede (de significao) para
compreender, para nos pronunciarmos de forma diferente. O "referente" no constitui
um modelo ideal, mas um modelo de inteligibilidade.
Ter conscincia desta necessidade caracterstica da avaliao interpretativa pode permitir-nos precisar a nossa concepo de avaliao, porque nos poderamos interrogar se este
mtodo de interpretao no sai fora do quadro das prticas avaliativas. J. Ardoino e G.
Berger excluam o controlo da avaliao. No conviria dar o mesmo destino a interpretao,
Michel Juffe, "Le bon valuateur eFt celui qu'on perd", POLIR, 107, p 114.
.-
&
m prpria medida em que a adequao ao real se toma numa exigncia primordial? Deveremos ainda falar de avaliao? Responderemos pela afirmativa, considerando que a
interpretao, como qualquer acto de avaliao, constitui um tempo de paragem em que
rios interrogamos sobre a aco empreendida afim de melhorarmos esta orientao. Mas
h vrias formas de nos interrogarmos, que correspondem precisamente as "filosofias"
que atrs descrevemos:
- o especialista
O segundo jogo aquele que corresponde mais directamente nossa primeira definio
de avaliao. Mas podemos legitimamente considerar que cada uma das outras duas, no
quadro geral de uma gesto do provvel, representa uma forma particular de actividade da
avaliao. E, para alm das questes de definio e de fronteiras, o essencial , como temos
tentado mostrar, conhecer e respeitar as regras prprias de cada um dos jogos, a fim de se
entrar no jogo e respeitar a sua essncia.
Assim, o jogo da interpretao deve respeitar uma segunda regra fundamental.
Segundo momento
Saber construir dispositivos pertinentes
e utilizar
os instrumentos adequados
Para coi~stmir
dispositivos pertinentes
ara tomar segura a avaliao, convm precisar algumas regras fundamentais caractersticas dos principais jogos que distinguimos, ao examinarmos os obstculos com
que cada um se defrontava, e os riscos de deriva que da decorriam.
Mas no basta saber assinalar e desmontar as ciladas a que nos expomos consoante a
nossa filosofia da avaliao. ainda preciso que sejamos capazes de implantar, concretamente, na prtica outros procedimentos. Ao delimitarmos urri objecto preciso, temos de
escolher os instrumentos, definir os intervenientes, determinar os momentos. Mostrmos
que as respostas as questes de ordem metodolgica, respeitantes as formas da actividade
de avaliao, dependiam das intenes que animavam o avaliador e da finalidade do seu
trabalho. Mas, ainda que o espao tcnico no seja autnomo, no deixa dc scr, por isso
mesmo. o espao privilegiado da aco concreta do avaliador. Haver regras metodolgicas a respeitar quando construmos um dispositivo? E como levar em conta, nos factos, o
primado das intenes'? Teremos de elaborar dispositivos diferentes consoante a inteno
dominante, ou poderemos conceber um "dispositivo modelo", formal e geral, em que s
os elementos constitutivos mudariam nas diferentes situaes?
Mas, antes de mais, o que exactamente um dispositivo'?
O DISPOSITIVO DA AVALIAO
Qualquer que seja a nossa concepo da avaliao, e qualquer que seja a sua funo
principal, devemos, para poder avaliar, considerar um certo nmero de dispositivos.
momentos;
- natureza das informaes a recolher;
- instrumentos de ajuda elaborao deste trabalho.
Mas sabemos que a avaliao no se reduz a uma produo de informaes. No ser
suficiente ordenar procedimentos e instrumentos para recolher "dados". Ainda - e sobretudo - ter-se- de tratar esses dados. Sem critrios, em relao aos quais adquiram uma
significao, os indicadores so mudos. por isso que tambm necessrio prever modalidades de tratamento de informao. Qualquer que seja a natureza do referente, de tipo
quantitativo (modelo de eficcia, na avaliao por defeito de medida) ou qualitativo
(modelo de valor, ou modelo de sentido), a avaliao uma leitura da realidade luz de
uma grelha de referncia, com que estabelece uma relao, e donde nasce o juzo que a
define. Temos, pois, de considerar nveis e tipos de comparao referentelreferido. Alm
disso, s a partir da que se pode decidir das modalidades de recolha de informao, sob
pena de se correr o risco de fazer um levantamento de informaes que se verificaro
inteis. Aqui, ainda, a linha de pertinncia vai do referente ao referido, do tratamento
previsto a informao necessria. Por outros termos, poderemos dizer que construir um
dispositivo organizar os meios conformes a um plano, que ser estruturado em funo de
um certo nmero de dados de que convm fazer o repertrio. Vamos faz-lo a partir de um
exemplo, analisando uma situao concreta.
Retenhamos para j uma primeira regra fundamental:
Nunca pode haver irnz dispositiito sem plano prvio. Para podermos fazer o levantamento de informapies, preciso sabermos que informao necessrio recolhei:
formao realizadas pelo professor. Posto isto, deveria ficar claro, a partir da, que uma
avaliao de um aluno de que o professor no retire nenhum ensinamento para si prprio, e
que no seja seguida de nenhuma modificao na prtica pedaggica, no tem qualquer
sentido - salvo, bem entendido, se deixarmos de estar em situao de formao.
Em segundo lugar, ainda recentemente foi lamentado o facto de subsistir um grande
mal-estar "sobre o que constituiria as caractersticas ou as regras elementares" de um
mtodo de avaliao das aces de formao. Se pudssemos contribuir para dissipar as
"c~nfuses"~
que marcam as prticas actuais, mataramos, pois, dois coelhos com uma
cajadada.
Consideremos um grupo de formadores que organiza um estgio, ou um professor que
prepara uma srie de sequncias ou um mdulo, e desejosos de prever um dispositivo adequado a servir a avaliao do seu trabalho. Que "disposies" devero tomar?
Formalmente, podemos dizer que devero dar respostas precisas s quectes fulcrais do
espao dos "problemas tcnicos": O qu? Quando? Para quem? Como (com que)? Mas
toda a dificuldade est a. Podemos tratar, em primeiro lugar, a questo: "O qu?" Por que
que nos vamos interessar? claro que isso depende ... De qu? Primeiro que tudo, da razo
pela qual julgamos pertinente avaliar, e que constitui o que designaremos por inteno
dominante do pro-jecto de avaliar. Os "mtodos" identificados por Stake correspondem
assim a outras tantas diferentes intenes dominantes:
Avalia-se:
- para
- O juiz,preocupado em
apreciar o valor do seu trabalho em relao aos alvos predehidos, poder, tambm ele, proceder de duas formas. Pode ir comparar a sua actividade
pedaggica com um modelo ideal, o da "lio-tipo". assim, notemo-lo, que funciona
a maior parte das visitas feitas aos professores estagirios, ou as inspeces aos professores efectivos. O formador, ou o inspector, compara a prestao realizada com um
modelo ideal de prestao pedaggica que fica, na maioria das vezes, no explicitada,
atitude que no deixar de os pr em grande perigo de deriva autoritarista. Ou, ento,
podem comparar-se os desempenhos dos alunos em relao aos desempenhos-alvo,
para apreciar o valor da aco em funo dos desvios constatados.
