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MANUAL DE ATIVIDADES DE

EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA


EM CONTEXTO INSTITUCIONAL
E COMUNITÁRIO
Isabel Amorim
Carla Pego
Cristiana Oliveira
Maria João Costa
MANUAL DE ATIVIDADES DE EDUCAÇÃO PARA A
CIDADANIA EM CONTEXTO INSTITUCIONAL E
COMUNITÁRIO

Isabel Amorim (1), Carla Pego (2), Cristiana Oliveira (3), Maria João Costa (4)

(1) EAPN Portugal/ Núcleo Distrital de Braga

(2) Fundação Bomfim

(3) Associação Gerações

(4) Associação de Moradores das Lameiras

EAPN Portugal/ Núcleo Distrital de Braga

2020
FICHA TÉCNICA

Título: Manual de Atividades de Educação para a Cidadania em Contexto Institucional e Comunitário

Autoras: Isabel Amorim; Carla Pego; Cristiana Oliveira; Maria João Costa

Edição: EAPN – Rede Europeia Anti-Pobreza/ Portugal


Núcleo Distrital de Braga

º 34, 1º Esq. – 4700-251 Braga


Rua Ana Teixeira da Silva, n.

Tel.: 253 331 001 | E-mail: [email protected]

www.eapn.pt

Design gráfico: Rita Roque

ISBN: 978-989-8304-60-5

Data de edição: Novembro de 2020


ÍNDICE
Introdução................................................................................................................................ 7

1. Educação para a cidadania: Breve enquadramento teórico................................................9

2. Uma Experiência de trabalho de cidadania e participação social...................................25

3. Atividades em contexto institucional e comunitário...........................................................35

Considerações finais..............................................................................................................47

Referências bibliográficas......................................................................................................49
INTRODUÇÃO
A educação para a cidadania representa, seguramente, um importante instrumento de

combate aos fenómenos da pobreza e da exclusão social, na medida em que ela contribui

para a (in)formação e conscientização dos/as cidadãos/ãs acerca dos problemas sociais e

visa o seu envolvimento na resolução dos mesmos. Deste modo, contribui para o bem-estar

das pessoas, o desenvolvimento de uma sociedade com maior equidade, justiça e coesão.

Baseado nesta premissa, o manual que se apresenta resulta do conhecimento e da

experiência adquirida através da realização de atividades de participação das crianças em

contexto institucional e comunitário, no âmbito do grupo de trabalho interconcelhio

Infância e Juventude promovido pela EAPN Portugal/ Núcleo Distrital de Braga em conjunto

com entidades associadas e parceiras, designadamente a ACAPO – Delegação de Braga, a

Associação de Fomento Amarense, a Associação Gerações, a Associação de Moradores

das Lameiras, a Associação Valoriza - CLDS 3G Valor Humano, o Centro Cultural Santo

Adrião – Projeto T3tris E6G, o Centro Social e Paroquial de Santa Eulália e a Fundação

Bomfim, além de contar com a colaboração de outras entidades públicas e privadas locais.

Com efeito, este grupo assenta numa cultura de partilha e de colaboração inter-

organizacional e surgiu com a intenção de reforçar as respostas dirigidas aos destinatários

das instituições, principalmente às crianças e aos jovens provenientes de contextos

familiares e sociais desfavorecidos, com vista ao desenvolvimento de conhecimentos e

valores associados à cidadania e aos direitos humanos, contribuindo, deste modo, para o

desenvolvimento das suas competências pessoais e participação social. Por outo lado,

surgiu da vontade expressa pelas entidades associadas da EAPN Portugal, e que atuam

junto da população mais carenciada, com vista a dar resposta às necessidades

identificadas no seu trabalho quotidiano, e que podem ser satisfeitas através de

metodologias de participação das crianças e jovens e da dinamização de parcerias locais.

MANUAL DE ATIVIDADES DE EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA


EM CONTEXTO INSTITUCIONAL E COMUNITÁRIO
07
Em 2013, iniciou-se um trabalho com recurso a metodologias participativas. Numa fase

inicial, consistiu na formação de profissionais e na implementação e desenvolvimento da

metodologia “Filosofia para crianças” nas instituições abrangidas e, posteriormente, na

criação da história infantil “João (re)faz a diferença” e na construção de um jogo

pedagógico de tabuleiro sobre os direitos – “Jogo dos Direitos”. Dando continuidade ao

trabalho no âmbito da promoção da educação para a cidadania, realizaram-se outras

atividades com vista ao desenvolvimento de competências de participação das crianças

nas comunidades onde residem.

Assim, entendeu-se pertinente a elaboração de um manual, com uma vertente

simultaneamente teórica e prática, que possibilitasse dar a conhecer uma experiência de

trabalho em rede, no domínio da promoção da cidadania e participação social e na

comunidade, em particular por parte de crianças e jovens.

A presente publicação divide-se em três partes. Na primeira parte, é abordado o conceito

de educação para a cidadania, relacionando os termos cidadania, direitos humanos,

participação social e participação e intervenção na comunidade. Na segunda parte, é

apresentada a experiência do grupo de trabalho interconcelhio Infância e Juventude no

âmbito da promoção da cidadania e participação nas instituições e comunidades. Na

terceira parte, refletindo o caráter prático desde manual, elenca-se um conjunto de

propostas de atividades realizadas no âmbito desta experiência de trabalho em grupo, com

vista à promoção da educação para a cidadania, que poderão ser desenvolvidas em

contexto institucional e comunitário.

MANUAL DE ATIVIDADES DE EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA


08 EM CONTEXTO INSTITUCIONAL E COMUNITÁRIO
1 EDUCAÇÃO PARA A
CIDADANIA: BREVE
ENQUADRAMENTO
TEÓRICO
Abordar o conceito de educação para a cidadania implica falar em

cidadania, direitos humanos e participação social e na comunidade. Estes

conceitos estão estreitamente ligados entre si, na medida em que a cidadania

pressupõe a prática dos direitos e deveres e uma participação consciente e

responsável dos indivíduos nos desígnios da comunidade/ sociedade, num

determinado Estado ou país.

CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA
Os indivíduos tornam-se cidadãos quando agem em benefício de todos, com respeito e

com o objetivo de alcançar o pleno desenvolvimento da sua sociedade. À medida que os

indivíduos crescem e se vão apercebendo do que os rodeia, a sua interação com o outro

vai crescendo também, tornando-se necessário uma negociação que permita a tomada de

decisões e a elaboração de planos para o cumprimento de regras e normas, levando os

sujeitos a descobrirem que estas condições não são motivadas pelo respeito unilateral

mas, sim, pelo respeito mútuo, pela solidariedade e pela vontade de coordenar diversas

atividades para benefício comum (Fonseca, 2001: 30). Assim se constrói a cidadania.

Para que tal seja possível, é necessário que estes cidadãos se formem desde a mais tenra

idade, pois embora todos possamos aprender em qualquer altura da nossa vida, será mais

fácil ajudar a construir o espírito cívico desde cedo nos indivíduos e nada melhor que a

família, a escola e as organizações para o fazerem. É na família que a criança tem um

primeiro contacto com as questões da identidade, das relações interpessoais, dos valores,

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EM CONTEXTO INSTITUCIONAL E COMUNITÁRIO
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apercebe-se das noções de bem e de mal, de justiça, de solidariedade, de tolerância, etc.

Mas existem constrangimentos que condicionam a transmissão de conceitos e valores

associados à cidadania em contexto familiar. Desde logo, se as ações praticadas pelos

familiares forem contrárias às mensagens que transmitem verbalmente, a criança irá

valorizar a atitude e não a mensagem. Por outro lado, verifica-se um enfraquecimento da

capacidade socializadora da família, que depende cada vez mais de outras instâncias -

escola, media, TV/ internet, espaços lúdicos-infantis, entre outros - para socializar as

crianças nas práticas de cidadania (Abrantes, 2011; Barbosa, 2006; Cruz, 1997). Por isso, se

atribuí frequentemente à escola o papel de organização social que colmata as lacunas

que possam existir na educação das crianças por parte da família (Carvalho, 2003). Com

efeito, a escola tem um papel indispensável na formação cívica das crianças, mas não se

pode assumir que deva ser a principal e única responsável pela formação dos valores e

das responsabilidades dos seus educandos durante o processo de desenvolvimento da sua

cidadania. Esta deve desenvolver-se mediante a educação em todos os contextos sociais,

responsabilizando as instituições e a família. Todos – pais, família, escola, instituições e

sociedade em geral – devem (com)partilhar desta educação.

A educação para a cidadania é o conjunto de práticas e atividades cuja finalidade é

tornar os indivíduos melhor preparados para participar ativamente na vida democrática,

através da assunção do exercício dos seus direitos e responsabilidades sociais (Bîrzea,

1996). Abrange a educação política, a educação cívica, a educação para os valores e a

educação para o carácter, constituindo-se como um aglomerado de todas elas (Beltrão &

Nascimento, 2000). Assim, implica ensinar normas, regras e valores da

comunidade/sociedade e abordar os problemas concretos e reais, dando a conhecer os

direitos e deveres e fazendo compreender às crianças e jovens o alcance da participação

social e do exercício da liberdade (Audigier, 2000). Ou seja, a cidadania implica a

aquisição de conhecimentos e de valores alinhados com os princípios democráticos e os

direitos humanos e o desenvolvimento de ações na comunidade, uma vez que ela se

constrói através da interação social. Deste modo, a educação para a cidadania possui

uma dupla dimensão. Por um lado, uma vertente socializadora que visa

essencialmente proporcionar às crianças e jovens ideias sobre as regras, valores e saberes

da(s) comunidade(s), ajudando-os a tornarem-se membros dela(s) e, por outro lado, uma

vertente que tem como objetivo habilitá-los para construírem e assumirem compromissos

sociais, compreendendo que a sua voz e a sua ação podem ter influência no que acontece

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12 EM CONTEXTO INSTITUCIONAL E COMUNITÁRIO
consigo e com os outros à sua volta, contribuindo para uma mudança para melhor

(Figueiredo, 2002).

