Revista Abra 33
Revista Abra 33
Revista Abra 33
AGRRIA
Revista da Associao Brasileira de Reforma Agrria - ABRA
Volume 33 - N 2 AGO / DEZ
Homenagens
Biografia de Jos Gomes da Silva
Homenagem a Jos Gomes da Silva
Ensaios e Debates
A CPMI da Terra na viso dos mandantes
O Parlamento e a criminalizao dos movimentos
de luta pela terra: um balano da CPMI da Terra
CPMI da Terra e a luta de classes no Congresso Nacional
Estado penal e criminalizao do MST ou de como o Judicirio e
mdia fabricam as novas bruxas de Salm uma anlise sobre a
ao das mulheres da Via Campesina nas terras da Aracruz
Campanha Internacional Contra a Violncia no Campo: instrumento
de luta pela reforma agrria e contra a violao dos direitos humanos
A morte ronda os canaviais paulistas
Ministrio Pblico, Meio Ambiente e Questo Agrria
A "No Reforma Agrria" do MDA/INCRA no governo Lula
Assentamentos e Assentados no Estado de So Paulo:
dos primeiros debates as atuais reflexes
Olhos de Papel: A cobertura do jornal O Globo sobre a
luta pela terra no Serto Carioca (1951-1964)
Documentos
Por que Reforma Agrria?
CORREIO DA ALADA
CPMI DA TERRA: Quadro comparativo das
recomendaes dos relatrio vencido e vencedor
REFORMA
AGRRIA
Revista da Associao Brasileira de Reforma Agrria - ABRA
Volume 33 - N 2 AGO / DEZ
Sumrio
S UPLENTES :
Abdias Villar de Carvalho
Guilherme C. Delgado
Srgio Leite
Gerson Teixeira
A Associao Brasileira de Reforma
Agrria uma entidade civil, no governamental, sem fins lucrativos, organizada
para ajudar a promover a realizao do
processo agro-reformista no Brasil, bem
como contribuir para incrementar o padro de vida da populao rural, melhorando a produo, a distribuio dos alimentos e produtos agrcolas, aumentando
as possibilidades de emprego, contendo a
deteriorao ambiental e assegurado o
respeito aos direitos fundamentais do
homem.
D IRETORIA E XECUTIVA G ESTO
2004/2006
P RESIDENTE :
Plnio de Arruda Sampaio
V ICE - PRESIDENTE :
Osvaldo Russo de Azevedo
T ESOUREIRO : Jos Vaz Parente
D IRETORES :
Francisco de Assis Costa
Hugo Herdia (in memoriam)
Moacyr Palmeira
Osvaldo Aly Junior
Pedro Christffoli
Ariovaldo Umbelino de Oliveira
C ONSELHO D ELIBERATIVO
T ITULARES :
Adalberto Martins
Bernardo Manano Fernandes
Joo Luiz Homem de Carvalho
Joo Pedro Stdile
Jos Juliano de Carvalho F
Leonilde Srvolo de Medeiros
Maria Emlia Pacheco
Raimundo Joo Amorim
Regina Bruno
Luis Carlos Guedes Pinto
C ONSELHO E DITORIAL DA
REVISTA "R EFORMA A GRRIA "
Jos Juliano de Carvalho Filho
(Presidente do Conselho e Editor da revista)
Ariovaldo Umbelino de Oliveira
Brancolina Ferreira
Bernardo Manano Fernandes
Fernando Gaiger da Silveira
Guilherme da Costa Delgado
Leonam Bueno Pereira
Leonilde Srvolo de Medeiros
Maria de Nazareth Baudel Wanderley
Marcelo Goulart
Osvaldo Aly Junior
Oriowaldo Queda
Pedro Ramos
Raimundo Pires Silva
Raquel Santos Sant'Ana
Regina Petti
Sergio Pereira Leite
Sonia P. P. Bergamasco
Sonia Novaes Moraes
Tams Szmrecsnyi
Walter Belik
Vera Botta
Editorial ..................................................................................................... 7
Homenagens
Biografia de Jos Gomes da Silva
................................................................... 19
Ensaios e Debates
A CPMI da Terra na viso dos mandantes
SNIA HELENA NOVAES GUIMARES MORAES
........................................................ 33
................................. 41
............................................................................ 67
.................................................................... 73
.................................................................................. 99
................................................................. 111
.......................................................................... 143
J ORNALISTA R ESPONSVEL :
Ari Gomes
E NDEREO :
Rua Vicente Prado, 134, So Paulo - SP
T EL .: (11) 3105-5088
STIO : www.reformaagraria.org
E - MAIL : [email protected]
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................................................................. 165
....................... 203
....................................................................... 227
Documentos
Por que Reforma Agrria?
............................................................................ 245
CORREIO DA ALADA ......................................................................... 251
ANA MARIA ARAJO FREIRE
Editorial
Editorial
Editorial
Paulo de Tarso Caralo, com o texto "Campanha internacional contra a violncia no campo: instrumento de luta pela Reforma agrria e contra a violao dos direitos humanos", denuncia o modelo de desenvolvimento agrrio
- concentrador, excludente, violento e predador - e divulga importante campanha contra a violncia e a impunidade, aprovada no 9 Congresso
Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais - CNTTR, realizado pela
CONTAG em fevereiro de 2005.
Esta edio destaca os acontecimentos acima e aborda outros assuntos relevantes para a nossa realidade agrria.
De incio so registradas as homenagens feitas por Sonia Helena Novaes
Guimares Moraes e Abdias Vilar de Carvalho a Jos Gomes da Silva,
saudoso companheiro de todos ns, fundador da ABRA e exemplar lutador
pela Reforma Agrria e justia no campo. Estas merecidas homenagens tiveram lugar em Porto Alegre por ocasio da Segunda Conferncia Internacional
sobre Reforma Agrria e Desenvolvimento Rural.
Na seo Ensaios e Debates, primeiramente, h o destaque para o tema
"CPMI da Terra", com a publicao de trs artigos: "A CPMI da terra na viso
dos mandantes", de Sonia Helena Novaes Guimares Moraes; "O Parlamento
e a criminalizao dos movimentos de luta pela terra: um balano da CPMI
da Terra", de Srgio Sauer, Marcos Rogrio de Souza e Nilton Tubino; e "CPMI
da Terra e a luta de classes no Congresso Nacional", de Joo Alfredo Telles
Melo, deputado relator. Ainda sobre a CPMI, na seo Documentos consta o
"Quadro Comparativo das Recomendaes dos Relatrio Vencido e
Vencedor". O material, ora publicado, possibilita aos leitores o conhecimento e a anlise do que, de fato, ocorreu no Congresso Nacional.
A seguir, o realce para o tema da "Criminalizao e Violncia no Campo".
Fernanda Maria da Costa Vieira, com o artigo "Estado penal e criminalizao
do MST ou de como o Judicirio e mdia fabricam as novas bruxas de Salm
- uma anlise sobre a ao das mulheres da Via Campesina nas terras da
Aracruz", retrata e discute o comportamento da justia na sociedade atual, ou
seja, mostra que, fundamentalmente, trata-se de "Punir os pobres". O caso da
Aracruz retratado. A autora mostra que o comportamento do judicirio
vivenciado pelas mulheres trabalhadoras e por lideranas do MST "se insere
num processo de criminalizao da misria".
ABRA - REFORMA AGRRIA
Maria Aparecida Moraes escreve sobre os efeitos da atual fase da agricultura capitalista sobre as condies de trabalho. O artigo "A morte ronda os
canaviais paulistas" retrata a explorao imposta aos trabalhadores na festejada rea do agronegcio da cana-de-acar em So Paulo. Coloca em
evidncia as mortes de trabalhadores por exausto, discute as condies subhumanas em que se d a migrao da mo de obra e permite ao leitor relacionar os efeitos do modelo agrcola em So Paulo e nas regies de origem
de muitos trabalhadores. No contexto do agronegcio da cana-de-acar, o
texto denuncia a barbrie no mundo do trabalho.
Por sua vez, Marcelo Pedroso Goulart contribui com artigo "Ministrio
Pblico, Meio ambiente e Questo Agrria". No incio deste editorial j fizemos referncia atuao deste Promotor de Justia e sobre as presses e
ataques que vem sofrendo. O texto apresenta "as noes bsicas que devem
informar a ao do promotor de justia no combate s prticas antiambientais" e prope a atuao efetiva do Ministrio Pblico na poltica agrria. Este
editorial chama a ateno para a forma oportuna e didtica utilizada para a
discusso da relao entre os princpios-essncia da Constituio Federal e a
funo social da propriedade rural.
O tema "poltica agrria" tambm faz parte desta publicao. Ariovaldo
Umbelino de Oliveira, com o artigo "A 'No Reforma Agrria' do MDA/INCRA
no Governo Lula", complementa a edio anterior da nossa revista, dedicada
ao assunto. O artigo rebate os nmeros oficiais, critica a forma enganosa utilizada na divulgao e evidencia o no cumprimento das metas do II PNRA.
O texto traz importante denncia sobre grilagem de terras e apropriao
indbita de terras pblicas da Unio na regio norte.
Sonia Maria P. P. Bergamasco e Luiz Antonio Cabello Norder retomam para
a nossa revista a temtica dos assentamentos de reforma agrria. O artigo
"Assentamentos e assentados no Estado de So Paulo: dos primeiros debates
s atuais reflexes" recupera os debates iniciais sobre a questo em So
Paulo, analisa historicamente os aspectos importantes da organizao poltiABRA - REFORMA AGRRIA
Editorial
ca dos movimentos sociais rurais e dos programas de assentamentos, e discute a presena do Estado e as alternativas de aes frente s demandas dos
assentados.
A questo do tratamento dado pela grande imprensa problemtica da
luta pela terra abordada por Leonardo Soares dos Santos com o texto "A
cobertura do jornal O Globo sobre a luta pela terra no Serto Carioca (19511964)". O autor parte da concepo de Gramsci sobre a questo do jornalismo, analisa os acontecimentos da poca e conclui que a forma como o jornal abordou os conflitos esteve intimamente ligada aos princpios ideolgicos
que orientavam a sua atuao como importante instrumento de hegemonia
privada. As aes dos trabalhadores na luta pela terra, diferente da atuao
dos grileiros, foi tratada como "agitaes perigosas", "obra de agitadores".
Ana Maria Arajo Freire contribui para esta edio com o texto "Por que
Reforma Agrria?", originalmente escrito para o Boletim do Incra. O artigo
apresenta interessante resumo do nosso processo histrico, caracteriza a nossa sociedade como autoritria, discriminatria e elitista, e recoloca a relevncia da reforma agrria.
A revista tambm divulga o documento "El Derecho Agrrio Debe Orientar
El Cambio de la Estrutura Agrria Em Amrica Latina", mensagem do Prof. Rodolfo Ricardo Carrera, presidente da ALADA - Asociacin Latinoamericana de
Derecho Agrrio.
Este editorial termina com uma nota triste. Infelizmente, comunicamos o
falecimento de Hugo Herdia, diretor da nossa entidade. Neste espao, tanto
valorizado por ele, a ABRA presta a sua homenagem ao grande companheiro
de lutas pela reforma agrria e justia na sociedade brasileira.
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Homenagens
Nasceu em Ribeiro Preto/SP. Em 1946, formou-se em agronomia na Escola Superior de Agricultura "LUIZ DE QUEIROZ" da Universidade de So
Paulo/USP, recebendo, nessa ocasio, o Prmio "Epitcio Pessoa", oferecido
pela Sociedade Rural Brasileira, como primeiro aluno de sua turma, o que j
fazia prever a brilhante carreira a se construir. Em 1950 obteve o ttulo de
"MASTER OF SCIENCE" pela University of Illinois, USA e, em 1954, diplomouse como "DOUTOR EM AGRONOMIA" pela Universidade de So Paulo/USP.
A partir de 1963, participou de vrios cursos internacionais sobre Reforma
Agrria, patrocinados pela Organizao dos Estados Americanos (OEA), pelo
Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), pelo Ministrio da Agricultura e Ministrio das Relaes Exteriores de Israel, pelo Instituto Interamericano de Cincias Agrcolas da OEA. Foi bolsista da OEA e dos Governos de Israel, Itlia, Frana e Espanha para visita aos projetos de Reforma Agrria destes pases, alm de bolsista do "Institute of Developing Economies", em Tquio
no Japo. Visitou, por inmeras vezes, os pases da Amrica do Sul para conhecer as experincias de Reforma Agrria, alm de outros na Europa, na ndia, na Repblica rabe Unida, na Unio Sovitica e na China.
Alm de empresrio rural de sucesso, com diversas premiaes oficiais pela
excelncia na atuao relativa ao solo e produo e como engenheiro
agrnomo atuante, Jos Gomes da Silva tem vastssimo currculo no servio
pblico, que iniciou em 1959, como Diretor da Diviso de Assistncia Tcnica
Especializada do Departamento de Produo Vegetal, da Secretaria de
Agricultura do Estado de So Paulo. Chefe do Servio de Expanso de Soja,
coordenou o programa que lanou as bases econmicas da cultura da soja no
sul do pas. Organizou e foi o primeiro Diretor da Diviso de Assistncia Tcnica
Especializada (DATE) da Secretaria da Agricultura do Estado de So Paulo.
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Homenagens
Homenagens
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Importante salientar que, logo no incio de sua carreira, fez parte da equipe,
do ento Secretrio de Agricultura do Governo Carvalho Pinto - Jos
Bonifcio Coutinho Nogueira - que elaborou o PROGRAMA DE REVISO
AGRRIA DO ESTADO DE SO PAULO na dcada de sessenta. Ao mesmo
tempo, sua capacitao para programas de Reforma Agrria e Desenvolvimento Rural dava-se em todos os sentidos, tanto por sua participao e contribuio na prtica dos projetos ensaiados no estado e no pas, como nas
experincias internacionais que pde conferir in loco.
Sobre sua participao na equipe que elaborou o projeto de lei do Estatuto
da Terra, era com riqueza de detalhes que Jos Gomes transmitia sua crena
e idealismo na construo da Lei de Reforma Agrria para o pas. Em suas
palestras e cursos, nas publicaes da ABRA e no prprio livro que escreveu
- "A Reforma Agrria no Brasil", (1971), lembrava que, desde o envio da proposta legal ao Congresso Nacional, a lei j era fortemente combatida pelas
classes proprietrias de planto. Dizia ainda que havia se repetido na esfera
federal, em 1964, o mesmo repdio e fortes reaes adversas que a Reviso
Agrria do Estado de So Paulo tivera em 1960.
Decepcionado com a inrcia e o descaso do governo federal em fazer valer
o Estatuto da Terra, Jos Gomes pediu demisso de seu cargo na Presidncia
da SUPRA e no IBRA. Juntou-se, ento, a outros companheiros desapontados
e, em 1967, fundaram a ABRA - organizao no-governamental que se
manteria, como ele mesmo ironizava, como uma "lamparina sempre acesa" a
cobrar do governo a Reforma Agrria do ESTATUTO DA TERRA.
O Doutor Jos Gomes da Silva nunca deixou de prestar contas ao seu pas
e sociedade, de todo o investimento que o Estado e as instituies internacionais lhe proporcionaram ao prepar-lo e capacit-lo como tcnico de alto
nvel nos assuntos ligados Agricultura e Questo Agrria. Era um obstinado pela justia no campo. Como se no bastasse a luta, muitas vezes
"quixotesca", em prol da Reforma Agrria - principalmente nos duros tempos
da ditadura militar no Brasil - preocupava-se em formar novos quadros e
novos entusiastas na matria, fazia questo de passar seus conhecimentos e
no media esforos para atender aos inmeros apelos de universidades, associaes, sindicatos ou de quem quer que fosse e que o quisessem ouvir. Foi
um eterno sonhador e buscava com persistncia as oportunidades para
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Homenagens
Homenagens
exercer efetivamente seus saberes amplos sobre a matria. Procurava trabalhar sempre em equipe e, com esprito de liderana, a todos contagiava. Com
extremo bom humor, sabia conduzir as mais difceis situaes de enfrentamentos ao melhor termo. A ABRA, sob sua direo democrtica, foi uma trincheira
importante e um frum de discusso, de crtica, de divulgao e espao de
aperfeioamento dos estudos sobre a Questo Agrria Brasileira.
A ABRA de Jos Gomes foi apoio Luta pela Terra, foi lugar de acolhimento e incentivo aos movimentos sociais existentes no pas.
O trabalho srio e a respeitabilidade que Jos Gomes da Silva sempre
manteve junto sociedade, junto aos polticos, com o reconhecimento at
dos adversrios, motivou, por mais duas vezes, convocatrias para colaborar
com a administrao pblica em momentos de abertura poltica.
Assim, em 1983, como j salientamos, Jos Gomes foi Secretrio de
Agricultura e Abastecimento do Estado de So Paulo. Razes de sade ensejaram sua prematura substituio, o que no impediu que criasse logo no incio de sua gesto um programa de assentamento inovador no Brasil. A criao do Instituto de Assuntos Fundirios/IAF, na sua Secretaria, viabilizou o
incio dos estudos para a elaborao do "PLANO DE VALORIZAO DE TERRAS PBLICAS DO ESTADO DE SO PAULO", posteriormente transformado
em Lei Estadual. O Programa propiciou o assentamento de "trabalhadores
sem terra" nas reas pblicas do Estado de So Paulo.
A segunda convocao deu-se em 1985 e l estava o Doutor Jos Gomes da
Silva a presidir o INCRA, com grande expectativa de mudanas. Infelizmente,
porm, no era ainda a vez da Reforma Agrria, ampla e massiva, que se preconizava e que se pretendia implantar. O Plano Nacional de Reforma Agrria da
Nova Repblica/PNRA - elaborado com a participao de mais de cem tcnicos
de todas as regies do Brasil - fora grosseiramente adulterado por presso das
classes conservadoras e Jos Gomes, mais outra vez, fiel aos seus princpios ticos, deixou o governo e registrou "as crises da Reforma Agrria na Nova
Repblica" em seu segundo livro intitulado: "Caindo por Terra" (1987).
Em 1988, a Reforma Agrria sofreu outro duro golpe, agora na batalha da
Constituinte, melhor dizendo, no enfrentamento com os representantes da
Unio Democrtica Ruralista/UDR, criada pelos setores mais retrgrados e truculentos do latifndio no pas. O lanamento do terceiro livro "Buraco Negro:
a Reforma Agrria na Constituinte" importante documento de denncias a registrar as frustraes da luta dos setores progressistas, defensores da Reforma
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importante resgatar, neste contexto, as palavras de Plnio de Arruda Sampaio, sobre as qualidades do amigo Z Gomes: "[Ele]...tinha uma virtude,
hoje quase submersa nesse pntano em que se transformou a poltica brasileira: coragem cvica. No fazia questo de contrariar os poderosos, no se
atemorizava diante deles. Voltou para a sua Santana do Baguau, na terra roxa de So Paulo, e ps-se a cuidar do seu caf, da sua cana, da laranja, do
limo." Acrescentou tambm que, depois de ter sado do INCRA e passado
mais decepes com a derrota da Reforma Agrria na Constituinte, Jos Gomes no desistiu da luta e, "nessa poca, passou a colaborar com o PT e com
o Movimento dos Sem Terra. Para o Governo Paralelo, que Lula havia institudo, coordenou a formulao de trs planos: o Plano de Seguridade Alimentar; o Plano de Poltica Agrcola e o Plano de Reforma Agrria. O primeiro
deles constitui[iu] a base tcnica da campanha do Betinho em 1993 - a Ao
da Cidadania contra a Fome, contra a Misria e pela Vida e do CONSEA
(Conselho Nacional de Seguridade Alimentar).Os outros dois foram as diretrizes da proposta de governo feita por Lula, em sua Campanha de 1994.
Com os Sem-Terra, visitou assentamentos. Com os estudantes, falou em universidades. Com os jornalistas, deu entrevistas. Para o pblico, escreveu
livros. Sempre sobre o mesmo tema: o Brasil precisa fazer a Reforma Agrria.
Plnio disse ainda que "... de todas as qualidades do Jos Gomes, a que [...]
parece mais digna de admirao, foi a capacidade de superar sua condio
de classe para perceber e jogar-se por inteiro na luta do povo... era um vitorioso, plenamente instalado em sua classe, em sua profisso, em sua terra.
Rompeu com tudo por uma convico, pela paixo por uma causa justa, pelo
entusiasmo em ajudar a construir a Nao."
E em toda essa trajetria de engajamento e amor por seus ideais, contou
com o apoio incondicional de sua esposa, Titina Graziano da Silva, e de seus
filhos - a mdica Maria Anaites Graziano da Silva Turini, a sociloga Vera
Lcia da Silva Rodrigues e o Engenheiro Agrnomo e Economista Jos Francisco Graziano da Silva, estes ltimos responsveis pela publicao pstuma
do livro que seu pai j deixara finalizado, intitulado "A Reforma Agrria Brasileira na virada do Milnio", publicado em 1977.
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Homenagens
Homenagens
Jos Gomes da Silva deixou muitos seguidores ainda hoje um tanto fragilizados
com sua ausncia, mas estimulados sempre por seus valores, por sua obstinao,
seu esprito de luta, seu civismo e por sua enorme solidariedade ao prximo.
Homenagem a
Jos Gomes da Silva
Fonte de referncias:
Informaes de seus familiares
Documentos e dados da Associao Brasileira de Reforma
Agrria/ABRA
Artigos e Textos publicados na coleo do Boletim e da Revista
Reforma Agrria/ABRA
Depoimento de Plnio de Arruda Sampaio, publicado na
Revista da ABRA, vol.26 - jan.-dez. 1996
Convvio pessoal da organizadora desta sntese
1. Agradeo com satisfao e emoo o honroso convite para participar desta mesa em homenagem a Dr.Jos Gomes da Silva. Agradecimento sincero
porque outros pesquisadores mais capacitados do que eu, certamente, dignificariam melhor este momento e o prprio homenageado.
A inaugurao desta Sala com o nome de Jos Gomes da Silva, no prdio
da PUC, por iniciativa do INCRA e nesta Segunda Conferncia Internacional
sobre Reforma Agrria e Desenvolvimento Rural rica no apenas de emoo, de rememoraes, mas em si mesma de muitos simbolismos, dentre os
quais assinalo a semelhana entre espaos e seus significados e destinos. Este
espao de produo do saber e da pesquisa com o locus da reforma agrria,
isto , ocupao de espaos improdutivos para a transformao de enxadeiros em produtores, conforme ele gostava dizer. Ocupar espaos plantar razes, germinar e reproduzir, em termos mais simples, fazer histria. A que
Gomes se dedicou? O qu ele fez, o qu nos legou? Desde sua formatura
como agrnomo at os ltimos momentos de sua vida buscou pela reflexo,
pela divulgao, pela interveno, pela direo em rgos e comisses ocupar espaos para semear a compreenso da realidade nacional, a necessidade de sua transformao e neste processo o lugar especial para a transformao da estrutura fundiria brasileira. A reforma agrria para ele um verdadeiro canal de dignificao da pessoa e de cidadania do trabalhador rural:
Um Pas to grande deve ter lugar para todos; casa, comida e trabalho
podem derivar simultaneamente de um pedao de terra, no no fundo da
selva, longe dos mercados e das querncias do trabalhador rural. A Nao
moderna que o Brasil pretende ser no pode construir uma indstria de
ponta em cima de uma multido de bias-frias, so suas palavras no discurso de posse na presidncia do INCRA, em 11 de abril de 1985.
A universidade o espao democrtico do livre pensar, do livre exprimir, da
busca de novos conhecimentos, tcnicas e tecnologias. Aqui habitam e se produzem intelectuais. No foi isto que ele, tambm, fez com seus quatro importantes
1 - Socilogo. [email protected]
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Homenagens
Homenagens
livros - A Reforma Agrria no Brasil: frustrao camponesa ou instrumento de desenvolvimento, de 1971, Caindo por Terra, de 1987, Buraco Negro,: a reforma
agrria na Constituinte, de 1989, e o livro pstumo, reunindo os seus ltimos e
alguns inacabados escritos - A reforma Agrria Brasileira na Virada do Milnio,
de 1996, como tambm dezenas de artigos, outras tantas conferncias e palestras. Viajou de norte a sul deste pas e at mesmo para outros pases para conhecer os problemas locais e as experincias, aliando, portanto, teoria e experimentos, reflexo e ao. Jos Gomes da Silva, Dr. Gomes, Z Gomes, Gomes, Z
sojinha, nomes variados para um nico caudal de pessoa, foi um intelectual no
sentido universitrio, mas foi sobretudo um intelectual orgnico, no significado
que aprendemos com Gramsci. Por isso Ele no um estranho a este ambiente.
Ele no um intruso nesta platia. Este espao est bem dignificado.
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Uma das aes da Aliana para o Progresso foi formar quadros tcnicos para
a reforma agrria, a seu modelo, claro. A tenso no campo e a bandeira das
reformas de base vo alm da reforma agrria, incluindo reforma urbana, universitria, controle das remessas de lucro das empresas estrangeiras. A intelectualidade seja das universidades, seja dos institutos de pesquisa no ficou ausente deste clima. Nos anos 60 surgem o IBAD com atuao poltica, inclusive
financiando campanhas eleitorais, e o IPES, grupo de estudo com figuras intelectuais de peso, como contra-ponto ao ISEB, surgido na poca de JK e que
agrupava muitos pensadores de esquerda.
O Golpe Militar de 1964, contando com forte apoio da oligarquia agrria,
extingue as Ligas, intervm nos sindicatos rurais, prende e tortura camponeses, exila lideranas rurais e religiosos. Contraditoriamente, trs meses aps,
o Presidente Castello Branco j fala em fazer reforma agrria. Uma das causas do Golpe, a reforma agrria, bandeira certa, mas em mos erradas retorna para o seio do poder militar. Todo arcabouo jurdico e administrativo
para executar a reforma agrria vai ser elaborado pelo governos militares.
No perodo de transio para a redemocratizao do pas, a reforma
agrria exigncia dos trabalhadores atravs da CONTAG com apoio da
Igreja Catlica e de alguns partidos polticos, expressivamente o PMDB e PT.
Em 1985, com o MST e, posteriormente, com outros movimentos, o cenrio
poltico dos movimentos sociais rurais se amplia, o que significa dizer ,tambm, a interlocuo com a sociedade e com os governos.