- Ojlsofo, para compreender o que se passa e retirar a significao do trabalho realizado,
estar atento aos signos - factos particulares, atitudes, incidentes, propsitos de uns e de
outros - susceptveis de revelarem tenses, sofrimento, ou ento progresses, conquistas;
quer dizer, susceptveis de servirem de analisador da situao de aprendizagem.
Vemos como tudo isto est ligado. Da "escolha" de um modelo de avaliao decorre
no somente a perspectiva do recorte do objecto, mas tambm a escolha dos momentos,
dos actores e dos instrumentos. O especialista, por exemplo, para calcular a eficcia da sua
aco atravs dos resultados dos formandos, dever submet-los a duas sries de provas,
antes e depois da sequncia de formao. E estas provas devero ser, se possvel, testes
(situaes experimentais estandardizadas). O filsofo no tem nenhuma necessidade de
uma instrumentao pesada. S lhe necessrio prever os momentos precisos de recolha
de informao. por isso que, para ele, a questo dos dispositivos tem pouco interesse.
Construmos um dispositivo em funo do que desejamos ver. Um andaime s poder
importunar o intrprete que quer poder percorrer todo o estaleiro como entende e descobrir
novos pontos de vista.
Contudo, os projectos de avaliao ultrapassam, na maioria das vezes, estas grandes
"filosofias". E isto por duas razes. A primeira que o modelo de avaliao privilegiado ,
de qualquer forma, um "misto", que articula intenes atinentes actividade da prpria
avaliao (para que serve avaliar?) e as intenes respeitantes sua prtica social (para que
serve a avaliao?). Cada modelo faz as suas escolhas, simultaneamente, a partir do
funcionamento da actividade e da utilizao dos seus produtos, como visvel nos quatro
modelos que J.-M. de Ketele considerou como os mais significativos2:
,'
Cf. J.-M. de Ketele. "L'valuation du savoir-tre", in L'volution approche desrriptii,e ou prescriptive, Bnixeiles,
De Boeck. pp. 187-197.
Cf. Guy Avanzini, "A propos de la didactique: i1 n'y a pas de "consensus". Bulletin Binet-Simon, 606,1, 1986.
Guy Avanzini, Introduction aux sciences de I'ducation, Toulouse, Privat, 1987, p. 136.
Na maior parte dos casos, propomo-nos avaliar os formandos. O que quer isto dizer?
Tomaremos em considerao:
O futuro agente econmico, de quem apreciaremos o valor profissional?
as aquisies?
- A pessoa, de quem nos esforaremos por compreender o desenvolvimento?
-
certo que estes diferentes pontos de vista no so exclusivos. J.-M. Barbier mostrou
que, em relao ao que se chama os "quadros ideolgicos-tericos de referncia", podemos
assinalar "sistemas de objectivos" que presidem ao funcionamento das instituies de
formao5.
Mas, mesmo que um modelo de funcionamento seja compsito e articule vrios objectivos, isso no faz desaparecer, antes pelo contrrio, a necessidade de saber o que espervamos do objecto a avaliar para o podermos fazer. Um dispositivo s poder ser construdo
com estes custos e, quanto mais se desejar ter um dispositivo preciso, mais necessidade
haver, por um lado, de se ser preciso na explicitao do modelo de avaliao, e, por outro,
na do modelo de funcionamento do objecto avaliado.
Este ltimo trabalho conduzir, em ltima instncia, como acabmos de tomar
conscincia, a interrogarmo-nos sobre o nosso projecto de formao. Sem dvida que as
frnnlidades se arriscam a ser muito gerais para atribuir um peso real construo do dispositivo. Contudo, desde que o sistema de valores que d sentido ao projecto seja suficientemente claro, esse sistema determinar, em parte, a natureza das informaes a colher e, por
conseguinte, das modalidades de recolha. Se nos propomos formar sujeitos autnomos,
deveremos imaginar as circunstncias nas quais esta autonomia poder manifestar-se, e
prever provas, testes ou situaes, que permitam apreci-la. Poder ser necessrio construir,
como o fez Carl Rogers, um modelo da "pessoa funcionando em pleno"6, para fabricar, em
funo desse modelo, testes de desenvolvimento. A fortiori, ser necessrio levar em conta
as intenes dominantes de mudana em que se especificam, em relao a um modelo de
formao, as principais modificaes esperadas no fim da aco.
Segundo G. Nunziati, por exemplo, para uma formao de professores, as mudanas
poderiam situar-se em quatro eixos7:
- os pontos
de vista;
- os conhecimentos;
- as tcnicas pedaggicas;
- os comportamentos relacionais.
Mas talvez estas consideraes sejam ainda muito abstractas e possam, por conseguinte, parecer insuficientemente operatrias. No ser j tempo de mostrar, concretamente, como se estabelece a ligao entre as intenes e os instrumentos? Resumamos.
Um dispositivo de avaliao:
- descreve e articula determinadas modalidades de recolha de informao;
-prev os nveis e os tipos de confrontao referentelreferido a realizar.
Figura 9
A articulao formao-avaliao
Finalidades
. .. de progresso
.. . de resultados
Efeitos esperado\
a longo prazo
O
A
... de funcionamento
I
I
.. . a realizar
I
I
*I
I
I
I
I
I
I
I
I
I
L,
EIXO TEMPORAL
A
i
+
-4
as informaes a recolher
funcionamento
PROJECTO DE AVALIAO
- intenes
dominantes de mudana;
- modelo de formao privilegiado;
c) particularidades concretas do sistema de formao no seio do qual o objecto de observao ser recortado.
Os nossos professores elou formadores, que queiram construir um dispositivo adequado, podero, pois, partir do instrumento seguinte, que funcionar como fio condutor.
O repertrio das operaes enumeradas so "incontomveis" neste sentido em que apenas
se poder trabalhar com rigor na condio de as cumprir, e de as cumprir a todas. Mas ser
preciso faz-lo na ordem indicada? No podenarnos comear directamente pelo "concreto",
no ponto 3? Tentemos.
