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II- Processo Sol-Gel

II.1 Fundamentos do Processo Sol-Gel


Muito empregado hoje em dia, a utilizao do processo sol-gel
na produo de materiais comeou ainda no sculo XIX, atravs de uma publicao
de Ebelmen em 1846[55] que preparou um metal alcoxido a partir de SiCl4 e lcool.
Porm no foi muito usado at o final da 2a Guerra Mundial, passando a ser
empregado com maior freqncia a partir de 1950[56].
O processo sol-gel apresenta uma boa homogeneidade, fcil
controle de espessura, e custo relativamente baixo comparado a outros mtodos como
Deposio a Vapor Qumico (Chemical Vapor Deposition CVD), Epitaxia de
Feixe Molecular (Molecular Beam Epitaxy-MBE[56]) e Sputtering. So poucas
desvantagens em relao a outros mtodos, como

grande contrao do material

durante o processo de secagem e densificao, e um tempo prolongado para a


concluso do processo[55].

Sol-gel um processo qumico utilizado para a sntese

de uma suspenso coloidal de partculas slidas

em um lquido, sol, e

subseqentemente a formao de um material de fase dupla de um corpo slido


ocupado com um solvente, gel mido. Este gel uma rede slida ocupada com uma
segunda fase de dimenses coloidais, ou lquido ou gs que tambm forma uma rede
tridimensional interconectada. Quando o solvente removido, o gel mido converte

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para um xerogel atravs de secagem a presso ambiente ou um aerogel por uma


secagem acima de uma presso crtica e uma temperatura crtica[55,57].
Os precursores, compostos iniciadores que consistem de um
metal ou um elemento metalide rodeado por vrias ligaes, incluindo sais
inorgnicos ou compostos orgnicos, passam por duas reaes qumicas na
preparao sol: hidrlise e condensao ou polimerizao, tipicamente com um cido
ou uma base como catalisadores, para formar pequenas partculas slidas ou cluster
em um lquido (ou orgnico ou solvente aquoso). As partculas slidas so to
pequenas, (1 a 1000nm) que foras gravitacionais so desprezveis e interaes so
dominadas por foras de curto intervalo, tais como atraes de Van de Waals e cargas
superficiais[57].
A transio sol-gel, tambm chamada gelations, comea com
a formao de fragmentos slidos agregados que crescem at que se estendam por
todo o sol. Esta transio pode ser melhor visualizada acompanhando as
transformaes na figura 6. Inicialmente o sistema constitudo por partculas
coloidais dispersas (sol), que resultam da polimerizao do monmero (a). Estas
partculas se ligam formando pequenas cadeias ramificadas tridimensionais (b) e
regies de microgel, onde o ndice de refrao e a densidade so prximos aos da
disperso, e portanto no decantam (c). O sistema passa a apresentar um
comportamento elstico quando o crescimento destas regies estruturadas atinge
aproximadamente a metade do volume total, ou seja, a viscosidade tende ao infinito e
o sol alcana o ponto de gel (d). A partir deste ponto as regies estruturadas crescem
conjuntamente, culminando na formao de uma rede que ocupa todo o volume do
sistema (e - f) [18].

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Figura 6 - Esquema de agregao de partculas coloidais durante o processo sol-gel. Em (a)


o sistemas formado primeiramente por partculas coloidais dispersas (sol). A ligao destas
partculas formam pequenas cadeias ramificadas e regies de microgel (b). Tais regies
possuem aproximadamente a mesma densidade da disperso e portanto no decantam (c).
Passa a ocorrer um comportamento elstico quando comea o crescimento das cadeias at ser
atingido o ponto de gel (d). Em seguida as regies estruturadas crescem e atingem um ponto
em que a rede ocupa todo o volume (e-f). Adaptado da Ref. 18.

