Valor para Saussure
Valor para Saussure
Valor para Saussure
ano 2008
ISSN
0104-9992
Introduo
Paralelamente ao curso de lingstica geral, entre os anos de 1906 e 1909,
Saussure dedicou uma boa parte do seu tempo anlise de poesia. Nas pesquisas sobre
os anagramas, segundo Starobinski (1971), Saussure preencheu cerca de 150 cadernos
de notas sobre verso saturnino, Homero, Virglio, Lucrcio, Ovdio e a mtrica vdica.
Para o autor, Saussure gastou um tempo considervel e os cadernos so um verdadeiro
exerccio de decifrao.
Nos estudos dos anagramas, conforme Starobinski (1971), Saussure revela que
por trs de uma linearidade h algo invisvel que desliza entre as visveis palavras do
verso. Starobinski (1971) afirma que existem duas concluses implcitas na pesquisa de
Saussure, uma a de que as palavras das obras se originam de outras palavras
antecedentes e a outra a de que as palavras antecedentes no so diretamente
O fato de ser uma obra pstuma faz do CLG no mnimo uma obra polmica.
Considerando que so notas de alunos, o CLG dificilmente representa exatamente as
palavras de Saussure, mas sim um reflexo da exposio oral do professor. Diante dos
cadernos dos estudantes no h dvidas de que as dificuldades encontradas por Bally e
Sechehaye na edio foram diversas, a comear pela busca dos apontamentos de
2. O valor lingstico
Partindo do CLG, vemos que a noo de valor aparece distinta da de
significao. O CLG traz uma oposio entre valor e significao, deixando bem claro
que a significao no o valor. O conceito de uma palavra, diz Saussure (1975, p.
134), somente determinado pelo concurso do que existe fora dela. Sendo parte de
um sistema, a palavra est revestida de uma significao e de um valor e isso coisa
muito diferente.
No CLG Saussure (1975) afirma que a significao a contraparte da imagem
acstica. A significao est na instncia da relao interna do signo, na ordem de tudo
e temporal. As palavras se alinham uma aps outra, em uma nica extenso, em uma
nica dimenso tempo espacial, mantendo entre si uma relao de oposio.
Em Godel (1969), Saussure no faz a separao entre as relaes in absentia e in
praesentia, o valor existe, e determinado de acordo com os dois eixos
concomitantemente, o valor de uma palavra resultar sempre do agrupamento
paradigmtico e do agrupamento sintagmtico. Saussure assim coloca:
unidades de associao
(grupos no sentido de famlias)
unidades discursivas
(grupos no sentido de sintagmas)
Portanto podemos perceber que o valor de uma palavra determinado por uma
relao paradigmtica, mas tambm, e ao mesmo tempo, por uma relao sintagmtica,
o valor ento seria fruto da interseo destes dois eixos.
Conforme as anotaes de Constantin (1993), Saussure coloca que o sistema ao
qual os termos pertence uma das fontes de valor. Ento quais outras fontes de valor
haveriam?
No CLG vemos Saussure (1975) colocar que a coletividade necessria para
estabelecer os valores, cuja razo de ser est no consenso e no uso. A mesma posio
tambm reafirmada nos Escritos de Lingstica Geral quando Saussure explica que a
coletividade deve ser considerada um dos elementos internos e no externos. a
coletividade que gera o valor, o que significa pensar que o valor no existe nem antes
nem fora da coletividade, o valor no pode ser estabelecido isoladamente. Para Saussure
(2004) o sistema de signos feito para a coletividade, assim como o barco feito para o
mar.
Godel (1969) defende que h em Saussure a idia de duas fontes de valor. Uma
fonte de valor que o sistema e outra fonte de valor que a coletividade. A partir da
sugere que poder-se-ia pensar em duas ordens de valor: valor recproco e valor em si. O
valor recproco seria resultado do sistema, fruto do jogo das relaes entre os termos e
o valor em si seria resultado da coletividade.
Tomamos ento o exemplo da palavra sol. O valor da palavra sol resulta do jogo
de relaes de diferenas e oposio entre os termos, mantido no sistema da lngua, o
seu valor outorgado pela fora social que o sanciona, assim uma parte do valor da
palavra sol fixado pela coletividade (o valor em si), mas ao mesmo tempo, em estando
no sistema da lngua, a palavra sol permanece em relao recproca com os outros
termos, a relao recproca entre os termos possibilitar que o seu valor (o valor em si)
nunca esteja totalmente determinado.
Saussure (2004) bastante enftico na idia de que o valor de um termo nunca
est totalmente determinado, os termos so pela relao de diferena e oposio que
mantm no sistema da lngua.
Saussure (1975) explica que se as palavras fossem encarregadas de representar
previamente os conceitos, cada uma delas possuiria, de uma lngua para a outra,
correspondentes exatos, mas isto no acontece. Para Saussure (1975) aquilo que emana
do sistema da lngua no so idias dadas de antemo, mas sim valores puramente
diferenciais, definidos no positivamente por seu contedo, mas negativamente por suas
relaes como os outros termos do sistema. Sua caracterstica ser o que os outros no
so. (SAUSSURE, 1975, p.136).
3. A dinmica da lngua
O princpio da diferena segundo Saussure (1975) to essencial que pode ser
aplicado a todos os outros elementos materiais da lngua, inclusive aos fonemas.
Saussure (1975) explica que cada idioma compe suas palavras baseado em um sistema
de elementos sonoros. Cada um destes elementos forma unidades que so delimitadas.
No entanto, aquilo que caracteriza os fonemas no a sua qualidade prpria e positiva,
mas sim o fato de no se confundirem entre si, assim, os fonemas so, antes de tudo,
entidades opositivas, relativas e negativas.(SAUSSURE, 1975, p.138)
O significante lingstico diz Saussure (1975) no de maneira nenhuma algo
fnico, e sim algo incorpreo, a sua essncia no constituda por uma substncia
material, mas unicamente por diferenas que vo separar uma imagem acstica da outra.
De Mauro (1995, nota 65) observa que o sistema de valores da lngua algo
diferente das realizaes fnicas (fnico-acstico) e significativas (lgico-psicolgico)
dos atos particulares da fala. O autor sugere que se tomarmos como base de
identificao a realidade fnica e a realidade lgico-psicolgica das significaes
naquilo que elas valem, ou seja, o seu valor, pode-se dizer que os valores das fonias so
os significantes da lngua e os valores das significaes so os significados. Tais valores
Consideraes finais
Qualquer tentativa de concluso em Saussure seria falha. Saussure nos deixou
um enorme quebra-cabea que ainda precisa ser decifrado, ou pelo menos a iluso de
que pode ser decifrado.
Partindo do CLG, vimos que a noo de valor lingstico parece incisiva se
opondo a noo de significao. Entretanto os estudos de Godel (1969) e as anotaes
[i]
des units dassociation (groupes au sens de familles) et des units discursives (groupes au sens de
syntagmes). Dans lunit dun groupe dassociation (dominus, domino; dsireux, malheureux, chanceux),
il y a toujours un lment variable et un lment constant. [...] Un syntagme, au contraire, comporte un
ordre, une suite linaire, quelle quem soit lampleur (mot analysable, compos, phrase). Le mcanisme
consiste employer des types de syntagmes que nous avons en tte, en faisant jouer les groupes
dassociation pour amener la diffrence voulue [...] Toute valuer rsulte de ce double groupement