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Homenagens
Uma reforma agrria verdadeira implica a quebra do poder poltico que se estriba no sistema latifundista de posse e uso da terra
e deve, necessariamente, conduzir a uma redistribuio da renda
no setor primrio, pela incorporao ao processo produtivo da nao de milhes de homens-sem-terra (Reforma Agrria: 183)
Quantos no tentaram confirmar se essa sua teoria tinha um efeito prtico
em suas fazendas? Alguns jornais, quando da discusso do I PNRA, tentaram
encontrar alguns deslizes em sua prtica empresaria.. Nada encontraram. Era
um empresrio rural que ocupava produtivamente as terras, cumpria as obrigaes trabalhistas e sociais. (quem estudou Marx pode compreender o que
significa ser capitalista, mas no atrasado)
4. Dr.Gomes o pesquisador e inovador
Parte da resposta anterior pode ser transcrita para c, quando afirma:
engenheiro agrnomo, que viu na questo fundiria um eixo fundamental do
desenvolvimento do pas.
Quem leu Kautsky lembra-se- do papel da cincia agronmica para o
desenvolvimento do capitalismo na agricultura. Quem leu tambm outros
autores no marxistas contextualizaro o ensino da Economia Domstica e a
Extenso Rural e compreendero igualmente esta definio de Dr.Gomes.
S que um pouco diferente, e que diferena!. O agrnomo o educador do
agricultor, ele conhece e transmite inovaes. Dr. Gomes de uma escola em
que o agrnomo no o funcionrio passivo de um fazendeiro, o vendedor
de pacotes tecnolgicos e de agrotxicos. Como cientista deve colocar a
cincia em funo do desenvolvimento econmico mas com funo social.
nessa direo que ele colocou todos os seus conhecimentos agronmicos no
apenas em suas empresas, mas para a reforma agrria. Em todos os seus
livros e trabalhos, a reforma agrria deve ser acompanhada por uma
assistncia tcnica moderna, em reas que possam responder aos incentivos
tecnolgicos. Ele inverte uma equao muita divulgada no Brasil pelos contrrios reforma agrria, que se resumia em primeiro educar o homem do
campo e criar estruturas tecnolgicas para depois dar-lhe a terra.
Essa postura de Dr.Gomes em compreender a reforma agrria como um
processo de redistribuio da terra com apoio da assistncia tcnica, da eduABRA - REFORMA AGRRIA
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Debates
A CPMI da Terra na
viso dos mandantes
Snia Helena Novaes Guimares Moraes
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Ensaios e Debates
sem homens ou homens sem terras? Onde foi abordada a questo dos conflitos pela posse da terra na regio norte do pas, principalmente, junto aos
eixos rodovirios das Rodovias Belm-Par, da Transamaznica; junto ao rio
Araguaia, junto aos plos agropecurios e agrominerais - mencionando as
empresas Jar Florestal Agropecuria Ltda. com rea de mais de trs milhes
de hectares, ou a Cia. Vale do Rio Cristalino, de propriedade da Volkswagen
com mais de 139 mil hectares de terra. Ambas contando com incentivos da
SUDAM, para a implantao da pecuria extensiva e, portanto, com grande
aporte de recursos vindos dos rgos do governo federal, mas sem gerar
empregos efetivamente no desenvolvimento desses projetos. O Bispo do Par
tambm abordou a questo dos projetos de colonizao feitos por empresas
particulares que igualmente receberam incentivos governamentais, mas que
relegaram ao trgico abandono, os colonos trabalhadores em suas agrovilas.
A omisso por parte do Estado em assumir com aes enrgicas, o combate aos desequilbrios e conflitos fundirios, acaba por incentivar o conservadorismo j dominante e a dar margem a resultados alarmantes como visto
nesse relatrio da CPMI da Terra e, pior, em nome de um falso conceito de
modernidade claramente expresso no discurso dos grandes proprietrios de
terras, representados pelo bloco ruralista no Congresso Nacional.
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Mais uma CPI da Terra no Brasil, alm das anteriores da dcada de setenta, de oitenta e do ano de 2.000, algumas j comentadas por ns, no poderia deixar de evidenciar a conscincia nacional da necessidade da Reforma
Agrria no pas. Alm disso, deveria diante da nao avalizar e recomendar:
1. A firme deciso poltica de implementar a Reforma Agrria no pas;
2. A indicao dos instrumentos legais para o aperfeioamento da legislao agrria existente;
3. O planejamento concreto das aes;
4. Os mecanismos e recursos de execuo.
Esse dever foi rigorosamente cumprido pelo texto da equipe do deputado
Joo Alfredo, mas no ocorreu, e muito diferentemente, no contedo do
relatrio do deputado Lupion, que nega e ignora a questo poltica e social
ancestral e que recomenda, com torpeza, a criminalizao dos movimentos
sociais, que lutam por direitos conquistados e um outro modelo de desenvolvimento. Segundo a lgica da direita crime combater o neoliberalismo
excludente, ou lutar por cidadania e por terras para trabalhar e produzir. No
entanto, como tem sido muito bem evidenciado por Marcos Rogrio de
Souza, assessor especial do gabinete do deputado Joo Alfredo, a instalao
desta CPMI teve, por parte dos ruralistas, endereo certeiro: a clara tentativa
de condenao dos Movimentos Sociais. O relatrio Lupion se mostra vido
por condenar condutas e chega ao extremo de propor que se tipifiquem como
terrorismo as aes do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra.
Por outro lado, pode-se imaginar que a resistncia desses movimentos sociais de presso, mais vigilantes e organizados, est assustando a classe dominante que no tem resposta a dar aos desempregados e sem terra, nesse sistema de produo agrcola concentrador, exportador de commodities, e onde
o trabalho prescindvel e desprezado - a mquina e a alta tecnologia tm
substitudo mais e mais, com eficincia para o lucro do capital, a mo-deobra do trabalhador. E sobre isso, podemos fazer aqui um paralelo e mencionar a anlise de - Viviane Forrester - autora francesa do livro "Horror
Econmico", quando faz severas crticas s polticas neoliberais de nossos
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tempos, no contexto dos recentes protestos de jovens estudantes e desempregados em Paris - e diz a escritora: "os ricos no precisam mais dos pobres. O
desempregado virou uma pessoa suprflua. Vivamos numa civilizao que
explorava os homens, agora ela os elimina... o desempregado fica sem alternativa. Isso ditadura. Dizemos que quando algum perde seu emprego
perde sua dignidade. Ao dizer isso culpabilizamos os desempregados.
Tornamos a vtima culpada." (Entrevista publicada no jornal O Estado de S.
Paulo, em 02/04/2006, caderno J3).
Guardadas as devidas propores e o contexto peculiar, esse relatrio faccioso da CPMI sobre a questo agrria no Brasil, procura tornar os desempregados e excludos da atual estrutura da propriedade capitalista, em
perigosos agressores da sociedade "moderna" de produo. E a qualquer
movimentao ou forma de protesto organizado, que possa chamar a
ateno dos poderes pblicos para esse dbito social - de sculos de
opresso - j motivo para se intentar normas de criminalizao que os
detenham na reivindicao e na luta.
Claro que esta ttica no novidade no pas, em tempos de ditadura militar foram criados o GETAT e o GEBAM, (Grupo Executivo de Terras do
Araguaia e Tocantins e o Grupo Executivo de Terras do Baixo Amazonas),
rgos do governo federal para tratar das questes dos conflitos pela posse
da terra na regio norte. Sob a justificativa de srios riscos Segurana
Nacional e sob o comando do exrcito, passaram a administrar os problemas
fundirios da regio, retirando do INCRA a sua competncia legal. Do
mesmo modo o objetivo foi claro: a militarizao da questo da Reforma
Agrria no Brasil.
forte motivo de preocupao para ns - que apoiamos a luta social e
respeito aos direitos mais fundamentais do homem - o surgimento e a reao
destas foras retrgradas nos dias de hoje, em pleno ou supostamente pleno
regime democrtico. E mais grave ainda inferir que, muito provavelmente,
essas foras do mandonismo local estejam articuladas com interesses no s
de lastro nacional, mas certamente com interesses do capital transnacional.
Todos, que temos conscincia e conhecimento da formao histrica e da
estrutura de dominao das elites no pas, sabemos das desiguais oportunidades que tradicionalmente as classes trabalhadoras enfrentam no acesso
ao emprego e renda. Infelizmente, a luta e a resistncia dos movimentos
sociais sob forma de protestos e ocupaes de terras tem sido a nica
maneira de se fazerem ouvir e, igualmente para exigirem o cumprimento de
direitos, que lhes so garantidos na letra e por fora de lei.
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O Parlamento e a criminalizao
dos movimentos de luta pela terra:
um balano da CPMI da Terra
Srgio Sauer*
Marcos Rogrio de Souza**
Nilton Tubino***
I NTRODUO
A Comisso Parlamentar Mista de Inqurito da Reforma Agrria e Urbana
representou um dos mais importantes componentes da recente conjuntura
agrria brasileira. Criada em setembro de 2003, a chamada CPMI da Terra
concluiu suas atividades em novembro de 2005, rejeitando o parecer do relator oficial da Comisso, Deputado Joo Alfredo (PSOL/CE), e aprovando um
voto em separado apresentado pelo Deputado ruralista Abelardo Lupion
(PFL/PR), que dificulta o avano das polticas de reforma agrria e criminaliza a luta pela terra, materializada na atuao do Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). O voto em separado to reacionrio
que chega a recomendar a aprovao de dois projetos de lei que tipificam as
condutas de quem ocupa terras como crime hediondo e ato terrorista.
O relatrio aprovado representa mais um captulo do processo de criminalizao dos movimentos sociais de luta pela terra. O diferencial, porm, que
o ataque a movimentos sociais e a defensores da reforma agrria parte do
Congresso Nacional. Dito de outra maneira, a perseguio aos sem-terra,
que antes era promovida por setores dos Poderes Executivo e Judicirio,
alcana tambm o Legislativo, tornando ainda mais complexa a superao
da chamada questo agrria brasileira.
O voto vencedor reflete, com grande fidedignidade, a atuao de um segmento parlamentar, acertadamente caracterizado como Bancada Ruralista.
* Srgio Sauer doutor em Sociologia pela Universidade de Braslia e assessor da Senadora Helosa Helena
(PSOL/CE).
** Marcos Rogrio de Souza mestrando em Direito pela UNESP (Campus de Franca) e assessor do Deputado
Joo Alfredo (PSOL/CE). Foi assessor da relatoria da CPMI da Terra.
*** Nilton Tubino assessor do Deputado Federal Ado Pretto (PT/RS).
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Essa bancada atua acima do recorte partidrio, formando um dos mais influentes grupos de interesse do Congresso Nacional.
O objetivo deste texto resgatar a histria e atuao dessa CPMI e analisar o contedo dos relatrios vencido e vencedor. Busca ainda explicitar a lgica e ao da Bancada Ruralista que logrou xito em usar o Parlamento para
criminalizar a atuao dos que lutam por terra.
1. H ISTRICO
DA
CPMI
DA
T ERRA
1 - De acordo com a Constituio Federal (art. 58, 3), um requerimento de CPI necessita do apoio (assinaturas) de 1/3 dos membros da casa do Congresso Nacional onde a mesma ser instalada. No Senado, uma
CPI contra o MST foi defendida por parlamentares como o senador lvaro Dias, defesa essa que lhe deu a
presidncia da CPMI da Terra.
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2 - A CPMI da Terra foi composta por doze (12) senadores e doze (12) deputados titulares, com o mesmo
nmero de suplentes para ambas as Casas do Congresso.
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Por iniciativa de parlamentares defensores da reforma agrria, foram quebrados ainda os sigilos bancrios, fiscais e telefnicos da Unio Democrtica
Ruralista (UDR nacional e do Pontal do Paranapanema/SP) e do Servio
Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR/RS). O objetivo dessas quebras era
investigar a aplicao e uso de recursos pblicos provenientes de convnios
firmados entre a Unio Federal e entidades de trabalhadores e de proprietrios rurais, no perodo de 1998 a 2005.
Uma das tticas utilizadas pelos ruralistas foi de vazar para a imprensa
dados que poderiam sinalizar malversao e uso indevido de recursos pblicos. Em vrias ocasies, antes de qualquer anlise na CPMI, apareceram
publicados na imprensa dados relacionados s entidades e movimentos
agrrios, sempre acompanhados de acusaes diretas de desvios de recursos.
Nenhuma das acusaes foi provada, mas as suspeitas e acusaes contriburam para atingir a imagem das entidades dos trabalhadores sem terra.
Apesar dos discursos enfatizando o papel da CPMI de "investigar toda situao onde poderia haver desvio de recursos", importante observar que os
parlamentares da Bancada Ruralista estavam mobilizados na proteo
incondicional de entidades e lideranas patronais. Foram derrotados, por
exemplo, requerimentos de quebra de sigilos fiscal e bancrio do SENAR
nacional, da Organizao das Cooperativas Brasileiras (OCB) e de Luiz
Antnio Nabhan Garcia, presidente da UDR.3
Durante os trabalhos da CPMI, vrios foram os temas geradores de embates entre a Bancada Ruralista e parlamentares defensores da reforma agrria.
Apesar de participar apenas das audincias e reunies de interesse direto por exemplo, votao de requerimentos de quebra de sigilos das entidades
populares ou de oitivas de proprietrios rurais -, os deputados e senadores
ruralistas negaram sistematicamente a existncia de trabalho escravo no
campo brasileiro. O principal argumento que existe uma confuso tendenciosa com situaes que no passam de descumprimento da legislao trabalhista como, por exemplo, o no registro em carteira e jornadas de trabalho prolongadas.
Outro tema que gerou vrios embates foi a negao explcita da violncia
no campo. A negao se deu em vrias ocasies como, por exemplo, por
meio da contestao frontal aos dados sistematizados e divulgados pela
Comisso Pastoral da Terra (CPT). Isso aconteceu por ocasio do depoimento de Dom Toms Balduino, quando a CPT foi acusada de instigar a violncia divulgando dados tendenciosos que supostamente no passam de disputas entre os sem-terra. Aconteceu tambm durante a visita da CPMI ao
Paran, quando um "relatrio alternativo", resultado de "investigao independente", foi apresentado colocando os prprios sem-terra como autores dos
assassinatos registrados naquele Estado.
3 - Foram aprovadas apenas as quebras de sigilo da UDR e do SENAR/RS devido a casos de instigao explcita violncia, no primeiro caso, e de denncias e investigaes do TCU, no segundo caso, por m versao de
recursos pblicos.
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teceram vrias crticas ao relatrio, mas o relator rebateu cada uma delas com
muita firmeza. Mesmo assim, o texto foi derrotado por 13 votos a oito e uma
absteno. A derrota j era prevista, pois os parlamentares contrrios reforma agrria se recusaram a qualquer tipo de acordo e, desde o incio, os parlamentares que apiam os movimentos sociais eram minoria na CPMI.6
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7 - Votaram contra o relatrio apresentado pelo relator e foram favorveis ao voto em separado os senadores
Csar Borges (PFL/BA), Flexa Ribeiro (PSDB/), Gilberto Goellner (PFL/), Juvncio da Fonseca (PDT/MS),
Mozarildo Cavalcanti (PTB/MT) e Wellington Salgado (PMDB/MG), bem como os deputados Abelardo Lupion
(PFL/PR), Josu Bengtson (PTB/PA), Luiz Carlos Heinze (PP/RS), Max Rosenmann (PMDB/PR), Moacir Micheletto
(PMDB/PR), nyx Lorenzoni (PFL/RS) e Xico Graziano (PSDB/SP).
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Usando a lgica de condenar, perante a opinio pblica, por meio do vazamento de informaes sigilosas para a grande imprensa,8 alm dos dirigentes,
vrios empregados e ex-empregados da ANCA e da CONCRAB foram acusados de "laranjas" e de enriquecimento ilcito antes das oitivas para ouvi-los.
Ao final, estas pessoas - gente pobre que trabalhou ou trabalha como officeboys e em servios gerais nas entidades - no foram indiciadas, nem mesmo
tiveram qualquer peso ao longo do relatrio do Deputado Lupion.
DO RELATRIO DO
D EPUTADO J OO A LFREDO
8 - No se trata aqui de negar que as CPIs so tambm - alm de fruns investigativos - instrumentos de informao da sociedade e de formao da opinio pblica (inclusive porque estas Comisses devem estar diretamente relacionadas com o interesse pblico), mas de uma ttica de vazar informaes sigilosas e no devidamente investigadas com o propsito de antecipar a condenao dos movimentos sociais e suas lideranas perante opinio pblica.
9 - A integra deste relatrio est disponvel no site do Dep. Joo Alfredo (www.joaoalfredo.org.br) e uma verso
est sendo publicada pelo Senado Federal sob o ttulo "Reforma agrria quando? Relatrio da CPI revela as
causas da violncia no campo".
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Segundo o documento, a alta concentrao da propriedade da terra d origem a relaes econmicas, sociais, polticas e culturais cristalizadas em uma
estrutura agrria inibidora do desenvolvimento, entendido como crescimento
econmico, justia social, sustentabilidade ambiental e extenso da cidadania
democrtica populao do campo. O monoplio da propriedade e posse da
terra por uma pequena parcela da populao a grande responsvel pelo
xodo rural, o inchao das grandes cidades e, acima de tudo, o alto grau de
misria e pobreza em que se encontram milhes de brasileiros.
A violncia analisada a partir dos nmeros, origens e causas. O relatrio fez
uma distino entre violncia e conflito. O segundo definido como fruto da luta
histrica dos excludos para trazer esfera pblica demandas reprimidas,
enquanto a violncia a resposta (como uma reao ilegtima) ao conflito. Na
raiz de ambos, no entanto, est a concentrao fundiria e a impunidade.
Depois de asseverar que a concentrao fundiria a principal responsvel pelos conflitos por terra ocorridos em todas as regies do Brasil, assim
como pelos altssimos ndices de violncia existente no meio rural, o relatrio
sustenta que a impunidade dos assassinos estimula a prtica da violncia. Um
dos exemplos citados que, nas duas ltimas dcadas, 1.349 lavradores
foram assassinados em decorrncia da luta por terra, em 1003 ocorrncias
registradas. Apenas 75 dessas ocorrncias resultaram em julgamentos; 64
executores foram condenados e 44 absolvidos. No caso dos mandantes, apenas 15 foram condenados.
De acordo com o relator, h vrias modalidades de violncia contra os trabalhadores. As mais comuns e visveis so as praticadas por agentes pblicos
- sobretudo policiais - e as decorrentes da ao do poder privado. Nessas,
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incluem-se a pistolagem, as milcias privadas e as falsas empresas de segurana privada. Os proprietrios rurais, ante crescente mobilizao dos trabalhadores sem terra, buscam proteger seus interesses por meio de medidas
muitas vezes ilegais, tais como o uso de armas de fogo, inclusive de uso restrito, a pistolagem e a organizao de milcias privadas, acirrando os conflitos
e gerando a violncia no meio rural brasileiro.
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3. C ONTEDO
DO RELATRIO DO
10 - Em maro de 2006, o deputado Abelardo Lupion - antigo presidente da UDR do Paran - foi eleito,
como representante do PFL, presidente da Comisso de Agricultura da Cmara dos Deputados para a
gesto 2006.
11- Curiosamente, o texto do relatrio no informa que as irregularidades encontradas pelo TCU no Instituto
Nacional de Colonizao e Reforma Agrria (INCRA) so relativas administrao do Governo FHC (19952002).
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O quarto captulo trata das experincias recentes de reforma agrria, dedicando apenas sete pginas para relatar a histria de programas de reforma
agrria no Brasil. Sem falar em erros crassos como, por exemplo, definir como "nova repblica" o perodo anterior ao regime militar (p. 65), esse relatrio
afirma que o Governo FHC, de 1995 a 2002, assentou 635 mil famlias (p.
67), reforando um dado que no usado nem mesmo como pea de propaganda oficial do governo anterior.
O quinto captulo dedicado ao ordenamento jurdico da propriedade
fundiria. Tambm uma cpia resumida e distorcida do relatrio apresentando pelo Deputado Joo Alfredo. O sexto captulo, por sua vez, a simples
reproduo de dois acrdos do Tribunal de Contas da Unio (TCU) que versam sobre a atuao do INCRA. Os acrdos referem-se a irregularidades na
atuao do rgo e a superfaturamento em "processos relativos a desapropriao de imveis, formalizados no perodo de 1996 a 2000" (p. 109).
Formulado como uma anlise da violncia no campo nos nove Estados
investigados pela CPMI, o stimo captulo um acinte. Possui apenas 12
pginas, nas quais no h qualquer referncia morte de trabalhadores, trabalhadoras e lideranas populares. Apresenta apenas o ponto de vista das
entidades ruralistas, ignorando completamente a existncia de milcias privadas, trabalho escravo e grilagem de terras no meio rural brasileiro.
Sobre os estados de Pernambuco, por exemplo, cita somente a morte de
um soldado da Polcia Militar, omitindo que, de 2003 a 2005, foram mortos
15 lideranas de trabalhadores rurais. No caso do Par,12 no faz qualquer
meno aos conflitos, depoimentos e denncias feitas CPMI, nem sequer
menciona a morte de irm Dorothy, motivo de uma segunda visita da Comisso ao Par. Quanto situao no Estado do Paran, desconhece denncias contra fazendeiros e entidades ruralistas, a exemplo da UDR estadual, do Primeiro Comando Rural (PCR) e do Sindicato Nacional dos
Produtores Rurais (Sinapro), reduzindo o relato controvrsia envolvendo a
desapropriao da fazenda Araupel, concluindo pela inviabilidade da implantao do assentamento.
digno de registro que o Deputado Lupion foi um defensor incondicional
do Cel. Copetti, ouvido duas vezes pela CPMI da Terra. Esse militar se encontrava preso no Paran, acusado de trfico de armas e formao de milcias
12 - importante lembrar que o Deputado Lupion, acompanhou apenas duas das 10 viagens realizadas pela
CPMI, sendo que uma foi a seu prprio Estado, o Paran.
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para combater sem-terra com financiamento de fazendeiros - inclusive integrantes da UDR13 - no Estado.
(TCU) nos convnios firmados por essas entidades com rgos e entidades
federais. O documento aprovado pela CPMI trata os relatrios preliminares,
elaborados pelos analistas de controle externo do TCU, como se fossem manifestaes daquela Corte de Contas.
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Sem sombras de dvidas, a evocao da Lei de Segurana Nacional explicita o verdadeiro esprito do referido relatrio. Materializando as concepes
da Bancada Ruralista, o documento uma elegia ao autoritarismo social e
econmico, desconhecendo qualquer direito humano dos pobres do campo
em nome do direito sagrado de propriedade.
O relatrio afirma ainda que ANCA, CONCRAB e ITERRA so "a face jurdica do MST", razo pela qual recomenda que sejam acionadas judicialmente
para reparao de danos causados por aes do movimento. Alm disso,
reduz toda a problemtica do campo brasileiro a possvel "mau uso e desvio"
de recursos da Unio repassados para entidades que possuem ligaes com
o MST (ANCA, CONCRAB e ITERRA). Alm de no reconhecer problemas na
estrutura fundiria e na existncia de violncia, trabalho escravo ou milcias
privadas no campo, no faz qualquer recomendao voltada para a melhoria das condies de vida da populao rural.
A concepo autoritria e preconceituosa albergada pelo relatrio vencedor envergonha o Congresso Nacional brasileiro. Alm de criminalizar os
movimentos sociais de luta pela terra e os defensores de direitos humanos que
atuam no meio rural, o relatrio representa uma ode violncia. um verdadeiro manifesto do dio dos ruralistas aos trabalhadores sem terra, representando mais um obstculo no caminho da implementao da reforma
agrria e da justia social no campo brasileiro.
4. A B ANCADA R URALISTA
E A CRIMINALIZAO
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Edlcio Vigna afirma que os parlamentares que compunham a bancada ruralista pertenciam, majoritariamente, aos partidos que formavam a base de apoio
do ento governo do Presidente Fernando Henrique Cardoso (19-95-2002).
Bancada Ruralista e Partidos Polticos
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5
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PFL
PPB
PMDB
PSDB
PTB
PL
PST
PDT
PPS
15 - A declarao das fontes de renda dos deputados foi utilizada para classificar os parlamentares como
"ruralistas". "O critrio utilizado neste trabalho para classificar os parlamentares como ruralistas foi baseado na
declarao dos deputados sobre suas fontes de renda, conforme expresso no Repertrio Bibliogrfico da
Cmara dos Deputados. Foi considerado como componente potencial da Bancada Ruralista o deputado que
declarou, entre as suas fontes de renda, alguma forma de renda agrcola" (Vigna, 2001, p. 9).
16 - Estes dados so da legislatura passada, pois infelizmente no h estudos atualizados sobre a atual composio e perfil desta Bancada no Congresso Nacional.
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O grupo ruralista no se submete, necessariamente, a nenhuma regra, seno a da fidelidade aos seus interesses. Vota unificada somente nas proposies que possam afetar seus negcios no mercado. Nas votaes que no envolvem seus interesses, cada deputado "liberado" para seguir ou no as indicaes das lideranas partidrias, invertendo a lgica do processo legislativo.
O assessor do INESC prossegue a caracterizao da Bancada Ruralista
nos seguintes termos:
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entidades de trabalhadores em diversas reas, tais como cooperao agrcola, educao, sade, cincia e tecnologia, cultura e direitos humanos, irritou
os ruralistas. Isso tudo levou a Bancada Ruralista a usar o Legislativo e seus
instrumentos de atuao como ferramenta de oposio aberta ao dilogo
entre movimentos sociais organizados e o Executivo Federal e contra a implementao de qualquer tipo de poltica agrria. Em outras palavras, a ao
organizada da Bancada Ruralista voltou-se para fazer do Parlamento
Brasileiro mais um espao de criminalizao da luta pela terra.
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Durante a gesto FHC, por exemplo, o processo de criminalizao era promovido pelo prprio Poder Executivo, especialmente pelos rgos encarregados de executar a reforma agrria. Ao perceber que o governo Lula, malgrado suas contradies, no assumiria uma postura autoritria para com os protagonistas da luta pela terra, os ruralistas engendraram o deslocamento do
processo de criminalizao do Executivo para o Legislativo. Com a CPMI da
Terra, a perseguio aos trabalhadores sem-terra, antes promovida por setores
dos Poderes Executivo e Judicirio, alcana tambm o Congresso Nacional.
Outro desiderato da Bancada Ruralista foi o de reforar a tese de criminalizao da esquerda, que vem sendo amplamente sustentada por diversos parlamentares do bloco de oposio ao Executivo. Nesse sentido, asseverou
Marcos Rogrio de Souza (2005, p. 2):
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O que a CPMI da Terra teve de diferente foi que ela marca uma inflexo no
sentido de usar um instrumento de investigao parlamentar (um instrumento
da minoria) para atacar a sociedade civil organizada. Mais que isso, por meio
dela a Bancada Ruralista produziu um relatrio final, no qual consta a explcita criminalizao dos movimentos sociais. Por mais desqualificado que seja,
o relatrio que no deixa de ser um documento do Parlamento brasileiro, que
certamente ser utilizado pelos ruralistas em sua guerra ideolgica contra os
trabalhadores em luta pela terra.