Duas reaes importantes ocorrem com os precursores durante


a preparao sol: hidrlise e condensao. Como nossas amostras so produzidas a
partir de precursores inorgnicos, estas reaes so discutidas deste ponto de vista.
Quando precursores, tais como ctions metlicos (Mz+), so
dissolvidos em gua pura, eles so solvatados por molculas de gua de acordo com
a equao 5. Para transies de ctions metlicos, ocorre transferncia de carga de

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orbitais de ligao 3a1 da gua para orbitais vazios d do metal de transio, causando
um aumento da carga parcial sobre o H tornando a molcula de gua mais cida[55].

M Z + + : OH 2 [M OH 2 ]

z+

(5)

Dependendo desta acidez da gua e a intensidade da


transferncia de carga, o equilbrio estabelecido, o qual definido como hidrlise:

M(OH2)Z+

[M-OH](z-1)+ + H+

[M=O](z-2)+ + 2H+

(6)

A equao 6 define os trs tipos de ligantes presentes em meio


aquoso no-complexo:
M-(OH2)

M-OH

M=O

Aquo

Hidroxo

Oxo

Reaes de condensao durante o processo sol-gel, podem


ocorrer por dois mecanismos nucleoflicos, dependendo do nmero de coordenao
do metal. A reao de condensao ocorre por substituio nucleoflica (SN) quando
a coordenao preferencial satisfeita (equao 7).

M1 OX + M2 - OY M1 OX M2 + OY

(7)

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Condensao por adio acontece quando a coordenao


preferencial no satisfeita (equao 8), com um grande aumento no nmero de
coordenao de M2.

M1 OX + M2 - OY M1 OX M2 OY

(8)

Essas duas reaes requerem um aumento no nmero de


coordenao de oxignio de 2 para 3. Muitos exemplos de oxignio tricoordenados
existem, como por exemplo rutila, sendo o mais comum[55]. Tais reaes de hidrlise
e policondensao ocorrem simultaneamente, sendo que suas cinticas dependem de
fatores como pH e temperatura. Da a importncia de se manter o controle de tais
parmetros. Por exemplo, o pH e fora inica determinam a energia de repulso entre
as partculas e a estabilidade das suspenses coloidais[18].

II. 2 Xerogel
A secagem por evaporao normal da suspenso coloidal,
provoca o surgimento de uma presso capilar, levando ao encolhimento da rede do
gel. Isto resulta na formao do xerogel. Da prpria palavra, xero significa secar,
da pode-se de maneira simples, assumir que xerogel simplesmente um gel que foi
seco sob condies normais de temperatura e presso. Quando a secagem feita
acima de uma presso crtica, obtm-se aerogel[55].
Depois de concluda a secagem, o xerogel tem seu volume
reduzido de um fator de 5 a 10 comparado ao gel original. Atravs da figura 7 podese notar esta reduo do volume.

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Extrao do
solvente

Extrao do
solvente

Figura 7 - Esquema ilustrando a reduo do volume na transio de gel para xerogel e


aerogel. Com a extrao do solvente o volume do xerogel chega a reduzir de um fator de 5 a
10. Adaptado da ref. 55.

So as tenses superficiais criadas no gel durante o processo de


remoo do solvente que causam o entrelaamento da rede, enquanto o nmero de
coordenao da rede aumenta. Xerogis so caracterizados por uma enorme rea
superficial e pequeno tamanho de poros, menores que 1/10 do comprimento de onda
de luz visvel, assim xerogis so transparentes ou translcidos. Possuem uma rea
superficial entre 500 e 900m2/g, enquanto que aerogis podem exceder a 1000m2/g.
A estrutura de um xerogel fortemente dependente das condies que prevalecem
durante o processo de hidrlise. Por exemplo, silicatos catalizados atravs de base
produzem gels que so granulares em textura e retm menos material orgnico. J os
catalizados atravs de cidos levam os gels a uma estrutura fina e densa[55].

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Portanto, so as condies de preparao das amostras que vo


determinar peculiaridades a respeito da estrutura do xerogel ou aerogel formado.
Nesta seo foi mostrado algumas informaes a respeito de xerogis, os quais foram
obtidos por secagem da suspenso coloidal. Na prxima seo, ser detalhada a
tcnica de deposio por molhamento (dip-coating), atravs da qual foram obtidos
os filmes investigados neste trabalho.

