Afonso Arinos de Melo Franco - Rodrigues Alves Volume 1 PDF
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So Paulo
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RODRIGUES ALVES
VOLUME I
Mesa Diretora
Binio 1999/2000
Senador Anto nio Car los Ma ga lhes
Presidente
Se na dor Ge ral do Melo
1 Vi ce-Presidente
2 Vice-Presidente
1 Secretrio
2 Secretrio
Se na dor Na bor J ni or
3 Secretrio
4 Secretrio
Suplentes de Secretrio
Senador Eduardo Suplicy
Se na do ra Mar lu ce Pinto
Conselho Editorial
Se na dor L cio Alcn ta ra
Presidente
Vice-Presidente
Conselheiros
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RODRIGUES ALVES
APOGEU E DECLNIO DO PRESIDENCIALISMO
Volume I
Braslia 2001
O Conselho Editorial do Senado Federal, criado pela Mesa Diretora em 31 de janeiro de 1997,
buscar editar, sempre, obras de valor histrico e cultural e de importncia relevante para a
compreenso da histria poltica, econmica e social do Brasil e reflexo sobre os destinos do pas.
COLEO BIBLIOTECA BSICA BRASILEIRA
A Querela do Estatismo, de Ant nio Paim
Minha Formao, de Joaquim Nabuco
A Po l ti ca Exte ri or do Imprio (3 vols.), de J. Pan di Ca l ge ras
O Bra sil So ci al, de Sl vio Ro me ro
Os Sertes, de Eu cli des da Cu nha
Captulos de HistriaColonial, de Ca pis tra no de Abreu
Instituies Polticas Brasileiras, de OliveiraViana
A Cultu ra Bra si le i ra, de Fernando Azevedo
A Organizao Nacional, de Alberto Torres
Deodoro: Subsdios para a Histria, de Ernes to Sena
Rodrigues Alves, de Afonso Arinos de Melo Franco (2 volumes)
Presidencialismo ou Parlamentarismo?, de Afonso Arinos de Melo Franco e Raul Pila
Rui o Esta dis ta da Re p bli ca, de Joo Mangabeira
Eleio e Representao, de Gilberto Amado
Dicionrio Biobibliogrfico de Autores Brasileiros, organizado pelo Centro de Do cu men ta o do
Pensamento Brasileiro
Franqueza da Indstria, de Vis con de de Ca i ru
A renncia de Jnio, de Carlos Castello Branco
Jo a quim Na bu co: revolucionrio conservador, de Vamireh Chacon
Pro je to gr fi co: Achil les Mi lan Neto
Senado Federal, 2000
CongressoNacional
Praa dos Trs Poderes s/n CEP 70168-970 Bra s lia DF
CEDIT@ce graf.se na do.gov.br http://www.se na do.gov.br/web/con se lho/con se lho.htm
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Franco, Afonso Arinos de Melo.
Rodrigues Alves: apogeu e declnio do presidencialismo /
Afonso Ari nos de Melo Fran co. Bra s lia: Se na do Fe de ral,
Conse lho Edi to ri al, 2000.
2v.: il., retrs. (Coleo Biblioteca Bsica Brasileira)
1. Pre si den te, Bra sil. 2. Po l ti ca e Go ver no, Bra sil. I. Alves,
Ro dri gues. II. T tu lo. III. S rie.
CDD 923.181
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Sumrio
INTRODUO
RODRIGUES ALVES: O ENIGMA DECIFRADO?
por Raymundo Faoro
pg. 11
NOTA EDITORIAL 1 EDIO
pg. 57
BIBLIOGRAFIA DE AFONSO ARINOS
pg. 61
UM LIVRO MONUMENTAL
por Francisco de Assis Barbosa
pg. 67
EXPLICAO PRELIMINAR
pg. 71
LIVRO I
CAPTULO PRIMEIRO
Origens paterna e materna, pg. 81 Colgio Pedro II, pg. 89
Faculdade de Direito, pg. 92 O curso jurdico, pg. 94 Poltica
estudantil, pg. 98 Burschenschaft, pg. 102 A vocao poltica, pg. 113
CAPTULO SEGUNDO
Promotor pblico e juiz de direito em Guaratinguet, pg. 117
Deputado provincial, pg. 118 Sesso de 1872, pg. 120 Sesso
de 1873, pg. 121 Sesso de 1874, pg. 122 Sesso de 1875, pg.
123 Casamento, pg. 124 Retorno Assemblia Provincial. Sesso
de 1878, pg. 125 Sesso de 1879, pg. 127
LIVRO II
CAPTULO PRIMEIRO
Deputado geral, pg. 131 A Cmara de 1885, pg. 138 A
ltima legislatura do Imprio, pg. 140 Presidente de So Paulo, pg.
142 Sesso de 1888, pg. 151 Sesso de 1889, pg. 154
CAPTULO SEGUNDO
Deputado Constituinte, pg. 157 Deputado federal por So
Paulo, pg. 161 Ministro da Fazenda de Floriano Peixoto, pg. 163
CAPTULO TERCEIRO
Senador por So Paulo, pg. 191 Ministro da Fazenda de Prudente
de Morais, pg. 197 Senador por So Paulo, pg. 223
LIVRO III
CAPTULO PRIMEIRO
Presidente de So Paulo, pg. 255 Candidato Presidncia da
Repblica, pg. 262 A dissidncia paulista, pg. 271 Plataforma de
governo, pg. 278 A eleio presidencial, pg. 280
CAPTULO SEGUNDO
Presidente eleito, pg. 283 Afonso Pena sucede a Silvi a no
Brando, pg. 286 A formao do ministrio, pg. 295
CAPTULO TERCEIRO
Presidente da Repblica, pg. 327
LIVRO IV
CAPTULO PRIMEIRO
Rio Branco e a poltica externa, pg. 339 A questo do Acre, pg. 341
Limites com o Equador, pg. 353 Limites com o Peru, pg. 354
Limites com a Colmbia, pg. 358 Acordo da lagoa Mirim, pg. 358
Cardinalato brasileiro, pg. 359 A primeira embaixada, pg. 368
O incidente da canhoneira Panther, pg. 376 A Conferncia
Pan-Americana de 1906, pg. 383 Relaes entre Rodrigues Alves e
Rio Branco, pg. 396
CAPTULO SEGUNDO
As grandes reformas, pg. 401 Passos e a renovao do Rio de
Janeiro, pg. 406 Lauro Ml ler e as obras do por to, pg. 422
O Canal do Mangue, pg. 437 Frontin e a Avenida Central, pg. 440
CAPTULO TERCEIRO
Osvaldo Cruz e o saneamento, pg. 459 A febre amarela, pg. 467
A peste bubnica, pg. 484 A varola e a vacina, pg. 488
Revoluo contra a vacina, pg. 491 A anistia, pg. 527
NDICE DE ILUSTRAES
Rodrigues Alves (deputado geral pela primeira vez), pg. 56
Afonso Ari nos de Melo Fran co, pg. 65 Avenida Central, pg. 69
Outro aspecto da Avenida Central, pg. 70 Igreja de Correlh,
pg. 80 Domingos Rodrigues Alves, pg. 115 Ana Guilhermina,
pg. 130 Constituinte de 1891 (painel de Visconti), pg. 159
Bernardino de Campos, pg. 174 Carta de Afonso Pena a R. A.
(1893), pg. 182 Prudente de Morais, pg. 194 R. A., ministro da
Fazenda (caricatura), pg. 200 R. A. em outra caricatura, pg. 213
R. A. faz advertncia a Francisco Glicrio (car.), pg. 225 R. A. e o
funding loan de 1898 (car.), pg. 236 Campos Sales retorna da
Europa, pg. 241 Afonso Pena, pg. 290 O ministrio de R. A.,
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Introduo
II
A biografia , pela sua natureza, um campo minado, ao privilegiar um
personagem, seja pela eleio de um entre outros, seja pela admirao cvica ou afetuosa do bigrafo. Tais biografias cuidam de preservar o biografado da prpria condio
humana, constituda pela frgil, amorfa e ardente argila, sujeita s misrias e s
grandezas do mundo, com seus pecados e virtudes. Todos os homens, menos os biografados,
12 Afonso Arinos
nesse quadro, tm o seu dia de Dr. Jekil e sua hora de Mr. Hyde. A envenenada
herana de Carlyle, segundo o qual a vida social o agregado da vida dos homens que
constituem a sociedade, enquanto a histria a essncia de inumerveis biografias
(The Varieties of History, Ed. Fritz Stern, 1973), costuma toldar a viso do
historiador.
Essa perspectiva dita dois corolrios, ambos hostis histria, compreendida num raio mais amplo. Desde logo, a vida poltica, social, religiosa, militar ou
literria do ator so meras hospedarias, que mal deixam vestgios na sua carne e
esprito. De outro lado, a histria, redutvel biografia, consagraria os feitos que certos
homens, os grandes homens, fizeram para mudar e modelar os homens comuns,
degradados a um plano inferior que, sem esses condutores, estaria condenada mediocridade e s trevas. Os pensamentos que povoam o esprito dos grandes homens
seriam a alma da histria, que no seno a histria deles. Eles seriam a luz que
afugenta a escurido, fachos enviados pelo cu para iluminar a desamparada terra
(The Varieties...)
Tais preconceitos, ostensivos ou ocultos no gnero biografia, no se infiltraram na obra de Afonso Arinos, seno que encontram frontal repulsa. Para ele,
Rodrigues Alves seria uma esfinge, nada herica, cuja personalidade no um
paradigma, cuja definio depende de uma cautelosa busca, um quebra-cabeas,
posto diante do bigrafo, desafiadoramente. Por este aspecto pela imunidade ao
engrandecimento do biografado a obra alcana um ttulo, que, mais uma vez, lhe
d especial relevo na bibliografia histrica.
Os historiadores, entre eles especialmente os bigrafos, compreenderam,
sem que Gibbon os convencesse, que os grandes homens nunca provaram sua grandeza,
meras fices subjetivas da vassalagem. Ao contrrio, eles so, perigosamente, as
vtimas do prprio mito, revivendo o destino de Titus Andronicus e de Othelo. A
histria deixou de ser, ainda no sculo XIX, a magistra vitae, a filosofia pelos
exemplos, convertendo-se na fiel servidora das cincias sociais, que se fundaria sobre
os supostos irrelutveis fatos. A invaso da tica na histria, acentuando as virtudes
de certas pocas e personagens, calando seus vcios, dita uma viso subjetiva, no
momento em que entrega os maus fatos ao arquivo dos fatos mortos e irrelevantes.
Houve um historiador brasileiro, com mritos de meticuloso pesquisador, que excluiu
a Revoluo de 1893 da histria do Rio Grande do Sul, para preservar o leitor do
sangue derramado e pela sinistra e srdida degola dos prisioneiros, excluso que os
prprios admiradores de Napoleo no ocultaram o abate dos prisioneiros, na
campanha no Egito.
III
A qualidade artstica da obra de Afonso Arinos se situa no quadro dos
pontos altos das cincias humanas no Brasil. Alinha-se na tradio dos grandes estudos
de nossa literatura, des de Um Estadista do Imprio, de Joaquim Nabuco,
passando por Euclides da Cunha e Paulo Prado, at Srgio Buarque de Holanda
para no mencionar os autores vivos. No se pense que pacfico o louvor a essa li nhagem. Entre ns, o historiador Pereira da Silva (1830-1897), paralelamente a
essa corrente, divulgou o preconceito contra o escritor-historiador: escritores excelentes e maus historiadores, sem ressalvar Tucdides, Tito Lvio e Tcito. O historiador, para entrar no territrio da cincia o que ento se chamava de cincia ,
no devia ultrapassar o arteso, a cuja guilda pertencia, meticuloso catador de fatos,
repudiado, como charlato, se sucumbisse ao fascnio da arte. Croce (History, Its
Theory and Practice, 1960, pg. 38) julgou inaceitvel, no captulo dedicado
falsa histria, a histria dita potica, que se permite preencher suavemente as lacunas
dos textos, adicionando as particularidades que estes omitem. Ironicamente, recorda
Rousseau, para quem a histria seria a arte de escolher, entre muitas mentiras, a que
melhor se aproximasse da verdade. Faltou dizer onde est a histria e onde mora o
historiador que guardou, na sua mo direita, o pleno conhecimento dos fatos, aos
quais deveria ser rigorosamente fiel, sem que a mo esquerda, reservada dvida e
arte criativa, nada desconfiasse da outra.
Ao tempo que investe contra a histria potica, variedade das histrias
no histricas, acentua a necessidade da imaginao, sem a qual a histria seria
14 Afonso Arinos
estril. Mas a imaginao no devia obedecer ao irracionalismo potico, mas ao racionalismo, sem se afastar da histria. Parece, numa conjectura que no foi comparada
com o original, que Croce estaria se referindo no imaginao, mas fantasia, que
so categorias distintas. A imaginao do historiador, quando narra os acontecimentos,
no se distingue da imaginao do ficcionista. Acentuou Croce, com razo, que a
histria no se escreve com os sentimentos, as inclinaes individuais, os entusiasmos
cvicos e patriticos, para deleitar e elevar os nimos, acomodando os fatos, seja para
educar, ou para servir ideologia dominante.
No haveria lugar, na histria dita cientfica do sculo XIX, para Clio,
filha da memria e a mais ardente das musas, na histria do sculo XIX, fascinada,
nos meios acadmicos, pelas cincias naturais, salvo as notveis excees, mais tarde
mencionadas. Na virada do sculo, as propostas inovadoras de Dilthey
(1833-1911), Windelband (1848-1915) e Rickert (1863-1936) excluram a
histria do territrio das cincias naturais e de seus mtodos, incluindo-a entre as
cincias do esprito, as cincias culturais das cincias hoje chamadas de humanas,
que, ao contrrio das cincias generalizantes (as cincias naturais), seriam
cincias individualizadoras. Estava aberto, com justificao cientfica, o caminho
que leva ao templo e aos festivais de Clio. Um dos mais relevantes deste sculo, George
Macaulay Trevelyan (1876-1962). Sem levar em conta esse rumo da histria, que
reage contra a histria inspirada nas cincias naturais, o sculo passado, principalmente pela voz dos mais relevantes historiadores de lngua inglesa, Trevelyan (George
Macaulay) (1876-1962). Num ensaio escrito em 1903, reeditado em 1913 e 1968
(Clio, a Muse and Other Essays, New York, 1968, pgs. 140 e segs.), observou
que, duas geraes atrs escrevia em 1903, aludindo aos meados do sculo XIX, a
histria era parte da literatura nacional, escrita por pessoas que se situavam no
mundo das letras ou da poltica, mas, depois que ganhou o status de cincia, dela
desertaram os homens de gnio e os grandes talentos que dela se ocupavam, desertando,
com eles, os leitores de obras literrias.
So inegveis os mritos dessa cincia, na avaliao mais aprofundada
da pesquisa, ao preo de o leitor comum de obras literrias ter dela desertado. Mas os
mritos se desfazem no momento em que se refugiam na exclusividade do especialismo.
Tais especialistas acabaram se hospedando na Gaiola de Ao, de que falava Weber,
dos especialistas sem esprito, desconfiados da imaginao, primando pela escrita
ininteligvel aos no iniciados. Recentemente (a data-base 1903), sente-se a tendncia de sntese entre uma direo e outra, com a reabilitao, inclusive, de Gibbon
(1737-94), Macaulay (1800-59) e Carlyle (1795-1881). O documento cru era a
16 Afonso Arinos
IV
A biografia de um presidente envolve o exame da presidncia como instituio poltica e jurdica. Os historiadores e cientistas polticos negligenciaram seu
estudo, permanecendo sem seguidores a obra tosca, fascinante e imperfeita de
Hambloch (Sua Majestade o Presidente do Brasil. Um Estudo do Brasil
Constitucional, 1889-1934, Rio, 1936 e 1981). Talvez se possa ver na crtica
de Rui Barbosa aos presidentes o melhor estudo da presidncia na Repblica Velha,
crtica ditada pelo absolutismo tico, sem aceitar o conseqentalismo, ou, como se diz
depois de Weber, a tica da responsabilidade, que quase sempre sacrifica o honesto
pelo til. Ao contrrio do silncio que aqui vigorou, so abundantes os estudos histricos e biogrficos sobre a Coroa da Inglaterra e a presidncia dos Estados Unidos,
sem contar com o luminoso captulo que Hauriou dedicou presidncia da Frana.
A Repblica, em 1902, ainda era nova, importada de fora, procura
de aculturamento. Contra essa mudana de transplante, lutou Rui Barbosa para
manter a pureza do modelo original, em combate sem xito. At 1894, o Exrcito
tentou dar-lhe uma feio duramente autoritria, animado pela f dos que supunham
que, sob o manto ditatorial, havia um espao para o povo, conduzido pela liderana
dos jacobinos, que floresceram em torno da sombra de Floriano. Uma parte do
mundo poltico, com a base firmada pela oligarquia paulista e, de maneira mais atenuada, a mineira, no momento mais agudo da mudana institucional, empenhou-se,
em proveito de um esquema hegemnico, em alijar o Exrcito do centro das decises
polticas.
