Manual
Manual
Manual
Isabel Amorim (1), Carla Pego (2), Cristiana Oliveira (3), Maria João Costa (4)
2020
FICHA TÉCNICA
Autoras: Isabel Amorim; Carla Pego; Cristiana Oliveira; Maria João Costa
www.eapn.pt
ISBN: 978-989-8304-60-5
Considerações finais..............................................................................................................47
Referências bibliográficas......................................................................................................49
INTRODUÇÃO
A educação para a cidadania representa, seguramente, um importante instrumento de
combate aos fenómenos da pobreza e da exclusão social, na medida em que ela contribui
visa o seu envolvimento na resolução dos mesmos. Deste modo, contribui para o bem-estar
das pessoas, o desenvolvimento de uma sociedade com maior equidade, justiça e coesão.
Infância e Juventude promovido pela EAPN Portugal/ Núcleo Distrital de Braga em conjunto
das Lameiras, a Associação Valoriza - CLDS 3G Valor Humano, o Centro Cultural Santo
Adrião – Projeto T3tris E6G, o Centro Social e Paroquial de Santa Eulália e a Fundação
Bomfim, além de contar com a colaboração de outras entidades públicas e privadas locais.
Com efeito, este grupo assenta numa cultura de partilha e de colaboração inter-
valores associados à cidadania e aos direitos humanos, contribuindo, deste modo, para o
desenvolvimento das suas competências pessoais e participação social. Por outo lado,
surgiu da vontade expressa pelas entidades associadas da EAPN Portugal, e que atuam
CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA
Os indivíduos tornam-se cidadãos quando agem em benefício de todos, com respeito e
indivíduos crescem e se vão apercebendo do que os rodeia, a sua interação com o outro
vai crescendo também, tornando-se necessário uma negociação que permita a tomada de
sujeitos a descobrirem que estas condições não são motivadas pelo respeito unilateral
mas, sim, pelo respeito mútuo, pela solidariedade e pela vontade de coordenar diversas
atividades para benefício comum (Fonseca, 2001: 30). Assim se constrói a cidadania.
Para que tal seja possível, é necessário que estes cidadãos se formem desde a mais tenra
idade, pois embora todos possamos aprender em qualquer altura da nossa vida, será mais
fácil ajudar a construir o espírito cívico desde cedo nos indivíduos e nada melhor que a
primeiro contacto com as questões da identidade, das relações interpessoais, dos valores,
capacidade socializadora da família, que depende cada vez mais de outras instâncias -
escola, media, TV/ internet, espaços lúdicos-infantis, entre outros - para socializar as
crianças nas práticas de cidadania (Abrantes, 2011; Barbosa, 2006; Cruz, 1997). Por isso, se
que possam existir na educação das crianças por parte da família (Carvalho, 2003). Com
efeito, a escola tem um papel indispensável na formação cívica das crianças, mas não se
pode assumir que deva ser a principal e única responsável pela formação dos valores e
educação para o carácter, constituindo-se como um aglomerado de todas elas (Beltrão &
constrói através da interação social. Deste modo, a educação para a cidadania possui
uma dupla dimensão. Por um lado, uma vertente socializadora que visa
da(s) comunidade(s), ajudando-os a tornarem-se membros dela(s) e, por outro lado, uma
vertente que tem como objetivo habilitá-los para construírem e assumirem compromissos
sociais, compreendendo que a sua voz e a sua ação podem ter influência no que acontece
(Figueiredo, 2002).
humanos e cidadania democrática), éticas (escolha dos valores alinhados com os princípios
Um pouco por toda a Europa, ao longo dos últimos anos, verifica-se uma preocupação
crescente com a situação da educação para a cidadania, isto é uma agitação em torno
deste tema que está estreitamente ligado às alterações na sociedade que se pretende
melhor, mais justa e mais ativa. A degradação dos vínculos cívicos, o aprofundamento das
dos populismos são alguns dos problemas que podem contribuir para o definhamento da
cidadania e levam a que a aprendizagem da cidadania seja encarada cada vez mais como
uma prioridade na Europa (Barbosa, 2006). A maioria dos países reconhece a necessidade
DIREITOS HUMANOS
A Europa passou por um processo de adaptação aos valores democráticos e
suficiente para lutar pelos seus direitos e, acima de tudo, pela liberdade e
1789. Esta última foi de importância capital para a construção da cidadania moderna ao
centralidade dos direitos ficou estabelecida com a Declaração dos Direitos do Homem e do
Cidadão, em 1789, que contém os princípios subjacentes à definição atual dos direitos
Os direitos humanos são direitos inerentes a todos os seres humanos e visam salvaguardar a
dimensões, sem distinção de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outro
Humanidade.
A Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH), adotada pelos estados membros das
cometidas na II Guerra Mundial e para promover a paz e prevenir futuras guerras, foi o
primeiro documento que compreende direitos civis, políticos, económicos, sociais, culturais
entre muitos outros. É uma declaração geral de princípios sem poder vinculativo legal.
Contudo, teve grande impacto mundial junto da opinião pública e os seus princípios foram
legais.
Algumas das características mais importantes dos direitos humanos prendem-se com o
facto de serem: fundados sobre o respeito pela dignidade e o valor de cada pessoa;
universais, o que significa que são aplicados de forma igual e sem discriminação a todas as
pessoas; inalienáveis, pois ninguém pode ser privado dos seus direitos humanos (embora
uma vez que todos os direitos humanos devem ser respeitados de igual forma[1]. Os direitos
humanos são garantidos legalmente pela lei de direitos humanos, protegendo indivíduos e
grupos contra ações que interferem nas liberdades fundamentais e na dignidade humana.
O Direito Internacional dos Direitos Humanos (DIDH) estabelece as obrigações dos governos
sobre os Direitos da Criança[2] (1989), os Princípios das Nações Unidas para as Pessoas
Idosas (1991) e a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (2006), entre
outros. Por sua vez, os principais instrumentos regionais são a Convenção Europeia para a
Proteção dos Direitos do Homem e das Liberdades Fundamentais (1950) adotada no âmbito
Africana sobre os Direitos Humanos e dos Povos (1981). No que concerne a ação da União
[2] Esta Convenção, constituída por 54 artigos, representa um importante instrumento legal devido ao seu carácter universal e também
pelo facto de ter sido ratificado pela quase totalidade dos Estados do mundo. Apenas um país, os Estados Unidos da América, ainda não
ratificou a Convenção sobre os Direitos da Criança. Portugal ratificou a Convenção a 21 de Setembro de 1990. Quando ratificada,
representa um vínculo jurídico para os Estados que a ela aderem, os quais devem adequar as normas de Direito interno às da Convenção,
para a promoção e proteção eficaz dos direitos e Liberdades nela consagrados. (Fonte: www.unicef.pt, acedido em 10/12/2019).
Europeia). Contudo, não define quaisquer novos direitos, reunindo num único documento os
direitos que anteriormente se encontravam dispersos por diversas fontes[3]. Com efeito, a
aplicação das normas e dos tratados em vigor implica um conjunto de práticas sociais
PARTICIPAÇÃO
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SOCIAL
New for Q1
A participação social remete para a influência dos indivíduos na organização de uma
de todos os grupos que compõe a vida em sociedade. Este conceito pode assumir um
sentido mais amplo ou mais restrito. Assim, é utilizado com o sentido de: a) integração,
valor pelo qual se avaliam tipos de organização de natureza social, económica, política,
New for Q1
pois remete tanto para a coesão social como para a mudança social, e implica
democratização ou participação ampla dos cidadãos nos processos decisórios numa dada
participação, sem sociedade política que faça a mediação entre o Estado, a sociedade
participação das crianças estão ligadas – ora constrangidas, ora estimuladas –, pelas
relações pessoais que estabelecem com os outros – família, amigos, comunidade, etc. – e
políticas e outras, dos seus mundos sociais e culturais. A participação das crianças, em
contextos mais restritos ou mais alargados, é afetada por fatores que decorrem das
momentos e sentem que o projeto é seu; e por fim, a metaparticipação onde as crianças
pedem, exigem, constroem novos espaços e estruturas de participação (Trilla & Novella,
2001). Como se percebe, os dois últimos níveis implicam maior participação das crianças.
autonomia e responsabilidade dos cidadãos para com a sua comunidade. Com efeito, na
deveres que um sujeito possui para com a sociedade da qual faz parte. Esta cidadania está
Marshall (1977), um dos mais reputados intérpretes e difusores desta conceção liberal,
a partir do surgimento dos direitos civis, políticos e sociais que, segundo ele, seriam
constituintes desta cidadania. Assim, segundo este autor, a cidadania apresenta três níveis
social)[4].