C ONCLUSO
A CPMI da Terra se configurou em espao aberto de uma luta ideolgica,
explicitando claramente a lgica e as intenes conservadoras que dominam
o cenrio do Congresso Nacional. Apesar de ter perdido, ao longo dos dois
anos, o seu lugar como ferramenta privilegiada de crtica e disputa poltica da
oposio com o atual governo, os representantes do agronegcio mantiveram uma atuao acirrada e reacionria a qualquer proposta voltada para a
soluo dos conflitos agrrios.
Ao rejeitar um parecer substancioso, consentneo com a realidade fundiria e que apresenta propostas para agilizar a reforma agrria, a maioria dos
integrantes da CPMI da Terra fez opo por no contribuir para a garantia
dos direitos humanos dos trabalhadores em luta pela terra no campo e na cidade. Por outro lado, ao aprovar o relatrio paralelo, essa mesma maioria
escolheu o caminho da absolutizao do direito de propriedade e da responsabilizao das vtimas pela violncia no campo. A aprovao de um relatrio
com tal carga de reacionarismo comprova que a Bancada Ruralista continua
sendo um dos grupos de interesses com maior fora no Congresso Nacional.
Os movimentos sociais, entidades e organizaes da sociedade civil ligadas
ao tema da reforma agrria manifestaram seu repdio ao relatrio aprovado
pela CPMI da Terra, de autoria do Deputado Abelardo Lupion. O MST, a CPT,
o Sindicado Nacional dos Docentes em Ensino Superior (ANDES) e a ONG
Terra de Direitos divulgaram notas em que afirmam que o relatrio aprovado
criminaliza as vtimas da violncia no campo. O Centro de Direitos Humanos
do Memorial Robert Kennedy, com sede nos Estados Unidos da Amrica, ofereceu-se para divulgar internacionalmente o diagnstico e as propostas
rejeitadas pelos ruralistas, constantes do relatrio do Deputado Joo Alfredo.
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BIBLIOGRFICAS
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pblica que a CPMI da Terra realizou em Braslia. Outro captulo foi dedicado ao exame da questo fundiria urbana, especialmente o despejo violento
de mais de 14 mil famlias da ocupao Sonho Real, ocorrido em fevereiro
de 2005, em Goinia.
Ao final dos trabalhos da CPMI, foi aprovado, por 13 votos a oito, um relatrio paralelo ao nosso, em tensa sesso no dia 29 de novembro de 2005.
A Comisso era composta, em sua maioria, por defensores dos interesses dos
ruralistas que, embora ausentes da maior parte dos trabalhos, compareceram
em peso votao final e aprovaram um texto reacionrio, que premia o latifndio improdutivo e inverte a lgica da histria, transformando as vtimas em
responsveis pela violncia no campo. Suas principais "contribuies" legislativas so dois projetos de lei que tipificam como "atividade terrorista" e "crime
hediondo" as aes de quem ocupa terras como meio legtimo de presso pela realizao da reforma agrria.
O relatrio paralelo, assinado pelo deputado Abelardo Lupion (PFL/PR), ,
infelizmente, o resultado oficial da CPMI, que nem de longe reflete o trabalho incansvel de parlamentares, assessores e colaboradores na construo
do que se convencionou chamar "relatrio vencido" daquela CPI Mista, formada por senadores e deputados federais.
Nosso relatrio buscou atender aos objetivos a que se propunha a Comisso. Procurou sistematizar o debate que vem se dando ao longo de nossa histria em torno da questo agrria brasileira, fazendo um apanhado inclusive
da legislao existente sobre o tema e apresentando propostas para o seu
aperfeioamento. Alm de analisar a estrutura fundiria e apontar as causas
da violncia no campo, aborda o trabalho escravo e a questo indgena; historia o desenvolvimento dos movimentos sociais no campo e revela a estrutura de organizao e os princpios ideolgicos que regem as entidades de proprietrios rurais; compara os programas governamentais de reforma agrria;
rene informaes sobre a demanda por terra e o estoque existente no territrio nacional.
Um captulo extenso, de mais de 300 pginas, retrata os conflitos e as
peculiaridades regionais da questo agrria nos nove estados percorridos. O
Amap no foi visitado mas teve seus problemas analisados em audincia
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Os proprietrios rurais buscam proteger seus interesses por meio de medidas muitas vezes ilegais, como a adoo de armas de fogo, inclusive as de
uso restrito, a pistolagem e a formao de milcias privadas. Enquanto isso se
organizam politicamente, de forma sistemtica, para combater os projetos de
reforma agrria. Nosso relatrio demonstra, tambm, como os ruralistas utilizam suas entidades para financiar - em grande parte com recursos pblicos
- seus interesses de classe. Na ltima dcada (1995-2005), essas organizaes receberam R$ 1,052 bilho dos cofres pblicos, seja por meio de convnios ou mediante contribuio compulsria fixada em lei.
Os conflitos agrrios esto enraizados na forma como a terra foi distribuda ao longo de nossa histria, questo que s pode ser solucionada por uma
reforma agrria ampla e massiva. Cerca de 170 mil famlias vivem em acampamentos beira de rodovias ou em reas ocupadas, espera de um pedao
de cho, enquanto aproximadamente 840 mil esto cadastradas pelo INCRA
como possveis beneficirias da reforma.
O Poder Legislativo no conseguiu remover os entraves legais aos processos de desapropriao e arrecadao de terras para fins de reforma agrria.
Ao longo da histria, a correlao de foras vem sendo favorvel aos grandes
proprietrios, o que resulta na aprovao de leis e documentos que dificultam alteraes na estrutura agrria, a exemplo do relatrio do deputado
Abelardo Lupion.
Pesa sobre o Poder Judicirio a morosidade para decidir sobre as aes de desapropriao e de arrecadao de imveis para fins de reforma agrria, que se
contrape celeridade nos processos de interesse dos grandes proprietrios e
grileiros. Alm disso, os setores conservadores do Judicirio tm sido coniventes
com a impunidade de executores e mandantes de assassinatos de sem-terra.
ABRA - REFORMA AGRRIA
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VIA CAMPESINA
NAS TERRAS DA
ARACRUZ
Fernanda Maria da Costa Vieira**
" preciso lembrar que a finalidade mais importante do processo e da condenao morte no
salvar a alma do acusado, mas buscar o bem
comum e aterrorizar os outros (ut alii terreantur)"
(Manual dos Inquisidores de Nicolau Eymerich)
73
Ensaios e Debates
2 - O direito de resistncia uma garantia prevista na Declarao Universal dos Direitos do Homem e vem
sendo compreendida como um primado na construo de uma sociedade democrtica, marcada pela noo
de justia social. Nossa carta Constitucional tambm garante o direito de resistncia como um exerccio de
cidadania na efetivao do principio fundamental organizador do nosso Estado Democrtico e de Direito, previsto em no artigo 1, III, qual seja: a dignidade da pessoa humana. Ver sobre o tema GARCIA, Jos Carlos.
O MST entre desobedincia e democracia. Em: STROZAKE, Juvelino Jos. (org.). A questo Agrria e a Justia.
SP: Revista dos Tribunais, 2000.
3 - WACQUANT, L. Punir os pobres: a nova gesto da misria nos Estados Unidos. RJ, Instituto Carioca de
Criminologia, Freitas Bastos, 2001.
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O iderio neoliberal se firmou num mundo cada vez mais sem fronteiras,
apresentando-se como nica alternativa vivel (seja no mbito poltico,
econmico, social, ideolgico e mesmo em termos de uma nova tica) crise
do capital vivida nas ltimas dcadas.
Apostando no mercado como nica fora de regulao do social, essa
nova ordem dissemina por toda a sociedade sua lgica mercantil, onde tudo
e todos tm um preo, transformados em mercadorias prontas ao consumo.
Nessa nova ordem tudo que (ou no) slido, no se desmancha, e sim, se
4 - Tal tema foi objeto de pesquisa desenvolvida pela autora na dissertao de mestrado Presos em nome da
lei? Estado penal e criminalizao do MST, defendida no programa de ps-graduao em Direito e Sociologia
da Universidade Federal Fluminense em 2004. Na dissertao analisamos os processos do Pontal do
Paranapanema e verificamos uma reorientao por parte do Judicirio, que tipificar as aes de ocupao
de terra no mais como esbulho possessrio. A partir da reunio num mesmo processo de diversas ocupaes
coletivas, num lapso temporal, tais aes sero tipificadas como formao de quadrilha, gerando um terreno
mais propcio criminalizao do MST e, especialmente, seus coordenadores, que em muitos casos tero a
decretao da priso provisria.
75
Ensaios e Debates
compra, mesmo no ar. A regra geral competir, num jogo permanente, onde
"vale-tudo", pois o importante "vencer ou vencer".
Os indicadores econmicos nos do a dimenso da explorao humana
que o capitalismo neoliberal vem sedimentando. Os ndices apontam para
um processo selvagem de concentrao de renda.
Para o historiador Hobsbawm, esse engessamento do papel do Estado, promovido pela ideologia neoliberal, representa "a tragdia histrica das
Dcadas de Crise", pois "a produo agora dispensava visivelmente seres
humanos mais rapidamente do que a economia de mercado gerava novos
empregos para eles", tal quadro se agrava se tivermos em mente que:
"esse processo foi acelerado pela competio global, pelo aperto financeiro dos governos, que - direta ou indiretamente - eram
os maiores empregadores individuais, e no menos, aps 1980,
pela predominante teologia de livre mercado que pressionava
em favor da transferncia de emprego para formas empresariais de maximizao e lucros, sobretudo para empresas privadas que, por definio, no pensavam em outro interesse
alm do seu prprio pecunirio" 5
A deteriorao dos servios prestados pelo Estado, como sade, habitao,
educao; o crescente nmero de desempregados; a reduo de postos de
trabalho; a massa de excludos sociais: os sem-teto, os sem-emprego, resumindo, os sem-nada que se avolumam nas praas, nos viadutos dos grandes
centros urbanos.
Em 1870, os 20% mais ricos do mundo possuam renda 7 vezes superior
dos 20% mais pobres. Em 1960, a diferena aumentou de 30 para 1. Em
1990 dobrou de 60 para 1. E em 1994, atingiu de 74 para 1. Isso significa
que, para cada 1 dlar produzido pelos 20% mais pobres, os 20% mais ricos
geram US$ 74! Basta dizer que a fortuna dos trs mais ricos do mundo - Bill
Gates, Warren Buffett e Paul Allen - supera a soma do PIB de 41 pases subdesenvolvidos (incluindo o Brasil) e de seus 600 milhes de habitantes! Em
1998, a fortuna das 200 pessoas mais ricas do mundo somava US$ 1,042
trilho - mais que o PIB do Brasil e equivalente renda de 41% da populao
do planeta (2 bilhes e 460 milhes de pessoas)6.
5 - HOBSBAWM, Eric. Era dos extremos: o breve sculo XX: 1914-1991. So Paulo, Companhia das Letras,
1995, p. 404.
6 - Dados obtidos no texto de BETTO, Frei, A avareza. Em: SADER, Emir (org.). Sete pecados do capital. Rio
de Janeiro, Record, 1999, p. 18/19.
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"os 20% mais pobres - cerca de 32 milhes de brasileiros - dividem entre si 2,5% da renda nacional (...). J os 20% mais ricos
abocanham 63,4% da renda nacional (...) Nossa elite 32
vezes mais rica que aqueles que se encontram no andar trreo
da escala social."7
No final de 2003, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE)
lanou seu relatrio: Estatsticas do sculo XX, no qual relata que a diferena
entre o ganho dos mais ricos e os mais pobres em 2001 era de 47 vezes.
Revela ainda que o ndice GINI8 em 1960 era de 0,5, tendo subido a cada
dcada: em 1970 o ndice era de 0,56; em 1980 o ndice foi para 0,59 e
na dcada de 1990, o ndice registra 0,639. No sem razo o Brasil ir figurar na lista dos campes em desigualdade social.
O alto grau de desigualdade social, em especial a partir da dcada de
1990, produto direto da adoo de polticas de gesto neoliberal, pode ser
expressa com extrema clareza nas palavras do Secretrio de Trabalho da
Inglaterra, Robert Reich, ao analisar os ndices de desigualdade em seu pas,
em discurso para o Conselho de Liderana Democrtica, em 22 de
Novembro de 1994, mas que revela uma situao cada vez mais global, na
qual estaramos caminhando "para nos tornar uma sociedade de duas
camadas, composta de uns poucos vencedores e um grande grupo deixado
para trs"10.
No sem razo, nos alerta Boaventura de Souza Santos, que tal modelo
o mais voraz, pois
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Ensaios e Debates
"tanto as causas da violncia quanto a resposta punitiva a ela dirigida procedem da mesma fonte. A violncia obsessiva das gangues de rua e a obsesso punitiva dos cidados respeitveis so
semelhantes no s em sua natureza, mas em sua origem. Ambas derivam de deslocamentos no mercado de trabalho: uma de
um mercado que exclui a participao como trabalhador mas estimula a voracidade como consumidor; a outra, de um mercado
que inclui, mas s de maneira precria. Vale dizer, ambas derivam do tormento da excluso e da incluso precria" 13
11 - SANTOS, Boaventura de S. Reinventar a democracia: entre o pr-contratualismo e o ps-contratualismo. In SANTOS et alii. A Crise dos paradigmas em cincias sociais e os desafios para o sculo XXI. RJ/
Contraponto - CORECON.
12 - "Por cognio bandida pode-se entender a afinidade entre a prtica tica cotidiana e a eroso de
padres institucionais de legalidade democrtica, ou seja, um universo de representaes e aes desprovidas do sentido de reconhecimento da existncia e do direito de interpelao do outro como fonte de convivncia social" in FRIDMAN, L. C. Cognio Bandida. Proposta, Rio de Janeiro, FASE, Dez./Fev. de
2001/02, n 91, p. 41.
13 - YOUNG, Jock. A sociedade excludente. Excluso social, criminalidade e diferena na modernidade
recente. Rio de Janeiro, Revan: Instituto Carioca de Criminologia, 2002, p. 26
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A perda dos laos de solidariedade, em especial pelo crescimento do individualismo fbico14; a viso do outro como um inimigo sempre muito prximo, principalmente pelo crescimento da massa de miserveis nas grandes
cidades; a sensao de instabilidade cotidiana; a sensao de efemeridade
das relaes, estabelecem o que Young chamar de insegurana ontolgica
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Ensaios e Debates
ndices de criminalidade, aponta como sada a privatizao dos espaos pblicos, a forma que a riqueza encontrou para construir seu templo de segurana:
80
2- O
OLHAR INQUISIDOR DO
E STADO P ENAL -
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Ensaios e Debates
Como demonstrativo desse endurecimento com relao aos pequenos delitos, ou s incivilidades, Wacquant chama a ateno para uma srie de prticas persecutrias no cotidiano dos pobres, negros e jovens, como "os decretos municipais limitando ou proibindo a mendicncia, as batidas policiais
contra os sem-teto, a instaurao do toque de recolher para os adolescentes,
aplicados de maneira discriminatria nos bairros marginalizados (s vezes de
maneira totalmente ilegal, como na Frana), e a popularidade de que goza
por antecipao a vigilncia eletrnica, quando tudo indica que ela tende,
no a substituir, mas a somar-se ao aprisionamento."23.
Ao mesmo tempo, essas polticas desvelam uma mesma matriz naturalizadora da pobreza e criminalidade, como um eterno retorno s teorias biologistas de que a maldade, o germe da violncia, se encontra no cdigo gentico. Estas polticas demonstram que Lombroso vive.
Os pequenos conflitos dirios, que poderiam ser solucionados pelo consenso conquistado, via dilogo, na percepo de que o outro um interlocutor,
portador de direitos, iro ser sanados por meio de uma rede institucional marcada pelo discurso penal: ou na justia ou na delegacia de polcia.
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As polticas de tolerncia zero, promovidas pelo Estado, encontram sua correspondente no cotidiano. Dissemina-se pela sociedade como um todo, que
ir apresentar a mesma intolerncia s pequenas desordens urbanas, s
incivilidades das relaes pessoais e sociais.
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Ensaios e Debates
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didas mais ofensivas, dentre elas est a tipificao das ocupaes coletivas como crime de formao de quadrilha, possibilitando assim ao Judicirio o "direito" de decretar a recluso, a priso dos integrantes do movimento.
Dentre os rgos que compem o sistema penal, analisamos os discursos
adotados pelo Judicirio, entendendo a importncia que esse poder possui na
hegemonia conservadora28, na sedimentao de prticas de controle, seletivas, sobre os extratos subalternos.
Para Alessandro Baratta, "tambm o insuficiente conhecimento e capacidade de penetrao no mundo do acusado, por parte do juiz, desfavorvel aos indivduos provenientes dos extratos inferiores da populao. Isto no
s pela ao exercida por esteretipos e por preconceitos, mas tambm pela
exercida por uma srie das chamadas 'teorias de todos os dias', que o juiz
tende a aplicar na reconstruo da verdade judicial"29.
Isso significa dizer que devemos levar em considerao nesse processo de
criminalizao desempenhado pelo poder judicirio, o papel dos valores, a
atitude emotiva, a ideologia por trs de cada deciso de um juiz. O alerta de
Baratta para o fato de que ainda que inconscientemente, a sedimentao
dos esteretipos criminais associados aos extratos inferiores (seletividade e
vulnerabilidade) ir gerar decises por parte dos juzes tambm seletivas.
Trata-se para Baratta da sedimentao no discurso judicial das "teorias de
todos os dias", uma assimilao dos esteretipos contra as classes dos
extratos inferiores, gestando no imaginrio do Juiz um sentido de periculosidade para os indivduos que integram esses extratos
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Ensaios e Debates
distribuio das definies criminais se ressente, por isso mesmo, de modo particular, da diferenciao social. Em geral, pode-se afirmar que existe uma tendncia por parte dos juzes de
esperar um comportamento conforme lei dos indivduos pertencentes aos extratos mdios e superiores; o inverso ocorre
com os indivduos provenientes dos extratos inferiores"30.
Nesse sentido, acreditamos ser de grande valia analisar o processo de criminalizao vivenciado pelo MST, a partir dos discursos dos agentes jurdicos,
pois podemos captar a partir das formulaes desses agentes a construo de
uma ordem social, que busca impor rdeas, ou melhor, cercas jurdicas aos
conflitos entre as classes sociais, impondo um controle sobre os extratos inferiores da sociedade, buscando dessa forma judicializar/normatizar as
relaes sociais31.
3 - A
30 - Ibidem, p. 177/178.
31 - Gizlene Neder ir analisar esse processo, entre o final do sculo XIX e dcadas iniciais do sculo XX, buscando desvelar o papel do pensamento jurdico na sedimentao da ordem burguesa no Brasil. NEDER, G.
Discurso Jurdico e ordem burguesa no Brasil. Porto Alegre: Srgio Antnio Fabris Editor, 1995.
32 - GINZBURG, Carlo. Mitos, emblemas, sinais: morfologia e histria. So Paulo, Companhia das letras,
1989, p. 152.
86
Para que compreendamos o papel que o nosso judicirio se impe no combate ao MST, no podemos perder de vista o papel fundante que a mdia ir
exercer na construo desse imaginrio de periculosidade do movimento, justificando, e mesmo, cobrando aes ofensivas aos seus integrantes.
Para Nilo Batista "o discurso criminolgico miditico pretende constituir-se
em instrumento de anlise dos conflitos sociais e das instituies pblicas, e
procura fundamentar-se numa tica simplista (a "tica da paz") e numa
histria ficcional (um passado urbano cordial; saudades do que nunca existiu, aquilo que Gizlene Neder chamou de "utopias urbanas retrgradas"). O
maior ganho ttico de tal discurso est em poder exercer-se como discurso de
lei e ordem com sabor "politicamente correto". (...) Os conflitos sociais podem
dessa forma ser lidos apenas pela chave infracional: a tragdia fundiria
brasileira reduzida dogmtica do esbulho possessrio (...)"33.
Nesse sentido, a mdia ser um potencializador para os discursos de
endurecimento penal sobre o MST, via proliferao de imagens impostas ao
movimento, de que este representa um movimento de desordeiros, ao mesmo
tempo em que ir massificar as noes de lei, ordem, caos, nao, ressaltando a inoperncia da autoridade no controle efetivo sobre o movimento,
requerendo dessa forma um endurecimento penal sobre seus integrantes34.
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Ensaios e Debates
mesmo o apoio de autoridades pblicas, a comear do presidente da Repblica. Sob o silncio do Legislativo e a omisso
do Judicirio.
Em nome do social patrulham, anestesiam, infringem, cometem
crimes comuns e so tratados com normalidade. Caso os "mtodos" de "luta" do MST fossem empregados pelos demais segmentos da sociedade que desejam melhores condies sociais,
estouraria nas ruas do pas uma brutal guerra civil onde todos
se matariam. H muito o MST deixou de ser movimento social
para se tornar um partido poltico que prega a ditadura do proletariado. No havendo espao para revolues ao gosto vermelho, "no bastam as eleies" que legitimam a chegada ao
poder. preciso o crime, a arruao, a instabilidade institucional, para prevalecer a "verdade" social dos zumbis de Lnin.
A sociedade brasileira est anestesiada pelo discurso "social" de
quem vem se utilizando das liberdades democrticas, que permitem coexistir diferentes posies polticas, econmicas, para
conspirar e derrubar essa liberdade. A imposio de qualquer
regime de fora impede que haja divergncia, oposio e, principalmente, luta armada, como a j praticada pelo MST contra
a sociedade pacfica e desarmada, em nome da justia social.
Fosse em Cuba, um movimento como esse teria sido dizimado
por Fidel no paredo. Em pases cujo regime defendido pelo
MST no existem movimentos de luta social. O que querem
para o Brasil?" (O crime anunciado Paulo Saab/ Dirio do
Comrcio/SP).
No obstante a construo miditica de que se trata de um movimento
propagador da violncia, a realidade se mostra divergente. Em recente relatrio sobre a violncia no campo, a Comisso Pastoral da Terra revela que em
2005 houve um crescimento de 106% de mortes de trabalhadores rurais sem
terra em conflitos possessrios.
Dado que j se revelava no relatrio divulgado em 2003, na qual se
apurou que
88
89
35 - Relatrio da Rede Social de Justia e Direitos Humanos em Colaborao com Global Exchange.
Direitos Humanos no Brasil 2003, p.31.
36 - FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir. Nascimento da priso. Petrpolis, Vozes, 1987, p. 119.
37 - CHAU, M. tica e violncia. Revista Teoria e Debate, n 39, out/nov/dez de 1998, So Paulo,
Fundao Perseu Abramo, p. 35.
Ensaios e Debates
Tal leitura nos permite entender a reao violenta da mdia ao das mulheres da Via Campesina, especialmente a RBS, ligada a Rede Globo, e o
total silncio com relao Aracruz Celulose e s freqentes denncias de
ataques aos direitos humanos perpetrados por essa empresa no seu processo
de expanso territorial, com relao aos quilombolas, povos indgenas, comunidades tradicionais como pescadores e pequenos agricultores familiares
e a degradao ambiental provocada pelo plantio do eucalipto.
Assim, figura-se uma simetria discursiva entre JUIZ - PROMOTOR - DELEGADO DE POLCIA E MDIA no que se refere tentativa de impor um imaginrio penal. Logo, em nome da lei e da ordem justifica-se a operao policial (Polcia Civil/RS) que no dia 21 de maro de 2006, com a presena da
autoridade policial, invadiu a sede da Associao Nacional de Mulheres
Camponesas (ANMC), apreendendo computadores, danificando o patrimnio da entidade, no obstante o mandado judicial determinar apenas a
busca e apreenso na Associao de Mulheres Trabalhadoras Rurais do Rio
Grande do Sul - AMTR-RS.
Tal operao no produziu indignao na mdia e se legitimou pelo
Judicirio a partir do recebimento da denncia da promotoria, que diante
dessas operaes sobre organizaes entendidas como "perigosas", seja qual
for o parmetro definidor da periculosidade, se guiar pela sedimentao do
papel simblico do direito penal38, marcado em grande medida pelo iderio
persecutrio penal irracional.
Nessa perspectiva que se torna concebvel o convencimento apontado
pelo Ministrio Pblico para o oferecimento da denncia em face dos trinta e
sete integrantes da Via Campesina. Mais grave ainda quando se sabe que tal
denncia, desprovida de justa causa para o seu oferecimento, foi recebida
pelo Judicirio.
No texto da denncia, h uma tentativa de criminalizao dos que so compreendidos como lideranas:
"O domnio do fato foi exercido pelos denunciados (...), os quais
planejaram e organizaram a empreitada criminosa, valendo-se
de suas condies de representantes das entidades conhecidas
como Via Campesina, Associao das Mulheres Trabalhadoras
38 - Ver CHOUKR, Fauzi Hassan. Processo penal de emergncia. RJ, Lmen Jris, 2002; e ANDRADE, Vera R.
P. de. A Iluso de segurana jurdica. Do controle da violncia violncia do controle penal. RS, Livraria do
Advogado, 2003.
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Rurais da Regio Sul do Brasil, Associao Nacional das Mulheres Camponesas e Associao das Mulheres Trabalhadoras Rurais do Rio Grande do Sul e Movimento dos Trabalhadores SemTerra. Alm disso, exceo do denunciado JOO PEDRO
STDILE, todos os demais estiveram presentes ao local dos fatos
e participaram da execuo do crime em anlise, exercendo
funo de liderana e coordenao sobre os demais manifestantes, bem como exercendo atos tpicos de dano.
O denunciado JOO PEDRO STDILE, em que pese no ter
sido comprovada sua presena no local dos fatos, exerceu
funo decisiva no planejamento e na execuo do crime, na
medida em que estimulou os demais denunciados prtica do
delito (participao moral), alm de concorrer materialmente
para a sua consecuo, seja ao colaborar com a sua concepo, seja ao oferecer subsdios tericos para sua execuo,
ou mesmo ao promover a adeso de centenas de simpatizantes
de seu Movimento ao ato que culminou em resultado criminoso"
(denncia do Ministrio Pblico de Barra do Ribeiro/RS - proc.
n 20600001785 - grifo nosso).