O combate deu-se no Governo Prudente de Morais, que, ao combater a
revolta da Escola Militar (1895), assinara a pacificao depois da Revoluo Federalista
de 1893, e somadas as dificuldades do Exrcito em Canudos, cujo malogro ajudaria
a consolidar a supremacia civil. O jacobinismo recebe um golpe mortal, com o im pacto do atentado de 5 de novembro de 1897, levado a cabo por seus agentes, onde
morre o ministro da guerra, Machado Bittencourt. O enterro do Marechal Bittencourt comove a populao do Rio de Janeiro, levando-a a aclamar apoteoticamente o
at ento polmico Prudente de Morais. Da em diante, o jacobinismo s sobreviveu
como um resduo inquieto na poltica nacional. Caa com o jacobinismo, pardia
retardada e anacrnica da Revoluo Francesa, que pedia Napoleo antes de Robespierre, saudoso do governo militar, representado por Deodoro e Floriano, que no
lograra institucionalizar-se. Para alguns monarquistas, com os olhos fixados no Poder
Moderador, a queda do trono, no primeiro momento, a lgica poltica exigiria a presena
18 Afonso Arinos
tirania de Floriano, a feroz disputa pelo poder dentro das Foras Armadas, o facciosismo, a luta pela manuteno do poder, a qualquer preo. O governo militar
mostrou-se, ento e sempre, na Amrica Latina, incapaz de se institucionalizar pela
autntica anuncia popular fato indito na histria, ainda que se leve em conta a
ditadura de Cromwell, tambm ela efmera. As inevitveis disputas militares, em
torno do poder, deslegitimam os governos militares, que, removendo as travas constitucionais, derivam para a ditadura.
Da por diante, salvo no Governo Hermes da Fonseca (1910-14), cuja
candidatura deslocara o eixo da poltica, a Repblica Velha pertenceria aos civis,
no sem a inquietao das revoltas militares, que logo constituram-na em oligarquia
fechada, debaixo da hegemonia de So Paulo e, como scio menor, Minas Gerais.
Esse foi o meio de neutralizar o Exrcito, que, como instituio poltica, embora
como acentuou Nabuco tenha sido o nico antdoto anarquia que a queda da
monarquia poderia trazer, no conseguiu se estabilizar, nem encontrar o ponto de estabilidade, sem o qual perde a capacidade de provocar a adeso, ainda de um povo
amorfo e bestializado, que a Repblica encontrou no seu primeiro passo. Chegou
ao fim o esboo da presidncia militar e positivista, com sua poltica cientfica. O
Exrcito, ainda quando popular, depois de uma guerra vitoriosa, se no governo, ter
contra si o carter autoritrio de seu mando, a tendncia ao militarismo, que afronta
a nao com o preconceito do patriotismo exclusivo e da pureza de seus membros.
No fim do Governo Prudente de Morais (1898), a presidncia ainda
no estava institucionalizada. Dependia, na sua forma e expresso, do presidente,
sem que se concretizasse a ordem constitucional e o Estado, dentro dos quais a instituio
adquire seu carter. Esta se impe, uma vez que est dentro do Estado, observncia dos cidados, sem que dependa de seu consentimento, de acordo com as normas jurdicas, mas tambm aos costumes e aos princpios que se inscrevem na parte no escrita da prpria Constituio, de forma a se constituir uma prtica institucional.
Dentro dela h, em muitos momentos da histria, uma tenso entre a instituio,
com suas normas jurdicas formais e suas normas no escritas, e seu titular, entre a
presidncia e o presidente, que resiste aos limites em que pode exercer o poder.
Mas a instituio s existe, de acordo com um dos mais autorizados
mestres, que fundiu o conceito jurdico sua estrutura social, quando sua durao
independe da vontade subjetiva de indivduos determinados. Supunha Hauriou
(Prcis de Droit Constitutionnel, 1923, pgs. 75 e segs. e pgs. 450 e segs.,
acerca da instituio da Presidncia da Repblica) que, contra as tentativas de ferir
ou destruir uma instituio, esta, se verdadeiramente se concretizar, permanecer sobranceira
20 Afonso Arinos
a Repblica e a Monarquia muito tnue: na Monarquia, a poltica estava aberta a
todos, ainda sem nome de famlia, sem fortuna ou sem relaes nas altas esferas.
Mas, quem no tivesse a boa vontade do estamento, no lograria que as portas do
poder se abrissem. Dunshee de Abranches, no livro polmico Como se Faziam
Presidentes (Rio, 1973), demonstrou quanto era reduzida a minoria que escolhia
e, de um modo ou de outro, elegia o presidente.
As instituies, embora acima das vontades subjetivas, no curso do tempo
evoluem e perecem, se decrescer sua eficcia, no primeiro caso, ou se houver um colapso
da confiana ou da obedincia, no segundo caso, como aconteceu com a coroa. Mud-las
ou rejuvenesc-las no passa, muitas vezes, de uma aspirao que se frustra, como a
do modelo militar, que no logrou institucionalizar-se. Essa tentativa malogra por
fora do surgimento, ainda que subterrneo, de um poder com vocao hegemnica,
como o poder de So Paulo contra o florianismo, de Minas e So Paulo contra o
hermismo. Dois fatores levaram ao esvaziamento do poder militar: de um lado, a
formao de um poder militar paralelo, configurado nas milcias estaduais, o que tornaria
o Estado imune interveno federal, sem a qual o modelo no se estenderia a todo o
pas, mantendo ncleos de resistncia, representados pelos Estados mais ricos e mais
fortes. De outro lado, a colaborao parlamentar e ministerial, como aconteceu com
Floriano, conseguiram se manter com certa autonomia. Sem esse sustentculo, a sua
permanncia no poder seria precria, deixando-lhe, como nica alternativa, o golpe
de estado, expediente temporrio que j levara o seu antecessor renncia, ou
exasperao do poder institucional, deformando-o.
A institucionalizao da presidncia, depois da frustrao militar e das
incertezas do Governo Prudente de Morais, ocorreria em 1900, obra de Campos
Sales, num esquema que durar trinta anos. Trs caractersticas polticas caracterizam o
modelo inflexvel: a) a poltica dos governadores, por ele denominada a poltica
dos Estados; b) a subordinao dos ministros, que deixaram de deliberar coletivamente e de traar a poltica de suas pastas; e c) a escolha do sucessor pela vontade do
Presidente da Repblica que ser, entre todas, a mais polmica das medidas, quase
sempre frustrada pelas lideranas polticas, os chamados chefes. A poltica dos
governadores, termo que melhor convm realidade da reforma da poltica dos
Estados, foi de singela realizao. Construiu-se sobre a rocha da verificao eleitoral
dos aspirantes ao Congresso, com a renovao da mquina do reconhecimento dos
eleitos. Antes da reforma, ocuparia a presidncia desta o deputado mais idoso, cuja
conduta no poder de constituir a comisso verificadora reconheceria, ou no, as atas
vindas dos Estados.
22 Afonso Arinos
ser livremente aqueles depositados nas urnas e fielmente contados. Entre outros, dois
depoimentos pessoais retratam cruamente o ato eleitoral, a feitura das atas de um pleito
que s formalmente existia, quando a mesa realmente se instalava, mesmo na Capital
da Repblica, como atesta uma crnica de Machado de Assis, que, no dia da eleio,
encontrou fechado o local de votao.
O indispensvel livro de Ulisses Lins de Albuquerque Um Sertanejo
e o Serto: Memrias (Rio, 1957) revela como ele, ainda adolescente,
incumbia-se de assinar pelo eleitorado fantasma. Para que no se suponha que no
Sul outras eram as prticas, como no raramente se diz, basta ler o depoimento de
Paulo Nogueira Filho Ideais e Lutas de Um Burgus Progressista, So
Paulo, 1958, pgs. 50 e 51 acerca de fatos que ocorrem em torno do ano de
1906:
Fazer oposio local ao governo de So Paulo, naquela poca,
tornava-se difcil. As poucas oposies municipais, como a formada em
Araras, contra o domnio do senador Lacerda Franco, eram combatidas
ou pela violncia, no nascedouro, ou pela fraude, nas farsas eleitorais.
Coube-me, um dia de pleito, presenciar em Cosmpolis, nos
arraiais dos Nogueira, o que, para mim, que assistira a eleies na
Europa, era o inconcebvel.
Na vspera de um pleito qualquer, o escrivo da usina Ester
adverte o gerente da empresa, major Artur Nogueira, em minha presena, o que era preciso providenciar a respeito. Vi que o major se espantara, ordenando, a seguir, sem tergiversar: Corra o livro, homem, corra o
livro. De fato, o servidor visitou alguns habitantes da sede do distrito e
colheu no livro algumas assinaturas... O resto do trabalho ele o fez com
esmero.
A papelada foi, a seguir, enviada para a sede do Partido
Republicano Paulista, em So Paulo. Havia votado o povo republicano
de Cosmpolis, dis trito de paz da len dria Cam pi nas, bero da
Repblica.
Nessa mesma ocasio, dois trens especiais passaram pelo
ramal da usina, levando de distritos vizinhos o eleitorado que faltava
para trucidar os hericos oposicionistas do municpio de Araras. Iam aos
vivas, embriagando-se pelo caminho.
24 Afonso Arinos
lugares onde o eleitor ainda comparece s urnas, no lhe respeitam o voto.
O que se passa nas seces eleitorais mera comdia para aparentar que
se observa a lei: o que vale, o que vai servir perante, o que se faz depois.
So as atas que se lavram mais tarde, em casa dos chefetes eleitorais, ao
sabor de suas convenincias.
No se deve esquecer que a participao eleitoral s alcanou 5,7% da
populao, em 1930, com um milho e setecentos mil votos. A eleio de Campos
Sales num universo maior do que quinhentos mil votos, 3,4% da populao, com a
vantagem de 90,9% dos votantes. A de Rodrigues Alves, num eleitorado de seiscentos mil votos, correspondente a 3,4% da populao, obtendo a vitria eleitoral com
91,7% dos votos. Se medidos estes nmeros com as eleies dos ltimos vinte anos,
embora com o voto feminino, e, a partir de 1988, com o voto dos analfabetos e dos
maiores de dezesseis anos, a participao era, mesmo assim, nula, facilmente manipulvel. O total dos votos do vencedor, apesar da poltica dos governadores, s caiu da
mdia de 90% dos eleitores nas ocasies em que houve real disputa (Hermes venceu
Rui por 64,4% dos votos, Epitcio novamente vence Rui por 71%, Bernardes vence
Nilo Peanha por 56% e Jlio Prestes vence Getlio por 57,7%, apesar das eleies
fraudulentas). O resultado se deve menos aos eleitores independentes do que
manipulao dos votos nos Estados dissidentes.
A poltica dos governadores continua Alcindo Guanabara
combinada com habilidade e critrio e funcionou com a rapidez e
a preciso de uma guilhotina: Estado por Estado, os oposicionistas, ou
fossem membros da Concentrao ou do Partido Republicano, foram
executados sem demorado sofrimento. Era bvio que esses no tinham o
diploma assinado pela maioria da junta legal. Salvo alguns casos especiais e
muito raros em que interveio a amizade pessoal a guilhotina... deu os
melhores resultados... (Alcindo Guanabara, ib., pgs. 110 e 111.)
Campos Sales, ao fim de seu mandato, tinha realizado a reforma poltica,
que iria se institucionalizar na presidncia. A oposio ao plano presidencial fi cou
sepultada na histria. Jlio de Castilhos, chefe do Partido Republicano Riograndense,
via com desconfiana a anulao do Congresso, cuja fora poderia controlar a supremacia presidencial, presumivelmente ligada aos dois grandes Estados, cuja hegemonia
impediria a entrada do Rio Grande do Sul na partilha do poder. A poltica dos
governadores, articulada por Campos Sales e pelo Governador de Minas Gerais,
Silviano Brando, com a oposio solitria do Rio Grande do Sul e as reservas
26 Afonso Arinos
Talvez inutilmente, s para o efeito de aumentar a melodia de um grupo at ento
tediosamente monocrdio.
Os ministros outro tpico da reforma de Campos Sales , da por
diante, despachavam isoladamente com o presidente, nele reconhecendo sem vacilaes
e sem condenveis condescendncias, a sua autoridade de centro e supremo
critrio diretor..... em suma, neste regime, no h governo seno a poltica
do presidente. (Os grifos no so do original. Campos Sales, ibid., pgs. 211 e
213.) A supremacia incontestvel do presidente sobre o Congresso seria um corolrio
da poltica dos governadores, dependendo a representao do governo estadual,
que expurgava para evitar a lmina da guilhotina todos, como ento se dizia,
os dscolos. Os congressistas competiam para defender e lisonjear o presidente. Em
aberta vassalagem, salvo quando o mandato se aproximava do fim, na hora da
escolha do sucessor.
Os Estados, por sua vez, consolidaram ou criaram suas oligarquias.
Nos grandes Estados, So Paulo e Minas Gerais e sobretudo o Rio Grande do Sul,
com sua estrutura monoltica e unipessoal, situam-se as oligarquias nos partidos
regionais, os partidos republicanos, no monoplio de poder que se concentrava nos
chefes. Dispem estes da fora armada local, a fixa e a mvel, esta recrutada pelos
coronis, que raramente dissentiam do governo estadual. Em certas circunstncias,
os coronis lutam entre si, para se impor s boas graas do governador, sem excluir,
como aconteceu no Cear e Bahia, a coligao que se rebela contra o oligarca localmente
supremo. Os coronis, convm esclarecer, num pas sem povo, no eram os repre sentantes
do eleitorado, seno que o presentavam, atuavam em nome dele, fabricando
as eleies.
Os candidatos no tinham contato com o eleitor, mas apenas com os seus
manipuladores, que lhe falseavam a vontade, tolhendo-lhe as veleidades de influenciar,
diretamente, a coisa pblica. A outra forma de oligarquia ser a dirigida pelo chefe da
famlia, que vela por todos seus parentes, cunhados e genros, inclusive pelos parentes
sangneos (ou, como se diz no Nordeste, os parentes carnais) e afins. Ambas as
oligarquias, apesar das nuanas particularizadoras, tinham fortes comuns...
formaes de grupos impermeveis, com raras participaes de
elementos estranhos, o que resulta comumente em oposio armada e
lutas radicais pelo poder, lealdade para com os chefes, companheiros e o
partido; em certo grau, culto pela palavra empenhada; domnio sobre os
poderes Executivo, Legislativo e Judicirio; emprego de familiares e
adeptos para melhor controle e segurana; a no aceitao da neutralidade,
28 Afonso Arinos
de Pinheiro Machado e, depois da morte deste, dos donos do poder. (Gilberto
Amado, Presena na Poltica, Rio, 1960.)
Entendia o presidente que a institucionalizao que dera presidncia
no contrariava a ordem constitucional. Acusaram-me dizia Campos Sales de
ter dissolvido os partidos. Houve, porm, quem formulasse minha defesa nesta sntese: no
se dissolve o que no existe (ibid., pg. 225). Os crticos ao sistema, que lucidamente logo se pronunciaram, desmascararam o despotismo que se instalara na Unio e
nos Estados:
Alegavam que o regime como era praticado pelo presidente,
importava o franco despotismo, porquanto, por um lado, o presidente
dominava absolutamente o Congresso, e, por outro, por intermdio dos
respectivos governadores, dominava os Estados, que eram por sua vez,
contraditoriamente alis (o grifo no de Alcindo Guanabara,
mas assinala a obscura viso da realidade), apresentados como submetidos autoridade de oligarcas, a cujos desvarios e caprichos tirnicos
nenhum freio se opunha. (Ibid., pg. 201.)
Um dos publicistas que com mais vigor e crueza atacou o regime,
num artigo que teve larga repercusso no mundo poltico, apregoava que
ele era o regime da treva e do despotismo, porque as grandes questes de
interesse pblico (viu-se, atrs, que Campos Sales reputava essencial que
a deliberao ficasse restrita a um pequeno grupo) eram resolvidas sem
conhecimento da nao e porque todos os corpos polticos do pas estavam
agachados diante do presidente. Para ele, o que est institudo no Brasil
a ditadura sem freios e sem contrastes, exercida pelo presidente da
Repblica, graas subservincia e anulao do Poder Legislativo, sempre
pronto a adivinhar os desejos mais recnditos desse dspota temporrio para
investi-los do carter e da autoridade de leis. Essa degradao moral e cvica
que ele assinala nos membros do Poder Legislativo eliminou a fiscalizao
que as cmaras exerciam sobre os atos do governo, arrancou-lhes a luz da
publicidade que os envolvia e lanou o pas nesta crise moral em que
tristemente se debate. (Alcindo Guanabara, ibid., pg. 205.)
No contava Campos Sales que, nas dobras do seu sistema, a confraria
dos carrascos que manejavam a guilhotina ganhou uma posio privilegiada, logo
liderada por Pinheiro Machado, que ocupava a vice-presidncia do Senado. Irradiou
sua liderana e comando a algumas oligarquias do Norte e Nordeste. Desse controle
30 Afonso Arinos
do ferrete de Pilatos. O bom ladro salvou-se. Mas no h salvao para
o juiz covarde. (In Joo Mangabeira, id., pg. 79.)