A educação para a cidadania promove a aquisição de competências cognitivas

(conhecimentos sobre aspetos políticos e jurídicos, questões do mundo atual, direitos

humanos e cidadania democrática), éticas (escolha dos valores alinhados com os princípios

democráticos e direitos humanos) e sociais, na medida em que ela implica um envolvimento

e atuação na comunidade, na resolução de problemas, no debate público (Audigier, 2000).

Um pouco por toda a Europa, ao longo dos últimos anos, verifica-se uma preocupação

crescente com a situação da educação para a cidadania, isto é uma agitação em torno

deste tema que está estreitamente ligado às alterações na sociedade que se pretende

melhor, mais justa e mais ativa. A degradação dos vínculos cívicos, o aprofundamento das

desigualdades, a multiplicação da injustiça, a negação do usufruto dos direitos, a

incapacidade de conviver com a diferença, a propagação da intolerância e o crescimento

dos populismos são alguns dos problemas que podem contribuir para o definhamento da

cidadania e levam a que a aprendizagem da cidadania seja encarada cada vez mais como

uma prioridade na Europa (Barbosa, 2006). A maioria dos países reconhece a necessidade

de incluir a educação para a cidadania no curriculum formal da escola e noutros contextos

institucionais com responsabilidade na formação dos cidadãos, reconhecendo todas as

influências educativas formais, informais e não formais.

DIREITOS HUMANOS
A Europa passou por um processo de adaptação aos valores democráticos e

cívicos durante séculos o que desenvolveu nos seus cidadãos a coragem

suficiente para lutar pelos seus direitos e, acima de tudo, pela liberdade e

igualdade (Fonseca, 2001).

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EM CONTEXTO INSTITUCIONAL E COMUNITÁRIO
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A conceção moderna de cidadania surgiu a partir de finais do século XVI, pela reação

contra o absolutismo monárquico que caracterizava a Idade Média, encontrando-se ligada

ao desenvolvimento do Estado Liberal. Foi desencadeada pela Revolução Gloriosa, em

1688, e pela Revolução Americana, em 1774-1776, culminando na Revolução Francesa, em

1789. Esta última foi de importância capital para a construção da cidadania moderna ao

substituir a soberania monárquica pela soberania do povo. Os direitos deixaram de ser

privilégios para se expandirem ao cidadão individual, representando a vontade do povo. A

centralidade dos direitos ficou estabelecida com a Declaração dos Direitos do Homem e do

Cidadão, em 1789, que contém os princípios subjacentes à definição atual dos direitos

fundamentais dos cidadãos, da soberania popular e da lei, baseados na liberdade

individual, direito à propriedade e à justiça (Nogueira & Silva, 2001).

Os direitos humanos são direitos inerentes a todos os seres humanos e visam salvaguardar a

dignidade de todas as pessoas, em todos os momentos e lugares e em todas as suas

dimensões, sem distinção de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outro

tipo, origem social ou nacional ou condição de nascimento ou riqueza. Foram definidos e

conquistados ao longo dos tempos e por várias civilizações, acompanhando a evolução da

Humanidade.

A Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH), adotada pelos estados membros das

Nações Unidas a 10 de dezembro de 1948, que surgiu em resposta às atrocidades

cometidas na II Guerra Mundial e para promover a paz e prevenir futuras guerras, foi o

primeiro documento que compreende direitos civis, políticos, económicos, sociais, culturais

e ambientais de caráter universal, indivisível, inerente e inalienável, incluindo o direito à vida

e à liberdade, à liberdade de opinião e de expressão, o direito ao trabalho e à educação,

entre muitos outros. É uma declaração geral de princípios sem poder vinculativo legal.

Contudo, teve grande impacto mundial junto da opinião pública e os seus princípios foram

transcritos para diversos pactos e convenções internacionais onde constituem obrigações

legais.

Algumas das características mais importantes dos direitos humanos prendem-se com o

facto de serem: fundados sobre o respeito pela dignidade e o valor de cada pessoa;

universais, o que significa que são aplicados de forma igual e sem discriminação a todas as

pessoas; inalienáveis, pois ninguém pode ser privado dos seus direitos humanos (embora

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possam ser limitados em situações específicas como, por exemplo, o direito à liberdade

pode ser restringido se uma pessoa é considerada culpada de um crime diante de um

tribunal e com o devido processo legal); indivisíveis, inter-relacionados e interdependentes,

uma vez que todos os direitos humanos devem ser respeitados de igual forma[1]. Os direitos

humanos são garantidos legalmente pela lei de direitos humanos, protegendo indivíduos e

grupos contra ações que interferem nas liberdades fundamentais e na dignidade humana.

O Direito Internacional dos Direitos Humanos (DIDH) estabelece as obrigações dos governos

de agirem de determinadas maneiras ou de se absterem de certos atos, a fim de promover

e proteger os direitos humanos e as liberdades de grupos ou indivíduos. O DIDH tem como

base fundamental a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Constitui um conjunto de

normas internacionais, convencionais ou consuetudinárias, que estipulam acerca do

comportamento e os benefícios que as pessoas ou grupos de pessoas podem esperar ou

exigir dos Governos.

Das principais fontes convencionais do DIDH, das Nações Unidas, destacam-se a

Convenção sobre a Prevenção e Punição do Crime de Genocídio (1948), a Convenção

Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial (1965), o

Pacto Internacional sobre os Direitos Económicos, Sociais e Culturais (1966), o Pacto

Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos (1966), a Convenção sobre a Eliminação de

Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres (1979), a Convenção contra a Tortura

e Outras Penas ou Tratamentos Cruéis, Desumanos ou Degradantes (1984), a Convenção

sobre os Direitos da Criança[2] (1989), os Princípios das Nações Unidas para as Pessoas

Idosas (1991) e a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (2006), entre

outros. Por sua vez, os principais instrumentos regionais são a Convenção Europeia para a

Proteção dos Direitos do Homem e das Liberdades Fundamentais (1950) adotada no âmbito

do Conselho da Europa, a Declaração Americana dos Direitos e Deveres do

Homem (1948), a Convenção Americana sobre os Direitos Humanos (1969) e a Carta

Africana sobre os Direitos Humanos e dos Povos (1981). No que concerne a ação da União

[1] Fonte: https://nacoesunidas.org/direitoshumanos/, acedido em 10/01/2020.

[2] Esta Convenção, constituída por 54 artigos, representa um importante instrumento legal devido ao seu carácter universal e também

pelo facto de ter sido ratificado pela quase totalidade dos Estados do mundo. Apenas um país, os Estados Unidos da América, ainda não

ratificou a Convenção sobre os Direitos da Criança. Portugal ratificou a Convenção a 21 de Setembro de 1990. Quando ratificada,

representa um vínculo jurídico para os Estados que a ela aderem, os quais devem adequar as normas de Direito interno às da Convenção,

para a promoção e proteção eficaz dos direitos e Liberdades nela consagrados. (Fonte: www.unicef.pt, acedido em 10/12/2019).

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Europeia neste domínio, importa referir a Carta dos Direitos Fundamentais da União

Europeia (2000; 2007-versão adaptada), que respeita os princípios consagrados na

Convenção Europeia dos Direitos do Homem e se encontra anexada ao Tratado sobre o

Funcionamento da União Europeia. Desde 2009, a Carta vincula juridicamente as

instituições europeias e os governos nacionais (sempre que apliquem a legislação da União

Europeia). Contudo, não define quaisquer novos direitos, reunindo num único documento os

direitos que anteriormente se encontravam dispersos por diversas fontes[3]. Com efeito, a

aplicação das normas e dos tratados em vigor implica um conjunto de práticas sociais

exercidas livre e responsavelmente e assentes num sistema partilhado de valores e normas,

e na existência de organizações supranacionais, inclusive a Organização das Nações

Unidas, o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos, o Conselho da Europa, a Organização

Internacional do Trabalho, entre outras, que organizam e normatizam o que podemos

chamar de cidadania mundial e europeia.

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PARTICIPAÇÃO
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SOCIAL
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A participação social remete para a influência dos indivíduos na organização de uma

sociedade e afigura-se essencial para a construção de um processo de mudança em prol

de todos os grupos que compõe a vida em sociedade. Este conceito pode assumir um

sentido mais amplo ou mais restrito. Assim, é utilizado com o sentido de: a) integração,

para indicar a natureza e o grau da incorporação do indivíduo ao grupo, e b) norma ou

valor pelo qual se avaliam tipos de organização de natureza social, económica, política,

etc. (Rios, 1987).

3] Fonte: https://europa.eu/european-union/topics/human-rights_pt, acedido em 10/01/2020.