Da mesma forma que se torna impossvel saber quem de fato estava na
ao realizada pelas mulheres da Via Campesina, posto que participaram
cerca de duas mil mulheres vendadas, impossvel se estabelecer a participao moral. Tal presuno, que sustenta a denncia, s se valida numa
prtica que visa, de forma emblemtica, criminalizar a liderana dos movimentos sociais, como forma de criar um consenso de que se trata de uma
organizao criminosa, portanto com mtodos organizacionais e hierarquias.
"(...) Assim, lograram articular a quadrilha, organizando eficiente mecanismo de transporte para centenas de manifestantes,
conduzindo-os, em sua maioria armados de foices, faces,
pedaos de madeira e varas de taquara com facas amarradas
extremidade (fotografias das fls. 286, 299, 301 e 313), at o
Municpio de Barra do Ribeiro, onde desencadeou-se o processo de cometimento de crimes de dano qualificado, furto, seqestro e crcere privado, entre outros.
Os documentos apreendidos em poder dos denunciados (e juntados ao inqurito policial) do conta de estrutura funcional
extremamente organizada, constituda e mantida de forma
ABRA - REFORMA AGRRIA
91
Ensaios e Debates
Afinal, como nos lembra Gizlene Neder, "o discurso jurdico, ao erigir normas e constituir (i)legalidades, coloca-nos diante de um Direito que no
esttico, nem mesmo 'positivo'. Ao normatizar, disciplinar e/ou confinar (e
exterminar), apresenta-se como resultante de uma correlao de foras sociais e polticas em formaes sociais historicamente estabelecidas"39.
93
39 - NEDER, Gizlene. Discurso Jurdico e ordem burguesa no Brasil. Porto Alegre: Srgio Antnio Fabris Editor,
1995, p. 98.
"A luta pela terra caracteriza-se pelo ato de posse da terra, fato
de profundo sentido conceitual e que, como ocorrncia histrica, antecede figura da propriedade, mero efeito jurdico construdo pelo direito, para garantir na lenta passagem da formao scio-econmica feudal para a formao capitalista, a
propriedade da terra a quem no estivesse em sua posse efeti-
Seja nas aes cveis (possessrias), seja nas aes criminais, h uma preocupao com a garantia do status quo do direito de propriedade. O simples
ato de ocupar coletivamente a terra j produz uma fissura nesse direito, no
que pese o conceito de funo social criar mecanismos utilitrios para terra,
entendido ainda como absoluto.
Num pas sem tradio democrtica como o nosso, onde nossa elite governante sempre atuou com enormes desconfianas para qualquer organizao
social de trabalhadores, a possibilidade de criminalizao por meio da tipificao em formao de quadrilha ou bando se amplia, em especial para um
movimento, que questionar o cerne do direito burgus, que a prpria propriedade.
A reorientao para crime de formao de quadrilha ou bando ir requerer um processo de 'demonizao' da liderana, isto porque o elemento subjetivo do tipo penal "formao de quadrilha ou bando" o fim de associar-se
para o cometimento de ilcito. Assim, no necessrio que haja a concretizao bem sucedida do crime em si, bastando o simples fato de se associar.
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Ensaios e Debates
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para si ou para outrem, um disco rgido de memria para microcomputador, tipo winchester, preenchido com arquivos e informaes pertinentes atividade industrial realizada no estabelecimento atacado, objeto que pertencia empresa Aracruz Celulose
S/A, e que estava nas dependncias do laboratrio de pesquisas
genticas mantido junto ao Horto Florestal Barba Negra.
Na ocasio, os denunciados, aproveitando-se da ao de
depredao que executavam no local, subtraram o equipamento
acima descrito, conforme planejamento anteriormente definido.
O domnio do fato foi exercido pelos denunciados (...), os quais
planejaram e organizaram a empreitada criminosa, determinando aos co-denunciados, expressamente, o objetivo de furtar o
disco rgido de memria computadorizada.
O denunciado JOO PEDRO STDILE, em que pese no ter
sido comprovada sua presena no local dos fatos, exerceu
funo decisiva no planejamento e na execuo do crime, na
medida em que colaborou para a difuso do animus furandi
entre os demais denunciados, instigando-os a subtrair esse
equipamento especfico, decerto por lhe interessar o contedo
arquivado no disco rgido"
(denncia do Ministrio Pblico de Barra do Ribeiro/RS - proc.
n 20600001785 - grifo nosso e no original).
Mais uma vez o que se observa na construo discursiva do Ministrio
Pblico a tentativa de criminalizao de forma abstrata. Para garantir a
criminalizao das lideranas dos movimentos que integram a Via
Campesina, sustenta a promotoria a partir do elemento subjetivo do tipo
furto, o animus furandi, que vislumbra o desejo de ter para si a coisa alheia.
Dessa forma, a promotoria compe sua denncia com os nomes das lideranas partindo de uma presuno, de um pr-julgamento de que haveria um
interesse a priori para obteno da coisa, sem nenhuma comprovao concreta. Tal imputao no poderia em nome do devido processo legal ter sido
recebida pelo Judicirio.
No que pese a denncia se calcar em indcios, pois se trata de uma tese a
ser verificada ao longo da instruo criminal em contradita com a tese defensiva, tais indcios devem ser fortes no que se refere autoria e materialidade
ABRA - REFORMA AGRRIA
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Ensaios e Debates
do crime, gestando a base para a promoo da denncia, ou, em outros termos, a justa causa para o oferecimento da denncia.
Porm, na denncia analisada no h constrangimento por parte da promotoria em oferec-la por furto sem o menos indcio de autoria e mesmo da
materialidade, pois como o prprio promotor esclarece no seu texto:
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Ensaios e Debates
Campanha Internacional
Contra a Violncia no Campo:
instrumento de luta pela
reforma agrria e contra a
violao dos direitos humanos
Paulo de Tarso Caralo1
O 9 Congresso Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais CNTTR, realizado pela Confederao Nacional dos Trabalhadores na
Agricultura - CONTAG em fevereiro de 2005, aprovou a realizao de uma
Campanha Internacional contra a violncia no Campo no Brasil, a partir de
uma proposta apresentada, naquela oportunidade, pela UITA - Unio
Internacional de Trabalhadores da Alimentao e Agricultura. Ao tomarem
esta deciso, os delegados e delegadas do 9 CNTTR avaliaram a grave situao de violncia, impunidade e violao dos direitos humanos que permanece no campo e compreenderam a campanha como um importante instrumento de combate a esta insustentvel realidade e de reforo luta pela
Reforma Agrria ampla e massiva.
Com o slogan - "Chega de Violncia no Campo - Corte este mal pela raiz",
a campanha foi lanada no dia 07 de maro, de 2006, em Porto Alegre,
como uma das atividades simultneas Conferncia Internacional de
Reforma Agrria e Desenvolvimento Rural, coordenada pela FAO. Alm do
ato de Porto Alegre, esto previstos outros eventos nos demais estados
brasileiros e em alguns pases da Europa e Amrica Latina para apresentao
da proposta e busca de adeso dos diversos setores, numa perspectiva de
ampliao das aes e das parcerias, com o envolvimento daqueles que concordarem com os termos e objetivos da campanha.
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O principal objetivo denunciar o modelo de desenvolvimento agrrio concentrador de terra e renda que promove a excluso social e produtiva, a
degradao do meio ambiente e gerador da violncia no campo.
Buscaremos sensibilizar e obter a solidariedade e o apoio da sociedade civil,
nacional e internacional e o comprometimento dos rgos do Estado para
implantao de polticas contra a violncia e a impunidade e pela realizao
da Reforma Agrria.
O fundamental que a campanha propicie a soma de esforos das entidades, organizaes e personalidades nacionais e internacionais s lutas
cotidianas que os trabalhadores e trabalhadoras rurais desenvolvem em todo
o Brasil. Para tanto, preciso ampliar a compreenso quanto s causas, caractersticas e conseqncias da violncia no campo, assegurando medidas
que possam ir alm da denncia, garantindo aes concretas que levem
erradicao da violncia e ponham fim impunidade.
Com este trabalho e, sem nenhuma pretenso de esgotar o tema, por
demais vasto, trazemos elementos e reflexes sobre alguns aspectos da violncia no campo, procurando demonstrar nossas razes para esta luta.
Esperamos que, com esta campanha, possamos ter uma ampla adeso de
parceiros, pois s uma grande aliana, solidariedade e envolvimento de todos
e todas, seremos capazes de romper com os laos que unem o latifndio e o
agronegcio degradao ambiental, grilagem, excluso, fome enfim,
todas as formas de violncia no campo.
1. As Principais Razes Da Violncia No Campo:
a) A concentrao da terra:
A violncia no campo est diretamente vinculada concentrao da terra
e do poder e ao modelo predador e excludente de desenvolvimento rural, historicamente, implantado no Brasil. A concentrao fundiria no Brasil uma
das maiores do mundo. O Cadastro declaratrio do INCRA - Instituto
Nacional de Colonizao e Reforma Agrria, demonstra que os imveis rurais
com mais de 1.000 hectares representam 1,6% dos imveis cadastrados e
46% da rea total. Segundo, ainda, os dados do INCRA, existem mais de 100
milhes de hectares de terras ociosas no Brasil, ao mesmo tempo que mais
de seis milhes de famlias vivem sem terra e em estado de pobreza extrema,
no campo ou nas periferias das cidades, lutando pela reforma agrria como
alternativa de vida, produo e cidadania.
ABRA - REFORMA AGRRIA
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campanha nacional que prometia terra para morada e produo. Com isso,
uma considervel populao pobre migrou para a regio. Entretanto, se
depararam com a concentrao de terras pelos grandes grupos econmicos
e pecuaristas, com a falta de infra-estrutura e de atendimento bsico, desemprego, malria e muitas outras mazelas. Como alternativas de sobrevivncia
e de produo esta populao partiu para a ocupao de terras pblicas ou
de latifndios improdutivos ou para os garimpos. Muitos foram levados para
o interior das grandes fazendas onde foram submetidos ao trabalho escravo.
Atualmente, a situao se agravou com o avano do agronegcio, especialmente o da produo de soja e pecuria de corte. A regio, considerada
a maior fronteira de ocupao agropecuria e extrativista do pas, padece
com a tradicional grilagem de reas pblicas, a ao dos madeireiros e dos
pecuaristas e plantadores de soja que alteram drasticamente a paisagem e a
vida do povo.
A relao entre a expanso da fronteira agrcola e ampliao do agronegcio com a violncia est confirmada por vrios estudos. Como exemplo,
encontram-se as afirmaes presentes no release imprensa elaborado pela
CPT, por ocasio da apresentao do Relatrio de 2005 sobre os Conflitos
no Campo no Brasil, dizendo que "Relacionando o nmero de conflitos e de
violncia com os dados da populao rural, estes nmeros so significativamente maiores nos estados onde mais cresce e se expande o agronegcio,
regies Centro-Oeste e Norte. O Mato Grosso aparece com o maior ndice,
6,71, seguido pelo Par, 5,15, e depois por Gois, 2,92, Tocantins, 2,82,
Mato Grosso do Sul, 1,89, Roraima, 1,70, Rondnia 1,48 e Amap, 0,87."
Alm destes estados, a monocultura, principalmente, da soja, eucalipto e
cana de acar se expande rapidamente sobre o territrio de vrios outros
como, por exemplo, Maranho, Piau e Rio Grande do Sul, com forte presso
dos grandes produtores sobre as populaes tradicionais, acirrando as situaes de violncia e os despejos forados.
c) A impunidade:
A outra grande razo para a violncia no campo no Brasil , sem dvida,
a impunidade. Ela uma importante cmplice da violncia e traz para a cena,
alm da no penalizao dos responsveis pelos crimes, uma situao de
atemorizao da populao e demonstrao de impotncia das autoridades.
Para se ter uma idia da gravidade da situao de impunidade no campo,
basta que se analise os dados registrados pela CPT - Comisso Pastoral da
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Terra. Durante os ltimos 20 anos foram assassinados mais de 1.385 trabalhadores rurais, lideranas e ativistas ligados aos movimentos sociais de luta
pela terra e pela reforma agrria no Brasil. Destes casos, somente 77 foram
julgados, com a condenao de apenas 15 mandantes e 65 executores. 523
destes assassinatos aconteceram no estado do Par e apenas 10 casos foram
a julgamento, com a condenao de 5 mandantes e 8 executores. Mesmo
assim, todos os executores condenados fugiram da cadeia. Trs fazendeiros
condenados como mandantes de assassinatos de sindicalistas esto em liberdade-um cumpre sua pena em priso domiciliar e os outros dois aguardam
julgamento de recursos em liberdade h dois anos-, devido parcialidade e
morosidade da Justia.
O massacre de Eldorado de Carajs-onde 17 trabalhadores sem terra
foram assassinados pela polcia- um exemplo de como a Justia age no
tratamento dos crimes contra os trabalhadores e trabalhadoras rurais.
Nenhum dos 144 soldados envolvidos no caso foi punido. Os dois comandantes responsveis pela operao, coronel Mrio Colares Pantoja e major
Jos Maria Pereira de Oliveira, apesar de condenados a 264 anos pelo jri
popular, aguardam em liberdade o julgamento de recursos no Superior
Tribunal de Justia
Outro caso emblemtico da impunidade o do assassinato de Margarida
Maria Alves, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Alagoa
Grande, no Estado do Paraba. Ela foi assassinada por defender os direitos
dos trabalhadores e trabalhadoras das plantaes de cana de acar da
regio. Aps mais de 20 anos, com o julgamento adiado por 06 vezes, o tribunal absolveu o fazendeiro Zito Buarque, acusado pelo assassinato.
Ainda como reflexo da situao de impunidade, existem atualmente 266
pessoas ameaadas de morte, segundo dados parciais da CPT. So trabalhadores rurais sem terra, acampados, assentados e agricultores familiares,
dirigentes sindicais, funcionrios pblicos, agentes pastorais, religiosos,
ndios, quilombolas, entre outros. No estado do Par, h uma "Lista dos marcados para morrer", elaborada pelos fazendeiros da regio, na qual constam
nomes de dirigentes sindicais, polticos e lideranas locais que devem ser
eliminados pelos jagunos. O mais triste que, apesar das inmeras denncias feitas s autoridades municipais, estaduais e federais, as ameaas so
cumpridas e a lista, s no diminui porque no lugar dos assassinados, novas
vtimas em potencial so includas na relao, sem que os culpados sejam
punidos pelos seus crimes.
ABRA - REFORMA AGRRIA
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Ensaios e Debates
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barraces mantidos pelos mesmos gatos e so umas das razes para impedirem a sada dos trabalhadores dos locais de trabalho. Alm destas dvidas
foradas, o isolamento e a vigilncia armada de pistoleiros transformam milhares de trabalhadores em escravos. Se tentarem fugir, so torturados e, em
muitos casos, assassinados.
arrastam h muitos anos, com forte resistncia da bancada ruralista, que tem
se valido de vrias manobras para impedir a votao. E, como se trata de
uma PEC, a aprovao depende da maioria dos votos dos parlamentares, o
que torna mais difcil a concluso do processo, dado ao expressivo nmero
de parlamentares com perfil conservador e contrrio aos interesses dos trabalhadores e trabalhadoras.
O nmero real de trabalhadores submetidos escravido no conhecido, pois s possvel o registro daqueles que obtm sucesso na fuga e conseguem oferecer denncia. Estima-se que o trabalho escravo atinge cerca de
25 mil trabalhadores de forma mais ou menos permanente no Brasil. Em
2005, o Grupo Especial de Fiscalizao Mvel do MTE - Ministrio do
Trabalho e Emprego, realizou 81 operaes de combate ao trabalho escravo,
com fiscalizao em 183 fazendas e a libertao de 4.585 trabalhadores.
A maior incidncia do trabalho escravo est nos estados onde h uma forte
expanso da fronteira agrcola sobre a floresta nativa. Esta realidade confirmada pelas operaes realizadas pelo Grupo Especial Mvel de Fiscalizao, que promoveu a libertao de trabalhadores principalmente nestas reas
dos Estados do Par, Mato Grosso, Tocantins, Bahia e Gois. O Par foi o
Estado com o maior nmero de trabalhadores libertos, 1.128 ao todo.
A ao do trabalho do Grupo Especial Mvel de Fiscalizao tem, tambm,
sofrido com a violncia dos fazendeiros. Os exemplos mais marcantes desta
violncia so os assassinatos dos auditores fiscais do trabalho em Una - MG,
ocorrido em 28 de janeiro de 2004 e o ataque a tiros sofrido por um grupo
de fiscalizao no dia 08 de fevereiro de 2006, em uma fazenda no municpio de Nova Lacerda, Mato Grosso.
Apesar de ainda insuficientes e distantes da promessa do governo de
erradicar o trabalho escravo, as aes pblicas de combate ao trabalho
escravo comearam a surtir alguns resultados, com prises temporrias de
fazendeiros; condenaes pecunirias pela justia do trabalho; publicao da
"lista suja" de fazendas flagradas com prtica de trabalho escravo, as quais
sero proibidas de receber financiamento pblico. Entretanto, a impunidade
em relao aos infratores ainda a regra geral. Alm da punio, o esforo
do governo deve se voltar para a implementao de polticas pblicas
amplas, em especial a reforma agrria.
Encontra-se tramitando na Cmara dos Deputados uma Proposta de
Emenda Constituio- PEC - 438-A/2001, que prev o confisco de terras
onde for encontrado trabalho escravo. As negociaes no Congresso se
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4. Principais Reivindicaes:
O Movimento Sindical de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais - MSTTR,
coordenado pela CONTAG, com a execuo da Campanha Internacional
Contra a Violncia no Campo, tem reforado suas reivindicaes pela implementao de um Projeto Alternativo de Desenvolvimento Rural Sustentvel e
Solidrio para o Brasil. Para tanto, fundamental que seja implementada a
Reforma Agrria ampla e massiva e asseguradas as condies para a ampliao e o fortalecimento da agricultura familiar. Como medida de urgncia, exigimos as medidas abaixo, fundamentais para que se construa uma situao
de paz e dignidade no campo:
Cumprimento de todas as metas do PNRA, assegurando o
assentamento imediato e com qualidade de todas as famlias
assentadas;
Colocar em pauta e aprovar imediatamente a Proposta de
Emenda Constitucional (PEC) n 438, de 2001, que altera o
artigo 243 da CF e pune a prtica do trabalho escravo;
Publicar imediatamente a Portaria Interministerial de atualizao dos ndices de produtividade agropecuria
Concluir com rapidez os inquritos de todos os processos judiciais
pendentes, assegurando o julgamento e a priso de todos os culpados pela violncia cometidas contra os trabalhadores e trabalhadoras rurais e demais defensores dos direitos humanos no Brasil.
Tomar medidas efetivas para impedir os despejos ilegais e
arbitrrios;
Promover a retomada das terras pblicas griladas, destinando-as aos projetos de assentamento;
ABRA - REFORMA AGRRIA
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Ensaios e Debates
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preciso que, de imediato, sejam tomadas medidas efetivas como a concluso dos processos de desapropriao, o impedimento dos despejos ilegais
e arbitrrios, a retomada das terras pblicas invadidas por grileiros destinando-as aos projetos de assentamento, a ampliao dos recursos para a erradicao do trabalho escravo e a manuteno do Cadastro de Empregadores,
conhecido como "Lista Suja", alm da suspenso dos planos irregulares de
manejo florestal. Tambm indispensvel que o Congresso Nacional cumpra
o artigo 51 das Disposies Constitucionais Transitrias determinando a reviso das doaes, vendas e concesses de terras pblicas no pas e que coloque em pauta para aprovao imediata a proposta de Emenda Constitucional
que confisca as terras onde se explora o trabalho escravo.
A soluo dos problemas e da violncia contra os trabalhadores e trabalhadoras rurais exige aes permanentes dos Governos, pela realizao da
Reforma Agrria e contra a impunidade e o crime organizado. Devem envolver as instituies do Estado, as polcias, os governos estaduais e o judicirio contra todos aqueles que insistem em desafiar e enfrentar as leis, o Estado de direito e as autoridades constitudas.
urgente que o poder judicirio priorize o julgamento dos crimes contra os
trabalhadores e trabalhadoras rurais e de outras lideranas no campo. Para
por um fim impunidade fundamental concluir com rapidez os inquritos
de todos os casos pendentes, levar a julgamento e manter presos todos os
culpados pelas atrocidades cometidas contra os trabalhadores e trabalhadoras rurais de todo o Brasil.
Sabemos que, mesmo com estas medidas, ainda ser necessrio um grande
esforo para erradicar a violncia no campo no Brasil. Mas acreditamos, tambm, que s a luta ser capaz de alterar os padres atuais de violao de
direitos e de impunidade. Neste sentido, esta campanha internacional contra
a violncia no Campo pretende ser mais um importante instrumento nesta
luta. Esperamos que ela tenha ampla adeso e parcerias com organizaes,
movimentos e personalidades que, assim como ns, acreditam e lutam por
um Brasil Sustentvel e Solidrio, com Reforma Agrria e paz.
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A morte ronda os
canaviais paulistas
Maria Aparecida de Moraes Silva*
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fuligem da cana queimada so: o carbnico, os nitrosos ( sobretudo o monxido e o dixido de nitrognio), e os sulforosos (como o monxido e o dixido
de enxofre). Alguns desses gases vo para a atmosfera e podem reagir com a
gua, gerando cidos nitrosos e sulforosos que, com grande acumulao,
podem gerar chuva cida, prejudicial ao meio ambiente. Alm desses gases,
h a formao de vrios hidrocarbonetos ou aromticos contendo benzeno e
similares, muito prejudiciais sade. (Zampernini, 1997; Allen et al., 2004;
Rocha &Franco, 2003; Oppenheimer et al., 2004).
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Ensaios e Debates
migrantes temporrios, embora esta migrao seja permanentemente temporria, pois esta situao existe desde o incio da dcada de 1960 (Silva,
1999). A partir do ano 2000, no entanto, assiste-se ao processo de mudana
da cartografia migratria. Muitos dos migrantes atuais so provenientes do
Maranho e Piau, estados que, no passado, tinham pouca participao neste
processo. Uma das explicaes dada para a mudana da cartografia
migratria reside no fato de que houve uma enorme intensificao do ritmo
do trabalho, traduzida em termos da mdia de cana cortada, em torno de 12
toneladas dirias. Este fato est diretamente relacionado capacidade fsica,
portanto, idade, na medida em que acima de trinta anos de idade, os trabalhadores j encontram mais dificuldades para serem empregados. Desta
sorte, a vinda destes outros migrantes cumpre a funo de repor, por meio do
fornecimento de maior fora de trabalho, o consumo exigido pelos capitais
cuja composio orgnica maior.
A renda familiar dos entrevistados segundo essa fonte : 71,8% dos entrevistados obtm com o trabalho realizado na prpria regio declaram que a
renda da famlia no atinge um salrio mnimo e das famlias que declaram
renda maior que um salrio, e 86,9% possuem aposentados entre seus membros. Estes dados revelam que 93% dos que saem para trabalhar so homens que se distribuem nas diferentes faixas etrias, sendo que 65,3% se concentram na faixa entre 18 e 35 anos, idade em que o trabalhador possui
maior fora fsica para trabalhos pesados. Os nveis de escolaridade so
baixos: 16% so analfabetos e 45% no atingiram sequer a quarta srie do
ensino fundamental.
Em torno de 40% das famlias tm pelo menos duas pessoas que viajam
todos os anos para trabalhar fora; em 90,8% dos deslocamentos a migrao
no definitiva: os trabalhadores vo e voltam demorando entre cinco a sete
meses e mais da metade constituda de chefes de famlia; 76,6% dos trabalhadores saram mais do que duas vezes para trabalharem nos ltimos 5
anos. Apenas 11,5% dispem de dinheiro para viajar, 56,6% pedem dinheiro
emprestado para familiares ou amigos e 31,9% recebem adiantamento do
gato. A dvida contrada com o gato pode representar o incio da submisso
escravido ou ao trabalho degradante, segundo esse levantamento.
Quanto maneira de aliciamento desses trabalhadores, o relatrio aponta:
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usina dar o seguro desemprego. O segundo passo o transporte que, na maioria das vezes, feito por empresas clandestinas, que na sada, o "gato" oferece ao trabalhador, cachaa,
muitas mulheres em volta do nibus e outras coisas e partem do
municpio geralmente de madrugada, utilizam as estradas vicinais ou at estradas de terra, no trafegando pelas BRs, devido
a fiscalizao da Policia Rodoviria Federal. (Comisso Estadual
de Preveno e Combate ao Trabalho Escravo (CPTE); CPT/PI;
PETAG/PI - PASTARAL DO MIGRANTE/PI e DRT/PI. APOIO:
OIT-Brasil.
Tabela 1
Nmero estimado de trabalhadores
migrantes do MA e PI para S. Paulo
Tabela 2
Safras
Diferena
2000/2001
2001/2002
2002/2003
2003/2004
2004/2005
2005/2006
100
300
1.000
3.000
5.000
6.000
------+ 200
+ 700
+ 2.000
+ 2.000
+ 1.000
116
N
6
34
28
11
15
3
3
2
102
Em %
4,6
26,3
21,7
8,52
11,62
2,3
2,3
1,5
100 %
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Ensaios e Debates
mil pessoas migraram definitivamente desta regio. A grande maioria dos que
ficaram engrossou as fileiras dos migrantes temporrios, principalmente para
a regio de Ribeiro Preto/SP, para o trabalho assalariado do corte da cana
e da colheita do caf (Silva, 1999).
A modificao do sistema de apropriao das terras foi feita graas interveno do Estado, com a criao da Rural Minas, que classificou as terras de
chapadas como reas devolutas, isto , desocupadas, e, portanto pblicas.
Este instrumento jurdico foi o meio pelo qual os governos militares lograram
o desmantelamento da unidade grotas-chapadas, e, conseqentemente, do
mundo campons. As terras foram cedidas ou arrendadas s grandes empresas ou vendidas a preos simblicos. Na dcada de 1970, mais de duzentas
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SERTO PIAUIENSE
Vimos uma realidade muito carente e sofrida de um povo forado a acostumar-se e a saber conviver com longas e freqentes
estiagens. Reunimo-nos durante uma manh chuvosa com o
bispo diocesano e diversos agentes pastorais locais, representantes de comunidades, sindicatos e associaes da regio. Em
companhia de Dom Pedro, que muito amigavelmente nos acolheu e hospedou em sua residncia, visitamos comunidades no
interior dos municpios de So Raimundo Nonato e So Braz,
onde nos encontramos com um grande nmero de trabalhadores j prestes a tomar o rumo de costume, ou seja, regies
distantes pelo pas a fora onde h trabalho e ganho para ao
menos minorar a situao de carncia de suas famlias.
