Análise Dimensional e o Teorema Pi de Buckingham

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO

PARAN
CENTRO DE ENGENHARIAS E CINCIAS EXATAS
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA QUMICA
CURSO DE ENGENHARIA QUMICA

ANLISE DIMENSIONAL E O TEOREMA PI DE BUCKINGHAM

TOLEDO/PR
2014

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE


DO PARAN
CENTRO DE ENGENHARIAS E CINCIAS EXATAS
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA QUMICA
CURSO DE ENGENHARIA QUMICA

MATHEUS ALLAN MAIOR


MATHEUS PIASECKI

ANLISE DIMENSIONAL E O TEOREMA PI DE BUCKINGHAM

Trabalho entregue como requisito


parcial de avaliao da disciplina de
Fenmenos de Transporte I do curso
de Engenharia Qumica da
Universidade Estadual do Oeste do
Paran Campus Toledo.

Prof. Me. Fabiano Bisinella Scheufele.

TOLEDO/PR
2014
1. INTRODUO
Muitas vezes, na modelagem matemtica ou no tratamento algbrico de
um sistema, pode-se encontrar algum parmetro cujas dimenses no so
conhecidas, ou no se sabe sobre sua dependncia em relao a outras
variveis, ou ainda no se tem conhecimento fsico sobre o mesmo. Nessas
situaes, faz-se necessria a aplicao de uma anlise dimensional,
equacionando o parmetro a ser analisado com outras grandezas
fundamentais, determinando-se assim a integridade, a homogeneidade e a
validade fsica de tal parmetro. Os dois principais teoremas a respeito da
anlise dimensional so os teoremas de Buckingham e de Bridgman.

2. ANLISE DIMENSIONAL
Anlise dimensional consiste na previso, verificao e resoluo de
equaes que relacionam grandezas fsicas, de forma a garantir a validade
fsica das mesmas. A fim de proporcionar homogeneidade nas anlises, tratase as grandezas fsicas de modo algbrico, e emprega-se unidades de medida
arbitrrias, impedindo erros de converso ou medidas sem sentido fsico
(MARTINS, 2008).
No sistema internacional, so sete as grandezas, ou dimenses,
fundamentais: comprimento, massa, tempo, intensidade de corrente eltrica,
temperatura absoluta, intensidade luminosa e quantidade de matria. A partir
delas, grandezas mais complexas podem ser expressas (HALLIDAY et al.,
1996). Alguns exemplos so a vazo mssica, que pode ser descrita em funo
da massa e do tempo, e a acelerao, descrita em funo do comprimento e do
tempo.
dm
m=

=M 1 T 1
dt

a=

dv dx
1 2
= 2 =L T
d t dt

H vrios jeitos de se representar as grandezas fundamentais, como o


Sistema Internacional (SI), o sistema ingls, entre outros. A fim de se utilizar
uma representao mais genrica, o sistema MLT muito empregado na
anlise dimensional (HALLIDAY et al., 1996).

3. EQUAES DIMENSIONAIS
Para fazer-se uma anlise dimensional, faz-se necessrio determinar as
equaes dimensionais para a grandeza a ser analisada. Uma equao
dimensional, tambm chamada de funo dimensional ou identidade
dimensional, uma funo binria que associa uma certa grandeza sua
dimenso (ou unidade de medida) a partir de uma operao matemtica. Elas
so o instrumento mais empregado na anlise dimensional, permitindo
verificar-se a consistncia e a homogeneidade das dimenses de uma certa
grandeza (MARTINS, 2008).
As equaes dimensionais apresentam quatro propriedades importantes
na sua aplicao em uma anlise dimensional. So elas o fechamento, onde
todas as grandezas definidas no sistema de unidades adotado pertencem ao
sistema analisado; a consistncia, onde o sistema de unidades adotado
sempre consistente internamente em relao s grandezas; a neutralidade,
propriedade de uma grandeza que apresente dimenso unitria; e a assimetria,
na qual se duas grandezas apresentem as mesmas dimenses analticas, no
necessariamente as duas grandezas so iguais (p.e. energia e torque)
(GASPAR, 2003).