De acordo com esta conceção mais clássica de cidadania, que se associa à perspetiva
decisões sobre os destinos da comunidade devem ser tomadas pelos adultos, e elas são
patamar, que se concretiza nas delimitações etárias que estabelecem quem está
[4] O primeiro estádio é a cidadania civil, no século XVIII, resultante dos direitos desenvolvidos em reação ao absolutismo que se
baseavam na liberdade individual, tais como pensamento e fé, propriedade e acesso à justiça e liberdade de imprensa. Os direitos civis
eram indispensáveis à economia de mercado e à liberdade de concorrência, coexistindo, portanto, com o capitalismo. Por sua vez, a
cidadania política é concebida no século XIX e considerada como produto da cidadania civil. Os direitos são institucionalizados, havendo
um reconhecimento dos princípios da igualdade e do direito do indivíduo em tomar decisões em nome da sua comunidade. Este estádio
está intimamente ligado à instituição parlamentar, às assembleias, aos órgãos de governo local e ao desenvolvimento gradual do sufrágio
universal. Por último, distingue a cidadania social, durante o século XX, na qual o indivíduo adquire acesso aos direitos sociais, isto é aos
bens sociais básicos, aos cuidados médicos e a outros serviços de bem-estar social. Estas formas sociais de proteção foram
adultos teriam acesso a essa condição, ou estatuto. A infância seria, assim, considerada
que reduz, ou mesmo põe em questão, os direitos civis e políticos, acreditando-se que
infância dos três pressupostos civilizatórios que vinculam o indivíduo para com a
política e, parcialmente, da cidadania civil (Sarmento et.al., 2007). Assim, segundo este
estatuto integral de cidadão fica restrito aos direitos sociais, ainda assim concebidos como
Ainda, segundo esta conceção de menoridade da infância (não apenas etária, mas cívica),
a condição de acesso futuro à cidadania plena não passa apenas pela simples passagem
2007). A escola foi sendo historicamente tematizada pela modernidade como lugar de
da infância (Foucault, 1993) que são inerentes à criação da ordem social dominante. A
escola permanece como um palco conflitual de projetos políticos e pedagógicos que tanto
podem orientar-se para uma efetiva ampliação dos direitos das crianças, quanto sustentar-
2007).
década de 90, na formulação de leis e políticas públicas, surge e é consolidada uma nova
jovem como cidadão, ou seja, mesmo que encarado na sua especificidade de “estar em
diferentemente de quando os direitos sociais, inclusive a educação, lhe eram dados apenas
por conta de ser visto como um sujeito no futuro. É nessa época que as Nações Unidas
diz respeito à participação pois a criança passou a ser considerada não só como objeto,
mas também como sujeito, ator e cidadão. Esse tratado teve importância ao estender um
bom número de direitos às crianças. No entanto, alguns autores consideram que não
adultos.
recaindo numa tutela “disfarçada” pois ainda é considerada uma diferenciação etária
decisões no que diz respeito à vida de crianças e jovens (Wintersberger, 1996; Pinheiro,
2001). Apesar de todas as limitações e críticas, a Convenção, assim como toda a legislação
Ser cidadão é participar na vida pública e política da comunidade/ sociedade. Por meio
formas distintas de ver o mundo, e assim, podem gerar novos caminhos que enriquecem a
competência social que, por sua vez, avaliza a competência política. Neste contexto, a
de se realizar algo. Logo, participa somente quem se acha apto a participar e tem a sua
tanto adultos como crianças estão implicados. Ou seja, essa capacitação consiste num
vedado à infância, bem pelo contrário. Hoje, ambos, crianças e adultos têm de aprender a
dar sentido e forma às suas atividades cidadãs (Castro, 2001; Jans, 2004). Enquanto
sujeitos, as crianças e jovens, assim como os adultos, estão numa relação bidirecional de
determinação com a sociedade sendo, portanto, tanto influenciados como influentes nas
sociedade. Constituem também um grupo com interesses específicos e ao não terem voz
representam a geração mais distante dos políticos mas, por sua vez, também são as que
sofrerão por mais tempo as consequências das escolhas políticas de hoje (Wintersberger,
Esta nova conceção representa um avanço no que diz respeito à maneira de se pensar e
considerar este conceito, não enquanto um estatuto jurídico-legal, definido apenas como
Em suma, para que as crianças e jovens se tornem cidadãos é necessário que conquistem a
e da ação. Significa poderem descobrir que “caminhos” podem ser trilhados, individual e
coletivamente; significa poderem descobrir, com os outros, que a comunidade é uma “obra”
comunidade, não a vendo como algo que não lhes diz respeito. A comunidade constitui-se,
portanto, de um sentimento construído internamente pelo sujeito por meio da sua ação. As
pessoas tornam-se cidadãs à medida que passam a sentir-se parte de uma nação e de um
2004).