A seca o fenmeno que no explica totalmente a razo desse
xodo anual de piauienses em direo s frentes de oportunidades de trabalho temporrio localizadas em algumas privilegiadas zonas geogrficas do pas; a falta de polticas pblicas
constitui-se num entrave que impede um convvio satisfatrio do
povo nordestino com o semi-rido, forando-o a sair. Em So
Raimundo Nonato, tambm fomos convidados a manter uma
longa entrevista num programa noticioso de rdio igualmente
de audincia e alcance muito significativos. Ouvimos relatos de
atividades de uma Igreja igualmente comprometida e empenhada com a realidade carente e sofrida de seu povo; as pastorais
sociais da diocese desempenham um papel muito relevante na
formao, informao e organizao do povo das comunidades
interioranas; os recursos humanos e materiais oferecidos pela
Igreja diocesana atravs da Critas local em favor da campanha existente no Nordeste brasileiro pela construo de cisternas domiciliares para coletar gua da chuva, um dos grandes exemplos que visibilizam e ao mesmo tempo tornam a Igreja
um sinal de Cristo amoroso e misericordioso para com seu povo (Relatrio Pastoral do Migrante, Guariba, maro de 2006).
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E TRABALHO NO
" INFERNO
VERDE "
Segundo os relatos de trabalhadores, quando migram, em geral, so trazidos pelos gatos, viajam em nibus clandestinos, e, em alguns momentos so
submetidos s condies anlogas s de escravo, segundo denncias da
Promotoria Pblica, do Ministrio do Trabalho e da Pastoral do Migrante, veiculadas pela imprensa local e regional, nacional e at mesmo internacional.
De 2004 a 2005, a Pastoral do Migrante, por meio do agente, Jadir Ribeiro,
registrou 13 mortes, ocorridas supostamente em funo do desgaste excessivo da fora de trabalho. Segundo depoimentos de mdicos, a sudorose,
provocada pela perda de potssio pode conduzir parada cardiorrespiratria. Outros casos se referem ocorrncia provocada por aneurisma, em
funo de rompimento de veias cerebrais. Em alguns lugares, os trabalhadores denominam por birola, a morte provocada pelo excesso de esforo
no trabalho. Para este trabalho, o piso salarial de R$ 410,00, sendo que o
ganho medido pelos nveis de produtividade.
Os nomes dos mortos so os seguintes:
Jos Everaldo Galvo, 38 anos, natural de Araua/MG, falecido em abril
de 2004, no hospital de Macatuba/SP. A causa da morte foi parada cardiorespiratria;
Moiss Alves dos Santos, 33 anos, natural de Araua/MG, falecido no
hospital de Valparaso/SP, devido a uma parada cardiorespiratria;
Em maio de 2004, o trabalhador Manoel Neto Pina, 34 anos, natural de
Caturama/BA, faleceu aps uma parada cardiorespiratria no hospital de
Catanduva/SP.
Lindomar Rodrigues Pinto, 27 anos, natural de Mutans/BA, falecido em
maro de 2005, em Terra Roxa/SP;
Ivanilde Verssimo dos Santos, 33 anos, natural de Cod/MA, teve morte
sbita; trabalhava para a usina So Martinho, faleceu em Pradpolis/SP;
Valdecy de Paiva Lima, 38 anos, natural de Cod/MA, falecido no hospital So Francisco de Ribeiro Preto/SP, em julho de 2005, devido a um acidente cerebral hemorrgico;
Natalino Gomes Sales, 50 anos, natural de Berilo/MG, falecido em agosABRA - REFORMA AGRRIA
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aumentos dos ndices de criminalidade durante a safra, supostamente, provocados por eles, evitando as possveis fugas dos criminosos. Atitudes como
essa se repetem todos os anos, apesar de protestos de vrios setores da
sociedade civil, sobretudo da Pastoral do Migrante, sediada em Guariba. A
ideologia discriminatria, que camufla o preconceito racial, dado que a
maioria dos migrantes no branca, se estende aos residentes, ex-migrantes
nas cidades dormitrios da regio, tornados verdadeiros "outsiders" (negros,
mineiros, nordestinos) em contraposio aos "estabelecidos" (originrios das
cidades, brancos e descendentes de antigos colonos italianos). (Vetorassi,
2006; Silva, 1999, Silva et al., 2006).
Silva (1999), em estudo sobre trabalhadores e trabalhadoras rurais na regio de Ribeiro Preto, aponta que este fenmeno da explorao sempre esteve associado grande oferta de fora de trabalho, proveniente dessas reas
mais pobres do pas e tambm em razo dos condicionantes histricos que definem estes trabalhadores como desqualificados, desvalorizados, valores que
entram na determinao do valor do preo da fora de trabalho. Este fenmeno tem acompanhado o processo de acumulao capitalista em vrios tempos
histricos e em vrios pases. Atualmente, a chamada imigrao ilegal de trabalhadores das reas pobres para as ricas nada mais do que a outra face
desta medalha. Na verdade, a ilegalidade uma forma de rebaixar o valor
desta fora de trabalho, na medida em que os imigrantes no tm acesso aos
direitos sociais trabalhistas e so considerados no cidados, 'indocumentados', obrigados a viver escondidos, podendo ser deportados, presos como criminosos, segundo atestam vrias pesquisas sobre a temtica das migraes internacionais no mundo atual (Servio Pastoral dos Migrantes, 2005).
O paralelo com os imigrantes ilegais nos pases ricos assenta-se no processo de desenraizamento social que atinge tanto estes ltimos quanto os nacionais, temporrios. O desenraizamento inicia-se com a perda das condies objetivas do trabalho, nos locais de origem. O deslocamento espacial
tambm deslocamento cultural e de valores. O universo social destes
espaos diferenciado. Nos locais de origem ainda h muitos traos dos valores de uso, das relaes primrias de sociabilidade, do tempo cclico, da
natureza e no do tempo linear da produo de mercadorias capitalistas.
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As condies de trabalho so marcadas pela altssima intensidade de produtividade exigida. Na dcada de 1980, a mdia (produtividade) exigida era
de 5 a 8 toneladas de cana cortada/dia; em 1990, passa para 8 a 9; em
2000 para 10 e em 2004 para 12 a 15 toneladas! No entanto, em razo dos
critrios impostos, vrios depoimentos demonstram que este montante muito
maior, pois o clculo da produtividade feito a partir da transformao do
metro em toneladas. Ou seja, a partir de clculos aleatrios, a paridade
estabelecida em, por exemplo, X metros = X toneladas. Este sistema chamado "campeo", que consiste no seguinte: antes do corte, um tcnico da usina
recolhe trs amostras de cana de cada talho (rea plantada). Estas canas
so levadas para a usina e pesadas. A partir da so fixados os valores correspondentes de metros e toneladas, segundo estimativas baseadas nas
amostras colhidas. Entretanto, apesar dos critrios cientficos e tcnicos terem
aperfeioado as variedades de cana - cada vez mais visando ao aumento do
teor de sacarose -, as canas no possuem o mesmo peso, nem se encontram
da mesma forma no momento do corte. H canas deitadas, em p,
tranadas, as quais exigem diferentes esforos dos trabalhadores. Assim
sendo, o Sindicato de Cosmpolis desenvolveu um mtodo capaz de diminuir
um pouco o desgaste no tocante: o uso do gancho. O gancho um instrumento de madeira, feito pelos prprios trabalhadores, que substitui, na verdade, os movimentos com as pernas para alinhar a cana para o corte dos
ponteiros, caso estes no sejam retirados antes de serem lanados nas leiras.
A experincia adquirida durante o tempo de trabalho leva criao de
estratgias que visam diminuio do sofrimento no trabalho. Assim sendo,
o gancho, como inveno resultante da experincia laboral, acaba sendo um
mecanismo de resistncia do trabalhador. Este instrumento ameniza as dores
nos braos e nas costas e evita o agravamento das dores nas pernas. Outra
forma de resistncia produzida no eito a troca de cabos do podo pelo
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A metragem feita pelo "campeo" uma amostragem de determinada rea do eito - a escolha ficava a critrio da usina, que
escolhia os piores locais, ou seja, aqueles em que o metro da
cana tinha uma pesagem menor. Alm disso, os fiscais e empreiteiros "roubavam metros" dos cortadores de cana, pois a quantidade de cana no era conhecida por quadra.
A partir de 1988, o Sindicato de Cosmpolis consegue colocar
a quadra fechada na Usina ster. A idia partiu de um dos trabalhadores, que sugeriu que a metragem fosse feita em cada
4 - Todas estas informaes foram oferecidas pela representante do STR de Cosmpolis, durante a primeira
Audincia Pblica, chamada pela Procuradoria Geral da Repblica de So Paulo e pela Plataforma DHESC
(Direitos Econmicos, Sociais e Culturais), sob o patrocnio da ONU, realizada em Ribeiro Preto, no dia 27 de
outubro de 2005, com o fim de apurar as ocorrncias das mortes nos canaviais paulistas.
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seres, cuja condio humana negada (Silva, 1993). Trata-se de um fenmeno, cuja face a negao do sujeito enquanto ser, e sua transformao
em no portador de direitos, algo que causa srias rupturas em sua identidade. Neste contexto, vrios processos contribuem para a progresso do trabalho em direo a simples labor, isto , simples reposio das necessidades fsicas e orgnicas, sem contar que a capacidade de ao, ou seja, da
poltica, suprimida (Arendt 2005).
130
131
DO
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NO VERDE )
132
133
integral das verbas rescisrias); c) prticas anti-sindicais, expressas na poltica da empresa de ameaas aos trabalhadores que
denunciam irregularidades e na recusa em contratar ex-dirigentes sindicais (Relatoria Nacional para o Direito Humano ao
TrabalhoProjeto Relatores Nacionais em DhESCPlataforma
Brasileira de Direitos Humanos Econmicos, Sociais e
CulturaisApoio: Organizao das Naes Unidas - ONUPNUD/UNVProcuradoria Federal dos Direitos do Cidado PGR/MPF).
Ensaios e Debates
No dia 09.03.2006, conforme demanda feita pela Coordenao do projeto dos relatores da Plataforma DHESC e da Relatoria Nacional para o Direito Humano ao Trabalho, foi realizada audincia com o Ministro do Trabalho e Emprego, Sr. Luiz
Marinho, para tratar da situao vivida pelos trabalhadores do
setor canavieiro no interior de So Paulo, bem como a existncia de trabalho escravo no interior de Pernambuco.
Geralmente ficam hospedados em alojamentos mantidos pelas
usinas, ou em casas alugadas por eles prprios ou pelo empreiteiro ou pelo gato. O aluguel pago por esses trabalhadores fica
em torno de R$50,00 e R$100,00 pago por pessoa, por casas
na maior parte das vezes, localizadas em favelas ou cortios da
regio, as quais tm entre dois e quatro cmodos, e chega a ser
dividida por um nmero de quatro a nove pessoas.
Durante a visita realizada ao alojamento Jibia, mantido pela
Usina Santa Helena, do Grupo COSAN, foram constatadas as
seguintes ocorrncias:
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recebeu o diagnstico de enxaqueca, tomou os remdios indicados pela mdica, mas continuou apresentando o quadro de
dores-de-cabea. A mdica disse que deveria continuar tomando os remdios e que no poderia fornecer-lhe um atestado s
por causa de dor-de-cabea. Tomou os remdios e continuou
trabalhando na Central Energtica Moreno, no municpio de
Luiz Antnio/SP. No dia 07 de julho, aps a refeio, cortou
duas bandeiras de cana e imediatamente sentiu-se mal, quando foi amparado pelo sobrinho, que tambm trabalha no
mesmo engenho. Foi levado ao hospital de Ribeiro Preto, no
nibus da Usina, passou por uma cirurgia cerebral, ficou internado durante quatro dias, mas no resistiu e faleceu. O corpo
foi sepultado em Cod, no Maranho, sendo que a Usina
assumiu todas as despesas funerrias. Saa de casa para trabalhar no corte da cana s 05h20 da manh, voltava para casa
por volta das 17h. Cortava doze toneladas de cana por dia,
tinha 38 anos, de cor parda, analfabeto, oriundo do municpio
de Cod, era casado e tinha uma filha. A nica fonte de renda
da famlia era o salrio do trabalhador, a empresa pagou a
resciso do contrato de trabalho e est providenciando o seguro
de vida, mas no pagou indenizao famlia, que est morando com familiares numa casa de dois cmodos juntamente com
oito pessoas, e que tm sobrevivido da ajuda de parentes. O
trabalhador levava comida de casa. Segundo o sobrinho do trabalhador, no local de trabalho no h ambulncia nem meios
de primeiros socorros, quando algum trabalhador adoece ou se
acidenta socorrido pelo nibus da Usina8. (Plataforma
DHESC/RELATORIA NACIONAL PARA O DIREITO HUMANO
AO TRABALHO, 2005).
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8 - A viva deste trabalhador e a filha voltaram para a terra de origem, aps o recebimento da indenizao,
seguro de vida e a penso do marido, segundo informaes da Pastoral do Migrante. Assim que o marido faleceu, a Usina providenciou o traslado do corpo at Cod/MA, cuja viagem durou trs dias, numa distncia de
3000 Km. A esposa e a filha foram na mesma ambulncia que transportava o corpo do trabalhador morto.Em
razo de no entender o significado da morte, a menina perguntava a me sobre as razes do "pai ficar fechado naquele caixo", segundo depoimento colhido por mim, assim que elas regressaram a Guariba, a fim de
receber seus direitos.
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Ensaios e Debates
C ONSIDERAES
FINAIS
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ANDRADE, A . F. Cana e crack: Sintoma ou problema? Um estudo sobre os trabalhadores no corte de cana e consumo do crack.
Dissertao de Mestrado. PPG/Psicologia Social/PUC/SP, 2003.
ANTUNES, R. Adeus ao trabalho? Ensaio sobre as Metamorfoses e
a Centralidade do Mundo do Trabalho. So Paulo: Cortez, 1997.
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140
141
1. J USTIFICATIVA
DO TEMA
Este breve ensaio, nos seus estreitos limites, tem por objetivo apresentar as
noes bsicas que devem informar a ao do promotor de justia no combate s prticas rurais antiambientais, hoje generalizadamente disseminadas
na agricultura de nosso pas, bem como propor a atuao efetiva do Ministrio Pblico na poltica agrria. Pretende tambm revelar as determinaes
histricas e sociopolticas do padro de produo agrcola hoje hegemnico,
demonstrar seu contedo antiambiental, apontar, luz da Constituio da
Repblica e da legislao ambiental, o papel que cabe aos promotores de
justia na promoo da agricultura sustentvel e da reforma agrria.
Sem a contextualizao histrico-social das prticas rurais antiambientais e
sem o balizamento das premissas jurdico-polticas que devem nortear a atuao do operador do direito nessa rea, qualquer trabalho ser incuo, pois
alienado, e no atingir os objetivos postos pela sociedade na Constituio
da Repblica.
2. A
AGRICULTURA MODERNA
2.1 As Revolues
Revolues Agrcolas
Os estudiosos do desenvolvimento agrcola apontam os sculos XVIII e XIX
como o perodo de surgimento da agricultura moderna. A primeira fase desse
novo modelo de produo, chamada de Primeira Revoluo Agrcola, foi
construda durante a transio do feudalismo para o capitalismo na Europa
Ocidental e representou a superao - indita na histria da humanidade da escassez crnica de alimentos.1
* Promotor de Justia no Estado de So Paulo
1 - Cf. VEIGA, O desenvolvimento agrcola: uma viso histrica, pg. 21.
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SUSTENTVEL : OBJETIVOS
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Ensaios e Debates
C ONSTITUIO
DE
1988
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Ensaios e Debates
O imvel rural que adota esse padro descumpre a funo socioambiental, fere a ordem econmica e social e frustra o cumprimento dos objetivos
fundamentais da Repblica brasileira. Nega, portanto, o projeto de sociedade
democrtica delineado na Constituio. antidemocrtico, do ponto-de-vista
poltico, e inconstitucional, do ponto-de-vista jurdico.18
148
5. O
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Ensaios e Debates
6. I NSTRUMENTOS
23
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26
27
Lei
Lei
Lei
Lei
Lei
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A interpretao sistemtica das normas constitucionais no autoriza tal concluso. Como observa Borges:
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35
36
Cf.
Cf.
Cf.
Cf.
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e da propriedade rurais, os interesses das partes, mais do que em qualquer outra causa, esto subordinados ao interesse social. O interesse pblico manifesta-se "eloqentemente" e deve preponderar e orientar as decises judiciais.
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163
1. Um pouco da Histria...
A experincia da participao na equipe de Plnio de Arruda Sampaio no
segundo semestre de 2003, para elaborar o primeiro documento que deveria ser o II PNRA, foi muito importante para que se pudesse reforar a conscincia de que em poltica vale tudo, menos tica e moral. No governo de
FHC do PSDB no foi diferente, no governo Sarney do I PNRA tambm no
foi diferente. Alis, na ditadura militar, tambm no foi diferente. Mas, os intelectuais sempre acham que chegar um dia do primado da tica e da moral
tambm na poltica.
O intelectual Jos Juliano de Carvalho Filho da FEA - USP e da ABRA em
um feliz artigo publicado em "O Globo" de 20/01/2006, foi brilhante na crtica aos dados de 2005 divulgados pelo MDA/INCRA sobre a reforma agrria
no governo LULA:
165
Ensaios e Debates
No governo Figueiredo final do perodo ditatorial houve controvrsia sobre os nmeros da reforma. Naquela poca, final de
1984, foi oficialmente anunciada a emisso do milionsimo
documento de titulao de terra. O governo de ento apontava
este fato como evidncia de que estava em curso no pas o
maior programa de reforma agrria do mundo.
"Em dezembro de 1995, primeiro ano do governo FHC, o presidente da Repblica afirmava na imprensa ter conseguido
cumprir a meta de campanha, assentando mais de 40 mil
famlias. O MST questionava os nmeros oficiais, apresentando
o nmero de famlias assentadas em 1995, como inferior a 15
mil. De acordo com o MST, a diferena se devia ao fato de que
FHC, para chegar meta de 40 mil famlias assentadas naquele ano, somara ttulos de regularizao fundiria de processos
que vinham de governos anteriores e, ainda, de ttulos de posseiros. Para o MST, a meta anunciada pelo governo se referia a
40 mil novas famlias que seriam assentadas.
166
Durante a campanha pela reeleio, sempre a inflar seus supostos feitos, o ento candidato FHC afirmava pelo site do Incra: O
Brasil est realizando a maior reforma agrria em curso no
mundo. Na televiso, na propaganda oficial, ator famoso anunciava: Uma famlia assentada a cada cinco minutos.
O segundo mandato, marcado pela chamada reforma agrria
de mercado de FHC, desmontou conceitos e condies para
uma distribuio fundiria efetiva. Duas linhas de atuao
norteavam o governo. De um lado, agressividade na implementao da poltica fundiria, anncio de medidas e nmeros,
sempre, com razo, contestados. De outro, com a conivncia da
mdia, crtica contnua aos movimentos sociais, sobretudo o
MST com os objetivos de desqualific-los, enfraquec-los e
criminaliz-los. Essa outra maior reforma agrria em curso no
mundo tambm no ocorreu."
CARVALHO FILHO certamente h de concordar que preciso continuar
registrando para a histria, que no interior do segundo mandato de FHC,
existiu tambm, pela primeira vez na histria da humanidade, a "Reforma
Agrria Virtual dos Correios". Ou seja, aquela que s ocorreu na televiso
para iludir os camponeses sem terra. Quem sabe, FHC ou o PSDB, ou o
prprio ministro Raul Jungmann, um dia podero dar notcia da mesma, para
o registro da histria. A midia brasileira foi to conivente com este falso programa de reforma agrria, que nunca mais, ele foi objeto de uma reportagem
sequer. O que permite entender que a grande midia s defende a propriedade privada da terra, e mais, que uma parte dos reprteres, no tem a
mnima conscincia sobre o que escrevem e/ou falam sobre a propriedade
privada da terra na sociedade capitalista.
ABRA - REFORMA AGRRIA
167
Ensaios e Debates
Quando foram realizadas as reunies para formular o II PNRA, encontrouse no INCRA, um cadastro de mais de 1,2 milhes de brasileiros que tinham
sido iludidos pelo PSDB do ento presidente FHC. Este partido tem muita
conta para prestar sociedade brasileira. Alis, ele tem sido um partido do
"faz de conta", "faz de conta que sabe fazer", "faz de conta que fez", "faz de
conta que ir fazer", etc, etc, etc.
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169
Ensaios e Debates
Foi em decorrncia em parte de tudo isso que os dados relativos aos assentamentos de reforma agrria do INCRA continuaram no atual governo, "contaminados" por informaes que no se referem a assentamentos de reforma
agrria propriamente dita. Esta "contaminao" dos dados interessa a "certos
funcionrios" do INCRA que so corruptos, pois, encobrem suas aes frente
a seus dirigentes. Mas, parece que est interessando tambm concepo de
reforma agrria do MDA/INCRA. Parece que todos que tm que fazer a reforma agrria no governo LULA, esqueceram-se do que reforma agrria. Por
isso, no demais lembrar o texto original do Estatuto da Terra de 1964, afinal, o primeiro dever de qualquer funcionrio pblico o cumprimento do
ordenamento legal:
Figura 01
"Artigo 1 ...
1 Considera-se Reforma Agrria o conjunto de medidas que
visem a promover melhor distribuio da terra, mediante modificaes no regime de sua posse e uso, a fim de atender aos
princpios de justia social e ao aumento de produtividade."
Em publicao recente escrevi sobre esta questo, trazendo luz posies
de eminentes estudiosos da reforma agrria:
170
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Ensaios e Debates
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Ensaios e Debates
(2) a reforma agrria deve ser parte de um programa de desenvolvimento agrrio e de um plano geral de desenvolvimento
econmico e social nos quais, tenha previamente assegurada
sua cota-parte no total dos. investimentos programados;
(3) a reforma agrria deve ser planejada, coordenada e executada em todos os seus aspectos por um rgo ou entidade
pblica com poderes, prestgio poltico e dotada recursos financeiros e humanos suficientes, com uma estratgia de execuo
participativa e descentralizada;
(4) a reforma agrria deve mobilizar todas as foras polticas existentes - movimentos sociais, centrais sindicais, sindicatos de trabalhadores, instituies, entidades e organizaes populares - que representam a massa dos camponeses e demais trabalhadores interessados, para participarem direta e intensamente da elaborao,
implantao e gesto dos seus planos, programas e projetos;
(5) a reforma agrria deve ser executada em cada rea prioritria (territrio reformado) tendo como princpio fundamental os
fatores sociais, polticos, econmicos, tcnicos e institucionais
especficos; garantindo-se a ao integrada de todos os rgos
e entidades pblicas na rea reformada;
(6) a reforma agrria deve incidir preferencialmente sobre as
grandes propriedades que no cumprem a funo social da
terra e nas quais existam condies favorveis de explorao;
(7) a reforma agrria deve limitar ao mnimo o pagamento das
indenizaes pela desapropriao da terra, atravs de uma noABRA - REFORMA AGRRIA
174
(8) a reforma agrria deve criar uma nova estrutura da propriedade fundiria, apoiada exclusivamente (I) na pequena propriedade familiar camponesa integrada ou no em cooperativa
ou outra forma associativa de produo agrcola; e (II) em
unidades de produo de camponeses baseadas no direito real
de uso da terra de propriedade da Unio; face existncia da
empresa agrcola capitalista (pequena, mdia ou grande) assim
qualificada segundo o grau de utilizao dos recursos da terra,
o uso da tecnologia moderna, o capital investido por unidade
de rea, e do emprego de mo-de-obra assalariada;
(9) a reforma agrria deve modificar as relaes de trabalho
existentes no campo, de sorte assegurar (I) mais justa distribuio de renda agrcola; (II) cumprimento integral da legislao pertinente; e (III) defesa dos direitos e garantias do trabalhador assalariado;
(10) a reforma agrria deve adotar um sistema econmico de
investimento que priorize a utilizao dos camponeses e demais
trabalhadores beneficirios da mesma;
(11) a reforma agrria deve conservar e ampliar as reas de proteo ambiental, bem como desenvolver um agricultura saudvel
que no comprometa o uso sustentvel dos recursos naturais.
Para a implantao da reforma agrria h a necessidade de duas polticas
fundamentais: a poltica fundiria e a poltica agrcola.
A poltica fundiria refere-se ao conjunto de princpios que as diferentes sociedades definiram com aceitvel e ou justo para o processo de apropriao
privada da terra ... Na poltica fundiria, est includo tambm, o conjunto de
legislaes que estipulam os tributos incidentes sobre a propriedade privada
da terra; as legislaes especiais que regulam seus usos e jurisdies de exerccio de poder; e programas de financiamentos para a aquisio da terra.
ABRA - REFORMA AGRRIA
175
Ensaios e Debates
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Outro ponto que precisa ser reforado aquele referente aos termos do II
PNRA. No documento oficial presente no site15 do Ministrio do Desenvolvimento Agrrio pgina 38 est a relao das onze METAS do II PNRA 2003/2006:
177
Ensaios e Debates
Militar, do que qualquer coisa que pudesse ser chamada de Reforma Agrria.
4. Por outro lado, espervamos que o Governo explicasse porque quase 200 mil
famlias, de pobres do campo, ainda vivem nos acampamentos em beiras de estrada e em latifndios improdutivos. E que esperam as meras estatsticas organizadas
por eles. Enquanto isso, vivem sob condies precrias debaixo de barracos de lona
e sem qualquer assistncia para produo.
5. Finalmente, achamos que o Ministro Miguel Rossetto deva acatar a sugesto que
o Presidente do INCRA, Rolf Hackbart, defendia quando era assessor da Cmara dos
Deputados: que seja formada uma comisso de auditoria dos assentamentos, formada pela CNBB, OAB, jornalistas e servidores do Incra (CNASI) para ir visitar in loco
esses assentamentos, e atestar as condies em que estas famlias se encontram.
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As crticas acertadas desencadearam uma nota spera do MDA/INCRA crtica, revelando, mesmo sem uma anlise criteriosa e profunda dos dados, o fracasso governamental no cumprimento das metas do II PNRA. Parece que
prevaleceu o ditado popular de que a "melhor defesa o ataque". Foram os
seguintes os termos da crtica do MDA/INCRA como resposta critica do MST:
terras foram destinadas para a Reforma Agrria e 240 mil agricultoras e agricultores
sem terra foram assentados.