Quando se trata de educao, de ensino elou de formao, queremos avaliar qualquer
coisa que se inscreve no desenrolar do projecto. O plano de avaliao dever, pois, ter em
conta as particularidades do objecto nesse "desenrolar do projecto". Poderemos, de uma
maneira geral, prever uma pluralidade de unidades de avaliao correspondentes s
diferentes unidades e aos diferentes momentos da aco. Assim a dinmica do projecto
encadeia um certo nmero de fases-chave9:
Sobre este assunto, poderamos consultar a recolha de trabalhos realizados pelos participantes na Universidade de
Vero de Autrans, Dispositifs et mthodes de formation a la conception et a I'valuution des PAE, Universit de
Grenoble 11, Ministre de ltducation Nationale, 1988.
FIO CONDUTOR
PARA
CONSTRUIR UM DISPOSITIVO DE AVALIAODE ACOES DE FORMAO
3. Prever os procedimentos
Determinar a informao til
-POR QUE que nos vamos interessar (objecto)?
Explicitar como recolhida a informao til
-QUEM vai efectuar a recolha?
-QUANDO?
- por meio de QUE INSTRUMENTOS?
Definir o quadro de interpretao dessa informao
natureza do projecto de avaliao. Pode ser til reflectir no valor do projecto antes da sua
realizao. interrogando-nos sobre a sua coerncia interna, a forma como foram tomadas
em considerao os condicionalismos externos, o seu aspecto realista, a sua "exequibilidade", etc.lo, se temos a possibilidade de o modificar e se esta avaliao inicial se inscreve
num contexto de regulao da aco. sobretudo a inteno dominante que caracteriza o
projecto de avaliao que se toma o farol que ilumina a construo de todo e qualquer dispositivo.
Concretamente, podemos proceder da forma seguinte:
1. Estabelecer a lista dos momentos, das actividades, ou dos "elementos-chave" da
dinmica, ou do sistema a avaliar.
2. Notar, em relao a cada um deles:
- o tipo de informao a recolher;
-as circunstncias das recolhas de informao (intewenientes, momentos, instrumentos).
Mas vimos que a natureza das informaes a recolher dependia do "tratamento" previsto, ou, por outras palavras, daquilo a que essas informaes so destinadas. Ser. pois,
necessrio, para termos todas as oportunidades de construir um dispositivo completo e coerente, precisar, para cada elemento-chave que contribui para pr de p uma unidade de avaliao, no somente:
- os
instrumentos a utilizar;
- a natureza das informaes a recolher;
mas, ainda:
- o tipo de confronto previsto;
- o "objectivo" do trabalho realizado no quadro desta unidade de avalia~o.
A ttulo de exemplo, propomos o esquema de um dispositivo eventual para a avaliao
de um estgio de formao de professores realizado na prpria escola". Este esquema
(fig. 10) no tem a pretenso de servir de norma ideal, mas ser somente um esboo que
incita a no esquecer nada de importante. Ora, cada elemento do dispositivo s importante em relao a uma inteno central do projecto de avaliao (ter em conta, no
esquema, a linha: com vista a). E o essencial, formalmente falando, explicitar bem este
projecto, contemplando, evidentemente, as particularidades concretas da situao donde
decorre a deciso de avaliar.
Por fim, para ajudar a determinar as unidades de avaliao que articulam o dispositivo.
submetemos ao leitor uma lista dos principais objectos possveis na avaliao das aces
'O
''
G. Nunziati descreve neste sentido oa critrios para dizer se um plano de formao aceitvel ("Pour valuer une
fomiation", art. cit., p. 47).
E ~ t eesquema, tal conio o precedente, ilustra o artigo "lements pour un modle d'articulation formationlvaluation".
Figura 10
Um dispositivo de avaliao de um estgio numa escola
COM VISTA A
Apreciar a
"exequibilidade"
Para os
CONFRONTAR
com
DETERMINAR E
APRECIAR OS
AVALIAR \
EFEITOS REAIS
MODULAR
do estgio
Nome
do
estgio
Competncias
dos
formadores
Projecto
de
formao
programa
OBJECTIVOS A LONGO
PRAZODECORRENTES
DO PROJECTO
DE FORMAO
(competncia
formao
saber-fazer
Aquisies'
I
NATUREZA DAS
INFORMAES
A RECOLHER
na prtica
CONTROLAR
/saberes
/
\
Projecto Representaes
Preocupaes
concretas
pedaggico
quanto aos
Contedos
contedos
objectivose Disposies
quanto
Impresses Competncia
desejados
ao trabalho Vivncias dos realmente
proposto
estagirios
adquirida
Novas prticas
de avaliao?
(natureza?
caractersticas?)
Representaes
finais
Constituio
de
equipas
de trabalho
INSTRUMENTOS
a pr em
Entrevista
(informal)
Grelha de anlise
+
do pedido
de formao
Questionrio inicial
Q - Sofi +
Exerccios de
emergncia das
Intercmbios
112 dia
Q - Sort
Testes +
Constmo
"de instrumentos" novos
Exerccios de
controlo dos Criao de
conhecimentos Situaes
Grelha de
anlise
das
Anlise
de
contedo
informais
ACO DE FORMAO
Um dia de trabalho
de formao. Esta lista foi construda tomando em considerao uma dupla distino:
processo (aco em funcionamento) - produto (conjunto de resultados), por um lado; e
processo pedaggico (relaes de face a face) - processo de formao (conjunto da
dinmica), por outro. Esta lista pe em evidncia, entre outras coisas, que a avaliao de
uma aco de formao no pode, em caso algum, reduzir-se s a avaliao do grau de
satisfao dos formandos com que nos contentamos, no entanto, ainda muitas vezes.
Assim, a construo de um dispositivo pertinente um trabalho que ultrapassa largamente a simples preparao "tcnica" de procedimentos. preciso no somente dispor de
uma panplia de instrumentos e de utenslios suficientemente ncos, mas ainda possuir o
saber-fazer que permita utilizar o instrumento certo, no momento certo, para realizar a
inteno da melhor forma, quer dizer, produzir informaes teis para conhecer, julgar ou
interpretar; para regular a aco ou preparar as decises; para nos podermos pronunciar
sobre a realidade "julgada" e fazer o ponto da situao de forma eficaz. por isso que este
saber-fazer mais que um estrito saber-fazer, que pe em jogo um saber-analisar (projectos) ou saber-explicitar (intenes).