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16 EM CONTEXTO INSTITUCIONAL E COMUNITÁRIO
O primeiro é o sentido amplo do termo e assinala a importância da adesão dos indivíduos

na organização da sociedade. É entendido como um conceito relacional e polissémico,

pois remete tanto para a coesão social como para a mudança social, e implica

comportamentos e atitudes passivos e ativos, estimulados ou não. Assim, numa vertente

mais ampla, a participação pode ser entendida como um princípio orientador do

conhecimento, variável segundo os tipos de sociedade em cada época histórica, na medida

em que a ação mobiliza o sujeito do ponto de vista emocional, intuitivo e racional.

Num segundo sentido, mais restrito e de caráter político, participação significa

democratização ou participação ampla dos cidadãos nos processos decisórios numa dada

sociedade, estando associada ao conceito de democracia participativa (Rios, 1987). Com a

correta distribuição da participação social, as classes consideradas menos favorecidas,

social e economicamente, possuem oportunidades de opinar e participar nas decisões

sociais e políticas relevantes. Neste contexto, a participação social torna-se um instrumento

primordial para o funcionamento de um Estado Democrático. Pois, não há democracia sem

participação, sem sociedade política que faça a mediação entre o Estado, a sociedade

económica e a sociedade civil, sendo inverosímil a existência de uma democracia sem

qualquer tipo de representação (Linz e Stepan, 1999).

Se considerarmos a participação enquanto processo de interação social confluente na

criação de espaços coletivos, teremos que considerar que as competências de

participação das crianças estão ligadas – ora constrangidas, ora estimuladas –, pelas

relações pessoais que estabelecem com os outros – família, amigos, comunidade, etc. – e

pelas estruturas socioeconómicas e culturais: serviços educativos e sociais, estruturas

políticas e outras, dos seus mundos sociais e culturais. A participação das crianças, em

contextos mais restritos ou mais alargados, é afetada por fatores que decorrem das

relações de poder e hierarquia que existem entre adultos e crianças e do tipo de

influências que as estruturas e instituições - educativas, económicas, jurídicas ou sociais

- exercem sobre elas, que devem funcionar como impulsionadoras da construção de

espaços de participação infantil e de envolvimento coletivo no bem-estar da comunidade

(Sarmento et al., 2007).

A conceção de participação infantil pode ser concebida em quatro níveis: a participação

simples, na qual a criança constitui um mero espectador; a participação consultiva, que se

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EM CONTEXTO INSTITUCIONAL E COMUNITÁRIO
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baseia numa atitude de escuta das crianças sobre assuntos que lhes dizem respeito, direta

ou indiretamente; a participação projetiva, onde as crianças participam em todos os

momentos e sentem que o projeto é seu; e por fim, a metaparticipação onde as crianças

pedem, exigem, constroem novos espaços e estruturas de participação (Trilla & Novella,

2001). Como se percebe, os dois últimos níveis implicam maior participação das crianças.

Tradicionalmente, a educação para a cidadania valoriza o aspeto político e legal dos

direitos dos cidadãos e da participação na democracia, mas, conforme referido

anteriormente, hoje-em-dia ela também é chamada a desenvolver a atitude ética de

autonomia e responsabilidade dos cidadãos para com a sua comunidade. Com efeito, na

sua conceção mais clássica, a cidadania é entendida como um conjunto de direitos e

deveres que um sujeito possui para com a sociedade da qual faz parte. Esta cidadania está

relacionada à ideia de um status, de um posicionamento jurídico-legal perante o Estado.

Marshall (1977), um dos mais reputados intérpretes e difusores desta conceção liberal,

elaborou o conceito de cidadania contextualizando-o na Inglaterra do final do século XIX,

a partir do surgimento dos direitos civis, políticos e sociais que, segundo ele, seriam

constituintes desta cidadania. Assim, segundo este autor, a cidadania apresenta três níveis

ou estádios, sequenciais, na sua construção e desenvolvimento histórico (civil, político e

social)[4].

De acordo com esta conceção mais clássica de cidadania, que se associa à perspetiva

evolucionista, as crianças são consideradas como sujeitos em formação e, portanto, as

decisões sobre os destinos da comunidade devem ser tomadas pelos adultos, e elas são

vistas como meros espectadores ou utilizadores passivos de serviços e bens. Ou seja, a

possibilidade de participação política e a cidadania plena implicariam alcançar um

patamar, que se concretiza nas delimitações etárias que estabelecem quem está

[4] O primeiro estádio é a cidadania civil, no século XVIII, resultante dos direitos desenvolvidos em reação ao absolutismo que se

baseavam na liberdade individual, tais como pensamento e fé, propriedade e acesso à justiça e liberdade de imprensa. Os direitos civis

eram indispensáveis à economia de mercado e à liberdade de concorrência, coexistindo, portanto, com o capitalismo. Por sua vez, a

cidadania política é concebida no século XIX e considerada como produto da cidadania civil. Os direitos são institucionalizados, havendo

um reconhecimento dos princípios da igualdade e do direito do indivíduo em tomar decisões em nome da sua comunidade. Este estádio

está intimamente ligado à instituição parlamentar, às assembleias, aos órgãos de governo local e ao desenvolvimento gradual do sufrágio

universal. Por último, distingue a cidadania social, durante o século XX, na qual o indivíduo adquire acesso aos direitos sociais, isto é aos

bens sociais básicos, aos cuidados médicos e a outros serviços de bem-estar social. Estas formas sociais de proteção foram

institucionalizadas na forma de Estado-Providência (Marshall, 1977).

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18 EM CONTEXTO INSTITUCIONAL E COMUNITÁRIO
preparado, e quem não está, para o exercício pleno dos direitos de cidadania. Apenas os

adultos teriam acesso a essa condição, ou estatuto. A infância seria, assim, considerada

uma etapa de maturação e de preparação para o exercício da cidadania, de “menoridade”

que reduz, ou mesmo põe em questão, os direitos civis e políticos, acreditando-se que

existiria uma capacitação a ser alcançada somente com a maioridade. A inexistência na

infância dos três pressupostos civilizatórios que vinculam o indivíduo para com a

comunidade - vontade livre, pensamento racional e sentido de solidariedade -,

legitima a recusa da cidadania da infância, pelo menos da totalidade da cidadania

política e, parcialmente, da cidadania civil (Sarmento et.al., 2007). Assim, segundo este

modelo clássico de cidadania, no que diz respeito à infância e juventude, o acesso ao

estatuto integral de cidadão fica restrito aos direitos sociais, ainda assim concebidos como

formas de preparação do futuro cidadão, e não como sujeitos de direitos plenos.

Ainda, segundo esta conceção de menoridade da infância (não apenas etária, mas cívica),

a condição de acesso futuro à cidadania plena não passa apenas pela simples passagem

dos anos, mas decorre da compulsividade da frequência de instituições cuja proclamada

missão consiste precisamente em preparar para a cidadania – a escola (Sarmento et.al.,

2007). A escola foi sendo historicamente tematizada pela modernidade como lugar de

formação de jovens cidadãos, plenos de direitos numa sociedade com igualdade de

oportunidades. Corresponde à institucionalização histórica de processos de disciplinização

da infância (Foucault, 1993) que são inerentes à criação da ordem social dominante. A

escola permanece como um palco conflitual de projetos políticos e pedagógicos que tanto

podem orientar-se para uma efetiva ampliação dos direitos das crianças, quanto sustentar-

se em lógicas de ação que perpetuam a inscrição histórica da dominação (Sarmento et.al.,

2007).

A cidadania clássica, baseada em direitos e na pertença a um Estado-nação, tem

enfrentado inúmeros questionamentos, e passa por re-con figurações em função das

mudanças na sociedade contemporânea. Com efeito, no final da década de 80, início da

década de 90, na formulação de leis e políticas públicas, surge e é consolidada uma nova

representação social da criança e do adolescente: a de sujeito de direitos. Neste enfoque,

as práticas em relação à infância e juventude sofrem uma mudança: as práticas

assistenciais (de proteção social, de controle e disciplina, e de repressão) deram lugar a

discursos e práticas de afirmação de defesa, reconhecimento e respeito destes sujeitos

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EM CONTEXTO INSTITUCIONAL E COMUNITÁRIO
19
(Pinheiro, 2001). É nesse momento que se dá a mudança na compreensão da criança e do

jovem como cidadão, ou seja, mesmo que encarado na sua especificidade de “estar em

desenvolvimento”, e ter a proteção do Estado, ele é considerado como sujeito de direitos,

diferentemente de quando os direitos sociais, inclusive a educação, lhe eram dados apenas

por conta de ser visto como um sujeito no futuro. É nessa época que as Nações Unidas

adotaram por unanimidade, a 20 de Novembro de 1989, a Convenção sobre os Direitos da

Criança. Os princípios regentes desses direitos são os de sobrevivência, desenvolvimento,

proteção e participação. A elaboração desta convenção demonstra uma evolução no que

diz respeito à participação pois a criança passou a ser considerada não só como objeto,

mas também como sujeito, ator e cidadão. Esse tratado teve importância ao estender um

bom número de direitos às crianças. No entanto, alguns autores consideram que não

eliminou todas as formas de discriminação em relação às crianças, comparando-as aos

adultos.