7. O MST acusa o Governo de submisso s polticas do Banco Mundial por
manter um programa de crdito fundirio. Neste caso, trata-se de desinformao ou
m f. O Programa de Crdito Fundirio um programa distinto do programa de
Reforma Agrria, destinado a um outro pblico, que tem condies de financiar a
compra de terra. So agricultores familiares, minifundirios, que querem ter um
pedao a mais de terra e pagar por ela, ou jovens que no pretendem abandonar o
campo e necessitam de terra para plantar. Este programa uma reivindicao de
movimentos como a Contag, a Fetraf, e diversos outros. Suas terras, por Lei, no
podem ser objeto da reforma agrria uma vez que so inferiores a 15 mdulos fiscais e, por isto mesmo, no passveis de desapropriao.
7. O Brasil persiste como um dos pases com maior concentrao fundiria do
mundo. A Reforma Agrria uma tarefa histrica, de carter civilizatrio, que este
pas no foi capaz de resolver a contento. Esta situao, no entanto, est mudando.
A Reforma Agrria comeou a caminhar a passos largos. Ainda h muito a ser feito.
Muito trabalho pela frente. Um trabalho a ser realizado em conjunto pelo Governo
e pela sociedade. Um trabalho que no pode ser interrompido nem dificultado pelo
debate maniquesta, pobre e marcado por interesses particulares ou de grupos."18
180
Em ato continuo, o INCRA divulgou em seu site a listagem por superintendncia, com nome dos municpios, nomes dos projetos e ano de implantao, nomes dos beneficirios das RBs (Relao de Beneficirios) homologadas. Esta relao estava no site do INCRA no dia 23/01/2006 s 23:25hs,
quando a baixei em meu computador. Desta primeira listagem partem agora
minhas crticas aos dados do MDA/INCRA. Entretanto, para meu espanto e
certamente de muitas outras pessoas que acessam as pginas do governo na
Internet, quando, no Instituto Iand, baixei novamente o citado arquivo que
estava disponvel no site do INCRA, no dia 13/02/2006 s 13:27hs, fui alertado por Camila Salles de Faria e Maira Bueno Pinheiros, que a nova listagem
baixada no continha mais os anos dos assentamentos. Portanto, MDA/INCRA
agiu efetivamente, de forma intencional em tentar esconder qualquer possibilidade de descoberta das irregularidades com os dados. Por sorte, tenho gravado como prova com o registro da Internet as duas tabelas. Atualmente, j foi
retirada do site do INCRA, tambm a segunda verso da listagem.
A pergunta que pode ser feita neste momento aquela simples: porque este
ato? bvio, foi porque que , atravs dos anos dos assentamentos, que se
pode descobrir que os assentamentos no eram de 2005. Parece que neste
caso tambm, prevaleceu outro ditado popular: "a mentira tem perna curta".
Assim, a alegao do MDA/INCRA no item 3 da crtica ao MST, de que o
nmero de assentados deriva das RBs homologadas, igualmente continuam
18 - http://www.mda.gov.br/index.php?ctuid=8071&sccid=134, acessado dia 02/03/2006 s 17:33hs.
181
Ensaios e Debates
escondendo outra verdade. Quando o INCRA faz o reconhecimento de assentamento antigo, ou de posses, ou de reassentamento de atingidos por barragens, ou de famlias que "compram" ou no vagas de famlias j assentadas, "tecnicamente para o Cadastro do INCRA" elas entram atravs das RBs
homologadas. Dessa forma, a rotina tcnica contm um equvoco conceitual
propositado que visa reunir em uma mesma classificao, assentamentos que
que so conceitualmente diferenciados.
No h nada de errado em o MDA/INCRA afirmar que realizou a regularizao fundiria, ou o reassentamento, ou mesmo, a reordenao fundiria
de um determinado nmero de famlias, pois estas aes fazem parte das rubricas das diversas metas do II PNRA. O problema tentar dizer que o MDA/
INCRA cumpriu a meta de 2005, de assentar 115.000 famlias em assentamentos da reforma agrria, ou seja, teria cumprido a Meta 1 do II PNRA. Isto
efetivamente no ocorreu em 2005 e muito menos em 2003 e 2004. O que
ocorreu provavelmente, foi que "compraram", conscientes ou no, a "idia"
que um "certo ex-funcionrio" do INCRA (que trabalhou durante o governo
FHC) vendia por ocasio da preparao do II PNRA: considerar regularizao fundiria como reforma agrria.
Outro ponto equivocado da crtica do MDA/INCRA refere-se ao fato de que
"no h fundamento" nas mesmas. A crtica do MST acertou em cheio no alvo
da "manobra" dos dados feito pelo governo, pois, referia-se Meta 1 do II
PNRA. O governo no fez os 115.000 assentamentos porque no mnimo, se
tivesse feito o nmero de acampados no pas, tinha em tese, diminudo bruscamente, fato que no ocorreu, mesmo porque, no h notcias nos relatrios
da Ouvidoria Agrria do MDA, ou mesmo nos levantamentos da CPT, de
existncia de um nmero massivo de famlias em novos acampamentos. Feitos
os "expurgos" e a reclassificao possvel com as informaes divulgadas,
como se ver mais adiante neste trabalho, o MDA/INCRA assentou em projetos de reforma Agrria da Meta 1 do II PNRA no ano de 2005, pouco mais
de 45 mil famlias includos neste total os assentamentos em terras desapropriadas, compradas e em terras pblicas. No caso dos dados disponveis, no
foi possvel separar os assentamentos nas terras pblicas particularmente na
Amaznia Legal, pois permitiria discutir a possibilidade de classific-los como
colonizao. Entretanto, dados divulgados extra oficialmente na Internet, permitem dizer que 54,3% (69.182 famlias) das RBs homologadas (127.506 no
total), foram em terras pblicas. Destas RBs em terras pblicas, conforme se
ver pelas tabelas mais adiante no trabalho, um total de 58.886 famlias
esto na Amaznia Legal19, ou se preferirem 45.504 famlias esto na Regio
Norte do pas.
ABRA - REFORMA AGRRIA
182
183
Ensaios e Debates
Foto 1
sobre seus prprios funcionrios corruptos envolvidos com a grilagem legalizada21. Basta uma vistoria no protocolo do Incra do Par para ver que j h
interessados particulares distribudos devidamente pelo prprio INCRA em
glebas, com pedido protocolado para se apropriarem de todas estas terras.
O mapa a seguir (MAPA 02) testemunha destes fatos:
184
Por isso, as discusses a seguir, sobre os dados dos trs anos do governo
LULA pretendem revelar os abusos cometidos pelo MDA/INCRA na divulgao
dos nmeros da reforma agrria e o que lastimvel para todos petistas, con21 - http://www.dpf.gov.br/DCS/noticias/2004/dezembro/07122004_faroeste.htm
185
Ensaios e Debates
Grfico 01
Penso que chegou a hora de abrir a crtica profunda a aqueles que em nome
do governo LULA, no esto fazendo a reforma agrria. Por isso, preciso "auditar os dados do Cadastro do INCRA", pois l est a fonte das manobras com as
cifras estatsticas. Torna-se assim, urgente que o MDA/INCRA reveja os termos da
nota oficial e reconhea publicamente, a realidade dos nmeros.
2 2 .2 4 0
2 5 .0 0 0
2 0 .0 0 0
9 .2 3 3
1 5 .0 0 0
4 .8 2 8
1 0 .0 0 0
5 .0 0 0
A s s e n ta m e n to s e m P A s
C r ia d o s a t 2 0 0 2
A s s e n ta m e n to s e m P A s
C r ia d o s e m 2 0 0 3
36.301
100%
NORTE
16.004
44%
NORDESTE
13.256
37%
SUDESTE
1.566
4%
SUL
1.038
3%
CENTRO-OESTE
4.437
12%
Grfico 02
F A M L IA S
(%)
1 8 .0 0 0
TOTAL
36.301
100,00%
22.240
61,3%
9.233
25,4%
Reconhecimento (*)
4.828
13,30%
(%)
BRASIL
Tabela 01
ASSENTAMENTOS / RECONHECIMENTO - 2003
Realizado
Famlias
Assentadas
REGIO
O debate em torno do nmero de famlias assentadas nos trs anos do governo foi de certo modo dificultado pelo prprio MDA/INCRA, que deixou de
divulgar os dados precisos sobre o que efetivamente Reforma Agrria, ou
seja, aes desapropriatrias baseadas na legislao em vigor, de terras
improdutivas, portanto, aquelas que no cumprem a funo social. Ou
mesmo, a aquisio de terra em regies onde no havia disponibilidade de
terras improdutivas, devolutas ou pblicas. Somente os dados referentes a
2003 foram disponibilizados publicamente, com alguns detalhes efetivos das
aes segundos suas rubricas originais em tabelas e grficos em
20/01/2004. (TABELAS 01, 02, 03 E 04 E GRFICOS 01 E 02)
1 6 .0 0 4
1 6 .0 0 0
1 3 .2 5 6
1 4 .0 0 0
1 2 .0 0 0
1 0 .0 0 0
8 .0 0 0
4 .4 3 7
6 .0 0 0
1 .5 6 6
4 .0 0 0
186
(*)
Tabela 02
ASSENTAMENTOS / RECONHECIMENTO - 2003
2. Os dados de 2003,
a no reforma agrria
do primeiro ano do II PNRA
SITUAO
R e c o n h e c im e n to
1 .0 3 8
2 .0 0 0
-
N O R TE
N O R D ESTE
SU D ESTE
SU L
C EN TR O O ESTE
187
Ensaios e Debates
Tabela 03
Assentamentos
Reconhecimento
TOTAL
SR 01/PA
3.786
60
3.846
SR 14/AC
1.203
111
1.314
SR 15/AM
1.237
167
1.404
SR 17/RO
2.130
20
2.150
SR 21/AP
466
27
493
SR 25/RR
1.356
SR 28/DF
505
506
SR 04/GO
419
421
SR 13/MT
2.980
150
3.130
SR 16/MS
365
15
380
4.269
168
4.437
1.356
CENTRO-OESTE
SR 26/TO
1.573
1.573
SR 06/MG
SR 27/MB
427
31
458
3.867
3.868
SR 07/RJ
NORTE
122
108
230
15.618
386
16.004
SR 08/SP
994
19
1.013
226
380
606
SR 20/ES
272
SUDESTE
1.047
SR 09/PR
317
317
SR 10/SC
322
322
SR 11/RS
296
103
399
SR 02/CE
SR 03/PE
955
955
SR 05/BA
2.584
2.584
SR 12/MA
1.785
3.081
4.866
SR 18/PB
435
435
SR 19/RN
1.026
1.026
SR 22/AL
246
SR 23/SE
62
63
SR 24/PI
848
551
1.399
SR 29/MF
669
NORDESTE
9.604
246
SUL
TOTAL
272
519
1.566
935
103
1.038
31.473
4.828
36.301
669
3.652
13.256
Tabela 04
ASSENTAMENTO / RECONHECIMENTO por SR/UF - 2003
FAMLIAS (Capacidade)
em
Andam ento
Qtde
(A)
TOTAL
Concretizada
(A+C)
(C)
192
87
18
210
409.008
161.268
16.519
425.527
12.176
9.197
679
12.855
IMVEIS
REA / Ha
COMPRA
188
189
Ensaios e Debates
2 Trim.
3 Trim.
4 Trim.
At 1984
1985 a 1994
1995 a 2002
Subtotal (1)
91
629
5.740
6.460
116
1.238
6.438
7.792
666
2.567
9.420
12.653
684
2.847
15.308
18.839
1.557
7.281
35.906
45.744
1,92
8,97
45,46
56,35
2003
2004
Subtotal (2)
1.276
567
1.843
3.637
1.987
5.624
3.496
4.559
8.055
1.296
18.622
19.918
9.705
25.735
35.440
11,95
31,7
43,65
81.184
100
2004TOTAL
23 - Idem.
4. Os nmeros de 2005:
aparece claramente a no reforma agrria do MDA/INCRA
2004
Perodo de criao
TOTAL (3)
190
191
Ensaios e Debates
Tabela 06
Unidades da
Federao/Regies
Superintendncias
Regionais-INCRA
192
BRASIL
NORTE
SR/14 Acre
SR/17 Rondnia
SR/25 Roraima
SR/21 Amap
SR/15 Amazonas
SR/01 Par
SR/27 Marab
SR/30 Santarm
PAR Total (1)
SR/26 Tocantins
NORDESTE
SR/12 Maranho
SR/24 Piau
SR/02 Cear
SR/19 Rio Grande do Norte
SR/18 Paraba
SR/03 Pernambuco
PERNAMBUCO Total (2)
SR/22 Alagoas
SR/23 Sergipe
SR/05 Bahia
SR/29 Petrolina
CENTRO-OESTE
SR/13 Mato Grosso
SR/16 Mato Grosso do Sul
SR/04 Gois
SR/28 Distrito Federal
SUDESTE
SR/06 Minas Gerais
SR/20 Esprito Sant o
SR/07 Rio de Janeiro
SR/08 So Paulo
SUL
SR/09 Paran
SR/10 Santa Catarina
SR/11 Rio Grande do Sul
TOTAL
GERAL
127.511
58.349
4.025
1.741
1.433
1.854
5.167
14.838
8.196
18.000
41.034
3.095
39.735
16.438
4.982
1.432
1.904
1.376
3.725
5.783
1.300
1.400
5.120
2.058
19.898
10.301
6.032
2.494
1.071
6.541
3.368
507
657
2.009
2.988
1.938
402
648
ReAssentamentos
Fundirios
(1,2%) 1.606
220
0
0
0
0
0
0
0
0
0
220
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
806
806
0
0
0
580
580
0
0
Reordenao
Fundiria
Regularizao
Fundiria
(37,3%) 47.561
(25,8%) 32.835
18.070
29.628
2.635
983
1.693
40
925
0
1.457
397
1.999
2.953
564
13.528
5.167
0
2.621
11.727
8.352
25.255
1.009
0
14.613
3.057
7.353
428
791
1.191
641
26
915
0
504
0
2.363
0
2.940
0
387
0
210
30
872
1.382
577
0
10.393
0
8.135
0
835
0
1.029
0
394
0
2.703
150
1.256
0
335
0
222
0
890
150
1.782
0
1.024
0
334
0
424
0
REFORMA
AGRRIA
(37,7%)
45.509
10.431
407
8
508
0
215
746
3.029
3.652
7.427
1.866
22.065
8.657
3.000
765
989
872
1.362
2.843
913
1.160
2.866
1.481
9.505
2.166
5.197
1.465
677
2.882
1.306
172
435
969
626
334
68
224
Fonte: www.incra.gov.br/relgeren_127511
(*) Inclui SR/01 Par, SR/27 Marab e SR/30 Santarm
Organizao e conceituao: OLIVEIRA, A.U., ABRA, USP, IAND, 2006.
(1) Reassentamentos Fundirios de famlias Atingida s por Barragens , proprietrias ou com direitos adquiridos em decorrncia
de grandes obras de barragens e linhas de transmisso de energia realizadas pelo Estado e/ou empresas concessionrias e ou privadas.
(2) Reordenao Fundiria - Substituio e/ou r econhecimento de famlias presentes nos assentamentos j existentes.
(3) Regularizao Fundiria - Reconhecimento do direito das famlias (populaes tradicionais, extrativistas, ribeirinhos, pescadores,
posseiros, etc.) j existentes nas reas objeto d a ao (flonas, resex, agroextrativista, desenvolvimento social, fundo de pastos, etc.
(4) Reforma Agrria - Assentamentos decorrentes de aes desapropriatrias de grandes propriedades improdutivas, compras de terra e
retomada de terras pblicas grilada s.
Observao : Os dados divulgados na listagem no permitem discernir entre desapriao ou compra e terras pblicas.
193
Ensaios e Debates
Tabela 08
TOTAL GERAL
Reassentame ntos Fundirios (1)
Reordenao Fundiria (2)
Regularizao Fundiria (3)
REFORMA AGRRIA (4)
BRASIL
Norte
Nordeste
CentroOeste
Sudeste
Sul
127.511
58.349
39.735
19.898
6.541
2.988
100%
45,76%
31,16%
15,61%
5,13%
2,34%
1.606
1,25%
47.561
37,30%
32.835
25,76%
45.509
35,69%
220
0,17%
18.070
14,17%
29.628
23,24%
10.431
8,18%
0
0%
14.613
11,46%
3.057
2,40%
22.065
17,30%
0
0%
10.393
8,15%
0
0%
9.505
7,46%
806
0,63%
2.703
2,12%
150
0,12%
2.882
2,26%
580
0,45%
1.782
1,40%
0
0%
626
0,49%
194
TOTAL
GERAL
Reassentamentos
Reordenao e
Regularizao
Fundiria
BRASIL
127.511
NORTE
SR/14 AC
SR/17 RO
SR/25 RR
SR/21 AP
SR/15 AM
SR/01 PA
SR/27 MB
SR/30 SM
PA Total (1)
SR/26 TO
58.349
4.025
1.741
1.433
1.854
5.167
14.838
8.196
18.000
41.034
3.095
NORDESTE
SR/12 MA
SR/24 PI
SR/02 CE
SR/19 RN
SR/18 PB
SR/03 PE
PE Total (2)
SR/22 AL
SR/23 SE
SR/05 BA
SR/29 MF
REFORMA
AGRRIA
82.002
64,31%
45.509
47.918
3.618
1.733
925
1.854
4.952
14.092
5.157
14.348
33.607
1.229
82,12%
89,89%
99,54%
64,55%
100,00%
95,84%
94,97%
62,92%
79,71%
81,90%
39,71%
10.431
407
8
508
0
215
746
3.029
3.652
7.427
1.866
39.735
16.438
4.982
1.432
1.904
1.376
3.725
5.783
1.300
1.400
5.120
2.058
17.670
7.781
1.982
667
915
504
2.363
2.940
387
240
2.254
577
44,47%
47,34%
39,78%
46,58%
48,06%
36,63%
63,44%
50,84%
29,77%
17,14%
44,02%
28,04%
C. OESTE
SR/13 MT
SR/16 MS
SR/04 GO
SR/28 DF
19.898
10.301
6.032
2.494
1.071
10.393
8.135
835
1.029
394
SUDESTE
SR/06 MG
SR/20 ES
SR/07 RJ
SR/08 SP
6.541
3.368
507
657
2.009
SUL
SR/09 PR
SR/10 SC
SR/11 RSl
2.988
1.938
402
648
META
Diferena
RA/
META
35,69% 115.000
-69.491
-60,43%
17,88%
10,11%
0,46%
35,45%
0,00%
4,16%
5,03%
36,96%
20,29%
18,10%
60,29%
34.350
3.000
2.000
2.800
1.150
3.000
6.400
12.000
0
18.400
4.000
-23.919
-2.593
-1.992
-2.292
-1.150
-2.785
-5.654
-8.971
3.652
-10.973
-2.134
-69,63%
-86,43%
-99,60%
-81,86%
-100,00%
-92,83%
-88,34%
-74,76%
0,00%
-59,64%
-53,35%
22.065
8.657
3.000
765
989
872
1.362
2.843
913
1.160
2.866
1.481
55,53%
52,66%
60,22%
53,42%
51,94%
63,37%
36,56%
49,16%
70,23%
82,86%
55,98%
71,96%
39.900
10.400
3.500
2.000
2.500
1.100
6.800
8.800
3.000
2.500
6.100
2.000
-17.835
-1.743
-500
-1.235
-1.511
-228
-5.438
-5.957
-2.087
-1.340
-3.234
-519
-44,70%
-16,76%
-14,29%
-61,75%
-60,44%
-20,73%
-79,97%
-67,69%
-69,57%
-53,60%
-53,02%
-25,95%
52,23%
78,97%
13,84%
41,26%
36,79%
9.505
2.166
5.197
1.465
677
47,77%
21,03%
86,16%
58,74%
63,21%
27.400
13.500
9.100
3.000
1.800
-17.895
-11.334
-3.903
-1.535
-1.123
-65,31%
-83,96%
-42,89%
-51,17%
-62,39%
3.659
2.062
335
222
1.040
55,94%
61,22%
66,07%
33,79%
51,77%
2.882
1.306
172
435
969
44,06%
38,78%
33,93%
66,21%
48,23%
8.090
3.360
930
800
3.000
-5.208
-2.054
-758
-365
-2.031
-64,38%
-61,13%
-81,51%
-45,63%
-67,70%
2.362
1.604
334
424
79,05%
82,77%
83,08%
65,43%
626
334
68
224
20,95%
17,23%
16,92%
34,57%
5.260
3.000
600
1.660
-4.634
-2.666
-532
-1.436
-88,10%
-88,87%
-88,67%
-86,51%
Fonte: www.incra.gov.br/relgeren_127511
Organizao e conceituao: OLIVEIRA, A.U., ABRA, USP, INDE, 2006.
(1) Reassentamentos Fundirios de famlias Atingidas por Barragens , proprietrias ou com direitos adquiridos
em decorrncia de grandes obras de barragens e linhas de transmisso de energia realizadas pelo Estado e/ou
empresas concessionrias e ou privadas.
(2) Reordenao Fundiria - Substituio e/ou reconhecimento de famlias presentes nos assentamentos j
existentes.
(3) Regularizao Fundiria - Reconhecimento do direito das famlias (populaes tradicionais, extrativistas,
ribeirinhos, pescadores, posseiros, etc.) j existentes nas reas objeto da ao (flonas, resex, agroextrativista,
desenvolvimento social, fundo de pa stos, etc.
(4) Reforma Agrria - Assentamentos decorrentes de aes desapropriatrias de grandes propriedades improdutivas,
compras de terra e retomada de terras pblicas griladas.
Observao : Os dados divulgados na listagem no permitem discer nir entre desapriao ou compra e terras pblicas.
195
Ensaios e Debates
Grfico 04
155.286
Grfico 03
Fonte: INCRA
127.511
120.000
98740
99201
100.000
81254
80.000
69929
66837
73754
60.000
43486
41717
40.000
36308
30.716
140.000
140.000
Fonte: INCRA
140.000
40.000
127.496
115.000
115.000
120.000
100.000
85.795
81.254
79.815
80.000
69.491
60.000
45.509
36.308
35.185
30.000
24.020
20.000
5.980
0
2003
2003
2003
2003
2004
2004
2004
2004
2004
2005
2005
2005
2005
2005
2006
20.000
Assentamentos oficiais
Metas II PNRA
Reforma Agrria
Diferena no Ano
Diferena Acumulada
0
1995
1996
1997
1998
1 Governo FHC
196
1999
2000
2Governo FHC
2001
2002
2003
2004
2005
Governo LULA
197
Ensaios e Debates
Nem mesmo a Marcha realizada no ano de 2005, foi suficiente para sensibilizar o MDA/INCRA.
Tabela 09
Mas, o que mais crtico, o quadro das famlias desesperanadas nos acampamentos. Para reforar ainda mais a tese da no reforma agrria do MDA/
INCRA, apresento a seguir TABELAS 09 E 10, resultados comparativos entre o
nmero de famlias assentadas e de famlias acampadas em 2003 e 2004.
A derrota dos acampados muito cara. No h como explicar que em
2003, apenas 19% deles foram assentados em termos gerais para o pas.
Porm, quando se toma os dados regionais, nas regies do agronegcio,
mais de 90% das famlias tiveram quer permanecer acamapadas.
A situao em 2004, no mudou muito, pois apenas 32% das famlias
chegaram aos assentamentos. Mas nas regies Centro Oeste, Sudeste e Sul,
mais de 80% da famlias tiveram que permanecer debaixo das lonas pretas dos
acampamentos. Apenas o estado do Maranho e da Paraba tiveram um
nmero de assentados superior ao nmero de acampados, o que no quer
dizer que os acampamentos tornaram-se assentamentos. Segundo os dados da
Ouvidoria Agrria do MDA, no ano de 2005 at no ms de novembro o estado da Paraba tinha conhecido uma nica ocupao de terra, e o Maranho
ABRA - REFORMA AGRRIA
198
UF/
ASSENTADOS
ACAMPADOS
SAL DO
Regies
EM 2003
EM 2003
POSITIVO
NEGATIVO
%
171.288
BRASIL
36.301
3.831
-138.818
-81,04
22.489
NORTE
16.004
3.784
-10.269
-45,66
437
SR-14/AC
1.314
877
4.234
SR-17/RO
2.150
-2.084
-49,22
346
SR-25/RR
1.356
1.010
0
SR-21/AP
493
493
0
SR-15/AM
1.404
1.404
14.645
SR-01/PA
3.846
-6.931
-47,33
SR-27/MB
3.868
(*)
(*)
SR-30/SM
0
(*)
(*)
PA Total (1)
7.714
14.645
-6.931
-47,33
2.827
SR-26/TO
1.573
-1.254
-44,36
68.172
NORDESTE
13.256
47
-54.963
-80,62
6.328
SR-12/MA
4.866
-1.462
-23,10
2.586
SR-24/PI
1.399
-1.187
-45,9
966
SR-02/CE
1.013
47
4.397
SR-19/RN
1.026
-3.371
-76,67
1.028
SR-18/PB
435
-593
-57,68
22.107
SR-03/PE
955
-20.818
-94,17
22.107
PE Total (2)
1.624
-20.483
-92,65
7.325
SR-22/AL
246
-7.079
-96,23
6.138
SR-23/SE
63
-6.075
-98,97
17.297
SR-05/BA
2.584
-14.378
-83,12
SR-29/MF
669
(**)
(**)
(**)
46.319
C. OESTE
4.437
-41.882
94,42
19.307
SR-13/MT
3.130
-16.177
-83,79
14.474
SR-16/MS
380
-14.094
-97,37
7.031
SR-04/GO
421
-6.610
-94,01
5.507
SR-28/DF
506
-5.001
-90,81
22.810
SUDESTE
1.566
-21.244
-93,13
9.236
SR-06/MG
458
-8.778
-95,04
1.791
SR-20/ES
272
-1.519
-84,81
1.507
SR-07/RJ
230
-1.277
-84,74
10.276
SR-08/SP
606
-9.670
-94,10
11.498
SUL
1.038
-10.460
-90,97
8.709
SR-09/PR
317
-8.392
-96,36
1.066
SR-10/SC
322
-744
-69,79
1.723
SR-11/RS
399
-1.324
-76,84
Fonte: INCRA
Organizao: OLIVEIRA, A.U., ABRA, USP, IAND, 2006
(*) Includos no total do Estado do Par
(**) Includo no total do Estado de Pernambuco
199
Ensaios e Debates
Tabela 10
nenhuma. Mas, por sua vez pelos dados da CPT de 2005, o Maranho conheceu trs ocupaes de terras, enquanto que a Paraba conheceu dez.