todos, independentemente da sua idade, são sujeitos de plenos direitos. Esta participação
decisões e ações que visam contribuir para a (re)solução dos problemas sociais e melhoria
o indivíduo socialize com os seus pares, pois o cidadão não se constrói sozinho, é fruto de
uma interação que o leva a considerar reações e atitudes perante outros, os que o
rodeiam.
Com efeito, o direito à participação social e à partilha de decisões das crianças e jovens
nos seus mundos de vida constrói-se nas interações. Tal significa que o reconhecimento às
aos seus contextos de vida quer às suas ações, ainda que expressos com características
É por sua ação, nos espaços partilhados, que a criança aprende as regras de convivência
com o outro. Ela expande o seu olhar sobre a comunidade, deixa de considerar uma
posição que só tem em conta os seus interesses e passa a considerar perspetivas advindas
decisões sobre a comunidade e, por outro lado, abrir caminhos para que elas se
importem com os problemas dos espaços onde vivem. Trata-se, portanto, de uma outra
mas também afetivos e emocionais. Falar em direitos da criança e do jovem, nos dias de
hoje, implica uma inserção mais plena na sociedade de modo que a sociedade não seja a
que os adultos querem construir para eles, mas aquela que eles também deveriam ter o
não consideram plausível ou desejável a integração das vozes das crianças (Chawla, 1997).
As crianças e jovens possuem competências que lhes permitem dar contributos inovadores
para a melhoria dos espaços sociais em que vivem (Chawla, 1997) e, por isso, as instituições
culturais, associativas, entre outras, com vista à maior qualidade de vida e bem-estar.
Estas dinâmicas, das quais as crianças e jovens devem fazer parte, assentam num conjunto
ação[5]. O objetivo consistiu na dinamização de diversos grupos de crianças e jovens por parte das
entidades parceiras, de modo a que pudéssemos compreender se, e como, podem construir novas
possibilidades coletivas de pensar e sentir os lugares onde vivem e seus problemas e acionar a sua
responsabilidade individual e coletiva, etc.) e de competências pessoais/ soft skills para o efeito.
Por meio de metodologias de participação nos desígnios da comunidade/ sociedade, foi possível o
desenvolvimento de capacidades pessoais/ soft skills dos destinatários, uma vez que aprenderam a
inteligência emocional que, seguramente, têm efeitos positivos na construção da sua personalidade e
bem-estar na infância e, posteriormente, na vida adulta nos planos pessoal, familiar, social e
profissional.
Com efeito, é importante, desde cedo, as pessoas terem a possibilidade de aprender e treinar
padrões de responsabilidade quer do ponto de vista individual quer coletivo, é fundamental e é cada
pensamento crítico e criativo (curiosidade, raciocínio lógico, mente aberta para novidades e
ideias diferentes), resiliência e resolução de problemas (foco na solução, lidar com os obstáculos e
[5] Segundo a tipologia de Trilla &Novella (2001), pode afirmar-se que as atividades realizadas no âmbito do grupo de trabalho interconcelhio Infância e
[6] Note-se que no mercado de trabalho, as competências pessoais vão ganhando cada vez mais importância. Por exemplo, a competência técnica não
servirá de nada se não se for capaz de confiar nos colegas e trabalhar em equipa. Normalmente, as entidades empregadoras procuram candidatos com
determinadas hard skills, isto é competências técnicas e conhecimentos específicos necessários para realizar uma determinada tarefa ou função, e soft
skills ou competências (inter)pessoais. Estas últimas pertencem ao grupo dos requisitos comuns a quase todos os empregos. E, pese embora a
necessidade de conhecimentos técnicos, a maioria dos empregadores procura estas capacidades sociais em todos os candidatos ou colaboradores.