No que se refere à questão da participação, a Convenção é, por vezes, obscura, facilmente

recaindo numa tutela “disfarçada” pois ainda é considerada uma diferenciação etária

qualitativa, na medida em que é dada primazia aos adultos relativamente à tomada de

decisões no que diz respeito à vida de crianças e jovens (Wintersberger, 1996; Pinheiro,

2001). Apesar de todas as limitações e críticas, a Convenção, assim como toda a legislação

e instrumentos jurídicos que se reportam às crianças, é uma marca de cidadania, um sinal

da capacidade que as crianças têm de serem titulares de direitos e um indicador do

reconhecimento da sua capacidade de participação (Sarmento et al., 2007). Com efeito,

representa um grande avanço no que diz respeito à representação e ao lugar da infância e

da juventude dentro da sociedade, considerando a criança como sujeito de direitos plenos.

Ser cidadão é participar na vida pública e política da comunidade/ sociedade. Por meio

de uma maior participação e presença no espaço público, as crianças podem mostrar

formas distintas de ver o mundo, e assim, podem gerar novos caminhos que enriquecem a

vida em comum (Castro, 2004). A participação social funciona como um avalizador de

competência social que, por sua vez, avaliza a competência política. Neste contexto, a

competência social é entendida enquanto autorização e reconhecimento de possibilidade

de se realizar algo. Logo, participa somente quem se acha apto a participar e tem a sua

participação reconhecida (Bourdieu, 1984).

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20 EM CONTEXTO INSTITUCIONAL E COMUNITÁRIO
A capacitação ou “saber” político é construído a partir da práxis, a partir da ação, na qual

tanto adultos como crianças estão implicados. Ou seja, essa capacitação consiste num

processo contínuo de aprendizagem baseado na experiência do quotidiano que não está

vedado à infância, bem pelo contrário. Hoje, ambos, crianças e adultos têm de aprender a

dar sentido e forma às suas atividades cidadãs (Castro, 2001; Jans, 2004). Enquanto

sujeitos, as crianças e jovens, assim como os adultos, estão numa relação bidirecional de

determinação com a sociedade sendo, portanto, tanto influenciados como influentes nas

forças económicas, políticas e sociais que constituem o contexto da vida em

sociedade. Constituem também um grupo com interesses específicos e ao não terem voz

levam os políticos a prestarem menos atenção às suas necessidades. As crianças e jovens

representam a geração mais distante dos políticos mas, por sua vez, também são as que

sofrerão por mais tempo as consequências das escolhas políticas de hoje (Wintersberger,

1996). É, portanto, fundamental que a esses sujeitos seja permitido o exercício de

participação nos destinos da sociedade.

Esta nova conceção representa um avanço no que diz respeito à maneira de se pensar e

tratar a infância e juventude. Pensar a cidadania das crianças coloca a necessidade de

considerar este conceito, não enquanto um estatuto jurídico-legal, definido apenas como

um conjunto de direitos e deveres, mas como um processo contínuo de aprendizagem

baseado na experiência do quotidiano. As crianças deveriam ter o direito a desfrutar dos

constrangimentos, regras e exigências de comportamento que darão origem ao sentido de

comunidade que preside as ações de cidadão no espaço público (Andrade, 1997).

Em suma, para que as crianças e jovens se tornem cidadãos é necessário que conquistem a

comunidade, não apenas através do conhecimento, mas também através da identificação

e da ação. Significa poderem descobrir que “caminhos” podem ser trilhados, individual e

coletivamente; significa poderem descobrir, com os outros, que a comunidade é uma “obra”

em construção; significa poderem identificar-se com os problemas e dificuldades da

comunidade, não a vendo como algo que não lhes diz respeito. A comunidade constitui-se,

portanto, de um sentimento construído internamente pelo sujeito por meio da sua ação. As

pessoas tornam-se cidadãs à medida que passam a sentir-se parte de uma nação e de um

Estado, quando se sentem pertencentes a um lugar, à comunidade onde residem (Carvalho,

2004).

MANUAL DE ATIVIDADES DE EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA


EM CONTEXTO INSTITUCIONAL E COMUNITÁRIO
21
PARTICIPAÇÃO E INTERVENÇÃO NA
COMUNIDADE
Conforme referido anteriormente, a participação social implica oportunidades de

participação no espaço público e político, nos desígnios da sociedade, reconhecendo que

todos, independentemente da sua idade, são sujeitos de plenos direitos. Esta participação

não está dissociada do envolvimento e participação na comunidade, na tomada de

decisões e ações que visam contribuir para a (re)solução dos problemas sociais e melhoria

do bem-estar comum. É através deste tipo de ações que se desenvolvem a consciência

cívica, as competências associadas à cidadania, as competências pessoais ou soft skills.

Espaços de participação, com este tipo de objetivos, devem se impulsionados pelos

agentes locais. A conjugação de conhecimentos, valores e ações constituem os aspetos

fundamentais de toda a ação cívica. Para que os conhecimentos e os valores, alinhados

com os princípios democráticos e direitos humanos, sejam desenvolvidos, é necessário que

o indivíduo socialize com os seus pares, pois o cidadão não se constrói sozinho, é fruto de

uma interação que o leva a considerar reações e atitudes perante outros, os que o

rodeiam.

Com efeito, o direito à participação social e à partilha de decisões das crianças e jovens

nos seus mundos de vida constrói-se nas interações. Tal significa que o reconhecimento às

crianças do estatuto de atores sociais só faz sentido se se fizer acompanhar da

auscultação da sua voz e da valorização da sua capacidade de atribuição de sentido, quer

aos seus contextos de vida quer às suas ações, ainda que expressos com características

específicas, de acordo com o seu desenvolvimento (Pinto, 2010).

É por sua ação, nos espaços partilhados, que a criança aprende as regras de convivência

com o outro. Ela expande o seu olhar sobre a comunidade, deixa de considerar uma

posição que só tem em conta os seus interesses e passa a considerar perspetivas advindas

do outro, e os impasses gerados na convivência com todos aqueles com os quais

compartilha o mundo. Assim, a participação das crianças deve possibilitar a sua

apropriação ativa do espaço, significando por um lado, promover as suas escolhas e

decisões sobre a comunidade e, por outro lado, abrir caminhos para que elas se

importem com os problemas dos espaços onde vivem. Trata-se, portanto, de uma outra

MANUAL DE ATIVIDADES DE EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA


22 EM CONTEXTO INSTITUCIONAL E COMUNITÁRIO
aprendizagem à qual crianças, jovens e adultos estão submetidos a um processo constante

de vivenciar e experienciar a vida na comunidade, envolvendo processos não só racionais,

mas também afetivos e emocionais. Falar em direitos da criança e do jovem, nos dias de

hoje, implica uma inserção mais plena na sociedade de modo que a sociedade não seja a

que os adultos querem construir para eles, mas aquela que eles também deveriam ter o

direito de querer e o dever de construir juntamente com os adultos (Castro, 2001).

No entanto, persiste uma cultura de marginalização das crianças relativamente às suas

possibilidades de participação na comunidade. As tomadas de decisão relativas à

organização dos espaços públicos estão cercadas de barreiras relacionadas com a

linguagem tecnocrática e com estilos de negociação do planeamento dos espaços que

não consideram plausível ou desejável a integração das vozes das crianças (Chawla, 1997).

As crianças e jovens possuem competências que lhes permitem dar contributos inovadores

para a melhoria dos espaços sociais em que vivem (Chawla, 1997) e, por isso, as instituições

e serviços, de âmbito educativo, social e cultural, têm um papel fundamental na construção

de espaços de cidadania onde operam relações intergeracionais, entre adultos e crianças,

na configuração dos espaços públicos.

A intervenção na comunidade centra-se na promoção das pessoas e dos territórios, na

emancipação coletiva e na mudança social. Pressupõe processos de participação coletiva

e incentiva o desenvolvimento endógeno das potencialidades económicas, educativas,

culturais, associativas, entre outras, com vista à maior qualidade de vida e bem-estar.

Estas dinâmicas, das quais as crianças e jovens devem fazer parte, assentam num conjunto

de valores comunitários tais como cooperação, participação, responsabilidade,

solidariedade, ou seja alinhados com os princípios democráticos e os direitos humanos

(Marques, 1998). A forma mais relevante de expressão da cidadania dá-se através da

participação nos destinos da comunidade na qual os sujeitos se encontram inseridos.

MANUAL DE ATIVIDADES DE EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA


EM CONTEXTO INSTITUCIONAL E COMUNITÁRIO
23
MANUAL DE ATIVIDADES DE EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA
24 EM CONTEXTO INSTITUCIONAL E COMUNITÁRIO
2 UMA EXPERIÊNCIA DE
TRABALHO
DE CIDADANIA E
PARTICIPAÇÃO SOCIAL
No trabalho que descrevemos a seguir, foi nosso objetivo abrir um espaço de participação ativa para

as crianças: de decisão, escolhas e construção de sentidos comuns por meio do diálogo e da

ação[5]. O objetivo consistiu na dinamização de diversos grupos de crianças e jovens por parte das

entidades parceiras, de modo a que pudéssemos compreender se, e como, podem construir novas

possibilidades coletivas de pensar e sentir os lugares onde vivem e seus problemas e acionar a sua

participação na resolução ou minimização dos mesmos, estando implícito o desenvolvimento de

valores e comportamentos associados à cidadania (solidariedade, tolerância, respeito, participação,

responsabilidade individual e coletiva, etc.) e de competências pessoais/ soft skills para o efeito.

Por meio de metodologias de participação nos desígnios da comunidade/ sociedade, foi possível o

desenvolvimento de capacidades pessoais/ soft skills dos destinatários, uma vez que aprenderam a

trabalhar em equipa, gerir projetos, treinar a liderança e competências de comunicação e

inteligência emocional que, seguramente, têm efeitos positivos na construção da sua personalidade e

bem-estar na infância e, posteriormente, na vida adulta nos planos pessoal, familiar, social e

profissional.