ASSENTADOS ACAMPADOS
SAL DO
EM 2004
EM 2004
POSITIVO
NEGATIVO
%
81.254
189.865
-129.571 -68,2%
31.846
17.408
18.341
-3.903 -22,4%
4.191
126
4.065
2.052
2.860
-808 -28,3%
2.828
0
2.828
1.221
0
1.221
3.172
0
3.172
7.421
9.541
(*)
(*)
9.175
(*)
(*)
(*)
0
(*)
(*)
(*)
16.596
9.541
7.055
1.786
4.881
-3.095 -63,4%
28.453
83.128
2.711
-57.386 -69,0%
11.454
8.881
2.573
2.266
2.482
-216
-8,7%
1.158
1.263
-105
-8,3%
2.479
4.590
-2.111 -46,0%
1.748
1.610
138
736
21.517
-19.741 -91,7%
2.741
21.517
-18.776 -87,3%
827
8.891
-8.064 -90,7%
521
11.750
-11.229 -95,6%
5.183
22.144
-15.920 -71,9%
5.259
22.144
-16.885 -76,3%
2.081
(**)
(**)
(**)
14.858
46.057
-31.199 -67,7%
10.213
18.242
-8.029 -44,0%
3.511
17.769
-14.258 -80,2%
377
7.186
-6.809 -94,8%
757
2.860
-2.103 -73,5%
2.453
23.167
-20.714 -89,4%
1.168
9.790
-8.622 -88,1%
399
2.229
-1.830 -82,1%
160
2.007
-1.847 -92,0%
726
9.141
-8.415 -92,1%
3.644
20.013
-16.369 -81,8%
2.726
16.497
-13.771 -83,5%
389
1.016
-627 -61,7%
529
2.500
-1.971 -78,8%
Organizao: OLIVEIRA, A.U., ABRA, USP, IAND,
2006
Fonte: INCRA
(*) Includos no total do Estado do Par
(**) Includo nos totais dos Estados de Pernambuco (50%) e Bahia (50%)
200
No conjunto, o ano de 2005 foi marcado segundo a CPT por 433 ocupaes de terras envolvendo cerca de 50 mil famlias. Quanto aos acampamentos, foram mais 89 concentrando mais de 17 mil famlias ainda segundo
a CPT. Logo, o crescimento da luta pela terra continua sua marcha.
Diante esta realidade: quem ganhou e quem perdeu?
O MDA/INCRA acha que ganhou, pois tentaram transformar uma derrota
em vitria a qualquer custo.
Os latifundirios certamente ganharam, pois no foram molestados pela
no reforma agrria do governo atual.
O agronegcio ganhou, porque pode continuar "escondendo" a terra
improdutiva debaixo dos ndices tcnicos da dcada de 70, utilizados pelo
INCRA na definio da produtividade.
Quem perdeu foram os movimentos sociais, pois foram ludibriados nas
reunies de acompanhamento onde sempre ouviram o discurso de que a
reforma agrria seria feita. Mas, perdeu parte da sociedade brasileira, que
permanece na esperana de que um dia, a dvida social da reforma agrria
seja verdadeiramente paga.
No h outro caminho para os que sempre lutaram pela reforma agrria,
continuar seguindo a palavra de ordem talvez mais antiga: "a luta continua".
Mas, agora, com a certeza de que h inimigos da reforma agrria tambm,
no interior do Partido dos Trabalhadores. O caminho talvez seja, reforar
ainda mais o rubor da vergonha e, encontrar no vermelho das marchas, as
retomadas das ocupaes e da luta, porque como escreveu Chico da Silva
em seu tema para o Boi Garantido de Parintins-AM:
O brilho do meu canto tem o tom
E a expresso da minha cor "vermelho"24
(no quente vero de maro do quarto ano da decepo com a reforma agrria do
governo LULA, mas, com a alegria com uma retomada do despertar na Amrica Latina)
24 - "Vermelho" Chico da Silva, Ed. Mercury, do CD de Faf de Belm "Pssaro sonhador" 1996.
201
Assentamentos e Assentados
no Estado de So Paulo:
dos primeiros debates
as atuais reflexes
Sonia Maria P. P. Bergamasco1
Luiz Antonio Cabello Norder2
203
Ensaios e Debates
regies. Para isso, h uma anlise histrica dos principais aspectos da organizao poltica dos movimentos sociais rurais, principalmente do MST, e da
implementao de programas de assentamentos rurais no Estado de So
Paulo, com nfase para seu diferenciado impacto nas dinmicas scioeconmicas, polticas e demogrficas locais e regionais. A base de dados
resulta de pesquisa realizada em assentamentos localizados em quatro
municpios de distintas regies do Estado de So Paulo3.
1. C ONFLITOS S OCIAIS
P OLTICAS F UNDIRIAS
204
No final dos anos 70 e incio dos anos 80, diversos movimentos sociais,
partidrios e sindicais comearam a ser reorganizados e a recolocar a reforma agrria na pauta das reivindicaes pr-democracia. No Estado de So
Paulo, eclodem os conflitos em torno das barragens de usinas hidreltricas
Porto Primavera, Taquaruu e Rosana, na regio do Pontal do Paranapanema,
o que exigiu uma resposta do Estado no sentido de reassentar a populao
atingida pelos alagamentos. Antigas disputas agrrias comeavam a ganhar
um novo significado, com destaque para a luta dos posseiros da Fazenda
Primavera, em Andradina, com apoio da igreja catlica, por meio das Comisses Eclesiais de Base (CEBs) e da Comisso Pastoral da Terra (CPT), da
Federao dos Trabalhadores na Agricultura do Estado de So Paulo (Fetaesp)
e de partidos polticos, especialmente o Partido dos Trabalhadores (PT) e o
Partido do Movimento Democrtico Brasileiro (PMDB). A desapropriao da
Fazenda Primavera em 1980 passou a informar o debate sobre reforma agrria e a ao de outros diferentes grupos de trabalhadores rurais sem-terra no
Estado de So Paulo, alguns ligados CPT, outros s organizaes sindicais.
no bojo deste diversificado processo de organizao dos movimentos
sociais, sindicais e partidrios que o MST (Movimento dos Trabalhadores
Rurais Sem-Terra) foi fundado no Estado de So Paulo, ao longo de 1984. Isso
contribuiu para a construo de uma articulao nacional da demanda popular pela reforma agrria, especialmente a partir do Primeiro Congresso do
MST, realizado no ano seguinte, em Curitiba. No entanto, o surgimento e
difuso do MST ao longo dos anos 80 representou no somente uma continuidade e mesmo o aprofundamento de certas caractersticas presentes nas
demais organizaes, mas tambm o estabelecimento de novas diretrizes de
ao, principalmente no plano organizativo.
O mais importante elemento nesta redefinio programtica promovida
pelo MST foi a adeso a uma concepo massiva da luta poltica, com implicaes tanto para a mobilizao local dos trabalhadores como para a
definio de alianas polticas nacionais. A tomada de decises na organizao dos acampamentos do MST passou a ser pautada por uma segmentao entre as famlias acampadas e os coordenadores, entre liderados e lideranas. Comeam ento a surgir "dissidncias" com as mais diversas motivaes administrativas, polticas e ideolgicas e passa a ser acirrado um
ambiente de tenso e disputa com outras organizaes, como a CPT, grupos
independentes, sindicatos e suas federaes5.
ABRA - REFORMA AGRRIA
205
Ensaios e Debates
"O dimensionamento do espao de socializao poltica, essencial na trajetria histrica da formao do MST e na espacializao e territorializao da luta pela terra, havia sido preterido
nesse processo organizativo... A massificao da luta desenvolveu-se com o aumento do nmero de famlias nas ocupaes
de terra, e tambm com a alienao da grande maioria dos trabalhadores que se tornaram passivos no processo de luta" *.
A articulao poltica regional e nacional da demanda pela reforma agrria
promovida pelo MST e a ao localizada de diversos movimentos sociais e
sindicais implusionaram a formulao e implementao de diferentes polticas fundirias governamentais, tais como: a) assentamentos em reas
desapropriadas pelo governo federal; b) reassentamentos de populaes
atingidas por barragens de usinas hidreltricas; c) assentamentos em reas
pblicas pertencentes ao governo estadual, geralmente em posse de grandes
fazendeiros6.
H uma diversidade de mediadores e formas de atuao nos acampamentos
e assentamentos. Em alguns casos, h a predominncia do MST; em outros, da
CPT, da CUT/Rural ou ainda das federaes sindicais, alm de grupos com atuao de menor abrangncia populacional e territorial. Isso tambm ocorre no
interior de um assentamento, onde muitas vezes h a atuao simultnea - e
no raro antagnica - de mais de uma organizao. A constituio dos assentamentos rurais no Estado de So Paulo resulta, portanto, de uma pluralidade
de conflitos pela posse da terra e de formas de mobilizao poltica.
Um panorama da organizao poltica e social nos assentamentos pode ser
observado na Tabela 1, que apresenta informaes obtidas em pesquisas por
amostragem em trs regies do Estado. Nota-se que h maior participao
5 - Fernandes, 1996: 170-171; 1998.
6 - As polticas fundirias governamentais incluem ainda os programas de regularizao na distribuio de terras em reas de conflito social (especialmente no Vale do Ribeira, regio com a maior preservao ambiental
no Estado) e a demarcao de terras indgenas e de populaes remanescentes de quilombos.
* - Fernandes, 1996: 170-171.
206
Araraquara
Sumar
Monte
Monte
Alegre I
Alegre IV
Sumar I
Sumar II
Agrovila J.
Agrovila
Campinas
Bonifcio
Penpolis
MST
14
22
30
50
16
Cooperativa
18
33
60
Feraesp
Feraesp
(1)
Promisso
Agrovila
Associao
Origem Poltica
(1)
- % (*)
42
27
77
40
10
33
MST
33
20
50
CPT
11
10
40
ONGs/outras
22
30
10
16
No participa
57
54
33
60
58
75
Sindicato
Fonte: Relatrio da Pesquisa A dinmica dos assentamentos de trabalhadores rurais e seus efeitos sobre o espao social e fsico
Campinas, Feagri/Unicamp; Paris, CRBC/EHESS, 2002. (1) Feraesp:
reunia principalmente sindicatos de trabalhadores com atuao na regio canavieira do Estado de So Paulo; tambm com participao
da Comisso Pastoral da Terra; (2) Tambm com participao do
Muitas so as trajetrias profissionais, familiares, polticas e culturais que levaram formao dos acampamentos - do MST, da CPT ou de outras organizaes - e dali aos vrios programas estatais de criao de assentamentos rurais. Trata-se da luta de posseiros, arrendatrios, parceiros e sitiantes atingidos
por barragens, ou seja, trabalhadores inseridos em certas relaes sociais estabelecidas historicamente e que disputaram as reas rurais por eles j ocupadas. Em outros casos, os assentamentos originaram-se da organizao sindical de trabalhadores rurais assalariados do setor canavieiro que, vivendo sob
pssimas condies de vida urbana, resolveram fazer do acesso terra uma
alternativa sua condio econmica e social. H ainda a luta de trabalhadores rurais sem-terra que migravam pelas vrias regies do pas e que, a partir de meados dos anos 80, passaram a procurar nos movimentos sociais politicamente organizados um novo caminho para alcanar seu retorno ao campo.
A mobilizao poltica dos trabalhadores rurais para a conduo da luta
pela reforma agrria, a partir da dcada de 80, inicia-se com a identificao
das reas a serem disputadas, levando em conta os atores governamentais e
ABRA - REFORMA AGRRIA
207
Ensaios e Debates
208
209
Ensaios e Debates
At 1983
1984-1988
1989-1994
1995-1999
Total
Federal
164
1.108
578
1.264
3.114
Estadual
663
509
3.837
5.009
Barragens
523
978
1.501
Total
687
2.749
1.087
5.101
9.624
Fonte: INCRA, ITESP (Instituto de Terras do Estado de So Paulo Jos Gomes da Silva), MST.
11 - No Estado de So Paulo, existiam cerca de 135 mil estabelecimentos rurais em meados dos anos 90. Entre
1970 a 1995, houve uma reduo de 1.357.113 para 914.954 pessoas ocupadas em atividades
agropecurias. Deste total, boa parte era empregada apenas sazonalmente. O trabalho temporrio atinge seu
pico nos meses de junho e julho, quando eram empregados no mais que 240 mil trabalhadores. Em janeiro
e fevereiro, este nmero caa para at 95 mil trabalhadores.
210
2. C ONDIES
SOCIAIS NOS
A SSENTAMENTOS
Esta seo apresenta a evoluo recente de alguns dos principais indicadores demogrficos, sociais e econmicos regionais - e avalia as trajetrias
migratrias e profissionais, a composio da renda das famlias assentadas e
as particularidades da infra-estrutura social em sete assentamentos situados
em quatro municpios no Estado de So Paulo. Trata-se de pesquisa sobre
assentamentos criados em pocas distintas, com diferentes perfis populacionais e econmicos e situados em municpios das principais distintas regies
do Estado: Araraquara, Mirante do Paranapanema, Promisso e Sumar12.
Tabela 3. Origem dos Assentamentos Pesquisados no Estado de So Paulo
Inicio
Famlias
Assentamento
Araraquara
Municpio
1989
167
Implementao
Federal
Santa Clara
Mirante do Paranapanema
1994
46
Estadual
So Bento
1994
185
Estadual
Estrela DAlva
Mirante do Paranapanema
1995
31
Estadual
Fazenda Reunidas
Promisso
1987
629
Federal
Sumar I
Sumar
1984
26
Estadual
Sumar II
Sumar
1986
28
Estadual
a) Transformaes
Transformaes Demogrficas e Econmicas
Embora o nmero de famlias assentadas ainda possa ser considerado
pequeno quando comparado ao da populao ocupada em atividades
agropecurias no Estado de So Paulo - e a despeito da reduzida rea destinada aos assentamentos -, a implementao de assentamentos rurais, em
vrios casos, levou a uma significativa alterao das condies locais de produo e a uma redistribuio populacional com elevado impacto econmico
e poltico local e regional.
importante ressaltar que a urbanizao em diversas regies do Brasil ocorreu de forma a concentrar enormes contingentes populacionais em grandes
centros metropolitanos, geralmente capitais estaduais, mas tambm em algumas cidades de porte regional. A contrapartida disso foi um notvel refluxo demogrfico e econmico nos pequenos municpios13. A concentrao fundiria,
a dinmica de modernizao agrcola e a ausncia de polticas pblicas ade12 - Pesquisa Os impactos regionais dos assentamentos rurais: dimenses econmicas, polticas e sociais
(Medeiros e Leite, 2004).
13 - Faria, 1991.
211
Ensaios e Debates
quadas agricultura familiar podem ser mencionadas como fatores que vieram a enfraquecer a insero de pequenos municpios nas redes urbanas, ou
seja, a conexo scio-econmica entre os pequenos municpios, os ncleos urbanos de importncia regional e os grandes centros metropolitanos14.
A constituio dos assentamentos tem revitalizado a dinmica econmica
de pequenos municpios e revertido esta trajetria - que comum a muitos
dos pequenos municpios no Estado de So Paulo. Em Promisso e Mirante
do Paranapanema, a populao rural, que declinara entre 1970 e 1980, voltou a expandir-se nas dcadas seguintes, o que est relacionado, em grande
medida, implementao de programas de assentamento no meio rural.
A Tabela 4 mostra que os municpios pesquisados apresentam uma diferenciada dinmica demogrfica ao longo do perodo 1970-2000. Enquanto
Araraquara e Sumar passaram por um acentuado crescimento de sua populao urbana, transformando-se em importantes plos econmicos regionais,
Mirante do Paranapanema e Promisso passaram por um processo inverso,
qual seja, o de reduo de sua populao rural e total. Foi somente aps a
implementao dos assentamentos (Promisso no final dos anos 80 e Mirante
em meados dos 90) que este cenrio foi modificado. A populao rural, que
declinara nos quatro municpios entre 1970 e 1980, voltou, nas dcadas
seguintes, a expandir-se nos quatro municpios.
Tabela 4: Evoluo da populao rural e urbana dos municpios de Araraquara,
b) Fluxos Migratrios e
Condies de Trabalho
Trabalho antes do Assentamento
Muitos dos assentados no Estado de So Paulo so migrantes provenientes
da regio de Estados vizinhos, principalmente Minas Gerais e Paran, e da
Regio Nordeste; agregaram-se aos paulistas, que somam pouco mais que a
metade das famlias entrevistadas. A disputa pelas terras do Pontal atraiu a
uma parcela de migrantes de vrios pontos do pas. No entanto, h um intervalo entre estes dois atos: os trabalhadores sem-terra entrevistados migraram
para o Estado de So Paulo, onde permaneceram habitando e trabalhando
em ocupaes diversas, antes de entrarem na luta pela terra. Em outros termos, a atrao exercida pelo mercado de trabalho estadual parece preceder
a atrao exercida pela luta pela terra. Alm da migrao interestadual, h
uma notvel migrao intra-estadual. Migrar e lutar pela terra parece ter sido
a disposio de muitos dos assentados do Estado de So Paulo.
A grande maioria dos assentados estava empregada antes do assentamento, o que sugere que a luta pela reforma agrria tem um significado mais
amplo que apenas a busca de emprego. Uma em cada trs famlias teve ocupao urbana no perodo anterior ao assentamento; os que atuavam como
assalariados urbanos correspondem a 25% do total. interessante destacar
que nos assentamentos no Pontal do Paranapanema h uma incidncia maior
de trabalhadores rurais temporrios (entre 40 a 50% dos entrevistados), alm
de um menor contingente de trabalhadores com ocupao urbana anterior a
seu assentamento.
1970
1980
1991
2000
Urbana
84.459
118.781
156.465
173.569
Rural
15.979
9.341
10.266
8.902
Urbana
7.175
8.538
10.545
9.833
Rural
14.734
6.921
4.634
6.380
Urbana
15.609
15.877
22.093
25.635
4.935
4.345
5.888
5.470
15.335
95.825
225.528
193.937
7.739
6.026
1.342
2.786
Rural
Urbana
Rural
Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE). Os dados desta srie histrica no incluem a populao que habitava as
reas que vieram a formar outros municpios ao longo deste perodo.
14 - Santos, 1988.
212
213
Ensaios e Debates
c) Perfil
Perfil das Famlias
Famlias e Condies de Vida
Esta seo apresenta uma sntese de informaes sobre distribuio etria,
educao, habitao, composio das famlias, sade e alimentao, obtidas
a partir de pesquisas de campo nos assentamentos mencionados anteriormente.
Idade dos Titulares: Um breve perfil dos titulares de lotes no Estado de So
Paulo pode ser delineado atravs da figura de um homem com idade entre
45 a 60 anos, com menos de quatro anos de ensino formal. Os titulares de
lote entrevistados abrangem todas as faixas etrias, com destaque para a
faixa de 50 a 60 anos, que comporta a maior freqncia relativa. Tambm a
faixa dos titulares com mais de 60 anos apresentou percentual expressivo
(17%), havendo casos, como os de Sumar e da Fazenda So Bento, em que
mais de um tero dos assentados j havia passado de 60 anos. Nestas situaes, comum encontrar mais de uma famlia nuclear, ou seja, os filhos se
casam e permanecem no lote.
Educao: Em nosso plano amostral, efetuado entre fevereiro e maio de
1998, encontramos um total de 23% dos titulares de lote em situao de
analfabetismo. Os analfabetos e os que possuem menos que quatro anos de
estudo formal chegam a quase 90% das famlias pesquisadas; menos de 10%
possuem oito anos ou mais de ensino formal - e o percentual dos que chegam
ao ensino superior raramente ultrapassa a 1%, em mdia15.
A escolarizao de jovens e crianas d-se geralmente em duas etapas: os
primeiros quatro anos so cursados em escolas no interior do assentamento
e os quatros seguintes em escolas do municpio. Mesmo em assentamentos
de grande porte, como o Fazenda Reunidas, no h escolas aps a 4a srie:
os estudantes precisam deslocar-se para o ncleo urbano. O transporte escolar oferecido pelas prefeituras e objeto de constantes negociaes polticas.
15 - Esses dados so similares ao panorama traado pelo Censo dos Assentamentos de Reforma Agrria no
Brasil (Schmidt, Marinho e Rosa, 1998); em alguns Estados do Nordeste, o analfabetismo compreendia algo
entre 40 a 50% dos beneficirios titulares de lote. As estatsticas sobre a escolarizao dos cnjuges, em todo
o pas, no diferem substancialmente das que se apresentam para os titulares.
214
215
Ensaios e Debates
216
217
Ensaios e Debates
Ns consideramos que a reforma agrria no Pontal foi a indstria que nunca chegou aqui... Hoje a gente analisa que foi bom,
est sendo bom e a gente espera que continue a desenvolver...
informalmente, entre os comerciantes, achamos que 40% do
novo movimento econmico gira em torno da reforma agrria20.
ABRA - REFORMA AGRRIA
218
219
Ensaios e Debates
O municpio de Promisso possua em 1991um populao de pouco menos que 30 mil pessoas, das quais mais de 10% viviam no assentamento. Ali
o impacto do assentamento de 629 famlias foi, primeiramente, demogrfico.
Os resultados na economia local no poderiam deixar de ser percebidos pela
populao e pelos agentes econmicos e polticos locais. Entretanto, foi somente em 2004 que um assentado foi, pela primeira vez, eleito vereador no
municpio, pelo Partido dos Trabalhadores. At ento, os assentados no tiveram qualquer participao direta na administrao municipal, como vinha
ocorrendo em Sumar.
220
221
Ensaios e Debates
No Pontal do Paranapanema, onde predomina a pecuria de corte ultra-extensiva e um dos menores ndices de modernizao da agropecuria no Estado, os assentados, preponderantemente ligados ao MST, encontram reas
ambientalmente degradadas, com baixa fertilidade do solo e maior distncia
com relao aos canais de distribuio de produtos. Em comparao com as
outras trs regies pesquisadas, h menor gerao de renda e as condies
sociais so mais precrias. Mesmo assim, o elevado nmero de assentados
faz com que as polticas governamentais, notadamente durante a fase de implementao dos projetos, tenha contribudo para reverter a situao de estagnao econmica da regio.
As polticas publicas (principalmente aquelas voltadas para habitao, sade, educao, transporte e eletrificao) constituem-se em elementos-chave
para uma anlise dos impactos dos assentamentos sobre as localidades e regies em que se inserem, j que representam no apenas a efetivao de direitos que ampliam qualidade de vida dos assentados, mas permitem, indiretamente, a ocupao, no setor pblico, de profissionais com formaes tcnicas
diversas (tcnicos agrcolas, agrnomos, agentes de sade, professores, etc.).
Vale salientar que a produo agropecuria a atividade econmica de
maior importncia para as famlias assentadas nas quatro regies pesquisadas - e que, por isso, as polticas creditcias adquirem importncia central
para o desenvolvimento dos assentamentos e das regies onde se inserem.
A produo agropecuria desenvolvida em cada assentamento pode ser realizada atravs de diversas matrizes tecnolgicas, o que leva a uma grande
oscilao na composio da renda, na gerao de empregos (diretos e indiretos) e nas estratgias de reproduo social. Alm disso, leva tambm ao
estabelecimento de diferentes relaes com agentes econmicos e rgos
governamentais.
As medidas estatais voltadas para o fortalecimento da agropecuria em
vrios assentamentos foram em grande medida direcionadas para os produtos bsicos da modernizao agrcola predominante no Estado: milho, canade-acar e algodo. Temos com isso a produo de mercadorias em grande
escala, com forte utilizao de insumos de origem agroindustrial e elevado
custo financeiro, alm de pequena absoro de trabalho por unidade de rea
e de produto. Ademais, diante dos precrios arranjos institucionais formulados para viabilizar essa integrao especfica com os atores e canais de modernizao agrcola, muitas famlias acabaram por entrar em situao de inadimplncia, em um modelo produtivo que requer ampla mobilizao de recursos financeiros e comerciais21.
ABRA - REFORMA AGRRIA
222
223
Ensaios e Debates
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ABRA - REFORMA AGRRIA
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225
Olhos de Papel:
A cobertura do jornal O Globo
sobre a luta pela terra no
Serto Carioca (1951-1964)
Leonardo Soares dos Santos*
E A PROBLEMTICA DO
J ORNALISMO
Para Carlos Nelson Coutinho, Antnio Gramsci teria "ampliado" a teoria marxista clssica do Estado, ao afirmar - baseando-se na experincia histrica do
mundo ocidental - que o processo de desenvolvimento capitalista teria engendrado a criao no interior do Estado, de uma esfera social nova, dotada de
leis e de funes relativamente autnomas e especficas e de uma dimenso
material prpria. Essa esfera seria a "sociedade civil".1 Sua constituio apontaria conseqentemente para o desenvolvimento de um processo de ocidentalizao, pelo qual uma sociedade de formao "ocidental" se diferenciaria da de
formao "oriental". Nesta h uma relao extremamente desproporcional em
favor de um Estado "que tudo" em detrimento de uma sociedade civil "primitiva" e "gelatinosa".2 Neste tipo de formao social, o exerccio de dominao
* Doutorando em Histria pela Universidade Federal Fluminense
1 - COUTINHO, Carlos. Nelson. Cultura e sociedade no Brasil. ensaios sobre idias e formas. Rio de Janeiro:
DP&A, 2000. pp. 15-6.
2 - GRAMSCI, Antonio. Cadernos do crcere - volume 2. So Paulo: Civilizao Brasileira, 2000. p. 262.
227
Ensaios e Debates
3 - Ibidem.
4 - COUTINHO, Carlos Nelson. op. cit., p.16.
5 - GRAMSCI, Antnio. Op. cit., 79.
228
idem, p.197.
idem, p.199.
idem, p.218.
ibidem
229
Ensaios e Debates
lstica, fosse de qual fosse o jornal, era dada de forma inocente ou desinteressada. A forma como se veiculava uma informao sempre respondia aos princpios ou expectativas de determinado grupo scio-poltico.
H tambm a possibilidade de diferenciarmos os jornais como sendo de
tipo "comercial" de um lado, e "doutrinrio" do outro. O que parece distinguir
um do outro a relao de proporo entre dois elementos que constituem
a atividade publicstica de todo jornal: a)difuso de uma concepo de
mundo ou de princpios poltico-ideolgicos, e b)busca por sucessivos lucros
econmicos. No primeiro tipo, busca-se predispor o leitor a aplicar as doutrinas partidrias divulgadas pelo jornal. No segundo, visa-se a incutir no leitor
de que o jornal artigo de primeira necessidade, a ser consumido incessantemente. Num jornal "doutrinrio" o primeiro elemento seria o fim de sua atividade. No jornal "comercial" o que prevalece o segundo. Mas na prtica, a
nfase ideolgica de um jornal "comercial" tambm se evidencia na medida
em que o jornal se posiciona em favor dos princpios da ordem social vigente,
pelo simples fato de que a conquista do lucro econmico, ao qual toda sua
atividade voltada, s encontra possibilidade de realizao nos limites e possibilidades fornecidos por esta mesma ordem.