4. SISTEMAS DE TIPOLOGIA
Para simplificar o estudo de sistemas particulares, tais como a mecnica
ou a eletrosttica, que no envolvem todas as sete grandezas fundamentais,
define-se sistemas de tipologia menores. Os mais comuns so os sistemas
ternrios. Nele, escolhe-se trs grandezas primordiais, escrevendo-se todas as
outras em funo destas (SALMERON, 1963). Um exemplo o estudo da
mecnica, que envolve trs grandezas primordiais: massa, comprimento e
tempo (HALLIDAY et al., 1996). Assim, para analisar-se grandezas mecnicas,
define-se o sistema ternrio LMT (juno das trs letras que representam as
grandezas primordiais).
Assim, uma grandeza [G] analisada em um sistema ternrio genrico
ABC, deve ser descrita como

[ G ] =A B C
onde , e so as dimenses das grandezas fundamentais em [G].
Sistemas quaternrios, envolvendo comprimento, massa, tempo e carga
eltrica (ou corrente eltrica) tambm tem boa aplicao na anlise
dimensional.

5. TEOREMA DE BUCKINGHAM
O teorema de Buckingham um dos teoremas centrais dentro da
anlise dimensional (MARTINS, 2008). Quando a grandeza possui um nmero
muito grande de variveis, aplica-se a anlise dimensional a um grupo de
variveis auxiliares, simplificando a resoluo.
O teorema de Buckingham enuncia que, em vez de fazer-se a anlise
dimensional de uma grandeza que funo f de n variveis, aplica-se a tcnica
a uma funo g de n k variveis auxiliares, aonde k o nmero de grandezas
fundamentais do sistema. Essas variveis auxiliares so chamadas de grupos
adimensionais ou nmeros (BARBOSA, 2014).
Assim, quanto maior o nmero de grandezas fundamentais envolvidas,
mais simples a resoluo do sistema por meio do teorema . Reitera-se que
os grupos adimensionais encontrados no so nicos para uma grandeza, mas
existem conjuntos diferentes de grupos que podem ser obtidos (BARBOSA,
2014).
A aplicao do teorema de Buckingham segue seis passos simples,
descritos abaixo:
1) Listar-se todas as n variveis que influenciam a grandeza a ser
analisada;
2) Selecionar-se o conjunto mnimo de k grandezas fundamentais
necessrio;
3) Escrever-se as variveis anteriores em funo das grandezas
fundamentais escolhidas;
4) Selecionar-se k das n variveis, de forma que todas as grandezas
fundamentais estejam representadas. Nessa etapa, no selecionase variveis cuja dimenso potncia de outra (tal como rea e
volume), nem a prpria grandeza analisada. D-se preferncia a
grandezas que possam ser facilmente medidas experimentalmente;
5) Para as demais variveis, tomar-se grupos conforme o passo
anterior, elevando-se as variveis escolhidas anteriormente a um
expoente incgnita;
6) Resolver-se as equaes dimensionais resultantes e determinar-se
os expoentes incgnitas definidas no passo anterior.

Os nmeros obtidos no teorema de Buckingham podem ou no ter


sentido fsico. Muitos dos nmeros adimensionais empregados na engenharia
foram obtidos de anlises dimensionais (INCROPERA e DEWITT, 1998).
6. APLICAO DO TEOREMA DE BUCKINGHAM
Exemplo 1) Faz-se a aplicao do teorema de Buckingham para
analisar-se a tenso de cisalhamento em um escoamento em duto circular,
para obter-se uma expresso a partir das variveis. Sabe-se que a tenso de
cisalhamento depende da densidade do fluido em escoamento, da ao da
gravidade sobre o mesmo, da diferena de altura manomtrica medida, do
dimetro da tubulao e da largura total do duto. Assim, tem-se
=f ( , g , D , L , h)
(1)
As grandezas analisadas tem as seguintes dimenses:
Tenso de cisalhamento [ML-1T-2]
Densidade () [ML]
Acelerao da gravidade (g) [LT-2]
Dimetro da tubulao (D) [L]
Largura da tubulao (L) [L]
Altura manomtrica (h) [L]
Observando-se as dimenses das variveis, define-se o sistema ternrio
MLT como o sistema de grandezas fundamentais. Assim, k = 3. Reescreve-se a
equao (1):
0=f ( , , g , D, L , h)
(2)
Escolhe-se a densidade, a gravidade e a largura da tubulao como
grupo de parmetros. Define-se, ento, trs grupos para anlise:
1=a gb Lc

(3a)

2=d ge Lf D

(3b)

3= g gh Li

(3c)