Com efeito, é importante, desde cedo, as pessoas terem a possibilidade de aprender e treinar

competências pessoais e aperfeiçoa-las ao longo da vida. Esse tipo de competências, aliado a

padrões de responsabilidade quer do ponto de vista individual quer coletivo, é fundamental e é cada

vez mais valorizado na sociedade atual, nos mais diversos contextos[6].

Assim, este trabalho favoreceu, especificamente, o desenvolvimento de competências de

comunicação e trabalho em equipa (comunicar de forma clara e construtiva, respeitar as diferentes

opiniões, estabelecer relações de confiança, partilhar conhecimento, assumir um compromisso

comum), ética (regras e princípios de honestidade, atuar de forma confiável e responsável),

pensamento crítico e criativo (curiosidade, raciocínio lógico, mente aberta para novidades e

ideias diferentes), resiliência e resolução de problemas (foco na solução, lidar com os obstáculos e

[5] Segundo a tipologia de Trilla &Novella (2001), pode afirmar-se que as atividades realizadas no âmbito do grupo de trabalho interconcelhio Infância e

Juventude inserem-se na categoria "participação projetiva" (Ver Item 2, página 17).

[6] Note-se que no mercado de trabalho, as competências pessoais vão ganhando cada vez mais importância. Por exemplo, a competência técnica não

servirá de nada se não se for capaz de confiar nos colegas e trabalhar em equipa. Normalmente, as entidades empregadoras procuram candidatos com

determinadas hard skills, isto é competências técnicas e conhecimentos específicos necessários para realizar uma determinada tarefa ou função, e soft

skills ou competências (inter)pessoais. Estas últimas pertencem ao grupo dos requisitos comuns a quase todos os empregos. E, pese embora a

necessidade de conhecimentos técnicos, a maioria dos empregadores procura estas capacidades sociais em todos os candidatos ou colaboradores.

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EM CONTEXTO INSTITUCIONAL E COMUNITÁRIO
27
fracassos e encontrar estratégias sem perder a motivação, manter uma atitude positiva), tomada de

decisões, organização e gestão do tempo (definir metas e estabelecer prioridades, planear as tarefas

diárias e o tempo de trabalho para alcançar os resultados desejados) e adaptação a ambientes

multiculturais (respeito pela diferença, sem preconceitos, flexibilidade e adaptabilidade) - Figura 1.

Figura 1 - Competências Pessoais


desenvolvidas

pensamento crítico e
criativo

ética
comunicação e trabalho
em equipa
organização e gestão do
tempo
adaptação a ambientes
multiculturais

resiliência e resolução
de problemas

tomada de decisões

Em termos metodológicos, iniciou-se o processo com a definição e seleção de problema(s) e

necessidades sentidas pelos grupos, com base nas suas experiências e contextos de vida, através da

realização de sessões de brainstorming dinamizadas pelas entidades parceiras e atendendo, sempre

que possível, aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS)[7], definidos pela Organização

das Nações Unidas (ONU) até 2030.

[7]Aprovada na Cimeira da ONU a 25 de setembro de 2015, a resolução A/RES/70/1 “Transformar o nosso mundo: Agenda 2030 de Desenvolvimento

Sustentável” entrou em vigor em 2016. Constituída por 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e 169 metas a alcançar até 2030 por todos os

193 países, está ancorada numa bateria com mais de 200 indicadores que permitem monitorizar o respetivo progresso e sustentar os relatórios anuais.

Os ODS abrangem questões de desenvolvimento social e económico, incluindo pobreza, fome, saúde, educação, aquecimento global, igualdade de

género, água, saneamento, energia, urbanização, meio ambiente e justiça social. Os 17 ODS e as respetivas metas estão interligados e têm um caráter

global, isto é, devem ser aplicados universalmente, partilhando-se a responsabilidade pelo seu alcance por todos os países (e não apenas nos países em

desenvolvimento), o que traduz uma evolução face aos 8 Objetivos de Desenvolvimento do Milénio - ODM (2000-2015).

Fonte: https://unric.org/pt/objetivos-de-desenvolvimento-sustentavel/, acedido em 30/11/2020.

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28 EM CONTEXTO INSTITUCIONAL E COMUNITÁRIO
Numa segunda fase, houve lugar ao debate de ideias e de possíveis soluções para atenuar ou

resolver o(s) problema(s) selecionado(s). Seguiu-se a fase de planeamento e organização da(s)

atividade(s), acionando para o efeito os recursos materiais e imateriais necessários, nomeadamente

em termos de parcerias locais. Por último, passou-se à intervenção nas instituições e nas comunidades

através da realização da(s) atividade(s) e/ou da disseminação do(s) produto(s), estando implícito um

processo de mudanças positivas ocorridas no terreno - Figura 2.

Figura 2 - etapas de trabalho

Figura 1

De um modo geral, os grupos tiveram facilidade em colocar os problemas do quotidiano. Essas

questões fazem parte do universo deles, são problemas que vivenciam todos os dias e, muitas vezes,

não encontram maneiras de evitá-los ou partilhá-los. Além disso, não se limitaram aos problemas que

eles enfrentam, ou seja, procuraram posicionar-se perante questões não só locais mas também

globais, que afetam todos os segmentos da sociedade, tais como a desigualdade, a discriminação e

a degradação do ambiente.

MANUAL DE ATIVIDADES DE EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA


EM CONTEXTO INSTITUCIONAL E COMUNITÁRIO
29
Os problemas centrais, alvo da intervenção dos grupos de crianças e jovens dinamizados pelas

entidades parceiras, foram os seguintes: (1) evidência de situações inadequadas/discriminatórias na

sociedade face a pessoas em função da sua nacionalidade, etnia, sexo, religião, origem social e/ou

outras características físicas, mentais ou culturais, que condicionam as suas escolhas e o seu futuro,

ou seja impedem ou limitam a igualdade de oportunidades; (2) Défice de práticas de cidadania/

participação social na vida da comunidade por parte da sociedade civil, que impede uma voz mais

ativa e mais ação na tomada de decisões e na resolução coletiva de problemas locais, com vista à

preservação das boas relações de vizinhança e à qualidade de vida e bem-estar dos habitantes

(bairro, comunidade); (3) Consumo excessivo, falta de hábitos de reciclagem e insuficiente

responsabilidade ambiental na sociedade, que prejudicam a vida marinha e terrestre, provocam

alterações climáticas e afetam negativamente o bem-estar da humanidade.

Estes problemas relacionam-se com dez dos dezassete objetivos de Desenvolvimento Sustentável

2030 (ODS), designadamente Erradicar a Pobreza (obj. 1), Saúde de Qualidade (obj. 3), Educação de

Qualidade (obj. 4), Igualdade de Género (obj. 5), Redução das Desigualdades Sociais (obj. 10),

Cidades e Comunidades Sustentáveis (obj. 11), Ação Climática (Obj. 13), Proteção da Vida Marinha

(obj. 14), Proteção da Vida Terrestre (obj. 15) e Paz, Justiça e Instituições Eficazes (obj. 16). Os ODS[8]

foram tidos em conta desde o início dos trabalhos, pelas entidades parceiras, junto dos respetivos

grupos, conforme referido anteriormente - Figura 3.

Figura 3 - Objetivos do Desenvolvimento


sustentável abordados

[8]Entre 2013 e 2015, o grupo de trabalho interconcelhio Infância e Juventude teve em conta, nas suas atividades, os Objetivos de Desenvolvimento do

Milénio (ODM), que vigoraram entre 2000 e 2015 e antecederam os ODS.

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30 EM CONTEXTO INSTITUCIONAL E COMUNITÁRIO
Com a sua capacidade de criatividade, os grupos de crianças e jovens propuseram algumas soluções.

Nesse momento, puderam partilhar com os/as seus/suas colegas impressões e opiniões e vislumbrar

possíveis soluções para o que os preocupava. As soluções apontadas tanto dependiam deles mesmos

como das outras pessoas, assentando na ideia de que influenciar a adoção de comportamentos

responsáveis poderia ajudar a solucionar os problemas sociais.

Assim, foram desenhadas atividades e produtos, inclusive com recurso a formas de expressão

artística, que visaram influenciar a adoção de comportamentos responsáveis e positivos na

comunidade/ sociedade de modo a contribuir para a resolução, ou pelo menos atenuar, dos

problemas identificados, com a devida orientação das equipas técnicas das entidades parceiras. Na

terceira parte deste manual, elencam-se algumas das atividades que foram realizadas em contexto

institucional e comunitário, designadamente: “Semear afetos”, “Casinhas para pássaros”, “Mar e praia

limpos”, “Por Nós e por Eles”, “Jogo dos direitos”, "Diferença e Inclusão Social”, "O que é ser

voluntário?”, "Filosofia para crianças”, "Calendário: Direitos das Crianças" e "João (re)faz a

diferença”.

Participaram nestas atividades cerca de 180 crianças e jovens, com idades compreendidas entre os 1

e os 16 anos, do sexo masculino e do sexo feminino (procurando-se o equilíbrio de género),

provenientes de diversos contextos sociais e familiares[9] e, em alguns casos, crianças

portadoras de deficiência visual. A maioria participou em pelos menos duas das atividades referidas

(e selecionadas para este manual), pois a intervenção de caráter contínuo constituiu uma das

premissas do grupo de trabalho interconcelhio, com vista a produzir mudanças efetivas nos

destinatários. Quanto ao número de participantes por atividade segundo a faixa etária, a Tabela 1

elucida a este respeito.