Mas se continuarmos caminhando mais um pouco, encontraremos nas consideraes de Gramsci outros pontos em comum entre esses dois tipos de jornal nos levam a concluir que tal distino no pode ser tratada de forma to
rgida: em primeiro lugar, todo jornal tem de ter um plano comercial, at porque
o problema de qualquer jornal, sendo ele "doutrinrio" ou "comercial", " o de
assegurar uma venda estvel (se possvel em contnuo incremento)".10 Em segundo, seja o jornal que ambiciona capital poltico seja aquele que tenha como
suprema ambio angariar capital econmico, todos eles tm como elemento
fundamental para seu xito ou fracasso o seu perfil ideolgico, "isto , o fato de
que satisfaa ou no determinadas necessidades poltico-intelectuais".11
Em suma: sendo um jornal "doutrinrio" ou "comercial", preciso que nunca
se esquea que ele sempre e necessariamente, no quadro de uma
sociedade capitalista moderna, um "aparelho privado de hegemonia",12 ou
10 - idem, p.249.
11 - ibidem.
12 - H tambm um terceiro tipo de jornal ao qual Gramsci se refere e que englobaria os jornais locais, cuja
tnica seria a inexistncia de interesse pela vida internacional e quase nenhum pela vida nacional, "salvo
enquanto ligada aos interesses locais, sobretudo eleitorais", porm, tendo "todo o interesse pela vida local,
mesmo pelos mexericos e pelas miudezas". Alm de conceder grande "importncia para a polmica pessoal
(de carter galhofeiro e provinciano: fazer o adversrio parecer estpido, ridculo, desonesto, etc". Estas observaes so muito importantes na medida em que o perfil acima desenhado, que a priori seria exclusivo dos
pequenos jornais locais do interior, se manteve em muitos jornais urbanos, principalmente aqueles tidos
como"jornais populares", durante as dcadas de 1940 e 1950.
230
231
Ensaios e Debates
dos conflitos pela terra no Serto Carioca era transmitida de forma a mostrar
uma "ocupao" como uma "invaso", um "protesto" como uma "agitao",
um simples ato de contestao como a expresso da "revoluo anti-feudal e
antiimperialista", um clima de insatisfao e revolta como um "prato esplndido para os comunistas", ou simplesmente ignorava-se qualquer um desses
eventos, o que no deixava de ser uma forma de se posicionar politicamente
frente a eles. A tematizao da luta pela terra no Serto Carioca no era apenas a elaborao de fatos brutos da vida cotidiana em fato jornalstico, pois
que este mesmo processo de elaborao era a expresso do compromisso de
seus protagonistas (os jornais) com grupos, correntes ou tendncias polticas
e suas respectivas doutrinas, concepes e esquemas ideolgicos. Sendo o
jornal um "aparelho privado de hegemonia", cada uma dos manchetes, textos e imagens que veicula eram instrumentos voltados, simultaneamente,
defesa de uma determinada concepo de mundo e ao combate de outras.
Gramsci nos permite enxergar as pginas do jornal como um espao de
manifestao da luta de classes que permeia a sociedade civil, sob a forma
da luta de idias. Ao sumariar os principais aspectos da anlise de Gramsci
sobre o jornalismo, pensamos que um estudo que se apie em jornais deva
ter como ponto de partida esclarecer os seguintes pontos: 1)o tipo sciopoltico do jornal; 2) alinhamento com grupos polticos; 3) o pblico ao qual
ele se dirige; 4) a leitura e a linguagem que ele elabora com relao aos
problemas e conflitos do mundo social.
o que procuraremos fazer a seguir tomando como estudo de caso a
cobertura realizada pelo jornal O Globo sobre a luta pela terra na zona rural
da cidade do Rio de Janeiro no perodo 1951-1964.
O G LOBO :
232
doria posta venda pelo Globo era um produto composto por notcias e informaes de um lado, e de propaganda comercial de outro. E do sucesso
deste ltimo componente, ou seja, a execuo de um plano de venda de seu
espao publicitrio, dependia a realizao do primeiro, a atividade jornalstica propriamente dita. E quanto maior a dependncia do Globo frente aos circuitos empresariais, mais tenaz se tornava a sua defesa dos princpios e
relaes que sustentavam o sistema capitalista. N. Werneck Sodr informa
que em 1953 o total de publicidade paga e distribuda por Cias Americanas
de Petrleo foi de 3 bilhes 506 milhes e 200 mil cruzeiros. Desse total, 1
bilho e 197 milhes foram dados aos jornais.17 Dentre os laureados estava
O Globo, no por acaso, como se pde ver, um dos principais inimigos do
movimento em prol da nacionalizao do petrleo brasileiro e um dos portavozes da campanha contra Getlio Vargas.
Alm da defesa da entrega do direito de explorao do petrleo brasileiro
s Cias norte-americanas, o Globo tinha outras bandeiras e campanhas de
carter nem um pouco popular. Era, por exemplo, contra o direito de greve
dos trabalhadores, que a seu ver no passava de uma "agitao perigosa
sobrevivncia das instituies". Assim se pronunciava o jornal em 1953,
diante das grandes greves que comeavam a irromper em So Paulo:
"Sucedem-se as greves e as ameaas harmonia entre as classes".18
Tambm era contra a reforma agrria, especialmente o ponto referente
desapropriao das terras. Mas o jornal no era s do contra, era tambm
a favor do alinhamento incondicional aos americanos, cuja relao com o
Brasil seria marcada por uma "fraternidade Continental e indissolvel
amizade", cujos "laos tradicionais e inalterveis de afeto e de apreo
mtuo" eram incontestveis.19
O jornal era tambm um dos principais porta-vozes do anti-comunismo no
Brasil. Nesta e noutras campanhas O Globo exercitava o seu talento tpico de
"organismo de polcia poltica, de carter investigativo e preventivo", publicando denncias, suspeitas, pistas e "provas" de supostos planos e aes criminosas
intentadas pelos "asseclas de Prestes".20 No incio dos anos 50, o jornal teria descoberto, por exemplo, que os "adeptos do credo vermelho" teriam, entre tantos
"planos sangrentos e iconoclastas", planejado incendiar a cidade do Rio de Janeiro.21 Mas se este foi evitado, o mesmo no pareceu ter se dado em outros
17 - SODR, Neson Werneck. A Histria da imprensa no Brasil. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 1966. p.463.
18 - O Globo, 27/08/53, p.1.
19 - O Globo, 30/05/1949.
20 - GRAMSCI, Antnio. Op. Cit., p.78. Como forma de reconhecimento desse papel, a imprensa comunista
daria ao O Globo a alcunha de "Boletim da Rua da Relao". (Nessa rua do centro do Rio localizava-se a sede
da antiga Policia Poltica).
21 O Globo, 13/09/1951.
233
Ensaios e Debates
lugares e momentos segundo o atento jornal. Alm das greves nas cidades, o
jornal entendia que o partido e seus "agitadores" estavam "por trs" dos inmeros conflitos armados e greves que comeavam a se intensificar no campo no
incio da dcada de 50: Canpolis(Minas Gerais), Sul da Bahia, Fernandpolis (So Paulo), "tringulo mineiro", regio do Vale do Rio Doce e, principalmente, Porecatu(Paran), foram para O Globo os mais "inquietantes" exemplos.
Tanto nesses como em outros movimentos reivindicatrios de carter popular O Globo encontraria no argumento anti-comunista a base de articulao
e justificao de suas posies contra esses mesmos movimentos. Movimentos
reivindicatrios e "agitao comunista" no eram mais do que faces de uma
mesma moeda para o jornal. No caso da campanha contra a nacionalizao
do petrleo:
Acreditava o jornal que alguns fatores favoreciam tal situao: uma delas
era o "problema econmico-social em torno ao posseiro", que o tornava uma
"gente desajustada", "espoliada", obrigada a viver como "pria". Da os insistentes apelos do jornal por medidas do Governo de modo a solucionar tal
situao, de modo que ela no pudesse mais ser "explorada" pelos comunistas.26 Um outra fator apontado dizia respeito a alguns hbitos de vida que
seriam tpicos dos "posseiros" e que certamente os impulsionavam a cometer
"atos afoitos": um desses hbitos seria o consumo de cachaa. Um dos
reprteres d'O Globo que estiveram no local, destaca na sua reportagem que
era comum a "bebericagem de cachaa" por parte dos "intrusos" armados,
deixando-os mais "possessos e obstinados". Um "vendeiro" teria contado que
tinha servido cachaa a trs "intrusos" num dia, "todos eles estavam armados
e depois de sarem fizeram alguns disparos".27
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235
Ensaios e Debates
"A fantasia predominante foi o short, o biquni disfarado, envergado por mulheres de todas as idades e, infelizmente, at por
adolescentes. E no nos esqueamos dos flagrantes escandalosos das expanses amorosas em pblico, das mulheres que
danavam sobre as mesas ou cavalgavam os ombros dos
homens, coisas que, h poucos anos, eram consideradas excessos privativos das piores orgias".32
Entretanto, o jornal no terminaria o texto de sua matria sem antes nos dar
uma mensagem de esperana: "Felizmente para ns, acreditamos que as
foras ss da nossa sociedade so suficientemente fortes para reagir a tais
abusos sem o recurso final de termos de combater o carnaval".33
29 - A esta "campanha", "um imperativo de moralizao social, correspondia outras, tais como: a "campanha
contra as publicaes obscenas" que impunha "severas penalidades queles que lanarem no mercado a imunda literatura do bas-fonds, de efeitos to perniciosos quanto o trfico de entorpecentes"; e a maior "fiscalizao dos banhistas" das praias da zona sul, principalmente os indivduos que se dirigiam s suas casas apenas
de "calo de banho" e "moas tambm audaciosas [que] j no se envergonha[va]m de transitar pelos bairros (...) com seus trajes sumrios de praia, quando no o fazem envergando mais imorais". O Globo,
31/03/1954, p.2.
30 - Segundo a definio do jornal, "camels" eram "elementos desviados do trabalho construtivo" por "uma
forma ilegal de comrcio" que obtinham mercadorias para suas "vendas clandestinas". O Globo, 27/11/1954.
31 - "Ou procuramos na cooperativa a soluo do problema econmico-social, ou as massas sero levadas
ao Comunismo", dizia o presidente da Caixa de Crdito Cooperativo ao apontar para o principal mrito da
iniciativa do jornal, O Globo, 26/04/51, p.1.
32 - O Globo, 28/02/1953.
33 - idem.
236
"a priso e o morro so realmente dois crculos do mesmo inferno e, s vzes, um s, porque suas fronteiras quase sempre se
confundem. Sob muitos aspectos, at, morro e priso se completam e conjugam na mesma sndrome de patologia social. No
morro e na sua misria sem lei e sem po, o crime via e prospera como num caldo de cultura timo. E ele que servia de
ponto de referncia, de refgio e de asilo maior parte dos
criminosos da cidade".35
Mas quais elementos constituiriam o "caldo de cultura" que fazia do morro e
seus moradores um autntico caso de "patologia social"? Naqueles anos 50
trs pareciam ser os fatores que faziam com que nas favelas imperasse a "vadiagem durante o dia, [e o] crime noite". A propsito, uma coisa que nos
salta aos olhos as semelhanas entre os "diagnsticos" sobre os "problemas"
das favelas e aqueles sobre o campo. O primeiro fator seria s "degradantes"
condies scio-econmicos representadas pelos "barracos [que] se acorcovam em verdadeiros prodgios de equilbrio instvel entre a lama, os porcos e
os homens"; condies estas semelhantes ao perodo "pouco alm do sculo
da Descoberta [do Brasil]."36 O segundo fator apontado seria o alto consumo
34 - O Globo, 22/06/1951. p. 1.
35 - O Globo, 27/12/1951. p. 1.
36 - idem.
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Ensaios e Debates
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Ensaios e Debates
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BARBOSA, Marialva. Imprensa, poder e pblico (os dirios do
Rio de Janeiro - 1880-1920). Tese de doutorado, Histria, UFF.
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ABRA - REFORMA AGRRIA
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Documentos
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Documentos
O que plantar nessas terras? O acar era nesse tempo (sc. XVI) uma
especiaria muito cara (como a pimenta, a noz-moscada, o cravo, a canela,
etc.), que servia para conservar os alimentos. Resolveram os colonizadores
portugueses, ento, plantar a cana de acar os massaps do Nordeste.
Encomendaram os "engenhos" para a moagem aos holandeses.
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Documentos
Somos uma sociedade autoritria, na qual o rico diz sem cerimnia: "Sabe
com quem est falando?". Continuamos sendo uma sociedade discriminatria
em vrias de suas facetas prejudicando os/as ndias, e sobretudo os negros e
as negras por que continuamos os/as excluindo dos espaos mais privilegiados/valorizados da sociedade. Mesmo com relao mulher branca continua a haver tambm discriminao, pois apesar de dedicarem mais tempo na
sua escolarizao/profissionalizao continuam percebendo salrios menores
do que os homens. Continuamos ainda a ser uma sociedade altamente elitista, na qual a elite manda e usufrui da quase totalidade dos bens materiais e
culturais produzidos socialmente, em detrimento da maioria.
Todas essas so mazelas que decorrem do modo como construmos a nossa
histria, em como nos organizamos enquanto nao. So os fortes resqucios
de nossa origem colonialista que ainda pesam enormemente sobre ns. So
as mazelas que tm como natureza a violncia.
Podemos concluir, sem medo de errarmos que um dos grandes males do
Brasil , pois, o latifndio, que permanece desafiando todos e todas que o
entendem como o que determinou uma sociedade injusta. Uma sociedade
pautada pela violncia e a antieticidade.
Em pleno sculo XXI inconcebvel que o nosso pas no tenha feito a diviso
de suas terras. Diviso justa e necessria. preciso que essa Reforma Agrria
seja feita, urgentemente, sem mortes e sem violncia. Que ela seja feita dentro
da legalidade, pois ela legtima e benfica para o pas e para todas e todos.
Construmos uma sociedade que por sua natureza contraditria precisa dos
condomnios fechados e dos carros blindados para fugir dos horrores que criamos. Dos homens e das mulheres que sofreram (sofrem) o inferno dos presdios e das "Febens" e ou que sobrevivem nas favelas desumanas sentindo e
percebendo que seu futuro e o do de seus filhos e filhas no ser diferente:
sero como a sua e a de seu pai e av e de todos os seus ancestrais: marcada pela desesperana e pautada pela violncia.
Faamos a Reforma Agrria em processo permanente de seu aperfeioamento: ela certamente nos garantir dias melhores e de mais Paz para todas
e todos os brasileiros e brasileiras.
preciso buscar a cultura da Paz e aniquilarmos a arraigada e tradicional
cultura da violncia: a Reforma Agrria o caminho primeiro nessa busca de
nossa humanizao.
A Reforma Agrria , pois, imperativo nacional!
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CORREIO DA ALADA
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Documentos
Correio da ALADA
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CPMI DA
TERRA
Quadro comparativo das recomendaes
dos relatrio vencido e vencedor
CPMI DA TERRA
IDEM
IDEM
IDEM
IDEM
IDEM
IDEM
NO CONSTA
NO CONSTA
NO CONSTA
NO CONSTA
IDEM
IDEM
NO CONSTA
NO CONSTA
28. Determinar que INCRA identifique as famlias que ocupam a
terra indgena Mariwatsede, Estado do Mato Grosso, reassentando as em outras reas.
29. Promover a definit iva desintruso daquela terra indgena.
30. Determinar a criao de um grupo de trabalho, coordenado pela
FUNAI e com a participao de representantes das populaes
indgenas, para realizar levantamento das terras de Marinha e
devolutas, bem como a verificao da cadeia dominial das terras
ditas particulares nessas reas, para solucionar os conflitos
demarcando e homologando as terras indgenas, especialmente no
Estado do Cear e em todo o Nordeste brasileiro.
NO CONSTA
NO CONSTA
NO CONSTA
19. Determinar Polcia Federal que organize fora tare fa para
investigar a constituio de organizaes que incentivam e
promovem a violncia no campo, especialmente aquelas ligadas ao
contrabando de armas e sua utilizao na invaso de propriedades
privadas. Aprovada com a seguinte: Determinar Polcia Fed eral
que organize fora tarefa para investigar a constituio de
organizaes que incentivam e promovem a violncia no campo.
20. Aumentar o efetivo da Polcia Federal e fortalecer o INCRA, o
IBAMA e a FUNAI nas regies onde os conflitos agrrios so mais
intensos, a fim de garantir o direito de propriedade.
IDEM
NO CONSTA
NO CONSTA
IDEM
NO CONSTA
IDEM
IDEM
Recomendar Polcia Federal e ABIN que investigue ou retome
as investigaes sobre as denncias de treinamento de guerrilha e
de interferncia das FARC colombianos de uma forma geral em
centros de treinamento do MST, especialmente no assentamento da
Fazenda Normandia, em Pernambuco.
NO CONSTA
NO CONSTA
NO CONSTA
NO CONSTA
CPMI DA TERRA
NO CONSTA
NO CONSTA
NO CONSTA
NO CONSTA
NO CONSTA
NO CONSTA
IDEM
IDEM
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NO CONSTA
NO CONSTA
NO CONSTA
NO CONSTA
CPMI DA TERRA
NO CONSTA
NO CONSTA
NO CONSTA
NO CONSTA
NO CONSTA
NO CONSTA
Garantir, na Lei Oramentria de 2006, os recursos necessrios
para a infra -estrutura dos assentamentos j realizados, priorizando a
fixao do assentado e sua adequada subsis tncia, antes de partir
para a realizao de novas desapropriaes.
NO CONSTA
NO CONSTA
NO CONSTA
NO CONSTA
NO CONSTA
84. Inserir novo inciso ao art. 927 do Cdigo de Processo Civil, para
que a petio inicial nas aes possessrias comprove o
cumprimento dos elementos da funo social da propriedade
(ambiental, trabalhista e produtividade), sob pena de indeferimento,
nos termos do Projeto de Lei apresentado no anexo I deste Relatrio
85. Alterar o art. 928 do CPC, de sorte a exigir a prvia oitiva do
representante do Ministrio Pblico e dos rgos agrrios federal e
estadual, antes da concesso da liminar, no s termos do Projeto de
Lei apresentado no anexo I deste Relatrio .
86. Discutir, votar e aprovar o PLS 64/2005, de autoria do Senador
lvaro Dias, em tramitao no Senado Federal, que altera o art. 928
do CPC, tornando obrigatria a inspeo ju dicial nas aes de
reintegrao de posse de reas objetos de conflitos coletivos.
87. Criar comisso para apresentar projeto de lei que estabelea
procedimentos mnimos para os casos de cumprimentos de
mandados expedidos em aes possessrias, respe itando o princpio
da dignidade humana, os Tratados Internacionais e Convenes de
Direitos Humanos que o Brasil signatrio.
88. Discutir, votar e aprovar a Proposta de Emenda Constitucional
apresentada pelo Conselho da Justia Federal, que t rata da criao
das varas agrrias federais.
89. Criar comisso para promover ampla discusso com os
parlamentares e a sociedade civil, em torno das propostas de
emendas Constituio que instituem a Justia Agrria.
90. Discutir, votar e aprovar o PL n 5.222/2005, de autoria do
Deputado Anselmo, em tramitao na Cmara dos Deputados, que
inclui no Grupo das Unidades de Uso Sustentvel a Reserva Legal
em Bloco, previsto na Lei n 9.985/2000.
91. Apreciar a MP n 2.168 -39, de 26 de julho de 2001,
conformando a estrutura e funcionamento do Servio Nacional de
Aprendizagem Cooperativista (SESCOOP) ao texto constitucional,
com modificaes que visem impedir que uma entidade
representativa dos interesses do patronato rural p romova a
administrao direta de recursos pblicos arrecadados mediante
cobrana de contribuies previdencirias.
92. Editar nova lei em substituio Lei n 8.315, de 23 de
dezembro de 1991, que cria o SENAR, impedindo que uma entidade
representativa dos interesses do patronato rural promova a
administrao direta de recursos pblicos arrecadados mediante
cobrana de contribuies previdencirias.
93. Encaminhar este Relatrio, as notas taquigrficas da 31 e 32
reunies desta CPMI e cpia dos documentos autuados pela
Secretria sobre trfico de armas, Comisso Parlamentar de
Inqurito destinada a inve stigar as organizaes criminosas e o
trfico de armas, em funcionamento na Cmara dos Deputados.
94. Encaminhar cpia dos documentos autuados pela Secretria,
referentes questo indgena, s comisses especficas existentes no
Congresso Naci onal.
95. Encaminhar cpia dos documentos autuados pela Secretria,
referentes aos remanescentes de quilombos, s comisses
especficas existentes no Congresso Nacional. 0
96. Criar uma Comisso Permanecente de Reforma Agrria e
Justia no Campo da Cmara dos Deputados, com competncia para
conhecer e encaminhar questes atinentes esse campo temtico.
NO CONSTA
NO CONSTA
NO CONSTA
NO CONSTA
NO CONSTA
NO CONSTA
NO CONSTA
IDEM
NO CONSTA
NO CONSTA
NO CONSTA
NO CONSTA
NO CONSTA
NO CONSTA
NO CONSTA
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Encaminhar cpia dos documentos autuados pela Secretaria,
referentes atuao, organizao e funcionamento do s movimentos
sociais no campo, Comisso Parlamentar de Inqurito especfica
que aguarda instalao na Cmara dos Deputados, fazendo -se
acompanhar de nota de confidencialidade sempre que se tratar de
documento protegido por sigilo . (RECOMENDAO
REJEITADA)
Concluir as auditorias nos convnios celebrados entre a
administrao direta e indireta da Unio e a ANCA, CONCRAB e
ITERRA, e, aps garantido o contraditrio e a ampla defesa, nos
casos de comprovao de irregularidades, aplicar as sanes
cabveis. Par a tanto, encaminhem -se cpias da documentao
sigilosa obtida por esta CPMI envolvendo a movimentao
financeira e fiscal das citadas entidades, a fim de que sirvam como
subsdio s investigaes daquela Corte de Contas, devendo tal
documentao ser acompa nhada de nota de confidencialidade.
Determinar que o TCU fiscalize, anualmente, os convnios com
organizaes no governamentais, especialmente aquelas ligadas
reforma agrria, e envie relatrio consolidado Comisso Mista de
Oramento e Finanas do Congresso Nacional.
CPMI DA TERRA
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98. Concluir as auditorias nos convnios celebrados entre a
administrao direta e indireta da Unio e a OCB e SRB, e, aps
garantido o contraditrio e a ampla defesa, nos casos de
comprovao de irregularidades, aplicar as sanes cab veis.
99. Promover auditoria na aplicao dos recursos pblicos
arrecadados mediante contribuies previdencirias e repassados ao
Sistema Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR) e ao Servio
Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo (SESCOOP), no
perodo compreendido entre 1998 a 2005. As auditorias devem ser
realizadas tanto no SENAR e SESCOOP nacionais, quanto nos
SENARs e SESCOOPs estaduais.
100. Considerando a ausncia de informaes precisas sobre a
morosidade dos processos jud iciais de desapropriao e de
arrecadao, recomenda -se a realizao de estudo sobre a aferio
do tempo mdio de tramitao das aes de desapropriao,
discriminao e arrecadao.
101. Recomendar, a todos a juizes e tribunais que integram o Poder
Judicirio, o julgamento em carter preferencial das aes e
recursos judiciais que envolvam desapropriao, discriminao de
terras devolutas e a retomada de terras pblicas, de modo a agilizar
a implementao da reforma agrria e viabilizar a justi a no campo.
102. Realizar seminrio entre juizes federais, desembargadores de
Tribunais Regionais Federais e dos Tribunais de Justia, ministros
do Superior Tribunal de Justia e representantes do Ministrio do
Desenvolvimento Agrrio, do Cong resso Nacional e de
organizaes da sociedade civil ligadas questo agrria, para
discutir o papel do Poder Judicirio na realizao da reforma
agrria, tendo como eixo o II Plano Nacional de Reforma Agrria.
103. Realizar correio em todos os cartrios envolvidos em
irregularidades, criando mecanismos e procedimentos para sanar,
efetivamente, as mesmas e punir os responsveis.
104. Estudar e efetivar alteraes nos procedimentos de correio
dos cartrios, tornando mais rgido a fiscalizao e garantindo a
eficcia das recomendaes e punies dos rgos corregedores.
105. TJ PARAN: Determinar a concluso dos inquritos polic iais
e promover o julgamento de todos os envolvidos na morte de
trabalhadores rurais em conflitos coletivos pela terra, especialmente
os acusados da morte de Sebastio Camargo, Paulo Srgio Brasil,
Anarolino Viau e Elias de Moura.
106. Impetrar Ao Direta de Inconstitucionalidade (ADIn) em face
dos arts. 4, 1, e art. 8 do Decreto n 578, de 24 de junho de 1992,
por violao do art. 184 da Constituio Federal, bem como
manifestao nas aes de desapropriao, no sentido de garantir o
valor real da coisa e no a transformao da propriedade
improdutiva em ativo financeiro.
107. Encaminhar este Relatrio ao Procurador Geral da Repblica
para que verifique a possibilidade do ajuizamento de Ao Direta de
Inconstitucionalidade (ADIN s), com o objetivo de declarar a
inconstitucionalidade dos dispositivos da Lei n 8.315, de 23 de
dezembro de 1991, e da MP n 2.168 -39, de 26 de julho de 2001,
que permitem a cobrana de contribuies previdencirias e seu
repasse para o SENAR e o SESCOOP , respectivamente.
108. Reativar o Grupo de Trabalho sobre Trabalho Escravo no
mbito da Procuradoria Federal dos Direitos do Cidado da
Procuradoria da Repblica.
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Recomendar ao Ministrio Pblico o indiciamento e a adequ ada
persecuo cvel e criminal dos responsveis por desvios de verbas
pblicas e prestao de contas fraudulentas em convnios firmados
entre a Unio e os braos jurdicos do MST, especialmente: Jos
Trevisol (ex -dirigente da ANCA Associao Nacional de
Cooperao Agrcola); Pedro Christffoli (dirigente da ANCA
Associao Nacional de Cooperao Agrcola); Francisco Dal
Chiavon (dirigente da CONCRAB Confederao das
Cooperativas de Reforma Agrria do Brasil)
Recomendar ao Ministrio Pbli co o indiciamento e a adequada
persecuo cvel e criminal dos responsveis pelos crimes de
formao de quadrilha, extorso e demais delitos ligados s prticas
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CPMI DA TERRA
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