A primeira condio para construir um dispositivo pertinente , pois, a de sabermos ter
tempo para reflectir - como o soube fazer, no mito de ER, a alma de Ulisses -, para dizermos
o que que a situao exige, onde que nos encontramos concretamente e o que temos de
avaliar. Avaliar em funo de qu? Tudo depende desta questo primordial. As regras do
jogo so determinadas pela essncia do jogo. A direco correcta sobretudo aquela que
vai das intenes aos instrumentos.
159
1. O processo de formao
O dispositivo (em sentido lato)
- O projecto (coerncia e rigor)
- O plano (exequibilidade)
em particular: os formadores
Lugar e papel?
Formao?
Competncias?
Estatuto?
O processo pedaggico
(a aco propriamente dita)
Escolha dos contedos
Trabalho dos formadores
Escolha das actividades e exerccios
Funcionamento da aco
Mtodos de trabalho
Tcnicas de aninialo
Dispositivo de avaliao
2. Os efeitos da formao
Efeitos pedaggicos (= resultados dos formandos)
- aprendizagens realizadas
- evolues assinalveis
- ...satisfao dos formandos
efeito^ de formao (= as suas consequncias)
evoluo das prticas
- eficcia das prticas
-
leitor que nos seguiu at agora interrogar-se-, sem dvida, sobre a necessidade de se
dedicar um captulo aos instrumentos. Se o instrumento no pode ser bem escolhido
seno em referncia a uma inteno dominante, no seria suficiente caracterizar essas
intenes? No se disse j como se deve garantir a escolha do instrumento. ao descreverem-se os principais "jogos" da avaliao e ao tentar-se determinar as regras que decorrem
da sua "essncia"? Que restar ainda fazer?
Talvez interrogarmo-nos sobre a ou as funes reais do instrumento em avaliao.
Porque afinal no que respeita a designar "objectos" de complexidade diferente. intervindo
em momentos e em nveis diferentes, e para usos igualmente diferentes, o termo de instrumento ambguo. Em
sentido primeiro,
um instrumento um utensilio manual de trabalho
---_
-que serve para agir sobre uma matria para a trabalhar ou para a transformar. Em sentido
lato, o instrumento um utenslio que facilita uma prxis, que permite apreender as coisas
(o microscpio, instrumento de observao) ou agir sobre elas (o psicodrama, instrumento
teraputico). Que gnero de instrumentos utiliza o avaliador? Quando se trata de avaliar os
alunos, o instrumento, na maior parte das vezes, apresenta-se sob a forma de "temas" deexerccio ou de problemas com os quais os alunos sero confrontados. O problema - em
sentido largo: situao que implica uma ou vrias dificuldades que se pede ao aluno para
enfrentar - ento ocasio para uma "prestao", que vai desencadear um comportamento,
que ser objecto de observao e de anlise. Aquilo a que chamamos avaliao , de facto,
a observao-anlise-interpretao deste comportamento, pelo que este trabalho pode,
O importante dispor de um quadro ordenado, de saber quais so os principaiicompartimentos da caixa de ferramentas. Podemos, ento, considerar vrios sistemas de ordenao.
De acordo com a lgica da nossa anlise, que privilegiou as "filosofias" da avaliao,
poderamos imaginar trs grandes caixas.
Quadro 8
Funes e estratgias da avaliao no ensino
I ESTRAT~GIh
I (condies de aprendizagem) I
(processos de aprendizagem)
I (resultado da aprendizagem) I
Prever as dificuldades provveis da aprendizagem
com vista a
OBJECTIVOS
OBJECTOS
(traos visados)
TIPOS DE PROVAS
I1
esse
'
social-
mente
--
Caractedsticas estveis do
aluno
"Aptides"
Motivaes
Capacidades e competncias
j dominadas
Saber-fazer significativo
Provas normativas
(estandardizadas)
Provas criteriais
Testes de aptido
Baterias de provas preditivas
Exerccios "probatrios"
Confronto com um problema
significativo da con~petncia
tpico
visada
(ex.: ditado)
I
INSTRUMENTOS
APROPRIADOS
Fonte: Jean Cardinet, Ohjectifi <;clircatifsr? i.aluation individualise. Neuchitel, IRDP, Maro de 1977.
Cf. Conatantin Xypns, Jeati Piagei. volution er permanente, L'cole et la famille, Dossiers d'ducation, supplment nP 10, 15 de Junho de 1982.
J. Cardinet, Ohjectifs er valiiation individualise, IRDP. Neuchtel. Maro de 1977.
-. aos
Figura 11
A dinmica (ou "dramtica") d a aprendizagem
ror>
PROJECTO
REESTRUTURAO INTERNA
Modificao da estrutura cognitiva
DESESTABILIZAO
PRSSAO DO
MEIO
RUPTURA E
DESEQUIL~BRIO-)SUPERAO
.---
f
h
REESTRUTURAAO EXTERNA
Novos modos de interaco com o
meio
OBSTCULOS
PESQUISA
HESITAO
(REGRESSO?)
SALTO
Conjunto organizado de processos operatrios e de conceitos que define "o estado intelectual" de um sujeito num
dado momento.
O sujeito aprende quando confrontado com uma situao que vai exigir a construo
de um novo modelo de comportamento, quando o sistema de respostas j construdo no
permite superar o obstculo. por isso que toda a aprendizagem implica um tempo de
desestabilizao, com o risco, para o sujeito, de paralisia ou regresso. Qualquer aprendizagem uma aventura cuja sada feliz problemtica, porque se tem de ser capaz de
suportar o pr-se em questo e o levantar da dvida, sem os quais no h progresso.
Uma tal concepo da aprendizagem faz da procura de situaes-problema adequadas o
meio essencial de uma pedagogia de ajuda. Com efeito. na aco didctica, que pode ser
definida como a arte de organizar as circunstncias (tal o nosso modelo de actividade
didctica), o papel principal do professor/formador o de organizar a presso da aprendizagem jogando com as variveis de comando da situao7. Ultrapassa-se ento o duplo
risco de fomalismo e do esboroamento caractersticos da pedagogia por objectivos ao procurar-se, para cada grande objectivo pedaggico, o obstculo significativo que o aprendente dever transpor e a tarefa centrada nesse obstculo8.
PRESSO
<
>
SITUAO-PROBLEMA
TAREFA
OBSTCULO
I
+ DE APRENDIZAGEM
t-
Neste contexto, avaliar significa tentar saber se, nessa ocasio, o trabalho pedaggico
deu os seus frutos, se a competncia necessria para transpor o obstculo foi bem construda.