Mais tarde (1914), Rui abrandou suas crticas, reconhecendo que
algumas conquistas da liberdade foram garantidas pelo Supremo Tribunal Federal,
mas no deixou de manifestar algumas reservas instituio. Sem que a justia
funcionasse aqui como a americana, sem que os juzes da corte suprema fossem a
barreira contra as usurpaes do presidente e s invases das maiorias legislativas,
contra a onipotncia de governos e congressos igualmente irresponsveis, era entregar
o pas ao domnio das faces e dos caudilhos. (Rui Barbosa, Escritos e
Discursos Seletos, Rio, 1966, pg. 552.) Mas, continuava, por mais que a
Constituio estatusse contrafortes contra seus agressores, ao ponto de ser a Carta
federal mais liberal do que a dos Estados Unidos, necessitava de contar, como conta
a americana, com a vigilncia desvelada e o enrgico apoio da opinio nacional. No
Brasil esse apoio falecia: to escasso e dbil, to inconstante e falvel, to tmido e
negligente, to superficial e contestvel esse poder inerme estaria sujeito a toda
espcie de receios, diante de um governo oligrquico e onipotente. (Ibid., pg. 552.)
Joo Mangabeira formulou um juzo rigoroso e bravo sobre o Supremo
Tribunal Federal:
O rgo que, desde 1892 at 1937, mais falhou Repblica,
no foi o Congresso. Foi o Supremo Tribunal Federal. Grandes culpas
teve, sem dvida, o primeiro. Teve, porm, dias de resistncia, de que
saiu vitorioso ou tombou golpeado. ...Demais, no Congresso sempre houve
minorias insubmissas, desde a que enfrentou Deodoro, a que, por mais
de cinqenta votos, aceitou a denncia contra Floriano, at a que rejeitou
as emendas constitucionais de 1934... O rgo que a Constituio criara
para seu guarda supremo e destinado a conter, ao mesmo tempo, os excessos
do Congresso e as violncias do governo, a lei desamparada nos dias de risco
e terror, quando, exa tamente, mais necessitava ela da leal da de, da
fidelidade e da coragem dos seus defensores. (Joo Mangabeira, ibid.,
pgs. 77 e 78.)
Ope-se com veemncia a esse juzo um ministro do Supremo Tribunal
Federal, que concorda com o duro ataque apenas num ponto, o que alude ao governo
Floriano, fase em que vacilou. Errou. Tergiversou. Logo a seguir iria encontrar seu
trilho constitucional:
32 Afonso Arinos
Rosa e Silva, que, entre motivos para aspirar ao poder supremo, o agravo, nos seus
domnios de Pernambuco, com a interveno federal. Diversos candidatos foram
aventados, sob a inspirao do vice-presidente, entre outros nomes, Quintino Bocaiva e
o Ministro da Fazenda, Joaquim Murtinho, como biombo da candidatura do pr prio Rosa e Silva. Campos Sales, aludindo ao seu vice, acentuou que o segundo,
eventual substituto e sucessor do primeiro, movido pela ambio e vaidade, est
procura do lugar de primeiro na oposio. Estava atento a uma dissidncia que se
formara, por sugesto do segundo, acrescido pela dissidncia poltica de So Paulo,
comandada por Prudente de Morais. Na hora final, depois das manobras do presidente em torno de Rodrigues Alves (Campos Sales, Da Propaganda..., ibid., pgs.
331 e segs.), a oposio ficou reduzida aos Estados do Maranho, Pernambuco e
Estado do Rio, unidos em torno do nome ilustre do patriarca da Repblica, Quintino
Bocaiva. A oposio no logrou reunir sequer 10% dos votantes, com 23.500 votos
contra os 316.248 dados a Rodrigues Alves, votos, uns e outros, com todas as impurezas das eleies da poca. Desta vez, ao contrrio do que aconteceu em 1898, com o
manifesto assinado por Pinheiro Machado, contra o poder do presidente de eleger seu
sucessor, integrou-se na maioria, incoerentemente pelas razes de prudncia e pragmatismo
j mencionadas.
Campos Sales no teria, segundo alguns observadores, como se vangloriou,
criado um candidato, seno que se socorreu do governador de So Paulo, logo
apoiado por Minas, colocando-se frente de um movimento irreversvel, j alheio ao
seu comando. O Rio Grande do Sul que, pelos desejos de Castilhos, deveria ficar na
oposio, vendo em Rodrigues Alves um monarquista com discutvel converso
Repblica. Mas, o problema da aquisio de armas, para enfrentar o reaquecimento
da revoluo de 1893, dobrou a vontade de homens que sabiam que o poder o
poder, irresistvel e incontrastvel. (Cf. Edgard Carone, A Repblica Velha
(Evoluo Poltica), So Paulo, 1971, pgs. 192 e segs.) O presidente teria se
rendido ao nome de maior prestgio no quadro poltico, para manter a aparncia da
supremacia, uma das bases da poltica dos governadores que estava lhe fugindo das
mos.
Pde ser feita facilmente escreve Jos Maria Belo (Histria da
Repblica, So Paulo, 1956, pg. 231) a indicao de Rodrigues
Alves para sucessor de Campos Sales na presidncia da Repblica. O
seu nome surgia por si mesmo, pela confiana que inspirava aos polticos,
e pela situao que ento ocupava: a chefia do governo de So Paulo.
34 Afonso Arinos
VI
Quando a Repblica inesperadamente se instalou, Francisco de Paula
Rodrigues Alves, nascido em 1848, em Guaratinguet, j com a populao rural e
urbana de mais de 100.000 habitantes, uma das maiores cidades do pas, estava no
curso de uma carreira poltica vitoriosa. Bacharel da Faculdade de Direito de So
Paulo, elegeu-se, filiado ao Partido Conservador, deputado provincial em trs legislaturas, deputado geral em dois mandatos, exercendo, de 1887-88, durante o governo
do gabinete de Cotegipe, a presidncia de So Paulo. Se a monarquia durasse, estavam abertas as portas para o ministrio, o Senado e provavelmente a chefia do gabinete. (O mesmo se pode dizer de seu colega de Faculdade, Afonso Pena, que, at
1885, j havia ocupado trs ministrios e mais dois por acumulao.) Filho de imigrante portugus que se enraizara em Guaratinguet, pela atividade econmica e
pelo casamento numa conceituada famlia local, Rodrigues Alves foi mais longe: casa-se, em 1875, com Ana Guilhermina, neta do visconde de Guaratinguet, que patrocinava a sua carreira poltica. Deixou este uma fortuna de mais de mil contos de
ris, que correspondia a meio por cento de toda a circulao monetria do pas. No te-se que a imensa fortuna de Rodrigues Alves no deriva dessa herana, mas da fortuna do pai e de seus negcios na lavoura e na exportao do caf. Entrava na Repblica republicano de 16 de novembro , como acontecera com a quase totalidade
dos conservadores, ento fora do poder, despejados, em 1889, pelos liberais. Rico e
nobilitado pelo casamento e pela sua av materna, poltico provadamente hbil, tinha
todos os ttulos para, na Repblica, continuar sua carreira.
Os republicanos, que logo se fundiram aos conservadores, exceto no Rio
Grande do Sul, onde o Partido Republicano excluiu a colaborao dos monarquistas,
aceitaram seus ttulos anteriores. Os histricos Prudente de Morais, Campos Sales e
Bernardino de Campos levaram os ex-monarquistas Rodrigues Alves e Antnio
Prado (mais velho do que Rodrigues Alves e trs vezes ministro) a integrar a bancada paulista na Constituinte. No se perca de vista que tais aparentes condescendncias no se deviam magnanimidade dos republicanos. Rodrigues Alves era detentor, a esse tempo, do poderoso colgio eleitoral de
Guaratinguet, um dos maiores e mais slidos do Estado. Tenha-se em
conta, obviamente, que ele no dispunha de um contingente popular,
mas dos chefes que presentavam o povo. Esse, pela sua importncia, um
dos fenmenos mais notveis num grande Estado, equiparvel talvez a Afonso Pena
e Rosa e Silva, estes sem a expresso pessoal e poltica do paulista. Rui Barbosa,
36 Afonso Arinos
tm idia do que foi o seu governo, em So Paulo, depois da presidncia
da Repblica) e tambm mister saber-se o que foi sua ao de poltico
profissional, porque nesta est a chave que decifra todo o fecundo
sentido de sua vida. (Os grifos no so do original.) No sendo
orador e escritor como Rui e Nabuco, nem sabedor de geografia histrica
e musculoso trabalhador intelectual como Rio Branco, Rodrigues Alves
no deixou mostras visveis da maturao da sua personalidade e dos
segredos da sua autoridade, que explodem, por assim dizer, em quatro
anos de ao vertiginosa e fulgurante, que a muitos parecem sados da
penumbra e a ela restitudos.
Mas o reino da Histria o dos fatos, e os fatos, embora s vezes
determinados pelo acaso, no se baseiam em milagres.
O Rodrigues Alves presidente no teria existido se no existisse o
Rodrigues Alves poltico at a medula dos ossos, poltico dos bancos da
Faculdade de Direito ao leito de morte, na hora da morte.
....................................................................................................
Historicamente a revelao da personalidade de Rodrigues Alves
tarefa de magna importncia, porque, indo muito alm de sua pessoa,
explica em grande parte talvez se possa dizer na maior parte toda
uma poca da vida nacional, que a entrada do Brasil no sculo XX.
(Pgs. 72 e 73.)
Nessa explicao preliminar, condensa-se o alcance e a profundidade da
biografia de um vulto exponencial na histria da Repblica. H, diante do historiador, uma densa esfinge a decifrar, s desvendvel com a viso histrica da personalidade de Rodrigues Alves, situada numa esfinge maior, que a prpria
Repblica Velha, esta, uma esfinge pelos arquivos perdidos ou irrevelados, escassamente estudada, em profundidade, pelos historiadores. Afonso Arinos recusou, nesse
passo, a escolha do presidente como expresso da loteria da histria, cujo prmio no
est sujeito sequer ao clculo das probabilidades. Na Repblica Velha os chamados,
os verdadeiramente chamados, eram poucos e, entre os poucos, a previso do escolhido
recaa em no mais do que duas ou trs opes. O tempo das surpresas dos ungidos
pelo destino ainda no chegara, reservado para a histria contempornea. A reconstruo dos passos pessoais e polticos so a essncia da biografia, documentada em
cada linha, liberta da fantasia, mas narrada com a imaginao e a refinada arte dos
38 Afonso Arinos
esto grifados). Quer o autor que os bucheiros Prudente de Morais e Campos
Sales, solidrios com seu companheiro Rodrigues Alves, o tivessem chamado, logo no
incio da Repblica, este monarquista filiado ao partido conservador, para dirigir, em
So Paulo, os destinos do regime republicano.
A Bucha explicaria o jogo oligrquico da Repblica Velha, com manobras secretas de muitos arranjos e composies entre os prceres, que escapavam
visada do observador insciente e superficial (pg. 109). A morte de Rodrigues
Alves, em 1919, teria levado, com ela, o fim da Bucha (pg. 112). Falta a prova
documental e oral, alm daquela tenuemente mostrada pelo bigrafo, para a formao
de melhor juzo sobre a ousada hiptese. O que a tese prova que a Faculdade de Direito
de So Paulo foi a antecmara da poltica republicana, para repetir aqui uma
famosa observao de Nabuco sobre a Faculdade de Olinda e Recife, bem como a
escola de onde saam os polticos, de acordo com a caracterstica dos cursos jurdicos,
nos quais a oligarquia educava seus rebentos, levando-os ao Congresso, governana dos
Estados e presidncia da Repblica.
O ensaio da histria virtual est na afirmao de que, vivo Rodrigues
Alves, a Repblica Velha poderia se renovar, sem perecer com sua morte, entregue,
depois do fatal evento, a foras impenetrveis inovao. Desta sorte, Rodrigues
Alves, que abrira o pas ao sculo XX, poderia lev-lo, sem abalos, a preservar a
Repblica. indispensvel lembrar as patticas e emocionadas palavras do bigrafo:
Em face de um mundo que renascia dos destroos do prussianismo
e das incgnitas do marxismo, o Brasil ficou, de repente, sem um condutor
capaz de gui-lo no caminho a ser percorrido, e que, pela sua experincia e
sua autoridade, pudesse conservar a estrutura poltica tradicional, adaptando-se
s contingncias das nossas realidades. Ficou sem a liderana do conservador
progressista, que era Francisco de Paula Rodrigues Alves.
Naquela desorientao geral dos espritos, ningum pde atentar que
outra morte vinha a ocorrer, sem ser percebida pelos contemporneos.
Em 16 de janeiro de 1919 morria com Rodrigues Alves a Repblica
de 15 de novembro de 1889. (Pg. 502 do Volume II.)
Ainda com o pressuposto da hiptese de que os governos reacionrios de
Epitcio Pessoa e Artur Bernardes e Washington Lus estariam destinados a provocar o
1930, dificil justificar a probabilidade de Rodrigues Alves encarreirar as foras
emergentes o mundo operrio e a quebra da oligarquia patrocinada por So Paulo
VIII
A presidncia de Rodrigues Alves, louvada pelas suas realizaes, considerada a mais profcua da Repblica Velha, ao ponto de ser reconduzido ao alto
posto, doze anos aps concluir o primeiro mandato, feito nico na histria republicana, tem a explicao da lgica poltica. No se deve apenas escolha de seus auxiliares, aos quais dava ampla autonomia, com a reserva de cumprirem suas ordens: os
ministros faziam tudo o que desejavam, exceto o que ele no queria (pg. 381). A
escolha de seus auxiliares no se particularizou, salvo notveis excees, por se afastar da classe dirigente do seu tempo. No ministrio, a nica e notvel novidade foi a
convocao imperiosa, dada a relutncia do escolhido, do baro do Rio Branco, cujo
respeito era uma unanimidade nacional. Fora do corpo ministerial, um desconhecido
iria, mais tarde, impor-se admirao do pas, Osvaldo Cruz. A obra administrativa, sob o comando do Ministro da Viao, Lauro Mller, levou para a vida pblica
dois engenheiros, at ento alheios poltica: Pereira Passos e Paulo de Frontin (o
homem da gua em seis dias j lhe havia projetado o nome).
O bigrafo d relevo afirmao de Gilberto Amado de que Rodrigues
Alves se disps a fazer uma revoluo autntica na histria republicana (pg.
335). Mas, que revoluo autntica seria essa, confinada a obras urbansticas,
sanitrias e porturias na capital federal? Com a palavra Afonso Arinos, numa
explicao logicamente irrefutvel, tendo em conta o Brasil de 1902:
Os observadores menos informados ou mais ligeiros no deixam
de comparar o pequeno centro da dramtica ao governativa com o
imenso territrio do pas. Para concluir da que Rodrigues Alves foi uma
espcie de grande prefeito municipal. ......
40 Afonso Arinos
A escassa populao brasileira da quele tempo, a insuficincia
dos transportes (pequena rede ferroviria e quase ine xistente sistema
rodovirio), a economia da exportao, tudo vinha aumentar desmedidamente a im portncia das cidades martimas, dos portos de mar.
(Pg. 401.)
No tempo em que o caf era a base da economia do pas, o caf que ele vara So Paulo a ocupar o primeiro lugar na produo, no seria mais lgico que se
privilegiasse o porto de Santos do que o do Rio de Janeiro? A cabal explicao da
importncia econmica, social e poltica do Rio de Janeiro encontra-se em Literatura
como Misso, de Nicolau Sevcenko (So Paulo, 1983, pg. 27):
A cidade do Rio de Janeiro abre o sculo XX defrontando-se com
perspectivas extremamente promissoras. Aproveitando de seu papel privilegiado na intermediao dos recursos da economia cafeeira e de sua
condio de centro poltico do pas, a sociedade carioca viu acumular-se no
seu interior vastos recursos enraizados principalmente no comrcio e nas
finanas, mas derivando j tambm para as aplicaes industriais.
Ncleo da maior rede ferroviria nacional, que o colocava diretamente em
contato com o Vale do Paraba, So Paulo e os Estados do Sul, Esprito
Santo e o hinterland de Minas Gerais e Mato Grosso, o Rio de Janeiro
completava sua cadeia de comunicaes nacionais com o comrcio de
cabotagem para o nordeste e o norte de Manaus. Essas condies prodigiosas fizeram da cidade o maior centro comercial do pas. Sede do Banco
do Brasil, da maior bolsa de valores e da maior parte das grandes casas
bancrias nacionais e estrangeiras, o Rio polarizava tambm as finanas
nacionais. Acrescente-se ainda a esse quadro o fato de essa cidade constituir o
maior centro populacional do pas, oferecendo s indstrias que ali se
instalaram em maior nmero nesse momento o mais amplo mercado nacional
de consumo e de mo-de-obra.
Na passagem do sculo, o Rio de Janeiro apareceu com destaque
como o dcimo quinto porto do mundo em volume de comrcio, sendo
superado no continente americano apenas por Nova Iorque e Buenos
Aires.
Acima de tudo, os grupos de presso concentravam-se no Distrito Federal,
ento a maior cidade do Brasil, a que mais influenciava os seus destinos e sua poltica.
Atrs das obras realizadas por Rodrigues Alves estava a revoluo burguesa
IX
Pereira Passos, o prefeito escolhido para as obras de remodelao do Rio
de Janeiro, que giravam em torno do porto, contou com os poderes da lei de 29 de
dezembro de 1892, votada sob os auspcios do presidente. Nos anais legislativos da
Repblica salvo nos momentos de eclipse da legalidade no ter havido lei mais
draconiana(pg. 411), conferindo autoridade administrativa plenos poderes para
atuar com independncia do legislativo local e do judicirio. A convocao do Conselho
Municipal sofreu o adiamento de seis meses, o prefeito administrava segundo os preceitos
da lei recm-sancionada.
