Ética e Deontologia Da Profissão Docente
Ética e Deontologia Da Profissão Docente
Ética e Deontologia Da Profissão Docente
Introduo..........................................................................................................................2
Dimenses ticas da Escola...............................................................................................3
Deontologia da profisso docente.....................................................................................5
Concluso..........................................................................................................................8
Bibliografia........................................................................................................................9
Introduo
A profisso docente vive tempos difceis. O Ministrio da Educao procura
reconfigur-la na perspectiva do mercado educativo e da diminuio dos custos da
funo pblica; os casos de indisciplina e de violncia na escola, envolvendo alunos,
pais e professores fazem do campo de aco destes um desafio permanente, colocando o
self e o profissionalismo num terreno incerto; a comunicao social d visibilidade a
esta crise da Escola e todos os comentadores se arrogam olhares peritos.
Na escola, onde reside a profisso docente, a matria-prima previsvel, at ao fim
da escolaridade obrigatria que se visa a curto prazo implementar, compreende a
tranche populacional da sociedade, entre os trs e os dezoito anos, e ainda, em
acumulao, todos os muitos que no a cumprem no tempo previsto e permanecem no
sistema at capacitao/credenciao para prosseguir estudos superiores ou a vida
activa no mercado de trabalho. a escola de massas massificada, com estabelecimentos
de ensino de 2 e 3 ciclo e secundrio de n de alunos na classe do milhar, socializando
e aprendendo de toque em toque, de sala em sala e de professor em professor muitas
horas por dia. Um imenso parque de estacionamento, onde se encontram jovens com as
mais heterogneas origens sociais, tnicas ou culturais e os mais dspares projectos de
vida e aspiraes sociais (Teodoro, 2006, p.17). Parecendo bandos de pardais... ou de
gavies solta, conforme tragam em si sementes de alegria e curiosidade ou de
frustrao e violncia.
Para lidar com tal diversidade e a emergncia de contnuas mudanas e
imprevisibilidades, o perfil docente tem que deter caractersticas especficas integrando
a enunciao de uma deontologia prpria e os profissionais tm que poder contar com o
enquadramento sistemtico e reflexivo da organizao em que se integram, para que
seja possvel levar a bom termo os objectivos de ensino-aprendizagem com a
incorporao de valores intemporais ou dos que a sociedade apologiza num determinado
contexto histrico.
Tambm hoje o mal-estar docente est instalado nas Escolas, porventura por
outros motivos, que se prendem com o que Teodoro (2006) chama o paradoxo da
performatividade competitiva: os professores nunca trabalharam tanto para ver to
poucos resultados do seu trabalho (p.93), presos nas teias da burocracia gerencialista,
servindo rankings de resultados que so o desafio do sistema e do nome aos lugares
onde aparentemente reside a eficcia da empresa, incrementado o individualismo e
destrudas as solidariedades prprias duma identidade profissional comum. E ainda
assim desvalorizados pelos alunos e famlias, pelos media e pela entidade patronal.
Apesar disto, o estudo emprico realizado por Silva (1994) concluia j que o
professor encara a tica profissional como uma questo de cada um (...) cada
professor tem o seu cdigo. Tem deveres. um cdigo individual, no comum a todos
os professores nem explcito (p.173) , mas que acaba por ser a tica de muitos. No se
preocupando com a definio desses parmetros comuns que, face aos alunos, aos
colegas, aos pais e encarregados de educao e face comunidade educativa e
sociedade em geral, os torna actores de um campo delimitado e portadores de saberes
especficos duma arte que sua, mas que no afirmam publicamente, nem quando
atacados no seu campo por agentes externos: () paradoxalmente, os professores
definem a docncia como uma ocupao tica mas tm reservas quanto a que a sua
actividade possa ou deva ser regida por um cdigo explcito e comum a todos os
professores. (Silva, 1994, p.173)
Dez anos depois, a partir de outro estudo, no mbito de um Projecto Internacional
que visava compreender os impactos da globalizao nos sistemas de ensino, do nvel
macro sala de aula, analismos o discurso de trs grupos de professores de diferentes
regies do pas, respondendo questo de saber quais os valores presentes na Escola e
nas prticas educativas, e podemos concluir que os professores mantinham no seu
discurso a admisso deste individualismo na profisso: [O]s valores que so
transmitidos dentro da sala de aula so aqueles que o professor entende que so os
primordiais. Eles variam de professor para professor, cada professor tem uma
forma de estar, uma forma de ser, a sua metodologia (). Os valores que eu
considero fundamentais, derivam exclusivamente da minha postura, da minha
maneira de ser. (C/Almada).
Poder-se-ia pensar que tal atitude prpria da natureza de intelectual autnomo
frequentemente atribuda ao professor, mas poder-se-ia tambm pensar que ela
configura uma natureza intuitiva/maternal do professor pouco estruturado como
profissional. De acordo com a 1 hiptese, Baptista (2002) sustenta que as exigncias
que se colocam hoje aos educadores reclamam um pensamento necessariamente crtico
e alternativo, prprio de um intelectual autnomo e reflexivo (...) no sentido em que o
intelectual muito mais do que um membro de um grupo de especialistas (p. 19).