decisões, organização e gestão do tempo (definir metas e estabelecer prioridades, planear as tarefas
pensamento crítico e
criativo
ética
comunicação e trabalho
em equipa
organização e gestão do
tempo
adaptação a ambientes
multiculturais
resiliência e resolução
de problemas
tomada de decisões
necessidades sentidas pelos grupos, com base nas suas experiências e contextos de vida, através da
que possível, aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS)[7], definidos pela Organização
[7]Aprovada na Cimeira da ONU a 25 de setembro de 2015, a resolução A/RES/70/1 “Transformar o nosso mundo: Agenda 2030 de Desenvolvimento
Sustentável” entrou em vigor em 2016. Constituída por 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e 169 metas a alcançar até 2030 por todos os
193 países, está ancorada numa bateria com mais de 200 indicadores que permitem monitorizar o respetivo progresso e sustentar os relatórios anuais.
Os ODS abrangem questões de desenvolvimento social e económico, incluindo pobreza, fome, saúde, educação, aquecimento global, igualdade de
género, água, saneamento, energia, urbanização, meio ambiente e justiça social. Os 17 ODS e as respetivas metas estão interligados e têm um caráter
global, isto é, devem ser aplicados universalmente, partilhando-se a responsabilidade pelo seu alcance por todos os países (e não apenas nos países em
desenvolvimento), o que traduz uma evolução face aos 8 Objetivos de Desenvolvimento do Milénio - ODM (2000-2015).
em termos de parcerias locais. Por último, passou-se à intervenção nas instituições e nas comunidades
através da realização da(s) atividade(s) e/ou da disseminação do(s) produto(s), estando implícito um
Figura 1
questões fazem parte do universo deles, são problemas que vivenciam todos os dias e, muitas vezes,
não encontram maneiras de evitá-los ou partilhá-los. Além disso, não se limitaram aos problemas que
eles enfrentam, ou seja, procuraram posicionar-se perante questões não só locais mas também
globais, que afetam todos os segmentos da sociedade, tais como a desigualdade, a discriminação e
a degradação do ambiente.
sociedade face a pessoas em função da sua nacionalidade, etnia, sexo, religião, origem social e/ou
outras características físicas, mentais ou culturais, que condicionam as suas escolhas e o seu futuro,
participação social na vida da comunidade por parte da sociedade civil, que impede uma voz mais
ativa e mais ação na tomada de decisões e na resolução coletiva de problemas locais, com vista à
preservação das boas relações de vizinhança e à qualidade de vida e bem-estar dos habitantes
Estes problemas relacionam-se com dez dos dezassete objetivos de Desenvolvimento Sustentável
2030 (ODS), designadamente Erradicar a Pobreza (obj. 1), Saúde de Qualidade (obj. 3), Educação de
Qualidade (obj. 4), Igualdade de Género (obj. 5), Redução das Desigualdades Sociais (obj. 10),
Cidades e Comunidades Sustentáveis (obj. 11), Ação Climática (Obj. 13), Proteção da Vida Marinha
(obj. 14), Proteção da Vida Terrestre (obj. 15) e Paz, Justiça e Instituições Eficazes (obj. 16). Os ODS[8]
foram tidos em conta desde o início dos trabalhos, pelas entidades parceiras, junto dos respetivos
[8]Entre 2013 e 2015, o grupo de trabalho interconcelhio Infância e Juventude teve em conta, nas suas atividades, os Objetivos de Desenvolvimento do
Nesse momento, puderam partilhar com os/as seus/suas colegas impressões e opiniões e vislumbrar
possíveis soluções para o que os preocupava. As soluções apontadas tanto dependiam deles mesmos
como das outras pessoas, assentando na ideia de que influenciar a adoção de comportamentos
Assim, foram desenhadas atividades e produtos, inclusive com recurso a formas de expressão
comunidade/ sociedade de modo a contribuir para a resolução, ou pelo menos atenuar, dos
problemas identificados, com a devida orientação das equipas técnicas das entidades parceiras. Na
terceira parte deste manual, elencam-se algumas das atividades que foram realizadas em contexto
institucional e comunitário, designadamente: “Semear afetos”, “Casinhas para pássaros”, “Mar e praia
limpos”, “Por Nós e por Eles”, “Jogo dos direitos”, "Diferença e Inclusão Social”, "O que é ser
voluntário?”, "Filosofia para crianças”, "Calendário: Direitos das Crianças" e "João (re)faz a
diferença”.