II.3 Tcnica de Molhamento (Dip-Coating)

Em nossa pesquisa, utilizamos a tcnica de molhamento (dipcoating), na qual o substrato imergido na suspenso, e o filme formado retirando
o substrato da mesma. Isto feito com um sistema que permite o controle de
velocidade do substrato. Neste processo, a medida que a suspenso arrastada com o
substrato, ocorre um aumento na rea de evaporao e na taxa de secagem, o que leva
inicialmente, a formao de uma camada de gel constituda pelas partculas coloidais.
Com o prosseguimento da secagem formada uma camada slida. Assim, Scriven[55]
dividiu-o em cinco estgios: imerso, emerso, deposio, drenagem e evaporao,
conforme pode ser visto na figura 8(a-e). Uma competio entre 6 foras ocorre
durante este processo:

(1) fora de atrito viscoso entre o lquido e o substrato em movimento ;


(2) fora da gravidade;
(3) fora resultante da tenso de superfcie devido ao menisco cncavo;
(4) fora inercial na camada limite do lquido na regio de deposio;
(5) gradiente de tenso superficial e

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(6) fora de adeso.

Quando a velocidade do substrato(V) e viscosidade do


lquido() so altas o suficiente para diminuir a curvatura do menisco, ento a
espessura do filme depositado (h), a espessura que equilibra a fora de atrito
viscoso (V/h) e fora da gravidade (gh).

h= c1(V/g)1/2

(9)

onde a constante de proporcionalidade c1, aproximadamente 0,8 para lquidos


newtonianos.
Entretanto, se a velocidade do substrato e a viscosidade do
lquido no so altas o suficiente, como freqentemente no caso sol-gel, o
equilbrio modulado pela razo do atrito viscoso para tenso da superfcie lquidovapor (LV) de acordo com a equao 10 derivada por Landau e Levich[55].

h= 0,94(V)2/3LV1/6(g)1/2

(10)

A figura 8(f) referente ao processo dip-coating contnuo, o


qual separa imerso dos outros estgios, eliminando emerso e ocultando drenagem
na deposio do filme[55,58]. Esta tcnica contnua consiste na imerso do substrato, o
qual neste processo uma fita fina de grande comprimento. Esta fita passa por um
cilindro localizado dentro da soluo numa velocidade constante. Ento, o filme
forma-se na fita quando esta emerge da soluo[55].

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Figura 8 - Estgios durante a formao de filmes finos atravs da tcnica dip-coating (a-e)
e processo dip-coating contnuo (f). Imerso e emerso ocorrem seqencialmente, enquanto
os trs ltimos passos, deposio, drenagem e evaporao ocorrem simultaneamente. Figura
8(f) mostra o processo de forma contnua, eliminando emerso e deixando a drenagem de
forma oculta. Adaptado da Ref. 55.

Vrios fatores influem na espessura dos filmes como por


exemplo a prpria velocidade de emerso do substrato, concentrao das solues e
nmero de camadas depositadas, alm de outros fatores. Da a importncia de se ter
um bom controle sobre os parmetros de deposio.
Alguns estudos feitos em filmes de SnO2 puro e dopados com
flor mostram que quanto maior a velocidade de emerso do substrato, maior a

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espessura dos filmes, da mesma forma que suspenses mais concentradas apresentam
maior espessura que para suspenses menos concentradas para uma mesma
velocidade de emerso[59]. Intuitivamente, fcil perceber que quanto maior o
nmero de camadas depositadas sobre o substrato, maior a espessura dos filmes.
A cristalinidade dos filmes tambm varia com o nmero de
camadas depositadas. Estudos de difrao de raios X mostraram que para um maior
nmero de camadas, a cristalinidade aumenta a partir da vigsima camada. Um nico
depsito implica em filmes predominantemente amorfos[1]. Com relao as
propriedades eltricas, filmes preparados com uma nica camada, em uma suspenso
de alta concentrao, tem um valor muito maior de resistncia superficial quando
comparado a um filme com a mesma espessura, mas preparado por mltiplos
depsitos (multi-camadas), usando uma baixa concentrao da suspenso[1].

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