As autoridades judicirias, locais ou federais, no poderiam interferir nos
atos administrativos, nem conceder interditos possessrios. A demolio, despejo,
interdio ou outras medidas, se completavam com um auto afixado no local, que
previa penalidades contra a desobedincia. As demolies se faziam ainda com as
pessoas dentro dos prdios. Os assentamentos nos livros das reparties federais sobre
transferncias de imveis, para os fins de urbanismo, valeriam como escritura pblica,
prescindindo da outorga uxria ou da transcrio do ttulo (pg. 411). Mais tarde,
as desapropriaes amigveis tiveram lugar, diante de uma comisso, levadas a cabo
sob a espada de um prazo mnimo de caducidade do direito (pg. 447). Mais de
seiscentas casas foram demolidas.
A lei de 29 dezembro escreve o bigrafo foi um dos pretextos
mais fortes para a conspirao poltica e militar que culminou em novembro
de 1904. (Pg. 413.)
Ainda assim, apesar das conseqncias da lei, o autor reputou uma
aberrao dos republicanos, demagogos radicais, ao atirarem o povo, em nome da
liberdade contra o progresso; em nome da Repblica, contra o governo que estava tentando
42 Afonso Arinos
abrir as portas do futuro. (Pg. 413.) Haveria uma contradio histrica insiste
Afonso Arinos no ataque dos membros da elite, das foras armadas, da imprensa
e do Congresso realizao de obras de tal vulto, tendo em conta a necessria remodelao da cidade (pgs. 413). Rui Barbosa, ainda em 1903, via nos poderes confiados
ao prefeito o risco de um senhor absoluto, de um ditador insuportvel. (Pg.
415.) Com as obras da Aveni da Cen tral e ad jacentes, corti os, hos pe da ri as,
estalagens, pardieiros, restos vivos de um passado morto, confundiam-se no p das
derrubadas.
Quase 50.000 pessoas moravam, em 1888, em estalagens e quartos de
aluguel, acrescidos do vasto contingente de escravos, libertados nesse ano, que teve de
mudar-se para as infectas casas de cmodos (Joo do Rio, A Alma Encantada das
Ruas, So Paulo, 1997, pgs. 277 e segs., traou dramtico perfil de uma delas, em
1904), para as favelas, ento nascentes, ou para os subrbios da cidade. A abolio,
e a crise da economia cafeeira que a seguiu nota Nicolau Sevcenko (Literatura
como Misso, So Paulo, 1983) , inchou a cidade com largo contingente humano
(cerca de 85.000 ex-escravos e mais de 70.000 imigrantes). A cidade crescia 3% ao
ano. Enquanto isso, no outro extremo, o Rio modernizava-se o Rio civilizava-se,
como festejava um cronista com os bondes eltricos e as avenidas.
A cidade insalubre tornou-se ainda mais sujeita a doenas. Os salrios
se aviltaram com o excesso de oferta da mo de obra, com a agravante da carestia e do
desemprego. A especulao imobiliria, que acompanhou a urbanizao, contribuiu
tanto como as demolies para o incremento e a superpovoao dos cortios e das construes dos barracos nas favelas e subrbios. Os casebres eram construdos com caixas de querosene e folhas de flandres, ou de sap e barro, nas favelas, e nos subrbios
os miserveis barracos eram desprovidos de esgotos e precariamente servidos de uma
bica de gua (maiores detalhes em Sevcenko, na fundamental obra citada). Para a
burguesia, que se isolara das classes populares, os optimates da Repblica, a
fascinao por Paris ditava uma poca nova e feliz, com as reformas de Haussman,
sob a ditadura de Napoleo III, com seus bulevars, e a imitao de Buenos Aires foram
os modelos que deslumbraram Pereira Passos e Frontin.
X
Rodrigues Alves confidenciou a um amigo que tinha dois propsitos,
como programa de governo: o saneamento e o melhoramento do porto do Rio de Janeiro
(pg. 460). As obras do porto compreendiam a reforma urbana, que lhe seria
44 Afonso Arinos
das. O desprestgio poltico, que o atormentou no fim de seu quatrinio, ao ponto de
se tornar incapaz de escolher seu sucessor, deveu-se, em parte, a essa crise e sobretudo
aos interesses econmicos que se congregaram na defesa do caf, com o conseqente
abandono do liberalismo, em favor do protecionismo.
O projeto de regulamentao da lei de vacina obrigatria, que transpirou
antes de publicado oficialmente, permitia a vacinao por mdico particular, com
atestado com firma reconhecida. Esse ter sido o aspecto mais leniente do ato governamental. O atestado de vacina era condio necessria para matrcula em escolas,
emprego pblico, emprego domstico, emprego nas fbricas, hospedagem em hotis e
casas de cmodos, viagem, casamento, voto. Praticamente, nenhuma atividade era
permitida sem o atestado de vacinao.
A reao foi imediata e explosiva. Afonso Arinos assinala que o
governo no utilizou, para medidas to drsticas, nenhum esforo de persuaso.
Lembra que ao tempo em que a comunicao se restringia aos jornais, eram estes
imprprios para o convencimento da populao, por estarem declaradamente contra
Rodrigues Alves e as medidas de saneamento (pg. 491). Difundira-se na cidade
afirmao encampada pelo Deputado Barbosa Lima, o mais popular dos congressistas,
que a vacina seria aplicada principalmente nas coxas, perto da virilha, ou nas
ndegas, o que pare ceu a mais depravada in vaso da vida particular, com o
des respeito do recato das mulheres. O dever se impunha a todos: defender a honra
das filhas e das esposas.
XI
O ponto mais doloroso da gesto Rodrigues Alves foi a chamada revolta
da vacina, uma revolta popular civil, conjugada a um movimento militar. Paralelamente, haveria uma conspirao para a instalao de uma ditadura que mudasse
os rumos da Repblica oligrquica. O bigrafo v nos acontecimentos de novembro
uma mazorca (pgs. 489, 491). As causas da revolta assim se sumariam, de pois
de caracterizar a mazorca como obra de elites extraviadas, que hipnotizaram a
populao:
A ao revolucionria desenvolvia-se em atividades convergentes,
coordenadas por pequeno grupo, cuja tarefa era auxiliada pela zoeira
irresponsvel na imprensa e no Congresso. O apoio popular revoluo
em preparo tornava-se evidente pela repulsa que o povo comeou a oferecer
46 Afonso Arinos
madraos, para os quais se pensou numa colnia correcional (Numa e Ninfa), tal
como se fez na ndia e nos pases conquistados.
A fascinante, criativa e bem documentada obra de Jos Murilo de
Carvalho (Os Bestializados O Rio de Janeiro e a Repblica que no foi,
So Paulo, 1987) abre uma perspectiva nova para a compreenso da revolta. A
Repblica, ao contrrio da expectativa inicial de seus adeptos, tornou-se excludente e
restritiva: dela se afastaram os intelectuais, sem interesse na poltica e com postos
decorativos na burocracia, os operrios, sobretudo sua liderana socialista, com as
dificuldades de se organizarem em partidos, dizimados os jacobinos. Os operrios,
distantes da poltica, dividiram-se em duas direes: os anarquistas e os dos que
aceitavam integrar-se no sistema cooptativo do Estado. A imprensa era surda
populao (pg. 37), presa ao mundo da cidade do poder e do dinheiro. Nesse territrio
de excluses, a poltica, segundo o que o povo via, alm dos funcionrios pblicos,
passou a ser negcio de bandos de criminosos e contraventores, dos empresrios de
eleies, alimentados pelo submundo que comprava com ela sua imunidade.
Raro o homem de bem que se faz eleitor, e se se alista, para
atender a pedidos de amigos, no tarda que o seu diploma sirva a outro
cidado mais prestante, que no dia do pleito, para fins eleitorais, muda
de nome e toma o do pacato burgus que se deixa ficar em casa, e vota
com eles. Isto o que l se chama: um fsforo. (Lima Barreto, Os
Bruzundangas.)
A grande maioria dos cidados no tinha espao poltico, com a lgica
excludente do sistema. O marginal escreve Jos Murilo virava cidado e o cidado
era marginalizado (ibid., pg. 38), acrescentando a valiosa constatao:
No entanto, havia no Rio de Janeiro um vasto mundo de participao popular. S que este mundo passava ao largo do mundo oficial da
poltica. A cidade no era uma comunidade no sentido poltico, no havia
o sentimento de pertencer a uma entidade coletiva, no havia uma
comunidade poltica. A participao que existia era de natureza antes
religiosa e social e era fragmentada. (Ibid., pg. 38.)
Depois de demonstrar que existia, margem da poltica, um aglomerado
ao qual se negava o direito de cidadania, que era, tanto para o francs, como para o
ingls, a escria, a canalha, a escuma social, entre ns eram simplesmente
bandos de negros e mestios. Eles se deixavam guiar, de acordo com um escritor, que
as elites adotaram, Gustave Le Bom, pela paixo e no pela razo, para os demagogos
48 Afonso Arinos
Dos homens de seu tempo, distinguia-se de todos, dotado da capacidade
de ver os fatos com realismo, vigiando para que a vaidade ou a ambio os no
deformassem. O perfil dos polticos da Repblica Velha completa a percepo de
sua personalidade, pelo contraste: Floriano, pelos excessos de sua fria ambio
levaram-no a exorbitar da ao poltica, para o arbtrio da fora. A inflexibilidade orgulhosa ofuscou a viso de Prudente, levando-o ao ostracismo. O bacharelismo
formalista desviou Campos Sales do caminho volta ao poder. A intolerncia de
idias trancou a carreira de Bernardino de Campos. O apetite de mando e o
esprito caudilhista condenaram Pinheiro Machado a no passar de frustrado candidato
presidncia. Rui, o mais poderoso engenho da gerao dos fundadores da Repblica,
foi vtima de sua vaidade intelectual e do seu irrealismo doutrinrio. E Rodrigues
Alves?
Rodrigues Alves era lcido e flexvel, enrgico e sereno, pertinaz e
transigente, ambicioso sem personalismo, firme nos compromissos e hbil
nas com posies, duro na ao, mas tole ran te quando obti nha o que
queria.
Acima de tudo, ele possua, de forma admirvel, o sentimento de
que a poltica se exerce sempre tendo em vista algo que est acima dela e
de quem a pratica. Qualquer coisa de indefinvel dentro do qual a intensidade da vida, o gosto da glria e o desejo do poder esto sem dvida
presentes, mas que, em conjunto, transcende a tudo isso...... (pg. 114).
Faltou dizer que o meio, o instrumento que realizava seus objetivos, era
a subtileza, a extrema finura estilstica, necessria num tempo em que as comunicaes
entre os polticos e destes para o pblico o pequeno pblico que ento fazia poltica
eram todas por escrito. Talvez no haja na poltica republicana nada mais ele gante, nada mais arguto, do que a correspondncia de Campos Sales com Rodrigues
Alves, na hora de sua escolha para a presidncia. O convidado deixa o presidente na
situao de que pede e no de quem faz um favor e manifesta a preferncia pelo sucessor.
Queria Campos Sales que Rodrigues Alves fosse o natural pro longamento do
perodo que se vai seguir.
Desejava a continuao de sua obra sob o trplice aspecto poltico,
econmico e financeiro. Em lugar de mostrar o que nenhum poltico recusaria,
esquivou-se ao convite, acentuando os inconvenientes de sua candidatura e lembrando
o nome de Bernardino de Campos. Rodrigues Alves, pelo teor da carta de seu antecessor, percebeu que este no tinha como recuar do convite e, por tal motivo, absteve-se
50 Afonso Arinos
(Pg. 272.) Prudente, vinho da mesma cepa, mas capaz de divergir com veemncia
do governo, no duvidava do acerto da deciso desabusada. Mas nem por isto
deixou de se empenhar na luta(pg. 272).
Dizer que Rodrigues Alves era um homem votado ao poder votado e
vocacionado dizer muito pouco acerca de uma personalidade to rica. Ele seria
um poltico no maquiavlico, indiferente moral. No h nenhum ato seu que
demonstre, ao que se l em sua biografia, uma felonia, como traio, perfdia e mentira,
para alcanar ou manter o poder. Tinha, se respeitadas as qualidades de poltico, os
caracteres do poltico weberiano: o domnio da vaidade, a paixo, o distanciamento do
poder, mas sem justificar os seus atos unicamente pelas conseqncias, incapaz de trair
sua conscincia moral. O prprio Nietszche, que equiparava a vontade de poder aos
mais saudveis dos instintos, distinguiu os ltimos em vis e nobres, criando a hierarquia dos valores. Eduardo Spranger, cujos conceitos concretizam o perfil do homo
politicus (Formas de Vida, Buenos Aires, 1946), nota, a respeito dos polticos
cuja autenticidade no se restringe ao ofcio de mandar, o que segue:
Em nosso sentido, o fenmeno primrio do poder reside na ener gia que capacita para submeter-se ao supremo valor que como exigncia
se acrescenta conscincia. Este modo de domnio de si mesmo constitui
a fonte de todas as verdadeiras relaes de poder. S o poder baseado
na autntica substncia dos valores , em ltima instncia, o verdadeiro
poder. Todo outro poder s toma de emprstimo seu aspecto formal. (O
exemplo seria Bismarck, que declarou que se no estivesse certo que a ordem
divina no predestina a Alemanha a alguma coisa de bem e grande,
teria se afastado dos negcios pblicos.) (Pgs. 245 e 246.)
Mas h outra face que complementa o tipo do verdadeiro poltico,
distante do modelo maquiavlico, com alguns traos weberianos, no identificvel com
o molde do poltico cristo, o prncipe de So Toms de Aquino. Ele no foi um
poltico sem princpios, que colocava seu poder acima do pas, mesmerizado com a
manuteno de sua supremacia, exaltando os fins sobre os meios se necessrio
romper a lei para impor-se, honroso e belo viol-la, era j o modelo de Eurpides,
antecipando Maquiavel. A poltica seria a arte de aproveitar a ocasio e cri-la, em
favor do interesse e no da razo do Estado. Com desdm pelo imperativo categrico
de Kant, acentuava Bismarck, o tipo poltico mais acabado segundo o autor que
estamos citando, Spranger, com estas palavras:
52 Afonso Arinos
O pensamento de Rodrigues Alves sem que se veja a uma contradio
com seu programa de governo era essencialmente conservador. Sua opo partidria, no Imprio, no obedeceu a meras convenincias locais, seno sua inclinao
natural. A convivncia, na Faculdade de Direito, com Rui Barbosa, Joaquim Nabuco, Castro Alves e Afonso Pena, depois ministro no Gabinete Lafayete Rodrigues
Pereira, no deixou nenhum sulco no seu esprito. Tido como conservador moderado,
categoria que se distinguia da ortodoxia imobilista do partido, admitia a abolio
com indenizao, embora, na Cmara, votasse pelo abolicionismo nos moldes da lei
de 13 de maio. Preferiu seguir a orientao traada ao seu partido pelo Trono, do
que lutar pelas suas convices.
O despertar de foras indmitas seria sempre uma desordem, uma intromisso na ordem, condenadas a manifestaes passageiras, desencadeadas por dirigentes inescrupulosos. Para o conservador uma boa administrao vale mais do que
uma boa administrao. (Karl Mannheim, Ideologia y Utopia, Mxico, 1941,
pg. 106.) Burke (Reflections on the Revolution in France, Pinguin
Books, 1981), padroeiro do esprito conservador, por sua repulsa Revoluo Francesa, entendia que era impossvel construir ou renovar um Estado pela razo, obra
do tempo e da longa maturao popular. Nenhum clculo ou plano poderia realizar
mudanas duradouras, que suplantam o construtivismo constitucional ou legal. A
histria no seria nunca, para o conservador, o reino do apriorismo, mas de foras
pr-racionais e supra-racionais, infensas soberania popular.
Os conservadores, Burke como paradigma, tiveram, entre outros, um con testador que ficou na histria, Thomas Paine, na defesa dos direitos do homem e do cidado (Rights of Man, Pinguin Books, 1981), bem como ao preconizar a independncia da Amrica, que viria a formar um sistema poltico pela obra de uma constituio racionalmente votada, com a vitria do apriorismo a primeira constituio dirigente do mundo, que o tempo consagrou, ao contrrio do que pensavam os conservadores
europeus. Mas, Burke, ao contrrio do que se poderia pensar, como autntico conservador, no se fixava no imobilismo: um Estado sem os meios para alguma mudana
no tem os meios de conservao. (Obr. cit., pg. 106.) A mudana seria, para ele,
contra o que pensavam os revolucionrios franceses, uma questo de necessidade,
no de escolha. O homem dizia Joseph de Maistre (Considrations sur la France,
Genve, 1980, pg. 119) tudo pode modificar, mas nada pode criar, lei fsica, que
tambm uma lei poltica. Ele pode cultivar uma rvore, aperfeio-la com o enxerto,
54 Afonso Arinos
ameaa da emergncia popular, medida aceita pelos ltimos, mas abjurando da sua
farmacopia reformadora. Os tempos que se abrem com o colapso da Repblica Velha e ainda no encontraram o caminho para formar um governo da opinio pblica, apropriando-se do comando poltico do pas. Mas, esta outra histria, que est
fora do territrio da imponente obra, que d conta de um perodo ainda obscuro do
tempo perdido, proustianamente resgatado pela arte do escritor e historiador e bi grafo.