Participaram nestas atividades cerca de 180 crianças e jovens, com idades compreendidas entre os 1
portadoras de deficiência visual. A maioria participou em pelos menos duas das atividades referidas
(e selecionadas para este manual), pois a intervenção de caráter contínuo constituiu uma das
premissas do grupo de trabalho interconcelhio, com vista a produzir mudanças efetivas nos
destinatários. Quanto ao número de participantes por atividade segundo a faixa etária, a Tabela 1
[9] Importa referir que as crianças e jovens são maioritariamente provenientes de contextos sociais e familiares desfavorecidos (bairros sociais, minorias
étnicas, famílias beneficiárias do Rendimento Social de Inserção (RSI), crianças institucionalizadas). Foram constituídos grupos heterogéneos, anulando
No que concerne à avaliação das atividades, foi realizada uma avaliação de processo tendo por base
a perceção das crianças e jovens. Optou-se por técnicas qualitativas, mais frequentemente pela
aplicação pontual de focus group aos diversos grupos de crianças e jovens, permitindo aferir
sua fundamentação), o nível da satisfação com a relação com as outras crianças, o nível da
satisfação com a relação com os/as técnicos/as (e, ainda, propostas de medidas de melhoria). Em
termos globais, os resultados da avaliação são muito positivos nestes critérios de análise, com
percentagens que oscilam entre os 70% e os 100% de satisfação elevada ou muito elevada.
Foram utilizados instrumentos específicos relativamente a alguns produtos, como é o caso do Jogo
dos direitos. Este implicou a aplicação de um questionário de avaliação de reação aos profissionais/
junto de crianças. Os resultados do tratamento dos dados dos 44 questionários recebidos indicam
que: 100% considerou que o jogo contribuiu para a aprendizagem das crianças sobre os direitos;
95,5% é da opinião de que as crianças mostraram-se satisfeitas com o que aprenderam com o jogo; e
De um modo geral, podemos afirmar que as atividades produziram resultados a três níveis: nas
crianças, nos profissionais envolvidos e nos familiares e comunidade em geral. Primeiro nas crianças,
Particulares de Solidariedade Social (IPSS), na medida em que contribuíram para a sua capacitação
no que concerne a utilização de novas metodologias (ex. Filosofia para Crianças) nas suas práticas
institucionais. Por último nos familiares e na comunidade em geral, uma vez que as atividades e
produtos realizados pelas crianças promoveram o conhecimento sobre temáticas relacionadas com
iogurte vazios; material para mexer a terra - pás, colheres, pequenos baldes,
“Semear Afetos”.
Descrição
A atividade visa aproximar gerações, fomentando, por via da partilha e da aprendizagem em relação à terra e
às plantas, o respeito mútuo e emoções positivas. Primeiro, as crianças e as pessoas idosas exploram em
conjunto a terra, mexendo, enchendo e esvaziando os recipientes, ajudando-se mutuamente. Depois, cada par –
criança e pessoa idosa - planta as sementes e/ou as suculentas num vaso, no qual colocam posteriormente um
autocolante com as palavras “Semear afetos” e o nome da criança. No final, se assim o entenderem, os
Justificação
As atividades entre gerações fomentam momentos de
Ética
Organização
decorativos.
Descrição
Em contexto de projeto pedagógico de sala (Creche), as crianças manifestam
floresta com a ajuda dos seus familiares. São observadas pelas crianças e seus
pássaros as escolhem.
Justificação
A atividade permite desenvolver nas crianças o gosto e o
positivas.
Promover o quê?
Dicas e sugestões Trabalho em equipa (assumir um
compromisso comum)
Visitar pontualmente as casinhas de pássaros para
Ética (atuar de forma responsável)
descobrir que pássaros as escolhem, não interferindo
Pensamento criativo
com a dinâmica do ecossistema.
lixo.
Descrição
Durante o verão e em contexto de colónia de férias, as crianças sensibilizam
Justificação
A proteção do ambiente, inclusive dos mares e dos oceanos,
Promover o quê?
Dicas e sugestões
Trabalho em equipa (assumir um
Utilizar materiais recicláveis na elaboração do folheto de
compromisso comum)
informação/ sensibilização.
Ética (atuar de forma responsável)
Utilizar luvas na recolha do lixo.
Tomada de decisões e organização
Separar o lixo e colocá-lo devidamente no Ecoponto, se for
lápis e borracha.