Ento, faz-se a anlise dimensional das trs equaes anteriores,


chegando-se s equaes 4a, 4b e 4c.
a

2 b

[ L ]c [ M ] [ L ]1 [T ]2

2 e

[ L] [ L]

[M ]0 [ L]0 [ T ]0=[ M ] [ L]3 a [ L ] [ T ]

[M ]0 [ L]0 [T ]0=[ M ] [ L]3 d [ L ] [ T ]

(4a)
(4b)

5
g

2 h

[M ]0 [ L]0 [ T ]0=[ M ] [ L]3 g [ L ] [ T ]

[ L ]i [ L ]1

(4c)

Assim, para cada equao, faz-se a anlise de cada grandeza


fundamental separadamente, chegando-se a 3 equaes para cada equao
anterior:
0=a+1
(5a)
0=3 a+ b+c1

(5b)

0=2 b2

(5c)

0=d

(6a)

0=3 d +e + f + 1

(6b)

0=2 e

(6c)

0=g

(7a)

0=3 g+h+ i+1

(7b)

0=2 h

(7c)

Resolvendo-se as nove equaes, encontra-se:


a = 1, b = 1 e c = 1
d = 0, e = 0, f = 1
g = 0, h= 0, i = 1
Isolando-se as dimenses de tenso de cisalhamento na equao (4), e
retornando-se na equao (1), tem-se que
=f

1 g1 D1 h1
L1

(8)

Assim, sabe-se que a tenso de cisalhamento linearmente dependente


de todas as variveis analisadas, sendo inversamente proporcional ao
comprimento da tubulao, e diretamente proporcional s demais variveis.
Vale notar que a tenso de cisalhamento pode no ser numericamente igual
expresso do lado direito da equao, por isso coloca-se a notao de funo.
Nota-se tambm que os nmeros so parmetros adimensionais que
podem (ou no) ter sentido fsico.
Exemplo 2) Procura-se determinar os nmeros para a velocidade de
escoamento de um fluido em um duto circular. Sabe-se que a velocidade
depende da densidade do fluido, da viscosidade do mesmo e do dimetro do
tubo. Assim,

v =f ( , , D)

(1)

0=f (v , , , D)

(2)

Analisando-se as dimenses das variveis da equao (2):


Velocidade de escoamento (v) [LT-1]
Densidade () [ML-3]
Viscosidade dinmica () [ML-1T-1]
Dimetro de tubulao (D) [L]
A partir das unidades, percebe-se que o sistema de grandezas
fundamentais necessrio o sistema MLT, um sistema ternrio. Como a
velocidade, funo a ser analisada, no pode ser escolhida, monta-se o grupo
de parmetros base com a densidade, a viscosidade e o dimetro. Assim:
a

(3)

= D v
a

[M ]0 [L]0 [T ]0=[ M ] [L]3 a [ M ] [ L ] [ T ] [ L ] [ L ] [T ]1

(4)

Resolvendo-se a equao 4, tem-se que a = 1, b = 1 e c = 1. Dessa


forma, define-se o nmero como sendo
=

Dv

(5)

Analisando-se fisicamente o nmero , percebe-se que ele a razo


entre foras inerciais (v) e foras viscosas (/D). Esse nmero chamado
de nmero de Reynolds (Re) e empregado na determinao de regimes de
escoamento (LIVI, 2004).

REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
BARBOSA, M.P. Mecnica de fluidos Anlise dimensional. Disponvel em
<http://www.demec.ufmg.br/Grupos/Labbio/AnaliseDimensional.pdf>.
Acesso em 25 out 2014.
GASPAR, A. Fsica, volume 3. 1 edio, Editora tica, 2003.
HALLIDAY, D.; RESNICK, R.; KRANE, K.S. Fsica I. 4 edio, Editora LTC,
1996.
INCROPERA, F.P.; DEWITT, D.P. Fundamentos de transferncia de calor e
de massa. 4 edio, Editora LTC, 1998.

LIVI, C.P. Fundamentos de fenmenos de transporte. 1 edio, Editora


LTC, 2004.
MARTINS, R.A. A busca da cincia a priori no final do sculo XVIII e a
origem da Anlise dimensional. 2 edio, Editora UNICAMP, 2008.
SALMERON, R.A. Introduo eletricidade e ao magnetismo. 4 edio,
Editora So Paulo, 1963.

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