Memria de
JOAQUIM NABUCO
(Carta indita de 6 de outubro de 1898)
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
58 Afonso Arinos
Rio de Janeiro, onde teve como professores Joo Ribeiro e Carlos de Laet, e como
companheiros de classe: Prado Kelly, Pedro Nava e Prudente de Morais, neto, entre
outros. Em 1927, diplomou-se pela Faculdade de Direito do Rio de Janeiro, seguindo
depois para a Europa, onde realizou estudos de especializao em Genebra. Em
Montana, na Sua, no ano de 1932, num perodo de tratamento da sade, encontrou
seu amigo Ribeiro Couto, internado em outro sanatrio. O grande poeta dedicou-lhe
o livro Cancioneiro de Dom Afonso (1939).
Sua carreira pblica iniciou-se quando foi nomeado, pelo Presidente
Antnio Carlos, promotor de justia da comarca de Belo Horizonte, cargo que exerceu
nos anos de 1927 e 1928.
Desde ento, pensava em ingressar no magistrio. Chegou a escrever e
apresentar Faculdade de Direito do Rio de Janeiro uma tese para a cadeira de
Direito Penal. Mas no pde disputar o concurso por motivos de sade. Surgir
mais tarde a oportunidade, ao ser contratado professor de Histria do Brasil na
extinta Universidade do Distrito Federal, fundada por Ansio Teixeira, onde lecionou nos anos de 1936 e 1937. Em 1938, ministra cursos de histria econmica e
poltica do Brasil na Universidade de Montevidu. No ano seguinte, d um curso
na Universidade da Sorbonne, em Paris, sobre cultura brasileira, por indicao do
conselho da Universidade do Brasil e sob os auspcios do Instituto Franco-Brasileiro de
Cultura. Em 1944, volta a lecionar, no exterior, um curso de literatura, na
Faculdade de Letras da Universidade de Buenos Aires. Em 1946, nomeado
professor de Histria do Brasil do Instituto Rio Branco, de preparao para a
carreira diplomtica, do Ministrio das Relaes Exteriores.
O ttulo de professor catedrtico de Direito Constitucional em duas
universidades brasileiras a do Rio de Janeiro, atual Universidade do Estado da
Guanabara, e a do Brasil, hoje Universidade Federal do Rio de Janeiro ele o
obtm em concursos realizados nos anos de 1949 e 1950, quando j havia sido eleito
deputado federal por Minas Gerais.
A atividade poltica torna-se assim expanso natural da sua atividade
como jornalista, escritor, crtico literrio e professor. Deputado federal em trs legislaturas (de 1947 a 1958), pelo Estado de Minas Gerais, foi conduzido ao Senado,
pelo antigo Distrito Federal, hoje Estado da Guanabara, em 1958, num pleito memorvel. Na Cmara dos Deputados, foi membro da Comisso de Constituio e Justia,
60 Afonso Arinos
claro no prefcio do livro que publicou juntamente com Raul Pila (Presidencialismo ou Parlamentarismo?, 1958). Sob aquele regime, foi chefe da delegao do
Brasil nas Naes Unidas, durante as XVI e XVII assemblias gerais (1961 e
1962). Chefiou em seguida a delegao brasileira na Conferncia do Desarmamento,
em Genebra (1963).
Pela segunda vez, voltou a exercer o posto de Ministro das Relaes
Exteriores, no governo parlamentarista que teve como primeiro-ministro Francisco
Brochado da Rocha (1963). Quer como ministro de Estado, quer como chefe de delegao na ONU, est para ser reunida a copiosa documentao existente, sem dvida
das mais importantes, para o estudo da poltica externa do Brasil contemporneo.
Desde 1958, Afonso Arinos pertence Academia Brasileira de Letras,
ocupando a cadeira nmero 25, de que patrono Junqueira Freire, e em sucesso a
Jos Lins do Rego. Disputou a vaga do grande romancista, concorrendo com outro
grande escritor, Guimares Rosa. Seu opositor, aliando a admirao nobreza, num
gesto de espontnea naturalidade, convidou-o para receb-lo, ao ser empossado, em
1963, quando se elegeu na vaga aberta com o falecimento de Joo Neves da Fontoura.
Em 1961, em substituio ao sempre lembrado Octavio Tarqunio de
Sousa, Afonso Arinos assumiu a direo da Coleo Documentos Brasileiros, fundada
por Gilberto Freyre, e que esta Casa vem editando a partir de 1936, ano da primeira
edio de Razes do Brasil, de Srgio Buarque de Hollanda (7 edio, 1973).
Membro da Academia Brasileira de Letras, scio efetivo do Instituto
Histrico e Geogrfico Brasileiro, professor catedrtico de duas universidades a
Universidade do Estado da Guanabara, UEG, e a Universidade Federal do Rio de
Janeiro, UFRJ , membro do Conselho Federal de Cultura (nomeado em 1967,
quando da sua criao, e reinvestido em 1973), Afonso Arinos de Melo Franco
casado com a Sra. Anah Pereira de Melo Franco, neta do Conselheiro Rodrigues
Alves. O casal tem dois filhos, acima referidos, e dez netos.
Grande trabalhador intelectual, a bibliografia de Afonso Arinos de
Melo Franco apenas esboada, a seguir, numa tentativa de ordenar, ainda que
imperfeitamente, a sua onmoda atividade de escritor e poltico, de publicista e homem
de pensamento.
Rio, agosto de 1973.
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
I HISTRIA
62 Afonso Arinos
Histria do povo brasileiro: fase nacional. Em colaborao com Antnio
Houaiss e Francisco de Assis Barbosa. So Paulo, 1968. 3v.
Rodrigues Alves: apogeu e declnio do presidencialismo. Rio de Janeiro, 1973. 2v.
Histria das idias polticas no Brasil. Porto Alegre, 1972.
II MEMRIAS
A alma do tempo; formao e mocidade. Rio de Janeiro, 1961.
A Escalada. Rio de Janeiro, 1965.
Planalto. Rio de Janeiro, 1968.
Mar alto. Em preparo.
III CRTICA
Espelho de trs faces. So Paulo, s. d. [1937].
Idia e tempo. So Paulo, 1939.
Mar de sargaos. So Paulo, s. d. [1944].
Portulano. So Paulo, s. d. [1945].
La Literatura del Brasil; algunos aspectos de la literatura brasilea. Buenos Aires.
1945.
IV POLTICA
Introduo realidade brasileira. Rio de Janeiro, s. d. [1933].
Preparao ao nacionalismo. So Paulo, 1934.
Conceito de civilizao brasileira. So Paulo, 1936.
Parlamentarismo ou presidencialismo? Debate com Raul Pila Rio de Janeiro,
1958.
Evoluo da crise brasileira. So Paulo, 1965.
V LRICA
Barra do dia. Poesias (1924-1937). Petroplis, 1955. Edio fora do
comrcio na prensa manual de Slvio da Cunha.
64 Afonso Arinos
VIII DISCURSOS E CONFERNCIAS
A Maioridade ou a aurora do Segundo Reinado. Conferncia no Centro de XI
de Agosto. So Paulo, 1940.
Poltica cultural pan-americana. Conferncia na Casa do Estudante do Brasil.
Rio de Janeiro, 1941.
Pela solidariedade continental. Discursos proferidos no Peru. Rio de Janeiro,
1953.
O Senado republicano. Discurso na Cmara dos Deputados. Rio de Janeiro,
1959.
Estudos e discursos. So Paulo. s. d. [1961].
Discurso de posse no Ministrio das Relaes Exteriores. Rio de Janeiro,
1961.
Discurso sobre o Ato Adicional, pronunciado no Senado. Braslia, 1962.
Jos Bonifcio. Discurso comemorativo do bicentenrio de seu nascimento,
pronunciado no Senado. Braslia, 1963.
Saudao a Charles De Gaulle, proferida no Senado. Braslia, 1964.
Saudao a Giuseppe Saragat, proferida no Senado. Braslia, 1965.
Proust no centenrio de seu nascimento. Conferncia na Sociedade dos
Amigos de Marcel Proust. Rio de Janeiro, 1971.
IX PREFCIOS
Cartas chilenas, de Critillo (Tomaz Antnio Gonzaga). Edio do Instituto
Nacional do Livro. Rio de Janeiro, 1940.
Glaura, poemas erticos, de Manuel Incio da Silva Alvarenga. Edio
Instituto Nacional do Livro. Rio de Janeiro, 1943.
Marlia de Dirceu, de Tomaz Antnio Gonzaga. Ilustraes de Guignard.
So Paulo, 1944.
Histria da queda do Imprio, de Heitor Lyra, 2 v. So Paulo, 1964.
O Constitucionalismo de D. Pedro I no Brasil e em Portugal. Edio do Arquivo
Nacional, 1972.
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Um Livro Monumental
arco definitivo
na obra de Afonso Arinos de Melo Franco,
esse grande escritor e trabalhador intelectual
incansvel, esta biografia Rodrigues
Alves: apogeu e declnio do presidencialismo vem completar outra biografia igualmente notvel do mesmo autor
Um Estadista da Repblica: Afrnio
de Melo Franco e seu tempo, de permanente atualidade para o estudo e conhecimento de nossa histria republicana.
Conselheiro do Imprio, chefe con servador e progressista, Rodrigues Alves
encarnou mais do que qualquer outro
presidente o regime de 1891. Importante
captulo deste livro precisamente aquele
em que Afonso Arinos descreve a resistncia do antigo presidente da Repblica
reforma constitucional pretendida por
Venceslau Brs e que s no foi avante
pelo veto de Rodrigues Alves, ento
frente do governo de So Paulo e chefe
incontestvel da poltica nacional.
68 Afonso Arinos
propaganda republicana e tem o seu crepsculo com a morte do primeiro em 1919 e do
segundo em 1923, crepsculo em que Afonso Arinos situa o declnio do presidencialismo tal como vinha sendo praticado no regime da Constituio de 1891.
Os desencontros entre Rodrigues
Alves e Rui Barbosa so pginas das
mais controversas e estimulantes que ho
de contribuir decerto positivamente para
a reviso no apenas dos retratos de
duas grandes personalidades, como tam bm para a compreenso da histria da
Primeira Repblica.
Outro ponto a chamar ateno: a
atitude de Rodrigues Alves, quando presidente de So Paulo, em defesa do caf
brasileiro, no caso do seqestro dos estoques desse produto, em Nova Iorque, por
autoridades norte-americanas (1912),
como tambm por ocasio das dificuldades ocorridas com o arma ze na men to
do nosso caf nos portos do Havre,
Hamburgo e Nova Iorque, na Primeira
Guerra Mundial. Trata-se de assunto
que no foi ainda devidamente estudado,
e que no livro de Afonso Arinos aparece
em toda a extenso e gravidade, dando a
Rodrigues Alves um papel decisivo e
patritico, a compor mais uma faixa
estelar na sua glria de estadista.
Rodrigues Alves: apogeu e
declnio do presidencialismo no se
limita, portanto, a um simples relato da
vida e atuao de um homem pblico.
FRANCISCO DE ASSIS
BARBOSA
Lado oeste da Avenida Central (depois Rio Branco), entre as ruas Sete
de Setembro e So Jos, vendo-se em primeiro plano o edifcio de O Pas,
o jornal de Quintino Bocaiva e Joo Lage, destrudo e incendiado por
ocasio da Revoluo de 1930. (Foto Marc Ferrez.)
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Explicao Preliminar
72 Afonso Arinos
de histria da Primeira Repblica, estudada atravs de duas longas vidas de homens
que fizeram da ao poltica a razo principal de suas existncias.
Reconheo que no se pode comparar, em importncia, a vida de Rodrigues Alves de Melo Franco. O destino de meu pai, ainda que variado e colorido,
desdobrado nitidamente em trs planos, o provincial, o nacional e o internacional, no
chegou s culminncias do de Rodrigues Alves, cuja trajetria poltica foi a maior
que o Brasil conheceu, no Imprio e na Repblica.
Espero que a leitura deste livro comprove a opinio aqui expressa.
A viso histrica da personalidade de Rodrigues Alves concentra-se,
quase que s, na sua passagem pela presidncia da Repblica, deixando na sombra
dados essenciais, explicativos da formao do estadista capaz de realizar aquela obra
e, tambm, omitindo a sua experincia propriamente poltica, sem cujo conhecimento
os quatro anos culminantes da sua existncia so, de certo modo, inexplicveis. Enigma to impenetrvel, que a tendncia de muitos atribuir-lhe, apenas, capacidade de
escolha dos auxiliares diretos, e respeitabilidade pessoal para mant-los coesos na ao.
Os que assim pensam e isto afirmam, parecem esquecer-se de que o grande regente de orquestra sabe mais msica do que qualquer dos figurantes da mesma.
No toca, com a perfeio de cada qual, o instrumento que lhe for afeto, mas tem
mais vivncia da partitura, como um todo.
A figura de Rodrigues Alves continua, na Histria do Brasil, anacronicamente confundida com a do presidente da Repblica de 1902 a 1906, como se nada
mais houvesse existido, antes nem depois, na sua vida.
Sua memria no se apresenta, na Histria convencional, ou mesmo na
mais profunda, at agora, desdobrada em vrias imagens atraentes, tal como ocorre com
seus contemporneos Rui Barbosa, Rio Branco ou Joaquim Nabuco, imagens nas quais
o primeiro se projeta como tribuno, sbio, orculo e combatente, o segundo como salvador
da raa negra, evocador do Imprio e diplomata exmio, e o terceiro como modelador do
nosso territrio, advogado pblico da nao e lder da Amrica do Sul.
Rodrigues Alves tem sido, para a Histria oficial, apenas o presidente, o
maior de todos, na opinio largamente majoritria, mas somente isto, que no tudo.
Para que se compreenda o presidente, indispensvel conhecer-se a sua experincia
anterior e posterior de governante (pouqussimas pessoas tm idia do que foi o seu governo, em So Paulo, depois da presidncia da Repblica) e tambm mister saber-se
o que foi sua ao de poltico profissional, porque, nesta, est a chave que decifra todo
o fecundo sentido da sua vida. No sendo orador e escritor como Rui ou Nabuco, nem
sabedor de geografia histrica e musculoso trabalhador intelectual como Rio Branco,
74 Afonso Arinos
1967, e, um pouco por deliberao prpria e um pouco compulsoriamente, afas tei-me de uma atividade poltica que deixou de me interessar.
Tendo fixado no esprito a deciso de empreender a obra, iniciei sobre ela
pesquisas e leituras mais dirigidas e coordenadas.
No decorrer de 1968, apesar de demorada crise de sade que ento atravessei, iniciei a preparao, em fichas, do material constante dos nove cadernos de notas de
Rodrigues Alves, trabalho demorado e penoso, feito com o auxlio permanente de Anah.
Os demais papis do arquivo foram tambm, naquele ano, postos em
relativa ordem de assuntos e cronolgica.
Pude, assim, iniciar a redao a 27 de dezembro de 1968.
Esta foi levada avante no Rio e em Petrpolis, e os originais se alongam por
dez cadernos, nos quais encontro as anotaes cronolgicas seguintes: caderno 1, Pe trpolis
27-12-1968 Rio 13-6-1969; caderno 2, Rio 15-7-1969 Petrpolis 8-1-1970;
caderno 3, Petrpolis 8-1-1970 Rio 30-8-1970; caderno 4, Rio 1 -9-1970 Petrpolis
3-1-1971; caderno 5, Petrpolis 3-1-1971 faltando a data e o local de encerramento; caderno 6, faltando a data e o local do incio e Rio 27-5-1971; caderno 7, Rio
24-6-1971 Rio 14-11-1971; caderno 8, Rio 14-11-1971 Petrpolis 13-12-1971;
caderno 9, Petrpolis 14-12-1971 Petrpolis 31-12-1971; caderno 10, Rio
31-12-1971 Petrpolis 10 de janeiro de 1972, s 11:45 da manh.
Passarei, agora, indicao das fontes.
A bibliografia consultada encontra-se devidamente enumerada no local prprio.
Os anais da Cmara Provincial de So Paulo e da Cmara dos Deputados do Imprio, bem como os anais da Assemblia Constituinte de 1890, da
Cmara dos Deputados e do Senado da Repblica, em diversas sesses legislativas, foram
aproveitados nos volumes correspondentes aos anos tratados no texto da obra. Tambm,
quanto a assuntos especficos, tais como mensagens presidenciais, interveno federal nos
Estados, estado de stio, elaborao oramentria, Caixa de Converso e outros,
retirei subsdios da preciosa coleo Documentos parlamentares, nos volumes
igualmente correspondentes aos assuntos referidos.
Os jornais cariocas e paulistas foram pesquisados, quer nas colees da
Biblioteca Nacional, quer em recortes conservados e classificados no arquivo de
Rodrigues Alves.
As revistas ilustradas, mundanas e polticas, cujo noticirio s vezes
iguala em interesse ao das fotografias e caricaturas, foram consultadas nas colees da
Biblioteca Nacional, ou na livraria de meu amigo, o avisado biblifilo Plnio
Doyle.