Permitimo-nos comentar que, mais do que reforar o intelectual autnomo que,
acreditamos, o professor deve ser, o que faz falta no momento reforar a identidade
comum que configura a tica da profisso, por meio de uma profunda e sistemtica
reflexo que no cristalize no tempo e que construa a sua declarao de princpios, o seu
cdigo deontolgico de referncia.
Aquele carcter aleatrio da prtica docente, to assumidamente marcada pelo que
o professor como pessoa, mal se modela na formao que o mune dos meios
(contedos cientficos e metodologias) ajustados (in)formao dos indivduos,
pedindo-se-lhes, como afirma Silva (1997) que livremente identifiquem, escolham e
interpretem os fins que com a educao se pretendem alcanar. Liberdade que o deixa
s na responsabilidade e vulnervel na avaliao externa.
De acordo com Silva (1997), essa relao particular professor-aluno a ideia
nuclear na concepo da docncia (p.171) e o professor no pode por isso ser uma
pessoa qualquer (p.171), tem de ter um saber profissional prprio, tem de ter um modo
particular de ser e de estar, que requer qualidades pessoais.
Atribuindo-se a funo principal de educar os seus alunos o que mais do que
ensinar , os professores afirmam a sua profisso como tica, por excelncia. tica,
porque educar e formar criar hbitos, levar a que se adquiram usos e costumes.
fazer com que algum pertena, por identificao, a uma comunidade, a uma cultura.
agir sobre a maneira de ser e o carcter. transformar a natureza humana, aquilo que
somos quando nascemos, por forma a que se comporte conforme aos usos e costumes.
(...) tica tambm, porque esses hbitos, usos e costumes so afectados de valores: isto
, educar e formar criar bons hbitos. De acordo com a moral em uso. (Silva, 1997,
p.172)
Afinal, neste estudo os professores atribuem docncia a tarefa de produzir nos
alunos uma transformao para melhor. Trata-se pois de uma profisso que deve ser
moralmente regulada quer pelo que lhe proposto que faa, quer pelo modo como lhe
exigido que o faa apesar de os professores entrevistados no afirmarem de forma
clara o desejo de virem a ter um cdigo deontolgico, no terem sobre ele, altura, um
sentimento de necessidade e at duvidarem da sua utilidade e vantagem e prevalecendo
acima de tudo a norma ditada pela conscincia. Em sntese: os professores
entrevistados tm da docncia uma concepo mais tica que profissional (aqui em
sentido tcnico), mais expressivo-relacional que cultural e tcnica (p.172).
Definindo a docncia como uma ocupao tica, como convm ento que os
professores a exeram? A resposta, de acordo com a anlise do contedos das
entrevistas realizadas em Silva (1997), que o faro cumprindo deveres, afirmando,
como Santos (2006), que a tica desta profisso, como a tica de qualquer profisso, se
materializa nos deveres, ou deontologia, que todos os profissionais devem respeitar e
cumprir (p.38). Deveres, em 1 lugar, para com os alunos e a turma, em 2 para com os
colegas e, em 3, para consigo prprio e seus ideais. Seguem-se ordenadamente os
deveres para com os encarregados de educao, pais e famlias, para com a Escola e
seus orgos de gesto, para com o Ministrio, para com outros trabalhadores da escola,
para com a Sociedade, para com a comunidade local, para com outras instituies
escolares e acadmicas e, por fim, para com as organizaes sindicais de professores.
Concluso
De acordo com Nvoa (1999), a inexistncia ao longo dos tempos de uma
codificao formal de regras deontolgicas, elaborada pelos professores, explica-se
(...) pelo facto de lhes terem sido impostas do exterior, primeiro pela Igreja e depois
pelo Estado (...). E, no entanto, incontestvel que os professores integraram este
discurso, transformando-o num objecto prprio (p.16).
Passar valores a quem desvaloriza a escola e seus actores, tarefa rdua e que
carece da presena de uma tica da aco e da relao. O professor de Matemtica
avaliado pelo programa dado e pelo sucesso dos seus alunos. Mas para atingir bons
desempenhos nestes parmetros necessrio ter a turma na mo. Para o conseguir,
logicamente, tem que consumir tempo para dialogar, ouvir, gerir conflitos, processos
estes em que se passam valores, mas que, apesar de estruturais, no tm
coluna/parmetro a preencher no relatrio final da accountability e da avaliao do
desempenho docente, quando:
- Levar os alunos a reflectir sobre a sua prpria condio humana um
objectivo cujo cumprimento todo o professor se deveria exigir. No entanto,
actualmente, tudo parece conjugado no sentido de o impedir, assistindo-se mais
completa infantilizao e imbecilizao dos alunos, atravs da elaborao de
programas e esvaziamento dos seus contedos e imposio de estranhas
pedagogias, que mais no fazem que acentuar o fosso entre ricos e pobres. (...) pois
se no [for] a Escola a acrescentar algo ao discurso que os alunos, socialmente mais
fragilizados, trazem de casa, quem o [far]? (Vieira, 2007)
Como Nvoa (1999), penso que:
- Os professores tm de reencontrar novos valores, que no reneguem as
reminiscncias mais positivas (e utpicas) do idealismo escolar, mas que permitam
atribuir um sentido aco presente. Por outro lado, precisam de edificar normas de
funcionamento e regulaes profissionais que substituam os enquadramentos
administrativos do Estado (p.29).
Desejamos que o correr dos dias e do tarefismo no torne inerte o intelectual
autnomo que colectivamente dizemos ser.
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