Descrição
A atividade surge da necessidade de sensibilizar os/as moradores/as do complexo habitacional para cuidados
a ter com os animais de estimação (ex. cães), relativamente à higiene destes e dos espaços comuns e com o
ruído (principalmente durante o período noturno) que afetam negativamente as relações de vizinhança. De
modo a influenciar a adoção de novos comportamentos, os/as jovens desenham um plano de ação e
um processo de apoio por parte da equipa técnica. Procedem à elaboração, afixação e distribuição de
Justificação
Os/as jovens desempenham um papel ativo ao delinear e
de organização
Competências de comunicação e de
Realizar sessões de brainstorming para o surgimento e o
trabalho em equipa
debate de ideias com os/as jovens.
Atividade organizada por: Associação de Moradores das Lameiras, Projeto Eurobairro Underground E7G,
Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão e jovens do Complexo Habitacional das Lameiras.
https://www.eapn.pt/documento/605/o-jogo-dos-direitos
Descrição
O Jogo dos Direitos é um jogo didático de tabuleiro elaborado a partir do contributo de mais de meia centena
de crianças. É constituído por um tabuleiro, 88 cartões de perguntas, 14 cartões “surpresa”, 6 peões e 1 dado. A
elaboração dos cartões de perguntas conta com a participação das crianças, através de sessões dinamizadas
pelos respetivos parceiros. Este jogo visa ensinar às crianças, a partir dos 6 anos, os seus direitos e deveres,
enquanto cidadãos/ãs, de forma simultaneamente pedagógica e lúdica. Para tal, baseia-se na Convenção
sobre os Direitos da Criança e na Declaração Universal dos Direitos Humanos. O Jogo pode ser utilizado em
diversos contextos sociais e educativos, nomeadamente em escolas. Foi apresentado numa iniciativa aberta ao
Justificação
O jogo promove a aprendizagem sobre os direitos humanos/ das
Atividade organizada por: ACAPO – Delegação de Braga, Associação de Fomento Amarense - RLIS,
Associação Gerações, Associação de Moradores das Lameiras Associação Valoriza - CLDS 3G Valor Humano,
Centro Cultural e Social de Santo Adrião - Projeto T3tris E6G, EAPN Portugal/ Núcleo Distrital de Braga,
Fundação Bomfim e Universidade do Minho - CIEC.
Descrição
A atividade procura sensibilizar e promover os valores do respeito e da tolerância pelas diferenças culturais,
mentais e/ou físicas, para a adoção de comportamentos inclusivos, isto é não discriminatórios no contexto das
relações interpessoais entre pares/ de grupo. Realizada em contexto de sala, inicia com uma breve abordagem
ao tema, a visualização do vídeo sobre exclusão social e a discussão conjunta sobre os conteúdos do mesmo.
Segue-se a realização dos trabalhos individuais, ou seja as colagens dos bonecos - com diferentes formas,
fazendo alusão a diferenças físicas, étnicas e culturais - na folha A3 que representa o recinto escolar. Realiza-
se um debate em grupo e, por último, é aplicada uma ficha individual na qual cada criança completa a fase
Justificação
A forma como as crianças distribuem e colam os bonecos no
https://youtu.be/Zz7U-Co7yQw
https://youtu.be/3jIuhdktf24
Atividade organizada por: EAPN Portugal/ Núcleo Distrital de Braga, Associação Vicentina e EB1 do Bairro da
Misericórdia
Descrição
Consiste na realização de sessões de partilha de conhecimentos e de experiências de voluntariado junto das
crianças, associando esta temática às questões da cidadania. Nas diversas ações, em contexto de sala,
conta-se com a presença de voluntários/as internacionais que relatam as suas experiências em África. As
crianças percebem que existem diferentes realidades e que muitas famílias e crianças não têm acesso às
condições básicas de vida, à habitação condigna, à educação, à saúde, (etc.), vivendo em condições muito
Justificação
Através de dinâmicas participativas, as crianças percebem a
Promover o quê?
Organização e gestão do tempo
Ética
Optar por metodologias participativas que promovem a
Trabalho em equipa
reflexão e o debate.
Atividade organizada por: EAPN Portugal/ Núcleo Distrital de Braga, Associação de Moradores das Lameiras,
Associação de Fomento Amarense, Centro Cultural Santo Adrião (projeto T3tris), Centro Escolar D. Gualdim
Pais, EB1 do Fujacal e ONG Sopro.