[9] Importa referir que as crianças e jovens são maioritariamente provenientes de contextos sociais e familiares desfavorecidos (bairros sociais, minorias

étnicas, famílias beneficiárias do Rendimento Social de Inserção (RSI), crianças institucionalizadas). Foram constituídos grupos heterogéneos, anulando

qualquer tipo de segregação.

MANUAL DE ATIVIDADES DE EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA


EM CONTEXTO INSTITUCIONAL E COMUNITÁRIO
31
tabela 1 - Participantes por atividade,
segundo faixa etária

No que concerne à avaliação das atividades, foi realizada uma avaliação de processo tendo por base

a perceção das crianças e jovens. Optou-se por técnicas qualitativas, mais frequentemente pela

aplicação pontual de focus group aos diversos grupos de crianças e jovens, permitindo aferir

resultados quanto a alguns indicadores, nomeadamente o nível da satisfação com as atividades (e

sua fundamentação), o nível da satisfação com a relação com as outras crianças, o nível da

satisfação com a relação com os/as técnicos/as (e, ainda, propostas de medidas de melhoria). Em

termos globais, os resultados da avaliação são muito positivos nestes critérios de análise, com

percentagens que oscilam entre os 70% e os 100% de satisfação elevada ou muito elevada.

Foram utilizados instrumentos específicos relativamente a alguns produtos, como é o caso do Jogo

dos direitos. Este implicou a aplicação de um questionário de avaliação de reação aos profissionais/

adultos - professores/as, educadores/as, animadores/as, pais, entre outros/as - que o utilizaram

junto de crianças. Os resultados do tratamento dos dados dos 44 questionários recebidos indicam

que: 100% considerou que o jogo contribuiu para a aprendizagem das crianças sobre os direitos;

95,5% é da opinião de que as crianças mostraram-se satisfeitas com o que aprenderam com o jogo; e

100% pretende aplicar novamente o jogo e o recomenda a outros/as profissionais.

De um modo geral, podemos afirmar que as atividades produziram resultados a três níveis: nas

crianças, nos profissionais envolvidos e nos familiares e comunidade em geral. Primeiro nas crianças,

MANUAL DE ATIVIDADES DE EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA


32 EM CONTEXTO INSTITUCIONAL E COMUNITÁRIO
na medida em que contribuíram para a sua aprendizagem sobre temáticas relacionadas com

cidadania e direitos humanos, o desenvolvimento das suas competências (inter)pessoais e

capacidades de participação social. Em segundo lugar nos/as colaboradores/as das Instituições

Particulares de Solidariedade Social (IPSS), na medida em que contribuíram para a sua capacitação

no que concerne a utilização de novas metodologias (ex. Filosofia para Crianças) nas suas práticas

institucionais. Por último nos familiares e na comunidade em geral, uma vez que as atividades e

produtos realizados pelas crianças promoveram o conhecimento sobre temáticas relacionadas com

cidadania, a mudança de percepções e de comportamentos alicerçados numa maior

responsabilidade individual e coletiva.

MANUAL DE ATIVIDADES DE EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA


EM CONTEXTO INSTITUCIONAL E COMUNITÁRIO
33
MANUAL DE ATIVIDADES DE EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA
34 EM CONTEXTO INSTITUCIONAL E COMUNITÁRIO
3 ATIVIDADES EM
CONTEXTO
INSTITUCIONAL E
COMUNITÁRIO
“SEMEAR AFETOS”
Recursos materiais
Sistema áudio para colocar música de fundo; terra para plantas; copos de

iogurte vazios; material para mexer a terra - pás, colheres, pequenos baldes,

taças; plantas para semear (sementes ou suculentas); material de pintura -

cola, marcadores, lápis; recipientes grandes; autocolante com as palavras

“Semear Afetos”.

Descrição
A atividade visa aproximar gerações, fomentando, por via da partilha e da aprendizagem em relação à terra e

às plantas, o respeito mútuo e emoções positivas. Primeiro, as crianças e as pessoas idosas exploram em

conjunto a terra, mexendo, enchendo e esvaziando os recipientes, ajudando-se mutuamente. Depois, cada par –

criança e pessoa idosa - planta as sementes e/ou as suculentas num vaso, no qual colocam posteriormente um

autocolante com as palavras “Semear afetos” e o nome da criança. No final, se assim o entenderem, os

participantes levam o vaso para as suas casas.

Justificação
As atividades entre gerações fomentam momentos de

interconhecimento, contrariando eventuais estereótipos

relativamente às pessoas idosas. A valorização pessoal,

associada às emoções positivas, é fundamental para o equilíbrio

e o bem-estar. As emoções são parte integrante do

desenvolvimento global e, neste sentido, as emoções positivas

conduzem ao bom desenvolvimento emocional das pessoas. É na

infância que se deve desenvolver a capacidade de aprender a

gerir as - boas e más - emoções, a fim de que elas favoreçam a

construção da personalidade e o bem-estar nas diversas fases da

vida. Além disso, o contacto com a terra e as plantas permite


Promover o quê?
reforçar nas crianças o respeito pela natureza.
Trabalho em equipa

Ética

Organização

Dicas e sugestões Adaptabilidade

Utilizar copos de iogurte, em alternativa aos vasos.

Colocar o vaso num espaço adequado, em termos de

luminosidade, para o crescimento da planta. Regá-la

regularmente e observar, em conjunto, o seu crescimento.

Atividade organizada por: Fundação Bomfim, crianças e pessoas idosas.

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EM CONTEXTO INSTITUCIONAL E COMUNITÁRIO
37
“CASINHAS PARA PÁSSAROS”
Recursos materiais
Materiais reutilizados, como garrafas e garrafões de plástico; folhas, fetos,

musgo, cascas de pinheiro, flores secas, paus; outros complementares e

decorativos.

Descrição
Em contexto de projeto pedagógico de sala (Creche), as crianças manifestam

um significativo interesse pela natureza e pelos animais, em particular pelos

pássaros. Nasce a ideia da construção de casinhas para pássaros. Construídas

pelas crianças, com recurso à reutilização de materiais e a elementos naturais,

as casinhas são colocadas nas árvores da instituição, do parque e/ou da

floresta com a ajuda dos seus familiares. São observadas pelas crianças e seus

familiares pontualmente e à distância, com o objetivo de perceber que

pássaros as escolhem.

Justificação
A atividade permite desenvolver nas crianças o gosto e o

respeito pela natureza e pelos animais, assim como

promover hábitos de reutilização de materiais. Ao envolver

pais e outros familiares, permite sensibilizá-los para a

temática, influenciando a adoção de comportamentos

responsáveis em relação ao ambiente. Por norma, o

contacto com a natureza também potencia emoções

positivas.

Promover o quê?
Dicas e sugestões Trabalho em equipa (assumir um

compromisso comum)
Visitar pontualmente as casinhas de pássaros para
Ética (atuar de forma responsável)
descobrir que pássaros as escolhem, não interferindo
Pensamento criativo
com a dinâmica do ecossistema.

Realizar a atividade antes de iniciar a Primavera.

Atividade organizada por: Associação Gerações, crianças e seus familiares.

MANUAL DE ATIVIDADES DE EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA


38 EM CONTEXTO INSTITUCIONAL E COMUNITÁRIO
“MAR E PRAIA LIMPOS”
Recursos materiais
Marcadores, pincéis, tintas e papel; recipientes para recolher e transportar o

lixo.

Descrição
Durante o verão e em contexto de colónia de férias, as crianças sensibilizam

os veraneantes e banhistas para a adoção de comportamentos responsáveis

em relação à preservação/não poluição do mar e das praias, através de uma

abordagem personalizada e folhetos informativos. Estes são previamente

elaborados nas sessões de trabalho. Recolhem o lixo nas praias contribuindo,

igualmente, para a preservação da vida terrestre e marinha.

Justificação
A proteção do ambiente, inclusive dos mares e dos oceanos,

constitui uma preocupação central nos dias de hoje devido aos

(re)conhecidos efeitos nefastos da poluição sobre todas as

formas de vida e ao seu impacto nos recursos naturais e nas

alterações climáticas. As crianças, por meio da sua iniciativa,

sensibilizam e apelam à responsabilidade de todos/as pelos seus

comportamentos, dando o exemplo. A atividade permite o

desenvolvimento da responsabilidade individual e coletiva no que

concerne a proteção do ambiente.

Promover o quê?
Dicas e sugestões
Trabalho em equipa (assumir um
Utilizar materiais recicláveis na elaboração do folheto de
compromisso comum)
informação/ sensibilização.
Ética (atuar de forma responsável)
Utilizar luvas na recolha do lixo.
Tomada de decisões e organização
Separar o lixo e colocá-lo devidamente no Ecoponto, se for

passível de ser reciclado.

Atividade organizada por: Associação Gerações e crianças.

MANUAL DE ATIVIDADES DE EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA


EM CONTEXTO INSTITUCIONAL E COMUNITÁRIO
39
“POR NÓS E POR ELES”
Recursos materiais
Papel cenário; tintas; pincéis; computadores; impressora;

lápis e borracha.