Como sab-lo? Confrontando-se o sujeito com uma situao-problema do mesmo tipo.
por isso que, ao fim e ao cabo, no h verdadeiramente problema de avaliao e a principal
competncia que o avaliador deve adquirir no nem a de saber construir um questionrio
ou qualquer instrumento deste gnero, nem a de criar dispositivos complicados, nem
mesmo a de construir um modelo refinado do funcionamento cognitivo, mas a de saber
imaginar e realizar situaes-problema adequadas. Competncia pedaggica, antes de ser
competncia de avaliador. Competncia que exige um trabalho de reflexo sobre a essncia
da disciplina ensinada, e um esforo constante de ateno as capacidades e ao saber-fazer
efectivamente dominados pelos alunos e pelos formandos (avaliao diagnstica ou
"identificao").
Para uma apresentao detalhada desta concepo, poder-se- consultar o trabalho do "Groupe Maths-EPS Transdisciplinarit": Pour urte approche transdisciplir~aired ~ rprocessus ensei,~nenientIapprentis.~a,~e.
Publications de
I'IFM, Universii Grenoble 1, nP 21, Junho de 1987 (BP 68 38042, Saint-Martin-d'Hres Cedex).
Cf. Philippe Meirieu, "Guide mthodologique pour I'laboration d'une situation-problme", in Apprendre oui,
niais commcnt, 4? ed., Paris. ESF, 1989.
b) Porque a posse de instrumentos de "prestao" no suprime o problema da observao dos comportamentos. E esta toda a ambiguidade do exame. O que que
observamos? Limitamo-nos em geral a inferir, a partir de marcas escritas (o exerccio), para concluir da existncia ou no das competncias visadas. Quando o
obstculo visvel (reparar uma torneira ou um motor), esta inferncia tem boas
hipteses de ser fundamentada. Se o motor voltar a trabalhar. podemos supor, sem
corrermos grande risco de errar, que o aprendiz adquiriu uma competncia de
mecnico. Mas quando o obstculo de ordem cognitiva? J vimos que uma
resposta certa no um sinal certo de sucesso e que uma resposta errada no um
indicador de insucesso. Como a competncia no nunca, neste caso, directamente observvel, ser necessrio fazer outras observaes que poderiam servir
como ndices complementares, seja analisando os rascunhos, seja interrogando o
aluno examinado sobre as suas dificuldades, sobre os procedimentos realizados,
etc. O princpio director seria aqui que no basta nunca registar um resultado, e
isso tanto menos quanto queremos ajudar o autor do "desempenho" a progredir.
O instrumento de avaliao formativa mais adequado seria, neste sentido, um
instrumento que permitisse dialogar com o aprendente enquanto este efectua a sua
aprendizagem. Mas um professor experiente ter mesmo necessidade de usar
instrumentos para fazer isso?
por isso que nos propomos considerar de uma segunda forma os instrumentos,
segundo o seu papel no processo de ensino ou formao/avaliao, cuja unidade nos parece
cada vez mais inegvel. Distinguiremos deste ponto de vista:
Linda Allal, "valuation formative: entre I'intuition et I'instmmentation", Mesure et valuation en ducation,
5(6). 1983, pp. 37-57,
Nestas condies, com poucos meios, poder-se- dispor de informaes eventuais sobre
os procedimentos utilizados. sobre a gesto do tempo e sobre as modalidades de correco
de erros. Basta muitas vezes muito poucas coisas para tomar um exerccio tradicional
numa situao com forte valor informativo. Uma nica questo, muito simples (como
que encontraste?) pode constituir um bom instrumento de observao indirecta.
Por fim, fazendo um esforo para formalizarem as suas prprias regras e critrios de
produo e de juzo, os professores podero levar os aprendentes a beneficiarem de instrumentos de auto-anlise e de auto-avaliao particularmente eficazes. Philippe Meirieu
prope assim aos seus alunos uma "grelha de releitura e de avaliao da memria" que os
convida a interrogarem-se sobre a arquitectura de conjunto do documento, sobre os seus
diferentes elementos e sobre a escrita. Mas tais instrumentos so tambm j instrumentos
de ajuda a produo.
'O Emmnnuelle Plazy, Pour une pdaqoqie diffrencie en lecture en cours prparatoire, Mmoire de maitrise en
como todas as provas que, como j deixmos expresso mais acima, podem servir simu
neamente para a aprendizagem e para a sua avaliao. A tarefa centrada num obstculo a
transpor a oportunidade dada ao aluno para construir uma competncia ao defrontar-se
com uma situao-problema (problemtica didctica). tambm uma oportunidade dada
ao professor, facilitador da aprendizagem, para recolher informaes sobre o trabalho
realizado pelo aprendente e sobre as suas modalidades concretas de funcionamento (problemtica da avaliao formativa "diagnstica"). Para servir este duplo objectivo, a ficha de
trabalho, documento escrito fornecido ao aluno, mencionar:
-o
FICHA DE TAREFA N? 1
-.
TAREFA
.---
Condioes de realizao:
O formando dispe de quinze minutos para, com caneta de feltro, realizar, numa folha
grande de papel, um desenho para ser afixado.
Dever fazer, em seguida, perante o grupo, o comentrio oral do desenho.
Critrios de realizao:
A qualidade grfica no ser tida em conta.
A linguagem escrita est proibida (no pode haver palavras nem frases).
Deve haver coerncia entre o desenho e o comentrio que for feito a partir dele.
vista os instrrrmentos ciqafirno a de exprimir c de transcrever os resultados da avaliao? Trata-se. ainda, de dar ao aluno informaes de que ele possa apropriar-se para as
utilizar na auto-regulao das suas aprendizagens. A mais radical insuficincia de uma nota
bruta sem dvida a de nada dizer de concreto ao aluno, para alm de uma indicao de
ordem em relao aos outros alunos. Ora, se necessrio falar verdade - ser "objectivo",
quer dizer no deformar ou falsear a realidade observada -, talvez ainda mais importante
falar com utilidade. Isto significa, por um lado, falar para ser entendido, para comunicar
verdadeiramente, e, por outro, produzir um discurso que se torne, para o outro, num instrumento de desenvolvimento. E, se o jogo da comunicao social se expe aos perigos que
assinalmos, a sua existncia, tem, no entanto, o mrito de recordar que, na sua dimenso
inapagvel de discurso pronunciado sobre um objecto, a avaliao no tem razo de ser se
no disser alguma coisa que possa ser compreendida por aquele que avaliado. As tradicionais pautas de notas ou cadernetas escolares so, deste ponto de vista, ineficazes. A partir
do momento em que sabemos o que pretendemos medir, apreciar ou compreender. quer
dizer, em que definimos objectivos, capacidades, operaes mentais, e precisamos nveis
taxinmicos, podemos substitu-10s com vantagem por instrumentos simples e prticos, tais
como as grelhas que cruzam competncias pretendidas e nveis de exigncia ou de sucesso
a), ou ento ~b~iectivos
e operaes mentais b).