76 Afonso Arinos
afetuosa confiana das minhas duas tias por afinidade, aqui deixo
o preito sincero do meu maior reconhecimento.
Depois delas, quem mais me auxiliou na coleta de documentos e dados foi o
meu velho e caro amigo Antnio Gontijo de Carvalho, douto e minucioso conhecedor da
Histria da Repblica, principalmente no que toca a Minas, onde nasceu, e a So
Paulo, onde vive. Gontijo facilitou-me o acesso aos arquivos da Faculdade de Direito de
So Paulo, aos papis de Francisco Glicrio, Rubio Jnior e Altino Arantes, alm de
fornecer-me outras importantes e valiosas contribuies sobre assuntos de relevo neste livro, que me seria impossvel especificar. A contribuio de Gontijo de Carvalho me
tanto grata quanto sei que ele diverge em muitos dos meus conceitos sobre Rui Barbosa,
a quem devota extraordinria admirao.
No Arquivo Nacional tive o acolhimento fidalgo do diretor Raul Lima
e o valioso conselho de Jos Gabriel da Costa Pinto. A eles e aos demais funcionrios que to solicitamente me atenderam, quero deixar cordial meno.
Biblioteca da Cmara dos Deputados e do Senado Federal, em
Braslia, devo rigorosas pesquisas em nmeros do Dirio do Congresso Nacio nal,
referentes ao ano de 1918, importante na contextura deste livro, ano no qual os Anais
do Congresso no foram publicados. quelas duas modelares instituies, das quais
tanto me vali nos meus vinte anos de mandato parlamentar, deixo, nas pessoas de seus
diretores, a expresso de meu reconhecimento.
Na Biblioteca Nacional tenho a agradecer a inestimvel cooperao
do ex-diretor, o acadmico e meu amigo Adonias Filho, e da atual diretora, senhora
Janice Montemor. Seria omisso, se no referisse gentil assistncia da senhora Edwiges
Silveira, secretria da diretoria, bem como do escritor Darci Damasceno, chefe da
seo de manuscritos, e de Fernando Sales, Chefe da seo de divulgao.
Na Casa de Rui Barbosa tive todas as facilidades, graas generosa
cooperao do historiador Amrico Jacobina Lacombe, diretor da Fundao, e do seu
diretor-executivo Ubirat Cavalcnti. Devo mencionar o auxlio por funcionrios
daquela instituio.
No Instituto Histrico e Geogrfico Brasileiro, a cujo quadro me honro de
pertencer, fui acolhido pelo ilustre presidente Pedro Calmon, sob cujas instrues e graas
ao desvelo da secretria, Sra. Adelaide Morosine Alba, os papis e livros solicitados me
foram prontamente fornecidos.
Ao escrever isto, mal sabia que o meu carssimo Gontijo no veria o aparecimento
deste livro.
78 Afonso Arinos
sobre a vida de Rodrigues Alves, sou devedor de teis informaes e conselhos; ao
segundo, diretrizes e auxlios seguros sobre a tcnica de edio do livro, que no sai
to escorreito como ele desejava, por deficincia de minha parte. A Chico Barbosa sou
ainda devedor pela reviso total, a que procedeu, do livro, pelos numerosos conselhos
que sobre o mesmo me deu, quase todos atendidos. Tarefa fraterna, bem digna da sua
inteligncia e do seu corao.
memria do meu querido amigo e contraparente Walter Arantes de
Carvalho Aranha, que me acompanhou nas pesquisas aos cartrios de Guaratinguet e
Cunha, deixo um pensamento de saudosa gratido.
Ao professor Jos Lus Pasin, hoje um dos melhores conhecedores da histria
do Vale do Paraba, na rea paulista, o meu cordial agradecimento.
A Ada Maria Coaracy, fico a dever o carinho e a competncia com que
cuidou de modo exemplar de recensear e coordenar a lista bibliogrfica e de
organizar o ndice onomstico e intitulativo que tanto enriquecem esta obra.
Ao velho amigo e companheiro Jos Olympio e equipe dirigente da sua
Casa, devo o real interesse e generosa presteza com que cuidaram da presente edio.
Permito-me salientar o fraternal auxlio dos diretores Daniel e Antnio Olavo Pereira.
Agradeo ainda o empenho e o afetuoso interesse e a competncia com
que Chico Barbosa cuidou das ilustraes. Ilustraes em grande parte obtidas
nas bibliotecas dos meus amigos Plnio Doyle esta j comea a adquirir ares de
instituio nacional e lvaro Cotrim, o caricaturista lvarus, no s um ar tista como tambm um biblifilo.
Agradeo Dona Dora Torres de Sousa a dedicao com que procedeu
segunda cpia datilografada dos originais.
No quero deixar de mencionar dois queridos amigos desaparecidos,
Rodrigo M. F. de Andrade e Mlton Campos, pelo incitamento constante com que
insistiram para que eu continuasse no meu trabalho, nas horas em que lhes manifestava
fadiga ou desnimo.
possvel, e mesmo provvel, que eu haja omitido aqui meno a
pessoas de quem tenha aproveitado informaes e elementos. Se tal aconteceu, sou o
primeiro a lamentar a falta, pela qual peo antecipadamente perdo.
Finalmente, e como em toda a minha obra, Anah foi a mais dedicada e
paciente colaboradora. Sua assistncia moral e afetiva, suas lembranas de menina, sua
participao no preparo tedioso do fichrio e na cpia completa dos origi na is, na
primeira via datilografada, constituram a presena constante que me animou e susten tou
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Livro I
Captulo Primeiro
Origens paterna e materna Colgio Pedro II Faculdade de Direito O curso
jurdico Poltica estudantil Burschenschaft A vocao poltica.
ORIGENS PATERNA E MATERNA
1
2
Sublinhado no original.
A Revista Universal Lisboense publicou em 1845 um artigo sobre o incremento da
emigrao para o Brasil. Dizia que eram levados a deixar Portugal os mancebos
que tendo freqentado as aulas no tm emprego correspondente sua
educao. (Apud Jean Michel Massa. A juventude de Machado de Assis.)
82 Afonso Arinos
Domingos Rodrigues Alves, o menino imigrante, nasceu em
23 de dezembro de 1818 na Freguesia de So Tom da Correlh, Concelho
de Ponte de Lima, Provncia do Minho, Reino de Portugal. Era filho de
Manuel Rodrigues Alves e Francisca Pereira. A casa de seu nascimento
ainda existia em 1912, quando o filho ocupava, pela terceira vez, a presidncia de So Paulo. Cercada de latadas de parreiras moda da Europa
meridional, ficava no cimo de ngreme ladeira, o que deu famlia dos
proprietrios a alcunha local de os Subidas.
Na sua nica viagem Europa, feita depois da presidncia da
Repblica, Rodrigues Alves no deixou de visitar a aldeiazinha minhota,
terra dos humildes antepassados. Socorria parentes idosos que por l
viviam e mandou, certa feita, um auxlio para a restaurao da antiqssima igreja paroquial da Correlh, de estilo romnico.
Quando emigrou para o Brasil, Domingos viajou sozinho, aos treze
anos, embora recomendado pela famlia aos cuidados do capito do brigue.
Viveu oitenta anos na ptria adotiva, apesar da doena cardaca
que lhe diagnosticaram na juventude. At a velhice, conservou carregado
sotaque minhoto.
Ao chegar, no trazia passaporte nem qualquer outro documento
oficial, mas a identidade lhe foi atestada pelo comerciante Lus Manuel de
Figueiredo, boticrio na Rua da Quitanda, com o qual ter passado a trabalhar. Era costume, at o princpio do sculo atual, virem os jovens
portugueses para o Rio, a fim de iniciarem a carreira do comrcio na
loja de algum patrcio.
Na poca em que Domingos chegou corte do jovem Imprio,
a cidade havia sofrido grandes transformaes, decorrentes do Brasil Reino
e da Independncia, e era sede do segundo governo regencial.
Florescia o comrcio estrangeiro no portugus, com cerca de
uma centena de firmas, sendo mais numerosas as inglesas, seguidas
pelas francesas, havendo tambm algumas poucas norte-americanas.
O corpo diplomtico compreendia ministros plenipotencirios
e encarregados de negcios, sendo importante o corpo consular.
A populao andava por 230.000 almas, com grande percentagem
de negros escravos.
As ruas eram compridas, estreitas e sinuosas, com casas
pobres e baixas, mas, aqui e ali, destacavam-se alguns imponentes edifcios
84 Afonso Arinos
Ingleses e franceses exerciam atividades financeiras e comerciais
superiores, de que a turba erradia e subleva da pra ticamente no
tomava conhecimento.
De tudo isso resultavam os conhecidos episdios de violncia
jacobina, que centenas de vtimas causaram colnia portuguesa, no
princpio da Regncia. Houve momento em que a autoridade policial
entrou em colapso, os juzes fugiram da cidade, as cadeias se encheram
de presos sem nota de culpa (s vezes para proteg-los contra os
assassinos), enquanto capoeiras, desordeiros e vagabundos armados
transformavam as ruas em palcos de dramas sangrentos.
O jovem Domingos Rodrigues Alves no se fixou na corte do
Imprio. Nela permaneceu apenas um lustro.
Em 1837 transferiu-se para a aprazvel vila de Guaratinguet,
situada s margens do rio Paraba, sobre a estrada que j ento ligava o
Rio de Janeiro a So Paulo.
Essa localizao beneficiava a velha povoao bandeirante
que, em breve, com a invaso da zona pelos cafezais, torna-se-ia prspero
centro comercial, o que concorreu para sua elevao categoria de cidade,
por lei provincial de 1844.
provvel que, alm dos alegados motivos de sade, o ambiente
provinciano de Guaratinguet, mais acolhedor para os portugueses, haja
contribudo para a deciso de Domingos.
O ano de 1837 marcou o incio da restaurao da ordem na
vida brasileira, a comear pela capital do pas, perodo que ficou bem
caracterizado em famoso discurso do Deputado mineiro Bernardo
Pereira de Vasconcelos.
Feij, o bravo dominador da desordem material, era incapaz
de instituir a ordem jurdica, elemento indispensvel estabilidade social.
Sua renncia Regncia foi um fato inevitvel, tanto quanto a ascenso
de um homem do tipo de Arajo Lima. Um e outro exprimiam necessidades sucessivas e distintas.
A vida de Guaratinguet refletia bem o ambiente geral de
restaurao, observvel nas Provncias de So Paulo, Rio de Janeiro e
Minas Gerais.
Quando Domingos l se instalou, a economia local de subsistncia evolua para a agricultura do acar e comeava impetuosamente
86 Afonso Arinos
A famlia Querido era de origem portuguesa e estava radicada
naquela vila desde o sculo XVIII. Nos arquivos judicirios de Cunha
encontram-se referncias a membros dessa famlia como ocupantes de
postos na administrao local.
O ato oficial do matrimnio de Domingos acha-se hoje no
arquivo do Arcebispado de Aparecida, e o seguinte:
Aos 12 de maro de 1843, nesta vila, em casa do Alferes
Antnio de Paula e Silva, feitas as denunciaes na forma do
Conclio Tridentino, sem impedimentos, precedendo primeiramente o sacramento da penitncia, pelas 8 horas da tarde,
com proviso de licena e sendo os contraentes fregueses
desta Matriz, em minha presena e das testemunhas abaixo
assinadas por palavras de presente se receberam em matrimnio
Domingos Ro drigues Alves, filho legtimo de Manuel
Rodrigues Alves e de D. Francisca Pereira, natural e batizado
na Freguesia da Correlh, termo da Vila de Ponte de Lima, do
Arcebispado de Braga, e D. Isabel Perptua de Marins, filha
legtima do Alferes Antnio de Paula e Silva e de D. Maria
Lusa dos Anjos Querido, natural e batizada nesta Matriz, e
no receberam as bnos nupciais por ser em tempo feriado,
e ficaram para receb-las post Dominicam in Albis, do que para
constar fiz este assento que assinei com as testemunhas. O
vigrio colado Manuel da Costa Pinto. Francisco Joaquim Pereira.
Incio Jos da Costa.
A primeira testemunha, Francisco Joaquim Pereira, era sogro
de Joo Rodrigues Alves, irmo de Domingos. A esposa deste que era
parenta de Isabel Perptua (Nh Bela).
Com outra filha do mesmo casal Paula e Silva, Guilhermina
Maria das Dores (Nh Mina), casou-se o jo vem Jos Martiniano de
Oliveira Borges, filho de Francisco de Assis e Oliveira Borges, visconde
com grandeza de Guaratinguet e de sua mulher Ana Silvria Umbelina
do Esprito Santo. Homem de grande fortuna e largo prestgio, o
visconde era o maior chefe conservador do chamado Norte de So Paulo.
O Visconde de Guaratinguet era de humilde extrao. Seu pai,
Incio Monteiro, era oficial pintor, depois somente tornado lavrador. Seu
88 Afonso Arinos
Antnio foi o principal chefe eleitoral da regio, Virglio dedicou-se
principalmente lavoura e exportao de caf, como scio do irmo
Francisco, tornando-se tambm seu concunhado. Foi o mais chegado
irmo do Conselheiro.
Pelo lado da av materna, Rodrigues Alves exibe uma das
mais antigas ascendncias paulistas.
Doze so as geraes que o separam de Joo Maciel, nascido
em Viana do Minho e casado em 1570, na vila de So Vicente, com Paula
Camacho.
Interessa notar que um dos seus ascendentes do sculo XVIII,
Capito Incio Vieira Antunes, era tambm antepassado de Campos Sales.
Francisco de Paula Rodrigues Alves nasceu a 7 de julho de 1848,
na Fazenda do Pinheiro Velho, pertencente ao av materno Paula e Silva e
situada nas vizinhanas de Guaratinguet, entre as estradas que atualmente
se dirigem a Aparecida e Cunha. A casa em que nasceu no existe mais. Por
morte do av, a fazenda passou ao pai, que construiu, em 1876, uma bela
sede, hoje em runas. Dentro de uma moldura, na portada, figuravam as
suas iniciais em ferro forjado acompanhadas daquela data. O objeto
encontra-se agora no museu do Seminrio Santo Afonso, em Aparecida.
Ornato semelhante pode ser visto, ainda, na casa residencial de Domingos,
na Praa Conselheiro Rodrigues Alves, em Guaratinguet.
Francisco de Paula foi batizado na igreja matriz a 13 do mesmo
ms de julho, tendo como padrinho o av materno e por madrinha a tia
Guilhermina, com cuja filha, sua prima-irm, veio a se casar. Esta tia,
madrinha e sogra, Nh Mina, esposa, como vimos, de um filho do
Visconde de Guaratinguet, morreu muito idosa, e Rodrigues Alves
sempre lhe dedicou especial carinho.
Na casa paterna, ainda existente, como ficou dito, na praa
principal da cidade (o mesmo logradouro em que hoje se ergue a sua
esttua), Francisco de Paula passou os tempos da infncia. Em companhia
de Virglio e Antnio fez ali os estudos primrios, mas deve ter revelado
desde logo aptides especiais, pois em 1859 o pai resolveu envi-lo o
nico entre os irmos para a corte, a fim de matricul-lo no internato
do Colgio Pedro II, considerado o melhor instituto de educao secundria do pas. Segundo tradio, Rodrigues Alves foi educado no Pedro
90 Afonso Arinos
cs, Ingls, Latim, Religio, Moral, Aritmtica, lgebra, Geometria,
Trigonometria, Geografia, Histria Geral e do Brasil, Cincias Naturais,
Desenho, Msica, Dana e Ginstica. Na segunda srie ministravam-se
os cursos de Latim adiantado, Grego, Alemo, Geografia, Histria, Italiano,
Filosofia, tica e Retrica. Como se v, um programa severo e abundante
de humanidades.
Nos assentos de Rodrigues Alves, conservados na Faculdade
de Direito de So Paulo, figura a pblica-forma de um atestado, passado
em nome do Ministro do Imprio, Marqus de Olinda, da qual consta o
seguinte texto, referente ao seu curso no Colgio Pedro II, cuja redao
confusa foi respeitada:
Fao certo que atentas as provas em exames pblicos
na conformidade dos estatutos do Imperial Colgio Pedro
Segundo, o Senhor Francisco de Paula Rodrigues Alves,
filho de Domingos Rodrigues Alves, natural de So Paulo,
nascido a sete de janeiro [sic] de mil oitocentos e quarenta e
oito, o qual foi apresentado em ato solene pelo reitor do
internato do mesmo Imperial Colgio, o senhor Doutor Joaquim Marcos de Almeida Rego, comendador da Imperial
Ordem da Rosa e Cavaleiro de Cristo, confere ao mesmo
Senhor Francisco de Paula Rodrigues Alves o grau de bacharel
em letras no dia oito de dezembro de mil oitocentos e
sessenta e cinco.
Pelo mesmo documento podemos acompanhar a trajetria
colegial de Francisco de Paula. Ele foi premiado em 1859 com o pri meiro prmio do primeiro ano; em 1860 com o primeiro prmio do se gundo ano; em 1861 com o segundo prmio do terceiro ano; em 1862
com o primeiro prmio do quarto ano; em 1863 com o segundo prmio
do quinto ano; em 1864 com o primeiro prmio do sexto ano e em
1865 com o primeiro prmio do stimo ano.