Descrição
A atividade surge da necessidade de sensibilizar os/as moradores/as do complexo habitacional para cuidados

a ter com os animais de estimação (ex. cães), relativamente à higiene destes e dos espaços comuns e com o

ruído (principalmente durante o período noturno) que afetam negativamente as relações de vizinhança. De

modo a influenciar a adoção de novos comportamentos, os/as jovens desenham um plano de ação e

comunicam-no ao presidente da Associação de Moradores e ao vereador da Câmara Municipal, mediante todo

um processo de apoio por parte da equipa técnica. Procedem à elaboração, afixação e distribuição de

cartazes e de folhetos informativos, sensibilizando os/as moradores/as, e à colocação de caixotes específicos

para os dejetos dos animais.

Justificação
Os/as jovens desempenham um papel ativo ao delinear e

propor uma atividade para a resolução deste(s) problema(s)

que afeta(m) os/as habitantes do complexo, com o apoio

da equipa técnica. Estimular os/as mais jovens para a

reflexão demonstra-lhes que, através da sua tomada de

iniciativa sobre os desígnios da comunidade e por meio da

sua ação, são capazes de mudar e melhorar a realidade Promover o quê?


que os envolve. Resiliência e resolução de problemas

Tomada de decisões e capacidade

de organização

Dicas e sugestões Pensamento crítico e criativo

Competências de comunicação e de
Realizar sessões de brainstorming para o surgimento e o
trabalho em equipa
debate de ideias com os/as jovens.

Apoiar os/as jovens no desenho do plano de ação.

Envolver os/as decisores locais na dinâmica e

prossecução das atividades.

Atividade organizada por: Associação de Moradores das Lameiras, Projeto Eurobairro Underground E7G,

Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão e jovens do Complexo Habitacional das Lameiras.

MANUAL DE ATIVIDADES DE EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA


40 EM CONTEXTO INSTITUCIONAL E COMUNITÁRIO
“JOGO DOS DIREITOS”
Recursos materiais
Reprodução gráfica dos materiais - cartões, tabuleiro, ficha

técnica e regras do jogo disponíveis em:

https://www.eapn.pt/documento/605/o-jogo-dos-direitos

Peões e dado; Declaração Universal dos Direitos Humanos e

Convenção sobre os Direitos da Criança (para consulta).

Descrição
O Jogo dos Direitos é um jogo didático de tabuleiro elaborado a partir do contributo de mais de meia centena

de crianças. É constituído por um tabuleiro, 88 cartões de perguntas, 14 cartões “surpresa”, 6 peões e 1 dado. A

elaboração dos cartões de perguntas conta com a participação das crianças, através de sessões dinamizadas

pelos respetivos parceiros. Este jogo visa ensinar às crianças, a partir dos 6 anos, os seus direitos e deveres,

enquanto cidadãos/ãs, de forma simultaneamente pedagógica e lúdica. Para tal, baseia-se na Convenção

sobre os Direitos da Criança e na Declaração Universal dos Direitos Humanos. O Jogo pode ser utilizado em

diversos contextos sociais e educativos, nomeadamente em escolas. Foi apresentado numa iniciativa aberta ao

público e divulgado na imprensa local.

Justificação
O jogo promove a aprendizagem sobre os direitos humanos/ das

crianças, o desenvolvimento de valores e comportamentos

associados à cidadania (solidariedade, tolerância, respeito,

responsabilidade individual e coletiva, etc.) e de competências

(inter)pessoais. Também apresenta resultados positivos na

população adulta – pais, profissionais dos setores Social e da

Educação, comunidade – ao nível do conhecimento sobre os

direitos humanos e da promoção de valores e de


Promover o quê?
comportamentos inclusivos. Ética (Princípios)

Comunicação e trabalho em equipa

(partilha de conhecimento; respeito


Dicas e sugestões
pelas diferentes opiniões)
Mediar o jogo por parte de um/a adulto/a, pelo menos nas
Pensamento crítico e criativo
primeiras vezes que as crianças o jogam.
Adaptação a ambientes multiculturais
Visualizar previamente o vídeo sobre a apresentação do jogo,
(respeito pela diferença, sem
disponível em:
preconceitos)
https://www.youtube.com/watch?v=2KPsedeO0yY

Atividade organizada por: ACAPO – Delegação de Braga, Associação de Fomento Amarense - RLIS,
Associação Gerações, Associação de Moradores das Lameiras Associação Valoriza - CLDS 3G Valor Humano,
Centro Cultural e Social de Santo Adrião - Projeto T3tris E6G, EAPN Portugal/ Núcleo Distrital de Braga,
Fundação Bomfim e Universidade do Minho - CIEC.

MANUAL DE ATIVIDADES DE EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA


EM CONTEXTO INSTITUCIONAL E COMUNITÁRIO
41
"DIFERENÇA E INCLUSÃO SOCIAL”
Recursos materiais
Computador; Projetor; Colunas de som (se necessário); Vídeo sobre

exclusão social (ver dicas e sugestões, abaixo); Cola (sticks); Lápis e

marcadores de cor; Bonecos em papel (diversos, em formato e cor);

Folhas A3 (Recinto escolar); Ficha “Cada pessoa é especial….”

Descrição
A atividade procura sensibilizar e promover os valores do respeito e da tolerância pelas diferenças culturais,

mentais e/ou físicas, para a adoção de comportamentos inclusivos, isto é não discriminatórios no contexto das

relações interpessoais entre pares/ de grupo. Realizada em contexto de sala, inicia com uma breve abordagem

ao tema, a visualização do vídeo sobre exclusão social e a discussão conjunta sobre os conteúdos do mesmo.

Segue-se a realização dos trabalhos individuais, ou seja as colagens dos bonecos - com diferentes formas,

fazendo alusão a diferenças físicas, étnicas e culturais - na folha A3 que representa o recinto escolar. Realiza-

se um debate em grupo e, por último, é aplicada uma ficha individual na qual cada criança completa a fase

“Cada pessoa é especial…..”.

Justificação
A forma como as crianças distribuem e colam os bonecos no

recinto escolar permite identificar as perceções que têm acerca

das diferenças e, assim, proceder à desconstrução de eventuais

estereótipos negativos que possam ter em relação à

nacionalidade, cor, sexo ou quaisquer outras características

físicas, mentais e/ou culturais. Esta desconstrução cabe, em

particular, ao/à dinamizador/a ou educador/a que possui

competências técnicas e pedagógicas para o efeito. A atividade

contribui para combater a discriminação entre pares.


Promover o quê?
Adaptação a ambientes

multiculturais (Respeito pela


Dicas e sugestões
diferença, sem preconceitos)
Optar por vídeos disponíveis na Internet/ em sites Educativos.
Pensamento crítico
Por exemplo:
Ética
- "Todos Diferentes, Todos Especiais"

https://youtu.be/Zz7U-Co7yQw

- "Somos todos diferentes e todos iguais!"

https://youtu.be/3jIuhdktf24

Atividade organizada por: EAPN Portugal/ Núcleo Distrital de Braga, Associação Vicentina e EB1 do Bairro da

Misericórdia

MANUAL DE ATIVIDADES DE EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA


42 EM CONTEXTO INSTITUCIONAL E COMUNITÁRIO
"O QUE É SER VOLUNTÁRIO?”
Recursos materiais
Computador; Projetor; Quadro; Marcadores; Papel e canetas.

Descrição
Consiste na realização de sessões de partilha de conhecimentos e de experiências de voluntariado junto das

crianças, associando esta temática às questões da cidadania. Nas diversas ações, em contexto de sala,

conta-se com a presença de voluntários/as internacionais que relatam as suas experiências em África. As

crianças percebem que existem diferentes realidades e que muitas famílias e crianças não têm acesso às

condições básicas de vida, à habitação condigna, à educação, à saúde, (etc.), vivendo em condições muito

dificeís. Conta com a colaboração de uma ONG na dinamização das sessões.

Justificação
Através de dinâmicas participativas, as crianças percebem a

importância do papel dos/as voluntários/as nos contextos e

comunidades mais pobres e excluídas. Reconhecem que um

mundo com maior equilíbrio na distribuição de recursos e maior

responsabilização de todos/as os/as cidadãos/ãs pelos

problemas sociais é tendencialmente mais igualitário e justo.

Promover o quê?
Organização e gestão do tempo

Dicas e sugestões Flexibilidade e adaptabilidade

Ética
Optar por metodologias participativas que promovem a
Trabalho em equipa
reflexão e o debate.

Visualizar um vídeo sobre voluntariado, antes do debate.

Envolver a participação de voluntários/as, através do

testemunho das suas experiências.

Atividade organizada por: EAPN Portugal/ Núcleo Distrital de Braga, Associação de Moradores das Lameiras,
Associação de Fomento Amarense, Centro Cultural Santo Adrião (projeto T3tris), Centro Escolar D. Gualdim
Pais, EB1 do Fujacal e ONG Sopro.

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EM CONTEXTO INSTITUCIONAL E COMUNITÁRIO
43
"FILOSOFIA PARA CRIANÇAS”
Recursos materiais
Narrativa (e Manual de apoio ao facilitador/a) da “Pimpa”, especificamente

destinada a faixa etária dos 8 aos 12 anos; quadro ou flip-chart; marcadores.