PARA UTILIZAR UM INSTRUMENTO DE 77PO A)
Exemplos de "competncias": nP 1: conhecimento do curso; nP 2: compreenso e assimilao das noes; nP 3: utilizao dos conhecimentos; nP 4: resoluo de problemas.
Nveis possveis: Objectivos muito raramente atingidos (1)
muito irreguliirmente atingidos (2)
frequentemente atingidos (3)
sempre atingidos (4);
ou, ento:
(I) num caso conhecido,
(2) num caso semelhante,
(3) numa situao nova, mas imposta,
(4) numa situao de autonomial1.
O exemplo de instrumentos de tipo (b) que propomos entrecruza, por um lado, objectivos
gerais e "operaes mentais": conhecimentos e saber-fazer: conhecimento (c); saber-fazer
terico (St); saber-fazer experimental (Sx); e, por outro, organizao de um raciocnio:
observar e analisar (RI); elaborar uma soluo (R2); produzir um juzo crtico (R3).
' ' Encontraremos numerosos exemplos de inimimentos deste tipo na obra de M. Fauquet et al., Pda~ogieparobjectifs.
i crllrorlori-rrimtiori.CNDP-CRDP d3Arriiens,Junho de 1985
COMPETNCIAS
Nvel
1
Nvel
2
Nvel
3
COMPETNCIA
2
3
p
p
p
p
n
Instrumento (a)
Instmmento (b)
Nvel
4
Os objectivos gerais no so definidos, porque so determinados em funo dos contedos e do nvel da turma. Isto poderia significar para um professor de cincias fsicas:
- ser capaz de observar uma experincia;
- escrever a equao resultante de uma reaco qumica;
-determinar o funcionamento de um circuito elctrico apresentado em esquema com
todas as suas componentes.
12
Instmmento e sistema de notao realizado por Guy Robardet, professor de Cincias Fsicas no liceu Pablo Neruda
de Saint-Martin-d'Hres.
unca fcil concluir. A concluso marca o fim de um percurso. Ora, o trabalho que
se finaliza no tem interesse se no permitir que o leitor avance, e com um passo
mais seguro.
Consideramos, pois, que chegado o momento de, de qualquer modo, avaliar o trabalho
efectuado. Posicionemo-nos para ver o caminho percorrido. Para Stufflebeam, o critrio
ltimo do valor de um estudo da avaliao o seu efeito sobre a prtica quotidiana', mas
necessrio esperar para conhecer esse efeito. por isso que, mesmo correndo o risco de
desagradar a este autor, consideramos que o modelo, apesar de "antigo", de Tyler nos
oferece aqui um quadro operatrio: teremos atingido os nossos objectivos?
Queramos trazer elementos de resposta a duas questes principais, assim como a
algumas outras que lhes estavam ligadas. Em definitivo, a nossa reflexo foi atravessada,
de forma explcita ou implcita, por seis grandes interrogaes:
1) 0 que avaliar?
O QC'E AVALIAR?
A invegtigao do que h, de essencial, no acto de avaliar levou-nos a considerar esse
acto como um juzo atravs do qual nos pronunciamos sobre uma dada realidade, ao articularmos uma certa ideia ou representao daquilo que deveria ser, e um conjunto de
dados factuais respeitantes a esta realidade. O avaliador no assim nem um simples
ob\er\ador que diz como so as coisas, nem um simples prescritor que diz como elas
deveriam ser, mas um mediador que estabelece a ligao entre um e outro. Quer se trate
de uma presena, de controlar uma "trajectria", de situar um organismo ou um indivduo
em evoluo, de julgar o valor de um dispositivo, de compreender a significao de uma
situao, o avaliador tem necessidade de uma grelha de referncia que lhe permita ler e
dizer a realidade. Porque estabelecer a relao, para falarmos como Frank Smith2, entre
uma estrutura de superfcie (o referido) e uma estrutura profunda (o referente), no
apenas o meio pelo qual produzimos o juzo de avaliao. O essencial est no que dizemos.
Avaliar "pronunciarmo-nos sobre", em resposta a uma questo de um tipo particular.
.
- A observao responde questo: "O que que ? O que que h?", e est centrada
no que "dado realidade", aqui, e agora.
- A prescrio responde questo: "O que que deveria haver?", ou, no plano da aco:
"O que que preciso fazer?", e est virada para o dever-ser, para as normas, para as
regras.
- A avaliao responde questo: "O que que isso vale? O que vale (e no "Quanto
vale") o que h?", e, est, tal como a observao, voltada para o prprio ser, mas em
ruptura com ele; e ainda que faa referncia a normas de dever-ser, no procura, tal
como a prescrio, dizer ao mundo o que o ser deveria ser.
Vemos como este discurso que, ao encruzar o ser e o dever-ser, se pronuncia sobre o valor
do ser, se distingue da medida. Medir apreender um objecto fsico, ao dotar a dimenso considerada de uma escala numrica. Determinamos o valor de certas grandezas por comparao
com uma grandeza constante da mesma espcie, que lhe serve de padro ou de unidade. Uma
medio traduz-se em nmeros, uma avaliao por meio de palavras. Avaliar situarmo-nos,
de corpo inteiro, na esfera da comunicao, ao produzirmos um discurso que d uma resposta
argumentativa a uma questo de valor. Uma primeira regra fundamental para quem avalia , .
pois, a de erztl-egar uma mensagem que tenha sentido para aqueles qrrc a recebam.
- o especialista
sonha em aferir a realidade. Toma-lhe o peso para calcular o que constituiria o seu valor intrnseco;
- o juiz (OUjuiz-rbitro) deseja apreciar uma realidade - pessoa, processo ou produto em relao s normas ou valores predefinidos;
- o filsofo ou intrprete tem por ambio compreender melhor o que se passa ou se
passou, construindo um sistema de interpretao (referente) prprio para o tomar
inteligvel.
No podemos ento escapar questo de saber se. e como, esta pluralidade de intenes,
que se traduz numa diversidade de "jogos", compatvel com a unidade da definio que
faz da avaliao, em sentido estrito, um juzo de valor. Em particular, a avaliao estimativa,
por meio de medida, e a avaliao interpretativa. por recusa de referente predeterminado,
sero ainda, para falar verdade. actividades de avaliao? No ser necessrio restringir a
avaliao ao papel do juiz ou alargar a nossa definio inicial?