No era sem motivo que um colega de turma do modesto
menino de Guaratinguet, ele prprio portador de um nome ilustre,
pois chamava-se Joaquim Aurlio Nabuco de Arajo, escreveria mais
tarde nas suas memrias:
92 Afonso Arinos
Lus de Lima e Silva,7 Antnio Ferreira Braga e o historiador Vieira Fazenda.
Terminados com brilho raramente igualado os estudos secundrios, o jovem bacharel em letras retornou a Guaratinguet, em fins de 1865,
para, logo no incio do ano seguinte, iniciar a etapa dos estudos superiores.
FACULDADE DE DIREITO
As primeiras instituies de ensino jurdico, fundadas em So
Paulo e Olinda no ano de 1827, tinham o nome de Academia de Cincias
Sociais e Jurdicas.
O Decreto n 608, de 16 de agosto de 1851, reformou-lhes os
estatutos e o currculo. Os Decretos nos 1.134, de 30 de maro de 1853;
1.836, de 28 de abril de 1854; e 1.568, de 24 de fevereiro de 1855, j do
queles estabelecimentos o nome de Faculdade de Direito.
No dia 5 de maro de 1866, achando habilitado para freqentar as aulas do primeiro ano, Rodrigues Alves requereu admisso
na Faculdade de Direito de So Paulo.
As clebres arcadas do antigo Convento de So Francisco no
eram apenas o centro topogrfico, mas tambm literrio e cvico de So
Paulo.
A capital paulista, que ainda no perdera o seu aspecto colonial, era de fato o burgo de estudantes de que fala um dos seus historigrafos.
Clima mido e frio, vida tediosa e sem recursos, diverses escassas, era natural que os acadmicos de Direito, verdadeiros donos da
cidade, despendessem as energias da juventude, quando fora dos estudos, na literatura e na poltica.
Na gerao de Rodrigues Alves, a embriaguez, o demonismo,
a bomia, eram reminiscncias de outras eras, superadas com a fase mais
ardente do romantismo.
Na literatura dominava a poesia; na poltica, o jornalismo e a
oratria.
7
Filho do Duque de Caxias, morto prematuramente. Nabuco conta que Caxias lhe
dedicava particular afeto por ter sido colega desse filho inesquecvel.
94 Afonso Arinos
Ribeiro de Andrada, nomeado em 1854, foi ministro da Justia e conselheiro
de Estado; seu irmo Jos Bonifcio, o Moo, guia amado dos estudantes
liberais, foi deputado geral, senador, ministro da Marinha e do Imprio; o
Visconde do Bom Retiro foi deputado e senador, presidente de Provncia, ministro do Imprio e Conselheiro de Estado.9
Eis alguns mestres, no de direito mas de poltica, que deveriam
atrair, pelas suas carreiras fecundas, o estudante Francisco de Paula Rodrigues
Alves, porventura o mais forte temperamento poltico da Primeira Repblica.
Eis a escola de cincia poltica que ele freqentou entre 1866 e 1870.
O CURSO JURDICO
Iniciando o curso jurdico, Rodrigues Alves pertenceu turma
mais gloriosa que jamais cursou qualquer faculdade de direito brasileira.
A ela, em certo perodo, pertenceram Rodrigues Alves, Joaquim Nabuco,
Rui Barbosa, Castro Alves e Afonso Pena.
Ricos so os anais da vida acadmica do jovem de Guaratinguet, tanto nos estudos como na ao poltica. To forte era sua vocao para esta que ao que tudo indica nunca sentiu qualquer inclinao
para a literatura. Entre os destacados estudantes de Direito daquela gerao, essa absteno, quanto aos ensaios literrios, era pouco comum.
Para no falar em Castro Alves, lembremos que Nabuco e Rui Barbosa
ensaiaram-se na poesia e Paranhos, estudante, j se iniciava na histria.
At mesmo a oratria e o jornalismo Rodrigues Alves, que
era eloqente na tribuna e exmio na imprensa, os praticou sem a preocupao esttica de um Nabuco, de um Rui ou de um Quintino.
Quanto ao jornalismo poltico ele o exerceu do incio ao fim
de sua carreira, de estudante a presidente. Contudo, nele, o jornalista,
Aos menos familiarizados com a histria do Imprio, convm recordar que a funo
de Conselheiro de Estado era, com a de senador, o mais alto posto da hierarquia
poltica. No se confunda o ttulo de conselheiro (dado por exemplo a Rui Barbosa,
Afonso Pena ou Rodrigues Alves) com a funo de membro do Conselho de
Estado, rgo criado pela Constituio de 1824, suprimido pelo Ato Adicional e
restabelecido pela Lei n 234, de 23 de novembro de 1841.
96 Afonso Arinos
Das sete dissertaes de Rodrigues Alves, que se dizia existirem na Faculdade, apenas duas chegaram ao nosso conhecimento: uma
do primeiro ano, sobre Direito Natural, matria de que era professor
Avelar Brotero, e outra do quinto ano de prtica (Direito Judicirio Civil), cadeira regida pelo Baro de Ramalho.
A dissertao de Direito Natural, datada de 24 de maio de
1866, versou sobre o seguinte tema: A idia de direito independente
da idia de um poder soberano, que o faa executar por meio da fora?
Questo secular, at hoje debatida e no resolvida, constitui o
mago do problema dos limites do poder do Estado e pe em questo a
existncia mesma do Direito Natural. O reconhecimento de um direito superior ao Estado e a ele anterior o nico princpio da filosofia do direito
que justifica a liberdade humana, o que no impede a certos juristas democrticos sustentarem a tese funesta do Estado como origem nica do direito.
Rodrigues Alves, na sua dissertao, defende a possibilidade
da existncia do direito independente do Estado, seguindo a orientao
do professor; f-lo, porm, com a contribuio de idias e opinies pessoais. Expe de forma clara os fundamentos filosficos do Direito Na tural, procurando submeter a eles o que chama direito positivo do
Estado; cita Hobbes, Grocio, Rousseau e Kant para, finalizando, apre sentar com veemncia, na soberania da Polnia, esmagada pelo taco
russo, a prova viva da sobrevivncia do direito contra a fora.
O martrio da Polnia era assunto corrente entre os estudantes
daquela gerao. Castro Alves escreveu, na poesia Deusa Incruenta,
estes alexandrinos:
Quando a Polnia casta, esta Lucrcia nova
Para fugir a um leito arroja-se a uma cova
E mata-se de nojo aos beijos de um czar.
Machado de Assis (recordemos de passagem) tambm pagou
seu tributo moda do tempo e usou a mesma imagem da Polnia-mulher.
Eras feliz demais, demais formosa;
A sanhuda cobia dos tiranos
Veio enlutar teus venturosos dias...
Castro Alves foi, alm de colega, amigo ntimo de Rodrigues
Alves, que, j velho, costumava recitar os versos de fogo do antigo
Meu av, Virglio de Melo Franco, que deixou a Faculdade de So Paulo pouco
antes de Rodrigues Alves nela entrar, descrevia a importncia e solenidade dos
atos.
98 Afonso Arinos
atuais provas de aula, dadas pelos candidatos docncia. No existia a
nota chamada hoje distino. Todos os assentos existentes na Faculdade
sobre o estudante Rodrigues Alves mencionam a sua aprovao, do primeiro ao ltimo ano, com o grau plenamente, que era o mximo.
POLTICA ESTUDANTIL
Na Faculdade de Direito os estudantes j se apresentavam divididos politicamente em liberais e conservadores. Rui Barbosa dominou, desde que veio da Bahia, a ala liberal, na qual encontrou Afonso
Pena. Rodrigues Alves colocou-se sem hesitao entre os conservadores, posio partidria que ele levou dos bancos acadmicos para as bancadas parlamentares e em que se manteve, sem vacilaes e com grande
energia, at a Repblica.
A rigor, refletia-se no meio acadmico o carter da diviso
parlamentar. Era mais partidria, no sentido de facciosa, do que poltica,
no sentido programtico.
Tanto quanto no parlamento, a questo estudantil da poca, que
era a da liberdade dos escravos, dividia irremediavelmente os dois partidos
tradicionais em torno de interesses e fora das linhas partidrias.
O pensamento liberal no estava ainda fixado na abolio
pura e simples, nem a seria por vrios anos. A posio de Castro Alves
era potica e no poltica. A prova disso que o projeto liberal de Dantas,
que Rui Barbosa preparou muito depois, em 1884, s institua a abolio dos sexagenrios, ao passo que aceitava o princpio da indenizao
para a emancipao gradual dos demais escravos.
Esta era, em princpio, tambm, a posio dos conservadores
avanados, e Rodrigues Alves, desde estudante, adotou sinceramente
esse matiz.
Na Faculdade, Rodrigues Alves pertenceu ao grupo do jornal
Imprensa Acadmica, rgo conservador dirigido por Cndido Leito. O
posto de redator-chefe dessa pequena folha era considerado de grande
importncia, e para ele foram eleitos simultaneamente Rodrigues Alves
e Rui Barbosa, em 1869. Rui desinteressou-se da funo em virtude de
suas tendncias liberais. Passou a integrar o grupo do Radical Paulistano.
29 Afonso Pena deve ter sido, nos bancos acadmicos, dos colegas mais chegados a
Rodrigues Alves. Isto no impedia a cerimnia do tratamento entre eles. Veja-se
esta dedicatria, em um belo volume das poesias de Alfred de Musset: Ao meu
distinto Colega e Amigo Dr. Francisco de Paula Rodrigues Alves. So Paulo, 30 de
outubro de 1870. Afonso Augusto Moreira Pena. O livro era presente de formatura
que o bacharel de Minas fazia ao de So Paulo.
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Captulo Segundo
Promotor pblico e juiz de Di re i to em Gu a ra tin gue t De pu ta do pro vin ci al
Sesso de 1872 Sesso de 1873 Sesso de 1874 Sesso de 1875 Casamento
Retorno Assemblia Provincial Sesso de 1878 Sesso de 1879.
Estvo, depois Baro de Resende, de velha famlia mineira, era filho de pai do
mesmo nome, que foi Marqus de Valena e senador do Imprio; era tambm irmo
do Baro Geraldo Resende e genro do Baro da Serra Negra. Veremos adiante suas
relaes com Rodrigues Alves, quando este foi presidente da Provncia.
Jos Fernandes da Costa Pereira Jnior, Francisco Xavier Pinto Lima, depois Baro
de Pinto Lima, e Joo Alfredo Correia de Oliveira, mais tarde presidente do
Conselho, quando Rodrigues Alves foi presidente da Provncia.
Coerente com estas idias que defendia como deputado, Rodrigues Alves,
durante a sua curta presidncia da provncia, no gabinete Cotegipe (1887-1888),
vetou uma lei da Assemblia Provincial que institua o imposto de 400 mil-ris
sobre cada escravo matriculado em So Paulo.
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Livro II
Captulo Primeiro
Deputado Geral A Cmara de 1885 A ltima legislatura do Imprio
Presidente de So Paulo Sesso de 1888 Sesso de 1889.
DEPUTADO GERAL
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Captulo Segundo
Deputado Constituinte Deputado federal por So Paulo Ministro da Fazenda
de Floriano Peixoto.
DEPUTADO CONSTITUINTE
golpe militar de 15 de novembro, instalando inesperadamente a Repblica, deixou o poder civil nas mos do pequeno grupo
de conspiradores que haviam atuado em comum com os chefes do
Exrcito.
Este grupo, para restaurar o estado de Direito, tinha forosamente de ampliar as suas bases. No possua quadros nem influncia no
pas para dominar sozinho a situao, alm de no ser coeso in ternamente. Tornou-se, assim, fatal o apelo a alguns liberais e conservadores
progressistas, para que viessem engrossar as fileiras dos casacas,
sem o que as tni cas de bo tes dou ra dos seri am a rou pa gem da
Repblica.
O adesismo, depois to malsinado pelos republicanos puros,
foi uma imposio das circunstncias, por eles mesmo provocadas.
Nos dois Estados politicamente mais importantes, Minas e
So Paulo, deram-se fatos significativos.
Em Minas, Deodo ro no meou o ade sista Ce s rio Alvim
governador provisrio do Estado e, aps, ministro do Interior, sendo
Alvim prestigiado pelo histrico Joo Pinheiro. Em So Paulo, os
adesistas Rodrigues Alves e Antnio Prado foram convocados pelos
2
3
Joaquim de Sousa Mursa, nascido no Rio Grande do Sul, era coronel do Exrcito
e residia em So Paulo, como diretor da fbrica de ferro de Ipanema. Foi convidado
para a Junta de Governo por ser militar e pelas suas conhecidas convices
republicanas.
V. a respeito o estudo de June Hahner The Paulistas Rise to Power in The
Hispanic American Historical Review, maio 1967.
Tibiri era nome adotado pelo poltico paulista. O seu sobrenome de famlia era
Almeida Prado.
Cerqueira Csar.
Sublinhada no original.
Esta palavra sublinhada no original.
Fac-smile de uma carta de Afonso Pena a Rodrigues Alves, ao tempo em que exerciam a presidncia do
Banco do Brasil e o Ministrio da Fazenda. Arquivo da famlia Rodrigues Alves. O texto da carta
o seguinte: Rio de Janeiro, 23 de outubro de 1893 / R. Alves. / O resultado da con ferncia o que eu esperava. O Banco da Repblica no tem feito presso alguma sobre
o mercado, como sabe. Quando o cmbio esteve firme e para alta tomamos alguns
saques; mas nos afastamos logo que se afrouxou. / No fui hoje ao Banco receando a
umidade, pois ontem no me dei bem com o excesso que fiz. Nada sei, pois, do que
houve na praa. Li na Notcia que tem havido animao no mercado de ttulos
brasileiros. / Pelos jornais ontem vindos da Europa vejo que nos mercados monetrios
tem havido certo retraimento que afetam as prprias consolidadas. Ainda h pouco
tempo eram cotadas a 113, 114, e agora esto a 109 e 109 1/4. O mal-estar geral.
Disponha do / Col. e Am. velho / Affonso Penna
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Captulo Terceiro
Senador por So Paulo Ministro da Fazenda de Prudente de Morais Senador
por So Paulo.
SENADOR POR SO PAULO
Dunshee de Abranches informa que as despesas com a revolta naval, nos governos
de Floriano e Prudente, foram maiores do que os gastos que o Imprio fez na
guerra do Paraguai.
Sublinhado no original.
Sublinhado no original.
A moradia de Rodrigues Alves era, naquela fase, o Alto da Tijuca. Tendo sofrido
uma crise de beribri, foi aconselhado pelo mdico a morar em clima puro e a
tomar banho de cascata (uma forma natural de ducha). O ministro da Fazenda
instalou-se ento no Hotel White, no Alto da Boa Vista, local que ainda possua,
naquele tempo, todo o encanto rstico da poca em que ali morou e escreveu Jos
de Alencar. Segundo informa Gasto Cruls, carioca amoroso da sua cidade, o
Hotel White ficava alm do Alto do lado direito da estrada em direo s
Furnas. Diz ainda Gasto que o hotel era no ponto final da linha das
diligncias, que tomavam os passageiros dos bondes eltricos. A 25 de agosto a
revista ilustrada D. Quixote, de Angelo Agostini, publicou esses jocosos versos, em
que o refgio do ministro era misturado com a queda do cmbio:
Desceu h dias o Rodrigues,
Rodrigues Alves veio h dias,
Lampeiro veio da Tijuca,
Todo catita. Ai! Deus! No brigues
Assim meu bem! Assim machuca!
Vinha lir... Musa, no rias!
....................................................
Descemos ambos, os dois descemos,
Tu da Tijuca, eu dos meus nove;
Ambos fizemos um bonito.
De glrias ambos j vivemos!
Sus! Financeiro de granito!
Quem contestar que venha e prove!
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Livro III
Captulo Primeiro
Presidente de So Paulo Candidato presidncia da Repblica A dissidncia
paulista Plataforma de governo A eleio presidencial.
PRESIDENTE DE SO PAULO
Rodrigues Alves fora dos que se alegraram com a aceitao, por Nabuco, da misso
dada pela Repblica. Os dois se encontraram, quando Rodrigues Alves era senador,
em casa de Jos Carlos Rodrigues, onde Nabuco, por amvel conspirao de
amigos, entrou em contato com dirigentes do novo regime. Quando assentiu em
exercer a misso, Nabuco foi duramente atacado por monarquistas intransigentes.
Mas Rodrigues Alves, adesista e republicano em ascenso, escreveu-lhe, a 29 de
maro de 1899, de Guaratinguet, esta carta:
Nabuco.
Sou muito provavelmente dos ltimos, mas creia que no menos viva a minha
satisfao por ver que, afinal, a grande inteligncia do meu amigo vai se dedicar ao
estudo e soluo de altos interesses de nossa ptria. Sempre alimentei essa esperana e
mais de uma vez, junto a amigos do governo, tive ocasio de exprimir a seu respeito
os meus sentimentos. No quero que V. parta do Brasil sem a segurana da estima
que tenho o prazer de renovar, que aqui fica sempre o mesmo admirador e amigo.
Esta carta deve ter tocado o corao de Nabuco, ferido pela injustia de antigos
companheiros.