Descrição
A Filosofia para Crianças foi originalmente desenvolvida por Matthew Lipman e

Anne Sharp nos Estados Unidos da América no final dos anos sessenta, na

Universidade de Columbia. É um programa pedagógico que visa desenvolver o

raciocínio e o pensamento em geral, assim como a capacidade de verbalização

do pensamento e dos modos de comunicação e confronto de ideias. É dada ênfase à auto-aprendizagem pela

discussão. Após um período de formação dos/as colaboradores/as ou dinamizadores/as das entidades

envolvidas, realizam-se as múltiplas sessões com os pequenos grupos de crianças, com recurso à Narrativa

“Pimpa”. Permite trabalhar assuntos como a verdade, o que é urgente, o que é a justiça, os direitos, os deveres,

as necessidades e as regras de conduta. A metodologia obedece a um conjunto de etapas.

Justificação
A metodologia contribui para o desenvolvimento das

capacidades de raciocínio e de pensamento lógico das crianças,

bem como dos seus valores éticos e comportamentos cívicos –

participação, deveres e direitos, entre outros. Quanto às

entidades envolvidas, saliente-se o contributo para a

capacitação dos/as colaboradores/as no que concerne a

utilização de uma nova metodologia nas suas práticas

institucionais.
Promover o quê?
Pensamento crítico

Dicas e sugestões Comunicação

Tomada de decisões
Utilizar outras Narrativas existentes de Filosofia para

Flexibilidade e adaptabilidade
Crianças, destinadas a diferentes faixas etárias.

Ética

Atividade organizada por: ACAPO - Delegação de Braga; Associação Cultural e Recreativa de Cabreiros;
Associação de Fomento Amarense; APACI; Associação Gerações; Associação de Moradores Lameiras; Centro
Cultural e Social de Santo Adrião (Projeto T3tris, no âmbito do Programa Escolhas); Centro Social Cultural e
Recreativo Abel Varzim, Centro Social Paroquial de Santa Eulália; EAPN Portugal/ Núcleo Distrital de Braga e
Fundação Bomfim.

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44 EM CONTEXTO INSTITUCIONAL E COMUNITÁRIO
"CALENDÁRIO: DIREITOS DAS CRIANÇAS"
Recursos materiais
Papel; Marcadores; Computador; Projetor e Quadro. Convenção sobre os Direitos da

Criança.

Descrição
Através da realização prévia de sessões de trabalho, dinamizadas pelos/as

colaboradores/as das entidades parceiras com recurso à análise e debate sobre os

artigos da Convenção sobre os Direitos da Criança, dois grupos de crianças em

Centros Educativos transcrevem para o papel o seu entendimento sobre os direitos,

através de desenhos. Estes são incorporados num Calendário que é reproduzido

numa Gráfica e divulgado junto dos familiares e na comunidade. Este trabalho

implica, por parte das crianças, uma abordagem às quatro categorias de direitos:

sobrevivência, desenvolvimento, proteção e participação.

Justificação
As crianças aprendem os seus direitos e os que assistem outras

crianças, explorando os 54 artigos que compõem a Convenção

sobre os Direitos da Criança. A divulgação do calendário,

elaborado com os desenhos das crianças, permite sensibilizar e

informar pais e outros familiares e a comunidade em geral sobre

os direitos das crianças, com vista a uma maior

consciencialização dos mesmos e à promoção de

comportamentos responsáveis e inclusivos.

Promover o quê?
Pensamento crítico e criativo

Ética (princípios)
Dicas e sugestões
Trabalho em equipa
Realizar previamente sessões de reflexão e debate com as
Flexibilidade e adaptabilidade
crianças para uma melhor aprendizagem sobre os direitos.
Adaptação a ambientes
Optar pela venda dos calendários na comunidade, de modo a
multiculturais/ respeito pela diferença
obter a receita necessária para assegurar as despesas com o

design e a reprodução gráfica.

Atividade organizada por: Associação de Fomento Amarense, Associação Valoriza e Centros Escolares de B.
Stª Maria e D. Gualdim Pais.

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EM CONTEXTO INSTITUCIONAL E COMUNITÁRIO
45
"JOÃO (RE)FAZ A DIFERENÇA”
Recursos materiais
Publicação disponível em:

https://www.eapn.pt/projeto/174/joao-refaz-a-diferenca

Descrição
A história do João é elaborada pelos diversos grupos de crianças, através de

sessões de trabalho dinamizadas pelos parceiros. Cada grupo elabora uma

parte da história, de forma sequencial. Os grupos de crianças refletem sobre as

diferenças relacionadas com as culturas, a pobreza e a deficiência e acerca da

importância da tolerância, da solidariedade e do respeito na relação com os

outros, promovendo-se, assim, o espírito de camaradagem e a boa convivência

em meio escolar. A história apela a valores de ética e de cidadania, retratando

atitudes e a forma como interagimos uns com os outros na sociedade. Faz apelo

à não discriminação, à rejeição de comportamentos negativos e

discriminatórios. O livro foi apresentado numa iniciativa aberta ao público.

Justificação
Com a elaboração da história é possível reforçar a

consciencialização de problemas sociais - exclusão, pobreza,

deficiência e intolerância cultural - bem como estimular a leitura

e a escrita por parte das crianças. A história contribui para a

prevenção de comportamentos discriminatórios e de segregação

entre os mais jovens. Por outro lado, através da sua apresentação

numa iniciativa pública, sensibiliza-se os adultos - familiares e

comunidade em geral - para estas questões e para a adoção de


Promover o quê?
comportamentos inclusivos.
Adaptação a ambientes multiculturais

(respeito pela diferença, sem

preconceitos)
Dicas e sugestões
Pensamento crítico e criativo
Realizar sessões de brainstorming com as crianças, de modo
Comunicação e Trabalho em equipa
a promover a reflexão e o debate sobre os conteúdos da
Ética
história.
Organização e gestão do tempo

Adaptabilidade

Atividade organizada por: ACAPO – Delegação de Braga, Associação de Fomento Amarense, Associação

Gerações, Associação de Moradores das Lameiras, Centro Cultural e Social de Santo Adrião (Projeto T3tris E6G),

Centro Social e Paroquial de Santa Eulália, EAPN Portugal/ Núcleo Distrital de Braga e Fundação Bomfim.

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46 EM CONTEXTO INSTITUCIONAL E COMUNITÁRIO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O exercício da cidadania infantil inclui todas as formas de participação das crianças na

sociedade, como sujeitos ativos e com direitos. Esta participação implica capacitá-las

desde cedo, para que possam ser sujeitos ativos nas comunidades onde residem e na

sociedade em geral.

A educação para a cidadania possibilita a formação das pessoas, e em particular das mais

novas, para uma visão holística da sociedade e uma atitude mais responsável, em termos

individuais e coletivos. Pais, família, escola, instituições e sociedade em geral devem

(com)partilhar desta educação, uma vez que a formação cívica das crianças deve

desenvolver-se mediante a educação em todos os contextos sociais, responsabilizando as

instituições e a família. Através desta formação, as crianças adquirem competências

pessoais (soft skills) que são fundamentais na construção da sua personalidade e bem-

estar na infância e na adolescência e, mais tarde, na vida adulta, nos mais diversos planos

– pessoal, familiar, social e profissional.

O grupo de trabalho interconcelhio Infância e Juventude realizou a sua intervenção de

forma contínua no tempo, de modo a obterem-se resultados efetivos na capacitação dos

diversos grupos de crianças e jovens abrangidos. Com vista a promover uma consciência

cívica e a adoção de um papel mais ativo na comunidade por parte destes, realizaram-se

diversas atividades em contexto institucional e comunitário. Algumas estão elencadas neste

manual e centram-se nas questões da cidadania, igualdade de oportunidades,

participação social e comunitária e responsabilidade ambiental.

Os resultados deste trabalho verificam-se a vários níveis, isto é na capacitação das

crianças, dos profissionais e colaboradores/as envolvidos/as e dos familiares e da

comunidade em geral. Evidencia-se o desenvolvimento dos conhecimentos e das

competências pessoais das crianças e jovens, nomeadamente no que concerne a

comunicação e trabalho em equipa, a ética, o pensamento crítico e criativo, a resiliência e

resolução de problemas, a tomada de decisões, organização e gestão do tempo e a

adaptação a ambientes multiculturais. Por outro lado, o trabalho realizado

contribuiu para a capacitação dos/as colaboradores/as no que concerne a utilização

de novas metodologias nas suas práticas instituicionais. Por último, através das atividades e

MANUAL DE ATIVIDADES DE EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA


EM CONTEXTO INSTITUCIONAL E COMUNITÁRIO
47
dos produtos, realizados pelas crianças e jovens, foi possível promover um maior

conhecimento sobre temáticas relacionadas com cidadania e uma maior consciência

cívica por parte dos familiares e da população em geral, com vista a adoção de

comportamentos responsáveis e inclusivos nas comunidades/ sociedade.

O sentimento de pertença e de identificação com as comunidades, desenvolvido nas

atividades, significou estar mais próximo da comunidade e dos seus problemas, e neste

sentido, sentir-se envolvido e disposto a contribuir para a vida em sociedade. As crianças e

os jovens puderam transmitir as suas impressões, afetos e opiniões sobre os lugares e a

sociedade em que eles estão inseridos. Por meio de sua iniciativa, ação, visibilidade e

presença no espaço institucional e comunitário, eles desenvolveram a sua participação

social.

MANUAL DE ATIVIDADES DE EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA


48 EM CONTEXTO INSTITUCIONAL E COMUNITÁRIO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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MANUAL DE ATIVIDADES DE EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA


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