Tendo em conta o duplo facto de que a avaliao estimativa nunca uma medida em
sentido estrito, em funo da complexidade dos objectos de que fala, que no se reduzem
as suas dimenses puramente fsicas, e que a avaliao interpretativa que, certamente,
procura compreender, e no julgar, no deixa de ser um esforo feito para ler uma situao
atravs de um "referendo", consideramos que h trs variantes de uma mesma actividade.
Isso, por um lado, permite-nos destacar uma segunda regra fundamental: temos senipre
de precisar a sua inteno dominante e de saber- em que tipo de jogo nos situamos.
Mas isso permite-nos, tambm, por outro lado, compreender que h uma segunda forma
de responder a questo "Porqu?", referindo-nos, agora, j no s finalidades, mas s causas.
A escolha do jogo no gratuita, e , em parte, determinada por condicionalismos, ao
mesmo tempo que exprime algumas caractersticas do homem avaliador (Honzo aestimans),
de que podemos esboar um retrato.
-Avaliamos porque o nosso conhecimento do devir das coisas imperfeito, ou (e so
estes muitas vezes os dois aspectos de um mesmo fenmeno) porque a realidade que
queremos compreender no se reduz a sua dimenso fenomenal. O especialista tinha a
ambio de ser um conhecedor da matria, como o . por exemplo. o fsico, mas a
realidade que quer captar demasiado complexa para poder ser simplesmente
medida. O recurso ao parecer dos especialistas, em sentido profundo, designa uma
imperfeio do conhecimento positivo. Homo aestimans, enquanto especialista, significa que no sabe tudo sobre tudo, embora desejasse saber o mais possvel.
-Julgamos porque no nos contentamos com o prprio ser, e ainda porque temos,
simultaneamente, a ideia de uma perfeio possvel, e o sentimento de que necessrio
aproximarmo-nos dela o mais possvel ... Ao jeito de Spinoza, poderamos dizer que
"sentimos e sabemos por experincia que somos perfectveis", e que isso que nos
leva a avaliar: situarmo-nos em relao a "perfeio" como fim. Homo aestimans,
enquanto juiz, qualquer um que queira fazer melhor, e que tente, para isso, dar a si
prprio os meios de o conseguir.
-Interpretamos porque no nos satisfazemos com um saber positivo, e porque queremos, mais do que conhecer, compreender. Homo aestirnans, enquanto intrprete,
qualquer um que quer ter uma viso de conjunto, e ir para alm das aparncias imediatas, para captar o sentido do que se joga no teatro das coisas sensveis.
Mas o Homo aestimans talvez, antes de mais, um homem preocupado em gerir a sua
aco. Como especialista, quer "medir-lhe" a eficcia e calcular o peso dos obstculos que
se perfilam no seu caminho; como juiz, quer assinalar pontos precisos, quer saber onde
est, para ir para onde quer ir; como intrprete, quer multiplicar os sistemas de referncia,
ter uma viso ao mesmo tempo mais global (multirreferencialidade) e mais fina ("referente"
adaptado e ajustado). Nos trs casos, a avaliao e\t ligada a aco, est ao servio da
sua orientao e - ou poderia ser - o fundamento de uma arte de governar, em sentido
ciberntica.
Donde uma terceira regra fundamental: A avaliao deve ser posta deliberadamente
A avaliao serve tambm para a regulao daquilo a que, a partir de agora, chamaremos a vida escolar, e o elemento de uma comunicao social entre os parceiros
dessa vida: administrao da escola, professores, alunos, pais. As aces so ento
mais colectivas e caractersticas dos diferentes subgmpos cuja dinmica constitui a
vida escolar. A vida escolar um local de confronto entre as estratgias" as tcticas4
de "parceiros" com interesses muitas vezes conflituosos. Por exemplo:
- para os alunos: estratgias
A avaliao constitui. para uns e outros, uma arma eficaz ao servio de um dilogo
social por vezes antagnico, e que toma. muitas vezes, a forma de "brao de ferro".
A avaliao serve, por fim, para a regulao do jogo que se desenrola no espao da
apreciao social. Porque a escola tambm esse espao de posicionamento social
(muito bem descrito por J.-M. Berthelot" em que as diversas camadas sociais investem
em funo de riscos especficos: perpetuao ou preservao de posies dominantes,
reconverso posicional ou promoo individual. E os efeitos das "estratgias ... de
conquista do espao escolar pelas camadas sociaisv6inscrevem-se nas estruturas criadas
em funo de uma lgica econmica de produo de competncias diversificadas.
Assim o espao escolar, tal como o espao do jogo social, o local de encontro de
duas lgicas: uma lgica, estrutural, de produo de competncias para satisfazer as
necessidades de desenvolvimento econmico; e uma lgica, societal, de utilizao do
campo por actores sociais desejosos de salvaguardarem ou de fazerem frutificar o seu
valor social7. neste contexto que se colocam e se tratam os problemas de orientao
e que o diploma se toma numa condio necessria, mas no suficiente, de insero
social.
Ao orientar os seus alunos e ao conferir diplomas, o professor-avaliador contribui, a
maior parte das vezes contra a sua vontade, para regular fluxos de alunos que se organizam
segundo uma dupla lgica que o ultrapassa. Ao utilizar as "notas" como meio de comunicao social no espao do estabelecimento escolar. o professor-avaliador contribui para regular,
'
por seu lado, a dinmica do movimento de conjunto da vida escolar, e, ao colocar a avaliao
ao servio de uma gesto eficaz das aprendizagens, facilita o desenvolvimento individual.
Uma quarta regra fundamental ser, pois, a de levar o avaliador a interrogar-se sobre o
uso social real da sua actividade de avaliao. Na regulao, de que tipo de processos
que o avaliador participa, e qual o poder real da sua interveno, quer dizer, de inflexo
dos respectivos processos? Pode dizer-se que esta regra exprime uma exigncia de lucidez
quanto natureza e aos limites da sua aco.
Mas isto levanta a dupla questo dos perigos da avaliao e das competncias do
aval iador.
A QUE CILADAS SE EXPE O AVALIADOR?
Alguns no hesitaro em colocar esta questo de uma forma mais radical. Ser preciso
continuar a avaliar? A mania de avaliar no provocou j demasiados sofrimentos e dramas,
no despedaou j demasiados alunos? No estar o jogo da avaliao submetido a presses
excessivas? No ser o avaliador um joguete de foras que o ultrapassam? Ser preciso, certamente, nunca esquecer as salutares cautelas recomendadas por C. Rogers e por I. lllich.