Descrição
A Filosofia para Crianças foi originalmente desenvolvida por Matthew Lipman e
Anne Sharp nos Estados Unidos da América no final dos anos sessenta, na
do pensamento e dos modos de comunicação e confronto de ideias. É dada ênfase à auto-aprendizagem pela
envolvidas, realizam-se as múltiplas sessões com os pequenos grupos de crianças, com recurso à Narrativa
“Pimpa”. Permite trabalhar assuntos como a verdade, o que é urgente, o que é a justiça, os direitos, os deveres,
Justificação
A metodologia contribui para o desenvolvimento das
institucionais.
Promover o quê?
Pensamento crítico
Tomada de decisões
Utilizar outras Narrativas existentes de Filosofia para
Flexibilidade e adaptabilidade
Crianças, destinadas a diferentes faixas etárias.
Ética
Atividade organizada por: ACAPO - Delegação de Braga; Associação Cultural e Recreativa de Cabreiros;
Associação de Fomento Amarense; APACI; Associação Gerações; Associação de Moradores Lameiras; Centro
Cultural e Social de Santo Adrião (Projeto T3tris, no âmbito do Programa Escolhas); Centro Social Cultural e
Recreativo Abel Varzim, Centro Social Paroquial de Santa Eulália; EAPN Portugal/ Núcleo Distrital de Braga e
Fundação Bomfim.
Criança.
Descrição
Através da realização prévia de sessões de trabalho, dinamizadas pelos/as
implica, por parte das crianças, uma abordagem às quatro categorias de direitos:
Justificação
As crianças aprendem os seus direitos e os que assistem outras
Promover o quê?
Pensamento crítico e criativo
Ética (princípios)
Dicas e sugestões
Trabalho em equipa
Realizar previamente sessões de reflexão e debate com as
Flexibilidade e adaptabilidade
crianças para uma melhor aprendizagem sobre os direitos.
Adaptação a ambientes
Optar pela venda dos calendários na comunidade, de modo a
multiculturais/ respeito pela diferença
obter a receita necessária para assegurar as despesas com o
Atividade organizada por: Associação de Fomento Amarense, Associação Valoriza e Centros Escolares de B.
Stª Maria e D. Gualdim Pais.
https://www.eapn.pt/projeto/174/joao-refaz-a-diferenca
Descrição
A história do João é elaborada pelos diversos grupos de crianças, através de
atitudes e a forma como interagimos uns com os outros na sociedade. Faz apelo
Justificação
Com a elaboração da história é possível reforçar a
preconceitos)
Dicas e sugestões
Pensamento crítico e criativo
Realizar sessões de brainstorming com as crianças, de modo
Comunicação e Trabalho em equipa
a promover a reflexão e o debate sobre os conteúdos da
Ética
história.
Organização e gestão do tempo
Adaptabilidade
Atividade organizada por: ACAPO – Delegação de Braga, Associação de Fomento Amarense, Associação
Gerações, Associação de Moradores das Lameiras, Centro Cultural e Social de Santo Adrião (Projeto T3tris E6G),
Centro Social e Paroquial de Santa Eulália, EAPN Portugal/ Núcleo Distrital de Braga e Fundação Bomfim.
sociedade, como sujeitos ativos e com direitos. Esta participação implica capacitá-las
desde cedo, para que possam ser sujeitos ativos nas comunidades onde residem e na
sociedade em geral.
A educação para a cidadania possibilita a formação das pessoas, e em particular das mais
novas, para uma visão holística da sociedade e uma atitude mais responsável, em termos
(com)partilhar desta educação, uma vez que a formação cívica das crianças deve
pessoais (soft skills) que são fundamentais na construção da sua personalidade e bem-
estar na infância e na adolescência e, mais tarde, na vida adulta, nos mais diversos planos
diversos grupos de crianças e jovens abrangidos. Com vista a promover uma consciência
cívica e a adoção de um papel mais ativo na comunidade por parte destes, realizaram-se
de novas metodologias nas suas práticas instituicionais. Por último, através das atividades e
cívica por parte dos familiares e da população em geral, com vista a adoção de
atividades, significou estar mais próximo da comunidade e dos seus problemas, e neste
sociedade em que eles estão inseridos. Por meio de sua iniciativa, ação, visibilidade e
social.
olhares na formação do imaginário urbano (pp. 47-103). Porto Alegre, RS: Editora da
BOURDIEU, P. (2002). La "juventud" no es más que una palabra. In Sociología y cultura (pp.
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