Por isso mesmo Vicente Machado, em 1895, fora muito atacado pela imprensa que
apoiava Prudente contra o jacobinismo estimulado por Floriano, ento ainda vivo.
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Captulo Segundo
Pre si den te ele i to Afon so Pena su ce de a Sil vi a no Bran do A formao do
ministrio.
PRESIDENTE ELEITO
Francisco Sales foi o poltico de maior prestgio em Minas nos primeiros anos do
sculo. Foi ele que levou Joo Pinheiro presidncia e que prestigiou jovens
como Carlos Peixoto, Joo Lus Alves, Gasto da Cunha, Calgeras e Melo Franco.
(Sales era padrinho de batismo do autor.)
Bulhes, como j ficou dito, havia sido colega de Rodrigues Alves nos parlamentos
do Imprio e da Repblica.
Tenho como satisfatria esta resposta e, nesse pressuposto, felicito-o pela colaborao de um brasileiro, cujo nome
dar lustre ao seu governo. Convm, entretanto, guardar absoluta reserva at que chegue a esperada soluo.
A carta prometida pelo Baro no chegou a 28 de julho,
porque s foi escrita no dia 18. este o seu texto:15
Berlim, 18 de julho de 1902
Kurfrstendamm n 10 W. 50.
Il.mo e Ex.mo Sr. Dr. Francisco de Paula Rodrigues Alves.
No dia 7 do corrente recebi, em telegrama do Sr. Presidente Campos Sales, o convite com que V. Ex me honrou.
So tantas as consideraes a que devo atender, que ainda por esta mala no posso escrever detidamente a V. Ex,
como desejava. Hei de faz-lo impreterivelmente pela seguinte, que chega ao Rio no dia 11 de agosto, e limito-me agora a
remeter a V. Ex uma cifra e algumas palavras convencionais,
para que o desejvel segredo seja mantido na correspondncia
telegrfica que possamos ter.
Agradeo muito a V. Ex a confiana com que me honra
e asseguro-lhe, de novo, que tenho o melhor desejo de corresponder a ela. Preciso, porm, ver se praticamente possvel
realizar em to pouco tempo mudana para to longe.
De V. Ex admirador e muito atento e agradecido criado
Rio Branco.16
15 Vai copiado do original manuscrito. O mesmo foi feito com os demais documentos
firmados pelo Baro.
Alm da carta endereada a Abranches, o Baro, na nsia de es capar, escreveu outra a Jos Carlos Rodrigues, diretor do Jornal do Comrcio:
Confidencialssima.
Berlim, 22 de agosto de 1902
Meu caro Rodrigues,
Mil agradecimentos pelas belas fotografias que V. me mandou, da inaugurao do monumento de meu pai. Penso que
Marc Ferrez ter feito alguma outra, s do monumento, tomado
de mais perto. Se houver assim, peo-lhe que me mande um
exemplar.
Pela sua cartinha de 25 de julho vejo que V. est informado do convite que recebi. Eu fiz o Brsil de 27 deste ms
afirmar a tal respeito que eu no tinha recebido carta ou telegrama do presidente eleito, ou do Senador estadual Abran ches mencionado na Gazeta de Notcias.
34 Seabra morreu em 1942. Pouco antes de sua morte telefonou-me certa noite para
dizer-me que tinha a inteno de escrever um trabalho sobre Rodrigues Alves.
Pediu-me que solicitasse documentos famlia. Prometi interceder, mas Seabra
no mais me procurou.
35 Em menino, assisti Lauro Mller, em casa de meu pai, referir-se risonhamente aos
ataques violentssimos de Rui.
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Captulo Terceiro
PRESIDENTE DA REPBLICA
odrigues Alves recebia do antecessor um pas preparado para a ao do seu esprito reformista. A Repblica se havia consolidado, com a desesperana dos ltimos saudosistas imperiais e tambm
com a submisso do radicalismo republicano. De qualquer maneira, em
1902, tal como acentuou o prprio Rodrigues Alves, o pas estava politicamente em paz e as instituies pareciam consolidadas.
A poltica dos Estados, de Campos Sales, viera de fato assegurar a supremacia legal de So Paulo, na sucesso dos trs prceres
civis. (Mais tarde, o processo revolucionrio iniciado em 1922 determinaria, com a mesma naturalidade, a supremacia do Rio Grande do Sul.)
Rodrigues Alves era um autntico expoente daquela supremacia paulista. Ele representava, acima de qualquer dvida, a base agrria e cafeeira dominante na economia e nas finanas, apesar dos protestos do
Norte e do Sul; representava o legalismo da Faculdade de Direito de So
Paulo; era o porta-voz autorizado da burguesia progressista do grande
Estado, nos seus ideais de reforma, de solues tcnicas, de paz poltica, de predomnio civil, de imigrao, transporte e povoamento, de conservadorismo econmico e social.
Antes de se empossar, Rodrigues Alves j era alvo da stira
poltica da imprensa carioca. Como de hbito na vida jornalstica brasileira,
tudo servia de pretexto para os ataques e as irreverncias de adversrios,
desafetos ou maliciosos desocupados.
A Fazenda das Trs Barras ainda hoje a maior do Vale do Paraba. Suas terras se
estendem, na plancie, pelos municpios de Guaratinguet e Lorena, e sobem as
encostas da Serra da Bocaina em sucessivos tabuleiros, de onde se desdobram
vistas admirveis sobre o vale e a distante Mantiqueira. Foi adquirida em meados
do sculo XIX pelos Oliveira Borges, mas seus papis datam do tempo da
Colnia. Em 1970 foi vendida pelos descendentes de Rodrigues Alves.
Seu nmero inaugural havia sado a 20 de setembro de 1902.
A eleio estava marcada para 28 de dezembro de 1902, mas o Congresso, por via
de resoluo sancionada pelo Presidente da Repblica, adiou-a para 18 de fevereiro
(decreto de 9 de dezembro).
Aqui revela-se a emulao com Buenos Aires, que motiva em parte a remodelao
do Rio de Janeiro. Prova concreta, veremos, est na abertura da Avenida Central.
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Livro IV
Captulo Primeiro
Rio Branco e a poltica externa A questo do Acre Limites com o Equador
Limites com o Peru Limites com a Colmbia Acordo da lagoa Mirim Cardinalato
brasileiro A primeira embaixada O incidente da canhoneira Panther A Conferncia
Pan-Americana de 1906 Relaes entre Rodrigues Alves e Rio Branco.
RIO BRANCO E A POLTICA EXTERNA
Rio Branco seguiria no mesmo dia, com a famlia, para Petrpolis, provavelmente
por medo da febre amarela.
O livro de Olinto de Magalhes traz dados importantes sobre esse obscuro episdio,
mas no cabe aqui pormenoriz-los.
Rodrigues Alves em uma das suas notas atribui a oposio de Murtinho ao fato de
no ter sido consultado sobre a clusula do tratado que previa a construo da
estrada de ferro MadeiraMamor em terras de Mato Grosso.
11 O pas era orientado por Quintino Bocaiva, que, como republicano histrico,
recebera com reservas a eleio de Rodrigues Alves.
12 Amador del Solar.
13 A casa, situada na Avenida Koeller, fora construda pelos Teixeira Leite e
oferecida em garantia de dvida ao Banco da Repblica. Foi adquirida a este pelo
Conde Paulo de Frontin, provavelmente com financiamento hipotecrio. Frontin
ofereceu a casa a Rodrigues Alves, que no quis compr-la, sendo ele presidente,
por causa da dvida com o banco oficial. Mais tarde, o prdio passou
propriedade do Conde Pereira Carneiro. Em 1904, o governo federal adquiriu o
Palcio Rio Negro para os veres presidenciais.
EX.
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Captulo Segundo
As grandes reformas Passos e a renovao do Rio de Janeiro Lauro Mller e as
obras do porto O Canal do Mangue Frontin e a Avenida Central.
AS GRANDES REFORMAS
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Captulo Terceiro
Osvaldo Cruz e o saneamento A febre amarela A peste bubnica A varola e
a vacina Revoluo contra a vacina A anistia.
Expresso das ameaas com que Rodrigues Alves se defrontou no incio do seu
governo. O Tagarela Coleo Plnio Doyle
A PESTE BUBNICA
difcil fixar, com rigor, a poca em que a peste chegou ao
Brasil. Mal asitico, prprio das grandes concentraes humanas que vivem
em baixas condies higinicas, a peste conhecida desde a antigidade.
Vez por outra, epidemias de peste devastavam a Europa durante a Idade
.............................
ndice Onomstico
A
Abranches, Dunshee de 20, 25, 33, 179,
198, 342
Abranches, Frederico 142, 166, 271,
297, 310, 311, 314, 315
Abreu Fialho 477
Acioli (os) 27
Adelaide 87
Adonias Filho 76
Afonso Celso (conde de) v. Celso Jnior,
Afonso
Agostini, Angelo 197, 211
Aguiar (general) 364, 365, 389
Aguiar, Tobias de 103
Alba, Adelaide Morosine 76
Alberdi 149
Alberto 478
Albuquerque 278
Albuquerque, Diogo Velho Cavalcnti de
223
Albuquerque, Joo Pedroso Barreto de
466
Albuquerque, Ulisses Lins de 22
Alencar Araripe 162
Alencar, Alexandrino de 395
Alencar, Jos de 211
Alexandre (czar) 103
Almeida Barreto 189, 333
Almeida Nogueira 142, 156, 275
Almeida Prado 168
Almeida, Gabriel de Toledo Piza e 214
538
Afonso Arinos
Baleeiro, Aliomar 31
Balzac 37
Barata Ribeiro 45, 348, 489, 491, 492
Barbalho, Joo 193
Barbosa Lima 25, 44, 45, 49, 53, 158,
161, 203, 228, 238, 267, 278, 324, 342,
348, 357, 379, 474, 489
Barbosa Lima Sobrinho 77
Barbosa Rodrigues 448
Barbosa, Antnio Pires 89
Barbosa, Chico v. Barbosa, Francisco
de Assis
Barbosa, Elisirio 197, 297
Barbosa, Francisco de Assis 23, 27, 77,
78, 220
Barbosa, Janurio da Cunha 85
Barbosa, Joo da Silva 230
Barbosa, Joaquim Silvrio de Castro 91
Barbosa, Jos Leme 89, 478
Barbosa, Lus 381, 478
Barbosa, Rui 16, 24, 29, 30, 34, 36, 37,
42, 45, 48, 49, 52, 53, 67, 68, 72, 75, 76,
94, 98, 101, 106, 107, 113, 114, 139,
140, 158, 162,176, 177, 178, 183, 187,
192, 193, 226, 229, 230, 231, 237, 262,
268, 293, 321, 325, 335, 337, 342, 347,
348, 349, 350, 353, 369, 384, 385, 388,
395, 414, 415, 443, 491
Barcelos, Ramiro 226, 229, 231
Barradas 297
Barreto, Edmundo 285
Barros Casal 274
Barros, Antnio Pedroso de 247
Barros, Joo Pedro Alves de 249
Barros, Manuel de Morais e 165, 271
Barros, Prudente Jos de Morais e v.
Morais, Prudente de
539
540
Afonso Arinos
541
Couto, Deolindo 77
Couto, Miguel 337
Croce 13, 14
Cromwell 18
Cruls, Gasto 211, 423, 437
Cruz e Sousa 237
Cruz, Bento 461
Cruz, Osvaldo 39, 77, 258, 282, 325, 326,
404, 421, 461, 462, 463, 464, 465, 466, 470,
471, 472, 475,476, 477, 478, 479, 480,481,
483, 484, 485, 486, 488, 489, 491
Cunha Leito 154
Cunha, Euclides da 13, 245, 337, 356
Cunha, Gasto da 108, 258, 286, 339, 350,
355, 356, 357, 358, 385, 388, 390
Cunha, Godofredo 297
D
DAlva, Oscar 237
DEu (conde) 87, 232
Damasceno, Darci 76
Dantas 98, 135, 136, 139, 140
Drio, Ruben 392
Dawson 354, 368
Delfino, Toms 269
Dilthey 14
Divino, Ana Joaquina do 87
Dodsworth, Eugnio de Andrade 446
Dodsworth, Henrique 77, 464
Dores, Guilhermina Maria das 86
Dria, Franklin 135, 138, 156
Doyle, Plnio 74, 78
Duarte de Azevedo 152
Duarte Manuel Jos 492
Dunham, Jos Valentim 446
Duprat (baro de) 257
542
Afonso Arinos
E
543
Griscon 394
Grocio 96
Gruti 301
Guachalla, Fernando 351
Guanabara, Alcindo 23, 24, 28, 237, 238,
276
Guaratinguet (visconde de) 34, 86, 87,
118, 124, 131
Guedes, Afredo 271
Guilherme (imperador) 380
Guilherme II 299, 377
Guilhermina 87, 124, 172
Guilhobel, Jos Cndido 351
Guimares, J. A. 271
Guimares, Paula 379
Guinle, Eduardo 447, 448
Gurgel do Amaral 477
Gusmo, Alexandre de 348
Gustavo Adolfo 448
H
Hahner, June 168
Halbout, Joo Francisco 89
Hambloch 15
Hardman 215
Hasslocher, Germando 277
Hauriou 16, 18
Haussmann 42, 408
Hay 354
Hrcules 417
Higino, Jos 163, 184
Hitler 377
Hobbes 96
Holanda, Srgio Buarque de 13
Homem de Melo (baro) 89, 448
Horcio 301
544
Afonso Arinos
545
546
Afonso Arinos
547
P
Pacheco Leo 478
Pacheco, Flix 237
Pdua Sales 271
Paine, Thomas 52
Pais de Barros, Antnio 246
Pais de Carvalho 189
Pais, Tot 246, 247
Pandi 388, 390
Pando 352
Paranhos 94, 302
Paranhos Jnior, Jos Maria da Silva 297
Paranhos, Juca 396
Parlagreco, Carlos 316, 371
Parnaba (visconde de) 143, 145
Pasin, Jos Lus 78
Passos 282
Passos, Antnio Pereira v. Mangaratiba
(baro de)
Passos, Ernestina 77
Passos, Francisco Pereira 39, 40, 42, 75,
77, 282, 323, 325, 326, 404, 407, 408, 409,
410, 412, 413, 414, 415, 416, 417, 418, 420,
421, 422, 430, 441, 448, 482
Passos, Maria 77
Pasteur 404
Patrocnio, Jos do 189, 215, 237
Paula Guimares 269
Paulino (conselheiro) 105, 106
Peanha, Nilo 24, 33, 49, 158, 437, 448
Pederneiras, Raul 237
Pedro Afonso (baro de) 258
Pedro I 83, 104, 358, 438
Pedro II 87, 89, 136, 137, 150, 245, 358,
373, 398, 404, 405, 451
Peixoto Gomide 255
Peixoto, Carlos 152, 286, 397
548
Afonso Arinos
Pilatos 252
Pimentel (visconde de) 132
Pinheiro Guedes 297
Pinheiro Machado 23, 25, 28, 32, 37,
48, 67, 106, 114, 158, 193, 207, 208,
209, 210, 226, 228, 229, 231, 258, 262,
264, 265, 267, 268, 269, 270, 274, 286,
289, 291, 293, 294, 328, 333, 348,
349,395, 398
Pinheiro, Joo 106, 157, 161, 286, 289,
326
Pinheiro, Joaquim Caetano Fernandes
89
Pinilla, Cludio 351
Pinto, Alfredo 434, 451
Pinto, Jos Gabriel da Costa 76
Pinto, Manuel da Costa 86
Pio X 360, 361, 365, 366
Piratininga (baro de) 127
Pires Barbosa 134
Pires Brando 149
Pitt 128
Ponce, Generoso 226, 244, 245, 246,
247, 248
Pontes Ribeiro 354
Porcincula, Toms da 173, 208, 209,
226
Porto 214
Porto, Lus da Silva 222
Prado (conselheiro) 145, 147, 151, 394
Prado Jr., Martinho 146
Prado, Antnio 34, 101, 134, 141, 146,
150, 152, 153, 157, 158, 167, 169, 257,
373, 394
Prado, Caio 142
Prado, Eduardo 142, 260, 315, 316, 402
Prado, Paulo 13
549
550
Afonso Arinos
551
Tito 441
Tito Lvio 13
Tocantins, Leandro 342, 343
Tocqueville 15, 53
Toledo, Manuel Dias de 93
Tolentino, Francisco 270
Tootal 233
Torres, Alberto 25, 244
Torres, Oscar Pareto 448
Tosta, Incio 323
Trs Rios (marqus de) 146
Trevelyan, George Macaulay 14, 15, 128
Tucdedes 13
U
Urbano Santos 333
Uruguai (visconde do ) 105, 354
V
Valado 128
Valadares, Clarival do Prado 441
Vanini, Antnio 448
Varela, Alfredo 45
Vargas, Getlio 24, 278, 308
Varnhagem 400
Vasconcelos, Bernardo Pereira de 84, 89,
469
Vasconcelos, Diogo de 134
Vasconcelos, Lus de 446
Vasques, Bernardo 197, 208, 297
Velarde 356, 357
Velho, Pedro 226, 229, 289, 291
Veloso, Leo 435, 451, 491
Venceslau Brs 37, 67, 106, 107, 112, 262
Venceslau Escobar 25
Vergueiro 334
552
Afonso Arinos