Ao compreendermos com preciso que a essncia do jogo no a de medir, segundo concepes pessoais, mas a de criar distanciao em relao aco quotidiana para fazer o
ponto da situao em relao s intenes ou aos projectos, a avaliao pode ser posta ao
servio de uma aco mais eficaz, porque mais bem orientada, mas desde que evite as principais armadilhas que assinalmos:
- a armadilha do objectiilismo que,
...Podemos aqui resolver abandonar o leitor no seu trabalho de avaliador, talvez mais
eficaz, sem dvida mais prudente, e, em qualquer dos casos, mais lcido.
E, porque necessrio concluir... esperamos ter realizado um trabalho de abertura.
Abertura a novas perspectivas, que permitam encarar de maneira diferente a actividade de avaliao:
- diferente de uma simples medio, mesmo no caso da avaliao estimativa;
- diferente de um simples juzo, mesmo para a avaliao apreciativa;
- diferente de um simples discurso, mesmo para a avaliao interpretativa.
Abertura a prticas simples, mas ao mesmo tempo mais eficazes, porque mais directamente ligadas as intenes que, de facto, as orientam e as dinamizam.
GLOSSRIO
com uso de ndice
Avaliar:
Confrontar, relacionar:
-Confrontar dados de facto (uma realidade)
e dados que so da ordem do ideal, do
dever-ser (um projecto. uma inteno).
Relacionar um referido e um referente.
Apreciar, julgar:
-Apreciar uma realidade luz de uma inteno ou de um projecto.
- Apreciar o ser a luz de um dever-ser.
- Dizer o valor de uma realidade em referncia a uma exigncia particular.
Produzir inforrnao esclarecedora:
-Recolher e comunicar informao til
para ...
- Esforarmo-nos por saber onde estamos
para melhor nos encaminharmos para onde
queremos ir.
Nota: h vrios "jogos" possveis neste
quadro geral: vrios subconjuntos no conjunto das actividades de avaliao.
Cf. avaliao estimativa, apreciativa, interpretativa; e avaliao diagnstica, fomlativa (formadora), sumativa, 97.
Capacidade: saber-fazer transversal ou "trans-situacional" (Jean Cardinet) "Qualificao-chave transversal para os contedos ensinados". "Aptido psicolgica". Saber-fazer
Desempenho: Actividade concretamente realizada por um indivduo, obsewvei e susceptvel de ser analisada quantitativamente, 123.
Diagnstica (avaliao): avaliao que, efectuada
antes de uma aco de formao ou de uma
sequncia de aprendizagem, tem a finalidade
de produzir informaes que permitem orientar
o formando para uma "rea" especfica adequada ao seu perfil, ou de ajustar esse perfil.
Nota: J.-M.Barbier (Cahiers pdagogiques,
nP 256) prefere falar de identificao, referindo-se s situaes em que se analisa o
perfil de partida dos formandos, no apenas
nos aspectos negativos - em relao ao que
deve ser adquirido - mas tambm em temios
positivos, em relao s competncias
existentes. A avaliao diagnstica deveria
tambm assim preocupar-se com uma "identificao das aquisies", 62 e 123.
Dispositivo: conjunto coerente e articulado das
modalidades de recolha de informao (actores, momentos, instrumentos), construdo em
funo dos objectivos da avaliao, 46. 98,
147 e 148.
Docimologia: estudo cientfico dos procedimentos de exames e de avaliao.
Nota: a preocupao docimolgica cede o
passo, hoje, investigao da coerncia
inteno/instrumentao, e a problemtica da
objectividade a da pertinncia, 96.
Ensinar: ajudar um aluno a apropriar-se dos
instrumentos intelectuais prprios de uma
disciplina, 61 e 90.
Estimativa (avaliao): avaliao orientada
para o quantitativo, e cuja ambio a de
avaliar "objectivamente". Avaliao por falta
de medida. Queria-se pesar, mas no se dispe de uma balana, 74,75 e 115
Formadora (avaliao): avaliao que, partindo da ideia que s o aluno pode, de facto,
regular a sua actividade de aprendizagem, e
da tomada em considerao da importncia
Valor:
1) Qualidade absoluta que serve de critrio de
juzo para apreciar um objecto, uma aco
ou um indivduo (ex.: o belo, o bem).
2) Qualidade relativa prpria de um objecto
ou de uma pessoa, e que os toma dignos de
estima (mrito ou "preo": "quanto que isso ou essa pessoa - vale?; por que "preo"
se estima o seu valor profissional...).
3) Medida de grandeza varivel.
Juzo de valor: pelo qual se afirma que
uma realidade mais ou menos digna de
estima ou d e consideraqo. Ope-se ao
juzo de facto ou de realidade, 28, 29, 33,
34 e 53.
Notu: o mesmo termo remete para o qualitativo (sentido 1 ) e para o quantitativo
(sentido 3), e designa tambm o absoluto
(sentido 1) ou o relativo (sentidos 2 e 3).
nisto que reside toda a ambiguidade da
avaliao. enquanto juzo de valor.
1994
Execuo grafica de BLOCO GRAFICO, LDA. - R da Restaurao, 387 - 4050 PORTO - PORTUGAL
Orientada por
MARIA TERESA ESTRELA e ALBANO ESTRELA
--
RELACAO
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PEDAG~GICA,DISCIPLINA
E INDISCIPLINA NAAULA
MARIA TERESA ESTRELA
INVESTIGAO QUALITATIVA
EMEDUCAO
R BOGDAN S BIKLEN
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ANT~NION6vOA (Org )
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A AVALIAO,REGRAS DO JOGO
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ENSINAR ADULTOS
~CnnnnMA! GLAIVE
Numa poca em que o nosso pals se lana na @formaeducativa e que novos &&os
se colocam na forma3o dos professores, pareceu oportuno h Parto Editora'lanpar uma
nova coleco de livros, intitulada Cincias da Educapo.
Certos de que a mudana educativa exige a interdepend6ncia entre reflem - '
investiga%o - aco, esta cdeco que se destina essencialmente a professores,
formadores e e s t u d a n f m Ci&nciasda EducaLio visa essencialmente dois objectivos : '
contribuir para a reflexo sobre os fenmenos educativos h luz dos resultados destas
ci&ncias; divulgar metodologias e trabalhos de investiga2io. Pretende-se. assim, pl
ao alcance dos profissionais da Educaao instrumentos de teorza@o e de interrogao
da realidade educativa que Ihes ,permitam uma actuaao mais fundamentada, maia
reflexiva e mais critica e, portanto, mais eficaz.